ALGUMAS NOTAS SOBRE CESARE BRANDI E(M ... -...

55
6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos 1 BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO ALGUMAS NOTAS SOBRE CESARE BRANDI E(M) PORTUGAL José Aguiar Professor Associado da FAUTL - Presidente do ICOMOS-PORTUGAL COMUNIDADE EUROPEIA - IGESPAR - ICOMOS-PORTUGAL Projecto Europeu, Exposições, Seminários Internacionais: Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in Europa nel XX secolo. Inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos FAUTL.

Transcript of ALGUMAS NOTAS SOBRE CESARE BRANDI E(M ... -...

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

1

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO

ALGUMAS NOTAS SOBRE CESARE BRANDIE(M) PORTUGAL

José AguiarProfessor Associado da FAUTL - Presidente do ICOMOS-PORTUGAL

COMUNIDADE EUROPEIA - IGESPAR - ICOMOS-PORTUGAL

Projecto Europeu, Exposições, Seminários Internacionais: Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in Europa nel XX secolo. Inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos FAUTL.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

2

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO

Um Projecto Europeu, um Ciclo de Exposições e de Seminários Internacionais:«Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in Europa nel XX secolo»Iniciativa: Associazione Amici di Cesare Brandi (Italia), Associazione Giovanni Secco Suardo (Italia),Ministero per i Beni e le Attività Culturali - Dipartimento per i Beni Culturali e Paesaggistici (Italia), IstitutoCentrale per il Restauro (Italia), Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (Portugal), Academy of Fine Arts Warsaw - Faculty of Conservation and Restoration of Works of Art(Poland), Hochschule fur angewandte Wissenschaft und Kunst Hildeshiem/Holzminden/Gottingen (Germany), Institut Nationale du Patrimoine (France), Universidad Politecnica de Valencia - Departamento de Conservaciòn y Restauraciòn de Bienes Culturales (Spain), Universitè Libre de Bruxelles - Facultè de Philosophie et Lettres, Section d'Histoire de l'Art (Belgium).Lisboa: Brandi e o Conceito de Espaço. Teoria e Praxis no Restauro ArquitectónicoFaculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Comissão Científica e de Organização: José Aguiar, Delgado Rodrigues, Nuno Proença, Ana Seruya, comapoio de Paolo Orizio.Oradores: Paolo Fancelli, José Aguiar, Delgado Rodrigues, Ana Isabel Seruya, Paulo Pereira, JoaquimCaetano, Nuno Proença, Luís Marreiros, Fernando Salvador, Elena Charola. Moderação de Jorge BastosApoios: COMUNIDADE EUROPEIA, Ministério da Cultura – IGESPAR, ICOMOS-Portugal. Projecto inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos da FAUTL.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

3

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICOI SESSION – Muenchen(26 April 2007, 10.00-16.30)Cesare Brandis "Teoria del restauro" und die Restaurierung in Deutschland heute.Lehrstuhl für Restaurierung, Kunsttechnologie und Konservierungswissenschaft der TU München, Seminarraum des Lehrstuhls, Oettingenstraße 15, 80538 München. Ursula Schädler-Saub Paolo D’AngeloFrancesca CapannaDörthe JakobsErwin EmmerlingKathrin JanisAbschlussdiskussionModeration: Matthias Exner

II SESSION – Hildesheim (7 May 2007, 10.00-17.00)Cesare Brandis „Teoria del restauro“ und die Restaurierung in Deutschland heute.Fachbereich Konservierung und Restaurierung der HAWK Hildesheim / Holzminden / Göttingen, Hornemann Instituts, voraussichtlich Seminarraum Bismarckplatz 19/11, 31135 Hildesheim.Ursula Schädler-SaubDörthe JakobsIvo HammerThomas DanzlWanja WedekindeFrancesca ValentiniAbschlussdiskussionModeration: Angela Weyer

III SESSION – Valencia(7 May 2007, 9.30-21.30)Cesare Brandi, repercusión de su Teoría en la realidad españolaParaninfo de la Universidad politécnica de ValenciaD. Manuel Muñoz IbañezPilar Roig PicazoGianluigi ColalucciIgnacio Bosch ReigJosé A. Madrid García Vicente Guerola BlaySalvador Muñoz ViñasPablo González TornelVittorio Brandi RubiuMassimo CarboniModeratores: Pilar Roig Picazo, Salvador Garcia Fortes, Victor Medina Florez

IV SESSION – Lisboa(28 May 2007, 9.30-18.30)Brandi e o Conceito de Espaço. Teoria e Praxis no Restauro ArquitectónicoFaculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, espaço “O Cubo”, Rua Sá Nogueira -Pólo Universitário - Alto da Ajuda -1349-055 LisboaPaolo FancelliJosé AguiarDelgado RodriguesAna Isabel SeruyaPaulo PereiraJoaquim CaetanoNuno ProençaLuís MarreirosFernando SalvadorElena CharolaModerador: Jorge Bastos

V SESSION – London(10 July 2007)Cesare Brandi and the conservation of our Cultural HeritageWith the collaboration of The Hamilton Kerr Institute (University of Cambrige), Courtauld Institute.Courtauld Institute, Kenneth Clark Lecture TheatreGiuseppe BasileLicia Borrelli-VladIan McClureJonathan Ashley-SmithPhoebe Dent WeilDorothy Bell

VI SESSION – Warzaw(5 October 2007, 9.00-19.00)Cesare Brandi: Art of conservation -restoration in PolandInter-Academy Institute of Conservation-Restoration of Works of Art: Academy of Fine Arts in Warsaw - faculty of Conservation and Restoration of Works of Art, Academy of Fine Arts in Krakow -faculty of Conservation and Restoration of Works of Art, Nicolas Copernicus University in Torun - Institute for the Study, Conservation and Restoration of Cultural Heritage. Museum Palace at Wilanow.Giuseppe BasileWojciech KurpikDusan C. StulikWladyslaw ZalewskiJanusz KrawczykAndrzej TomaszewskiIwona SzmelterBogumila RoubaMonika Jadzinska

VII SESSION – Bruxelles(25 October 2007)Cesare Brandi. sa pensée et l’evolution des pratiques de restaurationUniversité Libre de BruxellesSalle Dupréel, Institut de Sociologie,44 avenue Jeanne – 1050 BruxellesJean-Pierre DevroeyGiuseppe BasileChateline Perier D'IeterenFrancoise RosierHélèn DuboisDominique DriesmansModérateur de les Table-ronde: Marie Berducou

VIII SESSION – Paris (26 October 2007, 9.30-18.-00)Cesare Brandi et la FranceInstitut national du patrimoine –Auditorium Colbert2 rue Vivienne, 75002 ParisGeneviève GallotGiuseppe BasileAprès-midi sous la direction de Jean-Pierre Mohen:Ségolène Bergeon-LangleNathalie VolleGeorges BrunelChristine MouterdeMatinée sous la présidence de Christiane Naffah:Elisabeth MognettiJacques HourrièreTable ronde animée par Michel Laclotte.Anthony Pontabry, Monique Pomey, Isabelle Pallot-Frossart, Patricia Vergez

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

4

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

como nasce uma cultura de “conservação”?

RESTAURO VERSUS CONSERVAÇÃO

A procura de aproximações teóricas ao início dos sobressaltos da necessidade de salvaguarda, conduzirá à gradual definição de uma nova disciplina a que os continentais (sobretudo os Italianos e os Franceses) chamarão Restauro e os Ingleses de Conservação.

Diferença e disputa conceptual que ultrapassará em muito o século e a vida dos seus protagonistas: JohnRuskin e Viollet-le-Duc.

John RuskinViolet-le-Duc

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

5

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

como nasce uma cultura de “conservação”?

O RESTAURO ESTILÍSTICO E O MÉTODO ANALÓGICO

No início do segundo quartel do século XIX, em França, restaurar um monumento significa proceder à sua reconstrução integral, ou à reintegração de partes em falta, tendo por referência a hipótese de um (seu?) estilo original.Ludovic Vitet e Prosper Mériméedefendem o completamento “em estilo”, através da produção de cópias de motivos ou partes análogas às existentes no próprio edifício ou em construções similares da mesma região, época e estilo. Surge assim o MÈTODO ANALÓGICO ainda defendido por alguns …mesmo no século XXI.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

6

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

como nasce uma cultura de “conservação”?

A CONSERVAÇÃO ESTRITA

«Restoration, so called, is the worst manner of Destruction.[...] Do not let us deceive ourselves in this important matter; it is impossible, as impossibleas to raise the dead, to restore anything that has ever been great or beautiful in architecture».

«Take proper care of your monuments, and you will not need to restore them». (...) «But, it is said, there may come a necessity for restoration! Granted. Look the necessity full in the face, and understand íton its own terms. lt is a necessity for destruction. (...) The principle of modern times (...) is to neglect buildings first, and restore them afterwards».

J. Ruskin, The seven lamps of architecture. Kent: George Allen, 1880. Consulte-se, em particular, o capítulo designado “The Lamp of Memory”.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

7

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

1933 ESTADO NOVO: “Deus, Pátria, Família” .....Autoridade!

Um paralelo entre a recuperação de valores histórico-ideológicos e nacionalistas e os critérios de intervenção no património ...”na medida em que

os monumentos são o espelho vivo desses valores, influenciando a filosofia do restauro a utilizar”.

Fonte: Maria João Neto, p.143.

O RESTAURO EM PORTUGAL

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

8

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

1933 ESTADO NOVO: “Deus, Pátria, Família” .....Autoridade!Restauração: a primeira palavra de ordem do regime!

.

O RESTAURO EM PORTUGAL

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

9

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Fotos: O Castelo de São Jorge, antes e depois do restauro. Fonte: Boletim DGEMN 25-26.

O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

10

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Fotos: Guimarães, Paço do Duques de Guimarães entes e depois do restauro, Boletim DGEMN 20Fonte: Boletim DGEMN 20.

O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

11

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Fotos: Lagos, muralhas e Forte da Bandeira, antes e depois do restauro Fonte: Boletim DGEMN 104.

O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

12

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL

Sé do Porto, antes e depois do restauro da DGEMN

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

13

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

O RESTAURO EM PORTUGAL

Edição:

Intervenções de Restauro Estilístico:

São Tiago,Coimbra

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

14

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

MODERNO: da sua aversão à cidade histórica

Le Corbusier, legenda: como lidar com o “problema” dos centros históricos!Em: Maneiras de Pensar o Urbanismo. Lisboa: Europa-América, 1977

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

15

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Da aversão do MODERNO à cidade histórica

Plan Voisan

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

16

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

A RENOVAÇÃO DEPOIS DA II GRANDE GUERRAA necessidade de recuperar rapidamente as cidades europeias, para realojar milhões de pessoas e permitir o relançamento da sua economia, obrigou a actuações de extrema urgência e à aplicação de métodos expeditos de reconstrução de monumentos (Montecassino), ou de cidades históricas destruídas pela guerra (Varsóvia, Génova, Colónia, Bruxelas, Nápoles, etc.). Daqui resulta, na prática, o abandono dos métodos de restauro anteriores à guerra e a primazia da RENOVAÇÃO URBANA.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

17

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

O WelfareState e Baby Bum!

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

18

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Red

evel

opm

ent p

roje

ct in

Riq

uet,

Par

is

O Admirável Mundo Novo

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

19

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Elgin Estate, Westminster, London, 1968 Royston Estate, 1969

A construção do Admirável Mundo Moderno

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

20

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

da NOSSA AVERSÃO ainda recente à cidade histórica

PORTUGAL: PORTOPlanos de renovação urbana dos anos 50 e 60 propondo a DEMOLIÇÃO da Ribeira-Barredo, hoje inscrita na Lista do Património Mundial da Unesco.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

21

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

O PÓS GUERRA E A REINVENÇÃO DE VARSÓVIA

A reconstrução de Varsóvia foi uma necessidade política e psicológica, reinstituindo a cidade histórica como o monumento referencial de uma nação cuja cultura foi intencionalmente atingida. Manteve-se a morfologia urbana anterior, mas a correspondência das novasconstruções para com as antigas é apenas exterior, os interiores foram significativamente modernizados.O modelo nova-cidade-cópia-da-antiga-cidade levantava interrogações incómodas tanto no campo da conservação urbana, como para a nova disciplina do urbanismo.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

22

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE BRANDI

Contestação aos projectos cópia (repristinação) e à renovação urbana moderna, demolidora e substitutiva, pelo grupo italiano (CarloArgan, Renato Bonelli, Roberto Pane e Cesare Brandi), torna-o protagonista de uma nova escola de pensamento da qual resultou (quase directamente) uma nova carta internacional de restauro, ainda hoje válida - a Carta de Veneza de 1964 - e uma nova carta italiana, a Carta del Restauro de 1972.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

23

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

Cesare Brandi, Teoria del Restauro. Turim: Piccola Biblioteca Einaudi, 1963:«A qualidade do restauro depende directamente do juízo crítico da artisticidade do objecto sobre o qual incide.» Para Brandi - e este princípio éaplicável à arquitectura ou a qualquer outra arte -, quando deparamos com uma obra de arte, o seu lado funcional não representa mais do que um lado concomitante ou secundário, face a outros aspectos tomados como primordiais, respeitantes a essa obra enquanto obra de arte. Assim, o restauro, estará sempre estreitamente ligado à avaliação crítica da própria artisticidade do objecto sobre o qual incide.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

24

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO, CESARE BRANDI«o restauro deve permitir o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, sem produzir um falso histórico ou um falso artístico e sem anular os traços da passagem da obra de arte pelo tempo»

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

25

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

A TEORIA DO RESTAURO DE CESARE BRANDI

«...a conservação dos acrescentos deve considerar-se regular e EXCEPCIONAL a [sua] remoção»

Um acrescento constitui sempre um novo testemunho do fazer humano, portanto da própria história. A remoção de um acrescento (o que constitui também um acto histórico), resultará sempre na «...destruição de um documento e não se documenta a si mesma», pelo que pode conduzir à obliteração de uma importante etapa histórica. A distinção entre acrescento e reconstrução esclarece-se ao considerar-se que o objectivo da reconstrução, ao contrário do acrescento - que se documenta sempre a si próprio -, é abolir um lapso de tempo.

Paço de Sousa, antes e depois do restauro. Fonte: Boletim DGEMN 17.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

26

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

BRANDI E A TEORIA DO RESTAUROO processo de abolição do tempo, através das reconstruções (ou repristinações), pode ocorrer, segundo Brandi, de acordo com os seguintes modelos: (i) simular o processo criativo original, refundindo o velho e o novo de uma forma tal que não permite sequer distinguir os dois momentos, que resultam num falso histórico, eticamente inadmissível; (ii) ou absorver a obra pré-existente, usando-a para criar uma nova entidade, no que será sempre um testemunho do presente em que ocorre. Deste processo resultará algo que, no futuro, poderá até constituir-se como monumento (um PROJECTO NOVO que constrói com o já construído), mas que, como prática, não pertence sequer ao campo do RESTAURO, ou da CONSERVAÇÃO do património.

São Pedro de Rates (Norte), antes e depois dos restauros, Boletim DGEMN 23. Pousado do Bouro.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

27

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

“Só se restaura a matéria da obra de arte” , insiste Brandi e o restauro termina onde a hipótese começa (como sempre insistia Philipot) e as intervenções de restauro não devem impossilitar, antes facilitar, eventuais intervenções futuras.

“Il restauro costituisce il momento metodologico del riconoscimento dell’opera d’arte, nella sua consistenza fisica e nella sua duplice polarità estetica e storica, in vista della sua trasmissione al futuro”.“o restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade estética e histórica, com vista à sua transmissão para o futuro”.

Assim, como muitos entre nós ainda o consideram, o RESTAURO não pode ser coisa de “práticos”, antes é um processo-projecto que se fundamenta em sólidas capacidades de analise crítica, no campo da Arte, e conhecimentos no campo da Ciência, definindo uma nova disciplina do conhecimento humano (a Conservação) cujo domínio exige a capacitação novos agentes (já não só os “Arquitectos” os “Engenheiros” e os “Historiadores”): os Conservadores-Restauradores (com maiúscula)!

BRANDI E A TEORIA COMO NOVO PARADIGMA DA CONSERVAÇÃO

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

28

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

A TEORIA (PRÁTICA) DE CESARE BRANDI COMO NOVO PARADIGMA

A originalidade de Brandi: uma Filosofia da Arte aplicada ao Restauro fundamentando-se na sua verificação Prática!

Uma hermenêutica prática!

Uma Teoria (fundamentada na História e na Crítica da Arte) confrontada com uma Praxis (comprovada pela ciência com o experimentalismo do ICR-Roma) depois traduzida numa “ESCOLA”, uma “escola de restauradores”, depois amplificada internacionalmente (ICCROM).

E por aqui que se deu o primeiro contacto de muitos de nós, presentes nesta sala, com os NOVOS ensinamentos de uma notável (e generosa) geração: Brandi; Philippot; Laura e Paolo Mora, Torraca, Massari, Tabasso, etc. etc. etc.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

29

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

OS IMPACTOS DA TEORIA DO RESTAURODE BRANDI, EM PORTUGALA “Teoria” esclarece o fim de um paradigma - impensável para a conservação -, que marcou (que ainda marca?) mais de meio século da actividade de RESTAURO ARQUITECTÓNICO em Portugal: o pressuposto de que O TEMPO É REVERSÍVEL e de que É POSSÍVEL ABOLIR A HISTÓRIA!

Coimbra, antes e depois das intervenções do Estado Novo a partir do início dos anos 40.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

30

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

CESARE BRANDI: INFLUÊNCIA EM PORTUGALANOS 80 E 90 MUDANÇAS DE PARADIGMA: A GRADUAL PASSAGEM DO RESTAURO ESTILISTICO E ANALÓGICO PARA UMA CONSERVAÇÃO (MAIS) ESTRITA

Foi sobretudo na década de 80, e ainda mais na década de 90 do século XX, que algumas novas gerações de cientistas, de arquitectos e engenheiros e a primeira geração do “Restauradores - Conservadores” portugueses travaram contacto com o célebre Instituto Centrale del Restauro de Roma (ICR) que Brandi fundou e dirigiu, e, depois, com os cursos de restauro que o ICCROM concretizava em Roma e por toda a Europa.Refiro-me aos célebres cursos “Conservation de Pinture Mural” (depois, com a avassaladora primazia anglo-saxónica, designados de Mural Painting Conservation), refiro-me aos estruturais cursos “on Architectural Conservation” e aos mais específicos cursos “Architectural Surfaces Conservation (também a outros, orientados para a conservação de materiais específicos como a Pedra, a Madeira, ou para os cientistas, como os cursos de análise não destrutiva dos materiais das obras de arte, etc.).

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

31

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

CESARE BRANDI, INFLUÊNCIA EM PORTUGALANOS 80 E 90 MUDANÇAS DE PARADIGMA: A GRADUAL PASSAGEM DO RESTAURO ESTILíSTICO E ANALÓGICO PARA UMA CONSERVAÇÃO (MAIS) ESTRITA

Formações avançadas frequentadas por muitos dos actuais protagonistas portugueses do mundo do restauro e da conservação, da investigação da praxis à embrionária investigação científica (de memória, por exemplo): T. Cabral, J. Cordovil, J. Caetano, I. Frazão, M. Portela, F. Peralta, F. Henriques, M. Fernandes, F. Marques, F. Pinto, J. Cornélio, J. Aguiar, S. Salema, J. Antunes, A. Barreiros, P. Santa Bárbara, E. Murta, T. Gonçalves, E. Paupério, M. Goreti, etc. etc.ETC.). Cursos de conservação baseados no aprender fazendo e na experimentação das mais contemporâneas teorias do restauro. Rescrevendo as praxis ao mesmo tempo que se permitia a algumas das nossas gerações os primeiros contactos com os centros de excelência, com as intensas discussões pluridisciplinares que desde os anos 70 ferviam pela Europa. Acedemos assim pela primeira vez aos conhecimentos mais avançados e ao inexcedível convívio directo com as mais distintas estrelas deste novo universo da nova disciplina da conservação patrimonial (como o saudoso casal Mora, G. Torraca, H. e G. Massari, M. Koller, E. De Witte, J. Jokilehto, e tantos outros). Cursos onde hoje, como feliz indicador do nosso crescimento científico, onde já não encontramos apenas alunos mas também Professores e Investigadores portugueses, como o Investigador do LNEC Delgado Rodrigues. Como muitos dos que citei, hoje aqui presente.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

32

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

OBRAS PIONEIRAS COM INFLUÊNCIA DA TEORIA DE BRANDI

J. Cordovil (ICCROM) Restauro da fachada da antiga delegação de D.G.Turismo de Évora

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

33

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

OBRAS CHAVE QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI:

Palácio Nacional de Sintra (assessoria ao Restauro de Fernando Henriques ASC-ICCROM)

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

34

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI

Joaquim Caetano (ICCROM)Intervenções da Mural da História, St. Leocádia

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

35

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI:

Irene Frazão (ICCROM)e Arlinda SilvaRestauro de frescos, “Cuba” em Monsaraz

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

36

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI:

Nuno Proença (ICR)

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

37

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

TRADUÇÃO DA TEORIA DO RESTAUROPARA PORTUGUÊS no centenário do nascimento de Brandi

Os estudiosos e os profissionais portugueses tiveram primeiramente acesso àTEORIA DO RESTAURO na sua versão italiana (1963), mais tarde na versão francesa, ou em traduções informais em castelhano.Em 2006 Delgado Rodrigues, Nuno Proença, José Aguiar e Cristina Prats, traduziram a Teoria, por entenderem que se tratava de um documento fundamental para o ensino da conservação e do restauro, uma nova disciplina do conhecimento humano que deu passos fundamentais em Portugal, no decorrer da última década.Fizeram-no por imperativo pessoal, como testemunho pela admiração que têm por este grande pensador e homem de cultura, e como tributo na ocasião do centenário do seu nascimento.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

38

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

Seminário Internacional “Theory and Practice in Conservation: a tribute to Cesare Brandi”, LISBOA, 2006 no centenário do nascimento de Brandi

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

39

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

Cesare Brandi e Portugal Cesare Brandi esteve várias vezes em Portugal e escreveu sobre assuntos portugueses. O primeiro desses textos e que traduzimos em 2006 é um interessante ensaio sobre Álvaro Pires de Évora, editado em 1940 pela Reale Accademia d´Italia, incluído na colectâneaRelazioni Storiche fra l´Italia e il Portogallo, iniciativa surgida no quadro das particulares relações estabelecidas entre o Fascismo italiano e o Estado Novo Português.O segundo texto é o capítulo, mais conhecido, sobre o Manuelino, incluído no seu livro Strutturae Architettura, de 1967.O último texto sobre assuntos portugueses é o capítulo Portogallo, do seu livro A passo d´uomo, editado em 1970, livro onde Brandi descreve - poética e magnificamente - a sua passagem pelos nossos monumentos e lugares, no clima cultural do Portugal da década de 60, que vivia um tempo fora do tempo, em plena guerra colonial, já expectante do fim da ditadura.

Lisboa, Congresso Internacional do Restauro de Obras de Arte, recepção dos congressistas no Museu Nacional de Arte Antiga. Na foto Brandi (Director do ICR) e

João Couto (Director do Museu de Arte Antiga) e o Director do Instituto Italiano da Cultura em Portugal. A única foto que conhecemos de Cesare Brandi entre nós.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

40

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

EXTRACTOS DE: O MANUELINO in Struttura e Architettura, 1967.«Sobre o Manuelino viria a tentação de falar em termos de botânica mais de que em termos de arquitectura e de escultura: uma hibridação que se sucede em vagas sobre o velho cepo gótico que resiste e se compõe com os insertos. Os quais, ao contrário, na natureza aniquilam o franco, e obrigam-no a nova fileira que não deixará passar nada das primitivas características, mas só o suco vital, a seiva.[No Manuelino] (…) acontece uma contínua osmose entre as formas vegetais e as molduras arquitectónicas: as nervuras transformam-se em ramos, as colunas em troncos e como troncos envolvem raízes, e como troncos têm casca e ramos aparados. Tudo isto não num modo alusivo, mas grave, contínuo, verosímil até ao grotesco. Surge-nos a pergunta se e até que ponto o Manuelino antecipa uma posição mental que será típica do Maneirismo».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

41

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

O MANUELINO«(…) O Manuelino baseia-se assim, pelo menos numa das suas fases, sobre a semantizaçãoem vez da figuração. Transmite apenas por significar. Por outro lado, esta significação não tem objectivo, porque é portadora de uma mensagem inoperante: e não só, intencionalmente falsa. (…) nestas duas obras supremas, o Claustro de Belém e o Claustro da Batalha, o Manuelino renuncia a si próprio como semantização intensiva da arquitectura: a semantizaçãorevela-se mesmo após a extraordinária aparição, com a qual estas obras se manifestam, se esfumam na atenção o suficiente para permitir a análise e por isso a recuperação gradual dos elementos semânticos com os quais foram investidas as estruturas».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

42

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO

CITAÇÕES DE CESARE BRANDI A PASSO D´UOMO. Milão: Col. Bompani, 1970 (Cap. Portogallo, pp. 83 – 10).

Talvez por este facto dominante, do qual ninguém fala mas no qual todos pensam [a guerra de Angola], Portugal é tão melancólico: verde, afável e melancólico. (...)Desce-se a Avenida da Liberdade, grande como os Champs Élisées, com tão belos plátanos e canteiros floridos. Passam os carros, as pessoas passeiam. Mas há esta melancolia que não se dissipa. Não basta que tenhamos fugido do bosque maravilhoso e encantado onde os estudantes se transformam em árvores e os pássaros perdem o canto [no Jardim Botânico]. Aquele bosque, aquele silêncio, aquele halo de encantamento, está na base de tudo, em Portugal, encontra-se como o inconfundível sabor que qualquer comida de um país guarda, no fundo do fundo, e aproxima todos, quase como se fosse uma divindade carente que se tivesse refugiado, expulsa de todos os lugares, na garganta.

LISBOA

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

43

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

SINTRA

«Tanto tinha ouvido falar de Sintra e nunca da extraordinária cozinha. Claro, quando um lugar fez as delícias de Byron e por Strauss foi considerado como o verdadeiro jardim de Klingsor (quase que Ravello seria de deitar fora) parecerá muito prosaico dedicar-se a uma cozinha; (...) Mas por Sintra, imaginem que de longe, apenas se começa a ver subir no horizonte as colinas sobre as quais se encontra a delicada

cidadezinha, uma coisa nos atinge que não se sabe logo como interpretar: são dois grandes garrafões de pedra e cal, grandes como cúpulas e em forma de fuso que,

em vez de acabar em pequena cúpula, exibem o pescoço estreito dum cantil. À volta é um sobe e desce de telhados, de varandas, de janelas manuelinas bordadas como

uma toalha de igreja; eles, os dois cantis inchados, pavoneiam-se como galinhas chocas no ninho».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

44

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

SINTRA ...E ALCOBAÇA«Dir-se-á que em Alcobaça há muito

mais a ver: a esplêndida igreja que tem, pelo menos, o dobro do comprimento de

Casamari e de Fossanova, as suas irmãs italianas. Estão ali os dois

soberbos sepulcros de Inês de Castro e do Rei D. Pedro I: certamente as duas

mais belas esculturas medievais de Portugal e as mais intrigantes, por assim

dizer, porque portuguesas não são de certeza e soam humores franceses por

toda a parte. Por fim, o claustro solene e vastíssimo com a esplêndida fonte. De tudo isto se poderia falar longamente e com outro tom. A cozinha é uma coisa

bem mais modesta: mas, como em Sintra, depois de vista, ofusca o resto».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

45

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

ALCOBAÇA E BATALHA«Quando se chega a Alcobaça, a grande abadia aparece pousada como uma grande maqueta de madeira entre casitas de liliputianos. A surpresa repete-se na Batalha, onde para falsamente aumentar o isolamento e sugerir o vasto campo de batalha, abatem os lindíssimos plátanos seculares que circundavam este que é o mais heterogéneo, não resolvido e germinante monumento de Portugal. O que é que importa, a quem, a que pessoas ingénuas, fazer o vácuo em torno dum monumento para reproduzir um campo de batalha? Não épreciso muita fantasia, não é preciso pôr-se à secretária: um plano é um plano. (…) Entretanto a actualidade do monumento está ali, dura e categórica. Ora, estes dois monumentos de Alcobaça e da Batalha sofrem realmente duma falta de ligação ao solo: parecem, já o disse, enormes maquetas pousadas ali e poderiam estar num outro lugar qualquer. Tirem os plátanos à Batalha e a estranheza do grande e caótico edifício explodirá.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

46

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

ÓBIDOS

«Não estava prevista uma paragem em Óbidos: nem sequer sabia que existia, visto que não tem nada de fundamental para a arte portuguesa. Mas feliz ignorância e feliz descoberta.

(...) esta aldeiazinha branca, entre paredes com ameias, quase oferecida como que numa bandeja, é qualquer coisa que está fora do tempo, como uma cidade morta, e dentro do

tempo, como uma coisa viva. (...) Pensa-se mesmo em Assis, e mais ainda em Córdova: Óbidos é uma outra coisa. É esta civilização em conserva, que foi produzida por todas as especiarias do oriente e do ocidente

e, assim mumificada, em vez de se conjugar no passado, sobrevive, digna, melancólica, cheia de luz e de sombras delicadas».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

47

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

ÓBIDOS«(...) Agora poder-se-á argumentar: e é preciso ir a Portugal para uma imersão assim tão

barata no passado? Talvez não exista em Itália... e como eu o desejaria. Porque em Itália jánão há lugar nenhum que esteja conservado como Óbidos, e como, à parte as

características únicas e modestas de Óbidos, é em Portugal a norma constante.Mas as cidades estão intactas: e mesmo que os monumentos às vezes estejam restaurados

de mais, como Alcobaça, nunca me aconteceu ver um campanário gótico em competição com um arranha-céus. Este país, que nunca pretendeu ser, tanto quanto sei, o país da arte,

tem mais respeito pela arte do que o bendito berço dos Museus, que seria a Itália.(...) Não quero acreditar, não poderei nunca acreditar que este milagre de educação, de

respeito, numa palavra, de civilidade, seja pelo contrário o produto de um regime de força, de um estado de coacção no qual um povo, que ditou leis em quase um terço do mundo, se

encontra agora a morder o freio, tendo a ilusão de que basta chamar províncias àquelas que são colónias atrasadas, absolutamente medievais».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

48

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

MAFRA 1

«Mafra encontra-se num daqueles sítios que parecem em baixo mas, ao contrário, são um falso plano: do lado do mar prolonga-se o horizonte. Não se prolonga

como na Toscânia ou na Umbria com tantas filas de colinas que se cavalgam e se rebaixam, prolonga-se como se se estendesse e onde toca com os pés é o céu».

(…) Mafra foi, portanto, um fruto atrasado, uma espécie de cruzamento entre o convento espanhol e Versailles. Mas Juvarra, nos seus belíssimos esquiços, tinha-

o pensado doutro modo totalmente diferente: seria uma praça grandiosa, com o castelo ao fundo, recintos indefinidos, a Igreja num dos lados. O problema é saber

se o obtuso arquitecto alemão, Ludwig, se serviu de qualquer dos esquiços de Juvarra, não só para maior parte do edifício como para a Igreja que, nos seus

elementos, mais italiana do que isto não podia ser».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

49

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

MAFRA 2«Mafra está toda no convento – não é, em suma, planificada como Caserta: as casas burguesas, à volta do largo, param temerosas como diante dum reticulado. Enfim, o largo não faz praça, e da escadaria da Igreja o olhar tem livre alcance sobre os campos que continuam para lá dos telhados; (felizmente baixos, mas ainda por quanto tempo?).No imenso bosque por trás do Palácio Real (que se estendia à sua volta, por trás do Convento e da Igreja) parece que ainda há veados: os últimos descendentes dos que, com enormes chifres, povoam o andar nobre, conforme me disseram, sob a forma de grandes troféus e de pernas de cadeiras. Gostaria de os ter visto, estes móveis cornudos, mas era tarde e não se podia visitar o palácio.»

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

50

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

NAZARÉ«(...) sente-se, sem o saber, como Portugal é antigo, como nem as viagens, nem

as contínuas chegadas de civilizações diversas, mudaram um fundo duro e magro: estes rostos como portas fechadas, este falar nasal e gutural, quase sem vogais,

onde os aspirados árabes e as guturais visigóticas fazem ao latim original o que os arquitectos manuelinos fizeram ao Renascimento.»

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

51

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

COIMBRA 1«Quando se chega a Coimbra dá-se o agradável caso de a Universidade ser a acrópole da cidade, está onde era o palácio real, coroando, com o seu saber, o aglomerado. Foi posta mesmo no antigo palácio real e a aula magna ainda é uma espécie de grande salão do trono, com aquele ar um pouco campónio que têm os interiores em Portugal, até do rei, dado que não existia nem uma grande tradição pictórica, nem uma plástica a apoiar um artesanato de fundo quase rural. A Universidade, no seu antigo bloco central, está cercada agora por edifícios novos, entre os quais a nova Biblioteca. Mas não tenham medo: a antiga que tanto agrada a Emilio Cecchi, estálá, brilhante, intacta, intangível: mais adequada ao Parnaso que a uma Universidade».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

52

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

COIMBRA 2«O fascínio de Coimbra, mais ainda que a fama da sua vetusta Universidade (e dos sobreviventes focos de liberdade que ainda alimenta) devia-se para mim a uma descrição da Biblioteca que me tinha feito Emilio Cecchi. Uma espécie de santuário silencioso com minúsculas capelas, onde estudiosos privilegiados se isolam como numa cabina espacial».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

53

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

COIMBRA 3«A biblioteca está em cima de três arcadas, tantas quantas eram as faculdades, quando foi feita.Três arcadas a que dão acesso arcos espaçosos e no intradorso alojam-se os pequenos pórticos para subir ao patamar. Este corre dum lado ao outro e, para permitir chegar aos camarotes mais altos, contém escadas lindíssimas com degraus escondidos entre cada prateleira. Mas para que sejam de fácil utilização e não se vejam e para que, com o seu utilitarismo, não perturbem a ordem desinteressada, são essas também lacadas e douradas, de modo a que, quando voltam a ordenar-se no seu alvéolo, não se distingam do resto. Um ferro batido e também ele lacado sai do ponto justo para apoiar a escada e servir todo o sector: mas se não fosse a escada, de baixo não se via nada. Os livros são para os anjos, que têm asas.

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

54

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO

COIMBRA 3

«(…) Mas é lá, no lado [da Biblioteca] virado para o Mondego, que estão as minúsculas celas, com a janela que dá para o rio, uma exígua secretária, a portinha que, quando está fechada, dácontinuidade às estantes como se nada existisse. Como se não existisse, lá dentro - dentrodesta espécie de gaveta secreta - o estudioso que trabalha e sonha, que trabalha esquecido, destilando palavras. Emilio Cecchi, ao abrir uma daquelas pequenas portas, quase pensei que o via».

6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos

55

José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007

CESARE BRANDI E PORTUGAL

PORTUGAL“Aquele bosque [onde os estudantes se transformam em árvores e os pássaros perdem o canto], aquele silêncio, aquele halo de encantamento, está na base de tudo, em Portugal, encontra-se como o inconfundível sabor que qualquer comida de um país guarda, no fundo do fundo, e aproxima todos, quase como se fosse uma divindade carente que se tivesse refugiado, expulsa de todos os lugares, na garganta.(...) Dir-me-ão que [HOJE PORTUGAL] é bem diferente: mas mais tarde sucede que as imagens enfraquecem, as recordações toldam-se, e de repente, com uma garfada, com um gole, sentireis um abalo surdo e acontecer-vos-á dentro de uma igreja, numa praça, num campo. Tereis encontrado aquele país e na voragem do tempo abriu-se como que uma brecha, gerou-se uma paragem. Assim será Portugal para mim, quando me encontrar numa sombra profunda e silenciosa ferida de raios de sol denso como o ouro, de um sol que atravessou as trevas.”Cesare, Brandi, A passo d´uomo. Milão: Col. Bompani, 1970 (Capitulo Portogallo, pp. 83 – 10, traduzido por Delgado Rodrigues, José Aguiar, Nuno Proença, Cristina Prats em 2006).