Historia Da Musica II - Do Classicismo Aos Dias de Hoje - Fernanda Bertinato

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História da música II Do Classicismo aos dias de hoje 18 ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE CULTURA Fernanda Bertinato SUPLEMENTO MUSICAL SEÇÃO LITERATURA, TÉCNICA E APRECIAÇÃO fernanda 2.indd 1 20/07/2011 12:44:27

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Atividades Infanto Juvenil.Fernanda Bertinato.

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História da música II Do Classicismo aos dias de hoje18

ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO

ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE CULTURA

Fernanda Bertinato

SUPLEMENTO MUSICAL SEçãO LITERATURA, TÉCNICA E APRECIAçãO

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História da música II - do Classicismo aos dias de hoje 0 Fernanda Bertinato

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SUPLEMENTO 1

1.1 Introdução/Justificativa 1

2 APLICAÇÕES EM ATIVIDADES MUSICAIS 1

2.1 Classicismo 1

2.1.1 Atividade

2.2 Beethoven 4

2.2.1 Atividades 5

2.3 Romantismo 8

2.3.1 Atividades 10

2.4 Século XX 13

2.4.1 Atividades 15

3 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES 16

São Paulo I FEVEREIRO I 2011

Fernanda BertinatoNascida em Pouso Alegre (MG), a violonista e alaudista Fernanda Bertinato concluiu em 1998 o curso de Bacharelado em Música (habilitação em violão erudito) na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Aperfeiçoou-se com o violonista escocês Paul Galbraith, um dos intérpretes mais prestigiados do cenário musical internacional, e em vários cursos de extensão na Europa e nos Estados Unidos, também com renomados instrumentistas e musicólogos. Estudou também alaúde com a brasileira Carin Zwiling e o canadense Sylvain Bergeron. Atualmente, Fernanda Bertinato leciona Violão e Teoria Musical em seu estúdio em São Paulo, História da Música na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e História da Música e Música de Cãmara na Faculdade Paulista de Artes (FPA). É mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP. Também desenvolve intensa atividade como solista e participa de outros conjuntos de câmara (com violões, flauta, canto e violino). Apresentou-se em várias salas de São Paulo (Memorial da América Latina, MAC USP, Teatro Arthur Azevedo, Teatro Paulo Eiró, Centro Cultural Vergueiro, Unesp, Faculdade São Marcos) e Minas Gerais (Conservatório Estadual de Pouso Alegre, Teatro do Sesi de Belo Horizonte), entre outras. E-mail: [email protected]

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SUPLEMENTO

História da música II - do Classicismo aos dias de hoje 0 Fernanda Bertinato 1São Paulo I FEVEREIRO I 2011

1.1 Introdução/Justificativa

Este suplemento oferece aos educadores e alunos do Projeto Guri uma introdução à história da música, abordando o período do Classicismo aos dias de hoje e fornecendo elementos teóricos e propostas práticas para a vivência de cada uma das estéticas que compõem a história da música ocidental.Quando um compositor escreve uma peça musical, tem em mente o público que pretende atingir: em um momento, precisa agradar ao rei, que é seu patrão; outras vezes, a burguesia, que comprará um ingresso para assistir a um concerto; ou ainda, a música tem o objetivo religioso dentro da liturgia. Por isso a importância de contextualizar grandes compositores, como Bach, Beethoven e Mozart, para entender melhor a música que eles fizeram e o contexto em que viveram. O estudo da história da música propicia uma visão geral das características de cada uma das grandes épocas, sem perder de vista a contínua evolução da intelectualidade e da prática musical através dos tempos. Essa percepção ficará mais fácil com a indicação para apreciação dos CDs do acervo que será proposta em cada uma das atividades. A experiência auditiva é de fundamental importância para a compreensão da história da música, uma vez que possibilita a comparação e análise dos intrumentos, formas e técnicas utilizadas em cada período.

2.1 Classicismo

Chamamos de Classicismo o período compreendido entre 1750 e 1800, aproximadamente. Também conhecido como Iluminismo ou Era das Luzes, foi uma época cosmopolita. As diferenças entre os estilos de cada país foram minimizadas, ao mesmo tempo em que se favorecia a natureza igualitária entre os homens. Havia monarcas de origens extrangeiras, como um rei espanhol em Nápolis (Fernando II de Aragão) ou uma princesa alemã (Catarina II) na Rússia. Essa internacionalização do pensamento e da vida prática também foi refletida na música. Compositores alemães atuavam em Paris ou Londres, enquanto compositores italianos viajavam para a Alemanha. “Hoje há apenas uma música em toda a Europa”1, disse Chabanon, um importante intelectual e compositor da época. O Iluminismo foi cosmopolita e humanitário. Os governantes estavam interessados em promover as artes e a literatura, além de reformas sociais em prol da liberdade do indivíduo, igualdade dos direitos e da instrução universal. Essa nova maneira de pensar foi especialmente forte na Farnça, nos anos que precederam a Revolução de 1789.

2 APLICAÇÕES EM ATIVIDADES MUSICAIS

1. Michael Paul Gui de Chabanon, De la Musique, Paris, 1785, p. 97.

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O anseio pela fraternidade entre os homens foi também abraçado pela maçonaria, que se difundiu rapidamente por toda Europa, e teve como menbros ilustres monarcas e compositores, como Frederico, o Grande e Mozart.Com a ascensão da burguesia mercantil, futuramente chamada de classe média, houve um importante processo de popularização das artes e do ensino. Assim, a música passou a ser dirigida a um público amplo, e não mais a um grupo seleto de conhecedores, como era nos períodos anteriores. As óperas começam a retratar a vida cotidiana de pessoas comuns, com suas emoções e ambições. O mecenato entra em declínio e os músicos adquirem independência em relação a seu mecena, em geral o príncipe. Para vivenciar essa nova liberdade, eles precisavam dar aulas, fazer concertos públicos e entregar suas obras aos editores. O crescente público moderno assiste aos concertos em auditórios e salas especializadas. Nascem as sociedades de concerto.É uma época de farta publicação musical. O crescente público amador comprava partituras fáceis de tocar e ansiava por um entendimento musical. Surgem as revistas e jornais de música, e tratados importantes são publicados.A música da época devia oferecer aos ouvintes imagens sonoras agradáveis da realidade, imitar os sons da fala através da beleza dos sons. Daí a importância da melodia na música clássica, em oposição ao rebuscado contraponto do Barroco.Esse novo modelo, com ênfase na melodia, cria um discurso musical linear organizado em frases que se combinam formando períodos mais longos, com acompanhamento de uma harmonia simples e cadências frequentes.Por volta de 1750, a família dos violinos já está estabelecida e as antigas violas de gamba quase não existem mais. O moderno quarteto de cordas, formado por dois violinos, uma viola e um violoncelo torna-se a base da orquestra clássica. É por esse motivo que quase sempre as melodias das sinfonias desta época são tocadas pelas cordas. Para a formação da orquestra, temos em média: 10 primeiros violinos, 10 segundos violinos, 6 violas, 6 violoncelos, 4 contrabaixos, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 2 tímpanos e outras percussões. A disposição dos instrumentos pode ser vista em publicações como A orquestra Tintim por tintim (Hentschke et all, 2003) e outros.

A partir de 1750, a sinfonia torna-se uma das formas musicais mais populares. Trata-se de uma composição para orquestra sinfônica escrita primeiro em três movimentos (partes) e posteriormente em quatro com andamentos, ou caráter contrastantes. Em geral: allegro, andante e minuetto. O primeiro allegro contém a ideia principal da sinfonia. No início o tema é apresentado pelas cordas, depois é desenvolvido, usando toda a orquestra e retomando trechos do tema e depois há uma recapitulação da ideia inicial. À esta estrutura (tema, desenvolvimento e recapitulação) damos o nome de forma-sonata. Depois do allegro escrito em forma-sonata, segue o andante, ou outro movimento lento, um minuetto, que consiste em uma dança de ritmo ternário e para finalizar, temos outro allegro, agora sem forma-sonata. Quando a sinfonia tem três movimentos, exclui-se o minuetto.O concerto é outra forma musical comum do Classicismo. Trata-se de uma música para orquestra, com três ou quatro movimentos, onde um instrumento tem posição de destaque frente à orquestra. Por isso dizemos concerto para flauta e orquestra, ou concerto para violino e orquestra.Como exemplos de compositores do começo do Classicismo temos Domenico Scarlatti, Luigi Boccherini e os filhos de Bach, Carl Philipp e Johann Christian.Domenico Scarlatti (1685-1757) foi o compositor italiano para instrumentos de tecla mais importante do século XVIII. Escreveu uma coletânea de 555 sonatas para cravo, intitulada Exercícios ou Divertimentos que foi publicada em 1738. Em 1720, Scarlatti deixou a Itália para servir à corte do rei de Portugal. Em 1729, sua aluna, a infanta de Portugal casa-se com o rei da Espanha e Scarlatti muda-se com a corte para Madri, onde passou o resto de sua vida a serviço do rei. Foi lá que compôs a maioria de suas sonatas.

Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro – Divulgação.

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Luigi Boccherini (1743-1805) foi um importante compositor para música de câmara (tocada por um pequeno grupo de instrumentistas). Nasceu em Luca, na Itália, estudou em Roma e trabalhou grande parte de sua vida em Madrid, onde compôs um tipo diferente de música, destinado a ocasiões informais, como o Divertimento e a Serenata.As obras dos filhos de Johan Sebastian Bach, Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) e Johan Christian Bach (1735 -1782) incluíam um grande número de sinfonias. Carl Philipp foi para Berlim em 1738 e em 1740 ingressou para a corte de Frederico, o Grande. Em 1767 ocupou o cargo de diretor de música em algumas igrejas em Hamburgo, como sucessor de Telemann. Foi um dos compositores mais influentes e bem sucedido de sua época. Seu instrumento preferido era o clavicórdio, um instrumento de tecla com som mais suave e intimista que o cravo, mas que também foi esquecido com a chegada do pianoforte, e mais tarde, do piano. Johann Christian Bach foi para Milão aos 20 anos, onde se converteu ao catolicismo e ocupou o cargo de organista. Em 1762 mudou para Londres, onde trabalhou como compositor, instrumentista, professor e empresário. Foi o pioneiro em adotar o pianoforte em concertos públicos. Haydn e Mozart foram os grandes compositores do final do século XVIII. Representam o apogeu da linguagem e estrutura musicais do Classicismo. Foram amigos pessoais e cada um admirou e foi influenciado pela música do outro.Franz Joseph Haydn (1732-1809) nasceu em Rohrau, uma pequena cidade da Áustria, perto da fronteira com a Hungria. Aos 6 anos foi morar com seu tio, de quem recebeu os primeiros ensinamentos de música. Dois anos depois se tornou menino de coro da Catedral de Santo Estevão, em Viena, cargo que ocupou até sua mudança de voz. Foi curioso, trabalhador e persistente. Fazia contato com pessoas importantes, com quem tinha lições de composição. Garantia seu sustento como professor de música.Em 1761, começou a trabalhar para o príncipe Paul Anton Esterházy e seu irmão Nicolau, onde ficou por trinta anos. No palácio, também chamado de Eztherháza, havia dois teatros, um de ópera e outro de marionetes e duas salas de música. Haydn tinha a função de cuidar dos instrumentos, dirigir a orquestra, orientar os músicos e compor qualquer tipo de canção que o príncipe pedisse. Tinha à sua disposição uma orquestra com cerca de 25 músicos e um coral com 12 pessoas preparadas para ópera, selecionados entre os mais talentosos músicos da Europa. Todas as semanas tinham apresentações de duas óperas e dois concertos longos, além de concertos especiais para recepção de nobres visitantes e música de câmara nos aposentos do príncipe. Paul Anton tocava baryton, um instrumento semelhante a uma viola da gamba, mas com mais cordas e com maiores dimenções. Por encomenda do príncipe, Haydn escreveu cerca de 200 peças para baryton, combinado com outros instrumentos.Apesar de Esterháza ficar distante do centro da Europa, o fluxo de nobres e artistas no palácio era grande, o que mantinha Haydn atualizado sobre as inovações no mundo da música. Certa vez declarou: “o meu príncipe estava satisfeito com todo o meu trabalho, eu era elogiado, e como regente de uma orquestra podia fazer experiências, observar o que reforçava e o que enfraquecia um efeito e, por conseguinte, melhorar, substituir, omitir e tentar coisas novas; estava isolado do mundo, não tinha ninguém que me induzisse em erro ou me molestasse, e por tudo isto vi-me forçado a ser original.”Com a morte do príncipe Nicolau, em 1790, Haydn muda para Viena e tem que se manter como autônomo. Dirigiu concertos e ecreveu uma série de novas músicas, incluindo as famosas Doze Sinfonias de Londres. Morreu com 77 anos.

Luigi Boccherini retratado por Pompeo Batoni, 1765. Natinal Gallery, Melbourne.

Johann Christian Bach, retratado por Thomas Gainsborough em 1776. National Gallery, Londres

Joseph Haydn retratado por Guttenbrunn. Coleção privada.

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2.1.1 Atividade

Usando nossos instrumentos, vamos criar uma melodia com tema: as notas mi bemol e ré (segunda menor descendente). Se quisermos usar instrumentos harmônicos, usaremos o acorde de Gm para acompanhar o tema.Todos participam com ideias. Assim podemos experimentar e modificar, até a melodia ficar interessante. Agora escrevemos na pauta para ficar registrado. Podemos levar a partitura para casa e tocar com os amigos.Mozart também fez uma melodia usando este intervalo. Vamos ouvir o CD 3 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009. (Sinfonia 40, Primeiro Movimento – Molto Allegro).Vamos tocá-la? Quais acordes podemos usar para fazer o acompanhamento?

2.2 Beethoven

Ludwig van Beethoven (1770-1827) nasceu em Bonn, Alemanha, onde conheceu Haydn, que estava de viagem para Londres. Prestes a fazer 22 anos, segue o conselho do mestre e muda-se para Viena, a fim de aprimorar seus conhecimentos musicais e ter contato com a vida social da cidade cosmopolita. Em 1787, numa breve visita a Viena, Beethoven tocou para Mozart, que profetizou seu sucesso. Foi o último grande compositor clásico e o primeiro romântico.Viveu em uma época de muitas mudanças na sociedade, o que refletiu diretamente em sua música. Foi contemporâneo de Goethe, Napoleão Bonaparte e da Revolução Francesa. Teve sua formação solidificada pelos padrões do Classicismo, mas as circunstâncias e sua própria genialidade levaram-no a transformar sua herança clássica em novidades que depois se consolidaram no Romantismo. Sua música é uma expressão direta de sua personalidade.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) foi um menino prodígio, um gênio precoce. Nasceu em Salzburg, na Áustria. Seu pai, Leopoldo Mozart era um conhecido compositor e violinista e lhe ensinou as primeiras lições de música. Tão logo Wolfgang revelou seus talentos prodigiosos, seu pai abandonou todas as ambições e afazeres a fim de ensinar e exibir o filho em viagens pela Áustria, França, Inglaterra, Holanda e Itália. Suas apresentações incluíam peças previamente estudadas, improvisações de variações, fantasias e fugas e leituras de concertos à primeira vista. Escreveu seu primeiro minuetto aos 6 anos, a primeira sinfonia pouco antes dos 9 e a primeira ópera aos 12.Graças às viagens e ensinamentos do pai aliados à imensa facilidade que tinha, Mozart rapidamente se familiarizou com todos os tipos de música que se ouvia na Europa. Compositor fluente, conseguia rir e brincar enquanto escrevia. Suas ideias eram simplesmente passadas para o papel, algo que é ao mesmo tempo infantil e milagroso. Teve forte influência de Johann Christian Bach e Haydn, que conheceu em uma viagem a Londres.Compunha quase sempre por encomenda ou para uma ocasião específica, mesmo que não se destinasse a uma apresentação imediata. Tinha sempre em mente o intérprete e o público ao qual se destinavam suas músicas.Em Viena, onde passou a maior parte de sua vida, tinha como alunos as mais nobres famílias da época e era ídolo de seu público, tanto como compositor como pianista. Mas, como optou por não ter emprego fixo, contrariando a vontade de seu pai, a prosperidade financeira não foi duradoura. Suas obras mais conhecidas foram escritas entre os 25 e 35 anos, ou seja, nos últimos 10 anos de sua vida.

Wolfgang Amadeus Mozart, num retrato pertencente à Sociedade de Amigos da Música de Viena.

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Em meio ao mundo sinfônico do Classicismo, Beethoven escreveu apenas 9 sinfonias, enquanto Mozart escreveu 50 e Haydn 100. Uma explicação para isto é o fato de suas sinfonias serem mais longas e mais grandiosas, mas há também outro fator: Beethoven escrevia música com muito mais dificuldade. Seus cadernos de apontamentos tinham inúmeras rasuras e muitas ideias antes do tema final se concretizar.Outra característica forte em Beethoven é a melancolia, possivelmente agravada pela surdez, que começou a se manifestar em 1796. Em 1820, o compositor praticamente já não ouvia. Em 1802, quando descobriu que sua doença era progressiva e incurável, escreveu uma carta para ser lida por seus irmãos após sua morte, conhecida como O Testamento de Heiligenstadt. Nela descreve:

Tenho de viver quase só, como alguém que tivesse sido banido; só posso conviver com os homens na medida em que a absoluta necessidade o exige. Se me aproximo das pessoas, sou tomado de um profundo terror e receio expor-me ao perigo de que alguém se aperceba do meu estado. E assim tem sido nestes últimos seis meses que passei no campo [...] que humilhação para mim quando alguém ao meu lado ouvia uma flauta ao longe e eu não ouvia nada, ou alguém ouvia um pastor a cantar e de novo eu nada ouvia. Tais incidentes quase me levaram ao desespero, por pouco não pus termo à vida – só minha arte me deteve. Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de transmitir tudo o que sentia ter dentro de mim [...] Oh Providência – concede-me ao menos um dia de pura alegria -, há tanto tempo que a verdadeira alegria não ecoa no meu coração [...]. 2

Sua produção musical pode ser divididas em três fases: - Primeira: período em que Beethoven absorve as ideias clássicas. Vai até 1802. As duas primeiras sinfonias são desta fase.- Segunda: fase em que revela sua independência em relação às tradições formais e descobre sua própria voz. É conhecido como o grande pianista e compositor de seu tempo e recebido em jantares e festas nas casas das nobres famílias de Viena. As sinfonias de 3 a 8 são desta fase.- Terceira: período de introspecção e meditação. Sua música é tocada e reconhecida no mundo inteiro e suas finanças são favoráveis, mas sua surdez é cada vez maior, até o ponto de não ouvir mais nada. Isso fez com que Beethoven expressasse musicalmente suas dores mais profundas, incorporando elementos românticos. A 9ª sinfonia é desta época.

2. Thayer’s Life of Beethoven, rev. E ed. Por E. Forbes, Priceton, 1967, p. 304-306 appud GROUT, Donald e PALISCA, Claude. História da música Ocidental. Gradiva, Lisboa, 1997, p 548.

Beethoven retratado por Joseph Karl Stieler, 1820.

2.2.1 Atividades

Usando percussão corporal, criar novos ritmos a partir do exemplo dado.

Percussion

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Ouvir o CD 1 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 (Sinfonia Nº 5, primeiro movimento – Allegro con brio).Dividir a classe em três grupos de instrumentos: flautas, violinos e violões.

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5ª Sinfonia

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9ª SinfoniaBeethoven

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Tocar todos juntos o tema da 9ª Sinfonia de Beethoven.É uma Sinfonia em 5 movimentos (partes). Esse é o tema da última parte, que também tem coral. Segue a letra traduzida:

Letra da 9ª Sinfonia de Beethoven

Solo de Baixo:Ó, amigos, mudemos de tom!Entoemos algo mais prazerosoE mais alegre!

Baixo, quarteto e coro:Alegria, formosa centelha divina,Filha do Elíseo,Ébrios de fogo entramosEm teu santuário celeste!Tua magia volta a unirO que o costume rigorosamente dividiu.Todos os homens se irmanamAli onde teu doce vôo se detém.Quem já conseguiu o maior tesouroDe ser o amigo de um amigo,Quem já conquistou uma mulher amávelRejubile-se conosco!Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,Uma única em todo o mundo.Mas aquele que falhou nissoQue fique chorando sozinho!Alegria bebem todos os seresNo seio da Natureza:Todos os bons, todos os maus,Seguem seu rastro de rosas.Ela nos deu beijos e vinho eUm amigo leal até a morte;Deu força para a vida aos mais humildesE ao querubim que se ergue diante de Deus!

Tenor e coro:Alegremente, como seus sóis voemAtravés do esplêndido espaço celesteSe expressem, irmãos, em seus caminhos,Alegremente como o herói diante da vitória.

Coro:Abracem-se milhões!Enviem este beijo para todo o mundo!Irmãos, além do céu estreladoMora um Pai Amado.Milhões se deprimem diante Dele?Mundo, você percebe seu Criador?Procure-o mais acima do Céu estrelado!Sobre as estrelas onde Ele mora!

Ouvir CD 38 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009.

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2.3 Romantismo

Há uma certa continuidade entre os períodos Clássico e Romântico em termos de forma, ritmo e progressões harmônicas. A grande diferença entre os dois períodos está na maneira com que o discurso musical é conduzido. Enquanto o Classicismo tem ideais ordem e equilíbrio, o Romantismo busca a subjetividade, o inatingível, a liberdade o movimento. A personalidade do artista se confunde com a de sua obra e há uma intersecção entre as artes, em especial entre a música e a poesia.Para expressar toda a angúsitia e subjetividade do artista romântico, a música precisou conhecer um alargamento das estruturas melódicas e harmônicas, além da ampliação do tamanho e do colorido das orquestras. As melodias ficam mais extensas, os acordes ganham dissonâncias e a orquestra, novos timbres. Com essa tentativa de entender os sentimentos e retratá-los em sons, a imagem do músico romântico se confunde com o gênio incompreendido. A natureza torna-se fonte inspiradora para novas ideias e conselheira para desabafos imcompreendidos. A noite, o luar, os rios, as florestas, os contos de fada, o sobrenatural e o amor, com suas tristezas e alegrias também são temas que encantaram os artistas românticos.É nessa época que surge a musicologia Ela nasce da vontade de compreender a lógica e a estrutura da música dos compositores do passado. Alguns dos importantes compositores do Romantismo:Franz Peter Schubert (1797-1828) se dedicou inteiramente à composição. Nasceu numa família humilde. Foi com seu pai que aprendeu as primeiras liçoes de violino. Morreu aos 31 anos sem obter reconhecimento público. Compôs, entre outras obras, nove sinfonias e mais de 600 lieder (canções). O lied foi uma das formas que os compositores românticos encontraram para fazer o casamento da poesia com a música. Amplamente divulgado e magestosamente trabalhado por Schubert, consistia em uma canção para uma voz solista e acompanhamento de piano.Outro importante compositor de lied foi Robert Schumann (1810-1856). Apesar de sucessor de Schubert nas sinfonias e nos lieder, Schumann foi também um grande pianista. Em sua obra podemos perceber claramente os dois lados de sua própria personalidade, denominada por ele de Eusébuis, introspectivo e pessimista e Florestan, o herói virtuoso. Outra grande contribuição de Schumann foi o jornalismo musical. Como diretor do Novo Jornal de Música, de Leipzig, de 1834 a 1844, escreveu com regularidade resenhas e críticas. Felix Bartholdy Mendelssohn (1809-1847) foi um dos principais maestros do século XIX. Uma de suas grandes contribuições foi acrescentar o repertório histórico nos concertos. Regia músicas de Haydn, Mozart e Beethoven. Em 1829, apresentou a paixão segundo São Mateus, do então esquecido Bach. Como compositor, escreveu Sonhos de Uma Noite de Verão, inspirado nos textos de Shakespeare. A famosa Marcha Nupcial, que ouvimos hoje nos casamentos, é uma das melodias de Mendelssohn.Johannes Brahms (1833-1897) foi também importante compositor de lieder e sinfonias. O piano se desenvolve nessa época, tornando-se o instrumento romântico por excelência. Possui um som firme, uma ampla gama de dinâmica e responde aos anseios de expressividade e virtosismo da época. Franz Liszt, Frederic Chopin, Anton Rubistein e Hans von Bulow foram importantes pianistas românticos.Frederic Chopin (1810-1849) além de exímio pianista foi também compositor. Nasceu na Polônia, e mudou para Paris em 1831. Suas composições são, na maioria para piano e consistem num primoroso desafio técnico do instrumento.Franz Liszt (1811-1886) além de ser um dos pianistas com a carreira mais brilhante da época foi um importante compositor e maestro. Nasceu na Hungria, morou em Paris, Weimar e Roma.

Franz Liszt retratado por Adolphe Braun, (1860-1877)

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A fim de promover uma perfeita fusão entre as artes cênicas, música e literatura, Richard Wagner (1813-1883) revolucionou a maneira de se compor ópera, ou dramas musicais, como ele preferia chamar. Grande mestre da orquestração, criou novas combinações de timbres e texturas, além de ampliar o vocabulário harmônico. Criou o leitmotiv, um tema ou motivo musical que é associado a uma determinada pessoa, objeto ou ideia do enredo. Suas óperas, que podiam durar até quatro ou cinco horas, tinham o texto escrito por ele mesmo. Trabalhava com uma orquestra bem maior que o costume.A busca romântica pela expressão máxima dos sentimentos encontrou na literatura uma forte aliada, fato que se pode encontrar no lied, na ópera e também na música programática que é uma música instrumental associada à sugestão imaginativa trazida pelo texto e que pretendia transmutar em sons o tema proposto em palavras. Assim, a música transcende o texto, embora seja baseado nele. Foi assim que fez Hector Berlioz (1803-1869) em sua Sinfonia Fantástica, que inicialmente foi intitulada Cenas da Vida de um Artista. Para a estreia, escreveu um programa que era na realidade uma autobiografia romântica. Mais tarde admitiu que o texto era dispensável por considerar que a música, por si só, continha um discurso dramático e expressivo. Liszt também escreveu música programática.O francês Camille Saint-Saens (1835-1921), mais um apaixonado pela música programática, além de compositor, foi presidente da Sociedade Nacional de Música e é autor do famoso Carnaval dos Animais.Estreada em Paris, em 1875, a ópera Carmen, de George Bizet (1838-1875) foi um marco importante na história da ópera francesa. Aqui o exotismo româncio é marcado pelo cenário e pela atmosfera musical espanhola. A vitalidade rítmica e melódica é combinada a uma textura leve e orquestração rica.Filho de um artesão de uma aldeia na República Tcheca, Anton Dvorak (1841-1904) foi um embaixador da música do seu país. Escreveu a Sinfonia do Novo Mundo, sua obra mais conhecida no período que morou nos Estados Unidos. Anton também trabalhou como diretor do Conservatório de Nova Iorque.Peter Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) foi um dos mais célebres compositores russos. Apaixonado pelo ocidente, incorporou elementos internacionais na tradicional música russa. As sinfonias do austríaco Gustav Mahler (1860-1911) são consideradas pós-românticas. Têm caráter programático, são mais longas e estruturalmente mais complexas. Sua orquestração é bastante exuberante, assim como Berlioz. A 8ª Sinfonia foi escrita para duas orquestras e um coro de 300 adultos, 350 crianças e mais 7 solistas. Foi diretor da ópera de Viena e regente da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque.Assim como Mahler, Richard Strauss (1869-1949) foi também um maestro famoso. Trabalhou nos teatros de ópera de Munique, Weimar, Berlim e Viena, além de reger a maioria das mais importantes orquestras do mundo. Destacou-se ainda como compositor de poema sinfônico (música programática).O russo Sergei Prokofiev (1891-1953) foi um dos compositores mais importantes na primeira metade so século XX. Apesar de ter morado nos Estados Unidos, França e Alemanha, retorna oficialmente ao seu país. Uma de suas obras mais famosas é a música programática Pedro e o Lobo, uma história infantil contada através da música. Foi composta em 1936 com a finalidade pedagógica de apresentar às crianças as diferentes sonoridades dos instrumentos da orquestra.

Hector Berlioz retratado por André Gill (1840-1885).Museu Nacional de Versailles, França.

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2.3.1 Atividades

Atividade 1: Uma das melodias mais famosas da história da música é a Marcha Nupcial, escrita por Mendelssohn em Sonhos de uma Noite de Verão. Vamos ouvi-la no CD 18 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 (faixa 9).Agora vamos tocar todos juntos a melodia. Em seguida, vamos reconhecer a melodia tocada no CD 24 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 (Dvorak, Sinfonia Nº 9, Do Novo Mundo, faixa 1).

Recorder

Tema da Sinfonia 9

Dvorak

Atividade 2: Camille Saint-Saens, em O Carnaval dos Animais, descreve a bicharada em uma obra de 14 movimentos:Leão; Galos e galinhas; Mulas; Tartarugas; Elefante; Cangurus; Aquário; Personagens de orelhas longas (burro); Cuco no fundo do bosque; Pássaros; Pianistas; Fósseis; O cisne; Final.Ouçam o CD 32 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 e peça para os alunos identificarem os bichos. Divida a classe em pequenos grupos onde cada um criará novos sons para representar os mesmos bichos que Saint-Saens. Os alunos podem usar instrumentos ou fazer sons com o próprio corpo. (Outras sugestões para o trabalho com esta obra podem ser vistas no suplemento 20 deste conjunto)

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Atividade 3: Separe a classe em dois grandes grupos e toquem um Entr’Acte de ópera Carmen, de Bizet. Para isso, vocês também podem ouvir CD 11 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 (faixa 7).

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Atividade 4: Prokofiev escreveu Pedro e o Lobo para apresentar a orquestra às crianças. Cada personagem da história é representado por um instrumento diferente. São eles: Pedro (cordas), o lobo (as trompas), o avô (fagote), o passarinho (flauta), o pato (oboé), o gato (clarinete) e os caçadores (tímpanos). Assistam o DVD Pedro e o Lobo. Criem uma nova dramatização musical para a história. É preciso separar os personagens. Quem vai ser Pedro? Qual som vai representá-lo? E assim por diante.

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2.4 Século XX

Até o fim do século XIX, a música pode ser identificada como pertencente a um determinado estilo com características comuns em todos os compositores. Mas a partir do século XX, surgem diversas possibilidades e tendências. Há a incorporação de uma nova identidade harmônica, rítmica, melódica e timbrística. O ritmo pode incorporar um aspecto mais vigoroso e dinâmico, os deslocamentos de tempos são fortes dentro de um compasso, como a sincopa, por exemplo, mudança de fórmula de um compasso para outro e até mesmo polirritmia (diferentes ritmos acontecendo ao mesmo tempo). Na harmonia, surgem acordes com muitas dissonâncias e até formados por ruídos ou notas de alturas não identificadas, como os clusters. As melodias podem ser bem estruturadas e líricas, como no Classicismo e no Romantismo, mas também podem adquirir formas inesperadas, fragmentadas ou inexistentes. E os timbres ocupam um espaço cada vez mais importante no mundo moderno. São exploradas novas possibilidades e um novo tratamento é dado aos instrumentos tradicionais. Há também a criação de novos instrumentos ou utilização de materiais diferentes incorporados à antiga maneira de se tocar. O século XX foi marcado por duas grandes guerras mundiais e pelo estabelecimento de ditaduras na Rússia, Itália, Alemanha e Brasil. Novas descobertas no campo da política, economia e sociedade foram apresentadas, e princípios de educação, moral e ética sofreram modificações. O avanço tecnológico teve um papel fundamental na evolução da cultura musical.Foi também um século de descobertas e consolidações no campo do ensino da música. Villa-Lobos, Orff, Kodály, Willems e Swanwick são alguns dos nomes importantes nesta área.Uma das influências que mais marcaram a evolução musical do século XX foi a do francês Claude Debussy (1862-1918). Sua música, considerada impressionista, propôe um colorido sonoro capaz de provocar impressões sensoriais. Não quer contar uma história, como a música programática, mas sim sugerir, evocar, criar uma atmosfera. Suas peças mais conhecidas são Prelúdio Para o Entardecer de um Fauno (Prélude à l’après-midi d’un faune), considerada o marco da música moderna, e O Mar (La Mer). Apesar de contemporâneo e conterrâneo de Debussy, Maurice Ravel (1875-1937), não aderiu completamente ao impressionismo como forma de composição. Incorporou apenas algumas técnicas, como o tratamento timbrístico da orquestra, mas não abandonou o contorno melódico claro, o ritmo bem definido e a harmonia funcional. Sua obra mais famosa é Bolero .O húngaro Bela Bartók (1881-1945) publicou milhares de melodias populares do seu país. Em suas composições mesclou elementos folclóricos com técnicas complexas de música erudita. Foi um grande pianista e professor da Academia de Música de Budapeste.Assim como Bartok, o brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) incorporou elementos populares, folclóricos e indígenas em suas músicas. Teve um estudo de música formal na infância, e na adolescência se encantou com os Chorões do Rio de Janeiro. Aos 18 anos vendeu a vasta biblioteca herdada de seu pai e partiu em viagens pelo país. Mais tarde vai para Paris, onde conhece Stravinsky e Debussy. “Não vim aprender, vim mostrar o que fiz”, dizia. Inplantou o ensino de canto orfeônico nas escolas públicas, chegando a montar um coral com quarenta mil alunos em um estádio de futebol.Igor Stravinsky (1882-1971) nasceu na Rússia, mas também morou na França, Suíça e Estados Unidos. Incorporou em seu estilo melodias folclóricas russas aliadas a um ritmo forte e vibrante. Trabalha com ritmos irregulares ou sobreposição de diferentes fórmulas de compasso.

Heitor Villa-Lobos, 1922. Biblioteca Nacional.

Igor Stravinsky c. 1920-1930. Biblioteca do Congresso. EUA.

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A maioria das composições do alemão Arnold Schoenberg (1874-1951) são para pequenos grupos e não para grande orquestra. Escreveu música atonal, ou seja, não ordenada pelos acordes e funções harmônicas tradicionais. Criava suas próprias séries ou sequências de notas nas quais eram baseadas suas composições. Mais tarde criou o dodecafonismo, um “método de composição com doze notas relacionadas exclusivamente entre si”. Seus principais discípulos nesta técnica de composição foram Aban Berg (1885-1935) e Anton Webern (1883-1945).O norte-americano John Cage (1912-1992) foi um curioso investigador de sons. Incorporou o uso do silêncio e do ruído em suas músicas. Combinava o uso de metais, borrachas e tecidos ao instrumento tradicional a fim de buscar novos sons. Uma de suas músicas mais conhecidas é 4’33’’, na qual a orquestra é posicionada, o maestro dá a entrada e os músicos ficam durante quatro minutos e trinta e três segundos sem tocar, esperando a reação do público. A busca por novos timbres esteve presente também na música do francês Edgard Varèrse (1883-1965). Para ele os sons são os elementos básicos da música, sendo mais importantes que melodia, ritmo ou harmonia. Criava imensas orquestras apenas com instrumentos de percussão, incluindo o piano. A estas orquestras, Varèse acrescentava buzina, campainha, correntes e outros objetos sonoros.Em meio a esta busca incessante por novas possibilidades de se fazer música, os avanços tecnológicos tiveram um papel extremamente importante. Com o advento dos sintetizadores e mais tarde dos computadores, os sons puderam ser ainda mais trabalhados e manipulados. Por meio de uma série de botões podemos regular os harmônicos, a forma da onda, a ressonância e ainda a fonte geradora. Há possibilidade de controlar a altura, timbre, ritmo e dinâmica por meio de aparelhos, além de sintetizar novos sons. Segundo o compositor alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007), o que a música pretende é “não interpretar, mas sim ouvir com novos ouvidos material musical familiar, antigo, preexistente, apreendê-lo com uma consciência musical atual”.

Karlheinz Stockhausen (1928 – 2007).

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2.4.1 Atividades

Atividade 1: Montem uma orquestra de percussão. Sentados em roda, cada um com seu instrumento, primeiro vamos tocar todos juntos o ritmo proposto. Em seguida, cada aluno faz com seu individualmente, sem perder o pulso. Quando todos tiverem tocado, apresentam-se juntos novamente para terminar. Ouçam o CD 7 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 (faixa 1 ). Ravel, Bolero.

Divida a classe em grupos. Cada grupo deverá compor uma música usando as notas ré, do# e sol. O grupo tem autonomia para compor e pode usar instrumentos convencionais, criar novos ou cantar, mas devemos usar somente estas notas.

Atividade 2: Ouçam o CD 10 da Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009 (faixa 4). Heitor Villa-Lobos imita o movimento de um trem usando os instrumentos da orquestra. A partir da melodia dada, criem uma história musical para a viagem de trem. Podemos criar instrumentos com sementes, bexigas, pets, caixa de pizza ou qualquer outro reciclável. Como notar essa música com sons diferentes? Podemos acrescentar um coral, com a letra de Ferreira Gullar para a melodia Trenzinho do Caipira:

Lá vai o trem com o meninoLá vai a vida a rodarLá vai ciranda e destinoCidade noite a girarLá vai o trem sem destinoPro dia novo encontrarCorrendo vai pela terra, vai pela serra, vai pelo marCantando pela serra do luarCorrendo entre as estrelas a voarNo ar, no ar,no ar...

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3 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

BENNETT, Roy. Uma Breve História da música. Cadernos de Música da Universidade de Cambridge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1982.DEYRIES, Bernard; LEMERY, Denys; SADLER, Michael. História da Música em Quadrinhos. São Paulo: Martins Fontes, 2010.Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. CDs. Abril Coleções, 2009.CD Heitor Villa-Lobos – Cirandas (Naxos)CD Edgard Varèse (Naxos)DVD Pedro e o Lobo – várias versões disponíveis no mercado brasileiroSe você quiser aprender um pouco mais sobre a história da música, o Guri tem em seu acervo alguns livros e CDs que você pode levar para casa e ler com a família ou amigos. Algumas indicações estão na coleção …. :RACHLIN, Ann. Beethoven. LV 83 - substituir pelas referências gerais, o catálogo da AAPG é bastante restrito se a publicação um dia for apresentada fora do guri (precisaríamos refazer)RACHLIN, Ann. Beethoven. … RACHLIN, Ann. Chopin. … RACHLIN, Ann. Haydn.. .RACHLIN, Ann. Mozart. ..RACHLIN, Ann. Tchaikovsky. ..SOUZA, Loly Amaro de, Heitor Villa-Lobos...KOSCIELNIAK, Bruce. A Incrível História da Orquestra. ...HENTSCHKE, Liane. A Orquestra tintim por tintin. ....BENNETT, Roy. Instrumentos da Orquestra. ...BENNETT, Roy. Uma Breve História da música. DEYRIES, Bernard; LEMERY, Denys; SADLER, Michael. História da música em Quadrinhos. Coleção Grandes Compositores da Música Clássica. Abril Coleções, 2009. CDs.OSESP - Francisco Mignone- Maracatu de Chico Rei-Festa das igrejas. CD 43OSESP – Beethoven 6ª Sinfonia. CD 44 (não seria melhor indicar a 9a?)OSESP - Beethoven Sinfonias 5 e 7 CD 75

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assinatura para o ano de 2011

ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO

ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE CULTURA

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