Tese Mestrado_Raquel Santana
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA
UM CAMINHO PARA UMA MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA
Carla Raquel Lourenço Santana
MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA
2011
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA
UM CAMINHO PARA UMA MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA
Carla Raquel Lourenço Santana
MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA
Dissertação Orientada pelo Prof. Doutor Luís Jorge Gonçalves e Coorientada pelo Prof. Doutor Paulo Sá Caetano
2011
Para o meu pai.
iv
Agradecimentos
Agradeço a todos os que me ajudaram na realização desta investigação e
que conseguiram conviver comigo durante o último ano, em particular ao
Professor Doutor Luís Jorge Gonçalves, pela orientação e por partilhar
comigo um projeto que antes de ser “nosso” foi dele.
Também ao Professor Paulo Caetano pela coorientação, porque
desempenhou um papel muito importante e sempre se mostrou disponível.
Um agradecimento especial aos que partilharam a minha ânsia de respostas
e a dificuldade em formular perguntas, em particular ao Professor Manuel
Calado, ao Miguel Manso, ao João Ventura, ao Ricardo Mendes, à Carla
Pereira e à Elisa Ochôa, mas também a todos os que em alguma conversa
me cederam a sua opinião. Obrigada Teresa, pelas traduções.
Devo também agradecer a todas as pessoas que constantemente
impressionadas me dizem: Mestrado em Museologia? Mas isso não tem
nada que ver com Design de Comunicação!. Espero com este estudo
conseguir elucidá-las.
À minha família e amigos pelo apoio incondicional e por acreditarem num
projeto que passou também a ser deles, especialmente ao Renato.
v
PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA: UM CAMINHO PARA UMA
MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA
Resumo:
Partindo do estudo do património natural e cultural da Serra da Arrábida e
com base no resultado das investigações arqueológicas levadas a cabo no
território de Sesimbra, mais propriamente na Serra do Risco, propõe-se a
criação de um Parque da Pré-história da Arrábida.
Para a construção do projeto são lançadas as bases para uma Museologia
Participativa em que se pretende, a par da salvaguarda e valorização do
património, uma efetiva aproximação e responsabilização da comunidade
local através da sua interação no processo construtivo.
São equacionadas questões relacionadas com a musealização de sítios e
monumentos arqueológicos e analisados parques semelhantes em Portugal e
na Europa.
A falta de exemplos que consigam abarcar todas as questões envolvidas
neste projeto leva a que a temática se torne inaugural no panorama das
instituições culturais.
Palavras-chave: Comunicação, Comunidade, Museologia Participativa,
Arqueologia, Património Natural, Património Cultural, Parque da Pré-história.
vi
PRE-HISTORIC PARK OF ARRÁBIDA: A WAY TO A PARTICIPATING
MUSEOLOGY
Abstract:
Based upon studies carried out at the natural and cultural heritage sites of the
Serra da Arrábida and bearing in mind the results of archaeological
investigations undergone in the Sesimbra area namely Serra do Risco, we
propose the creation on a Pre-historic Park of Arrábida.
For the construction of this project there must be basis for a Participating
Museology in which we project safeguard and valorize the heritage an
effective approximation and responsibilisation of the local community through
the interaction in the constructing process is paramount.
There are similar questions related with the creation of museums of sites and
archaeological monuments in parks analysed in Portugal and in Europe.
The lack of existing examples that embrace all the questions in this project
gives rise to a theme wich turns it inaugural in the panorama of cultural
institutions.
Keywords:
Communication, Community, Participating Museology, Archaeology, Natural
Heritage, Cultural Heritage, Pre-historic Park.
vii
Índice
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
I. Pertinência da Temática e Objectivos da Investigação ............................... 2
II. Metodologia de Investigação ...................................................................... 3
III. Organização do Trabalho .......................................................................... 5
Capítulo 1 – Caminho Para Uma Museologia Participativa ....................... 9
1.1 – A Construção do Museu ...................................................................... 11
1.1.1 – Ecomuseu ............................................................................. 21
1.1.2 – Património e Comunidade ...................................................... 23
1.1.2.1 – O Projeto Educativo ..................................................... 26
1.1.3 – Museologia Participativa ........................................................ 28
1.2 – Museologia e Arqueologia ................................................................... 30
1.2.1 – Processo de Musealização de Sítios Arqueológicos ............. 32
1.2.1.1 – Escavação e Investigação ........................................... 33
1.2.1.2 – Critérios de Representatividade do Sítio ..................... 33
1.2.1.3 – Política de Intervenção ................................................ 34
1.2.1.4 – Interpretação / Reconstituição ..................................... 34
1.2.1.5 – Gestão e Manutenção .................................................. 36
1.2.1.6 – Infraestruturas .............................................................. 36
1.2.1.7 – Comunicação ............................................................... 37
1.2.1.8 – Sinalização ................................................................... 38
1.2.2 – Parques Arqueológicos .......................................................... 39
1.2.2.1 – Caracterização geral .................................................... 41
1.2.2.2 – Organização ................................................................. 41
1.2.2.3 – Programação ................................................................ 42
1.2.2.4 – Divulgação ................................................................... 43
1.2.3 – Um Estudo de Caso - Algaba de Ronda ................................ 44
viii
Capítulo 2 – As Terras do Risco ................................................................. 51
2.1 – A especificidade da Paisagem ............................................................. 52
2.1.1 – Factores Naturais ................................................................... 52
2.1.2 – Factores Culturais .................................................................. 57
2.1.3 – Factores Turísticos e Económicos ......................................... 61
Capítulo 3 – Parque da Pré-história da Arrábida ...................................... 63
3.1 – Enquadramento de Um Projeto ........................................................... 63
3.2 – O Papel da Museologia Participativa ................................................... 65
3.3 – Objectivos Estratégicos ....................................................................... 66
3.4 – Modelo de Implementação .................................................................. 67
3.5 – Narrativas ............................................................................................ 68
3.6 – Programa Museológico: Um Projeto Duas Possibilidades .................. 69
3.6.1 – A Utopia do Risco .................................................................. 69
3.6.2 – A Realidade no Risco ............................................................. 71
3.7 – Modelo de Comunicação ..................................................................... 72
3.8 – Matriz FOFA ......................................................................................... 75
SÍNTESE FINAL ........................................................................................... 77
BIBLIOGRAFIA .................................................... 81
WEBGRAFIA .................................................... 85
ix
Índice de Figuras
Figura 1: Variáveis basilares na nova museologia ....................................... 25
Figura 2: Evolução da Instituição Museal .................................................... 28
Figura 3: Mapa do parque Algaba de Ronda ............................................... 45
Figura 4: Vista aérea da recriação do povoado de Pré-história
Recente da Algaba de Ronda ....................................................................... 46
Figura 5: Atividades educativas e didáticas dirigidas a públicos escolares . 47
Figura 6: Detalhe do acesso a uma das cabanas do povoado .................... 47
Figura 7: Trabalho experimental do sílex mediante a técnica da pressão ... 48
Figura 8: O Rosto do Risco .......................................................................... 51
x
Índice de Tabelas
Tabela 1: A diferenciação entre o museu tradicional e o ecomuseu ............ 23
Tabelas 2, 3 e 4: Fases do Projeto Educativo .............................................. 26
Tabela 5: Evolução do discurso museológico .............................................. 29
Tabela 6: Parques arqueológicos analisados ............................................... 40
Tabela 7: Escala cronostratigráfica do Meso-Cenozóico ............................. 54
Tabela 8: Matriz FOFA do projeto do Parque da Pré-história da Arrábida ... 76
xi
Índice de Anexos
Anexo I: As Terras do Risco .......................................................................... II
Anexo II: Roteiro do Parque da Pré-história da Arrábida .............................. III
Anexo III: Galeria de Imagens ...................................................................... IV
xii
Lista de Abreviaturas
ICOM - International Council of Museums
MINOM - Movimento Internacional para uma Nova Museologia
CNRS - Centro Nacional de Pesquisa Científica de França
PNA - Parque Natural da Arrábida
PPA - Parque da Pré-história da Arrábida
xiii
(...) não poderei deixar à posteridade mais do que o meu testemunho,
a que ela chamará vestígio se chegar até ela.
Paul Veyne
1
INTRODUÇÃO
2
I. Pertinência da Temática e Objectivos da Investigação
A necessidade de comunicação inerente aos indivíduos pauta a sua
vivência ao longo dos tempos. Os modos de expressão utilizados como meio
para comunicar variam consoante o contexto cronológico, natural, cultural e
social dos seus criadores. Todos os homens, em todas as épocas sentiram
esta necessidade que fez deles inevitavelmente comunicadores, mesmo nas
comunidades primitivas, das quais os meios de comunicação se mostram
eficazes passados milhares de anos após a sua utilização. O papel dos
investigadores da atualidade será então ler os vestígios destes testemunhos, e
contar a sua história ou a “nossa” história. Este é o mote para a realização da
presente investigação.
O conjunto de vestígios descobertos na Serra da Arrábida, mais
propriamente nas Terras do Risco deve, pela sua excepcionalidade
comprovada neste estudo, ser interpretado e comunicado através da criação
de um Parque da Pré-história da Arrábida, que se pretende que seja construído
para e pela comunidade local. Aliar a unicidade natural e cultural deste território
num projeto coerente e sustentável é vital para a sua correta salvaguarda e
divulgação.
O processo de construção de um projeto patrimonial está subjugado aos
princípios da museologia como ciência que pretende valorizar e divulgar os
testemunhos do homem. A relação que se estabeleceu entre a instituição
museal e os seus públicos sofreu mutações constantes e significativas ao
longo da sua existência, encontrando-se hoje num patamar em que a
interatividade e a experimentação funcionam como catalisadoras do processo
construtivo.
Neste contexto são objectivos nucleares desta investigação:
a) Entender o desenvolvimento da instituição museal ao longo dos tempos,
mas em particular recair sobre o seu papel na formação social e
intelectual dos cidadãos;
b) Estabelecer os princípios de uma nova concepção da museologia, com
aplicabilidade prática, tendo em consideração a sua relação com as
comunidades;
3
c) Conhecer processos de valorização e musealização do património
arqueológico e em particular projetos que aliem o património natural ao
património cultural;
d) Reconhecer a particularidade da Serra do Risco no universo da
Arrábida, tendo em vista a criação de uma estrutura museológica a ela
subordinada;
e) Propor a criação de um projeto impar com características peculiares e
em que se inaugure uma nova concepção da museologia;
f) Verificar as reais possibilidades para a realização do projeto através da
apresentação de objectivos e estratégias de atuação concretas.
II. Metodologia de Investigação
As prospecções arqueológicas iniciadas no ano de 2009 na Serra da
Arrábida revelaram um conjunto de elevado valor patrimonial, para o qual
desde logo se pretendeu criar um propósito. Considerando a dificuldade de
apresentação das temáticas relacionadas com as comunidades pré-históricas,
a solução mais viável pareceu a criação de uma estrutura museológica que
cumprisse a função de exposição e comunicação das descobertas, de uma
forma lúdica e pedagógica. A concepção de um projeto com estas
características suscitou muitas dúvidas, essencialmente pela falta de referentes
e exemplos que abarcassem todas as áreas em estudo, nomeadamente a
Biologia, Geologia, Arqueologia e Museologia.
O processo inicial passou então pela recolha de informação dos
exemplos que mais se aproximariam do proposto, como parques arqueológicos
ou museus de arqueologia com ênfase na reconstituição histórica. As questões
acerca do objectivo primordial do projeto começaram então a surgir: Será um
espaço maioritariamente de lazer e diversão? Poderão conciliar-se a vertente
lúdica e pedagógica em atividades motivadoras que desenvolvam a
investigação arqueológica? Terá o parque um impacto efetivo junto da
comunidade local?
A análise dos exemplos nacionais e europeus considerados como
amostra revelou algumas lacunas nas respostas procuradas. Assim, foi
4
necessária uma reflexão detalhada sobre a museologia e o modo como se
poderia adaptar e evoluir para permitir a efetiva participação dos visitantes na
construção do museu.
A concepção proposta baseia-se na análise de exemplos de projetos
educativos em que as instituições procuram estabelecer uma relação estreita
com os seus visitantes, o ambiente e a comunidade local.
A bibliografia analisada serviu essencialmente para o cruzamento de
dados e teorias que permitissem uma visão abrangente sobre o mundo dos
museus, o seu caminho e possibilidades futuras.
No que concerne à vertente arqueológica, foram considerados
essencialmente estudos e ensaios sobre a valorização do património
arqueológico na atualidade e o modo como se estabelece a incursão da
arqueologia experimental em projetos de investigação.
A aproximação ao universo em estudo, a Serra da Arrábida, foi
trabalhada pelo meio de visitas ao local, acompanhadas por técnicos e
investigadores envolvidos nos trabalhos arqueológicos ou ligados à vertente
científica do estudo da paisagem, possibilitando assim a recolha de
testemunhos relevantes quanto ao impacto do projeto a nível ambiental,
cultural e social.
O facto de se projetar uma estrutura no seio do Parque Natural da
Arrábida, levanta questões pertinentes no que concerne à legislação a que o
espaço está subordinado, sendo então fulcral equacionar estratégias
sustentáveis que não inviabilizem a realização do projeto. Foi também
considerada a propriedade dos terrenos e os interesses a ela inerentes, bem
como a necessária institucionalização do processo, dado que o espaço
abrange os concelhos de Sesimbra e Setúbal.
As entrevistas realizadas na investigação, a técnicos da Câmara
Municipal de Sesimbra e a elementos da equipa que trabalhou no terreno
desde o início das descobertas, foram de cariz informal. Os testemunhos
recolhidos, não obedecendo a regras metódicas próprias da entrevista,
serviram essencialmente para se apurarem as opiniões dos entrevistados, de
modo a possibilitar o cruzamento dos dados recolhidos para organização do
pensamento construtivo do processo de realização do Parque da Pré-história.
5
III. Organização do Trabalho
O enquadramento teórico da investigação apresentada está estruturado
de modo a refletir as temáticas que concorrem à formulação do processo de
criação do Parque da Pré-história da Arrábida.
A presente nota introdutória pretende dar a conhecer a pertinência da
temática bem como os objectivos a atingir com a realização da investigação,
sua metodologia e organização teórica.
Museologia e Arqueologia são conceitos basilares trabalhados no
Capítulo 1. Inicialmente é dada a conhecer a construção da instituição museal
desde a sua origem e sobretudo a importância da relação que estabelece com
os públicos desde então. O conceito de Ecomuseu é inevitavelmente estudado,
para que as relações entre património e comunidade se compreendam. São
analisados métodos que concorrem à realização de projetos educativos com
comunidades, numa tentativa de estabelecer os princípios orientadores da
Museologia Participativa. A inauguração deste conceito é fulcral visto que
pretende estabelecer uma aproximação cuidada e trabalhada aos públicos, de
modo a que estes se tornem parte integrante do processo construtivo do
museu. A existência de serviços educativos nas instituições culturais teve um
impacto significativo no que toca à diversificação da oferta e aumento de
visitantes. Contudo, está ainda numa fase inicial o reconhecimento destas
instituições no campo social e intelectual, como integrantes do processo
educacional dos indivíduos. Pretendesse então reconhecer este papel e
enaltecê-lo para que nos dias de hoje e no futuro se possam construir
processos em parceria, valorizando a identidade cultural dos locais e sua
comunidade, bem como contribuir para o seu desenvolvimento social e
económico.
No campo da Arqueologia são explicitados os princípios, estratégias e
dificuldades inerentes ao processo de musealização de sítios arqueológicos
para que melhor se entenda o universo a tratar posteriormente. A escassa
informação sobre parques arqueológicos ou da pré-história dificultou a tarefa
essencial de análise da sua organização e funcionamento. Contudo, a
pesquisa levou à seleção de uma amostra significativa analisada segundo os
seguintes critérios: caracterização geral, organização, programação e
6
divulgação. Será ainda analisado com maior pormenor o caso específico da
Algaba de Ronda, pela sua semelhança no que diz respeito à tentativa de
aproximação aos públicos através da arqueologia experimental.
O Capítulo 2 apresenta o território que servirá de cenário ao projeto, as
Terras do Risco. Pretende-se esmiuçar a especificidade da paisagem de modo
a que se compreendam as variáveis naturais, culturais e simbólicas que a
tornam passível de ser, urgente e devidamente, salvaguardada e divulgada. A
sua geodiversidade e biodiversidade serão assim exploradas para que se
conheça o território desde a sua formação à atualidade, abordando-se as
questões que levaram à sua ocupação pelas comunidades pré-históricas. Esta
ocupação será também caracterizada e mapeada através do estudo das
evidências arqueológicas existentes.
Considerando a hipótese de realização de uma estrutura museológica
neste contexto, deve perceber-se a relação que se estabelece entre ele e a
comunidade local, daí a necessidade de enquadrar a Arrábida nas dinâmicas
turísticas e económicas vigentes na região.
Após análise do território a trabalhar e passando à fase de apresentação
do projeto, no Capitulo 3, devem refletir-se as políticas de valorização do
património no concelho de Sesimbra, de modo a enquadrar o Parque da Pré-
-história e entender as razões que o tornam necessário. O entendimento deste
projeto passa pela explicação do papel da já referida Museologia Participativa
na sua realização, de modo a que se estabeleçam objectivos estratégicos e se
desenhe um modelo de implementação. A conjuntura ambiental da Arrábida é
equacionada assim como os parâmetros legislativos de que depende.
Acrescendo a este contexto a atual escassez de meios financeiros, na
concepção do programa museológico sentiu-se a necessidade de apresentar
duas possibilidades. Ambas são viáveis e cumprem os objectivos propostos,
sendo a primeira para a criação da estrutura in situ, ou seja, na Serra do Risco,
e a segunda para a criação deslocalizada do polo aglutinador do parque.
Os fenómenos culturais da atualidade estão marcadamente
dependentes do contexto social e económico dos indivíduos, daí a necessidade
de se refletir sobre o modo como se pode comunicar o património e motivar os
públicos quando não estão asseguradas todas as condições vitais à sua
adequada sobrevivência. É então objectivo nesta fase, conceber um modelo de
7
comunicação eficaz e que possa ter um impacto efetivo e positivo junto dos
potenciais frequentadores do parque.
Para a concepção de qualquer projeto é considerada essencial uma
avaliação do ambiente e condições em que se insere. Para tal, foi criado um
quadro de análise FOFA (ou SWOT) em que se apresentam pontos fortes e
pontos fracos inerentes ao projeto, e oportunidades e ameaças provenientes
do ambiente externo em que está inserido.
Finalmente, as Considerações Finais pretendem esclarecer o lugar da
Museologia Participativa enquanto modeladora do processo de construção do
Parque da Pré-história da Arrábida, lançando questões no campo da
valorização do património natural e cultural. São tecidas sínteses conclusivas
que, em resposta aos objectivos traçados, procuram efetivar o melhor caminho
para a implementação e comunicação do Parque como estrutura patrimonial
autossustentável.
8
9
Capítulo 1
Caminho Para Uma Museologia Participativa
Comunicação
(nome feminino)
1. ato ou efeito de comunicar;
2. troca de informação entre indivíduos através da fala, da escrita, de um código comum
ou do próprio comportamento;
3. o facto de comunicar ou estabelecer uma relação com algo ou com alguém; relação;
correspondência;
4. o que se comunica; mensagem; informação; aviso; anúncio;
5. meio técnico usado para comunicar; transmissão;
6. capacidade de entendimento entre as pessoas através do diálogo;
7. passagem de um local a outro; acesso; via; órgãos de comunicação social; conjunto
dos jornais, revistas e dos meios audiovisuais que têm como missão principal informar
o público.
(Do latim communicatiōne-, «ação de participar»)1
Museologia
(nome feminino)
Ciência que trata da construção, disposição e equipamento dos museus, no sentido de criar as
condições internas que mais bem valorizem a exposição do recheio e lhe assegurem a
longevidade em perfeito estado, bem como o arranjo e realce da distribuição desse recheio.
(Do grego mouseĩon, «museu» +lógos, «tratado; estudo» +-ia)2
1 http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/comunicação 2 http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/museologia
10
O aparecimento do segundo indivíduo na terra, constitui em si, o mote
para o modo como as relações se estabelecem desde aí à atualidade. Sendo
características únicas do Homem a linguagem e a capacidade intelectual, a
atividade social depende das relações que se estabelecem e do modo como se
estabelecem. O como, é o elo de ligação das comunidades. A comunicação
estabelecesse assim, desde o início, como meio fundamental para a vida em
sociedade.
Nem em todos os momentos a comunicação se estabeleceu da mesma
maneira, mas quer através da fala, da escrita ou da criação de objetos, os
homens começam a criar modos de expressão que possibilitam a interação,
quer uns com os outros (em comunidade), quer com o meio que os rodeia (na
construção de estruturas básicas que melhorem o dia a dia), quer com o que
não compreendem (o lado místico da inevitabilidade da morte ou a
incompreensão de fenómenos naturais de grande expressão).
A comunicação deu assim origem a variados testemunhos de todas as
épocas aos quais é conferido determinado estatuto e importância, quer pelo
seu valor estético e simbólico, quer pelo seu valor histórico e pelo contributo
que podem fornecer na compreensão das civilizações.
A necessidade de agrupar esses testemunhos, artísticos ou
documentais, estabelece as origens do museu, e consequentemente, ao longo
dos tempos, da ciência que se encarrega de estabelecer os seus princípios e
funções, a museologia.
Pretende-se então, nestas primeiras páginas, explanar a evolução da
instituição museal e da museologia até à atualidade, para que se
compreendam e justifiquem os caminhos e desafios que se apresentam num
futuro próximo às instituições que se encarregam, em primeira instância, do
depósito e exposição dos testemunhos da humanidade.
11
1.1 – A Construção do Museu
Conceito de Museu3 1 – Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem
fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:
a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da
investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação,
exposição e divulgação, com objectivos científicos, educativos e lúdicos;
b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção
da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.
2 – Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as
características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu,
ainda que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas,
testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes
ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.
Funções do museu4
O museu prossegue as seguintes funções:
a) Estudo e investigação;
b) Incorporação;
c) Inventário e documentação;
d) Conservação;
e) Segurança;
f) Interpretação e exposição;
g) Educação.
3 Artigo 7.º da Lei n.º 47/2004 4 Artigo 3.º da mesma Lei.
12
O início da história dá-se com a invenção da escrita, “Por essência, a
história é conhecimento através de documentos”5, sistema que através da
associação de símbolos gráficos comuns a um conjunto de indivíduos que os
reconhecem e descodificam, lhes permite comunicar de modo simples e eficaz.
Mas, já na pré-história, ou seja, aquando da existência de civilizações antes da
escrita, era possível estabelecer relações de significação para que os
indivíduos se entendessem com facilidade. As relações deviam estabelecer-se,
como referido acima, em comunidade, com o espaço físico, mas também com
o lado místico e incompreensível. A misticidade da vida e da morte, tanto no
que se refere ao homem como ao universo, pode considerar-se marcante
nestas civilizações, dela fazem depender as suas rotinas e rituais. Interessa
nesta relação abordar a importância dada aos túmulos que construíam para os
mortos e seus pertences. A crença na vida após a morte, pauta assim a
construção dos primeiros depósitos de objetos, que, sem qualquer lógica ou
discurso, serviam de meio entre a vida terrena e a sagrada, ou o desconhecido.
Neste contexto, é compreensível que já na pré-história determinados objetos,
detentores de um estatuto que os elevava da sua mera função utilitária, fossem
depositados em locais sagrados.
A perda de função para permanecimento na memória colectiva, é pois
uma característica do objecto de museu. O objecto pode dizer tanto da sua
época, para além do seu valor estético e artístico, que deve ser exposto e dar
o seu contributo na construção e no não esquecimento da história.
O saber foi então “guardado” ao longo dos tempos em locais mais ou
menos organizados e com, ou sem, a preocupação de ser dado a conhecer
democraticamente.
A palavra museu deriva do grego mouseĩon, nome dado pela civilização
grega aos Templos das Musas, locais de estudo e criação onde se reuniam os
saberes. Os objetos belos ou provenientes do conhecimento científico e
filosófico eram então acumulados em espaços sagrados, onde apenas a elite
académica ou religiosa poderia privar, de que é exemplo a Pinacoteca de
Atenas.
5 VEYNE (2008): 13
13
As grandes conquistas da época romana foram retratadas e dadas a
conhecer nos locais públicos para exaltação do poder imperial e como epíteto
da eternidade. Nesta época é permitida a exposição de coleções privadas à
sociedade e a investigação é levada a cabo não apenas pela ânsia do saber,
mas pelo gosto pelo colecionismo.
O cristianismo relega toda a vida terrena para segundo plano e centra a
intelectualidade na igreja e seu imaginário. A arte serve de suporte para a
transmissão da doutrina e como meio para educar o povo na cristandade,
sendo então patrocinada e apoiada pelos poderes vigentes. Os mosteiros e os
palácios da época medieval são assim autênticos depósitos de tesouros com
elevado valor artístico, simbólico e económico.
A ânsia pelo saber e o gosto pelo colecionismo acima referidos acabam
por culminar, no Renascimento, na multiplicação das câmaras de maravilhas
(Wunderkammer) e das câmaras de arte (Kunstkammer), os gabinetes dos
humanistas e dos príncipes adquirem um importante papel na formação do
gosto. Os artistas, gradualmente, são reconhecidos pelos seus saberes
filosóficos e matemáticos e deixam o universo do simples artesão executante.
A investigação passa para níveis mais refinados, notando-se na pintura o gosto
pela ruína, fruto de uma investigação arqueológica emergente. Os estudos
científicos são cada vez mais elaborados e começam a desenhar-se os
primeiros museus de ciência natural.
Giorgio Vasari (1511-1574), funda em 1563 a Accademia del Disegno,
em Florença, lançando o mote para o ensino académico das artes e impul-
sionando a formação de coleções ímpares que pudessem servir de modelo aos
aprendizes. Vasari elaborou estudos sobre vários génios do Renascimento
contribuindo para o reconhecimento de um estatuto próprio para as artes e os
artistas, conferindo-lhes identidade própria e valorizando as suas obras.
As grandes galerias da renascença ostentavam o poder e a riqueza do
colecionador. As paredes eram forradas a quadros dos grandes mestres, para
melhor se entenderem motivações e técnicas, que através da comparação
serviriam de modelo às artes do futuro. Contudo, esta organização confusa e
sem pretensões ao nível da narrativa ou discurso vinha estabelecer o primeiro
modelo de exposição das obras.
14
As cortes mais abonadas começam pois trocas comerciais para
engrandecer as suas coleções dando-se o mote para um mercado artístico
nem sempre lícito.
É premente referir que a catalogação das obras vai gradualmente
evoluindo. Os primeiros documentos que pretendem inventariar os pertences
das famílias mais ricas são os seus testamentos, que possibilitam hoje, saber a
origem de determinadas obras. No decorrer dos séculos XVI e XVII verifica-se
a preocupação de descrever, mesmo que sumariamente, a constituição das
coleções pelo seu crescente valor económico num mercado da arte que se
começa a formar.
As conquistas do território pelas nações imperiais levam a descobertas
de valor científico e etnográfico elevado. Descobertas essas, que eram também
tidas como testemunhos colecionáveis e passíveis de serem estudados.
A primeira instituição que surgiu na história com o nome de museu foi o
Ashmolean Museum, “Founded in 1683, the Ashmolean is Britain’s first public
museum and home to the University of Oxford’s world-class collections of art
and archaeology.” 6
A partir de meados do século XVIII os museus propagam-se pelo
território e crescem em número e progressivamente em qualidade. Iniciam-se
grandes mudanças na sociedade e no modo de entender a história que pautam
o desenvolvimento da instituição museal. Neste século Johann Joachim
Winckelmann (1717-1768) estabelece os fundamentos para o estudo da
história da arte, apesar do seu reconhecimento académico apenas se
consolidar em 1844 na Universidade de Berlim. 7 O modelo sistemático e
científico da história da arte começa a ser delineador do discurso da
museologia. As obras passam a ser apresentadas cronologicamente por
escolas nacionais e começam a notar-se esforços para uma maior coerência
na apresentação/exposição. A revolução cultural do Iluminismo contribui para a
sistematização dos campos temáticos dos museus, o que do ponto de vista do
discurso museológico, é fulcral para o desenvolvimento do papel desta
instituição na sociedade.
6 http://www.ashmolean.org/transforming/ 7 http://pt.wikipedia.org/wiki/História_da_arte
15
A Revolução Francesa (1789-1799) altera completamente a direção que
tomava o mundo. O “tempo das luzes” clarifica mentalidades e, apesar de
marcada por muitas disputas com consequências negativas, desbrava caminho
para políticas sociais e culturais democráticas, dando direitos iguais aos
indivíduos.8 O ensino e o conhecimento devem ser para todos. As coleções
começam gradualmente a passar do domínio privado para o público, sendo
mesmo algumas transferidas para o património estatal. A acessibilidade às
obras vai aumentando e a instituição pública museu, apercebesse das suas
potencialidades formativas e didáticas e, sem fins lucrativos, toma como
principal objectivo o serviço público.
O Museu do Louvre abre portas a 10 de Agosto de 1793 com o intuito de
inaugurar estes princípios de igualdade. As coleções reais são apresentadas
ao público em geral segundo uma seleção rigorosa. Evidentemente passamos
de uma museologia da contemplação, onde em primeira instância as obras
seriam individualmente contempladas com fins de aprendizagem, para uma
museologia do discurso, onde organizado cronologicamente e por escolas, o
conjunto das obras acarreta uma mensagem que deve ser transmitida ao seu
público.
Aquando destas transformações, os museus de arqueologia seriam os
mais numerosos, servindo de inspiração para os artistas e prestigiando os seus
colecionadores, contundo, possibilitando uma maior aceitação de novos ideias
artísticos com o início dos museus de arte contemporânea, para exaltação do
espírito cultural do presente.
Em 1815 dá-se outra alteração diplomática a nível global de grande
importância, o Tratado de Viena. Nos museus algumas das repercussões são a
criação dos descentralizados museus de província e a abertura de academias
das artes com sede em coleções locais.
Esta descentralização havia de ser posta à prova com a tão relevante,
Revolução Industrial que tem início em Inglaterra em meados do século XVIII e
se propaga gradualmente pelo mundo ao longo do século XIX. A
8 Como todas as revoluções, apesar de se apoiar em ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade”, teve o seu lado negro, que não passou aquém dos museus. As pilhagens de bens artísticos e tesouros foram uma constante, fazendo com que alguns se perdessem completamente da sua origem nunca tendo regressado. É um facto que o conhecimento deve ser de todos, mas sendo o património delineador da memória colectiva de um povo, é essencial que as questões de pertença não sejam descuradas.
16
industrialização e a proletarização trazem ao mundo alterações económicas e
sociais consideráveis, iniciando-se mudanças que pautariam as tecnologias e
os processos de fabrico do futuro.
As classes sociais sofrem mudanças no que toca ao seu poder
económico, sendo a classe dominante a burguesia. A fuga massiva dos meios
rurais para os centros urbanos é também característica desta época em que se
buscam melhores condições de vida a todo o custo.
Vários movimentos artísticos pretendiam chegar a todos os indivíduos,
e, para que isso fosse possível, havia que diminuir os custos de produção dos
objetos e produzi-los em quantidades significativas, perdendo-se assim a
importância dada ao génio artístico e sua individualidade. As artes decorativas
surgem como resposta a estas necessidades. A exaltação do mundo industrial
tem o seu apogeu nas grandes exposições universais, onde se mostram ao
mundo as possibilidades cada vez mais democráticas das industrias
emergentes. Continuamos então perante um discurso
museológico/museográfico que pretende exaltar de modo elitista (porque as
soluções continuam inalcançáveis à maioria dos indivíduos), mas democrático
(todos podem ser espectadores dos progressos tecnológicos e artísticos da
ideologia triunfante).
A perda de poder da igreja e da realeza culmina na transferência dos
seus bens culturais para o estado, o que possibilita a criação de um maior
número de museus estatais. Ao longo do século XIX os museus vão
gradualmente ocupando o seu lugar na sociedade e no ensino artístico.
Os ideais positivistas resultantes de tantas alterações filosóficas,
científicas e sociais no mundo, têm também os seus reflexos no modo de
pensar o museu. A datação, a classificação e a documentação (agora também
com o apoio da fotografia que surge em 1826) começam a ser encaradas como
essenciais nas coleções, e com o desenvolvimento das profissões técnicas
relacionadas com o museu, o restauro assume também o seu papel na
preservação das obras.9
Os desenvolvimentos científicos e tecnológicos são também evidentes
no campo da arqueologia, em que os progressos físicos e químicos contribuem
9 RIVIÈRE (1989): 100
17
para a identificação e datação das descobertas arqueológicas e
paleontológicas, e abrem o caminho à pesquisa do retrato tecnológico,
económico, social e cultural dos primeiros homens. 10 Essencial para esta
investigação é também o estudo da terra e da sua antiguidade, que se inicia
com a necessidade de exploração dos recursos geológicos e mineiros.
A mobilização do povo para as grandes cidades leva à perda das
sociedades rurais notando-se a necessidade de reunir e preservar os
testemunhos deixados para trás nos museus de antropologia.
A demarcação temática e multidisciplinar dos museus vai-se delineando
crescendo estes exponencialmente em número e na qualidade da oferta aos
seus públicos alvo.
Paralelamente a estes acontecimentos, as ciências naturais ganham
também em estatuto e os territórios naturais começam a ser vistos também
como património preservável. Os parques nacionais ganham identidade e
legislação próprias e são organizados de modo a que se possa tirar deles todo
o partido possível, respeitando ecossistemas característicos que necessitam de
maior cuidado e vigilância. O primeiro parque natural do mundo é o
Yellowstone National Park, criado em 1872 no estado do Wyoming, Estados
Unidos da América. Os museus de natureza selvagem propagam-se assim
pelos Estados Unidos e pelo mundo.
As revoluções e progressos acima descritos, e muitos mais que não têm
lugar nestas páginas mas são de igual relevância, conduzem-nos até ao século
XX, século de consolidação, mas também de ruptura no que toca ao campo
dos museus.
Os museus são agora instituições reconhecidas pelo seu valor
patrimonial e educativo, e organizados sistemática e metodologicamente,
possibilitam o desenvolvimento de novas linguagens e discursos. São
construídos museus de raiz para albergar coleções de renome, ou para
constituição de novas coleções, contemporâneas. As galerias e os centros de
arte desempenham também um papel fundamental, principalmente no que toca
ao desenvolvimento de um mercado da arte cada vez mais rico e globalizado.
10 Ibidem: 100
18
Os desafios colocados à museologia são crescentes e proporcionais às
transformações da sociedade. Os diretores dos museus apercebem-se de que
estes desempenham um papel relevante na formação dos cidadãos e iniciam
atividades públicas cada vez mais frequentes, como visitas guiadas ou
conferências e palestras subordinadas a variados temas. A aproximação aos
públicos através do discurso começa a fazer cada vez mais sentido até se
tornar vector estruturante do programa museológico.
Contudo, aquando da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), é evidente a
destruição ou fecho de muitos museus com coleções de grande importância.
Nesta altura, como nas revoluções anteriormente apresentadas, as pilhagens
são uma constante e a alienação de património volta a verificar-se.
Em 1937, Jean Perrin (1870-1942) cria o Palais de la Décoverte, em
Paris. Este museu pedagógico da ciência e da tecnologia pretendia dar aos
públicos a possibilidade de ver e experimentar a ciência, aproximando-os do
conhecimento, sobretudo os mais jovens.
A 2ª Guerra Mundial (1939-1945) tem também repercussões
significativas na museologia, sobretudo no que toca à exaltação do patriotismo
e à predominância das ideologias políticas de cada nação. O museu é utilizado
de novo, como meio de comunicação entre o poder e os cidadãos.
O prelúdio da crescente importância da função educativa nos museus,
foi já explicitado, mas é verdadeiramente a partir de meados do século XX, que
os museus na sua generalidade se começam a encaminhar nesta direção.
A criação em 1946, do International Council of Museums (ICOM), a
primeira organização profissional não governamental dedicada aos museus,
vem alterar substancialmente o modo como estes se autogeriam e avaliavam.
Com sede em Paris, "o ICOM é a maior organização internacional de museus e
profissionais de museus dedicada à preservação e divulgação do património
natural e cultural mundial, do presente e do futuro, tangível e intangível.”11 O
auxílio aos profissionais de museus passa por áreas como “cooperação e
intercâmbios profissionais; sensibilização e divulgação dos museus; formação
profissional; promoção da ética profissional dos museus; preservação do
património e combate ao tráfico ilícito da propriedade cultural.”12
11 http://www.icom-portugal.org/pagina,123,152.aspx 12 Ibidem
19
As conferências gerais do ICOM passaram a desempenhar um papel
fundamental no desenvolvimento dos museus a partir de então. É assumido
que a museologia é uma ciência prática, subsidiada a conhecimentos de outras
ciências, sendo assim multidisciplinar, mas autónoma no toca à criação do seu
discurso e pensamentos delineadores.
Em 1985, em Lisboa aquando do segundo Workshop Internacional da
Nova Museologia, nasce o Movimento Internacional para uma Nova
Museologia (MINOM)13, apoiado em princípios de justiça e igualdade aplicados
na sociedade e que levam à reflexão do conceito de museologia global. As
diferenças sociais e culturais dos indivíduos podem ser ultrapassadas num
pensamento único e gerador de melhores condições de vida, sendo a
museologia um meio para atingir este fim.
As funções da museologia, recolher, preservar, investigar, gerir e
divulgar os testemunhos do homem e da natureza com fins de educação e
deleite, estão completamente consolidadas e alterando o significado e
produzindo novo conhecimento apoiado na reflexão teórica e prática, esta
ciência pode servir de suporte educacional na formação dos cidadãos, não
apenas a nível cultural e artístico, mas também intelectual e social.
Chegamos então a uma época em que os públicos são parte integrante
e indissociável dos museus, como geradores de discussão e reflexão para
melhor satisfazer as necessidades e expectativas da sociedade em constante
mutação a nível político, económico, social e artístico. Os museus de hoje,
estudam os públicos para melhorar a sua oferta e estreitar laços.
A linha de pensamento seguida até ao momento parece de fácil
compreensão, sendo justificada a evolução do museu até aos nossos dias.
Mas será hoje o museu essa instituição completamente virada para os seus
públicos? Serão as ofertas culturais suficientemente interessantes? Estará o
património verdadeiramente salvaguardado?
“A recente explosão de iniciativas propatrimoniais, muitas vezes
incompetentes ou orientadas por interesses egoístas, e o crescimento das
indústrias do turismo de lazer e do turismo cultural têm gerado numerosos
efeitos negativos no campo social e sobre a preservação do próprio
13 http://www.minom-icom.net/index.php
20
património.”14 A afirmação de Adília Alarcão parece responder às questões
acima colocadas.
Por um lado podemos refletir sobre as mais valias dos museus de hoje
como a maior salvaguarda do património, a aproximação aos públicos ou a
melhor eficácia na comunicação, mas por outro, não podemos esquecer os
perigos que acarretam determinadas ideias pré-concebidas e
institucionalizadas que são tidas em conta sem uma interpretação válida para
cada um dos casos.
Vivemos na sociedade dos excessos e da múltipla oferta a todos os
níveis. Os visitantes dos museus aumentam, mas exigem consequentemente
atividades mais ricas em conteúdo e experiência, que nem todos podem
oferecer. O excessivo número de museus, nacionais, locais, regionais, públicos
ou privados, leva-nos a situações de precariedade e deficiência ao nível dos
recursos económicos e consequentemente humanos. O défice em número e
formação dos recursos humanos dos museus públicos acarreta consequências
inevitáveis e por vezes irreversíveis para os museus, ou para as obras, no que
toca a problemas relacionados conservação, ou conservação preventiva.
Durante muitos anos o inventário (ou o bom inventário) não foi
considerado essencial para o bom funcionamento do museu, hoje sabemos
que é fulcral, pois através dele a salvaguarda do património é mais eficaz, e a
política de incorporações da instituição pode também ser mais fundamentada.
O património in situ, ou seja, o património que deve ser salvaguardado
no seu local de origem sem que possa ser transferido para as instalações do
museu, é também uma preocupação.
A degradação de alguns museus e a falta de recursos que viabilizem a
sua correta manutenção tem estado também em discussão. As instituições que
dependem somente dos subsídios estatais, tendem a correr sérios riscos dada
a atual situação económica global.
Estas são apenas algumas questões prementes que podem ser tidas
em conta quando falamos na falência do museu de hoje.
As políticas de gestão dos museus são estanques e devem obedecer à
legislação em vigor, o que faz com que muitas entidades gestoras de museus
14 ALARCÃO (2009): 9
21
não procurem soluções viáveis e criativas, conforme a lei, para melhor
responder às suas necessidades.
O museu depende somente das pessoas. Das pessoas que o gerem e o
fazem funcionar, e das pessoas que o visitam e através dele adquirem
conhecimento. O individuo é em todos os sentidos parte integrante desta
instituição, e ela dependerá consequentemente dele.
1.1.1 – Ecomuseu
Após entendimento da evolução da instituição museal ao longo dos
tempos, é vital para este projeto uma passagem explicativa sobre o conceito de
ecomuseu. As repercussões do museu na sociedade serão então cada vez
mais evidentes ao longo das próximas páginas. Este conceito é considerado
por muitos autores utópico e inalcançável, mas por outros, o início de uma era
para uma nova museologia, não apenas do discurso mas da comunidade.
A palavra ecomuseu é aplicada pela primeira vez por Robert Poujade
(1928), ministro do ambiente de França, em 1971 aquando da 9ª conferência
geral do ICOM, contudo, os ideais deste conceito haviam sido explanados por
Georges Henri Rivière (1897–1985) e Hugues de Varine (1935), seu substituto
no cargo de presidente do ICOM em 1965.
A relação entre o homem e o seu ambiente natural deverá ser o mote
para o desenvolvimento destes museus do tempo e do espaço, contribuindo a
alteração da visão da política de ordenamento do território com vista às
receitas provenientes do turismo e a valorização das áreas protegidas com
estruturas museográficas que permitissem um maior diálogo com a
comunidade, para a sua real concretização.
O público e a qualidade da relação que mantem com o referente
(museu, exposição, obra) são então as razões motivadoras para novas
concepções na forma de devolver o espaço e o tempo à comunidade. “Un
espejo en el que dicha comunidad se mira para reconocerse, en el que indaga
la explicación del territorio en el que está arraigada, junto a las colectividades
predecesoras, tanto en la discontinuidad como en la continuidad de las
generaciones. Un espejo que esta comunidad ofrece a sus huéspedes para
22
hacerce comprender mejor, com el respeto debido a su trabajo, sus
comportamientos y su intimidad.” 15 Os membros da comunidade, em conjunto
com as instituições que detêm o poder, devem ser fazedores do processo
museológico e nele encontrar retorno melhorando substancialmente a sua vida.
“Un ecomuseu es un instrumento concebido, construido y explotado
conjuntamente por un poder y una comunidad.” 16 A parceria entre a
comunidade e as instituições detentoras de poder administrativo e económico
deve resultar numa construção benéfica para ambas e para o património que
pretendem salvaguardar e valorizar.
Ecomuseu pode então ser caracterizado segundo as seguintes
variáveis: una expresión del tiempo (apresentando o passado, o presente e
preparando o futuro); una interpretación del espacio (de espaços privilegiados
que mantêm uma relação estreita com a sua comunidade ao longo dos tempos
e ao mesmo tempo são dela caracterizadores); un laboratório (onde o estudo
histórico, a formação, a investigação e a cooperação são variáveis
indissociáveis); un conservatório (na medida em que pretende preservar e
conservar o património); una escuela (subordinando as suas atividades a
temáticas ricas à comunidade com vista à compreensão e resolução dos seus
problemas).17
Como instituição do e para o território e a comunidade, o ecomuseu
traduz a ocupação de um espaço físico por um conjunto de pessoas através da
interpretação dos seus testemunhos patrimoniais ao longo dos tempos. Assim
sendo, pode diferenciar-se do museu tradicional no que toca aos seus vectores
caracterizadores. A diferenciação entre o museu tradicional e o ecomuseu, foi
sintetizada por Varine em 1974, no quadro seguidamente apresentado.
15 BOLAÑOS (2002): 284 16 Ibidem. 284 17 Esta sintetização o é resultado da análise dos textos BOLAÑOS (2002)2 RIVIÈRE (1989)2 e HUBERT (1989). Os pontos em comum nas teorias são caracterizadores do conceito interdisciplinar de ecomuseu, que aqui, se pretende servir de apoio à formulação de novas ideias geradoras do projeto a apresentar no decorrer deste trabalho.
23
Museu Tradicional Ecomuseu
Coleção Património
Público Comunidade18
Edifício Território
Tabela 1: A diferenciação entre o museu tradicional e o ecomuseu19
1.1.2 – Património e Comunidade “Le musée est une institution en perpétuelle mutation.” 20 Esta afirmação
de Rivière caracteriza genérica e sumariamente o que ele considera como
museu, ou ecomuseu. As constantes transformações a que se refere são
simplesmente fruto da incontornável relação de dependência entre o museu e
os seus públicos. Ora se estes estão em constate desenvolvimento porque
inseridos numa sociedade mutável, o museu terá também constantemente de
acompanhar essa evolução para melhor se adequar a novas necessidades.
Como se comprovou nas páginas anteriores, ao longo dos séculos, mas
principalmente no século XX, as alterações sociais e culturais foram constantes
e fulcrais para o modo como hoje se encara a mediação entre o museu e os
públicos. Assim, numa sociedade onde as ofertas são múltiplas a todos os
níveis, o museu tem a tarefa de encarar na sua missão uma preocupação
crescente no que toca a modelos de comunicação e interação. As
componentes lúdica e pedagógica nunca devem ser descuradas, devendo
devolver-se ao destinatário da mensagem de modo claro e apelativo os pontos
de partida e de chegada às conclusões apresentadas.
A diversidade de públicos é hoje encarada como uma mais valia para o
museu, sendo as diferenças sociais, económicas, intelectuais ou culturais
trabalhadas para melhor se chegar a cada grupo. As interpretações possíveis
devem ser tratadas pelos técnicos do serviço educativo do museu para que a
18 Pode dizer-se que a comunidade, como criadora e paralelamente destinatária do seu próprio discurso, tem um valor acrescentado. Este princípio será tão válido, que atualmente nas novas concepções museológicas, se pretende dos públicos dos museus que sejam criadores e simultaneamente fruidores do produto do museu. (Esta afirmação será retomada, e devidamente explanada, nas páginas seguintes) 19 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecomuseu 20 DESVALLÉES (1989): 346
24
comunicação gere conhecimento e massa crítica, influenciando os modos de
ver e de compreender o mundo. “Los educadores deben ser capaces de dotar
a los visitantes de instrumentos para cuestionar la comprensión, el significado y
la voz de los mensajes expositivos, aportando nuevas lecturas que
proporcionarán una visión más amplia e crítica de la institución museística.” 21
A aposta na criação de serviços educativos em Portugal apenas se deu
há relativamente 10 anos, com o projeto do Centro de Pedagogia e Animação
do Centro Cultural de Belém. Primeiramente, as atividades centravam-se num
público infantil e juvenil que visitava as instituições no âmbito escolar. “A
escola, ao encaminhar as crianças e os jovens para esses espaços, pressupõe
que a problematização dos usos sociais da memória, das relações e produções
materiais e simbólicas do homem ao longo do tempo, em diferentes sociedades
e culturas possa contribuir para o desenvolvimento de uma atitude cidadã.” 22
Esta efetiva envolvência dos jovens nas problemáticas do museu,
pretende através da memória cultural, da aquisição de conhecimento e da
emoção, sensibilizá-los não apenas para a salvaguarda do seu património, mas
para o entendimento de um mundo que é consequência do passado e no qual
as transformações contemporâneas devem ser cuidadosamente equacionadas.
Este pensamento parecerá conservador, mas não devemos esquecer que o
desequilíbrio global do presente, pela total mediatização da vida pública e até
da privada, pode causar nos jovens o desinteresse pelas suas origens e o culto
das novas formas de comunicação, que devem ser aproveitadas com total
consciência e tentando ao máximo salvaguardar a esfera individual. “El museo
es un elemento de integración educativa y social en tanto que puede articular
una educación formal com la no formal, relacionando las personas com su
barrio, com los medios de comunicación y com las nuevas tecnologías.” 23
A necessidade dos museus de ir ao encontro dos seus públicos efetivou-
-se também com outros grupos como séniores, portadores de deficiência,
minorias (população imigrante e etnias marginalizadas) e comunidades locais,
ansiando os públicos por experiências novas que justifiquem uma relação
efetiva com a instituição museal.
21 JUANOLA e COLOMER (2005): 37 22 NASCIMENTO e ALMEIDA (2008): 3 23 JUANOLA e COLOMER (2005): 33
25
Neste contexto, aproximamo-nos novamente dos princ’pios do
ecomuseu. Tendo a instituiç‹o museal atravŽs do serviço educativo a miss‹o
de proteger e divulgar o patrim—nio em estreita relaç‹o com a comunidade, que
deve ser interveniente regular e n‹o apenas visitante pontual, atravŽs de
parcerias que promovam o desenvolvimento cultural e social de determinado
territ—rio.
A aproximaç‹o de indiv’duos desinteressados pelo seu meio cultural e
social do museu, promove ou pode promover a n’vel local (em primeira
inst‰ncia) a melhoria das condiç›es de vida das comunidades, que fazedoras
do seu discurso e intervenientes na hist—ria quer pelo conhecimento do
passado ou pela construç‹o do futuro, se apresentam no in’cio e no final de
uma cadeia social e cultural, como criadoras e fruidoras do patrim—nio.
Figura 1: Vari‡veis basilares na nova museologia (elaboraç‹o pr—pria)
Sucintamente, a intervenç‹o dos projetos educativos combina assim as
três vari‡veis basilares da nova museologia:
¥ Comunidade: gerou e gera os testemunhos culturais e com eles aprende
sobre o seu passado, presente e futuro;
Comunidade
Patrim—nio Museu
26
• Património: os testemunhos culturais da comunidade do passado ou do
presente que são interpretados para um melhor entendimento do mundo
e do outro (do passado ou do presente);
• Museu: construído pela e para a comunidade é local de memórias,
conhecimento e encontros com a história e com os outros (do passado
ou do presente).
1.1.2.1 – O Projeto Educativo Pretendesse agora refletir sobre as fases necessárias à realização de
um projeto educativo. Esta organização metodológica do modo como se pode
verdadeiramente envolver a comunidade num projeto, pretende abrir caminho a
uma visão rica de acontecimentos museológicos possíveis, que não se
confinam apenas ao domínio ou ao espaço físico da instituição.
A crescente falta de financiamento para atividades culturais tem com
certeza minado o trabalho das instituições, mas cada vez mais se aprenderá a
trabalhar com um mínimo, não razoável, mas inevitavelmente suficiente. A
criatividade desempenha aqui um papel relevante, servindo de apoio à criação
de projetos aliciantes e com parcerias válidas.
O museu pode então ter um papel importante na formação dos
cidadãos, auxiliando os poderes vigentes nas suas tarefas, cada vez mais
difíceis de cumprir.
1ª Fase
Levantamento dos Recursos (diagnóstico da situação)
- sociais grupos sociais e de solidariedade social
- económicos empresas; sectores de atividade; índices de produtividade; população ativa
- culturais equipamentos públicos e privados; situação geográfica; faixas etárias; estratos sociais dos públicos
- educativos rede escolar; educação de adultos; número de professores
- mentais atitudes dominantes; inovações de ponta – artísticas, científicas, tecnológicas
- políticos estrutura político-administrativa; forças políticas e sua organização
27
2ª Fase
Metas a alcançar: Objectivos (quanto mais concretos mais realizáveis)
- no terreno das instituições incentivar a proliferação de instituições para promover a discussão e reflexão democrática
- no tecido social comunicação entre os grupos para enriquecimento social; roteiros turísticos e culturais
- na animação do tecido económico formação profissional e novos postos de trabalho
- na renovação de estratégias educativas novas pedagogias para formação dos alunos
- na dinamização cultural da região estabelecendo parcerias
museu como recurso da comunidade escolar e com produtos culturais de qualidade
- no desenvolvimento integral da região captando parceiros
ambiente; urbanismo; qualidade de vida; desenvolvimento sustentado
- nos comportamentos societários desenvolver atitudes com as minorias
- na animação comunitária centros históricos revitalizados com espaços de entretenimento e lazer
3ª Fase
Estratégias de intervenção museológica
- exposições no museu, em associações e instituições culturais e itinerantes (pelos equipamentos escolares)
- organização de novos projetos nas empresas, centros de saúde ou escolas
- recolha, estudo e constituição de coleções, inventário e pesquisa
apelo à comunidade do seu sentido de preservar as memórias e passado histórico
- partilha de saberes técnico museológicos
fichas de património desenvolvendo o interesse para os jovens levem os seus familiares e amigos; voluntariado nas tarefas de recepção do museu e apoio às exposições
- atividades de extensão educativa promover o estudo da história local e ensino de expressões artísticas
- intervenção comunitária relacionando população ativa com as escolas em temas comuns nas exposições
- discussão de temas importantes para a região e seu futuro debates; congressos; colóquios; encontros...
- protocolos com universidades e museus para novos projetos de investigação e reflexão museológica
Tabelas 2, 3 e 4: Fases do projeto educativo 24
24 Esquema realizado através da análise e resumo do documento DUARTE (2010)
28
1.1.3 Ð Museologia ParticipativaÒ(�) d'impressions sensitives fortes qui accompagnent la vision de l'objet
et renforce son impact ou son message. L'Žcrit devient alors inutile ou
minimum: la pŽdagogie, la signification passent par l'object, as prŽsentation au
visiteur, et non plus par le texte. Cet apport de Georges Henri Rivière est
fondamental. Le exposition ne pourra plus jamais être cet affichage gŽant das
pages d'un livre que l'on serait tenu de dŽchiffrer.Ó 25
A alteraç‹o de paradigma presente na afirmaç‹o advŽm da evoluç‹o
hist—rica do museu que atr‡s se explicitou. A t—nica n‹o pode continuar na
informaç‹o textual, por vezes dif’cil de decifrar (pois Ž constru’da por
investigadores numa linguagem pouco corrente), mas no objecto e nas
emoç›es que o muse—logo e equipa de tŽcnicos do serviço educativo lhe
pretendem atribuir. Como j‡ foi comprovado, as possibilidades de interpretaç‹o
s‹o t‹o infinitas quanto a individualidade de cada ser, mas cabe ˆ equipa do
museu estudar significados e emoç›es para transmitir aos pœblicos o que se
pretende ensinar e o modo como se d‡ a conhecer cada objecto expositivo.
Figura 2: Evoluç‹o da instituiç‹o museal 26
25 LAVALOU (1989): 36126 Esquema baseado na teoria de D’az Balerdi, apresentada na obra La Mirada Inquita (2005): 28(...) tres grandes etapas, cada una de las cuales gira en torno a un vector prioritario al que se supeditan todos los dŽmas. La primera se caracterizar’a por la preponderancia del objeto. La segunda, por la del sujeto. La tercera, por el acento que se pone en la relaci—n entre el sujeto y el objeto. O lo que es lo mismo, conservaci—n, pœblico y communicaci—n.
Objeto ¥ conservaç‹o
Sujeito ¥ pœblico
Objeto + Sujeito ¥ comunicaç‹o
29
O modo como interpretamos a evolução da instituição museal pode
também ser diverso, mas a sua ideologia inerente acaba por caminhar para as
mesmas conclusões.
No esquema acima representado, observamos a evolução tendo em
conta as duas variáveis base, o objeto e o sujeito. É de fácil compreensão que
a comunicação é a fase em que nos encontramos atualmente. Esta deve ser
geradora de emoção e conhecimento para uma verdadeira relação entre a
instituição e os públicos.
Os públicos e a sua experiência são agora mais importantes que tudo o
resto. Não descurando de todas as preocupações inerentes ao museu, como a
preservação, a conservação ou a investigação. O museu deve ser capaz de
equacionar todas as variáveis da melhor forma para que a comunicação se
faça através da experimentação. O público hoje deve ser construtor do museu
e do seu discurso, com as parcerias que se inauguraram com a evolução do
conceito de ecomuseu e com os projetos dos serviços educativos.
Num crescendo cronológico, podemos no esquema abaixo identificar as
fases de evolução do discurso museológico.
Acumulação Objetos Culto
Classificação Contexto Apresentação
Reconstituição Espetáculo Público / espectador
Interatividade Experimentação Público / fazedor
Tabela 5: Evolução do discurso museológico (elaboração própria)
Hoje, e no futuro a museologia deve ser cada vez mais uma ciência da
participação, da investigação teórica, mas também da investigação prática. Os
investigadores e técnicos dos museus devem munir de ferramentas os seus
públicos para que estes se encontrem capazes de fazer o museu.
Conciliando a museologia participativa com o turismo e a cada vez mais
facilitada mobilidade dos indivíduos, é possível aumentar a oferta cultural de
modo cuidado e não gratuito.
30
1.2 – Museologia e Arqueologia
Conceito e âmbito do património arqueológico e paleontológico27
1 – Integram o património arqueológico e paleontológico todos os vestígios, bens e outros
indícios da evolução do planeta, da vida e dos seres humanos:
a) Cuja preservação e estudo permitam traçar a história da vida e da humanidade e a sua
relação com o ambiente;
b) Cuja principal fonte de informação seja constituída por escavações, prospecções,
descobertas ou outros métodos de pesquisa relacionados com o ser humano e o
ambiente que o rodeia.
2 – O património arqueológico integra depósitos estratificados, estruturas, construções,
agrupamentos arquitectónicos, sítios valorizados, bens móveis e monumentos de outra
natureza, bem como o respectivo contexto, quer estejam localizados em meio rural ou urbano,
no solo, subsolo ou em meio submerso, no mar territorial ou na plataforma continental.
3 – Os bens provenientes da realização de trabalhos arqueológicos constituem património
nacional, competindo ao Estado e às Regiões Autónomas proceder ao seu arquivo,
conservação, gestão, valorização e divulgação através dos organismos vocacionados para o
efeito, nos termos da lei.
4 – Entende-se por parque arqueológico qualquer monumento, sítio ou conjunto de
sítios arqueológicos de interesse nacional, integrado num território envolvente marcado
de forma significativa pela intervenção humana passada, território esse que integra e dá
significado ao monumento, sítio ou conjunto de sítios, e cujo ordenamento e gestão
devam ser determinados pela necessidade de garantir a preservação dos testemunhos
arqueológicos aí existentes.
5 – Para os efeitos do disposto no número anterior, entende-se por território envolvente o
contexto natural ou artificial que influencia, estática ou dinamicamente, o modo como o
monumento, sítio ou conjunto de sítios é percebido.
27 Artigo 74.º da Lei n.º 107/2001
31
As comunidades e os forasteiros (turistas) podem em conjunto, se
motivados para tal, viver experiências culturais cada vez mais ricas,
construindo memórias que justifiquem o passado, o presente e também o
futuro.
Nesta fase deve estabelecer-se um paralelo entre a instituição museal e
o património arqueológico, para que se entenda a relação entre museologia e
um conceito comummente relegado para fins de entretenimento e lazer, o de
parque. Pretende caracterizar-se não um tipo de museu ou de parque, mas um
museu-parque onde os dois conceitos se fundem para lúdica, pedagógica e
comunitariamente se apresentarem a origem do homem, da arte e da
ocupação e apropriação de um território. Para esta caracterização contribuem
os conhecimentos anteriormente explicitados, de nova museologia, ecomuseu
e projeto educativo, de modo a que temáticas tão ricas e complexas do ponto
de vista educacional, como as da pré-história, possam ser fruídas pelos
públicos, e compreendidas pela comunidade, de forma simbólica e divertida,
mas também direta e séria.
Nas páginas seguintes é objecto de estudo a arqueologia e sua correta
valorização. A criação de estruturas culturais que abordem estas temáticas é
frequente, mas o que se pretende no projeto a apresentar, é o estudo de todas
as problemáticas que concorrem para uma instituição cultural inovadora, cujos
princípios basilares se apoiam na já apresentada museologia participativa.
“Bens a defender, a usufruir, a explorar de mil maneiras, o património
cultural e natural entra a pouco e pouco na Escola (como objecto de estudo
para os mais velhos, como objecto de sensibilização para os mais novos) e
invade as esferas da governação local e central, já para garantir a sua
preservação, já para atrair turismo e financiamento ou, ainda, prestígio e
poder.”28 Adília Alarcão refere-se aqui às transformações de meados do século
XX que ainda hoje se verificam no que concerne às motivações da salvaguarda
e proteção do património cultural e natural considerando que, “Quando não
alicerçada em bases conceptuais largamente debatidas e experimentadas, a
ânsia de proteger, restaurar e rendibilizar (cultural e/ou economicamente) um
bem patrimonial pode conduzir aos piores resultados.”29
28 ALARCÃO (2009): 12 29 Ibidem. 13
32
1.2.1 – Processo de Musealização de Sítios Arqueológicos
A musealização in situ de testemunhos arqueológicos é uma constante
desde os anos 80 do século XX, o papel do arqueológo ganhou importância
acrescida. Este investigador que interpreta vestígios à primeira vista inócuos
para a maioria dos observadores, tem desde então, a árdua tarefa de
interpretação e construção de metodologias de abordagem de modo a
comunicar e simultaneamente preservar os testemunhos mais antigos da
humanidade. Daí à atualidade esta temática foi-se consolidando quer através
de encontros e congressos, quer através da realização de intervenções
pioneiras que abriram caminho a discussões cada vez mais prementes.
A educação pela arqueologia passou também a desempenhar o seu
papel na consciencialização social para a preservação e conservação do
património com vista à formação da memória colectiva. A valorização dos sítios
para sua apresentação pública é uma forma de conservação ativa, estando
assegurados os meios necessários à manutenção dos vestígios arqueológicos.
A valorização de sítios arqueológicos não pode nunca ser promovida
gratuitamente, e deve apoiar-se em critérios mais ou menos estabelecidos, que
pautam a validade futura do projeto. “Inequivocamente, qualquer ideia de
projecto só será possível depois de terem sido levados a cabo trabalhos de
escavação e investigação. O projecto só poderá alicerçar-se num plano
específico interdisciplinar. O segundo passo será o de avaliar se o local se
inscreve dentro dos critérios estabelecidos, para ser seleccionado como
representativo num plano nacional dos sítios arqueológicos a investir a nível da
sua interpretação e abertura ao público. Ou seja, afirma-se a importância
científica de todas as áreas arqueológicas, mas nem todas apresentam perfil
turístico nem correspondem aos critérios de selecção referenciados.
Eliminados estes problemas e aceite o local como tendo as condições exigidas
para ser aberto ao público, há toda uma série de decisões a ser planeadas em
conjunto: a definição de orçamentos e a filosofia de intervenção – conservação,
restauro e soluções para a optimização de leituras, estruturas de acolhimento,
constituição de equipas, manutenção e tutela da gestão, integração em
circuitos ou itinerários regionais, sinalização correcta e eficaz divulgação.30
30 MATOS (2008): 44
33
Com base nestas sucintas linhas orientadoras apresentadas por Olga Matos,
apresentam-se agora os passos essenciais para a valorização/musealização
de um sítio arqueológico.
1.2.1.1 – Escavação e Investigação “A investigação científica tem que ser o motor inicial e primordial da
actividade arqueológica.” 31 O resultado dessa investigação, apoiada na
descoberta de vestígios relevantes para a construção de teorias sobre o
passado do homem, serve de mote à proteção do património e da memória
colectiva das comunidades. Os vestígios arqueológicos podem surgir em locais
mais ou menos remotos, mas o seu papel no panorama geral pode ser fulcral
para o desenvolvimento de novas teorias e conclusões.
É dado adquirido que a investigação arqueológica pode contribuir para o
desenvolvimento das sociedades atuais, principalmente como já se referiu, na
formação da consciência de um passado que nos é comum, e sem o qual o
presente seria completamente diferente.
1.2.1.2 – Critérios de Representatividade do Sítio Os vestígios do passado devem ser devidamente estudados e
inventariados, para posteriormente se avaliarem as suas reais capacidades de
demonstração dessa memória colectiva aos públicos.
No passado, as escavações eram consideradas local de interesse
científico, mas ingenuamente ou por falta de meios, eram deixadas ao
abandono, o que resultou muitas vezes na sua destruição ou pilhagem.
Hoje, apesar de se reconhecer a escassez de informação em alguns
sítios que consequentemente não podem ser valorizados, todo o seu contributo
é devidamente documentado e são acionados os meios necessários para a sua
possível salvaguarda. Por outro lado, o reconhecimento cultural de outros
sítios, leva a que sejam devidamente classificados segundo as leis vigentes, e
como consequência, protegidos de modo a que se reúnam as condições
favoráveis à sua posterior valorização. Podem considerar-se o valor cultural
dos sítios, a sua adequada conservação e integração em paisagens naturais
31 Ibidem.: 34
34
de comprovado interesse, e a sua inserção geográfica num destino turístico por
excelência, variáveis essenciais para que se considere a sua
valorização/musealização.32
1.2.1.3 – Política de Intervenção Quando é do interesse geral a valorização para posterior abertura ao
público do sítio arqueológico deve ter-se presente a necessidade de integração
do mesmo “na estrutura cultural, social e económica do espaço geográfico”33,
tornando-o num polo dinamizador turística e pedagogicamente.
O distanciamento natural dos públicos em relação aos sítios
arqueológicos é justificado com a sua falta de ferramentas interpretativas para
descodificação dos seus longínquos significados, devendo ser este o princípio
orientador da política de valorização. Para que se forneçam estas ferramentas
tão necessárias, é vital preparar o local evidenciando as suas características e
pormenores, quer através da limpeza e do restauro, quer através da sua
interpretação arqueológica, geológica e antropológica.
Os objectivos culturais e educacionais devem ser delineados para que
se definam as estratégias a seguir.
1.2.1.4 – Interpretação / Reconstituição “Muitas pessoas entendem que a interpretação do património (móvel ou
imóvel) dá dele uma visão sempre mais ou menos distorcida, mas todos
sabemos quanto ajuda a usufruir um monumento ou um sítio ou uma colecção,
se deles tivermos uma informação inteligente, motivadora.”34 Este é o desafio,
tornar a investigação acessível aos públicos de modo motivador, para que
estabeleçam com o património uma verdadeira relação de pertença e memória
do seu passado. Para a concretização deste princípio interpretativo dos
vestígios arqueológicos concorrem inúmeros factores devendo destacar-se as
características do sítio, enaltecendo-as e conferindo-lhes o protagonismo
devido.
32 CALADO e ROCHA (2008): 85 33 SILVA e SILVA (2008): 93 34 ALARCÃO (2009): 14
35
As interpretações, como já foi referido, são tantas quantos os indivíduos
que as fazem, mas neste campo, cabe ao arqueológo e ao museólogo em
conjunto delinear a interpretação que melhor pode tornar o sítio num local de
fruição o mais abrangente possível. Os públicos são variados, é certo, e não se
podem descurar as diferentes elações que serão tiradas tanto por
investigadores e especialistas, como por jovens estudantes ou crianças, pela
população local ou pelos turistas. A tarefa é árdua, mas deve ser trabalhada
para que os resultados sejam os melhores.
A interpretação da informação deve transparecer as motivações,
contextos e modus operandi dos primeiros homens num discurso criativo e
apelativo para que o interesse e análise crítica dos públicos sejam estimulados
e consequentemente se compreenda a origem dos vestígios apresentados e
suas implicações e importância na atualidade.
As reconstituições são elementos aglutinadores das variáveis
apresentadas, pois a interpretação tem a sua realização máxima na
reconstituição do sítio como seria aquando da sua construção e utilização.
Embora seja uma temática cara aos investigadores, o evoluir das tecnologias e
a descoberta de novos sítios por todo o mundo, tem facilitado a tarefa de
interpretação física e até simbólica destes espaços milenares.
A evocação do passado deve na reconstituição ser o mais cuidada
possível, pois é comum a proliferação de reconstituições inócuas em
significado e que apenas apelam ao sentido cénico dos visitantes. As novas
tecnologias no que concerne a materiais para construção de maquetas ou
reconstituições gráficas, audiovisuais ou virtuais estão também suficientemente
desenvolvidas e possibilitam ao investigador e ao técnico ou artista a
construção de modelos que respeitem os vestígios arqueológicos,
reconstruindo o que hipoteticamente seria a sua estrutura e apresentação
inicial. Não se devem mistificar estes processos construtivos. Ao visitante deve
ser fornecido todo o material possível para que saiba de antemão estar perante
uma reconstituição hipotética fundamentada por uma investigação rigorosa.
No que toca a reconstituições é passível ainda referir as reconstituições
de ambientes e vivências nos afamados ateliers. Aqui, mais uma vez, deve
pensar-se cuidadosa e criativamente para que estes não sejam apenas
36
repetições supérfluas de instituição para instituição. Aos públicos deve ser
fornecida a experiência, mas também a investigação que a possibilitou.
Parecerá excessiva a quantidade de informação que deve ser fornecida
aos públicos, mas não será, se as estratégias para a sua apresentação forem
prévia e rigorosamente estudadas.
1.2.1.5 – Gestão e Manutenção A gestão dos sítios musealizados dependerá diretamente do projeto de
intervenção. Esta poderá estar a cargo de organismos públicos ou privados e
daí decorreram todas as especificidades orçamentais e de recursos humanos a
que o projeto estará vinculado.
Contudo, convém aqui reter que mesmo um bom projeto dependerá
crucialmente da sua gestão e manutenção futuras. A manutenção do sítio e de
estruturas afectas, quando se verificam, deve ser convenientemente trabalhada
de modo a que se evitem situações constantes de abandono e degradação
precoces. A relação do sítio com as atividades turísticas da região a que está
afeto pode ser uma mais valia, quando os programas de gestão e manutenção
funcionam inequivocamente.
1.2.1.6 – Infraestruturas A existência ou não de infraestruturas de apoio ao sítio arqueológico
depende normalmente dos recursos económicos disponíveis e da sua
relevância patrimonial.
Mas, existindo ou não centros de acolhimento ou de interpretação, o
visitante deve sentir-se recebido e perceber que o sítio comunica com ele e foi
valorizado para que essa relação se estabeleça com o menor ruído possível.
Assim, pede-se aos autores dos projetos a humildade necessária para com os
vestígios arqueológicos e para com os seus visitantes, em construções que
respeitem as características históricas, artísticas, simbólicas e funcionais dos
bens culturais em questão.
Nesta altura deve também referir-se a importância das paisagens
naturais que normalmente servem de pano de fundo aos sítios arqueológicos.
A diversidade natural dos locais deve ser trabalhada para que se tire o melhor
37
partido possível do envolvimento paisagístico dos sítios que, muitas vezes
desempenha a função de acolhimento dos visitantes.
1.2.1.7 – Comunicação O objectivo primordial da musealização in situ de estruturas
arqueológicas é a recuperação de memórias apagadas pelo tempo e
consequente devolução aos públicos das descobertas sobre os modos de vida
dos seus antepassados, consciencializando-os da urgência da sua
preservação. As políticas de comunicação desempenham então um papel vital
na apresentação e divulgação dos sítios de modo claro e apelativo, mas
informado e rigoroso.
Considerando que as relações do património com os públicos estão a
ser repensadas e estruturadas de modo a que se estabeleça um diálogo efetivo
entre estas duas variáveis, essencialmente através de experiências, devem os
modelos de comunicação ser também repensados.
Os públicos esperam atividades aliciantes e que respondam às suas
necessidades específicas, a comunicação deve satisfazê-las quer se trate de
um grupo de turistas estrangeiros, um grupo de investigadores ou um grupo de
crianças de uma escola local. A oferta deve assim ser variada no que toca por
exemplo a itinerários e visitas propostas. Os materiais de apoio devem também
agrupar vários níveis de informação, para os mais curiosos e para os que
apenas buscam informação sumária. O discurso deve ser acessível e através
de estratégias gráficas em painéis interpretativos e brochuras, ou multimédia
em quiosques digitais ou áudio e vídeo guias o visitante deve iniciar um
processo de descoberta do sítio como melhor lhe convier.
É importante relembrar que quando se trata de património arqueológico
os referentes de que os visitantes dispõem para o seu entendimento, são na
maioria dos casos mínimos, daí a importância das representações hipotéticas
da vida dos primeiros homens. A aproximação é mais evidente quando se
disponibilizam maquetas, documentários ou ilustrações que permitam visualizar
espaços e artefactos desconhecidos nos seus contextos de utilização.
A promoção e divulgação dos sítios devem também ser projetadas com
igual rigor e criatividade. Não esqueçamos que o modo como se divulga o sítio
38
funciona como convite para os visitantes. Nos dias de hoje é inevitável a
presença na internet. Uma boa página de apresentação com acesso à
programação das atividades e a disponibilização de materiais didáticos de
qualidade despertam o interesse de potenciais visitantes. A integração em
circuitos internacionais, nacionais ou regionais pode também ser equacionada
e trazer mais valias não só ao monumento mas também à comunidade local. A
divulgação jornalística quer na televisão ou rádio, embora comporte custos
representa um crescendo no número de visitantes. No campo mais científico é
importante valorizar a investigação sobre o sítio arqueológico em edições da
especialidade que possam de algum modo contribuir para sua divulgação, mas
também para outras descobertas semelhantes. A programação direcionada à
comunidade é também um modo de divulgação, assim como as parcerias com
escolas ou associações locais.
1.2.1.8 – Sinalização A facilidade nas deslocações é hoje um fenómeno caro no que diz
respeito às motivações turísticas dos indivíduos. Assim, para que o património
se inscreva nas suas atividades de eleição, deve o mesmo ser
convenientemente sinalizado e de fácil acesso. Podemos definir duas variáveis
caracterizadoras deste tipo de sinalética, a exterior e a interior.
A exterior é referente à sinalização rodoviária, que deve funcionar a
nível internacional e ser complementada pela sinalização regional e local que
melhor encaminharão os visitantes aos sítios arqueológicos.
A interior, nos percursos e sítios em questão, deve sempre que possível
ser bilingue e visível para que a visita se dê confortável e naturalmente.
39
1.2.2 – Parques Arqueológicos Após entendimento das medidas necessárias à musealização de sítios
arqueológicos, é altura de se passar para um nível mais elevado dessa
valorização e interpretação, a criação de parques arqueológicos.
A criação de parques desta natureza é relativamente recente, tem as
suas origens na criação dos parques naturais, mas apenas se começa a
aproximar do território da investigação arqueológica na década de 90 do século
passado, o que faz com que os projetos ainda não estejam completamente
estruturados e se mantenham em constante evolução.
Estas estruturas caracterizam-se sumariamente pela musealização de
sítios arqueológicos agregada a um museu ou centro interpretativo próprios, ou
encaminhada para os museus normalmente locais, que os tutelam, e pela
existência de uma programação específica que tende a aproximar os públicos
dos testemunhos e contextos do passado.
São poucos os exemplares a que se pode fazer referência, e ainda
menos, a quantidade de informação que na sua generalidade disponibilizam.
Na tabela que se segue, são enumerados os parques que se tomaram
de exemplo. A aproximação a cada um deles, apenas foi possível através da
informação que é disponibilizada na web, que servirá de ponto de partida para
o entendimento das suas características históricas, arqueológicas e espaciais,
organização, estratégia de abordagem aos públicos e programação.
Os exemplos analisados foram divididos em dois grupos dada a sua
natureza. No grupo 1 estão os que não dependem dos sítios arqueológicos
para a realização das suas atividades, apoiando a sua interpretação e
abordagem temática em reconstituições. O grupo 2 refere-se aos parques que
desenvolvem a sua atividade nos sítios arqueológicos a que dizem respeito,
podendo nalguns casos, como já foi ressalvado, existir infraestruturas onde se
encaminham os visitantes e lhes é dada a conhecer a extensão do parque e
suas atividades.
40
Tabela 6: Parques arqueológicos analisados
NOME / SITE REGIÃO PAÍS
1
Parc de la Préhistoire do Musée du Malgré-Tout http://users.skynet.be/cedarc/parc/parc.html Treignes Belgique
Musée de Préhistoire des Gorges du Verdon http://www.museeprehistoire.com/ Quinson France
Parc de Préhistoire de Bretagne http://www.prehistoire.com/index2.php Malansac France
SESTA - Site officiel du Service d'Exploitation des Sites Touristiques de l'Ariège http://www.sesta.fr/
Tarascon-sur- -Ariège France
Le Musée de Préhistoire de Tautavel http://www.tautavel.com/articles-5/99-168-le-musee-de-prehistoire-de-tautavel/ Le Musée de Tautavel – Centre Européen de Pré-histoire http://www.450000ans.com Chasseur de La Préhistoire – L'Homme de Tautavel, Il y a 450 000 ans http://www.tautavel.culture.gouv.fr/
Tautavel France
Flag Fen Archaelogy Park http://www.flagfen.com/ Peterborough England
Archaeolink Prehistory Park http://www.archaeolink.co.uk/ Aberdeenshire Scotland
Parque Arqueológico de Atapuerca http://www.elpais.com/static/viajero/castillaleon/atapuerca/ parque_arqueologico.html http://www.visitasatapuerca.com/
Atapuerca España
Museo de Altamira http://museodealtamira.mcu.es/ Cantabria España
Parque Prehistórico de Málaga http://www.complejohumo.org/ La Araña España
Algaba de Ronda http://www.algabaderonda.com/ Málaga España
Valle Camonica - Archaeopark http://www.invallecamonica.it/aree/risorseculturali/parchitematici/scheda.aspx?IdRisorsa=310&Lingua=ITA http://siti.voli.bs.it/itinera/05/05/preistorica/default.htm
Valle Camonica Italia
2
Parque Nacional Serra da Capivara http://www.fumdham.org.br/parque.asp Piauí Brasil
Parque Arqueológico do Vale do Côa http://www.igespar.pt/pt/monuments/53/ http://www.arte-coa.pt/
Vila Nova de Foz Côa Portugal
Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo http://81.193.119.47/~museu/direita.html http://www.museumacao.pt.vu/
Mação Portugal
41
1.2.2.1 – Caracterização geral Os parques arqueológicos analisados têm em comum o facto de se
apoiarem em investigações arqueológicas consistentes e rigorosas. Na sua
maioria funcionam agregados a museus de arqueologia, pois o património
arqueológico, objecto do parque, é por eles tutelado. Existem casos em que a
relevância de um conjunto de sítios foi o mote para a criação de uma estrutura
independe que pretende dinamizá-los e interpretá-los, com o objectivo de os
devolver à comunidade com condições de acesso e informação melhoradas. A
interpretação dos sítios é apresentada normalmente no local, através de
painéis explicativos, em ambiente rural (quando o espaço do parque é para
isso destinado) através de reconstituições, ou pela realização de exposições
permanentes ou temporárias em infraestruturas criadas para o efeito.
O funcionamento destas estruturas é fundamentado num conjunto
diversificado de atividades para públicos variados, mas maioritariamente
pretende-se atrair a comunidade escolar, que se apresenta como o seu meio
de subsistência.
1.2.2.2 – Organização
O conceito de parque arqueológico ou da pré-história está ainda em
construção, pelo que a escassa oferta tende a procurar cativar os seus
públicos através das experiências cénicas que possibilitam, o que leva a que
muitas vezes acabem por descurar do sentido pedagógico e investigacional em
reconstituições pouco rigorosas.
É também importante que se entenda que a denominação parque,
funciona para estruturas delimitadas espacialmente e que circunscrevem as
suas atividades na sua área limítrofe, mas também, num sentido lato, para
agrupar conjuntos de sítios arqueológicos que podem ser percorridos com ou
sem a presença de pessoal especializado. Neste segundo caso é comum a
existência de uma estrutura de acolhimento que fornece as informações
necessárias sobre a oferta do parque. Normalmente neste centro de
acolhimento existem serviços básicos como sanitários, cafetaria ou restaurante,
mas também de apoio como lojas e salas ou auditórios para a realização de
encontros ou atividades.
42
Retomando a temática das reconstituições, constatou-se nestes
exemplos que elas são o elemento primordial, sendo a partir delas dados a
conhecer os modos de vida da pré-história, comummente através da
reconstrução de sítios arqueológicos em maquetas à escala ou em tamanho
real. É também recorrente o recurso a ilustrações de cenas do quotidiano nas
exposições e nos painéis explicativos e a áudio-guias para apoio às visitas.
No que toca à gestão destes parques, pouca informação é fornecida,
talvez porque na sua maioria dependem de instituições estatais e dos seus
subsídios, ou de apoios e parcerias. A realidade é que em todos a entrada é
paga e os preços semelhantes tanto nos privados como nos públicos, entre os
€5 e os €10 a entrada normal, sendo todas as atividades ou visitas guiadas
acrescidas de valores variáveis. De salientar é o facto de muitos promoverem a
sua autossuficiência, quer através dos lucros com a bilheteira, ou do aluguer de
espaços para eventos e nalguns casos através da venda de produtos
regionais, o que representa uma mais-valia pela aproximação à comunidade.
1.2.2.3 – Programação A diversidade da oferta destes parques é lugar comum, e embora
tenham como público mais frequente a comunidade escolar, é objectivo atingir
um espectro alargado de visitantes. Assim, a programação é nalguns casos
rica e diversificada e conjuga com a pré-história temáticas variadas. Música,
dança, teatro, artes plásticas, literatura e desporto são algumas das áreas que
se pretendem conjugar.
O papel dos serviços educativos acaba por ser fulcral no encontro entre
as sociedades da pré-história e a investigação arqueológica com os diversos
públicos. A oferta no que toca a ateliers é semelhante em todos os parques.
Existem ateliers de arqueologia, caça, pintura, fogo, ferramentas, cerâmica,
pistas e acampamento, na sua maioria com preocupações pedagógicas e não
apenas de entretenimento. Destacam-se algumas variantes interessantes em
que se pode fazer a visita com base em determinado período cronológico, o
que engrandece a oferta e multiplica os itinerários possíveis.
Nos exemplos analisados a facilidade no acesso a visitas guiadas com
marcação prévia é bastante enfatizada, bem como a capacidade para receber
43
pessoas portadoras de deficiência, embora em alguns casos seja visível a falta
de meios ou a existência de acessos próprios para pessoas em cadeiras de
rodas.
A existência de programas de investigação conceituados e em constante
evolução contribui para que se melhore a informação disponibilizada tornando-
-a mais especializada e rigorosa. Normalmente existem centros de estudos e
pesquisa associados aos parques ou aos museus.
A tónica na experiência do visitantes é, ou deverá ser estruturante neste
tipo de instituições, mas nem em todas existe investigação associada à
arqueologia experimental tão relevante nos dias de hoje.
Sendo a sua implantação em ambiente rural e não nos grandes centros
urbanos, é vital nestes parques uma estreita relação com a comunidade local.
As suas memórias e testemunhos devem ser enquadrados numa perspectiva
de cooperação para o enriquecimento cultural, social e económico da região.
1.2.2.4 – Divulgação A tecnologia permite hoje a disseminação da informação a um nível
planetário e instantâneo, o que faz com que seja mais simples e eficaz a
qualquer instituição dar a conhecer a sua existência e a sua programação,
apelando à visita dos públicos através de páginas apelativas. As ferramentas
são cada vez mais acessíveis e através de uma simples página na web os
resultados são visíveis. Contudo, nos exemplos descritos verificou-se a fraca
aposta neste meio de comunicação, e a não atualização de conteúdos, em
alguns casos com anos de atraso. Somos levados a pensar se o parque
encerrou por algum motivo ou se simplesmente não aposta na divulgação.
Contudo, a organização da informação é normalmente invariável, as
diferenças verificam-se na quantidade e qualidade dos conteúdos e na aposta
em visitas ou animações virtuais que permitam ao cibernauta, potencial
visitante, viajar no tempo e sentir o apelo à visita.
Algumas reconstituições com animações multimédia e ilustrações de
qualidade são o suficiente para que se desperte o interesse para temáticas
caras, normalmente tratadas de modo científico e complexo.
44
A acrescentar a estes factores é essencial disponibilizar materiais
pedagógicos de apoio às visitas ou de promoção, o que na generalidade se
verificou. Esses materiais devem ser instrumentos para entendimento das
visitas e atividades do parque, e sempre que possível devem ser específicos
quanto ao público alvo que se pretende atingir.
Uma das áreas mais importantes nestes sites é a dos contactos e
acessos, que muitas vezes foi relegada para segundo plano. É de extrema
importância o destaque que se dá aos acessos e localização do parque, bem
como alojamentos na área limítrofe, para que os visitantes não tenham
qualquer dificuldade na viagem e para que percebam que é simples a chegada
ao destino.
1.2.3 – Um Estudo de Caso - Algaba de Ronda A análise que se segue pretende complementar as conclusões acima
apresentadas através do estudo-caso de um projeto premiado a nível europeu,
que se assemelha nas suas características estruturais ao que se pretende
apresentar posteriormente.
“La labor científica enriquece la labor educativa de forma que ambas
consolidan el proyecto integral para la investigación, conservación y difusión
del patrimonio que se inició en el Centro Algaba de Ronda.”35
A Algaba de Ronda está situada numa propriedade rural nas imediações
da cidade de Ronda, enquadrada por uma paisagem de tipo mediterrâneo com
reconhecida riqueza a nível histórico, geológico e natural. Os trabalhos de
investigação no campo da pré-história recente e os consequentes achados
patrimoniais culminaram na criação de um projeto que se pretende
interdisciplinar, com o principio basilar da interpretação dos dados
arqueológicos através de experiências concretas e didáticas.
O projeto comtempla um parque científico da pré-história e um centro de
educação e congressos onde é objetivo primordial a compreensão dos modos
de vida e conteúdos culturais dos homens da pré-história em cada momento da
sua existência. A estrutura organizacional do parque pressupõem a ordenação
do território e a existência de atividades de subsistência, como a agricultura ou
35 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 146
45
a pecuária, que desempenham assim papéis fundamentais, ao gerar
conhecimento através dos ateliers e ao gerar lucro através das receitas
provenientes da venda dos produtos.
Figura 3: Mapa do parque 36
A visão da experiência proveniente da investigação e da investigação
possibilitada pela experimentação, sendo a última uma ferramenta que permite
interpretar os dados arqueológicos, é o que nos convém analisar no
denominado “proyecto arqueoexperimental” da Algaba de Ronda.
O projeto teve início em 2003 com a construção de um povoado com 60
hectares para contextualização da paisagem e recursos originais da pré-
-história, através da investigação arqueoexperimental. Para a sua realização foi
fulcral, através da experimentação arqueológica, chegar a um conhecimento
profundo sobre como seria a organização e os processos de trabalho destas
sociedades longínquas. O entendimento das indústrias da pedra e da
metalurgia e as suas técnicas construtivas teve em consideração os recursos
disponíveis na época.
36 http://www.algabaderonda.com/
46
Figura 4: Vista aérea da recriação do povoado de Pré-história Recente da Algaba de Ronda (Foto: Juan Terroba)37
A complementar o carácter científico desta experimentação encontramos
a sua função didática pela criação de estruturas que permitem comunicar as
conclusões encontradas, bem como os processos inerentes às mesmas. Os
programas de atividades contemplam o conhecimento do passado pré-histórico
através de experiências lúdicas, para o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos e para o aproveitamento dos recursos naturais do território, e
também o desenvolvimento de um turismo alternativo. Os ateliers disponíveis
são organizados segundo temáticas nucleares como a agricultura e pecuária, a
pré-história e arqueologia, a educação ambiental, a geologia e a ornitologia.
A difusão do conhecimento e a política de sensibilização face ao
património arqueológico e natural local é facilitada pela envolvência da
comunidade, em especial dos artesãos que contribuem com os seus
conhecimentos tecnológicos para a realização do projeto.
37 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 98
47
Figura 5: Atividades educativas e didáticas dirigidas a públicos escolares (Foto: Juan Terroba)38
Os programas educativos e os seus materiais de apoio são desenhados
considerando as características heterogéneas dos variados grupos que
procuram o parque e o centro de educação. É enfatizada a metodologia de
investigação que possibilita as conclusões aplicadas nas atividades e a
proveniência e correta utilização das matérias primas na organização de
cursos, exposições ou documentários.
Figura 6: Detalhe do acesso a uma das cabanas do povoado (Foto: David García)39
O povoado foi construído de raiz no local do parque, o que leva a que a
justificação seja trabalhada com maior rigor para o entendimento correto da
envolvência da paisagem. Numa primeira fase foi necessária a colaboração de
38 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 141 39 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 113
48
especialistas e artesãos para correta aplicação dos dados resultantes da
investigação acerca dos recursos utilizados, formas de extração,
comportamentos e técnicas construtivas. Deve evidenciar-se o facto de todos
os processos terem sido recriados à maneira das primeiras sociedades da pré-
história, desde a utilização das matérias até às formas de construção. Todos os
processos foram organizados e documentados com vista à investigação
arqueoexperimental. A caracterização das sociedades, os contextos e recursos
geológicos e a caracterização da paisagem, nomeadamente pela flora e fauna,
foram experimentados aquando da construção do povoado, e as conclusões
daí resultantes, contribuíram para desenvolvimentos significativos no que toca
à investigação a nível nacional e internacional.
A recriação das industrias da pré-história é em tudo um processo
complexo, não só pela escassa informação comprovada e a proliferação de
teorias hipotéticas não comprovadas, mas pelo carácter laborioso das
experiências necessárias à sua compreensão.
Figura 7: Trabalho experimental do sílex mediante a técnica da pressão (Foto: Juan Terroba)40
No que toca à indústria lítica, este projeto possibilitou o entendimento e
desmistificação de algumas teorias no que concerne a possíveis utilizações
das matérias e as suas relações de distribuição e intercâmbio no território da
península ibérica. As parcerias desempenham aqui um papel relevante,
nomeadamente pela colaboração da Universidade de Granada e do Centro
Nacional de Pesquisa Científica de França (CNRS). 40 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 119
49
A experimentação metalúrgica, cerâmica e têxtil são também focadas, e
apesar do seu carácter trabalhoso e moroso as peças que resultam destas
produções são consideradas de grande qualidade e utilizadas no povoado para
as atividades do quotidiano.
As atividades agropecuárias centram-se no cultivo de cereais e na
fabricação e utilização de ferramentas com base nas técnicas da pré-história,
sem recurso a qualquer componente utilizado na atualidade, com vista ao
entendimento da mobilidade dos povos e aproveitamento dos recursos naturais
disponíveis à milhares de anos.
Numa perspectiva global do entendimento deste projeto com
características tão próprias, somos levados a concluir que o que se objectiva
efetivamente é a possibilidade de se privar num espaço que verdadeiramente
nos transporta para uma sociedade do III e II milénios a.C., visando na sua
estrutura organizacional princípios de autossuficiência e aproveitamento dos
recursos disponíveis para a fomentação de práticas de conservação do
património e intercâmbio de conhecimentos e experiências científicas.
Contudo, a acrescentar à dificuldade no acesso e à escassa sinalização,
é de salientar que o funcionamento deste espaço depende estritamente da
marcação prévia da visita ou atividade, não estando disponível para os turistas
ocasionais que procuram, sem conhecer o projeto, experiências culturais para
enriquecer a sua viagem.
50
51
Capítulo 2
As Terras do Risco
Figura 8: O Rosto do Risco (Foto: autora)
Oh, como surge majestosa e bela, Com viço da criação, a natureza No solitário vale! E o leve insecto E a relva e os matos e a fragrância pura Das boninas da encosta estão contando Mil saudades de Deus, que os há lançado, Com mão profusa, no regaço ameno Da solidão, onde se esconde o justo. E lá campeiam no alto das montanhas Os escalvados píncaros, severos, Quais guardadores de um lugar que é santo; Atalaias que ao longe o mundo observam, Cerrando até o mar o último abrigo Da crença viva, da oração piedosa, Que se ergue a Deus de lábios inocentes. Sobre esta cena o sol verte em torrentes Da manhã o fulgor; a brisa esvai-se Pelos rosmaninhais, e inclina os topos Do zimbro e alecrineiro, ao rés sentados Desses tronos de fragas sobrepostas, Que alpestres matas de medronhos vestem; O rocio da noite à branca rosa No seio derramou frescor suave, E inda existência lhe dará um dia. Formoso ermo do sul, outra vez, salve! 41
41 Excerto do poema A Arrábida (1830) de Alexandre Herculano.
52
É chegado o momento de nos focarmos sobre o património que serve de
pretexto à realização deste estudo, a Serra da Arrábida, mais concretamente
as Terras do Risco, pois “a par do legado cultural, resultante da actividade
humana, também a natureza é considerada um património que pode ser
preservado e explorado para o bem comum ou irreversivelmente delapidado”.42
É essencial dar a conhecer a riqueza histórica e natural que torna a
Serra da Arrábida num local passível de receber um projeto semelhante aos
analisados anteriormente, não apenas para enaltecer a sua importância no que
diz respeito a vestígios arqueológicos da pré-história, mas sobretudo para que
seja reconhecido e preservado como um ecossistema particular, possuidor de
uma biodiversidade e geodiversidade com características únicas a nível
nacional, peninsular e, até nalguns casos, mundial.
O abismo que por vezes se cria entre a população e locais protegidos e
com restrições peculiares como a Arrábida, pode ser transposto através da sua
correta valorização e aproveitamento, numa perspectiva de devolução à
população visando uma estreita relação com a sua memória cultural.
2.1 – A especificidade da paisagem
2.1.1 – Factores naturais A Serra da Arrábida está localizada na extremidade meridional da
Península de Setúbal (Estremadura) e ocupa os concelhos de Setúbal, Palmela
e Sesimbra, numa faixa aproximadamente com largura de 7 quilómetros e
comprimento de 35 quilómetros, sendo a sua altitude máxima de 501 metros no
anticlinal do Formosinho. A área, que compreende 10 800 hectares, é tutelada
pelo Parque Natural da Arrábida (PNA) desde 1976, estando todo o seu
território classificado como Sítio de Especial Interesse para a Conservação da
Natureza. São objectivos do PNA “proteger os valores geológicos, florísticos,
faunísticos e paisagísticos locais bem como testemunhos materiais de ordem
cultural e histórica.”43
42 ALARCÃO (2009): 12 43 http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-Arrabida?res=1680x1050
53
A cadeia rochosa da Arrábida é formada quase exclusivamente por
rochas sedimentares que funcionam, geológica e morfologicamente de barreira
entre o oceano e o continente. A formação das unidades geológicas desta
região remonta aproximadamente ao início do período Jurássico, há cerca de
200 milhões de anos (Tabela 7), quando os continentes Europeu e Americano
ainda faziam parte da mesma massa continental. Até ao final do Cretácico
Inferior (há cerca de 100 milhões de anos) toda esta região da Arrábida esteve
exposta aos fenómenos que originaram a abertura e formação do Oceano
Atlântico, mas, durante o Miocénico a compressão causada pelos movimentos
das placas tectónicas africana e europeia deu origem a um forte enrugamento
que culminou, há cerca de 18 milhões de anos, no alinhamento de relevos que
conhecemos hoje como a cadeia montanhosa da Arrábida.44
Durante milhões de anos a ação da erosão sobre as rochas deu forma
aos relevos que hoje se observam. A Serra do Risco, o ponto mais alto do
litoral continental português, com 380 metros, descrita por Sebastião da Gama
como “fóssil de uma onda”, será o palco do projeto a apresentar, não apenas
pela sua excepcionalidade natural, mas também histórica e pela sua ocupação
milenar hoje comprovada.45
É também importante verificar que os fenómenos erosivos sobre as
rochas calcárias levou ao desenvolvimento de monumentos naturais e
geológicos como as inúmeras grutas que se estendem ao longo da costa,
algumas com elevada relevância no que toca à ocupação humana, os campos
de lapiás e as “marmitas de gigante” da ribeira do Risco. A abundância de
cursos de água nos terrenos argilosos, em conjunto com as cavidades criadas
nos calcários por ação da erosão, levou também à formação de algumas
aberturas particulares nos terrenos, que dão pelo nome de sumidouros, sendo
que o mais conhecido é o Sumidouro da Brecha ou Grande Sumidouro.
A riqueza geológica da Arrábida foi substancialmente explorada pelo
homem para a extração de materiais de construção, como o calcário e o gesso.
Até meados da década de 70 era permitida a extração de Brecha da Arrábida,
uma rocha de origem sedimentar com características únicas a nível nacional e
provavelmente mundial, utilizada como material nobre para fins ornamentais,
44 CAETANO (2010): 17 e 23 45 CALADO et alii (2009): 13-31
54
que pode ser encontrada, por exemplo, na Igreja do Cabo Espichel, no
Convento de Jesus em Setúbal e no Palácio da Pena, em Sintra. Apesar da
indústria extrativa estar cada vez mais dependente e condicionada pela
legislação ambiental que abrange o património natural, na Serra da Arrábida,
perto da Serra do Risco existem em funcionamento pedreiras que se ocupam
da extração de calcário e dolomito, com enorme dimensão e com um impacte
visual muito significativo numa paisagem única.
Tabela 7: Escala cronostratigráfica do Meso-Cenozóico (M.a. – Milhões de anos)46
46 CAETANO et alii (2009): 32
55
A unicidade da paisagem das terras do Risco é indissociável das suas
características florísticas, que pela sua especificidade apresentam complexos
de vegetação sem paralelo em Portugal e provavelmente no Mundo.
A flora da Arrábida é composta por núcleos de vegetação maquis
mediterrânico dada a especificidade do clima temperado com influência
atlântica e do relevo caracteristicamente “acidentado que permitiu a
diferenciação de microclimas e a existência de uma grande diversidade de
espécies que, em determinados lugares, atingem portes inigualáveis”.47
O clima mediterrâneo, que pressupõe duas estações que se opõem de
forma extrema, o verão e o inverno, intercaladas por outras de características
mais amenas, o outono e a primavera, somado à localização litoral na costa
ocidental portuguesa, que se traduz em valores mais elevados de humidade e
maior amenidade nas temperaturas, influenciam a tipicidade da flora,
possibilitando condições ecológicas que culminam na existência de
configurações particulares.
As áreas onde a vegetação se mantém próxima do original foram
classificadas como reservas integrais do PNA, onde o acesso apenas é
permitido para observação e estudo científico, com vista à inalteração dos seus
ecossistemas particulares. São disso exemplo a Mata do Solitário, a Mata
Coberta e a Mata do Vidal.
Neste contexto, e acrescendo a influência humana no uso dos terrenos
na atividade agrícola e pastorícia, a configuração atual da vegetação da
Arrábida permite a identificação de 1450 espécies e subespécies registadas
passíveis de serem utilizadas pelo homem em variados campos. Dessas
espécies destacam-se o carvalho-português (Quercos faginea), a azinheira
(Quercus rotundifolia), o medronheiro (Arbutus unedo), o loureiro (Laurus
nobiles), o zambujeiro (Oleaeuropaea var. sylvestris), o carrasco (Quercus
coccifera), o folhado (Viburnum tinus), a murta (Myrtus communis), o aderno
(Phillyrea latifolia) e, com valor acrescido pela sua raridade, o Narcissus
calcicola (espécie particular com distribuição comedida no território nacional), a
Convolvulus fernandesii e a Euphorbia Pedroi, até agora apenas registadas no
território arrabidense. Podem ainda identificar-se espécies mais comuns como
47 PEREIRA e MENDES (2009): 130
56
orquídeas, orégãos, tomilho, alfazema, rosmaninho, alecrim, salva, aroeira,
zimbro, pilriteiro, funcho, rosa albardeira, pinheiro, cardo e variadas espécies
de cogumelos.48
O coberto vegetal que chegou aos nossos dias não foi em muito
alterado tendo em conta a sua configuração de há três milénios, pelo que é
fácil concluir que as utilizações que hoje reconhecemos na variedade de
espécies de que dispomos na Serra da Arrábida, devem ter também sido
exploradas pelos primeiros ocupantes deste território.
Desde essas sociedades pré-históricas, que estudaremos adiante, até
aproximadamente ao século XIX este território desenvolveu-se naturalmente e
com escassa intervenção humana. Local privilegiado para a prática da caça,
pela fauna terrestre diversificada, viu extintos no início do século XX lobos,
veados e javalis, podendo no entanto hoje encontrar-se os últimos com grande
facilidade dado terem sido recente e anonimamente reintroduzidos. Na
atualidade estão registadas 213 espécies de vertebrados, e inventariadas 130
espécies de insetos e cerca de 450 de escaravelhos.49
No que toca aos vertebrados terrestres identifica-se, essencialmente nas
grutas e arribas, espécies particulares de morcegos como o morcego-de-
peluche (Miniopterus schreibersii), o morcego-rato-grande (Myotis myotis) e o
morcego-de-ferradura-mourisco (Rhinolophus mehelyi), os dois últimos em
perigo de extinção. No restante território podemos encontrar mamíferos como o
coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), o gato-bravo (Felis silvestris), a geneta
(Genetta genetta), o texugo (Melles melles), o saca-rabos (Herpestes
ichneumon), a doninha (Mustella nivallis), a raposa (Vulpes vulpes) e a fuínha
(Martes foina). As condições de inacessibilidade dos afloramentos rochosos
permitem a existência de aves com elevado interesse como a rara águia-de-
bonelli (Hieraetus fasciatus) sendo o caso único a nível nacional de nidificação
em escarpa sobre o mar, o francelho-de-dorso-liso (Falco naumanni) e o
falcão-peregrino (Falco peregrinus), estas espécies protegidas, mas também o
pombo-das-rochas (Columba livia), a coruja-das-torres (Tyto alba), o
andorinhão-real (Apus melba), o Melro-azul (Monticula solitarius), o rabirruivo-
preto (Phoenicurus ochrurus), o bufo-real (Bubo bubo), o bufo-pequeno (Asio
48 Ibidem: 130 49 Ibidem: 132
57
otus), o noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus ruficollis) o andorinhão-pálido
(Apus pallidus), o abelharuco (Merops apiaster), o pica-pau-malhado-grande
(Dendrocopos major).50
A salamandra-comum (Salamandra salamandra), o sapo-comum (Bufo
bufo), a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), a cobra-de-ferradura
(Coluber hippocrepis), a cobra-de-escada (Elaphe scalaris), o sardão (Lacerta
lépida), a lagartixa-ibérica (Podarcis hispânica), são alguns dos anfíbios e
répteis identificáveis.51
De entre as milhares de espécies de invertebrados inclui-se uma das
poucas classificadas como em Perigo Crítico de Extinção pela União
Internacional para a Conservação da Natureza, a aranha cavernícola do Frade
(Anapistula ataecina).52
A riqueza natural a nível nacional e europeu, não se verifica apenas no
plano terrestre, sendo que em 1998 foi delimitada a reserva marinha do PNA.
Intitulada de Parque Marinho Professor Luiz Saldanha contempla cerca de 53
km2 correspondentes a 38 km de costa, onde habitam mais de 1000 espécies
de fauna e flora marinha, entre as quais o roaz corvineiro (Tursiops truncatos)
no estuário do Sado.53 A indissociável relação económica e emocional das
gentes de Sesimbra com o “seu” mar tem alimentado polémicas variadas em
torno da reserva.
2.1.2 – Factores culturais Não é ao acaso que a paisagem da Arrábida aparece cantada por
poetas ao longo dos tempos. A misticidade do local foi desde cedo
reconhecida, e o facto de se manter praticamente inalterado torna-o passível
de um recolhimento e contemplação até hoje explorados.
A passagem de monges anacoretas dos séculos VI a XVIII por esta
região é verificada nos vestígios descobertos em grutas, que utilizavam como
escape ao mundo e para aproximação ao divino, remontado as origens do
topónimo Arrábida, do árabe Rabita, que significa convento.54
50 Ibidem.: 132 51 Ibidem.: 133 52 http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Natural_da_Arrábida 53 PEREIRA e MENDES (2009): 133 e http://www.ccmar.ualg.pt/biomares/parque_marinho.html 54 CALADO et alii (2009): 37
58
No século XVI, com as mesmas motivações, Frei Agostinho da Cruz
(1540-1619) lá se recolheu durante mais de quatro décadas, descrevendo a
serra e as emoções que lhe proporcionava na sua poesia.55
O anteriormente citado Alexandre Herculano (1810-1877) acabou
também por utilizar a sua poesia como meio de enaltecer as maravilhas deste
local, recorrendo igualmente à sua relação estreita com a entidade divina e
com a natureza no seu estado mais selvagem.56
Já no século XX, aconselhado pelos seus médicos devido à sua
debilitada saúde, Sebastião Artur Cardoso da Gama (1924-1952) acaba por
eleger a Arrábida para sua morada permanente. Natural de Vila Nogueira de
Azeitão, desde cedo manteve com a serra uma relação de dependência
emocional que se reflete na sua obra literária. “A Arrábida vai ocupando
Sebastião da Gama. Pela serra passeia, lá contempla, observa, sente o viver
da natureza; transforma-a em espaço de leitura e de escrita; demora-se no
aprofundamento de uma relação intensa com ela. Isso lhe servirá para a cantar
e para a trazer para tema principal do seu primeiro livro, “Serra-Mãe”, datado
de 1945 (…)”57 que teve como mote o poema escrito dois anos antes, assinado
com o pseudónimo de Zé d’Anicha (derivando da denominação da Pedra da
Anicha, um afloramento rochoso do Portinho da Arrábida) que viria a receber o
mesmo nome. Relevante é também o texto de 1949 “A região dos Três
Castelos – circuito turístico” que serve de enquadramento a atividades
realizadas atualmente, nomeadamente em 2009 no âmbito do programa
Ciência Viva no Verão, “A Geologia da Região dos Três Castelos de Sebastião
da Gama”.58
As características morfológicas, biológicas, geológicas, culturais e
simbólicas da Arrábida foram evidenciadas por obras literárias, mas também
pelas marcas da ocupação territorial deixadas ao longo dos tempos. Porto de
abrigo natural na época Romana, lugar ermo e de difícil acesso, como era
considerada na Idade Média, lugar sagrado, comprovado pela construção do
Convento da Arrábida no século XVI, ou residência nobre, pela riqueza dos
55 Elegia II (Da Arrábida) (s/d) 56 A Arrábida (1830) 57 RIBEIRO (2011): 13 58 CALADO et alii (2009)
59
solos e abundância da caça de que é exemplo a Quinta de Calhariz, a Arrábida
teve uma longa ocupação ao longo da história, mas também da pré-história.
Hoje, é possível precisar com maior exatidão os períodos de ocupação
dos nossos antepassados mais remotos, dada a investigação arqueológica que
tem sido levada a cabo no território sesimbrense, desde os finais do século XIX
que possibilitou a edição de uma das primeiras cartas arqueológicas em
Portugal, pelas mãos de Eduardo da Cunha Serrão. “Na verdade, a
investigação arqueológica sesimbrense começou, como vimos, por se focar
exclusivamente no Paleolítico, envolvendo, aliás, alguns dos nomes mais
sonantes da arqueologia portuguesa dos finais do séc. XIX e da primeira
metade do século XX.”59
A grande densidade de vestígios arqueológicos descobertos ficou
durante várias décadas, confinada a teorias de difícil comprovação a nível
global, mas de elevada relevância a nível individual, de que são exemplo a
Lapa do Fumo, referência obrigatória no meio científico nacional, ou a Roça do
Casal do Meio, de que nos ocuparemos com mais pormenor adiante.
A localização marítima privilegiada pela estreita ligação aos estuários
dos rios Tejo e Sado e pela abertura ao oceano Atlântico devem ter sido
preponderantes para o desenvolvimento territorial, económico e social do
território da Arrábida. Embora alguns factos sejam hoje comprováveis, a
investigação dos solos subaquáticos que circundam este território poderá ser
determinante no preenchimento de lacunas temporais nas teorias elaboradas.
Em falta está ainda o intensivo trabalho de inventariação e estudo dos
vestígios recolhidos e a sua comprovação através das técnicas atuais da
arqueologia experimental.60
A investigação iniciada em 2007 e aprofundada em 2009 por técnicos,
alunos e professores da Câmara Municipal de Sesimbra, da Faculdade de
Belas-Artes e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da
Universidade de Évora, originou uma nova carta arqueológica de Sesimbra,
atualizada e com avanços significativos no que concerne à importância das
comunidades pré-históricas sesimbrenses. O território de Setúbal constitui
também alvo de prospecções, visto ser cada vez mais provável a existência de
59 CALADO et alii (2009): 13 60 Ibidem.: 17
60
um proto-estado que abarcaria toda a região da Arrábida. “No decorrer do
projeto «Carta Arqueológica de Sesimbra», foi identificado um vasto complexo
arqueológico da Idade do Bronze (cerca de 1200 a.C.), cuja evidência de maior
escala é o Povoado do Risco, com cerca de 100 hectares, o que o torna num
dos maiores povoados deste período da Europa. Este vasto complexo estende-
se pela Arrábida, o que faz pensar na existência de um «proto-estado» nesta
região, na época da Guerra de Tróia e do tempo dos heróis Aquiles, Heitor ou
da bela Helena, no mundo grego, de Ramsés II no Egito, ou do êxodo dos
judeus com Moisés. Por outro lado, a «Carta Arqueológica de Sesimbra» e a
«Carta Arqueológica de Setúbal», cujo projeto de investigação está a decorrer,
têm possibilitado entender os momentos, as estratégias de ocupação e o
aproveitamento dos recursos do Homem nesta região (…).”61
A excepcionalidade arqueológica da Arrábida, e especificamente das
Terras do Risco, é então justificada pela existência de um povoado da Idade do
Bronze, acima mencionado, de um povoado Neolítico, do monumento Roça do
Casal do Meio e do valioso espólio descoberto na Lapa da Cova.
O povoado do Risco (Idade do Bronze, cerca de 1200 a.C.) apresenta
características únicas, não apenas pela sua extensão, aproximadamente até
ao Portinho da Arrábida, mas também por se situar num local sem estruturas
defensivas construídas ou naturais, mas com um domínio visual privilegiado
sobre todo o território. As prospecções no terreno levam a crer que terá sido de
curta duração, mas que poderia ter um papel comercial fundamental.
As questões simbólicas que marcam a Serra do Risco não foram com
certeza descuradas, o que terá levado os nossos antepassados a reutilizar a
Roça do Casal do Meio, “um caso isolado no que diz respeito às práticas
funerárias da Idade do Bronze em Portugal”62, descoberta por Konrad Spindler
nos anos 70, arqueológo que estudou o Homem do Gelo, Otzi. O monumento
terá sido construído antes de ser utilizado como sepultura para dois indivíduos,
enterrados com objetos votivos e peças de adorno.
Apesar de complexa, a leitura dos vestígios cerâmicos é de elevada
importância na caracterização das ocupações pré-históricas. Na Arrábida é
notável, pela estreita relação entre a terra e o mar, a utilização de grutas para
61 GONÇALVES (2011) 62 CALADO (1993): 67
61
rituais variados, comprovada hoje pela interpretação dos “restos” dos objetos
utilizados.
Anterior ao povoado do Risco, terá sido o dos Prados (Neolítico Final,
cerca de 3000 a.C.), de menor dimensão que se estabelece pela busca dos
recursos agrícolas e pastoris, caracterizadora da revolução neolítica.63
Por fim, é de referência obrigatória a recente descoberta do espólio da
Lapa da Cova, onde se situaria um santuário fenício do qual nos restam contas
de colares, materiais de adorno em ouro e restos de cerâmica manual e
também de roda.
Esta caracterização resumida do espólio arqueológico do Risco é
suficiente para se entender a necessidade emergente de o preservar, estudar,
mas sobretudo apresentar à comunidade. A investigação não deverá servir
apenas para satisfazer os estudiosos que a conseguem perceber e valorizar,
mas sim para se criarem motivos de identificação e construção de
conhecimento na comunidade e nos visitantes, para que a sua relação com o
passado se dê efetiva e adequadamente, e se entenda que os nossos
antepassados não seriam “homens das cavernas”, como é primariamente
instituído no imaginário infantil, mas sim indivíduos pensantes e em constante
construção na busca de meios de subsistência que são hoje adquiridos à priori,
porque por eles foram explorados e inventados.
2.1.3 – Factores Turísticos e Económicos Grande parte dos terrenos da Serra da Arrábida constituem a Quinta de
Calhariz, propriedade do Duque de Palmela, D. Pedro Domingos de Sousa e
Holstein Beck. A agricultura, a pecuária, a vinha, a produção florestal e a
produção de queijos são atividades regulares, das quais se tira proveito dos
recursos naturais do território.
A par destas atividades é de destacar a importância turística da
Arrábida, que nos últimos anos tem levado à sua exploração por empresas do
meio que ai realizam visitas organizadas como percursos pedestres pela serra
e grutas. Estas empresas são detentoras de autorização não apenas do PNA,
como do Duque de Palmela, que numa tentativa de condicionar o trânsito na
63 Para percepção territorial das evidências arqueológicas consultar o Anexo I.
62
área do Parque, optam por autorizar estas atividades em detrimento da
utilização inadequada do espaço. Também a Câmara Municipal de Sesimbra
tem procurado dar a conhecer este património natural e cultural através de
visitas guiadas ou passeios de BTT. A presença domingueira de visitantes
oriundos dos concelhos limítrofes é também relevante, sobretudo na estrada
que “rasga” a Serra desde o concelho de Sesimbra até ao concelho de Setúbal.
Contudo, e apesar de ser condenável pelo impacto negativo que exerce
sobre a paisagem e os ecossistemas naturais deste local, bem como sobre o
espólio arqueológico que se pode ter perdido, a atividade económica por
excelência na Serra da Arrábida, é a extração de inertes.
63
Capítulo 3
Parque da Pré-história da Arrábida
3.1 – Enquadramento de Um Projeto O concelho de Sesimbra tem atualmente cerca de 50 000 habitantes
distribuídos por três freguesias. Até à década de sessenta teve como
atividades económicas centrais as pescas e a agricultura, verificando-se
apenas no último quartel do século XX um crescendo na importância da
atividade turística. Destino turístico com ênfase nos factores sol e praia, sofre
inevitavelmente da instabilidade característica da sazonalidade.
A partir de finais da década de noventa do século XX, outros produtos
turísticos começaram a emergir baseados na viabilização dos recursos dos
patrimónios natural e cultural, que até à data permaneciam marginais dos
fluxos regulares do turismo em Sesimbra. O pretexto da inquestionável riqueza
natural do PNA, atrás explicitada, era então relegado para segundo plano, não
se criando condições de exploração turística convenientes.
A classificação das jazidas de pegadas de dinossauro da Pedra da Mua,
de Lagosteiros e da Pedreira do Avelino como Monumento Natural em 1997, a
criação dos percursos “Chã dos Navegantes” (PR1 - SSB) e “Maravilhas do
Cabo” (PR2 - SSB) em 2005, e a criação da “Rota de Cezimbra” (PR3 -SSB),
percurso pedestre do Castelo medieval à vila, em 2007, foram alguns dos
importantes avanços para a necessária preservação, valorização e divulgação
do património natural.
Quanto ao património cultural, foi em 1998 aprovado o plano
museológico de Sesimbra, agora em fase de revisão. Sesimbra começa a ser
entendida como espaço museológico para o qual é necessário criar uma
narrativa patrimonial coerente. Por todo o território, os monumentos e a
paisagem deixam sobressair vestígios da ocupação humana ao longo dos
tempos. O Castelo reporta a uma paisagem medieval, a Capela do Espírito
Santo dos Mareantes ao hospital medieval do século XV e à arte sacra, a
Fortaleza de Santiago à defesa da costa e às atividades marítimas.
64
De 2007 a 2009 as descobertas arqueológicas, atrás descritas, no
âmbito do projeto da carta arqueológica acabam por completar algumas
lacunas na história e pré-história deste território. A dimensão da descoberta
arqueológica em termos europeus, pela existência do grande complexo da
Idade do Bronze, aliada à importância geológica, biológica e simbólica da
paisagem, devem ser aproveitadas para a construção da narrativa territorial
que se pretende ser motivadora de “uma viagem no tempo” desde a formação
da Terra (recuando 200 milhões de anos) à atualidade.
Hoje, pode considerar-se que reside na valorização e divulgação do
património sesimbrense o meio por excelência de se distinguir e evoluir como
concelho turístico, trabalhando-se o território com uma visão pro-patrimonial e
sustentável, de modo a construir vetores caracterizadores e distintivos no
panorama turístico nacional. O Plano Estratégico de Turismo do Concelho de
Sesimbra, realizado em 2009 e que atualmente se encontra em fase de
implementação, contribuiu também para uma visão mais abrangente do
concelho e dos seus referenciais turísticos. Inaugurando políticas de
valorização e sustentabilidade desafiantes para toda a comunidade pretende-
-se caracterizar e estabelecer a autenticidade de Sesimbra.
A par desta política de valorização deve encorajar-se uma estreita
relação e efetiva participação da comunidade local nas estratégias patrimoniais
adoptadas. Como se viu desde o início neste trabalho, o património do passado
deve ser lugar comum da população do presente de modo a que esta dele se
orgulhe e nele se reveja. A identidade cultural e a memória coletiva são o
caminho para a referida, e necessária, museologia participativa, que conciliada
com a visão turística local deve resultar no aumento quantitativo e,
essencialmente, qualitativo da oferta cultural e turística de modo cuidado e não
gratuito.
Está então lançado o mote para a criação de um Parque da Pré-história
da Arrábida (PPA), onde os visitantes podem viajar no tempo e entender
conceitos tão complexos como longínquos da sua realidade.
65
3.2 – O Papel da Museologia Participativa O abismo que por vezes se cria entre a população e locais protegidos e
com restrições peculiares como a Arrábida, pode ser transposto através da sua
correta valorização e aproveitamento, numa perspectiva de devolução à
população visando uma estreita relação com a sua memória cultural.
É vital reter que apesar de não ser um museu, na primária acepção da
palavra, o PPA deverá ser organizado através dos princípios estruturais da
museologia. A desmistificação desta temática foi já suficientemente abordada
no Capitulo 1, mas deve ser agora realmente assimilada a efetiva importância
pedagógica e social da museologia nos dias de hoje.
O sistema educativo nacional promove cada vez menos a formação nas
áreas da História, Arqueologia e Artes, sendo esta de geração em geração
cada vez mais elementar. Será, neste contexto lugar comum, a importância
destas áreas de estudo na formação dos indivíduos e da sua estrutura
intelectual bem como da sua identidade cultural, fulcrais para o relacionamento
em sociedade.
A atitude dos públicos perante estas temáticas é normalmente
contemplativa, sendo visível o abismo entre eles e os monumentos,
principalmente os de épocas mais remotas. O caminho será então “quebrar o
gelo” dando-as a conhecer através de paralelismos com o presente e
sobretudo através da experimentação. O ato comummente designado por “pôr
a mão na massa” facilita a apreensão e entendimento de conceitos e técnicas
desconhecidos como os dos nossos antepassados.
O PPA deverá ser construído a partir da investigação já constituída,
pelos técnicos e investigadores envolvidos, mas também em parceria com a
comunidade local, promovendo-se o debate sobre as temáticas do património,
a sua salvaguarda, preservação, importância e potencial turístico e no modo
como pode ser catalisador de novas atividades económicas rentáveis. O
envolvimento das pessoas num projeto que se quer para as pessoas, pode ser
um fator vital para o seu sucesso, não só por ser inovador, mas porque será
com certeza motivador. A relação descomprometida que se estabelece com o
património da Arrábida, pode ser contrariada e mesmo, num futuro próximo,
invertida.
66
3.3 – Objectivos Estratégicos
Para a construção do PPA devem então considerar-se os seguintes
objectivos estratégicos:
• consolidar as investigações levadas a cabo nos domínios da geologia,
biologia e arqueologia do território da Arrábida para construção de uma
narrativa pedagógica e acessível a diversos públicos;
• promover a divulgação do património natural e cultural através da
reconstituição histórica apoiada na investigação científica e
arqueológica do território;
• rentabilizar social, cultural e economicamente a Arrábida com vista à
construção de um novo polo de atração turística através de um projeto
inovador que se baseia nos princípios da museologia participativa;
• construir um referente cultural identificável para que a promoção do
parque possa verdadeiramente considerar-se diferenciadora no
panorama turístico nacional e europeu;
• devolver à comunidade local um espaço que lhe estava restrito quer
através do seu envolvimento nas fases de construção do parque, quer
através das atividades que de uma forma lúdica e pedagógica devem
refletir os modos de vida e de exploração dos recursos locais dos seus
antepassados;
• dinamizar a economia local através da promoção dos produtos da
região;
• criar atividades para os mais jovens relacionadas com o conhecimento
e salvaguarda do passado patrimonial na lógica da arqueologia da
paisagem e da arqueologia experimental;
• promover o reaproveitamento de estruturas pré-existentes para a
concretização do parque de modo a que o impacto na paisagem seja
nulo;
• apostar na qualificação e exigência no que diz respeito aos recursos
humanos afetos à equipa de trabalho do parque;
• continuar as prospecções no terreno para que a investigação se
engrandeça com o aparecimento de novas evidências;
67
• identificar e musealizar outros sítios de interesse natural e cultural do
PNA inserindo-os nos circuitos turísticos nacionais;
• motivar a comunidade e os visitantes para a possibilidade de
construção de projetos com escassos recursos financeiros, numa altura
em que a conjuntura nacional e mundial afetam a vivência quotidiana
das famílias.
3.4 – Modelo de Implementação O PPA deverá funcionar como polo dinamizador da atividade natural,
cultural e consequentemente turística da Arrábida, e inevitavelmente como
estudo de caso nos panoramas arqueológico e museológico em Portugal.
Como tal, o carácter inovador da experiência, mas também a atual situação
económica nacional pautam a sua concepção.
Partindo dos escassos recursos financeiros disponíveis e do vasto
processo de investigação, pretendesse construir um processo baseado na
máxima work in progress, em que a participação dos visitantes e da
comunidade dará o mote à criação das estruturas que devem funcionar como
apoio às visitas e aos ateliers.
Numa fase inicial de experimentação e investigação arqueológica, em
parceria com alunos e professores da Universidade de Belas-Artes da
Faculdade de Lisboa, deve iniciar-se a construção de uma cabana, de
cerâmicas, ferramentas e objetos do quotidiano essenciais às comunidades
pré-históricas, em atividades lúdicas e pedagógicas segundo os princípios da
arqueologia experimental.
Esta tipologia de atividades deverá ser desenvolvida ao longo da
construção do parque, dando a conhecer à comunidade local o projeto, para
que se estabeleçam relações de pertença e identificação. Os públicos devem
sentir a necessidade do parque mesmo antes da sua efetiva criação.
O processo participativo que se pretende inaugurar tem em vista os
objectivos da museologia participativa, sendo aberto aos públicos, para que
eles se sintam participantes ativos no mesmo. As conclusões resultantes desta
investigação participada devem sempre que possível ser devolvidas à
comunidade através de debates públicos, colóquios, edição de pequenas
68
publicações ou até através do meio com maior eficácia com a criação de uma
página na web, devidamente trabalhada e atualizada pela equipa de trabalho
envolvida no projeto.
Está em vigor desde o dia 12 de Setembro de 2011 um protocolo de
cooperação entre os municípios de Sesimbra e Setúbal, a Faculdade de Belas-
-Artes da Universidade de Lisboa e a Casa de Calhariz que visa a continuação
da recolha de informação arqueológica e o aprofundamento da investigação
científica para a elaboração dos conteúdos necessários à construção do PPA.
Até ao final de 2013 (período em que vigorará o protocolo), uma comissão de
trabalho eleita pelos representantes do protocolo, com a participação essencial
de representantes do PNA, deverá trabalhar com vista a uma definição oficial
do PPA, um modelo de gestão, negócio e governação, bem como um estudo
de viabilidade económica e um estudo de impacte ambiental. Neste último são
fatores a considerar, as questões sensíveis relacionadas com a fauna e flora
do local, a mobilidade e acessibilidade, a gestão ambiental e o impacto na
paisagem que um projeto no coração do PNA possa acarretar.
3.5 – Narrativas O facto do projeto ter como ponto de partida uma paisagem classificada
com comprovado valor natural e cultural, fá-lo depender inevitavelmente de
duas valências estruturais, a da narrativa natural e a da narrativa cultural.
Para a concepção da narrativa natural do parque concorrem a
necessária descodificação dos enquadramentos geológico, florístico e
faunístico do território, considerando a sua evolução e ocupação ao longo dos
tempos, bem como o importante papel que o PPA pode desempenhar na
organização do espaço e no controle da circulação arbitrária que por vezes tem
consequências tremendas para os habitats. Viabilizando um estudo de impacte
ambiente, o parque deverá sujeitar-se a regras que possibilitam o seu bom
funcionamento, nomeadamente no que diz respeito ao livre trânsito de
visitantes e ao número máximo de participantes em visitas ou atividades
específicas. Existem duas hipótese a equacionar que podem também valorizar
ecologicamente este projeto, a existência de um centro de recuperação de
69
animais selvagens, inexistente na região, e a criação de um espaço de
agricultura biológica à semelhança dos cultivos das comunidades neolíticas.
No que concerne à narrativa cultural, esta de maior complexidade
representativa, deve apostar-se na reconstituição de duas aldeias, uma
correspondente ao povoado Neolítico e a outra ao povoado da Idade do
Bronze, as épocas com maior relevância no território, embora possam ainda
existir reconstituições de períodos anteriores como o Mesolítico. Os dois
espaços museológicos que se pretende que sirvam de ponto de partida aos
percursos pelo parque, são subjugados às temáticas da origem e evolução do
homem, e ao enquadramento cultural, cronológico e territorial do períodos em
questão, novamente com ênfase no Neolítico e na Idade do Bronze.
3.6 – Programa Museológico: Um Projeto Duas Possibilidades No decorrer deste trabalho foram explicitadas e justificadas as variáveis
que concorrem à criação do PPA, numa lógica de preservação e valorização do
património natural e cultural inigualável que caracteriza a Serra da Arrábida.
Deve então, na lógica de construção do programa museológico, considerar-se
o carácter peculiar de uma intervenção deste género num território que
obedece a políticas de preservação e utilização bastante restritivas como as
que pautam o PNA. Neste contexto, é viável e considera-se mais prudente, a
apresentação de duas possibilidades para a efetiva criação do PPA, uma in situ
e uma outra deslocalizada.
3.6.1 – A Utopia do Risco64 A criação do PPA é motivada, em primeira instância, pela descoberta do
grande povoado da Idade do Bronze, pelo que a solução ideal para a sua
concretização será a apropriação do território que outrora foi habitado pelas
sociedades pré-históricas, as Terras do Risco.
Nesta solução, o acesso é efetuado através da estrada de Calhariz até
ao portão das Terras do Risco, onde se encaminham os visitantes para o local
reservado ao estacionamento das viaturas. Nesta área de pedreiras artesanais
abandonada onde não seriam necessárias intervenções para o cumprimento
64 Consultar Anexo II e III.
70
desta função, poderá também existir uma pequena zona de recepção e
acolhimento e uma primeira abordagem à envolvente natural, através do
aproveitamento das pequenas pedreiras para leitura geológica da paisagem.
O percurso para a área central do parque pode depois ser efetuado a
pé, ou de mini bus (elétrico), sendo a informação sobre a paisagem (geologia,
mas em particular fauna e flora) disponibilizada através de painéis fixos ao
longo do percurso, audioguias ou até meios audiovisuais para visionamento no
mini bus ou através de dispositivos portáteis alugados à entrada do parque.
Durante todo o percurso são possíveis derivações, devidamente
controladas, para visitar monumentos dispersos pelo território como as
marmitas de gigante ou grutas de interesse comprovado. Os visitantes devem
na primeira zona de acolhimento ter acesso a toda a informação (guias e
folhetos) necessária à programação da sua visita e às variáveis de segurança e
boa conduta a equacionar durante as visitas.
O percurso continua até ao Casal do Meio onde pode existir uma
cafetaria, através do reaproveitamento de ruínas existentes, e o polo de
interpretação sobre a origem e evolução do homem. Nas imediações é
apresentada uma reconstrução das duas fases do monumento Roça do Casal
do Meio, aproveitando uma clareira natural, partindo do interesse dos visitantes
a visita, ou não, aos vestígios do monumento.
Continuando o percurso pela estrada, sempre com a preocupação de
abordar aspectos paisagísticos e culturais, aproxima-se o grande sumidouro e
o carvalho milenar onde se pode teatralizar a vivência de um xamã na época
pré-histórica.
É chegada então a área central e de serviços de apoio ao parque e aos
visitantes, nas antigas cavalariças (estrutura em ruínas passível de ser
reaproveitada) onde se devem instalar sanitários, uma loja, e espaços
exteriores e interiores para atividades múltiplas de educação e animação
patrimonial. As exposições sobre os períodos culturais em análise, o
Mesolítico, o Neolítico, o Calcolítico, e a Idade do Bronze, devem também ser
equacionadas nesta estrutura. Pretende-se que a abordagem a estas temáticas
passe do global ao local, para que se entenda a relevância dos povoados da
Arrábida no panorama internacional do estudo e investigação da pré-história.
71
Perto desta área de exposições e serviços, devem existir os momentos
de reconstrução das aldeias. A ocupação mesolítica apresentada através de
um acampamento, a revolução neolítica e a Idade do Bronze através de
aldeias. Estes espaços devem ser devidamente delimitados e interpretados, de
modo a que seja visível a evolução técnica e cultural de época para época.
Apelando ao sentido cénico e simbólico do território, propõe-se nas
imediações, a reconstrução da gruta da Lapa da Cova com referência ao
santuário fenício que ai se descobriu. Os visitantes podem neste momento ser
convidados a participar na descoberta do tesouro através da recriação de uma
escavação arqueológica. Associados aos aglomerados habitacionais
reconstruídos funcionam os ateliers, pautados pelas atividades do quotidiano
das comunidades em estudo, como o talhe da pedra, o fogo, a cerâmica, a
tecelagem, a fundição, a caça, a pastorícia, a agricultura, a alimentação, as
artes da guerra ou as artes da morte.
Nos pastos que marcam a paisagem das Terras do Risco é passível a
introdução de animais selvagens como touros e cavalos (num espaço
devidamente delimitado, por questões de segurança evitando qualquer tipo de
acidente) enquadrando o cenário do quotidiano da pré-história.
A concepção apresentada apesar de acarretar variáveis complexas,
para as quais se procuram soluções, nomeadamente no que diz respeito às
questões ambientais e legislativas, deve ser verdadeiramente equacionada. A
realização do PPA com estas características confere-lhe uma identidade
própria e vinculativa como estrutura museológica de relevo no panorama
nacional. O seu sucesso dependerá com certeza da eficaz participação da
comunidade local e da capacidade criativa da equipa de trabalho que
desenvolverá as primeiras atividades.
3.6.2 – A Realidade no Risco
Pelo facto de a Serra do Risco, como área protegida, estar subjugada à
restrita legislação do PNA e pela escassez dos recursos financeiros
disponíveis, é vital equacionar a hipótese da não realização in situ do PPA.
Propõe-se então a sua concepção deslocalizada.
72
Ao conceber o território pela sua riqueza natural, como tem sido
trabalhado ao longo das anteriores páginas, e considerando os vestígios
culturais disponíveis para contar a sua história, rapidamente se apreende o
conceito de Parque da Pré-história da Arrábida, pois ele existe, mesmo sem
uma estrutura física delimitada. Os vestígios e monumentos arqueológicos, os
monumentos geológicos e as particularidades da fauna e da flora da Arrábida,
podem ser agrupados em inúmeros percursos temáticos e atividades
específicas, que organizados numa programação coerente organizada através
de um pensamento científico e comunicacional comum, dão corpo à estrutura
museológica que se pretende.
Na impossibilidade de se reconstruir o passado no seu local concreto,
deve conceber-se um centro expositivo de interpretação (que poderá funcionar
fora dos limites da Serra) onde que se dão a conhecer os contextos e
narrativas trabalhados na investigação e onde se disponibiliza a informação
necessária ao encaminhamento dos visitantes para os percursos existentes. As
atividades de arqueologia experimental, propostas anteriormente, bem como a
construção de cabanas são passíveis com poucos recursos e essenciais para a
lógica construtiva do parque no imaginário da população.
Esta solução depende da correta musealização dos sítios de interesse
que se referem nos percursos e, inevitavelmente, da boa organização do
centro interpretativo que se pretende que descentralize as atenções pelo
território. A oferta variada e criativa no que toca às atividades é também fulcral
para que os públicos se sintam motivados a visitar o PPA e a participar na sua
construção.
3.7 – Modelo de Comunicação Uma das temáticas mais debatidas na atualidade no mundo dos museus
é a sua importância na vida social para que se justifique o seu financiamento
público. É um facto que neste trabalho já foi suficientemente justificada essa
importância, e que o que estará em causa não será o financiamento quer seja
ele público ou privado. O que falta explanar, é que a importância social só
poderá ser efectivada consoante a visão estratégica, objectivos e modelos
73
construídos. As estruturas museológicas têm hoje de ser concebidas
criativamente através de modelos de gestão e comunicação sustentáveis.
A vivência da maioria das famílias, potenciais visitantes destas
estruturas, é hoje desenhada segundo critérios prioritários de sobrevivência.
Para estes critérios concorrem necessidades básicas como a habitação, a
alimentação, o vestuário, e outras, numa lista em que a educação, mais
concretamente a educação patrimonial, as atividades culturais e o lazer estão
no vértice mais distante.
Neste contexto, devem exigir-se aos públicos contribuições que vão de
encontro às suas possibilidades, mas sobretudo, devem criar-se factores
motivadores que caracterizem as experiências disponibilizadas como únicas,
onde a par da diversão, quase que subliminarmente, exista construção de
conhecimento. A instituição museal pode considerar-se assim um equipamento
social e educacional básico.
Estas variáveis devem ser parte integrante do modelo de divulgação e
comunicação do PPA, funcionando ele para qualquer uma das propostas acima
apresentadas, e no processo de construção de referentes sugestivos que
apelem ao imaginário dos visitantes.
O público escolar da grande Lisboa, os visitantes ocasionais de fim-de-
-semana, o público dos aglomerados urbanos limítrofes, os turistas que
procuram atividades diferentes no âmbito do turismo cultural e da natureza, os
estudantes, investigadores e interessados nas temáticas abordadas, e a
população local, são o universo que frequentará o PPA. A diversidade entre os
públicos leva a que seja fulcral o desenvolvimento de várias níveis de
conhecimento e linguagem para que nenhum grupo seja excluído. Apenas os
estudantes e investigadores da área têm facilidade em apreender conceitos tão
distantes e de percepcionar a monumentalidade dos sítios arqueológicos,
mesmo em casos em que os vestígios sejam praticamente inexistentes. A
maioria dos públicos não terá essa facilidade, pelo que a utilização de uma
linguagem simples e apelativa com referentes da atualidade, facilita a
compreensão dos modos de vida das primeiras comunidades. Na realidade, as
atividades são semelhantes, a caça, a construção, a cerâmica, apenas variam
as técnicas e matérias disponíveis à data, e o modo como se percepcionaria o
74
território. Podem então estabelecer-se paralelos concretos com vista à eficácia
do discurso patrimonial.
Na ótica do utilizador, devem considerar-se os fatores surpresa,
inovação e experimentação em atividades o mais ricas possível. No que
concerne ao património natural devem equacionar-se parcerias com empresas
ou associações que operam na Arrábida para a realização de percursos
pedestres, escalada e rapel, espeleologia, BTT ou observação da fauna e flora.
No campo do património cultural, os referidos ateliers são vitais e devem
funcionar com uma periodicidade específica, dependente das condições
logísticas disponíveis. A atividade arqueológica permanente e inserida em
visitas de grupo desempenha também um importante papel para o
entendimento da missão do PPA. A programação cultural pode ser tão vasta
quanto o que se desejar, sempre tendo em vista os objectivos e missão do
parque. O teatro, a música, a dança ou as artes plásticas podem ser inseridos
em encontros ou espetáculos específicos. É também de extrema importância o
desenvolvimento da atividade científica através de colóquios, encontros e
debates abertos à comunidade, e da edição de estudos resultantes dos
avanços nas investigações.
Para que o PPA seja considerado uma estrutura de relevante interesse
é necessária a aposta na sua comunicação, interna e externa.
A comunicação interna prende-se com todos os problemas de
sinalização e acessibilidade dos percursos e monumentos que se pretendem
atores principais neste processo de construção. A correta marcação e limpeza
dos percurso é essencial, para que os visitantes identifiquem que estão no
parque e não num simples trilho abandonado. A informação disponibilizada
pelos diversos meios de comunicação interna como painéis, audioguias ou
suportes multimédia deve ser cuidada e trabalhada considerando a diversidade
de públicos existente, para que se possa ter maior retorno. Neste campo é
ainda necessário um vasto trabalho de identificação e musealização dos
monumentos arqueológicos de interesse comprovado que se podem divulgar
no PPA para que a sua importância seja compreensível e não questionada.
O plano de divulgação externa do parque deve passar não apenas pelos
suportes gráficos de apoio às visitas como folhetos, roteiros e mapas, mas pela
criação de uma plataforma de fácil acesso (página web) onde, através de
75
animações multimédia, vídeos, jogos ou recriações sejam dados a conhecer os
conteúdos científicos da estrutura museológica. É de máxima importância a
promoção nas escolas, junto dos professores e alunos através de atividades
especificas que os tornem interessados e os levem a divulgar o parque junto
das suas famílias e amigos. A proximidade à comunidade local passa pela
conjugação da atividade do parque com atividades comerciais locais e pela
promoção de debates sobre temáticas de interesse comum. As publicações já
referidas e a edição de suportes multimédia, como DVD’s, bem como a
realização de exposições temporárias, itinerantes ou não, são também meios
relevantes. A atual parceria com a Faculdade de Belas-Artes deve ser
aproveitada com vista à criação de atividades de investigação que possam
lançar a discussão sobre o caso inédito do PPA, em Portugal e na Europa, com
vista a divulgá-lo à comunidade científica.
O processo de construção peculiar que deve ser inaugurado na criação
do PPA, fá-lo depender em grande parte do sucesso e impacto da sua
comunicação. Deverão então ser equacionadas, desde o início do processo,
estratégias comunicativas de curto prazo, que em constante mutação, devem
refletir e dar a conhecer todas as fases do processo de construção.
3.8 – Matriz FOFA É essencial à realização de qualquer projeto a sua análise segundo uma
matriz FOFA, em que as Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças são
equacionadas para melhor se construírem as suas estratégias e objectivos. A
análise apresentada é possível dada a conjuntura atual de fatores que
concorrem à realização do PPA, podendo a mesma ser alterada à medida que
se alteram as condições do projeto.
Assim, este cruzamento hipotético de fatores, deve ser realizado a cada
fase do projeto para que através de uma avaliação eficaz, o mesmo se possa
moldar às necessidades identificadas.
76
Tabela 8: Matriz FOFA do projeto do Parque da Pré-história da Arrábida
FORÇAS FRAQUEZAS
• Proximidade de grandes centros urbanos, nomeadamente de Lisboa;
• Facilidade e rapidez dos acessos; • Riqueza natural e cultural inexplorada; • Binómio natural serra e mar; • Riqueza natural que propícia o desporto de
aventura; • Reconhecimento da população em geral na
necessidade de criar polos turísticos dinamizadores e atrativos que possam desenvolver economicamente a região;
• Projeto pioneiro no território nacional que pretende seguir as lógicas de sucesso comprovadas noutros países da Europa;
• Interesse público e privado na viabilização, rentabilização e divulgação do território e seu património, nomeadamente dos municípios de Sesimbra e Setúbal e da Casa de Calhariz;
• A atratividade do lugar baseada na sua invulgar beleza cénica;
• A especial relevância científica, pedagógica e cultural do património natural e cultural da região.
• Deficiente exploração do interesse científico e natural da Arrábida até aos dias de hoje;
• Falta de referentes para criação de um discurso comum a diversos públicos pela inexistência de um marco cultural facilmente identificável;
• Sinalética insuficiente ao longo de todo o PNA e abandono de estruturas de contemplação ou interpretação da paisagem;
• Défice de sinalização nos percursos pedestres que levam aos sítios de interesse arqueológico;
• Falta de material de divulgação; • Inexistência de propostas turísticas concretas e
sustentáveis em torno do património natural e cultural da Arrábida que possam motivar os operadores turísticos e consequentemente os seus clientes;
• Falta de alojamento turístico em áreas rurais que promovam o desenvolvimento do turismo de natureza;
• Fiscalização insuficiente dos usos indevidos do território do PNA;
• Inexistência de estruturas de apoio aos visitantes e de centros interpretativos.
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
• Preservação da paisagem de modo mais controlado;
• Criação de um produto cultural, pedagógico e turístico inovador;
• Devolução da história à comunidade local; • Valorização da região numa época de crise
económica e social; • Divulgação internacional na rede de parques
arqueológicos; • Possibilidade de parcerias nacionais e
internacionais com universidades e instituições que operam nos campos da arqueologia experimental e da museologia;
• Inauguração de parcerias efetivas com a comunidade na construção do parque;
• Criação de postos de trabalho diretos e indiretos, muitos deles qualificados;
• Possibilidade de reabilitação de edificações degradadas e inutilizadas, com vista à criação de locais de interpretação do património natural e cultural.
• Existência de políticas patrimoniais que visam a lógica inversa à utilização e rentabilização do património cultural e sobretudo do património natural;
• Concorrência de destinos com maior oferta cultural e maior capacidade de promoção e divulgação da sua programação;
• Relutância do PNA quanto à exploração do território protegido;
• Legislação por vezes castradora no que toca à mobilidade dos visitantes pelo parque;
• Relação descomprometida e por vezes desinteressada da população local com a Serra da Arrábida;
• Relação hostil da população local com o PNA pelas constantes proibições, nomeadamente quanto à Reserva Marítima;
• Falta de interesse por parte da comunidade local; • Dificuldade em fidelizar públicos pela escassa
oferta de turismo da natureza; • Excessiva massificação que se prevê para
empreendimentos turísticos em Sesimbra.
77
SÍNTESE FINAL
78
A Arrábida, hoje candidata a Património Mundial da UNESCO ergue-se
na paisagem há milhões de anos e presencia a vivência do homem desde a
pré-história. Não será impossível imaginar este território aquando da sua
ocupação pelas comunidades do Neolítico ou da Idade do Bronze, mas será
para isso como se verificou, necessária uma interpretação cuidada dos
vestígios dessa ocupação para que possa ser comunicada sem se
desconfigurar a riqueza natural e cultural que o caracteriza.
Neste contexto, a investigação apresentada pretende despoletar o
debate saudável que antecede a realização do Parque da Pré-história e
apresentar um caminho possível para a sua concretização.
A caracterização das fases da construção do museu nos diferentes
contextos cronológicos apresentados e a percepção da direção que seguiu, no
que concerne ao seu relacionamento com os públicos, possibilitou a introdução
do conceito de Museologia Participativa neste estudo. É certo que os princípios
que lhe estão intrínsecos têm vindo gradualmente a ser implementados e
testados pelas instituições culturais, nomeadamente na realização de
atividades com públicos escolares, mas pretende-se agora vincar a sua
importância na medida em que poderá estabelecer-se aquando da criação das
instituições, visando a participação das comunidades locais numa ótica
construtiva em que se consideram especificações culturais e sociais
características do contexto, bem como o desenvolvimento do sentido estético,
artístico, critico e intelectual dos sujeitos.
A salvaguarda do património será assegurada se as comunidades locais
desempenharem o seu papel de protetoras e comunicadoras da sua identidade
cultural. Para isso, devem estas ser motivadas pela apresentação de dados
concretos e apelativos para construção de uma memória histórica comum e
para possibilitar ou facilitar a sua leitura da paisagem e compreensão do
território.
Esta concepção museológica na qual se pretende uma transformação
fundamental dos visitantes, comummente agentes passivos, em agentes ativos
no contexto patrimonial, deve agora ser trabalhada no caso concreto do Parque
da Pré-história da Arrábida, com base no modelo de implementação e no
modelo de comunicação apresentados.
79
Verificou-se que a dispersão e falta de informação no que diz respeito
ao património arqueológico do concelho de Sesimbra despoleta o desinteresse
dos públicos. Acrescendo a esse factor existe ainda a restrita política de
valorização e divulgação do património natural do Parque Natural da Arrábida.
A educação patrimonial deve ser então um objetivo assumido na criação
desta instituição que permite aglutinar o conhecimento cultural e natural do
território da Arrábida num programa coerente e rico que lhe possa atribuir novo
valor e significado junto dos públicos da atualidade.
Embora se tenha verificado que a valorização de sítios arqueológicos, e
sobretudo a apresentação de contextos relacionados com as comunidades pré-
históricas, se encontra ainda num nível primário de desenvolvimento no
território nacional, é exequível a sua exploração em projetos participados e que
primem pela valorização dos recursos locais. A necessidade de criar uma
estrutura que encaminhe e organize o território e os seus testemunhos
reforçando a identidade cultural poderá possibilitar, nestes moldes, a maior
proteção do património e o desenvolvimento de atividades económicas e
turísticas sustentáveis em torno dele.
A presente investigação poderá então contribuir para:
a) a reflexão acerca do lugar da chamada Museologia Participativa na
construção conceptual e programática das instituições museológicas a
partir do desenvolvimento de princípios inaugurados na concepção da
ecomuseologia e da nova museologia;
b) despoletar uma nova leitura do património arqueológico e natural e sua
valorização, programação e divulgação tendo em vista a sua
salvaguarda e investigação constantes;
c) equacionar as variáveis sociais, económicas, ambientais, culturais e
turísticas do território na criação de um projeto que pretende valorizar a
região em que se insere e os seus habitantes;
d) congregar vários conhecimentos para construção de narrativas em torno
do património natural e cultural num só projeto;
e) aglutinar os resultados da investigação do património da Arrábida de
modo a que se possam, segundo critérios pedagógicos, chegar a
narrativas concretas para apresentação pública de dados biológicos,
geológicos e arqueológicos;
80
f) dar o mote para o diálogo entre as instituições e a comunidade com
vista à criação do Parque da Pré-história da Arrábida;
g) lançar hipóteses de concretização práticas em torno das quais se podem
iniciar os trabalhos de divulgação e comunicação do Parque apoiados
na máxima work in progress.
Neste contexto, pode sumariamente descrever-se a organização do
Parque da Pré-história da Arrábida considerando as seguintes linhas
orientadoras:
1. existência de duas narrativas base, uma em torno do património cultural e
outra em torno do património natural:
1.1. património cultural: abordar as temáticas que concorrem à
compreensão das origens do homem e sua evolução, bem como
características específicas dos movimentos culturais em análise através
de exposições e reconstituições variadas;
1.2. património natural: possibilitar várias leituras da paisagem segundo
critérios geológicos e biológicos para o entendimento da utilização dos
recursos naturais do território, mas também com vista a promover a
valorização e proteção de ecossistemas particulares;
2. equacionar as reais hipóteses de realização do projeto segundo as duas
propostas apresentadas:
2.1. in situ: no território das Terras do Risco criar infraestruturas que
permitam a visita e permanência no local, para atividades específicas
inseridas na programação do PPA relacionadas com as exposições,
monumentos e reconstituições existentes;
2.2. deslocalizada: organizar o território de modo conceptual para que possa
ser comunicado como um todo num polo centralizador que encaminhe
os visitantes e lhes dê a conhecer as atividades do PPA;
3. iniciar o processo de criação do PPA (considerando qualquer uma das
propostas acima apresentadas) segundo os princípios da Museologia
Participativa em atividades experimentais que visem a continuidade da
investigação e o início dos trabalhos da instituição cultural;
4. implementar o modelo de comunicação para que o PPA se institua no
imaginário local como necessário e fulcral para o desenvolvimento das
atividades culturais e turísticas da região.
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BIBLIOGRAFIA
82
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ANEXOS
Fontes: http://maps.google.pt/maps?hl=pt-PT&tab=wl e http://sesimbrar.blogspot.com/2009/01/os-riscos-e-o-risco.html
ANEXO I
As Terras do Risco
Pedreiras Industriais
Pedreiras Artesanais
Quinta de Calhariz
1 Marmitas de Gigante
2 Roça do Casal do Meio
3 Povoado do Risco (Idade do Bronze)
4 Povoado dos Prados(Neolítico)
1
2
3 4
II
Fonte: http://maps.google.pt/maps?hl=pt-PT&tab=wl
ANEXO II
Roteiro do Parque da Pré-história da Arrábida
III
1
2 4
3
5
6
789
10
1112
Acesso ao Parque
Zona de estacionamento com recepção e acolhimento
Marmitas de Gigante
Polo expositivo 1:- origem e evolução do Homem - reconstituição da Roça do Casal do Meio
Roça do Casal do Meio
O grande sumidouro e o carvalho milenar
Área de serviços e Polo expositivo 2: - interpretação dos períodos culturais em análise
Acampamento Mesolítico
Aldeia Neolítica
Aldeia da Idade do Bronze
Reconstituição da Lapa da Cova
Pastos com gado em liberdade
1
2
4
3
5
6
7
8
9
10
11
12
IV
As Terras do Risco. (29/05/2011)
ANEXO III
Galeria de Imagens(Fotos: autora)
V
As Pedreiras. (17/10/2010)
Ruínas do Casal do Meio. (17/10/2010)
VI
Marmita de Gigante da Ribeira do Risco. (18/04/2011)
Vestígios do monumento Roça do Casal do Meio. (29/05/2010)
VII
O Grande Sumidouro. (29/05/2010)
O pequeno sumidouro. (29/05/2010)
VIII
O carvalho milenar. (29/05/2010)
Antigas cavalariças do Risco. (02/04/2011)
IX
O fogo. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)
Uma refeição pré-histórica. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)
X
O talhe da pedra. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)
Construção de um machado pré-histórico. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)
XI
Os prados do Risco. (29/05/2010)
Do Cabeço do Jaspe. (26/03/2011)
XII
Anfiteatro natural da Pedreira de Brecha da Arrábida. (26/03/2011)
Marcas de extração da Brecha da Arrábida. (26/03/2011)
XIII
O acervo arqueológico da Arrábida. (18/04/2011)
Maqueta de uma cabana pré-histórica. (12/08/2011)