Revista Ideias 111

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Política, Economia & Cultura do Paraná nº 111 R$ 10,00 www.revistaideias.com.br CRACK Mais perto do que você imagina

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Publicação de Política, Cultura e Economia do Paraná

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Política, Economia& Cultura do Paraná

nº 1

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CRACKMais perto do que você imagina

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Fábio Campana

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A herança trágica que ameaça os viventes desta área do planeta. Eis um título sugestivo para um conto de Edgar Allan Poe. Poe, como todos sabem, era um mestre das sombras que habitam a alma humana,

mas não há notícia de que tenha se interessado por temas econômicos. Ou políticos.É pena, porque fi camos privados do seu talento nesse plano da vida social,

e o thriller perdeu, certamente, um assunto rico e promissor.A lacuna foi preenchida nesta passagem para 2011. Os rapazes da equipe de

transição de Beto Richa dedicaram-se ardorosamente ao gênero e trataram de suscitar calafrios ao apresentar os défi cits de caixa herdados do governo anterior e suas consequências previsíveis para a vida dos paranaenses.

Especialmente para aqueles que mais necessitam das atenções do Estado: a população mais carente e os empreiteiros de obras.

O monstro é o de sempre. O rombo no caixa é o castigo pela incontinência do apetite governamental nos oito anos em que o Paraná foi entregue ao PMDB de Requião, Pessuti e assemelhados. O pior da história é que eles se saíram bem dessa empreitada. Enquanto nós, simples mortais pagadores de impostos, nos ferramos.

Mas a vida continua e a esperança agora é a da volta por cima com o novo time no poder. Beto Richa certamente não ouvirá os políticos que se elegem nos fundões do Paraná, nos currais do novo coronelismo, nas áreas do voto de cabresto. Esta gente cuida apenas de seus negócios em detrimento do Paraná e de seu povo.

Não se trata de revanchismo, mas não haverá mudança enquanto os antigos ocupantes do governo que arrombava o cofre enquanto recitavam a Carta de Puebla tiverem sobrevida no Poder.

Esta história tem a sua moral. Carecemos de heróis, há muitos vilões à solta, não podemos errar o alvo dos problemas mais sérios.

ditorialE

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nesTA ediçÃOO time de Beto Richa no poder ....................Fábio Campana

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O empreendedorismo que dá certo .......... Thais Kaniak

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Uma rotina de medo e insegurança .........Sarah Corazza

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Crack ao alcance de todos............................Márcio Barros

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Arte de rua além da arte.................................Vanessa Bordin

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Mulheres, damas e spaghetti........................Vicente Ferreira

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O que dizem as rosas......................................Luiz Carlos Zanoni

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Tarde demais....................................................Izabel Campana

60

Bolas & Bolas....................................................Carlos Alberto Pessôa

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Feliz Ano Novo.................................................Camilla Inojosa

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Isabela França..................................................64

Moça bonita não paga, mas agora leva.......Claudia Wasilewski

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Humor...............................................................Pryscila Vieira

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cOLUnisTAsSons de um circo............................................. Jaime Lerner

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A peste middlebrow......................................... Fábio Campana

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Contra a transição acomodada..................... Luiz Geraldo Mazza

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Beto ao volante................................................ Rogerio Distefano

24

O adesismo é apenas o sintoma...................Luiz Fernando Pereira

25

Guerra entre nós ............................................Marianna Camargo

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A Janela Acesa..................................................Solda

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Crackpág. 36

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índice

seçõesEditorial ...........................................................Curtas.................................................................

Frases..................................................................

Gente Fina.........................................................

Câmara dos Vereadores..................................

Ensaio Fotográfico..........................................

Prateleira..........................................................

Balacobaco.......................................................

Cartas/expediente..........................................

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Novo SalárioA Assembleia Legislativa fixou um novo salário para os secretários de Estado a partir deste

ano. A lei aprovada reajusta o valor para R$ 18,6 mil mensais, ou o correspondente a 70% dos vencimentos do governador do Estado.

CURTAS

Foto: jairelias.blogspot.com

Reforma caraA obra de reforma do Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná, custou

R$ 7,5 milhões a mais do que o valor inicialmente previsto. A restauração do prédio custou R$ 31 mi lhões – ou 32% além dos R$ 23,5 milhões orçados pela empresa que venceu a licitação para executar o serviço.

Capital de homicídiosEntre as capitais do Sul do Brasil, Curitiba é a que registra o maior índice de homicídios de adolescentes. A

conclusão é da pesquisa realizada pelo Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens. O levantamento considera dados coletados em 2007. A capital paranaense registrou 4,2 mortes de adolescentes a cada grupo de mil jovens entre 12 e 19 anos.

Orçamento astronômicoUma olhada mais atenta nos 19 Diários Oficiais publicados em novembro e os quatro publicados em dezembro

mostra que o governo ligou no piloto automático a maquininha de remanejamento de verbas do orçamento, tudo com o objetivo de cobrir despesas. A soma chega à astronômica quantia de R$ 492.697.398,00 na movimentação do orçamento do estado. É dinheiro que estava destinado para vários programas e obras, que agora ficam sem pai nem mãe. No total, foram 89 decretos que alteraram o orçamento estadual.

Espaço aéreo vulnerávelUm suposto telegrama da embaixada dos Estados Unidos divulgado pelo

site WikiLeaks diz que o espaço aéreo de Brasília é vulnerável a ataques terroristas. O telegrama teria sido produzido em março de 2009, depois que um pequeno avião de passageiros foi roubado em Luziânia (GO), a cerca de 50 km de Brasília. O avião, um monomotor, caiu em um shopping center de Goiânia, matando o piloto e a filha dele, de 5 anos.Ilu

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Desvio milionárioO diretor de relações institucionais do HSBC, Hélio Duarte, entregou no dia 6 de dezembro ao Ministério Pú-

blico (MP) o resultado de uma sindicância interna que apura o desvio de mais de R$ 100 milhões da Assembleia Legislativa do Paraná. Os recursos públicos foram desviados com um esquema que utilizava cheques em branco e a nomeação de funcionários fantasmas. Nove funcionários do HSBC foram demitidos e 19 contas fechadas. Três diretores da assembleia estão presos por suspeita de desvios.

No vermelhoDezembro é época de contenção de despesas na maioria das prefeituras paranaenses. Para conseguir quitar o

13º salário para os funcionários, prefeitos estão deixando de pagar fornecedores, cortando horas-extras e dispen-sando cargos comissionados. Segundo o presidente da Associação dos Municípios do Paraná (AMP), Moacyr Elias Fadel Junior (PMDB), cerca de 70% dos 399 municípios do Estado passaram por dificuldades no final de 2010. O déficit acumulado foi de R$ 153 milhões.

Despedida milionáriaA campanha publicitária de “despedida” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

da Presidência custou R$ 20 milhões. Com um novo slogan — “Estamos vivendo o Bra-sil de todos” — a propaganda em rádio, TV, jornais e revistas fala sobre o crescimento econômico dos últimos anos e ressalta números sobre redução da desigualdade social.

Foto

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BroncaA dupla Chitãozinho & Xororó, nascidos no município de Astorga, no interior do es-

tado, aproveitou a cerimônia de reinauguração do Palácio Iguaçu para alfinetar o prefeito da cidade, Arquimedes Ziroldo (PTB).

Em um espaço reservado para autoridades e para os cantores, a dulpa perguntou ao prefeito sobre a demora da construção do portal da cidade. Ziroldo disse que o projeto está em fase final de licitação e em breve será construído.

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DiplomaçãoO governador eleito do Paraná, Beto Richa, foi diplomado pelo Tribunal Re-

gional Eleitoral do Paraná no último dia 17, cerimônia em que também receberam diplomas da Justiça Eleitoral o vice-governador eleito, Flávio Arns, dois senadores e seus suplentes, 30 deputados federais e 54 deputados estaduais e cinco suplentes de cada coligação de partidos.

Foto: divulgação

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TIRIRICA afi rmou, antes da diplomação, que irá trabalhar pelos ciganos e artistas circenses.

“Tenho algumas ideias sobre direitos de artistas circenses, dos ciganos, dos artistas em geral”

FRASeS

Quem é que aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar?Perguntou CABRAL à plateia durante uma palestra feita para a revista Exame, dizendo que era preciso tratar do aborto pensando “na vida como ela é”.

O ex-governador e senador eleito ROBERTO REQUIÃO (PMDB) não cansou de alfi netar a festa de inauguração do Palácio Iguaçu, promovida pelo governador Orlando Pessuti. Pelo twitter disparou:

“Eu determinei e fi z a reforma do Palácio Iguaçu. Não tenho nada ver com a palhaçada da inauguração. Esta inauguração é ridícula, coisa de Penélope Obscura”

Na época, eu ganhava um Geton de pouco mais de 200 reais por mês. Ela também acumulava funções de ministra e conselheira, com uma diferença: não era R$ 200 que ela ganhava. Teve mês que cada conselheiro ganhou mais de R$ 80 milO deputado ANTONIO BELINATI, cassado por ser fi cha-suja, comparando-se com a presidente Dilma Rousseff.

“Não posso dizer que não porque sou vivo. Sou presidente de honra de um partido, sou um político nato, construí uma relação política extraordinária”LULA, respondendo sobre a possibilidade de se

candidatar novamente à presidência em 2014.

Disseram que o Requião é velho conhecido da Casa e tem preferência. Tudo bem, sem ressentimentosBrincou GLEISI ao explicar porque Requião fi cou com o gabinete de Osmar Dias e não ela.

velho conhecido

Tudo bem, sem ressentimentos

Requião fi cou com o

“Sou politeísta. Acredito em um deus para cada ocasião”KARL LAGARFELD, estilista da Chanel.

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Se você acha que a nossa revista é para pessoas exigentes, so� sticadas e às vezes um pouco arrogantes,

você tem razão.

Para fazer parte deste grupo, assine Ideias:[email protected]: 41 3079 9997

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10 | janeiro de 2011

genteFINA

O curitibano Carlinhos Neves é o novo preparador físico da Seleção Brasileira. Entre uma viagem e outra ele recebeu a Ideias para uma conversa. Bem-humorado, tranquilo, Carlinhos gosta de ouvir o californiano Ben Harper e está animado para assumir um cargo de altíssima responsabilidade.

Carlinhos começou no Coritiba, depois passou pelo Atlético e o Paraná Clube. Trabalhou em outros clubes até ir para o São Paulo, onde ficou por oito anos. Na sala de sua casa, vê-se uma das recompensas pelos seus anos no time: uma chuteira do craque-goleiro Rogério Ceni, com uma dedicatória pelo trabalho de Carlinhos.

Foi chamado pelo técnico da Seleção Mano Menezes e aceitou o convite “com muita honra”.

Carlinhos agora volta a Curitiba, mas tem agenda cheia de viagens por conta do trabalho. “É bom voltar à cidade, ficar com a família, ir ao Parque Barigui”, diz satisfeito. Encara a nova etapa como um grande desafio, um aprendizado, mais uma conquista.

Foto: Dico Krem

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um curitibano na seleção

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11janeiro de 2011 |

genteFINA

Groff segundo Luiz Groff

Luiz Groff tem uma verve tão interessante e humorada que é impossível substituir por outra a sua versão sobre ele mesmo e sua honorável atividade. Aí vai a incrível e agradável história de Groff, o homem que sabe tudo sobre vinhos e debocha da falsa cultura dos neo-enólogos que infestam a cidade.

Não Sou Enólogo

Como fui engenheiro na França, imagina-se seja esta a origem da mania por vinho.Engano. Na França eu bebia vinho como francês: todos os dias, mas sem se interessar pelos detalhes.

Comentei um livro de vinhos com um amigo que procurou o diretor da Gazeta, Francisco Cunha Pereira e acertou, à minha revelia, uma coluna semanal.

Como não entendia nada e, em 1987, ninguém se interessava por vinho, passei a fazer crônicas ligadas à história, humor, o que acabou por gerar um estilo diferenciado e passei a ser convidado para visitas e júris: “O enólogo de Curitiba”.

Quando bolei a frase — “Não sou enólogo, enólogo é um sujeito que diante do vinho toma decisões, eu diante de decisões, tomo vinho” — estava debochando de diletantes de salão que percebem dezenas de aromas e sutilezas imaginários que não passam de fase oral não resolvida. Mas a frase correu o mundo, às vezes plagiada.

Em 1997, abri uma loja de vinhos, a INVINOVÉRITAS, onde procuro tratar ambos, o Vinho e a Verdade, com ética.

Fazer do Hobby profissão é uma forma ideal para melhorar a profissão e ferrar com o hobby.

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genteFINA

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Maria Christina de Andrade Vieira é a nova presidente da Fundação Cultural de Curitiba. Belíssima lembrança do prefeito Luciano Ducci. Nascida em Curitiba, Maria Christina é formada em Filosofia, com licenciatura na PUCPR. É especialista em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná; em Marketing pela PUCPR e Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); em História da Arte pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP).

Maria Christina foi professora de Filosofia da PUCPR e, em 1987, ingressou no antigo Banco Bamerindus, na área de Promoções e Eventos. No Bamerindus, foi diretora executiva da Associação Cultural Avelino Vieira, por ela criada, diretora de Infraestrutura e membro da holding do banco, além de idealizadora do Natal no Palácio Avenida, que completou 20 anos em 2010, e é um dos principais espetáculos natalinos do Brasil. Foi a primeira mulher a presidir uma associação comercial no Brasil Recebeu 63 prêmios na área de Marketing Cultural, entre eles o Diploma de Grão Mestre da Ordem Rio Branco, concedido pela Presidência da República. É integrante dos conselhos da Federação das Indústrias do Estado Paraná e da Associação Comercial do Paraná.

BrAvA Maria Christina

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13janeiro de 2011 |

genteFINA

Vilma Slomp vive um momento especial. Esteve em Colombo no Sri Lanka, Mumbai e Delhi na Índia, para fazer exposições de fotografias e palestras sobre o trabalho Feliz Natal, obra que elaborou durante dez períodos natalinos em Curitiba (1986-1995).

Vilma diz que fotografou “o que meus olhos não acreditavam o que viam através das lentes”.

Em dezembro do ano passado, completou 30 anos de sua primeira exposição individual “Fotomulher”, com 50 fotos. Vilma agora está digitalizando toda a sua obra para

vilma Shiva

compor um banco de imagens e divulgar no seu site 33 anos no mundo da fotografia.

Paralelo à criação do site, trabalhou no ofício da fotografia em seu estúdio. Chegou a uma conclusão: “Vilma Shiva abrindo seus braços para mostrar o amor ao meu labor”.

Jô Marçal. Designer, diretora de arte, cenógrafa e professora do centro europeu no curso de cinema digital. Integrou a cultuada banda Les Stop Betty. Com a outra banda Mamelucos Orbitais participou de festivais e do extinto Musikaos. Agora está na banda Cairo como vocalista e usa sua Groove Box.

“Pegue um pouco de bossa nova, imagens, poesia, atitude, criatividade. Coloque algumas fatias de imaginação. Coloque tudo numa panela em banho-maria e quando estiver quase pronto, tempere com um visual moderno e bem-humorado”, diz a multiartista Jô.

Inovações de Jô

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JAIME LERNERarquiteto

Sons de um circo

Homem de circo, seu nú-mero era tocar arco e serrote. A mú-

sica saía triste, a lâmina do serrote gemia, prin-cipalmente em valsas antigas.

A plateia gostava, até chorava. Quando tocava Luzes da Ri-balta, o circo todo se encolhia de tristeza, e as lágrimas se mistura-vam à serragem.

Durante anos, esse homem triste encantou multidões, mas o circo começou a decair. Cada vez menos gente, cada vez menos crianças. A lona foi apodrecendo e logo apareceram buracos, por onde a chuva regava a plateia cada vez menor. A meia arrastão da trapezista, tantas vezes remendada, começou a se desfazer. Da mesma forma, a gravata borboleta do mágico, cuja cartola já não conseguia segurar nenhum coelho. A feição triste do palhaço logo contagiou a todos.

E, então, o último espetáculo, o último salário e a tristeza pelo fechamento inevitável.

Sem outro circo onde tocar, o homem do serrote acabou

numa marcenaria. De mú-sico a fazedor de móveis

no espaço de dias.Conformado, mas

triste, o homem testa a porta de um guarda-roupas que acabara de fazer. Surge um som. Movimenta a porta novamente e mais um som, diferente do pri-

meiro. Termina de fazer uma mesa e ela emite sons,

sons ritmados. Mais móveis, mas batidas cadenciadas e

sons harmoniosos. Vem a noi-te e os móveis todos refl etem os

sons do serrote em sua antiga função, velhas músicas, um sarau.

Nas lojas, o estranho mobiliário faz grande sucesso. O homem do serrote, agora alegre, chama os an-tigos companheiros. Resolvem abrir uma fábrica de lonas que emitem os sons das velhas rumbas que animavam o antigo circo. A mulher barbada abre um salão de beleza. O equilibrista resolve ser economista. E os palhaços, os palhaços não têm mais graça.

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FÁBIO CAMPANAjornalista

A peste middlebrow

“A verdadeira batalha – escreveu Virginia Wolf – não se trava entre os highbrows e os lowbrows, mas entre estes, unidos em fra-

terna consanguinidade, contra a exangue e perniciosa peste que fi ca de permeio”.

Mais que nunca, a peste é o middlebrow. Peste que agora emergiu como grupo social predominante e descobriu a internet como fácil meio de expressão.

Sem pudor, a peste se repro-duz rapidamente em blogs e sites de besteirol que espelham a ridícula presunção de “críticos” de moda, de gastronomia, de arte, de lite-ratura, de objetos, de vinho e de qualquer coisa que possa ter valor de mercado.

O middlebrow é produtor, mer-cador e consumidor do lixo cultural. Adora o kitsch e considera o senti-mentalismo a virtude máxima. Acom-panha novelas de televisão e ouve canções excrementais para encher a alma de pieguismo e vulgaridade. É vítima voluntária de slogans e capri-chos dos que alcançam notoriedade. Dos pop stars aos políticos.

Ah, a santa ignorância. A medio-cridade acredita que toda a sabedoria humana está contida em frases de efeito. Esse défi cit cultural transforma o middlebrow em ressentido que cos-tuma adotar atitude anti-intelectual do tipo “ninguém lê mais nada, basta informar através de foto e legenda”.

O middlebrow gostaria de ter o gosto e a cultura do highbrow, que segundo Brander Mathews é a pessoa que “ao olhar uma salsicha pensa logo em Picasso”. Essa fusão ou associação da cultura com todos os aspectos da vida cotidiana, do feitio de um garfo ao formato do

vidro que contém as pílulas de antidepressivos, é que distingue o highbrow dos demais. Para isso é necessário conhecimento e neurônios ativos.

O amigo do highbrow é o lowbrow. O highbrow res-peita a arte do lowbrow – o jazz ou a música de Cartola e Nelson Cavaquinho, por exemplo – que ele provavel-mente defi nirá como a expressão espontânea da cultura

popular. Não interessa ao lowbrow,ao contrário do middlebrow, se apossar das funções do highbrow ou ameaçar de qualquer forma a nitidez da linha divisória entre o sério e o frívolo.

A indigência cultural é o traço do grande mercado con-sumidor dominado pelo middle-brow. E não se deve confundi-lo com a tipologia de classes sociais. O middlebrow está em todas, mas sua típica ignorância e mau gosto se concentram nas camadas médias.

A esta faixa se dirigem os ape-los produzidos pelos divulgadores middlebrow que querem vender aos consumidores middlebrow. É o asqueroso reino do picadinho relations. Nessa categoria se inclui hoje a maioria dos diluidores de ideias e criadores de modismos.

Os promotores de eventos e de produtos. Enfi m, são pessoas que se dedicam profi ssional-

mente à difusão de ideias e artefatos. Ao fazê-lo, não por mero acaso, convertem isso em seu ganha-pão. Seu público e mercado é a hegemônica comunidade middlebrow, da qual fazem parte e que hoje é maioria absoluta no mundo e mais ainda nestas áreas periféricas onde a civilização ainda não pegou.

Degradante. Haja estômago.

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FÁBio CAMPAnAPolÍTiCA

O time de Beto Richa no poder

Há dias, Belmiro Valverde lembrava a história de um célebre mestre-de-obras português dos tem-pos da batalha de Aljubarrota. Incumbido de

reconstruir uma imensa cúpula de mosteiro, que acabara de ruir e que já ninguém acreditava que pudesse fi car de pé, ele resolveu reerguê-la sobre a própria cabeça. Sentou-se debaixo dela, enquanto os operários trabalhavam, e só saiu dali depois de completada a obra e comprovada sua admirável e lusitana solidez.

Talvez a maior diferença entre as construções da arquitetura religiosa e as criações da engenharia política esteja exatamente aí. Na política, não só o eventual mestre-de-obras, mas nós todos, vassalos e suseranos do sistema, somos de algum modo obrigados a carregá-lo nos ombros – até que ele desabe, o que algumas vezes acontece.

Beto Richa encerrou a composição de sua equipe de governo dando a nítida impressão de que seguiu à risca um antigo ensinamento de Aníbal Curi. “Fazer política é a arte de dividir o bolo de tal maneira que cada um pensa ter fi cado com o pedaço maior”. Resta agora saber se a construção fi cou sólida e se resistirá ao tempo e às intempéries da política nativa.

Depois de marchas e contramarchas, horas inter-mináveis de negociações, oitivas de lamentações, Richa contemplou todos os grupamentos da política paranaense com exceção dos chatos descontentes e do PT. Assume o cargo e começa a governar com uma base de apoio po-lítico na Assembleia e na sociedade que nenhum outro governante teve nos últimos 30 anos.

Primeiro governador tucano do Paraná, Richa terá aliados de todos os tipos e cataduras. Do PMDB ao PPS, do PP ao DEM, ao PSB, áreas do PV, e mais uma penca de siglas que fazem a sopa de letrinhas de nosso esquema partidário. Para uivar contra Richa, fi caram na planície Requião e sua família mais o PT e alguns assemelhados que caíram dos galhos de oito anos de PMDB no poder.

Essa quase unanimidade dá a Richa a oportuni-dade de rever e corrigir os desatinos cometidos pelos ante cessores. Todos agora torcemos para que a nova escalação dê os resultados esperados. “Ao falhar na

preparação, você está se preparando para falhar”, diz o ex-governador Jayme Canet, citando Benjamin Franklin.

Se tivermos sobre a cabeça uma cúpula institucional tão sólida quanto aquela do português de Aljubarrota, se o governador Beto Richa mostrar fi rmeza como dele se espera, então tudo bem e pau na máquina. A difi culdade herdada da era Requião custa, mas passa, como uma dessas gripes de mudança de estação.

O Paraná é robusto, e continua a crescer e a de-senvolver-se, apesar de tudo, apesar de um ano ou outro de vacas magras, apesar de Requião et caterva.Um mau governo, incompetente ou corrupto, é para o Paraná apenas uma inconveniência, um estorvo – como pode ser para um bom cavalo, de sangue generoso, um jóquei cretino e pouco hábil. Mas disso já tivemos o que chega nos últimos oito anos. A salvação agora é uma só. O governador Beto Richa precisa governar de acordo com o seu compromisso democrático, entender-se com o que o Paraná tem de bom e que não é pouco. É o que o Paraná espera dele e de seu governo, e quanto mais cedo melhor.

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FERNANDA RICHA – Secretaria da Família e Desenvolvimento SocialBacharel em Direito, presidiu a Fundação de Ação Social (FAS) de Curitiba (2005-2008 e 2009-2010), o Colegiado de Gestores Municipais de Assistência Social, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Conselho Muni cipal da Assistência Social e o Conselho Deliberativo do Fundo Municipal de Apoio ao Defi ciente (FAD). Foi vice-presidente do Conse lho Municipal da Pessoa Idosa de Curitiba. Nasceu em Curitiba, tem 47 anos.

CASSIO TANIGUCHI – Secretaria de PlanejamentoEngenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Um dos responsáveis pela implantação da Cidade Industrial de Curitiba nos anos 1970, foi diretor-presidente da Urbs, empresa de Urbanização de Curitiba, e presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba. Nos anos de 1995/96 foi secretário de Estado do Planejamento. Foi prefeito de Curitiba por dois mandatos, entre 1997 e 2004. Natural de Paraguaçu Paulista (SP), tem 69 anos.

REINALDO DE ALMEIDA CÉSAR – Secretaria de Segurança PúblicaDelegado da Polícia Federal. Reinaldo é filho de Djalma de Almeida César, que foi deputado e candidato a prefeito de Ponta Grossa. Reinaldo foi secretário municipal da Prefeitura de Ponta Grossa. Tem o apoio de todas as correntes políticas da cidade. Hoje, ele preside a Associação nacional de Delegados da Polícia Federal.

LUIZ CARLOS HAULY – Secretaria da Fazenda Formado em Economia e Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina, foi vereador e prefeito de Cambé, secretário de Estado da Fazenda (1987 a 1990) e presidente do Conselho de Administração do Banco do Estado do Paraná. Em 1991, foi eleito deputado federal e, desde então, reeleito sucessivamente. Natural de Cambé, tem 60 anos.

RICARDO BARROS – Secretaria Estadual de Indústria e Comércio Engenheiro civil, foi prefeito de Maringá (1989-1993), vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná e membro do Conselho Superior de Infra-Estrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Em 1994, foi eleito deputado federal e, desde então, reeleito sucessivamente. Em 2010, recebeu 2.190.539 votos para o Senado. Nasceu em Maringá, tem 51 anos.

FLÁVIO ARNS – Secretaria de EducaçãoVice-governador eleito, é formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Mestre em Letras pela UFPR e Ph.D. em Linguística pela Universidade Northwestern, EUA. Foi eleito deputado federal em 1991, reelegeu-se em 1994 e 1998. Em 2002, elegeu-se senador e, no Senado, foi presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte e da Subcomissão da Pessoa com Defi ciência. Nasceu em Curitiba, tem 60 anos.

MICHELE CAPUTO NETO – Secretaria de SaúdeFarmacêutico, servidor público da Secretaria de Estado da Saúde desde 1985. Foi chefe de gabinete da Fundação Nacional de Saúde, chefe da Vigilância Sanitária Estadual, diretor geral do Centro de Medicamentos do Paraná e diretor dos Órgãos Produtores de Insumos e Imunobiológicos da Secretaria de Estado da Saúde. No Município de Curitiba, foi duas vezes Secretário Municipal de Saúde. É Secretário Municipal de Assuntos Metropolitanos. Natural de Maringá, tem 48 anos.

NORBERTO ORTIGARA – Secretaria de AgriculturaEconomista e técnico agrícola, desde 1979 é funcionário público de carreira da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, onde foi pesquisador, analista de mercado, diretor, diretor geral e secretário adjunto. Foi membro dos Conselhos de Administração da EMATER-PR, do CEASA-PR, da CLASPAR e da CODAPAR. Desde 2006 é secretário municipal do Abastecimento de Curitiba. Nasceu em Seberi (RS), tem 55 anos.

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MARCELO CATTANI – Secretaria de Comunicação SocialGraduado em Comunicação Social, com pós-graduação em Marketing de Serviços. Foi diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba, presidente do Fundo Municipal de Cultura e diretor de marketing da Prefeitura de Curitiba. É secretário municipal de Comunicação Social de Curitiba. Tem 40 anos.

DEONILSON ROLDO – Chefi a de GabineteJornalista, foi repórter do jornal Folha de S.Paulo, diretor da sucursal do jornal Folha de Londrina em Curitiba, secretário de Estado de Comunicação Social, secretário municipal de Comunicação de Curitiba e chefe de Gabinete do prefeito Beto Richa. Nasceu em Pato Branco. Tem 50 anos.

ADILSON CASTILHO CASITAS – Casa MilitarNatural de Marialva, Norte do Paraná, ingressou na Polícia Militar em 1980. Graduado em História, com especialização em Administração Policial, Ciência Política e Desenvolvimento Estratégico e Estratégias em Segurança Pública. Foi subcomandante do 10º BPM de Apucarana, subcomandante do 4º BPM de Maringá, comandante do 4º BPM de Maringá e diretor de Apoio Logístico da Polícia Militar do Paraná. Tem 50 anos.

MARCOS TEODORO SCHEREMETA – Polícia MilitarBacharel em Direito, com espe-cialização em Administração Policial e Estratégias de Segurança Pública. Foi subcomandante do 14º BPM de Foz do Iguaçu, chefe da seção de Planejamento e Operações do Comando da Capital, chefe da 3ª Seção do Estado-Maior, che fe degabinete e assistente do comandante geral, comandante do 17º BPM de São José dos Pinhais e Região Metropolitana de Curitiba. É coman-dante do 1º Comando Regional da Polícia Militar. Tem 48 anos.

MARCUS VINICIUS DA COSTA MICHELOTTO – Polícia CivilBacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná, é delegado concursado da Polícia Civil do Paraná desde 1994. Foi delegado titular do Centro de Operações Especiais (Cope), teve passagem pela Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas e chefi ou a Divisão Estadual de Narcóticos. É secretário municipal de Defesa Social de Curitiba. Tem 42 anos.

MÁRCIO NUNES – Instituto das ÁguasNatural de Campo Mourão, é engenheiro agrônomo. Foi vice-prefeito e secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Campo Mourão, onde implantou programas de coleta seletiva e reciclagem de lixo. Também foi chefe regional da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento na região Noroeste e diretor administrativo e fi nanceiro do Emater. Tem 44 anos.

CID VASQUES – Corregedoria e Ouvidoria GeralGraduado em Direito em 1982 pela Faculdade Católica de Direito de Santos. Ingressou no Ministério Público em 1986 como promotor de Justiça e, em abril deste ano, foi promovido a procurador de Justiça. Foi assessor de gabinete da Procuradoria-Geral e da Corregedoria-Geral do Ministério Público. Nasceu em São Paulo, tem 51 anos.

EVANDRO ROGÉRIO ROMAN – Secretaria Especial de EsportesFormado em Educação Física, é mestre e doutor em Educação Física na Unicamp. Coordenou o curso de Educação da Faculdade Assis Curgacz, em Cascavel. É diretor-presidente do Instituto Terra, que trabalha na área de educação. É arbitro do quadro nacional de arbitragem (CBF) desde 1995 e do quadro Internacional da FIFA desde 2008. Tem 37 anos.

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FAISAL SALEH – Secretaria do Turismo Empresário em Foz do Iguaçu, fundou o Instituto Polo Internacional Iguassu, que reúne instituições para fomentar a integração e o desenvolvimento da região da fronteira. Participou da criação e da direção do Conselho Municipal de Turismo de Foz do Iguaçu, do Iguassu Convention & Visitors Bureau, da Câmara de Comér cio Paraguaio-Americana e do Centro de Importadores e Comerciantes Del Alto Paraná, entre outras instituições ligadas à inte gração e ao turismo. Nasceu em Ponta Grossa.

LUIZ TARCÍSIO MOSSATO PINTO – Presidente do IAPNatural de Jacarezinho, desde 1984 é funcionário público de carreira do Instituto Ambiental do Paraná, onde trabalha na área de licenciamento e fi scalização ambiental na região do Norte Pioneiro. Coordenou os Estudos de Impacto Ambiental das usinas termelétricas de Figueira e Canoas 1 e 2. Contabilista, foi chefe do escritório regional do IAP em Jacarezinho. Tem 44 anos.

GUSTAVO FRUET – Secretaria de Desenvolvimento RegionalFilho do ex-prefeito de Curitiba Maurício Fruet. Destacou-se na CPI do Mensalão, em 2005. É advogado, mestre e doutor em Direito. Assumirá em 1º de fevereiro, quando termina seu mandato de deputado federal.Aviso aos navegantes: o acordo não inclui desistência de concorrer à Prefeitura de Curitiba em 2012.

CEZAR SILVESTRI – SEDUNasceu em Guarapuava, engenheiro civil. Foi vice-prefeito de Guarapuava, deputado estadual em 1990, 1994 e 1998. Em 2002, foi deputado federal, reeleito em 2006 e em 2010. Na Assembleia Legislativa, foi presidente das Comissões de Orçamento, Obras Públicas, Transporte e Comunicações. Na Câmara, presidiu a Comissão de Defesa do Consumidor e é membro das comissões de Agricultura e Pecuária, de Meio Ambiente e da Comissão Mista de Orçamento. Tem 56 anos.

MARCOS TRAAD – DetranZootecnista, funcionário público do Estado desde 1984, mestre e doutor pela UFPR, professor universitário. Foi presidente da Codapar, diretor do Polo Regional de Pesquisa do Iapar e integrou grupo de Planejamento do Simepar. É presidente do Sindicato dos Zootecnistas do Paraná e Diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna de Curitiba. Nasceu no Rio de Janeiro, tem 52 anos.

FLORINDO DALBERTO – IAPAR Natural de Assaí, Norte do Paraná, é engenheiro agrônomo. Fundador e primeiro secretário-geral do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), do qual também foi diretor técnico e presidente. Foi presidente da Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina e Região e presidente do Conselho Nacional das Entidades Estaduais de Pesquisa Agropecuária. É presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná. Tem 66 anos.

LUIZ DÂMASO GUSI – CEASA Engenheiro agrônomo, com especialização em Administração do Agronegócio. Servidor de carreira da Codapar desde 1987, onde foi técnico de campo, gerente de Produção Vegetal e diretor de Desenvolvimento. Na Secretaria de Estado da Agricultura, foi coordenador estadual do programa de Fruticultura, coordenador estadual do programa Fábrica do Agricultor e diretor do Depar tamento de Agricultura. É diretor da Secretaria Municipal do Abastecimento de Curitiba. Tem 50 anos.

PAULINO VIAPIANA – Secretaria de CulturaJornalista pós-graduado em Marketing. Foi diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, secretário de redação do jornal Folha de S. Paulo, diretor de Comunicação e Relações Institucionais na TIM Celular Sul, coordenador de Marketing na Secretaria de Estado da Comunicação Social e assessor de Comunicação e Marketing da Telepar. É presidente da Fundação Cultural de Curitiba. Nasceu em Antônio Prado (RS), tem 50 anos.

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JONEL IURK – Meio AmbienteNatural de Ponta Grossa, é engenheiro civil, mestre em Ciência do Solo. Tem experiência na área de meio ambiente, com ênfase em conservação da natureza e desenvolvimento sustentado, atuando principalmente nos seguintes temas: ecoturismo, unidades de conservação, gestão ambiental e licenciamento ambiental. Foi superintendente do Ibama no Paraná entre 1995 e 1999. Tem diversos trabalhos técnicos sobre meio ambiente publicados. Tem 55 anos.

PEPE RICHA – Infraestrutura e LogísticaJosé Richa Filho é engenheiro e tem sólida experiência no serviço público, que inclui uma diretoria do Departamento de Estradas de Rodagem, uma diretoria na Agência de Fomento do Paraná e o exercício da Secretaria de Administração de Curitiba. Como secretário da Administração, Pepe atuou na modernização e implementação de metodologias em Gestão Administrativa, tendo recebido o Prêmio TI Governo, em inovação em Governo Eletrônico.

EDSON CASAGRANDE – Assuntos EstratégicosEmpresário em Pato Branco, formado em Ciências Contábeis, MBA em Gestão Empresarial. Começou carreira profi ssional em Dois Vizinhos, no Banco do Brasil, instituição da qual foi funcionário até 1991. Foi diretor de diversas associações empresarias do Sudoeste do Estado. Um dos fundadores da Associação para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial do Sudoeste do Paraná, que presidiu até 2010. Tem 41 anos.

OMAR SABBAG – LACTEC Vereador em Curitiba. Engenheiro e Mestre em Engenharia da Construção Civil, é pesquisador e professor da UFPR.Foi pró-reitor de Administração e coordenador de Planejamento Institucional da UFPR, superintendente da Secretaria Municipal de Planejamento e secretário Municipal de Obras Públicas de Curitiba.É conselheiro do Instituto de Engenharia do Paraná. Nasceu em Curitiba, tem 57 anos.

RUBENS ERNESTO NIEDERHEITMANN – EMATER Natural de Porto Vitória, Sudeste do Paraná, é engenheiro agrônomo, gerente de Operações do Emater. Funcionário público de carreira do Instituto desde 1979. Foi assessor de cooperativas em Ponta Grossa, coordenador regional em São José dos Pinhais, coordenador regional em Paranaguá, gerente regional em Curitiba, gerente operacional, chefe da Coordenadoria de Operações, diretor técnico e diretor presidente. Na Secretaria de Estado da Agricul tura, coordenou o programa Paraná Rural.

MARIA TEREZA UILLE GOMES – JustiçaNascida em Londrina, formou-se em Direito pela UEL em 1985. É mestre em Educação pela PUCPR,tem pós-graduação em Direito de Processo Penal pela PUCPR e é doutoranda em Sociologia pela UFPR. Foi procuradora-geral de Justiça e presidente da Associação Paranaense do MP, sempre eleita pela categoria. Está no Ministério Público desde 1987. Tem 46 anos.

MOUNIR CHAOWICHE – COHAPARNatural de Joaquim Távora, Norte Pioneiro. Administrador de empresas com especialização em consultoria empresarial e gestão pública. Funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, onde foi gerente e superintendente em diversos municípios do Paraná. Presidiu a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), de 2006 a 2010. Tem 49 anos.

IVAN BONILHA – PGEAdvogado (UFPR 1989), mestre em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi conselheiro estadual da OAB/PR e membro consultor da Comissão de Assuntos Legislativos do Conselho Federal da OAB. Ex-Procurador Geral do Município de Curitiba, integrou o conselho do Instituto dos Advogados do Paraná e foi vice-presidente do Fórum dos Procuradores gerais das capitais. Natural de São Paulo (SP), tem 46 anos.

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LUIZ CLÁUDIO ROMANELLI – Secretaria do TrabalhoDeputado estadual, nasceu em Londrina. Bacharel em Direito, com pós-graduação em Gestão Técnica do Meio Urbano. Foi chefe de gabinete da Fundepar, vereador e secretário municipal em Curitiba, secretário Especial de Política Habitacional e presidente da Companhia Paranaense de Habitação. Tem 53 anos.

JAYME DE AZEVEDO LIMA – ParanáPrevidênciaNatural de Ribeirão Claro, Norte do Paraná, é advogado, especialista em Direito Administrativo e Direito Civil, pós-graduado em Finanças pela Universidade de Chicago (EUA). Foi advogado da Caixa Econômica Federal, assessor jurídico do BNH, chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Planejamento e controller da West Hem International, prestadora de serviços do Banco Mundial.Tem 58 anos.

LUCIANO PIZZATTO – CompagásEngenheiro fl orestal, especialista em direito ambiental. Foi deputado estadual por um mandato e quatro vezes deputado federal. Na Câmara Federal, foi presidente da Comissão Especial da PEC do Gás, que viabilizou a criação da Compagás, foi presidente do Grupo Parlamentar dos Combustíveis e participou da fi scalização da negociação e implantação do gasoduto Brasil-Bolívia. Tem 53 anos.

SILVESTRE STANISZEWSKI – Codapar Natural de Campo Mourão, é engenheiro agrônomo, pós-graduado em administração rural. Foi Chefe do Núcleo Regional da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento na região de Campo Mourão de 1995 a 2002 e Secretário Municipal da Coordenação Geral da Prefeitura de Campo Mourão de 2005 a 2006. Foi diretor da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Campo Mourão, entre outras associações e órgãos de classe, e Inspetor Chefe do CREA-PR. Tem 47 anos.

DURVAL AMARAL – Casa CivilNatural de Londrina. Advogado, foi vereador e vice-prefeito de Cambé, chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Fazenda, consultor Técnico da Secretaria de Estado da Fazenda, secretário de Estado do Trabalho e Ação Social (1992 a 1994) e presidente do Conselho Estadual da Criança e Adolescente. Em 1990, foi eleito deputado estadual e, desde então, reeleito sucessivamente. Tem 51 anos.

FERNANDO GHIGNONE – SaneparFormado em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração e Economia da Universidade Católica do Paraná. Foi secretário da Cultura, Esporte e Turismo do Estado do Paraná (1983-1986), secretário de Atividades Sócio Culturais do Ministério da Cultura (1986). Presidente da Embrafi lme S.A. (1987-1988) e secretário Municipal de Comunicação Social de Curitiba (2005). É diretor de Transportes da URBS S.A., em Curitiba. Natural de Curitiba, tem 60 anos.

JURACI BARBOSA SOBRINHO – Agência de FomentoAdvogado, pós graduado em Direito Processual, especialista em Gestão Pública, foi presidente do Instituto Paranaense de Pesos e Medidas, presidente da Rede de Laboratórios Tecnológicos da América Latina, fundador do Instituto Paraná Metrologia, subchefe da Casa Civil do Governo do Estado do Paraná e diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba. Tem 57 anos.

JACSON CARVALHO LEITE – CeleparAdministrador de empresas, foi secretário executivo e presidente do Conselho Estadual de Informática e Informações (CEI), presidente da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge) e assessor para Assuntos Institucionais da Companhia de Informática do Paraná. É diretor-presidente do Instituto Curitiba de Informática (ICI). Nasceu em Foz do Iguaçu, tem 58 anos.

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LINDOLFO ZIMMER – CopelEngenheiro mecânico e economista (UFPR), com pós-graduação em administração industrial, é servidor público concursado da Copel desde 1965. Foi diretor de Marketing (2000-2003), diretor de Operação (1995-1999), diretor de Engenharia e Construções (1979-1982), presidente do Comitê de Gestão da Copel Telecomunicações e Copel Transmissão, membro do Comitê de Gestão da Copel Geração e Copel Distribuição, gerente da Divisão de Manutenção Mecânica da Diretoria de Operação, gerente da Divisão de Engenharia Mecânica da Diretoria de Engenharia e Construção, entre outros cargos de gerência e direção na empresa. Natural de Canoinhas (SC), tem 68 anos.

LUIZ EDUARDO SEBASTIANI – Secretaria de AdministraçãoEconomista graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), cursou mestrado em Teoria Econômica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Servidor público estadual do Ipardes, desde 1981. Foi presidente do Conselho Regional de Economia do Paraná, representante do Paraná no Conselho Federal de Economia e diretor de Transporte da URBS. É secretário municipal de Finanças de Curitiba e preside a Associação Brasileira de Secretários de Finanças das Capitais (Abrasf) . Natural de Curitiba, tem 50 anos.

WILSON QUINTEIRO – Secretaria de Relações com a ComunidadeDeputado estadual, nasceu em Maringá. É advogado, especialista em Direito do Consumidor e Direito Eleitoral. Tem 39 anos.

RUI HARA – COMECTrês vezes vereador de Curitiba, foi secretário municipal de Assuntos Metropolitanos, secretário municipal de Governo e deputado estadual. Tem 58 anos.

MAURÍCIO QUERINO THEODORO – FerroesteNascido em Londrina, radicado em Cascavel desde o início dos anos 1990, é empresário ligado ao setor cooperativista com formação na área de eletrotécnica. Tem 50 anos.

AIRTON MARON – APPAEngenheiro civil, é funcionário da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina há 31 anos. Foi coordenador geral de Operações, chefe do Departamento de Operações, chefe da Divisão de Engenharia e do Departamento de Engenharia. De tradicional família parnanguara, tem 56 anos.

MÁRIO CELSO CUNHA – Secretaria de Assuntos da Copa do MundoÉ jornalista e radialista. Começou na política em 1976 como vereador em Curitiba. Em 1978 eleito deputado estadual. Voltou em 1988 como vereador de Curitiba pelo PMDB. Líder da bancada e vice-presidente, tendo substituído Jaime Lerner na prefeitura, como prefeito interino, em 1991. Foi Presidente da Câmara Municipal de Curitiba entre 1993 e 1995. Em 2009, foi eleito Presidente da Comissão Especial para Assuntos da Copa do Mundo 2014 na Câmara Municipal e também escolhido como Líder na Câmara pelo prefeito Ducci.

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LUIZ GERALDO MAZZA jornalista

Contra a transição acomodada

O Paraná tem a tradição das acomodações e é por isso que está com seus três poderes de Estado numa pior: o Judiciário às voltas com o cerco do CNJ,

Conselho Nacional de Justiça; o Legislativo submetido a uma devassa que deveria ter sido feita há quatro décadas e o Executivo minado pela desídia e cada vez mais caro e inútil porque incapaz. O que diria Montesquieu, ele que desenvolveu a doutrina dos tríplices vetores de poder, se tal quadro fosse submetido à sua avaliação.

A sociedade melhora quando seus confl itos fi cam expostos e o manto protetor da conciliação não os alcança. Com a reeleição houve facilidades para evitar rupturas, tanto quanto FHC e Lerner como agora mais recentemente em relação a Requião e ainda na trajetória de Lula reeleito e elegendo o sucessor. A eleição de Beto Richa abriu uma pos-sibilidade para que o festival de acertos não tivesse conti-nuidade. Não deve, porém, reprisar um Roberto Requião que em lugar de uma análise isenta do governo anterior partiu para uma cruzada que não levou a lugar algum e até agora apenas àquilo que fi cou a cargo da Justiça Federal é que funcionou.

O convite ao ex-líder de Requião no legislativo, o deputado Romanelli, para que integrasse o secretariado do futuro governo, realça o estilo conciliador de Beto Richa que nesse aspecto parece manter algo que herdou do pai, José Richa, empenhado em fazer um governo de todos os paranaenses e comprometido sobretudo com a democracia, afi nal a grande aspiração daquele momento ainda sob o travo do regime militar.

ruptura discretaO ônus da ruptura é sempre um peso incomum.

Ney Braga transferiu as tarefas de denúncias do governo anterior, de Moisés Lupion, ao seu secretário de Justi-

ça, Rubens Requião. Eram tantos os problemas para-naenses, alguns com visibilidade extrema como o da exploração dos colonos ao sudoeste, que foram neces-sários atos de guerra como a ‘’operação jagunço’’ para prender fi guras ligadas à ‘’grilagem’’ e que precede-ram a criação do GETSOP, Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do Paraná, junto com o governo fede-ral e que fez a distribuição de 50 mil títulos de terras.A desídia funcional hoje é visível em todos os campos, mas no da segurança se torna dramática. Em que pese o fato de o governo ter apontado o setor como o de maior prioridade, ao ponto de acumular o Executivo com a secretaria, o que nada de prático redundou a não

ser um discurso vago con-tra a ‘’banda podre’’ que não soube controlar e combater. Enquanto entre 2008 e 2009 a taxa de homicídios subiu 9%, no Paraná ela caía em menos 4% e menos 6% no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O efetivo, militar

ou civil, é o mesmo de quatro décadas passadas; dos treze distritos da Capital em oito deles há goteiras; nas cadeias há mais de 10 mil presos e só na Região Metropolitana há 2600, o que imobiliza claramente essas delegacias, retirando-lhes capacidade operacional.

Na infraestrutura estamos zerados. Também aí o discurso, de pretensiosa elaboração ideológica (o porto público certamente não ignora que nem o navio, mui-to menos a mercadoria e os operadores são privados) e que estamos perdendo a corrida para Santa Catarina que inaugura ainda esses dias o porto moderno de Itapoá. Também a inutilidade das bravatas do pedágio ‘’abaixa ou acaba’’ e mais a empulhação das ‘’estradas da liberda-de’’ que só existem no gráfi co é a evidência do fracasso total na infraestrutura econômica. Tudo isso precisa ser bem colocado para que as dimensões exatas da herança sejam conhecidas.

A sociedade melhora quando seus confl itos fi cam expostos e o manto protetor da conciliação não os alcança

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ROGERIO DISTEFANOadvogado

Beto ao volante

Saímos do governador que reve-zava no cockpit de cinco panga-rés e assumimos o governador

que não pilota máquinas com me-nos de duzentos cavalos. De Roberto Requião eu esperava que caísse do cavalo, uma vez que fosse. De Beto Richa receio o acidente na pista, seja na largada, na curva de chegada, até no pitstop.

Dia 12 de dezembro, a um mês da posse, Beto Richa disputou e venceu as 500 milhas de Londrina pilotando possante VW Gol de 2.000 cilindradas. Não diria que foi marmela-da, porque o advogado Ivan Bonilha mostrou na campanha que as opiniões sobre o governador têm que ser favoráveis, senão caput, liminar nelas. Tenho dúvida razoável se um político mal refeito de dois turnos de eleição entra em disputa contra a gastança desenfreada de seu antecessor tem fôlego para aguentar 500 milhas, mesmo em revezamento ao volante, e, não satisfeito, vencer a corrida.

No mesmo 12 de dezembro no Autódromo de Pinhais Vinícius Mas-chio morreu ao capotar na prova de arrancada, categoria Dragster Light. A prova de Pinhais tem 400 metros, bem longe das 500 milhas de Londrina. O carro é extremamente possante, nem admite comparação com o Golzinho de Beto Richa. Po-

demos afi rmar que a prova de Lon-drina apresenta menos riscos porque envolve menor potência do carro? Verdade, mas a extensão das 500 mi-lhas, com o desgaste do motorista, as curvas e os competidores, não é risco equivalente? O esporte que matou Vinícius podia provocar a morte de Beto.

Não conheci Vinícius, não votei nele; conheço Beto, em quem votei. A perda de Vinícius não é menos la-

mentável que uma possível perda de Beto. Os dois escolheram um esporte perigoso para turbinar a adrenalina, portanto sabiam os riscos que corriam.

Vinícius provavelmente deixou mãe, pai, irmãos, mulher, even-tualmente fi lhos, que sofrem sua perda. Beto deixaria não uma, mas três famílias: a privada, que já é pública, com irmão e mulher em secretarias de Estado, e a pública, que já é privada, pois ele carrega para o Estado seus secretários da prefeitura. Mais, Beto deixaria a família dos eleitores que o elegeram tantas vezes.

A família de eleitores. Falo por esta, que também fi caria órfã de Beto numa desgraça como a de Vinícius.

Falo como o eleitor que não quer ser da família de Beto. Se fosse da família de Beto estaríamos rompidos quan-do ele imitou Roberto Requião ao nomear mulher e irmão. Falo como eleitor, preocupado com essa boba-gem chamada dinheiro público.

Para continuar se dopando da adrenalina no volante, Beto deixa de pensar nos assuntos de Estado, ainda cai na mão de um secretário faz-tudo, como os do tempo de Jai-

me Lerner. Quando vai correr, sai a Casa Mili-tar na frente a exami-nar a pista, verifi car a calibragem dos pneus, até passar o copiloto pelo bafômetro. Caso

aconteça de Beto sofrer acidente o Tesouro, ainda não refeito de Or-lando Pessuti, receberá a conta do hospital estrangeiro ou do Sírio-Libanês. Por sorte e tirocínio de Beto teríamos o consolo de um vice da qualidade de Flávio Arns, que daria excelente governador, melhor que Orlando Pessuti. Mas e a viúva, sim, a viúva, que receberia pensão bem antes do tempo, antes de Beto completar o mandato?

As tintas são fortes, pode ser que a editora Marianna Camargo recuse esta coluna. Lamento. Por que Beto, que imitou Roberto Re-quião no nepotismo, não dá um tempo no automobilismo e o imita no hipismo?

Por que Beto, que imitou roberto requião no nepotismo, não dá um tempo no automobilismo e o imita no hipismo?

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LUIZ FERNANDO PEREIRAadvogado

O PMDB integrou a chapa de Osmar Dias. Indicou o vice, Rodrigo Rocha Loures, e

um candidato ao senado, Requião. Disputaram acirrada eleição contra Beto Richa. Repetiram aqui a lógica da disputa nacional. Richa e Serra versus Osmar e Dilma. Dois projetos que se pretendiam programática e ideologicamente opostos. Beto Richa levou a eleição. Semanas depois, o derrotado PMDB (o partido inteiro) anuncia a adesão ao futuro governo de Beto Richa. Indica um se-cretário de estado. O adesismo se deu sem muita resistência e o constrangimento foi quase imperceptível. A verdade é que o adesismo é apenas um sintoma da política de hoje em dia. E no mundo inteiro.

Terminada a última eleição pre-sidencial francesa, o conhecido socia-lista Bernard Kouchner foi convidado por Sarkozy para compor o Ministério. O novo ministro era do PS francês, derrotado na mesma eleição com sua candidata Ségolène Royal. Outros dois socialistas aderiram ao governo conservador de Sarkozy. Também lá o adesismo era apenas um sintoma.

O adesismo atual é, antes de tudo, um sintoma da absoluta au-sência de diferenças relevantes en-tre projetos, programas e ideologias. Pesquisa da Fundação Jean Jaurès e da revista Le Nouvel Observateur, um pouco antes da eleição, mostrou que os franceses não identifi cavam gran-

O adesismo é apenas o sintoma

des diferenças de projetos nas candi-daturas de Ségolène Royal e Sarkozy. Ora, se não há grande diferença entre os projetos, Bernard Kouchner se viu liberado para integrar o governo vi-torioso. Mesmo que o candidato vito-rioso fosse do partido adversário nas eleições. É mais ou menos o que fez aqui o nosso “Kouchner para naense”, Luiz Cláudio Romanelli.

Beto e Osmar ensaiavam uma coligação até o prazo limite das con-venções. É óbvio que isso ajuda a

revelar a ausência de incompatibili-dade nos projetos. Osmar poderia ter sido candidato ao senado na chapa de Beto. E o PMDB também pode-ria ter apoiado o PSDB. A ausência de referências políticas defi nidas autoriza o vale-tudo das composi-ções eleitorais. Gradativamente os políticos foram todos migrando de posições mais radicais para um gran-de encontro no “centro insípido” da política. Sem diferenças ideológicas e programáticas, a disputa eleitoral acaba se transformando numa grande pelada de fi nal de semana. Os times são formados aleatoriamente. Não há projetos realmente distintos. Termi-nada a pelada, vão todos juntos ao botequim. Foi o que fez Romanelli

– foi beber com os circunstanciais adversários das eleições de outubro.

O fenômeno é internacional, mas é recente. Em época de disputas ideológicas claras, ninguém poderia imaginar um convite de François Mitterrand a Jacques Chirac. Aqui no Paraná, o saudoso Norton Macedo jamais seria secretário de Richa (José, o pai) logo depois da derrota de Saul Raiz em 1982. Seria um escândalo. Na França e no Paraná havia incon-ciliáveis posições entre os adversários

políticos. Já em tempos de in-distinção ideológica e efêmeras divergências, o escândalo é ne-nhum. Com absoluta naturali-dade o Presidente do PMDB, o ex-radical Waldyr Pugliesi, anuncia o apoio ao governo e

se diz Beto desde criancinha. Adesista é um “polígamo políti-

co”, dizia Renato Carneiro Campos. Vivemos agora a poligamia natural, autorizada. Um islamismo político sem disfarce. Não vejo nenhum pro-blema. Apegos ideológicos acoberta-ram grandes incompetências indivi-duais. Sem distinção ideológica, vale o mérito. E o critério meritocrático não distingue lado. O melhor quadro pode estar entre os adversários na eleição. Viva o adesismo, então.

Agora, devo registrar uma res-salva. A nova política – do adesis-mo natural de hoje em dia, da falsa disputa, da metamorfose eleitoral – não tem nenhuma graça. Prefi ro as peladas de fi nal de semana.

A ausência de referências políticas defi nidas autoriza o vale-tudo das composições eleitorais

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Após vários transtornos ocasionados por algu-mas empresas vencedoras da primeira licita-ção, finalmente a Avenida Vereador Wadislau

Bugalski, no Município de Almirante Tamandaré, está sendo revitalizada. Novas empresas contratadas através de licitação estão executando a obra. Os contratempos passados ocasionaram a paralisação da obra e muitos problemas para a população e a administração local.

A via de 7,5 Km está dividida em dois lotes. O primeiro vai da Região do Jardim Buenos Aires até a Ponte do Taboão (divisa com Curitiba).

O outro trecho, cujo contrato foi assinado em 26 de outubro, teve início imediato e o prazo para execução

CidAdeMARiSol vieiRA

total é de 180 dias. Este lote liga a sede do Município até o Jardim Buenos Aires (cerca de 3,5 Km).

A Prefeitura Municipal de Almirante Tamandaré, através da Diretoria de Pavimentação da Secretaria Municipal de Obras, Urbanismo e Habitação, como nas demais obras da cidade, está fazendo uma rigorosa fiscalização diária nos locais de trabalho, visando o controle de qualidade, a aplicação correta das espessuras de pavimento e o cumpri-

mento do cronograma de obras. A administração do Prefeito Vilson Goinski prevê

a entrega da obra à população para o mês de abril de 2011.

Revitalização em Tamandaré

As obras de revitalização de Almirante Tamandaré estão finalmente sendo executadas

As obras serão entregues em abril de 2011

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Câmara muniCipal de Curitiba • www.cmc.pr.gov.brR. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737

meSa eXeCutiVa O vereador João Claudio Derosso (PSDB) foi reconduzi-do ao cargo de presidente da Câmara Municipal de Curitiba, com o voto de 30 parlamentares. Sabino Picolo (DEM) será o primeiro vice-presidente e Tico Kuzma (PSB) o segundo. Celso Torquato (PSDB) continua como pri-meiro secretário, na companhia de Caíque Ferrante (PRP), Jairo Marcelino (PDT) e Noemia Rocha (PMDB), res-pectivamente, segundo, terceiro e quarto-secretários.

OrÇamentO A Câmara Municipal aprovou o orçamento da cidade para 2011. No próximo ano o prefeito Luciano Ducci contará com R$ 4,660 bilhões para administrar o município. Foram incluídas 593 emendas parla-mentares.

COpa 2014 O vereador Mario Celso Cunha (PSB) foi indicado pelo gover-nador eleito Beto Richa para assumir a Secretaria Especial para Assuntos da Copa 2014. Atualmente, ele preside a Comissão Especial da Câmara Municipal criada para acompanhar os assuntos re-lacionados ao Mundial.

Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba

PoR denTRo dA CâMARA

idOSOS A Câmara Municipal apro-vou a criação da Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde de Curitiba, para administrar o novo Hospital Zilda Arns, destinado ao aten-dimento da população da terceira ida-de. Inauguração prevista para março de 2011.

teCnOlOGia O vereador Omar Sabbag Filho (PSDB) assumirá o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), a partir de 2011, dentro da equipe do novo governador eleito, Beto Richa. Sabbag é engenheiro, pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

FutebOl Os vereadores Tico Kuzma (PSB), Juliano Borghetti (PP) e Roberto Aciolli (PV) estão fazendo valer a atri-buição constitucional do Legislativo sobre a aplicação da lei de identificação de torcedores nos estádios de futebol. Solicitam providências ao poder público.

SaÚde A Câmara de Curitiba aprovou requerimento para a criação da Frente Parlamentar de Prevenção e Combate ao HIV. A iniciativa é de autoria de

diversos parlamentares e pretende a realização de um trabalho conjunto na luta contra a doença.

SHOWS As Ruínas de São Francisco foram palco do show A Pedreira é Nossa!, quando 11 bandas e cinco poetas que trabalharam com Paulo Leminski pe-diram adesões à campanha que pede a reabertura da Pedreira Paulo Leminski, fechada desde 2008. Iniciativa do vere-ador Jonny Stica (PT).

COntrOle Arbitrariedades que pos-sam conturbar a ordem no âmbito da Câmara de Curitiba, originadas em qualquer um dos segmentos do fun-cionalismo ou do quadro parlamentar, serão, a partir de 2011, coibidas pela ação da Corregedoria da Casa, criada neste ano.

inQuÉritO O vereador Professor Galdino (PSDB) negou as acusações feitas contra ele por crime de racismo, utili-zação do gabinete para campanha elei-toral e afirmações caluniosas a respeito dos demais vereadores. O Conselho de Ética analisará o caso durante o recesso parlamentar.

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ThAiS KAniAKFotos eduardo Reinehr

eConoMiA

Empreendedor. Na definição do Dicionário Auré-lio, empreendedor é aquele que empreende coisas difíceis; arrojado; realizador.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE), existem hoje no Brasil mais de seis milhões de micro e pequenas empresas formais e mais de dez milhões informais.

No Estado, de acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae-PR e a Junta Comercial do Paraná, são cerca de 450 mil micro e pequenas empresas formais e 565 mil informais. Com a Lei do Empreendedor Individual, quase 40 mil empresas informais se formalizaram desde setembro de 2009 e o número de informais reduziu para 525 mil.

Segundo uma pesquisa divulgada em 2007, a taxa de sucesso das pequenas empresas no Paraná e no Brasil é de 75% em média. Isso significa que a cada 100 pequenos negócios, 75 dão certo e sobrevivem após os dois primeiros anos, que é o período crítico para os pequenos negócios.

Como as micro e pequenas empresas representam 99% dos estabelecimentos formais, elas geram 60% dos empregos com carteira assinada e são as que mais em-pregam no interior, respondendo por 40% dos salários. Esses números significam a movimentação de 25% do Produto Interno Bruto (PIB).

Ou seja, 99% dos brasileiros são arrojados e realiza-dores. Empreendedores por natureza. E os paranaenses seguem esse padrão, já que os números estaduais acom-panham os nacionais.

Novidade ousada

Marcelo Haro, de 31 anos, é um exemplo disso. For-mado em Turismo, ele trabalhou em cinco hotéis nas áreas de alimentação e eventos em Curitiba, São Paulo e Brasília. Em 2005, foi estudar na Espanha, onde fez doutorado em Turismo. Lá a ideia de montar o negócio próprio cresceu. Ao retornar para o Brasil, voltou a traba-lhar em um hotel enquanto se programava para abrir seu empreendimento. Em parceria com um sócio, inaugurou a Hamburgueria do Vicente, em Curitiba. Foram nove meses entre o planejamento e as obras para que o espaço fosse aberto. “Sempre quis ter meu negócio. E como não tinha nada parecido em Curitiba e eu tinha experiência no segmento, foi um acerto”, afirma Haro. O empresário conta que pesquisar o mercado é uma etapa importante no processo. Ele também credita a experiência no setor como um plus. “Ter experiência é fundamental. Não é por saber fazer uma lasanha que posso abrir um restau-rante”, exemplificou.

Haro fez um estudo de mercado por conta. “Eu e meu sócio visitamos todas as hamburguerias de São Paulo. Depois voltei em todas para experimentar novamente os pratos, mas dessa vez acompanhado do meu chefe de cozinha”, lembra. Mas ele acredita que procurar uma orientação profissional na hora de abrir um negócio é interessante. “Seria ótimo ter um apoio”, completa.

O perfil arrojado de Haro fica mais notável quando

O empreendedorismoque dá certo

Quase 100% dos brasileiros são empreendedores por natureza.E os paranaenses seguem esse padrão, já que os números estaduais acompanham os nacionais

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ele afirma que “o conceito de ham-burgueria não era claro em Curitiba. As pessoas achavam que era um fast food. Foi uma novidade ousada”.

Como empreendedor há três anos, ele já faz uma análise da ex-periência. Ele conta que faz de tudo, desde o serviço do motoboy até a contabilidade. “É como ser pai. Não tem momentos de folga. Sou o res-ponsável por tudo o que acontece. Não existe um substituto”, explica.

Para ele, o maior desafio é en-contrar mão de obra qualificada e comprometida. Hoje, 11 colaborado-res trabalham no restaurante. Além deste desafio, o empresário conta que a desvantagem em ter o próprio negócio é o peso da responsabilida-

de. “É um desgaste físico e mental. Chego a ficar cinco meses sem folgar um dia”, avalia.

Por outro lado, Haro vê como vantagem em ser em-preendedor a possibilidade de criar algo com seus con-ceitos. “Sem contar que posso fazer diferença na vida dos funcionários. Fazer o melhor onde se está”, conclui.

E o turismólogo está certo. Afinal os pequenos negó-cios geraram 67.079 novas vagas de trabalho no Paraná em 2009. Em 2010, os números continuaram positivos. 84,9% (173.878) dos 204.804 empregos com carteira as-sinada criados em outubro no país foram gerados por micro e pequenas empresas.

Maestro dos coNvitesOutro exemplo de um realizador é Mario Telles, de

54 anos. Ele é dono da Center Design, uma empresa de convites de formatura na capital paranaense. O designer relembra como iniciou o negócio no ano de 1978. Ele aceitou a proposta de uma conhecida para fazer a arte do convite de formatura da turma dela, que era de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Telles aproveitou a ocasião e sugeriu que ele mesmo fizesse um orçamento

para imprimir os convites. Negócio fechado. Como todo empreendedor, Telles usou a oportunidade para expandir os horizontes. Com a autorização da cliente, ele colocou seu telefone de contato em todos os convites para ser-vir de referência. E acertou em cheio na aposta. A partir disso, pessoas começaram a ligar para pedir convites de formatura. Em 15 dias, confeccionou convites para três turmas: Ciências Contábeis, Geologia e Administração. “As oportunidades que tive foram bem aproveitadas. Elas pro-grediram e se multiplicaram”, diz Telles.

Ele conta que na época existia apenas uma empresa no Brasil que prestava esse serviço. O endereço da concorrente era São Paulo e os convites seguiam um padrão: capa dura de veludo com uma medalha e papel branco com letra preta. O empresário inovou ao utilizar papel ilustrado. Ele credita como seu diferencial o conceito de criação. “É um trabalho personalizado. Colocamos a ideia do cliente no papel através do nosso conhecimento”, explica o designer.

O perfil arrojado de um empreendedor, como define o Dicionário Aurélio, é uma constante na trajetória da vida empresarial de Telles. Para ele, a palavra chave é ousadia. “Ser empreendedor é ter ideias e segui-las, acreditar nelas sem saber se vão dar certo. Empreendedorismo é ousadia.

“O conceito de hamburgueria não era claro em Curitiba. As pessoas achavam que era um fast food. Foi uma novidade ousada”

Marcelo Haro, sócio-proprietário da Hamburgueria do Vicente

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• Comprometimento. O especialista explica que deve atribuir a si mesmo o sucesso ou o fracasso. “É isso que chamamos de ‘locus de controle interno’: o resultado tem a ver com o meu esforço”, afirma.

• Busca por informação. “É preciso estar antenado nas novas tendências e na concorrência”, garante.

• Estabelecer metas e objetivos. “Se não sei onde quero chegar, qualquer caminho serve”, explica o consultor.

• Desenvolver características que nem sempre sejam usuais na sua pessoa. Mudança de postu-ra. Ser pró-ativo e comprometido. Moldar-se como um empreendedor.

• O negócio deve ser baseado em uma oportu-nidade, que é uma necessidade simplesmente não atendida ou não atendida de acordo. “A visão de oportunidade é essencial para o sucesso”, declara.

• Estar ligado nas necessidades do mercado.

• Montar um plano de negócios. “O planejamento é importante porque ele avalia e entende as oportu-nidades; estuda quem é o cliente, o fornecedor e o concorrente; além de quantificar o processo: volume de vendas, valor e retorno do investimento,” diz Jun-ges. Ele ainda ressalta que só a ideia não basta, é preciso estruturá-la, ter um plano de negócios claro.

• Buscar orientação profissional.

“As oportunidades que tive foram bem aproveitadas. Elas progrediram e se multiplicaram”

Mario Telles, proprietário da

Center Design

Apostar tudo em uma situação nova. Considero-me maes tro de uma orquestra”, define.

Hoje, 65 funcionários traba-lham na empresa de Telles. Eles se dividem em cinco departamentos: atendimento, arte, pré-impressão, impressão e acabamento. A Center Design tem sua própria gráfica des-de 1990 e ela funciona na sede do estabelecimento. “Imagem é tudo, por isso fiz este investi-mento em máquinas que imprimissem imagem”, relata. A empresa confecciona, aproximadamente, 450 mil convites e atende cerca de 1.100 turmas por ano de todo o Brasil. Telles se orgulha em dizer que transforma o sonho dos formandos em realidade.

Negócio próprioHá também aquelas pessoas que ainda sonham em ter o

negócio próprio. É o caso de Thaís Falat, de 26 anos. Formada

em Turismo, ela não se identificou na área em que escolheu. Agora ela tem em mente abrir uma loja de acessórios femi-ninos em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. Para isso, pretende fazer uma pesquisa de campo, entrar em contato com fornecedores, estudar a concorrência e proje-tar qual será o valor do investimento. O primeiro passo de Thaís foi procurar uma orientação profissional. “Não sabia por onde começar. Não tenho noção de administração e finanças, então essa orientação foi primordial para mim. Agora sei que montar um plano de negócios é a primeira coisa que preciso fazer”, diz a futura empreendedora.

O consultor do Sebrae-PR, Rainer Junges, deu algumas dicas para quem quer ter o negócio próprio:

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A guerra entre nós

O excelente documentário de João Moreira Sal-les e Kátia Lund, “Notícias de uma guerra particular”, foi produzido entre 1997 e 1998

no Rio de Janeiro. Os diretores entrevistaram um capitão do Bope, moradores do Morro da Dona Marta, alguns integrantes da facção Comando Vermelho e os traficantes, inclu-sive os menores de idade, que relatam com precisão e tran-quilidade como fazem para queimar corpos. Fala que se repete no capitão, quando con-ta sobre matar um por dia e voltar para casa normalmente. “Ponho a cabeça no travesseiro e durmo, não vou dizer que não”, diz o policial com a sensação de de-ver cumprido.

Dez anos se passa-ram. O fi lme Tropa de Elite fez sucesso. A con-tinuação foi recorde de bilheteria. O sumo do roteiro é o que está no documentário. Aconte-ce então o confl ito entre trafi cantes e polícia no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, tão bem orquestrado que parecia a terceira parte do Tropa de Elite. Apenas a diferença fundamental: o fi lme era mais real, pois estava mais próximo do que se sabe que acontece.

Por incrível que pareça a fi cção mostrou melhor a realidade, se sobrepôs a ela.

Não sou especialista em nada, mas uma observado-ra. A “vitória” da polícia em cima dos trafi cantes é cena para inglês ver. Não termina algo que não tem fi m, pois não tem fi m quando é “lucrativo” para todas as partes.

Os trafi cantes e a polícia são uma ponte, o que está entre eles é algo muito maior, mais poderoso e imbatível. Quem ganha os milhões de dólares da venda das drogas? Os trafi cantes, a milícia, a polícia? Sa-bemos que não.

Pode ser que haja uma esperança na aber-tura dos documentos se-cretos do Wilkileaks, do que está sorrateiramen-te escondido debaixo do tapete. Fizeram o que a imprensa deve fazer. Ponto para eles.

Quanto a nós, es-pectadores dessa histó-ria da carochinha, resta saber por que o Brasil talvez seja o único país que promove uma guer-ra entre nós, particular, não contra outros.

Esse abismo diz muita coisa sobre o que somos. Talvez um dia, quando a fi cção não se sobrepôr à realidade a vida tenha algum valor. Por enquanto, ela não vale nada.

MARIANNA CAMARGOjornalista

Foto: www.zeroin.co.uk

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RePoRTAgeM

Uma rotina de medo e insegurançaO Paraná está em primeiro lugar no ranking dos Estados

com casos de homicídios não solucionados

SARAh CoRAzzA

Todos os dias quando acorda, Carmem* (nome fictí-cio) faz a mesma rotina. Coloca a água para fazer o café, esquenta o pão e põe a mesa. Rotina normal

de uma mãe que se preocupa com a alimentação dos filhos que vão à escola. Em seguida, começa a arrumar a casa para deixar tudo em ordem antes de sair ao trabalho.

Os dias da semana passam rápido, preenchidos por afazeres, por uma rotina diária de compromissos. Mas no domingo um vazio toma conta do coração de Carmem. A rotina de acordar, arrumar o café, chamar as crianças é interrompida por um forte sentimento de saudade. Os tradicionais almoços de família não são mais os mesmos. Apesar da grande família, sempre sobra uma cadeira vazia. No lugar antes ocupado pela mãe de Carmem, resta apenas a saudade.

No próximo dia 20 de janeiro completa oito anos de uma tarde que jamais vai sair da cabeça de ninguém da família dela. Era uma segunda-feira e sua mãe estava dentro do carro, esperando o portão abrir. Mas, quando foi estacionar o carro na garagem, no Alto Boqueirão, zona Sul de Curitiba, três homens armados a renderam.

Uma sobrinha de Carmem, na época com nove anos,

foi amarrada e presa em um dos quartos. Os homens es-tavam atrás de um cofre que o pai de Carmem guardava em casa. Mas os bandidos não acreditavam quando a senhora disse que o cofre havia sido vendido dias antes e não estava mais na residência.

Para pressioná-la, eles a agrediram com socos, pon-tapés e coronhadas. O filho mais novo – que estava nos fundos da casa – escutou os estranhos barulhos e entrou para ver o que estava acontecendo.

Ao ver a cena não teve tempo de reagir e foi atin-gido de raspão por um tiro. Os bandidos se assustaram e dispararam novamente, o segundo disparo atingiu o peito da mãe de Carmem. Atônita a família viu os assas-sinos fugirem.

“Há oito anos buscamos por justiça. Há oito anos três marginais entraram na casa da minha mãe, mataram e saíram como se nada tivesse acontecido. Hoje além de saudade e raiva pelo o que aconteceu, a minha família tem medo. Eles estão soltos, na rua. A polícia nunca apresentou os culpados e a gente não tem segurança”, afirmou Carmem, que preferiu dar um nome fictício como forma de proteger a si e a sua família.

Fotos eduardo Reinehr

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“Há oito anos buscamos por justiça. Há oito anos três marginais entraram na casa da minha mãe, mataram e saíram como se nada tivesse acontecido. Hoje além de saudade e raiva pelo o que aconteceu, a minha família tem medo. Eles estão soltos, na rua. A polícia nunca apresentou os culpados e a gente não tem segurança”

caso racHel

Entretanto essa medida encontra resistência princi-palmente entre os familiares e vítimas de casos não so-lucionados. “Com essa ação, o Estado acaba delegando para as famílias uma função que é sua. Encerra-se o caso e ele só será reaberto se surgir alguma pista nova. A família acaba sendo responsabilizada a encontrar algum fato novo”, afi rma a profes-sora Maria Cristina Lobo, que teve sua vida transformada no fi nal de 2008, por causa de um brutal episódio que foi notícia nacional.

Sua fi lha, Rachel Maria Lobo Genofre, então com nove anos, desapareceu às 17h30, do dia 3 de novembro, ao sair do Instituto de Educação, no centro da capital parana-ense. “Sei que o caso da minha fi lha não vai estar entre esses que podem ser arquivados, mas isso preocupa a gente. Não sei se esse maníaco está perto da gente ou quem é ele. Isso é horrível”, desabafa.

Depois de dois dias de agonia e desespe-ro, o corpo da menina foi encontrado dentro de uma mala, por uma família indígena, na

Carmem (nome fi ctício) teve a mãe assassinada

rodoviária de Curitiba. Os índios, que vieram de Ortiguei-ra para vender artesanato na capital, estavam dormindo embaixo da escada do setor de transporte estadual há duas semanas. A mala atrapalhava o local onde dormiam,

O caso da menina Rachel ainda não foi solucionado

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quando foram arrastar estranharam o peso e chamaram um fi scal da Urbanização de Curitiba (Urbs). Quando o fi scal abriu a mala, viu o corpo da menina e imediata-mente chamou a Polícia Militar.

O corpo da menina estava inteiro, vestia a camiseta do uniforme e estava enrolado em um lençol. Apresentava sinais de estrangulamento e indícios violência sexual. A mochila, o uniforme e os dois troféus de um concurso de redação que havia tirado primeiro lugar, nunca foram encontrados.

O crime repercutiu nacionalmente e as autoridades na ânsia de mostrar trabalho cometeram deslizes. “No início tudo foi feito de maneira atropelada e acabaram cometen-do alguns erros na investigação. Agora, dois anos após o ocorrido, existe uma equipe direcionada para encontrar este monstro que fez isso com a minha fi lha e mudou a vida de toda a minha família”, contou Maria Cristina.

Até agosto de 2010, mais de 50 suspeitos fi zeram teste de DNA para comparar ao material encontrado no corpo da vítima e mais de 200 pessoas foram interrogadas. Até agora, todas as suspeitas foram descartadas.

Mais uma vez a falta de testemunhas é uma das di-fi culdades encontradas para elucidar o caso. De acordo com a família, Rachel estava acostumada a fazer o trajeto da escola para casa, na Vila Guaíra, onde morava com a mãe. Saía do Instituto de Educação e caminhava até a Praça Rui Barbosa para pegar o ônibus. Além disso, ela era orientada por todos a não conversar com estranhos. “É estranho que uma criança some em um dos locais mais movimentados de Curitiba, em um dos horários de maior movimento, e ninguém vê absolutamente nada”, indigna-se a mãe. “Tiraram o meu anjo da guarda. Ela era tudo pra mim”, lamenta.

por “eNgaNo”Sueli do Rocio perdeu seu fi lho há pouco mais

de três anos, morto na frente da casa onde morava no Bacacheri, em Curitiba. Márcio Gustavo de Camargo tinha 30 anos, uma fi lha, e era jogador de futebol ama-dor. No dia 21 de novembro de 2007, serviu o jantar para a mãe, que estava de cama, vítima de um câncer de pâncreas, deu um beijo e disse que não demorava. Menos de 10 minutos depois, os pais e o irmão de 15 anos, ouviram dois tiros.

Quando o pai saiu de casa para ver o que estava acontecendo, se deparou com dois policiais militares colocando seu fi lho dentro de um carro preto. Com dois tiros – um no peito e outro nas costas – o rapaz foi levado ao Hospital Cajuru. Ele não resistiu e morreu em seguida.

“Meu fi lho nunca teve problemas com a polícia. Nunca usou drogas. Era um fi lho exemplar. Ele trabalhava com o pai e passou aquele dia pintando o muro da nossa casa. Nós vimos um carro da polícia, descaracterizado, mas jamais imaginaríamos que eles fossem matar o Már-cio”, desabafa Sueli.

No inquérito, consta que os policiais estavam à pro-cura de um vizinho de Márcio, Michel Henrique Wagner, acusado de envolvimento na morte de um PM, de quem teria roubado uma pistola ponto 40. Os dois tinham uma tatuagem no braço, o que pode ter induzido os policiais ao erro. Os policiais alegaram que houve reação por parte de Márcio e tentaram fazer crer que a morte aconteceu durante um confronto.

O caso continua à espera de julgamento. Enquan-to isso, os acusados continuam trabalhando na Polícia Militar. Já Sueli, vai todos os sábados fazer seu protesto silencioso na Boca Maldita. “O quarto do meu fi lho está intacto, do jeitinho que ele deixou. Enquanto eu levo fl ores e velas para meu fi lho, seus assassinos estão abra-çando os seus. Um pedaço de mim morreu junto com o Márcio”, lamenta Sueli.

Sueli teve seu fi lho assassinadopor “engano” pela polícia

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No topo

Como estes, existem em todo o país mais de 60 mil processos instaurados anteriores ao ano de 2007 e que conti-nuam sem conclusão. E o Paraná está no topo desse ranking, é o Estado com maior número de casos não solucionados.

De acordo com os dados do Centro de Apoio Operacional das Promotorias do Júri do Ministério Público – CAOP – até o fi nal de novembro de 2010 tramitavam 4.670 inquéritos referentes a homic ídios oriundos das delegacias do Paraná. Destes, 2.800 a polícia não tem ideia da autor ia do crime.

Para o promotor de justiça, Paulo Sérgio Markowicz de Lima, o alto número de casos em aberto se deve a atuação do Ministério Público do Paraná de não arquivar os inquéritos de homicídio. Na maioria dos outros Estados, os casos não elucidados são arquiv ados, no Paraná permanecem abertos por até 20 an os nas mãos de policiais civis. “Existe a difi -culdade de pessoal, de investigadores na Polícia Civil, ainda mais porque muitos têm suas funções desviadas e acabam responsáveis pela guarda dos presos”, afi rma.

falta de testeMuNHasOutro entrave no andamento dos processos é a falta

de testemunhas dispostas a depor, na maioria das vezes por medo. “Por mais que hoje seja possível o depoimento em sigilo, não podemos obrigar as pessoas a arriscarem a vida para solucionarmos um caso de homicídio. E isso é muito comum, principalmente nos casos relacionados ao uso e tráfi co de drogas”, explica o promotor Markowicz.

A meta do Ministério Público é de resolver esses casos até julho deste ano. Para isso, muitos serão arquivados por falta de pistas ou provas. “Arquivar um caso não signifi ca que ele será sepultado. Surgindo novas provas, ele será reaberto. Mas esse arquivamento vai diminuir o volume de papel, a carga de trabalho nas delegacias”, avalia o promotor.

faMÍlias dilaceradasComo Carmem, Maria Cristina e Sueli do Rocio exis-

tem milhares de famílias que foram dilaceradas de forma brutal. Paranaenses que buscam razões, explicações e uma ação mais efi caz do poder público. São pessoas que esperam anos, décadas e que muitas das vezes ainda fi cam sem nenhuma resposta.

“Acredito no trabalho da polícia. Tenho que acreditar que eles vão encontrar este maníaco. É só o que me resta. Estou em contato constante com eles e sei que eles estão trabalhando para elucidar o caso. Não posso permitir que ele acabe no esquecimento”, frisa a mãe de Rachel.

“Estes números assustam a todos nós. Temos que rever algumas funções do MP. Hoje temos que nos dividir em ações de homicídios, defesa do consumidor, crimes ambientais. Tudo isso é muito importante, mas temos que priorizar a vida. Ela vem sempre antes. Os dados são assustadores, mas acredito que suas conseqüências serão boas”, conclui o promotor.

FALTA POLÍCIA

A falta de policiais é considerada por muitos especialistas como uma das principais causas do alto índice de criminalidade que assola o Paraná. Regiões com poucos soldados e ofi ciais, cidades sem ter sequer delegados são convites para que bandidos possam atuar livremente.

Hoje o Paraná tem menos policiais do que tinha há oito anos, início do governo Requião, e o efetivo é menor do que há duas décadas. Os próprios dados ofi ciais do Governo apontam a falta de um número apropriado de policiais.

De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, o Paraná conta hoje com aproximadamente 18 mil policiais militares e 3 mil policiais civis. Isso signifi ca que cada policial é responsável pela segurança de aproximadamente 497 habitantes, longe do número ideal apontado por diversos órgãos de segurança, que indicam um policial para cada 250 habitantes.

Pouco mais de um mês após assumir a secretaria de Segurança, no dia 23 de maio do ano passado, o coronel Aramis Linhares Serpa, disse em en-tre vista à Gazeta do Povo que a falta de policiais e peritos era um dos motivos para o avanço crescente da criminalidade no Estado.

Segundo o secretário, o Paraná apresentava na época um défi cit de 50% na Polícia Civil e 20% na Polícia Militar. Para piorar a situação considera-se que dentro do número da Polícia Militar não é considerado o número de Bombeiros. Este número entra nos cálculos do efetivo total da Polícia Militar, porém cerca de 5 mil homens não realizam o trabalho de policiamento voltado a segurança pública. Excluindo estes profi ssionais, o número de policiais por habitantes passa para um cada 652 habitantes. Isso sem contar o grande número de policiais que se dedicam exclusivamente à segurança externa de penitenciárias e presídios, trabalhando como sentinelas nas muralhas e os policiais civis que cuidam das celas de delegacias superlotadas deixando de fazer o seu trabalho de investigação.

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CAPA

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MÁRCio BARRoSFotos Átila Alberti

CRACKAo alcance de todos

Até pouco tempo, a classe média achava que era vítima do tráfi co quando um usuário de drogas roubava a bolsa de uma madame, ou o relógio de algum motorista distraído

no semáforo. No entanto, de alguns anos para cá, essa convivência está cada vez mais intensa. De meros personagens em uma história marcada pela violência, “madames” e “motoristas” passaram a ser também mães e pais de viciados.

De acordo com um integrante da Narcóticos Anônimos de Curi-tiba, que não pode ser identifi cado para preservar a integridade do trabalho por ele desenvolvido, o número de viciados em crack pertencentes à classe mais alta da sociedade está cada vez maior, e pior, não para de crescer. “Temos alguns critérios, por exemplo, não perguntamos detalhes sociais para as pessoas que procuram ajuda. Só sabemos a que classe elas pertencem depois que entram para a irmandade”, explicou. Ele disse também que os jovens ricos, que supostamente deveriam ser mais esclarecidos, estão sendo engana-dos facilmente pelo trafi cante, geralmente bem menos instruído do que eles. “Começam com a maconha, depois o 'mesclado', que é o baseado misturado com cocaína e em seguida o 'cabralzinho', ou 'ca-petinha', que é o cigarro de maconha misturado com crack raspado. Depois disso, um simples baseado nunca mais terá o mesmo efeito”, comenta o rapaz que a todo instante comemora os dois anos e meio, ou melhor, os novecentos dias sem usar a droga.

Em Curitiba, a clínica terapêutica Quinta do Sol é referência no tratamento de dependentes químicos e atende tanto particular quanto convênio. É exatamente na forma de atendimento que a di-ferença de classes é percebida. Percebe-se principalmente que o uso de entorpecentes pelos mais abastados está numa linha crescente.

O novo governo tem um problema grave para enfrentar. O uso do crack se espalha pelo Brasil. No Paraná os

dados são alarmantes.

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Segundo a psicóloga da clínica Quinta do Sol, Ta-mara Marussig, especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as famílias que possuem plano de saúde que cobre o tra-tamento são pessoas mais simples, e que na maioria das vezes moram em lugares onde o tráfico é mais intenso. Por outro lado, os pacientes particulares são os ricos, que podem pagar diárias que custam entre R$ 384 a R$ 486 reais, além de outros custos, como remédios, por exemplo. “Cada pessoa tem um tipo de tratamento, de acordo com o comprometimento com a droga. Em alguns casos o usuário precisa passar o dia na clínica e à noite vai para a casa, mas em outros, é necessária a internação por até 60 dias”, explicou.

A psicóloga disse também que o marketing feito pelo traficante é decisivo na hora do usuário de classe mais alta escolher o crack. “Geralmente acontece quando ele vai comprar a cocaína e não encontra. Também existem casos em que a droga não faz mais efeito e o usuário precisa de algo a mais, e são nessas horas que o poder de persuasão

do traficante fala mais alto, empurrando o crack como uma sugestão para suprir aquela necessidade”, completou.

as faces da drogaJovem, pobre, negro e sem escolaridade. Este é o

perfil da maioria de vítimas de homicídios registrados no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Grande parte está relacionada com o tráfico de drogas, em especial o crack.

Além do Ipea, o resultado de outras pesquisas re-alizadas por instituições diferentes como a Rede de Informação Tecnológica Latino Americana (Ritla), Or-ganização das Nações Unidas (ONU) e até mesmo o Mi-nistério da Saúde, também mostram que o crescimento significativo no número de homicídios entre a população jovem, com idade entre 15 e 24 anos, será determinante na mudança do perfil da sociedade brasileira. Em apro-ximadamente 25 anos, teremos uma população formada por mulheres e velhos.

Segundo a Ritla, entre 1996 e 2006, os homicídios entre jovens com idade entre 15 e 24 anos aumentaram em 31,3%. A estimativa é de que daqui a 26 anos o Brasil tenha aproximadamente 238 milhões de habitantes e mais

de 40% da população tenha entre 30 e 60 anos.Em Curitiba e Região Metropolitana os números são

tão alarmantes quanto de outras capitais. De acordo com o site da Secretaria de Segurança Pública, só em 2007, 1.156 pessoas foram assassinadas em Curitiba e nos 28 municípios que integram a RMC. Vale lembrar que não estão incluídas vítimas de confronto com a polícia e la-trocínios.

Recentemente, a Delegacia de Homicídios (DH) di-vulgou que cerca de 85% dos casos de assassinatos estão relacionados com o tráfico de drogas. Esta informação é contestada pelo professor Pedro Bodê, sociólogo e co-ordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública e Direitos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Segundo ele, é mais fácil associar os crimes ao tráfico de drogas do que entender que cada um tem uma motivação diferente. “Para divulgar uma pesquisa dessa grandeza, seria preciso, ao menos, exames toxicológicos nas vítimas. Nem todas as

vítimas mortas em locais de conflito são viciadas ou tem ligação com o tráfico”, explicou. O professor disse ainda que “a sociedade está em transformação, mas além do efeito dos homicídios, a população está envelhecendo, e é preciso uma análise muito séria para traçar uma relação ente uma coisa e outra”, completa.

Quanto ao número de homicídios, Bodê disse que é evidente que muitos jovens morrem com armas de fogo, mas é preciso ser mais criterioso com os números levantados em delegacias. “A polícia não pode ser uma categoria analítica”, enfatizou. “Dizer que alguém mor-reu por estar relacionado com o tráfico de drogas é um argumento moral. Isso incomoda parte da sociedade em saber que mais uma pessoa morreu por estar envolvida com algo moralmente questionável”, argumentou.

O deputado federal pelo PSDB, Fernando Francischini, que foi delegado da Polícia Federal e secretário municipal antidrogas, não só discorda do sociólogo como também lista uma série de crimes que estão relacionados com o tráfico de drogas. “Desde o menino que realmente roubou para comprar algumas pedras de crack até o comerciante que foi morto durante um assalto, todos podem estar relacionados com o mesmo problema. Já vi casos onde os pais do usuário são agredidos e mortos

“Já vi casos onde os pais do usuário são agredidos e mortos por causa do envolvimento do filho. São vítimas diretas do tráfico de drogas”

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por causa do envolvimento do filho. São vítimas diretas do tráfico de drogas”, enfatiza Francischini.

Um exemplo dramático dessa transferência de res-ponsabilidade aconteceu no dia 17 de fevereiro deste ano, na cidade de Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no Paraná. O fiscal de loja Mauro Sérgio dos Santos e a mulher dele, Rosângela Padilha dos Santos pagaram pelos erros do filho. Mal o dia clareava e um homem armado com um revólver invadiu a casa deles e sem compaixão executou-os ajoelhados ao lado da cama, no quarto do filho. Os tiros foram disparados na nuca e os dois morreram na hora.

JuveNtude roubadaSão inúmeros casos de adolescentes detidos pela Polícia

Militar no Paraná. Em alguns casos eles mostram claro desinte-resse em largar as drogas e a vida de crimes. Segundo Valdecir Botega, ex-superintendente da Delegacia do Adolescente, os crimes mais violentos são cometidos por adolescentes, quando

isso ocorre a polícia tenta ajudar o menor infrator de alguma forma, mas acaba “brigando” com a falta de programas de governo que reintegrem o infrator à sociedade e a falta de interesse do próprio jovem em mudar de vida. A polícia não pode obrigá-lo a entrar em algum programa social, voltar a estudar ou internar-se num tratamento contra as drogas.

Outro fator que contribui para que o adolescente opte por uma vida irregular é ter uma família desestruturada. A família é a linha de frente no combate às drogas, de acordo com Botega. Por mais que os jovens tenham von-tade de largar o vício, se não tiverem o apoio da família e, em segundo lugar, dos amigos, nunca largarão aquele mundo de crime. É uma decisão que ou lhes dará cadeia, ou lhes levará à morte, sejam assassinados por traficantes, por overdose ou doenças causadas pelos entorpecentes.

Quando um jovem infrator chega à Delegacia do Adolescente (DA), ele pode ser entregue aos cuidados da família, para que depois seja apresentado pelos respon-sáveis ao Ministério Público, ou, no caso de flagrante, ser internado em educandário enquanto seu caso é julgado. Botega explica que o jovem que chega à delegacia é au-tuado e examinado por psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. Em seguida, é imediatamente apresentado ao MP, que tem 45 dias para definir a punição.

“Já vi casos onde os pais do usuário são agredidos e mortos por causa do envolvimento do filho. São vítimas diretas do tráfico de drogas”

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reaÇÃo iMediata

A cocaína inalada leva em média 15 minutos para fazer efeito. O crack age imediatamente depois de inala-do. Gera aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremores, excitação, maior aptidão física e mental. Além de euforia, sensação de poder e aumento da autoestima. No entanto, a dependência se instala em pouco tempo no organismo e se for inalado junto com o álcool, aumenta o ritmo cardíaco e a pressão arterial o que pode levar a morte.

O médico e professor universitário Wanderley Ribeiro Pires, autor do livro Drogas – Existe uma saída, relata: “Usuários de crack se tornam obcecados e é comum ver garotos arriscando-se a matar ou morrer por alguns troca-dos”. Segundo ele, o aumento no número de homicídios está diretamente ligado ao consumo do crack. “No Rio de Janeiro, onde o tráfi co é controlado pelo crime orga-nizado, a venda é menor. Trafi cantes perceberam que a droga mata ou incapacita rapidamente os consumidores e estão procurando focar o seu negócio na cocaína, para prolongar a vida útil da clientela”, relata.

usuÁrio X traficaNte“Roubei um computador e vendi por R$ 500. Fui na

favela e comprei 62 pedras de crack, sufi ciente para eu fi car dois dias e uma noite internado, fumando sem parar”. Esse triste depoimento foi dado por um adolescente em fase de recuperação. Além da melancolia da situação, pode-se tirar outras lições. A principal delas é que nem sempre uma pessoa que é presa com muitas pedras de crack é um trafi cante. Fato pouco pensado pela polícia que aborda

NÚMErOS dA drOGA• 76% dos usuários de crack têm idade ente 13 e

20 anos.• 30% pertencem à classe média. • Composição: contém 36% de cocaína e o resto

são resíduos diversos que podem ser desde lã de vidro, parafina, sabão e cola.

• Efeito: sua duração é de 5 a 10 minutos.• Custo: varia entre R$ 5 e R$ 10. • Peso: cada pedra pode pesar entre 20 e 40

gramas.

CrACKiCiONÁriO• Barato: período em que a droga está fazendo

efeito no corpo• Baseado: cigarro de maconha• Cabral ou cabralzinho: variação do baseado

com maconha e cocaína• Capeta: baseado feito com maconha e farelo de

crack• Correrias: o mesmo que “fitas” – roubos e

assaltos• Queimar: processo de consumo da droga• Fissura: necessidade extremas de usar mais

uma pedra• Limpo: tempo em que conseguiu ficar sem usar

drogas.

A MiSturA QuE MAtANo final da década de 70, usuá-

rios de cocaína da Colômbia deixa-ram de inalar a droga e criaram o “ba-zuco”, um cigarro feito com os restos do refino, que contêm substâncias corrosivas, como ácido sulfúrico e acetona. A partir daí a pasta de cocaína começou ser fumada misturada com maconha, principalmente nos EUA e na Amazônia. Pouco tempo depois as primeiras pedras começaram ser produzidas. Era o “crack”, re-sultado demoníaco da mistura que leva, além da sobra de cocaína refinada, bicarbonato aquecidos em água e cortados em pequenas porções. Seu nome dá-se por conta do som que é produzido quando a pedra de coca está sendo queimada.

Trinta anos depois o consumo dessa substância é maior que o da cocaína, pois além de mais barato é facilmente encontrado. Taxistas, catadores de papel, comerciantes e até policiais oferecem a droga aberta-mente. No entanto, o efeito do crack é mais curto do que o da cocaína e extremamente estimulante. Provoca a dependência em algumas tragadas.

Cachimbos, pedras de crack e arma

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e leva o detido para a delegacia onde ele é apresentado para a sociedade como trafi cante. Em alguns casos, nem é necessário que ele esteja portando grande quantidade de drogas, algumas pedras no bolso já são sufi cientes para que ele seja suspeito de envolvimento com o tráfi co de drogas.

Para Francischini, o que pesa na decisão do juiz são as circunstâncias em que aconteceu a prisão. “Caso tenha mais indícios que relacionem o preso com o tráfi co de drogas, como dinheiro trocado, balança de precisão e outros utensílios utilizados no manuseio, com certeza ele será autuado pelo crime”, afi rma.

O tenente-coronel Jorge Costa Filho, coordenador esta-dual do 181 – Narcodenúncia, afi rma que o usuário de drogas tem uma tipifi cação penal como vítima. “Na teoria, ele deve ser levado para tratamento psiquiátrico, psicológico até a sua recuperação. Na prática, ele tem que ser retirado de circulação. No entanto, para conseguirmos chegar até o trafi cante temos que receber a informação do usuário”, comenta.

A questão não é o tratamento dado para cada tipo de envolvido com a droga, e sim a identifi cação de quem é quem nesse submundo em que vítima e criminoso se confundem, pois a ilegalidade e a imoralidade são paralelas e vão juntas até a decisão judicial. Ser um viciado é moralmente condenável, mas ser um trafi cante além de ilegal é abominável, pois ob-tém benefício fi nanceiro com a destruição de outras pessoas.

porta de eNtrada O cigarro, o álcool e, por fi m, os inalantes são as drogas

mais citadas como as primeiras consumidas por usuários de crack – geralmente crianças com idade entre 10 e 13 anos. A facilidade em adquirir drogas lícitas contribui para que crianças e adolescentes tenham suas primeiras experiências.

Caderno de anotações Local usado por viciados para consumo da droga (mocó)

CrACK, HOMiCídiOS E trÁFiCOO usuário de crack destrói-se por completo. Pri-

meiro o corpo, depois o bolso e consequentemente, a vida. As pedras que custam entre R$ 5 e 10 aparente-mente parecem acessíveis. No começo do vício, o pen-samento é que qualquer pessoa consegue comprar uma pedra de crack por dia. No entanto, a necessidade se torna tão intensa que não basta uma pedra, ele vai fumar quantas conseguir comprar. Para isso, o usuário usa os seus recursos e quando eles acabam, começa a vender os seus bens, objetos pessoais, em seguida, coisas da família, até mesmo móveis, aparelhos eletrô-nicos e eletrodomésticos. O último estágio acontece quando ele não tem mais para onde recorrer e pratica pequenos assaltos. Suficientes apenas para conseguir comprar droga para satisfazer a vontade imediata.

É nesse momento que o traficante dá o bote e transforma o usuário em um aliado. Ele precisa ven-der para conseguir manter o vício. Se vende cinco pedras ganha uma, se vende dez, ganha duas, e as-sim por diante. “O crack é a droga do homicídio, da criminalidade. O traficante dono da boca recruta seus “funcionários” para pagá-los com crack. Pessoas que abandonam suas casas e passam 24 horas no mocó são zumbis, “soldados do tráfico”, explica Francischini.

crack – geralmente crianças com idade entre 10 e 13 anos. A facilidade em adquirir drogas lícitas contribui para que crianças e adolescentes tenham suas primeiras experiências.

são zumbis, “soldados do tráfico”, explica Francischini.

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proMiscuidade

Durante muito tempo, o Ministério da Saúde focou, e ainda foca, a prevenção da Aids, às doenças sexualmente transmissíveis, e também aos viciados em drogas injetáveis, no entanto, com o surgimento do crack no Brasil nos anos oitenta, e a proliferação na década seguinte, o foco mudou, e hoje viciados morrem sem ao menos buscar o tratamen-to. “O usuário da droga se torna uma pessoa promíscua, sem valores éticos. A higiene é deixada de lado e o sexo é algo extremamente dispensável, no entanto, pode servir como moeda de troca”, comentou Armando. Dez ou cinco reais, ou até menos, é o valor que garotas cobram por um programa. “Proporcionar prazer não está em questão, e sim, arrumar o dinheiro necessário para comprar uma pedra”, completa.

Histórias que se repeteM

Primeiro o baseado, depois o “cabralzinho” (cigarro de maconha com crack) e por último o cachimbo de crack. Esta foi a caminhada de André, um jovem de 17 anos, que ficou cinco anos envolvido com o tráfico de drogas e procurou ajuda por conta própria para se libertar. “Nas drogas a gente fica preso e precisa de ajuda para sair, não só do vício, mas dos vínculos que ele cria, como amizades, namoradas, músicas e a forma de se vestir”, explicou o garoto que, mesmo depois de um ano na clínica ainda tem receio de rever os velhos amigos. O primeiro “péga” aconteceu aos 12 anos. Alguns amigos da rua ofereceram maconha. Durante um ano, fu-mou com frequência, mas chegou um tempo que não sentia mais nenhum “barato”. Resolveu conhecer o “cabral”, uma

Em muitos casos, a primeira droga é oferecida por alguém próximo, um parente que pede para o menino acender o cigarro ou oferta um copo de cerveja para provar.

Segundo a coordenadora estadual antidrogas, a psicote-rapeuta Sônia Alice Felde Maia, as drogas lícitas geralmente são as primeiras experimentadas. “Na maioria das vezes a maconha é a primeira droga ilícita, pois existe o sentimento de rebeldia, de romper as regras e fazer algo proibido”, comenta.

Para crianças e adolescentes com esse perfil, experi-mentar uma droga ilícita é uma questão de tempo e opor-tunidade. A maconha pode ser uma porta de entrada para um mundo que nem sempre tem volta. Para o agente co-munitário em reabilitação e diretor da Clínica Terapêutica Rota de Escape, Armando Jorge Iung, não existem regras para um usuário iniciar-se. “Alguns experimentam por curiosidade, outros para se autoafirmar. No entanto, todos

têm o mesmo destino, a dependência”, conta. A curiosidade mata. Este ditado popular é antigo e ao

mesmo tempo contemporâneo, pelo menos quando relacionado com o efeito que uma tragada em um cachimbo de crack pode proporcionar. O efeito da droga é muito intenso, porém, muito rápido, o que leva o curioso a fumar uma segunda pedra.

Existem diferenças entre as pessoas, algumas são mais tolerantes e, com isso, correm maior risco de se tornarem viciadas. Outras experimentam a uma única vez e depois nunca mais querem”, explica Armando. Segundo ele, essa é uma regra que funciona para drogas lícitas e ilícitas. “Tem gente que toma uma latinha de cerveja e fica bêbado. Com certeza vai ficar com medo de beber novamente, ou ao menos evitar. No entanto, têm pessoas que tomam muitas latinhas e não sentem o efeito do álcool, ou seja, essa pessoa tem maior probabilidade em se tornar um alcoólico”, esclarece.

Mãos de usuárioPedra de crack

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derivação do baseado em que a maconha é misturada com cocaína. “Senti uma diferença legal e achava que estava tudo bem. Cada cabralzinho eu pagava R$ 6. Para isso precisava de dinheiro e comecei roubar”. As primeiras vítimas foram os pais, depois os amigos, vizinhos e, por último, quando já estava usando o crack, saía de moto e, armado de revólver, praticava assaltos em estabelecimentos comerciais e a pedes-tres. “Eu e um amigo compramos um revólver calibre 32 em sociedade. Cada um deu metade do dinheiro e saímos fazer as “fitas” (roubos e assaltos) juntos”, explicou.

Depois de mais de dois anos usando crack, pesando pouco mais de 50 quilos, percebeu que estava indo para um caminho sem volta. “Acho que foi por Deus. Estava muito triste naquele dia e não tinha dinheiro para comprar mais pedra. Tava na fissura. Sabia que ia ter que roubar de novo. Encontrei um amigo e pedi ajuda. Era um ex-viciado

e poderia me indicar uma saída”, explicou. “Os primeiros dias foram difíceis. Uma vez eu fugi da clínica e fui até um pedaço. Fumei um cigarro e, enquanto tragava, veio a imagem da minha mãe e do meu pai na cabeça. Joguei o cigarro fora e voltei correndo”, conta com voz embargada. Na primeira saída da casa, quando havia completado seis meses de tratamento, foi recebido com festa pela família. Mas quando andou pelas ruas do bairro, onde costumava fazer as “correrias”, sentiu medo. “Um cara me parou, tirou sarro porque eu estava gordinho e me convidou para ir na casa dele. Disse que tinha 5g para a gente queimar. Isso dá aproximadamente 20 pedras de R$ 10. Dava para ficar doido uma noite. Desvirtuei e sai correndo. Só saí de casa para voltar para a clínica”, completou, dizendo-se feliz por ter conseguido chegar ao fim do tratamento “limpo”, diz. “Crack é um pesadelo do qual consegui acordar a tempo”, afirma.

Viciado morto em córrego

VidAS dEStruídASCom a família destruída e adolescência per-

dida, um menino de 12 anos, morador de rua, foi apreendido no centro de Curitiba com 50 pedras de crack. A droga estava escondida no forro do tênis e ele disse que trabalhava para um traficante, seu úni-co amigo desde que seus pais foram assassinados no bairro Parolin, em Curitiba. A história aconteceu em novembro de 2007, mas se repete, já que crian-ças são recrutadas nas favelas para serem “aviõe-zinhos” do tráfico todos os dias. Naquela ocasião, o menino disse que era usuário de crack e não sa-bia ao certo seu nome e sobrenome, nem a data de nascimento. Contou também que morava na mes-ma região, mas, quando a sua mãe foi assassinada a tiros, há aproximadamente dois anos, ele deixou o pai, um irmão mais velho e três mais novos, para morar na rua. Segundo Valdecir Botega, ex-supe-rintendente da Delegacia do Adolescente, ele sem-pre “dava uma passadinha” em casa, mas há seis meses, o pai foi assassinado a facadas durante um assalto e ele nunca mais apareceu. Carente de ami-gos, ele foi “adotado” por um traficante, que lhe deu “oportunidade” de juntar uns trocados e garantir o sustento do vício vendendo crack na região central da capital paranaense.

Botega revela que os crimes mais violentos são cometidos por adolescentes, devido à falta de experiência e por estarem numa idade impulsiva, pois já adultos, eles conseguem dosar a violência e agem com mais calma. “Alguns bandidos mais velhos chegam até a agradecer a vítima que lhes entrega seus pertences num assalto, por exem-plo”, ironiza.

A adolescência, analisa o ex-superintendente, é a fase em que o jovem está mais suscetível ao recebimento de informações, que vão definir o seu caráter. No caso do adolescente de 12 anos, preso pela PM, que já teve os pais assassinados, não vê os irmãos há meses, não tem casa e vive no mundo do tráfico de drogas e crimes, a violência é tão nor-mal quanto assistir à televisão, para um jovem que tem estrutura e boa educação.

O grande problema da maioria destes jovens é que o crime e as drogas lhe proporcionam, de certa forma uma vida excitante, da qual eles não possuem o menor interesse em largá-la. De acordo com Botega, os garotos sabem que vivem uma vida desgraçada. As drogas tiram eles temporariamente dessa realidade e lhes dão sensação de prazer e poder. Num estágio mais avançado, acabam tendo recompensas financeiras, quando começam a trafi-car entorpecentes. “É difícil concorrer com a violên-cia”, lamenta o superintendente.

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diCo KReMeRFoTogRAFiA

Alguns nascem artistas, outros se tornam. Das obras de uns e de outros, análises, olhares identificam a sua elaboração e transformação. Mas isso pouca importância tem para

a obra em si, para aquela que permanece. Paulo José Valente, filho de artista, nasceu artista. Conheci-o quando criativo de-signer de móveis na longínqua e fria Curitiba dos começos dos anos 70, século que passou. Inimigo mortal do frio, da geada, da garoa, do parioquialismo mudou-se para Salvador, Bahia. Ali, alicerçado pelo seu talento construiu sua obra com pincéis, telas, tintas, papéis, colas ou qualquer material que a sua criatividade pedisse. Da câmera fotográfica já tinha conseguido resultados que o aproximavam da visão de Man Ray. Artista plástico, artista gráfico, artista fotográfico.

Em 1979 tive o prazer de escrever pequeno texto sobre um trabalho – telas, quadros – que expôs em Curitiba, no Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Era a sua primeira impressão da luxuriante vegetação de Salvador. Pensei-o, fazendo um para-lelo, como Renatus Cartesius no “Catatau” de Paulo Leminski extasiando-se no Parque do Príncipe na velha Vrijburg.

Sua inquieta imaginação levou-o a novas buscas: novos mate-riais, novos processos, novas formas, novos equipamentos, novos desafios. Visão sempre em mutação: nova.

Expõe em Curitiba e Salvador. Viaja com seu trabalho para Nova Iorque e Lisboa, em 1990: novos quadros e desenhos. Tem parte de suas obras no acervo da Belanthi Gallery, Nova Iorque entre 1990 e 1993. Seus 15 segundos de fama teve-os quando o locutor da rádio New York Times – Classical Music, Greg White, comentou os trabalhos que expunha na galeria novaiorquina.

As fotografias que fez e expôs em Salvador na Galeria La Lamp revelam todo o seu imenso talento: Aparas. Nas suas palavras: “Um olhar sobre as aparas, restos de papel, e a súbita descoberta de arquiteturas, de cenários, de paisagens internas e externas. Tramas. Olhei e fotografei.”

APARAS ETACHAS –TRAMAS

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Art

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pontos sobre a arte urbana”. É o mais completo livro já escrito so-bre a arte de rua da cidade. Com um texto rico sobre vários aspectos desta manifestação tão expressiva e atual, presente nas grandes cidades contemporâneas.

O livro é resultado de sua tese de doutorado, iniciada em 2004. “Eu passei a observar o que estava desenhado nas ruas e calçadas de Curitiba, tive curiosidade de saber mais sobre esse mundo e então co-mecei a minha pesquisa e o interesse em escrever um livro que tratasse especialmente deste assunto”, re-vela Elisabeth.

O livro Graffiti Curitiba pode ser considerado um pilar de desen-volvimento para o segmento da arte de rua no Paraná. “Quanto mais as pessoas escreverem sobre arte ur-bana mais enriquecedor torna-se o tema. E ele é importante tanto para os artistas quanto para os professo-res, que podem explorar o graffiti dentro das escolas, como ferramenta educacional”, expõe a autora.

vAneSSA BoRdin

Uma arte que dialoga dire-tamente com as pessoas, pois é criada e pensada

para estar nas ruas, não em mu-seus ou espaços fechados. Isso é arte urbana. Com este importante diferencial, vai além da criação, dá movimento e cor para o meio urbano, além de ter importante papel na democratização da arte. Em evidência nos últimos anos no Brasil, em função do surgimento de artistas que mexem com graffiti e da valorização dessa expressão, a arte urbana retoma o conceito original do espaço público co-mum, onde há interação, diálogo, convivência mútua entre a arte e as pessoas, o que dá legitimidade às cidades.

Elisabeth Seraphim Prosser, historiadora social da arte, lançou em novembro do ano passado o li-vro Graffiti Curitiba. Uma obra de 210 páginas em que a autora traz à tona certas polêmicas em torno da diferenciação do picho e do graffiti. Segundo ela, “passeia por muitos Inquietação - Dose

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No rol das MelHores

Uma exposição inaugurada em dezembro reu-niu 18 nomes da arte urbana, com curadoria de Elisabeth. “Inquietações/Contradições” foi dedicada à arte de rua e às intervenções urbanas, em especial ao graffiti. “Para a mostra, foram convidados artistas que hoje atuam com meios e universos diferen-ciados, como a tatuagem, a ilustração, o design, a gravura, a multimídia, a cenografia, o graffiti e a escultura, entre outros. O ponto comum entre eles é a sua intensa experiência com a intervenção urbana, o seu diálogo íntimo e cúmplice com a cidade e a absoluta liberdade de ação e manifestação que essa arte oferece e que contribui para que sua expressão seja carregada de força e significado”, explica a pesquisadora. Os artistas assinam com codinomes como Valdecimples, Noodle, Bolacha, Dose, Paulo Auma, Thiago Syen, Cisma, entre outros.

Curitiba também foi uma das capitais brasilei-ras que sediou o evento Encontros Internacionais de Graffiti, em 2005. Reuniu artistas do Paraná, de São Paulo, do Chile e dos EUA. Em 2009, a Travessa da Lapa, no centro de Curitiba, recebeu a pintura de três grafiteiros renomados em 80 metros de muro. Michael Devis, Felipe Kress e Wagner Now transformaram o local, até então visado por vândalos, num ponto de referência da arte. A ideia também era divulgar o

“Muito além de dominar as técnicas o artista desenha para deixar a sua verdade”, diz Cleverson Paes Pacheco

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graffi ti e estabelecer a diferença entre essa técnica e a pichação.

Em 2010 algumas escolas de Curi-tiba começaram a organizar eventos sobre o graffi ti e no Largo da Ordem os bares tradicionais deram espaço para exposições de artistas locais.

Atualmente, são quatro institui-ções que oferecem cursos voltados para a arte de uma maneira geral, seja ela visual, musical ou poética. Isso tudo mostra o quanto a arte urbana desenvolveu-se na cidade e a quantidade de artistas que foram surgindo ao longo dos últimos anos, muitos ainda não conhecidos. No en-tanto, é importante destacar que a arte urbana é mais do que o graffi ti, é uma manifestação cultural e social, também chamada de Street Art.

alÉM da tÉcNicaA maioria dos artistas curitibanos

faz do graffi ti um trabalho. Como é o caso de Cleverson Paes Pacheco, ou simplesmente Café, de 26 anos, que passa horas para produzir uma pintu-ra. Para ele, a arte urbana representa uma atitude, “muito além de domi-nar as técnicas o artista desenha para deixar a sua verdade”, diz Pacheco.

O interesse pela arte urbana co-meçou quando ele tinha 10 anos. “Eu gostava de ampliar desenhos como do Homem Aranha e do Batman. Depois veio a vontade de criar meus próprios personagens, meu próprio cenário, meu próprio mundo”, revela o artista,

que hoje tem desenhos grafi tados em vários cantos de Curitiba e na região metropolitana.

Quase todos os desenhos de Pa-checo têm formas abstratas e a ins-piração para pintar vem do próprio cotidiano. “Faço porque é o que sei fazer, me descobri como pessoa atra-vés do graffi ti”, destaca Cleverson Pacheco que ainda expõe, “gosto de retratar a fi gura da pessoa negra na arte urbana porque eu sou negro, é uma forma de expressar um pouco da minha cultura”, defende.

Em pouco mais de dez anos tra-balhando com graffi ti Pacheco deixou os velhos instrumentos, como a tinta látex para adotar o spray, o que deu à pintura mais qualidade e a tornou mais moderna. E esse é um dos ma-teriais mais utilizados nas gravuras urbanas. O artista também aprimorou os traços, o efeito de luz e da sombra nos seus desenhos. Características que fi zeram seu trabalho ser reconhecido não só em Curitiba, mas em eventos por outras cidades do Paraná.

possibilidadesNo ano passado, o Museu de Arte

Contemporânea do Paraná (MAC) or-ganizou pela segunda vez a exposição “Possíveis Conexões”, que fi ca aber-ta até março de 2011, com o objetivo de aproximar as instituições de ensi-no de Arte em Curitiba, professores, alunos e o Museu. Participam jovens da Escola de Música e Belas Artes

(EMBAP), Universidade Federal do Pa-raná (UFPR), Universidade Tuiuti (UTP) e Faculdade de Artes do Paraná (FAP). São 78 alunos expondo trabalhos que trazem diferentes linguagens sobre a arte urbana e graffi ti. Um dos parti-cipantes é o curitibano Deivid Reis Marinho, conhecido por Heal, de 25 anos. Deivid mostra o graffi ti por meio de pinturas ousadas, sempre trazendo um questionamento daquilo que ele faz. “Porque esse é o sentido da arte urbana, é transmitir uma mensagem pelas pinturas e delas poder provocar reações nas pessoas”, revela o artista. Para ele, o objetivo da arte urbana tem dois eixos fundamentais: o de ensinar e aquele que oferece possibilidades para quem faz. “Possibilidades que não se limitam apenas à rua, como decoração em feiras, lojas e ilustrações para cam-panhas publicitárias”, explica o jovem.

Em função disso, Deivid Heal es-tudou arte em uma universidade da capital para se profi ssionalizar ainda mais. “O mercado da arte urbana em Curitiba ainda é pequeno, os espaços para se divulgar e discutir trabalhos não são tantos assim, embora haja apoio de instituições. E, apesar de o graffi ti ainda ser visto como algo “marginal” tenho buscado meu di-ferencial. Acho que Curitiba pode desenvolver muito mais o potencial de arte urbana que tem, em artistas e em opiniões”, ressalta Heal. (Leia mais no site www.revistaideias.com.br)

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e 2Elementos – A arte urbana é representada por alguns elementos – estilos –

diferentes, além do graffi ti. Um exemplo é a Stencil Art (em que a aplicação da imagem é feita com molde vazado), a Sticker (pintura através de adesivo) e a Lamb-lamb (onde a mesma imagem é reproduzida e aplicada em larga escala)

Manifestações – Quando se fala em arte urbana também é preciso falar em intervenções, que nada mais são do que movimentos organizados em regiões do centro da cidade por grupos de artistas da arte a fi m de transmitir uma mensagem, muitas vezes abstrata, outras, nem tanto. Essas intervenções podem acontecer de várias formas, como um simples desenho de um círculo vermelho no meio da calçada a um boneco infl ável pendurado num prédio. São formas de expressão de uma linguagem da arte, que também já são vistas em Curitiba. Um desses movimentos que fazem intervenções – das mais variadas possíveis – é o Interlux Arte Livre. Um coletivo que reúne dezenas de artistas interessados em artes visuais contemporâneas.

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SOLDA humorista

A Janela Acesa

Meu amigo Solda e eu só te-mos uma diferença, tan-tas vezes discutida pelos

bares da noite: eu acho o Professor Thimpor o maior humorista brasilei-ro vivo. Solda, não. Ele acha que é o próprio Professor Thimpor. Como distinguí-los, afi nal? Enfi m, aqui está, depois de um longo silêncio medita-tivo, a volta do Professor Thimpor às lides joco-fi losófi cas. Pelo estilo, Thimpor deve ter andado lendo Joyce ou Lennon, nestes dois últimos recen-tes anos no seu retiro no Tibet, onde o Dalai Lama costuma recebê-lo com o mesmo calor que Fidel Castro rece-be Chico Buarque ou Gabriel Garcia Marques. Atenção, revisores, aí vem o Solda, com tudo!

Paulo Leminski

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(à maneira de um famoço musgo in-glês assassinalado nos Estalos Unís-sonos, num ano não muito pródigo em dezembros)

A janela acesa despintava no peitoril sinequanon. Eustá-quio Teustáquio procurava

um empalhador de palavras.Eustáquio Teustáquio, sabem

como é, o Nossostáquio, estava pa-rafernaliando entre as postetutas da Rua Chuelo, aquela infestada de Ma-riaposas. Nostácio não andava bem

do patíbulo e enroscava o balaustre nas pérgulas do pároco. Parábolas mirabo-lantes lhe atravessavam o mirante desa-botoado, empinando coitos nas páginas amarelecidas dos Alfa Rábius.

Não cabendo em si, entrol no bar-boteco e pediu dois dedos de cedilhas, ao alegrete. O barçom estranhou o tri-gode que escondia metade do resto de Nostácius, mas acabou servindo o pra-tinho feio de cedilhas, das importadas, aos solavancos e solevantes.

- Por Tutatis! Barbituricou Bosstácius.- Por Tutatis Homeopáticus!Estas cedilhas cedilham esôfago

abaixo saltitontas, como nas fábulas fan-tastibulosas de toldos os ambrosebierces e millôres da riodondeza! Restros de luz enbelheciam o barboteco àquela hera da madrugadália. Foi quando entrol Hep-tandria, num vestido e havido como gerúndio, embora a desconfi ança fos-se geral do galvão ferraz, impávido na montanha de Fócida - dessas consagra-das a Apolo, Parnaso, se me entendem - repartindo o cabelo entre o paroxismo e a rubrica mal desenvolvida.

Heptandria brilhava de pos-méticos e ledosivos. Saiu de trás do biombro e salcudiu o açúlcaro, como se pretendesse emporcalhar o chafé soçaite. Teustáquio abalroou uma ma-riaposa e desferiu-lhe o supersério, acenando-lhe bipétalo. A mariapo-sa, rubirosa, chamou dois esmagas que faziam a renda da rendondeza e correu para os braços de Morfeltro. Formou-se a Confuciozão. Heptandria fugiu para o bardel e truncou-se em

ásdecopas, dando uma de joão-de-bruços. Uma cirene argentina desatou em marlombrandos, dos magros. E vieram as leziras e os lamarões de água parada e de-composta ao sol. Tonto, embora zorro e lúcido, Nostácius esten-deu todos os tentáculos e desceu a Rua Chuelo e seguiu os padrões geraes da leiteratura brazilianista actual. Um empulhador de prós-tatas passava pelo logar - minto muito pra não dizer palavrório e para não dizer nada - e seguiu Nosvócius pelas imperícias guin-dadas às bagatelas empasteladas de genialidade, entre veraneios líquidos irresponsáveis, fórmulas escravizadas, campos de estro-bérri, nevralgias retrospectivas e demais desemlapeamentos.

Enquanto isso, num bardeli-ma, dois hímens passam em revista as contradicções empostadas, os impasses, as artimanhãs do poder, a exportação do polvo e a injustiça na Nica D’água.

Teustáquius passa numa biga. É o altista, criador de coisas belas, a antena da raça, a porcelândia chinesa, a madre tertúlia lutando contra a mesmice das Ruas Chuelos da Cruelritiba. Artychewski foi jogado na arehie-na e devorado pelos leomansos paranistas.

A jaunela acesa depintava no peitoril sinedie. Bêbado, quem me compreenderá?

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o aliche, juntamente com as azeitonas e alcaparras são salgadas o suficiente para salgar o molho.

4. Escorra a massa e coloque dentro da mesma panela com o molho. Salpique a salsinha, mexa delicadamente e emprate. Adicione folhas de manjericão a gosto.

5. Dica: Pode-se colocar mais filés de aliche inteiros no final da preparação, potencia-lizando assim seu sabor, a depender do gosto da cada um.

À la carbonaraO spaghetto à la Carbonara exige os se-

guintes ingredientes:• 320g spaghetti de “grano duro” (é impor-

tante que seja de “grano duro”), 4 ovos (5 se forem pequenos), 200 g panccetta em cubos (no lugar da panccetta pode ser usado bacon), Pimenta do reino moída na hora (a gosto), Parmesão ralado (o sufi-

VICENTE FERREIRAprofessor e gastrólogo

Uma dama cinquentona que re-cém se alçou a comentarista de vinhos, cervejas e acepipes diz

que a comida italiana feita em Curitiba é melhor que a de Roma. Diz por ouvir dizer e de gente de rude paladar. Nunca esteve em Roma e certamente não se preocupa com o ponto do spaghetto.

À la PutanescaO spaghetto à la Putanesca leva este nome

segundo a lenda de que em uma cidade portuária na Itália atracou um navio cheio de marinheiros famintos e há muitos meses no mar. Eles desembarcaram e foram direto a um bordel próximo.

Diante do longo jejum de cama e mesa a cozinheira preparou um molho com os in-gredientes mais marcantes que tinha, pois acreditava que ficaria afrodisíaco o prato. Ela usou azeitonas pretas; alcaparras; anchovas; pimentas e ervas frescas em base de molho de tomate.

A seguir, os ingredientes para duas porções:• 220g de spaghetti, 25ml de azeite, 2 con-

chas de molho de tomate (ver receitas mês de maio), 6 filés de aliche, 14 azeitonas pretas cortadas em tirinhas, 2 colheres de alcaparras, 1 colher de sopa de cebola picada, 1 colher de café de chá de alho picado, Salsinha picada, Pimenta calabresa a gosto, Folhas de manjericão a gosto, Sal.

1. Colocar a massa para cozinhar em água fervente com sal.

2. Enquanto isso, aqueça o azeite e doure o aliche que se desmanchará. Acrescente a cebola e o alho, as azeitonas, as alcaparras e a pimenta calabresa.

3. Agregue o molho de tomate e deixe cozinhar em fogo brando. Verifique o sal e corrija se necessário. Normalmente não precisa, pois

Mulheres, damas e spaghettiOs comentaristas nativos no mais

das vezes estão mais ocupados com o rendimento, em espécie ou permuta, dos elogios que escrevem com gran-de facilidade, embora seja comum o tropeço na concordância e na grafia.

Mulheres, damas e spaguettis há cada dia mais em oferta nesta periférica

praça. Do que se deduz que é preciso selecionar bem o que se compra.

Há duas receitas de spaghetti. Fa-mosas e duradouras porque são sabo-rosíssimas. À la Carbonara e à la Puta-nesca. O jornalista Luis Geraldo Mazza muito as aprecia. Os nomes anunciam o que veremos a seguir:

ciente), 5 colheres de sopa de creme de leite sem soro.

1. Em uma panela, coloque 5 litros de água com um punhado de sal grosso para ferver.

2. Aqueça bem uma frigideira grande e co-loque os cubos de panccetta e frite até que fiquem crocantes.

3. Um pouco de óleo se desprenderá da panccetta.

4. Retire um pouco se achar que tem muito.5. Reserve.6. Em uma vasilha quebre os ovos e misture

com o parmesão até formar uma pasta homogênea e bem úmida.

7. Adicione a pimenta-do-reino na quanti-dade que desejar misture bem e reserve.

8. Cozinhe o spaghetti “al dente” (siga as instruções da embalagem).

9. Reacenda o fogo da frigideira, escorra o spaghetti reservando um pouco da água do cozimento.

10. Misture a massa aos cubos de panccetta na frigideira e apague o fogo.

11. Acrescente os ovos misturando muito bem para que se aqueçam apenas com o calor da massa cozida (é importante não deixar os ovos cozinharem).

12. Acrescente o creme de leite sempre mis-turando bem.

13. Caso fique muito “seco”, acrescente uma ou duas colheres da água da fervura.

14. Sirva (e coma) imediatamente.

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LUIZ CARLOS ZANONI jornalista apreciador de vinhos

Assim como toda casa deve ter um cão fe-roz, dentes à mostra

atrás do portão, todo vinhedo necessita de roseiras. Qual a razão delas? O melhor jeito de não saber é perguntar ao proprietário ou aos funcio-nários. A grande diversão desse pessoal é tecer histó-rias absurdas a respeito. Dirão que os espinhos afugentam furtivos visitantes noturnos. Que a mulher plantou para embelezar a paisagem. Que o aroma das flores impregna as uvas, atribuindo fascinan-te perfume ao vinho. Conversa. A roseira está ali pelo mesmo motivo do cão: para avisar que o perigo se aproxima.

Suscetíveis às mesmas doenças que afetam as parreiras e bem mais delicadas do que elas, as rosas logo acusam os sintomas de pragas que rondam o pedaço, permitindo a an-tecipação de medidas protetoras do vinhedo, o patrimônio maior de uma vinícola. Tanques de inox ou bar-ris de carvalho estão à venda pelas esquinas, o que não é o caso de um bem chamado tempo. Vinhas come-çam a produzir aos quatro ou cinco anos de idade, mas apenas aos vinte ou trinta anos oferecem frutos com concentração, a matéria-prima dos grandes vinhos. A simples ideia de algum mal no vinhedo enlouquece o produtor, e com motivos. A des-

O que dizem as rosas

truição das plantações europeias, na segunda metade do século XIX, por um inseto até então lá desconhecido, marcou o DNA da classe com cica-trizes que dificilmente se apagarão.

Foi por volta de 1860. Algumas mudas de vinhas, levadas da América para a região do Rhône, abrigavam o bichinho quase microscópico deno-minado Phylloxera vastatrix. Ele suga as raízes da vinha, que seca e morre em pouco tempo. As videiras ameri-canas resistem porque uma película dura recobre e protege suas raízes, hóspede e hospedeiro convivem de forma sustentável, mas esse não é o caso das europeias. Com sua desco-munal capacidade de reprodução, a praga arrasou os vinhedos do conti-nente em poucos anos. Os produtores se desesperavam. Nada do que faziam dava resultados.

Em vários países, a Phylloxera não tirou ape-nas o vinho da mesa. Foi-se o pão, a moradia, a escola, o emprego. A vitivinicul-tura sustenta a economia de regiões inteiras, e esse puxão de tapete trouxe de-semprego e miséria, desa-tando um caudaloso êxodo de famílias empobrecidas. Cerca de cinco milhões de pessoas – italianos em boa parte – imigraram para paí-ses como Estados Unidos, Argentina, Brasil e Chile. A crise foi superada apenas

nos anos finais daquele século. O problema veio da América, a solu-ção também: a enxertia das vinhas da Europa em pés de videiras ame-ricanas, com suas raízes resistentes. Foi a salvação, até porque as vinhas enxertadas preservam suas carac-terísticas genéticas.

Devastações massivas como essa são, hoje, impensáveis. Os avanços científicos criaram um formidável ar-senal de armas contra pragas. Mesmo assim, os produtores não dispensam suas rosas – vermelhas, brancas ou amarelas, não importa a cor. Se, pela manhã, os botões não abrem, soam os alarmes. E rosas no vinhedo, além de impressionarem pela beleza e perfu-me, atiçam visitantes curiosos. “Pra que essas roseiras? Vocês vendem as flores?” Chegou a hora do viticultor se divertir.

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Música

Carreras

“Há talentos notáveis entre os intérpretes que têm aparecido”, admite o tenor José Carreras. Na verdade Josep Carreras Coll, catalão nascido em Barcelona em 1946 e que aos oito anos já se apresentava em rádios espanholas. Mas ele mesmo adverte: “Engana-se quem pensa que é suficiente ter uma bela voz”.

Ao longo de sua carreira trabalhou com grandes regentes. Karajan, Abbado e Bernstein. Karajan disse: “José é um cantor adorável e um dos poucos amigos que tenho nessa profissão. Definir vozes é arriscado e nem sempre é uma boa ideia. Mas se é necessário então devo dizer ele é o verdadeiro representante do bel canto”.

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José Carreras

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A Bohème de Puccini, com a soprano Barbara Hendricks, foi o grande primeiro trunfo discográfico da carreira.

Foi Karajan quem o incentivou a enfrentar papéis mais pesados, como Radamés na Aida de Verdi.

Além do registro em CD, há também o DVD de sua Carmem com Agnes Baltsa, gravada no MET.

Com Sly, de Wolf-Ferrari, ele fez sucesso em diversos palcos da Europa e dos Estados Unidos.

O musical de Bernstein com regência do compositor; além do disco, há DVD com making of.

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Todas as manhãs do mundo (1991) – Tous les matins du mon-de – dirigido por Alain Corneau, é um fi lme ambientado no século 17. O músico da corte de Luiz XIV, Marin Marais (Gérard Depardieu), relembra sua introdução no mundo artístico supervisionado pelo seu rigoroso mestre de viola de gamba, Sainte Colombe (Jean-Pierre Ma-rielle). O refl exivo e denso Marais é interpretado por Gérard Depardieu quando adulto e por Guillaume De-pardieu (fi lho de Gérard) quando jovem. O fi lme conta ainda com as belíssimas composições originais da época, de autoria de Jean-Baptiste Lully e François Couperin.

Fi���s

Projeções em uma escultura fl utuante geram interação por meio dos sons, luzes e imagens na ins-talação "In.fl exão". Na confl uência entre arte e tecnologia, o projeto busca a discussão poética sobre como a sociedade da informação está se transformando e como se dá a relação do homem e seu novo contexto, em que a estética, ética, informação, trabalho, aprendiza-gem estão mudando em velocidade vertiginosa. Os artista envolvidos são Tiê Passos, Fábio Alves e Jonas Prates. O projeto foi viabilizado pelo Programa de Apoio e Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura de Curitiba.Ingresso: Gratuito - Data(s): 10/12/2010 a 13/3/2011. Espaço cultural: Centro de Criatividade de Curitiba

escultuRa FlutuaNte

24 quaDRos

Ao invés dos shoppings, o fa-moso calçadão do centro de Curi-tiba como ponto de encontro para assistir à mais aguardada estreia do fi m de semana. A Rua XV de Novembro sem o prédio do HSBC, sem grandes centros comerciais e com grandiosas salas de cinema. 24 Quadros, o livro-reportagem que acaba de ser lançado  pelas jornalistas Luciana Cristo e Nívea Miyakawa, em parceria com a Tra-vessa dos Editores, resgata a histó-ria da antiga Cinelândia curitibana, como costumavam ser chamados os cinemas de rua da cidade que cau-savam frisson das décadas de 1950 a 1970, localizados principalmente na Boca Maldita e arredores.

O livro foi produzido por meio do Mecenato Subsidiado, uma das leis municipais de incen-tivo à cultura, e sai com o selo da Travessa dos Editores, como parte da coleção A Capital.

24 Quadros. Luciana Cristo e Nívea Miyakawa. Travessa dos Editores (dezembro de 2010).

Lıvro resgata a hıstórıa da antıga Cınelândıa curıtıbana

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LivrosFoto: D

ivulgação

Foto: Divulgação

O homem que amava as mulhe-res, publicado pela Imago, é o que se pode chamar de um cine-romance do diretor François Truffaut. O nove-lista Truffaut tem toda a delicadeza e a vitalidade das percepções que caracterizam o cineasta de Jules e Jim, Fahrenheit 451, o Último Metrô.

“Faço filmes para realizar meus sonhos de adolescência”, escreveu Truffaut. “Para fazer bem a mim mes-mo e, se possível, aos outros. Para mui-tos, hoje, o cinema é uma escritura; para mim será sempre um espetáculo, onde fica proibido entediar quem quer que seja, ou se dirigir a uma parcela apenas do auditório. Como todo auto-didata, eu me esforço, acima de tudo, para ser capaz de convencer.”

As mesmas palavras poderia ter sido escritas sobre este peque-no romance, mais atual agora do que há duas décadas. Um livro sobre as perplexidades e as difi-culdades – e alegrias – de ser um homem, hoje, em plena mudança das relações de gênero.

O escritor e pensador inglês Samuel Johnson (1709-1784) é mais atual do que nunca. Conhecido pe-las frases, entre outras, “o patriotis-mo é o último refúgio dos canalhas” merece ser lido na íntegra.

Johnson produziu muito. Es-creveu romances, ensaios e colabo-rou em revistas ao mesmo tempo. É dele o Dicionário da Língua Inglesa, de 1755. São antológicos os textos publicados nas revistas The Ram-bler (1750/52) e The Idler, (1758/60).

Criou em 1764 um clube lite-rário com os amigos (olha o time) Edward Gibbon, Joshua Reynolds, Oliver Goldsmith e Edmund Burke.

Em 1765 publicou edição co-mentada das obras de Shakespeare e sua perspicácia demonstrou que as obras atribuídas ao poeta Ossian na verdade não eram de sua auto-ria. Johnson publicou também um romance de muito sucesso chama-

do “A história de Rasselas, príncipe da Abissínia”, de 1759. No campo da crítica, sua obra-prima foi “Vidas dos mais eminen-tes poetas ingle-ses” (1779/83).

Não seja caNalha, leia johNsoN

o homem que amava as mulheRes

Enfim, um doutor nativo que se ocupa com temas relevantes. Anto-nio Benedito de Siqueira fez acurado estudo das convenções coletivas de trabalho da indústria entre 1980 e 1994 e concluiu que o sistema de negociação coletiva no Brasil é ob-soleto e precisa ser mudado, com urgência, em sua estrutura.

O autor põe o dedo na ferida. Prova que é preciso destruir todos os instrumentos do corporativismo ainda existente na relação entre ca-pital e trabalho no Brasil.

Crise econômica e sindicato no Brasil, editado pelo Instituto Memória, é imprescindível para capitães do sindicalismo moderno e de indústria.

aBaixo o coRpoRativismo

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em peRFeita soliDão

Feita a partir da nova edição da Bibliothèque de la Pléiade, que recupera texto da edição póstuma de 1595, a seleção de ensaios de Michel de Montaigne (1535-1592) tem tradução fl uente e inédita, pela premiada Rosa Freire d’Aguiar “só, em si e consigo mesmo, no meio do mundo -- e em perfeita solidão” Editado pela Penguin-Companhia, organizado por M. A. Screch.

os Gatos De eliotEscritos nos anos 30, estes

poe mas de T. S. Eliot narram a vida de um grupo de gatos. “Os Gatos” inspiraram o musical “Cats”. É bela a edição bilíngue

da Cia das Le-trinhas. A tra-dução é de Ivo Barroso. Ilus-tração de Axel Scheff er.

um NeGÓcio FRacassaDo

“Um negócio fra-cassado e Outros Con-tos de Humor” é cole-tânea de 38 narrativas escritas entre 1882 e 1887. Marcados pelo traço humorístico de

Tchekov, os contos abordam a re-alidade social das misérias e in-justiças da Rússia pré-revolução. Da L & PM, Tradução de Maria Aparecida B. P. Soares.

pushKiN, eNFim tRaDuZiDo

“Eugênio Oguenin” agora na primeira tradução para o portu-guês da obra-prima do escritor russo (1799-1837). Narrada em

versos, é a história de um jovem aristocrata que, diante do amor, despreza e também é desprezado. Da Edi-tora Record. Tradu-ção de Dário Castro Alves.

Por não ser considerado um assunto de maior importância, a moda sempre foi tratada com al-gum desprezo ou indiferença pe-los intelectuais. Em “O Império do Efêmero” o fi lósofo francês Gilles Lipovtsky desvenda o tema de uma maneira muito mais complexa do que imaginam mentes mais con-servadoras. Pôr a moda em esfera mais ampla, em contexto históri-co e social, desvenda e possibilita leitura muito mais abrangente – e inteligente – de um tema tratado com miudez. Por isso o livro, lan-çado em 1987, causou polêmicas acirradas na comunidade erudita e entre críticos.

Diz Lipovtsky, “pensar a moda requer não apenas que se renuncie a assimilá-la a um princípio inscri-to necessária e universalmente no curso do desenvolvimento de todas as civilizações, mas também que se renuncie a fazer dela uma cons-tante histórica fundada em raízes antropológicas universais”. Nessa questão se baseia todo o mistério e a complexidade da moda.

mistÉRios Da moDa

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IZABEL CAMPANAcronista

Tarde demais

Parece que foi Fernando Sabino quem disse, em crônica sobre Paris, que sentia ter chegado à ci-dade tarde demais. Eu tive uma experiência muito

parecida quando cheguei ao Rio de Janeiro pela primeira vez. 40 graus, 40 anos atrasada.

Fui morar no Rio em 2007. Tenho que admitir, mes-mo temendo a reação raivosa que certamente virá dos amigos cariocas, que me decepcionei.

Não vi nada daquilo que eu esperava. Queria ver o Rio de Tom e Vinícius. Sim, gente bonita a desfi lar por praias de tirar o fôlego. Fervor de beleza, paraíso tropi-cal dos hedonistas. Mas também queria ver muita gente inteligente. Queria ver o Rio centro pensante do país.

Queria ter estado lá para ver os gênios. Só de escri-tores, uma boa penca. O próprio Sabino, Rubem Braga, Manoel Bandeira, Clarice Lispector, Drummond. Isso só para citar alguns. E Nelson Rodrigues, meu herói de infância. É, eu sei, fui uma criança esquisita.

E para falar mais dos jornais: Stanislaw Ponte Preta, Carlos Castello Branco, Otto Lara Resende, Paulo Francis, Paulo Mendes Campos. Quer mais?

Tinha mais. A melhor música, a melhor vida noturna. O melhor que vinha de fora. Passou por lá, sim senhor. Queria

ter estado no Rio para ver Noel Rosa, ou mesmo João Gilber-to, quando ainda saía de casa. Além do melhor do futebol. Garrincha, Didi e o milésimo gol do Pelé no Maracanã.

Queria ter visto o Rio de Janeiro capital. Não balne-ário. Com fi guras históricas interessantes. Queria assistir Missa do Galo na Corte e trocar umas idéias com Lima Barreto numa mesa de bar.

Mas a verdade é que o Rio não envelheceu bem. Perdeu os melhores dentes. Os da frente. E quando eu cheguei, nada daquilo que cresci ouvindo Tom e Vinícius cantarem estava lá.

Copacabana, Princesinha do Mar, imprópria para ba-nho. A verdadeira Garota de Ipanema são hoje senhoras de 80 anos. Vão à praia de toca e penhoar e lotam as fi las do banheiro do Cine da Roxy nas tardes de domingo.

Foi substituída por um outro ser. Uma mulher bom-bada, betacarotenada, siliconada e oxigenada, que não é cheia de graça.

Além da Barra da Tijuca, que encaixotou todo mundo em condomínios fechados e roubou o Glamour do posto 7.

Belezas naturais? Desde que o Gabeira meteu uma tanga fi o dental e foi à praia, a paisagem não é mais segu-ra. E quando a praia deixa de ser refúgio, o calor do Rio vira tortura. A primogenitura por um ar-condicionado!

Não é que tudo fosse ruim quando morei lá. Sinto falta de muita coisa do Rio. Os amigos, em primeiro lugar. Creio que seja bom adulá-los para ver se não perco a amizade.

Andanças pela Barata Ribeiro para tomar um suco, entrar num sebo. Visitar as livrarias, as galerias, e um honesto restaurante chinês do centro da cidade.

Mas não. O Rio não é mais aquele que recebeu Brigitte Bardot. Assim como Brigitte Bardot não é mais aquela que visitou Búzios.

Mas também, talvez eu é que esperasse demais. Tinha feito na cabeça uma imagem de fantasia com narração de Paulo Francis, trilha sonora de Noel Rosa e fotografi a de Gervásio Baptista.

Esperava encontrar um Rio de Janeiro que não é só de outra época. É de outras épocas. E é tarde demais para acreditar nesse Rio de Janeiro que sempre existiu só na minha imaginação.

Brigitte Bardot em Búzios

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Madrugada de insônia, fe-bre, hemoptise, cansado de ler liguei a máquina de

fazer doidos. Ou de amansar doidos – tevê, telinha. E entre os mil canais que me amparam nos momentos de tédio ou angústia dei de cara com canal esportivo a mostrar jogo de futebol europeu.

Fique tranquilo; não falarei so-bre ele, não farei análises técnicas, táticas, físicas, químicas, morais; meu negócio é outro. Estou a me referir ao esférico, bola em Portugal.

Esférico a rolar no relvado à bus-ca da moldura. Ou bola a rolar na gra-ma em busca da meta. Boa defi nição de futebol. Que se resume a: Esférico. Relvado. Moldura. Bola. Gramado. Meta. E 22 animais a escoiceá-los.

Sou do tempo da bola de cor, da bola de couro&cor. Amarela ou pinhão bem passado. Sou do tempo da bola de cor&tento, bola com hérnia, não de disco, hérnia inguinal, próxima da virilha. (Tive ambas. E duas inguinais; par de vaso. Beleza. Operei.)

Pois sou do tempo da bola de futebol com hérnia inguinal, conhe-cida como de tento. De tento e couro de cor. Para os jogos noturnos, bola branca! Pintada de branco, de cal, maquilada com pó de arroz. Como os palhaços de antanho, hoje, sempre.

Ah! O branco! Que não é cor, é ausência de cor. Deslumbramento a primeira vez que vi bola branca ao vivo. Amor à primeira vista. Botei o olho na branquinha e me apaixonei. Perdidamente, mas não para sempre.

Bolas & Bolas

Ah! A bola branca. Então usa-da somente nos jogos noturnos. Que eram poucos, raros como os trevos de quatro folhas. Éramos pobres; dor-míamos cedo, com os bichos. E acor-dávamos cedo, com galos&galinhas. Não havia energia, não havia luz para os jogos noturnos. Nem estádios com refl etores. Nem público para ver jogos à noite. Salvo nos grandes centros. Que eram poucos. Raros.

De repente, as bolas de cor de-sapareceram, saíram de circulação, deixaram de rolar pelos relvados da Oropa, França, Bahia. E não só as bolas cor; também saíram de circu-lação as bolas de tento, operadas, circuncizadas, cerzidas, com pontos, pespontos. Como as hérnias inguinais.

Em lugar do tento, válvula. Que avanço! Em lugar das cores, a branca. E a bola branca, só branca, imaculada-mente branca, foi entronizada. Virou a rainha da boca. E gostou. E mono-polizou os estádios, os jogos. Todos os jogos passaram a ser jogados com bola branca. Até que a gente enjoou. E ela também. E pediu o boné. E demos o boné a ela. E ela, com a sua roliça dignidade, saiu de campo, do estádio, da vida. E entrou pra história. Aleluia!

Quando a gente enjoou da bola branca, quando a gente decidiu se di-vorciar dela, quando a gente decidiu aposentá-la, mandá-la pra remonta, pra reserva – quem a substituiu? Quem entrou no seu lugar? Quem foi pro sacrifício?

E nesse dia, então, deu na pri-meira edição: adentrou ao tapete

verde a bola PB. Em PB. Isto é, em preto e branco. Mas já so-norizada. Saiu a bola branca, entrou a preta e branca. Mistura de ausência de cor com todas as cores.

E assim estávamos, como Inês, eis senão quando, em Portugal, no ano da graça de 2004, na copa da Europa, foi ao ar esférico bastante original, inco-mum, de cor incomum – cinza prateada com duas listras negras. Muito elegante apesar de um pouco fúnebre.

A essa versão do assim chama-do balão de couro fui reapresentado numa madrugada de insônia, febre, hemoptise. E lá pelas tantas me toquei – algo familiar que jazia no fundo da minha fi el memória veio à tona, à luz. E urrei! Heureka!

Essa bola cor cinza prateada com listras negras lembra as calcinadas caveiras que chutávamos nos quebras adolescentes em Irati. Ai dos venci-dos. Essas bolas cinzas prateadas são volta por cima aos bárbaros tempos das caveiras calcinadas a rolar pelos campos primitivos. Ai dos vencidos. Ai de nós!

CARLOS ALBERTO PESSÔA jornalista

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Feliz Ano Novo

Mais um ano. Tempo de renovar esperanças, sonhos e promessas. Juras que não serão cumpridas, planos que fi carão no papel. Os

anos se repetem. Nós nos repetimos. Comemoramos a repetição.

A época é de clichês, de frases feitas, de felicitações falsas. Há as confraternizações com pessoas que mal co-nhecemos. Os amigos secretos sem graça. Os vários bons desejos advindos de desconhecidos. E viva o fi nal do ano.

Começamos janeiro felizes, renovados depois de uma maratona de festas. O verão está aí. Praia. Sol. Carnaval, a euforia do Ano Novo nos domina. Podemos ser livres. Fantasias. Ah, as fantasias.

O carnaval se vai, e com ele o começo dos nossos sonhos de Ano Novo. Já é abril. Páscoa. Chocolates. Agra-decimentos divinos. Nossa, o Ano está passando rápido, parece que o réveillon foi ontem. As folhas caem. Outono.

Dia do trabalho. Nada concretizado. Da lista feita no réveillon, só a escova progressiva foi feita. Mais um dia dos namorados sem motivos para comemoração. Sem velas e sem presentes. São João, forró e afazeres. O ano está no meio. Preciso correr. Há muito que fazer.

Estou cansada. Primeiro de julho, preciso descansar. Inverno. Frio. Férias escolares das crianças. Meninos cor-rendo, cachorro-quente. Volta às aulas. Muito trabalho, nenhuma realização. É hora de se concentrar. Setembro, feriado. Amanhã eu faço. Mês que vem eu penso. Outu-bro, meu Deus, o ano vai acabar!

Novembro. Flores. Primavera. Vamos para a praia? Dezembro, já??? Ah, o verão. Férias escolares das crian-ças. Compras. Árvore de Natal. Enfeites.

O Ano se foi, mas, e as promessas, os planos, as via-gens para fazer, as comidas para experimentar, os livros para ler, os fi lmes para ver?

Ficam para o próximo ano.Ainda bem que os anos se renovam, para podermos

nos iludir, nos encher de esperança, nos irritar, nos de-cepcionar e recomeçar. Tudo de novo. Mais uma vez.

É o círculo vicioso da vida. Estamos presos a ele. Conformamos-nos. Não há lutas nem confrontos. Algu-mas revoltas aqui ou acolá, mas passam. Passam, pois um novo ano se inicia. O novo ano em que tudo será diferente, onde as promessas serão cumpridas e os sonhos se concretizarão. Talvez ano que vem.

CAMILLA INOJOSAcronista

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ISABELA FRANÇA

Em riscoAssumir a presidência da OAB-PR mudou a rotina do advogado paranaense José Lúcio Glomb. A OAB-PR vive um de seus melhores momentos como instituição. Em sua bela sede própria, no Ahu, tem sido palco dos mais importantes debates sobre direito e cidadania entre elas a campanha contra a corrupção e pela moralida-de na política. Porém, seu presidente vive um tormento em sua vida pessoal. Além da necessidade de contratar seguranças particulares e cogitar a idéia de blindar o carro, a família Glomb esta-ria discutindo a possibilida-de de mudar de endereço. A atual gestão estará à frente da OAB-PR até 2.012. Na foto, com o sucessor Alberto de Paula Machado, Glomb comemorava o anúncio da eleição.

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CuritiBa EM orlando O diretor fi nanceiro e coordenador do Programa de Internacionalização da Faculdade de Edu-cação Superior do Paraná (FESP), Carlos Eduardo Athayde Guimarães, passou o mês de dezembro na Flórida, nos Estados Unidos. Mas, descanso, mesmo, só teve no período das festas, ao lado da mulher Consuelo e do casal de fi lhos pequenos.

Participou de uma maratona de eventos na área educacional e de gestão. Foi palestrante na Central Florida Brazilian Amer-ican Chamber of Commerce (CFBACC), a câmara de comércio que liga os dois países, em Orlando. E, com um grupo de cerca de 30 brasileiros, entre eles alunos e professores da FESP, fez um curso de formação em Coaching Integral Sistêmico, na Florida Christian University (FCU), ministrado por Paulo Vieira, um dos mais respeitados nomes na área de coaching. Na foto, o presidente e chanceler da FCU, professor Anthony Portigliatt i, Paulo Vieira e Carlos Eduardo Guimarães.

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C O R T E S I A

Há muitas formas de se fazer cortesia. Uma das últimas e

mais bacanas foi contada por uma amiga que recebeu uma

encomenda por Sedex. O material veio dentro de uma caixinha

reutilizada do próprio Sedex, redobrada pelo lado avesso. Além

de ter o mesmo tamanho e qualidade de uma novinha em

folha, é uma super cortesia ao meio ambiente.

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Maria Christina na Fundação Cultural Com dez livros na bagagem, prefa-ciados por nomes como Jacques Marcovitch, Affonso Romano de Sant`Anna, Ignácio de Loyola Brandão, Arnaldo Jabor, Luiz Fer-nando Furlan, Clarisse Abujamra e Luís Nassif, Maria Christina de Andrade Vieira assumirá, em janeiro, a presidência da Fundação Cultural de Curitiba.

Além da experiência como escri-tora, Maria Christina traz consigo a capacidade de realização e uma criatividade enorme. É produtora de

eventos, autora e executora de inúmeros pro-jetos culturais, entre eles o Natal do Palácio Avenida, que completou 20 anos ininterrup-tos de apresenta-

ções. Na FCC deverá trabalhar em sintonia com a equipe herdada do jornalista Paulino Viapiana e com o próprio, que irá assumir a Secretaria de Estado da Cultura.

O anúncio de seu nome para a presidência da FCC veio numa onda de bons acontecimentos. Em dezembro, Maria Christina foi hom-enageada pelo HSBC nas comemo-rações dos 20 anos da apresentação de Natal e pelos Correios, com um selo que leva sua imagem feita a bico de pena.

a GEntE não tEM Praia tEM Praça A prefeitura e os comercian-tes do chamado Batel Soho, região cool no entorno da Praça Espanha, resolveram fazer comemorar no melhor estilo europeu a chegada de 2.011. O Réveillon na Praça promete ser animado e moderno. Uma boa alternativa para quem opta por ficar na cidade e quando o litoral paranaense recebe o maior número de veranistas já registrado na orla.

10 anos Os advogados Fernando Vernalha Guimarães e Luiz Fernando Pereira comemoraram no dia 16 de dezembro os 10 anos de fundação do escritório Vernalha Guimarães & Pereira Advogados Associados. Para marcar a data lançaram um livro e um selo comemorativo. Com toda a jovem equipe de advogados festejaram, no Graciosa Country Club, entre familiares e amigos.

A obra organizada pela dupla traz artigos de Direito Empresarial produzidos pela banca que conta com cerca de 20 advogados. O trabalho de edição, editoração e lay out é da designer Manoela Leão, da Gusto Editorial, que também assina o selo e a nova logomarca do escritório.

O momento pessoal e profissional de ambos não poderia ser melhor. Fernando e Flávia ainda brindam a chegada de seu primogênito, há dois meses. Luiz Fernando e Ana Luísa curtem a graça das duas pequenas, com nove e sete anos.

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Ela não para A executiva Lylian Vargas, após mais de dez anos à frente do marketing do Shopping Crystal, encarou outro desafio ao lado da família Tacla. Desde dezembro, é a responsável pela área de eventos do Shopping Palladium. Obstinada em tudo o que faz e com sua simpatia e educação irreparáveis, andou sozinha por todos os cantos do imenso shopping center em seus primeiros dias de trabalho para se ambientar. “Até conhecer tudo isso aqui, vai tempo”, comentou.

Porém, já está alinhavando um plano que inclui inúmeros eventos culturais e sociais nos diversos espaços disponíveis do mall. Um único tema ainda não deverá ser abordado no primeiro semestre - moda. Isso porque todos os produtores envolvidos com o setor querem saber como ficará a cidade, agora órfã do Crystal Fashion. Lylian, uma das criadoras da idéia, também não pretende discutir o assunto. Pelo menos, não tão cedo.

Além dos eventos do Palladium, Lylian assumiu no dia 16 de dezembro a presidência da Business Professional Women – BPW para os anos de 2011 e 2012. Ao passar a batuta, a presidente Maria Inês Borges da Silveira passou a integrar o conselho da entidade ao lado de Maria Cecília Rosenmann, Regina Teixeira, Helena Pereira Oliveira, Suzana Slaviero, Maria Ângela Tassi e Alba de Leão Buchi.

Corrida Sp-Rio , O Desafio dos 600K

Paranaense, cidadão do mundo

O médico cirurgião Kit Abdala tomou posse, em dezembro, na presidência Associação Médica do Sudoeste Novo, com sede em Francisco Beltrão. Nascido em Itaperuçu e formado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, Kit Abdala é uma figura ímpar. É pós-graduado no Karolinska Institute, na sueca Estocolmo, PhD em Ohio, nos Estados Unidos, e, pelas Nações Unidas treinou médicos na Ásia, África e Américas. Ainda nos quatro cantos, ele fundou 29 clubes Lions e, no Paraná, é cidadão honorário de, pelo menos, 11 municípios. Ao assumir mais esta missão, aos 82 anos de idade e quase 59 de medicina, mostra que não falta garra. Anunciou entre suas metas transformar o hospital regional de Francisco Beltrão em hospital universitário. E, nos bastidores, não vem medindo esforços – nem articulações – em busca de uma faculdade pública de Medicina para o município. Esta, viria pela Unioeste.

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CASA NOVA O renomado escritório Justen, Pereira Oliveira & Talamini Advogados inaugurou casa nova no começo de dezembro. Num belíssimo e amplo imóvel nas Mercês, a banca de juristas está instalada num espaço compatível com seu alto grau de competência. Capitaneada pelo professor Marçal Justen Filho, a equipe investe no desenvolvimento intelectual e acadêmico de seus advogados. Só em 2.010, publicou 11 livros. Os quatro sócios mais antigos e que dão nome ao escritório, César Guimarães Pereira, Fernão Justen, Eduardo Talamini e Marçal Justen Filho, são doutores e têm várias obras publicadas. Vários dos demais são doutorandos. Quase todos têm mestrado, são mestrandos ou têm títulos em cursos de especialização. Com cerca de 50 advogados, funcionários e estagiários, o escritório completa 25 anos em 2.011. Atualmente, Marçal está morando nos Estados Unidos, onde faz cursos de atualização. De lá, mantém uma linha telefônica direta com o escritório e seus clientes.

600 milAtualmente, 600 mil vidas estão

protegidas pelo Sistema Nacional de Atendimento Médico – Sinam. O

sistema criado pela Associação Médica do Paraná conta com mais de 1,2 mil médicos de diversas especialidades no Paraná. Toledo, com cerca de 120

mil habitantes, inaugurou o sistema este ano e tem mais de 4,4 mil pessoas utilizando os serviços que garante aos

médicos R$ 80,00 por consulta. Em 2011, Pato Branco e Campo Mourão irão

lançar o Sinam. Médicos de Cuiabá, no Mato Grosso, e Marília, em São

Paulo, já pediram para conhecer seu funcionamento.

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BALACOBACO

Fernanda Rocha

Juril Carnasciali e Joanita Leschkau de Lemos

Simone Greca

Jaime Lerner e o maestro João Carlos Martins

João Carlos Martins eSabrina Peretti Gurtensten

João Carlos Martins e Adriana Cardoso

Conceição Cipolatti e João Carlos Martins

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MaestriaNo dia 09/12, o Shopping Mueller recebeu um dos maiores musicistas brasileiros. O maestro João Carlos Martins apresentou-se com a Orquestra Filarmônica Bachiana em um concerto para convidados. Considerado um dos maiores intérpretes de Bach, já gravou a obra completa do compositor para piano. Após alguns incidentes que reduziram os movimentos de suas mãos e quase o incapacitaram por completo para exercer a maior paixão de sua vida, tornou-se maestro e apresenta-se mundo afora com sua orquestra.

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Palácio IguaçuNo dia 18 de dezembro, a Praça Nossa Senhora do Salete, no Centro Cívico, foi palco das festividades de reinauguração do Palácio Iguaçu. Milhares de pessoas acompanharam a festa que marcou a reabertura da sede do Governo do Paraná e o �im do ciclo do PMDB no poder estadual. A programação, aberta ao público, teve missa natalina do Arcebispo Dom Moacyr Vitti e shows do Padre Reginaldo Manzotti e das duplas sertanejas Willian e

Renan e, Chitãozinho e Xororó. Para alegria do casal Pessuti, Regina e Orlando, que voltam à planície no dia 1º de janeiro.

Casal Pessuti com o diretor regional dos Correios, Itamar Ribeiro durante o lançamento do selo comemorativo

Ardisson Akel – empresário e Fabíola Bach– musicista

O ministro Paulo Bernardo, a senadora Gleisi Hoffmann e o PadreReginaldo Manzotti

A inauguração da placa no saguão do Palácio

Dom Moacyr Vitti e shows do Padre Reginaldo Dom Moacyr Vitti e shows do Padre Reginaldo Manzotti e das duplas sertanejas Willian e Manzotti e das duplas sertanejas Willian e

Renan e, Chitãozinho e Xororó. Para alegria Renan e, Chitãozinho e Xororó. Para alegria do casal Pessuti, Regina e Orlando, que do casal Pessuti, Regina e Orlando, que voltam à planície no dia 1º de janeiro.voltam à planície no dia 1º de janeiro.

A dupla Chitãozinho e Xororó com os produtores da festa,

Ilse Lambach e Dado Dantas

público na Praça Nossa Senhora do Salete.

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Devassa em CuritibaA Cervejaria Devassa abriu no dia 15 de dezembro sua primeira casa no sul do Brasil. Localizada no charmoso Batel Soho, em frente à Praça Espanha. A grande novidade para os curitibanos é o exclusivo chope Devassa que só pode ser degustado na casa. Em homenagem à mulher brasileira, o chope oferece opções para todos os gostos: Loura, Ruiva, Negra, Índia e Sarará. Dentre os destaques do cardápio, os petiscos com nomes irreverentes como a Carnuda (fumegante frigideira de �ilé ao molho roti da casa, com cubos de cebola, salsa, queijo prato derretido e aipim crocante), o Bem Dotado (meio metro de linguiça fresca grelhada, acompanhada de uma saborosa cesta de pães) e o Piu-Piu (pequenos bocados de coxa, sobrecoxa e peito de frango sequinhos, com lascas de alho).

Claudio Albuquerque

Juliana Blanski Costa e família

Thayene Elias, Angelita de Oliveira, Ana Wippel e Lia Meger

Patrícia e Edson Gomes e Juliana Costa

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Claudio Claudio Albuquerque Albuquerque

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Haute CoutureSilvia Fregonese inaugurou, dia 09/12, a Pronovias na Cincopontoum. A primeira coleção da Pronovias foi em 1964. Hoje atua em 75 países e é líder no setor. A �iloso�ia da marca é qualidade e desenho, o que caracteriza seu trabalho. O estilista responsável pela marca é o Manuel Motta e a Pronovias também tem parceria com o Valentino e Elie Saab. Hoje a Pronovias vem crescendo também na linha Festa, onde possui modelos com uma modelágem impecável e o bom gosto Espanhol, seguindo a mesma linha moderna e de alta qualidade das noivas.

Simone Tanus Fregonese

Silvia FregoneseMichelle Jamur

Roberta Damiani

Regina De Pauli e Kitty Pires

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CLAUDIA WASILEWSKI cronista

Moça bonita não paga, mas agora leva

Morri de rir quando ouvi o feirante falando "moça bonita não paga, mas ago-

ra leva". Perguntei por que e ele me explicou: – Vizinha, estou aceitando todos os cartões.

Adoro ir à feira. Me divirto e es-queço da vida. As barracas coloridas exercem um fascínio. Frutas e verdu-ras arrumadas milimetricamente. To-talmente diferente do supermercado.

O melhor da feira é o contato direto, o experi-mentar, ganhar o famoso “chorinho”. Sou louca por uma pechincha. Uma vez enlouqueci tanto um camelô no Paraguai, que ele me vendeu uma caixa de 20 batons pelo pre-ço de dois. Brasileiros sintam-se vingados!

Voltando à feira livre. Na barraca de quei jos me torno uma pessoa totalmente inde-cisa. Tenho necessidade de provar um pouco de tudo. Estes dias vi dois senhores combinando pa ra levar um vinho. Estilo tábua de frios. Daí é o cúmulo da cara de pau. Mas uma las-quinha de dois ou três é uma delícia.

E o pastel? Como não se render? Tem uma tal de Dona Carótida que resolveu tomar mais espaço do que devia no meu pescoço. Mas ela não manda em mim. E de vez em quando mereço um pastel bem recheado.

Mas nem tudo são fl ores, tempe-

ros, mudas e peixes. O que tem me incomodado e muito, são cachorros e mais cachorros. Vestidos e enfeitados atrapalhando as compras. As suas donas, ou melhor, suas “mãezinhas” não percebem o quanto é desagra-dável este convívio no meio de ali-mentos. Por isso vou bem cedo, antes das 7 da manhã. Se não for assim, só apareço depois da 11 horas. Tive que participar de uma real briga de feira

para defender uma idosa. Vejam só. A senhora tinha acabado de colocar um pacote de biscoito na sacola e o cachorro, desculpem, “o fi lhinho” resolveu avançar. Ela de imediato balançou a sacola e bateu na cabeça dele. Pronto. O xingamento começou sem vírgulas, ou pontos. Foi um hor-ror. Me falta coragem de reproduzir aqui. A chamou de múmia, que se deitasse em uma cama já que não

sabia conviver com outros. Não tive como fi car quieta. Tentei argumen-tar, ela gritava cada vez mais e o fi lhinho latia histericamente. Só me restou acompanhar a senhora para longe dali e conversar um pouco até que parasse a tremedeira. Gostaria de saber se em padarias, mercados etc... é proibida a entrada de ani-mais, por que nas feiras com alimen-tos expostos, é livre. Mais uma para

a minha lista de coisas que não entendo.

Produtos de beleza vendidos em catálogos? Existem barracas com pronta entrega. Maravi-lha. Não é mais preciso esperar a entrega. Tem até provadores. Isto mes-mo é possível experimen-tar ali cremes, perfumes, maquiagens.

Barracas de roupas e contrabando se mul-tiplicam em progressão geométrica. Contraban-do é um pouco pesado. Não acredito que os pro-

dutos sejam importados, taxados e legalizados. Será que estou sendo injusta? Como sou assumidamente politicamente incorreta, compro sem um pingo de dor na consciência.

Feiras pela manhã ou à noite têm pela cidade toda. Cada uma com seu charme. Que tal fazer um passeio no mais antigo tipo de comércio da humanidade? O único perigo é me encontrar.

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“Eu vendo orgasmos”

Matéria muito boa, eu conheci a dita chácara, e realmente, pobre lá não entrava. Somente os poderosos do Estado do Paraná.

José Augusto

Ótima a matéria com a Mirlei. O tra-balho dela é muito mais honesto e ético do que muitos aceitos “social-mente” por aí.

Clara Rodrigues

O sonho acabou, mas aında te-mos o Solda

Grande Solda. Desenho belíssimo, prosa inteligente e das mais criati-vas que tem por aí. Diz-se que tem gente que fala melhor do que escreve, mesmo quando escreve muito bem. Solda é assim. E ainda escreve e de-senha bem.Não sabia que ele tinha participado da Batalha de Itararé. Pois então ele deve ser também um combatente como nunca houve.

José Pires

Natal é tempo de Guılhobel

Não a conheço, mas algo pouco sei de seu avô. Viajei deliciosamente na sua história. Que inveja boa deste privilégio (risos)... Boa sorte e tenha um lindo Natal!

Ciro Cesar Zadra

Pela ınconstıtucıonalıdade do bom humor matınal

Não conheço a cronista. Talvez esti-vesse em um mal dia quando escreveu esta crônica. Não posso julgá-la mas posso discordar. Tenho duas fi lhas lindas que me fazem pular cedo todos os dias. Não há como despertar triste com aqueles belos sorrisos. Faço de tudo para animá-las para o dia que começa, até cantar “quem quer pão, quem quer pão”.

Fábio Renato

Balacobaco

Parabéns aos paranaenses que têm coragem de inovar. Esta revista será, sem dúvida, motivo de orgulho para todos os cidadãos que vivem nesta terra maravilhosa.

José Maria

Almas parvas

Como sempre e não por menos, Fábio Campana consegue traduzir em pa-lavras o sentimento que temos ao ler os periódicos noticiosos. A hipocrisia que rege o jornalismo condena os in-gênuos. Já o jornalista que escreve de forma clara é honesto. Obrigada Campana, por ser sincero com seus leitores.

Helena Rocha Cruz

REVISTA

Publicação da Travessa dos EditoresISSN 1679-3501 Edição 111 – R$10,00www.revistaideias.com.bre-mail: [email protected]

EDITOR-CHEFEFábio Campana

CHEFE DE REDAÇÃOMarianna Camargo

REDAÇÃOCarlos Simon, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Márcio Barros, Marisol Vieira, Sarah Corazza, Thais Kaniak, Vanessa Bordin.

COLUNISTASCamilla Inojosa, Carlos Alberto Pessôa, Claudia Wasilewski, Izabel Campana, Jaime Lerner, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Vicente Ferreira.

COLABORADORESDiego Pisante, Heuler Andrey, Isabela França, Kelly Knevells, Kraw Penas, Orlando Pedroso (foto Solda).

DIRETOR DE FOTOGRAFIADico Kremer

TRATAMENTO DE IMAGEMCarmen Lucia Solheid Kremer

FOTO CAPAÁtila Alberti

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOClarissa M. Menini, Katiane Cabral eLuigi Camargo

DIRETORA FINANCEIRAClarissa M. Menini

CONSELHO EDITORIALAroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana.

PARA [email protected]

PARA [email protected]

Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570CEP 80520-250 / CURITIBA PR

Tel.: [41] 3079 9997www.travessadoseditores.com.br

Cartas do LeitorEscreva para [email protected]

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