Do barro ao boneco

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Espetáculo Do Barro ao Boneco 1. Apresentação (...) agora a cerâmica tapajônica... aquilo que eu te falei... é que o índio... não é só o índio... até nós... tem um monte de pessoas que são supersticiosas... então as peças deles... cada uma tinha um significado... por exemplo o pé na boca a mão na boca... eles faziam mas colocavam uma pedrinha dentro... na peça... e aí também aprendi isso num livro que me deram chamado herança... então o que acontece?... tem a aldeia grande... cada família tem a maloquinha dele... quando a índia está gestante... eles colocavam uma peça dessa no meio da maloca pro bebê não sair deficiente né?... tanto que eu nunca vi índio aleijado... não se vê índio aleijado né? ... e outras peças usavam pra defumação de festa... pra serem felizes... e assim por diante... mas quase todas as peças deles tinham um significado (…) (Mestre Isidoro, Santarém, PA, 2007) Estando maduras as sementeiras, dá cada um a décima, e tudo junto o metem na casa em que tem os ídolos, dizendo que aquilo é Potaba de Aura, que, na sua língua é o nome do diabo; e deste milho fazem todas as semanas quantidade de vinho, e à quinta-feira de noite o levam em grandes vasilhas a uma eira, que detrás da sua aldeia tem muito limpa e asseada, na qual se ajuntam todos daquela nação e com trombetas e atabaques tristes e funestos, começam a tocar por espaço de uma hora, até que vem um grandíssimo terremoto, que parece vem derrubando as árvores e os montes, e com ele vem o diabo e se mete em uma casa, que os índios tem feito para ele, e logo todos com a vinda do diabo começam a bailar e cantar na sua língua, e a beber o vinho até que se acabe, e com isto o traz o demônio enganados. (Heriate,1874)

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Espetáculo de Teatro de animação

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Espetáculo Do Barro ao Boneco

1. Apresentação

(...) agora a cerâmica tapajônica... aquilo que eu te falei... é que o índio... não é só o índio... até

nós... tem um monte de pessoas que são supersticiosas... então as peças deles... cada uma tinha um

significado... por exemplo o pé na boca a mão na boca... eles faziam mas colocavam uma pedrinha

dentro... na peça... e aí também aprendi isso num livro que me deram chamado herança... então o que

acontece?... tem a aldeia grande... cada família tem a maloquinha dele... quando a índia está gestante...

eles colocavam uma peça dessa no meio da maloca pro bebê não sair deficiente né?... tanto que eu

nunca vi índio aleijado... não se vê índio aleijado né? ... e outras peças usavam pra defumação de festa...

pra serem felizes... e assim por diante... mas quase todas as peças deles tinham um significado (…)

(Mestre Isidoro, Santarém, PA, 2007)

Estando maduras as sementeiras, dá cada um a décima, e tudo junto o metem na casa em que tem os ídolos, dizendo que aquilo é Potaba de Aura, que, na sua língua é o nome do diabo; e deste milho fazem todas as semanas quantidade de vinho, e à quinta-feira de noite o levam em grandes vasilhas a uma eira, que detrás da sua aldeia tem muito limpa e asseada, na qual se ajuntam todos daquela nação e com trombetas e atabaques tristes e funestos, começam a tocar por espaço de uma hora, até que vem um grandíssimo terremoto, que parece vem derrubando as árvores e os montes, e com ele vem o diabo e se mete em uma casa, que os índios tem feito para ele, e logo todos com a vinda do diabo começam a bailar e cantar na sua língua, e a beber o vinho até que se acabe, e com isto o traz o demônio enganados.

(Heriate,1874)

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Separados por mais de um século, os relatos que introduzem este projeto

de circulação do espetáculo de teatro de Animação Do barro ao boneco revelam

dois olhares particulares da comunidade Tapajó e daquilo que mais

extensivamente (do ponto de vista espácio-temporal) materializa sua cultura – a

cerâmica. Por um lado, o relato de um viajante que registra um suposto evento

ritualístico; por outro lado, o relato de mestre Isidoro, ceramista na produção de

réplicas de peças da cerâmica Tapajó, residente no município de Santarém, a

oeste do estado do Pará, região em que se encontram as principais fontes

arqueológicas sobre a comunidade.

Ambos os olhares fabulam, no sentido em que são, constitutivamente,

modos de atribuir sentido ao outro, de representá-lo. Nada mais familiar ao Teatro

de Formas Animadas, cujo sentido parece estar nesse desejo de redizer o outro.

O espetáculo Do barro ao boneco nasceu de um exercício de pesquisa,

experimentação e montagem que buscou explorar os recursos plásticos e

dramáticos que as representações zoo e antropomorfas da cerâmica Tapajó

oferecem para o exercício de criação e manipulação no teatro de animação.

Foi desenvolvido no âmbito do projeto de mesmo nome, financiado com

bolsa do Instituto de Artes do Pará (IAP), durante o ano de 2007 (pesquisa e

experimentação), e com o edital de auxílio-montagem Prêmio Cláudio Barradas de

Teatro, da Secretaria de Cultura do Estado do Pará (SECULT), em 2008.

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2. Sinopse

O espetáculo Do barro ao boneco busca traduzir as formas plásticas da cerâmica

arqueológica da Amazônia, da extinta tribo dos índios Tapajó, para o teatro de

animação. Na cena, as figuras zoo-antropomorfas dos vasos e estatuetas Tapajó

(re)velam-se como objetos cênicos, animados através de máscaras,marionete,

manipulação direta e luz negra. O espetáculo busca recriar um dos traços plásticos

da cerâmica Tapajó: o movimento, o deslocamento, o descentramento.

É essa metáfora do movimento que está na base da narrativa-caleidoscópio

em que se configurará o espetáculo: a performance é construída e desconstruída

aos olhos do espectador. Os objetos cênicos vão-se (des)velando no decorrer do

espetáculo, que busca convocar o espectador para construir, também ele, uma

interpretação dos objetos em performance.

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3 Ficha técnica Ator criador – Jeferson Cecim

Preparação física, assistência de criação – Eduardo Gomes

Assistência de criação em atelier – Artur Sousa

Bonecão – Bruce Macedo

Iluminação - Eddie Pereira

Designer sonoro – Leonardo Bitar

Fotografias – Alberto Bitar

Roteiro de pesquisa – Sandoval Nonato Gomes-Santos

Roteiro Dramatúrgico e direção – David Matos

Produção – Usina de animação

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4. Sobre o artista

Jeferson Cecim começou sua trajetória teatral em 1995 no grupo Usina

Contemporânea de Teatro, com o diretor Roberto Paiva. Atuou no grupo In Bust

Teatro com Bonecos e fundou, o Usina de Animação – Bonecos da Amazônia,

cujos espetáculos criou e dirigiu, entre 1998 e 2005, em conjunto com o também

fundador do Usina José Arnaud. Desde 2006 vem atuando em carreira solo,

sempre em parceria com artistas de diversas linguagens. Foi bolsista em 2007 do

Instituto de Artes do Pará criando o espetáculo Do barro ao Boneco, premiado

com o edital de teatro auxílio montagem Claudio Barradas da Secretaria de Cultura

do Pará, em 2008. Em 2009, o espetáculo entra em temporada no Centro de

Preservação Cultural/Casa de Dona Yayá (CPC-USP- SP). Ainda em 2009, atuou

como bonequeiro e aderecista no espetáculo infantil Ibejis e no Trilogia

degenerada, na Cia Pessoal do Faroeste. Em 2010, produz a exposição No meio

do caminho havia um boneco, ocupando a Passagem Literária da Consolação, na

esquina com a Avenida Paulista. Também em 2010, já em Belém e em parceria

com a Cia Tragicômica do ator Cláudio Melo, monta o espetáculo infantil A

minhoca e a borboleta, apresentado na XIV Feira Pan Amazônica do Livro. Em

2011, produz, em parceria com o Estúdio Reator de Nando Lima, em Belém, o

espetáculo Red Bag, cuja temporada se estendeu de fevereiro a março.

E-mail: [email protected]@hotmail.com

Tel.: São Paulo ( 11) 23070174 Belém (91) 81295345–

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