INCLUSÃO/EXCLUSÃO: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DE RELATOS EM ... · para isto buscou-se a coleta de...

14
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X 550 INCLUSÃO/EXCLUSÃO: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DE RELATOS EM REDE SOCIAL CAMILA PAVANETI BATISTA 1 Universidade Federal de São Carlos Agência Financiadora: CNPq Resumo: A história nos mostra que ao longo dos tempos o preconceito, as relações de discriminação e exclusão social estiveram presentes, impedindo e dificultando a vivência da cidadania. Atualmente muitos debates e ações são implementadas em nome da inclusão social e escolar. Situações de inclusão e exclusão do ser humano, enquanto cidadão, estabelecem a complexidade da questão da identidade pessoal e social. A identidade e a diferença são ativamente produzidas, elas não são frutos do mundo natural, mas do mundo cultural e social. Entendendo que a inclusão requer a superação de barreiras atitudinais que classificam grupos e restringem oportunidades, esta pesquisa procura discutir a inclusão a partir das relações sociais, fazendo uma reflexão sobre a diversidade/diferença e sobre os termos e práticas de inclusão/exclusão. Faz-se necessária a compreensão das barreiras desenvolvidas socialmente, para a operacionalização de ações que levem a garantia dos direitos das pessoas em situação de exclusão. A pesquisa teve como foco a análise das dinâmicas sociais acerca da diferença, e para isto buscou-se a coleta de comentários a respeito de imagens postadas em rede social. Baseou-se em pressupostos de que as representações individuais reproduzem todo um contexto bem mais amplo de onde se originam padrões de conduta que afetam as relações sociais. Este estudo teve como objetivo descrever e analisar a percepção das pessoas diante de imagens postadas em rede social, através dos comentários realizados. A pesquisa contou com 10 participantes de ambos os sexos e com idade entre 20 a 40 anos. Os participantes teceram comentários a partir de 3 imagens postadas pela pesquisadora, as quais faziam referência a diversidade/diferença. Os resultados mostraram a dificuldade de aceitação em relação ao que é considerado desviante aos padrões estabelecidos socialmente, prevalecendo concepções baseadas em julgamentos e estereótipos. A partir daí foi possível uma discussão sobre a reatualização do estigma nos novos tempos e sobre os obstáculos que dificultam uma efetiva inclusão educacional e social. Palavras Chave: Inclusão, Exclusão, Redes Sociais, Estigmas. Introdução Nossa história mostra que ao longo dos tempos o preconceito, as relações de discriminação e exclusão social foram algo presente, impedindo e dificultando a vivência de cidadania. 1 Psicóloga, mestranda em Educação Especial pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos; endereço eletrônico: [email protected]

Transcript of INCLUSÃO/EXCLUSÃO: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DE RELATOS EM ... · para isto buscou-se a coleta de...

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

550

INCLUSÃO/EXCLUSÃO: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DE RELATOS EM REDE

SOCIAL

CAMILA PAVANETI BATISTA1

Universidade Federal de São Carlos

Agência Financiadora: CNPq

Resumo: A história nos mostra que ao longo dos tempos o preconceito, as relações de

discriminação e exclusão social estiveram presentes, impedindo e dificultando a vivência da

cidadania. Atualmente muitos debates e ações são implementadas em nome da inclusão social

e escolar. Situações de inclusão e exclusão do ser humano, enquanto cidadão, estabelecem a

complexidade da questão da identidade pessoal e social. A identidade e a diferença são

ativamente produzidas, elas não são frutos do mundo natural, mas do mundo cultural e social.

Entendendo que a inclusão requer a superação de barreiras atitudinais que classificam grupos

e restringem oportunidades, esta pesquisa procura discutir a inclusão a partir das relações

sociais, fazendo uma reflexão sobre a diversidade/diferença e sobre os termos e práticas de

inclusão/exclusão. Faz-se necessária a compreensão das barreiras desenvolvidas socialmente,

para a operacionalização de ações que levem a garantia dos direitos das pessoas em situação

de exclusão. A pesquisa teve como foco a análise das dinâmicas sociais acerca da diferença, e

para isto buscou-se a coleta de comentários a respeito de imagens postadas em rede social.

Baseou-se em pressupostos de que as representações individuais reproduzem todo um

contexto bem mais amplo de onde se originam padrões de conduta que afetam as relações

sociais. Este estudo teve como objetivo descrever e analisar a percepção das pessoas diante de

imagens postadas em rede social, através dos comentários realizados. A pesquisa contou com

10 participantes de ambos os sexos e com idade entre 20 a 40 anos. Os participantes teceram

comentários a partir de 3 imagens postadas pela pesquisadora, as quais faziam referência a

diversidade/diferença. Os resultados mostraram a dificuldade de aceitação em relação ao que

é considerado desviante aos padrões estabelecidos socialmente, prevalecendo concepções

baseadas em julgamentos e estereótipos. A partir daí foi possível uma discussão sobre a

reatualização do estigma nos novos tempos e sobre os obstáculos que dificultam uma efetiva

inclusão educacional e social.

Palavras Chave: Inclusão, Exclusão, Redes Sociais, Estigmas.

Introdução

Nossa história mostra que ao longo dos tempos o preconceito, as relações de

discriminação e exclusão social foram algo presente, impedindo e dificultando a vivência de

cidadania.

1 Psicóloga, mestranda em Educação Especial pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos; endereço eletrônico: [email protected]

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

551

Tanto a desigualdade social como a exclusão social são produtos da relação de poder

que dominam as relações humanas. Para que a exclusão seja analisada é necessário entender o

contexto social em que ela ocorre, a hierarquização e a estrutura que marca a sociedade.

Para Mazzotta (2003) as situações de inclusão e exclusão do ser humano, enquanto

cidadão, estabelecem a complexidade na questão da identidade pessoal e social.

A identidade e a diferença são ativamente produzidas. Segundo Silva (2000) elas não

são criaturas do mundo natural, mas do mundo cultural e social. “Somos nós que as

fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais (SILVA, 2000, p. 44)”.

De acordo com Hall (2006) a identidade é definida historicamente e não

biologicamente. As pessoas assumem identidades diferentes em momentos distintos. Quando

os sistemas de significação e representação se expandem, nos deparamos com uma quantidade

enorme de identidades possíveis, as quais podemos nos identificar ou não, as quais podem nos

ser atribuídas ou não.

Sobre a construção da identidade a partir das relações sociais FERRE (2011) discorre

que “[...] minha identidade me dão os outros, mas eu não sou essa identidade, pois se eles têm

de dá-la a mim é porque eu, em mim mesma, por mim mesma, em minha intimidade, não a

tenho” (p.196).

O homem é por princípio um ser social. Segundo GLAT (1989), “a imagem que ele vê

de si é a que lhe é refletida pelos espelhos-homens que o cercam” (p.15). Pode-se dizer,

portanto, que o autoconceito ou identidade pessoal de uma pessoa se forma e se desenvolve

em grande parte em função das percepções e representações dos outros.

Verifica-se que algumas diferenças são mais marcantes porque são percebidas como

desvantajosas e são atribuídas significações negativas. Segundo Omote (1999), isto leva seu

portador ao descrédito social.

Há o sentido de desvantagem na medida em que os atributos prejudicados sejam

considerados importantes para a adequação ao meio em que a pessoa vive. O fenômeno social

que deixa em evidência o caráter negativo atribuído a determinadas qualidades de uma pessoa

é o desvio, que tem como função estigmatizar e segregar esta pessoa.

De acordo com Omote (1999), o desvio é criado e sobreposto ao atributo ou ao comportamento, quando a não conformidade destes às

expectativas normativas não pode ser tolerada, criando

situações que podem por em risco aspectos da vida coletiva normal” (p.6).

Portanto, um determinado comportamento ou característica de uma pessoa deixa de ser

apenas diferença para torna-se diferença negativa, levando a pessoa a ser tratada de maneira

distinta pela sociedade onde está inserida. A ocorrência do desvio depende de cada

circunstância, de cada época e momento histórico, de cada audiência, dos valores em jogo nas

culturas.

Segundo Bacila (2008) estigma é um sinal ou marca que alguém possui, que recebe

um significado depreciativo. Para o autor, o estigma adquiriu duas dimensões: uma objetiva e

outra subjetiva. A objetiva diz respeito a um sinal, como a cor da pele, a origem, a

nacionalidade,a religião, o sexo, a deficiência. Enquanto a subjetiva trata-se da atribuição

negativa que se faz destes estados, como a idéia de que ser negro é pior ou ruim.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

552

De acordo com Goffman (1982) uma pessoa que de maneira simples poderia ser

acolhida nas relações sociais do dia-a-dia, a partir do momento que um traço negativo lhe é

atribuído acaba por afastar outras pessoas que ela se depara, acabando com as possibilidades

de atenção para outras características suas.

A partir da estigmatização falsas regras são criadas e estas regras acabam por

prejudicar a vida diária e o desenvolvimento das pessoas rotuladas. Com a regra de que a

deficiência é negativa, comportamentos surgirão e novas regras serão desencadeadas, como

exemplo o conceito de que não se deve aproximar-se de uma pessoa deficiente. Desta

maneira, compromete-se a vivência de quem é atribuído o rótulo.

Para Bacila (2008) são conseqüências dos estigmas: “a exclusão da relação social

normal, a falta de percepção de qualidades da pessoa e expectativas ruins dos normais em

relação aos estigmatizados” (p.28). A respeito disto Goffman (1982) afirma que as chances de

vida do estigmatizado são reduzidas.

Omote (1999) ressalta que os indivíduos estigmatizados acabam incorporando o ponto

de vista da coletividade a seu respeito, aprendendo a ver a si próprias como portadoras de

alguma qualidade indesejável, limitadas e inadequadas, que não podem participar de muitas

atividades normais de pessoas comuns.

Goffman (1982) diz que não só os outros contracenam com ele enquanto pessoa

estigmatizada como a própria pessoa que sofre o estigma passa a agir segundo os padrões de

comportamento esperados para seu papel, sendo um ciclo reforçado pelas posições.

Nesta realidade há uma dificuldade em olhar para o indivíduo e vê-lo como realmente

ele é. Não vemos a pessoa, de acordo com Bacila (2008), vemos projeções mentais e até

mesmo deixamos de ver alguém. Quando as pessoas, em função de um ou mais atributos seus

são identificadas e rotuladas como desviantes ou anormal, todas suas demais características

são menosprezadas e elas passam a ser vistas primeiramente e unicamente em termos do

estigma recebido. Glat (1989) conclui que tem termos lingüísticos, pode-se dizer que o

estigma é uma metonímia, em que o todo é nomeado em função das partes, tornando

substantivo aquilo que é qualificativo.

Amaral (1994) chama de “hegemonia do emocional” a invasão de aspectos afetivos

quando nos deparamos com a diferença. Para a autora, além do obstáculo racional

consolidado pelos estereótipos socialmente construídos, temos também uma forte carga

emocional que impede de nos aproximar da carga pessoal verdadeira e não das expectativas

falsas que elaboramos sobre ela.

Telford & Sawrey (1984) acreditam que o rótulo indicativo do papel de estigmatizado

estrutura suas oportunidades, determinando assim, suas relações sociais, experiências e

expectativas, criando para o indivíduo uma biografia peculiar. Os outros geralmente não se

relacionam com o indivíduo em si, mas sim com o rótulo, criando uma relação de distância.

Ao se analisar a visão, o conceito e os julgamentos das pessoas diante de imagens, esta

pesquisa visou investigar de que forma os indivíduos concebem a diversidade. A partir da

compreensão de como a diversidade é percebida, foi possível a reflexão sobre a

estigmatização e as relações humanas.

Bacila (2008), ao discutir a estigmatização, reflete e afirma o quanto a história da

humanidade adotou caminhos (os estigmas) desnecessários. “...a consciência desta

estigmatização pode se tornar tão clara que possibilitará a consolidação de um projeto

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

553

distinto, mais próximo de desconsideração de estigmas” (BACILA, 2008, p.21). Portanto,

pesquisas que objetivam a discussão sobre a formação de estereótipos e estigmas e a

manutenção destes são relevantes, pois, a reflexão leva a mudanças comportamentais com

possibilidade de transformações das relações humanas.

Tal debate é necessário e bem vindo principalmente na atualidade onde os discursos,

tanto acadêmicos quanto no âmbito legal e no senso comum, aclamam por uma sociedade

inclusiva ou escola para todos. Juntamente com os aprimoramentos e estudos sobre as práticas

pedagógicas e novos recursos que atendam a diversidade, precisamos promover espaços onde

haja uma conscientização sobre as relações sociais e de poder que nos cercam e que

alimentam as rotulações. Só assim iremos ao encontro de uma educação realmente pautada no

respeito e no atendimento as necessidades dos alunos com deficiência ou de populações que

estejam sendo marginalizadas pela sociedade.

O impacto das mídias sociais na comunicação e nas relações sociais

Atualmente, as informações se tornaram mais acessíveis e os desafios da comunicação

se tornaram mais complexos com a tecnologia e os meios digitais. A comunicação se

transformou com a mídia eletrônica, as informações ganharam uma velocidade cada vez

maior destinada a um número de pessoas também aumentado consideravelmente, isto

comparado aos meios tradicionais como a impressão de um jornal, por exemplo. A

comunicação se transformou, assim como a sociedade passou por inúmeras mudanças.

Entre os meios de comunicação de massa, até a televisão com sinal aberto perdeu

audiência para as mídias que surgiram com o desenvolvimento das telecomunicações

(TOMAZZONI, 2010). De acordo com os pesquisadores, a penetração de computadores

aumentou entre todas as classes sociais brasileiras e projeta-se para 2020 que 95% a 100%

dos domicílios da classe A terão internet, assim como de 48 a 70% da classe B e de 10 a

50% da classe D (WRIGHT; SILVA; SPERS, 2010)

De acordo com Pereira e Pinceta (2011), o acesso e os impactos provocados pelas

novas tecnologias transformaram o modo de pensar do ser humano e também sua maneira de

se relacionar com o mundo.

Segundo Gollner (2011) o entusiasmo pela internet, principalmente no Brasil, deve-se

às possibilidades interativas das mídias sociais. De acordo com o pesquisador, o maior

número de navegações se concentra nos sites de redes sociais.

Pereira e Pinceta (2011) afirmaram que as redes sociais ultrapassaram o objetivo

exclusivo de relacionamento e passaram a ser fonte de pesquisa e notícias, tendo como

atributos a interatividade e participação, possibilitando ao leitor não apenas o acesso à

informação, mas a capacidade de produzi-la. “Com base nisso, tudo o que já está na rede é

provisório- pode ser modificado, recriado ou complementado” (PEREIRA e PINCETA, 2011,

p.13).

A internet e a mídia social passam a ser um espaço de colaboração, baseada na

interação e participação ativa de quem produz e recebe conteúdo (PEREIRA e PINCETA,

2011). Com o acesso de um número cada vez maior de pessoas e com a interatividade que

esse meio de comunicação possibilita, as informações e (de)formações de conteúdos atingem

uma proporção gigantesca. Desta forma, os conteúdos em rede social podem tanto ser

mantenedores de rotulações conceitos pré-estabelecidos, como pode ser uma ferramenta e

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

554

instrumento de grande importância para a conscientização das pessoas e mudanças nas

relações sociais.

Diante destes pressupostos, a presente pesquisa teve como objetivo descrever e

analisar os comentários obtidos por intermédio da rede social Facebook2, os quais foram

produzidos pelos participantes do estudo a partir da observação de imagens postadas que

remetiam à questão da diferença. Buscou-se compreender a concepção das pessoas diante da

diversidade.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo que contou com dez sujeitos,

com idade entre 20 a 40 anos, sendo quatro do sexo masculino e seis do sexo feminino, todos

com escolaridade superior completo.

Segundo Minayo (1993) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares,

ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado. De acordo com Gil

(1999) as pesquisas descritivas têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de

uma população.

A coleta de dados contou como recurso com a rede social Facebook, por acreditar que

a internet e a mídia social passam a ser um espaço de colaboração, baseada na interação e

participação ativa de quem produz e recebe conteúdo (PEREIRA e PINCETA, 2011).

Para instigar relatos foram utilizadas imagens que remetiam ao tema diversidade, todas

postadas aleatoriamente num período de 12 dias. As imagens postadas caracterizam-se da

seguinte forma:

1)Imagem de pintinhos coloridos artificialmente com diferentes tonalidades,

aglomerados num único ambiente;

2)Imagem da tela denominada “Operários” de Tarsila do Amaral, datada de 1933. A

tela em questão expressa o mundo do trabalho e ilustra o momento político e social brasileiro

do início dos anos 30. A obra é um exemplo da etnia brasileira e faz um diálogo intercultural

do pluralismo de ideias do desenvolvimento humano e do respeito à diversidade;

3)Imagem do personagem infantil Fofão, que obteve fama nos anos 80 integrando o

grupo Balão Mágico. As imagens foram selecionadas juntamente com uma equipe de juízes,

todos pós-graduandos na área da Educação em uma universidade estadual no interior paulista.

Várias imagens foram selecionadas aleatoriamente, porém, as escolhidas para fazer parte

deste estudo foram aquelas que remetessem a diversidade e diferença de maneira indireta e

subjetiva, sem alusão ao tema explicitamente. Um critério de exclusão de imagens foram

imagens que tivessem linguagem escrita, para que os textos não interferissem nos comentários

ou na percepção dos participantes. A seguir as imagens que foram apresentadas:

Figura 1 - Primeira imagem postada, comporta por pintinhos coloridos

artificialmente com diferentes tonalidades.

2 Facebook é um site e serviço de rede social que foi lançada em 4 de fevereiro de 2004, operado e de

propriedade privada.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

555

Fonte: Blog Dando Noh3

Figura 2 – Tela Operários de Tarsila do Amaral, datada de 1933.

Fonte: Blog Arte – Fonte de conhecimento4

Figura 3 – Personagem Infantil Fofão

3 Disponível em http://www.dandonoh.com/2012/04/pintinhos-coloridos.html

Acesso em setembro de 2012. 4 Disponível em http://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2010/07/operarios-de-tarsila-do-

amaral.html. Acesso em setembro 2012.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

556

Fonte: Página Retromotoca5

As imagens foram postadas no perfil do Facebook da pesquisadora sem nenhum

comentário acompanhando as ilustrações. O intuito foi não interferir ou não direcionar os

comentários postados. Os participantes foram “amigos”6

adicionados no perfil da

pesquisadora, os quais não foram escolhidos previamente. Todos os comentários surgiram

espontaneamente a partir da postagem das imagens. Foram selecionados para análise os

comentários que faziam referência a questão da diversidade e diferença, sendo descartados

comentários sobre origem das fotos, comentários sobre vida pessoal da pesquisadora ou

assuntos de outra ordem.

Resultados e Discussão

A partir dos depoimentos coletados, os mesmo foram transcritos e analisados a partir

de uma categorização, com temas referentes a percepção dos participantes sobre a

diversidade/diferença. A categorização é uma operação estrutural que comporta a organização

das mensagens e a separação de elementos constitutivos de um conjunto (BARDIN, 1977).

Ao classificar os elementos em categorias temos um processo com critérios previamente

definidos que, de acordo com a autora, “impõe a investigação do que cada um deles tem em

comum com outros. O que vai permitir seu agrupamento é a parte comum existente entre

eles” (BARDIN, 1977, p.118).

Ou seja, os dados levantados foram descritos a partir de padrões de comunicação

encontrados nas pesquisas, foram realizados recortes e agregação de informação, resultando

5 Disponível em http://retromotoca.wordpress.com/2009/08/12/fofao/ Acesso em setembro 2012.

6 Modo de designar as pessoas que fazem parte do perfil da rede social facebook.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

557

na representação do conteúdo. Com os dados obteve-se, portanto, as seguintes categorias

exploradas a seguir:

I – Dificuldade de aceitação do que foge ao padronizado

Foram obtidos comentários referentes a dificuldade de aceitação do que desvia aos

padrões construídos socialmente. Isto pode ser verificados em comentários como os ilustrados

a seguir:

“Não consigo gostar de pintinhos assim, pra mim é amarelinho e pronto” (C., 23 anos, sexo

feminino) .

“O Fofão é estranho demais, ou é gente normal ou é bicho, assim não dá” (D., 27 anos, sexo

feminino).

“Que chatice estas esquisitices que você coloca, coloca foto de coisa de verdade”(S., 25

anos, sexo feminino).

Falas como “...é amarelinho e pronto”, ou é normal ou não, “assim não dá” e “coloca

foto de coisa de verdade” mostram a inabilidade dos participantes em aceitar a diferença,

como se o que não estive em conformidade com as normas não fosse “coisa de verdde”.

O homem procura encontrar e vivenciar um equilíbrio e sente-se incomodado frente a

variabilidade. O que é estranho, diferente, inesperado transmite ao homem um sentimento de

ameaça, justamente por não ser previsível e desestabilizar um possível e imaginário controle

do que está ao seu redor. Convivendo com o habitual, com o rotineiro, com o de costume o

homem organiza o mundo, mesmo que somente de forma emocional, para ter a impressão de

um domínio sobre o ambiente e, com isto, ter a sensação de segurança.

A diferença entendida como aquilo que, sendo desviante e instável, estranho e

efêmero, coloca a todo momento a sociedade ao risco do caos, “impedindo que o sujeito

moderno se apazigue no refúgio de uma prometida maioridade” (VEIGA-NETO, 2011,

p.108).

Em nome desta organização e para conseguir viver em grupo a humanidade

desenvolveu ao longo dos tempos mecanismos internos e externos de controle social. Tais

mecanismos de controle englobam: as leis, a religião, os padrões comportamentais, a moda e

a classificação dos seres humanos em grupos.

Quando as pessoas se relacionam, elas se categorizam mutuamente, em uma tentativa

natural de organizarem-se cognitivamente. Porém, conforme o contexto e os padrões

estabelecidos por uma determinada cultura, valores são imputados a dadas categorias.

Cada sociedade faz esforços para equalizar seus membros, sendo todos submetidos a

um mesmo sistema. As pessoas vão sendo submetidas a normas, padrões costumes. “A

medida em que somos educados, os princípios educativos que alicerçam a nossa formação são

pautados nos critérios de valores que a sociedade construiu” (PIRES, 2011, p. 36).

Segundo Omote (2004) a combinação de determinadas qualidades que as pessoas

julgam como sendo uma incongruência causa especial estranheza e pode mobilizá-las a buscar

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

558

meios de redução ou eliminação dessa dissonância, sentida como cognitivamente

desconfortável.

Muitas são as emoções desencadeadas pelo contato com a diferença. Para Amaral

(1994) é possível pensá-la em dois grandes conjuntos: aquelas que criam ações de

afastamento e outras que resultam em aproximação. As primeiras podem ser descritas como

medo e repulsa e as segundas como pena e fascínio. Qualquer que seja a emoção, ela exerce

uma força preponderante sobre o racional.

Segundo Veiga-Neto (2011) a modernidade vem sendo preparada como um tempo de

intolerância à diferença, mesmo que essa intolerância esteja encoberta e recalcada sob o véu

da aceitação e da possível convivência, o que o autor chamou de racismo amigável.

As negações ou compensações diante de uma diferença agem como disfarces do

preconceito, da rejeição e do desconforto diante do que é desconhecido e concebido

consciente ou inconscientemente como um desequilíbrio ao habitual.

“O outro está lá, ele próprio, enquanto eu, com projetos que lhe são próprios, desejos

que lhe são próprios, perspectivas que lhe são próprias. Ele não é redutível ao que o eu pensa

ou sabe sobre ele” (JOVCHELOVITCH, 1998, p.74)

II – Atribuição de rótulos

Nesta categoria observou-se que os participantes, como um recorte do que é realizado

nas relações sociais, classificam as pessoas e situações. A seguir trechos de alguns

depoimentos:

“Pra mim este povo aí tá tudo esfomeado”(G., 33 anos, sexo masculino, referindo-se

às pessoas da tela de Tarsila do Amaral).

“O Chuck boneco assassino parece com o Fofão, por isso o Fofão é assassino

também ...” (I.; 26 anos, sexo feminino).

“Esses pintinhos são coloridos demais, devem ser tudo gay” (R., 34 anos, sexo

masculino).

Para Veiga-Neto (2011) as marcas da anormalidade vêm sendo procuradas, ao longo

da Modernidade, em cada corpo para que, depois, a cada corpo se atribua um lugar “nas

intrincadas grades de classificações dos desvios, das patologias, das deficiências” (p.107).

Através do rótulo cria-se a ilusão de uma homogeneidade entre os membros de uma

categoria e heterogeneidade entre os membros de uma categoria com os das outras. Os

estereótipos referem-se a essa categorização generalizada de todos os membros de uma

categoria, que recebem um mesmo rótulo e servindo de orientação para ações em relação às

pessoas rotuladas.

Estereótipos são “verdadeiras caricaturas que põem em evidência os traços

presumidamente comuns a todas as pessoas colocadas em uma mesma categoria, destacando-

os como marcas distintivas dessas pessoas” (OMOTE, 2004, p.295).

O preconceito é definido por Amaral (1998) como um “filtro à percepção”, que

modela os sentidos fazendo com que não se perceba a totalidade do objeto real (p.17). Desta

forma, o desconhecimento, a ignorância entendida como falta de informação, ou até conceitos

tendenciosos resultam em julgamento prévio acerca de alguma coisa, situação ou alguém,

tendo como consequência os estereótipos.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

559

São nas relações humanas que se constroem o valor negativo ou positivo atribuídos às

diferenças humanas. A sociedade estabelece, de acordo com alguns critérios, padrões de

comportamento e identidade. Estes padrões se tornam crenças comungadas pelas pessoas, que

firmam entre si ideias e normas de como as coisas devem ser. As pessoas que não estiverem

de acordo com estas normas, que não apresentam respostas esperadas pelos padrões sociais

são consideradas desviantes, recebendo atenção e tratamento distintos dos grupos que seguem

as normativas, passando a ser estigmatizadas e até mesmo segregadas (Goffman, 1988).

Adorno e Horkheimer (apud Ferrari, 2008) consideram que o preconceito dá origem a

uma falsa generalização, classificando todos os componentes do grupo de uma única forma.

Segundo Ferrari (2008) o preconceituoso considera “semelhantes todos os membros de um

grupo, impedindo o conhecimento mais pormenorizado de cada um de seus indivíduos (p.48)

Silva (2000) utilizou o conceito de performatividade atribuído por Austin (1998) para

a análise da identidade e diferença através de processos discursivos e lingüísticos, afirmando

que a linguagem não se limita a descrever uma ação ou uma situação. A linguagem também,

com a noção de performatividade, faz com que algo se efetive, se realize.

Um relacionamento ditado pelo preconceito e norteado por estereótipos pouco oferece

à pessoa com deficiência e nada contribui para o processo de inclusão, pelo contrário, fomenta

a já tão acentuada exclusão de grupos vistos apenas pela sua condição diferenciada.

III)Conformismo e passividade diante da exclusão

“Este povo pobre aí, fazer o que? a vida é assim mesmo, tem que aguentar” (R., sexo

masculino, 34 anos, fazendo referência aos trabalhadores da tela Operários).

“Quem manda esse Fofão ser feio assim, não devia ser personagem de criança” (F.,

sexo feminino, 40 anos).

A expressão “fazer o que?” mostra certo conformismo com a situação de

hierarquização de nossa sociedade, que estabelece relações de poder e deixa evidente a

vulnerabilidade de uma parcela da população.

A afirmação de que o Fofão não deveria ser personagem de criança foi justificada com

o fato dele ser muito feio, por isso não deveria existir no meio infantil, demonstrando uma

aceitação aos padrões de beleza desenvolvidos em nossa sociedade.

Segundo Sawaia (1999) todos nós estamos inseridos de algum modo, nem sempre

decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, estando a grande maioria

da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se desdobram para fora

do econômico.

Como explica Foucault (citado por Veiga-Neto & Lopes, 2007), acontece uma

normalização disciplinar quando se tenta conformar as pessoas, em termos de seus gestos e

ações, a um modelo geral previamente tido como a norma. Ou seja, estamos sendo moldados

de acordo com os padrões estabelecidos, sendo gerado um conformismo diante das regras

implícita ou explicitamente impostas.

Para Silva (2000) as relação de poder se configuram no ato de incluir/excluir (“estes

pertencem, aqueles não”); na demarcação de fronteiras, estipulando quem está dentro e quem

está fora de contextos (“nós, eles”); na classificação (“bons e maus”) e na normalização (“nós

somos normais, eles são anormais”). Tal configuração estabelece uma hierarquização, fazendo

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

560

com que aqueles que detêm o privilégio de classificar também firmem os valores para os

grupos classificados.

Não basta, para quem não é considerado diferente, reconhecer e celebrar a diferença,

mais do que boa vontade, é preciso saber questionar as formas de produção que mantém e

ressalta as diferenças. É preciso que haja reflexão, conscientização que propicie

enfrentamento e instrumentos para o desenvolvimento de múltiplas questões para o debate

sobre os rumos das relações sociais e da construção de espaços para todos.

“Os direitos humanos são direitos históricos que emergem gradualmente das lutas que

o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que

essas lutas produzem” (BOBBIO, 1992, p.5). Porém há uma contradição entre discurso e

prática, segundo Carvalho (1999) “enquanto a consciência universal dos direitos humanos é

cada vez mais forte, paradoxalmente eles são cada vez mais desrespeitados” (p. 17).

Apesar dos discursos proclamarem que os homens nascem livres e iguais no que diz

respeito aos direitos, é complicado “explicar a contradição entre literatura que faz a apologia

da era dos direitos e aquela que denuncia a massa dos sem direitos” (BOBBIO, 1992, p.10).

De acordo com Pires (2011) a igualdade de direitos e valores entre os seres humanos,

o reconhecimento e respeito às diferenças seriam altamente positivos se, na vida real, a

desigualdade não fosse tão acintosamente praticada. “As condições materiais concretas em

que vive a maioria da sociedade impedem a existência plena de um ser humano que realize

valores” (PIRES, 2011, p.31). Apesar desses valores, em teoria, se estender a todas as

pessoas, estão sempre na dependência das possibilidades das relações de poder, acentuando a

exclusão.

IV – Estigmatização

A seguir foram extraídos alguns trechos de alguns comentário onde fica visível a falta

de aceitação por características desviantes aos padrões sociais:

“Eu é que não deixo entrar em casa pintinhos assim” (C., 23 anos, sexo feminino)

“Ainda bem que sou de outra geração e não vou ter filho que goste do Fofão, eu nunca daria

um Fofão pra filho meu, ele deve ser mau como o Chuck” (I., 23 anos, sexo feminino)

Estes e outros relatos presentes na pesquisa mostram a rejeição ao que é diferente, ao

incomum, ao que está fora das normas impostas. A rejeição ao diferente leva a discriminação,

marginalização e falta de oportunidades.

De acordo com Veiga-Neto (2011), as práticas de racismo não são apenas as rejeições

ao diferente, mas a “obsessão pela diferença, entendida como aquilo que contamina a pretensa

pureza, a suposta ordem, a presumida perfeição do mundo” (p.107).

Sobre exclusão social, DEMO (1998, p.21) nos diz que: “A marginalidade – dever-se-ia, antes, dizer marginalização – é assim uma produção social que encontra sua origem nas

estruturas de base da sociedade, na organização do trabalho e

nos sistemas de valores dominates, a partir dos quais se repartem os lugares e se fundam as hierarquias, atribuindo a

cada um sua dignidade ou sua indignidade social”.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

561

Os marginalizados, os excluídos, contudo, são todos os rejeitados e depositados para

fora dos espaços de convivência dos grupos dominantes; são os que estão fora do mercado de

trabalho, ou sofre discriminação deste; são os que apesar dos discursos legais sobre direitos e

igualdade perante as oportunidades, não usufruem na prática destas garantias de lei.

Para Xiberras (apud Carvalho, 2010) a exclusão social é representada pelas

representações interpessoais que se manifestam pela hostilidade e descaso, deixando grupos a

parte da sociedade ou mesmo os rejeitando dentro de contextos em que teoricamente eles

estão incluídos.

Sobre os sentimentos que os excluídos experenciam Demo (1998) coloca que há a

perda do senso de pertencer, sentimento de abandono por parte de todos, acompanhado pela

incapacidade de reagir.

Para Goffman (1989) o estigma se refere a um atributo de caráter altamente

depreciativo, que coloca o outro (o que é diferente, que causa estranheza) em um patamar de

descrédito, de alguém menor, com menos valor diante dos demais. É um valor dado à sua

condição, fazendo com que o indivíduo seja entendido apenas pela condição que o inferioriza,

adjetivando o que é substantivo e anulando todos os outros papéis que o sujeito deveria

exercer, deixando protagonizar apenas o sinal considerado depreciativo.

Ao estigmatizar colocamos a pessoa estigmatizada numa situação inferior e a

depreciamos. GOFFMAN (1992) descreve que, “enquanto o estranho está à nossa frente, podem surgir evidências de que ele tem um atributo que o torna diferente de

outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser

incluído, sendo, até, de uma espécie menos desejável - num

caso extremo, uma pessoa completamente má, perigosa ou fraca. Assim, deixamos de considerá-lo criatura comum e total,

reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal

característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande (p.12 )”.

De acordo com Carvalho (2010) “talvez uma das possibilidades de reverter,

definitivamente, os processos excludentes seja a de ressignificar de fato, em nós, a ideia que

temos da nossa própria normalidade [...] (p.48)”.

Acredita-se que esta ressignificação seja fruto de um processo de conscientização que

caminhe para a desconstrução das barreiras atitudinais que permeiam as relações sociais. As

práticas de inclusão, o convívio com a diferença e espaço para reflexões sobre a diversidade,

assim como uma constante troca de informações entre os grupos podem promover além de

definições de papéis uma busca por deveres e direitos com o olhar no coletivo.

Considerações

A pesquisa possibilitou a análise da representação de algumas pessoas sobre a questão

da diferença e sobre os conceitos pré-formados e estabelecidos diante do ser diferente.

Através dos comentários obtidos pode-se perceber conformismo diante das normas,

normas estas originadas pelas práticas das relações de poder. Também foi possível verificar a

construção social da rotulação e principalmente como as ações nascem, a partir dos

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

562

estereótipos firmados, tendo como consequência a estigmatização, segregação e exclusão

social.

As análises mostraram que os envolvidos na pesquisa reproduzem a marca social de

classificação a partir de padrões socialmente definidos.

Mergulhar neste universo que pode causar desconforto, como a discussão sobre

diferenças, mostra-se significativo, pois, ao ser debatido a construção dos estigmas este

debate pode promover a dessensibilização diante das normas que nos regem. Como diz Veiga-

Neto (2011, p.110) “tematizar essas dificuldades pode contribuir para desnaturalizá-las, para

desconstruí-las, para mais uma vez mostrar o quanto elas são contingentes, justamente porque

advêm de relações que são construídas social e discursivamente”.

Conhecer as dinâmicas que compõem as relações sociais é um passo para modificar as

relações sociais e como conseqüência a inclusão de grupos que estão de fora de vários

contextos e aspectos sociais.

A respeito das forças que levam as pessoas a se ligarem, se vincularem a outras,

Durkheim (apud Xiberras, 1993) faz a distinção entre solidariedade mecânica e solidariedade

orgânica. Para o autor solidariedade mecânica se refere apenas ao contato ou proximidade

entre os homens. Já solidariedade orgânica diz respeito a consciência de que todos precisam

participar juntos das atividades de uma sociedade, para que a coletividade aconteça.

Sobre viver em coletividade, ou seja, incluir os excluídos para que todos possam

partilhar de direitos e oportunidade, Carvalho (2010) aponta que esta acolhida implica numa

série de ressignificações na percepção das pessoas, bem como num conjunto de providências

que envolvem desde os espaços físicos até os espaços simbólicos.

É através destas ressignificações que novas maneiras de atuação vão se

desenvolvendo, transformando a sociedade gradativa e sistematicamente rumo a inclusão

social e a promoção da dignidade humana.

Referências Bibliográficas

AMARAL, L. A. Pensar a diferença: deficiência. Brasília: Coordenadoria Nacional para

Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994.

AMARAL, L. A. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e

sua superação. In: AQUINO, J. G. Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas

e práticas. São Paulo: Summus, 1998.

BACILA, C. R. Estigmas: um estudo sobre os preconceitos. Rio de Janeiro, Editora Lumen

Juris, 2008.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições, 1977.

BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

563

CARVALHO, R. E. O direito de ter direitos. In: Salto para o futuro – Educação Especial:

tendências atuais. Secretaria de Educação a Distancia. Brasília: Ministério da Educação,

SEED, 1999.

CARVALHO, R. E. Educação Inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação,

2010.

DEMO, P. O charme da exclusão social. Campinas, SP: Autores Associados, 1998.

FERRARI, M. A. L. D. Preconceito, indivíduo e grupo. In: SAETA, B. R. P. &

NASCIMENTO, M. L. B. P. Inclusão e Exclusão: múltiplos contornos da educação

brasileira. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2008.

GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Editora Atlas, 1999.

GLAT, R. Somos iguais a vocês: depoimentos de mulheres com deficiência mental. Rio de

Janeiro: Agir, 1989.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de

Janeiro: Zahar Editores, 1989.

GOLLNER, A.P. O site de redes sociais Facebook como espaço de comunicação

organizacional. Dissertação de mestrado. Universidade Municipal de São Caetano do Sul.

Mestrado em Comunicação, 2011.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

MINAYO, M.C.S.; SANCHES, O. Quantitaivo-qualitativo: oposição ou complementariedade.

Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, n.9, v.3, p.239-262, 1993.

TOMAZZONNI, M. Internet carrega a televisão. IG São Paulo. Publicado em: 31 de ago.

2010. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/internet. Acesso em fev. 2013.

WRIGHT, J.T.C.; DA SILVA, A.T.B.; SPERS, R.G. Internet Banda Larga: um estudo

prospectivo exploratório sobre a sua penetração. Tecnologias de Conexão e Impactos no

Brasil em 2020. XIII SEMEAD – Seminários em Administração FEA-USP. Set.2010.