Revista Arandu # 46

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ISSN 1415-482X Ano 12 • Nº 46 • Novembro-Dezembro/2008-Janeiro/2009

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Dourados Ano 12 - No 46 Págs. 1-20 Nov.-Dez/2008-Jan./2009

CARO LEITORCARO LEITOR

Ano 12 • No 46 • Nov.-Dez./2008-Jan./2009ISSN 1415-482X

Rua Mato Grosso, 1831, 10 Andar, Sl. 01Tel.: (67) 3423-0020 / 9238-0022

Dourados, MSCEP 79804-970

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Revista Arandu: Informação, Arte, Ciência, Literatura /Grupo Literário Arandu - No 46 (Nov.-Dez./2008-Jan./2009). Dourados: Nicanor Coelho Editor, 2009.

TrimestralISSN 1415-482X

1. Informação - Periódicos; 2. Arte - Periódicos;3. Ciência - Periódicos; 4. Literatura - Periódicos;5. Grupo Literário Arandu

PUBLICAÇÃO DO

[

EditorNICANOR COELHO

[email protected]

Conselho Editorial ConsultivoÉLVIO LOPES, GICELMA DA FONSECA

CHACAROSQUI e LUIZ CARLOS LUCIANO

Conselho CientíficoCARLOS MAGNO MIERES AMARILHA,

LUCIANO SERAFIM, MARIA JOSÉMARTINELLI SILVA CALIXTO, MARIO

VITO COMAR, NICANOR COELHO, PAULOSÉRGIO NOLASCO DOS SANTOS e PLÍNIO

SAMPAIO CATARINO

Editor de ArteLUCIANO SERAFIM

A Revista Arandu, com esta edi-ção, quer dar sua contribuição

para as discussões em torno da im-prensa douradense e as representa-ções políticas.

Com isso, os intelectuais e pes-quisadores terão acesso a um artigoescrito pelo historiador Fernando deCastro Além, o “Fernando Dagata”,que retrata o jornal O Progresso fun-dado por Weimar Torres e as eleiçõesde 1954, fazendo uma análise das re-presentações políticas.

Nesta edição também publica-mos os artigos das professoras CristinaAparecida Neto e Inês M.S. Lopes, a“Inês Thompson” que contribuemcom seus trabalhos de forma primor-dial para o desenvolvimento da litera-tura e da educação.

Consolidada como a melhor pu-blicação científica do Centro-Oeste, aRevista Arandu está amadurecida epronta para novos desafios dentro daproposta de transformar Douradoscomo uma Cidade Universitária vol-tada para a pesquisa e o desenvolvi-mento das ciências, das letras e dasartes.

Nicanor CoelhoEditor

EDITADO POR

Ano 12 • No 46 • Nov.-Dez./2008-Jan./2009 SUMÁRIO[

CAPES - Classificada na Lista Qualiswww.capes.gov.br

ISSN - International Standard Serial Number

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GeoDados - www.geodados.uem.br]

INDEXAÇÃO

60 anos de Força Expedicionária Brasileira:A cobertura do Dourados Newse Dourados Agora ......................................................................... 4

Helton Costa

A interdisciplinaridade como mediadora da veracidade:O diálogo sobre Jornalismo,História e Antropologia ............................................................. 11

Érika Patrícia Batista

60 ANOS DE FORÇAEXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA:A COBERTURA DO DOURADOS

NEWS E DOURADOS AGORAHelton Costa1

RESUMOA pesquisa tem o objetivo de analisar o material jornalístico produzido pelos sites

Dourados News e Dourados Agora referentes aos 60 anos da Força Expedicionária Brasileira– FEB, em 2005. Para tanto foram realizados estudos quantitativos e qualitativos, tantoreferentes ao conteúdo produzido, quanto aos agentes envolvidos em sua produção nasredações dos dois jornais virtuais para saber se o que eles noticiaram em 2005 sobre a FEBteve uma abordagem diferente nos dois veículos de comunicação e se os jornalistas cumpri-ram seu papel de “historiadores do presente”, assunto bastante discutido neste trabalho.

Palavras-chave: Força Expedicionária Brasileira, Dourados News, DouradosAgora, jornalismo on-line

ABSTRACTThe research has the objective to analyze the journalistic material produced by the

sites Dourados News and Dourados Agora referring to the sixty years of the BrazilianExpeditionary Force – BEF, in 2005. For in such a way, studies had been made quantitativeand qualitative, in such a way referring to the produced content, as to the agents involved inits production in redacted of two virtual journals for to know if the what they had notifiedin 2005 on the BEF had different boarding in the two vehicles on communication, and, if thejournalists had fulfilled its part of “historians of the present”, a subject sufficiently argued inthis work.

Keywords: Brazilian Expeditionary Force, Dourados News, Dourados Agora,journalism on-line.

1 Jornalista e escritor douradense. Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo, pós-graduando em Estudosda Linguagem e Secretário do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Grande Dourados – Sinjorgran.

INTRODUÇÃO

Em 8 de maio de 2005 foram come-morados os 60 anos do final da Segunda

Guerra Mundial e da participação do Brasilno conflito. Em vários lugares do país e emoutros países do mundo o evento foi moti-vo de comemorações, festejos e reflexões

5ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/2009 [sobre a paz no mundo, no entanto, anali-sando os veículos de comunicação do mu-nicípio de Dourados, no Mato Grosso doSul, nota-se que pouco ou quase nada foifalado sobre o assunto, o que motivou aelaboração do trabalho, afinal, se o eventoesteve presente na pauta de vários veículosde comunicação de todo o mundo, entãopergunta-se, por quê o Dourados News e oDourados Agora falaram tão pouco no as-sunto?

Jornais impressos como o Diário MS,Jornal “O Progresso”, rádios como GrandeFM, Rádio Cidade, e outras do município, eTV’s como a Rede Internacional de Televi-são e TV Morena não falaram nada sobre oassunto e o Jornalismo on-line noticiou qua-tro matérias sobre o tema, mesmo tendono município fontes disponíveis para falarsobre o assunto como militares, historiado-res e até mesmo veteranos do conflito.

O trabalho buscou estudar o por-que da pouca divulgação especificamente noDourados News e Dourados Agora queeram na época os sites mais importante dascidade. O trabalho estudou ainda aconscientização do papel do jornalista como“construtor da história presente”.

Durante seis meses foram realiza-das buscas nos bancos de dados dos sitesanalisados para que esta pesquisa apresen-tasse os dados mais corretos possíveis demodo a analisar não somente a quantidadede matérias produzidas a respeito da FEB,mas a veracidade e a contextualização dasmatérias para o leitor comum não habitua-do à termos históricos. Os dados foramcoletados via Internet, com entrevistas inloco, questionários dirigidos e por métodosempíricos, uma vez que a pesquisa trata deum tema atual do qual o pesquisador tam-bém fez parte.

1.1 O QUE É NOTÍCIA

MOREIRA (2006) explica que notí-cia é quando um “fato deixa o cotidiano davida para ingressar no universo simbólico”,e que ao transformar os fatos em notícia, aatividade jornalística diz o que deve e o quenão deve ser de conhecimento da coletivi-dade. (MOREIRA, 2006:08).

Quem tem o papel de definir o que énoticia e que não é, são os “os proprietáriosdos veículos, que definem a política editori-al de acordo com os objetivos ideológicos eeconômicos; os jornalistas e as fontes / pro-motores de noticia e o público”. (MOREIRA,2006:09).

É VIZEU quem vê o trabalhojornalístico como algo mais que somenteescrever. Ele fala que a tarefa é muito maior.

Entendemos que a construção da notí-cia não se reduz a uma mera técnica, asimples mobilização de regras e normasfornecidas pelos manuais de redação ouaprendidas no desempenho da atividadeprofissional. Acreditamos que tal pontode vista desconhece a dimensão simbóli-ca do trabalho jornalístico. ”(VIZEU,2003:02)

O trabalho levou em conta a inter-pretação que VIZEU fez sobre o que é notí-cia, uma vez que também acreditamos que“o trabalho jornalístico é concebido semprea partir de mensagens que ganham formade matérias segundo economias específicasa cada sistema e/ou veículo de comunica-ção, que produzem dimensões classifi-catórias da realidade”, e que a notícia atuacomo fonte de memória.”(VIZEU, 2003:06).

Ao produzir a matéria para o leitor,o jornalista passa a idéia de que aquilo queele escreve é algo verossímil e é exatamentepor isso que no processo de produção da

ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/20096 ]matéria a abordagem que o jornalista dáaos fatos deve ser cuidadosa.

Lemos as notícias acreditando que elassão um índice do real; lemos as notíciasacreditando que os profissionais do cam-po jornalístico não irão transgredir a fron-teira que separa o real da ficção. E é aexistência de um ‘acordo de cavalheiros’entre jornalistas e leitores pelo respeitodessa fronteira que torna possível a leitu-ra das notícias enquanto índice do real e,igualmente, condena qualquer transgres-são como ‘crime’. (Traquina 1993:168)

2. HISTÓRICO DOJORNALISMO DIGITAL

Segundo MÜLLER “o boom dos di-ários digitais foi entre 1995 e 1996”.(MÜLLER, 2006:02). Em Dourados, esse“boom” foi de 2000 a 2004, sendo o Doura-dos News, o primeiro a ser fundado nosmoldes dos grandes portais do país. Nomundo, segundo MÜLLER, alguns dos pri-meiros jornais digitais são o The Nando Ti-mes (1994) e o The San Jose Mercury Center,disponibilizado na web no início de 1995,ambos dos Estados Unidos.

“A iniciativa foi de um grupo de empre-sários que teve a idéia de distribuir notí-cias na Internet, por causa da rapidez dedifusão da informação. (QUADROS,2002:07)

O Jornal do Brasil foi o primeiro afazer uma cobertura completa no espaçovirtual no país em 1995. Ele foidisponibilizado integralmente na web em 28

de maio, seguido por Zero Hora, do grupoRBS, em junho do mesmo ano“. (MÜLLER,2006:05).

O Dourados News, um dos sites queanalisados neste trabalho, foi o pioneiro dojornalismo virtual no município. (OLIVEI-RA, 25/03/2007)2.

O modelo seguido pelos primeirossites de notícia de Dourados se baseavamnos modelos nacionais como o Zero Hora,pioneiro nacional. Com o surgimento doprimeiro canal de notícias no município, em2000, outros site foram ganhando forma nacidade. Surgiram ainda o Agora MS (2001),o Dourados Agora (2002), o site da Prefei-tura de Dourados que também é noticioso(2003), o Diário MS (2005) e o mais recente,o Dourados Informa (2006). Outros sitesalternativos existem no município, como oArandu News (2003) e o Quarta Coluna(2006), mas por serem pouco acessados, nãosão relevantes à esta pesquisa.

As duas empresas (Dourados Newse Dourados Agora) foram escolhidas porserem os dois sites com maior número deacessos de Dourados e por serem ainda osdois únicos site de grande porte instaladosno município em 2005, ano em que a linhado tempo do trabalho foi estruturada.

O Dourados News surgiu conformeexplicou o editor chefe do jornal, jornalistaClóvis de Oliveira, da necessidade de umcanal que pudesse representar o municípioe ao mesmo tempo ser alternativo. Está lo-calizado na Avenida Weimar Gonçalves Tor-res, centro da cidade de Dourados, e podeser acessado pelo endereço eletrônicowww.douradosnews.com.br (OLIVEIRA,25/04/2007)

2 Jornalista Clóvis de Oliveira, editor chefe do jornal “Douurados News”, entrevistado em25/03/2007.

7ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/2009 [O site teria nascido depois de uma

tentativa frustrada de colocar uma matériasobre Dourados nos veículos de comunica-ção do município, que se recusaram empublicar a matéria daquele que algum tem-po depois viria a ser um dos sócios funda-dores do Dourados News, Primo Fioravanti,que depois da negativa teve a idéia de fazerum jornal on-line.

O Dourados Agora nasceu em 14 deagosto de 2002 e como conta a editora dosite, Maria Lúcia Toluei, houve “muito tra-balho, dia e noite. Pode ser acessado peloendereço www.douradosagora.com.br e estálocalizado na Avenida Presidente Vargas,centro do município de Dourados, anexadoàs instalações do jornal impresso O Progres-so. Baseia-se em contatos com os organis-mos policiais, governos, entidades de clas-se, organização do sistema, investimento emequipe, logística, propaganda, vendas e ou-tros”, para que o site se torne competitivofrente aos demais sites de notícias do Esta-do. (TOLUEI, 29/03/2006).

O Dourados Agora busca se basearno que é notícia “em função do interessepúblico, urgência do momento, e para o ser-viço ao público. (TOLUEI, 29/03/2006)

Assim como no Dourados News, sãovalorizadas segundo a editora Maria Lúciaas matérias locais.

3. A FEB

A Força Expedicionária Brasileira -FEB foi o contingente militar de mais de 25mil soldados enviados pelo Brasil para a IIGuerra Mundial para combater nazistas efascistas de 1944 à 1945. O Brasil foi coloca-do para abrir caminho para o avanço aliadorumo ao norte da Itália. Mal treinados, ecom temperaturas abaixo de 0°C, os solda-dos brasileiros penaram para conseguirbons resultados.

Depois de avançar de agosto a outu-bro, de novembro a dezembro, os soldadostiveram que estacionar perto de Monte Cas-telo, no Vale dos Apeninos e só sairiam daíem fevereiro de 1945. Depois prosseguiramo avanço até alcançar as fronteiras france-sas, já em maio, o mês da Vitória Aliada naEuropa (Dia V).

Em 239 dias de ação, a FEB fez maisde 20 mil prisioneiros alemães, mas pedeumais de 451 soldados mortos em combate eaproximadamente 1,6 mil feridos, aciden-tados e desaparecidos em combate. (Revis-ta Grandes Guerras, op.cit.:43).

No dia 8 de maio a guerra acabou naEuropa. Os brasileiros foram voltando paracasa aos poucos, em frações, assim comohaviam chegado. A Segunda Guerra só ter-minaria de vez com o ataque nuclear ameri-cano à Nagasaki e Hiroshima, isso já mês deagosto de 1945. (Aventuras na História,op;cit:17).

A FEB acabou em 1945 através deum decreto presidencial e somente algunsoficiais continuaram no exército, enquantoos soldados voltaram desamparados pelogoverno às suas vidas normais. Foi graças àFEB que o Brasil conseguiu assento naONU, e foi graças a ela também que a dita-dura de Vargas (Estado Novo) teve fim.

Foi graças à participação do Brasilna Segunda Guerra Mundial que houve umaindustrialização maciça no eixo Rio-SãoPaulo e uma expansão das “fronteiras oes-te” do Brasil que fez com que cidades sur-gissem onde são as fronteiras do Brasil, jádentro da política de “segurança nacional”que nasceu na II Guerra Mundial, uma de-las a própria cidade de Dourados. . (Histó-ria do Brasil Vol. 1986:156).

Mesmo com a importância históricada FEB para a história e a memória nacio-nal, o assunto parece não ter chamado mui-to a atenção dos jornalistas dos dois veícu-

ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/20098 ]los pesquisados em 2005. Foram feitas asseguintes perguntas a ambos os editores:“Em 2005 foram comemorados os 60 anosde final da II Guerra Mundial. O site fez al-guma cobertura específica do fato, ou daparticipação do Brasil no conflito? Por quê?”.

3.1 Resultados

Em ambos parece que os editores(Clóvis de Oliveira e Maria Lúcia Toluei, res-pectivamente) registraram certa confusão nahora de responder. No Dourados News, foidito que sobre o assunto, foi noticiado “pou-ca coisa. Reproduzimos alguns textos daimprensa mundial e nacional, mas periodi-camente citamos fatos relacionados com aatividade do Exército. Inclusive, ex-praci-nhas da FEB em Dourados já foram citadoscomo “Personalidade” na página inicial dojornal” (OLIVEIRA, 25/04/2007).

Procuramos tais relatos não encon-trando nenhuma referência citada pelo edi-tor em “Personalidades”, nem mesmo emuma busca avançada no banco de dados dosite, e entre as “poucas coisas”, da qual fala oeditor, encontramos quatro matérias e umagaleria de fotos com assinatura da assesso-ria de imprensa da Câmara de Vereadoresforam os únicos materiais encontrados namemória do site.

Na galeria de fotos “Câmara home-nageia combatentes da FEB, veja as fotos”,o banco de dados parece não existir mais ,pois a única coisa possível de se ler é a intro-dução da galeria, que por coincidência ounão, é o primeiro parágrafo de uma dasmatérias que o site reproduziu, uma vez quematérias próprias o site não possui nenhu-ma sobre o assunto, ficando assim depen-dente da assessoria da Câmara de Verea-dores que mandou a matéria para o site.

No Dourados Agora a editora disseque “o assunto foi bastante explorado, sob

vários aspectos”, mas nenhuma ocorrênciade assuntos sobre o Brasil na II Guerra, ousobre o conflito foram encontradas nemmesmo as repercussões que no DouradosNews foram comuns de se verem.

3.2 As possíveis falhas doDourados News e doDourados Agora em suascoberturas sobre a FEB

Dourados News e Dourados Agoraoptaram em não dar atenção ao fator “60anos de FEB em 2005”, pois deixaram delado seu dever histórico social, e seus jorna-listas também não perceberam agrandiosidade de sua missão, uma vez que,“grosso modo, o jornalista não seria alguémque comunica a outrem o conhecimento darealidade, mas também quem o produz e oreproduz”. (VIZEU, 2003:112)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de analisar os dados dosquestionários e as matérias produzidas,pôde-se concluir que a FEB recebeu quatronotícias nos veículos de comunicação, poisos jornalistas não optaram, não tinham co-nhecimento sobre o assunto, não sabiamou não se importaram em aprofundar suasmatérias, simplesmente reproduziram ma-térias se outros veículos de comunicação,isso no caso do Dourados News, pois oDourados Agora nem mesmo repercutiu oassunto.

Logo, como foi apresentado duran-te o trabalho, os jornalistas nos dois veícu-los de comunicação não atenderam aos va-lores creditados à profissão em agir comoum historiador do presente, onde na buscae no papel diário de ajudar a construir arealidade e de ser um guardião da história,o jornalista exerce forte papel em incluir ou

9ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/2009 [excluir assuntos da vida das pessoas.

A falta de conhecimento pode tersido gerada em algum momento durante oprocesso de aprendizado secular dos jorna-listas, ou por despreparo dos mesmos, umavez que como afirmou OLIVEIRA (2007),não havia nenhum motivo que impedisse aabordagem do assunto por parte de qual-quer pessoa na redação.

A falta de rentabilidade financeirapara noticiar a FEB pode ser um outro fatorque contribuiu para a publicação de somen-te duas matérias.

ADGHIRNI (2002) e LOWNEY di-zem que além disso, a falta de bons saláriose especialização ou mão de obra qualificadaé um outro problema. Isso pode ser umadas razões para explicar as quatro notíciasrepercutidas pelo Dourados News e a faltade noticiabilidade sobre o fato no Doura-dos Agora.

Para o público que lê as matérias oúnico perigo da falta de uma formação dosagentes da notícia, é o risco de ter informa-ções cada vez mais superficiais, o queZUCKER (1978) explica quando diz quequanto menos experiência, ou informação

direta da pessoa em relação à determinadaárea temática, mais ela vai depender damídia para obter informações e opiniões,ou quadros interpretativos sobre aqueleassunto. (ZUCKER, 1978:227).

Assim, fica aqui aberta a discussãopara futuros pesquisadores estudarem oporquê da falta de formação e de um co-nhecimento de mundo mais abrangente porparte do jornalista pode ser arriscado nãosomente para o esquecimento de assuntosrelevantes, mas que o jornalista não conhe-ce, como para a dependência da sociedadede opiniões cada vez mais superficiais.

Outra sugestão levantada no traba-lho é que o problema pode estar na forma-ção não só do jornalista, mas do público,que também deve estar preparado e exigirqualidade nas informações. Sabemos quepara que isso ocorra é preciso uma forma-ção prévia dos receptores de conteúdos pro-duzidos pelos meios midiáticos, formaçãoesta que talvez devesse ser obrigação doEstado oferecer e que também passaria aser subjetivo ao meio onde o receptor vive,afinal os conhecimentos de mundo variamde uma pessoa para a outra.

BIBLIOGRAFIA

ADGHIRNI, Zélia Leal e RIBEIRO, Gilseno de Souza Nunes. Jornalismo on-line e identida-de profissional do jornalista. Trabalho apresentado no GT de Jornalismo do X EncontroAnual da Associação Nacional de Programas de Pós Graduação em Comunicação -COMPÓS, Brasília, 2001.

ARANHA, Carla. Aventuras na História, Edição Especial, junho de 2004, editora Abril,pág. 08.

QUADROS de, Cláudia Irene.Uma Breve história do jornalismo on-line. CONGRESSONACIONAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EMCOMUNICAÇÃO, 25, 2002. Salvador, 2002. Anais eletrônicos... GT de Jornalismo. Dispo-nível em: <http://www.intercom.org.br/papers/xxv-ci/np02/NP2QUADROS.pdf>. Acessoem 20/05/2005 às 19h.

ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/200910]LOWNEY, Jim. Online journalism fails in local news. In: MACHADO, Elias., MOREIRA,Fabiane Barbosa. Os valores-notícia no jornalismo impresso: análise das “característicassubstantivas” das notícias nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo.Disponível em <http://dominiopublico.mec.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=9903>.

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TOLUEI, Maria Lúcia. Entrevista, 29/03/2006.

TRAQUINA, Nelson. As notícias. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teo-rias e “estórias”. Revista Comunicação e Linguagens. Lisboa, Vega, 1993.

VIZEU, Alfredo. (2006) A Produção de sentidos no Jornalismo: Da teoria da enunciação ainiciação cientifica. Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/Pos/gtjornalismo/doc/2003/vizeu2003.doc>, acessado em 04/05/2007, às 12h45.

A INTERDISCIPLINARIDADECOMO MEDIADORA DA

VERACIDADE: O DIÁLOGOSOBRE JORNALISMO, HISTÓRIA

E ANTROPOLOGIA

1 Jornalista. Mestranda em Comunicação Social pela Universidade de Marília (UNIMAR), professora daUniversidade da Grande Dourados Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). E-mail:[email protected]

RESUMOEste artigo é um exercício reflexivo a respeito da necessidade da promoção de

estudos interdisciplinares entre a Antropologia, História e Jornalismo. O objetivo é apontara precisão da mediação entre estas áreas para que haja veracidade nas informações levan-tadas a respeitos de temas complexos, como a cultura indígena, que requer uma investiga-ção mais aprofundada. Partido da percepção de Cremilda Medina esboça-se sobre anecessidade de jornalistas, antropólogos e historiadores construírem um diálogo, mesmosendo profissionais com objetivos, métodos e ações bastante distintos, a fim de comple-mentar e enriquecer os resultados das pesquisas produzindo notícias pautadas em infor-mações concretas vindas de fontes seguras.

Palavras-Chaves: Jornalismo. Antropologia. História. Interdisciplinaridade.

ABSTRACTThis article is a reflective exercise about the need of promotion of interdisciplinary

studies involving Anthropology, History and Journalism. It aims to point the mediationprecision of these areas in order to obtain veracity on the provided information aboutcomplex subjects, as the aboriginal culture, that requires a more deepened inquiry. Startingon the perception of Cremilda Medina we will sketch about the necessity of journalists,anthropologists and historians to construct a dialogue, despite being professionals withdistinct objectives, methods and actions, in order to complement and improve the results ofthe research, producing notices based on concrete information from safe sources.

Keyworks: Arquaeology. History. Journalism. Interdisciplinarity

Érika Patrícia Batista1

ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/200912 ]INTRODUÇÃO

Não se trata de uma discussão nova,a interdisciplinaridade é um tema bastantesuscitado entre historiadores, antropólogose jornalistas, no que tange ao diálogo maiscentrado entre campos distintos. Estas áre-as de certa forma se assemelham quanto aouso de ferramentas de pesquisas.

Assim, o objetivo deste artigo estáem salientar a necessidade de promoverestudos e explorar de maneira intrínseca,outras ciências, principalmente a Antropo-logia, a História e o Jornalismo.

A interdisciplinaridade entre váriasáreas, como Antropologia, História e Jor-nalismo existe, mas quando se trata deaplicabilidade ainda é escassa a parceria noprocesso de pesquisa científica, portanto,uma visão pré-concebida assinala que apreocupação está na questão prática.

Torna-se propício traçar um parale-lo e definir História, Antropologia e Jorna-lismo, áreas interligadas pelo âmbito da pes-quisa, pela busca fidedigna do saber.

A Antropologia e o Jornalismo, Se-gundo Antônio Brasil (2002) essas áreas atu-am de forma diferentes, porém, possueminteresses comuns. Mas vale ressaltar quetala confluência ou cumplicidade pode ge-rar novos campos de interesse tanto parauma área como para outra, dessa forma nãoexiste uma ruptura epistemológica entre asua vivência de jornalista e a sua práticacomo cientista social.

Portanto, jornalistas, antropólogos,historiadores e arqueólogos são profissio-nais com objetivos, métodos e visões demundo bastante distintas, mas a análiseconstruída a partir da interdisciplinaridadepermite uma aproximação no ponto de vis-ta informacional e prático. Pois tal aproxi-mação toma um caráter complementar queirá enriquecer os resultados das pesquisas.

Para abordar a relação dainterdisciplinaridade e o seu aparato teóri-co-metodológico, os estudos partirão daEtnoistória, um estudo que possibilita amediação entre as ciências.

Em seguida, serão apontados algunsequívocos de uso descontextualizados, emtermos teóricos antropológicos, de informa-ções para dar veracidade à pesquisa. Nestemomento, surge a maior preocupação, queestá relacionada às temáticas indígenas. So-bre este assunto, Roberto Cardoso de Oli-veira (2005) salienta que o pesquisador aobuscar informações em uma determinadacomunidade indígena, precisará de umapercepção não ingênua sobre o assunto,pois ele encontrará diversos focos de infor-mações e precisará interpretá-las para veri-ficar a informação coletada.

Dessa forma busca-se compreenderaté que ponto a interpretação de fatos, sema base do conhecimento em determinadasinstâncias são capazes de prejudicar a pes-quisa. Para isto pesquisadores como JorgeEremites de Oliveira e Roberto Cardoso deOliveira, Pedro Paulo Funari e João Pachecode Oliveira foram consultados.

Assim, as investigações jornalísticassão prejudicadas por vezes, por utilizar asferramentas históricas sem uma concepçãometodológica do viés antropológico. Estetema será a pauta final deste artigo.

A INTERDISCIPLINARIDADE E OUSO DAS FONTES HISTÓRICAS

EM PROL DA PESQUISA

Quando se pronuncia a palavra His-tória o que vem a mente são os contos, nar-rativas, lembranças de fatos já ocorridos queganharam tamanha significância que preci-sam ser rememorados. Mas, o que significaa palavra História? Segundo Pedro PauloFunari (2000. p. 81) a terminologia História

13ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/2009 [originária do grego significa ‘pesquisa’. Taldefinição remete a um estudo maisaprofundado quanto à denotação da pala-vra e sua aplicação. Pois, a História é umafluente de investigações, pesquisas de pro-fissionais que analisam inúmeros elemen-tos sejam eles, documentos, memórias, ves-tígios, artefatos e muitos outros índices dereconstituição de um evento histórico. Des-sa forma, a História não tem por objetivopesquisar somente o passado, ela é uma ci-ência que estuda os homens no tempo e noespaço.

O autor ainda cita Heródoto comopai da História, por ser considerado o pri-meiro historiador, segundo o ele, as históri-as, contudo eram pesquisas, investigaçõessobre as coisas do presente. Sendo essa bus-ca que ele se voltou para o passado.

Dessa forma, está ciência abrangeum amplo campo de pesquisa e resulta emvastos conhecimentos, porém, atrelados asnovas abordagens vindas de outras verten-tes assim, como a Antropologia e o Jorna-lismo. Para melhor compreensão datemática abordada faz-se um breve levan-tamento conceitual dessas áreas.

Antropologia deriva da palavra gre-ga anthropos que significa “homem” ou “hu-mano” e logos que significa “pensamento,razão”, portanto, a disciplina estuda as ori-gens, o desenvolvimento e as semelhançasdas sociedades e suas diferenças.

O Jornalismo deriva da palavra Jor-nal que possui origem do latim. O dicioná-rio Houaiss define como: substantivo do la-tim diurnális, relativo ao dia, diário, do fran-cês journaliste (analista de um dia).

Tal área está condicionada a permearpor diversos campos, seja do passado, dopresente, com o foco em resgatar um con-teúdo de essencial importânciainformacional para que sejam reproduzidose se tornem conhecimento da sociedade.

Essa permeação cria uma aproximação deoutras ciências, como por exemplo, a His-tória.

O relacionamento entre Jornalismoe História, por exemplo, apresenta-se bas-tante profícuo para os dois ofícios. Comoponto de correlação entre as duas áreas oaspecto de pesquisa que os jornalistas fa-zem para apresentarem as raízes históricasdos fatos abordados.

Os jornalistas como produtores deHistórias imediatas nem sempre estão dis-postos a investigar os fatos, em inúmerasconstruções é necessário recorrer a fonteshistóricas para interpretar o passado a fimde escrever sobre determinado assunto.

Quando se fala em “escrever a His-tória” refere-se, sobretudo, aos momentosem que o Jornalismo ultrapassaria a sim-ples missão de informar e passa a atuarcomo “uma entidade social e cultural, car-regada de emoções, alimentando processoscomplexos de comunicação com informa-ção, análises e opiniões que podem mudaros rumos de povos e nações” (CHAPARRO,1994, p. 92).

Visto isto, é possível então, engen-drar e perfazer um conhecimento mais ricoe holístico. Possibilita então a união de in-formações e metodologias de vários âmbi-tos do saber para o mesmo fim.

A ETNOISTÓRIA COMOMEDIADORA

Ora, se a História permite esse en-trelaçamento de conhecimento vindas deoutras áreas, de que estudo estamos falan-do? Para Jorge Eremites (2003, p, 37-47), tra-ta-se da Etnoistória, uma abordagem quese utilizada em várias fontes de estudo, po-rém ainda pouco compreendida.

A terminologia para Trigger (1982) éuma abordagem que se utiliza de várias fon-

ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/200914 ]tes de estudo, como a Arqueologia, a lin-güística histórica, a Antropologia, aEtnologia, as quais complementam os re-gistros escritos.

Por outro lado, segundo o autor, noHouaiss a etnoistória é apresentada comoum estudo “da História de um povo ou gru-po social”, ao passo que o Aurélio explicaque é uma disciplina “que se dedica àreconstituição da História dos povos não-letrados”, que se valem de fontes bastantevariadas: orais, arqueológicas, lingüísticas,textuais etc.

Diante de um arsenal de conceitos,onde em diferentes países a palavra ganhasignificados distintos, aqui no Brasil, comosalienta Eremites de Oliveira (2005), os ci-entistas sociais, em especial os historiado-res, parecem não ter muito claro o que sejaa etnoistória, não raramente a confunde como que, grosso modo, está convencionado achamar de História Indígena. Dessa manei-ra, pode-se validar a significância deEtnoistória como uma metodologiainterdisciplinar ou disciplina híbrida que uti-liza dados arqueológicos, etnográficos, fon-tes textuais diversas, tradição oral, dentreoutros, com o propósito de estudar a His-tória dos povos indígenas, sobretudo a His-tória dos contatos entre as sociedades nati-vas e os europeus e euroamericanos e suasmudanças socioculturais.

A Etnoistória como mediadora en-tre outras extensões de busca pelo conheci-mento sugere fortemente a interdiscipli-naridade. Uma interface em diversos cam-pos de pesquisa, principalmente quando setrata da temática indígena.

Concomitantemente, dimensiona-seoutra discussão; a associação da Históriaindígena e Etnoistória e, novamente, auto-res como Jorge Eremites, aborda categori-camente. Ele afirma que os termosEtnoistória e História Indígena seriam utili-

zados como sinônimos é certo que o uso doprimeiro implica em valer-se de um méto-do em construção e de caráterinterdisciplinar, cada vez mais sólido peran-te as interfaces entre a Antropologia e a His-tória, dentre outros campos do conhecimen-to. (EREMITES. 2003)

Os diálogos que possibilitam umasincronia entre distintas ciências, a fim deengendrar uma conjectura coesa, precisa,verdadeira, inquestionável, irrefutável poracautelar-se de qualquer falha.

Quanto à obtenção da informação,pode-se analisar a forma com que os meiosde comunicação muitas vezes utilizam, demaneira equivocada, metodologias e fonteshistóricas para contextualizar uma notícia,principalmente quando se trata da temáticaindígena. É necessário que se conheça pro-fundamente a cultura, a crença, a religião eo modo de vida do povo noticiado, pois umainformação mal interpretada será fonte ge-radora de opinião de uma gama de pessoas,que não têm conhecimento o bastante paradistinguir informações verídicas e de nãoverídicas.

A questão da demarcação de terrasindígenas, por exemplo, deflagra uma sub-versão de informações, por isso, requer umprofundo conhecimento. Quando este temaé abordado deve-se levar em consideraçãoque existem vários conflitos, desde as dis-putas de terra entre índios e não índios atéo confinamento de várias etnias em umamesma área, desencadeando um conflitocultural.

A etnia Kaiowá pode ser citada comoexemplo quando se fala principalmente doprocesso de perda territorial e consequen-temente, confinamento em espaços extre-mamente exíguos de um contingentepopulacional. A resultante dessa interferên-cia foi o comprometimento na economiadesses povos indígenas. Este é apenas um,

15ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/2009 [dos vários problemas, que surgem devido àluta pelas terras.

Diante desta situação surgem as ini-ciativas indígenas pela retomada das terras,o que torna uma fonte inesgotável para aimprensa explorar, porém sem o conheci-mento histórico antropológico dessas infor-mações são defasadas pela falta de conheci-mento.

Essas áreas de conflito ao serem re-tratadas pelos meios de comunicação reque-rem pesquisas minuciosas, principalmentedo ponto de vista antropológico, pois exis-tem algumas informações que são oculta-das como, por exemplo, o fato do MatoGrosso do Sul ser um estado onde os confli-tos fundiários envolvendo índios e fazen-deiros são corriqueiros. Porém existe umcontexto histórico que é preciso dominarpara interpretar e interligar os fatos. Ob-servado esse pequeno demonstrativo per-cebe-se então que o enredo ganha umaconotação política para melhor compreen-são do processo de dominação das terras.

EM CENA: O JORNALISMO

Ao entrar no universo indígena, opesquisador-investigador1 se deparará cominúmeras informações que serão interpre-tadas. Porém, isso poderá ocorrer de duasmaneiras, de maneira artificial; pode-sedistorcer o real sentido do que se quer trans-mitir por não demonstrar um profundoconhecimento sobre determinadas áreas e,de maneira analítica; em que o pesquisadordetém informações sobre a cultura, o am-biente e a crença.

Para chegar a certas conclusões so-bre determinado assunto é preciso falar douso das fontes históricas, um estudo do pas-

sado feito a partir de vestígios, testemunhos,documentos e monumentos de outras civi-lizações a fim de representar de maneiraconfiável os fatos que ocorreram. A utiliza-ção dessas fontes não é feita somente pormeio da escrita, mas da observação de lín-guas, paisagens e edificações.

Neste momento conota-se a neces-sidade de se manter um relacionamentointerdisciplinar, em que os profissionais dasrespectivas áreas possam complementar-se,somando seus conhecimentos acadêmicose técnicos em prol da pesquisa a fim de ga-rantir informações mais fieis.

Um assunto que gera bastante dis-cussão, como já citado, é a questão indíge-na, em função das complexidades, por teruma história abundante e distinta, sobretu-do em razão da diversidade cultural que seconsolida a medida que os grupos vão seidentificando, escolhendo e assumindo seumodo de vida, pois não estão atrelados so-mente na ocupação territorial mas tambémpela identificação com o sistema social.

Cada etnia apresenta um modo devida, uma religiosidade, uma crença, enfim,uma organização. Quando acontecimentosque ocorrem em tribos indígenas são retra-tados pelos meios de comunicação é comumencontrar alguns desencontros de informa-ções.

Ou seja, o olhar, o ouvir e o escreveraliado ao conhecimento prévio sobre ospovos e culturas ou a busca de informaçõesem fontes seguras viabilizará uma notíciafidedigna.

Umas das questões levantadas porEremites (2007) foi quanto à nomenclaturados indígenas da região de Dourados. Se-gundo ele, são comuns erros relativos à no-menclatura das populações indígenas da

1 Usaremos o termo pesquisador para a condição de jornalista.

ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/200916 ]região. Muitas vezes os nomes são confun-didos entre as etnias Guarani, Kaiowá eÑandeva. Muitos afirmam que algumas in-dígenas pertencem aos grupos guaraniKaiowá ou Guarani Ñandeva demonstran-do flagrantes imprecisos de nomenclatura.

Aos jornalistas, os redatores, e osrepórteres que produzirão uma matériasobre a temática indígena, seja ela em qual-quer âmbito, faz-se necessário a análise dasinformações junto a fontes confiáveis, vezque estas matérias serão arquivadas, o quede certa forma, as cristaliza como legítima.Torna-se lamentável quando o texto, quepassa a ser fonte, se apresenta confiável,sendo que a interpretação das informaçõesfoi feita de forma superficial.

A pesquisadora Cremilda Medina(2005, p. 34) afirma que no processo de de-cifração deve se ater a cuidados técnicos daapuração possível da verdade. O Jornalis-mo, por um lado, e as técnicas de trabalhodas Ciências Humanas, por outro, possibili-tam acúmulos de conhecimentos que dãorespaldo a uma reportagem que tenta apu-rar os fatos e a rede de forças que atua so-bre eles, ou seja, inevitavelmente, os cami-nhos irão se cruzar. ‘O Jornalismo, pela con-tingência da presentificação e da periodici-dade, informa aproximações mais superfi-ciais, sujeitas a erro’.

Assim, os jornalistas precisam saberda necessidade de possuir conhecimentoshistóricos, em termos mais conceituais emetodológicos a fim de que as investiga-ções alcancem compreensões maisexplicativas do que descritivas. Sobre a pos-tura do entrevistador é importante ressal-tar que ele não é um especialista. É, especi-alizado na técnica de reportagem, na qual aentrevista ocupa espaço privilegiado e paraaprofundar o assunto abordado procurarespaldo em especialistas de várias corren-tes de informação e interpretação.

A região de Dourados pode servircomo exemplo, por abrigar uma reservaindígena urbana composta por três etniasonde se falam variadas línguas.

Esse convívio, apesar a proximida-de territorial, não compromete a preserva-ção cultural de cada etnia. Há um resguardocultural pautado pela autonomia. Caso nãohaja conhecimento de alguns termos o sen-tido real pode ser deturpado e perderá todaa essência. Essa é a principal preocupaçãoquanto ao uso das fontes históricas pelosjornalistas, para evitar conflito.

É importante destacar também queexistem profissionais da comunicação com-prometidos com a proposta de noticiar demaneira fidedigna e que, quando se estabe-lece um determinado dado ou assunto, oprofissional de comunicação dever recorrera historiadores e arqueólogos entre outrosprofissionais. Dessa maneira evitam-se al-guns desencontros de informações

Ao consultar outras áreas, a inten-ção vai além da produção de textos infor-mativos, ela aspira por textos credíveis. Talparadigma diz respeito à busca em ultra-passar a façanha da descrição dos fatos queocorrem.

Assim, o uso das fontes históricasdeve seguir critérios propostos pela área emque se desenvolve a pesquisa.

Nem sempre haverá documentosescritos sobre determinados povos, e mes-mo que haja é preciso conferir o grau deconfiabilidade, pois quanto mais antigos osvestígios e sem uma análise coerente, me-nor a possibilidade de conseguir quaisquerdados fornecidos por povos com escrita.

Outra ferramenta que pode ser uti-lizada são as fontes arqueológicas, “que de-vem ser abordadas tendo em vista a possi-bilidade da analogia com outros povos emsituação semelhante, no que é chamado deparalelo etnográfico”. (FUNARI. 2007 ).

17ANO 12 ••••• No 46 ••••• NOV-DEZ/2008-JAN/2009 [ Ou seja, a partir da observação da

maneira em que comportam os povos vi-vos faz-se um comparativo em busca de se-melhanças no modo de vida, os artefatos, omodo em que foram criados, enfim, até che-gar a um conceito dos povos do passado.

CONCLUSÃO

Ao iniciar este artigo, a intenção foirelatar a importância de transitar-se poroutras áreas a fim de ampliar o conheci-mento. Dito de outra forma, a propostaparte da interdisciplinaridade das áreas deArqueologia, História, e Jornalismo em prolde informações verídicas.

O motivo de utilizar essas esferas sedeu pelo fato de que os campos se asseme-lham quanto às estratégias de pesquisa, en-tão, porque não estreitar esse relacionamen-to, principalmente o Jornalismo, que sem-pre recorre a fontes históricas, antropológi-cas e até mesmo arqueológicas a fim deelucidar ou produzir uma matériajornalística.

A partir desta conjectura, é possívelrecorrer a etnoistória, uma abordagem quese utiliza de várias fontes de estudo, porémainda pouco compreendida. A etnoistória étida como mediadora entre outras exten-sões de busca pelo conhecimento, pois elasugere fortemente a interdisciplinaridade, a

interface em diversos campos de pesquisa,principalmente quando se trata da temáticaindígena.

Mesmo que exista este relaciona-mento aberto, ainda é possível constatar queinúmeros profissionais da área de comuni-cação utilizam terminologias de maneiraequivocadas, por simplesmente não conhe-cerem o contexto a que pertencem e quaisos significados que ganham, como porexemplo, o uso incoerente das nomencla-turas relacionadas às étnicas Guarani,Kaiowá e Ñandeva.

Pode-se dizer então, da necessidadede permear por campos referentes aos as-suntos abordados para que a interpretaçãodesses dados seja feita de maneira confiável,mas que muitas vezes, esse diálogo é dis-pensado pela falta de tempo.

Portanto, não é valido somente re-correr a essas áreas e sim, saber utilizá-las.

De modo geral, compreender o pro-cesso de interpretação já que não parte so-mente e simplesmente de uma deco-dificação superficial, essa visão vai além, ul-trapassa anos e anos, décadas e décadas,séculos e séculos e as mudanças ocorridascom o passar do tempo, são geradores denovas abordagens teóricas que muitas ve-zes apenas profissionais imbuídos nos estu-dos de forma comprometida são capazesde interpretar.

REFERÊNCIAS

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