O desenvolvimento do ciclo arturiano · Gauleses ( mais afortunados celtas do continente, fixaram...

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O desenvolvimento do ciclo arturiano Aline Carvalho A história da coleção dos contos galeses escritos depois do século X Gauleses ( mais afortunados celtas do continente, fixaram 2000 ª C, arte de fazer armas de bronze). 1800 1400 ª C Ergueram na planície de Salisbury, sem nenhuma ajuda mecânica - Stonehenge, Marcavam (solstícios de Verão Inverno) Formada principalmente por grupos invasores provenientes da Itália e da Gália, a população céltica do sudoeste da Bretanha parece ter encontrado na atmosfera britânica, onde a luz é difusa e frequentemente nebulosa diferente da claridade permanente da França e da Itália(...), as qualidades mágicas e fantasmagóricas adequadas as suas ideias, crenças e folclore. A invasão do César iniciada noventa anos antes agora está completa. Submissa da costa sul até a linha Mersey e Humber, a Bretanha graças ao exército das legiões romanas , está nas mãos de César , que se torna senhor do mundo; Artur herdará dele suas tradições. Por volta dos 50 anos a . c. Invasão Belga Quatro anos mais tarde, ocorre evento mais importante da história da Bretanha , formação da nação da qual Artur seria herdeiro. Foi quando Júlio César decidiu que a Ilha se tornaria posse romana. Primeira vez na história da Bretanha O mar teria um papel importante. 1º tentativa de invasão romana por causa do mar. 2º tentativa consegue no ano seguinte (mais armados).

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O desenvolvimento do ciclo arturiano

Aline Carvalho

A história da coleção dos contos galeses escritos depois do século X

Gauleses ( mais afortunados celtas do continente, fixaram 2000 ª C, arte de

fazer armas de bronze).

1800 – 1400 ª C – Ergueram na planície de Salisbury, sem nenhuma ajuda

mecânica - Stonehenge,

Marcavam (solstícios de Verão – Inverno)

Formada principalmente por grupos invasores provenientes da Itália e da

Gália, a população céltica do sudoeste da Bretanha parece ter encontrado na

atmosfera britânica, onde a luz é difusa e frequentemente nebulosa diferente da

claridade permanente da França e da Itália(...), as qualidades mágicas e

fantasmagóricas adequadas as suas ideias, crenças e folclore.

A invasão do César iniciada noventa anos antes agora está completa.

Submissa da costa sul até a linha Mersey e Humber, a Bretanha graças ao exército

das legiões romanas , está nas mãos de César , que se torna senhor do mundo; Artur

herdará dele suas tradições.

Por volta dos 50 anos a . c. Invasão Belga – Quatro anos mais tarde, ocorre

evento mais importante da história da Bretanha , formação da nação da qual Artur

seria herdeiro. Foi quando Júlio César decidiu que a Ilha se tornaria posse romana.

Primeira vez na história da Bretanha – O mar teria um papel importante.

1º tentativa de invasão romana – por causa do mar.

2º tentativa consegue no ano seguinte (mais armados).

César fica impressionado com a habilidade dos bretões na montaria e no

manejo dos cavalos (essas pessoas cujo os ancestrais constituíam o cavalo Branco no

Vale – Uffington)

Bretanha é denominada pelos romanos 43 d. c. Imperador Claúdio.

(Invasão de César iniciada 90 anos antes)

César se torna Sr. Do mundo – Artur herdará dele suas tradições.

59 d. c. O governador suetônio Paulino mandou esmagar primeiramente os

DRUÍDAS, antes de prosseguir seu ataque contra os galeses.

DRUÍDAS ( povo disseminador da resistência ao povo romano).

Massacrou sacerdotes. Derrubou bosques sagrados provocando com isso o

ESPÍRITO CÉLTICO, que Artur herdou.

ARTHUR

(herança)

Espirito céltico, caracterizado de temperamente céltico demonstrar com

intensidade e avidez a busca pelo sucesso até que o inimigo o derrote e controle a

batalha ( resistência de Artur 400 mais tarde), disciplina romana.

Desafio britânico aos romanos.

Vieram dos Pictos – habitantes do Norte.

Escotos – Povo que veio da Irlanda.

117 e 138 d. C. – construída muralha pelo Imperador Adriano para conter os

povos rebeldes.

Introduziu-se na Bretanha o Panteão Romano, (divindades imemoriais do culto

céltico, deidades das florestas e rios).

Século II d. C. – A religião cristã foi introduzida na Bretanha, ( diz – se a

tradição, que José de Arimatéia desembarcou em torno de 60 d. c. com 12

companheiros que ali construíram uma pequena igreja de argamassa, a vetus

ecclesia, inquestionavelmente um dos primeiros santuários do país posteriormente

anexada Glastonbury e destruída pelo fogo em 1186.

Cristianismo consolidou-se na Bretanha 20 d. c. Constantino III – O grande –

Eleito imperador pelo exército romano na Bretanha, foi quem possibilitou o avanço

da fé cristã nessa região.

313 d. C. concedia tolerância ao cristianismo no império romano, transferiu a

capital para Bizâncio, rebatizando – a de Constantinopla.

Teodósio – Primeiro oficial comandante da cavalaria do Império e Imperador

do Oriente.

Máximo – permaneceu na Bretanha, expulsando os Picto / Escotos.

Máximor – conquistou Roma – Dois anos mais tarde morreu assassinado por

Teodósio.

Teodósio – Constantinopla.

Observa-se que a história de Máximo é responsável pelas conquistas

extraordinárias aumentadas de Arthur.

Em 395, Invasão feira pela aliança barbara (saxões, pictos e escotos).

Enviado por Roma – Estilico que expulsou os invasores.

Em 407 (Constantino é eleito Imperador – marcha sobre Roma).

MORRE EM COMBATE

Em 410 – Alarico – O gado – saqueia Roma – favorece a invasão das hordas

bárbaras por toda a Europa... E os saxões correm novamente para o interior da

Bretanha.

Em 429, no século V A essência do Poder romano mudaria e, sob novos

auspícios enviaria uma nova expedição a Bretanha ( O imperador Pontifex

Maximum), exigia a prática da adoração a sua figura.

O Bispo romano assumiria a mesma postura , adotaria tal título (Poder

absoluto na igreja cristã).

Para estabelecer a supremacia da religião cristã era necessário manter

uniformidade absolta na Fé .

Monge Celta - Relógio nega a doutrina do pecado original. Idéia que teve

aceitação entre os cristãs da Bretanha.

O bispo Auxerre seguiu em missão para combater a heresa.

Primeira vitória que delínea a Imagem de Arthur.

A derrota dos Bárbaros (Pictos/Escotos), por um líder cristão.

425 – VORTIGEN - O mais poderoso dos reis britânicos locais.

Reinava no País de Gales sudoeste da Bretanha,

Quatro adversários: Os Pictos, Os Escotos, Os saxões, Os Romano –

Britânicos (Restauração das leis da autoridade romana; esmagar os bárbaros e outros

líderes nativos.

Aliou-se as saxões contra os três, em troca de seus militares deu-lhes apoio e

terras.

442- saxões lutam contra vortigem – batalha de Aylesbury ( anos negros).

VORTIGEN – Morre

Ambrósio (contra VI) lidera – Coloca filho de (V), no trono

488 - Ambrósio mata líder saxão

Camponeses desesperados, inspirados em Ambrósio, resistiram (aos saxões).

Tiveram então um segundo comandante cuja a fama confirmou-se universal

e imortal.

FATOS E LENDAS

Anais - Páscoa (Bretanha), museu britânico

449 ou 518 d.c - batalha de Bandon (maior batalha do País) .

Ergueram e estruturaram a fama de Arthur

539 - Batalha de Camlann – Arthur e Madred morreram.

Coleção de Nênio – afirma que Arthur não foi rei ( história dos Bretões ) .

NÊNIO - VORTIGEN encontra um menino clarividente, com poderes

proféticos chamado Ambrosius,

Conto dos “dragões”

488 – de acordo com a Crônica Anglo-Saxônica

A ascensão de Otha sob o nome de Aesc

Arthur lidera Bretões contra Saxões

Batalhas

1º - Rio Glen

2º /3º/4º/5º - Rio Dubglas

6º - Banas

7º - Caledonian wood

8º - Tor Guinnion (Arthur carregava a Ima da V.Maria)

9º - Legion

10º - Praia de Tribut

11º - Montanha de Agned

12º - Monte Bandon

50 Anos de Paz

Fatos Incontestáveis há muito conhecido sobre Arthur

A principal é que ele era um comandante da cavalaria

Camelot(nome) séc XII – Chretien de Tróyes

Não tem registros históricos Se transforma quando Arthur

sobre a existência de tal capital se transforma mito logicamente

em Rei

Supõe-se que o nome Camelot, referindo-se à suposta capital de Arthur, tenha

sido dado pela primeira vez, no século XII, pelo romancista francês Chrétien de

Troyes. Não há nenhuma garantia histórica sobre a existência de tal capital, e essa

idéia só entra na história depois que o general Arthur se transformou mitologicamente

na figura do rei. No século XVI Camelot fora aceita como a cidade capital de Arthur:

em 1542, quando o antiquário John Leland visitou Cadbury, viu a grande colina

rodeada por quatro elevações, ouviu os habitantes da vila chama-lo Palácio de Arthur

e ficou realmente convencido, o que o levou a chamá-la de Camelot e interpretar

erroneamente o nome da vila vizinha de Queen´s Camel, dizendo que poderia

originalmente ter-se chamado Queen´s Camellat.

Contos Arturianos – Inicio – escrito em Bretão ou Galês

Séc X – que Arthur, na imaginação popular, transformou-se de comandante a

Rei (38) – Culutich e Olwen

Onde Arthur e sua corte servirão apenas como base para aventuras de

cavaleiros solitários, aqui, neste conto, Arthur, como líder, desempenha uma função

enérgica. Essa imagem de prestígio, bravura e gentileza, amplamente desenvolvida

em meados do século X, provavelmente já existia, algumas centenas de anos antes,

em sua versão oral. Há um episódio no trecho final, repetido pelos próximos cinco

séculos, em que seus seguidores demonstram o respeito e o desejo que sentiam de

proteger Arthur.

Conto, que Arthur não só inspirou e encorajou os feitos de outros, mas

também assumiu para si aquilo que seus seguidores não tinham poder físico ou

mental para fazer.

Séc XII – É chamado de imperador – no conto Galês, The Dream of Rhonabuy

Esses dois contos manuscritos, um escrito entre 1300 e 1325, conhecido como

White Book of Rhydderch (“Livro Branco de Rhydderch”), e outro escrito 1315 e

1425, Red Book of Hergest (“Livro Vermelho de Hergest”), quatrocentos anos mais

tarde que Culwych and Olwen e talves duzentos anos mais tarde que The Dream of

Rhonabwy.

Séc XI – Outra versão Galesa sobre Arthur, encontra-se no Mabinogion. No

conto The Dream of.

O Desenvolvimento da Lenda

Os dinamarqueses eram um povo navegante que sem dúvida contribui, de

certa forma, para o desenvolvimento da construção naval inglesa, mas o

acontecimento que mais influi na consciência nacional não foi essa invasão, mas sim

a dos normandos. Esta teve uma grande repercussão no desenvolvimento da lenda de

Arthur. Havia um espetáculo onde o herói, o salvador, lutava contra um ogro ou um

tirano diabólico em uma cidadela vizinha que atraía espectadores entre a pequena

nobreza normanda. Isso porque, desde que tinham sido formalmente obrigados a

reconhecer o rei da França como senhor absoluto de seus Estados, os normandos

sentiam-se felizes em ouvir que Arthur, o rei britânico a cujo poder seu duque tinha

sucedido, havia conquistado a França. Assim eles podiam se sentir em posição

superior em relação ao rei francês.

Os primeiros registros

- 1135 uma nova revelação causaria impacto – havia um novo Artur diante do

mundo: um soldado profissional, rei coroado, famoso por sua generosidade e seu

exemplo cavalheiresco, estabelecido em uma corte, não em anônimo reino fantástico,

mas na real cidade galesa de Caerleon-on Usk. Alguém que presidia torneios em seus

país, e que no exterior, em vez de tomar parte em ridículas aventuras, em contos

populares, realizava conquistas formidáveis, anexando a Escócia, a Irlanda, a

Noruega, a Dinamarca e a Gália, e que só foi chamado de volta durante o ataque a

Roma devido a uma insurreição traiçoeira em seu país.

1º Relato História Regum Britanniae1, de Godofredo de Monmouth

2, que

sobrivive em duzentos manuscritos e que já era conhecida antes do fim do século XII

na França, Espanha, Itália, Polônia e Bizâncio, é no mínimo tão interessante quanto as

histórias que relata.

O desfilar começa com o mitológico Brutus, que veio de Tróia para colonizar

a Bretanha, e termina com o mitológico Cadwallo. Fala de noventa e nove reis ao

todo, e um quinto do trabalho total é dedicado à história imaginária de Artur.

1 A história de Regum Britanniae (“História do Rei da Bretanha”) foi, pode-se dizer, o

primeiro do best-sellers internacionais. Sua popularidade ultrapassou fronteiras, considerando-se que a

parte responsável pelo sucesso, a história de Artur, não continha nenhum dos feitos que vieram mais

tarde a ser vistos como os mais importantes; Godofredo não fala nada sobre a Távola Redonda ou a

procura do Santo Graal, nem usa as duas grandes histórias que nos últimos séculos ofuscaram a de

Artur: Lancelote e Tristão foram personagens acrescidos mais tarde, por outras mãos. 2 Godofredo juntou uma miscelânea de tradições com relação à sobrevivência de Artur e ao

lugar de refúgio: tanto para britânicos, bretões ou galeses, o lugar é sempre um paraíso rodeado de

água, localizado na região costeira, que se chamava Avalon. E disse: “O renomeado rei Artur,

gravemente ferido, foi levado para a ilha de Avalon, para a cura de suas feridas, onde entregou a coroa

da Bretanha a seu parente Constantino, filho de Cador, duque da Cornualha, no ano de 542 de Nosso

Senhor”.

Os Anais da Páscoa registram “a Batalha de Camlann, na qual Artur e Modred pereceram, em

época de pragas na Bretanha” no ano de 537. É interessante notar que, enquanto Godofredo foi

fantasioso na maior parte de seu trabalho, na data da morte de Artur foi quase preciso.

“Sua contribuição para a história de Artur foi a afirmação de que ele era

filho de Uther Pendragon, que governava de Caerleon-on-Usk, que seu primeiro-

ministro era mago Merlin e que foi conduzido para a ilha de Avalon, quando ferido

mortalmente.”

“ Loomis mostra que Godofredo descobriu uma lenda galesa de um vidente

chamdo Myrddin. E que encontrou em Nênio uma história que fala de um menino

maravilhoso chamado Ambrosius, com poderes de clarividência, que profetizara a

Vortigern a sua destruição e a vitória final dos saxões sobre os bretões. Em um golpe

de mestre, identificou esse menino como Merlin. (“Ambrosius, também chamado de

Merlin”.) Isso trouxe Merlin à órbita de Ambrósio Aureliano, estabelecendo portanto

uma ligação entre Merlin e Artur, pois Ambrósio Aureliano, dizia Godofredo, era

irmão do pai de Artur, Uther Pendragon. Estariam então combinados os dois

elementos básicos de lenda arturiana.

Loomis, posteriormente, diria que Godofredo encontrara um lenda córnica

sobre Artur sendo fecundado na terra de Tintagel por Uther Pendragon e Igerna, a

pudica e bela esposa de Gorlois, enganando a ingênua esposa de Gorlois, duque da

Cornualha. Isto aconteceu através dos poderes de Merlin, que deu a Uther a

aparência do duque de Gorlois, enganando a inguênua esposa, com quem por fim

Uther se casa, depois de matar Gorlois em batalha. Artur foi, portanto, concebido

pelo encantamento de uma irrestível paixão e teve a vantagem de nascer filho

legítimo.

Os Anais da Páscoa dizem que, na Batalha de Camlann, Artur e Modred

morreram. A suposição (nascida em The Dream of Rhonabwy) é de que eles tenham

lutado um contra o outro; Godolfredo afirma que isso é verdade e que Modred forçou

Guinevere a se casar com ele na ausência de Artur. Usando a tradição do grande

interesse despertado por Camlann (o qual, entretanto ele não nomeia), Godofredo diz

que Artur perseguiu Modred “na Cornualha, até depois do rio Camel”. Nesse

encontro, Artur sofreu um ferimento mortal, e, apesar de o túmulo de Artur, uma das

mais interessantes figuras narrativas históricas, ser desconhecido (“por isso”, como

Guilherme de Malmesbury diz, “velhas cantigas dizem que ele ainda está por vir”),

Godofredo indica o refúgio para onde Artur foi levado; não identifica como um lugar

no mapa, mas diz que seria Avalon. O nome é algumas vezes explicado como oriundo

da “Ilha de Vidro”, às vezes da “Ilhas das Maças”. Godofredo lhe atribuiu o último

significado. Foi um dos primeiros grandes escritores a identifica-la pelo nome.

A decisão de Godofredo de dizer que Artur foi concebido em Tintagel (seu

lugar de nascimento não é citado, mas pose-se deduzir que também fosse Tintagel) é

um exemplo de sua genialidade e habilidade para impressionar os ouvintes. Tintagel

é um desses lugares que não é necessário ver para captar seu lado impressionante.

As imensas pedras côncavas parecendo escorregar de lá do alto para longe da praia,

além de um mar às vezes azul-pavâo, às vezes cor de chumbo, correndo terra adentro

e explodindo em espumas, trabalham tão poderosamente sobre a imaginação que

dizer que Artur foi concedido acima daquele mar, ao som daquela arrebentação, é

impregnar de magia tanto a história quanto o lugar. Hoje esse local é um

promontório cuja ligação com o continente foi parcialmente erodida. No tempo de

Godofredo as pedras unidas deviam formar uma cadeia de rochas espetacular.

Quando Uther pendragon3 pediu conselho ao amigo Ulfin para chegar até

Igerna, ele disse: “E como podemos dar a ti algum conselho que possa ser mais forte

3 Godofredo diz que Artur, quando sucedeu Uther Pendragon, era um menino de quinze anos.

Determinado a libertar a terra do jogo saxão, juntou todos os jovens de sua confiança. Esse jovem

exército lutou muitas batalhas em York e Lincoln.A Batalha de Badon, Godofredo identifica como

tendo ocorrido em Bath. Na sua preparação, Artur, “vestindo um gibão de malhas de ferro digno de tão

nobre rei, colocou sobre a cabeça um elmo de ouro gravado com a imagem de um dragão”. Como

todos os cavaleiros do século XII; ma Godofredo retoma as lendas galesas quando dá nomes às partes

do que ir até ela, no Castelo de Tintagel? Pois ele está situado no mar, e por estar

cercado por todos os lados não há nenhuma outra estrada lá, exceto um rocha

estreita em que três cavaleiros podem deter-te mesmo que tivesses ao teu lado todo o

reino da Bretanha”.

Depois da batalha com os escotos, “Artur casou-se com Guinevere, nascida

de uma família romana nobre, que superava em beleza todas as outras mulheres da

ilha”. Isso mostra que desde cedo já se falava da impressionante beleza de Guinevere.

A próxima expedição marcial de Artur é a sua história nos castelos da nobreza anglo-

normanda. Descrevem-no invadindo a França, onde a questão foi decidida por um

simples combate entre ele e o tribuno romano Flollo. O relato é profissional:

“Tomando posição em lados opostos e com as lanças em repouso, deram sem demora

com as esporas nos cavalos e num violento choque se golperaram. Mas Artur, que

empunhava a lança com mais cuidado, desferiu-a no peito de Flollo, e, protegendo-se

de seu golpe, derrubou-o com toda a força que podia. Então, ao desembainhar a

espada e aproximar-se para golpear Flollo, este ficou de pé de novo num instante e

correu em direção a Artur com a lança levantada. Artur, com um golpe mortal no

peito do animal, adversário, derrubou cavalo e cavaleiro no chão”.

A luta continuou a pé até que Artur, excitado pela visão de seu próprio sangue

derramado, deu o golpe final no oponente. “Flollo caiu e, batendo os calcanhares no

chão, entregou sua alma ao vento”.

Pelos nove anos seguintes, Artur dedicar-se-ia à conquista de França. Quando

conseguiu, fez o que Guilherme, o Conquistador, faria na Inglaterra: concedeu muitas

da armadura: o escudo Pridwen(confundido com o navio Pryden), sua lança Ron e sua espada Caliburn,

embora dar nomes às espadas fosse uma prática antiga, vigente até a Idade Médias. A espada de Carlos

Magno era chamada de Joyeuse, e Godofredo diz, qualquer que seja a sua autoridade, que a espada de

Júlio César era chamada de Morte Açafrão, referindo-se à cor da lâmina de aço manchada de sangue

coagulado (expressão semelhante é empregada na balada Glasgerion quando se refere à “brilhante

lâmina marron”).

províncias aos nobres que o haviam servido em sua terra natal...Por fim, quando todas

as províncias, Estados e o povo estavam estabelecidos, e em paz, retornou à Bretanha,

no início da primavera. Godofredo descreve então a grande festa de Pentecostes que

Artur fez em Caerleon para celebrar seu retorno vitorioso e ser coroado.

Richard Barber salienta que apesar de, na descrição de Godofredo, Caerleon

estar corretamente situada, próximo a um rio onde chegavam navios vindos do mar,

rodeada de campinas e florestas, a cidade propriamente dita e algumas das cerimônias

festivas eram influenciadas por Bizâncio, a única cidade oriental de costumes cristãos.

MAIS SOBRE A LENDA

Alguns anos depois de escrever a História, Godofredo produziu um trabalho

final, a narrativa em versos Life of Merlin (“A Vida de Merlin”). Esta obra contém

uma passagem muito importante: nela, o bardo galês Taliesin faz um relato mais

completo do que aquele narrado na História, onde Artur é carregado para Avalon,

agora descrita como uma ilha fantástica, habitada por nove damas, um número

místico, uma das quais seria sua irmã, a fada Morgana. Morgana desempenha vários

papéis, muitos dos quais incoerentes, na história de Artur – às vezes revelando

hostilidade em relação a ele, às vezes afeição. Diz-se em certas versões que ela vivia

no meio de um lago. Nas vilas bretãs as fadas da água eram chamadas morgans. “Ela

colocou o rei em uma cama de ouro em seu próprio quarto, e com sua próprias mãos

descobriu a ferida e por muito tempo olhou-a fixamente. Por último, disse que a saúde

retornaria a Artur se ele ficasse com ela por muito tempo... Alegres, portanto,

entregamos o rei a ela”.

Godofredo diz na História4, confirmando a importância da transmissão oral, que

nunca encontrou nenhum relato escrito dos reis anteriores a Artur ou daqueles que

lhe sucederam, “apesar de sus feitos estarem guardados tão agradavelmente na

memória e através da palavra oral, nas tradições de muitas pessoas, como se tudo

estivesse escrito”.

HISTÓRICO COMPROVADO

O livro de Guilherme de Malmesbury, Deeds of the Kings of England

(“Façamos dos Reis da Inglaterra”), foi concluído dez anos antes da História de

Godofredo. Aí, como hábil historiador, ele já havia tratado de existência histórica de

Artur e do desenvolvimento da lenda em torno dele. Falando a respeito do

impedimento do avanço saxônico por Ambrósio Aureliano, diz que esse fato foi

realizado graças ao gênio militar de Artur e acrescenta: ”Este é aquele Artur de quem

os bretões futilmente dizem coisas tão sem sentido. Um homem de verdadeiro valor,

que não devia ser objeto de sonhos ou falsas fábulas, mas proclamado em histórias

verídicas como aquele que por longo tempo sustentou um país vacilante e deu às

mentes perturbadas de seus compatriotas um verdadeiro estímulo para as guerras”.

INTERPRETAÇÕES INGLESAS

INGLATERRA 2º TROCA

4 Esse artifício de simular uma fonte tão freqüentemente, usado hoje pelos escritores de ficção

- um diário encontrado em um baú ou um pacote de cartas em uma armário -, era naquela época tão

novo que sua referência trazia o poder de convencimento e investia de autoridade as afirmações de

Godofredo. A existência do tal livro britânico atualmente não é aceita como verdadeira; o estranho é

que, apesar de a História Ter sido concluída antes de 1140, o arquidiácono só morreu em 1151, o que

leva a crer que ele deve Ter participado da fraude.

O modo de pensar de Wace tornou confiável sua avaliação sobre o que

havia de lenda, o que era fato e o que havia sido preservado pelos contadores na

história de Artur. “Tais rimas”, dizia, “não são meras mentiras desprezíveis, tampouco

verdades evangélicas ... o menestrel cantava sua balada, o contador narrava sua

história, tão amiúde que, aos poucos, foi embelezando, pintando a realidade, até que

... a verdade ficasse escondida no estilo decorativo do conto”.

TÁVOLA REDONDA

A única contribuição de Wace à lenda escrita foi a Távola Redonda5. Diz ele

que isso não foi sua invenção e que a Távola Redonda já era famosa.

Por fim Artur entregou seu reino para Constantino, filho de Cador, conde da

Cornualha e seu parente mais próximo, obrigando-o a permanecer rei até que ele

voltasse para reassumir o reino. O conde manteve o país sob seu comando. Fez como

lhe fora mandado, mas Artur nunca mais voltou.

A história de Artur já havia sido contada em latim, galês e francês. No reino de

Ricardo Coração de Leão, entre os anos de 1189 e 1198, Layamon, um padre de Arley

Regis, em Worcestershire, faz em versos a primeira apresentação de Artur na língua

inglesas, baseada no Brut de Wace. Layamon tinha ficado bastante impressionado

5 “Artur”, afirma, “tornara a Távola Redonda muito conhecida entre os bretões. Era ordem

expressa de Artur que, quando seus fraternos companheiros se sentassem para a refeição, as cadeiras

deveriam estar na mesma altura e dispostas de forma eqüidistante, de tal maneira que o serviço fosse

igual para todos e que nenhum iniciasse antes ou depois do outro”. A versão de Wace da história

torna-se mais interessante na medida em que ele documenta o conjunto de contos sobre Artur,

transmitidos de boca a boca. As partes da história registradas pelos escritores permaneceram; o resto

desapareceu como o orvalho na madrugada. O próprio Wace diz que ouviu muitas histórias que, após

uma avaliação, preferiu descartar. Seu parágrafo final é o mais notável e, apesar de imparcial e sensato,

traz a tristeza de um lamento jacobita: “E vós não ides voltar? Mais amado não poderíeis ser”.: “Ele

ainda está em Avalon, sendo esperado pelos bretões, que dizem acreditar que Artur vai voltar e que daí

em diante viverá novamente... Os homens sempre duvidaram e, se estou certo, ficarão sempre em

dúvida se ele está vivo ou morto...

com a história e descreveu a si mesmo em terceira pessoa: “Veio à sua mente a idéia

feliz de que contaria os nobres feitos dos ingleses, como eram chamados, porque

tinham sido os primeiros a possuir as terras inglesas”.

Layamom diz que Artur “era encantador quando assim o desejava, mas também podia

ser excessivamente severo com seus inimigos”. Já Wace, o francês, para explicar

Artur, dizia que “ele era um dos amantes do amor e também um amante da glória”.

Layamon não tinha nada do ceticismo que Wace demonstrava. Aceitava sinceramente

o sobrenatural e ainda acrescentava, aos prodígios de Godofredo, outros por conta

própria, colhidos não se sabe de que recônditas e obscuras regiões desaparecidas.

Dizia que as fadas estavam presentes no nascimento de Artur.

As passagens poéticas de Layamon parecem fora dos limites se comparadas ao

elegante e sensível Wace. Uma das passagens famosas e mais estranhas da poética

inglesa é aquela na qual Artur exulta ante corpos dos saxões afogados que jaziam no

Avon “como os peixes de aço jazem na corrente... suas escamas flutuam como

escudos dourados, ali flutuam suas barbatanas como se fossem lanças.

Layamon tinha um prazer mordaz em imaginar a violência e a crueldade

desfechada contra pessoas que estavam do lado errado: “Os bretões os atacaram como

se deve fazer com os perversos; desfecharam, com machados e espadas, golpes

implacáveis”.

Confirma a idéia de que a história da távola era celta (diz que oriunda da

Cornualha) e pinta Artur com cores vivas, autoritário e feroz.

No caso da morte de Artur, segue Wace e Godofredo, dizendo que o rei tinha

sido levado para Avalon para ser curado e que depois voltaria: mas Layamon foi o

primeiro a falar ou talvez o primeiro a escrever que um barco veio do mar até a praia

“flutuando como as ondas” ( o Tamar é um rio no qual penetra a maré) e que dele

duas belas mulheres saíram e “sem demora, pegaram Artur, levaram-no depressa e ,

pousando suavemente no barco, para longe partiram”. Foi Layamon quem realmente

se mostrou inspirado pelo caso de Artur. Para ele não era somente uma simples

história, mas uma questão de fé. Wace dissera: “Artur não voltou mais”. As últimas

palavras de Layamon foram: ”Mas antigamente havia um sábio chamado Merlin que

dizia – e suas palavras eram verdadeiras – que um Artur ainda deveria vir, para ajudar

os ingleses”.

GLASTONBURY È AVALON

A grande abadia de Glastonbury foi fundada no século V (1º Santuário

construído na Bretanha), foi destruída pelo fogo em 1184.

Cmbrensis produziu, entre 1193 e 1199, uma obra denominada De Principis

Instructione, na qual registra que Artur havia sido um benfeitor da Abadia de

Glastonbury, e, embora fábulas tenham espalhado histórias fantásticas sobre seu fim6,

o corpo dele, de fato, foi encontrado queimado no recinto da abadia em 1190. Jazia

entre duas pirâmides de pedra que marcavam os locais de outros túmulos, a 5 metros

de profundidade, envolvido em um tronco de árvore oco. Do lado de baixo do tronco

que servia de caixão havia uma pedra, e abaixo dela uma cruz de chumbo na qual

6 Godofredo de Monmouth dissera que Artur fora levado embora, mortalmente ferido, para

Avalon. A partir do momento em que os ossos de Artur parecem Ter sido encontrados em Glastonbury,

junto com a cruz funerária que dizia que ele fora enterrado na ilha de Avalon, Glastonbury tornou-se

sempre Avalon.Guilherme de Malmesbury, em sua Gesta Regum Anglorum (“Gesta do Rei dos

Anglos”), de 1125, apenas menciona o fato de os britânicos chamarem Glastonbury de Inis Witrin, a

Ilha de Vidro. Cardoc de Lancafarn, em sua Life of Gildas, 1136, repetiu que os britânicos a chamavam

de Ynis Gutrin, Ilha de Vidro. Giraldus Cambrensis e Ralph, abade de Coggeshall, em sua Chronicon

Anglicanum (“Crônica Anglicana”), foram os dois primeiros escritores a dizer quer Glastonbury era

Avalon.

estavam gravadas as seguintes palavras em latim: “Aqui jaz enterrado o renomeado

rei Artur 7com Guinevere, sua Segunda esposa, na ilha de Avalon”.

SOBRE O HISTÓRICO DA LENDA DO SANTO GRAAL

Há uma gama de conhecimentos úteis e necessários que convém conhecer ao

se tratar desta lenda que é a busca do Santo Graal.

“A Demanda do Santo Graal, não é uma obra isolada e considerá-lo como tal

pode provocar erros de informação. A demanda do Santo Graal é uma novela de

cavalaria que integra o ciclo arturiano”.8

As lendas ligadas ao Santo Graal9, que chegaram ao século XIII como parte

importante da história da corte de Artur, apesar de fascinantes têm origem confusa e

7 U m dos poucos fatos que podemos afirmar saber sobre Artur é que ele não foi rei. O enigma

é que Giraldus Cambrensis, a primeira pessoa a declarar Ter visto a inscrição, é o único cujo registro

contém as palavras “cm Wennevaria uxore secunda”. Dois antiquários do século XVI, John Leland e

William Camden, viram a cruz ou uma cópia dela. Leland citou tal inscrição sem referência a

Guinevere. 8 E o ciclo arturiano é o conjunto dos textos, sejam romances em verso, sejam novelas em

prosa, que se ocupam da personagem do rei Artur, de seus cavaleiros, da távola redonda, do mito

arturiano. Essas estórias associam-se estreitamente com Merlim e com Tristão, personagens que têm

cada um a própria estória, mas muito cedo passaram a participar das estórias arturianas, integrando

seus textos. 9 O Santo graal da literatura medieval européia é o herdeiro senão o continuador de dois talismãs da religião celta pré-

cristã: o caldeirão do Dagda e a taça de soberania. O que explica que esse objeto maravilhoso seja muitas vezes um simples prato côncavo levado por uma virgem. Nas tradições relativas aos cavaleiros da Távola Redonda, ele tem o poder de dar a cada

um deles o prato de carne da sua preferência: seu simbolismo é análogo ao da cornucópia. Dentre os inúmeros poderes que tem,

além do poder de alimentar (dom de vida), contam-se o de iluminar (iluminações espirituais) e de fazer invencível (julius Evola em BOUM, 53).

A fora inumeráveis explicações mais ou menos delirantes, o Graal gerou interpretações diversas que correspondem ao

nível de realidade em que se colocava o comentador. Albert Béguin resume da seguinte forma o essencial do debate: o Graal representa simultaneamente, e substancialmente, o Cristo morto pelos homens, o cálice da Santa Ceia, i. e. a graça divina dada

pelo Cristo aos seus discípulos e, por fim, o cálice da missa, que contém o verdadeiro sangue do Salvador. A mesa sobre a qual

repousa o vaso é, então, segundo esses três planos, o Santo Sepulcro, a mesa dos Doze Apóstolos e, finalmente, o altar em que se celebra o sacrifício cotidiano. Essas três realidades, a Crucifixão, a Ceia e a Eucaristia, são inseparáveis, e a cerimônia do Graal

é a revelação delas, que dá, na comunhão, o conhecimento da pessoa do Cristo e a participação no seu Sacrifício Salvador

(BEGG, 18). O que não deixa de Ter relação com a explicação analítica de Jung para quem o Graal simboliza a plenitude interior

que os homens sempre buscaram (JUNS, 215).

Mas a Demanda do Santo Graal exige condições de vida interior raramente reunidas. As atividades exteriores impedem a contemplação que seria necessária e desviam o desejo. Ele está perto e não é visto. É o drama da cegueira diante das

realidades espirituais, tanto mais intensa quando mais se crê na sinceridade da busca. Na verdade, o homem está mais atento às

condições materiais da ‘demanda’ que às suas condições espirituais. A Demanda do Graal inacessível simboliza, no plano místico que é essencialmente o seu, a aventura espiritual e a

exigência de interioridade, que só ela pode abria a porta da Jerusalém celeste em que resplandece o divino cálice. A perfeição

humana se conquista não a golpes de lança como um tesouro material, mas por uma transformação radical do espírito e do coração. É preciso ir mais longe do que Lancelote, mais longe do que Persival, para chegar à transparência de Galahad, imagem

viva de Jesus Cristo.

obscura. A etimologia da palavra “Graal” é duvidosa; é algumas vezes considerada

oriunda da palavra medieval latina “gradalis” – cálice ou prato. As mais primitivas10

formas dessa lenda, apesar de ostensivamente cristãs, contêm elementos de folclore

tão irrelevantes para qualquer interpretação cristã que foram suprimidas pelos

escritores que se seguiram. Por volta do século XV, a imagem foi drasticamente

simplificada. Tornou-se o qual Jesus Cristo serviu o vinho para os apóstolos beberem

na Santa Ceia. O cálice, que tinha o brilho resplandecente das pedras preciosas

sobrenaturais, às vezes aparecia nas mãos de um anjo, às vezes aparecia sozinho,

movimentando-se por conta própria; porém, a experiência de vê-lo só poderia ser

conseguida por cavaleiros que se mantivessem castos.

Uma característica freqüente nas lendas celtas é a procura de um pote mágico. O

próprio Artur esteve à procura de um deles em The Spoils of Annwyn. Tal pote

produz comidas e bebidas deliciosas capazes de prolongar a vida. Outro elemento que

ocorre freqüentemente refere-se a uma região chamada Terra Deserta, que permanece

estéril e desolada porque seu dono foi ferido na genitália e, até que ele esteja curado, a

10

Nas versões mais primitivas, entretanto, como é contado por Chrétien de Troyes e outros

romancistas dos séculos XII e XIII, a aparição do Grall era o clímax de uma história complicada. Um

jovem cavaleiro, às vezes Gawain, às vezes Percival, é guiado a um rio onde vê um homem pescando.

Este é o rei Pescador. O cavaleiro é convidado pelo pescador a entrar em seu castelo, localizado acima

da margem do rio. Quando o visitante chega, seu anfitrião está deitado, defronte a ele, em um leito do

qual não pode mover-se sem ajuda. O rei fora ferido entre as pernas e, enquanto as feridas não

sarassem, suas terras permaneceriam áridas e estéreis. O rei Pescador é um anfitrião cortês e generoso.

Enquanto ele e seu hóspede estão jantando, um desfile ritual abre caminho pelo salão: uma donzela

leva um prato, em seguida outra donzela carrega um prato estalhado acompanhada por um escudeiro

que segura em suas mãos uma lança sangrando, e atrás deste passam criados carregando candelabros.

Eles estão indo alimentar o pai do rei Pescador, que é invisível e mantido vivo com uma hóstia

consagrada, levada pela donzela em um dos pratos. Essa inexplicável cena é transmitida com tamanha

magia por Chrétien de Troyes em Precavei ou Le Conte dl Grall, que o leitor é levado a acreditar que

essa história contém um significado oculto, além daquele que se pode perceber: “Duas tochas acesas na

sala – em nenhum outro canto do mundo se poderia encontrar lugar mais iluminado; um fogo forte, de

lenha seca, fazia uma chama clara... As colunas altas e firmes da lareira eram de latão maciço. Dois

criados carregavam, cada um, um castiçal esmaltado a ouro e em cada castiçal dez luzes de cera

estavam queimando”. A donzela carregava o Graal “em suas mãos” e pelo salão “tão grande

luminosidade se espalhava que as luzes das velas empalideciam como as estrelas ou como a própria lua

empalidece quando o sol nasce”. O Graal era de ouro puro, cravejado com pedras preciosas, “as mais

ricas e as mais variadas que podiam ser encontradas no céu e na terra. Nenhuma gema podia se

comparar àquelas encontradas no Graal.

terra não poderá reviver. Esse homem ferido é chamado rei Pescador11

e habita o

Castelo do Graal, situado acima da margem de um rio. Nessa história o herói é

prodigiosamente entretido e durante o jantar vê um desfile passar pelo salão. O herói

observa com muda estupefação, e o rei Pescador não consegue se ver livre de seu

encanto maligno. Se o herói tivesse pedido uma explicação daquilo que estava vendo

o encantamento teria sido desfeito.

O trabalho mais antigo e conhecido que liga o Graal a Glastonbury é o livro

Joseph of Arimathea12

(“José de Arimatéia), de Robert de Boron, escrito

aproximadamente em 1200. Histórias sobre José de Arimatéia eram correntes no

século VI. Ele se tornou mais conhecido naturalmente pela referência a ele, em todos

11

O rei Pescador tem sido identificado como um derivativo do deus irlandês Bran. Nas margens

do Dee, um rio de salmões, estão as ruínas de um castelo, Dinas Bran. Jessie Weston proprõe uma

conexão entre as origens do rei Pescador e as lendas cristãs. Por uma lado, ela aponta a existência do

peixe como símbolo predominante dos primórdios da fé cristã: o anagrama de Ichtvs (peixe) aplica-se à

palavra “Cristo”; Cristo chama os apóstolos de “pescadores de homens”; o “anel do pescador” do Papa.

Por outro lado, a Srta. Weston sustenta que as origens do rei Pescador são ainda mais antigas que as

cristãs: “O peixe é um símbolo da vida desde um tempo incomensurável, e o título de pescador, desde

os tempos primitivos, tem sido associado às divindades ligadas às origens e à preservação da vida. O

primeiro avara de Vishnu, o Criador, é um peixe, e o peixe era sagrado para essa divindade, que devia

levar o homem de volta das sombras da morte para a vida”.

O rei Pescador, Terra Deserta e o Pote Sagrado, são imagens bem conhecidas nas histórias

celtas, difundidas pelos “contadores de história” bretões por toda a França. Tal identificação do pote

sagrado com a Ultima Ceia, com o cálice no qual o vinho foi bebido ou mesmo com o prato no qual a

refeição da Páscoa dói servida talvez possa ser explicada pelo imenso impacto causado pela fé cristã

nos primeiros séculos d.C., cuja imaginação queria narrar uma história, e, para enriquecê-la, usou um

dos mais antigos mitos criados pelo homem.

A fonte conhecida mais antiga da lenda é o galês Bleheris, ligado aos romancistas franceses,

que viveu de 1100 a 1150. Filho de um fidalgo galês, tratava amigavelmente os normandos e ajudou-os

a defender o Castelo de Caernarvon contra os galeses. Embora galês, falava fluentemente o francês e

deu um dos mais notáveis presentes para a arte das histórias contadas. Mais tarde Bleheris foi chamado

por Giraldus Cambrensis como “fabulator famousus”, e o poeta inglês Tomás, autor da versão de

Tristão, disse que ele era a pessoa que mais conhecia a história de todos os condes e todos os reis da

Bretanha. Um dos acréscimos feitos ao Perceval ou Le Conte del Graal de Chrétien por outras mãos doi

um prólogo chamado Elucidação, que fala de “Blihis” como alguém que “sabia de todas as histórias do

Graal”, o que indica uma fonte galesa direta para aqueles romancistas franceses que escreviam sobre o

Grail. 12

O Joseph of Arimathea de Boron é o primeiro trabalho que liga o Graal ao cálice usado na

Ultima Ceia. Depois das aventuras reunidas a partir de antigos trabalhos cristãos The Gospel of

Nicodemus (“O Evangelho de Nicodemus”) e The Avenging of the Saviour (“A Vingança do

Salvador”), José de Arimatéia e seu cunhado Bron, acompanhado de doze filhos, lançam velas para o

oeste. No caminho o grupo é salvo de inanição por Bron (cujo o nome é uma derivação óbvia de Bran,

mas apresentado de uma forma racionalizada, afirmando-se que ele era, no início, chamado de

Hebron). Bron pesca um peixe grande, que, colocado sobre uma mesa do lado oposto ao Graal, fornece

alimento para todos. Doravante passa a ser identificado como o Rico Pescador ou o rei Pescador. Na

história de Boron, José de Arimatéia não vem para a Inglaterra; a missão evangélica é conduzida por

seus companheiros, que profetizam que alguém irá procurar “o vale de Avalon”.

os quatro testamentos, como o homem que recebeu permissão de Pilatos para tirar o

corpo de Jesus da cruz e enterrá-lo em seu próprio túmulo. A lenda diz que ele

recolheu em uma taça gotas de sangue dos pés de Jesus.

A contribuição de Boron, à lenda do Graal era a afirmação criada ou

repetida, de alguma outra fonte, de que o Graal era o Cálice da Ultima Ceia. Sua

história contém tantos elementos da mitologia celta, que Loomis pergunta: por que a

história foi mudada do século VI, época de Artur, à qual ela pertence, para o século I

d.C? Sua explicação para a conexão entre a história bíblica de José de Arimatéia e o

contexto da lenda celta é que a palavra galesa cors, cujo significado é “chifre” ou

“cornucópia”13

, foi erradamente traduzida, como cors, do francês, que quer dizer

“corpo”.

The History of the Holy Graal, (“A História do Santo Graal”), do Ciclo

Popular (ou ciclo Bretão), é a fonte da afirmação de que José de Arimatéia veio a

Glastonbury e lá fundou a primeira igreja cristã da Bretanha. Mas mesmo essa história

não menciona realmente Glastonbury. È típico do crescimento da lenda arturiana que

uma afirmação leve à suposição, que por sua vez cria terreno para uma nova

afirmação. Se afirmava que seria nos arredores da Abadia de Glastonbury que

estariam as fundações do mais antigo santuário cristão da Bretanha, esse santuário

deveria Ter sido então aquele construído por José de Arimatéia. Por volta do século

XV, os delegados ingleses sentiam-se fortalecidos, tamanha força e convicção

provocava a lenda, que reivindicaram primazia sobre os delegados da França e da

Espanha para a eleição aos conselhos da Igreja de Pisa, Constança, Siena e Basiléia.

13

Os dois potes galeses da fartura, a cornucópia e a bandeja, foram convertidos, como resultado

da ambigüidade de cors, no Graal e no corpo de Cristo. O Castelo de Graal chamava-se Corbene, que

Loomis vê como a corruptela de Corbenoit, o Castelo da Cornucópia Abençoada.

EXISTEM duas versões publicadas sobre a demanda. Os títulos que a

compõem a 1º prosificação , são cinco:

1 – Estória do Santo Graal

2- Merlim

3 – O livro de Lancelote do Lago

4 – As aventuras ou Demanda do Santo Graal

5 – A morte do Rei Artur

A ESTÓRIA DO SANTO GRAAL - relata as origens evangélicas do santo

vaso e a chegada de josefes ede seus companheiros à Inglaterra. José de Arimatéia

colhe o sangue de Cristo no santo vaso, depois da crucificação; sobrevive

milagrosamente na prisão, durante quarenta e três anos, e, depois de libertado, leva o

santo vaso para Sarras. Seu filho Josefes, cuja pureza e castidade o predispõem para

ser o primeiro bispo, é privilegiado com a visão de Cristo, ao contemplar o santo

vaso. Empreende então a tarefa de cristianizar o mundo e consegue importantes

conversões. O final de sua viagem o leva à Inglaterra, onde o Graal se torna

praticamente um elemento de articulação entre o povo escolhido e Deus. Morto

Josefes, sucede-o na guarda do Graal Alano, o primeiro rei pescador, que mora no

castelo Corberique, onde seus guardadores esperam a chegada do bom cavaleiro.

MERLIM – é o livro que conta a estória do mago profeta, cuja atuação é o elo

entre a cavalaria e o fio narrativo da matéria religiosa. Porque é filho de um incubo,

Merlim tem o conhecimento do passado, e, como sua mãe tinha méritos diante de

Deus, recebe o Dom divino de prever o futuro. Usando habilmente seus dons, trama a

chegada de Artur, desde sua concepção, quando propicia a Uter a relação carnal com

Igerne, a mulher do duque de Tintagel. Mais tarde, prepara o reconhecimento da

realeza de Artur, com a cena da retirada da espada fincada na pedra. Durante seu

reinado, assiste Artur, até o estabelecimento da távola redonda, estratégia capaz de

reunir no reino de Logres os melhores cavaleiros do mundo. A continuação de Merlim

apresenta em detalhes inúmeros sucessos guerreiros aproximando Merlim de O Livro

de Lancelote do Lago. Essa continuação traz o casamento de Artur com Genevra, o

amor de Merlim por Viviane e traz também o nascimento de Lancelote.

O LIVRO DE LANCELOTE DO LAGO – é matéria que sozinha perfaz a

metade do ciclo todo. Amplia enormemente a biografia do cavaleiro contando sua

educação e formação com a dama do lago, Viviane, a fada, que recebe os poderes

mágicos de Merlim e do Demônio. Apresenta a vida de Lancelote como modelo de

cavaleiro com atos de defesa da Igreja do dos pobres. A falta de instrução e de

orientação para a espiritualidade e para a castidade o dispõe para sua complicada vida

amorosa com Genevra. O cavaleiro vive intensamente a lealdade de cavaleiro

campeão do rei e da fidelidade de amante da rainha. Esse amor é ameaçado pela falsa

Genevra e por Morgana. À época dessas duas ameaças, bem como no tempo em que

Artur anda apaixonado pela bela Camila, Galeote é o intermediário entre a rainha e o

cavaleiro. Provocado por um encantamento, Lancelote faz na filha do rei Peles,

imaginando estar com Genevra, um filho que virá a ser o bom cavaleiro escolhido

para dar cabo às aventuras do reino de Logres, Galaaz.

A DEMANDA DO SANTO GRAAL – quarto título e penúltima parte do

ciclo, é, nesta primeira prosificação, um texto eminentemente alegórico: contém a

estória e a interpretação dos fatos, segundo um perspectiva cisterciense, com perfeitos

objetivos didáticos. As aventuras vão separando os cavaleiros entre um eleito, uns

poucos mais perto da perfeição dele e os demais. A alegoria chega à cena da última

celebração do Graal com essa distinção tão perfeita, quanto a mesa do Graal e da

última ceia. Não é esta A DEMANDA de que foram extraídos os episódios deste

volume.

A MORTE DO REI ARTUR – encerra o ciclo contando a estória posterior ao

arrebatamento do Graal para o céu. Os amores adúlteros de Genevra com Lancelote,

até então mantidos em segredo, são revelados e sua revelação precipita os

acontecimentos. Um movimento de inculpação do herói esvazia-se, quando ele vai ao

torneio de Wincestre disfarçado de cavaleiro novo, com armas todas de uma só cor,

vermelhas. De acusado de amores com a rainha, passa a suspeito de amar a donzela de

Escalote. Por ocasião da insuspeitável acusação de envenenamento de um cavaleiro

que pesa sobre a rainha, Lancelote torna-se seu defensor único. Em batalha, Lancelote

mata Gaeriete, um dos irmãos de Galvão, como este, sobrinho do rei.

Arthur e a Cavalaria

- Início do séc XII – o crescimento de torneios (apesar da proibição papal).]

- Séc XIII – o torneio mudou: de uma guerra em pequena escala e

transformou-se em uma competição dentro de uma área limitada que

exigia um alto grau de habilidade técnica.

- 1235 – foram encontrados registros da Távola Redonda.

- Séc. XIII, XIX, XV - andança dos Cavaleiros14

.

- Séc XI – um terço da Inglaterra era dominado por florestas15

.

- 1191 e 1212 – versão Francesa ( Per lesvaus le Gallois) – Nitze

O Declínio da Cavalaria

- Séc XII – 1º poema escrito no vernáculo sobre a história arturiana foi

Brutus (“Brutus”), de Laymon.

- Século XIII – relato sobre as façanhas militares de Arthur na conquista do

norte, auxiliado por Merlin, no conto Arthour and Merlin escrito em versos

no final deste século.

A figura de Arthur continuou a interessar, então, não só àqueles que queriam

ouvir uma história, mas também aos reis, que queriam como inspiração.

1344 – Froinart, nas sua crônicas sobre a Guerra dos Cem Anos, Quando

analisa tanto o ponto de vista dos franceses como o dos ingleses, diz que Eduardo III

jurou restabelecer a Távola Redonda em Windsor, “como Arthur a havia deixado,

para 300 cavaleiros”.

1341 – começo da Guerra dos Cem Anos. Eduardo III perdeu todos os

territórios ingleses na França, exceto Bayonnhe e Bordeaux, mas ganhou Calais, que

os ingleses prezavam extremamente, por lhes dar o controle de parte do canal.

1346 – Batalha de Crécy – deu a vitória aos arqueiros ingleses, e não aos

cavaleiros montados.

XIV – O desenvolvimento no uso do corpo de arqueiros motivou uma grande

mudança nas sátiras militares.

14

...faz lembra frequentemente que uma grande parte dessa terra ainda era coberta por floresta. 15

...Os homens da Idade Média, viam a conquista das florestas como tarefa mais importante

para tornar e manter a terra habitável.

- Um poema inglês chamado Morte Arthur, de Thornton (devido ao

nome de seu copista Robert Thornton16

).

1400 – Tradução da morte de artur – poema arturiano – do ciclo popular foi a

1º versão inglesa da história de Lancelot e da donzela de Astolat.

- Poema Sir Gawaine and the Green Knight, obra puramente inglesa

sem qualquer influência estrangeira17

.

Artur no Contexto de Malory

- Entre 1469 e 1470 – “Durante o reinado de Eduardo IV, em seu nono ano”.

Foi assim que Thomas Malory concluiu Morte d’ Arthur (A morte de Artur – a maior

de todas as versões da história de Artur18

).

Molory esteva na prisão provavelmente em 1468 e acredita-se que tenha

morrido neste local, pois foi enterrado na Igreja dos Franciscanos, ao lado da prisão

de newgate: Também é certo que tenha terminado o livro na prisão19

de newgate.

1474 – Caxton fundou a 1º editora inglesa20

.

16

Artur parte para conquistar a França e Roma e, em seu sonho profético, é chamado de volta

para tratar da traiça de Madred. No entanto, neste poema, a descrição da emarcação de Artur é mais

completa e mais viva do que em qualquer outro e parece estar apoiada. 17

A história é uma daquelas em que o herói é ligado à corte de Artur, mas suas aventuras o

levam longe dali. 18

Um trabalho maravilhoso, cujo imenso sucesso popular demonstrara mais uma vez que, se o

público era receptivo a histórias que falavam de casos de amor e de acontecimentos sobrenaturais,

também se sentia atraído por histórias que contavam a vida de um rei que havia sido soldado. Na

versão britânica, o rei Artur era descrito como imponente e dono do seu destino. Buscando perfil

semelhante, Ricardo I, Eduardo I e Eduardo III e o príncipe negro fizeram o possível para ser

identificados com esse modelo de rei. 19

Também é certo que tenha terminado o livro na prisão, pois no final de sua última obra

escreve: “Rogo a todos vocês, cavalheiros e damas, que leiam este livro sobre Artur e seus cavaleiros,

do começo ao fim e que rezem por mim enquanto estiver vivo. Que Deus me dê a redenção e, rogo-

lhes por minha alma quando eu estiver morto”.

As condições da prisão Malory devem ter sido no mínimo aborrecidas, mas, como quer que

tenham sido, foi-lhes permitido escrever um dos maiores trabalhos sobre Arthur em língua inglesa.

Uma coletânea de diversas fontes parte tradução, parte adaptação, que incluem versões metrificadas da

história arturiana: morte Arthur (“morte de Artur”), de Thornton, Arthour and Merlin (“Artur e

Merlin”) e a versão em estrofes de La morte Arthur (“A morte de Artur”); mas a principal fonte são as

5 histórias, imensamente longas, do ciclo Popular Francês (ou ciclo Bretão)

1934 – Após Caxton fazer sua versão, cujo o manuscrito desapareceu, nenhum

exemplar do texto de Malory foi encontrado, apesar de parecer que tinham sido feitos

vários exemplares desse trabalho. Somente após a descoberta de um exemplar do

texto de Malory na Fellow’s Library, no Wincheste College. Pode-se demonstrar,

como o fez o professor, o quanto Caxton mexeu na edição original de Malory21

.

Os objetivos de Malory e Caxton eram essencialmente opostos. A experiência

de Caxton como editor, sua “intuição” em perceber o que venderia mais, levou-o a

acreditar que o livro, compacto em uma só edição venderia melhor do que se fosse

uma coleção de contos.

Malory – A Lenda Imortalizada

1423 – Dick Whitting construiu a biblioteca comunitária. É possível imaginar

que entre esses livros se incluíssem as histórias arturianas em prosa francesa, e em

versa na língua inglesa22

.

20

A inteligência comercial de Caxton permitiu que ele escolhesse imprimir livros que tinham

certeza que as pessoas gostariam de ler. Caxton lembrou que muitos nobres e diversos cavalheiros

deste reino da Inglaterra, perguntaram-lhe, muitas e muitas vezes, por que ele não imprimia a “nobre

história do Santo Gaal e do mais famoso rei da Cristiandade...rei Artur, que deveria ser reverenciado

por nós, ingleses, como à frente de todos os reis cristãos”. 21

O vulgate cycle (“ciclo popular” ou ciclo Bretão), particularmente Lancelot, tem

características inconfundíveis: a incomum, desordenada e longa prolixidade, além de uma série, das

mais elaboradas, de intercomunicações entre as diferentes narrativas. 22

Como Malory disse que tinha perdido parte do enredo de Le Chevalier du Chariot, não

aparece que o exemplar usado de Lancelot do Ciclo Bretão fosse um livro precioso que lhe fora

emprestado como favor.

Ele deve Ter encontrado nessa tarefa algo absolutamente absorvente. Como que um lenitivo

para abrandar a miséria corrosiva de uma sentença de prisão com tempo indefinido ou interminável.

Em seu primeiro livro< The Noble Tale of King Artur and The Emperor Lucius (“O Conto

Nobre do Rei Artur e o Imperador Lúcio”), Malory seguiu de perto a morte Arthur, de Thornton, mas

alterou a rota de Artur na Gália para corresponder à marcha de Henrique V de Caux até Somme. O

segundo livro, para o qual usou o original francês Suite de Merlim do Ciclo Bretão, ele chamou The

Tale of King Arthur (“O Conto do Rei Artur”). Entre os dois certamente não havia ordem cronológica.

Os pontos mais importantes do The Tale of King Arthur são: o relato de como Artur foi concebido por

Uther Pedragon, sua aquisição do direito à coroa da Bretanha extraindo uma espada de uma pedra, o

recebimento da espada Excalibur entregue pela Dama do Lago e o nascimento de Modred, que nessa

altura Malory não revela tratar-se do filho de Artur com sua irmã Morgana. Conta somente que Merlin

havia dito a Artur que ele seria morto por alguém nascido no dia 1º de maio e que, portanto, Artur teria

Malory:

1º livro – The Noble Tale of King Artur and the Emperor Lucius (O conto

nobre do Rei Artur e o Imperador Lúcio).

2º livro – The Noble Tale of Sir Lancelot du Lake (O conto nobre de Sir

Lancelot do Lago).

3º livro – The Book of Gareth (O livro de Gareth).

4º livro – The Tale of Sir Lancelot and Queem Guinevere (O conto de Sir

Lancelot e da Rainha Guinevere).

5º livro – The Tale of the Death of King Artur (É uma transcrição de Morte

Artur)

O declínio

Drayton, como Gildas, sabendo o papel que a água representa na paisagem

inglesa, destaca os riachos, os córregos, os grandes rios que atravessam o país e os

mares onde deságuam. Lamb disse: “Para além dos sonhos da velha mitologia, ele

associou colinas e rios à vida e à paixão”.

Quando Drayton focaliza as regiões do sudoeste, palco da história de Artur,

relata uma parte importante da tradição arturiana. Faz o rio Teste clamar Winchester

como sede de Artur e “vangloriar-se de que a velha Távola Redonda também é sua”.

ordenado que todos os bebês nascidos nesse dia, fecundados por lordes e gerados por damas (alguns

deles com quatro semanas de vida, outros menos), fossem colocados em um navio e levados para o mar

onde o navio naufragou e todos os bebês se afogaram, exceto Modred, que carregado para a praia, foi

encontrado por um homem de bom coração que tomou conta do bebê. Há então um conto mórbido de

Balin e Balan, os irmãos que se matam um ao outro, sem saber com quem estavam lutando; o

casamento de Artur com Guinevere; o estabelecimento da Távola Redonda e a história de Merlim

encantado por Nimue, umass das damas do lago, que ficou tão cansada de seus gestou inoportunos que

fez com ele descesse embaixo de uma grande pedra para poder conhecer ali os seus poderes e então fez

um feitiço para Merlim, de tal forma que ele nunca mais pudesse voltar, por mais habilidade que

tivesse. Vinaver mostra que, quando Malory terminou The Tale of King Artur, não podia, naquele

momento, ter lido o restante do Ciclo Bretão porque diz: “Quem quiser algo mais, que vá procurar

outros livros do rei Artur”.

Descreve Glastonbury, devastada por ordem de Henrique VIII, cujas ruínas no século

XVII o impressionaram tanto quanto nos impressionam hoje.

1655 – Milto escreveu History of Britain (História Bretanha)23

.

Reflorescimento

XVII – foi na metade deste século que Milton repudiou, de forma austera, a

idéia de transformar Artur em épica.

No final do século quem melhor expressava a opinião erudita era o

bispo Stillingfeet24

.

XVII e XIII – O tema arturiano não inspirou nenhum grande trabalho.

Exceção da encantadora e engraçada brincadeira de Fielding: The Tragedy of

Tragedies, or The Life and Dead of Tom Thum The Great (“A Tragédia das

Tragédias, ou Vida e Morte de Tom Thumb, o Grande”)

1965 – Blackmore produziu seu trabalho em duas partes:

Prince Arthur (“Princípe Artur”).

23

O trabalho mostra que Milton havia se tornado não somente cético quanto à questão de Artur,

mas que também desrespeitava aqueles que não eram: “Saber quem foi Artur e se alguém como ele

reinou na Bretanha já foi alvo de muita dúvida no passado, e ainda há boas razões para duvidar. Por

causa de homens como o monge Malmesbury e outros, cuja credibilidade é discutível, apesar do estilo

erudito, podemos perceber que, passados quinhentos anos da suposta história de Artur, hoje não

conhecemos mais nem Artur nem seus feitos”.

É uma pena que falsificadores tivessem exposto Guilherme de Malmesbury aos comentários

de desprezo de Milton, mas quanto às críticas severas de Milton a Godofredo de Monmouth, estas

foram mereceidas e inevitáveis. Ele observa como parece estranho que um livro na antiga língua Bretã

pudesse ser completamente desconhecido do mundo depois de passados “mais de seiscentos anos da

época de Artur”.

Depois que Milton escreveu Epitaphium Damonis, sua opinião sobre esse assunto modificou-

se. A grande sublevação, a terrível decapitação do rei, o estabelecimento da República e sua queda,

mesmo esses fatos não eram, por si só, superiores às vitórias do Artur verdadeiro. Mas esse Artur

havia perdido no tempo. O mito o tinha substituído, e o mito era tudo o que Milton podia ver, com os

valores da monarquia, da guerra e do falso romantismo. As reivindicações históricas do mito foram

dissipadas pelas pesquisas do historiador e sua figura principal foi rejeitada, sendo considerada por ele

um assunto inadequado à obra-prima de um Republicano, o Regicida. 24

Culto, urbano, pregador popular, capelão de Carlos II e também um historiador erudito. O

bispo, a respeito daqueles que tomavam partido na questão de Artur, dizia: “Acho que ambos os lados

se enganam; refiro-me tanto àqueles que negam que tal pessoa tenha existido ou que um poder

considerável existisse entre os bretões.

1700 – King Arthut (“Rei Artur”) – Blackmore25

.

1803 – Joseph Ritson termina Life of King Arthur (“Vida do Rei Artur”).

1825 – Vida do Rei Artur é publicada26

.

1830 – Wordsworth escreveu um poema monótono, The Egiptian Maid (A

Donzela Egipcía”)27

.

1819 – Ivanhoé28

1825 – The Talisman (“O Talismã”).

Os pré-rafaelitas

Na era vitoriana, época de grande renascimento do tema arturiano, o mito foi

tratado, pela primeira vez em toda sua história, de forma consciente e

intencionalmente artificial.

Malory, no cólofon da história do Graal, disse: “O conto do Santo Graal...é um

conto narrado por um dos mais santos e verdadeiros homens que há neste mundo”.

Os leitores de Spenser encontraram em The Faerie Queene descrições de cavaleiros

armados, como se fossem espectadores dos torneios, em Whitehall.

25

Supõe-se que o autor tenha usado Guilherme de Orange como modelo para desenvolver o

personagem antes de ele se tornar rei. Muito da narrativa é tomada de Godofredo de Monmouth, e

Blackmore também tomou muita coisa emprestada de The Faerie Queene (“A Rainha Encantada”) e

Paradise Lost (“Paraíso Perdido”). Mas o que causou violenta reação entre os católicos romanos e

apoiadores de Stuart foram as próprias idéias do autor, acrescentadas à história. Blackmore identificou

o campeão cristão Artur com o protestantismo e Satã com o catolicismo. Na chegada de Artur, o autor

mostra, alegoricamente, a restauração do culto protestante feita por Guilherme III, depois da tentativa

de Jaime II de restabelecer a supremacia católica. 26

É uma história infantil cujo personagem Tom Thumb (Tom Dedão) era filho de um lavrador

dos tempos de Artur do que este último por si mesmo no texto. 27

No qual um navio encantado, vindo do Egito, naufraga por artes de Merlin na costa da

Cornualha. Uma bela moça é arrastada sem sentidos para a praia, e Artur faz com que os cavaleiros se

enfileirem diante dela. Aquele que com seu toque acordá-la pode Tomá-la como noiva. 28

Ambos Ivanhoé e o Talismã passam-se no reinado de Ricardo I e são os únicos dois romances

nos quais ele entra em um período em que Artur poderia ter sido visto como uma realidade de época.

Mas uma vez, em verso, ele tratou de um tema no qual o próprio Artur era um personagem principal.

1951 – Peele, em Polymnia descreveu os cavaleiros como eles aparecem em

um grande torneio onde, entre os competidores em branco e azul-celeste, verde e

cinza, ouro e vermelho, o conde de Essex cavalgava nas liças com um cavalo negro-

carvão, com armadura negra e elmo sombreado por uma plumagem negra29

.

XVII – Na segunda metade do século, Artur ainda foi um nome usado para

chamar atenção.

XVIII – Artur era um assunto preservado por antiquários, não sendo levado

muito a sério por leitores comuns.

XIX – meados deste século (pintores/poetas) desejavam o retorno ao passado

heróico representado pela idade média, um mundo perdido, ideal para o qual tentavam

voltar em imaginação30

.

1634 – Última edição da obra Morte d’Arthur, de Malory.

1808 – Scott – publica Marmion e cita na introdução o primeiro conto de

Lancelot31

.

1816 – publicação de duas edições de Morte d’Arthur32

.

1832 – Alfred Tennyson – já havia editado seu 2º livro de poemas33

.

29

A cor usada de maneira tão cheia de imaginação, já era familiar aos leitores de Malory, que

descrevera o cavaleiro da Terra Vermelha, com a armadura vermelha e o cavalo coberto com manta

igualmente vermelha. 30

Eles não estavam interessados na Idade Média como historiadores sociais, pois o século XIV

teria então muito mais coisas para chocá-los do que o XIX, mas sua atenção estava focalizada nos

remanescentes tangíveis da arte medieval: a arquitetura ogival, que buscava as alturas, a beleza

resplandecente dos vitrais medievais, os manuscritos com iluminuras, os pratos e cálices religiosos de

ouro e prata, tão preciosos hoje em dia, que não podem ser usado e ficam guardados em cofres de

bancos. Eles eram naturalmente levados a ler Morte d’Arthur, de Malory. 31

Campeão do Lago, que, aventurando-se na Capela Perigosa, foi privilegiado com a visão do

Graal em sonho, uma vez que não era merecedor de vê-lo de olhos abertos. Nas notas a essa

introdução, Scott cita duas longas passagens de Malory, ilustrando suas alusões. O grande sucesso de

Marmion, pela publicação desses trechos, pode ter aguçado o interesse que resultou na publicação de

duas edições de Morte d’Arthur em 1816, uma em dois volumes, outra em três, e outra ainda no ano

seguinte, para qual Southey, então poeta laureado, escreveu o prefácio. 32

A edição de 1816, que estava na biblioteca de seu pai, chegou às mãos de um jovem que seria

o último dos escritores do tema arturiano e, cuja contribuição lhe conferiu um lugar na mente do

público, ao lado de Godofredo de Monmouth e Thomas Malory. 33

Um dos quais, baseado na história de Elaine, de Malory, ele chamara The Lady of Shalott (“A

Dama de Shalott”). O próprio Malory já havia chamado Astolat de “Ascalot”, e “Shalott” parece Ter

sido uma suavização do termo, feita por Tennyson.

A coleção de poemas que ele publicou em 1842 continha a Morte

d’Arthur, obra de força mágica que supera todas as obras sobre Artur depois de

Malory34

.

1830 – Obra prima de Tennyson – coleção de poemas sobre Artur35

.

A Fama de Tennyson36

junto ao grande público firmou-se com a

publicação de In Memoriam, mas seus primeiros poemas, inclusive The Lady of

Shalott, Sir Galahad e Morte d’Arthur, ganharam um seguimento interessante.

Seu conto não traz nada de semelhante à narrativa original, mas é uma versão psicológica

extremamente interessante do tema, abordando a história de uma menina que vive em casa, em

segurança, até que o nascimento súbito de uma paixão a destrói. É significativo que o primeiro

tratamento de uma história arturiana por um grande poeta, após a Revolução Industrial, tivesse

transformando o esquema original da história, recriando-a de uma forma que se poderia pensar ter sido

baseada em um caso psicanalítico, embora elaborado, pela capacidade descritiva, emotiva e com a

sonoridade própria de Tennyson. Em outro poema da mesma coleção, The Palace of Art (“O Palácio

de Arte”), ele descreve gravuras do passado, pintadas nas paredes: “Tão ferido está o filho de

Pendragon, em bosques nevoentos, íngremes terrenos, dormitando no vale de Avilion, atendido por

rainhas coroadas”. 34

A coleção também continha depois de Sir Galahad, que novamente não só reproduz os

elementos da história do Graal apresentada por Malory, mas amplia sua esfera mágica: “Ah, abençoada

visão, sangue de Deus, meu espírito ultrapassa sua barreira mortal, glória que desliza sob tempos

negros, e, como luz, mistura-se às estrelas...Deixo a planície, escalo as alturas, nenhuma mata fornece

abrigo, mas formas abençoadas em sibilantes tempestades, voam sobre pântanos perdidos e campos

cheios de vento”. 35

É estranho que um dos assuntos mais importantes de sua vida, a perda aniquiladora de seu

amigo Artur Hallam, em 1833, sofresse um reflexo disso. Hallam tinha se tornado amigo de Tennyson

em Trinity; seu temperamento genital, confiável, e seu cálido afeto deram a Tennyson o apoio de que

ele tanto precisava. Hallam morreu durante o sono, devido a um rompimento de um vaso sangüíneo,

durante suas férias em Viena. Seu corpo foi levado à Inglaterra e enterrado em Clevedon. Nesse

mesmo ano Tennyson começou a escrever In Memoriam, mas só publicou-o dezessete anos depois, em

1850. Alguns dos versos descrevem a chegada do navio que trazia o caixão à costa da Inglaterra:

“Belo navio, que da costa italiana, navegas pelas plácidas planícies oceânicas, com os restos mortais do

meu querido Artur, estende tuas asas abertas e trazei-o docemente”.

O desejo de reunir-se com aquele que se foi, para que ele retornasse, é um dos trabalhos mais

emocionantes já escritos. O paralelo não é explícito, mas é óbvio: os dois heróis, ambos chamados

Artur, são carregados mortos ou morrendo, em um navio, e em ambos os casos seus acompanhantes

esperam seu retorno tentando se convencer de que ele está vivo: “Do céu tempestuoso, fala comigo!”

Esta linha, com certeza, seria compreendida por um poeta celta do século VI. 36

Millais, Holman Hunt, Rossetti, William Morris e Burne-Jones foram homens que colocaram

essas idéias em prática. William Morris e Burne-Jones, de vinte e dezenove anos respectivamente,

encontraram-se pela primeira vez no Exeter College, em 1853. Além de trocar opiniões sobre pintura,

mantinham uma admiração apaixonada por Tennyson. Burne-Jones, em seu primeiro ano em Oxford,

escreveu para um amigo que ainda estava na escola secundária: “Decore Sir Galahad; ele será o

patrono de nossa ordem”.

A idéia de pintura dos pré-rafaelitas, emprestada dos pintores italianos do século XIV e início

do século XV, levou-os naturalmente a estudar literatural medieval. Burne-Jones descobriu em uma

livraria uma cópia da edição de Southey, de Malory. Estava além de suas posses, mas Morris, que era

abastado, comprou-a, e essa obra tornou-se a sua bíblia. Em 1854, Rossetti pintou uma aquarela do

encontro de Lancelote com Guinevere, no túmulo de Artur. É intitulado: “Como Sir Lancelote se

separou da rainha Guinevere,no túmulo do rei Artur e a teria beijado, mas ela não quis”. O trabalho é

1858 – Morris aos 24 anos, publicou The Defense of Guinevere and Other

Poems (“A Defesa de Guinevere e outros poemas37

”).

1859 – Tennyson publicou38

os primeiros quatro Idylls of the King: Merlim

and Vivien (“Idílios do Rei: Merlim e Vivien”), Feraint and Enid e Lancelot and

Elaine e Guinevere.

executado com uma intensidade selvagem. Guinevere, com o hábito de freira, tem o rosto marcado

pelo sofrimento, enquanto Lancelote inclina-se em direção a ela, curvado sobre o túmulo, com uma

impetuosidade feroz e sinistra. A efígie de Artur entre eles é a de um homem velho e cadavérico. 37

O poema que dá o título ao livro não é interessante enquanto imagem medieval. Em grande

parte é um monólogo no qual Guinevere faz a defesa de sua conduta perante Gawaine e sua companhia

de cavaleiros. A rainha, indignada por estar sendo acusada e envergonhada em admitir sua

responsabilidade, recorre à própria beleza e ao fato de ter sido comprada, como desculpa para o seu

caso amoroso

“Pelo Grande Artur e pelo seu pequeno amor”.

Esperando que o leitor se mantenha do lado dela, o poema é extraordinariamente moderno

diante da atitude relacionada ao adultério. Seu refrão é:

“Contudo você, Sir Gawaine, mente,

O que quer que possa ter acontecido nesses longos anos,

Deus sabe que falo a verdade, e que você mente”.

Mas teria ele mentido? Gawaine não fala no poema. Fica implícito que foi rude e impiedoso,

mas como poderia ter mentido? Somente pelos padrões de alguma verdade superior aos fatos. A

atitude não é surpreendente para nós, mas surpreendente tratando-se de um poema de 1858.

Morris adota na sua peça seguinte, Arthur’s Tomb (“Túmulo de Artur”), inspirado na pintura

de Rossetti, uma atitude mais convencional: Guinevere, desesperada, insulta Lancelote por sua traição

a Artur e faz com que ele caia desmaiado sobre o túmulo. Malory é a origem desse trabalho de Morris,

mas não poderia haver maior contraste do que as passagens detalhadamente efervescentes e sua beleza

e poder inconsciente.

Já Tennyson trabalhava com um padrão diferente e em uma escala bem mais ampla. Sua

melancolia interferiu em sua concepção da Távola Redonda, onde uma sociedade com força primitiva,

lealdade e cavalheirismo foi destruída pela fraqueza da natureza humana, pela sensualidade

sobrepujando a espiritualidade. Ele viu a aniquilação do bem, redimindo da absoluta desesperança

apenas pela possibilidade de haver um outro pálido amanhecer:

“Deus manifesta-se de várias maneiras,

Com receio de que um bom hábito corrompa o mundo”.

38

A era vitoriana foi uma época de grandes romancistas, e os primeiros quatro Idylls têm

atrativos como os de um romance psicológico. Sommerset Maugham define-os admiravelmente

quando diz que “o romance é uma história sobre pessoas ligadas emocionalmente”. Ao contrário dos

grandes romancistas, Tennyson tem a limitação de focalizar o passado do ponto de vista do presente; a

imagem de Artur como “um cavaleiro moderno, de porte grandioso” não é somente diferente do que

seria concebível, mas é completamente diferente de tudo aquilo já imaginado. Porém, os preconceitos

e críticas justificáveis que o leitor possa nutrir desvanecem-se quando se fecha um livro de tal porte.

Tennyson, pode-se afirmar, é, entre os grandes poetas, o mais fácil de ser lido. Em cada um dos

primeiros Idylls, a situação entre os dois personagens centrais é absorvente e mostrada com a incrível

capacidade de descrição de Tennyson. Em Merlin and Vivien, duas passagens revelam quase todo o

quadro:

“Grita a tempestade, arrebenta o galho

Com ímpeto o rio vai.

A chuva sobre eles cai. E da luz para a escuridão,

Resplandecente, seu dorso, seus olhos vêm e vão”.

Até que ele obteve o seu segredo –

“E correndo para longe a prostituta gritou: Louco!

A floresta, a mata atrás dela

Se fechou e do eco só se ouviu: Louco!”

Todo o episódio deriva de algumas poucas linhas de Malory, onde Tennyson substituiu a

perseguição de Merlin a uma dama que não o quer pela sedução relutante de Merlin por Vivien.

Também substituiu o nome Nimue por Vivien, alternativa que se dizia ser devida a um possível erro do

copista, porque Burne-Jones dizia que Nimue, a Dama do Lago, era muito graciosa para ter essa

história ligada a ela.

Geraint and Enid é uma história de amor, desentendimento e reconciliação, mantida quase

completamente como foi encontrada; mas em Lancelot and Elaine Tennyson modifica drasticamente a

personagem Elaine. Malory diz que, quando Lancelote rejeitou a oferta da donzela, “ela gritou em um

tom agudo e desmaiou, e então as mulheres a levaram para seu quarto”; Tennyson diz:

“Então como um passarinho inocente e desprotegido

Que só tem uma mensagem singela, de poucas notas

...assim esta simples donzela

Passou metade da noite repetindo: devo morre?...

Ele ou a morte, murmurava, a morte ou ele,

e de novo, como uma ordem: ele ou a morte”.

A versão completa é mais patética do que trágica. Mas após a aparição do cadáver da donzela

no barco, onde Tennyson se torna de novo mais suave que Malory, colocando uma flor-de-lis em suas

mãos, o rei diz a Lancelot:

“Agora rogo a Deus,

Vendo em teus olhos tamanha desolação

Tu poderias ter amado esta donzela...

Que poderia ter dado a ti, agora um homem solitário,

Sem esposa nem herdeiros, nobre descendência, filhos

Nascidos para a glória de teu nome e de tua fama,

Meu cavaleiro, grande Sir Lancelote do Lago”.

Os leitores que se devotam aos grandes romances encontrariam aqui uma atração similar.

O Idyll em que é necessária mais compreensão é Guinevere; é o mais intenso, mas também o

que tem contra si padrões diferentes dos tempos atuais. A tendência moderna de simpatizar com o

adúltero mais do que com sua vítima pode levar a maioria dos leitores a se colocar contra Artur antes

mesmo de ouvir o que ele tem a dizer, e mesmo em 1859 o ato de Artur reprovar sua esposa,

arruinando o trabalho de sua vida, enquanto ela permanece prostrada ao chão era desagradável para

algumas pessoas. Meredith diz que Artur repreendeu sua rainha como se fosse um clérigo. Se ele o

fez, os clérigos dos dias de Meridith deviam ter uma eloqüência surpreendente; mas a tarefa a que

Tennyson havia se proposto era formidável: buscar simpatia em relação a Artur, depois que ele, tão

brilhantemente, conseguira para os amantes. Guinevere ( em Lancelot and Elaine) diz a Lancelote:

“O crepúsculo faz a cor, eu sou sua,

Não de Artur”.

Ao elogiar Artur, ela somente pode dizer:

“Pensei que não pudesse respirar ar tão bom,

Ar puro, severo, de pura luz”.

Não seria impossível crias um personagem convincente de quem pudesse ser dito isso; o texto

poderia representar um homem pouco comum e frio, mas não irreconhecível; porém, dizer dele

“Que foste para teus cavaleiro

Como é a consciência de um santo

Em meio a seus sentidos em conflito”,

é fazer dele o rei, uma abstração, em vez de um homem ferido e que sofre. É mais fácil, com

certeza, conseguir a simpatia por alguém em agonia por seus remorsos do que por alguém, moralmente

superior, que fala e censura, e o sucesso do poema é justamente a fala de Guinevere. Tal é a habilidade

de Tennyson, que, mesmo na parte que envolve Artur, provoca alguns efeitos lancinantes. Quando o

rei diz do efeito destruidor do adultéiro:

“Os filhos nascidos de ti são espada e fogo,

A ruína vermelha e a decadência das leis”,

tais comentários seriam válidos para um homem cuja esposa o abandona por outro homem e é

então privado de seus filhos, porque a corte decidiu que seria melhor que os filhos ficassem com a mãe.

No entanto, as melhores palavras de Artur são aquelas nas quais ele faz um apelo pela união

deles em outro mundo, estampando uma profunda emoção em uma citação isolada e completa:

Tennyson emergiu nas fontes da Lenda Arturiana e produziu peças com

descrições fascinantes.

Tennyson continuou a traçar o mapa de Artur. Em 1860 ele foi a Tintagel, em

1864 à Britânia. Em 1869, publicou mais quatro Idylls: The Coming of Arthur (“A

Vinda de Artur”), The Holy Grail (“O Santo Graal”), Pelleas and Ettard e The Passing

of Arthur (“O Falecimento de Artur”), que era o seu original Morte d’Arthur, de 1842,

precedido por um novo texto. A visita a Tintagel produziu a invenção do nascimento

de Artur, uma combinação de Godofredo de Monmouth, que situava sua concepção

em Tintagel, com o conto em que Modred foi trazido para a praia quando era criança.

A descrição é terrível e fala de uma noite de tempestade na qual Merlin desce da porta

de entrada do castelo para a angra, onde o mar se agita tremendo, até que a nona onda

“Lentamente levantou e mergulhou

Bramindo, a chama da onda

Saiu e da onda na chama nasceu

Um bebê desnudo que foi conduzido aos pés de Merlin”.

“Nem Lancelote, nem outro”.

E quando ele parte na neblina mortal, ao encontro da morte, em sua última batalha, Guinevere

exclama:

“Os anos passarão entre séculos,

E meu será o nome do desprezo”....

Uma profecia que estranhamente se cumpriu, já que ainda hoje, nos vilarejos do oeste da

Inglaterra, uma mulher volúvel é chamada de “uma Guinevere comum”. Mas ela diz:

“Eu não devo insistir nessa triste fama”,

e, depois de três anos de trabalho penitente e dedicado para a comunidade que a acolheu,

segue

“Além dessas vozes, para onde há paz”.

Algumas das passagens contêm efeitos chocantes, porém o final é impecável. Colocando a

versão de Tennyson e de Malory lado a lado, é impressionante o contraste dos dois séculos. Malory

deixa forçosamente claro que foi o amor de Lancelote e de Guinevere que arruinou a sociedade da

Távola Redonda, e faz Guinevere condenar-se como responsável pela morte de Artur, em palavras que

nunca foram superadas em seu apóstrofo ao mês de maio. “Portanto, todos vocês que são amantes

tragam à lembrança o mês de maio, como também fez a rainha Guinever, a quem faço uma pequena

menção, pois, enquanto viveu, foi a verdadeira amante e portanto teve um bom termo”. Em 1469, uma

rainha condenada por adultério poderia ser julgada por alta traição e, se culpada, poderia legalmente ser

queimada viva, como Guinevere correu o risco de ser. Em 1859, tal penalidade seria completamente

impensável, mas a severidade moral dessas duas épocas parece estar em proporção inversa à severidade

de suas sentenças.

The Holy Grail história narrado por Percival, que se torna um monge, não tem

a magia de sir Galahad, escrita trinta anos antes, mas as descrições do cálice, cuja

visão era permitida à irmã freira de Percival, trazem as brilhantes imagens visuais de

Tennyson.

Tennyson não só conseguiu um público enorme, como também abriu o veio

para muitos outros que, desde então, usaram o assunto sob a forma de história,

arqueologia, teatro, cinema e ficção, e que continuam sendo sucesso hoje em dia,

realizando a predição que Godofredo de Monmouth conferiu a Artur nas Prophecies

of Merlin (“Profecias de Merlin”): “Renomeado ele será na boca do povo, e seus

feitos serão como alimento para eles, que os narrarão daí em diante”.

1870 – Dublin Review registrou que cavalheiros estavam chamando seus

cavalos de corrida com os nomes dos cavaleiros da Távola Redonda.

Tennyson terminou seu grande empreendimento com mais três obras: The Last

Tournamente (“O Último Torneio”), que escreveu em 1871; Gareth and Lynette, de

1872, e Balin and Balan, de 1873. E com isso completou uma coleção com doze

livros. Até então as obras haviam sido publicadas fora de uma ordem cronológica.

Agora era possível organizá-las, desde The Coming of Arthur, que conta a história de

seu nascimento, crescimento, o sucesso da Távola Redonda, e segue até o

envenenamento da sociedade pelo exemplo da aventura amorosa de Lancelote com a

rainha, chegando à destruição final e ao falecimento de Artur, como partes

conseqüentes de um todo, que envolveu o poeta por trinta anos.

1882 – Swinburne39

– Publicou Tristan of Lyon, esse, onde não se ocupa de

Artur, mas descreve o mar além da costa da cornualha e Tintagel40

.

39

Embora numerosos escritores vitorianos fizessem versos sobre uma ou outra parte do tema

arturiano somente ele equiperiou-se a Tennyson.

Geralmente quando Tennyson altera o material de Malory ou foge dele

completamente, a mudança nos desagrada. É significativo que as descrições de The

Passing of Arthur, mórbidas mas de intensa beleza, sejam todas baseadas em Malory.

O detalhes originais são muito poucos, mas todos os traços brilhantes foram tirados de

pontos mencionados por Malory, retomados e ampliados, cheios de magia.

Malory diz que a batalha final foi travada “em uma baixada, perto de

Salisbury, não muito longe do mar”, o que demonstra que pessoalmente não conhecia

Salisbury. Southampton Water seria a costa marítima mais próxima de Salisbury,

separada dela por parte de Wiltshire e por parte de Hampshire. Sir Lucan saiu para

reconhecer o campo de batalha, “viu e ouviu, através do luar, como os ladrões e

saqueadores tinham vindo ao campo”. Tennyson diz:

“O bravo Sir Bedivere o levantou...

E o carregou a uma capela perto do campo,

Em um santuário destruído com um cruz quebrada,

Que ficava em um estreito escuro, em uma terra infecunda,

Onde de um lado corria o oceano, do outro

Um grande rio corria, e a lua estava cheia”.

Malory diz que Bedivere, tendo recebido a ordem de pegar a espada Excalibur

e lançá-la “naquela água”, “olhou para aquela nobre espada, cujo botão do cabo e o

próprio cabo eram cravejados de pedras preciosas, e pensou consigo mesmo que, se

40

A paixão de Swinburne pelo mar fez com que o evocasse como a terceira entidade da história

de Tristram and Iseult. Tennyson divinizou o significado da água no mito que se estabeleceu a partir

da figura real de Artur. A linha proferida por Merlin em The Coming of Arthur,

“Das profundezas ele veio e para as profundezas irá”.

é uma contribuição ao panteão de grandes elocuções sobre Artur, feita em uma época em que

se podia pensar que se tinha o poder de fazei-las.

lançasse tão rica espada na água, dali para a frente nunca mais haveria coisas boas, só

perdas e desgraças”. No que Tennyson assim transformou:

“Lua de inverno...

...faísca penetrante, como geada contra a espada

Onde o cabo cintila em lampejos de diamante,

Miríades de topázios e jacintos

Brilham em tão refinada jóia”.

Quando finalmente Sir Bedivere obedeceu ao rei, Malory diz que ele tomou a

espada, “aproximou-se da água e ali ele segurou o cinto em volta do cabo e lançou a

espada para a água, o mais longe possível”. E Tennyson assim viu:

“...A grande espada,

Iluminada pelo esplendor da lua,

Girou, formando um arco e flamejando por toda parte,

E lançou-se como faixo de luz da aurora boreal”.

Depois que Bedivere carregou o rei às costas para a beira da água, encontrou

uma barca flutuando ali, com senhoras vestidas em estolas negras que choravam e

gritavam, e Tennyson descreveu uma imagem sonora:

“E delas um grito surgiu

Um choro confesso às estrelas cintilantes...

Um lamento que lembra o vento que uiva

Por toda a noite, na terra perdida, de onde ninguém vem,

Para onde ninguém vai, desde a criação do mundo”.

Malory diz que Bedivere seguiu a barca com seus olhos tanto quanto pôde. “E

quando Sir Bedivere perdeu de vista a barca, chorou, lamentou-se e empenhou-se na

floresta”. Tennyson diz que ele subiu tão alto quanto pôde e de lá viu:

“Apertando os olhos, sob as mãos em arco,

Ele pensou ver um pequeno ponto que levava seu rei,

Por aquele grande rio abaixo, nas profundezas,

E que em algum lugar distante prosseguiria,

Ficando cada vez menor e menor até

Desvanecer em luz”.

São essas últimas grandes linhas escritas em nossa literatura sobre Artur.

“Um Artur ainda virá salvar os ingleses”.

O desenvolvimento do mito, a persistência com que as pessoas se apegaram a

ele, ávidas por repetir ou acrescentar algo e de ver nele o reflexo de seus próprios

interesses e necessidades, é um fato como nenhum outro na história desse povo.

ANEXOS

NOMEAÇÃO

DE CÉSAR

GÁLIA IRLANDA GALES FUNÇÃO

MERCÚRIO LUG LUG LLEW POLITÉCNICO

JÚPITER TARANIS DAGDA BRAN SACERDOTE

MARTE OGMIOS OGME GWYDYON GUERRA,

MAGIA

RELAEZA

APOLO MAPONOS DIANCECHT

OENGUS

MAC OC

MANON SAÚDE,

JUVENTUDE

MINERVA BRIGANTIA BRIGITT

ETAIN

TAILTIU

ARIANRHOD MÃE, ESPOSA,

IRMÃ, FILHA

DOS DEUSES

TÉCINCAS DE RITUAIS

DENOMINAÇÃO “BATISMO” – druída nomeia de acordo com o nascimento ou de

acordo com os primeiros anos de vida.

FUNERAL – comporta lamentação, elogio fúnebre e gravação

dos OGANS.

GEIS Série de interdições positivas e negativas, violar qualquer uma

delas significa a morte.

PREDIÇÃO IMBAS FOROSNAI, DICHETAL DO CHENNEIB CNAIME

TENM LAEGDA, ciência exata da mesma natureza da divinação.

ELOGIO Forma comum da poesia oficial da corte, louvava qualidades

físicas, morais, intelectuais, feitos heróicos, generosidade e

justiça.

CENSURA Quase ausente das coletâneas poéticas.

SÁTIRA Encantação mortal, provocava a degeneração física, moral e

intelectual; perigosa e pouco usada; envolvia o acusado e o

acusador.

Os Cavaleiros da Távola Redonda

Origens e Lendas

As aventuras dos Cavaleiros da Távola Redonda são relatos em verso ou em

prosa, escritos na Idade Média por diversos autores. São chamados também Lendas

Arturianas, porque se tratam de aventuras feéricas1 a que se mesclam personagens

parcialmente imaginárias: um punhado de supercavaleiros reunidos em torno do rei

bretão Artur e de sua Távola Redonda.

Como todas as lendas, esses relatos comportam um fundo de verdade. Assim,

o personagem central – o rei Artur – talvez seja inspirado num chefe bretão que lutou

no século VI, na Inglaterra, contra a invasão dos saxões. Os fatos relatados

remontam, portanto, a tempos bem anteriores aos que foram realizados os escritos.

Vindos dos países celtas, seja ingleses (País de Gales, Cornualha), seja franceses

(Armórica), foram contados primeiro oralmente pelos harpistas e jograis (músicos e

cantores ambulantes que recitavam versos acompanhando-se de um instrumento).

1 Do mundo das fadas, mágico.

Mais tarde, foram anotados por autores, que projetavam seu mundo, sua sociedade,

seus códigos de vida nesses escritos.

Assim, por volta de 1135, o inglês Wace dedica seus relatos à rainha Alienor

de Aquitânia, que, separada do rei da França, Luís VII, acabava de se casar com o rei

da Inglaterra, Henrique II. Essa rainha, neta do trovador e duque guilherme de

Aquitânia, deu à corte inglesa grande brilho.

Do mesmo modo, Chrétien de Troyes – o mais célebre autor desses relatos –

vivia na corte de Champagne, por volta de 1170-80, na roda da condessa Maria, filha

de Alienor. Em seus romances mais conhecidos, Lancelot do Lago e Percival, o

Galês (inacabado), reproduz, idealizando-o, o mundo que tem diante dos olhos: o

mundo da cavalaria, feudal e cristão. Introdutor da noção de amor cortês – amor de

certa forma não carnal que o cavaleiro perfeito dedica a sua Dama, espécie de

princesa por quem realizará toda a sorte de façanhas – é também Chrétien de Troyes

quem evoca pela 1º vez o Graal.

Além dos relatos e romances, numerosos até o século XVI, os Cavaleiros da

Távola Redonda inspiraram espetáculos até a Renascença.

Soberanos como Eduardo III da Inglaterra ou Renato de Anjou organizaram

Távolas Redondas e cerimônias à maneira das da corte do rei Artur. Muitos meninos

nascidos então foram chamados Lancelot, Percival ou Artur, e bom número de

manuscritos foram ilustrados com cenas tiradas das lendas arturianas.

Enfim, alguns capitéis de colunas e mosaicos de igreja também mostram o rei

Artur.

Tábua Cronológica

(O Coração da Idade Média)

1152–Casamento de Henrique Plantageneta e Alienor de Aquitânia.

1154–1189 – Reinado de Henrique II Plantageneta (Inglaterra).

1155 – Wace: Roman the brut.

1159–1181 – Pontificado de Alexandre III.

1163–1182 – Construção da Igreja de Notre – Dame de Paris.

Cerca de 1165 a 1170 – Marie de France: Lais (Poemas Medievais).

Cerca de 1165 a 1175 –Thomas da Inglaterra: Tristam.

1170 – Assassinato de Thomas Becket.

Cerca de 1170 – Chrétien de Troys: Erec et Enide.

1171–1172 – Ocupação da Irlanda por Henrique II.

1175 – Reconstrução da Catedral de Canterbury.

Cerca de 1175 – Chrétien de Troyes: Cligès.

Cerca de 1175 – Primeiros poemas do Roaman de Renart.

1180-1223 – Reinado de Filipe II Agusto (França).

Cerca de 1180 – Chrétien de Troyes: Le chevalier de la charrette e Yvain.

Cerca de 1182-83 – Chrétien de Troyes inicia seu Conte du Graal.

1187 – Tomada de Jerusalém por Saladino.

1189-1199 – Reinado de Ricardo Coração de Leão (Inglaterra).

1189-1192 – Terceira Cruzada.

Cerca de 1190 a 1192 – Béroul: Tristam.

1194 – Batalha de Fréteval.

1194-1260 – Construção da Catedral de Chartres.

1196-1198 – Construção do Château-Gaillard.

1198-1216 – Pontificação do Inocêncio III.

1199-1216 – Reinado de João Sem Terra (Inglaterra).

1200 – Prerrogativas de Filipe Augusto à Universidade de Paris.

1202-1204 – Quarta Cruzada.

1202-1204 – Conquista e posse da Normandia por Filipe Augusto.

1204 – Morte de Alienor de Aquitânia.

1204 – Saque de Constantinopla pelos Cruzados.

1208 – Início da cruzada contra os albigenses.

1209 – Fundação da Ordem dos Frades Menores (capuchinhos).

1212 – Término da nova muralha ao redor de Paris.

1212 – Cruzada das “crianças”.

1213 – Batalha de Muret.

1214 – Primeiros privilégios concedidos à Universidade de Oxford.

1214 – Batalhas de La Roche-aux-Moines e Bouvines.

1215 – Fundação da Ordem dos Frades Pregadores (dominicanos).

1215 – Quarto Concílio de Latrão.

1215 – Concessão da Carta Magna por João Sem Terra.

1216-1227 – Pontificado de Honório III.

1216-1272 – Reinado de Henrique III (Inglaterra).

1217 – Expedição francesa na Inglaterra.

1218 – Cerco de Toulouse por Simon de Monfort.

Cerca de 1220 a 1230 – Comilação do Lancelot en prose.

1221 – Morte de São Domingos.

1223-1226 – Reinado de Luis IX (França).

1229 – Fundação da Universidade de Toulouse.

1229 – Tratado de Paris: Languedoc (Provença) anexado ao domínio real.

(Michel Pastoureau – No tempo dos Cavaleiros da Távola Redonda)

Pessoas, Personagens, Lugares, Coisas. Símbolos

A.

1. ÁGUA – Um dos quatro elementos do domínio dos druídas. Funcionava

como elemento fundamental da criação. O ser humano vinha pela água ou se

transformava nela pela eterna condenação à primordialidade.

2. AILILL – Irlanda, ciclo de Ulster. Nome de vários soberanos míticos ou

pseudo-históricos. O principal deles é o rei Gaël do Connaught, casado com a rainha

Medb na Tain Bo Cuanlge. O sentido presumível do seu nome é “fantasma”.

3. ALBA – Nome gaélico da Escócia. Distinguia-se das regiões ocupadas pela

população bretã. Entretanto o nome podia designar toda a Grã-Bretanha, quando

tomado em oposição à Irlanda.

4. AMIZADE DAS COXAS (l’amitié de cuisses) – Termo que aparece em

vários textos. No domínio mitológico significava a iniciação sexual dispensada às

mulheres e que se complementava com a iniciação guerreira. No domínio quotidiano

dizia respeito ao direito que a mulher tinha de dispor do seu corpo e oferecê-lo aos

homens que ela escolhesse. Exemplo típico é o da rainha Medb.

5. AMORGEN – Irlanda, ciclo de Ulster. Nome do primeiro poeta mítico da

Irlanda. Seu nome significa “nascimento do canto”. Ele é filho do rei Conchobar.

6. ANA, ANU, DANA – Irlanda. Grande Deusa, mãe de todos os deuses.

Grande princípio da divindade feminina. Era deusa entre os Tûatha-Dé. Divindade

feminina na concepção neolítica, antes do aparecimento das sociedades patriarcais

indo-européias.

7. ANEURIN – Gales. Um dos quatro grandes bardos galeses (Llymarch-

Hen, Taliesin, Myrddin). Personagem que oscila entre a história e o mito. Poeta

especializado em encantações para a glória dos heróis.

8.ARANROD, ARIANRHOD – Gales. Deusa Mãe, deusa do amor. Nome da

mãe de Llew. Seu nome significa “roda de prata”. Em galês corresponde também ao

nome de uma constelação.

9. ARMÓRICA – Nome antigo da Bretanha peninsular anterior à chegada dos

imigrantes de língua “britônica”. Esta região, na definição geográfica gaulesa, vai da

Aquitânia ao mar do Norte.

10. ARTHUR – Gales, Armórica, ilha de Bretanha. Fenômeno complexo,

tanto mitológico quanto histórico. Rei ou imperador supremo das duas Bretanhas

cujas aventuras e feitos são descritos por um imenso ciclo literário. Os textos

fundamentais são todos celtas insulares, mas o tema arturiano invadiu a literatura

francesa, inglesa e alemã. O nome de Arthur pode ser simbolicamente ligado a

“urso”. Casado com Guenièvre, fundador da ordem dos cavaleiros da Távola

Redonda na tardia versão cristianizada. Encontra-se em hibernação na ilha de

Avallon, de onde um dia, os bretões acreditam, voltará.

11. ÁRVORE – Eixo primordial do mundo. Funcionava como traço de união

entre os três mundos (terrestre, celeste e subterrâneo). Representa o universo, sua

renovação periódica. Indica a regeneração permanente do Cosmo. Geralmente é

símbolo de sabedoria e ciência.

12. AVALLON (ABALLO, AFALLACH, EMAIN ABLACH) – Gales,

Armórica. Nome da ilha mítica, ilha das macieiras, ilha afortunada, onde vivem os

heróis e as divindades celtas. Lugar para onde Arthut foi levado por sua irmã

Morgana após a batalha de Camlann e de onde retornará. Terra de abundância, onde

tudo cresce naturalmente. O nome é o mesmo que designa a maça, afal, aval, fruto da

ciência e da imortalidade.

13. AVELEIRA (coudrier) – Árvore que produz a noz. Fruto da ciência que,

ao cair numa fonte sagrada, era comigo pelo salmão. A madeira da aveleira serve

para a confecção das varinhas mágicas dos druídas.

B.

1. BAN – Prefixo que designa mulher.

2. BANBA – Irlanda. Primeira mulher que chega à Irlanda antes do dilúvio.

É rainha entre os Tûatha-Dé. Seu nome é junto com Fotla e Eriu, uma das

representações da Irlanda. É a tripla soberania, a multiplicidade na unidade. O nome

significa javali.

3. BANDRUI – druidesa.

4. BANFAITH – profetisa.

5. BANFILE – poetisa.

6. BANSHEE – Mensageira do Outro Mundo. Aparecem sempre sob a forma

de cisnes ou outras aves. São mais poderosas que os druidas em matéria de amor.

7. BANSIDH – Mulheres do Sîd. Elas vêm sempre em busca do herói.

8. BARDO – Nome gaulês. O nome possui várias acepções conforme o lugar

e a época onde foi usado. Na Gália designava um alto personagem encarregado da

poesia de corte englobando o elogio e a blasfêmia. Na Irlanda o bard tem as mesmas

características, mas tem uma função do file, porque está impedindo de escrever. Na

Cornualha e Armórica, barth perdeu todo o valor religioso e literário.

9. BASTÃO (“varinha mágica”) – Instrumento mágico, símbolo do poder do

druída sobre os elementos. Os mais eficientes são confeccionados com madeira do

coudrier e do noisetier. Mas os druídas também os possuem em diferentes materiais:

em ouro, prata ou bronze, de acordo com a competência.

10. BATALHA DOS ARBUSTOS – Guerra vegetal. Tema celta de guerra.

Os druídas, pela magia, metamorfoseavam temporariamente em guerreiros as pedras e

os vegetais, provocando a exaustão das forças e da razão de suas vítimas. Gwydyon

usa deste artifício para construir um exército invencível.

11. BÉCUMA – Irlanda. Mulher maléfica do rei Conn Cetchathach. Viúva,

ela casa-se com Conn, que a escolhe por sua beleza. O país torna-se estéril por causa

de sua presença. Seu nome talvez signifique “mulher preocupação”.

12. BEL – Teônimo designado Lug no seu aspecto luminoso. Corresponde ao

gaulês Belenos.

13. BELENOS – Gália. Chamado o Brilhante ou Maponos, é equivalente do

Mabon galês e próximo do Apolo grego. Essa assimilação é constante em toda

epigrafia galo-romana. Ele não é o sol mas a luz solar, isto é, o princípio da luz. É a

quem se consagram os fogos rituais. Encontramos seu nome em Belenton, Barenton,

Bel Air. Os cristãos o fizeram S. Michel, para que seus fogos se perpetuassem em S.

João.

14. BITURIGES – Gália. O nome significa “rei do mundo” e designa o povo

do centro geográfico da Gália que ocupava o Berry e uma parte de Touraine e do

Bourbonnais.

15. BLODEUWEDD – Gales. Rosto ou aspecto de flores. Mulher que Math e

Gwydyon fizeram com flores e plantas para Llew, sobre quem pesa a maldição de

Arianrhod, sua mãe, de não conseguir mulher da espécie humana. Caso raro, ela é

metamorfoseada para sempre em coruja, o pássaro da noite.

16. BRANCO – A cor branca é característica do sacerdócio e da realeza. As

referências aparecem em numerosos textos. Em irlandês o adjetivo find, finn,

significa branco, belo, brilhante e feliz.

17. BRANWEN – Gales. A “gralha branca”. Dama de companhia de Yseut.

É ela que dá por “engano” o filtro do amor a Tristan e Yseut, no barco que os leva à

Cornualha. É ela também que toma o lugar de Yseut junto ao rei Marc na noite de

núpcias.

18. BRIGIT, BRIGITT, BRIGHIT, BRIGANTIA - Irlanda, Armórica. É

chamada a tripla Brigit e diversos personagens míticos femininos designam a mesma

divindade sob aspectos e nomes diferentes. Mãe de todos os deuses e representante

das três funções, ela é curadora, deusa da divinação, da poesia, do trabalho em metal;

vela sobre o fogo sagrado da tribo e da casa; ela é a fecundidade e preside o parto.

Encarna a sutileza intelectual e a habilidade técnica. Filha do Dagda, é a única

divindade feminina do panteão celta.

19. BRITÂNIA – Nome latino da Bretanha insular ou Grã-Bretanha, cuja

língua era chamada “britônica”. A Bretanha peninsular é a antiga Armórica.

20. BRITÂO – Etnônimo às vezes utilizado na França para designar os

habitantes da Grâ-Bretanha de língua celta do fim da Antigüidade e início da Idade

Média. Considerando-se que o povoamento da Armórica e a língua são os mesmos

que os da Grã-Bretanha, a distinção torna-se dispensável.

21. BRUG NA BOINE – Irlanda. Significa literalmente “albergue ou

fortaleza da Boyne”. É um dos numerosos Sîde irlandeses. Residência do Dagda

localizada nos túmulos pré-históricos de Newgrange.

C.

1. CACHORRO – No domínio celta o cachorro é associado ao mundo do

guerreiro. O cachorro é um animal benéfico e compará-lo ao herói é uma honra,

porque era o mesmo que homenagear seu valor guerreiro. Não há a idéia do cão

infernal como Cérbero. O maior herói irlandês, Cuchulainn, recebe este nome, que

significa “cão de Culann”, em homenagem à sua bravura guerreira.

2. CALDEIRÃO (chaudron) – Tema pancélito e, sob diversas formas, indo-

europeu. Proporciona a abundância, imortalidade, regeneração e conhecimento. Ele

jamais se esgota.

3. CALEDFWLCH – Gales. Primeira espada do rei Arthur. Significa “duro

entalhe”, “duro corte”. Ele a retirou da pedra para assumir a Realeza Suprema. Ela se

torna Excalibur nos romances arturianos posteriores e é com este nome que ficou

conhecida.

4. CÁLICE – Substituto e equivalente do caldeirão. Contém a bebida

embriagadora que possibilita a embriaguez do poder, do conhecimento, e do amor. A

beberagem permite ascender ao êxtase do sagrado. É também o cálice da verdade que

se quebra diante de palavras mentirosas. O caldeirão e o cálice são os protótipos e

arquétipos do Graal.

5.CAMLANN, CAMELOT – Gales. Lugar da batalha lendária no curso da

qual Arthur foi mortalmente ferido.

6. CARLUTES - Nome do povo cujo território se localizava no centro da

Gália. Eles eram vizinhos dos Bituriges.

7. CARVALHO - Arvore sagrada dos druidas. Símbolo da realeza divina e do

sagrado.

8. CATHBAD - Irlanda, ciclo de Ulster. Primeiro druida de Ulster. É um

druida guerreiro. Seu nome significa “o que mata combatendo”.

9. CAVALO – Animal nobre entre os Celtas, porque é um animal

essencialmente servidor nas guerras. Os cavalos são vistos como possuidores de

inteligência humana. Eles vêm do Outro Mundo e retornam após a morte do herói.

Sendo assim, são vistos como condutores das almas através da fronteira dos dois

mundos e transportam os defuntos ao Outro Mundo.

10. CERDWENN, KERRIDWEN – Gales. É a equivalente da Brigit irlandesa.

Igualmente igual a mãe divina do bardo Taliesin. Mágica, detentora do caldeirão da

inspiração e da ciência, é também deusa dos poetas, dos ferreiros e dos médicos.

11. CERVEJA – Bebida dos deuses proporcionando a Soberania da

imortalidade. Conta a lenda que Lug, sob a forma de javali, deixou cair sua espuma

sobre o preparado de Ceraint, o bêbado. A beberagem fermentou e foi desta forma

que nasceu a cerveja.

12. CÉSAR – Caius Julios Caesar, general e homem de estado ( 101 a 404 a.C

). Excelente orador e historiógrafo, ele nos deixou os comentários da guerra com os

gauleses, Commentarii de bello gallico, e os da guerra civil, De bello civilii.

13. CESSAIR – Irlanda. Nome da mulher lendária que, segundo os anais,

ocupou na Irlanda durante cinqüenta dias antes do dilúvio. As genealogias a têm

como descendentes de Noé.

14. CIAN – Irlanda. Pai do deus Lug, assassinado pela facção rival dos

Tûatha-Dé, os três deuses de Dana, Brian, Iuchar e Iucharba. Seu nome significa

“longínquo”. Seus matadores o lapidam e a terra recusa seu cadáver. A terra conta a

Lug, que se vinga.

15. CINCO - Número particularmente importante na Irlanda. Símbolo da

totalidade do pais da Irlanda, na medida que o território e dividido em cinco

províncias; totalidade do panteão celta, considerado também como uma divisão de

cinco: Lug; Dagda; Ogma; e Nuada; Diancecht e Mac Oc; Brigit. Esta totalidade é,

entretanto obtida por um centro que reúne e integra quatro outros que também

participam.

16. CISNES – Nas batalhas e proibido caçá-los sob pena de desencadear a

infelicidade e a morte. O cisne é um dos aspectos mais freqüentes que tomam os

bansid, mensageiras dos deuses do Outro Mundo.

17. COLEIRA, COLAR – Atributo ou símbolo da justiça exercida pelo grande

druida-juiz Morann.

18. CONAIRE – Irlanda. Conaire, o Grande, recebe esse nome em virtude de

seu reinado sem problemas. Ele é portador de numerosas geasa, que lê viola uma a

uma. A única maneira de vencê-lo e através de uma outra magia – a sede sem fim que

ele e incapaz de suportar. Sua cabeça e cortada e enterrada em tara.

19. CONCHOBAR – Irlanda, ciclo de Ulster. Seu nome significa “socorro do

cão” por alusão metafórica à qualidade guerreira. Filho do druida Cathbad, com

Conchobar e um rei mítico de Ulster. Ele aparece freqüentemente como personagem

principal das epopéias ulsterianas. Ele representa a cristianização da idéias Irlandesas

sobre o papel do rei: pacificador, equilibrador, dispensador.

20. CONDLE, CONLE – Irlanda. Condle, o Bom é filho do rei Conn

Cetchathach. É igualmente chamado de Condle, o Vermelho. Ele é levado para

sempre para o Outro Mundo por uma jovem deusa que lhe oferece uma maçã.

21. CONN CETCHATHACH – Irlanda. Rei supremo de Tara, é chamado de

Conn das Cem Batalhas. Seu reinado e caracterizado pela prosperidade, justiça e

felicidade.

22. CORACLE – Pequena canoa de pele semelhante a dos esquimós.

23. CORMAC – Irlanda. Rei supremo da Irlanda. Faz parte de numerosas

narrativas. Seu nome se liga etimologicamente com o da cerveja cuirm.

24. CORVO – Animal sagrado entre os Celtas. Era o animal celeste, símbolo

do sol da luz, ao mesmo tempo que o animal das trevas e da parte escondida do ser

humano.

25. CRANN CHUR, CRAANN CHOR – Jogo da madeira. Nome das peças de

madeira que serviam para tirar a sorte nos textos jurídicos irlandeses.

26. CUCHULAINN – Irlanda, ciclo de Ulster. Seu nome primordial é Setanta,

que significa “o Caminho”. Seu nome definitivo e conseguido após seu primeiro feito,

que consiste em matar o cão de guarda ou combate de Culann o ferreiro. Cuchulainn é

o personagem mais importante de toda a mitologia Irlandesa. É também o personagem

principal da Tain Bo Cualnge. Tem três nascimentos e possui quatro pais

reconhecidos. É visto como arquétipo do herói mítico e épico.

27. CULANN – Irlanda, ciclo de Ulster. Ferreiro primordial sobre o reinado

de Conchobar. Educador de Cuchulainn.

D.

1. DA DERGA – Irlanda. Significa o rei que tem a mesa posta

permanentemente, ou seja, o rei generoso.

2. DAGDA – Irlanda. Dago-devos, literalmente “deus bom” ou “muito

divino”. Deus supremo, deus druida e deus dos druidas, seu verdadeiro nome é

Eochaid Ollathair, o deus todo poderoso. Ele é mestre dos elementos da ciência, do

tempo cronológico e atmosférico e da eternidade. Ser absoluto e portador da clava

que mata de um lado e dá a vida de outro. Possui igualmente o caldeirão da

abundância, imortalidade e ressurreição.

3. DANA – Ver ANA.

4. DEIRDRE, DEIRDRIU – Irlanda, ciclo de Ulster. É a própria

representação da Irlanda. Filha de Fedelmir, narrador de Conchobar. Seu nome

significa “perigo” e é Cathbad que profetiza sua beleza, seu poder de sedução e a

morte de muitos homens por sua causa.

5. DIANCECHT – Irlanda. Chefe dos Tûatha-Dé-Dânann. Deus significa

“expert” em medicina. É ele que fabrica a mão de prata de Nuada. É ele também que

ressuscita os mortos jogando-os na Fonte da Saúde.

6. DIARMAID O´DUIBHNE – Irlanda, ciclo de Leinster. Seu nome significa

“esquecimento”. Ele tem por pai espiritual Oengus, o Mac Oc. Seu irmão morto foi

transformado em javali, o que lhe impõe o tabu de não comer ou matar o animal.

7. DICHETAL, CETAL – É o nome de um dos cantos encantatórios

reservados aos filid. É a palavra cantada como expressão de poder e saber.

8. DIODORO DA SICÍLIA – Historiógrafo grego (90 a 20 a.C.). Sua obra se

compunha de quarenta livros de história universal, desde as origens até a conquista da

Gália por César. Sobram poucos livros, onde o que sobressai são informações

precisas sobre a Roma antiga.

9. DION CRISÓSTOMO – Filósofo grego (30 ou 40 a 117). Restam-nos

vinte e quatro de seus discursos de inspiração estóica.

10. DIS PATER – Gália. Nome latino pelo qual César, em suas explicações,

designa o deus do qual os gauleses pretendem ser originários. Ele é o deus da riqueza

subterrânea. Seus atributos são a clava e o caldeirão.

11. DROSTAN – Druida picto cujo nome aparece várias vezes nos anais. O

sentido é indeterminado e o equivalente bretão é Tristan.

E E.

1.ELOQUÊNCIA – É a arte do bem falar e convencer e, na Irlanda, era

atribuída ao deus Ogme. Era ele que prendia pela palavra a quantos o escutavam ou

entendiam. A eloquência faz parte também das capacidades ordinárias dos guerreiros.

2. EMAN ABLACH – Ver AVALLON.

3. EMAIN MACHA – Irlanda, ciclo de Ulster. É a capital dos Ulates.

Residência do rei de Ulster, Conchobar. Lugar onde começam e acabam todas as

epopéias ulsterianas. Significa literalmente “os gêmeos de Macha”. Às vezes é

chamada Emain Ablach (a ilha das maçãs), que designa o Outro Mundo.

4. EMER, EMERE – Irlanda, ciclo de Ulster. Esposa de Cuchulainn, que quer

eliminar Fand, amante do marido. Ela perdoa Cuchulainn, mas o druida de

Conchobar a faz beber o elixir do esquecimento. Seu nome aproxima-se de “mil

folhas” ou “ambrosia”.

5. EPONA – Gália. É a grande deusa cavaleira ou deusa-jumenta, porque

transporta as almas para o Outro Mundo. É a equivalente da Rhiannon galesa, da

Rigantona pré-celta e da Macha irlandesa. Seus atributos são a égua, o cesto de frutas

e a cornucópia. É símbolo da prosperidade agrícola. Pertence à função guerreira.

6. ERI, ERIU – É a Irlanda ela mesma.

7. ESPADA – Um dos quatro objetos mágicos trazido de Findias pelos

Tûatha-Dé. A espada é infalível e aquele que for ferido por ela morre.

8. ESPINHEIRO (aubépine) – Arbusto utilizado somente no ritual do glam

dicinn ou maldição suprema. É pelo espinheiro que os druidas obtêm a ajuda dos

deuses do Outro Mundo.

9. ESTRABÃO – Geógrafo grego (58 a 21 ou 25 a.C.). Sua geografia coloca

o problema dos povos, migrações, fundações e relações do homem com o meio

natural.

10. ETAINE – Irlanda. Filha de Ailill. Divindade feminina soberana.

Personificação da Soberania. Por ciúme, é transformada por Fuamnach em poça

d’água. A água seca, produz uma larva que se torna um inseto extraordinariamente

belo. Mac Oc a coloca como inseto no quarto de cristal ou de sol.

11. EVEMERO – Evemerismo. Mitógrafo grego (séc. IV e III a.C.). Ele

propõe uma revisão racional dos mitos religiosos. Na sua teogonia os deuses eram

homens superiores, divinizados pelo medo e admiração dos seus contemporâneos. O

sistema de Evemero deu origem a uma doutrina racionalista sobre a origem das

religiões, o evemerismo.

F.

1. FAND – Irlanda, ciclo de Ulster. Seu nome significa “andorinha”,

embora alguns tenham traduzido por “lágrima”. É esposa do deus Manannan e

apaixonada por Cuchulainn. Ela consegue levá-lo por um mês ao Outro Mundo. O

fracasso da ligação de Fand e Cuchulainn significa que Cuchulainn não pode elevar-

se além de sua função guerreira. Ele não pode ascender à Soberania.

2. FEIRA – A palavra foire francesa que traduz o termo irlandês oenach

significa, na realidade, reunião. Afasta-se dessa forma da idéia moderna de feira ou da

medieval, excluindo qualquer transação comercial.

3. FERDORD – É um composto de fer que significa homem e de dord que

significa canto. O sentido não é porém muito claro. Talvez seja uma encantação do

homem pelo canto.

4. FETH FIADA – “Bruma ou véu mágico” que torna os deuses invisíveis.

Somente os Tûatha-Dé possuíam o segredo. É esta característica que os torna

materialmente distintos dos humanos. Era visto como um quinto elemento da

natureza.

5. FIANNA – Irlanda, ciclo de Leinster, Escócia. Ordem de cavaleiros

errantes comandados pelo rei Finn. A palavra é o plural do termo fian, que admite

várias etimologias, sendo que a mais provável é “família”, “clã”. Eles não estavam

presos a qualquer território e viviam da caça e da guerra. O recrutamento desses

homens era severo; além das qualidades físicas, morais e da coragem excepcional,

eram exigidos dos candidatos sólidos conhecimentos poéticos. Eles protegiam a

Irlanda mais pela força espiritual que pelas armas.

6. FINGEN – Irlanda, ciclo de Ulster. Druida médico do rei Conchobar.

Sabia praticar os três tipos de medicina – sangrante, vegetal e mágica. Sua ciência e

sabedoria eram tais que ele era capaz de saber o número de pessoas de uma casa e as

suas respectivas doenças observando somente a fumaça que saía do teto da casa.

7. FINN MAC CUMAIL – Irlanda, ciclo de Leinster. Seu nome significa

“branco”, “belo”, “santo”, “sagrado”. Mestre dos animais da floresta, designado

como o deus-cervo. Ele obtém o conhecimento comendo o salmão de Fintan. É o

personagem principal do seu ciclo. Finn repete as proezas de Cuchulainn e de Lug.

Ele é o chefe da milícia cavaleiresca dos Fianna.

8. FINTAN – Irlanda, ciclo de Ulster. Homem-druida primordial. O único

que escapou do dilúvio. Ele atravessa o tempo transformando-se em diversos animais

para transmitir o conhecimento, a história do mundo e das coisas. Seu nome significa

“branco antigo” e sua genealogia é sempre indicada em filiação matrilinear.

9. FIR BOLG – Irlanda. Povo mítico que povoou a Irlanda com os Fir

Domnann e os Fir Ga(i)lioin. A tradução usual do nome é “homem em saco”, mas

ela não procede, porque Bolg liga-se a “raio”.

10. FLAMEN DIALIS -