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PRINCIPAIS LINHAS

TEOLÓGICAS PROTESTANTES

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Fonte: Mantenedor da Fé (http://mantenedordafe.org/blog/?p=15919)

Estamos começando hoje uma série de quatro artigos que visam dar uma melhor compreensão sobre as duas principais linhas teológicas dentre os evangélicos. Não pretendemos que este estudo venha a ser completo ou definitivo. Um embate que já persiste por 400 anos não poderia ser totalmente resolvido numa única série de artigos para a internet. Nosso objetivo é que tomemos conhecimento do que são as duas principais correntes teológicas e consigamos compreender que, mesmo aquele que afirma não querer estudar teologia, sempre estará ligado a alguma corrente teológica.

Desta forma, este trabalho está dividido em:

Parte 1 – Histórico Geral – Visão Geral

Parte 2 – Calvinismo

Parte 3 – Arminianismo

Parte 4 – Comparando – Conclusão

As Perguntas comuns no cristianismo:

“Fui eu que escolhi a Deus ou foi Ele que me escolheu?” “Posso resistir a vontade Deus?” “Se eu já fui salvo, posso perder a salvação?”

Histórico Geral

Por mais inacreditável que possa parecer para os brasileiros, atualmente temos visto importantes sinais de que os jovens evangélicos estão cada vez mais interessados no estudo da Palavra de Deus. Ao menos através da INTERNET vemos um crescente número de blogs e vídeos apologistas, vemos inúmeros bem intencionados cristãos que publicam textos, fotos e artigos, quer seja nos seus blogs quer seja no Facebook. A verdade é que ao invés de preferirem a literatura mundana de seus pais, muitos jovens estão lendo hoje livros tais como “A Escravidão da Vontade“, de Martinho Lutero, e as “Institutas“, de João Calvino. Na medida em que lêem e comparam a Teologia dos Reformadores Protestantes com suas Bíblias, começam a perceber que muito da teologia do evangelismo contemporâneo tem negligenciado a graça, e tem dado ênfase às obras da carne.

Pode parecer estranho, mas na verdade muitos cristãos que afirmam crer na salvação pela GRAÇA continuam insistindo que o ser humano tem o poder de “tomar a decisão por Cristo”. Existem até igrejas que ressaltam a Graça em seus nomes e lemas, mas que na prática negam-na por seguirem correntes teológicas contrárias. Outros tantos afirmam que “Deus ama a todos igualmente” e se mantém certos de que Ele está mandando alguns para o inferno. Talvez isto já fosse motivo suficiente para que fizéssemos este estudo, mas muito mais temos a falar. Você talvez desconheça, mas, se és evangélico,

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sua Igreja, provavelmente, deve seguir a T.U.L.I.P. ou a Remonstrância. Talvez você possa desconhecer as Cinco Solas, mas isto é questão básica para que uma Igreja seja considerada Evangélica.

Nos Estados Unidos, por exemplo, está havendo uma marcante volta aos princípios Calvinistas e um abandono gradual do Arminianismo, por outro lado aqui no Brasil ainda há maior preponderância dos que seguem os princípios Arminianos em comparação com os Calvinistas. (veja nosso artigo: Movimento quer trazer jovens às raízes)

Para facilitar uma primeira análise, o Calvinismo é seguido pelos Presbiterianos e muitos Batistas e o Arminianismo é seguido pelos Metodistas e muitos Batistas. Desta forma, sinto-me a vontade para falar sobre o tema já que, como Batista, temos as duas linhas presentes em nossas Igrejas (além da batista primitiva que citaremos abaixo). Fiz questão de não citar outras denominações como as Assembléias de Deus, Quadrangular, IURD, IMPD, IIGD… pois todas estas são frutos das três que citei inicialmente, mas todas estão nesta ou naquela linha e o leitor poderá comparar sua própria igreja com os pontos aqui apresentados.

Engana-se quem afirma que o Calvinismo é uma teologia de pessoas mais estudadas e o Arminianismo é uma teologia de pessoas mais simples. Se a questão fosse esta não teríamos tantos embates há tanto tempo. Devemos afirmar que existem Calvinistas com muito e pouco estudo e Arminianos com muito e pouco estudo. Não desenvolva uma conclusão de forma tão simplista. Desta forma, quando vemos algum arminiano ou calvinista, devemos compreender que isto surgiu a partir dos estudos a que foi apresentado e que, ao final levou-os a tomarem estas posições (mesmo desconhecendo-as).

Lembre-se que tanto Calvino quanto Armínio foram homens que se dedicaram exaustivamente aos estudos da Palavra de Deus, ambos buscaram incessantemente encontrar qual seria a mais correta sistemática teológica a qual pudéssemos seguir. Calvino estudou na França, até a Universidade, Armínio estudo na Holanda, até a Universidade. Portanto, não há distinção com relação a estudos realizados.

Raízes Históricas:

Mesmo sabendo que este debate é interno das Igrejas Evangélicas, devemos ter conhecimento que as raízes são muito anteriores a Reforma Protestante de 1517.

Tudo começou com Pelágio que foi um monge britânico que viajou a Roma por volta de 400 d.C. e ficou estarrecido com o comportamento mundano dentro das igrejas cristãs. Para combater esta falta de santidade, ele pregou um Evangelho que inicia com a justificação somente pela fé (na verdade foi Pelágio, e não Lutero, que foi o primeiro a acrescentar a palavra somente na frase de Paulo),[1] mas terminava através do esforço humano e da moralidade. Pelágio tinha lido as Confissões de Agostinho e acreditava que ela representava uma visão fatalista e pessimista da natureza humana. Os seguidores de Pelágio, incluindo Celéstio, foram mais longe do que o seu professor e removeram a justificação por meio da fé, estabelecendo a salvação moral e baseada em obras conhecida como pelagianismo. Deve-se mencionar que a única evidência histórica dos ensinamentos de Pelágio ou de seus seguidores é encontrada nos escritos dos seus dois adversários mais fortes – Agostinho e Jerônimo.

Em resposta a Pelágio, Agostinho adotou um sistema teológico que incluía não apenas o pecado original (que Pelágio negou), mas também uma forma de predestinação.[1] Alguns autores sustentam que Agostinho ensinou as doutrinas da expiação limitada[2] e da graça irresistível,[3] mais tarde associados com o calvinismo clássico. Os críticos afirmam que parte da filosofia de Agostinho poderia ter se originado a partir de sua perícia na filosofia grega, especialmente platonismo e maniqueísmo, que mantém uma visão muito elevada de espírito do homem e uma visão muito baixo do corpo do

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homem.[2] Contra a noção pelagiana que o homem pode fazer tudo certo, Agostinho ensinou a noção de que o homem não pode fazer nada direito. Assim, ele raciocinou, o homem não pode sequer aceitar a oferta da salvação – deve ser Deus que age em Si mesmo e nos indivíduos para trazer salvação.

Graças a uma enxurrada de escritos de Agostinho (Graça e Livre Arbítrio, Correção e Graça, A Predestinação dos Santos e O Dom da Perseverança) o Catolicismo acabou por não entrar mais nos embates se definindo pela sistematologia teológica de Agostinho. Desta forma, a Igreja Católica, e ainda mais a Igreja Ortodoxa, mantiveram-se fora do debate condenando de forma definitiva os ensinos de Pelágio.

Anos mais tarde a, agora, Igreja Católica Apostólica Romana já possuía duas correntes do pensamento sobre a teologia da salvação, que são o tomismo (teologia desenvolvida por São Tomás de Aquino) e o molinismo (teologia desenvolvida pelo teólogo jesuíta Luis Molina – também utilizada hoje por alguns protestantes, tais como William Lane Craig e Alvin Plantinga). Estas duas correntes ainda são as atuais dentro do Catolicismo com uma clara maioria dos adeptos do Tomismo.

Nas décadas anteriores a Reforma Protestante, a Igreja Católica já havia adotado, em sua grande maioria, os princípios do Tomismo (teologia de Tomás de Aquino) que creem na fé formada pela caridade (fides caritate formata). Ou seja, com o livre-arbítrio do homem restaurado após o batismo, o homem deve agora dar o seu melhor para fazer boas obras, a fim de ter uma fé formada pela caridade; e, então galgar o Mérito de condigno (meritum de condigno) onde Deus, então, banca e concede da vida eterna com base nestas boas obras que Aquino chama de mérito do homem digno.

As 5 Solas:

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Uma das principais características do movimento reformador, ou protestante, foi a condenação feita por Martinho Lutero da “justificação pelas obras”. É importante notar que as “vendas de indulgências” surgiram exatamente deste princípio de que “boas-obras podem salvar alguém”.

Deste movimento surgiu então as 5 Solas que são: Sola Scriptura (Somente a Bíblia); Sola Gratia (Somente a Graça); Solus Christus (Somente Cristo); Sola Fide (Somente a Fé); Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória).

Sola Scriptura (Somente a Escritura) – Centralidade na Bíblia

2ª Timóteo 3:16-17 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; | Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.

É o principio no qual a Bíblia tem primazia em relação à Tradição legada pelo magistério da Igreja, quando, os princípios doutrinários entre esta e aquela forem conflitantes. Como Martinho Lutero afirmou quando a ele foi pedido para que voltasse atrás em seus ensinamentos:

“Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém.”

O historiador William Sweet sugeriu que isso posteriormente originou o direito fundamental de liberdade religiosa, bem como a própria ideia de democracia.[4]

Sola Gratia (Somente a Graça ou Salvação Somente pela Graça) – Centralidade na Graça

Efésios 2:8-9 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. | Não vem das obras, para que ninguém se glorie;

Afirma que a salvação é pela graça de Deus apenas, e que nós somos resgatados de Sua ira apenas por Sua graça. A graça de Deus em Cristo é a única causa eficiente da salvação. Esta graça é a obra sobrenatural do Espírito Santo que nos traz a Cristo por nos soltar da servidão do pecado e nos levantar da morte espiritual para a vida espiritual.

Sola fide (Somente a Fé ou Salvação Somente pela Fé) – Centralidade na Fé

Efésios 2:8-9 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. | Não vem das obras, para que ninguém se glorie;

A justificação é pela graça somente, através da fé somente, por causa somente de Cristo. É pela fé em Cristo que Sua justiça é imputada a nós como a única satisfação possível da perfeita justiça de Deus.

Solus Christus (Somente Cristo) – Centralidade em Cristo

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João 14:6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

Afirma que a salvação é encontrada somente em Cristo e que unicamente Sua vida sem pecado e expiação substitutiva são suficientes para nossa justificação e reconciliação com Deus o Pai. O evangelho não foi pregado se a obra substitutiva de Cristo não é declarada, e a fé em Cristo e Sua obra não é proposta.

Soli Deo gloria (Glória somente a Deus) – Centralidade em Deus

Apocalipse 7:9-12 Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; | E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. | E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, | Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém.

Afirma que a salvação é dom de Deus, e foi alcançada a nós por Deus apenas para Sua glória. Não deve-se dividir a glória de Deus com nenhum homem, com nenhuma instituição e com nenhuma outra entidade. Deus não divide sua glória e para servirmos a Deus, devemos nos humilhar diante d’Ele e reconhecer que foi Ele e não nós quem fez a obra.

A partir deste ponto os Luteranos e os batistas primitivos, em suas doutrinas, não são totalmente compatíveis com ambos os grupos (Calvinistas e Arminianos), desta forma, estes grupos preferem em vez de se envolver nos debates, seguirem as suas próprias formulações doutrinárias sobre a relação da liberdade humana com a soberania divina.

João Calvino

Jehan Cauvin, nascido em 10 de Julho de 1509 e morto em 27 de Maio de 1564 ficou conhecido nos países de língua portuguesa como João Calvino. Considerado um dos pais da Reforma Protestante, este teólogo francês desenvolveu um sistema teológico cristão que, posteriormente, ficou conhecido como Calvinismo.

Ainda com 12 anos de idade, Calvino foi admitido no Collège Montaigu, uma escola de dura reputação, conhecida pela sua rigidez, pelas constantes palmatórias e outras técnicas de educação punitivas. A lista de professores em Montaigu, nesta época, incluía o espanhol Antonio Coronel e o escocês John Mair (que foi professor de Inácio de Loyola).

Perto de completar 20 anos de idade, foi enviado a Paris, com uma renda anual concedida pela Igreja Católica, com o fim de estudar Teologia, no entanto, por decisão de seu pai, ele foi enviado para Orleans para estudar Direito, apesar de Calvino preferir Teologia. O biógrafo francês de Calvino, Bernard Cottret, escreve:

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“Direito e leis: Calvino, o teólogo, é no fim, também, Calvino, o jurista. O seu pensamento fica marcado pela austeridade, a adstringência e a geometria da lei, pelo seu fascínio ou aspiração a ela. No início do século XVI assiste-se no Direito a uma verdadeira revolução. A retórica de Cícero toma a primazia sobre a filosofia medieval, que se sustenta nos seus silogismos. Com a interpretação de textos jurídicos, Calvino toma contacto pela primeira vez com a Filologia humanista”. O humanismo e o renascimento são, pois, os movimentos culturais que o vão influenciar em primeiro lugar”.[5]

Entretanto nesta época o papa Clemente VII pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto de 1533 e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava que a qualquer custo financeiro ou de vidas fosse realizada a “aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino“.

Após alguma tensão por seu rompimento com o Catolicismo, Calvino acabou se mudando para Basel na Suíça onde ele publicou sua principal obra: “As Institutas da Religião Cristã” em 1536.

Calvino era um incansável polemista e apologista que gerou muita controvérsia. Ele não aceitava, em hipótese alguma, as teologias reinantes de Tomás de Aquino que se afastavam dos princípios da Graça propostos por Paulo em suas cartas e defendidas por Agostinho no início da Igreja.

A influência de Agostinho sobre Calvino é notória, princípios como a predestinação e dependência total de Deus para servos salvos do inferno são princípios Agostinianos compartilhados por Calvino.

Jacó Armínio

Jakob Hermanszoon, nascido em 10 de Outubro de 1560 e que morreu em 19 de Outubro de 1609 foi um teólogo holandes da reforma protestante. Hermanszoon ficou conhecido pela tradução latina de seu nome: Armínio e foi professor de teologia na Universidade de Leiden.

Órfão ainda na infância, foi adotado pelo pastor Theodorus Aemilius que o pôs na escola de Utrecht. Contudo, esse pastor também veio a falecer em 1574. Subsequentemente Rudolph Snellius levou-o à Marburgo o que possibilitou Armínio poder chegar a Universidade de Leiden como estudante de Teologia e posteriormente se tornar professor da renomada instituição.

Jacó estudou com dedicação e teve ali sementes plantadas que começariam a se desenvolver em uma teologia que posteriormente competiria com a dominante teologia reformada de João Calvino. Ele foi ordenado Pastor em Amsterdam em 1588 e ganhou reputação com uma série de sermões sobre a Epístola de Romanos que desenvolveu gradualmente suas opiniões sobre a graça, predestinação e livre-arbítrio, que se mostraram incompatíveis com as doutrinas de Calvino.

Armínio começou a formular sua base teológica ao defrontar os ensinamentos Calvinistas com os de Dirck Volcketszoon Coomhert.[6] Neste momento Armínio começou a duvidar de alguns aspéctos do calvinismo e a modificar algumas partes a partir de sua própria visão.[7] Ele tentou reformar o calvinismo, e emprestou seu nome a um movimento — Arminianismo — que resistiria a alguns dos princípios calvinistas (predestinação incondicional, expiação limitada). Os primeiros seguidores holandeses de seu ensinamento ficaram conhecidos como Remonstrantes depois de terem emitido um documento, intitulado Remonstrantiæ (1610), contendo cinco pontos de desacordo com a corrente principal do calvinismo.

A teologia arminiana não se tornou totalmente desenvolvida durante a vida de Armínio, só após a sua morte (1609) os cinco artigos da remonstrância (1610) sistematizaram e formalizaram as suas ideias.

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A influência de Tomás de Aquino sobre Armínio é notória, princípios como as boas obras e livre-arbítrio são princípios do Tomismo (teologia de Tomás de Aquino) compartilhados por Armínio.

Referências: [1] Portalié, Eugène (1913). “Teaching of St. Augustine of Hippo”. Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. [2] Anderson, David R., Ph.D.. Free Grace Soteriology. [S.l.]: Zulon Press, 2010. 92 p.. [3] In: Charles W. Eliot. Confessions of St. Augustine. [S.l.]: Collier & son. p. 4.. [4] Online Etymology Dictionary. Página visitada em 02-08-2012. [5] Cottret, Bernard. Calvin: A Biography. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans, 2000. 0-8028-3159-1 Traduzido para o inglês do original Calvin: Biographie, Edição de Jean-Claude Lattès, 1995. [6] Dirck Volckertszoon Coornhert (1522-1590) (* Amsterdam, 1522 – † Gouda, 29 de Outubro de 1590), foi filósofo, tradutor, político e teólogo holandês. [7] Gonzalez, Justo L.. A History of Christian Thought. Nashville: Abingdon Press, 1983. p. 3:255. ISBN 0687171784

Calvinismo

Nesta segunda parte de nosso estudo estaremos abordando o Calvinismo. Não deixe de ler a primeira parte para situar-se sobre personagens e conceitos já abordados. Também ressaltamos que a visão será imparcial apresentando os pontos conforme defendidos pelos adeptos deste sistema teológico.

O Calvinismo Clássico:

Tendo-se em mente que toda teologia evangélica é embasada nas 5 Solas, partimos agora para o estudo do Calvinismo Clássico. Mesmo sabendo que João Calvino foi pregador do evangelho na Suíça (local onde estava exilado), devido à relevância de seus estudos, seus textos acabaram se difundindo pelas Igrejas Reformadas de grande parte da Europa. Logo depois das primeiras publicações ficou claro que a teologia reformada teria um rompimento com o luteranismo devido a diferenças notórias.

João Calvino redefiniu o sistema teológico que começou com Agostinho. Com algumas supostas diferenças que ainda são debatidas, Calvino trabalhou para defender a predestinação agostiniana (eleição incondicional, depravação total e graça irresistível). R. T. Kendall afirma que Calvino discordava de seus predecessores em dois pontos. Em primeiro lugar, Calvino acreditava que Cristo morreu para expiar os pecados do mundo inteiro, ou seja, cada pessoa no mundo, e não apenas os eleitos. Ele baseia essa crença nas declarações que Calvino fez nas Institutas da Religião Cristã, em seus comentários sobre a Bíblia e em várias outras obras. Por exemplo, no tratado Sobre a Eterna Predestinação de Deus, Calvino escreveu: “Também é um fato, sem controvérsia, que Cristo veio para expiar os pecados ‘de todo o mundo’”.

Assim o Calvinismo passou a ser, ainda com Calvino estando vivo, o sistema teológico majoritário na Escócia (notoriamente com o Pr. John Knox), na Holanda (destacando-se o Pr. William Ames, Pr. TJ Frelinghuysen e Pr. Wilhelmus a’Brakel) e também até mesmo em parte da Luterana Alemanha (principalmente na região de fronteira com a Suíça tendo importância o nome do pregador Zacharias Ursinus), mesmo sem ter sido definida a T.U.L.I.P..

O Calvinismo também se tornou influente na terra natal de Calvino, a França, e na Hungria, Transilvânia (que era um país independente), Lituânia e na Polônia. A Escandinávia se tornou grandemente Calvinista, mas a Suécia rejeitou em 1593 o Calvinismo voltando-se ao Luteranismo.

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Com a colonização do Mundo Novo, muitos dos Calvinistas Europeus se mudaram para a América e Nova Inglaterra. Os Puritanos (ingleses) e os Huguenotes (franceses) além de alguns Holandeses e Presbiterianos (da Escócia e Irlanda). Também foram os Calvinistas os primeiros colonizadores da África do Sul no início do Século XVII.

Alguns conhecidos nomes se destacam dentre os Calvinistas. Charles H. Spurgeon, considerado o Príncipe dos Pregadores, foi um Pastor Batista Reformado na Inglaterra que declarou as seguintes frases:

“As velhas verdades que Calvino pregou, que Agostinho pregou, que Paulo pregou são as verdades que eu devo pregar hoje, ou, de outro modo, serei falso à minha consciência e ao meu Deus. Eu não posso fabricar a verdade. Eu nada sei a respeito de como abrandar as ásperas arestas de uma doutrina. O Evangelho de João Knox é o meu Evangelho. Aquele Evangelho que ribombou através da Escócia deve ribombar através da Inglaterra outra vez.”

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O acróstico T.U.L.I.P. faz menção ao nome da flor TULIPA em inglês

O Calvinismo Clássico é definido em 5 Pontos conhecidos como T.U.L.I.P. (acróstico derivado das iniciais em inglês dos 5 pontos). Apesar destes pontos já serem, em parte, defendidos por Calvino, eles só foram sistematizados anos após a sua morte como uma resposta dada pelos Calvinistas aos 5 pontos do Arminianismo.

A TULIP

T.U.L.I.P. é o acróstico de: T – Total Depravity – Depravação Total; U – Unconditional Election – Eleição Incondicional; L – Limited Atonement – Expiação Limitada; I – Irresistible Grace – Graça Irresistível; P – Perseverance of Saints – Perseverança dos Santos.

T “Total depravity”: Depravação Total:

Esta doutrina, também chamada de “inabilidade total”, afirma que a consequência natural da queda da humanidade no pecado é que toda pessoa nascida no mundo é escrava a serviço do pecado. A humanidade não é naturalmente inclinada a amar a Deus de todo coração, alma e força, mas verdadeiramente é inclinada a servir seus próprios interesses (servir a carne) sobre quaisquer outros, incluindo os de seus vizinhos e as regras deixadas por Deus (10 Mandamentos).

Por este motivo, todo ser humano, por sua própria capacidade e moral é incapaz de escolher seguir a Cristo e ser salvo, porque isto é negar e matar sua própria carne e natureza. Esta doutrina é claramente derivada das explicações agostinianas sobre o Pecado Original.

Passagens relevantes a serem observadas:

Romanos 3:9-20 Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; | Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. |Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. | Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. | A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; | Cuja boca está cheia de maldição e amargura. | Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. | Em seus caminhos há destruição e miséria; | E não conheceram o caminho da paz. | Não há temor de Deus diante de seus olhos. | Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. | Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.

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Gálatas 3:22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes.

U “Unconditional election”: Eleição Incondicional:

Esta doutrina afirma que Deus escolheu desde a eternidade aqueles que virão a Ele não baseado em virtudes ou em obras humanas, nem em méritos, nem na fé destas pessoas. Na verdade esta eleição é feita exclusivamente a partir da própria Graça de Deus. Deus, em sua onisciência, escolheu estender Sua Graça àqueles que Ele escolheu, mesmo estes sendo imerecedores de tamanha graça. Esta escolha não fere a graça sobre os não eleitos, já que estes simplesmente receberão o pagamento por seus próprios pecados contra Deus.

Passagens relevantes a serem observadas:

Romanos 9:11-14 Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. | E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; | Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal ( para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama ), | Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. | Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. | Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.

Mateus 25:34, 41 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; [...] Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;

L “Limited atonement”: Expiação Limitada:

Também chamada de “redenção particular” ou “expiação definida” esta doutrina afirma que a expiação dada pelo sacrifício de Jesus na cruz foi definitivo e certeiro em seu propósito. Isto implica que somente os pecados dos eleitos foram pagos pela morte de Jesus.

É importante ressaltar que esta expressão “expiação limitada” não se refere em hipótese alguma em um valor limitado para a expiação feita pela morte de Jesus, nem que somente parte dos pecados seriam pagos. A ideia real é de que a expiação não foi “jogada fora” ou seja, Deus não desperdiçou o sangue precioso de Jesus para alguém que não O aceitaria. Todo sangue derramado foi para o pagamento dos pecados daqueles que O aceitaram.

Passagens relevantes a serem observadas:

1 João 3:16 Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos.

João 15:13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.

I “Irresistible grace”: Graça Irresistível:

Também chamada de “graça eficiente”, afirma que a graça salvadora de Deus, manifesta na morte de Jesus, é irresistível para aqueles que estão predestinados a salvação (os eleitos), e, no tempo de Deus, mesmo tendo que sobrepujar as resistências humanas a obediência à Deus, e também as rejeições do Evangelho, quem está eleito para a salvação será salvo. Este ponto afirma que a influência da Graça Poderosa de Deus quando chega até os eleitos numa ação do Espírito Santo, não há como alguém

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resistir. O Espírito Santo é muito mais poderoso do que qualquer ser humano e Ele faz Sua obra mudando a mente e o coração de forma graciosa.

Passagens relevantes a serem observadas:

Efésios 2:1-10 E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, | Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. | Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. | Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, | Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos ), | E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; | Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. | Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. | Não vem das obras, para que ninguém se glorie; | Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

Atos 13:48 E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.

P “Perseverance of the saints”: Perseverança dos Santos:

(A palavra santo está se referindo aos que foram separados por Deus e não com qualquer canonização feita por instituições humanas). A perseverança afirma que como Deus é onipotente e oniciente não pode ser frustrado pelos humanos, ou qualquer outra entidade. Desta forma, aqueles a quem Deus escolheu continuarão em comunhão com Ele até o fim e aqueles que, aparentemente, caíram na fé é porque nunca foram realmente salvos, ou então irão voltar antes de suas mortes ou da volta de Jesus.

Estas doutrinas também são chamadas de doutrinas da graça. Nela vemos que toda ação para a salvação depende de Deus em sua Santidade, em Sua Graça, em Sua Onisciência e em Sua Onipotência.

Passagem relevante a ser observada:

I João 2:19 Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.

Efésios 1:11-13 Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; | Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; | Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.

O Novo Calvinismo:

Pr. John Piper

O Novo Calvinismo é uma perspectiva crescente em comparação as teologias reinantes no evangelicalismo que são fundamentadas nas teologias do século XVI e XVII. Em Março de 2009 a revista TIME publicou uma lista das “10 ideias que estão mudando o mundo agora mesmo”, em terceiro lugar em relevância estaria o Calvinismo, mais especificamente o Novo Calvinismo.

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Alguns importantes pastores da atualidade são declaradamente adeptos do Novo Calvinismo. Nomes como John Piper, Mark Driscoll, Al Mohler, Mark Dever, C.J. Mahanaey, Joshua Harris e Tim Keller afirmam que esta sistematologia teológica é a mais adequada segundo os preceitos bíblicos.

Embora continue basicamente com os cinco pontos do Calvinismo (TULIP) o Novo Calvinismo têm profundas alterações em seus entendimentos. Vale notar que, conforme já foi dito, os cinco pontos do Calvinismo não foram listados por Calvino. Na verdade eles foram definidos, quase um século depois da morte de Calvino, por seguidores do Calvinismo contrários aos cinco pontos do Arminianismo.

Pr. Mark Driscoll

Mark Driscoll, em artigo de 2009, lista quatro grandes diferenças dentre o Antigo e o Novo Calvinismo:

1- O Antigo Calvinismo era fundamentalista ou liberalista tornando-se, respectivamente, separado ou sincretizado com a cultura. O Novo Calvinismo é missionário e busca criar uma cultura de redenção.

2- O Antigo Calvinismo fugia das cidades. O Novo Calvinismo está inundando as cidades.

3- O Antigo Calvinismo tinha “medo” dos dons do Espírito Santo e, geralmente, era cessacionista (acreditava que os dons do Espírito Santo, tais como as línguas estranhas e as profecias cessaram). O Novo Calvinismo se delicia com os dons do Espírito Santo e é geralmente continualista no que diz respeito a todos os dons espirituais listados na Bíblia.

4- O Antigo Calvinismo tinha medo e suspeita de outros cristãos e criava barreiras contra eles. O Novo Calvinismo ama todos os cristãos e constrói pontes entre eles.

Bibliografia desta 2ª Parte: Boettner, Loraine. The Reformed Doctrine of Predestination. Philadrtlphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., n. d. Edwards, Jonathan. Freedom of the Will. Edited by Paul Ramsey, vol. 1. New Haven: Yale University Press, 1969. Gerstner, J. H. A Predestination Primer. Grand Rapids: Baker Book House Co., 1960. Kuiper, Herman. By Grace Alone. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Co., 1972. Pink, Arthur W. The Doctrine of Election. Swengel, PA: Bible Truth Depot, n. d. Reed, R. C. The Gospel As Taught by Calvin. Jackson, MS: Presbyterian Reformation Society, n. d. Spurgeon, C. H. Election. Swengel, PA: Bible Truth Depot, n. d. Calvin, John “Commentaries to the Epistle of Paul to the Galatians and Ephesians”. Traduzido para o inglês por Rev. William Pringle. Ephesians Ch 2:1 The Five Points of Calvinism. The Calvinist Corner. Visitado em 2012-08-02. Confissão de Fé de Westminster (1647) Driscoll, Mark (March 12, 2009). “Time Magazine Names New Calvinism 3rd Most Powerful Idea” Driscoll, Mark (March 12, 2009). “More Thoughts on Time Magazine and New Calvinism”

Arminianismo

Nesta terceira parte de nosso estudo estamos abordando o Arminianismo. Não deixe de ler as duas primeiras partes para situar-se sobre personagens e conceitos já abordados. Também ressaltamos que

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a visão será imparcial apresentando os pontos conforme defendidos pelos adeptos deste sistema teológico.

O Arminianismo Clássico:

Tendo-se em mente que toda teologia evangélica é embasada nas 5 Solas, partimos agora para o estudo do Arminianismo Clássico. Embora tenha sido discípulo do notável calvinista Teodoro de Beza, Jacó Arminio defendeu uma sistematologia teológica cujos princípios divergiam claramente dos princípios calvinistas.

Erasmo de Roterdã

Arminio não foi primeiro e nem o último na história da Igreja a defender estes pontos. De fato, há dúvidas quanto ao fato de que ele tenha introduzido algo de novo na teologia cristã. Os próprios arminianos costumam afirmar que os pais da Igreja Católica Grega dos primeiros séculos da era cristã e muitos dos teólogos Católicos medievais eram defensores dos mesmos pontos. Para tal citam nomes como o reformador católico Erasmo de Roterdã e até mesmo Philipp Melanchthon (1497-1560), companheiro de Lutero na reforma alemã, que defendia uma sistematologia parecida com a de Armínio, embora o próprio Lutero divergisse dele. Também é notório que a sistematologia teológica Católica Apostólica Romana, naqueles dias e ainda hoje, era primariamente Tomista (criada por Tomás de Aquino), esta sistematologia é, em grande parte, congruente com o Arminianismo.

Arminio e seus seguidores divergiram do calvinismo por entenderem que as crenças reformadas na eleição incondicional (e especialmente na reprovação incondicional), na expiação limitada e na graça irresistível:

1)seriam incompatíveis com o caráter de Deus, que é amoroso, compassivo, bom e deseja que todos se salvem. 2)violariam o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem. 3)levariam à consequência lógica inevitável de que Deus fosse o autor do mal e do pecado. O ponto crucial do arminianismo remonstrante reside na afirmação de que a dignidade humana requer a liberdade perfeita do arbítrio. [1]

As igrejas reformadas da Holanda eram protestantes, em sentido geral, e não rigidamente calvinistas. Embora aceitassem a declaração de Heidelberg como declaração primária de fé, não exigiam que seus pastores, ministros ou teólogos aderissem aos princípios calvinistas, que vinham sendo desenvolvidos em Genebra, por Beza.[2] Havia relativa tolerância entre os protestantes holandeses com relação ao que era pregado nos púlpitos evangélicos. De fato, havia tanto calvinistas quanto luteranos convivendo tranquilamente nas igrejas reformadas. Os seguidores de Melanchthon conviviam pacificamente com os que seguiam os ensinamentos de Beza. O próprio Arminio, acostumado com tal “unidade na diversidade”, mostrou-se estarrecido, em algumas ocasiões, com as exageradas reações calvinistas ao seu ensino.

A Remonstrância:

Na verdade o arminianismo holandês foi originalmente articulado na Remonstrância (1610). Esta foi uma declaração teológica assinada por 45 ministros e apresentado ao estado holandês. Jacó Armínio não sistematizou de forma conclusiva seu sistema teológico enquanto vivo. Desta forma, entendemos por Arminianismo Clássico os 5 pontos defendidos pela Remonstrancia que são embasados nos estudos de Armínio.[3] O Sínodo de Dort (1618–19) foi chamado pelos estados gerais para analisar a Remonstrância e acabou por condená-la.

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Antes de vermos os 5 pontos da Remonstrância, devemos listar as crenças de Armínio:

*

A depravação é total: Arminio declarou: “Neste estado [caído], o livre-arbítrio do homem para o verdadeiro bem não está apenas ferido, enfermo, inclinado, e enfraquecido; mas ele está também preso, destruído, e perdido. E os seus poderes não só estão debilitados e inúteis a menos que seja assistido pela graça, mas não tem poder algum exceto quando é animado pela graça divina.”[4]

A expiação destina-se à todos: Jesus morreu para todas as pessoas, Jesus atrai todos a si mesmo, e todas as pessoas têm oportunidade de se salvarem pela fé.[4]

A morte de Jesus satisfaz a justiça de Deus: A penalidade pelos pecados dos eleitos é paga integralmente através da obra de Jesus na cruz. Assim, a expiação de Cristo é destinada a todos, mas requer a fé para ser efetuada. Arminio declarou que: “Justificação, quando usado para o ato de um juiz, também é exclusivamente a imputação da justiça através da misericórdia… ou esse homem é justificado diante de Deus… de acordo com o rigor da justiça sem qualquer perdão.”[4] Stephen Ashby esclarece: “Arminio só considera duas maneiras possíveis em que o pecador pode ser justificado: (1) pela adesão absoluta e perfeita à lei, ou (2) exclusivamente pela divina imputação da justiça de Cristo.”[5]

A graça é resistível: Deus toma a iniciativa no processo de salvação e a Sua graça vem a todas as pessoas. Esta graça (muitas vezes chamada de preveniente ou pré-graça regeneradora) age em todas as pessoas para convencê-las do Evangelho, chamá-las fortemente à salvação, e capacitar à possibilidade de uma fé sincera. Picirilli declarou que “realmente esta graça está tão próxima da regeneração que ela leva inevitavelmente a regeneração, a menos que, por fim seja resistida.” [6] A oferta de salvação por graça não age irresistivelmente em um simples sistema “causa-efeito”, mas sim de um modo de influência-e-resposta, que tanto pode ser livremente aceita e livremente negada. [7]

O homem tem livre arbítrio para responder ou resistir: O livre-arbítrio é limitado pela soberania de Deus, mas a soberania de Deus permite que todos os homens tenham a opção de aceitar o Evangelho de Jesus através da fé, simultaneamente, permite que todos os homens resistam ao mesmo chamado.

A eleição é condicional: Arminio define eleição como “o decreto de Deus pelo qual, de Si mesmo, desde a eternidade, decretou justificar em Cristo, os crentes, e aceitá-los para a vida eterna.”[6] Só Deus determina quem será salvo e a sua determinação é que todos os que crêem em Jesus através da fé sejam justificados. Segundo Arminio, “Deus a ninguém preza em Cristo, a menos que sejam enxertados nele pela fé”. [6]

Deus predestina os eleitos a um futuro glorioso: A predestinação não é a predeterminação de quem irá crer, mas sim a predeterminação da herança futura do crente. Os eleitos são, portanto, predestinados a filiação pela adoção, glorificação, e vida eterna. [8]

A justiça de Cristo é imputada ao crente: A justificação é Sola Fide. Quando os indivíduos se arrependem e creem em Cristo (fé salvífica), eles são regenerados e trazidos a união com Cristo, pela qual a morte e a justiça de Cristo são imputados a eles, para sua justificação diante de Deus.[6]

A segurança eterna é também condicional: Todos os crentes têm plena certeza da salvação com a condição de que eles permaneçam em Cristo. A salvação é condicional a fé, portanto, a perseverança também é condicional.[6] A apostasia (desvio de Cristo) só é cometida por uma deliberada e proposital rejeição de Jesus e renúncia da fé.[6]

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Os Cinco Artigos da Remonstrância [9]:

Artigo I

Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça humana que tinha caído no pecado – em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo – aqueles que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os costumazes e descrentes, condenando-os como alheios a Cristo, segundo a palavra do Evangelho de João.

Passagens relevantes a serem observadas:

João 3:17-18 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. | Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.

João 3:36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.

Artigo II

Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que obteve para todos, por sua morte na cruz, reconciliação e remissão dos pecados; contudo, de tal modo que ninguém é participante desta remissão senão os crentes.

Passagens relevantes a serem observadas:

João 3:15-16 Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. | Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

1 Timóteo 2:3-4 – Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, | Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.

2 Coríntios. 5:14-15 – Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. | E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

Artigo III

Que o homem não possui por si mesmo graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de modo que, em seu estado de apostasia e pecado para si mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada que seja bom – nada, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal como a fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu Santo Espírito, seja gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e vontade e em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender, pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a Palavra de Deus.

Passagem relevante a ser observada:

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João 15.5 Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.

Artigo IV

Que esta graça de Deus é o começo, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De modo que todas as obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em pensamento, devem ser atribuídos à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que eles resistiram ao Espírito Santo.

Passagens relevantes a serem observadas:

Atos 7:51 Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais.

Efésios 4:30 E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.

Artigo V

Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e que assim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotados de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e de ganhar a vitória; sempre – bem entendido – com o auxílio da graça do Espírito Santo, com a assistência de Jesus Cristo em todas as suas tentações, através de seu Espírito; o qual estende para eles suas mãos e (tão somente sob a condição de que eles estejam preparados para a luta, que peçam seu auxílio e não deixar de ajudar-se a si mesmos) os impele e sustenta, de modo que, por nenhum engano ou violência de Satã, sejam transviados ou tirados das mãos de Cristo. Mas quanto à questão se eles não são capazes de, por preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes foi entregue, de perder a sua boa consciência e de negligenciar a graça – isto deve ser assunto de uma pesquisa mais acurada nas Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo com inteira segurança.

Passagens relevantes a serem observadas:

João 10.28 E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.

1 João 2:3 E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos.

Arminianismo Wesleyano:

John Wesley

O Pastor John Wesley, fundador da Igreja Metodista, foi historicamente o defensor mais influente dos ensinos da sistematologia teológica arminiana. Wesley concordou com a vasta maioria daquilo que o próprio Arminio defendeu, mantendo doutrinas fortes, tais como as do pecado original, depravação total, eleição condicional, graça preveniente, expiação ilimitada e possibilidade de apostasia.

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Wesley, porém, afastou-se do Arminianismo Clássico em três questões:

Expiação – A expiação para Wesley é um híbrido da teoria da substituição penal e da teoria governamental de Hugo Grócio, advogado e um dos Remonstrantes. Steven Harper expõe: “Wesley não colocou o elemento substitucionário dentro de uma armação legal… Preferencialmente [sua doutrina busca] trazer para dentro do próprio relacionamento a ‘justiça’ entre o amor de Deus pelas pessoas e a aversão de Deus ao pecado …isso não é a satisfação de uma demanda legal por justiça; assim, muito disso é um ato de reconciliação imediato.”[10]

David Pawson

Possibilidade de apostasia – Wesley aceitou completamente a visão arminiana de que cristãos genuínos podem apostatar e perder sua salvação. Seu famoso sermão “A Call to Backsliders” demonstra claramente isso. Harper resume da seguinte forma: “o ato de cometer pecado não é ele mesmo fundamento para perda da salvação … a perda da salvação está muito mais relacionada a experiências que são profundas e prolongadas. Wesley via dois caminhos principais que resultam em uma definitiva queda da graça: pecado não confessado e a atitude de apostasia.”[10] Wesley discorda de Arminio, contudo, ao sustentar que tal apostasia não é final. Quando menciona aqueles que naufragaram em sua fé, Wesley argumenta que “não apenas um, ou cem, mas, estou convencido, muitos milhares… incontáveis são os exemplos… daqueles que tinham caído, mas que agora estão de pé”[11]

1 Timóteo 1:19 Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.

Perfeição cristã – Conforme o ensino de Wesley, os cristãos podem alcançar um estado de perfeição prática. Isso significa uma remoção de todo “pecado voluntário”, mediante a capacitação do Espírito Santo em sua vida. Perfeição cristã (ou santificação inteira), conforme Wesley, é “pureza de intenção; toda vida dedicada a Deus” e “a mente que estava em Cristo, nos capacita a andar como Cristo andou.” Isso é “amar a Deus de todo o seu coração, e os outros como você mesmo”.[12] Isso é ‘uma restauração não apenas para favor, mas também para a imagem de Deus,” nosso ser “encheu-se com a plenitude de Deus”.[13] Wesley esclareceu que a perfeição cristã não implica perfeição física ou em uma infabilidade de julgamento. Para ele, significa que não devemos violar a longanimidade da vontade de Deus, por permanecer em transgressões voluntárias. A perfeição cristã coloca o sujeito sob a tentação, e por isso há a necessidade contínua de oração pelo perdão e santidade. Isso não é uma perfeição absoluta mas uma perfeição em amor. Além disso, Wesley nunca ensinou um salvação pela perfeição, mas preferiu dizer que “santidade perfeita é aceitável a Deus somente através de Jesus Cristo.”[12]

Arminianos recentes: David Pawson, Roger E. Olson, Leonard Ravenhill, Stephen M. Ashby, Steven Harper, Thomas Oden

Referências: [1] Arminianismo. Encyclopædia Britannica Online [2] BANGS, Carl Bangs “Arminius: A Study in the Dutch Reformation (1985)” [3] Ashby, Stephen “Reformed Arminianism” Four Views on Eternal Security (Grand Rapids: Zondervan, 2002), 137 [4] Arminius, James The Writings of James Arminius (three vols.), tr. James Nichols and W.R. Bagnall (Grand Rapids: Baker, 1956), I:252 [5] Ashby Four Views, 140 [6] Picirilli, Robert Grace, Faith, Free Will: Contrasting Views of Salvation: Calvinism and Arminianism (Nashville: Randall House Publications, 2002), 154ff

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[7] Forlines, Leroy F., Pinson, Matthew J. and Ashby, Stephen M. The Quest for Truth: Answering Life’s Inescapable Questions (Nashville: Randall House Publications, 2001), 313–321 [8] Pawson, David Once Saved, Always Saved? A Study in Perseverance and Inheritance (London: Hodder & Staughton, 1996), 109ff [9] Harrison, A. W. The Beginnings of Arminianism to the Synod of Dort. London: University of London Press, 1926. [10] Harper, Steven “Wesleyan Arminianism” Four Views on Eternal Security (Grand Rapids: Zondervan, 2002) 227ff [11] Wesley, John “A Call to Backsliders” The Works of John Wesley, ed. Thomas Jackson, 14 vols. (London: Wesley Methodist Book Room, 1872; repr, Grand Rapids: Baker, 1986) 3:211ff [12] Wesley, John “A Plain Account of Christian Perfection”, Works [13] Wesley, John “The End of Christ’s Coming”, Works

Nesta última parte de nosso estudo estamos comparando os pontos divergentes das duas sistemáticas teológicas (Calvinismo e Arminianismo). Não deixe de ler as outras partes para situar-se sobre personagens e conceitos já abordados.

Controvérsia Quinquarticular:

A controvérsia quinquarticular (referente a 5 Artigos) é um termo usado para se referir puramente aos confrontos teológicos calvinista-arminiano do período de 1609 até 1618, uma época em que o debate tinha sérias conotações políticas na Holanda. Esta controvérsia é a que foi abordada pelas igrejas reformadas holandesas no Sínodo de Dort em 1618-1619, uma reunião em que representantes de igrejas protestantes reformadas de outros países foram convidados. Os cinco artigos da Remonstrancia foram rejeitadas pelo Sínodo de Dort, o que acabou por definir o que se conhece como os cinco pontos do calvinismo.

A controvérsia marcou a transformação do movimento arminiano em uma organização eclesiástica separada e perseguida na Holanda. Para os arminianos este foi o início da perseguição e militância a favor da disseminação de sua sistemática teológica, enquanto que para os calvinistas isso resultou no estabelecimento de pontos claros sobre as doutrinas que foram iniciadas por João Calvino e esclarecidas por Teodoro de Beza.

Lembre-se que o príncipe governante da Holanda, Maurício de Nassau, era Calvinista e temia a invasão da Espanha Católica. Por outro lado o Arminianismo com suas boas obras acabava aproximando-se do Catolicismo o que parecia ser um retorno ao mesmo. Fatalmente entende-se que a controvérsia Quinquarticular transformou-se de um debate teológico em um debate político.

Comparando o Calvinismo com o Arminianismo:

visão Tomista e Arminiana

Se por um lado existem acusações de que o Calvinismo se inspirou em Santo Agostinho (Catolicismo), algo que é verdadeiro, também existem acusações de que o Arminianismo se inspirou em Tomás de Aquino (Catolicismo), o que também é verdadeiro.

Por outro lado é injusta a acusação de que o Arminianismo é Pelagianismo (a doutrina de Pelágio que foi combatida por Santo Agostinho) e também é injusta a acusação de que o Calvinismo é na verdade um Platonismo (doutrina filosófica de Platão) moderno.

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Visão Agostiniana e Calvinista

Com relação a estudos, também ficou claro nestes artigos que tanto João Calvino quanto Jacó Armínio foram pessoas que estudaram profundamente a Palavra de Deus, que buscaram se aproximar ao máximo das verdades inerrantes que estão na Bíblia, e que, se chegaram a conclusões divergentes, isto não invalida a qualidade de estudos realizados.

Monergismo X Sinergismo:

O principal ponto de discórdia dentre os Calvinistas e os Arminianos é exatamente o debate Monergismo x Sinergismo, sendo o Calvinismo um sistema teológico monergista e o Arminianismo um sistema teológico sinergista.

O Monergismo:

Esta teologia cristã parte do princípio de que Deus (através da ação exclusiva do Espírito Santo) age de forma isolada para que a salvação do homem ocorra. A palavra Monergismo vem de MONO= unitário, ERGISMO=energia.

Desta forma a salvação vem de Deus e não de nós mesmos e quando somos salvos isto ocorre por exclusiva ação do Espírito Santo em nós. Após tal ação passamos a Santificação. Neste aspecto temos duas correntes no Monergismo, a primeira afirma que a santificação é imediata e a segunda afirma que a santificação é gradual. Em ambos os casos a santificação é obra exclusiva do Espírito Santo na vida daquela pessoa.

A Regeneração na sistemática Monergística é uma benção redentora adquirida por Cristo para aqueles que o Pai lhe deu. O Espírito Santo inunda de poder a alma caída de forma que a pessoa que deve ser salva é eficazmente capacitada a responder ao chamado do evangelho. O Espírito Santo, ao vivificar a alma, misericordiosamente capacita e inclina o eleito de Deus ao exercício espiritual da fé em Jesus Cristo. Segundo o Monergismo este processo é o meio pelo qual o Espírito nos traz à viva união com Ele.

O Sinergismo:

Esta teologia cristã parte do princípio que o homem tem algum grau de participação na sua própria salvação, ou seja, é responsável, mesmo que em parte, pela sua salvação ou perdição. A palavra SINERGISMO vem de SIN=ambas, ERGISMO=energia.

Para os Arminiano o sinergismo ocorre no fato de que o homem não rejeita a graça salvadora dada por Deus. Desta forma todo processo de salvação é feito por Deus, mas ao final o homem tem o livre-arbítrio de decidir se quer ou não ser salvo.

Com relação a Santificação: o Espírito Santo vai preenchendo a alma e capacitando o salvo para a vida espiritual a medida em que o individuo busca santidade. A busca por parte do ser humano é que caracteriza o sinergismo. É o livre arbítrio de decidir buscar.

O que você tem a ver com isto:

Você talvez acredite que não precisa se envolver com estas teologias e que sua vida na comunhão da sua Igreja local não está diretamente declarando esta ou aquela sistemática teológica. Talvez você seja

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alguém até que acredita que não está envolvido com nada disto e que sua igreja não prega nem o Calvinismo nem o Arminianismo.

Para você que pensa assim, eu gostaria de compartilhar duas letras de músicas que escolhemos para caracterizar as duas linhas de sistematologia teológica:

Quebrantado – Vineyard

...Pela cruz, me chamou/Gentilmente me atraiu e eu/Sem palavras me aproximo/Quebrantado por seu amor…

Reina em mim – Vineyard

…uma coisa só meu desejo é:/Vem reinar de novo em mim//Reina em mim com Teu poder/Sobre a escuridão/Sobre os sonhos meus/Tu és o Senhor de tudo o que sou/Vem reinar em mim, Senhor…

De forma proposital, ambas são de autoria do mesmo grupo. Escolhemos assim para que não existam preconceitos sobre um ou outro grupo e certamente são músicas que cantamos na maioria das Igrejas Evangélicas Brasileiras.

A primeira música declara de forma bastante clara que quem atrai é Jesus, quem chama é Jesus. Toda ação é d’Ele e somente através d’Ele somos quebrantados pelo amor d’Ele. Esta letra é Calvinista.

Por outro lado a segunda música declara de forma bastante clara que quem está cantando tem um desejo de que Jesus reine novamente nele. Isto implica no fato de Jesus já ter reinado antes e de ter deixado de reinar e ainda que o indivíduo deseja que ele volte a reinar. Esta letra é Arminiana.

Acusações:

Arminianos acusam os Calvinistas de que se existe a garantia eterna da salvação para aqueles que nasceram para ser salvos, que a pessoa se acomodaria e viveria uma vida em pecado sabendo que seria salvo no final das contas. Isto levaria a um “mundanismo” dentro das igrejas.

Calvinistas, por sua vez, acusam os Arminianos de que ao entrarem em uma busca desenfreada de “santificação” acabam criando também uma “hierarquia” onde quem está num “estado de santidade maior” seria mais do que os outros. Isto levaria a um “orgulho” dentro das igrejas.

Calvinistas acusam os Arminianos de que se podemos resistir a graça estaríamos fatalmente afirmando que Deus não é Onipotente. Desta forma os arminianos creriam num Deus que não tem todo o poder.

Arminianos acusam os Calvinistas de que Deus não seria justo se já condenou alguns indivíduos ao inferno sem que os mesmos tenham tido alguma chance durante a vida deles.

Reflexões:

Se por um lado é complicado acreditar na possibilidade de ter alguma participação humana em sua própria salvação (Arminianismo), por outro lado é complicado acreditar na possibilidade de ter pessoas que nunca terão chance de serem salvas do inferno(Calvinismo).

A busca incansável dos Arminianos por não perder a salvação, faz com que a cada segundo o cristão tenha medo de estar indo para o inferno. Desta forma poderiam estar vivendo uma vida exemplar até 2

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segundos antes de morrer, ser um crente fiel, e tudo mais e em apenas 2 seg ele morrer e ir para o inferno devido a algum pensamento errado que tenha-se passado pela cabeça.

A confiança da própria salvação por parte dos Calvinistas acaba por gerar pessoas descompromissadas com o evangelismo.

Outros pontos poderiam ser abordados, mas estes já são suficientes para nossa conclusão.

Conclusão:

Brasil

Finalmente, uma reflexão que deve ser feita. Sem querer afirmar algo, existe uma clara evidência de que nos Estados Unidos a predominância atualmente é de um crescimento acelerado do calvinismo em detrimento do arminianismo. Já aqui no Brasil também é bastante claro a predominância de um crescimento acelerado do arminianismo em comparação com o calvinismo.

A pergunta poderia ser feita da seguinte forma: Será que as origens coloniais dos dois países seriam a explicação para esta diferença? Será que como originalmente os Estados Unidos foram colonizados por imigrantes calvinistas ainda hoje existiria uma tendência a crer na graça irresistível e na incapacidade humana de contribuir para sua própria salvação?

EUA

Será que como originalmente o Brasil foi colonizado por imigrantes católicos ainda hoje existiria uma tendência a crer na possibilidade de galgar o Mérito de condigno (meritum de condigno) de Tomás de Aquino?

Não existe uma resposta para esta pergunta. Muitas análises deveriam ser feitas, deixo então a pergunta aberta para que seja respondida por você…

Já afirmamos antes de que ninguém conseguiria uma “fórmula mágica”que resolvesse os problemas. A verdade é que este debate já existe há 400 anos e irá continuar por muitos anos.

Talvez a forma mais correta de se encarar tal situação seja a que o Pr. Mark Driscaoll deu: “Trabalhe para Deus como um Arminiano e durma como um Calvinista”.