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e-book.br EDITORA UNIVERSITÁRIA DO LIVRO DIGITAL O TROVADORISMO Parte III: Cantigas de Amigo Cid SeixaS https://issuu.com/e-book.br/docs/trovadorismo3 GALAICO-PORTUGUÊS

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e-book.brEDITORA UNIVERSITÁRIA

DO L IV RO DIGITAL

O TROVADORISMO

Parte III: Cantigas de Amigo

Cid SeixaS

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GALAICO-PORTUGUÊS

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Os livros eletrônicosda coleção E-Poket,conforme o título jáindica, têm como ca-racterística o tamanhoreduzido, similar àspequenas coleções debolso. No caso presen-te, o formato e-poketfoi desenvolvido paraser lido, com todo con-forto visual, em celu-lares e outros equipa-mentos de telas comtamanho diminuto.

O TrovadorismoGalaico-Português, li-vro originalmente pu-blicado no ano de1997, em brochura im-pressa, e agora dispo-nibilizado em mídiadigital, é dividido emcinco partes para seadequar ao formatobreve dos demais li-vros da coleção E-Poket.

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Copyright 1997 © by Cid Seixas

Rua Dr. Alberto Pondé, 147/103CEP 40 296 250 — Salvador, Bahia, BRASIL

E-mail: [email protected]

Tipologia: Gatineau, corpo 12Formato: 100 x 170 mmNúmero de páginas: 110

Salvador, 2019

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O TrovadorismoGalaico-Português

Cid Seixas

Parte 111:Cantigas de Amigo

Com Apuração dos Textosem Língua Arcaica

Editora Uviversitária do Livro D igital

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6 coleção e-poket

Coleçãoe-poket

O TROVADORISMOGALAICO-PORTUGUÊS

Volume 1:Crítica e Apuração de Textos

Volume 2:Cantigas de Amor

Volume 3:Cantigas de Amigo

Volume 4:Cantigas de Escárnio e Maldizer

Volume 5:Outras Cantigas Trovadorescas

CONSELHO EDITORIAL:Cid Seixas (UFBA | UEFS)

Ester Ma de Figueiredo Souza (UESB)

Gabriel Evangelista (UEFS)

Marcio Ricardo Coelho Muniz (UFBA)

Rita Aparecida Coelho (UNEB)

Tércia Valverde (UEFS)

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CANTIGAS DE AMIGOBaylia das avelaneyras .................. 11Flores do verde pino ................... 12Cantigas de Martim Codax ........... 14Cantiga de mal maridada ............. 22Dadeas a elRey ............................... 24

NOTAS DE LEITURADAS CANTIGAS DE AMIGO

Leitura ........................................... 25Baylia das avelaneyras .................. 36Flores do verde pino ................... 44Cantigas de Martim Codax ........... 46Cantiga de mal maridada ............. 61Dadeas a elRey ............................ 68

SUMÁRIO

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GLOSSÁRIO DE TERMOSGALAICO-PORTUGUESES ............. 71

REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIANÃO REFERENCIADA ..................... 97

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Cant igasde Amigo

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Sete Cantigasde Amigo

Martin Codax

Ondas do mar de Vigo,se vistes meu amigo.E ay Deus se verraa çedo.

Ondas do mar levado,se vistes meu amado.E ay Deus se verraa çedo.

Se vistes meu amigo,o por que eu sospiro.E ay Deus se verraa çedo.

Se vistes meu amado,o por que ey coydado.E ay Deus se verraa çedo.

V

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Baylemos nos ja todas tres, ay amigas,so aquestas avelaneyras frolidase quen for velida, como nos, velidas,

se amig’ amarso aquestas avelaneyras frolidas

verraa baylar.

Baylemos nos ja todas tres, ay irmanas,so aqueste ramo d’ estas avelanase quen for louçana, como nos, louçanas,

se amig’ amar,so aqueste ramo d’ estas avelanas

verraa baylar.

Por Deus, ay amigas, mentr’ al nõ fazemos,so aqueste ramo frolido baylemose quen ben parecer, como vus parecemos,

se amig’ amar,so aqueste ramo so ‘lo que baylemos

verraa baylar.

Baylia das avelaneyras

Ayras Nunes de Sant’ Iago

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— Ay, flores, ay flores do verde pino,se sabedes novas do meu amigo.Ay Deus, e hu he?

Ay, flores, ay flores do verde ramo,se sabedes novas do meu amado.Ay Deus, e hu he?

Se sabedes novas do meu amigo,aquel que mentiu do que pos comigo.Ay Deus, e hu he?

Se sabedes novas do meu amado,aquel que mentiu do que m’ a jurado.Ay Deus, e hu he?

— Vos me preguntades polo voss’ amigo,e eu ben vos digo que he san’ e vivo.Ay Deus, e hu he?

Flores do verde pino

D. Denis

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Vos me preguntades polo voss’ amado,e eu ben vos digo que he viv’ e sano:Ay Deus, e hu he?

E eu ben vos digo que he san’ e vivoe seraa vosc’ ant’ o prazo saydo.Ay Deus, e hu he?

E eu ben vos digo que he viv’ e sanoe seraa vosc’ ant’ o prazo passado.Ay Deus, e hu he?

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Sete Cantigas de Amigo

Martin Codax

I

Eno sagrad’, en Vigo,baylava corpo velido:Amor ey!

En Vigo, eno sagrado,baylava corpo delgado:Amor ey!

Baylava corpo velido,que nuca ouver’ amigo:Amor ey!

Baylava corpo delgado,que nuca ouver’ amado:Amor ey!

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Que nunca ouver’ amigo,ergas no sagrad’, en Vigo:Amor ey!

Que nuca ouver’ amado,ergas en Vigo, eno sagrado:Amor ey!

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II

Mha irmana fremosa, treydes comigoa la igreja de Vig’, hu he o mar salido:E miraremos las ondas.

Mha irmana fremosa, treydes de gradoa la igreja de Vig’, hu he o mar levado:E miraremos las ondas.

A la igreja de Vig’, hu he o mar salido,e verraa hy, madre, o meu amigo:E miraremos las ondas.

A la igreja de Vig’, hu he o mar levado,e verraa hy, madre, o meu amado:E miraremos las ondas.

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III

Ay Deus, se sab’ ora meu amigocom’ eu senheyra estou en Vigo.E vou namorada.

Ay, Deus, se sab’ ora meu amadocom’ eu senheyra en Vigo manho.E vou namorada.

Com’ eu senheyra estou en Vigo,e nulhas guardas non ey comigo:E vou namorada.

Com’ eu en Vigo senheyra manho,e nulhas guardas migo non trago.E vou namorada.

E nulhas guardas non ey comigo,ergas meus olhos que chorã migo.E vou namorada.

E nulhas guardas migo nõ trago,erg’ os meus olhos que chorã ambos:E vou namorada.

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IV

Ay ondas que eu vin veer,se mi saberedes dizerpor que tarda meu amigosen mi.

Ay ondas que eu vin mirar,se me saberedes contarpor que tarda meu amigosen mi.

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V

Ondas do mar de Vigo,se vistes meu amigo.E ay Deus se verraa çedo.

Ondas do mar levado,se vistes meu amado.E ay Deus se verraa çedo.

Se vistes meu amigo,o por que eu sospiro.E ay Deus se verraa çedo.

Se vistes meu amado,o por que ey coydado.E ay Deus se verraa çedo.

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VI

Mandad’ ey comigoca ve meu amigo:E irey, madr’, a Vigo.

Comigu’ ey mandadoca ve meu amado:E irey, madr’, a Vigo.

Ca ve meu amigoe ven san’ e vivo:E irey, madr’, a Vigo.

Ca ve meu amadoe ve viv’ e sano:E irey, madr’, a Vigo.

Ca ve san’ e vivoe d’elRey amigo:E irey, madr’, a Vigo.

Ca ve viv’ e sanoe d’elRey priuado:E irey, madr’, a Vigo.

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VII

Quantas sabedes amar amigotreydes comig’ a lo mar de Vigo:E banharnosemos nas ondas.

Quãtas sabedes amar amadotreydes comig’ a lo mar levado:E banharnosemos nas ondas.

Treydes comig’ a lo mar de Vigoe veeremo’ lo meu amigo:E banharnosemos nas ondas.

Treydes comig’ a lo mar levadoe veeremo’ lo meu amado:E banharnosemos nas ondas.

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Cantiga de Mal-Maridada

D. Denis

Quysera vosco falar de grado,ay, meu amigu’ e meu namorado,mays non ous’ oj’ eu con vosc’ a falar,ca ey muy gran medo do irado;irad’ aja Deus quen me foy dar.

En coydados de mil guysas trauopor vus dizer o con que m’ agrauuo;mays non ous’ oj’ eu con vosc’ a falar,ca ey muy gran medo do malbravo;malbrav’ aja Deus quen me lhi foy dar.

Gran pesar ey, amigo, sofrudo,por vus dizer meu mal ascondudo;mays non ous’ oj’ eu con vosc’ a falar,ca ey muy gran medo do sanhudo;sanhud’ aja Deus quen me foy dar.

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Senhor do meu coraçon, cativosodes en eu viver con quen vivo;mays non ous’ oj’ eu con vosc’ a falar,ca ey muy gran medo do esquyvo;esquyv’ aja Deus quen me foy dar.

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— Cabelos, los meus cabelos,elRey m’ enviou por elos;madre, que lhis farey?— Filha, dadeos a elRey.

— Garcetas, las mhas garcetas,elRey m’ enviou por elas;madre, que lhis farey?— Filha, dadeas a elRey.

Dadeas a elRey

Joan Zorro

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NOTAS DE LEITURAdas Cantigas de Amigo

As cantigas de amigo constituem oaspecto mais rico e inventivo da líricatrovadoresca galaico-portuguesa. Com-preende-se por lírica a expressão poé-tica de sentimentos e estados de espíri-to do sujeito, isto é, do eu.

Modernamente tem-se dado ênfaseao fato do eu poético não coincidir ne-cessariamente com o eu do poeta, o queaponta para o caráter ficcional da líri-ca. Assim como uma peça de teatro,um conto ou um romance têm perso-nagens, o poeta lírico elege como per-sonagem, às vezes única, o eu enun-

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ciador e, outras vezes, um outro eu,diferenciado.

Nas cantigas de amor del-Rei D.Denis este eu é coincidentemente o dopróprio trovador, que considera tal iden-tificação necessária à validade da com-posição, para que esta não se torneinsincera. Mas nas cantigas de amigo,sejam elas desse sincero trovador oude outro mais afeito ao “fingimento” eà ficção, o sujeito, ou o eu da cantiga,é uma personagem feminina. Quem falaem toda cantiga de amigo é uma mu-lher, contando os seus amores e lamen-tando a ausência do amado.

Podemos dizer, portanto, que, ao re-conhecer a ficcionalidade do eu poéti-co, a velha cantiga de amigo já realizaaquilo que é frequentemente atribuídoà modernidade: a despersonalização. Naprática da cantiga de amigo a poesia é,claramente, ficção; o que não se podedizer de outras formas de poesia.

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Ao usar o termo poesia não perca-mos de vista o fato de o trovadorismonão realizar poemas, no sentido mo-derno do termo, mas cantigas.

Assim como ocorreu com a poesialírica da velha Grécia, a poesia da nos-sa língua tem suas origens ligadas àmúsica. No mundo antigo, chamava-sede lírico a este gênero de composiçãoporque os sentimentos e pensamentosdo sujeito eram externados num cânticoacompanhado pela lira. Na PenínsulaIbérica, a cítola era tocada pelo trova-dor enquanto compunha suas peças.Ele era conhecedor e praticante, por-tanto, do que hoje constituem duas ar-tes autônomas: a música e a poesia.

Os estudiosos são unânimes em des-tacar o caráter local da cantiga de ami-go, sustentada numa longa tradiçãopopular. Mas grande parte destas canti-gas, recolhida em cancioneiros, era com-posta por trovadores conhecedores do

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seu ofício e das artes do seu tempo. Sealgumas cantigas de amigo ainda de-nunciam o caráter simples e quase es-pontâneo do gênero, outras aliam àsmarcas formais desta simplicidade umrequintado processo de tessitura poéti-ca. Roman Jakobson, ao analisar umacantiga de Martin Codax — trovadorda Galícia que acompanhou o reicastelhano D. Fernando nas suas expe-dições guerreiras —, evidencia o jogofônico empreendido pelo trovador e ariqueza dos processos de composiçãodo texto.

Quanto à música, nada pode ser dito,porque mesmo as cantigas de Codax— que são as únicas em cujo manus-crito aparecem as partituras — não ti-veram a escrita musical descodificadapelos musicólogos. O sistema de nota-ção dos trovadores galaico-portuguesespermanece intocado pelos músicos donosso tempo.

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A designação cantiga de amigo de-riva do fato de a mulher cantar a falta,ou a presença, do seu amado (o ami-go). Quanto à designação, não esque-çam que no interior da Bahia e em ou-tras partes do Brasil ainda se chama deamigo ao amante. Diz-se também quea pessoa está amigada, quando viveuma aventura amorosa sem estar casa-da, o que testemunha a pitoresca res-sonância medieval ibérica em áreas ru-rais do Brasil contemporâneo.

Se a cantiga de amor dá conta dossuspiros do homem pela sua senhora,a cantiga de amigo relata o encontroda mulher do povo com o seu amado.

Uma diferença essencial entre os doisgêneros é que a primeira cultiva a in-terdição de Eros, ou simula airrealização do encontro homem-mu-lher. Isto bem a gosto da exigente edu-cação cristã, para a qual o amor é opecado original de todos os males. Já a

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cantiga de amigo, por traduzir um sen-timento popular, menos comprometido,portanto, com os ideais e interdiçõesda Igreja, trata da plenitude de Eros. Éa isto que muitos autores chamam derealismo deste gênero, em oposição aoidealismo das cantigas de amor.

A mulher que fala nas cantigas deamigo vê o amor como bem supremoe epifania da vida, enquanto o sujeitodas cantigas de amor cultiva a sublima-ção dos sentimentos humanos em ân-sia incorpórea. Não podemos deixar dever aí o confronto de duas culturas, deduas visões de mundo conflitantes, quecompuseram o sistema cultural da Pe-nínsula Ibérica na Idade Média. De umlado, a sensualidade como essência davida dos povos árabes, o culto do cor-po e suas veredas sinuosas; do outro, aabstinência como caminho à ascese cris-tã, a identificação do corpo como lugardos vícios.

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Contrariando os nossos hábitos cris-tãos, as personagens das cantigas deamigo encontram na dança, na fala docorpo, a expressão mais pura da vida.Não esqueçamos que muitos povos uti-lizam a dança como ritual religioso, con-trariamente a nós que a identificamoscom a insinuação do pecado. A nossatriste gravidade se reflete nos torturan-tes ais das cantigas de amor, enquantoa alegria do corpo dá vida às cantigasde amigo.

Se do ponto de vista conceitual, istoé, das formas do conteúdo, procuramosdestacar o papel das cantigas de ami-go, do ponto de vista intrinsecamenteliterário, ou das formas da expressão,este tipo de cantiga é sem dúvida maiscriativo e complexo. Ao contrário doque pensavam os eruditos do séculoXIII (e do que ainda pensam muitosestudiosos), ao identificarem a cantigade amor com a criação mais refinada, a

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cantiga de amigo se impõe como cria-ção literária por excelência.

Na mais antiga coletânea de compo-sições galaico-portuguesas que temosconhecimento, o códice hoje denomi-nado de Cancioneiro da Ajuda, ape-nas as cantigas de amor foramselecionadas como dignas de serem pre-servadas. Por sua temática de origempopular, as cantigas de amigo, apesarda complexa recriação estética de umarealidade, tiveram o mesmo destino dascantigas de escárnio e mal-dizer: o es-quecimento dos eruditos trecentistas.

Inspiradas pelos trovadores proven-çais, as cantigas de amor formaram ogênero palaciano por excelência. Palaci-ano na imitação do gosto das cortes maisprestigiadas da Europa e no requinteespiritual imposto à nobreza pela edu-cação clerical. A nossa cantiga amor, aocontrário da que foi praticada em ou-tras línguas, procura se fixar no preten-

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dente suspirante (o frenhedor), enquan-

to a condição de amante pleno (o drut)

era privilégio dos franceses occitânicos,

que exercitavam também a condição doapaixonado que se declarava (o preca-

dor) e a do namorado (o entendedor).

O clero, desde a Idade Média, exer-

ceu forte influência sobre a formaçãodo pensamento dominante ibérico, sen-

do talvez o principal responsável pela

ética cavalheiresca dos trovadores

galaico-portugueses. A um cavaleiro cris-

tão, ou a um perfeito cavalheiro, con-vinha a condição de suspirante a um

amor sublime. O namorado das nossas

donzelas preferia cantar em versos a

condição virginal da sua musa.

Além destes pequenos ajustes deaculturação, e de uma vaga influência

rítmica local, tomada de empréstimo ao

gosto e às formas populares, a cantiga

de amor galaico-portuguesa pouco ou

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nada acrescenta ao trovadorismo pro-vençal.

Já a cantiga de amigo é uma formaoriginal que atesta a maturidade da cul-tura ibérica nos séculos XII e XIII. Tãomadura que era capaz de reelaborar asua tradição popular. De um lado, ascarjas moçárabes davam voz ao senti-mento feminino, do outro lado, as mu-lheres do campo cumpriam suas tare-fas entoando cânticos anônimos.

As cantigas de amigo dos trovadoresgalaico-portugueses não podem ser vis-tas, ingenuamente, como “composiçõespopulares”, sob pena de esquecermosa formação altamente qualificada de tro-vadores que nos legaram peças ines-quecíveis.

Há, sim, uma forte carga de ficciona-lidade nestas peças, em que mesmo ohomem de vida palaciana, como el-reiD. Denis, por exemplo, transporta-se aomodo de viver da gente mais simples.

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Há aí uma transposição não apenas declasse, mas de sexo. Num alto grau dedespersonalização, o trovador constróia fala de uma jovem vilã.

Enquanto as carjas eram cantos anô-nimos entoados por mulheres de ori-gem mourisca, as cantigas de amigoeram obras ficcionais nas quais o tro-vador recriava a mulher cristã de ori-gem popular falando do seu namora-do. Temos portanto um avanço signifi-cativo, inclusive fazendo com que es-tas composições ultrapassassem os li-mites do lírico para conter fortes traçosdo épico e do dramático. Mas as canti-gas de amigo são peças que apresen-tam falas de personagens femininosatravés das quais se estrutura uma nar-rativa.

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1 Baylia das Avelaneyras

Esta cantiga de amigo de Ayras Nunesde Sant’ Iago é uma das mais admira-das obras do gênero. Veja-se também asua cantiga de amor “Amor faz a mimamar”, aqui publicada, e o comentáriosobre o autor nas “Notas de leitura dascantigas de amor”.

Como se sabe, nas cantigas de ami-go, a mulher que fala pela boca do tro-vador externa um estado de espírito,seja de alegria, pelo encontro do ama-do, ou de tristeza, pela sua ausência.Estes sentimentos geralmente são repar-tidos com a mãe, as irmãs ou as ami-gas; ou, em caso de solidão, com ele-mentos da natureza; o mar, a vegeta-ção etc. O caráter espontâneo e comu-nicativo das jovens amantes é registra-do nestas formas ou atitudes mais oumenos constantes.

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Não resisto a uma paráfrase comple-ta que acompanhe de perto o sentidodesta bela cantiga:

— Dancemos já, todas três, ai ami-gas, sob aquelas avelaneiras floridas. Equem for bonita (velida) como nós so-mos bonitas, e souber amar seu ama-do, virá dançar sob aquelas avelaneirasfloridas.

— Dancemos já, todas três, ai irmãs,sob aquele ramo de avelãs. E quem forgraciosa como nós somos graciosas(louçanas), e souber amar seu amigo,virá dançar sob aquele ramo de avelãs.

— Por Deus, ai amigas, enquantooutra coisa não fazemos, sob aqueleramo florido dancemos. E quem for for-mosa como nós somos formosas, e sou-ber amar seu amigo, também virá dan-çar sob aquele ramo — sob o qual dan-cemos.

Observe-se a sugestão amorosa con-tida na frase “mentr’ al nõ fazemos”

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(enquanto outra coisa não fazemos). Adança, sob as avelaneiras, é então umpretexto ou uma preparação para o atoamoroso. Nesta estrofe final ficamossabendo que as amigas marcaram umencontro amoroso sob os pés das ave-lãs e que dançam enquanto esperamseus namorados. Por outro lado, a tra-dição medieval ibérica registra festasamorosas com danças por entre as flo-res, o que acentua a leitura erótica des-te poema musical.

Convém lembrar ainda, conforme foidiscutido nas “Notas de leitura das can-tigas de amor”, que Ayras Nunes deSant’ Iago era um trovador dos maishábeis. Ele sempre procurava trazer paraas suas peças a melhor técnica aplicá-vel ao gênero, sem dispensar a criaçãoe a ousadia pessoais do artista, aliadasàs regras vigentes.

Como podemos depreender da lei-tura de algumas cantigas, elas estabele-

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ciam um diálogo intertextual tão inten-so que o leitor moderno se sente tenta-do a ver plágio ou mera repetição deuma composição para outra. As canti-gas de amigo repetem situações e ex-pressões contidas em peças anteriores.

Esta “Baylia das avelaneyras” é apon-tada por diversos estudiosos como sen-do construída a partir de uma peça deJoan Zorro, com a qual estabelece cla-ro vínculo intertextual. Ou, mais do queisso, uma dependência a um modeloque precisa ser repetido e preservado.

Baylemos agora, por Deus, ay velidas,so aquestas avelaneyras frolidase quen for velida como nos, velidas,

se amigo amarso aquestas avelaneyras frolidasverraa baylar.

Baylemos agora, por Deus, ay loadas,so aquestas avevaneyras frolidas

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e quen for loada como nos, loadas,se amigo amar

so aquestas avelaneyras granadasverraa baylar.

Na última cobra desta composiçãode Joan Zorro aparecem expressões quenão estão presentes na cantiga de AyrasNunes. No terceiro verso (e quen forloada como nos, loadas) podemos en-tender a palavra loada como um sinô-nimo de velida, isto é, bonita e, portan-to, digna de ser louvada (loada). Ri-mando com esta palavra aparece gra-

nadas, no quinto verso, que pode sertranscrito assim: sob aquelas avelaneirascopadas. Ou frondosas.

As três cobras da cantiga de AyrasNunes seria, portanto, uma reelaboraçãobem mais complexa das duas estrofesde Joan Zorro. Aí o leitor pode ver comoa arte dos trovadores comportava o per-manente diálogo entre as cantigas, onde

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tanto a expressão quanto o conteúdode uma peça podiam servir de eixo paraoutras peças. Isto porque a noção deplágio, hoje corrente, não se aplicava àtradição trovadoresca do século XIII,permitindo a quem assim o desejassese apropriar de formulações bem suce-didas.

A palavra era de todos. A proprieda-de privada do verbo viria depois...

Ao interpretar esta cantiga de AyrasNunes de Sant’ Iago para os estudantesde Literatura Portuguesa, procurei darênfase às danças e bailadas descritasnas cantigas de amigo como momen-tos significativos da vida das popula-ções ibéricas. A aluna Sonia Simon re-lacionou esta situação com os rituaispagãos de origem celta, lembrando quea avelaneira, ou aveleira, era uma dasárvores sagradas, provida de poderesespeciais e de propriedades curativas emedicinais.

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Como as estações do ano eram fe-nômenos marcantes na vida dos povosantigos, a primavera ganhava especialdestaque, ao enfeitar os campos e per-mitir, com a amenidade do seu clima, areunião de pessoas no aconchego dasárvores. O bailado era uma das formasatravés das quais os celtas rendiam cul-to à deusa Primavera, ganhando umaconotação nitidamente sexual quandoas mais belas jovens eram escolhidaspara dançar em volta de vistosos mas-tros enfeitados de cores feéricas.

Entre os poderes da avelaneira, des-tacam-se o de proteção contra os raiose a crença segundo a qual ela teria in-fluência benéfica no trabalho das par-teiras, que cultivavam esta árvore aoredor de suas casas. Tanto os preparati-vos de parto quanto os rituais de fertili-dade utilizavam suas folhas como ob-jetos totêmicos. Misturando as possíveispropriedades energéticas deste vegetal

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com passes de adivinhação, galhos

bifurcados de avelaneiras eram usados

como varas rabdomânticas para detec-

tar metais.Além disso, a avelaneira emprestou

seu nome a um dos meses do calendá-

rio celta, compreendido entre o final

de agosto e o início de setembro donosso calendário.

A avelã era tomada pelos celtas como

o fruto do saber, essência da verdade e

da beleza. Um mito narrado por esse

povo sustenta a lugar da avelã como ofruto da percepção, da sabedoria e da

consciência. Um papel análogo ao da

maçã, fruto do bem e do mal, na tradi-

ção judaico-cristã.

Conta a lenda celta que nove avelãscaíram em um lago. Cinco salmões con-

seguiram comer os frutos, liberando as

cascas, que foram levadas pela corren-

teza para os cinco rios que nasciam do

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lago. Desta fonte do saber e dos seusrios nasceram os cinco sentidos.

Por Deus, ay amigas, mentr’ al nõ[fazemos,

so aqueste ramo frolido baylemos.

2 Flores do verde pino

D. Denis compôs algumas das maisadmiradas peças do trovadorismo ibé-rico. Foi também conhecido como oRei-Agricultor, ou como o “semeador denaus”, conforme o chamou FernandoPessoa, por ter plantado os pinheiroscom os quais foram construídas as em-barcações portuguesas que, três sécu-los depois, conquistariam o mundo. Estacantiga de amigo é talvez a mais co-nhecida de todas as cantigas medievais,que realiza de modo pleno alguns dos

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costumeiros movimentos presentes nogênero.

A apaixonada dialoga com a Natu-reza, as flores dos pinheirais:

— Ai flores do verde pinho, sabeisnotícias do meu amigo? Ai, Deus, ondeele está? Sabeis novidades do meu ama-do, aquele que não cumpriu o que com-binou comigo, aquele que mentiu so-bre o que me jurou?

E as flores lhe respondem, numa in-gênua prosopopeia:

— Vós perguntais pelo vosso ami-go? E eu bem vos digo que ele é são evivo. Perguntais pelo vosso amado? Eeu bem vos digo que é vivo e são, eestará convosco no prazo marcado.

Nesta e em outras cantigas de ami-go, o diálogo da apaixonada com oselementos da natureza e a resposta,quando vem, pode representar ainda odiálogo interior da pessoa consigo mes-ma; onde nos perguntamos as coisas

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duvidosas e, no desejo de realizar oesperado, nos respondemos.

Mas este rico diálogo interior é ale-goricamente apresentado nas cantigasde amigo, para compor o quadro ingê-nuo da rapariga simples. A esta figura,que consiste em dar voz a elementosnão inteligentes, quer sejam árvores,mares, céu ou animais, a retórica atri-bui o nome de prosopopeia.

3 Sete cantigas de amigo

Os jograis, músicos, trovadores,escrivães, iluminuradores e demais pes-soas versadas numa das artes aprecia-das pelo gosto medieval alcançaramgrande nível na Galícia. Daí o fato dosreis ibéricos se cercarem de galegos,num reconhecimento do alto nível in-telectual desta cultura, desde os sécu-los mais recuados.

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Martin Codax, jogral de Vigo teriaacompanhado D. Afonso III de Portu-gal nas suas expedições guerreiras, pas-sando depois a exercer seu ofício nacorte castelhana.

Suas sete cantigas de amigo são es-pecialmente famosas por mais de ummotivo. Além de trazerem a partitura,no célebre Pergaminho Vindel, elas fun-cionam como cantigas de enredo amo-roso, uma vez que interpretadas e pos-tas na ordem ditada pela interpretaçãocontam uma história de amor com prin-cípio, meio e fim. Por isso, a ordemaqui apresentada difere daquela ado-tada tanto no pergaminho do século XIIIquanto nos cancioneiros do século XVI.Como eram composições cantadas,orais portanto, a ordem original das can-tigas pode não ser a mesma da tradi-ção escrita. Se alguns copistas compu-nham os códices a partir da memória,como sabem os leitores de manuscritos

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antigos, as sete cantigas de Codax po-dem ter sido transcritas de acordo coma ordem de lembrança ou de preferên-cia do copista do texto de base.

Por outro lado, do mesmo modo queos leitores modernos se dividem quan-to a considerar as sete cantigas comouma narrativa sequenciada ou comopoemas isolados, o mesmo poderiaocorrer na sua interpretação pelosjograis.

D. Carolina Michaëlis de Vasconce-los não aceitou a compreensão dos tex-tos como reunidos numa narrativa deevolução progressiva, conforme a lei-tura de Teodósio Vesteiro Torres, ven-do nas cantigas cenas isoladas. Apesarda autoridade desta romanista, muitosestudiosos, seguindo a interpretação deTorres, consideram as cantigas de Codaxcomo uma só peça narrativa; a exem-plo de Oviedo y Arce, que estabeleceuuma ordem diversa daquela encontra-

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da nos cancioneiros. J. J. Nunes tam-bém acata esta possibilidade dereleitura, constituindo-se uma tradiçãocritica e interpretativa que contraria aordem impressa dos textos.

Atualmente, mesmo os estudiososque rejeitam submeter a ordem das can-tigas à sua interpretação, — como Cel-so Cunha, na magnífica edição críticade 1956, ou, posteriormente, LeodegárioAzevedo Filho nos adendos que faz àsedições de Codax — entendem que ainterpretação literária das cantigascodacianas será imprópria sem o reco-nhecimento de que elas compõem umanarrativa.

Tal como aqui dispostas, a primeiracantiga conta a história de uma donzelaque vai à festa da Igreja de Vigo e láconhece aquele que viria a ser o seuamado:

— No adro da Igreja de Vigo (Enosagrado) bailava um corpo bonito: Te-

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nho amor. Bailava um corpo esguio, quenunca tinha conhecido um amante, anão ser (ergas) na festa religiosa deVigo. Tenho um amante, tenho um amorou estou amando.

Aqui, é evidente que a moça se con-fessa virgem (que nunca ouver’ amado/ ergas em Vigo, eno sagrado) para de-pois afirmar que agora ela tem um amor.O tom sensual da sua fala apaixonadapode ser compreendido também pelofato de estar realçado o papel do cor-po; um corpo bonito e esguio dedonzela à procura do amor.

Como no mundo medieval, as pes-soas do povo, os vilões, viviam em pe-quenas comunidades, às vezes forma-das por uma mesma família, as rela-ções amorosas eram buscadas nas fes-tas dos grandes centros de romaria eeventos religiosos. Vigo era um destescentros. Entende-se, pois, porque estecorpo que bailava nunca tinha amado,senão na festa da Igreja de Vigo.

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Na segunda cantiga ela dialoga coma irmã e a mãe, convidando a primeirapara conhecer as festividades que sedão em torno da igreja de Vigo — nasduas primeiras estrofes. Nas duas últi-mas estrofes, põe a mãe a par dos acon-tecimentos, numa confidência da maispura cumplicidade feminina:

— Minha irmã formosa, venha co-migo à igreja de Vigo onde o mar éagitado, ou saído fora do seu leito(salido), e olharemos as ondas. Venhacom muita vontade, ou de bom grado,à festa da igreja de Vigo, onde o mar élevantado (levado) e apreciaremos es-tas ondas. É na igreja de Vigo, minhamãe, onde o mar sai do leito, que viráo meu amado.

No mais, há uma repetição em tornodestas mesmas ideias que se tornammais explicitas à medida em que sãorepetidas, fechando com o refrão: “Emiraremos las ondas”. Através do

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paralelismo, s redundância é uma cons-tante nas cantigas de amigo, como éum fato comum em quase todas asmanifestações populares. É como se arepetição estivesse a serviço da com-preensão e da inteligência menos exer-citadas. Mas aqui, surpreendentemen-te, a redundância não é uma mera re-petição. O paralelismo semântico, man-tido pelas estrofes, ou pelas cobras, naexpressão dos trovadores, serve paradepurar a ideia e acrescentar novasnuances de informação. A própria ex-pressão amigo, polissêmica já na épo-ca, tem a sua semia estabelecida na se-gunda cobra quando é substituída poramado (ou amante), não deixando dú-vida quanto ao tipo de relação.

Esta mesma técnica é adotada naprimeira cantiga, quando a moça vaiaos poucos falando da sua iniciaçãoamorosa. Através de repetições, ela nosfaz compreender que era virgem até

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encontrar seu amigo na festa de Vigo,quando seu corpo passa a ser de mu-lher. Esta maneira sutil de falar de umtema ainda considerado difícil mesmono século XX — avaliem no séculoXIII, onde a moral religiosa era maisferrenha, — lembra um poema clássi-co escrito por Praxila de Sicião, por voltado ano 451 antes de Cristo:

Ó tu que me olhas lindamente

através da janela,virgem de rosto,embaixo esposa.

Este mesmo tema foi recriado namúsica brasileira por Sidney Miller nacanção “O circo”:

O melhor vai vir agora

que desponta a bailarina.O seu corpo é de senhoramas seu rosto é de menina.

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Tais citações, aparentemente estra-nhas ao corpo destas notas didáticas,servem para fazer aquilo que uma ex-posição objetiva não faz: inserir o leitorno clima simultaneamente puro e sen-sual da poesia contida nas cantigas deamigo. Insisto na expressão pura por-que a noção de impureza, de pecado,ligada à sensualidade é uma longa he-rança da nossa formação cristã. Na Pe-nínsula Ibérica, os valores culturais ára-bes, mais abertos e defensáveis que osatuais, entravam em choque com os va-lores do cristianismo medieval. Se o ide-alismo das cantigas de amor traduz arepressão dos sentidos mais fundos, ochamado realismo das cantigas de ami-go denota a naturalidade primeira doviver. E viver com naturalidade, sem osfantasmas da culpa metafísica, é a for-ma mais feliz de pureza.

Na terceira cantiga de Martin Codaxo clima da rapariga não é mais de con-

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tentamento, mas de tristeza, pela au-sência do amado:

— Ai Deus, sabeis agora do meuamigo? Fiquei sozinha (senheyra) emVigo e estou apaixonada. Permaneço(manho) sozinha e nada me proíbe deser feliz com ele, a não ser (ergas) meusolhos que choram a sua ausência.

Ao que parece, nem a irmã nem amãe a acompanham e ela está sozinhaem Vigo à espera do amado, por issochora a sua ausência. Supomos entãoque ele foi sozinha à Vigo acreditandoque encontraria o amado. Não o en-contrando lamenta que estivesse sozi-nha em situação tão propícia — “enulhas guardas non ey comigo” (= nãotenho comigo nenhuma proibição).Curioso observar que guardas ou gar-das, no sentido de proibições ou deinterdições é um termo que se refere aquem vigia a alguém ou a alguma coi-sa: o guarda, na acepção atual.

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As ondas, lembradas na segunda can-tiga, quando a jovem comunicava comalegria o seu amor, são interrogadasneste momento de solidão, registradona quarta cantiga, que diz:

— Ai ondas que eu vim ver, sabeisdizer porque o meu amigo demora devir me encontrar?

E não obtendo resposta continua, naquinta cantiga, a perguntar às mesmasondas e também a Deus:

— Ondas do mar de Vigo, será quevistes o meu amigo? Ai Deus, será queele virá logo? Vistes o meu amado, porquem eu suspiro e por quem tenhogrande dedicação amorosa (grancoydado).

Ela não encontrou o seu amado nes-ta ida a Vigo, por isso a demora do seupranto, em duas cantigas. Volta paracasa e lá, por fim, recebe notícias quelhe alegram o coração.

É o que diz a sexta cantiga:

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— Tenho comigo um recado(mandad’ ey) que meu amigo vai che-gar, e irei a Vigo, minha mãe. Tenhonotícias que meu amado vem são e vivo,e a serviço do rei (d’elRey amigo, d’

elRey privado).Nesta cantiga ela nos faz saber que

recebeu notícias do seu amado, que nãocompareceu ao encontro porque tinhapartido para a guerra acompanhandoo rei. Como era uma honra um vilãoservir a el-rei, com os quais iam princi-palmente os nobres cavaleiros, dizia-seque eles privam da companhia do rei,ou são amigos do rei. O termo amigo,de amplo contorno semântico, quer di-zer apenas, nesta passagem, que o ra-paz esteve próximo e a serviço do rei.

Vem, por fim, o grande final, na séti-ma cantiga de amigo de Martin Codax,segundo a ordem interpretativa aquiseguida:

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— Todas aquelas que sabem amarseu amigo venham comigo ao mar deVigo e nos banharemos nas ondas.

— Todas que sabem amar seu ama-do venham comigo ao mar agitado enos banharemos nas ondas.

— Venham comigo ao mar de Vigoe veremos o meu amigo, e nos banha-remos nas ondas.

— Venham comigo ao mar agitadoe veremos o meu amado, e nos banha-remos nas ondas.

Nesta cantiga,a moça convida todasas suas amigas a irem com ela a Vigopara a celebração do amor. Do mesmomodo que na segunda cantiga, tambémem tom de júbilo, encontramos nestaum clima de alegre sensualidade, quepode ser identificado a partir das figu-ras utilizadas no texto.

Não esqueçamos que alguns trova-dores tinham formação poética nas es-colas do clero, onde eram estudadas,

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com rigor, os cânticos e orações religio-

sos e também a literatura clássica. Afei-

tos a exercícios de hermenêutica, os

poucos letrados se familiarizavam coma retórica e a poética, não desconhe-

cendo os símbolos metafóricos mais ou

menos comuns. Desde os gregos, pas-

sando pelos latinos, sem esquecer apoesia moçárabe que floresceu na

Andaluzia e em outras regiões ibéricas,

formou-se uma linguagem poético-

amorosa comum a várias línguas.

Sabemos que o mar, as ondas e aágua são símbolos amorosos que dão

conta da presença de Eros. O estar mo-

lhado, a espuma e outras variações do

elemento líquido ainda hoje são usa-

dos tanto na poesia escrita quanto namúsica popular, para realçar situações

amorosas. Todos conhecemos o céle-

bre soneto de Vinícius de Morais, onde

aparecem os versos:

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Das mãos espalmadas fez-se o espanto,

Das bocas unidas fez-se a espuma.

Já os gregos ilustravam magnifica-mente a concepção da água como colofértil: Afrodite, deusa do amor, nasceudas águas. Cronos, o tempo, pai ances-tral de todas as coisas, perdeu seu rei-no olímpico para o filho Zeus. Ele te-mia ter o poder usurpado pelo filhoque, em vingança aos temores, castra opai e lança seus órgãos às águas domar. Desta fértil e insólita semeadura,conta o mito, nasce Afrodite, mãe deum jovem arqueiro cujas setas espalhamamorosos venenos. A este arqueiro osgregos chamavam de Eros e os roma-nos de Cupido.

Com isso, quero dizer que o aparen-temente unívoco refrão “E banharnos-

emos nas ondas” não convida as ami-gas apenas para tomarem banho demar. Convida-as para que se deixem

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embalar pelas ondas, tormentos e mo-vimentos do amor e da paixão. Convi-da para que todas se deixem banharpela sensualidade que vem em ondas,como as vagas do mar de Vigo.

O mar, o campo, as árvores, tudoera pretexto para a epifania do amor,como pode se ver tanto aqui quantoem outras cantigas, como a “Baylia dasavelaneiras”, por exemplo. Os elemen-tos da natureza aparecem no trovadoris-mo galaico-português como metáforasde um outro elemento natural: o dese-jo amoroso.

4 Cantiga de mal-maridada

Esta cantiga del-rei D. Denis fogebastante do padrão tradicional das can-tigas de amigo. Talvez devesse figurarna seção onde incluímos “Outras canti-gas trovadorescas”, apesar de estudio-

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sos como J. J. Nunes e A. J. Pimpãonão hesitarem em assim considerá-la.

Obedecendo a rima aabab ela inter-cala versos de nove e de dez sílabas,correspondendo os versos de rima a aosde nove sílabas e b aos decassílabos.Curioso ainda é o fato dela apresentarversos que se repetem com pequenasmodificações, fugindo da estrutura decantiga de refrão, mas não se enqua-drando entre o comum das cantigas demaestria. Classificá-la de uma forma oude outra mereceria reparo, assim comoclassificá-la como cantiga de amigo. Ofato de estarmos diante de uma mulhercasada que se queixa ao amante, comimprecações contra o marido, já destoainteiramente do clima e dos costumespresentes na cantiga de amigo.

Trata-se de uma composição atípicasobre mais de um aspecto, demonstran-do a maestria do seu autor, el-Rei-Tro-vador D. Denis, e principalmente a sua

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inquietação, capaz de fazê-lo transgre-dir os rígidos cânones e dar asas à ima-ginação criadora ou ao pensamentoanalógico. Lembre-se que época doformalismo trovadoresco, fugir ao es-quema canonizado era consideradoerro ou desconhecimento da arte detrovar. Os segréis, quando compunham,desconheciam as exigências da poéticatrovadoresca, sendo por isso mesmocriticados pelos trovadores. Aventurar-se em experiências e exercícios deinventividade poderia denotar falta dedomínio da técnica. Toda transgressãoà poética trovadoresca pode ser vista,de um lado, como infinita ousadia, oucomo certeza de absoluto domínio dasregras, a ponto de refazê-las. E de ou-tro lado, como prova de ignorância dasconvenções artísticas.

Embora nos dias atuais esta questãopasse despercebida, porque quase todoaprendiz de artista age como os segréis,

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rompendo com o convencional tão so-mente por desconhecer os modeloscanônicos, o formalismo literário vigenteno século XIII denunciava como sus-peito de inautenticidade artística qual-quer processo de modificação das for-mas poéticas aceitas e consagradas.

Feitas estas considerações, entremosno seu conteúdo e no porque desta“Cantiga de mal-maridada” não ser, arigor, uma cantiga de amigo. Se as can-tigas de amigo tratam do sentimento deuma jovem, quase sempre solteira, quecanta a descoberta do amor ou lamen-ta a ausência do amado, esta cantigatem como personagem uma mulher ca-sada que não ousa falar com o amanteou o namorado, por ter medo do ira-do, do mal-bravo, do esquivo, dosanhudo ; ou melhor: do maridogalhudo.

Esta é a primeira vez que encontra-mos uma composição de mal-marida-

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da, para darmos uma tradução jocosaà designação de um gênero presenteem outras literaturas europeias,notadamente na provençal, francesa ena italiana.

Neste tipo de composição, que fun-cionava como uma válvula de escapeda dominação masculina, o casamentoera visto sob a perspectiva da mulher.Se os homens escolhiam as suas elei-tas, as mulheres entravam no casamen-to como meros objetos, sem direito aopinião ou a escolha do amado. A in-satisfação fazia do marido um tirano,além de tudo, ciumento e desajeitadopara o amor. Não é de estranhar, por-tanto, que a cantiga de mal-maridadaagradasse a um auditório feminino, queaí fazia a sua catarse, e interessasse tam-bém aos homens dispostos a galantearas senhoras insatisfeitas. Tanto nos am-bientes populares quanto nas cortes, opapel social e psíquico deste gênero decantigas teria sido o mesmo.

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Trata-se, evidentemente, de umabem humorada influência das cantigasfrancesas sobre o poetar de D. Denis.Somente um trovador com um bomdomínio da sua arte poderia brincar, demodo produtivo e consciente, com afilosofia da composição. Ele aproveitaa ideia da mulher casada que é objetodas cantigas de amor de Provance etransplanta tal situação para a cantigade amigo galaico-portuguesa, pondo naboca da mulher aquilo que os trovado-res provençais gostavam de dizer a res-peito dos maridos.

A cantiga de mal-maridada francesa,a cantiga de amor dos sutis trovadoresprovençais e a cantiga de amigo dosgalegos servem de ponto de partida paraesta inesperada criação de naturezamista do Rei-Poeta.

Evidentemente, por se tratar de exem-plar único, não podemos dizer que acantiga de mal-maridada seja um gê-

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nero do lirismo galaico-português. Nãosão conhecidas outras composições tra-tando do assunto, no âmbito dotrovadorismo, além desta cantiga de D.Denis. Há porém um poema do séculoXV, de Nuno Pereira, incluído no Can-cioneiro Geral de Garcia de Resende,pertencente não mais ao trovadorismoe sim à chamada poesia palaciana. Ro-mances em versos de transmissão oral,como o “Bernal-Francês”, recolhido porGarret no século XIX, são comparáveisàs diversas canções europeias de histó-rias conjugais, e diretamente relaciona-dos à cantiga de mal-maridada, embo-ra apresentando uma estrutura diversa.

Para melhor entendimento do texto,podemos parafrasear suas quatro estro-fes do seguinte modo:

— Quisera falar de bom grado comvocê, meu namorado, mas hoje (oj’)não ouso lhe falar porque tenho muitomedo do alucinado (irado); louvado

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seja Deus que me deu esta cruz pesadapara carregar (irad’ aja Deus quen me

foy dar).— Com preocupação, de mil manei-

ras me repreendo e sofro (En coydados

de mil guysas travo) para lhe dizer oque me aborrece.

— Grande pesar tenho sofrido, ami-go, para lhe dizer meu mal escondido.

— Senhor do meu coração, lamentonão estar sempre disponível para você,que sofre pelo fato da sua amante enamorada viver com este homem ira-do.

5 Dadeas a elRey

Jogral e também autor de algumascantigas de amigo, o segrel Joan Zorropraticou sua arte em torno da corte por-tuguesa de D. Afonso III e de D. Denis.Como não era um homem de letras,

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mas alguém que cantava e tocava comomeio de sobrevivência, teve mais facili-dade em assimilar o esquemaparalelístico das cantigas de amigo, sen-do autor de doze composições seguin-do tal estrutura. Veja-se do mesmo au-tor a composição “Barcas novas”, in-cluída entre as cantigas de amor, bemcomo o comentário sobre a mesma.

“Dadeas a elRey” é uma cantiga deamigo de tema pouco comum, visto quea moça não fala da ausência do seuamado nem do seu desejo de encontrá-lo. O tema é o desejo de el-rei por ela,metonimicamente expresso nos cabe-los ou nos seus cachos:

— Os caracóis dos meus cabelos(Garcetas, las mhas garcetas), o rei que-ria recebê-los. Mãe, o que farei?

— Filha, dade-as ao rei.Como a metonímia é uma figura de

linguagem em que a parte pode apare-cer representando o todo, o desejo do

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rei pelos cabelos da moça pode tam-bém representar o desejo pelo corpoda donzela.

Não esqueçamos que uma das mui-tas instituições medievais era o “direitode pernada”, ou o direito do senhor deusufruir a primeira noite de uma vir-gem, o que bem pode ser o caso destacantiga.

Em lugar de cantar alegremente oamor pelo seu amigo, a donzela con-versa com a mãe sobre as intenções dorei, trazendo assim para a cantiga deamigo uma outra problemática das re-lações afetivas na Idade Média.

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GLOSSÁRIO

— A —

Aa – àAbadessa – superiora de ordem religiosa,

feminino de abadeAfeiçom – afeiçãoAfrontado – cansado, insultado, ofendidoAgastada – enfadada, irritadaAginha – depressa, rapidamenteAgrauvo – agravo, aborrecimento, ofensaAgravada – ofendidaAja – haja, do verbo haverAjade – haja, tenhaAl – outra coisa, nadaAlbergado – abrigado, hospedadoAlfaya = alfaia – alfaia, vestimenta de uso

doméstico, enfeiteAlhur – alhures, noutra parte

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Ambrar – fornicar, manter relações sexuaisAmeyvus – amei-vusAmigo – namorado, amadoAmtre = antre – entreAn – têmAnt’ – antesAntolhança – cobiçaAparou – proporcionouAque – tantoAquel – aqueleAquesta – estaAqueste – este, istoAquisto – conquistoAr – igualmente, outra vez, de novo,

tambémArar – trabalhar a terra com o arado, semearArdess’ = ardesse – queimasseArreyte – viril, duro, com apetite sexualArreytado – retado, estimulado sexualmenteAtã = atan – tãoAscondudo – oculto, escondidoAsinha – depressa, rapidamenteAsnaes – de asno, muito grandeAsperança – esperançaAssanhar – provocar a sanha, a raiva, tonar-se

agitadoAssaz – bastante, suficienteAssenso – assentimento, consentimento

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Assi – assimAta – prende, submeteAtal – tal, atéAtan – tãoAtãto – tantoAtenden – esperam, acontecem, tornamAvelanas – avelãs, frutos da avelaneiraAver – haverAverrey – haverei; chegar a um acordoAve – imperativo do verbo aver > haver.Avedes = havedes – haveisAvelaneyra – avelaneira ou aveleira, pé de

avelãAven – advem, sucede, aconteceAver – haver, ter

— B —

Bainha (do latim: vagina) – invólocro, dobraBanhar – nadar, tomar banhoBeldad – beleza, muito belaBenino, bonino – benignoBever – beberBodalho – porcoBõ = boo, bõo – bomBrav’ = bravo – corajoso, enfurecido

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— C —

Ca – do que, pois, porqueCalarm’ – calar-meCalat’ – cala-teCam – cãoCaralhos – pênisCativ’ = cativo – infeliz, desgraçado,

prisioneiroCevada – comida para a criação (isto é: para

animais ou vassalos e vilões)Chufar – dizer chufa, zombar, troçar, mentir,

enganarCitola – cítola, instrumento medieval dos

jograis, tipo alaúde, de quatro ou cincocordas

Citolar – tocar cítolaCitolon – designação depreciativa de cítola,

cítola ruimCo – comCõ – comCoid’ = coydo – cuidar, imaginar, estar a

serviço do amorCoidado = coydado – preocupação, aflição,

zelo amoroso, opiniãoCoidar = coydar – meditar, imaginarCoita = coyta – sofrimento amoroso, cuidado,

trabalho para servir à pessoa amada

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Coitedes = coytedes – forma do verbo coitar,importuneis, perseguis, afligis

Colhedes – forma do presente do indicativodo verbo colher

Colhões – testículosColor – corCome – como; comigoComunal – de boas maneiras, lhano, sociávelConhocert’ – conhecer-teConhoscome – conheço-me, sei do meu valorContrayro – contrárioCõprida – cheia, plenaCoraçam – coraçãoCoraçon – coraçãoCoraes – punhos de rendaCoro – dependência da igreja, onde são

cantadas as oraçõesCorrea – tira de couro (lat. Corrigia), correia,

cinto, coisa de pouco valorCorreger – corrigirCõsigu’ = cõsiguo – consigoCousa – nada; coisaCousecer – repreender, examinar, censurarCoyd’ = coydo – cuidar, imaginar, estar a

serviço do amorCoydado = cuidado – preocupação, aflição,

zelo amoroso, opiniãoCoydar – meditar, imaginar

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Coyta = coita – sofrimento amoroso, cuidado,trabalho para servir à pessoa amada

Coytado = coitado – amante que sofre asconsequências do amor não correspondido

Coytedes = coitedes – forma do verbo coitar,importuneis, perseguis, afligis

Creud’ = creudo – acreditado, verdadeiroCrido – acreditadoCuyd’ = cuydo, coydo – cuido, imaginoCuydade – imaginar, refletir, cuidarCuydado = coydado, cuidado –preocupação,

aflição, zelo amoroso, opiniãoCuydey – imaginei

— D —

Dadeas – dade-as, daiD’aqueste – daqueleDalgo – de algoDamandar – perguntar, procurar, pedirDam’ – da-meDemãdey – forma do verbo demandar,

perguntar, procurar, pedirDan = dão – forma do indicativo presente do

verbo darDantre – antes de, antesDaver – de haverDeantar – cumprir com pontualidade,

progredir

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Delgado – fino, esbelto, eleganteDemanda – litígio, procura, reclamaçãoDemandey = demandei – procurei,

pergunteiDemo – demônio, diaboDes – desdeDes i – além disso, desde entãoDesamar – deixar de amar, odiarDesamperado – desamparadoDesasperar – desesperarDesatinar – endoidecer, desvairarDesaventura – desventuraDesdezidores – maldizentes, que falam malDesfazimento – ato de desfazerDesforço – vingança, desforraDesguysado = desguisado – inconveniente,

fora de propósitoDesloar – desfazer, mal-dizer, o contrário de

loar, ou de louvarDestorvou – forma do verbo destorvar,

incomodar, criar estorvoDeulhi – deu-lheDina – dignaDireyvus – direi-vusDis – disseDixelh’ – dixe-lhe, disse-lheDõa – de umaDoas – presentes, doações

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Doo – dorDordenar – de ordenarDormio – durmoDrudo = drut – amanteDu a = duma – de umaDultança – dúvida

— E —

Ei = ey – hei, tenho (do pres. Do indic. Doverbo aver = haver)

Eeffadado – enfadado, com enfado, tédio,mal estar

El – eleEmanguado – providoEmde – disso, por isso, nemEmprenha – engravidaEn, e – em, isso, daí, por isso, ainda que,

emboraEncaecer – passar por velhoEncaralhado – viril, possuidor de dotes

sexuaisEnd’ = ende – por isso, dissoEndoado – ferido (de amor), magoadoEnfadado – aborrecidoEnmentarey – futuro do verbo enmentar,

relembrarei, mencionarei, farei referênciaEno – em o, no

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Enssinademe – ensinai-meEntenças – fazes tençonEnvio – forma do verbo enviar, mandarEr – também, o mesmo que arErades – forma do imperfeito do verbo seerErgeria – ergueria, levantaria, endireitariaErgas = erguas – a não ser, senão, excetoEscaralhado – impotenteEscarnecia – zombavaEsquyv’ = esquivo – desdenhoso, que trata

malEst = é – é, forma do presente do verbo seerEst’ = esto – istoEstar – lugar de hóspedesEstonces – entãoEstorvar – por obstáculos, impedir, incomodarEt = e – e (do latim et), usada principalmente

antes de vogalEy = ei – hei, tenho (forma do presente do

indicativo do verbo aver = haver)

— F —

Fal – faltaFalha = falha – falta, erro, pecado, enganoFazm’ – faz-meFea – feiaFee = fé – crença

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Fezess’ – fez-seFilha = filha – filha, nascida deFin – fina, bela

Fì = fin – fim, términoFodimalhas – sexualmente aptoFremosa – formosaFremusura – formosuraFrol – florFrolida – floridaFuge – foge

— G —

Gaar = gãar – ganharGaj’ = gajo – velhaco, malandro

Gajé – garboGalardam = galardão – glória, prémio,

recompensa de serviços importantes

Garvaya = garvaia – vestuário da corte, peçade luxo, ver guarvaya

Genta – gentil

Getes = gentes – pessoasGrado – voluntariamente, agradecido, de boa

vontade

Grã = gram, gran – grandeGraue = grave – pesado, penoso, difícilGuarda = garda – proíbe; interdição

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Guarvaya = garvaya – garvaia, vestuário dacorte, peça de luxo

Guysa – guisa, jeito, modo, maneira

— H —

Ham – forma do presente do indicativo doverbo haver

He = e – é (est>e>é)Hi – aíHida – idaHirm’ = hir-me – ir-meHirme = hir-me – ir-meHu – onde, quandoHu ua – uma

— I —

I – aí, nisso, lá, entãoIguar – metrificar, trovar, comporIrmana – irmã

— J —

Ja – jáJaju ar – jejuar, fazer jejum, abster-se de

comerJaz – descansa, está deitado ou quieto

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Jazedes – forma do verbo jazer, estais,permaneceis

Jograr – jogral, tocador e cantador de trovasmedievais

Juizo – juízo, opinião, descriçãoJuntans’ = juntan-se – juntam-se, unem-se,

acasalam-seJuntasse – forma do verbo iuntar, juntar, unir,

acasalarJurado – feito jura, apalavrado

— L —

Lay = lai – antiga canção lírica ou épicaLazeyro = lazeiro – forma do verbo lazerar,

sofro, penoLeon = leão – um dos antigos reinos ibéricos,

depois unido a castelaLer – praiaLevadelo = levade-lo – seguiste oLevado – embravecido, levantado,

encapelado, altoLevãtey = levãtei – levanteiLeyxar – deixarLho – loLo – oLoaçã = loaçan, loaçom – louvação, elogioLoar – louvar

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Logar – lugarLograr – conseguir, alcançarLogu’ – agoraLoor – louvorLouçaã, louçana – bela, formosaLouv’en(o) – louvem-o

— M —

M’ = me – me, a mimMa – minhaMadr’ = madre – mãeMãdades = mandades – forma do verbo

mandar, mandais, ordenaisMãdo = mando – forma do verbo mandarMaestria – talentoMaíça – malíciaMais – mas; maisMaldizetes – maldizentes, detratores, que

falam malMaloutia – doença venéreaMandado – recado, notíciaManho – estou, permaneç, vivoMansa – meigaMao = mal – ruím (do latim malu) mal diaMaridada – que tem marido, casadaMays – mas, porémMea – meia

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84 coleção e-poket

Menagem – homenagemMengou – faltouMentr’ = mentre – enquantoMerçe – mercê, compaixão, graçaMester – ofício; atividadeMetesm’ – metes-meMha = mia, mya – minhaMi – mim; meMigo – comigoMilhor – melhorMinguar – faltarMirar – olharMister – urgência, precisãoMoesteyro – mosteiroMofar – zombar, fazer troçaMolher – mulherMoor = mor – maiorMoy = muy – muitoMoyro = moiro – morroMoyto = muyto – muitoMu i = mui – muitoMu y = mu yt’, mu yto – muito

— N —

Nam – nãoNamorada – enamorada, comprometida,

apaixonadaNatura – natural, conforme a natureza

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Ne = nen – nemNemigalha = nemygalha – nada, coisa

algumaNenhuu = nenhu – nenhumNõ = non – nãoNoj’ = noio, nojo – aborrecimentoNu ca = nunca – jamaisNulha – nenhuma

— O —

Ogano – este anoOi – ouviOj’ = oj’, oje – hojeOm’, ome, omen – homemOme – homemOnd’ – ondeOra – agoraOrdinhado – ordenado, membro de uma

ordem religiosa, padreOus’ = ouso – forma do verbo ousar, atrevo,

arriscoOuve – houveOuver – houverOuvesse – houvesse, tivesse

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— P —

Paan = pan – pãoPaços – côrte, solarPagada – contente, satisfeitaPan – pãoPanos – trajes, hábitos, vestesPao – pau, varaPar – porParavoa – palavraPardom – perdãoPariron – pariramParelha = parelha – parParlar – conversar, falarParteria – separariaPastor – jovem, virgem, sem experiênciaPeça – tempoPee – péPeer – traquejar, expelir gasesPeervusia – peer-vos-iaPego – pélago, a parte mais funda do marPeleja – contenda, disputaPelhejar – pelejar, batalhar na guarra, ou travar

uma tençon na arte de trovarPemdemça – penitênciaPeor – piorPer – por; muitoPera – para

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Pero – mas, ainda que, emboraPesar – incômodoPeyor = peior – piorPino = pinho – árvore, plantaPique – espécie de lança antigaPiss’ arreitado – órgão masculino rijo, em

ereçãoPissuça – penisPoer – por (verbo)Pois – depois, depois que, desde que,

porquePolo – peloPont’ – imediatamente, na horaPorfiou – teimouPos – depois, após, prometeuPose-o – pô-loPosfaçan – ridicularizam, troçamPran – valorPrasmo – censura, crítica; medoPregu teyos – perguntei-osPregu tou – perguntouPrenhada = prenhada – paridaPrenhe – prenha, grávidaPrendi – tomar, receber recompensaPrestador – cuidadorPrez – preço, mérito, valor, dignidade, apreçoPrioressa – superiora de um convento,

abadessa

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Privado – favorito, indivíduo queacompanhava o rei

Proençal – provençalProl – proveito; a favorProuguesse – prazerProuve – ordenou, muniu, coubePuinha – ponhaPunhey = punhei – forma do perfeito do

indicativo de punhar ou punhar, decidi,procurei, esforcei-me

— Q —

Queredevus – quereis-vosQueyxarvosedes = queixar-vos-edes – vós

vos queixareisQueyxarvusedes – queixar-vos-edesQuytar = quitar – livrar, tirar, afastar, deixar,

esquecerQuytastesme = quitastes-me – pagaste-

me,deixaste-meQuyso = quiso – quis

— R —

Razõ = razon, rezam – razãoRe = ren, rem – (do latim, res) alguém,

alguma coisa, algo

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Regrado – religioso que obedece a umaregra ou a um juramento, ordenado, que

recebeu ordens eclesiásticasRen – algo (ver re)Retraya – retrate, descreva

Rog’ – rogueRogia – murmurava em segredoRomeus – romeiros, peregrinos

Rosetta – rosinha, pequena rosa

— S —

Sa – suaSaa – sua

Saaide – saiamSab’ – sabeSabedes – sabeis

Sagaz – perspicaz, finoSaíva = saiiva – saliva, secreçãoSalido – particípio do verbo salir,

embravecido, saído fora do leitoSam – sãoSan’ – são

Sandia – loucaSanhudo – furioso, terrível, medonho, maluco;

que tem sanha, fúria

Sano – são

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Saya = saia – vestimenta feminina (na idademédia, para sair ou receber estranhos, asmulheres usavam um manto sobre a saia)

Sazon – estação, ocasião, tempoSeiade – sejaSeed’ = seedo, sendo – forma do verbo seer,

sendoSeer – ser, estarSegrel – jogral e trovador que recebia

pagamento pela sua arteSemelha – parece, tem aspecto deSemelharã = semelharan – assentarão,

combinarão, parecerãoSen – juízo, sensoSenho – respectivoSenhor – senhoraSenheira = senlheira – sozinhaSenho = senho – respectivoSenhor = senhor – senhoraSenta – forma do verbo sentir, sintaSeve – forma passada do verbo ser, esteveSevi – passou-seSeym’ – sei-meSi – (pron., Sibi) siSi – (adv., Sic) assim‘si = assi – assimSim – siSirventês = sirvantês – cantiga que exprime

conceitos e idéias

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Siso – sentidoSobejo – demasiado, sobraSobrelo – sobre eleSobrepeliça – sobrepeliz, veste de padre

rezar missaSodes – sois, do verbo serSoen – forma do verbo soer, costumamSofrudo = sofrido – que sofreSogeito – sujeitoSoiia = soía – forma do verbo soer,

costumavaSol = só – somente, porémSoldo – importância paga, vencimentoSoo = sõo, som, son – forma do verbo ser, souSospiro – suspiroSso – souSsy – sim

— T —

Tã – tãoTalho – feitio, talhamentoTam – tãoTan – tãoTantamey = tant’ amei – tanto ameiTeer – ter (do latim tenere)Teest’ = tees-te – forma do presente do

indicativo do verbo teer, tens a ti

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Tença, tençan – disputa, peleja, discussãoem versos (ver: tençon)

Tenção – propósito, intençãoTençon – peleja, discussão em verso, disputa

entre trovadoresTercer – terceiroTerraa = terrá – teráTever = teuer – tiverTodolos – todos os (combinação do pronome

com o artigo, existe ainda todola)Tolheram – tiraramTorva – turvoTosquiavã = tosquiavan – pestanejavamTraje – forma do verbo traier ou trager, trazTralo – tra-lo, além de, atrás doTravo – entabulo, repreendo, sofro censuraTravar – censurar, acusarTravan – forma do indicativo presente do

verbo travar; censuram, acusamTreydes = treides – forma do verbo traer,

vindeTrobã = troban – forma do verbo trobare,

trovam, versejam, fazem trovasTrobar = trovar – cantar em trovasTrovou – inventou, censurou

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— U —

U – onde, quandoUn – umU u a – uma

— V —

Vã – vãoVaa – vaiVaan = vam – indicativo presente de ir, vãoVal – forma do presente do indicativo de

valerValha – acuda, venha em minha ajudaValia = valia – valor, merecimento,

importânciaVan – vãoVe = ven, uen – vem, indicativo presente do

verbo uiir, virVedes – vêVeend’ = vendo – forma do verbo ueer (lat.

Videre), vendoVeer – ver, vierVej’ = vejo – indicativo presente do verbo

ueer (lat. Videre), vejoVejan = vejan – vejamVejo = vejo – indicativo presente do verbo

ueer (lat. Videre), vejo

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Vejote – vejo-teVel – ou, pelo menos, sequerVel – pelo menos, sequer, ouVela – vê-laVelido – belo, formoso, bem talhadoVelido, velida – belo, formosa, bem talhadoVen – vemVentura – destino, felicidade, sorteVeo – forma do verbo vir, veioVerdad’ = verdade – verdadeVeremo’ = veremos – futuro de veer (lat.

Videre), veremosVerraa = verrá – futuro de uiir>vir, viráVertudes – virtudesVestiir = vestiir – vestirVia – caminhada, jornadaVigo – importante cidade da galíciaVilão = vilão – servo, camponês nascido no

feudo do fidalgo, homem ou mulher dopovo

Viv’ = vivo – vivoVolo – vê-loVolos – vo-los, vós osVolos = vo-los – forma átona resultante da

contração de vus (vos) com o pronome los(eles)

Vontade – afeto, amorVos = vos – vós

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Vosc’ = vosco – convoscoVoss’ = vosso – vosso, por amor de vósVoo = vou – indicativo presente do verbo irVus – vos, pron. Oblíquo

— X —

X’ = xe, xi – se

— Y —

Y = i – aí, nisso, lá, então

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Quanto à música dos trovadores, ainfluência é menos conhecida, porquemesmo as cantigas de Martin Codax— que são as únicas em cujo manus-crito aparecem as partituras — nãotiveram a notação descodificada pelosmusicólogos.

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Tipologia: Gatineau, corpo 12Formato: 100 x 170 mmNúmero de páginas: 110

Salvador, 2019

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Cid Seixas é profes-sor titular da Universi-dade Federal da Bahiae da Universidade Es-tadual de Feira deSantana. Publicou di-versos livros e cente-nas de artigos, tendoorientado teses dedourorado e disserta-ções de mestrado. An-tes de se dedicar aoensino, trabalhou co-mo jornalista, de ondevem sua declaradapreferência pelos tex-tos breves e de alcan-ce pelo leitor comum.

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e-book.brEDITORA UNIVERSITÁRIA

DO L IV RO DIGITAL

O TROVADORISMO

GALAICO-PORTUGUÊS

Parte III

Cantigas de Amigo

O TROVADORISMO

GALAICO-PORTUGUÊS

As cantigas de amigo constituem oaspecto mais rico e inventivo da líricatrovadoresca galaico-portuguesa. Com-preende-se por lírica a expressão poé-tica de sentimentos e estados de espíri-to do sujeito, isto é, do eu.

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