CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO SUPERIOR DE SERVIÇO SOCIAL CARMEN MONARI – R.A. 1126083 JAQUELINE GIRALDI DA SILVA - R.A. 1101503 MARIA CRISTINA PACHECO BORGES RIGHETTI R.A. 1111099 CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante SÃO PAULO

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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA

CURSO SUPERIOR DE SERVIÇO SOCIAL

CARMEN MONARI – R.A. 1126083

JAQUELINE GIRALDI DA SILVA - R.A. 1101503

MARIA CRISTINA PACHECO BORGES RIGHETTI

R.A. 1111099

CODEPENDÊNCIA:

Um fenômeno relevante

SÃO PAULO

2015

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CARMEN MONARI – R.A. 1126083

JAQUELINE GIRALDI DA SILVA - R.A. 1101503

MARIA CRISTINA PACHECO BORGES RIGHETTIR.A. 1111099

CODEPENDÊNCIA:Um fenômeno relevante

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do grau do título de Graduação em Serviço Social apresentado à Universidade Paulista - UNIP

Orientador: DR. VANDERLEI DA SILVA

SÃO PAULO

2015

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CARMEN MONARI – R.A. 1126083

JAQUELINE GIRALDI DA SILVA - R.A. 1101503

MARIA CRISTINA PACHECO BORGES RIGHETTIR.A. 1111099

CODEPENDÊNCIA:Um fenômeno relevante

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do grau do título de Graduação em Serviço Social apresentado à Universidade Paulista - UNIP

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________/____/____Prof. Dr.

UNIP-Universidade Paulista

___________________________/____/____Prof. Dr.

UNIP-Universidade Paulista

___________________________/____/____Prof. Dr.

UNIP-UniversidadePaulista

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Com Açúcar, Com Afeto

Com açúcar, com afeto, fiz seu doce prediletoPra você parar em casa, qual o quê

Com seu terno mais bonito, você sai, não acreditoQuando diz que não se atrasa

Você diz que é operário, sai em busca do salárioPra poder me sustentar, qual o quê

No caminho da oficina, há um bar em cada esquinaPra você comemorar, sei lá o quê

Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assuntoDiscutindo futebol

E ficar olhando as saias de quem vive pelas praiasColoridas pelo sol

Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppoVocê vai querer cantar

Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigoPra você rememorar

Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criançaPra chorar o meu perdão, qual o quê

Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vidaPra agradar meu coração

E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado

Como vou me aborrecer, qual o quêLogo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato

E abro meus braços pra você

(Chico Buarque)

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RESUMO

Os levantamentos e pesquisas recentes demonstram que o tema escolhido, a codependência, está cada vez mais em evidência, principalmente em famílias que convivem com a dependência química. Os codependentes enfrentam problemas de toda ordem: físicos, psicológicos, sociais, financeiros e, além de seu próprio sofrimento, é inegável o papel que representam na recuperação de um dependente. Apesar dos avanços nos estudos sobre o fenômeno, a literatura ainda carece de publicações com rigor científico. Este trabalho, elaborado através de pesquisa bibliográfica, pretende aprofundar a compreensão do tema e das questões básicas relativas ao transtorno. A pesquisa tem por objetivo auxiliar os profissionais que atuam na área da dependência química e familiares que enfrentam o problema a ampliar seus conhecimentos sobre o tema. Após histórico do termo, são apresentadas as diferentes e inúmeras definições do fenômeno, confirmando as controvérsias em relação à classificação da codependência, bem como quanto a sua relação com o gênero feminino. Identificam-se os sintomas, estágios e padrões familiares, bem como a dinâmica de seus membros. É estabelecida a relação entre dependência e codependência, explorando os comportamentos facilitadores da adicção. Quanto à etiologia e tratamento são expostas algumas abordagens e ainda fazem parte do trabalho, propostas de questionários para identificação da codependência. Durante a pesquisa foi confirmada a escassez de material em português e espanhol e, ao mesmo tempo, reafirmou-se a relevância do tema e necessidade de maior aprofundamento nas pesquisas científicas sobre o assunto.

Palavras – Chave: Codependência. Codependente. Dependência. Dependente. Adicção. Adicto. Família.

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ABSTRACT

The recent surveys and researches demonstrate that the chosen theme, codependency, is increasingly in evidence, especially in families living with addiction. The addicts face problems of all kinds: physical, psychological, social, financial and, besides their own suffering, the role these problems play in the recovery of a dependent is undeniable. Despite advances in the study of the phenomenon, the existing literature still lack publications with scientific rigor. This work, developed through literature review, aims to deepen the understanding of the topic and the basic questions concerning the disorder. The research aims to help professionals working in the area of substance abuse and families that face this problem to expand their knowledge on the subject. After the historic of the term, the numerous and different definitions of the phenomenon are presented, confirming the controversy regarding the classification of codependency, as well as their relationship with the female gender. The symptoms, stages, family patterns and the dynamics of its members, are identified. The relationship between dependency and codependency is established, exploring the behaviors that facilitate addiction. Regarding the etiology and treatment, some approaches are exposed and, still part of the work, quizzes for identification of codependency are proposed. During the research the shortage of material in Portuguese and Spanish was confirmed and at the same time, the relevance of the issue and need for further deepening in scientific research on the subject was reaffirmed.

Keywords: Codependency. Codependent. Dependence. Dependent. Addiction. Addict. Family.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 08

2 HISTÓRICO................................................................................................................. 12

3 CONCEITO.................................................................................................................. 15

3.1 Tipos de codependência............................................................................................ 21

3.2 Codependência: uma doença? ................................................................................ 22

3.3 Codependência e gênero .......................................................................................... 24

4 CAUSAS DA CODEPENDÊNCIA ........................................................................... 28

5 CODEPENDÊNCIA E DEPENDÊNCIA ................................................................ 32

5.1 Comportamentos facilitadores da dependência ................................................... 34

6 CARACTERÍSTICAS DA CODEPENDÊNCIA .................................................... 37

7 ESTÁGIOS DA CODEPENDÊNCIA ...................................................................... 44

8 PADRÕES DE CODEPENDÊNCIA NA FAMÍLIA DISFUNCIONAL .............. 47

9 IDENTIFICAÇÃO DA CODEPENDÊNCIA ......................................................... 52

10 TRATAMENTO DA CODEPENDÊNCIA .......................................................... 55

11 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 57

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58

ANEXOS ..................................................................................................................... 64

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1 INTRODUÇÃO

“Talvez estejamos conectados a pessoas vivendo a vida delas e através delas por tanto tempo que não nos sobrou nenhuma vida para ser vivida.” (BEATTIE, 2013, p. 88).

O termo codependência é polêmico e se refere a um processo de dependência

basicamente emocional, mas com reflexos no físico e social, instalada a partir da convivência

com um dependente de substâncias psicoativas (SPA) ou com problemas de comportamento.

Em termos gerais, a codependência é descrita como uma relação disfuncional, na qual

o familiar passa a se preocupar mais com o dependente do que consigo mesmo. Com o tempo,

esse padrão de pensamentos e comportamentos pode se tornar compulsivo e prejudicial, como

se a pessoa se tornasse dependente do dependente.

É um processo de adoecimento que se desenvolve geralmente na família, mas que

pode afetar outros sistemas, onde as trocas afetivas estão comprometidas.

De acordo com Zampiere (2004a), a codependência pode se manifestar no indivíduo,

como um transtorno de personalidade ou como patologia de um sistema. Segundo a autora, a

codependência não é reconhecida como doença, mas admitida como construção social.

A teoria sistêmica afirma que, todas as pessoas que compõem a unidade familiar têm

um papel na maneira como funciona a família, como se relacionam os membros entre si e na

forma como o sintoma aparece. (BOWEN, 1974 apud TANAJURA; FERREIRA, 2012).

Os codependentes enfrentam problemas de toda ordem: físicos, psicológicos, sociais,

financeiros, etc. e apesar da controvérsia em relação a sua definição, é inegável o papel na

recuperação de um dependente. Inicialmente apresenta-se como uma resposta doente ao

processo, podendo promover o avanço da adicção através dos comportamentos facilitadores.

Muitos profissionais compartilham a ideia de que o núcleo familiar deve ser trabalhado

sempre que um de seus membros apresentar um problema que cause impacto na estrutura

familiar.

O termo codependência foi inicialmente utilizado para referir-se aos familiares de

dependentes do álcool, mas atualmente generalizou-se para outros problemas de

personalidade e relações disfuncionais como pais agressivos e autoritários; crianças e

adolescentes com problemas de comportamento; indivíduos perturbados emocionalmente;

doentes crônicos (esclerose múltipla, insuficiência renal, câncer, esquizofrenia, Alzheimer);

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pessoas em relacionamentos com indivíduos irresponsáveis; compulsivos por sexo, jogo,

trabalho, comida, etc.; enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais.

Boyd (2000, p. 17) coloca que cada pessoa “pode se tornar codependente não apenas

em relação a pessoas que lhe são mais próximos afetivamente, como até a pessoas de quem

não gosta, como o chato do vizinho”

O presente estudo procura se ater à questão da codependência gerada pelo convívio

com um dependente químico e espera contribuir positivamente, já que a literatura apresenta

uma grande lacuna sobre o tema, carecendo de rigor científico, fato este corroborado pela

pesquisa de Pereira e Sobral (2012), que ressaltam ser este tema muito importante para se

pensar em programas eficientes de tratamento da adicção.

O Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família),

feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2013, revelou que ao menos 28

milhões de pessoas no Brasil têm algum familiar que é dependente químico e mais de 10

milhões de familiares e amigos de dependentes em cocaína e crack sofrem do martírio da

codependência.

De acordo com a Federação do Amor Exigente (FAE), que reúne 920 grupos de apoio

aos familiares de usuários de drogas, por trás de um dependente, há pelo menos outras quatro

pessoas que também precisam de tratamento.

Um estudo desenvolvido pelo Ligue 132, em 2007, avaliou que 71% dos familiares

que buscaram ajuda do serviço apresentaram atitudes codependentes em relação aos usuários

de drogas. 

O tema escolhido propõe um olhar especial para aqueles que cuidam de alguém cuja

dependência física e/ou psicológica é intensa, dificultando e até prejudicando a relação entre

ambos e, em consequência, afetando todas as outras relações sociais. Busca esclarecer a

questão do comportamento dos familiares que vivenciam a doença e comprova, pela

relevância, a necessidade da intervenção junto à família do indivíduo dependente químico.

A família que tem um dos seus membros com algum tipo de doença mental passa por

muitas mudanças dentro de sua célula: problemas financeiros, emocionais e de convivência

social.

Todo o aparato de cuidados e preocupações é canalizado para o doente, esquecendo-

se, na maioria das vezes, da própria família como um todo, de seus membros e de sua própria

vida.

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As pessoas estão emocionalmente envolvidas e não se atentam para o fato de que elas

têm uma vida individual e precisam estar bem, ter outros interesses para poderem cuidar de

seu familiar doente de forma mais efetiva, gerando para todos, mais qualidade de vida.

A codependência é altamente prejudicial para ambas as partes e ao invés de ajudar o

doente a melhorar, alguns codependentes reforçam o comportamento patológico.

Alguns autores referem que as pessoas codependentes necessitam das pessoas doentes

em sua vida para serem felizes. Isto significa que, para o sucesso do tratamento do

dependente, toda a família deve sofrer a intervenção.

Este levantamento tem por objetivo apresentar um panorama da codependência e

fornecer informações sobre o tema, de forma a ampliar o material de pesquisa existente,

contribuindo para um maior conhecimento da questão. O levantamento espera ser útil aos

profissionais que trabalham com a dependência e a codependência e possibilite o

aprimoramento dos atendimentos.

Para tanto, utilizamos a pesquisa exploratória, nos valendo de um levantamento

bibliográfico de livros, artigos científicos, periódicos, teses, revistas, vídeos e informações

disponíveis na internet, sem deixar de considerar a experiência de cada membro do grupo

dentro de sua área de atuação profissional.

A fonte de dados desta pesquisa foi obtida basicamente através da pesquisa de

produção sobre o tema Codependência, Co - dependência, Dependência Emocional, sendo

que as referências de cada trabalho também serviram como material da pesquisa.

Neste contexto, com o objetivo de melhor compreender o fenômeno, apresentamos o

histórico e conceito da codependência, que aborda além da definição, os tipos, o

questionamento sobre ser ou não uma doença e a relação entre codependência e gênero.

Seguimos estabelecendo um paralelo entre codependência e dependência, enumerando

também os comportamentos facilitadores da adicção. Discorremos sobre a dinâmica da

codependência, nos capítulos que exploram os sintomas, estágios e padrões da codependência,

para finalizar com a identificação e possibilidades de tratamento.

Com o advento do crescimento econômico e tecnológico e a intensificação do modelo

econômico capitalista, as exigências sobre os indivíduos são cada vez maiores, pressionando

as pessoas a tal nível que elas acabam por adoecer.

Com as transformações da contemporaneidade a família torna-se novamente “espaço

privilegiado e insubstituível de proteção, socialização e cuidado” (PNAS - Plano Nacional de

Assistência Social, 2004, p. 25), mas também pode representar limitação e dificuldade na

recuperação do ente doente, pela codependência estabelecida.

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De acordo com a teoria sistêmica, situações de desequilíbrio, geradas por um membro

da família podem repercutir em todo o sistema familiar, tornando outro membro obsessivo e

cego a sua própria vida. Intimamente ligada, portanto, ao processo de recuperação individual

do doente mental, a família deve ser alvo da acolhida da equipe.

A preocupação com o tema da codependência é gerado pelo número crescente de

indivíduos com transtornos mentais, mais especificamente decorrentes do abuso de

substâncias psicoativas; pela afirmação da família enquanto espaço de recuperação ou de

agravamento da doença e pela constatação da doença familiar associada.

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2 HISTÓRICO

“O que acontece comigo? Ela pergunta. Eu preciso de um corpo morto deitado na minha cama para me sentir bem consigo mesma? ” (B. apud BEATTIE, 2013, p.133).

O conceito de codependência pode ser encontrado na década de 30, quando assistentes

sociais, em instituições de saúde mental, nos Estados Unidos começaram a entrevistar esposas

de dependentes de álcool. Estas mulheres se mostravam ansiosas, angustiadas, deprimidas e

demasiadamente preocupadas e vinculadas aos seus esposos.

A abordagem familiar na Dependência Química teve início em 1940, quando o termo

codependência começou a se estruturar. Na década de 50, Lois Wilson, esposa de um dos

fundadores dos Alcoólicos Anônimos (AA), decidiu fundar juntamente com outras mulheres

de alcoólicos, o grupo Al-Anon, após constatar que o uso abusivo de álcool e drogas afetava

não somente o dependente, mas também sua família. No grupo compartilhavam experiências

e desenvolviam estratégias para lidar com o alcoolismo. Acreditavam que elas também

necessitavam de atenção e tratamento tanto quanto seus companheiros. Em estudo realizado

com estas mulheres, elas admitiram que estavam tão enfermas quanto os seus esposos que

usavam álcool (ABLON, 1974 apud ORTIZ, 2009).

Posteriormente ficou comprovado que esta doença manifesta sintomas específicos nos

familiares dos dependentes. Naquela época, algumas esposas de alcoólicos sentiam os efeitos

da dependência de seus maridos, mas não tinham ainda a consciência sobre o que seriam esses

sentimentos:

[...] eram pessoas cuja vida, se tornara incontrolável como resultado de viverem um relacionamento comprometido com um alcoólico. (BEATTIE, 2013, p.56).

Em 1960, Jellinek (apud ORTIZ, 1998, s.p.) escreve que “o coalcoolismo ou adicção

sobre pessoas, lugares e coisas, tem sido virtualmente relegado como um problema ou um

sintoma secundário ao alcoolismo e tende a ser visto como um sintoma reativo”.

Gordon e Barret (1993 apud HUMBERG, 2003, p. 15) destacam que “a

codependência foi primeiramente relatada como uma anormalidade de ‘policiamento

compulsivo’ descrito em esposas de alcoólicos”. O termo expandiu-se para os filhos de

alcoólicos e qualquer indivíduo próximo a eles.

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O programa dos Alcoólicos Anônimos (AA) influenciou a criação de outros grupos de

mútua ajuda, com os mesmos princípios, mas voltados para dependências específicas, tais

como: Narcóticos Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Neuróticos Anônimos,

Jogadores Anônimos, Mulheres que Amam Demais, etc.

Na década de 60 este transtorno foi incorporado à saúde como personalidade

codependente, pelo Código Internacional de Doenças (CID) e, a partir de 70, os termos

coalcoólatra e para-alcoólatra, usados até então, foram substituídos por codependente e o

conceito introduzido pelo AA foi estendido à psicoterapia para designar pessoas que

procuravam relações com dependentes de substâncias psicoativas, pois isso despertaria

reações específicas como necessidade permanente de controlar o outro, baixa autoestima e

esvaziamento emocional.

O termo codependência surgiu inicialmente, no final da década de 70, no estado

americano de Minesota, referência no tratamento de dependência química, mas Zampiere

(2004a, p. 64) cita Wegsheider, em 1981, como o introdutor do conceito, enquanto “obsessão

familiar sobre o comportamento e bem-estar do dependente”. O usuário era analisado como

doente e seus familiares como codoentes.

Na década de 80, o termo surge na área da terapia, adquirindo maior amplitude não se

limitando aos familiares de adictos, mas pessoas que, por qualquer motivo, foram obrigadas

precocemente a assumirem responsabilidades que não são suas.

Beattie (2012, p. 27) refere que em 1987, um foheto distribuído em um seminário

sobre dependência química, em Minneapolis descreveu a codependência como “um conjunto

de comportamentos compulsivos e inadaptáveis adquiridos por membros de uma família que

passa por estresse e grandes dores emocionais [...] ”.Em 1989 no Arizona, durante a primeira conferência nacional, a definição oficial foi

apresentada:

La codependencia es uma pauta dolorosa de dependencia de comportamientos compulsivos y da búsqueda de aprobación en um intento de estar a salvo, de adquirir uma identidad y um valor de si mismo. (LAWLOR, 1992 apud BALENCIAGA, 2000, p.455). 1

Desde então, a conceituação sobre a expressão codependência tem gerado polêmica,

pois não há uma definição científica para esse comportamento.

1 A codependência é um padrão doloroso de dependência, de comportamentos compulsivos e busca de aprovação com intenção de sentir-se seguro e de adquirir uma identidade e um valor de si mesmo. (Tradução nossa).

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É provável que a codependência tenha acompanhado o homem em sua trajetória, pois

é natural desejar proteger e ajudar as pessoas queridas. Thomas Wright (apud BEATTIE,

2013) escreveu que é também natural sermos afetados e reagirmos aos problemas das pessoas

a nossa volta, porém o problema dos codependentes é que reagem em demasia.

O ser humano é um ser social e depende em maior ou menor grau uns dos outros para

poder viver, mas isto não significa relacionar-se de forma disfuncional e patológica.

Há uma codependência natural, que existe na relação entre um recém-nascido e sua

mãe; do jovem aluno com o professor; do doente enfermo com o médico/enfermeiro, portanto

entre o cuidado de dois seres. No início de uma relação isso é normal e até importante, mas

com o tempo, há um amadurecimento e busca de autonomia e o outro vai se tornando um

cooperador, evoluindo para uma interdependência.

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3 CONCEITO

“Codependente é uma pessoa que tem deixado o comportamento de outra afetá-la, e é obcecada em controlar o comportamento dessa outra pessoa”. (BEATTIE, 2013, p.58).

O prefixo co significa coexistência, concomitância; tanto adicto como codependente

experimentam sintomas semelhantes: enquanto o adicto evita a frustração consumindo drogas,

o codependente se esquiva de sentimentos dolorosos concentrando-se no dependente e em sua

conduta. (SALAZAR, 2013 apud LIZAMA, 2015). Para Afornali (apud HONÓRIO, 2013,

p.38) “um coautor participa da autoria, é autor conjuntamente; e um corresponsável, da

mesma forma”. O codependente acredita que é responsável pelos pensamentos, sentimentos e

ações do outro e pensa que ele também é responsável pelos seus, havendo uma confusão de

identidades. A diferença entre a compulsão do adicto e a compulsão do codependente estaria

no objeto da compulsão.

Humberg (2003), em seu trabalho de mestrado pretendeu demonstrar que o termo

codependente seria inadequado, pois vincularia o conceito ao dependente, não considerando a

codependencia e a dependência como patologias diferentes. Para diferenciá-las propôs a

utilização da expressão dependência de vínculo.

Para Borges e Maia (2012, p. v), “a co-dependência é uma problemática inserida no

domínio das dependências sem substância, que partilha várias similaridades com outras

dependências”. A autora considera que é importante diferenciar sua origem, que pode ser

endógena, fazendo parte da personalidade do indivíduo ou, exógena, sendo resultado do

relacionamento com um indivíduo dependente de substâncias.

Há na literatura várias definições de codependência, porém são imprecisas e variam

desde as mais simples como: pessoa que convive com um dependente, até mais complexas

como:

Una condición emocional, psicológica y comportamental que se desarrolla como resultado de una prolongada exposición a la práctica de un conjunto de reglas relacionales opresivas dentro del marco de un vínculo afectivo con una persona dependiente. (GALANTER apud DELGADO; GÓMEZ, 2013, p.381). 2

2 Uma condição emocional, psicológica e comportamental, que se desenvolve como resultado de uma prolongada exposição a um conjunto de regras relacionais opressivas, dentro da estrutura de vínculo afetivo com um dependente. (Tradução nossa).

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Segundo Delgado e Gómez (2013, p. 381), as definições existentes destacam os

comportamentos do codependente como o controle obsessivo do adicto ou propõem posições

radicais como as de McKay (1996) e Hughes-Hammer, Martsolf e Zeller (1998), que

asseguram que se trata de “uma enfermidade crônica e progressiva, uma entidade patológica

com sintomatologia, etiologia, curso e tratamento definidos”.

Para Biscarro (2013) o conceito de codependência se expandiu enormemente entre os

profissionais especializados, a ponto de ser proposta sua inclusão nos manuais de diagnóstico,

porém foram poucas as iniciativas de elaborar uma definição em termos empíricos. De acordo

com o autor, entre 1985 e 1995, houve uma grande investigação sobre o tema, com elaboração

de instrumentos que permitiam medir o fenômeno, fruto de pesquisas americanas.

Para Sanda (2001), a codependência seria um distúrbio mental acompanhado de

ansiedade, angústia e obsessão em relação a tudo o que envolve a vida do dependente.

O grupo de mútua ajuda Amor Exigente (AE) se refere à codependência como a

doença da perda da alma, pois haveria um distanciamento da própria identidade e uma

identificação com a vida do dependente. O codependente passa a viver a vida dos outros,

ligando-se emocionalmente aos comportamentos destrutivos e problemáticos.

Schaef (apud PAYÁ; FIGLIE, 2004) define de forma abrangente a codependência

como doença que cresce no meio relacional em que a pessoa está inserida. Conforme as

autoras, a definição mais operacional de codependência seria a de Wegscheider-Cruse, que

descreve a codependência como condição específica, caracterizada por uma preocupação e

dependência extrema a uma pessoa ou coisa. A codependência existiria apesar da existência

ou não de dependente químico na família, sendo, portanto, “uma doença de relacionamentos,

onde um dos membros pode ser um membro quimicamente dependente”. (PAYÁ; FIGLIE,

2004, p. 13).

A codependência é descrita por Charles Whitfield (apud LAWSON, 1999, p.34) como:

“um comportamento problemático, desajustado ou doentio, associado com a vida, trabalho ou

qualquer outra situação de proximidade de uma pessoa que sofre de dependência de drogas”.

Izquierdo (2002) faz um resumo de várias definições encontradas na literatura,

comprovando que a codependência tem sido definida de múltiplas formas: como um esquema

de vida disfuncional que aparece na família e produz uma alteração em seu desenvolvimento;

como a conduta de uma pessoa normal que deseja ajustar-se à situação estressante; como um

padrão de comportamentos compulsivos e busca de aprovação pelo outro; como traços de

personalidade característicos, que apresenta a pessoa que convive com um dependente; como

uma doença presente nos membros de uma família adicta; como uma característica emocional

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e psicológica que aparece como resposta a um conjunto de regras opressoras que impede o

diálogo aberto e franco entre os familiares.

O autor também assinala a codependência como uma patologia do vínculo ou como

um defeito, ocorrido na infância, no desenvolvimento da autonomia e identidade, bem como

um padrão exagerado de dependência que leva o indivíduo a se esquecer de si mesmo.

Izquierdo acrescenta que o termo também é usado para indicar quando um familiar se envolve

de forma obsessiva com os problemas do adicto a ponto de viver por ele e para ele, levando a

consequências danosas em sua vida pessoal, familiar, social e profissional

Zampiere (2004a, p. 63) refere que, de maneira ampla: “[...] o termo codependência

refere-se à pessoa que convive de forma direta com alguém que apresenta alguma

dependência química ou que viveram uma prolongada relação que por qualquer motivo

crônico levou a assumir comportamentos mal adaptativos e compulsivos a fim de sobreviver

ao stress”.

Beattie (2013), contudo, afirma que viver com um doente não define o problema

porque a codependência estaria na própria pessoa, em seus comportamentos e simplesmente

deixar de viver com o dependente não resolve o problema. Para a autora o codependente é o

indivíduo que permite que o comportamento de outra pessoa o afete e tem obsessão em

controlar o comportamento do outro. De acordo com este conceito, Miranda (2015) ressalta

que uma pessoa afeta a outra dentro do sistema familiar e impacta na família como um todo.

Potter-Efron e Potter-Efron (1989 apud HUMBERG, 2003, p. 20) definem o

codependente como “alguém que tem sido significativamente afetado de um modo específico

por um envolvimento presente ou passado com um indivíduo alcoólico, dependente químico

ou com outro familiar altamente estressante”.

Fisher, Wampler, Lyness e Crawford (apud ZAMPIERE, 2004a) definiram

codependência como um padrão de comportamento disfuncional de relacionamento com

outras pessoas muito dependentes, dificuldade em expressar sentimentos e necessidade de ter

um propósito nos relacionamentos.

Também em Zampiere (2004a) encontramos a referência de Freeman (1992) à pessoa

codependente como alguém que ignora suas necessidades em favor da manutenção do

equilíbrio do sistema familiar.

Earnie Larsen (apud Beattie, 2012), outro especialista em codependência e pioneiro no

ramo, define-a como comportamentos aprendidos ou defeitos de caráter que reduzem a

capacidade de relacionar-se com afeto.

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Para Robert Sulby e Jonh Friel, o codependente é: “[...] alguém que desenvolveu um

padrão doentio de lidar com a vida, numa reação ao abuso de álcool e drogas praticado por

outra pessoa”. (SULBY; FRIEL apud ZAMPIERE, 2004a, p.69).

De acordo com o grupo Codependente Anônimos (CODA), a codependência seria a

inabilidade de manter e nutrir relacionamentos saudáveis com os outros e consigo mesmo.

Nos relacionamentos codependentes não existe a discussão direta dos problemas, expressão

aberta dos sentimentos e pensamentos, comunicação honesta e franca, expectativas realistas,

individualidade, confiança nos outros e em si mesmo.

Estudiosos como Fischer,Wampler,Lyness e Crawford definem a codependência como

“um padrão de comportamento disfuncional de relacionamento com outras pessoas muito

dependentes, dificuldade em expressar sentimentos e necessidades de ter um propósito nos

relacionamentos”. (HARKNESS; COTRELL, 1997 apud ZAMPIERE, 2004a, p.66).

A codependência é atualmente entendida como uma construção social: “um jogo de

comportamento mal adaptativo e compulsivo aprendidos na convivência familiar, a fim de

sobreviver, ao se encontrarem sob grande estresse ou intensa e prolongada dor”.

(ZAMPIERE, 2004a, p.63).

Zampiere (2004a, p. 105) também refere que a definição mais frequente para

codependência tem sido: “a condição emocional, psicológica e comportamental; como um

padrão relacional e como um transtorno da não identificação do self”. O codependente possui

um self que invade o mundo exterior e atribui ao meio a responsabilidade que é sua,

estabelecendo um papel de vítima.

A codependência não é necessariamente intensa e nem sempre envolve experiências

com pessoas muito comprometidas. Pode se manifestar, por exemplo, como o controle das

emoções a partir do humor do outro. Algumas pessoas têm experiências dolorosas e outras

podem ser menos afetadas, pois cada pessoa é diferente da outra.

A literatura sobre o tema mostra, portanto, uma grande variedade de definições, mas

parece existir um consenso quanto à problemática relacional de caráter adictivo da

codependência. Sendo a codependência encarada como fruto de relações disfuncionais dentro

da família, pode ser definida como:

18

Page 20: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

[...] un esquema de vida disfuncional que emerge em nuestra família de origen, así com em nuestra cultura, produciéndose así um paro en el desarollo cuyo resultado es una hiperreación a lo externo y uma hiporeación a lo interno.Sin tratamento puede deteriorar-se y convertirse em uma adicción. (FRIEL; FRIEL, 1988 apud BALENCIAGA, 2000, p.456). 3

A codependência se desenvolveria então como uma resposta a circunstâncias

familiares disfuncionais, em uma tentativa de controlar e estabilizar uma situação e se

instalaria na infância, aumentando as chances de viver no futuro repetidas relações

disfuncionais.

Há outra corrente que acredita que a codependência seria resultado da tentativa de uma

pessoa normal em ajustar-se a um cônjuge ou situação extremamente difícil. (JACKSON;

KOGAN apud BALENCIAGA, 2000).

Boa parte da literatura sobre codependência tem destacado este transtorno como uma

adicção – dependência de ordem afetiva e expressa através de diferentes termos: relações

adictivas; adicção do amor; dependência patológica e dependência afetiva.

Assim como a dependência química, a codependência também pode ser definida com

uma doença primária, crônica, progressiva e tratável, cuja principal característica é a perda de

controle; a pessoa codependente transforma seu objeto de desejo em uma necessidade.

Além disso, o codependente acredita que é responsável pelos pensamentos,

sentimentos e ações do outro e pensa que o outro também é responsável pelos seus, havendo

uma confusão de identidades. O codependente não sabe onde ele termina e onde começa o

outro.

Pode-se perceber que as definições são controvertidas e tem gerado polêmica, pois não

há uma expressão científica para esse comportamento. Para Beattie (2013), o codependente é

uma pessoa que deixou o comportamento de outra afetá-la e se tornou obcecada em controlá-

lo. Segundo a autora, a definição seria importante porque ajuda a determinar o caminho da

recuperação, mas, apesar disso, declara que todas as definições seriam exatas, sendo que umas

descrevem a causa, outra, os efeitos ou os sintomas ou ainda padrões.

Atualmente a literatura científica destaca que o termo codependência teve seu uso

vulgarizado, perdendo a especificidade. Houve pouca investigação empírica e, em

decorrência, falta de definições com rigor teórico.

3 Um esquema de vida disfuncional que surge em nossa família de origem, assim como em nossa cultura, produzindo uma parada no desenvolvimento cujo resultado é uma hiper-reação ao externo e uma hipo-reação ao interno. Sem tratamento pode deteriorar-se e converter-se em uma adicção. (Tradução nossa)

19

Page 21: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

Mesmo a codependência não tendo uma definição clássica existem características que

quando apresentadas em conjunto podem levar um profissional (ou uma equipe

multidisciplinar) a identificar esse problema.

20

Page 22: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

3.1 Tipos de codependência

Zampiere (2004 a, p. 134-138) classifica as codependências, enquanto patologias de

um grupo, em:

a) Codependência conjugal: há uma alternância entre os papéis de vítima e algoz e uma

dificuldade em romper este padrão, apesar das queixas; muitas vezes os filhos não

encontram espaço nesta relação;

b) Codependência familiar: típica em famílias rígidas e fechadas, com dificuldade de

interagirem com outros sistemas; grande resistência às transições e dificuldade em

enfrentar mudanças;

c) Codependência grupal: o grupo tende a manter fortes influências de pressão sobre seus

membros que se mostram frágeis a mudanças; são resistentes à entrada e saída de

algum de seus membros e é facilmente observada nas interações entre os colegas

dependentes;

d) Codependência social ou dependência sócioinstitucional: por exemplo, o sistema de

assistência social e seus assistidos através de programas de transferência de renda;

e) Codependência institucional: encontrada nas instituições e no meio empresarial;

tendem a ocultar o problema;

f) Codependência sexual: não conseguem se separar e mantém um relacionamento

insatisfatório e doentio em que um alimenta a dependência do outro;

g) Codependência sexual sociocultural: parceiros que mesmo temendo contrair doenças

ou estando insatisfeitos continuam a se relacionar.

Alguns autores alertam para a codependência profissional, desenvolvida

principalmente nos profissionais de saúde, como resultado da exposição crônica à

dependência do paciente. Caracterizar-se-ia por assumir responsabilidade sobre o paciente,

protegendo-o das consequências de suas decisões, assumindo papéis que extrapolam a função

profissional.

21

Page 23: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

3.2 Codependência: uma doença?

Zampiere (2004a) declara que a codependência pode se manifestar como um

transtorno de personalidade ou como patologia de um sistema, mas não é reconhecida como

doença pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV (1995),

DSM–V (2014) ou o CID-10 (1993), podendo ser admitida como construção social. Os

transtornos decorrentes do abuso de substâncias psicoativas estão bem definidos, mas as

classificações oficiais não contemplam o sistema sóciofamiliar.

De acordo com Carlos Salgado, psiquiatra e conselheiro da Associação Brasileira de

álcool e Drogas (ABEAD), a codependência não figura no CID, mas os sintomas se encaixam

nas psicopatologias descritas no capítulo 10 do código.

Haaken (1990 apud HUMBERG, 2003) observa que o conceito de codependência não

tem validade diagnóstica e que não há até o momento uma entidade clínica que corresponda a

este conceito. Zampiere (2004a) defende a necessidade de uma classificação específica para a

codependência, já que representa uma entidade com características particulares e repetitivas.

Propõe classificar a codependência como um distúrbio de identidade e a autora americana

Beattie (1992) critica a falta de uma definição científica e refere que a codependência “é uma

condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da

prática e da exposição prolongada do indivíduo a regras opressivas”. (BEATTIE, 2012, p.31).

A codependência talvez não seja uma doença, mas pode fazer da pessoa um doente e

pode contribuir para que as pessoas a sua volta continuem doentes. Além de ser progressiva,

seus comportamentos se tornam viciosos, repetitivos e destrutivos, daí ser considerada uma

doença, pelos padrões detectados. (Beattie, 2013). A codependência envolve um sistema

vicioso de pensar, sentir e comportar-se em relação a si mesmo e aos outros, que acaba por

causar dor ao codependente.

Alguns autores descrevem a codependência como um transtorno de relacionamento

caracterizado pelo fato de uma pessoa ser controlada pelo comportamento de outra pessoa, a

qual é ligada emocionalmente. Outros a definem como uma síndrome, a Síndrome da

Codependência, um conjunto de sintomas como: baixa autoestima; dificuldade de impor

limites; dificuldade em assumir a própria realidade; dificuldade de tomar conta de suas

necessidades; dificuldade de expressar suas emoções.

Para Zampiere (2004b), o codependente não estabelece um vínculo com o outro, ele se

aproveita. Essa dificuldade em se relacionar com o outro promove o sofrimento. A

codependência seria então uma condição específica de âmbito psicológico, comportamental e

22

Page 24: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

emocional, que se caracteriza por uma dependência excessiva de um indivíduo em relação ao

outro. Neste sentido, a codependência seria descrita como uma disfunção comportamental

específica e previsível, sendo primordial a reflexão sobre esse conceito através dos aspectos

psicológicos, pedagógicos e patológicos. (TOFFOLI et al, 1997 apud LEILANIR;

FAUSTON, 2011).

A autora coloca ainda que, embora não exista o reconhecimento de um padrão de

personalidade codependente na classificação de transtornos mentais no CID-10, o

codependente sofre de angústia psíquica com reflexos em seus comportamentos sociais,

sintomas físicos e “ onera o serviço público de saúde como endemia sistêmica”.

(ZAMPIERI, 2004, p.57).

Delgado e Gómez (2004) sustentam que a codependência seria uma forma de

vinculação afetiva, que se desenvolveria na infância e nada justificaria, até o momento,

considerá-la como uma categoria psicopatológica.

Para Humberg (2013, p. 84), psicanalista, mestra em ciências, a codependência deve

ser encarada como uma doença crônica, assim como diabetes e hipertensão, que exige,

portanto, contínua vigilância. A autora estabelece paralelos entre a dependência e a

codependência e acredita que a codependência seria uma dependência conforme a definição

do CID-10:

Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física.

Maia (2012) refere que as semelhanças entre a dependência e a codependência

levaram O’Brian e Gaboritt (1992) a defender que a codependência é uma doença

única e que existe independentemente da dependência, ainda que pareça resultar da relação

com um adicto.

Miranda (2015) refere que o termo codependência ainda é recente na área da terapia,

estaria em construção e apresenta, até o momento, conceitos difusos e em construção. Por

vezes seria conhecido como transtorno, por outras, como doença e, segundo a autora, não é

utilizado cientificamente, mas está totalmente popularizado.

23

Page 25: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

3.3 Codependência e gênero

“[...] a codependência parece existir e afetar principalmente as mulheres, tanto no

desenvolvimento de sua personalidade como na dinâmica de suas relações pessoais”.

(NORIEGA, apud SOLIS, p. 1, 2015).

Alguns estudiosos consideram a codependência como um transtorno de personalidade,

outros, um possível transtorno de relação e ainda alguns, um problema dos filhos adultos de

famílias disfuncionais. De acordo com Solis (2015, p. 5), alguns pesquisadores mais críticos

sustentam que haja um envolvimento de gênero “já que consideram que se trata de um

problema derivado da desigualdade de poder entre homens e mulheres”.

É preciso lembrar que a maioria dos pacientes em tratamento para dependência

química são homens e, desse modo, é de se esperar que as mulheres sejam mais afetadas pela

doença.

Originalmente o termo codependência foi usado para descrever a relação disfuncional

entre a esposa e o marido alcoólatra e muitos ainda entendem desta maneira: como se a

codependência fosse uma condição feminina. Para Zanelato (2003), a codependência pode ser

definida como o vínculo patológico que a esposa estabelece com sua droga de preferência – o

marido e, portanto, relacionada ao gênero. Porém, para Izquierdo (2002), a mulher do

alcoólico se encontra sobre pressão psicológica e, por isso, não é surpresa que apresente

problemas de ansiedade, depressão e baixa autoestima.

Izquierdo (2002) considera que seria exagero considerar como patológicos

comportamentos associados à natureza da mulher (cuidar e proteger) e não reconhecer que

elas podem ser pessoas normais respondendo a uma situação anormal. No entanto, de acordo

com o mesmo autor, ainda que os homens possam ser codependentes, há uma tendência a

considerar o transtorno como uma patologia de mulher e os condicionamentos sociais e

culturais contribuiriam para a alta prevalência do problema entre elas.

É importante considerar que os sinais e sintomas da codependência não são sinônimos

de cuidado e dedicação adequados, mas sim de um exagero em relação ao outro e excessiva

necessidade de controle, autonegligência e autossacrifício.

Castañon e Luis (2008) colocam como resultado de sua pesquisa, que um dos grupos

mais propensos a manifestar a codependência seria o das mulheres de adictos. Constataram

que seus comportamentos característicos são vítima, mártir, perseguidora e salvadora, pois

consideram que somente elas podem salvar o dependente. Por isso que se considera, segundo

24

Page 26: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

os autores, uma patologia própria da mulher. “El sistema de género legitima y reproduce las

prácticas, representaciones, normas y valores que la sociedad construye a partir de la

diferencia sexual”. (CASTAÑON; LUIS, 2008, p. 807). 4

A relação entre codependência e gênero é assunto polêmico na literatura tanto quanto

a definição do transtorno. Bortolon et al (2010) referem que as mulheres apresentam maior

prevalência de crenças codependentes quando comparadas aos homens. Entretanto, os autores

chamam atenção para o papel esperado do sexo feminino: as mulheres são incentivadas, desde

cedo, a cuidar, atender e ser responsável pela família. Na maternidade parece estar implícita a

responsabilidade, dedicação à família, amor incondicional e compreensão.

Ferreira e Tanajura (2012) em seu trabalho de conclusão de curso intitulado Co-

dependência: uma questão de gênero? observaram que:

As mulheres são as mais atingidas e tem grande dificuldade de resgatar a autoestima

e parecem viver marcadas pelo medo das repetições e repetem. Os homens

dependentes, codependentes ou fragilizados por qualquer transtorno psicológico,

seguem em frente e as mulheres ficam meio que paralisadas através do outro, sejam

eles: pais, maridos, filhos, parentes, vizinhos. (FERREIRA; TANAJURA, 2012, p.

23).

Para as autoras, seria da natureza feminina a aceitação do segundo plano,

posicionando-se como vítima do outro, da sociedade, da própria vida, o que facilitaria o

processo da codependência. Na visão machista, a mulher é um ser para o outro (marido,

filhos, pais) e não um ser com os outros. Histórica e culturalmente, a mulher se sacrifica, é

submissa e mais dependente do que os homens nas relações, estando mais sujeita a

codependência.

Os homens tendem a viver a codependência ficando obsessivos pelo trabalho, por um

esporte ou hobby e as mulheres tendem a ficar obcecadas ou obsessivas por um

relacionamento.

Em seu artigo Co-dependência e mulheres: uma questão de gênero? a psicóloga Eroy

Aparecida da Silva (s.d.) refere que, no Brasil, ainda são escassos os estudos sobre esta

relação e afirma que seria temeroso atribuir uma tipologia específica para as mulheres que se

vinculam ao dependente de drogas.

4 O sistema de gênero legitima e reproduz as práticas, representações, normas e valores que a sociedade constrói a partir da diferença sexual”. (Tradução nossa)

25

Page 27: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

Zampiere (2004b) cita Fischer, Wampler, Lyness e Crawford que desenvolveram uma

escala de auto-avaliação aplicando-a em grupos de auto-ajuda e estudantes universitários, para

averiguar correlações entre codependência e funcionamento familiar. Concluíram que o

fenômeno da codependência não está associado nem a gênero nem à dependência química,

tampouco a padrões de disfunção familiar. Porém, ainda segundo a autora, esta conclusão se

contrapõe à experiência de Lyon e Greemberg com universitárias, que os levou a concluir o

contrário. Em seu experimento, as filhas de pais alcoólatras e filhas de pais sóbrios foram

expostas a pedidos de ajuda, por um homem de comportamento explosivo e um homem de

comportamento neutro. A taxa de mulheres que ofereceram ajuda a homens explosivos foi

duas vezes maior entre filhas de alcoólatras que entre as de famílias sóbrias. Assim, definiram

a codependência como fruto de gênero e disfunções familiares. Contudo,estes pesquisadores

não apresentaram registros de verificação da ocorrência em filhos do sexo masculino.

Em sua tese, Zampiere (2004b) não pode concluir a relação entre gênero e

codependência, porém refere que foi alta em sua amostra, a porcentagem de filhas de

alcoolista com companheiro alcoolista.

Salazar (2013), em sua pesquisa com 60 familiares de pessoas consumidoras de

drogas, concluiu que 62 % apresentam uma codependência efetiva e 15 % um alto traço de

codependência. Quanto ao gênero, a mulher se apresentou em situação de maior

vulnerabilidade, sendo a codependência efetiva de 85 % e o traço de 75 %, enquanto os

homens correspondem a 15 % e 25 % respectivamente. Contudo, o próprio pesquisador

salienta que estes dados não são conclusivos e representam uma aproximação do problema.

Prati e Vasconcellos (2013) em sua pesquisa junto a trinta mulheres de usuários de

SPA consideraram que 90% da amostra era codependente. Em contrapartida, a idade da

mulher e o tempo que ela dedicava ao parceiro não apresentaram correlações estatisticamente

significativas com relação aos índices de codependência apresentados.

O mesmo autor destaca que um elevado número de pessoas está representado pelas

mães dos consumidores, devido, inclusive, à estrutura patriarcal que responsabiliza a genitora

pela proteção e cuidado dos filhos, bem como pela recuperação destes.

Bortolon et al realizaram um estudo no Serviço Nacional de Orientações e

Informações sobre a Prevenção do Uso Indevido de Drogas (VIVAVOZ), no período de junho

a julho de 2007, sobre a relação entre a codependência e gênero. A amostra incluiu 154

familiares de usuários de drogas e a pesquisa concluiu que as mulheres apresentam maior

prevalência de crenças codependentes quando comparadas aos homens. Todavia, a própria

autora alerta que esse resultado deve ser contextualizado ao papel esperado do sexo feminino.

26

Page 28: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

Na pesquisa, as ligações foram realizadas em sua maioria por mulheres, mães dos usuários e

aqui também deve-se levar em consideração os atributos relacionados à maternidade:

responsabilidade, dedicação à família, amor incondicional e compreensão.

Na pesquisa de Delgado e Gómez (2003) foram investigadas 301 pessoas, 151

envolvidas com um dependente e 150 que serviram de controle. O resultado obtido mostrou

que homens e mulheres são codependentes, porém, os valores encontrados nas mulheres

foram significativamente mais altos quanto às características da codependência. Os autores

concluíram que as pessoas envolvidas com um adicto desenvolvem a codependência e

homens e mulheres diferem nas características do fenômeno.

O estudo realizado pelos autores em 2004 reafirmou que ser homem ou mulher era

menos importante do que se acreditou inicialmente, pois o sexo não mostrou influência

significativa na explicação da codependência.

Ades (2008, p. 18-19) em seu artigo para a revista Anônimos, O lado deles, refere que

“em nossa sociedade machista, dependência afetiva parece ser exclusividade das mulheres”.

No entanto, sua pesquisa revelou que os homens também podem se envolver em

relacionamentos destrutivos. Os HADES – Homens que amam demais - são pessoas com

baixa autoestima, viciados em um tipo de amor doentio, obsessivo, onde existe a

codependência afetiva. Assim como as mulheres codependentes, eles possuem a característica

de monopolizar o parceiro, fazendo deles o centro de sua vida. A pesquisadora considera que

o homem pode ser tão codependente quanto a mulher e “ambos buscam alimentar seus egos

mal construídos, através da doença de outras pessoas”.

27

Page 29: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

4 CAUSAS DA CODEPENDÊNCIA

“A possibilidade de desenvolvimento da dependência é da pessoa, revelando-se na relação com um outro que tenha uma possibilidade complementar, posto que é uma dependência do vínculo dos dois”. (HUMBERG, 2003, p. 94).

Do mesmo modo que não há um consenso sobre o conceito de codependência, não há

unanimidade sobre as causas do fenômeno.

Biscarra et al (2013) referem que, apesar da tendência em acreditar que a

codependência seria resultado de ser criado em um lar adicto, as evidências científicas

apontam em outra direção. Os autores citam outras hipóteses encontradas na literatura como:

famílias disfuncionais (FISCHER; CRAWFORD, 1992; D’ANGELO; MONTAÑEZ, 2011;

SPANN; FISHER, 1990); experiências problemáticas vividas na família de origem, tais como

abuso físico e/ou emocional (ROHELING; KOBEL; RUGTERS, 1996); estilos parentais

coercitivos, negligentes e pouco afetuosos (CROTHERS; WARREN, 1996); pais com

problemas de saúde mental (CULLEN; CARR, 1999); pouca comunicação, controle,

insatisfação e falta de sustentação familiar (SPANN; FISHER, 1990).

As pesquisadoras destacam ainda a codependência como resultado da aprendizagem

de hábitos familiares (GORMAN; DIAZ, 1987); como modelo transmitido entre gerações

(EDMUNDSON; BRYNE; RANKIN, 2000) e também resultado da exposição a uma situação

estressante (MARGOLIS; ZWEBEN, 1998; MORGAN, 1991).

Para Izquierdo (2001), a codependência poderia ser explicada de três pontos de vista:

a) Como uma enfermidade primária originada em um sistema familiar disfuncional

que, uma vez instalada, acaba por afetar um ou mais de seus membros;

b) Como um transtorno de personalidade preexistente em um ou mais membros da

família, que em interação com a conduta do adicto facilita e mantém o

comportamento;

c) Como um esforço de uma pessoa normal que convive com um adicto e necessita

ajustar-se à situação.

Para alguns autores, a criança nasce com a tendência ao estabelecimento de vínculo

com sua mãe ou substituta, dela precisando para desenvolver uma série de capacidades. Uma

falha neste vínculo poderia levar a um transtorno de relação. A codependência se instalaria a

28

Page 30: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

partir de necessidades que não foram satisfeitas na infância e impediriam o amadurecimento

natural que permite a adaptação às experiências negativas da infância, a construção do self

verdadeiro e autêntico. Para sobreviver, aprendem a viver em função do outro, querendo

agradá-lo e servi-lo.

Los codependientes insisten en repetir las mismas conductas ineficaces que utilizaron cuando eran niños para sentirse aceptados, queridos o importantes y mediante esas conductas, buscan aliviar el dolor y la pena por sentirse abandonados. Sin embargo, paradójicamente las conductas codependientes perpetúan esos sentimientos. (IZQUIERDO, 2001, p. 1436).5

Delgado e Gómez (2003) referem que, em relação à etiologia da codependência, se

tem falado sobre traços de personalidade (CERMAK, 1986; LAWTON, 1990); condutas

adquiridas por aprendizagem (BRYNE; EDMUNDSON; RANKIN, 2000) ou como

consequência da exposição constante a um stress (MARGOLIS; ZWEBEN,1998).

Para os autores é aceitável acreditar que os comportamentos da codependência são

aprendidos na infância através da religião ou como atributos de feminilidade, de acordo com a

crença de vários outros estudiosos. Em sua pesquisa de 2004, Delgado e Gómez concluíram

que fatos da infância tem um peso grande na hora de escolher a companhia de um adicto.

Guzmán (1995) também acredita que os antecedentes da codependência estariam na

infância: em uma quebra de auto estima, que produziria uma incapacidade de dar-se a si

mesmo, levando-o a recorrer a outras pessoas das quais obteria apoio e estima.

Carvalho e Negreiros (2011) destacam que o codependente repete os mesmos

comportamentos de quando era criança com o objetivo de ser amado; com isso tenta aliviar o

sentimento de abandono, mas, ao contrário do que espera, seu comportamento tende a

perpetuar esta sensação. Um ambiente disfuncional propicia a existência de um codependente

e este passa a afetar o sistema negativamente. É o que se conhece por dependências paralelas.

Ao longo da vida, fatores precipitantes, reais ou não, podem agravar esta condição:

processo de separação, perda de entes queridos, abandono. A ação destas situações sobre uma

predisposição gera os sintomas da codependência, que serão mantidos por crenças errôneas de

que será útil abandonar suas necessidades em função do outro; racionalizar o problema, negá-

lo ou encontrar uma solução mágica.

5 Os codependentes insistem em repetir as mesmas condutas ineficazes que utilizaram quando eram crianças para sentir-se aceitos, queridos ou importantes e mediante estas condutas buscam aliviar a dor por sentirem-se abandonados. No entanto, paradoxalmente as condutas codpendentes perpetuam este sentimento. (Tradução nossa).

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Page 31: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

De acordo com Beattie (2012, p. 33), “as emoções e comportamentos dos

codependentes[...] podem emergir de repente quando algo em nosso ambiente, algo inócuo,

nos faça lembrar, ou ao nosso subconsciente, algo doloroso que tenha acontecido antes”. A

autora lembra, que na ocasião dos fatos, a reação pode ter sido apropriada, mas fora do

contexto se apresentam confusas e derrotistas.

Em seu livro Para Além da Codependência, Beattie (2012, p.33) se refere a gatilhos e

cita Cermak: “para as crianças de famílias com dependência, quase tudo pode ser um gatilho.”

Humberg (2003) conclui em sua tese de mestrado que a dependência de vínculo teria

ligação com as relações desenvolvidas na infância, quando mãe e pai não podem fornecer o

apoio necessário para as necessidades do bebê, impedindo o desenvolvimento de estruturas

psíquicas saudáveis.

Para Balenciaga (2000), a origem da codependencia pode ser classificada em três

grandes grupos: um comportamento adquirido na infância; um comportamento adquirido na

fase adulta ou um comportamento adquirido tanto na fase infantil ou na adulta.

A codependência adquirida na infância estaria relacionada a uma família disfuncional,

que gera relações inadequadas entre seus membros. Para manter o equilíbrio o indivíduo passa

a exercer controle sobre as circunstâncias e pessoas. Pode se manifestar por problemas

crônicos, stress ou outras disfunções.

O surgimento da codependência na fase adulta seria consequência do esforço de um

indivíduo normal para se ajustar a um companheiro com quem se vive uma situação

extremamente difícil. Mas, para Moraes (2004 apud BALENCIAGA, 2000), essa ligação

pode ocorrer entre qualquer pessoa envolvida emocionalmente com o dependente, que não só

seu cônjuge. Além disso, o autor afirma que a codependência não desaparece mudando de

ambiente, afastando-se ou ajustando-se à pessoa problemática.

O comportamento codependente pode ainda ser adquirido tanto na fase infantil quanto

adulta, pois seria uma forma patológica com a qual o indivíduo se relaciona de uma maneira

geral

Balenciaga (2000) também cita que, para alguns autores, a codependência seria a

forma patológica do indivíduo relacionar-se com a sociedade em geral, onde ele perde sua

identidade para agradar os outros. A pessoa agiria assim para buscar aprovação ou por ter

dificuldades de entrar em contato com seu mundo interno, passando então a viver em função

do outro.

30

Page 32: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

O mesmo autor refere ainda que outros pesquisadores afirmam que a codependência

seria uma síndrome de personalidade, caracterizada como uma disfunção comportamental

específica e previsível, que se desenvolve na relação com um dependente químico.

A visão de Edwards (apud ORTIZ, 1998), que sustentou que a codependência se

desenvolveria como resposta de uma pessoa normal à convivência com um alcoolista, limitou

o conceito durante muito tempo. Também para Cermark (apud ORTIZ, 1998), a

codependência seria uma doença que afetaria os indivíduos que crescem em famílias com

alcoólicos ou em outros sistemas disfuncionais. Contudo, alguns teóricos acreditam que as

características da codependência se manifestam antes da convivência com a dependência;

estas características teriam origem dentro de um sistema familiar instável, onde não há espaço

para o diálogo e a expressão de sentimentos.

Para Vacca (2003 apud CASTAÑON; LUIZ, 2008) a codependência poderia ser

adquirida de forma induzida direta, através de uma família que possui um sistema de crenças

rígido e não permite a expressão de sentimentos; ou de maneira incidental, quando o casal se

une e apresenta formas disfuncionais de relacionar-se; ou ainda de forma induzida por normas

sociais que não permitiriam ao codependente negar ajuda, ainda que prejudicando a si mesmo.

31

Page 33: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

5 DEPENDÊNCIA E CODEPENDÊNCIA

“O dependente químico luta para controlar a droga e o codependente para controlar o dependente, o que resulta em fracasso para ambos”. (AL-ANON).

A dependência química é uma doença da família. Seus membros desenvolvem a

codependência, e tendem a atribuir todos os seus problemas ao dependente químico, “não

conseguindo enxergar que seu próprio comportamento tem sido alterado por suas reações

doentias à dependência do outro”. (DIAS, 2015).

Os codependentes são pessoas do convívio do usuário, especialmente familiares, que

são intensamente afetados física e psicológicamente por esta convivência. Vivem em função

do dependente, fazendo por eles, com a intenção de minimizar ou esconder sua adicção ou

facilitar sua vida. Pensam estar ajudando, mas com essa atitude apenas impedem a verdadeira

recuperação. É o conhecido Carrossel da Dependência Química, onde no centro está o

dependente químico agindo e ao seu redor, os codependentes reagindo, vivendo em função do

dependente. O dependente se droga e os outros reagem a sua drogadição e as suas

consequências e o dependente responde as essas reações e se droga novamente, estabelecendo

este ciclo.

Essa relação se torna um círculo vicioso de sofrimento, pois o codependente depende

diretamente de como está o próprio dependente, isto é, se ele está em crise, o codependente

também ficará. Quando melhoraram, os familiares começam a fazer planos e ter esperança,

mas na recaída, o codependente se sente mal novamente. (ROCHA, 2011).

Quando o dependente entra em recuperação e permanece em abstinência os

codependentes se sentem órfãos, de uma hora para outra, perdidos e sem propósito de vida.

Não é raro que passem a apresentar problemas semelhantes àqueles dos antigos dependentes

que tomavam conta.

O sofrimento do codependente pode ser considerado mais intenso do que o do

dependente químico, pois vivencia todos os problemas gerados pela adicção, sem o efeito

anestésico da droga: “[...] continua sua vida suspirando por aceitação e um gole de amor [...]”.

(FERREIRA; TANAJURA, 2012, p. 15).

O codependente adere ao dependente como uma atadura emocional; se encontra

atrelado aos comportamentos negativos ou patológicos do outro. São verdadeiras amarras

emocionais que tornam o codependente, dependente do outro.

32

Page 34: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

A dor gerada, devido a todos esses impactos causados, em cada membro familiar próximo de um dependente é maior que o amor que se recebe. Na realidade a co-dependência é uma espécie de falso-amor, uma vez que parece ser destrutivo, tendo em vista que pode agravar o problema da dependência química no âmbito familiar. (RIBEIRO, 2008 apud ROCHA, 2011, p. 49.

Familiares e dependentes vivem uma relação dolorosa buscando cada qual soluções

para suas dores e conflitos. Um ambiente disfuncional é propicio para a existência de um

codependente, que por sua vez afeta o sistema com seus comportamentos.

Entre o dependente e o codependente podemos estabelecer alguns paralelos: enquanto

o dependente nega sua doença, o codependente nega sua condição emocional. O dependente

mantém a ilusão de que pode controlar o uso da substância e o seu familiar acredita que possa

controlar o adicto, o uso da droga e seu comportamento. Ambos mantêm uma conduta

obsessiva, porém voltada para objetos diferentes: o dependente para a droga e o codependente

para o familiar adicto. A droga de preferência do codependente seria o adicto e os dois

processos estariam enraizados na incapacidade de viver consigo mesmo, reconhecendo e

aceitando seu verdadeiro eu.

Sophia, Tavares e Zilberman (2007 apud MAIA, 2012) fizeram uma comparação entre

os critérios diagnósticos usados na dependência de drogas e concluíram que pelo menos seis

critérios são semelhantes entre dependência e codependência:

a) existência de sinais e sintomas de abstinência;

b) o ato de cuidar ocorre em maior quantidade do que o indivíduo gostaria;

c) as atitudes para controlar ou reduzir o comportamento patológico são mal

sucedidas;

d) é despendido muito tempo no controle das atividades do parceiro;

e) existe abandono de interesses e outras atividades anteriormente valorizadas;

f) o amor patológico é mantido, apesar do prejuízo pessoal - problemas

pessoais e familiares.

Maia (2012, p.11) concluiu que parecem existir várias similaridades entre a

dependência e a codependência, destacando: “a mesma forma de relacionamento com objeto

de dependência; as mesmas bases neurobiológicas subjacentes; a origem na infância e a

utilização de mecanismos de defesa projetivos e consequentes manifestações

comportamentais, carências identificatórias e do imaginário”.

33

Page 35: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

Beattie (2012) utiliza o termo reciclagem ou ciclos de crescimento para se referir à

recaída do codependente, que, de maneira similar ao dependente, pode reagir aos

disparadores ou gatilhos, fazendo vir à tona, comportamentos e sentimentos codependentes.

Colossi e Paz (2013) referem que Kalina define as famílias que produzem dependentes

químicos como famílias psicotóxicas, já que se apresentam como modelo abusivo, com dupla

mensagem: o discurso reforça a proibição, mas o comportamento e de uso de substâncias para

alívio do sofrimento (tranquilizantes, álcool, etc.). Quando o paciente inicia o tratamento para

a dependência química e começa a investir em opções mais saudáveis, a família, organizada

em torno da adicção, se desestabiliza e o casal precisa mudar seu foco de atenção, permitindo

a melhora do filho. Eles são obrigados a olhar para sua relação e para os conflitos deixados de

lado. O filho então, a fim de proteger os relacionamentos familiares, volta a se comportar de

maneira autodestrutiva, chamando novamente a atenção para si. Para Orth (apud COLOSSI;

PAZ, 2013, p. 553-554), “o sintoma da drogadição funciona como estabilizador do sistema

familiar, pois, se o problema da adição perdura, o conflito conjugal permanece às

escondidas”.

5.1 Comportamentos facilitadores da dependência

O contexto familiar pode ser considerado como fator de risco e/ou de proteção em

relação à dependência química. Se uma família é acolhedora, com limites definidos,

comunicação adequada, promotora de afeto e proteção, pode ser vista como elemento de

proteção, mas se entre seus membros há um distanciamento afetivo, dificuldade na

comunicação e fronteiras pouco definidas pode favorecer o processo adictivo.

Apesar de que las conductas codependientes no generan por sí mismas la adicción,

contribuyen a perpetuarla e incluso a agravarla, con un enorme costo para la salud

de los involucrados. (BISCARRA; AVELÉN; FERNÁNDEZ, 2010, apud LIZAMA,

2015, p. 6). 6

6 Apesar das condutas codependentes não gerarem por si mesmas a adicção, contribuem para perpetuá-la e inclusive, agravá-la, com um custo para a saúde dos envolvidos. (Tradução nossa).

34

Page 36: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

A convivência com a dependência química gera um impacto na família correspondente

aos sentimentos do indivíduo que utiliza a droga. Todos os familiares e amigos sofrem com a

situação, sendo a dependência química considerada por muitos como uma doença familiar.

Na maioria das vezes a família conhece os problemas gerados pelo uso abusivo de

drogas, mas não sabem como lidar adequadamente com o problema, levando ao agravamento

da situação. Os codependentes não se dão conta disso, em parte devido ao mecanismo de

negação e em parte porque estão convencidos de que estão ajudando o adicto e impedindo a

desintegração da família. (LIZAMA, 2015).

E quando a droga aparece em casa, em vez de fazer com que nosso amor seja mais

intenso, ficamos divididos, descarregando a responsabilidade sobre o outro cônjuge.

Provavelmente negamos a evidência por muito tempo, perdendo tempo precioso.

Confusos e desencorajados, enchemo-nos de complexo de culpa, de quem

pensávamos jamais ter de receber tanta desilusão, vergonha e dor. (PICHE, 1996, p.

32-33).

Segundo Sanda (2001, s.p.), facilitação “[...] é toda a atitude que tomamos e que irá

colaborar com a continuação da dependência química. As atitudes de facilitação são:

minimizar, controlar, proteger, assumir responsabilidades e compactuar, [...]”. O facilitador

torna-se responsável pelas obrigações do dependente químico, protegendo - o das

consequências dos seus atos, tentam manipular pessoas ou situações a fim de controlar o uso

do adicto. O codependente torna-se uma pessoa com preocupação crônica, assume a culpa

pelos problemas, perde sua identidade, negligencia o cuidado com si próprio, no seu emprego

torna-se cada vez menos eficiente e há um grande risco de tornar-se dependente de remédios.

Krupnick; Krupnick (1995) fornecem exemplos de comportamentos facilitadores:

negação, evitação, minimização dos problemas causados pela dependência e ainda:

a) Superproteção: o codependente protege o adicto de tal forma que ele não experimenta

o impacto das consequências negativas da dependência em sua vida. Age encobrindo,

salvando e protegendo o adicto dos outros e os outros do dependente;

b) Dificuldade de comunicação: o codependente tem dificuldade em estabelecer limites,

dizer não ou pode dizer tantos nãos, que o ambiente se torna hostil, autoritário e frio.

Além disso, são comuns a falta de assertividade, as brigas constantes, os segredos de

35

Page 37: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

família, duplas mensagens, falta de comunicação honesta, dificuldade em expressar

sentimentos e em discutir problemas;

c) Controle: compulsão de controlar o uso de drogas, bem como os comportamentos,

pensamentos e sentimentos do adicto;

d) Assumir responsabilidades do adicto: para evitar uma crise o codependente assume as

responsabilidades do cotidiano e familiar dos dependentes, se sobrecarregando,

afetando sua vida diária e sua saúde. Apesar disso, a crise acontece e o codependente

vai se sobrecarregando cada vez mais, até que prejudique sua própria vida e afete sua

saúde;

e) Racionalização e Adaptação: racionalizar ou justificar o uso somente reforça a

negação do adicto acerca da sua doença e termina com a adaptação da família aos

comportamentos do adicto;

f) Cooperação e colaboração: Com a intenção de controlar o adicto, o codependente

muitas vezes o acompanha no uso ou lhe ajuda a obter a droga, enviando uma

mensagem de aprovação desta conduta.

g) Resgate e Submissão: estas condutas conjugadas reforçam a adicção e convertem o

codependente em alguém a serviço do processo adictivo, levando ao avanço da

adicção.

Os mesmos autores ressaltam que o conceito de facilitação não se aplica somente aos

familiares e amigos, mas também aos profissionais que lidam com a dependência. Por

exemplo: está no terapeuta que aceita que o paciente se negue a falar abertamente de seu

consumo; naqueles que ficam aguardando o momento em que o adicto chegue ao fundo do

poço para intervir; nos que se deixam manipular; que receitam medicamentos que reforçam a

adicção ou que aguardam que os pacientes venham a se reestruturar.

Krupnick; Krupnick (1995) ainda se referem aos patrões facilitadores que ignoram os

comportamentos estranhos, atrasos, negligência; evitam confrontação; insinuam que a

dependência pode ser motivo de demissão; deixam de inserir o empregado em programas de

reabilitação.

É importante reconhecer todos estes comportamentos, remover a facilitação e

estabelecer novos padrões de relacionamento que sejam mais adequados à recuperação do

dependente.

36

Page 38: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

6 CARACTERÍSTICAS DA CODEPENDÊNCIA

“Ele percebe um problema no outro e sente com seu. Ele tem um problema cuja resolução sente estar na mão do outro. Confunde sentir e perceber e não consegue sentir o que precisa nem pedir claramente o quer para si. Pede mas não pede. Impõe mas não verbaliza. ” (ZAMPIERE, 2004a, p.70).

A Codependencia é uma condição específica que se caracteriza por uma preocupação e

uma dependência excessiva (emocional, social e às vezes, até física) de uma pessoa em

relação ao outro indivíduo problemático.

Conforme Cesar (2010, s.p.): “Uma atitude codependente pode parecer positiva,

paciente e generosa, pois está baseada na melhor das intenções, mas, na realidade, é

inadequada, exagerada e intrusa”.

Algo muito marcante nos codependentes é sentirem-se responsáveis pelo mundo

inteiro e recusarem ser responsáveis por suas próprias vidas. São pessoas que se

autoabandonam. Por essa razão tornam-se extremamente controladores.

Para Beattie, a codependencia é um ciclo autoderrotista:

Os sentimentos de codependência levam à autonegligência; a autonegligência leva a mais sentimentos e comportamentos de codependência, que leva a mais autonegligência [...]. (BEATTIE, 2012, p. 81).

Codependentes são extremamente idealistas a respeito de suas relações e de sua vida.

Gastam uma enorme energia para que as pessoas e os acontecimentos fiquem exatamente

como gostaria que fossem.

Para tentarem alcançar esse objetivo, tornam-se muito disponíveis na convivência com

as pessoas que ama e ao assumirem a carga que é dos outros, incentivam a incompetência e a

inconsequência nos outros.

O Codependente tem seu próprio estilo de vida e seu modo de se relacionar consigo

mesmo, com os demais e as pessoas problemáticas; são pessoas que deixam sua vida de lado

para viver e cuidar do outro, transferindo a responsabilidades do outro para si. Seu

comportamento consiste em manter hábitos destrutivos, sem que ambos inicialmente

37

Page 39: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

percebam, reagem de uma forma acolhedora, a amparar e cuidar excessivamente das vidas de

pessoas problemáticas, desencadeando um convívio social instável e destrutivo.

A codependência pode ocorrer em qualquer pessoa que esteja em contato com um

dependente, seja um familiar, um amigo, companheiro, marido ou esposa, cliente ou colegas

de trabalho e até patrão.

É possível que alguém tenha desenvolvido a codependência crescendo em um

ambiente disfuncional adicto, mas só manifesta seus sintomas quando mantém uma relação

enquanto casal. Com muita frequência, as filhas de adictos terminam casando-se com outros

adictos, pois a literatura mostra que os comportamentos aprendidos no convívio familiar

tendem a refletir-se na vida adulta, no momento da escolha do companheiro, na forma de

enfrentar as responsabilidades, nas relações sociais e de trabalho.

A Codependência afeta a vida pessoal, familiar, amigos e parentes; negócios e

carreira; saúde e crescimento espiritual. Zampiere (2004a) enumera as características do

fenômeno centradas no indivíduo: dificuldade de identificar uma autoimagem; dificuldade de

lidar com sentimentos; senso de vitimização; ansiedade; culpa; controle obsessivo,

insatisfação, desrespeito, pena, violência, raiva, exploração, desprezo, comparação,

distanciamento e abandono.

Na relação, as características se manifestariam como: atração por pessoas explosivas;

controle compulsivo; necessidade de ajudar; preocupação constante com o outro; distorção de

limite; tendência a sentir os problemas externos como seus e assumir responsabilidades pelo

outro; descuido de suas próprias necessidades pelo outro; repetição dos padrões nas relações

extrafamiliares.

O psiquiatra Francisco Guzmán (1995) acredita que haja graus no processo da

codependência. Primeiro, as pessoas que se relacionam com o adicto estão mal informadas a

respeito da doença e acreditam que possam resolver o problema. Sendo conscientizadas

imediatamente corrigem seus erros. Um segundo grupo seria de pessoas que já possuem

traços codependentes e, por último, há aquelas que apresentam o quadro completo da

codependência. O autor refere ainda que podem ser encontrados indivíduos que sublimem a

codependência.

A percepção que o codependente tem de si mesmo está vinculada aos seus

sentimentos, que ele identifica como sintomas e que vão se cristalizando dificultando sua

identificação, pelo fato de poder ser confundido com características de personalidade.

A codependência se caracteriza por uma série de sintomas, que trazem sofrimento e

dor e se dirigem tanto ao próprio indivíduo codependente como ao dependente.

38

Page 40: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

a) Problemas de relacionamento: dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas e

saudáveis; tendência a relações destrutivas ou com pessoas problemáticas. Dificuldade

no relacionamento sexual. Atração por parceiros emocionalmente instáveis,

explosivos ou quimicamente dependentes e dificuldade para sair de tais

relacionamentos, com tendência à repetição;

b) Dificuldade em lidar com sentimentos: o codependente sente que merece sofrer porque

se acha culpado e merecedor da agressividade do adicto. Para ele amar é sofrer e

sacrificar-se; buscar proteger e desculpar o comportamento do adicto;

c) Dificuldade em vivenciar limites: os codependentes permitem que as pessoas invadam

seu espaço e sejam abusivos e, ao mesmo tempo, entram no ambiente dos outros e

abusam;

d) Indiscriminação de papéis: os familiares não se reconhecem como pessoas distintas

umas das outras; não há indiferenciação e os pais não tem autoridade sobre os filhos

e) Congelamento emocional: mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa

problemática, o codependente se comporta como mártir;

f) Tolerância elástica: ainda que sentindo mágoa, raiva ou achando que está sendo

desrespeitado, o codependente acaba por dar inúmeras chances ao outro;

g) Perfeccionismo: ele aparenta uma necessidade de perfeição que, na verdade, gostaria

que o dependente apresentasse. Apresenta hipersensibilidade a críticas;

h) Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros: o cuidado/controle é uma

característica marcante na codependência, tanto o cuidado excessivo com o outro

como a omissão do cuidado para consigo. O cuidar excessivo pode se manifestar

através de alguns comportamentos: preocupação permanente com o cuidar e se

relacionar com o adicto; controle rigoroso de todos os passos, comportamentos e

atitudes; palpites, recomendações; tendência a antecipar as necessidades da outra

pessoa, gentileza exagerada; dificuldade de dizer não; fazer coisas que não quer fazer;

realizar coisas pelo outro, assumindo suas responsabilidades; procurar agradar aos

outros, principalmente o usuário de drogas, em vez de a si mesmo. O controle também

aparece quando o familiar se sente responsável pelos sentimentos, ações, escolhas e

até pensamentos do dependente, chegando a se achar responsável, inclusive, pelo seu

destino. O cuidado em excesso se transforma em obsessão, tornando-se doentio e

prejudicial tanto ao dependente como ao codependente. Alguns codependentes tendem

39

Page 41: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

a exercer o controle se fazendo de mártires, mas enquanto isso fazem questão de

lembrar o adicto que ele é a causa de seus males;

i) Manipulação: mecanismo de defesa comumente presente nos relacionamentos entre

dependente e codependente;

j) Raiva e ressentimento: os codependentes possuem muita raiva: raiva de si, raiva do

outro, raiva de tudo. Querem salvar o dependente e não conseguem e acabam se

sentindo ressentidos. Vivem prestes a explodir ou implodir e tanta raiva quase sempre

causa estrago a sua volta. Sentem necessidade de punir o outro para reparar o

sofrimento que acham que lhe causaram: o dinheiro gasto com a droga, as promessas

não cumpridas, as agressões físicas e verbais. Mostram-se rancorosos pela falta de

reconhecimento e sentimentos de traição;

k) Medo: o medo é um dos sentimentos mais presentes e marcantes na vida dos

codependentes e pode estar associado à violência contra o outro ou a si próprio, ao

abandono, ao medo de cometer erros, de ter vida própria e de que aconteça algo ruim

com o dependente químico. Medos reais que se misturam aos imaginários. Medo de

agir, de criar caso, de gerar crise, de ter que tomar atitude. Medo da separação, medo

da intimidade, da tristeza e da felicidade. Medo que se torna angústia e que alimenta a

ansiedade, dia a dia, roubando a serenidade de uma vida tranquila;

l) Culpa: a culpa é bastante perceptível na condição de codependência do familiar,

manifestando-se em momentos como o início do consumo de droga e a falta de

imposição de limites. Em virtude desses sentimentos, o familiar assume uma atitude

obsessiva para cuidar, preocupando-se e controlando excessivamente o dependente

químico. O codependente carrega um conflito, muitas vezes inconsciente, sentindo-se

culpado por algum sentimento negativo que possa sentir, como raiva, desconforto pela

dependência psicoemocional ou financeira. O dependente, por sua vez, projeta nos

familiares a razão de seus problemas, negando sua responsabilidade;

m) Insegurança: o codependente apresenta insegurança em relação a várias coisas.

Acredita que está sendo roubado, enganado, que o dependente mente constantemente.

Esse clima de insegurança diz respeito também ao próprio codependente, que passa a

não confiar em suas decisões, chegando a perder até a fé em algo superior, o que gera

um grande vazio interno;

n) Condutas compulsivas: o codependente toma atitudes impulsivas e não sabe explicar

o porquê delas, além disso, pode apresentar diferentes compulsões como, por exemplo,

trabalhar demais, comer em excesso, etc.;

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Page 42: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

o) Sentir-se responsável pelas condutas dos outros: ele realmente se sente assim,

inclusive em relação a outras pessoas, que não somente o dependente;

p) Profundos sentimentos de incapacidade;

q) Vergonha: o codependente acredita ser o erro em pessoa; busca fora de si o

preenchimento do vazio interior; essência da baixa estima; vê a conduta problemática

do dependente como sua. Além disso, sentem vergonha do comportamento do adicto e

preferem se calar sobre o problema, sofrendo sozinhos;

r) Isolamento social: a vergonha e o constrangimento levam a família a se isolar; tem

receio de discussões e escândalos e, à medida que se afastam socialmente, acumulam

frustrações;

s) Autopiedade: convivem com a culpa durante muito tempo, então tendem a se sentir

vítimas, mas oscilam entre a menos valia e a supervalorização (“heróis”); t) Baixa autoestima: A autoestima do codependente é regulada pelo quanto consegue

agradar o outro, porém também podem se apresentar como arrogantes e superiores.

Seu desejo está voltado ao bem estar do outro. Sente-se frustrado e culpado por não

dar tudo o que queria, achando que nunca é o bastante para ser aceito, amado ou

valorizado;

u) Dificuldade em aceitar sua realidade: em relação a sua aparência, sentimentos,

pensamentos e ações;

v) Dependência da aprovação externa: inclusive para acreditar em si mesmo. Não se

sentem amados, então buscam formas de agradar aos outros. Não reconhecem suas

necessidades e desejos. Suas condutas são determinadas por fatores externos e não por

decisões voluntárias;

w) Sintomas físicos e emocionais: tendem à somatização: muitas vezes, o codependente

não expressa o que sente, traduzindo seus sentimentos em sintomas físicos e/ou

emocionais como cefaléias, tonturas, alteração de pressão arterial, alteração nos

valores glicêmicos, insônia, alterações de sono, ansiedade, nervosismo, palpitações,

choro fácil, cansaço físico e mental, distúrbios alimentares, dores crônicas nas costas,

gastrites, vômitos, bem como diarréia crônicas. A depressão é relativamente comum e

pode vir acompanhada de pensamentos suicidas.

Acompanhando estes sentimentos vem a solidão, a tristeza, dor, decepção, impotência

e desespero; emoções negativas, que consomem a energia e minam as possibilidades de viver

41

Page 43: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

com qualidade. “Sentimentos que se não transformados, certamente darão espaço para o

surgimento de doenças emocionais, o que desorganizará ainda mais o sistema familiar,

diminuindo as chances de melhora dos outros membros da família”. (MIRANDA, 2015, p.

29).

Estas respostas interferem na qualidade de vida do codependente, levando-o a procurar

ajuda médica e consequente uso de medicamentos que podem levar a uma dependência. Na

verdade, o codependente deveria buscar ajuda de uma terapia com um psicólogo ou psiquiatra

pois o que ele tenta combater é o efeito (todos os mal estares) e não a causa (que é o seu

comportamento perante o dependente).

Em sua pesquisa de mestrado, Zampiere (2004b) encontrou em famílias de alcoólicos,

maior incidência dos sentimentos de: preocupação, medo do futuro, insegurança e medo de

errar; raiva, irritação e desespero; mágoa, decepção, ingratidão e não compreensão; depressão,

vitimização e mau humor. Também observou evidência de controle não só sobre o usuário,

mas sobre outras pessoas.

A pesquisa de SALAZAR et al (2013), que buscou descrever os indicadores da

codependência revelou que, dos 60 familiares de dependentes envolvidos, 18 % apresentaram

sinais emocionais importantes como: sentimento de culpa, dificuldade para pensar, sensação

de fracasso, isolamento social, dependência afetiva, obsessão na conduta do usuário.

Em 33% dos casos o pesquisador verificou a presença dos seguintes sintomas:

necessidade de controlar os outros, tendência a ter companheiros, amigos consumidores de

drogas, negação da realidade, mudança em suas atividades (sacrifícios), dificuldade em

desapegarem-se, preocupações exageradas com o comportamento do dependente,

ressentimentos sem justificativa, necessidade imperiosa de controlar o adicto.

Na porcentagem restante estão os sinais físicos (18%) tais como: alterações nervosas,

depressão e ansiedade. As pessoas apresentam também dores de cabeça, enxaquecas, dores de

estômago, transtornos de sono e alimentação.

As manifestações físicas, de acordo com Bowlby (1998, apud SALAZAR, 2013),

decorrem da ansiedade provocada pelo perigo da perda do objeto, a dor ou aflição diante da

perda de si mesmo. Enquanto o adicto continua com seu consumo, o codependente se

encontra ameaçado pela possibilidade de ser abandonado pelo ser amado, levando-o a assumir

comportamentos ansiosos, depressivos, obsessivos compulsivos e a sentir grande angústia.

Beattie (2012) cita que um dos sintomas da codependência seria a dormência psíquica:

para se proteger, os codependentes se desligam de seus sentimentos. Outra manifestação seria

a hipervigilância, a incapacidade de se sentirem confortáveis e à vontade, a menos que

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Page 44: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

estejam vigiando tudo e todos: ”sempre esperando o pior, incapazes de confiar ou de se

sentirem seguros de novo”. (CERMAK apud BEATTIE, 2012, p. 34). A autora fala também

sobre a culpa: “Quando começa, a experimentar a totalidade do que a vida tem a oferecer, eles

imediatamente se sentem como se estivessem traindo aqueles que não tiveram a mesma

chance”.

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Page 45: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

7 ESTÁGIOS DA CODEPENDÊNCIA

“Ser co-dependente é estar sempre dependendo do outro ou até mesmo de ‘outras’ pessoas para se sentir bem. É colocar as vontades dos outros em primeiro lugar e se submeter mesmo espontaneamente às vontades e caprichos do próximo”. (Catarina, apud CARVALHO; NEGREIROS, 2011, p. 144).

Para conviver com o dependente, a família pode adotar arranjos diversos e conseguir

adaptar-se rapidamente ou ainda tornar crônicos os comportamentos desenvolvidos.

Os familiares são profundamente afetados pela dependência e o impacto sobre ela

apresenta algumas características, semelhantes àquelas que ocorrem com o adicto. Contudo

não se pode afirmar que todas as famílias atravessarão o mesmo processo, mas existe uma

tendência a se sentirem culpados e envergonhados. Além disso, apresentam com frequência:

raiva, ressentimento, falta de crédito nas promessas de parar, dor, impotência, medo do futuro,

falência, desintegração, solidão, culpa e vergonha pelo estado em que se encontram.

A comunicação entre os familiares é confusa e indireta, facilitando o acobertamento da

conduta do dependente e levando, em muitos casos, ao isolamento social. As regras também

são confusas, rígidas e injustas trazendo prejuízo às pessoas não problemáticas. Estas regras

proíbem a discussão dos problemas, a expressão aberta dos sentimentos e expectativas

realistas.7

Negação: período de tensão, desentendimentos e grande ansiedade; as pessoas não

falam o que realmente pensam ou sentem; relutam em admitir que a droga esteja causando

problemas; criam frequentes desculpas para o dependente; têm dificuldade de identificar o

que sentem; minimizam ou negam suas emoções; a comunicação é cada vez mais confusa e

indireta. Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de drogas instauram um clima de

segredo familiar. O codependente nega que exista um problema, criando justificativas para as

situações e, portanto, não admite que seu comportamento esteja prejudicando sua vida e do

outro.

Controle: após a aceitação da dependência, os familiares tentam controlar o uso e suas

consequências, acreditando que esta é a solução para o problema; mentiras e cumplicidades se

instalam; continuam mantendo a ilusão de que a droga não está causando problemas. O

sentimento ainda é de não falar sobre o problema, existindo cumplicidade entre os membros 7 De acordo com o I Levantamento Nacional com Familiares de Dependentes, o familiar do dependente químico demora cerca de cinco anos para aceitar a adicção de seu parente e, quando o faz, não se reconhece como parte deste processo, negando que também precisa de ajuda.

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Page 46: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

da família. Acabam se isolando socialmente; se esquecem de si mesmos e abandonam o

controle de sua própria vida.

Desorganização: a família assume papéis rígidos e previsíveis e responsabilidades que

não são suas; é comum ocorrer inversão de papéis e funções, com prejuízo dos membros que

não têm problemas. Por exemplo, a esposa assume todas as responsabilidades da casa, pois

seu marido está com problemas de alcoolismo ou a filha mais velha, passa a cuidar dos

irmãos, devido à dependência química da mãe. Tornam-se facilitadores do problema e

desenvolvem várias disfunções.

Exaustão Emocional: ocorre um esgotamento emocional em todos os familiares;

podem surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde; a situação fica insustentável,

levando ao afastamento e desestruturação familiar. Conforme salienta Krupinick L. e

Krupinick E. (1995, p. 32)) “[...] os membros, cansados, procuram maneiras de fugir da

situação insustentável, pode ocorrer um afastamento emocional completo ou divórcio – até

mesmo, um suicídio ou homicídio”.

Olievenstein (1992 apud PAYÁ; FIGLIE, 2004), assinala seis características

apontadas como patológicas, encontradas nas famílias de dependentes químicos:

a) Falta das barreiras entre as gerações; os membros mais velhos não conseguem impor

limites e regras;

b) Inversão de papéis com o filho assumindo o papel do adulto;

c) Falta de esperança ou comodismo, por acreditarem que a drogadição é algo do destino

da família como um todo;

d) Desentendimento entre os pais, principalmente quando um é alcoolista ou quando não

agem de modo coerente em relação às condutas que devem assumir para apoiarem a

recuperação de um dos filhos;

e) Alianças secretas entre familiares frente a violação de regras ou falhas na

comunicação.

Da mesma forma, de um modo geral, o codependente também manifesta formas

distintas e alternadas pelas quais tenta aliviar sua dor:

Negação: mecanismo de defesa que previne que o codependente seja sobrecarregado

por pressões emocionais que podem ser difíceis de suportar. Fingem que a situação não está

ocorrendo. Há muita ansiedade e medo neste estágio. De acordo com Beattie (2013) as

reações típicas incluem: negar ou minimizar; dizer que não se importa ou fugir mentalmente

(dormindo, comendo, trabalhando, etc, compulsivamente). O psicólogo Noel Larsen (apud

BEATTIE, 2013, p. 178) explica que “negar não é mentir; é não permitir a si mesmo saber

45

Page 47: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

qual é a realidade”. A negação protege o codependente, para que ele possa juntar recursos

para lidar com o problema.

Raiva – quando deixam de negar sua dor, os codependentes sentem muito medo e

raiva e têm medo da sua raiva, pois ela pode ser irracional. Pensam que as pessoas irão

embora se expressar seu sentimento, então podem reprimi-lo.

Negociação – depois de se acalmarem, tentam negociar (barganhar) tanto com a

situação-problema como com a pessoa-problema, com outras pessoas e consigo mesmo.

Tentam adiar o inevitável, acreditando que se fizer isto ou aquilo, resolverão o problema. Às

vezes as negociações são razoáveis como procurar terapia; outras vezes absurdas: manter a

casa limpa pode fazer o companheiro parar de beber.

Depressão – a depressão é resultante de uma negociação mal sucedida; tem-se a

sensação de que todo o esforço acabou em perda. É este contato com a dor e a tristeza que

procuram evitar o tempo todo.

Aceitação – indica o começo do fim da luta: “É quase uma ausência de emoções, como

se a dor tivesse passado.” (Küber-Ross apud Beattie, 2013, p.181). Nesta fase, os

codependentes param de controlar e se sentem em paz; livres para ir ou ficar; se ajustam e se

reorganizam para seguir em frente.

Todo este processo pode ocorrer de diversas formas, não necessariamente nesta ordem

ou um a cada vez, contudo estes estágios são necessários para se chegar à aceitação do

problema e iniciar uma mudança.

46

Page 48: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

8 PADRÕES DE CODEPENDÊNCIA NA FAMÍLIA DISFUNCIONAL

“O amor que damos e recebemos será engrandecido pelo amor que damos a nós mesmos.” (Beattie, 2013, p. 169).

As famílias que estão envolvidas no processo adictivo mudam sua dinâmica, seu

funcionamento e seus membros assumem certos papéis decorrentes da codependência, com o

objetivo de manter a adicção, pois temem o desequilíbrio que poderá ser desencadeado pela

sobriedade.

Zampiere (2004b, p. 1-2) ressalta em sua dissertação, Padrão de Codependência e

Prevalência de Sintomas Psicossomáticos, que, embora a literatura apresente muitos estudos

focando a dependência química e haja mesmo, uma atenção crescente em relação à sua

família, “observam-se lacunas na identificação de um possível padrão relacional e

comportamental em sujeitos no grupo familiar - relações de codependência - bem como

quanto a sintomas psicossomáticos que possam apresentar”. As regras de conduta estabelecidas pelos grupos com os quais convivemos, a

qualidade de nossos primeiros relacionamentos e nossas tendências nos levam a escolher

papéis ou padrões que definirão nosso comportamento. Estes papéis encobrem o vazio de

identidade. Na codependência percebe-se um conjunto de padrões de conduta e pensamentos

(patológicos) que, além de compulsivos, produzem sofrimento. Entretanto, ao mesmo tempo,

estes papéis são formas para manter o equilíbrio dentro da família, frente à dependência de

um dos seus membros.

É quase impossível que consigam alcançar a meta desejada enquanto perdurar o uso

da droga, apesar disso, cada co-dependente tenta sobreviver emocionalmente

adotando um ou até mais de um papel familiar específico. (KRUPNICK;

KRUPNICK, 1995 apud ROCHA, 2011, p. 36).

Izquierdo (2002) identifica quatro tipos de codependentes: o codependente direto que,

segundo o autor, apresenta um dos comportamentos mais difíceis no processo de recuperação,

porque pode oferecer a droga, o dinheiro ou o lugar para o dependente consumi-la.

O codependente indireto mantem uma conduta de oposição declarada à adicção, mas

protege o adicto e evita que ele se responsabilize por suas ações.

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Page 49: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

O tolerante desempenha o papel de sofredor e vítima. Sua função não é de modificar o

comportamento do usuário, mas assistir sua autodestruição, querendo se relacionar com o que

há de bom e nobre nele.

O codependente perseguidor é o familiar mais comprometido em controlar a conduta

do adicto e estabelece um sistema para descobrir suas exposições.

Krupnick; Krupnick (1996), baseados no trabalho de Wegscheider, estabelecem cinco

papéis que os familiares do dependente utilizam em sua estratégia de enfrentar a situação: o

facilitador principal, o herói da família, o bode expiatório, a criança perdida e o mascote da

família. Estes últimos quatro são citados por Izquierdo (2002) como característicos dos filhos

de dependentes.

O Facilitador Principal seria a pessoa que está mais próxima do dependente, com a

qual ele mais conta e que mais procura ajudar. Tende a criticar, mas ao mesmo tempo se sente

culpado, achando que poderia fazer sempre mais.

O próximo papel é o de Herói da Família e, segundo Wegascheider (apud

KRUPNICK; KRUPNICK, 1996), geralmente é desempenhado pelo irmão mais velho, que se

sente culpado por não poder ajudar o familiar dependente. Como espera muito de si e de

todos, fica com raiva quando se frustra com a realidade, mas reprime esta raiva por achar que

não pode senti-la. Chega a converter-se em cuidador dos irmãos e do genitor dependente, não

desfrutando de sua infância, esforçando-se para manter a integridade da família.

O Bode Expiatório ou criança problema serve de para-raio das tensões familiares.

Geralmente assumido pelo segundo filho, que se sente negligenciado, sem valor e para

chamar atenção sobre si, tende a apresentar comportamentos rebeldes. Sente raiva de todos e

de si mesmo; se sente envergonhado e culpado e tende a ser o próximo dependente químico

da família. Apresenta uma conduta desafiante, cria conflitos, é agressivo e tende à

marginalização social. Sua forma de atuar é uma maneira de proteger, desviando a atenção do

problema principal.

A Criança Perdida é muitas vezes a terceira criança da família, que costuma isolar-se

e tornar-se solitária. Possui dificuldades em relacionar-se; passa despercebida na família; não

consegue fazer escolhas ou cumprir compromissos; não apresenta opinião própria, tudo que

faz é seguir os outros; não causa problemas e até cria a sensação de certa normalidade no

ambiente familiar.

Por último, o Mascote da família, geralmente o caçula, é frágil e imaturo e tem por

função divertir os outros, considerado como o palhacinho, consegue trazer um pouco de

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Page 50: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

alegria e distração aos familiares. Não são levados a sério e tem dificuldade em estabelecer

prioridades e assumir compromissos. Podem vir a se tornar manipuladores e dominadores.

Vários trabalhos apresentam especificações dos papéis assumidos na família:

a) Salvadores: a autoestima destas pessoas depende da capacidade de ajudar outras

pessoas. Inventam desculpas, pagam as contas, justificam as ausências no trabalho;

resolvem as crises que o adicto produz, impedindo-o de enxergar e assumir as

consequências de sua adicção;

b) Cuidadores: assumem todas as tarefas e responsabilidades que podem e, desta

maneira, produzem uma sobrecarga que afeta sua saúde e impede o adicto de se

conscientizar de seu problema;

c) Agradadores: estão sempre preocupados em agradar, pois não acreditam que as

pessoas com as quais convivem possam achá-los interessantes;

d) Perdedores: sentem-se imperfeitos, mas desistiram de agradar. Ao contrário, se

envolvem em situações difíceis ou desastrosas apenas para confirmar que são

perdedores; “ovelha negra”, eles desviam a atenção da família para si mesmo. Pode ser

a criança ou adolescente que tem problemas de disciplina na escola ou aqueles que se

envolvem com drogas;

e) Perfeccionistas: acreditam que apenas serão amados ou reconhecidos se forem

perfeitos. São extremamente críticos e severos consigo mesmo e com os outros,

gerando relacionamentos conflituosos e estressantes;

f) Heróis: empenhados em desviar a atenção dos familiares do adicto. Para isso se

tornam o mais bem sucedido e fazem com que sua família se sinta orgulhosa. Pode ser

o ótimo aluno, o atleta que se sobressai ou aquela pessoa que está sempre além do que

se espera. Esse familiar aprende que a melhor maneira de evitar confusões é sendo

perfeito e busca formas de dar a todos o que querem. Tenta ser útil à família,

tornando-se exemplar, prefere a admiração e o respeito à intimidade e ao amor e, pode

vir a se tornar o facilitador principal de outra família;

g) Narcisistas: inseguros, apresentam baixa autoestima e precisam ser sempre o centro

das atenções. No entanto, os narcisistas aparentam autoconfiança elevada, como

fachada e grande capacidade de manipulação;

h) Recriminadores: se encarregam de culpar o adicto de todos os problemas. Realizam

sermões intermináveis de recriminação, que acabam por reforçar o uso de drogas;

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Page 51: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

i) Desentendidos: para encobrirem sua tristeza e incapacidade de expressar-se, assumem

o papel de se manterem a margem dos problemas familiares;

j) Disciplinadores: assumem a idéia de que o problema está na falta de disciplina e

agridem o adicto física e verbalmente, em virtude da raiva e frustração que se

acumulam.

O triângulo do Drama criado originalmente por Steven Karpman e utilizado na análise

transacional, também pode ser aplicado à dinâmica da codependência, que transita entre as

três posições básicas, em forma de triângulo invertido, que interagem e mantém a

disfuncionalidade.

Apesar de cada um de nós ter um papel com o qual mais nos identificamos, nós

também atuamos em outros papéis, rodando o triângulo, por vezes em questão de minutos, ou

até mesmo segundos, várias vezes por dia.

Posições do triângulo:

a) Vítima: ressentidos e manipuladores culpam a todos pelos seus problemas e não

admitem a responsabilidade de seus atos. Vulneráveis e carentes sentem-se

maltratados e impotentes. Percebem-se como vítimas das circunstâncias e das pessoas;

b) Perseguidor: fica raivoso quando seus esforços para ajudar não surtem resultado e que

o dependente não é grato por tudo o que fez; quer controlar o adicto e tenta disciplinar

agindo sobre comportamentos que consideram inadequados. Utiliza a força para impor

seus critérios e a agressão como comunicação, prejudicando ainda mais as relações

familiares, justificando o papel de vítima do adicto.

c) Salvador: é o “tomador de conta”, aquele que tudo resolve, tudo conserta, que ajuda a

todos; protege o adicto e assume responsabilidades por ele, colocando-se entre

qualquer pessoa que possa ser hostil com ele. Alimenta o sentimento de que sem sua

ajuda, o dependente não sobreviverá. É a reação típica do codependente, que sufoca e

deseja ajudar, mesmo não tendo sido solicitado.

Edwards (1995) considera que é importante avaliar os estilos de enfrentamento que

uma esposa de alcoolista adota em cada etapa, podendo ser generalizado para companheiras

de adictos. Um destes estilos seria o subterfúgio, quando o contato emocional e físico é

evitado. Outro estilo seria o ataque, quando a esposa tenta controlar o comportamento do

dependente com gritos, ameaças e até agressões físicas. A manipulação faz com que a

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Page 52: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

companheira procure envergonhar o marido, enfatizando o mal que causa aos filhos e a ela.

Pode ainda mimar o alcoolista ou assumir todas as tarefas da casa para garantir que tudo

esteja sob controle; o que Edwards chama de condução construtiva. A busca de ajuda

construtiva se manifesta quando a esposa procura um médico, solicitando a ele que fale com o

dependente.

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Page 53: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

9 IDENTIFICAÇÃO DA CODEPENDÊNCIA

“Não nos sentimos bem conosco, não gostamos de nós mesmos e não pensamos em amar a nós mesmos.” (BEATTIE, 2013, p.159).

Zampiere (2004a) descreve como critério para se identificar um distúrbio de

identidade codependente: o comprometimento da afetividade; a confusão entre amor e

possessividade; a necessidade de controle; a dificuldade de manifestar afeto; a falta de

controle dos impulsos; a oscilação entre vítima e algoz. A autora ainda coloca que o padrão da

codependência é permanente, de longa duração, com tendência à repetição em novas relações,

caso não haja intervenção. Suas manifestações apareceriam durante a infância em uma família

problemática, reprimida e disfuncional e permaneceriam na vida adulta, levando à angústia

pessoal, que é identificada sempre como causada pelo outro. Zampiere continua:

O padrão relacional tende a repetir-se em todos os contextos. Pode ser

complementado tanto no grupo familiar como no ocupacional e social. Muitas vezes

incentivado no início e tido como útil, passa a ser rechaçado, quando vai se

mostrando inconveniente, monopolizador e evidenciando seu desproporcional

controle. Não tende a prejudicar o desempenho pessoal – que tende à eficiência-,

mas torna-se altamente nocivo à produção grupal. (ZAMPIERE, 2004a, p.108).

Para o autor existem três itens que estariam frequentemente presentes: a tendência

excessiva de cuidar/controlar; a tendência a dar diversas chances ao outro, podendo ou não

suscitar raiva ou mágoa e a atração por companheiros instáveis emocionalmente ou

dependentes químicos, assumindo a responsabilidade por eles.

Haveria ainda outros critérios que identificam a codependência como:

a) grande dificuldade com limites;

b) dificuldade em sair destes relacionamentos;

c) tendência ao rancor ;

d) sentimento de estar sendo traído e lesado;

e) oscilação entre sentir-se herói e com pouco valor;

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Page 54: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

f) autopiedade;

g) dificuldade em expressar sentimentos e demonstrar afetos ;

h) problemas no relacionamento sexual;

i) baixa tolerância a críticas.

Os padrões abaixo, encontrados na codependência, ajudam a identificar a doença.

a) negação: negam e têm dificuldade para identificar sentimentos; acreditam ser altruístas

e dedicados ao outro;

b) baixa autoestima: dificuldade em tomar decisões; seus pensamentos e atitudes nunca

são suficientemente bons, envergonham-se de receber reconhecimento, elogios ou

presentes; não pedem ajuda em suas necessidades e desejos; dão muita importância ao

que os outros pensam sobre ele; não reconhece a si mesmo como uma pessoa de valor;

demonstram exagerada vontade de agradar os outros;

c) conformidade: abrem mão de seus valores para serem aceitos; assumem sentimentos

dos outros; permanecem em situação de sofrimento por muito tempo; supervalorizam

as opiniões e sentimentos dos outros e não expressam pensamentos contrários aos

deles; deixam de lado seus interesses pessoais e sua vida particular; se contentam com

o sexo como substituto do amor;

d) controle: tudo o que fazem tem o objetivo inconsciente de receber algo ou cobrar

do ambiente, nunca estando satisfeitos; acreditam que os outros não são capazes

de cuidar de si mesmo; tentam convencer os outros sobre como devem pensar e

agir; ficam ressentidos quando suas ofertas são recusadas; vivem oferecendo

conselhos; presenteando e favorecendo aqueles de quem gostam; usam o sexo

para serem aprovados e aceitos; querem se sentir necessários.

Há poucos instrumentos de avaliação da codependência na literatura brasileira.

Destacam-se os questionários disponíveis pelos grupos de mútua ajuda como CODA (Anexo

A), Al-Anon (Anexo B) e Nar-Anon (Anexo C). Prati e Vasconcelos (2013) destacam os

esforços de Gayol e Lira (2002) na criação de um instrumento que avalia a presença de

codependência em mulheres. Estas autoras elaboraram um questionário, chamado Instrumento

de Codependência (ICOD), que foi validado com mulheres mexicanas. (Anexo D).

Humberg (2003) oferece em sua monografia as traduções dos questionários The

Spann-Fisher Co-Dependency (POTTER-EFRON; POTTER-EFRON, 1998) e The Spann-

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Page 55: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

Fisher Co-dependency Scale (SPANN; FISHER, 1991), que podem ser encontrados nos

anexos E e F respectivamente.

No Anexo G, apresentamos a autoavaliação proposta por Beattie (2013).

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Page 56: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

10 TRATAMENTO DA CODEPENDÊNCIA

“Eu sigo o meu caminho, Você segue o seu...Eu não estou neste mundo pra corresponder as suas expectativas,E você não está neste mundo pra corresponder as minhas...Você é você e eu sou eu...E se, por acaso, nos encontrarmos, que maravilhoso!Se não, nada podemos fazer!" (ORAÇÃO DA GESTALT).

Zanellato e Rezende (2003) referem que o codependente, como qualquer outro

indivíduo que apresenta e vive um comportamento disfuncional, não tem consciência de

sua codependência e resiste em aceitar, quando confrontado com o problema. Ele não é

capaz de perceber seus sentimentos em relação a si mesmo, nem de atribuir a ele qualidade s e

características positivas.

Carvalho e Negreiros (2011) coletaram dados para sua pesquisa no grupo CODA e os

resultados demonstraram que o codependente precisa do outro para perceber a si mesmo

e concluíram que a atenção ao codependente é um fator essencial para a superação desta

condição.

Assim como a adicção é uma doença tratável, a codependência também o é, sendo

que, muitas vezes, a recuperação do dependente começa com o tratamento da família.

O tratamento pode consistir em psicoterapia, grupos de mútua ajuda, terapia familiar e em

alguns casos, antidepressivos e ansiolíticos.

Existem grupos de ajuda mútua específicos para codependentes, como é o caso do

Codependentes Anônimos (CoDA) e ainda grupos de familiares ligados aos Alcoólicos

Anônimos - AA (Al-Anon), Narcóticos Anônimos - NA (NAR- Anon) e Amor Exigente.

O CODA é um grupo de autoajuda onde homens e mulheres se reúnem para resolver

seus problemas comuns e individuais de codependência. Compartilham suas experiências e se

apoiam no Programa dos Doze Passos dos Alcoólicos Anônimos em sua jornada de

autoconhecimento e aprendizado.

O NAR- Anon é uma irmandade de parentes e amigos de dependentes químicos que

tiveram suas vidas afetadas, onde são compartilhadas experiências. É um programa com o

propósito de ajudar os que convivem com os dependentes e baseia-se nos 12 passos do AA.

O Amor-Exigente é um programa de auto e mútua ajuda que desenvolve preceitos para

a organização da família, embasados nos 12 Princípios Básicos e Éticos, levando as pessoas a

perceberem a necessidade de mudar o rumo de suas vidas e do mundo, a partir de si mesmas.

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Page 57: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

O dependente e o codependente conta ainda com o serviço "Ligue 132" gratuito,

anônimo, confidencial e que funciona 24 horas por dia. O serviço fornece orientações e

informações sobre o tema das drogas, atendendo a todas as regiões do Brasil.

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Page 58: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

11 CONCLUSÃO

Com o aumento do consumo de drogas lícitas e ilícitas, é de fundamental importância

o aprofundamento dos estudos sobre dependência química e todas as questões que envolvem o

tema.

A gravidade da questão pode ser medida por pesquisas recentes que apontam para o

uso abusivo de substâncias psicoativas como uma das maiores preocupações do povo

brasileiro. A experiência dos profissionais da área confirma o aumento no consumo de drogas

e a diversificação do perfil dos usuários.

Pesquisas na área de dependência química têm revelado cada vez mais a importância

da família, sendo que os estudos comprovam que seus membros sofrem os impactos da

dependência, influenciando diretamente a recuperação. A adicção se reflete na dinâmica

familiar e o tratamento da dependência deve, portanto, estender-se a todos afetados pela

doença.

Este estudo permitiu destacar a relevância das características apresentadas pelo

codependente e como essas influenciam diretamente as relações familiares. O convívio com o

dependente faz com que os familiares adoeçam emocionalmente e por isso é necessário que

todos participem do processo terapêutico. Contudo, apesar do aumento das pesquisas sobre os

reflexos da adicção no sistema familiar, ainda são incipientes as iniciativas que reconhecem

que este familiar é um indivíduo que também precisa de ajuda, sendo peça fundamental no

tratamento.

O problema da codependência está principalmente relacionado ao sofrimento que

provoca nas pessoas que a desenvolvem e no fato dela se tornar um obstáculo ao tratamento

da dependência de álcool e outras drogas. Ao contrário do que o codependente pensa, sem

perceber, este acaba reforçando o comportamento de dependência da pessoa a qual está

ligada.

O levantamento bibliográfico realizado neste trabalho demonstrou a escassez de

material a respeito do tema, mas, ao mesmo tempo, a importância de se considerar a

codependência, pois mesmo não havendo comprovação científica, as manifestações do

fenômeno são evidentes. A pesquisa revelou que não há consenso quanto ao conceito e

etiologia do fenômeno, mas sua existência não pode ser negada, haja vista todas as

manifestações encontradas na literatura. A codependência merece, portanto, maior atenção,

requerendo pesquisas tanto sobre o transtorno, quanto sobre a forma de lidar com ele.

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Page 59: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

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ROCHA, A.P. As problemáticas enfrentadas pelas famílias co-dependentes no tratamento da dependência química no âmbito do programa Amor- Exigente no Município de Ponta Grossa

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– PR. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.Ponta Grossa, 2011.Disponível em < http://ri.uepg.br:8080/monografias/bitstream/handle/123456789/18/TCC_AnaPaulaRocha.pdf?sequence=1>. Acesso em 28 de julho e 2015ROCHA ORTIZ, D. Codependencia: una revisión histórica del término I. LiberAddictus. México, n. 25, 1998. Disponível em: < http://www.liberaddictus.org/art_detalles.php?articulo=278>. Acesso em: 14 de julho de 2015.

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Page 64: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

63

Page 65: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

ANEXO A – Questionário CODA BRASIL

As perguntas a seguir servem para identificar possíveis padrões de codependência.

Caso responda SIM para mais de quatro questões deve procurar orientação.

a) Você se sente responsável por outra pessoa? Pelos seus sentimentos, pensamentos,

necessidades, ações, escolhas, vontades, bem-estar e destino?

b) Você sente ansiedade, pena e culpa quando outras pessoas têm problemas?

c) Você se flagra constantemente dizendo “sim” quando quer dizer “não”?

d) Você vive tentando agradar aos outros ao invés de agradar a si mesmo?

e) Você vive tentando provar aos outros que é bom o suficiente? Você tem medo de

errar?

f) Você vive buscando desesperadamente amor e aprovação? Você se sente inadequado?

g) Você tolera abuso para não perder o amor de outras pessoas?

h) Você sente vergonha da sua própria vida?

i) Você tem a tendência de repetir relacionamentos destrutivos?

j) Você se sente aprisionado em um relacionamento? Você tem medo de ficar só?

k) Você tem medo de expressar suas emoções de maneira aberta, honesta e apropriada?

l) Você acredita que se assim o fizer ninguém vai amá-lo?

m) O que você sente sobre mudar o seu comportamento? O que te impede de mudar?

n) Você ignora os seus problemas ou finge que as circunstâncias não são tão ruins?

o) Você vive ajudando as pessoas a viver? Acredita que elas não sabem viver sem você?

p) Tenta controlar eventos, situações e pessoas através da culpa, coação, ameaça,

manipulação e conselhos, assegurando assim que as coisas aconteçam da maneira que

você acha correta?

q) Você procura manter-se ocupado para não entrar em contato com a realidade?

r) Você sente que precisa fazer alguma coisa para sentir-se aceito e amado pelos outros?

s) Você tem dificuldade de identificar o que sente? Tem medo de entrar em contato com

seus sentimentos como raiva, solidão e vergonha.

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Page 66: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

ANEXO B – Questionário grupo Al-Anon

a) Você se preocupa com a quantidade ou vezes que o outro usa droga ou ingere

bebida?

b) Você tem problemas financeiros por causa da adicção do outro?

c) Você mente para encobrir a adicção e o comportamento do outro?

d) Você acha que se o dependente o amasse, ele deixaria sua adicção para agradá-

lo?

e) Você culpa a si mesmo e/ou as amizades do dependente por sua adicção?

f) Sua vida – planos e afazeres – e as rotinas do dia-a-dia são alteradas e

organizadas em função do dependente?

g) Você faz ameaças, como: “Se você não parar de usar droga/beber eu vou …”?

h) Você procura sinais de ingestão de álcool ou drogas, cheirando seu hálito ou

vasculhando seu quarto, objetos e roupas?

i) Você tem receio de aborrecer o outro com medo de que ele saia para beber/usar

droga?

j) Você fica magoado ou envergonhado pelo comportamento do dependente?

k) Evita comemorar feriados e festas com medo do dependente estragar tudo?

l) Você já pensou em chamar a polícia por medo da violência do dependente?

m) Você já recusou convites sociais por medo e ansiedade quanto ao

comportamento do outro?

n) Você se sente frustrado, derrotado e desanimado pelo fracasso das medidas

tomadas para evitar que o dependente usasse droga/bebida ou abandonasse a

adicção?

o) Você acha que, se o dependente abandonasse a adicção, seus outros problemas

seriam resolvidos?

p) Você já ameaçou ir embora, sair de casa ou se machucar para amedrontar o

dependente?

q) Você sente raiva, confusão, depressão ou medo a maior parte do tempo?

r) Você sente que ninguém entende seus problemas e dificuldades?

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Page 67: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

ANEXO C – Questionário grupo Nar-Anon

Responda a estas perguntas da maneira mais honesta possível: Sim (S) Não (N)

1. Você se percebe encobrindo faltas, dando desculpas e mentindo por seu/sua

filho(a)? ( ) ( )

2. Você tem motivos para não confiar no(a) seu/sua filho(a)? ( ) ( )

3. Está ficando cada vez mais difícil para você acreditar nas suas explicações? ( ) ( )

4. Você fica acordado(a) se preocupando com seu/sua filho(a)? ( ) ( )

5. Seu/sua filho(a) tem faltado muitas vezes à escola sem o seu conhecimento? ( ) ( )

6. Seu cônjuge tem faltado ao trabalho e as contas estão se avolumando? ( ) ( )

7. Sua poupança está desaparecendo misteriosamente? ( ) ( )

8. As perguntas não respondidas têm causado hostilidade e estão minando seu

casamento? ( ) ( )

9. Você tem se perguntado “O que está errado?” e “É minha culpa?”. ( ) ( )

10. Suas suspeitas estão fazendo de você um detetive e você está com medo do que

possa encontrar? ( ) ( )

11. As divergências normais de família começam a se tornar hostis e violentas? ( ) ( )

12. Você tem cancelado compromissos sociais com desculpas esfarrapadas? ( ) ( )

13. Você está cada vez mais relutante em convidar amigos para sua casa? ( ) ( )

14. A preocupação com seu cônjuge, filho(a) ou amigo(a) está provocando dor de

cabeça, aperto no estômago e ansiedade intensa? ( ) ( )

15. Seu cônjuge ou filho(a) fica irritado(a) com assuntos menores? Sua vida parece um

pesadelo? ( ) ( )

16. Você não consegue falar da situação com os amigos ou parentes por que se sente

constrangido(a)? ( ) ( )

17. Suas tentativas de controle são sempre frustradas? ( ) ( )

18. Você supercompensa e tenta não criar caso? ( ) ( )

19. Você tenta fazer com que as coisas melhorem mas não vê resultados? ( ) ( )

20. O estilo de vida e os amigos do seu/sua filho(a) ou cônjuge estão mudando? Passa

pela sua mente que possam estar usando droga? ( ) ( )

Se você respondeu SIM a quatro ou mais dessas perguntas, necessita de orientação.

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Page 68: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

ANEXO D – Questionário Gayol e Lira (PRATTI; VASCONCELOS, 2013).

Leia com atenção as questões abaixo e indique a frequência com que estas situações

acontecem na sua vida. O NÃO indica que essa situação nunca acontece e o MUITO indica

que essa situação acontece com muita frequência. Não existe resposta certa nem errada,

marque a alternativa que indica melhor o que acontece na sua vida atual.

NÃO POUCO REGULAR MUITO

01. Você justifica seu parceiro (a) pelas falhas que comete?

02. No lugar do que quer, você faz o que seu par deseja?

03. Tomar decisões lhe dá muito trabalho?

04. É difícil para você identificar o que sente?

05. Deixa de lado seus próprios valores e convicções para aceitar os de seu parceiro

(a)?

06. Aparenta estar feliz embora se sinta mal?

07. Toma cuidado das necessidades de seu parceiro (a) antes das suas?

08. Procura evitar ter raiva por medo de perder o controle?

09. Faz coisas que correspondem a outros membros de sua família?

10. Age como se todas as coisas estivessem bem em sua vida, quando realmente não

estão?

11. Para não ter problemas evita dizer o que o incomoda?

12. Quando está feliz logo sente medo de que algo ruim aconteça?

13. Às vezes se sente desprotegido?

14. É difícil para você administrar situações inesperadas?

15. Pensa que seria pior tentar resolver o problema que tem com seu parceiro (a)?

16. Acredita ter perdido a capacidade de sentir?

17. Sente medo de ficar só?

18. Evita expressar sua opinião quando sabe que é diferente da seu parceiro (a)?

19. Se sente confuso por seus sentimentos?

20. Aceita ficar encarregado de coisas demais e depois se sente sobrecarregado (a) de

trabalho?

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Page 69: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

21. Se preocupa muito com os problemas dos outros?

22. A maneira de ser de seu par o leva a se isolar do resto do mundo?

23. Permite grosserias e maus tratos de seu parceiro (a)?

24. Sente muito medo que seu parceiro (a) se irrite?

25. Aceita ter relações sexuais, mesmo sem desejar isto, para não desagradar seu

parceiro (a)?

26. Sente dores de cabeça e/ou tensão no pescoço e nas costas?

27. Evita expressar seus sentimentos por medo de ser criticado (a)?

28. Você é admirado por ser compreensivo (a) embora outros façam coisas que o

irritam?

29. É difícil para você saber o que realmente quer fazer com sua vida?

30. É trabalhoso para você aceitar formas de fazer as coisas que sejam diferentes das

suas?

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Page 70: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

ANEXO E – Questionário Potter-Efron (HUMBERG, 2003)9

Iniciais_________________________________________ Data ______________

Grau De escolaridade _____________________________ Sexo ______________

Por favor, responda as questões abaixo de acordo com sua maneira habitual de pensar

e sentir. Não há respostas certas ou erradas, apenas seja o(a) mais franco(a) possível e

responda todas as questões.

1. Medo

a) Você fica preocupado(a) com os problemas dos outros, especialmente aqueles do(a)

usuário(a) de drogas? ( ) Sim ( ) Não

b) Você tenta manter as coisas sob controle ou manipular situações de sua vida?

( ) Sim ( ) Não

c) Você faz mais do que seria sua parte ao realizar tarefas? ( ) Sim ( ) Não

d) Você teme abordar os outros diretamente, especialmente o(a) usuário(a)?

( ) Sim ( ) Não

e) Você frequentemente se sente ansioso (a) ou teme o que vai acontecer depois?

( ) Sim ( ) Não

f) Você evita arriscar-se com as pessoas por achar difícil confiar nos outros?

( ) Sim ( ) Não

2. Vergonha/Culpa

a) Você frequentemente se envergonha não somente pelo seu próprio comportamento,

mas também pelo comportamento dos outros, especialmente do(a) usuário(a)? ( ) Sim ( ) Não

b) Você se sente culpado(a) pelos problemas das outras pessoas da família?

( ) Sim ( ) Não

c) Você se esquiva do contato social quando está chateado (a)? ( ) Sim ( ) Não

d) Você às vezes se odeia? ( ) Sim ( ) Não

e) Em alguns momentos você esconde seus sentimentos negativos, agindo com

demasiada confiança? ( ) Sim ( ) Não

3. Desespero prolongado

9 Traduzido do The Potter-Efron co-dependency assesment.

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Page 71: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

a) Você frequentemente perde a esperança em mudar a situação corrente?

( ) Sim ( ) Não

b) Você tende a ser pessimista sobre o mundo em geral? ( ) Sim ( ) Não

c) Você tem sensações de baixa autoestima que não refletem suas habilidades e

conquistas? ( ) Sim ( ) Não

4. Raiva

a) Você se sente persistentemente bravo com o usuário, com a família ou com você

mesmo? ( ) Sim ( ) Não

b) Você tem medo de perder o controle se ficar realmente irado(a)? ( ) Sim ( ) Não

c) Você tem raiva de Deus? ( ) Sim ( ) Não

d) Você já tentou se vingar dos outros de forma disfarçada, talvez mesmo sem se dar

conta de estar fazendo isso no momento? ( ) Sim ( ) Não

5. Negação

a) Você sente que está negando os problemas básicos da sua família? ( ) Sim ( ) Não

b) Você fala para você mesmo que estes problemas não são tão graves? ( ) Sim ( ) Não

c) Você fica procurando justificativas para comportamento irresponsável das outras

pessoas da família? ( ) Sim ( ) Não

6. Rigidez

a) Você tende a pensar em termos de só pode ser “isto ou aquilo” quando existem

problemas, ao invés de olhar várias alternativas? ( ) Sim ( ) Não

b) Você fica perturbado (a) se alguém interfere na sua rotina? ( ) Sim ( ) Não

c) Você é radical nas suas crenças morais? ( ) Sim ( ) Não

d) Você é travado com relação a certos sentimentos como culpa, amor ou ódio?

( ) Sim ( ) Não

7. Desenvolvimento incompleto da identidade

a) Você tem dificuldades para dizer o que quer e precisa? ( ) Sim ( ) Não

b) Você tende a sofrer junto com outra pessoa que esteja sofrendo? ( ) Sim ( ) Não

c) Você precisa ter outra pessoa por perto para se sentir valorizado? ( ) Sim ( ) Não

d) Você se preocupa em excesso com o que os outros acham de você? ( ) Sim ( ) Não

8. Confusão

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Page 72: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

a) Você se pergunta o que significa ser “normal”? ( ) Sim ( ) Não

b) Você às vezes acha que deve estar ficando “louco”? ( ) Sim ( ) Não

c) Você às vezes acha difícil identificar seus sentimentos? ( ) Sim ( ) Não

d) Você tem uma tendência a ser enganado (a) pelos outros – a ser ingênuo(a),

crédulo(a)? ( ) Sim ( ) Não

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Page 73: CODEPENDÊNCIA: Um fenômeno relevante

ANEXO F - Escala Spann-Fischer de Co- dependência(HUMBERG, 2003)10

Iniciais____________________________________________Data____________________Grau de Escolaridade________________________________sexo____________________

Leia as questões abaixo e responda de acordo com os números propostos pela lista abaixo a situação que melhor descreve você:

1. Discordo Fortemente2. Discordo Moderadamente3. Discordo Levemente 4. Concordo Levemente5. Concordo Moderadamente6. Concordo Fortemente

1. Tenho dificuldades em tomar decisões. ( )2. É difícil pra eu dizer não. ( )3. Tenho dificuldade em aceitar elogios espontâneos. ( )4. Chego a me sentir aborrecido (a) ou vazio (a) quando não tenho problemas para

encarar. ( )5. Geralmente não faço pelas pessoas coisas que elas possam realizar sozinhas. ( )6. Quando faço algo bom pra mim, em geral me sinto culpada. ( )7. Eu não me preocupo com excessos. ( )8. Eu digo pra mim mesma que as coisas vão melhorar, quando as pessoas ao meu redor

mudam o que estão fazendo. ( )9. Eu pareço ter relacionamentos em que estou sempre disponível para os outros e os

outros quase nunca para mim. ( )10. Muitas vezes eu me concentro tanto numa mesma pessoa que negligencio outros

relacionamentos e responsabilidades. ( )11. Eu tendo a ter relacionamentos que me magoam. ( )12. Em geral eu não deixo os outros me verem como eu realmente sou. ( )13. Quando alguém me magoa, eu costumo guardar por um longo tempo, mas de vez em

quando eu acabo explodindo. ( )14. Em geral tento a qualquer custo evitar o conflito aberto. ( )15. Frequentemente tenho uma sensação de que algo ruim está para acontecer. ( )16. Frequentemente coloco as necessidades dos outros na frente das minhas. ( )

10 Traduzido da Escala Spann- Fischer de Co- dependência.

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ANEXO G – Teste baseado no livro Codependência Nunca mais (BEATTIE, 2013)

INSTRUÇÕES: RESPONDA SIM PARA MUIAS OU ALGUMAS VEZES E NÃO

PARA NUNCA OU GERALMENTE NÃO.

Busque ser o mais sincero(a) possível e, enquanto responde, pense num

relacionamento afetivo importante que vive e que considera estressante e sofrido ou em outros

também doloridos que viveu anteriormente.

1) Quando me comunico com ele(a), meço as palavras, isto é, vivo pisando em ovos?

2) Sinto medo de dizer o que realmente penso e sinto, porque imagino que a reação

dele(a) será agressiva?

3) Tomo decisões que me desagradam, por exemplo, deixo de fazer coisas que gostaria,

só para não desagradar e para evitar conflitos com ele(a)?

4) Acredito que seja normal amor e sofrimento caminharem juntos?

5) Continuo (ou continuei por um tempo excessivo) tolerando abusos ou agressões

dele(a) para não ser rejeitada ou perdê-lo?

6) Para melhorar este relacionamento, tento mudá-lo(a) através de conselhos, coações,

ameaças, manipulações, tentando assegurar que as coisas aconteçam da maneira que

acho correta?

7) E quando faço isto ou tento dar limites, gero discussões muito desgastantes que não

chegam a lugar algum?

8) Sinto-me bravo(a) ou frustrado(a) comigo mesmo(a) porque não consigo dar os limites

que gostaria pra ele(a)?

9) Sinto-me bravo(a) ou frustrado(a) porque não consigo resolver de vez esta situação?

10) Em alguns momentos, percebo-me tolerante demais com ele(a) e em outros, no

extremo da intolerância?

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