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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE ano três | nº 21 | janeiro/fevereiro 2011 | R$ 10,00 www.plurale.com.br FOTO DE LUCIANA TANCREDO/ DE FRAGÁRIA (PARQUE NACIONAL DE ITATIAIA/ RJ) INCLUSÃO DIGITAL COLUNISTAS: ARTIGOS INÉDITOS A BELEZA DE VISCONDE DE MAUÁ E FRAGÁRIA

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTEano três | nº 21 | janeiro/fevereiro 2011 | R$ 10,00

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A BELEZA DE VISCONDE DE MAUÁE FRAGÁRIA

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Conte xto

PELO BRASIL

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PELO MUNDO

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23. BAZAR ÉTICO

ESTANTE

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VIDA SAUDÁVEL

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 20114

49.NOVA COLUNA

CINEMA VERDE

8.RENE SILVA:

JOVEM LIDERANÇA NO ALEMÃO PACIFICADO

COLUNISTASPLURALE

24.ECOTURISMO:VISCONDE DE MAUÁ

14.23.

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Valter Campanato, da Agência Brasil

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Editorial

Esta edição também lança a coluna Cinema verde, a cargo de Isabel Capaverde, especialista no tema. A proposta é apresentar e de-bater como este tema está sendo apresentado pela sétima arte.

Das montanhas da Serra da Mantiqueira, Luciana Tancredo, Nícia Ribas e Raquel Ribeiro nos desvendam os mistérios e encantos do ecoturismo em Visconde de Mauá (RJ) e a linda região de Fragária, encravada a meio caminho entre o Parque Nacional de Itatiaia, ainda do lado fl uminense e a aprazível cidade mineira de Itamonte. Lá está sendo preservado um pequenino sapo, apelidado pelos moradores de Flamenguinho, pelas cores vermelho e preto.

Artigos inéditos de três especialistas em Sustentabilidade – Ma-rina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS); Dario Menezes, professor de Reputação da ESPM e Marcus Quintella, expert em Transportes Públicos – apresentam análises de temas muito atuais. Na seção Ba-zar Ético, a história de mulheres de cidade do interior do Paraná que estão fazendo história ao reciclar malotes usados pelos Correios. E na Coluna Vida Saudável, os bons motivos para você gostar de romã.

O aguerrido trabalho do Comitê para a Democratização da Infor-mática (CDI) para aprofundar a inclusão digital é apresentado por Elis Monteiro. O eco deste trabalho chegou ao exterior. Da Austrália, Monica Pinho revela o esforço para controlar o uso da água até mes-mo nas válvulas sanitárias; enquanto de Boston, o correspondente de Plurale nos Estados Unidos, Wilberto Lima Jr. conta como está o de-bate e sobre a questão do aquecimento global. Já Romildo Guerrante esteve no Chile onde visitou a Isla Negra, último refúgio do poeta Pablo Neruda.

Boa leitura!

Sônia Araripe e Carlos Franco,Editores de Plurale em revista

Pacifi cação no Complexo do Alemão, Cinema, Ecoturismo e Inclusão digital

ECOTURISMO:VISCONDE DE MAUÁ

A cada virada de ano, renovamos os votos por um planeta mais justo e igualitário. Esperamos que 2011 seja assim.

Esta edição traz um cardápio bem variado para o começo de um ano que promete ser

bem produtivo em termos de inclusão social e prosperi-dade econômica. Para começar, a jovem Isabella Araripeentrevistou Rene Silva dos Santos, blogueiro, também mui-to talentoso. Com apenas 11 anos, Rene criou um jornal na região em que mora, o antes violento e sem-lei Complexo do Alemão, no subúrbio do Rio de Janeiro. Hoje, com 17 anos, o estudante super interativo tornou-se exemplo no processo de mobilização pela pacifi cação da região, con-quistando uma rede de seguidores anônimos, amigos famo-sos e patrocinadores de peso.

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DiretoresCarlos [email protected]

Sônia Araripe [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.br

Plurale em site no twitter:http://twitter.com/pluraleemsite

Plurale no facebook:http://www.facebook.com/pages/Plurale/186517184698355?v=info

[email protected]

ArteSeeDesignMarcos Gomes e Marcelo Tristão

Fotografi aLuciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro

Colaboradores nacionaisAna Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Limae Sérgio Lutz

Colaboradores internacionaisAline Gatto Boueri (Buenos Aires),Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato(Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta edição: Carolina Alvarez, Dario Menezes, Elis Monteiro,Fabiano Ávila, Flamínio Araripe, Marina Grossi, Marcus Quintella, Monica Pinho, Raquel Ribeiro e Romildo Guerrante

LogísticaNewton Medeiros

Revista impressa em papel Reciclado

Plurale é a uma publicaçãoda SA Comunicação Ltda(CNPJ 04980792/0001-69) em parceria com aEditora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75)Impressão: WalPrint

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202

CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

São Paulo | Alameda Barros, 122/152CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947

Os artigos só poderão ser reproduzidos comautorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

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CartasQuem faz

Plurale em revista, Edição 20

“Sempre sonhei em ler uma revista que reunisse educação e cidadania de forma abrangente incluindo a sociedade nas suas esferas econômico, ambiental e social. Plurale reúne conhecimento, sensibilidade e informação no mesmo espaço: in-centivando ações sociais, estimulando o interesse pelo futuro e apresentando práticas e soluções para o momento presente, focando na ação hu-mana, isso é, estimulando a mudança de valores e crenças em busca de uma cultura de paz. O artigo Cérebro Ético, de Regina Migliori, revela muito do que a Plurale está propondo no espaço da mídia educativa, quando se lê assim: “É reco-mendado adquirir o saudável hábito de identifi car dentro de si as origens do que se pretende colocar em ação. Ter clareza sobre o que se oferece ao mundo” Gosto muito que a minha consciência seja provocada a transformar a ação no dia-a-dia e por isso leio a Plurale que me alimenta com o melhor para que eu também tenha clareza sobre o que ofereço ao mundo hoje e amanhãLaura Mariani, Diretora Executiva da Junior Achievement, Rio de Janeiro, RJ

“Queremos agradecer a divulgação de nosso li-vro Rio de cantos 1000. Texto carinhoso, foto da capa, destaque, vocês são uns amores! Plurale é um revistão! Bonita, papel reciclado, editorial em linha. Parabéns!Cristina Chacel e Custódio Coimbra, jornalista e fotojornalista, Rio de Janeiro, RJ

“Agradeço cordialmente o envio do exemplar da edição 20 de Plurale em revista. Parabenizo espe-cialmente pelo excelente artigo O que sustentará nosso futuro?, de Israel Klabin.”Adionel Carlos da Cunha, Assessor de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ

“Agradeço a publicação de nota sobre o OrganicsNet.”Luis Alexandre Louzada, Assessoria de Imprensa da SNA, Rio de Janeiro

“Agradecemos o apoio ao Programa de Respon-sabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo em 2010. O empenho e colaboração de Plurale em revista e Plurale em site têm contribuído fortemen-te para transformar práticas das empresas varejis-tas brasileiras rumo a um varejo mais sustentável e inclusivo.”Luis Macedo – Gvcev- Centro de Excelência em Varejo da FGV-EAESP, São Paulo“Agradecemos imensamente o apoio institucional

de Plurale em revista e Plurale em site no ano de 2010, contribuindo para a divulgação de ações que benefi ciam crianças e adolescen-tes no Brasil inteiro.”Mônica Lucas, Assessoria de Marketing da Abrinq, São Paulo

Plurale em site

“Parabéns pelas informações e artigos sempre úteis de Plurale em revista e de Plurale em site” Vicente Gregório Teixeira, Sebrae-Ceará

“Muito bem pontuado por Altamir Tojal, no artigo “Tragédia das chuvas: o Haiti é aqui”, a questão do projeto de lei e da necessidade de articulação intersetorial para avanço destas questões. A socieda-de civil não pode ficar passiva e é papel de instituições que representam o acesso ao direito e à democracia promover o de-bate sobre a responsabilidade social dos representantes também do Governo. A sociedade brasileira está mostrando cada vez mais o seu potencial solidário. Agora, as autoridades necessitam responsabili-zar-se pelas falhas de gestão que preci-sam ser apuradas, sem tréguas.”Flávia Ribeiro, jornalista, Rio de Janeiro, RJ

“Interessante a entrevista com Massimo Canevacci, realizada pelo portal Nós da Comunicação, republicada em Plurale em site. Também percebo a metrópole de maneira similar às redes sociais digitais: aparentemente não há centro, tudo é pe-riférico. A cidade acolhe, mas não cuida. O universo digital também: você pode ter centenas de amigos numa comunidade, mas estar totalmente isolado. É o mun-do relativo. O perto e longe ao mesmo tempo. A expressividade individual pode ser compartilhada, interativa ou solitária. Como ruas da cidade e seus viadutos, ca-minhos múltiplos. Se o usuário não sou-ber para onde vai, poderá se perder no turbilhão urbano, no turbilhão da web. No redemoinho das multidões em trânsito, como e-mails pedidos em caixas postais comandadas por distantes servidores. Encontrar calor humano no mundo do concreto urbano pode ser tão desafiador quanto encontrar afeto na interface entre o toque dos dedos, as telas dos computa-dores e suas janelas virtuais.“Luiz Antônio Gaulia, jornalista e publicitário, Rio de Janeiro, RJ.

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Página 7- Anúncio Alusa/ virá um novo

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Rene Silva dos Santos, de apenas 17 anos, já tem uma vida de gente grande. Num lugar marcado pela po-breza e pela violência, o morador do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é uma “semente do bem”, capaz de fazer a diferença.

Com apenas 11 anos, ele deu voz ao Jornal e fi cou conhecido no mundo inteiro.

E o que no início era apenas uma brincadeira de criança tor-nou-se coisa séria. Com cinco anos de existência, o jornal do “ga-roto prodígio”, que conta com ajuda de quatro amigos, ganhou notoriedade com a invasão do Complexo do Alemão.

O Twitter (@vozdacomunidade) que antes tinha pouco mais de 2 mil seguidores pulou para mais de 40 mil seguidores em pou-quíssimos dias. A redação que era improvisada na casa da avó ga-

nhou um novo local reformado pelo apresentador de televisão, Lu-ciano Huck, com direito a um glass studio e uma nova logomarca.

O xodó da avó Nanci, de 57 anos, contou em entrevista exclusiva à Plurale em revista sobre seu trabalho dentro da comunidade e os problemas que os moradores enfrentam. O processo de pacifi ca-ção no conjunto de comunidades ainda está apenas começando. Ele conta que já melhorou muito a vida por ali, mas espera ainda mais investimentos em Saúde e Educação para realmente mudar de vez o cenário não só para si e sua família, mas para toda a comunidade.

O jovem assegura que nunca sofreu pressão do tráfi co de drogas no seu trabalho, mas é realista ao enfrentar esta dura realidade: “o tráfi co de drogas não vai acabar em nenhum lugar do mundo.”

Muito comunicativo, bem informado e – acima de tudo caris-mático – o jovem tem seus ídolos. Se emociona ao contar a ajuda

Entrevista

Jovem do Complexo do Alemão, que criou jornal e tem milhares de seguidores no twitter, fala sobre a sua história e o processo de pacifi cação na região, que já foi uma das mais violentas do país.

Texto: Isabella Araripe, de Plurale em revistaFotos: Divulgação e Agência Brasil

Rene Silva dos Santos,Blogueiro Rene SilvaSilvaSilva dos Santos Blog

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Texto: Isabella Araripe, de Plurale em revistaFotos: Divulgação e Agência Brasil

Foto:Agência Brasil

de “padrinhos” famosos, como a novelista Glória Perez e José Jú-nior, fundador do Afroreggae, além de Luciano Huck e agora uma verdadeira legião de fãs. Mas ainda sonha ter a chance de entrevis-tar um dos homens mais ricos do mundo, o empresário brasileiro Eike Batista. E também em aumentar a tiragem do jornal e torná-lo colorido. Mas seu maior sonho é mesmo viver em um Brasil mais justo e igualitário. “O futuro já é hoje.” Com vocês, Rene.

Plurale em revista - De onde surgiu a ideia de criar o jornal?Rene Silva dos Santos - Quando tinha apenas 11 de idade,

participei de um jornal escolar, que na épo-ca foi criado pelo Grêmio Estudantil, pedi a diretora pra participar deste jornal escolar, ela autorizou e na hora comecei a trabalhar com a equipe que já existia. Aprendi a usar o computador nesta escola, que é escola municipal Alcide Gasperi, localizada em Higienópolis (Zona Norte do Rio). Estudei a 5ª série nesta escola. Falei com a diretora, dois meses depois, que queria criar um jor-nal pra minha comunidade, com notícias sobre o que acontecia lá, ela me deu apoio e começou a fazer as xerox, com o material da escola mesmo!

Plurale - E desde a criação o jornal já tinha esse nome?Rene - Sim, quando criei o jornal era chamado de Voz da Co-

munidade , que eu estava conversando com amigos na rua pra de-cidir o nome do jornal, porque o da escola se chamava Jornal VIP.

Plurale - O que te fez criar um jornal voltado para a sua comunidade?

Rene - Pensar que ainda há esperança que as coisas podem acontecer aqui onde eu moro, quando na época não existia nenhu-ma obra do Governo, como tem agora, estas do PAC (Programa de

“ Na verdade, minha ideia era fazer com que a comuni-dade tivesse voz e pudesse se expressar, dos problemas sociais, asfaltos, saneamento básico e etc.”

Aceleração do Crescimento).Plurale - Mas você sentia carência de um jornal so-

bre a comunidade? Um veículo que falasse dos temas nos quais a grande mídia não conta?

Rene - Na verdade, minha ideia era fazer com que a co-munidade tivesse voz e pudesse se expressar, dos problemas sociais, asfaltos, saneamento básico e etc.

Plurale – Acredita que vem conseguindo concreti-zar essa sua ideia?

Rene - Sim, bastante! A comunidade tem voz, tem vez de falar o que for necessário.

Plurale – Voltando um pouco atrás, olhando esta história desde o início, quando você criou o jornal você sofreu resistência por parte da sua família?

Rene - Sim, minha família reclamava muito porque eu an-dava por todas as ruas da comunidade, quando saía da escola, nem passava em casa e acabava chegando a tarde.

Plurale - Em que esse seu projeto ajudou e pode ajudar ainda mais a Comunidade do Alemão?

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Entrevista

Rene - Resolver os problemas como, ruas cheias de buracos, comunidade sem energia ou água, poste cain-do. Isto tudo é noticiado e depois é cobrado das autori-dades e na maioria das vezes conseguimos resolver.

Plurale – Você se lembra de algum caso em que o jornal ajudou a comunidade e que tenha te marcado, te emocionado?

Rene - Sim, um deles foi quando conseguimos resolver recentemente o problema de buracos na Rua Pedro Avelino, onde os moradores haviam me cobra-do pra fazer uma matéria sobre o problema. A asso-ciação já estava sabendo do problema, mas não con-seguiu solucionar! Ligamos para a prefeitura (para a secretaria de conservação do Rio de Janeiro) enquan-to estávamos fazendo a matéria e no outro dia, uma equipe já estava no local avaliando e já começaram os trabalhos! Foi muito rápido e a comunidade, adorou!

Plurale – Sei que é um tema difícil, delicado, mas você já sofreu pressão do tráfi co ou de pes-soas da comunidade no conteúdo do jornal?

Rene - Não, nunca.Plurale - O Júnior, do Afroreggae foi impor-

tante para o jornal e para você? Rene - Sim, ele tem nos dado muita força pra falar

com pessoas importantes e fechar patrocínios com grandes empresas. Mas temos tido muitas outras aju-das, como do Luciano Huck e de tantos outros.

Plurale - Além do Afroreggae e do Luciano

logo. E na área da saúde, a prefeitura instalou uma unidade de pronto atendimento 24h, conhecida mais como UPA 24H. Sendo que aqui na comunidade não funciona muito. As pessoas reclamam muito do mau serviço prestado à comunidade. Já fi zemos até matéria reclamando do funcionamento desta UPA, mas, o problema continua.

Plurale - Como você consegue conciliar o estudo com o jor-nal, o blog e o twitter?

Rene - Eu sempre procuro colocar minha agenda de acordo com o horário escolar, tudo que eu faço é de acordo com os compromisso da escola, inclusive os trabalhos pra entregar à professores. Sei separar bastante as coisas, quando é pra trabalhar e quando é pra estudar. Con-to com a ajuda de quatro integrantes neste momento: Gabriela Santos que é redatora, Débora Mendes, que só tem 11 anos e é nossa repórter

Huck quem mais tem sido padrinho ou madrinha doJornal Voz da Comunidade ?

Rene - A Glória Perez nos apóia bastante através do twitter, Preta Gil também já fez um ação conosco e os comerciantes locais, lógico, que sempre dão todo apoio e patrocínio que preciso. Tem também a Tim que me deu um iPhone 3G, e paga minha conta mensal. Eles têm fechado até o momento um contrato de um ano de pro-paganda no jornal , porém ainda não fechamos de patro-cínio de exclusividade.

Plurale - O Complexo do Alemão passou a ser conhecido nacional e globalmente depois de todo o destaque que a mídia deu para a invasão pelas tropas policiais, mais tarde pelo processo de pacifi cação. Mas qual é a sua opinião, como um morador, alguém que nasceu aqui: o quê ainda ainda falta para a co-munidade? Empregos? Escolas? Rede de saúde?

Rene - Os maiores problemas são ainda na Educação e na Saúde. Precisamos urgentemente de mais investimentos em Educação. Dentro da comunidade existem oito escolas, mas, o ensino não chega a ser tão rigoroso. Aliás, em todo o Rio de Janeiro, o ensino nas escolas públicas é diferen-te do das escolas privadas. Acho que isso poderia mudar, e

“Os maiores problemas são ainda na Educação e na Saúde. Precisamos urgentemente de mais investimentos em Educação. Dentro da comunidade existem oito escolas, mas, o ensino não chega a ser tão rigoroso. Aliás, em todo o Rio de Janeiro, o ensino nas escolas públicas é diferente do das escolas privadas. Acho que isso poderia mudar, e logo.”

Foto:Agência Brasil

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mascote, assim como o Jackson Alves que tem 13 anos e meu irmão Renato Moura, de 14 anos também participa.

Plurale – Você se vê como uma jovem lideran-ça? Se considera um exemplo para outros jovens de comunidades?

Rene - Sim, acho que hoje em dia sirvo de exemplo para os jovens da comunidade. Muitos deles se espe-lham no meu trabalho e tentam até me ajudar de alguma forma, seja contribuindo com noticias pro jornal ou com alguma ajuda que eu estiver precisando. Enfi m, a comu-nidade me reconhece como um jovem de bem!

Plurale - Quais são os sonhos que você realizou através do seu trabalho?

Rene - Conheci várias redações de jornais, de TV, pessoas importantes, pessoas humildes, e acho que rea-lizei meu maior sonho, que era conhecer estes lugares.

Plurale - E qual sonho você ainda não conse-guiu realizar, mas tem muita vontade?

Rene - Está faltando no meu currículo agora, ape-nas uma entrevista com o Eike Batista! Mas já está quase marcada também.

Além disso, tenho o sonho de fazer faculdade de jor-nalismo. Inclusive, já tenho bolsa de estudos na Estácio de Sá. Agora é só continuar estudando, me dedicando e seguir em frente.

Plurale - Na sua opinião qual foi a importância do Twitter para a divulgação do Jornal?

Rene - Foi muito importante, porque através dele mostramos diversos talentos que nossa comunidade tem, e não são reconhecidos.

Plurale - Algum dia, imaginou que o resultado desse seu trabalho chegasse tão longe?

Rene - Não, na verdade era tudo uma brincadeira no início, nunca imaginei que fosse se tornar uma coisa tão boa para todos nós.

Plurale - Se tivesse oportunidade, se mudaria do Complexo do Alemão?

Rene - Talvez, eu gosto muito da minha comunidade, mas se eu tiver condições de viver melhor, eu saio da co-munidade. Mas não vou deixar de visitar meus amigos.

Plurale - Acredita que é possível o Rio ser total-mente pacifi cado?

Rene - Pode ser que sim, mas acredito que o tráfi co de drogas não vai acabar em nenhum lugar do mundo.

“Era tudo uma brincadeira no início. Nunca imaginei que fosse se tornar uma coisa tão boa para todos nós.”

Plurale – Na sua opinião, o Brasil tem futuro ou o futuro já chegou?

Rene - O futuro já começou!Plurale - Quais são os seus próximos projetos e planos? Rene - Tenho várias ideias em mente. Mas uma delas já

posso falar que será aumentar o número de exemplares para 5 mil, já que atualmente circulam apenas 2 mil. E também trans-formar o jornal de preto-e-branco para a cores. Também orga-nizei a Colônia de Férias do Alemão que começou no dia 27 de janeiro. Foram 200 crianças inscritas durante esta semana que participaram de diversas atividades aqui na comunidade, pas-seios, e tivemos um show pra encerrar a colônia.

“Penso em aumentar a tiragem do jornal para 5 mil. Hoje são 2 mil. E também transformar o jornal de preto-e-branco para a cores.”

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Entrevista

O prefeito Eduardo Paes lançou no início de fevereiro conjunto de obras emergenciais e servi-ços municipais para os Comple-

xos do Alemão e da Penha. As intervenções obedecem a um plano de metas exclusivo e regionalizado desenvolvido pela Prefeitura em parceria com Rio Como Vamos, voltado para a melhoria dos indicadores sociais e de qualidade de vida das comunidades. Ao todo as intervenções somam R$ 270 milhões e beneficiarão os dois complexos de favelas – pacificadas no fim do ano passado pelas forças de Segurança do Estado e da União – e os sete bairros do entorno (Penha, Penha Circular, Bonsucesso, Olaria, Ramos, Enge-nho da Rainha e Inhaúma).

O plano de metas para o Alemão e adja-cências foi traçado a partir dos indicadores da região levantados pelo Rio Como Vamos (RCV) e discutido com equipes das secreta-rias municipais. Identificadas as principais demandas das comunidades, estabelece-ram-se as metas de resultados e as pastas envolvidas traçaram propostas de obras e serviços públicos integrados para serem ofe-recidos na localidade. O RCV seguirá agora monitorando os resultados alcançados com a execução das intervenções apresentadas nesta quinta-feira, muitas delas já iniciadas e com previsão de inauguração, segundo o prefeito, para daqui a seis meses.

– O Rio Como Vamos tem uma cesta de indicadores para a cidade e suas regiões. O que fizemos foi analisar o quadro específi-co do Alemão e levantar as situações mais dramáticas, as mais prioritárias de ações pú-blicas – explicou a presidente executiva do RCV, Rosiska Darcy de Oliveira, apontando o que considera duas das principais metas

estabelecidas para serem alcançadas até 2012: – Sem dúvida é, na área da Educação, a criação de 1.800 novas vagas em creches públicas; e, na Saúde, a ampliação da cobertura do Programa de Saúde da Família dos atuais 6,9% para 53,1%.

Durante o lançamento do conjunto de intervenções no Alemão, ao lado do governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes ressaltou que, com a retomada do território antes dominada pelo tráfico, as forças de Segurança do Estado devolveram a área não só à população, mas também à Prefeitura que, no passado, tinha dificuldades de levar melhorias para a região. Agora, garantiu, com as obras e serviços que estão sendo levados às comunidades, a Prefeitura está “devolvendo a dignidade e a cidadania aos moradores”. Para o governador Sérgio Cabral, as intervenções anunciadas pelo municí-pio promoverão uma transformação urbanística e de qualidade de vida no Alemão e adjacências.

Entre as intervenções previstas para alcançar as metas estabelecidas estão as construções de duas novas Clínicas da Família e de 15 Espaços de Desen-volvimento Infantil (EDIs); as reformas de três quadras esportivas e de duas escolas; obras de contenção de encosta em 37 pontos e desassoreamento em quatro rios; a implantação de 14 núcleos do projeto “Rio em Forma Olímpi-co” (para estimular a prática esportiva); a criação de uma Arena Carioca (nova versão das Lonas Culturais) no Parque Ary Barroso e de um Cinema 3D no Parque Proletário, ambos na Penha; a construção de moradias para reassen-tamento de famílias em área de risco.

Veja a apresentação dos indicadorese o plano de metas para o Alemão e adjacências em http://www.riocomovamos.org.br/arq/alemao.ppt

Conheça as ações emergenciais planejadas pela Prefeitura para o Alemão em http://www.riocomovamos.org.br/arq/acoesemergencias_complexoalemao.pdf

Complexo do Alemãocom mais investimentos

Do Rio Como Vamos

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 201114 PLURALE EM REVISTA | EM REVISTA | EM REVISTA Janeiro/Fevereiro 2011

A Organização Mundial de Meteorologia, insti-tuição científi ca vinculada à ONU, fez recente-mente um contundente alerta de que a Terra se tornará cada vez mais quente e instável, caso as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa

não sejam reduzidas. A advertência veio acompanhada de um estudo, no qual os especialistas relacionaram o aqueci-mento global às últimas tragédias de 2010 provocadas por fenômenos naturais extremos como enchentes, secas, fura-cões, ondas de frio e de calor intensos. O ano de 2011 mal começou e já sinaliza com a mesma tendência – inundações sem precedentes na Austrália, no Sri Lanka e nas Filipinas.

No Brasil, a mudança climática vem sendo associada à tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro. Nos primeiros dez dias após a tempestade que caiu sobre as montanhas de Friburgo, Petrópolis, Teresópolis e municípios vizinhos com clima e topografi a semelhantes, os números eram assustadores: mais de 900 pessoas morreram e quase 500 estavam desaparecidas. Além das perdas humanas e da de-sagregação de famílias, cerca de sete mil pessoas perderam suas casas ou terão que deixar as áreas onde moravam.

O impacto na atividade econômica da região foi tam-bém muito forte: a indústria registrou um prejuízo de R$ 153 milhões, dezenas de hotéis e pousadas tiveram as re-servas canceladas num período de alta temporada, a agri-cultura da região foi devastada, inclusive com a perda da camada fértil do solo.

As consequências do temporal vão além. A geografi a de uma signifi cativa área foi modifi cada e precisará ser rema-peada. Obras de infraestrutura consumirão recursos ainda incalculáveis para a recuperação de estradas, escolas, hos-pitais, construção de 60 pontes, contenção de encostas, en-tre outras. Isso sem mencionar a construção de casas para quem não tem mais para onde ir.

Depois de anos de advertências científi cas, as tragé-dias climáticas no mundo passaram a ser relacionadas com o tema do aquecimento global. Na imprensa brasi-leira, tem sido cada vez mais frequente a associação dos eventos naturais extremos ao aumento da temperatura na Terra gerado, principalmente, pelo crescimento das emissões de CO2. A relação feita pelos jornalistas entre esses dois fatores – clima e emissões de gases de efeito

ArtigoMarinaGrossi

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Civil, com ágil conexão entre as esferas federal, estaduais e municipais. Há necessidade de inves-timentos em capacitação profi ssional em todos os níveis e em equipamentos de maior precisão para prever com a antecedência necessária a ocorrência de temporais e ventanias.

Fechando esse círculo, um efi ciente modelo de comunicação para a evacuação de áreas de risco. Apesar de nossa inefi ciência nessa área, duas pequenas cidades da Região Serrana – Are-al e Bom Jardim – conseguiram evitar a morte de muitos cidadãos. Embora o comunicado so-bre a possibilidade de um forte temporal tenha chegado com apenas três horas de antecedên-

cia, medidas simples, como a divulgação do alerta por meio de um carro de som que circulou pelas principais áreas da cidade, foram sufi cientes para que os moradores fossem informados do risco e deixassem as zonas de perigo em busca de um lugar mais seguro.

Nossa expectativa é de que sejamos capazes de aproveitar o processo de reconstrução dos municípios da Região Serrana do Rio, previsto para dois anos, para rever conceitos fundamentais tanto na área de ocupação urbana – impe-dindo construções em áreas de encosta, topos de morros ou às margens de rios e canais – como no modelo de Defesa Civil.

Repensar a ocupação dessas cidades considerando o novo cenário climático é uma oportunidade para que essa região fi que fi nalmente protegida de novas tragédias e possa se desenvolver com um olhar voltado para o futuro. Esse ano abre uma nova década considerada por especialistas como a década da ado-lescência turbulenta (“the Turbulent Teens”, no documento Vision 2050 – a new agenda for business, disponível no site www.cebds.org ). Um tempo de inovações e transformações para colocar o mundo no caminho de um futuro sustentável em 2050. A devastação sofrida pelos municípios fl uminenses pode se tornar uma oportunidade para que a região seja reconstruída pensando num futuro mais seguro e mais sustentável.

Marina Grossi é presidente do CEBDS – Conselho Empresarial Brasi-leiro para o Desenvolvimento Sustentável.

estufa – é cautelosa, mas já indica a neces-sidade de considerar a mudança climática no planejamento das cidades pelos gesto-res públicos e privados.

A constatação da Organização Mundial de Meteorologia de que só o aquecimento global é capaz de explicar a recente ten-dência de aquecimento na temperatura da Terra – já que os fatores naturais, como a atividade vulcânica e solar, até diminuí-ram nesse período – reforça a tese de que, além da mitigação dos efeitos adversos dos gases de efeito estufa, a política de adap-tação deve estar presente na construção e reformulação da infraestrutura urbana. Um planejamento que considere estes fatores aumentará a capacidade de resposta do país aos eventos extremos.

No Brasil, apesar de estarmos conviven-do há anos com inundações e outros fenô-menos incomuns no país como o furacão em Santa Catarina de 2004 e o recente tornado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, acordamos agora para nossas fragilidades de governança e para a inclusão da questão cli-mática na agenda de prioridades.

Temos dois compromissos a assumir. O primeiro, com efeitos de longo prazo, é cumprir nossas metas internas de redução de emissões de gases-estufa, revertendo a curva da destruição de fl orestas, ampliando o uso de fontes de energia limpa, racionali-zando nossos meios de transportes.

O segundo compromisso é o da adap-tação. Precisamos adotar mecanismos, al-guns sofi sticados e outros muito simples, para amenizar os efeitos dos fenômenos naturais mais extremos com os quais con-viveremos cada vez com mais frequência.

O processo da adaptação passa necessa-riamente por uma bem estruturada Defesa

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No fi nal de 2010, um dos assuntos mais comenta-dos em escala global esteve relacionado com as revelações feitas pelo australiano Julian Assange, fundador e responsável pelo site WikiLeaks. Suas

notícias mancharam a reputação de países e governantes e, se-gundo palavras do seu fundador, se estenderão em um futuro próximo ao universo corporativo, desvendando os bastido-res das corporações globais. Este artigo procura discutir três pontos centrais para as empresas no fortalecimento da ética, como pilar organizacional, e na prevenção da divulgação de informações sigilosas que apresentem riscos à sua reputação.

Para começar, cabe aqui um breve esclarecimento: muitos pensam que o site WikiLeaks começou agora as suas ativida-des, mas não é verdade. O site existe há quatro anos e sua principal missão é estimular pessoas que tenham acesso a do-cumentos secretos a torná-los públicos, destruindo segredos de estados e empresas, revelando práticas organizacionais e empresariais. Apesar do papel de divulgação de segredos, historicamente, sempre ter sido exercido pela mídia tra-dicional, o WikiLeaks conseguiu acesso a uma quantidade impressionante de documentos importantes nos últimos meses, dentre eles informações privilegiadas dos bastidores das guerras do Iraque e do Afeganistão e ainda, uma vasta troca de correspondências entre as diversas embaixadas dos Estados Unidos. Ao fi nal, para gerar a desejada ressonância, o WikiLeaks associou-se a grandes veículos de mídia interna-cionais como o New York Times, Guardian, Le Monde, El Pais e Der Spiegel e conseguiu uma cobertura ímpar na mídia para as suas revelações.

Agora, após a onda de denúncias e retaliações, o site pode não resistir à pressão dos governos e deixar de existir, apesar de toda a mobilização dos seus fãs e hacktivistas espalhados por diversos países e que empunharam suas armas digitais contra empresas como a Visa, PayPal, Amazon e Mastercard, dentre outras.

Como já aconteceu com o Napster, programa de troca de músicas que se extinguiu em 2001, e que foi, posteriormente, recriado por outros empreendedores digitais, representando

Colunistas

Ética ereputação na era doWikileaks

hoje metade de todo o tráfego da rede mundial de computa-dores, a cultura de divulgar informações sigilosas pela web sai mais fortalecida do que nunca e já anuncia seu próximo foco: o mundo corporativo principalmente os segredos ligados aos segmentos farmacêutico, bancário e de petróleo. Especifi ca-mente para o setor bancário, dados de mais de 2.000 operações internacionais de políticos e empresários já estão sendo analisa-das e em breve serão divulgadas.

Por todo esse cenário, a ética se fortalece como uma questão central da agenda corporativa. As empresas que não souberem conviver com esse novo mundo, com uma reforçada demanda da sociedade por uma postura centrada na ética, irão enfrentar sérios problemas ligados à sua imagem e reputação, podendo simplesmente desaparecer.

DarioMenezes

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Ficam aqui algumas questões relevantes: Como uma em-presa deve pautar suas estratégias e ações para não ver sua reputação manchada por divulgações inesperadas? Como re-criar e fortalecer a ética como o mais importante pilar organi-zacional? Estas são questões cada vez mais decisivas nos dias atuais. É lógico que governos e empresas devem ter um pro-cesso de segurança da informação efetivo, reduzindo riscos de acessos indevidos às suas informações mais vitais. Porém, o mais inovador nesse caso, para uma correta prevenção, não é o emprego isolado da tecnologia que se reinventa cada vez mais rápido, mas o fortalecimento do elo entre as organiza-ções e seus colaboradores, educando, investindo no seu pro-cesso de desenvolvimento, trazendo-os para o processo de construção da estratégia e dando voz às suas aspirações.

Nesse contexto, é relevante criar de forma participativa com os colaboradores, estratégias corporativas vitoriosas e que eliminem qualquer prática corporativa que não seja con-dizente com a ética empresarial, seja ela revelada acidental-mente em uma simples troca de e-mail, ante-sala de reunião, saguão de aeroporto ou na hora do cafezinho.

Fortalecendo a ética como principal valor da organi-zação – Assim como aconteceu com a divulgação dos do-cumentos envolvendo a diplomacia americana, que contou com a ajuda de um cabo do setor de Inteligência do exército americano, as denúncias relacionadas as práticas corporativas serão feitas provavelmente por integrantes e desenvolvedo-res da própria estratégia da empresa, sejam seus funcionários, fornecedores, parceiros ou franqueados. Por que isso deve acontecer? Porque, no novo contexto global de negócios, espera-se que as organizações exerçam o princípio básico da coerência, sendo fi éis aos seus valores corporativos, exer-cendo a ética e a sinceridade nas suas relações. Todo com-portamento dissonante dessa afi rmação será primariamente repudiado pelos seus stakeholders, que utilizarão suas redes sociais e contatos para tornar públicos comportamentos não aceitáveis por parte das empresas.

Só há uma saída: fortalecer a ética como o principal valor da organização, educando e reconhecendo exemplarmente procedimentos e atitudes alinhados a este objetivo e sendo bastante rigorosa com procedimentos que não coadunem com estes valores.

A ética e a eterna vigilância – No contexto de negócios atual, a sociedade vem aumentando sua observação sobre as empresas, demandando das organizações um maior nível de transparência na condução dos seus negócios e iniciati-vas. Espera-se das empresas um comportamento ético, uma capacidade de aglutinar parceiros em prol de um resultado benéfi co para a toda a sociedade e para o planeta. Dialogan-

do de forma aberta, reconhecendo erros e acertos, gerando uma percepção favorável de transparência e credibilidade. Ter a sua reputação manchada com a divulgação de procedimentos e pos-turas corporativas incorretas pode ser fatal para as empresas, in-dependentemente do seu tamanho, abrangência e porte.

Reforçando e valorizando o alinhamento organizacional e a ética – Mais do que contratos formais de confi dencialidade, é vital para as empresas reformular e fortalecer suas posturas e comportamentos, garantindo um constante alinhamento entre os objetivos e práticas da organização e as expectativas dos seus stakeholders. Cada corporação deve engajar seus colaboradores e construir de forma compartilhada sua estratégia, discutir am-plamente sua visão, missão e valores e renovar suas práticas ge-renciais. Para fortalecer esse processo, é necessário comunicar com frequência e através de veículos de comunicação comple-mentares, garantindo perfeito entendimento dos seus objetivos e as formas corretas de execução da mesma, sem meias verdades ou comportamentos dúbios.

Finalizando, cabe lembrar que a ética nunca saiu nem sairá da agenda corporativa. Ela sempre será importante, relevante e bali-zadora de caminhos. Funciona como o cimento que une defi niti-vamente todos os valores corporativos. O que mudou e sempre mudará é o contexto social, trazendo novos hábitos e reforçando os bons costumes e práticas, sejam pessoais ou empresariais. O que mudou foi a velocidade com que as notícias e fatos são divul-gados globalmente.

Nunca é demais lembrar que regra geral, as pessoas vão sem-pre preferir as empresas com que se relacionam não somente pelo seu conjunto de produtos e serviços, mas principalmente pela reputação que têm e mantêm, querendo conhecer mais das práticas e processo das empresas que estão por trás das marcas. Talvez uma boa adaptação atual da famosa frase do Im-perador Júlio Cesar poderia ser escrita assim:

“Não bastam as corporações serem honestas. Têm que parecer honestas sob todas as circunstâncias, sob todos os tipos de operações e em todos os dias de sua atividade e principalmente no relacionamento com to-dos os seus públicos de interesse, por mais distintas que sejam as suas demandas e expectativas, ampliando seu capital positivo de confi ança e reputação.”

As corporações que não entenderem esta máxima correm o risco de desaparecer na mesma velocidade com que as notícias são divulgadas nas mídias sociais digitais e na rede mundial de computadores.

Dario Menezes ([email protected]), é professor do IBMEC/RJ e da ESPM/RJ e Diretor de Novos Negócios do Reputation Institute.

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O Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea) acabou de divul-gar a pesquisa

do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre mobilidade urbana, que anali-sa a maneira que a população brasileira percebe a efi cácia e avalia a qualidade do transpor-te público nas cidades brasi-leiras, bem como tenta captar as difi culdades encontradas pelas pessoas na utilização dos meios de transporte. Em vista disso, aproveito esse gancho para colocar em discussão o tema do sofrimento humano e dos problemas ambientais decorrentes dos trânsitos caóticos e dos transportes públicos precários de nossas urbes, que tudo tem a ver com essa pesquisa do IPEA.

Na prática, esse so-frimento humano com o transporte público é um extraordinário problema ambiental antrópico, visto que impede a mobilidade urbana das pessoas em igualdade de condições e prejudica as condições de saúde, lazer, trabalho e das relações sociais das pesso-as. O trânsito e os meios de transporte têm um papel fundamental no dia-a-dia da população, de forma dire-ta ou indireta, uma vez que participam de praticamente todas as atividades cotidianas das pessoas. O transporte pú-blico faz parte desse contexto e sua precariedade e escassez causa malefícios psicológicos, ambientais, físicos e sociais, ou seja, sofrimento humano.

Penso que existe uma ten-dência geral de menosprezo por esse tipo de sofrimento humano, especialmente pelos

deslocamentos urbanos, prin-cipalmente no que diz respeito às perdas de tempo dentro de meios de transporte, geralmente em condições precárias e humi-lhantes. Nas regiões metropo-litanas do Rio de Janeiro e São Paulo, onde milhões de viagens são realizadas diariamente, os usuários de transporte público gastam, em média, cerca de 3 horas por dia em seus desloca-mentos casa-trabalho-casa. Al-guns milhares, talvez milhões de pessoas, podem levar até 5 horas nesses trajetos, tendo que fazer alguns transbordos entre modos de transporte. Normalmente, essas pessoas são transportadas em condi-ções desconfortáveis, inse-guras e insalubres, espremi-das e sob temperaturas que podem chegar a mais de 40 graus, no verão. Em outras grandes cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Sal-vador, Porto Alegre, Recife e Fortaleza, a situação da mobilidade urbana da po-pulação se encontra muito parecida com o Rio de Janei-ro e São Paulo, guardadas as devidas proporções.

Para agravar ainda mais a situação, o transporte pú-blico brasileiro está baseado no modo rodoviário, sendo, portanto, movido a partir da queima de combustíveis fós-seis, como a gasolina e o óleo diesel, com grandes emissões na atmosfera de gases tóxicos que contêm monóxido de car-bono, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos, óxidos de enxofre e material particulado. Tais emissões causam danos ambientais, como o aumento do efeito estufa, e contribuem fortemente para o adoecimento e morte de milhares de brasilei-ros, todo ano, por causa da po-

ColunistasMarcus Quintella

SOFRIMENTO

HUMANOTO

HUMANOTO

CAUSADOPELOCAUSADOPELOCAUSADO

TRANSPORTE PELOTRANSPORTE PELOPÚBLICOTRANSPORTE PÚBLICOTRANSPORTE

governantes, pois se trata de um sofri-mento solitário, subjetivo, silencioso e de difícil mensuração. Na realidade, diante da falta de investimentos maciços e efi ca-zes no setor, as pessoas reclamam e su-plicam por melhores condições de trans-porte, mas acabam se acostumando e se conformando com o sofrimento diário, pois precisam trabalhar e viver. Assim, o sofrimento com o transporte público fi ca banalizado e as pessoas acabam achando normal essa situação, e as soluções são eternamente postergadas.

Como atuo há quase trinta anos no setor de transporte público, tenho noção exata do sofrimento das pessoas em seus

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luição atmosférica. Cabe ressaltar que o monóxido de carbono é inodoro, in-sípido, incolor e de difícil identificação pelas pessoas, mas causa forte intoxi-cação, tonturas, vertigens, alterações no sistema nervoso central e pode levar ao óbito, em grande quantidade, em ambientes fechados. O dióxido de enxofre, presente na combustão do óleo diesel, provoca coriza e danos irreversíveis aos pulmões e também pode ser fatal, em alta dosagem. A queima incompleta de combustíveis como álcool, gasolina e diesel produz os hidrocarbonetos, que são respon-sáveis pelo aumento da incidência de câncer no pulmão e provocam irrita-ção nos olhos, nariz, pele e aparelho respiratório. A fuligem, composta por partículas sólidas e líquidas, perma-nece suspensa na atmosfera e pode atingir o pulmão das pessoas e agravar quadros alérgicos como asma e bron-quite, irritação de nariz e garganta e facilitar a propagação de infecções gri-pais. Tudo isso é sofrimento humano.

Outro fator de sofrimento huma-no é a poluição sonora produzida pelo trânsito desordenado e descontrolado e pelo transporte público não planeja-do e inadequado, que provoca muitos efeitos nocivos à saúde humana, tais como os distúrbios do sono, estresse, perda da capacidade auditiva, dores de cabeça, náuseas, perda de concen-tração, taquicardias e alergias. Isso também é sofrimento.

Como exemplo de sofrimento hu-mano em questão, deixe-me apresen-tar o caso hipotético de João da Silva, usuário típico de transporte público

de uma grande metrópole brasileira, de classe média baixa, morador da periferia, que trabalha na zona sul da cidade, a cerca de 45 km de sua casa. João acorda às 4h45m, sai de casa às 5h30m e pega um ônibus já lotado, às 5h45m. Viaja em pé, com muito calor e desconforto. Chega à estação do trem às 6h30m, com a roupa amassada e suado. Entra no trem às 6h40m e de-sembarca na estação central às 7h20m. Viaja em pé, devido à superlotação do trem. Às 7h30m, João pega outro ôni-bus lotado, viaja novamente em pé, es-premido, com muito calor e chega ao seu destino final às 8h15m, em cima da hora do início do expediente, que co-meça às 8h30m. A viagem de ida levou 2h20m e João chega exausto, irritado e com a roupa molhada de suor. Nes-se dia, ele teve sorte, pois não houve quebra de ônibus, nem interrupção de vias, apenas os congestionamentos de rotina. O trabalho de João termina às 18h30m. Então, ele faz todo o trajeto de volta em cerca de 2h40m, pois o trânsito no início da noite é mais pe-sado. João chega em casa às 21h30m, exausto, irritado e todo amassado. Resultado do dia: João tem apenas 7h15m para tomar banho, jantar, ver a mulher e os filhos, descansar e dormir, pois precisa acordar no dia seguinte às 4h45m, para reiniciar o seu ciclo. Ele não pode ver TV, conversar com a mu-lher e com os amigos, fazer exercícios ou outra atividade de lazer. O caso de João não é dos piores, pois ele ainda tem ônibus e trem à disposição. Ou-tros não têm essa facilidade e são obri-gados a pegar dois ou três ônibus ou

vans e seus tempos totais de viagem são absurdamente mais demorados. Há casos mais brandos, que os tem-pos totais de viagem são de “apenas” 3 horas, por dia, mas em condições desfavoráveis. Agora, eu pergunto: isso é qualidade de vida? Existe ou não sofrimento humano nesse caso? Qual seria a solução?

A solução é bastante simples, mas complexa, ao mesmo tempo, pois de-pende da percepção do sofrimento alheio pelos governantes. A reversão desse quadro nas cidades brasileiras é um desafio que precisa do envolvi-mento de toda a sociedade. Não po-demos abrir mão dessa necessidade humana básica que é o transporte público e precisamos buscar soluções que não prejudiquem o meio ambien-te antrópico. Precisamos reverter essa situação de sofrimento humano com pesados investimentos em transporte público limpo, não poluente, confor-tável, rápido, seguro, barato, integrado e abrangente. Isso, sim, proporcionará felicidade, bem-estar e qualidade de vida para a população, ao menos no quesito transporte público.

Marcus Quintella ([email protected]) é Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Trans-portes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em trans-portes urbanos. Professor da FGV e do IME. É atualmente Diretor Técnico da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

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Conexão

Conferência TEDXRio reúne diferentes protagonistas de transformações em torno do debate sobre o futuro da cidade

Liquidifi cador de IDEIAS

Se o twitter tem 140 caracteres, como encaixar uma ideia ou o resumo de um projeto em ape-nas 18 minutos? Como subsídio apenas alguns slides e o que o

gogó permitir. Esta proposta inovadora tem sido apresentada nos últimos anos pelas diferentes conferências do TEDX, ou Tecnology, Entertainment e Design, proposta lançada em 1984, na Califórnia (Estados Unidos) com o objetivo de com-partilhar experiência e inspirar projetos ao redor do planeta.

No dia 15 de fevereiro foi a vez dos ca-riocas receberem a sua edição do evento, que já foi realizado em outras localizadas nacionais, como São Paulo e na Cidade de Deus. “Não se espantem, dá para falar no tempo, treinei como locutor do Jockey Club”, brincou Jaílson de Souza, da ONG Observatório das Favelas. E deu seu reca-do “A periferia e as favelas são a vanguarda hoje em dia”, assegurou.

José Pacheco, educador e fundador da revolucionária Escola da Ponte (Portugal)

“ É preciso acabar com a síndrome do

pensamento único ”

Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revistaFotos: Lucas Bori/Divulgação TEDXRio

Na abertura do dia, o português José Pacheco, educador e fundador da Escola da Ponte prendeu a atenção da plateia de cerca de 3 mil pessoas, fora os outros tan-tos conectados pela rede online. “É preci-so acabar com a síndrome do pensamento único”, afi rmou, defendendo também que os professores brasileiros precisam estu-dar mais Paulo Freire e outros educado-res locais e não só as referências globais, como Jean Piaget, por exemplo. Muito bem humorado, o educador lembrou que a maioria dos brasileiros (algo como 75%) não conseguem sequer interpretar um simples texto e criticou o excesso de leis.

“Uma das soluções, segundo o edu-cador, é investir no trabalho em rede de aprendizagem colaborativa, em “projetos

de saber ‘com’ os alunos”, frisou. Pacheco contou a experiência revolucionária Escola da Ponte, sem disciplinas rígidas ou cobranças exageradas. Saiu

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de lá ovacionado. “Lindooo”, gritou alguém do fundo do salão, no escurinho do salão, como se fosse um show de música.

Plural - O local do encontro – patrocina-do pelo Itaú, Petrobras e Prefeitura do Rio - é mais conhecido justamente por apresentações de shows, musicais e outros espetáculo, o Vivo Rio. Comparecerem todas as “tribos”: de blo-gueiros a executivos de grandes corporações; de estudantes a educadores. Mais democrático e plural, impossível. Como há uma forte pegada de tecnologia, muitos estavam transmitindo on-line – pelas redes sociais – sua interpretação do encontro. Se o público precisasse de um guru para se inspirar, bem poderia o compositor e cantor Raul Seixas, que na sua “Metamorfose” lembrou que era melhor ser “uma metamorfo-se ambulante” do que ‘ter essa velha opinião formada sobre tudo”.

Este é o espírito que parece nortear cada novo encontro TEDX. No escurinho da sala de espetáculos o que se viu foi um silêncio estar-recedor para prestar atenção no verdadeiro liquidificador de ideias e culturas a cada troca de palestrante. Dividido em três blocos, o TE-DXRio - Visões, Pequenos Gigantes, Leveza Rio e Rio, próximo capítulo – o evento mostrou que é possível sim fazer de uma forma diferente e transformar limão em limonada. Sem muitos recursos, muito mais com ideias e ideais, con-cretizando sonhos em torno de um Rio de Ja-neiro mais justo e igualitário para todos.

“O TEDxRio é um evento que visa moti-var as pessoas a saírem de suas zonas de con-forto para lutar pelo Rio de Janeiro que que-remos viver nos próximos anos. Temos hoje um modelo falido, de uma cidade socialmen-te segregada e com pouca atenção ao espaço público. Os eventos esportivos dos próximos anos serão insuficientes para mudar a cidade se o carioca não fizer um processo de reflexão que o torne parte responsável por esse pro-cesso de mudança”, destacou Marconi Perei-ra, licenciador TEDxRio de Janeiro e um dos organizadores do evento.

Pérolas - Alex Silva de Souza, funcionário do Itaú, da área de microcrédito, apresentou as histórias de alguns de seus clientes, moradores de comunidades carentes cariocas. Gente que conseguiu – na base da perseverança e muita luta – prosperar. “Gosto de utilizar a metáfo-ra das ostras. Ao enfrentarem um ‘cisco’, elas transformam o ‘incômodo’ em pérolas”, resu-miu Alex, outro que foi bastante aplaudido.

De juíza criminal de uma região conheci-da pela desigualdade à fundadora de projeto social, Thelma Fraga também mostrou casos de superação de egressos do Sistema Peniten-ciário. “Eles são meus pequenos gigantes, me salvaram da pequenez da vida”. Lembrou como

“ Gosto de utilizar a

metáfora das ostras. Ao

enfrentarem um ‘cisco’, elas transformam o ‘incômodo’ em

pérolas ”

Alex Silva de Souza, funcionário do Itaú da área de microcrédito, trabalhando em comunidades carentes

Vera Cordeiro, médica, presidente da ONG Saúde Criança Renascer

“ Agimos de forma mul-tidisciplinar. Para tratar

a doença, é preciso combater a miséria ”

trocou a vida no Judiciário pelo projeto Grão. Titular da 1ª Vara Criminal da Taqua-ra, bairro do Zona Oeste da cidade, a Dra. Thelma era responsável pelos casos da Ci-dade de Deus. Pediu um levantamento dos processos, com a ajuda de universitários e notou que por trás da maioria dos casos estavam causas sociais. “Vencedor é quem tem a capacidade de superar a adversida-de”, afirmou, apresentando três ex-deten-tos, hoje reinseridos na sociedade. Mais um momento de glória do evento.

Algumas palestras, claro, não chega-ram a empolgar o público, seja por falta de empatia dos oradores ou por absoluta sonolência nos temas, mas cumpriram seu papel de diversidade.

Médicas - Na parte da tarde, os desta-ques foram para as médicas Vera Cordeiro, fundadora da ONG Saúde Criança Renascer em 1991 e Rosa Célia Barbosa, fundadora do Pró-Criança Cardíaca, que tem feito, nos últimos 15 anos, milhares de atendimentos gratuitos de crianças carentes com pro-blemas cardiológicos sérios. Em comum, as duas notaram que poderiam ser muito mais úteis à sociedade não apenas no dia-a-dia estafante da rotina médica, mas cuidan-do da população mais carente no que elas mais precisam: atenção e afeto.

Vera, que trabalhava na Pediatria do Hospital da Lagoa, notou que as crianças em alta iam para casa e acabavam retornando com os mesmos problemas ou outros. Foi aí que percebeu a importância de tratar a família como um todo. Criou o projeto que passou a doar cestas básicas, dar ocupação para as mães, fazer melhorias nas casas, etc.

“Agimos de forma multidisciplinar. Para tratar a doença, é preciso combater a miséria”, resu-miu. Outra estrela do dia, aplaudida de pé.

E a Dra. Rosa Célia, sem dúvida, uma pe-quena gigante, capaz de arregaçar as mangas, trabalhar duro e ainda arrecadar recursos para nova unidade de atendimento de Cardiologia Infantil. “Servir, cuidar do ser humano, é um privilégio”, resumiu sua missão.

Também participaram no encontro vá-rios outros nomes, como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga; os economis-tas Sérgio Besserman e André Urani; o músi-co Marcelo Camelo; o dono da grife Osklen, Oscar Metsavaht; o colombiano Rodrigo Ar-boleda, CEO da One Laptop per Child Asso-ciation e mais uma dezenas de nomes. Sem dúvida, o encontro deixou um gostinho de quero mais.

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Homenageamos nesta edição poetas brasileiros, que têm ajudado a tornar a vida menos árida

“Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.”MÁRIO QUINTANA

“Como as plantas a amizade não deve sermuito nem pouco regada.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

“ Meus versos é como sementeQue nasce arriba do chão;Não tenho estudo nem arte,A minha rima faz parte Das obras da criação “

PATATIVA DO ASSARÉ

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

CLARICE LISPECTOR

“Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.”

TOM JOBIM

“ Não tenho tempo algum, porque ser feliz me consome”ADÉLIA PRADO

Frases“Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão– Antes que das coisas celestiais.”

MANOEL DE BARROS

“Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia.” VINÍCIUS DE MORAES

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23Bazar ético

Sabe aqueles malotes de lona verde utili-zados para transportar correspondência de um lado para outro? Pois quem diria que, com muita criatividade, pudessem

ser transformados nos lindos produtos que ilus-tram esta página? Pois foi assim, com dedicação e um empurrão do destino, que um grupo de artesãs de Toledo, no interior do Paraná, se tor-nou conhecido nacionalmente. A Coopermesa (Cooperativa de Mulheres Empreendedoras Sociais em Ação) tem sido premiada e também conquistado clientes exigentes em diferentes estados. Geni Theobald, fundadora e presiden-te da Coopermesa conta à Plurale em revista que a iniciativa surgiu de um projeto universitá-rio na Universidade Estadual do Paraná (Unioes-te), com o objetivo de buscar uma alternativa de renda para as mulheres do bairro. “Foi através de um trabalho de pesquisa que se observou que havia muitas mulheres com baixa escola-ridade, sem profi ssão, atuando em seus lares como chefes de família”, lembra Geni. Ela mes-ma, por exemplo, faz artesanato e costura desde que tinha 11 anos e junto a outras duas amigas artesãs faziam feira de rua.

Foi quando conheceram o projeto, que estava sendo divulgado pela Área de Respon-sabilidade Social da Associação Comercial de Toledo. Com a ajuda de especialistas e, é claro, trabalhando sempre duro, veio o sucesso. Os Correios fazem o repasse dos malotes e das camisetas para serem reciclados nas mãos das habilidosas artesãs da Coopermesa. O Sebrae capacitou as associadas e Geni acabou vencen-do uma das categorias do Prêmio Mulher de Negócios 2010. Mérito dela e também em nome de todo o esforço do grupo de 20 associadas. “O prêmio trouxe, não só para mim, mas para as mulheres envolvidas na Cooperativa, o re-conhecimento do nosso trabalho com a socie-dade a qual estamos envolvidas”, vibra Geni. Ao todo, são 25 itens produzidos pela Coo-permesa: os preços das bolsas fi cam em torno de R$ 70 e das mochilas por volta de R$ 100. Os pedidos podem ser feitos através do blog: (coopermesa.blogspot.com).

Cooperativa inova reciclando malotes e camisetas

Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.•

do uma das categorias do Prêmio Mulher de Negócios 2010. Mérito dela e também em nome de todo o esforço do grupo de 20 associadas. “O prêmio trouxe, não só para mim, mas para as mulheres envolvidas na Cooperativa, o re-conhecimento do nosso trabalho com a socie-dade a qual estamos envolvidas”, vibra Geni. Ao todo, são 25 itens produzidos pela Coo-permesa: os preços das bolsas fi cam em torno de R$ 70 e das mochilas por volta de R$ 100. Os pedidos podem ser feitos através do blog:

do uma das categorias do Prêmio Mulher de Negócios 2010. Mérito dela e também em nome de todo o esforço do grupo de 20 associadas. “O prêmio trouxe, não só para mim, mas para as mulheres envolvidas na Cooperativa, o re-conhecimento do nosso trabalho com a socie-dade a qual estamos envolvidas”, vibra Geni. Ao todo, são 25 itens produzidos pela Coo-permesa: os preços das bolsas fi cam em torno de R$ 70 e das mochilas por volta de R$ 100. Os pedidos podem ser feitos através do blog: (coopermesa.blogspot.com

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24 PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 2011 11

Ecoturismo

No início, eram as fadas e duendes, que com sua magia cintilante atraíram amantes da natureza, aventureiros e a turma do peace and love. Muitos gostaram tanto que foram ficando, improvisando, com muito ânimo e

pouca verba, o comércio local e turístico. Tijolo por tijolo, abriram pousadinhas charmosas e rústicas, lojas de arte-sanato, cafés e restaurantes de comida caseira inigualável. Perto da virada do século, o estouro do ecoturismo atraiu hoteleiros mais requintados, que se instalaram e logo fo-ram acompanhados por chefs estrelados. Assim a história da região de Visconde de Mauá vem sendo escrita, guiada pela pena da ecologia com o tinteiro do progresso. Quem se lembra do Vale das Flores à luz de lampião ou da trilha estreita para a cachoeira do Escorrega, deserta em pleno sábado ensolarado, sempre estranha o movimento de tu-

ristas na Alameda Gastronômica Tia Sofia, área badalada pela variedade de lojas e restaurantes bon marché.

Agora, quem vence pela primeira vez os quilômetros de serra e descortina a visão dessas montanhas e vales mergulhados na Mata Atlântica, pode tanto entrar na onda onírica dos vagalumes quanto se entregar ao conforto de um chalé com lareira e hidromassagem em uma das deze-nas de pousadas. Aqui o clima turístico ainda é light, sem muito zunzunzum nos pontos de maior atração: mesmo nas férias e feriados há cachoeiras com pouca gente, mui-tas trilhas cercadas de verde para desbravar a pé, de bike ou a cavalo, e programas bacanas para todas as idades. Ao menos por enquanto... (ver box).

Um exemplo? Cruze a vila de Visconde de Mauá, atraves-se a Ponte dos Cachorros e siga até uma casinha identificada com a placa “Som Divino”. Ali, a terapeuta holística Martha

Fadas, duendes e muito verdeLugar alto astral por natureza, Visconde de Mauá ganhou fama pelas suas belezas. Para preservá-las e enfrentar o turbilhão doprogresso investe em turismo sustentável.

Texto: Raquel Ribeiro, de Visconde de Mauá (RJ), Especial para Plurale em revistaFotos: Juliana Mello

Ecoturismo

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Dietrich faz uma “massagem” com tigelas tibe-tanas. Originalmente produzidas pelos monges tibetanos, são instrumentos que criam sons har-mônicos, usados na cura. Na terapia-relaxamento do Som Divino, você sente despertar seu canal auditivo e os barulhos de água, pássaros, vento, tornam-se nítidos; depois a onda sonora vence a barreira mental e invade o corpo numa vibração suave, gostosa, que atinge a pele, os músculos, os chakras, e nos deixa absolutamente relaxados. Ex-periência divina – e única! No Brasil, só tem em Visconde de Mauá.

Martha é uma entre centenas de forasteiros, quase sempre cariocas e paulistas, que com seus sonhos, projetos e trabalho tingiram de novas cores e sons a terra colonizada por produtores de leite mi-neiros e imigrantes europeus. Em busca de sossego e maior contato com a natureza, boa parte dessa tur-ma abriu seu pequeno negócio procurando ser coe-rente aos ideais de preservação ambiental, seguindo assim o exemplo do tradicional Hotel Bühler (leia mais nas próximas páginas) e seu projeto pionei-ro, de repercussão nacional: o Lixo Mínimo. Desde 2004, esse hotel em estilo germânico com caloroso tempero mineiro não manda uma única sacolinha de lixo para o aterro sanitário de Resende: tudo que é reciclável é encaminhado para uma sociedade be-neficente, todo o lixo orgânico vira composto (ali-mentando de húmus jardins e horta) e o que sobra (bituca de cigarro, por exemplo) vai para “túmulos” construídos no próprio hotel.

Márcia Santana, do recém-inaugurado Estala-gem TajMauá, no alto do Vale das Cruzes, aderiu ao

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 201126 PLURALEPLURALE EM REVISTA Janeiro/Fevereiro 2011Janeiro/Fevereiro 2011PLURALE Janeiro/Fevereiro 2011

projeto e, assim como Norma, gerente do Bühler, faz de tudo para que o hóspede simpatize e colabore com o projeto. Nos três chalés da pousada, pede-se para não trocar a toalha de banho desnecessa-riamente, a lenha para lareira vem de queda natural de árvores ou refl orestamento (sem desmatamento) e o vaso sanitário é ecológico. “Evitamos ao máximo o uso de produtos descartáveis, coletamos a água da chuva para uso no jardim, separamos o lixo e fazemos com-postagem. São atitudes simples, mas extremamente valiosas, que fazem uma grande diferença”, diz Márcia.

O Rancho das Framboesas, no Vale do Pavão, também merece ser citado. Construído e cuidado por Rony, um arquiteto que pro-cura causar o mínimo impacto ambiental, tem a sede da pousada e os chalés suspensos (sem cortes no terreno). Usa energia solar, faz captação de água da chuva, reaproveita materiais – embalagem

tetrapack, por exemplo, vira isolante tér-mico para telhado – e utiliza materiais renováveis, como deque de bambu pren-sado e estrutura de madeira de eucalipto refl orestado.

Na mesma onda de respeito à terra, situa-se a Casa da Colina, no alto de Ma-ringá, a vila mais descolada da redonde-za. Cada detalhe dessa pousada cheia de charme é cuidado pelas mãos delicadas de Daisy, paisagista que encheu de fl ores cada cantinho do lugar, que é um convite à meditação e introspecção. Desde que chegou com Gracindo Jr., seu compa-nheiro de todas as horas, ajuda a tornar ainda mais verde, farta e bela essa colina ensolarada. Passadas mais de três déca-das da onda paz e amor, parece que a re-gião continua atraindo gente que, como a civilização de Avatar, quer se conectar à natureza. E não apenas usufruir dela.

Os princípios de sustentabilidade e respeito à vida aparecem também à mesa. Kashi, dona do restaurante vege-tariano mais gostoso e premiado do pe-daço, realiza o Lixo Mínimo e aproveita o contato com o público para divulgar o vegetarianismo. “Ecologia também se faz da boca para dentro”, brinca. Seu melhor argumento, sem dúvida, são as delícias que prepara, como o brigadeiro feito de cacau orgânico e leite de castanhas, ou a moqueca de tempeh (ingrediente espe-cialíssimo, derivado da soja, produzido na região e comercializado em pequena escala no Rio e em São Paulo).

Para sentir a alma de Visconde, nada como subir até o topo da Pedra Selada, sentir a força do vento e se maravilhar com

Ecoturismo

Kashi

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o horizonte desenhado pelo mar de montanhas. Ou encarar uma ducha natural gelada em uma das dezenas de quedas d’água e depois curtir o sol numa pedra quentinha, cercada de mata. Mas, você também pode conhecer Visconde pelos olhos de seus artistas: músicos, poetas, artistas plásticos e fo-tógrafos já traduziram seus encantos em centenas de obras. Uma amostra dos trabalhos pode ser admirada no Centro Cultural Visconde de Mauá, uma casinha acolhedora no co-ração da vila de Mauá, que realiza um trabalho inestimável de inclusão cultural e social.

Saiba mais: http://amigosdemaua.net/estrada/index.htmwww.casadacolina.com.brwww.hotelbuhler.com.brwww.ranchodasframboesas.com.brwww.tajmaua.com.brwww.viscondeesconde.com.br

Estrada-Parque ou “Estraga-Parque”?A região de Visconde de Mauá coincide com a chamada Mi-

crobacia Hidrográfi ca do Alto Rio Preto, que abrange três muni-cípios de dois estados (RJ e MG), e compõe a Área de Proteção Ambiental (APA) da Mantiqueira. É, portanto, protegida por leis ambientais, considerada patrimônio natural e de importância es-tratégica na gestão de águas fl uviais potáveis. Contígua ao Parque Nacional de Itatiaia e um dos mais belos destinos de ecoturismo do Brasil, a região, perigosamente situada entre Rio e São Paulo, precisa ser preservada. O acesso difi cultado por vinte quilôme-tros de estrada de terra foi, até hoje, uma barreira natural contra o turismo de massa e o crescimento desordenado. Infelizmente, o futuro da região pode ser comprometido com a pavimentação da estrada que liga a vila de Visconde de Mauá à Capelinha, na base da serra. O projeto de pavimentação, vendido à popula-ção local como uma moderníssima “estrada-parque”, está sendo pessimamente executado e já causou graves desmoronamentos,

transtorno a moradores e turistas, prejuízos sem monta aos co-merciantes locais e, pior de tudo, enormes estragos ao meio am-biente. Qualquer um que sobe a serra pode perceber que estão construindo uma estrada absolutamente convencional: a largura máxima prevista no projeto foi extrapolada em vários metros, há morros esgarçados, córregos soterrados e imensos taludes – que não seriam feitos, segundo o projeto original – acabaram sendo executados. “O que se vê de árvores cortadas é de cortar o co-ração”, comentou um morador. Para completar, a pavimentação da estrada trará enorme e inevitável aumento do fl uxo turístico. Afl itos com a sucessão de erros e abusos na obra, alguns bravos moradores ainda lutam para exigir dos órgãos públicos a imple-mentação do Plano Básico Ambiental, documento essencial que acompanha o processo de licenciamento ambiental da obra, deli-beradamente engavetado por autoridades e empreiteiros.

Raquel Ribeiro

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Ecoturismo

É natural. Se você tem um tesouro, dedica-se a preservá-lo. Vivendo no alto da Serra da Mantiqueira, entre rios, cachoeiras e uma vege-tação exuberante, em Maringá, região de Visconde de Mauá (RJ), a família Bühler trata muito bem o seu pedaço de paraíso. Desde 2001, eles tocam o Projeto Lixo Mínimo, que reaproveita quase

todos os resíduos do Hotel Bühler. “Só consideramos lixo aqueles materiais para os quais ainda não encontramos rumo, como fraldas descartáveis, fi o dental, preservativos e absorventes”, diz Norma Bühler, a gerente que mergu-lhou fundo na causa da preservação ambiental e aplica os seus conhecimen-tos na lida diária do Hotel.

Recentemente, durante um congresso em Nova York, Norma fi cou saben-do que já existe uma forma de reaproveitar fraldas descartáveis para produção de gás metano (Ver box). Otimista, ela crê que a sociedade está cada vez mais consciente e disposta a cuidar dos seus recursos naturais. Para quem ainda não despertou para o problema, aconselha: “Vá visitar o lixão da sua cidade.” Foi numa dessas incursões que ela, ao invés de sair chorando como várias pessoas que a acompanhavam, teve uma reação diferente: um misto de irrita-ção e vigor, que a move até hoje na sua luta pela defesa do meio ambiente.

Hotel Bühler, em Visconde de Mauá, dá exemplo depreocupação verdadeiracom o meio ambiente

Texto e fotos: Nícia Ribas, Plurale em revistaDe Visconde de Mauá (RJ)

Quem ama, Preserva

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A uma altitude de quase 2 mil metros, de onde se pode avistar por cima aleias de pinheiros, sente-se de-sejo de reverenciar a natureza. Às margens do Rio Preto, divisa de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com o friozinho da montanha em pleno verão, entre uma trilha banhada pelos raios de sol e um banho de cachoeira, não há quem resista a, pelo menos, refl etir sobre a beleza do Planeta e a necessidade de preservá-lo. Os hóspedes do Hotel Bühler são protagonistas de uma mudança fundamental para o futuro da humanidade.

Cada um dos 20 chalés está dotado de recipientes forrados com sacos de papel pardo para cada tipo de lixo, assim como instruções afi xadas nas paredes. Ao caminhar entre riachos, árvores centenárias, arbustos fl oridos, lagos e cachoeiras, os visitantes dispõem de latas para Resíduos Orgânicos e Resíduos Inorgânicos. De vez em quando, deparam-se com latões altos e bem fechados, etiquetados: Compostagem.

É ali que o resíduo orgânico vira aduboAtravés de decomposteiros por aeração espontânea,

à prova de bichos (ratos, principalmente) e umidade, o resíduo orgânico se transforma em húmus (adubo). “São mini usinas artesanais, onde depositamos todo re-síduo orgânico e cobrimos com tela e telha para evitar ratos e excesso de umidade”, explica Norma. Nas pales-tras que costuma fazer em escolas, ela ensina a mon-tar aeradores, insistindo na necessidade de controlar a umidade e evitar as ratazanas: Não se pode deixar o aerador aberto para não atrair ratos; enquanto o rato for mais inteligente do que a gente, não conseguiremos produzir adubo”.

O processo de compostagem leva três meses, mas como o movimento do hotel é muito grande, gerando muito resíduo, o produto é retirado um pouco antes e misturado à varredura do terreno. O adubo pronto, maduro, sem cheiro é utilizado na horta do hotel. E os hóspedes que cultivam plantas em suas casas, rece-bem como brinde o adubo produzido no Hotel.

Todo resíduo inorgânico segue para reciclagemSobre a pia da cozinha principal do hotel foi ane-

xada uma grande peneira para receber todo material inorgânico. Os funcionários foram treinados para retirar o resíduo de caixas de sucos e de leite, por exemplo. “Não se lava com o mesmo cuidado com que se lava uma xícara; apenas se passa uma bucha para retirar resíduos e evitar podridão e mau chei-ro”, explica Norma. Livres do resíduo que atrai vetor, materiais como embalagens e garrafas, são separa-dos, armazenados e transportados para a Fundação Pestalozzi, de Resende, que vende para cooperativas de reciclagem, arrecadando recursos. Hoje, o Hotel

Bühler se orgulha de não enviar nada para o lixão.Para Norma Bühler, o dicionário do Aurélio deveria mudar o sig-

nifi cado do verbete lixo: ao invés de “aquilo que se varre da casa, do jardim e da rua e se joga fora”, deveria ser “aquilo que se joga para dentro de casa e se separa para reaproveitar”. Ela constata que cada vez mais o assunto ganha espaço na mídia e isso tem ajudado a conscientizar as pessoas.

Quem ama, Preserva

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E n s a i o

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Texto e fotos Luciana Tancredo

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Explorar a exuberância nativa do Parque Nacional de Itatiaia (RJ) já é um deslum-bramento. Mas quem tiver paciência e fôlego poderá ir ainda um pouco além, chegando até a região da Fragária, que

fi ca entre o Parque de Itatiaia e Itamonte (MG), mas ainda em solo fl uminense.

São 35 km por estrada de terra a partir de Itamon-te - acessível para carros passeio, ou 20 km pela mes-ma entrada do Parque Nacional de Itatiaia, neste caso o mais recomendado é para veículos 4×4.

Rios e cachoeiras cortam as matas e as pastagens. Delicadas fl ores, como as que ilustram esta página e inúmeros cogumelos colorem a paisagem sempre muito verde. No Parque Nacional, onde a altitude atinge quase 2 mil metros acima do nível do mar, a mata dá lugar a uma vegetação mais rasteira e tam-bém cheia de pequenas fl ores. O “biquinho-de-lacre” parece zelar pela preservação da natureza, assim como diversos outros pássaros.

Nesta época do ano, uma grande parte do Parque fi ca fechada para preservar a reprodução do “Flamen-guinho”, um pequenino sapo preto e vermelho, en-contrado somente naquela região.

FRAGÁRIA: UM PARAÍSOPRESERVADO

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Nenhum gasto público social contribui tanto para o cres-cimento do Produto Interno Bruto (PIB) quanto os que são feitos em educação e saúde.

Cada R$ 1 gasto com educação pública gera R$ 1,85 para o PIB. O mesmo valor gasto na saúde gera R$ 1,70.

Para a redução da desigualdade so-cial, os gastos que apresentam maior retorno são aqueles feitos com o Bolsa Família, que geram R$ 2,25 de renda familiar para cada R$ 1 gasto com o benefício; e os benefícios de prestação continuada – destinados a idosos e por-tadores de deficiência cuja renda fami-liar per capita seja inferior a 25% do sa-lário mínimo –, que geram R$ 2,20 para cada R$ 1 gasto.

Além disso, 56% desses gastos retornam ao caixa do Tesouro na for-ma de tributos. Os dados referem-se ao ano de 2006 e constam do estudo

Gasto com a Política Social: Alavanca para o Crescimento com Distribuição de Renda, divulgado em fevereiro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea).

De acordo com o órgão, é a primei-ra vez que um estudo como esse é feito no Brasil, em função da dificuldade de se juntar os elementos necessários para o desenvolvimento da pesquisa.

“O gasto na educação não gera apenas conhecimento. Gera economia, já que ao pagar salário a professores aumenta-se o consumo, as vendas, os valores adicionados, salários, lucros, juros”, avalia o diretor de Estudos e Po-líticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão. “Portanto, a política social brasileira não apenas protege, como promove o cida-dão”, completa.

“Em termos gerais, ampliar em 1% do PIB os gastos sociais, na estrutura atual, re-dunda em 1,37% de crescimento do PIB.

Ou seja, é o tipo de gasto que tem mais benefícios do que custo”, explica a técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Joana Mostafa.

Segundo ela, a renda das famílias é responsável por cerca de 80% do PIB. “Dessa forma, aumentar em 1% do PIB o gasto social gera 1,85% de crescimento da renda das famílias”, disse a pesquisa-dora. “No caso da saúde, além de esses gastos representarem empregos, envol-vem também a aquisição de aparatos tec-nológicos, o que também contribui para a demanda nas indústrias”, acrescentou.

Mostafa explica que a pesquisa leva em consideração os reflexos desses gastos no PIB e na renda familiar. “Para cada 1% a mais investido em educação e saúde, há um efeito multiplicador que aumenta em 1,78% o PIB e em 1,56% a renda das famílias”.

No caso do Bolsa Família, o aumen-to de 1% do que ele representa para o PIB resultaria no aumento de 1,44% do PIB. Mas, nesse caso, o mais significati-vo está relacionado ao fato de que, ao receber e usar esse benefício, o cidadão acabar gerando renda para outras famí-lias. “Cada R$ 1 gasto com esse progra-ma gera R$ 2,25 em rendas familiares”, afirma a responsável pelo estudo.

O mesmo não pode ser dito dos gastos com exportações de commodi-ties agrícolas e extrativas. “Apesar de agregarmos ao PIB 40% de cada real investido nessa área, os efeitos para a renda familiar são pequenos e limitados a R$ 1,04 para cada R$ 1 gasto”.

Como utiliza dados referentes a 2006, o estudo não mensura os refle-xos das ações recentes do governo em favor do setor da construção civil. “O que podemos dizer é que, em 2006, os gastos com construção civil pouco contribuíram para a redução das de-sigualdades sociais. Isso certamente terá um quadro diferenciado quando agregarmos dados de 2009 a uma nova pesquisa, porque certamente houve aumento do número de empregos for-mais”, justifica Abrahão.

O estudo considera como gastos públicos sociais os feitos em Previdên-cia Social geral e pública, educação, saú-de, assistência social, trabalho e renda, desenvolvimento agrário, saneamento básico, habitação e urbanismo – nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Gastos sociais com educação e saúde são os que mais contribuem para crescimento do PIB

Pedro PeduzziRepórter da Agência Brasil

Foto: Agência Brasil

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A Universidade de São Paulo, um dos principais cen-tros de pesquisa em todo o mundo e uma das mais prestigiosas instituições do país, por meio da FEARP (Faculdade de Economia, Administração e Contabi-lidade de Ribeirão Preto) inicia agora seu primeiro

MBA a Distância em Negócios. O curso é voltado a executivos de diversas áreas que, em

razão do constante deslocamento, fi cam impedidos de partici-par de um programa sólido de educação continuada. Com 360 horas, o curso foi cuidadosamente estruturado, contando com um conteúdo ousado e inovador, de modo a unir conteúdos como fi nanças, gestão de pessoas e estratégia.

USP Lança seu Primeiro MBA a distância em Gestão de Negócios

De Ribeirão Preto

A inovação também está presente na metodologia, utilizando PBL (problem based learning, estudos de caso) e aulas ao vivo com voz, vídeo, interação e forte incentivo ao networking de âmbito nacional.

O início do curso se dará em 16 de maio de 2011 e as aulas ao vivo serão realizadas nas quartas-feiras das 20h às 22h. O curso foi oficialmente aprovado e será certificado pela Universidade de São Paulo. Foi elaborado no âmbito do NPT (Núcleo de Pes-quisa Tecnológica) que fará sua gestão pedagógica. Os aspectos administrativos ficarão ao encargo da Fundace, e o parceiro EAD é o INEPAD, que já conta com ampla experiência na gestão de MBA a distân-cia, inclusive em parceria com outras universidades públicas,e assim disponibilizará todos os recursos EAD necessários ao curso.

A coordenação do programa é da responsabilida-de dos Professores Alberto Borges Matias, da área de finanças, Irene Miura, da área de gestão de pessoas e David Forli Inocente, da área de desenvolvimento de executivos.

As inscrições estão abertas e vão até o dia 30 de Março de 2011. O processo seletivo é bastante concorrido e conta com quatro fases: prova de se-leção on-line, estudo de caso, análise de currículo (experiência gerencial) e entrevista. Mais informa-ções em www.mbausp.org.br ou através do tele-fone (16) 2111 0250

em levantamento de aves — para avifauna em regiões urbanas. “O estudo comprovou que o método de ponto fi xo realmente pode ser aplicado na cidade, desde que o pesquisador esteja altamente preparado para a função. Também demonstrou que dependendo do local a ser pesquisado dentro da cidade o número de aves pode ser diferente, evidenciando a necessidade de direcionar esforços de acordo com a variação na quantidade de materiais urbanos encontrados em diferentes pontos”, avalia o biólogo Eduardo Ro-berto Alexandrino, da Esalq.

O estudo foi feito com apoio do Laboratório de Silvicultura Urbana do Centro de Métodos Quantitativos (CMQ), do Departamento de Ciências Flo-restais Esalq. A pesquisa revelou que a reunião de um número maior de espé-cies de aves pode ser favorecida pela presença de cobertura arbórea, enquan-to áreas construídas e pisos impermeáveis podem prejudicar o número de espécies. Do mesmo modo, o ruído sonoro urbano também pode atrapalhar na identifi cação e contagem de aves. Também observou-se que o número de espécies novas não se altera após o 9º minuto de levantamento no ponto.

A incidência de comunidades de aves em determinados locais serve como uma importante ferramenta de diagnóstico para diversos estudos ambientais. Por meio da medição desta incidência é possível reconhecer distúrbios am-bientais e identifi car interações positivas entre os animais da região, além de mensurar a biodiversidade existente. “Entretanto, os métodos de coleta destas informações, até então, nunca haviam sido testados para o ambiente urbano, colocando em risco a confi abilidade dos dados que são levantados sobre a comunidade de aves encontradas na cidade”, comenta Alexandrino.

Projeto realizado na Escola Superior de Agri-cultura Luis de Queiros (Esalq) da USP, em Piracicaba, fi nanciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (Capes) comprovou a aplicabilidade do método de ponto fi xo — um dos mais utilizados

Estudo verifi ca método de levantamento da avifauna urbana

Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq

Pica-pau-verde-barrado encontrado na área central da cidade de Piracicaba

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O Ministério da Saúde está promovendo um inquérito parasi-tológico nacional para conhecer a prevalência (número de casos novos e antigos) da esquistossomose no Brasil. O traba-lho ocorre 60 anos após a realização do único inquérito feito até os dias atuais pelos pesquisadores Amilcar Barca Pellon

e Isnard Teixeira, do então Ministério da Educação e Saúde. Na época, o estudo feito com estudantes de 7 a 14 anos de idade, de 11 estados brasileiros, revelou uma prevalência de 10% e os autores estimaram em 2

milhões o número total de casos. Hoje não é possível estimar esse número por que os mu-nicípios fazem os inquéritos sem se preocupar com a amostragem ou representatividade da prevalência, segundo a pesquisadora Cons-tança Simões Barbosa, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambu-co). É ela quem coordena o novo estudo nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. A pesquisa também iden-tifi cará a prevalência de outras helmintoses no país e conta com a participação e o apoio das secretarias de Saúde estaduais e municipais.

Nessa área, denominada de Nordeste 1, foi feito um estudo piloto em Camaragibe, mu-nicípio da Região Metropolitana do Recife. O trabalho começou no fi nal de outubro de 2010 e envolveu a participação de 820 estudantes com idade entre sete e 14 anos, de 17 escolas públicas e particulares. Todos eles foram cadastrados e receberam, em sala de aula, informações sobre a doença (sintomas, prejuízos causados pela doen-ça e transmissão) e orientações de como coletar a amostra de fezes a ser usada para o diagnóstico da esquistossomose e das outras helmintoses. O material está sendo analisado no laboratório do Serviço de Referência Regional em Esquistosso-mose (SRE) da Fiocruz Pernambuco.

Adermir Ramos da Silva Filho assumiu em fevereiro como diretor-presidente da Funda-ção Dorina Nowill para Cegos.

A indicação do advogado tributarista é do Conselho de Curadores da instituição.

Entre as primeiras iniciativas de Silva Filho está o inicio das celebra-

Fiocruz Pernambuco coordena inquérito daesquistossomose em quatro estados nordestinos

Fundação Dorina Nowill para Cegos tem novo diretor-presidente

Da Agência Fiocruz de Notícias

ções que marcam os 65 anos da institui-ção - data a ser comemorada em 11 de março. Durante a posse está previsto o lançamento de um selo comemorativo ao aniversário da Fundação Dorina, e a abertura do Memorial Dorina Nowill, um reconhecimento ao legado deixado pela idealizadora da instituição.

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O governo recebeu no início de fevereiro um abaixo-as-sinado com mais de 500 mil assinaturas de brasileiros e

estrangeiros contra a construção da hi-drelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará. Cerca de 100 pessoas entre índios, comunidades ribeirinhas, pequenos agricultores, ambientalistas e simpati-zantes fizeram no dia 8 de fevereiro uma manifestação em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, e levaram a carta ao Palácio do Planalto, onde despacha a presidente Dilma Rousseff.

Os manifestantes foram recebi-dos, numa reunião que durou cerca de duas horas, pelo secretário adjunto da Secretaria-Geral da Presidência, Rogério Sottili. Ele se comprometeu a encami-nhar o documento, encabeçado com a assinatura de caciques das comunidades indígenas do Alto Xingu, à presidenta. Sottili também disse que a demanda

Governo recebe abaixo-assinadocontra Usina Hidrelétrica de Belo Monte

Gilberto Costa, Repórter da Agência Brasil, de Brasília

será analisada “com ca-rinho” e ressaltou que o governo prestigia a participação da socie-dade civil em questões como essa. “Se eles es-tão reclamando é porque entendem que não foram ouvidos o suficiente”.

Antes de levar o documento ao Pla-nalto, a vice-presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazô-nia Brasileira (Coiab), Sônia Guajajara, disse que a construção da usina viola os direitos da população afetada, como os habitantes de 30 terras indígenas legais e moradores de um terço do município de Altamira – o segundo maior do mun-do em extensão, com cerca de 160 mil quilômetros quadrados.

De acordo com Sônia, a indisposição do governo em tratar com os atingidos pela usina poderá gerar “revolta”. Pode haver inclusive, segundo ela, a possibi-

lidade de ocupação dos acampamentos da obra da usina. A líder admite, no entanto, que “é muito difícil o governo voltar atrás”, mas assegura que a pres-são vai continuar.

O movimento contrário à usina também tenta mobilizar a opinião pú-blica internacional. No ano passado, cem entidades civis que representam 40 comunidades de municípios paraenses apresentaram documento a relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciando violações de direitos hu-manos que seriam causadas com a cons-trução da hidrelétrica.

Além da ONU, os ativistas mobiliza-ram o diretor de cinema James Came-ron, que chegou a participar de ato con-tra a usina após ter ganho três prêmios Oscar pelo filme Avatar. A articulação

com o cineasta foi feita pela ONG Ama-zon Watch, que tem sede na Califórnia (Estados Unidos).

Segundo o coordenador de progra-ma para o Brasil da Amazon Watch, Chris-tian Poirer, a construção da usina “não é muito popular” e alternativas deveriam ser discutidas como a economia de ener-gia, a repotencialização das turbinas de hidrelétricas instaladas, a melhoria das linhas de transmissão, além do uso de energia eólica e energia solar. “O gover-no não está investindo nisso”, lamentou.

Para o deputado Ivan Valente (P-SOL–SP), que participou da manifestação em frente ao Congresso, a usina “é um atentado social, ambiental e cultural”.

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Transformação

Os números impressionam: em quase 16 anos de existência, a ONG Comitê para a Democratiza-ção da Informática (CDI) já impactou mais de 1,3 milhão de vidas em suas 820 escolas, cha-madas de CDIs Comunidade. Deste total, 479

fi cam no Brasil, 220 nos demais países da América Latina e 121 na Jordânia e na Europa. A caminhada internacional é apenas uma dentre as inúmeras vitórias alcançadas pela organização fundada e presidida pelo empreendedor social Rodrigo Baggio, que começou o trabalho no ano de 1995 e, agora, capitaneia uma série de transformações na entidade.

Se há uma palavra capaz de resumir o momento pelo qual o CDI está passando é mudança. Depois do reconhecimento internacional – a ONG já recebeu mais de 60 dos mais im-

portantes prêmios de empreendedorismo social do planeta – chegou a hora de defi nir os próximos anos de existência do projeto. Ousadia não falta: o CDI foi pioneiro não só na luta pela inclusão digital de populações a princípio excluídas da sociedade da informação como também trilha o caminho audacioso da transformação de uma grande rede em um ne-gócio social dos mais impressionantes, tendo o conhecimento da base da pirâmide da população como seu grande trunfo. Se antes a proposta era levar computadores e internet a comu-nidades carentes, o CDI trabalha, agora, no reconhecimento e consequente desenvolvimento de cidadãos em agentes de transformação social em potencial.

- Há quinze anos, tínhamos um modelo de Escola de Informática e Cidadania (EIC), numa época em que a in-clusão digital não existia. Hoje, governos, ONGs e empre-sas já trabalham com a proposta de inclusão digital – diz

CDI: Tecnologia paraum mundo melhor

Organização com quase 16 anos de vida, o Comitê para a Democratização da Informática também trabalha com empreendedorismo e negócios sociais e exporta seu modelo para outros países

Texto: Elis Monteiro,Especial para a Plurale em revistaFotos: Divulgação

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Rodrigo Baggio. - Toda a nossa experiência nos deu a perspectiva de customizar as ações do CDI e levá-las para outros países, inclusive para países desenvolvidos, como é o caso da Inglaterra, onde o CDI está trabalhando com um projeto chamado Apps for Good, que mostra para onde caminha a inclusão digital, que será feita via telefones celulares.

O empreendedor aponta, aqui, um diferen-cial do trabalho do CDI: uma constante reinven-ção. Neste momento, por exemplo, o foco é na criação de uma consciência cidadã de agentes de transformação, aplicável até mesmo num mundo ideal no qual 100% das pessoas estariam conecta-das à Rede Mundial de Computadores.

- Mostramos que qualquer um é capaz de transformar o mundo num lugar melhor. E nos-so trabalho é o de usar a tecnologia como ferra-menta de transformação social, adotando nossa metodologia – complementa Baggio.

TRABALHO INTERNACIONAL

Em Londres, onde o CDI tem um escritório voltado para networking e captação de recursos, a ONG trabalha, ao lado de parceiros, com um projeto bastante ousado: o uso de telefones celu-lares para a inclusão digital. Do alto da experiên-cia de quem passou a vida ajudando pessoas a se conectarem em países ditos do terceiro mundo, o CDI percebeu a necessidade de criação de pro-jetos do gênero em comunidades de baixa renda da capital do Reino Unido. Assim nasceu o projeto Apps for Good, programa pioneiro desenvolvido pelo CDI em parceria com a Dell Computadores. O objetivo é oferecer capacitação para criação e desenvolvimento de aplicativos para telefonia móvel que ajudem a impulsionar a ação comu-nitária e a transformação social. Um exemplo é o aplicativo para celulares Stop & Search, desenvol-

vido por alunos do programa. Com ele, é possível que cidadãos comuns possam enviar, por exemplo, informações sobre a atuação da polícia para as autoridades competentes, exercendo, assim, sua cidadania de fato e de direito.

Outro caso de sucesso do CDI em terreno internacional foi a incorporação de uma ONG da Jordânia que já trabalhava com projetos de inclusão digital em pleno Oriente Médio. No ano de 2009, a Shabakat passou a se chamar CDI e adotou a metodologia da ONG para atuação e consequente expansão naquele território. Até o momento, a parceria inclui 120 escolas de informática e cidada-nia na Jordânia, que devem se espalhar para outros países do Oriente Médio e também da África.

Atualmente, o CDI está presente ativamente na Argentina, Chile, Peru, Co-lômbia, Equador, Bolívia, Paraguai, Uruguai, México e também nos Estados Uni-dos, onde mantém um escritório para captação.

A atuação da organização na América Latina gerou diversas premiações. Ro-drigo Baggio e CDI já receberam premiações nacionais e internacionais, conce-didas por organizações de grande prestígio, como Unicef, Unesco, Technology Museum, revistas “Times” e “Fortune”, a rede de televisão CNN e o Fórum Eco-nômico Mundial. Além disso, Baggio é fellow das quatro principais organizações internacionais de apoio ao empreendedorismo social: Avina. Ashoka, Schwab e Skoll Foundation. E foi da Ashoka que o CDI recebeu, em 2010, o título de uma das 25 ONGs prontas para a Globalização, o “Ashoka Fellows ready to globalize”.

NEGÓCIOS SOCIAIS

Um dos principais desafi os enfrentados pelas organizações não governa-mentais é, como não podia deixar de ser, a própria sobrevivência. Quando é formada por uma imensa rede, então, o desafi o é ainda mais assustador. Para o CDI não foi diferente. Assim, para fazer frente aos desafi os, que continuam aparecendo, a ONG começou a caminhar, alguns anos atrás, rumo a um trabalho que garantisse saúde para a organização e, ao mesmo tempo, a preparasse para o futuro. Nascia, nesse contexto, o primeiro braço de negócios do CDI, o CDI Lan, que hoje congrega nada menos que 4.500 lan houses espalhadas pelo Brasil, que mobilizam mais de dois milhões de pessoas por mês.

O CDI Lan é o primeiro negócio social voltado para a legalização de lan hou-ses, responsáveis por nada menos que 48% de todo o acesso à internet realizado em território brasileiro. Mais que ajudar a formalizar as lans e transformá-las, através de uma parceria com o Sebrae, em negócios rentáveis e legalizado, o CDI tem o compromisso de transformá-las em pontos de oferta de outros serviços

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aparecem remanescentes da geração anterior, a X, que decidiram abandonar o Segundo Setor em busca de um trabalho que trouxesse satisfação pessoal e profissional. É o caso de Bernardo, que trabalhava em um grande banco e, agora, sonha com um futuro melhor para a parcela mais carente da população e mais qualidade de vida também para sua família.

- O setor 2.5 é movido por uma causa, pela paixão. E tam-bém está mais aberto, conectado, envolvido com o cliente lá na ponta - diz Bernardo.

Outro exemplo dessa paixão é o jovem Marcel Fukaya-ma. Aos 26 anos, faz parte do empolgado time CDI Lan – é co-fundador e diretor de operações - e confessa que o traba-lho com comunidades menos favorecidas é um incentivo a mais. Há três anos, depois de receber um diagnóstico de cân-cer (que foi vencido), ele decidiu dedicar sua vida a projetos sociais e à luta por uma realidade melhor.

- Sempre me incomodei muito com a desigualdade so-cial e queria, de alguma forma, ajudar a mudar essa realidade. Apesar de sermos educados para prosperarmos financeira-mente e poucos estimulados a pensar no coletivo, a geração Y busca a satisfação e o bem-estar pessoal antes de um alto salário – diz Marcel. - Abri mão de metade de minha renda e busquei uma organização com alto impacto na transforma-ção social e comunitária. Tenho como missão viver com sig-nificado e mobilizar outras pessoas para que façam o mesmo e saber que estou contribuindo para um mundo melhor me traz uma satisfação pessoal única.

Rede CdI: um patRImônIo

Tendo como fonte de inspiração o grande educador Pau-lo Freire, o CDI tem em sua rede o grande tesouro da organi-zação. Em parceria com organizações de base popular, reco-nhecidas e respeitadas em seu local de atuação, o CDI criou espaços não formais de ensino chamados CDIs Comunidade. Hoje, são 820 escolas espalhadas por vários estados brasilei-ros, além de outros países.

De Paulo Freire vieram os cinco passos adotados pela metodologia de trabalho do CDI: ver o mundo, pesquisar os dados, planejar a ação, mobilizar para agir utilizando a tecno-logia e avaliar o caminho percorrido. Nos CDI Comunidade, a população tem acesso a 11 cursos e 30 modalidades de serviço já sistematizados pela Rede. Eles vão desde montagem e ma-nutenção de computadores até edição de vídeo e criação de blogs, demandas crescentes. Na parte de serviços, estruturada com base em planos de negócio, há oferta da conexão à inter-net (com ou sem assistência), serviços de governo eletrônico, pesquisas escolares, design gráfico, montagem e manutenção de computadores, formação de redes, elaboração de currícu-los, e-learning, e-health, bureau gráfico e outros.

E é do conhecimento profundo das comunidades e seus moradores que o CDI tirou mais uma fonte de renda para a sua rede: o CDI Consulting, serviço de consultoria em base da pirâmide que a entidade já oferece para grandes empresas.

- Estamos falando de uma nova onda para o terceiro se-tor, a grande promessa de escala e sustentabilidade para os trabalhos sociais. Com o CDI Lan, por exemplo, nosso propó-sito é legalizar e formalizar as LANs, que no Brasil já passam de cem mil. Não somos mais a ONG que leva computadores para a favela. Hoje, já falamos em usar a internet como ferramenta transformadora – diz Rodrigo Baggio.

que vão além da conexão à internet: nos CDI Lan o público encon-tra uma gama maior de produtos e serviços, como bureau gráfico, acesso a serviços de e-gov, dentre outros. A ideia é investir em capa-citação, inovação e empreendedorismo, evitando que o dono da lan house desista do empreendimento e permitindo que ele continue prestando serviços à sua comunidade.

Uma pesquisa realizada pelo Sebrae-SP mostrou que 31% das empresas dessa categoria não passam do primeiro ano de existên-cia. Outros 60% não conseguem atingir a marca de cinco anos no mercado. O que leva as lan houses a apresentarem tais fragilidades é justamente a falta de planejamento estratégico e estruturação do negócio. Cabe ao CDI Lan promover a gestão desses centros públicos de acesso pago, além de exigir a adoção de um “Código de Conduta” das empresas que se afiliarem à instituição.

– As lan houses já chegam a mais de 30 milhões de pessoas. Nos-sa ideia é adaptar a nova conectividade e também capacitar o empre-endedor, gerar valor e renda até mesmo para pessoas com baixo índi-ce de aprendizado, como é o caso de muitos donos de lan houses. O CDI Lan tem um DNA colaborativo, de co-criação com os donos desses estabelecimentos que tem tudo a ver com o novo mundo dos negócios sociais, nos quais se alia a vontade de fazer um mundo melhor com a possibilidade de trabalhar em um empreendimento seu - diz Bernardo

Faria, presidente do CDI Lan.

O CDI Lan tem como prin-cipal investidor a Vox Capital, capitaneada por Antonio Ermínio de Moraes Neto, jovem empreen-dedor apaixona-do por negócios sociais. Aliar a paixão, o amor

pelo próximo e os projetos sociais aos negócios é uma tendência que não só tem encantado as grandes empresas como tem sido uma busca constante da nova geração que nasceu e cresceu na era digi-tal - batizada de Geração Y. E ao lado dos nativos dessa nova era,

Transformação

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 2011

Viver bem Mencionada pela primeira vez em 1744, a retinose pigmentar é uma doença degenerativa da retina, cuja causa é genética e hereditária, e que hoje afe-ta 4% da população mundial. Só no Brasil existem cerca de 50 mil pessoas com retinose, entre as

quais Eusébio de Sousa Lima.Assim como o irmão mais velho, Eusébio nasceu com a saúde

perfeita e somente aos 12 anos apresentou os sintomas da doença, que em meses o levou à cegueira. Mas ainda que o sofrimento tenha modifi cado de forma extrema a vida deste jovem – hoje com 48 anos – Eusébio não perdeu a capacidade de sonhar. Literalmente. “Como não nasci cego, tenho a memória de formas e cores, de lugares, de objetos e de pessoas. Quando durmo, vejo essas imagens, tais quais elas são para quem está acordado. Mas as vejo em meus sonhos, o que é muito emocionante”.

Talvez o inexplicável mundo dos sonhos tenha sido determinante na trajetória de Eusébio, para que algumas respostas do mundo real e o entendimento sobre a condição humana fossem, de certa forma, revelados a ele, ajudando em conquistas como a família e o trabalho como massoterapeuta, ou melhor, o sacerdócio, como Eusébio gosta de chamar.

Esse talento dos cegos já tem tradição no Rio de Janeiro. Há mais de 20 anos, o Instituto Benjamin Constant, criado pelo Imperador D.Pedro II em 1854 como primeiro passo no Brasil para garantir ao cego o direito à cidadania, forma cegos massagistas de diversas linhas. O curso ministrado no IBC é reconhecido pelo Ministério da Saúde e ajuda a profi ssionalizar parte da grande população de cegos que existe no Brasil. Não há estatísticas precisas, mas acredita-se que 10% da po-pulação brasileira é portadora de alguma defi ciência visual. Desses, 2% delas, ou seja, mais de três milhões de pessoas, são totalmente cegas.

No IBC Eusébio, recebeu educação formal e aprendeu a conviver com a defi ciência. Foi lá também que fez os primeiros cursos para operador de câmara escura (há 30 anos é contratado do Município,

Massoterapeuta defi ciente visual conquista clientela vip no Rio de JaneiroMassoterapeuta defi ciente visual conquista clientela vip no Rio de Janeiro

Toque MágicoTexto: Carolina Alvarez, Especial para Plurale em Revista Foto: Ana Colla/ Divulgação

emprego conquistado por meio de concurso público) e também os cursos na área que hoje é a grande paixão. Mas ele ainda acha que faltam livros especializados: “o que existe em braile na litera-tura sobre massagens e terapias ainda é pouco. Tive difi culdade de acesso a material acadêmico. O áudio-book tem ajudado, mas ainda assim encontramos os clássicos da literatura – imperdíveis – mais ainda não obras de interesse mais específi co ou técnico”.

Há décadas Eusébio estuda as inúmeras técnicas de mas-sagem e de tratamento fi sioterapeutico, entre os quais a reestruturação corporal e a ioga. O primeiro estágio nesta área foi no hospital público Pedro Ernesto, na ala ortopédica, onde atendeu muitos pacientes em fase de reabilitação pós-operatória e traumática. Depois, encontrou no mercado da beleza e bem-estar outras possibilidades de terapia. E não parou mais de usar as mãos para aliviar tensões e dores.

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Mas foi quando em 1997 perdeu um fi lho em um assalto de ônibus que ele passou a usar os recursos da sabedoria te-rapêutica como forma de cura para além das dores físicas, e sim na busca pelo bem-estar maior, do corpo e da alma. “Eu sen-tia uma dor que não passava nunca, com remédio algum. Precisei mergulhar num universo paralelo, que hoje entendo que está mais conectado ao nosso dia a dia do que podemos perceber”.

O então operador de câmara escura e massoterapeuta foi fazer um retiro e morou durante mais de um mês em uma tribo indígena, a dos Fulniô, assentada na cidade de Águas Belas, no sertão, a 273 quilômetros da capital do estado de Per-nambuco. O município está compreen-dido no chamado polígono das secas e é totalmente cercado pelos Fulniô. Eles são o único grupo indígena do Nordeste que conseguiu manter viva e ativa a própria lín-gua (o Ia-tê) assim como o ritual Ouricuri, atualmente realizado no maior sigilo. Foi neste ambiente que Eusébio aprendeu os segredos xamanicos da terapia e ainda o que considera a maior lição de sua vida: “a viver na simplicidade”.

“Foi uma lição de vida que procuro trazer para a minha rotina como uma linha mestra, condutora. Vivo em harmonia com minha família (Eusébio é casado e tem um fi lho de 23 anos) e procuro levar esta har-monia para cada uma das pessoas que me procuram, mesmo quando elas pensam que é apenas para aliviar uma tensão ou para fazer uma drenagem estética”.

aS mÃoS Como InStRumento

No mundo todo, os defi cientes vi-suais estão trabalhando principalmente com shiatsu, que utiliza o princípio da

monia para cada uma das pessoas que me procuram, mesmo quando elas pensam que é apenas para aliviar uma tensão ou para fazer uma drenagem estética”.

aS mÃoS Como InStRumento

suais estão trabalhando principalmente com shiatsu, que utiliza o princípio da

Toque Mágico

turos massagistas estudam em tempo integral para aprender mais de 20 técnicas diferentes ao longo de três anos de curso. Somente na capital chinesa há 400 clínicas que contratam massagistas cegos com salário médio equiva-lente a R$ 1.500.

BeLeZa mentaL, eSpIRItuaL e FÍSICa

Eusébio trabalha há 28 anos com massa-gem Ayurvédica, relaxamento e massagem xamânica, usa aromaterapia, mais de 20 téc-nicas diferentes de tratamento e acredita que a combinação deste conhecimento ajuda na beleza . “Alem de relaxar e alinhar músculos e tendões, as massagens deixam as mulheres mais bonitas. No decorrer de nossas vidas, a mudança de nosso centro energético pode causar desequilíbrios que provocam doenças físicas, mentais e emocionais, alterando nossa aparência. A massagem consegue mudar isso, e a pessoa fi ca mais bonita”, conta o masso-terapeuta que reconhece as necessidades das clientes pelo toque.

Segundo a química e especialista em be-leza, Cris Fernandes, dona do SPA Club Ca-pelli, os tratamentos hoje vão muito além da questão estética. “Profi ssionais como o Eusé-bio, que é cada vez mais procurado tanto por homens como por mulheres, lançam mão de várias técnicas em busca do bem-estar físico e mental. A massagem não é mais apenas para relaxar o corpo, mas para trazer um equilíbrio tão necessário aos dias de hoje”.

Para Eusébio, sua missão não é só a de ten-tar trazer mais equilíbrio através das mãos, mas é também a de disseminar este conhecimento, formando novas gerações de massoterapeutas. A ideia de ter uma escola para capacitar jovens nas técnicas que já domina vai sair do papel até o fi nal de 2011. Graças a uma parceria com a Cris Fernandes que aposta no trabalho, Eusé-bio vai abrir cursos preparatórios para jovens da favela da Rocinha, que serão capacitados profi ssionalmente para atuar como massote-rapeutas. “Vamos começar com a iniciação em óleos e técnicas de relaxamento, mas nosso objetivo é despertar nesses jovens o interesse pela profi ssão e ajudá-los a serem massotera-peutas reconhecidos no mercado”.

“A Cris Fernandes é uma grande amiga, que tem o entendimento de que o equilíbrio huma-no é essencial não só para o bem-estar pessoal, mas para a harmonia de todos que vivem em sociedade. É este trabalho que desenvolvemos no Club Capelli e é para isso que nos unimos diariamente: em prol de uma humanidade mais realizada, mas equilibrada, mais feliz!”.

acupuntura para tratar desde problemas da coluna até doenças crônicas, como rinite e alergias. A técnica busca o equi-líbrio energético e a sensibilidade dos ce-gos os ajuda a localizar mais rapidamente os pontos que devem ser trabalhados e a manuseá-los com mais efi ciência.

Embora novidade na sociedade ociden-tal, o tato apurado dos defi cientes visuais é explorado há milhares de anos pelos orien-tais. Foram os cegos que levaram a técnica do shiatsu da China para o Japão durante o século XIII. Os massagistas cegos são muito apreciados e valorizados no país, onde há 90 mil diplomados nos três níveis de espe-cialização, com diplomas dados por univer-sidades da técnica tradicional da China.

Em 2008, na China, uma seleção de 40 alunos de uma escola de massagistas com defi ciência visual foi convidada para trabalhar durante os Jogos Olímpicos, mas-sageando os atletas. Na instituição, toda preparada para receber cegos, com corri-mãos especiais que avisam onde o aluno se situa e computadores adaptados, os fu-

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O cuidado com a naturezapode começar na sua cozinha.

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza convida você a participar do

Gastronomia Responsável. Um movimento com curadoria do chef Celso Freire, que leva em conta o cuidado com o meio ambiente

em suas receitas por meio de quatroprincípios de conservação:

Conheça mais sobre o movimento e participe: invente uma receita que utilize

pelo menos um dos princípios do Gastronomia Responsável, poste no site

e espalhe essa idéia!www.gastronomiaresponsavel.com.brgastronomiaresponsavel

Pratique

você também.

Realização:

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Decifrando rótulosVocê sabe ler os rótulos dos produtos

que compra? Muita gente se confun-de e não é para menos: letras miúdas e informações que parecem feitas sob medida apenas para nutricionistas e especialistas deixam mesmo qualquer consumidor - mesmo os mais atentos – perdidos. Algumas dicas são bem práticas: a informação nutricional mos-tra a quantidade de nutrientes por por-ção do alimento. E no caso da gordura trans, não olhe apenas este item, mas também o total de gordura do alimento. Fique atento também à quantidade de sódio. Prefi ra sempre os produtos ricos em fi bras e gorduras insaturadas.

Romã em altaGosta de romã? Pois se não

gosta, é bom rever seus concei-tos. Como já tínhamos reve-lado na edição 17, a romã é a grande “vedete” do momento.

Percebendo isso, a Embrapa Agroindústria de Alimen-tos, em parceria com a Embrapa Semiárido e a Universidade Federal do

Rio de Janeiro (UFRJ), está dando início a pesquisas

com o apoio do CNPq para agregar valor à produção de romã. A proposta é buscar outras formas de inserir a romã no mercado sobretudo com o aproveitamento das frutas de aparência não comercial para elaboração de ingredientes antioxidantes.

A romã contém, entre os diversos compostos bioativos, as antocianinas, que assim como a vitamina C, Vitamina E e o beta-caroteno, por ter defi ciência de elétrons, captam facilmente os radicais livres. Estes radicais, se produzidos ou absorvidos em excesso aumentam os riscos para doenças como hipertensão, cataratas, artrite e envelhecimento precoce. Sucos, cápsulas e óleos de romã estão sendo estudados e vendidos nas lojas espe-cializadas. Na Embrapa estão estudando até cristalizar a casca da romã para aumentar o tempo de conservação. Vai de romã?

Selos OrgânicosProdutores orgânicos

que ainda não possuem, em seus produtos, o selo ofi cial de garantia do Ministério da Agricul-tura (MAPA), devem correr. Des-de janeiro deste ano, a certifi cação passou a ser obrigatória. Entre as penalidades previstas estão multa e apreensão do material. Segundo recente avaliação do MAPA, apenas 5,5 mil produtores orgânicos estão de acordo com as novas regras. O número é preo-cupante, já que o setor no país reúne de 15 a 20 mil produtores.

Para adquirir o selo, o produtor orgânico deve fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, o que é possível so-mente se estiver certifi cado por um dos seguintes mecanismos: Certifi cação por Auditoria; Sistema Participativo de Garantia; e Controle Social na Venda Direta. Neste último, a legislação bra-sileira abriu uma exceção na obrigatoriedade de certifi cação dos produtos orgânicos para a agricultura familiar. Exige-se, porém, o credenciamento numa organização de controle social cadastrado em órgão fi scalizador ofi cial. (Regina Xeyla, da Agência Sebrae de Notícias)

VIDA SaudávelGosta de romã? Pois se não

gosta, é bom rever seus concei-tos. Como já tínhamos reve-lado na edição 17, a romã é a grande “vedete” do momento.

Percebendo isso, a Embrapa Agroindústria de Alimen-tos, em parceria com a Embrapa Semiárido e a Universidade Federal do

Rio de Janeiro (UFRJ), está

Fonte: Bruna Murta - Nutricionista da rede Mundo Verde.

Conheça o signifi cado de cada item na tabela:

Valor energético: Energia produzida pelo corpo, ao ingerir o alimento. Provém dos carboidratos, proteínas e gorduras. Ex-presso em Kcal e kJ. 1 kcal equivale a 4,2 kJ.

Carboidratos: Nutriente energético. Principal fonte de energia para o cérebro.

Proteínas: Nutriente usado na construção e manutenção dos tecidos.

Gorduras totais: Soma das gorduras do alimento.

Gorduras saturadas: Prejudiciais à saúde. Seu consumo deve ser moderado. Em excesso pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

Gorduras trans: Gordura formada em processo de hidrogena-ção industrial. O excesso contribui para aumento do colesterol total e LDL e redução do HDL. O ideal é consumir menos de 2g/dia.

Gorduras insaturadas: Gorduras de origem vegetal. Têm efei-to antioxidante e auxiliam na prevenção de doenças cardiovas-culares. São mono ou polinsaturadas. Devem representar mais de 20% das gorduras consumidas.

Sódio: Mineral que participa da regulação dos batimentos car-díacos e volume sanguíneo. Em excesso pode causar hiperten-são arterial e acidentes vasculares cerebrais.

Fibra alimentar: Componente de alimentos vegetais, não dige-rida pelo organismo. Atua no controle do peso e do colesterol, no funcionamento intestinal e controle de diabetes.

Sódio: Mineral que participa da regulação dos batimentos car-díacos e volume sanguíneo. Em excesso pode causar hiperten-são arterial e acidentes vasculares cerebrais.

Selos OrgânicosProdutores orgânicos

que ainda não possuem,

do Ministério da Agricul-tura (MAPA), devem correr. Des-de janeiro deste ano, a certifi cação passou a ser obrigatória. Entre

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O cuidado com a naturezapode começar na sua cozinha.

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza convida você a participar do

Gastronomia Responsável. Um movimento com curadoria do chef Celso Freire, que leva em conta o cuidado com o meio ambiente

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Documentário

Texto: Raquel Ribeiro, Especial para Plurale em RevistaFotos: Divulgação

O supermercado tem muita coisa para comprar. Mas pouca coisa para comer... E não estamos fa-lando dos produtos da seção de limpeza ou de cosméticos. Trata-

se do que está dentro de embalagens caras e sedutoras, que sugerem alimentos “frescos”, “vindos direto da fazenda” ou “saudáveis”. Eco-terrorismo? Antes fosse... Estratégias, segredos e mentiras da multimilionária indústria alimen-tar são revelados em Food,Inc, concorrente ao Oscar de melhor documentário. Dirigido por Robert Kenner e narrado por Michael Pollan e Eric Schlosser – autores de O Dilema do Oní-voro e País Fast Food, respectivamente –, o fi lme mostra que “um véu é deliberadamente colocado e mantido, pela indústria alimentar, entre nós e a fonte de nossa comida”.

O roteiro se prende exclusivamente ao que acontece nos Estados Unidos, mas a re-alidade brasileira (e global) é praticamente e mesma: as terras e a produção agrícola se concentram nas mãos de poucos, a im-prensa é expulsa de granjas e abatedouros, multinacionais dominam o processamen-to e a venda dos alimentos. E o governo tem as mãos igualmente atadas – ou no Brasil não é relevante a bancada ruralista e o lobby da agroindústria, assim como a defesa dos transgênicos e de interes-ses de empresas como Cargill, Monsan-to e Friboi?

Pois bem, vamos aos fatos. O fi l-me aponta que:

- Em 40 anos o modo de produ-ção de alimentos mudou mais do que em 2000 anos de história.

- No inicio do século, um agri-cultor produzia o sufi ciente para alimentar de 6 a 8 indivíduos. Hoje, um único trabalhador rural

gera “comida” para até 126 pessoas.- O Mc Donalds é o maior comprador de carne

bovina dos EUA. E um dos maiores compradores de carne de frango e de porco, batatas, tomates e até maçãs...

- Herdeiro do fast food, esse sistema alimen-tar industrial tem por objetivo produzir de forma rápida, barata e em grande escala. Cada trabalha-dor é treinado a exercer uma única tarefa (como descascar batatas ou separar a coxa da sobreco-xa). Isso permite pagar pouquíssimo e substituir a mão-de-obra com facilidade.

- A indústria alimentar é movida apenas pelo lucro. Danem-se custos ambientais e sociais, os danos à saúde pública e os direitos dos trabalha-dores e dos animais.

- Nos EUA, um pequeno grupo de grandes cor-

O Big negócio da comida

“Você pode salvar o mundo a cada dentada” afi rma FOOD, Inc.

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porações controla quase toda a comida que circula no mun-do, da semente até o supermercado. Hoje, quatro corpora-ções controlam 80% do mercado de alimentos.

- Uma única fazendeira autorizou a entrada de Robert Kenner em sua granja. As câmeras mostraram frangos mor-rendo antes e durante o transporte. Consequência, segundo ela, a engorda rápida promovida por antibióticos colocados nas rações. A coragem da fazendeira teve um alto preço: a Pardue encerrou o contrato que tinha com ela.

- Naturalmente, o gado vive solto no pasto, comendo capim e engordando de forma gradual. Porém, o milho e a soja são altamente subsidiados pelo governo norte-america-no, alcançando preços tão ínfi mos que são irresistíveis para o criador de gado. Em poucas décadas, os animais foram confi nados e obrigados a se alimentar basicamente desses grãos, passando a engordar muito mais depressa. Com o tempo, sobrecarregados pelo esforço imenso para digerir o milho (sem uma moela como a das aves), os estômagos dos bovinos desenvolveram uma cepa potencialmente letal da bactéria Escherichia Coli. Quando se constatou que a super-bactéria ameaçava contaminar toda a carne bovina dos EUA, em vez de mudar a dieta do gado, a indústria encontrou uma solução química: lavar toneladas de carne com milhões de litros de cloro e amoníaco.

Boa parte do que comemos hoje é geneticamente modi-fi cado (quando não é transgênico ou clonado), traz resquí-

cios de antibióticos, pesticidas e outros venenos. E esse alimento – em especial as carnes – tem maior risco de impregnação por bactérias muitas vezes fatais. A indústria alimentícia está nos matando. O curioso é que a palavra vegetarianismo não é men-cionada uma única vez nesse documentário. Nem a mãe de um menino que morreu após comer um hambúrguer de carne contaminada por E. coli disse o que mudou na sua dieta após a desgraça. O mo-tivo? Nos EUA dá processo! Caso da apresentadora de TV Oprah Winfrey que afi rmou no ar, na época da doença da vaca louca, que nunca mais colocaria um hambúrguer na boca. Infl uente, corajosa e rica, respondeu ao processo e ganhou a causa. E quem não tem esse poder, o que fazer diante desse ce-nário onde aparentemente somos reféns? Seja um consumidor consciente! Somos nós que estamos no fi nal dessa cadeia, bancando todo o processo (com ajuda dos incentivos governamentais, claro). FOOD, Inc. nos lembra de como a indústria do ta-baco praticamente acabou por conta da pressão dos consumidores. Se, na hora da compra, escolhemos o que é produzido localmente, compramos frutas e legumes de época e alimentos orgânicos, estamos dando três vezes por dia nosso voto contra essa in-dústria. Falta agora um documentário que mostre as perigosas relações entre a indústria alimentícia e a farmacêutica...

Uma reportagem de Christine Kearney, da Agência Reuters, diz que após o lançamento de FOOD, Inc, associações comerciais representativas da indústria de carne nos EUA, que movimenta 142 bilhões de dólares por ano, se uniram para refutar as alegações feitas no fi lme. Lideradas pelo Institu-to Americano da Carne, criaram sites, incluindo o Alimentos Seguros.com. “A campanha delas afi rma que os alimentos norte-americanos são seguros, abundantes e de preços acessíveis.”

Para saber mais: takepart.com/foodincBaixe gratuitamente o documentário: www.foo-

dincmovie.com/spread-the-word.php baixardegra-ca.com/fi lme-food-inc.html.

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Rótulos remetem à uma suposta origem pastoril dos alimentos e são usados para esconder a verdade sobre o sistema de produção industrial.

Rótulos remetem à uma suposta origem pastoril dos alimentos e são usados para esconder a verdade sobre o sistema de produção industrial.

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Quem circula na rede ou viaja ao exterior já percebeu que não há conversa com um es-trangeiro bem infor-

mado que não passe pelas questões do Meio Ambiente e Área Social no Brasil. Amazônia, Mata Atlântica, os rios, fl orestas, Dorothy Stang, a questão social, das comunidades, do tráfi co de drogas e vários ou-tros temas são lembrados pelos interlocutores globais quando é hora de saber o que está aconte-cendo no Brasil.

Deixamos de ser vistos como um ponto local para ser-mos incluídos na grande aldeia global. E, sem dúvida, Susten-tabilidade é um dos principais temas nesta pauta.

Assim, Plurale em site acaba de estrear uma nova seção no portal, em inglês: “Plurale in En-glish”. São temas de interesse destes leitores globais sempre ávidos por novidades sobre o que está se passando por aqui. Seja na Floresta Amazônica ou no desastre natural que devastou grandes áreas na Região Serrana do Rio de Janeiro. Também temos divulgado neste espaço bons estudos e papers de instituições internacionais sobre temas relevantes. Para ter acesso a este material basta entrar no link:http://www.plurale.com.br/noticias.php?cod_secao=13

Também estamos explorando ainda mais os temas globais. Na seção “Pelo Mundo” é possível encontrar não só as notas de correspondentes de Plurale em di-ferentes pontos do planeta, mas também novidades di-árias internacionais. A crise política no Egito e o drama vivido pelos haitianos são alguns destes temas aborda-dos no portal. Conheça também esta nova seção:http://www.plurale.com.br/noticias.php?cod_secao=16Outra novidade é a Coluna “Cinema Verde”, que a partir desta edição, Plurale em revista estreia. A jornalista Isabel Capaverde, especialista em Cinema, irá apresen-tar as novidades de documentários e fi lmes com foco ambiental e social. O tema também é apresentado no portal Plurale.

Novidades

Plurale em site agora também com seção em inglês

Carlos Franco, Editor de Plurale em revista

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Gaúchos preparam novo fi lme Sustentável

Sem tela sim, mas sem festival não!Temos hoje cerca de duas mil e 238 salas de cinema no

país, praticamente o dobro do que tínhamos no fi nal dos anos 1990, mais ainda são poucas. E pior: estão concentradas em determinados estados, cidades e bairros. O resultado é que apenas 9% dos municípios brasileiros possuem salas de cine-ma. O que não intimida nossa produção audiovisual, muitos menos a realização de mostras e festivais de cinema pelo Brasil afora. Segundo levantamento do Guia Kinoforum de Festivais de Cinema e Vídeo e do Fórum dos Festivais, em 2011 serão 141 de norte a sul. E de temática verde (ação, cidadania e meio ambiente) mais de 20.

Procurando uma saída sustentável para sua produção, a Casa de Cinema de Porto Alegre - produtora independente sediada na capital gaúcha e que tem entre seus sócios Jorge Furtado e Car-los Gerbase – está fi nalizando “Menos que nada”, longa de fi cção roteirizado e dirigido por Gerbase, rodado em mídias digitais. O suporte de realização é o vídeo da alta defi nição (HD) e a exibição acontecerá nas salas de cinema através do sistema RAIN, com lan-çamento simultâneo em DVD, televisão e internet. O projeto dará continuidade a experiência feita pela Casa de Cinema com formas alternativas de produção, distribuição e exibição de obras de bai-xo orçamento, iniciada com o longa “3 Efes”, em 2007. “Menos que nada” deve ser lançado no segundo semestre de 2011.

“Quem se importa”Em fase de edição, o documentário de longa metragem “Quem

Se Importa”, da Mamo Filmes, mostra empreendedores sociais ao redor do mundo. Poucos conhecem o trabalho dessas pessoas que fundaram organizações inovadoras e estão não só mudando a socie-dade ao seu redor, mas também causando impacto para que suas ideias virem políticas públicas aplicadas pelo planeta. A equipe da produtora viajou por vários continentes para encontrar empreende-dores como Muhammad Yunus, Bill Drayton, Mary Gordon, Karen Tse, Andreas Heinecke, Joaquín Leguía, Isaac Durojayie, Bart Wee-tjens, Jehane Noujaim. Entre os brasileiros ouvidos Joaquim Melo, Rodrigo Baggio, Vera Cordeiro e Welligton Nogueira. Gravado em HD o fi lme terá muita animação para atrair o público jovem.

100 anos de cinema na BahiaPara comemorar os 100 anos de cinema na Bahia, o Ministé-

rio da Cultura, por meio da Cinemateca Brasileira, em parceria com a Secretaria de Cultura, através da Diretoria de Audiovisual (DIMAS) da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), lançou uma caixa de 12 DVDs – “BAHIA, 100 ANOS DE CINEMA”. O projeto contou com a curadoria do cineasta Joel de Almeida e dos professores e pesquisadores do cinema brasileiro, Rubens Machado Jr., Carlos Alberto Mattos e Maria do Socorro Carvalho que selecionaram 30 títulos representativos desse primeiro cen-tenário do cinema baiano. Para democratizar o acesso, os DVDs serão distribuídos gratuita e prioritariamente para instituições de pesquisa e difusão audiovisual, pontos de cultura, cineclubes, bi-bliotecas e mediatecas.

JANEIRO - *Cinecipó - 1º Festival de Cinema Sócio-Ambiental da Serra do Cipó (MG) - http://www.cinecipo.com / MARÇO - *É Tudo Verdade -16º Festival Internacional de Documentários (RJ e SP) - http://www.etudoverdade.com.br / ABRIL - *5ª Mostra de Cinema de Animação da Baixada Fluminense - Baixada Animada (RJ) - http://www.baixadaanimada.com.br *Anim!Arte – 10º Festival Brasileiro Estudantil de Animação (RJ) - http://www.vouanimarte.com.br / MAIO - *6º Festival Cine Favela de Curta Metragem (SP) - http://www.cinefavela.org.br *Fluxus 2011 – Festival internacional de Cinema na Internet - http://www.fl uxusonline.com *Cine Gaia - 2º Festival de Cinema Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro - http://www.cinegaia.org / JUNHO - *CineCUFA - 5ª Mostra Internacional de Cinema da Periferia (RJ) - http://www.cinecufa.com.br *Femina - 8º Festival Internacional de Cinema Feminino (RJ) - http://www.feminafest.com.br *Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – FICA (GO) – http://www.fi ca.art.br / AGOSTO - *5º Festival Audiovisual Visões Periféricas (RJ) - http://www.visoesperifericas.org.br *Festcine Maracanaú - 2º Festival de Cinema Digital e Novas Mídias (CE) - http://www.festcinemaracanau.com.br *Festzoom

- 2º Festival Jovem de Cinema, Tv e Novas Mídias (RJ - http://www.festzoom.com.br / SETEMBRO - *6º Festival de Cinema Feminino - Tudo Sobre Mulheres (MT) - http://www.tudosobremulheres.com.br *Imagem dos Povos - 7ª Mostra Internacional Audiovisual de Ouro Preto (MG) - http://www.imagemdospovos.com.br *Entretodos – Festival de Curtas de Direitos Humanos (SP) http://www.entretodos.com.br / OUTUBRO - *CLOSE - 2º Festival Nacional de Cinema da Diversidade Sexual (RS) - http://www.somos.org.br/close / NOVEMBRO - *Festcineamazônia – 9º Festival Latino Americano de Cinema e Vídeo Ambiental (RO) - http://www.cineamazonia.com *8º Amazonas Film Festival - Aventura, Natureza e Meio Ambiente (AM) - http://www.amazonasfi lmfestival.com.br *Forumdoc bh.2011 – 14º Festival do Filme Documentário e Etnográfi co de BH - http://www.fi lmesdequintal.com.br *6ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul (Itinerante) - http://www.cinedireitoshumanos.org.br *Mostra Internacional do Filme Etnográfi co (RJ) – http://www.mostraetnografi ca.com.br *Festival Mix Brasil de Diversidade Sexual (SP/RJ) - http://www.mixbrasil.org.br

Festivais temáticos em 2011 que merecem sua atenção:

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

CINEMA Verde ISABEL CAPAVERDE

Fonte: Fórum dos Festivais, Guia Kinoforum de Festivais de Cinema e Vídeo

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P elo Mundo

50 PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 2011

Wilberto Lima Jr. Correspondente de Plurale em revista nos EUA De Boston

Os EUA, real-mente, atra-vessam uma

fase difícil. A econo-mia não consegue re-agir na medida certa da recuperação e já está muito claro que este será um processo penoso e demorado.

As consequências são várias, como a taxa de desemprego que

pouco se altera, ou a difi culdade de crédito, ou a evidente falta de entusiasmo da população. Uma dessas consequências é a sensação de que a as propostas de legislação ambiental trazidas pelos Democratas, para um efetivo combate ao aquecimento global, cada vez mais perdem força.

Pesquisas de opinião indicam que, curiosamente, o número de ame-ricanos que acredita na realidade do aquecimento global diminui a cada ano. É uma surpresa. Afi nal, é possível sentir na pele estes efeitos e a TV, assim como a Internet também mostram exaustivamente a diversidade e a quantidade de desastres ambientais que ocorrem tanto nos EUA quan-to em todo o mundo (enchentes na Austrália, deslizamentos no Brasil).

Nas eleições de 2010, os Democratas - com vantagem no Congresso Americano e levando a frente as ideias liberais de Barack Obama -sofre-ram uma derrota consistente.Ainda em 2009, o Presidente Obama che-gou a ver aprovado na House of Representatives (Câmara) o Cap-and-Trade Act, ou seja, a lei que estabelecia metas de redução de emissão de carbono e permitia o comércio de quotas de carbono. Previa-se, então, reduzir em 17%, até 2020, aos níveis de 2005.

A ideia de intervenção do Estado na vida dos americanos sempre foi um dos dogmas deste país (esclarecendo, os americanos não gostam da interven-ção na economia) e esta foi uma das armas dos Republicanos nas eleições

Aquecimento global: queda de braço nos EUA

do ano passado. O Cap-and-Trade passou a ser chamado de “Cap-and-Tax”, pois signifi cava novos custos para as fragiliza-das empresas americanas. O Senado rejeitou a lei em 2010.

O atual Congresso Americano não irá se mover no sen-tido de aprovar alguma legislação ambiental pelos supos-tos efeitos negativos sobre a economia americana.

Outro campo de luta é o que envolve a EPA (Environ-mental Protection Agency), que está sob forte pressão, sempre pelos mesmos motivos. A Agência tem o poder de limitar a emissão de gases do efeito estufa, mas não de forma tão fl exível e efi ciente como o Cap-and-Trade per-mitiria. Um estudo recente mostrou que, mesmo se a EPA implantasse suas regras de forma agressiva, a redução se-ria de apenas 12% até 2020. Difícil, quando confrontado com a opinião de vários cientistas que indicam uma redu-ção de 36 a 48% para interromper o aquecimento global.

Uma mostra da pressão sobre a EPA foi notada quan-do, no ano passado, ela estabeleceu regras que limitaram sua atenção muito mais para grandes poluidores, como geradoras de energia, refi narias e indústrias químicas.

Assim, hoje, a luta saiu do campo legislativo e foi para o campo regulatório, deixando a Agencia sob o ataque dos recém-empossados Republicanos. Certamente, eles vão bloqueá-la no estabelecimento de padrões de polui-ção. Não se sabe quem vai ganhar esta “queda de braço”.

Recentemente, a administração Obama resolveu re-duzir ou eliminar regras ou regulamentos para favorecer a indústria, serviços e comércio e consequentemente a criação de empregos. É uma mostra que ele acusou o gol-pe recebido nas eleições. Para o “clima político interno” é uma medida positiva, mas para o clima do planeta pode ser mais um passo atrás. Que o digam os ambientalistas deste País e do Mundo.

Vivian Simonato, Correspondente de Plurale - De Dublin, Irlanda

Proposta da União Europeia para redução de emissõesna agricultura deve sair até junho

A comissão para Ação Climática da União Europeia se reuniu em janeiro para apre-sentar os resultados da consulta entre

Estados-Membros e público para inclusão dos setores de agricultura e silvicultura nas ações para reduzir emissões de gases com efeito estu-fa. A União Europeia vem adotando várias me-didas em setores como os de energia e trans-porte para que o objetivo de reduzir emissões em 20% abaixo dos níveis de 1990 até 2020 seja atingido. No entanto, agricultura e silvicultura

não fazem ainda parte dos setores que precisam ser mais “verdes”, apesar de responderem por 14% das emissões globais de CO2 de acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre Mu-danças Climáticas das Nações Unidas. A consulta sobre a inclusão desses setores foi iniciada em 2010 juntamente com um levantamento feito por experts em políticas climática. O resultado deve gerar um comunicado seguido de proposta legis-lativa para os setores de agricultura e silvicultura que será apresentada até junho de 2011.

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Texto e fotos: Mônica Pinho, De Perth, da Austrália, Especial para Plurale em revistahttp://monicaemperth.blogspot.com/

Começar o ano com limpeza geral

A cabo de chegar com a família nesta simpática cidade aus-traliana e me animo em des-

cobrir novidades. No fi m de janeiro foi a vez de conhecer a “House Hold Junk Collection”. Os moradores daqui colocam tudo de velho que não querem mais nas calçadas para serem recolhidos e reciclados. De móveis a eletrodomésticos. Uma forma interessante de não acumular

“tralha” ao longo do ano. E tem ainda o dia para tralhas, para recolher o lixo do jardim, como galhos secos etc.

Ivna Maluly, de Bruxelas, Especial para Plurale em site

Museu de Magritte terá melhores instalações

Dedicado à obra do pintor surrealista René Magritte, o museu, localizado em Bru-

xelas, que abriu suas portas em junho de 2009, ficou fechado para obras em janeiro.

O objetivo, de acordo com a di-reção do centro cultural, foi o de me-lhorar as instalações de ventilação e ar condicionado julgadas necessárias

para acompanhar os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos. As salas de exposição passaram também por transformações: receberão novas

cores. O museu, que tem mais de 200 obras, entre esculturas, pinturas, desenhos,

fotografi a e fi lmes do pintor conhecido pelas telas dos chapéus-coco, dos cachimbos e das maçãs, fi ca no edifício onde o artista e sua mulher Geor-gette residiram por 24 anos.

No primeiro andar, com 2.500 metros qua-drados, fi cam as obras mais conhecidas como “L’Empire des Lumières” - O império das luzes (1954) - e “Le Retour” - O Retorno (1940). No se-gundo, estão as peças criadas em Bruxelas, duran-te a II Guerra Mundial, e no terceiro fi cam as obras do início da sua carreira. Quer saber mais sobre Magritte, acesse:http://www.magrittemuseum.be

Mais uma de Perth: como o verão é muito árido, praticamente sem chuvas (o que cho-ve demais em Queensland, chove de menos aqui), existe uma meta para cada cidadão eco-nomizar 60 litros de água por ano. Até mesmo a descarga dos vasos sanitários daqui têm um

volume de água para “número 1” e outra com mais volume para o “número 2”. O botão de cima da válvula tem uma divisão, com cargas de água diferentes.

E não falta água nunca! Perth tem um reservatório que capta águas da chuva e supre os meses mais secos. Em todas as praias eles mantém os “beach facilities”, que são chuveiros, lava-pés e bebedouros (toda a água por aqui é potável). Alguém ainda duvida que esta é a terra da ecologia?

Por Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova York

FAO: preço dos alimentos podedisparar com nova crise

A gência informou em manual para le-gisladores que está preocupada com alta no preço de gêneros alimentí-

cios; especialista da FAO elogia cooperação do Brasil com países africanos para comba-ter a fome.

A subida do preço dos alimentos pode levar a uma nova crise alimentar, como a sur-

gida em 2007 e 2008. O alerta é da Organização da ONU para Agricultura e Alimentação, FAO.

Num manual para legisladores e políti-cos, divulgado no início de fevereiro, em Roma, a agência disse estar seriamente pre-ocupada com o aumento do preço de pro-dutos básicos de consumo principalmente em países africanos.

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro/Fevereiro 201152

Isla Negra, o último refúgio do poeta

Pablo Neruda se refugiou em casa, onde produziu belíssimos textos

A cabana onde pernoitou, em 1938, um ano após voltar do exílio na França, ainda está lá, à meia en-costa, a salvo das ondas fortes do Pacífi co que se chocam ruidosamente contra as pedras negras que enfeitam o litoral chileno de Santo Antonio. Pablo

Neruda, o grande poeta, e a grande paixão de sua vida, Matilde Urrutia, repousam mais acima, num dos poucos trechos planos do terreno íngreme de 5 mil metros quadrados que ele comprou do marinheiro Eládio Sobrinho para construir sua casa.

Comprou para construir sua primeira casa, em Gaivotas, a vila de pescadores a 110 km de Santiago que ele mudou de nome para Isla Negra, onde viveu a maior parte de sua vida entre objetos que trouxe do mundo todo na errante caminhada da di-plomacia. Lá contemplava o mar com fascínio sem fi m e reunia amigos como a poetisa conterrânea Gabriela Mistral, o poeta es-panhol exilado Rafael Alberti e, com razoável frequência, também os brasileiros Vinicius de Moraes, que conheceu em 1945, e Jorge

Amado, amigo desde Paris. Ali escreveu uma de suas obras mais importantes, Canto Geral, que lhe deu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971.

A memória do mar impetuoso na casa da Isla Negra foi muito forte para o garoto que nasceu em Parral e viveu boa parte da juventude em Temuco, no sul do Chile. A imensidão do mar que descortinava, o mar que foi uma constante em sua poesia ao longo da vida, fi cou registrada assim num de seus textos:

“O Oceano Pacífi co saltava do mapa. Não havia onde co-locá-lo. Era tão grande, desordenado e azul que não cabia em lugar nenhum. Por isso o deixaram em frente à minha janela”.

A janela da casa toda envidraçada era uma convite à con-templação do mar. A janela do seu aposento predileto, que ele chamava de “refúgio”, dá diretamente para as pedras que imor-talizou em sua poesia e para o mar sempre agitado. A casa de Parral, onde nascera em 1904, fora derrubada. Ele lamentou, em um de seus poemas, a dor de não mais vê-la. Foi um pou-co como perder uma parte da infância. Neruda – que nasceu Neftalí Ricardo Reyes Basoalto - passou assim essa sensação, revivida na bela tradução de Ferreira Gullar:

Texto: Romildo Guerrante, de Isla Negra, Chile Especial para Plurale em Revista (*)Fotos: Divulgação/Isla Negra

Cultura

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Isla Negra, o último refúgio do poeta

Ou então assim:

O mundo é mais azul e mais terrestrede noite, quando eu durmo,enorme, em tuas pequeninas mãos.

De todas as três casas, indiscutivelmente a mais bonita, e mais recheada de lembranças, é a de Isla Negra. Lá não se encontra um só de seus livros, prudentemente removidos para Santiago como medida de cautela para evitar que a maresia os consumisse, me alerta a guia Fernanda, ao mesmo tempo em que me pede que não faça fotos do interior da casa. A Fundação Pablo Neruda tem direitos autorais sobre essas imagens, me explica.

Cada travessa de madeira de sustentação da casa contém algumas palavras em homenagem aos amigos, esculpidas pelo marceneiro a pedido do poeta. Deixo o interior silencioso da casa depois de contentar-me em retratar a paisagem que se des-cortina a partir dos grandes espaços envidraçados, e que ainda não proibiram. De fora, registro os detalhes da incrível casa que estaria sendo espichada até hoje se Neruda ainda vivesse, para caber a cada dia mais lembranças.

Cada canto de Isla Negra carrega um pouco de Neruda, um diplomata que detestava aviões. Afi nal, seu amigo Vinicius esca-para por milagre da queda de um deles no Uruguai. Gostava dos barcos, e pôs um deles estático no quintal, em frente à janela da Covacha, o refúgio onde escrevia, coberto de zinco para ouvir o canto das chuvas que lembrava a infância em Temuco. E ali pas-sava horas a namorar o mar impetuoso, trocando correspondên-cias com os amigos em quatro ou cinco línguas e construindo sua rica poesia.

Poeta precoce, que aos 17 anos publicou A Canção de Festa, premiada no Festival da Primavera em Santiago, era frequente-mente comparado ao argentino Jorge Luiz Borges, com o que não concordava. Disse claramente que Borges lhe parecia mais preocupado com os problemas da cultura da sociedade, que não o seduziam por não serem humanos.

A mim me atraem os bons vinhos, o amor, os sofrimentos e os livros como consolo para a inevitável solidão. Tenho até certo desprezo pela cultura, como interpretação das coisas, me parece melhor um conhecimento sem antecedentes, uma absorção físi-ca do mundo, mesmo que seja contra nós mesmos. A História, os problemas do conhecimento, como chamam, me parecem

Onde está o menino que eu fui?Está dentro de mim ou se foi?Sabe que jamais o quise que tampouco me queria?Por que andamos tanto tempocrescendo para nos separarmos?Por que não morremos os doisquando minha infância morreu?E se minha alma se foipor que me segue o esqueleto?

As três casas em que viveu depois de adulto – La Sebastia-na, em Valparaíso, La Chascona, em Santiago, além de Isla Negra – são hoje museus que guardam a memória de um cidadão de inteligência fulgurante, que amou muitas mulheres, que cantou em belos versos as suas paixões e que, devotadamente, defendeu com sua fé socialista a integridade e a unicidade da América Lati-na. No Congresso Continental da Cultura, que criou em Santiago em 1953, falou do seu sonho no discurso de abertura:

Unir a nuestro continente, descubrirlo, construirlo, reco-brarlo, ése fue mi proposito. Me propuse también abarcar nuestra inmensidade americana sin tener la fulguración de los héroes, ni passar por alto los crímenes que nos han ensangrentado (...) Los hechos más oscuros de nuestros pueblos deben ser levantados a la luz. Nuestras plantas, nuestras flores deben ser por primera vez contadas y can-tadas. Nuestros volcanes y nuestros rios se quedaron en los secos espacios de los textos. Que su fuego y su fertilidad sean entregados al mundo por nuestros poetas. Somos los cronistas de un nacimiento retardado...

Coerente com essa paixão, cantou a América Latina com ar-dor supranacional, como fez com a glória dos Andes peruanos no imenso poema “Nas alturas de Macchu Picchu”:

Dai-me o silêncio, e a água, e a esperança. Dai-me o combate, dai-me o aço e os vulcões. Trazei a mim os corpos como ímãs. Acudi minha boca e minhas veias. Falai pelo meu verbo e por meu sangue.

Apaixonado pela América Latina e por muitas mulheres, Ne-ruda construiu em Santiago, na década de 50, a segunda de suas casas, La Chascona, ou “a descabelada”. Era uma referência direta à maior de suas paixões, Marilde Urrutia, com quem conviveu ainda casado com Delia del Carril. Fez a casa para encontrar-se clandestinamente com Matilde. Contam os compatriotas mais an-tigos que Neruda dizia a Delia que iria viajar para Valparaíso, mas ia para Santiago ao encontro de Matilde. Isso durou 10 anos, até que Delia descobriu o caso e o abandonou. Pouco tempo depois ele se casou com Matilde, o amor secreto e paralelo que, revelado com o casamento, o acompanhou até o fi m. Paixão desvairada que ele enunciava assim:

Deixa que o vento corra, coroado de espuma, que me chame e me busque galopando na sombra, enquanto eu, mergulhado nos teus imensos olhos, nesta noite imensa, descansarei, meu amor...

Foto: Romildo Guerrante

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despojados de dimensão. Quantos de-les preenchem o vazio? Cada vez vejo menos ideias em torno de mim, e mais corpos, sol e suor. Estou cansado

Essa solidão episódica não lhe rou-bava a fi na ironia. Disse um dia a um de seus muitos amigos que privavam das animadas e hospitaleiras conversas no bar de sua casa, pouco antes de morrer, em 1973, que amava o mar, mas que não lhe agradava navegar. Que, quando sen-tia vontade de navegar, bebia todo o uís-que possível e, sentado no barco imóvel diante da janela, “mareava”. Não preci-sava do mar para navegar. Bastavam-lhe bons uísques e vinhos na companhia dos muitos amigos.

A casa começou a nascer em 1939, a partir de uma cabana de pedra que, com a ajuda do arquiteto catalão German Rodriguez Arias, foi espichando como se fosse um trem com muitos vagões. Lembrança talvez do pai ferroviário, José del Carmen Reyes Morales, em cuja ho-menagem se assentou à frente da casa uma antiga locomotiva.

Entre 1945 e 1965, a casa cresceu o quanto pôde, nos últimos anos com ajuda de outro arquiteto, Sergio Soza. Hoje, cada canto guarda um pouco dos 3.500 objetos que trouxe de todas as partes do mundo onde viveu, desde a Birmânia, onde debutou na diploma-cia, até o México, depois de passar pela França e pela Espanha.

Há uma metódica disciplina na orga-nização das muitas carrancas mitológicas que enfeitam a sala do bar, dos caracóis, réplicas de veleiros, barcos engarrafados, artesanato dos índios mapuches e até mesmo um imenso dente de cachalote. Cada coisa em seu canto. Ele mesmo se dizia um “coisista”, um acumulador de coisas. Tem um cavalo de papelão em tamanho natural, parcialmente destru-ído num incêndio, que ele comprou e recuperou. Acrescentou-lhe duas crinas e três rabos e promoveu uma festa para entronizá-lo na casa. Quem sabe lembra-va a ele a saga da viagem até Santo An-tonio, feita em carroças e cavalos no lon-gínquo 1938? Não se sabe de tudo dessa história, como toda história humana, há sempre muito não revelado.

Amigo de Salvador Allende e colega de partido socialista, abriu mão em favor

Cultura

do amigo pelo direito à candidatura à Presidência do Chile. Allen-de governando, Neruda adoece gravemente no México. Vem com Matilde para tratar-se em Santiago. Em 11 de setembro, não teve chance de ouvir o último discurso de Allende, acossado no Palácio de la Moneda pelas forças comandadas pelo general Augusto Pino-chet. Com o fuzil AK-47 russo que Fidel Castro lhe presenteara, o presidente chileno sentou-se sobre um sofá, em meio aos destro-ços causados pelos bombardeios da aviação, e estourou a cabeça com dois projéteis.

O golpe foi muito duro para Neruda. Matilde, que só viria a morrer em 1985, contou depois que Neruda foi tomado por melan-colia profunda pela dor da perda de Allende. Duas semanas depois do golpe, morreu em Santiago e não pôde ver cumprido seu dese-jo, manifestado em Disposiciones, de ser enterrado em Isla Negra. Na Isla Negra que ele nomeara, que lhe trazia muitas recordações. A ditadura negou-lhe isso. Seus despojos só foram transferidos para a casa predileta em 1992, dois anos após a redemocratização do Chile, juntamente com os de Matilde. A Matilde que sobreviveu a ele, mas que, enquanto amor não revelado, ele temia perder:

Amiga, não morras!Eu sou aquele que te espera na noite estreladasobre as praias douradas, sobre as claras heras.Aquele que colheu jacintos para teu leito. E rosas.Deitado agora sobre a grama eu sou aquele que te espera!

Neruda e Matilde repousam diante da casa de Isla Negra, sob uma lápide simples de granito preto, do mesmo granito que se vê espatifado ao longo da praia. Ali os turistas fazem muitas fotos como lembrança da visita à intimidade de uma casa de aparente non sense, improvisada em seus puxadinhos infi nitos, mas que guarda em suas paredes os segredos de uma vida de poeta que jamais virão à luz.

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Case

Nunca a Coca-Cola Brasil vendeu tanto. Em 2010, de acordo com números di-vulgados em coletiva para a imprensa, o volume de vendas foi de 10,6 milhões

de litros, o que gerou um aumento de 11% no volume e um faturamento de R$ 17,7 bilhões. So-mente no último trimestre, mais forte por conta de Natal e fim de ano, o aumento nas vendas no Brasil chegou a 7%.

O clima não poderia ser outro: comemoração. Brindado com o refrigerante, é claro. Há exatos 27 trimestres, ou seja, há mais de seis anos, que o gráfico só aponta crescimento vertiginoso. O mercado brasileiro é hoje o quarto maior para o conglomerado global, perdendo somente para o norte-americano, mexicano e chinês, pela ordem.

A performance verde-e-amarela tem chamado a atenção dos dirigentes da marca instalados em Atlanta (EUA) e de outros executivos ao redor do mundo. Enquanto o Brasil avançou 11% em 2011, as vendas globais cresceram 5%, assim como na América Latina. É bom lembrar que a Coca-Cola funciona nos moldes de um Sistema integrado: a holding detém a marca, o segredo da fórmula mis-teriosa do refrigerante mais consumido no planeta (conhecida como 7X) e controla a operação e os 16 fabricantes em diferentes pontos do país geren-ciam e tocam o negócio no dia-a-dia.

O presidente da Coca-Cola Brasil, o mexicano, Xiemar Zarazúa, contou que o “Brasil tem supera-do as expectativas, crescendo em ritmo forte”. E sorriu, encabulado, diante da pergunta do repór-ter se, neste ritmo, o mercado brasileiro pode aca-bar ultrapassando o de seu país natal, o México.

“Pode ser”, respondeu Zarazúa. E comple-mentou que “o Brasil tem cumprido seu papel no atual cenário global, onde estão cada vez mais evi-dentes suas demonstrações de fôlego para crescer e abrigar negócios bem-sucedidos, baseados em seus fundamentos.”

“O brasileiro está com melhor poder aquisiti-vo para experimentar novas coisas. Dentro disso, os refrigerantes têm poder importante”, disse Za-razúa, Não é só o aquecimento das vendas para as

Um ano de ouro para a Coca-Cola no Brasil

classes C e D, empurrando o consumo como um todo. Para dar conta de tanta sede por re-frigerantes e outros produtos da rede - como sucos, água e chás - os investimentos também têm batido recorde ano após ano. Em 2010 chegaram a R$ 2,2 bilhões, gerando 9 mil no-vas vagas em todo sistema, e para 2011 estão previstos investimentos de R$ 2,5 bilhões. Nos cinco anos entre 2010 e 2014, estão sendo in-vestidos R$ 11 bilhões no País”. Só para dar uma ideia de ordem de grandeza, o Sistema Coca-Cola Brasil gera 53 mil empregos diretos e cerca de 500 mil indiretos.

Segundo Zarazúa, “o Brasil está muito bem, a economia cresce e a Coca-Cola Brasil cresce no mesmo passo. Nosso grande de-safio é continuar ampliando nosso portfólio para atender as demandas dos atuais e futuros consumidores”.

Além das vendas de refrigerantes, tam-bém o posicionamento forte em sucos, águas e chás tem ajudado a garantir ritmo forte e diversificação. A linha completa de produtos chega a 150 itens.

SuStentabilidadeMarco Simões, vice-presidente de Co-

municação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, apresentou algumas ações práticas intensificadas nos últimos tempos para asse-gurar que todo este crescimento tem sempre levado em conta a sustentabilidade, como parte da estratégia. Um exemplo foi o lança-mento, em 2010, da PlantBottle na América Latina - uma garrafa de PET que leva até 30% de etanol de cana-de-açúcar. Este é o primeiro passo rumo à garrafa sustentável do futuro, explicou o executivo.

Esta embalagem é 100% reciclada, substi-tui parte do petróleo utilizado como insumo, tem reduzido a dependência da empresa em relação aos recursos não-renováveis e ainda diminui em até 20% as emissões de CO².

Outro dado interessante apresentado por

Simões foi que a reciclagem de PET tem crescido muito no Brasil, que já é líder global na reciclagem de latinhas de alumínio, chegando a 98,2%, de acordo com os nú-meros recém-divulgados pelo segmento. “A reciclagem de PET chegou a 55,6%, comprovando que a embala-gem tem sim valor econômico”, destacou.

Inovação de embalagem é, sem dúvida, um tema prioritário para o grupo. Sabe as tampinhas das garrafas? Também foram modificadas, cortando uma pequena área não só pensando em economia, mas também no planeta. Apenas com esta economia nas tampinhas plásticas foi possível produzir mais 120 milhões de embalagens PET. E também as garrafas foram “ema-grecidas” em 25%.

A questão da água, lembrou Simões, é outro ponto relevante para a Coca-Cola. O grupo enfrentou há alguns anos - e ainda é cobrado por ONGs globais - por ter gasto muita água nas suas fábricas. Hoje, o Sistema Coca-Cola Brasil utiliza 1,98 litro de água para cada litro de bebida produzido, quando há 13 anos este número chegava a 5 litros. “Vários fabricantes, ao todo 13, estão captando água de chuva nos grandes telhados das fábricas”, expli-cou o vice-presidente de Sustentabilidade.

Os fabricantes também estão estudando também como avançar na substitutição de combustível da frota dos caminhões para biodiesel e gás. Ainda na área de sustentabilidade, foi inaugurada em abril, em Maceió, a primeira fábrica verde de refrigerantes do Sistema Coca-Cola na América Latina. Concebida dentro dos mais rígi-dos padrões de sustentabilidade ambiental, a Conviver Bebidas e Alimentos foi construída no conceito de plan-ta verde, o que garante a implantação das boas práticas da construção sustentável, como iluminação e ventilação artificiais, que economizam energia e reduzem emissão de carbono.

“A sustentabilidade, além de ser uma necessidade competitiva, é também um motor de crescimento, já que leva a empresa a ser mais inovadora ao pensar em soluções fora dos padrões habituais do negócio”, disse Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sus-tentabilidade da Coca-Cola Brasil.

CopaO ano de 2010 também foi marcado pelo lançamen-

to de Powerade, a bebida esportiva escolhida pela FIFA para a hidratação dos atletas da Copa do Mundo FIFA 2010. Presente em mais de 70 países, o produto chegou ao Brasil em maio com uma proposta inovadora. Na categoria de repositores hidroeletrolíticos, contém vita-minas do Complexo B (B3, B6 e B12), carboidratos em concentração ideal para o consumo durante a prática de exercícios físicos prolongados, além de ser responsável pela reposição de líquidos e sais minerais.

Luciana Feres, diretora de Marketing de Coca-Cola, acrescentou, “além do lançamento do novo produto, a Copa do Mundo é a maior oportunidade de conexão para a Coca-Cola. Ao longo de 2010, realizamos ativida-des relacionadas a futebol como nossos consumidores, praticamente todos os meses”. Ela contou que a marca Brasil foi a que mais contribuiu para o crescimento da marca no mundo.

Destacaram-se as ações relacionadas à Copa do Mundo, como o Tour da Taça FIFA por Coca-Cola, que passou pelo Rio de Janeiro e São Paulo, os eventos para o grande público, que foram 35 em todo o País, inclusive o Fifa Fan Fest, além de promoções e campanhas especí-ficas das marcas Coca-Cola e Powerade.

Da esquerda para a direita: Luciana Feres, diretora de Marketing; Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola Brasil e Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil.

Sônia Araripe, Editora de Plurale em site e Plurale em revista

Foto: Ismar Ingber-Divulgação

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ISABELLA ARARIPEP elas Empr esas

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A preocupação em ser um dos melhores hotéis do Brasil vai além do tratamen-to diferenciado dispensado aos hóspedes e da alta quali-dade de seus serviços e ins-talações. O Copacabana Pa-lace apresenta os resultados de seu programa de gestão de resíduos, iniciado em ju-lho de 2009. Entre os maio-

res benefícios do projeto piloto, que teve um investimento inicial de R$ 132 mil, estão a redução do volume de resíduos destinado a aterros sanitários em 50% e de emissão de CO2, o retorno à cadeia produtiva de matéria reci-cláveis, papéis e papelões e a consolidação do conceito de responsabilidade social na empresa. O case foi premiado pelo escritório regional da Asso-

Gestão de resíduos no Copacabana Palace

ciação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ) com o Selo Verde da Hotelaria, concedido a empreendimentos que se destacam no mercado.

O objetivo desta iniciativa, além da preocupação cons-tante do Copacabana Palace com atitudes ambientalmente corretas, foi a implantação de um guia de gerenciamento de meio ambiente e a instituição do Comitê de Sustenta-bilidade. Seu principal enfoque, na época, foi diminuir o alto custo da coleta de lixo para grandes produtores, que tornou-se essencial após o fechamento do Aterro Sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias. Naquele momento, o único destino possível dos cerca de 1.300 contêineres de 240 litros passou a ser um aterro particular. Hoje, um ano e meio depois, chegou-se a uma economia de mais de R$ 80 mil, com retorno estimado dos investimentos em 20 me-ses, e cerca de 650 contêineres de mesma capacidade.

Usiminas vence primeira licitação do ano parafornecimento de aço naval

Líder no mercado brasileiro de aços planos, a Usiminas venceu a primeira li-citação internacional do ano, do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), coordenado pela Transpetro.

A siderúrgica foi a opção mais competitiva entre os diversos concorrentes inter-nacionais e fornecerá 13 mil toneladas para a construção de navios Panamax pelo Estaleiro Ilha S.A., (EISA), do Rio de Janeiro. O aço começará a ser entregue entre março e abril.

Nas concorrências realizadas em 2010, a Usiminas foi líder no fornecimento à Transpetro, em tonelagem total. Com este novo resultado, a siderúrgica consolida gradativamente sua participação no desenvolvimento da indústria naval brasileira.

Unimed-Rio comemora um ano doprojeto Receita do Bem

Em seu primeiro ano, o projeto da Unimed-Rio de Captação de Recursos Incentivados, batizado de Receita do Bem, teve alto índice de adesão. A iniciativa, que estimula a participa-ção dos médicos cooperados, mobilizou 392 deles, com uma contribuição total superior a R$ 720 mil. Os recursos serão destinados a quatro projetos: Associação de Amigos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Educação no MAM), peça teatral: Eu te amo mesmo assim, Associação Viva e Deixa Viver (Centro de Contação de Histórias) e Lar de Clara e Francisco (Escola de Música e Cidadania da Cidade de Deus).

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Itaú Unibanco descarta 3.800 toneladas de e-lixoCom parte de suas iniciativas

em TI verde, o Itaú Unibanco des-cartou de maneira sustentável, en-tre janeiro a novembro deste ano, 3.800 toneladas de lixo eletrônico oriundo da administração central, datacenter, agências e almoxarifa-do. Para dar uma ideia do avanço da iniciativa no banco, em todo o ano de 2009 foram coletadas 125 toneladas.

O material - computadores, monitores e outros equipamen-tos eletrônicos que o banco substituiu – foi enviado a empresas

parceiras, para ser reprocessado. Há um reaproveita-mento aproximado de 98% do material enviado para a reciclagem – incluindo plásticos, aço, metais e outros componentes.

O descarte sustentável é uma das ações que o Itaú Unibanco coloca em prática dentro do aspecto do ci-clo de vida de eletroeletrônicos. “Essas ações refl etem o compromisso contínuo do banco com a sustentabi-lidade do negócio em paralelo à redução de consumo de recursos naturais, possibilitada, por exemplo, pela reciclagem dos equipamentos”, afi rma João Bezerra Leite, diretor de infraestrutura e operações em TI do Itaú Unibanco (foto).

ONU tira 2 mil empresas do Pacto Global

O Pacto Global, uma iniciativa das Nações Unidas, expulsou 2.048 de seus associados – equivalente a 25% do total de em-presas, instituições e autarquias que publicamente promete-ram defender os princípios de responsabilidade social propos-tos pela ONU. Dentre as descadastradas estão 72 brasileiras, a maior parte (17) do setor de mídia (agências de publicidade e de comunicação, jornais, rádios e TVs). O projeto conta agora com 6.066 adesões em 332 países; 369 são do Brasil.

Criado em 2000 pelo então secretário-geral da ONU Kofi An-nan, e mantido por Ban Ki-moon, o Pacto Global tem como ob-jetivo estimular a prática de responsabilidade social na iniciati-va privada. Baseia-se em dez princípios relacionados a direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

Não se trata de regras – a adesão é voluntária. As empresas ou instituições que quiserem aderir ao pacto precisam enviar uma carta à ONU e tornar público seu compromisso, divulgan-do-o internamente e na comunidade em que atuam. Depois, têm de apresentar anualmente um relatório apontando o que fazem para integrar os dez princípios à sua estratégia e às suas operações. As Nações Unidas não fiscalizam as empresas, ape-

nas cobram que divulguem os informes anuais. Se isso não for feito por dois anos consecutivos, a empresa é desligada. Por não cumprirem a tarefa é que os cerca de 2 mil membros foram expulsos – 200 no fim de 2010, após uma prazo dado pela coordenação do projeto para que os associados de países menos desenvolvidos enviassem sua prestação de contas. (Do Portal PNUD Brasil/ Da PrimaPagina)

A White Martins doou 52 acervos literá-rios, cada um composto por 200 títulos, para escolas públicas e bibliotecas, por meio de uma parceria com o projeto Pró-biblioteca.

Os livros variam entre obras clássicas da literatura nacional, autores modernos e obras infantis. Os critérios utilizados para seleção levaram em conta as leituras obrigatórias na rede de ensino funda-mental e médio, vestibulares e temas de interesse geral que incentivem o prazer de ler. As instituições benefi ciadas foram indicadas pelos funcionários da unidade da White Martins.

Doação de livros

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Ciência

Já foram executados 75% do TecnoCentro, que tem conclusão prevista para abril

Texto e fotos de Flamínio Araripe, de Fortaleza, Editor de Desimblogiohttp://desimbloglio.blogspot.com/

Parque tecnológico da Bahia atrai empresas de energia, TI e biotecnologia

Os estados do Pará, São Paulo (com o AgroTechPark de Bar-retos), Sergipe e Bahia foram os únicos nos últimos três anos no país a receber recursos do

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para a implantação de Parques Tecnológicos. Nas quatro unidades foram investidos cerca de R$ 130 milhões, informa o secretário executivo do MCT, Luiz Antonio Rodrigues Elias, que perma-neceu no cargo depois de integrar a comissão de transição do governo Lula para o da presi-dente Dilma Rousseff, e agora continua na ges-tão do ministro Aloizio Mercadante.

O Parque Tecnológico da Bahia recebeu R$ 40 milhões, informa o secretário da Ciência,

Tecnologia e Inovação do estado, Feliciano Monteiro. Já foram executados 75% da obra do TecnoCentro, a área de governo no em-preendimento, que deve ser concluída em abril. “Já estamos na quarta laje”, disse ele, ao acrescentar que a área de 580 mil metros quadrados na avenida Parelela, em Salva-dor, também recebeu investimento de R$ 40 milhões do governo da Bahia. A área foi uma doação da Prefeitura de Salvador em parceria com empresa privada.

As áreas de biotecnologia, energias e tecnologia da informação e comunicação constituem o tripé de empreendimentos a serem atraídos no foco do Parque Tecno-lógico da Bahia, informa Feliciano Montei-

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ro. Caberá às empresas privadas fazer as próprias instalações e construir seus próprios laboratórios, diz o secretário.

A vocação do Parque para empreendimentos de energia, segundo Feliciano Monteiro, vem do fato de que a Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado é a mais antiga do Brasil, fundada pelo professor José Bautista Vidal, pai do Proálcool. O físico e gestor pioneiro estudou em Stanford (EUA), e tem como interesse e pesquisa a área dos biocombustíveis – utili-zação do álcool.

Como secretário de Tecnologia Industrial do então mi-nistro da Indústria e Comércio, Severo Gomes, em 1975, Vidal deslanchou um grande programa nacional do álcool. Ainda como exemplo da vocação energética, o secretário destaca que o primeiro campo da Petrobras no Brasil foi descoberto na Bahia. Ele garante que a Petrobras “obviamente é parceira no Parque. Começou na Bahia todo ciclo de petróleo que o Brasil usou para o seu desenvolvimento com polos petroquímicos”, argumenta.

Outra perna do tripé que vai ser uma das âncoras do Par-que é o chamado universo bio – biotecnologia, bioenergia, fár-macos -, no que conta com parceria da Universidade Federal da Bahia. Outra frente a caminho de se instalar provavelmente no Parque Tecnológico, diz o secretário, é o Instituto Federal de Educação da Bahia (IFBA) numa parceria com a Eletrobras para pesquisa no âmbito de um centro de energias renováveis.

Na área de tecnologia da informação e comunicação, exis-te tratativa de parceria com a Portugal Telecom. O governo da Bahia assinou protocolo com o Instituto Atlântico, do Ceará,

Feliciano Monteiro, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia

para se instalar no Parque Tecnológico. Outro futu-ro parceiro é o Instituto do Recôncavo, que traba-lha com software de pesquisa avançada, uma refe-rência avançada na Bahia, assinala o secretário. Está em desenvolvimento no Recôncavo um tipo de software que, através da fotografi a de um prato de comida, pode estabelecer o número de calorias.

eMpReSaS aSSinaM pRotoColo de intenÇÃo

Dez protocolos de empresas a serem instaladas no Parque já foram fi rmados. O parque vai funcio-nar como um condomínio de pesquisa onde em vez de construir um laboratório para cada institui-ção, as instituições compartilham um laboratório, explica Feliciano Monteiro. “Isso fi ca muito mais barato. Ao mesmo tempo, serve para todos que es-tão naquele parque”.

Até março vão ser investidos mais R$ 4,5 mi-lhões no Parque Tecnológico da Bahia, diz Montei-ro, que contabiliza também os investimentos indi-retos da Universidade e Município de Salvador. “O Parque é resultado de uma área de sinergia entre governos muito rara”, ele avalia. Depois do aporte inicial de recursos do Estado da Bahia e Ministério da Ciência e Tecnologia, os entes públicos vão di-minuindo o investimento e os parceiros privados vão começar a gerir seus empreendimentos.

O Parque Tecnológico, para o secretário, tem como objetivo atrair e fi xar talentos nas áreas de ci-ência, tecnologia e inovação. Segundo ele, na crise dos anos 90 o Brasil perdeu muitos estudiosos que foram para outros países tentar sobreviver e estu-

parquetecnológico

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dar melhor. Mas em 2010 o Brasil consegue passar razoavelmente pela crise, está com uma taxa de 7% de crescimento, fez a sua lição na área de ciência e tecnologia e hoje temos o que não tinha na década de 90 – a capacidade de atrair doutorandos, estudantes e empresários de outros locais para ajudar no desen-volvimento. “Esse tipo de talentos não é atraído para qualquer local. Ele necessita de uma retaguarda. Uma dessas retaguardas é um parque tecnológico. Funda-mental inclusive para o Nordeste”, afi rma.

Quando for lançado um edital colocando dispo-nível o espaço do Parque, que o secretário prevê para abril deste ano, “o Estado não vai pagar mais nada. As empresas vão pagar energia, segurança, e o estado vai diminuindo o seu aporte e o parque vai se consti-tuindo um braço tecnológico”, observa. O Nordeste, segundo ele, tem parques tecnológicos de referência. Cita como exemplos o de Sergipe e, já funcionando, e o do Recife. “Soubemos que as Forças Armadas tam-bém têm interesse em construir um Parque. Pode ser integrante do parque da Bahia”, convida.

Até a conclusão das obras o Parque é ligado di-retamente à Secretaria de Ciência e Tecnologia, que terceiriza a construção para a iniciativa privada. Outra secretaria que cuida das obras, a Sucab, uma superin-tendência responsável por todas obras do estado da Bahia. O cronograma de entrega até abril, para ele, será cumprido, pois a empresa privada que ganhou a licitação está recebendo em dia. “Falta 25% da execu-ção. Isso é pacífi co”, garante.

Ciência

O secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Antonio Elias, enfatiza que o Parque Tecnológico “não é um arregimento de empresas nem arregimento de incubadoras não

identifi cadas com um objetivo comum. Os projetos que não identifi cavam com clareza os seus objetivos tiveram reduzidas as chances de aprovação no MCT.

“Não basta identifi car qual é o objeto do Parque, mas tam-bém qual a oportunidade da região, para que não se esteja dispersando muito recurso”, adverte o secretário executivo do MCT. Ele dá um exemplo de como as coisas não devem ser encaminhadas: “não adianta colocar microeletrônica no Brasil inteiro. Espalhar microeletrônica no país não vai conseguir ca-pacitar nem engenharia nem recursos humanos para superar as difi culdades inerentes a esse parque”, avisa.

Por outro lado, Luiz Elias cita como fundamental um parque tecnológico que perceba todos os biomas internos da Amazô-nia. Já o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cete-ne), pala ele é um parque tecnológico muito bem estruturado num horizonte específi co de tecnologia do Nordeste – microe-letrônica e tecnologia da informação. O secretário adverte que não tem condições nem recursos nem capacidade de ter 10 a 15 parques tecnológicos no Brasil e que, por isso, o MCT parou a aprovação de projetos. “É preciso repensar os modelos”, afi r-ma, ao recomendar a articulação de arranjos com secretarias de Ciência e Tecnologia e Fundações de Apoio à Pesquisa.

Luis Elias diz que chegou ao MCT o projeto de um parque tecnológico das Forças Armadas que recebeu emenda para criar externalidade porém com instituições díspares entre si. O modelo, para ele, não é adequado. Como exemplo de parque tecnológico ele cita ainda o de São José dos Campos que tem visão clara e defi nida do campo onde vai atuar – energia – e não sai desse horizonte, senão dispersa.

Outro exemplo citado pelo secretário é o Sapiens Parque da Universidade Federal de Santa Catarina. Se for disperso o objetivo de um parque, o processo é fragmentado assim como os recursos colocados, sendo muito pequeno o resul-tado do esforço de poupança e investimento colocado no projeto, conclui José Elias.

Flamínio Araripe

Luiz Antonio Elias secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia

MCT PAROU APROVAÇÃO DE PARQUES PARA DISCUTIR O MODELO

PLURALE EM REVISTA | EM REVISTA | EM REVISTA Janeiro/Fevereiro 2011606060

O QUE É

Um parque tecnológico é uma concentração geográ-

fi ca de empresas e instituições associadas que criam um

ambiente favorável à inovação tecnológica. À medida que

passam a compartilhar do mesmo ambiente, empresas,

universidades, centros de pesquisa e investidores geram

benefícios econômicos para seus participantes e para as

comunidades, devido à colaboração entre seus participan-

tes e as instituições parceiras. (Wikipédia).

É uma organização gerida por especialistas, cujo

objetivo principal é aumentar a riqueza da comunidade,

através da promoção da cultura da inovação e da competi-

tividade das empresas e instituições basadas no conheci-

mento que lhe estão associadas. Para alcançar estes obje-

tivos, um Parque Tecnológico estimula e gerencia o fl uxo

de conhecimentos e de tecnologias entre Universidades,

instituições de pesquisa e desenvolvimento, empresas e

mercados; facilita a criação e o crescimento de empresas

baseadas na inovação através da incubação e de e de in-

cubação e de processos de spin-off; e fornece outros ser-

viços de valor agregado bem como espaços e serviços de

apoio de elevada qualidade.(IASP – Roberto Lotufo).

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EstanteUMA TRAJETÓRIA AMBIENTALISTA: DIÁRIO DE PAULO NOGUEIRA-NETOEditare Editora, 880 págs,R$ 120

A Editare Editora, por meio de seu selo Empresa das Artes, apresenta a publicação Uma tra-

jetória Ambientalista: diário de Paulo Nogueira-Neto. A obra tem como base os diários do famoso ambientalista que registrou, em cerca de 120 cadernos, suas viagens, reuniões, encontros com personalidades e outros fatos de sua longa e produtiva carreira. Primeiro Secretário Na-cional do Meio Ambiente, a obra nos brinda com impres-sões pessoais e depoimentos sobre o que aconteceu de mais relevante no Brasil e no mundo na área ambiental nas últimas quatro décadas. O livro foi coordenado pela Dra. Flavia Frangetto, especialista em Direito Ambiental.

A MOEDA DE LATA José Roberto Giosa, Editora Técnica Comunicação, 105 págs, Apoio da ABAL

O Brasil é o país que mais recicla latas de alumínio para bebidas no mundo, há nove anos consecutivos. Mas se hoje chegamos a essa marca recorde de sucesso, isso se

deve à persistência de algumas pessoas e empresas, que apostaram na reciclagem e nos seus benefícios socioeconô-micos e ambientais, há quase 20 anos.Com apoio da ABAL (Associação Brasileira de Alumínio), José Rober-to Giosa lança, “A Moeda da Lata”, livro em que conta como essa história começou a ser construída, em 1991, quando a primeira empresa de latas de alumínio no Brasil criou uma divisão para re-cuperar, separar, fundir e transformar latinhas usadas em uma nova embalagem, infi nitas vezes.

BRASIL ATLÂNTICO – UM PAÍS COM A RAIZ NA MATADaniella Riet e Thadeu Melo (organização), Editora Mar de Ideias, 336 págs, R$ 129

Este livro - Brasil Atlântico – um país com a raiz na Mata - é uma reunião de artigos de diversos autores renomados, ricamente ilustrados, que se faz lembrar a íntima relação entre os ambientes terrestres, de água doce, costeiros e marinhos. A obra tem por objetivo apresentar um panorama completo sobre a Mata Atlântica, começando pela história do Brasil há 500 anos, abrangendo seus ciclos de ocupação, sua diversidade de espécies e pai-sagens, litoral e gestão costeira, sua vocação econômica, experiências de recuperação da floresta e reflexão sobre desenvolvimento sustentável.“Tudo para nós é o Atlântico. Estão no Atlântico o passado do Brasil e o Brasil do futuro. Está no passado do Atlântico o futuro do Brasil. Está no oceano, na água, no solo e no sub-solo, nas marés, nas ondas e ressacas, guardado, o porvir da maior nação do Hemisfério Sul.CONSULTE A

CABALANei Naiff, Editora Nova Era (Grupo Record), 210 págs, R$ 12,90

A palavra cabala signifi ca “recepção” ou

“aquilo que sai da boca e entra nos ouvidos”. Essa fi losofi a, portanto, representa uma doutrina para o bem viver. Há dezenas de formas de utili-zação desse sistema, centenas de preceitos, me-ditações ou rituais que poderiam ser realizados.

Com o tempo, a cabala transpôs os limites re-ligiosos. Nascida no cerne do livro mais sagrado do judaísmo, a Torá, ela tornou-se uma fi losofi a espiritual aberta a todos os povos. Segundo a ca-bala, Deus criou o mundo e tudo o que existe, mas as ações humanas também têm peso cós-mico, podendo destruir ou criar.

Em Consulte a cabala, o tarólogo e terapeuta Nei Naiff explica o que é e como funciona a caba-la. Um oráculo feito tanto para iniciantes quanto para aqueles que já estão familiarizados com o sistema cabalístico.

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Por Carlos Franco, Editor de Plurale em Revista

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A voz do consumidor deve ter finalmente chegado às maiores companhias do planeta, pois 2010 marcou uma guinada na postura de

muitas delas, que agora estão mais preocu-padas do que nunca com o “zero”- desperdí-cio zero, lixo zero e carbono zero.

Pelo menos foi o que constatou o relató-rio “The State of Green Business 2011”, publi-cado em fevereiro pelo Greenbiz Group.

O documento afirma que apesar das incertezas políticas e econômicas, princi-palmente nos Estados Unidos e em alguns países europeus, o setor privado percebeu que o caminho da sustentabilidade não é apenas uma opção de marketing, mas tam-bém uma oportunidade para ganhos.

“É difícil encontrar uma grande empre-sa que não esteja engajada de alguma for-ma com questões ambientais. Na realidade uma mudança dramática aconteceu com o mundo dos negócios: as companhias estão pensando mais a longo prazo sobre sustentabilidade – uma grande diferença das tradicionais ações pontuais. E mesmo com a economia mundial não indo bem,

muitas delas dobraram seus esforços em atividades e compromissos com a sustenta-bilidade”, afirma Joel Makower, presidente do GreenBiz Group.

Alguns dos avanços mais significativos de 2010 segundo o relatório:

- Gigantes acordaram para o “Verde”: Empresas com grande massa de consumi-dores, como Kraft, Procter & Gamble e Uni-lever, estão trazendo opções sustentáveis de seus produtos.

- Companhias miram no “zero”: cresci-mento zero do lixo e desperdício viraram mantras empresariais.

- Sustentabilidade na cadeia de produ-ção: o uso de matérias-primas está muito mais criterioso, com as empresas evitando madeiras de origem duvidosa, por exemplo.

- Padrões ganharam espaço: selos e certi-ficados de qualidade de produtos e serviços estão mais valorizados do que nunca.

- Reutilização de materiais: a reciclagem e o reaproveitamento estão mais presentes.

- Redução do consumo da água e da energia: companhias chegam a premiar funcionários que tenham ideias que aju-dem a poupar recursos.

Baixo Carbono

Sustentabilidade ganha espaço nas

empresas em 2010

Texto: Fabiano ÁvilaDo Instituto Carbono Brasil

com informações do Greenbiz

Relatório afirma que mesmo com a recessão nos países mais ricos, as grandes corporações enxergaram as oportunidades da economia de baixo carbono, investindo como nunca em questões ambientais

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- Crescimento do bioplástico: novos materiais sustentáveis não encontram mais tanta resistência para serem adotados pelas companhias.

Mas nem tudo no State of Green Business 2011 é positivo, alguns dos indicadores retro-cederam com relação aos anos anteriores.

A intensidade de carbono, ou seja, as emis-sões por unidade do PIB, cresceram depois de anos seguidos de declínio. Muito possivel-mente isso se deu principalmente pela recu-sa do Senado norte-americano em aprovar a nova legislação climática e energética e pela falta de avanços concretos nas negociações internacionais sob a ONU.

A Redução de Emissões por Desma-tamento e Degradação (REDD) parte do princípio que as fl orestas são essenciais para o equilíbrio do

clima e por isso os países com grandes áreas intocadas de mata nativa devem ser incenti-vados a mantê-las assim. Dessa forma, o me-canismo permite acordos internacionais que recompensem ou ao menos compensem a não exploração dessas regiões.

Porém, logo surgiu a preocupação de que para arrecadar com o REDD, grandes latifundiários e corporações iriam expulsar índios e povos ribeirinhos de seus lares ou alterar o modo de vida dessas pessoas, para lucrar com os créditos de carbono.

Diante disso, foi preciso pensar além, e assim nasceu o REDD+, que leva em conta o tradicional estilo de vida das populações que vivem nas fl orestas. Essa nova iniciativa prevê

uma gestão sustentável da fl oresta.Agora, a União Internacional de Ins-

titutos de Pesquisa Florestal (IUFRO) alerta que apesar do REDD ter exem-plos concretos de proteção fl orestal, mesmo sua versão REDD+ ainda é fa-lha no que diz respeito às necessidades dos povos nativos.

“REDD+ foi um avanço, já que colo-ca a conservação das fl orestas como um objetivo e a administração sustentável das fl orestas como uma solução. Mas ainda continua a priorizar o valor do armaze-namento de carbono acima das melhoras necessárias nas condições de vida das populações”, explicou Jeremy Rayner, presidente do painel da IUFRO.

A necessidade de expandir o REDD+ com novos conceitos foi apresentada pela IUFRO no estudo “Embracing complexity: Meeting the challenges of international forest gover-nance” divulgado nesta segunda-feira (24) na abertura da nona edição do Fó-rum sobre Florestas das Nações Unidas (UNFF) como parte do lançamento do Ano Internacional das Florestas.

Produzido por 60 especialistas de diversos países e áreas de estudo, o re-latório é considerado pela IUFRO como o mais completo trabalho científi co so-bre governança fl orestal já realizado.

Uma das soluções dadas pelo estudo é o estabelecimento do que foi chamado de “Forest +”, que tem como objetivo

conservar as matas ao incentivar incre-mentos nas condições de vida das po-pulações nativas.

“O Forest+ seria focado nas muitas maneiras que as pessoas utilizam as fl o-restas. Assim, ele incentivaria melhores práticas sustentáveis ao mesmo tempo em que também encorajaria a compra de produtos que tenham o menor im-pacto no ecossistema”, explicou Benja-min Cashore, professor de governança ambiental e ciência política da Universi-dade de Yale e colaborador do estudo.

A IUFRO acredita que essa inversão da lógica, colocando as populações na-tivas acima do armazenamento de car-bono, é o melhor caminho para a real preservação das fl orestas.

“O REDD foi mais efi ciente do que qualquer outra estratégia de preserva-ção no passado. Porém, povos indígenas acabam sofrendo com a criminalização do seu tradicional modo de vida e com a pressão de pessoas de fora queren-do lucrar com os créditos de carbono. Melhor que ter uma iniciativa que olhe as coisas de cima para baixo, do global para o local, seria incentivar os bons exemplos regionais de preservação e multiplicá-los”, concluiu Constance Mc-Dermott, do Instituto de Mudanças Am-bientais da Universidade de Oxford.

Segundo a IUFRO, o REDD+ está fadado ao fracasso se não revisar sua ló-gica de funcionamento.

O lixo eletrônico também segue uma preocupação. Apesar da recicla-gem desse material ter aumentado, a quantidade de computadores e outros equipamentos eletrônicos jogados fora cresceu ainda mais.

“O que é encorajador é que está estabelecida uma tendência de mais investimentos e compromissos com uma economia sustentável e de baixo carbono. Apesar de muito ainda pre-cisar melhorar, o setor privado pro-mete apresentar cada vez dados mais significativos para o meio ambiente e clima”, concluiu Makower.

Estudo recomenda inversão da lógica do REDDFabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil/ com informações do IUFRO

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AMAZÔNIA:SECAS MAIS SEVERAS

Um estudo liderado pela Universidade de Leeds (Reino Unido) e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) revela que a seca de 2010 na Amazônia pode ter sido ainda mais devastadora para suas florestas do que a seca de 2005, antes considerada a mais grave da região nos últimos cem anos. Análises publicadas pela revista Science sobre as chuvas da estação seca de 2010 em uma área de 5,3 milhões de km² na Amazônia indicam que a seca da-quele ano foi mais generalizada e mais grave do que em 2005. Uma equipe composta por cientistas britânicos e brasileiros calcula que a seca daquele ano pode provocar a emissão de mais de 5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) florestal para a atmosfera.

Com base nos novos dados, os cientistas avaliam que, se estiagens extremas como essas se tornarem mais frequentes, os dias da fl oresta Amazônica como um tampão natural das emissões de carbono produzidas pelo homem podem ser contados.

Os recentes apagões estão – felizmente – re-forçando a urgência de investimentos em energia limpa. Especialistas de diferentes academias e institutos estão defendendo a urgência de mais investimentos nos estudos de biomassa, biocom-bustíveis, energia eólica e também energia solar. A polêmica é quando o assunto envereda para as hi-drelétricas. Belo Monte é o maior divisor de águas, mas não é o único. Vários especialistas em ener-gia já se deram conta que com custos ambientais imensos e pouco retorno econômico/financeiro na geração de energia, nem sempre esta alterna-tiva é a mais razoável e racional.

ENERGIA LIMPA

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DEPOIS DA POLUIÇÃO: CSA ANUNCIA INVESTIMENTOSA Companhia Siderúrgica do Atlântico – um inves-

timento da Thyssenkrupp e da Vale – anunciou, no início de fevereiro, investimentos de R$ 100 milhões para impedir emissões de poeira como as que ocor-reram em agosto e dezembro de 2010, atingindo a população de Santa Cruz (Zona Oeste do Rio), vizinha do empreendimento.

O Programa foi batizado de Grafi te Zero: as novas medidas incluem o projeto e a instalação de um sis-tema de despoeiramento nos poços de emergência da CSA, no prazo máximo de oito meses. A CSA foi multada duas vezes pela poluição e entrou em acordo voluntário com a Secretaria de Ambiente do Estado do Rio para promover uma série de ações – envol-vendo R$ 14 milhões – prometendo reduzir os efeitos causados à população e região do seu entorno.

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EÓLICA EM ALTAA energia eólica é uma energia limpa e renovável que

vem aumentando de produção no mundo inteiro. As turbinas eólicas já estão em 82 países e a tendência de ascensão é muito grande, especialmente para os países da Ásia e da América do Sul.

Segundo informações do Relatório Mundial de Ener-gia Eólica, os aerogeradores eólicos já geraram cerca de 340 terawatts-hora de energia no mundo em 2009. Essa produção, que é sufi ciente para suprir a necessidade energética da Itália por um ano, deve-se em boa parte ao crescimento acelerado da Ásia nos últimos anos, assu-mindo a liderança da produção entre os continentes.

Uma prova desse crescimento foi o percentual dedi-cado ao continente na instalação de novas turbinas. Cer-ca de 40% dos novos cata-ventos estão na Ásia, a maioria deles na China. (Do Portal EcoD).

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE

Mas ONGs e ambientalistas protestam e estão correndo abaixo-assinado para que a CSA não consiga a licença defi nitiva de ope-ração até março ou abril, quando esta autorização fi nal deve ser apreciada. Alegam que a Thyssenkrupp faz no Brasil o que jamais praticaria na sua matriz, na Alemanha e denunciam os vários danos causados à população em torno da unidade, em Santa Cruz.

A BRIGA CONTINUA

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Foto: Valter Campanato, em Nova Friburgo (RJ)/ Agência Brasil

I m a g e m

Foto: Valter Campanatoem Nova Friburgo (RJ)Agência Brasil

Parece fatídico: nos últimos anos, o Estado do Rio de Janeiro tem enfrentado grandes tragédias naturais no início de cada ano. Teve a do Morro do Bumba (Niterói); o deslizamento na Ilha Grande e Angra dos

Reis e agora, em janeiro de 2011, o desastre provocado pela enxurrada na Região Serrana, que devastou grandes áreas em Nova Friburgo, Teresópolis, uma parte de Itaipava (distrito de Petrópolis) e também atingiu outros municípios como Areal e São José do Vale do Rio Preto. Foi um desastre que uniu na dor dos mais pobres aos mais ricos, como defi niu o ator Marcos Palmeira, que perdeu toda a produção de orgânicos na região de Itaipava, mas, felizmente, não registrou na Fazenda foi ferido ou morto. Ofi cialmente, até o fechamento desta

Foto: Valter Campanatoem Nova Friburgo (RJ)Agência Brasil

edição, o número de mortos chega a 902 pessoas, segundo a Defesa Civil do Estado do Rio. Mas outros 400 continuam desaparecidos. Ocupações desordenadas, desmatamentos e outras causas naturais justifi cam tamanha fúria da natureza. Esta foto de Valter Campanato, da Agência Brasil, tirada em Nova Friburgo, expressa bem a dor desta tragédia. A solidariedade também foi outro traço marcante: brasileiros de diferentes pontos do Brasil se uniram doando de tudo para tentar reduzir o drama vivido pelos desabrigados. Obras começaram a ser feitas e providências foram tomadas. Esperamos que as autoridades e a população aprendam a lição que a natureza não pode ser desafi ada. Merece todo o nosso respeito.

Dor e tragédia na Região Serrana do Rio

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTEano três | nº 21 | janeiro/fevereiro 2011 | R$ 10,00

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J)COLUNISTAS:ARTIGOSINÉDITOS

A BELEZA DE VISCONDE DE MAUÁE FRAGÁRIA