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0 Aparecida de Lara Lopes Dias Ilma Maria de Oliveira Silva Organizadoras ISBN 978-85-66425-22-2

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Aparecida de Lara Lopes Dias Ilma Maria de Oliveira Silva

Organizadoras

ISBN 978-85-66425-22-2

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TEMÁTICAS INDÍGENAS

E A LEI 11645/2008:

Conhecer para Valorizar

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SANTA TEREZINHA – FEST R. Perimetral Castelo Branco, 116 - Parque Anhanguera. CEP. 65915-290, Imperatriz - MA.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA REGIÃO TOCANTINA DO MARANHÃO – UEMASUL

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Capa e Fotos José Bispo de Sousa - FEST

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Aparecida de Lara Lopes Dias

Ilma Maria de Oliveira Silva

Organizadoras

TEMÁTICAS INDÍGENAS E A LEI 11645/2008: Conhecer para Valorizar

Autores

Amanda Borges Saraiva

Amanda Patrícia Silva Sousa

Ana Paula Rocha Ribeiro

Anne Hellen Oliveira Da Silva

Aparecida de Lara Lopes Dias

Camila Roldão dos Santos

Carolinne Silva Almeida Santos

Cleiton Vieira Parente

Daiane Mesquita Barros de Oliveira

Danielle de Sousa Ferreira

Dariane Lima Silva Oliveira

Elaine Soares dos Santos

Francipaula Pereira de Sousa Pontes

Gabriel Rocha Monteiro

Herlanny Nascimento Lima Araújo

Ilma Maria de Oliveira Silva

Israela Costa Freitas

Ivanilde Pereira Alves

Katiana de Sousa Pereira

Kllennelys Silva Bastos

Lucélia Mesquita Santos Aguiar

Maria José de Oliveira

Maria Luana Fernandes Morais

Mariana Silva Ramos

Mariléia Érica Rufino De Lima

Marizete Pereira Lima

Matheus Sousa Arraz Amazonas

Maysa Natália Viana Silva

Mônica Martins Do Nascimento

Naissara Alves Vieira

Natalia Oliveira Silva

Railane Fernandes Morais

Rosiane Maria Sudário Da Silva

Sílvia Rodrigues de Araújo

Tatiane Brandão Vieira

Thainah Silva Martins

Valdirene Pereira da Silva

Wildelane Costa Mendes

Imperatriz-MA, 2017

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O leitor tem a liberdade de compartilhar, copiar e imprimir sob as seguintes condições:

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- Não usar esta obra para fins comerciais;

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Lei nº 9.610/98 dos Direitos Autorais.

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Roza Maria Soares da Silva da Faculdade de

Educação Santa Terezinha - FEST

Site: www.ethos-editora.com E-mail: [email protected]

Fones: (99) 99229-0795 (99) 98820-0406

Publicação de livros e revistas

Temáticas indígenas e a Lei 11645/2008: conhecer para valorizar

T278 / Aparecida de Lara Lopes Dias, Ilma Maria de Oliveiras Silva,

Organizadoras. – Imperatriz: Ethos, 2017.

199p. :Il.

Vários autores

ISBN 978-85-66425-22-2

1. Índios – Brasil. 2. Cultura indígena – Brasil. 3. Povos In- dígenas krikati – Brasil. 4. Índios – Legislação – Brasil. I. Dias, Apare-

cida de Lara Lopes, org. II. Silva, Ilma Maria de Oliveira, org. III. Título.

CDU 39(=1.82-81)

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SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................................................. 6

A luta dos povos indígenas pela cidadania e igualdade ..................................... 8

Povos indígenas e cultura(s) indígenas ................................................................... 24

A importância da cultura indígena e a Lei 11.645/2008....................................... 38

A importância da cultura indígena versus predomínio da

visão etnocêntrica ....................................................................................................... 49

Cultura indígena: desconstruindo o etnocentrismo .............................................. 61

A diversidade cultural indígena e suas contribuições .......................................... 70

Contribuições dos povos indígenas: conhecendo e valorizando as

culturas ........................................................................................................................... 83

Povos indígenas brasileiros: uma história de lutas e conquistas......................... 94

A participação indígena no contexto cultural do Brasil..................................... 102

Os povos indígenas e suas contribuições para a formação do

povo brasileiro ............................................................................................................ 112

Povos indígenas: um olhar de respeito às diversidades brasileiras ................. 124

Povos indígenas brasileiros: revelando concepções ......................................... 137

Os povos indígenas brasileiros: cultura, ensino e contribuições ...................... 146

Povos indígenas e diversidade cultural: reflexão a partir da

Lei 11.645/2008 e sua aplicabilidade no chão escolar ...................................... 162

Identidade indígena: uma análise na concepção do imperatrizense

Acerca da cultura indígena .................................................................................... 175

A percepção dos alunos do Ensino Médio de uma escola pública

de Imperatriz-MA sobre os povos indígenas ........................................................ 187

O Dia do Índio na percepção dos professores dos anos iniciais

do Ensino Fundamental ............................................................................................. 197

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APRESENTAÇÃO

Este livro é o resultado das elaborações realizadas durante a disciplina

de História e Cultura dos Povos Indígenas pelos(as) acadêmicos(as) do curso

de Pedagogia da Faculdade de Educação Santa Terezinha-FEST e a

Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão-UEMASUL,

orientados pelas professoras das respectivas Instituições que ministraram a

disciplina.

Pensar os povos indígenas como sujeitos de suas histórias foi à proposta

feita aos acadêmicos para desnaturalizar o que haviam aprendido nos livros

didáticos. Desta feita, o desafio de se trabalhar de forma interdisciplinar,

envolvendo acadêmicos e professores de duas instituições diferentes, foi o

primeiro passo para organizar uma proposta que contemplasse o diálogo

como fio condutor de uma reflexão sobre temáticas que ainda causam

estranheza e desinteresse a muitos.

Assim, após seis meses de muitos debates, construções,

desconstruções, visitas em aldeias nos arriscamos em oportunizar aos

acadêmicos o registro do que pensam sobre os povos indígenas brasileiros,

suas culturas, enfim, o que mudou no imaginário de cada um após as

pesquisas realizadas em um curto espaço de tempo.

Sabemos das fragilidades destes e das críticas que poderão ocorrer,

mas, as primeiras escritas dos (as) acadêmicos (as) envolvidos (as) sobre a

temática indígena é um marco de crescimento do senso crítico em relação

às diferenças étnicas.

Nessa perspectiva, o e-book: Temáticas indígenas e a Lei 11645/2008:

Conhecer para Valorizar, agora apresentado, objetiva a valorização das

primeiras iniciativas da escrita dos (as) acadêmicos (as), o qual servirá,

também, como fonte de pesquisa.

Ilma Maria de Oliveira Silva

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A LUTA DOS POVOS INDÍGENAS PELA CIDADANIA E IGUALDADE

Matheus Sousa Arraz Amazonas1

Aparecida de Lara Lopes Dias2

1 Introdução

Em relação à temática indígena nos dias atuais, percebem-se, ainda,

os reflexos da visão etnocêntrica tanto nos aspectos culturais quanto nos

sociais. Tais reflexos vêm lá do passado da História do Brasil, desde o

“descobrimento” em 1500 onde os colonizadores portugueses julgavam-se

superiores aos povos indígenas que aqui habitavam. Desse modo, muitos

indígenas foram obrigados a deixar seus costumes e crenças para se

converterem a cultura europeia.

No entanto, houve também aqueles indígenas que indígenas

começaram a reagir contra os portugueses por meio de batalhas e lutas

sangrentas, nas quais objetivavam a proteção das ditas terras brasileiras dos

invasores europeus que ali desembarcaram, assim como também o direito

de produzirem e viverem nessas terras. Sendo assim, os portugueses passaram

também a revidar os conflitos, gerando então uma série de extermínios

contra os povos indígenas.

Todos esses fatos ocorridos no passado fizeram com que os povos

indígenas, na atualidade, buscassem cada vez mais seus direitos, porém,

mesmo com todas as resistências desses povos, ainda existem o racismo e o

preconceito social.

Portanto, o objetivo central deste texto é discutir os obstáculos que os

povos indígenas vêm enfrentando pela luta de seus direitos desde o início

até a atualidade da História do Brasil. Direitos esses voltados à saúde,

educação, cidadania, educação, escola, uso de tecnologias e a posse de

terras para a própria sobrevivência.

1 Acadêmico do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 2 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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No primeiro tópico, aborda-se o conceito de cultura e etnocentrismo

de acordo com a Antropologia, fazendo uma retrospectiva em relação à

cultura dos primeiros povos que habitavam no Brasil no período da

colonização, dentre eles destacam-se: os Tupinambá e os Tucano. Em um

segundo momento se traz as principais contribuições da Lei 11.645/2008 para

o ambiente escolar, a qual estabelece o ensino obrigatório da temática

indígena e afrodescendente.

Partindo da abordagem da Lei 11.645/2008, apresenta-se também o

resultado de uma pesquisa realizada em uma escola da rede municipal de

ensino da cidade de Imperatriz-MA, a qual visa conhecer como é

trabalhada a temática indígena nesta instituição, apontando os pontos os

quais devem ser melhorados no ensino e nos conteúdos desta temática nos

livros didáticos.

Mais adiante, trata-se sobre o povo indígena Awá-Guajá, apontando

seus direitos, organização social e vivência. Por sua vez, no último subtópico,

aborda-se a luta dos povos indígenas em geral para gozarem dos mesmos

direitos que o homem não indígena usufrui; tais direitos estabelecidos pela

cidadania brasileira.

Este trabalho está fundamentado no pensamento dos seguintes

autores: Baniwa (2006), Cruz (2003), Nascimento (2016), Oliveira (2006),

Ribeiro (2001), Saviani (2010), Silva e Grupioni (1995), os quais se

preocuparam em discutir diversos pontos importantes em relação à temática

indígena.

2 Cultura e etnocentrismo

Cultura é uma palavra de origem cunhada no latim colere (cultivar), a

qual se refere ao ambiente rural onde um ou mais indivíduos irão lavrar a

terra em que vivem com o intuito de fazer esta produzir e dar colheita.

Cultura pode ainda ser compreendida como os costumes e hábitos de um

povo, sejam estes, materiais (objetos artesanais) ou imateriais (rituais e

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crenças). A mesma é responsável, também, em estabelecer o

comportamento do homem perante a sociedade em que se está inserido.

Cultura é um termo que abrange diversas coisas: religiosidade,

linguagem, crenças, rituais, dança, gastronomia, moda, música e

artesanato; através dela o indivíduo aprende a se adaptar no seu contexto

social valorizando a sua própria cultura e respeitando a do outro, pois

nenhuma é superior a outra, todas possuem seu valor. Além disso, por meio

desta, o homem consegue superar suas dificuldades modificando seu modo

de viver.

Em relação ao Brasil, pode-se dizer que é um país de múltiplas culturas,

onde algumas surgiram por meio dos povos indígenas que já habitavam essa

região antes da época do ‘descobrimento’. De acordo com o mapa do

etnólogo Nimuendajú encontrado na obra de Oliveira e Freire (2006) existiam

no Brasil mais de 1400 povos, representantes das maiores famílias linguísticas

como os Tupi-Guarani, Jê, Xirianá, Tucano, Tupinambá e diversos outros. E

ainda, conforme Silva e Grupioni (1995, p. 295):

A chegada dos portugueses significou o início de um processo de

‘depopulação’ dos índios que só agora historiadores, arqueólogos,

antropólogos e linguistas começaram a compreender. Foi um

processo brutal, que extinguiu com as línguas através muitas vezes da

extinção física dos povos que as falavam.

Antes dos colonizadores desembarcarem no Brasil, havia cerca de

1.175 línguas indígenas faladas em todo o país, porém nos dias atuais esse

número caiu para 180 devido a extinção de diversos povos que aqui

residiam, atribuindo essa diminuição ao extermínio, doenças e redução de

subsistência, tais fatores negativos trazidos pelos portugueses a partir de 1500

(SILVA; GRUPIONI 1995).

No que se refere à cultura, de acordo com o pensamento de Oliveira

e Freire (2006) os povos Tupinambá, por exemplo, praticavam o canibalismo

como um ritual sagrado, onde acreditavam que se consumissem a carne

humana iriam adquirir inteligência e coragem para as batalhas. Já o povo

Tucano tinha seus rituais centrados em objetos e substâncias sagradas como

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a pintura vermelha carayuru e o uso da flauta, os quais constituem grandes

poderes espirituais conforme a crença dessa comunidade. Todos estes

tinham culturas diferentes uns dos outros (SILVA; GRUPIONI 1995).

Ao referir-se a qualquer membro desses povos, não se deve mais

empregar o termo índio por razão deste passar a falsa impressão de que

existe apenas um único povo índio e, além disso, também dá a ideia de que

este indivíduo é preguiçoso, acomodado, selvagem e atrasado. Sabe-se que

esta palavra surgiu quando os portugueses andavam em suas caravelas a

procura das novas terras. Quando chegaram ao Brasil, os colonizadores

portugueses encontraram os povos nativos que aqui moravam, os quais

foram chamados por eles de índios pelo fato de pensar que estavam na

Índia.

Portanto, quando se utiliza a palavra indígena, sabe-se que a mesma

está se referindo a várias comunidades com etnias, culturas e costumes

distintos, desconstruindo então esse conceito negativo em relação a esses

povos.

Atualmente, quando se fala das culturas alheias, o que vem em mente

é a questão de uma pessoa desconsiderar e criticar os costumes e hábitos

do outro. A Antropologia dá o nome de etnocentrismo, no qual um indivíduo

ou um grupo de indivíduo afirma que o seu grupo é o centro de todas as

coisas, em outros termos, quando uma cultura se considera superior às

demais.

Neste sentido, uma pessoa etnocêntrica não aceita que seu

semelhante seja diferente, siga hábitos distintos dos seus. Para Silva e

Grupioni (1995, p.430), o etnocentrismo se dá quando há “estranhamento

diante dos costumes de outros povos, a avaliação de formas de vida

distintas a partir dos elementos da nossa própria cultura”.

O etnocentrismo, por sua vez, tem se fundamentado em afirmar o que

é correto e errado, feio e bonito apontando os comportamentos das pessoas

em relação aos costumes alheios. Alguns temas como: homossexualidade,

religião, cultura e políticas sofrem muitos preconceitos.

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Os homossexuais tanto homens quanto mulheres estão na luta por seus

direitos para serem incluídos na sociedade e tratados com respeito,

buscando quebrar a ideia do pensamento tradicional de que casal é

apenas homem e mulher e não duas pessoas do mesmo gênero. “O

homossexualismo não se trata nem de um pecado, nem de uma doença

física ou moral: trata-se de uma opção que implica uma modificação

substantiva do modo de vida do indivíduo” (SILVA; GRUPIONI 1995, p. 433).

Em outros termos, pode-se afirmar que os homossexuais estão cada vez mais

participando ativamente do cotidiano social, ao contrário de antigamente

onde tudo era mais oculto.

A religiosidade também é outro assunto que apresenta preconceito;

pessoas mais conservadoras da religião costumam criticar não aceitando e

desrespeitando as ideias da religião B ou vice-versa, isso tem causado muitos

conflitos sociais em grande parte do mundo. Apesar disso, ainda se vê líderes

de denominações diferentes tentando estabelecer um vínculo de paz entre

as mesmas; por exemplo, no caso das Igrejas Católica e Evangélica já são

realizados cultos ecumênicos, os quais objetivam acabar com esse clima de

superioridade religiosa.

Sabe-se que cada pessoa nasce em uma localidade diferente, seja

em outro país, cidade ou civilização. Em cada um se aprende o que seu

povo acredita ser certo, valorizando e velando pela sua cultura; porém é

necessário que construamos a valorização da cultura do semelhante para

que se desconstrua a ideologia do etnocentrismo. Todos têm o direito de

viver como quer e tentar ser feliz do seu jeito, não importando a sua crença,

sexualidade, nacionalidade, etnia, cor ou fé.

A sociedade com certeza seria melhor caso não fosse preconceituosa.

Se houvesse mais respeito e amor ao próximo, o mundo não estaria

desagradável da forma que está. Portanto, cada um deve seguir sua vida

como achar cabível, mais claro, sem manipular ou passar por cima dos

outros e sim fazer cada minuto valer apena da melhor maneira possível.

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3 As contribuições da lei 11.645/2008 para o ambiente escolar

Apesar de o Brasil possuir em seu território uma multiplicidade de povos

e etnias percebe-se, ainda, o predomínio da visão etnocêntrica, onde o

modelo europeu é implantado ou interpretado pela sociedade como

superior aos demais. Sabe-se que essa superioridade vem desde o período

colonial, quando os portugueses enviaram os padres jesuítas da Companhia

de Jesus com o intuito de converter os indígenas a santa doutrina Católica e

aculturá-los segundo os costumes portugueses, os quais eram considerados

corretos e verdadeiros (SAVIANI, 2010).

Trazendo essa questão para o contexto atual da história brasileira,

nota-se a predominação do preconceito e discriminação contra os povos

indígenas e afrodescendentes. Compreende-se que, na sua maioria, as

escolas e demais instituições educacionais ainda não estão trabalhando

essa conscientização de valorização e respeito às diversas culturas. De

acordo com o pensamento de Cruz e Jesus (2013, p. 01), “o espaço escolar,

assim como outros espaços sociais, não está isento da visão discriminatória

acerca dos índios e negros, sendo que muitas vezes a escola reproduz a

visão de diferentes parcelas da sociedade”.

Em razão desse problema, foi sancionada no dia 10 de março de 2008

a Lei 11.645 que recomenda o ensino obrigatório da disciplina de História e

Cultura Afro-brasileira e Indígena; a mesma é uma ampliação de outra Lei

anterior, a de número 10.639/2003 que relatava apenas o estudo da cultura

africana e afro-brasileira.

Entretanto, apesar de ter ocorrido à promulgação da Lei de 2008 não

significa que os estabelecimentos educacionais vão trabalhar as temáticas

em questão, devido a falta de preparo e até mesmo a ausência dos

recursos apropriados, “a lei, porém, não é garantia de que esse ensino

realmente irá acontecer e que o professor terá os meios necessários para

informar aos seus alunos os conhecimentos sobre a História e Cultura Africana

e Afro-brasileira e Indígena” (CRUZ; JESUS 2013, p. 02).

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Outro ponto a ser destacado com relação a essa lei, é que a mesma

trouxe a recognição da pessoa do indígena e do negro na sociedade, pois

desde o início da história ambos eram considerados como seres sem cultura,

vistos apenas como escravos. Partindo daí a 11.645/2008 tem o objetivo de

reafirmar que tanto os indígenas quanto os negros muito contribuíram para o

desenvolvimento dos distintos povos do Brasil, gerando assim uma cultura

diversificada.

3.1 Os obstáculos encontrados para se trabalhar a História e Cultura Indígena

nos dias de hoje

Como foi mencionado anteriormente, o ensino sobre a História e

Cultura Africana e Afro-brasileira e Indígena muitas vezes não acontece

devidamente ao despreparo profissional dos educadores e a falta de

materiais aprofundados e relacionados aos temas em questão. Segundo

Almeida (2010, p. 05 apud CRUZ; JESUS, 2013, p. 06):

Um dos grandes problemas em trabalhar com essa e outras

temáticas dentro das aulas de história é que muitas vezes no

currículo da disciplina predomina principalmente uma gama de

conteúdos eurocêntricos. Outro fator que dificulta o trabalho com

esse tema é que há, por parte de alguns professores, um

desconhecimento sobre a cultura indígena.

Partindo desse pressuposto, foi realizada numa escola da rede

municipal de ensino de Imperatriz, uma pesquisa na qual foi usada como

instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada com a

professora do 1º Ano do ensino fundamental. O propósito do questionário, a

princípio, era verificar se a educadora tinha conhecimento da Lei

11.645/2008 e se no ensino é contemplada a temática indígena.

A professora deixou transparecer que já tinha compreensão da lei.

Neste sentido, foi perguntado como ela trabalhava na sala de aula em

relação à temática indígena e como ocorre essa prática pedagógica. Por

sua vez a entrevistada relatou que a temática indígena é trabalhada

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somente no dia 19 de abril (Dia do Índio) onde as crianças pintam desenhos

e se caracterizam com tintas guaches e penas na cabeça.

Outra pergunta foi em relação à utilização do livro didático de história

para trabalhar a temática indígena. Conforme a resposta, o livro didático

não tem muito conteúdo abrangendo sobre os indígenas e são pouquíssimas

as informações presentes neste recurso. A professora evidenciou que os

indígenas aparecem nos livros apenas no “descobrimento” do Brasil para

servirem de mão de obra aos portugueses.

Após a entrevista desenvolvida na escola campo, pôde-se analisar

que esta instituição possui métodos tradicionais e ultrapassados os quais

trabalham a história indígena centrada no passado desse povo, ou seja,

ainda permanece aquele pensamento etnocêntrico de que o índio vive em

oca, anda despido e continua atrasado e acomodado. Portanto, conclui-se

que nesta escola ainda não se trabalha a Lei 11.645/2008 como deveria.

3.1.1 A limitação do conteúdo indígena nos livros didáticos de história

Como se sabe, a escola é o estabelecimento onde o indivíduo adquire

seus primeiros conhecimentos teóricos da educação básica. Em outras

palavras, pode-se dizer que esta instituição de ensino é o ambiente mais

adequado para a ampliação dos conhecimentos prévios e a construção de

outros. Conforme Ribeiro (2001, p. 14): “durante a infância e a adolescência,

período em que frequenta a escola, a pessoa recebe o maior volume de

informações sistemáticas a respeito de outras culturas e outros povos”.

Sendo assim, o livro didático é o material mais apropriado para

transmitir informações concretas a respeito do desenvolvimento da

sociedade e das pessoas que estão inseridas na mesma. Além disso, é por

meio dos anúncios contidos nesse recurso que o indivíduo constrói a figura

de seu semelhante; porém, observa-se que o livro didático (neste caso o de

História) apresenta restrição em relação a alguns conteúdos voltados a

história da sociedade brasileira, como por exemplo, a presença do indígena,

percebida apenas de forma secundária.

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No entanto, Darcy Ribeiro (2001) afirma que os livros de História

continuam presos ao passado onde tanto os textos quanto as imagens ainda

exaltam a imagem do colonizador, apontando-o como soberano, herói e

descobridor da pátria, e por outro lado, menospreza a pessoa do indígena

enfatizando o mesmo como o animal selvagem, nu e sem cultura que

precisa urgentemente ser domesticado para viver na sociedade. “Quase

sempre o enfoque dado a índios e negros se concentra no passado. Falar

em índios é falar do passado, e isso de uma forma secundária, pois eles

aparecem apenas em função do colonizador” (RIBEIRO, 2001, p. 15).

Ou seja, o indígena aparece somente como mão de obra escrava

durante o período colonial, depois disso ele sai de cena e ninguém encontra

sua participação nas demais fases do Brasil (Império e República), assim

como também antes da época do “descobrimento”, os livros didáticos não

fornecem informações relacionadas à vivência desses povos e o

aparecimento deles nas terras brasileiras há milhares de anos anteriores a

1500. Ainda sobre isso, Ribeiro (2001, p. 17) afirma:

Além de apresentar os índios como pertencentes a um tempo

pretérito, os manuais escolares transmitem imagens fragmentadas e

contraditórias. Entre outras coisas, produzem a mágica de fazer os

índios aparecerem e desaparecerem da história do Brasil [...]. Ao

jogar os índios no passado, os livros didáticos não preparam os alunos

para entender a presença indígena no presente e no futuro, apesar

de os meios de comunicação divulgarem cotidianamente

informações acerca dos índios de hoje.

Em outros termos, percebe-se que os livros didáticos de História não

condizem muito com a realidade que a sociedade brasileira presencia hoje

com relação à pessoa do indígena. Por essa razão, precisa-se mudar essa

realidade dentro da escola para que seja abolida a visão etnocêntrica, pois

não deve haver essa superioridade entre as etnias; os indígenas assim como

os negros ou quaisquer povos têm o direito de viver e expandir suas culturas

e os livros impressos por sua vez devem trazer informações mais específicas e

atuais sobre a vida desses povos, rompendo assim com essa falsa

concepção de que índio é passado.

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4 Os povos indígenas Awá-Guajá

Os povos indígenas Awá-Guajá, considerados pela Fundação

Nacional do Índio-FUNAI como povos de recente contato devido viverem

isolados da sociedade, encontram-se em três terras situadas no estado

maranhense, são elas: Terra Indígena Alto Turiaçu, Terra Indígena Caru e

Terra Indígena Awá, as quais possuem cerca de quatrocentos pessoas

abrigadas em suas dependências.

A proteção e promoção dos direitos territoriais desses povos são

fundamentais para sua sobrevivência física e cultural. Esses povos

vivem em situação de extrema vulnerabilidade, ocasionada pela

constante ameaça de invasão de seus territórios, pelas práticas de

desmatamento dos madeireiros e, de modo geral, pelo pouco

alcance e efetividade das políticas públicas entre eles

(NASCIMENTO, 2016, p. 03).

A Terra Indígena Awá por sua vez, possui a sua área demarcada e

autenticada por madeireiros invasores. Os Awá vivem ainda no nomadismo,

ou seja, sobrevivem da caça e da coleta de alimentos que a natureza

oferece. Em relação à saúde o povo Awá-Guajá recebe apoio e assistência

médica por intermédio da FUNAI e do Conselho Indigenista Missionário - CIMI

que também fornecem medicamentos.

Quanto a educação escolar dos Awá-Guajá tem-se três escolas

situadas nos Municípios de Araguanã e Bom Jardim. São elas: Escola

Indígena Awá-Guajá, Escola Indígena “Pape Japonaripa Yruhu Waitumaa” e

Escola Indígena “Tiracambu”, ambas com o total de cento e seis alunos

matriculados e dois professores para atenderem a demanda (sendo um

indígena e o outro não). Segundo as informações da Secretaria de Estado

da Educação3, a primeira escola citada anteriormente é a única que possui

código no INEP, já as demais não estão inscritas nesse órgão.

Em relação aos direitos desses povos de recente contato, a FUNAI

criou o Programa Awá que tem o intuito de realizar ações voltadas à

3 Gildete Dutra

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educação e a proteção das Terras dos Awá-Guajá, assegurando dessa

maneira seus direitos.

5 A luta dos povos indígenas pelos seus direitos da cidadania

Como já foi abordado anteriormente neste artigo, os povos indígenas

sempre foram vistos de forma secundária na História do Brasil, tanto no

âmbito social quanto no cultural; em outras palavras, estes povos

simplesmente eram considerados inferiores aos portugueses, devidamente

pelo modo em que viviam e se organizavam na sociedade brasileira.

Sendo assim, os povos indígenas da época do “descobrimento” de

1500, foram obrigados e forçados pelos colonizadores a seguirem outras

crenças, hábitos e costumes diferentes daqueles os quais estavam

acostumados a acreditar e desenvolver.

Mesmo com essa imposição europeia, muitos dos povos indígenas que

aqui viviam no período colonial resistiram ao etnocentrismo praticado pelos

portugueses; essa resistência, no entanto, deu início a diversas lutas, onde os

indígenas velavam em virtude dos seus direitos culturais e sociais.

Entretanto, ao trazer esses acontecimentos do passado para o

presente da História do Brasil, percebe-se que os povos indígenas ainda

continuam lutando pela a igualdade de exercerem seus direitos na

cidadania brasileira. Conforme o pensamento de Baniwa (2006, p. 87) pode-

se afirmar que:

Nos últimos vinte anos, os povos indígenas do Brasil, por conta de

muitas lutas, mobilização e pressão política, foram conquistando

gradativamente o status político de cidadania brasileira, o que

significa, na prática, a possibilidade de usufruírem dos direitos

garantidos aos cidadãos brasileiros enquanto continuam adotando

os seus modos próprios de viver, de pensar, de ser e de fazer.

O autor Baniwa explica que os povos indígenas devem também

exercer dos mesmos direitos que foram garantidos aos demais cidadãos

brasileiros sem precisar deixar os seus costumes, ou seja, sem precisar

aculturar-se aos hábitos e crenças de outros povos. Infelizmente, esses

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direitos ainda não são totalmente respeitados; essa tão sonhada cidadania

igualitária ainda está passando por um processo de construção com muitas

lutas, obstáculos e resistências.

Segundo ainda Baniwa (2006), o conceito de cidadania limita-se

apenas nos direitos e deveres comuns em que várias pessoas compartilham

dos mesmos valores culturais, das mesmas crenças e costumes; em outras

palavras, nota-se então que a definição de cidadania encontra-se presa ao

etnocentrismo, defendendo o pensamento de que existe apenas uma

cultura verdadeira a ser seguida.

Sendo assim, para se pensar na cidadania dos povos indígenas do

Brasil, faz-se necessário a superação deste conceito discriminatório de

cidadania, pois se sabe que os indígenas não desenvolvem as mesmas

regras estipuladas pelo o Estado; em suas terras, ambos exercem suas regras

em particular, as quais na maioria das vezes não condizem com as do

Estado.

“Essa contradição que muitos intelectuais brasileiros como o jurista

Carlos Frederico Marés, dizem que o povo indígena, para adquirir sua

cidadania, é muitas vezes obrigado a perder sua identidade como índio”

(BANIWA 2006, p. 88). Ou seja, para um indígena tornar-se cidadão é

necessário ele aculturar-se a outros costumes distintos dos seus,

comportando-se então igualmente ao homem não indígena.

Apesar de toda essa visão etnocêntrica contra os povos indígenas,

vale ressaltar que estes contribuíram e muito para a formação da sociedade

brasileira; por essa razão os mesmos se sentem no direito de usufruir dessa

cidadania igualmente as demais sociedades. E sobre isso Baniwa (2006, p.

88) ainda aponta: “[...]devem igualmente usufruir dos direitos e dos deveres

de todo cidadão brasileiro, sem que isto signifique abrir mão de seus modos

próprios de vida”.

A cidadania por sua vez, tem o papel de amparar e acolher os

indígenas, garantindo então os seus direitos perante o restante da sociedade

não indígena; direitos esses voltados para a saúde, à posse de terras, ao

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sustento familiar, à educação escolar, à tecnologia de informações e

também ao direito de opinarem em assuntos de seus interesses.

Em outras palavras, essa cidadania serve mais para garantir o espaço

e a sobrevivência do indígena na sociedade não indígena, pois, os

indígenas em suas aldeias não precisam seguir esses modelos padrões

exigidos pelo o Estado; lá nas aldeias são eles que decidem e organizam as

regras, onde todos vivem de modo coletivo. Segundo ainda a afirmação de

Baniwa (2006, p. 89):

No interior das comunidades indígenas, [...] a carteira de identidade

ou o CPF são absolutamente desnecessários, mas tornam-se

imprescindíveis quando lidam com a sociedade nacional. Neste

sentido, podemos afirmar que a cidadania é um recurso apropriado

pelos povos indígenas para garantir seu espaço de sobrevivência em

meio à sociedade majoritária.

Portanto, o que se preza hoje, é uma cidadania diferenciada; quando

se fala em diferenciada não quer dizer que seja uma cidadania

discriminatória, desigual ou inferior, pelo contrário, trata-se de uma

cidadania igualitária, na qual indígenas e os não indígenas sejam tratados

como um todo; desta forma tem-se uma cidadania diferente da outra

imposta anteriormente.

Em outros termos, essa cidadania diferenciada resume-se quando uma

pessoa se beneficia dos direitos de cidadão brasileiro, e acima de tudo

usufrui ainda os direitos de viver sua própria cultura, tradições e costumes.

Neste sentido, segundo Baniwa (2006) a cidadania do Brasil precisa incluir o

indígena em todas as atividades desenvolvidas em sociedade.

6 Considerações finais

Como já apresentado no decorrer deste artigo, os povos indígenas

sempre foram vistos em segundo plano como pessoas sem culturas e

contribuições algumas para o desenvolvimento da sociedade brasileira; em

outras palavras, os mesmos eram denominados como animais selvagens que

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urgentemente precisavam se converter a outros costumes diferentes dos

seus, para dessa forma viverem em sociedade como pessoas civilizadas.

Tal visão etnocêntrica foi implantada desde o “descobrimento do

Brasil” pelos portugueses, os quais se julgavam superiores aos povos indígenas

em todos os âmbitos: social, econômico, político e acima de tudo o cultural;

os indígenas sempre foram excluídos da sociedade.

Por esta razão, esses povos seguem lutando pelos seus direitos de

cidadãos brasileiros, pois pretende garantir a própria autonomia em assuntos

de seus interesses mesmo enfrentando diversas dificuldades como o

preconceito.

Sendo assim, este trabalho teve o intuito de apresentar os povos

indígenas na sociedade brasileira atual, apontando que o etnocentrismo em

relação a estes povos ainda predomina e que as pessoas, as autoridades

precisam continuar insistindo para a elaboração de projetos que incluam

esses povos na sociedade.

As escolas, por exemplo, devem trabalhar a temática indígena com

outros recursos além do livro didático, pois este infelizmente ainda possui uma

visão do indígena centrada no passado, o qual é retratado como atrasado,

preguiçoso e acomodado.

Pela pesquisa realizada em campo, percebe-se que a Lei 11.645/2008

abordada no início deste estudo, não está sendo trabalhada como deveria,

e isso faz aumentar cada vez mais as práticas pedagógicas e pensamentos

voltados para o etnocentrismo.

Portanto, este estudo teve por finalidade orientar os futuros

educadores a pensarem na questão indígena para que construam em si e

para outro a importância de trabalhar essa temática nas escolas e no

cotidiano social a fim de melhorar a prática pedagógica.

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REFERÊNCIAS

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O Índio brasileiro: o que você precisa

saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. In: Da cidadania à

autonomia indígena: um desafio à diversidade cultural. Brasília: Unesco, 2006.

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/08: A escola, as relações

étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa

temática no PIBID. Natal Rio Grande do Norte: Anpuh, 2013. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 23 out. 2016.

NASCIMENTO, Rita Gomes do. Orientações para a promoção do acesso de

povos indígenas de recente contato a processos educacionais: Parecer

Homologado. Distrito Federal: Ministério da Educação, 2016. 6 p. Disponível

em: <http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 23 out. 2016.

OLIVEIRA, João Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A presença

indígena na formação do Brasil. In: Os Índios do Brasil em 1500. 2. ed. Brasília:

Laced, 2006. 272 p. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 11 set. 2016.

RIBEIRO, Darcy. Índios no Brasil 1. In: Passado: os livros didáticos e os índios.

Brasília: Seed, 2001. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 23 out. 2016.

SAVIANI, Demerval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 3. ed.

Campinas São Paulo: Autores Associados, 2010. 475 p. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 16 nov. 2016.

SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. A temática indígena na

escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º Graus. In: O etnocentrismo

e preconceito. Distrito Federal Brasília: Imesp, 1995. 561 p. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 11 set. 2016.

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POVOS INDÍGENAS E CULTURA(S) INDÍGENAS

Ana Paula Rocha Ribeiro4

Danielle de Sousa Ferreira5

Aparecida de Lara Lopes Dias6

1 Introdução

A temática a qual se busca tratar neste artigo vem abordar as

questões da historicidade do indígena no Brasil. Ao se pesquisar o material foi

possível perceber que os povos indígenas são vistos nos tempos

contemporâneos como se ainda permanecessem no passado. No entanto,

é possível perceber seus traços culturais que permeiam a cultura brasileira

tornando assim indissociável.

No processo histórico dos indígenas é notória a lacuna que há nos

livros didáticos sobre os mesmos, pontuando somente os bandeirantes

colonizadores percebendo-se que mesmo os indígenas tendo contribuído

foram sucumbidos totalmente da história brasileira. Os livros didáticos

omitiram sua participação na construção da nação Brasileira, sendo este de

suma importância tanto na cultura como no social.

No referente artigo, também são abordadas as questões sobre a Lei

11.645/2008 na qual preconiza a obrigatoriedade do Ensino de História e

Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino. Onde a

mesma aborda os aspectos históricos e culturais brasileiros dos povos étnicos.

Neste, ainda foi necessário promover uma pesquisa para compreender

como se dá às relações étnicas e culturais nas escolas e como estas

temáticas são abordadas. O questionário foi aplicado em uma escola

municipalizada no bairro Bacuri – Imperatriz-MA, aonde o público alvo se

destina a duas professoras do 2º ano, sendo denominadas de P1 e P2

referindo-se sobre a aplicabilidade da Lei 11. 645/2008. A pesquisa teve

como instrumento a entrevista semiestruturada.

4 Acadêmica do V período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: a [email protected] 5 Acadêmica do V período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 6 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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No conteúdo relacionado a presença dos povos indígenas no

Maranhão, são apresentadas Tupi e Jê num total de nove povos, onde

iremos ressaltar os da etnia Tupi que são os Awá-Guajá, conhecidos por

Guajá. Estes representam uma das últimas sociedades que continuam a

sobreviver da caça e coleta provenientes diretamente da natureza.

No discorrer da fundamentação, os autores que tratam das temáticas

indígenas aqui destacados foram: Cruz e Jesus (2013), Dias (2015), Faustino

(2011), Grupioni (1994, 1995), Ribeiro (2001), dentre outros.

2 Povos indígenas e suas peculiaridades culturais

É de suma importância a cultura indígena, pois é sabido que desde os

primórdios cada povo indígena apresenta sua peculiaridade cultural, ou

seja, mesmo encontrando costumes parecidos em determinado contexto,

não se pode dizer que é a mesma cultura, por exemplo, existem várias

formas de culinária: tem o beiju, tapioca, pipoca, pirão, a farinha de

mandioca; assim como tem formas diferentes de pescar, caçar, costumes

como o banho, forma de produzir artesanatos como potes e vasos de

cerâmica, entre outros, porque diferenciam de povo para povo.

Considera-se que foram os estudos antropológicos primeiros a definir o

que é cultura, e esta não está atrelada apenas aos costumes e tradição,

mas, no modo de ser, agir sentir e expressar de cada grupo social.

É notório que o povo brasileiro tem na sua matriz étnica – sangue

indígena. Nesse sentido, é preciso considerar que temos no nosso modo de

ser e agir o legado da cultura indígena. Contudo, quando uma cultura

considera-se superior a outra, a Antropologia descreve como pensamento

etnocêntrico.

O etnocentrismo, portanto, é quando julgamos como “certo ou

errado, feio ou bonito, normal ou anormal os comportamentos e as formas

de ver o mundo dos outros povos a partir dos próprios padrões culturais”

(SILVA E GRUPIONI, 1995, p. 431). Nesse aspecto, a desqualificação é a

negação do outro.

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Compreendemos, assim, que a heterogeneidade cultural, ou seja,

diversidade cultural é a compreensão de que as culturas e costumes são

diferentes e possui uniformidades e particularidades distintas, pois falamos e

pensamos diferentes, e essa diferença de costumes é considerada um

código simbólico. O código dos povos brasileiros é a língua portuguesa e o

código linguístico indígena é a língua materna. É importante ressaltar que os

povos indígenas, na sua maioria, quando tem a língua materna fluente não

falam a língua portuguesa em seu cotidiano.

Historicamente podemos ainda mencionar que os povos indígenas

tiveram contribuição na formação do povo brasileiro. John Monteiro (1994)

por meio do texto: ‘O escravo índio, esse desconhecido’ apresenta que

esses foram os primeiros povos a serem escravizados pelos portugueses para

a construção das Colônias. Contudo, a história contada, na visão dos

europeus, apresenta a imagem do índio apenas no início da colonização

brasileira, mas não no papel de protagonista, pois,

dentre os diversos mitos sobre a formação da nacionalidade

brasileira, o bandeirante certamente ocupa um lugar de destaque.

Desbravador dos sertões incultos, temível conquistador de povos

selvagens, esta figura heroica marca presença tanto nos manuais de

história quanto nos monumentos e nos nomes de ruas, estradas e

escolas no Brasil inteiro. [...] imagens constantes e polêmicas, tanto

uma quanto a outra pecam por ignorarem a presença e o papel do

índio na história do Brasil. Na primeira versão, o índio é omitido ou, na

melhor das hipóteses, exercer um papel auxiliar no processo de

expansão territorial dos portugueses. Na segunda, ele é relegado ao

papel passivo de vítima (GRUPIONI, 1994, p. 105).

Com isso, os portugueses foram considerados os protagonistas da

história, pois nesse período eram povos que viviam em busca de

quantidades de terras, desbravando as florestas e, nesse sentido, precisavam

dos índios como guia, por não conhecer as terras onde estavam visando

habitar, e a partir disso, passaram a escravizar e aldear os índios. Estes eram

colocados em aldeias cercadas por homens com espingardas. Presos,

deixam de ser nômades e viviam uma vida subumana.

As reflexões sobre a presença dos povos indígenas nos primórdios da

história referente à constituição da sociedade e da economia colonial, é de

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suma importância, não pelo fato de considerá-los como coitados, mas, para

compreender que eles, ao seu modo, souberam resistir e lutar pela sua

liberdade como povo, como nação.

Essas considerações, não são apenas para mencionar o passado

histórico muito distante, pois, na história moderna o Estado brasileiro através

da política integracionista, enalteceu que os indígenas precisariam de

tutores porque os consideravam como aquele que não poderia responder

por si só. Principalmente, porque a sociedade deveria desenvolver-se, e

naquele momento, os povos indígenas apresentavam-se como empecilho

no desenvolvimento do país (GRUPIONI; SILVA, 1995).

Nesse contexto, as imagens sobre os indígenas no século XX retratam

indivíduos aculturados, ou seja, seguindo outras culturas se tornando

civilizados e adéquo ás novas tecnologias do mundo contemporâneo. Com

isso, é relevante desconstruirmos a alcunha de índio e substituirmos por

indígena, pois ao nos referirmos aos mesmos denominando de índios significa

dizer que eles são inferiores, pois a história lhes atribuiu essa categoria, e ao

falarmos indígenas estamos respeitando e considerando que “a diversidade

cultural e os mecanismos de diferenciação fazem parte da própria história

das relações entre as diferentes sociedades humanas” (SILVA; GRUPIONI,

1995, p. 430).

Conclui-se que devemos aprender aceitar as diversidades culturais,

assim como o modo de agir, de pensar, de falar, dos costumes do outro, pois

a humanidade se faz de pensamentos diferentes e de aceitação com as

diversidades, pois são relevantes quando conseguimos compreender o

porquê que o outro pensa diferente, para obtermos assim um pensamento

crítico sobre o ser diferente. Todavia, as dificuldades de aceitação das

diferenças promovem uma acomodação e a não aceitação do ser

diferente em nosso meio, tornado assim adéquo às mudanças e as

transformações que as diferenças requerem na sociedade. Com isso, não há

fórmulas para o convívio, pois a mesma requer envolvimento, diálogo,

conhecimento, reflexão, onde a compreensão são elementos primordiais

para a convivência com as diferenças.

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3 Lei 11.645/2008 e a conquista social dos indígenas

A referida Lei 11.645/08 preconiza a obrigatoriedade do Ensino de

História e Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino,

apesar da criação da lei, esta não é a garantia de que o ensino sobre os

indígenas e africanos aconteça. Pode-se atribuir uma das causas sendo a

indisponibilidade de recursos didáticos e a falta de formação continuada

dos professores. Contudo, segundo as autoras Cruz e Jesus (2008) essa lei é

uma das conquistas de reconhecimento social tanto do negro quanto dos

povos indígenas.

As autoras fazem referências que a lei trouxe para a escola questões

que eram antes silenciadas ou meramente ignoradas e menosprezadas pela

sociedade. Assim, decorre que a mesma é de suma importância para que se

tenha uma valorização das diversidades culturais brasileira, já que ambas

possuem fatores cruciais no processo de construção de nosso país, e que a

mesma deve se fazer presente no âmbito escolar.

Entre esses aspectos pode-se destacar a violência escolar, o papel

de formação da escola, as relações entre sociedade e escola e o

preconceito dentro desse espaço. Entender que a escola não é um

espaço que existe à parte da sociedade é compreender que o

espaço escolar e sociedade não são distintos e que de alguma

maneira o que acontece com o primeiro reflete no segundo, e vice-

versa (CRUZ; JESUS, 2008, p. 2).

Nesse sentido, reafirma-se o ambiente escolar como um dos espaços

onde serão intermediadas as questões de diversidades culturais, humanas,

crenças e valores. Neste, se pode contemplar de forma igualitária,

ressaltando a importância de ser diferente, pensar diferente agir diferente

como um direito humano.

Essa compreensão possibilita as diversas relações existentes na

sociedade e também nas escolas, pois é sabido que a escola reproduz tudo

que ocorre na sociedade em suas especificidades, e sendo assim, o

preconceito étnico racial que existe, também, pode ser abordado na sala

de aula, enfatizando que é de grande relevância o respeito para com os

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demais de uma sociedade, pois as diferenças dos outros indivíduos são tão

importantes quanto a nossa.

Segunda as autoras Cruz e Jesus (2008, p. 03), “não é incomum que

haja no ambiente escolar a construção e reprodução de uma série de

estereótipos, [...] no que se refere aos afrodescendentes e indígenas”. Nesse

sentido, vale ressaltar que a cultura e história desses indivíduos, que são

muitas vezes discriminadas na sociedade passam a ter o mesmo tratamento

na escola.

Pensar no espaço escolar como um local de diferentes sujeitos [...],

como território atravessado pela diversidade cultural, que é pensar

no trabalho em que o professor exercerá enquanto mediador das

relações de ensino-aprendizagem, relações éticas e conflitos de

ideologias (CRUZ; JESUS, 2008, p.8).

Nesse aspecto, o professor, tendo o papel de mediador, contribui para

que seus alunos compreendam que os indivíduos de uma sociedade se

fazem contemplando as diversidades.

3.1 Relato da pesquisa: A temática indígena em sua trajetória Escolar

A trajetória da temática indígena no âmbito escolar está sendo

construída em um processo gradativamente lento, havendo a necessidade

de fazer valer as políticas públicas, onde as mesmas possam contribuir com a

inclusão dos povos indígenas na sociedade.

Para tanto, vale ressaltar que, assim como a temática, a trajetória

desses povos, com seus desafios se fazem presente em todo o seu percurso

para a inserção de sua inclusão na sociedade. Ademais, se tem a

aplicabilidade da Lei 11. 645/2008 no currículo das escolas de ensino

fundamental, onde a mesma ressalta sobre a obrigatoriedade do Ensino de

História e Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino.

O questionário aplicado em uma escola municipalizada no bairro

Bacuri teve como público alvo duas professoras do 2º Ano do Ensino

Fundamental, sendo denominadas de P1 e P2 referindo-se sobre a

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aplicabilidade da Lei 11. 645/2008, tendo como instrumento de pesquisa:

entrevista semiestruturada.

Neste cenário, inicia-se sobre o conhecimento dos sujeitos de pesquisa

em relação ao conhecimento da referida lei na qual estabelece as diretrizes

e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de

ensino no quais são abordados os eixos temáticos de História e Cultura Afro-

brasileira e Indígena. Tanto P1 como a P2 enfatizaram que a lei veio dar

embasamento para a importância de conhecer a cultura dos povos

indígenas.

Indagou-se, ainda, se são trabalhadas as temáticas sobre a cultura

indígena brasileira em sala de aula, e de que forma eram realizadas. As

mesmas responderam que eram trabalhadas apenas em datas

comemorativas (19 de abril), e nos livros didáticos, especificamente, na

disciplina de História, mas, de forma sucinta e resumida.

Em relação aos desafios encontrados no dia a dia no âmbito escolar

para o desenvolvimento dos conteúdos sobre a cultura indígena brasileira,

ambas mencionaram que o preconceito ainda é muito grande sobre esses

povos, pois os estereótipos construídos, como selvagens e preguiçosos ainda

se fazem vigentes.

Essa pesquisa foi de grande relevância, pois a mesma desconstruiu

velhos conceitos que havia se construído durante o percurso educacional.

Nesse aspecto, a mesma nos oportunizou conhecer os indígenas não

somente pelos livros em sala de aula, mas no seu cotidiano, vendo de perto

sua cultura, rituais e costumes – proporcionadas pelas visitas nas aldeias da

região.

4 O percurso histórico dos “índios” nos livros didáticos

Os livros didáticos quando tratam de temáticas indígenas, na sua

maioria, apresentam os indígenas como selvagens, desconhecedor do

progresso, nu e enfeitados com cocares, penas, colares e pinturas no corpo,

fazendo jus a consideração de ‘índio’. Nessa visão, os mesmos são

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discriminados e acaba influenciando uma histografia positivista, na qual, a

estratificação social é exacerbada, por sua vez, omiti o papel do indígena

como contribuinte na história.

Assim, a maneira no qual se apresenta os conteúdos a respeito dos

indígenas é de forma descontextualizada, aonde os fragmentos encontrados

como cartas e documentos são abordados isoladamente, dificultando ao

aluno obter uma compreensão contextualizada, por meio de análises

realizadas a partir do material obtido.

As informações, na sua maioria, são retratadas nos livros didáticos

como foram vividos no período colonial, onde os europeus se achavam

superiores aos indígenas. Assim, tais informações levam os alunos a pensarem

nos indígenas como um povo inferior, instinto dos tempos contemporâneos.

Quase sempre o enfoque dado a índios e negros se concentra no

passado. Falar em índios do passado, e isso de uma forma

secundário, pois eles aparecem apenas em função do colonizador.

[...] a história é abordada como se não fosse algo em progresso, que

acumula e se transforma, mas sim algo estanque, marcado pelos

eventos significativos de uma historiografia basicamente europeia

(RIBEIRO, 2001, p.15).

Pensar nos povos indígenas apenas no passado como meros

coadjuvantes na construção da nossa história ou considerá-los como

contribuinte apenas com vocábulos e alimentos para a nossa culinária é

uma concepção surreal. Como já foi mencionado, Ribeiro (2001) crítica os

livros didáticos que retratam os índios apenas no passado, não preparando

os alunos para entender a presença dos indígenas na atualidade, mesmo

com a divulgação dos mesmos pelos meios de comunicação.

Nesse aspecto, como o livro é, muitas vezes, o único material no qual o

aluno tem contato na sua formação escolar, passa a contribuir muito mais

para o etnocentrismo da cultura dominante do que compreender a

diversidade cultural do povo brasileiro. Pois, Ribeiro (2001, p. 18) afirma que:

cada sociedade indígena tem sua própria identidade, se pensa e se

vê como um todo homogêneo e coerente e procura manter suas

especificidades, apesar dos efeitos destrutivos do contato. Essa

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verdade - a de uma rica diversidade sociocultural indígena – não

aparecendo nos livros didáticos.

Perceber a dicotomia apresentada pela maioria dos livros didáticos

que trabalham a temática indígena é um desafio para a prática

pedagógica do professor. O pensamento de que ”ou estão no passado ou

vão desaparecer em breve; ou são bons e precisam ser protegidos, ou são

maus e é preciso trazê-los logo à ‘civilização’ (RIBEIRO, p.19, 2001), precisa ser

desconstruído, é esse perpassa pela visão crítica dos professores, porque esse

é esse o seu papel. Neste passo, são necessárias mudanças nos livros

didáticos, precisamos estar atentos as melhorias, pois ainda estamos em um

processo de construção de conhecimento onde muitos tiveram por base os

livros didáticos, somente um ensino meramente tradicional, onde os

indígenas eram tratados de forma preconceituosa. Assim, precisamos

desconstruir a utopia sobre os mesmos, para se reconstruir um novo

conhecimento, onde possamos reconhecer o indígena como individuo

construtor e colaborador da história.

Neste sentido, percebe-se a importância dos livros didáticos retratarem

o contexto da contemporaneidade, pois não cabe mais apresentar a figura

do indígena como foi retratada no passado.

Portanto, os educadores, como toda a sociedade, não devem se

acomodar, mas lutar contra toda e qualquer forma de discriminação

existente em, especificamente, no meio educacional. Só assim, estaremos

contribuindo para a existência de uma escola cidadã, onde as diferenças

étnicas não sejam motivo de discriminação e preconceito, mas condição

indispensável para a construção de uma sociedade melhor.

5 Os povos indígenas do Maranhão

No Maranhão há presença dos povos indígenas falante da língua Tupi:

Tenetehara, Guajajara, Urubu-Kaapór e Awá-Guajá, e os falantes Jê: os

Krikati, Gavião, Apaniekrá-Canela, Ramkokamekrá-Canela. Os povos

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indígenas apresentam como particularidades a língua, costumes, crenças,

valores e culturas.

Neste aspecto, somente os Awá-Guajá não dispõe de ensinamentos

escolares em seus territórios, isso ocorre devido à falta de contato próximo

com os demais indivíduos da população brasileira, portanto vivem isolados

por iniciativa própria do povo. Com isso, é intensificada a utopia de que a

escola é uma necessidade e os povos que não a tem está fadada ao

desaparecimento.

Ademais, os Awá-Guajá são geralmente conhecidos por Guajá e

representam uma das últimas sociedades que continuam a sobreviver da

caça e coleta provenientes diretamente da natureza. Nessa perspectiva,

esses povos apresentam um modelo de vida considerado “original”. Com

isso, mantiveram seus padrões de vida e costumes intactos,

efetivamente, parece que os elementos mais importantes da sua

cultura, através dos quais os Awá se sentem mais reconhecidos e

que, por tanto, costumam portar de maneira muito frequente,

mesmo quando não seriam necessários em termos utilitários, são o

arco e as flechas [...]. Os Awá passam todo o dia fabricando flechas,

que são guardadas com sumo cuidado no vigamento de madeira

do teto de suas casas [...]. Além disto, quando saem para caçar, os

Awá carregam mais flechas do que são realmente necessárias para

obter suas caças. Em um maço debaixo do braço, chegam a levar

aproximadamente 50 flechas [...], mesmo que a expectativa de uso

seja de um número muito menor e que, sempre tentem recuperar

aquelas que foram disparadas (HERNANDO et al,2013, p.31).

Ressalva-se que os povos Awá-Guajá resistem em utilizar outros objetos

que são fornecidos pela FUNAI, aonde os mesmos venham de encontro à

suas tradições. Por conseguinte, esta resistência possibilita-os a usar materiais

de seu contexto socioambiental preservando as suas identidades e

ideologias advindas de seus antepassados.

6 O processo educativo dos indígenas

É sabido que, desde os primórdios, os indígenas passaram a se

adequar a outros ensinamentos através do processo de catequização dos

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jesuítas, onde estes, primeiramente, se aproximaram dos indígenas para

poder conquistá-los e aprender a falar sua língua.

A princípio, para ensinar os índios a ler, escrever e contar, bem como

lhes inculcar a doutrina cristã, os missionários jesuítas percorriam as

aldeias em busca, principalmente, das crianças. Por não disporem

de instalações fixas e próprias para o ensino, essas missões foram

chamadas de volantes (BRASIL, 2007, p. 10).

Nesse aspecto, gradativamente, foram delimitados os locais no qual

foram realizados esse processo de educação não indígena, onde se tinha

um caráter extensivo. Contudo, esse não produziu mudanças no modo de

vida dos indígenas, pois ao regressarem ao convívio com os demais da

aldeia, continuavam a vivenciar a sua educação própria específica a cada

povo indígena. Embora, se considere que

[...] a educação escolar exerceu um papel fundamental. Por meio

da instrução e evangelização, objetivou-se ensinar aos indígenas a

língua dominante (o português) e os costumes civilizados para que os

indígenas abandonassem sua forma “primitiva” de viver e se

integrassem à civilização (FAUSTINO, 2011, p. 2).

A educação escolar indígena é de suma importância, contudo

considera-se que estes precisam participar do projeto de sua criação até seu

desenvolvimento e avaliação, pois não se concebe mais falar, pensar e agir

por meio deles. Pois, a educação indígena é compreendida como algo que

possui diversas dimensões que acontece no contexto social, onde o mesmo

se dá através de transmissões de conhecimentos e se correlacionam aos

aspectos culturais de diversas áreas da sociedade indígena, sendo capaz de

atribuir definições às ações que diferenciam os demais povos de uma nação

da outra.

O aprendizado, nesse entendimento, acontece com a interação do

outro envolvendo valores e formas de relacionamento social. A

convivência em comunidade traz reflexos do que é ensinado, seja

nos trabalhos coletivos, em festas, etc. Cada forma de produzir,

armazenar, proteger, expressar e transmitir é uma construção que

parte do coletivo para o individual (DIAS, 2015, p. 20).

Para Dias (2015) o processo educativo dos indígenas se dá através de

imitações e também pela oralidade, uma vez que se tenha uma educação

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familiar considerada ágrafa. Assim, “[...] é na troca de experiência entre as

gerações que ocorre a preparação para lidar com situações adversas

dentro e fora da sociedade” (p. 20).

Conclui-se que, o processo educativo dos indígenas se dá através de

seus próprios ensinamentos, onde são passados os seus costumes e tradições

de geração para geração baseada em respeito e preservação às

especificidades culturais.

7 Considerações finais

Durante o processo de construção deste artigo foi possível perceber

que as dimensões étnicas perpassam pelas culturas, costumes, crenças e

valores dos povos indígenas, enfatizando que estes, desde os primórdios,

passaram por um processo de colonização no qual foram escravizados pelos

portugueses. E que mesmo sendo ocultados da história souberam ser

resistente no sentido de lutas pelos seus direitos e, apesar das opressões,

catequização e aculturação conseguiram manter suas culturas.

Historicamente, foi possível ainda compreender que mesmo sendo

vistos como sujeitos do passado e de pouca significância para nossa

sociedade brasileira, continuam na contemporaneidade contribuindo para

o desenvolvimento do Brasil.

Em relação ao estudo sobre a Lei 11645/2008, o contexto indígena

tratado pelos livros didáticos e a pesquisa na escola campo proporcionou

conhecer que as temáticas indígenas são tratadas de formas sucintas e

estereotipadas, aonde abordam os indígenas como seres não agentes e

participativos do processo histórico brasileiro, pois estes se fazem presente, na

prática educativa, apenas como datas comemorativas – Dia do Índio.

Ainda, foi a oportunidade de conhecermos especificamente o povo

Awá-Guajá como indígenas do Maranhão que representa uma das últimas

sociedades que continuam a sobreviver da caça e coleta, mantendo seus

padrões de vida e costumes preservando a sua identidade étnica.

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Em suma, os conhecimentos adquiridos, na academia, por meio de

estudos, discussões, produções, socializações, visitas in loco, possibilitou-nos

obter um conhecimento crítico sobre a temática, e ampliação da visão

acadêmica e humana.

REFERÊNCIAS

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/2008: A escola, as

relações étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre

essa temática no PIBID. Lei 11.645/2008: A escola, as relações étnicas e

culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa temática no

PIBID, Santana, 2008.

DIAS, Aparecida de Lara Lopes. Formação Específica dos Professores

Indígenas Krikati e a Prática Pedagógica Bilíngue, 2015. In: Saberes

tradicionais e ação pedagógica: conceitos e entendimentos / Educação

indígena e sua ação pedagógica. Dissertação – UNIVATES, RS.

HENRIQUES, Ricardo. (Org.). Educação Escolar Indígena: diversidade

sociocultural indígena resinificando a escola. Cadernos Secad3: Secretaria

de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, Brasília, v. 3, n. 1,

p.7-133, abr. 2007. In: Os povos indígenas e a Educação Escolar. Disponível

em: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoindigena.pdf>.

Acesso em: 27 nov. 2016.

FAUSTINO, Rosangela Célia. Os processos educativos no Brasil e seus projetos

para a civilização e inclusão indígena. Revista Histedbr On-line, Campinas, v.

41, n. 1, p.188-208, mar. 2011. Disponível em:

<http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/41/art14_41.pdf>.

Acesso em: 27 nov. 2016.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Índios no Brasil. In: Os índios do Brasil em 1500.

Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1994.

______. Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes. A temática indígena na

escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. In: MONTEIRO, John.

Escravo índio, esse desconhecido–Brasília, MEC/MRI/UNESCO, 1995.

HERNANDO, Almudena; COELHO, Elizabeth Maria Beserra. Estudo sobre os

Awá: Caçadores-Coletores em Transição. São Luis: Edufma, 2013.

RIBEIRO, Darcy. Índios do Brasil. In: PASSADO: os livros didáticos e os índios.

Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. Mec, 2001.

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37

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A IMPORTÂNCIA DA CULTURA INDIGENA E A LEI 11.645/2008

Rosiane Maria Sudário da Silva7

Silvia de Araújo Rodrigues 8

Thainah Silva Martins9

Aparecida de Lara Lopes Dias10

1 Introdução

Neste artigo apresenta-se a diversidade cultural dos povos indígenas e

a visão etnocêntrica que predominam até os dias atuais sobre as culturas

diferentes, a Lei 11.645/2008, abordando nesta, o ensino da História e Cultura

dos Povos Indígenas, com fundamentos obtidos por meio de leitura dos

textos de Silva e Grupioni (1995), Cruz e Jesus (2013), Luciano (2006) e Ribeiro

(2001).

Em relação à Lei, foi desenvolvida uma pesquisa na escola campo de

estágio da rede pública de Imperatriz- MA, com objetivo de analisar como

anda a sua aplicabilidade. A pesquisa se identifica por ser qualitativa

envolvendo como sujeito uma professora dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental e a gestora da instituição. O instrumento utilizado para coleta

de dados foi a entrevista semiestruturada.

Ainda são mencionados como é relatada a história dos povos

indígenas nos livros didáticos. É destacada, também, a importância dos

povos indígenas para o Brasil e o mundo, desde sua linguagem, culinária,

crenças passando por sua medicina ‘natural’, entre outras.

Menciona-se, ainda neste estudo, a exposição realizada na Semana

Nacional de Ciências e Tecnologia do Maranhão, a qual foi resultado de um

projeto institucional entre o curso de Pedagogia da Faculdade de Educação

Santa Terezinha-FEST e a Universidade Estadual do Maranhão-UEMASUL sobre

os povos indígenas do Maranhão.

7 Acadêmica do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 8 Acadêmica do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 9 Acadêmica do IV período do curso Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 10 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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2 A diversidade cultural e os povos indígenas

A cultura pode ser considerada um conjunto de códigos simbólicos

que cercam a sociedade, isso inclui: língua, costumes, culinária, religião,

vestuário e etc. Por meio desses códigos o homem se adapta as condições

necessárias e transforma sua realidade.

O homem passa a produzir cultura a partir do momento que começa

sua interação social, ou seja, a cultura é tudo aquilo que o indivíduo produz,

portanto os códigos simbólicos podem ou não ser herdados da família ou

construídos dentro de um grupo social. A cultura traz para a sociedade um

grande conhecimento, por meio dela podemos conhecer os costumes e

entender o agir de determinado povo (SILVA; GRUPIONI, 1995).

No Brasil há uma grande diversidade cultural, principalmente, graça

aos povos indígenas que foram os primeiros habitantes daqui. O termo

“índio” foi dado por Pedro Alves Cabral quando chegou a terra brasileira,

contudo, quando falamos “índio” estamos generalizando um povo que tem

diversas etnias e culturas.

No Brasil nos deparamos com uma riqueza cultural extraordinária: 200

povos indígenas falando mais de 180 línguas diferentes (SILVA; GRUPIONI,

1995), e quando o chamamos apenas de “índio” estamos de certa forma

esquecendo as outras etnias que aqui vivem, pois, cada povo tem seu nome

e suas culturas e quando nos referirmos a eles precisamos usar o termo

indígena.

Por terem costumes diferentes de outros grupos sociais, um dos povos

que mais sofre preconceito por causa do etnocentrismo é o indígena,

principalmente, quando começam a deixar suas aldeias para viver na zona

urbana por algum motivo.

O etnocentrismo é um termo usado pela antropologia quando um

grupo social acredita que suas crenças sejam mais importantes do que

outras. O indivíduo etnocêntrico considera os valores de sua cultura melhores

que outras e isso gera problemas graves, pois com esse pensamento ele

acaba despertando uma forma de preconceito.

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O etnocentrismo consiste, pois, em julgar como "certo" ou "errado",

"feio" ou "bonito", "normal" ou "anormal" os comportamentos e as

formas de ver o mundo dos outros povos a partir dos próprios

padrões culturais. O etnocentrismo pode consistir numa

desqualificação de práticas alienígenas, mas também na própria

negação da humanidade do outro (SILVA; GRUPIONI, 1995, p.431).

Um exemplo forte de etnocentrismo está ligado a crença,

principalmente de povos indígenas, que aos olhos da maioria dos grupos

sociais, não tem tanta importância quanto à deles. Também são bastante

criticadas quando a indígena deixa sua terra para viver em um local com

valores diferentes dos seus.

Há casos de etnocentrismo que podem trazer consequências ainda

mais graves quando um grupo social de determinada cultura se choca com

um grupo de culturas mais avançadas e dominantes, podendo ocorrer um

processo de aculturação ou etnocídio que é quando determinado grupo é

forçado a deixar seus valores de lado e começa a partilhar crenças

diferentes da sua nos novos grupos que estão inseridos (SILVA; GRUPIONI,

1995).

Alguns indivíduos em seus grupos sociais são etnocêntricos, acreditam

que somente sua cultura está certa e seus valores melhores que os outros,

por isso a certa dificuldade em aceitar aquilo que é diferente. A questão de

não conhecer uma cultura diferente da sua faz com que o homem acredite

que só existe uma “cultura” e que as outras expressões culturais são erradas.

Ao longo do texto será mencionado o contexto de diversidade

cultural, nos possibilitando perceber a interação social que o indivíduo faz

através do processo cultural e o quão esse processo é importante na

formação de determinado grupo social.

3 Lei 11.645/2008 – História e Cultura Afro-brasileira e Indígena

Primeiramente foi aprovada a Lei 10.639/2003 que tornou obrigatório o

ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira, cinco anos depois foi

criada a Lei 11.645/2008 que complementava a primeira lei.

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Esta Lei preconiza o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e

indígena na grade curricular das escolas públicas e privadas, assim como

promove que os conteúdos relacionados aos temas mencionados acima

devem ser trabalhos tanto em sala de aula, seja ela de forma de uma

disciplina especifica ou em conjunto com as demais disciplinas.

O preconceito no ambiente escolar e a falta de preparo por parte dos

professores para trabalhar esses ‘novos’ assuntos propostos pela lei são

alguns dos fatores que pesam na hora de trabalhar esses conteúdos. “A lei,

porém, não é garantia de que esse ensino realmente irá acontecer e que o

professor terá os meios necessários para informar aos seus alunos os

conhecimentos sobre a História e Cultura Africana e Afro-brasileira e

Indígena” (CRUZ; JESUS, 2013, p. 2). No ambiente escolar é comum os pré-

conceitos criados em relação aos povos afros descendentes e povos

indígenas, no que diz respeito a sua cultura, crenças, línguas e costumes, pois

o que se é criado na sociedade também é reproduzido dentro da sala de

aula.

Mesmo mediante inúmeras dificuldades, a Lei 11.645/2008 foi uma das

maiores conquistas que os povos afro-brasileiros e indígenas tiveram nos

últimos anos, pois ela torna obrigatório o ensino de sua história e cultura no

ensino fundamental e médio abrangendo temáticas que vão além da

escravidão e dos ‘índios’ que Pedro Alves Cabral encontrou quando chegou

ao Brasil, reconhecendo esses povos como parte fundamental da formação

social brasileira.

4 A temática indígena dentro dos livros didáticos

No período da infância e da adolescência passamos boa parte desse

tempo na escola e é de lá que recebemos as primeiras informações básicas

sobre diversas temáticas, porém nem sempre os conteúdos abordados nos

livros didáticos são suficientes para suprirem necessidades de conhecimentos

básicos.

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O ensino da história dos negros e dos índios – sendo assim mesmo a

consideração – nos materiais didáticos geralmente é remetido apenas ao

passado, nos tempos de colonização, pois a certa dificuldade em aceitar

que a sociedade brasileira atualmente é composta por uma diversificação

cultural.

O ‘índio’ nos livros didáticos aparece apenas nas primeiras imagens

como aqueles que ficaram deslumbrados com a chegada dos

‘descobridores’. “Outro mecanismo de simplificação consiste em apresentar

de forma isolados e fora de contexto documentos históricos que falam a

respeito dos índios” (RIBEIRO, 2001, p.16). Quando são encontrados outros

documentos que constam a história dos povos indígenas, esses registros são

repassados de forma fragmentada e isso dificulta o entendimento dos alunos

em um contexto histórico mais abrangente.

Quando citamos os indígenas como povos primitivos, estamos

contribuindo para que os alunos os vejam como um povo que ficou no

passado e que sua cultura seja superior à dele, isso faz com que a

contribuição desses povos não passe de conhecimentos sobre a mata.

Segundo Ribeiro (2001, p. 17).

Ao jogar os índios no passado, os livros didáticos não preparam os

alunos para entender a presença indígena no presente e no futuro,

apesar de os meios de comunicação divulgar cotidianamente

informações acerca dos índios de hoje.

Isso faz com que os alunos encontrem dificuldades em conviver numa

sociedade diversificada e cultive o julgamento de que o indígena é algo do

passado que não pode ser encontrado no presente e no futuro. O equívoco

dos materiais didáticos é generalizá-los, deixando de ressaltar que cada

grupo tem sua diversidade cultural mesmo que em alguns momentos

apresentem características semelhantes um dos outros.

Quando se trata de conteúdos sobre a diversidade cultural dentro dos

livros didáticos, percebe-se uma falha por parte dos autores em não

considerar os estudos feitos por antropólogos, historiadores e especialistas na

área, e é com base nesses textos ultrapassados que os estudantes alegam

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conhecer a história dos povos indígenas brasileiros e, assim, continuam

fazendo um julgamento equivocado da importância da cultura deles para a

formação da sociedade na qual vivemos.

4.1 Como são trabalhadas as temáticas História e Cultura Indígena Brasileira

nas escolas públicas de Imperatriz – MA.

Para entender como está sendo trabalhadas as temáticas indígenas

nas salas de aulas se foi até uma escola da rede pública de Imperatriz – MA.

A pesquisa foi realizada com a gestora da instituição e uma professora do

Ensino Fundamental, no decorrer do texto iremos chamá-la de gestora G1 e

a professora P1, todos os dados colhidos no projeto são de forma qualitativa,

pois foram direcionadas perguntas para ambas. Quando questionada sobre

o que diz a Lei 11.645/2008, a professora disse conhecer a mesma por alto,

porém quando pedíamos para ela nos falar um pouco de como era

aplicada a temática que o decreto aborda P1declarou não recordar. A

mesma pergunta foi direcionada a gestora da escola a qual nos informou

que preconiza o decreto citando e que o mesmo exige a obrigatoriedade

do ensino da História e Cultura afro-brasileira e Indígena.

No segundo momento pedimos para olhar o Projeto Político

Pedagógico (PPP) da escola para saber em qual ponto estava inserido a

temática. Contudo, nos informou que o mesmo ainda estava sendo

atualizado. E que as informações contidas no documento eram do ano de

2015, mas que reconhece que as temáticas indígenas devem ser

trabalhadas de forma conjunta com outras disciplinas.

Por fim questionamos em quais momentos são trabalhadas essas

temáticas e fomos informadas pela G1 e P1 que em abril é feito a semana

de comemoração do ‘Dia do Índio’ e em novembro a Semana da

Consciência Negra, ou seja, ao irmos a campo podemos ver de perto a

inadequação, no que diz respeito, à aplicabilidade da lei.

Podemos ver que mesmo diante da lei que preconiza o ensino da

História e Cultura Afro-brasileira e Indígena na escola pesquisada, ainda é

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pouco valorizadas e o desconhecimento por parte dos educadores pode ser

atribuído à falta de uma formação continuada, refletindo no ‘descaso’ que

é dado às temáticas indígenas.

4.1.1 Povos indígenas do Maranhão – Povo Awá-Guajá

Não podemos escrever sobre um tema sem antes conhecer a

realidade local, sendo assim foi desenvolvido um projeto interinstitucional por

acadêmicos do 4º e 5º período do curso de Pedagogia de uma instituição

particular e do 7º período de Pedagogia de uma universidade pública de

Imperatriz- MA.

O projeto foi apresentado na Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia no Maranhão com o objetivo de mostrar a cultura dos nove

povos indígenas que são reconhecidos pela Fundação Nacional do Índio

FUNAI.

Dentre os povos, iremos destaca-se o povo Awá-Guajá. Estes vivem em

terras que ficam localizadas entre os estados do Maranhão e Pará. Sendo

registrada cerca de 400 pessoas com essa etnia. Uma das características

desse povo é que são considerados indígenas nômades, ou seja, não tem

moradia fixa e geralmente se localizam próximos aos rios ou em lugares onde

se encontram caças e os materiais que eles precisam para confeccionar

seus artesanatos.

Os Awá-Guajá têm todo um auxílio da FUNAI desde o recebimento de

remédio quando precisa, assim como no auxílio da escolarização de seus

povos que há registros de um pouco mais de 100 pessoas matriculadas nas

escolas que ficam dentro das aldeias e são disponibilizados apenas dois

professores. Assim como em outros povos indígenas possuem um cacique e

devem ser respeitados suas ordens e outro ponto que as distingue das

demais etnias é o matrimônio sucessivo, onde o homem pode casar-se mais

de uma vez.

Por fim, enfatizamos que por meio desse projeto adquirimos

conhecimentos que se tornaram peças de extrema importância, enquanto

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futuras pedagogas, sobre os povos que tiveram uma contribuição

fundamental para a sociedade em que vivemos, pois muitos dos ‘costumes’

herdados de nossos ancestrais foram desenvolvidos pelos indígenas.

5 A importância dos povos indígenas para o Brasil e o Mundo

Sabe-se da importância da cultura dos povos indígenas para a

sociedade em que vivemos. A contribuição desses povos começou desde o

‘descobrimento do Brasil’, pois quando os colonizadores chegaram a essas

terras por eles desconhecidas foram os indígenas que os auxiliaram guiando

pelas matas, além da contribuição cultural que passa pela alimentação,

religiões, costumes e linguagens.

Segundo Luciano (2006, p.217): “Na história oficial do Brasil, contada

nos livros didáticos, não aparece nenhum feito ou contribuição significativa

dos povos indígenas à formação da nação brasileira”. Com a omissão da

contribuição das comunidades indígenas para a formação cultural, faz com

que a visão etnocêntrica da sociedade sobre a cultural desses povos cresça

com o passar dos anos.

Sabe-se que além da contribuição cultural, os povos indígenas tiveram

grande participação na construção da linguagem em todas as regiões do

país, que por mais que tenham seu próprio dialeto, muitas palavras que são

usadas em nosso cotidiano desde nomes próprios, até especiarias culinárias.

Outro aspecto extremamente relevante são os conhecimentos

culinários dos povos indígenas que estão presentes na vida dos

brasileiros, em que talvez a mais forte expressão esteja na presença

de inúmeros produtos da mandioca (LUCIANO, 2006, p. 218).

Além da mandioca, aipim ou macaxeira como é conhecida em outras

regiões do país, o cuscuz e o açaí são elementos da cultura indígena que

estão presentes na mesa dos brasileiros, independente da região. Outro

ponto que deve ser abordado quando se fala sobre a contribuição dos

povos indígenas para a sociedade é a medicina ‘natural’ que tem como

base plantas que são encontradas na mata.

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Segundo Luciano (2006, p. 218), “há ainda outro legado bem mais

atual dos povos indígenas ao Brasil e ao mundo, que são os seus milenares

conhecimentos de medicinas tradicionais”. Porém, a medicina dada como

moderna, ainda crítica sobre a validade da medicina ‘natural’ que os

indígenas oferecem, porque por serem medicamentos naturais eles

demoram mais para agir sob a doença que deve ser tratada. Mas estudiosos

apontam que a medicina indígena já tem cura para doenças que a

medicina moderna ainda não encontrou.

Apesar da medicina moderna não aceitar a medicina ‘natural’ dos

indígenas, muitos americanos já vieram para o Brasil realizar estudos sobre

esses medicamentos naturais e acabaram encontrando resultados

satisfatórios, isso fez que com esses estudiosos patenteassem esses

medicamentos como se fossem de sua criação, o que acabou causando

um grande desentendimento até o caso chegar à justiça para comprovar

que são de origens indígenas.

6 Considerações finais

Este artigo foi desenvolvido com o objetivo em explanar sobre a

extensa contribuição dos povos indígenas para a sociedade brasileira,

visando e sua história de luta contra o preconceito, a diversidade cultural

existente entre as comunidades e a busca pelo reconhecimento de sua

cultura dentro das escolas dos não indígenas.

Aqui estão apenas alguns pontos dos inúmeros requisitos que podem e

devem ser estudados sobre esses povos considerando sua imensa

contribuição linguística, culinária, religiosa e etc; não só para o Brasil, mas

para o mundo.

Os estudos feitos para desenvolver esse artigo foram de suma

importância para a construção de nosso caráter profissional, pois é

necessário que haja a desconstrução da visão etnocêntrica que muitos

grupos sociais insistem em ter sob a influência dos povos indígenas para a

construção da sociedade. Por fim, aqui foram citados apenas alguns pontos

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importantes da história dessas comunidades que devem ser constantemente

estudadas para acrescentar no crescimento pessoal e profissional de

qualquer indivíduo.

REFERÊNCIAS

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/08: A escola, as relações

étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa

temática no PIBID. Natal: Apuh, Brasil, 2013.

FUNAI. Disponível em: <http://www.funai.gov.br/>. Acesso em: 03/11/2016

LUCIANO, Gersem dos Santos. Contribuições dos povos indígenas ao Brasil e

ao mundo In: O Índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos

indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Laced, 2006. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 30 out. 2016.

RIBEIRO, Darcy. Índios no Brasil 1. In: PASSADO: os livros didáticos e os índios.

Brasília: MEC, 2001.

SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luis Donisete Benzi. A temática indígena na

escola: Novos subsídios para professores de 1º e 2º grau. In: A antropologia e

o mundo contemporâneo: cultura e diversidade. Brasília: Mec/Mari/UNESCO,

1995.

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A IMPORTÂNCIA DA CULTURA INDÍGENA VERSUS PREDOMINIO DA VISÃO

ETNOCÊNTRICA

Israela Costa Freitas11

Valdirene Pereira da Silva12

Aparecida de Lara Lopes Dias13

1 Introdução

No presente artigo objetiva-se analisar a Lei nº 11.645/2008 como

forma de desenvolver a história e cultura dos povos indígenas nos currículos

da educação básica. Dessa forma, acredita-se que a implementação da lei

contribuiria para sanar os equívocos sedimentados no imaginário da

sociedade brasileira em relação aos indígenas.

É sabido que os povos indígenas foram submetidos durantes cinco

séculos aos preconceitos e estereótipos, como cultura atrasada, estática e

ainda como se todos fossem iguais. Nesse sentido, a diversidade cultural,

línguas, valores, crenças dos povos indígenas foram desconsiderados desde

a chegada dos portugueses até os dias atuais.

Assim, refletir sobre a diversidade e a cultura é de suma importância,

pois é a identificação do indivíduo no meio ao qual está inserido,

independente de religião ou costumes.

Ainda que reconheça os modos, costumes, tradições, raízes indígenas

como um importante patrimônio histórico cultural, muito ainda se luta na

obtenção de direitos e leis específicas que propiciem os seus direitos

constitucionais. Contudo, destacamos que a luta constante dos povos pela

sua autonomia se vem de longas datas.

Assim, busca-se, ainda neste artigo, mostrar que no estado do

Maranhão encontram-se indígenas pertencentes a nove povos. Mas, aqui,

será aprofundado a respeito do povo Urubu-Kaapór, o qual, atualmente,

habita as margens da BR 316 no Norte do Maranhão.

11 Acadêmica do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 12 Acadêmica do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 13 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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O artigo está dividido em partes onde contempla seis tópicos. No

primeiro analisamos o conceito de cultura e o predomínio da visão

etnocêntrica; o segundo referimos a Lei 11.645/2008: inclusão do ensino da

História e Cultura Afro-brasileira e Indígena; no terceiro tópico apresentamos

as contribuições da Lei 11.645/2008 no espaço escolar; no quinto fazemos

uma abordagem sobre os povos indígenas do Maranhão, especificamente,

Urubu-Kaapór, por fim, abordamos sobre a autonomia Indígena e suas

diversidades culturais.

O estudo foi subsidiado pelos autores: Baniwa (2006), Ribeiro ( 2001),

Thomaz (1995), Grupioni e Silva (1995)e Cruz e Jesus(2013).

2 Cultura e o etnocentrismo

A cultura se determina de acordo com ambiente em que a pessoa

nasce e vive, ou seja, cada lugar possui seus próprios costumes, crenças e

tradições. Diante de tal fato, o homem vai adaptando-se e desenvolvendo-

se socialmente conforme as necessidades exigidas. A cultura, por sua vez, é

transmitida de geração a geração, tornando-se algo que o homem leva ao

longo da vida. Neste sentido, Thomaz (2006, p. 427) afirma que “no passado

ou no presente, nas mais diversas partes do globo, o homem nunca deixou

de se organizar em sociedade e de questionar a si próprio a respeito do

mundo que o rodeia”.

Conforme o autor, a cultura é importante, devendo ser vista como a

maneira mais eficaz de identificação do indivíduo no meio ao qual está

inserido, fazendo ainda, com que o mesmo aprenda a se expressar e agir de

acordo os costumes do seu grupo social.

Historicamente, uma das primeiras culturas brasileiras que se têm

notícias é a dos povos indígena. A história que conta a maioria dos livros

didáticos enfatiza Pedro Álvares Cabral como um colonizador, o qual, numa

de suas viagens para a Índia para descobrir novas terras, errou o destino e

veio parar em terras brasileiras. Aqui chegando constatou ser habitada e ao

avistar os nativos deu-lhe o nome de “índio”, assim, nasce a denominação

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para os primeiros habitantes brasileiros. Essa denominação, contudo, vem

carregada de preconceitos, principalmente, por atrelar a ele a

generalização de que todos são iguais. Entretanto, devido às lutas dos

próprios interessados, se vem desconstruindo essa denominação sendo

substituída por indígena (SILVA; GRUPIONI, 1995).

A imagem negativa e medíocre que os portugueses criaram dos

primeiros habitantes foi devido ao modo de andarem despidos, vivendo

apenas na natureza, alimentando-se de certo tipo de alimentos,

principalmente in natura; assim como as crenças, ou seja, seu modo de ser e

ter. Todos esses atributos fizeram com que os colonizadores portugueses

desconsiderassem a cultura e os costumes indígenas, e declarassem a

cultura portuguesa como a melhor, a mais correta e a mais eficaz para o

desenvolvimento do homem.

Partindo dessa premissa, quando não se aceita a cultura do outro, há

o desrespeito, as diferenças e as rejeições, alimentando fatores que

contribuem para o etnocentrismo, no qual o indivíduo ou grupo de indivíduos

exaltam sua cultura, apontando-a como superior e melhor do que demais.

Para Silva e Grupioni (1995, p.431) “etnocentrismo consiste, pois, em julgar

como ‘certo’ ou ‘errado’, ‘feio’ ou ‘bonito’, ’normal’ ou ‘anormal’ os

comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos a partir dos

próprios padrões culturais”.

Ainda hoje, se pode concluir que a visão etnocêntrica está presente

na sociedade, pois há pessoas e grupos que se julgam melhores em todos os

aspectos, sendo estes: na religiosidade, nos costumes, nas danças, nos rituais,

na culinária, na sexualidade e dentre outros. Tais pensamentos e ações

voltadas ao etnocentrismo têm gerado muitos conflitos sociais, aumentando

assim os vários atos de violências.

Portanto, cada ser humano tem o direito de ser diferente no seu modo

de pensar, viver e de expor suas ideias. Havendo respeito às diferenças,

pode se acreditar em um mundo mais humano e respeitoso.

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3 A restrição da abordagem indígena nos livros didáticos

O livro didático distribuído nas escolas é uma ferramenta rica de

informações de uma determinada temática ou pelo menos deveria assim

ser. O livro de história, por exemplo, permite ao homem conhecer a vida e os

costumes dos seus antepassados, através do contato direto com textos e

gravuras encontradas nele. Desta feita, é que se afirma que por meio dessas

informações, o homem interage consigo mesmo, fazendo alguns

questionamentos em relação a sua origem.

Sendo assim, o livro didático de história, também, tem a função de

desenvolver conteúdos sobre a origem do homem – história da humanidade.

Entretanto, segundo Ribeiro (2001), este recurso conta, muitas vezes, com

informações sucintas e limitadas centradas no pretérito, como por exemplo,

a história dos povos indígenas do Brasil.

Postula Ribeiro (2001, p. 17) que “além de apresentar os índios como

pertencente há um tempo pretérito, os manuais escolares transmitem

imagens fragmentadas e contraditórias”. Para esse autor, os recursos

didáticos que abordam as temáticas indígenas escolares têm uma grande

dificuldade em valorizar àquela cultura. O máximo que fazem, é exaltá-la

como algo exótico e diferente.

Os autores dos livros didáticos, na maioria, apresentam os conteúdos

como se os indígenas fossem pessoas do passado que não se transformaram

ao longo do tempo. Consequentemente, a contribuição dos indígenas para

a formação do Brasil é pouco apresentada pelos livros didáticos; os mesmos

abordam que os indígenas aparecem apenas na época do descobrimento

das terras brasileiras, não sendo tratados em mais nenhum outro período

histórico. Ou seja, os índios podem até ser mencionados pelos autores de

história, mas quando o são, passam a ser representados como povos

submissos, considerando apenas os seus aspectos culturais, gastronômicos,

socioeconômicos e dentre outros, mas de forma estereotipada, assim como

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também, não relatam o modo de vida deles antes da colonização – a não

ser de forma fantasiosa –, e nem suas lutas atuais pelos seus direitos.

3.1 As contribuições da Lei 11.645/2008 no espaço escolar

No espaço escolar se pode perceber que ainda existe uma visão

estereotipada e preconceituosa acerca do “indígena”. Em razão disso, foi

aprovada a Lei nº 11.645/2008, que regulamenta a obrigatoriedade do

ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de

ensino com o objetivo de analisar as dificuldades que muitos docentes

enfrentam em relação ao preconceito existente na sala de aula.

Outro problema que atrapalha o ensino é a escassez de conteúdos

presentes nos materiais didáticos acerca do tema, que na maioria das vezes

vêm limitados. Sobre isso Cruz e Jesus (2013, p. 02) apontam “o quanto o

espaço escolar é afetado pelo preconceito e as dificuldades dos professores

em trabalhar com esses “novos” temas propostos pela lei 11.645/2008, seja

pela falta de materiais didáticos de apoio seja pela falta de qualificação”.

Consideramos que dentro do ambiente escolar, diversas são as

questões que estão interligadas ao desrespeito e as diferenças, dentre as

quais, destaca-se a violência dentro dos muros da escola, reflexo da moral e

ética social em que os alunos estão inseridos.

Compreender que há uma ligação entre o espaço escolar e a

sociedade é primordial, pois a instituição de ensino reproduz o que acontece

na sociedade, ou seja, muitas vezes esta gera o etnocentrismo.

Entende-se por etnocentrismo, o conceito antropológico pelo qual um

indivíduo ou grupo de indivíduo considera sua cultura o centro de tudo,

desvalorizando as demais. Segundo o Ministério da Educação e Cultura

(MEC),

Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais

e econômicos, em como valorização da diversidade daquilo que

distingue os negros dos outros grupos que compõem a população

brasileira. E isto requer mudanças nos discursos raciocínios, posturas,

modo de tratar as pessoas negras. Requer também Diretrizes

Curriculares Nacionais para a educação das relações étnicos-raciais

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e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana que se

reconheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas,

buscando–se especificamente desconstruir o mito da democracia

racial a sociedade brasileira (BRASIL, 2004 apud CRUZ; JESUS, 2013,

p.4).

Vale ressaltar que o fato da Lei estabelecer a obrigatoriedade do

ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira e Indígena não significa

que a mesma está sendo trabalhada em sala de aula como deveria ser. O

que é visto na realidade são aulas ainda centradas no pensamento

etnocêntrico, como trataremos a seguir.

3.1.1 A prática da temática indígena em uma escola da rede municipal de

Imperatriz

Buscando fundamento na lei anteriormente supracitada, foi realizada

em uma escola municipal da cidade de Imperatriz-MA uma pesquisa de

campo, na qual fora aplicado um questionário semiestruturados com

objetivo de analisar, se ali, era trabalhado o ensino de História e Cultura

Africana e Afro-brasileira, especificamente a indígena.

De acordo com a entrevista realizada em 04 de novembro de 2016

com o professorado do 4º Ano do Ensino Fundamental, colheu-se que a

maneira de apresentar e trabalhar a temática indígena é hoje muito rasa,

tendo em vista, que só é enfatizada em datas comemorativas, como o dia

do índio.

Nessa data, o índio é apresentado através de máscaras ou simples

pinturas no rosto, não sendo trabalhados os aspectos históricos e culturais dos

povos indígenas. Constatou-se, ainda, a falta de materiais para o

desenvolvimento de projetos didáticos.

Quanto à importância da Lei, os entrevistados enfatizaram o seu papel

na diminuição do preconceito com a consequente valorização cultural e

histórica dos povos indígenas.

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4 As características dos povos indígenas Urubu-kaapór

No estado do Maranhão encontram-se nove povos indígenas, sendo

eles: os Tenetehara-Guajajara, os Kaapór e Awá-Guajá. Jê: Krikati, Gavião,

Apaniekrá-Canela e Ramkokamekrá-Canela. E ainda dois povos que estão

em processos de reconhecimento.

Neste trabalho aborda-se o povo Urubu-Kaapór, o qual se localiza as

margens da BR 316, Norte do Maranhão. A sua arte e seu trabalho vem de

um pássaro de penas coloridas chamado de tangarás, difícil de ser

encontrado por ser bastante colorida.

Nas aldeias, as mulheres são vistas pintando o rosto com o sumo de

urucum. Sua religião é chamada de xamanismo na qual invocam os

antepassados por meio de rituais de cânticos, danças, fumo de tabaco e

transe dos xamãs.

Embora saibamos pouco da cultura dos povos indígenas no Brasil,

enfatizamos que a pesquisa, da qual mencionamos, e a proposta de

apresentarmos o resultado do estudo e da visita às duas Aldeias de nossa

região na Semana Nacional de Tecnologia do Maranhão, realizada em

Imperatriz-MA, nos proporcionou um olhar mais apurado para as diferenças

culturais, ou seja, compreendemos que cada cultura tem sua importância.

Esse aprendizado certamente contribuirá para a nossa formação

humana e profissional, pois por meio dos conhecimentos adquiridos sobre os

povos indígenas, suas etnias, línguas, costumes e tradição podemos

desconstruir conceitos etnocêntricos de que os “índios” são povos que

ficaram no passado.

5 A busca pela autonomia indígena e suas diversidades culturais

Apesar das lutas dos povos indígenas pelo reconhecimento da

importância de sua cultura para a sociedade atual, houve nos últimos 20

anos grandes conquistas, que influi nos direitos garantidos que são seu modo

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de pensar de ser e fazer. Segundo Luciano (2006, p. 85), no Brasil 0,4% da

população brasileira são povos indígenas, aproximadamente 220 povos

indígenas falando 180 línguas, e os mesmo buscam e lutam por seu espaço

na sociedade pelos seus direitos.

Assim, foram estabelecidos Direitos à vida e a igualdade com as

mesmas condições e oportunidades que a legislação outorga aos demais

brasileiros na garantia de seus costumes, tradições, crenças e as terras que

os indígenas ocupam. No entanto, pode-se dizer quer apesar de suas lutas, o

indígena tem muito ainda que conquistar, de um modo geral na sociedade

e na sua autonomia, mas para que isso aconteça o país tem que superar o

preconceito que se tem em relação aos povos indígenas, pois

constituem parte importante da própria construção da nação

brasileira e por isso carregam sentimentos de brasilidade iguais

aos quaisquer outras sociedades, segmentos e indivíduos que

constituem o Estado, independente de culturas, valores,

símbolos e línguas que abraçam (LUCIANO, 2006, p. 88).

Assim, é preciso considerar que os indígenas são de suma importância

para construção do Brasil, pois foram os primeiros habitantes e carregam

sentimentos de valores em relação aos seus territórios, culturas, costumes,

etc. Principalmente, porque são pilares socioculturais para a formação da

identidade brasileira. Vale ainda ressaltar que os mesmo têm os direitos assim

como outro cidadão, sem precisar abrir mão de seu modo de ser. Segundo

(LUCIANO, 2006, p. 96)

[...]no discurso político e social, os avanços alcançados pelos

povos indígenas do Brasil podem ser definidos como o início de

processos de autonomia com grandes possibilidades futuras.

Por suas características, a autonomia indígena não tem

semelhanças. Trata-se de uma autonomia que se fundamenta

na vontade de interagir, de participar e de não excluir

componentes culturais e políticos diversos, com potencial para

resguardar e defender direitos que atendam a todos, desde a

ação de governos locais, ou a de organizações autônomas.

Para Luciano (2006), não existe modelo próprio para autonomia

indígena. A luta política ainda é árdua pela busca do reconhecimento dos

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direitos indígenas e pela inclusão social. Na buscar pelos seus direitos e sua

inclusão na sociedade os indígenas tem o papel muito importante,

principalmente na área ecológica. “O Brasil é considerado um país mega

diverso, pois é constituído de uma grande variedade de ecossistemas e seus

ambientes naturais” (LUCIANO, 2006, p.100). Considerando que é um país

com variedade de ecossistema e com uma expansão de produção e de

espécie vegetais e marinhas, nas regiões como de Mata Atlântica e o do

Cerrado, do Pantanal e Amazônia existem riqueza da fauna de várias sendo

considerada a maior reserva de recursos hídricos potáveis. Os indígenas

vivem buscando seus direitos constitucionalmente garantidos. Portanto,

preservar a floresta e suas matas também faz parte de suas lutas, assim como

o contexto sociocultural, apresentam uma forte veia cultural ligada à sua

capacidade de comunicação tanto corporal quanto linguística.

Diretamente ligados à produção, reprodução e disseminação de

conhecimentos tradicionais oriundos do meio em que está inserido, Luciano

(2006, p.117) afirma que existia no Brasil [...] 1.500 línguas indígenas quando

Pedro Álvares Cabral chegou a Porto Seguro, no atual estado da Bahia.

“Destas, somente 180 ainda são faladas hoje”.

Assim sendo, os linguistas passaram a classificar as línguas indígenas

faladas no Brasil por meio de seus troncos, famílias, línguas e dialetos.

Constatou-se que muitas foram extintas, em virtude da sua substituição por

outras línguas majoritárias e/ou pelo desaparecimento dos povos indígenas.

Neste ponto, ressalta Luciano (2006, p.120):

O importante é saber que a qualquer momento uma língua indígena

brasileira pode estar sendo falada pela última vez, como é o caso da

língua xipaia, do povo Xipaia no estado do Pará, que em 2006 só

contava com uma pessoa de idade avançada como falante.

Quando essa pessoa morrer, se não conseguir transmiti-la a seus filhos

e descendentes, a língua xipaia morrerá com ela.

Dessa forma pode-se dizer que o desaparecimento de alguma língua

indígena traz grande prejuízo para o seu povo específico. Sendo assim, as

diversidades linguísticas são de extrema relevância para a diversidade

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cultural, pois desenvolve uma historicidade de povos contribuindo com

conceitos históricos e a relação entre o homem e o contexto sociocultural.

6 Considerações finais

Os povos indígenas do Brasil sempre foram vistos como indivíduos sem

cultura e contribuição. Infelizmente em alguns livros didáticos ainda é

retratado essa visão centrada no etnocentrismo, mostrando a figura do

indígena como o ser atrasado, acomodado e selvagem.

Sendo assim, após décadas de colonização ainda é notável o

etnocentrismo em relação aos povos indígenas. Contudo, os indígenas não

sofrem sem resistir. Só que a luta deixou de ser de arco e flecha e passou a

ser de diálogo. Neste, continuam a lutar pela igualdade e pelo respeito à

cidadania brasileira.

Assim, objetivo maior deste trabalho foi discutir a cultura e o

predomínio do etnocentrismo relacionado aos povos indígenas na

sociedade atual. Portanto, estudar a temática indígena na Academia

contribuiu para a reflexão, para que futuramente no desenvolvimento de

nossa profissão, possamos buscar desenvolver uma prática mais

humanizada.

REFERÊNCIAS

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/08: A escola, as relações

étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa

temática no PIBID. Natal Rio Grande do Norte: Anpuh, 2013.

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O Índio brasileiro: o que você precisa

saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. IN: Da Cidadania à

autonomia indígena: um desafio à diversidade cultural. Brasília: Unesco, 2006.

ÍNDIOS ON LINE. 2014.Disponível em: <http://www.indiosonline.net/>. Acesso

em: 16 nov. 2016.

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RIBEIRO, Darcy. Índios no Brasil 1. In: Passado: Os livros didáticos e os índios

Brasília: Seed, 2001.

SILVA, Aracy Lopes. GRUPIONI, Luis Donizete Benzi. A Temática Indígena na

Escola: Novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. In: A antropologia e

o mundo contemporâneo cultura e diversidade. Brasília, MEC, 1995.

_______. A Temática Indígena na Escola: Novos subsídios para professores de

1º e 2º graus. In: A antropologia e o mundo contemporâneo cultura e

diversidade. THOMAZ, Omar Ribeiro. Brasília-MEC, 1995. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 12 nov. 2016.

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CULTURA INDÍGENA: DESCONSTRUINDO O ETNOCENTRISMO

Maysa Natália Viana Silva14

Aparecida de Lara Lopes Dias15

1 Introdução

Nesse trabalho discutem-se as temáticas indígenas, desconstruindo o

etnocentrismo, abordando e relatando a importância da cultura para a

sociedade e, consequentemente, a importância em respeitar a escolha das

outras pessoas em relação ao seu meio de vida. Relata também a

diversidade que existe no Brasil e no mundo, enfatizando aqui a cultura

indígena.

Apresenta-se, também, a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-

brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino, tanto em escolas públicas

quanto em escolas privadas por meio do surgimento da Lei 11.645/2008. Será

possível conhecer, na prática da escola campo de estágio, como se

desenvolve. Nesse aspecto, foi realizada uma pesquisa de campo pelos

acadêmicos do IV e V período de pedagogia da Faculdade de Educação

Santa Terezinha para conhecer como é trabalhado o ensino de História e

Cultura Afro-brasileira e Indígena, a metodologia que os professores utilizam

para chamar a atenção dos alunos quando se é abordado temáticas

indígenas em sala de aula.

Há um ponto importante que também é exposto neste artigo: as

informações sobre a cultura dos indígenas do Maranhão, quantos povos

estão presentes no estado, o que eles fazem para sobreviver, e como é sua

relação com a sociedade e com o governo.

Cruz e Jesus (2013), Ribeiro (2001), Silva e Grupioni (1995) são autores

que subsidiam este artigo.

14 Acadêmica do IV Período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 15 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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2 As diferentes culturas e os povos indígenas

A cultura pode ser considerada como um conjunto de costumes que

incluí as crenças, a culinária, as vestes, enfim, seu modo de vida de cada

povo específico. A cultura tem grande participação na vida do indivíduo,

onde a mesma é muito importante e indispensável, considerando que

ninguém vive sem cultura, pois é uma maneira própria de ser e de agir. Na

maioria das vezes a cultura de um indivíduo ou povo sofre alterações. Essas

alterações são importantes, pois servem para que se defina a cultura como

dinâmica.

No Brasil há diversas culturas, podemos citar os povos indígenas como

uma das culturas que estão presente desde o processo de colonização. A

formação do povo brasileiro mostra que estamos num país multiétnico,

consequentemente pluricultural, onde são vividos milhares de pessoas com

culturas diferentes.

Contudo, precisamos analisar historicamente o processo de

etnocentrismo que por longo tempo desenvolveu no Brasil em relação aos

povos indígenas. Partimos, então, no entendimento das palavras índio ou

indígena. A palavra Índio surgiu quando Pedro Alves Cabral chegou ao

Brasil, no qual encontrou pessoas habitando as terras brasileiras pensando

que havia chegado as Índias.

Os ‘índios’ como Pedro Alves Cabral os denominou os nativos que aqui

encontrou, já possuíam crenças, costumes, histórias e culturas próprias

mesmo antes da chegada dos colonizadores, porém a cultura desses povos

era desvalorizada porque para os europeus, estes com a visão etnocêntrica,

acreditavam que apenas a cultura que trouxeram tinha os verdadeiros

valores que precisa uma sociedade.

Para ajudar a desconstruir um julgamento etnocêntrico sobre os povos

indígenas é preciso que seja esquecido o termo índio, pois essa

denominação significa que estamos generalizando-o e considerando que

todos têm uma única especificidade, como se não houvesse outras etnias. O

etnocentrismo é considerado como preconceito porque diz respeito ao

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indivíduo ou grupo de indivíduos que só valorizam sua própria cultura,

desvalorizando as outras diversidades seja ela do indígena ou qualquer outro

povo diferente do seu.

A sociedade demonstra um olhar diferente quando se depara com

uma cultura diferente da sua, então se pode perceber que a própria

sociedade em si reage a esse tipo de transtorno que é não querer aceitar a

cultura do outro, assim como afirma Silva e Grupioni (1995, p. 432): “O

etnocentrismo se aproxima, portanto, do preconceito: na nossa própria

sociedade existem práticas que sofrem um profundo preconceito de setores

hegemônicos”

Para esses autores, os povos indígenas são os que mais sofrem

preconceitos em meio à sociedade por conta de seus costumes que são

diferentes dos nossos. Esse preconceito acontece mais frequentemente

quando algum membro sai de suas aldeias e vai para a cidade. Os seus

modos de viver são bem diferentes e isso faz com que algumas pessoas

olhem com um jeito diferente, achando que somente o meio de vida dele é

que está certo e que é melhor.

Todos têm o direito de pensar, de falar, de viver, de ser do jeito que

bem entender, para viver como quer é preciso vencer muitos desafios e

barreiras, pois na sociedade é comum as pessoas criticarem as outras por

seu modo de ser, principalmente, quando esse ‘estilo’ de vida desagrada à

maioria do grupo social que o indivíduo está inserido.

Enfim, percebe-se que a cultura é importante para a vida das pessoas,

pois é por meio dessa diversidade cultural que formamos a sociedade.

Entender que não existe uma cultura superior a outra já é um passo

fundamental para desconstruirmos o etnocentrismo entre os grupos sociais.

Em suma, é preciso conhecer um pouco do que se trata o

etnocentrismo, seus conceitos, como é visto pela Antropologia, e nesse

aspecto, respeitar a cultura dos outros, reconhecendo a diversidade cultural

que existe no Brasil.

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3 História e Cultura Afro-brasileira e Indígena: Lei 11.645/2008

A Lei 11.645/2008 surgiu para que existisse certo reconhecimento de

que os afros descendentes e indígenas são indivíduos que marcaram a

história, que tiveram e até hoje tem uma participação na construção social

histórica do Brasil. Assim, como confirma o parágrafo 1º do artigo 26-A da

então Lei aqui abordada:

o conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos

aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da

população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o

estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos

povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o

negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as

suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes

à história do Brasil (CRUZ, JESUS, 2013, p.4)

Essa lei pode ser considerada como uma grande conquista para os

negros e os povos indígenas, pois o ensino abrange justamente assuntos

relacionados a eles, sobre as lutas que trançaram para chegar até aqui.

Contudo, os livros didáticos abordam a temática, principalmente dos

indígenas em uma realidade distante da que vivemos atualmente.

Geralmente esses nativos aparecem apenas na parte do ‘descobrimento do

Brasil’ junto com os afrodescendentes no período da escravidão.

A Lei também busca auxiliar certa mudança social e cultural, então

para começar com essa mudança, parte da sociedade, principalmente os

povos indígenas, têm buscado promover as diversidades social, histórica e

cultural que são constitutivas no Brasil.

Para tentar começar a promover uma mudança social e cultural

dessa visão de inferiorização dos povos indígenas e afro-brasileiros,

diferentes parcelas da sociedade, principalmente relacionadas às

comunidades negras e aos povos indígenas, têm lutado, buscando

promover a diversidade social, histórica e cultural constitutivas do

nosso país (CRUZ, JESUS, 2013, p.3).

Trabalhar a temática da cultura indígena no ambiente escolar visa

desconstruir padrões criados na sociedade e que muitas vezes são refletidos

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em sala de aula. Tais padrões generalizam os indígenas como povos

primitivos, assim como acontecem com os afrodescendentes.

A partir do que trata a lei foi proposto na disciplina de História e Cultura

Indígena brasileira o desenvolvimento de uma pesquisa numa escola da

rede pública no município de Governador Edison Lobão, com os alunos do 4º

Ano do Ensino Fundamental. Nesta, foi utilizado entrevista semiestruturada

para coleta de dados.

Na oportunidade foram feitos vários questionamentos a professora,

com o objetivo de constatar como as temáticas indígenas estavam sendo

contempladas na prática pedagógica. Buscou-se saber como esta inclui o

ensino das temáticas, especificamente a indígena na sua prática

pedagógica. A professora trabalha esse ensino de forma expositiva e

explicativa, pois a mesma argumentou que trabalha o Dia do Índio, sendo

um dia em que são apresentadas atividades diferenciadas. Segundo a

entrevistada, realiza com os alunos roda de conversa, na qual se discutem as

reportagens, vídeos que expõe a importância dessa data e o que ela

representa.

Foi também questionado se os alunos mostram interesse em relação

ao ensino e também pelo dia da comemoração mencionada. A professora

ressaltou que os alunos se mostram dispostos e questionam o que não

conseguem compreender, e que a maioria da turma consegue adquirir e

perceber a importância desse ensino.

Em meio à linha geral, compreendendo a importância de conhecer a

realidade da escola, reconhece-se a importância da pesquisa, pois por meio

desta se conhece o contexto da escola campo, consequentemente,

aprende-se, na prática pedagógica, em relação às temáticas indígenas,

desconstruir equívocos que povoam a mete de muitos alunos. Além do mais,

a escola é o laboratório para que os estagiários do curso de Pedagogia

exercitem o aprendizado adquirido na academia.

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3.1 Os povos indígenas e o livro didático

A escola é um espaço aonde os alunos vão em busca de

conhecimentos, e no decorrer da pesquisa a professora entrevistada

enfatizou que o único material impresso que é disponibilizado para

compartilhar informações importantes é o livro didático. Para Ribeiro (2001)

os autores dos livros didáticos têm dificuldades em lidar com temáticas

relacionadas aos povos indígenas, desta forma os professores, na sua prática

pedagógica, vêm repetindo durante muito tempo os preconceitos das

culturas diferentes.

Entendem-se, a partir do autor, que os livros se tornam incompletos

quando se fala da história e cultura dos indígenas, e é somente com esse

material incompleto que os alunos e professores conhecem os povos

indígenas e suas culturas (RIBEIRO, 2001). Espera-se que com o passar do

tempo, aconteça um avanço onde os livros recebam mais informações e de

formas claras, para que se consiga realizar um bom trabalho em relação ao

ensino, e assim, o aprendizado em todas as áreas do saber seja de fato

significativo.

4 Conhecendo os povos indígenas do maranhão

No estado do Maranhão estão presentes aproximadamente 15 mil

indígenas, esse número está dividido entre nove povos. Segundo

esclarecimentos e reconhecimento da Fundação Nacional do Índio- FUNAI,

esses povos são classificados em dois tipos de linguagem, são eles: Tupi-

Guarani e Macro- Jê, são povos da língua Tupi-Guarani os Guajajara, Awá-

Guajá, Urubu-Kaapór, e os povos Jê Canela Apaniekrá e Ramkokamekrá,

Pukobyê (Gavião) e os Krikati. Há os que estão em processo de

reconhecimento.

Segundo a FUNAI (2006), o povo Guajajara está distribuído em 10

terras indígenas, localizados em vários municípios do estado do Maranhão.

Estão presentes mais possivelmente nas margens dos rios como o Corda e

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Pindaré. A extensão das terras desse povo é dividida pelo tamanho de suas

necessidades, ou seja, de acordo com o tamanho de suas famílias; se as

famílias são grandes, a área oferecida a eles deve ser grande e se não tão

grandes, pode ser oferecida uma extensão de área menor.

Assim, a FUNAI afirma também que esse povo tem contato com a

sociedade e com o governo desde o tempo da colonização. Por muito

tempo os colonizadores tentaram impor que eles deixassem suas culturas e

fossem viver de acordo com a sociedade, mas eles lutaram e conseguiram

preservar suas culturas. Até hoje sobrevivem da agricultura, da pesca e da

caça, entre outros.

Os estudos e pesquisas realizadas em relação aos povos indígenas são

de grande importância na formação dos acadêmicos, pois através da

mesma foi possível conhecer desde o início a vida e a história dos povos

indígenas, a luta por seus direitos, as dificuldades que enfrentaram. Assim

como a visita à aldeia São José do povo Krikati, na qual tivemos a

oportunidade de conhecer um pouco de suas culturas.

5 Considerações finais

Ao longo do processo de construção do trabalho aqui apresentado,

foi possível conhecer a importância da diversidade de culturas que existem

no Brasil e no mundo. Foi também possível visualizar na prática que o livro

didático é o único meio usado na sala de aula para contemplar as

temáticas, e que ainda falta muita informação a respeito do ensino que a

Lei 11.645/2008 preconiza. Atribui-se esse resultado aos autores que se limitam

quando se trata desse assunto, e quem sofrem as consequências são os

próprios alunos, pois só adquirem conhecimentos sobre o que está no livro.

E por fim, esse artigo teve muita importância para o enriquecimento

de meus conhecimentos, conhecendo mais das diversas culturas

enfatizando a cultura indígena, também foi possível adquirir experiências

através da pesquisa realizada em campo.

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68

REFERÊNCIAS

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/08: A escola, as relações

étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa

temática no PIBID. Natal: APUH, Brasil, 2013.

RIBEIRO, Darcy. Índios no Brasil 1. IN: PASSADO: os livros didáticos e os índios.

Brasília: MEC, 2001.

SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luis Donisete Benzi. A temática indígena na

escola: Novos subsídios para professores de 1º e 2º grau. IN: A antropologia e

o mundo contemporâneo: cultura e diversidade. Brasília: MEC/Mari/UNESCO,

1995.

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A DIVERSIDADECULTURAL INDÍGENA E SUAS CONTIBUIÇÕES

Maria Luana Fernandes Morais16

Railane Fernandes Morais17

Aparecida De Lara Lopes Dias18

1 Introdução

Desde o início da história de colonização do Brasil os Indígenas se

fazem presentes nas discussões relacionadas à cultura e educação. O que

se sabe é que durante muito tempo esses povos foram excluídos e banidos

da sociedade, não tinham direitos que são considerados básicos como

acesso à educação e a saúde. Atualmente esse cenário está sendo

modificado e os mesmos estão conquistando espaço e respeito.

Contudo, percebe-se que ainda há uma determinada vulnerabilidade

quando se analisa essa questão de uma forma mais crítica e observadora.

Agora é obrigatória a inclusão da temática indígena nas escolas necessárias

para construção do conhecimento sobre o outro, no ambiente escolar

desde os Anos Iniciais.

No discorrer deste artigo se discute a questão da diversidade cultural

dos povos indígenas maranhenses, realizada em visitas técnicas em aldeias e

pesquisas bibliográficas para obter os resultados do estudo. Também

ressalta-se o que determina a Lei 11. 645/ 2008 com relação ao ensino de

História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, nos proporcionou conhecer

também a quantidade de povos indígenas situados no interior do estado do

Maranhão, enfatizando o povo Guajajara.

Aborda-se, também, sobre as contribuições dos povos indígenas para

o Brasil e para o mundo e os equívocos que o livro didático comete quando

os apresenta como povo sem cultura e sem relevância para sociedade em

geral. Nas considerações finais apresentam-se os resultados alcançados com

16 Acadêmica do IV Período do Curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 17 Acadêmica do IV Período do Curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 18 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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esse estudo. Esse trabalho vem baseado em autores que socializam sobre

essa temática: Cruz e Jesus (2013), Luciano (2006), Ribeiro (2001) e Silva e

Grupioni (1995).

2 Identidade social e cultural dos indígenas

O ser humano é um ser social que sente a necessidade de ser e

pertencer a uma cultura, somando a sua identidade pessoal e social um

modelo de comportamento para o seu desenvolvimento, agregando valores

sociais e ainda de suas gerações passadas.

A cultura é costumes, tradições e valores. É um jeito único de ser, estar,

sentir e viver o mundo. Ora, é também pertencer a algum lugar, a alguma fé,

e algum grupo seja ele família, amigos, entre outros. Desta forma a cultura

influencia constantemente no desenvolvimento do indivíduo.

Além disso, ela tem suas variações como pessoas de diferentes lugares,

com hábitos e costumes diferentes, e apesar de todas essas diferenças o

respeito uns com os outros não pode faltar, isso é importante para o indivíduo

respeitar todos apesar de terem costumes diferenciados. Isso é bom para

que todos tenham um bom convívio e a mesma pode ser considerada uma

herança não só da família, mas como uma herança do meio social, assim

a diversidade das manifestações culturais se estende não só no

tempo, mas também no espaço: se dirigimos o olhar para os

diferentes continentes encontraremos costumes que nos parecerão,

à luz dos nossos, curiosos e aberrantes. Assim como os povos falam

diferentes línguas, expressam das formas mais diferenciadas os seus

valores culturais (SILVA; GRUPIONI, 1995, p. 412).

Dentre tantas diversidades de culturas na sociedade, citamos os povos

indígenas. Estas se diversificam de acordo com cada povo específico. Para

Silva e Grupioni (1995, p. 426)

no Brasil nos deparamos com uma riqueza cultural extraordinária: 200

povos indígenas falando mais de 180 línguas diferentes. Cada nação

possuindo à sua maneira particular de ver o mundo, de organizar o

espaço, construir a sua casa e marcar os momentos significativos da

vida de uma pessoa.

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E mesmo com toda essa diversidade há os que atribuam a esses povos

o sentido homogêneo denominando-os de ‘Índios’. Essa denominação

historicamente vem carregado de preconceito, categorizando-os de

selvagem e primitivos. Entretanto, esse conceito foi alterando ao longo da

história, sendo assim, atualmente os ‘Índios’ reivindicam que sejam

considerados como povos indígenas.

A reivindicação faz parte das lutas do Movimento Indígena que

entende que quando se desconsidera a especificidade das culturas e

coloca uma sobrepondo a outra, aí se tem o que se considera de

etnocentrismo. O etnocentrismo gera conflitos entre as culturas, pois cada

grupo considera sua bagagem cultural como única inalterável e intocável,

determinando assim que seu modo de vida é único, correto e que todas as

outras culturas são opostas e incorretas. Para Silva e Grupioni (1995, p. 416) “o

estranhamento diante dos costumes de outros povos, a avaliação de formas

de vida distintas a partir dos elementos da nossa própria cultura. A este

estranhamento chamamos etnocentrismo”.

Somos sabedores que o mundo é dividido por culturas, línguas

diferentes da mesma forma também é o Brasil que é dividido por várias

culturas diferenciadas. Há certa dificuldade de aceitação da parte de

algumas pessoas, porque imaginam que todos devem ser iguais ou até

mesmo pelo fato de achar errada a cultura do outro, o modo de pensar, o

modo de viver.

A Antropologia procura que o homem tenha o conhecimento em

todos os aspectos, tornando suas expectativas muito mais compreensivas.

Portanto, essa área do saber defende a importância da diversidade cultural

na sociedade, pois, cada um se distingue do outro e, consequentemente,

tem sua forma de viver, pensar e se manifestar culturalmente.

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3 Os alicerces da lei 11.645/2008

O Brasil é marcado historicamente em seu aspecto legal, por

discriminações, preconceitos e racismos que até hoje cerca a população

afrodescendente e indígena. Para tanto, foi preciso que o governo

reconhecesse a importância e garantisse o ensino da História e Cultura dos

Afro-brasileiros e Indígenas preconizando a Lei nº 11.645/2008.

No entanto, apesar de algumas conquistas, sendo a primeira a

Constituição de 1988, que garante aos indígenas o direito à cidadania, o

direito de ser diferente e a prática de seus costumes e tradições, na

contemporaneidade, os negros e, principalmente os povos indígenas,

continuam sofrendo com a forma preconceituosa e racista que são tratados.

No contexto de lutas dos grupos étnicos, o governo reconhece o

multiculturalismo e a importância dos indígenas para a formação do povo

brasileiro, por isso a Lei 11645/2008

abarca uma série de importantes questões, pois não se resume à

questão da escravidão e do preconceito, já que retrata a

importância do reconhecimento [...] como pilares da formação da

sociedade brasileira, como sujeitos históricos que lutaram pelos seus

ideais (CRUZ ; JESUS 2013, p.4).

Nesse sentido, o ensino da cultura indígena passa a ser obrigatório nas

escolas oferecendo, assim, aos alunos o contato com essa cultura. Mas a Lei

não garante que este ensino aconteça nas escolas. Segundo Cruz e Jesus

“não é garantia de que esse ensino realmente irá acontecer e que o

professor terá os meios necessários para informar os conhecimentos sobre a

História e Cultura Africana e Afro-brasileira e Indígena”, pois existem casos de

professores que ainda não tem conhecimento desta Lei. Outros não têm

uma formação para trabalhar essa temática, não tem recursos didáticos e,

muitas vezes, nem apoio da própria escola.

Assim, é possível observar como ainda é imenso o preconceito que

afeta o ambiente escolar, sendo este um espaço que pouco contribui para

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conhecimento e valorização dos povos indígenas tanto no passado quanto

no presente.

3.1 Conhecendo como é abordada a temática de História e Cultura Afro-

brasileira e Indígena no ambiente escolar

A Lei 11.645 de 10 de março de 2008 preconiza a obrigatoriedade e

inclusão do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena nas escolas

de ensino fundamental pública e privada e contribuí para a desconstrução

do preconceito referente à cultura indígena e afro-brasileira, com o intuito

do reconhecimento e valorização desses povos pela sociedade.

Assim, foi proposta pela disciplina de História e Cultura Indígena

brasileira, na academia,19uma pesquisa a qual tem por objetivo conhecer e

analisar como a escola desenvolve as temáticas relacionadas aos povos

indígenas.

Para tanto realizamos uma entrevista em uma Escola Municipal de

Imperatriz-MA, envolvendo uma professora, utilizando entrevista

semiestruturada.

De acordo com a professora denominada aqui como P1, essa

temática é trabalhada geralmente nas disciplinas de Geografia e História.

Sendo presente no desenvolvimento das atividades cotidianas da escola, na

maioria das vezes, por meio de projetos, em apresentações que são

realizadas no decorrer dos conteúdos que acontece de maneira simultânea

na sala de aula, tendo a culminância no pátio da escola com todas as

turmas.

Projetos esses que ganham um empenho maior nas datas

comemorativas. Principalmente o dia 19 de abril (Dia do Índio). Comentou,

ainda, que na data comemorativa é trabalhada por meio de estudos sobre

várias temáticas envolvendo a cultura indígena através de seminários, nos

livros didáticos e nos projetos de feira de ciências, tentando trazer para os

19 Projeto do IV, V e VII período do Curso de Pedagogia envolvendo duas instituições de ensino superior: Faculdade de Educação Santa Terezinha-FEST – particular e pública UEMASUL - Imperatriz-MA.

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alunos o contexto cultural vivido pelos povos, especificamente, os que

habitam o estado do Maranhão. Enfatizam que esses povos são importantes

para a formação do nosso país, por isso os alunos são convidados a fazer

apresentações por meios de músicas, exposições e demonstrações de

artesanato e artefatos indígenas, incluído também fotos, comidas, músicas,

entre outras.

No espaço da escola observa-se a exposição desses projetos por meio

de várias fotos expostas em quadros, nas quais, identificamos vários recursos

utilizados e confeccionados pelos próprios alunos, como: instrumentos

musicais, cartazes, desenhos, imagens e poesias. Além do mais é possível

observar o empenho dos alunos em conhecer as temáticas, pois a P1 relata

que por meio dos projetos percebe-se que o ambiente escolar está aos

poucos dando um espaço para se trabalhar a cultura indígena, assim como

a cultura afro-brasileira e isso vem ajudando na desconstrução

preconceituosa sobre as multiétnicas que fazem parte do cotidiano

brasileiro.

De um modo geral foi perceptível a falta de recursos disponibilizados

pela escola para se trabalhar as temáticas, sendo também visível a falta de

preparação da professora com o assunto. Entendemos que se faz necessário

que haja um conhecimento maior, uma formação continuada para o

desenvolvimento de uma prática pedagógica que contribua para a

valorização dos povos tão importantes para o passado, presente e futuro do

Brasil.

3.1.1 A representação indígena no livro didático

Tendo em vista que o ambiente escolar é o meio onde os alunos

adquirem conhecimentos sobre outras culturas, povos, costumes e crenças

distintas das suas, observa-se que o livro didático é utilizado como principal

fonte de informação para este conhecimento e, partindo dessa informação,

foi realizado um estudo de um capítulo do livro de Darcy Ribeiro no qual

comenta como é enfatizado o índio no livro didático.

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De acordo com Ribeiro (2001), o livro de didático deveria ser a

ferramenta mais rica em conhecimento sobre essa temática, no entanto,

ainda tem uma visão muito restrita no que se refere à cultura indígena

brasileira e isso acaba afetando o desempenho dos alunos porque recebem

informações incompletas e equivocadas e depois não tem a oportunidade

de confrontar as mesmas com outras leituras, filmes, visitas, conversas,

discussões e etc.

Os povos Indígenas são donos de uma rica e diversificada histórica,

pois cada povo tem sua própria cultura, crença, tradição e costumes,

entretanto, o recurso didático, no caso o livro de História, acaba que

generalizando os mesmos, como se todos fossem iguais e fizessem parte de

uma mesma cultura.

Analisando as informações aqui disposta, percebe-se que Ribeiro

(2001) faz uma crítica da maneira como esse tema é abordado no livro, pois

segundo o mesmo, é uma maneira generalizada e equivocada. O mesmo

autor ainda relata a importância de tratar a temática por meio de outras

metodologias que podem ser utilizadas pelo professor responsável pela

disciplina.

4 Conhecendo a presença indígena no Maranhão

De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio-

FUNAI/Imperatriz/MA são nove povos indígenas localizados no interior do

Estado do Maranhão, que são eles: Krikati; Guajajara; Awáguajá; Urubu-

Kaapór; Apaniekrá Canela; Gavião e Ramkokamekrá e Apanyekrá e outros

solicitam reconhecimento.

Considerando o que foi estudado até aqui, neste texto, abordaremos

um dos povos indígenas que fazem parte da Regional do Tocantins – o povo

Indígena Guajajara. Estes indígenas são considerados como uns dos povos

mais numerosos do Brasil, assim sendo, ocupam a sexta colocação e com 24

mil habitantes no Maranhão, tornando assim o povo maior da região. Além

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do nome Guajajara, com o significado ‘Donos do cocar’, também recebem

o nome de Tentehar que significa: ‘Somos seres humanos verdadeiros’.

Os Guajajara/Tentehar falam a língua Tupí-Guarani e ficam localizados

no interior do Maranhão em 11 Municípios diferentes, (Amarante, Arame,

Barra do Corda, Bom Jardim, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Grajau,

Itaipava do Grajaú, Jenipapo dos Vieiras, Montes Altos e Santa Luzia). Esses

territórios são situados nas regiões próximas aos rios Mearim, Corda e Grajaú,

Pindaré e seus afluentes Caru, Zutiua e Buriticupu.

No que se refere à Educação Escolar dos Guajajara/Tentehar,

constata-se que são num total de 254 escolas Indígenas, sendo subdivididos

dentre os 11 Municípios, já mencionados, e cerca de12.900 alunos e 950

professores. Vale ressaltar que mais da metade desses profissionais são

indígenas. Estas escolas recebem suporte da Secretaria de Educação da

Educação e atendem os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, 29 do total

atendem até o 9º ano e 20 até o Ensino Médio20.

O povo Guajajara tem uma liderança forte na organização social que

é Sônia Bonne Guajajara, hoje aos 39 anos de idade formada em Letras e

Pós-graduada em Educação Especial. A mesma é conhecida tanto

nacionalmente quanto internacionalmente devido a sua história de luta

pelos Direitos Sociais dos Indígenas e por isso sempre é convidada a

representá-los nos movimentos e manifestações.

Os Guajajara/Tentehar produzem artefatos, materiais que servem para

o seu uso, arco-flecha, cocar, e artesanatos que tem fins lucrativos, por

exemplo, brinco, colar, pulseiras e entre outros objetos que representam seu

povo e geram renda para os mesmos.

É indiscutível a relevância do estudo sobre os povos indígenas na

formação do pedagogo, assim como para qualquer pessoa da sociedade.

Assim, com a disciplina: História e Cultura Indígena brasileira nos oportunizou

a possibilidade de desfazer de pré-conceitos já existentes e construir um

20 Fonte: Gildete Dutra Elias Dutra.

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novo e verdadeiro conhecimento sobre esses povos que fez e faz parte da

história do Brasil.

5 As principais contribuições dos povos indígenas para a sociedade global e

nacional

Os indígenas fazem parte da história do Brasil desde o início, mas os

livros didáticos, os quais deveriam trazer a participação e contribuição dos

mesmos para a sociedade Brasileira, apresenta-os como pessoas sem cultura

e sem participação alguma no meio social como diz Luciano (2006, p.217)

Na história oficial do Brasil, contada nos livros didáticos das escolas

ou mesmo na literatura especializada, não aparece nenhum feito ou

contribuição significativa dos povos indígenas à formação da nação

brasileira.

Sendo que, de acordo com Luciano (2006), quando os portugueses

chegaram ao Brasil receberam orientações dos indígenas de como

deveriam lidar com a selva e com o perigo da floresta, então se pode dizer

que desde a chegada dos portugueses os indígenas já estavam

contribuindo. E além dessa contribuição mencionada, os indígenas ainda

participaram das expulsões de muitos invasores das terras brasileiras, mão de

obra na agricultura, etc.

Segundo ainda esse mesmo autor, no ponto de vista social, os

indígenas contribuíram com a formação biológica dos país como aponta o

censo que a sociedade é formada por três matrizes étnicas distintas:

indígena, branca e negra. No entanto, não é somente essa contribuição,

considerando que há vários vestígios de que a cultura e a religião brasileira

receberam influência dos indígenas e até mesmo a própria língua

portuguesa que traz em seu vocabulário diversas palavras/expressões

indígenas.

Há também outro ponto importante onde os indígenas tiveram grande

contribuição, a medicina tradicional, área que os indígenas dominaram por

muito tempo como diz Luciano (2006, p.218), “[...] alguns estudiosos estimam

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que os índios do Brasil chegaram a dominar uma cifra de mais de 200.000

espécies de plantas medicinais”.

Podem-se citar, ainda, várias outras contribuições indígenas na

sociedade, como na culinária, pois é notória influência dos mesmos em

alguns alimentos como ressalta Luciano (2006, p.218): “[...] os conhecimentos

culinários dos povos indígenas que estão presentes na vida dos brasileiros,

em que talvez a mais forte expressão esteja na presença de inúmeros

produtos da mandioca”, que em outro ponto o mesmo especifica alguns

desses produtos que é a farinha, tapioca e o tucupi.

Assim sendo, Luciano (2006) apresenta inúmeras contribuições dos

indígenas realizadas no meio social como a língua e a medicina tradicional

brasileira. Com isso o autor mencionado chama a atenção para a cultura

rica enfatizando, ainda, a maneira de como a sociedade deve respeitar as

culturas dos indígenas.

5.1 O futuro que os povos indígenas estão construindo

O futuro da questão indígena no Brasil depende das várias opções

estratégicas a serem tomadas, pois mesmo com todas as lutas pelo o

reconhecimento da importância da cultura indígena, ainda sentem a

necessidade que todos os povos tenham seu espaço e o direito de viver

com dignidade e liberdade, assim como está assegurado na Constituição

Federal de 1988. Para isso precisam da consolidação e a ampliação dos seus

direitos, ou seja, necessitam que esses direitos sejam concretizados. Para que

isso aconteça precisam recorrer a algumas estratégias importantes. Algumas

dessas estratégias estão em curso e outras ainda precisam de um tempo

mais longo como afirma Luciano (2006).

As estratégias as quais menciona Luciano (2006) são para determinar a

construção de projetos que garantam a participação e o reconhecimento

dos direitos indígenas. Assim como a primeira estratégia que tem como

enfoque, o projeto etnopolítico “[...] É um conjunto de princípios, estratégias

e instrumentos políticos e culturais que visam garantir a efetividade dos

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projetos societários e étnicos dos povos indígenas” (LUCIANO, 2006, p. 222).

Dando ênfase à valorização e o reconhecimento dos povos indígenas.

Esses projetos também têm como função estimular os indígenas para a

busca por uma formação acadêmica e isso tem propiciado muitas

conquistas além do conhecimento adquirido. São projetos que trazem

formas para que o governo cumpra o seu papel com os povos indígenas.

Como diz a seguir Luciano (2006, p. 58)

O movimento indígena tem avançado na luta pela a formação

acadêmica, o que é extremamente importante para transformar a

visão etnocêntrica e excludente das universidades, mas tem se

omitido na luta pela formação política de suas lideranças,

imprescindível para a reprodução das cosmovisões e das filosofias de

vida dos povos indígenas, a qual deve orientar para qualquer novo

projeto de futuro desses povos.

É, portanto, a partir da formação acadêmica e política que os

indígenas também adquirem capacidades para escolherem e tomarem

decisões futuras. E também acaba sendo umas das formas para que o

governo cumpra com as obrigações diante dos direitos indígenas. E,

consequentemente, no que se refere à educação e à saúde.

6 Considerações finais

No transcorrer deste trabalho foi tratado sobre a questão da

diversidade cultural dos povos indígenas maranhenses, que nos possibilitou o

conhecimento sobre a vida desses povos. Sendo possível ter o conhecimento

dos costumes, hábitos, cultura, vida de cada povo, em específico, os

Guajajara. Além do estudo em relação à Lei 11.645/2008, e para saber como

esta lei se aplica no ambiente escolar foi realizada uma pesquisa em uma

escola municipal de Imperatriz, sendo uma entrevista com perguntas

semiestruturadas feitas a uma professora dos Anos Iniciais.

O resultado desta pesquisa foi interessante, pois o foco era saber como

é trabalhada a temática indígena nas escolas. Sendo assim foi um proveitoso

estudo feito de forma interdisciplinar entre a FEST e UEMASUL, que culminou

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na Semana nacional de Ciência e Tecnológica 2016 no Maranhão, onde

foram expostos pôsteres referentes a cada povo indígena.

Assim, foi possível perceber na história como os indígenas são vistos, as

lutas pelos direitos básicos, pelo reconhecimento e pelo espaço político, pois

foi aos poucos que foram conseguindo, através das manifestações nas ruas,

no Congresso Nacional. Sendo todos esses pontos fundamentais para a

construção do que cada povo vive hoje a esperança de ainda continuar

lutando por um futuro melhor para alcançar aquilo que ainda falta ou então

melhorar o que já se tem.

REFERÊNCIAS

CRUZ, Caroline Silva. JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/08: A escola, as relações

étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa

temática no PIBID. Natal Rio Grande do Norte: Anpuh, 2013.

LUCIANO, Gersem dos Santos. Contribuições dos povos indígenas ao Brasil e

ao mundo In: O Índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos

indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Laced, 2006. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 30 out. 2016.

RIBEIRO, Darcy. Cadernos da TV Escola, Índios no Brasil1. In: PASSADO: os

livros didáticos e os índios. Brasília MEC, SEED SEF. 2001.

SILVA, Aracy Lopes. GRUPIONI, Luis Donizete Benzi. A Temática Indígena na

Escola. In: O etnocentrismo e preconceito. Brasília, 1995.

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CONTRIBUIÇÕES DOS POVOS INDÍGENAS: CONHECENDO E VALORIZANDO AS

CULTURAS

Daiane Mesquita Barros de Oliveira21

Aparecida de Lara Lopes Dias22

1 Introdução

No presente estudo busca-se compreender a importância da cultura

indígena para o indivíduo, destacando que os povos indígenas contribuíram

para formação do povo brasileiro. Destaca-se, ainda, a relevância de

desconstruirmos os equívocos existentes em relação aos indígenas ditados

pelo etnocentrismo de uma sociedade que resiste em vê-los como povos de

cultura ultrapassada.

Neste, objetiva-se ainda, abordar o sentido de cultura, definição de

etnocentrismo e a importância da cultura indígena. Trata-se, também, sobre

a implementação da Lei 11.645/2008 que regulamenta a obrigatoriedade do

ensino da História e Cultura Afrodescendentes, se destacando a indígena.

Assim como a preocupação do uso do livro como único recurso

didático para trabalhar as temáticas indígenas. Traz-se, também, o resultado

sobre a pesquisa realizada na escola campo de estágio referente à Lei

11.645/2008. E ainda, a visita em uma aldeia da Regional de Imperatriz. Na

oportunidade, destaca-se a pesquisa bibliográfica sobre o povo Kaapór.

Os conteúdos citados e estudados foram subsidiados pelos seguintes

autores: Cruz e Jesus (2013), Ribeiro (1992, 2001), Brasil (2004) e Luciano

(2016).

2 Os tributos à diversidade dos povos indígenas

É de fundamental importância o indivíduo ter uma cultura, sendo que

este tem o direito de conviver em sociedade atribuindo-se de seus direitos e

deveres, desta forma, pondo em prática as ações de convivência e

habilidades de um cidadão.

21 Acadêmica do V período do Curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 22 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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Para Ribeiro (2001, p.17) “a contribuição dos índios para nossa cultura

acaba se reduzindo a uma lista de vocábulos e à transmissão de técnicas e

conhecimentos a respeito da floresta”. Nessa compreensão, todo e qualquer

indivíduo, sendo indígena ou não indígena é um cidadão brasileiro e por sua

vez tem o direito em expressar sua cultura especifica. Isso significa dizer que

pode haver distinção, inclusive, dentro de cada povo seja na língua, nos

ritos, enfim, em todas as manifestações culturais.

Nesse aspecto, é essencial que desconstruamos equívocos, por

exemplo, que todos são iguais. Considera-se que por mais que vivam em

lugares diferentes, todos têm os mesmos direitos, deveres como em qualquer

cultura ou denominações diferentes. A desconstrução da palavra índio para

indígena torna-se um processo, considerando, que assim como todo e

qualquer indivíduo, os indígenas compartilham dos mesmos direitos e

deveres, inclusive de pensar e de se expressar diferentemente.

[...] De fato, o que unifica os diversos alternos do índio, com suas

variadas características raciais, culturais e sociais, é que todos eles

são integrantes diferenciados de uma mesma etnia nacional, da

qual é excluído o indígena enquanto etnia, como são os quaisquer

outros que definam, ou seja, definidos como etnicamente distintos,

por seu gosto ou malgrado seu (RIBEIRO, 1992, p.477).

Ribeiro (1992) ainda afirma que ao se referirmos ao termo indígena,

estamos considerando que esses povos têm sua própria vontade, modo de

expressar, e ainda, por direito constitucional tem autonomia de si integrar ou

não em qualquer sociedade não indígena.

E ainda, nessa discussão, a Antropologia como campo do saber

estuda a ciência de diversidades culturais e considera que ao colocarmos a

nossa cultura como superior a outra estamos sendo etnocêntrico, ou seja,

nenhuma cultura é melhor ou mais importante do que a outra. Nessa

compreensão, cada indígena tem o direito em ser diferente, falar diferente,

viver e pensar diferente, sendo este imprescindível para que aconteça a

interculturalidade, ou seja, o diálogo entre culturas.

Em suma, perceber o quanto é importante respeitar as diferenças do

outro, seu modo de viver, suas transfigurações étnicas, diante de uma

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barreira chamada preconceito é contribuir para a desconstrução de

equívocos que ainda permanece enraizado na mente e nos

comportamentos de muitos brasileiros em relação às diferenças étnicas.

3 A história indígena e sua obrigatoriedade no ensino básico

Reconhecendo as diferenças étnicas e a necessidade do ensino

brasileiro contribuir para uma aprendizagem significativa dos alunos, foi

criada a Lei 11.645/2008. Nessa lei é contemplado o direito que a escola tem

em promover as metodologias e, consequentemente, a utilização de

recursos didáticos específicos, pois,

no âmbito da História Escolar e da Educação diversos aspectos

destas questões são abordados por diferentes autores. Entre esses

aspectos pode-se destacar a violência escolar, o papel de formação

da escola, as relações entre sociedade e escola e o preconceito

dentro desse espaço (BRASIL 2008, p. 2).

Deste modo, o preconceito, o racismo e a discriminação são aspectos

que devem ser trabalhados em sala de aula pelos professores por meio de

um ensino reflexivo e problematizador, para que os sujeitos que fazem parte

desses processos, compreendam as situações advindas, seja do contexto

escolar ou fora dela. Assim, Cruz e Jesus (2013) e Ribeiro (2001) tratam que o

profissional de educação deve ter formação para estar apto em trabalhar

as temáticas culturais adversas – aqui enfatizamos a indígena – em sala de

aula, a fim de conhecer a realidade de cada povo, suas etnias,

principalmente, as contribuições para a formação do povo brasileiro.

Neste sentido, as contribuições que os indígenas trazem para nosso

país e/ou em todos os aspectos gerais de formação têm grande relevância,

pois, o Parágrafo 1º do Artigo 26 da Lei 11.645/2008 considera que se faz

necessário que os conteúdos programáticos da educação básica brasileira

incluam

diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a

formação da população brasileira, a partir desses dois grupos

étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a

luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e

indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade

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nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,

econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

Assim, se pode concluir que contemplando esta lei a escola pode

contribuir com os alunos para que desenvolvam projetos que sejam voltados

aos povos indígenas, pois o mesmo pode conviver na sociedade como

qualquer pessoa, sendo sujeito de sua própria história. Em destarte, almeja-se

que a interação da teoria com a prática possibilite conhecimentos

necessários favorecendo a interação da diversidade étnica.

3.1 A importância das temáticas indígenas para formação dos discentes na

atualidade: crítica aos livros didáticos

Como já enfatizada, a Lei 11645/2008 propicia que haja um cuidado

maior quanto os recursos didáticos utilizados nos processos de ensino e

aprendizagem, pois historicamente o livro didático foi o único recurso

utilizado pelo professor na prática pedagógica, pois não de forma

generalizada, mas, na maioria ainda apresenta uma “imagem de um índio

genérico, que vive nu na mata, mora em ocas e tabas, cultua Tupã e Jaci e

fala tupi ainda predomina no senso comum” (RIBEIRO, 2001, p. 11).

Consequentemente, se faz necessário que na prática pedagógica o

ensino sobre os indígenas seja capaz de propiciar momentos didáticos, nos

quais, as temáticas tratem mais próximo do contexto e o histórico de cada

povo.

Ribeiro (2001) trata da realidade do termo índio definindo como uma

opção em “branco”, porque remete uma indagação do ser ou não

genérico. Esse apelido não tem nenhum sentido aos indígenas, remete sim

aos equívocos presentes na maioria dos brasileiros por ter eles cultura

diferente, costumes, dentre outras coisas. Os povos indígenas têm direito de

ter sua cultura diferente e querer viver isolado da sociedade, pois, “é preciso

reconhecer que num contexto de conflitos que devemos procurar entender

a presença Indígena no Brasil de hoje, um contexto permeado de

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desinformação, preconceito e intolerância” (RIBEIRO, 2001, p.10),

simplesmente, porque estes também podem conviver com pessoas não

indígenas na sociedade.

Em destarte, a educação brasileira precisa repensar as informações as

quais são repassadas no livro didático. Nesse sentido, precisam investir na

formação continuada dos professores e, principalmente, na elaboração de

recursos didáticos específicos.

3.1.1 Relato da pesquisa: conhecendo como a escola contempla a Lei

11.645/2008

O livro didático e a Lei 11.645/2008 remetem-nos a importância ainda

maior de conhecermos na escola campo – do Estágio Curricular

Supervisionado – como estão contempladas as temáticas. Para tanto, foi

feita uma pesquisa. Esta teve como objetivo conhecer a realidade que se

tem acerca dos conhecimentos sobre as temáticas e os recursos didáticos

utilizados para o ensino.

A pesquisa de campo foi aplicada por meio de questionário com uma

professora que ora será representada por P1 e uma coordenadora

representada por C2

Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais

e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que

distingue os negros dos outros grupos que compõem a população

brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas,

gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e

Africana que se conheça a sua história e cultura apresentadas,

explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da

democracia racial na sociedade brasileira (BRASIL, 2004:11-12).

Nessa perspectiva, procurou-se saber se as entrevistadas conhecem a

lei. Em geral, as duas entrevistadas conhecem a lei, mas não fazem a

inclusão da forma que é necessária, transmitindo seus conhecimentos a seus

alunos.

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Quis saber, ainda, os desafios encontrados por elas para se trabalhar a

interdisciplinaridade. Segundo P1 é trabalhada por meio de atividades

relacionadas ao assunto com participações em eventos como o dia da

Consciência Negra em 20 de novembro e o Dia do Índio – 19 de abril.

Confirmam que não trabalham de forma que deveriam, pois tratam apenas

em datas comemorativas. Em relação ao dia do Índio, analisa que reforçam

os equívocos em relação o apelido índio, assim como evidenciam haver

apenas um dia para essa comemoração. Consequentemente, não são

temáticas que estão presentes em todas as aulas como uma forma de

interdisciplinaridade para aprimorar ainda mais os conhecimentos dos

alunos. C2 constata que não existe projeto didático contido no Projeto

Político Pedagógico (PPP), por isso os professores trabalham a temática

apenas em datas comemorativas.

Perguntou-se sobre a prática pedagógica e com que recursos

trabalham as datas comemorativas. A P1menciona que são trabalhadas

com livros didáticos, principalmente a de Geografia e História, mas as aulas

ficam por conta apenas do diálogo sobre os conteúdos.

De acordo com as respostas se pode deduzir que não são retratadas

estas temáticas em sala de aula, pois a P1 e C2 reconhecem a lei, mas não

põe em prática a metodologia que deveria ser usada, sendo apenas

ministradas por aulas dialogadas ou em pesquisas nos livros didáticos.

Sendo assim, os alunos conhecem os conteúdos, mas não apresentam

a contribuição em estudar as diversidades culturais, principalmente dos

povos indígenas, por isso reforça-se a importância de investimento na

formação dos profissionais da educação para poder aprofundar essas

temáticas.

4 Povos indígenas e suas diversidades

A importância em conhecer as temáticas, principalmente,

relacionados aos povos indígenas, justifica-se pelo motivo que o estado do

Maranhão ter 9 povos Indígenas como por exemplo os Tupi: Tenetehara,

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Guajajara, Urubu Kaapór, Awá-Guajá; Jê: Krikati Canela Apaniekrae Canela

Ramkokamekra, Gavião, e os que estão solicitando reconhecimento.

O estudo sobre povos Indígenas do Maranhão foi proposto pela

disciplina de História e Cultura Indígena brasileira, por meio de um projeto

interinstitucional entre duas instituições de ensino superior uma privada e

outra pública. Este propunha que nos conhecêssemos, em forma

interdisciplinar a cultura de cada povo. Assim, aconteceram estudos teóricos

e a culminância com exposição de banner na Semana de Ciência Nacional

e Tecnologia do Maranhão que aconteceu em Imperatriz-MA.

Neste artigo, se enfatiza um dos povos estudados: Urubu–Kaapór, cujo

significado: “povo da mata”. Estes surgiram distintamente há trezentos anos

entre as regiões do Rio Tocantins e Xingu, que migraram em 1870 do estado

do Pará para o Maranhão através do Rio Gurupi. A língua do povo Kaapór é

da família Tupi e não é falada por nenhuma outra tribo.23Eles possuem a

língua de sinais Kaapór que é usada pela comunidade surda do povo e

também pelos indígenas que não são surdos, mas que vivem na

comunidade podendo interagir entre si.

Seus costumes são variados, pois os mesmos abrangem a religião

como, por exemplo, os Xamâs que são os pajés que invocavam as

divindades para a espiritualidade. Assim, outro aspecto importante a

ressaltar são os artefatos que os indígenas usam em seus rituais, como os

cocais e as penas coloridas.

Também são agricultores e utilizam, por exemplo, a mandioca brava

que consumem como forma de farinha.

Para a pintura corporal usam um elemento extraído do jenipapo onde

depois de pintada no corpo dura em torno de 15 dias.

Pode-se concluir que a pesquisa e o estudo referente ao povo citado

proporcionaram o conhecimento e o respeito a todas as etnias, com seus

costumes crenças, e o processo histórico da trajetória de vida do povo

Indígena, tendo como base a educação e a saúde. Assim, como

23 Acesso: HTTPS//PIB. Sócioambiental.org/PT/povo/Kaapo/652

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acrescentou na nossa formação acadêmica a ênfase ao processo de

inclusão da Lei 11.645/2008 no currículo escolar para que a sociedade venha

respeitar as diferenças étnicas e culturais de qualquer povo.

5 Um novo olhar sobre cultura indígena

Neste contexto, a discussão ora delineada sobre os povos indígenas

faz saber que a maioria dos povos indígenas sempre foi visto como um povo

sem cultura, adquirindo comportamentos agressivos. Esta ideia etnocêntrica

se explica porque a maioria dos brasileiros não conhecem a importância

que os povos indígenas têm ao longo da história no Brasil, mesmo após a

chegada dos portugueses as terras brasileiras, sendo que os mesmos

contribuem com a mão de obra e na agricultura e, principalmente, no

aspecto místico e cultural. Para Luciano (2016, p.218):

Outro aspecto extremamente relevante são os conhecimentos

culinários dos povos indígenas que estão presentes na vida dos

brasileiros, em que talvez a mais forte expressão esteja na presença

de inúmeros produtos da mandioca, desde a tradicional tapioquinha

ao exótico tucupi e à indispensável farinha.

Desse modo, evidencia-se que no cotidiano da cultura indígena os

conhecimentos culinários são frequentes, pois para eles a culinária é a maior

fonte de sustento e tem uma expressão elevada desde o produto mais

tradicional ao mais exótico. Sendo que nós, brasileiros, estamos acostumados

aos hábitos da cultura indígena nosso dia a dia.

Assim a contribuição que os indígenas têm em oferecer ao Brasil e ao

mundo é inumerável, pois os mesmo têm uma consistência na sociedade

contribuindo para a melhoria de todos, como na agricultura na medicina,

etc. Além disso:

Ao olharmos para a realidade presente, percebemos que essas

contribuições aumentaram de importância, mesmo sem ou com

pouco reconhecimento por parte da sociedade global e nacional.

Basta observarmos as riquezas estratégicas que se encontram nos

territórios indígenas, dos quais eles são não apenas donos, mas

principalmente guardiões e aguerridos defensores (LUCIANO, 2016, p.

218).

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Visto que a principal riqueza que se tem é a que os povos indígenas

contribuíam para a biodiversidade, para a economia do país, isto reflete

muito no reconhecimento de seu território que era bastante preservado,

sendo assim de grande importância na vida de cada povo.

Ainda convém lembrar que os povos indígenas constituem uma

riqueza mensurável como seu território, sua etnia dentre outros. Para Luciano

(2016, p. 21) “são 222 povos étnicos falando 180 línguas – 222 povos é pouco

menos que as 234 etnias existentes em todo o continente europeu”.

Para tanto, estes povos devem ser respeitados e vistos como povos

que além do que era obrigação deles como preservar a natureza, seu

território, ajudaram a escrever a história do Brasil como na forma de falar e

de viver.

Ainda se destaca a fundamental importância à capacidade que os

indígenas têm utilizar como estratégia de propostas inovadoras a

participação em movimento indígena como forma de reivindicar seus

direitos.

Um dos objetivos importantes do projeto é facilitar a articulação

indígena nacional, de forma a garantir a participação efetiva de

todos os povos indígenas do Brasil e servir como referência da luta

nacional, com diretrizes, metas, prioridades e estratégias comuns e

diferenciadas que fazem parte de um planejamento eficaz e que

dizem respeito a todos. (LUCIANO, 2016, p.221).

Finalmente, no que dizem respeito ao valor que os indígenas têm em

relação ao seu território, sua culinária e seus conhecimentos medicinais, suas

bases políticas resume-se nas conquistas e nas superações de desafios, pois

os mesmos têm enfrentado grandes desafios com relação a sua cultura ao

longo dos tempos.

6 Considerações finais

Em vista das ideias apresentadas, entende-se a importância de refletir

sobre os povos indígenas de como eles vivem em sociedade e como podem

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ser respeitados. Nesse sentido, a análise desenvolvida propiciou reconhecer

que cada indígena tem a contribuir para a cultura do nosso país.

Para tanto é importante relatar sobre a importância da pesquisa

realizada em campo de estágio, a qual ressaltou sobre a Lei 11.654/2008,

que regulamenta a obrigatoriedade do ensino indígena nos currículos, pois a

lei citada é relevante quando se trata sobre os conteúdos que são

ministrados em sala de aula para melhor compreensão dos mesmos, sendo

que os alunos poderão compreender as relações entre os povos indígenas e

os povos brasileiros.

De modo que os indígenas no Maranhão também foram de grande

estima para uma concepção clara sobre as etnias diferentes que há em

cada aldeia, sendo de igual modo com a participação no evento sobre a

Semana de Ciências e Tecnologia. Assim como a visita na aldeia dos povos

indígenas Guajajara foi importante para a realização deste artigo.

Conclui-se que é imprescindível que se conscientizem sobre os povos

indígenas seja qual for a etnia, para que se amplie a visão de que são

pessoas civilizadas que utilizam seus atributos étnicos como qualquer

cidadão cultural.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais-Ministério da Educação. Secretária Especial de Políticas de

Promoção da Igualdade para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e

Africana. Brasília, 2004.

LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: In. Contribuições dos povos

indígenas ao Brasil e ao mundo: O que você precisa saber sobre os povos

indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Laced, 2016.

RIBEIRO, Darcy, 1992. Os Índios e a Civilização: a Integração das Populações

Indígenas no Brasil Moderno/ Darcy Ribeiro: In: Acomodação ou

Assimilação? - São Paulo: Companhia de Letras, 1996.

SÓCIOAMBIENTAL. Disponível em: <https//pib.

Sócioambiental.org/PT/povo/Kaapo/652>. Acesso em: 21 nov. 2016.

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POVOS INDÍGENAS BRASILEIROS: UMA HISTÓRIA DE LUTAS E CONQUISTAS24

Lucélia Mesquita Santos Aguiar25

Marizete Pereira Lima26

Ilma Maria de Oliveira Silva27

1 Introdução

O presente trabalho, que discute sobre os povos indígenas brasileiros,

tem como objetivo analisar as lutas e conquistas destes, no sentido de

adquirirem respeito e reconhecimento de suas culturas e de suas formas

singulares de se reconhecerem enquanto povos autóctones.

Antes da chegada dos portugueses as terras brasileiras, os povos

indígenas viviam suas histórias com organização social, econômica e política

específica de cada povo. A invasão dos europeus em terras indígenas

desconsiderou todo e qualquer modo de vida que não tinha semelhanças

com as suas. Nesse sentido, a partir do contato, os povos indígenas

experimentaram o sabor da discriminação, inferiorização de suas culturas,

escravizações e muitas atrocidades cometidas pelos invasores.

Assim, considera-se relevante discutir como a sociedade brasileira foi

concretizando equívocos sobre os povos indígenas. Descolonizar a História

do Brasil é uma responsabilidade, também, dos professores em todos os níveis

de ensino. Partindo desses pressupostos é que se apresenta resultado de um

trabalho desenvolvido no período de agosto a dezembro de 2016

proporcionado pela disciplina História e Cultura dos Povos Indígenas no curso

de Pedagogia da Universidade Estadual do Maranhão.

Vale ressaltar que durante o processo de construção sobre a

importância dos povos indígenas para a formação da sociedade brasileira,

nessa disciplina, contou-se com a participação de acadêmicos(as) da

24 Povos indígenas brasileiros: uma história de lutas e conquista¹. Artigo apresentado à disciplina, História dos povos indígenas brasileiros ministrada pela Profª Ilma Maria de Oliveira Silva. UEMASUL. 25 Acadêmica do VI Período de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 26 Acadêmica do VI Período de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 27 Profª Orientadora: Doutoranda em História Ilma Maria de Oliveira Silva - UEMASUL. E-mail: [email protected]

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Faculdade de Educação Santa Terezinha, curso de Pedagogia. Assim, foi um

trabalho interinstitucional coordenado por duas professoras.

Utilizou-se como referencial teórico-metodológico os trabalhos de John

Monteiro (2000), Manuela Carneiro da Cunha (1992), entre outros, e relatos

de experiências a partir das visitas realizadas nas aldeias dos povos indígenas

Krikati e Guajajara.

Os tópicos que compõe este trabalho são: trajetória dos povos

indígenas brasileiros: um cenário de luta e sobrevivência, um caminhar de

resistência e conquistas dos povos indígenas e conclusão.

2 Trajetória dos povos indígenas brasileiros: um cenário de luta e

sobrevivência

Antes dos portugueses chegarem ao Brasil, mais de um milhão de

povos indígenas já habitavam estas terras em perfeita harmonia com o que

a natureza lhes oferecia. No entanto, pouco se sabe como os povos

indígenas chegaram ao Brasil, muitos pesquisadores acreditam que

Entre aproximadamente 35 mil e 12 mil anos atrás, uma glaciação

teria, por intervalos, feito o mar descer a uns 50m abaixo do nível

atual. A faixa de terra chamada Beríngia teria assim aflorado em

vários momentos desse período e permitiu a passagem a pé da Ásia

para a América. Em outros momentos, como no intervalo de 15 mil e

19 mil anos atrás, o excesso de frio teria provocado a coalescência

de geleiras ao norte da América do Norte impedindo a passagem de

homens. Sobre o período anterior há35 mil anos, nada disso se sabe.

De 12 mil anos para cá, uma temperatura mais amena teria

interposto o mar entre dois continentes. Em vista disso, é

tradicionalmente aceitar a hipótese de uma migração terrestre vinda

do nordeste da Ásia e se espraiando de norte e sul pelo continente

americano, que poderia ter ocorrido entre 14 mil e 12 mil anos atrás.

(CUNHA,1992 p. 9, 10)

A autora afirma, ainda, que não se sabe ao certo de onde vieram e

como chegaram as terras brasileiras. O que se pode afirmar é que os povos

indígenas já habitavam aqui quando os portugueses chegaram em 1500.

No primeiro contato com os nativos os colonizadores descreveram os

povos indígenas como inocentes. Depois a visão era de um povo selvagem

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e até de canibais. A nomeação de índios foi dada pelos europeus,

generalizando assim toda a diversidade cultural indígena, e

consequentemente, criaram certo entendimento de que todos os índios

seriam iguais, um equívoco que até hoje permanece enraizada na

sociedade.

Dessa forma, o contato entre europeus e povos com culturas e línguas

diferentes foram se definindo em contextos diversos. É importante ressaltar

que nesta direção aparece o dominador (europeu) e dominado (indígena),

contudo, esta relação não se deu de forma simples; sempre houve reação

dos povos indígenas em defesa do protagonismo de suas histórias.

O escambo foi um dos marcos do início da relação entre portugueses

e indígenas. Neste, os portugueses cediam informações importantes e

serviços e em troca os povos indígenas adquiriam objetos (espelhos, facas,

corda e etc.). A estratégia dos portugueses logo foi sendo recusada pelos

índios, no entanto, os portugueses resolveram de forma bem simples,

escravizando-os e até mesmo agindo de forma brutal levando a morte aos

que se recusavam a trabalhar.

No século XVI, poucos empreendimentos foram realizados pelos

portugueses no território colonial em benefício do indígena, contrariamente,

utilizaram-se da mão de obra escravizada na extração do pau-Brasil, na

construção de feitorias pelo litoral, etc. O auge da escravidão dos índios no

Brasil, segundo Monteiro (2000, p. 105) foi no período de 1540 a 1580.

As origens da escravidão indígena no Brasil remontam aos meados

do século XVI, quando os colonizadores portugueses começaram a

intensificar suas atividades econômicas ao longo do litoral. Nesse

período inicial, o cativeiro dos índios visa solucionar, de uma só vez

dois imperativos da colonização: a questão militar e o suprimento de

mão-de-obra para a incipiente economia açucareira.

Assim, os povos indígenas eram submetidos ao trabalho escravo, e os

que se mostravam resistentes eram sujeitos a guerras movidas pelos

portugueses e seus aliados indígenas. Assim, os povos indígenas foram

massacrados, mas não sem resistir às agressões e perversidades que eram

submetidos pelos portugueses. Muitos foram mortos por armas de fogo e

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pelas doenças dos “brancos” como: varíola, epidemias e tuberculose.

Mesmo sofrendo todo tipo de violência os indígenas nunca desistiram de

lutar por seus direitos e buscar pela sua liberdade.

3 Um caminhar de resistência e conquistas dos povos indígenas

A luta dos povos indígenas para viver enquanto povos diferenciados,

com culturas específicas, vêm desde a antiguidade como já foi citado

anteriormente. Contudo, pode-se afirmar que diante das lutas sempre foram

protagonistas de suas histórias. Isto pode ser observado em suas resistências a

todas as formas de atrocidades, violência, negação de suas culturas.

Diante de tudo isso, pode-se dizer que os indígenas vêm conquistando,

mesmo que deforma lenta, alguns de seus objetivos, ou seja, do

fortalecimento de suas culturas. Para Baniwa (2006, p.47) estes são povos

que representam culturas, línguas, conhecimentos e crenças únicas, e sua

contribuição ao patrimônio mundial na arte, na música, nas tecnologias, nas

medicinas e em outras riquezas culturais é incalculável.

Nesse sentido, percebem-se as riquezas de valores que os indígenas

possuem, e que é de direito, como em qualquer outra cultura, que evoluam

para atender as mudanças inerentes a qualquer sociedade.

Destaca-se aqui uma conquista, fruto de suas lutas, a Lei 11.645 de

2008, na qual estabelece a inclusão da História e Cultura dos povos

indígenas no currículo oficial do Ensino Fundamental e Médio da rede de

ensino pública e privada.

Para Medeiros (2012, p.50) “a necessidade de se criar essa lei foi

porque a escola historicamente sempre abordou a temática apresentando

os indígenas de forma genérica e estereotipada, ou mesmo silenciou sobre o

tema”. É preciso conhecer e respeitar o ponto de vista do outro, Silva (1989)

diz que para poder conhecer outros grupos humanos é preciso fazer um

esforço para aprender como eles veem a vida.

Quando falamos em resistência por parte dos indígenas, na verdade

estamos dizendo que essa resistência foi o que os tornou e os tornam mais

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forte para lutar por seus direitos, pois os mesmos são resistentes em manter

sua identidade indígena, seus valores, crenças e cultura, permanecem

lutando mesmo após 500 anos de massacre, escravidão, dominação e

repreensão.

Culturas e tradições estão sendo resgatadas, revalorizadas e revividas

em terras tradicionais, sendo as mesmas reivindicadas pelos verdadeiros

donos originários. Línguas vêm sendo reaprendidas nas aldeias por meio de

suas escolas.

O que motiva os indígenas a lutar por seus direitos é o orgulho de ser

índio, o que foi negado a eles na época dos colonizadores. Os mesmos eram

obrigados por forças a se reprimir e a negar suas culturas e identidades

como forma de sobrevivência, assim qualquer direito e possibilidade de vida

própria não era

apenas um detalhe na vida dos povos indígenas, mas sim um

momento profundo em suas histórias milenares e um

monumento de conquista e vitórias que se introduz e marca a

reviravolta na história traçada pelos europeus, isto é, um a

revolução de fato na história do Brasil (BANIWA, 2006, p. 43).

O grande desafio dos povos indígenas é garantir definitivamente e em

determinadas condições sócio jurídicas, o seu espaço na sociedade

brasileira sem abrir mão do que lhe é próprio, como sua cultura, tradições e

valores.

3.1 Percepções sobre os povos indígenas, a partir de visitas em aldeias

Durante o desenvolvimento do trabalho foi possível conhecer duas

aldeias no estado do Maranhão, sendo a aldeia São José pertencente ao

povo Krikati no município de Montes Altos, e a aldeia Lagoa Quieta que

habitam famílias do povo Guajajara, localizada no município de Amarante

do Maranhão.

Com a visita às aldeias, foi possível perceber que os povos indígenas

estão gradativamente almejando objetivos que é manter viva sua cultura e

seus direitos, resgatando suas línguas e crenças.

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A oportunidade em conhecer uma aldeia fez com que muitos

paradigmas, a respeito dos povos indígenas, fossem desconstruídos, no que

diz respeito à cultura indígena. Foi possível perceber na prática, no chão das

aldeias, que cada povo tem a sua cultura, sendo assim, os costumes e

crenças não são os mesmos para todos os povos indígenas.

Ambas as aldeias possuem escolas construídas pelo governo, dentre as

quais os professores são indígenas, pois é de grande importância que as

aulas sejam ministradas por eles pelo fato de assegurar a cultura e a língua

no fortalecimento de sua identidade.

Foi visível perceber a maneira que esses povos vivem em comunidade,

pois partilham conhecimentos e experiências. Os idosos são respeitados e as

crianças são ensinadas a valorizar a cultura, crenças e danças.

Uma luta dos indígenas é pela formação acadêmica, pois é

extremamente importante para transformar a visão etnocêntrica e

excludente que os mesmos sofrem por serem indígena, e para isso tem sido

possível devido uma parceria da FEST (Faculdade Santa Terezinha) onde se

abriu oportunidades para alunos indígenas ingressarem na vida acadêmica,

e os mesmos desempenham seus estudos com esforço e dedicação,

mostrando que são capazes de desenvolver atividades como qualquer outro

estudante.

Nesse sentido, conhecer as aldeias e a maneira de viver de cada

povo foi de fundamental importância, pois foi possível perceber que os

mesmos não são diferentes dos chamados homens brancos. São pessoas

que levam a vida normal, tem sua organização social, política e econômica,

regras, costumes e crenças, e que merecem respeito, pois são seres

humanos que tem personalidades próprias, não são personagens históricos

como ensinaram os livros didáticos.

4 Considerações finais

Ao longo desse trabalho conhecemos um pouco da história de luta e

conquistas dos povos indígenas. Tivemos a oportunidade de vivenciar

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momentos de aulas práticas nas aldeias, as quais foram de grande

aprendizado e quebra de paradigmas.

Foi possível compreender que os povos indígenas passaram por

situações de escravidão e humilhação, mas foram resistentes e lutaram até

os dias atuais para que seus direitos fossem reconhecidos. São pessoas

comuns, tem sentimento, família, inteligência, capacidade de administrar. O

que os diferencia dos chamados “homens brancos”, são suas culturas, ou

seja, sua maneira de viver, e que a sociedade carrega consigo como forma

de preconceito, tornando se egoísta sem querer aceitar que o outro tenha

costumes diferentes.

Percebe-se que os povos indígenas nunca deixaram de sofrer

preconceito e que mesmo assim continuam a lutar por seus direitos, mantêm

viva sua tradição e permanecem resistentes.

Foi possível, ainda, fazer um trabalho interinstitucional, partilhando

experiências com outros acadêmicos do curso de Pedagogia.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Manuela Carneiro da (Org). História dos índios no Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura/ Fapesp, 1992.

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O índio brasileiro: O que você precisa

saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Unesco 2006.

MEDEIROS, Juliana Schneider. Povos indígenas e educação. 2. ed. - Porto

Alegre: Mediação, 2012.

MONTEIRO, John. O escravo índio, esse desconhecido. In: Luís Donisete Benzi

Grupioni (org.). Índios no Brasil. Brasília: Ministério da Educação e do

Desporto, 2000. p. 105-120.

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A PARTICIPAÇÃO INDÍGENA NO CONTEXTO CULTURAL DO BRASIL

Carolinne Silva Almeida Santos 28

Mariana Silva Ramos29

Aparecida de Lara Lopes Dias30

1 Introdução

Os povos indígenas possuem uma vasta cultura, sendo essa causada

pelo aspecto da grande diversidade de comunidades indígenas cada uma

possuindo um aspecto cultural, religioso, educacional e uma língua

incomum. Tal é a razão de não considerarmos ou referirmos aos índios como

se todos fossem iguais.

O presente artigo traz em seu desenvolvimento questões as quais os

povos indígenas enfrentam para obter igualdade, tais como uma educação

de qualidade, o não preconceito quando estão fora de suas aldeias, à

inclusão da disciplina que envolve o indígena e sua cultura, no currículo dos

não indígenas, sendo esta última uma forma de expor para a população

quais são seus direitos, quem são eles e a sua cultura, ensinando dessa forma

o respeito e a igualdade social.

Consideramos que este artigo tem como objetivo ampliar o

conhecimento acadêmico à cerca de quem são indígenas, podendo dessa

forma influenciar, também, dentro do ensino e até mesmo fora dele em

espaços sociais.

O artigo aborda autores que estudam os valores, interesses, culturas e

a história sobre a comunidade indígena tais como Luciano (2006) que traz a

ideia sobre porque chamá-los de indígenas e não de índios. Silvia e Grupioni

(1995) o qual aborda sobre o significado de etnocentrismo e das diferenças

e direitos culturais. Cruz e Jesus (2013) que tratam da Lei 11.645/2008 que

preconiza a inclusão do tema indígena nas escolas não indígena. Por fim,

Dias (2015) a qual contribui enfatizando o estilo de vida de um povo

indígena do Oeste do Maranhão.

28 Acadêmica do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 29 Acadêmica do IV período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 30 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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Em suma, o trabalho possui uma extensão utilizando conhecimentos

vivenciados em visitas práticas às aldeias, pesquisa de campo e bibliografia,

assim como a participação na Semana Nacional de Tecnologia do

Maranhão que foi sediada em Imperatriz-MA no ano de 2016.

2 A participação indígena no contexto cultural brasileiro

A nossa vida é constituída por inúmeros fatores, tais como hábitos,

costumes, crenças e dentre tantos outros. O conjunto desses fatores é

associado à cultura sendo essa importante para nós como indivíduos por

formar nossas características.

Percebe-se que no decorrer da nossa trajetória de vida, passamos a

identificar pessoas e comunidades que vivem culturas completamente

diferentes da nossa, sendo por muitas vezes taxados por nós como errados,

estranhos ou excluídos por uma questão individualista de opinião. Dentre

tantas culturas distintas das nossas, podemos nos comparar com os

indígenas, mais conhecidos como os ‘índios’.

A denominação índio ou indígena, segundo os dicionários da língua

portuguesa, significa nativo, natural de um lugar. É também o nome

dado aos primeiros habitantes (habitantes nativos) do continente

americano, os chamados povos indígenas. Mas esta denominação é

o resultado de um mero erro náutico (LUCIANO 2006, p. 29).

Com relação a isso se pode destacar que esse conceito de índio para

muitos não indígenas é alguém sem conhecimento, sem civilização, sem

cultura, incapaz, selvagem e dentre tantas outras características negativas,

mas há também aqueles que os veem como defensores da natureza,

símbolo da pureza e outros. Sendo por conta dessa visão que durante muito

tempo

[...] muitos índios negavam suas identidades e suas origens, ou

melhor, tentavam negar suas origens étnicas, pois na maioria dos

casos a negação era uma verdadeira ilusão, uma vez que ninguém

consegue esconder aparência física, usos, costumes e modos de

vida e de pensamento (LUCIANO 2006, p. 31).

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No Brasil, tem múltiplas imagens e conceituações sendo essa visão

limitada e discriminatória se referindo aos índios com forte sentimento de

superioridade estando ligado ao que a Antropologia estuda como o termo

etnocentrismo que significa tomar, seja raça, cultura ou religião como centro

ou base para analisar o outro, ou seja, estuda as diferentes culturas, pois o

“etnocentrismo consiste, em julgar como “certo” ou “errado”, “normal” ou

anormal” os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos

a partir dos próprios padrões culturais” (SILVA, GRUPIONI, 1995, p. 431).

Portanto para Grupioni (2001, p. 23) “[...] a medida em que reconhecermos a

diferença, seja em qual grau for, como valor positivo será possível atribuir aos

índios um lugar efetivo e digno como cidadãos de um país [...]”.

Enfim, diante do citado, e ao analisar-se a seguinte frase: O direito do

outro ser diferente, falar diferente, viver diferente, pensar diferente, lá do jeito

dele (SILVA; GRUPIONI, 1995), acredita-se que cada cultura é relativa ao

lugar que está inserida. Dessa forma não se pode apontar o correto e o

errado, o feio e o bonito, pois o que pode ser normal em uma cultura pode

ser completamente inaceitável em outra. Desse modo, conclui-se que todas

as culturas são válidas, pois todas têm sua importância.

3 A inclusão nas escolas dos temas afrodescentes e indígenas

Conforme o artigo de Cruz e Jesus (2013) a Lei 11.645/2008 aborda a

obrigatoriedade da inclusão dos temas afrodescendentes e indígenas

dentro dos recursos didáticos, no entanto, ainda que exista a lei, não há

garantia de que esse ensino e essa inclusão irão acontecer e que o professor

terá em mãos os meios necessários para direcionar esse conteúdo. Além do

mais, se podem disponibilizar os materiais necessários, mas o professor não

tendo conhecimentos necessários sobre aquele assunto acaba por torná-lo

empecilho contribuindo muito mais para reproduzir estereótipos em sala de

aula.

Uma das dificuldades encontradas também pelos professores é que

nos livros didáticos os temas referentes aos indígenas são conteúdos muito

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eurocêntricos que trazem uma visão indígena apenas de um ponto de vista,

ou seja, uma visão ultrapassada.

Não é incomum que haja no ambiente escolar a construção e

reprodução de uma série de estereótipos, principalmente no que se

refere aos afrodescendentes e indígenas, a cultura e história desses

sujeitos, que muitas vezes são marginalizados na sociedade e

consequentemente recebem o mesmo tratamento na escola (CRUZ;

JESUS 2013, p. 3).

Os autores mencionados consideram fundamental importância o

conhecimento e reconhecimento da pluralidade que há no Brasil, pois

vivemos em um país cheio de diversidade devendo a nós o respeito, a

aceitação e a inclusão. Nessa perspectiva, a lei deveria vigorar dentro das

escolas não sendo vista como uma obrigação de se trabalhar apenas

conteúdos indígenas, e sim como uma oportunidade de transformar uma

realidade que esses povos indígenas vivem, principalmente, em relação ao

etnocentrismo, daquela cultura que se acha superior.

Assim, considera-se que o tema indígena é de grande importância a

ser trabalhado. Enfatiza-se que os livros os quais retratam esse tema também

possui importância. Sabemos que esses são muitas vezes a única referência

de história e conhecimento acessível aos alunos, sendo por meio destes a

aquisição, seja pela linguagem escrita e/ ou pelas fotografias que serão

memorizadas.

Contudo, se faz crítica à maioria dos livros didáticos por estes

retratarem sobre os indígenas sempre enfocando o passado, como se o

indígena não tivesse continuado existindo e crescendo conforme o

desenvolvimento da população. Nesse aspecto, percebe-se que a presença

deles era vista como quem não possuía educação e nem conhecimento. E

por terem uma cultura diferente eram considerados como ignorantes ou

mesmo animais.

Como é possível entender as datas de 1492, ou de 1500, como uma

descoberta? Quando os europeus aqui chegaram, o continente

americano estava mais que descoberto e explorado, sendo

habitado há milhares de anos. Não havia um mundo a ser criado, ou

à espera de seu descobridor. O conceito de 'descoberta' só faz

sentido dentro da historiografia europeia, ignorando a história local

(TELLES 1987 apud GRUPIONI 2001).

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Portanto, quando os livros didáticos trazem essa reflexão dessa

irrealidade dentro do seu conteúdo acabam fazendo uma afirmação de

que os indígenas que aqui no Brasil já habitavam muito antes dos povos

europeus. Contudo, apresentam uma presença insignificativa e que a sua

presença não validava a existência do nosso país, passando então a existir o

Brasil só depois da chegada dos europeus.

3.1 Relato da Pesquisa Campo: rastros das diferenças culturais

De acordo com o que se trata a Lei 11.645/2008, foi proposta uma

pesquisa de campo, na qual buscamos saber como a mesma vem se

desenvolvendo e trabalhando as temáticas indígenas, e a partir disso como

tem contribuindo para o discernimento que há diversidades das etnias. A

pesquisa envolveu uma professora, que ora será denominada de P1. A

entrevista semiestruturada foi feita em uma escola Municipal da cidade de

Imperatriz-MA.

Nesta pesquisa, a professora foi questionada se há conhecimento da

lei mencionada anteriormente que preconiza a obrigatoriedade do ensino

da história e Cultura Indígena na grade Curricular e como é feita essa

inclusão. Para P1 é feita através de pesquisas, atividades relacionadas ao

assunto, em participações em eventos como nas datas comemorativas.

Dessa maneira, percebeu-se que ainda tem por parte da parte da

professora certo desconhecimento em relação à lei supracitada, pois

embora saiba da existência da mesma, se encontra presa somente em

datas comemorativas.

Perguntou-se, ainda, se existe um projeto didático que trabalhe as

temáticas indígenas e como se dá o seu desenvolvimento. P1 afirmou não

existir e confirmou o que havia dito anteriormente em relação às

comemorações de datas calendarizadas como o Dia do Índio. Diante da

resposta fica claro que embora façam pesquisas e conversem sobre a

temática a questão ainda é pouco desenvolvida na escola.

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Por fim, se buscou saber se na sua prática pedagógica costuma criar

momentos durante as aulas para conversar sobre os povos indígenas.

Conclusiva P1 respondeu que é trabalhado com o livro didático e a

metodologia fica por conta de diálogos, principalmente, em datas

comemorativas.

Percebemos por meio dos resultados, que embora se tenha

conhecimento sobre Lei 11.645/2008, a escola ainda precisa incluir mais

questões que abordem a temática em sua grade curricular, pois é

perceptível que a mesma trabalha mais o assunto em datas comemorativas.

Não que estas não sejam importantes, mas se faz necessário conhecerem

mais a história e a cultura desses povos, que foram e são tão importantes

para processo de construção de nosso país, e dessa maneira compreender

o presente e o passado da história indígena.

4 A diversidade dos povos indígenas do maranhão

Sabe-se que a sociedade ainda tem pouco conhecimento sobre a

realidade dos povos indígenas existentes no nosso país, devido a forma

como a questão indígena vem sendo tratada pela sociedade e pela própria

educação. Mas, é preciso considerar que estes são conhecidos como nossos

ancestrais, para tanto, precisamos conhecer nossas raízes.

Ao participarmos da Semana de Ciências e Tecnologia do Maranhão,

realizada em Imperatriz – MA, tivemos a oportunidade de expor por meio de

banners cada povo indígena do estado do Maranhão, mencionando a

etnicidade cultural como a língua, artesanato, costumes, organização social,

educação e direitos constitucionais. Dessa forma foi possível perceber que a

presença dos povos indígenas no Maranhão se deu há bastante tempo, e

conhecer mais sobre sua cultura, hábitos é de grande importância.

Nessa questão, enfatizamos a presença desses povos no nosso estado

tais como o povo Krikati, que estão localizados entre as cidades de Montes

Altos, Sitio Novo e Lajeado Novo, cuja suas atividades ainda prevalecem

como produção de artesanato com tala de buriti e palha de coco, os

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Canela Ramkokamekra e Apaniekra (todos estes pertencentes ao tronco

linguístico Macro -Jê), já os Guajajara, que são um dos povos com maior

população, Awa-Guajá e Urubu Kaapór são (do tronco linguístico Tupi-

Gurani), destes, segundo dados da FUNAI, somente o Awá-Guajá tem menos

contato com a sociedade.

Dentre os povos acima citados, pesquisamos sobre o Kaapór, no qual

conhecemos um pouco mais de sua cultura. Esse povo tem algumas aldeias

espalhadas pelo Maranhão, como nos Municípios de Zé Doca, entre outros.

Ao pesquisar sobre o mesmo descobrimos que seu nome significa habitante

da mata, pois eles têm um estilo de vida adaptado à floresta. Em relação a

sua cultura, tem grande habilidade na arte, e destacam-se pela confecção

de belos objetos decorados com penas. A educação escolar desse povo

pode ser considerada árdua, pois a escola ainda não tem suas

características próprias, há poucos professores indígenas e não há materiais

específicos para as escolas.

Em síntese, é importante salientar que todo povo indígena tem

seus direitos. Direitos esses de terem suas terras homologadas e uma

educação específica e de qualidade, entre muitas.

4.1 A influência da cultura indígena no Brasil

Entre as várias contribuições das sociedades indígenas para a

formação de nossa cultura pode-se mencionar algumas palavras da nossa

língua como nome de lugares, pessoas, plantas, comidas e animais. Para

Luciano (2006, p.218), “a língua portuguesa acabou incorporando várias

palavras, conceitos e expressões de Línguas indígenas”, mas, essa influência

é mais ampla do que imaginamos. Também é importante citar as práticas de

rituais de culto religiosos, como candomblé e umbanda, que ao longo do

tempo passou por grande processo de sincronismo religioso, dessa maneira

incorporando elementos da cultura indígena e elementos de origem cristã.

Essas contribuições que vão além de objetos, palavra, crenças, são

partes atuantes em nossa sociedade, pois foram fundamentais desde o início

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da colonização quando ajudaram a definir o território nacional. Dessa

maneira, logo depois que os europeus começaram a ocupar as terras

brasileiras, aprenderam muitas coisas com os indígenas, principalmente, a se

deslocar pelo território nacional, foram adquirindo hábitos alimentares, por

exemplo, o consumo da mandioca, como cita Luciano: “são os

conhecimentos culinários dos povos indígenas que estão presentes na vida

dos brasileiros, em que talvez a mais forte expressão esteja na presença de

inúmeros produtos da mandioca” (LUCIANO, 2006, p. 216).

Além disso, é importante destacar sobre a grande variedade de

conhecimentos medicinais que possuem, as quais contribuíram e contribuem

até hoje para nossa sociedade. “Alguns estudiosos estimam que os indígenas

do Brasil já chegaram a dominar uma cifra de 200.000 espécies de plantas

medicinais” (LUCIANO, 2006, p. 218). Porém, com a constante luta para que

suas terras sejam homologadas, muitas dessas plantas estão se perdendo,

algumas antes mesmo de serem conhecidas.

Portanto, “[...] os povos indígenas estiveram presentes, ora como

aliados na expulsão de outros invasores estrangeiros, ora como mão de obra

a frente de expansão agrícola ou extrativista” (LUCIANO, 2006, p.219), sendo

possível, assim compreender, que os indígenas não foram importantes

apenas em séculos anteriores, mas continuam sendo presentes e importantes

para nós nos dias atuais através de sua cultura, alimentação, modo de

sobrevivência e muito mais.

5 Considerações finais

Na discussão ora delineada, a qual se contemplou a temática

indígena, está o olhar diferenciado daquilo que é diferente, nesse aspecto

foi importante porque, além de apurar nossa visão em relação à temática

estudada, tivemos muitas oportunidades como visitar uma aldeia, podendo

vivenciar como é o universo indígena e pesquisar alguns povos específicos

da nossa região. Dessa maneira, conhecendo mais a fundo sobre a

realidade dos povos indígenas existentes em nosso país e aprofundar nosso

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conhecimento sobre a Lei 11.645/2008, assim como ir à escola campo

pesquisar como esta lei estava sendo trabalhada.

Foi possível, ainda, construir durante os estudos em sala de aula

conteúdos para elaboração de textos, discussões acerca da participação

indígena no contexto cultural do Brasil e, consequentemente, perceber que

a visão que uma parte da sociedade tinha e ainda têm em relação a esses

povos. Embora, ainda se encontre pessoas com visão preconceituosa, presa

no passado, pois cada cultura é relativa ao lugar que está inserida, todas as

culturas são válidas, pois todas têm suas diferenças e costumes.

Por fim, considera-se que este trabalho foi de suma importância para

desconstruirmos a visão de que os indígenas não têm educação, cultura e

conhecimento. Contudo, enfatiza-se que há muito discutir sobre as

temáticas que envolvem os povos indígenas na contemporaneidade.

REFERÊNCIAS

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/08: A escola, as relações

étnicas e culturais e o ensino de história: Algumas reflexões sobre essa

temática no PIBID. XXVII Simpósio Nacional de História: conhecimento

histórico e dialogo social, Natal - Rn, p.1-10, 22 jul. 2013.

DIAS, Aparecida de Lara, Revista COCAR, Belém, v. 9, n.18, p.83 a 106 –

Cohmepajarcwany eh’ hucpohpoh: relato de experiência

jul./Dez.2015Programa de Pós-Graduação Educação em Educação da

UEPA. Acesso: 11 nov. 2016.

FUNAI. Disponível em: <itz.blogspot.com.br> Acesso em: 02 nov. 2016.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Índios: passado, presente e futuro. In: Índios:

passado, presente e futuro, índios no Brasil 1. Brasília: MEC, 2001.

LUCIANO, Gersem, O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os

povos indígenas no Brasil de hoje. Disponível em:

<http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154565por.pdf>. Acesso

em: 19 set. 2016.

SILVA, Aracy Lopes, GRUPIONI, Luis Donisete Benzi (ORG): A temática

indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. In: A

antropologia e o mundo contemporâneo: Cultura e Diversidade Brasília,

MEC/MARI/UNESCO, 1995.

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POVOS INDÍGENAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO POVO

BRASILEIRO

Elaine Soares dos Santos31

Maria José de Oliveira32

Mônica Martins do Nascimento33

Aparecida de Lara Lopes Dias34

1 Introdução

O presente trabalho buscou retratar a contribuição da cultura dos

povos indígenas para a formação da sociedade brasileira. Objetivou-se

desmitificar a generalização ainda muito presente no imaginário da

sociedade brasileira sobre a diversidade cultural indígena. O termo ‘índio’,

que é uma das formas pelas quais se generaliza, é uma forma também de

discriminação.

Dessa forma, é urgente atentarmos que existem no Brasil mais de três

centenas de povos indígenas com costumes, hábitos e crenças diferentes,

portanto, o termo ‘índio’ não os representa mediante a riqueza de

diversidade e línguas existente no território brasileiro.

Assim, entende-se que a cultura tem uma importante influência na

formação de uma população específica. Para isso, voltemos no tempo, mais

preciso em 1500, quando aqui chegaram os europeus imprimindo um

processo de conquista sobre os nativos da “nova terra” aos portugueses e

encontrou nessas batizadas de Brasil, mais de 1500 povos. Diante disto não se

pode negar as origens do povo brasileiro.

Com relação aos direitos dos povos indígenas garantidos tanto pela a

Constituição Federal de 1988 quanto pela Lei 11.645/2008, assegura-se a

esses seus territórios, igualdade de expressão, direito a educação e a saúde,

assim como qualquer outro brasileiro.

31 Acadêmica do quarto período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]. 32 Acadêmica do quarto período do curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 33 Acadêmica do quarto período do curso de pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 34 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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Em relação às escolas, devem atender as especificidades de cada

povo indígena – diferentes das escolas do não indígena – articulada com a

comunidade e bilíngue, sendo a língua materna a primeira.

Contudo, destacamos que embora existam leis que garantam esses

direitos a realidade é bem diferente, pois, é sabido que as instituições de

ensino público não têm uma preparação ou formação de docentes que

atendam o que assegura as leis.

Assim, o trabalho está estruturado em seis tópicos. Primeiro analisamos

os conceitos de cultura e seus fundamentos; o segundo analisa-se a Lei

11.645 de 2008: inclusão do ensino da cultura e história do afro-brasileiro e do

indígena nas instituições de ensino da educação básica; o terceiro

apresentando os resultados de uma pesquisa de campo com dois

professores de uma escola da rede municipal de educação sobre a

implementação da Lei 11.645 de 2008; o quarto fez-se uma análise do livro

didático e como a cultura dos povos indígenas dentro do currículo; o quinto

faz uma breve apresentação dos povos indígenas no Maranhão; e por último

as contribuições dos povos Indígenas, seus legados e contribuições culturais

e sociais.

2 Cultura: analisando conceitos e fundamentos

A cultura é de fundamental importância na vida do ser humano, pois

todo indivíduo tem seu próprio modo de pensar, de agir, de se expressar, ter

sua própria crença, seus costumes, enfim, a cultura está presente na vida de

todas as pessoas de qualquer sociedade, seja uma sociedade simples ou

complexa todas possuem um modo de vida. Quando falamos em cultura é

necessário dizer que não existe cultura inferior ou superior, nem melhor nem

pior e sim que existem culturas diferentes.

Existem várias denominações acerca da palavra ‘cultura’. Em ciências

sociais a cultura é definida como um conjunto de ideias, comportamentos,

símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração para geração através da

vida em sociedade. Na Antropologia define-se cultura como:

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114

[...] Um código simbólico-código que possui uma dinâmica e uma

coerência interna, é compartilhado pelos membros de uma dada

sociedade ou grupo social, e que, mediante um processo

antropológico, pode ser decifrado e traduzido para membros que

não pertencem a esse grupo (SILVA; GRUPIONI, 1995 p. 427).

Um exemplo fortíssimo de cultura é dos povos indígenas. Cada um

especificamente tem hábitos, costumes e falam sua própria língua, mas ao

se referir a esses povos que foram os primeiros habitantes do território

brasileiro precisa-se fazer uma importante desconstrução da denominação

‘índio’ e substituir por ‘indígena’, pois muitas pessoas muitas vezes utilizam o

termo índio como forma de discriminação e preconceito. Já quando se

refere a ‘povo indígena’ faz-se menção a um grupo nativo natural do lugar

que habitam, um povo que tem sua própria etnia sua própria denominação.

O termo indígena é mais adequado quando se trata de povos indígenas.

(SILVA e GRUPIONI, 1995).

Para exemplificar a diversidade cultural, pensemos nas muitas culturas

dos povos indígenas. No Brasil são mais de trezentos povos, e cada um tem

sua organização social, crenças, religião, forma de pensar diferente e modo

de vida específico. Dessa forma, devemos falar de culturas e não de cultura.

Nessa perspectiva, não devemos generalizar uma diversidade em uma

palavra: “índio”. Essa generalização nega e apaga as diferenças que

existem entre os povos indígenas e contribui para a discriminação e a

homogeneização desses povos.

Já quando se refere ao indígena faz-se menção a grupos que vivem

em um lugar, seja este na cidade ou no campo, tem sua própria etnia e

identidade própria. Considerando a diversidade cultural, põe-se em questão

o etnocentrismo. Na Antropologia o etnocentrismo acontece quando um

grupo ou uma pessoa analisa o outro a partir da sua cultura, tendo esta

como a mais importante ou a correta. Conclui-se que o etnocentrismo é

uma tendência que se toma a própria cultura como padrão para julgar as

outras (SILVA, 1998).

A atitude de ver o outro a partir de nós mesmo é natural e convivemos

com isto diariamente, pois são nossas referências, nossos valores que nos dão

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sentido para viver, para compreender e enfrentar a vida. No entanto, é

preciso compreender que essa naturalidade pode ser um obstáculo para

aceitamos outras culturas, outros modos de vida, outras sociedades. Assim,

devemos rechaçar qualquer atitude que valoriza o etnocentrismo.

Nessa perspectiva, o outro precisa ser visto como um ser diferente, mas

esta diferença nunca pode ser inferiorizada. O diferente significa ter o direito

de usufruir dos seus direitos, ou seja, viver de acordo a cultura do seu bairro,

de seu grupo, reinventando esses valores e tornando-os seus. Assim, a

convivência com o outro, com o diferente, requer uma postura de respeito,

de tolerância e de um profundo exercício de humanidade: olhar o outro

com outras lentes que não sejam as minhas, mas que estas lentes possam me

apresentar o que temos em comum, enquanto seres humanos e me ajudem

a pensar que a troca de experiência é que me faz humano a cada dia e são

estas possibilidades que o mundo se torna melhor e mais compreensíveis.

3 LEI 11.645 de 2008: inclusão do ensino da Cultura e História do Afro-

brasileiro e do indígena nas instituições de ensino da educação básica

A Lei 11.645/2008 trata da obrigatoriedade da inclusão do ensino da

cultura/história do afro-brasileiro e do indígena nas escolas do Ensino

Fundamental e Médio. Nesse contexto, o trabalho busca analisar se a Lei

está sendo implementada no currículo escolar.

Sabemos que apesar da existência da referida Lei há muito que se

fazer no sentido de implementar de fato o estudo da cultura e da história do

negro e do indígena nas escolas do Brasil. Segundo Cruz e Jesus (2013), a

Lei11.645/2008 não é garantia de que esse ensino realmente irá acontecer e

que o professor terá os meios necessários para informar aos seus alunos os

conhecimentos sobre a temática.

Para que as escolas possam incluir em seus currículos o que determina

a Lei é preciso que antes tenha um planejamento, onde a temática seja

trabalhada de forma transversal desde as primeiras séries com o objetivo de

promover as interligações culturais. Nesse sentido, compreender as relações

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entre sociedade e escola é fundamental para entender aquilo que ocorre

no espaço escolar, pois muitas vezes é perceptível que a escola reproduz o

que acontece na sociedade, como é o caso do preconceito étnico-racial,

que assim como incide no espaço social, também pode ser observado na

escola(CRUZ; JESUS, 2013).

Apesar de estarmos na época da informação o preconceito é

muito presente em todos os âmbitos da sociedade brasileira, sendo estes os

grandes gargalos das escolas no que se refere à educação da cultura afro-

brasileira e indígena. Vale ressaltar que a centralização das aulas no livro

didático é um dos problemas que persistem no cotidiano das escolas, já que

este é um material principal de apoio utilizado pelos professores. Nos livros a

abordagem da figura do negro e o índio acontecem de forma pejorativa,

quando não são invisibilidades tanto de forma verbal quanto não verbal.

(SÁ, 2010, apud CRUZ e JESUS 2013).

Nesse sentido é preciso considerar que apesar da promulgação da Lei

que regulamenta a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-

brasileira e Indígena, não há uma legislação que normatize a produção

desses materiais e sua utilização pelos docentes e discentes. Sabe-se,

contudo, que não há uma “formula mágica” para selecionar os materiais

que serão utilizados pelo professor para trabalho em conjunto com o aluno a

construção da noção de cultura, por exemplo, principalmente porque cada

professor deve escolher algo que se adapte melhor a realidade da sua

escola e da sua turma.

3.1 Pesquisa de campo: como a Lei 11.645/2008 está inserida no ensino

Diante do que foi estudado e da Lei acima mencionada realizou-se

uma pesquisa de campo na qual utilizamos um questionário semiestruturado

em uma escola da rede municipal de Imperatriz-MA. A pesquisa foi realizada

com duas professoras as quais foram questionadas se tinham conhecimento

da Lei, como era feita a inclusão da mesma na grade curricular da escola,

como elas trabalhavam essa temática e quais os recursos eram utilizados.

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De acordo com a resposta de P1, a Lei está contemplada no ensino

das disciplinas de História e Arte na escola. P2 também tem conhecimento

da Lei, mas ressalta que o ensino da mesma se torna complexo pelo fato de

os livros didáticos abordarem a temática tão superficialmente. Tanto P1

quanto P2 ressaltam a importância do ensino da mesma no processo de

aprendizagem dos alunos para isso se faz necessário que essa abordagem

seja feita de forma dinâmica para um maior envolvimento dos alunos. De

acordo com P1 e P2 a temática é desenvolvida na escola por meio de

culminância de projetos como: noite cultural, feiras típicas sobre os costumes

dos afro-brasileiros, debates e seminários.

Na escola também tem um projeto cujo tema é: “Incentivo à Cultura

Nossas Raízes” projeto que tem como objetivo resgatar a historicidade de

alunos e professores, desenvolvendo a diversidade de histórias e culturas

diferentes existentes no meio social.

4 O livro didático: a desvalorização da cultura dos povos indígenas

A pesquisa ajudou a refletir sobre os livros didáticos que abordam a

temática indígena, nestes, a forma em que os indígenas são tratados não faz

jus à verdadeira historicidade do nosso país. Os europeus quando aqui

chegaram já encontraram os povos indígenas habitando em terras

brasileiras. Por isso o interesse dos jesuítas na educação indígena para que

eles pudessem explorar as terras sem interferência e extrair todas as riquezas

do território brasileiro.

Nos livros didáticos os indígenas são falados apenas do tempo no

passado, dando a entender que não houve nenhuma evolução de 1500 até

os dias atuais. Desse modo, muitos que não conhecem a cultura dos povos

indígenas pensam que esses povos fazem parte do passado e que nem

mesmo existem mais.

Como consequência, os povos indígenas enfrentam muita dificuldade

no convívio da sociedade fora da sua cultura, pois essa mesma sociedade

não prepara os jovens para receber culturas multiétnicas, formando então

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jovens desinformados e preconceituosos, além de mostrar a cultura de todos

igualmente sem diferenciar suas características especificas.

Existe certa dificuldade em falar sobre indígenas e negros, pois sempre

que esses são abordados em conteúdo é como se estivessem em um

passado distante que não evoluíram no decorrer da história.

Sempre que se fala em índio nos vem à mente um determinado grupo

de pessoas que vivem isolados em aldeias e que segundo os livros didáticos

a contribuição que trazem para nossa cultura são o vocabulário e técnicas

de conhecimentos a respeito da floresta, fazendo assim com que o

conhecimento que se tenha a respeito dos povos indígenas seja a de que

eles não evoluíram com o passar do tempo.

Levando-se em consideração todo histórico da educação dessa

temática apresentada nos livros didáticos, conclui-se que os conteúdos

trabalhados mostram-se ineficientes para uma melhor compreensão a

respeito da diversidade étnica cultural existente no país.

5 Os povos indígenas do Maranhão

No estado do Maranhão habitam mais de 35 mil indígenas e os

mesmos pertencem a nove (9) grupos diferentes. Esses povos estão divididos

em dois grandes grupos de tronco linguístico, os Tupi e os que falam a língua

Macro-Jê.

Os tupi são: Guajajara, Awaguajá, Urubu-kaapor, Tembé e Gamela. Os

que falam na língua Macro-Jê são: Canela Apaniekra e Ramkokamekra,

Pukobyê (Gavião) e Krikati (FUNAI-IMPERATRIZ, 2006).

Mesmo sendo divididos em apenas dois grupos linguísticos todos esses

povos têm seus próprios costumes, crenças, organizam-se de formas

diferentes uns dos outros, ou seja, todo tem um modo de vida diferente

dentro de cada grupo étnico. Um bom exemplo a ser citado aqui é o dos

povos Urubu-kaapor, esses existem no Brasil a cerca de 300 anos e habitam a

região entre os rios Tocantins e Xingu.

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Os povos kaapor ainda vivem de forma mais isolada e são poucos os

que já são aculturados ainda preservam seus costumes, rituais e a língua. Um

fato curioso e importante ressaltar é que mesmo nas aldeias tendo escolas

que trabalham com o ensino bilíngue, ou seja, tanto o português quanto a

língua tupi são raros vê-los falando português, pois preconizam sua língua

materna, enfim a cultura de forma geral (FUNAI-IMPERATRIZ, 2006).

Os povos kaapor ainda habitam as florestas e tem um estilo de vida

adaptado a vida na mata, vivem do extrativismo (caça, pesca), destacam-

se também na confecção de artesanato e objetos decorados com penas

coloridas.

No que diz respeito a sua organização social, os kaapor tem mais de

um líder por tribo, vivem em uma sociedade igualitária e privilegiam o

casamento entre parentes.

Estudar sobre os povos indígenas no Maranhão foi de fundamental

importância para aprofundar os nossos conhecimentos já existentes e

conhecer um pouco mais sobre a cultura e tradição desses povos. Cada

povo tem seus próprios costumes e modo de viver diferenciado um do outro.

Também podemos entender um pouco sobre suas lutas por espaço terras,

por uma educação de qualidade, enfim, são muitas as dificuldades

enfrentadas pelos povos indígenas que não tínhamos conhecimentos e que

depois desse estudo acrescentou muito em nossa formação.

6 Povos indígenas: legados e contribuições cultural e social

Sabemos que o povo indígena não tem o reconhecimento que

deveriam ter apesar de muita coisa ter mudado com relação a sua

valorização, pois ainda há muito que melhorar. Nos livros didáticos pouco se

fala sobre os povos indígenas, suas culturas e contribuições. É notório que os

indígenas contribuíram muito para que fosse mais fácil a vida dos

portugueses assim que chegaram ao Brasil.

Podemos observar que foram os povos indígenas que orientaram os

portugueses quando chegaram a terras brasileiras. Vale ressaltar que os

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indígenas também contribuíram com sua cultura, tanto que em toda história

da colonização brasileira os povos indígenas sempre estiveram presentes,

fosse como aliados na expulsão de outros invasores ou como mão de obra

agrícola ou extrativista (BANIWA, 2006).

Essas contribuições não foram apenas com orientações sobre as terras

como já citado acima, os indígenas também transmitiram uma riqueza

enorme em sua culinária com comidas típicas que fazem parte do nosso dia

a dia, sem falar nos conhecimentos medicinais que os mesmos têm sobre

uma diversidade grandiosa de plantas das florestas brasileiras. Outra

contribuição é sua língua, pois que temos muitas palavras do vocabulário

indígena. “Há centenas de nomes de lugares (Iguaçu, Itaquaquecetuba,

Paranapanema), cidades (Manaus Curitiba, Cuiabá) de pessoas (Ubiratan,

Tupinambá), de ruas e até de empresas (aviação Xavante, Empresa Xingu)”

(BANIWA, 2006).

Está mais que evidente que os indígenas muito contribuíram e ainda

contribuem com a sociedade brasileira e com o mundo, repassando suas

histórias culturas e tradições por onde passam, por isso merecem respeito,

reconhecimento, dignidade e ter seus direitos garantidos.

Os povos que aqui foram encontrados com a chegada dos

colonizadores não são mais como as centenas de anos atrás, eles sofreram

escravidão, exploração e sentiram na pele o medo de serem extintos

perdendo sua identidade, depois de árduas lutas pela demarcação de

terras por eles ocupadas e o reconhecimento merecido. Hoje os indígenas

conseguiram assegurar alguns direitos garantidos na Constituição Federal de

1988. Contudo, sabemos que ainda há muito a ser feito.

Mas os povos indígenas sabem que para alcançar esse ideal de vida

que alimenta suas lutas é necessária a ampliação e consolidação

dos seus direitos no âmbito do Estado brasileiro para que sejam

implementados pelas políticas públicas. Tudo isso depende

fundamentalmente da capacidade dos índios e de seus aliados de

definirem estratégias mais impactantes, inovadoras e factíveis [...]

(BANIWA, 2006, p. 220).

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Para que essa vida ideal seja alcançada ainda há muito que ser feito

e para isso se tornar possível faz-se necessário que se tenha um

planejamento, traçar estratégias de como agir para conseguir alcançar tais

objetivos.

São muitas as estratégias dos povos indígenas para se tornarem um

povo mais autônomo. “Uma é implementar um programa permanente de

capacitação política e técnica para os quadros indígenas” (BANIWA, 2006,

p. 222). Os indígenas sentem a necessidade de se capacitar para a vida

política e social sendo capazes de resolver situações problemas que vão

além de suas necessidades locais.

7 Considerações finais

Levam-se em consideração os assuntos abordados no presente texto

que trata especialmente a cultura e a valorização da cultura indígena.

Cada um independente da etnia tem uma cultura diferente e o local

influencia o modo de viver das pessoas e, consequentemente, a de seu país,

estado, cidade, e até mesmo bairro ajudam na diferença cultural.

Mas uma das culturas marcantes é a cultura indígena, até porque os

povos indígenas foram os primeiros povos habitar o Brasil. No país há

aproximadamente trezentos povos e diferentes do pensamento de muitas

pessoas esses povos estão espalhados pelo país e cada um tem sua

especificidade.

Uma diferença que deve ser respeitada, assim, como os povos

indígenas respeitam as outras culturas. Nessa perspectiva, a Lei 11.645 de

2008 é um avanço para que temáticas indígenas sejam trabalhadas no

currículo escolar, contudo, mesmo com a lei não é de total garantia que

sejam contempladas.

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REFERÊNCIAS

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e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa temática no PIBID.

Disponível em:

<http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1372726711_ARQUIVO_Tr

abalho XXVIISNH-CarolineSilvaCruzeSimoneSilvadeJesus_corrigido_.pdf>.

Acesso em: 5 nov. 2016.

FUNAI. Grupo de indígenas do maranhão. Imperatriz: Aer/itz. Disponível em:

<http://funai-itz.blogspot.com.br/2006/10/grupos-indgenas-do-

maranho.html>. Acesso: 16 out. 2016

LUCIANO, Gersem dos Santos (BANIWA). Contribuições dos povos indígenas

ao Brasil e ao mundo In: O Índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os

povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Laced, 2006. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 30 out. 2016.

RIBEIRO, Darcy. Índios no Brasil 1. In: PASSADO: os livros didáticos e os índios,

2001. Brasília: Cadernos da Tv Escola, 2001.

SILVA, Aracy Lopes, GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org): A temática indígena

na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. In: A

antropologia e o mundo contemporâneo: cultura e diversidade /Brasília,

MEC/MARI/UNESCO, 1995.

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POVOS INDÍGENAS: UM OLHAR DE RESPEITO ÀS DIVERSIDADES BRASILEIRAS

Amanda Patrícia Silva Sousa35

Dariane Lima Silva Oliveira36

Katiana de Sousa Pereira37

Aparecida de Lara Lopes Dias38

1 Introdução

Este trabalho tem o objetivo de apresentar por meio de estudos que os

povos indígenas são muito ricos em seus aspectos culturais, sociais e possuem

ensinamentos significativos para todas as pessoas.

Dessa forma, a Lei 11.645/2008 que garante o estudo da História e

Cultura dos Indígenas e Afro-brasileiros nas escolas é mais uma

demonstração da dívida que o país possui em relação a eles, pois é de

fundamental importância que a sociedade conheça o percurso histórico e o

valor que possuem para a formação do povo brasileiro. Busca-se, assim,

abordar uma história que vai além do Brasil em 1500, como é tratada no livro

didático, mas uma história importante que seja estudada como povos em

progresso que estão acompanhando a evolução do mundo em todos seus

aspectos.

Nessa perspectiva, foi realizada uma pesquisa qualitativa com uma

professora de uma Escola Municipal com objetivo de saber suas perspectivas

sobre a Lei 11.645/2008 e como a mesma é trabalhada em sala de aula,

assim como projetos pedagógicos realizados na escola. A pesquisa aponta

que a professora concebe a lei como um ganho para a sociedade e que a

escola trabalha essa temática de forma lúdica através de projetos, feiras,

contudo, ressalta que não teve formação e até então não possui livro

didático atualizado para trabalhar de forma eficaz, pois os livros que

possuem ainda retratam os indígenas como pessoas que pararam no tempo,

sem evolução e submissos.

35 Acadêmica do 5° período de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 36 Acadêmica do 5° período de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 37 Acadêmica do 5° período de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 38 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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Os indígenas do Maranhão tiveram destaque nesse estudo,

ressaltando a etnia Guajajara, – Aldeia Lagoa Queita – onde foi realizada

pesquisa de campo pelos acadêmicos da Faculdade de Educação Santa

Terezinha – FEST e pela Universidade Estadual da Região Tocantina do

Maranhão – UEMASUL, na qual foi observada a realidade da aldeia na

cidade de Amarante do Maranhão, obtendo-se informações in loco da

cultura e história dos indígenas Guajajara através da Indígena Cintia e sua

mãe Maria Santana que recebeu os acadêmicos com muita alegria. Essa

pesquisa de campo foi exposta na Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia, sendo relevante sua exposição para conhecimento do público

visitante que pode conhecer mais sobre os indígenas do Maranhão.

Com isso se percebe a importância desse tema para que o povo

brasileiro tenha atenção em relação aos indígenas, que não possuem boa

qualidade de vida, pois estão à margem da sociedade, esquecidos,

passando por muitas dificuldades, mas que são imensuráveis a sua

contribuição.

Para esse estudo foi realizada pesquisa bibliográfica, utilizando os

seguintes autores: Silva e Grupioni (1995), Cruz e Jesus (2013), Ribeiro (2001),

Luciano (2006) e a Lei 11.645, de 10 de março de 2008. As referências

reafirmam respectivamente a diversidade dos povos indígenas e

concepções, a aplicabilidade da Lei 11.645/08 nas escolas, o indígena e sua

contribuição para sociedade.

2 Diversidade dos povos brasileiros

A cultura de um povo é algo que a identifica e a personaliza diante

das demais sociedades existentes em todo mundo, por isso a grande

importância que cada nação tem em valorizar sua multicultura, pois ao

conhecer a cultura de um determinado povo, se conhece a sua identidade

étnica como afirma Silva e Grupioni (1995, p. 428):

Parece ser construtivo da própria humanidade um mecanismo

diferenciador: quando um encontro entre duas sociedades parece

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gerar um resultado homogêneo no interior desta mesma sociedade

surgem diferenças significativas marcando fronteiras entre grupos

sociais.

Por isso quando chegaram ao Brasil em 1500, os portugueses

encontraram os primeiros povos que aqui habitavam e os denominaram

índios, por pensar ter chegado às índias. Não entendiam sua língua, nem

consideraram sua cultura e identidade, generalizando-os simplesmente de

‘índios’.

Dessa forma, é importante que o termo índio seja corrigido e

substituído por indígena, dando ideia de identidade e significância, pois se

sabe que existe diversidade entre as etnias tanto no aspecto cultural quanto

na língua, identidade individualizada e outras peculiaridades como afirma

Silva e Grupioni (1995, p. 426):

No Brasil nos deparamos com uma riqueza cultural extraordinária: 200

povos indígenas falando mais de 180 línguas diferentes. Casa nação

possuindo à sua maneira particular de ver o mundo, de organizar o

espaço, construir a sua casa e marcar os momentos significativos da

vida de uma pessoa.

Portanto, considerar as diversidades existentes no Brasil, nas

comunidades ou nos povos indígenas é importante e necessária, pois as

diferenças existem para demonstrar que pode haver formações e valores

que irão somar positivamente na vida de cada um. E a antropologia

considera que ao julgarmos os comportamentos e demais formas dos outros

na sociedade, tomando como referência padrões culturais inerentes,

desqualificando o ser humano, humilhando-o de forma desumana, isso é

etnocentrismo (SILVA; GRUPIONI, 1995).

Com isso é dever o tratamento respeitoso à cultura e à história de

cada povo, pois as diversidades existem para somar e o mundo de hoje não

pode regredir voltando aos tempos da segregação, isso sim é voltar a um

passado cheio de tristezas e desrespeito ao outro.

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3 A Lei brasileira 11.645/2008 na prática

O ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena vem com o

objetivo proporcionar um olhar abrangente com relação aos indígenas, bem

como aos afro-brasileiros e trazer informações significavas para a produção

de conhecimento, pois ainda são muito precários os materiais didáticos,

como também, a formação dos professores das escolas, em relação ao

processo histórico desses povos que merecem reconhecimento e

valorização.

Para isso foi organizada uma entrevista para ser desenvolvida com

uma professora do 5° Ano do Ensino Fundamental em uma Escola Municipal

de um Bairro da cidade de Imperatriz- MA. Esta será representada pela letra

P1. Na oportunidade foi solicitado a P1 para que a mesma apresentasse suas

concepções acerca da Lei 11.645/2008. Segundo a entrevistada:

A Lei 11.645/2008 é de grande importância em sala de aula, visto que

as crianças e adolescentes a cada dia conhecem menos sobre suas

origens, facilitando o trabalho do professor no que diz respeito à

conscientização quanto às diferenças de etnias.

P1 concebe a lei como uma das grandes vitórias para toda a

sociedade brasileira, pois ressalta que as crianças sabem muito pouco sobre

suas origens. Considera que a Lei 11.645/2008 vem na perspectiva de

garantir o desenvolvimento de um conteúdo interdisciplinar, tendo em vista

um rico aprendizado de suas origens no contexto histórico cultural, e assim,

permitindo os mesmos uma conscientização da luta indígena e afro-brasileira

pela liberdade e igualdade.

Dessa forma Cruz e Jesus (2013, p. 4) afirmam que:

11.645/2008 foi uma das grandes conquistas para o reconhecimento

social do negro e do indígena. Ela torna obrigatório o ensino de

História e Cultura Afro-brasileira em todas as escolas brasileiras,

públicas e privadas, do Ensino Fundamental e Médio. Ela abarca

uma série de importantes questões, pois não se resume a questões

da escravidão e do preconceito, já que retrata a importância do

conhecimento do negro e do índio como pilares da formação da

sociedade brasileira, como sujeitos históricos que lutam pelos seus

ideais.

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No contexto histórico, a imagem do ‘negro’ e ‘índio’ sempre se

remeteram a escravidão ou a catequização pelos jesuítas, limitando suas

identidades e pouco se esclarecendo sobre a cultura, religião e outras

características que compõe um povo, portanto, a lei está para a sociedade

como veículo transformador e como fio condutor de demais saberes.

P1 também respondeu sobre as práticas pedagógicas que a mesma

utiliza para ensinar de forma contextualizada o ensino da cultura e história

indígena. Para entrevistada:

Existem projetos que são desenvolvidos no decorrer do ano que

visam mostrar aos alunos tudo que envolve a cultura Afro-brasileira,

dinamizando o processo das práticas pedagógicas, como feiras

artesanais, demonstrando alguns objetos e comidas típicas desses

povos, pintura artesanal com tintas para o corpo além da

socialização da história em sala de aula.

As práticas mencionadas são bastante significativas e incentivadoras,

pois são métodos diferentes de ensinar, ao utilizar essas práticas P1 destaca a

importância que os demais professores precisam dispor para tornar relevante

o ensino que muitas vezes não é interessante para as crianças.

Cruz e Jesus (2013, p.6) afirmam que “não há uma ‘formula mágica’

para selecionar os materiais que serão utilizados pelo professor para

trabalhar em conjunto com o aluno a construção da nação de Cultura e

História dos povos indígenas e africanos [...]”. Essa fórmula consiste em ter

professores capazes de descobrir qual a melhor forma de trabalhar com seus

alunos, conhecendo-os diariamente, observando e analisando suas

particularidades e trabalhando em função delas.

Observa-se também a necessidade do professor levar em conta a

realidade em que vive para se obter práticas pedagógicas que visem

melhores condições de desenvolvimento, conhecer, por exemplo, se existem

quilombos na região em que vivem ou quais as etnias indígenas que vivem

no seu estado e região.

A entrevistada respondeu sobre os projetos didáticos que acontecem

na escola no decorrer do ano sobre a cultura indígena e afro-brasileira.

Segundo a professora:

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O principal projeto na escola que envolve todas as crianças é

intitulado “Educação não tem cor”, que trabalha vários aspectos,

principalmente culturais, como comportamento, danças,

vestimentas, alimentos e linguagem da cultura Afro-brasileira e

Indígena (P1).

Sabe-se que os professores tem acesso livre ao conteúdo de apoio,

dentre eles destaca-se os que contextualizam a realidade do aluno

despertando maior interesse pelo conteúdo aplicado, podendo ser

trabalhados em conjunto com filmes, vídeos, imagens que ilustrem o dia a

dia dos povos indígenas e complementando com projetos que busquem

valorizar a importância da luta por direitos igualitários entre ‘brancos’ e

indígenas, trazendo assim justiça social com uma abrangência totalitária,

para que no futuro possamos ter cidadãos conscientes de suas origens. Para

reafirmar o contexto citado Cruz e Jesus (2013, p. 6) mencionam que:

Existe uma diversidade de recursos que podem ser utilizados pelos

professores em parceira com o livro didático no desenvolvimento de

suas atividades. Entre essas ferramentas didáticas podem-se destacar

o uso de músicas, filmes, vídeos, histórias em quadrinhos, entre outros.

Cabe ao docente escolher, com o devido cuidado, esses materiais

de apoio e adequá-los ao tema a ser trabalhado.

No mesmo sentido foi perguntada a P1 se a mesma recebeu alguma

formação ou material didático para trabalhar a História e cultura dos povos

Indígenas. A mesma destaca que “não, e que os trabalhos desenvolvidos

são feitos a partir de pesquisas complementares feitas por ela mesma (P1). ”

Na fala de P1 percebe-se que não houve formação sobre a temática dos

indígenas e afro-brasileiros, pois ao informar que faz pesquisas

complementares, dá-se a ideia que o material não é suficiente ou não existe.

No entanto, a lei diz em seu inciso 1° do art. 26 - A que:

§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá

diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a

formação da população brasileira, a partir desses dois grupos

étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a

luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e

indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade

nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,

econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

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Nessa perspectiva, o professor precisa de um apoio que assegure a

realização de um trabalho de qualidade junto à turma, pois o

desenvolvimento e o bom andamento da aula requerem fontes ricas,

didática eficaz e professor seguro do que está falando e com isso possa

desenvolver a capacidade crítica dos alunos diante de situações

confrontadas com seu grau de ensino ao longo de sua formação

psicossocial.

A última questão procura saber da professora se as crianças possuem

conhecimentos prévios sobre essa temática e como elas participam. A

mesma respondeu que “sim, que têm uma curiosidade indescritível por parte

dos alunos, pois esta cultura chama a atenção por ser diferente da deles”

(P1).

Com isso P1 descreve seus alunos como curiosos em relação à cultura

desses povos por serem diferentes. Muitas vezes as crianças refletem

concepções que são advindas de seus familiares, pois não conhecem e o

que sabem é o que ouvem de seus pais ou colegas. Essas informações nem

sempre são positivas, na maioria das vezes são discriminatórias e

preconceituosas e como estão em processo de desenvolvimento psíquico,

acabam por disseminar da mesma forma tais ideias.

Sabe-se que a curiosidade partida dos alunos faz com que o trabalho

do professor seja enfático ao citar culturas diferentes das quais fogem de

realidades vivenciadas. Nesse sentido, trazer para o contexto uma

pluralidade de conhecimento intelectual, partindo este da origem desses

povos fazendo com que os alunos saibam a importância de conhecer,

vivenciar e contextualizar sobre a realidade dos povos afro-brasileiros e

indígenas é de grande relevância.

Dessa forma, a escola é um espaço que mais se encontram essas

diversidades culturais e o professor necessita utilizar meios que desmistifique

tais ideias, assim como trabalhar a cultura desses povos, utilizando didáticas

mais chamativas, saindo um pouco do livro didático, apesar de não haver

material suficiente para tal trabalho ou, quando citados, são falas limitadas

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que contam histórias jesuíticas e colonizadoras de um povo que foi

esquecido no cenário brasileiro.

Ribeiro (2001, p.15) afirma que “a história é abordada como se não

fosse algo em progresso, que acumula e se transforma, mas sim algo

estanque, marcado pelos eventos significativos de uma historiografia

basicamente europeia”.

Como exemplo, os livros didáticos nos quais os indígenas são

retratados ainda no passado, considerados primitivos, povos que não

evoluíram no tempo e que precisaram de outros povos para civilizá-los. Ideias

como essas são repassadas pela escola, pois os próprios livros os tratam

dessa forma, que existia um Brasil ainda não descoberto tão pouco habitado

e que os colonizadores europeus vieram com o papel de trazer cultura e

religião para os povos indígenas. Assim, para Ribeiro (2001, p.17):

Além de apresentar os índios como pertencentes a um tempo

pretérito, os manuais escolares transmitem imagens fragmentadas e

contraditórias. Entre outras coisas, produzem a mágica de fazer os

índios aparecerem e desaparecerem da história do Brasil, ao sabor

da história da colonização.

Considera-se, nesse aspecto, que haverá sempre informações desse

tipo na sociedade, enquanto não houver mais preocupação por parte de

autores e governos em demonstrar a verdadeira contribuição dos indígenas

e negros para a formação do Brasil, que vai além de aspectos físico ou

linguagem, mas da cultura que se mantém viva na sociedade brasileira.

4 Os indígenas do maranhão

Um bom exemplo de estados que mantém viva a cultura dos

indígenas é o Maranhão, onde hoje são contados nove povos indígenas, nos

quais se podem destacar os Guajajara, Canela Ramkokamekrá, Canela

Apanyekrá, Gavião, Awá-Guajá, Uubu-Ka’apor, Krikati, Tremembé e Gamela

(povos em processo de reconhecimento).

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Os Guajajara são povos que se localizam no centro do Maranhão,

mais precisamente nas cidades de Barra do Corda, Amarante do Maranhão,

Grajaú. Segundo a FUNAI existem basicamente 13.100 indígenas segundo

censo realizado no ano 2000, em contrapartida a Secretaria Especial de

Saúde Indígena –SESAI, em 2014, registrou 27.616 Indígenas Guajajara.

A língua materna desse povo é o Tupi-Guarani e utilizam como

segunda língua o português. A principal atividade econômica é a plantação

de mandioca, milho, arroz, abóbora, dentre outras. Algumas aldeias plantam

roças grandes de arroz e outras especiarias para a comercialização local,

ressaltando a pesca de diversos tipos de peixes em rios e açudes locais. Além

da venda de artesanatos como colar, pulseira, cestarias, redes para dormir e

outros39.

As lideranças ficam por parte dos caciques que pode haver mais de

um, dependendo das famílias que residem na aldeia, pois existindo a

possibilidade de conflitos entre os indígenas e cada família constitui sua

liderança local.

Portanto, as diversidades encontradas no Brasil são muito importantes

para a formação de pessoas conscientes da origem que possuem e a

valorização da cultura entre as pessoas tem o objetivo de agregar valores

de respeito e tolerância, pois no cenário que o Brasil e o mundo estão

vivendo, cheio de intolerância e violência contra afro-brasileiros, indígenas,

deficientes, gênero, etc. que saia do padrão de pele branca e cabelo liso

são tratados como anormais e não é esse o caminho que se deve continuar,

pois o respeito às diferenças é algo necessário e urgente.

5 A luta dos indígenas brasileiros

Os indígenas são povos que atualmente são vistos pela sociedade

como pessoas que estão em busca de reconhecimento social, seja para

garantir direitos que muitas vezes só se conseguem através de reivindicações

39 Disponível em HTTPS://pib.socioambiental.org

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e luta ou pelo fato de que em toda a história brasileira não tiveram sua

cultura reconhecida ou valorizada.

Segundo Luciano (2006, p. 217) “do ponto de vista sociocultural, hoje é

aceito oficialmente o fato de que o povo brasileiro é formado pela junção

de três raças: a indígena, a branca e a negra”, só que as contribuições que

a sociedade brasileira recebeu são inúmeras, que vai desde muitas

expressões e palavras indígenas até ao uso de plantas como medicamentos

e para procedimentos médicos em hospitais.

A riqueza que advém dos povos indígenas perpassa gerações e

transpõe barreiras geográficas, pois são povos muito diversificados. Cada

etnia contribui com aspectos singulares e significativos que faz com que os

demais brasileiros possam sentir orgulho da história e das contribuições até

hoje existentes em meio à sociedade.

Nesse sentido, no cenário de reivindicações e luta por direitos e

garantias, os povos indígenas estão se organizando e como sempre formam

suas lideranças com objetivos de alcançar melhores condições de vida,

saúde, educação, por fim, políticas públicas que visem ampliar e dar

prosseguimento aos projetos propostos.

A importância da formação política está na aquisição de

capacidades necessárias para as escolhas que os povos indígenas

precisam tomar sobre seus futuros. Em termos de projetos, há uma

proposta ainda nascendo para a construção de uma escola de

formação política do movimento indígena que, com o tempo, seria

transformada em uma universidade indígena autônoma (LUCIANO,

2006, p.223).

O referido autor indígena referencia-se que, no mergulho da vida

política, muitos povos conseguem garantir seus direitos, por meio da

formação acadêmica, estudo das leis que regem o país e a integração na

política para uma representação indígena. Menciona, ainda, que são

necessidades que estão sendo estudadas, mas que já foram pensadas e

apontadas como solução para melhorias na vida dos indígenas.

Dessa forma, sabe-se que a sociedade brasileira possui seus

representantes nas esferas do governo, assim os povos indígenas como

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brasileiros que são também sentem a necessidade de serem representados

por cidadãos indígenas, na qual a realidade ainda é quase insuficiente, mas

que aos poucos estão pleiteando que os governantes os vejam como

representantes legais de seus povos.

6 Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo relatar alguns aspectos

relacionados à cultura, ao etnocentrismo de outros povos em relação aos

indígenas, a aplicabilidade da Lei 11.645/2008 nas escolas segundo relato de

uma professora, os indígenas maranhenses, um pouco da cultura dos povos

Guajajara e a inserção do indígena na política como meio de intervenção.

Mas é no âmbito de lutas e mais repercussão em torno do respeito e

reconhecimento que esse trabalho buscou enfatizar, considerando que os

indígenas não formam um único povo, que não são iguais, mas são povos

que possuem suas particularidades, língua e cultura diferente um dos outros.

São cidadãos brasileiros que sentem a necessidade da valorização e do

respeito ao seu modo de viver e pensar sobre as coisas.

Portanto, verifica-se a importância social de manter vivo o desejo de

conhecer sobre as raízes que formam o Brasil, além de incentivar estudos

nesse sentido, pois por meio de trabalhos científicos comprometidos é que se

pode dar voz aos que não tem.

REFERÊNCIAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>

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RIBEIRO, Darcy.Índios do Brasil1. / Secretaria de Educação a Distância,

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2001.:il, - (Cadernos da TV Escola,).

SOCIOAMBIENTAL. Disponível em: <https://www.pib.socioambiental.org/pt>

Acesso em: 02 nov. 2016.

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POVOS INDÍGENAS BRASILEIROS: REVELANDO CONCEPÇÕES

Anne Hellen Oliveira da Silva40

Gabriel Rocha Monteiro41

Ilma Maria de Oliveira Silva42

1 Introdução

Discutir acerca dos povos indígenas nos dias atuais requer uma

reflexão de como sua imagem foi construída dentro de cada indivíduo, ao

longo de um grande processo histórico. A visão do indígena no currículo das

escolas da educação básica deixou resquícios no imaginário da sociedade

brasileira, focando na maioria das vezes em estereótipos como o de cultura

atrasada e primitiva.

A partir dos anos 1990, pesquisadores começam a questionar essa

visão, no entanto, pouco se discute esta temática nas salas de aula, tanto

da educação básica quanto do ensino superior, ou seja, as discussões ainda

continuam longe do chão das instituições de ensino. Todavia, quando os

povos indígenas aparecem no cenário escolar, remete-os ao dia 19 de

abril43. Contudo, durante as “comemorações”, pouco se discute as

contribuições da língua, da culinária para a formação do povo brasileiro,

bem como para o reconhecimento e garantia de seus direitos.

Acredita-se que isso pode ser resultado da falta de uma formação de

professores fundamentada em uma visão inclusiva e em uma história do

Brasil descolonizado. Diante desta hipótese, busca-se analisar a concepção

dos professores da educação básica em relação aos povos indígenas

brasileiros.

Artigo apresentado à disciplina de Educação e cultura dos povos indígenas, ministrada pela Prof.ª Me. Ilma Maria de Oliveira Silva, da UEMASUL 40 Acadêmica do VII Período de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 41 Acadêmico do VII Período de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 42 Profª Orientadora: Doutoranda em História Ilma Maria de Oliveira Silva. UEMASUL. E-mail: [email protected] 43 No sistema educacional brasileiro, a data de 19 de abril historicamente é marcada por atividades de pintura e de vestimenta das crianças como uma lembrança e homenagem ao Dia do Índio (REIS; DIAS, 2016).

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O interesse em pesquisar sobre o assunto surgiu a partir das discussões

em sala de aula com a disciplina de “História e cultura dos povos indígenas”,

e com o diálogo com outras instituições de ensino superior4 que resultou em

um trabalho interdisciplinar.

Os autores Silva (1998), Freire (2000), Luciano (2006), Machado (2012),

contribuíram para pensar a história dos povos indígenas não pelo viés do

colonizador, mas sim como pessoas protagonistas de suas historicidades. Este

trabalho será realizado em uma escola municipal na periferia de Imperatriz.

Para a coleta de dados serão entrevistados dois professores com mais de

dez anos de docência com formação em pedagogia.

Assim, este trabalho está dividido em três tópicos. O primeiro tópico: Os

povos indígenas brasileiros: uma construção histórica, que analisa como a

história foi contada de forma mascarada, velando o indígena como sujeito

do processo. No segundo tópico conheceremos indígenas: diferentes povos,

que procura desmistificar a imagem do índio criada de forma negativa. No

terceiro tópico: Povos indígenas: o que pensam os professores não

indígenas? Resultado da entrevista realizada com os professores.

2 Os povos indígenas brasileiros: uma construção histórica

Toda a história é fruto da ação humana. Esta se revela, primeiramente,

através da oralidade, somente a poucos séculos a escrita vem registrando os

feitos da humanidade. Na história brasileira, quando se trata dos povos

indígenas, as primeiras manifestações de relatos são as cartas de Pero Vaz

Caminha5, em que se referia ao indígena como sendo sujeitos que não

cobriam suas vergonhas, utilizavam de arco e flechas, entre outras

qualidades.

Ao avançar o processo de colonização do Brasil, a imagem do

indígena se alterou em diversos aspectos conforme o olhar dos sujeitos não

4 Faculdade de Educação Santa Terezinha. 5 A carta de Pero Vaz de Caminha é, na verdade, um diário que registra de 22 de abril a 10 de maio de 1500, uma progressiva descoberta dos homens (CUNHA, 2012, p. 30).

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indígenas que os viam. Na primeira versão, o índio é omitido ou, na melhor

das hipóteses, exerce um papel auxiliar no processo de expansão territorial

dos portugueses. Na segunda, ele é relegado ao papel passivo de vítima

(MONTEIRO, 2000), permanecendo sempre a visão de outros sujeitos e não a

do próprio indígena sobre si mesmo.

De fato, ainda é muito forte essa visão equivocada sobre os povos

indígenas, considerando-os como selvagens, preguiçosos, entre outros

adjetivos pejorativos. “Historicamente os índios têm sido objeto de múltiplas

imagens e conceituações por parte dos não-índios e, em consequência, dos

próprios índios, marcadas profundamente por preconceitos e ignorância”

(LUCIANO, 2006, p. 34), ao logo da história alguns equívocos foram criados e

transmitidos pela escola e reforçado pelo livro didático, dentre eles o

pensamento de uma única cultura para os povos indígenas classificando-os

como índios genéricos.

Segundo o IBGE (2010), os resultados do censo apontam para 274

línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes.

Diante disso, não é correto falar do indígena de forma geral como se todos

fossem iguais. É salutar contrariamente a homogeneização, enfatizar as

particularidades de cada cultura.

É comum ouvir que os povos indígenas fazem parte do passado,

relacionando-os ao período colonial da história do Brasil. Este equívoco

contribui para o não reconhecimento destes povos para a formação da

sociedade brasileira.

Ignorar a presença desses povos é apagar uma das partes mais

relevantes da história desse país. Desde o suposto descobrimento do Brasil

até os dias atuais os indígenas estão presentes e vivos, por sinal. O que não

pode ser esquecido é que durante alguns períodos da nossa história, suas

populações passaram por inúmeros ataques e massacres os quais reduziram

drasticamente a sua quantidade, porém não os fizeram desaparecer.

Durante todo esse processo de luta pela sobrevivência, o contato do

indígena com o não indígena aconteceu e acontece de forma conturbada,

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sendo muitas vezes necessário como uma forma de resistência. Nessa

perspectiva, foi inevitável o processo de aculturação,

A aculturação é o processo de troca e/ou fusão entre culturas.

Através do contato prolongado ou permanente, duas ou mais

culturas permutam entre si seus valores, conhecimentos, normas,

hábitos, costumes, símbolos, enfim, seus traços culturais [...] (ASSIS;

NEPOMUCENO, 2008, p. 05).

Diante deste processo, mesmo que muitas vezes de forma forçada,

algumas culturas indígenas mudaram a imagem dos homens que andam nus

e vivem na floresta para homens que utilizam dos mesmos artefatos usados

pelo branco, as tecnologias, o uso de seus direitos, entre outros. Para os

indígenas, o contato com os nãos indígenas nem sempre tiveram

consequências favoráveis ao seu povo, uma delas e a mais fundamental é

que as sociedades indígenas perdem ou veem diminuindo a sua

capacidade de decidir livremente sobre sua própria vida.

3 Indígenas: diferentes povos

A percepção sobre os povos indígenas comumente é carregada de

preconceitos isto se deve pela falta de conhecimento sobre a suas

diversidades culturais.

As contradições e os preconceitos têm na ignorância e no

desconhecimento sobre o mundo indígena suas principais causas e

origens e que precisam ser rapidamente superados. Um mundo que

se autodefine como moderno e civilizado não pode aceitar conviver

com essa ausência de democracia racial, cultural e política

(LUCIANO, 2006, p. 35).

É importante pensar que entre os povos indígenas existem

características peculiares pertencentes a cada povo, isso se deve a

diversidade cultural. Deste modo é errônea a afirmação de que as culturas

indígenas são iguais.

Infelizmente nem sempre é fácil aceitar o modo de vida de outras

pessoas, há uma dificuldade enraizada no ser humano em olhar a cultura do

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outro com respeito. Essa atitude de indiferença dar-se o nome de

etnocentrismo, que para a Antropologia é a tendência a tomar a própria

cultura (significados, valores e regras), como padrão para julgar as outras,

segundo Silva (1989), no entanto esse tipo de pensamento de superioridade

leva a limitação das pessoas em conhecer novos costumes e aceita-los

como importantes.

É importante destacar que aos poucos essa cultura de preconceito

está diminuindo, isso se deve ao fato dos próprios indígenas lutarem pela

preservação de sua cultura e seus direitos, Luciano (2006, p.36) destaca que,

Culturas e tradições estão sendo resgatadas, revalorizadas e

revividas. Terras tradicionais estão sendo reivindicadas, reapropriadas

ou reocupadas pelos verdadeiros donos originários. Línguas vêm

sendo reaprendidas e praticadas na aldeia, na escola e nas cidades.

Rituais e cerimônias tradicionais há muito tempo não praticada estão

voltando a fazer parte da vida cotidiana dos povos indígenas nas

aldeias ou nas grandes cidades brasileiras.

A citação mostra a relevância da preservação dos costumes para o

reconhecimento de identidade indígena, no qual essa ação se dá

principalmente pelos anciões que guardam consigo o valor das lutas

passadas. Esses acontecimentos de conflitos, de valorização, de

discriminação que rodeiam esses povos, mostra que a sociedade ainda

precisa avançar muito na questão do respeito às diferenças.

4 Povos indígenas: o que pensam os professores não indígenas?

Com o objetivo de compreender qual a concepção dos professores

da educação básica sobre os povos indígenas, realizou-se uma pesquisa

com duas professoras as quais receberam a identificação P1 e P2. Ambas

trabalham nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A primeira, P1 possui

formação em Pedagogia e trabalha como docente a mais de dez anos. A

segunda P2 tem formação em Geografia e trinta e três anos de docência.

Quando questionadas sobre os conhecimentos que possuem sobre os

povos indígenas, P1 disse que estes “transmitem medo às pessoas, matam

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para conseguir o que querem, antes não usavam roupas e que agora já

estão civilizados”. Fato este que revela o quanto ainda persiste no ideário

popular a figura do indígena como um ser selvagem que comete barbáries.

Mas, o que mais intriga na fala da professora é o conceito de civilização que

revela ter. Como alguém que é bárbaro pode ser civilizado? Qual seria o

conceito de civilização? Estes questionamentos sugerem outras pesquisas.

Concorda-se que “os vícios do racismo e do preconceito perduram quase

intactos no cotidiano nacional” (BERGAMASCHI; ZEN; XAVIER, 2012, p. 19).

Questionou-se, ainda, se a P1 já havia tido contato com a história dos

povos indígenas na formação inicial. Respondeu: “sim, mesmo de forma não

específica, em uma disciplina tive contato, no qual resultou em uma visita

técnica a uma aldeia”. Há presente fala mostra que o simples fato de ter

contato com os povos indígenas não é suficiente, tornando-se nítido que é

preciso um estudo sobre a história dos povos indígenas para compreender

melhor a sua realidade.

Sobre o ensino na sala de aula e a importância da temática para o

processo educativo, P1 relatou somente que “o assunto é trabalhado na

aula de história, sendo importante para os alunos aprenderam como os

povos indígenas viveram e vivem hoje”. Assim, cabe analisar que P1 exerce

um trabalho que acaba por contribuir para reproduzir as mesmas

concepções que há décadas permanece no cenário educacional brasileiro,

revelando em uma atividade insuficiente para transformar o ideário errôneo

da sociedade em relação aos povos indígenas.

Acerca dos conhecimentos dos povos indígenas, para a P2 algumas

informações chamaram atenção. Segundo seu relato: “os povos indígenas

estão com suas populações reduzidas, e esse número já foi maior, tal

diminuição acontece devido aos relacionamentos com os brancos, existem

muitos conflitos. Eles não têm seus direitos respeitados”. Percebe-se que no

discurso da P2 que o indígena está desaparecendo, ao contrário Cunha

(2012, p. 122) afirma que “a primeira observação é de que, desde os anos

1980, a previsão do desaparecimento dos povos indígenas cedeu lugar à

constatação de uma retomada demográfica geral. Ou seja, os índios estão

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no Brasil para ficar”, com isso fica perceptível o quanto ainda há a

necessidade de se sabe mais informações em relação a esses povos.

Quando a pergunta a P2 foi se a mesma teve contato com a história

dos povos indígenas na formação inicial, “muito pouco, era estudo de férias.

O tempo foi muito curto, naquela época as questões desse assunto não

eram divulgadas como é hoje, mas ainda sim tinha algo”. O que fica

aparente é que a temática em questão não é um assunto novo, porém

somente agora começa a ganhar mais destaque mediante as lutas

indigenistas.

Sobre o ensino na sala de aula e a importância da temática para o

processo educativo, a P2 relatou que “na sala é algo trabalhado de forma

simples, sendo o assunto sobre os índios pouco discutido. A forma em que é

trabalhado é com música e desenhos. A importância de se trabalhar sobre a

história dos povos indígenas é mostrar como era o nosso mundo, em relação

a como estamos vivendo agora”. De modo geral, a P2 em alguns momentos

traz em seu discurso a existência de muitos problemas envolvendo os povos

indígenas, entretanto, na sua prática docente o trabalho realizado, ainda

permanece orientado por uma prática do não despertar crítico de seus

educandos.

5 Considerações finais

Ao longo da história brasileira muitos equívocos sobre os povos

indígenas foram se fortalecendo, principalmente, pela escola que conta

esta história pelo viés do colonizador. Esse problema infelizmente está

enraizado na sociedade gerando a exclusão e discriminação dos povos

indígenas, fato este relatado corriqueiramente entres as diversas falas das

pessoas não indígenas.

É importante ressaltar que as professoras, que participaram da

pesquisa, mostraram falas ainda carregadas de estigmas em relação aos

povos indígenas, não contribuindo de forma significativa para o rompimento.

Enquanto professor (a), devemos compreender a importância social do seu

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papel que é formador, como executor dessa ação cabe a cada um trazer

para dentro do ambiente de sala de aula, assim como para além dos muros

da instituição, a problemática social acerca dos povos indígenas.

Todavia, tal fato deve estar em constante debate nas instituições de

ensino, em todos os níveis e modalidades, assim como na sociedade em

geral, para que o respeito e os direitos dos povos indígenas sejam

prevalecidos, tentando dessa forma amenizar uma dívida histórica que

dizimou e ainda dizima inúmeros indígenas brasileiros.

REFERÊNCIAS

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OS POVOS INDIGENAS BRASILEIROS: CULTURA, ENSINO E CONTRIBUIÇÕES

Amanda Borges Saraiva44

Francipaula Pereira de Sousa Pontes45

Aparecida de Lara Lopes Dias46

1 Introdução

Em relação aos povos indígenas, antes da colonização do Brasil, é

sabido que os mesmos não habitavam por muito tempo em um território,

que viviam de forma igualitária e não havia disputa de poder. Ainda,

desenvolviam as formas de manejo dos recursos naturais sem obter lucro,

mas sim, visando o desenvolvimento de sua cultura.

Mas, a chegada dos colonizadores europeus no território brasileiro foi

motivo de inúmeras transformações no cotidiano e nos costumes daqueles

que ali já habitavam, pois, ao terem contato com os colonizadores, os

indígenas foram caçados e obrigados a ceder seus serviços para a

agricultura ou extração. Desta forma, os indígenas ficaram cada vez mais

dependentes do ‘homem branco’, e consequentemente, passaram a

perder sua liberdade e seu espaço.

Então, neste trabalho, propõem-se uma análise em relação aos povos

indígenas, objetivando enfatizar o quão importante é conhecer a

historicidade indígena existente no Brasil, para que possamos, assim, valorizá-

la por meio do reconhecimento e das contribuições estabelecidas pelos

próprios indígenas.

Assim, o artigo está organizado por meio de tópicos e subtópicos, na

qual se inicia por meio da história e cultura dos povos indígenas brasileiros e

ainda sobre o etnocentrismo, que se conceitua como um grupo de pessoas

que acredita que somente o seu modo de vida é o correto. Trata ainda,

44 Acadêmica do IV período do Curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 45 Acadêmica do IV período do Curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 46 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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147

sobre a Lei 11.645/2008 onde regulamenta a obrigatoriedade do ensino da

História e Cultura Afro-brasileira e Indígena na educação básica.

Ainda, trata do relato da pesquisa de campo, na qual buscamos

confirmar se a Lei 11.645/2008 está sendo ou não contemplada na escola

campo – local do estágio – da rede municipal de Imperatriz- MA, localizando

assim, na questão do ensino em sala de aula, que em torno dessa temática,

incluem-se os conteúdos dos livros didáticos voltados a história dos povos

indígenas.

Elenca-se ainda, a temática voltada somente para os povos indígenas

do Maranhão, que se dividem em nove etnias, mas que somente sete são

reconhecidas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). E, especificamente,

tratará neste, o povo indígena Urubu-Kaapór que vive em uma parte

significativa do estado. Ressalta-se a participação da Semana Nacional de

Ciência e Tecnologia 2016 do Maranhão. Por fim, trata-se das contribuições

dos povos indígenas para o Brasil e para mundo.

Portanto, sobre o olhar dos teóricos Baniwa (2006), Cruz e Jesus (2013),

Oliveira e Freire (2006) e Ribeiro (2001) pode-se obter o desenvolvimento

deste estudo, envolvendo temáticas tão importantes sobre os povos

indígenas onde os reconhecem e valorizam.

2 Os povos indígenas brasileiros: cultura e outros entendimentos

A cultura é construída por meio do diálogo entre os indivíduos no

cotidiano. Esta construção está cheia de complementos e conceitos que

identifica cada povo a uma determinada comunidade ou região. Quando

se fala da colaboração dos indígenas na construção da sociedade

brasileira, está além de suas ações na influência de diferentes línguas,

artesanato ou em técnicas de manuseio do ambiente.

Pois, foi na colonização do Brasil que os índios contribuíram para a

definição dos limites do território brasileiro. Portanto, a constituição do Brasil

como um país multicultural é dada por conta da presença de povos

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indígenas que permanecem em suas comunidades, fazendo parte da

sociedade brasileira.

Nos últimos anos, os próprios índios passaram a produzir e a veicular

imagem em vídeo, divulgadas pelas aldeias e pelos fóruns urbanos.

As organizações indígenas, através de publicações, vídeos, CDs e

seus sites têm procurado manter informada a opinião pública não só

das demandas e propostas políticas indígenas, mas também sobre a

sua cultura (OLIVEIRA; FREIRE, 2006, p. 160).

Mas o termo ‘índio’ historicamente foi substituído por ‘indígena’ onde

trata dos nativos brasileiros. Essa distinção é importante, pois para muitos a

palavra ‘índio’ é sinônimo ou uma abreviação da palavra ‘indígena’. A

razão pela qual os europeus batizaram os povos indígenas de ‘índios’, foi

porque pensaram ter chegado à Índia, cometendo assim um grande

equívoco. Por outro lado, indígena é uma palavra antiga que significa

naturalizado de uma região ou país.

Para a Antropologia, a palavra ‘índio’ traz uma visão muito vasta

quando se trata dos equívocos culturais – etnocentrismo. É sabido que os

seres humanos possuem um instinto nato, onde os mesmos possuem a sua

própria concepção em discernir tudo o que é diferente.

O etnocentrismo tem como conceito antropológico, a consideração

de que uma cultura é superior à outra, ou seja, quando um determinado

grupo de indivíduos com os mesmos costumes têm a visão de que seu modo

de vida é o certo, mais bonito e/ou superior. Mediante essa visão surge o

preconceito cultural ou etnocêntrico considerando-se melhor ou pior.

Então, cada grupo de indivíduo tem o seu costume, nenhum ser

humano é igual ou similar. Cada cultura tem os seus hábitos e por achar

diferente é um dos motivos mais problemáticos que dificulta em aceitar a

cultura do outro, onde a influência dos demais impede a socialização e

aumenta a discórdia entre as pessoas. É preciso que aconteça a

desconstrução do etnocentrismo, e para que isso ocorra é preciso conhecer

e considerar que o Brasil em um país multiétnico.

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2.1 A lei que regulamenta o ensino da História e Cultura Afro-brasileira

Indígena dentro das instituições escolares

A Lei 11.645/2008 normatiza a precisão do ensino da História e Cultura

Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino, onde busca romper

paradigmas existentes atualmente nas instituições escolares. A história

indígena sempre sofreu muito preconceito e discriminação, onde sua história

permanentemente foi amortecida de uma forma contradita, tanto em

ambientes escolares quanto em outros espaços sociais.

Com o passar dos anos, mesmo sendo implementada a lei nas

escolas, ainda existe complexidade em correlação ao ensino da História e

Cultura Afro-brasileira e Indígena ao que se diz respeito aos professores, e

essencialmente, em relação ao trabalhar com os livros didáticos.

Por conta disso a lei não é garantia de que o ensino sobre a as

temáticas indígenas serão contempladas nem que o professor terá meios

para contribuir para que seus alunos desconstruam a história equivocada

sobre os indígenas.

Trabalhar com essa temática na sala de aula, implica em uma série

de questões que vão muito além do currículo ou da lei em si,

principalmente em relação aos docentes e as suas concepções de

ensino, suas relações com o tema e até a formação inicial desses

profissionais (CRUZ; JESUS, 2013, p. 5).

Por se tratar de povos que historicamente tem uma importante fração

na questão econômica e na formação do povo brasileiro, destaca-se na

supracitada lei espaço para discutir uma série de importantes questões as

quais foram omitidos sobre a escravidão, preconceitos e discriminações,

pois, os indígenas fazem parte da formação da sociedade brasileira como

sujeitos históricos que lutaram por seus ideais. E sua implementação, nas

escolas, certamente possibilitaria visões diferentes sobre a cultura indígena

emergindo, nesse sentido, o respeito e a valorização cultural.

Contudo, por entender que os indígenas cada dia vem ganhando

espaço na sociedade, deve-se reconhecer e destacar que a lei supracitada

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é uma grande conquista, principalmente, para contribuir com o

desenvolvimento crítico dos alunos em fase escolar. Pois, mesmo com os

equívocos existentes os próprios povos indígenas souberam projetar os

direitos constitucionais para que tivessem o seu protagonismo na história do

Brasil.

2.2 Relato da pesquisa de campo: Como a Lei 11.645/2008 vem sendo

desenvolvida dentro da escola campo

Todas as questões mencionadas anteriormente relatam os fatos que

durante o ensino os alunos vivenciam sobre os indígenas, contudo, muitos

relatos de autores mostram que, na sua maioria, os livros didáticos

apresentam uma história silenciada. Por conta disso, foi proposta uma

pesquisa de campo por meio de um questionário envolvendo a gestora de

uma escola da rede municipal de Imperatriz – MA, para que pudéssemos na

instituição analisar como é trabalhada a temática sobre os indígenas por

meio das práticas pedagógicas, identificando as dificuldades que os

professores e alunos encontram, e também como meio de aguçar a nossa

visão, para que, no Estágio Curricular Supervisionado, possamos estar

problematizando esse ensino e, ainda, no exercício da nossa profissão

estejamos preparados para lidar com situações de preconceito em relação

a quaisquer culturas.

Por conta disso, foram levantadas questões norteadoras para que

pudéssemos compreender melhor como a Lei 11.245/2008 vem sendo

trabalhada; de que forma a escola procura envolver os alunos para que o

mesmo tenha conhecimento sobre a história dos indígenas, entre outras.

Nos questionamentos, a gestora mencionou que a lei surgiu no intuito

de mudar os conceitos preconceituosos, pensamentos e atitudes mais

condizentes com a realidade dos indígenas, e que para a escola ao

trabalhar a lei percebe-se um novo olhar não apenas para os professores

mais de toda comunidade escolar estando interligada com a história da

sociedade brasileira em geral.

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A mesma se faz presente na grade curricular da escola onde se busca

trabalhar a história indígena por meio de projetos realizados como feira de

ciência, abordando a cientificidade da cultura afro-brasileira e indígena,

filmes, músicas e oficinas sobre os mesmos, na qual os alunos além de ter

conhecimento, veem a importância desses povos para a nossa história. A

gestora enfatizou, ainda, que há projetos didáticos desenvolvidos pela

escola que vem a contemplar a temática indígena e afro-brasileira.

Mas, mesmo com todos esses projetos desenvolvidos, deixa claro nas

palavras da gestora que ainda existe um grande preconceito por parte dos

alunos, onde os mesmos ainda criam uma imagem dos indígenas apenas

com os seus hábitos vividos dentro da sua cultura. Mencionou a ausência de

recursos didáticos e que os livros têm conteúdos insuficientes e quando têm,

abordam conteúdos muitas vezes reprodutivos de uma visão estereotipada,

diferente da qual não está ligada ao contexto indígena.

A gestora foi questionada se essa temática é importante no processo

de ensino aprendizagem. A mesma afirma que trabalhar com a temática

dentro da sala de aula é um grande desafio, pois, para muitos ainda é vista

como um assunto sem pouca importância, contudo, considera fundamental

para o conhecimento e aprendizado dos alunos.

Portanto, nota-se por meio da pesquisa que mesmo com a

implantação da lei, ainda existem certas dificuldades por parte dos

professores e alunos, em relação à temática indígena, atribuindo-se as

dificuldades a falta de formação continuada e da carência de livros

didáticos, entre outras necessidades.

2.2.1 A temática indígena no livro didático

É notório que o livro didático é um importante recurso utilizado em sala

de aula para tratar dos mais diversos conteúdos, e que é quase sempre por

meio dele que o professor encontra um direcionamento para iniciar suas

atividades em sala, visto como um facilitador ao acesso as mais diversas

culturas e informações e, também, no meio familiar.

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152

O livro didático é o primeiro recurso no qual o indivíduo tem contato,

instigando o aprendizado e o hábito à leitura. “O livro didático é importante

instrumento de apoio ao trabalho do Professor e referência na formação dos

mais de 50 milhões de crianças e adolescentes matriculadas em Escolas

públicas e privadas”.47

Entretanto, a situação na qual se encontra hoje as salas de aulas,

relacionado ao quesito recurso de apoio ao professor, o livro didático está

cada vez mais sendo deixado de lado dando espaço ao uso de outros

recursos mais avançados como as novas tecnologias, no qual os alunos

utilizam de computadores facilitando o acesso aos mais diversos assuntos,

somente por meio de um clique. Pois, no meio virtual pode-se encontrar até

mesmo livros virtuais, vistos como facilitador da aprendizagem.

Além disso, o livro didático aborda os mais variados assuntos em

diferentes disciplinas ou temáticas, contudo, muitas vezes é criticado pelas

suas deficiências nas informações dos conteúdos e erros conceituais. Porém,

é preciso ressaltar que o livro didático é apenas um recurso no qual executa

um papel eficaz no processo educativo envolvendo professor e aluno.

Voltada às diversas temáticas tratadas nos conteúdos dos livros

didáticos, especificamente, destaca-se a História e Cultura Afro-brasileira e

Indígena, no qual é de suma importância no processo educativo do aluno,

mas que em muitas escolas não é valorizada e o estudo é de forma vaga e

resumida. As informações, em sua maioria, são repassadas a partir da visão

do colonizador.

Assim, em quase todas as obras existe a valorização da diversidade

cultural brasileira, mas que atenta somente a participação dos ‘brancos’ na

construção da população brasileira. Segundo Ribeiro (2001, p. 15) “uma

leitura mais atenta desses textos revela a dificuldade dos autores em lidar

com a existência de diferenças étnicas e sociais na sociedade brasileira

atual”.

47 Site: todospelaeducação.org.br (2013).

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153

Ribeiro (2001) faz crítica ao livro didático quando se trata de

conteúdos sobre os indígenas, deixando claro que os estes ressalvam

somente a história concentrado no passado, vendo o indígena como

colonizado. Elenca-se ainda, que a historicidade indígena é acometida

como algo que não evoluiu, armazena ou se transforma, como se estivesse

parado no tempo, lembrados somente pelos eventos da história europeia,

como a chegada dos europeus no território brasileiro, ignorando a

população indígena que já se encontrava aqui.

Por conta disso os conteúdos dos livros didáticos cometem erros

significativos ao desconsiderar a história dos indígenas, onde exclui e limita o

processo histórico brasileiro, provocando assim, o despreparo dos alunos no

conhecimento e aprendizado sobre a presença dos indígenas na atualidade

e também no futuro, levando-os somente ao conhecimento vago de um

passado distante.

Assim, privam os alunos de selecionar informações contundentes a

respeito do contexto em que foram criadas, embora, os meios de

comunicação façam de forma resumida divulgações do cotidiano dos

indígenas no presente.

Portanto, se pode concluir que o fato não é desconsiderar o livro

didático, mas investir na formação continuada dos professores para que

apurem a visão crítica de conteúdos que se apresentam muito mais

preconceituosos do que possa contribuir para aprendizagem significativa

dos alunos.

2.1.2 Diversidade de etnias no Maranhão: povo indígena Urubu-Kaapór

Como já citado, a Lei 11.645/2008 objetiva, também, priorizar

conteúdos voltados aos povos indígenas brasileiros como forma de

conhecer, de uma maneira mais aprofundada, e valorizar o que esses povos

trouxeram e ainda trazem de cultura para a sociedade.

E para que isso aconteça é necessária que em alguns livros didáticos

ocorra a reformulação de conteúdos voltados a historicidade indígena, de

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154

forma que venha contribuir significativamente para que se adquiram

conhecimentos sobre a história e a cultura dos povos que fazem parte da

história brasileira. Por isso, é fundamental o conhecimento e a valorização

das especificidades dos povos existentes no Brasil e, especificamente, os

povos indígenas do estado do Maranhão.

Portanto, segundo os dados da Fundação Nacional do Índio (FUNAI,

2006), o estado do Maranhão possui nove grupos étnicos, totalizando

aproximadamente 15 mil indígenas, onde se dividem em duas famílias

linguísticas, o Tupi-Guarani, abrangendo povos Guajajara, Awá-Guajá,

Urubu-Kaapór, Tremembé e Gamela (em processo reconhecimento) e a

língua Macro -Jê, com os povos Canela Apaniekrá e Ramkokamekrá,

Pukobyê (Gavião) e Krikati.

Elenca-se que grupos étnicos da família linguística Macro-jê

vivenciam manifestações culturais muito parecidas, pois a língua é a forma

mais significativa de expressão de uma cultura, assim, esses povos

apresentam características parecidas como o corte de cabelo, a estrutura

da aldeia e a específica corrida de toras.

Já os povos da família Tupi-Guarani, não possuem muitas

semelhanças, apenas dois grupos, os Tenetehara e os Kaapór são da

mesma família linguística. O modelo das aldeias é comum, entretanto, os

povos Awa-Guajá não se organizam em aldeias, pois não residem por muito

tempo em um só território (FUNAI, 2006).

Tratando dos diversos grupos étnicos indígenas do Maranhão,

evidencia-se o povo Urubu-Kaapór da língua familiar Tupi-Guarani, como já

citado. Os Kaapór, que se autodenominam ‘habitantes da mata’, vivem

em terras que fazem limites com o Rio Gurupi, Rio Turiaçu, o Igarapé do

Meio e paralela à Rodovia BR-316, tendo 530 hectares demarcados pela

FUNAI e homologada pelo decreto n. 88.002 em 1982.

Os Urubu-Kaapor são habitantes da floresta e apresenta todo um

estilo de vida adaptado a mata. Orientam suas atividades por

calendário definido pelos ciclos da natureza, assim como sua

mitologia é elaborada a partir da floresta. Devido a esse fator

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155

mantêm uma distância sociocultural e linguística bastante

acentuada em relação aos regionais (FUNAI, 2006).

Já a estruturação das aldeias é formada por casas grandes sem

paredes e com telhados de palha; dormem em redes com fogueiras acesas

para aquecer as noites frias e cozinhar; o local onde cada casa é construída

depende de decisão do chefe, onde o respeito se constrói por meio de

guerras, pois é vista como uma solução para as desavenças internas;

sobrevivem por meio da caça, pesca e agricultura e com a confecção de

artefatos e artesanatos, como cocares feitos com penas de um pássaro raro,

flautas, trompetes, colares, maracá e redes.

A pintura corporal é feita com jenipapo. Como em todo povo

indígena, existe os rituais de manifestações chamadas de ‘xamanismo’,

onde os indígenas por meio de cânticos, danças, fumo do tabaco, entram

numa espécie de hipnose, no qual fazem invocações dos seus antepassados

(FUNAI, 2006).

A educação escolar ainda é limitada por conta do pouco contato

com a sociedade e é fornecida somente nas Escolas da FUNAI; Posto

Canindé, Aldeia Zé Gurupi, no município de Zé Doca e aldeia Ximborendá,

em Santa Luzia do Paruá, coordenada por missionários que buscam a

evangelização dos Kaapór. Segundo a FUNAI (2006), a escola dos Kaapór

ainda não apresenta características próprias. A escola que tem é no modelo

dos não indígena tanto estrutural como pedagógico.

Tratando da organização familiar, nota-se o envolvimento de parentes

próximos, pois, os Kaapór autorizam o casamento entre primo. E igual a

outros povos Tupi tem como instituição fundamental sua organização –

sociopolítico e econômico.

Portanto, a pesquisa proposta e ora delineada teve como objetivo

adquirir conhecimento sobre os povos indígenas maranhenses em busca da

valorização e da contribuição independente da etnia, pois estes são

precursores da identidade brasileira.

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3 As contribuições indígenas para o Brasil e o mundo

Como já tratado no subtópico: ‘A temática indígena no livro didático’,

a contribuição indígena não é vista como significativa para a formação da

sociedade brasileira, pois muitos os consideram como povos sem nenhum

tipo de civilização e contribuição cultural.

Por conta disso, até alguns indígenas acreditam que para serem

educados é necessário a existência da contribuição dos ‘brancos’ nesse

processo, para que assim os indígenas possam ser inseridos no

desenvolvimento do país. Por isso Baniwa (2006, p. 217) traz questionamentos

em torno do próprio indígena:

Esquecem, ou mesmo ignoram, por força da ideologia incorporada

do pensamento preconceituoso dos brancos, com quantas

tecnologias, conhecimentos e valores os povos indígenas

contribuíram para a construção e a formação do povo brasileiro. Ou

será que se esqueceram de como os primeiros portugueses

aprenderam a sobreviver em terras totalmente desconhecidas?

Então, a primeira contribuição dos indígenas para a construção da

sociedade brasileira foi ensinar aos portugueses, recém-chegados ao

território brasileiro, técnicas de sobrevivência na selva e orientações em

torno de expedições realizadas, sendo guias e serviçais como relatam os

documentos da época. Nota-se assim, que em toda história da civilização

brasileira os indígenas estiveram contribuindo, seja sendo aliados dos

colonizadores na expulsão de outros invasores, bem mais tarde, usados

como escravo seja na agricultura ou extrativismo como mão de obra. Outra

contribuição notável é a miscigenação indígena, branca e negra, na qual

contribuiu tanto no aspecto biológico, como cultural e religioso.

Destaca-se, também, a culinária, na qual se faz uso frequente da

mandioca, na produção da tapioquinha, tucupi e, principalmente, da

farinha, que é originária dos povos indígenas. Além disso, os povos indígenas

contribuem significavelmente com os conhecimentos medicinais para o Brasil

e o mundo, mas que muitas desses conhecimentos estão se perdendo para

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a medicina moderna, pois para alguns médicos a medicina tradicional, por

meio do empirismo, não tem comprovação científica.

Entretanto, ao contrário do que prega a medicina moderna, os

métodos medicinais tradicionais apresentam soluções para variadas

doenças que a ciência moderna não encontra a cura.

Não é gratuito o aumento da atividade de biopirataria em terras

indígenas, praticada por pesquisadores e cientistas do mundo inteiro,

porque sabem das riquezas infinitas que constituem as culturas

indígenas em relação aos seus recursos naturais (BANIWA, 2006, p.

218).

E ainda, os indígenas contribuem também para a preservação das

florestas, pois existem inúmeras biodiversidades nas suas terras. Segundo

Baniwa (2006) pode-se observar por meio de fotos de satélites, que os

territórios indígenas são grandes florestas preservadas, contribuindo assim,

para a diminuição do desequilíbrio ambiental decorrente em todo o mundo.

Quanto à riqueza étnica cultural, os povos indígenas são constituídos

de 222 povos falando 180 línguas, possuindo uma extensa diversidade

cultural e étnica. Então, pode-se observar que os indígenas são os

fundadores da história do Brasil e do mundo e suas contribuições existem por

todo lado e é fundamental para o desenvolvimento cultural, social e

econômico.

Contudo, na história brasileira, a historicidade indígena ainda é muito

ausente, não os considera o seu desenvolvimento e nem que trata de um

povo contemporâneo. Por outro lado os povos indígenas vêm ganhando

espaço, pois estão dispostos a lutar por suas ideias e ter o mesmo direito de

dignidade e autonomia, pois, sabem que lutar por seus direitos não é uma

tarefa fácil, que o preconceito ainda prevalece diante de muitas situações,

por isso é necessário terem estratégias que possam lhe oportunizar a mostrar

suas ações e o benefício que trazem para todos.

Então, podemos citar como exemplo, a preservação da natureza por

parte dos indígenas, pois estes consideram o meio ambiente como

sustentabilidade não só dos bens naturais como os materiais, por isso

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consideram natureza como seu maior patrimônio, isso já é uma grande

contribuição não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro, pois é sabido

que grande parte da população brasileira é responsável pelo o

desmatamento da natureza.

Outro ponto que os povos indígenas lutam é o desenvolvimento

sustentável nas aldeias, pois, ter como garantia os seus territórios não é

suficiente.

O primeiro passo rumo à sustentabilidade é a capacidade de

autogestão territorial, capaz de redefinir o aproveitamento da

diversidade de recursos naturais para o benefício das comunidades,

segundo suas necessidades e seus padrões culturais, e de forma

ecologicamente sustentável (BANIWA, 2006, p.221).

A luta do movimento indígena mostra a superintendência que uma

sociedade fixa para subjetivar o que se planeia, pois, é de suma importância

para os indígenas retomar sua história e mostrar o seu significado desde o

tempo da colonização, mostrando que suas histórias têm princípios

enriquecedores para com a sociedade brasileira e o mundo.

Faz-se necessário enfatizar que a sociedade adquiriu muitos hábitos

indígenas importantes para contribuição e formação do povo brasileiro, as

danças, os nomes próprios de lugares e de pessoas. E, ainda, muitas

conquistas, segundo Baniwa (2006, p.222) “o movimento indígena tem

avançado na luta pela formação acadêmica, e o resultado tem sido um dos

melhores”.

Portanto, a inclusão dos indígenas nas universidades contribui para a

diminuição do desconhecimento que existe no meio acadêmico, – pois para

muitos os indígenas são vistos como alguém incapaz de construir um saber –,

contudo, o conhecimento acadêmico e ocidental de forma nenhuma pode

sobressair o conhecimento tradicional de cada povo indígena.

4 Considerações finais

Com o desenvolver desse artigo foi possível compreender a evolução

que os indígenas vêm construindo ao longo do tempo, onde diversas

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modificações em variados contextos mostram o quanto se tem destacado

no meio social. No entanto, quando se busca a abordagem sobre a história

indígena pode-se perceber a ausência – por parte dos não indígenas – da

importância de sua contribuição para com todos.

Nesse sentido, trabalhar essa temática na Academia, nos faz ter uma

visão diferenciada, no que diz respeito a diversidade dos povos indígenas no

Brasil e no mundo, ou seja, é sempre relevante abordar assuntos que

retratam a história de um povo seja sua origem e/ou seu desenvolvimento.

Em suma, somos sabedores que mesmo com as mudanças que os

povos indígenas vêm adquirindo na contemporaneidade, influenciados pela

tecnologia, principalmente, não deixam de lado os seus costumes, suas

culturas, pelo contrário, sempre prezam pelo legado cultural de seus

ancestrais.

Portanto, por meio dos estudos realizados percebemos o quanto é

importante o conhecimento da temática indígena, pois a mesma

proporciona aos acadêmicos perceberem as contribuições dos povos

indígenas para a sociedade, que até então não eram percebidas desde o

início da história do Brasil, onde os mesmos tinham sua história ocultada e

desvalorizada. Nesse aspecto, busca-se inteirar os futuros profissionais da

educação sobre a questão indígena, para que desta maneira possam

construir um novo pensar a respeito desses povos, melhorando assim a

prática pedagógica.

REFERÊNCIAS

BANIWA, Gersem dos Santos. O Índio brasileiro: o que você precisa saber

sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação,

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. In:

Contribuições dos povos indígenas ao Brasil e ao mundo. LACED/Museu

Nacional, 2006.

CRUZ, Caroline Silva; JESUS, Simone Silva. Lei 11.645/2008: A escola, as

relações étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre

essa temática no PIBID. Natal Rio Grande do Norte: Anpuh, 2013. Disponível

em: <http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 23 out. 2016.

Page 161: Aparecida de Lara Lopes Dias Ilma Maria de Oliveira Silva · A luta dos povos indígenas pela cidadania e igualdade ... Em relação à temática indígena nos dias atuais, percebem-se,

160

RIBEIRO, Darcy. Índios no Brasil 1. In: Passado: os livros didáticos e os índios.

Brasília: Seed, 2001. 96 p. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 23 out. 2016.

OLIVEIRA, João Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A presença

indígena na formação do Brasil. In: Os Índios do Brasil em 1500. Brasília:

Laced, 2. ed. 2006. Disponível em:

<http://novo.more.ufsc.br/livros/inserir_livros>. Acesso em: 11 set. 2016.

Page 162: Aparecida de Lara Lopes Dias Ilma Maria de Oliveira Silva · A luta dos povos indígenas pela cidadania e igualdade ... Em relação à temática indígena nos dias atuais, percebem-se,

161

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162

POVOS INDÍGENAS E DIVERSIDADE CULTURAL – REFLEXÃO A PARTIR DA LEI

11.645/2008 E SUA APLICABILIDADE NO CHÃO ESCOLAR

Camila Roldão dos Santos48

Herlanny Nascimento Lima Araujo49

Wildelane Costa Mendes50

Aparecida de Lara Lopes Dias51

1 Introdução

Este artigo tem como objeto de estudo os povos indígenas, buscando

compreender as diversidades culturais e gerando reflexões, no que se refere

à desconstrução de equívocos que a sociedade dos não indígenas construiu

ao longo do tempo, tendo a Antropologia como porta de entrada para

entender as questões culturais. Nesse sentido, se torna relevante

compreender que os povos indígenas pertencem a várias etnias, que por sua

vez, caracteriza cada povo e suas especificidades.

Assim, nessa discussão, abordaremos as temáticas que envolvem os

povos indígenas, enfatizando contemporaneidade. Portanto, está

organizado em tópicos e subtópicos aonde se trata da Lei 11.645/2008, a

diversidade cultural indígena, a pesquisa de campo, o contexto desses

povos no livro didático, as especificidades dos povos indígenas maranhense,

enfatizando a etnia Guajajara e as contribuições dos indígenas para o Brasil

e o mundo à luz principalmente dos autores: Thomaz (1995), Oliveira e Freire

(2006), Silva e Grupioni (1995), Ribeiro (2001) e Luciano (2006) os quais tratam

das temáticas relacionadas aos povos indígenas.

2 Breve entendimento sobre os povos indígenas: conhecendo a lei

11.645/2008 e a diversidade cultural indígena

A cultura pode se manifestar de inúmeras maneiras, e se caracteriza

pelo modo de como as sociedades se vestem, os tipos de comidas, o modo

48 Acadêmica do V período de Pedagogia da FEST. E-mail: camila.roldã[email protected] 49 Acadêmica do V período de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 50 Acadêmica do V período de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected] 51 Profa. orientadora/doutoranda em História: curso de Pedagogia da FEST. E-mail: [email protected]

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163

de ser e se manifestar, seja pelo credo, cosmologia, principalmente, pela

língua materna. Não sendo estática, se diversifica com o passar do tempo e

de acordo com o contexto cultural.

De acordo com Thomaz (1995, p.426), “a diversidade das

manifestações culturais se estende não só no tempo, mas também no

espaço”. A cultura é bastante importante nas organizações das sociedades,

pois ela nasceu da necessidade do homem em dar significado para seu

modo de viver, pensar e de se organizar.

Podemos entender a cultura como um código simbólico - código

que possui uma dinâmica e uma coerência interna é compartilhado

pelos membros de uma dada sociedade ou grupo social, e que,

mediante um procedimento antropológico, pode ser decifrado e

traduzido para membros que não pertencem a este grupo. É

importante lembrar que este código simbólico não é algo dado

como, por exemplo, o código genético dos indivíduos (THOMAZ,

1995, p. 427).

Nessa perspectiva, a cultura é fundamental para o compartilhamento

de saberes entre uma mesma sociedade ou sociedade diferente, pois a

mesma é um modo de vida, vivido ou criado, não é, nem deve ser algo

imposto. A cultura é importante para os povos devido ao sentido que dá a

existência, em determinado contexto, e em determinadas épocas.

Dentro dessa ótica estão as culturas dos povos indígenas. Culturas,

porque esse povo não é homogêneo, assim caracterizam-se por mais de 180

línguas diferentes, por formas diferentes de se organizar e pensar. Por isso é

de suma relevância a desconstrução da denominação desses povos como

“índio”.

Essa generalização de uma visão limitada dos povos indígenas surge a

partir de visões transmitidas culturalmente, primeiramente dos portugueses,

ao vê-los como um único povo e ao impor o processo de catequização a

esses povos.

A incapacidade dos portugueses em subjugar alguns grupos

indígenas contribuiu para identificar genericamente os índios hostis

como “Tapuios”. Tal identidade ocultava as iniciativas indígenas, os

processos socioculturais intertribais de aliança ou conflito com

colonizadores (OLIVEIRA e FREIRE, 2006, p.22).

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Oliveira e Freire (2006) mencionam que historicamente os

colonizadores contribuíram com a visão etnocêntrica em relação à cultura

dos povos indígenas concepção precisa ser desconstruída. Muitas décadas

já se passaram, no entanto, há ainda quem veja os povos indígenas como

‘preguiçoso’ ou ‘índio é tudo igual’. Há ainda aqueles que não consideram

as culturas indígenas ou desconhecem que cada especificidade da cultura

indígena tem seu significado. Consequentemente, não respeitam a cultura

do outro, esta visão a Antropologia denomina de etnocentrismo.

Segundo Thomaz (1995, p. 431) “O etnocentrismo consiste, pois, em

julgar como "certo" ou "errado", "feio" ou "bonito", "normal" ou "anormal" os

comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos a partir dos

próprios padrões culturais”.

Considerando que a Antropologia é a área do saber que procura

compreender as diferentes culturas, o etnocentrismo consiste em considerar

uma cultura como única e verdadeira. Portanto, entende-se que o

etnocentrismo é a não aceitação de outra cultura.

Em relação ao direito do outro ser diferente, falar diferente, viver

diferente, pensar diferente, do jeito dele (SILVA; GRUPIONI, 1995), acredita-se

que o respeito cabe muito dentro dessa frase, o conhecer o outro, entender

o porquê e o significado que tem esse, ’ser diferente, esse viver diferente,

esse pensar diferente’ e saber da importância que tem para o “outro” ser do

jeito dele. É comum o estranhamento, o que não se pode aceitar é o

aumento da violência decorrente da falta de respeito e desumanidade em

relação às culturas diferentes, entre muitas, as dos povos indígenas.

2.2 Lei 11.645/2008 e relato da pesquisa de campo

A escola por ser um espaço social é um lugar onde se encontra uma

sociedade com culturas e visão de mundo diferente, mas, que

independente das diferenças, os dois são indissociáveis. E decorrente disso,

se faz necessário que a educação faça sua parte, no que diz respeito ações

que promovam a construção de conhecimentos significativos.

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165

A esse respeito, foi aprovada em 10 de março de 2008 a Lei

11.645/2008 que vem afirmar no Art. 26: “Nos estabelecimentos de ensino

fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o

estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. E nos parágrafos

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá

diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a

formação da população brasileira, a partir desses dois grupos

étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a

luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e

indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade

nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,

econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos

povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o

currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de

literatura e história brasileira (BRASIL, 2008).

Sendo esta lei, uma das conquistas do povo afro-brasileiro e indígena,

consideramos que a partir desta, haja respeito e reconhecimento das suas

histórias mais claras e amplas para que possa ocorrer uma visão significativa,

desmistificando o olhar negativo e discriminatório.

Nesse sentido, vale ressaltar a importância do conhecimento do

professor quanto ao conteúdo a ser trabalhado, fazendo com que se

intensifiquem os conteúdos presentes nos livros didáticos, utilizando de

recursos didáticos que fortaleçam a compreensão da temática trabalhada.

Diante disso, foi realizada em uma escola pública de Imperatriz-MA,

especificamente no 5º Ano do Ensino Fundamental, uma entrevista a fim de

averiguar como é trabalhado tanto pela gestão da escola como pelo

professor as questões das diversidades indígenas e suas contribuições sociais,

econômicas e históricas do Brasil. Para tanto, esta pesquisa teve como

objetivo verificar como se dá a aplicabilidade da Lei 11.645 que garante a

inclusão do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.

No contato com a gestão foi questionado sobre como estaria

contemplando as determinações da lei. A mesma afirmou que a escola, nas

suas ações, procura desenvolver da melhor forma possível as temáticas

relacionadas aos afro-brasileiros e indígenas. Em seguida, perguntamos quais

atividades desenvolvem. A gestora enfatizou que a melhor forma de

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166

trabalhar a temática é por meio de projetos, onde são elaborados e

colocados em prática pelos alunos juntamente com a comunidade.

Trabalham também com palestras, uma vez que todos participam.

Por conseguinte, entrevistamos o professor do 5º Ano, que em primeiro

instante foi questionado se o mesmo tem conhecimento da Lei 11.645/2008.

Este confirmou o que a gestora já tinha afirmado que a lei incentiva a

aplicação e desenvolvimento de temas da cultura afro-brasileira e indígena.

Por conseguinte, questionamos em quais disciplinas o professor trabalha

temas relacionados aos indígenas. O mesmo respondeu que trabalha com a

disciplina de literatura onde são abordados os temas relacionados aos

indígenas, na qual acredita ser muito importante por fazer referência a Lei.

E por fim, perguntamos quais métodos e recursos pedagógicos eram

utilizados nas suas aulas para trabalhar a cultura indígena. O professor

mencionou trabalhar recursos didáticos diversos, utilizando imagens, vídeos,

jogos de slides, tentando mostrar da melhor maneira que a cultura deles não

se difere das demais.

Portanto, a partir da pesquisa se confirmou o que estudamos na teoria

– disciplina História e Cultura dos Povos Indígenas brasileiros – e foi importante

para que compreendêssemos, no âmbito da educação básica, um ensino

voltado a democratização da sociedade, exaltando o respeito e o

reconhecimento, principalmente, das temáticas indígenas.

2.2.1 O contexto indígena no livro didático

O livro didático é de fundamental importância como forma de

informações a respeito de outras culturas e povos diversos. Pois é no livro

didático que os alunos encontram a origem da nossa sociedade brasileira e

como foi se desenvolvendo até os dias de hoje.

No entanto, em alguns livros ainda trazem a história dos indígenas

numa abordagem ultrapassada atada no passado e, às vezes, de forma

errada e inventada. O Brasil é constituído por três matrizes étnicas: brancos,

negros e índios, no entanto, os livros revelam déficit ao abordar sobre a

diversidade étnica e cultural, não dando importância em atualizar os livros

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167

para que os professores e alunos tenham suporte de materiais na

desmistificação de preconceitos.

Outro mecanismo de simplificação consiste em apresentar de forma

isolados e fora de contexto documentos históricos que falam a

respeito dos índios. Assim, cartas, alvarás ou relatos de cronistas e

viajantes são oferecidos como testemunhos do passado, mas de

forma fragmentada, recortados e às vezes até adulterados. Não se

fornece ao aluno instrumentos para que ele possa filtrar as

informações e compreendê-las dentro do contexto em que foram

geradas (RIBEIRO, 2001, p. 16).

O aluno ao ter familiaridade com livros que não proporcionam um

contexto histórico real dos indígenas podem ser instigados a considerá-los

como uma referência ao passado, ou seja, podem imaginar que os

indígenas já não fazem mais parte do presente, de modo que também

resultará no ‘etnocentrismo’ que nada mais é, do que persuasão de que o

grupo étnico a que pertence é melhor do que a de todos os outros ou o

contrário.

Assim, os livros se mostram deficientes ao tratara diversidade étnica e

cultural existente no Brasil, dos tempos da colonização aos dias

atuais, bem como a viabilidade de outras ordens sociais.

E é com esse material equivocado e deficiente, baseado em

pressupostos ultrapassados, que professores alunos têm encontrado

os índios na sala de aula (RIBEIRO, 2001, p. 19).

Entretanto, diversas medidas ocorreram e ainda acontecem, para que

exista uma valorização dos afrodescendentes e indígenas. Em face de que

ambos fazem parte da constituição social, econômica desde a colonização

do Brasil.

3 Povos indígenas maranhense e suas especificidades

Sabe-se que os povos indígenas do Brasil, desde a colonização, têm

vivido séculos de lutas e resistência como forma de valorizar sua cultura e

não deixá-la desaparecer. Esses povos, muitas vezes apontados e

generalizados como um único povo, mostrou através de lutas que há uma

grande diversidade cultual, religiosa, de língua que impera em cada grupo

indígena.

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É evidente que as sociedades indígenas compartilham um conjunto

de características comuns – são essas que características que as

diferenciam de nossa sociedade e de outros tipos de sociedades.

Mas, ao mesmo tempo, elas são extremamente diversificadas entre si

cada uma habita uma área ecológica distinta tem sua lógica

própria e sua história especifica, tendo experimentado situações

peculiares de contato e troca com outros grupos humanos (RIBEIRO,

2001, p.18).

Nessa perspectiva, se faz necessário conhecer sobre a cultura dos

povos indígenas para que se compreendam suas diversidades. Os povos

indígenas do Maranhão são exemplo dessa diversidade.

Existem no Maranhão nove povos indígenas, porém, dois desses povos,

os Gamela e os Tremembé, ainda lutam pelo reconhecimento de seus

direitos. De acordo com o site sócio ambiental a luta judicial tem como

objetivos as questões territoriais, reconhecimento diante do Estado Nacional

de sua existência, entre outras questões.

Os outros sete povos mais conhecidos do Maranhão são os Guajajara,

Urubu-Kaapór, Awá-Guajá, Krikati, Canela Ramkokamekrá, Canela

Apanyekrá e Gavião, todos com uma histórica vida de lutas em comum,

porém com rituais, crenças e língua distintas.

Os povos indígenas presentes no Maranhão são distribuídos em dois

grandes grupos: os Tupi-Guarani e os Macro-Jê. Essa distribuição dá-

se com base na classificação linguístico-cultural utilizada para

identificar e caracterizar as línguas e culturas indígenas presentes no

Brasil.

Os grupos que se caracterizam pela língua materna Tupi-Guarani são

os Guajajara, Kaapór e Awá-Guajá. Estes apesar de ter a língua Tupi em

comum, se caracterizam por suas diversidades de localização, de religião,

crença, organização social, entre outros.

Os povos Awá-Guajá, na esfera religiosa, há uma participação

complementar entre homem e mulher. Já os Guajajara e os Kaapór

compartilham da mesma crença o Xamanismo52.

1 Xamanismo, acredita-se que, tempos, atrás, poderosos xamãs tinham extraordinário poder sobrenatural, essencialmente os de omnisciência – o conhecimento e a antevisão de tudo. Isso, no entanto, só era possível mediante a ajuda das almas (os recém-mortos), que em sua maioria foram grandes xamãs enquanto vivos. Os bons xamãs convocavam uma alma que lhes diz tudo o que precisam saber.

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169

O outro grupo que se fazem semelhantes por falar a língua materna

Macro-jê são os Krikati, Canela e Gavião. Este tem sua distinção pela

localização. Os Krikati e os Gavião tem modos de vida semelhantes, pois

baseia-se em ciclo anual onde tem as festas e rituais como marca para

cada passagem.

Dentre os povos indígenas do Maranhão, os Guajajara são os que

estão em maioria tanto no Brasil quanto no Estado do Maranhão.

Todas as terras Indígenas habitadas pelos Guajajara estão situadas

no centro do Maranhão, nas regiões dos rios Pindaré, Grajaú, Mearim

e Zutiua. São cobertas pelas florestas altas da Amazônia e por matas

de cerrado, mais baixas sendo estas matas de transição entre as

florestas amazônicas e os cerrados (SOCIO AMBIENTAL, 2002).

Este povo é marcado por uma série de características que marcam

sua cultura de forma consistente, além das pinturas corporais, artefatos e

artesanatos para os fins lucrativos, os rituais são bem frequentes e

acompanham diretamente o ciclo de vida dessas pessoas. Os rituais seguem

o ciclo de vida e, um exemplo em particular, são os das meninas,

considerados os mais vistosos e com valiosos significados.

Dado o exposto, percebe-se que a diversidade cultural entre os povos

indígenas está praticamente em cada ação, história, significado que cada

povo dá à sua prática. Nesse sentido, é importante que o povo não indígena

passe a ter um contato de conhecimento e valorização sobre a cultura dos

povos indígenas.

Conhecer é o passo que se deve dar para que se tenha uma

compreensão da contribuição dos povos indígenas para a construção do

Brasil. Valorizar, porque é chegada a hora de reconhecer que todos fazem

parte de uma mesma história.

4 Compreendendo sobre as contribuições indígenas para com o Brasil e o

mundo

A história real do Brasil não é descrita em livros didáticos. Não

apresenta na sua maioria, qualquer subsídio significante e expressivo sobre

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importância que os indígenas tiveram e tem no desenvolvimento do povo

brasileiro.

Não relatam de forma clara nos livros didáticos, que os portugueses

escravizaram os indígenas para que pudessem sobreviver na floresta diante

dos perigos que ela poderia oferecer, além disso, nem sequer como os

indígenas informaram aos portugueses as maneiras de sobrevivência

naquele mundo para eles desconhecidos. No decorrer de toda a sequência

dos fatos da colonização brasileira, os povos indígenas permaneceram

evidentes, às vezes como mão de obra escravista cultivando as terras e

animais, outras vezes brigando junto aos portugueses na evacuação de

diversos invasores estrangeiros que tentavam invadir o Brasil.

Dentre as diversas contribuições dos indígenas para o desenvolvimento

do povo brasileiro, podem-se citar as culturas existentes, pois há 222 povos

étnicos no Brasil falando 180 línguas, mostrando assim amplo vocábulo da

língua portuguesa, como nomes de lugares, cidades e ruas.

Pode-se mencionar também, a culinária indígena frequente em nossas

mesas como: a farinha, o tucupi e diversos produtos da mandioca. Além

disso, outros aspectos imensamente importantes para o Brasil e o mundo

como a medicina tradicional indígena. De acordo Luciano (2006, p. 218):

Alguns estimam que os índios do Brasil já chegaram a dominar uma

cifra de mais 200.000 espécies de plantas medicinais. Muitos delas

estão se perdendo antes mesmo de serem descobertas pela ciência

moderna. Ao contrário do que muitos médicos pregam, a medicina

tradicional possui um valor incalculável ainda a ser descoberto e

explorado pela medicina moderna, desde que a arrogância dos

cientistas ceda lugar ás possibilidades de novas descobertas sobre os

mistérios da natureza e da vida, como pregam e vivem os povos

indígenas.

Toma-se conhecimento, então, que as contribuições dos indígenas

para o desenvolvimento do Brasil são diversas. Nesse aspecto, é preciso que

se tenha um olhar nacional e mundial dessas contribuições, inclusive, no

avanço socioeconômico do Brasil.

Outro fator existente é a luta dos indígenas pelo direito de dignidade e

liberdade, pois até os dias de hoje são vistos como algo do passado.

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Observa-se frequentemente o preconceito acerca desses povos, os quais

sabem que terão que brigar muito para que seus direitos sejam

reconhecidos. No entanto, os povos indígenas são cientes de que para

conseguir desenvolver seus projetos de melhoria de condição de vida, será

necessário que o Estado brasileiro desenvolva políticas públicas que os

ampare nestas lutas.

Alguns dos projetos e maneiras que o povo indígena luta na intenção

de serem concretizados é o ‘projeto etnopolítico’ que tem como objetivo

assegurar a variedade sociocultural desses povos, como também, amparar a

saúde, educação e preservação da terra e do meio ambiente.

Luciano (2006) esclarece que há mais um desafio referente a

autogestão territorial, que seria como sistematizar as atuações de instituições

governamentais dos três níveis federal, estadual e municipal e, acrescenta-se

ainda, as não- governamentais que operam nas terras indígenas, pois a

sugestão em construção é transformar as terras indígenas em Distritos

Especiais Indígenas que seriam unidades administrativas, com autonomia de

gestão orçamentária e de planejamento em nível de atuação, como já

acontece nos países latino-americanos, como México, Paraná e Bolívia.

O povo indígena também batalha pela formação acadêmica, no

intuito de mudar o olhar etnocêntrico em todas as esferas, seja da dimensão

social, política, econômica dos não indígenas. Também solicitam formação

‘político e técnico’ para os grupos indígenas, para que possam adquirir

aptidões e capacidades que os qualifique para compreender o mundo

ocidental atualizado e universal, e assim desenvolver seus projetos

socioambientais, como também continuarem a lutar pelos projetos que

estão em andamento, como o projeto de Parlamento Indígena, que visa à

participação dos 222 povos indígenas do Brasil, para que possam ter os

mesmos direitos de escolhas de seus representantes na câmara de

deputados e no senado (LUCIANO, 2006).

Em face dessa realidade, pode se perceber que os indígenas no Brasil

têm bastantes obstáculos a serem superados, mas muitos desses obstáculos

já foram superados ao longo de sua imensa história, e se fazem presentes em

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nossa atualidade como a nova geração de estudantes indígenas que estão

tomando a frente à cerca de seus direitos como cidadão a favor de todos

os povos indígenas brasileiros.

5 Considerações finais

Neste trabalho buscou-se compreender os povos indígenas a partir de

suas diversidades culturais e suas especificidades, proporcionando o

entendimento para a importância e a contribuição dos povos indígenas

para a sociedade.

Ressalta-se o conhecimento e a compreensão da Lei 11.654/2008, na

qual foi possível entender sobre o ensino obrigatório da História e Cultura

Afro-brasileira e Indígena nos estabelecimentos de ensino. E a partir dessa

premissa, foi realizada uma pesquisa em uma escola pública de Imperatriz-

MA, onde obtivemos êxito na sua realização, pois é trabalhado

constantemente para a obtenção de resultados positivos quanto à

aplicabilidade da Lei 11.654/2008.

Além disso, percebeu-se a importância dos livros didáticos por ser uma

forma de transmitir informações a respeito de outras culturas e povos

diversos, no entanto, se confirmou que esses tratam da história dos indígenas

de maneira ultrapassada, trazendo somente a historicidade do passado, não

mostrando a realidade.

Na discussão ora delineada, na qual contemplou a temática indígena,

se pode desenvolver um olhar diferenciado para aquilo que é diferente,

nesse aspecto, foi importante porque além de apurar a nossa visão, tivemos

a oportunidade de visitar uma aldeia e pesquisar sobre alguns povos

específicos da nossa regional. Em suma, considera-se que ainda tem muito a

se discutir sobre essa temática, ficando aberto para quaisquer outras

contribuições.

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REFERÊNCIAS

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moram e como convivem? 2014. Disponível em:

<http://www.barradocorda.com>. Acesso em: 23 set. 2014.

LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio brasileiro: O que você precisa saber

sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. In: Contribuições dos povos

indígenas ao Brasil e ao Mundo. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria

de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu

Nacional, 2006.

OLIVEIRA, João Pacheco de. FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A Presença

Indígena Formação do Brasil. In: O imaginário sobre os indígenas no século

XX – Brasília: Ministério da Educação. Secretaria da Educação Continuada.

Alfabetização e Diversidade: LACED/Museu. Nacional, 2006.

RIBEIRO, Darcy. Índios do Brasil. In: Passado: os livros didáticos e os índios.

Brasília MEC, SEED SEF, 2001: il - (Cadernos da TV Escola, ISSN 1517.2333).

SILVA, Aracy Lopes. GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.): A temática indígena

na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus/Brasília,

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SOCIOAMBIENTAL. Povos indígenas do Maranhão, 2002. Disponível em:

<https://pib.socioambiental.org> Último Acesso em: 22 nov. 2016.

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IDENTIDADE INDÍGENA: UMA ANÁLISE NA CONCEPÇÃO DO IMPERATRIZENSE

ACERCA DA CULTURA INDÍGENA53

KllenneLys Silva Bastos54

Tatiane Brandão Vieira55

Ilma Maria de Oliveira Silva56

1 Introdução

Pensar na identidade dos brasileiros é reconhecer que a cultura

Brasileira está intrínseca com a cultura indígena, partindo do pressuposto de

que o Brasil não foi descoberto, pois já havia habitantes nestas terras antes

da chegada dos europeus. Contudo, as imagens construídas socialmente ao

longo do tempo, acerca dos povos autóctones, são de povos deu uma

cultura única, atrasada, pessoas preguiçosas, bárbaras, protetores da

natureza, entre outros adjetivos.

Assim sendo, essas formas de pensar os povos indígenas ainda são

fortes em nossa sociedade. Essa realidade demonstra, desse modo, que a

história da sociedade brasileira é ensinada, nas escolas, pelo viés do

colonizador, uma história onde não existe espaço para os negros, índios e

pobres, haja vista que é uma história vista de cima, da elite. De acordo com

Freire (2000), se nós não tivermos um conhecimento correto sobre a história

indígena, quanto ao que aconteceu na relação com os índios, não

poderemos explicar o Brasil contemporâneo.

Por conseguinte, foi a partir das discussões na disciplina de História e

Cultura Indígena dos Povos brasileiros, no curso de Pedagogia do UEMASUL,

e visitas técnicas em duas aldeias (São José e Guajajara) que surgiu,

portanto, o interesse em pesquisar sobre a concepção do que é ser índio e

sua contribuição na formação brasileira, a partir da percepção de cidadãos

53 Artigo apresentado à disciplina de História e Cultura Indígena dos Povos Brasileiros 54 Acadêmica do VII período do curso de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 55 Acadêmica do VII período do curso de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 56 Profª Orientadora: Doutoranda em História Ilma Maria de Oliveira Silva, da UEMASUL. E-mail: [email protected]

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e cidadãs de Imperatriz. Assim, para a realização dessa pesquisa, buscamos,

nos aprofundar, teoricamente, por meio dos estudos de Baniwa (2006);

Bittencourt (2004); Freire (2000); Grupioni (2000); Laplantine (1999); Lima

(2011); Santos (2004) e Silva (1989).

Desse modo, a pesquisa de campo foi realizada com cinco pessoas. O

critério para seleção dos informantes foi o nível de escolaridade. Assim,

temos, nesta pesquisa, fala de uma pessoa não escolarizada, outra possui,

apenas o Ensino Fundamental (Anos Iniciais), outra possui o Ensino

Fundamental (Anos Finais), outra possui Ensino Médio e outra que tem

graduação concluída. Nesta sequência foram nomeados, portanto, de E1,

E2, E3, E4 e E5. Logo os diferentes níveis de escolaridade oportunizaram fazer

uma análise da contribuição da escola na construção dos conceitos

formulados por cada um. Quanto ao entrevistado que não frequentou a

escola, todavia, buscamos analisar as ideias veiculadas na sociedade sobre

os indígenas e como estas o ajudou a elaborar seus próprios conceitos.

Utilizamos, desse modo, como instrumento de coleta de dados, a entrevista

semiestruturada.

Para a realização das entrevistas, aplicamos três questões norteadoras,

sendo estas: qual a descendência indígena que tem cada indivíduo

brasileiro; características da cultura indígena que podem ser identificadas no

cotidiano; qual concepção de cultura indígena e que percepção identitária

com essa cultura.

Assim, o período de construção teórica deste estudo deu-se a partir do

mês de agosto até dezembro. Além disso, as visitas técnicas às aldeias foram

realizadas em outubro e novembro e as entrevistas foram feitas, também, em

novembro, estendendo-se até o mês de dezembro de 2016.

Desse modo, a partir da temática e dos aportes teóricos buscamos

neste artigo, analisar o conceito de cultura, discutir sobre a imagem refletida

nos livros didáticos dos povos indígenas e, por fim, relatar a concepção dos

entrevistados quanto à concepção que possuem de identidade com a

cultura indígena.

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2 Os povos indígenas brasileiros: um caminhar pela história

Quando os portugueses chegaram ao Brasil há 516 anos, encontraram

povos que aqui moravam, os quais eram os donos das terras brasileiras, visto

que já tinham sua estrutura cultural, familiar, religiosa, entre outras formas de

organização sociais estabelecidas. Além disso, esses povos não

necessitavam de auxílio financeiro, cultural e nem social para darem

sequência ao seu estilo de vida que fora invadido sem ao menos lhes

pedirem permissão.

Assim, o indígena foi visto, pelos europeus, como possibilidade de mão

obra escrava, sem ao menos pensar na probabilidade de resistência que

estes povos poderiam apresentar. Para Grupioni (2000, p. 105) a

[...] escravidão indígena desempenhou um papel de grande

impacto não apenas sobre as populações nativas como também na

constituição das sociedades e economia coloniais. [...] Ao mesmo

passo, porém, os cativos, deslocados de suas aldeias e terras para as

unidades de produção e aldeamento coloniais, viam-se obrigados a

recompor suas vidas e sua identidade dentro deste novo contexto.

A invasão dos europeus em terras brasileiras trouxe, portanto, várias

situações aos povos indígenas, haja vista que tiveram que repensar suas

vidas a partir das novas relações. Mesmo vivendo de forma cativa e escrava,

estes sempre apresentaram resistência e protagonismo. Desse modo, aos

meados do século XVl, quando os colonizadores portugueses começaram a

intensificar suas atividades econômicas ao longo do litoral, como relata

Grupioni (2000, p. 105), havia a intenção de liderar de forma militar e forçar a

mão de obra cativa para a produção açucareira.

Por conseguinte, partindo dos conflitos já existentes, a partir do

processo de escravização, surgiram divergências entre os povos indígenas e

os colonizadores. Dessa maneira, os índios desenvolveram estratégias que

visavam forjar um espaço para uma sobrevivência um pouco mais digna e

humana, tendo em vista as condições de vida precárias em todos os

aspectos oferecidos aos cativos. Assim, para lutarem contra a extinção,

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178

[...] os índios resistiam à ordem a que estavam submetidos de todas

as maneiras possíveis. [...] Fugindo do cativeiro, furtando de seus

senhores e vizinhos, invadindo propriedades, negociando produtos

livremente, os índios buscavam estabelecer independência de ação

frente à estrutura escravista (GRUPIONI, 2000, p. 115).

Notamos, portanto, que os povos indígenas foram e são alvos de

extermínio, embora nunca tenham se deixado vencer, pois sempre foram à

luta para defender seu modo de viver. Ademais, muitos povos se empenham

em preservar a maneira de se organizarem socialmente. Logo, para

assegurarem seus direitos, principalmente, no que diz respeito à liberdade,

[...] no início do século XVlll, os índios começaram a conscientizar-se

das vantagens do acesso à justiça colonial, sobretudo com respeito

à questão da liberdade. [...] os próprios índios passaram a ser

frequentes autores de petições e litígios. Afinal de contas, como todo

mundo sabia, o cativeiro dos índios era notoriamente ilegal.

(GRUPIONI, 2000, p. 117).

É, sobretudo, relevante conhecer como se dá o modo de organização

dos povos indígenas, tendo em vista que todos somos parte e uma única

nação tendo os mesmos direitos e deveres. De acordo com os registros

históricos, no século XVII e século XVlll, o índio ficou esquecido, não sendo

citado como parte integrante da história. Hoje, todavia, os povos indígenas

são presentes e se fazem expostos na História, reivindicando seus direitos e o

respeito à diferença no modo de ser, pensar e agir de cada povo.

3 O espelho que não reflete a realidade

As escolas da educação básica, em nosso país, são reféns dos livros

didáticos que por sua vez, são elaborados sem a participação das

universidades e professores. Assim, a responsabilidade dos conteúdos destes

livros é restringida apenas às editoras.

Assim sendo, a partir das análises feitas nos livros didáticos do Ensino

Fundamental, constatou-se que não há espaço para questionamentos dos

alunos, pois as afirmativas são contundentes, sempre colocando os

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179

portugueses como superiores aos povos indígenas. Percebemos também

que o primeiro contato com o povo desconhecido, descrito por Pero Vaz de

Caminha em uma carta escrita ao rei de Portuga detalhando a forma como

aconteceu este encontro:

Dali avistamos homens que andavam pela praia. Eram uns sete ou

oito. O capitão mandou Nicolau Coelho ir à terra para ver aquele rio.

E quando chegou mais perto dela, encontrou dezoito ou vinte

homens. Eram pardos e estavam nus, sem qualquer coisa que

cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos e flechas nas mãos. Vinham

todos em direção ao barco (LIMA, 2001, p. 45).

Notamos, portanto, que é esta imagem que é passada para as

crianças até os dias atuais. Em vista disso, a imagem indígena repassada

para os brasileiros, desde a antiguidade, refere-se ao fato de que o índio não

se veste, mora em oca, utiliza como arma apenas arco e a flecha e, ainda,

usa o adorno conhecido por cocar em todas as ocasiões.

Observamos que a imagem do índio é referida a uma visão atrasada,

congelada, primitiva que não acompanhou a evolução dos tempos e

permanece até hoje como se o tempo não tivesse passado para eles. Em

consequência disso, são ocasionados alguns equívocos na mente dos

alunos, pois, quando se deparam com um índio pessoalmente percebem

que não é da mesma forma que lhes foi passado na escola. Diante disso,

Freire (2000) afirma que é importante discutir essas ideias equivocadas

porque com elas não é possível entender o Brasil atual.

Ademais, a falta de conhecimento sobre a formação do povo

brasileiro e a contribuição dos povos indígenas, neste processo, está

presente nas universidades e poucas são as discussões a respeito da

temática. A exemplo disso, as gravuras representadas abaixo, diante do

questionamento “qual a imagem que temos dos indígenas, no primeiro dia

de aula da disciplina “História e Cultura dos Povos Indígenas”, nos remete a

pensar o indígena que aprendemos no Ensino Fundamental: o índio

generalizado, primitivo, protetor das florestas, que anda nu e de cocar.

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Figura 1: Ocas e flechas Figura 2: Artefato

Fonte: arquivo pessoal Fonte: arquivo pessoal

É notável, portanto, que os indígenas foram estereotipados como

genéricos, com cultura única, congelada no tempo, atrasada e primitiva.

Assim, a História se encarregou de disseminar este pensamento e tratá-los

como povos que viveram no passado.

Outrossim, as atividades propostas nos livros didáticos permanecem,

ainda, reforçando características negativas relacionadas aos usos e

costumes, à religião e ao modo de vida em geral destes povos, não levando

em consideração que muitos costumes são utilizados pela sociedade que se

considera ‘evoluída’. De acordo com Bittencourt (2004, p. 313), “o livro

didático tem sido o principal responsável pela concretização dos conteúdos

históricos escolares”, todavia, não tem dado a devida ênfase à história e

cultura indígena de uma forma clara, abrindo espaços para as discussões,

tendo em vista que apresenta a história de forma estática, dificultando a

compreensão dos alunos ao relacionarem os fatos históricos à sociedade da

qual fazem parte.

É aí que o Brasil mostra a sua cara. Nesse sentido, tentar

compreender as sociedades indígenas não é apenas procurar

conhecer “o outro”, “o diferente”, mas implica conduzir as

indagações e reflexões sobre a própria sociedade em que vivemos

(FREIRE, 2000, p.10).

Para vivermos em sociedade, há a necessidade de estabelecermos

modos, símbolos, códigos e outros termos para darmos significado às nossas

ações cotidianas. Esses símbolos ou modos de vida são o que formam a

cultura de um povo ou um grupo de pessoas, como afirma Silva (1989, p.3):

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Esta construção, por grupos sociais específicos, de um mundo de

significados compartilhados pelos seus membros, é o mecanismo

básico através do qual as culturas são produzidas. Este mundo de

significados forma um conjunto, um código.

Assim, um dos elementos importante para a construção da identidade

de qualquer povo é a língua. Em vista disso, é por meio desta que as

experiências vivenciadas pelos antepassados podem ser transmitidas às

novas gerações, o trabalho é organizado, a religião, as músicas, entre outros

modos são passados aos membros da comunidade.

4 Uma experiência de vida

Com o objetivo de analisar a concepção de pessoas que atuam em

vários setores da sociedade e com níveis de escolaridade distintos,

entrevistamos cinco pessoas, as quais estão nomeadas da seguinte forma:

sem escolaridade (E1); Ensino Fundamental Anos Iniciais (E2); Ensino

Fundamental Anos Finais (E3), Ensino Médio (E4) e Graduação (E5).

Questionados se se consideram descendentes dos povos indígenas,

obtivemos as seguintes respostas:

Você se considera descendente indígena?

E1 Não, porque sou negro.

E2 Não me considero descendente indígena, tenho a pele branca.

E3 Sim, sou bisneto de índia, mas não sei de qual tribo ela pertencia e nem quero

saber.

E4

Não me considero descendente indígena, pois tenho a pele branca e olhos

verdes.

E5 Não me considero descendente indígena pela genética, mas sim pela consciência

adquirida historicamente.

Fonte: Pesquisa de campo 2016.

Desse modo, com o intuito de constatar se os entrevistados se

consideram descendentes indígenas, percebemos, por meio de suas

respostas, que não sabem e não aceitam uma história descolonizadora.

Embora o E3 tenha declarado ser descendente biologicamente, nega de

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forma grosseira a possibilidade de conhecer sua própria história como se se

aproximar dela fosse trazer mancha na sua vida, deixando, portanto, bem

clara sua não aceitação. Além disso, vista em uma dimensão mais

abrangente, verificamos que esta ideia de negação permeia a mentalidade

da maioria dos brasileiros, tendo em vista que os povos indígenas foram

forçados a negar as suas identidades. Freire (2000) argumenta que se nós

não tivermos um conhecimento correto sobre a história indígena, sobre o

que aconteceu na relação com índios, não poderemos explicar o Brasil

contemporâneo.

Portanto, é visível que na contemporaneidade ainda é negada pelos

próprios brasileiros, a pertinência da descendência indígena na formação

étnica da história do Brasil.

Insistindo na participação dos povos indígenas na formação da

sociedade brasileira e seus rastros no nosso cotidiano, questionamos se os

entrevistados conseguiam identificar isto no seu dia a dia. Adquirimos as

seguintes respostas:

Você identifica alguma característica da cultura indígena em seu cotidiano? Qual/Quais?

E1

Não sou nascido aqui em Imperatriz, mas moro aqui desde a minha infância. Claro

que sim, em todos os meus modos de viver porque sempre que posso vou para o

mato caçar e pescar e o meu meio de vida é a minha hortinha.

E2

Sim, como ainda sou criança e gosto de brincar, percebo que nas aldeias as crianças

índias e índios brincam com muita liberdade e inventam suas próprias brincadeiras.

Muitas vezes não tem os brinquedos que as crianças da cidade têm, mas nem por

isso deixam de se divertirem. Eu acredito que algumas brincadeiras que temos são

herdadas dos índios, como peteca e queimada.

E3

Não percebo muitas características, mas a que mais admiro e vejo são o uso das

ervas herdadas pelos índios para a cura das doenças. Pelo fato de eles não terem

muito acesso aos hospitais eles tem os rituais com os curandeiros.

E4

Sim, principalmente as mais simples como o ato de dormir em redes, pescar, caçar e

a culinária que por sinal é bastante utilizada pelos “brancos”, como a mandioca, a

farinha, etc.

E5 Sim, mas as que mais tenho admiração são: o hábito de dormir em rede, as comidas

e, principalmente o vocabulário.

Fonte: Pesquisa de campo 2016.

Com este questionamento percebemos na fala dos entrevistados E1,

E2, E4 e E5, de forma clara e sucinta, a afirmação de identificação de uma

ou mais características da cultura indígena em seus cotidianos. Certamente,

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todas as características citadas tiveram suas contribuições significativas à

formação dos povos brasileiros, como por exemplo, a língua portuguesa que

incorporou ao seu vocabulário várias palavras, conceitos e expressões de

línguas indígenas, além dos conhecimentos culinários, presentes na vida dos

brasileiros, entre outros (BANIWA, 2006, p. 218, 219). Por outro lado, o

entrevistado E3, embora seja descendente biológico indígena, ainda tem

dúvidas quanto à identificação de características da cultura indígena em

seu dia a dia, mas, acrescenta a relevância das ervas medicinais.

Nesta perspectiva, seria dado aos povos indígenas o verdadeiro

legado a qual lhes pertence de conhecedores, conservadores e cuidadores

autênticos dos recursos naturais, inclusive das ervas medicinais.

Questionamos, ainda, acerca da concepção de cada um sobre a cultura

indígena disseram que

Qual a sua concepção de cultura indígena e qual percepçãoidentitária com essa

cultura?

E1

A cultura dos índios faz parte da vida do povo desta cidade, porque praticamente

todos têm os mesmos modos de vida. Mesmo não me considerando descendente

dos índios, essa cultura também faz parte da minha vida.

E2

Antes os índios andavam descalços, sem roupas e falavam na língua deles. Hoje

estão bem diferentes. Estão deixando seus costumes e vivendo iguais aos “brancos”.

Não me considero descendente indígena, mas vejo que eles estão copiando mais a

nossa cultura do que nós a deles.

E3

Os índios são os primeiros habitantes do Brasil e tem muitas influências na cultura

brasileira através dos seus rituais. Embora seja descendente indígena, talvez porque

não goste muito de ser não percebo muita coisa deles em minha vida.

E4

Tenho uma admiração muito grande pela forma como eles se organizam

socialmente e também pela forma que educam as crianças através dos seus

ancestrais. Não me considero descendente indígena, mas percebo sim, muito da

cultura deles em nossa cultura e eles deveriam ser mais valorizados.

E5

Os povos indígenas passaram pelo processo de aculturação, porém têm se mostrado

resistentes na preservação da sua cultura. Como a minha concepção de

descendência indígena é uma questão de consciência histórica, percebo sim, e

reconheço cada traço desta cultura em nosso dia a dia e em nosso comportamento.

Desde os tempos primórdios que vivemos esse processo de interculturalidade.

Fonte: Pesquisa de campo 2016.

Constatamos, portanto, que os entrevistados E1, E4 e E5 percebem em

seus cotidianos vários comportamentos e costumes herdados da cultura

indígena. Para os entrevistados E2 e E3, todavia, a visão é de que não há

semelhanças em seus modos de vida com a cultura indígena. Em vista disso,

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vale ressaltar que quando estamos falando de identidade indígena não se

fala de identidade única e genérica. Cada povo indígena tem sua cultura

específica (BANIWA, 2006).

Ao retratarem acerca da concepção cultural indígena em relação a

identidade étnica, os entrevistados alimentam, ainda, uma visão de

inferioridade presente no imaginário dos brasileiros, inclusive de alguns povos

indígenas de que “A sociedade brasileira majoritária, [...], continua

considerando os povos indígenas como culturas em estágios inferiores, cuja

única perspectiva é a integração e a assimilação à cultura global”

(BANIWA,2006, p. 34).

Igualmente, desde a década de1970 até os dias atuais, a sociedade

brasileira vem passando pelo processo de aceitação e inserção da cultura

dos povos indígenas ao cenário nacional. Em consonância, o imaginário

estereotipado em relação aos povos indígenas tem cedido espaço à

alteridade.

Portanto, o pano de fundo que permeia o imaginário do povo

brasileiro em relação ao conceito de cultura indígena e a inserção e

percepção identitária desta cultura é o etnocentrismo. Para que os

paradigmas sejam rompidos, no entanto, há a necessidade dos povos

indígenas e a sociedade brasileira absorverem de forma consciente e

historicamente uma cultura, a dos povos indígenas atreladas à outra cultura

da sociedade brasileira.

5 Considerações finais

Podemos constatar que por meio das mudanças sociais ocorridas

desde a colonização até os dias atuais, o brasileiro, especificamente o

Imperatrizense, é confuso acerca de sua concepção identitária relacionada

à cultura indígena.

Diante disso, fica perceptível que essa inconstância na descrição de

identidade do imperatrizense, deu-se pela forma em que a história dos povos

indígenas foi transmitida. É notável que nas escolas ainda existem equívocos

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repassados por meio dos livros didáticos, os quais remetem a uma imagem

congelada do índio, em que desde a chegada dos portugueses as terras

brasileiras os povos indígenas vêm perdendo tanto seu espaço físico como

cultural, por meio da forma com que as informações são passadas,

principalmente, no ambiente escolar.

Vale ressaltar, que os conteúdos constantes nos livros didáticos são de

fundamental importância para a aprendizagem dos alunos. No entanto,

podemos constatar que há a necessidade, especificamente, sobre os povos

indígenas tratados neste texto, de uma contextualização dos tempos de

colonização com os tempos atuais, visto que os tempos passaram e os

modos de vida sofreram alterações de acordo com as mudanças dos anos.

Portanto, para que se trabalhe de forma contextualizada, rompendo

os paradigmas de discriminação, há a necessidade tanto na formação

inicial dos professores como nas formações continuadas, que sejam

ofertadas disciplinas específicas acerca da história e cultura indígena, com o

intuito de formar uma visão docente consciente e sem preconceitos pré-

estabelecidos pelos livros didáticos.

REFERÊNCIAS

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O Índio brasileiro: o que você precisa saber

sobre os povos indígenas do Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação,

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu

Nacional, 2006.

BARROS, José D’Assunção. O Projeto de Pesquisa em História: da escolha do tema

ao quadro teórico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos.

São Paulo: Cortez, 2004.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Índios no Brasil.4 ed. São Paulo: Global; Brasília: MEC,

2000.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1999.

LIMA, Mirna. Porta aberta: história, 4º ano. São Paulo: FTD, 2011.

SANTOS, José Luis dos. O que é cultura. São Paulo; Brasiliense, 2004.

SILVA, Aracy Lopes da. Índios. São Paulo:Editora Ática, 1989

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A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE

IMPERATRIZ - MA SOBRE OS POVOS INDÍGENAS57

Ivanilde Pereira Alves58

Mariléia Érica Rufino de Lima 59

Cleiton Vieira Parente60

Ilma Maria de Oliveira Silva61

1 Introdução

A educação brasileira vem passando por significativas transformações

ao longo do tempo. A história dos povos indígenas também sofreu

modificações, pois durante séculos estes foram tratados de forma

generalista. A falta de conhecimento sobre a contribuição dos povos

indígenas para a formação da sociedade brasileira, permite a disseminação

de estereótipos sobre a diversidade cultural dos mais de 305 povos indígenas

brasileiros.

A escola, enquanto instituição formadora, se esquiva desse papel, ou

seja, de preparar indivíduos para viver em uma sociedade plural. Assim, após

cinco séculos, os currículos continuam branqueados, integracionistas e

homogêneos, contribuindo para a exclusão dos povos indígenas e

fortalecendo a história contada pelo viés do colonizador.

A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, os direitos

dos povos indígenas foram garantidos, tais como: a demarcação e

homologação de suas terras, educação específica e diferenciada, uso da

língua materna em qualquer lugar e situação, expressão de suas

manifestações culturais, saúde, entre outros. Contudo, ainda existe uma

distância enorme que separa a legislação da prática. Vale destacar, no

entanto, que essas garantias se devem a própria luta destes povos que

57 Artigo apresentado à disciplina de Educação e Cultura dos Povos Indígenas, ministrada pela Prof.ª Me. Ilma Maria de Oliveira Silva, UEMASUL. 58 Acadêmica do VII Período de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 59 Acadêmica do VII Período de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 60 Acadêmico do VII Período de Pedagogia UEMASUL. E-mail: [email protected] 61 Profª Orientadora: Doutoranda em História, Ilma Maria de Oliveira Silva - UEMASUL – e-mail: [email protected]

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continuam buscando a efetividade de seus direitos e o respeito pelas suas

formas de viver e agir.

Diante disso, a proposta deste trabalho é analisar a percepção dos

alunos do ensino médio de uma escola pública, em Imperatriz, em relação

aos povos indígenas. Logo, a relevância de tal análise se dá pelo fato de

que a Lei (11.645/2008) determina que as escolas públicas e privadas

incluam, em seus currículos, a história e cultura dos povos indígenas. Assim,

objetiva-se analisar a percepção dos alunos do ensino médio de uma escola

pública sobre os povos indígenas.

Por conseguinte, buscou-se para a realização deste trabalho,

fundamentos nos teóricos Baniwa (2006), Bergamaschi, Zen e Xavier (2012),

Freire (2000), Silva (1988), além de documentos legais, tais como a

Constituição Federal (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) e

a Lei n°. 11.645 (2008). Utilizou-se como instrumento de coleta de dados:

questionário semiestruturado, o qual foi aplicado a um grupo de 10 alunos

do 1° e 2° Anos do Ensino Médio.

Este trabalho encontra-se dividido em três tópicos. O primeiro tópico

retrata os equívocos que os povos indígenas sofreram e sofrem desde a

chegada dos europeus em terras brasileiras. O segundo trata da importância

da implementação da Lei n°. 11. 645, no espaço escolar, para que haja um

reconhecimento dos povos indígenas, visto que estes sofrem, muitas vezes,

exclusão pela falta de conhecimento da sociedade. Por fim, o terceiro

tópico analisa os resultados da pesquisa acerca da percepção que os

alunos do ensino médio, de uma escola pública, têm a respeito dos povos

indígenas, visto a obrigatoriedade do ensino da história e cultura dos povos

indígenas nas escolas.

Acredita-se que esta temática se faz relevante para formação inicial

de futuros professores, pois estes têm um papel fundamental para a

desconstrução de estereótipos alicerçados no imaginário social brasileiro.

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2 As questões indígenas na escola

A história dos povos indígenas, comumente, é pouco trabalhada no

ambiente escolar e, quando é trabalhada ocorre de forma isolada, ou seja,

esta história é retratada nos livros didáticos de forma limitada, visto que os

povos indígenas são retratados como estranhos, os quais vivem distantes dos

não indígenas. Assim, tais representações arcaicas acerca do índio são

refletidas na escola. A exemplo disso, é notável que as comemorações do

dia 19 de abril sejam feitas com os alunos fantasiados, com um cocar na

cabeça e pinturas no rosto, abordando, dessa maneira, os povos indígenas

de forma irreal. Isso contribui, portanto, para o desinteresse dos alunos em

descolonizar a história brasileira.

Diante disso, Freire (2000) ratifica que a maioria dos brasileiros criou a

imagem de como deveria ser o índio: nu ou de tanga, no meio da floresta,

de arco e flecha, o mesmo descrito por Pero Vaz de Caminha. Essa imagem

foi congelada até os dias de hoje. Desse modo, os conhecimentos

transmitidos para os alunos, na escola, fazem com que estes cometam erros

equivocados, levando-os a pensar que todos os povos indígenas são iguais e

possuem a mesma cultura.

Ademais, são repassadas, ainda, ideias criadas acerca da imagem do

índio, tais como: os povos indígenas são preguiçosos, selvagens, atrasados e

vivem na mata caçando ou pescando. O que ocorre, na verdade, é que

eles têm diferentes costumes e crenças, visto que os povos indígenas são

muito diferenciados entre si. Nessa perspectiva, Baniwa (2006, p. 34)

menciona que:

Historicamente os índios têm sido objeto de múltiplas imagens e

conceituações por parte dos não índios e, em consequência, dos

próprios índios, marcadas profundamente por preconceitos e

ignorância. Desde a chegada dos portugueses e outros europeus

que por aqui se instalaram, os habitantes nativos foram alvo de

diferentes percepções e julgamentos quanto às características, aos

comportamentos, às capacidades e à natureza biológica e espiritual

que lhes são próprias.

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Diante do exposto, percebe-se que a temática indígena não é

trabalhada na escola de forma reflexiva, ou seja, de maneira que possa

desmistificar a visão estereotipada e etnocêntrica que os alunos têm a

respeito dos povos indígenas. Em vista disso, é necessário discutir a história

inicial indígena relacionando-a com a situação atual, haja vista que se tem

a dificuldade de aceitação da diversidade cultural existente entre

sociedades diferentes. Tal dificuldade contribui, portanto, para a

manifestação do etnocentrismo, levando o indivíduo a julgar outras culturas,

comparando com a sua. Assim, Silva (1989) afirma que é equivocada a ideia

que os não indígenas têm em considerar culturas diferentes como atrasadas

e primitivas.

É notável, desse modo, que quando não se tem conhecimento sobre

os povos indígenas, o senso comum se manifesta por meio de equívocos que

persistem na sociedade.

3 Direitos indígenas: lei 11.645/2008

Ao chegarem em terras brasileiras, os portugueses encontraram os

nativos e os denominaram de “índios”. A princípio, o encontro entre os

indígenas e os colonizadores foi pacífico, no entanto, com a descoberta das

riquezas, nessas terras, deu-se início a violação dos direitos dos povos

indígenas, visto que suas culturas, identidades e memórias foram

negligenciadas pelos não indígenas em nome da ambição e do progresso.

De acordo com Baniwa (2006, p. 41):

Os povos indígenas, ao longo dos 500 anos de colonização, foram

obrigados, por força da repressão física e cultura, a reprimir e a

negar suas culturas e identidades como forma de sobrevivência

diante da sociedade colonial que lhes negava qualquer direito e

possibilidade de vida própria. Os índios não tinham escolha: ou eram

exterminados fisicamente ou deveriam ser extintos por força do

chamado processo forçado de integração e assimilação à

sociedade nacional.

Mesmo diante da crueldade dos colonizadores, os indígenas nunca se

deixaram abater, pois sempre procuraram estratégias para resguardarem

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seu modo de viver, e não chegarem a ser exterminados. Assim, segundo

dados do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2012) e de

acordo com o senso demográfico do ano de 2010, existem 305 etnias de

povos indígenas reconhecidas que falam 274 línguas, o que torna evidente

que eles lutaram e lutam pelos seus direitos e, consequentemente, pela

sobrevivência.

Por conseguinte, após cinco séculos de omissão, esse panorama vem

tomando novos rumos, visto que com a promulgação da Constituição

Federal de 1988, em seu capitulo VIII nos artigos 231 e 232, os direitos antes

negados aos povos indígenas passaram a existir. Outro documento que

legaliza os direitos dos povos indígenas, no que compete a educação, é a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), que nos seus artigos

26, 32,78 e 79 tratam sobre a educação escolar indígena, com a finalidade

de proporcionar o acesso ao conhecimento, por meio de currículos

específicos à comunidade indígena.

A relevância dessas leis constitui-se em uma nova educação,

diferente das que os Jesuítas disponibilizaram mediante catequização e a

integração forçada dos indígenas à sociedade nacional. Os direitos

adquiridos pelos povos indígenas não são por acaso, haja vista que na

década de 1970, a população indígena organizou o Movimento Indígena do

Brasil e, atualmente, segundo dados da Universidade Nacional de Brasília

(UnB), existem cerca de 486 entidades que lutam pelos direitos dos povos

indígenas de acordo com uma pesquisa de 2009.

Desse modo, a luta mobilizou vários grupos da sociedade brasileira, os

quais apoiaram a causa indígena e contribuíram, portanto, para que os

direitos indígenas fossem garantidos na Legislação brasileira.

Outra medida relevante para os povos indígenas é a Lei n°.

11.645/2008, a qual contribui para que a sociedade passe a ter acesso à

história e cultura destes povos que sofreram e sofrem com o preconceito por

falta de conhecimento. Nessa perspectiva, essa Lei altera a LDB 9.394/1996,

que já havia sido alterada pela Lei 10.639/2003, a qual preconizava, apenas,

o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. Dessa forma, a Lei

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11.645 de 10 de março de 2008, altera a LDB a qual passa a ser

acrescentada do Art.26 – A, em que vigora a seguinte redação:

Art.26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino

médio, públicos e privados torna-se obrigatório o estudo da história e

cultura afro-brasileira e indígena.

§1. conteúdo programático a que se refere esse artigo incluirá

diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a

formação da população brasileira, a partir desses dois grupos

étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a

luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra r

indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade

nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas, social,

econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§2. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos

povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo

currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de

literatura e história brasileira (BRASIL, 1996).

Entende-se, portanto, que esta Lei é de fundamental relevância no

combate ao preconceito e a imagem estereotipada dos povos indígenas,

bem como com os povos negros. A escola contribui para a formação dos

pensamentos dos alunos, enquanto a lei proporciona a obrigatoriedade das

discussões sobre a temática citada, possibilitando o reconhecimento da

diversidade cultural do país.

Durante muito tempo a disciplina de História foi ensinada contando,

apenas, o viés dos colonizadores do país, por meio de ensino eurocêntrico, o

qual não privilegiava a cultura dos outros povos que contribuíram para a

formação da nação brasileira. Logo, com a falta de informação coerente

da população sobre os povos indígenas, ocasionaram-se ideias errôneas

acerca da forma como eram vistos.

A primeira diz respeito [...] a visão que concebe o índio como ligado

a natureza, protetor das florestas ingênuo [...]. A segunda perspectiva

é sustentada pela visão do índio cruel [...]. A terceira perspectiva é

sustentada por uma visão mais cidadã [...] (BANIWA, 2006, p.35-36).

Diante disso, observa-se que uns dos maiores responsáveis por essas

visões distorcidas a respeito do índio foram os livros didáticos, especialmente,

as duas primeiras concepções, por abordarem os indígenas como povos do

passado, do período da colonização.

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4 Os povos indígenas na concepção dos alunos do ensino médio de uma

escola pública

Com o objetivo de investigar as representações construídas pelos

alunos de uma escola pública do ensino médio, realizou-se uma pesquisa

com um grupo de 10 alunos do 1° e 2° anos, os quais foram selecionados

aleatoriamente. Utilizou-se, como instrumento de coleta de dados, um

questionário semiestruturado.

Quando perguntados sobre o que sabiam sobre os povos indígenas, os

alunos relataram que “os índios são povos bem unidos; eles produzem seu

próprio alimento; vivem em tribos; valorizam a natureza; a cultura deles

nunca muda”. De acordo com os relatos do grupo analisado, percebe-se

que uma imagem muito estática continua permanecendo na concepção

da maioria das pessoas. Assim:

A sociedade brasileira majoritária, permeada pela visão

evolucionista da história e das culturas, continua considerando os

povos indígenas como culturas em estágios inferiores, cuja única

perspectiva é a integração e assimilação à cultura global (BANIWA,

2006, p. 34).

Questionados sobre o que aprenderam na escola, até o presente

momento da formação escolar, responderam que “os índios vivem da caça,

pesca e coleta; eles possuem rituais, costumes; tem uma culinária própria;

tem tradições”. Torna-se evidente, portanto, o quanto tais ideias mostram os

povos indígenas como sujeitos não civilizados, que não acompanharam o

desenvolvimento da sociedade. Dessa forma:

Como se pode ser culto e sábio se não se conhece – e o que é bem

pior – não se aceita conhecer outras culturas e sabedorias?

Enquanto isso não acontece, continuamos convivendo com as

contradições em relação aos povos indígenas, nas quais podemos

resumir na atualidade [...] (BANIWA, 2006, p. 35).

Os relatos demonstram, assim, que a escola não acompanha as

mudanças ocorridas na sociedade e, consequentemente, forma pessoas

que não percebem a riqueza da diversidade cultural em nosso país.

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Ao serem indagados sobre as representações que guardavam dos

povos indígenas, os alunos responderam que “são exóticos com suas penas

e flechas; por não serem valorizados são revoltados; são bons; valorizam sua

religião; são bem legais; pessoas simples; são pessoas de pouco estudo”. Por

conseguinte, na escola:

predomina visões estereotipadas dos povos indígenas, oscilando

entre a concepção romântica de um indígena puro, inserido na

natureza, ingênuo e vítima e um índio bárbaro, selvagem e

preguiçoso, empecilho para o progresso (BERGAMASCHI; ZEN;

XAVIER, 2012, p. 9).

Isto posto, as imagens construídas pelos alunos são um recorte daquilo

que aprenderam na escola, em seus lares, nas diversas relações

estabelecidas em contato com a temática indígena ou com algum

indígena. Assim, ficam visíveis diversos preconceitos em relação a esses

povos, por meio de cada palavra relatada pelos alunos entrevistados.

5 Considerações finais

Ocorreram, portanto, inúmeras injustiças com os povos indígenas

brasileiros durante séculos e séculos de ignorância e preconceito, todavia,

muitas mudanças aconteceram com o passar do tempo. A Lei 11.645/2008 é

uma forma de reparar ou diminuir os efeitos causados pela chegada dos

europeus em terras que eram pertencentes aos indígenas. Sendo assim, faz-

se necessário a aplicação desta Lei nas escolas. Para tanto, é necessário

que haja formação para os professores em relação à temática, haja vista

que muitos alunos não têm conhecimento a respeito do tema e, sem esses

devidos cuidados, a Lei não terá nenhuma significância.

Mesmo com a aprovação dessa Lei, muita coisa ainda permanece de

forma solidificada no pensamento das pessoas. É preciso, portanto, que a

história contada pelo viés do colonizador seja desconstruída, visto que de

acordo com a pesquisa feita, constata-se que o pensamento do grupo

analisado mostra-se, ainda, sobrecarregado destes conceitos ultrapassados

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e preconceituosos. Sendo assim, a escola, enquanto instituição social, tem o

dever de fornecer subsídios para que os alunos respeitem e valorizem os

povos indígenas, tendo em vista que, muitas vezes, tais povos são alvos de

injustiças por falta de conhecimento da sociedade.

REFERÊNCIAS

BANIWA. Gersem dos Santos Luciano. O Índio brasileiro: o que você precisa

saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da

Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.

BERGAMASCHI, Maria Aparecida; ZEN, Maria Isabel Habckost Dalla; XAVIER,

Maria Luisa Merino de Freitas. Povos indígenas & Educação. 2. ed. Porto

Alegre: Mediação, 2012.

BICALHO,Poliene Soares dos Santos. Pesquisa recupera história do movimento

indígena no Brasil. Cátedra UNESCO de educação à distância. Disponível

em:

<http://www.fe.unb.br/catedraunescoead/areas/menu/publicacoes/artigos-

sobre-tics-na-educacao/pesquisa-recupera-historia-do-movimento-indigena-

no-Brasil>. Acesso em: 23 jan. 2017.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível

em: <http://www.jusBrasil.com.br/topicos/10650554/artigo-206-da-

constituicao-federal-de-1988>.

Acesso em: 09 dez. 2016.

_______. Lei 11.645/08 de 10 de Março de 2008. Disponível

em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.ht>.

Acesso em: 09 dez. 2016.

_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9.394, de 20 de

dezembro de 1996. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 09 dez

2016.

_______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão/Instituto brasileiro

de Geografia a e Estatística – IBGE. Censo Demográfico 2010: Características

gerais dos indígenas Resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

FREIRE. José de Ribamar Bessa. Cinco ideias equivocadas sobre o índio. In: O

saber construído a partir de nós. Manaus: CENESCH Publicações, 2000.

SILVA, Aracy Lopes da. Índios. Ática, 1998.

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197

O DIA DO ÍNDIO NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL62

Naissara Alves Vieira63

Natalia Oliveira Silva64

Ilma Maria de Oliveira Silva65

1 Introdução

Ao longo da história brasileira, os povos indígenas foram retratados de

diversas maneiras. A estes foram atribuídos características e estereótipos que

inculcaram no imaginário social: o índio romântico, selvagem, bárbaro e

protetor da natureza. Isto se revela mediante interesses dos europeus e em

cada momento histórico.

Em tempos atuais, ainda são referidos pensamentos pejorativos e

equivocados aos indígenas brasileiros. Muitos desses equívocos são

adquiridos no seio familiar e em vivências cotidianas, sendo reforçados,

ainda, no ambiente escolar, sobretudo no dia 19 de abril em que é

comemorado o dia do índio.

Desse modo, motivamo-nos, nessa perspectiva, a desenvolver uma

pesquisa de campo com professores que lecionam nos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental no município de Imperatriz-MA. Assim, abordamos a

temática “O dia do índio” na percepção dos professores com o objetivo de

investigarmos suas percepções acerca do dia do índio.

O interesse pela temática abordada surgiu, portanto, durante as aulas

da disciplina de História e Cultura Indígena, haja vista que tivemos contato

com literaturas referentes à cultura indígena. Percebemos, assim, que muitos

pensamentos equivocados referentes aos povos indígenas ainda

prevalecem em nossa sociedade.

Temos, ainda, como objetivos: analisar como é trabalhado o dia do

índio nos anos iniciais do Ensino Fundamental; compreender como surgiu o

62 Artigo apresentado à disciplina de História e Cultura Indígena dos Povos Brasileiros. 63 Acadêmica do Vll Período curso de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 64 Acadêmica do Vll Período curso de Pedagogia da UEMASUL. E-mail: [email protected] 65 Profª Orientadora: Doutoranda em História Ilma Maria de Oliveira Silva, UEMASUL. E-mail: [email protected]

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dia do índio em nosso calendário escolar; identificar os principais equívocos

concernentes à imagem do índio em nossa sociedade e analisar a

percepção dos professores acerca do dia do índio. Como referencial

teórico, destacamos Baniwa (2006), Brasil (2008), Lins (2010) e Silva (1989).

Os tópicos a serem apresentados consistem em: 19 de abril, dia do

índio: Como essa data foi homologada em nosso calendário? Equívocos que

permeiam o conceito de indígena em nossa sociedade. O dia do índio

trabalhado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Nossa metodologia pautou-se em pesquisas bibliográfica e de campo,

nas quais realizamos uma pesquisa em duas escolas públicas municipais com

a participação de seis professores que lecionam entre o 1º, 3º e 5º Anos.

Utilizamos, como instrumento de coleta de dados, questionário

semiestruturado.

2 Dia do Índio: como essa data foi homologada em nosso calendário?

Até meados da década de 1940 não havia nenhum órgão a nível

internacional que organizasse e discutisse assuntos referentes à questão dos

povos indígenas na América. O dia do índio surgiu, no calendário mundial,

devido ao I Congresso Indigenista Internacional que ocorreu no México, em

1940, na cidade de Patzcuaro. Esse congresso tinha o objetivo de reunir os

povos indígenas da América. Assim sendo, segundo Lins (2010, n.p.):

[...] o I congresso Indigenista Internacional, com o objetivo de

debater assuntos relacionados às sociedades indígenas de cada

país. Foram convidados representantes de todos os países do

continente americano. Os índios, principal motivo do evento,

receberam o convite de honra, entretanto, por terem sido, ao longo

da história perseguidos e traídos pela a sociedade envolvente,

optaram por se manterem-se afastado.

Em virtude disso, os indígenas preferiram se manter distantes, tendo em

vista que com a colonização os indígenas sofreram muito devido as doenças

que o homem “branco” transmitiu, além dos conflitos por mão de obra

escrava indígena e disputas por terras. Em alusão a isso, os indígenas

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optaram por não comparecer ao Congresso, em virtude das várias

lembranças e memórias vividas por eles. De acordo com Baniwa (2006, p.

52):

Muitas vezes esses grupos já tiveram no passado algum tipo de

contato com outros índios ou mesmo com a sociedade não-

indígena, e se refugiaram em lugares mais distantes e inóspito

exatamente para fugir das tragédias trazidas pela a contiguidade

que por algum tempo experimentaram.

Entretanto, ao decorrer do congresso, os indígenas se inteiraram dos

verdadeiros motivos da promoção do congresso e revolveram participar.

Logo, segundo Lins (2010, não paginado) “os congressistas se motivaram a

deliberar no sentido de instituir a nível mundial o dia 19 de abril como o “Dia

do Índio”. A intitulação de tal data ocorreu pelo fato de que, neste dia, os

povos indígenas participaram do Congresso a fim de discutir e ampliar as

ideias acerca dos direitos indígenas. O congresso não se limitou somente a

isso, pois a partir deste foi criado o Instituto Indigenista Internacional, órgão

que garantiu zelar pelos direitos dos povos indígenas.

No Brasil, todavia, essa data foi homologada somente após três anos

de sua criação a nível mundial no governo do então presidente da

República Getúlio Vargas em 1943. Com a intervenção e apelos de

Marechal Rondon, o presidente determinou a adesão ao Instituto Indigenista

Internacional. Em consequência desta adesão, Getúlio Vargas institui o dia

19 de abril como o “Dia do índio” através do decreto Lei 5.540. A partir deste

decreto lei, o dia do índio passou a ser trabalhado nos ambientes escolares.

3 Equívocos que permeiam o conceito de indígena em nossa sociedade

O Brasil é um país onde há uma grande diversidade cultural, em

virtude dos diferentes grupos sociais que o integra. Nesse rol de

pluriculturalidade temos a cultura indígena que é vasta e possui aspectos

culturais diversificados.

Há, no entanto, diversas ideias equivocadas referentes aos povos

indígenas que pairam em nossa sociedade. Por muitas vezes, os povos

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indígenas são referenciados como povos com cultura atrasada, primitiva,

congelada e genérica. Ao tratarmos a cultura indígena como genérica, ao

colocamos como única e comum a todos os povos.

Assim, deixamos transparecer que todos os povos indígenas

compartilham de uma mesma cultura, com as mesmas línguas, crenças e

hábitos, ignorando, desse modo, a diversidade cultural existente nas

sociedades indígenas, haja vista que o Brasil não é constituído somente por

um, mas sim, por vários povos indígenas.

Outro engano referente à cultura indígena está relacionado ao fato

de a referenciarmos como uma cultura primitiva e congelada, que viveu e

vive da mesma maneira, sem considerar as mudanças que ocorreram e

ocorrem no mundo com o passar do tempo.

Nessa perspectiva, Silva (1989) destaca que as sociedades indígenas e

suas culturas vêm de longos séculos, no entanto, não estão paradas no

tempo. Tanto as sociedades quanto as culturas indígenas passam por

transformações, pois elas têm história e ressignificações.

Ao referimo-nos para as culturas indígenas como primitivas e

congeladas, estamos diante de um posicionamento equivocado. Pensar na

cultura indígena como não evoluída e referenciá-la sempre ao passado

como se os índios só tivessem existido no Período Colonial, período este que

durou do século XVI ao século XVX, no qual o Brasil era uma colônia

pertencente à Portugal, é desconhecer o percurso da história e suas

transformações. De acordo com Silva (1989, p. 10):

[...] Os índios não viveram só no Brasil Colônia, como alguns livros nos

querem fazer pensar. Estão aqui e agora. Têm direitos garantidos

pela Constituição. Seus problemas são os mesmos de muitos outros

brasileiros de agora: ameaças às suas terras, à sua sobrevivência, à

sua liberdade, ao direito de ter sua própria vida, de decidir sobre seu

destino e de participar nas decisões que os afetam.

Assim, é importante afirmar que os povos indígenas fazem parte da

sociedade brasileira e possuem direitos assegurados pela Constituição de

1988. Tais povos enfrentam os mesmos problemas que milhares de brasileiros

pertencentes a outras culturas.

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201

Tendo em vista que a escola é uma organização que sistematiza

conhecimentos e forma opiniões, acredita-se que muitos dos equívocos

concernentes à cultura indígena ainda são reforçados no espaço da sala de

aula.

Além disso, ainda se trabalha a história dos povos indígenas no

pretérito, remetendo-os a um passado bem remoto. A exemplo disto é a

comemoração do dia do índio, onde os alunos pintam o rosto e usam roupas

e adereços que remetem a cultura indígena ou somente colorem desenhos

que representam a imagem do índio por meio de elementos de sua cultura,

tais como arco, flecha, oca e cocar, alimentos como peixe, milho e

mandioca. Entretanto, as sociedades indígenas, assim como as outras,

passaram e passam por transformações, o que acarreta em mudanças em

suas manifestações culturais.

De acordo com Silva (1989) muitos livros didáticos refletem a questão

indígena apenas no período da chegada dos portugueses as terras que

nomearam de Brasil. Esta postura esquece o presente e futuro e determina-

os ao passado. Assim, o índio que é apresentado no presente, não tem rosto

e nem história, tendo em vista que estão cravados no passado sem

possibilidades de modificações inerentes a qualquer sociedade.

4 O Dia do Índio trabalhado nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Com o objetivo de conhecer a concepção dos professores de uma

escola da rede municipal de ensino sobre a história e cultura dos povos

indígenas, como elementos fundamentais na formação do povo brasileiro,

questionamo-los em que momento do ano letivo abordam assuntos

relacionados à cultura indígena. A maioria dos professores entrevistados

responderam que apenas no mês de abril. Assim, podemos dizer que esta

realidade não se diferencia de outras instituições de ensino, pois a maioria

dos calendários escolares, seja das escolas públicas ou privadas, destaca o

dia 19 de abril como dia do índio. Logo, percebemos que não há nem

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mesmo questionamentos do porquê de apenas um dia entre 365 do ano se

falar, de alguma forma, sobre os indígenas.

A comemoração tornou-se, ainda, hábito, pois poucos questionam o

porquê dessa data estanque. O que muitos não sabem é que a data 19 de

abril vem sendo comemorada a partir da década de 1940, por força da Lei

5.540, instituída em 1943 por Getúlio Vargas em decorrência do I Congresso

Indigenista Internacional em 1940, em Patzcuaro, no México.

Tendo em vista a homologação da data do dia do índio, este dia

passou a ser trabalhado no ambiente escolar, em que são aludidos

elementos da cultura indígena. Nessa perspectiva, a escola e os professores

desenvolvem formas de abordar o dia do índio, tais como atividades,

projetos e outros.

Duas professoras que participaram da pesquisa relataram que

abordam a temática indígena não só no mês de abril, mas também ao

longo do período letivo, haja vista que o currículo de algumas disciplinas

contempla assuntos atinentes aos povos indígenas. Desse modo afirmam as

professoras:

Professora 3º ano “2”: “Praticamente o 4º bimestre, pois esse assunto

está bem presente em diversos textos das matérias de História,

Geografia e Português onde ele tem importância cultural na

formação do povo brasileiro”.

Professora 5º ano “1”: “Quase o ano inteiro, pois além dos “projetos”

desenvolvidos pela escola, o currículo do 5º ano contempla o

assunto amplamente”.

Segundo os professores entrevistados, as atividades pensadas para

esse dia envolvem vários recursos como: gravuras, histórias, contos, cartazes,

música, vídeos, desenhos e pesquisa. O que observamos, mediante a

pesquisa, é que a presença dos indígenas para falarem de suas próprias

vidas, não aparece como uma oportunidade de conhecer a cultura destes

povos a partir deles mesmos, pois habitam na cidade de Imperatriz várias

famílias de diferentes etnias. Dessa forma, o equívoco da cultura primitiva ou

estática permanece, quando para ser índio é necessário viver nas florestas.

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Segundo uma professora que ministra aulas no 5º ano “1”, ao ser

indagada sobre como trabalha o dia do índio, a mesma respondeu que

“desenvolvendo projetos pedagógicos” com a temática, onde passam a

conhecer ou reconhecer elementos da cultura que está inserido no dia a

dia. Percebemos que a professora busca valorizar os conhecimentos prévios

e empíricos dos alunos, além de suas vivências cotidianas, proporcionando-

lhes, assim, o reconhecimento da contribuição e presença cultural dos povos

indígenas em seu dia a dia.

Outro posicionamento relevante sobre a forma de trabalhar o dia do

índio é visto pela professora que trabalha com o 1º ano “2”, a qual afirma:

“Gosto de explorar a cultura, como vivem a questão da caça e cultivo para

comer é quando faço um paralelo com o índio na sociedade hoje,

mostrando que nem todos vivem mais na mata”. Este depoimento mostra

uma nova consciência sobre os povos indígenas, ou seja, estes têm

autodeterminação, poder de escolha, podem viver onde quiserem e da

forma que desejar. São cidadãos brasileiros e gozam, portanto, da mesma

liberdade e direitos dos não indígenas.

Durante a pesquisa os professores foram questionados quanto à

promoção de oficinas ou projetos por parte da escola, para que os

professores possam ressignificar seus conhecimentos acerca da cultura

indígena, visto que desde 2008 foi aprovada a lei 11.645, onde preconiza

que Art-26-A: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino

médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura

afro-brasileira indígena”. Esta lei alterou a LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional) de 1996 que trata sobre a obrigatoriedade da

disciplina de História e a cultura dos povos indígenas.

Diante do questionamento, as professoras revelaram que “Só projetos

elaborados pelos professores juntamente com a coordenação da escola”

(Professora 3º ano “1”). “Sim, momentos cívicos e o dia do ler (Professora 3º

ano “2”).

Em vista disso, podemos deferir que com a aprovação da lei 11.645,

tornou-se obrigatório o ensino sobre a cultura e identidade indígena no

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ensino básico. Este ensino pode ser ministrado de maneira interdisciplinar,

além de projetos promovidos pela escola, podendo ser disseminada a

cultura indígena entre os educadores, educandos e comunidade.

Detectamos, todavia, que algumas escolas não possuem nenhum projeto e

a cultura indígena é trabalhada somente durante a semana do “Dia do

índio”.

Ademais, a pesquisa indagou os professores sobre qual a importância

de se trabalhar o “Dia do índio” nas escolas, as respostas obtidas foram as

seguintes:

Professora 1º ano “1”: “Somos um povo descendente de índio”.

Professora 1º ano “2”: “É relevante porque faz parte da nossa história,

pois os mesmos foram os primeiros habitantes do Brasil”.

Professora 3º ano “2”: “É muito importante pois, primordialmente

mexe direto com a identidade do povo brasileiro”.

Professora 5º ano “1”: “Super importante para afirmação da nossa

própria cultura, pois somos um país miscigenado”.

Para os professores entrevistados, torna-se essencial trabalhar a cultura

indígena em sala de aula, pois estes povos subsidiaram a nossa cultura atual

e fazem parte de nossa história, costumes e identidade cultural, que passa

de geração para geração em nossa sociedade. Segundo Baniwa (2006, p.

217 e 218):

Do ponto de vista sociocultural, hoje é aceito oficialmente o fato de

que o povo brasileiro é formado pela junção de três raças: a

indígena, a branca e a negra. Mas não foi somente no aspecto

biológico que os índios contribuíram para a formação do povo

brasileiro como o senso comum faz crer, mas principalmente do

ponto de vista cultural e religião. Basta prestamos atenção em muitos

aspectos que constituem a vida cotidiana dos brasileiros,

começando com a própria língua portuguesa que acabou

incorporando várias palavras, conceitos e expressões de língua

indígenas.

Portanto, torna-se necessário trabalhar em sala de aula a cultura

indígena desde os Anos Iniciais, para os educandos aprenderem que esta

cultura faz parte do nosso cotidiano. Logo, podem ser evitados futuros

preconceitos e a marginalização dos indígenas por falta de informações

que, por sua vez, acarretam em pensamentos equivocados.

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205

5 Considerações finais

O dia do índio instituído nas escolas da educação básica surgiu em

virtude do I Congresso Indigenista Internacional da América que tratou em

discutir questões acerca dos direitos dos povos indígenas. Nesse evento, os

indígenas só comparecem dia 19 de abril, devido às sequelas que já haviam

sofrido pela sociedade que agora os acolhia. Devido a esse momento no

Congresso, os congressistas resolveram instituir essa data de 19 de abril como

o “Dia do Índio”.

Todavia, essa data foi trabalhada e inserida no currículo da Educação

Básica a partir de 1943, através do decreto lei 5.540 do então presidente

Getúlio Vargas. Contudo, esse dia foi e está sendo trabalhado de modo

equivocado no ambiente educacional, haja vista que a cultura indígena

está sendo estereotipada e resumida à pintura no rosto das crianças ou

desenhos referentes ao dia do índio.

Diante disso, a pesquisa investigou a percepção dos professores que

atuam nos Anos Inicias do Ensino Fundamental acerca do “Dia do índio” nas

escolas. A pesquisa revelou que os docentes trabalham a temática ao longo

do ano letivo de acordo com a necessidade do livro didático, mas esse

trabalho se intensifica no mês de abril por fazer alusão ao dia do índio.

Além disso, apontou- se a grande importância de inserir cada vez mais,

de forma interdisciplinar, o ensino da história e cultura dos povos indígenas, a

fim de trabalhar a desmistificação dos conceitos equivocados e o

etnocentrismo em nossas salas de aula.

REFERÊNCIAS

BANIWA. Gersem dos Santos Luciano. O índio brasileiro: o que você precisa

saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da

Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.

Page 207: Aparecida de Lara Lopes Dias Ilma Maria de Oliveira Silva · A luta dos povos indígenas pela cidadania e igualdade ... Em relação à temática indígena nos dias atuais, percebem-se,

206

BRASIL. Lei N° 11.645, de 10 março de 2008. Disponível em:

http//www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/|11645.htm.

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