Aprendiz02CognitSocial
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A TEORIA COGNITIVA SOCIALDE ALBERT BANDURAMrio Azevedo, 1997
Universidade de Lisboa, Faculdade de Cincias
A Teoria de Aprendizagem SocialA teoria de aprendizagem social designa uma teoria dos fenmenos
psicolgicos que no recusava os princpios centrais do comportamentismo, mas
punha em relevo alguns aspetos do comportamento que escapavam abordagem
ortodoxa comportamentista, tais como os comportamentos de resultantes de
observao e imitao. Neste movimento incluem-se vrios autores como Miller e
Dollard (1941), Bandura e Walters (1963) e Bandura (1973, 1977). Os estudos deMiller e Dollard, caraterizavam-se por uma ateno especial votada aos fenmenos de
influncia social, particularmente os processos de imitao e observao. A teoria
cognitiva social foi influenciada no s pelos trabalhos de Miller e Dollard sobre a
imitao, mas tambm pelo comportamentismo intencional de Edward C. Tolman
(1932), pela teoria de aprendizagem social de Julian Rotter (1954) e pela teoria de
efectncia de White (1959).
Merecem uma referncia especial os desenvolvimentos da teoria de
aprendizagem social propostos por Rotter (1954), a partir de elementos duma teoria dapersonalidade. Na expresso deste autor, uma teoria de aprendizagem social pe em
evidncia o facto de que a maioria das aprendizagens se realiza em circunstncias
sociais e corresponde satisfao de necessidades que, de sua natureza, requerem a
participao de outras pessoas. Seguindo o sumrio organizado por Schunk (1991), a
teoria de aprendizagem social de Rotter assenta em quatro constructos bsicos:
potencial de comportamento (PC), expetativa (E), valor de reforo (VR) e situao
psicolgica. O potencial para que ocorra um comportamento em dada situao em
relao a dado reforo funo da expetativa da ocorrncia desse reforo noseguimento do comportamento e do valor do reforo nessa situao, segundo a
frmula PC = E & VR.
O potencial de comportamento refere-se probabilidade da ocorrncia de
determinado comportamento em relao a outros comportamentos alternativos. O
comportamento abrange quer aes manifestas, como escrever, quer outros atos
ocultos, como pensar e planificar, que podem manifestar-se comportamentalmente. A
expetativa a crena subjetiva na probabilidade de que determinado reforo ocorrer
como consequncia de determinado comportamento. O valor de reforo o valor
atribudo a determinado resultado em relao a outros resultados potenciais. A
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situao psicolgica diz respeito ao contexto do comportamento. Assim, em
determinado contexto, um resultado aversivo pode ser valorado como menos aversivo
que outros.
A noo de expetativa generalizada em diversos contextos conduz noo de
locus de controlo que se tornou no contributo educacional mais popular entre as
investigaes de Rotter. Este constructo ser estudado mais adiante no captulo
referente motivao.
Omitimos aqui o resumo das propostas tericas de Bandura na rea da teoria de
aprendizagem social. A razo que essas propostas foram incorporadas por Bandura
(1986) na sua teorizao mais abrangente, designada teoria cognitiva social. A
prxima seco resume essa teoria.
A Teoria Cognitiva SocialTeoria cognitiva social o nome com o qual Albert Bandura (1986) designou a
teoria que ele mesmo tem vindo a desenvolver a partir da chamada teoria de
aprendizagem social j defendida por neobehavioristas. Albert Bandura um dos
psiclogos mais prestigiados desta segunda metade do sculo. Nasceu em Alberta,
Canad, em 1925. Estudou primeiro na universidade canadiana de British Columbia e
depois fez o mestrado e veio a doutorar-se em Psicologia na Universidade de Iowa,
EUA, em 1952. Foi ento convidado a ensinar na Universidade de Stanford onde
ainda se encontra.Na sua ltima formulao (Bandura, 1986), a teoria cognitiva social estabelece
uma ponte entre as teorias pr-cognitivas e as teorias cognitivas. Bandura foi-se
afastando mais e mais do comportamentismo ortodoxo vindo a incluir na sua teoria
elementos relacionados com processamento de informao, autocontrolo e
autodireo de pensamentos e aes. Esta aproximao das teorias cognitivas justifica
a incluso do adjetivo cognitivo na designao da sua teoria (teoria cognitiva social),
que assim se separa definitivamente dos paradigmas puramente comportamentais. A
explorao da teoria cognitiva social no domnio da educao tem-se revelado degrande utilidade.
A teoria cognitiva social pretende ser uma teoria compreensiva do
comportamento humano. Segundo o excelente resumo elaborado por Schunk (1991),
um dos discpulos de Bandura, que aqui se segue de perto, a teoria cognitiva social
assenta nalguns pontos bsicos, tais como (a) a explicao dos processos de agncia
humana no quadro da reciprocidade tridica, (b) a distino entre aprendizagem e
desempenho, (c) a distino entre aprendizagem por forma atuante e por forma
vicariante, (d) a teorizao da modelao, (e) a reformulao do conceito de reforo e
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(f) o papel da perceo de autoeficcia na motivao do comportamento. Estes pontos
sero explicitados nas seces seguintes.
A Reciprocidade TridicaBandura (1986, 1989) afastou-se claramente do comportamentismo ao postular
que o comportamento humano deve ser entendido no quadro do determinismo
recproco ou reciprocidade tridica. A reciprocidade tridica, como se exprime na
Figura 1, postula interaes recprocas entre trs espcies de fatores: os fatores
pessoais (como as dimenses afetivas e cognitivas da personalidade), os
comportamentos e as variveis ambientais. Exemplificando com a autoeficcia
percebida, a autoeficcia uma dimenso da personalidade. A autoeficcia influencia
vrios comportamentos de realizao tais como a escolha de tarefas, a persistncia na
tarefa, o dispndio de esforo e a aquisio de competncias (Schunk, 1989, 1991).
Estes comportamentos, por sua vez, influenciam a perceo de autoeficcia. Tambm
o ambiente influencia a perceo de autoeficcia como o demonstram os estudos
sobre a influncia das expetativas do professor (Rosenthal & Jacobson, 1968). A
modificao da autoeficcia provocada pelo ambiente vai novamente ter repercusses
nas expetativas do professor.
Figura 1. Modelo de reciprocidade tridica da causalidade docomportamento.(Adaptado de Bandura, 1986, p. 26)
Distino entre Aprendizagem e DesempenhoA teoria de aprendizagem social recebeu de Tolman a distino entre
aprendizagem e desempenho. Os indivduos podem aprender vrios tipos de
conhecimento sem demonstrar externamente esses conhecimentos no momento da
aprendizagem. De forma clara, na aprendizagem por observao, a aprendizagem
pode acontecer sem qualquer ensaio ou tentativa de resposta.
Pessoa Comportamento
Ambiente
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certo que as formas complexas do conhecimento dito procedimental, ou
conhecimento de como identificar ou fazer alguma coisa, que ser descrito no captulo
sobre a aprendizagem segundo o modelo de processamento de informao, exige
alguma forma de desempenho ou prtica. Mas, em circunstncias normais, a maior
parte do tempo ocupado nas aulas na aprendizagem das diversas formas de
conhecimento declarativo e de vrios componentes mais simples de conhecimento
procedimental pode ser ocupada em aprendizagem por observao sem desempenho
expresso.
As relaes entre aprendizagem e desempenho so complexas. Uma teoria de
desempenho deveria distinguir entre desempenho resultante duma aprendizagem
prvia (que, como diz Bandura, se distingue da aprendizagem) e desempenho que
conduz aprendizagem de conhecimento procedimental, que ser estudado dentro do
modelo de processamento de informao. Nesta ltima situao, desempenho eaprendizagem podem estar ligados.
Aprendizagem de Forma Atuante e VicarianteEm obras recentes, a aprendizagem considerada em larga medida uma
atividade de processamento de informao, atravs da qual a informao
transformada em representaes simblicas que guiam a ao. Esta aprendizagem
pode realizar-se de forma atuante ou vicariante. Na aprendizagem atuante (em ingls,
enactive), o sujeito aprende fazendo, isto , aprende experimentando as consequnciasdas suas aes e recebendo a influncia das suas consequncias interessantes ou
desinteressantes, designadas como reforo. Estas consequncias operam, no atravs
dum reforo entendido como fortalecimento mecnico dos comportamentos, como
pretendia o comportamentismo, mas dum reforo que fornece incentivos motivadores
e informao quer sobre a correo da resposta quer da sua desejabilidade. As
consequncias servem de informao sobre os resultados provveis. Assim, a eficcia
do reforo explicada atravs da formao de expetativas.
Na aprendizagem vicariante, o sujeito aprende observando o desempenho demodelos quer por observao direta quer atravs de leituras ou de outros instrumentos
mediadores. Tambm aqui, a observao explica as mudanas no desempenho atravs
da formao de expetativas.
Em regra, as aprendizagens complexas envolvem simultaneamente
aprendizagem atuante e vicariante. A aprendizagem por observao e imitao
frequentemente designada por modelao (modeling). Distinguem-se modelos vivos,
que so pessoas, e modelos simblicos, que correspondem a modelos apresentados
oralmente, por escrito, ou por outras vias audiovisuais.
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Teorizao da ModelaoO observador, exposto a um modelo, pode ter o seu comportamento afetado de
trs maneiras diferentes, as quais constituem trs funes da modelao: por
aprendizagem observacional dum novo comportamento, por facilitao dumcomportamento anteriormente aprendido e por inibio ou desinibio dum
comportamento anteriormente aprendido.
1. H modelao atravs da aprendizagem observacional dum novo
comportamento quando o observador demonstra um novo comportamento, que antes,
mesmo quando motivado, tinha zero de probabilidade de ocorrncia. Neste caso, o
modelo oferece informao necessria aprendizagem do novo comportamento. Os
quatro subprocessos e as respetivas atividades subjacentes aprendizagem
observacional esto indicados no Quadro 1.
Quadro 1Subprocessos e Atividades Subjacentes Aprendizagem Observacional de NovosComportamentos
Subprocessos Atividades
Processos deateno
A ateno do aluno despertada pela salincia ou acentuao fsica dosaspetos relevantes da tarefa, pela valncia afetiva da tarefa, pelasubdiviso das atividades complexas em partes mais simples, pelo usode modelos competentes, e pela demonstrao do valor funcional dos
comportamentos modelados.Processos de
reteno
A reteno aumenta pela codificao em forma visual e simblica dasmatrias a ensinar, pela sua organizao, pela elaborao ourelacionamento das matrias novas com a informao previamentearmazenada na memria e pela exercitao cognitiva da informao aser aprendida.
Processos deproduo
Quando se produzem os comportamentos, estes so comparados com asua representao conceptual e podem ser corrigidos pela retroao;tratando-se de nova informao, as novas concees elaboradas peloaluno so comparadas com a informao fornecida.
Processosmotivacionais As consequncias dos comportamentos modelados informam oobservador sobre o seu valor funcional e a sua adequao. Asconsequncias servem de motivao criando expetativas de resultados eaumentando a autoeficcia. Os incentivos podem ser extrnsecos ouintrnsecos, vicariantes ou pessoais.
Fonte: Bandura (1986)
2. H modelao atravs da facilitao dum comportamento anteriormente
aprendido quando a modelao d origem ao desempenho de um comportamento que
antes no se manifestava por falta de motivao suficiente. A modelao, neste caso,
serve de induo para que o observador se comporte de determinada maneira. Trata-sede comportamentos socialmente aceites. Os processos que esto subjacentes
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facilitao da resposta so as indues sociais que criam incitamentos motivacionais
para que os observadores modelem determinadas aes. Se, ao entrar na aula, um
estudante v todos os colegas de manual aberto, ele tender a fazer o mesmo.
3. A modelao por inibio ou desinibio dum comportamento anteriormente
aprendido faz-se quando a observao dum modelo fortalece ou enfraquece inibies
que impendiam sobre comportamentos anteriormente aprendidos. Nesta situao no
estamos perante comportamentos socialmente neutros como acontecia na facilitao
de resposta. Os subprocessos subjacentes inibio ou desinibio de
comportamentos consistem nas expetativas, criadas nos observadores pelos
comportamentos modelados, de que, se as aes forem imitadas, vo seguir-se
consequncias similares s dos comportamentos observados: punio, no caso de
inibio, ou ausncia de punio, no caso de desinibio. Assim, os comportamentos
de indisciplina dos alunos podem ser inibidos ou desinibidos pelo comportamento doprofessor perante um comportamento similar.
Fatores que Influenciam a Aprendizagem e o Desempenho
A experincia duma tarefa no suficiente para ocorra aprendizagem atuante, e
a observao do modelo no suficiente para ocorra aprendizagem vicariante ou para
o seu desempenho futuro. H vrios fatores que influenciam estes fenmenos. Esses
fatores so apresentados no Quadro 2, segundo o resumo apresentado por Schunk
(1991)
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Quadro 2Fatores que Influenciam os Efeitos da Modelao
Fatores Efeitos na Modelao
Estatuto
desenvolvi-mental doaprendente
As melhorias no desenvolvimento incluem maior capacidade para
prolongar a ateno, para processar informao, para usar estratgias,para comparar o desempenho com as representaes conceptuais epara usar motivadores intrnsecos.
Prestgio ecompetnciado modelo
Os observadores prestam mais ateno aos modelos competentes e deelevado estatuto. As consequncias dos comportamentos modeladosfornecem informao acerca do seu valor funcional. Tambm osobservadores procuram aprender as aes que eles julgam iro
precisar de desempenhar.
Consequnciasvicariantes
As consequncias vicariantes tm valor informacional emotivacional. As consequncias que resultam sobre os modelos
oferecem informao sobre a adequao comportamental e sobre osresultados provveis das aes. As consequncias valorizadasmotivam os observadores. As semelhanas nos atributos ou nascompetncias em relao aos modelos apontam para a adequao eaumentam a motivao.
Expetativas deresultados
O conceito de expetativa de resultados inspirado no conceito deexpetativa de Tolman e Rotter. mais provvel que os observadoresdesempenhem as aes modeladas que eles julgam que soapropriadas e que tero resultados gratificantes.
Estabeleci-
mento deobjetivos
mais provvel que os observadores prestem ateno aos modelos
que mostram comportamentos que ajudaro os observadores a atingiros objetivos. Os objetivos mais incentivadores so os objetivosclaros, especficos, a curto prazo, exequveis, desafiantes.
Autoeficcia Os observadores tendem a prestar ateno aos modelos quando sejulgam capazes de aprender ou desempenhar o comportamentomodelado. A observao de modelos semelhantes a si mesmos afetaa autoeficcia (Se ele pode, eu tambm posso).
Fonte: Adaptado de Schunk (1991)
Estatuto desenvolvimental do aprendente. Em termos cognitivos, a capacidade
para prestar ateno bem como as diversas competncias necessrias para oprocessamento da informao envolvida na observao so dependentes do
desenvolvimento do aprendente.
Prestgio e competncia do modelo. A competncia do modelo pode ser inferida
a partir dos resultados das suas aes. O observador influenciado no s pela
competncia, mas tambm pelo prestgio do modelo. Pais e professores so modelos
de elevado estatuto em relao s crianas. Pode haver um efeito generalizao ou de
halo do prestgio que faz com que o prestgio se estenda at reas alheias
competncia do modelo. Assim, uma criana pode imitar os maneirismos dum modelocom prestgio.
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Consequncias vicariantes. Pela observao, o observador estabelece
expetativas sobre as possveis consequncias das aes imitadoras. No dizer de
Bandura (1986), as consequncias vicariantes servem funes motivacionais e
informacionais.
As funes motivacionais das consequncias vicariantes resultam do facto de o
modelo ser punido ou reforado. Deve sublinhar-se a importncia do esforo
observado e da semelhana do modelo. A observao dum modelo em esforo ou dum
modelo semelhante ao observador poder ser mais eficaz do que a observao dum
modelo de mestria ou de competncia superior.
As funes informacionais das consequncias vicariantes resultam do facto de o
modelo indicar qual o tipo de aes que tem mais probabilidades de ser eficaz. A
semelhana do modelo tem sido investigada e parece ter mais importncia no
desempenho do que na aprendizagem. O observador v as situaes sociais em termode adequao em termos de sexo e idade. O sexo e idade do modelo indicam as
circunstncias em que o desempenho socialmente adequado. No parece que a idade
do modelo tenha influncia na aprendizagem. Quanto ao ensino, porm, verifica-se
que as crianas usam menos a linguagem verbal quando modelam comportamentos e
por isso podem ser mais eficazes junto doutras crianas com deficincias, que tm
mais dificuldade na compreenso da linguagem.
O mais elevado nvel de semelhana entre modelo e observador aparece no caso
de automodelagem. Neste caso o desempenho do prprio vai servir de modelofornecendo um meio de retroao para afinar os prprios comportamentos. Tambm a
automodelao de situaes de xito pode ser usada para aumentar a perceo de
autoeficcia. No h diferena, porm, na eficcia da automodelao apoiada por
exemplos de
Reformulao do Conceito de ReforoBandura aceita o conceito comportamentista do reforo como determinante
parcial do comportamento, mas confere um significado especial a esta palavra. Oreforo identificado com as consequncias do comportamento. Como ficou dito
anteriormente, as consequncias do passado influenciam o comportamento futuro em
virtude dos valores de informao e de incentivo que veiculam. O reforo mantm
eficcia na medida em que as consequncias do comportamento so geradoras de
expetativas: oferecem informao sobre a correo e desejabilidade da resposta e
sobre a probabilidade de resultados semelhantes no futuro.
A recompensa e a punio podem ser obtidas de forma vicariante, isto ,
substitutivamente, como acontece quando algum se v a si prprio no lugar de
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outrem que recompensado ou punido. A punio e a recompensa no afetam mais a
aprendizagem do que o desempenho.
Perceo de Autoeficcia e Motivao na Teoria Cognitiva SocialBandura (1986) entende o comportamento motivado como um comportamento
dirigido a um objetivo, ativado e sustentado atravs das expetativas acerca dos
resultados antecipados das aes e da perceo de autoeficcia para executar aquelas
aes. Os pontos da teoria cognitiva social mais relevantes para o estudo da
motivao so a perceo de autoeficcia, o estabelecimento de objetivos, as
consequncias vicariantes resultantes da observao de modelos ou da comparao
social e as expetativas de resultados.
Conceito de Autoeficcia
O conceito de autoeficcia proposto por Bandura parece ter sido inspirado pelo
conceito de efectncia, da autoria de White (1959). O estudo da autoeficcia foi
inicialmente desenvolvido em ligao com a psicologia clnica (Bandura, 1978).
Autoeficcia percebida, ou perceo de autoeficcia ou simplesmente eficcia,
definida por Bandura (1982) como o juzo pessoal acerca das prprias capacidades
para executar as atividades requeridas para atingir determinado nvel de desempenho
ou, de uma forma mais breve, como uma crena naquilo de que se capaz de fazer. A
autoeficcia distingue-se do conceito de expetativa de resultados. A autoeficciarefere-se perceo das prprias capacidades para produzir aes; a expetativa de
resultados diz respeito crena nos resultados antecipados dessas aes. Releve-se
porm que, embora estes dois aspetos motivacionais sejam conceptualmente distintos,
eles aparecem normalmente relacionados.
A autoeficcia tende a generalizar-se a diferentes domnios ou tarefas, mas
constitui primariamente um constructo especfico dum determinado domnio. A
eficcia distingue-se do autoconceito. Este mais global e refere-se s autopercees
coletivas formadas a partir das experincias e interpretaes do ambiente, mormentedos reforos e avaliaes dos outros significativos.
A teoria cognitiva social defende que a perceo de autoeficcia ou competncia
juntamente com a perceo de autocontrolo tm um papel importante na motivao e
no desempenho (Bandura, 1986). A autoeficcia influencia o dispndio de esforo, a
persistncia e a aprendizagem. O sentimento de autocontrolo influencia o
desenvolvimento de competncias, a perceo de autoeficcia e as capacidades de
autorregulao que aumentam a autodireccionalidade. O exerccio do autocontrolo
exige instrumentos de agncia pessoal e autossegurana no uso desses instrumentos.
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As percees de eficcia e de autocontrolo influenciam-se mutuamente e so funo
das competncias desenvolvidas e da autorregulao (McCombs, 1988).
Os indcios de que o aluno dispe para julgar acerca da eficincia da prpria
aprendizagem servem para determinar a autoeficcia percebida. Bandura (1982) refere
quatro principais pistas de autoeficcia, que so expostas nos seguintes pontos.
1. Experincia atuante no desempenho anterior da tarefa e na consecuo de
objetivos. Os xitos e fracassos que resultam do desempenho aumentam ou diminuem
a perceo de eficcia. Esta experincia que deriva de reais desempenhos constitui a
principal fonte de informao para o sujeito julgar a autoeficcia.
2. Experincia vicariante. A assistncia ao desempenho com sucesso de outras
pessoas consideradas semelhantes ao sujeito ajuda a estabelecer um padro de
autoeficcia.
3. Persuaso verbal ou crena induzida na capacidade de desempenho. Asinformaes de pessoas fiveis sobre as prprias capacidades vm complementar a
informao diretamente obtida.
4. Sintomas fisiolgicos. As sensaes de tenso, fadiga ou excitao fornecem
indicaes das capacidades prprias. Estas fontes de informao no atuam
diretamente sobre a autoeficcia, antes devem ser apreciadas atravs dum processo
inferencial, que leva em linha de conta a capacidade, o esforo, a dificuldade da
tarefa, a ajuda do professor, e o padro de sucessos e fracassos.
Observao e Autoeficcia
O desenvolvimento das funes autorregulatrias exige padres de
autoavaliao, formados por modelao. A observao de modelos conduz
comparao social. Como observa Mucchielli (1976), quando faltam dados objetivos,
o indivduo arrastado para a observao social e para a conformidade social para
satisfazer dois tipos de necessidades: a necessidade de aprovao e a necessidade de
informao. mais provvel que as pessoas recorram informao advinda da
comparao social quando no dispe de dados objetivos sobre as prprias
capacidades.Quanto mais semelhantes ao observador forem os modelos, maior a
possibilidade de se induzirem no observador aes semelhantes s do modelo. Pode-
se usar um modelo de professorou os modelos de pares. Os modelos de pares podem
ainda, por um lado, ser modelos em esforo ou em confrontao com dificuldades
(coping models), que inicialmente mostram dificuldades, mas vo melhorando o seu
desempenho gradualmente, ou, por outro lado, modelos de mestria ou de domnio
perfeito (mastery models), que mostram um desempenho impecvel desde o incio. Os
modelos de professor so mais influentes do que a ausncia de modelo, mas osmodelos de pares, quer de mestria quer em esforo so mais influentes do que os
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modelos de professor. No se encontrou diferena entre os modelos de pares em
esforo ou de mestria. Acontece, porm, que os modelos emotivos em esforo, que
verbalizam as dificuldades atravs de declaraes negativas, mas depois vo
melhorando, constituem um terceiro tipo de modelos e influenciam positivamente a
autoeficcia, mais do que todos os outros tipos de modelo. O nmero de modelos
tambm mostra influncia na autoeficcia. O uso de modelos mltiplos aumenta a
probabilidade de que o observador se aperceba semelhante a um deles. Tambm a
atribuio de sucesso em termos de capacidade e esforo melhoram a autoeficcia. A
investigao tem mostrado a vantagem em treinar modelos para intervir no s na
aprendizagem escolar, mas tambm na promoo do comportamento pr-social e na
interao social junto de crianas isoladas.
O desempenho que atinge o nvel dos padres pessoais resulta num sentimento
de satisfao que desenvolve o interesse e aumenta o sentimento de autoeficcia(Bandura, 1982). Note-se que tambm aqui os efeitos motivacionais das
consequncias vicariantes dependem da autoeficcia.
Objetivos, Expetativas e Autoeficcia
Um objetivo refere-se quantidade, qualidade ou frequncia dum desempenho
antecipado. O estabelecimento de objetivos envolve o estabelecimento dum padro
que serve de meta para as prprias aes. Os objetivos podem ser estabelecidos pelo
prprio ou por determinao doutra pessoa, a partir de informaes diversas,
nomeadamente atravs de padres modelados.
Os objetivos melhoram a aprendizagem e o desempenho atravs da ao sobre
mecanismos cognitivos e motivacionais, tais como a perceo de progresso,
autoeficcia, e autoavaliao. O estabelecimento de objetivos e a autoavaliao do
progresso so importantes elementos da motivao, na medida em que permitem criar
autoincentivos, e so tambm elementos importantes no fomento da autoeficcia, na
medida em que favorecem o sucesso. Por um lado, a discrepncia entre objetivos e
desempenho induz a motivao para a mudana; por outro lado, a perceo do
progresso ajuda na persistncia do comportamento (Locke & Lathan, 1990, Schunk,1996). Os objetivos no influenciam diretamente a aprendizagem e o desempenho:
primeiro, motivam o indivduo para exercer esforo de modo a responder s
exigncias da tarefa e a persistir no exerccio da tarefa. O esforo e a persistncia, por
sua vez, atuam no sentido de melhorar o desempenho. Os objetivos tambm focam a
ateno nas caratersticas relevantes da tarefa, nos comportamentos a desempenhar e
nos relutados potenciais, e assim afetam o processamento da informao.
Trs caratersticas dos objetivos podem afetar as autopercees, a motivao e a
aprendizagem: a especificidade, a proximidade e a dificuldade. A especificidade dosobjetivos mais influente do que a generalidade e impreciso. Shunk (1984)
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comparou os efeitos da recompensa dos objetivos. A recompensa junta com objetivos
mostrou-se mais eficaz do que qualquer um desses fatores isolados na promoo da
motivao, da autoeficcia e do desempenho, provavelmente porque aumentaram as
fontes de informao que permitiram monitorar o processo de aprendizagem.
Tambm a proximidade dos objetivos melhoram a motivao. Bandura e Schunk
(1981) concluram que o estabelecimento de subobjetivos prximos promove a
perceo de causao pessoal e, consequentemente, o interesse intrnseco. Os
objetivos prximos so especialmente teis com crianas que tm quadros de
referncia mais reduzidos e tm dificuldade em representar resultados distantes no
tempo.
A dificuldade dos objetivos constitui a terceira caraterstica que determina a
influncia dos objetivos. Objetivos desafiantes so mais eficientes do que objetivos
fceis, desde que as pessoas os considerem possveis.Tambm se verificou que os objetivos autoestabelecidos so mais motivadores
do que os objetivos heteroestabelecidos. A teorizao da motivao intrnseca far
mais luz sobre este fenmeno. O mesmo se diga sobre os efeitos da informao
retroativa sobre o progresso na consecuo dos objetivos. Possivelmente so tambm
os princpios relacionados com o estabelecimento de objetivos que esto na base dos
efeitos dos contratos educativos.
Existe uma relao entre os seguintes processos: subobjetivos prximos,
percees de autoeficcia, causao pessoal, interesse intrnseco, desempenho. Comoafirma Schunk (1991), um aluno pode desejar o elogio do professor (estabelecimento
de objetivos), acreditar que uma resposta certa obter esse elogio (expetativas
positivas de resultados) e, no entanto, no responder se duvidar da prpria capacidade
para responder corretamente (baixa autoeficcia percebida). O estabelecimento de
objetivos permite a avaliao por referncia a padres internos e, atravs desse
processo metacognitivo de avaliao, aumenta a autoeficcia, autocontrolo, motivao
e desempenho.
O reforo visto, no como um mero fortalecimento das respostas, mas como
uma informao acerca dos resultados provveis do prprio desempenho. Esta
informao conduz formao de expetativas que influenciam a motivao se houver
uma perceo adequada de autoeficcia.
Aplicaes no Ensino
Distino entre eficcia pessoalcentrada nas expetativas quanto s capacidades
para desempenhar os comportamentos e eficcia de ensino, centrada nas expetativas
quanto aos resultados desses comportamentos de ensino (Ashton & Web, 1986).
Outros investigadores distinguem os aspetos internos e externos da perceo deeficcia instrucional.
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Modelao para a Instruo. Numa sequncia normal de aprendizagem de
competncias em situao escolar, o professor pode comear por descrever a
competncia ou o comportamento a adquirir, usar meios audiovisuais onde o
comportamento aparece expresso e depois mostrar ele mesmo o desempenho que se
pretende. Posteriormente, os alunos passaro prtica guiada ou acompanhada pelo
professor, que verifica se houve compreenso adequada. Quando os alunos atingiram
o nvel considerado suficiente, passam ento prtica independente, e o professor
passa a monitorar periodicamente o trabalho dos alunos. A modelao cognitiva e o
treino autoinstrucional so dois exemplos especficos do uso de modelao na
instruo.
Modelao cognitiva. A modelao cognitiva, estudada por Meichenbaum
(1977) e descrita por Schunk (1991), junta a explicao e a exibio do
comportamento com a verbalizao dos pensamentos do modelo e das razes paraatuar de certa maneira. Este tipo de modelao pode mesmo incluir os erros mais
frequentes e os processos para os identificar ou evitar. A investigao tem
demonstrado que a explicao acompanhada por modelao mais eficaz do que a
simples explicao.
Modelao e Treino Autoinstrucional. Meichenbaum e Goodman (1971)
propuseram um processo de treino autoinstrucional que incorpora a modelao. O
processo, usado com crianas de segundo ano com dificuldades de aprendizagem,
compreendia os seguintes passos:1. modelao cognitiva: o adulto diz como faz e desempenha a tarefa;2. orientao expressa: a criana desempenha a tarefa sob direo da instruo do
adulto;3. auto-orientao expressa: a criana desempenha a tarefa enquanto se instrui a
si mesma em voz alta;4. esvaecimento da auto-orientao expressa: a criana desempenha a tarefa
enquanto sussurra as instrues;5. auto-orientao oculta: a criana desempenha a tarefa conduzida por fala
interior silenciosa.
Aprendizagem de Regras e Aprendizagem de Competncias Motoras
Vrios estudos, revistos por Schunk (1991), tm demonstrado a eficcia da
modelao na aprendizagem de regras que comandam o uso da linguagem e aquisio
de conceitos. A investigao tem demonstrado igualmente a eficcia da modelao no
ensino de regras abstratas no lingusticas.
A aprendizagem de competncias motoras, na perspetiva da teoria cognitiva
social, implica a construo dum modelo mental que contm uma representao
conceptual da competncia utilizada na produo da resposta, que serve tambm depadro de referncia para correo das respostas em funo da retroao. Esta
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representao construda pela codificao visual e simblica das sequncias de
comportamentos observados de modo a poderem ser exercitados cognitivamente.
Quando o sujeito no pode obter retroao visual do seu desempenho, obrigado a
recorrer retroao cinestsica. A utilizao de meios audiovisuais pode facilitar a
retroao.
No aperfeioamento da representao do modelo mental que dirige o
desempenho motor, til que o professor mostre o desempenho errado antes de
modelar o desempenho correto: No faas assim...Faz assim.... O fidebeque do
comportamento incorreto poder mesmo ser caricaturado para que o aprendiz
descubra onde est o erro. A perspetiva da teoria cognitiva social difere das
tradicionais explicaes em termos de teoria de circuito fechado e teoria de esquema
(Vide Schunk, 1996).
Autoeficcia e Motivao na Escola
Dum ponto de vista da teoria cognitiva social, o ambiente escolar influencia a
motivao sobretudo atravs da perceo de autoeficcia e da observao de modelos
(Schunk, 1991). Locke (1982) verificou que a autoeficcia afeta o nvel do objetivo, o
desempenho, o empenhamento no objetivo e a escolha quantitativa especfica do
objetivo. A autoeficcia afetada pelo treino em estratgias da tarefa (como o
estabelecimento de objetivos). Possivelmente o treino de novas atribuies no
suficiente, uma vez que a autoeficcia depende de outras variveis alm do esforo,
tais como a capacidade para agir sob tenso e a adaptabilidade a novas situaes.
Nesta linha, Schunk (1984) conclui que a relao entre autoeficcia, motivao e
realizao so funes de diferentes prticas educacionais, tais como a estratgias
atribucionais de retroao, estabelecimento de objetivos, estratgias de comparao
social e contingncias de recompensa. Em suma, entre os principais aspetos que
influenciam as expetativas e a autoeficcia contam-se os seguintes: a oportunidade de
sucesso, o estabelecimento de objetivos, os objetivos instrucionais ("Isto sai no
teste"), a dificuldade das matrias, o tipo de processamento de informao requerida
(materiais escritos, exposies orais, meios audiovisuais), o treino de estratgias, otipo de apresentao das matrias, a retroao do professor, as caratersticas dos
modelos, as recompensas e a retroao atribucional.
preciso notar que, sob um ponto de vista pedaggico, os processos referidos
no tm valores equivalentes j que alguns apelam claramente para motivos
extrnsecos aprendizagem. O processo de comparao social na sala de aula, por
exemplo, pode trazer problemas se o professor no escolhe judiciosamente o modelo
de comparao ou se o comportamento subsequente do aluno no est altura das
expetativas. Com efeito, a comparao social pode conduzir ao quadro motivacionalde envolvimento do Ego, em prejuzo do quadro motivacional de envolvimento na
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tarefa (Nicholls, 1984). Como alternativa provocao da comparao social, Schunk
(1985) sugere a veiculao de informao direta ("Eu sei que isto est ao seu
alcance") e a utilizao de objetivos a curto prazo (que mostram que o aluno tem as
capacidades necessrias).
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