O luto em diferentes culturas
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Rituais Funerários e Luto ao longo da História nas diferentes culturas
Professora Doutora Teresa Andrade
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O Luto noutras espécies
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Processo de Luto O Luto corresponde a um processo de adaptação à
perda real ou simbólica de alguém ou algo muito significativo e é geralmente acompanhado de alterações significativas no estado emocional, outras no estatuto ou papel desempenhado, nas rotinas… e muda de modo definitivo a percepção anterior da realidade que tínhamos como certa.
Deriva do processo de vinculação adaptativa que fazemos uns aos outros e à realidade que nos rodeia, sobretudo no que respeita os laços familiares
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O Luto como reacção à mudança Como seres humanos,
criamos expectativas acerca do que vai ser o curso das nossas vidas e atribuímos significado a transições como casamento, nascimento, crescimento, sucesso
As mudanças mais dramáticas alteram essa percepção de sentido de vida, de certezas…
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Rituais como forma de dar sentido e segurança Em todas as culturas
as transições e mudanças mais expectáveis são acompanhadas de rituais que dão estatuto diferente e ajudam a ganhar consciência
Aniversários, Batizados, primeira comunhão, Bar Mitzvah, Festa dos 15 ou 18 anos, Baile de Debutantes, Festa de Graduação, Despedidas de solteiro, casamento
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A Morte como transição Sendo de todas as transições a
que maiores alterações produz na vida de quem sobrevive, a morte sempre apresentou uma enorme ritualização
Os rituais, em todas as culturas ajudam os que sobrevivem a retomar a sua vida dando-lhes esperança e conforto, apaziguando o medo, lembrando-os do seu papel num ciclo maior
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Diferenças no posicionamento do Homem face à morte antigamente e na actualidade 1) A expectativa de vida era bastante limitada na maior parte
da história e a chegada à velhice tornava o indivíduo venerável pela raridade.
2) O Homem nunca esteve protegido da visão da morte e do cadáver e era directamente envolvido nos rituais de preparação e despojamento do corpo.
3) As condições de vida eram difíceis e o domínio da tecnologia reduzido, as doenças surgiam sem causalidade conhecida ou tinham estatuto de punição divina e o seu contágio era rápido.
4) A pessoa era essencialmente parte de um colectivo
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Pré-História e Rituais Funerários
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Primeiros Rituais (100.000 a.c) H. Neandertal Sepultamento em cavidades de rochas Corpos colocados em posição fetal ou de
cócoras e recobertos de pedras Disposição de objectos de uso quotidiano à
volta do corpo e oferendas de alimentos Esperança de vida 20-30 anos (desnutrição,
infeções, acidentes e ferimentos fatais)
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Rituais Paleolítico Superior e Mesolítico (desde 30.000 a.C. a 8000 a.C.) H. Cromagnon Posição de barriga para cima ou posição fetal virada
para o lado esquerdo Decoração dos corpos e ossos com ocre vermelho Oferendas mais diversificadas (colares, peças mais
elaboradas, utensílios e alimentos) Sepultamento colectivo em dólmenes ou antas ou
cavidades especialmente escavadas (sinal do início da comunidade sedentária)
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Práticas Funerárias no Antigo Egipto 4.400 a.C
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Rituais Egípcios De entre as civilizações
que povoam a nossa antiguidade, a que mais ricamente documentada chegou até aos nossos dias, no que respeita aos rituais funerários e sistema de crenças instituídas em torno da morte, foi a egípcia.
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A Mumificação Era imperioso conservar em bom estado o
corpo (Ka) para se poder, no final das provas após a morte, reunir com o espírito (Ba)
Os rituais de mumificação duravam mais de 30 dias e devolviam o corpo à família em perfeito estado de conservação
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O Local de Sepultamento Seria o local onde o espírito teria de viver e
tanto quanto possível devia ter a configuração e decoração o mais semelhante possível à sua habitação durante a vida
Acompanhavam o corpo, grandes reservas de alimentos, animais embalsamados, estátuas representando servos, peças de mobiliário e decoração e grande número de amuletos
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O Livro dos Mortos A vida depois da morte é composta por várias
provas para poder atingir o estado de união com a divindade representada por Osíris. Falhar nestas provas significa o pior dos desfechos para a alma: o eterno esquecimento
Para vencer estas provas o falecido devia fazer-se acompanhar de um livro onde encontrava todas as fórmulas e encantamentos necessários ao seu sucesso.
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O Livro dos Mortos (cont.) A magia das fórmulas escritas podia produzir vários
efeitos (ex: ficar mais forte, ou invisível), ou ser defensiva (activar servos para lutar, ou conseguir escapar aos animais necrófagos)
Tinha o formato de rolo de papiro e existia em várias versões consoante o poder económico da pessoa, era depositado na câmara funerária e organizado em capítulos consoante as várias fases pelas quais a alma deveria passar até ao momento que culminava com o julgamento final feito pela deusa Maat
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A Morte na Mesopotâmia
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Escritos de Ugarit e Crenças acerca da Morte Para esta cultura, o Homem não pode confiar
nos Deuses e nunca atinge a imortalidade Os Homens são servos dos Deuses e a sua
condição é trabalhar para eles e morrer A morte e o pós morte são iguais
independentemente do que se fez bem ou mal.
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Rituais Pós Morte na Mesopotâmia Os corpos eram enterrados ou colocados em
túmulos mas nunca cremados ou abandonados Os túmulos situavam-se nas caves das casas
de habitação e eram considerados portais de ligação com o sub mundo dos fantasmas dos mortos
O Luto incluía rapar o cabelo, cobrir-se de cinzas e colocar regularmente alimentos e água para o falecido. O luto durava sete anos
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Crenças Persas (sec. VI a.C)
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A Passagem A Morte é encarada como o
evento que permite a elevação do espírito a uma dimensão superior
Quatro dias após a morte, existe um julgamento da alma para averiguar esse merecimento, simbolizado pela travessia de uma ponte, encontro com um duplo e consequente passagem ao inferno, ao paraíso ou a um limbo
O corpo é depositado sobre pedras à mercê de animais necrófagos e só os ossos são depois reunidos e depositados em ossários até que venha o dia do julgamento final
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Antiga Grécia e RomaCoexistência de muitas práticas funerárias distintas (cremação, inumação , ossários, columbários e mausoléus)Rituais para preservação da memória (refeições nos cemitérios, ofertas aos mortos, libações de vinho e incenso)Cemitérios fora das cidades por razões de saúde públicaO espírito transita para um mundo subterrâneo onde pode ser esquecido ou perdurar para sempre.
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A Idade Média Neste período e após a queda do império romano do
ocidente ressurgem as crenças de um céu, um inferno e um purgatório, bem como a noção de um julgamento final.
Os sepultamentos passam a ser dentro dos muros das povoações, próximo ou dentro das Igrejas, para assegurar a proximidade física com Deus e a salvação da alma.
Apenas um lençol embrulha o corpo, sem oferendas nem outros bens materiais, como prova de despojamento e humildade.
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O Impacto das Grandes Pestes nos Rituais Funerários
Até ao séc. XIV a Europa vai acumular pestes e epidemias que vão dizimar um quarto de toda a população mundial
As inumações voltam a ser fora das povoações, muitas vezes em valas comuns.
Sempre que possível é preferida a cremação.
Surge pela primeira vez o uso disseminado da urna ou caixão como forma de ocultar o corpo,. Também se introduz adicionalmente a mortalha, o pallium, os representantes, o velório e a missa de corpo presente
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Os rituais até ao Séc. XVIIIRezar missas de forma regular e continuada ao longo
dos anos, será uma prática muito presente , como forma de garantir a salvação da alma.
As missas serão pagas em doações testamentárias, em bens materiais (casas e propriedades), ou pagas em prestações pela família sobrevivente.
A inumação passa a ser feita nas igrejas e terreno adjacente
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Rituais Funerários no Séc XIX No final do séc. XVIII
volta a estar em voga a inumação em cemitérios, devido ao aumento da população
Começam a usar-se estátuas em tamanho natural e outros elementos de estatuária junto das sepulturas e os primeiros epitáfios emotivos.
Assiste-se a uma menor cristianização dos rituais
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A visão da morte no Séc. XIX A morte é vista como podendo ser
romântica, pois permite a reunião dos que se amam. O suicídio é romantizado nesta época como o traduzem histórias como as de Romeu e Julieta ou a Dama das Camélias
A ideia do espírito que perdura é muito presente nesta época
Diminuem os testamentos em prol da Igreja e as doações para salvação da alma.
Surgem objectos feitos com cabelo e outras lembranças da pessoa falecida (anéis de cabelo entrançado, medalhões com fotos, etc.)
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Luto nas diferentes culturasAs diferentes religiões no processo de luto
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O Luto nas diferentes crenças: pontos em comum Todas as sociedades encaram
a morte como uma transição para a pessoa que morre
Choro, medo e raiva são omnipresentes e a sua expressão está circunscrita no tempo para a maior parte das culturas
Diferentes tipos de morte originam diferentes formas de luto
Cada cultura tem formas muito específicas e ritualizadas de lidar com a perda mais ou menos prolongadas no tempo
Para a maior parte das crenças existe uma continuidade de alguma forma de vida depois da morte
Os rituais continuam muito tempo após a morte
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Lutos Difíceis As mortes “antes do tempo”
e as “ injustas” Em quase todas as culturas
há mortes que suscitam mais dificuldades na adaptação e transição do luto entre eles: a morte súbita, o suicídio, a morte de crianças e jovens, a morte de pais na infância, as mortes violentas e homicídios.
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Patologias do Luto Ocidental As respostas de cada pessoa a um luto podem variar
muito e devem sempre ser consideradas à luz das crenças e enquadramento cultural de cada pessoa, no entanto há alguns tipo de de alteração que são vistas como não normais e passíveis de perigar a saúde ou vida da pessoa enlutada ou a dos que a rodeiam.
As mais reconhecidas do ponto de vista psiquiátrico são: ausência de luto, luto crónico ,a depressão clínica, distúrbios de ansiedade , dependência de álcool ou drogas, distúrbio de stress pós traumático, descompensação psicótica
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Ausência de Luto Por vezes as pessoas, sobretudo as crianças jovens,
podem não apresentar qualquer sinal de luto, quer por pressão dos adultos quer por defesa. Este aspecto funciona como mecanismo de protecção face à angústia no caso de ter sido uma perda muito traumática. Mentalmente criam-se imagens de que a pessoa não morreu. O luto é normalmente adiado e bloqueia outros aspectos da vida e pode gerar medos irracionais…
( Casos Inês, Bruno, Arminda…)
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Luto Crónico A pessoa mantém-se presa numa fase de luto
inicial, mantendo constante a memória da pessoa falecida e preservando tudo o mais semelhante possível. Prolonga-se por vezes durante toda a vida sendo mais comum em viúvos de casamentos muito próximos e na perda de um filho.
(ex: Adélia, Ana, Lurdes)
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Stress Pós-Traumático Ocorre em mortes trágicas e inesperadas ou com
grau de violência maior e deixa o enlutado em estado de choque durante muito tempo. Imagens intrusivas ocupam constantemente a mente da pessoa, causando grande desequilíbrio, insónia, sintomas físicos graves, perda de apetite, agressividade. O trauma impede a pessoa de concretizar o luto
( ex: Pessoas raptadas, homicídios, suicídios, acidentes mortais graves)
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Estados Depressivos Graves O estado depressivo chega a afectar mais de
50% dos enlutados nos 3 primeiros meses de luto. Alterações major como estupor depressivo, perda completa de apetite, choro constante, ideação suicida constante incapacidade para cuidar de si próprio são pouco comuns e protagonizam quadros clínicos graves. Acontece mais em pessoas que já sofriam de depressão.
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Estados ansiosos graves A ansiedade de separação, com ondas de angústia e
busca persistente da pessoa falecida, manifestações mais extremadas como ir todos os dias ao cemitério, pode por vezes ser acompanhada de manifestações mais extremadas como ataques de pânico, taquicardias, perda de sentidos.
Por vezes perdura muito no tempo a sensação de que vão morrer mais pessoas e acontecer coisas terríveis. Pode ser acompanhado de comportamentos fóbicos e rituais.
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Consumo excessivo de substâncias aditivas Por vezes o álcool surge como automedicação
na patologia depressiva e ango-depressiva e na insónia. Também o sobre consumo de medicação com efeito ansiolítico pode surgir quando os sintomas estão descontrolados ou em pessoas pouco apoiadas. Os Homens tendem a aumentar o consumo álcool e as mulheres de benzodiazepinas
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Descompensação Psicótica O luto é um desencadeador comum de
perturbações do foro psicótico sobretudo se for muito traumático como a morte de um filho. Podem ocorrer estados de desorganização mental acompanhados de mania e com alucinações visuais e auditivas com a pessoa que morreu e com outros aspectos. ( ex. Paula)
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Intervenção terapêutica Nas sociedades
actuais ocidentais conversar com alguém e tomar medicação adequada parece ser a combinação terapêutica mais utilizada
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Aconselhamento O primeiro passo em aconselhamento consiste em
descobrir o que pretendem as pessoas e em que medida as podemos ajudar
Observar, Esperar, Ouvir e não julgar são as bases para uma intervenção centrada nas necessidades do outro
Permitir a expressão da dor e reformular sintomas de forma positiva
Descobrir a pessoa, as suas forças e motivações, valorizar e estimular.
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A interiorização como prelúdio do final do luto “O luto começa por procurar lá fora o que descobriremos cá
dentro” ( Fromma Walsh, 1997)
“ Quando alguém morre, não se ultrapassa esquecendo, mas lembrando. Porque ao lembrar compreendemos que não está realmente perdido ou desaparecido. Tocou a tua vida e o seu amor ficará para sempre em ti e continuará a tocar outros através de ti”( Leslie Silko, 2001)
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A Transformação do Luto“ Posso escolher ficar sentado e triste, eternamente imobilizado pela dor da minha perda ou posso escolher elevar-me para além dessa dor e apreciar o tesouro mais precioso que tenho : a própria vida”Walter Anderson
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Desejo-te SuficienteDesejo-te sol suficiente para manteres a tua luz, Desejo-te chuva suficiente para apreciares mais o sol, Desejo-te felicidade suficiente para te manteres alegre, Desejo-te dor dor suficiente para apreciar as pequenas alegrias, Desejo-te dinheiro suficiente para teres o que te satisfaz,Desejo-te que percas o suficiente para apreciares o que tens eDesejo-te “Olás” suficientes para conseguires aceitar o “Adeus” final
“ I wish you enough” Bob Perks in “Chiken Soup for the Grieving Soul “(2003)