OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2016-06-10 · que trazem a EDH fundada na...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
DIÁLOGO INTERCULTURAL COMO PRINCÍPIO PARA ALCANÇAR A
ALTERIDADE: UMA PERSPECTIVA PARA A EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS.
Alice Maria Lozano da Costa1
Regina Aparecida Messias Guilherme2
RESUMO: Este artigo se instaura a partir da disciplina de Sociologia em correspondência à Gestão Escolar como área de pesquisa, tendo no centro da teoria social e da prática política a questão da identidade e da diferença como norteamento das experiências aqui narradas e vividas mediante as novas inserções face ao PDE 2013/2014. Neste biênio estivemos delineando a possibilidade de materializar o diálogo intercultural como princípio para que o ideário da alteridade se institucionalize nas realidades econômicas, sociais, escolares, históricas e culturais do estabelecimento de ensino CEEBJA Professor Ignácio Alves de Souza Filho do Município de Jaguariaíva, acolhedor da presente iniciativa e que possui como perspectiva articuladora a Educação em Direitos Humanos (EDH), trazendo à tona a percepção dos alunos da disciplina de Sociologia que atuaram como sujeitos sociais com os quais potencializamos as reflexões aqui reveladas. Assim estabelecemos a pertinência da fundamentação desta análise, que entre outros autores, esteve pautada em Ballestreri (1992); Sidekum (2002); Silva (2000; 2006); Feitosa (2008). Por fim, restou demonstrado pelos interesses dos alunos e membros da comunidade escolar, o valor de compilarmos a presente análise a partir de uma perspectiva interdisciplinar.
Palavras-Chave: Diálogo Intercultural. EDH. Gestão Escolar. Identidade e Diferença.
1 Professora PDE 2013/2014 do Estado do Paraná. Licenciatura em História pela Universidade
Estadual do Norte Pioneiro de Jacarezinho; em Ciências Sociais pela Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES. Especialista em Metodologia do Ensino - Aprendizagem da História no Processo Educativo; e Pedagogia Escolar: Supervisão, Orientação e Administração. 2 Professora Orientadora- Assistente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG).
1. INTRODUÇÃO.
A escola pública é o espaço democrático de aprendizagem, vista a partir de
uma perspectiva interdisciplinar e multidisciplinar, em que se favorece e facilita o
estreitamento das relações humanas, oportunizando o relacionamento, o convívio e
respeito com as diferenças e gerando novas práticas sociais.
O desafio pretendido com a Educação em Direitos Humanos nos ambientes
escolares é enorme, uma vez que a escola é apontada como uma instituição com
meios físicos e humanos para solucionar os problemas e os conflitos existentes em
seu entorno, e que dela exige respostas, resoluções, soluções e formações
educacionais, sociais e culturais dos alunos.
O objetivo deste artigo é mobilizar o coletivo da escola, a discussão, o
diálogo, a reflexão e a interação, para que esta possa tomar suas próprias decisões
sobre a melhor forma de desenvolver seu compromisso profissional e institucional
para com a Educação em Direitos Humanos, promovendo um processo de ensino
aprendizagem com qualidade social para todos aqueles que se constitui num fator
de construção de uma escola democrática e de qualidade, apta a responder as
exigências de uma sociedade em constante transformação.
Tendo em vista a democratização do saber no cenário educacional, em
especial, a escola estadual da realidade paranaense, nesta produção estão
compiladas a essência do diálogo das culturas como objeto de estudo aqui
pretendido, através de escolhas que fizemos ao longo de três trilhas eleitas para
ancorar o presente artigo, de forma a pontuá-la, primeiramente, pelas vias do
multiculturalismo, onde acreditamos se voltar, de alguma forma, à valorização da
diferença. Para a segunda trilha, prescrevemos pelas vias da compreensão da
identidade na atualidade. Finalmente, para constituir a última trilha aqui percorrida,
foi que lançamos a alteridade como princípio e fundamento da educação em direitos
humanos.
Como aposta de leitura diferenciada de mundo, nossas considerações finais
que trazem a EDH fundada na positivação dos direitos humanos face à sua
institucionalização desde a escola, com as suas possibilidades de prática diária do
que pode significar a alteridade em nossa vida.
2. O MULTICULTURALISMO NA VALORIZAÇÃO DA DIFERENÇA.
A cultura em Direitos Humanos como forma de acesso e ampliação da
cidadania comporta processos socializadores permitindo aos alunos
compreenderem-se a si. A diversidade se instaura como componente que se defraga
na articulação entre identidade e diferença, que, como duas faces de uma mesma
moeda se imprimem na constituição das relações de pertencimento e de presença
do sujeito de direitos, que tem seu lugar definido nos espaços de convivência
humana e a escola se demarca como um destes. Assim percorremos o
entendimento do que significa as ações multiculturais frente à valorização da
diferença ao longo da vigência das atividades de intervenção pedagógica.
No contexto escolar, as significações e o real sentido da diferença como
representação se imprimem de forma considerável, bem como na infiltração do
currículo e suas demarcações de poder.
Para a construção de uma cultura de Direitos Humanos eficaz nas instituições
educacionais, deve-se ter como princípio a concepção de que é essencial termos o
discernimento de que a EDH contribui para a efetiva cidadania face à luta contra as
desigualdades e injustiças. Assim,
A Educação em Direitos Humanos está claramente desafiada a superar a dicotomia entre igualdade e diferença e, acreditamos que isto somente será possível se assumirmos uma perspectiva intercultural o que exige discutir as diferentes concepções do multiculturalismo presentes nas sociedades contemporâneas. (CANDAU, 2010, p.216-217)
3
A partir desta concepção do multiculturalismo, a Educação em Direitos
Humanos enseja uma educação com vistas a promover o respeito e o
reconhecimento da pluralidade e da diversidade cultural, rumo a uma sociedade
fundamentada no respeito às diferenças, bem como a valorização da escola como
espaço privilegiado para a formação integral do aluno, já que o ambiente escolar é o
grande responsável na construção da identidade desses cidadãos.
É por meio de ideias multiculturais que podemos entender e até deliberar
sobre os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica,
racial, comportamental e econômica, palavras estas que viraram chavões nas rodas
de conversas formais e informais, projetos e programas governamentais e não
3 In Direitos Humanos na educação superior. Subsídio para a Educação em Direitos Humanos na Pedagogia.
Editora Universitária da UFPB. João Pessoa, 2010.
governamentais discutidos e sugeridos como meio de valorização do ser humano.
Tomaz Tadeu da Silva conceitua o multiculturalismo como:
Movimento que, fundamentalmente, argumenta em favor de um currículo
que seja culturalmente inclusivo, incorporado as tradições culturais dos
diferentes grupos culturais e sociais. Pode ser visto como o resultado de
uma reivindicação de grupos subordinados – como as mulheres, as pessoas
negras e as homossexuais, por exemplo – para que os conhecimentos
integrantes se suas tradições culturais sejam incluídas nos currículos
escolares e universitários. Mas criticamente, entretanto, também pode ser
visto como uma estratégia dos grupos dominantes, em países
metropolitanos da antiga ordem colonial, para conter e controlar as
demandas dos grupos de imigrantes das antigas colônias. (SILVA, 2000,
p.81)
Com uma reflexão multicultural, devemos reconhecer que a identidade do
ser humano não é inata ou pré-determinada, pois conforme Adelaide Alves Dias
(2007, p.452)4 ela é “plural marcada pelo nosso pertencimento aos mais variados
grupos sociais e, que, portanto, precisamos tratar nossas diferenças com o devido
respeito e tolerância necessários ao convívio escolar democrático, acolhedor,
humano”. A compreensão multicultural, junto ao reconhecimento da identidade dos
seres humanos, nos tornará mais críticos e reflexivos sobre a maneira como
estamos contribuindo para a formação das identidades dos nossos alunos.
O reconhecimento pelos outros é uma necessidade humana, uma vez que o
ser humano só existe através da vida social. Numa sociedade que apresenta em sua
constituição identidades plurais, com base na diversidade de etnias, gêneros,
classes sociais. “A não discriminação se assenta na igualdade” (COSTA, 2007,
p.58). Sem essa compreensão não há possibilidade da vivência multiculturalista
conforme a visão de cada grupo e de cada indivíduo.
Assim, precisamos considerar que os seres humanos dependem do
reconhecimento que lhes é dado dentro de uma política comprometida com a justiça
social, aonde a interculturalidade venha produzir novos conhecimentos e outras
interpretações simbólicas de mundo.
A escola se apresenta no campo educacional, como o local favorável para o
desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva
4 In Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos. Editora Universitária, João
Pessoa, 2007.
da aprendizagem, com projetos de transformação visando superar a discriminação e
a situação de inferioridade e desigualdade das identidades minoritárias.
Desta forma, no ambiente escolar o multiculturalismo dá a devida percepção
e importância aos movimentos sociais,
[...] especialmente os relacionados às questões étnicas, entre eles, de modo particularmente significativo entre nós, os relacionados às diversidades negras e indígenas e, ultimamente os relacionados à diversidade sexual, que constituem o locus de produção do multiculturalismo. (CANDAU, 2010, p. 217).
Vivemos em uma sociedade multicultural, convivemos diariamente com a
diversidade, mas, é principalmente no ambiente escolar que nos deparamos com a
necessidade de “ampliar o conhecimento acerca do humano, de sua natureza, sua
cultura, suas normas, seu ambiente, seu modo de ser e de sentir” (FEITOSA, 2008,
p.113). Precisamos deixar claro que os direitos humanos são os princípios e/ou
valores que permitem aos sujeitos garantir sua condição humana, convivendo em
coletividade com dignidade.
Numa percepção multiculturalista, o currículo oculto é um dos espaços nas
instituições escolares para legitimar as diferenças em defesa da pluralidade e da
diversidade cultural, já que a escola é parte responsável na construção da
identidade dos alunos, quando estes apresentam individualmente dificuldades para
construir sua identidade diante da nova ordem global. Ricardo Brisolla Balestreri
acresce que:
É preciso repensar a teoria do currículo oculto em termos de adequação do estudante aos mais complexos esquemas de manutenção do mundo do consumo, com suas prioridades, seus “valores”, seus objetivos e, subsequentemente, suas formas desejadas de relações interpessoais. (BALESTRERI, 1999, p.58)
Seguindo neste mesmo raciocínio, Balestreri (1999, p.57), afiança que “só se
educa para os Direitos Humanos quem se humaniza e só é possível investir
completamente na humanização a partir de uma conduta humanizada”.
Portanto, devemos ter sempre em vista a sensibilização da comunidade
escolar para a compreensão das causas que justificam a Educação em Direitos
Humanos, identificando os princípios que a sustenta, possibilitando a compreensão
e a noção dos sujeitos de direitos, visando motivar o compromisso concreto com a
defesa dos direitos humanos, valorizando a convivência com as diferenças no
âmbito escolar e além dos seus muros, incentivando a solidariedade e a cooperação
entre os alunos.
Os alunos devem estar em constante interação com seus educadores, pais e
responsáveis, como ainda com todos os demais membros do coletivo escolar,
considerando a plena participação de forma a evidenciar uma gestão escolar
direcionada pela via do diálogo como razão primeira das decisões coletivas, uma
vez que permeamos por indicativos pedagógicos que transmitam pelas instâncias da
identidade da pessoa.
3. IDENTIDADES NA ATUALIDADE.
De formas móveis, flexíveis e descentralizadas de identificação a
mundialização da cultura, as transformações sociais em todas as sociedades vêm
modificando os elementos constituintes das identidades dos sujeitos, provocando o
deslocando dos seus lugares e das tradições locais para uma pluralidade de centros,
produzindo identidades diversas.
Para Tomaz Tadeu da Silva,
A identidade tem se destacado como uma questão central nas discussões contemporâneas, no contexto das reconstruções globais das identidades nacionais e étnicas e da emergência dos “novos movimentos sociais”, os quais estão preocupados com reafirmação das identidades pessoais e culturais. (SILVA, 2009, p.67)
Neste sentido, a Educação em Direitos Humanos no ambiente escolar
apresenta um papel fundamental que é o de contribuir no processo de formação
integral do ser humano na sua totalidade existencial, espiritual, filosófica, cultural,
social e educacional, conscientes de sua função social na luta contra as
desigualdades e injustiças, visto que “a identidade é simplesmente aquilo que se é”
(SILVA, 2009, p.74).
A escola deve, portanto ser o espaço de aproximação de convivências com as
diferenças, auxiliando os sujeitos na construção de sua identidade, garantindo o
exercício da cidadania e a cultura de respeito da diversidade dos diferentes grupos
sociais entre si.
As constantes transformações sociais ocorridas nas sociedades
contemporâneas remetem a escola proporcionar ações de comprometimento nos
assuntos de direitos humanos, na afirmação dos sujeitos que assumem suas
posições de identidade e se identificam com elas “[...] independente do seu sexo;
origem nacional, étnico racial, de suas condições econômicas, sociais ou culturais;
de suas escolhas de credo; orientação sexual; identidade de gênero, faixa etária,
pessoas com deficiência, [...]. (BRASIL, Parecer CNE/CPN n° 8/2012).
Com ações críticas e reflexivas nas formas de pensar as identidades, a escola
é o lugar ideal para a formação das identidades dos alunos, de acordo com Adelaide
Alves Dias,
a nossa identidade é plural, marcada pelo nosso pertencimento aos mais variados grupos sociais e, que, portanto, precisamos tratar nossas diferenças com o devido respeito e tolerância necessários ao convívio escolar democrático, acolhedor, humano. (DIAS, 2007, p.452).
Deste modo o comprometimento em assuntos de direitos humanos relaciona-
se a afirmação dos sujeitos que assumem suas posições de identidade e se
identificam com elas [...] “numa sociedade em que a identidade torna-se, cada vez
mais, difusa e descentrada” [...] (SILVA, 2009, p.97).
Nos tempos atuais, temos a vantagem de conviver em uma sociedade com
todas as diferenças existentes, onde as pessoas têm os mesmos direitos básicos.
Deste modo a identidade é marcada pela diferença, como nos apresenta Igor Sporch
da Costa:
A diferença se apresenta de extrema importância nos dias atuais porque têm-se mostrado de forma cada vez mais contundente, o que nos leva novamente a salientar que, na evolução da igualdade, há afirmação das identidades dos membros da sociedade vistos como pessoas diferentes e não mais como os iguais abstratamente considerados. (COSTA, 2007, p.60).
Assim, a Educação em Direitos Humanos sendo pautada no respeito e na
valorização da diversidade em suas várias formas, implica em um instrumento para
assegurar outros direitos permeados pelos valores de igualdade e de dignidade,
senão “é como acabamos sempre que não assumimos a nossa dignidade de
sujeitos intelectual e moralmente autônomos, provocadores orgânicos da edificação
da cidadania”. (BALLESTRERI, 1999, p. 12).
Portanto, a contextualização da Educação em Direitos Humanos à luz da
identidade permite-nos explorar algumas das questões relativas às identidades,
onde os sujeitos possam fazer parte das soluções nos conflitos sociais, políticos e
econômicos, que os envolve dentro e fora dos mesmos. A esse respeito Silva (2006,
p.17) leciona que:
As sociedades da modernidade tardia, argumenta ele, são caracterizadas pela “diferença”; elas são atravessadas por diferentes divisões a antagonismos sociais que produzem uma variedade de diferentes “posições de sujeito” – isto é, identidades – para os indivíduos.
Conclui-se então, que a escola tem o papel fundamental na formação de um
aluno crítico e voltado para cooperação mútua, mas com respeito às diferenças,
principalmente, combatente das desigualdades. A construção desta identidade
levará o aluno a ser um cidadão consciente de seus direitos e de seu papel na
sociedade, reconhecendo que a busca pelo mundo ideal começa com cada um
fazendo o seu papel.
4. ALTERIDADE COMO PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DA EDUCAÇÃO EM
DIREITOS HUMANOS.
A razão é a qualidade especial do homem em relação os demais seres, o que
deve ser observado no âmbito da educação, uma vez que os espaços escolares se
constituem em fundamentos básicos para aprender a ser cidadão autônomo,
convivendo com o outro e respeitando suas diferenças.
O reconhecimento da alteridade absoluta do outro como princípio “[...] seria
alcançado por uma educação fundamental dos direitos humanos, na qual seriam
priorizados os fundamentos éticos da autonomia da subjetividade humana, o
reconhecimento do direito de poder ser diferente [...]”. (SIDEKUM, 2003, p. 235).
A Educação em Direitos Humanos permite ações concretas e cria espaços
para a socialização dos diversos grupos, no conjunto da sociedade, quando
diferentes sujeitos se formem para serem construtores ativos do meio em que vivem
e exercem sua cidadania.
Neste mesmo sentido, o entendimento revelado no Parecer nº 8/2012 do
CNE, que dispõe:
A Educação em Direitos Humanos emerge como uma forte necessidade capaz de reposicionar os compromissos nacionais com a formação de
sujeitos de direitos e de responsabilidades. (Brasil 2012, Parecer n°8/2012, do Conselho Nacional de Educação).
A escola multicultural deve primar pela igualdade, contemplando as
diferenças individuais e coletivas, e se permitir entender e até deliberar sobre os
problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial,
comportamental, econômica, já que o reconhecimento pelos outros é uma
necessidade humana.
Como dito anteriormente, o ser humano só existe através de uma vida social,
ou seja, convivendo de alguma maneira com o entendimento “do outro” e através da
percepção do outro, mediante a compreensão da igualdade entre as pessoas e o
consequente respeito pelo direito de outrem.
A alteridade provoca o exercício da solidariedade, sustentada no
reconhecimento de que um indivíduo possa se colocar no lugar do outro. Antônio
Sidekum afiança que o “[...] reconhecimento da alteridade do outro implica uma
educação para o escutar da voz diferente que brota de uma cultura também
diferente [...]” (SIDEKUM, 2003, p. 235), uma vez que o homem na sua vertente
social tem uma relação de interação e dependência com o outro, baseada no diálogo
e valorização das diferenças existentes.
Em CANDAU (2010, p. 207), constata-se a necessidade de termos “[...] uma
visão dialética da relação entre igualdade e diferença [...]”, para lutar contra todas as
formas de desigualdade presente na sociedade, onde o ser humano é um ser que só
existe através da vida social já que vivemos e convivemos de alguma maneira em
sociedade.
Portanto, para a concretização da Educação em Direitos Humanos é
primordial uma proposta educacional de matrizes culturais variadas, que possibilite
um processo de valorização dos saberes e seus usos em determinados contextos,
numa escola multicultural que assegure a igualdade, contemplando as diferenças
individuais e coletivas.
Neste sentido, cabe considerar ações que nos permitam entender e até
deliberar sobre os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política,
religiosa, étnica, racial, comportamental e econômico, pois o reconhecimento
identitário é uma necessidade humana, considerando que o ser humano só existe
através da vida social.
Desta maneira, a partir do entendimento “do outro”, vem à compreensão da
igualdade entre as pessoas e o consequente respeito pelo direito alheio. Desta
forma, quando os alunos compreenderem a importância da valorização do outro
(alteridade), a Educação em Direitos Humanos passará a ter a relevância pretendida
no ambiente escolar, possibilitando uma leitura diferenciada de mundo.
A Educação em Direitos Humanos, sem o devido reconhecimento da
dignidade do outro sujeito, corre o risco de ficar reduzido apenas a ações
paternalistas e imediatistas apenas nos espaços escolares, inviabilizando a
convivência dos sujeitos de direitos inseridos em processos diversos e complexos
para a afirmação de suas identidades.
Sendo a dignidade e a igualdade nosso maior desafio,
A Educação em Direitos Humanos, ou toma os sujeitos implicados no processo desde dentro e os põe dentro das dinâmicas que abre, ou resta inviabilizada por não atingir sua finalidade básica, que é exatamente a de abrir-se para os sujeitos pluridimensionais que estão em interação. (CARBONARI, 2007, p.184)
Desta forma, para o desenvolvimento de ações afirmativas relativas às
alteridades distintas nos espaços escolares, verifica-se a necessidade do trabalho
coletivo e multicultural compromissado com a dinamização do ensino, oportunizando
aos profissionais de educação a troca de ideias e a reflexão sobre as práticas
pedagógicas, para uma nova forma de educação onde o ser humano seja colocado
como primordial, sem qualquer forma de discriminação.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da implantação efetiva da Educação em Direitos Humanos
poderemos compreender as diversidades na escola, dos espaços de convivência
social e na comunidade em geral, para que possamos defender e promover a
dignidade, embora entendamos que, não conseguimos muitas vezes evitar a
violência e a discriminação que as pessoas sofrem.
Aliás, esta cultura precisa ser mudada. E, somente através da efetiva
implantação da Educação em Direitos Humanos nas escolas é que poderemos
formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, bem como diminuir a
intolerância ou em muitos casos, a ignorância, que vêm passando de geração em
geração.
Quando a sociedade compreender a importância da valorização do outro
(alteridade), a Educação em Direitos Humanos passará a ter a relevância pretendida
no ambiente escolar, o que possibilitará uma leitura diferenciada de mundo. A
identidade da pessoa deve ser respeitada e aceita, sem quaisquer imposições.
A escola representada por seus sujeitos sociais não pode se eximir de sua
responsabilidade. Para tanto, é necessário enfrentar os desafios da modernidade
tardia assumindo posições, sugerindo mudanças e reformas, enfim, colocando em
prática tudo o que estiver em seu alcance para a efetiva mudança no
comportamento da sociedade.
Já a positivação dos direitos humanos (leis, normas) deve ser aliada às
práticas diárias e não como letras mortas da lei. Com isso, os alunos demonstrarão
maior entendimento dos direitos institucionais e naturais e o porquê dessa
institucionalização. Não basta ter o direito assegurado “no papel”. Ele tem que ser
colocado em prática.
Se compreendermos que a escola se constitui como um dos espaços
legítimos e ativos da sociedade, a cultura de Direitos Humanos é fundamental e
urgente, com educadores comprometidos em construir novos caminhos para a
educação em todos os sentidos.
Assim, para consecução destas ideias e projetos, a interdisciplinaridade na
escola mostra-se essencial para uma nova forma de educação onde o ser humano
seja colocado como primordial, sem qualquer forma de discriminação. A comunidade
escolar como um todo deve estar focada neste propósito, e não somente ser tratada
em uma disciplina isolada, mas problematizando e explicando através de estratégias
didático-metodológica de conversação, discussão e debate nas rodas de conversa
em especial com alunos de História e Sociologia, permitindo a todos que fazem a
escola, partilhar ações educativas diversas e articuladas em diferentes etapas e
níveis de aprofundamento trazendo um novo olhar coletivo sobre a EDH.
É na escola que acontece à socialização dos diversos grupos sociais, onde
diferentes sujeitos se formam para serem construtores ativos do meio em que vivem
e exercem sua cidadania. A Educação em Direitos Humanos se faz imprescindível a
todos na comunidade escolar, objetivando-os a compreensão e entendimento que
são sujeitos ativos na gestão da escola, através da reflexão e ação de interpretar e
intervir.
Aos profissionais de ensino, gestores, professores e demais profissionais da
educação, em todos os níveis e modalidades, cabe o compromisso com uma prática
educativa participativa, dialogada e democrática de maneira a possibilitar um
processo de valorização dos saberes e seus usos em determinados contextos, numa
escola multicultural que assegure a igualdade, contemplando as diferenças
individuais e coletivas.
Neste processo não há como realizarmos nada sem a presença da
coletividade, precisamos da presença atuante dos nossos pares nas instituições de
ensino e também da comunidade local, respeitando as diferenças individuais de
cada ser humano, além de estarmos inteirados de documentos que normatizam
nosso sistema de ensino.
É preciso afirmar que todos os envolvidos na escola, num esforço conjunto, tenham
uma sensibilidade maior em relação aos valores humanos, realizem mudanças necessárias
em suas práticas pedagógicas visando formar cidadãos que buscam à transformação da
sociedade para torná-la digna, justa e humana.
A Educação em Direitos Humanos é elemento importante para a construção de
saberes que tornarão nossos alunos mais críticos e capazes de exercer sua cidadania de
forma plena, compreendendo as circunstâncias globais que afetam sua vida cotidiana para
uma dada coletividade/sociedade, de modo que seus membros conheçam e internalizem as
expectativas de comportamentos estabelecidos por valores, regras e normas nela
presentes, o que se dá fundamentalmente por meio das instituições sociais vinculadas a
contextos econômicos, políticos e culturais, uma vez que a educação não acontece só na
escola, mas a escola é fundamental para a formação da cidadania.
Desse modo, a cultura de respeito de direitos humanos vai acontecendo
naturalmente no ambiente escolar e fora dele, pois estamos inseridos numa
modernidade tardia que se manifesta em vias de já ter abalado o tradicional edifício
educacional.
REFERÊNCIAS
BALLESTRERI, Ricardo Brisolla. Cidadania e Direitos Humanos: Um sentido para a educação. Passo Fundo: Pater, 1992 RS. 84p.
BRASIL, PARECER CNE/CP Nº8/2012 APROVADO EM: 6/3/2012)
CANDAU, Vera Maria. Direitos Humanos, Diversidade Cultural e Educação: a tensão entre igualdade e diferença. In: Direitos Humanos na Educação Superior: Subsídios para a Educação em Direitos Humanos na Pedagogia / Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, Maria de Nazaré Tavares Zenaide, Adelaide Alves Dias (Organizadoras) – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.
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TAVARES, Celma. Educar em direitos humanos, o desafio da formação dos educadores numa perspectiva interdisciplinar. In:Educação em Direitos Humanos: Fundamentos teórico-metodológicos/ Rosa Maria Godoy Silveira, et. al. – João Pessoa: Editora Universitária, 2007. 513p.