Brasil - 500 Anos de Poesia

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Poesia brasileira compilada

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  • BRASIL500 ANOS DE POESIA

    Francisco Rodrigues Jnior

    Edio especial para distribuio gratuita pela Internet,atravs da Virtualbooks, com autorizao de Francisco

    Rodrigues Jnior.

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  • BRASIL500 ANOS DE POESIA

    Francisco Rodrigues Jnior

    CONTRIBUIO AO ESTUDO LITERRIO PARA PROFESSORES E ALUNOSDO CURSO UNIVERSITRIO, ENSINO MDIO E PR-VESTIBULAR.

    memria cada vez mais saudosa de meu pai Francisco Rodrigues Sobrinho minha me cada vez mais amada e admirada Ana Rodrigues Cordeiro minha esposa e filhas cada vez mais atenciosas Santuza de Menezes Rodrigues Ana Elisa e Maria LuisaAos alunos e colegas do CEIVA e da UNIMONTES Devo-lhes o meu estmulo inicial.

    Francisco Rodrigues Jnior Januria, 20 de abril de 2000.

  • SUMRIO

    ADVERTNCIA

    EM BUSCA DA POESIA

    A POESIA NOSSA DE CADA DIA

    E AS NOSSAS POESIAS CHEGARAM NAS CARAVELAS

    A POESIA BRASILEIRA GANHA ESCOLAS LITERRIAS

    GLOSSRIO

    BIBLIOGRAFIA

    AdvertnciaQuero que o leitor saiba, antes de mais nada, que o propsito maior deste estudono foi em classificar autores, estudar suas obras e nem sequer suas biografias; ainteno nica e maior foi catalog-los, obedecendo, claro, seus estilos de pocae suas respectivas escolas literrias. O orgulho de ser brasileiro torna-se maior,quando conhecemos aquilo que produzido em nosso Pas. Francisco R. JniorEM BUSCA DA POESIA

    Por isso escrevo em meio Do que no est ao p, Livre do meu enleio, Serio do que no . Sentir? Sinta quem l! Fernando Pessoa

    No precisa ser poeta para falar de poesia, nem tampouco excesso desensibilidade para entend-la. preciso, antes de tudo, saber l-la, compreend-la, sem nunca se sentir frustrado por no ter em mos um paradigma, ou seja, umareceita exata para analis-la. Muitos estudiosos trouxeram e ainda trazem a nsdiversas receitas de como ler, interpretar e analisar poesias. So todasinteressantes, embora, presas aos paradigmas de suas correntes filosficas.

  • Modelos, apenas modelos, nos levam a estudos puramente tautolgicos,mecanizados, superficiais, incapazes (muitas vezes) de nos fazer interagir com omundo abstruso do poeta.A poesia, como sabemos, a arte de escrever em versos. Atravs dela a palavratem um dom de se manifestar numa linguagem em que a sonoridade e o ritmopredominam sobre o contedo.Quanto aos gneros poticos, a poesia pode apresentar-se em composiesmuito variadas. Os antigos retricos gregos dividiram-na em pica, lrica edramtica. A poesia pica (poema narrativo) canta as faanhas de um heri ou deuma coletividade, tendo como estrutura s baladas ou cantos populares em quesimbolizam as aspiraes e conquistas de uma raa ou de um povo. A lrica(poema breve e mais subjetivo), vem de lira, instrumento musical usado paraacompanhar os cantos gregos. Isso ocorreu at o final da Idade Mdia, quandoas poesias eram cantadas. Dizemos que uma poesia lrica quando o poeta nospassa uma emoo, um estado, centrando-se no seu interior uma forte cargasubjetiva. A dramtica (prpria das peas de teatro), que h muito tempo foramescritas em verso, as paixes humanas constituem sua fonte de inspirao ecostumam ser expressas na forma de dilogos e monlogos.Embora a poesia tenha passado por diversas alteraes formais no romper demuitos sculos, adequando-se, claro, a cada estilo e poca dos poetas queexperimentaram-na, ningum chegou a ponto de romper a sua subjetividade. E porfalar em subjetividade, toda linguagem carregada de significado literatura:

    A distino entre literatura e demais artes vai operar-se nos seus elementosintrnsecos, a matria e a forma do verbo. De que serve o homem de letras pararealizar seu gnero inventivo? No , por natureza, nem do movimento como odanarino, nem da linha como escultor ou como o arquiteto, nem do som como omsico, nem da cor como o pintor. E sim - da palavra.A palavra , pois, o elemento material intrnseco do homem de letras para realizarsua natureza e alcanar seu objetivo artstico.1

    s vezes, perguntamos, o que poesia? Poesia vem do grego poeses, depoien: ao de fazer algo, criar, no sentido de imaginar. Os latinos chamavam apoesia de ORATIO VINCTA, linguagem travada, ligada por regras deversificao.Para entendermos o que poesia, antes de tudo, preciso que saibamosdistingui-la da prosa, que, embora paream distintas em seus aspectos grficos,

  • h uma diversidade de idias complexas. A distino entre poesia e prosa est nofato de a primeira exprimir-se em versos, e a segunda no. Se levarmos em contaapenas este parmetro, veremos que: a poesia pode ser versificada ou no; aprosa pode ser versificada ou no (inclusive a prosa literria); pode haver poesiano poema em prosa e pode haver poesia no poema em verso. Aristteles tinhantida conscincia da diversidade entre poesia e prosa, porquanto, osestilicistas, diz Thorne2, foram sempre atrados pela questo de se ou nopossvel identificar aspectos da estrutura lingstica que distingam a prosa dapoesia. O problema muito antigo e muito difcil, somente os estudiososgermnicos com sua peculiar capacidade mental, para assuntos de teoriafilosfica e esttica, chegaram a uma frmula capaz de obviar a questo: a poesiaestaria presente na msica, na pintura, na escultura, na arquitetura, nacoreografia, como se fosse o seu objetivo ltimo. Sendo assim, a prosa alinguagem natural, linguagem comum, resultado de um trabalho estilstico doescritor; enquanto que a linguagem da poesia artificial, pois contm versos e osversos tm artifcios de construo que procura obter efeitos no estado receptivodo leitor ou auditor.E fiquemos com a poesia.

    A poesia conhecimento, salvao, poder e abandono. Operao capaz detransformar o mundo, a atividade potica revolucionria por natureza; exerccioespiritual um mtodo de libertao interior. A poesia revela este mundo; criaoutro. Po dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite viagem; regresso terra natal. Inspirao, respirao, exerccio muscular. Splica ao vazio, dilogocom a ausncia, alimentada pelo tdio, pela angstia e pelo desespero. Orao,litania, epifania, presena. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimao, compensao,condensao do inconsciente. Expresso histrica de raas, naes, classes.Nega a histria: em seu seio resolvem todos os conflitos objetivos e o homemadquire, afinal, a conscincia de ser algo mais que passagem. Experincia,sentimento, emoo, intuio, pensamento no-dirigido. Filha do acaso; fruto doacaso; fruto do clculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva.Obedincia s regras; criao de outras Imitaes. dos antigos, cpia do real,cpia de uma cpia da idia. Loucura, xtase, logos. Regresso infncia, coito,nostalgia do paraso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho atividade asctica.Confisso. Experincia inata. Viso, msica, smbolo. Analogia: o poema umcaracol onde ressoa a msica do mundo, e mtricas e rimas so apenascorrespondncias, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo,revelao, dana, dilogo, monlogo. Voz do povo, lngua dos escolhidos,

  • palavra do solitrio. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritria,coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces,embora exista quem afirme que no tem nenhuma: o poema uma mscara queoculta o vazio, bela prova da suprflua grandeza de toda obra humana!3

    A poesia sempre existiu, vimos que os gregos conceituaram-na de ao de fazeralgo, criar, no sentido de imaginar... se o Universo foi criado por Deus, da formaque nos relatam as escrituras bblicas, consideramo-lo o primeiro poeta, seno, ocondutor de toda inspirao potica. De onde surge tanta beleza, tanta riqueza eesttica para a criao potica? O homem em sua ao de fazer algointerpenetra-se originalmente em sua essncia, extraindo, por mais abstrata queseja a natureza, onde est estampada a sua realidade fsica ou espiritual - pornatureza, entendemos todos os seres vivos que constituem o Universo e, porrealidade, seja fsica ou espiritual, o homem est e sempre esteve presente.Consideremos a poesia tudo aquilo que est ligado a arte em conexo aosentimento esttico, pois a arte implica por si mesma uma espcie de magia que sefoi purificando no decorrer dos sculos e que pura e puramente estticaquando a invaso do homem pela natureza advm exclusivamente do prazer deuma viso ou de uma intuio puramente intencional ou supra-subjetiva.Se, etimologicamente, considerarmos a palavra poesia - poeses, de poiem -constataremos que o homem, desde o incio de sua histria, tinha um cartermgico diante daquilo que fazia: moradias, utenslios domsticos, armas, tmulos,objetos de artes e inclusive a criao da linguagem como meio de comunicao. Aescrita, por mais rudimentar que fosse, tambm foi concebida por ele e,posteriormente, serviu de longo passo para dar origem a uma nova fase chamadacivilizao. A respeito disso, isto , do fazer do homem, o professor Bosi4,escreveu:

    A mo lavra a terra h pelo menos oito mil anos, quando comeou o Neoltico emvrias partes do Egito. Com as mos, desde que criou a agricultura, o homemsemeia, poda e colhe. Empunhando o machado e a foice, desbasta a floresta; coma enxada, revolve a terra, limpa o mato, abre covas. Com picareta, escava edesenterra. Com a p, estruma. Com o rastelo e o forcado, gradeia, sulca e limpa.Com o regador, gua. Desgalha com a faca e o tesouro.Manejando o cabo dos utenslios de cozinha, o homem pode talhar a carne,trinchar as aves, espetar os alimentos slidos e conter os lquidos que escoariampelas juntas das mos em concha.

  • Morar possvel porque mos firmes e pele dura amassam o barro, empilhampedra, atam bambus, assentam tijolos, aprumam o fio, traam ripas, diluem a calvirgem, moldam o concreto, argamassam juntas, desempenam o reboco, armam omadeirame, cobrem com telha, goivo ou sap, pregam ripas no forro, pregamtbuas no assoalho, rejuntam azulejos, abrem portas, recortam janelas, chumbambatentes, do pintura a ltima demo.A mo do oleiro leva o barro ao fogo: tijolos. A mo do vidreiro faz a bolha deareia, e do sopro nasce o cristal.A mo da mulher tem olheiros nas pontas dos dedos: risca o pano, enfia a agulha,costura, alinhava, pesponta, chuleia, cerze, caseia. Prende o tecido nos aros dobastidor: e tece e urde e borda.A mo do lenhador brande o machado e racha o tronco. Vem o carpinteiro e dalenha faz o lenho: raspa e desbasta com a plaina, apara com o formo, alisa edesempena com a lixa, penetra com a cunha, corta com a serra, entalha com atalhadeira, boleia com o torno, crava pregos com o martelo, marcheta com astachas, encera e lustra com o feltro.O ferreiro malha o ferro na bigorna, com o fogo o funde, com o cobre o solda, coma broca o fura, com a lima o ri, com a tenaz o verga, torce e arrebita.O gravador entalha e chanfra com o cinzel, pule com o buril. O ourives lapida como diamante, corta com o cinzel, afina com o buril, engasta com a pina, apura como esmeril.O escultor corta e lavra com o escopro e o formo.O pintor, lpis ou pincel na mo, risca, rabisca, alinha, esquadra, traa, esboa,debuxa, mancha, pincela, pontilha, empastela, retoca, remata.O escritor garatuja, rascunha, escreve, reescreve, rasura, emenda, cancela,apaga..

    Desde a antiguidade oriental, a escrita tem se tornado instrumento da arte. Osegpcios no s cultivaram a escrita hieroglfica e a escrita demtica, comotambm foi uma civilizao muito criadora no campo intelectual, artstico,cientfico e religioso. A sua literatura era em grande parte filosfica e religiosa.Sem dvida, os melhores representantes foram o Drama Menftico e Hino ao Sol,de Amenfis IV, conhecido por AKHNATON, e os hinos de devoo pessoal,que sobreviveram ao perodo do Novo Imprio. J na antiga Mesopotmia ognero literrio mais comum era o pico, destacando-se a Epopia da Criao e aEpopia de Gilgamesh, enquanto os hebreus cultivavam uma literatura de grandeexpressividade, como por exemplo, Os Salmos, de Davi, e o Cntico dos Cnticos,de Salomo, registrados na literatura bblica. Com os fencios, os maiores

  • navegadores do mundo antigo, embora considerados, como a maioria dossemitas, vulgarizador, ganhamos o alfabeto composto por 22 consoantes e queserviu de base para a elaborao de outros alfabetos. Da prsia, apenas as artes,equivalendo, sobretudo, a luta constante entre o bem e o mal... a partir dacivilizao grega, que a literatura falando-se em poesia comea o seu apogeu.A poesia pica foi a primeira expresso literria surgida entre os gregos. Nestegnero potico destacaram-se, no sculo VIII a.C., Homero e Hesodo. Aoprimeiro atribui-se a autoria dos dois maiores poemas picos da Grcia: Ilada eOdissia. Hesodo foi autor de Os trabalhos e os dias e Teogonia.Em geral, o meio mais comum de expresso literria na poca de formao dospovos era a narrao pica de feitos hericos. Os mais famosos poemas picosgregos foram escritos no final da poca homrica. A primeira a ser desenvolvidafoi a elegia, que provavelmente se destinava a ser antes declamada do quecantada com acompanhamento musical. No sculo VI e no comeo do V a.C., aelegia foi gradualmente cedendo lugar poesia lrica, sendo cantada ao som delira. O novo tipo de poesia era especialmente adaptado expresso dossentimentos apaixonados, dos amores e dios violentos, despertados pela luta declasses. O maior de todos os escritores, neste gnero, foi Pndaro, de Tebas, queescreveu durante a primeira metade do sculo V. Em seguida podemos destacarSafo (poetisa de Lesbos), Anacreonte e Alceu. Na literatura helenstica, surge apoesia buclica, onde autores como Tecrito celebravam a vida simples e osprazeres do povo do campo. Temos que levar em considerao que desde operodo helnico, a expresso literria maior dos gregos foi, sem dvida, o teatro(que nasceu das festas ao deus Dionsio), grandioso em dois gneros diferentes:a tragdia e a comdia. Desta forma, podemos constatar que a arte grega em geralcaracterizou-se pela leveza, pela harmonia e pelo equilbrio das formas. Seuspoetas deixaram registrados, em seus achados, o ideal grego de moderao, deamor vida e de exaltao do belo. Exprimiram perfeitamente o humanismo e aglorificao do homem como a mais importante criao do Universo.5Muito antes do declnio da Grcia, uma nova civilizao, derivada em grandeparte da grega, desenvolvia-se nas margens do Tibre, na Itlia; e, ao entrarem osgregos na sua Idade urea, Roma j era uma fora dominante na pennsulaibrica, e, por mais seis sculos continuou a manter o poder e a supremacia nomundo civilizado, quando a glria dos gregos no passava de apenas recordao.No entanto, os romanos nunca igualaram os gregos nas realizaes intelectuais eartsticas, talvez at por causas geogrficas. Os romanos permaneceram um povoessencialmente agrcola, durante a maior parte de sua histria, e absorvido empreparativos militares, forados a defender suas prprias conquistas contrapovos invasores. A lngua Latina no possua a riqueza, a harmonia e a

  • flexibilidade da lngua grega. Era precisa, grave, majestosa. Lngua prpria parasentenas breves, leis, ordens. No era prpria para a poesia, que s vai surgirsculos depois, refletindo o carter do seu povo. As realizaes literrias dosromanos refletiam pela direta ligao sua filosofia. Horcio, poeta lrico esatrico, nas suas famosas Odes, serve-se de abundncia dos ensinamentos tantodos epicuristas, quanto dos esticos, combinando a justificao epicurista doprazer com a bravura estica em fase da adversidade. Tambm Virglio, grandepoeta pico, d uma amostra do esprito filosfico dessa poca, embora suasglogas prendessem at certo ponto ao ideal epicurista do prazer tranqilo, eleera antes um estico. Sua obra mais famosa, Eneida, uma glorificaopropositada do imperialismo romano, a epopia imperial com os trabalhos e ostriunfos da fundao do Estado, suas tradies gloriosas e seu destinomagnfico. Os nicos grandes escritores da poca de Augusto foram Ovdio,mestre da poesia lrica, autor de versos cheios de suavidade e harmonia, ficoufamoso pela suas obras A arte de amar e Metamorfoses, poema narrativo em 15livros, redigido em versos de seis slabas, e Tito Lvio, historiador, autor deHistria de Roma. O primeiro foi o maior poeta elegaco romano, e o ltimo tinhasua maior credencial na habilidade como estilista, como historiador, eralastimosamente deficiente. As obras literrias romanas influenciaram, em grandeparte, no reflorescimento do saber que se espalhou pela Europa no sculo XII eatingiu seu znite na Renascena.Dos rabes, filhos de Al, herdamos obras maravilhosas, imaginativas e ricas desensualidade, quer em prosa As mil e uma noites ou em poesia, o Rubayyat, deOsmar Khayyam.

    A arte potica, dentre todas as demais, sempre foi a que os rabes maisexaltaram com uma paixo irresistvel e, at os nossos dias, ela que os conduzespontaneamente a um estado prximo da magia (...) Todos os povos veneram aprpria poesia, e a relao particular dos rabes com sua lngua explica-se pelahistria e pela religio.6

    Ao recorrermos histria da literatura dos comeos da Idade Mdiaperceberemos que ela se caracterizou, primeiramente, por um declnio deinteresses pelas obras clssicas e depois pelo desenvolvimento de uma toscaoriginalidade que, por fim, abriu caminho ao desenvolvimento de novas tradiesliterrias. No sculo V j comeara a decair o gosto pela boa literatura latina.Conseqentemente, o latim medieval acabou por se corromper numa lamentvel

  • confuso de mudanas de sintaxe e de ortografia e pela introduo de novaspalavras usadas na conversao. Nos fins do perodo, contudo, as lnguasnacionais, que tinham evoludo aos poucos de uma fuso de dialetos brbaros,com alguma mistura adicional de elementos latinos, comearam a ser empregadasem vastas obras poticas. Em conseqncia disso houve novo e vigorosodesenvolvimento literrio, que atingiu seu auge, aproximadamente, no sculoXIII. O exemplo mais conhecido dessa literatura em lngua verncula foi o poemaanglo-saxo Beowulf. A Irlanda passou, no fim do sculo VI e no comeo do VIId.C., por um brilhante renascimento que fez do pas um dos lugares maisesplendentes da chamada Idade das Trevas. Sem gozar o benefcio de qualquerinfluncia latina, os monges e os poetas irlandeses escreveram histrias eaventuras fantsticas em terras e mares e centenas de poemas de cores ricas e,generosa compreenso da natureza humana.

    Estas duas literaturas, a pica dos trouvres do Norte, e a lrica dostroubadours do Sul, j nascem maduras, constitudas, refinadas, pressupondo,portanto, um perodo anterior de elaborao cujas razes esto por determinar.Como se explicaria que nos dois hemisfrios franceses se produzissem duasliteraturas diferentes? Ambas abandonaram o latim como veculo da expressoliterria e foram buscar na lngua vulgar, no romance, a expressorespectivamente do verbo pico e do verbo lrico. Se o romance as aproxima,distanciam-se entretanto pela inspirao. J se procurou explicar o temperamentolrico da Frana meridional por causas geogrficas e pela organizao municipaldas suas comunas. Mais do que a organizao poltica e o argumento romnticodo clima, militam outras causas, como as condies de existncia e a concepoda vida.7

    Temos notcias que no comeo do perodo medieval raras foram as expressesliterrias escritas. As que haviam eram constitudas, em sua maior parte, de obrassagradas, como hinos e comentrios de ordem religiosa. As lendas quepovoavam os castelos e burgos eram cantadas e passavam para a posterioridadeatravs da tradio oral. Trovadores e menestris eram homens que seencarregavam da preservao e difuso desse corpo lendrio. Posteriormente,estas canes de gesta passaram para a forma escrita e adquiriram peculiaridades,conforme os pases onde surgiam. Podemos mencionar os trobadours daProvena, na Frana; os minnesingers na Alemanha, os cantores da Itlia, osmestres de juglria na Espanha, os trovadores em Portugal.

  • Os primeiros poemas da escola trovadoresca j eram escritos nas respectivaslnguas nativas. So, portanto, os verdadeiros marcos iniciais da literatura decada pas. Se recorrermos aos poemas picos, registrados nas literaturas de cadapas, durante esse perodo, teremos na Frana Chanson de Roland, escrito porautor annimo, compe de 4.000 versos simples, constituindo-se numa dasprimeiras manifestaes da literatura francesa; na Espanha Cid, el Campeador8,tambm de autoria desconhecida, um poema considerado no apenas como oprimeiro documento das letras castelhanas, mas tambm como o smbolo doesprito nacional da Espanha; na Alemanha foram preservadas a tradiomitolgica germnica, que, atravs dos mestres cantadores alemes vieram aestruturar no corpo de eddas, grupos de poemas baseados nas lendasnrdicas9. A lrica trovadoresca era constituda de poemas de amor. Divulgaram-seprincipalmente na Frana e na Itlia, nos versos dos troubadours da Provena eno travatori da Toscana e da Lombardia. Alguns trovadores franceses dosculo XII foram Bernardo de Ventatour, Pierre Vidal e Bertrand de Born, Rinaldode Aquino (irmo de So Toms), Guino de la Collone e Iocopo de Lentino, entreos italianos. Eram versos profundamente lricos, dirigidos geralmente bem-amada, no havendo oportunidade para a realizao dos anseios amorosos. Amulher era colocada em uma posio espiritualista, como um objeto de difcilalcance. o amor impossvel. bom ressaltar que o perodo medieval compreendido em duas fases: a IdadeAlta Mdia (ao perodo compreendido entre os sculos V e IX e que corresponde,em termos de Europa, formao, desenvolvimento e apogeu do sistema feudal),a criao literria se restringe a algumas obras religiosas, escritas em latim, e aBaixa Idade Mdia ( perodo entre os sculos XI e XV e que corresponde desagregao do sistema feudal e conseqente transio para o sistemacapitalista), com o renascimento comercial e urbano, com as universidades e coma formao das lnguas nacionais, ampliou-se o gosto pela literatura, e surgiramobras em poesia e em prosa de grande peso intelectual, pois, aps as canes degesta, as baladas e os lieds, surge o romance, j nas proximidades do sculoXIII. Os romances eram narraes tambm compostas de versos, mas j escritosem linguagem acessvel s classes populares e abordando temas prprios, comcoeso e coerncia. Na Frana, dois grandes romances medievais, que merecemdestaques so o Romance da rosa, de Guilherme de Lorris e Joo Meung, (com4.000 versos), a Divina Comdia, de Dante Alighieri; o Decameron, de GiovanniBoccacio e frica, de Francesco Petrarca. Estes trs ltimos foram os precursoresdo Humanismo, que iria estruturar-se mais tarde nos diversos aspectos doRenascimento.

  • lcito dizer que assim como a poesia dois estilos musicais conviveram naIdade Mdia: a msica sacra e a msica profana. A sacra destacou-se o cantogregoriano, criado pelo papa Gregrio I, e a profana destacaram-se as canespopulares, tocadas e cantadas pelo homem comum, e as canes trovadorescas,cantadas e tocadas por trovadores que viviam percorrendo os castelos e asfeiras, exaltando o amor mulher e o esprito cavalheiresco da aristocracia.

    A POESIA NOSSA DE CADA DIA

    Quando sinto a impulso lrica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: no s para corrigir, como para justificar o que escrevi. (Mrio deAndrade)

    Recorremos desde a Pr-Histria at a Idade Mdia parasondarmos a presena da poesia e sua importncia nas civilizaes que marcaramprofundamente nossas razes. Sabemos, pois, que a nossa Literatura Brasileiraest totalmente enraigada Literatura Portuguesa, cujos moldes foramremontados s custas das Literaturas Gregas e Latinas. Tudo comeou no sculoXII, quando Portugal se constituiu como um pas independente. Nessa poca,com a unificao da linguagem de Portugal e Galiza, passou-se a utilizar a lnguagalego-portuguesa. Dois traos marcantes devem ser lembrados para uma visoda sociedade da poca: o teocentrismo, no plano religioso, e o feudalismo, noplano poltico-econmico. Com o teocentrismo, isto , a centralizao da vidahumana em Deus, expressava-se a intensa religiosidade, que acompanhou todaluta dos portugueses empenhados na expulso dos mouros da Pennsula Ibrica.Com o feudalismo, os nobres que possussem feudos exerciam os poderes dogoverno por meio de um sistema de vassalagem, que era baseado numa espciede contrato que implicava obrigaes mtuas entre o senhor e o vassalo. Osvassalos obedeciam ao senhor e o serviam pela proteo e ajuda econmica quedele recebiam. Esse sistema de vassalagem refletiu-se na poesia trovadoresca,principalmente nas cantigas de amor, em que o trovador se colocava normalmentena condio de vassalo diante da dama. A literatura portuguesa comea pelapoesia. Era natural que assim o fosse: a prosa, produto da razo j desenvolvida ecultivada; poesia, conseqncia natural da sensibilidade e da imaginao, poucopede e pouco exige para existir.Em prosa, no havia ainda modelos que imitar. Opouco era em latim medieval. Assim surgiu a Cantiga da Ribeirinha (ou da

  • Guavaia), uma cantiga de amor, o primeiro documento literrio portugus, datadode 1189 (ou 1198), do poeta Paio Soares de Taveirs, dedicado a D. Maria PaesRibeiro. E hoje, encontramo-la, reunida com outras poesias trovadorescas emcancioneiros, que so, da Ajuda (com 310 cantigas), da Vaticana (com 1205cantigas) e da Biblioteca Nacional de Lisboa10 (com 1647 cantigas). Foram osnossos primeiros trovadores: Paio Soares de Taveirs, Joo Soares de Paiva, D.Dinis (o Rei Trovador), Joo Garcia de Guilharde, Afonso Sanches, Joo Zorro,Aires Nunes, Nuno Fernandes, Torneol. Todos eles so aduzidos como gnerospoticos: a cano damor, a cantiga damigo e a cantiga descrnio e de mal dizer,classificadas, posteriormente, como canes lricas e satricas.

    No Humanismo, Segunda poca Medieval, 1418, os autores, sujeitoslricos, revelam a coexistncia, em seu ntimo de foras contrrias: ocontentamento provocado pela viso da mulher amada e o tormento que essamesma viso lhe provoca. O amor atua como forma de desenvolvimentoespiritual, uma vez que a dama muito mais uma idia de perfeio e beleza a quese aspira do que um ser de carne e osso cuja presena fsica se possa desfrutar.Os poemas no so mais cantados e sim, recitados, o poeta capaz de extrairsons e ritmos das palavras. Os padres mtricos que os poetas seguem paraescrever os seus poemas so em versos de sete ou cinco slabas, redondilhasmaiores e menores. Os poetas desse perodo foram Joo Roiz de Castelo- Branco,Diogo Brando, Tristo Teixeira, Conde de Vimioso.No teatro de Gil Vicente (1460-1536), vamos encontrar a poesia dramtica, com oemprego da redondilha maior, metro inteiramente do povo. A lngua a do povo:arcaica, cheia de figuras e comparaes, nem sempre correta, quer na pronncia,quer na sintaxe. Para ns, brasileiros, tem isso grande valor porque foi,precisamente, esse tipo de lngua o que entrou no Brasil. Apesar decomedigrafo, no seu humorismo e lirismo h passagens grandemente poticas.Suas obras mais conhecidas e estudadas so Pastoril Portugus, Barca doInferno, Barca do Purgatrio, Histria de Deus, Velho da Horta.Mas a nossa literatura, ainda nos meandros da literatura, puramente lusa, vaicomear a despontar somente a partir do Classicismo, quando, no contextohistrico-social aparece um amplo movimento econmico, cultural, surgido naItlia, em fins da Idade Mdia, e que rapidamente se espalhou por toda a Europa o Renascimento. A Idade Mdia no desconheceu os valores dos principaisautores gregos e latinos, muitos poetas medievais tentavam imit-los, procurandoaperfeioar os seus fazeres poticos, conforme a citao de Aristteles que nadase cria, tudo se copia. Estavam longe de alcanar a perfeio, embora, a partir dosculo XVI, fizeram o verdadeiro renascer dos estudos clssicos. Se na esfera dafilosofia e da teologia os gregos eram mais conhecidos, Ccero e Virglio foram os

  • mais acatados na esfera literria. Todas as produes escritas passaram a tomarfeio imitada das latinas, incluindo-se Histrias, segundo os moldes de TitoLvio; as comdias de acordo com Plauto e Terncio; as tragdias dentro dosmodelos gregos; o bucolismo de Tecrito e Virglio o lirismo em forma deepigramas, mas especialmente a epopia. O latim passou a no ser s o modelo,mas tambm a prpria lngua de muitos humanistas, que se recusavam a falar e aensinar em outro idioma qualquer.No Classicismo portugus, o poeta lrico canta os feitos elevados dos reis e asglrias das navegaes portuguesas, capazes de descobrir novas terras. Anfase que se d ao poema pico, a mais alta realizao da poesia clssicaantiga e, portanto, a grande inspirao dos poetas renascentistas. Um exemplodisso o poeta Francisco de S de Miranda (1481-1558) que lutou por introduzirem Portugal as novidades da Itlia: o soneto com acentuao nas slabas pares;as glogas, a cano de Petrarca, os tercetos de Dante, a oitava rima de Policianoe Ariosto. Ele (S de Miranda) escreveu 33 sonetos, 20 em portugus e 13 emcastelhano; 9 glogas, 8 cartas e 3 elegias; seus sonetos so ronceiros, duros,mal feitos, como, alis, toda a sua obra potica; Diogo Bernardes (1530-1595)pertenceu ao ciclo literrio de S de Miranda, estava sempre bem informado domovimento literrio renascentista da Itlia. Poetando maneira de Petrarca, emseus sonetos, e maneira de Dante em tercetos, deixou-nos Elegias, Sonetos,Odes, glogas que reuniu em Rimas Vrias e Flores do Lima; Antnio Ferreira(1528-1569) conviveu grandemente com os mestres do renascimento italiano,vindo a ser o introdutor da tragdia clssica, ao modo grego, nas artesportuguesas. A sua versificao spera, imperfeita, ainda que a sua linguagemseja correta e clssica; deixou-nos a famosa tragdia Castro e ainda Bristo eCioso. Escreveu vrias poesias menores tais como glogas, epitalmios, odes,elegias. O maior poeta que vamos ter nesse perodo Lus Vaz de Cames (1524-1580), seja ele pico, lrico ou dramtico, tornou-se o verdadeiro gnio literrio,perlustrando todos os gneros da literatura clssica, em todos fazendo valer oseu talento extraordinrio. o maior poeta pico da lngua portuguesa, com OsLusadas, obra composta de 10 cantos, 1.102 estrofes, num total de 8.816 versos,nos relata o descobrimento do caminho das ndias, por Vasco da Gama.Estvamos, porm, no perodo das grandes navegaes: a poesia, cheia de lirismoe pompa, estava, contudo, prestes a desembarcar com os portugueses, ouespanhis, em terras nunca conhecidas...

  • E AS NOSSAS POESIAS CHEGARAM NAS CARAVELAS...

    mar salgado, quanto do teusal

    So lgrimas de Portugal! (Fernando Pessoa)

    A partir de 1500 chegaram na Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz,posteriormente, e, fixamente, Brasil, os primeiros argonautas portugueses. Vieram-se por mal ou por bem, poesias trouxeram tambm. Quem l a carta-relatrio deCaminha encontra nela uma linguagem potica. Mesmo que no h rimas, portratar-se de uma prosa informativa, claro, h em suas entrelinhas marcas de umlirismo to penetrante, que, se no fosse em prosa, seria puramente poesia... onde a poesia se esbarra na prosa e o leitor, muitas vezes, no conseguedistingui-las.

    Se as nossas poesias chegaram nas caravelas lusas, ns j atnhamos aqui: os nossos ndios, batizados assim pelos portugueses, eram povosde origem asitica, de lngua aglutinante e fontica prpria, somente modificadadepois pela lngua imposta pelos dominadores. Segundo o Padre Ferno Cardim,em uma de suas cartas11, os nossos indgenas, quando se visitavam, choravamlongo tempo e entre lgrimas, com os cabelos desgrenhados, contavam osacontecimentos que se sucederam durante o tempo em que no se viram, tudo emprosa trovada, como se j conhecessem rima e poesia. o caso da lngua tupi-guarani, que foi sistematizada pelos padres jesutas e que at hoje falada portribos da regio amaznica e estudada por lingsticos, que acham-namaviosamente potica.A partir de 1530, quando a expedio colonizadora de Martim Afonso de Souzachega ao Brasil, est Portugal empenhado a colonizar a Nova Terra, recmdescoberta por Pedro lvares Cabral. Juntos vieram os primeiros poetas quereproduziram as nossas belezas naturais em suas poesias, ora cantadas em prosasou em versos. As primeiras criaes literrias a serem produzidas aqui forampuramente religiosas, a poesia de devoo, dos jesutas. No podemos deixar demencionar que durante esse perodo a escravido tornou-se necessria no Brasil,porque os trabalhos nas plantaes e engenhos exigiam muita gente. Os colonosrecorreram aos ndios e, posteriormente, aos africanos, que eram bem maisresistentes e trabalhadores que os ndios. Tudo isso vai refletir em nossaspoesias como eixo temtico de nossos poetas (cada um registra em seu estilo de

  • poca, suas experincias e viso de mundo). O grande piahy12 , ou seja, padre Jos de Anchieta (1530-1597), espanhol, veiopara o Brasil acompanhar D. Duarte da Costa, em 1553; no ano seguinte fundouum colgio em Piratininga, pleno planalto paulista, embrio da cidade de SoPaulo. Ele nos legou a primeira gramtica da lngua tupi-guarani, alm de escrevervrias poesias, seguindo a tradio do verso medieval. Merecem destaques DeBeata Virgine Dei Matre Maria e A Santa Ins, alm de vrios autos, segundo omodelo deixado por Gil Vicente. Sua misso era a catequese, portanto, oselementos mais presentes em sua literatura so o Bem e o Mal, o Anjo e o Diabo.A nossa literatura, durante esse perodo, vai se denominar como a literatura doscatequistas e dos viajantes no sculo XVI, cuja predominncia maior ser a daprosa. Os primeiros relatos sobre a nossa terra foram registrados por Pero Vaz deCaminha (1500), Pero Lopes de Souza (1530), Gabriel Soares de Souza (1587),Padre Ferno Gardim (1583), Ambrsio Fernandes Brando (1618), Padre Manuelda Nbrega (s/d) e Frei Vicente do Salvador (l627), entre outros cronistas,prosadores, gramticos, gegrafos e historiadores quinhentistas. Durante essesculo no tivemos ainda uma literatura propriamente nossa. A poesia que secriava aqui ainda tinha o lirismo confidencial e o sotaque puramente lexical dalngua de Cames. A nossa poesia de cada dia ainda estava a brotar do coraodaquela gente, que um dia, sem dvida, tornaria uma brava gente brasileira.

    A POESIA BRASILEIRA GANHA ESCOLAS LITERRIAS

    Enquanto revolver os meus Consultos, Tu me fars gostosa companhia Lendo os fastos da sbia, mestraHistria, E os cantos da Poesia. Toms Antnio Gonzaga

    No final do sculo XVI e incio do sculo XVII caracteriza-se naEuropa uma nova corrente literria, denominada Barroco, palavra de origemobscura, mas que serve para marcar o trao distintivo de todas as manifestaesculturais do perodo, que traduz a tentativa angustiante de conciliar forasantagnicas: bem e mal, Deus e Diabo; cu e terra; pureza e pecado; alegria etristeza; esprito e matria. Os poetas desarmonizam a poesia, em oposio

  • harmonia da poca renascentista, empregando muitas figuras de estilo como ametfora, a anttese, o paradoxo, a hiprbole e a prosopopia, cantando afugacidade da vida e das coisas; a morte, expresso mxima da efemeridade dascoisas; castigo, como decorrncia do pecado; arrependimento, narrao de coisastrgicas, erotismo, o sobrenatural, o misticismo e o apelo religio. oAntropocentrismo se opondo ao Teocentrismo, ou seja, a Tenso. Esse perodo marcado por conflitos de ordem religiosa, a Contra-Reforma, que propunha umavolta ao medievalismo e a irrestrita f na autoridade da igreja e do rei.

    Em 1580, Portugal perde sua autonomia como pas, passando aintegrar o reino da Espanha; porquanto o Brasil ainda no estava com asociedade totalmente estruturada, o que nos leva a crer que entre os sculos XVIIe primeira metade do sculo XVIII, houve apenas reflexos do Barroco europeu emnossa literatura, que aqui sofreu modificaes, incorporando elementos da nossarealidade: a estrutura de um pas-colnia, acompanhando os ciclos da nossaeconomia. O Barroco brasileiro marcado pelo poema pico camonianoProsopopia, de Bento Teixeira Pinto, que, segundo Rodolfo Garcia, naintroduo que escreveu para o segundo volume de Visitao do Santo Ofcio spartes do Brasil, coleo Eduardo Prado o poeta no , portanto, brasileiro esim israelita do Porto. sabido que o Barroco brasileiro vicejou primeiro emPernambuco e na Bahia, sedes da riqueza da poca: a cana-de-acar. Foram osnossos primeiros poetas nacionais Gregrio de Matos Guerra (1633-1695), oBoca do Inferno, que escreveu poesia lrica, satrica e religiosa13; ManuelBotelho de Oliveira (1636-1711), com Msica do Parnaso, publicado em170514 eoutros mais, membros das academias literrias fundadas nessa poca paradiscutir assuntos de interesse geral e demonstrar habilidades versejatrias. Asacademias eram as seguintes:

    Academia dos Felizes Fundada a 6 de maio de 1736 no Rio de Janeiro por Josda Silva Pais. O seu lema era afugentar a preguia: ignavia fugante et fugienda.Fechou-se em 1740.Academia dos Seletos Fundada no Rio de Janeiro em 1751 sob a proteo doconde de Bobadela, inspirada por Feliciano Joaquim de Souza Nunes.Academia Braslica dos Renascidos Fundada por Jos Mascarenhas PachecoPereira de Melo, na Bahia em 1759 sob a proteo do Marqus de Pombal quedepois mandou prender o presidente acadmico. O latim escolhido era:Multiplicado dies. O lema no foi proftico porque se fechou logo em 1760.Arcdia Ultramarina Fundada talvez em 1780 e foi, certamente, a mais ilustrede todas, pois a ela pertenceram Cludio Manuel da Costa, Jos Baslio da Gama,

  • Santa Rita Duro, Alvarenga Peixoto, Toms Antnio Gonzaga, Caldas Barbosa eoutros.Sociedade Literria do Rio de Janeiro Fundada em 1786 com a aprovao dovice-rei Luis de Vasconcelos e Souza. A sua alma foi o poeta Manuel Incio daSilva Alvarenga e dela fez parte o ilustre Mariano Jos Pereira da Fonseca,Marqus de Marica. Foi fechada sob acusao de conspirarem contra o Reino eos dois escritores foram presos na Ilha das Cobras.

    A partir da segunda metade do sculo XVIII a Europa caracteriza-se por umaprofunda mudana: o Iluminismo, movimento de renovao cultural surgidoinicialmente na Frana, entre os intelectuais ligados publicao daEnciclopdia. Todos os autores desejavam voltar aos moldes clssicos deoutrora, imitao dos modelos greco-romanos, indo procurar novamente ainspirao da vida pastoril na mitologia dos povos antigos. A lngua passou a sercuidada, combatendo-se os excessos da adjetivao vazia de sentido, dasexpresses retumbantes, das comparaes disparatadas, tendo por objetivosprincipais a simplicidade e a correo. Esse fato assinala um novo movimentoliterrio conhecido como Arcadismo. O nome provm de Arcdia, regio lendriada Grcia, onde os pastores e os poetas viviam num ambiente buclico, tranqilo,em paz com a vida e com o amor. Os poetas passaram a adotar nomes(pseudnimos) poticos pastoris, que tambm eram atribudos s suas amadas.O Brasil, nesse perodo, est vivendo o sculo do ouro, graas intensaatividade de extrao mineral e descoberta do diamante. Desloca-se o eixoeconmico e cultural para Minas Gerais (centro de extrao do minrio) e Rio deJaneiro (porto de escoamento e nova capital do pas desde 1763). O Arcadismono Brasil vai coincidir com a Inconfidncia Mineira, preparada por um pequenogrupo de letrados, muitos deles ex-estudantes da Universidade de Coimbra, quetentaram repugnar a explorao da coroa portuguesa sobre a nossa colnia. Ospoetas que mais representaram esse movimento foram os lricos Cludio Manuelda Costa, Clauceste Satrnio (1729-1789), com Obras Completas, com cemsonetos e vrias glogas; Toms Antnio Gonzaga, Dirceu (1744-1810), comLiras de Marlia de Dirceu e Cartas Chilenas, longo poema satrico cuja autorialhe atribudo; Manuel Incio Jos de Alvarenga Peixoto, Alcindo Palmireno(1744- 1814), com Glaura, O desertor, poema de inteno satrica e outrostrabalhos incluindo glogas, epstolas, odes e canes; Alvarenga Peixoto (1743ou 1744-1792), sua obra parece ter-se perdido em virtude de sua priso porenvolvimento na Inconfidncia Mineira; os poucos que chegaram a nspermitem-nos perceber um poeta preso s convenes da poesia da poca; os

  • principais cultivadores do gnero pico foram Cludio Manuel da Costa, JosBaslio da Gama (1741-1795) com O Uraguai; Frei Jos de Santa Rita Duro (1722-1784) com Caramuru, poema pico do descobrimento da Bahia, publicado em1781. Em quase todas as obras desses autores esto presentes na busca de umaidentidade nacional para nossa literatura, manifestando-se o aproveitamento doindgena como heri literrio e a viso crtica da situao poltica do pas. Apoesia brasileira dessa poca, assim como demais cantadas na Europa, aospoucos assumia um carter romntico e singular na Literatura Brasileira.O Arcadismo, como sabemos, marcou um trao muito forte na nossa literatura, jganhvamos, aos poucos, uma poesia de identidade nacional. Os nossos poetascantavam os grandes espetculos da natureza tropical, ainda que, selvagem, mascarregada de emoo. Ao recorrermos s metforas empregas por eles, ou seja, significncia histrica que nos deixada em seus versos, teremos, apesar de todasubjetividade, indcios de que nossa civilizao comeou a adquirir conscincia apartir desse perodo. A forma de como o homem brasileiro (na condio decolnia) pensava e se comportava, perante a cada situao, era extrada atravsdo Eu potico, que se assinala como uma emoo primitiva do conhecimentoindividual de cada poeta. Tudo aquilo que o incomodava, tornava-se tese emsuas poesias; uma arte rica no procura beleza, permanece sempre a servio dealgum efeito prtico.

    Se no Arcadismo o homem colono-brasileiro adquiria conscinciapara reforar o seu esprito de luta, contra tudo aquilo que o incomodava, a partirde 1822, com a proclamao de independncia do Brasil que a sua conscinciatorna-se mais nobre. Nesse momento ocorre a afirmao da nacionalidade, fatoque coincide com a chamada escola romntica que havia surgido na Alemanha em1774; depois Inglaterra (18l9) e Frana, que teve como tarefa de difundi-lo aoutros pases. Em Portugal o Romantismo inicia-se em 1825, vindo a ocorrer noBrasil em 1836, quando Gonalves de Magalhes publica Suspiros poticos esaudades.

    bom lembrar que as origens do Romantismo esto ligadas aodeclnio da nobreza e ascenso da burguesia europia, no final do sculo XVIII,que causou alteraes na ordem social. Nesse contexto surge uma literaturarenovada em vrias vertentes, pronta para atender um novo pblico leitor; que,agora, conta com o surgimento da imprensa burguesa. Nosso pas assistiu, noincio do sculo seguinte, fatos que desencadearam sua independncia poltica esocial: a vinda da famlia real. Com a chegada de d. Joo VI ao Rio de Janeiro,ocorreu uma srie de transformaes sociais e econmicas que visavam apossibilitar a administrao de Portugal daqui do Brasil. Os fatos maisimportantes foram a abertura dos portos; a fundao do Banco do Brasil; a

  • criao dos tribunais de finanas e de justia; a permisso para o livrefuncionamento de toda espcie de indstria e a implantao da imprensa, querapidamente se tornou um grande veculo de difuso cultural. A poesia mais umavez marca o incio de uma nova escola literria, estvamos no perodo romntico,chamado Romantismo, que teve, para ns, caractersticas notveis como avalorizao do ndio, de nossa flora e fauna; o regionalismo ou sertanismo (queaborda o homem do interior e seus costumes); o mal do sculo (marcado pelamelancolia, tristeza, sentimento de morte e pessimismo de nossos poetas); arealidade poltica e social (o abolicionismo absolutista, as lutas humanitrias,sentimentos liberais, o poder agrrio e corrupo); os problemas urbanos(surgidos com o relacionamento indstria-operrio). Os poetas brasileiros quemarcaram esse perodo foram: Domingos Jos Gonalves de Magalhes (1811-1882) o Visconde Araguaia, com Suspiros poticos e saudades, obra que temmais valor histrico que literrio; Antnio Gonalves Dias (1823-1864) Primeiroscantos, Segundos Cantos, ltimos cantos, Teatro, Sextilhas de Frei Anto,Meditao, Os Timbiras e Poesias Pstumas; 15 Manuel de Arajo Porto Alegre(1806-1879), poeta pouco conhecido, escreveu Colombo, poema de 40 cantos, emdecasslabos brancos; Anglica Firmino, A Esttua Amaznica, Os Voluntriosda Ptria, A Noite de So Joo, Dinheiro e Sade e Brasilianas; BernardoJoaquim da Silva Guimaraens (1825-1884) alm de prosador foi poeta, consideradopr-romntico. Seus versos so brancos e de timbre nobre (que lembra os deBaslio da Gama e Gonalves Dias). Escreveu Contos da Solido, Poesias, NovasPoesias e Folhas de Outono; Laurindo Jos da Silva Rabelo (1826-1864), o poetalagartixa, apelido que recebeu por ser muito magro, foi um poeta lrico e satrico,suas produes aparecem em Trovas, Obras Poticas e Obras Completas;Manuel Antnio lvares de Azevedo (1831-1852) deu-nos apenas uma amostrado que faria o seu gnio se a morte no o tolhesse, escreveu A Lira dos VinteAnos, Poesias Diversas, Poesias do Frade e O Conde Lopo; Lus Jos JunqueiraFreire (1832-1855) toda sua poesia travada entre o monge e o moo do sculo,escreveu Inspiraes do Claustro e Contradies poticas; Casimiro JosMarques de Abreu (1839-1860), poeta espontneo, profundamente sentimental,mas de pequena inspirao, escreveu Primaveras; Lus Nicolau Fagundes Varela(1841-1875), depois de Gonalves Dias, um dos maiores poetas que possumos,sua vida foi cheia de paradoxos, no teve muito sossego para escrever, falecendomuito novo; so suas obras Noturnas, Pendo Auriverde, Vozes da Amrica,Cantos e fantasias, Cantos religiosos, Anchieta ou O Evangelho das Selvas,Cantos Meridionais, Cantos do Ermo e da Cidade16; Francisco Otaviano deAlmeida Rosa (1825-1889) no tem destaque entre os poetas romnticos, duasprodues poticas de sua autoria aparecem em quase todas as antologias, o

  • soneto Morrer...dormir e o pequeno poema Iluses da Vida, deixou-nosTradues e poesias; Aureliano Lessa (1828-186l), poeta Diamantinense, poucoconhecido, foi companheiro de lvares de Azevedo, deixou-nos apenas PoesiasPstumas; Tobias Barreto de Menezes (1839-1889), um dos maiores poetas daAmrica, retumbante poeta de Dias e Noites, foi um dos mestios maisinteligentes de toda nossa histria literria, seus numerosos trabalhos estoreunidos em Obras Completas, em vrios volumes; Pedro Lus (1839-1884) oardoroso condoreiro de Terribilis dea, no publicou obra nenhuma, seustrabalhos foram reunidos e publicados pela Academia Brasileira de Letras sob ottulo de Dispersos; Antnio de Castro Alves (1847-1871) cantou todos osproblemas sociais que ocorreram no seu tempo, escreveu Os escravos, ACachoeira de Paulo Afonso, Espumas Flutuantes, Vozes da frica e O NavioNegreiro;17 Tobias Barreto de Menezes (1839-1889) foi poeta contemporneo erival de Castro Alves, escreveu Dias e Noites, Menores e loucos, Polmicas,Discursos, entre outras.

    Os poetas supracitados, adeptos a essa escola literria valorizavamo eu, gerando o egocentrismo, desvinculando-se completamente dos padres enormas estticas do Classicismo. O verso livre, sem mtrica e sem estrofao, e overso branco, sem rima, caracterizam a poesia romntica, prevalecendo, assim, oacento da inspirao. Foi uma poca em que, pelo ao menos na cidade de SoPaulo, todos queriam ser poetas. Poucos se destacaram e mereceramreconhecimentos de suas obras nessa escola literria. Vivamos, ento, o apogeuda poesia em nossa literatura, que aos poucos viria a alcanar novos horizontes.O exacerbado sentimentalismo empregado pelos poetas e prosadores romnticos,aos poucos, decadenciava-se. Todos os aparatos vocabulares utilizados por eles,as adjetivaes, as expresses imaginosas, metafricas, produtos da fantasia e dosubjetivismo foram substitudas por uma linguagem mais objetiva. A prosadominou apoesia, tornando-se a lngua comum, real e viva, porquanto, o verso, seguindo osmoldes da linguagem objetiva, procuradamente correta e se d ateno s rimasricas. Estamos falando do Realismo, Naturalismo e Parnasianismo, que seinauguraram, como estilo literrio, a partir da segunda metade do sculo XIX,quando a Europa vive profundas transformaes vividas pela sociedade: asegunda fase da Revoluo Industrial, o desenvolvimento do pensamentocientfico e das doutrinas filosficas e sociais. Essa nova sociedade serve depano de fundo para uma nova interpretao da realidade, que gera teorias devariadas posturas ideolgicas. O homem est em busca de algo mais objetivo,negando o subjetivismo romntico e voltando-se para aquilo que est diante efora dele, o no-eu; o personalismo cede terreno ao universalismo. O materialismo

  • leva negao do sentimentalismo e da metafsica. O Realismo, em termos gerais,s se preocupa com o presente, com o contemporneo. Enquanto o Naturalismovaloriza os instintos naturais do homem, levando o Realismo ao extremo, a nossapoesia vai se manifestar nessa poca dentro de uma escola de predominnciapotica: o Parnasianismo.O Parnasianismo a manifestao potica da poca do Realismo / Naturalismo,embora no mantenha, ideologicamente, todos os pontos de contato com osromancistas realistas e naturalistas. a esttica da arte pela arte, com os seuspoetas margem das grandes transformaes do final do sculo XIX e incio dosculo XX. Esse estilo surgiu na Frana. O termo relaciona-se a um lugarmitolgico da Grcia, o Parnassus, que seja a morada das musas, onde os artistasbuscavam inspiraes. O Parnasianismo s conseguiu xito na Frana e no Brasil,preocupando, sobretudo, com a preocupao formal: a arte deve estardescompromissada da realidade, procurando atingir a perfeio normal. Os poetasdesse movimento elegeram a Antiguidade clssica (cultura greco-romana) comoponto de referncia para a almejada perfeio formal: objetividade, gosto porcoisas e fatos exticos, viso mais carnal que espiritual do amor, predomnio daordem indireta, escolha de palavras incomuns, mais raras no vocabulriocotidiano, preferncia pela rima rica e preciosa, predomnio de descriespormenorizadas e universalismo.O Parnasianismo no Brasil divide-se em dois momentos: o primeiro de 1880 a 1890,na convergncia de idias anti-romnticas, como a objetividade no trato dostemas e o culto da forma, remontando as antologias publicadas a partir de 1866,sob o ttulo de Parnasse Contemporain, em Paris, Frana. Nesse momentoestrearam os poetas Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Osegundo momento, batizado como neoparnasiano, que se inicia a partir doprimeiro vintnio do sculo XX, (quando, na Europa, os poetas se aderiam aomovimento Simbolista), encontraremos poetas discpulos dos que marcaram oprimeiro momento desse movimento. A partir do neoparnasianismo a poesiabrasileira ganha novas tendncias, ora romnticas, ora parnasianas, orasimblicas e at modernas.O nosso primeiro livro parnasiano data-se de 1882, Fanfarras, de Tefilo Dias, emseguida, a corrente ter mestres como Antnio Mariano Alberto de Oliveira(1859-1936) pertenceu a Academia Brasileira de Letras e foi considerado oprimeiro Prncipe dos poetas brasileiros. Forma o tringulo de ouro doparnasianismo brasileiro ao lado de Olavo Bilac e Raimundo Correia. Suasprodues poticas so numerosas, escreveu: Meridionais, Sonetos e Poemas,Versos e Rimas, Livro de Ema, Cu, Terra e Mar; Raimundo da Mota de AzevedoCorreia (1860-1911) vibrou todos os sentimentos humanos, sempre delicado e

  • profundo, Primeiro Sonhos, Sinfonias, Versos e Verses, Aleluia e Poesias; LusDelfino dos Santos (1834-1910) teve vida longa principiou na poesia romntica,passou pelo Parnasianismo, experimentou o Simbolismo e quase atingiu oModernismo. Deixou: Algas e musgos, Poemas; Poesias Lricas, ntimas eAspsias, Atlante Esmagado; Rosas Negras, Esboo da Epopia Americana,Arcos do Triunfo, Posse Absoluta, O Cristo e a Adltera; Imortalidade; JoaquimMaria Machado de Assis (1839-1909) apesar de ter se destacado mais na prosarealista, deixou-nos poesia Parnasianas, como Crislidas (1864), Falenas (1870) eAmericanas (1875)18; Lus Caetano Pereira Magalhes Jnior (1845-1869), um dosfundadores da Academia Brasileira de Letras, tem em Sonetos e Rimas a suamelhor produo; Antnio Valentim da Costa Magalhes (1859-1903), poeta detemas socialistas e de terno lirismo, Cantos e Lutas e Rimrio; Olavo BrsMartins dos Guimares Bilac (1865-1918) foi eleito, depois do desaparecimento deAlberto de Oliveira, o primeiro Prncipe dos Poetas, em concurso promovidopela revista Fon-fon em 1907, suas obras parnasianas foram: Poesias (1888) obra que inclui Panplias, Via-Lactea, Saras de fogo, Alma Inquieta e Ocaador de esmeraldas; Sagres (1898); Poesias Infantis (1904); Tarde (publicadopostumamente em 1906); Francisca Jlia da Silva (1874-1920) foi a primeira dentretodas as literatas do Brasil e distinguiu-se entre todos os parnasianianos peloculto da forma e represa emotividade como queria a escola, deixou-nos duasobras Mrmores e Esfinges; Padre Jos Severiano de Resende (1871-1931) deixoupequena brochura de poesias, ao gosto naturalista, retratando animais:Mystrios; Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924) est colocado entre os maisprofundos poetas lricos, conhecido na nossa literatura como o poeta do mar,Ardentias, Poemas do mar, O Relicrio, Rosa, Rosa de amor, Poemas eCanes, Pginas Soltas, Luisinha, Versos da Mocidade, Versos da Carteira deum doido; Manuel Batista Cepellos (1872-1915) escreveu em vrios jornais erevistas de S. Paulo e do Rio de Janeiro, a sua poesia nacionalista, de modoespecial paulista pelos assuntos: A Derrubada (poemeto), O Cisne Encantado(poema) e Os Bandeirantes, com prefcio de Olavo Bilac, 1906; Rodrigo Otvio deLangoard Menezes (1866-1944) foi poeta, historiador, contista e teatrlogo,escreveu Pmpanos, Poemas e Idlios, Sonhos Funestos (drama em versos) eVera; Afonso Celso de Assis Figueiredo Jnior (1860-1938) um dos fundadoresda Academia Brasileira de Letras, deixou Preldios, Devaneios, Telas Sonantes,Rimas de Outrora e Poesias Escolhidas; Sebastio Ccero dos GuimaresPassos19, (1866-1909) foi tambm fundador da Academia Brasileira de Letras,escreveu vrios trabalhos em colaborao com Bilac, Versos de um simples, Hinodo Quarto Centenrio do Descobrimento do Brasil e Horas Mortas; Humbertode Campos (1886-1934) poeta, jornalista, contista, crtico, foi membro da

  • Academia Brasileira de Letras, parnasiano na poesia e romntico na prosa,escreveu Poeira, Poesias Completas; Amadeu Amaral (1875-1929) foi jornalista,poeta, fillogo. Parnasiano na poesia depois de ter sido romntico em seusprimeiros livros: Urzes, Nvoa, Espumas e Lmpada Antiga; Paulo Setbal (1893-1937) como poeta escreveu versos de saber popular: Alma Cabocla; AfonsoSchmidt (1890-1964), o valor da sua obra est no contedo, no assunto, muitomais do que na forma. Ganhou vrios prmios da Academia Brasileira de Letras:Lrios Roxos, Miniaturas, Lusitnia, Janelas Abertas, Ao Relento, Garoa,Poesias Escolhidas e Poesias; Rui Ribeiro (1898-1963) foi poeta e prosador,escrevendo em francs e servo-croata, tem vrios contos, poesias e, inclusive oromance, Cabocla, traduzidos para o francs, o italiano, hngaro, sueco e servo-croata: O Jardim das Confidncias, Poemetos de Ternura e Melancolia, UmHomem na Multido, Canes de Amor, Cancioneiro do Ausente, Dia Longo,Rive Estrangre, Entre Mar e Rio, Jeux de LApprenti Animalier; AugustoMeyer Jnior (1902-1969) como poeta foi regionalista ou folclorista, deixando nosPoesia (reunio de todas as suas poesias), A Chave e a Mscara e CancioneiroGacho; Cid Franco (1904-1933), como escritor foi poeta, prosador e pesquisadordo folclore brasileiro, deixou nos obras poticas como Msica Extinta (Lricados 17 anos), Histria Envenenada, procura de Cristo (poesias epensamentos espirituais), Poemas, Avatar, Trovas para o meu Senhor (poesiareligiosa); Gustavo Teixeira (1881-1937), a sua poesia ressente-se da sua falta deinformao literria; o seu primeiro livro Ementrio foi muito bem recebido pelaimprensa e o tornou conhecido dos centros literrios do Estado de S. Paulo,publicou ainda Poemas Lricos, hoje enfeixados no volume Poesias Completas;Maria Eugnia Celso (1890-1963), poetisa e notvel escritora, sua obra mais bela Vicentinho, inspirada no filho, que nasceu em 1922 e veio a falecer dois anosdepois, escreveu tambm Em Pleno Sonho (poesias), Alma Vria (versos),Jeunesse (versos em francs) e Orao da Enfermeira (poesia); Benedito LusRodrigues de Abreu (1897-1927) iniciou suas publicaes com um pequeno livrode poesias Noturnos, 1917 e, mais tarde, j em convivncia com outros literatosda capital paulista, tambm escreveu A sala dos Passos Perdidos e A CasaDestelhada; Clemenes Campos Oliveira (1896-1968), poeta lrico dos maisdelicados, apesar de sergipano, pertenceu Academia Paulista de Letras,escreveu Corao Encantado, De Mos Postas e Zabel; Joaquim Osrio DuqueEstrada (1870-1927) foi poeta e membro da Academia Brasileira de Letras. oautor da letra do Hino Nacional Brasileiro, cuja msica de Francisco Manuel daSilva. Foi, antes de tudo, um crtico combatvel e terrvel polemista contra ascorrentes modernistas. Suas obras principais foram: Arte de fazer versos, RimasRicas, Crtica e Polmica.

  • Vimos que o Parnasianismo equivaleu na poesia ao Realismo na prosa, surgindocomo uma reao contra o Romantismo e seu exacerbado subjetivismo. A maiorpreocupao dos poetas parnasianos era a forma, a perfeio do verso, queexigiria sempre a preciso da mtrica e da rima, segundo os cnones da poticatradicional. Buscaram-se as normas poticas da Antigidade clssica atravs dosautores neoclssicos e dos autores renascentistas.Embora o Parnasianismo obtivesse maior xito na Frana e no Brasil, podemosafirmar que no Brasil no houve parnasianos puros, com exceo, talvez deFrancisca Jlia (neoparnasiana), que conseguiu em seus versos a impassibilidadee objetivismo pregados pelo estilo. Os outros autores, de Bilac a Alberto deOliveira, todos tm, em maior ou menor quantidade, poesias intimistas, e, ou emmaior ou menor intensidade, de versos que se caracterizam pelo lirismo.Apesar de o Parnasianismo ter rompido barreiras e atravessado um sculo depoesia, no Brasil, nesses entrementes, vai ocorrer vrios movimentos literriosque causaro a ruptura dos modelos clssicos em nossa literatura. Em relao aosoutros pases, principalmente aos da Europa, o Brasil vai fazer despontar oSimbolismo, o Pr-Modernismo (movimento exclusivamente nosso, que seregistra, literalmente falando, como um perodo de transio s novas tendnciasliterrias) e o Modernismo, propriamente dito. Poetas e poesias se confundem nodecorrer dessas novas mudanas. Se recorrermos aos estudos de cada um deles,veremos que haver momentos de converso, ou seja, o poeta estria-se em umaescola literria e depois passa pertencer a outra. bvio que cada escritor tem oseu estilo literrio de acordo com a sua poca e/ou com as mudanas sociais,polticas, econmicas e culturais do seu pas e do mundo.As duas ltimas dcadas do sculo XIX na Europa mostram uma sociedadeapoiada principalmente em duas classes sociais: os capitalistas, que viviam delucros, e uma classe mdia em crise. O materialismo que havia prometido afelicidade para todos, vai ser questionado. Desse questionamento emergemvalores esquecidos, que vo ser cultivados de novo a metafsica que a cinciaexpulsara da filosofia -, o misticismo, o sonho, a f, a religio, a anlise dosubconsciente e do inconsciente volta tona na ltima dcada desse sculo, em1890, quando se inicia na Frana um movimento literrio contra o Parnasianismo:o Simbolismo. Achavam os poetas que o excesso de objetivismo da escolaprecedente, a sua indiferena sentimental e a to apregoada sensibilidade dosvates j eram assuntos julgados e aborrecidos. Era necessrio maior sutilezasentimental; sentir, expressar os sentimentos, mesmo de maneira vaga, imprecisa,mais pelo som das palavras do que pela significao delas. Tudo deveria ser ditomusicalmente, ritmicamente, por meio de smbolos, de figuras, de comparaes. Amtrica, o estilo, nem mesmo as regras gramaticais poderiam impedir o poeta a

  • expressar os seus sentimentos.No Brasil, embora tardio, o Simbolismo vai acontecer paralelamente com oParnasianismo. Seu marco inicial ser em 1893, quando Cruz e Sousa publicaMissal e Broquis. Segundo Faraco & Moura Aos novos poetas ossimbolistas no foi dada a oportunidade de se manifestarem atravs de jornais erevistas, veculos sempre disponveis aos parnasianos, aceito pelo pblico. (...)S mais tarde, j no sculo XX, os simbolistas passaram por um processo dereavaliao, em que se considerou sua poesia fundamental para o surgimento donosso Modernismo. So poucos os poetas desse movimento: Joo da Cruz eSouza (1861-1898) foi o mais importante simbolista brasileiro, seus poemas somarcados pela musicalidade, pelo individualismo, pelo sensualismo, s vezes pelodesespero, s vezes pelo apaziguamento, alm de uma obsesso pela cor branca:Broqueis (versos), Missal (poemas em prosa), Evocaes, Faris e ltimosSonetos20; Bernardino da Costa Lopes (1859-1916) sabendo apenas ler, tinha apoesia nas veias e o talento flor da pele; foi dos poetas mais lidos e imitados emtodo o pas, publicando livros sobre livros, onde a beleza das inspiraesencontra perfeita expresso, no s de linguagem sonoramente constante, mastambm na perfeio da tcnica: Cromos, Pzicatos, D. Carmem, Brases, SinhFlor, Pela poca de Crisntemos, Val de lrios, Helenos-Lrios de QuatorzePtalas, Plumrio, Poesias Completas, em 4 volumes; Verglio Vrzea (1862 -1941) a sua linguagem cuidada, colorida e musical, publicou em versos apenasTraos Azuis; Vescelau Jos de Oliveira Queirs (1865-1921), como era novidade oSimbolismo, dedicou-lhe ateno, publicando Nevrose, versos, Goivos, Heris,Sob os olhos de Deus, Reza do Diabo e Cantinelas21; Emiliano David Perneta(18661921) o prncipe dos poetas paranaenses , como poeta comeou a serbeaudelairiano, aderindo depois ao grupo dos simbolistas: Msicas, Carta Condessa dEu, O Inimigo, Alegorias, Iluso, Pena de Talio, Setembro. Estotodas reunidas em Obras Completas; Antnio Francisco da Costa e Silva (1885-1950) foi um dos poetas mais apreciado do seu tempo, se no seu primeiro livroSangue, 1908, ainda oferecia alguma influncia simbolista, j no segundo Zodacose firmava como verdadeiro parnasiano. Publicou ainda Pandora, Vernica,Antologia e Poesias Completas; Hermes Fontes (18881930) em sua produoencontram-se poesias que rivalizam com as mais altas da lngua portuguesa noBrasil; Apoteose, Gnese, O Mundo em Chamas, Ciclo de Perfeio, Miragem noDeserto, Epopia da Vida, Microcosmo, A Lmpada Velada, Despertar, A Fonteda Mata e Poesias Escolhidas; Alceu Wasmosy (18951925) nos legou poesiasde intenso lirismo, escrevendo obras como Flmulas e Terra Virgem; Jos AlvesFlix Pacheco (1879 1935) foi jornalista, deputado federal, senador e ministrodas Relaes Exteriores, escreveu Chicotadas, Via Crucis, Mors Amor, Amores

  • Alvos, Luar de Amor, Poesias, Inesita, Maria, Tu, s tu, No limiar do Outono, OPendo da Taba Verde, Lrios Brancos, Estos e Pausas, Em Louvor de PauloBarreto; Emlio de Meneses (18671918), filiado entre os parnasianos, escreveuversos sempre pomposos, quase sempre em alexandrinos, mas de contedopequeno, quer como emoo, quer como pensamento: Marcha Fnebre, Poemasda Morte, Dies Irac, Poesias, ltimas Rimas e Deuses em Ceroulas (Mortalhas);Mrio Pederneiras (18681915), a sua poesia toda subjetiva das maisharmoniosas do Brasil; nos versos livres foi um dos mais perfeitos, nos deixou:Agonia, Rondas Noturnas, Histrias do meu Casal, Ao Lu do Sonho e mercda Vida, Outono; Afonso Henrique da Costa Guimares Alphonsus deGuimaraens (18701921) foi um mstico, no sentido de tratar temas ligados religio, sem que disto decorresse o misticismo de sua vida. Teve poucaressonncia a sua poesia s somente depois que faleceu que se passou a dar-lhemaior ateno literria. So suas obras: Setenrio das Dores de Nossa Senhora,Cmara Ardente, Dona Mstica Kyriale, Pauvre Lyre, Pastoral aos Crentes doAmor e da Morte e Poesias; Jorge Faleiros (18981924) conhecia como poucos alngua portuguesa e a poesia no lhe teve segredo algum, deixando-nos um livropstumo, Nirvana; Pedro Kilkerry (18851917) no teve nenhuma obra editada:seus poemas e textos em prosa foram publicados em jornais e revistas da poca,especialmente em revistas simbolistas Os Anais e Nova Cruzada. Em 1970,Augusto de Campos publicou Re-viso de Kilkerry, reunindo os textosdisponveis do poeta. lcito afirmar que no Brasil, o Simbolismo no teve, porm, encontradoressonncia na alma dos nossos autores e muito menos na alma do pblico, quehabituados ao Parnasianismo no aceitaram esse movimento, que exigia muitomais do que o conhecimento de uma arte potica. A esttica simbolista,infelizmente, foi sufocada com a longevidade dos nossos poetas parnasianosque, somente depois de muitos anos conheceram outros estilos e aos poucos seaderiram ruptura proposta pelos modernistas, aps a Semana de 1922. Faltava-lhes a conscincia de que poesia no era simplesmente uma arte, mas teria deestar vinculada aos sentimentos humanos, livre de regras ou manuais da arte deversejar.Aps a proclamao da Repblica, os nossos dois primeiros presidentes erammilitares: o marechal Deodoro da Fonseca e o marechal Floriano Peixoto. Oprimeiro presidente civil, o paulista Prudente de Morais, tomou posse em 1894.Com ele, teve incio uma alternncia de poder conhecida como a poltica do caf-com-leite, que manteve durante as trs primeiras dcadas do sculo XX. Asoligarquias rurais de So Paulo e Minas Gerais que dominavam os cenriospolticos e econmicos do pas. Apesar do domnio, essas oligarquias rurais

  • caminhavam em descompasso com as grandes transformaes pelas quaispassava a sociedade brasileira. Essas transformaes eram resultados doacentuado processo de urbanizao, da vinda de grandes contingentes deimigrantes e do deslocamento ou da marginalizao dos antigos escravos; surgiauma nova classe social: o proletariado, camada social formada pelos assalariados.Durante as duas primeiras dcadas deste sculo ocorreram vrias agitaessociais: a Revolta da Vacina, em 1904; a Revolta da Chibata, em 1910; os primeirosgrandes movimentos grevistas em So Paulo, em 19l7. Nesse quadro de gravesdesequilbrios sociais, os escritores passaram a expor uma viso crtica dosproblemas brasileiros, embora no tenham se constitudo como um movimentoliterrio especfico. Durante este perodo, conhecido na nossa Literatura Brasileiracomo Pr-Modernismo, a predominncia maior foi a prosa; os trs poetas quemais se destacaram foram Augusto dos Anjos (1884-1913) o poeta mais originale pode-se dizer que nico em seu gnero, misturando romantismo com realismo,inspira-se nas cenas mais cruas da vida humana, usou de linguagem cientficacomo se fosse bilogo ou fisilogo, nos deixou as seguintes obras: Eu, Rio deJaneiro, 1912 e Eu e outros Poemas (3a edio do primeiro), Rio, 1928; Raul deLeoni Ramos22 (18951918) embora tenha publicado to pouco, inscreveu-seentre os mais perfeitos lricos brasileiros. No s emoo a sua poesia, masencerra sempre um pensamento, uma meditao espiritual e profunda; tem a formaperfeita, o ritmo impecvel e a linguagem correta. Nos legou: Ode a um PoetaMorto (pela ocasio da morte de Olavo Bilac) e Luz Mediterrnea; OlegrioMariano Carneiro da Cunha (1889-1958) poeta pr-modernista, o cantor dascigarras e dos namorados, deixou pginas cheias de encanto e de ternura: Visesde Moo, ngelus, XXII Sonetos, Evangelho da Sombra e do Silncio, guaCorrente, ltimas Cigarras, Cidade Maravilhosa, Castelos na Areia, Batacl,Canto da Minha Terra, Destino, Teatro, Poesias Escolhidas, Vida, Caixa deBrinquedos, Poemas de Amor e de Saudade, O Enamorado da Vida, Quandovem baixando o crepsculo, A vida que j vivi, Cantigas de encurtar caminho,Tangar conta histrias, Correio Sentimental, Toda uma vida de Poesia.A partir desse momento iremos ganhar a poesia musicada, ou seja, oscompositores eruditos passaram a manifestar interesse e a valorizar os ritmospopulares, fazendo com que as elites comeassem tambm a aceitar aquele tipo demsica. A poesia, aos poucos, estaria propensa a fundir-se com a msica, ou seja,ganhar alma e invadir o esprito humano, como hoje faz em grande estilotecnolgico. E isso no de se admirar, uma vez que, desde a Idade Mdia ela jera cantada atravs da lira.Se as duas primeiras dcadas do sculo XX foram marcadas por vrias agitaessociais, no Brasil, no mundo vai ocorrer a crise do capitalismo e o nascimento da

  • democracia de massas. A revoluo cientfica rompia as barreiras do tempo e doespao, produzindo um grande e universal estado de euforia e crena noprogresso. Inventaram-se, no fim do sculo XIX e incio do sculo XX, otelgrafo, o automvel, a lmpada, o telefone, o cinema e o avio. Essasmudanas provocaram radicais alteraes na forma de viver, de analisar arealidade e de represent-la artisticamente.A mquina se tornou participante de todos os setores da vida, viverconfortavelmente e aproveitar o presente eram preocupaes fundamentais dohomem naquele momento. A esse momento do incio do sculo d-se o nome debelle poque, que, no entanto, durou pouco, pois em 1914 iniciou-se a PrimeiraGuerra Mundial, encerrada em 19l8. O conflito, que envolveu praticamente omundo todo, gerou a desconfiana nos sistemas polticos, sociais e filosficosvigentes. O homem que viveu a guerra comeou a questionar os valores do seutempo.

    Terminada a guerra mundial de 19l4, toda Europa estava, naturalmente,convulsionada. Se a poltica procurava reconstruir a sociedade, em outras basesporque novos problemas sociais haviam aparecido, a literatura, produtoeminentemente social, se viu tambm com a mesma desorientao. O passadoestava extinto e com ele os temas literrios de ante-guerra. Era necessrioprocurar no futuro imediato os assuntos literrios, isto , deviam os escritoresacomodar-se ao que pudesse vir, j que o passado era outra cousa morta. Oprogresso da humanidade ia entrar na era da mquina, da tcnica, da ao direta eimediata, na rapidez dos transportes, das comunicaes quase instantneas emque o indivduo contava muito pouco e tudo repousava no mecanismo dosinstrumentos. A literatura deveria fazer de tudo isto o seu assunto. Ofuturismoempregado por Marinetti estendia-se da Itlia Frana, Europatoda, projetava-se na Amrica, especialmente, no Brasil, cuja visita fizera o pai darenovao literria, entre apupos, vaias e aclamaes. Na Frana, os queregressavam dos campos de batalha traziam ainda a revolta do sofrimento, aangstia das destruies e como se as idias, as manifestaes do passadofossem responsveis pela hecatombe, contra elas investiam afrontosamente.Deviam enterrar, nas trincheiras esse passado com todas as suas figuras, com afalsa tristeza dos poetas, com as falsas criaes do romantismo, com os falsosrecursos de sonoridade do simbolismo. Nada de tudo isso era real, era vivido,mas apenas fantstico, imaginrio, falso. A vida era spera e difcil, cheia de luta ede sangue. Assim devia ser a literatura. Atacaram os cnones da lngua, daestilstica, da moral. Liberdade de expresso, liberdade de empregar a palavra

  • como quisessem, liberdade de dizer o que deviam dizer, fosse ainda pornogrficoou imoral. Mas no fcil querer cortar com o passado: o que descobririam parasubstitu-lo? Um novo ritmo? Novas formas poticas? Novos assuntos? Novalngua? Desta luta surgiram ento as escolas conhecidas por cubismo, dadasmo,suprarrealismo. Eram expresses falhadas da renovao literria, do modernismo.As duas primeiras procuravam o preciosismo, a fantasia, a incoerncia,. Buscavaa ltima, o suprarrealismo ser mais que a prpria realidade, exagerando o ladopouco esttico e grosseiro da realidade (...).23

    No Brasil, o Modernismo vai adquirir adeptos a partir de sua inaugurao oficialno Teatro Municipal de So Paulo, em 1922, dividindo-se em apenas trsespetculos: o primeiro a 13 de fevereiro, o segundo a 15 de fevereiro e oterceiro a 17. O objetivo principal destes espetculos de oratria, declamao,msica, tudo acompanhado de vaias, assobios, pateadas e tambm aplausos, foiescandalizar o burgus, isto , o sequaz ainda do Parnasianismo, doSimbolismo e do Romantismo. O saldo deste movimento foi nulo: nenhuma obrade valor substancial apareceu, apenas teve o valor de um grito de clamor quese fez ouvir nos anos consecutivos, despertando em todo o Brasil movimentossemelhantes, livros, revistas, estas sempre efmeras e aqueles de valor muitodiscutvel. Os poetas brasileiros que marcaram esse perodo foram: Mrio Raul deMorais Andrade (1893-1945), poeta, romancista, crtico literrio, crtico musical,ensasta de arte, folclore, literatura e msica. A cidade de So Paulo, sua maisprofunda paixo, constitui tema freqente de sua obra: H uma gota de sangueem cada poema, Paulicia desvairada, Losango cqui, Cl do jabuti; Rematede males, Poesia, Lira Paulistana, seguida de O carro da misria; ManuelCarneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968) foi o poeta que viveu enganado,atacado pela tuberculose, que apesar de tudo, viveu 80 anos. Pertenceu aAcademia Brasileira de Letras e, como poeta, foi de grande sentimentalidade e,por isso, romntico. Inspira-se em temas de sua prpria vida, sendoautobiogrficas vrias de suas obras. Depois que adotou o verso livre, maisprosa ritmada do que verso, entrou para a fileira dos modernistas com grandexito. Obras: A Cinza das Horas, Carnaval, O ritmo dissoluto, Libertinagem,Estrela da Manh, Lira dos cinquentAnos, Belo, Belo, Mafu do Maluco,Estrela da Tarde, Estrela da vida inteira; Cassiano Ricardo Leite (1895-1975),sua obra potica acompanha as diversas fases do Modernismo brasileiro. Osseus dois primeiros livros apresentam ainda caractersticas parnasiano-simbolista:Dentro da Noite; A flauta de P; Martim Cerer ou O Brasil dos Meninos, dospoetas e dos heris, O sangue das horas, Jeremias sem chorar, Os

  • sobreviventes; Jos Oswald de Sousa Andrade (1890- 1954) suas produespoticas caracterizam-se por uma linguagem que mostra o nosso falar quotidiano,a lngua do povo. Embora fosse injustiado pela crtica, que no lhe conferiu odestaque de primeiro plano no movimento modernista, vendo nele apenas maisum dos seguidores de Mrio de Andrade; hoje reconhecemos a importncia desuas obras sob o aspecto lingstico e literrio. Escreveu: Pau-Brasil, O primeirocaderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, Poesias Reunidas, Cnticosdos cnticos para flauta e violo e O escaravelho de ouro; Ide SchloembachBlumenschein (1882-1962) filha de pais alemes, nasceu em So Paulo.Desmentindo a fleugma de sua origem alem, foi o temperamento mais exaltado dapoesia feminina em qualquer fase ou escola literria. Tornou-se conhecida peloseu pseudnimo Colombina, tendo colaborado em todas as revistas literrias deseu tempo e publicado numerosos livros de verdadeira e exaltada poesia tropical:Vislumbres, Sndalo, Lampeo de Gs, Cantares do Bem Querer, Cantigas aoLuar, Uma Cigarra cantou para Voc, Distncia, Inverno em Flor e GratidoRapsdia Rubra; Ronald de Carvalho (1893-1935) figura ao lado daqueles queiniciaram o movimento modernista no Brasil. Escreveu uma Pequena Histria daLiteratura Brasileira: Luz Gloriosa, Poemas e Sonetos, Epigramas irnicos esentimentais, Toda a Amrica e Jogos Pueris; Raul Bopp (1898-1984) um dosdirigentes, com Oswald de Andrade e Alcntara Machado, da RevistaAntropofagia (1928-1929), sua obra de maior repercusso o poema CobraNorato, que em tupi quer dizer lngua boa, muito representativo do estilomodernista pelo aproveitamento de um mito brasileiro e pelo uso dos versoslivres. Escreveu em seguida Urucungo, Memrias de um embaixador, Putirum,Poesias, Os movimentos modernistas e Coisas do oriente; Guilherme de Andradee Almeida (1890-1969) participou da Semana de 22 recitando dois poemas. Foi umdos mais ativos redatores da revista Klaxon. Sua obra no apresenta muitascaractersticas modernistas, pois seus versos obedeciam a normas mtricas maisperfeitas e quanto ao tema revela-se um continuador da tradicional poesia lricaem lngua portuguesa: Ns, A Dana das Horas, Messidor, Livro de Horas deSror Dolorosa, Era uma Vez..., A Flauta que eu Perdi, Encantamento, Meu,Raa, A Flor que foi um Homem, Simplicidade, Cartas Minha Noiva, Voc,Cartas que eu no Mandei, Acaso, Cartas do Meu Amor, Poesia Vria, O Anjode Sal, Toda a Poesia, Acalanto de Bartira, Camoniana, Pequeno Romanceiro,A Rua, Rosamor; Paulo Menotti del Picchia (1892-1988) em 1922 j era umescritor de sucesso, graas ao poema Juca Mulato, que a sua obra maisconhecida. Participou ativamente da Semana de Arte Moderna, e, uma vez quedispunha de uma coluna no jornal Correio Paulistano, colocou a servio dosinteresses modernistas. Alm de escrever romances, deixou-nos Poemas do Vcio

  • e da Virtude, Moiss, Juca Mulato, Angstia de D. Joo, Chuva de Pedras, OAmor de Dulcinia, Repblica dos Estados Unidos do Brasil, Poemas.A poesia da segunda fase do Modernismo abrange toda a dcada de 30 e osprimeiros anos da dcada de 40. Caracteriza-se por mudanas profundas nocenrio Brasileiro, decorrentes das transformaes polticas internas, bem comode fatos externos que afetaram o nosso pas, que vai de1930, do governo deWashington Lus at a Era Vargas, que se encerra em 1945, quando Getlio Vargas deposto pelas Foras Armadas, extinguindo-se o Estado Novo. Se percorrermospor toda a histria que marcou esse perodo, veremos que aconteceram fatosmarcantes no Brasil e no mundo, desde a quebra da bolsa de Nova York, em 1929,at a Segunda Guerra Mundial, 1939 e 1942, quando o Brasil declarou estado deguerra contra a Alemanha e a Itlia, concedendo aos Estados Unidos o direito deutilizarem as bases de Belm, Natal, Salvador e Recife. No ano seguinte,entraramos na Segunda Guerra. A poesia durante esse perodo conflituosoadquire o amadurecimento das obras de autores da primeira fase que aindacontinuavam produzindo. O surgimento de novos poetas, alguns deles jparticipantes da Semana de Arte Moderna, mas que no tinham ainda publicadosnenhuma obra. A poesia caracteriza-se pelos seguintes aspectos: o humor dapoesia piada; temas universalizantes, abarcando a reflexo sobre o destino do serhumano; o verso livre incorporado definitivamente em nossa poesia, fazendovaler a poesia lrico-amorosa, que vai tornar-se mais freqente nesta fase.Destacam-se os poetas Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), toda sua obraregistra o sentimento do mundo para ele, funo essencial do poeta e relataos acontecimentos, a realidade do dia-a-dia, os problemas do ser humano, enfim,tudo aquilo que rodeia o homem ou a ele se refere: questes de ordem social,poltica, moral ou psicolgica. Teve um profundo conhecimento da alma humana:Alguma poesia, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, Poesias, A rosa dopovo, Poesia at agora, Claro enigma, Sinal estranho, Poesia errante, Viola debolso, Viola de bolso novamente encordoada, Fazendeiro do ar, A vida passadaa limpo, Lio de coisas, Boitempo, As impurezas do branco, A paixo medida,Corpo, Amar se aprende amando, Amor, O amor natural24; Murilo MonteiroMendes (1901-1975) acompanhou todas as transformaes vividas pelo sculoXX, quer no campo econmico e poltico, quer no campo artstico, foi o poeta quemais se identificou com o Surrealismo europeu, escreveu: Poemas, Histria doBrasil, Tempo e eternidade (escrito em parceria com Jorge de Lima), A poesia empnico, O visionrio, As metamoforses, Mundo enigma, Poesia liberdade,Contemplao de Ouro Preto, Poesias, Bumba-meu-poeta, Sonetos brancos,Parbola, Siciliana, Tempo espanhol e Convergncia; Jorge Mateus de Lima(1895-1953)25 sua poesia inspirou-se em temas negros da escravido do Brasil e

  • predisposio mstica, ficando clebre a Negra Fulo, sendo vrios dos seustrabalhos traduzidos para o francs e para o espanhol: XIV Alexandrinos, OMundo do Menino Impossvel, Poemas, Essa Negra Fulo, Poemas Escolhidos,Tempo e Eternidade, obra escrita em parceria com Murilo Mendes), Poemasnegros, A Tnica Inconstil, Poemas Negros, Livros de Sonetos, As Ilhas, Poemado Cristo e A Inveno de Orfeu; Ceclia Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) iniciou-se na literatura participando da chamada corrente espiritualista,sob influncia dos poetas que formariam o grupo da revista Festa, de inspiraoneo-simbolista. Foi distinguida com o ttulo honoris causa pela Universidade deNova Delhi e recebeu vrias comendas em outros pases. A Academia Brasileirade Letras outorgou-lhe um prmio pelo seu livro Viagem. O seu lirismo foi, na suapoca, o mais perfeito, deixando-nos poesias de alto valor intrnseco, sendoconsiderada a melhor poetisa da lngua portuguesa: Espectros26, Viagem, Nuncamais... e Poema dos poemas, Romanceiros da Inconfidncia, Balada para el-Rel,Vaga Msica, Mar Absoluto, Retrato Natural, Amor em Leonoreta, DozeNoturnos da Holanda, O aeronauta, Pequeno Oratrio de Santa Clara, Pistia,Cemitrio Brasileiro, Girofl, Girofl, Romance de Santa Ceclia, A Rosa eObras Poticas; Marcus Vincius da Cruz de Moraes (1913-1980) o incio de suacarreira literria est tambm ligada ao Neo-Simbolismo da correnteespiritualista e renovao catlica de 1930. Percebe-se em vrios de seuspoemas dessa fase um tom bblico, seja nas epgrafes, seja diludo pelos versos.No entanto, o eixo de sua obra logo se desloca para um sensualismo ertico, umacontradio entre o prazer temporrio da carne e a formao religiosa; destaquetambm para o cotidiano (a vida do momento), tornando a sua poesia, msicapopular: O caminho para a distncia, Forma e exegese, Ariana, a mulher, Novospoemas, Cinco elegias, Poemas, sonetos e baladas, Livro de sonetos, Novospoemas, O mergulhador, A arca de No.A partir de 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, incio da Era Atmica com asexploses de Hiroxima e Nagasqui, cria-se a Organizao das Naes Unidas(ONU), publicando, mais tarde, a Declarao dos Direitos do Homem. Logodepois, inicia-se a Guerra Fria entre o mundo capitalista e o mundo socialista,perodo marcado pela hostilidade e permanente tenso poltica entre as grandespotncias mundiais. No Brasil, vamos viver o fim da ditadura de Getlio Vargas ea eleio de Eurico Gaspar Dutra, dando-se o incio da redemocratizaobrasileira. Logo depois, abre-se um novo tempo de perseguies polticas,ilegalidades e exlios. A Literatura Brasileira tambm passa por profundasalteraes, com algumas manifestaes representando muitos passos adiante e,outras, um retrocesso: a essa mudana chamamos de Ps-Modernismo, que se da partir da terceira fase do Modernismo (1945 a 1960). A poesia, a partir de 1945

  • ganha corpo de uma gerao de poetas que se ope s conquistas e inovaesdos modernistas de 1922. A nova proposta foi defendida inicialmente pela revistaOrfeu, cujo primeiro nmero, lanado na primavera de 1947, afirmando, entreoutras coisas que Uma gerao s comea a existir no dia em que no acreditanos que a precederam, e s existe realmente no dia em que deixam de acreditarnela. Ao contrrio dos modernistas de 1922, passaram a dedicar uma poesia maisequilibrada e sria, distante do que eles chamavam de primarismodesabonador de Mrio de Andrade e Oswald de Andrade. A preocupaoprimordial era que a poesia fosse considerada como um artefato, resultante dapreciso formal e da correo de linguagem. Muitos crticos viam nessaspropostas um retorno ao Parnasianismo, intitulando, posteriormente, a geraode 45 de neoparnasiana; embora o termo gerao no define com exatido ogrupo de poetas do perodo, pois h heterogeneidade de posturas e tendncias.Deve ser entendido apenas como marco cronolgico para agrupar os queestrearam por volta daqueles anos. As revistas que divulgaram os novos poetasforam a Revista Brasileira de Poesia, em So Paulo e a revista Orfeu, no Rio deJaneiro.27Sobre a criao literria universal a partir de 1945, Milkls Szabolcsi28 registra oseguinte pressuposto:

    (...) Desde 1945, certos autores e grupos comearam a exercitar-se com apossibilidade de criar poesias com o emprego de computador, desenhos por meiode calculadoras, e msica, por meio de eletrnicos. A partir de 1953, uma escolaorganiza-se na Alemanha, em torno de Eugen Gomringer. Esta poesia inicia suajornada na Frana, em 1962, com o movimento espacialista de Pierre Garnier, como concretismo brasileiro (Augusto e Haroldo de Campos, Dcio Pignatari) e JanFinlay e Edwin Morgan, na Inglaterra. Praticamente mesma poca (em 1953),yvind Fahlstrm edita sua proclamao na Sucia. Surgem legies de poetas, emViena, na Noruega, na Tchecolosvquia e em outros lugares, que desconstroem atessitura potica em palavras e letras, realizam a variao e a permutao doselementos atravs de recursos manuais ou mecnicos, segundo regras manuaisou mecnicos, segundo regras matemticas ou de sabor de sua vontade. De incioainda veiculam ritmos, estados de nimo, e impulsos compreensveis; mais tardetudo vai se transformando em matemtica. Emergem a poesia imagtica, numrica,fnica, de objetos e letras e inmeras outras variaes. (...) .Se recorrermos a todas as obras sobre tratados de Literatura Brasileira, vamosencontrar apenas uma breve citao sobre os poetas da gerao de 45, que paramuitos crticos literrios brasileiros, uma gerao formada por um grupo de

  • poetas no-catalogveis; foram, entre outros, Odorico Bueno de Rivera Jnior(1914), foi redator da Rdio Mineira e trabalhou em publicidade. Ele participoucom destaque no Congresso Paulista de Poesia (1948). Escreveu MundoSubmerso (Rio, 1944), obra de estria, considerado o primeiro grande livro danova gerao (por corporificar certos ideais do Neomodernismo, no que serefere ao sensou da medida e abolio do prosasmo) e Luz do Pntano (Rio,1948); Pricles Eugnio da Silva Ramos (1919-1992), um dos fundadores do Clubede Poesia, cuja presidncia ocupou, alm de dirigir a Revista Brasileira de Poesias.Ele pertence Academia Paulista de Letras. Como crtico antologista e ensasta,tem se preocupado em especial com o problema da tcnica da potica; escreveuLamentao floral, Sol Sem Tempo, Lua de Ontem, Poesia quase completa;Alphonsus de Guimaraens Filho (1918) pertence a Academia Mineira de Letras,alm de poeta autor de uma antologia da poesia modernista mineira eorganizador das edies de seu tio-av, Bernardo Guimaraens, e de seu paiAlphonsus de Guimaraens, escreveu Lume de Estrelas, Poesias, A Cidade doSul, O Irmo, Poemas Reunidos, Antologia Potica, O mito e o criador; LedoIvo (1924) fez parte do conselho consultivo da revista Orfeu, tornando-se um, dosprincipais poetas da gerao de 45, estreou na literatura com o livro de poemasAs Imaginaes (1944), em seguida escreveu: Ode e Elegia, Acontecimento doSoneto, Barcelona, Ode ao Crepsculo, Cntigo, Linguagem, Um Brasileiro emParis, Magias, Estao Central, Finisterra, produziu tambm romances, contos,crnicas e ensaios, sendo em 1986 eleito para a Academia Brasileira de Letras.Paulo Bonfim, Geir Campos (1924-1999) dedicou-se profissionalmente aojornalismo e literatura; manteve programas literrios na Rdio Ministrio daEducao, foi cronista e articulista dA Noite, do Dirio de Notcias e deParatodos. Como poeta, estreou em livro com Rosa dos Rumos (Rio, 1950) e emseguida Arquiplago, Coroa de Sonetos, Canto Claro e Poemas Anteriores,Operrio do Canto e Cantigas de Acordar Mulher; Thiago de Melo (1926)apesar de estar vinculado gerao de 1945, somente tornou-se nacionalmenteconhecido na dcada de 1960 pela poesia engajada com a qual manifestou seurepdio ao autoritarismo e represso. Escreveu Corao de terra, Silncio epalavra, Narciso cego, A lenda da rosa, Faz escuro mas eu canto, A cano doamor armado, Poesia comprometida com a minha e a tua vida, Canto do amorarmado, Horscopo para os que esto vivos e Mormao na floresta. Em abril de1985, o poema os Estatutos do homem, de 1977, musicado por Cludio Santoro,abriu a temporada de concertos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro29; JosRibamar Ferreira (1930), conhecido autoralmente com o nome Ferreira Gullar,surgiu aps o movimento modernista de 1922, praticando uma poesia de cunhosocial, embora sensvel s emoes cotidianas do indivduo. Domina a forma

  • potica, mas adota palavras e versos tidos como antipoticos ou sujos.Estreou na literatura com a coletnea Um pouco acima do cho (1949) e emseguida escreveu A luta corporal (obra considerada precursora do movimentopaulista de poesia concreta), Poemas, Dentro da noite veloz, Poema sujo,Vertigem do dia e Barulhos; Jos Paulo Paes (1926) realizou pesquisas poticasde vanguarda. Fez parte da revista Inveno, que reunia poetas novos e umgrupo de poesia concreta. Suas obras mais significativas so O aluno, Homem aovento e Poemas reunidos.Ao recorrermos em todos os compndios de literatura brasileira, veremos que omais importante dos poetas dessa chamada gerao de 45 foi Joo Cabral deMelo Neto ( 1920-1999), que surgiu com esse grupo de poetas, mas logo sedesligou, seguindo um caminho original e nico na poesia moderna brasileira.Segundo Jos de Nicola, Joo Cabral de Melo Neto s pertenceria Gerao de45 se levado em conta o critrio cronolgico; esteticamente afasta-se de grupo