Exposições Universais: Londres 1851
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Transcript of Exposições Universais: Londres 1851
E X P O S I E S U N I V E R S A I S
LONDRES 1851 Nicolau Andresen Leito
Texto
Nicolau Andresen Leito
Reviso de Texto
Fernando Milheiro
Design Grfico
Luis Chimeno Ganido
Coonlenao de Edio
Fernando Lus Sampaio
Coordenao de Produo
Diogo Santos
Lus Pedro Aguial'
Fotocomposio, Seleco de COl' e Fotolitos Gabinete Grfico Mal'ia Esther
Impresso
Fel'nandes e Tel'ceil'o, Lda,
Depsito Legal
79429/94
I.S,B,N, 972 - 8127 - 03 - O
Tiragem
2000 exemplal'es
Lisboa, Julho de 1994
Uma Edio
EXPO'Q8'
o esprito de UlUa poca.............................................................. 9
I A Gr-Bretanha da Grande Exposio O prncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota .................................. 13 A Sociedade das Artes e Henry Cole . .............. . . .. . . ................... ..... 14 As exposies nacionais francesas ................................................. 17 A Comisso Real de 1851 ................................................................ 20 A Comisso para o edifcio.............................................................. 27 Os opositores. . . . . . .. ... .............. ....... ...... .... ....... .... ....... ........... ........ ...... 29
II O Palcio d e Cristal de 1851 O jardineiro de Chiswick ............................................................... . 33 A construo do Palcio de Cristal ........... .......... ..... ............... ...... 37 A cerimnia de inaugurao.......... ............... .................................. 44
III A geografia da Feira A presena britnica........................................................................ 51 O Sr. Schweppes............................................................................... 57 Retoma-se a visita ............................................................................ 60 A poltica das entradas........ ..................................... ....................... 63 A presena estrangeira.................................................................... 66 A presena da Pennsula Ibrica................................................... 71 O encerralnento................................................................................ 73
IV O sucesso da Exposio A vitria pessoal do prncipe Alberto ........................................... 78 A Comisso Real da Exposio hoje em dia ............ ..................... 78 Outras consequncias da Exposio............. ... .... . .. . ...... ................ 79 A importncia da Imprensa .. .. . . .. . ... . . . . . . .. . . ............ .. . . . . . . . . . . . . .... .. ..... . 81 A histria subsequente do Palcio de CristaL............ ..... ........... 82 O Palcio de Cristal do Porto . . . . . .. . . . . . . . .. . . . ............ . . . . .... . . ... . . . . . . .... . . 84 O que a Exposio no conseguiu.................................................. 85 Fim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Notas . . . . . . . . . ..... . . . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . ......... .... . .. . . . .. . ............... ... ...... ............... 87
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IIhistria do mundo no regista evento comparvel, na promoo
da indstria humana, como o de
A Grande Exposio dos Trabalhos
da Indstria de Todas as Naes, de
1851. Um povo extraordinrio convi
dou todas as naes civilizadas para
um festival, para comparar os tra
balhos de percia humana. Foi reali
zado por organismos privados; foi
auto-suficiente e independente de
impostos e do emprego de escravos
que os grandes empreendimentos dos
tempos antigos tinham exigido. Um
prncipe de sabedoria proeminente, de
esprito filosfico, com sagacidade,
com o poder de chefia e grande habi
lidade prtica, colocou-se frente do
empreendimento, e conduziu-o a um
xito retumbante . "
Henry Cole, Comissrio da Exposio de 1851
o ESPRITO DE UMA POCA
11 1 de Maio de 1851 abriu ao pblico, em Londres, A Grande Exposio dos Trabalhos da Indstria de Todas as Naes. Uma
data que ficar na Histria por ser a primeira exposio internacio
nal de indstria. Pela primeira vez na histria do mundo, os homens
das Artes, Cincia e Comrcio foram autorizados pelos seus respecti
vos governos a reunir-se para discutirem e promoverem os objectivos
para os quais as naes civilizadas existem I. Este acontecimento ficaria a dever-se vontade de um prncipe ale
mo, Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, casado com a rainha Vitria de
I nglaterra, que teimara em realizar na sua nao adoptiva uma
Exposio com o intuito de apresentar um verdadeiro teste e um
panorama real do nvel de desenvolvimento que a humanidade intei
ra atingiu ... e um novo ponto de partida, de onde todas as naes
podero dirigir os seus renovados esforos 2. A Frana viria a aceitar o repto de realizar a segunda Exposio Internacional em Paris,
em 1855.
O Reino Unido da Gr-Bretanha e da Irlanda, com a Exposio do
Palcio de Cristal de 1851 , inicia o perodo mais ureo da sua hist
ria como a nao mais poderosa do globo, dona e senhora do mais
extenso imprio que o mundo jamais vira e duma frota naval maior
que a do resto do planeta todo junto 3. Uma realidade de que os Ingleses tinham plena conscincia e que lhes dava uma confiana
suprema na sua nao e nas suas instituies. Poder-se- dizer, sem
presuno, que um acontecimento igual a esta Exposio no poderia
ter-se realizado em qualquer perodo anterior, nem talvez por outro
povo que no fosse o nosso 4 , afirma-se no prefcio do Catlogo
Oficial da Exposio. Sem qualquer sinal de modstia, a publicao
enumera as razes de tal afirmao: A confiana amiga que as
outras naes depositam nas nossas instituies, a pelfeita segurana
dos bens, a l iberdade de comrcio e a facilidade de transportes que a
Inglaterra proeminentemente possui, podem ser apresentadas como
as causas que contriburam para a realizao da Exposio em Lon
dres 5.
A Exposio de 1851 , para alm do objectivo de demonstrar a supe
rioridade da indstria do Imprio Britnico tinha objectivos morais -
a famosa moral vitoriana com os seus cnones: a religio, o trabalho,
a paz, o comrcio livre, a responsabilidade cvica dos cidados, todos
pelfeitamente enquadrados na magnfica organizao da sociedade
britnica representada pela sua constituio monrquica. Na cerim-
9
nia de abertura, o prncipe Alberto, na qualidade de comissrio da
Exposio, manifestou a esperana de que a primeira impresso
que esta vasta coleco causar ao ser vista ser a de uma profunda
gratido ao Todo-Poderoso pelas bnos que Ele j nos concedeu; e
a segunda, a convico de que elas s podem ser realizadas em pro
poro ajuda que ns estamos preparados a dar um ao outro -
portanto, s pela paz, amor e assistncia mtua, no apenas entre
indivduos, mas entre as naes da Terra 6.
O comissrio rgio no restringia as suas preocupaes morais aos
seus discursos; como presidente da Sociedade para o Melhoramento
das Condies das Classes Trabalhadoras mandou erguer, em frente
da entrada do Palcio de Cristal, uma casa-modelo para as classes
trabalhadoras, no fosse o visitante da Feira esquecer-se da difcil
situao das classes menos afortunadas. O cuidado em conciliar o
progresso moral e o progresso material era uma preocupao no s
deste prncipe, mas da sociedade vitoriana em geral. Qual a vanta
gem do homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? 7, perguntava uma das oraes proferidas pelo arcebispo de Canturia na
cerimnia de inaugurao.
Se correcto afirmarmos que o prncipe Alberto se ter inspirado
nas feiras medievais de Francoforte para propor a realizao da pri
meira exposio internacional de indstria, no ser menos correcto
dizer-se que o conceito de exposio nacional de indstria se deve
Frana revolucionria nos anos que se seguiram a 1789. Para alm
de adoptar um novo sistema poltico e outras inmeras alteraes, a
Frana realiza em 1797, ano quinto do novo calendrio republicano,
a primeira exposio industrial do mundo moderno. A Frana da
Repblica procurava, igualmente, uma revoluo na sua economia.
O sucesso da primeira exposio industrial francesa pode ser confir
mado pela realizao de exposies em 1801 , 1802 e 1806; mas foi a
partir de 1819 que estas exposies se realizaram regularmente e
que o seu impacte atingiu um mbito europeu. O pas conhecia
diversas metamOlfoses polticas que iam ficando para a histria - o
Impri o , o regresso dos B ourbons, a d inast ia dos Orlees e a
Segunda Rpublica. Mas a paixo dos Franceses por exposies
industriais venceu todas as peripcias da sua histria.
A exposio francesa de 1844 e, especialmente, a de 1849 causaram
um profundo impacte junto dos meios influentes da sociedade brit
nica. Aps uma visita Exposio de Paris de 1 849, Henry Cole,
membro da direco da Sociedade das Artes, prope que se realize
em Londres uma feira semelhante, em 1851. A pr