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2ª QUINZENA OUTUBRO 2011 WWW.CRN.COM.BR 60 GESTÃO / FUSÕES E AQUISIÇÕES refrão do mercado brasileiro de TI é o franco processo de consolidação que atravessa. E as transações de Fusão e Aquisição (F&A), operações de investimento que visam retorno no mé- dio e no longo prazo, são realmente mais incentivadas quando se tem um risco econômico me- nor, com tendências de crescimento. Este é o caso do Brasil, desde que se recuperou de forma ágil do último solavanco econômico que o mundo passou, em 2008. O O BRASIL NA MIRA DAS CONSOLIDAÇÕES O MERCADO BRASILEIRO BATE NOVO RECORDE DE FUSÕES E AQUISIÇÕES, E O SETOR DE TI SEGUE NA LIDERANÇA EM NÚMERO DE OPERAÇÕES; ESTA DINÂMICA TEM EVIDENCIADO O AMADURECIMENTO DAS EMPRESAS QUE SE LANÇAM NESTE CONTEXTO E A DEMANDA POR CONSULTORIAS ESPECIALIZADAS EM F&A CRESCE JUNTO Por Danilo Sanches, especial para a CRN Brasil Outro ponto a favor do mercado bra- sileiro neste sentido é que o País possui ativos de bastante qualidade e isso gera uma disputa no mercado. Tanto nacional, quanto internacionalmente. Na prática, porém, algumas questões devem ser vistas. A máxima que diz que santo de casa não faz milagre, ou seja, as melhores soluções nem sempre partem de dentro de casa, vale para o cenário aqueci- do F&A no Brasil. As brasileiras demandam de maneira também crescente o auxílio de consultorias na hora de comprar e vender. Saber tocar um negócio não indica que, necessariamente, o empresário vá sa- ber vendê-lo. E resolver isso é uma crescen- te demanda da V2 Finance, consultoria in- dependente de finanças corporativas, com sede em São Paulo. “É muito diferente você saber tocar o seu negócio e vender a sua empresa”, afir- ma Acácio Alves, sócio da V2 Finance. “E outro dado importante é que no momento em que está negociando sua empresa, a pior coisa que você pode fazer é tirar o olho do seu negócio para ficar pensando em cláusu- las, contratos e negociações.” O conselho é não fazer sozinho. Alguns dos clientes que batem à porta da V2 Finan- ce foram procurados por algum investidor e, por nunca terem vendido uma empresa antes, não sabem como fazer. Outros, ainda, precisam de capital e não querem deixar a empresa, então procuram um investidor. A boa notícia é que fazer sozinho não parece estar mais na mira dos empresários. A demanda da V2 Finance tem crescido bastante, segundo Alves. Outro ponto que também está sendo superado é o estigma associado à venda de empresas, de que elas são vendidas porque estão quebrando ou porque tiveram uma má gestão. Houve o tempo em que as empresas que eram nego- ciadas, eram vendidas na bacia das almas, mas hoje isso não passa de mito, uma vez que as negociações são feitas na grande maioria com empresas que têm sucesso de fato ou potencial.

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o mercado brasileiro bate novo recorde de fusões e aquisições, e o setor de ti segue na liderança em número de operações; esta dinâmica tem evidenciado o amadurecimento das empresas que se lançam neste contexto e a demanda por consultorias especializadas em f&a cresce junto 60 2ª quinzena outubro 2011 www.crn.com.br Por Danilo Sanches, especial para a crn brasil

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2ª quinzena outubro 2011 www.crn.com.br60

gestão / fusões e aquisições

refrão do mercado brasileiro de TI é o franco processo de consolidação que atravessa. E as transações de Fusão e Aquisição (F&A), operações de investimento que visam retorno no mé-dio e no longo prazo, são realmente mais incentivadas quando se tem um risco econômico me-nor, com tendências de crescimento. Este é o caso do Brasil, desde que se recuperou de forma ágil do último solavanco econômico que o mundo passou, em 2008.o

O Brasil na mira das cOnsOlidações

o mercado brasileiro bate novo recorde de fusões e aquisições, e o setor de ti segue na liderança em número de operações; esta dinâmica tem evidenciado o amadurecimento

das empresas que se lançam neste contexto e a demanda por consultorias especializadas em f&a cresce junto

Por Danilo Sanches, especial para a crn brasil

Outro ponto a favor do mercado bra-sileiro neste sentido é que o País possui ativos de bastante qualidade e isso gera uma disputa no mercado. Tanto nacional, quanto internacionalmente.

Na prática, porém, algumas questões devem ser vistas. A máxima que diz que santo de casa não faz milagre, ou seja, as melhores soluções nem sempre partem de dentro de casa, vale para o cenário aqueci-do F&A no Brasil. As brasileiras demandam de maneira também crescente o auxílio de consultorias na hora de comprar e vender.

Saber tocar um negócio não indica que, necessariamente, o empresário vá sa-ber vendê-lo. E resolver isso é uma crescen-

te demanda da V2 Finance, consultoria in-dependente de finanças corporativas, com sede em São Paulo.

“É muito diferente você saber tocar o seu negócio e vender a sua empresa”, afir-ma Acácio Alves, sócio da V2 Finance. “E outro dado importante é que no momento em que está negociando sua empresa, a pior coisa que você pode fazer é tirar o olho do seu negócio para ficar pensando em cláusu-las, contratos e negociações.”

O conselho é não fazer sozinho. Alguns dos clientes que batem à porta da V2 Finan-ce foram procurados por algum investidor e, por nunca terem vendido uma empresa antes, não sabem como fazer. Outros, ainda,

precisam de capital e não querem deixar a empresa, então procuram um investidor.

A boa notícia é que fazer sozinho não parece estar mais na mira dos empresários. A demanda da V2 Finance tem crescido bastante, segundo Alves. Outro ponto que também está sendo superado é o estigma associado à venda de empresas, de que elas são vendidas porque estão quebrando ou porque tiveram uma má gestão. Houve o tempo em que as empresas que eram nego-ciadas, eram vendidas na bacia das almas, mas hoje isso não passa de mito, uma vez que as negociações são feitas na grande maioria com empresas que têm sucesso de fato ou potencial.

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Principalmente no mercado de TI, onde há grande necessidade de capital de giro, o que leva geralmente uma empresa ao balcão das fusões e aquisições é a necessidade de capital para investir em desenvolvimento ou para conseguir maior escalabilidade. O que acontece, com maior ênfase no setor de tecnologia, onde a dinâmica oferecida por empresas menores e uma alta valorização do capital inte-lectual, é que diante de uma situação onde é preciso investir, a opção do empresário é vender parte do capital social da empresa, ou seja, ele traz o investidor para dentro da sociedade.

“Acaba sendo uma operação de fusão e aquisição, mas o empresário não sai de lá”, explica Alves. O inves-tidor quer o empresário lá, porque ele é o capital intelectual. Então este investidor quer comprar ao menos uma parte da empresa para injetar capital e potencializar o crescimento. A opção de trazer um sócio é, muitas vezes, uma alternativa às altas taxas de juros dos bancos.

Outro tipo de investidor é o que chega para profissionalizar a ges-tão da empresa. O que muitas ve-zes acontece em empresas menores, como é o caso da maioria das empre-sas de TI, é que o empresário acaba deixando de investir tempo no foco da estratégia do negócio para cuidar de questões de RH, por exemplo.

“Existem fundos de investimen-tos que trazem pessoas para cuidar da gestão do dia a dia”, explica Al-ves. “E a estratégia fica na mão do empresário, que conhece o setor e os clientes muito bem.”

Por outro lado, existe um equívo-co a respeito da profissionalização da gestão. Alves aponta que comumente no mercado o termo é acompanhado da expectativa de demissões. “Muitas pessoas pensam que profissionalizar a gestão é demitir todo mundo e trazer um pessoal formado em Harvard”,

brinca Alves. “Mas, diferente disso, profissionalizar a gestão é identificar melhores processos, rotinas e pro-cedimentos para gerir a empresa. A ideia é dar ferramental para que os funcionários melhorem a gestão da empresa.”

DIFICULDADESOs processos de F&A, que duram

de seis meses a um ano e meio, em mé-dia, enfrentam dificuldades no País por conta da maturidade contábil das empresas, segundo Alves. Uma das coisas que mais dificulta uma transa-ção é quando a organização não tem a contabilidade auditada ou gover-nança corporativa.

“Principalmente no mercado de TI, a principal contingência é a tra-balhista, onde há funcionários com regime de contratação diferente do CLT”, afirma Alves. “E isso muitas vezes emperra a negociação por con-ta do risco trabalhista que envolve.”

Por outro lado, apesar de algu-mas dificuldades burocráticas, se-gundo Ruy Moura, diretor da con-sultoria empresarial Acquisitions, não há limite de idade para que uma empresa seja comprada, por exemplo. “O espectro de aquisições é amplo: mesmo desde uma recém startup de sucesso”, afirma Mou-ra. “E isso já vimos com empresas com poucos meses sendo vendidas por milhões de dólares. Por conta de acertar na ideia e ajustá-la à de-manda latente neste mundo dinâ-mico da tecnologia.”

RECORDEOs nove primeiros meses deste

ano foram os melhores na série his-tórica em números de fusões e aqui-sições no Brasil, segundo a KPMG. Ao todo, forma 606 operações entre janeiro e setembro de 2011, resulta-do que superou em 14% o obtido no mesmo período do ano passado.

O setor de TI, que tradicional-mente lidera as listas de operações – em número de negociações –, se manteve à frente, com 66 transa-ções nos primeiros três trimestres do ano. “Trata-se de um setor onde a criação de empresas exige um inves-timento menor do que em segmen-tos como siderurgia, por exemplo”, explica Luis Motta, sócio da área de assessoria em fusões e aquisições da KPMG no Brasil. “E por ser um mercado dinâmico, o caminho natu-ral por onde estas empresas buscam investimento é o de operações finan-ceiras até o momento em que estas empresas são compradas ou se tor-nam a plataforma de consolidação.”

Embora o mercado em geral esteja batendo recorde, o setor de TI – ainda que bem adiante do segundo colocado, Mídia e Teleco-municações, com 44 transações –, não teve o melhor resultado de to-dos os tempos. Nos nove primeiros meses de 2010, o setor viu 72 tran-sações, segundo a KPMG. A prin-cipal explicação é que o setor se re-cuperou rápido da crise e mantém

crescimento acelerado, portanto, a base de comparação é suficiente para não se ter quebra de recorde apesar da liderança.

Entre as 606 operações do iní-cio do ano até setembro, segundo a KPMG, 157 transações foram de empresas estrangeiras adqui-rindo brasileiras no País. Empre-sas estrangeiras adquirindo es-trangeiras estabelecidas no Brasil, somaram 82 acordos. Já empresas brasileiras adquirindo estran-geiras no exterior somaram 47 transações e empresas brasileiras adquirindo estrangeiras no Brasil tiveram 21 operações.

CENÁRIO DAS FUSÕES E AQUISIÇÕESNO BRASIL EM 2011

Fonte: KPMG

157

47

82

21empresas estrangeiras que compraram empresas brasileiras

empresas brasileiras que

compraram estrangeiras no

Brasil

empresas brasileiras que

compraram estrangeiras no

exterior

empresas estrangeiras

que compraram estrangeiras

estabelecidasno Brasil

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LUIS MOTTA, DA KPMG: SETOR DE TI BRASILEIRO TEVE 66 TRANSAÇÕES DE F&A NOS TRÊS PRIMEIROS MESES DE 2011

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