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Provisões técnicas em seguros não vida:uma análise micro-levelMaria Sofia Soares Ribeiro
Relatório de estágio apresentado àFaculdade de Ciências da Universidade do Porto em Engenharia Matemática
2017
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FCUP2017
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Provisões técnicas em seguros não vida:uma análise micro-level
Maria Sofia Soares RibeiroMestrado em Engenharia MatemáticaDepartamento de Matemática2017
OrientadorasMaria do Carmo Guedes, Professora Auxiliar Aposentada, FCUPMargarida Brito, Professora Associada, FCUP
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Todas as correções determinadas
pelo júri, e só essas, foram efetuadas.
O Presidente do Júri,
Porto, ______/______/_________
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Resumo
Na gestao de uma empresa de seguros e essencial a constituicao de provisoes tecnicas que
permitam assegurar o cumprimento das obrigacoes firmadas com os segurados nos contratos
efetuados. O novo Regime Solvencia II, que entrou em vigor no inıcio do ano de 2016, trouxe
novas exigencias na analise das provisoes tecnicas, promovendo assim o desenvolvimento de
modelos matematicos que facam frente as novas exigencias.
Partindo de um conjunto de dados relativo a uma carteira de seguros nao vida, neste
projeto sao estudados e aplicados modelos para a estimativa de provisoes relativas aos custos
com sinistros.
Grande parte dos metodos existentes para calculo da reserva consideram os custos com
sinistros agregados em triangulos run-off, ignorando a informacao relevante que uma analise
individual dos diferentes eventos que ocorrem ao longo do desenvolvimento de um processo
de sinistro possa fornecer e que, se considerada, provavelmente, permite uma estimativa da
reserva mais proxima da realidade. A esta analise detalhada do sinistro da-se o nome de
analise micro-level.
O modelo micro-level abordado e um modelo estocastico que considera que o numero
de sinistros que ocorre num dado perıodo de tempo pode ser modelado por um processo de
Poisson marcado. Para definir o processo e necessario modelar distribuicoes para o momento
de ocorrencia, o tempo de espera entre a ocorrencia do sinistro e a comunicacao a seguradora,
a ocorrencia de indemnizacoes e o seu respetivo volume bem como o encerramento do sinistro.
Por esta razao, o conhecimento e analise estatıstica das variaveis do historico de dados
disponıvel tem especial relevancia.
Palavras-Chave: seguros nao vida, reserva para sinistros, Solvencia II, processo de
sinistro, modelo micro-level, processo de Poisson marcado, metodo Chain-Ladder.
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Abstract
In an insurance company it is essential to set up loss reserves which allow to compensate
policy holders for claims that meet the terms of the policy. The new directive Solvency II,
that was set up at the beginning of 2016, brought new demands to the analysis of tech-
nical provisions promoting the development of mathematical models which face these new
demands.
Using a data set of a general insurance portfolio, this project studies and applies models
to estimate technical provisions concerning claim loss payments.
Most of the existing methods for the reserve calculation take the loss payments summa-
rized in run-off triangles, ignoring the relevant information that an individual analysis of
the different events that occur throughout the development process of a claim can provide
- and if considered – it probably allows a reserve estimation closer to reality. “Micro-level
analysis” is what is called to this detailed claim view.
The considered micro-level model is a stochastic model that considers that the number
of occurred claims in a certain period of time is modeled by a marked Poisson process. It is
necessary to model statistical distributions for occurrence time, reporting delay, occurrence
of payments and their sizes and the final settlement of the claim.
Keywords: general insurance, claims reserve, Solvency II, claim development process,
micro-level model, marked Poisson process, Chain-Ladder method.
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Conteudo
1 Introducao 1
2 Enquadramento do Problema 5
2.1 Atividade Seguradora em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Provisoes Tecnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 Regimes de Solvencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4 Qualidade e Tratamento de Dados no Calculo de Provisoes Tecnicas . . . . . 12
3 Fundamentos Teoricos 13
3.1 Processo de Sinistro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2 Calculo de Provisoes Tecnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.3 Metodo de Chain-Ladder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.4 Um Modelo Micro-level . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4 Caso de Estudo 29
4.1 Aplicacao do Metodo de Chain-Ladder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2 Analise Micro-level do Processo de Sinistro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5 Consideracoes Finais 45
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Lista de Tabelas
2.1 Producao de seguro direto observada nos perıodos de Junho de 2015, 2016 e
2017 para as categorias de vida e nao vida, em milhoes de euros. Fonte dos
dados: ASF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Producao de seguro direto observada nos perıodos homologos de Junho de
2015, 2016 e 2017 para as principais modalidades nao vida, em milhoes de
euros. Fonte: ASF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3.1 Exemplo de uma matriz triangulo run-off. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2 Matriz triangulo run-off com valores nao acumulados. . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Matriz triangulo run-off com valores acumulados. . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 Tabela de resultados obtidos para o MCL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.5 Matriz triangulo run-off do valor das indemnizacoes pagas acumuladas ate ao
ano de observacao considerado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.6 Matriz triangulo run-off completa para os valores acumulados de indem-
nizacao a liquidar nos anos de desenvolvimento seguintes. . . . . . . . . . . . 20
3.7 Resultados obtidos para o calculo da reserva pelo MCL. . . . . . . . . . . . . 20
4.1 Exemplo de algumas observacoes do conjunto de dados considerado para o
estudo relativas a um determinado sinistro ocorrido. Os montantes pagos
encontram-se expressos em euros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2 Triangulo run-off constituıdo pelos valores acumulados das indemnizacoes
pagas, em euros, para o conjunto de dados considerado. . . . . . . . . . . . . 30
4.3 Triangulo run-off das indemnizacoes pagas para o conjunto de dados em estudo 32
4.4 Calculo da reserva, por ano de ocorrencia do sinistro, a data de 1 de janeiro
de 2017. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
vii
4.5 Numero de sinistros ocorridos no perıodo de observacao, 2012 a 2016, por ano
de ocorrencia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.6 Numero de sinistros ocorridos, em media, por mes do ano, no perıodo consi-
derado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.7 Valor dos percentis, em dias, para o reporting delay do historico disponıvel,
arredondado as unidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.8 Valor dos percentis, em meses, para o reporting delay do historico disponıvel,
arredondado as unidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.9 Numero de sinistros reportados ate sete dias apos a sua ocorrencia. . . . . . 37
4.10 Valor dos percentis, em euros, para os montantes pagos, agregados por sinistro. 41
4.11 Valor dos percentis, em euros, para as indemnizacoes pagas, nao agregadas. . 41
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Lista de Figuras
2.1 Evolucao trimestral da producao de seguro direto em Portugal no perıodo de
Junho de 2015 a Junho de 2017, em milhoes de euros. Fonte: ASF . . . . . . 6
2.2 Visao macroscopica da estrutura da carteira da atividade seguradora nao vida,
em Portugal, no primeiro semestre de 2017. Fonte: ASF . . . . . . . . . . . 7
2.3 Evolucao trimestral dos custos com sinistros de seguro direto em Portugal,
em milhoes de euros, no perıodo de Junho de 2015 a Junho de 2017. Fonte:
ASF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.4 Evolucao trimestral da estrutura de custos com sinistros dos ramos nao vida
em Portugal, em milhoes de euros, no perıodo de Junho de 2015 a Junho de
2017. Fonte: ASF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.5 Evolucao do racio de sinistralidade nao vida calculado a partir dos valores
acumulados do primeiro semestre do ano para os anos 2015, 2016 e 2017.
Fonte: ASF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.1 Ilustracao do processo de desenvolvimento de um sinistro. . . . . . . . . . . . 13
3.2 Desenvolvimento do processo de sinistro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.1 Representacao grafica dos montantes de indemnizacoes pagos acumulados, em
euros, para cada ano de ocorrencia do sinistro em funcao do ano de desenvol-
vimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2 Numero de sinistros ocorridos observados no perıodo de 1 de Janeiro de 2012
a 31 de Dezembro de 2016. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.3 Numero de sinistros ocorridos por ano considerado. . . . . . . . . . . . . . . 34
4.4 Numero de sinistros ocorridos, em media, por mes do ano, no perıodo consi-
derado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
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4.5 Histograma do reporting delay em dias (a esquerda) e em meses (a direita)
para o historico considerado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.6 Reporting delay considerado e respetiva distribuicao ajustada. . . . . . . . . 38
4.7 Frequencia dos eventos observados segundo os tipos 1 e 2. . . . . . . . . . . . 39
4.8 Frequencia acumulada dos eventos observados segundo os tipos 1 e 2. . . . . 39
4.9 Processo de desenvolvimento de tres sinistros distintos. O tempo encontra-se
expresso em meses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.10 Histograma do valor total da indemnizacao paga por cada sinistro observado. 41
4.11 Histograma da transformacao da raiz quadratica dos dados e, a verde, o
grafico da funcao distribuicao de probabilidade de uma distribuicao Weibull
de parametros escala = 20.259 e forma = 1.357. . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.12 Distribuicao da transformacao da raiz quadratica dos dados por tipo de evento
ocorrido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.13 Distribuicao da transformacao da raiz quadratica dos dados por ano de ca-
lendario. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.14 Distribuicao da transformacao da raiz quadratica dos dados por ano de de-
senvolvimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
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Glossario
ASF Autoridade de Supervisao de Seguros e Fundos de Pensoes.
EIOPA European Insurance and Occupational Pensions Authority.
FD fator de desenvolvimento.
IBNR Incurred But Not Reported.
MCL Metodo Chain-Ladder.
MRH multi-risco habitacao.
RBNS Reported But Not Settled.
RCM Requisito de Capital Mınimo.
RCS Requisito de Capital de Solvencia.
UE Uniao Europeia.
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xvi
Capıtulo 1
Introducao
O projeto desenvolvido teve como objeto de estudo um problema da empresa de seguros
Ageas e procura ser um complemento ao estagio academico que foi feito nesta empresa
durante um perıodo de nove meses na area de atuariado e cujo tema foi ”Analise do Nıvel
de Reservas Tecnicas”. Ainda que com uma presenca recente em Portugal, a Ageas e um
grupo segurador internacional, com sede em Bruxelas e com muitos anos de atividade neste
sector. No momento atual encontra-se presente em treze paıses da Europa e da Asia.
Parte predominante da funcao atuarial foca-se na analise e controlo das provisoes tecnicas
a constituir para o cumprimento das obrigacoes para com os segurados. Utilizando um con-
junto de dados mascarados fornecido pela empresa, e estudado o seu comportamento pro-
curando encontrar caracterısticas e padroes que permitam a posterior aplicacao de metodos
para analise do nıvel de reservas a constituir para encerramento dos processos de sinistro
abertos considerados.
Numa primeira fase do desenvolvimento do trabalho foi muito importante a familia-
rizacao com todos os conceitos ligados ao setor segurador, o conhecimento das designacoes
e terminologia utilizadas, bem como o modo de pensar inerente a este ramo de negocio [1].
Um contrato de seguro e um acordo atraves do qual o segurador assume determinados ris-
cos e se compromete a pagar uma determinada quantia a pessoa segura em caso de ocorrencia
de um sinistro coberto por esses riscos. Por outro lado, o tomador de seguro, a pessoa que
firma o contrato com o segurador, compromete-se a pagar uma determinada quantia mo-
netaria por este contrato. A esta quantia da-se o nome de premio. Assim, na gestao de uma
empresa de seguros e essencial a constituicao de provisoes tecnicas que permitam assegurar
o cumprimento das obrigacoes firmadas com os segurados nos contratos efetuados.
1
Este ramo de negocio pode dividir-se em dois grandes grupos, ramo vida e ramo nao
vida, que sao geralmente estudados em separado dado que apresentam caracterısticas e
comportamentos muito diferentes. Os dados fornecidos para o desenvolvimento deste projeto
dizem respeito a sinistros ocorridos para uma carteira de apolices do ramo nao vida multi-
risco habitacao (MRH).
A tentativa de constituir uma reserva o mais proximo possıvel da realidade e importante
pois, caso estas provisoes sejam insuficientes, compromete-se a solvencia da empresa. Ja se
essas reservas forem excessivas, sera afetada a rentabilidade e competitividade da empresa no
mercado, uma vez que a tarifacao dos produtos acabara por ser feita com base em estimativas
demasiado pessimistas. O passivo destas empresas e constituıdo, na sua maior parte, pelas
responsabilidades registadas atraves destas provisoes.
As provisoes para sinistros nao vida tem especial importancia na constituicao da reserva
da empresa de seguros e correspondem ao custo total estimado que o segurador tera de
suportar para regularizar todos os sinistros que tenham ocorrido ate ao final do exercıcio,
quer tenham sido reportados a empresa de seguros ou nao. Devem tambem considerar-se
os fatores externos que nao sao controlaveis pela empresa de seguros e que podem alterar
substancialmente as expetativas futuras, caso nao sejam considerados. Sao exemplos des-
tes, fatores economicos, sociais ou legais [2] como, por exemplo, a alteracao das polıticas
economicas colocadas em pratica por um determinado governo num dado perıodo de tempo.
O novo regime Solvencia II, que entrou em vigor no inıcio do ano de 2016 e procura dar
resposta a alguns pontos deficitarios da norma Solvencia I anteriormente em vigor, trouxe
novas exigencias na analise das provisoes tecnicas, quer a nıvel do calculo de requisitos de
capital, quer no que toca a monitorizacao e reporte dos resultados obtidos ao mercado e as
autoridades de supervisao [3].
Grande parte dos metodos existentes para calculo da reserva consideram os custos com
sinistros agregados em triangulos run-off, ignorando a informacao relevante que uma analise
individual dos diferentes eventos que ocorrem ao longo do desenvolvimento de um processo
de sinistro possa fornecer e que, se considerada, provavelmente, permite uma estimativa da
reserva mais proxima da realidade. A esta analise detalhada do sinistro da-se o nome de
analise micro-level e sera um dos principais focos do desenvolvimento deste projeto [4].
O modelo micro-level abordado [5] e um modelo estocastico que considera que o numero
de sinistros que ocorre num dado perıodo de tempo pode ser modelado por um processo
2
de Poisson marcado [6]. Para definir o processo e necessario modelar distribuicoes para o
momento de ocorrencia, o tempo de espera entre a ocorrencia do sinistro e a comunicacao
a seguradora, a ocorrencia de indemnizacoes e o seu respetivo volume bem como o encerra-
mento do sinistro.
No seguimento da introducao ao trabalho desenvolvida neste capıtulo, apresenta-se no
Capıtulo 2 um enquadramento do problema onde sao abordados diversos aspetos relaciona-
dos com a atividade do mercado segurador. E apresentada uma breve analise do panorama
da atividade seguradora em Portugal [7], o conceito e a importancia dos regimes de solvencia.
Sao tambem apresentados alguns aspetos relativos a forma como devem ser constituıdas as
provisoes tecnicas, bem como as recomendacoes a considerar no calculo das mesmas [8].
No capıtulo 3, sao apresentados alguns pressupostos e fundamentos teoricos, sao definidos
conceitos como processo de sinistro, matriz de triangulos run-off, metodo de Chain-Ladder,
modelo micro-level e processo de Poisson marcado. No capıtulo 4 sao apresentados os re-
sultados obtidos a partir da implementacao computacional da analise micro-level do sinistro
e do metodo de Chain-Ladder, mais usualmente utilizado nas empresas de seguros. Para a
implementacao e manipulacao dos dados utiliza-se o software de estatıstica R [9] e os pacotes
’ChainLadder’ [10] e ’PtProcess’ [11] desenhados para o mesmo software.
3
4
Capıtulo 2
Enquadramento do Problema
Neste capıtulo pretende-se dar uma visao global do ramo da atividade seguradora de
forma a compreender melhor aquilo que motiva o desenvolvimento deste projeto. Numa
primeira fase procura-se contextualizar o problema no mercado segurador portugues. Numa
segunda parte sao apresentados os conceitos de provisoes tecnicas e provisoes para custos
com sinistros bem como as principais linhas orientadoras do regime Solvencia II cuja entrada
em vigor vem alterar de forma significativa a forma de pensar da atividade seguradora.
2.1 Atividade Seguradora em Portugal
Producao de seguro direto
De acordo com o “Relatorio de Evolucao da Actividade Seguradora” [7] disponibilizado
pela Autoridade de Supervisao de Seguros e Fundos de Pensoes (ASF), no primeiro semestre
de 2017, a industria seguradora em Portugal, relativamente a producao, atravessou um
perıodo de crescimento, verificando-se um aumento da producao de seguro direto de 0, 6%
face ao semestre homologo do ano anterior. Os principais responsaveis por este aumento
foram os ramos nao vida que tiveram um aumento de 8, 3%.
Na Figura 2.1 e na Tabela 2.2 pode-se observar a evolucao da producao de seguro direto
nos ultimos tres anos. Verifica-se que as variacoes, para perıodos homologos consecutivos,
sao bastante superiores para o ramo vida (ja que o ramo nao vida, em media, se apre-
senta bastante constante) o que, dado o peso da sua carteira, e determinante nos valores de
producao global observados. Assim, no primeiro semestre de 2017 verifica-se que 40, 6% da
carteira corresponde ao ramo nao vida e 59, 4% corresponde ao ramo vida.
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Junho 2015 Junho 2016 Junho 2017
Ramo Nao Vida 1 810 224 1 910 875 2 069 749
Ramo Vida 4 676 740 3 164 267 3 033 726
Total 6 486 964 5 075 142 5 103 476
Tabela 2.1: Producao de seguro direto observada nos perıodos de Junho de 2015, 2016 e
2017 para as categorias de vida e nao vida, em milhoes de euros. Fonte dos dados: ASF
Figura 2.1: Evolucao trimestral da producao de seguro direto em Portugal no perıodo de
Junho de 2015 a Junho de 2017, em milhoes de euros. Fonte: ASF
Coloca-se agora o foco na analise da producao de seguro direto para os diferentes ramos
nao vida, dada a natureza do problema em estudo.
Na Figura 2.2 e possıvel observar a estrutura da carteira nao vida no primeiro semestre
de 2017. Os tres ramos com maior representatividade sao, ordenados por ordem decrescente,
os ramos de Acidentes e Doenca, Automovel e Incendio e Outros Danos.
Na Tabela 2.2 podemos observar a evolucao da producao de seguro direto para estes
ramos ao longo dos ultimos tres anos. E de notar o crescimento verificado na modalidade
acidentes de trabalho (14, 8%) cujo peso na producao em Junho de 2017 e igual a 16, 4%.
6
Figura 2.2: Visao macroscopica da estrutura da carteira da atividade seguradora nao vida,
em Portugal, no primeiro semestre de 2017. Fonte: ASF
Junho 2015 Junho 2016 Junho 2017
Total Ramo Nao Vida 1 810 224 1 910 875 2 069 749
Acidentes de Trabalho 262430 295706 339327
Doenca 341058 363014 404587
Incendio e outros danos 357594 360785 373488
Automovel 639517 674173 712168
Tabela 2.2: Producao de seguro direto observada nos perıodos homologos de Junho de 2015,
2016 e 2017 para as principais modalidades nao vida, em milhoes de euros. Fonte: ASF
Custos com sinistros de seguro direto
Relativamente aos custos com sinistros, a mesma fonte informa que, apesar do aumento
dos custos no ramo nao vida (8, 0%), no global estes diminuıram 31, 2% devido, principal-
mente, ao decrescimo dos custos do Ramo Vida igual a −40, 5%. Estes resultados invertem a
tendencia verificada no ano de 2016 onde, para o mesmo perıodo, se tinha verificado um cres-
cimento de 0, 1% do total dos custos com sinistros de seguro direto em Portugal. Tal como
observamos para a producao de seguro direto, podemos observar que a evolucao dos custos
totais com sinistros e influenciada principalmente pelo ramo vida. As variacoes apresentadas
pelo ramo nao vida ao longo do tempo sao, em media, muito baixas. Estes resultados podem
7
ser visualizados na Figura 2.3 .
Figura 2.3: Evolucao trimestral dos custos com sinistros de seguro direto em Portugal, em
milhoes de euros, no perıodo de Junho de 2015 a Junho de 2017. Fonte: ASF
De acordo com a ASF, todas as modalidades do ramo nao vida seguiram a tendencia
de crescimento verificada, a excecao do ramo incendio, cujos custos decresceram 8, 2%. Na
Figura 2.4 podemos observar a evolucao do peso relativo das diferentes modalidades do ramo
nao vida na estrutura dos custos com sinistros. Verificamos que, ao longo do tempo, nao tem
havido evolucoes significativas, mantendo-se aproximadamente constante para as diferentes
modalidades.
Figura 2.4: Evolucao trimestral da estrutura de custos com sinistros dos ramos nao vida em
Portugal, em milhoes de euros, no perıodo de Junho de 2015 a Junho de 2017. Fonte: ASF
8
O racio de sinistralidade 1 em Portugal relativo ao primeiro semestre do ano, tem vindo
a diminuir, relativamente aos perıodos homologos dos anos anteriores e para o perıodo de
Janeiro a Junho de 2017 e igual a 65, 1%. Estes resultados podem ser observados na Figura
2.5.
Figura 2.5: Evolucao do racio de sinistralidade nao vida calculado a partir dos valores
acumulados do primeiro semestre do ano para os anos 2015, 2016 e 2017. Fonte: ASF
2.2 Provisoes Tecnicas
As provisoes tecnicas dizem respeito ao montante mınimo que a empresa de seguros deve
considerar para ser financeiramente capaz de fazer face as responsabilidades assumidas com
os tomadores de seguro a data da celebracao do contrato e resultam da juncao de diferentes
provisoes que procuram responder a diferentes necessidades de capital.
No desenvolvimento deste trabalho o foco sera apenas numa destas parcelas, as provisoes
para sinistros, que correspondem ao custo total estimado que a empresa de seguros suportara
para regularizar todos os sinistros que tenham ocorrido ate ao final do exercıcio, quer tenham
sido comunicados ou nao, apos deducao dos montantes ja pagos respeitantes a esses sinistros.
As reservas para sinistros constituem uma das parcelas com maior peso e consequentemente
mais importantes no calculo das provisoes tecnicas.
1O racio de sinistralidade corresponde ao quociente entre os custos com sinistros (que podem incluir
reajustamentos dos anos anteriores) e o valor dos premios brutos de seguro direto emitidos (fonte:ASF).
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2.3 Regimes de Solvencia
Uma empresa de seguros diz-se solvente quando e financeiramente capaz de cumprir as
suas obrigacoes futuras, ou seja, se tiver meios financeiros para cumprir os compromissos
firmados com todas as partes envolvidas no negocio. Sao muitos e variados os fatores que
podem influenciar a solvencia de uma seguradora. Um numero abrupto de sinistros ocorridos
(por exemplo, uma catastrofe), a insolvencia de um ressegurador, o calculo mal efetuado das
reservas, a situacao politico-economica da regiao envolvente ou uma gestao ineficiente por
parte da empresa sao alguns desses fatores.
Assim, a existencia de um regime de solvencia tem como principal funcao garantir que sao
aplicadas medidas e metodos de previsao que garantam a solvencia das empresas de seguros.
O regime de Solvencia I, que foi entretanto substituıdo, apresentava algumas lacunas nesse
sentido, nomeadamente no que diz respeito a forma como eram considerados os riscos a que
a empresa de seguros se encontrava exposta.
Assim, em Janeiro de 2016, entrou em vigor o novo Regime Solvencia II que foi de-
senvolvido considerando uma visao baseada no risco que procura garantir de forma mais
consistente a solidez financeira das empresas de seguros, tendo em vista uma maior protecao
dos segurados, tomadores de seguro e beneficiarios. A principal novidade deste regime esta
relacionada com a apresentacao de uma visao contextualizada e integrada dos riscos a que a
empresa se encontra, ou encontrara, exposta e o consequente reporte periodico dos resultados
obtidos as autoridades de supervisao.
O Solvencia II procura tambem uniformizar os diferentes sistemas de solvencia em vi-
gor nos diferentes estados membros da Uniao Europeia (UE), de forma a que seja possıvel
maior cooperacao e uma comunicacao mais eficaz entre os diferentes estados soberanos da
(UE). O regime Solvencia II apresenta tres pilares estruturais que consideram normas para
o cumprimento de diferentes requisitos.
O primeiro pilar corresponde aos requisitos quantitativos exigidos, ou seja, diz respeito
a uma avaliacao economica dos ativos e passivos que descreva de forma fidedigna a posicao
financeira da empresa de seguros no momento da analise. Esta avaliacao inclui, por isso,
o calculo da estimativa das provisoes tecnicas e de uma margem de risco a elas associada.
Para o efeito sao estabelecidos dois requisitos de capital:
• Requisito de Capital de Solvencia (RCS) - este requisito de capital reflete o nıvel de
10
fundos proprios elegıveis que permite a absorcao de perdas significativas e inesperadas
garantido, assim, com alguma fiabilidade e confianca, que as obrigacoes do segurador
serao cumpridas conforme forem vencendo.
• Requisito de Capital Mınimo (RCM) - este valor corresponde ao nıvel mınimo de
fundos proprios para que se considere que o nıvel de protecao dos tomadores de seguro,
segurados e beneficiarios e suficiente. Corresponde a um valor entre 25% e 45% do
RCS. Caso o RCM seja inferior a este nıvel considera-se que nao existem garantias
suficientes de cumprimento das obrigacoes financeiras do segurador para com os seus
credores. Dado que o RCM pretende apenas estabelecer um mınimo, este calculo pode
ser efetuado de forma mais simples do que o RCS.
O segundo pilar considera os requisitos qualitativos e as normas relativas ao processo de
supervisao a ser efetuado por uma entidade exterior a seguradora. Para que os requisitos
quantitativos referidos no pilar I sejam devidamente cumpridos e necessario que sejam im-
plementados sistemas de gestao de risco e controlo interno robustos. Alem disso, e tambem
importante que a empresa de seguros tenha consciencia de que parte dos riscos a que se en-
contra ou pode encontrar exposta nao sao matematica ou economicamente quantificaveis e
por isso a implementacao de sistemas de governacao eficazes e importante para garantir que
estes riscos sao considerados na aplicacao dos metodos para o calculo das provisoes tecnicas.
O terceiro pilar diz respeito ao reporte e divulgacao de informacao as autoridades, mer-
cado e consumidores. Assim, este pilar garante a transparencia do mercado. A empresa de
seguros compromete-se a divulgar publicamente a informacao sobre o seu estado de solvencia
de forma a que o consumidor final possa fazer uma escolha consciente e informada. Para isso,
a empresa de seguros deve publicar um relatorio anual onde e apresentada a situacao finan-
ceira e de solvencia, incluindo os requisitos de capital RCS e RCM. Alem deste relatorio, a
seguradora devera apresentar um relatorio exaustivo a autoridade de supervisao onde consta
informacao confidencial nao revelada ao consumidor final.
11
2.4 Qualidade e Tratamento de Dados no Calculo de
Provisoes Tecnicas
Existem alguns fatores que poderao alterar a veracidade dos pressupostos considerados
na aplicacao dos metodos para o calculo das provisoes tecnicas. Sao exemplos desses fatores a
mudanca das condicoes e configuracao de um determinado produto de seguro, alteracoes nos
processos de reporte, tributacao e regularizacao de sinistros, alteracoes no enquadramento
legal da atividade seguradora e valores de indemnizacoes pagas anormalmente grandes ou
pequenos. Se se verificar que o historico de informacao da empresa de seguros em causa
contradiz os pressupostos do modelo entao deve-se procurar outro metodo para calculo das
provisoes tecnicas que se adapte de melhor forma a realidade em estudo. Outra opcao sera,
para alguns valores pontuais anormais, considerados como outliers, trata-los a parte e prever
uma reserva individual para regularizacao destes sinistros.
Dadas as consequencias catastroficas em caso de ma gestao, existem normas que guiam a
forma como devem ser considerados os dados para os calculos financeiros a efetuar. No que
diz respeito a qualidade e tratamento de dados a utilizar, a EIOPA (European Insurance
and Occupational Pensions Authority), deixa claras algumas recomendacoes.
Deve ser considerado um conjunto de dados suficientemente abrangente, com um perıodo
de observacao vasto, que garanta uma traducao adequada da realidade observada. Por outro
lado deve considerar-se uma quantidade suficiente de dados que permitam identificar padroes
relevantes na evolucao dos sinistros e com nıvel de heterogeneidade suficiente para permitir
a avaliacao dos padroes encontrados em diferentes grupos de risco.
Para garantir que os dados se encontram adequados para a estimativa das provisoes
tecnicas e necessario ter em atencao a utilizacao coerente de dados relativos a diferentes
perıodos de tempo. Isto passa, por exemplo, por garantir que durante o perıodo considerado
nao houve entrada em vigor de nenhuma lei ou norma que altere de forma significativa o
desenvolvimento do processo de sinistro. Para garantir uma maior similitude entre os dados
e as caracterısticas da carteira em avaliacao, pode-se considerar a possibilidade de modificar
os dados do historico. Reforca-se assim a sua credibilidade e aumenta a qualidade das
estimativas efetuadas.
12
Capıtulo 3
Fundamentos Teoricos
3.1 Processo de Sinistro
De acordo com a ASF, um sinistro e um evento ou serie de eventos que resultam de
uma mesma causa e que acionam a cobertura do risco prevista no contrato de seguro. No
contexto do trabalho desenvolvido, chamamos processo de sinistro a sequencia de acoes
e procedimentos financeiros efetuados quando acionada a cobertura de risco prevista no
contrato de seguro firmado entre o segurador e o tomador de seguro. Aos procedimentos
financeiros que dizem respeito ao pagamento de uma determinada quantia monetaria devida
a pessoa segura da-se o nome de indemnizacoes. A Figura 3.1 ilustra o desenvolvimento de
um processo de sinistro.
Figura 3.1: Ilustracao do processo de desenvolvimento de um sinistro.
O processo de sinistro inicia-se quando o sinistro ocorre, no momento t1. Segue-se o
momento t2 em que o sinistro e reportado a empresa de seguros. Ao intervalo de tempo que
13
decorre entre os momentos t1 e t2 da-se o nome de reporting delay. Este intervalo e geralmente
pequeno, sendo igual a zero em muitos casos. Os instantes t3 a tj correspondem a instantes
em que houve pagamento de indemnizacoes ao segurado. O processo de sinistro termina no
instante tf , momento em que a empresa de seguros, relativamente ao processo de sinistro em
curso, da por concluıdo o cumprimento das suas obrigacoes para com a pessoa segura. Por
vezes, devido a alguma irregularidade ou ao aparecimento de novos dados relevantes para
o processo, este tem de ser reaberto repetindo-se novamente todo o processo. No contexto
deste trabalho considera-se uma reabertura de processo, caso exista, como um novo sinistro
ocorrido. Ao intervalo de tempo que decorre entre os instantes t2 e tf da-se o nome de
settlement delay.
Assim, de acordo com o desenvolvimento do processo de sinistro consideram-se dois
tipos de sinistros. Os sinistros RBNS (reported but not settled) sao sinistros com processo
de sinistro aberto, ja reportados ao segurador mas cujo processo ainda nao foi encerrado,
podendo haver ainda indemnizacoes futuras a considerar. Os sinistros IBNR (incurred but
not reported) sao sinistros que ocorreram mas nao foram ate ao momento atual reportados
a empresa de seguros, pelo que esta nao tem conhecimento da sua ocorrencia e o processo
de sinistro nao foi ainda aberto.
3.2 Calculo de Provisoes Tecnicas
Os metodos para o calculo das provisoes tecnicas de sinistros nao vida dividem-se em
dois grandes grupos: metodos determinısticos e metodos estocasticos. Estes ultimos podem
dividir-se em metodos parametricos (em que se assume que o conjunto de dados segue uma
determinada distribuicao de probabilidade) e metodos nao parametricos (em que, a partida,
nao se assume nenhuma distribuicao de probabilidade para o conjunto de dados).
Ainda que as empresas de seguros usem maioritariamente metodos determinısticos, atu-
almente, os modelos estocasticos parecem ser mais vantajosos pois disponibilizam e preveem
maior quantidade de informacao, fornecendo uma analise do grau de confianca e da razoabi-
lidade dos pressupostos subjacentes ao modelo e permitindo a inclusao de novos e diferentes
fatores que se considerem relevantes. Possibilitam tambem diferentes modos de otimizacao
do modelo, de acordo com os fatores considerados relevantes.
14
3.3 Metodo de Chain-Ladder
O metodo de Chain-Ladder (MCL) e um dos principais metodos determinısticos utilizados
no calculo de reservas, pois e de facil aplicacao e, tanto os pressupostos assumidos, como os
resultados obtidos sao, geralmente, razoaveis. Tal como grande parte dos metodos para o
calculo de reservas, o MCL utiliza a informacao relativa aos pagamentos na forma de uma
matriz triangular superior a que usualmente se da o nome de matriz de triangulos run-off.
Na Tabela 3.1 apresenta-se um exemplo de uma matriz deste tipo utilizada como exemplo
por Bjorn Weindorfer [12].
A informacao contida em cada linha diz respeito a um determinado ano de ocorrencia do
sinistro e cada coluna corresponde a um dado ano de desenvolvimento. Entende-se por ano
de desenvolvimento o intervalo de tempo, em anos, entre a ocorrencia de um determinado
sinistro e o pagamento de uma determinada quantia relativa a esse sinistro ocorrido. Note-se
que, caso a reserva seja calculada para um determinado mes e nao para um ano completo,
os anos de desenvolvimento sao substituıdos por meses de desenvolvimento e a unidade de
tempo utilizada passa a ser o mes. As entradas da matriz abaixo da diagonal principal,
sombreadas na tabela a cor cinzenta, vao ser preenchidas com os valores estimados para as
provisoes tecnicas para perıodos de desenvolvimento futuros relativamente ao momento da
analise.
Ano de Desenvolvimento
0 1 2 3 4 5 6 7
2005 1232 946 520 722 316 165 48 14
2006 1469 1201 708 845 461 235 66
2007 1652 1416 959 954 605 287
2008 1831 1634 1124 1087 725
2009 2074 1919 1330 1240
2010 2434 2263 1661
2011 2810 2108An
od
eO
corr
enci
a
2012 3072
Tabela 3.1: Exemplo de uma matriz triangulo run-off.
Considere-se entao uma matriz em que y corresponde ao ano de ocorrencia do sinistro
e k corresponde a um determinado ano de desenvolvimento. Por definicao, k pode tomar
qualquer valor inteiro maior ou igual a zero. Suponha-se tambem que Y e o ano de ocorrencia
mais recente e n o ultimo ano de desenvolvimento considerado. Entao, define-se Z(y, k)
como o valor de indemnizacao pago num determinado ano de calendario y+ k relativamente
15
a sinistros ocorridos no ano y. Relativamente ao momento de observacao Y , a informacao
disponıvel pode ser representada numa tabela identica a Tabela 3.2.
Z(y; k) 0 1 ... i ... n− 1 n
Y − n Z(Y − n; 0) Z(Y − n; 1) ... Z(Y − n; i) ... Z(Y − n;n− 1) Z(Y − n;n)
Y − n+ 1 Z(Y − n+ 1; 0) Z(Y − n+ 1; 1) ... Z(Y − n+ 1; i) ... Z(Y − n+ 1;n− 1) Z(Y − n+ 1;n)
... ... ... ... ... ... ... ...
Y − i Z(Y − i; 0) Z(Y − i; 1) ... Z(Y − i; i) ... Z(Y − i;n− 1) Z(Y − i;n)
... ... ... ... ... ... ... ...
Y − 1 Z(Y − 1; 0) Z(Y − 1; 1) ... Z(Y − 1; i) ... Z(Y − 1;n− 1) Z(Y − 1;n)
Y Z(Y ; 0) Z(Y ; 1) ... Z(Y ; i) ... Z(Y ;n− 1) Z(Y ;n)
Tabela 3.2: Matriz triangulo run-off com valores nao acumulados.
Considera-se agoa que
S(y; k) =k∑i=0
Z(y; i), (3.1)
ou seja, S(y, k) diz respeito ao total de indemnizacoes pagas ate ao final do ano de
desenvolvimento k para sinistros ocorridos no ano y. Da igualdade (3.1) constata-se que
S(y; 0) = Z(y; 0), Z(y; k) = S(y; k)− S(y; k − 1) e que S(y;n) = ∑ni=0 Z(y; i) .
Deste modo, a matriz de triangulos run-off para o valor acumulado das indemnizacoes
pagas pode ser preenchida de forma identica a matriz da Tabela 3.3. Sera esta a matriz
considerada para posterior aplicacao do MCL.
S(y; k) 0 1 ... i ... n− 1 n
Y − n S(Y − n; 0) S(Y − n; 1) ... S(Y − n; i) ... S(Y − n;n− 1) S(Y − n;n)
Y − n+ 1 S(Y − n+ 1; 0) S(Y − n+ 1; 1) ... S(Y − n+ 1; i) ... S(Y − n+ 1;n− 1) S(Y − n+ 1;n)
... ... ... ... ... ... ... ...
Y − i S(Y − i; 0) S(Y − i; 1) ... S(Y − i; i) ... S(Y − i;n− 1) S(Y − i;n)
... ... ... ... ... ... ... ...
Y − 1 S(Y − 1; 0) S(Y − 1; 1) ... S(Y − 1; i) ... S(Y − 1;n− 1) S(Y − 1;n)
Y S(Y ; 0) S(Y ; 1) ... S(Y ; i) ... S(Y ;n− 1) S(Y ;n)
Tabela 3.3: Matriz triangulo run-off com valores acumulados.
16
O MCL assume como principal pressuposto que a regularizacao das indemnizacoes pagas
ao longo dos anos de desenvolvimento seguem um padrao identico para todos os anos de
ocorrencia de sinistros e que esses mesmos montantes sao independentes entre si. De acordo
com este pressuposto, a estimacao da reserva pelo MCL pode ser baseada na consideracao
de uma das seguintes razoes:
– a proporcao dos ultimos pagamentos acumulados que foram liquidados num deter-
minado ano de desenvolvimento (padrao de desenvolvimento para o incremento de
pagamentos liquidados);
– a proporcao dos ultimos pagamentos acumulados que foram liquidados ate um deter-
minado ano de desenvolvimento (padrao de desenvolvimento para as indemnizacoes
acumuladas liquidadas);
– o racio entre os pagamentos acumulados ate um determinado ano de desenvolvimento
e o ano de desenvolvimento anterior.
Assim, define-se fator de desenvolvimento (FD) para o ano de desenvolvimento k como
o quociente entre o valor esperado de todas as indemnizacoes pagas acumuladas ate ao
ano de desenvolvimento k (inclusive) e o valor esperado de todas as indemnizacoes pagas
acumuladas ate ao ano de desenvolvimento k−1 (inclusive). Note-se que a estimativa destes
fatores sera tanto mais proxima da realidade quanto maior for o numero de anos de ocorrencia
considerados no seu calculo.
Assim o fator de desenvolvimento para o ano de desenvolvimento k, denota-se por ϕ(k)
e e dado por
ϕ(k) = E [S(y; k)]E [S(y; k − 1)] , 1 ≤ k ≤ n. (3.2)
De acordo com o MCL, tendo em conta a proporcionalidade suposta, uma estimativa
natural para o fator de desenvolvimento ϕ(k) e dada por
ϕCL(k) =∑Y−ky=Y−n S(y; k)∑Y−k
y=Y−n S(y; k − 1), 1 ≤ k ≤ n. (3.3)
Calculados estes fatores e agora possıvel preencher as entradas vazias da matriz triangulo
run-off que correspondem as indemnizacoes pagas esperadas acumuladas para os anos seguin-
tes. Considerando os pressupostos iniciais e a relacao anterior (3.2), facilmente se percebe
que essas entradas da matriz sao obtidas multiplicando o valor das indemnizacoes pagas
17
acumuladas relativas ao ano de ocorrencia y para o ano de desenvolvimento k − 1 pelo fa-
tor de desenvolvimento ϕ(k). Assim, a previsao de SCL(y; k + 1) de acordo com o MCL e
determinada por
SCL(y; k + 1) = SCL(y; k)× ϕCL(k + 1)
com Y − n+ 1 ≤ y < Y, Y − y ≤ k ≤ n− 1
e SCL(y − k; k) = S(Y − k, k), k = 0, . . . , n− 1.
(3.4)
Fica, assim, completa a matriz triangulo run-off das indemnizacoes pagas acumuladas e
sao agora conhecidos os valores de indemnizacao pagos esperados para os anos de calendario
seguintes ao ultimo ano de ocorrencia considerado Y (inclusive).
A partir dos valores acumulados obtidos na matriz podemos agora determinar a estima-
tiva do valor incrementado para cada ano, ou seja, e possıvel calcular a estimativa do valor
correspondente ao valor das indemnizacoes pagas para um determinado ano de ocorrencia
num dado ano de desenvolvimento. Basta, para isso, calcular a diferenca entre os valores de
indemnizacao paga para dois anos de desenvolvimento consecutivos para um mesmo ano de
ocorrencia. Ou seja,
ZCL(y; k) = SCL(y; k)− SCL(y; k − 1). (3.5)
O expoente CL diz respeito aos estimadores obtidos pelo MCL.
Somando os valores das diferentes diagonais da matriz obtem-se o valor que a empresa de
seguros devera ter de pagar num determinado ano de calendario futuro relativamente a todos
os sinistros ocorridos ate ao momento da analise e cujo processo nao foi ainda encerrado. Os
valores obtidos podem ser apresentados numa tabela identica a Tabela 3.4.
Para uma melhor compreensao do metodo, segue-se um exemplo de aplicacao do MCL,
considerando a matriz dada como exemplo por Bjorn Weindorfer [12] e anteriormente apre-
sentada na Tabela 3.1. Para o exemplo dado, Y e igual a 2012, n e igual a 7 e k ∈
{1, 2, 3, 4, 5, 6, 7}.
Em primeiro lugar, constroi-se a matriz de triangulos run-off com os valores das indem-
nizacoes pagos acumulados considerando como modelo a Tabela 3.3. A nova matriz obtida
encontra-se representada na Tabela 3.5.
Considere-se agora o calculo do primeiro fator de desenvolvimento ϕCL(1):
18
Ano de calendario Valor das indemnizacoes a liquidar
Y + 1 SCL(Y ; 1) + SCL(Y − 1; 2) + ...+ SCL(Y − n+ 1;n)
... ...
Y − i+ n SCL(Y ;n− i) + SCL(Y − 1;n− i+ 1) + ...+ SCL(Y − i;n)
Y − i+ 1 + n SCL(Y ;n− i+ 1) + SCL(Y − 1;n− i+ 2) + ...+ SCL(Y − i+ 1;n)
... ...
Y − 1 + n SCL(Y ;n− 1) + SCL(Y − 1;n)
Y + n SCL(Y ;n)
Tabela 3.4: Tabela de resultados obtidos para o MCL.
Ano de Desenvolvimento
0 1 2 3 4 5 6 7
2005 1232 2178 2698 3420 3736 3901 3949 3963
2006 1469 2670 3378 4223 4684 4919 4975
2007 1652 3068 4027 4981 5586 5873
2008 1831 3465 4589 5676 6401
2009 2074 3993 5323 6563
2010 2434 4697 6358
2011 2810 4918Ano
deO
corr
enci
a
2012 3072
Tabela 3.5: Matriz triangulo run-off do valor das indemnizacoes pagas acumuladas ate ao
ano de observacao considerado.
ϕCL(1) =2012−1∑y=2012−7
S(y; 1)/2012−1∑y=2012−7
S(y; 0) =2011∑y=2005
S(y; 1)/2011∑y=2005
S(y; 0).
Ou seja,
ϕCL(1) = 2178 + 2670 + 3068 + 3465 + 3993 + 4697 + 49181232 + 1469 + 1652 + 1831 + 2074 + 2434 + 2810 = 1.8508.
De forma analoga obtem-se que ϕCL(2) = 1.3140, ϕCL(3) = 1.2422, ϕCL(4) = 1.1151,
ϕCL(5) = 1.0491, ϕCL(6) = 1.0118 e ϕCL(7) = 1.0035.
Calculados os fatores de desenvolvimento prossegue-se com o preenchimento da regiao
sombreada a cinzento da matriz de indemnizacoes acumulada. Consideremos, por exemplo,
19
a entrada da matriz dada por S(2009; 4). De acordo com a equacao (3.4),
S(2009; 4) = S(2009; 3)× ϕCL(4) = 6563× 1.1151 = 7319
(arredondado por excesso). Procedendo de forma identica para as restantes entradas da
matriz obtem-se a matriz representada na Tabela 3.6.
Ano de Desenvolvimento
0 1 2 3 4 5 6 7
2005 1232 2178 2698 3420 3736 3901 3949 3963
2006 1469 2670 3378 4223 4684 4919 4975 4993
2007 1652 3068 4027 4981 5586 5873 5942 5963
2008 1831 3465 4589 5676 6401 6715 6794 6818
2009 2074 3993 5323 6563 7319 7678 7768 7796
2010 2434 4697 6358 7898 8807 9239 9348 9381
2011 2810 4918 6462 8027 8952 9391 9502 9535Ano
deO
corr
enci
a
2012 3072 5686 7472 9281 10350 10858 10986 11025
Fator de Desenvolvimento . 1.8508 1.3140 1.2422 1.1151 1.0491 1.0118 1.0035
Tabela 3.6: Matriz triangulo run-off completa para os valores acumulados de indemnizacao
a liquidar nos anos de desenvolvimento seguintes.
A estimativa obtida pelo MCL para os montantes de indemnizacoes a liquidar nos anos
seguintes ao ano da analise encontra-se na Tabela 3.7 e segue o modelo da Tabela 3.4.
Ano de Acidente Indemnizacoes pagas ate ao ano 2012 (inclusive) Indemnizacoes Totais Pagas Previstas Reserva
2005 3963 3963 0
2006 4975 4993 18
2007 5873 5963 90
2008 6401 6818 417
2009 6563 7796 1233
2010 6358 9381 3023
2011 4918 9535 4617
2012 3072 11025 7953
Tabela 3.7: Resultados obtidos para o calculo da reserva pelo MCL.
Os resultados obtidos atraves deste metodo sugerem que se os dados disponıveis seguem
as condicoes anteriormente referidas, quanto maior o conjunto de dados utilizado no calculo
da reserva, mais precisos serao os resultados.
20
No desenvolvimento deste projeto, para aplicacao do MCL ao conjunto de dados em
estudo, utilizou-se o package ’ChainLadder’ do software R [10] que contem diversas funcoes
que permitem aplicar o metodo descrito e exemplificado.
3.4 Um Modelo Micro-level
Face ao controlo e normas cada vez mais exigentes na atividade seguradora, surge o
interesse e a necessidade de desenvolver metodos de calculo de reserva alternativos aqueles
que utilizam os dados agregados em triangulos run-off e que considerem mais informacoes
relativas ao desenvolvimento do sinistro e a complexidade de fatores que podem influenciar
as reservas a constituir pelo segurador, garantindo uma melhor aproximacao a realidade.
A data do sinistro, a data de comunicacao ao segurador, os montantes das diferentes
indemnizacoes pagas e respetivas datas de transacao, bem como a data de encerramento do
sinistro sao alguns dos fatores que sao ignorados pelo metodos que utilizam os triangulos
run-off e que podem ser considerados para obtencao de melhores resultados na estimativa da
reserva. Os modelos estudados que consideram uma analise destes parametros sao chamados
modelos micro-level porque partem de uma analise detalhada do desenvolvimento do processo
de sinistro recorrendo, para o efeito, a ferramentas de modelacao estatıstica.
Para abordagem destes modelos, neste capıtulo sera considerado, principalmente, o tra-
balho desenvolvido em [5].
O modelo descrito e baseado num modelo estocastico que considera que a ocorrencia de
sinistros e o respetivo processo de desenvolvimento pode ser descrito por um processo de
Poisson marcado. Atente-se no processo de sinistro anteriormente ilustrado na Figura 3.1.
Como ilustrado na Figura 3.2, para o sinistro i nota-se por Ti o momento em que ocorreu
o sinistro i, Ui o intervalo de tempo correspondente ao reporting delay e Xi o processo de
desenvolvimento correspondente.
Supoe-se que a ocorrencia de sinistros segue um processo de Poisson com intensidade
nao-homogenea igual a λ(t) e uma marca associada com distribuicao (PZ|t)t≥0 onde T = t
e o momento de ocorrencia do sinistro. A distribuicao da marca (PZ|t) e especificada pela
distribuicao PX|t,u do processo de desenvolvimento X (dado um momento de ocorrencia t
e um reporting delay u) e pela distribuicao PU |t do reporting delay (dado um momento de
ocorrencia t).
21
Figura 3.2: Desenvolvimento do processo de sinistro.
Considera-se que ao longo de um processo de sinistro podem ocorrer tres tipos de eventos
distintos:
• Tipo 1: evento em que ocorre encerramento do processo de sinistro sem pagamento de
indemnizacao;
• Tipo 2: evento em que ocorre encerramento do processo de sinistro com pagamento de
indemnizacao;
• Tipo 3: evento em que ocorre pagamento de uma indemnizacao sem encerramento do
processo de sinistro.
Assim, de acordo com o descrito acima, considera-se que para um sinistro i, o processo
de desenvolvimento Xi e dado por
{Ti, Ui, (Vij, Eij, Pij), com j = 1, 2, . . . , Ji}. (3.6)
Considera-se que E(Vij) := Eij e o tipo do j-esimo evento e P (Vij) := Pij e o valor da
indemnizacao paga Vij unidades de tempo depois da abertura do sinistro 1.
Seja τ o momento de observacao do processo de sinistro. De acordo com τ podem
distinguir-se tres tipos de sinistros e, consequentemente, tres tipos de reserva:
• se Ti + Ui > τ e Ti < τ , o sinistro ocorreu mas nao foi ainda reportado ao segurador,
pelo que este nao sabe da sua existencia e, por esse facto, o processo de desenvolvimento1Note-se que, para o caso em estudo, se considera que o momento de notificacao do sinistro a empresa de
seguros e a data de abertura do sinistro sao sempre coincidentes.
22
do sinistro e completamente desconhecido no momento de observacao τ . Trata-se de
um sinitro IBNR;
• se Ti + Ui ≤ τ e o sinistro e observado no momento (τ − Ti − Ui), ou seja, so a parte
do processo (Ei(ν), Pi(ν))ν∈[0,τ−Ti−Ui] foi observada, o que significa que o sinistro ja foi
reportado ao segurador e o seu desenvolvimento e conhecido parcialmente. Trata-se de
um sinistro RBNS;
• se Ti + Ui ≤ τ e e conhecido todo o desenvolvimento do processo de sinistro, ou seja,
foram observados os eventos (Ei(ν), Pi(ν))ν∈[0,Vi], trata-se de um sinistro fechado.
Para definir o processo de Poisson marcado associado a ocorrencia de sinistros, considere-
se λ como a intensidade do processo e (PZ|t)t≥0 a distribuicao da marca associada, onde t e
o momento de ocorrencia do sinistro.
Assim, o processo de desenvolvimento para sinistros encerrados e dado pelo processo de
Poisson no espaco de sinistros C = [0,∞[× [0,∞[× χ com intensidade
λ(dt)× PU |t︸︷︷︸(1)
(du)× PX|t,u︸ ︷︷ ︸(2)
(dx) com (t, u, x) ∈ C. (3.7)
O processo de sinistro para os sinistros RBNS e dado pelo processo de Poisson no espaco
de sinistros Cr = {(t, u, x)|t+ u ≤ τ} com intensidade
λ(dt)× PU |t(du)× PX|t,u(dx)× 1{(t,u,x)∈Cr} =
=λ(dt)PU |t(τ − t)1{t∈[0,τ ]}︸ ︷︷ ︸(a)
×PU |t(du)1{u≤τ−t}PU |t(τ − t)︸ ︷︷ ︸
(b)
×PX|t,u(dx)︸ ︷︷ ︸(c)
(3.8)
De forma analoga, o processo de sinistro para os sinistros IBNR e dado pelo processo de
Poisson no espaco de sinistros Ci = {(t, u, x)|t ≤ τ, t+ u > τ} com intensidade
λ(dt)(1− PU |t(τ − t)
)1{t∈[0,τ ]}︸ ︷︷ ︸
(a)
×PU |t(du)1{u>τ−t}1− PU |t(τ − t)︸ ︷︷ ︸
(b)
×PX|t,u(dx)︸ ︷︷ ︸(c)
(3.9)
Facilmente observamos que a intensidade dos dois processos e constituıda por tres blocos
distintos: intensidade do processo relativo ao numero de sinistros ocorridos (a), numero de
sinistros reportados (b) e distribuicao da marca associada ao processo de desenvolvimento
do sinistro (c).
23
Para posterior simulacao do processo deve considerar-se um estimador para a verosimi-
lhanca do processo.
A parte ja observada do processo consiste no desenvolvimento ate ao momento τ de
sinistros reportados antes de τ e pode escrever-se como:
(T 0i , U
0i , X
0i )i≥1
O processo de sinistro e observado τ − T 0i − U0
i unidades de tempo apos a sua abertura.
Assim, de acordo com as funcoes distribuicao de probabilidade definidas para o processo
de sinistro, a verosimilhanca do processo de Poisson marcado e dada por:
Λ(obs) ∝{∏i≥1
λ(T 0i )PU |t(τ − T 0
i )}
exp(−∫ τ
0w(t)λ(t)PU |t(τ − t)dt
)
×{∏i≥1
PU |t(dU0i )
PU |t(τ − T 0i )
}×∏i≥1
Pτ−T 0
i −U0i
X|t,u (dX0i )
(3.10)
O ultimo termo desta expressao corresponde ao momento de observacao do desenvolvi-
mento do processo de sinistro τ−T 0i −U0
i unidades de tempo depois da sua notificacao. w(t)
corresponde a distribuicao do valor da medida exposure no momento t. A medida exposure
diz respeito a uma unidade de medida do valor do risco segurado pela companhia sobre um
dado perıodo de tempo. Ou seja, diz respeito a quantificacao do risco de um determinado
sujeito estar exposto a possibilidade de uma determinada perda devido a algum risco ou con-
tingencia. Esta medida pode ser tratada como uma taxa de risco que expressa o potencial
de acidente para um determinado indivıduo (exposicao ao risco). O valor desta medida e
definido pela empresa de seguros em causa.
Para cada tipo de evento que pode ocorrer no desenvolvimento de um sinistro, e possıvel
estimar uma (hazard rate):
• hse e a hazard rate relativa ao encerramento de sinistro sem pagamento de indem-
nizacao;
• hsep e a hazard rate relativa ao encerramento de sinistro com pagamento de indem-
nizacao;
• hp e a hazard rate relativa ao pagamento de uma determinada indemnizacao.
24
Deste modo, a verosimilhanca pode ser reescrita como:
Λ(obs) ∝{∏i≥1
λ(T 0i )PU |t(τ − T 0
i )}
exp(−∫ τ
0w(t)λ(t)PU |t(τ − t)dt
)
×{∏i≥1
PU |t(dU0i )
PU |t(τ − T 0i )
}×∏i≥1
∏j
(hδij1se (Vij)× hδij2
sep (Vij)× hδij3p (Vij)
)
× exp(−∫ τi
0(hse(u) + hsep(u) + hp(u))du
)×∏i≥1
∏j′Pp(dPij′).
(3.11)
Para otimizacao da funcao verosimilhanca do processo de ocorrencia de sinistros, utiliza-
se funcao verosimilhanca para a distribuicao apresentada de seguida na equacao(3.12):
{∏i≥1
λ(T 0i )PU |t(τ − T 0
i )}
exp(−∫ τ
0w(t)λ(t)PU |t(τ − t)dt
)(3.12)
Para obter a melhor aproximacao e necessario otimizar a expressao (3.12) sobre λ(t).
Para isso, considera-se λ(t) = λl constante por partes, para dl−1 ≤ t < dl, com l = 1, . . . ,m
e d0 = 0. Considera-se tambem que τ ∈ [dm−1, dm[ e w(t) = wl para dl−1 ≤ t < dl. Seja a
variavel δ1(l, ti) e igual a 1 se dl−1 ≤ ti < dl, sendo ti o momento de ocorrencia do sinistro i.
O numero de sinistro que ocorreram no intervalo [dl−1, dl[ e dado por:
NOC =∑i
δ1(l, ti) (3.13)
Considerando os diferentes momentos de ocorrencia, a funcao verosimilhanca (3.12) pode
ser reescrita como
λNOC(1)1 λ
NOC(2)2 . . . λNOC(m)
m
{∏i≥1
PU |t(τ − ti)}
× exp(− λ1w1
∫ d1
0PU |t(τ − t)dt
)exp
(− λ2w2
∫ d2
d1PU |t(τ − t)dt
)
× . . . exp(− λmwm
∫ dm
dm−1PU |t(τ − t)dt
) (3.14)
Optimizando a expressao sobre λ(l), com l = 1, . . . ,m, obtem-se o estimador:
λl = NOC(l)wl∫ dldl−1
PU |t(τ − t)dt. (3.15)
Recorde-se que NOC(l) diz respeito ao numero de sinistros ocorridos para o intervalo de
tempo [dl−1, dl[, e wl diz respeito a medida exposure para o intervalo de tempo considerado.
25
Previsao de sinistros e cash-flows futuros
Para previsao do cash-flow futuro relativamente aos sinistros ocorridos e necessario dis-
tinguir aqueles que ja foram reportados ao segurador (RBNS) daqueles que nao foram ainda
reportados (IBNR), procedendo-se, para isso, do seguinte modo: numa primeira fase, calcula-
se o numero de sinistros IBNR ocorridos ate ao momento presente e simula-se o reporting
delay respetivo. Numa segunda fase, simula-se o desenvolvimento do processo de sinistro
(que corresponde aos pagamentos efetuados e seus montantes) considerando todos os sinis-
tros de forma agregada (IBNR e RBNS). O algoritmo e aplicado por passos de acordo com
o descrito abaixo.
Previsao de sinistros IBNR
- Passo 1: Simula-se o numero de sinistros IBNR no intervalo de tempo [0, τ ] e os
respetivos momentos de ocorrencia. Os sinistros IBNR seguem um processo de Poisson
com intensidade
w(t)λ(t)(1− PU |t(τ − t)
),
onde λ(t), e constante por partes. Assim, se se considerar NIBNR(l) o numero de
sinistros que ocorrem no intervalo de tempo [dl−1, dl[, tem-se que:
NIBNR(l) ∼ Poisson(λlwl
∫ dl
dl−1
(1− PU |t(τ − t)
)dt
)
- Passo 2: Simula-se o reporting delay para cada sinistro IBNR. Dado o momento
de ocorrencia t de um sinistro IBNR, o seu reporting delay obtem-se invertendo a
distribuicao:
P (U ≤ u|U > τ − t) = P (τ − t < U ≥ u)1− P (U ≤ τ − t)
Previsao do desenvolvimento dos processos de sinistro IBNR e RBNS
Tal como afirmado anteriormente, conhecido o numero de sinistros e o respetivo reporting
delay para os sinistros IBNR, considera-se uma simulacao unica para os dois tipos de sinistros
(IBNR e RBNS).
- Passo 3: Simula-se o momento exato do evento seguinte. No caso dos sinistros RBNS,
o momento de observacao c do sinistro e conhecido. Para os sinistros IBNR considera-
se que o momento de observacao e dado por c = 0. O evento seguinte vnext pode ocorrer
26
em qualquer momento vnext > c. Para simular vnext inverte-se a distribuicao
P (V < vnext|V > c) = p.
Da relacao entre a hazard rate he e a funcao de distribuicao acumulada sabe-se que:
P (V ≤ vnext) = 1− exp(−∫ vnext
0
∑e
he(t)dt), com e ∈ {se, sep, p}.
- Passo 4: Simula-se o tipo de evento cujo momento de ocorrencia foi simulado no
Passo 3. Simulado um tempo exato v para o evento seguinte, ele pode ser do tipo
e ∈ {se, sep, p} com probabilidade:
he(v)∑e he(v)
- Passo 5: Simula-se o valor do pagamento correspondente ao tipo de evento simulado
no Passo 4. Os pagamentos sao obtidos a partir da distribuicao que mais se adaptar
aos dados do historico disponıvel.
- Passo 6: Parar ou voltar ao Passo 3. Dependendo do tipo de evento simulado no
Passo 4, a simulacao continua ou para caso o evento simulado seja o encerramento do
processo.
27
28
Capıtulo 4
Caso de Estudo
Este capıtulo encontra-se dividido em duas partes. Numa primeira parte aplica-se o
metodo de Chain-Ladder, metodo mais utilizado para calculo das provisoes tecnicas, consi-
derando o conjunto de dados disponibilizado pela Ageas. Numa segunda fase, para o mesmo
conjunto de dados e feita uma analise micro-level do processo de desenvolvimento dos sinis-
tros para uma posterior aplicacao do modelo micro-level estudado.
O conjunto de dados diz respeito ao registo dos sinistros ocorridos no perıodo de 1 de
Janeiro de 2012 a 31 de Dezembro de 2016 para uma carteira de apolices de seguros nao
vida do ramo multi-risco habitacao (MRH). Para cada sinistro e conhecida a sua data de
ocorrencia, a data de abertura do processo, o numero de indemnizacoes pagas ao segurado, as
respetivas datas de transacao e respetivos valores, bem como o estado (aberto ou encerrado)
em que se encontra o processo de sinistro e a data da ultima transacao efetuada. Note-se
que, para o caso em que os sinistros se encontram encerrados, esta data corresponde tambem
a data de encerramento do processo de sinistro. O conjunto de dados e composto por 98
138 transacoes (a cada uma corresponde o pagamento de uma prestacao de indemnizacao ao
segurado) relativas a 55 606 sinistros diferentes ocorridos durante o perıodo acima indicado.
Destes 55 606 sinistros, 54 178 encontram-se encerrados e 1 428 encontram-se abertos no
fim do perıodo considerado, dia 31 de dezembro de 2016. Na Tabela 4.1 observa-se parte do
conjunto de dados descrito.
Por exemplo, para o sinistro com codigo de identificacao (campo da tabela ”ID Sinistro”)
terminado em ”46” foram pagas, em tres momentos distintos, prestacoes de indemnizacao
iguais a 725.00 €, 495.00€, 153.75€, totalizando assim um valor igual a 1373.75 €. Sabe-se
tambem que o sinistro ocorreu no dia 5 de janeiro de 2012, foi reportado e aberto o seu
29
ID Sinistro Montante Pago Data de Pagamento Estado do Sinistro Data de Ocorrencia Data de Abertura Data da Ultima Transacao
xxxxxxxxxxx46 153.75 2012-01-30 encerrado 2012-01-05 2012-01-06 2012-04-26
xxxxxxxxxxx46 725.00 2012-02-28 encerrado 2012-01-05 2012-01-06 2012-04-26
xxxxxxxxxxx46 495.00 2012-04-12 encerrado 2012-01-05 2012-01-06 2012-04-26
Tabela 4.1: Exemplo de algumas observacoes do conjunto de dados considerado para o estudo
relativas a um determinado sinistro ocorrido. Os montantes pagos encontram-se expressos
em euros.
processo no dia 6 de janeiro de 2012 e foi encerrado no dia 12 de abril de 2012 com o
pagamento da ultima prestacao.
4.1 Aplicacao do Metodo de Chain-Ladder
Para aplicacao do metodo de Chain-Ladder, como ja referido anteriormente, e necessario,
numa primeira fase, colocar os valores das indemnizacoes pagas numa matriz de triangulos
run-off, com valores acumulados. Para elaboracao das tabelas e aplicacao do metodo MCL
foi utilizado o pacote ’ChainLadder’ para o software de estatıstica ’R’.
Para o conjunto de dados considerado obtem-se a matriz de valores acumulados observada
na Tabela 4.2:
AO / AD 1 2 3 4 5
2012 9 349 098 12 754 869 12 891 027 12 965 820 12 996 790
2013 13 003 242 16 787 363 17 099 858 17 492 807
2014 10 231 752 13 992 338 14 132 088
2015 6 487 236 9 233 868
2016 6 948 211
Tabela 4.2: Triangulo run-off constituıdo pelos valores acumulados das indemnizacoes pagas,
em euros, para o conjunto de dados considerado.
A partir dos valores apresentados na matriz da Tabela 4.2 podemos constatar que, ate
ao final do ano de 2016, foram pagos 60 803 764 euros por sinistros ocorridos entre 2012 e
2016.
12 996 790 + 17 492 807 + 14 132 088 + 9 233 868 + 6 948 211 = 60 803 764
30
Ainda que o perıodo de observacao nao seja muito alargado, observando a Figura 4.1 e
possıvel constatar que o comportamento ao longo dos anos de desenvolvimento e identico
para os diferentes anos de ocorrencia.
Figura 4.1: Representacao grafica dos montantes de indemnizacoes pagos acumulados, em
euros, para cada ano de ocorrencia do sinistro em funcao do ano de desenvolvimento.
Armazenados os dados no triangulo run-off, calculam-se os fatores de desenvolvimento
e, de acordo com esses fatores, preenche-se a parte triangular inferior do triangulo run-off
representado na Tabela 4.2. Na Tabela 4.3 observam-se os resultados obtidos. Note-se que
os valores representados a cor cinzenta correspondem aos pagamentos, em valor acumulado,
efetuados no perıodo de desenvolvimento que se segue. A cada diagonal preenchida corres-
pondem os pagamentos acumulados para um determinado ano de calendario por sinistros
ocorridos entre o perıodo de 2012 e 2016.
Na Tabela 4.4 e possıvel observar os pagamentos finais previstos, os pagamentos efetuados
ate ao final do exercıcio (dia 31 de dezembro de 2016) e o valor das provisoes tecnicas a
constituir para fazer face as obrigacoes com os segurados.
Para sinistros que ocorreram no perıodo de Janeiro de 2012 a Dezembro de 2016, o valor
31
AO/AD 1 2 3 4 5
2012 9 349 098 12 754 869 12 891 027 12 965 820 12 996 790
2013 13 003 242 16 787 363 17 099 858 17 492 807 17 534 589
2014 10 231 752 13 992 338 14 132 088 14 352 494 14 386 776
2015 6 487 236 9 233 868 9 358 671 9 504 630 9 527 332
2016 6 948 211 9 384 024 9 510 856 9 659 188 9 682 260
fator 1 1.350567 1.013516 1.015596 1.002389
Tabela 4.3: Triangulo run-off das indemnizacoes pagas para o conjunto de dados em estudo
Ano de
Ocorrencia
Indemnizacoes
Pagas ate ao
Fim de 2016
Pagamentos
Finais PrevistosReserva
2012 12 996 790 12 996 790 0
2013 17 492 807 17 534 589 41 782
2014 14 132 088 14 386 776 254 688
2015 9 233 868 9 527 332 293 464
2016 6 948 211 9 682 260 2 734 049
Tabela 4.4: Calculo da reserva, por ano de ocorrencia do sinistro, a data de 1 de janeiro de
2017.
total da reserva a constituir para a empresa de seguros fazer face as suas obrigacoes futuras
para com os segurados e igual a 3 323 983 euros. Este valor corresponde a soma dos valores
da ultima coluna da Tabela 4.4.
32
4.2 Analise Micro-level do Processo de Sinistro
Como ja referido anteriormente, a analise micro-level do processo de desenvolvimento
dos sinistros tem em vista a simulacao de um processo de Poisson marcado e o calculo de
uma estimativa para o valor da reserva. E por isso, muito importante, a analise e modelacao
considerada para cada um dos momentos do processo de sinistro. A funcao verosimilhanca e
composta por cinco blocos diferentes que dizem respeito a um atributo particular do processo.
Assim, para aplicacao do modelo micro-level e necessario, em primeiro lugar, estudar o
comportamento das variaveis do processo para cada um destes blocos.
Numero de Sinistros Ocorridos
Na Figura 4.2 observa-se o histograma relativo ao numero de sinistros ocorridos, por mes,
no perıodo em estudo. O mes de ocorrencia 1 corresponde ao mes de Janeiro de 2012, o mes
de ocorrencia 2 corresponde ao mes de Fevereiro de 2012 e assim sucessivamente ate ao mes
60 que corresponde ao mes de ocorrencia de Dezembro de 2016.
Como se pode observar, o numero de sinistros ocorridos nao varia de forma muito abrupta
ao longo do tempo. Excecao a esta afirmacao e o mes de desenvolvimento 13 (Janeiro de
2013), no qual se verifica uma ocorrencia de mais de 4000 sinistros que se deve a ocorrencia
da Tempestade Gong nos dias 18 e 19 de janeiro de 2013. Por observacao da Tabela 4.5 e
da Figura 4.3 supoe-se que no futuro o numero de sinistros, em media, se mantera aproxi-
madamente constante. E possıvel constatar que ocorrem mais sinistros nos primeiros meses
do ano.
Figura 4.2: Numero de sinistros ocorridos observados no perıodo de 1 de Janeiro de 2012 a
31 de Dezembro de 2016.
33
Ano de Ocorrencia Numero de Sinistros
2012 9637
2013 15307
2014 13171
2015 17264
2016 9179
Total 55606
Tabela 4.5: Numero de sinistros ocorridos no
perıodo de observacao, 2012 a 2016, por ano
de ocorrencia.
Figura 4.3: Numero de sinistros ocorridos por
ano considerado.
Mes de Ocorrencia Numero de Sinistros
Janeiro 1890
Fevereiro 1138
Marco 923
Abril 884
Maio 833
Junho 694
Julho 747
Agosto 670
Setembro 930
Outubro 900
Novembro 737
Dezembro 773
Tabela 4.6: Numero de sinistros ocorridos,
em media, por mes do ano, no perıodo con-
siderado.
Figura 4.4: Numero de sinistros ocorridos, em
media, por mes do ano, no perıodo conside-
rado.
Para simulacao da reserva optou-se por considerar uma taxa de ocorrencia constante
para cada mes do ano. Para calculo dessa mesma taxa considera-se o numero de sinistros
ocorridos, em media, por mes do ano, no perıodo observado. Os valores obtidos encontram-se
34
na Tabela 4.6 e Figura 4.4. Assim, a ocorrencia de sinistros no mes de Janeiro e dada por
λ1 = 1890, independentemente do ano de ocorrencia. Para o mes de Fevereiro λ2 = 1138,
para o λ3 = 923, e assim sucessivamente ate ao mes de Dezembro para o qual λ12 = 773.
35
Reporting Delay
O reporting delay e calculado como o numero de dias, meses ou anos (de acordo com a
analise a efetuar) entre a data de ocorrencia e data de reporte do sinistro ao segurador. Nas
figuras 4.5a e 4.5b e possıvel observar a distribuicao do reporting delay em dias e em meses
para o historico disponıvel.
(a) Distribuicao do reporting delay em dias. (b) Distribuicao do reporting delay em meses.
Figura 4.5: Histograma do reporting delay em dias (a esquerda) e em meses (a direita) para
o historico considerado.
Constata-se que a maioria dos sinistros sao reportados nos dias imediatamente apos
a sua ocorrencia. Este e um dado importante, pois permite perceber que o calculo da
reserva IBNR nao sera tao preponderante relativamente ao calculo da reserva RBNS. Estas
afirmacoes sao reiteradas pela observacao da Tabela 4.7 e Tabela 4.8 com os valores dos
percentis observados para o reporting delay do historico disponıvel. Verifica-se que 99, 5%
dos sinistros sao reportados a seguradora ate um ano apos a sua ocorrencia, sendo que 75%
sao reportados ate um mes apos a sua ocorrencia.
Percentil Min. 25% 50% 75% 95% 99% 99.5% Max.
Reporting delay (em dias) 0 5 12 31 115 251 336 1488
Tabela 4.7: Valor dos percentis, em dias, para o reporting delay do historico disponıvel,
arredondado as unidades.
36
Percentil Min. 25% 50% 75% 95% 99% 99.5% Max.
Reporting delay (em meses) 0 0 0 1 4 8 11 49
Tabela 4.8: Valor dos percentis, em meses, para o reporting delay do historico disponıvel,
arredondado as unidades.
De forma a compreender o comportamento da variavel reporting delay para os valores,
em dias, iguais ou inferiores a 7, apresenta-se na Tabela 4.9 o numero de sinistros reportados
por dia, ate uma semana apos a sua ocorrencia. Como podemos observar pela tabela o
numero de sinistros reportados diminui sempre com o aumento do reporting delay, a excecao
dos sinistros reportados no proprio dia da sua ocorrencia, o que sugere que deve que na
modelacao desta variavel deve ser utilizada uma distribuicao de probabilidade mista, por
forma a distinguir os sinistros com reporting delay igual a zero.
Reporting Delay (em dias) Numero de sinistros
0 2175
1 3270
2 3003
3 2823
4 2584
5 2326
6 2151
7 2058
Total 20390
Tabela 4.9: Numero de sinistros reportados ate sete dias apos a sua ocorrencia.
37
Assim, para o reporting delay em dias considera-se uma probabilidade constante igual a
0.04 para a ocorrencia de sinistros com reporting delay igual a 0 e considera-se que, a partir do
valor do reporting delay igual a 1 esta variavel segue uma distribuicao Weibull de parametros
escala igual a 25.08 e forma igual a 0.77. Para o reporting delay em meses considera-se uma
probabilidade constante igual a 0.52 para sinistros ocorridos com reporting delay igual a zero
e uma distribuicao log-normal para sinistros ocorridos com reporting delay superior a 1 com
media igual a 0.39 e desvio-padrao igual a 0.62. As distribuicoes consideradas podem ser
observadas nas figuras 4.6a e 4.6b e foram obtidas com o auxılio do software R, utilizando
metodos de ajustamento aos dados. A escolha da distribuicao final foi feita com o auxılio de
testes de hipoteses.
(a) Distribuicao para o reporting delay,
em dias, e curva da distribuicao Weibull
ajustada aos dados.
(b) Distribuicao para o reporting delay,
em meses, e curva da distribuicao Log-
Normal ajustada aos dados.
Figura 4.6: Reporting delay considerado e respetiva distribuicao ajustada.
Tipo de Sinistros Ocorridos
Considera-se que ao longo do processo de sinistro podem ocorrer dois tipos de eventos
diferentes. O evento do tipo 1 que corresponde ao pagamento de uma indemnizacao e
encerramento do processo de sinistro (ou seja, para o caso em estudo, so pode existir um
unico evento deste tipo por sinistro ocorrido). O evento do tipo 2 diz respeito ao pagamento
de uma indemnizacao sem encerramento do sinistro. Na Figura 4.7 e possıvel observar o
grafico de barras relativo a ocorrencia destes eventos. Foram registados 55068 eventos do
tipo 1 e 43070 do tipo 2. Na Figura 4.8 e possıvel observar o numero de eventos dos dois
tipos que ocorreram ao longo dos meses de desenvolvimento. O facto de haver mais eventos
38
do tipo 1 leva a crer que os processos de sinistro em causa tem poucos eventos, havendo
mesmo uma grande parte em que apenas ocorre pagamento de uma unica indemnizacao.
Figura 4.7: Frequencia dos eventos observados segundo os tipos 1 e 2.
Figura 4.8: Frequencia acumulada dos eventos observados segundo os tipos 1 e 2.
Processo de desenvolvimento do sinistro
Como referido anteriormente, o processo de desenvolvimento do sinistro pode ser repre-
sentado por um processo de Poisson marcado onde o primeiro ponto corresponde a data de
ocorrencia do sinistro e o eixo das abcissas corresponde ao momento de ocorrencia de cada
um dos eventos registados ao longo do desenvolvimento do processo de sinistros.
39
Na Figura 4.9 e possıvel observar o processo de desenvolvimento para tres sinistros ex-
traıdos, como exemplo, do historico de dados disponıvel.
Atente-se, por exemplo, no primeiro sinistro considerado (a esquerda) na Figura 4.9. Os
dois primeiros pontos assinalados correspondem a data de ocorrencia e data de comunicacao
do sinistro ao segurador. De seguida, verifica-se que ocorreram tres ”saltos” consecutivos,
sendo que a amplitude do primeiro e cerca de metade da amplitude dos outros dois. Ou
seja, houve o pagamento de tres indemnizacoes ao segurado em tres momentos distintos. O
ultimo ponto, cujo ”salto” tem amplitude nula corresponde ao encerramento contabilıstico
do sinistro (nao considerado para efeitos de previsao no desenvolvimento deste projeto).
Figura 4.9: Processo de desenvolvimento de tres sinistros distintos. O tempo encontra-se
expresso em meses.
Indemnizacoes Pagas
Numa primeira fase, de forma a conhecer o volume total de indemnizacoes pagas para
os sinistros do ramo considerado, consideram-se os valores de montantes pagos agregados,
por sinistro. Para o efeito, utiliza-se parte do conjunto de dados disponıvel cujos processos
de sinistros se encontram encerrados. Na Figura 4.10 e possıvel observar a distribuicao dos
dados para esta variavel. Na Tabela 4.10 observam-se algumas medidas de localizacao da
amostra. A media para os montantes pagos agregados por sinistro e igual a 1 093.48 euros. A
partir da observacao da tabela e grafico referidos, consta-se que a distribuicao dos montantes
pagos agregados e muito enviesada a direita.
Observado o comportamento dos montantes pagos agregados para o historico disponibili-
zado, procura-se agora estudar o comportamento da variavel que diz respeito ao pagamento
de uma prestacao do montante total agregado.
40
Figura 4.10: Histograma do valor total da indemnizacao paga por cada sinistro observado.
Quantil Min. 25% 50% 75% 95% 99% 99.5% Max.
Valor (em €) 1.86 153.75 426.08 978.66 3 584.15 11 273.13 17 157.02 347 634.48
Tabela 4.10: Valor dos percentis, em euros, para os montantes pagos, agregados por sinistro.
Assim sendo apresentam-se em baixo algumas medidas estatısticas que ajudam ao co-
nhecimento desta variavel.
Percentil Min. 25% 50% 75% 95% 99% 99.5% Max.
Valor (em euros) 0.40 105.78 153.75 479.70 2 150 7 090.51 11 361.06 342 485.61
Tabela 4.11: Valor dos percentis, em euros, para as indemnizacoes pagas, nao agregadas.
Dado que grande parte das indemnizacoes sao de valores muito baixos relativamente ao
maximo encontrado e os dados sao muito assimetricos a direita, recorremos a transformacoes
das variaveis para uma melhor aproximacao e visualizacao.
Utilizando metodos graficos, os melhores resultados foram obtidos para a transformacao
da raiz quadrada dos dados e podemos visualizar o seu histograma na Figura 4.11.
Por forma a compreender se os valores das prestacoes por indemnizacao pagas aos sinis-
trados estao relacionadas com as outras variaveis consideradas, como o reporting delay ou
o ano de ocorrencia ou o tipo de evento, observou-se de forma individual o comportamento
desta variavel para cada um desses acontecimentos. Os resultados obtidos podem ser obser-
vados nas figuras 4.12, 4.13 e 4.14. Podemos constatar que, a um reporting delay elevado
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Figura 4.11: Histograma da transformacao da raiz quadratica dos dados e, a verde, o grafico
da funcao distribuicao de probabilidade de uma distribuicao Weibull de parametros escala
= 20.259 e forma = 1.357.
estao associados sinistros com indemnizacoes de valores mais elevados. Podemos tambem
constatar que nao parece existir uma relacao importante entre os anos de ocorrencia e os
respetivos montantes pagos. O mesmo se verifica para o valor da indemnizacao e o tipo de
evento a ela associado.
Figura 4.12: Distribuicao da transformacao da raiz quadratica dos dados por tipo de evento
ocorrido.
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Figura 4.13: Distribuicao da transformacao da raiz quadratica dos dados por ano de ca-
lendario.
Figura 4.14: Distribuicao da transformacao da raiz quadratica dos dados por ano de desen-
volvimento.
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Capıtulo 5
Consideracoes Finais
A analise micro-level do sinistro parece revelar-se vantajosa relativamente aos metodos
que utilizam apenas a informacao relativa ao montante de indemnizacao total pago, uma vez
que permite compreender melhor o desenvolvimento dos processos de sinistro em causa e,
consequentemente, estimar com maior rigor (e maior aproximacao a realidade) as provisoes
tecnicas que a empresa de seguros deve ter disponıvel em cada momento. Em tempos em
que as normas que vigoram sao cada vez mais exigentes parece pertinente e do interesse do
ramo da atividade seguradora explorar este tipo de modelos.
No entanto, a aplicacao destes modelos revela-se de grande complexidade devido ao
processo de simulacao do modelo em causa. Alem disso, a parte do trabalho relativa a
modelacao e categorizacao dos dados implica um conhecimento abrangente da realidade e do
comportamento do historico disponıvel de forma a poder tomar decisoes acertadas no que
toca a escolha de variaveis e pressupostos considerados para modelacao das mesmas.
Como trabalho futuro seria interessante passar da analise exploratoria do conjunto de
dados disponıvel para a simulacao de reserva considerando os metodos que foram expostos
e outros, podendo eventualmente considerar-se diferentes pressupostos e outras variaveis
descritivas como, por exemplo, as coberturas da apolice acionadas para cada sinistro. Desta
forma, poder-se-ia fazer uma comparacao entre metodos e tirar conclusoes relativamente a
pertinencia ou nao do modelo micro-level.
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