O BISPO a historia revelada do bispo macedo.doc
-
Author
evpompilhoalves -
Category
Documents
-
view
60 -
download
6
Embed Size (px)
Transcript of O BISPO a historia revelada do bispo macedo.doc
O BISPO
O BISPOA Histria Revelada de
Edir MacedoChristina Lemos & Douglas Tavolaro
Editora Larousse do BrasilISBN: 9788576352655
Scan: PILINGUINHAExclusivo para o frum warez THERESBELSReeditado por SusanaCap
Semeadores da Palavra e-books evanglicos
Sumrio
APRESENTAOFIO DA NAVALHAO PRISIONEIRO - HOJEDE VOLTA PARA TRS DAS GRADESUM REGISTRO HISTRICOO PRISIONEIRO - ONTEMMOS AO ALTOPADRE NO INTERROGATRIOCAMINHO DA RUAO FILHOABORTAR E NASCERUM ARREPENDIMENTOO INDIGNADOINTIMIDADE REVELADAA PRIMEIRA VEZO AMANTEA F E A MULHERSOCOS DE RAIVAO PREGADORREGIMENTO DE PASTORESLUZ NA FUNERRIATTICAS DE SERMOMANUAL DO EXORCISMODE OLHO NA TELEVISOO ARTICULADORXADREZ PELA RECORD"QUERO NEGOCIAR, SILVIO"CHANCELA DO PLANALTOALM DA VERSO OFICIALO ACUSADOCONFIDENCIAS INDITASCHUTE NA SANTAFIM DO SILNCIOO POLEMISTADINHEIRO NA IGREJALIGAES POLTICASMENTE CONTROVERSAO COMANDANTEIMPRIO DE COMUNICAOIMPRIO RELIGIOSOE AGORA?
APRESENTAO
FIO DA NAVALHA
Escrever a biografia autorizada do bispo Edir Macedo foi um desafio que aceitamos com um misto de entusiasmo e preocupao. Entusiasmo por saber que estvamos diante daqueles momentos em que a vida reserva uma nica chance. Quando reserva. E preocupao pelo peso do que nos foi proposto: contar a vida do homem que criou a Igreja Universal do Reino de Deus, liderou um processo de crescimento religioso sem paralelo na histria do Brasil e construiu um imprio de comunicao.Por tudo isso, e tambm pelas caractersticas de uma personalidade carismtica, arrojada e corajosa, Edir Macedo fez amigos e inimigos. amado e odiado. Reverenciado e criticado. Tudo em grandes propores. Um livro sobre o dono desse histrico certamente vai gerar polmica. Provocar reaes exasperadas. Mas a polmica em si no nos incomodava. O que nos incomodava era a possibilidade de no traduzirmos com justia a dimenso real do biografado. Tanto para os que o exaltam quanto para os que o detratam.Mais que um pregador, Edir Macedo o retrato bem-acabado do que chamamos de lder. Foi assim, rompendo desde cedo com a perspectiva de uma vida decente mas comum, que ele se firmou como algum que no estava aqui para ser coadjuvante. Algum que no se acomoda. O bispo, como hoje reconhecido, fez dessa inquietude um modo de vida. Ainda pastor, surpreendia pela vasta cabeleira e pelo gestual, a ponto de ser chamado de "pastor bossa-nova". Surpreendia, sobretudo, pelo discurso. A "teologia da prosperidade", pregada por ele, foi um divisor de guas na histria recente dos movimentos neopentecostais no pas. bom lembrar que naquela poca, final dos anos 1970, os "crentes", como eram popularmente conhecidos os evanglicos, nem de longe tinham a importncia que tm hoje na sociedade brasileira.No gratuito afirmar que as multides extraordinrias reunidas pela Igreja Universal em seus encontros foram o sinal para que os evanglicos comeassem a ser mais respeitados. Em razo da "teologia da prosperidade", Edir Macedo foi agredido, chamado de charlato e preso. A seus detratores, sempre respondeu com a fora da sua obra. Uma obra que cresceu tanto que assusta aos que se dispem a tentar entend-la.O AUTOR E O PERSONAGEMSetenta horas de gravaes em catorze mesesAos 62 anos, o bispo Edir Macedo tem milhares de seguidores no mundo todo. Isso mesmo: seguidores. Quando paramos para pensar na fora dessa palavra, nossos medos afloraram. Como expor a vida desse homem para esse povo sem mago-lo? Como falar das suas fraquezas sem ferir os que nele acreditam? Como relatar fragilidades? E os momentos de agonia? Como vasculhar a histria de algum to aclamado? O homem sobrevive ao mito? E o mito, pode ser desnudado?Essas questes ganharam ainda maior dimenso porque ns, os autores, Douglas Tavolaro, diretor de jornalismo, e Christina Lemos, reprter especial em Braslia, somos funcionrios da Rede Record de Televiso. Em portugus claro: Edir Macedo nosso patro. Como ter iseno para contar a vida de quem paga nosso salrio?O leitor pode se perguntar: "Se eles tinham tantas dvidas, por que aceitaram a empreitada?". Nesse momento prevaleceu o profissional. Tnhamos conscincia do valor jornalstico formidvel dessa obra. Do que ela pode representar como documento histrico. Afinal, depois de doze anos, o bispo Macedo rompia o silncio para falar de sua vida.O primeiro encontro com Edir Macedo confirmou que tnhamos tomado a deciso correta. Para quem no o conhece, ele surpreende pela simplicidade. E sinceridade. Assim, de modo objetivo, enxuto, sem rodeios, como de seu estilo, deixou claro que no queria um livro-reportagem "chapa-branca". Obviamente, no gostaria de ser vilipendiado pelos autores, mas recusava qualquer tipo de bajulao. Ficamos convencidos de que ele s queria que soubssemos contar o que tinha para dizer. A partir da, a angstia acabou. Iramos escrever o livro para o bispo. E pelo bispo. Para os fiis e os no-fiis. Para quem v nele a consagrao da obra de Deus ou para quem ele no merece nenhum respeito.H mais de um ano, comearam as primeiras entrevistas. Estivemos lado a lado com Edir Macedo por meses. Logo de imediato, chamou nossa ateno a maneira desmedida com que falava sobre qualquer assunto: acusaes de estelionato, charlatanismo, explorao de miserveis, Igreja Catlica, Rede Globo, priso, ligaes com presidentes da Repblica, compra da Record, chute na santa, corrupo de dissidentes da Universal, desafetos.CHRISTINA LEMOS E O CORETO
Reportagem voltou s origens da UniversalEnfim, todo e qualquer assunto que perguntssemos era respondido. Sem amarras. Sem nuances. Segredos guardados por anos, dcadas. Confidencias. Revelaes exclusivas sobre a Universal e a Record. Relatos que ajudam a enxergar melhor o pas em que vivemos nos ltimos trinta anos.Nas mais de setenta horas de gravaes de conversas, o que mais sobressai, no entanto, o pastor. Desde mtodos doutrinrios controversos, como o exorcismo e a coleta de dzimos e ofertas, passando pela disciplina rgida com que comanda a igreja, Edir Macedo discorre sobre os alicerces em que criou a Universal. E mais: no se abstm de falar de sexo, camisinha, celibato, drogas, casamento, aborto ou outro tema mais espinhoso. Para os poucos a quem permite intimidade, essas posies, algumas com vis extremamente ousado, podem parecer repetitivas. No nosso caso. O contedo da fala enrgica mas incrivelmente pontuada de Edir Macedo provoca reaes de estupefao em quem a escuta pela primeira vez.Como j foi dito aqui, no incio ficamos apreensivos sobre se conseguiramos realizar com xito a tarefa que nos foi encomendada. Tnhamos como parmetro nosso rigor profissional, mas sabamos do passado de preconceitos contra os evanglicos brasileiros. Preconceitos que, em algumas camadas da populao, ainda duram at hoje. Em um momento importantssimo de sua vida, Edir Macedo conta que foi achincalhado pelos colegas de trabalho quando revelou sua converso. Mesmo nos dias atuais, isso no soa como algo irreal. Pelo contrrio.Por isso, escrevemos este livro caminhando sobre uma espcie de fio da navalha. Tentando eliminar do texto qualquer agresso aos preceitos religiosos dos membros da Igreja Universal, mas ao mesmo tempo preservando com total preciso o que nos foi relatado. Uma linha tnue que separa o respeito crena dos fiis da necessidade jornalstica de perguntar o que todos gostariam de saber da vida desse homem to controvertido. Assumimos esse compromisso com o bispo Edir Macedo e com outros 149 entrevistados nos ltimos catorze meses, em treze cidades de sete pases. Um compromisso, sobretudo, com o leitor.A voc cabe o julgamento. O PRISIONEIRO - HOJECOM ESTER, A LEMBRANA- O chefe dos presos disse: "Lava a mo antes de puxar a descarga"DE VOLTA PARA TRS DAS GRADES
A histria de Edir Macedo Bezerra, o bispo, comea na priso.Quinta-feira, 24 de maio de 2007. Nesse mesmo dia, h exatos quinze anos, o bispo Macedo iniciava a maior penitncia de sua vida. Atrs das grades, no cho de uma cela espremida e malcheirosa, surgia o lder mximo da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record de Televiso.Uma dcada e meia depois, voltar cadeia um desafio. Edir aceita o convite a pedido dos autores deste livro. Aps meses de gravao de depoimentos, de minucioso levantamento de arquivos pessoais e de documentos inditos, da revelao de cicatrizes e memrias nunca antes conhecidas, chegou a hora da entrevista mais dura. Se no a mais importante, a mais carregada de lembranas amargas entre as que se resumiram nas 276 pginas deste livro.O dia est escuro. Nuvens cinzentas escondem o sol. O encontro na avenida Joo Dias, em Santo Amaro, no templo mais conhecido da Igreja Universal em So Paulo - e tambm um dos lugares onde Edir Macedo se hospeda no Brasil. O local se chama Catedral da F. Na manh gelada, com vento de secar a pele, somos recebidos para um ligeiro caf-da-manh.Edir parece alegre, descontrado. Antes da refeio, o bispo reza.A seu lado o tempo todo, Ester Eunice Rangel Bezerra, com quem casado h 35 anos, e Romualdo Panceiro Silva, bispo e seu assessor direto que comanda a igreja em todo o pas.Ainda na mesa, com uma xcara de caf forte na mo, o momento de encarar o calendrio. E de enfrentar o passado.
- Eu no olho para trs. Odeio carregar peso do que j passou. Somente algumas coisas ficam marcadas como lio para a vida que segue - diz Edir, instantes depois de oferecer po e torrada.Como hoje, Ester estava ao lado do marido h quinze anos. No momento da priso, sentava no banco de passageiro do carro guiado por Edir Macedo. Provocamos a lembrana no casal.- Foi to marcante que parece ter acontecido ontem - afirma a esposa.- Foi como um ataque cardaco. De repente, o terror. Comecei a viver um pedao do inferno - define o bispo, sucintamente, ao tomar a palavra.Hora de partir. Descemos pelo elevador da cobertura de um dos prdios anexos ao templo. Edir veio ao Brasil especialmente para relembrar esse dia. Interrompeu sua atribulada agenda de viagens para romper o silncio de mais de uma dcada.O carro deixa Santo Amaro, mesmo bairro do qual o bispo Macedo partiu para a priso. Ele saa de um culto com a famlia quando foi cercado por dezenas de policiais com armamento pesado. Mas esse episdio, com bastidores intrigantes at hoje no revelados, ser contado em detalhes no captulo "Mos ao alto".Somos seguidos de perto por escolta particular. Seguranas com treinamento especial cuidam da proteo do bispo 24 horas. O destino a delegacia de Vila Leopoldina, do outro lado da cidade. Foi para l que Edir Macedo acabou levado, sozinho, naquele 24 de maio de 1992. Edir e Ester seguem no banco de trs rememorando detalhes da data, mas atentos ao caminho.- Estamos perto da Marginal? - pergunta Ester, olhos curiosos no quarteiro de indstrias desativadas da regio.- No tenho idia, Ester - responde o marido. - Em So Paulo, conheo apenas o caminho da igreja e o de casa.Edir Macedo veste jaqueta de couro marrom-clara e uma discreta malha de l azul. Diferente do traje social, seu uniforme de trabalho. Ele acredita que a roupa bem alinhada compe a imagem de credibilidade do pastor evanglico. Ester veste cala escura e camisa branca, um leve toque de maquiagem.NA DELEGACIA- De repente, comecei a viver um pedao do inferno.O endereo o mesmo: avenida Doutor Gasto Vidigal, 307. A carceragem modesta, pequena, pouco mudou em quinze anos. A pintura um tanto arranhada, a moblia confusa, o entra-e-sai de sempre. A mesa do investigador, o balco do boletim de ocorrncia, a sala do delegado titular. No corredor dos presos, as mesmas quatro celas. Duas dzias de homens esperam por transferncia atrs das grades em Vila Leopoldina.A entrevista com o bispo Edir Macedo ser exatamente na carceragem em que ele ficou detido por onze dias. Simptico, cumprimenta todos. Tambm esto presentes outros jornalistas e reprteres cinematogrficos da Rede Record, que preparavam um documentrio sobre a data. , foi aqui... quinze anos. Foram onze dias de dor, onze dias de tormento, onze dias de desespero. Onze dias de revolta... revolta - reflete Edir, em p, olhar fixo na inscrio 91 DP em preto e branco. - A injustia um castigo que marca a alma do homem.Injustia? Edir recorre aos advogados para definir o que fizeram contra ele. Sua junta de defensores conta ter inocentado o bispo Macedo de todos os inquritos criminais daquela poca.Lento, observador, ele atravessa a lateral da delegacia.O bispo, que no gosta de carregar o peso do passado, arrasta lembranas. Eu cheguei a este lugar j de noite. Depois que desci da viatura, entrei na delegacia cercado por dois agentes armados. Tudo s pressas lembra ele, passos vagarosos, de braos dados com Ester. Estamos reproduzindo o mesmo caminho que eu fiz h quinze anos, s que numa situao bem mais tranqila. Daqui fui levado at a ltima porta esquerda.Caminhamos mais alguns metros. O bispo Macedo parece recordar como se fosse algo prximo, de dias atrs. aqui. Eu me lembro bem deste porto de ferro. Aqui comea o corredor das celas.UM REGISTRO HISTRICO
O delegado que autorizou a entrevista apressa a entrada. Um dos agentes abre a carceragem. A pintura branca com toques de laranja recente, diferente daquele perodo. No h janelas, sol, luz. O ar sufocante. O cheiro incomoda. Uma combinao de suor, urina, fezes, comida estragando.No somos autorizados a entrar na cela por motivos de segurana.Edir Macedo est a quatro passos do lugar onde ficou preso.- A cor mudou. Fizeram uma reforma aqui. No tinha essa parede. Foi ali no cho que eu dormi - diz, apontando para o centro da cela. - No tinha cama. No tinha lugar para mim. Quando cheguei, estava cheia, lotada. Tinha mais de vinte pessoas.O bispo se aproxima da grade de ferro.Mais lembranas. A riqueza de detalhes surpreende.- Todas as camas estavam ocupadas. Ali, naquele canto, e ali, perto da parede, tambm. Tinha um banheiro do outro lado. Quando cheguei, o chefe dos presos logo me recebeu e disse: "Voc entra no banheiro por esta porta e lava a mo neste lugar antes de puxar a descarga" - relembra, gesticulando o tempo todo. - Os detentos me receberam bem, me reconheceram assim que cheguei. Alguns me disseram: "Olha, s no tem lugar para o senhor dormir". Ento o chefe dos presos me pediu para esticar o colchonete no cho mesmo, no corredor da cela.Edir diz que no jantou. Deitou sozinho no piso, entre duas beliches ocupadas por outros detentos. A cadeia era para presos com curso superior - determinao da lei que prev cela especial para diplomados, padres e demais ministros religiosos. O sono demorou. Passou a madrugada sendo acordado pelos presos que pisavam no seu colcho para ir ao banheiro.- um choque muito grande, uma agresso violenta. S quem j ficou atrs das grades pode explicar o que exatamente significa define, num tom mais reflexivo. - Foi uma grande lio na vida, transformar as adversidades, como eles me diziam, fazer do limo uma limonada.Em p, frente a frente com a cela, as memrias remodas. Impossvel no lembrar o primeiro pensamento de algum atrs das grades. Edir Macedo volta infncia.- Eu fui criado com sete irmos numa educao muito rgida. Meu pai era agressivo, bruto, e s vezes nos batia. Mas sempre achei que pior mesmo era receber o castigo de no poder sair de casa. Era terrvel, machucava mais do que levar uma surra. Eu pensava assim quando era criana. Agora imagine, depois de velho, casado, pai de trs filhos, av de um neto, ficar de castigo onze dias numa priso. Imagine o que eu senti voz altiva, braos cruzados. Estava cheio de indignao, mas em paz comigo mesmo.No entendemos a conciliao desses dois sentimentos. Edir Macedo conta que tinha o controle de suas prprias reaes, mas ao mesmo tempo descreve a priso como um grande trauma. Queremos entender melhor. Eu estava espiritualmente em paz, mas emocionalmente abalado. Uma coisa o esprito, outra a alma. A alma estava agredida pela violncia, pela sensao de sofrer injustia. O esprito estava tranqilo pela crena que carrego dentro de mim. Eu tinha total autocontrole. Eu no seria capaz de fazer uma bobagem, de tomar qualquer atitude impensada. Tinha muita raiva, sim, me sentia vtima de um compl, mas estava confortado no meu interior.Tambm no ntimo ser que o bispo Macedo pensou que sua igreja pudesse desaparecer? Imaginou em algum momento, nos onze dias de cadeia, que sua carreira de lder religioso estava ameaada? Nunca. Pelo contrrio. Eu sabia que a priso me traria enormes benefcios. Sabe por qu? Porque eu era a vtima, e a vtima sempre ganha. Nunca o algoz. Eu tinha certeza de que o trabalho se desenvolveria ainda mais, no apenas no Brasil, mas em todo o mundo. a recompensa do sacrifcio.O sentimento de que fora vtima foi compreendido pelos fiis da Universal, avalia Edir Macedo.- A minha priso ajudou o povo a entender suas lutas. Jesus sofreu injustia, foi preso tambm. Os membros da Igreja compreenderam que as injustias s fazem bem para a f. a garantia de vencer l na frente afirma, com nfase semelhante a seus discursos no plpito. Fui preso por qual motivo? O que eu tinha feito? Eu roubei? Eu matei? O que eu fiz? Eu acusei, machuquei, agredi algum? Ofendi algum? No, eu no fiz nada disso. Fui preso por qual motivo?Perguntamos se o bispo Macedo sabia dos crimes dos quais tinha sido acusado.
S soube na primeira conversa com meus advogados. At ento no tinham sequer me mostrado a ordem de priso. Fui acusado de charlatanismo, curandeirismo... diz, fazendo uma pequena pausa em seguida. Charlato? Curandeiro? Por qu? Porque prego o poder da orao pela f? Porque prego o que a Bblia ensina?Interrompemos o bispo. Lembramos que o Ministrio Pblico tambm o denunciou por estelionato. Por qu? A quem eu enganei? A quem eu ultrajei? A quem eu roubei? A quem eu fiz mal? A pergunta essa: a quem eu fiz mal? Quem foi prejudicado pelo meu trabalho? Quem? questiona, j com a respirao nervosa. O bispo Macedo pede gua. E, enftico, continua o depoimento. A Igreja Universal tem a mesma doutrina h trinta anos, e ela s cresce em todo o mundo. E por que cresce? Porque as pessoas esto sendo enganadas? Esto sendo vtimas de estelionato? A Igreja cresce em pases desenvolvidos e no sofre preconceito como em nosso pas.Interrompemos novamente. Afirmamos que a Igreja Universal j sofreu vrios processos na Espanha, por exemplo, onde est instalada h quinze anos. Mas l um dos pilares da Igreja Catlica, bero do Opus Dei e da Ordem dos Jesutas. A Igreja desenvolve o mesmo trabalho livremente e com sucesso na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos e at no Japo, e nunca enfrentamos nenhum problema. Por que s no Brasil somos vtimas de tantos ataques?A conversa pra por um instante. Edir Macedo reclama do cheiro de cigarro dentro da carceragem. Embora tenha experimentado tabaco apenas trs vezes na adolescncia, seu faro no falha. Tem gente fumando a. Eu no agento cigarro esbraveja, abanando o ar com as mos.No h o que fazer. Detentos soltam fumaa no fundo do corredor. O bispo retoma a palavra rapidamente. Sabe, eu prezo a justia. Sem justia no h ordem, no h sociedade, no h pas. Deus amor, mas antes de tudo justia. Antes de ser amor, Ele justia - segue a meditao.Em seguida, dispara novamente.- Voc quer saber a verdade? Eles deram vrios tiros no p. A situao se reverteu a meu favor, para frustrao de meus inimigos.Inimigos?- Eu tinha e tenho muitos inimigos. Quem eram e quem so esses inimigos?- Quem eram? O clero catlico, a Rede Globo e gente poderosa usa da por eles. Eu at entendo tantos ataques, realmente h motivos para isso. A Igreja Universal incomoda, a Record incomoda. Ns assustamos. Nosso crescimento assustou muita gente na poca da minha priso e continua assustando at hoje.Edir deixa a carceragem. Andamos calmamente em direo ao carro. Na porta do distrito policial, policiais e funcionrios observam intrigados. Quem passa pela calada pra por alguns minutos para tentar saber quem est provocando o pequeno tumulto.O bispo Macedo aponta para a porta pela qual ganhou a liberdade no distrito de Vila Leopoldina. Pedimos para descrever essa sensao.- Vocs no podem imaginar. Embora as luzes das cmeras dos reprteres atrapalhassem minha viso, vi as pessoas da igreja. Vi o povo e os pastores alegres, fazendo algazarra, festejando. Foi emocionante, no d para esquecer.Foram quase duas horas de entrevista na exata data em que a priso de Edir Macedo completou quinze anos. Um registro jornalstico histrico. quase hora do almoo. Na volta para casa, j dentro do carro, um instante intimista. Ele nos chama mais para perto e escora a mo direita em nosso ombro. Quase sussurrando, diz:- Quer saber qual o caminho? Em nenhum momento eu penso negativo. Podem falar bem ou falar mal, sempre parto para cima. Sou idealista. assim que lidero a igreja, a Record e todos os meus projetos.Vamos conhecer o "idealista" Edir Macedo, mas antes preciso voltar sua priso. preciso voltar a outro 24 de maio: a 24 de maio de 1992, mais precisamente 1h30 da tarde. O bispo Macedo detido pela polcia, repentinamente, em um cenrio cercado de mistrios at hoje pouco esclarecidos.O PRISIONEIRO - ONTEM
MOS AO ALTO
Edir, voc passou o farol vermelho? - pergunta, afoita, Ester.Na imagem do retrovisor do antigo BMW preto, o motivo da dvida: viaturas da polcia em arrancada, algumas em ziguezague, sirenes ligadas. O carro cercado por um aparato policial. Cinco delegados e treze agentes civis e federais. Coletes prova de bala, rdios e capuzes. Nas mos, escopetas, metralhadoras e revlveres.Edir Macedo, sua mulher, a filha Viviane Rangel Bezerra e uma amiga da famlia deixavam o culto de uma Igreja Universal em Santo Amaro, bem prximo atual Catedral da F, que ainda no existia naquela poca. A 200 metros do templo, na rua So Benedito, a cena de cinema.- Pararam nosso carro e saltaram com armas em punho conta Ester.- O bispo! O bispo! gritou um dos delegados.Edir Macedo recebe voz de priso. Desce do BMW com as mos erguidas. A Bblia no banco de trs, ao lado da filha. O bispo arrastado para uma das viaturas. No h resistncia.- Eu achava que fosse um seqestro. Foi uma cena terrvel! O pastor Laprovita Vieira vinha no carro de trs e tentou evitar que o levassem. At mostrou a carteira de deputado federal. Os policiais empurraram a carteira, jogaram meu marido dentro de um dos carros e saram em alta velocidade - relembra Ester.- As pernas ficam bambas. O corao dispara. A gente perde a noo das coisas. Eu fui detido como se fosse um delinqente perigoso acusa Edir.Colocado no banco de trs do camburo, apertado entre dois agentes armados, o bispo seguiu calado.
FLAGRANTEPoliciais de So Paulo levam Edir Macedo para a priso- Foi um risco grande. Os policiais estavam muito nervosos, desequilibrados, com adrenalina fora de controle, o que poderia provocar uma desgraa - recorda. - Eu no vi nada dentro da viatura. O motorista corria muito, virava nas curvas com velocidade, de forma perigosa. S conseguia sentir indignao. Pensava onde a minha famlia estaria naquele momento.Na rua So Benedito, mais nervosismo. Ester se dividia entre o desespero por no saber o destino do marido e o medo pela reao da filha.- Saltei do carro e comecei a gritar: "Meu pai! Meu pai! Pelo amor de Deus, levaram meu pai!" - conta Viviane, na poca com 17 anos.Incapaz de qualquer ao, Ester ligou para Honorilton Gonalves, um dos integrantes mais antigos da Igreja e amigo prximo de Edir Macedo. Chorando, pediu socorro.- Tentei acalmar a Ester. Ela estava aflita. A violncia da polcia aterrorizou todo mundo. Disse que iria encontrar o bispo, para ficar tranqila, que tudo iria dar certo. No sabia o que tinha acontecido, passavam vrias situaes pela minha cabea recorda Gonalves.No dia seguinte, o governador de So Paulo poca, Luiz Antnio Fleury Filho, desqualificou a operao da polcia. E admitiu os abusos:- O espetculo que se viu no momento da priso no aconselhvel para ningum. E altamente constrangedor, at porque o bispo no foi condenado. No entro no mrito das razes que o levaram priso, mas a forma foi exagerada.Era para ser pior. Somente agora, quinze anos depois, o delegado Marco Antnio Ribeiro de Campos, que comandou a operao, faz uma revelao surpreendente: a ordem de priso deveria ser cumprida dentro do templo da Igreja Universal em que o bispo realizou culto na manh daquele domingo. Era o endereo determinado no documento emitido pela Justia.No difcil imaginar os contornos da tragdia se os cinco delegados e os treze policiais invadissem o templo para prender Edir em cima do altar. Como controlar o mpeto de 1.500 fiis que lotavam a igreja naquele dia? As conseqncias, certamente, seriam maiores.A deciso do delegado de no prender o bispo no altar, para evitar a reao dos fiis, no tirou o estardalhao do episdio. Nem era o objetivo. Ao deixar a rua So Benedito, sem saber para onde era levado, o bispo Macedo passou pelo Departamento Estadual de Investigaes Criminais, o Deic, e, horas depois, acabou transferido para a delegacia de Vila Leopoldina.Ao chegar s duas bases da polcia, uma estranheza. A TV Globo j estava l. Era o nico veculo de imprensa a mostrar Edir Macedo sendo preso. As imagens foram ao ar no Fantstico do mesmo dia, que teve a seguinte manchete na voz da atriz Carolina Ferraz, ento apresentadora do programa:- O criador da Igreja Universal do Reino de Deus est na cadeia! O bispo Edir Macedo foi acusado de estelionato e charlatanismo.Pela primeira vez, em meses de crise poltica, o governo Fernando Collor de Mello dividia a principal notcia do dia. Mesmo enrascado em uma teia de acusaes de corrupo, o assunto do dia seguinte, segunda-feira, era Edir Macedo - e seria pelos dez dias seguintes.Braslia estava em polvorosa. Maio de 1992 marcou o pice da crise do governo Collor. No exato dia da priso de Edir Macedo, foi s bancas a edio da revista Veja em que Pedro Collor, irmo do presidente, acusava Paulo Csar Farias, o PC Farias, de articular um espantoso esquema de corrupo dentro do Planalto, com a conivncia do primeiro mandatrio da Repblica. As denncias ainda repercutiam e sinalizavam um futuro nebuloso na capital do pas. Seguiu-se, ento, um processo de investigao em que o Congresso Nacional e a mdia mobilizaram a opinio pblica pela apurao completa dos fatos.Mas na segunda-feira, 25 de maio, a manchete era a priso do bispo Macedo. A partir dali, segundo o especialista em comunicao Gabriel Priolli, da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, a TV Globo adotaria uma linha editorial contrria a Edir, Igreja Universal e s demais igrejas evanglicas. Uma batalha acirrada desde a compra da Rede Record pelo bispo, em novembro de 1989.Para quem viveu aquele perodo de perto, a aquisio da Record seria outro motivo obscuro da priso de Edir. Naquele tempo, a concesso da emissora ainda no havia sido autorizada pela ento Secretaria das Comunicaes, o que viria a acontecer somente no final de 1992. A concesso o direito que o governo d para a operao de um canal de televiso, que, segundo a lei, de controle do Estado.O epicentro do impasse que havia uma guerra velada entre grupos poderosos pelo controle da Record, alguns at com apoio do alto escalo do Planalto. Hoje, em entrevista sobre o assunto, o ex-presidente Fernando Collor de Mello admite a existncia de "presses" para tirar a Record do verdadeiro dono.
DENNCIASEscndalo Collor estourou no exato dia da priso: 24 de maio de 1992
- Havia uma forte carga de preconceito contra o bispo Macedo. Lembro que havia uma disputa entre vrios grupos pela concesso da Record. Houve presso, sim, mas natural quando h uma concorrncia desse tipo - afirma Collor.Mas no havia concorrncia. Edir Macedo havia comprado a emissora do apresentador e empresrio Silvio Santos e da famlia Machado de Carvalho e reunia os requisitos para ganhar a concesso. A documentao e os processos burocrticos estavam em dia. Edir Macedo na priso era sinnimo de caminho aberto para quem ambicionava tomar a Record.PADRE NO INTERROGATRIO
Os interessados subiam a rampa do Planalto numa busca persistente. Na maioria das vezes, tinham como interlocutor um dos homens fortes do governo Collor, que at hoje se manteve em silncio: o ex-ministro Joo Eduardo Cerdeira de Santana. Durante onze meses, foi ele quem comandou o Ministrio da Infra-Estrutura - uma pasta polpuda, criada para englobar os setores de Comunicaes, Transportes e Minas e Energia do pas.Localizamos o ex-ministro em um escritrio de advocacia em So Paulo. Aos 50 anos, aps longa fase de ostracismo poltico, o advogado revela:- Dar a concesso de um canal de tev para o bispo, por tudo o que ele representava, incomodava muita gente. E os incomodados estavam por todos os lados. As influncias para impedir a transferncia do direito a Edir Macedo ocorreram durante todo o processo.O ex-ministro Santana cita nomes de empresrios e grupos de comunicao. Mas esse episdio da trajetria do bispo Macedo ser mais bem compreendido logo adiante.Ainda no domingo da priso, ao cair da noite, Ester localizou o marido Edir com o auxlio de Honorilron Gonalves. Para agravar a situao, o ento advogado da igreja, Campos Machado, o mesmo que se elegeu deputado estadual em So Paulo, estava em viagem.- De imediato fui cadeia encontrar Edir. Ele estava calmo. Chorei muito ao v-lo injustamente preso conta, sensibilizada, Ester.- Encontrar minha esposa no domingo me deu foras para suportar a priso - afirma Edir. - Ester estava muito abatida.Naquela noite, Ester e a filha Viviane passaram a noite sozinhas em casa. Abraadas no quarto, choraram at de manh. Hoje, as duas se emocionam ao relembrar aquela madrugada.- E s comear a lembrar que logo vm as lgrimas. No d para segurar - diz Viviane.O mandado de priso do bispo tinha sido expedido dois dias antes. Quem assinou o documento foi o juiz paulista Carlos Henrique Abrao, ento um jovem magistrado de 31 anos. Abrao cobria frias de trinta dias da juza titular da 21 Vara Criminal de So Paulo quando decidiu expedir a ordem de priso.Edir Macedo no tinha antecedentes criminais, comparecia a todos os interrogatrios e tinha residncia fixa. Mesmo assim foi detido sob as acusaes de estelionato, charlatanismo e curandeirismo, com as justificativas de que era necessrio prosseguir a investigao e de que poderia fugir do pas.- Eu notei que nos autos existiam fortes elementos para as denncias de lavagem cerebral e manipulao de fiis - afirma o juiz, em entrevista para este livro-reportagem. Fui cobrir a ausncia da juza titular e decidi prender Edir Macedo. Depois que acabou minha designao, ela retomou o processo, que pouco depois acabou transferido para outro juiz.Passado o curto perodo de frias, Abrao foi enviado de volta antiga jurisdio.No dia seguinte priso, a imprensa publicava os motivos da ordem judicial. O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, foi incisivo: "O juiz determinou que, em liberdade, Macedo poderia intimidar testemunhas, alm de cometer 'crimes continuados' com o uso de publicidade enganosa para levar pessoas ao fanatismo". Na foto, de terno cinza e gravata vermelha, Edir aparece escoltado por trs policiais civis.- J preso, uma das primeiras coisas que Edir me pediu foi a Bblia -lembra Ester.A calma da primeira noite no distrito de Vila Leopoldina no se repetiria nos prximos dias. Na segunda, a delegacia amanheceu agitada. Dentro, a surpresa dos detentos com o novo companheiro de cela. Fora, a curiosidade da imprensa do Brasil inteiro, que montava acampamento para cobrir o caso em meio s graves acusaes contra o presidente Fernando Collor de Mello.- Fui destacada para fazer a cobertura pela TV Record. Enquanto recebi orientao de mostrar a defesa do bispo, com base na lei, alguns colegas de veculos concorrentes tinham ordens explcitas para carregar no tom das denncias. Era o que se dizia, claramente, por trs da cobertura oficial - lembra a jornalista Maria Paula Bexiga, h dezesseis anos funcionria da Record, que acompanhou, passo a passo, os onze dias da permanncia do bispo Macedo na carceragem, com acesso exclusivo aos bastidores.Na segunda, logo pela manh, Edir recebeu a visita de parentes e companheiros da igreja. A partir dali, a esposa Ester estaria presente todos os dias. O bispo tambm passou a ganhar a amizade dos demais presos. Eram 22 pessoas, entre advogados, mdicos, juizes, empresrios e at polticos.O responsvel pela guarda de Edir foi o delegado Darci Sassi, titular do distrito de Vila Leopoldina em 1992 e que atualmente cumpre funes burocrticas na Polcia Civil.- O bispo chegou escoltado por dois investigadores. Era natural encontrar uma pessoa revoltada, como geralmente ocorre com todos os presos. Mas no. A atitude do bispo impressionou todos. Quando o encontrei pela primeira vez, ele ouviu as regras da cadeia e abaixou a cabea. Depois, eu quis me compadecer, disse que a Justia era assim mesmo, que a justia dos homens nem sempre funcionava. Ele me olhou bem fundo e disse: "No, doutor, se tenho de passar por isso, eu vou passar. E vou passar de cabea erguida porque tenho f em Deus" lembra o delegado.O bispo Macedo tentou fazer da delegacia uma extenso da igreja. No intervalo das visitas, consumia as horas em discretas rezas e na incansvel leitura da Bblia. Sempre sereno, concentrado, pensativo.Em p ou sentado, parado na cela ou caminhando em vaivns no corredor da carceragem, no desgrudava um instante da Bblia. Um dos detentos daquela poca, o ex-vereador Osvaldo Serva, chegou a declarar imprensa que a convivncia com Edir Macedo foi harmoniosa. O comportamento do bispo conquistou os detentos e os policiais da delegacia. Por incrvel que parea, foram os onze dias mais pacficos que vivi em Vila Leopoldina. Embora houvesse todo aquele tumulto em torno da priso, o clima era de paz - afirma o delegado Sassi.Uma das poucas imagens de Edir atrs das grades ganhou as capas dos jornais de todo o pas. O flagrante de um dos seus momentos de meditao virou smbolo daquele perodo. Sentado nos fundos da cela, culos no rosto e a Bblia nas mos, apoiada sobre as pernas cruzadas. Vestia camisa branca de mangas curtas e cala social cinza, entregues dias depois pela esposa junto com um punhado de roupas.A serenidade registrada pela fotografia traduzia a conduta do preso Edir. Paciente, atendia aos reprteres com amabilidade. Recorria sempre s suas convices religiosas para dar entrevistas. Foi assim na primeira declarao depois de encarcerado. Eu sinto o batismo de fogo. Eu no mereo, mas me sinto como um apstolo, porque estou sentindo o que eles sentiram naquela poca. Paradoxalmente, isso um privilgio: sofrer como eles sofreram por uma causa e por um Senhor que ns abraamos de todo corao.O bispo Macedo parecia cansado, mas seguiu o depoimento: No momento a gente pode at nem entender a situao, mas tenho certeza de que isso para o bem; para o bem da Igreja, para o bem da obra que ns abraamos, para o bem da f de todos ns, para o bem da obra de Deus.
HOLOFOTE37 dias antes de ser preso, Edir Macedo lotou o MaracanA declarao foi exibida para todo o Brasil pela Record. E gerou uma inesperada corrente de solidariedade. A reao ao que muitos consideravam um ato arbitrrio espalhou-se pelo pas: autoridades, polticos, personalidades e at lderes de outras religies recriminaram a priso de Edir.Uma das declaraes mais indignadas foi a do ento presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Incio Lula da Silva, hoje presidente da Repblica. Lula tinha recente na memria a experincia de ter sido alvo de manipulaes do jogo poltico. Havia sido derrotado por Collor na disputa presidencial de 1989, eleio marcada por uma edio induzida da Globo no ltimo debate antes do segundo turno de votao. Lula criticou o preconceito religioso por trs da deteno:- Acho um absurdo a priso sob o argumento de que o bispo est enganando as pessoas com sua religio. As pessoas tm f naquilo que querem ter f. Eu estou convencido de que, se a gente no tomar cuidado neste pas, daqui a pouco a polcia entrar em sua casa e prender qualquer um, sem nenhum critrio.Lula falou mais. Atacou duramente a deciso do Judicirio e citou uma gigantesca concentrao religiosa organizada por Edir no Estdio do Maracan, que havia reunido mais de 200 mil pessoas, 37 dias antes da priso.- Precisamos discutir o critrio pelo qual o juiz julga o charlatanismo. A Igreja Universal do Reino de Deus consegue lotar o Maracan e isso vis to por alguns religiosos ou pela polcia como charlatanismo. O bispo dizia: "E as pessoas que fazem romaria, as pessoas que acreditam em outro tipo de santo, tambm no esto sendo vtimas de charlatanismo?". Para que as pessoas soas sejam presas, preciso a apurao total da responsabilidade e do crime cometido. Fora disso, acho que todos os brasileiros tm o direito de esperar seu processo em liberdade.Polticos de lados opostos uniram-se na crtica deciso da Justia. Alosio Nunes Ferreira, ento deputado federal pelo PSDB, tambm visitou a cadeia de Vila Leopoldina: pura violncia, pura perseguio. Tem meu maior repdio.Edson Arantes do Nascimento, o Pele, veio a pblico demonstrar sua indignao:
LULA NA TEVLder poltico na poca questionou acusao de charlatanismo
O ADVOGADOEx-ministro da Justia Thomaz Bastos derrubou priso preventiva- Desde que ns temos livre-arbtrio, a liberdade deixada por Deus, importante que a prpria pessoa escolha o que quer seguir. No a lei que vai determinar o que fazer.Para annimos prximos ao bispo Macedo, porm, a dor foi maior. Pastores e integrantes da Igreja Universal eram ridicularizados no dia-a-dia. Para a famlia, foi o momento de maior angstia. A me de Edir, Eugnia, viajou do Rio de Janeiro para So Paulo e acampou na igreja, pedindo a volta do filho.- Durante os dias em que ele esteve na cadeia, minha me chorava. Vinha aquele monte de jornalistas para cima de ns. ramos as primeiras a chegar e as ltimas a sair da igreja. Foram dias tenebrosos - lembra Eris Bezerra Crivella, irm do bispo Macedo e me do senador Marcelo Crivella.- Quando mame chegava cadeia, chorava sem parar. Eu acabava consolando ela. Uma mulher de idade, uma senhora que vivia uma situao delicadssima - conta Edir, cabisbaixo.Nos ltimos dias de maio, os advogados se esforaram para libertar Edir Macedo. No dia seguinte priso, j havia sido impetrado um pedido de habeas corpus. A defesa alegava que a cadeia era uma medida "violenta e inconstitucional, sem nenhuma justificativa, mesmo porque, se o bispo for condenado, ter direito a priso domiciliar, pois primrio e tem bons antecedentes".O juiz Henrique Abrao defendeu a priso preventiva com os argumentos de que era necessrio "garantir a ordem pblica e a normalidade da instruo criminal e para a defesa dos interesses da sociedade". Em seu despacho, o juiz fez uma concluso considerada na poca bastante controversa: "Conveno-me sobre os nefastos e malsinados efeitos que redundam na eventual liberdade do agente, propagando-se a doutrina e contando com a colaborao de massas enfileiradas de pessoas incautas e incultas, com o propsito notadamente mercantilista".Os advogados de Edir se indignaram. Em resposta ao despacho, acusaram o juiz de preconceito religioso: '"Nefasta e malsinada' pura questo opinativa, pois assim no pensam milhares de fiis que correm aos templos e aos estdios para ouvir sua pregao".O primeiro pedido de libertao de Edir Macedo foi negado.A deciso contrria, de desesperana para quem torcia pelo bispo, reverteu-se nas ruas. Multiplicavam-se os brasileiros solidrios a Edir. Mesmo os que criticavam a Igreja Universal passaram a defender a liberdade do bispo. Pastores e fiis da igreja mobilizaram-se de norte a sul do Brasil. Evanglicos de diversas denominaes iniciaram manifestaes de protesto. Centenas de pessoas passaram a fazer viglia na porta da delegacia de Vila Leopoldina.A esposa Ester, diariamente na priso, acompanhou tudo bem de perto: As pessoas perceberam que havia sido uma arbitrariedade. Muitos deixaram de nos criticar e mudaram a forma de nos ver. Passaram at a gostar da gente.Na primeira semana da priso, a delegada de planto Slvia Souza Cavalcanti, preocupada com o crescimento de manifestantes, solicitou ao bispo a gravao de uma mensagem de rdio para acalmar os fiis:- S peo s pessoas que fazem parte desta famlia Universal do Reino de Deus que orem e faam jejum para que venhamos a sair daqui o mais rpido possvel. Que Deus, no tempo certo, venha nos livrar e possamos ento comungar juntos a f crist. Eu quero agradecer o carinho de todos nestes momentos difceis. Conto com a orao de cada um. Muito obrigado.Edir recorda aquele momento com clareza.- O povo da igreja queria invadir a cadeia. Curiosamente, eu, que precisava ser acalmado, tinha a obrigao de acalmar toda aquela gente.Na primeira semana, Edir Macedo saiu da priso para prestar depoimento. Colocado no banco de trs da viatura policial, vestia camisa branca e terno azul-marinho. Estava um tanto constrangido, com a Bblia sempre nas mos. J no frum, diante do juiz Carlos Henrique Abrao, uma cena atpica. Uma revelao guardada por esses anos todos. Um padre assistia ao meu interrogatrio e fazia anotaes. Em todos os meus depoimentos, nunca era permitida a entrada de ningum, mas naquele dia havia um padre. E, ainda por cima, o juiz me fez uma pergunta pouco importante ao processo: queria saber se, com minha priso, havia diminudo o nmero de pessoas na igreja. No entendi o motivo da pergunta, mas respondi que no. Disse: "Pelo contrrio, excelncia, aumentou mais ainda" - conta Edir Macedo.O segundo pedido de liberdade tambm foi negado.CAMINHO DA RUA
Nas ruas, as manifestaes cresciam. E pressionavam o Judicirio. Com o passar dos dias, era maior a quantidade de pessoas acampadas em frente delegacia de Vila Leopoldina. Homens, mulheres, jovens e idosos, a maioria fiis da Igreja Universal, em viglia pela libertao de Edir Macedo. Dia e noite, rezavam por horas seguidas, atitude que sensibilizou at quem tinha a obrigao de manter-se imparcial.- Olhava pela janela da delegacia e no acreditava. Senhoras, muitas at com sade frgil, de mos dadas, rezando horas e horas sem parar. Faziam rodas na calada, algumas seguravam fotos do bispo Macedo e choravam com sinceridade. Era fcil notar. Qualquer um, independentemente da religio que professasse, se emocionaria com aquelas cenas - recorda o delegado Darci Sassi.Hoje, ao ouvir as lembranas do delegado Sassi, o bispo Macedo se comove. Em seu silncio pensativo, percebem-se os olhos marejados.- Veja como so as pessoas da igreja, gente que acompanha toda a nossa histria, gente que nunca vou saber quem diz o bispo.De sol a sol, as imagens se repetiam. Certo dia, uma reao imprevisvel parou o trabalho dos policiais e agitou o distrito. Mais de mil pessoas, que protestavam pacificamente na porta da delegacia, abraaram a cadeia numa enorme corrente de mos dadas. O pedido era um s: a libertao de Edir Macedo.- Estava deitado na cama, dentro da cela, quando recebi a notcia. Fiquei comovido com a iniciativa do povo lembra Edir.
No dia 1 de junho, outro grande ato em favor do bispo. Aos poucos, centenas de fiis se aglomeraram em frente ao Palcio 9 de Julho, sede da Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo, aos gritos de "Queremos Justia". Pouco depois, eram 3 mil. Novamente deram-se as mos, cercaram o prdio do Poder Legislativo paulista, cantaram e oraram. Dentro do prdio, mais de trezentos pastores de 34 igrejas evanglicas pediam que o bispo fosse solto. Todos assinaram um documento exigindo respeito Constituio brasileira, que garante liberdade religiosa.A sada de Edir Macedo, no entanto, era sempre obstruda aps intensa -guerra judicial. Foi ento que o advogado criminalista Mrcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justia de Lula, foi contratado como advogado do bispo no processo iniciado pelo Ministrio Pblico. Preo do trabalho: o equivalente a 500 mil dlares. Em sua primeira declarao pblica, Thomaz Bastos foi enftico:- No existe denncia em lugar nenhum do mundo. No h denncia nenhuma no processo, o inqurito est fora dos cartrios. Ele tem direito de se defender de uma priso preventiva ilegal. Em um pas onde o crime violento aumenta tanto, creio que se d uma ateno excessiva ao bispo Macedo. Ele vai resistir ao pedido de priso.No dia 3 de junho, quarta-feira, o Tribunal de Justia de So Paulo julgou o terceiro pedido de habeas corpus a Edir. No plenrio, Thomaz Bastos argumentou que no existia base para manter a deteno. O advogado recorreu a quatro elementos para derrubar a priso preventiva: o bispo Macedo possua bons antecedentes, famlia, residncia fixa e no havia se recusado, em nenhum momento, a prestar esclarecimentos sobre as acusaes. O discurso durou quinze minutos. A tese da promotoria foi desmontada. Por 3 votos a 0, os desembargadores decidiram, finalmente, pela libertao do bispo.- Estamos diante de um caso em que vo entrar em jogo princpios extremamente importantes, como a intolerncia, o preconceito, o conflito entre as religies, o princpio da liberdade de culto. Questes fundamentais para que o Brasil construa realmente um regime democrtico - declarou Thomaz Bastos, aps a vitria.De imediato a notcia se espalhou pelo pas. s 7 da noite, a rua da delegacia de Vila Leopoldina estava tomada por reprteres, cinegrafistas, fotgrafos, fiis e curiosos. A ansiedade era grande. Na cela, Edir recolhia roupas e objetos pessoais com o auxlio da esposa. Vestiu terno azul-marinho e camisa branca. A sensao era de alvio, justia, misso cumprida lembra o bispo.Na mesma noite, mandou distribuir dezenas de Bblias na cadeia. Policiais e investigadores do distrito organizaram um corredor humano para a sada do bispo. Edir se despediu dos companheiros de cadeia, agradeceu o convvio daqueles onze dias, cumprimentou um a um. E partiu.- Foi um tumulto geral. Quase o espremeram na parede, todo mundo I queria falar com ele conta o delegado Sassi, que destaca um detalhe no comportamento de Edir Macedo: Percebi que o bispo no abaixou a cabea em r momento algum. Nem para entrar nem para sair da cadeia. Estava sempre de cabea erguida, no parecia demonstrar medo.Edir saiu apressado, calado, e entrou no mesmo BMW preto do qual fora arrancado para a priso. Os veculos de imprensa seguiram o bispo. Era hora de ir para casa. Ou melhor, inesperadamente, hora de voltar para a igreja. O destino que o aguardava, antes de ser preso, fora mudado em cima da hora. Aps onze dias atrs das grades, decidiu seguir com a famlia direto ao mesmo templo, em Santo Amaro, de onde havia sado no dia 24 de maio.Ao entrar, Edir Macedo se emocionou. Mais de 1.500 pessoas lotavam a Universal. Os assentos e corredores tomados, gente do lado de fora. Enfileirados, aglomeravam-se fiis e pastores, muitos dos que haviam feito dias de viglia na porta da delegacia. Ao surgir no altar, o bispo foi aplaudido de p.E, ao microfone do templo, comeou um desabafo. Relembrou sua histria, falou das dificuldades enfrentadas por ser pastor e deu um testemunho i sobre a angstia dos dias na cadeia. Agradeceu o apoio da famlia, da esposa e de todos que se uniram a ele no momento mais difcil de sua vida. E falou sobre como a f o ajudou a superar o que considerou uma humilhao.Edir tambm rebateu as acusaes uma a uma. Todos os veculos de comunicao acompanhavam o discurso, exceto a TV Globo. Em seguida, profissionais de imprensa deixaram a reunio a pedido da direo da igreja.Veio o momento de intimidade com os fiis. A reunio s foi interrompida por palmas e abraos trocados entre Edir e a famlia.- No final do culto, fui chamada para ir aos fundos do templo. Recebi a informao de que o bispo, apesar de exausto e louco para chegar em casa, ainda daria uma entrevista exclusiva Record - conta a jornalista Maria Paula.Era uma sala pequena e improvisada, com duas cadeiras simples.- O bispo Macedo se apresentou como nos dias anteriores. Eu disse que estava muito feliz com a libertao dele e que, sabendo do cansao, poderamos gravar assim que quisesse - lembra.Antes da entrevista, porm, Edir Macedo solicitou que, em nome dele, a reprter levasse um pedido de desculpas a todos os colegas da TV Record "pela vergonha" que sentiram ao longo da priso do dono da emissora.- No sabia o que dizer. Cheguei a falar que nenhum profissional da Record tinha motivo para sentir vergonha. Mas ele insistiu. Assim que cheguei redao, transmiti o recado para toda a equipe.Na entrevista, a ltima daquela fase, palavras sem rancor:- Eu creio na justia dos homens, mas sei que todos falham. O homem falha. possvel que a Justia falhe tambm, mas eu confio na nossa Justia.Hoje, ao olhar para o passado, Edir faz uma reflexo jamais feita sobre os dias na cadeia.- A priso foi um marco na minha vida. Eu no entendi naquele mo mento, mas foi minha vlvula de escape. Muitos esperavam que eu deixasse a cadeia morto, mas aconteceu exatamente o contrrio - afirma o bispo Macedo. - o que eu repeti o tempo todo e em que acredito, est na Bblia: tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.Parte da ateno do pas estava voltada para Edir Macedo, mas o Brasil continuava de cabea para baixo. Durante os dias na priso, a Cmara dos Deputados aprovou em Braslia a instalao de uma Comisso Parlamentar de Inqurito para investigar as denncias de Pedro Collor contra o tesoureiro PC Farias e suas possveis ligaes com Fernando Collor de Mello - fio de novelo que desenrolaria o primeiro impeachment de um presidente da Repblica na histria do Brasil.Procuramos Collor de Mello, hoje senador da Repblica, para que contasse sua verso sobre a priso do bispo Macedo. Desconcertado, o ex-presidente deu uma resposta curta mas intrigante:- No me lembro.Repetimos. Lembramos ao ex-presidente quando ocorreu a priso e em quais circunstncias.- No me lembro da priso do bispo Macedo. Guardo apenas boas lembranas sobre o bispo. No me lembro da priso talvez porque eu estivesse muito preocupado com as turbulncias polticas da poca - disse Collor.Depois do depoimento reprter da Record e onze dias de priso, Edir finalmente chegou em casa. A partir daquela noite, o bispo Macedo lideraria a slida expanso da Igreja Universal e o crescimento de sua emissora de televiso.
O FILHO
ABORTAR E NASCER
Edir Macedo tinha 47 anos quando foi preso. Hoje, aos 62, continua com caractersticas fsicas bem semelhantes. Pele branca, olhos claros de tom levemente esverdeado, dentes alinhados, estrutura ssea pequena, estatura de 1,69 metro. Est apenas mais magro seu peso alterna entre 62 e 64 quilos e com algumas marcas da idade. Cabelos mais ralos e grisalhos e miopia que o obriga a usar culos para ler.O tempo passou. Nem Edir nem a Igreja Universal eram to conhecidos naquela poca como so hoje. Bastam alguns passos na rua ou em outro lugar pblico, em qualquer ponto do Brasil, para ele ser reconhecido. Em todas as viagens ao lado do bispo, constatamos sua condio de "celebridade", embora ele rejeite radicalmente esse rtulo. Edir Macedo classifica-se como "pregador do Evangelho".- Bispo, que prazer encontrar o senhor! Somos obreiros {espcie de voluntrios da Igreja Universal do Reino de Deus) de Maca - diz um segurana do Aeroporto Internacional do Galeo, no Rio de Janeiro, minutos depois de Edir e sua mulher pisarem no saguo.- mesmo um privilgio ver o senhor completa o colega, sorridente, estendendo a mo para receber o cumprimento do bispo.Nosso vo para Macei, capital de Alagoas, onde ser inaugurada a nova sede da Igreja Universal no estado. Tambm embarcam juntos Romualdo Panceiro e sua mulher. Os dois casais passam, pacientemente, pelos trmites legais de embarque. Edir caminha desconfiado. Olha ao redor o tempo todo at chegar ao avio particular.- O seguro morreu de velho, e o desconfiado ainda est vivo diz ele, afivelando os cintos e preparando-se para as trs horas de viagem, em que decide assistir ao ltimo filme do espio 007, intercalado por instantes de cochilo.A aeronave aterrissa em Macei no meio da noite. Somos recebidos pelo pastor titular da igreja em Alagoas, escoltado por um grupo de seguranas. Os trs carros no percorrem mais de 50 metros. Um confuso protesto de taxistas interdita a rodovia de sada do aeroporto, obrigando Romualdo a desligar o automvel. O congestionamento aumenta. Motoristas e passageiros, parados na fila, conversam no acostamento. Em menos de cinco minutos, o bispo Macedo se levanta e decide atravessar o tumulto a p. As mulheres seguem juntas poucos metros atrs.- A, Edir Macedo! - gritam alguns manifestantes, em meio paralisao dos sindicalistas. - Aleluia!Os bispos so proibidos de entrar nos txis. Seguem um longo trecho da rodovia a p at serem levados por dois carros particulares, que fazem transporte informal.A estrada foi liberada apenas na manh do dia seguinte.A sada a p em meio manifestao dos taxistas de Macei revela um dos pontos marcantes da personalidade do bispo Macedo: a obstinao. Edir no olha para nada quando quer alguma coisa. E age rpido. Sua histria de vida mostra isso. A Igreja Universal , sem dvida, a maior representante do movimento neopentecostal brasileiro. E boa parte disso se deve gesto do bispo Edir Macedo. O que foi construdo por ele nos trinta anos da igreja impressionante, um verdadeiro imprio. Independentemente do que se acredite, inegvel que ele sabe muito bem o que est fazendo. uma pessoa obstinada, de muita determinao - analisa Enio da Costa Brito, professor titular de religio na ps-graduao da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. a primeira vez que o bispo Macedo prega em Alagoas. No evento de inaugurao, reuniu mais de 10 mil fiis. Outros 4 mil se aglomeravam do lado de fora, em frente a um telo na entrada do templo. O prdio tornou-se uma das construes mais arrojadas da capital alagoana, ao custo de 29 milhes de reais. Tem 4.800 poltronas estofadas, ar-condicionado, som estreo de cinema e quatrocentas vagas no estacionamento. O acabamento da arquitetura refinado. No dia anterior, Edir conheceu a obra e discutiu detalhes com os arquitetos.
- Papai precisava ter visto esta igreja - afirma, ao contemplar o colorido dos vitrais e o altar de mrmore.
Henrique Francisco Bezerra, pai de Edir, era alagoano de Penedo, cidade do semi-rido de Alagoas. Com pouca escolaridade, ouvinte assduo da Hora do Brasil- histrico noticirio de rdio brasileiro -, Henrique fez a vida como autodidata. Aprendeu a tocar violo sozinho, dedilhando o instrumento dentro de casa. Costumava perguntar sempre quem ensinara o professor, quem havia primeiro descoberto o conhecimento, e metia-se a aprender o que no sabia.
A dedicao ao trabalho, nas reas rurais do interior ou no subrbio dos centros urbanos, foi sua grande lio.
Henrique teve criao catlica, mas chegou a ser maom. Tambm era severo, duro, um tanto emburrado. Torcedor do Amrica do Rio, tinha no futebol uma de suas paixes. Certo dia, um dos irmos de Edir provocou o pai ao exibir a manchete de um jornal de esportes que estampava a derrota do Amrica por 3 a 0 para o Fluminense.
Levou um tapa no rosto.
TEMPLO EM MACEI
Diante da obra, bispo se lembra do pai, alagoanoO alagoano Henrique tinha 32 anos quando chegou para trabalhar na pequena Rio das Flores, interior do Rio de Janeiro e divisa com Minas Gerais. Poucos dias no municpio que ainda se chamava Santa Thereza , e o sertanejo logo se encantou por Eugnia, moa bonita, ento com 16 anos, metade da idade dele.Nascida no Stio do Abarracamento, Eugnia, de famlia catlica, nutria o sonho de ser me. Em pouco tempo, os dois se casaram. Por anos, dividiram uma casa apertada, prxima a uma cooperativa de leite, em que Henrique era diretor comercial. Logo veio a primeira gravidez de Eugnia. Uma de muitas. A mame todo ano tinha um filho brinca Eris Bezerra Crivella, uma das filhas.No chegou a tanto. Mas esteve perto. Nos 54 anos em que viveu com Henrique, Eugnia teve 33 gestaes. Sofreu dezesseis abortos e perdeu dez filhos prematuros. Sete sobreviveram.
COOPERATIVA EM RIO DAS FLORESExploso de caldeira precipitou o nascimento de Edir Macedo- Minha me chegou a entrar em trabalho de parto sozinha, beira de rio -conta Celso Macedo Bezerra, o filho homem mais novo.Os bebs que resistiram nasceram pelas mos da av materna, Crementina Macedo. Naquela poca, era comum recorrer ao servio de parteiras, principalmente em cidades do interior, nas quais no existiam mdicos ou enfermeiras.O valor da av foi confirmado numa certa manh de domingo de carnaval. Naquele dia, uma forte exploso assustou Rio das Flores. O planeta estava em conflito. Mais de 25 mil homens do Exrcito brasileiro atacavam a Itlia, no avano dos Aliados sobre os pases do Eixo. A Segunda Guerra Mundial estava no auge. A distncia dos grandes centros e, naturalmente, das notcias levou moradores da tranqila cidade do interior fluminense a acreditar em uma contra-ofensiva. O nervosismo passou logo. O estrondo nada mais era que a exploso de uma das caldeiras da cooperativa de leite da cidade. Mas o susto fez que Eugnia, vizinha do local do acidente, entrasse em trabalho de parto.Edir Macedo Bezerra nasceu naquele 18 de fevereiro de 1945.UM ARREPENDIMENTO
O quarto filho da famlia Macedo Bezerra nasceu com deficincia na mo esquerda. Didi, como Edir era chamado pelos irmos, tem uma pequena atrofia nos dedos. Seus indicadores so finos. Os polegares, um pouco maiores. Todos se movem pouco. Apenas os outros trs dedos tm movimentos normais. O problema hereditrio. Sua av, me de Henrique, tinha menos dedos em cada mo. Na infncia, o defeito gerou complexos de inferioridade no menino Didi.- Eu era o patinho feio da famlia. Tinha a sensao de que tudo o que eu fazia dava errado: era a pipa cortada, eram os bales que pegavam fogo. s vezes, me sentia um estorvo - lembra Edir Macedo.- Ele no brincava tanto com os meninos. Era mais tmido. Talvez por causa da mozinha - diz a irm Eris.Com o apoio da famlia, ele acabou superando o defeito de nascena.- Hoje, as pessoas me imploram para eu colocar a mo defeituosa na cabea delas. E eu digo: "Minhas mos no vo resolver nada. S Deus pode transformar algum complexado numa pessoa livre".Didi cresceu com seis irmos: Eris, Elcy, Eraldo, Celso, Edna e Madalena. Eris, Madalena e Elcy vivem no Rio de Janeiro. Edna e Celso, em So Paulo. Eraldo morreu em outubro de 2006. Ele, Celso e Edna chegaram a se eleger deputados com apoio dos freqentadores da Igreja Universal. Em razo de sua agenda apertada, Edir tem pouco contato com os irmos. Mesmo com Celso, o mais prximo nos tempos de infncia.- Ele corria mais, subia em rvores em que eu no conseguia. O Celso sempre me protegia por causa do meu defeito nas mos. Era o meu protetor.
GENTICADeficincia na mo esquerda herdada da av paternaElcy ajudou a me criar, era muito apegada a mim. A Eris, o Eraldo, a Edna, a Madalena, todos foram muito importantes na minha vida.Os pais tiveram dificuldades para criar os sete filhos em Rio das Flores.Logo aps o nascimento de Didi, Henrique saiu da cooperativa de leite e abriu um armazm na cidade. A antiga prtica do "fiado", comum em pequenos estabelecimentos do interior, fez que o negcio no prosperasse. Com a venda do armazm, foi necessrio buscar outro meio de sobrevivncia. Henrique foi trabalhar na contabilidade da Fazenda da Forquilha, administrada por um amigo dele e que plantava caf e produzia cachaa. A famlia viveu na fazenda at o incio da dcada de 1950.Depois desse perodo em Rio das Flores, Didi foi, aos 6 anos, morar com os pais e os irmos em Petrpolis, na regio serrana fluminense, em uma casa cercada por hortnsias, em um local bastante arborizado. As refeies tinham horrio sagrado: o almoo s 10 da manh, e o jantar s 7 da noite.
- uma cidade que no sai do meu corao. Gostaria de viver o resto dos meus dias l - conta o bispo Macedo.Por causa do trabalho do pai, a famlia teve de se mudar diversas vezes. No Rio de Janeiro, passaram pelo Morro do Catumbi antes de So Cristvo, onde moraram por cerca de dez anos.Nesse perodo, Didi e os amigos aprontaram uma "brincadeira" que virou lio de vida. A turma roubou picols de uma sorveteria local. Quando Didi chegou em casa, o pai descobriu o furto. E, ao contrrio dos corretivos costumeiros, seu Henrique fez algo mais dolorido par a o filho. Obrigou Didi a ir ao estabelecimento pagar o que devia pelo sorvete e pedir desculpas ao proprietrio. Ele foi chorando, mas foi. Meu pai era a pessoa mais honesta que j conheci relembra Celso.Assim que concluiu o primrio, aos 11 anos, Didi parou de estudar para ajudar o pai no novo negcio: um bar montado em So Cristvo. Henrique no tinha condies de pagar empregado, e Didi, por ser o mais dedicado, acabou escolhido para ajud-lo. Foi o primeiro emprego.
RETRATOO aluno tmido da escola fluminense
FAZENDA DA FORQUILHALugar onde Edir passou parte da infnciaA me tambm fazia pastis, bolinhos de bacalhau e outros salgadinhos. Didi e Celso saam pelas ruas dos bairros industriais de So Cristvo para vender os quitutes. A economia dos irmos presenteou dona Eugnia com o primeiro liquidificador de sua vida. A casa onde moravam era tpica de uma famlia simples. No tinha geladeira nem televiso.- Para vermos tev, tnhamos de ir casa do vizinho. Mas, graas a Deus, nunca passamos fome conta Celso.Didi tinha 15 anos quando a famlia fez nova mudana: dessa vez de So Cristvo para o municpio de Simo Pereira, no interior de Minas Gerais. Passaram a viver do dinheiro de uma pequena quitanda. Moraram nesse lugar por cerca de um ano. Foi quando ele voltou aos estudos e comeou o ginsio.
ME E FILHODona Geninha foi a primeira a acreditar no pastor Macedo- A gente levantava de manh e pegava carona para ir estudar. S amos para o colgio se pegssemos carona lembra Celso.Didi cursou apenas o primeiro ano do ginsio. O pai novamente precisou mudar. Era a volta em definitivo para a cidade do Rio de Janeiro.Nos altos e baixos dos Macedo Bezerra, o esteio da famlia sempre foi a me, Eugnia. Ela cuidava da educao dos filhos e da organizao do lar. Na roa, Eugnia acordava de madrugada para cuidar da casa. Sem nunca ter tido uma empregada sequer, cozinhava no fogo a lenha e carregava gua do poo. Na cidade grande, mesmo sem o ensino primrio, ajudava o marido a tocar os negcios.Tempos depois, a me continuaria exercendo papel singular na vida do filho Edir, como ao se tornar fiadora do primeiro templo da Igreja Universal do Reino de Deus um voto de confiana que ser detalhado no captulo "Luz na funerria".Os pais de Edir j faleceram. Os dois eram freqentadores fiis da igreja do filho. Aposentado, Henrique Bezerra viveu seus ltimos dias em Juiz de Fora, Minas Gerais. Eugnia Macedo teve uma morte mais sofrida. Aps fortes dores no pulmo, provocadas por um problema neurolgico, deu entrada s pressas no mais caro hospital de So Paulo. Foi internada com as mos e os ps amarrados e, mais tarde, submetida a respirao por aparelhos.- A ltima coisa que mame queria era ir para o hospital. Ela sempre me dizia: "Filho, nunca me deixe nas mos dos mdicos". E foi justamente o que aconteceu recorda o bispo, com a voz triste. Eu deveria ter trazido minha me para casa. Eu me arrependo de ter deixado ela no hospital. Eu me arrependo...No dia 17 de dezembro de 1997, Eugnia foi enterrada ao lado do marido, no cemitrio de Simo Pereira.O INDIGNADO
INTIMIDADE REVELADA
Foi da criao no interior do Rio de Janeiro que Edir Macedo herdou o estilo de vida que preserva at hoje, depois de conhecer dezenas de pases e culturas em todos os continentes. A residncia fixa do bispo nos Estados Unidos, mas ele atravessa o ano em contnuas viagens ao redor do planeta.Alm de sua casa, os lugares em que mais tempo permanece em suas visitas so Portugal, Inglaterra e, claro, Brasil. Seu lugar de hospedagem sempre o mesmo: a principal sede da Igreja Universal em cada pas. Nos ltimos meses, estivemos em todos esses lugares, retratando de perto sua rotina. a primeira vez que o bispo abre, sem reservas, sua vida para jornalistas.O cotidiano de Edir Macedo surpreende pela simplicidade. Nos dias de semana, acorda antes das seis para escrever mensagens religiosas. Depois do caf, consome a manh em reunies com pastores. Almoa sempre com a mulher e os bispos responsveis pelo pas onde est de passagem. Depois do almoo, invariavelmente, descansa por 1 hora.- Se no durmo, meus olhos encolhem e fico zonzo.Durante a tarde, l a Bblia e grava seu programa de rdio, e noite, durante um ou mais dias da semana, exercita sua funo predileta: comandar cultos no altar. Em qualquer canto, um compromisso lei: reunies com os fiis nas noites de quarta e nas manhs de domingo nos Estados Unidos prega em espanhol, e em Londres, em ingls. Nas noites em que no est no plpito, despacha sobre decises estratgicas da Universal: a compra de terrenos, a construo de novos templos, os investimentos em mdia, a transferncia de pastores, as obras sociais.
CAF-DA-MANHRefeio simples, bem cedo, aps escrever a mensagem religiosa do dia
PALADAR INTERIORANO- Se o arroz e o feijo estiverem bons, no me incomodo com o restoPara cumprir sua agenda de compromissos no Brasil e no exterior, o bispo Macedo utiliza um Falcon 2000 EX Easy um jato particular com menos de trs meses de uso.
- No um luxo. uma ferramenta necessria para o trabalho. Resolvemos os problemas da igreja com mais agilidade afirma Edir.
O condicionamento fsico para viajar impressiona. Para se ter idia, copiamos, aleatoriamente, um perodo ininterrupto de dois meses de sua agenda. Nesse tempo, Edir Macedo esteve quatro dias em Atlanta; sete dias em Luanda, capital de Angola; sete dias em Johannesburgo, na frica do Sul; trs dias em Londres; dois dias na Alemanha; trs dias em Nova York; trs dias na Califrnia; dez dias em So Paulo; cinco dias no Rio de Janeiro; dez dias em Miami; e sete dias na Cidade do Mxico.Em 61 dias, o bispo enfrentou 57 horas de vo e 28 fusos horrios diferentes, excetuando-se os deslocamentos internos.- No bom para minha sade nem para a da Ester viajar tanto, mas um sacrifcio. O povo e os pastores precisam. Temos conscincia, fazemos isso pelo povo.Tanto tempo no ar fez de Edir Macedo um passageiro seguro.- Ele tem um senso de segurana muito bom. Apia as decises delicadas nos momentos de vo mais arriscados - conta o comandante Roberto Gago, piloto do bispo.Lazer mesmo somente aos sbados. Quando est no Brasil, raramente sai de casa. E nem faz muita questo.- Sou extremamente caseiro. Eu no gosto de muita gente, a no ser na igreja. Mas em outro ambiente, logo que comea a juntar pessoas, eu vou embora. Acho que sou anti-social.As folgas de sbado divide com a mulher e os demais bispos. Seu passatempo preferido jogar buraco.- Odeio perder, mesmo de brincadeira.Alm da Bblia, seu livro de cabeceira atualmente a verso em ingls de romance do escritor-advogado John Grisham, famoso por suas fices inspiradas em histrias reais do sistema judicirio americano.No passa mais de trs ou quatro horas longe do computador. Nas vrias casas em que estivemos com Edir, flagramos a mesma situao repetidas vezes: ele, a mulher e os demais pastores, cada um com um laptop, espalhados pela sala. Assistem tev ao mesmo tempo, entre uma checada ou outra nos e-mails.Outro prazer do bispo Macedo so os filmes. Aprecia os de ao, documentrios e, principalmente, os clssicos, como o legendrio drama 1900, de Bernardo Bertolucci, e Cinema Paradiso, assistido sucessivamente. O que mais encanta Edir no sucesso do cineasta italiano Giuseppe Tornatore so as trilhas sonoras. O bispo fascinado por msica instrumental, em especial pelas criaes do maestro Enio Morricone. As composies melodiosas servem de fundo para suas oraes em cultos ou em seus programas de rdio.
No ano passado, deu uma ordem indita a seus pastores: mandou que todos exibissem nos templos um clipe de uma das apresentaes de Morricone. E transmitiu a explicao a ser repassada:
- A igreja deve funcionar assim: como uma orquestra. Cada msico, seja o que toca o instrumento mais ou menos relevante, seja o que aparece s uma vez ao longo da cano, tem participao vital no conjunto da obra. O maestro Jesus. Repare que cada msico tem os olhos fixos em sua partitura. Ningum se preocupa se o outro est tocando direito ou no. a disciplina, a ordem. O problema do maestro, ele d o sinal para cada um tocar. O maestro quem rege a orquestra.Curiosamente, Edir Macedo pouco admira a msica gospel.
ANIMAL DE ESTIMAOCom o co labrador Budy durante passagem por So Paulo
FOTOGRAFIA, UMA PAIXOImagens da natureza em vrios continentes- So cada vez mais raras as boas msicas neste meio. Gosto apenas das canes tradicionais, tocadas nas igrejas. O gospel que fazem hoje, normalmente, comercial. Tem muito apelo emotivo, feito para vender. Isso no me agrada.Paixo mesmo a fotografia. Edir mostra com alegria as centenas de fotos armazenadas em seu computador, com retratos e paisagens feitos ao redor do mundo. As preferidas so os jacarands de Pretria, na frica do Sul, o pr-do-sol na cidade de Cascais, no litoral de Portugal, e as rvores secas retorcidas pelo inverno de Londres.- No gosto de fotografar gente. Gosto da natureza. O cu, as montanhas, as flores.Uma mquina fotogrfica profissional, apoiada num trip preto, est sempre a seu lado. Segue o bispo em todas as suas viagens. O hobby motivo para longas conversas com quem entende do assunto. Foi assim nos encontros com nosso reprter fotogrfico, o peruano Luiz Miguel Znica, destacado para produzir as imagens de Edir Macedo.- Qual a melhor lente para fotografar pessoas? Qual a boa para closes? Que tipo de equipamento deve ser utilizado em local com neve? -perguntava.Em uma de nossas entrevistas com o bispo, em So Paulo, o tema dominou a conversa. Edir pediu para ver as duas cmeras de Znica. Divertiu-se fazendo foco nos autores e em alguns ngulos da cozinha. Em um dos escritrios, abriu uma mala e mostrou o conjunto de lentes que utiliza nas viagens pelo planeta.Na sala ntima da casa, falou sobre a vontade de tirar fotos em lugares diferentes. Revelou o desejo de ir Finlndia somente para fotografar a aurora boreal - fenmeno ptico que ocorre em regies prximas a zonas polares. E, para surpresa de todos os presentes, convidou Znica.O bispo escolhe pessoalmente os ternos que usa nas pregaes. A maioria das camisas tem abotoaduras nas mangas, golas sem boto e as iniciais de seu nome costuradas na altura do bolso. Fora do altar, tambm anda alinhado. Veste roupas sociais esportivas, mas no dispensa camisetas e moletons. Carrega sempre um leno no bolso. um hbito antigo. Ele mesmo quem faz seu armrio e define o que vai vestir.- Eu no gosto do gosto da Ester, e ela no gosta do meu gosto. Mas claro que sempre ouo a opinio dela.- O estilo dele clssico conta a esposa.Edir nos mostra seu closet de gravatas, a maioria por ele mesmo escolhida. So mais de trinta modelos italianos. Seda pura, encorpada, acabamento de primeira. Predominam tons azuis e vermelhos coincidentemente, as cores da Igreja Universal. Na cmoda, os perfumes favoritos do casal so duas flagrncias italianas: para ele, Aqua di Parma; para ela, Salvatore Ferragamo.- O conforto primeiro, depois a esttica. assim que vivo.A norma vale para seus hbitos alimentares. Edir aprecia especialmente bacalhau. Ao forno, gratinado, com ou sem batatas. O sal na medida certa, sem conservantes. Para o bispo, "bacalhau bacalhau". Sempre acompanhado por uma taa de vinho tinto, de preferncia chileno ou sul-africano. Ao menos uma vez por semana, Edir degusta uma das variaes do tradicional prato portugus.Quem organiza seu cardpio, esse item, sim, Ester. O tempero, os acompanhamentos, a bebida, a sobremesa. Tudo controlado pela mulher. Nada de comidas gordurosas, excesso de frituras ou doces em exagero. No final da tarde, geralmente um prato de mingau. Quase sempre, o bispo toma caf, almoa e janta na prpria igreja. Quando decide fazer refeio fora, situao rarssima pela exposio em pblico, os restaurantes so escolhidos a dedo.- Quando a gente viaja, ele s come massa. Nada de comida sofisticada - comenta Ester.- Se o arroz e o feijo estiverem bons, no me incomodo com o resto. Sei que existem pratos maravilhosos, mas no me atraem. Nasci na roa, sou roceiro.- O arroz no pode estar muito solto, moo diz a baiana Iraildes Alves de Oliveira, a Dinha, cozinheira de Edir Macedo h seis anos e que muitas vezes viaja com o bispo para preparar sua comida. Costela, rabada sem gordura, farofa. Ele gosta de comida simples.A qualidade da alimentao imprescindvel para a sade de Edir. Ele faz mensalmente o controle da taxa de diabetes, resultado dos seus 62 anos de idade. Por isso, cumpre uma rigorosa tabela nutricional e caminha na esteira durante uma hora diariamente. Ele e a famlia so acompanhados por uma equipe de mdicos brasileiros. O cardiologista Wagner Fiori, um dos maiores especialistas do pas, cuida do corao do bispo. Ele tem sade de ferro. O que ajuda bastante sua disposio para o trabalho, sua vontade de estar sempre em atividade. O ritmo de viagens em que vive, parando dois ou trs dias em cada lugar, com fusos horrios tremendos, exige sade afirma o mdico, que atende Edir Macedo h uma dcada. Fazemos exames de rotina anualmente, falamos por telefone sempre que h qualquer problema. Ele um paciente bastante disciplinado.O cardiologista faz um diagnstico: o controle emocional do bispo Macedo a matriz de sua vitalidade. Em nenhum momento de crise notei meu paciente abalado. Acompanhei as fases crticas dele e de sua igreja e nunca isso afetou sua sade. Edir avesso a desperdcios, em especial de comida. Para quem viveu tempos de escassez no incio da Igreja Universal, em que, muitas vezes, era preciso contar com a generosidade de um fiel para ter um alimento melhor, prato bom prato na medida certa. Em uma de suas incurses pelo Norte do Brasil, logo aps uma reunio, o bispo se espantou com uma mesa enorme, lotada de iguarias. Pronto. Pastores mais prximos, que acompanham Edir nos itinerrios, j sabem de cor: momento de o anfitrio levar uma bronca sutil.- Nada de desperdcio, pastor. Para que tanta comida? Chame os outros pastores para comerem tudo isso diz, antes de algumas beliscadas.Na hora do alimento, outro costume sempre convidar mesa quem est por perto. O fotgrafo, o cinegrafista, o tcnico de som, o segurana, o auxiliar da igreja. Em um dos almoos com Edir na frica, ele interrompeu a conversa, pediu licena e convidou a manicure de sua mulher para almoar.- Senta, filha. Aqui somos todos iguais.
CLOSET DE GRAVATASPara ele, roupa alinhada d credibilidade ao pastorA PRIMEIRA VEZ
Se os hbitos alimentares de Edir Macedo preservam o menino da roa que ele foi, sua intimidade revela o adolescente de vida tambm simples no centro e na Zona Norte do Rio de Janeiro nos anos 1960.Edir Macedo tinha 16 anos quando a famlia mudou-se em definitivo para o Rio, de novo para o Morro do Catumbi, na regio central da cidade. Foi l que Edir concluiu o ginsio. A famlia ainda passou pelos bairros da Tijuca e da Glria.De volta capital fluminense, Edir conseguiu o segundo emprego num escritrio administrativo. Ganhava um salrio mnimo, dinheiro usado para ajudar nas despesas de casa e para pagar os estudos. Valeram os esforos: Edir logo concluiu o cientfico, o equivalente ao ensino mdio de hoje.Mais tarde, em 1963, Edir iniciou carreira no funcionalismo pblico: virou contnuo na Loteria do Estado do Rio de Janeiro, a Loterj, graas a um empurrozinho de Carlos Lacerda, ento governador do estado.- Meu pai no gostava de pedir nada a ningum, mas minha me insistiu. Fomos at a porta da casa do governador e esperamos at a hora de ele sair. Quando nos viu, Lacerda chamou meu pai lembra o irmo Celso, que tambm conseguiu um trabalho no Departamento de trnsito do Rio. - Ele foi muito gentil conosco, nos colocou no carro dele, em direo ao Palcio das Laranjeiras. Fui na frente com o governador, apertado; atrs foram minha me, meu pai, o Edir e o ajudante-de-ordens do Lacerda.Por amizade, Henrique, o pai de Edir, havia ajudado o governador em diversas campanhas eleitorais. Pela primeira vez pedia um favor ao poltico. A famlia foi atendida.Entre as atribuies de Edir estava a de servir caf para a diretoria. Sua remunerao no chegava a um salrio mnimo, mas trabalhava apenas meio expediente. Aos poucos ganhou a simpatia dos superiores, em razo de seu empenho. Quando completou uma dcada de Loterj, recebeu um diploma de bons servios prestados.
IBGEAluno da Escola Nacional de Estatstica, trabalhou no Censo de 1970Ao longo dos anos, conseguiu diversas promoes at galgar o posto de chefe de tesouraria, ento cargo de confiana da presidncia da Loteria. Foi servidor pblico por dezesseis anos, at pedir demisso da estatal para fundar a organizao que, futuramente, se transformaria na Igreja Universal do Reino de Deus.Ao mesmo tempo, o jovem Edir Macedo tentou continuar os estudos. Pretendia conquistar um diploma universitrio. Por sua facilidade com os nmeros, cursou matemtica na Universidade Santa Ursula, no Rio, por dois anos. Depois transferiu-se para a Universidade Federal Fluminense, em Niteri, onde estudou por mais um tempo. Parou. Em seguida, cursou at o segundo ano na Escola Nacional de Cincias Estatsticas. As mesmas razes impediram Edir de terminar o curso. Conciliar o trabalho com o estudo era um desafio.Aos 25 anos, chegou a acumular dois empregos: na Loteria e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, o IBGE. L, trabalhou como pesquisador no censo econmico de 1970. Segundo ele, foi um tempo difcil, em que at deu aulas particulares para ajudar no oramento familiar.-Trabalhava das 7 ao meio-dia no IBGE. Comia em marmita. s 13h00 entrava na Loteria e ficava l a tarde toda trabalhando. Depois seguia para dar aula de matemtica e, finalmente, s 7 da noite, comeava na Escola de Estatstica -lembra Edir. Chegava em casa por volta de meia-noite. Era muito pesado.Sobrava pouco tempo para o lazer na juventude. Nas poucas horas vagas, Edir dedicava-se ao futebol e aos namoros. Quando morava em So Cristvo, freqentava o Maracan aos domingos para ver os jogos do Botafogo, seu time de corao.- Assisti a vrias partidas com Garrincha, Grson, Carlos Alberto, Nilton Santos, Didi. Eu ia com amigos do armazm em que eu trabalhava.
LOTERJEdir completou dezesseis anos de carreira como funcionrio pblicoAinda hoje revive o gosto pelo futebol nas folgas com os pastores nos stios da Universal. Torcer calorosamente, como nos tempos da juventude, faz parte do passado.- como chupar uma bala. E doce, bom, mas quando acaba j era -diz ele, criticando o fanatismo de alguns torcedores.O futebol no era o nico deleite do jovem Edir. As mulheres tambm. Os bailes, os cinemas e os encontros nas praas. Aos 18 anos, ele e o irmo j tinham carteira de habilitao para dirigir. Compraram um jipe azul, ano 1962, pago em trinta meses. Era nele que saam para a badalao.Edir sempre foi muito namorador. A deficincia nas mos nunca foi barreira para exercitar o papel de galanteador. Apesar da timidez, tinha conversa sedutora. Vaidoso com a aparncia, dono de farta cabeleira, lisa e comprida, chegou maioridade com muitas namoradas. Mas teve sua primeira relao sexual dois anos antes, aos 16, numa farra com os colegas de escola no bairro do Catumbi.- Foi antes do casamento, antes da minha converso. Foi num bordel em frente ao colgio em que eu estudava noite.J as drogas no fizeram parte da juventude de Edir Macedo. Somente cigarro, que fumou apenas trs vezes na vida.- Eu no sei o que droga. No sei o que maconha nem cocana. Nunca vi nenhum tipo de droga na minha frente.Enquanto se divertia na juventude, um medo atormentava Edir Macedo: ter o inferno como destino aps a morte. Aos 17 anos, ento, decidiu acompanhar a famlia em mais uma mudana. Era o despertar de sua religiosidade.Elcy, a irm mais velha, foi a primeira a seguir o caminho da f evanglica. Passava madrugadas acordada, sem ar, sufocada, com crises de bronquite asmtica. Nas noites de frio, a casa da famlia Macedo virava um inferno. Eugnia, a me, carregou a filha para igrejas catlicas e at para centros espritas.- Sem soluo. At que um dia me impressionei ao ouvir pelo rdio as palavras de um pastor canadense. Ele convidava os ouvintes para irem a uma igreja chamada Nova Vida - lembra Elcy, que dias depois decidiu conhecer o lugar.Foi a primeira de muitas idas. Segundo Elcy, os ataques de asma nunca mais aconteceram.A histria da irm intrigou Edir Macedo. E coincidiu com uma fase de buscas por respostas interiores.- Nesse tempo, fui buscar ajuda espiritual numa celebrao catlica. J tinha visitado centros de espiritismo com meu pai, como o Santo Antnio de Pdua. Levava passe e tudo, mas no me acrescentou nada. Era Semana Santa. Quando entrei na missa, vi a imagem do corpo de Jesus estendido no cho e dezenas de pessoas orando (era a Adorao ao Senhor Morto, assim chamada na Igreja Catlica). A me perguntei: "Quem precisa mais de ajuda aqui? Ele ou eu?". E fiquei me repetindo aquela pergunta, completamente indignado - relembra.Com o apoio da irm, Edir passou a se dedicar meditao da Bblia. E logo passou a freqentar a Nova Vida, na sede da Associao Brasileira de Imprensa, no centro da cidade do Rio, onde se reuniam quinhentas pessoas. Desde o incio, era orientado pelo pastor nos ensinamentos bblicos. No foi fcil: tinha muita dificuldade para entender as simbologias e perdia-se ante a enxurrada de dogmas.Aos poucos, o ambiente de f, as msicas, as preces, juntamente com as pregaes, motivaram Edir Macedo.- Teoricamente, eu estava firme. Mas, na prtica, o meu corao era o mesmo: no havia mudado nada. Apenas me tornei mais educado e consciente das coisas espirituais, mas nenhuma transformao prtica no meu carter e na vida pessoal havia ocorrido.Aos 19 anos, impulsionado por uma decepo amorosa, Edir afirma ter ocorrido o que ele chama de converso. Pedimos ao bispo para explicar o que isso significa.- Percebi em mim uma energia que (...) * Recebi um novo corao. Uma alegria indescritvel passou a fazer parte do meu ser. Fiquei livre dos complexos, da solido e da dependncia de terceiros. Percebi que havia em mim uma energia prpria que me fazia capaz de todas as coisas em nome do meu Senhor. Que maravilha... Foi a maior alegria de toda minha vida: meu encontro com Deus.A mudana de comportamento gerou situaes constrangedoras. No trabalho na Loterj, ao contar que tinha se tornado evanglico, era rotineiramente alvo de piadas e provocaes. Os colegas do departamento, por exemplo, incitavam Edir ao lhe mostrar fotos de revistas masculinas. Certo dia, uma funcionria escancarou na mesa de Edir o pster de uma mulher nua. Olhe, se voc for homem de verdade dizia, em meio gargalhada geral. Passada a situao, eu me trancava no banheiro para orar. Chorei muito no banheiro da Loterj - lembra o bispo.Alguns anos mais tarde, Edir Macedo deixaria de ser um simples freqentador fervoroso ao desenvolver sua capacidade para a pregao. Mas antes encontraria a quem ele chama de alma gmea.
O AMANTE
A F E A MULHER
De um lado da mesa, Ester e as filhas, Cristiane e Viviane. Do outro, os dois genros e o filho adotivo Moiss. Na ponta, o bispo. O sol de Miami, nos Estados Unidos, inunda a sala de almoo no apartamento dos Macedo Bezerra. Acompanhamos um dia de raro encontro entre toda a famlia.Na sala de Miami e dos demais endereos pelo mundo, o mesmo objeto de decorao: retratos e mais retratos do lbum de famlia. uma tradio criada por Ester. Ela e Edir Macedo so um s. A afinidade dos dois evidente. Um olhar, um gesto, meia palavra, e marido e mulher j entendem o recado. Nem sempre significa afinidade de opinies, mas saber o que fazer, ou deixar de fazer, para agradar ao outro.O casal est sempre junto, desde o primeiro dia de 35 anos de unio, completados em 2007. Nas refeies, no avio, no descanso do sbado, na hora de se arrumar para a pregao. A esposa ajuda a fechar a gola da camisa do marido, que, por sua vez, palpita sobre a combinao das cores do vestido da esposa. Nos eventos de Edir com fiis ou pastores, l est ela, Ester, sempre na primeira fileira.- Sabe qual meu outro segredo? Outro segredo do crescimento da Igreja Universal? pergunta o bispo Macedo, provocando mistrio. A f e a mulher.O bispo no brinca quando o assunto casamento. A unio no altar rigorosamente levada a srio dentro de sua instituio religiosa. Pastores somente crescem na hierarquia do grupo quando so bem casados. Divrcio sinal de que algo est errado, mas no o fim. Quando a mulher abandona o marido responsvel por alguma funo na igreja, logo aps a separao ele recebe apoio para casar-se novamente. Ensino que o casamento no pode ser feito na base da paixo. No podemos seguir o corao, ignorando o raciocnio. Casar no exige apenas amor, mas, acima de tudo, f.Entre os solteiros, tambm h normas. Noivas de pastores passam por uma espcie de estgio ao conviver at doze meses com casais religiosos mais experientes. Os candidatos a npcias, pastores ou fiis da igreja, so incentivados a se unir com diferena etria de, no mximo, cinco anos. E so orientados a se casar somente depois dos 23 anos. Se a pessoa no acredita que o casamento vai dar certo, melhor no se casar. Mesmo que goste do outro. O mau casamento transforma a vida de qualquer um em inferno.Para o bispo, sexo uma ddiva. E pilar do casamento. Sexo para ter prazer. A cama a base de uma aliana no altar. No so os filhos, o dinheiro nem o carinho. Se um no der o que o outro precisa, j era. uma necessidade humana, como comer e beber. O marido deve ser o amante da esposa, e vice-versa.
VIDA EM COMUMEm casa, o sorriso ao ganhar um afago da esposaProvocar Edir Macedo question-lo sobre dogmas religiosos que se refiram abstinncia sexual.- Sexo no foi criado pelo diabo, mas por Deus. o momento de aliviar as tenses - opina ele, dizendo-se radicalmente contra o celibato. - Quando fao sexo, vou para o altar mais forte. O matrimnio fundamental no relacionamento humano. Ele simboliza a aliana eterna com Deus.Edir Macedo preza seu relacionamento conjugal Uma histria que comeou a ser construda na dcada de 1970, quando tinha 26 anos. Naquele tempo, como mostrado no captulo "A primeira vez", ele j freqentava a Igreja Evanglica Nova Vida, no Rio de Janeiro. E tinha um medo que beirava o desespero: ter um casamento arruinado.O medo no era sem fundamento. Eraldo e Celso, os irmos homens, j tinham esposa, mas os casais viviam em p de guerra. Muitas vezes, chegavam a se agredir fisicamente. Edir assistia a tudo de perto. A mulher de Celso, Eliana Bezerra, lembra-se das brigas at hoje.- Tinha muito cime do Celso, discutia com ele o tempo todo. Outro problema srio que eu tinha era com nossas crianas. Eu tive quatro filhos e, no meio deles, perdi quatro bebs prematuros. O bispo nos ajudou muito, nos aconselhava. S por isso nosso casamento deu certo. Se no fosse esse auxlio, eu estaria separada do Celso conta ela, hoje fiel assdua da igreja liderada pelo cunhado.Aps seu encontro com a espiritualidade, era hora de buscar uma esposa. No desperdiou a chance quando uma colega de igreja, a bela jovem Ester Eunice Rangel, pediu ajuda em matemtica, a disciplina favorita dele. Na poca, Ester fazia um curso preparatrio para concurso de um banco estadual.As aulas particulares nunca aconteceriam de fato.No primeiro encontro, na sada do curso, uma surpresa. Atirado, Edir logo colocou as mos nos ombros de sua pretendida.- Voc abusado, hein! - disse Ester, encarando o rapaz.- Sou mesmo - respondeu Edir. E colocou as mos nos ombros da moa novamente. No fundo, aquela atitude chamou minha ateno. Gostei da determinao dele - relembra a esposa.Os dois tinham acabado de desmanchar seus noivados. Ester havia descoberto que no gostava do antigo namorado. E Edir, j nos preparativos finais para o casamento, decepcionou-se com um palavro dito pela noiva. Foi o suficiente.- Quando vi a Ester pela primeira vez, disse que iria casar com ela. Edir, dessa vez, precaveu-se. Investigou a ficha de cadastro da aspirante a esposa no escritrio da igreja. Descobriu que era de uma famlia tradicionalmente evanglica, cujo av havia sido pastor protestante. E passou a "persegui-la".- Ele me seguia na hora de sentar no culto. Eu ia para um lado, ele ia tambm. Eu ia para o outro, e l estava o Edir.O romance foi relmpago. Dias depois de se declarar, pediu ao pai de Ester para namor-la. O casal no perdeu tempo. Em apenas oito meses, namoraram, noivaram e casaram-se. Estavam muito apaixonados e felizes. Ester tinha alguma coisa a mais. Foi meu primeiro amor. Parece que a gente estava procurando um pelo outro fazia anos e nos encontra mos naquele momento declara o bispo.Mas os desafios foram muitos, antes da cerimnia. Certa vez, um pastor disse a Ester que o casamento no daria certo. Alegou que tivera uma viso: ela se encontrava em um lugar alto, chorando amargamente. Curioso que, anos mais tarde, quem se divorciou foi o pastor. Nem Edir nem Ester tinham dvidas. Em 18 de dezembro de 1971, casaram-se na Igreja Nova Vida, de Bonsucesso, no Rio. Uma festa simples, mas inesquecvel para ambos. As fotos mostram um Edir sorridente, encantado com a noiva.- Eu tinha um sorriso de orelha a orelha - lembra o bispo.
O CASAMENTOEncontro definitivo, aps ele e ela desmancharem seus noivadosEdir no conseguiu um carro emprestado para viajar. O casal teve de embarcar de nibus para um hotel simples de Caxambu, em Minas Gerais. E o pior: arrastando as malas da Estao da Leopoldina at a Rodoviria Novo Rio. Durante todo o percurso, a felicidade de Ester contrastava com a irritao de Edir. Mas a bronca passou rpido.Era lua-de-mel.No retorno, mais dificuldades. O custo da vida a dois era alto. Os dois empregos e as horas extras de Edir no eram suficientes para comprar mveis para o novo lar. Eles viveram cinco meses em um apartamento alugado no bairro do Graja, at que o esgoto transbordou, inundando tudo. Tornou-se invivel continuar morando ali. A sujeira espalhou baratas por todos os lados. E Edir tem horror a baratas repulso descoberta pela mulher na semana da lua-de-mel, quando uma delas, voadora, invadiu o quarto do casal. Ester quem foi obrigada a matar o inseto. O bispo assume a repugnncia:- Eu enfrento o diabo, mas no enfrento uma barata.Os dois se viram forados a morar com os pais de Ester no Jardim Amrica, ainda no Rio. Dormiam no antigo quarto da esposa, em duas camas