CULTURA.SUL 59 - 05 JUL 2013

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JULHO 2013 | n.º 59 www.issuu.com/postaldoalgarve 9.253 EXEMPLARES Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO Coimbra tem mais encanto p. 5 Património Mundial: D.R. D.R. Leituras Zen ou uma reinvenção do poético p. 9 Juventude, arte e ideias: Tristezas não pagam dívidas p. 2 Aqui há espectáculo: Repto à Direcção Regional de Cultura p. 4 Espaço Património: Turismo e Património Espaço Cultura: Criar Cultura no Algarve p. 9 D.R. D.R. D.R. p. 12 D.R.

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• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 5/7) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > EDITORIAL: o mau como o bom, por Ricardo Claro > ESPAÇO CRIA: Poderá a Cultura competir com a praia?, por Marisa Madeira > JUVENTUDE, ARTES E IDEIAS: Tristezas não pafgam dívidas, por Pedro Saldanha > GRANDE ECRÃ: Cineclube de Tavira: Museu de Faro recebe sétima arte > ESPAÇO AGECAL: António Rosa Mendes, historiador e gestor cultural, por Direcção da AGECAL > AQUI HÁ ESPECTÁCULO: Repto à Direcção Regional de Cultura, por Carlos Campaniço > PANORÂMICA: Universidade de Coimbra intregra Património Mundial, por Ricardo Claro > LETRAS E LEITURAS: Um singular caso insular,: joão de Melo, por Paulo Serra > MOMENTO: “staymobil”, por Vítor Correia > CONTOS DE PRIMAVERA NA RIA FORMOSA: Ares Condicionados, por Pedro Jubilot > ESPAÇO AO PATRIMÓNIO: Turismo e Património, por Francisco Alvo

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JULHO 2013 | n.º 59

www.issuu.com/postaldoalgarve9.253 EXEMPLARES

Mensalmente com o POSTALem conjuntocom o PÚBLICO

Coimbra tem mais encanto

p. 5

Património Mundial:

d.r.

d.r.

Leituras Zen ou uma

reinvenção do poéticop. 9

Juventude, artee ideias:

Tristezas não pagam dívidas

p. 2

Aqui háespectáculo:

Repto à Direcção Regional de Cultura

p. 4

Espaço Património:

Turismo e Património

Espaço Cultura:

Criar Cultura no Algarve

p. 9

d.r.

d.r.

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p. 12

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05.07.2013 2 Cultura.Sul

Há que falar sobre o mau como sobre o bom. Prefiro o bom ainda que menos dado a parangonas e desta feita es-crevo sobre o que de positivo se vai fazendo.

Depois de em Março ter dedicado este mesmo espa-ço ao definhar das salas de cinema na região, eis que o faço agora para dar nota de sentido inverso.

O responsável pelo prazer de escrever estas linhas é o empresário Carlos Matos e aqui fica o meu, como de-certo o de todos os algarvios, agradecimento.

Pela mão de Carlos Matos o cinema regressa a Lagos, anos volvidos sobre o aban-dono pela sétima arte da ci-dade do Infante, e com este regresso retorna a melhor arma para a criação de públi-cos para o grande ecrã numa realidade que extravasa lar-gamente a cidade lacobri-gense e se estende a todo o extremo noroeste da região.

Boas notícias portanto e enquanto tal dignas de nota. Sinais positivos a que se junta o regresso das mos-tras de cinema de Tavira que retornam à cidade do Gilão já este mês, ao mesmo tempo que Faro repete o cinema ao ar livre, tendo como palco o Museu Municipal.

Importa pouco em face disto saber se o que se con-seguiu entretanto é a semen-te para um cinema dito de qualidade e ‘alternativo’ ou para um cinema de massas e de cariz comercial. Importa que é cinema, que é arte e cultura.

Importa que é um volte face no definhamento da ex-pressão da arte cinematográ-fica no Algarve, importa que há quem se esforce e o alme-je e quem, acima de tudo, o consiga.

Eis, pois, razões sobejas para o regozijo e o que se pede é exactamente este ca-minho, no cinema, como em todos os campos da cultura, a bem de todos e do Algarve em particular.

O mau, como o bom...

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• Contos da Ria Formosa:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Carlos CampaniçoFrancisco AlvoMarisa MadeiraPaulo SerraPedro Saldanha

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:9.253 exemplares

Poderá a Cultura competir com a praia?

Junho inaugura o Verão, mês de excelência do início da épo-ca balnear, das idas constantes à praia, das férias, dos eventos ao ar-livre, de e(n)-turistasi que vêm encher as praias, hotéis e restaurantes. A região transfor-ma-se numa agitação inigualá-vel e anualmente, durante sen-sivelmente quatro meses, sinto este déjà vu de lotação esgotada neste Algarve a que pertenço e que me faz ser cada vez mais exigente, preocupada, com o dever de ser mais participativa e activa no ‘culto da cultura’ e não no ‘culto do bronze’.

O paradigma repete-se todos os anos, boiamos na sensação de estranheza que cultura não conjuga bem com praia, nem praia conjuga bem com arte e assim estendemos as nossas toalhas com este sentimento de incompatibilidade. Para col-matar esta ligação considerada impossível, num passado breve enfatizou-se a lógica ‘se os ba-nhistas não procuram a Arte, a Arte vai até à praia’ aquando

da produção da exposição ‘Holi-days in the Sun’, produzida pelo Museu Serralves, no âmbito do programa Allgarve’08, em que várias praias algarvias foram ocupadas por instalações de

arte contemporânea. Ter-se-ia criado um novo conceito (de arte balnear?) numa óptica crí-tico-social da relação existente entre o Turismo, do desejo de non fare niente versus o papel da Cultura ou da Arte em locais turísticos.

A praia, o sol e o golfe têm vendido muito bem a imagem da região, estamos gratos por isso, mas não seria mais inovador e gratificante promover o Algar-ve como a região da Cultura, do Design, da Produção Artística e da Criatividade? Vou então dar o meu sermão aos peixes sobre

as valências da Cultura: não é sazonal, é activa todo o ano, acessível, não é limitada, é atin-gível, mutante, permite-nos di-versas experiências, proporciona aprendizagem, desenvolvimen-

to pessoal e social e traz benefí-cios para o desenvolvimento da Economia. Tais características são igualmente viáveis de se li-garem com o Turismo, sendo urgente praticar-se o ‘Turismo Criativo’ que visa dar ênfase às exigências do ‘novo turista’, que procura ofertas culturais e genuínas. O turista é muito exi-gente e as gentes locais também deverão sê-lo, está na altura! Há que tirar das profundezas toda a nossa vontade e imaginação sub-mersa, há que ser-se arrojado e aproveitar as potencialidades da nossa aldeia, vila, cidade e re-

Tristezas não pagam dívidas

Já estamos no Verão e as férias aí à porta. Férias para cada vez menos, dado o ní-vel de desemprego, e cada vez mais contidas, devido ao custo de vida.

Valham-nos os santos - os populares - e a sardinha as-sada, para não nos pormos todos daqui a marchar. Ju-nho foi mês de festa e do solstício, mas, para mim foi

também mês de reflexão. Completei, no dia 22, 35 anos de existência neste pla-neta e permitam-me o desa-bafo, jamais pensei chegar a esta idade com tantas incer-tezas quanto ao meu futuro profissional, ao mesmo tem-po que assisto frustrado e impotente, ao definhar eco-nómico-social do meu país, sem uma estratégia política para o futuro que reúna con-sensos e esperança popular.

De facto, temos um gover-no completamente agrilhoa-do pela ajuda financeira da Troika e com uma obsessão compulsiva em provar a Bru-xelas, que Portugal pagará a sua dívida pública a tempo

e horas, mesmo que para isso grande parte dos por-tugueses tenham de morrer à fome!

Enfim, a nossa tristeza é que não pagará esta dívida certamente! Por isso, toca a ter esperança em dias me-lhores, apanhar o embalo das marchas e aproveitar as festas e eventos culturais que todo o ano animam a nossa região, em particular, a mi-nha terra, que é Olhão.

Aproveito para endere-çar um bem-haja a todos os agentes culturais deste mu-nicípio! Pois têm desenvol-vido um grande esforço para que Olhão não caia numa apatia cultural.

d.r.

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Marisa MadeiraCRIA – Divisão de Empreende-dorismo e Transferência de Tec-nologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

Pedro Saldanha

gião. Existem factos e artefactos históricos que evidenciam a ri-queza do Algarve, mas cabe-nos também produzir a História e a Cultura do presente e do futu-ro. A criatividade é de entrada livre e permite muita coisa, por isso deixemos de lançar ao mar boas ideias para que depois as percamos na rede dos anos que passam. A pescaria nem sem-pre é boa, sabemos disso, mas é preferível algo consumível do que nada; assim acontece com a Cultura.

Mergulhemos no melho-ramento de alguns aspectos: reformular a mensagem pro-mocional nacional e interna-cional da região, evidenciando a tradição e a contemporanei-dade; execução de um estudo aprofundado sobre o impacto da Cultura, tanto para a região como para o Turismo, para que ajude os agentes na efetivação de acções ou projectos; que se dê mais atenção às próximas edições do Algarve Design Me-eting e do Design & Ofícios e a novos projectos que irão surgir e que se valorize mais as comu-nidades criativas e artísticas.

Esta abordagem sobre o estado da Cultura do Algar-ve fica muito aquém das co-municações de quem sem-pre transmitiu genuinidade algarvia, paixão, respeito e (muitas vezes) preocupação, o Professor Doutor António Rosa Mendes. Obrigada pela sua marcante passagem, en-sino e partilha.

i e (turistas estrangeiros); n (turistas nacionais) – criação da autora.

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05.07.2013  3Cultura.Sul

“SKETCHES FROM OUTER SPACE”13 JUL | 21.30 | Teatro Municipal de PortimãoFilipe Valentim apresenta na Black Box um con-certo/performance onde realizará a solo, com um saxofone, uma série de “rascunhos” musi-cais improvisadosAg

endar

Espaço AGECAL

António Rosa Mendes (1954 – 2013)historiador e gestor cultural

O desaparecimento tão prematu-ro de António Rosa Mendes desper-tou em muitos que com ele convi-vemos e privámos, sentimentos de tristeza e luto, mas também recor-dações pessoais e colectivas que sempre se avivam nestes momentos.

Não podia a AGECAL deixar de prestar neste espaço uma home-nagem pública, em primeiro lu-

gar porque António Rosa Mendes era atualmente o nosso Presidente da Assembleia Geral, também por-que nestas funções manteve uma atitude exemplar, sempre presente e construtivo, solidário.

Ele considerava a AGECAL im-prescindível ao Algarve, como o afirmou na nossa última AG reali-zada a 27 de Março, uma estrutura importante numa região cultural-mente pouco valorizada e compre-endida. Via nesta associação, como nós, não apenas uma voz inde-pendente, de reflexão e formação, mas também “massa crítica” para influenciar a presença da cultura como dimensão essencial do de-senvolvimento regional equilibra-do, sobretudo num momento de esgotamento do modelo unívoco.

Durante a Faro 2005 – Capital Nacional da Cultura, da qual foi Presidente da Estrutura de Missão, António Rosa Mendes bateu-se com a equipa de programação pela des-centralização do projecto a todo o Algarve, pela promoção do patri-mónio cultural nacional e regional. Nesse ano editaram-se filmes e li-vros, concretizaram-se dezenas de exposições sobre a arte portuguesa e de diversas épocas, do patrimó-nio antigo ao contemporâneo, fo-ram apresentados espectáculos de teatro, música e dança. Em Março de 2006, encerrados relatórios e contas gerais e sectoriais, não ha-via qualquer dívida por pagar, este pormenor define o respeito pelos que trabalham.

Participou como docente no mes-

trado em “Gestão Cultural” da Uni-versidade do Algarve, proposto pela AGECAL e que formou algumas de-zenas de jovens universitários

Como professor e investigador conhecia profundamente a Histó-ria do Algarve e o seu riquíssimo passado. Para além da bibliografia de âmbito universitário deixou-nos alguns dos mais incisivos e corajo-sos textos em defesa do património regional, parte dele destruído pela ignorância e a ganância especula-tiva. No combate cívico bateu-se contra o novo-riquismo cultural, não poupando críticas ao glamou-roso “allgarve”, também a fenóme-nos pseudo-populares da cultura.

António Rosa Mendes foi alguém que amou o seu País e o Algarve. Via a história da região como uma

continuidade, um instrumento fundamental para compreender o País e projectar correctamente o futuro.

Foi um humanista, um comba-tente por valores e causas. Por isso centenas de pessoas acompanha-ram a despedida em Cacela Velha, pequena pérola envolvida por pai-sagens encantatórias, que guardará para sempre um dos seus melhores filhos.

É um lugar-comum dizer-se que não há insubstituíveis. Verdade ilu-sória, porque existem alguns que, pela correcção de processos e dig-nidade cívica, por aquilo que dão à comunidade, se distingam na sin-gularidade e deixem um enorme vazio.

Teremos saudades tuas, António.

Grande ecrã

A DIRECÇÃO DA AGECAL

“A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA”6 JUL | 21.30 | Teatro das Figuras - FaroA Companhia Nacional de Bailado apresenta o programa que assinala o centenário da estreia do bailado acima referido

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

13ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira | Claustros do Convento do Carmo (ar livre) | 21.30 | reservas/booking: contactos acima / contact above

12 JUL | RISING HOPE Milen Vitanov, Ale-manha 2012 M/4 (10’) + INTOUCHABLES (AMIGOS IMPROVÁVEIS), Olivier Nakache & Eric Toledano, França 2011 (112’) M/12 13 JUL | SALMON FISHING IN THE YEMEN (A PESCA DO SALMÃO NO IÉMEN), Lasse Hallström, Reino Unido 2011 (107’) M/1214 JUL | MOMENTOS, Nuno Rocha, Portu-gal 2010 M/6 (7’) + THE ARTIST (O ARTIS-TA), Michel Hazanavicius, França/Bélgica 2011 (100’) M/1215 JUL | TABU, Miguel Gomes, Portugal/Alemanha/Brasil/França 2012 (110’)16 JUL | VICKY AND SAM, Nuno Rocha, E.U.A./Portugal 2010 M/12 (14’) + LE HA-VRE, Aki Kaurismäki, Finlândia/França/Ale-manha 2011 (123’) M/617 JUL | EN KONGELIG AFFÆRE/A ROYAL AFFAIR (UM CASO REAL), Nikolaj Arcel, Dinamarca/Suécia/República Checa 2012 (137’) M/12

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

Mostra de Cinema ao Ar Livre Museu Municipal | 22 horas

18 JUL | THE MASTER - O MENTOR, Paul Thomas Anderson, EUA, 2012, 144’, M/16 19 JUL | TABU, Miguel Gomes, Portugal, 2012, 110’, M/1222 JUL | NÃO, Pablo Larraín, Chile, 2012, 118’, M/1223 JUL | À PROCURA DE SUGAR MAN, Malik Bendjelloul, Suécia, 2012, 85’, M/1224 JUL | OS AMANTES PASSAGEIROS, Pe-dro Almodóvar, Espanha, 2013, 90’, M/1625 JUL | BESTAS DO SUL SELVAGEM, Benh Zeitlin, EUA, 2012, 93’, M/1226 JUL | NOUTRO PAÍS, Hong Sang-Soo, Coreia do Sul, 2012, 89’, M/1229 JUL | BELLAMY, Claude Chabrol, França, 2009, 110’, M/1230 JUL | A RAPARIGA DE PARTE NENHU-MA, Jean-Claude Brisseau, França, 2012, 91’, M/1231 JUL | POST TENEBRAS LUX, Carlos Rey-gadas, México, 2012, 115’ Todos os filmes serão antecedidospor curtas-metragens portuguesas

Museu de Faro recebe sétima arte

O Melhor Cinema ao Ar Livre volta ao mági-co espaço dos Claustros do Museu Municipal de Faro! De novo com o apoio financeiro da Direção Regional da Cultura do Algarve (sem o qual não poderia ser concretizada esta Mos-tra), durante 10 dias daremos um conjunto de 20 filmes. Antecedendo cada uma das longas--metragens, oferecemos uma curta-metragem portuguesa, escolhida de entre a melhor produ-ção nacional. O nosso critério de seleção destas curtas-metragens teve a ver, por um lado, com o entrosamento com a organização do Festival Farcume, pelo que exibiremos alguns dos pre-miados da sua edição do ano passado; por ou-tro lado, com a recém edição do livro “Geração Invisível: Os Novos Cineastas Portugueses”, que será lançado pela sua autora durante a Feira do Livro que iremos promover a par das sessões de cinema, escolhemos cinco curtas-metragens, como, por exemplo, de Sandro Aguilar, Filipe Melo ou do multi-premiado João Salaviza.

Quanto às longas, ressalta a grande quali-dade delas, a sua diversidade geográfica e, igualmente, a variedade de géneros presente: temos desde dramas psicológicos, como o Os-carizado O Mentor, até filmes de intervenção política, como o chileno Não, a comédia tres-

loucada de Almodovar, a poesia do fantástico de As Bestas do Sul Selvagem, o documentário musical sobre Stephen “Sugar” Segerman (fil-me que arrebatou o Óscar para Melhor Do-cumentário), o pendor policial de Bellamy ou a dimensão metafísica do mexicano Post Tenebras Lux… Uma magnífica seleção, à qual com certeza não irá faltar!

Cineclube de Faro

Cinema ao ar livre regressa a Faro

d.r.

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05.07.2013 4 Cultura.Sul

Repto à Direcção Regional de Cultura

No artigo anterior, e no que concerne às artes de palco, ma-nifestei a minha preocupação pela monocultura comercial que alastra e se instala nas sa-

las de espectáculos do Algar-ve, em detrimento de projectos estruturalmente culturais. A razão deste novo paradigma é a falta de capacidade financei-ra para a aquisição de espec-táculos não comerciais, cuja natureza é pouco geradora de receitas.

Por argumentos não disse-melhantes, escreverei hoje so-bre o afastamento dos públi-cos jovens das nossas salas. É consabido que a cultura é sem-pre das áreas mais afectadas com as restrições financeiras. Tendo esta medida impacto generalizado, preocupa-me a faixa etária mais baixa.

Numa altura em que as crianças e os adolescentes de-vem ter contacto com as artes de palco, este não acontece. Diga-se que nunca houve, glo-balmente, uma grande preocu-pação com a formação cultural dos públicos jovens por parte dos nossos decisores. Porém, pela incapacidade financeira das famílias, pela impossibi-lidade dos municípios em in-vestir consistentemente nestas

áreas, pelo abandono do pro-grama Educação pela Arte, da DREAlg, e pela vivificante im-portância da cultura no cres-cimento dos neófitos, tenho a ousadia de deixar um repto à Direcção Regional de Cultu-ra, na pessoa da sua Directo-ra Regional, Dra Dália Paulo, acreditando que tem o perfil adequado para este desafio.

Tenho para mim que, o tra-balho generoso e competente que Dália Paulo tem apresen-tado, poderá ser reforçado e aprofundado com o debruçar

sobre a formação cultural dos jovens algarvios. Deste modo, lanço o desafio para que a Di-recção Regional de Cultura es-timule a Delegação Regional de Educação e as autarquias da Região, concebendo um plano para levar os jovens às salas de espectáculos.

A formação desta tríade be-neficiaria a todos: primeiro, as crianças, por razões que dispenso enumerar; depois a Cultura que ganharia no-vos públicos, conquanto o resultado não fosse imedia-to; tendo por princípio que a Cultura é um pilar da Educa-ção, também esta beneficiaria de jovens mais conhecedores, devendo, no mínimo, consi-derar esta matéria extra-cur-ricular mas obrigatória em todos os níveis de educação; por fim, as autarquias, cujos seus munícipes mais jovens começariam a ganhar novas competências e cujas salas te-riam outra dinâmica. Por seu turno, traria alguma benefi-ciação aos muitos projectos artísticos da Região.

Apostar no público jovem

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

5 JUL | La Valse – A Sagração da Primavera, Companhia Nacional de Bailado, 21.30 horas,duração: 1h18, preço: 15 € e 5 € para menores de 30 anos13 JUL | Vamos lá então perceber as mulheres… mas só um bocadinho, por Marta Gautier(humor), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 10 €21 JUL | Gala do XIII Workshop de Dança, Companhia de Dança do Algarve, 21.30 horas,duração: 1h30, preço: 10 €

Cine-Teatro LouletanoProgramação: http://cineteatro.cm-loule.pt

6 JUL | LX Comedy Club (stand-up comedy), 21.30 horas, preço: 10 €18 JUL | Frágil som do meu motor, de Leonardo António (cinema), 21 horas, duração: 2h09, preço: 3 €

TEMPO - Teatro Municipal de PortimãoProgramação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

Até 13 JUL | Sérgio Godinho e as 40 Ilustrações (exposição), de terça a sábado, das 10 às 19 horas, entrada livre6 JUL | Reflect (música), 21.30 horas, duração: 1h20, preço: 5 €11 JUL | Um espaço chamado Teatro, 19 horas, duração: 1h30, preço: 3 €12 JUL | Cinemas às 6.ªS – “Ali, o caçador”, de Rafi Pitts, 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 3 €13 JUL | Sketches from outer space, de Filipe Valentim, 21.30 horas, duração: 1h, preço: 2 €18 JUL | Um espaço chamado Teatro, 19 horas, duração: 1h30, preço: 3 €26 JUL | Cinemas às 6.ªS – “O meu maior desejo”, de Hirokasu Koreeda, 21.30 horas, duração: 2h07, preço: 3 €19 JUL – 7 SET | Dentro do Corpo, Fora do Corpo, de Rui Gonçalves e Nuno Borges (exposição), de terça a sábado, das 10 às 19 horas, entrada livre

Aqui há espectáculo

Luís Franco-Bastos, Ricardo Vilão, Rui Sinel de Cordes e Salvador Martinha percorrem o país em registo de comedy club. Depois de várias sessões esgotadas em várias cidades

o tour VOLTA EM 2013.Nova temporada, novos textos, a mesma irreverência. A regra é que não há regras. Só piadas.

Dest

aque 6 JUL | LX Comedy Club (stand-up comedy), 21.30 horas, preço: 10 €

d.r.

Resultado de muitas horas, muita dedica-ção e, sobretudo, muito amor à música, o último acto transporta-nos para o universo de Reflect.De regresso às edições, assinala o início de um novo ciclo com o seu segundo trabalho

de originais, um disco homónimo que é a perfeita extensão do autor.Em palco, Reflect conta com o talento da equipa de sempre, num espectáculo inti-mista à sua imagem, onde a mensagem ganha nas palavras um papel de destaque.

Dest

aque 6 JUL | Reflect (música), 21.30 horas, duração: 1h20, preço: 5 €

Carlos CampaniçoProgramador La Valse, de Maurice Ravel, é uma metáfo-

ra à decadência da Europa após a Primei-ra Guerra Mundial. Na curta-metragem homónima, João Botelho e Paulo Ribeiro transpõem-na para a actualidade, sendo fi-éis à ideia do compositor que denominara

esta sua criação, como poema coreográfico.A Sagração da Primavera, de Olga Roriz, é um apelo à redenção e à confiança no fu-turo. É uma demonstração de luta contra a submissão, ou o medo. É um clamor de convicção, de pujança e de dinâmica.

Dest

aque

s

5 JUL | La Valse – A Sagração da Primavera, Companhia Nacional de Bailado, 21.30 horas, duração: 1h18, preço: 15 € e 5 € para menores de 30 anos

13 JUL | Vamos lá então perceber as mulhere... mas só um bocadinho, por Marta Gautier (humor), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 10 €

Em “Vamos lá então perceber as mulhe-res… mas só um bocadinho”, o público terá oportunidade de ver Marta Gautier em palco a, literalmente, dissecar o que de tão complexo se passa no universo pes-soal feminino: desde as vivências enquanto amigas, passando pela juventude, a expe-riência da maternidade e sim, o casamen-to…, e um dos grandes méritos desta peça

é que finalmente os homens percebem o que se passa com as mulheres… “… mas só um bocadinho”. Mais de 20 mil pessoas já viram esta peça que regressa, agora, aos palcos nacionais na sua tournée nacional, passando por Beja, Guimarães, Porto, Bra-ga, Estarreja, Lagoa, Figueira da Foz, Fafe, Tróia, Caldas da Rainha, entre muitas ou-tras cidades, e agora apresenta-se em Faro.

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05.07.2013  5Cultura.Sul

E já são dezasseis em Portugal os casos de classificação como Patrimó-nio Mundial atribuídos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

A Universidade de Coimbra, a Alta e a Sofia, são a mais recente adição à lista portuguesa das distinções atribuídas pela agência das Nações Unidas e juntam-se a Angra do He-roísmo, ao Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, ao Mosteiro da Bata-lha, ao Convento de Cristo, ao Cen-tro Histórico de Évora, ao Mosteiro de Alcobaça, à Paisagem Cultural de Sintra, ao Centro Histórico do Porto, às Gravuras Rupestres de Foz Côa, à Floresta Laurissilva da Madeira, ao Centro Histórico de Guimarães, ao Alto Douro Vinhateiro, à paisagem da cultura da vinha da Ilha do Pico e às fortificações de Elvas.

Uma vitória difícil

No final do passado mês a inte-gração daquela zona da cidade de Coimbra como Património Mun-dial decorreu em Phnom Penh, no Cambodja, e deu mostras do eleva-do respeito dos países membros da UNESCO pela Cultura Portuguesa, uma vez que a atribuição da dis-tinção foi realizada contra o pare-cer do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, responsável pelo acompanhamento técnico das decisões da organização.

“Mais do que o reconhecimento do valor arquitectónico do com-plexo universitário de Coimbra, esta decisão da UNESCO sublinha o valor universal da cultura e da língua portuguesas e reconhece o papel central que Portugal teve na formação do Mundo, tal como hoje o conhecemos”, referiu à Lusa o reitor da Universidade de Coim-bra, João Gabriel Silva, no rescaldo da decisão.

Uma posição que reflecte o en-tendimento que mais do que um conjunto patrimonial a classifica-ção tem um lado patrimonial ima-terial sobremaneira relevante.

Instalada em Coimbra em 1537 a universidade é a jóia da coroa das universidades portuguesas no que respeita à tradição e ao reco-nhecimento internacional. E é-o merecidamente.

Coimbra deu ao mundo conheci-mento e foi fiel depositária durante muito tempo de um saber letrado

de matriz portuguesa. Como os passadiços que se

cruzam hoje na praça central da universidade, a Universidade de Coimbra foi durante séculos casa de saberes inúmeros que se cru-zaram entre si, criando uma parte importante do conhecimento uni-versitário de produção nacional.

O conjunto arquitectónico que inclui a Universidade de Coimbra, a Alta de Coimbra - profundamente afectada pelas obras desenfreadas do Estado Novo para a implantação de uma ‘Cidade Universitária’- e a Rua da Sofia - artéria por excelên-

cia interligada à universidade e aos universitários - constituem a área distinguida pela classificação da UNESCO e importa agora, depois da distinção ganha e quinze anos volvidos sobre os primeiros passos para a candidatura a Património Mundial, que sejam potenciados como factor demarcador de uma identidade valorizada daquela que é a principal cidade do centro do país.

A importância da distinção

Paulo Portas, ministro demis-

sionário de Estado e dos Negócios Estrangeiros, considerou que a classificação de Coimbra como pa-trimónio mundial da UNESCO be-neficiará “a economia, o turismo, o conhecimento e o cosmopolitismo” da cidade, mas também é “muito prestigiante” para Portugal.

“É um grande dia para Portugal e para Coimbra. A meritória can-didatura a património mundial passou com brilho e beneficiará” a cidade em várias áreas, afirmou o governante numa declaração es-crita enviada à Lusa.

A questão primordial é exacta-mente esta. A classificação como Património Mundial não é impor-tante em si mesma, enquanto acto efémero que se esgota num mo-mento de regozijo face ao resul-tado positivo de uma candidatura que é sempre esforçada e laboriosa.

O que realmente importa é o dia seguinte. O que fazer com a clas-sificação, como a aproveitar e po-tenciar em todos os aspectos onde a sua existência pode maximizar os benefícios são as grandes questões a que importa responder.

Muito para além da simples os-tentação do logo de Património Mundial lado-a-lado com o da au-tarquia ou da Região de Turismo, numa parceria para ‘inglês ver’, im-porta que se faça uma assumpção

da responsabilidade que implica a distinção da UNESCO e que se de-termine uma estratégia ponderada, assertiva e de longo prazo, capaz de determinar frutos de um posi-cionamento único no mundo.

É que importa ter verdadeira-mente em conta o valor intrínseco da distinção da UNESCO que ape-nas é partilhada por 981 classifica-ções em todo o mundo, das quais 759 são culturais, 193 naturais e 29 mistas e que são uma honra hoje apenas reservada a 160 países em todo o globo.

Ricardo Claro

Universidade de Coimbra integra Património Mundial

A Torre da Universidade de Coimbra

fotos: d.r.

“4 ESTAÇÕES, 4 FADOS”13 JUL | 21.30 | Centro Cultural de LagosMário Moita é cantor, compositor e pianista de Portugal. Há mais de 20 anos que anda pelo Mundo promovendo o seu trabalho

“O ALGARVE”Até 30 AGO | Edifício dos Paços do Concelho de AlbufeiraExposição de George Landman, o artista lon-drino que embarcou para Portugal em 1806 e pintou diversas panorâmicas do paísAg

endar

Vista de Coimbra

Tavira, a senhora que se segue

Ô O país regozija necessariamen-te com a classificação atribuída a Coimbra e os algarvios não são excepção.Mas terão os algarvios a noção exacta de que também eles estão na luta por uma classificação da UNESCO como Património Imate-rial da Humanidade? Muitos sim, mas muitos também não.A meses de Tavira ser submetida a exame como representante da candidatura portuguesa à Dieta Mediterrânica enquanto Patrimó-nio Imaterial da Humanidade, a mobilização geral está longe de ser o que deveria ou poderia, dan-do mostras de uma subavaliação da importância e do determinis-mo que uma vitória desta candi-datura pode ter para Tavira e para o Algarve, bem como, para o país.O projecto da candidatura assu-mido na sua coordenação pela autarquia liderada por Jorge Bo-telho e dinamizado sob a direc-ção de Jorge Queiroz - que tudo têm feito pela agregação de vonta-des em torno da candidatura - é a grande aposta que se segue nesta área a nível nacional, mas, mais do que tudo, deve ser encarada como o desafio primeiro dos algarvios neste âmbito.Há muito a ganhar em granjear uma vitória desta importância para o Algarve e, uma vez mais, importa que os algarvios se unam em torno deste que deve ser, tam-bém ele, um desígnio primordial da região no momento actual.

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05.07.2013 6 Cultura.Sul

“O SORRISO”Entre 14 JUL e 31 AGO | Bela Vista Hotel& SPA - PortimãoAna Mesquita expõe telas com retratos portu-gueses, que têm a particularidade de terem sido desenhados num iPad, associadas aos vídeos do making of dessas mesmas telas

“VAMOS LÁ ENTÃO PERCEBER AS MULHERES…”13 JUL | 21.30 | Teatro das Figuras - FaroPalestra humorística com Marta Gautier em pal-co a, literalmente, dissecar o que de tão com-plexo se passa no misterioso universo feminino

Um singular caso insular: João de Melo

Depois de abordar nos seus pri-meiros dois livros, Memória de ver ma-tar e morrer e Autópsia de um Mar em Ruínas, as suas memórias da guerra colonial, João de Melo, autor açoria-no, nascido em S. Miguel, incorre no novo panorama literário português com o fabuloso romance O Meu Mun-do não é deste Reino, eivado ainda de realismo mágico, à semelhança de O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge, retra-tando um mundo à parte que existe dentro deste “reino” português. No seu quarto romance, Gente Feliz com Lágrimas, que a par de O Meu Mundo não é deste Reino pode ser entendido como um díptico sobre os Açores, encontram-se referências explícitas a esse modo de vida das ilhas em passagens como: «o pasmo dum ar-quipélago que encalhara na mística religiosa do século XVI». Contudo, se Gente Feliz com Lágrimas pode pa-recer, num primeiro impacto, uma mera continuação, em que se retoma esse povo do Rozário quando, num tempo mais actual, se atreve final-mente a partir além desse mar bran-co que envolve as ilhas, a ambiência mágica que antes perpassava na Ilha vai desaparecer, associada à própria partida do protagonista para Lisboa. A opressão retratada neste romance prende-se com um menino que vive num medo constante de um pai vio-lento, materializando na paisagem da sua infância esses fantasmas, puramente internos, que o assom-bram: «Tudo irreal e oculto, como o próprio sol o era na sua esfera par-da e oblíqua. Envolvendo as mães dos pêssegos e dos outros frutos, as matas de criptoméria eram presen-ças fulvas, cor de estanho, postas ali de propósito pelos antepassados só para captarem o tempo parado dos mortos. O ninho esdrúxulo do Grande Medo abria-se para receber o frio de meu corpo. Passavam então, como num desfile, por cima das co-pas das árvores, os mortos da família (...).» (p. 146). Este romance retrata

o sentimento de exílio da diáspo-ra do povo açoriano, mas também de todos os milhares de portugue-ses que se espalharam pelos vários continentes, levando em si o mun-do em que cresceram, sem que dele se separem e sem que a ele possam voltar, pois nada permanece igual, engolido pela voracidade do correr do tempo. A força da vivência na Ilha, novamente maiusculada, permanece arreigada na memória dos açorianos que emigram para o Canadá, para a América e outros destinos além-mar, como transparece na seguinte passa-gem: «Todos estão aqui mas continu-

am nesse tempo da Ilha. Trouxeram-na, mantêm--na intacta dentro de si (…), mudaram de nome – mas persistem no tempo obsessivo das procissões e roma-rias, no pudor da mais sagrada nudez, no ví-cio de dizer mal dos vizinhos (…). Tristes, enigmáticos, fingem a euforia dessa imen-sa importância de se estar vivo nos dias de Vancouver. So-nham com as vacas,

as terras e os cavalos dos Açores e fazem planos

para casas vistosas à beira da estra-da que liga o Nordeste a Ponta Del-gada.» (p. 353). Se Gente Feliz com Lágrimas é o embarque no cais e a ruptura com o mundo da infância, então O Meu Mundo não é deste Rei-no representa a terra natal como símbolo de uma infância mitifica-da mas irremediavelmente perdida, sendo esse o reino encantado que tanta matéria-prima fornece a este autor. Este romance, que é também o mais extenso do autor, foi depois adaptado pela RTP ao formato do pequeno ecrã, numa série televisiva.

João de Melo remete novamente

para o Rozário na novela A Divina Miséria, publicada em 2009. Esse pe-queno livro é uma versão largamen-te reescrita, que sofreu revisões su-cessivas, desde um primeiro conto lançado num periódico, passando por um conto homónimo, «A Divina Miséria», integrado em Entre Pássaro e Anjo (1987), e «O Homem da Idade dos Corais», incluso nos contos de Bem-Aventuranças (1992). Esta no-vela surge como um projecto de um outro romance e o autor continua a insurgir-se graças a uma prodigio-sa imaginação e a uma criativida-de que se cristaliza numa sintaxe e num vocabulário quase barroco, luminoso na sua explosão e acumu-lação de som e imagens esplendoro-sas. Destaque-se a passagem que ex-plica o título: «E nada pode haver de mais triste para quem morre do que ser enterrado à chuva, sentir o corpo misturar-se com a outra lama de que fomos feitos, a qual há-de ser sempre o lixo de Deus, a divina miséria da nossa criação» (p. 78). O autor con-tinua assim a fazer uma ponte entre o quotidiano de dimensão mítica de um espaço insular que provoca uma ideia de universalidade, pois poderia estar a falar de outro sítio qualquer, permitindo a qualquer leitor além--fronteiras identificar-se com o que lê. O Rozário continua a ser essa peque-

na comunidade açoriana, oprimida pelo cerco atlântico, esse mar outrora branco como uma bruma de um tem-po fora do mundo, onde se narram os acontecimentos semi-prodigiosos que se seguiram à morte do padre Governo. O título joga com um espí-rito lúdico de intertextualidade, em que se remete, numa cumplicidade irónica, para o título de Dante Ali-ghieri, A Divina Comédia. Esta novela ao regressar ao universo romanesco do autor explicita certos aspectos de O Meu Mundo não é deste Reino. Neste compasso de espera próprio do Pur-gatório, tendo sido o Inferno o que se leu no primeiro romance do tríptico, ocorrem ainda outros acontecimen-tos insólitos. Se os primeiros eventos são sempre referidos com a ressalva da comparação ou do rumor de uma população demasiado imaginativa, como quando «a mansão paroquial ameaçava alar-se no ar e depois de-sabar sobre as nossas cabeças» (p. 18), existem outros prodígios que o narrador jura ter testemunhado: «(...) e não, não é fantasia minha -, vimos que choviam no silêncio peixes cor de chumbo: arenques, tainhas e ma-ramóis. A seguir, choveram revoadas de pétalas de rosas brancas e ama-relas. Depois, hortênsias de todas as cores e tons. As ruas apareceram juncadas como nos dias de procis-são. E caranguejos cegos, de uma extraordinária cor lunar, começa-ram a inundar aos poucos as vale-tas.» (pp. 34-35). Um falso Paraíso chega depois, quando a libertação da Ilha ocorre com a chegada dos marines americanos, que serão sar-casticamente descritos como anjos na terra, com os «olhos azuis des-ses meninos musculados, todos eles muito bem-parecidos, com um ar misto de anjos marciais e guerreiros amotinados, porque eram a nega-ção da inocência e da infância que tinham vivido lá na terra que os ar-mara para dominar o planeta» (p. 101). Invadem o Rozário, nos seus submarinos, prontos a colonizar essa ilha, a exportar doenças e ou-tras moléstias, para depois oferta-rem, em compensação, drogas expe-rimentais. O insólito balança assim num desacordo hesitante entre o maravilhoso que volta, novamen-te, a desvanecer-se conforme essa diatribe de dimensão política ga-nha força, mas onde se sente ainda a voz crítica que denuncia imposi-ções e totalitarismos.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

foto: Joana de Melo

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05.07.2013  7Cultura.Sul

“A TERRA PROMETIDA”Até 30 AGO | Centro Cultural de LagosExposição de Arte do Grupo de Artistas Mundial inspirada na natureza. O conceito de estética e beleza é universal e os autores querem partilhar o seu universoAg

endar

Momento

“staymobil”Foto de Vítor Correia

“REFLECT”6 JUL |21.30 | Teatro Municipal de PortimãoResultado de muitas horas, muita dedicação e, sobretudo, muito amor à música, Último acto transporta-nos para o universo de Reflect, num espectáculo intimista

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05.07.2013 8 Cultura.Sul

Ares Condicionados

Ele haveria de conseguir um me-lhor emprego em breve, se Deus qui-sesse, esperançava-se ela, para que fosse mais fácil colmatar as despesas que teriam com a aquisição do T3. As-sim pensava a sonhadora professora de Ciências, apesar do seu Zé há já alguns meses não falar em procurar novo emprego, que aquela obra na Quinta do Lago estava a dar alguns lucros e contactos.

Mas o que importava agora era des-frutar daquele belo dia de praia de início de Verão. Iam ficar uns dias na casa dos pais num aldeamento turís-tico perto da praia. Ele dera-lhe a mão durante a viagem no comboiozinho que os levava até ao areal, e dissera--lhe ao ouvido que também a amava. Ainda com poucos banhistas em vol-ta, toalhas de banho estendidas estra-tegicamente lado a lado e creminho protector posto um ao outro com cuidado e risinhos. Devido à falta de vento podia sentir-se no ar um aro-ma leve e adocicado, libertado pelo narciso-das-areias (pancratium ma-ritimum) que nesta altura do ano já abria as suas enormes flores brancas, ali atrás nas dunas, onde enterra os seus bolbos, que apesar de belos po-dem no entanto ser bastante tóxicos.

Vou nadar! Queres vir fofinha? perguntou José, mas ela preferia fi-car ali mais um bocado para ganhar um pouco de bronze. A admirá-lo no andar de tronco nu, viu-o entrar na água e nadar para fora de pé. Mas de repente, ela virou-se para o saco a seu lado procurando o telemóvel que tocava. Agarrou o aparelho e atendeu o telefonema da mãe. Meteu o telefo-ne de novo no saco, e dirigiu-se para a beira-mar ao encontro do seu Zé. Mas não o via. Olhou para um lado e para o outro da praia, e de novo para a frente - para o mar ali mesmo a seus pés, mas não viu o Zé. Uma grande tristeza invadiu-lhe o peito, sentiu que o perdera - ao seu que já não es-tava ali mais, mais-que-tudo Zé.

Aconselharam-na a comunicar o desaparecimento na Polícia Judiciá-

ria. Descreveu-o aos dois inspectores de prevenção no piquete:

José Vaz Campos. 27 anos, 1,80m, 78kg, solteiro, natural de Leiria. Mo-rador na Av. Cidade de Hayword, 54 - 5ºF, Faro. Engenheiro, vendedor de ar condicionado. Conheço-o há dois anos, desde que namoramos. Não tenho conhecimento que sofresse de alguma doença. Ele é muito saudável, assegurou Mafalda.

Não a querendo incomodar mais o agente da autoridade disse-lhe que

em breve a contactaria. Assim aconte-ceu. Passaram duas semanas até que um agente da PJ ligou e lhe disse que tecnicamente, enquanto a pessoa não aparece o caso não está encerrado e acaso o sr. engº Campos se tivesse afogado naquela praia já o corpo te-ria aparecido. Tudo levava a crer que o namorado desaparecera por terra, e não por mar. E isso, quer seja mais ou menos boa notícia, levava a acre-ditar que o homem… o seu namora-do, estava vivo. Normalmente, e não havendo indícios de crime como é o caso, quem é maior de idade, muitas vezes desaparece para mudar de vida.

Como podia acreditar que o seu Zé podia estar vivo, mas vivo de que modo, se não estava com ela. E desaparecera por terra, pela areia,

junto ao mar? Naquele fatídico dia realmente havia pouca gente, mas mesmo assim é verdade que é pos-sível facilmente perdermos de vista uma pessoa na praia, e se calhar mais ainda se esse alguém, se ele… quises-se escapar. Seria talvez isso o que o agente queria insinuar…?

No dia seguinte, ainda cheia de dúvidas Mafalda regressou à casa de férias. Encheu-se de coragem e voltou finalmente à praia, o ‘local do crime’ por assim dizer. Reparou num iate

que passava ao largo. Instintivamente repetiu um gesto que lhe era habitu-al, e quando focou o iate, aquele ho-mem de copo na mão sorrindo para uma bela mulher loura era o mesmo que era o seu Zé. Por instantes pensou que delirava, que ia mesmo precisar de ajuda, que não podia mais conti-nuar assim naquela busca obssessi-va. Levou de novo os binóculos aos olhos sem saber se queria mesmo ver o José no barco. Banheiro!, gritou ela e pediu-lhe que os apontasse na di-recção do iate. O rapaz murmurou baixinho confirmando: Sim! Parece o mesmo homem das fotografias que a Polícia Marítima nos entregou. Por momentos o rapaz pensou que ela ia desmaiar. Mafalda fechou os olhos, colocando ambas as mãos sobre a

face. Ficava claro que o José Vaz co-metera o delito do seu próprio rapto e agora como que voltava ao local do mesmo, esse lugar-comum onde se diz voltarem os criminosos. Daí a poucos segundos, inexplicavelmen-te, já não se avistava qualquer tipo de embarcação no horizonte visível.

Ao fim da tarde, quando fazia as malas para partir, recebeu a visita dos agentes da PJ encarregues do caso ‘JVC’, assim o alcunharam entre eles. Acharam-na com melhor as-

pecto, com outra cara. Agradeceu e disse-lhes que podiam dizer ao que vinham, que passado este tempo já se sentia preparada para ouvir o que quer que tivessem para lhe dizer. Co-meçaram: - tal como lhe tinha dito 90% dos desaparecimentos não são fruto de crime. O Sr. José Campos está vivo e de saúde. Como foi a senhora que nos apresentou a ocorrência pre-cisamos que veja estas fotografias e confirme se esse é ou não o presumí-vel desaparecido. É que o desapareci-mento por si só, não é tratado como um processo-crime. Sendo maior de idade, a pessoa tem direito a desa-parecer voluntariamente e, caso seja encontrada, pode pedir à polícia que a sua localização não seja revelada.

Mafalda confirmou. Aquela era a

carrinha da empresa de José, com as iniciais - JVC. O homem a entrar e a sair daquela vivenda, sozinho, ou com um técnico ou outras vezes com uma mulher loura que parecia estrangeira, durante vários dias e a di-ferentes horas do dia ou da noite, era de facto José Vaz Campos. O mesmo indivíduo que ela lhes comunicara ter desaparecido. Mesmo que quisesse não havia como negar tamanha evi-dência. Calmamente, sem tremer a es-ferográfica, assinou a retirada de pe-dido de investigação. Agradeceu mais uma vez aos agentes e ofereceu-lhes uma bebida, que recusaram com o clássico: obrigado, mas nunca bebe-mos em serviço. Apesar do calor que se faz sentir aqui dentro, completou o experiente polícia que ficara um pouco apreensivo com a aparente frieza que a jovem demonstrou pe-rante a eficaz, rápida e surpreendente resolução do caso. Por isso o agente não resistiu: tem o ar condicionado avariado? Devia mandar arranjá-lo. Estamos no pino do Verão e apesar de tudo, a vida continua. Não a inco-modamos mais, menina, boa tarde. Obrigado pelo excelente trabalho e apoio, concluiu a rapariga.

Sabia-lhe bem estar ali sozinha no apartamento onde os pais viviam, para mais agora que estavam nas termas. Ligou o ar condicionado da sala, embora soubesse que lhe cau-sava sempre um pouco de tosse. Lá fora o sol estava quase a pôr-se para lá da ilha de Faro reflectindo tons de toranja nas águas calmas da ria, mas a temperatura mantinha-se ainda nos 30 graus. Por ser sábado, o tráfego aé-reo era mais intenso que o normal. Da varanda da sala, usando os velhos binóculos que o pai trouxera como recordação dos tempos vividos na Su-íça, conseguia quase ver as caras feli-zes ou infelizes dos passageiros quan-do os aviões aterravam e descolavam.

Mas estava quase na hora. Ia encon-trar-se com amigos e um ex-colega de faculdade que estava de férias na capital algarvia e queria revê-la. Agar-rou no comando para desligar o ar condicionado e quando olhou para o aparelho para confirmar se o peque-no ponto de luz verde se apagara, reparou nas letras LG, que o identifi-cavam. Saiu. Desde que finalizaram o curso que não via o Luís Garcia e não o queria fazer esperar.

O agente tinha razão. O Verão não terminara, podia apenas ter estado em modo pausa.

Pedro [email protected]

Contos de Primavera na Ria Formosa

d.r.

“CAMÕES, PESSOA E OS OUTROS…”Até 30 JUL | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - AlbufeiraExposição de cerâmica de Domingos Viterbo, que, segundo o autor, é dedicada “a todos os heróis, artistas, anónimos do quotidiano, com os quais nos cruzamos diariamente”Ag

endar

“EGIPTO”Até 27 SET | Casa da Cultura islâmicae Mediterrânica, em SilvesA exposição, de Pedro Barros, composta por 18 fotografias, percorre o Egipto Antigo e Moder-no, um país que se estende ao longo do Vale do Nilo

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05.07.2013  9Cultura.Sul

Leituras Zen (ou uma reinvenção do poético)

Massagem de relaxamento + impro-visação musical (instrumental) + leitura personalizada de textos literários? Trata--se, no fundo, de uma proposta de rein-venção do toque, do som (não-verbal) e da palavra, criando assim uma harmo-nização global entre diferentes lingua-gens terapêutico-estéticas, que visa um bem-estar integrado do indivíduo, com benefícios ao nível da descompressão/

apaziguamento físico-psíquicos, da es-timulação imaginativa e do incentivo informal (incomum e original) à leitura.

Esta abordagem interdisciplinar pres-supõe a criação de uma atmosfera pro-pícia e condizente, podendo a eficácia e impacto do formato ser mais ampliados caso se opte por espaços não convencio-nais e inesperados, que permitam, ain-da assim, um controle das condições ambientais a nível de insonorização, luminosidade e temperatura. É ainda importante o uso de acessórios que in-tensifiquem a envolvência, o conforto e o intimismo, como velas, incensos, biombos, toalhas, pedras ornamentais e livros.

Quanto à massagem, o participante pode escolher o tipo de técnica e as zo-nas corporais que pretende ver explo-radas, decidindo também se prescinde do vestuário ou não. A sessão não deve-rá exceder os 15 ,́ assegurando assim o

tempo necessário tanto a um efectivo relaxamento corpóreo-mental como à manutenção dos índices mínimos de atenção relativamente ao que está a ser lido.

A selecção de conteúdos textuais a ler é fundamental, dependendo também dos efeitos que se pretende atingir e dos temas a explorar. Convirá apostar em textos (relativamente) breves – po-emas, crónicas, prosa poética, etc. –, vi-suais e “planantes”, emocionalmente expressivos, que permitam a viagem da imaginação, devendo os mesmos ser de-pois disponibilizados aos participantes para que estes possam aprofundar esse conhecimento ao nível da leitura.

Os textos devem ser acompanhados de “paisagens musicais”, interpretadas ao vivo em tempo real (com improvi-sação associada), que possam ilustrar, envolver e enfatizar a mensagem ver-bal transmitida. Devem privilegiar-se

instrumentos, de cariz intimista, como o violoncelo, acordeão, harpa, flauta, alaúde ou marimba, bem como, em complemento, outros de envolvimento ambiental: chocalhos/guizos, caixinhas de música, blocos sonoros, pau-de-chu-va, mbira, ovos, etc. A música clássica, o jazz, o fado e certos estilos de fusão constituem áreas férteis com segmen-tos/registos que podem ser aproveita-dos neste formato.

Em suma, o desafio maior das Leitu-ras Zen reside na conjugação sensorial/sinestésica e estética entre os três profis-sionais que abordam simultaneamente o mesmo indivíduo: a terapeuta, a lei-tora e o músico/performer, de modo a que os jogos e nuances de intensidade, abrandamento, prolongamento e pau-sa/silêncio ao nível do toque na pele, da palavra dita e do som instrumental emitido funcionem como um todo co-erente, harmonioso e expressivo.

Turismo e Património

Nasci em Portimão e aqui pas-sei os meus primeiros 17 anos; não sendo um especialista na área do Património, escrevo esta rubrica es-sencialmente como um cidadão que, há cerca de quatro anos, voltou para viver e trabalhar na terra onde nasceu.

Todos sabemos da falência do mo-delo turístico dito de “sol e mar”, ado-tado nos últimos 30 anos na maioria do território algarvio, da cruz da sazo-nalidade e da crise económica mun-dial. De fato, o conjunto destes fatores impuseram uma urgência na valori-zação, dinamização e rentabilização económica do Património Algarvio.

O Património, na sua grande abran-gência material e imaterial, quando combinado de forma sistémica inte-

grada, pode traduzir benefícios eco-nómicos imediatos à região.

O Turismo de qualidade não vive sem Património e vice-versa.

Ao conciliarmos de forma inteli-gente e inclusiva a população local, portadora de um enorme Património imaterial, com a capacidade de pro-

moção do pouco Património Material que o Algarve possui, sem nos esque-cermos de vender experiências fortes de beleza natural, desporto, gastro-nomia, biodiversidade marinha/ter-restre, etc., certamente faremos com que o Algarve se torne numa região bem mais rica.

Não basta possuir património, há que integrá-lo, identificá-lo e cons-truir uma narrativa que o defina para que, de futuro, consigamos que todo ele se torne sustentável.

A identificação de todos nós - população local - com o nosso Pa-trimónio é igualmente importante para a sua verdadeira valorização económica.

Nada mais saudável para uma re-gião, cidade e/ou localidades, que os seus habitantes se identificarem, promoverem e cuidarem diariamen-te do seu Património.

Quando me refiro a uma atua-ção sistémica integrada na região, refiro-me a uma atuação que inte-gre os vários sistemas existentes no Universo Algarvio (Social, Urbano, Economico, etc.) e que privilegie a relação entre os vários elementos de cada sistema, em prol da valorização Patrimonial. Um bom exemplo des-

ta abordagem é o saber jogar com o Marketing de Cidades. Numa re-gião, como o Algarve e usando como exemplo o Barlavento, o marketing de cidades não necessita de ser com-petitivo entre elas. A distância e a di-versidade de oferta que possuem não o justificam. Estas cidades podem

antes complementar-se entre si na sua oferta, o nosso Pais é conhecido internacionalmente pela diversidade de património em tão pouco territó-rio, o Algarve não é exceção.

Somos um conjunto de cidades pequenas, repletas de território en-volvente rico em terras agrícolas, com portos fantásticos propícios a várias atividades económicas para além da pesca. Então, porque não conciliar tudo isto com as várias ver-tentes do nosso Património?

Gostaria de terminar esta rúbrica com um exemplo claro que, humil-demente penso ser concretizável, sem ter de ser gasto grande parte dos fun-dos comunitários disponíveis para o Algarve…

Um Cruzeiro chega a Portimão, um avião chega a Faro, um veleiro chega a Lagos, alguns automóveis chegam a Monchique, um autocarro estacio-na em Silves, começaram as aulas de surf em várias praias de Vila do Bispo…Verão? Nem por isso, estamos em ple-no Inverno e o Turista vem em busca do nosso Património construído e re-abilitado, da nossa gastronomia, das nossas destilarias de medronho, das nossas experiências radicais, da nossa biodiversidade.

Consegue estar em Itália cinco dias na praia, sem conhecer a vila ou cidade onde dorme? Que queremos nós quan-do viajamos?

O Património do Algarve faz parte de nós, o primeiro passo para a sua sustentabilidade e viabilização eco-nómica começa connosco.

Espaço ao Património Sala de leitura

d.r.

Francisco AlvoColaborador no Programa de rege-neração Urbana do centro antigode Portimão - Por Ti

Paulo PiresProgramador Cultural no Departa-mento Sociocultural do Município de [email protected]

d.r.

Page 10: CULTURA.SUL 59 - 05 JUL 2013

05.07.2013 10 Cultura.Sul

Na senda da Cultura

Verão aquece ao som dos festivais de música

12 a 14 JUL Passeio Marítimo de Algés

Bilhetes: Diário: 53 euros 3 dias: 105 euros

São 105 artistas confirmados para aque-le que é um dos mais conhecidos festivais portugueses e que promete muitas vibra-ções no Passeio Marítimo de Algés.Três palcos, com a escolha a ser difícil, mas entre os nomes confirmados estão os GreenDay, os Vampire Weekend, ou os Disclosure. A não perder os ‘velhinhos’ Depeche Mode que actuam no mesmo dia dos Crystal Cas-tles e de Matias Aguayo Live feat Alejan-dro Paz.No fecho os Kings of Leon actuam uma hora depois dos Band of Horses arranca-rem. Apenas destaques, porque há música para todos os gostos com o Tejo aos pés e a Trafaria como pano de fundo.Saiba mais em: optimusalive.com

MEO Marés Vivas 18 a 20 JUL Vila Nova de Gaia

Bilhetes: Diário: 30 euros 3 dias: 60 euros

Os palcos acolhem os artistas frente ao Douro e o difícil é saber o que não per-der entre nomes como os Bush, os The Smashing Pumpkins chegados de Chicago. Se estes são os nomes para o dia da aber-tura, James Morrison, os portugueses Ore-lha Negra e David Guetta estão agendados

para o dia 19.Rui Veloso, Thirty Seconds to

Mars e Virgem Suta têm concerto no dia de encerramento do festival.Saiba mais em: maresvivas.meo.pt

Super Bock Super Rock 18 a 20 JUL Meco

Bilhetes: Diário: 48 euros 7 dias: 90 euros, campismo incluído

Três dias, três palcos, música sem fim e a praia ali ao lado, são as propostas de mais um senhor dos festivais portugueses.O Super Bock Super Rock tem na lista de artistas os Artick Monkeys, Kalú e Nina Kraviz, a par de nomes como os Kaiser Chiefs, os Clã e Ricardo Villalobos.Para o dia do fecho estão marcados os Queens of The Stone Age, Digitalism Dj Set e Carl Craig, entre outros. Apenas al-guns destaques para adoçar a curiosidade de um cartaz recheado.Saiba mais em: superbocksuperrock.pt

Músicas do Mundo de Sines 18 a 27 JUL Sines

Bilhetes: Diário: 5 ou 7 euros 7 dias: 50 euros

Sete é um número com significados vá-rios, mas em Sines, este mês é o número de dias que durará o Músicas do Mundo que oferece vários concertos em espaços diferentes, desde o Castelo até à Av. Vasco da Gama, passando pelo Centro de Artes local.Amadou & Mariam actuam no primei-ro dia e daí em diante são sete dias non stop com nomes como a brasileira Celina Piedade, Baloji, JP Simões ou Hermeto Pascoal, que chega ao Alentejo vin-

do do Brasil.Jon Luz dá-nos Cabo Verde e Sílvia Pérez Cruz entrega-nos a Catalunha. Lugar ainda para a música da Extremadura espanhola com Extremadura Territorio Flamenco no mesmo dia em que actuam os Rokia Trao-ré do Mali. Os Gaiteiros de Lisboa, os Bom-ba Estéreo são outros nomes agendadosSaiba mais em: www.fmm.com.pt

EDP Cool Jazz 24 e 25 JUL Oeiras

Bilhetes: 25 a 60 euros

Maria Gadú e Djavan vêm do Brasil, Luísa Sobral e Ana Moura jogam em casa, mas o Cool Jazz tem muito mais. Rufus Wainwri-ght, Jamie Cullum e John Legend são ou-tros dos artistas, a que se somam Diana Krall e Lee Fields, entre outros.Desde o Parque dos Poetas aos Jardins do Marquês, Oeiras prepara dois dias de Julho para serem vividos em grande, com uma atitude cool entre muito jazz.Saiba mais em: edpcooljazz.com

MEO Sudoeste 7 a 11 AGO Zambujeira do Mar

Bilhetes: Diário: 48 euros 5 dias: 95 euros, campismo incluído

O gigante a Sul dos festivais portu-gueses é o Sudoeste, que este ano propõe um cartaz

imenso para cinco dias passados na costa alentejana.Os dois palcos e a famosa tenda vão aco-lher nomes da cena musical nacional e mundial como Sativa, Dj Vibe, Funkyou2, o algarvio João Maria ou os Mind da Gap.Cee Low Green, Janelle Monáe e os Expen-sive Soul estarão por terras de Odemira a par de FatBoy Slim, Richie Campbell e Capleton, entre um sem fim de propostas para todos os ouvidos.Imperdível dizem os festivaleiros mais convictos, recordando que o Sudoeste é um ícone da cena festivaleira de Verão em terras lusas. Vá acampar ou só ouvir con-certos, mas vá porque este ano só há um Sudoeste.Saiba mais em: www.sudoeste.meo.pt

Vodafone Paredes de Coura 13 a 17 AGO Paredes de Coura

Bilhetes: A definir Passe ‘all acess’: 80 euros

Paredes de Coura regressa com toda a força e nomes como os Unknown Mortal Orchestra, The Knife e John Talabot (live), prontos a arrebatar a audiência tanto ou mais que os The Vaccines, Cold Cave ou Belle and Sebastian.O recinto tem capacidade

para 25 mil pessoas e oferece babysitting entre as 19 e as 4 horas da manhã para os pais babados que não querem perder o eterno Paredes de Coura, nem deixar de estar perto dos seus rebentos.Saiba mais em: paredesdecoura.com

Ilha dos Sons 29 a 31 AGO Mértola

Bilhetes: Diário: 15 euros 3 dias: 40 euros

Mértola regressa à rota dos festivais de ve-rão este ano com a Ilha dos Sons a ocupar a Mina de São Domingos com os sons de reggae, soul, rock e dance.The Lux Brothers, Diogo Menasso e Noi-dz contracenam em estilos com Capitão Fausto, Nu Soul Famali, Jahvai ou Karetus, entre outros, num festival que se apresen-ta no Alentejo profundo.Mértola, ali mesmo ao lado, pede para ser visitada e vivida com o Guadiana como en-quadramento insubstituível, num périplo para refrescar enquanto se prepara mais um dia de festival.Saiba mais em: ilhadossons.com

Os festivais de Verão são muitos e espalham-se de

norte a sul de Portugal, congregando pessoas de

todas as idades e proveni-ências numa das mais transver-sais experiências culturais que

existem no país.Há anos que marcam a agen-

da cultural da chamada silly season e tornaram-se em muitos casos um must a que muitos recusam faltar. Certo é que pela mão destes even-

tos, mesmo em tempos de crise, os portugueses têm acesso a concertos de algumas das bandas e músicos de maior renome a nível mundial. Nomes que numa tournée a solo di-ficilmente realizariam um concerto em terras lusas.

O Cultura.Sul foi investigar o que Julho e Agosto reservam nesta área aos melómanos dos mais diversos géneros musicais e traz-lhe uma re-senha da imensa escolha que o país oferece.

Sem nenhum dos grandes acon-tecimentos do género a realizar-se por terras algarvias, há que sair do Algarve à procura das terras do som, mas o vizinho Alentejo promete já aqui ao lado pesos pesados da cena festivaleira nacional.

Decerto há um festival onde se en-quadra e o desafio fica lançado, de mochila às costas ou noutro registo a lembrar os tempos da juventude, faça-se ao caminho que a música, essa, é certa. Ricardo Claro

Optimus Alive

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05.07.2013  11Cultura.Sul

Jacinto Palma Dias, autor do livro Algarve em 3D

As dimensões do Algarve

Veio recentemente ter à mi-nha biblioteca um livro publi-cado no passado mês de abril: Algarve em 3D, de Jacinto Palma Dias (historiador, an-tropólogo e agricultor), com fotografias de Filipe da Palma.

O livro começa na capa. Não estou a usar uma metáfora, querendo significar que a capa já é significativa em relação ao conteúdo. Não: o livro começa, literalmente, na capa, pois tem aí um texto que nos introduz ao tema e ao tom do que va-mos ler: com uma linguagem muito própria, entrelaçando comentários críticos e empí-ricos, por vezes irónicos, com estudos que fundamentam as suas afirmações, Jacinto Palma Dias faz uma declaração públi-ca de amor pelo Algarve, não se compadece de quem dele não o tem cuidado e, sem papas na língua, critica o estado atual em que a região se encontra, não deixando de lhe elogiar as qualidades:

«Este folhado de três folhas procura extrair da escuridão e colorir com a mesma lumino-sidade aquele Algarve que se apresentou a Sophia e a Torga, mesmo que estar cego, surdo, mudo, paralítico e coxo seja o seu estado actual, em conformi-dade com a praga que lhe lan-çaram. Nem sequer notou que estava falido mentalmente. Só lhe resta olhar para si próprio se ainda conseguir reconhecer-se».

Primeira dimensão: «pão de ontem, peixe de hoje,

vinho de outro verão fazem um homem são»

O livro está dividido em três partes, cada uma correspon-dendo a uma dimensão do

Algarve. A primeira chama-se «No prato da açorda» e nela o autor defende a ancestralida-de deste prato, que descreve como de «um minimalismo arquitectado sobre o alho», contrapondo a singeleza do seu sabor à «infindável fusão de ingredientes adocicantes, dispensando o uso do alho», característica da cozinha ára-be, vendo aí uma prova da existência de uma «soberania

cultural moçárabe sob a alçada muçulmana» (p. 14). E conclui que, «Muito longe de ser um prato de pobre a açor-da atravessa todas as classes sociais até porque nunca a excelência gustativa é discri-minatória» (p. 15).

E usa uma interessante alegoria musical para o des-crever: «Ela [a açorda] pode cantar apenas com os seus instrumentos de ritmo, o pão, o azeite e o alho. Mas também pode contratar um solista, que

pode ser o coentro, ou o poejo ou a hortelã da ribeira» (p. 11).

Segunda dimensão: a cenografia

das platibandas – um objeto falante

A segunda parte intitula-se «Na platibanda» e é acompa-nhada de fotografias ilustra-tivas desta arte, presente na arquitetura algarvia, mas em via de extinção. Jacinto Palma Dias situa historica-mente o desenvolvimento deste adorno das casas, re-conhecível pelas suas cores e formas, que acaba por ser

um «exercício de individua-ção», quer de quem encomen-da quer de quem constrói (p. 31). E, para justificar o aspeto único desta original arquitetu-ra popular, só possível devido ao caráter especial de quem a criou, faz um apanhado da in-submissão do Algarve, desde os anos da crise de 1383-85, em que os exércitos de Nuno Álvares Pereira eram com-postos maioritariamente por alentejanos e algarvios, até ao início do século XIX, com a re-sistência aos franceses, aquan-

do das invasões, «em que o primeiro sinal de liberdade é dado na vila de Olhão (“da res-tauração”)» (p. 27), concluin-do que, «Existe, portanto, um lastro cultural de irreverência sem o qual a cenografia das fa-chadas teria ficado às escuras» (idem).

Há também uma crítica ex-plícita quer aos poderes po-líticos, que descuraram, nos planos de ordenamento do território algarvio, a compo-nente arquitetónica, quer aos investigadores da História da Arte, que, ao contrário dos bra-sileiros – que estudam as pla-tibandas do Brasil –, têm ne-gligenciado o caso português.

A tese aqui é que a casa é um «objecto animado». E, se em relação à açorda, o autor usou uma alegoria musical, aqui usa uma teatral: «ela [a casa] é o protagonista princi-pal de um teatro mágico em que ela se requer como espa-ço inviolável. (…) exige um su-porte, que é a fachada, exige um encenador, geralmente do sexo feminino, e um rea-lizador, que será o mestre da obra. E teremos o espetáculo» (p. 21).

Terceira dimensão: o Algarve impressionista

Intitulada «No jardim botâ-nico», esta é a dimensão que mais veementes críticas sugere ao autor, que não se coíbe de ser cáustico e de culpar a cultu-ra do betão como responsável pelo estado do Algarve: «um tapete que toda a gente suja e ninguém limpa», fruto de uma baixa autoestima. Além disso, foi «Completamente desgover-nado pela mão de municípios que rapidamente aprenderam que isso do turismo se resumia a edificar os mesmos dormitórios dos quais os visitantes fugiam» (p. 36).

Elogiando personalidades co-nhecidas de todos, como o poe-ta João Lúcio e o escritor Manuel Teixeira Gomes, destaca neles as suas variadas qualidades: o pri-meiro foi presidente da câmara, o segundo, presidente da repú-blica; o primeiro construiu uma casa de arquitetura simbolista, o segundo negociava «partidas de figo em hotéis de luxo». A estes acresce «António Aleixo deam-bulando entre feiras de gado e o então selecto café Aliança em Faro» (p. 46). Esta diversidade de personalidades e de atividades a que se dedicavam demonstra a simbiose que existia no Algarve entre o homem e a natureza.

Muito se aprende com este capítulo, que enumera a grande biodiversidade algarvia, desde a fauna (no gado vacum, a raça mertolenga e a raça de Lagos; nos ovinos, a churra algarvia e a cabra algarvia; nos canídeos, o cão de água português – que ori-ginalmente era chamado “cão dos caíques”; nas águas, o sara-mugo ou o camarão de Monte Gordo) à flora, em que a enume-ração é impossível, tantas são as espécies aqui encontradas.

Além de instrutivo, este livro, como objeto, é muito bonito: o elegante design gráfico de Pere Valls Comas equilibra as expres-sivas fotografias de Filipe da Pal-ma (que devem, provavelmente, ocupar tanta mancha gráfica como o texto) com as palavras eloquentes de Jacinto Palma Dias.

d.r.

Da minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“FERNANDO PINHEIRO LÁ IN LOULÉ-AL-‘ULYÀ PINTURA”Entre 13 JUL e 30 SET | Convento de SantoAntónio - Loulé Fernando Pinheiro transporta na sua pintura as mar-cas de uma geração. Viveu a guerra, a imigração, o pós-Maio de 68, as interrogações de um mundo que vertiginosamente mudavaAg

endar

“DENTRO DO CORPO, FORA DO CORPO”Entre 19 JUL e 7 SET | Teatro Municipalde Portimão Exposição de fotografia e instalação, com banda so-nora e textos de Rui Gonçalves e fotografia de Nuno Borges

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05.07.2013 12 Cultura.Sul

Em 2010, a Direção Regional de Cultura do Algarve e a Uni-versidade do Algarve iniciaram uma parceria para a definição de uma estratégia cultural para o Algarve que fornecesse âni-mo e firmeza programática à gestão dos recursos culturais da região. Num primeiro momen-to, realizou-se o ciclo Cultura em Conferência (2010/2011) do qual resultou a publicação de um livro dedicado à políti-ca e gestão cultural, passando pelo associativismo e turismo cultural1. Na sua continuida-de, e ao longo de todo o ano de 2011, realizou-se um ciclo de conversas informais, deno-minadas Quintas de Cultura, dedicado à questão da criação contemporânea na região, cujo título genérico remete para uma realidade regional acen-tuadamente setorizada e onde uma perspetiva de «arquipé-lago» se impõe, por norma, às iniciativas em «rede».

Consequência desse segun-do ciclo, e num momento crítico para a criação cultural

na região, reúne-se agora, em outro volume2, um conjunto de textos que são expressão de diferentes visões da teoria e da praxis da criação, produção e comunicação de Cultura no Algarve, contendo abordagens setorizadas acerca das condi-

ções - mentais e materiais - com que, na região, se confrontam os

profissionais do setor produtivo que tem vindo a ser designado como das atividades criativas.

Entre abril e novembro de 2011 e, fazendo jus à epígrafe, nas últimas quintas-feiras de cada mês, Artes, Letras, Sons, Ciências e Formas foram, suces-sivamente, objeto de distintas e problematizantes abordagens

por parte de quem, no extremo Sul de Portugal, cria e sente a riqueza e diversidade, vivendo os problemas e as oportuni-dades destes diversos âmbitos criativos.

O conjunto, muito diversi-ficado, de textos compilados neste volume, de modo algum constitui um mero resumo de

cada uma das conversas temá-ticas havidas, em espaços cara-terizados pela informalidade e nos quais, por vezes, a veemên-cia de expressão dos diferentes pontos de vista deu origem a acesos debates. Pelo contrário, sem contingências de pontos de vista nem posicionamentos de relator, e todos eles implica-

dos, cada um a seu modo, na criação cultural no Algarve, um conjunto de autores dão o seu contributo para a definição das estratégias de gestão dos recur-sos culturais da região.

Os textos agora reunidos as-sumem-se como espaço de re-flexão, retrospetiva em alguns casos, prospetiva em outros, constituindo um incontornável contributo para um Plano Estra-tégico Regional para a Cultura.

1Oliveira, L. F.; Bernardes, J. P.; Tavares, M. (ed.), A Cultura em Con-ferência. Faro: Universidade do Al-garve / Direção Regional de Cultura do Algarve, 2011.

2Paulo, D.; Oliveira, L. F.; Tavares, M.; Bernardes, J. P.; Parreira, R. (ed.), Quintas de Cultura: A criação cultu-ral no Algarve. Faro: Universidade do Algarve / Direção Regional de Cultura do Algarve, 2013.

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Criar Cultura no AlgarveEspaço cultura

d.r.

pub

Num momento crí-tico para a criação cultural na região, Quintas de Cultura reúne em livro um conjunto de ensaios em torno da cria-ção contemporânea na região, cujo títu-lo remete para uma realidade regional a c e n t u a d a m e n t e setorizada, onde a perspetiva de «ar-quipélago» se impõe, por norma, a uma vi-são de «rede»