1. SALGUEIRO, Wilberth. Notícia Da Atual Poesia Brasileira – Dos Anos 1980 Em Diante

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15 Notícia da atual poesia brasileira – dos anos 1980 em diante Wilberth Salgueiro Universidade Federal do Espírito Santo / CNPq Resumo: Mesmo imerso na neblina do contemporâneo, este artigo se propõe a esboçar um panorama da poesia brasileira dos anos 1980 em diante e, para tanto, recupera alguns estilemas da chamada poesia marginal, balizada pela década ditatorial dos anos setenta do século passado. De modo complementar, traz análises breves de poemas de Augusto de Campos (1988), Nelson Ascher (1993) e Nicolas Behr (1993), e de quatro poemas publicados nos anos 2000 – de Antonio Carlos Secchin, Ricardo Silvestrin, Maria Lúcia Dal Farra e Fábio Rocha. Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea, Forma e história, Crítica literária. I. Notícia rápida: linhas de força e fuga da poesia contemporânea Em 1873, Machado de Assis escreveu um artigo intitulado “Notícia da atual literatura brasileira – Instinto de nacionalidade”, em que fazia um panorama de nossas letras – no romance, no teatro e na poesia. À maneira de

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Sobre a atual poesia brasileira

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    Notcia da atual poesia brasileira dos anos 1980 em diante

    Wilberth SalgueiroUniversidade Federal do Esprito Santo / CNPq

    Resumo: Mesmo imerso na neblina do contemporneo, este artigo se prope a esboar um panorama da poesia brasileira dos anos 1980 em diante e, para tanto, recupera alguns estilemas da chamada poesia marginal, balizada pela dcada ditatorial dos anos setenta do sculo passado. De modo complementar, traz anlises breves de poemas de Augusto de Campos (1988), Nelson Ascher (1993) e Nicolas Behr (1993), e de quatro poemas publicados nos anos 2000 de Antonio Carlos Secchin, Ricardo Silvestrin, Maria Lcia Dal Farra e Fbio Rocha. Palavras-chave: Poesia brasileira contempornea, Forma e histria, Crtica literria.

    I. Notcia rpida: linhas de fora e fuga da poesia contempornea

    Em 1873, Machado de Assis escreveu um artigo intitulado Notcia da atual literatura brasileira Instinto de nacionalidade, em que fazia um

    panorama de nossas letras no romance, no teatro e na poesia. maneira de

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    Machado, o que poderamos dizer da cena potica brasileira contempornea?

    Sempre um risco poesia risco (Augusto de Campos) falar assim

    diretamente do presente, estando no meio do redemoinho, no olho do furaco,

    no fluxo mesmo das produes que no cessam.

    Mas, de todo modo, arriscamo-nos a indicar algumas linhas de fora

    e outras de fuga no cenrio da poesia brasileira contemporanssima.

    De incio, destaque-se (1) certa indiferena pela Histria, quer do

    Brasil, quer mundial (e, por extenso, pela participao ou pelo engajamento em

    causas sociais). Um exemplo, nesse sentido, a obra do pantaneiro Manoel de

    Barros. E um contraexemplo, boa parte da produo de Lino Machado.

    H, de modo anlogo, (2) um desinteresse por formas experimentais

    (visuais, intersgnicas) em prol do verso frasal clssico. Na contramo de tal

    desinteresse, recordem-se as figuras mpares de Arnaldo Antunes e de Douglas

    Salomo.

    Nota-se (3) um forte retorno da poesia lrica (subjetiva, expressiva,

    sentimental), no mais nos moldes relaxados da poesia dos anos 1970, mas j

    incorporando a sobriedade dos anos 1980 e 90, como o caso de Ana Martins

    Marques e Paulo Roberto Sodr.

    Nesse panorama, confirma-se (4) a especializao e tribalizao

    dos praticantes de poesia: quem escreve so professores (mestres e doutores),

    tradutores, crticos, editores, universitrios. No h mais lugar para amadores.

    Citem-se, aqui, Nelson Ascher, Paulo Henriques Britto e Raimundo Carvalho,

    poetas e tradutores de excelncia.

    Um registro importante para este nosso retrato de poca (5) a

    convivncia, simultaneamente pacfica e conflituosa, entre geraes bem distintas

    todos, cada um por si, em busca de visibilidade: seja um Ferreira Gullar, nascido

    em 1930, premiado h pouco com o Jabuti com Em alguma parte alguma, seja

    Cas Lontra Marques, jovem escritor j com vrios livros publicados.

    Consensual entre os pesquisadores (6) a ausncia de programas,

    projetos, grupos coletivos: Glauco Mattoso em Sampa, Antonio Cicero no

    Rio, Valdo Motta em Vitria, Ricardo Aleixo em Minas, Ricardo Silvestrin em

    Porto Alegre, Fbio Andrade em Pernambuco, e por a vai: poticas distintas

    acontecendo ao mesmo tempo por esse Brasil cheio de estados.

    Relevante registrar (7) a consolidao da MPB como espao

    concorrente e alternativo de poesia: Caetano, Chico e Gil, h dcadas na ribalta,

    dividem os holofotes com novos cones Zeca Baleiro, Adriana Calcanhoto etc.

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    Por fim, talvez acima de tudo, a grande revoluo em processo

    ocorre com (8) a disseminao da internet, transformando radicalmente as

    relaes entre autor (produo), obra (distribuio) e pblico (recepo), como

    exemplifica a expanso da poesia digital e dos inumerveis blogs, facebooks

    e twitters mundo afora, maneira do pentmetro oitavo inventado por Marcus

    Freitas: quando ela passou / com os cabelos soltos / pensamento torto / me

    sobrevoou: a terra no gira / os cabelos dela / que so manivela / do astro

    deriva.

    Em sntese, presenciamos, uma vez mais e sempre, na cena

    contempornea o abalo e revitalizao da noo mesma de poesia, coexistindo

    (a) a feitura de poemas e a avaliao crtica em moldes cannicos ao lado da (b)

    elaborao de obras poticas e a respectiva crtica em moldes no cannicos,

    sobretudo em funo da estabilizao da perspectiva (multi)culturalista.

    Todos ns, poetas ou no, temos o mundo, e nele estamos, ao

    alcance dos dedos. Basta querer. Como arrematou Haroldo de Campos a sua

    Ode (explcita) em defesa da poesia no dia de So Lukcs, em A educao dos

    cinco sentidos (1985): que a flor flore / o colibri colibrisa / e a poesia poesia1.

    II. Consideraes sobre poesia e valor, poesia marginal e ps-marginal

    Quando Stphane Mallarm disse ao amigo pintor Edgar Degas que

    um poema se fazia com palavras e no com ideias, ele estava tocando numa

    das mais delicadas questes estticas (e, portanto, poticas): a questo do valor.

    Porque ideias todos tm, mas a execuo delas que o buslis, o problema,

    o impasse cuja soluo a dor e a delcia de todo escritor.

    Ningum aprende a lngua lendo, to somente, gramticas. De

    modo similar, ningum vira poeta lendo teoria literria. Os poetas, em geral,

    no s no leem teoria alguma, como tambm no leem poesia alheia nenhuma,

    ou pouca. Querem escrever e a glria. Ora, o parmetro primeiro da poesia

    presente a poesia feita, e refeita, h tempos. (Tradio valor, sim, que se

    acumula moda antropofgica: a gema da comida fica no corpo, a casca se

    assopra.) Da a imensa massa de poemas e poetas requentados, distantes de

    1. CAMPOS. A educao dos cinco sentidos, p. 20.

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    versos requintados. Mais do que mero trocadilho retrico, entre o requentado

    e o requintado transita a questo do valor.

    Entender o valor de uma coisa tentar entender a coisa diante de

    um mundo de medies e de perspectivas. Isto vale para um poema. Criticar,

    recorde-se a etimologia, julgar. Mas o que julgamos ao ler um poema? Julgamos

    tudo: tudo aquilo que podemos, conforme nosso repertrio, julgar. No h

    uma tabela fixa, felizmente, em que se basear para a valorao. O valor uma

    espcie de paladar a partir do qual sujeito e mundo se relacionam. Uma relao

    incessantemente instvel e errante, como a que mantemos com nossas papilas

    gustativas.

    A poesia brasileira dos anos 1980 em diante um vasto caldeiro de

    sopa para qualquer paladar, com ingredientes os mais dspares, quer pensando

    em temas, recursos, regies, credos, escolas, formas e formatos, ou mesmo a

    partir de uma perspectiva historiogrfica comparatista.

    Pode-se, pois, tomar temas predominantes neste perodo, como a

    solido e o erotismo, e se regozijar com eles via Adlia Prado, Patricia Blower

    e Rodrigo Garcia Lopes2 ou Cairo Trindade

    3, Ledusha e Hilda Hilst; ou ir cata

    de efeitos humorsticos nos versos, e a rir, desconfiado, com Millr Fernandes,

    Tio Nunes, Jos Paulo Paes4 e Leila Mccolis

    5.

    Se se preferirem poemas com alta densidade metalingustica,

    chegando mesmo a sofisticadssimos malabarismos verbais, obras de Paulo

    Henriques Britto, Carlito Azevedo, Sebastio Uchoa Leite6 e Nelson Ascher

    seduzem e assustam, feito sirenes.

    O passeio pelos bosques da poesia contempornea brasileira se

    alonga e ecoa: agora, se se querem poemas visuais, o mestre-mor ainda Augusto

    2. Montanhas: no so nuvens / mas to brancas // solitrias / (mas so tantas). LOPES. Solarium, p. 37.

    3. Terpar / pra / Trepar. TRINDADE. Liberatura, s/n.

    4. Mnage trois: casa de ferreira / espeto de paulo. PAES. A poesia est morta mas juro que no fui eu, p. 21.

    5. iniciao: No h razo pra t(r)emeres: / se podias ser meu filho, / aproveita por no seres.... MCCOLIS. O bom filho a casa torra, p. 49.

    6. Anotao 14: O que est inscrito: A palavra IDIOT / Dentro do nome DosTOIvskI / Raskl (de Rasklnikov) / heresia / Das Schloss de KAFKA /

    O Castelo mas / Tambm fechadura / Camus escreveu / Le mythe de Sisyphe

    / (Ou dcisif?) / Watt (de Beckett) What? / Em baixo, a vida, metade / de

    nada, morre / Ou a meta de nada?. LEITE. A fico vida, p. 89.

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    de Campos com Despoesia (1994) e No poemas (2003), mas j adiante o leitor

    volvel e insacivel se larga em poemas que tematizam assuntos radicalmente

    polticos, como os que o mano Haroldo fez, nos anos 90, estendendo o salto

    participante concretista: O Anjo Esquerdo da Histria (protesto contra o

    massacre dos Sem-Terra no Par), Circum-lquio (non troppo allegro) sobre o

    neocapitalismo terceiro-mundista e Nkuia: fogo azul em Cubato (de teor

    ecolgico).

    De repente, decide o leitor pesquisar poetas fora do cnone nacional

    e descobre os capixabas Miguel Marvilla7, Valdo Motta, Elisa Lucinda, Paulo

    Sodr, Raimundo Carvalho, Douglas Salomo, Reinaldo Santos Neves e Lino

    Machado.

    E se este leitor levantar a velha querela: letra de msica poesia?

    A entram tomos e tomos de Caetano, Chico, Gil e outros tantos, incontveis.

    claro que todos esses movimentos se do, para continuar a metfora do paladar,

    como numa receita cujos elementos se misturam pouco a pouco, at que o sal

    e o acar se entrelacem.

    Uma reflexo que se proponha a fornecer elementos para a

    constituio de um olhar crtico em relao poesia, em particular a poesia

    brasileira ps-marginal, dever ter como contraponto imediato, no nico (o

    que seria ingnuo), exatamente a poesia marginal (por sua vez, herdeira do

    modernismo oswaldiano e bandeiriano e com traos tipicamente romnticos).

    Por esse vis comparativo, abre-se um amplo leque: nos ditatoriais anos 70, a

    poesia se mostrou fortemente subjetiva e alegrica, contracultural, desbundada,

    coloquial, buscando o leitor na rua, na fila, nos bares, com seus versos curtos

    em precrios suportes; com a normalizao democrtica dos anos 80, a poesia,

    como apontou Flora Sssekind com preciso em Literatura e vida literria (1985),

    se transforma: Agora eu sou profissional, profetiza um verso de Ana Cristina

    Cesar. De fato, doravante, os poemas, mais longos, ganharo editoras e se abriro

    7. O outro homem da mulher que amo: O outro homem da mulher que amo, / h nele as minhas marcas que so dela / e sempre encontro indcios dele quando

    / ela se despe e se abre e posso t-la. // No corpo dela, o gotejar frequente /

    de ns, formando sulcos, vias, trilhas, / dentro da noite em que ela se oferece, /

    no deixa que nos sobre alternativa: // eu sigo os mapas dele, acrescentando /

    ao j sabido as minhas descobertas, / e ele me segue na mulher que amamos. //

    Pois tanta variante h no caminho / que ou dois ou nada um de ns apenas

    / no vai sobreviver nela sozinho. MARVILLA. Tanto amar, p. 17.

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    para temas mais cosmopolitas; o tom fica mais srio; irnico ainda, mas menos

    chistoso; retomam-se sem temor as filiaes cabralina e concretista, e a poesia

    crtica se multiplica, assim como retornam as formas fixas, sob nova capa, como

    o soneto. A egotrip marginal d lugar s diatribes contemporneas.

    Entretanto, h de se apontar a fragilidade do quesito geracional:

    muitos dos poetas setentistas vieram antes dos anos 70 e outros tantos que l

    debutaram continuam a escrever nos anos 2000. Para o ensasta Paulo Leminski, o

    grande poeta da dcada de 70 o poeta-revista; para Alfredo Bosi, em Histria

    concisa da literatura brasileira (1994), os poetas setentistas de destaque seriam,

    alm do citado curitibano, o mineiro Cacaso e a carioca Ana Cristina Cesar, mais

    a apario fulgurante do pantaneiro Manoel de Barros.

    Todo este redemoinho se vai fazendo e nem ainda se puseram em

    suspenso os conceitos de poema, poesia, literatura, gnero, intertextualidade,

    intersemiose etc.: como lidar com a obra inclassificvel de Arnaldo Antunes e

    de tantos outros artistas que criam no trnsito de signos? E o papel da internet

    nisso tudo, com a proliferao de blogs poticos e de criaes coletivas? E a

    poesia tecnolgica?

    Entre tantas perspectivas analticas possveis para se enfrentar

    a questo do valor de um poema, pode-se privilegiar um aspecto formal estruturante (sonoro, mrfico, sinttico), sabendo da indissociabilidade deles,

    e os modos de funcionamento do poema: a linguagem de que se compe, o

    corte dos versos, os estilemas, se o poema possui forma fixa e por que razo,

    seus traos ideolgicos, seu lugar no livro (se for um livro) e o lugar do livro

    na obra do autor, e o lugar do autor na literatura de seu tempo. Ler alguns dos

    milhares sic! e saborosssimos sonetos de Glauco Mattoso8, detectando tais

    aspectos e modos de funcionamento, serve como excelente exerccio crtico,

    terico e historiogrfico.

    H poemas que funcionam bem em certos contextos e em outros

    no: haicais e raps, por exemplo, em princpio no se bicam. H tribos, h

    8. Soneto Nojento: Tem gente que censura o meu fetiche: / lamber p mascu-lino e o seu calado. / Mas, s de ver no qu o povo chegado, / no posso

    permitir que algum me piche. // Onde que j se viu ter sanduche / de fruta

    ou vegetal mal temperado? / E pizza de banana? E ch gelado? / Frutos do mar?

    Rabada? Jil? Vixe! // Caf sem adoar? Feijo sem sal? / R? Cobra? Peixe cru?

    Lesma gigante? / Farofa de uva passa? Isso normal? // Quem gosta disso tudo

    no se espante / com minha preferncia sexual: / lamber o p e o p do seu

    pisante. MATTOSO. Centopeia sonetos nojentos e quejandos, p. 2.10.

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    panelinhas, h peneiras. E, sempre em pauta, a noo de valor: quanto valem

    os poemas Poltica literria de Drummond (Alguma poesia, 1930), Poltica

    literria de Cacaso (Grupo escolar, 1974) e Poltica literria de Nicolas Behr

    (Pe sia nisso, 1979)? O valor simblico da assinatura conta antes mesmo de

    qualquer suposto valor esttico: quantos poetas podem dizer Se meu verso no

    deu certo, foi seu ouvido que entortou. (Drummond, Explicao)? Drummond

    e Cabral so pedreiras, ainda, que todo poeta deve tentar, um pouco, demolir.

    A crtica literria em geral em particular, aqui, a de poesia tem

    um pouco essa funo de desentortar versos e ouvidos, esforando-se para

    mostrar os mil lados da moeda, do verso torto ao ouvido mouco. Na trupe dos

    poetas contemporneos, s vezes vaidosa e ressentida, tem de tudo: quanto mais

    amplos dados e mapas, suponho, a tbua de valores se sofistica. Ento, no

    menos tranquilo, o leitor se lana maior aventura: vai do imprio do valor ao

    prazer do gosto, jamais isento e desinteressado. quando a receita ganha um

    toque pessoal e se pe aquela pitada a mais daquilo e disso e se deixa a iguaria

    no forno mais tempo do que manda a frmula.

    Em suma, ler um poema elaborar sua crtica sempre acrescentar

    sentidos ao j-pronto, cada poema tendo uma tcnica prpria e irrepetvel,

    tanto quanto o a tcnica de interpret-lo. Toda a problemtica reside nos

    limites da interpretao. Mas a soluciontica est no repertrio de cada um

    (repertrio do qual no se pode fugir: somos o que somos). Da, decodificar um

    texto/poema entrar no jogo de sua construo (enquanto no mesmo ato o

    leitor se reconhece). Para essa decodificao, deve-se considerar o mximo de

    foras possveis, desde a histria de sua produo (passando por motivaes

    ideolgicas, estilemas e mesmo informaes biografizantes), at a investigao

    das entranhas dos poemas, seus mecanismos internos de funcionamento, em

    que se fundem a palavra, a imagem e a sonoridade.

    As entranhas, no as entrelinhas, diria a poeta e crtica Ana Cristina

    Cesar. Para enfrentar o poema, pede-se uma atitude ldica, sem preconceito,

    medo, pedantismo, arrogncia ou dio. Com olhos livres maneira de Oswald

    de Andrade, com alegria, pesquisa, malcia e prazer. Assim, torna-se gostoso e

    nobre ser no um terrorista, mas um teorista: curtir o poema: isto : prepar-

    lo para o delicioso deleite do sentir pensando: o mel do melhor, na expresso

    supimpa do baiano Waly Salomo.

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    III. Indicaes biobibliogrficas

    A leitura de antologias funciona bem como um roteiro para a

    constituio de um satisfatrio panorama, desde que o leitor, maneira do

    antologista, eleja: deleite-se e delete. H muitas antologias disponveis. Listo,

    indico e comento algumas:

    26 poetas hoje [1976], de Heloisa Buarque de Hollanda. Os 26

    poetas da antologia traduzem bem o esprito da gerao marginal. A Introduo

    original e o Posfcio da reedio de 2001 apontam os principais traos dessa

    poesia e a herana que deixou.

    Esses poetas: uma antologia dos anos 90, de Heloisa Buarque de

    Hollanda. Os 22 poetas da antologia trazem um bom mapa da poesia da dcada

    de 1990 no Brasil. A Introduo exibe as vertentes mltiplas da poesia de ento.

    Os cem melhores poemas brasileiros do sculo, de Italo Moriconi.

    A quarta parte da antologia, Fragmentos de um discurso vertiginoso, com

    36 poemas de 33 poetas, desenha um quadro bastante heterogneo da poesia

    brasileira, dos anos 1970 ao fim do milnio. A Introduo explicita princpios

    e mtodos para a construo da coletnea.

    Antologia comentada da poesia brasileira do sculo 21, de Manuel

    da Costa Pinto. O organizador rene 70 nomes da poesia recente e analisa,

    sinteticamente mas com rara preciso, poemas de todos os participantes.

    Roteiro da poesia brasileira anos 70, de Afonso Henriques Neto.

    Entre os 46 poetas [escolhidos] que comeam a publicar nos anos 1970, destaco

    os nomes de Adlia Prado, Waly Salomo, Paulo Leminski, Chacal e Ana Cristina

    Cesar (e ainda Charles, Alex Polari, Geraldo Carneiro, Rgis Bonvicino).

    Roteiro da poesia brasileira anos 80, de Ricardo Vieira Lima. Dos

    55 poetas [escolhidos] que comeam a publicar nos anos 1980, destaco os nomes

    de Glauco Mattoso, Paulo Henriques Britto, Nelson Ascher e Arnaldo Antunes (e

    ainda Marcelo Dolabela, Alice Ruiz, Ledusha, Antonio Risrio e Carlos vila). O

    organizador prope uma classificao da poesia oitentista em 4 tipos: a) Lrica

    de tradio [ex.: Alexei Bueno]; b) Lrica de transgresso [ex.: Arnaldo Antunes];

    c) Lrica vitalista [ex.: Italo Moriconi]; d) Lrica de sntese ou unificadora [ex.:

    Glauco Mattoso, Paulo Henriques Britto, Nelson Ascher].

    Roteiro da poesia brasileira anos 90, de Paulo Ferraz. Dos 45

    poetas [escolhidos], destaco os nomes de Carlito Azevedo, Antonio Cicero e

    Ricardo Aleixo (e ainda os de Cludia Roquette-Pinto, Claudio Daniel, Rodrigo

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    Garcia Lopes, Joca Reiners Terron e Marcos Siscar). O organizador aponta trs

    traos dessa gerao: uma esttica da dvida, um fastio em relao ao mundo

    [ notvel que o mundo atual no provoque empatia nos poetas, p. 16] e uma

    intransigncia em relao s coisas.

    Roteiro da poesia brasileira anos 2000, de Marco Lucchesi. O livro promove o encontro de 45 poetas de 13 estados do Brasil, num evidente gesto

    de descentralizao do eixo Rio-Sampa-Minas (embora a maioria seja de Rio

    e So Paulo, com forte presena de poetas de Pernambuco), indicando que o

    presente se mostra praticamente inabordvel, num oceano de publicaes reais

    e virtuais (p. 8). Destaco os nomes de Amador Ribeiro Neto (SP; professor na

    UFPB), Fbio Andrade (PE; professor na UFPE), Marcelo Sandman (PR; professor

    na UFPR), e ainda Annita Costa Malufe (SP; ps-doutoranda na PUC-SP), Luis

    Maffei (Braslia; professor na UFF) e Micheliny Verunschk (PE; doutoranda pela

    PUC-SP).

    Enter antologia digital, de Heloisa Buarque de Hollanda. Essa antologia rene 37 artistas (13 mulheres), sendo a maioria ligada ainda arte da

    palavra em verso. Os links permitem o acesso via Texto, udio, Vdeo ou Imagem. H, sempre, uma minibiografia e outras informaes, com hipertextos mltiplos.

    Como nas antologias anteriores, Heloisa Buarque publica uma Introduo,

    em que explicita critrios, mtodos e (re)pensa as incessantes metamorfoses do

    fenmeno potico.

    Ciranda da poesia. A Eduerj lanou duas levas de livros, totalizando, por ora, 11 volumes, em que poetas, professores, crticos contemporneos leem

    os poemas de seus coetneos e iniciam uma reviso crtica da agora clssica

    gerao dos anos 70, conforme aponta texto de divulgao da coleo. Os

    poetas contemplados, basicamente cariocas, foram: Ana Cristina Cesar, ngela

    Melim, Antonio Cicero, Armando Freitas Filho, Carlito Azevedo, Chacal, Cludia

    Roquette-Pinto, Guilherme Zarvos, Leonardo Fres, Marcos Siscar e Sebastio

    Uchoa Leite.

    As poucas indicaes acima somam quase quatro centenas de

    nomes de poetas, na maioria ainda atuantes e produtivos, o que comprova

    peremptoriamente o risco de qualquer estudo, como este, que se queira

    panormico. As ausncias sero, sempre, maiores.

    De modo semelhante, h, pelo Brasil, muitos estudiosos de poesia

    contempornea, e temas e recortes afins, entre os quais me ocorre mencionar:

    Alberto Pucheu Neto (UFRJ), Alckmar Luiz dos Santos (UFSC), Andr Monteiro

    Pires (UFJF), Antonio Carlos Secchin (UFRJ), Antnio Donizeti Pires (Unesp),

    Celia Pedrosa (UFF), Eucana Ferraz (UFRJ), Fernanda Teixeira de Medeiros

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    (UFF), Fernando Fiorese (UFJF), Flora Sssekind (UNI-RIO), Glucia Machado

    (UFPB), Heloisa Buarque de Hollanda (UFRJ), Italo Moriconi (Uerj), Iumna Maria

    Simon (USP), Jlio Diniz (PUC-Rio), Marcos Siscar (Unicamp), Marcus Vinicius

    de Freitas (UFMG), Maria Lcia de Barros Camargo (UFSC), Viviana Bosi (USP).

    IV. Aspectos da poesia dos anos 1980-90-2000 (em cotejo com a poesia dos anos 70)

    O quadro abaixo , evidentemente, um esquema, e, como tal,

    simplifica, em forma de tpicos, um complexo conjunto de traos que, sem

    cessar, se cruzam, transitando de uma dcada a outra, ora com alteraes

    explcitas, ora nuanadas. O quadro sinptico recupera e rearranja informaes

    que o artigo j trouxe.

    A ideia simples: dado um aspecto qualquer, sintetizo como tal

    aspecto se deu na poesia marginal dos anos 1970 e, em contraponto, como

    passou para os anos 80 em diante. Para o exerccio a um tempo intelectual e

    criativo do leitor, proponho um (s vezes trecho de) poema que, menos que

    ilustrao, serve para atiar a comparao e, mesmo, a pergunta: a qual gerao

    pertence o exemplo dado?

    Aspecto / recurso / tema / contexto

    Anos 1970 (com variaes) Anos 1980-90-2000 (com muitas variaes)

    1. Subjetividade9 Intensa. Controlada.

    2. Criao10 Espontaneidade (relaxo). Racionalidade (capricho).

    3. Espaos (tematizados) 11

    Quarto. Rua. Brasil. Cidade. Massa. Mundo.

    4. Espaos (de atuao)12 Happenings. Coletividade. Performance, show

    business. Isolamento.

    9. Torquato Neto Cogito: eu sou como eu sou / pronome / pessoal intransfervel / do homem que iniciei / na medida do impossvel / (...) eu sou como eu sou / vidente / e vivo tranquilamente / todas as horas do fim.

    10. Nelson Ascher definio de poesia: Poesia, ponte em cima / de abismos no abertos / ainda ou flor que anima / a pedra no deserto // e a deixa logo prenha, / rgua que calcula a / linguagem e lhe engenha / modelos de medula

    11. Charles Colapso concreto: vivo agora uma agonia: / quando ando nas caladas de Copacabana / penso sempre que vai cair um troo na minha cabea.

    12. Glria Perez Pr-nupcial: Aprendi com mame / que nunca teve queixa: / mulher perdida goza / mulher direita deixa [recitado no Concerto de Poesia,

    Botanic, abril 1986].

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    25

    5. Situao e atitude poltica

    13

    Ditadura, represso. Des-bunde ou engajamento.

    Abertura, democracia. Indiferena.

    6. Figuras14 Alegoria, elipse. Metfora, anttese.

    7. Estilemas15 Humor. Irreverncia. Ironia. Sarcasmo.

    8. Tradio (literria)16 Bandeira, Oswald,

    Drummond.Cabral, Concretos, Drummond.

    9. Tradio (musical e cultural)

    17Tropicalismo. Beats, hippies, contracultura. Revistas, teatro, shows. Liberdade.

    Cazuza, Legio, MPBRock. Jornal, cinema, universidade. Norma.

    10. Corpo e comportamento

    18Sexo, drogas, viagens. Aids. Caretice. Reflexo.

    11. Linguagem19 Coloquialismo,

    gria, palavro. Autorreferencialidade.

    Formalismo. Decoro. Introverso. Intertextualidade.

    12. Versos20 Brancos e livres. Rimas e mtricas sofisti-

    cadas.

    13. Alice Ruiz que viagem / ficar aqui / parada.

    14. Maral Aquino um dia, nos setenta: cheguei da rua / carregando uma ma / e seis meses de desemprego. / li uma carta de minha me / fechei as janelas

    / a porta, a cara / deitei-me no cho / e abri o gs. / esperei. / e, somente meia

    hora depois, / descobri o gs cortado / por falta de pagamento. / levantei-me /

    e comi a ma: / nu e louco / como o quadro da bienal.

    15. Felipe Fortuna A Tragdia da Existncia: Quero fazer uma especulao metafsica. / Ou seja:.

    16. Raimundo Carvalho Bandeira 2: simone o nome do desejo / que tambm pode ser srgio / ser snia clia, pode at / sidnio, pode atar cinara

    / pode ater-se em slvio // quando o desejo todo cosme / por mais que eu

    ivete / eu Teodoro.

    17. Glauco Mattoso Spik (sic) tupinik: Rebel without a cause, vmito do mito / da nova nova nova nova gerao, / cuspo no prato e janto junto com palmito

    / o baioque (o forrock, o rockixe), o rocko. (...).

    18. Eudoro Augusto deixa comigo que eu apresento / guarda o finzinho pra depois / tudo gente fina / de repente um lance maneiro / combinado, no

    tem erro / qu que isso, xar / aqui no pinta esse vacilo / tipo escancaro /

    tudo em cima, sabe como? / numa naice.

    19. Ana Cristina Cesar A lei do grupo: todos os meus amigos / esto fazendo poemas-bobagens / ou poemas-minuto.

    20. Carlito Azevedo Traduzir: (dua s(li ng(u age( // nsd) if)e r)en )tes // (uma s(on an(t e&a( // OUT) ra)a u)se )nte // (lua m(IN gu(a nte( // lua) cr)e s)ce )nte.

  • 26

    O eixo e a roda: v. 22, n. 2, 2013

    13. Poema21 Curto: poema-piada, poe-

    ma-minuto, haicai.Mdio. A ressonetizao.

    14. Suportes, tecnologia22 Mimegrafo. Livros bara-

    tos. Mquina de escrever.Livro. Internet. Computador.

    15. Representatividade23 Minorias: mulheres,

    negros, homossexuais.Crescente apagamento das diferenas (insero ou absoro).

    16. Nomes Pr-marginais: Waly Salomo e Torquato Neto. Cnones: Chacal, Charles, Roberto Piva, Nicolas Behr e Leila Mccolis. Hbridos: Cacaso, Francisco Alvim e Glauco Mattoso. Marginais: Leminski e Ana Cristina Cesar. Etc.

    Novos: Paulo Henriques Britto, Nelson Ascher, Arnaldo Antunes, Carlito Azevedo, Alexei Bueno. Velhos: Drummond, Cabral, Augusto, Haroldo, Dcio, Gullar, Hilda Hilst, Armando Freitas Filho, Sebastio Uchoa Leite, Mrio Quintana, Adlia Prado, Manoel de Barros, Jos Paulo Paes, Orides Fontela. Etc.

    V. Trs poemas dos anos 1980-90 (com breves anlises)

    At aqui, a reflexo em torno da poesia brasileira contempornea

    se fez, sobretudo, a partir de uma perspectiva historiogrfica, procurando indicar

    as muitas diferenas e algumas continuidades verificadas entre a poesia marginal

    e a ps-marginal. Agora, como exerccio de crtica literria, seguem trs anlises

    breves de poemas de Augusto de Campos, Nelson Ascher e Nicolas Behr, com

    o intuito bsico de, por amostragem, confirmar a perpetuidade do diverso.

    21. Eduardo Kac filosofia: para curar um amor platnico / s uma trepada homrica.

    22. Gilberto Gil Pela Internet: Criar meu web site / Fazer minha homepage / Com quantos gigabytes / Se faz uma jangada / Um barco que veleje // Que

    veleja nesse infomar / Que aproveite a vazante da infomar / Que leve um oriki

    do meu velho orix / Ao porto de um disquete de um micro em Taip (...).

    23. Leila Mccolis super-herticos: Enquanto o Incrvel Hulk / cresce na parte de cima / verde que nem perereca, / a pobre parte de baixo, / vermelhinha

    de vergonha, / no rasga nem a cueca. / J o Homem Invisvel / tem um troo

    to encolhido / que ganhou este apelido. / E o Homem Aranha? Coitado! / Dia

    e noite, noite e dia / s na luta contra o mal, / deve ter teias no pau... / Eta

    turminha sem sal! / (...).

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    27

    TVGRAMA I (TOMBEAU DE MALLARM)24

    Obra-prima de 1988, tvgrama I (tombeau de mallarm) comprova

    a extrema vitalidade dos procedimentos e recursos concretos, sobretudo se

    assessorados de perto pelo instrumento verbal. A pea se exibe j como pura

    viso: o formato retangular cone televisivo do poema se apropria do olhar

    que o perscruta, confundindo leitor e espectador, pgina e tela, livro e

    televiso. Dentro do poema (portanto, na tela) explodem os versos-legendas

    distintivos: ah mallarm / a carne triste / e ningum te l / tudo existe / pra

    acabar em tv. O poeta se utiliza do meio (presente) para enviar uma mensagem

    (fim) ao passado: l, Mallarm dissera: La chair est triste, hels! et jai lu tous les

    livres e, ainda, Tout existe pour finir en Livre. No mesmo tom de enfaro, Augusto

    realiza substituies que atualizam as mximas mallarmaicas. Constata, desolado,

    os rumos da cultura contempornea: Mallarm (leia-se: arte, literatura, poesia,

    palavra) sem leitor, enquanto a TV, larga, amplifica o imprio da imagem

    e do voyeurismo virtual. Algo como se o projeto iluminista da modernidade

    tivesse sido atropelado, ou implodido, pela ps. Tudo existe / pra acabar em

    tv: apocalptico e integrado.

    Na linha propriamente mallarmeana, da estruturao geomilimtrica

    das palavras no espao, Augusto pontua todo o poema com ttttttttttttt que,

    por instncias:

    24. CAMPOS. Despoesia, p. 108.

  • 28

    O eixo e a roda: v. 22, n. 2, 2013

    t) remetem tpica linguagem telegrfica. Atente-se que o ttulo do

    poema tvgrama I (tombeau de mallarm), numa referncia aos tombeaux

    de Mallarm, isto , poemas-lpides que o poeta francs fez em homenagem

    a outros poetas de sua estima e estirpe, como Poe e Baudelaire. Desta feita,

    Augusto se integra famlia ao donner un sens plus pur aux mots de la tribu;

    t) sinalizam para o uso onomatopaico decorrente da representao

    convencionalizada do toque digital na tecla datilogrfica e, por extenso, o

    aproveitamento aliterativo dos ttttttttttttt reiterados nas palavras triste, te, tudo,

    existe, tv;

    t) entrelaados aos versos e s palavras, de alto a baixo, da esquerda

    direita, os ttttttttttttt funcionam como iconizadas antenas dispersas numa

    hipottica metrpole algo a ver com os poetas so as antenas da raa,

    Pound?;

    t) triste como a carne, o poema um epitfio tombeau de

    mallarm. Como um todo, redobra a forma retangular de um aparelho de televiso

    que, pode-se deduzir, recolhe e espalha tudo que (se) v. O tom de mrbida

    lamria, inevitvel, ratifica a final fatura (fartura) dos ttttttttttttt: a forma da cruz

    associada ideia de cemitrio (uma viso turva do poema permite o quadro:

    feito uma televiso fora do ar, com chiados e distores). Tudo volta a ser p;

    tudo acaba em tv parmetro que nos leva homologia: televiso / tmulo.

    DEFESA E ILUSTRAO25

    Para que um texto quase

    doentiamente ilustre

    a sua prpria indstria,

    compete, frase a frase,

    ao estro que extravase

    de fleuma quando, ao ultra-

    passar tudo que o nutra,

    demonstra at a nusea

    o quanto de rascunho

    se arrisca, alm da acdia,

    no ofcio que, importuno,

    25. ASCHER. O sonho da razo, p. 49.

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    29

    prev menos sada

    que a sndrome da imuno-

    deficincia adquirida.

    Os virtuoses so raros e, no raro, incompreendidos. Ora so

    tomados como exemplos de frieza, quando, diversamente, emitem lances de

    pleno amor carnal pelo ofcio; ora acusados de hermticos, sabem que o

    hermetismo o equvoco narcsico do discurso26. Nem frios, nem obscuros,

    os virtuoses querem elevar a arte, distinguindo-a da vala estereotipada das

    manifestaes descuidadas. Dada a situao singular que ocupam, formam uma

    grandiosa minoria. Silncio, economia, solido resultam atributos desta espcie

    em extino.

    Por exemplo, quando Ascher compe o soneto Defesa e ilustrao:

    todo hexasslabo, as rimas em /a/, /u/ e /i/ surpreendem: quase / frase / extravase

    / nusea; ilustre / indstria / ultra- / nutra / rascunho / importuno / imuno-;

    acdia / sada / adquirida. Nas palavras de Pound, uma rima deve trazer consigo

    um leve elemento de surpresa, se que se destina a provocar certo prazer; no

    precisa ser curiosa ou estranha mas, quando for usada, deve ser bem usada27.

    Nelson toca numa questo publicamente em pauta: a aids. O poema compara

    para prurido dos puristas o ato de construir um texto (a sua prpria indstria)

    e a cura (sada) da dita doena. A mestria, tambm, est na incorporao de

    termos mdicos defesa, doentiamente, fleuma [frieza, apatia], nutra, nusea,

    acdia [preguia, apatia], sida ao poema, como a dar a devida gravidade da

    situao de ambos, o poeta e o doente de aids: sem qualquer tom de piedade

    ou panfletarismo, olhar extico ou religioso, o poema se serve, sem dvida,

    de uma situao a dos portadores do vrus HIV que tem tomado pitadas

    de espetacular, para efetuar uma comparao inslita, circular, entre dois tipos

    muito particulares: o doente de aids e o poeta.

    DRUMMOND BRASILIENSIS28

    braslia, e agora?

    com o avio na pista quer levantar voo

    no existe voo

    26. CARDOSO. Signos da modernidade, p. 61.27. POUND. A arte da poesia, p. 14.28. BEHR. Laranja seleta, p. 96.

  • 30

    O eixo e a roda: v. 22, n. 2, 2013

    quer se afogar no parano mas o lago secou

    quer falar com o presidente mas este viajou

    quer se esconder no cerrado o cerrado acabou

    quer ir pra gois gois no h mais

    e agora, braslia?

    Este poema, publicado originalmente em Beijo de hiena, de 1993,

    foi buscar, mais uma vez, uma clssica matriz drummondiana: Jos, do livro

    homnimo de 1942. Com o mundo ento em guerra e o Brasil em pesado clima

    ditatorial, a desesperana toma conta do outrora debochado poeta modernista,

    sob a capa, agora, de um Jos que mal esconde o Carlos que se espalha ao

    longo da obra drummondiana: o bonde no veio, / o riso no veio, / no veio

    a utopia / e tudo acabou as redondilhas menores, em tom menor, sintetizam

    o sentimento reinante de amargura e inrcia. No poema de Behr, o Jos de

    Drummond vira Braslia, antropomorfizada, em situao aparentemente to

    aportica quanto a do personagem de Carlos: h chave e avio, mas no tem

    porta nem voo; para morrerem, h mar e lago, mas ambos secaram; para a fuga,

    h Minas e Gois, mas o tempo aboliu essa possibilidade de volta ao passado.

    Aqui, numa espcie de licena potica autobiogrfica, para corresponder Minas

    de origem do poeta modernista, o poeta marginal inventa para si (para o eu lrico

    que fala) uma falsa origem, Gois, em vez de Mato Grosso, seu estado natal,

    muito provavelmente agindo por amor rima: gois /gois / mais. Recorde-

    se, igualmente, que o territrio de Braslia, distrito federal, est encravado no

    estado de Gois, da a impossibilidade de querer ir para um gois que no h

    mais, um Gois de antes da inveno de Braslia por JK.

    O drama de Drummond, ainda que possa ser estendido a toda uma

    gerao e a um perodo, se d a ver porque assim o quis pelo vis de um

    sujeito: um sujeito comum, sim, que sem nome, um jos, um z, mas tambm

    um sujeito singularizado, com biblioteca, lavra de ouro, de Minas. Ao ativar

    o recurso da intertextualidade, e ultrapassando o mero jogo pardico, Nicolas

    Behr recorda a histria que d cho quele poema, a dcada da segunda

    grande guerra mundial, para mostrar que na capital do Brasil h um sentimento

    finissecular de perda, de inrcia, de falta. A transposio de Jos em Braslia

    indica de imediato a vontade de dar ao desamparo individual uma feio mais

    coletiva, social, poltica.

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    31

    VI. Quatro poemas dos anos 2000

    Para encerrar esse excurso panormico, escolhi, para comentar,

    um poema de cada volume da Coleo Roteiro da poesia brasileira referente

    a Anos 70, Anos 80, Anos 90 e Anos 2000, desde que o poema, no entanto,

    tenha sido publicado nos anos 2000. Vamos a eles:

    Poema para 200229

    Caxumba, catapora, amigdalite,

    miopia, nevralgia, crise asmtica.

    Dor de dente, dor de corno, hepatite,

    diabete, arritmia e matemtica.

    Helenas, Marianas e Marcelos,

    tomate, hipocondrias e chicria,

    sacerdotes, baratas, pesadelos,

    calvcie, dentadura e desmemria.

    P quebrado, verso torto, ruim de bola,

    nervoso, nariz grande, cu de ferro.

    Desastrado, imprudente e noves fora,

    muita prosa prum gozo quase zero.

    E para coroar todos os danos

    bem-vindos sejam os meus cinquenta anos.

    Este soneto de Antonio Carlos Secchin ilustra bem o fenmeno da

    ressonetizao, ou seja, a volta do soneto, agora em tons mais leves e arejados.

    A forma fixa indicia a vontade de controlar o poema, faz-lo caber numa estrutura,

    libertando-o do verso livre. No caso em pauta, o poeta brinca mesmo com isso:

    comparem-se os versos 9 e 12: naquele, de modo humorado e irnico, o p

    quebrado, verso torto se denuncia como verso irregular no esquema rtmico

    construdo todo em decasslabos; neste, ao contrrio, o prum explicita a

    necessidade e a vontade de, via eliso, fazer com que o verso contabilize dez

    slabas mtricas. Outros efeitos humorsticos se fazem ver nesse poema de teor

    29. SECCHIN. Poema para 2002 [publicado em Todos os ventos, 2002]. In: HENRIQUES NETO. Roteiro da poesia brasileira anos 70, p. 203.

  • 32

    O eixo e a roda: v. 22, n. 2, 2013

    autobiogrfico (o autor, de fato, fez 50 anos em 2002). A primeira estrofe, por

    exemplo, se compe apenas de sintagmas nominais que trazem doenas que,

    supostamente, ou jocosamente, o poeta teria tido. Como corpos estranhos na

    relao, provocando o riso, aparecem dor de corno e matemtica. Na segunda

    estrofe, chamam a ateno chicria, / sacerdotes, baratas, em que se relativizam

    a alimentao politicamente correta, a crena nos representantes da f, a cultura

    do medo das carochinhas domsticas, alm da explicitao da passagem do tempo

    sobre o corpo, sobre tudo calvcie, dentadura e desmemria. Em sntese, diz

    o poema, apesar de todos os danos, celebremos a vida.

    O menos vendido30

    Custa muito

    pra se fazer um poeta.

    Palavra por palavra,

    fonema por fonema.

    s vezes passa um sculo

    e nenhum fica pronto.

    Enquanto isso,

    quem paga as contas,

    vai ao supermercado,

    compra sapato pras crianas?

    Ler seu poema no custa nada.

    Um poeta se faz com sacrifcio.

    uma afronta relao custo-benefcio.

    Ricardo Silvestrin, tambm com bastante humor, que no esconde

    alguma melancolia, aponta o lugar do poeta no mundo contemporneo,

    dominado pela prxis, pelo lucro, pelo fetiche da mercadoria, pelo valor

    econmico, enfim, pelo domnio da indstria cultural: um lugar problemtico,

    conflitante, difcil numa palavra (embora gasta): marginal. O poeta e o poema

    no funcionam num esquema de reprodutibilidade tcnica, no so sapatos

    produzidos em escala para o consumo. A propsito, e no toa, a imagem do

    sapato no poema faz recordar depoimento de Leminski:

    30. SILVESTRIN. O menos vendido [publicado em O menos vendido, 2006]. In: LIMA. Roteiro da poesia brasileira anos 80, p. 184..

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    33

    A poesia, ela traz consigo esse carter assim meio de, como que eu vou

    dizer? Uma coisa meio masoquista. Voc se dedicar dez anos a vender

    banana, montar uma banca para vender banana ou repolho, voc vai

    ganhar muito mais do que fazendo poesia. A poesia no te d nada em

    troca. Chego, s vezes, a suspeitar que os poetas, os verdadeiros poetas,

    so uma espcie de erro na programao gentica. Aquele produto que

    saiu com falha, assim, entre dez mil sapatos um sapato saiu meio torto.

    aquele sapato que tem conscincia da linguagem, porque s o torto

    que sabe o que o direito. Ento, o poeta seria, mais ou menos, um

    ser dotado de erro, e da essa tradio de marginalidade, essa tradio,

    moderna, romntica, do sculo XIX pra c, do poeta como marginal, do

    poeta como bandido, do poeta como banido, perseguido, enfim, em

    condies, digamos, socialmente adversas, negativas.31

    O trabalho do poeta se d em torno de abstraes, se abstraes so

    fonema, palavra, verso, poesia; abstraes que nada, ou muito pouco, vendem,

    da o menos vendido, com toda a saborosa ambivalncia, que inclui o sentido

    de o menos subornvel. O que, em suma, o poema debate exatamente a

    questo do valor da arte diante da luta diria, prtica, concreta pela sobrevivncia

    (contas, supermercado banana, repolho etc.).

    Quiabo32

    H quem me julgue mal

    apenas porque babo.

    H quem de mim se atraia

    (ao contrrio)

    porque toma como patente

    a parecena que guardo.

    Por sim ou por no

    atesto que desse jeito estremeo

    jovens e pudicssimas donzelas.

    Meu fino cone

    (caviloso)

    31. LEMINSKI. Poesia: a paixo da linguagem, p. 284.

    32. DAL FARRA. Quiabo [publicado em Livro de possudos, 2002]. In: FERRAZ. Roteiro da poesia brasileira anos 90, p. 104.

  • 34

    O eixo e a roda: v. 22, n. 2, 2013

    longas unhas de moa imita

    e rapazes me apreciam

    tambm por isso.

    Pequenos tneis

    carregados de semente

    podem fazer crer

    tenho muito a oferecer

    quem sabe at respingos daquilo

    que permitiu a ti

    ser gerado.

    Com presena incessante e proteica em todas as artes ao longo dos

    sculos, o motivo ertico aqui inconteste: o quiabo , tambm to somente,

    pnis. A acepo dicionarizada erva ereta e lenhosa (Hibiscus esculentus), de

    folhas cordiformes, com cinco lobos, emolientes e forrageiras, flores amarelas com

    manchas carmim, e cpsulas cnicas, compridas, pilosas, verdes e mucilaginosas,

    com muitas sementes33 d sustentao para que o simulacro se faa. O jogo

    tanto metonmico quanto metafrico de duplicidade do quiabo-falo se torna mais

    incomum porque o prprio quiabo que se apresenta como eu lrico (Meu fino

    cone etc.), e se torna mais provocativo porque evidencia a atrao que exerce

    em relao quer a donzelas quer a rapazes. Gastronomicamente, corre a fama

    de no ser o quiabo das refeies mais apreciadas, especialmente por causa da

    famosa baba do quiabo. Essa imagem vai abrir e encerrar o poema de Maria

    Lcia Dal Farra, que no oculta a parecena entre o fruto e o falo: a baba e os

    respingos do quiabo remetem ao smen do pnis. sempre um desafio para

    os poetas reinventar o tpos de Eros. Cada tempo, com seus ideologemas, h

    de se inscrever na forma potica. Aqui, contemporaneamente, e de modo bem

    distinto ao de priscas pocas, o masculino e o feminino mais se aproximam

    que se rechaam, apontando para possveis mudanas de comportamento e de

    mentalidades.

    E ateno:34

    Devo comer este bife mal passado

    tentando esquecer que vai me engordar,

    33. HOUAISS (Coord.). Dicionrio eletrnico Houaiss da lngua portuguesa.

    34. ROCHA. E ateno: [publicado em Corte, 2004]. In: LUCCHESI. Roteiro da poesia brasileira anos 2000, p. 69.

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    35

    o colesterol ruim,

    a vaca louca,

    os triglicerdeos,

    a vaca louca,

    que pode ter cisticercos,

    a vaca louca,

    o coliforme 157,

    ou ainda,

    a vaca louca.

    Devo mastigar esta alface sem pensar nas planrias,

    beber esta gua sem sentir o vibrio colrico na garganta.

    Devo ignorar este mosquito que me morde com listrinhas

    na bunda,

    possvel portador da dengue tipo 3,

    que pode ser mais grave para quem j teve a 2 ou a 1.

    Devo inspirar sem sentir o gs carbnico,

    piorando o efeito estufa.

    Devo parar de suar, no ar condicionado,

    sem a culpa de destruir a camada de oznio.

    Devo passar estes dias a esperar o telefone tocar

    tentando me convencer de que estou bem,

    que estou de frias

    e que no estou esperando voc ligar.

    Apesar de estar em casa,

    ajudando a destruir o mundo,

    esperando o telefonema sagrado

    e absorvendo informaes demais.

    De modo sutil, o poema de Fbio Rocha encena seus fragmentos

    de um discurso amoroso (para lembrar o ensaio de Barthes): o enamorado

    se v s voltas, s, entre quatro paredes, com um exrcito letal, praticamente

    invisvel, enquanto aguarda, ansiosamente, algum (voc) ligar. Os recursos

    da enumerao e da repetio testemunham a ansiedade: Devo aparece seis

  • 36

    O eixo e a roda: v. 22, n. 2, 2013

    vezes; vaca louca, quatro. As sete estrofes curtas e de versos metricamente

    irregulares tambm demonstram a inquietude do sujeito. De igual forma, a

    quantidade de informaes (demais) trazidas a lume pulveriza a unidade. O

    mundo invisvel de colesterol, triglicerdeo, cisticerco, coliforme, planria, vibrio

    ganha correspondncia e potencializa-se no plano da espera, da paixo, do

    sagrado. H duas guerras, ambas silenciosas, em andamento, que se cruzam:

    a do sujeito com os pequenos seres que destroem o mundo e a do sujeito com

    um grande sentimento, provavelmente a paixo, que o abala intensamente.

    Tudo isso, esse estar-a, exige ateno do poeta, do apaixonado, do leitor.

    VII. Concluso

    Como no poema de Fbio Rocha, h informaes demais, h

    muitos perigos ao redor, enquanto se queda esperando um telefonema sagrado,

    esperando um al que no vem. Se no vem o telefonema, vem o poema, e

    assim vida e poesia se alimentam em moto-contnuo.

    Em 1935, em Questes de poesia, Paul Valry escreveu: O destino

    de uma arte est ligado, de um lado, a seus meios materiais; de outro lado, aos

    espritos que possam se interessar por ela e que encontrem a a satisfao de

    uma necessidade verdadeira35. Eventos e publicaes que renem estudiosos

    e interessados em Poesia renovam o prognstico de Valry.

    Decerto, falar da poesia brasileira dos anos 1980 em diante se

    colocar ao abrigo do panorama, que, exatamente por proporcionar informaes

    demais, ilude quem ali se acomoda. O panorama s proporciona, na verdade,

    aquilo que meu olho alcana e o que meu olho alcana muito pouco, apesar

    da sensao de vertigem.

    Recapitulando a notcia rpida, so (1) complexas, jamais

    indiferentes, as relaes entre poesia e histria; (2) um poema bem mais

    que versos no papel, mas nos versos mesmos qualquer experincia e qualquer

    experimento podem se dar; (3) todo gesto potico carrega algo de lrico, embora

    no necessariamente calcado na dita funo emotiva; (4) a tribo dos artistas

    sempre foi excntrica, mas raramente gregria; (5) o prprio das geraes

    mesmo se misturar, o que inclui atritos e conflitos; (6) nunca houve programas

    poticos absolutamente homogneos, conquanto haja identificaes parciais;

    35. VALRY. Variedades, p. 185.

  • Belo Horizonte, p. 15-38

    37

    (7) a sonoridade e por conseguinte o silncio se parecem letra e ao espao

    em branco, o que reafirma o enleio e o conluio entre poesia e msica; (8) a

    internet j uma forma experimental e toda forma social, logo, o conceito

    de poesia h de se alterar radicalmente nesse suporte novo, que estamos todos

    ainda de/cifrando.

    Italo Moriconi diz que a glria do poema libertar-se de seu

    contexto original para poder renascer em qualquer outro. Em contraste, a glria

    da histria da poesia, o que a realiza enquanto prtica disciplinar, situar o

    poema em seu prprio contexto.36 O drama, quem sabe a alegria, que no

    estaremos aqui para testemunhar que poemas, e poetas, alcanaram a glria, a

    famigerada glria.

    A present report on Brazilian poetry from the 80s and on

    Abstract: Even being immersed in the contemporary fog, this article proposes a panoramic sketch on Brazilian poetry from the eighties and on; and for that matter it retrieves some stylemes from the so-called marginal poetry, which was baptized after the dictatorial decade of the seventies of the last century. In a complementary way, this article brings to light some brief analyses on poems by Augusto de Campos (1988), Nelson Ascher (1993) and Nicolas Behr (1993), and on four poems that have been published in the 2000s by Antonio Carlos Secchin, Ricardo Silvestrin, Maria Lcia Dal Farra and Fbio Rocha.Keywords: Contemporary Brazilian poetry, Form and history, Literary criticism.

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