FEANBRA Federacao das Associa1f6es Nipo … Yoshizawa Sergio Shigueru Uema Tianna K.Yamamoto Tsuno...

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FEANBRA Federacao das Associa1f6es Nipo-brasileiras do Centro Oeste

Transcript of FEANBRA Federacao das Associa1f6es Nipo … Yoshizawa Sergio Shigueru Uema Tianna K.Yamamoto Tsuno...

FEANBRAFederacao dasAssocia1f6esNipo-brasileirasdo Centro Oeste

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Federar;ao das Associar;6es Nipo-brasileiras do Centro Oeste - FEANBRACNPj - 00.484.527/0001.39

Mitsutoshi AkimotoShigeru HayashiYukio Yamagata

Roberto Shoji OgasavaraKuniyoshi Yasunaga

Sigueo OshiroPaulo Masaoki Yokoyama

Presidente10 Vice-presidente2" Vice-Presidente10 Secretario2" SecretarioI" Tesoureiro20 Tesoureiro

Shigeru HayashiMichio Yamaguchi (1M)

Mitsutoshi AkimotoYusuke Togashi

Toyomi Kobayashi (1M)Aiko Tanonaka Ogassawara

Alice Tamie jokoJulio Haruitsi Ikuno

Kuniyoshi Takaki YasunagaTakayuki HatanoTakehiro Yoshida

Sachio NegawaKimiko Sambuichi

Masae YadaRoberto Mamoru Matuda

Tereza Kikue SatoNEASIA - CEAM/UnB

Carlos SellosSimone SellosKyoko Sekino

Alice Tamie jokoMitsutoshi Akimoto

Yusuke TogashiHerica Montenegro Braz Gomes

Ilze MaedaKimiko Uchigasaki

Mario YoshizawaSergio Shigueru Uema

Tianna K. Yamamoto Tsuno

Coordenacao de Producao .Membros·· .

PresidenteVice-presidente

Kiokasu UemaCid Mamoru Kawashima

Shoji SaikiSuely Miyako Uchida Taira

Hiroshi Uehara

TitularTitularTitular

ARCAG-Oiretor PresidenteARCAG-Vice-PresidenteBunkyo-Oiretor PresidenteBu nkyo-Vice-PresidenteIncra-Oir. PresidenteIncra-Vice-PresidenteN ikkey-OF-Oir.PresidenteNikkey-OF-Vice PresidenteVargem Bonita-PresidenteVargem Bonita-Vice-PresidenteAELjB-PresidenteAELjB-Vice-Presidente

Yukio YamagataShoji Saiki

Tatsuo MatsunagaWaldemar Hiroshi Umeda

Paulo M. YokoyamaPaulo Uchida

Waldemar Hiroshi UmedaHeitor Kanegae

Mario Hiroshi ItaTsuneyoshi Watanabe

Kimiko SambuichiMasae Yada Projeto Grafico~DiiiXB-iasH- ---

Oesign/Editora~ao - Onix Brasil2.000 exemplaresServi~o Fotografico /SECOM/COArquivo Publico do Distrito FederalMuseu Hist. da Imig. Japonesa no BrasilArquivos pessoas (Biografias)

Gisliine SoaresDivanir junior

TiragemImagens

Centem\rio cia imigra<;ao japonesa no Brasil e cinqiientenario cia presen<;anipo-brasileira em Brasilia / [Shigeru Hayashi, coorciena<;ao gerall.- Brasilia: FEANBRA, 2008.

Texto em portugues e japones.ISBN 978-85-8710-150-8

1. Brasil - Imigrantes japoneses. 2. ]aponeses - Brasil. 3. Nipo-brasileiros - Brasilia. I. Hayashi, Shigeru. II. Titulo.

A religiosidade eurn aspecto importan-te e inegavel da historiae da dinamica social dosnikkeis no Distrito Fede-raP.Ela tem ajudado a pro-jecar uma imagem positiva eintegrada ao cenario e a arquite-[lJrade Brasflia, tanto do Japao comodos nipo-brasilienses em particular. Paraficar em poucos exemplos, sac cada vez mais popularesentre os brasilienses as quermesses anuais do templobudista da Hampa Honganji, as sess6es de meditar;:ao dos..arios grupos Zen e as aulas de ikebana (arranjo floral)da Igreja Messianica. Nao menos importante e 0 fato deque religi6es de origem niponica vem conquistando cad avez mais adeptos brasilienses sem ascend en cia japonesa.

Norte defendeu umadissertar;:ao de mestra-do sobre a "percepr;:ao

japonesa do fenomenomorte", cujo trabalho de

campo fora feito entre osjaponeses e seus descenden-

tes do Nucleo Rural de VargemBonita, no Distrito Federal. Em 1997,

Juliana ~. Neves escreveu uma monografiade graduar;:ao enfocada no simbolismo das cerimoniase imagens do Budismo da Hompa Honganji, com algumainformar;:ao sobre sua comonidade' em Brasilia. Por fim,Regina Y. Matsue tambem defendeu uma dissertar;:ao demestrado, sobre tres grupos budistas em Brasilia:Tibe-tano, Hompa Honganji e Saka Gakkai.

Institui~oes Etico-Rdigiosas)aponesas no Distrito FederaL

.-

Em uma instancia mais restrita, a religiao tambemtern servido tanto para unir quanta para diferenciar sub-culturas no seio da comunidade nipo-brasiliense.Assimcomo ha casos de familias que se mantem unidas emtorno de uma identidade religiosa, tambem ha familiasinteiras que se dividiram e tomaram posir;:6es antagoni-cas com base na opr;:ao religiosa.

Nas proximas paginas, farei uma breve descrir;:ao e- analise dos grupos etico-religiosos de origem japonesa,

de que se tem noticia de sua presenr;:a no Distrito Fe-deral.Antes, porem, apresento os antecedentes destetrabalho.

Em 1986, Dioclecio Luz publicou 0 "Roteiro Mfsticode Brasilia", numa linguagem jornalfstica, com formatode catalogo, em que cita apenas duas religi6es japonesas,a Igreja Messianica e a Mahikari. A partir de 1994, asprofessoras Deis Siqueira e Lourdes Bandeira, ambasdo Departamento de Sociologia da Universidade deBrasilia, desenvolveram uma ampla pesquisa, que, par€Star centrada nos grupos mfstico-esotericos presen-tes no Distrito Federal e no Entorno, contempla apenasalgumas poucas religi6es japonesas como casos i1us-trativos de novas opr;:6es de espiritualidade (ver, por

~ exemplo, Siqueira e Lima,2003).Tambem em 1994, Selmo

10 termonikkeivem de longadata sendo usado entre os descendentesdejaponeses para se auto-identificareme, com isso, foiabsorvido aoVocabularioportuguesdo Brasil.Utilizoaquieste e 0 termo alternativo'nipo-brasiliense",ora em sentido amplo,para abarcar todos os japo-nesese descendentes que residem no DistritoFederal,ora em sentidomaisrestrito,para me referira todas as pessoas, a partir da segundagera~ao(nisei, sansei, yonsei, etc.),que possuem ascendencia bilate-ralouunilateraljaponesa na regiaode Brasflia.Apesarda convenienciadetermos tao abrangentes para os propositosdeste estudo, noto queestae uma categoria social bastante diversificada no que tange IIIdentidade.Veja,por exemplo,discussao em Lesser (2003).

Na segunda metade da decada de 1990, fiz um mape-amento das religi6es japoneses na area metropolitana deBrasflia.2 Uma vez feito esse mapeamento geral, dediqueiminha pesquisa de doutoramento a filial brasiliense domovimento neo-budista Saka Gakkai (Pereira, 200 I).

As religi6es japonesas no Distrito Federal, de certaforma, refletem os dados nacionais.3 Ha em torno desessenta grupos japoneses no pais, excluindo os que seidentificam puramente como cristaos. Essas instuir;:6esreligiosas pertencem a uma ou combinam varias tradi-<;6es etico-religiosas, como Xintoismo, Budismo, Cris-tianismo, Confucionismo e outras. Ha dez anos, obtiveinformar;:6es da existencia de quinze grupos religiosos ja-poneses de tradir;:6es diferentes, que marcavam presenr;:ana regiao metropolitana de Brasilia. Esse numero nao sealterou desde enta~, visto que nao se encontrou noticia

2 0 mapeamento contou, em momentos diferentes, com a colabora~aode minhas alunas Ariane M. Cieglinski,Maria Camilla S. de Aguiare Naiara Costa. Nosegundo semestre de 2007, como meus dadostinham-se desatualizados poruma decada e tendo em vista que eume encontrava residindono exterior,recorriIIgenerosidade de FelipeM.Sugimoto e AlissonT. de Freitas para complememar os dados dealguns grupos religiosos japoneses. Registro aqui os rneus agrade-cimentos a todos esses voluntarios,bern como aos participantes dasreligi6es,pela boa-vontade em responder as minhas perguntas.

3 Para mais inforrna~6es sobre as religi6es japonesas no Brasil,ver:Nakamaki (1985), Mori (1992), Pereira (2004, 2009), Pereira eMatsuoka (2007).

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recente de um deles (Honen - Comunidade Budista)4,enquanto outro grupo (Oomoto) foi introduzido hapouco na regiao. Meu levantamento nao incluiu igrejascristas, cujo trabalho evangelizador esta voltado especi-ficamente para a comunidade nipo-brasiliense, como eo caso da evangelica Igreja Alian~a de Brasilia, no NucleoBandeirante. Como veremos adiante, apesar da maioriados nikkeis ter aderido ao .Cristianismo, poucos saD pra-ticantes, enquanto a maior parte esta mais propensa auma religiosidade ecletica. 0 presente cap[tul~, portanto,trata da religiosidade japonesa no Distrito Federal, comfoco nos grupos vindos do Japao ou criados no Brasilpor imigrantes japoneses ou seus descendentes.

Das quinze institui~6es na tabela abaixo, uma per-tencente ao Xintofsmo tradicional e quatro ao Budis-mo tradicional. Das dez restantes, nove saD tidas comoshinshDkyi3 ("novas religi6es") e uma se enquadra emcategoria especial. Trata-se do Instituto de Moralogia,fundado em 1926 por Chikuro Hiroike (1866-1938).Tendo origem e base religiosas, a Moralogia nao pos-sui um objeto de adora~ao, enfocando antes 0 estudo"cientffico" e a pratica da "Moral Suprema". Daf 0 usa,neste capitulo, da expressao "institui~6es etico-religiosasjaponesas".

Veja tabela abaixo com informa~6es de cada um dosgrupos:

NUMEROINTRODUCAOAPROXIMADO

NOMEDA DECLASSIFICACAoINSTITUICAONO BRASIU MEMBROSEM BRASILIA NO DISTRITO

FEDERALXINTO[SMO Ishizuchi Jinja do

(Shinto) Brasil (Ishizuchi 1956/1982 8Honky5lAssocia~ao

BUDISMO ReligiosaHokkeko 1960/1962 40(Bukkyo) do Brasil (NichirenSh5shOl .

4 A ComunidadeHonenfoi fundadaem Brasniaem meadosde 1998, porMarceloGeaquintodeMelo,ex-novi~odo temple da Hompa Honganji(ou Hongwanj~, que, ao se desligar deste templo, foi acompanhadopor outros treze devotos.A Comunidadee reconstru~aobrasileiradeumatradi~aoresultantede intensee antigosincretismosino-japones.SuaorigemremontaaspraticasreligiosaschinesasnamontanhaWu-T'ai-Shan (lit., "Montanhade CincoPicos"), umadas quatro monta-nhas sagradasassociadascom os "quatro grandesbodhisatlvas"daChina(Manjusri, Samantabhadra, Avalokitesvara e Ksitigarbha).Antesde receber acolhida no monasteriojapones Kyoto ShDdoin (da seitaJOdosh0, em 1976, essatradi~aoainda misturouelementosdo Bu-dismo primitivo com 0 Taoismoe 0 Lamaismo.Atradi~aoreligiosadeWu-T'ai-Shan chegouaoBrasilporYoltade 1946 com0 mongeTong-hua,missionariodoTemploFaTuang-Tsu(Xangai).Essasinforma~6esforam obtidas na sede da Comunidade,em entrevistacom MarceloG.Melo (04-11-1998) e complementadaspor uma apostila ineditacedida pelo entrevistado.

Associa9aoReligiosa NambeiHonganji Brasil 1908/1957Betsuin (HigashiHon an'iComunidadeBudista Sul-americana da 1908/1957Selta Jodo ShinshOHorn a Hon wan'iComunidade 1955/Budista Decada de 80Sotozenshu (Soto 1980ZenshO ,

NEO-XINTOISMOSukyo Mahikari(ShinshOkyo- do Brasil (SOkyo 1974/1975Shintokei Mahikari

OomotoInternacional 1924/2004Oomoto

NED-BUDISMO BSGI-Associa9ao

(ShinshOkyo- Brasil Soka Gakkai 1960/1962Internacional (SokaBUkkyokei) Gakkai

Religiao BudistaHonmonButsuryushu do 1908/1968 60Brasil (HonmonButsur OshO

NOVAS IMMB- IgrejaRELIGIOES- MessianicaOUTROS Mundial do Brasil(ShinshOkyo- (Sekai KyOseikyolshok 0 Izunome Kyodan

Igreja Tenrikyo 1914/1965enrik 0PL- Institui9aoReligiosa Perfect 1957/1974Liberty (PerfectLibe K 6danMOA(MokitiOkadaAssociation)Panamericana 1984/do Brasil (MOA Decada deInternational, Sekai 1980KyOseikyolTohonoHikariSeicho-no-ie doBrasil (Seicho- 1932/1961no-ieInstituto de L-

OUTROS Moralogia do 1964/1982(Sonota) Brasil (MorarogiKen 0'0

Perfil e Numeros das Institllis:aes Religiosas

As estatfsticas religiosas costumam ser terrenoC

jeito a duvidas e controversias. Por umlado, as instit~6es religiosas tem dificuldade para manter controlenumero de seus membros, ja que sempre ha um fl~xconstante de pessoas que se filiam e se desfiliam;~.simpatizantes que nunca se comprometem no nivel}conversao, de pessoas que SaD mais ativas, e de outque mantem a fe a disrancia, quando isto acontece. P

outro lado, ha grupos que incluem em suas estatfsticasnao somente os adeptos, mas tambem os visitantes esimpatizantes, como forma de propagandear e "demons-erar"'a boa-aceita~ao de suas verdades ou, simplesmente;-por acreditarem que estas pessoas ja contem a "sementedo ensinamento", que Ira germinar um dia. Portanto, paraalgunsgrupos da tabela acima, ha a numero de ades6es e,entre parenteses, uma aproxima~ao dos membros maisativos, de acordo com dados obtidos atraves de ques-tionarios e entrevistas com os membros e Ifderes dosreferidos grupos.

A tabela tambem distingue as religi6es japonesas emtermos de orienta~ao doutrinaria (Xintoismo, Budismo,Outros) e precedencia temporal (grupos tradicionais enovos). De modo sucinto, as religi6es tradicionais ouestabelecidas (kisei shOkyo) sac aquela~ que foram es-tabelecidas ou introduzidas no Japao antes do seculoXIX, como 0 Xintoismo, Budismo e Cristianismo. His-toricamente, embora os japoneses tenham apresentadoumapratica religiosa bastante rica e plural, 0 predomfnioxinco-budista tem sido uma constante no ultimo milenio.

o Xintoismo e uma religiao complexa, que incorpo-rou diferentes tradi~6es religiosas ancestrais do Japao eas reelaborou sob influencia estrangeira, particularmentedo Budismo. 0 ensinamento do Buda foi oficialmenteintroduzido no pais no ~eculo VI, mas levou alguns se-culos ate se tornar real mente popular. 0 sincretismoxinto-budista (shinbutsu shOgo) e um fen6meno recor-rente e de destaque na hist6ria religiosa dos japoneses,que leva a popula~ao a nao fazer muita distin~ao entre

- budas,bodhisattvas e divindades xintoistas (komi). Comisso,a maio ria dos japoneses se declara simultaneamentebudista e xintofsta.

No come~o do seculo XIX, 0 Budismo fazia parte damaquina governamental como uma especie de cart6rio,onde a popula~ao era obrigada a manter um registrofamiliar (koseki) dos nascimentos, casamentos, 6bitos e

I- Outros. Enquanto 0 Budismo se tornara uma religiaor envolvida com a vida familiar, particularmente com ritu-I ais funerarios, 0 Xintofsmo mantinha sua popularidadeII com os festivais populares (matsurt), divindades tutelaresI dos vilarejos (ujigami), talismas e outros. Nessa mesma

epoca come~aram a surgir novos movimentos religiosos(shinshOkyo undo) que apelavam para a fee a devo~aoindividuais.Frequentemente, os fundadores dessas novasreligi6es eram tidos como divindades vivas (ikigomi), queprapunham uma nova visao de mundo, embora incor-porassem elementos de uma ou mais religi6es tradi-tianais.As novas religi6es tendem a cultivar 0 fervor

__rnissionario, em contraste com as tradicionais que sac

transmitidas de gera~ao a gera~ao, sem a necessidadede proselitismo.

Isto explica em parte a situa~ao e a disparidade nasestatisticas das religi6es japonesas no Brasil e, em parti-cular, na-regiao de Brasflia. Como no Japao, 0 Xintofsmoe 0 Budismo tradicionais em Brasflia nao apresentaram,ate 0 momento,o impeto proselitista.Assim, 0 Xintois-mo esta representado pela iniciativa de uma unica famnia(Tsuno),que construiu um pequeno santuario dedicadoao "Santo da Pedra" ou Ishizuchi.

o Budismo tradidonal tambem tende a ficar cir-cunscrito basicamente it comlmidade nipo-brasiliense,embora haja exce~6es. Os dois ramos (Hompa e Higashi)da Verdadeira Seita da Terra Pura ou Jodo ShinshO surgi-ram em Brasilia com a vinda dos imigrantes japoneses edescen'dentes, ainda durante a constru~ao da capital.Aexemplo do que se passou em outros lugares, os centrosbudistas foram estabelecidos antes pela necessidade dese manter 0 culto aos antepassados e de um lugar paraexpressao ritual da identidade nikkeLAte os dias de hoje,as principais atividades de seus monges estao necessaria-mente relacionadas com rituais funerarios como vigiliado corpo presente, setimo dia de falecimento, setimasemana, primeiro ano, segundo ano, quinto ano, e assimpor diante. Porem, como sera visto mais adiante, 0 ramoHompa (ou Nishi) tem feito esfor~os de abertura para osbrasileiros nao-nikkeis, com relativo exito.

A seita Nichiren ShoshO (Hokkeko), enquanto esteveassociada it Soka Gakkai, expandiu-se para alem da comu-nidade nipo-brasiliense. Porem, desde que houve 0 rom-pimento entre elas em 1991, a Nichiren ShoshO procurarecompor sua estrutura, com sucesso ainda bastantetimido. Prevalece entre as duas institui~6es religiosasum clima de "guerra fria", com temores reciprocos deespionagem e propaganda em terreno alheio.

o Zen reflete aqui varias de suas caracteristicas noBrasil.lntroduzido no pais atraves da comunidade nikkeiem 1955, a pratica zen conseguiu despertar um con-sideravel interesse nos meios intelectuais e estudantisnas decadas seguintes, a exemplo do que acontece-ranos EUA e na Europa.Apesar de ser religiao tradicional,foi introduzido na Capital Federal (e ainda mantem-se)it revelia da comunidade nikkei, como nova alternativareligiosa para os brasileiros e sem cumprir 0 papel con-vencional de provedor de ritos associados com 0 cultoaos antepassados. 0 movimento em Brasflia come~ouna decada de 1980, por iniciativa de professores da Uni-versidade de Brasflia (Yves Chaloult, Carlos Pellegrino eDirce Maria da Fonseca) e do monge e po eta Jose Pal-meira Guimaraes (1930- 1 ). Em 1993,0 monge Ry6tan

Tokuda ajudou a criar 0 Centro Zen do Planalto, que,no ana seguinte, recebeu uma gleba de terra destinadaa pratica de sesshin (retiros). Todos os praticantes quecontatamos nao descendem de japoneses. De fato, hacad a vez mais brasileiros nao-nikkeis sendo ordenadosmonges e assumindo a dire~ao de mosteiros e d6josno Brasil. Como no Zen 0 praticante se identifica comas orienta~oes e praticas de um mestre, pode-se en-contrar em Brasflia grupos ligados a mestres distintos.Alem do Centro Zen do Planalto e do D6jo Cazazen,sob dire~ao da monja Magda Gyoku En (Magda Simoesda Silva),ambos ligados ao monge Tokuda, ha pelo menosoutros dois grupos independentes: um grupo ligado aAs-socia~ao Zen Internacional (fundada pelo mestre TaizenDeshimaru, divulgador do Zen no Ocidente atraves daEuropa, 1914-1982) e outro, associado ao monge Daiju(Cristiano Bitti), abade do Mosteiro Zen Morro da Var-gem (ES).0 resultado e que os endere~os desses grupostem sido transit6rios e 0 numero de membros, flutuante.

Apesar do relativo sucesso do Zen entre os brasi-lienses, os maiores grupos japoneses em Brasflia e noBrasil sac quase todos da categoria das novas religioes,que tambem contam com maior numero de adeptos debrasileiros sem ascendencia japonesa. A Perfect Liberty(PL), por exemplo, tendo recebido 2.500 adesoes aolongo de seus 35 an os de hist6ria no Distrito Federal,conta com apenas tres japoneses e dois descendentes.5

SeichO-no-ie, Igreja Messianica e S6ka Gakkai sac outrasque mantem grande dinamismo e militancia fora da co-munidade nipo-brasileira e, por isso mesmo, sac as maisbem-sucedidas em termos numericos, juntamente coma PL.A filial brasileira da Seich6-no-ie, pot exemplo, estasuperando sua matriz japonesa em termos de afiliados,tendo-se espalhado por todas as regioes do Brasil. Seusucesso e fruto de uma combina~ao de fatores, comoecletismo doutrinario, estrategias de abrasileiramento,sintonia com as mudan~as polfticas e sociais do pais, en-tre outros.A Mahikari, a MOA do Brasil e outros novosgrupos come~am a trilhar esse mesmo caminho. Possi-velmente por motivos de organiza~ao ou de lideran~a,outras novas religioes, como a Tenriky6 e a Honmon But-suryOshO, existem ao redor de algumas famflias nikkeis,enquanto a Oomoto nao conseguiu nenhuma conversaoainda.

No Japao; as novas religioes se iniciaram em areas ru-rais ou entre camadas urbanas mais pobres, tornahdo-sedepois movimentos caracteristicamente de c1asse media

5APerfect Liberty foiumadas primeirasreligi6esjaponesas a fazerdivulga~aomassivaforada colonianikkei.Nosanosde 1970, seus Ii-derestomarama firmedecisaode"abrasileinHa"(v.Nakamaki,1986).Talvezseja esta a principalrazaopar possuiratualmentetao poucosmembrosdescendentesde japoneses,

urbana. No Brasil, as religioes japonesas foram intr"zidas, ao menos no pre-guerra, por imigrantes japon' ,residentes no meio rural. Hoje, sac antes de tudo 'mentos de c1assemediaurbana. Em Brasflia,quase,tos grupos, mas particularmente os maiores, estao's)::dos nas areas mais centrais da capital, 0 que mantemfoco na c1asse media. Poucos estao fora do Plano Pi"Ishizuchi jinja (area rural), Honmon ButsuryOshO (N6d'Bandeirante) e Tenriky6 (Taguatinga):6 Entretanto,rii,l'"ma decada, os maiores grupos estao crescendo maitcidades satelites, sobretudo Taguatinga e Ceilandii'\'quer dizer que elas estao se popularizando ao ci~junto as classes bai.xa e media-baixa.

Como ocorreu em outras partes do Brasil, ,a mal'ria dos grupos chegou a Brasilia atraves do imig~;japones U6do ShinshO, S6ka Gakkai, Tenriky6 e outro1):""de seus descendentes (por exemplo, a PL), vindosCioutras partes do Brasil ou mesmo diretamente doT;j'"A exce~ao ja citada foi 0 Zen, introduzido p;rpcantes sem ascendencia nip6nica. Muitos grupos f:estabelecidos ainda durante a constru~ao ou po~ ,pois da inaugura~ao de Brasflia, como e 0 caso'd;ShinshO (1957), da Seich6-no-ie (1961) e da S6ka G,(1962). Somente uma, a Oomoto, parece ter envialmissionario especificamente para a difusao de seU5namentos. Uma vez em Brasflia, cad a grupo religiossuas op~oes de estrategia de acomoda~ao social 0

certos casos, de inser~ao e crescimento na soci~, brasileira.

o Ishizuchi jinja se mantem como uma trad! ..miliar, que ocasionalmente envolve 0 circulo de aEsta devo~ao aqui segue 0 padrao tfpico do Xintoque, sendo uma religiao etnica, volta-se basicamentos imigrantes japoneses e seus descendentes. Su,e,mica se assemelha a das associa~6es religiosas,k6sha, em que alguns devotos se reunem em datatabelecida para cultuar alguma divindade xintoistaou budista (bodhisattvas e budas), e que, normalviaja uma vez por ana ao santuario dedicado a divi.No caso do Ishizuchi jinja, costuma-se organiza'peregrina~ao a uma montanha na Serra do Mar,Mogi das Cruzes e Suzano (SP), onde 0 "patriarca" "'0

milia construiu um santuario. 0 mais interessante e,

6Ademaisdos variosgruposZenativosno PlanoPilato,a CedoPlanaltofoiestabelecidoem meadas da decadade 1990,fazendado DistritoFederal,ondeocorriaa praticade sesshin (EsteCentrofoidesativado,mas, em iugarvizinho,TaniaQuarWalterWidelmannmantemurnespa~ochamado"Caminhodoonderealizamurnretiromensa!.

(fe oS participantes dessas peregrina<;oes, incluem-se;:Soas que ~rati~am reli~i~es tao distintas quanto JodoS->jnshO, Seicho-no-ie. CatolJClSmo e outras. Eventualmen-

algumas pessoas procuram a familia Tsuno com 0reo~jetivo de receber uma gra<;a desejada, comparecendo1umapequena "missa" que se realiza no dia 21 de cadames ou pedindo ajuda atraves de ora<;oes.

Do lado budista, a Hompa Honganji, que fora introdu-zjdapelos imigrantes e nikkeis, chegou a um impasse nosV10S de 1970: como garantir auto-suficiencia financeirapara sustentar a presen<;a de um monge no templo e,ao mesmo tempo, expandir a missa01 A solu<;ao foi a3bertura para a comunidade brasiliense como um todo,iniciada pelo monge Murillo Nunes de Azevedo, quefora responsavel pelo templo da Honganji entre 1982e 89. Seus sucessores mantiveram essa linha, inclusiveinovando com a pratica heterodoxa da medita<;ao comoformade atrair os nao-descendentes (ver Matsue, 1998:47,109). Paralelamente, uma quermesse para celebrar "o obon (evento anual budista para reverenciar os ante-passados) come<;ou a ser organizada, tornando-se umacelebra<;ao coletiva da niponicidade e grande fonte derenda, que arregimenta 0 trabalho voluntario da comu-nidade nipo-brasiliense, acima das diferen<;as religiosas.7

Acualmente,o templo tambem oferece cursos de linguae caligrafia japonesas, artes marciais, taichi-chuan e ioga.

No Ocidente em ge'ral, 0 Budismo tende a atrairpessoas intelectualizadas ou que estao em busca de umareligiosidade alternativa. Talvez ninguem melhor que 0

monge Ryotan Tokuda tenha sabido responder a estademanda.Tokuda chegou ao Brasil em 1968 e, nos quatroprimeiros anos, ficou afiliado ao templo-sede da Soto"ZenshO em Sao Paulo, templo Busshinji. Sua visao e ati-vidades conduziram-no, por um lado, a desentendimen-tos com a dire<;ao da seita e, por outro, a uma intensapropaga<;ao da pratica zen, tendo estabelecido diversoscentros e dojos no Brasil e no exterior. Em 1984, fun-dou a Soto Zen do Brasil, uma sociedade civil sem finslucrativos. Por essa epoca, come<;ou a ir a Brasilia a con-vite, para ministrar palestras, cursos e retiros (sesshin).Embora haja grupos ligados a outros "mestres" do Zenna Capital Federal,Tokuda tem atrafdo mais pessoas, porsua personalidade e dinamismo, assim como suas ideiase praticas alternativas, que incluem shiatsu, acupuntura

7 Apesar de que a quermesse budista tenha sua origem nos matsuri(festivais populares) japoneses, sua grande aceita<;aoem Brasilia podeestar relacionada, em parte, com as festividades populares e catolicasbrasileiras, como as Festas Juninas.

e uso de ervas medicinais.s Nao por mera coincidencia,um dos grupos ligados a Tokuda, 0 D6jo Cazazen (Iocali-zado na 712 Sui), por exemplo, oferece, alem das sessoesde medita<;ao (zazen), oficinas de medicina tr;~cJjci?n,~1chinesa, Zen e a Arte do Conto, culinaria zen e outros.Esta orie"nta<;ao vai ao encontro das pesquisas sobre 0

Zen no Brasil, que indicam que, ademais de nova op<;aode espiritualidade, ele tambem tem sido abra<;ado comotecnica terapeutica de melhoramento da qualidade devida, particularmente como meio de lidar com 0 estressee os problemas psicossomaticos (d. Roc)la, 2006).

Novas religioes como PL,S6ka Gakkai (BSGI), Seich6-no-ie, Messianica e Mahikari costumam manter reunioessemanais de pequenos grupos, que combinam aconse-Ihamento. troca de experiencias, testemunhos de fe, es-tudo da doutrina e lazer. Tambem e marcante a enfasena for<;ado pensamento positivo e na autoconfian<;a; e apromessa de milagres e curas com base na fe e/ou nivelde dedica<;ao as diretivas do grupo.A maioria almejatransformar-se em "ultra-religiao", que abarcaria religiao,ciencia e, em certos casos, praticas terapeuticas, comatividades culturais, artisticas, educacionais, filantr6picase outras.

Por exemplo, a Seich6-no-ie se auto-denomina "Mo-vimento para a lIumina<;ao da Humanidade" e sustenta,alem das varias cerimonias (de purifica<;ao, para os an-tepassados, etc.), uma serie de palestras que atrai umgrande contingente de pessoas de todas as orienta<;oesreligiosas, provavelmente por misturar espiritualidadecom psicologia, neurolingUistica, dinamica de grupo euma especie de "ritualiza<;ao" do otimismo e gratidao.AIgreja Messianica (IMMB), a MOA do Brasil e a Mahikaripossuem um substrato comum que e a enfase na trfadeda pratica da transmissao da luz divina pela palma damao (j6rei na IMMB e MOA; okiyome ou mahikari-no-waza na Mahikari), agricultura natural e desenvolvimentoartfstico (particularmente pela ikebana ou arranjo floral).A MOA do Brasil, embora legalmente registrada comosociedade religiosa, tem se identificado como "arte me-dica do Japao" e suas c1inicas oferecem um tratamentoholfstico, com terapia espiritual usando arte e energiza-<;ao atraves do j6rei, programa de alimenta<;ao natural,fisioterapia para recuperar as capacidades ffsicas, entreoutros (Gon<;alves, 2003: 109-16). Como organiza<;aonao-governamental voltada para a paz, educa<;ao, culturae meio-ambiente, a BSGI tem promovido exposi<;oes,

8 Cristina Rocha (2006: 47) indica outra caracteristica de Tokuda, quee sua capacidade de tra~ar paralelos entre a Zen e a Catolicismo,particularmente entre a experiencia de ilumina<;ao (sator~ do Zen e •a experiencia de uniao com Deus, vivida par misticos cristaos. Talinterpreta<;aofacilitaria e serviria como ponte para a ingresso de varioscristaos na pratica zen.

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festivais culturais e cursos de alfabetiza~ao para adultosno Distrito Federal.

Nao raras vezes, ha certa tensao entre 0 trabalhovoltado para a colonia nikkei e a co~unidade' brasilien~ecomo um todo.A resposta da Seich6-no-ie, por exem-plo, foi a cria~ao de "congrega~oes paralelas" com umaorganiza~ao espedfica para os falantes de japones eos de portugues.A Hompa Honganji, como visto acima,tambem exemplifica os casos de abertura para os nao-nikkeis. Quando come~ou a surgir uma "sangha (grupobudista) ocidental" ao redor do monge MurilioAzevedoe este assumiu 0 cargo de dire~ao do templo, houveuma certa crise na sangha nipo-brasiliense, acostumadaa usar 0 templo para ritos para os mortos e predicasem idioma japones. Como bem expressou 0 pioneiroe ex-presidente da Associa~ao Budista (Bukky6-kai) dotemplo, Kioto Kahy:

a monge Murillo era bom, mas a gente demorou aacostumar, era estranho, po is parecia um bicho diferenteno ninho. Mas com 0 tempo todo mundo ja consideravaele com muito respeito (apud Ma.tsue, 1998: 10I).

as dois sucessores seguintes do monge-Murillo,sendo japoneses, encorajaram os adeptos nao-nikkeisa se tornarem novi~os (homushi-ho). Por um tempo, 0

novi~o Marcelo Geaquinto de Melo ajudou a equilibraro atendimento aos, nikkeis e aos nao-nikkeis. a mongeatual,Ademar K. Sato, sendo nikkei e fluente nas duasculturas, tem buscado unificar a sangha, apesar das dife-ren~as existentes em termos de expectativas e com pre-ensao da pratica budista. Enquanto 0 nao-nikkei procurao templo como alternativa de pratica religiosa individual,o nikkei mantem sua pratica budista tanto como he-ran~a familiar quanto uma expressao de sua identidadeem associa~ao com atividades comunitario-religiosas erecreativas (v. Matsue, 1998: 45, 46, 188).

Embora os adeptos nao-nikkeis formem a base dosmaiores grupos religiosos, ainda ocupam os cargos in-feriores e medios de Iideran~a, enquanto 0 alto esca-lao e, via de regra, ocupado por japoneses e/ou seusdescendentes. Mesmo em casos como a PL e a IgrejaMessianica do Distrito Federal, nas quais os dirigentessac brasileiros nao-nikkeis, eles mantem a regra, uma vezque as respectivas cupulas diretivas em Sao Paulo saccompostas basicamente por japoneses e descendentes.Algumas pessoas veem nessa tendencia de manter lide-ran~as japonesas uma forma de discrimina~ao e controlepor parte das matrizes japonesas. Outras admitem serum processo natural, podendo haver maior abertura eindependencia na medida em que os grupos crescemno Brasil.

No geral, tantos os japoneses quanto as religioitsjaponesas procuraram deliberadamente se acomodar a -:,;.f "

tradi~ao religiosa brasileira.A religiao cat61ica tem Sido'~~~\- vista na comunidade nipo-brasileira como equivalente.~~~'~;- .ao Xintoismo e Budismo no Japao. au seja, e a principai~.t~~provedora de ritos de passagem, a qual se pode afilia/?t~Jsem 0 compromisso de seguir a risca ou compreender'~;;rseus dogmas. Com isso, e muito frequente um nikk~i~;:""ser batizado no Catolicismo, mas praticar outra refigi'(Seich6-no-ie, Xinto[smo, Espiritismo, etc.) e, ao morr~'receber tanto funeral budista quanta missa de setiinod'i~na Igreja Cat6lica.Como me afirmou um agricultor-~7s~iem entrevista de 23-1-2008:"Sou batizado cat6lico e souxintoista e budista. Sigo todos. (...) Quando tem ~u'para antepassado, a gente vai naquele templo da 315/316Sui [da Hompa Honganjl). As vezes, a gente tambem .;a{na Seich6-no-ie". . "

Outro aspecto que expressa a acomoda~ao das ~el'gioes japonesas e 0 uso de termos, expressoes, imag~~ora~6es e passagens bfblicas do Cristianismo. Por ex~plo, na Honmon Butsuryushi], os monges sac chamidde "padre", "bispo" ou "arcebispo", dependendo dog""na hierarquia eclesiastica; os encontros de ora~aoIshizuchi }inja sac "missas"; em "cultos" da Igreja Me1sanica se reza a ora~ao crista "Pai Nosso"; nos escrit'da Seich6-no-ie, encontram-se varias discussoes depasagens biblicas; na igreja da PL ha foto de seu Patriiltcumprimentando 0 Papa; e assim por diante. Ha tamb~ c

caso de familia nikkei budista que acondiciona imagede santo cat61ico no butsudan, altar budista dedicaaos antepassados.

Como e amplamente conhecido, os imigrantes jap'neses e descendentes vieram inicialmente para Brasilpara construir seu cinturao verde, a pedido do Pr~~dentte Juscelino Kubitschek. Por ser sede do gover'Brasilia tem oferecido aos nikkeis muitas oportunidadede acesso e intera~ao com 0 poder.Algumas religi~!:'tambem usufrufram dessa caracterfstica da Capital Fe""ral. Membros da Hompa Honganji, por exemplo, negocram diretamente com Juscelino, Lucio Costa e a dire -da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do B -(NOVACAP) para a obten~ao do terreno e constrJde seu templo. No final dos anos 80, a Mahikari tanib€~recebeu do ex-governador Jose Aparecido de OliveT"terreno na Asa Norte para a constru~ao de um centcultural (Y6k6 Civilization Center).9 Durante as primelgestoes do ex-governador Joaquim Roriz, a MOA

nipcjaRcmu:doxdeudissc9 Embora esse centro cuitural tivesse side projetado por urn dos

r~nornados arquitetos japoneses, Kenz6 Tange (1913-2005), acnao sendo construfdo em fun~ao da oposi~ao dos moradores dazinhan~a.

Brasil custeou a reform,a do Teatro Galpao, localizadona quadra 508 Sui, e, em contrapartida, recebeu do go-verno 0 terreno para a construc;:ao de sua sede pr6pria(no Setor Sudoeste) e setenta alqueires de terra parainstalar seu Centro de Produc;:ao de Agricultura Natural(CEPROAN), em Brazlandia (DF).

A BSGI talvez tenha sido a organizac;:ao que maisobteve exito ao interagir com a meio polftico brasileiro.Em 1975, ela organizou um Festival Cultural Esportivoem comemorac;:ao aos quinze anos da cidade de Brasilia,no Ginasio de Esportes Presidente Medici. Em 1984,0presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), DaisakuIkedase encontrou com 0 enta~ Presidente da RepublicaJoao Baptista de O. Figueiredo e varios de seus ministros.Emmaio de 1989,0 primeiro presidente da BSGI,Rober-to Saito, foi recebido pelo Presidente da Republica JoseSarney.Em 1994, uma comitiva da SGI se encontrou como Presidente Itamar Franco. Em 1995,0 segundo presi-dente da BSGI,Eduardo Taguchi, foi recebido pelo Presi-dente da Republica Fernando Henrique Cardoso. Mesesdepois,o ministro da Educac;:aoe do Desporto, MurilioHingel,e 0 assessor especial da presidencia, Luiz Pane"i,visitaram a BSGI. 0 ex-governador do Distrito Federal,Cristovam Buarque, nao somente tem visitado 0 CentroCultural de Brasilia da BSGI, como tambem esteve nasede da SGI,em T6quio, a convite da organizac;:ao.A BSGItambem tem promovido, diversos eventos em espac;:ospublicos, como as exposic;:oes "Direitos Humanos - Di-reitos de Todos" (Ministerio da Justic;:a)e "Convivenciae Esperanc;:a:Exposic;:ao sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento - a Amazonia" (Salao Negro do CongressoNacional), e 0 lanc;:amento do livro "Educac;:ao para umaVida Criativa", de autoria do fundador da S6ka Gakkai,Tsunesaburo Makiguchi, no Espac;:oCultural do Ministe-rio da Educac;:ao.Em 1990,0 presidente Ikeda recebeua comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do SuI.Em1998,a Camara Distrital de Brasilia concedeu 0 titulo deCidadaos Honorarios ao casal Ikeda. No ana seguinte, aCamara dos Deputados fez sessao solene comemorativado Dia da Fundac;:ao da Soka Gakkai.

Este capitulo priorizou as instituic;:oesetico-religiosasniponkas no Distrito Federal. Porem, a religiosidade dosjaponeses e brasileiros que seguem essas instituic;:oes emuito mais complexa, cheia de inconsistencias e hetero-doxias, e rica de nuanc;:as.0 antrop610go Selmo Nortedeu um testemunho vibrante dessa realidade em suadissertac;:ao de mestrado:

Cheguei aVargem Bonita com a expectativa de poderfacilmente identificar os membros da cof11unidade que seapresentariam como budistas, xintoistas, cristaos, perten-

, ,centesas,cAamadas 'novas religioes japonesas etc ..Puradecepc;:ao.Ao mesmo tempo que ninguem se identificavarigorosamente, todos demonstravam observar uma seriede atos essencialmente religiosos. Quando perguntadossobre suas crenc;:as,tentativas mal disfarc;:adas de se mu-dar de assunto eram esboc;:adas.lnstigad~s diretamentea falar sobre suas religioes, surpresa, mais uma vez: ummisto de concepc;:oes diversas, budismo, xintoismo ecatolicismo, parecia se sobrepor as convicc;:oes indivi-duais, tornando dificil se dizer com c1areza a orientac;:aoseguida por cada familia ou individuo (Norte, 1994: 82).

Registrei ao menos quatro situac;:oes em que asfamflias se disseram cat6licas, mas ao serem visitadasderam-me verdadeiras aulas sobre a func;:aodo butsudan[altar budista] presente em suas residencias,o papel dosancestrais e os cuidados com os parentes mortos. [..,].,. a objetividade nativa que eu buscava nao existia a naoser nos esquemas conceituais previamente elaboradoscom 0 prop6sito de abarcar 0 universe empfrico (idem,ibidem: 83)

A citac;:aoconfirma nao somente que it religiosidadeextrapola as instituic;:oes, como tambem que ha entre osnikkeis uma visao que privilegia a complementariedadee 0 inclusivismo das religioes. Na verdade, esta visaocasa muito bem com a tradic;:ao religiosa brasileira, quetem favorecido 0 transito religioso e as interpenetrac;:oesde praticas e crenc;:as.0 depoimento expressa ainda arelutancia dos nipo-brasilienses em falar sobre afiliac;:aoreligiosa. Se isto reflete a consciencia do potencial di-visivo do tema, tambem faz lembrar que 0 pesquisador,pressionado pela "neutralidade cientifica", tem limitac;:oespa'ra discutir Iivremente suas crenc;:as e experiencias "pa-ranormais".

As pesquisas de campo tem indicado, por um lado,que a religiosidade japonesa e diversificada no DistritoFederal em termos de doutrina e organizac;:ao;por outro,que a motivac;:ao de seus praticantes diverge enorme-mente. Para muitos japoneses e descendentes, trata-sede um nicho seguro e legitimo de reproduc;:ao e resgateda tradic;:ao japonesa. Para outros, sejam descendentesou nao, as religioes japonesas oferecem complemen-tariedade ou alternativa a pracica religiosa tradicionalbrasileira.

De sua parte, as instituic;:oes religiosas recorrem avarios expedientes no processo de legitimac;:aoe acomo-dac;:aono seio da sociedade "candanga".Algumas atuambasicamente no ambito das organizac;:oes nikkeis, com

palestras ou outros eventos em espas:os como a Cas ado Estudante Nipo-Brasileiro de Brasilia e as associas:6esde provincias japonesas (kenjinkai). Outras existem to-talmente a parte da comunidade nikkei. 0 certo e quea maio ria busca criar "pontes" ou pontos de conexaocom a sociedade mais ampla, por meio de programasculturais e educacionais, festividades (como a quermessedo Templo da Hompa Honganji), atividades filantropicase outras.Apesar de seus esfors:os e intens:6es, variosgrupos ainda nao conseguiram transmitir seus ensina-mentos aos brasileiros nao-nikkeis, mesmo que possuamindole universalista.

No geral, as religi6es japonesas tem mantido poucodialogo entre si e com outras religi6es.A Oomoto foi umadas pioneiras a interagir com outras religi6es no Brasilno perfodo pre-guerra, visto ter buscado aproximas:aocom 0 Kardecismo. Outra exces:ao e a Federas:ao dasSeitas Budistas no Brasil (Burajiru Bukkyo Rengokai), fun-dada em 1958 e que reune atualmente seis grupos bu-distas japoneses: Nishi Honganji, Higashi Honganji,jodoshO,Soto ZenshO, Shingon e NichirenshO.

Em Brasilia, 0 Zen talvez tenha saido na frente. Em1991 0 mestre Tokuda realizou um retiro no templo daseita Hompa Honganji. Posteriormente, a monja Magdafoi convidada pel os jesuitas para um trabalho inter-re-Iigioso e comes:ou a praticar zazen no Centro Culturalde Brasilia, pertencente aessa ordem catolica. Porem,a grande oportunidade das religi6es japonesas parti-ciparem do dialogo inter-religioso e ecumenico veiocom 0 convite, em 2005, para se juntarem as ativida-des promovidas pela organizas:ao internacional URI ouUnited Religions Initiative (Iniciativa das Religi6es Unidas).Na esteira dessa iniciativa, algumas religi6es japonesasparticiparam do 1Forum Espiritual Mundial, em Brasilia( dezembro de 2006) e do II Forum em Fortaleza (ou-tubro de 2007). Hompa Honganji, Igreja Messianica, PL,Seicho-no-ie, Mahikari, BSGI e Oomoto vem participandodessas atividades, juntamente com organizas:6es crista-s,espfritas, esotericas e outras. Com isso, elas aumentamsua visibilidade publica e a possibilidade de crescimento.Esta possibilidade e ainda maior quando se associam achamada "cultura alternativa", que e bastante popularno Distrito Federal.

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