Fichamento de 1.0 estrutura sintática da frase

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FICHAMENTO Garcia, O. M. 1.0 Estrutura Sintática da frase. IN.: Comunicação em Prosa Moderna, 17ª ed., RJ, FGV, pp.07-51.

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FICHAMENTO

Garcia, O. M. – 1.0 Estrutura Sintática da frase. IN.: Comunicação em Prosa Moderna, 17ª ed., RJ, FGV, pp.07-51.

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1.1. FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO

A frase é uma unidade de discurso ou um enunciado suficiente por si mesmo (proposição) que estabelece comunicação pela expressão de um pensamento, juízo, apelo, ordem, advertência ou aviso, anúncio, indicação de um fenômeno da natureza, um simples advérbio ou locução adverbial, uma exclamação ou exteriorização de sentimento(s) ou emoção, por meio de um agrupamento significativo de palavras realizado sob certo ordenamento sintático e semântico. Uma oração ou ordenamento sintático de palavras constitui-se , muitas vezes, de sujeito e predicado, ou de apenas predicado. A oração nem sempre é uma frase. Já o período pode ser equivalente à frase. Classifica-se em:

- frase simples ou período simples: o enunciado compõe-se de apenas uma oração;

- frase complexa ou período composto: o enunciado compõe-se de duas ou mais unidades oracionais.

Observe que a oração não será uma frase, quando se considerar unidade de uma frase complexa (período composto), porque a frase complexa constitui-se de várias orações e a mensagem somente será compreendida pela combinatória das unidades oracionais, que formam esse todo, a frase complexa;

Há autores que empregam a palavra FRASE classificando frase em frase nominal e frase verbal(oração); outros denominam frase a qualquer enunciado, classificando-o em enunciado simples, composto ou complexo. No entanto, é necessário que se deixe claro o conceito com o qual se trabalha ao empregar o vocábulo FRASE, até mesmo quando se emprega frase por texto, o que é incomum.

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1.1.1. FRASE, GRAMATICALIDADE E INTELIGIBILIDADE

Todo falante de uma língua tem liberdade para construir enunciados pela combinatória sintáxica e semântica de unidades linguísticas - palavras -, desde que respeitadas as normas/regras de constituição e construção de enunciado simples e/ou composto (gramaticalidade), para que se possa garantir o mínimo de inteligibilidade (compreensão) da mensagem pelos sujeitos da comunicação verbal oral e/ou escrita.

Segundo Garcia, a “ausência de gramaticalidade ou gramaticalidade precária significa ausência de inteligibilidade” (Garcia:1997:08)

1.1.1.1. Para garantir gramaticalidade de um enunciado:

1.1.1.1.1. excluir duplo sentido (ou ambiguidade de sentido, homofonias e homografias) : Ex.: O ciúme da mulher levou-o ao suicídio. ( ciúmes é de quem?) Conheci Luís quando era criança. (quem era criança?)

1.1.1.1.2. excluir tautologias que esclarecem nada de significado: Ex.: Os oculistas são mais competentes que os oftalmologistas .(qual é a diferença?) O de cujus não deixou herança porque morreu pobre. (tautologia)

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1.1.1.1. PARA GARANTIR GRAMATICALIDADE DE UM ENUNCIADO:

1.1.1.1.3. excluir incongruências, ou incompatibilidades, impertinências ou incoerências semânticas quando houver: 1.1.1.1.3. 1. contradição lógica literal – se a contradição é tomada ao ‘pé da letra’: ex.: a) Os quadrúpedes são bípedes. b)Esta mesa redonda é quadrada. Do contrário, uma frase pode fazer sentido se o contexto trabalhar a expressão de uma contestação ( uma mesa que se supõe ser

redonda é, de fato, quadrada), ou a expressão de um sentido figurado para dar valor a paradoxos (“falo melhor quando me calo”) ou fazer sentido se expressar a conjunção de contrários (“triste felicidade”) e sinestesias ( “cor berrante” ; “voz acetinada”);

1.1.1.1.3. 2. impropriedade ou falta de conectivos /operadores lógicos entre as partes de uma frase: Ex.: A paz mundial tem estado constantemente ameaçada, posto que a humanidade se vê dividida por ideologias antagônicas (erro:

posto que) (correto: porque) O progresso da ciência e da tecnologia tem resultado em extraordinário desenvolvimento dos meios de comunicação; os homens

se desentendem cada vez mais. (problema: no lugar do PONTO E VÍRGULA deve ser colocado o conectivo NO ENTANTO)

1.1.1.1.3. 3. omissão de ideias de transição lógica: Ex.: O progresso tecnológico apresenta também seu lado negativo: a incidência de doenças respiratórias torna-se cada vez maior em

cidade como Tóquio, Nova York e São Paulo. ( problema: não se trata de exemplificação. O escritor não esclareceu qual é o lado negativo e nem como leva à incidência de doenças e o leitor deve tirar essas informações de onde?) - A falta de raciocínio e falta de correlação lógica e semântica entre antecedente e consequente leva o interpretante a estabelecer falsas relações de sentido ou a ter dificuldades para compreender qual é o nexo lógico e semântico entre as ideias colocadas no enunciado;

1.1.1.1.3.4. subversão na ordem das ideias ou ideias fora de lugar: Ex.: Apesar dos conflitos ideológicos, raciais e religiosos que marcam inconfundivelmente s relações entre os indivíduos nos dias de

hoje, é extraordinário o progresso alcançado pelos meios de comunicação. (rearranjando a posição: Apesar do extraordinário progresso alcançado pelos meios de comunicação nos dias de hoje, as relações entre os indivíduos são marcadas por conflitos ideológicos, raciais e religiosos.)

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1.1.1.1. PARA GARANTIR GRAMATICALIDADE DE UM ENUNCIADO:

1.1.1.1.4. revelar conformidade com a experiência cultural e linguística de uma comunidade Ex.: A terra é quadrada. (o enunciado é um absurdo segundo o conhecimento adquirido)

1.1.1.1.5. constituir um enunciado que, no plano denotativo – nesse sentido objetivo – encerre um mínimo de probabilidade

Ex.: A águia conhece a mecânica dos corpos. (objetivamente, será que conhece? É duvidoso...)

1.1.1.1.6. organizar e estruturar adequadamente os termos do enunciado Ex.: Creio que já lhe disse que a ação de despejo que o advogado que o proprietário do apartamento

que eu desconheço mandou me procurar me disse que me vai mover é uma causa perdida.” (os termos da oração estão completamente desordenados e a frase está caótica e seu sentido prejudicado!)

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1.2. FRASES DE SITUAÇÃO OU INARTICULADAS

É uma unidade de discurso que estabelece comunicação pela expressão de um pensamento, juízo, apelo, ordem, advertência ou aviso, anúncio, indicação de um fenômeno da natureza, um simples advérbio ou locução adverbial, uma exclamação ou exteriorização de sentimento(s) ou emoção , saudações, interpelações ou vocativos desacompanhados e também fragmentos de enunciados desacompanhados que, embora, numa situação de fala oral ou escrita, falte-lhes a característica material da integralidade gramatical explícita, a legitimidade é-lhe dada pelo auxílio do contexto e da situação. São, na origem, unidades que, por si mesmas, não constituem um período bem estruturado, embora possam fazer parte do parágrafo.

Ex.: Fogo! Perigo de morte! Corram! Aqui, lançamento de livros! Chuva! Com licença! Sim.

Ei, psiu! Até daqui a pouco. João! Socorro!

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1.3. FRASES NOMINAIS OU ELÍPTICAS

É a frase nominal em que não aparece o verbo, porque constitui-se apenas de nomes (substantivo, adjetivo, pronome). O verbo pode, muitas vezes, ser mentalmente compreendido.

É característica de provérbios, ditos populares e máximas, comum na língua falada. Na língua escrita é comum em versos, mas existe em prosa também.

A frase é curta, incisiva, direta, tanto pode indicar , sumariamente, as peripécias de uma ação, como também elementos essenciais de uma descrição.

Ex.: Ars longa, vita brevis. (trad. Latina) Cada louco com a sua mania; cada macaco no seu galho. “A cama de ferro, a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório

esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau, uma cadeira de pau, o tinteiro niquelado, papeis, uma caneta. Quadros nas paredes.” (descrição de um quarto por E. Veríssimo, apud Garcia:1997:13em que os verbos são facilmente mentados “havia, existia, estava, encontrava-se, via-se, estendia-se)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.1. Coordenação e subordinação: encadeamentos e hierarquização - São processos sintáticos de encadeamento de orações. No português do Brasil, a coordenação é entendida

como justaposição e a subordinação como a correlação de orações;

- COORDENAÇÃO ou parataxe: trabalha-se com paralelismo de funções ou valores sintáticos idênticos, porque as orações são de mesma natureza ou de mesma categoria, têm a mesma estrutura sintático-gramatical e se interligam por meio de conectivos de coordenação que encadeiam ideias por:

. adição ou de aproximação: e; nem (=e não)

. alternativa de exclusão ou de alternância de ideias: ou; ora ...ora; que...quer; seja ...seja;

. adversativa ou marca de oposição de ideias: mas, porém, contudo, todavia, senão, aliás;

entretanto; no entanto, não obstante;

. explicação ou motivo ou razão ou justificação: pois, porque;

. conclusão ou resultativo ou efeito: logo, portanto, por consequência, por conseguinte, por isso, pois

(precedido de dois pontos);

- SUBORDINAÇÃO ou hipotaxe: trabalha-se com desigualdade de funções e de valores

sintáticos, em que as orações são dependentes e classificam-se em:

- orações substantivas;

- orações adjetivas ;

- orações adverbiais.

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.2. falsa coordenação: coordenação gramatical e subordinação psicológica Modernamente, tem-se observado que na coordenação há dependência semântica mais

do que sintática quanto ao uso dos conectivos ‘e’, ‘ou’, ‘ nem’. Quanto ao uso e sentido dos demais conectivos há valor subordinativo a considerar, no caso em que as orações não gozam de autonomia sintática, ficando evidente a dependência ou a a subordinação psicológica.

Observe os seguintes exemplos em que há subordinação psicológica:

- Todos o procuravam, mas ninguém o encontrou. - Irei, quer queira, quer não queira. (=Irei se quiseres, ou (e) mesmo que não queiras.) - Não fui à festa: não me convidaram. (= porque) - Não fui á festa: passei-lhe um telegrama (=mas = em compensação) - Não fui à festa: não posso saber quem estava lá (= portanto = por consequência)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.3. outros casos de falsa coordenação: - é o caso da coordenadas assindéticas (sem síndeto ou sem o conectivo), frequente nas descrições

sumárias e nas narrativas breves: a) O céu se derrama em estrelas, a noite é morna, o desejo sobe da terra em ondas de calor . (Jorge Amado apud

Garcia:1997:24)

- orações estão separadas por vírgulas; - a omissão do conectivo “e” sugere uma descrição em aberto.

b) O grito da gaivota terceira vez ressoa a seu ouvido. Vai direto ao lugar donde partiu. Chega à borda de um tanque; seu olhar investiga a escuridão, e nada se vê do que busca . (José de Alencar apud Garcia: 1997:24)

- orações estão separadas ponto e por ponto e vírgulas e nas duas últimas pelo conectivo ‘e’; - as duas últimas encadeadas pelo conectivo “e” fechando a série enumerada.

c) O dia estava quente e eu fiquei logo exausto. - orações encadeadas pelo conectvo “e”. - é falsa coordenação, porque existe uma relação de causa-efeito

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.3. outros casos de falsa coordenação:

d) A turma terminou a prova e o professor disse que poderíamos sair. - é falsa coordenação, porque a adição (e) revela ideia de tempo (quando), ou relação de causa-efeito (por isso)

e) Garcia chama a atenção para as construções com o objetivo de destacar o realce da interpretação para esta ou para aquela mensagem, veja:

Coordenação Subordinação O Brasil é um país de grandes riquezas, Embora o Brasil seja um país de grandes riquezas, mas o padrão de vida de seu povo é um o padrão de vida de seu povo é um dos mais baixos dos mais baixos do mundo . o mundo.

( a ideia principal é nivelada) (a ideia principal sobressai)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.3. outros casos de falsa coordenação: f) Veja que uma oração adjetiva pode aparecer camuflada e ter seu sentido , na coordenação, não tão realçado:

Coordenação Subordinação O São Francisco é o rio da unidade nacional; O São Francisco, que é o rio da unidade nacional, ele banha vários estados do Brasil e banha vários Estados do Brasil e depois deságua no depois deságua no Atlântico. Atlântico.

(oração adjetiva) g) veja as várias possibilidades de se realçar o sentido com o uso da subordinação: - O São Francisco, que banha vários Estados e deságua no Atlântico ,é o rio da da unidade nacional. - O São Francisco, que banha vários Estados e é o rio da unidade nacional, deságua no Atlântico. - O São Francisco, que é o rio da unidade nacional e deságua no Atlântico , banha vários Estados.

h) a título de exercício, observe - você mesmo - as possibilidades do enunciado seguinte: - José, que tem uma filha de cinco anos e não lhe dá pensão alimentícia, foi ao jogo ontem.

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“A simples coordenação nem sempre permite gradação no realce das ideias” (Gracia:1997:26)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.4. Coordenação e ênfase:

Como na coordenação o trabalho de encadeamento de orações se faz por paralelismo de funções e valores sintáticos idênticos entre as orações, o realce das ideias é mais limitado do que na subordinação. Na coordenação, então, o realce é feito pela seleção vocabular pelo apelo à linguagem figurada, bem diferente do processo de subordinação.

Observe, à guisa de conclusão , o relevo e valor da oração principal já sublinhada nos períodos abaixo:

Coordenação Subordinação

Eram três horas da madrugada de domingo; a Ás três horas da madrugada de domingo, a cidade dormia cidade dormia tranquilizada pela vigilância tranquilizada pela vigilância tremenda do Governo tremenda do Governo provisório, e o Largo Provisório, foi o Largo do Paço teatro de uma cena do Paço foi teatro de uma cena extraordinária, extraordinária, presenciada por poucos (...) presenciada por poucos (...)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.5. Coordenação, correlação e o paralelismo A coordenação encadeia valores sintáticos idênticos, por isso, quase sempre, é interessante fazer que

às ideias similares corresponda uma forma verbal similar, que é a índole da língua. A essa correspondência chamamos paralelismo ou simetria de construção. Paralelismo é, então, uma forma de construção simétrica.

Ex.: Não saí de casa por estar chovendo e porque era ponto facultativo.(= problema de construção!)

Paralelismo: Não saí de casa por estar chovendo e por ser ponto facultativo.

Observe:

Não saí de casa não só porque estava chovendo mas também porque era ponto facultativo. Não saí de casa não só por estar chovendo mas também por ser ponto facultativo.

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.5. Coordenação, correlação e falta de paralelismo

. Erro: Senti-me deprimido pela angústia, não tanto por causa do perigo que corria meu velho amigo, mas também devido à relação que meu espírito artificialmente estabelecia entre a sua saúde e meu amor.

Solução: ....... não tanto por causa do.... ..............................., quanto devido à...........

...... não só por ...............................................mas também devido à .......

Erro: Nosso destino depende em parte do determinismo e em parte obedecendo à nossa vontade.

Solução: Nosso destino depende em parte do determinismo e em parte de nossa vontade.

Erro: Ele gosta de conversar e principalmente de anedotas.

Solução: Ele gosta de conversar e principalmente de ouvir ( ou de contar) anedotas.

Erro: A psicologia tende, atualmente, a se constituir como uma ciência independente, isto é, tendo objeto e sentido próprios.

Solução: A psicologia tende, atualmente, a se constituir como uma ciência independente, isto é, com objeto e sentido próprios.

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“Não se podem coordenar constituintes do mesmo tipo que não tenham a mesma estrutura interna e a mesma função gramatical .” (Chomsky apud Garcia:1997:34)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.5. 1. Paralelismo rítmico ou similicadência

Similicadência ou isocronismo são aspectos do paralelismo. Isto quer dizer que segmentos de frases (termos orações) ou frases inteiras possuem igual ou quase igual extensão e mesmo igual ou quase igual duração, ou cadência e ritmo, isto é, similicadência.. São procedimentos estilísticos para dar realce à frase por meio de harmonia e melodia e, sobretudo, ritmo.

Ex.:

“Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro; se com amor, o demônio é formoso; se com ódio, o anjo é feio; se com amor, o pigmeu é gigante.” (Vieira apud Garcia:1997:35)

“Nenhum doutor as observou com maior escrúpulo, nem as esquadrinhou com maior estudo, nem as entendeu com maior propriedade, nem as proferiu com mais verdade, nem q explicou com maior clareza, nem as recapacitou com mais facilidade, nem as propugnou com maior valentia, nem as pregou e semeou com maior abundância! (M. Bernardes apud Garcia:1997:35)

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1.4.0. PROCESSOS SINTÁTICOS

1.4.5. 2. Paralelismo semântico

Além do paralelismo sintático, deve-se prestar atenção à correlação semântica resultante de ideias conexas. No entanto, a ruptura semântica é um procedimento linguístico para construir a ironia, a sátira ou o humor, aceitos na poesia, mas, muitas vezes, desinteressantes ao raciocínio objetivo.

Ex.: Marcela amou-me durante quinze dias e onze contos de réis. (Machado de Assis) “... Encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. (Machado de

Assis) “ Mariinha é ingênua e dona de casa.” “Mariinha é ingênua e é também dona de casa.” (frases inaceitáveis!)

1.4.5. 3. Implicações didáticas do Paralelismo

O Paralelismo sintático e o paralelismo semântico auxiliam o raciocínio e a organização estrutural e temática do enunciado e facilitam a compreensão da mensagem, porque o paralelismo é procedimento linguístico e discursivo para dar clareza e objetividade à mensagem em situação de comunicação verbal oral e/ ou escrita.

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1.5.0.ORGANIZAÇÃO DO PERÍODO

1.5.1. Relevância da oração principal: o ponto de vista

Na coordenação ou na subordinação , a oração principal encerra, quase sempre, a ideia principal, seja porque constitui o núcleo da comunicação, seja porque desencadeia as demais orações do período. No entanto, a ideia principal do período pode encontrar-se numa oração subordinada, a exemplo das orações substantivas ou adjetivas, e, assim, tanto a oração dita principal quanto a oração dita subordinada são igualmente necessárias e decisivas para a compreensão do conteúdo da mensagem. Todavia, casos há em que a construção ideal está dependente do ponto de vista do produtor da mensagem.

Ex.: “Pediram-me que definisse o Arpoador. É aquele lugar dentro da Guanabara e fora do mundo, aonde não

vamos quase nunca, onde desejaríamos (obscuramente) viver. (...) Há os namorados, que querem dar a seu namoro moldura atlântica, céu e onda por testemunhas.” (CDA)

Observe a diferença e mudança de ponto de vista e a ideia posta em foco pela posição da oração principal que contem a ideia predominante do período:

“ Quando as leis cessam de proteger os nossos adversários, virtualmente cessam de proteger-nos.”

“Quando as leis cessam de proteger-nos, cessam virtualmente de proteger os nossos adversários”.

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1.5.0.ORGANIZAÇÃO DO PERÍODO

1.5.2. Da coordenação para a subordinação : escolha da oração principal A escolha da oração principal e a construção de um ponto de vista e de uma situação pelo

falante não é um ato gratuito.

Analisemos as transformações frasais possíveis a partir da seguinte série de enunciados:

Vieira chegou ao Brasil em 1615. Ele não contava ainda oito anos de idade. Ele teve de acompanhar a família; Após a chegada, matriculou-se logo no colégio dos jesuítas.

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1.5.0.ORGANIZAÇÃO DO PERÍODO

1.5.2. Da coordenação para a subordinação : escolha da oração principal e plausibilidade da mensagem

1. oração principal: chegada de Vieira “ Vieira, que não contava ainda oito anos de idade, chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família,

matriculando-se logo no colégio dos jesuítas.”

2. oração principal: idade de Vieira “ Vieira, que chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família, não contava ainda oito anos de idade,

matriculando-se logo no colégio dos jesuítas.”

3. oração principal: matricular-se no colégio dos jesuítas “Vieira, que não contava ainda oito anos de idade, quando chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a

família, matriculou-se lodo no colégio dos jesuítas”.

4. oração principal: acompanhar a família

“Vieira, que não contava ainda oito anos de idade, teve de acompanhar a família para o Brasil, aonde chegou

em 1615, matriculando-se logo depois no colégio dos jesuítas.”

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É fundamental avaliar as condições de produção de cada enunciado para poder decidir sobre a clareza, precisão e relevo e, sobretudo, sobre a verdade contida no enunciado ou se o enunciado é plausível.

(remissão do leitor ao livro de Garcia:1997:42-47)

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1.5.0.ORGANIZAÇÃO DO PERÍODO

1.5.3. Posição da oração principal: período “tenso” e período “frouxo” A expressividade de uma frase é dada não só pelas normas e regras da língua, como também, e sobretudo, pelas normas ou tendências inspiradas

pela lógica do raciocínio. Assim, a posição da oração principal no enunciado não é aleatória. Desta feita, convém colocar termos ou orações a que queira dar maior elevo nas extremidades do enunciado. A posição da oração principal no enunciado faz-se por:

- ordem tensa (condicionanate ou prótase + condicionada ou apódose): o sentido somente se completa no fim do enunciado e evidencia-se o suspense colocado no início pela articulação com a informação da oração principal:

a) “Embora seja reconhecido o que aqui se classifica de extraordinária coragem e firmeza do Governo (...), a experiência passada dos fracassados programas antíinflacionários e a falta de continuidade no combate á inflação pesam como fatores negativos.” (O Globo apud Garcia: 1997:48)

No estilo oratório, e sobretudo na argumentação, é preferível a estrutura prótase + apódose. Costuma-se, modernamente, antepor o sujeito da oração principal como forma de criar suspense.

b) “O esforço da vida humana, desde o vagido do berço até o movimento do enfermo, no leito de agonia, buscando uma posição mais cômoda para morrer, é a seleção do agradável.” (Raul Pompeia)

c) “O homem, por desejo de nutrição e de amor, produziu a evolução histórica da humanidade.” (R.P.) d) “Franco, no domingo de véspera, aproveitando a largura da vigilância no dia vago, fora vadiar no jardim. (R.P)

- ordem frouxa (pensamento se completa antes do fim do enunciado, sem circuito)

a) “A experiência passada dos fracassados programas antíinflacionários e a falta de continuidade no combate á inflação pesam como fatores negativos, embora seja reconhecido o que aqui se classifica de extraordinária coragem e firmeza do Governo (...)” (tendo sido já colocada a ideia nuclear, o leitor se vê forçado a ler o restante)

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FICHAMENTO DE OBRA

Autoria: Elizabete Aparecida Damasceno

Fins didáticos Abril/2015