apostila Plantas Toxicas

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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Biologia Mini-curso: PLANTAS TÓXICAS: CONHECER PARA PREVENIR ACIDENTES. Rejane Barbosa de Oliveira

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Universidade de São PauloFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

Departamento de Biologia

Mini-curso:

PLANTAS TÓXICAS: CONHECER PARA PREVENIRACIDENTES.

Rejane Barbosa de Oliveira

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I. IntroduçãoAs intoxicações correspondem a parcelas significativas do número de

atendimentos em hospitais e em outras unidades de saúde em todo o mundo. No Brasilos números parecem baixos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)(Tabela 1), as plantas ocupam o nono lugar, sendo responsáveis por cerca de 2% doscasos de envenenamentos. Todavia, esta estatística não deve ser considerada absoluta,pois, provavelmente, muitos dos casos não são registrados devido à ineficiência donosso sistema de saúde.

Felizmente, nem todas as plantas consideradas tóxicas causam envenenamentosgraves. Na maior parte dos casos, o quadro clínico se restringe a desordensgastrintestinais suaves como náuseas, vômitos e diarréia. Contudo, ocasionalmente oscasos de intoxicações por plantas podem levar a sérias conseqüências, pondo em risco avida dos pacientes. Por este motivo a população deve ser alertada sobre os riscos domanuseio inadequado de plantas consideradas tóxicas. Para isto, faz-se necessário, emprimeiro lugar, o reconhecimento das espécies responsáveis pela maioria dos casos deintoxicações, bem como a revisão da literatura que trata dos casos brasileiros,abrangendo os princípios tóxicos e tratamentos. Em segundo lugar é preciso divulgarincessantemente as informações obtidas, a fim de diminuir a incidência de intoxicaçõespor plantas. Sendo assim, este curso tem como objetivo fornecer informações para todosos interessados em obter conhecimentos sobre este tipo de intoxicação.

Tabela 1. Casos registrados de Intoxicação Humana no Brasil – 1998 (OMS).

Agentes Nº %Medicamentos 22.381 28,2Animais peçonhentos 19.433 24,5Produtos de limpeza 5.960 7,5Produtos químicos industriais 5.356 6,8Pesticidas 5.268 6,7Animais não peçonhentos 4.701 5,9Raticidas 2.981 3,8Inseticidas domésticos 2.591 3,3Plantas 1.748 2,2Produtos de toalete 763 1,0Alimentos 748 0,9Outros produtos 5.519 7,0Não determinado 1.917 2,4Total 79.366 100

II. Quando uma Planta é Considerada Tóxica?

As plantas são seres vivos complexos, e como tais apresentam um extraordináriometabolismo, que leva à produção de uma grande variedade de substâncias químicas.Um elevado número de compostos químicos produzidos pelos vegetais podem sertóxicos e irritantes para outros organismos. Estas substâncias funcionam comodissuasórios alimentares, e protegem as plantas contra predadores e patógenos (Poser &Mentz, 2001).

Várias destas substâncias tóxicas podem causar graves envenenamentos em sereshumanos ou em animais domésticos quando plantas que as contenham são ingeridas, ouquando entram em contato com a pele. No entanto, a simples presença destas

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substâncias em uma determinada espécie vegetal parece não ser suficiente paraqualificá-la como tóxica. O primeiro requisito para suspeitar da possível toxicidade deuma planta, é o relato de uma pessoa, ou animal, que tenha desenvolvido um quadroclínico após a ingestão ou o contato com a espécie em questão. Mesmo assim, para aqualificação de uma planta como tóxica ou não tóxica, é necessário ter em mente asseguintes variáveis:

1. Diferentes partes de uma planta (raiz, caule, flores, frutos e sementes)freqüentemente contêm diferentes substâncias químicas ou diferentes concentraçõesde uma mesma substância;

2. A idade da planta e o estado de amadurecimento dos frutos contribuempara a variação nas concentrações das substâncias;

3. Clima, solo e estação do ano alteram a síntese de alguns compostos.Existem relatos de cultivares diferentes da mesma espécie e variedade apresentandodiferentes constituições de algumas substâncias;

4. Variedades da mesma espécie podem apresentar constituições químicasdiferentes;

5. Patologias vegetais como ataques de fungos, ataques de bactérias e atémesmo a predação por herbívoros, podem induzir o vegetal a produzir substânciasque normalmente não produz;

6. Indivíduos diferentes apresentam diferentes taxas de sensibilização acertos compostos vegetais;

7. A intoxicação pode estar limitada à quantidade de vegetal ingerido, ou àmaneira de ingestão (bem ou mal mastigado).

III. Metabolismo VegetalO metabolismo das plantas é dividido didaticamente em metabolismo primário e

metabolismo secundário. Os lipídios, as proteínas, os carboidratos e os ácidos nucléicos,que são comuns aos seres vivos e essenciais para a manutenção das células, sãooriginados do metabolismo primário. Substâncias originadas a partir de rotasbiossintéticas diversas, e que estão restritas a determinados grupos de organismos, sãoprodutos do metabolismo secundário (Wink, 1990 apud Santos, 2001, Vickery &Vickery, 1981). Tanto os metabólitos primários, quanto os metabólitos secundáriospodem ser tóxicos para o homem e para os outros animais.

Todo o metabolismo vegetal está condicionado aos processos fotossintéticos.Destes resultam todas as substâncias do metabolismo primário, as quais por sua vez irãooriginar os metabólitos secundários. Através do metabolismo da glicose (Figura 3.1) sãoformados praticamente todos os metabólitos primários e secundários. A glicose éconvertida em moléculas de ácido pirúvico que podem seguir duas vias diferentes. Naprimeira, moléculas de piruvato entram na via do ácido chiquímico para formar todos osmetabólitos secundários aromáticos (alcalóides indólicos, quinolínicos, isoquinolínicos,ligninas e lignanas, cumarinas e taninos hidrossolúveis). Na segunda, o piruvatocontinua sendo oxidado até a formação de moléculas de acetil-coenzima A (acetil-coA).Estas podem seguir três vias diferentes: via do ciclo do ácido cítrico, via do mevalonatoe via da condensação do acetato, formando os chamados derivados do acetato. Na via dociclo do ácido cítrico, serão formados os alcalóides pirrolidínicos, tropânicos,pirrolizidínicos, piperidínicos e quinolizidínicos. A via do mevalonato origina osterpenóides e os esteróis, enquanto as acetogeninas resultam da condensação do acetato.A combinação de uma unidade do ácido chiquímico e uma ou mais unidades do acetatoou derivados deste, poderá resultar na produção de antraquinonas, flavonóides e dos

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taninos condensados. A seguir, serão descritos com maiores detalhes apenas algunsmetabólitos vegetais presentes nas plantas descritas neste livro, os quais se acredita quesejam os responsáveis pelos efeitos tóxicos das referidas plantas.

Protoalcalóidesalcalóidesindólicos e

GLICOS

Ácidochiquímico

triptofano

Alcalóides

indólicos e

quinolínicos

Fenilalanin

a/ tirosina

Ácidogálico

Taninoshidrossolúveis

Ácido

Fenilpropanóides

Lignanas,

ligninase

Antraquinonas,

flavonóides,taninos

condensad Ciclo doácidoít i

Ornitina,lisina

Alcalóides pirrolidínicos,tropânicos, pirrolidínicos,

pioperinidínicos equinolizidínicos

Acetil Co-A

Via domevalonat

o

isoprenóides

Terpenóides e

esteróis

condensação

Ácidosgraxos

polissacarídeos

heterosídeos

Fig. 1 Metabolismo

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3.1 Proteínas Tóxicas

As proteínas são metabólitos primários presentes em todo os seres vivos. Elaspodem diferir tanto em composição e seqüência de aminoácidos, quanto emconstituintes não protéicos como metais, açúcares, etc.

As lectinas são, em geral, glicoproteínas que interagem especificamente comcarboidratos levando à precipitação destes (Wang et al., 2000). Elas estão localizadasem grandes concentrações nas sementes, mas podem também estar presentes em menorquantidade nas folhas, caules e raízes. Elas apresentam no vegetal função de defesacontra invasões de insetos e fungos, além de mediarem a simbiose entre plantasleguminosas e bactérias fixadoras de nitrogênio (Wang et al., 2000).

A ricina e a abrina, proteínas extraídas respectivamente de Ricinus communis L.(Euphorbiaceae) e Abrus precatorius L. (Leguminosae), são as mais potentes fitotoxinasconhecidas. Ambas são associações de lectinas com proteínas inativadoras deribossomos (RIPs, do inglês “ribosome-inactivating proteins”), e causam a morte celularpor inibição da maquinaria protéica (Lord et al., 1994).

A ingestão de vegetais que contenham RIPs associadas a lectinas causa adestruição das mucosas, especialmente a gastrintestinal, com conseqüente inflamação.Em seguida, observam-se intensas hemorragias no estômago e na parede intestinal(Ellenhorn & Barceloux, 1988).

3.2 Ácidos Orgânicos

As plantas possuem a habilidade de acumular ácidos orgânicos em seusvacúolos. Isto pode ser evidenciado, por exemplo, no suco das frutas cítricas, cujo pH éde aproximadamente 2,5, devido à presença do ácido cítrico (Harbone & Baxter, 1995).

3.2.1 Ácido Oxálico

O ácido oxálico (figura 3.2) pode estar presente nas plantas em sua formasolúvel, ou na forma de oxalato de cálcio insolúvel, cristalizado no interior das célulasvegetais (Costa, 1978). Quando ingerido em sua forma solúvel, o ácido oxálico irrita asmucosas do estômago e do intestino. Em seguida, é rapidamente absorvido pela mucosaintestinal e reage com o cálcio sérico, formando o oxalato de cálcio insolúvel que sedeposita e obstrui os néfrons, ocasionando sérias lesões renais (Costa, 1978). A reduçãodo cálcio disponível (hipocalcemia) leva a uma contração muscular tetânica, causandoprincipalmente distúrbios cardíacos. O ácido oxálico solúvel está presente emquantidades consideráveis nas folhas de espécies do gênero Rumex (Polygonaceae) e deespécies do gênero Oxalis (Oxalidaceae), sendo responsável pela toxicidade de algumasplantas destes gêneros (Schvartsman, 1979).

o

Figura 3.2 Ácido oxálic

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O oxalato de cálcio pode estar presente em células vegetais na forma de váriostipos de cristais. A presença de algumas formas destes cristais protege as plantas contraherbívoros, pois quando ingeridos, os cristais causam sensação de queimação na mucosabucal (Doaigey, 1991; Prychid & Rudall, 1999). As ráfides, feixes de cristais de oxalatode cálcio em forma de agulhas, são as formas mais prejudiciais. Elas são pontiagudas eperfurantes, destruindo as células das mucosas de qualquer animal que se habilite aingerir partes de plantas que as contenham (Rauber, 1985). As ráfides são facilmenteencontradas nas Monocotiledôneas, especialmente na família Araceae, sendo um dosagentes causadores da intoxicação por plantas do gênero Dieffenbachia.

3.2.2 Ácido Monofluoracético

O ácido monofluoracético (figura 3.3) é análogo ao ácido acético, sendoencontrado em grandes quantidades no gênero Dichapetalum (Dichapetalaceae). Eleinibe o ciclo do ácido tricarboxílico (ciclo de Krebs), mesmo em baixas concentrações,o que o torna tóxico para todos os organismos viventes. Para os humanos, a dose fatalestá entre 2 e 5mg por quilo de peso do corpo (Harbone & Baxter, 1995).

3.3 Alcalóides

Os alcalóides formam umsimilaridade molecular mais signif(raramente amida). Existem váriaação fisiológica, geralmente no sisbenefício do homem na produção (Vickery & Vickery, 1981).

As funções destes compInicialmente, foram atribuídos atoxicidade elevada que conferem atuem também como reserva da crescimento, do metabolismo intedesintoxicação e da transformaçãonocivo ao vegetal (Henriques et al

Existem várias classes dealcalóides do grupo tropano, abundà família Amaryllidaceae.

Figura 3.3 Ácido monofluoracético.

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grupo heterogêneo de substâncias orgânicas, cujaicativa é a presença de nitrogênio na forma de aminas classes de alcalóides, e todas apresentam algumatema nervoso central, o que tem sido utilizado para ode drogas medicinais, como, por exemplo, a morfina

ostos nas plantas não estão bem esclarecidas.os alcalóides os papéis de proteção, resultante daao vegetal. No entanto, acredita-se que os alcalóidessíntese de proteínas, estimulantes ou reguladores dorno ou da reprodução sendo, ainda, agentes finais da simples de outras substâncias, cujo acúmulo pode ser., 2001). alcalóides, porém, serão tratados aqui apenas osantes em Solanaceae, e os alcalóides que são restritos

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3.3.1 Alcalóides Tropânicos

Os alcalóides tropânicos são agentes anticolinérgicos. Inibem a ação daacetilcolina em efetores autônomos, inervados pelos nervos pós-ganglionarescolinérgicos, bem como na musculatura, que é desprovida de inervação colinérgica.Pequenas doses destes agentes deprimem as secreções salivares e brônquicas e asudorese. Com doses maiores, a pupila dilata, a capacidade de acomodação do olho éinibida e os efeitos vagais sobre o coração são bloqueados, o que ocasiona o aumento dafreqüência cardíaca. Aumentando-se ainda mais a dose, ocorre a inibição do controle dosistema parassimpático sobre a bexiga urinária e sobre o sistema gastrintestinal,dificultando a micção e diminuindo a motilidade intestinal (Gilman et al., 1980).

Os alcalóides atropina (figura 3.4), hiosciamina e hioscina ou escopolamina sãocomumente isolados de muitos membros de Solanaceae, como a espécie Atropabelladonna L. e vários componentes do gênero Brugmansia. Estes fármacos apresentamação alucinógena, com numerosas aplicações terapêuticas. Entre estas, citam-se a açãomidriática, anti-espasmódica e anti-secretória. As ações da atropina e da escopolaminadiferem quantitativamente. A escopolamina tem ação mais potente sobre a íris e emcertas glândulas secretoras (salivares, brônquicas e sudoríparas); enquanto a atropina émais ativa no coração, nos intestinos e nos músculos bronquiolares, além de ter açãomais prolongada. Doses tóxicas de atropina causam inquietação, irritabilidade,desorientação, alucinações e/ou delírios. Altas doses de atropina levam à depressão,coma e paralisia medular, esta última causando a morte. A fisiostigmina é um alcalóideindólico capaz de reverter a depressão induzida pela atropina no hipotálamo (Gilman etal., 1980).

3.3.2 Alcalóides das Amarilidáceas

Os alcalóides das amarilidáceas, cfamília Amaryllidaceae, e nenhum outro al(Vickery & Vickery, 1981). São relativamhomem, e os sintomas resultantes da incaracterizados por vômitos e diarréia (Harbo

Destes alcalóides, os mais conheprimeiro está presente em mais de 24

Figura 3.4 Atropina.

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omo o próprio nome indica, são restritos àcalóide tem sido relatado para esta famíliaente tóxicos para mamíferos, incluindo o

gestão de plantas que os contenham sãone & Baxter, 1995).cidos são a licorina e a galantamina. O gêneros, incluindo Amaryllis, Crinum,

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Haemanthus e Narcissus, sendo o princípio ativo responsável pela toxicidade de muitasespécies pertencentes a estes gêneros (Vickery & Vickery, 1981), enquanto agalantamina é um potente inibidor da acetilcolinesterase, e tem sido utilizada notratamento da doença de Alzheimer (Ellenhorn & Barceloux, 1988).

3.4 Terpenos e Terpenóides

Os terpenos são originados da via do acetato-mevalonato a partir de umaunidade isopreno (figura 3.5). Eles apresentam funções variadas nos vegetais. Sãoconstituintes dos óleos voláteis, atuando na atração de polinizadores; apresentamfunções protetoras contra fungos e bactérias e dão origem aos hormônios de crescimentovegetal. Muitos têm funções de proteção contra herbívoros, alguns são antimitóticos, eoutros atuam na germinação das sementes e na inibição do crescimento da raiz (Vickery& Vickery, 1981; Harbone & Baxter, 1995).

As cucurbitacinas, as saponinas, os glicosídeos cardíacos e os ésteres de forbolsão terpenóides de grande interesse, devido à alta toxicidade que apresentam para osmamíferos.

3.4.1 Cucurbitacinas

As cucurbitacinas (Figura 3.6) tetracíclicos. Elas são as substâncias respode vários membros da família Cucurbitacea

Todas as cucurbitacinas são, emmamíferos, incluindo o homem. Ações laxsão algumas atividades biológicas que esta& Vickery, 1988).

Figura 3.5 Isopreno.

originam-se da oxidação de triterpenóidesnsáveis pelo sabor amargo e pela toxicidadee (Vickery & Vickery, 1981). maior ou menor grau, tóxicas para os

ativas, hemolíticas, embriotóxicas e abortivass substâncias exercem no organismo (Vickery

Figura 3.6 Cucurbitacina E.

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3.4.2 Saponinas

As saponinas, também chamadas saponosídeos, formam um grupo particular deheterosídeos derivados dos triterpenos tetracíclicos. O nome provém do fato deformarem espuma abundante quando agitadas na água, à semelhança do sabão. Estapropriedade decorre de sua estrutura química, na qual açúcares solúveis estão ligados aesteróides lipofílicos ou triterpênicos (Harbone & Baxter, 1995). Elas reduzem a tensãosuperficial da água, e causam, in vitro, a hemólise de eritrócitos.

As saponinas, apesar de muito usadas na indústria farmacêutica, apresentampropriedades tóxicas aos seres humanos (Vickery & Vickery, 1981). Sua ação lipofílicafacilita a complexação das saponinas com esteróides, proteínas e fosfolipídeos dasmembranas celulares alterando a permeabilidade das mesmas, ou causando suadestruição (Schenkel et al., 2001).

3.4.3 Glicosídeos Cardiotônicos

Os glicosídeos cardiotônicos apresentam atividades cardíacas, as quais estãoassociadas a uma cadeia insaturada de lactona e à estereoquímica da molécula. Sãoabundantes em várias famílias vegetais, especialmente em Apocynaceae e nas espéciesde Digitalis da família Scrophulariaceae.

Estes glicosídeos são usados na medicina para o tratamento da insuficiênciacardíaca, e intoxicações podem ocorrer depois do consumo de chás preparados porpartes de plantas ou depois do consumo de flores, folhas ou sementes de plantas quecontêm glicosídeos cardiotônicos. Eles atuam em membranas celulares por inibição daenzima ATPase, interferindo na bomba sódio-potássio, levando a um aumentointracelular de sódio e diminuição da concentração de potássio. O resultado é adiminuição da freqüência cardíaca e conseqüente aumento na intensidade da força decontração do miocárdio (Vickery & Vickery, 1981).

Sintomas gastrintestinais são normalmente os primeiros envolvidos. Estesincluem náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia e anorexia. Sintomas neurológicossão tardios, e incluem vertigem, dor de cabeça, tontura, fadiga, debilidade e alucinações.Overdoses levam a paradas cardíacas e à morte.

3.4.4 Ésteres de Forbol

Os ésteres de forbol são derivados de diterpenos tetracíclicos e parecem estarrestritos às famílias Euphorbiaceae e Thymelaceae. Estes compostos são freqüentementeestudados devido às suas atividades promotoras de tumor e inflamatórias.

Os mecanismos moleculares que regem a atividade promotora de tumor dosésteres de forbol são diferentes dos mecanismos que desencadeiam a atividadeinflamatória. A atividade promotora de tumor parece estar associada à habilidade que osésteres de forbol apresentam de substituir o diacilglicerol na ativação da proteínaquinase C, e também devido à capacidade de estimular a síntese de proteínas, de RNA ede DNA, comportando-se como agentes mitogênicos e estimulando o crescimentocelular, mesmo em doses muito baixas. Já na atividade inflamatória, os ésteres de forbolmobilizam fosfolipídeos, liberam ácido araquidônico e causam a secreção de

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prostaglandinas, levando a uma resposta inflamatória dos tecidos (Evans & Edwards,1987).

3.5 Compostos Fenólicos

Os compostos fenólicos possuem em comum um anel aromático substituídopor um ou mais grupos hidroxila. A maioria é solúvel em água e ocorrem na forma deglicosídeos. Eles são originados a partir da via do ácido chiquímico e acumulam-se nosvacúolos das células vegetais.

Fenóis simples como o catecol (figura 3.7) não são comuns nas plantas, porém,derivados do catecol são ocasionalmente encontrados no reino vegetal, especialmente nafamília Anacardiaceae. Nesta, está presente uma complexa mistura de substâncias comnúcleo catecólico denominada uroshiol, responsável pela toxicidade de muitos membrosda família.

Além dos uroshiois, as cumarinas são compostos fenólicos de granderelevância toxicológica. Ambos, as cumarinas e os uroshiois, serão descritos com maisdetalhes a seguir.

3.5.1 Cumarinas

As cumarinas são derivadas dosão lactonas do ácido cumarínico.hidroxicumarinas simples, as furanoBaxter, 1995). Destas, as furanocumari

3.5.1.1 Furanocumarinas

Estas cumarinas apresentam fototoxicidade decorre da habilidadefortemente radiações ultravioletas. Aformam um estado excitado, que reaformando complexos que podem intproteínas e com lipídios, causando lessubstâncias. Em mamíferos, a exfuranocumarinas leva ao desenvolvimeerupções, eritema e hiperpigmentaçãosubstâncias forem ingeridos (Kuster &

Figura 3.7 Catecol

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metabolismo da fenilalanina, e estruturalmente Há três grandes classes de cumarinas: ascumarinas e as piranocumarinas (Harbone &nas são as que interessam neste trabalho.

alta fototoxicidade, e muitas são alergenas. A que estas substâncias apresentam de absorverpós serem expostas à luz, as furanocumarinasge com bases pirimídicas ou com o oxigênio,

eragir com moléculas de DNA, de RNA, comões em células que entram em contato com estasposição da pele a plantas que contenhamnto de fotodermatites severas, caracterizadas por

; o mesmo ocorre se frutos que apresentam estas Rocha, 2001).

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3.5.2 Uroshiol

Uroshiol (figura 3.8) é o nome dado a uma mistura de compostos fenólicosisolados de plantas da família Anacardiaceae. Eles são compostos formados por umnúcleo catecólico ligado a uma longa cadeia de ácido graxo (15 a 17 carbonos). Afunção destas substâncias na planta é de proteção contra invasões de fungos ou vírus,além de funcionarem como unidades iniciadoras de outras substâncias vegetais, como osflavonóides (Vickery & Vickery, 1981). Os fenóis das Anacardiaceae são vesicantespoderosos, e produzem severas dermatites quando em contato com a pele. Segundo Aleet al. (1997), os urushiois são, in vivo, oxidados a quinóis eletrolíticos, que reagem comproteínas da pele para formar antígenos, provocando reações de hipersensibilidade.

IV. Plantas TóxicasA Tabela 2 traz um leva

feito junto ao Hospital das Clínicde janeiro de 1995 a setembro deresponsáveis por intoxicações etabela, constata-se que a famíacidentes relatados (32,24%), e acontece porque as plantas destnas residências. Suas folhas sãofamília Euphorbiaceae vem em sAraceae, as plantas da famíornamentalmente, porém, diferedentro de casa, as euforbiáceas são fato das crianças afetadas intoxicadas com aráceas. A famcausadora de intoxicações entre família Cucurbitaceae, emboracausadora de graves intoxicaçõoperculata Cogn., como aborutilizados ornamentalmente, caufruto da espécie Thevetia peruvi

Figura 3.8 Uroshiol (R: C15 a C17)

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ntamento de ocorrências de intoxicações por plantasas da cidade de Ribeirão Preto (São Paulo), no período 2000. Estas plantas, segundo a literatura, também são

m várias outras regiões do país. De acordo com estalia Araceae é a que apresenta maior incidência desempre com crianças de até seis anos de idade. Isto

a família são largamente utilizadas como ornamentais muito vistosas, e atraem o interesse das crianças. Aegundo com 30,26% dos casos. Assim como a famílialia Euphorbiaceae também são muito apreciadasnte delas, que geralmente são cultivadas em vasoso cultivadas em calçadas, jardins e praças. Isto explicaapresentarem idades relativamente maiores que asília Solanaceae é a terceira da lista, sendo a principalos adultos, que as utilizam para fins alucinógenos. A

representada por apenas uma espécie na lista, ées, sempre com mulheres que usam a planta, Luffativa. Membros de Apocynaceae, também bastantesam graves intoxicações em crianças que confundem oana (Pers.) Schum., com frutos comestíveis. As outras

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famílias trazem casos isolados, ocorridos geralmente com crianças atraídas pelos frutosou pelas folhas das plantas. A seguir, serão descritas com mais detalhes as plantas comos maiores números de casos. Dados gerais serão fornecidos para as plantas comnúmero de ocorrênciaminferior a 1%, ou que não tnham sido relatadas no presentelevantamento.

Tabela 2. Freqüência de casos de Intoxicação por Plantas, segundo a FamíliaBotânica

Nome Popular Nome Científico Família %Antúrio Anthurium andraeanum LidenComigo-ninguém-pode

Dieffenbachia picta Schott

Tinhorão Caladium sp.

Araceae 32,24

Coroa-de-cristo Euphorbia millii Des Moul./ DesMoul. Ex Boiss.

Mamona Ricinus communis L.Pinhão-paraguaio Jatropha curcas L.

Euphorbiaceae 30,26

Beladona Atropa belladonna L.Couve-do-mato Nicotiana glauca GrahamSaia-branca Brugmansia suaveolens (Willd.)

Bercht.& C. Presl

Solanaceae 7,89

Buchinha Luffa operculata (L.) Cogn. Cucurbitaceae 4,60Alamanda Allamanda cathartica L.Chapéu-de-napoleão Thevetia peruviana (Pers.) K.

Schum.Apocynaceae 3,95

Aroeira Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Anacardiaceae 0,66Coroa-imperial Haemanthus katharinae Baker Amaryllidacea

e0,66

Erva-de-rato Palicourea marcgravii A. St.Hill.

Rubiaceae 0,66

Hera Ficus pumila L. Moraceae 0,66Falsa-murta Murraya exotica L. Rutaceae 0,66Planta-da-felicidade Polyscias fruticosa (L.) Harms Araliaceae 0,66Trevo Oxalis sp. Oxalidaceae 0,66Indeterminadas +desconsideradas - - 16,4

4Total - - 100

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Principais Plantas Causadoras de Intoxicações em Ribeirão Preto

Alamanda

Nome científico: Allamanda cathartica L.Família botânica: ApocynaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): dedal-de-damaPrincípio(s) tóxico(s): indeterminado; possivelmente saponinas1.Ação biológica: há evidências da ação específica dos princípios tóxicos em receptoresmuscarínicos1.Sintomas: distúrbios gastrintestinais intensos caracterizados por náuseas, vômitos,cólicas abdominais e diarréia.Tratamento: deve ser iniciado com lavagem gástrica, levando-se em conta aspropriedades cáusticas do vegetal. As manifestações digestivas exigem apenastratamento sintomático, complementado por correção adequada dos distúrbioshidrelétrolíticos.

Figura 1. Allamanda cathartica L.

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Aroeira-brava

Nome científico: Lithraea molleoidesEngl.Família botânica: AnacardiaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): aroeira-brancaPrincípio(s) tóxico(s): urushiois.2Ação biológica: os urushioiscomportam-se como haptenos. Elespenetram na pele após o contato com aplanta e se conjugam com proteínasendógenas para formar antígenoscompletos. Algumas células T sãoativadas e carream os complexosformados pelas proteínas com osurushiois para o retículo endotelial,onde fatores humorais irão produzir umestado generalizado de sensibilidadecutânea.3, 4

Sintomas: aparecem cerca de 24 a 48hapós a exposição. Iniciam-se comqueimação, eritema e prurido intenso

seguido do desenvolvimento devesículas.Tratamento: em casos simples, aaplicação de anti-sépticos suaves ésuficiente para o tratamento, visto que adermatite é autolimitante e desaparececom duas ou três semanas. Casos maisgraves exigem a administração de anti-histamínicos e corticóides. A regressãodo quadro toxicológico nestes casos émais lenta, devendo-se controlar oaparecimento de possíveis infecçõessecundárias.Espécie(s) relacionada(s): todas asplantas conhecidas popularmente comoaroeiras podem provocar os mesmossintomas, especialmente em pessoassensíveis. As espécies mais comuns noBrasil são Lithraea brasiliensis March.,Schinus terebinthifolius Raddi e Schinusmolles L.

Figura 2. Lithraea molleoides

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Buchinha

Nome científico:Luffa operculataCogn.Família botânica: CucurbitaceaeOutro(s) nome(s) popular(es):buchinha-do-norte, buchina-paulista,cabacinhaPrincípio(s) tóxico(s): isocucurbitacinaB.Ação biológica: as cucurbitacinasapresentam ações laxativas, hemolíticas,embriotóxicas e abortivas.

Sintomas: aparecem cerca de 24 horasapós a ingestão de chás preparados comos frutos da planta. Náuseas, vômitos,dores abdominais e dores de cabeça sãoos sintomas primários. Posteriormenteadvêm hemorragias que podem levar aocoma e à morte.Tratamento: não existem antídotosespecíficos. O tratamento é sintomático,podendo ser iniciado com aadministração de carvão ativado.

Figura 3. Luffa operculata Cogn.

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Chapéu-de-napoleão

Nome científico: Thevetia peruvianaSchum.Família botânica: ApocynaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): jorro-jorroPrincípio(s) tóxico(s): glicosídeoscardíacos semelhantes à digoxina. Osglicosídeos conhecidos como tevetinasA e B são os mais ativos.Ação biológica: estes glicosídeosexercem uma ação inotrópica positivasobre o músculo cardíaco, desencadeadapela ligação específica destesglicosídeos a um determinado sítio dabomba sódio-potássio da célulamiocárdica.6Sintomas: a ingestão das sementescausa primariamente distúrbiosdigestivos como náuseas, vômitos eeritema das mucosas bucal e digestiva.Casos mais graves ocorrem após aingestão de mais de cinco sementes.Nestes, observam-se alterações

cardíacas como bloqueiosatrioventriculares e paradas cardíacas.

Tratamento: os distúrbios digestivossão aliviados com a administração deantiespasmódicos e adsorventesintestinais. Caso ocorram distúrbioscardíacos, o paciente deve serhospitalizado e monitorado através deeletrocardiogramas, a fim de se evitar asparadas cardíacas. Não existemantídotos específicos, porém, muitasvezes, tem-se utilizado fragmentos deFab (Digibind®) específicos para adigoxina, porém sua validade notratamento de intoxicações causadas poresta planta é questionável.Em compensação, o uso de carvãoativado tem se mostrado eficiente.Espécie(s) relacionada(s): muitasapocináceas são ricas em glicosídeoscardíacos. Dentre estas pode ser citada aespirradeira (Nerium oleander L.).

Figura 4. Thevetia peuviana Pers. Schum..

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Comigo-ninguém-pode

Nome científico: Dieffenbachia pictaSchottFamília botânica: AraceaeOutro(s) nome(s) popular(es): aninga-do-pará, bananeira d’ águaPrincípio(s) tóxico(s): oxalato decálcio na forma de agulhas e enzimasproteolíticas de ação semelhante átripsina.Ação biológica: inicia-se com asinjúrias mecânicas resultantes do efeitoperfurante dos cristais de oxalato decálcio, e é agravada com a ação dasenzimas proteolíticas. Estas provocam alise das membranas celulares, liberandohistamina, serotonina e outras aminas, oque acarreta um intenso processoalérgico responsável pela formação doedema.

Sintomas: salivação abundante, doresna boca, na língua e nos lábios, seguidasde edema das mucosas da boca, dafaringe e da laringe. A obstrução dasvias áreas superiores, apesar de muitocitada na literatura, não tem ocorridoem relatos clínicos atuais.Tratamento: apenas sintomático.Usualmente, são aplicados demulcentes,como leite e água, e pacotes de gelopara aliviar o desconforto dos pacientes.Espécie(s) relacionada(s): acredita-seque praticamente todas as aráceaspossam causar os mesmos efeitosrelatados para a comigo-ninguém-pode.Casos relacionados a espécies deAnthurium (antúrio) e Caladium(tinhorão) têm ocorrido com freqüência.

Figura 5. Dieffenbachia picta Schott.

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Coroa-de-cristo

Nome científico: Euphorbia milii DesMoulinsFamília botânica: EuphorbiaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): dois-irmãos, bem-casados.Princípio(s) tóxico(s): ésteres deforbol.Ação biológica: os ésteres de forbolapresentam ações irritantes da pele e dasmucosas. Eles mobilizam fosfolipídeos,liberam ácido araquidônico e causam asecreção de prostaglandinas, levando auma resposta inflamatória do tecido.Sintomas: a exposição aguda da pele aolátex causa uma condição inflamatóriadireta sobre a epiderme. Os primeirossinais da inflamção são vermelhidão,inchaço, dor e necrose dos tecidos.Quando partes da planta são ingeridas,desenvolve-se uma sensação dequeimação nos lábios, na língua e namucosa bucal. Subseqüentementesurgem dores intestinais, vômitos ediarréia. O contato com os olhos podelevar ao desenvolvimento deconjutivites, queratites e uveites,juntamente com o inchaço das pálpebrase fechamento dos olhos devido aoedema. Todos os sintomas ocorrem

imediatamente e podem durar váriashoras após a exposição.Tratamento: apenas sintomático. Nocaso do contato com a pele deve serlavada prolongadamente. Em caso deformação de vesículas ou pústulas,devem ser tomadas medidas deprecauções contra o aparecimento deinfecções secundárias. Se o contato forcom os olhos, após lavagem prolongadacom grande quantidade de águacorrente, é recomendado o uso decolírios anti-sépticos. Em lesões maisgraves, é aconselhado o uso decorticóides e anti-histamínicos. Noscasos de ingestão, a lavagem gástrica édesnecessária, sendo recomendadasomente se a quantidade de plantaingerida for considerável. Aadministração de carvão ativado e delaxantes é indicada, além de analgésicose demulcentes, como leite e óleo deoliva.Espécie(s) relacionada(s): váriasespécies do gênero Euphorbia como,por exemplo, Euphorbia pulcherrima(bico-de-papagaio), podem provocar omesmo tipo de intoxicação.

Figura 6. Euphorbia milii Des Moulins

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Coroa-imperial

Nome científico: Haemanthuskatharinae BakerFamília botânica: AmaryllidaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): coroa-imperial, diadema-realPrincípio(s) tóxico(s): possivelmenteos alcalóides licorina e galantamina.Ação biológica: a licorina causavômitos e diarréia. Se ingerida emgrandes quantidades, pode levar a umcolapso geral e morte devido à paralisiado sistema nervoso central. O efeito dagalantamina não está bem elucidado,

mas se sabe que este alcalóide apresentaação inibidora da acetilcolinesterase.Sintomas: distúrbios gastrintestinaisleves.Tratamento: apenas sintomático.Espécie(s) relacionada(s): todas asamarilidáceas podem causar o mesmotipo de intoxicação, visto que todas sãoricas em licorina. As espécies dosgêneros Hippeastrum (açucena) eNarcissus (narciso) são comuns entrenós.

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Couve-do-mato

Nome científico: Nicotiana glaucaGrahamFamília botânica: SolanaceaeOutro(s) nome(s) popular(es):charuto-do-reiPrincípio(s) tóxico(s): alcalóideanabasina.Ação biológica: semelhante à ação danicotina.Sintomas: aparecem rapidamente, de15 a 30 minutos após a ingestão.Iniciam-se com náuseas, vômitos, doresabdominais e diarréia.Subseqüentemente desenvolvem-se, noscasos mais graves, convulsões,fibrilações musculares, coma, paralisiase distúrbios respiratórios. Estessintomas são mais demorados nos casosde intoxicação com anabasina do quenos casos com nicotina, provavelmentedevida à lenta absorção da anabasinapelas paredes intestinais. Em ambos oscasos a morte se dá por paradarespiratória, decorrente do bloqueiomuscular causado pelos alcalóides.Tratamento: os casos de intoxicaçãopor Nicotiana constituem graves

emergências clínicas, obrigando ainternação em unidade de terapiaintensiva. Deve ser dada especialatenção aos distúrbios respiratórios.Eventualmente, podem ocorrer paradascardíacas, e a administração de atropinapode ser eficiente para controlar estesintoma, mas não é eficaz na reversãoda debilidade neuromuscular. Ahipotensão arterial é relativamentefreqüente. Esta pode ser tratada comsoro salino endovenoso, transfusões desangue e administração de aminasvasopressoras. Hiperexcitabilidade,agitação e crises convulsivas sãotratadas com barbitúricos oudiazepínicos. Controlados os distúrbiosque poderiam representar risco de vida,deve-se tentar, em tempo útil, medidasprovocativas de vômitos e lavagemgástrica.Espécie(s) relacionada(s): todas asespécies do gênero Nicotiana,conhecidas popularmente como tabaco,podem levar ao desenvolvimento dequadro clínico semelhante.

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Erva-de-rato

Nome científico: Palicoureamarcgravii A. St. Hil.Família botânica: RubiaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): café-bravo, cotó-cotó, tangará-açuPrincípio(s) tóxico(s): ácidomonofluoracético.Ação biológica: o fluoricitrato,metabólito dos fluoracetatos, inibe duasimportantes enzimas do ciclo de Krebs(ciclo do ácido tetra cíclico): aaconitase, que catalisa o metabolismodo citrato, e a succinato desidrogenase,que catalisa o metabolismo dosuccinato. A inibição destas duasenzimas e a subseqüente formação do

bloqueio do citrato no ciclo de Krebs,leva a uma diminuição do metabolismoda glicose, do armazenamento deenergia e da respiração celular. Órgãosque apresentam altas taxas metabólicas(coração, rins, cérebro) são os maissuscetíveis aos efeitos tóxicos dofluoricitrato.Sintomas: após um período latente de30 a 150 minutos depois da ingestão,ocorrem sintomas gastrintestinais comonáuseas, vômitos e dores abdominais.Subseqüentemente observa-seansiedade, agitação, espasmo muscular,crises convulsivas e coma. Taquicardiae hipotensão são sinais cardiovascularescomuns.

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Hera

Nome científico: Ficus pumila L.Família botânica: MoraceaeOutro(s) nome(s) popular(es): hera-miúdaPrincípio(s) tóxico(s): furanocumarinasAção biológica: as furanocumarinasformam um estado excitado que podereagir com bases pirimídicas ou com o

oxigênio no estado fundamental. Istoleva à formação de oxirradicais tóxicos,os quais podem reagir com DNA, RNA,proteínas e lipídios, ocasionandoinjúrias nas células que entram emcontato com estas substâncias.Sintomas: fitodermatite.Tratamento: sintomático.

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Nome científico: Ricinus communis L.Família botânica: EuphorbiaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): carrapateiroPrincípio(s) tóxico(s): ricinaAção biológica: ricina é uma proteína inativadora de ribossomos (RIP). Ela inativaespecificamente e irreversivelmente ribossomos eucarióticos, impedindo a sínteseprotéica.

Sintomas: . Os sintomas da intoxicação aparecem depois de algumas horas, ou atémesmo dias após a ingestão. Neste intervalo de tempo, nota-se a perda do apetite, oaparecimento de náuseas, vômitos e diarréia. Subseqüentemente, estes sintomas seagravam. Os vômitos tornam-se persistentes e a diarréia passa a ser sanguinolentaTratamento: sintomático.

Mamona

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Pinhão-paraguaio

Nome científico: Jatropha curcas L.Família botânica: EuphorbiaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): pinhão-de-purga, pinhão-de-cerca, purgante-de-cavalo, manduigaçu, figo-do-inferno.Princípio(s) tóxico(s): ésteres deforbol.Ação biológica: os ésteres de forbolapresentam ações irritantes da pele e dasmucosas. Eles mobilizam fosfolipídeos,liberam ácido araquidônico e causam asecreção de prostaglandinas,principalmente a PGE, levando a umaresposta inflamatória do tecido.Sintomas: intensa dor abdominal,náuseas, vômitos e diarréia. O númerode sementes ingeridas e ascircunstâncias da ingestão (bem ou mal

mastigadas) determinam a intensidadedo quadro toxicológico. Em geral, duasa três sementes são suficientes paraproduzir distúrbios orgânicos, tendosido relatados casos fatais após aingestão de quatro a cinco sementes.Tratamento: não existe antídotoespecífico. O tratamento tem sidosintomático e preventivo, a fim de evitarcomplicações cardiovasculares,neurológicos e renais. A lavagemgástrica sempre deve ser tomada comomedida preliminar.Espécie(s) relacionada(s): todas asespécies do gênero Jatropha podemlevar ao desenvolvimento de quadroclínico semelhante.

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Saia-branca

Nome científico: Datura suaveolens H.et B. ex WilldFamília botânica: SolanaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): erva-do-diabo, trombeteira.Princípio(s) tóxico(s): alcalóidestrôpanicos (escopolamina ehiosciamina).Ação biológica: os alcalóidestropânicos, em geral, são agentesanticolinérgicos. A escopolamina temgrande ação no sistema nervoso central,enquanto a hiosciamina atuaprimariamente bloqueando receptoresmuscarínicos colinérgicos do sistemanervoso parassimpático.Sintomas: iniciam-se rapidamente,começando com náuseas e vômitospouco intensos. Logo a seguir surge asintomatologia anticolinérgica,caracterizada por pele quente, seca eavermelhada, rubor da face, mucosasbucal e ocular secas, taquicardia,midríase intensa, disúria, oligúria,distúrbios de comportamento, confusãomental e agitação psicomotora. Asalucinações são freqüentes. Podemocorrer coma, distúrbioscardiovasculares, respiratórios e óbito.Tratamento: deve se iniciado comlavagem gástrica precoce e enérgica. A

hipertemia deve ser tratada commedidas físicas (bolsas de gelo,compressas úmidas, etc), pois osanalgésicos são geralmente ineficazes.Sedativos diazepínicos ou barbitúricospodem ser utilizados no controle daagitação psicomotora muito intensa. Seuemprego deve ser cauteloso, poispodem potencializar o estadodepressivo que segue a agitaçãopsicomotora. Fenotiazinas são contra-indicados devido as suas propriedadesanticolinérgicas. A fisiostigmina é umantídoto eficaz, porém é necessáriamuita cautela em sua administração. Adose de fisiostigmina para adultos é de2mg por injeção intravenosa, podendoser repetida a cada 15 minutos. A dosenunca deve exceder 4mg em meia hora.Correções dos distúrbioshidrelitrolíticos e metabólicos,juntamente com assistência respiratóriaadequada, completam o tratamento. Oviciado que utiliza a Datura requertratamento especializado por clínico epsiquiatra, semelhante ao realizado comconsumidores de outras drogas.Espécie(s) relacionada(s): todas asespécies do gênero Datura podem levarao desenvolvimento de quadro clínicosemelhante.

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Azedinha

Nome científico: Oxalis sp.Família botânica: OxiladaceaeOutro(s) nome(s) popular(es): trevoPrincípio(s) tóxico(s): ácido oxálicoAção biológica: O ácido oxálico, emsua forma solúvel, irrita as mucosas doestômago e do intestino quandoingerido. Esta irritação desencadeiavômitos, diarréia e dor abdominal. Umavez no trato gastrintestinal, o ácidooxálico será rapidamente absorvido ereagirá com o cálcio sérico, formandooxalato de cálcio insolúvel. Esta reaçãolevará a duas graves conseqüências:hipocalcemia e depósito de oxalato decálcio nos rins. A hipocalcemia leva auma violenta estimulação musculartetânica, podendo causar distúrbioscardíacos e neurológicos. A deposiçãodo oxalato de cálcio nos rins obstrui oscanais, causando lesões renais poralteração da função tubular. Apesar dassérias conseqüências que asintoxicações por oxalato de cálciopodem levar, estas só acontecem após a

ingestão de grandes quantidades dovegetal que o contenha. A digestão élenta e, por isso, os primeiros sintomas(náusea, vômitos e diarréia) demoram aaparecer.Sintomas: o abdome pode apresentar-sedistendido e volumoso devido aos gasesde fermentação do material vegetal nãodigerido. Sintomas gravescaracterísticos das intoxicações comaltas doses de oxalato de cálcio, comodistúrbios cardíacos e neurológicos,raramente ocorrem.Tratamento: O tratamento pode seriniciado com lavagem gástrica emedidas provocativas de vômitos. Osdistúrbios gastrintestinais são tratadossintomaticamente com administração dedemulcentes, antiespasmódicos eanalgésicos (Schvartsman, 1979).Espécie(s) relacionada(s): todas asespécies da família Oxalidaceae podemlevar ao desenvolvimento de quadroclínico semelhante.

Referências BibliográficasTodas as refereências podem ser encontradas em:

Oliveira, R.B. de (2002). Plantas tóxicas: conhecer para prevenir acidentes. Monografia deconclusão de curso apresentada à FFCLRP/USP para a obtenção do título de Bacharel em CiênciasBiológicas. Ribeirão Preto, SP.

Site: http://www.plantastóxicas.cjb.net. Link: Referências Bibliográficas.