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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 1
ESTUDOS Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina a em alimentos:
ocorrência, significado e fatores que afetam a sua presença 3
Aplicação das técnicas de "headspace" estático e cromatografia a gás com detector de massas
(cg/ms) para extração e identificação de compostos orgânicos voláteis como contaminantes de
alimentos, bebidas e águas 7
INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de diarréia no município de São Paulo, SP, Março de 2002 14
ESTUDOS A notificação de casos suspeitos de botulismo e a identificação de outras causas – reação
adversa ao celecoxib, São Paulo, Brasil – Dezembro de 2002 18
INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de Hepatite A no município de Campos do Jordão, SP, 2002-2003 21
DADOS ESTATÍSTICOS Botulismo: Casos confirmados notificados ao CVE, segundo local de ocorrência e outras
variáveis epidemiológicas, Estado de São Paulo e Brasil, 1997-2003 25
RELATÓRIO DE ATIVIDADES Atividades desenvolvidas pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar –
DDTHA/CVE-SES/SP, Ano de 2003 26
Publicação bimestral da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). Av. Dr. Arnaldo, 351 – 6º andar – sala 607, São Paulo, SP, CEP 01246-001, Tel. 3081-9804, Fax 11 3066-8258; e-mail:[email protected]
REV NET - DTA Online Vol. 4, No. 1, 5 de janeiro de 2004
DTA RREEVV NNEETT
DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 2
Acesso eletrônico
Disponível em versão eletrônica para a Internet no site do
CVE:
URL: http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/dta_menu.htm
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Centro de Vigilância Epidemiológica Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar Editores Maria Bernadete de Paula Eduardo, Editor Geral São Paulo, São Paulo, BR Alexandre J. da Silva, Editor Associado Internacional Atlanta, Geórgia, USA Jeremy Sobel, Editor Associado Internacional Atlanta, Geórgia, USA Eliseu Alves Waldman, Editor Associado São Paulo, São Paulo, BR Hillegonda Maria Dutilh Novaes, Editor Associado São Paulo, São Paulo, BR Elizabeth Marie Katsuya, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR Letícia Maria de Campos, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR Lilian Nunes Schiavon, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR Maria Lúcia R. de Mello, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR
A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA é publicada bimestralmente pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, do Centro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Divulga resultados de pesquisas originais, revisões, discussão de caso (p. ex., investigação de surtos), estatísticas, comentários, notas científicas e outros eventos. É uma revista especializada na área de doenças transmitidas por alimentos e campos relacionados, com ênfase em epidemiologia. Vem sendo publicada desde 2001 (primeiro número em novembro de 2001): nos meses de janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro. As opiniões expressadas pelos autores contribuintes à REVNET DTA não refletem necessariamente a opinião da Divisão de Doenças de Transmissão e Alimentar e do Centro de Vigilância Epidemiológica ou das instituições a que pertencem os autores. Envie seu artigo para: [email protected]
e-mail:
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 3
ESTUDOS
Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina a em alimentos: ocorrência, significado e fatores que afetam a sua presença a Marta H. Taniwaki1; Cláudia P. Martins1; Beatriz T. Iamanaka1; Rosangela S. S. F. Leite1; Eduardo Vicente1; Margarete M. Okazaki1 1Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL, Campinas, SP, Brasil. Fonte financiamento: FAPESP (a) Trabalho apresentado na I Mostra Estadual de Experiências Bem Sucedidas em Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar e Segurança de Alimentos (I EXPO-EPI DTA) e II Simpósio de Segurança Alimentar, em pôster, em 23 e 24 de setembro de 2002, no Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, Capital.
Resumo A ocratoxina A tem sido encontrada em vários tipos de alimentos. O conhecimento da distribuição das espécies
toxigênicas nos alimentos é de real importância, porque possibilita fornecer parâmetros para o controle e prevenção da
produção de toxinas pelos fungos. Os objetivos do presente trabalho são: (i) verificar a presença de Aspergillus niger e
Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina em frutas secas, que são os alimentos em que a presença destas
espécies é comum; (ii) verificar a presença de ocratoxina nestes produtos. Setenta e seis amostras de frutas secas
foram analisadas, entre estas: passas de uva escura, passas de uva clara, ameixas pretas, damascos secos, figos
secos e tâmaras. Foi encontrada a presença de A. niger/carbonarius em 2 a 90% das amostras de passas de uva
escura; 2 a 8% das passas de uva clara; 2 a 60% em ameixas pretas; 2 a 38% em figos secos e 6 a 86% em tâmaras.
Uma amostra de passa de uva clara apresentou 18% de infecção por A. flavus e, uma amostra de tâmara apresentou,
além de A. niger/carbonarius, a infecção de 24% de A. ochraceus. Nos testes de toxigenicidade, 100% das cepas de A.
flavus foram produtoras de aflatoxinas B1 e B 2; 50% de A. ochraceus foram produtores de ocratoxina A e 27% de A.
niger/carbonarius foram produtores de ocratoxina A.
Palavras-chave: Toxinas Naturais; Ocratoxina; Aflatoxinas; Segurança de Alimentos.
Introdução
Ocratoxina A (OA) é uma micotoxina nefrotóxica, com potencial carcinogênico e que
tem sido encontrada em vários alimentos. Até recentemente, era conhecido que a produção da
toxina estava restrita às espécies de Penicillium verrucosum, Aspergillus ochraceus e espécies
relacionadas. Entretanto, ultimamente, tem havido relatos de que alguns isolados de
Aspergillus niger e vários isolados de Aspergillus carbonarius são produtores de ocratoxina.
Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius, conhecidos como “black aspergilli”, são
encontrados, frequentemente, em alimentos como frutas frescas, vegetais, grãos, cereais e
outros. A. niger tem sido utilizado para a produção de várias enzimas e ácidos orgânicos, em
escala industrial. Pouco se conhece sobre Aspergillus carbonarius e muito provavelmente, este
tem sido confundido com A. niger devido às semelhanças na sua morfologia. Em estudos
realizados com café no laboratório de Microbiologia do ITAL, foi detectada a presença de
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Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina, bem como a presença
desta toxina no café, provenientes de amostras do estado de São Paulo. Este fato é
preocupante, pois a presença de “black aspergilli” em alimentos é comum e não existem
pesquisas no país, investigando a toxigenicidade destas espécies, nos alimentos consumidos
pela população.
A tendência mundial no estabelecimento de limites máximos para ocratoxina A em
alimentos tem sido de 3 a 5 µg/kg, e para alimentos infantis, o limite máximo sugerido é de
1µg/kg. Nestas condições, o presente projeto tem por objetivo, investigar a incidência destas
espécies toxigênicas em frutas secas, bem como a presença de ocratoxina nestes produtos.
Material e Métodos
O trabalho constou de analise de várias frutas secas, como passas, ameixas,
damascos e figos quanto à incidência de Aspergillus niger/carbonarius, A. ochraceus e A.
flavus; teste de cepas de fungos toxigênicos quanto à capacidade de produção de toxinas;
verificação de presença de ocratoxina A nas frutas secas analisadas e em que condições de
atividade de água, temperatura e tempo ocorre o crescimento destas espécies e a produção de
toxina nas frutas secas.
Coleta das amostras As amostras foram coletadas de supermercados, centrais de abastecimentos e
pequenos comércios, no período de 2001 e 2002. Um total de 76 amostras foi analisado até o
momento sendo: 21 passas de uvas escuras, 13 passas de uvas claras, 20 ameixas pretas, 9
damascos secos, 9 figos secos e 4 tâmaras secas.
Avaliação da microbiota fúngica interna As amostras foram desinfetadas superficialmente com 0,4% de solução de hipoclorito
de sódio durante 1 min. A seguir foram plaqueadas diretamente em meio ágar Dicloran Glicerol
18% (DG18) com cloranfenicol. As placas foram incubadas à 25ºC por 5 a 7 dias.
Isolamento e identificação das cepas toxigênicas suspeitas As cepas do gênero Aspergillus foram isoladas em meio ágar Extrato de Malte (MEA),
incubadas por 5 a 7 dias à 25ºC e identificadas de acordo com a chave de classificação de
Klich & Pitt (1), Hocking & Pitt (2).
Teste de produção de ocratoxina A As cepas toxigênicas foram analisadas quanto à produção de ocratoxina A, conforme
metodologia de agar plug (3). Nos testes de agar plug em que a produção da toxina foi fraca ou
negativa, utilizou-se a técnica da extração com clorofórmio. O extrato fúngico foi aplicado em
placas de cromatografia em camada delgada (TLC). A cromatografia foi desenvolvida em
tolueno: acetado de etila: ácido fórmico 90% (5:4:1) e observada sob luz UV de 365nm.
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Análise da atividade de água Com o auxílio do analisador de atividade de água Aqualab (série 3 TE) foi medida a
água livre disponível das frutas secas.
Extração de ocratoxina A nas frutas
A extração e quantificação de ocratoxina A foram efetuadas conforme metodologia de Pittet
et al. (4), utilizando-se colunas de imunoafinidade para limpeza dos extratos e em seguida, análise
por cromatografia liquida de alta eficiência (HPLC).
Resultados e Discussão Incidência de fungos toxigênicos nas amostras
A incidência de fungos toxigênicos produtores de ocratoxina e aflatoxinas B1 e B2, nas
amostras de passas de uva preta, passas de uva clara, ameixas pretas, damascos, figos e
tâmaras, é apresentada na Tabela 1. Em geral, as amostras de passas de uva escura, ameixas
pretas, figos secos e tâmaras apresentaram alta infecção por fungos do grupo
A.niger/carbonarius. A diferenciação destas duas espécies ainda está sendo realizada. Foram
isoladas 502 cepas de fungos potencialmente toxigênicos sendo: 464 cepas do grupo A.
niger/carbonarius, 28 cepas de A. ochraceus e 10 cepas de A. flavus.
Análise de ocratoxina A nas frutas secas
Foram realizados vários testes de extração de ocratoxina A nas frutas secas (Tabela
1), contudo o nível de recuperação até o momento foi de 60-70%, que não é satisfatório. Mais
testes estão sendo realizados, otimizando a metodologia.
Tabela 1 – Percentagem média de infecção por A. ochraceusa, A. niger/carbonariusa e A. flavusb, toxigênicos e não toxigênicos nas amostras de frutas secas que apresentaram contaminação.
Frutas secas Nº de amostras
A. ochraceus
OTA + OTA-
A. niger/carbonarius
OTA+ OTA-
A. flavus AFLA+ AFLA-
Passas de uva escura
21 2 - 4 25 -
Passas de uva clara
13 - - 5 18 -
Ameixas pretas
20 - 7 14 -
Damascos
9 - - -
Figos secos
9 - 10 3 2 -
Tâmaras
4 2 22 34 11 -
a Produtores de ocratoxina A (OTA) ; b Produtores de aflatoxinas B1B2.
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Análise de atividade de água das frutas secas As passas de uva escura apresentaram uma faixa de atividade de água entre 0,549 a 0,722; as
passas de uva clara entre 0,527 a 0,629; as ameixas pretas entre 0,76 a 0,869; os damascos secos
entre 0,680 a 0,742; os figos secos entre 0,618 a 0,751; as tâmaras entre 0,630 a 0,753.
Conclusões
As seguintes conclusões podem ser tiradas deste estudo: a) a ocorrência de fungos do
grupo A. niger/carbonarius produtores de ocratoxina A é comum nas frutas passas de uvas
escuras, ameixas pretas, figos secos e tâmaras; b) os damascos e as uvas passas claras
apresentaram baixa infecção fúngica; c) mais amostras de tâmaras devem ser analisadas por
terem apresentado alto nível de infecção por fungos toxigênicos do grupo A. niger/carbonarius
e A. ochraceus.
Referências bibliográficas
1. Klich MA, Pitt JI. A laboratory guide to common Aspergillus species and their Teleomorphs.
Sydney, Australia: CSIRO Division of Food Science and Technology; 1988.
2. Hocking AD, Pitt JI. Fungi and Food Spoilage. London: Blackie Academic & Professional;
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in pure and adulterated soluble coffee using an immunoaffinity column cleanup procedure. J.
Agric. Food Chem. 1996; 44: 3564-3569.
Endereço para correspondência: Marta H. Taniwaki; e-mail: [email protected]
INFORMAÇÕES online SOBRE
DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR DISPONÍVEIS NO INFORME NET DTA:
http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/dta_menu.htm
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ESTUDOS Aplicação das técnicas de "headspace" estático e cromatografia a gás com detector de massas (cg/ms) para extração e identificação de compostos orgânicos voláteis como contaminantes de alimentos, bebidas e águasa
Sabria Aued-Pimentel1; Miriam Solange Fernandes Caruso1 1Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, Brasil. (a) Trabalho apresentado na I Mostra Estadual de Experiências Bem Sucedidas em Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar e Segurança de Alimentos (I EXPO-EPI DTA) e II Simpósio de Segurança Alimentar, em pôster, em 23 e 24 de setembro de 2002, no Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, Capital.
Resumo
Certos compostos orgânicos têm grande aplicação industrial como combustíveis, solventes, tintas, etc. Devido às
diferenças de toxicidade e às suas características voláteis podem migrar de embalagens ou outras fontes,
contaminando alimentos, bebidas e águas. O objetivo deste trabalho é apresentar metodologia prática para extração e
identificação de compostos orgânicos voláteis contaminantes. Foram analisadas cinco amostras: duas de água, uma de
refrigerante, uma de pó para preparo de bolo e uma de chocolate, as quais apresentavam características sensoriais
alteradas. A extração dos voláteis foi feita através do auto-amostrador de “head-space” estático. Os compostos do
“head-space” foram injetados no cromatógrafo a gás com detector de massas. As identificações foram feitas por
comparação com os espectros de massa das bibliotecas do equipamento e com os padrões dos possíveis
contaminantes. Nas amostras de água, pó para bolo e refrigerante foram identificados compostos como xileno e
tolueno. No chocolate foi encontrado ciclohexanona (solvente utilizado em resinas vinílicas). A metodologia mostrou-se
rápida e eficaz para avaliação qualitativa da presença de compostos orgânicos voláteis nos produtos em estudo.
Palavras-chave: Contaminantes de alimentos; Embalagens; Compostos Orgânicos Voláteis; Segurança de
Alimentos.
Introdução
Certos compostos orgânicos voláteis como hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos,
álcoois, ésteres, éteres, cetonas, entre outros, têm grande aplicação na indústria como
combustíveis, solventes de resinas, tintas, vernizes, colas, pesticidas. Estes compostos, devido
às suas características voláteis e diferentes graus de toxicidade, podem migrar de embalagens
e de outras fontes, contaminando alimentos, águas e bebidas (1,2,3). São descritas na
literatura diversas técnicas de extração destes compostos, por exemplo: extração com
solventes, concentração em polímeros como Porapak ,emprego de sistema de “headspace”
dinâmico, “purge-and-trap", amostrador automático de “headspace”, para posteriormente serem
separados por cromatografia em fase gasosa (4,5,6,7,8). Na análise de alimentos as técnicas
de "headspace" estão sendo cada vez mais utilizadas como na caracterização de compostos
voláteis responsáveis pelo aroma e sabor (9,5), ou na identificação de compostos indicativos
de alteração dos alimentos, como compostos de oxidação de gorduras (7), além dos
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compostos voláteis contaminantes (4,8). No caso de contaminações com compostos orgânicos
voláteis em quantidades muito pequenas (partes por bilhão ou partes por trilhão), as
metodologias que envolvem concentração dos voláteis com extrações sucessivas destes são
as mais sensíveis (4,6,7).
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia prática e rápida,
empregando a associação das técnicas de "headspace" estático (autoamostrador) e
cromatografia em fase gasosa com detetor de massas, para extração e identificação de
compostos orgânicos voláteis como contaminantes de alimentos, bebidas e águas, nos casos
em que a contaminação é perceptível através das alterações das características sensoriais do
produto.
Material e Métodos
Materiais: Foram analisadas cinco amostras: duas águas, um refrigerante, um pó para preparo de
bolo e um chocolate (ovo de páscoa). As amostras foram encaminhadas para análise por
apresentarem cheiro e outras características sensoriais alteradas.
O nível de detecção do método foi avaliado para certos compostos aromáticos voláteis.
Os padrões utilizados foram os seguintes: Benzeno (Merck), Tolueno (Sigma) e Xilenos (orto,
meta e para) (Merck). Partiu-se de uma solução de 1000mg/L de BTX em água
desmineralizada para o preparo de soluções mais diluídas.
Metodologia: Para análise dos compostos voláteis foi empregado um cromatógrafo a gás CG 17-A
com detector de massas GCMS–QP 5000, acoplado a um autoamostrador “head space” HSS-
4A, todos da marca Shimadzu. Todos os aparelhos foram gerenciados pelo software Class-
5000. As amostras foram transferidas para vials de 10 mL, preenchendo metade do volume
destes. O vial contendo cada amostra foi mantido a 90ºC por 15 minutos e a seringa de injeção
aquecida a mesma temperatura pelo aparelho automático de “head-space”. Foi programada a
injeção de 0,8 mL dos voláteis do “head-space” na coluna capilar com uma razão de divisão de
1:8.
Os componentes voláteis foram separados em coluna capilar de sílica fundida
Carbowax 20 M de 30 m, com 0,25 mm de diâmetro interno e 0,25 mm de espessura de filme.
As condições de operação da análise cromatográfica foram as seguintes: temperatura
programada da coluna 50ºC por 5 minutos, velocidade de aquecimento 5ºC /minuto até 160º C
mantido por 5 minutos; temperatura do injetor: 230ºC; Temperatura da interface 240ºC; gás de
arraste: hélio, com fluxo de 1,0 mL/minuto. A corrida com detector de massas foi feita na forma
scan, com tempo de aquisição de 0,60 a 42,0 minutos e corte do solvente em 0,50 minutos.
Faixa de massa: 40,00 a 350,00. Voltagem do filamento: 70 eV; voltagem do detetor: 1,3 KV.
Analisador do tipo quadrupolo. Em paralelo foram feitas análises em amostras com
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características sensoriais próprias de cada produto (padrão), quando disponíveis. Os
compostos foram identificados através de comparação com os espectros de massas das
bibliotecas do equipamento (NIST 12 e NIST 62), e de padrões dos possíveis contaminantes,
quando disponíveis.
Resultados
Na maioria das amostras foram separados diversos compostos orgânicos voláteis. A
Tabela 1 apresenta os prováveis contaminantes de cada amostra. Nas Figuras 1 , 2 , 3 e 4
temos os cromatogramas dos voláteis do “headspace” das amostras analisadas, com alguns
compostos identificados. Também são apresentados os cromatogramas, com os componentes
do “headspace”, de amostras de referência dos produtos. Em uma das amostras de água foram
identificados compostos característicos de gasolina.
Foram identificados hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos (xilenos e tolueno). Na
outra amostra de água os contaminantes identificados foram xilenos e tolueno. Esta amostra foi
coletada em uma caixa d'água, e provavelmente o solvente da resina impermeabilizante usada
naquela caixa, contaminou a água. No pó para preparo de bolo e no refrigerante de cola foram
identificados compostos derivados de petróleo tais como: xilenos (orto, meta e para), tolueno,
alcanos e cicloalcanos.
Na amostra de chocolate foi identificada uma cetona, ciclohexanona, que é um solvente
utilizado em resinas naturais, vinílicas entre outros. Foi feita análise, nas mesmas condições,
em uma amostra de chocolate do mesmo lote que apresentava odor característico. Foi
realizada a análise do “headspace” do artefato de plástico (brinquedo) que estava dentro do
ovo de páscoa de referência. Esta análise foi feita com aquecimento em estufa do boneco e os
voláteis do "headspace", injetados no cromatógrafo a gás com seringa gastight. Verificou-se a
presença de tolueno, xilenos e ciclohexanona. A contaminação do chocolate provavelmente
ocorreu a partir do artefato de material plástico, que estava dentro do ovo de páscoa, que deve
ter sofrido aquecimento possibilitando a migração daquele solvente para o produto.
Os compostos orgânicos voláteis aromáticos como tolueno, xilenos e principalmente o
benzeno, apresentam elevada toxicidade e quando inalados ou ingeridos podem causar
severos danos aos sistemas respiratório, digestivo e nervoso, além do benzeno apresentar
propriedades carcinogênicas comprovadas (1,2,3). O tolueno e os xilenos foram os compostos
mais encontrados nas amostras analisadas. O benzeno aparece sempre como contaminante
dos compostos acima citados.
Nas condições empregadas na análise o benzeno é eluído antes do tolueno e xilenos e
pode ter sido encoberto pelos outros compostos que saem no início da separação. Para estes
compostos foi avaliado o limite de detecção do método.
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Na avaliação foram monitorados os fragmentos de massa mais abundantes de cada
composto, isto é, para o benzeno m/z = 78, para o tolueno e os xilenos m/z = 91. O limite de
detecção nas condições empregadas no método foi de 500 ppb de BTX em água,
Tabela 1 - Compostos voláteis identificados na análise do “headspace” das amostras com odor alterado* AMOSTRA Água 1 Água 2 Refrigerante de
Cola Pó para o preparo de bolo
Chocolate (Ovo de Páscoa)
COMPOSTOS VOLÁTEIS IDENTIFICADOS*
Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos: xileno, benzeno, tolueno, etilbenzeno, trimetilbenzeno
Xileno Tolueno
Xileno Tolueno Etilbenzeno Trimetilbenzeno
n-Hexano Metilciclopentano Tolueno
Ciclohexanona
* Estes compostos foram identificados por comparação com os espectros de massa das bibliotecas NIST 62 e NIST 12 (índice de similaridade), ou com os de padrões analisados nas mesmas condições cromatográficas das amostras.
Figura 1 – Cromatograma com alguns compostos identificados do “head-space” de: A) Amostra de água com cheiro alterado: 2) 1- Octene 4) Decano/2-metl decano 7) Tolueno 10)11)12) Xilenos 15) Etil benzeno 17) Propil benzeno 18)20)21)23) Trimetil benzeno/1 etil-2metil benzeno; B) Amostra de água com cheiro alterado: 2) Etanol 4) Tolueno 8)9) Xilenos 13)Etilbenzeno
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Figura 2 – Cromatogramas com alguns compostos identificados do “head-space” de: A) Amostra de refrigerante de cola com cheiro alterado: 6), 7), e 8) Xilenos; 9) Etilbenzeno; 10), 11) e 12) Trimetilbenzeno/Etilbenzeno. B) Amostra de refrigerante de cola padrão: 3) Beta-mircene; 5) D-Limoneno; 7) 4-Carene; 8) Alfa terpineol
Figura 3 – Cromatograma com alguns compostos identificados do “head-space” de: Amostra de pó para o preparo de bolo, com cheiro alterado: 2) n-Hexano; 3) Metilciclopentano/ etilciclobutano; 8) Tolueno
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Conclusões
A metodologia apresentada mostrou-se rápida, pois, em uma única etapa foram
extraídos os voláteis dos produtos. Economizou-se tempo, não foram empregados outros
equipamentos ou solventes para extração, evitou-se muita manipulação da amostra, o que
poderia acarretar perda dos compostos voláteis. O método foi eficiente para uma avaliação
Figura 4 – Principais compostos identificados do “head-space” de: A) Amostra de chocolate (ovo de Páscoa) com características sensoriais alteradas: 3) Ciclohexanona. B) Amostra de artefato de plástico contido no chocolate (ovo de páscoa de referência; 2) Tolueno; 3) e 4) Xileno; 6) Ciclohexanona. C) Amostra de chocolate (ovo de Páscoa) com características sensoriais próprias – referência.
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qualitativa da presença de compostos orgânicos voláteis em amostras sólidas e líquidas dos
produtos em estudo.
No caso dos compostos aromáticos como benzeno, tolueno e xilenos o limite de
detecção foi de 500 ppm da mistura de BTX em água. Na maioria dos casos, as amostras com
alterações foram enviadas pela Polícia ou Vigilância Sanitária, por terem causado ou poderem
causar algum dano a saúde do consumidor. A rápida identificação dos compostos tóxicos
encontrados nos alimentos, bebidas e águas, agiliza as providências a tomar em cada caso e,
principalmente, a definição dos tratamentos a serem adotados, no caso de intoxicações.
Referências bibliográficas
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cromatografia gasosa de alta resolução/espectrometria de massas empregando um amostrador
automático de “headspace”. Ciênc.Tecnol.Aliment. 2001; 21(1):123-128.
Endereço para correspondência: Sabria Aued-Pimentel; e-mail: [email protected]
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 14
INVESTIGAÇÃO DE SURTO
Surto de diarréia no município de São Paulo, SP, Março de 2002*
Luciana Yonamine1 1Programa de Aprimoramento Profissional em Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica
e Alimentar – DDTHA/CVE
(*) Avaliação e comentários realizados pelo autor com base no Relatório de Investigação das
equipes de vigilância do município de São Paulo, enviado à DDTHA/CVE.
Resumo Produtos de origem animal, consumidos crus ou mal cozidos, são alimentos freqüentemente associados a surtos de
diarréia. Este informe resume os achados de uma investigação de um surto de diarréia envolvendo 29 pessoas, 26
delas doentes (Taxa de Ataque = 89,6%), ocorrido em 23.03.2002, no município de São Paulo, associado a um bolo
confeccionado com claras cruas.
Palavras-chave: Surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos; Salmonella; Segurança de Alimentos.
Introdução Em 1 de abril de 2002, o Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos, da
Secretaria Municipal de Abastecimento - DIMA/SEMAB, do município de São Paulo, notificou à
Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar – DDTHA, um surto de diarréia
envolvendo 29 pessoas, das quais 26 adoeceram, ocorrido em 23.03.02, semana
epidemiológica 14 (SE 14). O alimento suspeito eram dois bolos feitos com clara de ovos
adquiridos de uma doceria no município de São Paulo, um servido em uma festa realizada em
uma pizzaria no bairro do Cambuci, São Paulo, e o outro, servido em festa no local de trabalho
de um dos participantes, também no município de São Paulo.
Por ocasião desta comunicação, o DIMA/SEMAB realizou vistoria no local de produção
do bolo, observando condições inadequadas de higiene. Não colheu amostras do alimento,
pois não havia sobras do bolo. Foi coletada amostra dos ovos (matéria – prima) da empresa
que os fornece para a doceria para a realização de exames laboratoriais. Foi realizado também
inquérito epidemiológico entrevistando-se os doentes do surto. Este resumo tem como objetivo
divulgar os achados desta investigação, bem como, comentar as dificuldades e lacunas,
freqüentemente enfrentadas em investigações desta natureza. É finalidade também,
sistematizar os achados com vistas a divulgar a metodologia de investigação e incentivar as
equipes locais a enviarem seus comentários sobre suas investigações.
Métodos Este trabalho é um resumo feito a partir da análise do relatório final enviado pela
equipe de vigilância da DIMA/SEMAB do município de São Paulo, SP, e da discussão de casos
com a equipe que investigou o surto.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 15
Resultados e Discussão O DIMA/SEMAB constatou que os bolos feitos com claras de ovos foram oferecidos no
dia 23.03.2002, à noite, em duas festas com 29 pessoas participantes no total. No primeiro
evento, ocorrido na pizzaria localizada no bairro do Cambuci, São Paulo, os alimentos
envolvidos foram o bolo e pizza. Já no segundo evento, realizado em comemoração a um
aniversário no serviço, somente o bolo foi consumido. Das 29 pessoas envolvidas, 26
adoeceram [Taxa de Ataque (TA) = 89,6%]. Todas as 29 pessoas foram entrevistadas.
Com base nos dados enviados verifica-se a seguinte distribuição dos pacientes
segundo os sintomas apresentados (Tabela 1):
Tabela 1 - Distribuição dos pacientes segundo os sintomas apresentados, surto de diarréia no
município de São Paulo, março de 2002
Sintomas Número % Diarréia 25 96,1
Cólica e dor abdominal 14 53,8 Febre 17 65,4
Mal estar 16 61,5 Vômitos 15 57,7 Cefaléia 18 69,2 Náuseas 14 53,8
Dor muscular 18 69,2 Dor de estômago 16 61,5
Meteorismo 14 53,8
Fonte: DIMA/SEMAB (Formulário 5 - Relatório de Investigação de Surto de DTA)
O período mediano de incubação foi de 36 horas, variando de 11 a 84 horas.
A distribuição dos casos segundo a faixa etária foi a seguinte (Tabela 2):
Tabela 2 – Distribuição dos casos segundo a faixa etária e Coeficientes de Incidência
FAIXA ETÁRIA N º CASOS % N º COMENSAIS
COEF. INC.
(%) < 1 ano 0 0,0 0 0,0
5 a 9 anos 0 0,0 0 0,0 10 a 19 anos 2 7,7 2 100,0 20 a 49 anos 19 73,1 22 86,4 50 a e mais 5 19,2 5 100,0
Total 26 100,0 29 89,6
Fonte: DIMA/SEMAB (Formulário 02 CVE - Inquérito Coletivo de Surto de DTA)
A distribuição dos casos segundo o sexo foi a seguinte (Tabela 3):
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 16
Tabela 3 – Distribuição dos casos segundo o sexo e Coeficientes de Incidência
Fonte: DIMA/SEMAB (Formulário 02 CVE - Inquérito Coletivo de Surto de DTA)
Todos os participantes consumiram o bolo. Neste episódio, não foi possível coletar
amostras de fezes dos doentes.
Foi realizada uma inspeção no estabelecimento comercial que vendeu o bolo de clara
de ovos, e segundo os relatórios da vigilância, o local de produção apresentava condições de
higiene insatisfatórias, sem lavatório próprio para a lavagem e desinfecção das mãos.
Observou-se que os alimentos processados, como salgadinhos, permaneciam em temperatura
ambiente na área de vendas sem o devido aquecimento ou refrigeração. Foram coletadas
amostras de fezes dos funcionários da doceria, encontrando-se Enterobacter, Klebsiella sp,
Proteus sp., Giárdia sp e Iodamoeba bustchli . O exame microbiológico de ovos “in natura“ de
amostras colhidas da granja fornecedora foi negativo para Salmonella sp.
No relatório final o bolo com clara de ovos, sem identificação do patógeno envolvido, foi
considerado a causa provável do surto de diarréia.
Conclusões e comentários
Considera-se um surto de origem alimentar, quando dois ou mais casos de doença
semelhante, estão relacionados entre si no tempo e no espaço, e são devido a uma exposição
comum, isto é, ingeriram um alimento comum, suspeito de conter microorganismos
patogênicos, toxinas ou venenos.
A notificação tardia é um dos obstáculos ao levantamento de dados mais precisos
sobre produtos consumidos, e principalmente, porque dificulta a coleta de amostras clínicas de
pacientes em tempo oportuno para a detecção do agente etiológico responsável pelo surto.
Outro importante problema é a não solicitação de coproculturas pelos médicos aos seus
pacientes, quando ainda internados e com história alimentar comum, participantes de surto, o
que indica a necessidade de conscientização dos médicos em relação às doenças transmitidas
por alimentos.
O alimento suspeito nesse surto era um bolo feito com claras cruas, provavelmente
contaminadas com Salmonella Enteritidis (SE), agente causador compatível com o quadro
clínico encontrado entre os pacientes. Porém, não foram coletadas amostras de fezes de
pacientes e nem foi possível a análise de sobras do bolo.
SEXO N º CASOS % N º COMENSAIS
COEF. INC.
% Feminino 20 76,9 22 91,0 Masculino 6 23,1 7 86,0
Total 26 100,0 29 89,6
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 17
A prevalência de SE em ovos é extremamente baixa (1/20 mil ovos), tornando-se difícil
sua identificação quando um número pequeno de ovos é analisado, lembrando-se ainda que os
ovos analisados não são os utilizados no preparo.
Define-se como critério de confirmação de etiologia por testes laboratoriais, na
literatura internacional, para surtos provocados por Salmonella, o isolamento de organismo do
mesmo sorotipo em espécimes clínicas de dois ou mais doentes ou o isolamento do organismo
no alimento epidemiologicamente implicado. Ainda que o quadro clínico e período de
incubação sejam compatíveis com o provocado pela referida bactéria, e hemogramas de outros
pacientes indicarem infecção bacteriana, a síndrome clínica e o período de incubação não são
critérios suficientes para a confirmação de determinados agentes.
Este tem sido um grande problema que dificulta o esclarecimento de surtos quanto a
sua etiologia - a falta de coleta ou a coleta de um número pequeno de amostras de fezes dos
participantes de um surto. Recomenda-se que sejam coletadas amostras de, no mínimo, 10
pessoas doentes, envolvidas no surto para os testes bacterianos.
Não foi feito um estudo epidemiológico com rigor, por ex., um estudo de coorte, que
permitisse identificar os vários fatores de risco, isto é, todas as exposições a que esse grupo de
pessoas se submeteu. A hipótese mais provável, o bolo de clara crua, não foi efetivamente
testada ovos como o alimento causador do surto.
A investigação epidemiológica em questão, apesar de lacunas e da dificuldade em se
estabelecer concretamente o diagnóstico etiológico, chama a atenção para os produtos feitos
com ovos crus, para o perigo de hábitos e culinárias que utilizam produtos de origem animal
sem cozimento, e para a necessidade de maior conscientização dos médicos em relação à
importância da coleta de exames e da notificação imediata à vigilância epidemiológica quando
da ocorrência de surtos devido a alimentos.
Caso você queira acrescentar ou corrigir algum dado sobre este surto ou comentar
aspectos deles escreva para [email protected], indicando no e-mail, em Assunto:
“Comentários para o REV NET DTA“.
Bibliografia consultada
1. CDC. Recommendations for Collection of Laboratory Specimens Associated with Outbreaks
of Gastroenteritis. MMWR, 39(RR-14);1-13, Oct. 26, 1990. Available at
http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/001829.htm
2. CDC. Appendix B - Guidelines for Confirmation for Foodborne Disease Outbreaks. MMWR,
45(SS-5);58-66, Oct. 25 1996. Available at
http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/0044239.htm
3. CVE. Informe Net DTA - surtos de DTA de 1995 a 2001. DDTHA/CVE/SES-SP. São Paulo,
Brasil, 2002. Disponível em http://www.cve.saude.sp.gov.br , em doenças transmitidas por
alimentos, dados estatísticos.
Endereço para correspondência: [email protected]
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 18
COMUNICAÇÃO
A notificação de casos suspeitos de botulismo e a identificação de outras causas – reação adversa ao celecoxib, São Paulo, Brasil – Dezembro de 2002
Maria Bernadete de Paula Eduardo1; Monica T. R. Conde2
1Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica
Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo, Brasil; 2Centro de Controle de Doenças, Secretaria
Municipal de Saúde de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Resumo A ênfase na vigilância de doenças de transmissão alimentar permite identificar outras causas, neste caso, reação
adversa a medicamentos. Este resumo tem como objetivo o relato de um caso notificado primeiramente como suspeita
de botulismo, confirmando-se posteriormente tratar-se de reação adversa ao celecoxib, o primeiro registro de reação
adversa com sintomas neurológicos por esse medicamento no estado de São Paulo.
O programa de vigilância do botulismo no estado de São Paulo vem sendo priorizado
entre a vigilância das doenças transmitidas por alimentos. Foram promovidos nestes dois
últimos anos vários treinamentos para médicos neurologistas, clínicos e outras especialidades,
bem como elaborado material técnico e educativo para melhorar o diagnóstico e aumentar a
taxa de notificação de paralisias flácidas, como forma de identificar o botulismo.
Desde 1999, um total de 44 casos suspeitos de botulismo, de vários Estados do Brasil,
foi notificado ao Centro de Referência do Botulismo (CR BOT); destes, 14 foram confirmados
(32%). Os demais diagnósticos, descartados para botulismo, foram: quatro intoxicações por
organofosforados, um por desordens neurovegetativas, uma miocardite, seis Síndromes de
Guillain Barré (uma delas, Síndrome de Müller Fisher), uma reação adversa à metoclopramida,
um acidente vascular cerebral, uma myastenia gravis, dois por intoxicação com óleo de rícino
(droga popular para constipação intestinal), uma paralisia de Bell, um comensal de surto de
botulismo sem sintomas e 11 sem diagnóstico elucidado.
Este informe resume os achados da investigação de um caso notificado com suspeito
de botulismo, com paralisia flácida de nervos cranianos, descendente e simétrica, ocorrido no
município de Barueri, SP, e internado em hospital do município de São Paulo, identificado na
investigação epidemiológica como uma reação adversa ao medicamento celecoxib,
representando o primeiro registro de reação adversa deste medicamento com sintomas
neurológicos, notificado e investigado no estado de São Paulo, Brasil.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 19
A investigação
Em 30 de dezembro de 2002, um paciente de 56 anos de idade, sexo masculino, com
início de sintomas em 27 de dezembro foi internado em um hospital na cidade de São Paulo
com ptose palpebral bilateral, disfagia, disartria, midríase, flacidez de pescoço, dispnéia,
paralisia flácida de membros superiores e inferiores progredindo em cerca de sete horas após
a admissão ao hospital para insuficiência respiratória e parada cardíaca, necessitando de
ventilação mecânica.
As hipóteses diagnósticas iniciais foram polirradiculoneurite, intoxicação por
organofosforados, neuropatia diftérica, myastenia gravis, botulismo, distúrbio hidro-eletrolítico,
encefalomielite aguda e acidente vascular cerebral. Testes com prostigmine para myastenia
gravis foi negativo; fluido cerebrospinal: proteina total 39 mg/dl; células 1/mm3; ressonância
magnética normal; testes de dosagem de colinesterase mostraram níveis baixos fazendo os
médicos pensarem em intoxicação por organofosforados.
O botulismo foi aventado no segundo dia de início dos sintomas quando o hospital
notificou a suspeita ao CR BOT requerendo orientações quanto à aplicação da antitoxina
botulínica e para coleta de espécimes clínicas para os testes laboratoriais específicos.
Amostras de soro e fluido gástrico do paciente foram coletadas em 30 de novembro e enviadas
ao Instituto Adolfo Lutz.
O paciente relatava diarréia intermitente há 15 dias, a qual agravou em 25 de
dezembro, depois da ingestão de um tender assado na ceia de Natal. Uma de suas filhas tinha
apresentado também diarréia neste período. O paciente ingeria, com freqüência, presunto,
salsichas e conservas de vários tipos, fazendo suas refeições fora de casa devido à sua
profissão. Tinha antecedentes de Síndrome de Guillain Barré quatro anos atrás e hipertensão
arterial.
A vigilância epidemiológica durante a investigação no hospital constatou por meio de
informação do medico assistente que durante a entubação foi observado edema de glote
intenso o qual impedia a introdução do tubo, tendo sido necessária uma traqueotomia. Diante
dos sinais de anafilaxia - edema de glote, a aplicação do soro antibotulínico foi contraindicada,
antes mesmo do resultado dos testes específicos.
Os resultados dos testes foram negativos para botulismo, assim como negativos os
resultados de outros testes para a identificação de causas infecciosas do quadro de Guillain
Barre. Informações prestadas pela família de que o paciente havia iniciado tratamento com
celecoxib, três dias antes do início dos sintomas neurológicos apresentados, levaram à
hipótese de reação adversa medicamentosa.
Recebeu como tratamento: plasmaférese, drogas vasoativas, ventilação mecânica e
todo suporte necessário a um paciente de UTI.
Todas as hipóteses diagnósticas foram exaustivamente investigadas pelo hospital
estabelecendo-se como diagnóstico final - Polirradiculoneurite/Síndrome de Guillain Barré por
reação ao celecoxib. O paciente permaneceu internado por 47 dias até receber a alta.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 20
Em 02.01.03, a DDTHA/CVE notificou os órgãos de vigilância sanitária estadual
(CEATOX/CVS) e federal (ANVISA) sobre o episódio. Tais órgãos relataram que não havia
registros de acidentes associados ao medicamento, no estado de São Paulo e em todo o
Brasil.
A ANVISA nos enviou relatório do Centro de Monitoramento de Medicamentos da OMS
com o registro de 14.963 notificações de acidentes associados ao celecoxib, no período de
1997 a 2001, inclusive sintomas neurológicos e anafilaxia semelhantes aos apresentados pelo
paciente.
Conclusões
Reações adversas a medicamentos devem ser pensadas como hipóteses diagnósticas
em quadros neurológicos semelhantes a botulismo ou outras doenças alimentares. O objetivo
deste informe foi também o de alertar os médicos sobre essas reações relacionadas ao uso do
celecoxib, bem descritas na lista da Organização Mundial de Saúde, e não estão mencionadas
na bula brasileira.
Bibliografia consultada 1. Organização Mundial da Saúde (OMS). Centro de Monitoramento de Medicamentos.
Relatório de Reações Adversas – Notificações do Celecoxib, 1997-2001 (documento técnico).
Genebra: OMS; 2001.
2. GD Searle & CO. CELEBREX. (bula), 2003.
3. Pharmacia/Pfizer. CELEBRA.(bula), 2003.
4. Centro de Vigilância Epidemiológica. Manual de Botulismo – Orientações para Profissionais
de Saúde. São Paulo: Secretaria de Estado da Saúde; 2002.
____________________________________________________________________________
Política Editorial
A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA tem como
objetivo promover o desenvolvimento e a divulgação de estudos e a compreensão de fatores envolvidos na
transmissão de doenças veiculadas por alimentos e, assim, contribuir para sua prevenção, redução ou eliminação.
Com um escopo voltado para a epidemiologia, vigilância e clínica das doenças infecciosas veiculadas por alimentos
(incluída a água), são aceitas as contribuições de profissionais de saúde pública, da economia, demografia, ciências
sociais e outras disciplinas, da universidade, da área médica, da indústria e comércio, etc.. Dúvidas sobre a adequação
de artigos propostos podem ser dirimidas junto ao Editor nos telefones 55 11 3081-9804, 55 11 3066-8258 (Fax) ou por
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A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA é publicada em
português e inglês e destaca os seguintes tipos de artigos: resultados de estudos/pesquisas de natureza empírica,
observacional, experimental ou conceitual, revisões históricas e políticas, discussão de casos (p. ex., investigação de
surtos), estatísticas epidemiológicas, comentários, notas científicas e outros eventos. Propósitos e requisitos para cada
tipo de artigo seguem descritos, em detalhe, abaixo. Informações sobre a aceitação e publicação serão enviadas por
fax aos autores, tão breve quanto sejam resolvidas e editadas.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 21
INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de Hepatite A no município de Campos do Jordão, SP, 2002-2003 Maria Lúcia Vieira da Silva César1; Nídia Pimenta Bassit2
1Programa de Aprimoramento Profissional em Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos, convênio FUNDAP/CVE-SES/SP, São Paulo, SP, Brasil; 2Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, SP, Brasil.
Resumo
A hepatite A é uma doença de início abrupto caracterizada por febre, mal estar, anorexia, náusea, desconforto
abdominal com aparecimento de icterícia em poucos dias. Muitas infecções são assintomáticas, anictéricas ou leves,
especialmente em crianças, e diagnosticadas apenas por testes laboratoriais. Transmitida por via fecal-oral, a doença é
distribuída largamente em todo o mundo, e sua ocorrência pode ser esporádica ou epidêmica, com a tendência a ciclos
recorrentes. Em países em desenvolvimento, os adultos são usualmente imunes, pois foram acometidos na infância,
expostos às precárias condições de saneamento, com quadros, em geral assintomáticos Com a melhoria de medidas
sanitárias em muitas partes do mundo, observou-se que os adultos jovens tornaram-se suscetíveis e o número de
surtos vem aumentando. A transmissão da doença em crianças que freqüentam creches tem sido comum e, a partir
delas, ocorre transmissão para seus contatos domiciliares. As epidemias evoluem, em geral, lentamente, em regiões
desenvolvidas, envolvendo grandes áreas geográficas e persistindo por muitos meses. Este informe tem por objetivo
resumir os achados da investigação dos casos de hepatite A identificados em Campos do Jordão, SP, relacionados a
um surto associado ao consumo de água contaminada proveniente de minas e fontes.
Palavras-chave: Hepatite A; Surto de Hepatite A; Vigilância Epidemiológica.
Introdução
A hepatite A é uma doença de início abrupto caracterizada por febre, mal estar,
anorexia, náusea, desconforto abdominal com aparecimento de icterícia em poucos dias. O
quadro pode ser leve, com duração de 1 a 2 semanas, ou mais grave, podendo, ainda que
mais raro, durar meses. A convalescença pode ser prolongada. A gravidade da doença, em
geral, está relacionada à idade mais avançada, porém, frequentemente o curso é benigno, sem
seqüelas ou recorrências. Muitas infecções são assintomáticas, anictéricas ou leves,
especialmente em crianças, e diagnosticadas apenas por testes laboratoriais. Indivíduos com
hepatopatias crônicas apresentam maior risco de desenvolvimento de hepatite fulminante (1).
A hepatite A é causada por um vírus RNA, de 27 nm de diâmetro; possui um único
sorotipo, sendo classificado como Hepatovirus e membro da família Picornaviridae. Transmitida
por via fecal-oral, a doença é distribuída largamente em todo o mundo, e sua ocorrência pode
ser esporádica ou epidêmica, com a tendência a ciclos recorrentes. Em países em
desenvolvimento, os adultos são usualmente imunes, pois foram acometidos na infância,
expostos às precárias condições de saneamento, com quadros, em geral assintomáticos (1).
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 22
Com a melhoria de medidas sanitárias em muitas partes do mundo, observou-se que
os adultos jovens tornaram-se suscetíveis e o número de surtos vem aumentando. A
transmissão da doença em crianças que freqüentam creches tem sido comum e, a partir delas,
ocorre transmissão para seus contatos domiciliares. As epidemias evoluem, em geral,
lentamente, em regiões desenvolvidas, envolvendo grandes áreas geográficas e persistindo
por muitos meses (1,2).
Viajantes de áreas de baixa circulação do vírus podem se infectar quando vão para
áreas onde a doença é endêmica. Epidemias por fonte comum podem evoluir explosivamente.
Mais recentemente, observam-se surtos freqüentes em comunidades abertas, sendo a água,
ou alimentos contaminados por manipuladores, as principais fontes de transmissão (1,2).
Durante o ano de 2002, a Vigilância Epidemiológica do município de Campos do
Jordão, SP, identificou uma elevação do número de casos de hepatite A, o que a levou a
monitorar e investigar a razão desse aumento. O surto provavelmente iniciou em 8 de março de
2002 (primeiro caso identificado) e terminou em 22 de setembro de 2003 (último caso
registrado), perfazendo um total de 284 casos, 112 ocorridos em 2002 e 172 no ano de 2003.
Campos do Jordão é uma cidade turística, montanhosa, de clima frio, localizada no
estado de São Paulo, a 167 km da capital São Paulo, com uma população residente em torno
de 46.000 habitantes (Fonte IBGE: 2002 e 2003). Em temporada de férias e feriados
prolongados a população aumenta sobremaneira. Este informe tem por objetivo resumir os
achados da investigação dos casos de hepatite A identificados em Campos do Jordão, SP,
relacionados a um surto associado ao consumo de água contaminada proveniente de minas e
fontes.
Métodos
Este trabalho foi realizado com base na análise, sistematização e reagrupamento dos
dados de relatórios de investigação das equipes de vigilância epidemiológica do município de
Campos de Jordão e da Regional de Saúde DIR 24 – Taubaté. Os casos identificados por
testes laboratoriais (sorologia e exames bioquímicos) e clínica compatível foram entrevistados
pela equipe local de vigilância epidemiológica com vistas a identificar uma fonte comum de
transmissão entre eles.
Resultados e Discussão
O surto, provavelmente, iniciou-se em 8 de março de 2002, com o aparecimento da
doença em um rapaz de 21 anos, e se encerrou com o último caso registrado na cidade em 22
de setembro de 2003, perfazendo um total de 284 casos, 112 no ano de 2002 (Taxa de
incidência = 24,5/10 mil habitantes) e 172 no ano de 2003 (Taxa de incidência = 37/10 mil
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 23
habitantes), dos quais, 131 (46%) foram confirmados por sorologia, e os demais por exames
bioquímicos e clínica compatível. A maior elevação de casos pode ser observada entre o mês
de novembro de 2002 e março de 2003, correspondendo a 63% dos casos (Figura 1).
05
101520253035404550
Jan
MarMaio Ju
lSet Nov Ja
nMar
Maio Jul
Set Nov
Mês de Ocorrência
Núm
ero
de C
asos
As faixas etárias mais acometidas foram as de 5 a 9 anos e de 1 a 4 anos de idade
(Figura 2), representando 67% do total de casos; 51% eram do sexo feminino.
0
5
10
15
20
25
30
< 1a 1 - 4a 5 - 9a 10 -14a
15 -19a
20 -24a
25 -29a
30 -34a
35 -39a
40 -64a
Anos de idade
Cas
os p
or a
no d
e id
ade
Os bairros de residência com a maior concentração de casos foram: Vila Albertina, Vila
Santo Antonio, Vila Sodipe e Monte Carlo, os quatros juntos representando 45% de todos os
casos no ano de 2003; observou-se, contudo, registro de casos em 46 bairros do município.
Figura 1 – Curva epidêmica: Surto de Hepatite A no município de Campos de Jordão, 2002-2003 (N= 284 casos)
Figura 2 – Histograma de distribuição dos casos do surto de Hepatite A por ano de idade, Campos do Jordão, 2002-2003
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 24
No ano de 2002, 20 estabelecimentos de convivência ou de estudo de crianças,
creches e escolas, apresentaram casos. Destaca-se a creche do bairro de Vila Santa Cruz,
com 31 casos, correspondendo a 28% de todos os casos registrados no ano de 2002, com
surto iniciado em 14/10/2002 e término em 16/1/2003 (mais 2 casos).
No ano de 2003, 46 locais de convivência e estudo registraram casos, 10 deles com o
início da doença no ano de 2002. As maiores proporções de casos foram apresentadas por
creches ou escolas nos bairros de Fracalanza (5% do total de casos) e de Vila Sodipe (4% do
total).
Dos fatores de risco identificados, comuns entre os doentes, destaca-se o consumo de
água de minas e fontes, pelos moradores e por várias creches de bairros com nível sócio-
econômico mais baixo.
Segundo a vigilância sanitária, como conclusão de suas inspeções ambientais, trata-se
de problema de saúde pública, mais especificamente de saneamento, uma vez que havia
descarga de esgoto não tratado no rio Capivari, que corta a cidade, contribuindo para a
contaminação dessas minas e fontes.
Essa constatação levou à hipótese de que o surto teria se iniciado a partir do consumo
de água de minas e fontes contaminadas. Por sua vez, a curva epidêmica do surto sugere
também uma infecção propagada, isto é, uma via de transmissão pessoa-a-pessoa
contribuindo dessa forma, para a manutenção do surto por tempo prolongado. Não foi feito um
estudo de caso-controle para comprovação dessas hipóteses e elucidação epidemiológica dos
fatores de risco envolvidos no surto.
Conclusões
A investigação epidemiológica mostrou que a elevação de casos de Hepatite A no
município de Campos do Jordão foi de fato um surto, afetando, principalmente, crianças em
creches e escolas. Responsáveis pela Prefeitura de Campos do Jordão e órgãos estaduais de
saneamento e meio ambiente, em conjunto com as vigilâncias local e regional, mobilizaram-se
para a realização de análises das águas e medidas para solução dos problemas,
principalmente, quanto à extensão da rede de esgoto e identificação de estabelecimentos que
jogam dejetos nos rios.
Medidas imediatas como profilaxia da doença, por meio da administração de
imunoglobulina em todos os comunicantes dos casos, foram recomendadas para controlar e
prevenir novos casos, bem como, foi proposto vacinação contra a doença em locais onde as
ações de saneamento exigissem maior tempo para implantação. Orientações e educação
sanitária junto à população, creches e escolas foram desencadeadas com vistas a impedir o
consumo de água de minas e fontes contaminadas e sobre as formas de prevenção em geral
da doença.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 25
Referências bibliográficas 1. Abram S. Benenson (Editor). Control of Communicable Diseases Manual. 16 th Edition,
Washington DC: American Public Health Association; 1995.
2. CVE. Informe Net DTA – Hepatite A. DDTHA/CVE/SES-SP. São Paulo, Brasil, 2002.
Disponível em http://www.cve.saude.sp.gov.br , em doenças transmitidas por alimentos,
doenças.
3. FDA/CFSAN Bad Bug Book – Hepatitis A. Internet http://www.fda.gov
4. Focaccia R. Hepatites Virais. In: Veronesi, R. & Focaccia R. Tratado de Infectologia.
São Paulo: Ed. Atheneu; 1996, p. 286-288.
5. Bell BP, Margolis HS. Hepatitis A vaccine for secondary hepatitis infection
(correspondence). The Lancet 1999; 354:341.
6. Beutels P, Van Damme P. Hepatitis A vaccine for secondary hepatitis infection
(correspondence). The Lancet 1999; 354:340-341.
DADOS ESTATÍSTICOS Botulismo - Casos confirmados notificados ao CVE, segundo local de ocorrência e outras variáveis epidemiológicas, Estado de São Paulo e Brasil, 1997-2003 Nº Idade Sexo Local de UF Data Aplic. Diagnóstico Tipo Alimento EvoluçãoOrd. Ocorrência Início Anti- Final de Suspeito Do Sintomas toxina Toxina Implicado Caso
1 21ª. F Santos SP 16/2/1997 Sim Botulismo A Conserva Palmito Ind. Alta
2 43ª. F São Paulo SP 27/10/1998 Sim Botulismo A Conserva Palmito Ind. Alta
3 16ª. F Mogi das Cruzes SP 24/3/1999 Sim Botulismo A Conserva Palmito Ind. Alta
4 31ª. M Goiânia GO 19/4/1999 Sim Botulismo (Clínica compatível) Negativo
Hamburguer milho e picles Óbito
5 32ª. M Goiânia GO 4/12/2000 Sim Botulismo (Clínica compatível) Negativo
Jurubeba em conserva Alta
6 20ª. M São Paulo SP 3/2/2001 Sim Botulismo Não Identif.
Refeições comerciais fora de casa Alta
7 15ª. F Goiânia GO 20/9/2001 Não Botulismo (Cínica compatível) Negativo
Carne suína e jurubeba (?) Alta
8 14ª. F Goiânia GO 5/9/2001 Sim Botulismo (Clínica compatível) Negativo
Carne suína e jurubeba (?) Alta
9 36ª. F Goiânia GO 5/9/2001 Não Botulismo (Clínica compatível) Negativo
Carne suína e jurubeba (?) Alta
10 14ª. M Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Alta
11 14ª. F Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Alta
12 7a. M Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Óbito
13 8a. F Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Óbito
14 63ª. M Tinguá CE 10/6/2002 Não Botulismo A Patê de fígado caseiro Alta
15 9a. M São Paulo SP 19/9/2002 Sim Botulismo por ferimento A Não Alta
16 39ª. M Belo Horizonte MG 13/10/2002 Sim Botulismo A
Vários (palmito, cogumelos, embutidos) Alta
17 6a. M Feira de Santana BA 23/2/2003 Não Botulismo leve A e B Embutidos (chouriço e mortadela ind.) Alta
18 NI M Feira de Santana BA 4/2/2003 Não Botulismo (Clínica compatível) NR
Embutidos (chouriço e mortadela ind.) Óbito
Fontes: CR BOT/Central CVE; DDTHA/CVE; IAL/SES-SP
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RELATÓRIO DE ATIVIDADES Atividades desenvolvidas pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar – DDTHA/CVE-SES/SP, Ano de 2003
Missão
Promover a saúde através da prevenção e controle de doenças/agravos transmitidos
por água e alimentos (Doenças Diarréicas e demais síndromes) sob notificação obrigatória,
exercendo a vigilância e construindo sua epidemiologia para o desencadeando de medidas, em
ações colaborativas e integradas a diversas instituições de interesse na área como vigilância
da água e de alimentos, e do meio ambiente, bem como com a assistência médica (ações
programáticas de atendimento à doença e grupos populacionais).
Produto
Redução das doenças/agravos e controle dos fatores de riscos visando promover a
segurança de alimentos e de água e/ou outras vias envolvidas na transmissão.
Áreas de atuação
•Quem é a Divisão:
– uma equipe multidisciplinar com formação em epidemiologia com o objetivo de
coordenar as atividades de pesquisa e vigilância das doenças que conta com uma equipe
fixa de 6 médicos, 2 enfermeiros e 1 auxiliar administrativo. Conta também uma equipe
flutuante de 3 a 5 estagiários de medicina, medicina veterinária e outras áreas afins,
provenientes de cursos de especialização, aprimoramento profissional em Epidemiologia
das Doenças Transmitidas por Alimentos/Água e Residências Médicas de Medicina
(Preventiva, Pediatria, Infectologia e outras áreas de interesse).
•Sistemas de informação:
Está sob a responsabilidade desta Divisão a coordenação do Sistema de Vigilância das
Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, composto de 4 sub-sistemas, conforme abaixo:
1. Monitorização de Doenças Diarréicas Agudas: sistema implantado em unidades
sentinelas do estado de São Paulo, desde 1999, com vistas à prevenção e detecção precoce
de surtos. Trata-se de um sistema de alerta de epidemias e surtos, principalmente para o
controle de doenças de alto potencial de alastramento (p. ex., Cólera).
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 27
2. Investigação de Surtos de Doenças Transmitidas por Água e Alimentos: com
base na notificação de casos envolvidos em surtos, feita por médicos, hospitais, laboratórios,
população, etc., permite conhecer, através da investigação epidemiológica os fatores
envolvidos na transmissão, o comportamento do agente etiológico e indicadores para o
controle de prática inadequadas envolvidas na cadeia de produção alimentar e da água e
outros fatores de risco à saúde da população.
3. Doenças Especiais de Notificação Compulsória: vigilância do Botulismo
(referência técnica para todo o Brasil), Cólera, Doença de Creutzfeldt-Jakob - DCJ (como alerta
para a variante da DCJ - vDCJ), Esquistossomose (incorporada recentemente), Febre Tifóide,
Paralisia Flácida Aguda/Polio, Síndrome Hemolítico-Urêmica (modelo piloto nacional e
internacional).
4. Vigilância Ativa - busca ativa de casos em laboratório e inquéritos epidemiológicos,
realizada através de inquéritos e pesquisas pontuais, bem como, do estudo de
genotipos/subtipos de patógenos (biologia e epidemiologia molecular) para aumentar a
capacidade de detecção de surtos onde a investigação epidemiológica clássica não conseguiu
estabelecer a relação entre os casos.
Um monitoramento ambiental realizado pela CETESB está integrado às atividades
destes subsistemas, através da análise ambiental dos seguintes patógenos: Vibrio cholerae,
Poliovírus e outros enterovírus e parasitas (Cryptosporidium e Giardia).
•Principais ações de Vigilância Epidemiológica desenvolvidas: No ano de 2003 foram realizadas as seguintes principais atividades:
1. Monitorização da Doença Diarréica Aguda/Vigilância da Diarréia: programa
implantado em 20 das 24 Regionais de Saúde (DIR) e seus respectivos municípios (quase 500
municípios ao todo) permitiu o monitoramento, de janeiro 2003 até o presente, de cerca de 300
mil casos de doença diarréica aguda e o conhecimento de seu perfil da diarréia, com detecção
precoce de surtos - cerca de 40% do total de surtos no estado, foram detectados pelo
programa de MDDA. Várias ações vem sendo desencadeadas a partir da análise semanal dos
gráficos de tendência da doença, sendo que em algumas regiões, houve a participação direta
da equipe técnica investigando surtos detectados através da MDDA (ex. DIR III - investigação
do tipo caso-controle nos municípios de Assis, Palmital, Paraguaçu Paulista e orientações para
os demais municípios com picos epidêmicos de diarréia). Implementação da Vigilância da
Diarréia Sanguinolenta dentro do Programa de MDDA com a notificação de cerca de 500
casos.
2. Na Vigilância de Surtos de Doenças Transmitidas por Água e Alimentos: assessoria técnica a municípios e DIRs para melhoria das investigações de surtos de doenças
transmitidas por água e alimentos, objetivando a melhoria de notificação e maior precisão na
metodologia de investigação. Foram registrados no ano de 2003 (dados ainda preliminares)
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148 surtos com cerca de 4500 casos (140 de diarréia de várias etiologias, incluídos os de
Rotavírus, e 8 por Hepatite A). Entre os surtos, 141 estão encerrados (relatórios enviados com
medidas tomadas), 40,4% por meio de confirmação laboratorial e 59,6% por critério clínico-
epidemiológico. Rastreamentos são feitos periodicamente e principalmente em laboratórios
públicos e nos IALs, visando a detecção de outros surtos, eventualmente não notificados pelos
municípios ou pelos laboratórios. Estes rastreamentos permitiram aumentar, nos anos
anteriores, em mais 50% o número de surtos no sistema. Em ações conjuntas com a vigilância
sanitária (CVS, ANVISA), e outros órgãos do governo como CETESB, SABESP, Agricultura, e
com os próprios municípios, medidas foram tomadas, em função das causas detectadas, como
ações de melhoria de saneamento (p. ex. esgoto em Campos do Jordão, ou da água em vários
municípios, melhoria de procedimentos nas creches, elaboração em andamento de nova
legislação para os ovos - prevenção da doença por Salmonella Enteritidis, com participação na
emissão de sugestões técnicas junto ao Codex Alimentarius Internacional, etc.). Presença em
campo da equipe central em investigação de surtos na região de Assis, investigação de surto
no CVS e participação em vários eventos.
3. Na Vigilância das Doenças Especiais de Notificação Compulsória: - Botulismo: atendimento a todo o Brasil no recebimento de notificações de casos
suspeitos, orientações técnicas, e discussão de caso.
- Cólera - nenhum caso registrado.
- Esquistossomose – reorganização do programa que estava sob a coordenação da
SUCEN, tendo sido passada a esta Divisão a responsabilidade pela vigilância epidemiológica
da doença.
- Febre Tifóide - doença sob controle (casos esporádicos – em média 5 a 7 casos/ano).
- Paralisia Flácida Aguda: meta alcançada nos indicadores de vigilância, tendo sido
investigados/supervisionados diretamente pela Divisão, 112 casos notificados - 1,12/100 mil
habitantes < 15 anos (parâmetro acima da média estabelecida pela OPAS).
- Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) e Creutzfeldt-Jakob (DCJ e vDCJ) -
implementação dos sistemas de vigilância para aumento da notificação. Estudos realizados na
base de dados AIH e Mortalidade SEADE (a partir de 1998) mostram uma incidência das
doenças de cerca de 11 casos/ano para a SHU e de 6 óbitos/ano para a SHU. Estudos na base
da AIH e Mortalidade SEADE indicam para a DCJ uma incidência de 5 a 7 casos/ano para o
estado de São Paulo. Os casos notificados são, em sua maioria, provenientes de Hospitais
Universitários.
4. Na Vigilância Ativa - conclusão e publicação do Manual de Vigilância Ativa e
elaboração de novos inquéritos para o desenvolvimento em 2004. Trabalhos conjuntos visando
a implementação dos testes de Pulsed-Field no IAL que contribuíram, no ano de 2003, para o
desvendamento de surto por E. coli O157:H7 em Campinas, no ano anterior. Trabalho em
desenvolvimento em mais uma área sentinela - a cidade de Guarulhos. Rastreamento em
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 29
laboratórios públicos para detecção de surtos não notificados e rastreamentos pontuais em
laboratórios particulares para complementação de dados de determinados surtos.
•Treinamentos, capacitações, reuniões técnicas e eventos
- Reciclagem de regionais de saúde e municípios (DIR III Mogi das Cruzes e
Guarulhos, DIR V Osasco e Barueri, DIR VI Araçatuba e Andradina e Tupã, DIR XI Botucatu e
Botucatu, DIR XII Campinas e Campinas, DIR XIII Franca e Franca, DIR XIV Marília e Marília,
DIR XVII Registro, DIR 21 São José dos Campos e São José dos Campos, DIR 23 Sorocaba e
Sorocaba, DIR 24 Taubaté e Taubaté) para aprimoramento da metodologia em investigação de
surtos e MDDA (reciclagem realizada com base na avaliação de problemas nos subsistemas).
- Participação no Curso de Atualização em Doenças Transmitidas por Alimentos
organizado pelo Município de São Paulo e ministrado pela equipe desta Divisão.
- Desenvolvimento/Supervisão do III Curso de Aprimoramento Profissional em
Epidemiologia das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar para 3 estagiários
FUNDAP/SES (2 médicos veterinários e 1 biólogo) e 4 médicos residentes (2 de Medicina
Preventiva e de Infectologia) e 1 de Medicina Veterinária (estágios integrados a programas
curriculares das universidades ou voluntários) que permanecem junto à Divisão em programa
semelhante ao de residência médica.
- Participação na equipe de coordenação e elaboração do Projeto EPI SUS SP, para
desenvolvimento de curso de especialização/mestrado em Epidemiologia, integrado ao
programa nacional EPI SUS - SVS/MS, e convênio CDC e Faculdade de Saúde Pública/USP, a
ser desenvolvido no ano de 2004.
- Participação em seminários desenvolvidos por associações ligadas à Nutrição e
Gastronomia e por instituto de desenvolvimento de tecnologias de alimentos (ITAL) e outros,
com o objetivo de divulgar os sistemas e dados, e melhorar a integração entre programas nos
diversos âmbitos da sociedade e governo para a prevenção das DTA e para aumentar a
segurança de alimentos.
- Participação em Seminário Nacional promovido pela SVS/MS como referência para as
atividades de implantação da Vigilância Ativa da Síndrome Hemolítico-Urêmica em nível
nacional.
- Participação no curso de aprimoramento de auditores AIH desenvolvido pelo
CPS/SES-SP ministrando a aula de Epidemiologia Descritiva e Analítica para melhorar a
integração entre as ações de auditoria e vigilância epidemiológica da área.
- Participação em Seminário organizado pela DIR V para seus municípios para
sensibilização de Hospitais, Unidades de Saúde, Laboratórios e outros serviços de saúde na
região para a doença diarréica, suas fontes de transmissão, sistemas de informação, dentre
outros aspectos.
- Participação em Seminários e reuniões técnicas organizados pelo município de
Guarulhos para sensibilização de Hospitais, Unidades de Saúde, Laboratórios e outros serviços
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 30
de saúde para a doença diarréica, suas fontes de transmissão, sistemas de informação, dentre
outros aspectos, com o início da implantação do sistema de Vigilância Ativa - rastreamento de
patógenos emergentes relacionados à DTA.
- Participação no I Congresso Latino-Americano de Higienistas de Alimentos e VII
Congresso Brasileiro de Higienistas de Alimentos, com apresentação de trabalho premiado
"Características dos surtos de doenças transmitidas por alimentos associados a restaurantes
no estado de São Paulo, 1999 a 2002", e mais 2 posters (Botulismo no Brasil; Investigação da
E. coli O157:H7 em Campinas) , Belo Horizonte, abril de 2003.
- Participação nas reuniões técnicas do CVE com o GTVE/Regionais para
apresentação de dados de MDDA, Surtos de DTA associados a restaurantes,
Esquistossomose e Surtos de DTA na Região de Assis.
- Participação no programa de Pós-Graduação da CIP, ministrando a aula sobre
Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar.
- Participação no Seminário sobre Qualidade das Águas e Cryptosporidium, promovido
pela SAMA/CVS.
- Participação no Seminário Nacional sobre a Qualidade da Água - implementação da
Portaria 1469/2000.
- Reuniões técnicas com o CVS (SAMA e DITEP/Alimentos) e IAL para melhorar a
integração de ações e programas desenvolvidos.
- Reuniões técnicas com municípios, equipes de vigilância e estagiários para
apresentação e discussão de surtos, testes de material didático para treinamento, discussão de
problemas, apresentação de metodologias em epidemiologia e outros, dentro do programa de
aprimoramento profissional em VE DTA.
- Reuniões da Comissão Estadual de Combate e Prevenção da Cólera e Demais
Doenças Transmitidas por Água e Alimentos para discussão da Hepatite A, Salmonella
Enteritidis, Cólera e MDDA.
•Programas e interfaces com a assistência
- Interfaces com o Programa da Saúde da Criança e Saúde da Família, em nível local,
para o desenvolvimento da MDDA. Integração com a CMB para garantia da distribuição de
hipoclorito de sódio aos municípios.
- Integração com a rede hospitalar para a garantia das notificações de Botulismo, DCJ
e SHU.
- Investigação de óbitos relacionados à DTA em Hospitais.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 31
•Projetos e produção científica, publicações
- Aprimoramento do site de doenças transmitidas por alimentos, com ampliação dos
informes técnicos, dados estatísticos e artigos sobre as principais doenças transmitidas por
alimentos.
- Publicação na Revista de Higiene Alimentar de 3 trabalhos - "O botulismo no Brasil e
o trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência do Botulismo", "Características dos surtos
de doenças transmitidas por alimentos associados a restaurantes no estado de São Paulo,
1999-2002" e "Investigação Epidemiológica de Infecções por Escherichia coli O157:H7,
Campinas, São Paulo", apresentados no I Congresso Latino-Americano de Higienistas de
Alimentos, abril de 2003.
- Divulgação de Informes Técnicos no Jornal do CRM sobre Cólera e Rotavírus.
- Participação em entrevistas para a Grande Imprensa e Revistas sobre Doenças
Transmitidas por Alimentos e restaurantes Self-Service, Cólera e água de lastro, Rotavírus,
Botulismo, Salmonella Enteritidis, Surtos de DTA em residências e em outras entrevistas com o
objetivo de divulgar aos consumidores e/ou manipuladores de alimentos, noções de higiene e
prevenção e de aumentar a notificação, divulgar dados e o trabalho desenvolvido para a
promoção de saúde da população.
- Artigo em desenvolvimento sobre diarréia em creche e a primeira genotipagem de
Cryptosporidium, em conjunto com o Hospital das Clínicas/FMUSP e CDC/Atlanta.
- Inscrição de 5 trabalhos no International Conference on Emerging Infectious Disease,
2004, a ser realizado em fevereiro/março de 2004.
- Elaboração dos seguintes projetos (produtos do trabalho junto aos estagiários) para
campo em 2004: "Avaliação de programa experimental de vigilância ativa em determinados
municípios", "Salmonelloses e seqüelas crônicas", "Diarréia e fatores de risco em determinadas
populações", "Diarréia sanguinolenta e alimentos", "Cryptosporidium e Água de Abastecimento
Público" (este será desenvolvido em conjunto com CETESB e SAMA/CVS), e "Circulação de
Genotipos do Cryptosporidium".
- Participação na coordenação e elaboração da "Pesquisa de incidência do Rotavírus
em menores de 5 anos", a ser desenvolvida no Municípios de Rio Claro e Guarulhos, com
apoio da GSK (Projeto em desenvolvimento).
Relatório elaborado em 12 de dezembro de 2003.
REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 32
____________________________________________________________________________ Instruções aos autores
A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA adota normas
do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, publicadas no New England Journal of Medicine
1997;336:309-16 e na Revista Panamericana de Salud Publica 1998;3:188-96, documentos que devem ser consultados
para informações mais detalhadas sobre o preparo de manuscritos.
Os manuscritos devem ser endereçados exclusivamente à REVNET DTA. Não serão aceitos textos (incluídas, figuras
ou tabelas) apresentados simultaneamente a outras revistas, com exceção de resumos ou registros preliminarmente
publicados em encontros científicos ou eventos similares.
Preparação do manuscrito: os artigos serão aceitos em português e inglês. Para o processamento de palavras utilizar
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Resumo/Abstract deve ter no mínimo 150 e no máximo 250 palavras.
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para o controle e prevenção das doenças transmitidas por alimentos e segurança de alimentos, com discussão crítica
dos resultados, limitações, medidas tomadas e outras recomendações (p. ex., discussão de investigação de surto;
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sanitária, regulamentos introduzidos, programas educativos, etc.). Deve ter de 2.000 até no máximo 3.500 palavras,
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transmitidas por alimentos e de ações relacionadas.
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alimentos e à segurança de alimentos. Informações complementares
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discussão, embora outros formatos, de acordo com a temática, possam ser aceitos. A introdução deve ser curta,
definindo o problema estudado, declarando brevemente a importância do trabalho e salientando suas contribuições ao
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resultados, limitar-se à descrição dos resultados alcançados, sem incluir comparações ou interpretações. O texto deve
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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 34
limitações do estudo, devem ser apresentadas as comparações com outros achados na literatura, a interpretação dos
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