ACTAS - Mineração Antiga e Arqueometalurgia · 2015-01-28 · Este rio drena uma vasta bacia...

of 27 /27

Embed Size (px)

Transcript of ACTAS - Mineração Antiga e Arqueometalurgia · 2015-01-28 · Este rio drena uma vasta bacia...

ACTASDO

VI SIMPSIO SOBRE MINERAO E METALURGIA HISTRICAS NO

SUDOESTE EUROPEU REALIZADO NA CASA DE ARTES E CULTURA DO TEJO

(VILA VELHA DE RDO)NOS DIAS 18, 19 E 20 DE JUNHO DE 2010

Coord. de Carlos Batata

Abrantes, Junho de 2011

FICHA TCNICA

Ttulo: Actas do VI Simpsio sobre Minerao e Metalurgia Histricasno Sudoeste Europeu

Capa: Conhal do Arneiro (NISA)

Edio: Carlos Batata

Execuo grfica: Grfica Almondina, Torres Novas

Tiragem: 500 exemplares

Depsito legal: 330 056/11

ISBN: 978-989-20-2440-0

VI SIMPSIO SOBRE MINERAO E METALURGIA HISTRICAS NO SUDOESTE EUROPEU

Comisso Organizadora Comisso Cientfica

Carlos Batata Antnio Monge Soares(Ozecarus, Lda.) (I.T.N. - MCTES) Carlos Carvalho Helena Catarino (Geopark Naturtejo) (Universidade de Coimbra)

Fernando S Couto Jos dEncarnao (SEDPGYM Portugal) (Inst. Arqueologia - Univ. Coimbra)

Francisco Henriques Josep Mata-Perell (AEAT) (SEDPGYM Espanha) Mrio Barroqueiro Lus Raposo(GEOMIN-APPI) (ICOM-Port. e MNA) Raquel Lopes M. Lopes Cordeiro (C.M. Vila Velha de Rdo) (GEOMIN-APPI e Univ. Minho)

Carla Calado Margarida Genera(C.M. de Nisa) (Dep. Cultura, Generalitat de Catalunya, SEDPGYM Espaa)

Mariano Ayarzaguena (SEDPGYM Espanha, SEHA) Nelson Rebanda (Museu do Ferro - Moncorvo)

Octavio Puche (SEDPGYM Espanha)

11

Minerao aurfera no Vale do Tua (Nordeste Transmontano Portugal)

Francisco Sande Lemos, Arquelogo (PhD - Pr-Histria e Histria da Antiguidade)

[email protected] Maria Braz Martins

CITCEM/UM. Bolseira da FCT (BPD). Colaboradora externa da FEUP [email protected]

Henriqueta Cepeda Gabinete de Arqueologia da Cmara Municipal de Mirandela.

[email protected]

ResumoEm Mirandela (Distrito de Bragana, Norte de Portugal), os rios Tuela e

Rabaal juntam-se formando um nico curso de gua que se designa por Tua. Este rio drena uma vasta bacia entre Mirandela e a sua foz no Douro. Nesta rea conservam-se os vestgios de pelo menos dois ncleos de minerao de ouro da poca romana. A Leste na zona de S. Salvador, Frechas e Trindade, ocorrem jazidas filonianas que foram exploradas a cu aberto ou atravs de galerias. So abundantes os locais onde se podem observar indcios da actividade mineira antiga, de tal modo que possvel encarar a hiptese de ter existido um territorium mettalorum talvez com sede no povoado fortificado de nome Castelo de Macedinho. Neste stio e rea circundante so numerosos os indcios quer da ocupao romana quer de trabalho de tratamento do minrio como ms rotativas, a par de um aqueduto e de um tanque de lavagem. No sculo XX a extraco de ouro foi retomada afectando parcialmente os vestgios anteriores.

Outro ncleo mineiro situava-se a Ocidente do vale do rio Tua, nos termos das freguesias de Lamas de Orelho, Avidagos e Franco (concelho de Mirandela).

Neste estudo analisam-se as duas reas mineiras bem como o seu impacto na organizao territorial na poca romana na bacia do Tua.

Palavras-chaves: Minerao aurfera; Nordeste Transmontano; Vale do Tua; Mirandela; Imprio Romano.

AbstractIn Mirandela (Bragana District, Northern Portugal), the Rabaal and

Tuela rivers join in a single watercourse called Tua. This river drains a vast basin between Mirandela and its mouth in the Douro. In this area we can still

11

see the remains of at least two sites of gold mining from Roman times. In the eastern zone, concerning S. Salvador, Frechas and Trindade, there are gold deposits with open pit mining and galleries. The sites with ancient mining activity are so numerous and impressive that we can put the hypothesis of the existence of a territorium mettalorum based on the fortified village of Castelo de Macedinho. Here, and in the surrounding area, there are numerous signs both of the Roman occupation and of the work of processing the ore, such as millstones, as well as an aqueduct and a washing tank. In the twentieth century the gold mining was reopened affecting partially the previous evidences.

Another mining site was located on the West side of the River Tua, between the parishes of Lamas de Orelho, Avidagos and Franco (municipality of Bragana).

In this study we analyze the two mining areas and its impact on the territorial organization in the Roman era in the basin of River Tua.

Key-words: Gold mining; Northeast of Trs-os-Montes; Tua Valley; Mirandela; Roman Empire.

1. IntroduoO Norte de Portugal abrange duas grandes unidades geomorfolgicas

muito distintas entre si. O territrio de Entre Douro e Minho, voltado ao litoral, com um relevo disposto em degraus, no sentido de Oriente para Ocidente, e drenado por uma sequncia de bacias hidrogrficas tranversais e autnomas (Ave, Cvado, Neiva, ncora, Lima e Minho). O espao de Trs-os-Montes, interior, com uma histria geolgica e tectnica muito complexa, formado por plataformas da antiga Meseta Ibrica, conservadas a diferentes altitudes, superfcies embutidas, depresses tectnicas, e vales encaixados dos rios que correm no sentido Norte-Sul para o Douro (A. B. Ferreira, 2005).

Um dos eixos Norte-Sul do espao transmontano o territrio da mdia bacia hidrogrfica do Tua, que rene os cursos do Rabaal e do Tuela num nico rio: o Tua. Este rio, a jusante do local de confluncia, corre em vale aberto na ampla depresso de Mirandela at Abreiro, stio a partir do qual se encaixa, de forma cada vez mais acentuada, at desembocadura no Douro (Foz Tua).

Esta vasta superfcie, drenada pelos cursos terminais do Rabaal e do Tuela e pelo Tua ter sido, na poca romana, uma entidade administrativa especfica, uma civitas cujo nome ignoramos e com eventual origem num povo proto-histrico pr-existente, tambm desconhecido. Embora numa perspectiva geogrfica seja um espao homogneo, encontra-se actualmente dividida pelos concelhos de Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Valpaos e

11

Fig. 1 Localizao das bacias hidrogrficas dos rios Rabaal, Tuela e Tua

1010

Vila Flor os quais aglutinaram, no sculo XIX, toda uma srie de vilas de origem medieval, cujos termos eram mais restritos.

O estudo arqueolgico desse vasto espao mal principiou. Tem-se avanado, mas de forma sincopada, havendo muito trabalho a realizar. Este texto incide sobre os aspectos relacionados com a minerao antiga e seu interface com a rede viria e o povoamento.

2. FisiografiaNo quadro das unidades morfotectnicas da Pennsula Ibrica, o Vale

do Tua insere-se parte no chamado Macio Hesprico, zona Centro Ibrica (Meireles, 1991).

O substrato rochoso dominante so os xistos e grauvaques, a par de quartzitos, embora no sector ocidental ocorram extensas manchas de granitos, verificando- -se a associao mineralgica dos seguintes elementos: W, As, Au ou As, Au, Ag (Meireles, 1991; Pereira e Meireles, 1998).

A bacia hidrogrfica do rio Tua um espao geomorfolgico bem delimitado conforme se deduz do mapa elaborado por Antnio Ribeiro e divulgado por Susanne Daveau (Ribeiro et al., 1987). Tal como outras unidades geomorfolgicas do Nordeste de Portugal, o produto de uma longa histria tectnica (Ribeiro, 1974). Trata-se de uma vasta depresso formada por dois nveis embutidos separados por uma escarpa de falha orientada SSW NNE cujo eixo corre ligeiramente a Leste de Mirandela.

O nvel embutido superior (a Leste) tem uma altitude mdia de 600 metros. O nvel inferior, a Oeste, possui uma cota mdia de 450 a 400 metros. Neste ltimo nvel encaixaram-se os cursos finais dos rios Rabaal e Tuela, bem como o Tua. Integram tambm o espao da mdia bacia do Tua, no seu canto Sudeste, os restos de uma superfcie da Meseta Inferior (altitude mdia 650 m) que tem como limite o rebordo do Planalto de Ansies.

Os limites desta unidade fisiogrfica so os seguintes: a Norte a mdia bacia fechada por uma corda de relevos residuais em quartzito conhecidos como Serra das Penhas Juntas, que alis se estende para a margem direita do Rabaal; a Oeste tem por fronteira a superfcie de eroso da Meseta Inferior (altitude mdia entre 800 e 750 metros) que corresponde aos planaltos de Fies e Carrazedo de Montenegro (Valpaos) e de Jou (Mura); a Leste confinada por um conjunto de acidentes, nomeadamente a plataforma da Meseta Inferior, embora com cotas mais altas (entre 800 e 900 metros), assinalada pelos contrafortes ocidentais do macio designado como Serra

1111

da Nogueira e da Serra de Bornes; a Sul a bacia mdia do Tua termina num sinclinal quartztico que se estende de Mura a Vila Flor (da Serra da Sobreira de Freixiel), correspondendo a uma srie de cristas com orientao dominante Noroeste-Sudeste.

Do alto da Serra de Passos, um majestoso relevo ilha, no cume mais alto designado Santa Comba (1002 metros) possvel dominar visualmente numa rotao de 360, nos dias mais luminosos, o espao descrito nos pargrafos anteriores.

O clima insere-se no mbito da chamada Terra Quente Transmontana (Inverno Fresco e Vero Muito Quente). A pluviosidade anual varia entre 600 mm e 400 mm (D. B. Ferreira, 2005).

3. Minerao antigaNo mbito da romanizao, a actividade mineira nesta tal como noutras

zonas transmontanas teve um notvel desenvolvimento (Lemos, 1993; Martins, 2008). No entanto, a palavra romanizao pode induzir em erro e suscitar equvocos. De facto, o conjunto de mudanas ocorrido no cmbio da Era Crist, na sequncia da Pax Romana, imposto pelas campanhas de Augusto (26-25 a. C.) muito complexo. Entendemos a romanizao como um modelo de apropriao territorial que operou por sucessivas rupturas. Embora pouco se saiba acerca da forma como reagiram as diferentes comunidades autctones, no h dvida que nas dcadas seguintes conquista do Noroeste Peninsular se verificaram acentuadas mudanas na organizao do espao, na rede de caminhos, no habitat, na economia, no estilo de vida (Orejas et al, 2000).

Um dos aspectos mais assinalveis do domnio romano foi a explorao sistemtica dos recursos mineiros, em particular do ouro (Orejas e Snchez- -Palencia, 2002). Este metal era indispensvel ao funcionamento da mquina do estado romano, designadamente ao pagamento das tropas que integravam o exrcito. A Callaecia e a Asturia eram, alis, no quadro do Imprio e da Hispania, os principais produtores de ouro e prata (Perea e Snchez-Palencia, 1995).

No vale do Tua destacam-se como zonas mineiras aurferas trs grandes ncleos: um deles entre as aldeias de S. Salvador, Vila Verde, Freixeda (Mirandela) e Macedinho (Trindade; Vila Flor); outro nos contrafortes meridionais da Serra de Santa Comba; e o terceiro na Ribeira de Lila (j no concelho de Valpaos) (Lemos, 1993).

Neste artigo no inclumos a zona de Ribeira de Lila, apesar do seu interesse porque devido sua complexidade exige um tratamento especfico.

11

Fig. 2 Localizao das minas referidas neste trabalho

11

Estes ncleos teriam sido territoria metallorum, autnomos em relao civitas cujo nome se desconhece, mas que em nosso entender ocupava o espao geomorfolgico que definimos no item 2 deste texto.

Admite-se que a ter existido uma entidade proto-histrica, formando o tipo de unidade que os romanos designaram como populus, a sua sede ficaria no Castro de S. Juzenda (Hock, 1979; 1980). Este grande povoado sobranceiro ao rio Tua e defendido por vrias linhas de muralha remonta Idade do Bronze Final e teve uma ocupao que se estendeu at Antiguidade Tardia, embora os dados sejam limitados pois apenas se realizaram sondagens.

A capital da civitas ter sido o Cabeo de Vale de Telhas (Lemos, 1993), um amplo povoado, com abundante material, incluindo uma ara a Jpiter, bem como cermica importada. Junto a este stio, localizado na margem esquerda do rio Rabaal, passava a via que ligava Asturica a Bracara, existindo um consenso unnime quanto ao seu nome Pinetum, com base na interpretao do Itinerrio de Antonino, das distncias e mansiones referidas no documento (Lemos, 1993; Rodrguez Colmenero et al., 2004). Alis a designao Pinetum adequa-se ocorrncia de pinheiro como uma das rvores da floresta natural da bacia do Tua. Quanto ao nome da civitas, considerado plausvel que seja um dos que constam do Padro dos Povos da Ponte romana de Aquae Flaviae e para as quais no h localizao atribuda, ao contrrio dos Limici, Tamacani, etc. Poderiam ser os Aobrigenses ou Avobrigenses ou os Naebisoci ou Aebisoci (Fonte, 2006), por exemplo.

Embora no existam indicadores arqueolgicos provvel que a prospeco das jazidas aurferas se tenha realizado a partir do vale do Douro, pelo Tua, divergindo para Noroeste at ao Vale Superior do Tinhela (conjunto mineiro de Tresminas e Jales) (Wahl, 1986, 1988 e 1989). A montante de Abreiro detectaram e exploraram as bacias de drenagem laterais das ribeiras da Freixeda (a Leste) e de Orelho (a Oeste).

Sendo assim na zona Sul limtrofe da civitas (com sede em Pinetum) destacavam-se as exploraes de ouro e, a Noroeste, tambm no limite, as de estanho (no Cerro das Penhas Juntas).

3.1. Zona mineira de S. Salvador Vila Verde Freixeda Macedinho (Mirandela)

Numa pequena depresso tectnica, transversal ao eixo de Vilaria - Bragana, entre os contrafortes Sudoeste da Serra de Bornes e o vale do Tua h ocorrncias de ouro e prata que foram exploradas na Antiguidade. A primeira referncia a um dos ncleos de minas (o de S. Salvador - Vila Verde) deve-se a Joo de Barros (sculo XVI) (Barros, 1919), atravs da qual se

1414

deduz que estariam em actividade, extraindo-se prata. Posteriormente, foram referidas por diversos autores (Argote, 1732/47; Almeida, 1970; Tranoy, 1981), sendo includas em diversos mapas de conjunto da minerao romana de Portugal, ou do Noroeste. Mas a referncia mais extensa que detectmos, ainda assim muito sucinta, deve-se a J. S. Carvalho e O. V. Ferreira (1954) que se baseiam num relatrio da Direco-Geral de Minas datado de 1946. Publicam, mesmo, parte de um mapa onde se assinalam os antigos desmontes operados nos files.

Os dados que adiante se apresentam so apenas uma abordagem preliminar, forosamente limitada, de uma zona que mereceria um projecto especfico. Um aspecto prvio o do nome a atribuir a este conjunto. Considerando que o aglomerado de Freixeda central, talvez a designao preferencial seja a de vale da Freixeda, embora seja necessrio distinguir vrios ncleos.

Um desses ncleos (freguesia de Trindade, concelho de Vila Flor) situa--se nas cabeceiras do curso de gua, abrangendo vrios grupos de minas (Macedinho, Pedra da Luz, Lombo da Veiga e Carvo).

O ncleo de Macedinho (altitude mxima: 443 m, latitude 41 24 42N, longitude 7 06 22W, carta SCE escala: 1/25 000 folha n 91; carta geolgica escala: 1/50 000 folha n 11A) tem bastantes referncias bibliogrficas, no geral muito breves (Alarco, 1987; Almeida, 1970; Carvalho e Farinha, 1989; Tranoy, 1981; Domergue, 1970 e 1990; Lemos, 1993; Lemos e Morais, 2005; Martins, 2008).

As minas (Martins, 2008: catlogo p. 114-117 n 05) localizam-se num monte contguo aldeia de Macedinho, a Noroeste, do lado esquerdo da estrada N 1096 que vai de Freixeda para o Cacho, com um relevo acidentado, xistoso e na proximidade do Ribeiro de Macedinho, Ribeira de Navalhais e seus afluentes. Nesta zona observa-se uma explorao a cu aberto com vrias trincheiras, e tambm subterrnea, incluindo galerias e poos. Os trabalhos mineiros concentraram-se na vertente Sudoeste do monte, no sop do qual corre o Ribeiro do Macedinho, e na encosta Noroeste. Os teores mdios de mineralizao so: 13 g/t Au e 200 g/t Ag (Carvalho e Farinha, 1989). No entanto, podem variar entre 30 g/t Au e 500 g/t Ag e excepcionalmente 118 g/t Au e 2416 g/t Ag. Em zonas mais pobres, apenas com 15 cm de possana os teores so de 2 g/t Au e 25 g/t Ag (Carvalho, 1979). Observam-se diversos vestgios (Martins, 2008: catlogo p. 114-117):

N 1 Poo de seco quadrangular com 1,50 m de lado, com mais de 30 m de profundidade, com gua a partir dos 19 m medidos da superfcie. Dever tratar-se de um poo / chamin de ventilao, dado que nas suas

11

imediaes no se encontra escombreira alguma. No seu interior ainda so visveis duas tbuas de entivao in situ.

N 2 Poo que se encontra na continuidade do anterior, distando dele 36,5 m. Trata-se de um poo no muito regular, com uma boca alargada e ovalada, com um comprimento de 10 m e largura mxima de 4,50 m (profundidade indeterminada). Este poo em cuja abertura se observa um muro de sustentao constitudo por lajes de xisto assentes a seco, comporta no seu interior uma galeria.

N 3 Na mesma continuidade e distando 73 m do poo n 2, encontra--se uma trincheira ovalada, com um comprimento mximo de 5,60 m, largura mxima de 1,80 m e uma profundidade mdia de 1,90 m. Ter sido uma trincheira de prospeco.

N 4 No mesmo seguimento e distanciado 4,30 m do n 3, encontra--se outra trincheira rectangular com um comprimento mximo de 4,85 m, largura mxima de 1,20 m e uma profundidade mdia de 1,80 m. Tratar--se- de uma trincheira de prospeco.

N 5 Na mesma continuidade e distando do anterior 36,5 m, encontra- -se uma trincheira rectangular com um comprimento mximo de 6,20 m, largura mxima de 1,40 m e uma profundidade mdia de 1,10 m. Todos os trabalhos do n 1 ao 5 tm uma orientao Sudoeste-Nordeste.

N 6 J no se encontra no mesmo alinhamento, localizando-se a Sudeste da trincheira n 5 e distando desta 11 m. Trata-se de um grande poo, semelhana do n 1, que apresenta uma seco rectangular, com um comprimento de 5,80 m, largura de 5,20 m e uma profundidade de 2,50 m. Talvez um poo de prospeco ou abandonado muito antes de se ter chegado ao filo.

N 7 Trata-se de uma trincheira na continuidade do poo n 6, distando deste 4,60 m, e mantendo entre os dois uma orientao Sudoeste--Nordeste. Esta trincheira ovalada tem um comprimento mximo de 5,70 m, largura mxima de 1,50 m e uma profundidade de 0,80 m. Trata-se de uma trincheira de prospeco.

N 8 Trincheira ovalada situada a Noroeste da trincheira n 5 e distando dela (em linha horizontal) 124 m. Apresenta um comprimento mximo de 6,80 m, com larguras variveis entre os 7,60 m num topo, 5,20 m no centro e 3,10 m no outro topo; tem uma profundidade mdia de 1,00 m. Trata--se de uma trincheira de prospeco. Descendo a encosta para Noroeste encontram-se as trincheiras n 9 e 10.

11

N 9 Trincheira ovalada que dista sensivelmente 30,50 m da anterior, com um comprimento mximo de 10,90 m, largura mxima de 1,70 m e uma profundidade de 1,00 m. Trata-se de uma trincheira de prospeco.

N 10 Trincheira ovalada, que dista da anterior 24,70 m, e que tem um comprimento mximo de 22 m, largura mxima de 1,40 m e uma profundidade de 1,00 m. Trincheira de prospeco.

N 11 Mudando de direco, a Noroeste da n 10 e distando desta 22 m, encontra-se uma trincheira com um comprimento mximo de 22,50 m, largura mxima de 1,30 m e uma profundidade de 0,80 m. Trincheira de prospeco. O desenvolvimento do comprimento das trincheiras tem sempre uma orientao Sudoeste / Nordeste.

N 12 Numa orientao Sudoeste-Nordeste, distando apenas 90 m do Ribeiro de Macedinho, situa-se uma fraga que foi desmontada explorao a cu aberto trincheira. Estes trabalhos apresentam um comprimento de 35 m, largura mdia de 1,94 m e profundidades que variam entre os 7,70 m e os 2 m, desvanecendo em direco ao ribeiro. Nas imediaes desta trincheira, a Este, encontra-se uma enorme escombreira. Localizao: 41 23 55 N, 7 06 30 W, com 503 m.

A Pedra da Luz (Martins, 2008: catlogo p. 125-127 n 06) (altitude mxima: 685 m, latitude: 4123 44N, longitude: 7 06 57W, Carta SCE escala: 1/25 000 folha n 91, Carta geolgica escala: 1/50 000 folha n 11A) um cume xistoso proeminente sobre a serra de Bornes e sobre o vale do rio Tua, tendo j sido referenciado por F. Sande Lemos (1993: volume IIa n 761). No ponto mais alto foi erguido um marco geodsico (coordenadas). Est-se perante xistos silricos em contacto com pequenas formaes granticas, que tm uma direco mdia N-S, e inclinao perto da vertical. Cortando os xistos, ocorrem os files quartzosos, de direces paralelas, Nordeste-Sudoeste, mergulhando cerca de 70 para Noroeste. A encosta Oeste e o topo foram completamente devastados com maquinaria pesada para plantio de eucalipto, podendo-se encontrar uma quantidade infindvel de blocos de quartzo espalhados por toda a rea. Os trabalhos antigos escombreiras, poos e galerias, so pois difceis de detectar dado o grau de destruio do local. Na encosta Este virada para o Castelo de Macedinho que tambm foi alvo de trabalhos mineiros, ainda se podem distinguir algumas entradas de galerias e escombreiras. Os teores disponveis para os files 2, 3, 4 e 5 so vestigiais quanto ao ouro e variam entre os 9,3 e 471,0 g/t para a prata (Carvalho e Farinha, 1989).

11

A Mina do Lombo da Veiga (Martins, 2008: catlogo p. 128-129 n 07) (altitude mxima 665 m, latitude 41 23 32 N, longitude: 7 06 23W, carta SCE escala: 1/25 000 folha n 91, carta geolgica escala: 1/50 000 folha n 11A) um afloramento xistoso coberto por uma vegetao rasteira de carrasco, carqueja e tambm pinheiro, no qual foram abertas duas trincheiras. Uma das trincheiras tem comprimento de 40 m e a outra 60 m, com larguras de cerca de 12 m e profundidades mdias de 5 m. Este local comportou exploraes recentes pelo que se admite que os trabalhos antigos tenham sido alargados e continuados, a avaliar pelas escombreiras existentes no local.

As Minas do Carvo em Benlhevai (Martins, 2008: catlogo p. 130-131 n 08) (altitude mxima 485 m, latitude 41 23 28 N, longitude: 7 06 36W, carta SCE escala: 1/25 000 folha n 91, carta geolgica escala: 1/50 000 folha n 11A) j tinham sido detectadas por F. Sande Lemos (1993, v. IIa: n 730). Est-se perante macios xistosos com afloramentos de quartzo que foram trabalhados, verificando-se vrias trincheiras disseminadas por entre a vegetao cerrada de carrasco, carqueja e pinheiro. Conseguiu-se ter acesso a uma das trincheiras, que tem um comprimento mximo de 18,40 m e uma

Fig. 3 Pedra da Luz

11

largura mxima de 7,50 m. A sua profundidade atinge os 2,0 m em desnvel acentuado para a entrada de uma galeria descaracterizada.

As Minas das Latadas em S. Salvador (Martins, 2008: catlogo p. 109- -111 n 03) (altitude mxima 230 m, latitude 41 26 30 N, longitude 7 10 11 W, carta SCE escala 1/25 000 folha n 9, carta geolgica escala: 1/50 000 folha n 11A). As referncias bibliogrficas a este local so numerosas: Alarco, 1987; Carvalho, 1979; Carvalho e Farinha, 1989; Carvalho e Ferreira, 1954; Lemos, 1993; Tranoy, 1981; Viegas e Martins, 1992. O local mais conhecido uma galeria localizada face da estrada que liga Mirandela a Vila Flor (213), sobre o lado esquerdo, num pequeno descampado com vegetao rasteira. Esta galeria faz parte de um vasto trabalho de desmonte que compreende cortas e trincheiras. A galeria tem uma seco trapezoidal, com tecto abobadado, e encontra-se entulhada e alagada. A sua entrada com 1,50 m de altura e 0,90 m de largura, foi parcialmente destruda devido a obras recentes no alargamento da referida estrada. O substrato xistoso, cobrindo o jazigo uma rea de 30 km2. O filo das Latadas tem uma extenso de 6 km, rumo Este-Oeste, com uma possana entre 1 a 2 m (ocasionalmente 8 m). Mineralogicamente os teores variam, no entanto, poder-

Fig. 4 Lombo da Veiga

11

-se- referir uma mdia de 13 g/t Au e 200 g/t Ag (Carvalho, Farinha, 1989).

A Mina do Moinho do Videira em S. Salvador (Martins, 2008: catlogo p. 112-113 n 04) (altitude mxima 240 m, latitude: 41 26 12 N, longitude: 7 09 31 W, carta SCE escala: 1/25 000 folha n 9, carta geolgica escala: 1/50 000 folha n 11A), localiza-se em terrenos xistosos, onde foram abertas duas trincheiras distantes 12 m uma da outra. Uma das trincheiras tem um comprimento mximo de 11,60 m, largura mxima de 2,75 m e uma profundidade mdia de 3,10 m. A segunda tem um comprimento mximo de 7,20 m, largura mxima de 5,0 m e uma profundidade mdia de 5,50 m. Dadas as dimenses e profundidades poder-se- supor que se trata de duas trincheiras de prospeco (Alarco, 1987; Lemos, 1993; Tranoy, 1981).

No conjunto so exclusivamente jazidas primrias em que se exploraram files de quartzos com minrio de ouro e prata.

Em possvel relao com este conjunto de frentes foram identificados dois povoados fortificados, um implantado a Leste, junto cabeceira da Ribeira (Castelo de Macedinho) e o outro na extremidade Oeste (Fraga do Castelo), sobranceiro ao rio Tua. Este posicionamento sugere uma estratgia de controlo do espao, reforando a hiptese de um territorium metallorum.

Fragas do Castelo, localiza-se em Vale de Sancha, Frechas, e um povoado fortificado mdio, assente no cume de um esporo sobranceiro ao vale do rio Tua, pertencente aos ltimos contrafortes da parte sudoeste da serra de Bornes. As condies naturais de defesa so boas. O posicionamento geoestratgico excelente, dominando um extenso trecho do vale do rio Tua. O sistema defensivo era formado por duas linhas de muralha, uma das quais, a exterior, est muito desmantelada. O aparelho de pedra partida (xisto) sobreposta. So abundantes os vestgios de romanizao (numerosos fragmentos de tegulae e de cermica comum). Pelo contrrio, no se recolhem fragmentos de olaria da Idade do Ferro (Alves, 1934; Neto, 1975; Lemos, 1984; Silva, 1986; Sanches e Santos, 1987; Lemos, 1993).

Na zona do Castelo de Macedinho, na cabeceira de um pequeno vale que se dispe a Sul da aldeia homnima, observam-se pelo menos duas entradas de galerias, a que chamam fojos, e que correspondem a frentes de explorao de files de quartzo, orientadas de Sudoeste para Nordeste. Na mesma vertente, a anlise da fotografia area revela uma pequena cratera que poder ser o resultado do desmonte de um pequeno stokwerd. No temos conhecimento de achados directamente relacionados com estas pequenas galerias. No entanto, a sua atribuio poca romana provvel, j que julgamos ter identificado o

1010

povoado mineiro que as controlava. Efectivamente, a montante deste conjunto de vestgios, numa rech, a meio do vale, conservam-se as muralhas e as construes de um povoado fortificado. O aparelho da muralha, tal como o das construes, de xisto, disposto em fiadas regulares. As construes so adossadas muralha. No espao intra-muros observam-se numerosos fragmentos de tegulae e imbrices, bem como abundante cermica comum romana, notando-se uma frequncia pouco usual de ms de granito. A ribeira corre pelo lado poente do povoado. Na encosta que desce do povoado para Norte, observa-se uma curiosa estrutura que interpretamos como um tanque para lavagem e decantao do minrio. Este tanque, escavado no xisto, era abastecido por uma levada de gua, de que se notam alguns indcios, ao longo da encosta poente. Tem uma forma trapezoidal, com um comprimento mximo de 5,20 m, largura mxima de 3,00 m e profundidade mxima de 0,76 m, sendo conhecido por Lagar dos Mouros (Martins, 2008: catlogo p. 116-117 n 05). O ponto de partida desta conduta situava-se, provavelmente, a montante do povoado. Na base da encosta norte, observmos uma galeria, aberta na rocha.

No possumos elementos que permitam datar, de uma forma mais precisa, este conjunto. Julgamos, no entanto, que a circunstncia do povoado mineiro

Fig. 5 Castelo de Macedinho e rea de minerao na sua envolvncia

1111

ser fortificado sugere uma cronologia antiga, paralela dos castros mineiros de Valduerna e de El Caurel (Fernndez-Posse e Snchez-Palencia, 1988; Fernndez-Posse 2000). Trata-se, porm, de uma mera hiptese a ser testada atravs de escavaes, cujo interesse cientfico nos escusamos de sublinhar por se tratar do mais meridional dos chamados castros mineiros.

Serra de Passos - Covas de Lamas de OrelhoA primeira notcia sobre estas minas remonta ao sculo XVI e deve-se a

Joo de Barros, que refere exploraes antigas, por essa poca desactivadas, no termo de Lamas de Orelho (Barros, 1919). Situavam-se nas vertentes meridionais da serra de Passos, nas zonas de contacto entre quartzitos e xistos. As frentes de extraco encontram-se dispersas. Na rea a sudoeste de Lamas de Orelho, detectam-se alteraes no quadro geomorfolgico natural, escarpas artificiais, de que resultou o topnimo Covas, atribudo pelas populaes e registado na Carta Militar 1:25 000. Porm, o local em que a minerao antiga se torna mais evidente conhecido pelo Buraco da Gralheira, entre Lamas de Orelho e Avidagos (Alarco, 1988: 43 n 2/78; Lemos, 1993, v. IIa: n 605; Martins, 2008: catlogo p. 132-133 n 09). O Buraco corresponde a uma trincheira (aura caniculum) de razovel extenso e profundidade, que atravessa uma colina, e que corresponde desmontagem de um filo de quartzo. Na vertente norte o desmonte est a cu aberto, apresentando uma largura que varia entre dois a trs metros. A profundidade desconhecida devido ao progressivo entulhamento. Na mesma encosta, nota-se uma extensa escombreira que se alarga, descendo at linha de fundo do talvegue. Na outra vertente da mesma colina, notam-se aluimentos que sugerem que a trincheira se prolongou para sul, talvez com uma espessura menor, ou sob a forma de galeria. Para alm dos files de quartzo, explorados por aquele mtodo, devemos admitir a possibilidade de terem sido inicialmente aproveitados pequenos jazigos secundrios superficiais (depsitos coluvionares) e as areias dos fundos das ribeiras.

No detectmos na rea prxima do Buraco da Gralheira sinais da existncia de um povoado. No termo de Avidagos h notcia do achado de uma sepultura romana (Fontoura, citado por Vasconcelos, 1902), mas no conseguimos localizar esta eventual necrpole, nem o respectivo povoado, tendo-se perdido a memria do achado, entre as populaes. Admitimos, mesmo, que no tivesse existido um povoado junto desta explorao. Uma vez que se registam diversos files com eventual valor aurfero ou argentfero, dispersos por uma rea significativa, nas faldas meridionais da serra de Passos, julgamos que o povoado mineiro que explorava essas lavras se concentrava no Muro de Lamas de Orelho.

11

4. Rede Viria4.1. Via Secundria entre a foz do Sabor (Vale da Vilaria e o castro de

S. Brs (Torre de D. Chama).A zona mineira do Vale de Freixeda era servida por uma via secundria

que permitia o acesso a Aquae Flaviae, a Bracara Augusta e a Asturica Augusta. O seu traado pode ser deduzido com uma certa percentagem de probabilidade, a partir da distribuio da rede de povoamento bem como da anlise da cartografia militar (1 edio) escala 1: 25 000. A estrada romana procedia da Civitas Igaeditanorum, passando pela sede da Civitas Aravorum (Marialva) e pelo territrio dos Meidobrigenses (Alarco, 1988a). A passagem do Douro seria na zona de Barca Velha - Porto do Sabor. Subia o vale da Vilaria ao longo da sua margem esquerda, passando prximo, ou junto, do vicus (porturio fluvial e virio) de Vila Maior, dos povoados romanos de Olival das Fragas, Cevadeiras, S. Pedro de Lodes e Ferradoza. Ladeava os contrafortes Sudeste da serra de Bornes, prximo do povoado de Salgueiro (Bemlhevai), atingindo assim uma portela natural que d acesso bacia do rio Tua. Daqui descia, na direco Noroeste, passando prximo de um povoado mineiro fortificado, o j referido Castelo de Macedinho1. Continuava pelo vale de Vila Verde e S. Salvador, onde se situavam diversas frentes de actividade mineira, alcanando assim o vale do Tua. Seguidamente inflectia para Norte, sempre ao longo da margem esquerda do rio, at ao stio romano de S. Sebastio, que poderia ter tido origem numa mutatio2. Prosseguindo o seu trajecto pela margem esquerda do Tuela, passava prximo de toda uma srie de castros romanizados, designadamente do Castelo Velho de Mirandela, da Senhora do Viso, e de S. Juzenda. O povoado romano de Mascarenhas, situado entre estes dois ltimos castros, poder estar directamente relacionado

______________________________

1 Jorge Alarco (1988a) considera que a via inflectia para oeste atravs do planalto de Ancies-Vilas Boas e cruzando o rio Tua, a nordeste de Abreiro, no local onde existem as runas de uma ponte classificada como romana, em bibliografia recente (Mourinho, 1973). Esta ponte, que visitmos duas vezes, chamada a Ponte do Diabo, parece ser de traa medieval. O aparelho dos arranques, em granito, no apresenta caractersticas que o possam datar da poca romana. Pelo contrrio: um nmero significativo de pedras possui siglas. A Ponte do Diabo foi destruda pela grande cheia de 1911, e nunca mais foi restaurada. Provavelmente nos anos 60 foi construda uma nova ponte, cerca de cem metros a montante.2 Destrudo pelo crescimento urbano de Mirandela nada resta deste povoado, citado suces-sivamente por A. Pereira Lopo, Ernesto Salles e Francisco Manuel Alves, nem to pouco a pequena capela que sacralizava o stio, recentemente transferida para outro ponto da cidade.

11

com o caminho3. Mais a norte entroncava na via XVII, junto ao Castro de S. Brs (ou de Torre de D. Chama).

Como se pode verificar, analisando as supracitadas cartas militares 1: 25 000 dos SCE, por este traado, a via no teria necessidade de obras de arte, pois no cruzava nenhum rio, mas apenas pequenos cursos de gua, de reduzido caudal. Por outro lado, apenas tinha necessidade de transpor os contrafortes Sudoeste da serra de Bornes, relevos pouco elevados. De resto, corria por vales e colinas suaves.

4.2. Via secundria: Lamas de Orelho Poacos (Via XVII).Admite-se que este caminho saa directamente do povoado romano de Lamas

de Orelho dirigindo-se para Norte rumo chamada via XVII e contornando por oriente a Serra de Santa Comba. A via passava assim pelos termos de Passos e de Sues. Prximo de Sues h um povoado da poca romana no sop leste da serra de Santa Comba, numa vertente suave, numa rea de excelentes solos cerealferos, observando-se numerosos fragmentos de material (tegulae; imbrices e cermica comum) dispersos por uma extenso aprecivel.

Para chegar a este stio toma-se um caminho de terra batida que parte da aldeia de Sues para sul, percorrendo-se cerca de um quilmetro. Depois de cruzar a Ribeira de Lila dirigia-se para Rio Torto, local onde h referncias a achados de material romano. Segundo Henrique Botelho (1907) na proximidade da aldeia de Rio Torto foram achados uma moeda de Augusto (Centeno, 1987), uma moeda de cobre de cronologia indeterminada, uma fivela e um alfinete de cobre. Estes achados estaro relacionados com um povoado romano que se instalou no vale ou, mais provvel, com a deslocao dos habitantes do vizinho castro de Muradelha para a zona ribeirinha, mais abrigada e com mais gua (Lemos, 1993). Depois de atravessar o Rio Torto, o caminho seguia para Poacos, ponto de passagem da Via XVII e foram registados diversos milirios. Tanto a Ribeira de Lila como o Rio Torto so cursos de gua pouco extensos e cujas cabeceiras de drenagem ficam na Terra Quente, numa zona de fraca pluviosidade de tal modo que so facilmente vadiveis ao contrrio do Rio Calvo, que nasce no Planalto de Fies (Terra Fria com elevados ndices de precipitao). Por isso, um pouco adiante de Poacos foi edificada a Ponte do Arquinho, de tabuleiro plano, assente num nico embora amplo arco. Embora esta via secundria no esteja cartografada na carta militar 1: 25 000 dos SCE, ao contrrio da referida em 4.1. ________________________________________

3 Pode colocar-se a hiptese do povoado de Mascarenhas ter sido um vicus virio, a julgar pela extenso da rea onde se observam abundantes materiais romanos, e pelo aparecimento de fbulas e moedas. No entanto, a ausncia de achados epigrficos deixa a hiptese em suspenso.

1414

5. PovoamentoA matriz do povoamento romano foi influenciada por novos modelos

poltico-administrativos e pelos recursos mineiros, aquferos e tipos de solos, bem como pela rede viria, descrita no item 4. Nesta zona do mdio Tua, em contraste com outros espaos nordestinos o nmero de castros romanizados maior. Na verdade, ficam situados na sua maioria junto de cursos de gua de caudal perene, dispondo no seu territrio de meia hora de solos aluvionares favorveis produo de leguminosas e milho-mido, e na iscrona de uma hora de vastos terrenos aptos para plantio de vinha e de oliveira (Lemos, 1993). Como exemplo pode-se citar o Castelo Velho de Mirandela (Lemos 1984, 1983). Tal como j foi referido noutros textos (Lemos, 1993; 2004), consideramos que no quadro da rpida mudana da estrutura paisagstica efectuada sob o reinado de Augusto a Terra Quente transmontana transformou--se, nas dcadas seguintes, em produtor de bens agrcolas mediterrnicos encaminhados para as zonas mineiras e para as novas cidades. No quadro do conventus de Bracara Augusta, a Terra Quente alis a nica regio que poderia produzir vinho e azeite, sem estar dependente de flutuaes climticas. Os dois bens eram muito procurados na parte ocidental do conventus tanto nas urbes fundadas ex nihilo como nas grandes citnias. Porm, uma vez que o transporte do vinho e do azeite se fazia por via terrestre em contentores especficos, odres ou barricas de madeira, no ficaram vestgios no registo arqueolgico. A ausncia de fragmentos de nfora no autoriza a negar a generalizao precoce do cultivo da vinha e da oliveira, decorrente de um hipottico gosto autctone pelas gorduras animais.

Assim no contexto deste novo quadro produtivo, a par dos povoados fortificados romanizados, registam-se novos modelos de habitats, parte relacionados com a minerao, a rede viria e a agricultura.

6. Consideraes finaisOs estudos de minerao, no quadro global da investigao sobre a

Hispnia, tm sido uma linha de trabalho pouco cultivada, quando de facto os recursos mineiros do Ocidente da provncia eram abundantes e foram activamente explorados pela sua utilidade para a economia do Imprio.

Embora nos ltimos anos tenham aumentado os projectos e textos sobre a minerao na Antiguidade no Ocidente da Hispania, ainda sero precisos muitos anos para que se alcance um conhecimento aprofundado, incluindo monografias e cartografia rigorosa. Este e outros artigos que temos publicado constituem os patamares necessrios para que se desenvolvam novos projectos, localizados em cada uma das numerosas zonas mineiras existentes no Noroeste

11

da Pennsula Ibrica e que anteriormente somente eram mencionadas de passagem ou includas em mapas globais.

BibliografiaALARCO, J. (1987) Portugal Romano. 4 Edio. Lisboa: Editorial Verbo.- (1988) Roman Portugal: Gazetteer , 2. Warminster: Aris e Philips Ltd.- (1988a) Roman Portugal 1. Warminster: Aris e Phillips Ltd.ALMEIDA, F. de (1970) Minas de Ouro na Gallaecia Portuguesa. In Legio VII Gemina, Len: Catedra de San Isidoro, p. 287-302.ALVES, F. M. (1934) Memrias Arqueolgico-Histricas do Distrito de Bragana, 9, Porto, 718 p.ARGOTE, J.C. de (1732-1747) Memrias para a Histria Ecclesistica do Arcebispado Primaz de Braga. Braga, 5 volumes.BARROS, J. de (1919) Antiguidades de Entre Douro e Minho e Trs-os- -Montes. Porto, 145 p.BOTELHO, H. (1907) Numismtica e Archeologia. O Arquelogo Portugus, 1 srie, 12, Lisboa, pp 23-31.CARVALHO, A. D. de (1979) Breves referncias sobre jazigos aurferos portugueses. Boletim de Minas, 16 (3/4), Lisboa, 139-150.CARVALHO, J. R. de; FARINHA, P. A. (1989) Hidrometalurgia do ouro. Boletim de Minas. Lisboa, vol. 26(3), 277-281.CARVALHO, J. S.; FERREIRA, O. da V. (1954) Algumas lavras aurferas romanas. Estudos, Notas e Trabalhos. Porto, vol. IX (1-4), 20-46.CENTENO, R. M. S. (1987) Circulao Monetria no Noroeste de Hispnia at 192. Porto: Publicao da Sociedade Portuguesa de Numismtica.DOMERGUE, C. (1970) Introduction ltude des mines dor de le Nord--Ouest de Peninsule Ibrique dan lAntiquit. In Legio VII Gemina. Len: Catedra de San Isidoro, p. 253-286.- (1990) Les mines de la Pninsule Ibrique dans lantiquit romaine. France: cole Franaise de Rome.FERNNDEZ-POSSE, M. D. e SNCHEZ-PALENCIA, F. J. (1988) La Corona y el Castro de Corporales II. Madrid: Servicio de Publicaciones del Ministerio de Educacion y Ciencia.FERNNDEZ-POSSE, M. D. (2000) La organizacin territorial de los castros prerromanos. In Las Mdulas (Lon). Un paisage cultural en la Asturia Augustana. Len: Instituto Leons de Cultura, p. 92-108.FERREIRA, ANTNIO BRUM (2005): Formas de Relevo e Dinmica Geomorfolgica, Geografia de Portugal. O Ambiente Fsico, Crculo de Leitores, Lisboa, pp. 53-246.

11

FERREIRA, DENISE BRUM (2005): Ambiente Climtico, Geografia De Portugal. O Ambiente Fsico, Crculo de Leitores, Lisboa, pp. 305-382.FONTE, J.M. (2006) O Padro dos Povos de Aquae Flaviae. Revista Almadan. Adenda Electrnica. 14. Almada. XI.HBNER, A. (1869) Inscriptiones Hispaniae Latinae. Berlim.LEMOS, F. S. (1984) Relatrio dos Trabalhos efectuados no Castelo Velho de Mirandela (dactilografado), SRAZN, 12 p.- (1993) O Povoamento Romano de Trs-os-Montes Oriental. Braga: Universidade do Minho. Dissertao de Doutoramento.- (2004) A Rede viria do Conventus de Bracara Augusta: a via secundria entre o vale do Douro (Peso da Rgua) e Aquae Flaviae (Chaves). In Au Jardim des Hesprides. Histoire, pigraphie et Societ des Mondes Anciens. Mlanges offerts Alain Tranoy. Rennes. PUR, p. 407-419.LEMOS, F. S.; MORAIS, P. (2005) Vias Augustas e Minerao Aurfera. Forum. Braga. vol. 36. 15-56.HCK, M. (1979) Excavaciones en el Castro de S. Juzenda, concelho de Mirandela. In XV Congreso Nacional de Arqueologa (Lugo, 1977). Zaragoza: Universidad, Secretara General de los Congresos Arqueolgicos Nacionales, p. 393-398.- (1980) Corte estratigrfico no Castro de S. Juzenda. In Actas do Seminrio de Arqueologia do Noroeste peninsular (Guimares, 1979). Guimares: Sociedade Martins Sarmento. Vol. 2, p. 55-70.MARTINS, C. M. B. (2008) A explorao mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Braga: Instituto de Cincias Socias / Universidade do Minho (Cadernos de Arqueologia. Monografias 14).MEIRELES, C. A. P. de (1991) Sntese sobre os modelos metalognicos das ocorrncias de ouro em Portugal. Porto: Servios Geolgicos de Portugal. (policopiado).MOURINHO, A. M. (1973) Ponte romana sobre o rio Tuela e sntese das vias e pontes romanas no Nordeste Transmontano. Trabalhos de Antropologia e Etnologia. 23 (2-3), Porto, p. 279-288.NETO, J. M. (1975) O Leste do territrio bracarense. Torres Vedras.OREJAS, A. E SNCHEZ-PALENCIA, F. J. (2002) Mines, Territorial Organization and Social Structure in Roman Iberia: Carthago Nova and the Peninsular Northwest, American Journal of Archaeology, 106, pp. 581-99.OREJAS, A.; SASTRE, I.; SNCHEZ-PALENCIA, F. J, PLACIDO, D. (2000) - El Edicto de Augusto del Bierzo e la primeira organizacin romana del

11

Noroeste Peninsular, Augusto y el Noroeste de Hispania, Fundcion Las Mdulas, Ponferrada, pp. 63-112.PEREA CAVEDA, A.; SNCHEZ-PALENCIA, F. J. (1995) Arqueologa del oro Astur, Orfebrera y Minera. Asturias: Caja de Asturias.PEREIRA, E.; MEIRELES, C. (1998) Metais preciosos em Portugal / Situao da investigao geolgica e mineira. Estudos, Notas e Trabalhos. Porto, tomo 40, 3-34.RIBEIRO, A. (1974) Contribution Ltude Tectonique de Trs-os-Montes Oriental. Lisboa, 168 p.RIBEIRO, O.; LAUTENSACH, H.; DAVEAU, S. (1987) Geografia de Portugal. I. A Posio Geogrfica e o Territrio. Lisboa: Ed. Joo S da Costa.RODRGUEZ COLMENERO, A. (1997) Aquae Flaviae. I. Fontes Epigrficas da Gallaecia Meridional Interior. Chaves: Cmara Municipal de Chaves.RODRGUEZ COLMENERO, A.; FERRER SIERRA, S.; LVAREZ ASOREY, R. (2004) Milirios e outras inscricins viarias romanas do Noroeste Hispnico. Conventos Bracarense, Lucence e Asturicense). Santiago de Compostela: Concello da Cultura Galega.SANCHES, M. de J.; SANTOS, B. C. T. (1987) Levantamento Arqueolgico do concelho de Mirandela. Portuglia, 2 srie, 8, Porto, p 17-56.SANCHEZ-PALENCIA, F. J. (1979) Las Explotaciones romanas auriferas de El Caurel. In Actas del XV Congreso Nacional de Arqueologia, Saragoa, 00-00.- (1980) Prospecciones en las Explotaciones auriferas del NO de Espaa. Noticiario Arqueologico Hispanico. 8, 213-249.- (1983) La Explotacion Pre-romana del Oro del Noroeste de La Peninsula Iberica. Boletin Avriense. 13, 31-67- (2000) Las Mdulas (Lon). Un paisage cultural en la Asturia Augustana. Len: Instituto Leons de Cultura.SANCHEZ-PALENCIA, F. J. e FERNNDEZ-POSSE, M. D. (1985) La Corona y el Castro de Corporales I. Madrid: Ministerio da Cultura.- (1993) Poblamiento y minera prerromana y romana en el Noroeste Peninsular. In SANTOS, J. (dir.) - Indgenas y romanos en el Norte de la Pennsula Ibrica, San Sebastin, p. 201-225.SNCHEZ-PALENCIA, F. J.; FERNANDEZ-POSSE, M. D.; FERNANDEZ MANZANO, J.; ALVAREZ SNCHEZ-PALENCIA , F. J.; OREJAS, A.; FERNANDEZ-POSSE, M. D. (1994) La mano de obra en la minera romana del noroeste peninsular. In Actas do 1. Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto, IV, p. 243-256.

11

SNCHEZ-PALENCIA, F. J e MANGAS, J. (ed.) (2001) El Edicto del Bierzo. Avgusto y el Noroeste de Hispania. Ponferrada: Fundacin Las Medulas.SILVA, A. C. F. (1986) A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paos de Ferreira: Cmara Municipal de Paos de Ferreira/Museu da Citnia de Sanfins.TRANOY, A. (1981) La Galice Romaine. Paris: Diffusion Boccard.VASCONCELOS, J. L. (1898) Museu Municipal de Bragana. O Arquelogo Portugus. 1 srie, 4, Lisboa, p. 153155.- (1902) Notcias vrias. O Arquelogo Portugus. 1 srie, 7, Lisboa, p 282-288.- (1910) Anacleta archeolgica. O Arquelogo Portugus. 1 srie, 15, Lisboa, p. 321328.- (1936) Trs inscries inditas do concelho de Vila Pouca de Aguiar. Revista de Arqueologia. 3, Lisboa, p. 193-195.VIEGAS, L. F.; MARTINS, L.P. (1992) Notas sobre a prospeco do ouro em Portugal. Estudos, Notas e Trabalhos. Porto, vol. 34, 95-106.WAHL, J. (1986) Resultados das pesquisas arqueolgicas do 4/8/86 a 10/11/86 na zona das minas de ouro romanas de Trs Minas. (Relatrio dactilografado).- (1988) Tres Minas. Vorbericht Uber Die Archologischen Untersuchungen im Bereich des Rmischen Goldbergwerks 1986-87. Madrider Mitteilungen. 29, Madrid, 31-56.- (1989) Resultados das pesquisas arqueolgicas efectuadas em 1988 e 1989, na zona da minerao romana de Trs Minas de Jales. (Relatrio dactilografado).