A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

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FACULDADE PADRE JOÃO BAGOZZI KARLA LUS CHUGAM HONÓRIO A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO FENÔMENO DA CODEPENDÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ENCONTRADOS NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA COMUNIDADE VALE DO SOL CURITIBA 2013

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O presente projeto de pesquisa resultou das ações realizadas nos campos de estágio, primeiro no estágio voluntário no Ministério Público do Paraná e, em seguida, no estágio obrigatório na Comunidade Terapêutica Vale do Sol. O interesse pelo tema se originou devido aos acompanhamentos dos atendimentos aos familiares dos adictos1. Pôde-se perceber que o uso nocivo de drogas e/ou do alcoolismo é uma doença que afeta não somente o usuário, mas também a família, muitos se encontravam mais doentes que o próprio adicto, retardando assim a recuperação do mesmo

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FACULDADE PADRE JOÃO BAGOZZI

KARLA LUS CHUGAM HONÓRIO

A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO FENÔMENO DA

CODEPENDÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ENCONTRADOS

NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA COMUNIDADE VALE DO SOL

CURITIBA 2013

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KARLA LUS CHUGAM HONÓRIO

A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO FENÔMENO DA

CODEPENDÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ENCONTRADOS

NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA COMUNIDADE VALE DO SOL

Trabalho de conclusão do curso apresentado a banca examinadora do Curso de Graduação de Serviço Social da Faculdade Padre João Bagozzi como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social sob a orientação da Professora Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini.

CURITIBA 2013

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DEDICATÓRIA

Ao Yahweh Jireh, que me levanta e sustenta

todas as manhãs e às pessoas que me

compõem.

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AGRADECIMENTOS

À professora Claúdia C. B. Cobalchini, com grande estima, por ter aceitado o

desafio de orientar este trabalho e por oportunizar produzir ao seu lado.

Ao amigo e supervisor de estágio Marco Aurélio Afornali, por dividir o

conhecimento e pelo exemplo de amor e dedicação com que exerce a

profissão.

Ao professor Leandro J. Araújo, por todo apoio e compreensão dispensados ao

longo do curso.

À professora Ana Paula Barrios (in memoriam), pela presença marcante em

minha vida acadêmica.

À Kelley e a Luciana, por terem aberto as portas da Comunidade Vale do Sol.

Aos amigos e tantos outros que acrescentaram e continuam dispostos a

acrescentar mais um tijolo na construção de um mundo melhor, e que de

alguma forma colaboraram para o meu aprendizado, minha eterna gratidão.

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“A educação será libertadora na medida em que

incentivar a reflexão e a ação consciente e criativa das classes oprimidas em relação ao

próprio processo de libertação.”

Paulo Freire

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RESUMO

Esta pesquisa é fruto do acompanhamento dos atendimentos realizados pelo Assistente Social na Comunidade Terapêutica Vale do Sol, partindo da prática de estágio na mesma. Mobilizaram-se reflexões acerca da dependência química, do papel da família na drogadição, consequentemente o fenômeno da codependência. Com foco na abordagem qualitativa, apresenta-se o olhar dos familiares de dependentes químicos e a intervenção do Serviço Social na codependência, os desafios e as possibilidades encontrados na práxis da profissão. Pode-se dizer que a prática profissional neste fenômeno está em processo de construção, embasada no projeto ético-político da profissão. Palavras chaves: Dependência Química; Codependência; Serviço Social.

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ABSTRACT This report by the Social Assistant is the result of her accompanying the services rendered by the Therapeutic Community Vale do Sol, during her period of graduate training. Data was gathered concerning chemical dependency, the role of the family in drug addiction, and the phenomenon of codependency. Concentrating on the qualitative approach, this research presents the point of view of the family of chemical dependants, as well as the intervention of the Social Service in co-dependency, with its challenges and possibilities. We can say that professional praxis in this area is in the process of formation, in accordance with the ethics and practice of the profession. Keywords: Chemical Dependency; Codependency; Social Service.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – COMPARAÇÃO ENTRE DSM-IV E CID-10...............................................21

TABELA 2 – POPULAÇÃO E AMOSTRA DE PESQUISA............................................42

TABELA 3 – PERCEPÇÕES DA FAMÍLIA QUANTO À ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL....................................................................................................43

TABELA 4 – O QUE SE ENTENDE POR CODEPENDÊNCIA.......................................45

TABELA 5 – O PAPEL DA FAMÍLIA...............................................................................47

TABELA 6 – RESPONSABILIDADES DOS FAMILIARES DE UM DEPENDENTE QUÍMICO.........................................................................................................................48

TABELA 7 – MUDANÇAS NA FAMÍLIA APÓS ATENDIMENTOS COM O ASSISTENTE SOCIAL...........................................................................................................................50

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA - Alcoólicos Anônimos

AE - Amor Exigente

AS – Assistente Social

CAPS - Centro de Apoio Psicossocial

CAPS AD - Centro de Apoio Psicossocial – Álcool e Drogas

CID-10 - Classificação Internacional de Doenças

DQ – Dependente Químico

DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

FEBRACT - Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas

MS - Ministério de Saúde

OMS – Organização Mundial de Saúde

RD - Redução de Danos

SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas

SNC - Sistema Nervoso Central

SUS - Sistema Único de Saúde

SUAS – Sistema Único da Assistência Social

PNAS – Política Nacional da Assistência Social

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................12

1 DEPENDÊNCIA QUÍMICA......................................................................................15 1.1 Dependência: uma relação química e psicológica..................................................15 1.2 Cultura socialmente “lícita”......................................................................................16 1.3 A presença das substâncias psicoativas na cultura brasileira................................18 1.4 Drogas: Classificação e efeitos no organismo........................................................19 1.5 Dependência Química: detectação, prevenção e tratamento.................................21 1.5.1 Reforma Psiquiátrica no Brasil...............................................................................22 1.5.2 Política de Saúde Brasileira...................................................................................24 1.5.3 Rede Assistencial para usuários de álcool e outras drogas...................................26 1.6 O papel da família no uso de drogas......................................................................27 2 A FAMÍLIA E SEUS ATORES: PROTAGONISMO E SEUS PAPEIS..................29 2.1 Breve relato sobre a gênese da família..................................................................29 2.2 As funções da família.............................................................................................30 2.3 A família na contemporaneidade............................................................................31 2.4 A família como questão social................................................................................32 2.5 Família e dependência química..............................................................................34 2.6 Família: uma relação de dependência emocional e química.................................35 2.7 Família e codependência.......................................................................................36 3 O FENÔMENO DA CODEPENDÊNCIA................................................................37 3.1 Quem é o codependente?......................................................................................38 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................40

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4.1 Histórico da Instituição...........................................................................................41 4.2 População e Amostra da Pesquisa........................................................................42 4.2.1 Percepções da família quanto à atuação do profissional de Serviço Social..........43 4.2.2 O que se entende por Codependência...................................................................45 4.2.3 O papel da família..................................................................................................47 4.2.4 Responsabilidades dos familiares de um dependente químico.............................48 4.2.5 Mudanças na família após atendimentos com o Assistente Social........................50 5 SERVIÇO SOCIAL E CODEPENDÊNCIA: UMA RELAÇÃO EM CONSTRUÇÃO...52

5.1 Desafios e dificuldades encontradas no desenvolvimento do trabalho com famílias de dependentes químicos...............................................................................................53 5.1.2 Sendo a codependência algo relativo à subjetividade do ser, qual a visão do A.S sobre este tema e de que forma orienta o exercício da profissão neste fenômeno........55 5.1.3 Metodologia utilizada no acompanhamento das famílias......................................56 5.1.4 Formas assertivas de realizar os atendimentos....................................................57 5.1.5 Em meio às adversidades e contradições do exercício da profissão, possibilidades apresentadas ao longo do trabalho realizado.................................................................58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................62 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS.........................................................................66

APÊNDICES.........................................................................................................67 ANEXOS..............................................................................................................70

GLOSSÁRIO........................................................................................................72

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INTRODUÇÃO

O presente projeto de pesquisa resultou das ações realizadas nos campos de

estágio, primeiro no estágio voluntário no Ministério Público do Paraná e, em seguida,

no estágio obrigatório na Comunidade Terapêutica Vale do Sol. O interesse pelo tema

se originou devido aos acompanhamentos dos atendimentos aos familiares dos

adictos1. Pôde-se perceber que o uso nocivo de drogas e/ou do alcoolismo é uma

doença que afeta não somente o usuário, mas também a família, muitos se

encontravam mais doentes que o próprio adicto, retardando assim a recuperação do

mesmo.

A pesquisa tem como objetivo conhecer o papel e a importância da intervenção

profissional do Assistente Social no fenômeno da codependência2 e, por meio dessa,

analisar, segundo o profissional, os desafios e as possibilidades encontrados para a

capacitação da família acerca da dependência química. Com as famílias, a

caracterização dos processos que envolvem a intervenção do profissional e a

representação sobre a dependência química.

A fim de viabilizar o estudo proposto, com desígnio de obter subsídios teóricos, a

metodologia foi desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica, mediante consulta de

materiais impressos – documentos oficiais, teses, livros, periódicos, revistas, entre

outros –, e informações disponíveis na internet.

Após a delimitação do universo a ser estudado, optou-se por investigar quatro

famílias que foram acompanhadas pelo Assistente Social da Instituição. A pesquisa

realizar-se-á por meio de entrevistas baseadas em roteiro aberto3 e semiestruturado. A

1 Adicto (latim addictus, -a, -um, particípio passado de addico, -ere, aprovar, dar assentimento a, ser

favorável, adjudicar, vender, consagrar, dedicar) adj 1. Que está com outro ou se lhe junta por afeição. = AFEIÇOADO, DEDICADO 2. Que depende de ou se submete a. = DEPENDENTE, SUBMISSO adj. s. m. 3. Que ou quem depende de algo, geralmente de alguma substância química. = DEPENDENTE (Disponível:< http://www.priberam.pt>. Acesso em 31 mai.2012). 2 Com base na Organização Mundial de Saúde (2006, OMS), “codependente é um parente, amigo

próximo ou colega de uma pessoa alcoolista ou dependente de drogas, cujas reações são definidas por este termo como tendendo a perpetuar a dependência daquela pessoa e, daí, retardam o processo de recuperação”. 3 Para Minayo (1993), a entrevista aberta é utilizada quando o pesquisador deseja obter o maior número

possível de informações sobre determinado tema, dando ênfase à visão do entrevistado e também para obter um maior detalhamento do assunto em questão. Segundo a autora, a entrevista é utilizada

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fim de proporcionar melhor compreensão acerca do fenômeno e da atuação profissional

do Assistente Social, levantaram-se algumas indagações, as quais subsidiarão a ideia

deste estudo. Destacam-se as seguintes questões:

Tratando-se a codependência assunto que se refere à subjetividade do ser,

qual o papel do Assistente Social nesse contexto?

Quais os desafios e as possibilidades do Serviço Social no atendimento às

famílias?

Qual o entendimento da família acerca da codependência e a percepção em

relação ao trabalho do Serviço Social?

Portanto, o objetivo geral da pesquisa é o de compreender a atuação do Serviço

Social no fenômeno da codependência junto às famílias acompanhadas pelo Assistente

Social na Comunidade Terapêutica Vale do Sol.

E os objetivos específicos são de: analisar o papel e as ações do Serviço Social

junto às famílias codependentes; identificar a percepção da família quanto ao

comportamento codependente; investigar o entendimento da família no que se refere ao

trabalho do Serviço Social; caracterizar os desafios e as possibilidades da intervenção

profissional.

Na atuação do Serviço Social, no que se refere à dependência química, entende-

se como uma das diversas expressões da questão social4. Na reconceitualização do

objeto do Serviço Social, ao eleger as situações problemas, Kisnerman (1978) retrata

que existem três alternativas de ação frente às problemáticas: racioná-la sem tocá-la;

contornar o problema - porém isso o tornará vigente; ou enfrentá-la frontalmente, ou

seja, assumir refletir e resolver o problema, valendo-se do auxilio de um profissional

para ajudar na solução. Segundo o ponto de vista do autor, acredita-se que a

intervenção do Serviço Social, no objeto da Codependência, se dá na terceira

alternativa, por meio de orientações, e encaminhamentos aos equipamentos e aos

respectivos profissionais, conforme demanda apresentada. Todavia sabe-se que o

geralmente na descrição de casos individuais, na compreensão de especificidades culturais para determinados grupos e para comparabilidade de diversos casos. 4 Questão social é o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que

tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2000, p. 27).

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profissional não pode assumir a responsabilidade de “resolver” o problema, o uso da

reflexão é viável, porém a resolução da questão vai além da relação imediata da

família, pois se trata das expressões da questão social, que é fruto do sistema

capitalista, o que implica muita responsabilidade para a profissão, resultando em uma

responsabilidade messiânica. Assim, a fim de realizar o viável, no decorrer da pesquisa

concentrar-se-ão esforços para refletir parte da complexidade sobre o tema.

A presente pesquisa está divida em cinco capítulos. O primeiro capítulo traz um

panorama sucinto sobre a Dependência Química - contexto cultural, classificação das

drogas e seus efeitos - Reforma Psiquiátrica, Política de Saúde Brasileira e Rede

Assistencial. O segundo capítulo aborda, de forma breve, a representação social da

chamada família, o protagonismo dos atores e os seus papéis dentro desse contexto, a

família na questão social, na dependência química e codependência. No terceiro

capítulo apresenta-se o fenômeno da Codependência, o perfil e as funções do

codependente. No quarto capítulo, constam os procedimentos metodológicos, a

amostra da pesquisa e a análise de dados. No quinto capítulo, o olhar do Serviço Social

acerca da Codependência.

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1 DEPENDÊNCIA QUÍMICA

1.1 DEPENDÊNCIA: UMA RELAÇÃO QUÍMICA E PSICOLÓGICA

Dependência, em latim adictere, significa estar preso ou escravizado. O ser

humano escolhe formas de dependência, e tem uma gama de opções – financeira,

emocional, relacional, química. Toda dependência tem um componente biológico,

psicológico, social, familiar ou espiritual (AFORNALI, 2011).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) através da Classificação Internacional

de Doenças (CID-10) preconiza que a dependência química é uma

enfermidade incurável e progressiva, apesar de poder ser estacionada pela abstinência.

Definido pela CID-10 (1993) como um conjunto de fenômenos comportamentais,

cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem, após repetido consumo de uma

substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à

dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas

consequências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento

de outras atividades e obrigações.

A dependência química é uma doença que atinge 10% (dez por cento) da

população mundial, é uma doença totalmente democrática que não escolhe raça,

religião, estada social ou região do mundo, ocorre nos palácios, nas favelas e na classe

média (GONÇALVES, 2010).

Para Afornali (2011, p.16), a dependência química abrange todos os

componentes envolvidos nas demais dependências, sendo, assim, um problema de

ordem biológica, psicológica, familiar e espiritual, e ainda carrega consigo um fenômeno

chamado codependência5.

Para uma melhor compreensão acerca da dependência química, é preciso

entender que ela pode se apresentar em duas formas de dependências: física e a

psicológica. A dependência física, segundo Tiba, citado por Ferreira (2008), é causada

pelas drogas que funcionam da forma em que entram no metabolismo do indivíduo,

5 Segundo o autor, tal fenômeno propicia e intensifica a dependência emocional, relacional, financeira do

dependente químico com os seus.

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fazendo parte das reações bioquímicas, de tal forma que o organismo já as tem como

parte necessária para seu funcionamento adequado. Em Schuckit (apud FERREIRA,

2008.), a manifestação da dependência física só dá quando existe interrupção no uso, o

que acarreta o desenvolvimento dos sintomas, uma vez que o corpo está adaptado

fisiologicamente ao uso contínuo da substância. Paula (ibid.) comenta ser preciso

distinguir para poder prevenir a síndrome de abstinência6, e no que refere à

dependência psicológica, a autora aponta a droga como sendo o centro da vida do

indivíduo, que tem influência em seus pensamentos, atividades e emoções diárias, de

tal forma que resistir à vontade constante e parar de usá-la seria algo de grande

dificuldade, seus sintomas são manifestados por meio de ansiedade e dificuldade de

concentração, porém é variável em cada sujeito.

1.2 CULTURA SOCIALMENTE “LÍCITA”

Sielski (1999, p. 17) relata que, desde que o homo sapiens ficou mais sabido,

descobriu e passou a utilizar as diversas substâncias químicas que a generosa

natureza colocou à sua disposição, parte como alimento, parte como suplemento. Para

o autor, a falta de registros deixados pelos antepassados impede de saber na íntegra

como tudo começou.

Desde a antiguidade os povos primitivos já faziam uso de drogas e

medicamentos para o alívio e tratamento dos enfermos; no primeiro milênio,

6 O ato de renuncia a droga pode causar sérias perturbações ao organismo dependente, desde

alterações comportamentais até sensações físicas. Os sintomas são:sofrimento mental; sofrimento físico

e mal-estar. A Síndrome pode se dividir em: SAA – Síndrome de Abstinência Aguda e a SAD –

Síndrome de Abstinência Demorada. A primeira pode ocorrer na ausência do composto viciante entre

3 a 10 dias do último uso, já a segunda se difere nos sintomas, que podem ser visualizados entre a

sobriedade do indivíduo ocorrendo no intervalo de meses ou até anos após o uso. Alguns sintomas

provenientes da SAD são: mente confusa, problemas de coordenação motora, problema de memória,

reação emocional exagerada ou apatia e distúrbio do sono ou alteração. A SAD, portanto, é a mais

severa e preocupante, pois dela pode resultar danos cerebrais importantes e até mesmo recaídas. Fonte:

<http://www.infoescola.com/drogas/sindrome-de-abstinencia/> acesso em: 14 jun. 2013

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documentos administrativos e inventários de imóveis descreviam que se consumia

álcool em tâmaras fermentadas. Na Idade Média as tribos discutiam suas questões

durante os banquetes, o álcool soltava as línguas e fazia com que todos se

expressassem sem esconderem a essência de um pensamento, porém as decisões

eram deixadas para o dia seguinte, quando os vapores do álcool não toldavam mais os

espíritos (AFORNALI, 2007).

Percebe-se que desde os primórdios, as relações sociais se compunham de tais

“rituais”: Afornali (2007) cita a relação existente entre a Igreja, os fiéis e seus

banquetes, como sendo uma comunhão, e também uma “barganha”, pela ideia de que

os homens aceitariam com mais constância efetuar dada tarefa se obtivessem algo em

“troca”.

Vários concílios surgidos eram contra o abuso do vinho, para os clérigos e para

os leigos; Carlos Magno (742-814) não bebia e pregava a sobriedade a todos,

combatendo os abusos, os beberrões eram chibateados e se recaíam eram levados ao

pelourinho (SIELSKI, 1999). Ainda hoje é marcada na história da Igreja uma linha tênue

entre as festas dedicadas aos santos patronos, à venda de bebida alcoólica e as

diversas pastorais que trabalham na prevenção ou tratamento contra o uso e abuso de

álcool, percebe-se uma via de duas mãos, um tanto paradoxal.

Além dos filmes, novelas, revistas, jornais e outdoors que incentivam ao uso de

alguma “coisa” (sic), desde a tenra idade é passado na literatura infantil, talvez não

intencionalmente, mas serve como incentivo a fazer uso de alguma substância, por ex.

A Tia Nastácia faz uso do pó de pirlimpimpim para fazer uma viagem; Alice toma algum

chá e come cogumelos para se sentir mais feliz e ir ao País das Maravilhas; Peter Pan

faz uso de algo para viajar à Terra do Nunca (GONÇALVES, 2010).

A produção de bebidas, cigarros e de drogas de todos os tipos é fantástica em

todo o mundo, tal produção conta com a ajuda da mídia que é especialista em seduzir o

espectador e levá-lo ao consumo desenfreado, apoiando assim os grandes grupos que

aí investem e agradecem pelos astronômicos lucros que obtêm por meio da escravidão

daqueles que se tornam alienados para se sentirem aliviados dos seus problemas,

sejam sociais, emocionais ou de qualquer outro cunho (SIELSKI, 1999).

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1.3 A PRESENÇA DAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NA CULTURA BRASILEIRA

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, segundo Andrade (1996), no inicio

da colonização, descobriram os costumes indígenas de produzir e beber uma bebida

forte fermentada a partir da mandioca, denominada cauim. A mesma era utilizada em

rituais, festas, dentro de uma pauta cultural bem definida. O uso do tabaco também era

habitual no costume indígena, porém, desconhecido dos portugueses e de outros

europeus. Com o passar do tempo, aprenderam a fazer a cachaça, no processo de

fabricação do mosto7, acabaram descobrindo um melaço que colocavam no cocho para

os animais e escravos, denominado de “Cagaça8”.

De acordo com Darci Ribeiro, citado por Andrade (1996), o açúcar era para

adoçar a boca dos europeus, da amargura da escravidão; a cachaça para alterar a

consciência, para calar as dores do corpo e da alma, para açoitar espíritos em festas,

para atiçar a coragem em covardes e para aplacar as traições e ilusões. Se fizermos

uma analogia com os tempos atuais, perceberemos que a história se repete, para os

que estão à margem, que buscam justificativa no uso de entorpecentes para aliviar a

realidade desigual que permeia a sociedade.

O uso da maconha foi introduzido no Brasil pelos escravos africanos e foi

difundida também entre os indígenas, consumida com propósito medicinal e nas

atividades recreativas como a pesca e nas rodas de conversas (ANDRADE, 1996).

Havia duas classes de “vícios”: os “elegantes” que eram o da morfina, heroína e

cocaína, consumidas pelas elites; e os “deselegantes”, destacando-se o alcoolismo e o

maconhismo, próprios das camadas pobres, em geral, segundo o autor, formadas por

negros e seus descendentes. Ainda hoje a sociedade reproduz parte deste estigma,

inclui-se também o crack, como sendo parte desta classe marginalizada (ibidem).

Um fato incontestável, essa realidade nacional em que permanece a associação

“pobre-preto-maconheiro-marginal-bandido” traduzida assim nas abordagens policiais

dirigidas às pessoas autuadas pelo porte de maconha, sendo muito mais severas nas

periferias do que em áreas mais ricas e socioeconomicamente mais favorecidas (ibid.).

7 Caldo em processo de fermentação que é extraído na produção do açúcar a partir da cana-de-açúcar

(anotações do autor). 8 Que depois veio a ser Cachaça, destilada em alambique de barro, mais tarde, de cobre (ibidem).

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Quando se descobre que o comércio da droga é um dos três maiores negócios

no mundo – petróleo, armamento e as drogas -, e o que fomenta este mercado é uma

atividade “empresarial” altamente organizada, envolvendo empresas que investem em

pesquisas e desenvolvem constantemente novas drogas sintéticas, tais preconceitos e

ignorâncias acerca do assunto acabam sendo desmistificados (GONÇALVES, 2010).

1.4 DROGAS: CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS NO ORGANISMO

Segundo a definição da OMS (2006), droga é qualquer substância não produzida

pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,

causando alterações em seu funcionamento.

Do ponto de vista psicológico, pode-se entender como sendo uma grande

muleta, qual pode ser usada para fugir e não enfrentar um problema. Fazemos parte de

uma geração que foi criada e treinada para não sentir nenhum tipo de dor, nem física,

muito menos emocional, psicológica (GONÇALVES, 2010).

A CID-10 (1993) em seu capítulo V, sobre Transtornos Mentais e de

Comportamento, incluiu em sua lista de substâncias o álcool, opioides (morfina,

heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas), canabinoides (maconha), sedativos

e hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepínicos), cocaína, estimulantes (anfetaminas e

substâncias relacionadas à cafeína), alucinógenos, tabaco e solventes voláteis.

Diante do ponto de vista legal, classificam-se as drogas em lícitas9 e ilícitas10. No

interesse didático, existe uma classificação que se baseia nas ações aparentes das

drogas sobre o sistema nervoso central (SNC), conforme as modificações observáveis

na atividade mental ou no comportamento da pessoa que utiliza a substância, sendo

elas drogas depressoras11, estimulantes12 e perturbadoras13 da atividade mental

(SENAD, 2011).

9 Comercializadas de forma legal, podendo ou não estar submetidas a algum tipo de restrição, como o

álcool e alguns medicamentos que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial. 10

Proibidas por lei. 11

Substâncias que diferem em suas propriedades físicas e químicas tendem a reduzir a atividade motora, a dor e ansiedade, efeito euforizante no inicio e, posteriormente, aumento de sonolência. Sendo elas: álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos, opioides, solventes e inalantes.

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Duarte (2011, p. 93) relata que os aspectos associados à saúde só foram

estudados e discutidos nos últimos dois séculos, sendo que, anteriormente, o que

predominava eram as visões do senso comum e de preconceitos, pelas quais os

usuários eram vistos como “possuídos por forças do mal”, desprovidos de “força de

vontade” e portadores de falhas de caráter, “sem vergonha”.

Para melhor diagnosticar o uso abusivo14 e a dependência, existem alguns

conceitos, que, para Andrade (2009) ajudam a entender a epidemiologia15 do uso de

substâncias psicoativas. Segundo a CID-10 (1993), o “uso de drogas” é

autoadministração de qualquer quantidade de substância psicoativa, o termo “uso

nocivo” é aquele que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), “abuso” engloba

consequências sociais.

Para melhor compreensão observe-se na tabela I, que se segue, a comparação

entre os critérios referidos no DSM-IV e na CID-10.

12

Capazes de aumentar a atividade de determinados sistemas neuronais, o que traz como consequências estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos. Ex.: tabaco, anfetaminas e cocaína. 13

Provocam alterações no funcionamento cerebral, que resultam em vários fenômenos psíquicos anormais, como delírios e alucinações. Por ex.: maconha, alucinógenos – LSD, ecstasy – e diversas plantas. 14

Há uma diferença entre os padrões de consumo, entre eles, uso/abuso/dependência, podemos definir como uso o consumo de qualquer substância, o uso experimental, que se dá poucos episódios infrequentes ou não persistentes, o uso recreativo, acontece em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicações de problemas, o uso controlado é a manutenção, não compulsivo e que não interfere no funcionamento habitual do indivíduo e o uso social, é aquele em companhia de outras pessoas de maneira socialmente aceitável. O abuso pode ser definido como qualquer consumo de drogas que cause dano, ou ameace causar dano à saúde física, mental ou no meio social, de um individuo ou na sociedade em geral. A dependência é um estado psíquico e, as vezes físico resultante da interação de um organismo vivo e uma droga, caracterizado por um conjunto de respostas comportamentais que incluem a compulsão a consumir a substância de forma continuada (DENARC, 2012). 15

A palavra vem do grego epideméion (aquele que visita): epí (sobre), demós (povo), logos (palavra, discurso, estudo). Etimologicamente significa “ciência do que ocorre com o povo” (SENAD, 2011).

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Tabela 1: Comparação entre DSM-IV e CID-10 Fonte: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD, 2011).

Esses dois sistemas de classificação facilitam identificar o dependente de

substância psicoativa, ficando fácil estabelecer o melhor programa terapêutico para

esses indivíduos, permitindo diagnóstico e classificação da doença.

Ambos, DSM-IV e a CID-10, diagnosticam que, três ou mais manifestações que

ocorrem por períodos menores que um mês de forma repetida durante um ano, são

critérios para deduzir que a pessoa é dependente de substâncias psicoativas, entre eles

estão: tolerância16; abstinência17; a substância é frequentemente consumida em

maiores quantidades.

1.5 DEPENDÊNCIA QUÍMICA: DETECTAÇÃO, PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Para Afornali (2007), com o consumo exagerado, consequentemente houve o

aumento dos problemas de compulsão e começaram a surgir as primeiras

preocupações com a redução de seu uso e indicações de tratamento. Segundo o autor,

16

Necessidade de quantidade progressiva maior para adquirir a intoxicação ou o efeito desejado e redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade (BRASIL, 2004). 17

Síndrome da abstinência característica para a substância; a mesma ou outra substância é consumida para aliviar ou evitar sintomas da abstinência (BRASIL, 2004).

Page 22: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

22

“uma das primeiras” medicações utilizadas para o combate do alcoolismo foi o leite de

jumenta com pó de pulmão de aves.

Antes de identificar os serviços de prevenção, tratamento e reabilitação, é

importante conhecer um breve apanhado histórico sobre a reforma psiquiátrica no

Brasil, a política brasileira de saúde e a forma que esses serviços são organizados no

sistema.

1.5.1 REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL

O primeiro momento de preocupação efetiva com o doente mental no Brasil foi

em 1841, quando se autorizou, por decreto, a construção do hospício. O motivo de tal

decisão “foi à perturbação do funcionamento do Cais do Rio de Janeiro pelos inúmeros

loucos que por ali perambulavam”. Em 1852, onze anos depois foi inaugurado o

Hospício Pedro II, o qual recebeu, de imediato, 144 pacientes oriundos dos porões da

Santa Casa e de uma instalação provisória que existia na Praia Vermelha (ABP18,

2006).

Com a Proclamação da República, o Asilo, controlado pela Igreja e ligado à

Monarquia, tornou-se responsabilidade do novo Governo. O Hospício Nacional de

Alienados, superlotado e oneroso, entrou em crise agravada pela crescente demanda,

fazendo-se necessárias enérgicas medidas com a finalidade de solucionar problema tão

grave, atenuando assim os elevados custos (ABP, 2006).

Em função destes, surgiu o Serviço Nacional de Doenças Mentais, que mais

tarde se constituiu na Divisão Nacional de Saúde Mental – DINSAM e hoje é a

Coordenadoria Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Na época em que

surgiram as Colônias, elas eram o que de melhor se podia oferecer à população, mas a

partir da década de 1950, com a superlotação, o sistema entra em falência,

principalmente pelo seu gigantismo e elevados custos operacionais, gerando a

incontrolável crise da assistência psiquiátrica estatal, a qual se prolonga até os dias de

hoje (ibid.).

18

Associação Brasileira de Psiquiatria

Page 23: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

23

Deste processo resultou um crescimento que chegou a um total de

aproximadamente 350 hospitais psiquiátricos particulares no início da década de 1980,

sendo que cerca de 70% dos mais de 80.000 leitos da iniciativa privada eram custeados

pelo INAMPS19, que ao surgir assumiu modelo assistencial que buscou a substituição

dos grandes asilos por hospitais psiquiátricos particulares de pequeno e médio porte,

cujos serviços contratou, porque eram mais eficientes e econômicos, de fácil acesso

para a população e simples de fiscalizar (ibid.).

Faltou o Estado dar condições para o surgimento de serviços que pudessem

completar o sistema com as demais modalidades de ação terapêutica. Assim, foram

construídos ambulatórios e serviços de emergência, mas não em número suficiente. A

reforma psiquiátrica se originou no início na década de 70, por reivindicações de

médicos e familiares de pessoas com transtornos mentais (ibid.).

Em síntese, o intuito da Reforma Psiquiátrica foi de modificar o sistema de

tratamento clínico da doença mental, eliminando gradualmente a internação como

forma de exclusão, modelo este que seria substituído por uma rede de serviços

territoriais de atenção psicossocial, visando à integração da pessoa que sofre de

transtornos mentais à comunidade/sociedade. Assim, a reforma psiquiátrica propõe a

desativação gradual dos manicômios, para que aqueles que sofrem de transtornos

mentais possam conviver livremente na sociedade - diga-se de passagem, muitos

sequer têm nome conhecido, documentos, familiares, dificultando a reinserção social e

também não possuem acesso aos benefícios sociais oferecidos pelo Estado, como

a aposentadoria e auxílio-doença (ibid.).

A Reforma representa um salto na história, mas somente em abril de 2001 foi

aprovada a Lei Federal de Saúde Mental, n.° 10.216, que regulamenta o processo da

Reforma Psiquiátrica no Brasil.

A rede territorial de serviços, proposta na Reforma Psiquiátrica inclui Centros de

Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência e Cultura Assistidos,

Cooperativas de Trabalho Protegido (Economia Solidária), Oficinas de Geração de

Renda e Residências Terapêuticas, descentralizando e territorializando o atendimento

19

Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social.

Page 24: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

24

em saúde, conforme previsto na Lei Federal que institui o Sistema Único de

Saúde (SUS) no Brasil.

1.5.2 POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA

A política de saúde brasileira foi formulada a fim de viabilizar a garantia

normativa máxima do direito à saúde, pois, na década de 1980, o intenso debate sobre

os direitos humanos teve como ponto culminante a elaboração da Constituição de 1988,

na qual se destaca a saúde como uma das condições essenciais à vida digna, sendo

um direito humano fundamental (BRASIL, 2004).

Organizado pelas Leis 8.080/1990 e 8.142/1990 e com o princípio constitucional,

ocorreu à implantação do SUS, pelo qual a saúde passou a ser pensada como

obrigatoriedade do Estado. O SUS foi concebido com base nos seguintes princípios

doutrinários (BRASIL, 2004):

Universalidade: assegura o direito à saúde a todos os cidadãos, independente de condição de saúde, gênero, idade, região, condição financeira, etc.; Integralidade: considera as diversas dimensões do processo saúde-doença que afetam o individuo e a coletividade, atuando, portanto, na promoção, prevenção e tratamento de agravos; Equidade: garante o direito à assistência de acordo com o nível de complexidade / anuência.

As diretrizes organizativas20 do SUS proporcionam maior efetividade aos

referidos princípios, assegurando assim a saúde como obrigatoriedade do Estado

(ibidem).

Quanto ao uso indevido de drogas, em 2003 foi publicada no Brasil a Política do

Ministério de Saúde (MS) para atenção integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas,

concebida e articulada pela Política da Saúde Mental. Esta concepção da atual política

do MS se baseia nas recomendações básicas para ações na área da saúde mental da

OMS (2006):

20

Descentralização, hierarquização e a participação comunitária.

Page 25: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

25

Promover assistência no âmbito de cuidados primários; disponibilizar medicamentos de uso essencial em saúde mental; promover cuidados comunitários; educar a população; envolver comunidades, famílias e usuários; estabelecer políticas, programas e legislações específicas; desenvolver recursos humanos; atuar de forma integrada com outros setores; monitorar a saúde mental da comunidade e apoiar as pesquisas.

O Ministério da Saúde (2003) separa três grupos de portadores de transtornos

mentais:

GRUPO 1: Transtornos mentais graves e persistentes. Este grupo necessita de atenção e atendimento mais intenso, de maior complexidade e contínuo em Saúde Mental. GRUPO 2: Transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Este grupo também necessita de atenção específica e atendimentos constantes. GRUPO 3: Atendimento em Saúde Mental, seja ele contínuo ou eventual. Este grupo, no qual estão incluídos os inadequadamente denominados “males menores”, é o que mais cresce atualmente. Nele estão inseridos os paciente com transtornos depressivos e ansiosos.

Ancorado pela Lei Federal 10.216/2001 e por meio de portarias internas21, o MS

vem estruturando os serviços de atenção a usuários de álcool e outras drogas nos

Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD)22.

Percebe-se que o referido público abordado na presente pesquisa está inserido

no grupo dois, qual é denominado como “transtornos mentais graves e persistentes”, a

pergunta que fica, em meio a um tema de um debate em andamento no Brasil há anos -

e que as resoluções tomadas neste processo ainda não foram totalmente

implementadas -, quais são as estruturas e condições sociais e econômicas que o

Brasil tem para tal? Para alguns estudiosos da área, os parâmetros assistências são

elaborados com base num sistema de ideias que refletem os próprios interesses e nas

disponibilidades orçamentárias e carecem de base científica (ABP, 2006).

21

Portarias que norteiam a atenção aos usuários de álcool e outras drogas: GM/MS 336/2002; GM/SM

816/2002; GM/MS 2.197/2004; GM/MS 384/2005 e GM/MS 1.612/2005. 22

São serviços comunitários ambulatoriais que tomam para si a responsabilidade de cuidar de pessoas

que sofrem de transtornos mentais, especialmente os severos e persistentes. Dentre outras funções e

objetivos, trabalha com atividades de cunho preventivo/educativo.

Page 26: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

26

Não obstante, existem muitas críticas acerca desse modelo de tratamento

ambulatorial, pois se mostra adequado para parcela considerável de indivíduos, porém

em si, tais recursos mostram-se insuficientes (SENAD, 2011)23.

1.5.3 REDE ASSISTENCIAL PARA USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

A política de álcool e outras drogas é intersetorial e visa ser inclusiva, com ações

nas mais diversas áreas: saúde, justiça, educação e social. Suas ações preconizam

que a assistência deve pautar-se nas ações de prevenção24, tratamento e reinserção

social (SENAD, 2011).

Quando se fala acerca da prevenção25 ao uso de drogas, pensa-se em dois viés,

um deles mais amplo, que se constitui de políticas públicas – educação, saúde,

proteção, alimentação, moradia, capacitação e geração de empregos. A outra é mais

especifica: está diretamente ligada a conscientização sobre os efeitos das drogas

(DENARC, 2012).

Apoiada pela Lei 10.216/2001, a política de álcool e outras drogas têm como

objetivo viabilizar o apoio aos usuários seja por meio de evidências científicas até o

cuidado integral, o que envolve em outras palavras, práticas de promoção, precaução e

reabilitação (SENAD, 2011).

As estratégias da Redução de Danos (RD)26 como ações que diminuem os riscos

de contaminação por via injetável ou sexual – usuários recebem informações sobre os

23

Segundo referência, os indivíduos que não conseguem se manter abstinentes em tratamento ambulatorial e apresentam risco à sociedade e sua integridade física e/ou mental, deve-se considerar a possibilidade de internação involuntária, amparada pela Lei 10.216/2001. 24 De acordo com especialistas e estudiosos da temática, a prevenção é o melhor combate, acredita-se que prevenir o uso de drogas pressupõe estabelecer um conjunto de medidas, para impedir ou ao menos reduzir o consumo abusivo (SANTOS, 1997). 25

A prevenção pode ser classificada em três níveis: primária: refere-se a todas as maneiras de prevenção, dirigida à população em geral, com intuito de evitar a experimentação de drogas, é o processo informativo para todas as pessoas que ainda não fizeram uso de drogas; secundária: é o nível de prevenção para usuários de drogas, com uso eventual e recreativo, é a prevenção a chamada população de risco; terciária: é a prevenção destinada as pessoas que são dependentes de drogas, a finalidade é de conscientizar as pessoas para que se mantenham em tratamento, e reduzam as consequências adversas da dependência (DENARC, 2012). 26

Constitui uma estratégia de abordagem dos problemas com as drogas que não parte do princípio de

que haver imediata e obrigatória extinção do uso de drogas, seja no âmbito da sociedade ou individual,

Page 27: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

27

serviços de saúde, troca de seringa usada por estéreis e descartáveis, distribuição de

preservativos e outros demais serviços-, cujo o objetivo geral é a preservação da saúde

(SENAD, 2011).

Vários são os olhares e opiniões acerca da política da RD, a Federação

Brasileira de Comunidades Terapêuticas (FEBRACT), coloca-se como não favorável a

mesma, pois defende que seu código de ética não aceita a ideia da liberação das

drogas e muito menos as estratégias apresentadas, por acreditar que a proposta pode

significar destruição dos valores que dão dignidade à pessoa e à família, baseando

seus argumentos nos anos de experiência empírica no trabalho com dependentes

químicos (FEBRACT, 2001).

Além dos serviços que compõem a rede do SUS, as comunidades terapêuticas

(CT)27 se configuram como importantes dispositivos para os tratamentos, respondem

por parte significativa dos serviços disponibilizados no país. Surgiram em um contexto

de oposição ao hospital psiquiátrico, com abordagem de ajuda mútua no processo

terapêutico, com linguagem democrática e igualitária (SENAD, 2011).

Segundo a FEBRACT (2001) existem vários modelos de tratamentos –

internação fechada (CT’s), semiaberta (hospitais-dia), tratamentos ambulatoriais e

mistos que combinam os modelos, bem como, há diferenças entre os tempos de

duração e às técnicas utilizadas para o trabalho de recuperação do adicto -, porém

todos têm suas vantagens e desvantagens e uma gama de possibilidades e limites a

serem considerados.

1.6 O PAPEL DA FAMÍLIA NO USO DE DROGAS

A família, no tratamento ao dependente, constitui-se importante aliado na

recuperação, afirmando Afornali (2011, p. 41), que “o trabalho feito com a família

mostra-se importante não só para o início do tratamento, mas para a manutenção dele”,

formula práticas que diminuem os danos para os usuários e para os grupos sociais que convivem (SENAD). 27

No Brasil, a regulamentação desses serviços ocorreu em 2001 e foi atualizada em 2011, com a

publicação da Resolução 29 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Page 28: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

28

reforçando a urgência da capacitação familiar para que o tratamento do adicto seja

assertivo.

Vários estudos na área de prevenção ressaltam a importância do papel da

família, e têm este sistema como umas das principais fontes formadoras de

comportamentos e crenças. Veremos no próximo capítulo a família através dos tempos,

o seu processo evolutivo, essa rede de relações com regras, troca de valores e

principalmente, o papel desempenhado, o que pode ser um meio de proteção ao uso de

drogas ou um fator de risco (SENAD, 2011).

Page 29: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

29

2 A FAMÍLIA E SEUS ATORES: PROTAGONISMO E SEUS PAPEIS

2.1 BREVE RELATO SOBRE A GÊNESE DA FAMÍLIA

Família, etimologicamente “famulus” (do latim), significa servo ou escravo.

Segundo a história geral, a organização da família se deu nos tempos pré-históricos,

onde se considerava sendo família um conjunto de escravos e criados de uma mesma

pessoa.

De acordo com Sielski (1999, p. 65), a família se originou em função de três

prerrogativas fundamentais: primeira - inicio do parentesco, que determinou famílias

consanguíneas, estruturadas por meio dos acasalamentos dentro do mesmo grupo; a

segunda é o tabu do incesto que trouxe o impedimento das relações sexuais entre pais,

filhos e irmãos; decorrente disso surgiu à terceira, o casamento fora do grupo familiar

primordial, hoje conhecido como a instituição do matrimonio.

Para Engels (1987, p. 120), a instituição da família “nasceu com a intenção de

perpetuar a acumulação de riquezas - origem da nascente divisão de classes, com

direito da classe possuidora explorar a não possuidora, e o domínio da primeira sobre a

segunda”.

A história ocidental registra que, a partir da Revolução Industrial (1750-1830),

novos movimentos ocorreram nas famílias. Um deles foi a chamada migração –

camponeses que deixaram o campo e suas grandes famílias, para trabalhar nas

grandes cidades e outras regiões. Com a invenção das estradas de ferro (1829),

iniciaram-se os grandes deslocamentos de pessoas e bens de produção, quando

surgiram os proletariados e com eles os seus administradores, o domínio completo da

burguesia sobre os assalariados.

Com tantas inovações, as famílias sofreram um impacto permanente na sua

estrutura primordial, entretanto mantiveram-se os quatro modelos básicos, segundo

Mark Poster, historiador norte-americano, em seu livro Teoria Critica da Família (apud

SIELSKI, 1999). Para Poster, a Família Aristocrática é aquela que concentra o poder

em um pequeno grupo de pessoas, e que tem como objetivo principal o respeito à

hierarquia social. Enquanto a família camponesa tem como prioridade a obtenção do

Page 30: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

30

básico para a sobrevivência, como objetivo principal tem a renúncia à individualidade.

Mais próximas ao sistema vigente, encontram-se as famílias burguesas e operárias,

que para o autor uma é o oposto da outra, sendo que a dominante se apropria do

trabalho braçal da dominada.

Diante do ponto de vista de Engels (ibidem), pode-se perceber que dois modelos

de família aproximam-se de sua teoria - a burguesa e a operária, o resultado da força

que uma exerce sobre a outra se perpetua até os presentes dias. Ele analisa a

instituição familiar pela interação entre elas e as instituições sociais e culturais. Assim, o

significado monogamia, as relações entre homens e mulheres, o modo de produção, a

propriedade dos bens de produção e demais.

Para Lima (2008, p.70), a família sempre foi extremamente influenciada pelos

fatores sociais aos quais ela sempre esteve intrinsecamente ligada.

2.2 AS FUNÇÕES DA FAMÍLIA

Para alguns autores, a função que a família exerce sobre os indivíduos se dá por

meio do nutrício, do educacional e da obtenção do básico para a sobrevivência. Bessa

(2003, p. 04), refere à família como sendo o veículo social; para a autora é o local que

viabiliza desde o nascimento até as condições materiais, no exercício de suas funções

acredita que “são aprendidos e repassados os valores morais, sociais, humanitários e

de cidadania”.

As funções básicas da família podem ser desempenhadas de várias maneiras,

dentro dos mais diversos sistemas culturais, para Marconi e Pressoto (1992, p. 106), a

família combina duas funções específicas, como agente educador:

Socializadora – na medida em transmite a herança cultural e social, durante os primeiros anos de vida: linguagem, usos, costumes, valores, crenças, essa preparação da pessoa para o ingresso na sociedade. Social – quando proporciona a conquista de diferentes status, como o étnico, o nacional, o religioso, o residencial, o de classe, o político e o educacional.

Page 31: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

31

Para Prado (1988), as funções de cada família dependem em grande parte da

faixa que cada uma delas ocupa na sociedade, na economia do país ao qual pertence.

Porém a autora acredita que a família pode exercer inúmeras funções, sabendo que

algumas recebem a intervenção do Estado enquanto outras assumem suas funções

com exclusividade – saúde, educação, atividades de lazer entre outras funções.

João Paulo II (1982) acredita que os deveres da família se resumem em quatro

funções: “na formação de uma comunidade de pessoas; o serviço à vida; a participação

no desenvolvimento da sociedade e a participação na vida e na missão da Igreja”.

Diante ao exposto, percebe-se que o papel que a instituição família exerce sobre

o indivíduo vai além dos suprimentos básicos, como refere João Paulo II (ibidem, p.49),

sua função primordial política e social:

O dever social das famílias é chamado ainda a exprimir-se sob forma de intervenção política: as famílias devem com prioridade diligenciar para que as leis e as instituições do Estado não só não ofendam, mas sustentem e defendam positivamente os seus direitos e deveres. Em tal sentido as famílias devem crescer na consciência de serem “protagonistas” da chamada “política familiar” e assumir a responsabilidade de transformar a sociedade: doutra forma as famílias serão as primeiras vítimas daqueles males que se limitaram a observar com indiferença.

Para o autor, ambos - família e sociedade, têm uma função complementar, na

defesa e promoção de todos os indivíduos, porém é dever do Estado subsidiar e

assegurar os direitos da família – econômica, social, educativa, política e cultural.

2.3 A FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948, art. 16 § 2.) trouxe um

marco evolutivo para a família, “sendo ela um núcleo natural e fundamental, tem o

direito à proteção da sociedade e do Estado”, e a Constituição Federal (1988, cap. VII

art. 226) reforçou este processo evolutivo “como entidade familiar a comunidade

formada por qualquer dos pais e seus descendentes”, inclusive na união estável entre

os companheiros e não apenas as uniões constituídas pelo casamento.

Nos dias atuais é perceptível que não existe mais um modelo de família, para

alguns pesquisadores o conceito de família se dá pela caracterização: pela residência

Page 32: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

32

em comum, pela cooperação econômica e pela reprodução, bem como, a relação

afetiva. Sielski (1999) acredita que o casamento está em decadência, ou num conflito

circunstancial, para ele muito mais importante que o casamento é a família ou são os

laços familiares.

Sobre a desagregação ou enfraquecimento da família, muitos são os discursos e

pontos de vistas; para Kaloustian (1994, p. 11), a família “é o espaço privilegiado de

socialização, prática de tolerância, divisão de responsabilidades (...), lugar inicial para

exercício da cidadania sob o parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos

humanos”. Independentemente do arranjo familiar ou da forma que vem se

estruturando, para o autor a família tem uma dinâmica de vida própria, ou seja, acaba

sendo afetada pelo processo socioeconômico e ações do Estado (ibidem p. 12).

Os valores culturais e sociais, a globalização e a revolução tecnológica

trouxeram para a família atual muitos desafios, desde o enfrentamento da violência

urbana, desemprego e doenças. Pesquisas sobre o funcionamento familiar referem que

muitos dos desafios contemporâneos aumentam o nível de estresse intrafamiliar,

repercutindo diretamente nos vínculos familiares (SENAD, 2011).

2.4 A FAMÍLIA COMO QUESTÃO SOCIAL

O agravamento das manifestações da questão social determinou assim,

mudanças nas formas de proteção social e de intervenção do Estado. Este passou a se

constituir como principal sujeito de regulação das relações entre economia e demandas

sociais (MIOTO, 2008).

Após a II Guerra mundial, especialmente na Europa que havia sido destruída

pelo conflito, se sedimentou a necessidade de reorganização do processo de

intervenção do Estado, dando origem ao Welfare State. Segundo Mioto (2008) nos

modelos de intervenção do Welfare State, existem três tipos de inserção da família,

sendo: do provedor masculino - transferência de benefício ao pai trabalhador que se

incumbirá de transferi aos demais membros; desfamilização: o Estado deve prover

políticas que atendam as necessidades das famílias; familismo: família deve assumir a

responsabilidade pelo bem-estar de seus membros.

Page 33: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

33

As mudanças na família, segundo Bessa (2003, p. 08) ocorrem devido às

mudanças que se originam na sociedade, a autora descreve que são imposições

sociais que se processam do maior para o menor, ou seja, sempre da sociedade para a

família, e continua “(...) mudanças que são suscitadas por exigências de âmbito bio-

psico-social” (Ibidem p. 09), gerando, assim, a criação de estruturas extras familiares

que se adaptem às necessidades decorrentes desse embate – social, político e

econômico.

Para Kaloustian (apud COSTA, 1994), a visão transformadora e crítica da

sociedade propiciou a percepção da família em uma questão bem mais ampla,

contraditória e complexa, a do conflito de classes, sujeitando assim o entendimento da

realidade social a todas as determinações, condicionamentos e influências decorrentes

do novo enfoque. Para o autor, o trabalho com a família deve ser relativizado em favor

da atuação junto às comunidades e movimentos sociais.

Ante o ponto de vista do autor, a família exerce o caráter nucleador, ou seja, está

no centro, tanto do âmbito dos movimentos sociais quanto das políticas públicas, sendo

assim, a família é o ponto de confluência das realidades, seja do idoso, da criança, da

pessoa com deficiência, da mulher, do homem ou do dependente químico. Além das

discussões e debates, promover a família nas políticas públicas significa, segundo

Costa (ibidem p.24), enfatizar ações em favor das implementações das leis, estatutos e

diretrizes, articulando e mediando os conflitos existentes, conforme demandas.

A família, na maioria das vezes, é acusada de ser responsável quando dela

resultam indivíduos desviantes, ou seja, aqueles que estão à margem da sociedade.

Para Lima (2001, p.81), as famílias não se veem livres da culpa que a sociedade lhes

impõe, porém a questão vai, além disso, os fatores socioeconômicos são variáveis

determinantes no desenvolvimento familiar e na vida de cada individuo.

A atual Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em relação família e

Estado é pensada da seguinte maneira (CF, 1988):

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

Page 34: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

34

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) propõe a organização do sistema

descentralizado e participativo de Assistência Social, com seus serviços, programas,

projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e

indivíduos. Um dos eixos estruturantes do SUAS é a “matricialidade sociofamiliar”28.

Pode ser dizer que no SUAS não há distinção no atendimento para a forma que a

família é constituída, o que importa é incluir os membros do grupo familiar em

programas, projetos e serviços, para que saiam da situação de exclusão e possam ter

suas principais necessidades atendidas (PNAS, 2004).

2.5 FAMÍLIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA

O Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas (OBID) aponta que:

Nas últimas décadas houve um incontestável avanço das ciências que estudam os fenômenos mentais, com descobertas importantes, que a ancestral relação do ser humano com substâncias psicoativas ganhou notoriedade por diversas razões, desde o aumento e banalização do uso, até questões econômicas, nesse contexto, considera-se uma questão social a dependência química e que são cada vez maiores as consequências na vida social das pessoas, causando impacto na dinâmica familiar.

Conforme pautado acima, percebe-se que o uso de drogas é algo que atinge,

portanto, não somente o indivíduo, mas consequentemente a família e o meio social em

que vive. Apesar da gravidade e relevância do assunto, sabe-se das inúmeras falhas

nas políticas públicas antidrogas e de amparo e tratamento aos dependentes químicos,

ocasionando assim tal impacto.

Para Ferrarini (1980, p. 109), “o dependente químico passa a ser a latrina onde

são depositadas todas as causa das neuroses e desentendimentos entre os demais

membros da família”, ou seja, as inúmeras negações – da doença, dos problemas, da

28 Através do eixo estruturante da Matricialidade Sócio-Familiar, o atendimento na Política de Assistência

Social, passa a ter centralidade na família e seus membros, pois considera-se que nela encontram-se todos os segmentos.

Page 35: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

35

falta de limites, da falta de capacitação, faz com que a família trate do adicto como um

bode expiatório, ou como relata Afornali (2011, p. 149),

Ter um dependente químico em casa é como ter um elefante na sala de estar. Todos sofrem e se machucam com os pisões, com o tamanho, o peso e o mau humor do bicho. Suja a sala e a casa toda. Além de incomodar toda a família, ele incomoda os vizinhos. As pessoas que passam em frente a nossa casa, de longe veem o rabo do bicho pela janela, e pela porta veem sua enorme tromba.

De acordo com a CID-10 (1993), a síndrome de dependência caracteriza-se por

um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso de

uma substância, ou uma classe de substâncias, alcança uma prioridade muito maior

para um determinado indivíduo que outros comportamentos que antes tinham, para ele,

maior valor, pode-se dizer que suas relações tornam-se fragilizadas, e tem seu efeito

desastroso no âmbito do trabalho, da família e das relações econômicas e sociais.

2.6 FAMÍLIA: UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA EMOCIONAL E QUÍMICA

Em estudo realizado, Ballone (apud BROWN, 1959) relata que, em 1959, de

forma cientifica, foi suspeitada a existência de famílias psiquiatricamente mórbidas. As

primeiras conclusões desse estudo apontaram uma associação entre a qualidade das

relações familiares e o desenvolvimento da doença mental do paciente. Nesta

observação se constatou que os pacientes que recebiam alta da hospitalização

psiquiátrica e retornavam para o convívio familiar, tinham uma evolução pior que a

evolução dos pacientes que passavam a viver sozinhos, segundo ele o “defeito” estava

na família desses pacientes.

Para Ballone (ibidem) esse tipo de família, em que certos indivíduos são capazes

de gerar todo esse transtorno em relação aos demais membros, é chamada de Família

de Alta Emoção Expressa, termo que foi adotado inicialmente para indicar as famílias

que favoreciam as recaídas de pacientes psiquiátricos, hoje em dia pode-se bem

empregar o termo para designar as famílias que favorecem a recaída no alcoolismo e

na drogadição.

Page 36: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

36

2.7 FAMÍLIA E CODEPENDÊNCIA

Durante um período indeterminado, a família convive com o indivíduo e seu

consumo, dito social, a família vive uma “negação maníaca”, uma “cegueira”, faz vista

grossa às condutas auto e heterodestrutivas do adicto, assumindo assim um “pacto

criminoso” do qual participam ele, a família e consequentemente a sociedade

(FEBRACT, 2001).

Vários estudos evidenciam a relevância dos vínculos familiares – excessiva

permissividade, dificuldades de estabelecer limites, superproteção -, proporcionam e

leva a chamada codependência (SENAD, 2011).

Acredita-se que tal permissividade e demais aspectos tendem a perpetuar a

dependência do adicto e retardar o seu processo de recuperação, para poder entender

com clareza o que significa tal “retardamento” é preciso ter em mente o que é o

fenômeno da codependência (AFORNALI, 2011).

Page 37: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

37

3 O FENÔMENO DA CODEPEDÊNCIA

A codependência é um quadro caracterizado por um distúrbio mental

acompanhado de ansiedade, angústia e compulsividade obsessiva em relação ao

dependente químico (FEBRACT, 2001).

O termo surgiu nos anos 40 dentro dos Alcoólicos Anônimos (AA)29, onde um

grupo de pessoas - possivelmente esposas de alcoólicos, formaram grupos de ajuda

mútua e apoio para lidar com as formas com que elas eram afetadas pelo alcoolismo

dos maridos. As esposas dos alcoolistas também queriam um programa e, revendo as

doze tradições do AA criaram o outro grupo de esposas chamado de Al-anon30. Na

psicoterapia e psiquiatria o termo codependente surgiu no fim da década de 70,

definindo claramente as características deste comportamento (BALLONE, 2008).

No grupo Amor Exigente (AE)31 além da dependência química, a codependência

é denominada como doença, é como se o dependente químico passasse a ser a

“droga” dos que o cercam, é também por esta razão que se relata a dificuldade de

recuperação do adicto, é um autêntico círculo vicioso (GONÇALVES, 2010).

Calábria (2007) traz algo que é pertinente em relação ao fato das doenças

serem concomitantes, há tamanho desconhecimento32 por boa parte da sociedade em

relação à codependência, sendo muito maior que em relação à dependência.

Para Gonçalves (2010, p. 31), “a codependência afeta os familiares e as pessoas

envolvidas com o adicto gerando também nos mesmos as três características da

29 AA pode ser descrito como um método para recuperação do alcoolismo, no qual os membros ajudam-se mutuamente, compartilhando entre si uma enorme gama de experiências semelhantes em sofrimento e recuperação do alcoolismo (Disponível em <http://www.alcoolicosanonimos.org.br> acesso em 13 jun, 2013). 30

É um programa de Doze Passos para familiares e amigos de alcoólicos. Seus membros compartilham

suas experiências nas reuniões de grupo e buscam forças e esperança na tentativa de resolver seus problemas comuns (Disponível em <http://www.al-anon.org.br> acesso em 13 jun. 2013). 31

É um programa de auto e mútua ajuda que desenvolve preceitos para a organização da família, que são praticados por meio dos 12 Princípios Básicos e Éticos, da espiritualidade e dos grupos de auto e mútua-ajuda que através de seus voluntários, sensibilizam as pessoas, levando-as a perceberem a necessidade de mudar o rumo de suas vidas e do mundo, a partir de si mesmas (Disponível em <http://www.amorexigente.org.br> acesso em 13 jun. 2013). 32

Para o autor tais grupos de autoajuda, que não têm ligação institucional, serviram de estímulo e modelo

para as metodologias empregadas em instituições religiosas, associações, instituições públicas, todavia tornaram-se herdeiros dos procedimentos e estratégias usados por muitos profissionais da área (ibid).

Page 38: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

38

dependência química – progressiva, crônica e fatal”, crônica, porém passível de

tratamento”.

Uma das melhores definições sobre a “codependência” é apresentado por

Afornali (2011, p. 61), “se pensarmos sobre as palavras afins como coautoria ou

coresponsabilidade, já é possível deduzir um pouco do significado da codependência”.

Para Afornali (ibid.), um coautor participa da autoria, é autor conjuntamente; e um

corresponsável, da mesma forma.

Pode-se dizer que não há um critério universal sobre o que é codependência,

alguns pesquisadores tratam como sendo uma resposta complexa à experiência de se

ter um relacionamento íntimo ou compromissado, com alguém que tenha um problema

de dependência química (GONÇALVES, 2010).

A manifestação mais encontrada da codependência é bem exemplificado por

Drumond, citado por Afornali (2011, p. 62), que ressalta que “a codependência leva as

pessoas a acreditarem que, mesmo em detrimento de suas próprias necessidades,

deverão suprir todas as do outro, pois assim irão livrá-lo da dependência”.

3.1 QUEM É O CODEPENDENTE?

Com base na OMS (2006), os adictos costumam obedecer um padrão de

personalidade ao longo do tempo de dependência, para o autor existem traços e

características de comportamento, relacionamento e percepção da realidade comuns

aos dependentes, a diferença é que isso não quer dizer que todos tem a mesma

personalidade, mas que, dentro da individualidade de cada um, eles apresentam

características comuns uns com os outros.

Sobre as Alterações da Personalidade produzidas por dependência química, o

DSM-IV diz que "as alterações da personalidade também podem ocorrer no contexto de

uma Dependência de Substância, especialmente no caso de uma dependência de

longa duração". Dentre as principais características da alteração da personalidade

ocasionada pela drogadição, esta distorção da verdade, e consequentemente leva e faz

parte manipulação. A palavra manipular, do latim manipularis, que significa soldado

raso, manipulação no sentido figurado é o “ato de condicionar, influenciar, tirar proveito

Page 39: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

39

próprio”, é o que acontece entre o adicto e o codependente, diga-se de passagem

enquanto o codependente cria vínculo, o adicto, enquanto manipulador, apenas se

relaciona, no intuito de buscar seus próprios interesses, o de usar a droga (AFORNALI,

2011).

Uma expressão que representa tal relação de manipulação é a forma que o

codependente adere à situação/problema sendo como uma atadura emocional. Para

Ballone (2008), atadura emocional é quando uma pessoa se encontra atrelada

emocionalmente a coisas negativas ou patológicas de alguém que o rodeia, para o

autor tais amarras emocionais levam o codependente a se relacionar com o outro

(adicto) de igual para igual, tornando-se outro dependente.

Nas relações interpessoais do dependente químico a manipulação, segundo

Afornali (2011, p. 68), “cria uma espécie de vácuo, que é preenchido por uma ou por

várias pessoas que chamamos, grosseiramente, de ‘mães do dependente químico’,

devido ao seu cuidado maternal”. Para o autor essas relações entre o dependente e o

codependente são vistas por quem está fora da relação, como sendo estranhas, até

patológicas, uma vez que promovem a doença e caminham à destruição.

Ambos, codependente e dependente, compartilham intensamente do mesmo

ambiente, numa relação de grande carga afetiva, suas vidas são muito ligadas, no

adágio poderíamos dizer que seria como uma osmose33 e inevitavelmente um prejudica

e afeta o outro, desse modo acredita-se que se o codependente der o primeiro passo e

buscar tratamento, as alterações do seu comportamento darão margens e ensejo para

diversas crises na relação doentia, o que criara condições mais favoráveis à

recuperação de ambos (CALÁBRIA, 2007).

33

Osmose significa a passagem do solvente de uma solução através de membrana impermeável ao

soluto. Esta é a explicação corresponde à física e a química. Quando ocorre como por um processo de

absorção que sugere o da osmose, diz-se que a pessoa aprendeu "por osmose". No texto acima trata-se

de um sentido figurado, uma analogia (PRIBERAM, 2012).

Page 40: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

40

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa utilizou-se de alguns caminhos para alcançar o seu objetivo

geral, uma das opções metodológicas se deu por meio de pesquisa qualitativa, no

intuito de compreender a realidade em sua totalidade, pois os entendimentos dos fatos

ocorrem a partir da interpretação do sujeito em relação à sua vivência cotidiana

(MINAYO, 1993), o que, para Bardin (2011, p. 41), representa “a análise de

significados, embora seja também uma análise dos significantes”.

Os participantes da pesquisa constituíram-se em quatro indivíduos de famílias

que foram acompanhadas pelo profissional de Serviço Social na Comunidade Vale do

Sol, durante o período de tratamento de seus familiares/adictos, sendo que dois

indivíduos participaram de apenas um atendimento com o Assistente Social e os outros

dois receberam o acompanhamento durante os meses de internamento dos adictos, os

quais concluíram o tratamento.

Como instrumento para coleta de dados foi utilizado entrevista semiestruturada

(Apêndice A), com questões que caracterizam as famílias entrevistadas. As dez

primeiras questões referem-se aos dados pessoais, que objetivam identificar a

nacionalidade, religião, grau de instrução e situação econômica.

Foram elaboradas cinco questões abertas: para analisar a percepção da família

quanto à atuação do profissional de Serviço Social (questão 1); identificar o olhar da

família em relação ao fenômeno da codependência (questão 2); conhecer a adesão

das famílias acerca das orientações e instruções que foram prestadas nos

atendimentos junto ao profissional de Serviço Social (questão 3); no intuito de verificar a

visão da função que cada indivíduo exerce em relação à manutenção da doença do

adicto (questão 4); investigar se houve mudanças no comportamento familiar em

relação ao fenômeno da codependência (questão 5).

Page 41: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

41

A fim de conhecer os desafios e as possibilidades de avanços na prática

profissional do Serviço Social, ocorridos nos atendimentos aos familiares de adictos em

tratamento na Comunidade, utilizou-se da entrevista aberta34 (Apêndice B).

Cada participante da pesquisa recebeu o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo), explicando o tema da pesquisa e a participação livre, além do

sigilo sobre a identificação.

O procedimento de análise dos dados se deu pela técnica de análise por

categoria, ou seja, por meio da decodificação das respostas das entrevistas, diversos

elementos, os quais foram classificados e formaram agrupamentos analógicos e na

sequência a análise global dos dados (RISHARDSON, 1999).

A seguir o histórico da instituição para que se contextualize a realidade de

partida das possibilidades de ambientação da intervenção do assistente social, assim

como o contato com as famílias.

4.1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

Fundada em 17 de janeiro de 2007, no Município de Morretes – PR, a

Comunidade Terapêutica Vale do Sol é uma instituição sem fins lucrativos e tem como

objetivo auxiliar na recuperação e reinserção social de dependentes químicos e

alcoolistas.

No intuito de acompanhar o percurso de cada adicto na construção de seu

projeto de vida, priorizando a singularidade de cada um; a Comunidade atende o

número máximo de quinze residentes concomitantemente. O programa do tratamento

é baseado na metodologia dos Doze Passos35 das Irmandades Anônimas, com

34

A entrevista aberta é utilizada para obter maior número de informações sobre determinado tema e

maior detalhamento do assunto em questão, para compreensão de especificidades culturais, para determinados grupos e para comparabilidade de diversos casos (MINAYO, 1993). 35

Os doze passos compõem a metodologia mais eficaz de tratamento conhecida nos dias de hoje. Eles

tiveram seu inicio na década de 30, fase pós guerra e de crash nas bolsas de valores de Nova Iorque. A

população vivia um momento crítico de depressão e abuso, tanto de substancias provindas do ópio como

do álcool. Surgiram então os grupos de Alcoólicos Anônimos, que se expandiu rapidamente, sendo

posteriormente denominados, pelo Papa João Paulo, como um dos maiores milagres do século XX. Na

década de 50 surgiram os grupos de Narcóticos Anônimos. Vieram completar o que A.A. já vinha

Page 42: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

42

reuniões de conscientização, psicoterapia de grupo, laborterapia, práticas esportivas,

atendimento psiquiátrico individual, atendimentos de fisioterapia e enfermagem, artes

em geral, ressocialização e atendimentos familiares.

O trabalho do assistente social, integrante da equipe envolvida no tratamento,

consiste em realizar o contato inicial com o paciente ou com a família; media o contato

do paciente com seus familiares e próximos, e orienta os mesmos sobre como será o

tratamento. Atua na conscientização dos dependentes químicos e familiares sobre as

temáticas: dependência química e codependência – na escuta ativa e passiva. Por meio

de avaliações, faz os devidos encaminhamentos para as redes de proteção e para os

profissionais específicos, conforme requer a demanda.

4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DA PESQUISA

O universo desta pesquisa se constitui dos atendimentos realizados na área da

codependência, com a amostra de quatro familiares que foram encaminhados para o

atendimento com o Assistente Social.

Sujeito da Pesquisa (SP)

Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4

Gênero Masculino Feminino Feminino Feminino

Idade 70 29 49 34

Profissão Aposentado Diarista Do lar Assistente Adm.

Filhos 5 2 3 1

Grau de parentesco com o

DQ

Pai Companheira Mãe Mãe

Tabela 2: População e amostra de pesquisa

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

realizando só que agora de forma mais completa trabalhando profundamente a adicção. (Disponível em

http://www.comunidadevaledosol.com.br – acesso em 27/03/13 às 17h).

Page 43: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

43

Ao analisar os dados acima, percebe-se que a faixa etária dos entrevistados

varia entre 29 a 70 anos de idade. Todos são residentes do Município de Curitiba. Os

graus de parentesco têm-se: pai, companheira e mãe. São indivíduos de diferentes

classes sociais, aposentados, do lar, trabalho informal e assistente administrativo, com

renda mensal aproximada de um (1) a nove (9) salários mínimos. O que nos leva

compreender que se trata de uma doença democrática, que não escolhe cor, raça,

classe social e credo.

Para melhor analisar a adesão e empoderamento desses sujeitos, no que se

refere à codependência – se houve mudanças comportamentais que ampliam seus

focos de convivência, bem como, perceber se a capacitação cria autoconsciência nos

indivíduos e desenvolvem certas habilidades e postura técnicas a partir do

conhecimento adquirido, com base neste argumento -, pensou-se em pesquisar duas

pessoas que iniciaram o acompanhamento, e consequentemente irão receber a devida

capacitação e acompanhamento, e outras duas que já foram capacitadas, e são

acompanhadas esporadicamente, quando se faz necessário. Dividiu-se, portanto, em

dois grupos GRUPO I (Sujeito 1 – SP1 e Sujeito 2 – SP2), que iniciaram o

acompanhamento, e GRUPO II (Sujeito 3 – SP3 e Sujeito 4 – SP4), que já efetivaram o

acompanhamento.

4.2.1 PERCEPÇÕES DA FAMÍLIA QUANTO À ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE

SERVIÇO SOCIAL

Tabela 3: Percepções da família quanto à atuação do profissional de Serviço Social Fonte: Elaboração da autora, 2013.

GRUPO I GRUPO II

SP1. “Espero uma oportunidade

de mudança, na vida do meu

filho”.

SP2. “Ajuda”

SP3. “Foi tudo de bom, se não

fossem suas orientações, não sei

onde estaria meu filho uma hora

dessas”.

SP4. “Suas orientações nos

ensinaram a caminhar mais firme”

Page 44: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

44

À margem da interpretação pessoal, o discurso do GRUPO I é apresentado de

forma “ingênua”, ambos não demonstram discrição de juízo para diferenciar e conhecer

como se dá a intervenção do profissional do Serviço Social. No relato do SP2, em sua

fala breve, de que quer “ajuda”, percebe-se que os familiares buscam uma solução,

seja ela qualquer, desde que possa sanar o ‘problema’. Vale ressaltar que a família

pode ser um agente mantenedor da doença ou poderá ser tornar um transformador,

desde que capacitada (AFORNALI, 2007).

Confluentes, buscam a resolução de um comportamento-problema, que é o

internamento ou a recuperação do adicto, assim, segundo Afornali (2011), percebe-se

que entrelaçados numa “dependência emocional”, acabam não sabendo diferenciar

papéis.

As falas obtidas no GRUPO II, remetem ao Código de Ética do Assistente Social

(1994)36, é dever do Assistente Social garantir a plena informação: “esgotar os

procedimentos democráticos, informar claramente as consequências e riscos que

podem advir da decisão do usuário”. Uma vez orientados e capacitados, esses

indivíduos, munidos de informações acerca do fenômeno da dependência química, as

famílias poderão arbitrariamente ter noção de uma tomada de decisão sobre a conduta

a ser tomada.

É possível correlacionar o papel do profissional Assistente Social no atendimento

às famílias ao papel de Tutor, que, para Mestres (2010 p. 44), é:

(...) aquele que tem por encargo substituir o papel parental debilitado na família por algum motivo. Assim como o tutor, que deixa sua função formal e legalmente, quando o pupilo atinge a maioridade, o profissional transcende sua função tutorial quando a família se mostra capacitada para lidar com o fenômeno e repete na relação com o dependente o modelo paterno exercido pelo profissional, durante os atendimentos familiares.

Para Mestres (ibid), o objetivo deste modelo de intervenção com as famílias é

que os familiares repitam, na relação com o dependente, o posicionamento diretivo, de

Lei e limites, estabelecido pelo profissional durante os atendimentos à família.

36

Título III - Das Relações Profissionais - Capítulo I – Art°5 b (BARROCO, 2012).

Page 45: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

45

4.2.2 O QUE SE ENTENDE POR CODEPENDÊNCIA

Tabela 4:O que entende por Codependência Fonte: Elaboração da autora, 2013.

No quadro acima percebemos que o GRUPO I não sabe identificar o que é a

codependência, todavia, conforme Ballone (2008), o codependente não se percebe

como tal, e permanece facilitando o agravamento do problema, parte pela negação e

em parte porque se convence de que sua postura se justifica por si, uma vez que está

“ajudando” o dependente a não se deteriorar ainda mais, sendo assim, a família não se

desintegra e ele cumpre o seu papel.

No decorrer da entrevista, o SP1 fez a seguinte colocação: “não sei de onde veio

esse ‘vício’ do meu filho, porque eu nunca usei droga, só ‘bebi’ 42 anos, mas hoje não

bebo mais”. É perceptível que existe a negação e a falta de conhecimento de que o

alcoolismo também é considerado uma doença, porém o que nos interessa é a negação

e a falta de conhecimento acerca da codependência, e para complementar a fala, o

SP1 continuou “como meu filho trabalha de pedreiro, sem registro em carteira, eu pago

a ‘previdência particular’ para ele”. Pode-se dizer que o SP1 não sabe definir em

palavras o que é a codependência, porém se mostra inerente em suas atitudes perante

ao seu filho, na minimização das consequências dos problemas.

O SP2, quando questionado sobre a codependência, refere que “nunca ouvi

falar”, porém em seguida exprime que “sinto meu psicológico abalado e não tenho o

que dizer, não tenho ânimo, só vontade de sumir”. Aqui se pode usar a fala de Beattie

(1999, p.49), em outras palavras “o codependente é aquela pessoa que tem deixado o

GRUPO I GRUPO II

SP1. “Não sei do que se trata”

SP2. “Nunca ouvi falar”

SP3. “eu sou isso, sofro muito com a

dependência do meu filho”.

SP4. “é devido à química do usuário,

ele manipula e nós entramos num

círculo vicioso, é como se fosse uma

muleta um alimenta o outro”.

Page 46: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

46

comportamento de outra pessoa afetá-la (...)”. Inúmeras são as consequências

negativas geradas pela dependência química nos codependentes, segundo Mestres

(2010) se faz necessário à abordagem multidisciplinar, aqui se aplica no caso da fala do

SP2, a contribuição do campo da psicologia para aprimorar e difundir os conhecimentos

sobre tais sintomas.

No GRUPO II, tanto o SP3 e o SP4, mesmo sem imprecações técnicas,

demonstram certo conhecimento acerca do fenômeno, indicando segundo Afornali

(2011) que a informação e a capacitação têm um caráter preventivo e minimizador de

riscos, pois tal proporciona certa compreensão coletiva e oportuniza uma postura

técnica.

O SP4 refere “(...) ele manipula e nós entramos nesse círculo (...)”; a

manipulação é um sintoma da doença dependência química e, não uma falha de

caráter ou desvio de conduta do paciente em questão. A “extrema” manipulação dos

dependentes, quer seja para com a família, se devidamente compreendida, poderá

deixar de ser um fator impeditivo à recuperação dos adictos e transforma-se numa

ajuda, seria como um indicador do estágio em que a doença está. Sendo assim, seria

mais um norte aos procedimentos profissionais. Quanto mais manipulador, mais doente.

Mas aqui cabe analisar a questão da conscientização acerca da manipulação na

codependência, ou seja, uma vez rompida tal manipulação, o indivíduo passa a

compreender que deve agir de forma que seus atos não sejam permissivos e não

contribuam para a manutenção da doença do adicto e passe a agir de maneira correta,

não mais como um mantenedor (AFORNALI, 2007).

Page 47: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

47

4.2.3 O PAPEL DA FAMÍLIA

Tabela 5: O papel da família Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Os quatros indivíduos entrevistados demonstraram entender que o papel da

família consiste em buscar ‘ajuda’, porém, no GRUPO I, ambos os sujeitos

apresentaram, em suas respostas, a necessidade de internamento para o adicto. Tal

atitude não resolve o problema em sua totalidade, de forma que os mesmos também

precisam de capacitação acerca do fenômeno. Certas relações impulsivas e de

imediatismo dentro da família têm raízes profundas e por isso têm de ser tratadas

adequadamente, nenhuma família que quer resolver seus problemas com imediatismos

e impulsividades, consegue de imediato mudar seu funcionamento; a raiz do problema

vai além da adicção do DQ (ZEMEL, 2001).

Segundo a fala do SP2, “preciso arrumar um internamento para ele, para poder

respirar mais sossegada, não aguento mais ter de segurar a ‘barra’ sustentando a casa,

pois só eu trabalho”, é latente na relação existente entre os dois indivíduos a

manutenção da doença, uma vez que, segundo o SP2, os pais do adicto o colocaram

para fora de casa, decorrido disso viu-se na obrigação de acolher e sustentá-lo. Embora

tenha duas filhas, seu cuidado maior é com o adicto, pois, segundo seu relato, “não tem

como deixar padecer na rua, então preferi trazer para casa”, colocando em risco a sua

GRUPO I GRUPO II

SP1. “Ajudar ele, arrumando

internamento para ele se tratar”.

SP2. “Ajudar ele, pois sua família

não quer mais ele em casa, a mãe

dele, o colocou na rua”.

SP3. “é de entender que é a DQ é

uma doença, pois quando não se

entende e não se busca tratamento,

toda a família sofre”.

SP4. “na recuperação é muito

importante, para que rompa a

manipulação e para sair do círculo

vicioso, e se conscientizar de que

também precisa de tratamento”.

Page 48: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

48

vida e de suas filhas, por sentir-se na obrigação de protegê-lo das consequências das

escolhas da sua drogadição.

Os sujeitos do GRUPO II demonstraram certo conhecimento acerca da função da

família em buscar capacitação e romper os vínculos com a doença. Pode-se dizer que é

o primeiro passo para o tratamento da família, a conscientização acerca do problema,

que, segundo Afornali (2011, p. 41), a família, no tratamento ao dependente, constitui-

se importante aliado na recuperação: “o trabalho feito com a família mostra-se

importante não só para o início do tratamento, mas para a manutenção dele”.

4.2.4 RESPONSABILIDADES DOS FAMÍLIARES DE UM DEPENDENTE QUÍMICO

Tabela 6: Responsabilidades dos familiares de um dependente químico Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Os familiares do GRUPO I, quando questionados acerca de suas

responsabilidades, demonstram a necessidade de suprir certas necessidades, por ex.,

o SP1 refere que sua responsabilidade enquanto pai de um dependente químico é de

ajudar a família dele, levando uma cesta básica, ou seja, segundo Afornali (2011, p.

89), “nas dependências químicas, o impulso de cuidado acaba por sustentar o uso de

drogas e por poupá-los das consequências do seu uso”. Representa que a intenção do

SP1 é a melhor do mundo, sem saber, ele é um mantenedor do uso das drogas, o

querer ajudar a família com um cesta básica, tira a responsabilidade do dependente

químico, enquanto pai, de prover o sustento do lar, não sofrendo a consequência do

mau uso empregado do dinheiro, tal, deveria ser revertido para as despesas com a

GRUPO I GRUPO II

SP1. “(...) ‘me’ sinto responsável por ele, por ser meu filho, ajudo a família dele com uma cesta básica”. SP2. “(...) tenho medo que aconteça alguma coisa com ele, medo por conta das minhas filhas, tenho medo que ‘matem’ ele”.

SP3. “Participar dos grupos de mutua ajuda, todos da família devem buscar tratamento em paralelo ao tratamento do adicto”. SP4. “(...) muita responsabilidade, porém quando se busca a sanidade da relação, se consegue enxergar a impotência em meio à adicção”.

Page 49: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

49

família, porém, o SP1 não permite que assim aconteça, devido ao ‘impulso’ do cuidado

excessivo.

A SP2 refere, que tem medo, que aconteça algo com o DQ é por conta que

possam matá-lo, ou seja, segundo ela “eu acolho ele em casa ‘drogado’, assim ele

corre menos perigo que ‘estando’ na rua”, como seu cuidado e proteção fosse capaz de

transformar tal situação. Segundo Zemel (2001), dentro das famílias prevalecem às

mentiras que são sempre entendidas como formas de cuidados 'para poupar' ou, então,

as omissões 'para não piorar as coisas'.

Por sua vez, como visto anteriormente, segundo Afornali (2011, p. 125), “os

codependentes (...) abrem mão de si mesmos com a desculpa de cuidar do dependente

químico, sem se darem conta de que estão tão envolvidos na doença quanto o próprio”.

No GRUPO II, ambas as falas demonstram ser conscientes de que precisam de

acompanhamento e que não se sentem ‘capacitadas’ para enfrentar sozinhas a

drogadição. Voltamos à necessidade da capacitação, não só de conhecimentos e

habilidades, mas à necessidade de que ela cumpra sua importante função de forma

menos visível, mas fundamental, que serve para o tratamento e a prevenção ao uso de

drogas (AFORNALI, 2011).

Segundo Afornali (ibid), a proposta da capacitação é para que as famílias

compreendam o fenômeno que os cerca e possam estar conscientes do perigo

eminente. Segundo o autor, uma vez que os familiares abandonem o papel de

‘cuidadores’, deixarão de ser manipulados e, por fim, se iniciará o processo de

tratamento.

Capacitados e libertos da manipulação do dependente químico, Afornali (ibid,

p.163 ) acredita que “ele mesmo poderá experienciar as consequências da sua escolha,

assumindo assim a responsabilidade por seus atos e optará ou não por tratamento”.

Page 50: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

50

4.2.5 MUDANÇAS NA FAMÍLIA APÓS ATENDIMENTOS COM O ASSISTENTE

SOCIAL

Tabela7: Mudanças na família após atendimentos com o Assistente Social Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Como relatado no início, o GRUPO I é formado por sujeitos que participaram de

apenas um atendimento, sendo assim não obtiveram mudanças na família, pois estão

em busca da mesma. Uma vez questionados sobre quais mudanças futuras que

esperam acontecer na família após os atendimentos, ambos desejam que seus

familiares parem com o uso das drogas. Segundo Afornali (2011), enquanto o

dependente está em uso e a família o coloca no ‘centro’ das atenções, nada pode ser

construído, segundo o autor, tudo pode ser destruído, pois no presente momento todo

foco dos familiares está voltado à dependência química e para o dependente.

Certamente com os demais atendimentos, os sujeitos poderão mudar tal perspectiva,

uma vez que o objetivo dos mesmos é a capacitação dos familiares no tratamento do

doente.

No GRUPO II percebe-se, em seus relatos, que os sujeitos estão conscientes de

que precisam de ajuda profissional, demonstram se sentirem impotentes diante da

doença, e da necessidade da família em paralelo ao tratamento do dependente

químico, buscar capacitação.

O SP3 refere-se à participação da família no grupo de mútua ajuda, pelo qual,

segundo Mestres (2010, p. 33):

GRUPO I GRUPO II

SP1. “que meu filho pare de usar droga” SP2. “se houver alguma mudança, vai ser um ‘prêmio’, isso como se eu ganhasse um prêmio, se ele parar de usar droga”.

SP3. “minha família toda está participando do Amor Exigente. ‘Me’ sinto mais capacitada para entender meu filho”. SP4. “hoje consigo perceber minhas atitudes, entendo que não posso dar conta sozinha da adicção do meu filho”.

Page 51: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

51

(...) os grupos contribuem não só com o aspecto espiritual da doença,

mas com o tratamento de forma integral, pois suas reuniões estão constantemente motivando o paciente e confrontando-o com sua doença, de forma a prevenir racionalizações e a fortalecer o paciente como um membro ativo da equipe.

O que nos leva a compreender a fala do SP4, quando comenta que “não dá

conta da doença sozinha”, essa conscientização em relação à impotência, por sua vez,

leva os sujeitos a se emanciparem do círculo vicioso que viviam. A partir do

pressuposto, segundo Mestres (ibid.), nota-se que:

(...) o papel do profissional nos atendimentos familiares é explicitar o pedido de socorro das famílias adictas, penetrando profissionalmente em suas crises, ao oferecer direcionamento, por meio da capacitação; Leis, do manejo de regras decorrentes da abordagem multidisciplinar; e limites, através das intervenções diretivas; conjunto que corresponde ao exercício da função paterna, debilitada no desenvolvimento original da família.

O que para Afornali (2011) se resume no cumprimento da função da capacitação,

que é responsável por um melhor suporte técnico que propõe conhecimentos e

habilidades práticas.

Page 52: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

52

5 SERVIÇO SOCIAL E CODEPENDÊNCIA: UMA RELAÇÃO EM CONSTRUÇÃO

A profissão do Serviço Social está inserida e regulamentada no Código de Ética

e por uma lei que regulamenta a profissão (Lei nº 8662/93), a qual luta pela autonomia,

emancipação, e plena expansão e inclusão dos indivíduos sociais. Luta pela defesa dos

Direitos Humanos, amplia a cidadania, e se posiciona em favor da universalidade de

acessos, políticas sociais, empenhando-se em combater as mazelas sociais.

Articula coerentemente os elementos do projeto profissional (imagem ideal da

profissão, valores que a legitimam, função social e objetivos, conhecimentos teóricos,

saberes interventivos, normas, práticas, etc.). Sabe-se que é uma articulação complexa

e não se faz em curto prazo de tempo, sendo assim, o projeto profissional requer uma

fundamentação sobre valores de natureza ética – posta nos Códigos, mas que

não se esgota neles, isto é, atravessa o projeto como um todo. Envolve também

escolhas teóricas, ideológicas e políticas das categorias e dos profissionais, de onde

vem à denominação: projetos ético-políticos (NETTO, 1999).

Com a quebra do conservadorismo, consequentemente, o projeto profissional

vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem

social, sem dominação ou exploração de classe, etnia ou gênero. A partir destas

escolhas que o fundam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos

humanos e a recusa do arbítrio e do autoritarismo e dos preconceitos,

contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício

profissional. Em decorrência, o projeto se reclama radicalmente democrático – vista a

democratização enquanto socialização da participação política e socialização da

riqueza socialmente produzida. Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto

implica o compromisso com a competência, que só pode ter como base o

aprimoramento intelectual do assistente social. Daí a ênfase numa formação

acadêmica qualificada, alicerçada em concepções teórico-metodológicas críticas e

sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social – formação que

deve abrir o passo à preocupação com a autoformação permanente e estimular uma

constante postura investigativa (ibid.).

Page 53: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

53

Além dessa relação de construção, acredita-se que um dos grandes desafios

para a profissão - que se dá diante da dependência química/codependência -, é há

necessidade de ser um profissional versátil, na tentativa de redescobrir alternativas e

com competência crítica para enfrentar as múltiplas expressões da questão social, que

dão origem e espaço para os fenômenos em evidência.

O profissional entrevistado é graduado em Serviço Social pela Instituição

Faculdades Integradas Espírita, pós-graduado em Dependências Químicas pela

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, atuou como voluntário na Comunidade

Terapêutica Vale do Sol, atualmente exerce o cargo de Assistente Social no

Departamento de Recursos Humanos, do Ministério Público do Estado do Paraná

desde o ano de 1999; produz conhecimento científico na área dependência

química/codependência, autor de vários livros na temática em questão.

Abaixo, por meio da análise de dados, apresenta-se a prática, os desafios e as

metodologias utilizadas/expostas pelo profissional do Serviço Social no fenômeno da

codependência.

5.1 DESAFIOS E DIFICULDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DO

TRABALHO COM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS

Para o profissional, os desafios são elencados da seguinte forma:

“Ao longo dos anos, percebemos a necessidade de investigar a ‘aparente falta de escuta’ dos familiares (codependentes) e dos dependentes químicos no tocante aos conflitos socioeconômico-familiares, pois a demanda que se apresenta a estudo e intervenção sempre aumenta sobremaneira.”

Segundo o A.S, a família, quando não capacitada, assume o papel de

‘cuidadora’, e o dependente químico, a postura de alguém incapaz e que precisa ser

cuidado todo o tempo:

Page 54: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

54

“(...) aos profissionais da área de saúde, cabe o difícil papel da sensibilização para que os dependentes químicos e seus familiares desejem reencontrar a saúde, a identidade, a esperança e que busquem seus direitos e não sejam omissos quando os mesmos forem violados.”

Não obstante quando refere que cabe ao profissional o papel de conscientizá-

los acerca dos seus direitos, pode-se dizer que a codependência está atrelada à

omissão, por exemplo: mães, esposas, avós que são violentadas e não recorrem aos

seus direitos por medo que o adicto venha sofrer algum dano. O profissional se refere à

falta de conhecimento e capacitação:

“Se não compreender a manipulação inerente à doença, o contexto no qual ela se dá, e a razão pela qual ela ocorre, acaba entrando na relação com o usuário como “inocentes” (“inocentes úteis”), o que, em última análise, seria apenas para garantir-lhe o uso progressivo da droga”.

Para o A.S, é uma espécie de retroalimentação, os dependentes químicos e os

codependentes (geralmente os familiares diretos) não se escutam e, assim, se

relacionam como se o fim último desta relação fosse o conflito:

“por isso mesmo, esse relacionamento interpessoal tóxico gera as doenças, e em toda essa situação há a possibilidade de atuação do profissional assistente social.”

É enfático quando refere ser uma doença progressiva: “quanto mais tardia for a

intervenção profissional, mais difícil será o tratamento e, menor a chance de sucesso”,

tendo em vista as suas multifaces apresentadas:

“(...) como doença não somente física, emocional, psiquiátrica, social e espiritual, mas também familiar, onde a família faz parte integrante e atuante da (e na) doença, faz parte de sua origem, de sua evolução e/ou tratamento e manutenção”.

Page 55: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

55

Aqui, segundo o profissional, apresenta-se um dos maiores desafios, pois

diferente do câncer que atinge o físico, a dependência química tem essa abrangência

na totalidade do ser e precisa ser alcançada como tal.

5.1.2 SENDO A CODEPENDÊNCIA ALGO RELATIVO À SUBJETIVIDADE DO SER,

QUAL A VISÃO DO ASSISTENTE SOCIAL SOBRE ESTE TEMA E DE QUE FORMA

ORIENTA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO NESTE FENÔMENO

Para o profissional, a melhor forma de intervir profissionalmente é entrar pelo

viés da família, e, segundo ele,

“O serviço social se insere nesse particular contexto, no econômico-social, também, de interesses e de relações, que lhe atribuem especial significado, e no qual, a profissão pode ter seu nicho, sua utilidade e sua necessidade. O profissional responderá eticamente por seus atos, sua intervenção se voltará segundo seus próprios valores, para o interesse do capital ou a favor da justiça, da cidadania, do ser e da cura. No tocante ao seu papel profissional, quanto às dependências químicas, são os leitores de um amplo contexto. Pode posicionar-se esmerando na abordagem da população-alvo (paciente e família), para, assim cooptar a sua clientela curiosa e desinformada. Para a prevenção, redução e abstinência, para tanto, somando às suas intervenções, a todo instante, estudos, técnicas de abordagens, técnicas, conhecimento e experiência pessoal e profissional, na motivação de uma população específica que tem na surdez flagrante e nos problemas de saúde somatizados ao longo do processo de adição.”

Com base em Afornali (2007), que explica que o espaço físico profissional do

assistente social é um palco que sempre traz consigo a mediação, os conflitos e as

consequências “biopsicosocioespirituais”. Ao profissional não bastará apenas

capacitação constante para a compreensão das relações humanas, mas também,

paralelamente, caberá a ele o movimento de evolução à flexibilidade, que enfrentará a

Page 56: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

56

demanda por questões de saúde, que têm origem na ausência de recursos e de

vontade política.

O manejo com o dependente químico e com os seus familiares, numa

intervenção multidisciplinar, aponta quase sempre o profissional da área de saúde

como a ponte necessária entre os interesses do capital, dos dependentes químicos, das

famílias, e dos diversos outros profissionais da área de saúde, ainda, na maioria das

vezes, com os seus pareceres técnicos solitários - disputando consciente ou

inconscientemente qual a maior onipotência, a do profissional ou a dos pacientes

intoxicados (AFORNALI, 2007).

5.1.3 METODOLOGIA UTILIZADA NO ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS

“Atendimentos educativos, intervenções breves, encaminhamentos para diversos profissionais de saúde, em especial psiquiatras, e se necessários internamentos. Trabalha-se na Visão Sistêmica, com veiculação de informações, e multidisciplinaridade. Cabe salientar, que o compromisso do profissional ultrapassa a sua questão pessoal. Situações que revelam conflitos familiares e sociais, toxicomanias, alcoolismo, violência, marginalização e exclusão social, são analisadas a fim das devidas providências na área de saúde e jurídica, prevalecendo o acompanhamento social, a orientação, o encaminhamento, a veiculação de informações sobre os recursos sociais, e o tratamento através das técnicas específicas da profissão.”

O profissional deverá garantir realmente, se necessário for, um atendimento

integral aos usuários do serviço. A integralidade no atendimento de saúde, geralmente

é uma grande chance de busca e recuperação da saúde e a forma de reconhecimento

da profissão. Conjuga-se, assim, a prática profissional, com a prática social. Neste

espaço de inserção dá-se a participação de diversos profissionais de saúde e, também,

de estagiários das mais diversas profissões, promovendo sempre a troca de

experiências, vivências e contextos com os acadêmicos. Essa experiência permite

articular o Serviço Social, na área da saúde, com diversas áreas afins e não afins,

Page 57: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

57

formando um campo integrado de atuação profissional para o bem-estar da população.

Esta união propicia uma abertura à forma de ver o homem do novo milênio. Auxilia,

também, os futuros profissionais de diversos cursos, que certamente, depois desta rica

experiência multidisciplinar, despertarão para trabalhar em conjunto e preventivamente

(AFORNALI, 2007).

5.1.4 FORMAS ASSERTIVAS DE REALIZAR OS ATENDIMENTOS

“Os atendimentos são processos de trocas de conhecimentos e experiências. Primeiro se dá o acolhimento e a formação de vínculo profissional-usuário do serviço, depois se trabalha para capacitar a pessoa ou as famílias dentro do modelo doença, e como tal deve receber tratamento especializado. Após o fortalecimento das famílias há os encaminhamentos e acompanhamentos necessários.”

O profissional deve se habilitar, e muito, senão atuará somente para minorar

sintomas, e falará e escutará somente o eco das suas próprias palavras. Onde estiver,

ele se assemelhará à graxa que azeita as engrenagens e que movem um sistema

(família, comunidade, empresa, instituição, etc.)., e é por isso que no campo das

dependências químicas é uma profissão muito estressante, porém, extremamente

necessária, pela sua penetrabilidade no tecido familiar e comunitário. O profissional

parece e aparecerá inserido em conflitos, sejam eles: capital e trabalho, chefias e

trabalhadores, famílias e dependentes químicos, profissionais, infratores e sociedade,

etc., e em busca da saúde mental, orgânica, e da justiça social à comunidade, esta

como meta, ou como propósito final de atuação (AFORNALI, 2007).

Page 58: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

58

5.1.5 EM MEIO ÀS ADVERSIDADES E CONTRADIÇÕES DO EXERCÍCIO DA

PROFISSÃO, POSSIBILIDADES APRESENTADAS AO LONGO DO TRABALHO

REALIZADO

“Por ser um profissional que não é um médico psiquiatra e nem um psicólogo, e por isso não ‘assusta’ os dependentes e familiares, pode mais facilmente ser aceito e penetrar através da interelação, tanto com a família, tanto como com o paciente, a fim de quebrar ou modificar o padrão relacional. A negação do problema, a sublimação, a minimização das consequências do uso, e a projeção são características da patologia e não do doente, e são parte do desafio do profissional do assistente social. A profissão assistente social está inserida num contexto econômico-social de interesses e de relações, que lhe atribuem significado e no qual se torna profissão de extrema utilidade e necessidade. Ela não tem uma ciência própria. Não existe a “Ciência Serviço Social”. A profissão, então, se apoia nas demais ciências para, então, dentro dos princípios éticos da profissão, proporcionar projetos e ações voltados à prevenção e qualidade de vida. É comum, para isso, o apoio do Direito, da Estatística, das Ciências Sociais, da Economia, da Psicologia etc., para tal.”

Numa análise macroeconômica, a dependência química aparenta ser o “estado”

(torpor) que denota a falta do “Estado” (poder). Não é somente o consumo das drogas,

e sim, “um produto” dos prejuízos pelo uso abusivo delas; é sim uma condição de

dependência relacional, que se revela, passo a passo, do estudo conjunto, profissional,

familiares e paciente. E não raro, posteriormente, “o produto revelado” é um indivíduo

(ou vários) em solidão, que até aquele momento não tinha(m) a devida atenção

profissional (se a tinham era de forma fragmentada) e nem perdas pelo comportamento

“inadequado e bizarro”, e assim, não tinha(m) motivos para mudar o comportamento.

Na contemporaneidade, a exclusão, o desemprego, o crescimento do setor informal de

trabalho e dos subempregos, o descaso na área da saúde, são uma realidade

crescente a olhos vistos. Caberá então ao profissional da área de saúde, assistente

social, agente este que tem as técnicas, o tempo e a palavra, perceber-se como

“agente-educador-sócio-transformador”, no seu papel de relevância no combate frente

às doenças e as dependências químicas (AFORNALI, 2007).

Page 59: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

59

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve a intenção de compreender a atuação do Serviço

Social no fenômeno da codependência e caracterizar os desafios e as possibilidades

dessa intervenção profissional junto às famílias acompanhadas pelo Assistente Social

na Comunidade Terapêutica Vale do Sol. Também buscou observar a percepção da

família quanto ao comportamento codependente e o entendimento da família no que

refere ao trabalho do Serviço Social.

Dada realidade, acredita-se que, para o profissional dar conta das demandas

apresentadas é necessária, como refere Vasconcelos (1997, p. 100), a “apropriação

rigorosa dos fundamentos teóricos, metodológicos e históricos, capazes de aprender a

dinâmica do processo de reprodução social, particularmente da sociedade brasileira”.

Dentro dessa perspectiva, pode-se dizer que houve certa dificuldade em encontrar

materiais e referências bibliográficas na temática apresentada, no que se refere ao

Serviço Social, o que nos leva a compreender o projeto ético-político na dimensão da

produção de conhecimento, que certos desafios da profissão implicam ao profissional

esse olhar investigativo e permanente para poder atender os usuários com a devida

competência.

Constatou-se nos acompanhamentos junto às famílias, que o Serviço Social

rompe com a barreira do imediatismo e consegue realizar a prática profissional baseada

nas problemáticas apresentadas pelos mesmos, seguindo uma metodologia capaz de

adentrar de forma dinâmica no contexto trazido. No que refere à ‘capacitação da

família’, pode-se atrelar a uma das atribuições do Assistente Social que é a

democratização das informações e dos direitos.

No que concerne à temática da codependência, a indagação acerca da

subjetividade e a prática do Serviço Social, pode-se averiguar que a atuação do

profissional, por se tratar de um amplo contexto – dependências químicas se dá na

abordagem da população-alvo (paciente e família), na conscientização, na prevenção e

na capacitação acerca da dependência química, e que as referidas especificidades que

se remetem ao subjetivo, são encaminhadas aos respectivos profissionais competentes,

psicólogos e psiquiatras.

Page 60: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

60

Extrapolando os objetivos da presente pesquisa, observou-se que não se encontrou

nenhum trabalho com a codependência familiar em nenhuma das referências de

tratamento trazidas pelos familiares, assim como, tampouco se pode constatar a

existência de um trabalho multidisciplinar nas mesmas, o que existem são os grupos de

mútua ajuda, cada um com sua especificidade, que no início dessa, foram

mencionados.

Pode-se dizer que a percepção dos indivíduos acerca da codependência é algo

que acontece após a capacitação e a conscientização acerca do fenômeno da

dependência química, ou seja, como alguns autores relatam a negação do dependente

químico em relação à dependência, da mesma forma o codependente não se vê como

tal, e ainda pode-se dizer segundo alguns referenciais, que não existe um dependente

químico, mas dois, ele e o codependente. O que também se pode perceber que há um

rompimento da relação doentia, como se fosse uma emancipação, quando o familiar é

capacitado, tornando-se assim uma ‘mola propulsora’ para a recuperação do adicto.

No que se refere ao olhar dos indivíduos acerca da profissão do Serviço Social e

sua prática, notou-se, no primeiro momento, que as famílias não têm consciência do

papel e atuação do profissional, pois buscam uma solução, diga-se de passagem,

imediata para o problema da adicção. É algo que é ‘desmistificado’ nos atendimentos,

qual o profissional consegue transpor as barreiras dos ranços do ‘assistencialismo’, que

muitos trazem arraigado.

Pode-se entender que no trabalho com dependência química é necessário

trabalhar todos os vértices da doença, por isso a necessidade do trabalho de uma

equipe multidisciplinar, que atenda o ser em sua totalidade, bem como o psiquiátrico,

psicológico, familiar, social e espiritual.

O fato de existir pouca/reduzida produção dentro do Serviço Social acerca do

fenômeno da codependência, tendo em vista a pouca inserção da profissão nesta área,

tal objeto de estudo aguça um estudo mais exploratório neste cotidiano.

Por fim considera-se que os objetivos dessa foram atingidos, acredita-se que a

prática profissional na referida especificidade é umas das formas assertivas para a

produção de conhecimento, agregando aos profissionais e à comunidade, como um

meio de capacitar os indivíduos, quais se apresentaram como objeto da presente

Page 61: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

61

pesquisa e servir de referencial teórico ou mesmo modelo de aplicação nas

metodologias para os colegas que atuam na área da dependência química.

Page 62: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

62

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Page 67: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

67

APÊNDICES

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68

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada37

DATA:

NOME:

NOME DO PAI:

NOME DA MÃE:

NACIONALIDADE: NATURALIDADE:

RELIGIÃO: SEXO: □ M □ F

DATA DE NASCIMENTO: IDADE:

ENDEREÇO:

BAIRRO: CIDADE: UF:

TELEFONE:

GRAU DE INSTRUÇÃO:

COMPONENTES DA FAMÍLIA (GRAU DE PARENTESCO):

SITUAÇÃO ECONOMICA/QUEM TRABALHA:

1. COMO VOCÊ PERCEBE O PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL ATUANDO JUNTO A SUA

FAMILIA? 2. O QUE ENTENDE POR CODEPENDÊNCIA? 3. QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA?

4. QUAL SUA RESPONSABILIDADE ENQUANTO FAMILIAR DE UM DEPENDENTE QUIMICO?

5. O QUE MUDOU EM SUA FAMÍLIA DEPOIS DO APOIO DO PROFISSIONAL ASSISTENTE

SOCIAL?

37

Questionário elaborado pela pesquisadora.

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APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista Aberta38

ASSISTENTE SOCIAL:

CRESS:

TEMPO QUE ATUA NA ÁREA:

1. QUAIS SÃO OS MAIORES DESAFIOS E DIFICULDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO COM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS?

2. SENDO A CODEPENDÊNCIA ALGO RELATIVO À SUBJETIVIDADE DO SER, QUAL A VISÃO DO AS SOBRE ESTE TEMA E DE QUE FORMA ORIENTA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO NESTE FENÔMENO?

3. QUAL A METODOLOGIA UTILIZADA NO ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS?

4. EM SUA OPINIÃO, QUAIS SÃO OS MEIOS ASSERTIVOS PARA SE REALIZAR OS ATENDIMENTOS?

5. EM MEIO ÀS ADVERSIDADES E CONTRADIÇÕES DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO, QUAIS SÃO AS POSSIBILIDADES APRESENTADAS AO LONGO DO TRABALHO REALIZADO?

38

Questionário elaborado pela pesquisadora.

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ANEXOS

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71

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) e/ou participar na pesquisa de campo referente ao projeto de pesquisa intitulado A Intervenção Do Assistente Social No Fenômeno Da Codependência: Desafios E Possibilidades Encontrados Na Atuação Profissional Na Comunidade Vale Do Sol, de autoria da acadêmica Karla da Lus Chugam Honório do Curso de Serviço Social da Faculdade Padre João Bagozzi. Fui informado(a) que esta pesquisa é coordenada / orientada pela Professora Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini a quem poderei contatar/ consultar a qualquer momento através do e-mail ou telefone da Faculdade: [email protected] - (41)3521-2727. Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para a pesquisa científica. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo. Minha colaboração se fará de forma anônima por meio de gravação de áudio obtido através de entrevista semi-estruturada ou grupo focal. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pela pesquisadora e sua orientadoras. Fui informado(a) de que minha participação é livre, não havendo qualquer restrição ou constrangimento por não desejar fazê-lo. Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Curitiba, ____ de _________________ de _____

Assinatura do (a) participante:_________________________ Assinatura da pesquisadora

Page 72: A intervenção do assistente social no fenômeno da codependência

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GLOSSÁRIO

Abuso de drogas – Uso anormal, exagerado de drogas.

Abstinência – Deixar de fazer uso de algo que fazia com frequência;

Adicto – Escravo de; dependente de; que não consegue largar um hábito nocivo;

Crise de Abstinência – O ato de renuncia a droga, que ocasiona perturbações ao organismo dependente, desde alterações comportamentais até sensações físicas. Dependência – Estado de sujeição, depender de determinada coisa ou substância;

Droga – Qualquer substância que altere as funções do organismo;

Narcóticos – Aquilo que produz narcose, isto é, induz ao sono;

Tolerância – Diminuição dos efeitos das drogas no organismo, levando a um aumento

da dose a fim de conseguir os mesmos efeitos;