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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma 52ª aula: Interpretação do Sermão do Monte - III Textos complementares GEAEL Aula 52 — Entre muitas, a lição que fica: ... tudo no Universo se liga, tudo se encadeia; tudo está submetido à grande e harmoniosa lei de unidade, desde a mais compacta materialidade até a mais pura espiritualidade. A Terra é como um vaso de onde se escapa uma fumaça espessa que vai clareando à medida que se eleva, e cujas parcelas rarefeitas se perdem no espaço infinito. A Gênese — Allan Kardec 7. O perispírito, ou corpo fluí- dico dos espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência, ou alma. Vimos que o corpo carnal também tem seu princípio nesse mesmo fluido trans- formado e condensado em matéria tangível; no perispírito, a trans- formação molecular se opera de modo diferente, porque o fluido conserva sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispirítico e o corpo carnal têm pois sua origem no mesmo elemen- to primitivo; ambos são matéria, embora sob dois estados diferentes. 8. Os espíritos buscam seu peripírito no meio em que se encontram, o que significa que esse envoltório é formado de fluidos ambientais; resulta daí que os elementos constitutivos do perispírito devem variar conforme os mundos. Supondo- se Júpiter como um mundo muito adiantado em comparação com a Terra, onde a vida corpórea não tem a materialidade da nossa, os envoltórios perispiríticos devem ter uma nature- za infinitamente mais apurada do que aqui. Ora, do mesmo modo que não poderíamos existir naquele mundo com nosso corpo carnal, também nossos espíritos não poderiam nele entrar com seu perispírito terrestre. Ao deixar a Terra, o espí- rito deixa seu envoltório fluídico e toma outro apropriado ao mundo para onde deve ir. 9. A natureza do envoltório fluídico é sempre compa- tível com o grau de adiantamento moral do espírito. Os espíritos inferiores não podem mudá-lo a seu bel-prazer, e, consequentemente, não podem transportar-se à vontade de um mundo para outro. Há alguns cujo envoltório fluí- dico, embora etéreo e imponderável com relação à matéria tangível, ainda é pesado demais, se assim se pode dizer, com relação ao mundo espiritual, para permitir que eles saiam do seu meio. Nessa categoria devem alinhar-se aqueles cujo perispírito é tão grosseiro que o confundem com seu corpo carnal, e que, por isso mesmo, pensam que conti- nuam vivos. Esses espíritos, e são numerosos, permanecem na super- fície da Terra como os encarnados, crendo-se ainda entregues às suas ocupações; outros são um pouco mais desmaterializados, porém não o suficiente para se elevarem acima das regiões terrestres. 1 Os espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores e até mesmo encarnar neles. Eles extraem, dos elementos constituintes do mundo onde entram, os materiais do envoltório fluídico, ou carnal, apropriado ao meio em que se encontram. Agem como o fidalgo que abandona seus belos trajes, para usar tempora- riamente uma veste de tecido grosseiro, sem, por isso, deixar de ser nobre. É assim que os espíritos da ordem mais elevada podem manifestar-se aos habitantes da Terra, ou encarnar entre eles em missão. Esses espíritos trazem consigo, não o envoltório, mas, por intuição, a lembrança das regiões de onde vêm, e que, em pensamento, veem. São videntes entre cegos. 10. A camada dos fluidos espirituais que envolvem a Terra pode ser comparada às camadas inferiores da atmos- fera, mais pesadas, mais compactas, menos puras do que as camadas superiores. Esses fluidos não são homogêneos; são uma mistura de moléculas de diversas naturezas, entre as quais encontram-se necessariamente as moléculas elemen- tares que lhes constituem a base, porém, mais ou menos 1 Exemplos de espíritos que ainda se julgam deste mundo: Revista Espírita, dezembro de 1859, novembro de 1864 e abril de 1865.

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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma

52ª aula: Interpretação do Sermão do Monte - IIITextos complementares

GEAEL

Aula 52 — Entre muitas, a lição que fica:... tudo no Universo se liga, tudo se encadeia; tudo está submetido à grande e harmoniosa lei de unidade, desde a mais compacta materialidade até a mais pura espiritualidade. A Terra é como um vaso de onde se escapa uma fumaça espessa que vai clareando à medida que se eleva, e cujas parcelas rarefeitas se perdem no espaço infinito.

A Gênese — Allan Kardec

7. O perispírito, ou corpo fluí-dico dos espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência, ou alma. Vimos que o corpo carnal também tem seu princípio nesse mesmo fluido trans-formado e condensado em matéria tangível; no perispírito, a trans-formação molecular se opera de modo diferente, porque o fluido conserva sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispirítico e o corpo carnal têm pois sua origem no mesmo elemen-to primitivo; ambos são matéria, embora sob dois estados diferentes.

8. Os espíritos buscam seu peripírito no meio em que se encontram, o que significa que esse envoltório é formado de fluidos ambientais; resulta daí que os elementos constitutivos do perispírito devem variar conforme os mundos. Supondo-se Júpiter como um mundo muito adiantado em comparação com a Terra, onde a vida corpórea não tem a materialidade da nossa, os envoltórios perispiríticos devem ter uma nature-za infinitamente mais apurada do que aqui. Ora, do mesmo modo que não poderíamos existir naquele mundo com nosso corpo carnal, também nossos espíritos não poderiam nele entrar com seu perispírito terrestre. Ao deixar a Terra, o espí-rito deixa seu envoltório fluídico e toma outro apropriado ao mundo para onde deve ir.

9. A natureza do envoltório fluídico é sempre compa-tível com o grau de adiantamento moral do espírito. Os espíritos inferiores não podem mudá-lo a seu bel-prazer, e, consequentemente, não podem transportar-se à vontade de um mundo para outro. Há alguns cujo envoltório fluí-dico, embora etéreo e imponderável com relação à matéria tangível, ainda é pesado demais, se assim se pode dizer,

com relação ao mundo espiritual, para permitir que eles saiam do seu meio. Nessa categoria devem alinhar-se aqueles cujo perispírito é tão grosseiro que o confundem com seu corpo carnal, e que, por isso mesmo, pensam que conti-nuam vivos. Esses espíritos, e são numerosos, permanecem na super-fície da Terra como os encarnados, crendo-se ainda entregues às suas ocupações; outros são um pouco mais desmaterializados, porém não o suficiente para se elevarem acima das regiões terrestres.1

Os espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores e até mesmo encarnar

neles. Eles extraem, dos elementos constituintes do mundo onde entram, os materiais do envoltório fluídico, ou carnal, apropriado ao meio em que se encontram. Agem como o fidalgo que abandona seus belos trajes, para usar tempora-riamente uma veste de tecido grosseiro, sem, por isso, deixar de ser nobre.

É assim que os espíritos da ordem mais elevada podem manifestar-se aos habitantes da Terra, ou encarnar entre eles em missão. Esses espíritos trazem consigo, não o envoltório, mas, por intuição, a lembrança das regiões de onde vêm, e que, em pensamento, veem. São videntes entre cegos.

10. A camada dos fluidos espirituais que envolvem a Terra pode ser comparada às camadas inferiores da atmos-fera, mais pesadas, mais compactas, menos puras do que as camadas superiores. Esses fluidos não são homogêneos; são uma mistura de moléculas de diversas naturezas, entre as quais encontram-se necessariamente as moléculas elemen-tares que lhes constituem a base, porém, mais ou menos

1 Exemplos de espíritos que ainda se julgam deste mundo: Revista Espírita, dezembro de 1859, novembro de 1864 e abril de 1865.

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alteradas. Os efeitos produzidos por esses fluidos serão pro-porcionais à soma das partes puras que eles encerram. Assim é, por comparação, o álcool retificado ou misturado, em dife-rentes proporções, com água ou outras substâncias: seu peso específico aumenta devido à mistura, ao mesmo tempo que sua força e sua inflamabilidade diminuem, embora no todo haja álcool puro.

Os espíritos designados para viver em tal meio, dele extraem seus perispíritos; mas, conforme o espírito seja, ele próprio, mais ou menos depurado, seu perispírito se forma das porções mais puras, ou das mais grosseiras, do fluido específico do mundo onde ele encarna. Sempre por comparação, e não por equiparação: o espírito produz aí o efeito de um reagente químico que atrai as moléculas que se identificam com a sua natureza.

Resulta daí o fato capital de que a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os espíritos encar-nados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço limítrofe. O mesmo não ocorre com o corpo carnal que, como já foi demonstrado, é formado dos mesmos elementos, não importa qual seja a superioridade ou a inferioridade do espí-rito. Assim, em todos, os efeitos produzidos pelo corpo são os mesmos, as necessidades são semelhantes, ao passo que diferem quanto a tudo o que é inerente ao peripírito.

Disso também resulta que: o envoltório perispirítico do mesmo espírito se modifica com seu progresso moral a cada encarnação, mesmo que encarne no mesmo meio; que os espíritos superiores, ao encarnar-se excepcionalmente em missão num mundo inferior, possuem um perispírito menos grosseiro do que o dos indígenas desse mundo.

11. O meio é sempre compatível com a natureza dos seres que nele vivem; os peixes, na água; os seres terrestres, ao ar livre; os seres espirituais, no fluido espiritual ou etéreo, mesmo na Terra. Para as necessidades do espírito, o fluido etéreo representa o mesmo que a atmosfera para as neces-sidades dos encarnados. Ora, assim como os peixes não podem viver no ar; como os animais terrestres não podem viver numa atmosfera demasiado rarefeita para seus pul-mões, os espíritos inferiores não podem suportar o brilho e o efeito provocado pelos fluidos mais etéreos. Não morreriam no meio deles, porque o espírito não morre, mas, instintiva-mente, uma força os mantém afastados, como nos afastamos de um fogo muito ardente ou de uma luz muito deslumbran-te. Eis por que eles não podem sair do meio apropriado à sua natureza; para mudar de meio, precisam mudar primeiro sua natureza, despojar-se dos instintos materiais que os retêm nos meios materiais, em resumo, precisam depurar-se e trans-formar-se moralmente. Então, gradualmente, se identificam com um meio mais apurado, que se torna para eles uma exi-gência, uma necessidade, como os olhos de quem viveu por longo tempo nas trevas vão se habituando insensivelmente à luz do dia e ao brilho do Sol.

12. Assim, tudo no Universo se liga, tudo se encadeia; tudo está submetido à grande e harmoniosa lei de unidade, desde a mais compacta materialidade até a mais pura espi-

ritualidade. A Terra é como um vaso de onde se escapa uma fumaça espessa que vai clareando à medida que se eleva, e cujas parcelas rarefeitas se perdem no espaço infinito.

O poder divino resplandece em todas as partes desse grandioso conjunto, e querer-se-ia que, para melhor atestar sua divindade, Deus, não contente com o que fez, viesse per-turbar essa harmonia! Que se rebaixasse ao papel de mágico, produzindo efeitos pueris dignos de um prestidigitador! E, ainda por cima, ousa-se dar-lhe por rival em habilidade o próprio Satanás! Na verdade, nunca se aviltou tanto a majestade divina, e agora se espantam com o avanço da incredulidade!

Tendes razão ao dizer: “A fé se vai!” Mas é a fé em tudo que choca o bem senso e a razão que se vai; a fé igual à que noutros tempos fez dizer: “Os deuses se vão!” Mas a fé nas coisas sérias, a fé em Deus e na imortalidade, essa continua forte no coração do homem, e, se foi abafada sob as histórias pueris com que a sobrecarregaram, reerguer-se-á mais forte assim que se liberte delas, como uma planta sufocada torna a erguer-se tão logo revê o Sol!

Sim, tudo é milagre na natureza, porque tudo é admi-rável e manifesta a sabedoria divina! Esses milagres estão aí para todo mundo, para todos que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, e não em benefício de alguns. Não! Não há milagres no sentido que se atribui a essa palavra, porque tudo resulta das leis eternas da criação, e porque essas leis são perfeitas.

Ação dos espíritos sobre os fluidos. Criações fluídicas. Fotografia do pensamento

13. Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; é o elemento de onde extraem os materiais sobre os quais operam; é o meio onde acontecem os fenôme-nos especiais, perceptíveis à visão e ao ouvido do espírito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionados somente pela matéria tangível; o meio onde se forma a luz própria do mundo espiritual, que difere da luz comum pela causa e pelos efeitos; é, enfim, o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som.

14. Os espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os, como os homens manipulam os gases, mas com o auxílio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos esta ou aque-la direção; eles os aglomeram, os combinam ou dispersam; com eles formam conjuntos que têm uma aparência, uma forma, uma cor determinadas; mudam-lhes as propriedades como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo determinadas leis. É a grande ofici-na, ou laboratório, da vida espiritual.

Às vezes, essas transformações são o resultado de uma intenção; frequentemente, são o produto de um pensamento inconsciente; basta que o espírito pense numa coisa para que

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essas coisa se produza, como basta que se entoe uma ária para que essa ária repercuta na atmosfera.

É assim, por exemplo, que um espírito se mostra diante de um encarnado dotado da vista psíquica, sob as aparências que tinha quando vivia na época em que este o conheceu, mesmo que tenha tido depois várias encarnações. Apresenta-se com o traje, os sinais exteriores – defeitos físicos, cicatrizes, membros amputados etc. – que tinha então; um decapitado se apresentará sem a cabeça. Isso não significa que tenha conservado essas aparências; certamente não, porque, como espírito, ele não é coxo, nem maneta, nem zarolho, nem deca-pitado; mas, por seu pensamento ter-se reportado à época em que era assim, seu perispírito toma-lhes instantaneamente as aparências, que ele abandona, também instantaneamente, assim que o pensamento deixa de atuar. Se, pois, ele foi negro uma vez, e noutra branco, conforme a encarnação sob a qual for evocado, e à qual seu pensamento se reportar, ele se apre-sentará como negro, ou como branco.

Por um efeito idêntico, o pensamento do espírito cria fluidicamente os objetos com que tenha o hábito de lidar: um avarento manejará ouro, um militar terá suas armas e seu uniforme, um fumante, seu cachimbo, um lavrador, seu arado e seus bois, uma senhora idosa, a sua roca de fiar. Para o espírito, sendo ele próprio fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais como o eram, no estado material, para o homem vivo; mas, exatamente por serem criados pelo pensamento, sua existência é tão fugaz quanto a dele.2

15. Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som atua sobre o ar; os fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se então dizer, realmente, que, nesses fluidos, há ondas e ema-nações de pensamento, que se cruzam sem misturar-se, como existem no ar ondas e emanações sonoras.

Há mais: Criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico como num espelho; aí ele toma corpo e, de certo modo, se fotografa. Por exemplo, caso um homem tenha a ideia de matar outro, por mais impassível que seu corpo material esteja, seu corpo fluídico é acionado pelo pensamento, que lhe reproduz todas as nuances; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que tem a intenção de executar; o pensamento cria a imagem da vítima, e a cena inteira se pinta, como num quadro, exatamente como está no seu espírito.

É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler em outra alma como num livro, e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo. Contudo, ao ver-lhe a intenção, ela pode pressentir a execução do ato que lhe será a consequência, mas não pode precisar o momento em que tal ato se consu-mará, porque circunstâncias posteriores podem modificar os planos assentados e mudar as disposições. Ela não pode ver o que ainda não está no pensamento; o que vê é a preocupa-ção habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, suas intenções, boas ou más.

2 Revista Espírita, julho de 1859. O Livro dos Médiuns, cap. VIII.

Qualidade dos fluidos

16. A ação dos espíritos sobre os fluidos espirituais tem consequências de uma importância direta e capital para os encarnados. A partir do instante que esses fluidos são o veí-culo do pensamento, que o pensamento pode modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os põem em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos senti-mentos. Os maus pensamentos poluem os fluidos espirituais, como os miasmas deletéreos poluem o ar respirável. Os flui-dos que envolvem os espíritos maus, ou que eles projetam, são, pois, viciados, ao passo que os que recebem a influência dos bons espíritos são tão puros quanto o grau de perfeição deles o comporta.

17. Seria impossível enumerar ou classificar os bons e os maus fluidos, ou especificar-lhes as respectivas qualidades, visto que sua diversidade é tão grande quanto a dos pensamentos.

Os fluidos não possuem qualidades peculiares, e sim as que adquirem no meio em que se elaboram; modificam-se pelas emanações desse meio, como o ar pelas exalações, a água pelos sais das camadas que atravessa. Conforme as circunstâncias, essas qualidades, como o ar e a água, são tem-porárias ou permanentes, o que as torna mais especialmente adequadas à produção de determinados efeitos.

Os fluidos também não têm denominações especiais; como os odores, são designados por suas propriedades, por seus efeitos e por seu tipo original. No tocante à moral, tra-zem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de brandura etc.; sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, constrangedores, irritantes, suavizantes, soporíficos, narcó-ticos, tóxicos, reparadores, excretores; tornam-se força de transmissão, de propulsão etc. O quadro dos fluidos seria, portanto, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da humanidade, e das propriedades da matéria correspondentes aos efeitos que eles produzem.

18. Sendo espíritos encarnados, os homens têm, em parte, prerrogativas da vida espiritual, pois vivem dessa vida tanto quanto da vida corporal: inicialmente, durante o sono, e muitas vezes no estado de vigília. Ao encarnar, o espírito conserva seu perispírito, com as qualidades que lhe são próprias, e, como se sabe, não fica circunscrito pelo corpo, mas se desloca ao seu redor e o envolve com uma espécie de atmosfera fluídica.

Por sua união íntima com o copo, o perispírito desempe-nha um papel preponderante no organismo; por sua expan-são, ele põe o espírito encarnado em comunicação mais direta com os espíritos livres e também com os espíritos encarnados.

O pensamento do espírito encarnado atua sobre os flui-dos espirituais, como o dos espíritos desencarnados; ele se transmite de espírito a espírito pela mesma via, e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.

Se os fluidos ambientes são modificados pela projeção

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dos pensamentos do espírito, seu envoltório perispirítico, que é parte constituinte do seu ser, que recebe diretamente e de modo permanente a impressão dos seus pensamentos, deve guardar, mais ainda, a marca das suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelas emanações dos maus espíritos podem depurar-se pelo afastamento destes, cujo perispírito, porém, continuará a ser como é, enquanto o próprio espírito não se modificar.

Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta quanto, por sua expansão e por sua irradiação, venha a confundir-se com eles.

Quando esses fluidos atuam sobre o perispírito, este, por sua vez, reage sobre o organismo material com o qual se acha em contato molecular. Se os eflúvios são de natureza boa, o corpo tem uma sensação benéfica; se são maus, a sensação é incômoda; se os maus são permanentes e fortes, podem determi-nar perturbações físicas: não é outra a causa de certas doenças.

Os meios em que os maus espíritos proliferam são, pois, impregnados de maus fluidos, que absorvemos por todos os poros do perispírito, como absorvemos pelos poros do corpo os miasmas pestilentos.

19. Assim se explicam os efeitos que se produzem nos locais de reunião. Uma assembleia é um foco de irradiação de pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos onde cada um emite a sua nota. Daí resulta uma profusão de correntes e de emanações fluídicas de que cada qual recebe a impressão através do sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

Mas, assim como existem emanações sonoras harmô-nicas, ou dissonantes, também há pensamentos harmônicos e divergentes. Se o conjunto é harmonioso, a impressão é agradável; se é discordante, a impressão é incômoda. Ora, para isso não é necessário que o pensamento seja traduzido em palavras; quer ele se exteriorize, ou não, a emanação fluídica não deixa de existir.

Esta é a causa da sensação de bem-estar que nos envol-ve numa reunião em que todos os presentes têm afinidade e estão animados de pensamentos bons e generosos; nela reina uma espécie de atmosfera moral saudável, onde se respira à vontade; saímos dela reconfortados, por estarmos impregna-dos de eflúvios fluídicos benéficos. Mas, se ali se misturam alguns pensamentos maus, eles produzem o efeito de uma corrente de ar gelado num ambiente aquecido, ou de uma nota desafinada num concerto. Assim se explicam também a ansiedade, o indefinível mal-estar que sentimos num meio antipático, onde pensamentos maldosos provocam algo seme-lhante a correntes de ar nauseabundo.

20. O pensamento produz, pois, uma espécie de efeito físico que influi no moral; é o que só o espiritismo podia explicar com clareza. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões homogêneas e simpáticas, onde sabe que pode buscar novas forças morais; poder-se-ia dizer que

nelas ele compensa as perdas fluídicas que sofre diariamente pela irradiação do pensamento, do mesmo modo que, pelos alimentos, compensa as perdas do corpo material. É que, realmente, o pensamento é uma emissão que causa uma perda real de fluidos espirituais e, consequentemente, de fluidos materiais, de modo que o homem precisa revigorar-se com os eflúvios que recebe do exterior.

Quando se diz que um médico cura seu paciente com boas palavras, está-se absolutamente certo, pois um pensa-mento bondoso traz consigo fluidos reparadores que atuam tanto sobre o físico quanto sobre o moral.

21. Sem dúvida, dir-se-á que é possível evitar os homens sabidamente mal-intencionados, mas como escapar da influ-ência dos maus espíritos que pululam ao redor de nós e se insinuam sem serem notados?

O meio é bem simples, pois só depende da vontade do homem, que traz em si a necessária prevenção. Os fluidos se combinam devido à semelhança da sua natureza; Os fluidos dessemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, tal como entre o óleo e a água.

Que se faz quando o ambiente está empestado? Saneia-se, limpa-se esse ambiente, eliminando o foco pestilento, expulsando as emanações malsãs através de correntes mais fortes de ar salubre. À invasão dos maus fluidos deve-se, então, opor bons fluidos; e, como cada um tem no seu peris-pírito uma fonte fluídica permanente, todos trazem consigo o remédio; trata-se apenas de purificar essa fonte e dar-lhe qua-lidades tais, que sejam para as más influências um repelente, e não uma força atrativa. O perispírito é, pois, uma couraça à qual se deve dar a maior rigidez possível; ora, como as quali-dades do perispírito são proporcionais às qualidades da alma, todos devem trabalhar para seu aperfeiçoamento, pois são as imperfeições da alma que atraem os mais espíritos.

As moscas vão para onde focos de podridão as atraem; destruí esses focos, e as moscas desaparecerão. Do mesmo modo, os maus espíritos vão para onde o mal os atrai; destruí o mal, e eles se afastarão. Os espíritos realmente bons, encar-nados ou desencarnados, nada têm a temer da influência dos maus espíritos.

A GêneseAllan Kardec

Capítulo XIV - “Os fluidos”