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EXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência e TecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo àPesquisa do Estado do Rio de Janeiro –FAPERJDiretor-presidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando MahlerPesquisa Rio. Ano 1. Número 1

3 | ENTREVISTAO governador Sérgio Cabral fala sobreas iniciativas para impulsionar o setor deciência e tecnologia no estado.

6 | GENÉTICANovas luzes sobre o HIV - Estudo revelaque variante C do vírus responde melhorao tratamento.

8 | ANTROPOLOGIAUm Brasil em miniatura - Índios passampor dilemas semelhantes aos que vive oPaís nos dias de hoje.

11 | TECNOLOGIAPasseio virtual - Viajar pelo tempo e peloespaço, sem sair do lugar.

14 | PALEONTOLOGIAFutalognkosaurus dukei - Entra emcampo o gigante dos dinossauros.

18 | BIOLOGIASOS caranguejos fluminenses - Cientistasda UFRRJ avançam na criação emcativeiro.

20 | SAÚDE MENTALTropa de elite - A saúde mental e oequilíbrio emocional da tropa fora dastelas.

23 | BIOTÉRIOÉ o bicho! Fundação Oswaldo Cruzmantém o maior biotério do país.

26 |OPINIÃOUso dos animais em pesquisa - Opiniãoda FAPERJ com o diretor-presidenteRuy Garcia Marques.

29 | HISTÓRIATeatro de revista - Arquivos da censurarevelam a moralidade de uma época.

32 | ARTIGOCiência e Tecnologia: desafio social. Osecretário Alexandre Cardoso fala daestratégia para o desenvolvimento.

34 | MICOLOGIAEsporotricose - Teste sorológico facilita odiagnóstico da doença.

36 | FAPERJIANASA Fundação esteve em diversos eventos queaconteceram durante o ano.

38 | EDITAISFAPERJ lança número recorde de editais. Aatuação resulta do maior investimento dogoverno do estado.

40 | EDITORAÇÃOPrograma apóia 103 obras. Em 2007,além do sistema de balcão, foi lançadoedital de apoio à publicação.

Coordenação editorial | Vilma Homero

Redação | Paul Jürgens, Roni Filgueiras,Vilma Homero, Vinicius Zepeda

Colaboraram para esta edição | MarinaRamalho e Mario Nicoll

Diagramação | Mirian Dias eAdrianne Mirabeau

Mala direta e distribuição | Élcio Novis eViviane Lacerda

Ilustração da capa|Maurílio OliveiraGráfica | RCB Impressos

Tiragem |10 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar,Centro, Rio de Janeiro.Tel.: 3231-2929. Fax: 3231-2944CEP 20020-000E-mail: [email protected]

SUMÁRIO

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3 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 2EDITORIAL

ENTREVISTA

Sérgio CabralSeis meses após assumir a administração do Estado doRio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral tomou umadecisão histórica para o setor de ciência e tecnologia:o repasse de 2% da receita tributária líquida estadualpara o desenvolvimento da pesquisa fluminense.

O primeiro número de uma nova revista é sempre um desafio! E o desafio é ainda maior quan-do se pretende atingir um público exigente,

constituído grandemente por pesquisadores das mais di-versas áreas do conhecimento, e se busca apresentar ariqueza do trabalho desenvolvido nos diversos centros,universidades e institutos de pesquisa sediados no Esta-do, com o auxílio da Fundação Carlos Chagas Filho deAmparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro –FAPERJ.

Esta revista nasce da certeza de que dar transparência àaplicação de recursos da FAPERJ é o nosso dever e quea divulgação das pesquisas financiadas é um caminho paraisso. E nasce coroando um ano feliz para a FAPERJ, emque a comunidade científica do Rio de Janeiro passou acontar com uma fonte mais freqüente e regular de recur-sos, depois da decisão histórica do governo do Estadode repassar 2% de sua arrecadação tributária líquida àciência e à tecnologia, e se lançou um número recorde de17 editais, abrangendo a grande maioria das áreas doconhecimento.

Buscaremos trazer para as páginas desta revista as insti-tuições de pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, entran-do nos laboratórios, nas salas, nas bibliotecas, nosbiotérios etc. Entre as muitas pesquisas desenvolvidas,destacam-se aquelas mais afinadas com as preocupaçõesque atingem diretamente a nossa sociedade.

Neste primeiro número, trazemos a pesquisa em que a so-cióloga Maria Cecília Minayo, do Centro Latino-America-no de Estudos de Violência e Saúde da Escola Nacional deSaúde Pública Sérgio Arouca (Claves/Ensp), avalia a saúdemental e emocional de policiais civis no Estado. O assunto,que têm sido alvo de amplas e acaloradas discussões emtodo o País, voltará a ser objeto de investigação da sociólo-ga, que, em breve, pretende ampliar seu estudo.

Também apresentamos um alerta sobre o surto deesporotricose na Região Metropolitana do Rio de Janei-ro, a partir de estudos das pesquisadoras Rosane Orofino,do Laboratório de Micologia do Hospital Universitário

Pedro Ernesto (Hupe/Uerj), e Leila Lopes Bezerra, doLaboratório de Micologia Celular e Proteômica(LCMProt) do Instituto de Biologia Roberto AlcântaraGomes (Ibrag/Uerj).

A matéria de capa focaliza a recente apresentação departes do fóssil do terceiro maior dinossauro do planeta,o Futalognkosaurus dukei. Encontrado na Argentina, porequipe formada por paleontólogos argentinos e brasilei-ros, o achado é importante não apenas pelas gigantescasdimensões do animal, mas pelas boas condições em quefoi descoberto. Com cerca de 70% do esqueleto recupe-rado, é o fóssil mais completo já encontrado. SegundoAlexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ, as esca-vações devem revelar novos vestígios.

Entre os diversos assuntos que abordamos nesta edição,mostramos ainda os avanços que os especialistas vêmfazendo nos estudos sobre o HIV e suas variantes, e apre-sentamos as diversas possibilidades do Visorama, umaparato criado no Laboratório Visgraf, do Instituto deMatemática Pura e Aplicada (Impa), em conjunto com oNúcleo de Imagem (N-Imagem) da Escola de Comuni-cação da UFRJ. Ele nos permite fazer um passeio virtualpor cenários turísticos ou por imagens do Rio de Janeirono início do século passado.

Finalmente, apresentamos o Centro de Criação de Ani-mais de Laboratório (Cecal) da Fiocruz, o maior biotériodo país, em quantidade e em diversidade de espécies, naseção que buscará mostrar, um em cada número, os la-boratórios das instituições de pesquisa do Estado. A ma-téria é finalizada com a opinião da FAPERJ sobre a ques-tão do uso de animais em pesquisas.

Esperamos que a Rio Pesquisa agrade e se torne uma refe-rência, não só para a comunidade científica mas tam-bém para toda a população do Estado do Rio de Janei-ro. Com uma edição trimestral, a revista da FAPERJ pre-tende valorizar a inegável vocação do nosso Estado paraa ciência, a tecnologia e a inovação. Sugestões serão sem-pre bem-vindas, a fim de torná-la abrangente e cada vezmelhor, considerando temas de real interesse.

Boa leitura! Com este primeiro número, esperamos conquistá-los para a nossa próxima edição.

Ruy Garcia MarquesDiretor-presidente da FAPERJ

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5 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 4

O repasse de 2% da arrecadaçãotributária líquida do Estado do Riode Janeiro para a FAPERJ já esta-va previsto em emenda constitu-cional de 2003, mas somente foiefetivado há poucos meses, ape-sar da diminuição do orçamentodo Estado, fortemente atrelado aopetróleo e à variação cambial. Oque o levou a tomar essa medidae transformá-la numa das primei-ras iniciativas de sua gestão naárea de ciência e tecnologia (C&T)?

O investimento em C&T será sem-pre considerado estratégico ao sepensar no potencial notável do Riode Janeiro. O repasse de 2% da ar-recadação tributária líquida para aFAPERJ e o obstinado controle dasdespesas e muita criatividade na ad-ministração das receitas expressamesforços concretos que vimosimplementando no combate ao atra-so. Investir em C&T significa capa-citar o nosso Estado para hoje, ama-nhã e sempre. A FAPERJ desempe-nha um importante papel, fomen-tando e financiando a ciência e atecnologia fluminenses.

Vilma Homero A sólida parceria que o senhorvem implementando com o go-verno federal tem se mostrado degrande relevância para a via-bilização de projetos de real in-teresse para nosso Estado. Noque se refere especificamente àC&T, há perspectiva de se ampliaressa parceria?

Sem dúvida, os investimentos vindosda parceria com o governo federalpressupõem a participação intensiva daC&T nos resultados. Essa parceriapermitirá que o Estado alcance, nospróximos dez anos, uma liderançaconcreta nos investimentos públicos eprivados, como exemplificam a Com-panhia Siderúrgica do Atlântico e oComplexo Petroquímico do Rio deJaneiro. Esses e outros projetos quevêm sendo desenhados somente setornarão viáveis com a participaçãoativa do governo federal.

Cada vez mais, os cientistas têmse voltado para que suas pesqui-sas atendam a demandas da so-ciedade. Nesse sentido, quais sãoas áreas que o senhor consideraprioritárias ou para quais gosta-ria de ver direcionado o esforçodos pesquisadores fluminenses?

A liberdade do pesquisador é fun-damental no processo. Entretanto, terpesquisas nas áreas de nanotec-nologia, biotecnologia, tecnologia dainformação, biocombustíveis, saúde,telemedicina, educação e segurança,entre muitos outros temas, é de ex-trema importância para a melhoriada qualidade de vida da população.Claro que isso não diminui a neces-sidade da pesquisa básica, que é in-dispensável e deverá sempre conti-nuar. O que é preciso é mostrar àpopulação do Rio de Janeiro comoa pesquisa pode influenciarposivitivamente em sua vida, no seucotidiano. Essa é a atuação que deve-mos buscar e, nesse sentido, os cientis-tas fluminenses têm um importantepapel a desempenhar.

O Estado do Rio de Janeiro apre-senta uma grande vocação paraa inovação tecnológica. Como osenhor pretende impulsionar osetor? Há aumentos de investi-mentos previstos nessa área?Nesse aspecto, qual é o papel daFAPERJ?

É fundamental a parceria com ogoverno federal e com o setor pri-vado, seja por meio da Firjan, daFecomércio, da Associação Comer-cial do Rio de Janeiro ou do Sebrae.Programas como o Apoio à Inova-ção Tecnológica, um dos últimoseditais lançados pela FAPERJ em2007, são de real interesse para oEstado e propiciam a desejável co-operação entre empresas/empreen-dedores e as instituições de C&T.Um outro grande exemplo que deveser fortalecido é o programa Pappe-Subvenção, uma parceria da Finepcom a FAPERJ, que vai alocar re-cursos da ordem de R$ 30 milhõesem inovação tecnológica na micro,na pequena e na média empresa.

E no que concerne às universida-de estaduais, quais são as pers-

pectivas de curto e médio prazodo seu governo?

Considero determinante uma maiorintegração das universidades estaduaisnos programas e projetos relevantespara o Rio de Janeiro. Não viinteração, por exemplo, da Univer-sidade do Estado do Rio de Janei-ro, da Universidade Estadual doNorte Fluminense e da Universida-de Estadual da Zona Oeste no Com-plexo Petroquímico do Rio de Ja-neiro, no projeto da Siderurgia doAtlântico e no programa nuclear bra-sileiro. É importante o resgate dopapel dessas instituições nas ações dogoverno, assim como uma maiorintegração da pesquisa científica na ino-vação tecnológica no nosso Estado.

Com a implementação orçamen-tária, a FAPERJ lançou muitoseditais durante este ano, algunsdeles como parcerias da Secreta-ria de Estado de Ciência e Tecno-logia com outras secretarias. En-tre eles, o edital Prioridade Rio,lançado com a Secretaria de Esta-do de Planejamento e Gestão, pro-curou estimular a realização deprojetos de pesquisa visando aoestudo e ao provimento de solu-ções para áreas prioritárias, comoreforma do Estado e ajuste fiscal,segurança, saúde, educação e de-senvolvimento sustentável. Como

o senhor avalia essas ações trans-versais no âmbito do Estado?

A organização do Estado deve tercomo um dos elementos deter-minantes a integração das secretarias.A transversalidade é uma ação fun-damental. O edital Prioridade Rio éuma síntese do que avalio como ges-tão moderna, já que ele estimula apesquisa em áreas prioritárias, comosaúde, educação e desenvolvimentosustentável. Também ocorreram im-portantes parcerias com outras se-cretarias, visando à dotação de infra-estrutura para a Central de Trans-plantes do Estado (parceria com aSecretaria de Saúde e Defesa Civil) epara a Pesagro (parceria com a Se-cretaria de Agricultura, Pecuária, Pes-

ca e Abastecimento). Um outro pro-grama da FAPERJ que considerocomo altamente relevante é o apoioà melhoria do ensino nas escolaspúblicas do Estado, em parceria coma Secretaria de Educação. Nós pre-cisamos melhorar o ensino públicodo Rio de Janeiro, possibilitar a me-lhor formação dos professores epromover o intercâmbio das univer-sidades com as escolas públicasfluminenses. O programa Apoio àInovação Tecnológica, lançado emparceria com a Secretaria de Desen-volvimento Econômico, Energia,

Indústria e Serviços, como já referi-do anteriormente, promove umainteração entre o setor produtivo eas instituições de C&T do Estado.Todas essas ações priorizam pontosimportantíssimos na melhoria daqualidade de vida da população.

Quais são as metas de seu go-verno para a C&T fluminense e,em particular, para a FAPERJ?

A vocação do Rio de Janeiro é, semdúvida, de liderança em ciência,tecnologia e inovação. A instituiçãode fomento determinante para issoé a FAPERJ, que visa ao desenvolvi-mento social e econômico do Esta-do por meio do progresso dessasáreas. Esse foi o motivo do grande

esforço que fizemos para liberar os2% e, assim, realizar o sonho daque-les que têm, verdadeiramente, com-promisso com a C&T. Com um pla-nejamento adequado, o Estado ten-de a arrecadar mais e, com isso, au-menta a destinação de recursos paraa FAPERJ. É nisso que acreditamose é isso que queremos. Nesse senti-do, vejo com muita satisfação o lan-çamento desta revista da FAPERJ, aRio Pesquisa, que se constitui em umgrande instrumento para a divulga-ção e a popularização da C&T noEstado.

Fotos: Carlos Magno/Palácio Guanabara

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7 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 6

Novas luzes sobre o HIV

Um grupo de pesquisadoresbrasileiros divulgou umadescoberta que deve abrir

novas perspectivas para o tratamen-to da Aids nos países em desen-volvimento – os mais afetadospela pandemia. Ao estudar o com-portamento dos tipos B e C doHIV em pacientes de dois gran-des centros de atendimento no RioGrande do Sul, a equipe coorde-nada por Marcelo Soares, profes-sor e pesquisador do Departamen-to de Genética da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ),constatou que os vírus do segun-do grupo – o C, que afeta princi-palmente os países ditos periféri-cos – são menos propensos a mu-tações. São elas que tornam o ví-

rus mais resistente ao coquetel anti-HIV.

Em outras palavras, o tratamentodos indivíduos que carregam osubtipo C leva vantagem sobre osdo outro grupo, já que o tempo ne-cessário para que o vírus desenvolvamecanismos de resistência às drogasé significativamente maior. “Estamosmuito contentes com a descoberta,pois a variante C, além de poucoestudada até o momento, é respon-sável por nada menos que 50% doscasos reportados de Aids no mun-do, a maioria deles na Áfricasubsaariana”, explica Soares.

O HIV é dividido em tipos genéti-cos que vão, nas letras do alfabeto,de A até K. Realizado no Hospitalde Clínicas de Porto Alegre e noHospital Universitário da cidade doRio Grande ao longo dos últimos

seis anos, o trabalho de pesquisa in-cluiu duas das três classes de remé-dios utilizados no tratamento.

Apresentada pelo pesquisador na maisrecente Conferência Internacional deAids, realizada este ano em Sydney,na Austrália, a descoberta foidivulgada oficialmente na edição darevista científica PLoS ONE (PublicLibrary of Science). A inclusão do ar-tigo em portais e bases de dadosespecializados em medicina prome-te ter repercussão internacional. “Aimplicação desses resultados é pro-missora para encorajar e intensificaras políticas governamentais interna-cionais de auxílio e financiamento dotratamento de pessoas infectadas empaíses pobres da África e da Ásia,onde o subtipo C é o dominante”,explica Soares.

Colaboração reúne trêsgrupos de pesquisa dopaís

Além de pesquisadores da UFRJ, aequipe coordenada por Soares reú-ne cientistas da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul (UFRGS)e da Fundação Universitária do RioGrande. A colaboração com as duasequipes gaúchas foi fundamentalpara consubstanciar o estudo por-que, no território nacional, a regiãodo Rio Grande do Sul é a que contacom uma significativa presença desoropositivos infectados pela varianteC. Nas demais áreas do país e docontinente americano, assim como

Paul Jürgens

Pesquisador: Marcelo SoaresInstituição: Departamento deGenética/UFRJ

Etapas da replicação do HIV nas célulasem que o coquetel atua

Foto: Divulgação/UFRJ

na Europa Ocidental, no Japão e naAustrália, o tipo B é o mais comum.Como afeta populações de áreasafluentes, o tipo B também tem sidoo mais estudado, embora o total dedoentes por ele infectados só repre-sente 14% dos casos no globo.

Outra importante razão para con-centrar a pesquisa no Rio Grande doSul é o fato de que, desde 1996, oBrasil possui uma política de acessouniversal e gratuito ao tratamentocom o coquetel anti-HIV. E o esta-do gaúcho, na opinião do pesquisa-dor, é possivelmente o único lugardo mundo onde o tipo C já foi ex-posto aos medicamentos do coque-tel por longos períodos.

“O tipo C é o mais comum nomundo, responsável por metade detodas as infecções por HIV, cerca de20 milhões. É típico dos países afri-canos situados ao sul do deserto doSaara, região que abriga dois terçosdas infecções do planeta. Além dis-so, é a variante encontrada na Índia,país com número crescente de ca-sos de contaminação pelo HIV. Émuito importante entendermos as pro-priedades dessa variante do vírus,pois, quando ele é introduzido emuma população em que não ocorriaantes, passa a prevalecer na epide-mia da região”, explica Soares. “Ape-sar de o tipo C ser o mais freqüenteno mundo, pouco ainda se sabe acer-ca de suas características biológicas,principalmente acerca da eficácia daresposta terapêutica do coquetel nospacientes infectados”, diz o pesqui-sador.

Cerca de duas dezenas de novas dro-gas anti-HIV, desenhadas invariavel-mente em laboratórios de países ri-cos, chegaram ao mercado ao lon-go dos últimos anos. Os preços delançamento, sempre elevados, impe-dem seu acesso a populações depaíses periféricos. Embora não se-jam capazes de bloquear completa-

mente a mutação e a replicação dovírus, os novos medicamentos vêmcontribuindo para retardar esse pro-cesso, além de minimizar em escalacrescente os efeitos colaterais de al-guns dos princípios ativos que pare-cem os mais adequados ao tratamen-to anti-retroviral, ainda presentes emalgumas dessas novas drogas.

Indivíduos sobtratamento “ideal” têmchances insignificantesde transmitir o vírus

“A Aids está se tornando uma doençacrônica, mas, sob o ponto de vistasocial, temos observado uma me-lhora constante para os pacientes”,diz o pesquisador. Soares lembra queindivíduos que têm acesso ao trata-mento pelo Sistema Único de Saú-de (SUS) – o programa brasileiro decombate à Aids já foi consideradoum modelo para os países em de-senvolvimento pela OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) – levamuma vida praticamente normal. “Ocoquetel surgiu há 12 anos e os pa-cientes que recebem tratamento eacompanhamento ‘ideal’ têmchances insignificantes de transmitiro vírus”, afirma Soares.

No Brasil, há cerca de 140 mil pacien-tes em tratamento pelo SUS. O totalde casos estimados no país é de 600mil. No mundo, calcula-se que apopulação infectada pelo HIV sejade 40 milhões de pessoas. Para Soa-res, que, desde meado do ano pas-sado, além de pesquisador do labo-ratório de genética da UFRJ, atuacomo colaborador do Instituto Na-cional do Câncer (Inca), o Progra-ma Nacional de DSTs (doenças se-xualmente transmissíveis) e Aids dopaís continua sendo um dos maisefetivos e eficientes do planeta. “Ape-sar de alguns contratempos, o pro-grama continua sendo um exemploa seguir no manejo da epidemia”,elogia.

O artigo publicado na PLoS ONEtem o título de “Differential DrugResistance Acquisition in HIV-1 ofSubtypes B and C”. Além de Mar-celo A. Soares, assinam o estudo ospesquisadores Esmeralda A. J. M.Soares, André F. A. Santos, TathianaM. Sousa, Eduardo Sprinz, Ana M.B. Martinez, Jussara Silveira eAmílcar Tanuri.

GENÉTICA

Estudo revela que variante C do vírus sofre menosmutações e responde melhor ao tratamento

Mapa-múndi mostra a incidência das variantes do HIV

Imagem: Divulgação/UFRJ

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9 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 8

Ao contrário dasprevisões pessimistas, osíndios superaram o riscode extinção

No caso dos índios, constata-se hojeque, ao contrário do que afirmavamas previsões pessimistas das décadasde 1970 e 1980, eles superaram o ris-co de extinção, resistiram, e a maioriados grupos sobreviventes apresentacrescimento vegetativo. Eles desmen-tiram a certeza de antropólogoscomo Darcy Ribeiro, que há 20, 30anos afirmavam que essas culturasseriam engolidas pela sociedadebranca, assimiladas como campone-ses pobres ou condenadas à misériada vida na periferia das metrópoles.Isso até aconteceu, como se eviden-ciou no inchaço de cidades comoManaus e Santarém. Mas houve tam-bém outras saídas.

“Hoje, constatamos algo um poucodiferente. Com a garantia de direi-tos à terra, a partir da Constituiçãode 1988, várias comunidades rurais,particularmente nas regiões Nordes-te e Sudeste – que há séculos vinhamsendo obrigadas a negar, esconderou esquecer sua ancestralidade nati-va –, passaram a reivindicar sua con-dição indígena, o território necessá-rio ao pleno exercício dessa condi-ção e a resgatar os valores culturaiscorrespondentes”, explica o pesqui-sador. E prossegue: “É um fenôme-no jurídico, mas também sociocul-tural. Com o reconhecimento dodireito sobre a terra, vários gruposde índios camponeses viram algoque podia ser usado a seu favor.Nessa redescoberta, muitos delesprecisaram recriar linguagem e cos-tumes perdidos, reinventar-se, criarum presente a partir de um passadoem descontinuidade”.

Talvez o fato mais simbólico dessa mu-dança tenha sido o uso de palavras,como “caboclo” ou “índio”, que pormuito tempo tiveram uso pejorativo

e carregaram o peso do preconceito.No processo, passaram a ser motivode orgulho, de identidade, para certascomunidades, como observou Vivei-ros de Castro em diversas regiões dointerior do País.

Movimento paralelo ao que tambémvem acontecendo na outra pontadessa redescoberta de identidade in-dígena recalcada: um maior eco naconsciência nacional e mundial devalorizar tradições culturais de mi-norias, em particular as indígenas.

Mudaram os índios e mudou tam-bém a antropologia ao longo dosúltimos 20 anos. “Tanto o isola-cionismo, visto pela antropologiaclássica como forma de resguardaro modo de existência dessas popu-lações, quanto a aculturação, dos queviam a questão de um ponto de vis-ta mais dinâmico, ambas as visões semostraram insustentáveis. Hoje, sejade que modo for, essas comunida-des estão tendo que conviver com acultura, a tecnologia e os valores dasociedade atual”, diz.

Para lidar com tudo isso, Viveiros deCastro acredita na capacidade seletivado índio em absorver a cultura domi-nante. O que leva o antropólogo a esseotimismo é, mais do que seu conheci-mento, a vivência com os chamados“povos da floresta”. “Eles nos vêemcomo idiotas hábeis: dominamos umatecnologia avançada, mas somos inep-tos e ignorantes nas relações humanase sociais. Ou seja, eles estão mais inte-ressados em nossa capacidadetecnológica do que em reproduzirnossas formas sociais, que em geraldesprezam enormemente”, esclarece.

O que é fácil de entender. “Comosociedades baseadas na propriedadecoletiva da terra, para os índios, arelação entre as pessoas é mais pre-ciosa do que entre as pessoas e osobjetos. Entre eles, a virtude maior éa generosidade, e o paradigma domal é a avareza, que equivale ao lu-gar maldito do ladrão para nós, quevivemos sob a ordem social capita-lista, fundamentada na defesa da pro-priedade particular.”Um Brasil em miniatura

Aldeias acossadas por madei-reiras ou por grandes plan-tações de soja para exporta-

ção, índios com cursos de pós-gra-duação, organizando banco de da-dos sobre sua cultura na Internet. En-tre uma situação e outra, são muitosos dilemas por que passam os primei-ros habitantes de nossa terra no con-vívio com a modernidade do chama-do homem branco. Questões que, pelacomparação que faz o antropólogoEduardo Batalha Viveiros de Castro,do Museu Nacional, são parecidascom o impasse do Brasil atual.

A avaliação faz parte do projeto“Transformações indígenas: os regi-mes de subjetivação ameríndia à pro-va da história”, em que o pesquisa-dor se propõe a atualizar os estudossobre grupos indígenas e a analisaro impacto das mudanças que amea-çam seu tradicional modo de vida.“O projeto é amplo e foi aprovadoem 2003 pelo programa Pronex, daFAPERJ, o que nos garantiu verbasuficiente para as pesquisas de camponecessárias na Amazônia”, explica.Com trabalho reconhecido interna-cionalmente e um extenso currículode obras publicadas, Viveiros deCastro coordena cerca de 30 pes-

quisadores, entre doutores e estudan-tes de mestrado e doutorado envol-vidos no projeto, vários deles emviagem ao norte do País. “Hoje, osindígenas brasileiros têm que enfren-tar uma convivência complexa e con-traditória com as imposições da so-ciedade atual. Os índios são um Bra-sil em miniatura. E da mesma for-ma como o País vive os dilemas deescolher o modelo de desenvolvi-mento que pretende para seu futuroe as opções que fará para tratar ques-tões prementes, como desigualdadesou meio ambiente, os índios tam-bém têm que fazer escolhas pareci-das”, compara o pesquisador.

Vilma Homero

Na visão dosíndios, os homensbrancos com sua

tecnologia nãopassam de

“idiotas hábeis”

Fotos: Divulgação Nuti

ANTROPOLOGIA

Índios passam por dilemas semelhantes aos que viveo País nos dias de hoje

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Assim, os chefes de uma comunida-de devem ser generosos para devol-ver tudo o que recebem do grupoem termos de prestígio. E, desde ainfância, a educação indígena procuradesestimular sentimentos negativos,como inveja, ódio, avareza ou vio-lência. “Embora sempre tenhamsido sociedades guerreiras, as guer-ras indígenas nunca foram por con-quista de território ou por posses,mas sim ligadas a motivos religio-sos, para medir valores como a va-lentia e a coragem dos grupos e dosindivíduos”, explica.

Nas relações com o mundo branco,no entanto, as diferenças aparecementre os vários grupos. “Tanto há osque procuram tratar com os bran-cos pelas normas dos brancos, en-quanto internamente mantêm seuscostumes, quanto há aqueles que re-produzem as classes sociais dosbrancos, geralmente em torno dasfamílias próximas aos chefes, queacabam monopolizando os bens.Existem também aqueles que socia-lizam o uso de bens obtidos no con-tato com os brancos, mas evitam oentesouramento. Tudo vai dependerda estrutura social anterior ao con-vívio com a nossa sociedade. Massempre é um ajuste difícil e peno-so”, conta o pesquisador.

Da mesma forma, as comunidadesadotam opções diferentes. A buscapelo mercado de trabalho na socie-

dade branca; o arrendamento desuas terras a fazendeiros ou a ma-deireiras; ou as tentativas de um de-senvolvimento sustentável, que lhesgaranta uma renda modesta mas pe-rene, são, na visão de Viveiros deCastro, alternativas não só de umprojeto econômico, como tambémde um modelo de vida.

Grupos que negavamsua ancestralidadepassaram a reivindicarsua condição indígena

“É muito semelhante ao impasse doBrasil em seguir, ou não, o modelode desenvolvimento capitalista depaíses como os Estados Unidos, quetem se mostrado insustentável paradar conta de questões cada vez maisurgentes, como redistribuição de ren-da ou o acesso a recursos naturais,como a água, que sabemos que sãofinitos. Portanto, o país precisa esco-lher entre continuar seguindo essecaminho ou adotar uma outra for-ma de desenvolvimento”, compara.

No caso dos índios, o pesquisadorse anima com certos indícios quevem percebendo. “Vejo que muitosgrupos estão se armando com co-nhecimento para se tornareminterlocutores em pé de igualdadecom os brancos”, diz. Embora ain-da mínimo, cresce o número delesnas universidades, ou surgem inicia-

Pesquisador: Eduardo BatalhaViveiros de CastroInstituição: Museu Nacional/UFRJ

tivas como a criação da Universida-de da Floresta, na cidade de Cruzei-ro do Sul, no Acre, ligada ao movi-mento seringueiro.

“Eles estão tentando criar um currí-culo realista, uma espécie de méto-do Paulo Freire de ensino superior,voltado para as condições da flo-resta. Algo como aprender biologiafocando fauna e flora amazônicas,estudar economia observando aflutuação de preços dos produtosagrossustentáveis, como castanhas ouborracha, ter pajés dando aulas so-bre seus rituais”, entusiasma-se. Vi-veiros de Castro cita ainda experiên-cia semelhante ligada à UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG),que reúne índios de vários gruposda região.

“Depois disso, certamente algunsindivíduos usarão o que aprenderamvivendo entre os brancos, na cida-de. Mas acho que muitos, talvez amaioria, voltarão para a tribo e apli-carão esses novos conhecimentosentre sua própria gente”, avalia. Parao pesquisador, fica a certeza de queos índios estão construindo alterna-tivas para seu próprio futuro. Restasaber que rumo o Brasil tomará.

Viajar pelo tempo e pelo espaço, sem sair do lugar.Pode ser uma ida ao Centro do Rio de Janeiro doinício do século XX ou um passeio pelo cenário atualda cidade, visto do Pão de Açúcar. Como se estivesseno centro da cena, o observador navega porpanoramas virtuais, com visão de 1800.

Passeio virtual

Protótipo do Visorama (ao centro) proporciona ao usuário uma navegação panorâmica pelo Rio de Janeiro do presente ou do passado

TECNOLOGIA

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Imagine-se no Pão de Açúcar,rodeado pelas belezas naturaisdo Rio de Janeiro. À sua frente,

uma espécie de binóculo estádirecionada para a paisagem da ca-pital carioca. Ao observar pelo apa-rato, porém, uma surpresa: a ima-gem visualizada não é a da cidadecontemporânea, mas de um Rio deJaneiro do início do século XX. Maisdo que meramente contemplar apaisagem, o observador tambémpode interagir com ela, girando obinóculo para ver outros pontos dacidade e se aproximando de deta-lhes do cenário, por meio de umaferramenta de zoom.

Essa mistura de realidade virtual eturismo histórico é apenas uma dasaplicações que o projeto Visorama– do Laboratório Visgraf, do Insti-tuto de Matemática Pura e Aplicada(Impa), em conjunto com o Núcleode Imagem (N-Imagem), da Escolade Comunicação da UFRJ – podedesenvolver. A pesquisa contou, emuma de suas fases, com apoio doedital Rio Inovação II, da FAPERJ.

O Visorama é um sistema de reali-dade virtual, baseado em panoramas,que inclui hardware e software. O con-ceito de panorama é antigo – trata-se de uma espécie de mural, monta-do numa superfície circular (comforma de cilindro) em torno de umaplataforma central. A partir dessaplataforma, é possível observar a fi-gura em todas as direções, como seo observador estivesse no centro dacena. A novidade, de fato, são ospanoramas virtuais, em que se buscaa mesma experiência dos panoramasoriginais, mas no mundo virtual.

“A idéia do projeto é simples, masenvolveu muita pesquisa pura e apli-cada numa área nova, que agrega sín-tese, análise e processamento de ima-gem, além de modelagem geomé-trica, conceitos do chamado Image-Based Rendering. Tivemos que vencerdois obstáculos: sincronizar os mo-vimentos do binóculo com avisualização da imagem em temporeal e alcançar um alto nível dedetalhamento da cena”, explica opesquisador do Impa Luiz Velho. Aolado de André Parente, professor daEscola de Comunicação da UFRJ,ele lidera o projeto. O resultado, até

o momento, foi um protótipo, cujatecnologia de panorama virtual demultirresolução é a mais avançada domundo, desbancando gigantes datecnologia, como a empresa ameri-cana Apple.

“Pela ferramenta da Apple, porexemplo, o internauta navega por umpanorama virtual utilizando o mousee a tela do computador. NoVisorama, criamos uma interface –o binóculo – que é mais natural parao homem manipular e permite aoobservador ficar totalmente imersonaquele ambiente virtual”, diz Velho.Ele diz, ainda, que a resolução daimagem no Visorama tem qualida-de bastante superior.

O protótipo já foi exibido em mos-tras nacionais e internacionais, nasquais colheu elogios de pesquisado-res da área de computação visual. Aúltima instalação de que participoufoi no Museu Europeu de Fotogra-fia, em 2005, por conta das come-morações do ano do Brasil na Fran-ça. Essas e outras instalações moti-varam a etapa atual do projeto, queconsiste em atualizar tecnolo-gicamente o hardware e o software eadaptá-los para sua inserção no mer-

Pesquisadores: Luiz Velho e AndréParenteInstituições: Instituto de MatemáticaPura e Aplicada (Impa) e Escola deComunicação/UFRJ

cado. “Queremos transferir oVisorama do ambiente de pesquisapara a sociedade, para que o produ-to seja utilizado em diversos contex-tos”, explica Velho. Ele assegura que,em um ano, o equipamento já estarápronto para comercialização.

De acordo com Luiz Velho, umadas aplicações mais imediatas doVisorama será a possibilidade deexplorar a vocação turística do Riode Janeiro. Como no exemplo doPão de Açúcar, ele vislumbra a uti-lização do aparato em outras pai-sagens da cidade, onde se poderánavegar por iconografias antigas eaté por cenas pintadas por artistasplásticos.

O pesquisador destaca também opotencial do sistema de realidadevirtual para a educação. “É possívelcriar panoramas de estruturas cientí-ficas que são abstratas para estudan-tes, como um átomo ou uma célula.Através do Visorama, os alunos po-derão navegar por essas estruturas ecompreendê-las melhor.” A atuali-zação do software também incre-mentará a possibilidade de autoriade panoramas por meio do equipa-mento. O usuário poderá criar seu

Marina Ramalho “cenário virtual” e percorrê-lo como binóculo de iconografias antigasdo Visorama.

Velho prevê ainda a possibilidade deinserção de vídeos e áudio nos pa-noramas, o que permitirá enrique-cer o conceito de imersão na reali-dade virtual. “Conforme o usuáriomovimenta o binóculo, ele navegapelas imagens, podendo aproximar-se ou distanciar-se dela pelo zoom,acessar áudios automaticamente eainda conferir animações”, diz opesquisador. O Visorama pode, as-sim, potencializar as possibilidades nomundo do entretenimento.

No Visorama, ainterface é obinóculo, que émais fácil demanipular epermite aoobservadorficar totalmenteimerso naqueleambientevirtual

Fotos: Divulgação Visgraf/Impa

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15 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 14 15 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano I

Oclima foi de amistoso. “Nocampo do futebol, nós so-mos insuperáveis, mas, no

campo da paleontologia, os argenti-nos são os melhores.” Com essa pa-rábola futebolística, o paleontólogoAlexander Kellner, do Museu Nacio-nal/UFRJ, comparou o atual estágioda paleontologia nacional com os vi-zinhos da Bacia do Prata. Mas, du-rante a apresentação do terceiromaior dinossauro do planeta, emoutubro, na Academia Brasileira deCiências (ABC), no Centro do Rio,

os holofotes de jornais, TVs, revis-tas, agências nacionais e internacio-nais e sites de notícias foram mesmopara as réplicas das vértebras doFutalognkosaurus dukei. O colosso, quemedia entre 32 e 34 metros, foi en-contrado às margens do lago Bar-reales, na Patagônia, num projetoconjunto entre Brasil e Argentina, fi-nanciado pela FAPERJ e pela em-presa argentina Duke Energy Argen-tina Company.A vértebra cervical – mais precisa-mente a do final do pescoço – doespécime chama a atenção pelas di-mensões: 1,10 metro de altura e cer-ca de 200 a 300 quilos. Outra vérte-

bra – a que une a coluna vertebralao quadril – também confirma o ta-manho da espécie, que pertence a umnovo grupo de dinossaurostitanossaurídeos (denominadoLognkosauria), animais que habitarama região no período Cretáceo Supe-rior, há 88 milhões de anos, e sãoachados exclusivamente naPatagônia. A descoberta teve reper-cussão na Europa, nos Estados Uni-dos e no Japão. O fóssil desse réptilpré-histórico é o mais completo jáencontrado: cerca de 70% do esque-leto foi recuperado. Segundo Kellner,as escavações, que continuam, devemrevelar novos vestígios.

Roni Filgueiras

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Entra em campo ogigante dos dinossauros

Com mais de 30 metros, o Futalognkosaurus dukei,encontrado na Argentina, é o terceiro maiordinossauro do mundo.

O Futalognkosaurus dukei em seu ambiente natural há 88 milhões de anos

PALEONTOLOGIA

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17 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 16

A importância dessa descobertanão se resume à grandeza doFutalognkosaurus dukei, mas àscondições nas quais ele foiencontrado

Maurílio Oliveira, Kellner e Calvocoletam fósseis

“Este intercâmbio é importante paranós, brasileiros, porque há troca deexperiências e informações”, afir-mou Kellner. O ecossistema do lagoBarreales é o maior e mais comple-to encontrado até agora no mundo,segundo o pesquisador da UFRJ. “Aimportância dessa descoberta não seresume à grandeza do Futalognkosaurusdukei, mas às condições nas quais elefoi encontrado. Os mais de mil fós-seis do sítio do lago Barreales esta-vam espalhados em uma área deapenas 400 metros quadrados e umacamada de somente meio metro.Não raro, cientistas precisam vas-culhar áreas de dezenas de quilô-metros para reunir fósseis de umamesma descoberta, cujos vestígiospré-históricos podem estar distri-buídos em camadas diferentes, quevariam em dezenas de metros deprofundidade. “Isso nos permitedizer que esses animais e plantas con-viveram e formavam um ecos-sistema”, atesta Kellner.

As boas condições dos fósseis, se-gundo o pesquisador brasileiro, sedevem a diversos fatores. O gigantedos gigantes morreu por razões des-conhecidas, às margens de um rio.Parte de seu esqueleto foi devoradopor animais e uma enxurrada encar-regou-se de arrastar a carcaça parao interior do rio. Por suas dimen-sões, esses restos ficaram parcialmen-te sedimentados e a porção expostafuncionou como uma barreira natu-ral, retendo a força das águas e per-mitindo que resíduos do organismose acumulassem sob a carcaça. Adecomposição seguiu seu curso efolhas que existiam na beira do riotambém foram depositadas e pre-servadas.

A descoberta do terceiro maior dino– os maiores são das espéciesArgentinosaurus e Puertasaurus, amboscom medidas entre 38 e 40 metros,

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Pesquisador: Alexander KellnerInstituição: Museu Nacional/UFRJ

Fósseis das vértebras dorsais do F. dukei (acima). Alexander Kellner, JorgeCalvo e Juan Porfiri exibem os achados

descobertos na Argentina e com ape-nas 10% de sua ossada reconstituída– foi publicada em artigo recente naedição trimestral dos Anais da ABC.As escavações envolveram uma equi-pe de 22 pessoas (oito brasileiros,pesquisadores do Setor dePaleovertebrados do Departamen-to de Geologia e Paleontologia doMuseu Nacional, um italiano e 13 ar-gentinos, do Centro PaleontológicoLago Barreales da Universidad Nacio-nal del Comahue e do Laboratóriode Paleovertebrados da UniversidadNacional de Cuyo), coordenada pelopaleontólogo Jorge Calvo, do Cen-tro Paleontológico Lago Barreales,Universidad Nacional del Comahue,em Néuquen, Patagônia. “As esca-vações começaram no ano 2000,quando encontramos ossos peque-nos de dinossauros”, lembrou Cal-vo. “Logo descobrimos mais ossos.E depois que conseguimos mais ver-bas para a pesquisa com a Duke Ar-gentina Company, que financiou amaior parte dos trabalhos, reunimostrês vértebras cervicais, em 2000, epassamos para cinco, em 2001.” Aempresa batizou o Futalognkosaurusdukei, cujo nome deriva do idiomamapuche e significa “o chefe gigan-te dos sáurios”. Ao todo, foram co-lhidos 20 ossos, entre partes do pes-coço, região dorsal e bacia e a pri-meira vértebra caudal.

No início dos trabalhos, em 2000,os paleontólogos foram instaladosem barracas de acampamento.“Mas, já em 2002, eles puderamconstruir uma infra-estrutura fixa eum pequeno museu, em 2004”, re-velou Calvo. “Hoje, há um centrode pesquisa, aberto à visitação pú-blica, e os paleontólogos moram lá.O público também pode acompanhara realidade desses profissionais nodia-a-dia, observando as escavaçõese as pesquisas”, completou Calvo,que contou algumas das dificulda-des das escavações, como a enchen-

te do lago, que dificultou o acessoao sítio. “Começamos por retirar aterra por debaixo do fóssil e encon-tramos ossos da pélvis e da coluna.Foi necessário ensacar o material,colocar gesso e ferro para protegê-lo, pois trata-se de um material mui-to frágil.” Calvo, Kellner e opaleontólogo argentino Juan Porfiritambém mostraram, na ABC, as ré-plicas de garras de 40 a 70 centíme-tros de um megarraptor e dentes decrocodilomorfos. A apresentação foiacompanhada também pelo físicoCarlos Aragão, membro da ABC, epelo paleontólogo Sérgio Azevedo,diretor do Museu Nacional.

Os pesquisadores exibiram imagensdo sítio e de alguns dos mais de milfósseis encontrados no local: peixes– os primeiros da região; conchas –

o que indica que ali havia muita água;ao menos duas espécies de crocodi-lomorfos; e diversos grupos dedinossauros (saurópodes, terópodes,ornitópodes). Só de terópodes fo-ram reunidos 580 dentes. Tambémforam coletados vestígios depterossauros (os répteis voadores),folhas de angiospermas fossilizadas,que provavelmente devem tercomposto a dieta alimentar doFutalognkosaurus dukei e de outros dinosherbívoros. As réplicas do réptil pas-sam a integrar o acervo do Museu Na-cional da Quinta da Boa Vista.

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19 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 18BIOLOGIA

SOS caranguejos fluminensesCientistas da UFRRJ avançam na criação em cativeiro

Cientistas da Universidade Fe-deral Rural do Rio de Janei-ro (UFRRJ) descobriram

que as larvas de caranguejo se de-senvolvem com mais rapidez e re-sistência quando submetidas a umaalimentação específica em cada fasede seu desenvolvimento. A desco-berta possibilitará a larvicultura –criação de larvas em cativeiro – e areposição de caranguejos jovens emseu habitat natural. Coordenado pela

bióloga Lídia Miyako Yoshii Oshiro,o estudo é desenvolvido na Estaçãode Biologia Marinha (EBM) deItacuruçá, na Costa Verde, litoral doRio de Janeiro.

Contemplada pelo programa Cien-tistas do Nosso Estado, a pesquisa“Manejo e conservação dos caran-guejos de importância econômica doEstado do Rio de Janeiro” investiganão só a alimentação, mas tambéma densidade de estocagem, salinidadee temperatura da água ideais para alarvicultura. “Queremos viabilizar a

técnica para possibilitar a reposiçãodos animais jovens. Isso amplia o usosustentável do recurso exploradopelos caranguejeiros e contribui coma biodiversidade do ecossistemamanguezal”, planeja Lídia, doutoraem Ciências pela Universidade deSão Paulo.

Degustados com freqüência em ba-res e restaurantes à beira-mar ou ofe-recidos vivos a turistas nas cidadeslitorâneas, os caranguejos da costafluminense vêm sendo ameaçadosnão só pela superexploração, como

também pela degradação ambiental.Para garantir sua existência no esto-que natural, a pesquisadora estuda astrês espécies mais consumidas: guaia-mum, uçá e guaiá.

A equipe coordenada por Lídia con-seguiu resultados inéditos com a pro-dução de megalopas – fase interme-diária entre a larva e o caranguejojovem – num tempo bastante redu-zido em relação aos conhecidos atéentão pela ciência. “É nesse momen-to da vida que o animal começa aprocurar substrato para se alimentare se prepara para sair da água”, ex-plica a pesquisadora. “Depois deeclodido o ovo, a larva criada emlaboratório levava até cerca de 40 diaspara se transformar em megalopa.Nosso estudo conseguiu obtermegalopas em até 25 dias”, compara.

O resultado animador foi possívelgraças aos experimentos com a ali-mentação. Devido à facilidade nomanejo, a maioria dos trabalhos dedesenvolvimento larval utilizava ex-clusivamente a artêmia. “Esse é o ali-mento utilizado na criação de larvasde camarão. Havia a necessidade detestar alimentos menores porque,nos primeiros estágios, as larvas decaranguejo e as de artêmia têm pra-ticamente o mesmo tamanho”, ob-servou.

Os experimentos consistiram emverificar principalmente a aceitaçãode nutrição por meio de microalgas,rotíferos – animais invertebrados –e ração. “Chegamos à conclusão deque existe um alimento ideal paracada fase do desenvolvimentolarval”, disse. O uso de rotíferos paralarvas de guaiamum, realizado pelaprimeira vez, foi o que apresentoumelhor resultado em termos de so-brevivência e tempo de desenvolvi-mento larval até o estágio demegalopa. Em outra iniciativa iné-dita, os experimentos com raçãoúmida para larvas de caranguejo ti-

veram êxito. Já utilizado na criaçãode camarões, esse tipo de alimenta-ção demonstrou ótimos resultadostanto nos guaiamuns quanto nos uçás.

Quando comparada às informaçõesda literatura, o desenvolvimento paraa fase juvenil também ocorreu emtempo reduzido. “Em até 35 dias,enquanto o que acontecia até entãoera chegar a esse estágio em mais de50 dias”, anima-se. “Pretendemosagora pesquisar os motivos da baixasobrevivência dos caranguejos jovenscriados em laboratório”, planeja apesquisadora, admitindo que o índi-ce de sobrevivência nessa fase aindanão é satisfatório.

Nos caranguejos uçá e guaiamum, foiidentificada a necessidade da adminis-tração de rotíferos e microalgas vivosnuma fase inicial, para posteriormentealimentá-los com larvas de artêmia.Os experimentos agora visam deter-minar o tempo ideal para cada tipode alimento. É preciso especificar otempo em que as larvas de caran-guejos podem ser alimentadas exclu-sivamente com algas e rotíferos semcomprometimento na sobrevivência eno desenvolvimento.

Com infra-estrutura adequada paraos trabalhos experimentais, a EBMde Itacuruçá está localizada numaregião privilegiada, onde as popula-ções naturais dessas espécies são cap-turadas em manguezais, praias ecostões. As alternativas nutricionais,como microalgas e rotíferos, são

produzidas no Laboratório deAlgologia da Fundação Instituto dePesca do Rio de Janeiro (Fiperj), Es-tação de Guaratiba.

O trabalho se inicia com a captura defêmeas ovígeras, que são separadas in-dividualmente quando chegam aos es-tágios finais do desenvolvimento em-brionário. Ao eclodirem, as larvas sãoseparadas para os experimentos emfrascos individualizados, com capaci-dade de 30 mililitros, para testar a acei-tação dos alimentos e, numa segundaetapa, em frascos de 10 a 15 litros.

São realizados, então, os experimen-tos para determinar a aceitação dealimentos básicos pelas três espéciespesquisadas. Após a determinaçãodo período de aceitação dos alimen-tos vivos numa primeira etapa, tes-tam-se os inertes – uma ração seme-lhante à utilizada em larvicultura decamarões de água doce – numa se-gunda etapa.

A pesquisa agora começa a testar asalinidade, a temperatura e a densi-dade de estocagem para determinaras condições mais adequadas àlarvicultura de caranguejos. Conhe-cer a biologia e a ecologia dessas es-pécies é fundamental para a utiliza-ção das técnicas de manejo, conser-vação e para o repovoamento de seuhabitat natural.

Mario Nicoll

Chegamos àconclusão de queexiste um alimentoideal para cadafase dodesenvolvimentolarval

Pesquisadora: Lídia Miyako YoshiiOshiroInstituição: Estação de BiologiaMarinha (EBM)

O caranguejo uçá é uma das espécies pesquisadas em Itacuruçá

Fotos: Divulgação UFRRJ

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Para quem ainda não sabe, a his-tória do longa Tropa de eli-te, de José Padilha, filme na-

cional mais discutido e aguardadodo ano, joga luz sobre os dramaspes-soais e morais de um coman-dante do Batalhão de Operações Es-peciais da Polícia Militar do Rio de Ja-neiro (Bope-Rio). Abalado mental epsicologicamente, Nascimento (inter-pretado por Wagner Moura) procurauma saída honrosa para seus dilemasindividuais e os vividos na corporação,corroída pela corrupção e violência.Assim como na ficção, uma pesquisacoordenada pela socióloga Maria Ce-cília de Souza Minayo, do Centro La-tino-Americano de Estudos de Vio-lência e Saúde da Escola Nacional deSaúde Pública (Claves/Ensp), comapoio da FAPERJ, mostra que os pro-blemas dos agentes das forças de se-gurança não se limitam à violência e àética. Mas se desdobram com conse-qüências funestas sobre sua saúdemental e emocional, afetando direta-mente a qualidade dos serviços pres-tados à comunidade.

Desenvolvida em 2005 e concluídano fim de 2006, a pesquisa “Inter-venção visando à auto-estima e àqualidade de vida dos policiais civisdo Rio de Janeiro” analisou as con-dições de saúde mental e psicológi-ca de 148 policiais lotados na Dele-gacia de Roubos e Furtos de Auto-móveis (DRFA), comandada na épo-ca pelo atual chefe da Polícia Civil doEstado do Rio de Janeiro, coronel Gil-berto Ribeiro. “Apesar da melhora naqualidade de vida desses profissionaiscom a criação do programa Delega-cia Legal, verificamos que a ênfasefoi extremamente técnica e pouco seinvestiu na estrutura emocional e psi-cológica individual deles”, recordaCecília, socióloga e coordenadora doClaves/Ensp, que trabalhou com ospesquisadores Edinilsa Ramos deSouza e Edson Ribeiro de Souza.

Vinicius Zeppeda

SAÚDE MENTAL

A saúde mentale o equilíbrioemocional datropa fora das telas

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O estudo, segundo Cecília Minayo,serviu para demonstrar o óbvio: ospoliciais precisam de apoio psicoló-gico e emocional, e não somente detreinamento técnico.

Os agentes foram divididos em doisgrupos: 72 ficaram no chamadocontrole, ou seja, não tiveram a rotinaalterada e continuaram a receber quin-zenalmente os cursos na Academia dePolícia (Acadepol). Os outros 76 par-ticiparam de dinâmicas com deba-tes, após exibição de vídeos e pales-tras com profissionais de motivaçãode equipes. As dinâmicas abordavamitens como auto-estima, qualidade devida, cultura familiar e climaorganizacional. Em seguida, eles res-pondiam a questionários para identi-ficar a que tópico as questões estavampredominantemente relacionadas.

Ao fim das entrevistas, os dois gru-pos responderam a um questioná-rio. “No caso do grupo de contro-le, não houve modificações”, ava-liou Cecília. “No grupo que se sub-meteu às dinâmicas, 80% dos inte-grantes afirmaram que as atividadestiveram uma influência positiva tan-to na vida pessoal quanto na profis-sional. E também na forma comoeles passaram a lidar com o risco”,analisou a socióloga. “Os policias atépediram a continuidade das ativida-des de apoio. Os outros 20% fo-ram bastante resistentes e reclama-ram do tempo curto do projeto”,

recorda Cecília, que entregou umacópia do estudo às autoridades daPolícia Civil.

Desequilíbrio emocionalde policiais influi naqualidade dos serviços

Com o programa Delegacia Legal– criado em 2000 para desbu-rocratizar a infra-estrutura de pessoale física das delegacias, tornando-asfuncionais e transparentes –, o am-biente de trabalho ficou mais con-fortável e agradável, e os policias co-meçaram a receber cursos quinzenaisde treinamento na Acadepol. “Porém,ainda não há, na instituição, preocu-pação com a condição psicológica eemocional desses trabalhadores”,fala Cecília. “O setor de psiquiatriana Polícia Civil do Rio é absoluta-mente controlado pelos oficiais hie-rarquicamente superiores. Muitos po-liciais evitam se consultar por medodo preconceito que existe na cate-goria: buscar apoio psicológico seriaaceitar que são fracos ou estão fican-do malucos”, comenta a socióloga.

O estudo consumiu um ano de es-forço, entre a preparação das ofici-nas até a apresentação dos resulta-dos, passando pelas dez dinâmicas.Observou-se que os policiais eramafetados principalmente pelo conta-to diário com a morte de colegas evítimas em favelas. Constatou-se que

50% deles não tiravam férias há maisde três anos; 65% haviam mudadode delegacia em 2002. Além disso, aPolícia Civil funcionava com apenas47% do contingente necessário parasuas funções. “Isso se reflete direta-mente na queda da qualidade dosserviços policiais e no estresse de quesão vítimas”, afirma Cecília.

Nas dinâmicas, as questões sobre hu-mor, alegria e integração foram asque mais agradaram aos policiais.“Nesse ponto, chama atenção a falade um policial sobre a oficina de tra-balho ‘Integrando pela alegria’. Se-gundo ele, foi a primeira vez que eleshaviam rido juntos”, recorda Cecí-lia. “Sorrir e relaxar faz muito bem e énecessário para suportar o estresse dodia-a-dia”, teria dito outro policial.

Assim como no filme Tropa de elite, aquestão familiar também foi sublinha-da. Durante a oficina “Polícia e vidafamiliar: uma conciliação difícil”, mui-tos se identificaram com as situaçõesapresentadas. “Olharei de forma maiscuidadosa e ainda mais apaixonadapara minha família”, prometeu umdos participantes. Outro, da DRFA,conversou longamente com uma dasmediadoras após a tarefa. Já na ofici-na “Auto-imagem do policial”, a mai-oria se viu refletida nas perguntas. Elesdestacaram questões ligadas à maiorunião da classe para mudar a atual ima-gem pública da corporação. “Isso nosfaz pensar que ainda somos impor-tantes, apesar do massacre a queestamos submetidos diariamente”, re-fletiu um dos policiais.

Pesquisadora: Maria Cecília deSouza MinayoInstituição: Centro Latino-Americanode Estudos de Violência e Saúde daEscola Nacional de Saúde Pública(Claves/Ensp)

Foto: Divulgação/David Prichard

Cena de Tropa de elite: problemasemocionais também na vida real

Opessoal do Centro de Cria-ção de Animais de Labo-ratório (Cecal) costuma di-

zer que, por ali, há mais veterináriospor metro quadrado do que em qual-quer outro lugar. Embora não sejaverdadeira, a brincadeira tem razão deser. E reflete a preocupação da Fun-dação Oswaldo Cruz (Fiocruz) comos mais de 200 mil animais criados emantidos nas instalações da unida-de, o maior biotério do país emquantidade e diversidade de espécies.Visando à acreditação internacional,em fins de março, o Cecal recebeu aconsultoria de Jean-Louis Guénet,veterinário do Instituto Pasteur, queavaliou, segundo padrões mundiais,as diretrizes básicas que regem o fun-cionamento do biotério. O especia-lista francês reconheceu não só o pa-drão de qualidade da instituição, quecomparou positivamente ao do pró-prio instituto em que trabalha, comotambém a preocupação com o bem-estar animal.

Segundo o diretor do Cecal, o vete-rinário Antenor Andrade – eleitopela comunidade de funcionáriospara um segundo mandato de qua-tro anos –, o plantel, abrigado eminstalações de 4.200 metros quadra-dos, mais 30 mil metros quadradosde área aberta, é composto por ro-edores (ratos, camundongos, hamsterse cobaias), coelhos, ovinos, caprinos,eqüinos e primatas não humanos. Sóde linhagem de camundongos, hámais de 40. Independentemente daespécie, todos os animais contribuempara as várias etapas de pesquisa, de-senvolvimento tecnológico, ensino econtrole da qualidade para a produ-ção dos imunobiológicos e fármacosproduzidos na Fiocruz.

No Cecal, são criados e mantidosanimais SPF (specific pathogen free), ouseja, livres de microorganismos

É o bicho!Fundação Oswaldo Cruz mantémo maior biotério do país

Vilma Homero

BIOTÉRIO

Foto: Felipe Gomes/Fiocruz

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patogênicos específicos, segundo cri-térios determinados por certifi-cadoras internacionais, e os conven-cionais, cujas colônias, controladas,estão livres de zoonoses.

“Temos animais consangüíneos, pro-duto de 20 gerações consecutivas doacasalamento entre irmãos, ou paise filhos, que nos possibilitam promo-ver vários estudos com a certeza deobter a mesma resposta, seja aqui ouna China. Já os não consangüíneos sãomais adequados ao controle de qua-

lidade, em que se pode testar que ti-pos de resposta se obtêm sobre in-divíduos diversos”, explica Andrade.

A Fiocruz, assim como outras ins-tituições de pesquisa e ensino, crioua sua própria comissão de ética – aComissão de Ética no Uso de Ani-mais (Ceua) – e já aplica as normasdessa regulamentação em seubiotério. Na Fundação, cada pes-quisa passa pelo crivo da Ceua, queavalia a real necessidade de empre-go desses reagentes biológicos (ani-mais), vê se há estudos já realizadosque possam substituir o experimen-to, as condições em que o animal serátratado e os tipos de anestésicos utili-zados em cada etapa do projeto. Deacordo com essa avaliação, a Ceuapode aprovar ou negar o pedido.

Eqüinos, caprinos e ovinos em geralsão empregados para a coleta de san-gue para a produção dos hemode-rivados que abastecem priorita-

riamente os diferentes laboratóriosda Fiocruz, em particular os de pro-dução de vacinas. Como explica ochefe do Departamento de Produ-ção Animal, Sebastião Enes ReisCouto, também veterinário, grandeparte das vacinas usadas para as cam-panhas do Ministério da Saúde eproduzidas na instituição.

“Nossa colônia de macacos é amaior da América Latina, com pou-co mais de 600 animais, de quatroespécies diferentes: rhesus, cynomolgus eduas linhagens de saimiris, os popu-lares micos-de-cheiro”, explica. Osrhesus (Macaca mulatta) são descenden-tes diretos dos animais que o própriosanitarista Carlos Chagas importou daÍndia, em 1932.

Inicialmente, os macacos foram man-tidos em sistema de criaçãoseminatural na Ilha do Pinheiro, àépoca isolada no bairro de Man-guinhos. Em 1981, dada a expansãodemográfica da cidade, a ilha foiaterrada e a colônia transferida parao campus da Fiocruz. Hoje, eles vi-vem em sistema de criação de gru-pos familiares, em grandes gaiolas,onde convivem de 20 a 25 animais– um macho reprodutor para cadaoito a dez fêmeas e sua prole. A idéiaoriginal de pesquisar doenças tropi-cais e o preparo da vacina contrafebre amarela para imunizar popu-lações não apenas do Brasil, mastambém do Paraguai, da Bolívia, daArgentina e da Nicarágua, basica-mente se manteve. Hoje, os estudosabrangem doença de Chagas, leish-maniose, febre amarela, dengue emalária.

Para manter o padrão de qualidadee evitar quaisquer tipos de contami-nação, há um rigoroso controle atra-vés de barreiras bioprotegidas. “Paraentrar nas áreas em que ficam osanimais, as chamadas áreas limpas,os funcionários passam por um ri-tual de descontaminação. Os sapa-tos ficam do lado de fora, é precisoescovar dentes e unhas, tomar ba-nho, vestir roupas previamente este-rilizadas, usar máscaras, luvas e gor-ros de proteção. Para evitar a entra-da do ar sem filtração no ambientecontrolado, as portas sãointertravadas (uma porta só se abredepois que a anterior for fechada)”,esclarece Andrade.

Ele explica ainda que todo o mate-rial, os equipamentos e o que maisfor necessário são devidamentehigienizados e posteriormente este-rilizados por meio de autoclaves oucom produtos químicos. As gaiolassão higienizadas em máquinas espe-cíficas com vapor a altas temperatu-ras. O controle das condições detemperatura, umidade relativa do are pressão atmosférica é monitoradocontinuamente por um sistemacomputadorizado, durante 24 horas,365 dias do ano. O ar que entra nasáreas bioprotegidas passa por trêstipos de filtros, a fim de propiciarcondições compatíveis com o statussanitário dos animais.

Além disso, as equipes – uma paracada colônia de animais – passampor treinamento intenso e reciclagensfreqüentes. Também os animais me-recem cuidados especiais, não ape-nas com a alimentação e limpeza doslocais onde vivem. Mas, como es-clarece Sebastião Couto, eles tam-bém passam por exames periódicos.“Os primatas, que são mantidos emespaços internos e externos, são es-pecialmente sensíveis a alteraçõesambientais e se estressam com faci-

lidade. Isso acontece particularmen-te com os cynomolgus”, explicam a ve-terinária Cláudia de Araújo Lopes eo biólogo Clênio Fernandes Viana,do Departamento de Primatologia.Eles estudam formas de melhoraro ambiente desses primatas e, prin-

cipalmente, livrá-los dos eventuaisproblemas de saúde que podemafetá-los, como diarréias idiopáticas.

A mudança das instalações doscynomolgus, ainda em uma construçãoantiga, faz parte das recomendaçõesda Association for Assessment andAccreditation of Laboratory AnimalCare International (AAALAC), que, em2006, fez sua primeira auditoria de ava-liação dos biotérios da Fiocruz para aacreditação internacional.

“Eles avaliaram instalações, treina-mento de pessoal, procedimentos,bem-estar animal, manejo e ética, e

Barreiras bioprotegidas contra a contaminação

Do sangue das cabras, são produzidosos hemoderivados que abastecem osdiferentes laboratórios da Fiocruz,especialmente os de produção devacinas

nos fizeram pequenas exigências, queem sua maioria dependem de recur-sos para investimentos. Nossa ma-nutenção é dispendiosa: ar-condicio-nado 24 horas, material, equipamen-to e kits de diagnóstico para contro-le de qualidade importados e caros.

Assim, o orçamento muitas vezes ficaaquém”, esclarece Andrade. Dificul-dades que ele espera ver superadasem médio prazo para que o Cecalfique cada vez mais perto daacreditação internacional. “Será o re-conhecimento da qualidade do nos-so trabalho”, conclui Andrade.

Pesquisador: Antenor AndradeInstituição: Centro de Criação deAnimais de Laboratório (Cecal)/Fiocruz

Para criar e manter ratos livres de microorganismos patogênicos específicos(SPF), segue-se o que determinam as normas internacionais

Foto: Peter Ilicciev/Fiocruz

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Desde a Idade Antiga, os animaisvêm desempenhando papelfundamental para a compreen-

são de diversos aspectos anatômicos e fi-siológicos, sendo inegável que a evoluçãoem diversas áreas da medicina, em grandeparte, se deve à sua utilização na pesquisa,acelerando a produção de conhecimentoe possibilitando marcante diminuição namorbimortalidade, tanto no homemquanto em outros animais.

Em virtude da grande complexidade dacélula biológica e apesar do grande avançonas diferentes áreas da ciência, tecnologiae inovação, infelizmente ainda não se podeprescindir do uso de animais para experi-mentação. Sem dúvida, seria altamentedesejável que os pesquisadores pudessemdesvendar o mecanismo de ação de doen-ças infecto-parasitárias; desenvolver técni-cas operatórias, até de transplantes de ór-gãos e de tecidos; e criar novas terapiaspara a hipertensão arterial, câncer, dor, asma,vacinas e fármacos. Contudo, a ciência ain-da não atingiu um patamar que permita autilização de modelos alternativossatisfatórios (nem razoáveis), tais comosofisticados programas ou simuladorescomputacionais ou órgãos isolados, semque haja grandes limitações. Na atualidade,somente em alguns poucos casos, a biolo-gia celular e molecular, por meio de técnicasde cultura de tecidos, modelos virtuais eestudos de pacientes e populações, podemsubstituir o modelo animal.

Deve-se levar em consideração que a qua-lidade da ciência experimental depende,essencialmente, de animais normais e sau-dáveis, a menos que a própria doença sejao objetivo da investigação. A possibilida-de de se dispor de animais saudáveis estáintimamente correlacionada ao tratamen-to a eles dispensado, englobando aspec-tos sociais (idade e número de animaispor caixa ou gaiola, com grande variaçãoentre as diferentes espécies), ambiente fí-

sico a que estão expostos no biotério e apresença de pessoas adequadamente trei-nadas para seu manuseio.

O rigor do método científico não admitea presença de fatores conflitantes ou devariáveis não controladas. Assim, emqualquer espécie animal sob investigação,todo estresse desnecessário deve serminimizado para reduzir a variabilidadedos resultados e, conseqüentemente, onúmero demandado de animais. Existeprofunda interdependência entre fatoresfisiológicos e comportamentais, e, no quese refere ao estresse do animal, as mu-danças comportamentais usualmente seconstituem em indicadores mais sensí-veis e precoces do que as fisiológicas. Paraa completa adequação do método cientí-fico, dois fatores primordiais são necessá-rios: (1) completo entendimento do ani-mal, e não somente da sua biologia; e (2)protocolos experimentais bem delineados,estatisticamente válidos e apropriados.

Tomemos como exemplo a pesquisa cien-tífica dos geneticistas Mario R. Capecchi,Oliver Smithies e Martin J. Evans, laurea-dos com o prêmio Nobel de Medicina eFisiologia de 2007. O trabalho desses trêspesquisadores levou à criação de umatecnologia denominada gene target in mice,hoje amplamente utilizada na pesquisabásica e também na aplicada. Por meiodesse método, é possível “desligar” genesespecíficos em um roedor e criar linha-gens de animais knockout em que essegene em estudo se mostra inativo. Dessemodo, os pesquisadores conseguem, emmuitos casos, descobrir o papel de umdeterminado gene para o surgimento oudesenvolvimento de doenças. Desde aprodução do primeiro camundongoknockout, em 1989, cerca de metade dos26 mil genes humanos já foi “desligada”em roedores desse tipo. Também é ne-cessário ressaltar que recentes dados obti-dos com o seqüenciamento do genomado homem mostram uma similaridadeadmirável com duas das espécies mais uti-lizadas nas pesquisas, o camundongo e o

rato. Isso torna esses animais modelos deestudo de enorme interesse e importânciapara pesquisas que buscam melhorar a nos-sa saúde, bem como a de outros animais.

O secular debate a respeito da utilizaçãode animais em experimentação não podese fundamentar, neste milênio, em equí-vocos ou no desconhecimento científico.Tal interpretação causa grande perplexi-dade e está saindo da esfera científica eética, tornando-se imperiosa aconceituação precisa de quando e por quese deve fazer uso de animais na pesquisa.

O Brasil ocupa, atualmente, a 15.ª posi-ção na produção científica mundial, supe-rando países como Bélgica, Dinamarca,Finlândia e Coréia. Isso se constitui emfruto do inegável esforço da comunidadecientífica, do apoio à pesquisa por agênciasde fomento e do crescimento e da avalia-ção continuada dos programas de pós-graduação. A criação, no fim da década de1990, da Comissão Nacional de Ética emPesquisa (Conep), com a função de pôrem prática as normas e diretrizesregulamentadoras de pesquisas envolven-do seres humanos, associada a uma redede Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs)nas várias instituições, posicionou o Bra-sil em condição equivalente à dos paísesmais desenvolvidos, impactando positi-vamente a ciência brasileira.

Entretanto, ainda não existe no país umanorma geral sistematizadora atualizadareferente à vivissecção e experimentaçãocom animais, nem para fins didáticosnem científicos. Muitas instituições cria-ram, nos moldes dos CEPs em huma-nos, comitês voltados para a avaliação dosvalores éticos na pesquisa envolvendo ani-mais (Comitês de Ética em Pesquisa comAnimais – Cepas). A aprovação de proje-tos, por esses comitês, passa por proces-sos criteriosos, fundamentados em con-ceitos da ética, da filosofia e do rigor cien-tífico, e é indispensável para a obtençãode financiamento, bem como para a pu-blicação de artigos em revistas científicas.Nesse contexto, deve-se buscar, ao máxi-

mo, a redução de qualquer sofrimento doanimal e todo projeto de pesquisa experi-mental deve conter, obrigatoriamente, osseguintes itens: (1) justificativa para o usode animais; (2) justificativa para escolhade determinada espécie, em particular; (3)número de animais que se pretende utili-zar, com justificativas; (4) descrição dosprocedimentos que serão empregadospara assegurar que o desconforto e a dorcausados aos animais serão reduzidos aomínimo indispensável; (5) desenvolvi-mento de pesquisa científica de reconhe-cido valor; (6) uso de analgésicos, anesté-sicos e fármacos tranqüilizantes apropria-dos, quando indicados, para minimizaro sofrimento aos animais; (7) descriçãodos métodos e fontes consultados para aconsideração de alternativas a esses proce-dimentos; e (8) declaração de que as ativi-dades a serem desenvolvidas não se cons-tituem, meramente, em duplicação deexperimentos previamente realizados.Sem tais considerações, o uso de animaisem pesquisas científicas torna-se total-mente injustificável, ética e moralmente.Entretanto, apesar da existência dessescomitês na maior parte das instituiçõesbrasileiras, tais iniciativas não satisfazemàs necessidades da comunidade científicanacional.

Leis específicas para uso de animais em pes-quisa encontram-se em vigor na quase to-talidade dos países produtores de ciência,tecnologia e inovação. A sociedade brasilei-ra tem participado dessas discussões, le-vando em consideração os princípios mo-rais e éticos que as norteiam e a existência delegislação que aborda o assunto. Destaca-seo excelente trabalho de conscientização eorientação realizado pelo Colégio Brasilei-ro de Experimentação Animal (Cobea) nacomunidade científica e em centros de pes-quisas que utilizam animais.

O Decreto-lei n.º 24.645, de 10 de julho de1934, em seu art. 3.o, inciso IV, e ainda nãoexpressamente revogado, a ConstituiçãoFederal (1988), em seu art. 225, parágrafo1.o, inciso VII, e a Lei n.º 9.605, de 12 defevereiro de 1998, de um maneira geral, pre-vêem punições para os maus tratos, muti-lação, ferimentos, dor e crueldade causadosa animais, domésticos ou silvestres, e sãorestritivos até mesmo quando esse uso sedestina a fins didáticos ou científicos. A Leifederal n.º 6.638, de 8 de maio de 1979,

ainda vigente, permite a prática didático-científica da vivissecção animal, apesar denão estar regulamentada.

No município do Rio de Janeiro, o De-creto n.º 19.432, de 1.o de janeiro de 2001,proibiu a prática de vivissecção e de expe-rimentos com animais em instituiçõesveterinárias públicas municipais, quandoexistir tecnologia alternativa à experimen-tação. Outro projeto de lei (PL 325/2005),que “proíbe a vivissecção, assim como ouso de animais em práticas experimen-tais que provoquem sofrimento físico oupsicológico, sendo estas com finalidadespedagógicas, industriais, comerciais ou depesquisas científicas, e dá outras provi-dências”, foi vetado pelo prefeito da cida-de do Rio de Janeiro, em 2006, em virtu-de da ponderação da comunidade cientí-fica brasileira, como um todo.

Em 23 de outubro de 2007, uma nova leimunicipal foi equivocadamente sanciona-da pelo prefeito César Maia, e imediata-mente revogada. Essa lei estabelecia mul-tas e sanções para “maus tratos e cruelda-de” contra animais, colocando, mais umavez, em um mesmo patamar, o uso do-méstico de animais e a sua utilização empesquisas nos laboratórios e instituiçõesde pesquisa. Encontra-se em tramitaçãooutro projeto de lei (PL 1.218/2007) que“institui a política municipal de proteçãoaos animais, disciplina as infrações admi-nistrativas contra os animais no Municí-pio do Rio de Janeiro e dá outras provi-dências”. Entendemos que qualquer pro-jeto de lei deva ser amplamente discutido

com a comunidade científica e com a socie-dade, antes de sancionado, haja vista orisco de sérios prejuízos para o desen-volvimento e a produção científica nestemunicípio.

Há mais de 12 anos vem tramitando noCongresso Nacional um projeto de lei, (PL1.153/1995), do deputado Sérgio Arouca,voltado para a regulamentação do uso deanimais em experimentação e que revoga aLei n.º 6.638/1979. O projeto foi discutidoamplamente e a ele foram incorporadassugestões oriundas da comunidade cientí-fica, das sociedades protetoras dos animais,bem como da sociedade civil. Para discipli-nar o uso de animais, o projeto cria oSistema Nacional de Controle de Animaisem Laboratório (Sinalab), definindo a suacomposição e competências.

Ao PL 1.153/1995 foi apenso o PL 3.964/1997, que dispõe sobre a criação e o uso deanimais para atividades de ensino e pesqui-sa e propõe a criação do Conselho Nacionalde Controle de Experimentação Animal(Concea), definindo suas competências ecomposição, e exigindo como condição in-dispensável para o credenciamento das ins-tituições a constituição prévia de Comis-sões de Ética no Uso de Animais (Ceuas).Estabelece que a presidência do Conceacompetirá ao ministro de Estado de Ciên-cia e Tecnologia, fixa normas para a realiza-ção de experimentos e prevê penalidadesadministrativas pelo descumprimento dalei, que variam desde a advertência até a sus-pensão de financiamento para pesquisa einterdição definitiva da entidadetrangressora.

Esse projeto, em essência, cria uma polí-tica científica para o uso de animais emexperimentação, sem perda da qualidadedo bom entendimento sobre o bem-es-tar animal, do compromisso ético do pes-quisador e da relevância da pesquisa a serrealizada. Ele tem como princípio a expe-rimentação animal como base da ciência edo conhecimento, quando não existemalternativas, sempre levando em conside-ração minimizar o número de animais aser empregado, bem como a dor e o sofri-mento. Os Projetos de Leis n.º 1.153/1995e n.º 3.964/1997 foram submetidos à Co-missão de Ciência e Tecnologia, Comuni-cação e Informática (CCTCI), tendo sidoaprovados na forma de um substitutivo.

Uso dos animais empesquisa - Opinião da FAPERJ

Entendemos quequalquer projetode lei deva seramplamentediscutido com acomunidadecientífica e com asociedade, antesde sancionado

OPINIÃO

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Arquivos da censura revelama moralidade de uma época

O historiador da Universidade Federal do Rio deJaneiro, Marcos Luiz Bretas, que há anos estudaarquivos da polícia, pesquisa, com apoio daFAPERJ, 2 mil peças de teatro de revistacensuradas nos anos 1920.

O gênero era sucesso absoluto de público, masconsiderado pela elite como influência negativapara a formação da cultura nacional – o quemotivava a censura.

Os seres humanos são importantes, masos animais também o são. Nem todoconhecimento adquirido a partir de expe-rimentações com animais pode ser aplica-do ao homem e nem tudo o que é tecni-camente passível de realização pode serexecutado, sob o ponto de vista ético. Acomunidade científica responsável reco-nhece que o animal tem consciência ememória, sofre e sente dor, tem medo,não está nos laboratórios por livre e es-pontânea vontade e tem direito à vida. Porisso, respeita-o e o utiliza racionalmente –o menor número possível de animais, pou-pando-os, ao máximo, do sofrimento.

Todo pesquisador reconhece que atroci-dades já foram praticadas em nome daciência, o que fez com que ativistas de or-ganizações de defesa dos animais tenhamse manifestado e tenham suas razões paratal. Porém, é fundamental que se ratifi-que que os pesquisadores também têmsuas razões. Existem indivíduos bons emaus, éticos e não éticos, em todas asfunções, e, dessa forma, é preciso que existauma lei adequada e moderna para regula-mentar a utilização de animais na ativida-de científica. Conclamamos os gruposdefensores de animais, sérios e conse-qüentes, a atuarem como parceiros e pro-tetores das instituições de pesquisa e uni-versidades brasileiras, contribuindo parao bom funcionamento das comissões deética, no sentido de garantir a saúde dapopulação e dos animais.

Em muitas situações, a pseudomo-ralidade vem servindo como subterfúgiopara tentar diminuir a grandiosidade doincontestável conhecimento advindo da

experimentação com animais. Por partedos pesquisadores deve haver, obrigato-riamente, em qualquer situação, clara cons-ciência, responsabilidade, competência,sensibilidade e ética, para a utilização deanimais. Pesquisadores dignos, probos econscientes não desejam o confronto comas sociedades protetoras dos animais, mas,ao contrário, o diálogo. Além disso, comoelas, propugnam que os animais sejamutilizados com ética, preservando, ao má-ximo, o seu bem-estar. Torna-se, pois,imperativo adotar dispositivos regula-mentares lúcidos e realistas que garantama continuação da utilização de animais noensino e na pesquisa científica.

Virtualmente, cada avanço na medicina ena veterinária no século XX veio por meioda pesquisa com animais. Há ainda mui-tos tratamentos e curas de importantesdoenças a serem descobertas. Aqueles quequerem o progresso na medicina mundialestão comprometidos e trabalhando paraassegurar que os cientistas disponham derecursos e liberdade para continuarem assuas pesquisas. A comunidade científicabrasileira brada por uma sistematizaçãodefinitiva e por uma norma federalabrangente e realista que oriente e regule,e imponha menos sanções, na qual a ques-tão da pesquisa científica possa ser maisbem contemplada. Até que isso ocorra,os princípios constitucionais, as leis esta-duais, os decretos municipais, as portariasministeriais, as instruções normativasdos inúmeros órgãos, em todas as esfe-ras do governo que tangenciam a ques-tão, terão validade dentro do seu âmbitoespecífico territorial ou de atuação. Essasituação, por vezes, tem levado à perple-xidade pesquisadores pouco afeitos àsquestões jurídicas.

Defendemos que o projeto de lei emtramitação na Câmara Federal seja, urgen-temente, incluído na pauta de votação,discutido amplamente, modificado eaprovado, para dar maior transparência atodas as atividades científicas envolven-do o uso de animais em experimentação.Apesar desse substitutivo representar umavanço inestimável, não representa umcorpo de princípios e diretrizes que possanortear adequadamente a questão. Reco-nhece o relator da Comissão de Defesado Consumidor, Meio Ambiente e Mi-norias que a proposta legislativa brasileira

deveria espelhar seus congêneres interna-cionais, incorporando alguns aspectos ain-da não contemplados no projeto em es-tudo, como, por exemplo, a definição maisclara dos tipos de experimentos que po-dem ser executados com animais e as con-dições de tratamento, não apenas durantea experimentação, mas também na criação emanutenção dos animais. É preciso res-saltar que a proposta do substitutivo emdiscussão avança no sentido de reconhe-cer os princípios que norteiam a investi-gação científica alicerçada nos três “Rs” –reduction, refinement e replacement –, divul-gados em 1959, na Inglaterra, por WilliamRussel e Rex Burch (e que poderiam seracrescidos por um quarto “R”, fazendomenção ao respeito que se deve dispensaraos animais). Para o relator, “a insuficiên-cia de normas balizadoras da conduta cien-tífica, especialmente no que se relacionaao trato com animais, contrapõe-se aovolume e ao nível de excelência das pes-quisas realizadas em território nacional[…]” É necessário que toda a comunida-de científica sensibilize os governantes, emtodos os níveis, instando-os a discutir esseprojeto, modificá-lo no que for necessá-rio e transformá-lo em lei. Necessitamosdessa lei para continuar a crescer com orespaldo da sociedade brasileira e mun-dial, pois sem uma regulamentação dapesquisa com animais de laboratório seráimpossível fazer ciência, tecnologia e ino-vação.

Agradecemos a contribuição dos pesqui-sadores Alberto Schanaider (UFRJ), An-tônio Cláudio Lucas da Nóbrega (UFF),Beni Olej (UFF), Carlos EduardoRodrigues Caetano (Uerj), EgbertoGaspar de Moura (Uerj), Francisco JoséBarcellos Sampaio (Uerj), Jerson Lima Sil-va (UFRJ), José Mauro Granjeiro (UFF),Marcelo Marcos Morales (UFRJ), MarcoAntônio Raupp (SBPC), Paulo de AssisMelo (UFRJ), Renato Sérgio Balão Cor-deiro (Fiocruz), Roberto Soares de Moura(Uerj) e Wilmar Dias da Silva (Uenf) napreparação deste documento.

Pesquisador: Ruy Garcia MarquesCoordenador do Laboratório deCirurgia Experimental – FCM – UerjDiretor-presidente da FAPERJ

Virtualmente,cada avanço namedicina e naveterinária noséculo XX veiopor meio dapesquisa comanimais

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cemos só começa em 1940, quan-do Ziembinsky montou Vestido denoiva, de Nelson Rodrigues.”

Depois de quase dois anos lendo 2mil peças e reunindo material, Bretasapresentou um artigo sobre o temano Colóquio Internacional de His-tória Cultural, em 2004, na cidadede Buenos Aires, Argentina.

Para Marcos Bretas, o auxílio daFAPERJ foi fundamental para suapesquisa. “Como trabalho há mui-to tempo com polícia e crimes,nessa área não tenho dificuldadede conseguir auxílio. Mas muitosestranharam quando falei que que-ria pesquisar sobre teatro. É bommudarmos de ares, não virarmosmonotemáticos”, acrescenta. Opesquisador também integrou oprojeto Rio de Janeiro em Mapas,da FAPERJ.

Pesquisador: Marcos Luiz BretasInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

Buscava-se, coma polícia,delimitar quetipo de teatrodevia serincentivado paraa formação daboa artebrasileira

polícia e com o ConservatórioDramático delimitar que tipo deteatro deveria ser incentivado paraa formação da boa arte brasileirae qual deles prejudicaria a forma-ção da nacionalidade. Em conse-qüência, a censura era tanto de qua-lidade quanto de conteúdo”, lem-bra o pesquisador.

A maneira como a censura era fei-ta chamou a atenção do historia-dor. “O trabalho censório proibiacomentários de duplo sentido ealusões vulgares, buscando, comisso, construir uma sensibilidade nopúblico. Isso era facilmente de-monstrado no momento em queo controle se dava sobre a manei-ra de atuar dos atores”, explica.“Quando uma das atrizes tinha quecantar uma música em que se diziaque uma cabritinha gostava de darpulinhos fazendo mé, a cena era li-berada pelo censor dependendoda entonação que a atriz desse”,prossegue.

O debate sobre cultura popular e cul-tura erudita é uma das discussões quepermeiam o projeto de Bretas. Se-gundo o pesquisador, a expressãoteatro de revista ocorria justamente pelacontemporaneidade que o gênerotrazia. “Os tipos urbanos, como o

Em 2003, o historiador daUniversidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ) Marcos

Luiz Bretas, há anos trabalhandocom arquivos da polícia, resolveupesquisar o material da censura doinício do século passado e se sur-preendeu com o achado: 2 mil pe-ças teatrais censuradas nos anos1920 – período em que o país vi-via uma democracia, ainda que res-trita às famílias ricas dos barões docafé do eixo Rio-São Paulo-Minas.Bretas se deteve nos textos sobreteatro de revista – gênero rechea-do de humor sobre o cotidiano eos tipos sociais da época, com tro-cadilhos e metáforas sexuais, mui-ta música e vedetes dançando compernas de fora. Sucesso absolutode público, o gênero, entretanto, eraconsiderado pela elite como máinfluência para a formação da cul-tura nacional. O assunto virou temada pesquisa “O teatro e a cidadeno Rio de Janeiro dos anos 20”,com apoio do programa Primei-ros Projetos da FAPERJ.

Entre os principais autores do tea-tro de revista, os cariocas Cardozode Menezes e Carlos Bittencourtfizeram enorme sucesso com pe-ças como O Gato, Baeta e Carapicu(nome das três sociedades carna-valescas da época), Agüenta Felipe,Quem é bom já nasce feito, O pé de anjo,entre outras.

De acordo com Marcos Bretas, noinício do século 20, a belle époque ca-rioca, a cidade vivia uma expansãoda vida social no espaço público.Na época, a elite cultural brasileiraansiava pela modernidade euro-péia, ao mesmo tempo em que bus-cava criar uma identidade culturalbrasileira que pudesse ser compa-rada à de seus ídolos parisienses.“Nesse sentido, buscava-se, com a

Vinicius Zeppeda mulato, os barões, o malandro ca-rioca, entre outros, e os elementosda modernidade, como os telefo-nes e os bondes, eram abordadosnas peças. É surpreendente comoo gênero estava tão próximo docotidiano dos anos 1920 e foi tãoesquecido hoje em dia”, explica.“A revista sofria forte influência daprodução teatral portuguesa e fa-zia enorme sucesso na colônia deimigrantes. Havia regras artesanaisbastante rígidas para não desagra-dar um público que sabia o queesperar do seu lazer. Mas não ha-via nenhuma pretensão psicológi-ca – algo que não foi perdoadopelos críticos e pela historiografiado teatro brasileiro”, acrescentaBretas.

Para o historiador, é extremamen-te importante o resgate da memó-ria de um gênero quase esquecidoque influenciou atores que, embo-ra respeitados nos dias de hoje, sãorepresentantes de uma linha de atua-ção em extinção na dramaturgiamoderna. “Hoje não vemos maisatrizes especializadas num papelespecífico e com a capacidade deimprovisação de uma HenriquetaBrieba ou uma Dercy Gonçalves,vedetes daquele teatro que depoisforam para a televisão”, afirma.

Outra influência do teatro de revistaforam as chanchadas do cinema na-cional, produzidas pela companhiacinematográfica Atlântida. “Estrela-das por atores consagrados, comoGrande Othelo, Oscarito e JorgeDória, foram outro sucesso de pú-blico que a crítica não via com bonsolhos”, observa.

Bretas acrescenta ainda que a his-tória do teatro brasileiro vem ig-norando os anos 1920. “A revistanos dias de hoje praticamente mor-reu. Uma vez ou outra alguém fazuma homenagem. A história ofi-cial do teatro brasileiro que conhe-

HISTÓRIA

É surpreendente como um gênero tãopróximo do cotidiano dos anos 1920foi tão esquecido nos dias de hoje

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33 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 32ARTIGO

Ciência, tecnologia e inovaçãotecnológica têm exercido,nos últimos 20 anos, notáveis

influências nos costumes e mesmona vida da sociedade moderna, me-recendo, ao longo do tempo,conceituações de inúmeros institutos,organizações e pesquisadores, como propósito de estabelecerem seuslimites e funções.

No passado, eram campos do sa-ber extremamente distantes no tem-po. Os cientistas viviam suas solitáriaspesquisas sem interlocutores próxi-mos, e os encontros com outros co-legas se davam, muitas vezes, porcartas em que relatavam alguns as-pectos das descobertas.

O tempo da criatividade, da inova-ção e da tecnologia viria muitos anosapós e, até mesmo, um século de-pois das conclusões da ciência. Hoje,o tempo entre a descoberta científi-ca e a sua aplicação prática é reduzi-do, favorecendo o progresso emtodos os campos da sociedade.

Confundida com ciência, a tecno-logia é definida por alguns autores,como Ribault, Martinet e Lebidois,

como o conjunto formado pelosconhecimentos, meios e habilidadescolocados a serviço da fabricação deum produto final.

Aproveitando-se a conceituação deTirso W. Sáenz, tecnologia é “o con-junto de conhecimentos científicos eempíricos, de habilidades, experiên-cias e organização requeridos paraproduzir, distribuir, comercializar eutilizar bens e serviços”. Inclui tantoconhecimentos teóricos como prá-ticos, meios físicos, know-how, méto-dos e procedimentos produtivos,gerenciais e organizacionais, entreoutros.

Inovação tecnológica, por outrolado, segundo o Manual Frascati(OCDE, 1993), é “a transformaçãode uma idéia em um produto novoou melhorado que se introduz nomercado, ou em novos sistemas deprodução e em sua difusão, comer-cialização e utilização”. Entende-setambém por inovação tecnológicaa melhoria substancial de produtosou processos já existentes. Com osefeitos de um mundo globalizado,o domínio do conhecimento e a bus-

ca de inovações tecnológicas torna-ram-se fatores decisivos para os paí-ses garantirem a sua prosperidade esoberania e livrarem-se do empobre-cimento inevitável.

Vivemos, no início do século XXI,o que se denominou de economiado conhecimento e sociedade da in-formação, adquirindo o trinômiociência, tecnologia e inovação a fun-ção estratégica da busca da excelên-cia por meio de um modelo inova-dor, que tem por característica amelhoria da qualidade de vida dasociedade, o propósito de um de-senvolvimento sustentável e a pre-sença do País na comunidade inter-nacional competitiva e no qual oconhecimento e a informação atu-am como deter-minantes do sistemaeconômico e das relações sociais.

Nos últimos anos, o nosso cotidia-no habituou-se a conviver com ex-pressões derivadas do progresso daciência e da tecnologia e que passa-ram a integrar o vocabulário correntetais como genomas, DNA, telefonecelular, internet etc. E o desenvolvi-mento social tornou-se, sem dúvi-

da, uma das prioridades da agendabrasileira e adquiriu dimensão am-pla e sofisticada com o advento dasnovas tecnologias.

A educação e a própria noção deescola estão sujeitas às imposiçõesdas tecnologias da informação e dacomunicação pelo uso intenso dadigitalização e da comunicação a dis-tância; a saúde e a alimentação sãoobjeto de transformações radicaiscomo a terapia transgênica, a medi-cina regenerativa, a tecnologia dosalimentos, os novos medicamentos,o uso da genética na criação de no-vos seres e suas partes, enfim, umarevolução sem precedentes que dis-semina práticas e protocolos até en-tão desconhecidos do mundo daprodução de bens e serviços.

O trabalho na era tecnológica sereconcilia com a sociedade e setransforma na manifestação purada criatividade, da inteligência e doconhecimento do homem. É ondese posiciona a Secretaria de Ciên-cia e Tecnologia do Estado do Riode Janeiro (Sect) , oferecendooportunidades de acesso ao conhe-cimento da ciência e da tecnologiaaos jovens e adultos de algummodo afastados das possibilidadesindividuais de alcance do progres-so científico e tecnológico.

Trata-se, por exemplo, dos progra-mas de inclusão digital que se mate-rializam nas ações da Secretaria comprioridade nas atividades da Funda-ção de Apoio à Escola Técnica(Faetec), como a Faetec Digital, oudos Centros de Educação Tecno-lógica e Profissionalizante (Ceteps),ou ainda a identificação das voca-ções tecnológicas das regiões ondese localizam Arranjos ProdutivosLocais (APLs) por meio dos Cen-tros Vocacionais Tecnológicos(CVTs).

Integram ainda no âmbito devinculação da secretaria o notável

complexo universitário estadual dasuniversidades – Uerj e Uenf e o Cen-tro Tecnológico da Zona Oeste-Uezo – e, de outro modo, com ex-pressiva importância, os serviços doProderj e da Fenorte.

Ações como a Lona da Ciência, umcirco científico e tecnológico que per-corre os municípios atendendo àspopulações menos favorecidas, ouos programas de formação básicana informática são exemplos con-cretos da prioridade social da Sect.

Se a atividade científica deve serpesadamente centrada na academia,a tecnologia e a inovação tecnológicadevem priorizar ações a seremconduzidas pelas empresas, caben-do ao Estado uma importante fun-ção reguladora e de equilíbrio des-sas políticas públicas.

As instituições de ensino superior eas escolas técnicas reúnem espaçoprivilegiado para exercitar a ciênciae a tecnologia no âmbito extenso desuas atribuições.

Financiar a pesquisa científica, esti-mular a aplicação dos conhecimen-tos científicos, desenvolver a pesquisaaplicada, favorecer o aprendizadodas técnicas e tecnologias, promo-ver a inclusão digital, ampliar o es-copo do alcance do conhecimentopela via dos modelos de educação a

Ciência e Tecnologia: desafio social

distância do Consórcio Cecierj, en-tender e preservar o meio ambien-te, conhecer o clima e suas variaçõespor meio do Simerj, são funções quea Sect busca exercer com plenitude,enfrentando as adversidades de umaconjuntura nem sempre favorável.

A pesquisa científica e o progressotecnológico estratégicos para o de-senvolvimento econômico e socialbrasileiro, demandam recursos cres-centes e regulares, e os investimen-tos em C&T, da conta da FAPERJ,sempre estiveram no centro dosdebates sobre o nosso futuro, trava-dos pela comunidade acadêmica, pelosetor empresarial e pelo Estado.

Em 2007, tendo em vista o cumpri-mento do art. 332 da Constituiçãodo Estado do Rio de Janeiro, quedetermina o repasse de 2% da arre-cadação tributária líquida para aFAPERJ, foram investidos mais deR$ 190 milhões em pesquisa. Coma expectativa de crescimento econô-mico do Estado, esses recursos seampliarão, o que implementará ain-da mais o fomento à ciência etecnologia no Rio de Janeiro.

Alexandre CardosoSecretário de Estado de Ciência eTecnologia

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35 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 34

Teste sorológico facilita o diagnóstico da doença

Oaumento do número decasos de esporotricose naRegião Metropolitana do

Rio de Janeiro vem preocupando au-toridades e pesquisadores da área dasaúde fluminense. A micose, que nopassado tinha origem em lesõesprovocadas pela manipulação dosolo, por farpas de madeira ou es-pinhos de plantas, hoje é transmiti-da, na maioria das vezes, por ani-mais doentes. No fim de julho, achefe do Laboratório de Micologiado Hospital Universitário PedroErnesto (Hupe/Uerj), RosaneOrofino, fez o alerta sobre a rápidaprogressão do número de casos re-latados no estado em artigo publi-cado no site da Sociedade Brasileirade Dermatologia – Regional Rio deJaneiro. Os números apresentadospela pesquisadora são endossadospor Leila Lopes Bezerra, coordena-dora do Laboratório de MicologiaCelular e Proteômica (LMCProt), da

Universidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj).

“Não há dúvida de que todo oGrande Rio está vivendo uma epi-demia de esporotricose”, confirmaLeila. “Esse surto zoonótico, con-tudo, tem atingido principalmente osmunicípios da Baixada Fluminense,como Duque de Caxias e São Joãode Meriti. Embora em menor con-centração, há igualmente casos espa-lhados por toda a cidade do Rio, in-cluindo bairros das zonas Sul e Oes-te”, diz Leila. Desde 2005, ela é vice-coordenadora da Rede de Desenvol-vimento de Métodos Moleculares deDiagnóstico de Doenças Infecciosas,Parasitárias, Cardiovasculares eNeurodegenerativas. Paralelamente,também coordena, na mesma rede, ogrupo de pesquisa encarregado de es-tudar essa patologia. A rede foi umadas contempladas em edital lançadopela FAPERJ em parceria com o Mi-nistério da Saúde.

Foi em 1998 que a equipe coman-dada por Leila no Instituto de Bio-logia da Uerj começou a desenvol-ver um método para o diagnósticosorológico da doença a partir deanálises em pacientes portadores.Aplicado em cerca de 300 doentesaté o momento, o teste já foi valida-do clinicamente segundo protoco-los internacionais. “Tudo indica que,na maioria dos casos, a patologia étransmitida por gatos. Mas há evidên-cias de que cães também estariam con-tribuindo para a difusão da doença”,diz Leila.

Os números divulgados por RosaneOrofino em seu artigo dão conta daabrangência do fenômeno: se noHupe, foram registrados 94 casosentre 2000 e 2006, no Instituto de Pes-quisa Evandro Chagas (Ipec-Fiocruz)a estatística salta para 759 casos entre1998 e 2004. Nesse mesmo período,o Departamento de Zoonoses daFiocruz diagnosticou a doença em1.503 gatos e 64 cães domésticos.

De acordo com Rosane, o sinal maiscomum da esporotricose é um ca-roço avermelhado, dolorido, quevira uma ferida que não cicatriza ese expande em número e tamanho,apesar do tratamento com antibió-ticos. “Algumas pessoas tambémapresentam sintomas articularescomo inchaço, vermelhidão e dornas juntas. Quem está debilitado poroutras doenças como diabetes, Aids,câncer ou alcoolismo crônico podeter manifestações mais graves, e aesporotricose pode atingir outrosórgãos, como pulmões ou cérebro(meningite). O tratamento dura dedois a seis meses, e numa pessoa quetenha defesa normal é benigna e cu-rada totalmente”, garante.

As pessoas que têm contato particu-lar ou profissional – caso dos vete-rinários – com gatos e cães são asque integram o grupo de indivíduossob maior risco de contrair a enfer-midade. Nos animais, a manifesta-ção da doença ganha a mesma apa-rência daquela verificada em sereshumanos, com o surgimento de fe-ridas e lesões de mucosa.

Os estudos realizados pela equipe deLeila para o desenvolvimento de ummétodo de diagnóstico sorológico

tiveram validação clínica comprova-da em parceria com o Laboratóriode Micologia do Hospital Universi-tário Pedro Ernesto e com a partici-pação de pesquisadores do Ipec-Fiocruz. O passo seguinte é a adoçãodo teste pela rede de hospitais do Sis-tema Único de Saúde (SUS). No mo-mento, o método é usado apenas noshospitais que fazem parte do projetoda Rede de Desenvolvimento de Mé-todos Moleculares de Diagnóstico deDoenças Parasitárias, Cardiovascularese Neurodegenerativas.

“O teste para diagnóstico pode serfeito gratuitamente no Laboratório deMicologia da Uerj, associado ao Hos-pital Pedro Ernesto”, avisa Leila. ParaRosane, é essencial o diagnóstico cor-reto e a identificação da fonte de in-fecção. “Só assim será possível redu-zir a doença a índices toleráveis”, es-creve em seu artigo. O diagnóstico de-finitivo é feito por meio do pus daslesões nos laboratórios de micologia.

O fungo causador da doença,Sporothrix schenckii, foi isolado da se-creção nasal, cavidade oral e unhasde gatos, o que reforça a tese detransmissão felina, seja por meio dearranhões ou mordidas. As especia-listas explicam que os animais tam-bém podem ser tratados, mas pormeio de medicação específica. En-tre outros fatores, o aumento de ca-sos tem, segundo Leila, origem nabriga entre os animais por territórioe no enterro dos corpos de animaismortos pela doença em áreas pró-ximas a moradias, principalmenteem regiões de baixa renda, que nãodispõem de condições sanitárias ade-quadas. Os pesquisadores alertamque os animais mortos pela doençadevem ser cremados. “Esse surtozoonótico mudou completamente opadrão epidemiológico da doença.Antes, essa patologia era relaciona-da como uma doença ocupacional,típica das áreas rurais, que atingiaprincipalmente trabalhadores agríco-

las e aqueles que trabalhavam comjardinagem. Nas cidades, era rara-mente observada”, esclarece Leila.

A pesquisadora garante que se tratado maior surto zoonótico deesporotricose já descrito em litera-tura médica e que levou a um surtoepidêmico da doença em humanos –decorrente da transmissão direta gato– homem. Anteriormente, o maior sur-to epidêmico do gênero até então re-portado havia ocorrido na África doSul, entre 1941 e 1944. Naquele país,as ripas de madeira que davam sus-tentação a túneis e galerias de umamina na província aurífera deWitwatersrand foram contaminadaspelo S. schenckii. Cerca de 3 mil pes-soas da força de trabalho local fo-ram contaminadas.

Leila conta que o grupo de pesquisavem tentando estabelecer uma par-ceria com Laboratório Central deSaúde Pública – Noel Nutels (Lacen),órgão sob a responsabilidade do go-verno do Estado por meio da Se-cretaria de Estado de Saúde. “Esta-mos em fase de entendimento como Lacen para que nos tornemosuma unidade de referência no diag-nóstico sorológico dessa patologia”,adianta Leila.

A pesquisadora adverte que a po-pulação do Estado deve procurarassistência veterinária ou médica casoperceba os sinais e sintomas caracte-rísticos da esporotricose. “O trata-mento e a prevenção são fundamen-tais para frear o aumento do núme-ro de casos da micose.” E odermatologista é o especialista indi-cado para diagnosticar corretamen-te a doença.

Paul Jürgens

Esporotricose

O objetivo dapesquisa évalidar o teste dediagnósticovisando a suaadoção pelo SUS

Pesquisadoras: Rosane Orofino eLeila Lopes BezerraInstituições: Laboratório de Micologiado Hospital Universitário PedroErnesto (Hupe/Uerj) e Laboratório deMicologia Celular e Proteômica(LMCProt/Uerj).Segundo Leila Lopes Bezerra, os surtos

da doença atingem principalmente aBaixada Fluminense

Rosane Orofino fez o alerta sobre a rápidaprogressão do número de casos no Estado

MICOLOGIA

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37 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 36

los Pontos de Presença da RNP. Inau-gurada em 1992, a Rede Rio permi-te que mais de uma centena de insti-tuições de ensino, pesquisa e gover-nos (municipal, estadual e federal)localizadas no Estado do Rio seconectem à rede mundial de com-putadores. Graças a investimentos daFAPERJ, há dois anos a Rede Rioimplantou tecnologia de transmissãoem alta velocidade, conhecida comoGiga-Ethernet, e passou a operarcom capacidade de transmissão a 1gigabit por segundo – mais de setevezes a velocidade anterior, de 155megabits por segundo. A medida per-mitiu aumentar significativamente ataxa de transmissão no anel ótico(backbone).

FAPERJ vai à Bienal do Livro

Em setembro, a Fundação estevepresente na XIII Bienal do Livro. Noestande do Pavilhão Laranja, repe-tiu-se a já tradicional exposição edoação de livros, em especial osmais de cem títulos publicados nes-te ano com o auxílio do programade Editoração. No espaço do CaféUniversitário, a palestra sobre fós-seis do paleontólogo Ismar de Sou-za Carvalho, organizada pelaFAPERJ, reuniu mais de 60 alunosdo ensino fundamental, que, ao tér-mino do evento, ainda receberam

dois brindes diferentes: um quebra-ca-beças com a figura do Amazonsaurusmaranhensis, fóssil descoberto pela equi-pe coordenada por Ismar, e um jogoda memória também de dinossauros.Ambos foram desenvolvidos pelaFundação.

Prestação de Contas agora écom hora marcada

Desde 1º de julho, o exame préviode prestação de contas de auxílios ebolsas recebidos pela Auditoria In-terna da FAPERJ é feito com horamarcada. A medida foi imple-mentada para dar mais agilidade aoatendimento e diminuir o tempo deespera dos pesquisadores na institui-ção. A auditoria interna tem comoatribuição verificar se o projeto foiexecutado conforme o proposto noorçamento aprovado e se está deacordo com normas da Fundação.A medida é necessária para evitar que,no futuro, o outorgado, a instituiçãoe a FAPERJ sejam penalizados pelaAuditoria Geral e pelo Tribunal deContas do Estado.

O setor vem alertando os contem-plados com algum tipo de auxíliosobre a necessidade de respeitar ascláusulas e os prazos determinadosnos termos de outorga. Todos tam-bém têm sido avisados de que nãoserão aceitas solicitações de pesqui-sadores inadimplentes. Os telefonespara agendar visitas são: (21) 3231-2922 ou 3231-2923.

Hospital Pedro Ernestoorganiza congresso anual

Realizado na última semana de agos-to, o 45º Congresso Científico doHospital Universitário Pedro Ernestoteve como tema a medicina diag-nóstica, abordando de formamultidisciplinar questões como a

Amazônia sob o foco da 59a

Reunião Anual da SBPC

Este ano, a Amazônia esteve sob osrefletores da 59ª Reunião Anual daSociedade Brasileira para o Progres-so da Ciência (SBPC), que em 2007ocorreu em Belém de 9 a 13 de ju-lho. A maior floresta tropical do pla-neta foi considerada uma das prio-ridades para a pesquisa em ciência etecnologia no país. Inúmeros pesqui-sadores vinculados a instituições deensino e pesquisa sediadas no Esta-do do Rio de Janeiro comparece-ram a diversas atividades durante oevento, considerado um dos maisimportantes acontecimentos científi-cos do Hemisfério Sul. Ausente doencontro em 2006, a FAPERJ vol-tou a participar da SBPC e ainda tevecomo novidade um espaço reserva-do em seu estande para que pesqui-sadores e autoridades realizassemencontros e pequenas reuniões comseus pares e representantes da insti-tuição.

Inscrição para editais étotalmente on-line

Desde o início de julho, os procedi-mentos de submissão de propostas,avaliação e tratamento das solicita-ções de bolsas, auxílios e editaispassaram a ser inteiramente infor-matizados. Por meio do inFAPERJ,sistema computadorizado de acessoà base de dados da Fundação, os can-

didatos às linhas de fomento podemsolicitar e acompanhar on-line o an-damento de seus processos. A am-pliação do sistema – lançado em fe-vereiro de 2006 e de início utilizadoapenas para a realização e atualiza-ção de cadastros e pelo programaBolsa Nota 10 – garantiu maior agi-lidade e transparência às decisões edeliberações da instituição.

A submissão de projetos on-line, con-tudo, não eliminará inteiramente anecessidade de apresentação da do-cumentação em papel. O solicitantedeverá encaminhar a documentaçãoexigida pelo programa à instituição.

O sistema também permitirá umaeconomia importante de tempo naavaliação e no julgamento das pro-postas: pelo inFAPERJ, os coorde-nadores de área da Fundação, avali-adores e consultores ad hoc acessarãoon-line o conteúdo dos processos –eliminando a necessidade do envioe devolução das propostas pelo cor-reio. “Acreditamos que mais do quea Fundação, é a comunidade acadê-mica a principal beneficiada com aampliação do uso do inFAPERJ”,avalia Christine Batelier, gerente detecnologia de informação da insti-tuição.

Rede Rio de Computadorescompleta 15 anos

Com ciclo de palestras no Centrode Tecnologia da Coppe/UFRJ eum evento na sede da Rede Nacio-nal de Ensino e Pesquisa (RNP), aRede Rio de Computadores/FAPERJ marcou as comemoraçõesde seus 15 anos, em maio, assumin-do também a coordenação do co-mitê gestor da Rede Comunitária deEducação e Pesquisa (Redecomep).A Redecomep visa implementar re-des de alta velocidade nas regiõesmetropolitanas do país servidas pe-

FAPERJIANAS

importância do diagnóstico clínico,a partir do melhor conhecimento doser humano. A cada ano, o eventoreúne mais de 2 mil participantes emcursos, conferências, mesas-redon-das, mostras de filmes, exposição ediversas atividades culturais voltadaspara o público extra-acadêmico.Além de apoiar a realização do con-gresso, a FAPERJ manteve umestande no local, que se manteve bas-tante movimentado com a presençade professores da instituição e ou-tros participantes, que aproveitarama ocasião para tirar dúvidas sobreas diversas modalidades de fomen-to à pesquisa praticadas pela Fun-dação.

Semana de C&T promoveatividades no Estado

A quarta edição da Semana Nacio-nal de Ciência e Tecnologia, no iní-cio de outubro, agitou o Estadocom diversas atividades de divulga-ção da ciência. Coordenado pelaSecretaria para a Inclusão Social doMinistério de Ciência e Tecnologia(MCT), por meio de seu Departa-mento de Popularização e Difusãode C&T, o evento teve como temao planeta Terra. Com a participaçãode instituições de pesquisa, universi-dades, escolas, órgãos de governo,ONGs e empresas, a programaçãoincluiu atividades em vários municí-

Na Bienal do Livro, interesse estudantil

Ausente em 2006, FAPERJ voltou à SBPC

Fundação marcou presença no Hupe

pios. A tenda habitualmente arma-da no Largo da Carioca abrigou aSecretaria de Ciência e Tecnologia(Sect) e suas vinculadas. Nela, oProderj mostrou ao público suas ini-ciativas na área de inclusão digital,enquanto a Faetec apresentou seuprojeto de conversão de máquinascaça-níqueis em computadores e oCecierj montou seu planetárioinflável. A FAPERJ também man-teve uma equipe no local.

Em atividade paralela, numa parce-ria com a Uerj, o Museu Nacional,o Departamento de Recursos Mi-nerais e o Departamento de Geolo-gia da UFRJ, a Fundação promo-veu Um dia no parque, ampla progra-mação para celebrar a importânciado Parque Paleontológico São Joséde Itaboraí, próximo a Niterói. Nosúltimos anos, por meio do progra-ma Jovens Talentos e de seu Institu-to Virtual de Paleontologia (IVP), aFAPERJ tem contribuído para arevitalização do parque, que tem sidoobjeto de estudo por pesquisadoresnacionais e estrangeiros nas últimasdécadas.

Ruy Marques prestigiaUm Dia no Parque

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39 | Rio Pesquisa - nº 1 - Ano IAno I - nº 1- Rio Pesquisa | 38EDITAIS

Com o recente anúncio do RioInovação 2007, dia 28 de no-vembro, na sede da Federa-

ção das Indústrias do Rio de Janei-ro (Firjan), a FAPERJ chegou à mar-ca de 18 editais lançados em 2007.É um número expressivo, resultadode um maior investimento do go-verno do Estado para a ciência etecnologia. Isso também permitiuque a FAPERJ ampliasse seus pro-gramas de apoio à pesquisa, com acriação de novos editais e a amplia-ção de alguns já existentes.

Vários programas são inéditos,como é o caso do Prioridade Rio,Apoio à Pesquisa em Transplantesde Órgãos e Tecidos, Apoio à Pes-quisa Agropecuária, Pensa Rio,Apoio à Melhoria das Escolas Pú-blicas, Difusão e Popularização daCiência e Tecnologia, Apoio à En-tidade Estadual de Ciência eTecnologia – Faetec, Apoio à Ino-vação Tecnológica e mesmo o Au-xílio à Editoração, que passou a con-tar com um edital específico.

O mais ambicioso, e o de maior do-tação – R$ 30 milhões a seremdisponibilizados no prazo de doisanos –, é o Pensa Rio, que se voltapara o estímulo de projetosmultidisciplinares abrangentes, comduração maior do que o habitual,em áreas relevantes e estratégicaspara o Rio de Janeiro. Do total depropostas inscritas, foram contem-plados 115 projetos. Também des-tinado a fomentar o estudo de te-mas prioritários para o Estado, oPrioridade Rio contou com R$ 15milhões em recursos. Parceria daSect/FAPERJ com a Secretaria deEstado de Planejamento e Gestão,o programa está centrado no estu-do e provimento de soluções paracinco áreas de grande importância

FAPERJ lança número recorde de editaisna agenda do Estado – reforma eajuste fiscal; segurança; saúde; edu-cação; e desenvolvimento susten-tável. Foram selecionados 87 dosprojetos inscritos.

A inovação – setor importante nacompetitividade de um país nomercado internacional e um dos indi-cadores usados para medir o desen-volvimento das economias mundiais– mereceu dois editais específicos lan-çados pela Fundação. Fruto de parce-ria entre a FAPERJ e a Finep, a novi-dade da edição 2007 do Rio Ino-vação é que, pela primeira vez, asempresas – micro e pequenas –poderão concorrer diretamenteaos recursos alocados. O edital dis-põe de R$ 30 milhões em recur-sos disponibilizados em dois anos– R$ 12 milhões da FAPERJ e R$ 18milhões da Finep, por meio doPrograma de Apoio à Pesquisa naPequena Empresa (Pappe-Subven-ção).

Lançado em outubro, o Apoio àInovação Tecnológica no Estado doRio de Janeiro reúne em parceria assecretarias de Ciência e Tecnologia ea de Desenvolvimento Econômico,Energia, Indústria e Serviços. Comaporte de R$ 11,2 milhões do orça-mento da FAPERJ, apóia a introdu-ção de novidades no ambiente socialou produtivo que resultem em no-vos produtos, processos ou servi-ços que incorporem aumento deprodutividade e modificações nobem-estar da população. O editalespecifica que os candidatos devemser empresas nacionais sediadas noestado, empresários que atuem comoprodutores rurais, e sociedades co-operativas, sempre trabalhando emcooperação com instituições cientí-ficas e tecnológicas com atividadesde pesquisa.

Bolsas Nota 10

Destinado aos melhores alunos deprogramas de pós-graduação doRio de Janeiro, com conceito 5, 6 e7, contempla os últimos 12 mesesde curso para os mestrandos (13º ao24º mês) e os 24 meses finais paraos doutorandos (25º ao 48º mês).Data de lançamento: 22/2/2007

Jovem Cientista do Nosso Estado

Apóia, por meio de concorrência,projetos coordenados por pesquisa-dores fluminenses, em fase interme-diária da carreira acadêmica, comboa produção científica e históricode formação de recursos humanos.Dotação: 120 bolsas de R$ 1,8 milmensais, durante dois anosData de lançamento: 1º/6/2007

Cientista do Nosso Estado

Financia, por meio de concorrência,projetos coordenados por pesquisa-dores de reconhecida liderança emsua área, com dotação mensal parao desenvolvimento de pesquisas.Dotação: 120 bolsas de R$ 2,4 milmensais, durante dois anosData de lançamento: 1º/6/2007

Difusão e Popularização daCiência e Tecnologia no Estadodo Rio de Janeiro

Apóia e promove iniciativas, visan-do democratizar a produção de co-nhecimento que possa ser opera-cionalizado em políticas e medidasa serem adotadas no Estado e pelopoder público em geral.Dotação: R$ 1,3 milhãoData de lançamento: 1º/6/2007

Apoio à Infra-Estrutura deBiotérios em Instituições Sediadasno Estado do Rio de Janeiro

Garante a implantação, a moderni-zação e o funcionamento de bioté-

rios cuja finalidade seja produção oumanutenção de animais de institui-ções do Estado para projetos de pes-quisas científicas, tecnológicas, ino-vação e desenvolvimento experi-mental.Dotação: R$ 1,6 milhãoData de lançamento: 6/7/2007

Apoio às Universidades Esta-duais do Rio de Janeiro – Uerj,Uenf e Uezo

Permite a aquisição e a manutençãode equipamentos, e pequenas obrasde infra-estrutura para execução deprojetos apresentados por pesquisa-dores vinculados à Uerj, à Uenf ouà Uezo.Dotação: R$ 7,3 milhõesData de lançamento: 6/7/2007

Apoio às Instituições de Pesqui-sa Sediadas no Estado do Rio deJaneiro

Apóia a aquisição e a manutençãode equipamentos, e pequenas obrasde infra-estrutura para a execução deprojetos, apresentados por pesqui-sadores vinculados a instituições depesquisa sediadas no Rio de Janeiro.Dotação: R$ 10,9 milhõesData de lançamento: 6/7/2007

Apoio à Melhoria do Ensino nasEscolas Públicas do Estado do Riode Janeiro

Estimula pesquisas voltadas paraquestões da realidade da escola bá-sica do Rio de Janeiro – ensino fun-damental e médio, educação infantile educação de jovens e adultos.Dotação: R$ 1 milhãoData de lançamento: 27/7/2007

Apoio à Entidade Estadual deCiência e Tecnologia – Faetec

Apóia a implantação, a modernizaçãoe o funcionamento de laboratóriospara a execução de projetos em dife-rentes áreas da ciência e tecno-logia,apresentados por pesquisadores comvínculo permanente com a Faetec.

Dotação: R$ 2 milhõesData de lançamento: 27/7/2007

Treinamento e Capacitação Téc-nica (TCT)

Treina e aperfeiçoa técnicos de nívelfundamental, médio e superior queparticipam de atividades de apoio aprojetos financiados pela FAPERJ,desenvolvidos por pesquisadorescom vínculo permanente em insti-tuições do Estado, visando ao seuposterior ingresso no mercado detrabalho.Dotação: R$ 100 mil mensaisData de lançamento: 6/7/2007

Pensa Rio – Apoio ao Estudo deTemas Relevantes e Estratégicospara o Estado do Rio de Janeiro

Incentiva projetos multidisciplinaresabrangentes, que estudam e elucidamproblemas em temas relevantes e es-tratégicos indicados no edital, con-tribuindo para o desenvolvimentosocioeconômico das diversas regiõesdo Estado.Dotação: R$ 30 milhõesData de lançamento: 27/7/2007

Prioridade Rio – Apoio ao Estu-do de Temas Prioritários para oGoverno do Estado do Rio de Ja-neiro

Estimula o estudo de soluções paraos temas prioritários indicados noedital, contribuindo de maneira efe-tiva para o desenvolvimentosocioeconômico do estado.Dotação: R$ 15 milhõesData de lançamento: 17/8/2007

Estímulo à Produção e Divulga-ção Científica e Tecnológica/2007

Apóia a produção e a divulgaçãocientífica e tecnológica por meio delivros, manuais, números especiais derevistas (publicações temáticas), co-letâneas científicas, vídeos, CDs eDVDs.Dotação: R$ 890 milData de lançamento: 27/7/2007

Auxílio à Editoração/2007

Apóia a edição de livros, manuais, nú-meros especiais (temáticos) de revis-tas e coletâneas científicas em qualquertipo de suporte, vídeos, CDs e DVDs.Dotação: R$ 980 milData de lançamento: 27/7/2007

Apoio à Pesquisa Agropecuáriano Estado do Rio de Janeiro

Estimula projetos em áreas relevan-tes e estratégicas para a agropecuáriafluminense, de forma a contribuir demaneira efetiva para o desenvolvi-mento socioeconômico das diversasregiões e cadeias produtivas do setor.Dotação: R$ 1 milhãoData de lançamento: 17/8/2007

Apoio à Pesquisa em Transplan-te de Órgãos e Tecidos no Estadodo Rio de Janeiro

Apóia a aquisição e a manutenção deequipamentos, bem como pequenasobras de infra-estrutura para a execu-ção de projetos de pesquisa na áreade transplante de órgãos e tecidos.Dotação: R$ 2 milhõesData de lançamento: 17/8/2007

Apoio à Inovação Tecnológicado Estado do Rio de Janeiro

Impulsiona o desenvolvimento deprojetos que signifiquem introduçãode novidade ou aperfeiçoamento noambiente produtivo ou social e re-sultem em novos produtos, proces-sos ou serviços.Dotação: R$ 11,2 milhõesData de lançamento: 4/10/2007

Rio Inovação 2007

Destina recursos à atividade inovado-ra de micro e pequenas empresas na-cionais, para o aumento da compe-titividade, adensamento tecnológico edinamização das cadeias produtivas ede arranjos produtivos locais (APLs).Dotação: R$ 30 milhõesData de lançamento: 28/11/2007

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EDITORAÇÃO

Ao anunciar o resultado doedital de Auxílio à Editoração, a FAPERJ estabeleceu uma

marca histórica: 103 obras recebe-ram apoio da instituição ao longode 2007. Desse total, 65 foramselecionadas pelo edital – o primei-ro desde que a Fundação lançou seuprograma de apoio à publicação noano de 2000 –, enquanto 38 obtive-ram auxílio pelo sistema de balcão(APQ 3), aberto durante o primeirosemestre do ano. A soma de ambos

permitiu que a FAPERJ estabeleces-se um novo recorde. Para se ter umaidéia, desde a criação do programa,foram concedidos 328 auxílios peloAPQ 3.O sucesso do programa pôde sermedido também pela qualidade dosprojetos inscritos, que levou a dire-ção da FAPERJ a uma outra deci-são: após a seleção, dobrou-se adotação inicial de recursos alocada,que, dos R$ 500 mil previstos ante-riormente, passou a R$ 980 mil.

Programa apóia 103 obras

JangoAs múltiplas faces

Por meio de depoimentos, docu-mentos textuais e fotografias, o tra-balho busca aproximar o leitor dahistória do Brasil contemporâneo ede seus maiores temas: o desenvol-vimento econômico, as reformas

sociais e a questão da democracia. No fim, no CD queacompanha o livro, é possível ouvir a voz do próprioJango, gravada em um de seus discursos.

Autores: Ângela de Castro Gomes e Jorge FerreiraEditora: Fundação Getúlio VargasNúmero de páginas: 272

Yes, nós temos PasteurManguinhos, Oswaldo Cruz ea História da Ciência no Brasil

Este livro apresenta novas verdadesem circulação em meio aos escom-bros das antigas verdades damodernidade. Novas verdades queganharam força após os seminais es-tudos de laboratórios das décadas

de 1970 e 1980, que caracterizaram a entrada da antro-pologia nos recintos “sagrados” em que são produzi-das as ciências e as tecnologias.

Autor: Henrique CukiermanEditora: Relume-DumaráNúmero de páginas: 439

A ciência entre bichos egrilosReflexões e ações dabiossegurança com animais

Os últimos 30 anos registraram acrescente preocupação com abiossegurança, o conjunto de nor-mas e procedimentos criados para

impedir a ação de agentes infecciosos em ambienteslaboratoriais. Esta publicação aborda questões técni-cas, éticas e históricas sobre o tema e sistematiza algu-mas reflexões relevantes da biossegurança com animais.

Organização: Thelma Abdalla de Oliveira Cardoso e MarliB.M. de Albuquerque NavarroEditora: HucitecNúmero de páginas: 444

PTIX e a turma doZé NeurimMinicartazes

Em dez minicartazes, as his-tórias em quadrinhos procu-

ram estimular a curiosidade das crianças pelo funcio-namento do cérebro. Os cartazes podem ser pendura-dos em salas de aula ou nos quartos de crianças e ado-lescentes.

Autores: Roberto Lent e Flávio de AlmeidaApoio: Instituto Ciência Hoje/FAPERJNúmero de páginas: 10

Na mesma data, no fim de julho,foi lançado outro edital, Estímuloà Produção e Divulgação Científi-ca e Tecnológica, para apoiar odesenvolvimento de projetos quelevem à publicação de material –livros, manuais, números especiaisde revistas, coletâneas científicas,vídeos, CDs e DVDs – para a di-vulgação científica e tecnológica. Oprograma teve 40 propostas apro-vadas – um percentual de 64% dosprojetos inscritos.

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