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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE ano três | nº 23 | maio / junho 2011 | R$ 10,00 www.plurale.com.br ESPECIAL MEIO AMBIENTE ESTREIA: CONEXÕES PLURALE RUANDA: 17 ANOS DEPOIS DO GENOCÍDIO, A VIDA HOJE FOTO DE SIDNEY GOUVEIA/ FLOR NO MORRO DO PAI INÁCIO, CHAPADA DIAMANTINA, LENÇÓIS (BA)

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plurale em revista ed.23

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTEano três | nº 23 | maio / junho 2011 | R$ 10,00

w w w . p l u r a l e . c o m . b r

AÇÃO | CIDADANIA |

ESPECIALMEIO

AMBIENTE

ESTREIA:CONEXÕES

PLURALE

RUANDA: 17 ANOS DEPOIS

DO GENOCÍDIO, A VIDA HOJE

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Job: 259207 -- Empresa: Burti RJ -- Arquivo: 259207-11126-1-1_pag001.pdfRegistro: 28924 -- Data: 18:44:44 24/05/2011

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Job: 259207 -- Empresa: Burti RJ -- Arquivo: 259207-11126-1-1_pag001.pdfRegistro: 28924 -- Data: 18:44:44 24/05/2011

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PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 20114

58.RUANDA:A VISITA DE

PLURALE, 17 ANOS APÓS GENOCÍDIO

PLURALE EM REVISTA | EM REVISTA | EM REVISTA Maio/Junho 20114

Conte xto

PELO BRASIL

36

PELO MUNDO

56CINEMA VERDE

65

PELAS EMPRESAS

48

58.RUANDA:

58.

4

32.CHAPADA DIAMANTINA: UM OLHAR NA BIODIVERSIDADE

20.ESPECIAL

MEIO AMBIENTE:

BAZAR ÉTICO64.

CONEXÕES PLURALE

14.

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A GENTE QUERIA

UM RELATÓRIO

TÃO CLARO QUE UM DOS

PRIMEIROS CUIDADOS

FOI NÃO ESCREVER

COM LETRA DE MÉDICO.

Todas as informações sobre o desempenho da Unimed-Rioe sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, você

encontra no Relatório de Sustentabilidade 2010, GRI nível A.Uma maneira transparente de se comunicar com a sociedade.

Acesse www.unimedrio.com.br e veja o Relatório de

Sustentabilidade 2010 completo.

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Editorial

Quando uma edição termina e a outra começa a ser pensada, nem sempre há a certeza que, apesar de todo o planejamento, o resultado fi nal será satis-fatório para os leitores. Tínhamos um desafi o adi-cional desta vez: a Edição 22, Especial sobre Água

foi um retumbante sucesso de público. Basta conferir a seção de cartas para confi rmar.

Humildemente, como é nosso estilo, procuramos “costurar” pau-tas e artigos capazes não só de prender a atenção, mas que também trouxessem novidades ao amplo diálogo sobre Sustentabilidade. Es-treamos a seção “Conexões Plurale”, com uma profunda refl exão as-sinada pela Professora Patrícia Almeida Ashley, uma das maiores especialistas do país em Responsabilidade Social Corporativa. Neste novo espaço, com quatro páginas, esperamos, a cada número, abor-dar um tema relevante e inédito. Trazemos também artigo inédito de Regina Migliori, outra graduada expert no tema Sustentabilidade.

Não é só. A correspondente de Plurale na Irlanda, a engajada Vivian Simonato (foto), esteve recentemente na África, em Ru-anda, 17 anos após o genocídio que dizimou gerações e assustou o mundo. Vivian, estudante de Mestrado da Trinity College Dublin, foi conhecer a realidade de um povo ainda sofrido, mas repleto de esperanças de dias melhores.

Uma edição muito especial Carlos Franco e Sônia Araripe, Editores de Plurale

em revista e Plurale em site

Do coração da Amazônia, a também aguerrida Marina Guedes nos relata como é conhecer a fl oresta do alto das árvores, uma experi-ência inesquecível e segura. Do Ceará, o jornalista Flamínio Araripe, apresenta o esforço coletivo de autoridades e sociedade civil para sal-var a biodiversidade do Maciço de Baturité, manancial de água para a região metropolitana de Fortaleza. Apresentamos ainda o projeto que preserva o palmito juçara na Mata Atlântica, em reportagem de Lenina Mariano. Da capital paulista, o ativo Paulo Lima nos conta como foi o evento Viva a Mata, que tem cumprido papel de Educação Ambiental em um dos maiores centros urbanos do planeta.

É isso e muito mais. Sempre em busca de novidades no Terceiro Setor, nossa Nícia Ribas esteve no Instituto Benjamin Constant (RJ) e descortina o trabalho sério desenvolvido com alegres defi cientes visuais. Luiza Martins, especial para esta edição, mostra o projeto da Casa da Arte de Educar; Letícia Koeler revela o esforço de res-taurantes ecológicos e a sempre emocionante Maria Helena Malta traz as novidades em termos de bossa nova, num emocionante perfi l de bela jovem cantora. Sem falar nas colunas repletas de novidades e um lindo ensaio de fotos do biólogo Sidney Gouveia direto de Lençóis, da Chapada Diamantina (BA).

Esperamos que apreciem a leitura tanto quanto nós curtimos preparar mais esta edição!

Editorial

Uma edição muito especial Carlos Franco e

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Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678Defi ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br

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Diretores

Carlos [email protected]

Sônia Araripe [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.br

Plurale em site no twitter:http://twitter.com/pluraleemsite

Comercial

[email protected]

ArteSeeDesignMarcos Gomes e Marcelo Tristão

Fotografi aLuciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação

Colaboradores nacionaisAna Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Limae Sérgio Lutz

Colaboradores internacionaisAline Gatto Boueri (Buenos Aires),Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato(Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta ediçãoEduardo Faustini, Fabiano Ávila, Flamínio Araripe, Jéssica Lipinski, Lenina Mariano, Leonide Príncipe, Letícia Koeler, Lília Gianotti, Luiza Martins, Maria Helena Malta, Marina Guedes, Marina Guzman, Marisa Beatriz Pereira, Mônica Pinho, Newton Medeiros, Patricia Almeida Ashley, Paulo Lima, Regina Mamede, Regina Migliori, Sidney Gouveia e Ticiana Azevedo.

Plurale é a uma publicaçãoda SA Comunicação Ltda(CNPJ 04980792/0001-69)Impressão: WalPrint

Revista impressa em papel reciclável

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

São Paulo | Alameda Barros, 122/152CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947

Os artigos só poderão ser reproduzidos comautorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

CartasQuem faz

Plurale em revista, Edição 22

“Prezada SenhoraSônia Araripe,A PresidentaDilma Rousseff encarregou-nos de informa-lhe que recebeu o exemplar número 22 de Plurale em revista, Especial Água, e agradece o carinho e agentileza. Cordialmente.”Claudio Soares Rocha, Diretor, Diretoria de Documentação Histórica, Presidência da República, Gabinete Pessoal da Presidenta da República Dilma Rousseff, Brasília (DF)

“Além de bela e com conteúdo consistente como sempre, a edição 22 da Plurale, especial sobre água, fi cou muito interessante pela diversidade e qualidade da abordagem do tema principal. Como presidente da Fundação Proamb, de Bento Gonçalves, e responsável pela Qualidade na empresa Meber (metais sanitários) bato palmas para materiais como esses, tanto pela preocupação contida, que é de todos nós - o melhor uso de um bem tão fundamental – quanto por aproximar do público médio uma discussão tão necessária. No dia-a-dia da nossa entidade e das empresas com as quais mantemos contato é forte a inquietação pela produção e pelo desenvolvimento sustentável. Evitar o desperdício, reutilizar e tratar adequadamente são quesitos fundamentais nesses sentidos. Parabéns à Plurale por colocar na pauta coletiva essas questões.”Juliana Ferrari Dal Piaz Presidente Fundação Proamb, Bento Gonçalves (RS)

“Gostaríamos de cumprimentar toda a equipe e colunistas pelo trabalho apresentado na Edição 22, Especial Água, com grandes matérias e entrevista com o Professor Eneas Salati.”Miriam Leitão e Sérgio Abranches, jornalistas, Rio de Janeiro (RJ)

“A Comissão Organizadora do V Simpósio Brasileiro de Oceanografi a (V SBO agradece pela contribuição de Plurale em revista e Plurale em site.”Comissão Organizadora do V SBO, Departamento de Oceanografi a Biológica, Instituto Oceanográfi co, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP)

“Como é importante a existência de Plurale em revista! É uma publicação que atende aos anseios de quem ama e se preocupa com o ambiente. As matérias abordadas são diversifi cadas, interessantes e atuais.”Eliane Navarro, estudante do Curso de Bacharelado em Ciência Ambiental da UFF, Niterói (RJ)

“Recebemos as revistas da Edição 22. A matéria na seção Bazar Ético sobre a Cooperativa Modelarte fi cou ótima e a revista é melhor ainda. Em nome das

artesãs e da diretoria gostaríamos de agradecer o apoio voluntário na divulgação de nossas atividades. Estaremos sempre acompanhando também as matérias pelo portal, na internet. Obrigado pelo apoio. Abraço em todos, ”Valter Nunes, Coordenador da Cooperativa Modelarte, São Gonçalo (RJ)

“Adorei a Edição 22 de Plurale em revista e também o site. Quantos assuntos interessantes! Está linda e profi ssional demais.”Deolinda Saraiva, jornalista e dona da Pousada D`Amoras, Conservatória, RJ

“Ficou linda, e com excelente conteúdo, a edição 22 de Plurale em revista! Vocês estão se superando a cada edição.”Graziele Cher, Editora Wal Print, Rio deJaneiro (RJ)

Edição 21

“Prezada Sônia, Em nome do Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., Reitor da PUC-Rio venho agradecer a remessa da Edição 21 de Plurale em revista. Parabéns pela excelência dos artigos. Cordialmente, “Ivone de Figueiredo Santos ,Assessora do Reitor da PUC-Rio (RJ)

“Prezada Sônia Araripe. Recebi e agradeço o envio da edição número 21 da Plurale em Revista. Enquanto coordenador do Curso de Jornalismo da PUC-Rio, devo destacar que fiquei muito contente com a participação de nossa aluna Isabella Araripe no referido número e da ótima entrevista por ela realizada. Cabe destacar a excelente qualidade jornalística da revista e a importância social de um veículo que tenha, em sua linha editorial, prioridade para os assuntos relativos ao ambiente e a cidadania. Cordialmente, “Leonel Aguiar, Coordenador do Curso de Jornalismo, Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio

“Prezada Sônia, Parabéns a toda equipe Plurale em revista pela edição número 21 e, especialmente, pela bela entrevista de Isabella Araripe com o blogueiro do Complexo do Alemão, Rene Silva dos Santos.” Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, Rio de Janeiro (RJ)

“Prezada Sônia,Muito obrigada pelo envio da Plurale em revista, edição 21, mencionando o TEDx Rio e em especial a minha palestra, entre outras matérias. É muito bom ver o trabalho da Associação Saúde Criança, que já ajudou mais de 36.000 pessoas, reconhecido. Um abraço,Vera Cordeiro, Fundadora e Superintendente Geral da Associação Saúde Criança, Rio de Janeiro (RJ)

Especial Água, e agradece o carinho e a

artesãs e da diretoria gostaríamos de agradecer o apoio voluntário na divulgação de nossas atividades. Estaremos sempre acompanhando também as matérias pelo portal, na internet. Obrigado pelo apoio. Abraço em todos, ”Valter Nunes, Coordenador da Cooperativa Modelarte, São Gonçalo (RJ)

“Adorei a Edição 22 de Plurale em revista e também o site. Quantos assuntos interessantes! Está linda e profi ssional demais.”Deolinda Saraiva, jornalista e dona da Pousada

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Frases

A coluna desta edição buscou frases sobre o Meio Ambiente

“Só jogue no rio (ou no mar) o que o peixe pode comer. “ ZIRALDO

“Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja.CHICO XAVIER

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”MAHATMA GANDHI

“Se você tem metas para um ano. Plante arroz Se você tem metas para 10 anos. Plante uma arvore Se você tem metas para 100 anos então eduque uma criança Se você tem metas para 1000 anos, então preserve o meio Ambiente.” CONFÚCIO

Frases

“Se soubesse que o mundo se acaba amanhã, eu ainda hoje plantaria uma árvore.” MARTIN LUTHER KING

“Digo que minha música vem da

natureza, agora mais do que nunca. Amo

as árvores, as pedras, os passarinhos. Acho medonho que a gente

esteja contribuindo para destruir essas

coisas.”

TOM JOBIM

Para quem tem espírito

empreendedor, a vida

está cheia de oportunidades

para realizar mais.

O Grupo Boticário tem uma história de empreendedorismo.

Tudo começou com O Boticário, que, em 34 anos, se tornou

a maior rede de franquias de cosméticos do mundo e continua

se expandindo rapidamente. E a história do Grupo Boticário ganhou

um novo capítulo: Eudora. A primeira empresa de cosméticos

no Brasil que já nasce no sistema multicanal, com venda direta,

lojas-conceito e comércio eletrônico integrado às redes sociais.

É assim que o Grupo Boticário segue realizando cada vez mais.

Empresas do Grupo Boticário

www.grupoboticario.com.br

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Anúncio Boticario

A coluna desta edição buscou frases sobre o Meio Ambiente

“Só jogue no rio (ou no mar) o que o peixe pode comer. “ ZIRALDO

“Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja.CHICO XAVIER

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”MAHATMA GANDHI

“Se você tem metas para um ano. Plante arroz Se você tem metas para 10 anos. Plante uma arvore Se você tem metas para 100 anos então eduque uma criança Se você tem metas para 1000 anos, então preserve o meio Ambiente.” CONFÚCIO

Frases

“Se soubesse que o mundo se acaba amanhã, eu ainda hoje plantaria uma árvore.” MARTIN LUTHER KING

“Digo que minha música vem da

natureza, agora mais do que nunca. Amo

as árvores, as pedras, os passarinhos. Acho medonho que a gente

esteja contribuindo para destruir essas

coisas.”

TOM JOBIM

Para quem tem espírito

empreendedor, a vida

está cheia de oportunidades

para realizar mais.

O Grupo Boticário tem uma história de empreendedorismo.

Tudo começou com O Boticário, que, em 34 anos, se tornou

a maior rede de franquias de cosméticos do mundo e continua

se expandindo rapidamente. E a história do Grupo Boticário ganhou

um novo capítulo: Eudora. A primeira empresa de cosméticos

no Brasil que já nasce no sistema multicanal, com venda direta,

lojas-conceito e comércio eletrônico integrado às redes sociais.

É assim que o Grupo Boticário segue realizando cada vez mais.

Empresas do Grupo Boticário

www.grupoboticario.com.br

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Estante Por Carlos Franco, Editor de Plurale em Revista

BICHOS, PLANTAS E SEUS PARENTES: CRÔNICAS AMBIENTAISLuiz Eduardo Cheida, Editora Aymará,160 págs, R$ 34,00

O livro “Bichos, plantas e seus pa-rentes: crônicas ambientais”, do Luiz Eduardo Cheida, foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro In-

fantil e Juvenil (FNLIJ) para fazer parte do catálogo ofi cial da Feira de Bolonha de 2011. Lançado em 2010 pela Aymará Edições e Tecnologia, o livro será a única obra paranaense presente neste que é o principal evento internacional dedicado à literatura infanto-juvenil. O livro tem prefácio da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, e traz uma abor-dagem diferente em relação aos desafi os ambien-tais atuais enfrentados em todo o mundo. A obra é um conjunto de crônicas que, dando voz a animais e plantas, debate o impacto das ações do homem sobre o equilíbrio ambiental e faz com que o leitor refl ita sobre o tema de cada um deles.

CONVERSAS COM LÍDERES SUSTENTÁVEISRicardo Voltolini, Editora SENAC São Paulo, 252 págs, R$ 50,00

Quem são os líderes da sustentabilida-de, como agem e pensam, em que valo-res acreditam? Foi justamente tentando

responder a essas perguntas que o jornalista e consultor Ricardo Voltolini escreveu o livro Conversas com Líderes Sustentáveis, que acaba de ser lançado pela editora Se-nac-SP. Além de fazer um apanhado teórico da discussão da liderança, contextualizando-a a partir dos desafi os atuais da sustentabilidade e com base em ideias de pensadores como Peter Drucker, Charles Handy, Peter Senge, John Naisbitt e Waine Visser, Voltolini entrevistou 10 presidentes de empresas já consagrados no tema. Foram retratados no livro Fábio Barbosa (Santander), Guilherme Leal (Natura), Luiz Ernesto Gemignani (Promon), Franklin Feder (Alcoa), José Luciano Penido (Fibria), Kees Kruythoff (Unilever), Pau-lo Nigro (Tetra Pak), Miguel Krigsner (O Boticário), Héctor Núñes (ex-Walmart) e José Luiz Alquéres (ex-Ligth).

SAGA BRASILEIRA, A LONGA LUTA DE UM POVO POR SUA MOEDAMiriam Leitão, Grupo Editorial Record/Editora Record, 476 págs, R$ 49,90

Da hiperinfl ação ao Plano Real, passando pelos congelamentos, planos que não duraram um verão,

o confi sco do governo Collor, Miriam Leitão mostra, em Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua moeda, como os brasileiros sofreram e resisti-ram até a estabilização da economia. Neste livro fun-damental sobre a história econômica recente do país, Miriam lança mão de sua vasta experiência jornalís-tica aliada a uma sensibilidade ímpar para traçar um painel único da relação do brasileiro com sua moeda. Com histórias humanas e análise econômica, este livro revela como os esforços sucessivos pela esta-bilidade ajudaram a construir, nas últimas décadas, o perfi l da sociedade brasileira como conhecemos. Saga brasileira, a longa luta de um povo por sua mo-eda acaba de sair da gráfi ca da Editora Record.

GABRIEL E A FRALDINHAde Ivna Chedier Maluly, Escrita Fina Edições, 15 págs, R$ 19,00

“Gabriel e a Fraldinha” é o primeiro livro de uma sé-rie para bebês que Ivna está escrevendo. A obra tam-bém foi baseada na experiência de Ivna com seu fi lho Elias. Ele tinha um ano quando começou a surpreen-der sua mãe em não querer colocar a fralda e sim cor-rer pela casa peladinho. As ilustrações dos dois livros são de Camila Carrossine, uma jovem e criativa artista de São Paulo, que faz pinturas, fotografi as, ilustrações e animações. Ivna nasceu em Petrópolis (RJ). Traba-lhou como repórter para os jornais Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil. Em 202, mudou-se para a França foi correspondente internacional do O Globo e revista

Época. Atualmente, vive em Bruxelas com o ma-rido Christophe e Elias, onde dá aulas de portu-guês para estrangeiros e colabora com várias publicações, como Plu-rale em revista.

PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 201112

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PATRICIA ALMEIDA ASHLEY

bRasil, 1999: tecendo Fios.

Em tempo de buscas por conhe-cimento científi co em ‘organizações responsáveis’, me deparei com o termo “business social responsibi-lity”, traduzido para o Brasil como responsabilidade social empresarial ou responsabilidade social corpora-tiva. Na época, em buscas no Yahoo e no Altavista sobre o tema no Brasil, dois sites apareciam: o do IBASE, em torno do tema do Balanço Social; e o do Instituto Ethos, em torno dos Indicadores Ethos de Responsabili-dade Social. A pesquisa durante o Doutorado no IAG, PUC-Rio, contri-buiu para conhecer e divulgar que havia diversas perspectivas e enten-dimentos, tanto no Brasil como no exterior, sobre o que signifi cava e como se exercia a responsabilidade social empresarial. A pesquisa ge-rou um mapeamento de perspecti-vas brasileiras e estrangeiras em um meta-modelo para a responsabili-dade social empresarial, publicado no Brasil e, mais recentemente, no exterior. Em síntese, os resultados mostraram que há entendimentos de que a responsabilidade social empresarial é uma ação pós-lucro, não inserida nos processos de negó-cio, bem similar ao que se propaga-va no Brasil nos fi ns do século XX. Alternativamente, há as perspectivas pré-lucro em que se concebe a res-ponsabilidade social nos processos de negócio, requerendo novas com-petências, modelos e tecnologias ambientais, sociais e econômicas

para a inovação empresarial. Em ambas as vertentes pós-lucro e pré-lucro da responsabilidade social empresarial, variando conforme o contexto legal, econômico, ambien-tal, social e cultural, dependendo do tipo e porte do empreendimen-to, podemos contemplar três níveis de desafi os éticos nas relações em-presa-sociedade. O primeiro nível de desafi o ético é o cumprimento da lei, incluindo as de abrangên-cia local, nacional e internacional, como são os acordos internacionais em órgãos multilaterais. O segundo

que a lei determina. O terceiro ní-vel de desafi o ético é atuar de forma coerente com a aspiração a ideais éticos, que nem o contexto de ope-ração, produção e comercialização da empresa demanda ainda, muito menos é exigido em lei, mas emerge da consciência diferenciada de líde-res que possam infl uenciar decisões na empresa.

bRasil, 2011: tecendo Fios.

Um novo retrato sobre respon-sabilidade social. Encontra-se, neste país, uma impressionante quantida-de de prêmios, certifi cados, cartas de princípios, códigos de ética, marcas e selos de responsabilidade social, rela-tórios de sustentabilidade, índices de ações de empresas selecionadas pela política de responsabilidade social, uma lista enorme de sites e links, de artigos, reportagens, eventos, cursos, livros, vídeos.

bRasil a paRtiR da Holanda, 2009, 2010 e 2011: tecendo Fios.

A partir de lá, como represen-tante da América Latina em pesqui-sas sobre responsabilidade social empresarial, me deparo com per-guntas sobre: Como é que o Brasil conseguiu tantos casos de reper-cussão em políticas e práticas de responsabilidade social empresarial, a exemplo da premiação de relató-

Responsabilidade social no Brasil: Tecendo os fi os desatando os nós

O Brasil não tem limites, somos invasivos, somos intrometidos, somos curiosos e não sufi cientemente ‘limitados’ a formatos pré-estabelecidos, inovando e articulando ideias com pessoas de vários segmentos

nível de desafi o ético é ir além da lei no contexto temporal e espacial em que a empresa está operando, produzindo e comercializando, já atendendo a novas expectativas so-ciais nesse contexto e avançando políticas e práticas em relação ao

CONEXÕES PLURALE PLURALE

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rios de sustentabilidade promovida pela Global Reporting Initiative e pela grande números de candidatos brasileiros a esta premiação? Res-pondo ao renomado especialista, ex-presidente de empresa na área de fi nanças e com grande infl uên-cia internacional: “o Brasil não tem limites, somos invasivos, somos in-trometidos, somos curiosos e não sufi cientemente ‘limitados’ a for-matos pré-estabelecidos, inovando e articulando ideias com pessoas de vários segmentos (governo, políticos, membros do judiciário, empresários, consultores, educadores, agentes da sociedade civil, donas de casa, jorna-listas...). É essa a minha visão”.

bRasil, daQui e agoRa em diante: desatando nÓs.

O que nos falta caminhar nesse terreno do discurso e da prática da responsabilidade social, no contex-to brasileiro? Respondo que é lidar com a inconsistência, a incoerência e a incongruência de responsabili-dades sociais entre acionistas, di-retores, empregados, especialistas consultores, fornecedores, com-pradores, financiadores, isso no âmbito das empresas. E mais, com a inconsistência, a incoerência e a incongruência de responsabili-dades sociais entre Poder Público Executivo, Judiciário e Legislativo (federal, estadual e municipal), instituições de educação, famílias e detentores de capital e agentes financeiros.

Os resultados das pesquisas que venho me envolvendo desde 1999 mostram que as perspecti-vas e práticas de responsabilida-de social empresarial podem ser compreendidas como relacionadas com as culturas e os contextos ins-titucionais em que as empresas es-tão situadas. Neste sentido, cultu-ra se forma e se transforma com o desenvolvimento da cidadania em todas as esferas sociais (política, econômica, doméstica, comunitá-

ria, governamental, entre outras), sendo que a educação para a res-ponsabilidade social coletiva é ine-rente ao desenvolvimento de uma cultura cidadã.

A Lei é uma expressão do grau de desenvolvimento de uma so-ciedade, pois não aceitamos mais aquilo que foi lei no passado (es-cravidão, por exemplo) e que não é mais coerente com o presente e com o futuro que queremos. En-tretanto, a memória cultural desse tempo ditatorial, escravagista está efetivamente fora de nosso tempo atual nas práticas domésticas, nas

de social e pela viabilidade econô-mica em padrões ecológicos? Será que não temos leis ultrapassadas para construirmos uma sociedade sustentável, seja no nível local, re-gional, nacional ou internacional? Será que não temos uma cultu-ra em nossos tempos que não se mostra coerente com os discursos e exemplos de políticas e práticas orientados para a responsabilida-de social? Como um Conselho de Administração deve incorporar de forma integral uma ética da respon-sabilidade social em seu processo decisório? Como agir assim diante de investidores, fi nanciadores, dire-tores, compradores, fornecedores e de governantes que não pensam, não valorizam e nem planejam agir dessa forma? Como criarmos um ambiente empresarial e institucio-nal coerente com organizações so-cialmente responsáveis?

Para exemplificar incoerências do contexto institucional e cultura brasileiros, começo lendo o art. 14 da Constituição Federal, Capítulo IV – Dos Direitos Políticos, no Título II – Dos Direitos e Garantias Fun-damentais, em especial o parágrafo 4°: “São inelegíveis: os inalistáveis e os analfabetos”. Hummm.... quer dizer que não precisa estudar para ser elegível...!!! Então vamos co-nhecer os que são elegíveis na Car-ta Magna, como nos determina o § 3º do mesmo Art. 14 e que aponta uma ênfase: na diferenciação da fai-xa etária para determinados cargos; ter nacionalidade brasileira; ter ple-no exercício dos direitos políticos; ter domicílio eleitoral na circuns-crição; ter realizado o alistamento eleitoral; além da necessária filia-ção partidária. Ou seja, de fato, há uma incoerência, por um lado, nos critérios para elegibilidade e, por outro lado, em uma enorme e lon-ga caminhada das políticas públicas e empresariais brasileiras no senti-do da escolarização da população, seja para fazer concursos públicos, para trabalhar nas empresas, para ser

São inelegíveis: os inalistáveis e os analfabetos”. Hummm.... quer dizer que não precisa estudar para ser elegível...!!!

práticas empresarias, nas práticas e modelos de políticas públicas, nas compras, investimentos e financiamentos públicos e priva-dos? Como mudar uma cultura em que a informação e cultura divulgadas nos grandes meios de comunicação reproduzem lógicas de dominação, violência, exclusão social, sejam em novelas, reporta-gens, seriados e propagandas? E os lançamentos de novos produ-tos e linhas de produtos, insis-tentemente efêmeros, de curta durabilidade ou fruto de modis-mos, mesmo que já anacrônicos em meio a uma mobilização social pelo ambientalismo, pela qualida-

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empreendedor. Entretanto, sinto muito, não precisa estudar para ser eleito membro do Poder Legislativo ou Chefe do Poder Executivo nos 5.565 municípios, nos 27 estados e na União.

É esta incoerência que pes-soalmente encontrei como pro-fessora, pesquisadora e extensio-nista, em várias ocasiões em que testemunhei o despreparo dos eleitos para vereador e para pre-feito, não conseguindo nem com-preender ou menos ainda, dar va-lor, aos cursos de capacitação da universidade para agentes públi-cos e da sociedade civil em torno de planejamento governamental, políticas urbanas, orçamento pú-blico e outros tópicos. A boa e interessada audiência dos cursos girava em torno de alguns mem-bros de conselhos municipais, quase sempre os mesmos ativistas de sempre, em sua minoria, ou de lideranças de organizações da so-ciedade civil. Nos bastidores que conheci em reuniões com secretá-rios municipais, vereadores e pre-feitos, sempre a mesma história: alguns consultores, com reserva de mercado por vínculos pessoais e de longa data, prestando servi-ços que o serviço público deveria ter competência e quadro quali-fi cado de agentes públicos para prestar; e, de outro lado, os blo-queadores e sabotadores da atu-ação e difusão de conhecimento público e gratuito oferecido pelas universidades federais a partir de professores e estudantes cidadãos e estudiosos nos avanços do tema de extensão e de pesquisa.

Passamos para exemplos de grandes empreendimentos públi-cos, em que empreiteiras e con-sultores entram no ‘mercado de negócios’ e em nenhum momen-to são deles exigidos requisitos de padrões de qualidade nas con-dições de trabalho, ética e trans-parência na gestão das empresas que atuam nos empreendimentos públicos, algo que é tão ensinado

e propagado por universidades, pelo SEBRAE, pelo SESI, entre ou-tras instituições de conhecimento. Ou seja, o governo, pelo orçamento público, é efetivamente um podero-so promotor de modelos e práticas empresariais, seja em um sentido ou em outro sentido.

Qual é o sentido que se propõe para os contratados e fi nanciados com recursos públicos quanto à responsabilidade social nos pro-cessos de negócios, nas políticas de compensação ambiental, social

e econômica no território que es-tejam atuando? Se considerarmos as condições de transparência e diálogo com os diversos atores que participam de um empreendimen-to, não vemos também exigência de modelos de governança e relatórios de transparência empresarial ou de sustentabilidade pelo Poder Público e nem mesmo pelas próprias em-presas contratantes ou pelos agen-tes fi nanciadores do projeto. Há diversos projetos de lei na Câmara Federal que contribuem nesse sen-tido de uma responsabilidade social multi-atores, ou seja, em empresas, governo e na sociedade civil, mas todos emperrados em determina-das comissões parlamentares, em especial as que lidam com interes-ses ‘econômicos’. Quando olhamos

os bastidores desses projetos de lei, mesmo algumas associações empre-sariais e ONGs que se classifi cam publicamente como promotoras da responsabilidade social, fazem lo-bby para que não haja avanços no marco legal pró-responsabilidade social e sustentabilidade brasileira. Fica a questão: quem perde e quem ganha em não termos avanços no campo institucional e marco legal brasileiro que o torne mais coeren-te e consistente com modelos de desenvolvimento sustentável? Será

porque estaríamos criando um em-poderamento de competências institucionais e sociais nacionais que excluiria a necessidade de im-portarmos modelos e ferramentas de gestão, de consultoria e de de-pendência intelectual, caríssimos e acessíveis somente a uma elite econômica de famílias e empre-sários? Será que não temos aqui no Brasil conhecimento suficiente para desenvolvermos um pacto social visando uma reforma ins-titucional pró-responsabilidade social no marco legal brasileiro e nas políticas públicas, com pos-sa repercutir positivamente nos processos decisórios públicos e privados sobre investimentos, em-preendimentos, tributação, cons-trução civil e comércio?

CONEXÕES PLURALE PLURALE

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Passamos para o contexto do mercado da moda, um segmento tão propagado como um indutor de cul-tura ou de reprodutor de tendências e ainda vemos membros de conselhos de administração ou de diretores de empresas aprovarem contratos de pu-blicidade e linhas de produto com ris-cos ambientais e sociais. Como se dá a qualifi cação dos que estão imbuídos de poder de decisão nos investimen-tos e nas políticas e práticas de ges-tão? Que escolas de nível superior, no Brasil e no exterior, são essas em que se formam os Administradores, Enge-nheiros, MBAs e Especialistas e que não incluem a sustentabilidade, a ética da responsabilidade social de forma transversal no currículo e nos objeti-

tudam em suas escolas made in fora do Brasil? O que as Diretrizes Curriculares no Brasil, para a educação básica, pro-fi ssional e superior, estão propondo para a formação cidadã? O que os exa-mes nacionais e de seleção avaliam em termos de capacidade de interpretação, refl exão e posicionamento crítico para um profi ssional cidadão?

Passamos agora para as políticas tributárias do governo federal, estadual e municipal, que indicam e infl uenciam as decisões das famílias, dos empreen-dedores, dos proprietários, dos agentes fi nanceiros, dos profi ssionais, de todos. São também instrumentos que carre-gam uma mensagem, uma pedagogia econômica e cultural para ir seja em um ou em outros caminhos, infl uenciando as decisões que tomamos e os limites que temos no exercício de contribuin-tes cidadãos ou não. Vejamos o tama-nho da base tributária, a incoerência, a desigualdade na tributação, a aposta no ônus tributário sobre o trabalho, o fl u-xo dos produtos e rendas da economia, ao invés de tributar o estoque, a reten-ção, a apropriação, a desigualdade, o patrimônio, a acumulação. Não se dife-rencia, no atual marco legal tributário, o grau de cuidado social, ambiental e econômico do contribuinte, nem se premia com descontos no imposto de renda os que investem em educação e livros para os seus fi lhos, em compara-ção com os que temem a doença (sem limites para despesas com planos de saúde) como condição sine qua non de sua existência cotidiana.

Tudo acima, combinado, entre ou-tros possíveis exemplos das reformas brasileiras que precisamos refl etir e nos pactuar socialmente, nos ensina que ainda temos, no contexto brasileiro, uma desvalorização social, econômica e política da Educação (com letra maiús-cula). Como recomendação, todos os pontos acima levantados caminham em uma direção: educação para a liberda-de com alteridade e responsabilidade social, para o sentido coletivo, para o território em que vivemos, o qual não é só meu, só seu, só nosso, mas de todos que o fi zeram, viveram, vivem e viverão, seja no rural ou no urbano.

As instituições de educação infantil, básica e superior, além das profi ssio-nalizantes, são concebidas na Carta Magna do Brasil diante de seus fi ns de interesse público. Apelo para que a reforma tributária, reforma política e novos rumos nas políticas públicas incluam esta refl exão, pois a Educação benefi cia não apenas o indivíduo, mas a sociedade, a natureza, a política, a coletividade, o ambiente. Contem com meu desejo, minhas possibilida-des, meu dever, minha crença e minha ação cidadã, como também de tantos brasileiros e brasileiras, em especial dos que educam em família, na comu-nidade, nas escolas, nas empresas, na sociedade civil e no governo.

vos de formação (não apenas em uma disciplina isolada preferencialmente optativa ou eletiva)? Precisamos enviar para instituições de educação no exte-rior para formarmos os nossos deciso-res de Conselhos de Administração e Diretores de Empresas no Brasil? Que livros estão lendo, que modelos de negócio estão aprendendo ou repro-duzindo? Que contexto institucional estão situados os casos (cases) que es-

Patricia Almeida AshleyBrasileira, mãe, professora, contribuinte e eleitora.Holanda: Prince Claus em Desenvolvimento e Eqüidade - 2009/2011 International Institute of Social Studies of Erasmus University Rotterdam www.iss.nl – A Haia - HolandaBrasil: Professora Adjunta do Departamento de Análise Geoambiental do Instituto de Geociências/ Universidade Federal Fluminense/ www.uff.br - Niterói / Rio de Janeiro – BrasilEmail: [email protected]

Precisamos enviar para instituições de educação no exterior para formarmos os nossos decisores de Conselhos de Administração e Diretores de Empresas no Brasil?

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Sustentabilidade: utopia à estratégia do negócio

ArtigoReginaMigliori

Há poucas décadas, os conceitos que embasam a noção de sustentabilida-de eram “coisa de doido”, uma utopia fora da realidade. Depois passou a ser universo dos “alternativos”. Há pouco

tempo transformou-se em tendência nas empresas, e hoje é cenário de negócios.

Em uma perspectiva histórica, deixamos para traz o tempo da fi lantropia, cujo foco eram os problemas, uma forma da empresa usar parte de seus recursos

para ajudar aqueles que precisavam de auxílio. Pas-samos pela época da responsabilidade corporativa, com foco em projetos de caráter socioambiental, constituindo mais uma pauta entre as outras tantas do contexto empresarial, muitas vezes tratada de forma desvinculada do negócio, ou como oportuni-dade para melhorar a sua imagem. Tem gente que estacionou por aí.

Porém, sustentabilidade não é sinônimo de pre-servação ambiental, e está deixando de ser compre-

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endida somente como pauta de alguns projetos. Começa a ser abordada como estratégia de negócio. Uma trans-formação muito rápida. Tão rápida que muitos aspectos ainda estão nebulosos.

Seja por convicção ou por conveniência, hoje em dia ninguém defende um processo poluidor, ou uma iniciativa que não promova equanimidade entre di-ferentes stakeholders. É também impensável acolher o sucesso desvinculado de valores éticos, ou propor ações que maculem a reputação do negócio. Torna-se cada vez mais comum a noção de que “ninguém vai bem em um mundo que vai mal”. Pouco a pouco este discurso se torna universal, e desvela inúmeras dificul-dades práticas.

Um dos maiores desafios da atualidade consiste em formular estratégias de fato sustentáveis. Consequen-temente, é também desafiador dispor de mecanismos para colocá-las em prática. Há inúmeros modelos de indicadores proliferando no contexto empresarial, mas na sua grande maioria, sugerem o que deve ser monitorado, e pouco esclarecem sobre as possíveis formas de obter dos resultados esperados. Mesmo as-sim, quase todo mundo sai criando métricas, publican-do relatórios, muitas vezes com informações pouco significativas para demonstrar a aderência do negócio a uma estratégia de sustentabilidade.

Em primeiro lugar, é preciso definir o que é susten-tabilidade na empresa. Não há uma definição genérica, que sirva para todos. Trata-se de uma etapa de reflexão interna, que pode resultar em revisão da natureza do ne-gócio, de sua missão, seus valores, propondo as adequa-ções que as exigências da atualidade impõem.

Para não correr o risco de reduzir a estratégia a um discurso bem intencionado, esta noção de sustentabilida-de precisa ser institucionalizada, traduzida em políticas, normas, processos, procedimentos, e atributos mensu-ráveis. Seja qual for o estilo de gestão, é preciso deixar claro que é “prá valer”.

Porém não basta definir como devem ocorrer as ações. Elas de fato precisam acontecer. Esta execução requer o alinhamento em torno de três vetores: instru-mental (o que fazer?), relacional (como inserir a ação em determinado contexto?) e filosófico (por que e para que realizar essas ações?).

Foi-se o tempo em que era suficiente fazer bem fei-to, ter qualidade de produto e processos. Além destas competências de caráter instrumental, é preciso manter altos níveis de excelência relacional, saber inserir as ações do negócio em seus diferentes cenários de atuação. Mais ainda, sob o ponto de vista filosófico, a ação empresarial não pode ser desprovida de propósito, isso exige clareza a respeito de “por que” e “para que” as ações são executa-das. É quando a estratégia se transforma em uma “causa”, algo que move as pessoas e o negócio.

Mas como diz a voz do povo, de boa intenção o in-ferno está cheio. Às vezes a gente faz tudo direitinho, e os resultados ficam aquém das expectativas. Sem fa-lar das vezes em que pode até parecer que deu certo, mas só para alguns ou só em alguns poucos aspectos. Portanto, não basta definir a noção de sustentabilida-de, institucionalizá-la, e manter o alinhamento da exe-cução. É altamente relevante identificar os impactos resultantes do negócio. No mínimo, sob a ótica eco-nômica, ambiental e social. Lembrando que a noção de impacto envolve as dinâmicas internas e externas à empresa, sob a ótica tangível e intangível.

Complicou? Não se assuste, tem jeito. Sustentabili-dade como estratégia exige um modelo de gestão sis-têmico, orgânico, em que seja possível lidar com três eixos de ações simultâneas:

a) Operação do negócio em todos os seus aspectos de execução: desde insumos, opções tecnológicas, até as entregas finais e seus desdobramentos.

b) Cultura e desenvolvimento humano: com foco em mudança de mind set, reformulação de competências, processos de formação, avaliação e reconhecimento.

c) Comunicação e relacionamento com stakeholders: visando coerência e consistência das mensagens, proces-sos de branding, e manutenção de relações e diálogos relevantes.

Além disso, como o desafio é geral, e ninguém tem um manual com instruções universalmente validadas, é fundamental instalar um modelo de governança da sustentabilidade, com uma arquitetura de indicadores adequada ao negócio, identificar responsabilidades, e viabilizar um permanente processo de aperfeiçoamen-to, aprendizagem e evolução, envolvendo todos os stakeholders relevantes.

Se um dia sustentabilidade foi coisa de doido, hoje é doido quem não está se ocupando disso. Não se trata de moda passageira. Como o nome diz, trata-se de encon-trar estratégias de sustentação. Mas sustentar o que? A vida, ora bolas. A minha, a sua e de quem mais vier.

Regina Migliori dedica-se a desenvolver o po-tencial ético e sustentável das pessoas, organiza-ções e comunidades. Vem implantando modelos de governança da sustentabilidade em empre-sas, governos e instituições do terceiro setor. É Consultora em Cultura de Paz da Unesco; Pro-fessora da Fundação Getúlio Vargas; há mais de 20 anos vem aplicando sua metodologia para o desenvolvimento de uma inteligência sustentá-vel; é autora de livros, programas de e-learning, e articulista em diversos meios de comunicação. www.migliori.com.br e twitter:@reginamigliori

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Caminhar pela fl oresta é um dos passeios mais tradicionais para quem visita a Amazônia e se hospeda em um hotel de selva. É ali que a pessoa se depara e surpreende com imponentes espécies locais da fauna e fl ora. O que poucos conhecem, entretanto, é a possibilidade de ir além e escalar o topo de uma alta árvore samaúma. A prática hoje é possível com a empresa Tropical Tree Clim-

bing (TTC, Escalada em árvores tropicais). Criada pelo casal Leonide Principe e Vanessa Mariño em 2007, a TTC está instalada no

Hotel de Selva Ariaú Towers, nas proximidades de Manaus, Amazonas. O site, como conta Vanessa, ainda é a principal ferramenta para divulgação desta modalidade que tem como

Amazônia

Texto: Marina Guedes, Especial para Plurale em Revista, Manaus AMFotos: Leonide Principe

Sintonia com a natureza nas alturasEscalada vertical rumo ao topo das árvores da Floresta Amazônica é lazer para turistas

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pano de fundo a interação diferenciada com a natureza. “Muitos estrangeiros de perfi s variados nos procuram dos mais diversos locais, como Estados Unidos, Japão, Europa e também do Brasil, bastante de São Paulo e Rio de Janeiro”, destaca ela.

Conheci o casal há quase um ano, quando me hospe-dei no Ariaú durante um feriado. Desde então, fi z duas escaladas e confesso que vontade não me falta para subir novamente. Quem sabe até dormir numa rede especial (chamada treeboat), com mosqueteiro embutido e co-bertura para chuva. Isso mesmo, uma rede em que a pessoa continua clipada com o equipamento de escala-da e desfruta seu pernoite nas alturas, em total seguran-ça e conforto. Está difícil imaginar esta façanha? A foto nesta matéria, com certeza, vai ajudar a esclarecer.

Na escalada em árvore (não confundir com arvo-rismo, que envolve o deslocamento horizontal pelas árvores), a TTC possibilita diferentes modalidades de subida. O participante pode optar em fazer esforço, pé ante pé com auxílio de cordas, sentado em uma cadeirinha, ou suspenso por meio de uma máquina, quase como um guincho. Neste caso (denominado escalada em árvore assistida), não há necessidade de esforço algum, porque o sistema de polias nas cordas reduz consideravelmente o peso de quem está subindo.

Foi este aparato que permitiu, por exemplo, a subida do proprietário do Hotel Ariaú, Francisco Ritta Bernardino, há poucas semanas. Do alto de

seus 78 anos, ele sentiu na pele a emoção. “É um projeto que está sendo desenvolvido pelo Leo. Uma ideia dele, que tem como objetivo chamar as pessoas para viver uma emoção incrível. Você está a 30, 40 metros em cima de uma árvore, dentro da Floresta Amazônica, e tem a oportunida-de de observar os animais e os pássaros no seu habitat natural. Inesquecível”, resume ele.

Nas duas ocasiões em que subi, optei pelo esforço físico. Outras pessoas, no entanto, o fi zeram da mesma forma que Bernardino. Em todos os ca-sos, a alegria e bem estar pós-atividade foram o denomina-dor comum. “Teve gente que, ao subir, começou a declamar poesias. Outros cantaram. A escalada desperta uma re-ação incrível nas pessoas”, descreve Leonide

o começo

Radicado na Amazônia há mais de 20 anos, o franco-italiano Leonide Principe teve acesso à escalada em árvore em função de sua profi ssão de fotógrafo. Na época, ao ser con-vidado a produzir um livro sobre Orquídeas e Bromélias na copa das árvores, pelo Governo do Estado do Amazonas, percebeu que seria fundamental escalar para obter as melhores imagens. “Não falei nada, mas fi cou essa questão dentro de mim: terei que apren-der. Comecei logo a ver como se fazia a escalada e onde encontrava material para o trabalho”, recorda.

“Desde que conheço o Leo, ele sempre me falou sobre essa vonta-de de criar um lugar onde as pessoas pudessem aprender técnicas de

seus 78 anos, ele sentiu na pele a emoção. “É um projeto que está sendo desenvolvido pelo Leo. Uma ideia dele, que tem como objetivo chamar as pessoas para viver uma emoção incrível. Você está a 30, 40 metros em cima de uma árvore, dentro da Floresta Amazônica, e tem a oportunida-de de observar os animais e os pássaros no seu habitat natural.

Nas duas ocasiões em que subi, optei pelo esforço físico. Outras pessoas, no entanto, o fi zeram da mesma forma que Bernardino. Em todos os ca-sos, a alegria e bem estar pós-atividade foram o denomina-dor comum. “Teve gente que, ao subir, começou a declamar poesias. Outros cantaram. A escalada desperta uma re-ação incrível nas pessoas”,

seus 78 anos, ele sentiu na pele a emoção. “É um projeto que está sendo desenvolvido pelo Leo. Uma ideia dele, que tem como objetivo chamar as pessoas para viver uma emoção incrível. Você está a 30, 40 metros em cima de uma árvore, dentro da Floresta Amazônica, e tem a oportunida-de de observar os animais e os pássaros no seu habitat natural. Inesquecível”, resume ele.

subi, optei pelo esforço físico. Outras pessoas, no entanto, o fi zeram da mesma forma que Bernardino. Em todos os ca-sos, a alegria e bem estar pós-

TREEBOAT: rede especial,

com mosqueteiro embutido e

cobertura para chuva

Fotos: Leonide Principe

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escalada para os diversos objetivos e interesses: fotografia, pesquisa, contemplação ou para a pura recreação. Decidi entrar em contato com a empresa norte-americana TCI para saber quem poderia nos dar o curso profissionalizante. Encaminharam-me ao Tim Kovar, especialista que viaja pelo mundo todo formando escaladores”, detalha Vanessa.

A parceria com a TCI (Tree Climbers International) e seu fundador, Peter Jenkins, que atua no ramo há quase 30 anos; e também com a TCNW (Tree Climbing Northwest) selou o início da empreitada. “Fundamos a TTC, montamos um grupo para realizar os primeiros cursos com a TIM, em Presidente Figueiredo, fizemos o curso básico, avançado e de formação de guias. Atualmente, estamos no programa para facilitadores de escalada em árvores. A ideia é trazer este certificado para o Brasil e poder implantar os cursos da TCI para simpatizantes e ou empresários brasileiros da área do ecoturismo e turismo de aventura com preços acessíveis ao mercado”, complementa Vanessa.

Resgate de emoções

O conceito que move os idealizadores da TTC, Leo e Vanessa, gira em torno da sintonia com o meio ambiente. Ou, como define Leo, a possibilidade de perceber a árvore como um ser vivo e a importância em valorizar o momento, sem pressa, redescobrindo sensações esquecidas por nós mesmos. “A gente pode teorizar, mas o prático mesmo é isso, o brilho dos olhos e a euforia, o entusiasmo das pesso-as que participam”.

“Todo mundo, quando criança, deve ter escalado uma árvo-re, uma mangueira, jaqueira. Há muitas lembranças sobre isso em cada um de nós. O ato de escalar uma árvore, já adulto, serve para reativar esta memória e as lembranças. É neste mo-mento que podemos perceber a árvore em que estamos como um ser vivo. Estudamos Biologia na escola, mas, de repente, estar lá em cima, vendo, sentindo, vivenciando, resulta numa experiência direta com a natureza”, afirma Leo.

O que mais apreciamos, continua Leo, “é essa reaproxima-ção com a natureza. Nosso momento histórico, social, econô-mico, político pede que as pessoas redescubram que a natureza é viva, que existe, está aqui. Não se trata apenas de um estoque de carbono, de um bem econômico, vai além. O que deseja-mos é conseguir passar esta mensagem, além das experiências sensoriais, que são particulares. Faz parte de nosso trabalho o empenho ambientalista, de preservação da natureza”, finaliza.

VaRiedade em pacotes

Além das escaladas de 1 dia no Hotel Ariaú Towers, a TTC faz tours que incluem escaladas em árvores de diversas espécies, como Castanheiras, Angelim, Samaúmas de até 50 metros pela Floresta Amazônica. Alguns pacotes são com hospedagem no Hotel Ariaú Towers, local onde a TTC tem parceria, e utilizam a estrutura do empreendimento para a realização das atividades.

A Tropical Tree Climbing também realiza expedições com acomodação em barco confortável, destinado a três tipos de públicos: amantes da natureza, famílias e escaladores profis-sionais. Este último chama a atenção de muitos escaladores do

Amazônia

Foto: Marina Guszmán

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mundo inteiro, principalmente de Japão, Taiwan,

Estados Unidos, Itália e França. Outra possibili-

dade de pacote inclui dormir na rede específi ca

(treeboat) na copa da árvore e ter a chance de

acordar com o canto dos pássaros.

Hoje, a Tropical Tree Climbing é a única

empresa brasileira com guias ofi cialmente trei-

nados pela TCI - organização mundial que treina

pessoas com protocolos rígidos de segurança e

ensina as técnicas necessárias para a realização de

escaladas em árvores de maneira responsável e

segura. Os proprietários da TTC estão trabalhan-

do, também, na implantação das normas técnicas

do programa Aventura Segura, assim como no

Sistema de Gestão de Segurança para entrar, este

ano, na próxima rodada para certifi cação.

Todo o cronograma de atividades da Tropi-

cal Tree Climbing - TTC está disponível no site

www.tropicaltreeclimbing.com. A próxima ex-

pedição pelos rios da região está prevista para

o mês de agosto.

aRiaÚ toWeRs, décadas de

pioneiRismo em Hotéis de selVa

Outro projeto do casal Leo e Vanessa é o livro

sobre o Hotel de Selva Ariaú Towers, que pode

ser adquirido pelo site www.rittabernardino.com.

Intitulado Ariaú Amazon Towers - Gerador de

Emoções, Sugestivo, Direcionado e Comprome-

tido com o Sentimento Regional é o resgate de

décadas de pioneirismo do empreendimento

amazônico. Com fotos de Leonide e texto do

proprietário, Ritta Bernardino, o material vai ser

lançado na capital do Amazonas em breve. O li-

vro foi produzido em nove idiomas, e evidencia

não somente a arquitetura do local, todo cons-

truído na copa das árvores, como o envolvimento

com as comunidades locais e a realidade do ca-

boclo amazonense. “O Ariaú chama as autoridades, os estadistas,

as pessoas de um modo geral, para vir conhecer

a Floresta Amazônica. Saindo daqui, se tornam

defensoras naturais perante o resto da humani-

dade. Uma coisa é você defender alguma coisa

que você já viu, sentiu, e outra coisa é fazer uma

defesa de alguma coisa que você nunca viu, nun-

ca viveu. O Ariaú permite que você viva a Floresta

Amazônica”, declara Bernardino. E conclui: “O li-

vro contém as fotos mais bonitas da fl oresta”.

mundo inteiro, principalmente de Japão, Taiwan,

Estados Unidos, Itália e França. Outra possibili-

dade de pacote inclui dormir na rede específi ca

mundo inteiro, principalmente de Japão, Taiwan,

Estados Unidos, Itália e França. Outra possibili-

Foto

: Mar

ina

Guz

man

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Atividade segura em família: A escalada está praticamente enraizada na família de Leo e Vanessa, que tem três fi lhos. Os pequenos Kinan (9 anos) e Kena (4 anos) são os primeiros a pedir para subir. A familiaridade entre eles impressiona e encanta. Os cuidados com a segurança dos fi lhos, assim como aos turistas, é regra básica e fundamental entre todos os que decidem desfrutar da experiência.

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PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 201124

Texto e Fotos: Flamínio Araripe, Especialpara Plurale em Revista de Fortaleza (CE)

A região do Maciço de Baturité, no Ceará, parte do Complexo Florestal da Mata Atlântica, tem a maioria dos 13 municípios sem saneamento ambiental urbano. Os dejetos em esgoto aberto são lançados no Rio Aracoiaba, afluente do Rio

Choró, que deságua no açude Pacajus, o principal manancial de abastecimento hídrico de Fortaleza.

No platô acima de 600 metros de altitude, a região, a 90 Km de Fortaleza, sedia unidade de conservação estadual, a maior e mais antiga Área de Proteção Ambiental (APA) com 32.690 hectares. Com temperatura amena, a serra possui co-bertura vegetal complexa, refúgio ecológico da uma diversifi-cada fauna e flora. Fazem parte da APA os municípios de Ba-turité, Pacoti, Guaramiranga, Mulungu, Redenção, Palmácia, Aratuba e Capistrano.

Prefeitos de sete dos municípios do Maciço de Baturité, - Guaramiranga, Aratuba, Mulungu, Baturité, Aracoiaba, Re-

Prefeitos e sociedade civil se unem em defesa do saneamento da bela região do Ceará, que guarda o principal manancial de abastecimento hídrico de Fortaleza

A revitalização do Maciço de Baturité

Meio Ambiente

denção e Capistrano – por onde passa o Rio Aracoiaba, ar-ticulam um Projeto de Revitalização do curso d’água, para ser executado com o saneamento ambiental das cidades. A ação deverá ser estendida a todos os 13 municípios da região, uma vez que alguns possuem afluentes do Rio Ara-coiaba. O primeiro encontro aconteceu no início de maio.

De acordo com a Superintendência de Meio Ambien-te do Ceará (Semace), “a APA apresenta um dos mais im-portantes enclaves da mata úmida do Estado do Ceará. Representa um ambiente de exceção do bioma caatinga, sendo o principal centro dispersor de drenagem do setor norte ocidental do Estado. Três sistemas fluviais têm suas nascentes na área serrana. O mais importante é formado pelo Rio Pacoti. Na vertente oriental úmida, a superfície é drenada pelo subsistema do Rio Aracoiaba, integrante da bacia do Rio Choró”.

A Associação do Maciço de Baturité, organização que congrega os prefeitos da região, reuniu no dia 6 de maio Marilene Campelo, de Aracoiaba; Claudio Saraiva, de Capis-trano; Cláudio Mota Martins, de Palmácia, os deputados fe-

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derais Ariosto Holanda (PSB) e João Ananias (PCdoB) e o reitor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Paulo Speller, para dar solução política aos problemas ambientais da região. Na ocasião, Márcia Soares Caldas, coordenadora do Núcleo de Gestão das Bacias Metropolitanas da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) apresentou o Projeto de Revitalização do Rio Aracoiaba, elaborado com Berthyer Peixoto Lima, gerente de Bacias Metropolitanas da Cogerh, também presente.

“O foco da nossa luta é o saneamento”, disse a prefeita de Aracoiaba, Ma-rilene Campelo. Em março, na 8ª Semana das Águas, liderada pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais do município, um mutirão de limpeza do Rio Ara-coiaba retirou em duas horas plástico e outros poluentes do manancial que encheram muitos sacos para reciclagem. Os movimentos sociais, segundo ela, reivindicaram uma intervenção de saneamento na região. “Precisamos do nos-so meio ambiente sadio para melhorar os municípios do maciço do Baturité, que tem serras, turismo, hotéis e fazendas e estão muito próximos da Região Metropolitana de Fortaleza”, afirmou.

sustentáculo da Região metRopolitana de FoRtaleza

“Pensar no maciço Baturité é pensar na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF)”, assinala Berthyer Peixoto Lima. Os municípios da região não têm es-goto e lançam os dejetos no Rio Aracoiaba, afluente do Rio Choró que deságua no açude Pacajus, o pulmão da RMF, para o qual convergem os esgotos, alerta. Para ele, um projeto de saneamento para os 13 municípios do Maciço “é o grande sustentáculo de toda RMF”.

O deputado Ariosto Holanda ponderou que, pela gravidade do proble-ma ambiental na região, o projeto é para ser colocado na alçada da bancada federal do Ceará. Ele aconselhou os prefeitos dos 13 municípios a contatar os deputados mais votados de cada município para que recebam cópia do Projeto de Revitalização do Rio Aracoiaba, orçado em R$ 1.747.736, 00 e colo-quem emenda da bancada para a ação, além de recursos para a elaboração do projeto de saneamento dos 13 municípios.

Ariosto Holanda aconselhou colocar no Ministério da Educação os recur-sos da emenda ao orçamento da União carimbados para a Unilab. “Este é o caminho mais rápido”, propôs. O órgão federal dá execução ágil, sem a mo-rosidade de pulverizar o valor nas 13 prefeituras, comparou. Caberia à Unilab congregar a Cogerh, Semace, Secretaria das Cidades e prefeituras para a exe-cução do projeto de saneamento urbano e revitalização do rio.

A emenda de bancada financia projeto para investimento, não para custeio, expli-cou o deputado. Ele sugeriu aos prefeitos a criação da Região Metropolitana do Maciço de Baturité, que poderá receber emenda de bancada. No Ceará, existem duas Re-giões Metropolitanas – de Fortaleza e do Cariri -, e o projeto do Vale do Jaguaribe. “O caminho para aprovação é a Assembleia Legislativa”, indicou.

ReitoR pRopõe leVaR pRojeto ao ministéRio do meio ambiente

Paulo Speller, reitor da Unilab, informou que fez reunião com os prefeitos da região para conversar sobre saneamento. “Quando uma Universidade se instala, tem por obri-gação trazer contribuição para a região. Este projeto nos afeta e traz um desafio”, disse ele, e mencionou a existência de um Plano de Desenvolvimento Regional do Maciço, de 2001. O projeto é da Secretaria das Cida-des. O reitor recomendou atualizar o estudo com a Secretaria das Cidades, e governo do Estado, prefeituras e BNB que manifestara interesse de apoiar a realização.

O reitor disse que fez contato com a mi-nistra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, relacionado ao projeto de saneamento dos municípios do Maciço, e com a equipe téc-nica do ministério. Speller propôs o apoio da bancada para retomar o projeto e suge-riu levar os deputados e prefeitos a tratar do assunto em audiência com a ministra. Ele propôs realizar um projeto alternativo de tratamento do lixo urbano no campus e em Acarape e Redenção baseado no modelo de Barcelona com seletiva coleta automati-zada, de menor custo. “O sistema de coleta do lixo é caríssimo e ineficiente. Tem que achar uma alternativa”, recomendou.

Conforme Ariosto Holanda, “a Uninab vem para aglutinar, ser um ponto de con-vergência”. A Universidade começou a funcionar este ano com cursos de agrono-mia, engenharia de energia, administração, enfermagem e licenciatura de formação de professores em ciências da natureza e mate-mática. O deputado apontou o potencial do curso de tecnologia da informação, com a demanda de 150 mil profissionais no Brasil.

O reitor assinalou que está prevista para o dia 25 de maio a aula inaugural da Unilab a ser dada pelo ministro da Educação, Fernan-do Haddad. Ariosto propôs para a data a assi-natura do convênio entre a Unilab e dos pre-feitos que integram o consórcio da Amab.

A revitalização do Maciço de Baturité

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estudo indica ações paRa ReVeRteR os impactos negatiVos da ocupação do entoRno da bacia

Em Guaramiranga, na altitude de cerca de mil metros, ocor-rem as principais nas-centes do Rio Aracoia-ba, que forma bacia hidrográfica de 591

Km² e abastece os municípios de Aracoiaba e Baturité. O Projeto de Revitalização do manancial faz a análise da ba-cia, constata o desmatamento das matas ciliares, manejo inadequado dos solos e recursos hídricos, causas de asso-reamento e erosão, e aponta alternativas de intervenção técnica e ambiental.

A marca da ação do homem na bacia levou ao desapare-cimento de fontes perenes e sazonais, principalmente em Guaramiranga. “A aplicação das leis ambientais, que rezam para a preservação e manutenção das Áreas de Preservação Permanentes (APP) referentes aos corpos hídricos, são con-dições sine qua non para que o projeto de revitalização do Rio Aracoiaba seja realizado”, propõe o documento elabora-do por Berthyer Peixoto Lima e Márcia Soares Caldas.

O estudo tem como objetivo reverter os impactos nega-tivos da ocupação na bacia hidrogáfica e entorno, promovi-da pela urbanização desordenada e poluição do reservató-rio pela agricultura mas principalmente pela precariedade

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Meio Ambiente

do saneamento básico nos municípios da bacia de dre-nagem que lançam nos riachos esgoto bruto ou tratado de forma inadequada. São propostas ações de promoção da melhoria de qualidade da água por meio de práticas conservacionistas e de educação ambiental nos municí-pios da bacia.

As medidas incluem a difusão de conhecimentos de agricultura orgânica compatíveis com o relevo, sistema de tratamento de esgotos ecológicos, com educação ambien-tal para a população mudar práticas de destinação final do lixo e reflorestamento. O estudo preconiza também o monitoramento da qualidade da água com coleta e análise físico-química e bacteriológica em diversos pontos ao lon-go da execução do projeto em conjunto com a sociedade, a ser realizado no laboratório de águas residuárias do cam-pus Maracanaú do IFCE.

O projeto propõe buscar modificar o hábito das co-munidades do entorno de lançar resíduos sólidos no rio como se este fosse lixo. Outra preocupação do projeto é incentivar a substituição de agrotóxicos nas lavouras por agricultura orgânica, e o incentivo e implantação de fossas biodigestoras para redução do lançamento indiscriminado de fossas domésticas. O estudo recomenda o uso de fossas verdes e intercâmbio com os técnicos da Fundação Brasil Cidadão, que emprega plantas que agem como filtradoras e bactérias que decompõem resíduos.

A Cogerh constatou o alargamento do leito do rio pelo assoreamento e formação de bancos de areia e esgoto a céu aberto despejados no manancial. É proposta a difusão e incentivo à coleta seletiva do lixo em parceria com prefei-turas, com destinação de resíduos sólidos e ações de capa-citação com minicursos e oficinas, formação de grupos de reciclagem para geração de renda complementar e usina de reciclagem.

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Educação Ambiental

O cenário é o Parque do Ibirapuera, numa fria manhã de sexta-feira. Marfran Gomes Pechin manipula em silêncio um punha-do de bagaço de cana. Ele é um dos participantes da edição do Viva a Mata 2011, evento em defesa da Mata Atlântica organi-zado pela Fundação SOS Mata Atlântica que acontece sempre

no mês de maio. Como num amplo bazar, expositores dos quatro cantos do país divulgam seus projetos em estandes temáticos. Especialistas discutem os temas mais urgentes sobre sustentabilidade. E os visitantes, formados princi-palmente por ruidosos grupos de estudantes, completam a festa.

Indiferente ao burburinho que vai tomando conta do ambiente, Marfran prossegue em sua atividade solitária. Mineiro, 45 anos, morando há 15 em São Paulo, ele aparenta bem mais idade. O material que tem em mãos será trans-formado em luminárias. A atividade faz parte de um projeto de reciclagem de bagaço de cana criado pela Pastoral do Povo da Rua, ligado à Arquidiocese de São Paulo. Quem teve a ideia foi a agente da pastoral Hedwig Knist, alemã que mora há 21 anos no Brasil. A proposta é de capacitar o moradores de rua, dando-lhes uma rotina diária de trabalho. “Não apenas um trabalho, mas a per-manência nele”, explica Hedwig, num português quase sem sotaque.

Ambientalistas, artesãos e especialistas

se encontram em São Paulo para celebrar a

Mata Atlântica

Texto e Fotos: Paulo LimaEspecial para Plurale em revista,

de São Paulo

Afesta da fl oresta

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É difícil acreditar que aquelas luminárias com diferentes cores foram um dia bagaço de cana, de tão per-feitas. “Só não pode molhar, e dura anos”, diz Hedwig. “Se fosse papel machê, estraga-ria bem mais fácil”. Trabalhar os restos da cana é algo que está ao alcance da mão, porém, con-forme nota Hedwig, as pessoas tomam o caldo e não têm ideia disso.

Marfran está no projeto há três meses e tem sua visão da impor-tância daquilo

que está fazendo. Para ele, a retirada do bagaço evita aumentar a sujeira da rua. Além disso, “não junta mosca nem mosqui-to”. O trabalho da Pastoral reúne grupos de até 12

pessoas. Hedwig diz que já chegou a trabalhar com até 30 participantes, mas 20 parece ser o número ideal. Pelo trabalho

diário, cada morador de rua recebe R$ 5 como incentivo fi nanceiro. Os restos da cana percorrem quatro etapas até se transformarem

em belas peças. Primeiro é preciso montar uma estrutura de tela de arame que irá moldar a luminária. Depois vem o preparo da cana: procurar o bagaço, retirar a fi bra e cozinhar. Aí a fi bra é batida em li-quidifi cador com cola. Em seguida, tem-se o acabamento: a instalação da parte elétrica. E por fi m ocorre a venda do produto e o controle do estoque. Tudo passa pela coordenação de Hedwig.

Luminárias - As luminárias são vendidas em lojas sociais man-tidas em parceria com outras instituições. Uma dessas lojas funciona na Secretaria de Assistência da Prefeitura de São Paulo. A renda obtida com as vendas é reinvestida no projeto, que irá completar 10 anos em agosto. É uma forma de transformar não apenas um tipo de material, mas vidas humanas. “Estou aprendiz, mas tenho que aprender mais alguma coisa”, diz Mafran.

Percorrer os estandes do Viva a Mata é se deparar com uma sur-presa atrás da outra. Numa sociedade em que tudo – absolutamente tudo! - é descartável, ideias simples nos ensinam que menos pode ser mais, que aquilo sem aparente utilidade pode se metamorfosear em algo absolutamente novo e com valor social.

Reciclagem - Pense numa embalagem de molho, suco ou leite, feita para conservar alimentos. Você usa o conteúdo e joga a caixinha fora. Será mais uma entre milhares, milhões a poluir o ambiente, a aumentar a produção de lixo global. Mas alguém tem a ideia de retra-balhar esse material feito à base de tetra pak. Daí surge um projeto, uma atividade que contribui para desenvolver produtos sustentáveis. Eis o objetivo da empresa Studio Tetra, de São Paulo, cujo estande no Viva a Mata exibe alguns produtos elaborados a partir daquele mate-rial. Tatjana Lorenz é quem está à frente do estande naquela manhã.

Durante quatro anos, ela morou numa comunidade de perma-cultura, buscando o ideal de uma arquitetura ecológica. “A expe-riência foi muito legal”, ela explica, “mas o trabalho precisava ser replicado nas grandes cidades”. Deixou então a comunidade e voltou para a cidade. O importante para Tatjana é “redesenhar o espaço urbano”, “cuidar das relações entre as pessoas”.

Ela mostra algo que se assemelha a uma pequena maquete no chão, feita com restos de vegetação e terra. É o protótipo de um teto verde, algo a que pretende se dedicar. A fala de Tatjana é de natureza humanista, sensível, sintonizada com os dilemas da convivência urbana, em especial em metrópoles como São Paulo. “As pessoas nem se relacionam de forma adequada nas cidades”, diz. Cita um exemplo do qual tomou conhecimento: o caso de duas senhoras que eram vizinhas de bairro há 15 anos e não se conheciam.

Voltando ao assunto do tetra pak, Tatjana aponta alguns produtos elaborados a partir desse material. Capas de caderno. Bolsas. Agendas. Lixeiras. Ecobags. O Studio Tetra tem parceria com o comércio e residências para coleta de embalagens usadas. No estande, um cartaz com a informação: de todo o material que jogamos fora, 35% podem ser reciclados. Tetra pak aí incluído, sem dúvida.

A criatividade dos projetos de reciclagem mostrados no Viva a Mata parecem atualizar um velho bordão sobre a fertilidade da Terra Brasilis. Em se reciclando, tudo dá. Tudo pode ser re-trabalhado, transformado, multiplicado, reutilizado. Os projetos “Virando do avesso” e “Nem tudo acaba em pizza” são exemplos disso. Você poderia imaginar que as embalagens da massa ita-liana, fabricadas e descartadas a granel, podem servir de tela de pintura? Aha! É o que explica Morgana Cruz, voluntária do Insti-tuto Mais, da capital paulista, que abriga os projetos. Ela explica: o projeto da pizza conta com oito artistas. É como se fosse um artista para cada fatia.

O repórter ainda está matutando para entender de que for-ma o prato italiano vira arte. Morgana mostra então uma pintu-ra com fl ores, algo variando entre o pictórico e o naïve. Foram desenhadas sobre a tampa de uma caixa de pizza. A distân-cia, poderíamos imaginar que se tratava de uma tela de tecido. Ficou bonitinho, um tanto surpreendente, sobretudo por ser feito a partir da embalagem de um produto gerado em escala industrial. Descar-tável. Fast food. A veloci-dade do consumo versus a suposta perenidade da arte.

É difícil acreditar que aquelas luminárias com diferentes cores foram um dia bagaço de cana, de tão per-feitas. “Só não pode molhar, e dura anos”, diz Hedwig. “Se fosse papel machê, estraga-ria bem mais fácil”. Trabalhar os restos da cana é algo que está ao alcance da mão, porém, con-forme nota Hedwig, as pessoas tomam o caldo e não têm ideia disso.

no projeto há três meses e tem sua

que está fazendo. Para ele, a retirada do bagaço evita aumentar a sujeira

Educação Ambiental

uma caixa de pizza. A distân-cia, poderíamos imaginar que se tratava de uma tela de tecido. Ficou bonitinho, um tanto surpreendente, sobretudo por ser feito a partir da embalagem de um produto gerado em escala industrial. Descar-

. A veloci-dade do consumo versus a suposta perenidade

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desejo sem também lhe darem o poder de realizá-lo. Você pode ter de trabalhar por ele, porém”.

Cordel - Como se fossem dois reversos da mesma medalha, o Viva a Mata reúne interesses corporativos voltados para a preser-vação do meio ambiente, como o da Fundação Bradesco, e ações individuais de pertinácia e dedicação. Um exemplo, que vem do Nordeste, é o de Ma-noel Elielson Cor-deiro de Jesus, um ambientalista que criou a RPPN Dona Benta e seu Caboclo. A área está localizada em Pirambu, no litoral de Sergipe. Pelo segundo ano, Eliel-son leva o projeto de sua reserva ao Viva a Mata.

Ao chegar ao estande, este repórter surpre-ende Elielson recitando versos de cordel para um grupo de estudantes. Pela algazarra das crianças, foi um sucesso. Esse é um diferencial do projeto de conservação de Elielson: unir literatura de cordel e meio ambiente. “O cordel sen-sibiliza, a comunicação é mais fácil que palestra”, explica.

O próprio Elielson escreve os versos. Ao todo, já produ-ziu 64 folhetos de cordel. Fui presenteado com três títulos. Um deles é específi co sobre a história de Dona Benta e seu Cabo-clo, que dá nome à reserva.

Este ano Elielson teve a companhia da fi lha Poliana Deusa, de 16 anos. “Todos da família trabalham na reserva - esposa, fi lho e fi lha”, explica. “E quem nasceu primeiro, o ambientalismo ou o cordel?”, indaguei. “O ambientalismo veio antes”, disse. Ele tem no currículo uma especialização em Ecologia da Conservação de Ecossistemas Costeiros. É um caso de ambientalista que decidiu unir a teoria à prática. Da atividade, não obtém benefício fi nancei-ro. Ganha a vida com o negócio de uma gráfi ca e com consultoria em administração de empresas.

Enquanto conversa, Elielson batuca um pandeiro, que usa para marcar suas intervenções como cordelista. Num dos versos do folheto A peleja do homem com a natureza, ele escreveu:

Brincou com a naturezaAgrediu e abusouDesmatou e poluiuExtraiu e degradouHoje colhe amargos frutosDa semente que plantou

Com as respostas catastrófi cas que a natureza vem dando à ação humana, é o caso de perguntar: alguma dúvida quanto à ver-dade dos versos de Elielson?

Morgana passa uma informação que serve de endosso lu-xuoso. O pioneiro nesse negócio de desenhar em caixas de pi-zza foi o pintor Aldemir Martins - falecido em 2006 -, de grande renome no Brasil e no exterior. Desenhar gatos era uma marca registrada do artista. Dois desses trabalhos foram pintados ten-do as caixas como tela.

Pegando aleatoriamente uma caixa, Morgana mostra o outro lado do material para ilustrar o princípio do projeto “Virando do avesso”. As embalagens podem ser reutilizadas de maneira criativa. Todas as técnicas de aprendizagem são ministradas em ofi cinas pela própria Morgana, que atua como psicóloga, arteedu-cadora e ambientalista.

Em família - O Viva a Mata revela atividades que são desen-volvidos em família. É o caso do projeto de Ângela e Severino Righetti, casal do Espírito Santo. Juntamente com a fi lha Ema-nuelle, eles labutam na produção de papel reciclado com diver-sas fi nalidades. Na verdade, trata-se de um triplo projeto. Além de fabricar papel, o casal administra uma RPPN (área protegida par-ticular) e uma pousada rural voltada para turismo pedagógico,

situadas em Divino de São Lourenço.

“O que veio pri-meiro?”, pergunto a Severino. “O em-brião foi o projeto de papel”, responde. Tudo começou por acaso. Segundo Ân-gela, quando a pri-meira neta do casal

nasceu (hoje ela tem nove anos de idade), a família organizou um álbum com motivos infantis. Foi um sucesso. A partir daquele momento, surgiu uma demanda espontânea. As pessoas queriam saber: “Não dá pra fa-zer um igualzinho?”

Nesse meio tempo, uma empresa de publicidade pegou um serviço grande e repassou parte dele ao casal. Foi o impulso para que o casal começasse a ampliar a atividade, que hoje funciona num sítio, que é uma reserva particular protegida, e a pousada. Todo o “corpo a corpo”, como a parte comercial e o desenho dos projetos em papel, fi cam a cargo de Emanuelle, cujo escritório é em Vila Velha. Aliás, foi graças à fi lha que o negócio vicejou. Ela fez um curso no Museu de Arte Moderna, em Salvador, e adquiriu expertise no processo de reciclagem de papel.

A base do material é fi bra natural, e serve para toda uma gama de produtos: brindes corporativos, capas e monografi as, cartões, pastas, álbuns. O trabalho é feito por cinco artesãs que acompanham o casal Righetti desde o início. “Mas quando a coisa aperta, são chamadas outras pessoas”, diz Severino. Ele mostra ao repórter uma frase atribuída a Richard Bach, que serve de fi losofi a ao trabalho da família. “Nunca lhe dão um

noel Elielson Cor-deiro de Jesus, um ambientalista que criou a RPPN Dona Benta e seu

algazarra das crianças, foi um sucesso. Esse é

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O Projeto Juçara se fundamenta na utilização dos frutos da palmeira juçara (Euterpe edulis) para produção de polpa alimentar e consolidação desta cadeia produtiva, por meio da difusão do

seu manejo sustentável, visando geração de renda, associada a atividades de recuperação da espécie e da Mata Atlântica, além da reconversão produtiva de áreas, contribuindo com a fi xação de carbono.

É fruto da construção conjunta com as comunidades ru-rais e tradicionais com apoio de parceiros locais, sendo essas comunidades o foco deste projeto. Desenvolve suas ações em Ubatuba, São Luiz do Paraitinga e Natividade da Serra, no estado de São Paulo.

Iniciado em março de 2010, tem a coordenação do IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica) em parceria com a AKARUI, sendo realizado em áreas do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), nos Núcleos Picinguaba e Santa Virgínia e seu entorno.

O projeto tem os objetivos de consolidação, recupera-ção e monitoramento da espécie, fundamentado em me-todologias participativas e na articulação em rede, além de diversas ações de divulgação e comunicação do projeto e seus resultados.

Projeto Juçara recupera palmeira na Mata Atlântica

Natureza

Por Lenina Mariano De Ubatuba, SP Especial para Plurale em revistaFotos da Equipe do Projeto Ipema

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A consolidação da cadeia produtiva da polpa de juçara em Ubatuba, São Luiz e Natividade da Serra, vem se dando por meio de diversas ações, baseadas na ex-pectativa de produção de quatro toneladas de polpa de juçara em quatro safras durante os dois anos de projeto (2010/2011).

A iniciativa de recuperação dos estoques naturais da palmei-ra acontece através de plantios de sementes que são resultado da despolpa dos frutos, além de mudas de juçara e outras espécies nativas, que já vem sendo produ-zidas pelas comunidades em vivei-ros domiciliares. A área total a ser recuperada é de 177,6 hectares.

Diversas ações de plantio de sementes já aconteceram em vá-rios locais, dentro do Parque Esta-dual e seu entorno. O plantio é fei-to a lanço e por abertura de covas. Parte das sementes é destinada a ações com visitantes dos Núcleos Picinguaba e Santa Virgínia, contri-buindo para a divulgação do pro-jeto junto ao público em geral.

como resultado, ao fi nal do projeto, um mapa georreferenciado com as áreas repovoadas e de reconversão implantadas.

O projeto tem o patrocínio da Pe-trobras através do Programa Petrobras Ambiental, é realizado pelo IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica) em parceria com a AKARUI e diversas comunidades tradi-cionais e de produtores dos 3 muni-cípios envolvidos. Conta com o apoio das prefeituras de Ubatuba e São Luiz do Paraitinga, da Fundação Florestal,

através dos Núcleos Picinguaba e San-ta Virgínia, além das universidades de Taubaté (UNITAU) e da Universidade de São Paulo (ESALQ).

Dentro do Projeto Juçara, já houve duas safras e a terceira está em curso. A primeira safra em Ubatuba, nos meses de fevereiro a maio de 2010. A segunda foi nos meses de setembro a dezembro, em São Luiz do Paraitinga e Natividade da Serra. E a terceira, de fevereiro a maio de 2011, em Ubatuba.

comunidades celebRam colHeita de 2011 na iii Festa da juçaRa

Foi realizada nos dias 14 e 15 de maio, a terceira edição da Festa da Juçara, que celebrou a safra deste ano. O evento aconteceu no Quilombo da Fazenda e reuniu as comunidades quilombolas do Cambury, Campinho e Fazenda, caiçaras do Sertão do Ubatumirim e Corcovado.

No cardápio, diversas comidas feitas à base da polpa de juçara, além de pratos tipicamente quilom-bolas. As novidades gastronômicas deste ano foram o “Strogonoff” e o “Risoto de Lula com Juçara”. Mas as delícias não pararam por aí, teve torta, pastel, tapioca, todos com recheio da juçara, e ainda o delicioso bolo de mandioca com coco e juçara.

As atrações culturais integra-ram comunidade e visitantes, em danças folclóricas como o jongo e o fandango, samba de roda, ma-racatu e capoeira, entre outros. Durante os dois dias de programa-ção, mostraram a riqueza cultural dessas comunidades e garantiram a alegria do público presente.

Conheça mais através do site www.projetojucara.org.br.

No monitoramento previsto, será re-alizado o levantamento de dados e ava-liação da fi xação de carbono pela fl oresta associada e pelo desenvolvimento das mudas e sementes plantadas nas áreas. A pesquisa científi ca acontece através da parceria com a UNITAU (Universidade de Taubaté) e ESALQ (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz) e terá

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E n s a i o

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O biólogo, doutorando em Ecologia e Evo-lução pela Universidade Federal de Goi-ás, Sidney Gouveia, cruzou as estradas de um lado a outro, deixando a cidade natal Aracaju para chegar até Goiânia, em

companhia do amigo de pesquisas, Ricardo Dobrovol-ski. Apesar de não estarem, desta vez, a passeio, os dois não resistiram e acabaram parando para apreciar a exu-berância da biodiversidade da Chapada Diamantina, em Lençóis. Como um dia narrou o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, no caminho havia uma pedra. Uma gigantesca formação rochosa. “É magnífico subir a Pedra do Morro do Pai Inácio e avistar a deslumbrante Chapada”, conta Sidney.

A 1.120 metros de altitude, o Morro do Pai Inácio des-cortina a mais bela vista panorâmica da Chapada Diamanti-na. São 360 graus de paisagem de tirar o fôlego, ainda mais na hora do pôr-do-sol. Uma subida de 300 metros, vencida em cerca de vinte minutos, leva ao topo do cartão-postal, que fica em Palmeiras, a 22 quilômetros do centro de Len-çóis. Entre as paisagens vistas lá de cima estão a Serra do Sincorá, o Morrão e o Morro do Camelo.

Os nativos contam que o escravo Inácio, experiente conhecedor da região, levou a Sinhá que insistira muito em conhecer as redondezas para um passeio. Acabaram se apaixonando. Um dia foram vistos e o Coronel, furioso ao saber, ofereceu alforria a quem o entregasse. Inácio refu-giou-se no morro. Mais uma vez foi visto e delatado. O Co-ronel acompanhado de vários escravos que lhe mostraram o caminho subiu o morro e disse para ele se entregar. En-tão Inácio falou: “Se é para morrer pelas mãos dos meus ir-mãos, prefiro morrer pela natureza”. Em seguida abriu uma sombrinha e pulou, mas jogou a sombrinha e se escondeu numa pedra. Enquanto todos acreditavam que ele morrera, Inácio sequestrou a Sinhá e os dois sumiram juntos. Ouvir essa história contada pelos guias é emocionante.

Sidney, no caminho ao topo do Morro, parou algumas vezes para fotografar diferentes espécies, agora comparti-lhadas com os leitores de Plurale. “É um colorido fantás-tico”, resume. Como as flores de diferentes tonalidades que enfeitam este ensaio e também, bromélias, cactos e outras plantas típicas da Caatinga. O passeio deixou gosto de quero-mais. O biólogo se programa para voltar à região da Chapada Diamantina com mais calma.

Construída nos tempos áureos do garimpo na região, numa época de muita riqueza, Lençóis era conhecida como a Capital do Diamante. Tombada pelo Patrimônio Históri-co Nacional desde 1973, a cidade preserva o casario colo-nial do final do século XIX. Com o término da mineração e a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina, o ecoturismo tornou-se uma nova fonte de desenvolvimento para a região. Vários sites da região dão todos os detalhes para quem quiser organizar uma visita ao Parque.

MORRO DO PAI INÁCIO: CARTÃO-POSTAL DA CHAPADA DIAMANTINA

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Fotos:

Sidney Gouveia

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P elo Brasi l

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Na trilha dos felinos

Por Carlos Franco, Editor de Plurale em revista

O carro que é orgulho dos ingleses, usado pela rainha Eliza-beth II na cerimônia de coroação e nos momentos de lazer da monarquia, o Land Rover, irá abrir caminho, a partir do dia 15 e até o dia 27 de maio para uma expedição que busca reconhecer o corredor usado por felinos na Serra do Mar paranaense. É o quarto ano consecutivo que a Land Rover apoia o programa internacional de conservação ambiental ONG Biosphere Expe-ditions, que, no Brasil, pesquisa a ocorrência de onça-pintada e outros felinos.

O anúncio da expedição foi feito no início de maio, em São Paulo, e contou com a participação do cônsul-geral britânico John Doddrell, que destacou os compromissos com a susten-tabilidade da montadora, que produz todos os carros da linha na Inglaterra.

A parceria com o Projeto Puma permitirá que a expedição aden-tre a floresta na região de Guaratuba, na Serra do Mar paranaense, para medir a integridade ambiental desse ecossistema por meio da ocorrência de espécies indicadoras como são as onças e as jaguati-ricas, cujo habitat exige a mínima interferência humana.

“É uma parceria sólida, que a Land Rover mantém global-mente com a Biosphere Expeditions. A iniciativa permite que qualquer interessado no assunto participe das atividades como voluntário nas pesquisas em campo”, informa Flávio Padovan, diretor-presidente da Jaguar Land Rover Brasil.

Segundo o executivo, os veículos cedidos pela Land Rover para o grupo durante o tempo de pesquisa no local possibilita chegar a áreas remotas e de muito difícil acesso, que de outra maneira poderia impedir a ação.

O Projeto Puma existe no Brasil há mais de quatro anos em parceria com a Biosphere Expeditions, que atuam no chamado Corredor do Tigre ─ uma referência à necessidade de um corre-dor ecológico protegido, e ao nome empregado pelos primei-

ros colonizadores para a onça-pintada. Entretanto, outros ani-mais como pacas, antas, gambás, tatus, cervos e várias espécies de aves também são estudados. Neste ano, as pesquisas aconte-cerão de 15 a 27 de maio.

Marcelo Mazzolli é o cientista da expedição no Brasil. Ele é pro-fessor doutor em Ecologia e supervisor de pesquisas da Biosphere Expeditions em outras parte do mundo. Mazzolli é também dire-tor do Projeto Puma e coordenador do curso de Pós-Graduação de Desenvolvimento Sustentável e Manejo Ambiental da Universi-dade do Planalto Catarinense (Uniplac), em Lages, SC, além de ser membro do Grupo de Especialistas em Felinos da União Interna-cional para Conservação da Natureza (IUCN).

“No último ano, foi possível registrar vários animais, entre eles a jaguatirica e o puma. O último registro de onça-pintada que obtivemos foi em 2008, um indício de raridade. Esse tipo de registro científico nos permite avaliar a área de ocorrência dos felinos na região da Serra do Mar paranaense e das presas das quais dependem”, explica Mazzolli. O pesquisador avisa, entre-tanto, que apesar de os registros da onça-pintada serem esporá-dicos não significa que o habitat estudado não seja importante para sua conservação. “A Serra do Mar é o maior refúgio dessa espécie na Mata Atlântica, e mesmo assim poucos indivíduos ain-da persistem. Nós trazemos essas informações em primeira mão, para que sejam tomadas medidas imediatas para reverter esta situação de declínio populacional”, relata.

Ainda assim, comparada com outras áreas próximas ao local de estudo, são encontradas várias espécies raras que atestam tratar-se de um dos melhores remanescentes da Serra do Mar no Paraná. De acordo com os cientistas esse é um dos poucos lo-cais onde as antas são registradas facilmente, além de grupos de porcos-do-mato e da jacutinga, ave endêmica da Mata Atlântica que, como as outras espécies citadas, desapareceu de grandes extensões de sua distribuição original e encontra-se atualmente isolada em poucas áreas da floresta.

O projeto comunica seus resultados ao órgão ambiental estadual (Instituto Ambiental do Paraná, IAP) e federal (Institu-to Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBIO), além de registrá-los em publicações científicas e congressos internacionais, auxiliando a subsidiar planos concretos de con-servação. “Pudemos localizar pela primeira vez, por exemplo, conexões entre cadeias de montanhas próximas e o Parque Nacional Saint Hilaire/Lange, que merecem especial atenção de proteção para manter a continuidade do habitat da onça-pintada e de outras espécies que exigem grandes áreas para sobreviver. Sem estas conexões, a onça-pintada desaparece imediatamente”, relata o professor Mazzolli.

Para a Land Rover trata-se de uma vitória o fato de o grupo ter localizado pontos críticos para conservação de espécies tão raras, e trabalharem intensamente para protegê-las. “Ficamos muito satisfeitos com um retorno positivo como esse e com certe-za nos anima a permanecer com a parceria”, conta Padovan.

O grupo de cientistas da Biosphere Expeditions, em parce-ria com a Land Rover, avança também com atividades anuais em lugares como Omã, Austrália, Açores, Namíbia, Honduras, entre outros.

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Por Alex Rodrigues e Yara Aquino Da Agência Brasil

Brasília - O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, garantiu que a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), entrará em funcionamento em 2015, conforme o previsto. Ao comentar a concessão da licença de instalação para o empreendimento, dada no último dia 1º de junho, Lobão afirmou que, embora o governo federal desejasse que a autorização tivesse sido concedida há mais tempo, a demora não acarretará qualquer prejuízo ao cronograma da obra.

“Não haverá nenhum atraso. Desejávamos que essa licença ti-vesse sido concedida há mais tempo, pois isso seguramente nos daria mais folga para a construção da obra”, disse Lobão. “Sem dú-

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RI

O maior evento de Relações com Investidores da América La-tina abre as inscrições. Neste ano o 13° Encontro Nacional de Re-lações com Investidores e Mercado de Capitais, acontecerá entre os dias 11 e 12 de julho, em São Paulo.

Autorregulação é o tema predominante e já estão confirmadas as presenças dos presidentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana e do National Investor Relations Institute (NIRI), Jeffrey Morgan. Estarão também presentes ao

Encontro o presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA), Antonio Castro; o presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investido-res (IBRI), Luiz Fernando Rolla; o presidente executivo do IBRI, Ricardo Florence e o vice-presidente da ABRASCA, Alfried Plöger.

O programa completo e demais orientações podem ser vistas nos sites www.abrasca.org.br e www.ibri.com.br. Inscrições po-derão ser efetuadas pelo email [email protected] ou pelos fones (11) 3107.5557 (ABRASCA) e (11) 3106.1836 (IBRI).

De São Paulo

vida, a primeira máquina haverá de estar funcionando na data prevista, que é 2015”, acrescentou o ministro durante a entrevista coletiva em que foram anuncia-das medidas socioambientais para reduzir o impacto das obras nas comunidades vizinhas.

De acordo com Lobão, nenhuma hidrelétrica no mundo foi precedida de tantos cuidados e de tantos estudos como a de Belo Monte. Ele destacou que a ini-ciativa já vem sendo estudada há 35 anos e que nos últi-mos anos foram realizadas 30 audiências públicas sobre o assunto. O ministro ainda garantiu que nenhuma das 11 comunidades indígenas da região será afetada.

“Nenhuma das reservas indígenas existentes em torno da área do empreendimento será alagada. A mais próxima delas fica a 31 quilômetros da franja [margem] do lago que será criado. Nenhum dos cer-ca de 1,6 mil índios terá que sair de onde se encontra hoje”, disse Lobão.

Ao falar sobre a importância da futura usina para garantir o suprimento de energia elétrica de que o Brasil precisa, o ministro destacou que o desafio é duplicar, em apenas 13 anos, a geração energética a fim de atender às necessidades do país e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente e estimular o de-senvolvimento sustentável das regiões onde novas usinas serão construídas.

Somente no ano passado, lembrou Lobão, o con-sumo de energia aumentou 7,8% em comparação a 2009. Quando estiver funcionando plenamente, a Usi-na de Belo Monte deverá gerar 11 mil megawatts de energia, o que corresponde a quase 10% de toda a produção atual. “Trata-se de um empreendimento de grande importância que garantirá a segurança ener-gética brasileira”, destacou o ministro.

Usina de Belo Monte começará a funcionar em 2015, garante Lobão

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PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2011PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 201038

Por Regina Mamede, da Agência Sebrae de NotíciasRio de Janeiro

Como levar progresso, inclusão e justiça social para os territórios cariocas até pouco tempo atrás dominados pelo crime organizado? Esse foi o tema do painel ‘UPP – Oportunidade para os Empreen-dedores de Comunidades Pacificadas, realizado no dia 13 de maio , encerrando os três dias de atividade do III Encontro Internacional de Comércio Justo, promovido pelo Sebrae no Rio de Janeiro.

A pacificação é vista como um passo importante, mas apenas o primeiro para que essas comunidades, antes completamente dominadas pelo tráfico e pelas milícias, possam se inserir de for-ma plena no cotidiano da cidade.

‘É preciso considerar o que já existe nestes territórios, e os mo-delos de negócios devem promover a circulação interna da riqueza, como forma de promover o bem estar comum. Ao fortalecer o pa-pel do morador como protagonista, o conceito de comércio justo e economia solidária não será apenas mais uma sopa de letrinhas, mas uma forma consciente de viver dentro e fora destes locais”,

Painel debate oportunidades para comunidades pacificadas

advertiu o secretário municipal de Economia Solidária, Marce-lo Costa. O presidente do Instituto Pereira Passos, economis-ta Ricardo Henriques, foi na mesma direção e defendeu um “amplo processo de escuta” para que as autoridades saibam exatamente os anseios e metas das comunidades.

A formalização e programas de capacitação foram citados como exemplos de ações concretas que podem ajudar neste processo de mudança, mas é preciso repensar a abordagem, de forma a refletir a realidade dos moradores, com suas aspi-rações e necessidades.

“O objetivo da UPP não é acabar com o narcotráfico, não é a solução da segurança pública e nem vai resolver todos os problemas da comunidade. Nosso trabalho é retomar terri-tórios e isso se sustenta na parceria e confiança construída com os moradores. Mas o sucesso deste projeto depende de todos”, reforçou o comandante da UPP do morro do Borel, zona norte da cidade, capitão Bruno Amaral.

. O gerente da agência do Banco do Brasil no Complexo do Alemão, também na zona norte, Alberto Stassen, avalia que o contato direto é que vai permitir o acúmulo de experiên-cias e refinar o aprendizado tanto dos moradores, como das instituições e empresas. “Para a concessão de micro crédito também é fundamental estabelecer um vínculo mais profun-do com os clientes para conhecer suas reais necessidades e dar a melhor orientação. Muitas vezes, alguém quer comprar máquinas e pede recursos de capital de giro, que tem taxas mais altas, apenas porque não sabe que existem outras linhas de financiamento”. Já o superintendente de Relacionamento com as Comunidades da Light, Mário Guilherme Romano, fa-lou sobre o programa de eficiência energética nestas regiões, com a troca de geladeiras e lâmpadas mais econômicas.

O debate foi moderado pela jornalista Sônia Araripe, edi-tora de Plurale em site e Plurale em revista

Neli Ferreira da Rocha, moradora da comunidade do Morro da Coroa, em Santa Tereza, zona sul do Rio, onde foi instalada uma UPP há cinco meses, avaliou positivamente o debate. “Isso ajuda a entender e conhecer melhor as mudan-ças. Antes, o morro era pobre em tudo. A UPP vai trazer um monte de coisa e não só a pacificação, mas também empre-endimentos para a comunidade”.

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Da esquerda para a direita: A cineasta Laís Bodanzky, o presidente da Telefônica Brasil, Antonio Carlos Valente e o também cineasta Luiz Bolognesi

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Áreas pacifi cadas: sem cultura e educação, não vai rolar

Por Nícia Ribas, de Plurale em Revista - Fotos Divulgação

Em linha com o pensamento do secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que alerta sobre a necessidade de se fazer investimentos sociais nas áreas paci-fi cadas, a Fundação Telefônica e a CCR levaram ao Complexo do Alemão, nesta segunda-feira, sua contribuição para a pere-nização do ambiente de paz recém implantado pela ação da UPP. Trata-se do projeto Educativo Cine Tela Brasil, idealizado pelos cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, com patrocí-nio das duas empresas. Durante a solenidade de inauguração da sala de cinema no pé do morro, o cantor Eddu Grau, mo-rador e líder comunitário, bradava: “Sem invasão cultural e educacional todo esse trabalho vai por água abaixo! ”

Feliz da vida, a secretária municipal de Educação, Claudia Costin, concordava com ele, informando que 210 escolas do Município já possuem cineclubes, exibindo películas, cons-cientizando professores sobre a importância dessa mídia na educação e ensinando os alunos a fazer cinema. “Estamos for-mando uma parceria com o Cine Tela Brasil para a formação dos nossos professores das Escolas do Amanhã, que trabalham com cineclube”, informou em primeira mão para a Plurale.

Em conversa com o presidente da Telefônica, Antonio Carlos Valente, com quem já trabalhara anteriormente, no serviço público, a Secretária também acertou futuras parce-

rias. Entusiasmado com o momen-to de euforia do Rio pós UPPs, o CEO da Telefônica Brasil, que se orgulha de ser carioca da gema, também gostou de conversar com Rene Silva, o garoto de 17 anos, morador da comunidade que, aos 11, começou a se conectar pela Internet e a relatar fatos da sua comunidade. Ele foi destaque na Edição 21 de Plurale em revista: acabou criando o portal Voz das Comunidades e hoje forma outros jovens que querem se conectar e participar de projetos sociais.

O Educativo Cine Tela Brasil.consiste na montagem de uma sala de cinema que, durante três sema-nas, funcionará como um centro de cultura e educação, com sessões exclusivas de fi lmes, workshops e debates sobre audiovisual nas

escolas. No primeiro dia, foi exibido o fi lme Desenrola para um público vibrante de jovens das comunidades, enquanto, numa tenda ao lado, poder público e privado, associações, educadores e classe artística celebravam a união de suas forças pela melhoria da qualidade de vida no Complexo do Alemão, composto de 14 bairros e cer-ca de 200 mil habitantes.

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Da esquerda para a direita: A cineasta Laís Bodanzky, o presidente da Telefônica Brasil, Antonio Carlos Valente e o também cineasta Luiz Bolognesi

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Educação

“Ninguém educa ninguém, nin-guém se educa sozinho, os ho-mens se educam em comunhão.” A frase do educador pernambuca-no Paulo Freire, considerado um

dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, resume a essência da proposta da Casa da Arte de Educar, que há doze anos atua nas favelas da Man-gueira e Morro dos Macacos.

Do encontro de educadores popula-res da Mangueira com um grupo de pro-fessores oriundos da educação formal de universidades nasceu, em 1999, a Casa da Arte de Educar. Desde então, é dirigida por moradores das favelas com a contri-buição pedagógica de fora, sob o objetivo comum de reduzir o quadro de desigual-dade na educação brasileira. A solução educacional proposta por essa turma nas-ce da pesquisa e da prática de diferentes experiências que juntas se fortalecem.

A partir do exercício de entender a educação e a cultura como dois lados de uma mesma moeda, este grupo de educa-dores desenvolveu a Mandala dos Saberes,

Texto: Luiza Martins, Especial para Plurale em revistaFotos: Divulgação

vas; e 2) Pesquisas Pedagógicas que apri-moram a formação dos educadores, com o objetivo de aperfeiçoar e monitorar a Mandala dos Saberes. Neste contexto, são trabalhadas a Educação Integral, com crianças e jovens, além da Educação de Jo-vens e Adultos (EJA).

sabeRes comunitáRios

À frente da Casa da Arte de Educar des-de o início das atividades da ONG, Sueli de

Com prêmios, o projeto Casa da Arte, do Rio, ajuda a formar jovens que moram em áreas de risco

Com prêmios, o projeto Casa da Arte, do Rio, ajuda a formar jovens que moram em áreas de risco

A arte de

educar

que ressalta o diálogo entre conteúdos es-colares e a cultura popular, colabora para o diálogo entre escolas e comunidades, valorizando a integração entre os saberes locais e os saberes acadêmicos. A meto-dologia recebeu o prêmio Itaú/Unicef em 2009, foi selecionada pelo MEC para ser-vir à Educação Integral do Programa Mais Educação e hoje é disseminada em mais de 10 mil escolas em todo o Brasil.

“Nós entendemos que não é só a co-munidade em si que resolve seus proble-mas, nem somos nós de fora que vamos trazer as soluções prontas. Precisamos construí-las juntos”, diz a educadora Sueli de Lima, que coordena o trabalho desde o início das atividades. “As diferenças são fundamentais e complementares para a formulação de uma didática intercultural capaz de transformar as diferenças em vantagens pedagógicas”.

O trabalho realizado pela Casa se or-ganiza em duas frentes: 1) Ações Peda-gógicas nas unidades da Mangueira e do Morro dos Macacos, através da realização de ofi cinas com diversas práticas educati-

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Lima falou à Plurale em revista sobre o papel do professor, do aluno e dos saberes comunitários no aprendizado, e da importância da educação para o projeto de um país mais justo.

Sueli explica que a metodologia Mandala dos Saberes é fundamentada no envolvimento do professor da escola lo-cal e do educador comunitário. “Na maioria dos casos, as ONGs, as universidades ou grupos que trabalham com edu-cação formulam métodos para aplicar junto aos alunos, que geralmente são teorias assertivas, mas não estão adequadas ao contexto daquela comunidade. A educação precisa estar contextualizada, ela não pode ser só reproduzida, pois vai esbarrar em cenários diferentes”.

Na fi losofi a da equipe da Casa, os professores, em seus distintos cenários, precisam se apropriar da autonomia para a construção de um processo pedagógico. O que signifi ca dizer que o professor não deve só receber uma cartilha e aplicá-la, mas ser capaz de construir o seu próprio método pedagógico, de acordo com as necessidades, os interesses e a realidade do grupo de alunos para o qual ele ensina. É ele quem sabe quais são os problemas enfrentados em sala de aula e como poderá vencê-los. O trabalho da Casa se inicia pelos princípios que ajudem o professor a ganhar autono-mia, que estimulem e facilitem a dimensão pesquisadora do professor para com a sua própria prática.

“O profi ssional de educação se forma em uma instituição acadêmica e na maioria das vezes quer aplicar no aluno este conhecimento que recebeu. Mas, infelizmente, ele não co-nhece a realidade do aluno, que por sua vez não se interessa por aquele conhecimento, posto daquela forma. É preciso entender o currículo como uma dimensão de debate, como um ponto de partida para a construção do conhecimento. A escola tem que transmitir conhecimento historicamente sistematizado, mas sempre refazendo esses conteúdos, tra-zendo-os para as realidades de cada grupo de alunos”.

A Casa trabalha em parceria com escolas municipais e precisa, constantemente, dialogar com o espaço formal da educação para então construir um diálogo pedagógico. “A gente tenta mostrar que aquele aluno que aparentemente não apresenta nenhum valor em termos de aprendizado pode se portar de forma diferente quando está em outro espaço de educação. Mas essa tarefa é difícil. Ainda há pre-conceito por parte dos professores para com seus alunos, para com os educadores populares, preconceito da escola para com a sua comunidade”.

Segundo Sueli, o problema da educação é sistêmico e não pode ser tratado como uma questão isolada. Os bons alunos não querem seguir a carreira de educador, pois os salários do professor são baixos, as condições que as escolas apresentam para os profi ssionais de educação não são fa-voráveis, há problemas de ordem material e administrativa, além dos muitos gargalos de ordem pedagógica. “É preciso que se valorize a profi ssão de educador. Essas questões não podem ser desassociadas umas das outras. Eu entendo edu-cação como contexto, portanto, o profi ssional faz parte des-ta nossa realidade. Não dá para se pensar em um professor em separado do contexto da escola dele”.

A formação continuada do professor é um dos grandes desafi os do país em termos de educação de qualidade. É

importante que esses profi ssionais sejam incentivados a continuar estudando. Também é um desafi o nacional a reformulação do currículo, adaptando-o aos saberes locais, envolvendo as comu-nidades, as regiões, os diferentes conhecimentos e realidades dos alunos, país afora. “O fato de a educação ser muito subjetiva agrava o abismo entre o que já se faz e o que realmente precisa ser feito ainda. Mas há um esforço enorme de muita gente em torno das nossas questões educacionais”.

Sobre a simbiótica relação entre educação e cultura, que funda-menta o trabalho da Casa, Sueli é categórica: “acredito que educação e cultura são uma só. Porque cultura não é só o que a gente aprende nos museus, nas universidades ou nos livros, mas é também a forma como a gente anda, come, conversa e principalmente como a gente estabelece as relações com as outras pessoas. Nosso entendimento é que a cultura não se adquire, mas se constrói, assim como o conhe-cimento. Por este motivo, procuramos associar o currículo escolar às práticas formais de educação e os desafi os que a ciência enfrenta ao cotidiano das crianças e dos adolescentes. Do contrário, fi ca mesmo muito chato estudar”.

Ainda segundo a educadora, a sociedade deve fi car atenta para não deseducar a criança, porque normalmente ela aprende que uma coisa é a vida e outra coisa é a escola. “Essa é a pior lição que a escola pode ensinar. O aluno pensa: tenho que agir assim e fazer desta for-ma porque estou na escola, isso aqui é só pros livros, só pra prova. Mas quando estou lá fora eu posso pensar de outra forma, porque lá é diferente. E este é um cenário comum à educação de alunos pobres e ricos, de escolas públicas ou particulares”.

noVa sede no moRRo do são caRlos

“A gente trabalha há doze anos e por aqui já passaram mais de cin-co mil crianças, benefi ciadas diretamente. E não vamos parar. O que a gente quer é avançar na questão didática e pedagógica, para garantir que nossas crianças gostem de aprender e nós professores também tenhamos prazer em trocar e construir conhecimento”, diz Sueli.

E não vão parar mesmo. Com inauguração prevista para o segun-do semestre de 2011, a terceira unidade da Casa da Arte de Educar

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Educação

vai funcionar no Complexo do São Carlos, comunidade da Zona Norte do Rio de Janeiro, nos bairros do Estácio e Cidade Nova.

Graças à doação casada da SulAmérica por meio do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (FUMCAD), o novo centro de atendimento para crianças e adolescentes prevê atividades de educação integral para até 250 crianças e adolescentes no contra-turno escolar visando o melhor apro-veitamento e a redução da evasão escolar. Esse projeto segue a metodologia da Mandala dos Saberes.

Segundo Adriana Boscov, gerente de Sustentabilidade Empresarial da SulAmérica, a decisão de investir na criação da terceira unidade da Casa da Arte de Educar foi tomada a partir dos resultados apresentados pelo projeto e de acordo com o novo posicionamento da empresa.

“Entre 2007 e 2009, apoiamos o projeto Casa nos morros da Mangueira e dos Macacos, por meio de leis de incentivo. Há dois anos, a SulAmérica criou a área de Sustentabilidade Em-presarial e desenvolveu uma nova política de apoio a projetos sociais, que sugeriu a implantação da metodologia da Manda-la dos Saberes no Morro do São Carlos, comunidade vizinha à sede da seguradora no Rio de Janeiro. O projeto foi elaborado

em parceria com as associações de moradores da comunidade e com a escola Canadá, que terá

seus alunos beneficiados pela ação”

Desde a mudança da SulAmérica para a sede na Cidade Nova, a política de investimento social privado prioriza apoio a projetos nas comunidades do entorno e aposta na educação. “Com a Casa no Morro do São Carlos as crianças e adolescentes terão uma oportunidade de melhoria do desempenho escolar e passarão a ter uma alternativa de lazer e cultura. Atualmente a maioria delas sai da escola e fica nas ruas. Apostamos na educação, mas nosso papel como ator do setor priva-do não deve ser o de substituir a escola ou o poder público, mas sim agregar conhecimento e desenvolver competências. Pessoas com mais informação e formação tornam-se cidadãos melhores, capazes de co-brar seus direitos e transformar a sociedade em que vivem”, finalizou Adriana Boscov.

A essa formação presencial somam-se os cur-sos à distância, dos quais participam especialistas, agentes públicos, educadores e gestores de proje-tos envolvidos com as questões da educação inte-gral e inclusão social de crianças e adolescentes.

“A educação, no sentido mais amplo, ultra-passa a sala de aula e envolve um conjunto de sa-beres diversos desenvolvidos em outros espaços socioculturais. Crianças e adolescentes precisam de muitas oportunidades de aprendizagem para desenvolver plenamente o seu potencial humano e viverem bem na sociedade contemporânea. Por isso, a discussão da educação integral está cada vez mais na agenda nacional. O Prêmio Itaú-Unicef contribui para que os espaços edu-cativos da comunidade e da escola e os vários atores responsáveis pela formação das crianças e adolescentes brasileiros se articulem estreita-mente em prol de uma educação de qualidade e do direito de aprender”, diz Valéria Riccomini, diretora da Fundação Itaú Social.

As inscrições podem ser feitas até 15 de junho. O regulamento está disponível no site www.premioitauunicef.org.br.

Prêmio Itaú-Unicef fortalece ONGs que trabalham com educação integral no Brasil

Em 2011, a Fundação Itaú Social e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-cef) lançaram a 9ª edição do Prêmio Itaú-Unicef. Criado em 1995, com coordena-

ção técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), o prêmio é pioneiro ao estimular experiências de educação integral no Brasil.

O objetivo da iniciativa é reconhecer e esti-mular o trabalho de organizações sem fins lu-crativos que contribuam – em articulação com políticas públicas de educação e assistência social – para ampliar a aprendizagem de crian-ças, adolescentes e jovens. Experiências que transformam é o mote desta edição, que quer estimular a reflexão sobre ações educativas que transformaram a vida das comunidades.

O processo de premiação do Prêmio Itaú-Unicef é feito nos anos ímpares. Nos pares, são realizados encontros presenciais para que as organizações participantes do prêmio ampliem o debate sobre educação integral, socializem as práticas que empregam com seus respectivos públicos e formem redes sociais.

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Premiar bons projetos de Educação Integral. Este é o principal objetivo do Prêmio Itaú-Unicef, que, em 2011, completa 16 anos de história. Mais do que premiar, os organizadores tam-bém tomaram lições e puderem acompanhar a trajetória de

transformação pela Educação nos rincões mais distantes deste Brasil continental e de tantas diferenças.

Em entrevista à Plurale em revista, Valéria Riccomini diretora da Fundação Itaú Social, conta esta trajetória e também fala sobre a sua visão sobre Educação no Brasil. Ela é psicóloga pós-graduada em RH pela Universidade de São Paulo (USP) e em Inteligência Em-presarial e Gestão de Conhecimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O tema desta 9ª edição é “Educação Integral: experiências que transformam”, que destaca a importância de oferecer diferentes opor-tunidades de aprendizagem para crianças, adolescentes e jovens. Na entrevista ela destaca a relevância da Educação Integral: "O que não pode deixar de ser considerado se quisermos de fato oferecer uma educação de qualidade é o aproveitamento de todos os espa-ços educativos da comunidade e o envolvimento dos vários atores da sociedade. É preciso ter clareza de que a educação integral não compartimenta intencionalidades nem fragmenta os aprendizados e pode compartilhá-los com organizações da sociedade civil e demais serviços públicos como o de cultura, esporte, meio ambiente." Acom-panhe a entrevista.

Plurale em revista- O Prêmio Itaú-Unicef completa 16 anos. Que resultados e lições podem ser tiradas destes anos?

Valéria Riccomini - Há 16 anos o Prêmio tem o objetivo de re-conhecer, estimular e dar visibilidade ao trabalho de ONGs, que con-tribuem, em articulação com as políticas públicas de educação e de assistência social, para a educação integral de crianças, adolescentes e jovens brasileiros em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Foi criado num contexto de mudanças sociais signifi cativas e vem,

Entrevista

ao longo de suas edições, se aperfeiçoando e incluindo no escopo de sua proposta agentes públicos ligados à causa dos direitos das crianças e adolescentes, de modo a construir diálogo e sinergia com as políticas públicas. Em cada edição, promove ações que se conjugam e vão mui-to além da premiação. O Prêmio Itaú-Unicef assumiu um compromisso com o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens e para isso trabalha na mobilização social pela educação integral e formação de agentes pú-blicos e ONGs. Várias experiências bem sucedidas foram desenvolvidas nesse percurso. Ao olharmos criticamente para essas experiências, observamos que há elementos im-portantes a serem considerados por aqueles que desejam aprimorar suas práticas. Entre eles estão a valorização dos saberes das comunidades, a abrangência de várias áreas do conhecimento na formação que é oferecida e a articulação entre vários setores da sociedade para o desenvolvimento dos projetos. É preciso também ter um currículo mais fl exí-vel, que consiga fazer composições entre diversos campos do conhecimento, criando oportunidades para o diálogo entre saberes. Outro ponto fundamental para o desenvol-vimento de um bom programa de educação integral é o monitoramento contínuo, a construção de indicadores e avaliações periódicas de todas as suas etapas, que orien-tem as mudanças e adaptações necessárias.

Plurale em revista - Alguma novidade para este ano? Qual é a expectativa?

Valéria Riccomini - O tema desta 9ª edição é “Educação Integral: experiências que transformam”, que destaca a impor-tância de oferecer diferentes oportunidades de aprendizagem

Valéria Riccomini“ Não há modelo único para a implantação da educaçãointegral no país ”Diretora da Fundação Itaú Social fala sobre os 16 anos do Prêmio Itaú-Unicef, que premia projetos de Educação Integral exemplares

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em Revista

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para crianças, adolescentes e jovens. As experiências vivenciadas na família, na co-munidade, na escola, na ONG e em outros espaços trazem múltiplos saberes que se complementam e possibilitam o seu desen-volvimento integral, numa sociedade em constante processo de mudança. Fizemos oito lançamentos regionais (São Paulo, Ri-beirão Preto, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Belém, Curitiba e Goiânia) e, em cada uma dessas cidades, promovemos debates sobre o tema com a participação de ONGs, especialistas e representantes do poder público. Nossa expectativa é mobili-zar, cada vez mais, a sociedade para o tema e chegar a duas mil inscrições de projetos.

Plurale em revista - Os exemplos apresentados no Prêmio - tanto os pre-miados ou não - indicam que o Brasil está mesmo no caminho certo da Edu-cação integral?

Valéria Riccomini - No Prêmio, temos a oportunidade de conhecer projetos so-cioeducativos de todo Brasil cujo principal objetivo é proporcionar regresso, acesso, permanência e sucesso escolar a crianças, adolescentes e jovens marcados pela ex-clusão. Muitas dessas iniciativas emergem na sociedade civil decorrentes de uma per-cepção coletiva sobre a atual situação da educação do nosso país e mobilizam dife-rentes segmentos da sociedade para a cau-sa. Dessa maneira, transformam a educação integral em tema prioritário e o incorporam à agenda da política pública de educação. O Plano Nacional de Educação, que trami-ta no Congresso, tem como uma de suas metas que 50% das escolas públicas do país tenham jornada de tempo integral em dez anos. Hoje cerca de 10.500 escolas públicas no Brasil realizam atividades de educação integral, ampliando a jornada dos alunos com atividades culturais e esportivas. Neste ano, o programa Mais Educação do governo federal pretende chegar a 15 mil escolas. A ampliação da jornada escolar com ativida-des socioeducativas é uma tendência re-cente que com certeza está ganhando cor-po nos municípios e estados, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que seja universalizada na rede pública de ensino. Um aspecto importante que deve ser con-siderado é que não basta ampliar a jornada escolar. É preciso que as atividades ofereci-das tenham uma clara intencionalidade pe-dagógica e favoreçam o desenvolvimento de habilidades e competências fundamen-

tais para o enfrentamento das demandas de uma sociedade cada vez mais exigente.

Plurale em revista - O que ainda fal-ta, na sua opinião, para que este resul-tado seja plenamente atingido?

Valéria Riccomini - Não há modelo único para a implantação da educação in-tegral no país. Lançamos recentemente, em parceria com o Unicef e Cenpec, a publica-ção “Tendências para Educação Integral” que mapeou 16 experiências de educação integral desenvolvidas por redes municipais e estaduais de ensino e organizações da sociedade civil no Brasil. Com essa pesqui-sa, percebemos que a noção de educação integral se renova, instigando a ação con-junta entre escolas, demais espaços da co-

munidade e organizações socioculturais e esportivas. O que não pode deixar de ser considerado se quisermos de fato oferecer uma educação de qualidade é o aproveita-mento de todos os espaços educativos da comunidade e o envolvimento dos vários atores da sociedade. É preciso ter clareza de que a educação integral não comparti-menta intencionalidades nem fragmenta os aprendizados e pode compartilhá-los com organizações da sociedade civil e demais serviços públicos como o de cultura, espor-te, meio ambiente. Enfi m, utilizar a educa-ção integral como estratégia para a garantia de direitos, proteção e inclusão social para crianças e adolescentes em situação de vul-nerabilidade socioeconômica.

Plurale em revista - Qual tem sido o papel da Fundação neste sentido e também em outros eixos de atuação?

Valéria Riccomini - A Fundação Itaú Social é pioneira no estímulo à educação in-tegral no Brasil desde 1995, quando criou o

“A Fundação Itaú Social acredita que

investir em educação é o caminho para

o desenvolvimento do Brasil. Queremos

contribuir com a formação integral

das novas gerações”

Prêmio Itaú-Unicef, em parceria com o Uni-cef. Tem se fi rmado como pesquisadora e produtora de conhecimento na área, com várias publicações já concluídas sobre esse tema, que são referências para as políticas públicas no Brasil. Além do reconhecimen-to das ONGs, por meio da premiação, nos anos pares as organizações participam de encontros de formação. Com as ações de formação, as participantes do prêmio têm a chance de ampliar o debate sobre educa-ção integral, socializar as práticas que em-pregam com seus respectivos públicos no contraturno escolar e formar redes sociais. Essa iniciativa envolveu até o momento 13,7 mil educadores que participaram de encontros de formação, seminários e dos cursos gratuitos à distância. Somente em 2010 foram capacitados 1.013 educadores. Além disso, ainda em 2010, ocorreram qua-tro encontros regionais de formação realiza-dos em São Paulo, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. Mais de 500 gestores debateram o tema educação integral. Além disso, foi organizado um Colóquio de Educação Inte-gral que contou com a presença de mais de 100 integrantes de ONG’s e especialistas. Outros focos de atuação da Fundação são Gestão Educacional, Avaliação de Projetos Sociais e Mobilização Social.

Plurale em revista - Em que dire-ção a Fundação Itaú Social caminha nos próximos anos?

Valéria Riccomini- A Fundação Itaú Social acredita que investir em educação é o caminho para o desenvolvimento do Brasil e por este motivo todas as atividades desenvolvidas têm foco na formulação, im-plantação e disseminação de metodologias voltadas à melhoria de políticas públicas na área educacional. Queremos contribuir com a formação integral das novas gerações. Entendemos que só por meio da parceria com as três esferas de governo (federal, estadual e municipal), com o setor privado e com organizações da sociedade civil é possível realizar essa contribuição de forma consistente e duradoura. É nessa direção que queremos continuar nos próximos anos; fortalecendo cada vez mais projetos e iniciativas nas áreas de Educação Integral e Gestão Educacional que, efetivamente, tra-gam bons resultados na melhoria da educa-ção pública do nosso país.

Entrevista

11 e 12 de julho de 2011SheratonSãoPauloWTCHotelAv.dasNaçõesUnidas,12.559PisoC-BrooklinNovo-SãoPaulo-SP

ABRASCA(11)3107.5557IBRI(11)3106.1836www.abrasca.org.brwww.ibri.com.br

Informações e Inscrições

13ºRealização

Patrocinadores Ouro

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Apoio Institucional

Divulgação

Patrocinadores Prata Apoio e Participação

ABRAPP | ABVCAP | AMEC | ANBIMA | ANCORD | ANEFAC | APIMEC NACIONAL | APIMEC-SP | IBEF-SP | IBGC | IBRACON | INI | INSTITUTO CHIAVENATTO | IBRADEMP

Educação Financeira e Investimentos

RIRELAÇÕES COM INVESTIDORES

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11 e 12 de julho de 2011SheratonSãoPauloWTCHotelAv.dasNaçõesUnidas,12.559PisoC-BrooklinNovo-SãoPaulo-SP

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Educação e profissionalização de cegos. Com es-tes objetivos, o imperador D. Pedro II criou o Instituto Benjamin Constant, em 1854. Na épo-ca, foi ressaltada a importância da instituição para derrubar o preconceito. Mais de 150 anos

depois, os alunos e frequentadores do IBC ainda sentem a discriminação da sociedade, mas a atribuem ao desconheci-mento de como lidar com deficientes visuais e ao estado de espírito das pessoas nos tempos atuais. “A maior deficiência do ser humano é o mau humor”, garante Manoel dos Anjos, cego desde 1985, vítima de acidente de trânsito, quando di-rigia em alta velocidade depois de beber umas cervejas.

Levar uma vida normal é o que buscam os frequenta-dores do IBC. Aqueles que nasceram cegos ou perderam a visão na primeira infância são alfabetizados na Escola Fun-damental, que hoje tem mais de 300 alunos. Formados, são encaminhados para o Ensino Médio do Colégio Pedro II. Os reabilitandos, que perderam a visão na idade adulta, por do-enças ou acidentes, valem-se das oficinas de arte e dos cur-sos profissionalizantes oferecidos pelo Instituto. Há ainda

Inclusão

aqueles que frequentam o Centro de Convivência apenas para conversar e atualizar-se sobre as novidades do país e do mundo.

pioneiRos em inclusão

Recentemente a mídia veiculou notícias sobre a provável desativação das escolas do IBC e do INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, alegando que os deficientes poderiam perfeitamente frequentar a escola regular, e que isso até amplia-ria e facilitaria a sua inclusão na sociedade. Porém, o Ministro Fernando Haddad ouviu as diretorias das duas instituições e os apelos dos pais de crianças deficientes em prol da manutenção das escolas especializadas e se comprometeu a mantê-las.

Para a professora Maria da Glória de Souza Almeida, chefe de gabinete da Direção Geral do IBC, o Ministro fez a coisa certa. Cega, ela sempre estudou lá, é professora há 31 anos, e hoje integra a Diretoria. Maria da Glória, com toda razão, não aceita ser considerada segregadora. Na verdade, o IBC é o grande berço da inclusão no Brasil, oferecendo há muitas décadas, cursos de capacitação de professores, capacitação técnica e produção de material didático e metodológico para todo o País, através do seu Departamento Técnico Especiali-zado. Já o Departamento de Estudos e Pesquisas Médicas e

Deficientes visuais que frequentam o Instituto Benjamim Constant mostram muita disposição e garra em desfiles, aulas de artes e teatro

grito escuro

Um no

Texto: Nícia Ribas, do RioFotos: IBC/Divulgação

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de Reabilitação do IBC mantém oficinas de teatro, artes, cerâmica, música e o curso de massoterapia. Tudo de gra-ça e com excelentes professores.

teatRo do impRoViso

No final de 2005, a psicóloga clínica, com especializa-ção em Psicologia Transpessoal, e professora de Ioga, Lígia Feijó, foi assistir a uma apresentação de Natal do grupo de teatro do IBC, então sob a coordenação de Fernando Gut-man, e por lá ficou. “Os esquetes utilizando as técnicas de improvisação de Viola Spolin e textos de Augusto Boal in-terpretados por esse grupo são maravilhosos”, emociona-se Lígia, atual diretora do grupo.

Em 2006, eles participaram do Salão Carioca de Humor, na Casa de Cultura Laura Alvim, conquistando o oitavo lugar entre mais de 30 grupos. “Na época enfrentamos uma séria adversidade, pois um dos atores, o Gedeão, adoeceu e teve que ser substituído a toque de caixa”, lembra Lígia. O ator substituto foi Manoel dos Anjos. Ele aproveita a citação de seu nome para interromper a entrevista e lembrar de um fato ocorrido quando integrava a equipe de cegos do Jardim Sen-sorial do Jardim Botânico: “Uma das visitantes, quando perce-beu que éramos cegos, afastou-se, com medo, pensando que cegueira pegava..” diverte-se. Mas Manoel afirma que essa confusão começou realmente a acontecer depois do sucesso do livro e filme de José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira.

Cegueira não pega, mas mau humor pode ser. Vírgínia Fortunato Antunes Marins, 33 anos, cega há 10 devido à hi-drocefalia, conta que é comum nos ônibus a disputa pelos lugares reservados para idosos e deficientes físicos. “Às vezes, um velhinho não percebe que sou deficiente e vai mandando sair que o lugar é dele.” No palco, Virgínia recupera sua auto-estima e ganha autoconfiança.

Roferreira é o nome artístico de Rosângela Ferreira da Silva, que chegou ao IBC no ano 2000, inconformada com a perda da visão, numa depressão profunda, que durou dois anos. “A assistente social daqui cuidou de mim, me levou para ser atendida por uma junta de psicólogos do Pinel e graças a eles fui superando,” lembra ela. Seu ingresso no grupo de teatro também foi tumultuado porque estavam justamente montando a peça Amélia que era mulher de verdade, e ela se sentia a própria, pois passara a vida servindo ao marido. Irritada, abandonou o teatro, mas acabou voltando e pedindo desculpas ao grupo.

Compositora, em 2009, Roferreira lançou CD de MPB, em parceria com Lúcia Teles. É delas o samba-enredo denominado Samba do Louis (Braille), do Bloco Beijamim no Escuro, que todo Carnaval sai desfilando pelo bairro da Urca, Zona Sul do Rio. A rainha da bateria do Beijamim é Marilza dos Santos Pe-reira, que também integra o grupo de teatro. Elegante, Marilza confessa que adora moda e costuma desfilar nos eventos pro-movidos pelo curso de estilista. Formada em massoterapia pelo IBC, vive da sua profissão.

Já a boliviana Marina Mérida Magalhanes, que veio para o Rio trabalhar na casa de diplomatas do Consulado Americano, como governanta, sofreu muito com a perda da visão. “Eu tinha vergonha da bengala, queria morrer.”, lembra ela, que hoje par-ticipa das improvisações no palco com a maior desenvoltura.

oFicina de ceRâmica

Pelo projeto IBC-Cerâmica, atualmente 60 reabilitandos desenvolvem sua capacidade criadora, sob orientação de professores experientes como a coordenadora Clara Fon-seca. “Aqui, eles não usam bengalas; familiarizam-se com o ambiente e circulam por aí sem problemas”, explica a pro-fessora, idealizadora do projeto. Importante meio de conhe-cimento, cultura e realização pessoal, a atividade é muito adequada ao deficiente visual porque explora o tato, sentido bastante desenvolvido por eles. O aluno Alexandre Carlos Barel, que há cinco anos teve degeneração da retina, traba-lha no torno com destreza e “com prazer”. Seus colegas Le-anderson Correia Leandro e Maria Ivoneide Soares Silva dão o acabamento nas peças recém criadas e garantem: “é uma terapia, faz a gente relaxar, é bom para o corpo e a mente.”

massoteRapia, pRoFissionalizante

Além de perder a visão, quase sempre a pessoa perde também o emprego. Não foi o caso de Manoel dos Anjos, que permaneceu por 15 anos trabalhando na Rio Park Esta-cionamento, hoje Estapar: “Eles me deram a maior força”. Mas em geral, o reabilitando luta por sua sobrevivência fi-nanceira e um curso profissionalizante, como a massotera-pia do IBC, tem ajudado muito.

São 225 horas de aulas teóricas e mais 225 de práticas, durante dois anos, com um total de seis disciplinas. Hoje, há 22 alunos no primeiro ano e 15 no segundo.O físioterapeuta e massoterapeuta Thiago Sandenberg, coordenador do cur-so, garante que o mercado de trabalho costuma absorver todos os seus formandos. Eles oferecem também cursos paralelos e de extensão, como Shiatsu Terapia, Reflexologia Podal e Drenagem Linfática. Todo o material utilizado nas aulas é adaptado para cegos. Formada no IBC e com curso de fisioterapia, Sirlene dos Santos Ribeiro hoje é professora ao lado de Thiago..

Quem passa uma tarde no IBC, sente que o belo prédio do Séc XIX abriga pessoas felizes. Pessoas que souberam superar uma séria adversidade na vida e seguir em frente, através do estudo e da busca de uma formação profissional. Afinal, eles só desejam levar uma vida normal.

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ISABELLA ARARIPEP elas Empr esas

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Petrobras lidera ranking latino-americano de sustentabilidade

A Petrobras obteve a me-lhor nota no estudo sobre sustentabilidade com as maio-res empresas de energia da América Latina. O ranking foi elaborado pela consultoria es-panhola Management & Excel-

lence (M&E) em parceria com a revista LatinFinance, publicação internacional especializada no mercado latino-americano.

Segundo a consultoria, a classifi cação deste ano levou em conta não só o grau

Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social

Estão abertas as inscrições para o Prêmio Fundação BB de Tecno-logia Social e podem participar instituições sem fi ns lucrativos, de direito público ou privado. Serão nove prêmios no valor de R$ 80 mil cada - cinco serão para as catego-rias regionais (um para cada região do País) e um para cada categoria

especial: “Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo Juvenil”;

Coca-Cola realiza Semana Otimismo que transforma com o objetivo de

apoiar projetos sociaisDa esquerda para a

direita: O economista Sérgio Besserman; Mar-

co Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Co-la Brasil e Tião Santos, presidente da Associação de Recicladores de Jardim Gramacho (Baixada Fluminense)

De 22 a 29 de maio, o Sistema Coca-Cola Brasil realizou a quinta edição da Se-mana Otimismo que Transforma, durante a qual cada produto da Coca-Cola Brasil vendido no País reverterá quase três centavos aos programas do Instituto Coca-Cola Brasil. Em 2010, foram arrecadados R$ 5,8 milhões para os projetos nas áreas de Meio Ambiente e Educação. São mais de 150 produtos do portfólio da Coca-Cola Brasil que gerarão recursos para os programas “Reciclou, Ganhou”; Água das Florestas; Coletivo; Valorização do Jovem e Educação Campeã.

Neste ano, os consumidores puderam aumentar sua partici-pação na Semana. Além de comprar produtos para contribuir diretamente para os projetos, puderam enviar suas fotos no momento do consumo para o site, entrando, assim, no “Mural dos bons”. No dia 20 de maio, o Dia do Otimismo, funcionários da empresa, de forma voluntária, visitaram pontos de venda para divulgar a Semana e explicar a iniciativa aos consumido-res. Segundo Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, “a Semana Otimismo que Transforma une representantes do Instituto, nossos co-laboradores, clientes, consumidores e outros parceiros em torno de uma causa muito especial, representando perfeita-mente a visão que temos de um mundo melhor”.

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“Gestão de Recursos Hídricos”; “Participação das Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais”; e uma nova categoria: “Tecnologia Social na Cons-trução de Políticas Públicas para a Erradicação da Pobreza”. As inscrições podem ser feitas por meio do portal www.fbb.org.br/tecnologiasocial até o dia 30 de junho e o Prêmio conta com o patrocínio da Petrobrás e o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Unesco e da KPMG Auditores Independentes.

de adesão, mas se as companhias estavam de fato implementando políticas de sustenta-bilidade. Neste item, atingimos uma marca muito superior à nota das demais empresas na categoria de desempenho em sustentabi-lidade. O método utilizado para a preparação do relatório deste ano incluiu cerca de 200 atributos relacionados à sustentabilidade, responsabilidade social, governança corpo-rativa, práticas ambientais e fi nanceiras.

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

Estudo da PwC: setor elétrico paga duas usinas de Belo Monte

em impostosDe acordo com recente estudo concluído pela consultoria PricewaterhouseCo-

opers, a carga tributária total atingiu 45,08% do total das receitas do setor elétrico brasileiro. O levantamento mostra que as 54 empresas pesquisadas (geradoras, trans-missoras e distribuidoras) desembolsaram R$ 46,2 bilhões em impostos de uma re-ceita bruta de R$ 102,5 bilhões em 2008. Este valor equivaleria à construção de duas usinas de Belo Monte por ano. A divulgação foi feita na Folha de S. Paulo, na coluna Mercado Aberto, por Maria Cristina Frias.

Projeto socioambiental das Casas Bahia destina mais de 30 mil t de

materiais para reciclagem

O Amigos do Planeta é um programa socioambiental que tem como objetivo engajar os mais de 57 mil colaboradores da rede para que atuem na

preservação do meio ambiente, não só dentro da Casas Bahia, como também nas suas respectivas comunidades. O programa está baseado no conceito dos 3R’s (redução, reutilização e reciclagem de materiais) e inclui ações de cons-cientização e de mobilização e projetos de ecoefi ciência para redução do con-sumo de recursos naturais e energia elétrica.

Implementado em 2008 em um grupo piloto, hoje o projeto já envolve todo o complexo da matriz em São Caetano do Sul (SP), mais de 100 lojas de São

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Unimed-Rio apoia Música cidadãO projeto Receita do Bem permitiu que os médicos cooperados da

Unimed-Rio doassem parte de seu Imposto de Renda devido para proje-tos sociais e culturais. Uma das ações benefi ciadas foi a Escola de Música e Cidadania da Cidade de Deus, iniciativa desenvolvida pela ONG Agên-cia do Bem. A Escola iniciou suas atividades, com o apoio da cooperati-va, em março de 2011, atendendo 300 crianças e jovens da comunidade. A metodologia de ensino, que utiliza a música como meio de inclusão social, já era desenvolvida pela instituição em comunidades de Vargem Grande e Vargem Pequena. São ministradas aulas de fl auta (doce e trans-versa), clarineta, violino, violoncelo, viola de corda e conto para crianças entre 8 a 17 anos.

Paulo, o maior centro de distribuição da rede, localizado em Jundiaí (SP) e a empresa de relacionamento do grupo, CB Contact Center. Desde então, já en-caminhou mais de 30 mil toneladas de materiais para reciclagem, contribuindo para que se economize mais de 27,5 mil m3 de área nos aterros sanitários. O vo-lume diário de recicláveis ajuda a poupar do meio ambiente, o equivalente ao lixo gerado/dia por uma cidade de mais de 30 mil habitantes.

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Texto: Letícia Koeler Especial para Plurale em revista

Fotos de Divulgação

Atitude

Restaurantes politicamente

corretos

Exemplos de responsabilidade social e ambiental

A conscientização da necessidade de implantação de políticas de desenvolvimento sustentável e ações so-ciais chegou ao setor gastronômico brasileiro. Adotar o uso de lâmpadas LED que consomem menos energia, optar pela madeira certifi cada no projeto, pintar as pare-

des com tinta atóxica, reciclar resíduos e solicitar a coleta seletiva de lixo são algumas ações que vêm sendo adotadas por alguns restaurantes. E o objetivo dos

empresários não é o lucro, pois a maioria dessas práticas custa caro. A ideia é envol-ver a população em ações sustentáveis para atingir um resultado mais imediato.

Para manter uma coleta seletiva de lixo, por exemplo, o custo nem é tão elevado. O maior gasto – e a maior difi culdade – é treinar, organizar e conscientizar os funcionários.

Por isso, cursos e palestras promovidos pela organização não governamental WWF-Brasil são solicitadas pelo empresário Ricardo Stern, dono do restaurante ViaSete, no Rio de Janeiro. “A ideia

é que o funcionário leve essa consciência ambiental adquirida nos encontros para a sua comunidade, ampliando o engajamento nas ações ambientais”, conta Ricardo.

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Parceiro da WWF-Brasil desde 2007, o ViaSete sugere a doação de R$ 1 na conta de cada cliente. O restaurante, que faz gestão de resíduos, utiliza o jogo americano de papel reciclato nas mesas. “Esse papel é elaborado com papel que já foi re-ciclado. Devolvemos o papel para a reciclagem na separação do lixo. O custo é cerca de 20% a mais que o papel comum, mas acredito que temos que fazer a nossa parte”, conta Ricardo. O ViaSete separa também o óleo da cozinha para reciclagem. A parceria com uma empresa certifi cada garante que o produto seja trans-formado em sabão ou biocombustível. A prá-tica chamou atenção dos vizinhos que levam garrafi nhas com óleo ao restaurante. “É mui-to bom saber que nossas ações estimulam a população a fazer o mesmo pela natureza.”, comemora Stern que sonha em criar postos de coleta de óleo de cozinha.

Servir alimentos orgânicos também é um luxo. Segundo Ricardo, sai cerca de 30% mais caro utilizar esses produtos. Para servir alimentos frescos e com qualidade, o Delírio Tropical foi além. O restaurante mantém plantação própria e segue todos os cuidados para que os produtos sejam mantidos longe de qualquer inseto. Ne-nhum produto químico que agride a natureza é utilizado na lavoura. O De-

lírio Tropical serve mate elaborado com erva orgânica, livre de conservadores, edulcorantes artifi ciais, antioxidantes e aromas artifi ciais. A frutose é utilizada no lugar do açúcar refi nado.

Sueli Gama, do restaurante Casarão 1881, que funciona no Centro Histórico do Rio de Janeiro, reformou todo o casarão de 1881 para preservar a fachada original. Ao modernizar o interior do restaurante, percebeu que pode-ria adotar uma prática sustentável. Foi assim que resolveu refazer os cardápios, utilizando papel reciclado. “Se cada uma fi zer a sua par-te, tenho certeza que será benéfi co ao meio ambiente”, diz Sueli.

As sócias Simone Rau e Carla Noronha do Salitre também mostraram preocupação com o meio ambiente ao implantar o sistema de cap-tação de energia solar na casa em que funciona o restaurante em Ipanema, no Rio de Janeiro. “Toda água quente utilizada na cozinha vem desse sistema. A reforma era inevitável, então nós decidimos adotar um sistema que fosse bom para nós e para a natureza”, conta Carla. Os banheiros possuem válvulas de descargas ecológicas que garantem uma economia de aproximadamente 60% do volume de água. Como o restaurante possui uma loja de vinhos, as sócias decidiram adotar sacolas de papelão em vez de sacos plásticos.

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“Esse papel é elaborado com papel que já foi re-ciclado. Devolvemos o papel para a reciclagem na separação do lixo. O custo é cerca de 20% a mais que o papel comum, mas acredito que temos que fazer a nossa parte”, conta Ricardo. O ViaSete separa também o óleo da cozinha para reciclagem. A parceria com uma empresa certifi cada garante que o produto seja trans-formado em sabão ou biocombustível. A prá-tica chamou atenção dos vizinhos que levam garrafi nhas com óleo ao restaurante. “É mui-to bom saber que nossas ações estimulam a população a fazer o mesmo pela natureza.”, comemora Stern que sonha em criar postos de coleta de óleo de cozinha.

Servir alimentos orgânicos também é um luxo. Segundo Ricardo, sai cerca de 30% mais caro utilizar esses produtos. Para servir alimentos frescos e com qualidade, o Delírio Tropical foi além. O restaurante mantém plantação própria e segue todos os cuidados para que os produtos sejam mantidos longe de qualquer inseto. Ne-nhum produto químico que agride a natureza é utilizado na lavoura. O De-

Parceiro da WWF-Brasil desde 2007, o ViaSete sugere a doação de R$ 1 na conta de cada cliente.

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Atenção aos clientes especiais também faz parte do projeto do restaurante. Apesar de haver uma legislação que pune estabe-lecimentos que não seguem as normas técnicas de acessibilidade, poucos restaurantes no Rio de Janeiro oferecem livre acesso para quem necessita. As sócias decidiram, então, instalar um elevador especial na entrada do Salitre. O custo com o elevador e sua ins-talação foi de mais de R$ 20 mil. Outro investimento social das empreendedoras foram os cardápios em braile. Elaborado com a ajuda do Instituto Benjamin Constant, a produção da versão do menu para os defi cientes visuais teve um custo aproximado de R$ 5 mil. “Apesar de não haver incentivo algum para que os estabelecimentos comerciais sigam normas de inclusão social, fi zemos questão de proporcionar maior comodidade aos nos-sos clientes, sem qualquer preconceito”, diz Simone.

O Delírio Tropical também possui um trabalho social inte-ressante. O restaurante apoia o Instituto Compartilhar, ONG criada pelo treinador de voleibol Bernardinho que visa o de-senvolvimento humano e social de jovens através do esporte. A atenção social também é voltada aos funcionários. O empre-endimento foi contemplado com o Prêmio Ser Humano da As-sociação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro em 2010, um reconhecimento às práticas de sucesso em gestão de pessoas com resultados quantitativos e qualitativos.

Para incentivar ações ambientais, o grupo Sonae Sierra Bra-sil, de shopping centers, premia lojistas. Este ano o vencedor

Atitude

do Planet Sierra Tenat Award foi o restaurante Gio-vannetti, em Campinas, por suas práticas ambientais. Um júri avaliou itens como consumo racional de água e energia, qualidade do ar, emissões de ruído e odores, separação de lixo e limpeza de diversas lojas dos shoppings da empresa. A premiação acontece a cada dois anos.

O chef Eric Thomas, famoso pela sua gastronomia de qualidade do restaurante Tantra, em São Paulo, decidiu criar um espaço sustentável quando notou a agitação durante uma festa infantil e se perguntou se seria possível transformar aquela movimenta-ção em energia. E então, em 2010 a EcoHouse foi inaugurada, o primeiro local ecologicamente corre-to da América Latina. Uma das principais inovações do projeto da EcoHouse é justamente o sistema de geração de energia. As pegadas das pessoas geram a luz da cozinha, restaurante, bar e pista de dança. A sustentabilidade também chegou à cozinha, onde qualquer sobra de alimento é transformada em adu-bo. Inclusive, o cliente pode visitar o telhado verde para selecionar frutas e legumes que farão parte do menu do evento.

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A casa também possui sistema que capta e arma-zena a água da chuva, utilizada para limpeza e ma-nutenção do jardim. Plantas dispostas nas paredes da casa, além de decorar o ambiente, garantem uma boa acústica e o controle da umidade. Segundo Eric, o custo da obra custou cerca de 20% mais caro do que o de uma obra convencional. “Minha intenção com a EcoHouse é mostrar que é possível construir e administrar com sustentabilidade. Após cada even-to, enviamos um relatório ao cliente para mostrar o quanto ele deixou de consumir de energia. E as pessoas sempre têm uma reação positiva, pois fi cam contentes ao saber que, de certa forma, ajudaram a preservar o meio ambiente”, conta Eric.

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VIDA SaudávelDe Curitiba

O site do Gastro-nomia Responsável tem espaço aberto para o envio de re-ceitas que aliem gas-tronomia a princípios de conservação da

natureza. O movimento foi lançado em setembro do ano passado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Na-tureza em Curitiba (PR) com a curadoria do renomado chef Celso Freire. Hoje, o Gastronomia Responsável conta com a participação de treze restaurantes da cidade.

Internautas de todo o Brasil podem participar. Bas-ta compartilhar no site do Gastronomia Responsável(www.gastronomiaresponsavel.com.br) as receitas criadas que sigam a, pelo menos, um dos quatro princípios apregoados pelo movimento: uso de ingredientes orgâni-cos, não-utilização de espécies ameaçadas de extinção, uso de produtos de fornecedores locais para evitar emis-são de gás carbônico no transporte, e utilização integral de alimentos para evitar o desperdício.

Fundação Grupo O Boticário patrocina Gastronomia responsável

Apoio:

Alimentos saudáveis

Nova estrelaO hit do momento nas lojas de

produtos naturais é o pólen apí-cola, vendido em pequenos po-tinhos. O pólen retarda o enve-lhecimento, é regenerador das funções orgânicas e psíquicas, catalisador de energia e saúde e como se não bastasse tudo isso

ainda ajuda na prevenção e tratamento de doenças degene-rativas e infecciosas. Os especialistas recomendam apenas uma pequena dose diária de uma colher de chá.

Por Eduardo Pinho Rodrigues,

da Embrapa Hortaliças

Rústica e com excelente qualida-de de raízes, a cenoura BRS Planalto, desenvolvida pela Embrapa Hortaliças e comercializada pela Embrapa Trans-ferência de Tecnologia – unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária, vinculada ao Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento –, vem conquistando cada vez mais os produtores brasileiros, especialmente os orgânicos.

O cultivo da hortaliça é indicado para o verão, mas sua tolerância ao fl orescimento precoce permite um maior perí-odo de plantio. Além disso, a cultivar apresenta resistência a queima-das-folhas e nematóides. Outra característica é a coloração alaranjada intensa, o que indica alta concentração de beta-caroteno, antioxidante que é convertido pelo orga-nismo em vitamina A. A cultivar apresenta ainda duas vezes mais carotenoides pró-vitamina do que a cenoura Brasília, de polinização aberta (não híbrida) mais plantada atualmente no País. O preço das sementes também é uma vantagem da BRS Planalto: bem mais baixo do que o de materiais híbridos.

A super cenoura

Juliana Martins, enfer-meira da Área de Gestão de Saúde da Unimed-Rio expli-ca que alimentos saudáveis são aqueles que além de fornecer energia possuem nutrientes ou compostos que irão desenvolver algu-

ma função benéfi ca no nosso organismo. “Os alimentos po-dem fornecer energia através das proteínas (também com função construtora e reparadora de tecidos do corpo), car-boidratos e gorduras (função energética) e também através do álcool”, diz. A “chave”, ensina, é descobrir se o alimento também é rico em fi bras, vitaminas e minerais (com função reguladora de todas as reações químicas do organismo) ou compostos bioativos com função protetora.

Exemplo — A enfermeira cita como exemplos desses compostos o licopeno (encontrado na coloração do to-mate, melancia e goiaba), a clorofila (alimentos verdes), o resveratrol (vinho tinto, suco de uva), as catequinas (chá verde) entre tantos outros. Quando o alimento não tem quantidades significativas de nutrientes e apenas é rico em calorias (energia) ou possui grande quantidade de produtos químicos (corantes, conservantes, agrotóxi-cos, aromatizantes) costumamos classificá-los como não saudáveis. Juliana lembra que “uma alimentação saudável beneficia todas as funções do nosso organismo”. Desde funções gástricas, intestinais, imunológicas, metabólicas, cardiovasculares, sanguíneas, hormonais até neurológi-cas como a melhora e preservação da função da memória. E reforça que não podemos esquecer que nossas células são compostas por nutrientes que precisam ser recom-postos periodicamente através da alimentação.

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Alexia abre baú do exílio de CaetanoTexto: Maria Helena MaltaEspecial para Plurale em revistaFotos de Marcelo Faustini/Divulgação

I am lonely in London without fear (...)Oh Sunday, Monday, Autumn pass by meAnd people hurry on so peacefully(London, London, Caetano Veloso/Londres, 1971)

A lguns talvez se lembrem da prisão de Cae-tano e Gil no quartel de Marechal Deodo-ro, no Rio, no longínquo mês de dezembro de 1968 — algo que renderia um cinzento (mas produtivo) exílio em Londres, a par-

tir do ano seguinte. Mas ainda que não se recordem de toda a história, devem ter percebido a saudade contida nas entrelinhas de London, London, uma das faixas mais cantaroladas entre as que aportaram no Brasil.

Quarenta anos depois, na voz clara e suave de Alexia Bomtempo (uma carioca de 27 anos, nascida em Wa-shington DC), serão resgatadas outras músicas compos-tas por Caetano nos tempos de exílio — incluindo You don’t know me, A little more blue e, claro, a deliciosa London, London, entre outras que saíram em discos como Caetano Veloso, de 1971, e Transa, de 1972. O novo CD solo de Alexia, Nine out of ten (título provisó-rio), está prestes a ser lançado. O convite foi de Felipe Abreu e o disco também conta com produção de Dé Palmeira e participação especial de músicos como Dadi, Vinicius Cantuária, Kassin, Charles Gavin (ex-baterista dos Titãs), Roberto Frejat, Rodrigo Campello, Dome-nico Lancellotti, Jr. Tostoi e Bernard Ceppas, além do americano Jesse Harris, vencedor do Grammy. O pró-prio Caetano gostou da ideia e se diz “curiosíssimo” a respeito do resultado.

A pesquisa foi árdua e, além dos arquivos de praxe, envolveu leituras de dezenas de cartas do baiano, envia-das do exílio, e entrevistas ao Pasquim. “Estou juntan-do dois lados da minha vida: a língua materna, que é o inglês, com músicas de um compositor absolutamente brasileiro. O denominador comum é a emoção da épo-ca: ele estava exilado e eu conheço a saudade, sei o que é estar num lugar onde você não queria estar”, comenta

Alexia, carinhosamente observada por Tom Zé, seu pequeno buldogue francês.

Boa parte da vida da carioca Alexia Bomtempo, hoje for-mada em Letras pela PUC-Rio, foi vivida nos aviões de carreira. Aos sete anos, veio morar no Rio com o pai, o produtor e agi-tador cultural Renato Bomtempo, que revitalizou a cena em Petrópolis (RJ) na virada do século, com shows, festivais e pe-ças de teatro. Foi a grande chance de circular pelos bastidores, onde assistiu a shows de Gil, Adriana Calcanhotto, Titãs e Zizi Possi, e até ganhou colo de Caetano, quando tentava pedir-lhe que autografasse uma fi ta cassete.

Na adolescência, passou uma temporada com a mãe, a escritora e cantora Monica Nagle, nos Estados Unidos, e lá descobriu o talento, ainda nos corais da High School. Che-gou a pensar em ser atriz e frequentou os cursos do Teatro Tablado, no Rio. Mas, numa das estadias americanas, ganhou o incentivo do professor de música da Universidade de New Hampshire, cujas aulas iam do lírico ao jazz. Alexia era sempre convidada a “puxar” o Hino Americano em aberturas e fi nais

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Alexia abre baú do exílio de CaetanoEspecial para Plurale em revistaFotos de Marcelo Faustini/Divulgação

I am lonely in London without fear (...)Oh Sunday, Monday, Autumn pass by meAnd people hurry on so peacefully(London, London, Caetano Veloso/Londres, 1971)

lguns talvez se lembrem da prisão de Cae-tano e Gil no quartel de Marechal Deodo-ro, no Rio, no longínquo mês de dezembro de 1968 — algo que renderia um cinzento (mas produtivo) exílio em Londres, a par-

tir do ano seguinte. Mas ainda que não se recordem de toda a história, devem ter percebido a saudade contida nas entrelinhas de London, London, uma das faixas mais cantaroladas entre as que aportaram no Brasil.

Quarenta anos depois, na voz clara e suave de Alexia Bomtempo (uma carioca de 27 anos, nascida em Wa-shington DC), serão resgatadas outras músicas compos-tas por Caetano nos tempos de exílio — incluindo You

A little more blue e, claro, a deliciosa , entre outras que saíram em discos

, de 1971, e Transa, de 1972. O novo CD solo de Alexia, Nine out of ten (título provisó-rio), está prestes a ser lançado. O convite foi de Felipe Abreu e o disco também conta com produção de Dé Palmeira e participação especial de músicos como Dadi, Vinicius Cantuária, Kassin, Charles Gavin (ex-baterista dos Titãs), Roberto Frejat, Rodrigo Campello, Dome-nico Lancellotti, Jr. Tostoi e Bernard Ceppas, além do americano Jesse Harris, vencedor do Grammy. O pró-prio Caetano gostou da ideia e se diz “curiosíssimo” a

A pesquisa foi árdua e, além dos arquivos de praxe, envolveu leituras de dezenas de cartas do baiano, envia-das do exílio, e entrevistas ao Pasquim. “Estou juntan-do dois lados da minha vida: a língua materna, que é o inglês, com músicas de um compositor absolutamente brasileiro. O denominador comum é a emoção da épo-ca: ele estava exilado e eu conheço a saudade, sei o que é estar num lugar onde você não queria estar”, comenta

Alexia, carinhosamente observada por Tom Zé, seu pequeno buldogue francês.

Boa parte da vida da carioca Alexia Bomtempo, hoje for-mada em Letras pela PUC-Rio, foi vivida nos aviões de carreira. Aos sete anos, veio morar no Rio com o pai, o produtor e agi-tador cultural Renato Bomtempo, que revitalizou a cena em Petrópolis (RJ) na virada do século, com shows, festivais e pe-ças de teatro. Foi a grande chance de circular pelos bastidores, onde assistiu a shows de Gil, Adriana Calcanhotto, Titãs e Zizi Possi, e até ganhou colo de Caetano, quando tentava pedir-lhe que autografasse uma fi ta cassete.

Na adolescência, passou uma temporada com a mãe, a escritora e cantora Monica Nagle, nos Estados Unidos, e lá descobriu o talento, ainda nos corais da High School. Che-gou a pensar em ser atriz e frequentou os cursos do Teatro Tablado, no Rio. Mas, numa das estadias americanas, ganhou o incentivo do professor de música da Universidade de New Hampshire, cujas aulas iam do lírico ao jazz. Alexia era sempre convidada a “puxar” o Hino Americano em aberturas e fi nais

Cultura

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do ou na areia. Mas levá-la aos ouvidinhos de 190 milhões de brasileiros são outros quinhentos”, completa o parceiro Pierre Aderne. E acrescenta: “O mais difícil é saber esperar e conviver com as frustrações. O segredo é desencanar, tocar o barco, navegar, sair plantando por aí. De repente, você acorda e a água ferveu: as árvores nasceram e você já pode viver à sombra delas...”

O fato é que Astrolábio acabou rendendo uma turnê por várias cidades japonesas em 2010. E, em julho do mesmo ano, Alexia e Pierre voltaram a fazer as malas e se apresentaram no Festival de Verão do MoMA, em Nova York, que lotou os novos jardins internos do mais simpá-tico museu da cidade.

doces caRiocas: o VeRão Que ViRou inVeRno na seRRa do Rio

Na virada de 2006 para 2007, a ideia era curtir um ré-veillon com Pierre e amigos como Mú (ex-Cor do Som) em Araras, área serrana do Rio, onde seria possível aproveitar um calor mais ameno, talvez esvaziar os dois barris de cho-pe à beira da piscina, e tudo isso sem desprezar a ideia de alguma inspiração. Mas a natureza surpreendeu: o tempo fechou, a chuva foi intermitente, o friozinho temperou os espíritos e a cerveja foi dignamente substituída por garrafas de vinho ao lado da lareira. Dormia-se e acordava-se em tor-no do violão.

Em resumo: ali nasceram as 10 composições de Doces Cariocas, um projeto especial que reuniu Pierre e Alexia no CD que abocanharia o Prêmio da Música Brasileira 2009 (ex-Tim), na categoria Melhor Grupo. A banda, aliás, também gravou um DVD no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, que ainda está em fase de edição.

Para Alexia, toda essa parceria foi (e é) emocionante: “Melhor ainda quando se faz, ao mesmo tempo, a letra e a música.” A inesquecível atmosfera criada na serra, aliás, levou a inúmeros saraus no apartamento de Ipanema, no Rio, com Domenico Lancellotti, Maria Gadú, Wilson Simoninha, Edu Krieger, Madeleine Peyroux e muitos outros colegas e amigos.

uma mpb contempoRânea e dionisÍaca, “com caRinHo de inFância” e amigos em toRno do VinHo

A marca principal é a alegria, a carioquice, a natureza (como na velha Bossa Nova) e o amor. E não por acaso. Afi nal, como não se emocionar com versos que dão “um abraço apertado no sol” ou falam da “paisagem/atrás dos ombros/lá de cima da colina”? Como não se encantar com “Cromologia”, onde “Djavan é lilás”, “Carlinhos é Brown”, “o barão é vermelho”, “Caetano é camaleão”, “verde e rosa é Mangueira” e “preto com branco dá brasileiro”?

De uma briga de amor, podem restar “um abraço, um beijo e um mapa/o argumento do livro e o desenho da capa/uma intenção ilícita/uma página não escrita...”

Até as crianças adoram as letras de seus discos, que Ale-xia defi ne com uma deliciosa visão dionisíaca: “Acho que podemos falar numa despretensiosa MPB contemporânea, com carinho de infância e de amigos que tocam juntos, em torno do vinho e ao lado da fogueira...”

dos campeonatos de hóquei, diante de cerca de 10 mil pessoas.

Além disso, gravava composições próprias, que eram bem recebidas na casa do pai carioca. Numa dessas ocasiões, Alexia fez os primeiros contatos com Dadi, com quem se apresentou em um show no Mistura Fina — um evento que chamou a atenção do produtor Sergio Carva-lho e permitiu, de quebra, o primeiro encon-tro com o também músico Pierre Aderne. Ele logo viraria namorado e, meio de brincadeira, compôs os primeiros versos de “Mina do con-domínio”, hoje uma das faixas mais aplaudidas na voz de Seu Jorge.

cd lançado em 2005,no ‘WoodstocK’ poRtuguÊs,conQuista também o japão

Em 2005, Alexia vendeu o carro, devolveu o apartamento americano e decidiu fi car de vez por aqui. Começou a compor com Dadi, a par-tir de letras que Pierre havia cedido, e ganhou a admiração de Paulo Junqueiro, diretor artístico da EMI, que deu seu aval ao talento da dupla. Afi nal, ao longo de um ano, Alexia e Dadi ha-viam composto nada menos de 10 melodias. Basta dizer que o CD Astrolábio (EMI, 2008) — que também incluiu parcerias com Arnaldo Antunes e André Carvalho, além de faixas de outros autores, como Sting — foi lançado não apenas no Brasil, mas também no Japão e em Portugal, no Festival Sudoeste, uma espécie de Woodstock português, instalado “no meio do nada”, como lembra a cantora — isto é, num local chamado Zambujeira do Mar, em plena região do Alentejo.

No Japão, Astrolábio fez enorme sucesso em 2009 e foi o segundo disco brasileiro mais vendido no país, logo depois do álbum Zii e Zie, de Caetano Veloso. Mas por que no Japão? “Porque eles amam a música brasileira e se identifi cam com a nossa suavidade”, diz Alexia. “A música é feita no quarto, na sala, no grama-

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P elo Mundo

Um gerador mais leve que o ar

O famoso Massachussets Institute of Technology (MIT), localizado em Boston (EUA), está comple-

tando 150 anos de vida. Ele é uma das mais importantes instituições geradoras de ideias e de avanços no mundo tecno-lógico. Inúmeras empresas surgiram e prosperaram a partir de suas pesquisas e de seus alunos dos cursos de gradua-ção, mestrado e doutorado. Uma delas é a Altaeros Energies Inc., fundada por ex-alunos do seu Departamento de Aero-náutica e Astronáutica.

Em recente reportagem, foi mostrado a público o projeto que a companhia está desenvolvendo. trata-se de um blimp (balão especial), tecnicamente chamado de aerostat, já que estará conectado ao solo. Para manter-se em suspensão, será utilizado gás hélio e conterá uma turbi-na eólica (movida a vento) no seu centro oco (vejam a foto do modelo). Ele será mantido a uma altura de 2000 pés (um pouco mais de 600 metros) e assim, vai

ricano, possivelmente em alguma locali-dade remota como uma unidade militar, campo petrolífero ou mesmo uma ilha. Nestea fase vai conter uma turbina capaz de gerar apenas 2,5 kilowatts, ou seja, o mesmo que um gerador usado para suprir uma residência.

Algumas limitações já estão estabeleci-das, tais como, não estar nas proximidades de aeroportos ou ainda acima dos 2000 pés de altura.

O uso da energia eólica vem desper-tando cada vez mais interesse e ainda que várias proposições pareçam estranhas o assunto está evoluindo. Cerca de seis empresas no mundo estão estudando sis-temas para geração de energia usando a força dos ventos. Os moinhos de trigo são uma prova de séculos de tentativa do uso dessa força.

Na Califórnia, por exemplo, outra empresa criada por ex-aluno do MIT, a Makani Power Inc. recebeu suporte do Google (U$ 15 milhões) e do Departa-mento de Energia (U$ 3 milhões) para o desenvolvimento de um projeto que usa um avião preso ao solo por um cabo e que voa em círculos largos. Três ro-tores colocarão e manterão o avião em voo, agindo como propulsores. A partir daí as asas, como uma pipa, vão captar e transmitir a energia gerada pelos ven-tos. No projeto atual, a custo de U$ 500 mil, o gerador poderá abastecer de 30 a 50 residências. Em ambos os casos os custos de manutenção são baixos.

Futuristas demais? Inviáveis? So-nhadoras? Quantas ideias ao longo do tempo passaram pelos mesmos ques-tionamentos? Nos dias de hoje, com os suportes tecnológicos disponíveis está fi cando difícil ser cético quanto às pos-sibilidades de avanços da tecnologia em todos os campos da presença humana. A luta pela busca de fontes alternativas, renováveis e viáveis de energia é uma realidade mundial e aqui nos EUA, tanto o Governo quanto empresas privadas se esforçam cada vez mais.

captar ventos e produzir energia que será transmitida através do seu cabo a uma es-tação em terra.

Logicamente, esta é ainda é uma fase de estudos para que daqui a alguns poucos anos possa passar para a etapa de comer-cialização, mas alguns dados demonstram otimismo quanto aos resultados:

- hoje em dia as turbinas eólicas são mon-tadas em torres que se projetam de 100m a 140m de altura;

- cerca de 30 a 50 % do custo delas é referente à construção civil das torres que sustentam as turbinas;

- os ventos nesta altitude (600m) são mais fortes e constantes;

- o sistema poderá gerar de duas a cinco vezes mais eletricidade que uma turbina eó-lica montada a pouco mais de 100 metros de altura;

- o custo da eletricidade produzida será menor que a de um gerador a diesel.

O protótipo com a turbina já estará pronto para ser testada neste verão ame-

Por Wilberto Lima Jr.,Correspondente de Plurale nos EUA, De Boston

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FAO alerta para a infl uência dos incêndios no clima

Por Mônica Pinho, de Perth, Austrália - Especial para Plurale em revista

Por Fabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil, com informações da FAO

Facilidades nas ruas e na vida dos defi cientes visuais

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Ali-mentação (FAO) está preocu-

pada com um novo ciclo vicioso que pode ter sido criado nas últimas décadas devido às transformações no clima. Em um estudo divulgado no dia 10 de maio, a entidade apontou que o aquecimento global está multiplicando o número de grandes incêndios e que as emissões de gases do efeito estufa resultantes dessas queimadas são signifi cantes e podem estar acelerando o aumento das temperaturas no planeta.

De Nova York

O secretário-geral da Organi-zação das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, de

66 anos, admitiu, em meados de maio, que vai tentar a reeleição para se manter no comando do órgão. O

mandato dele acaba em setembro deste ano. Desde 2007 no cargo, o coreano foi o sétimo a assumir o co-

mando das Nações Unidas. O secretário-geral é nomeado pela Assembleia Geral da ONU, depois de ter sido recomendado pelo Conselho de Segurança. A escolha pode ser vetada por qualquer um dos 15 representantes do conselho.

Ban Ki-moon tentará a reeleiçãoDe acordo com diplomatas, não há exigências específi cas para desem-

penhar a função de secretário-geral. Mas, normalmente, a indicação para o cargo segue um sistema de rodízio geográfi co. Os antecessores de Ki-moon eram da Birmânia, Suécia, do Egito, da Áustria, do Peru e de Gana.

“A minha posição é que se os Estados-Membros acharem que os meus serviços são úteis e necessários, então estou disponível”, disse Ki-moon, referindo-se aos representantes dos 192 países que integram a ONU. “Isso depende da vontade dos Estados-Membros. Trabalho duro todos os dias para tentar resolver todas as crises do mundo. Preciso do apoio dos Estados-Membros.”

De acordo com vários diplomatas das Nações Unidas, Ki-moon tem chances de ser reeleito. As informações foram divulgadas pela agência pú-blica de notícias de Portugal, a Lusa, e da ONU.

“Grandes incêndios são causados principalmente pela ação do ho-mem e têm fi cado mais frequentes por causa das mudanças climáticas. O que nós suspeitamos é que estamos vivendo um novo e perigoso ciclo vicioso, que pode resultar em prejuízos gigantescos para a economia e para a vida”, explicou Pieter van Lierp, ofi cial de Florestas da FAO.

O relatório, intitulado “Findings and Implications from a Coarse-Scale Global Assessment of Recent Selected Mega-Fires” (algo como “Descobertas e Implicações da Avaliação Global de Grandes Incêndios Recentes”), traz informações sobre incêndios na Austrália, Botsuana, Bra-sil, Indonésia, Israel, Grécia, Rússia e Estados Unidos.

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Uma das coisas que mais impressiona na Austrália, e certamente em muitos

outros países de primeiro mun-do, é a acessibilidade na cidade para os deficientes visuais.

O planejamento urbano por aqui é extremamente respeitado e a reboque está a valorização do bem-estar para todos, sem ne-nhum tipo de discriminação e de

acordo com seus princípios univer-sais. Reparei que por onde ando en-contro calçadas com rampas de aces-so para os portadores de deficiência física, piso podotátil (pavimentação especial para deficientes visuais) e sinais sonoros junto aos sinais de trânsito na travessia de ruas e aveni-das (o deficiente pressiona o botão e aguarda soar o som de permissão de travessia).

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PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 201158 PLURALE EM REVISTA | EM REVISTA | EM REVISTA Maio/Junho 201158

Especial África

Uma jovem esguia de sorriso tímido acenou para nosso grupo. O recibo número 08418919, de US$ 60 para o visto, era o passe-livre que recebi em Kigali, capital de Ruanda, para os próximos vinte dias. A missão de cada um de nós, profi s-

sionais de diversas áreas que agora se viam estudantes do cur-so de mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, era costurar toda a teoria recebida nos últimos meses no prédio do Museu da Trinity College Dublin, na Irlanda, à realidade dequele país, que poderia caber sem o menor problema em um dos muitos estados brasileiros. Seraphine, a jovem de sor-riso fácil e nossa anfi triã, logo resolveu me ajudar com a mala, que não era uma das menores, e o que prontamente recusei já que o fardo de ter levado muita coisa deveria ser todo meu. Posso até tentar explicar que foi desde esse momento que sim-patizei com ela, mas seria mentira, porque antes mesmo de se oferecer para dar uma mãozinha com as malas, aquele sorriso de boas-vindas já tinha me feito sentir em casa. “Seu nome é nome de anjo, você sabia?“, eu disse, puxando conversa. Só ouvi ela repetindo a palavra “anjo” e abrindo outro sorriso da-

17 anos após o genocídio que matou 800 mil pessoas,

correspondente de Plurale mostra como está hoje este

povo que sonha com esperança e um futuro mais promissor para os jovens

Uma vez em Ruanda

Texto e fotos: Vivian SimonatoEspecial para Plurale, de Ruanda Africa (*)

queles bons como se nunca ninguém tivesse dito isso. A partir desse momento vi que algo mais forte talvez ligasse a gente e estava feliz em ter a oportunidade de ver com meus olhos aquele país pequeno, que tinha conhecido muitos anos antes, quando assisti o fi lme Hotel Ruanda, sem ter ideia que um dia estaria sentada ao lado da piscina azul do sofi sticado Des Mille Collines (o hotel Ruanda!), só para beber uma cerveja e pensar como a vida é uma infi nita descoberta.

assim como uganda

Uma vez li no livro The lnvisible Cure (A Cura Invisível), de Helen Epstein, que em Uganda (ali pertinho) assim como o ví-rus HIV surgiu de uma maneira feroz, matando pais e mães de familía, com inúmeros lares fi cando a Deus dará nos anos 70, foi nessa mesma região que, sem motivo aparente (mas que os países do hemisfério Norte teimaram em achar uma explicação racional) os níveis de transmissão também foram os primeiros a cair. Muito mais tarde, isso foi atribuído à mobilização da comu-nidade, que a seu modo combatia as consequências da AIDS e trabalhava para diminuir as transmissões do vírus de uma manei-ra bem caseira aos olhos dos cientistas. Era mais uma questão de solidariedade, esclarecendo sobre como a contaminação talvez pudesse ser evitada e também estar presente para aquilo que

17 anos após o genocídio que matou 800 mil pessoas, 17 anos após o genocídio que matou 800 mil pessoas,

correspondente de

povo que sonha com esperança e um futuro mais promissor para os

Texto e fotos: Vivian Simonato

correspondente de

povo que sonha com esperança e um futuro mais promissor para os

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o doente precisasse, mais do que qualquer pacote mirabo-lante, ou drogas antiretrovírais (que não eram disponíveis) ou camisinhas. A isso, Epstein deu o nome de a cura invisí-vel. Estando em Ruanda, que faz fronteira com Uganda ao norte, pensei que essa predisposição em ajudar podia não ser somente uma exclusividade de Uganda, também, podia não ser somente em casos extremos. Nesse momento eu entendi que o que me ligava à Seraphine e, mais tarde, ao seu povo, era um sentimento de solidariedade compartilha-da. Também vinha de um país que hoje é emergente, mas que por muito tempo tinha aquele rótulo cinzento, gasto e mal-quisto de Terceiro Mundo, ou, para os mais fashionistas, Países Menos-Desenvolvidos. Sabia o que era a situação de Seraphine e seu povo não pelos vários artigos científi cos que tinha na ponta da língua, mas porque éramos iguais, nossas realidades eram mais próximas do que muitas pessoas da-quele grupo de americanos, canadenses, irlandeses. Aquela solidariedade compartilhada aconteceu porque, assim como Seraphine, senti que éramos agradecidas por aqueles que iam estudar os problemas dos nossos países, mas, a maior esperança de mudar a realidade morava em nós, e essa inter-conectividade também me faziam sorrir fácil para Seraphine, e fi quei feliz em saber que ela seria nossa companhia certa a maior parte do tempo.

Ruanda das mil colinas e do genocÍdio

Os ruandenses fazem questão de lembrar que Ruanda é o país das mil colinas. Mas, o que não dá para esquecer também é que lá é o país onde a tribo de Hutus matou mais de 800 mil pessoas da tribo rival, Tusis, e de Hutus modera-dos, em 1994. É difícil não encontrar uma pessoa que não tenha perdido um familiar naquela época ou, até mesmo, a família inteira. O esforço de não esquecer para não fazer igual é visto nos muitos memoriais, como o de Murambi, em Butare; Nyamata, na região Bugesera; e Gisozi, no centro de Kigali. O primeiro, onde mais de 55 mil pessoas morreram, uma exposição permanente (e chocante) de mais de 800 corpos mumifi cados dão uma ideia do tamanho da tragédia,

retratada no fi lme Operation Turquoise, difícil de achar, mas im-perdível. No Memorial de Nyamata, a 35 quilômetros de Kigali, uma imagem de Nossa Senhora logo na entrada denuncia que o mesmo lugar aonde mais de 10 mil pessoas morreram era também uma igreja, aonde Tutsis se refugiavam tentando so-breviver. Em Gisozi, no centro de Kigali, foi aonde chorei pela primeira vez em Ruanda e, para minha tristeza, vi Seraphine chorando também. É lá, em uma das muitas valas coletivas, que seus pais estão enterrados, achei ruim dela ter ido e não fazia ideia da sua história de vida. Hoje, Ruanda não é mais um país de Tutsis e Hutus, mas de ruandenses e sobre o genocídio eu aprendi que a gente ouve muito e pergunta pouco, porque nunca se sabe qual foi o tamanho da dor que aquela mesma pessoa que te sorri pode ter passado.

muzungu

O desafi o da Ruanda de profundas cicatrizes é colocar o país no compasso do desenvolvimento. No caminho para Ruhengue-ri, na divisa com a República Democrática do Congo, nunca os dados sobre uma população 90% rural e altamente dependente da agricultura fi caram tão claros. Casinhas que passariam desa-percebidas aos olhares menos atentos, espremidas no meio de babanais e plantações de batata irlandesa, denunciavam a precio-sidade de cada pedaço de terra. Também a luta pela água foi uma

realidade que já esperava, mas que é amarga de se ver. Crianças, mulheres e homens de todas as idades disputavam encher seus galões ama-

Cenas do genocídio, há 17 anos

Imagens: Google

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PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 201160 PLURALE EM REVISTA | Maio /Junho 201160

Especial África

relos em riachos, que mais eram filetes de água na beira da estra-da, me fazendo sentir muito mal por ter condições de comprar minha garrafa de água mineral por 1000 francos ruandenses, ou pouco mais de US$ 1,50, o que também é um dia de trabalho de um pai de família na roça, quando tem trabalho. Mas, nem a falta de trabalho, nem a luta que parece ser eterna pela água, nem a pobreza, nem o genocídio, nem quantas vezes essas pessoas passaram fome (o que eu nunca deixava de me perguntar olhan-do seus rostos) parecia ter importância quando passávamos em nosso ônibus branco e velho pelas estradas empoeiradas e ins-tintivamente eles já vinham correndo só para acenar para gente, e nós para eles. Perdi a conta de quantas crianças pelas vilas de

Bisate ou Arusha me chamavam de Muzungu (palavra em Swahili para homem branco) até saberem meu nome para daí, felizes, faze-rem uma festa com um gritando para outro como eu me chamava, que era do Brasil (do Brasil do futebol), que estava estudando... Aliás, essa posição de estudante, de detentora de conhecimento, me incomodava muito, porque aquelas pessoas, sim, que eram ex-perts em lidar com situações que só estando lá para saber. Mas, a re-compensa vinha quando essa sensação de “intruso” acabava e logo percebia que estávamos mais próximos, muitas vezes com inúme-ras mãozinhas miúdas segurando as minhas, me acompanhando aonde quer que fosse, mexendo no meu cabelo, me fazendo sentir bem-vinda e arriscando falar o que quer que fosse em inglês, o que

me encheu de um orgulho infinito. Foi na Vila de Bisate que chorei a segunda vez em público. Visitando uma das classes, aquelas mesmas crianças que um dia antes já estavam enturmadas, que já sabiam meu nome, cantaram uma música “de boas-vindas para amigos” (amigos!), em kinyarwanda, a língua tradicional, como o professor fez questão de falar. Chorei, mas dessa vez foi de felicidade.

Há sempRe uma opoRtunidade

“Há uns anos não tinha nada disso, mas depois que aprendemos a aproveitar melhor a terra você pode ver aonde estou hoje”, falava com satisfação, do meio da plantação de abacaxis, o agricultor Fe-licién, que é morador da Vila do Milênio de Ruanda, em Mayange, distrito de Bugesera. A área, conhecida por sofrer pela falta de chu-va, baixa fertilidade do solo, pobreza crônica, alto índice de doenças – como a malária - e falta de oportunidades de negócios, viu tudo mudar depois de uma das secas que mais judiaram o país em 2005. Naquela época o cenário para atingir os Objetivos de Desenvolvi-mento do Milênio, em 2015, pareciam muito aquém da realidade, até que em janeiro de 2006 o Projeto Vilas do Milênio foi implantado (no total são 12 em toda África). A iniciativa, resultado do esforço de do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, The Ear-th Institute e Millennium Promise, também trabalha com entidades privadas e ONGs, além dos próprios governos locais. No início, o projeto atendia 5 mil pessoas em Kagenge, uma das cinco subdivi-sões de Mayange, mas hoje já são mais de 20 mil ruandenses que recebem orientações sobre melhores práticas na agricultura, tem melhor acesso à educação, saúde e infraestrutura, além de serem

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incentivados a começarem pequenos negócios. Apesar das críticas sobre replicabilidade, o que vi no maior Umudugudu (assentamento) da Vila do Milênio em Ruanda não foram milagres, mas o suporte às pessoas comuns que se tornam vibrantes, cheias de iniciativas quando são empoderadas. Descobri em Mayange uma Ruanda do futuro, me descobri também 100% huma-nista e 0% cientista, sem saber ainda as consequências disso, aprendi que o mínimo de iniciativa pode fazer a maior diferença para aquela Ruanda esteriotipada fi car no passado de uma vez por todas, e voltar a ser lembra-da apenas como o país das mil colinas, ou, para mim, dos infi nitos sorrisos.

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Agradecimentos: a todos os ruandenses que me fi zeram uma pessoa melhor ao dividirem comigo suas experiên-cias; à Seraphine, que nunca terei as palavras certas para agradecer por tamanha ajuda; Laurent Nizeyimana, nosso facilitador; à equipe do Projeto Vila do Milênio de Ruan-da, Mayange, em especial à Janete Mukabalisa e Donald Ndahiro; ao Sr. Felicien Vugabagabo, agricultor da Vila do Milênio; aos professores David Taylor e Andrew Jackson, do Departamento de Geografi a da Trinity College Dublin, organizadores da viagem à Ruanda; e Jack Jackson, pai de Andrew e professor de Biologia na Escócia, que abrilhan-tou nosso trabalho em campo e estava sempre disposto a dar conselhos e ouvir nossas opiniões.

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CONSULTA PÚBLICA DA NOVA CARTEIRA DO ISEJá está disponível no endereço ele-

trônico www.isebvmf.com.br o ques-tionário-base de avaliação das empre-sas candidatas a ingressar no processo de seleção da sétima carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Formulado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), o questionário

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE

Estudantes da quinta série de uma esco-la municipal de Ubatuba, no litoral paulista, formam o grupo mais jovem do mundo a construir e lançar um satélite. Com o apoio de engenheiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 108 meninos e meninas de 11 anos de idade estão em-polgados com a perspectiva de montar o UbatubaSat, um pequeno satélite de aproxi-madamente 750 gramas que orbitará a Terra numa altitude de 310 quilômetros. O lança-mento está previsto para novembro.

Professores de várias disciplinas da Es-cola Municipal Tancredo Almeida Neves se envolveram no projeto, liderado pelo professor de matemática Cândido Oswal-

GUIA INCENTIVA A BOA GOVERNANÇA DOS RECURSOS FLORESTAIS

Em mais um esforço para orientar os países a combater as mudanças climáticas, o órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Banco Mundial e a Chatham House desenvolveram um guia para auxiliar na governança – criação e ge-

renciamento de leis, instituições, políticas e convenções – para o manejo fl orestal sustentável.

O documento, intitulado Quadro para análise e monitoramen-to de governança fl orestal, oferece uma lista que identifi ca e abor-

Jéssica Lipinski, do Instituto CarbonoBrasil, com informações da FAO

Do INPE/ De São José dos Campos

passa por audiência pública online até o dia 24/06 e também será ava-liado em audiência presencial no dia 14/06, das 8h30h às 18h, no salão no-bre da Fundação Getulio Vargas (Rua Itapeva, 432). O objetivo é estimular a participação de agentes do mer-cado e da sociedade nas discussões que envolvem o Índice.

da problemas de governança dos recursos fl orestais, e pode também ser utilizado para ajudar a garantir que os esforços para reduzir as emissões de desmatamento em países emergentes sejam adminis-trados corretamente.

De acordo com os autores, “o quadro facilita a descrição, o diag-nóstico, o monitoramento, a avaliação e o reporte no estado de go-vernança no setor fl orestal de um país. O guia pode ser usado por qualquer um envolvido em governança fl orestal. E pode assistir ato-res governamentais e não-governamentais interessados nas caracte-rísticas e qualidade da governança fl orestal em um país particular”.

Há 20 anos, a questão ambiental não era nem tão disseminada, nem item essencial de gestão. À frente das tendências, foi nessa época que um grupo de empresários de Bento Gonçalves (RS), se reuniu e passou a buscar soluções viáveis, sustentáveis e adequadas para a destinação dos passivos produzidos pelas indústrias da região. Esse é, resumidamente, o fi o da meada da história de duas dé-cadas da Fundação Proamb. Para re-gistrar e aproximar do público essa vanguardista trajetória de sucesso a entidade acaba de lançar o livro em que estão narradas algumas das principais passagens desse trabalho.

ESTUDANTES GANHAM APOIO TÉCNICO DOINPE PARA LANÇAR SATÉLITE

do de Moura, que no início do ano passado teve a ideia ao ler numa revista de divulgação científi ca sobre a empresa americana que desenvolveu os chamados TubeSats. “Pro-curei a empresa e logo soube que precisaria de suporte técnico especializado”, conta o professor, que encontrou apoio na Coorde-nação de Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) do INPE. “É uma iniciativa fantástica, um incentivo e tanto para a formação de novos profi ssionais para a área, algo que precisamos muito”, elogia Mário Quintino, coordenador da ETE/INPE. Os professores de Ubatuba estiveram em maio no Institu-to, em São José dos Campos, aprendendo a montar peças do satélite para depois ensinar aos alunos.

PROAMB COMEMORA

20 ANOS LANÇANDO

LIVRONa obra 20 Anos – Fundação

Proamb, foram reunidas as his-tórias e decisões que permitem a Proamb operar com três unidade de negócio centradas nas neces-sidades do mercado e baseadas nos pilares da sustentabilidade. A obra é uma iniciativa da diretoria da entidade, presidida atualmente por Juliana Ferrari Dal Piaz.

20 Anos – Fundação Pro-amb foi escrito pela jornalista Marisa Pereira, que também edi-tou o trabalho em parceria com Jô Santucci. O prefácio da obra fi cou a cargo da senadora Ana Amélia Lemos.

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Empresas

Crescimento, diálogo e sus-tentabilidade. Estes são, na visão do próprio novo diretor-presidente da Vale, o mineiro Murilo Ferreira,

os pontos fortes do seu estilo de lide-rança. Com a experiência de quem já ocupou outros cargos relevantes na estrutura do grupo - presidente da Albrás, diretor da área de Alumínio e presidente da Inco (no Canadá) - o executivo de 57 anos assumiu no dia 20 de maio o comando de uma dos maiores mineradoras não só do Bra-sil, mas a nível global.

“Relacionamento com os stakehol-ders é muito importante”, disse o novo diretor-presidente, ocupante agora do lugar antes de Roger Agnelli. O execu-tivo paulista - egresso do Bradesco, es-tava na direção desde a privatização da empresa, ocorrida há 14 anos, e apesar de ser reconhecido pelo mercado por ter transformado a empresa em uma das mais lucrativas e fortes mineradoras do mundo, sofreu um desgaste intenso nos últimos tempos com o governo, acionis-tas e outros grupos.

Ferreira confi rmou a atual Diretoria-Executiva, indicando ainda a engenheira Vânia Somavilla, que ocupava o cargo de Diretora de Sustentabilidade e, antes de Energia, para o cargo de Diretora-Exe-cutiva de Gestão de Pessoas e Serviços Compartilhados. Vânia assume a vaga de Carla Grasso, a única da equipe de Roger Agnelli que não foi mantida.

O relacionamento com o Governo, comunidades, empregados, imprensa e a sociedade será, segundo Ferreira, “sem-pre aberto e ainda mais valorizado”. E fez questão de mostrar uma característica de seu temperamento: a busca pelo consen-so, sempre pronto para dialogar e ouvir. “Os amigos me chamam de Murilo-san”, brincou Ferreira, ao explicar que o consi-deram quase um japonês.

Sobre sua maneira de administrar, respondendo à pergunta de Plurale,

resumiu: “Tenho grande entusiasmo pela palavra crescimento. A Vale tem vocação para crescer. Continuar a ter um bom relacionamento com todos os nossos colaboradores será minha outra prioridade. Tenho ideia fi xa em relação a isso.”

Com mais de 30 anos de experiência no setor de mineração, Murilo Ferreira ingressou na Vale em 1998 como Dire-tor da Vale do Rio Doce Alumínio – Aluvale, tendo ocupado vários cargos relevantes. Infartou, desgastou-se na administração de Agnelli e acabou pe-dindo demissão. Perguntado porque saiu naquela época e agora está acei-tando voltar, Ferreira explicou que “lá era o fi m de um ciclo e agora é o início de outro. Não sou uma pessoa intem-pestiva. Não sairia por divergências.”

Acompanhado do presidente do Conselho de Administração da Vale, Ricardo Flores, e de representante da trading japonesa Mitsui (também acio-nista), Oscar Camargo, Murilo Ferreira fez questão de elogiar Agnelli, logo no

Belo Monte e siderurgia - Ricardo Flores confi rmou que o planejamento estratégico e os investimentos da Vale , de U$ 24 bilhões, estão mantidos. “Nada muda neste sentido”, disse, frisando que a meta é agregar cada vez mais valor para a companhia. Ele também destacou o compromisso da Vale de participar do de-senvolvimento do país. Flores assegurou que a Vale “continuará a trilhar o caminho do sucesso” e que os acionistas continuarão tendo “bons dividendos”. Os jornalistas questionaram se não haverá maior infl uên-cia política, do governo, na companhia. “A Vale é uma empresa privada”, frisou Flores. Durante a coletiva fi -cou claro que as palavras-chave agora da nova gestão serão a busca do consenso e do diálogo.

O novo diretor-presidente da mineradora anun-ciou ainda que irá procurar prestigiar a indústria na-cional sempre que puder. “Eu acho que estas coisas (buscar lucros e desenvolver o País) não são incompa-tíveis. Ao optar por adquirir bens no País, a empresa estará gerando empregos e impostos”, afi rmou. “Exis-tem situações e situações, mas essas (comprar bens e serviços fora do Brasil) são exceções”. Na gestão de Agnelli, a empresa fez compra de navios de grande porte fora do Brasil, desagradando o governo.

Sobre o recente investimento na usina de Belo Monte - a Vale entrou no lugar do grupo Bertin - o diretor-presidente disse que chegou a acompanhar a análise do relatório técnico elaborado pelos especia-listas e que considera este um investimento bastan-te relevante. “Os estudos técnicos indicaram que a Vale deveria entrar. A Vale precisa de energia para o seu crescimento e a pior coisa seria não ter a certeza desta disponibilidade”, afi rmou, respondendo à per-gunta de Plurale.

Os investimentos em Siderurgia também serão mantidos, assegurou o executivo, citando projetos no Pará e Ceará. “Fazem sentido para a Vale e é extrema-mente importante para a empresa que o Brasil tenha um parque siderúrgico”, explicou. Falou aos funcio-nários, revelando que a sua meta é transformar a Vale em uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil em termos de clima. E também para as comu-nidades próximas de instalações e projetos do grupo. “Estaremos sempre abertos ao diálogo.”

Murilo Ferreira assume a presidência da Vale defendendo maior

diálogo e preocupado com a Sustentabilidade

início da coletiva. “Gostaria de manifes-tar o meu enorme respeito por Roger Agnelli, com quem tive a honra de tra-balhar. Ele foi de uma intensa dedicação à empresa”, afi rmou. Ferreira esteve acompanhado de sua Diretoria-Executi-va, sentada na primeira fi la do auditório da sede da mineradora.

Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revistaFotos: Luciana Tancredo/Divulgação, Vale

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64Bazar ético

Retalhos e material publicitário já utilizado se transformam, nas habi-lidosas mãos de artesãs, em bolsas, carteiras e chaveiros. A produção da

Ofi cina Toque de Mão caiu nas graças de gri-fes cariocas e no gosto de consumidoras en-cantadas com o charme das peças. Moradoras das favelas de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, as mulheres do projeto tiveram as vidas trans-formadas há quatro anos, após se integrarem ao projeto, mantido pelo Instituto Marquês de Salamanca (IMDS), iniciativa do empresário Olavo Monteiro de Carvalho, que foi criado há 13 anos para dar vida aos programas sociais da família. As artesãs conquistaram a chance de costurar a própria história de vida por meio da uma arte que transforma lixo em moda. Aos 53 anos, Vilma de Souza garante a renda da fa-mília com a venda das bolsas. A artesã lembra, emocionada, do seu primeiro Natal na Ofi cina Toque de Mão.

“Eu nunca ganhei tanto dinheiro na vida. Naquele ano, todo mundo estava desempre-gado na casa. Não teríamos nada na nossa ceia, mas com o dinheiro da venda das bolsas a noite de Natal foi inesquecível”, orgulha-se. A mudança não é só fi nanceira. A maior parte das integrantes tem baixo nível de escolarida-de e poucas opções de carreira. Com o novo ofício, a principal mudança foi na autoestima. Coordenadora da Ofi cina Toque de Mão, Mo-nica Iglesias acompanha de perto a evolução e o empenho das integrantes do grupo. Ela lem-bra que no início do projeto os trabalhos eram muito simples, como pintura em sabonete, e rendiam centavos. Mas com o tempo elas fo-ram se profi ssionalizando. “Com a parceria das empresas, elas tiveram aulas de corte, costura e bordado e foram ganhando confi ança, me-lhorando a qualidade dos produtos. O Sebrae ofereceu cursos de empreendedorismo. Essas mulheres souberam aproveitar a oportunida-de e hoje são independentes”, explica Moni-ca. Os produtos podem ser encontrados nas lojas Alfaias, Corpo e Alma e Missiza, ou através do telefone (21) 2242-9440/ 2221-7475 ou pelo site do Instituto Marquês de Salamanca: http://www.imds.org.br/

Ofi cina Toque de Mão

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

Retalhos e material publicitário já utilizado se transformam, nas habi-lidosas mãos de artesãs, em bolsas, carteiras e chaveiros. A produção da

Ofi cina Toque de Mão caiu nas graças de gri-fes cariocas e no gosto de consumidoras en-cantadas com o charme das peças. Moradoras das favelas de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, as mulheres do projeto tiveram as vidas trans-formadas há quatro anos, após se integrarem ao projeto, mantido pelo Instituto Marquês de Salamanca (IMDS), iniciativa do empresário Olavo Monteiro de Carvalho, que foi criado há 13 anos para dar vida aos programas sociais da família. As artesãs conquistaram a chance de costurar a própria história de vida por meio da

Ofi cina Toque de MãoOfi cina Toque de Mão

ROfi cina Toque de Mão caiu nas graças de gri-fes cariocas e no gosto de consumidoras en-cantadas com o charme das peças. Moradoras das favelas de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, as mulheres do projeto tiveram as vidas trans-formadas há quatro anos, após se integrarem ao projeto, mantido pelo Instituto Marquês de Salamanca (IMDS), iniciativa do empresário Olavo Monteiro de Carvalho, que foi criado há

Ofi cina Toque de Mão

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de

muito simples, como pintura em sabonete, e rendiam centavos. Mas com o tempo elas fo-ram se profi ssionalizando. “Com a parceria das empresas, elas tiveram aulas de corte, costura e bordado e foram ganhando confi ança, me-lhorando a qualidade dos produtos. O Sebrae ofereceu cursos de empreendedorismo. Essas mulheres souberam aproveitar a oportunida-de e hoje são independentes”, explica Moni-ca. Os produtos podem ser encontrados nas lojas Alfaias, Corpo e Alma e Missiza, ou através do telefone pelo site do Instituto Marquês de Salamanca: http://www.imds.org.br/

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de

emocionada, do seu primeiro Natal na Ofi cina Toque de Mão.

“Eu nunca ganhei tanto dinheiro na vida. Naquele ano, todo mundo estava desempre-gado na casa. Não teríamos nada na nossa ceia, mas com o dinheiro da venda das bolsas a noite de Natal foi inesquecível”, orgulha-se. A mudança não é só fi nanceira. A maior parte das integrantes tem baixo nível de escolarida-de e poucas opções de carreira. Com o novo ofício, a principal mudança foi na autoestima. Coordenadora da Ofi cina Toque de Mão, Mo-nica Iglesias acompanha de perto a evolução e o empenho das integrantes do grupo. Ela lem-bra que no início do projeto os trabalhos eram muito simples, como pintura em sabonete, e bra que no início do projeto os trabalhos eram muito simples, como pintura em sabonete, e

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Para ver e reverDesde 2009, o Festival Cinesul, Festival Íbero-Americano de

Cinema e Vídeo, tem em sua programação uma mostra chama-da Cinesul Ambiental com exibições no Jardim Botânico, no Rio. Uma boa oportunidade de rever fi lmes premiados em outros festivais como o curta Semeador Urbano (foto), que estará na próxima edição do Cinesul, em junho. O diretor do curta,Cardes Amâncio, criou uma lenda urbana para explicar como as plantas crescem nas trincas do concreto, valorizando a natureza de forma muito criativa. Esse é um dos 14 fi lmes prometidos na Mostra.

Fórum Ambiental e cursos naprogramação do FICAO XIII FICA vai incentivar ainda o debate sobre aspectos coti-

dianos, históricos e culturais da preservação do meio ambiente. O Fórum Ambiental, parte da programação do Festival, traz às mesas “Rio + 20: Avanços e Desafi os”, “Consequências climáticas na con-servação do Patrimônio Histórico” e “História e cultural ambiental no Brasil”. Os temas serão abordados por especialistas e o público poderá participar, fazer perguntas e tirar dúvidas. Além de deba-ter assuntos relevantes na área ambiental, o Fica vai oferecer três cursos: Cultivo de plantas do Cerrado; Recuperação de nascentes e Gestão de resíduos sólidos em pequenas comunidades. Cinema Nosso está com tudo

O pessoal do Cinema Nosso - ONG que oferece cursos em lin-guagens e tecnologias associadas à produção audiovisual para jovens e estudantes da rede pública de ensino nos municípios do Rio de Janeiro e São Gonçalo – está de parabéns. O curta Pac Bros, de-senvolvido pelos alunos da Turma de Animação 2010/02 recebeu os Prêmios de Melhor Animação da Categoria Médio Fundamental (júri profi ssional e júri popular) na X Edição do Festival Anim!Arte 2011, realizado no Rio. Além disso, três seus curtas de animação – o mes-mo Pac Bros, O Rato que Vê e Um Dia na Vida - foram selecionados para participar da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, que será de 23 de junho a 10 de julho.

Radioatividade em focoDepois do desastre na usina nuclear japonesa de Fukushima

Daiichi, os investimentos em centrais nucleares passaram a ser dis-cutidos e repensados em todo mundo e o assunto foi parar nas telas brasileiras. Urânio em Movi(e)mento foi o nome dado ao 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear que acontece de 16 a 28 de maio,no Rio de Janeiro. O festival pretende informar a socieda-de e estimular produções independentes audiovisuais sobre o tema e todo o ciclo nuclear, os riscos da radioatividade, a exploração, mi-neração e o processamento de Urânio. Haverá uma mostra itinerante que passará por São Paulo (3 a 5 de junho), Recife, João Pessoa, Natal e Fortaleza (agosto) e Salvador (setembro) . Mais informações pelo site http://www.uraniumfi lmfestival.org.

Selecionados do XIII FICAO XIII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, o FICA,

que acontece de 14 a 19 de junho, na Cidade de Góias, já divulgou os selecionados para a Mostra Competitiva, todos com temas pautados nos mais recentes debates sobre as questões ambientais que amea-çam a vida no planeta. São 30 produções entre sete longas-metragens, seis médias-metragens, 14 curtas e três séries de TV. A maioria dos títulos - 25 deles - são documentários, seguidos de três animações e duas fi cções. Há fi lmes não só do Brasil, mas também da França, República Tcheca, Itália, Holanda, Chile, China e Armênia. O FICA é um dos mais importantes festivais do calendário cinematográfi co mundial e possui a maior premiação da América Latina no gênero.

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

CINEMA Verde ISABEL CAPAVERDE

Filme: Terra deu, Terra come

Eles por eles mesmosA periferia retratada por ela mesma tem ganho o circuito comer-

cial brasileiro e conquistado público fora dos festivais. O mais recen-te lançamento é Bróder, do estreante Jefferson De, que conta a traje-tória de três amigos de infância na periferia de São Paulo. Na mesma linha está o badalado 5XFavela-Agora por Nós Mesmos que fi gura entre os fi nalistas do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2011. Pre-miação que é aberta ao voto popular. Quem quiser participar e votar basta acessar http://academiabrasileiradecinema.com.br.

Filme: Semeador urbano

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PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 201166

I m a g e m

Q uem atravessa o bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, não passa incólume às palmeiras imperiais que guardam as preciosidades do parque que abriga espécies da biodiversidade. Encravado em pleno território urbano, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro não é só um local para passeio e descanso. Por lá estão sendo desenvolvidas pesquisas de ponta, em um celeiro de inovação. O local, fundado por D. João VI, em 1808, no período de moradia da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, abriga coleções raras, como de orquídeas, bromélias, além

de um incrível jardim sensorial. Aberto à visitação pública após 1822, o Jardim teve muitos visitantes ilustres: Einstein, a Rainha Elisabeth II do Reino Unido e muitos outros. Vários naturalistas e administradores contribuíram para a trajetória do Jardim Botânico, como: Frei Leandro, Serpa Brandão, Cândido Baptista de Oliveira, Custódio Serrão, Karl Glasl, João Barbosa Rodrigues, Pacheco Leão, Campos Porto, João Geraldo Kuhlmann e o atual presidente Liszt Vieira. Em recente visita ao Brasil, em maio, a Rainha da Suécia, Silvia, se deslumbrou com o que viu por lá. O jornalista Paulo Lima nos descortina uma vista deslumbrante, enquadrando o chafariz, tendo o Cristo Redentor ao fundo. “É um dos meus locais prediletos no Rio”, confessa o sergipano, com alma de carioca. Visite o portal do Jardim Botânico e confi ra as novidades: http://www.jbrj.gov.br/

Santuário ecológico urbano e centro de pesquisas de ponta

Foto: Paulo Lima/Jardim Botânico do Rio de Janeiro - RJ

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