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JOSCILENE BERNHARDT
AÇÕES DE SAÚDE BUCAL PARA ESCOLARES EM UM MUNICÍPIO DO SUL
DO BRASIL: o desafio da integração de sujeitos institucionais
Itajaí/SC
2015
1
JOSCILENE BERNHARDT
AÇÕES DE SAÚDE BUCAL PARA ESCOLARES EM UM MUNICÍPIO DO SUL
DO BRASIL: o desafio da integraçãode sujeitos institucionais
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Saúde da Universidade do Vale do Itajaí –UNIVALI, como requisito para obtenção do Título de Mestre.
Orientadora: Prof.ª Drª. Rita de CassiaGabrielli Souza Lima
Itajaí/SC
2015
AGRADECIMENTOS
2
FICHA CATALOGRÁFICA
B465a
Bernhardt, Joscilene, 1963-
Ações de saúde bucal para escolares em um município do sul do Brasil:
o desafio da integração de sujeitos institucionais / Joscilene Bernhardt,
2015.
120f . ; il. quad.
Apêndices Anexos
Cópia de computador (Printout(s)).
Dissertação (Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí. Centro de
Ciências da Saúde. Mestrado Profissional em Saúde.
“Orientadora: Profª . Drª “Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima”
Bibliografia: p. 102-113
1. Saúde Bucal – Educação . 2. Políticas Públicas. 3. Saúde Escolar.
4. Assistência Odontológica para crianças. 5. Higiêne Bucal. I. Título.
CDU: 614:616:314
Josete de Almeida Burg – CRB 14.ª 293
3
A Deus, força-criadora, pela Vida.
Aos meus pais Dilma e Wilmar por acreditarem que o conhecimento é o bem
maior e possibilitar essa caminhada.
Ao José, meu marido, por essa imensa capacidade de buscar realizar nossos
sonhos, por ser tão completo e ter se tornado cirurgião dentista para que junto
com nossos filhos possamos dignificar mais essa profissão, pela presença em
todas as horas dessa jornada, pelo amor que compartilharemos eternamente.
A Sarah, minha filha, colega de profissão e de Mestrado, amiga e parceira em
todos os momentos e trabalhos, imensa gratidão.
Ao Matheus, meu filho, por atender meus pacientes, me apoiar neste trabalho
sempre solícito, por irradiar essa alegria tão tua.
Ao Luan e Luyara, que vieram somar-se à família e souberam esperar quando
eu pedia ajuda aos meus filhos.
Aos meus irmãos e familiares, que estão sempre acompanhando e torcendo
pelo meu crescimento.
A cada Mestre que ao longo de minha vida forjaram meu conhecimento, de
todos ficou um pouco.
Aos colegas do Mestrado, cúmplices nas ansiedades e ideais.
Aos funcionários do Mestrado, que prepararam os espaços e nos acolheram
nas nossas necessidades.
A Prof.ª. Dra. Stella, pela meiga parceria no início deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Marco Aurélio Da Rós, por sua vivacidade e energia de manter a
história da Saúde Pública brasileira, e continuar conquistando mais pessoas
para a luta de concretizar o SUS que sonhamos.
A orientadora Prof.ª Dra. Rita, com história profissional semelhante, a quem
coube a espinhosa tarefa de me corrigir, contribuir e estimular constantemente
nessa árdua construção.
Aos cirurgiões dentistas que labutam na Saúde Pública e ainda não perderam a
fé de mudar o quadro de saúde bucal da população.
A todos, que mesmo não mencionados, tiveram sua contribuição para este
trabalho
4
Dedico esse trabalho aos que tem sonhos e aos que
buscam respostas que poderão iluminar os caminhos
para a efetivação de uma sociedade melhor.
5
RESUMO
BERNHARDT, J. Ações de saúde bucal para escolares em um município do sul do Brasil: o desafio da integração de sujeitos institucionais. Dissertação(Mestrado) – Programa de Mestrado Profissional em Saúde, Universidade do Vale do Itajaí,Itajaí, 2015. 120 f. Este estudo de caso buscou compreender o processo de integração das modalidades de atenção em saúde bucal no serviço público de Itajaí/SC, dirigidas para escolares e o processo de integração da atenção em saúde bucal vigentes em 2015. Tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa. A amostragem deste estudo foi construída por intenção. Os dados foram coletados mediante o método de triangulação de fontes documentais do município estudado e nacionais, entrevistas, e arquivo pessoal da pesquisadora. A análise de conteúdo das falas dos sujeitos resultou na emergência das seguintes categorias: O desafio da integração entre o Programa Saúde Bucal e a Educação; Programa Saúde na Escola – o desafio de interlocução entre os entes federados e Equipes de Saúde Bucal – o desafio de efetivar o Programa Saúde na Escola. O encontro com as categorias gerou a motivação para buscar um resgate do processo histórico da implantação de ações de Odontologia no serviço público de Itajaí/SC, contextualizando com os acontecimentos nacionais. As ações educativas e preventivas em saúde bucal no município ocorrem de forma pulverizada. Para efetivar o Programa Saúde na Escola, as ações em Saúde bucal realizadas pelas ESB’s necessitam da intersetorialidade.A existência de abertura em cada setor envolvido, estabelece corresponsabilidade e cogestão.O caminho para construir e efetivar o Programa Saúde na Escola necessita amadurecer a utilização das estruturas institucionais que temos e redesenhá-las, criando vínculos, aproximando olhares e construindo espaços comunicativos. Palavras-chave: saúde bucal; políticas públicas; saúde na escola; ações integradas.
ABSTRACT
BERNHARDT, J. Actions of oral health for school pupils in a municipality in the South of Brazil: The challenge of integrating institutional subjects. Dissertation (Master’s Degree) – Master’s Degree Program in Health, University of Vale do Itajaí, Itajaí, 2015. 120 f. This case study sought to understand the process of integration of the modalities of oral health care in the town of Itajaí/SC, focused on school pupils and the process of integration of oral health care practiced in 2015. This study uses a qualitative approach. The sampling was constructed non-randomly. Data were collected using the method of trangulation of document sources from the municipality studied, and national documents, interviews, and personal files of the researcher. The content analysis of the subject’s discourses resulted in the emergence of the following categories: The challenge of integration between the Oral Health Program and Education; The Health in Schools Program – the challenge of cooperation among the federal entities and the Oral Health Teams – the challenge of implementing the Oral health Program In Schools. The perception of the categories prompted us to seek to revive the historical process of implantation of actions of Odontology in the public service of Itajaí/SC, placing it in the context of national events. The educational and preventative actions in oral health in the municipality have occurred in a disseminated way. To implement the Health in Schools Program, the oral health actions carried out by the ESBs need to be cross-sectoral. The existence of willingness in each sector involved establishes joint responsibility and joint management. The way in which the Health in Schools Program is built and implemented needs to mature in its the use of the institutional structures available to us, redesigning them, creating links, bringing new perspectives, and building communicative spaces. Keywords: oral health; public policies; health in schools; integrated actions.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AB/SF - Atenção Básica/Saúde da Família ABO - Associação Brasileira de Odontologia ACD - Atendente/Auxiliar de Consultório Dentário ACS - Agente Comunitário de Saúde AIDS - Síndrome de Imunodeficiência Adquirida AIS - Ações Integradas de Saúde APP - Associações de Pais e Professores APS - Atenção Primária à Saúde CD - Cirurgião Dentista CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde CEI - Centro de Educação Infantil CEO - Centro de Especialidades Odontológicas CFO - Conselho Federal de Odontologia CGCI - Coordenação-Geral de Cooperação
Interfederativa CGPNPS - Comitê Gestor da Política Nacional de
Promoção de Saúde CIMS - Comissão Interinstitucional Municipal de
Saúde CNS - Conferência Nacional de Saúde CNSB - Conferência Nacional de Saúde Bucal COMUSA - Conselho Municipal de Saúde de Itajaí CONAS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde CONASEMS - Conselho Nacional de Secretarias Municipais
de Saúde CPO-D - Índice de Cárie Dentária DATASUS - Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde do Brasil DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis ESB - Equipe de Saúde Bucal ESF - Estratégia da Saúde da Família FAE - Fundação de Amparo ao Estudante FEGE - Fator de Estímulo à Gestão Estadual FIOCRUZ - Fundação Osvaldo Cruz FJP - Fundação João Pinheiro FNDE - Fundação Nacional de Desenvolvimento da
Educação GPABA - Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada GTI - Grupos de Trabalho Intersetoriais IAPS - Institutos de Aposentadorias e Pensões IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica IDF - ÌNDICE DE Desenvolvimento Familiar IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IFDM - Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal IFES - Instituto Cenecista Fayal de Ensino Superior
7
INAMPS-PAM - Posto de Assistência Médica do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IREPS - Iniciativa Regional para Escolas Promotoras
de Saúde IVQ - Índice de Valorização de Qualidade LBA - Legião Brasileira de Assistência NOAS - Norma Operacional de Assistência em Saúde NOB - Norma Operacional Básica OMS - Organização Mundial de Saúde OPAS - Organização Pan-americana de Saúde PAB - Piso de Assistencial Básico PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde PCCS - Plano de Carreira, Cargos e Salários PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PDR - Plano Diretor de Regionalização PEE/SC - Plano Estadual de Educação de Santa
Catarina PIB - Produto Interno Bruto PMAQ-AB - Programa Nacional de Melhoria do Acesso e
da Qualidade da Atenção Básica PNAB - Política Nacional de Atenção Básica PNCCSF - Programa Nacional de Controle da Cárie
Dental com o Uso de Selantes e do Flúor PNPS - Política Nacional de Promoção de Saúde PNSB - Política Nacional de Saúde Bucal PNUD - Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento PPI - Programação Pactuada e Integrada PPP - Projetos Políticos Pedagógicos PRECAD - Programa Nacional de Prevenção da Cárie
dentária PROS - Programação Orçamentária da Saúde PSB - Programa de Saúde Bucal PSE - Programa Saúde na Escola PSF - Programa Saúde da Família PSPE - Projeto Saúde e Prevenção na Escola SCNES - Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimento de Saúde SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas SES/SC - Secretaria de Estado da Saúde de Santa
Catarina SGEP - Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica
8
SISPACTO - Sistema de Pactuação SOCIESC - Sociedade Educacional de Santa Catarina SUDS - Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde SUS - Sistema Único de Saúde TC - Tratamento Concluído TSB - Técnico em Saúde Bucal TSB - Técnico de Saúde Bucal
UBS - Unidade Básica de Saúde UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina UNESCO - Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí UOM - Unidades Odontológicas Móveis
9
LISTA DE QUADROS E IMAGENS
QUADRO 1: Indicadores de saúde bucal– desempenho, com fórmula e
cálculo.
Brasil, 2012
QUADRO 2: Indicadores de saúde bucal– Monitoramento, com fórmula e
cálculo. Brasil, 2012
IMAGEM 1: Mapa de localização do município de Itajaí
IMAGEM 2: Pirâmide populacional (sexo e faixa etária) de Itajaí (2010)
QUADRO 3: Estabelecimentos de ensino de Itajaí, 2015
QUADRO 4: Índice de desenvolvimento humano de Itajaí/SC 2010- PNDU –
comparativo com ranking estadual e nacional
QUADRO 5: Taxas de internação por capítulo CID-10, por 10000. Itajaí/SC
2010-
2012
QUADRO6: Distribuição das Equipes de Estratégia de Saúde da Família
(ESF),
Equipes de agentes comunitários de Saúde (EACS) e saúde bucal
(ESB) por área de abrangência. Itajaí, 2014
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 17
2.1 Objetivo Geral .....................................................................................................................17
2.2 Objetivos Específicos ..........................................................................................................17
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..............................................................................................18
3.1 Aspectos da história da atenção à saúde do escolar: transitando do campo histórico-
filosófico ao campo normativo-operacional................................................................................18
3.2 Programa Saúde na Escola ............................................................................................... 27
3.3 A Inclusão das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da Família ....................32
4. CONTEXTO DO ESTUDO ................................................................................................... 38
5 PERCURSO METODOLÓGICO............................................................................................. 47
5.1. Desenho do Estudo ............................................................................................................47
5.2 Sujeitos do Estudo ...............................................................................................................47
5.3 Aspectos Éticos .................................................................................................................. 48
5.4 Coleta de Dados ..................................................................................................................49
5.5 Organização dos Dados .......................................................................................................51
5.6 Análise dos Dados ...............................................................................................................51
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 53
6.1 Resgate do processo histórico da atenção em saúde bucal no município eleito para
o estudo ................................................................................................................................... 53
6.2 Modalidades de atenção em saúde bucal dirigidas para escolares no município.............. 77
6.2.1 O desafio de integração entre o Programa Saúde Bucal e a Educação .........................78
6.2.2 Programa Saúde na Escola –O desafio de interlocução entre os entes federados ........ 84
6.2.3 Equipes de Saúde Bucal – O desafio de efetivar o PSE ................................................ 91
7 CONSIDERAÇÕES DAQUILO QUE SEI... ............................................................................ 97
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 102
9APÊNDICE A ....................................................................................................................... 114
10 APÊNDICE B .................................................................................................................... 116
11 APÊNDICE C ..................................................................................................................... 117
12 APÊNDICE D.................................................................................................................... 118
13 APÊNDICE E ..................................................................................................................... 119
14 ANEXO ............................................................................................................................. 120
11
1 INTRODUÇÃO
A definição de Políticas Públicas que encontramos mais difundida é a de
que são programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente
ou indiretamente. Podem ter a participação de entes públicos ou privados
visando assegurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para
determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico (BRANDÃO,
2013).
Os direitos sociais assegurados constitucionalmente, indicados no art. 6º
da Constituição Federal – trabalho, educação, saúde, moradia, lazer,
segurança, previdência social, proteção à maternidade e infância e assistência
aos desamparados – para serem implementados necessitam de políticas
públicas que organizem a atuação estatal na consecução de tais finalidades,
num âmbito coletivo. Infere-se que para a concretização da ideologia assumida
pela Constituição de 1988, em termos de direitos sociais, entram em cena as
políticas públicas que emergem como meio primordial de legitimação do ente
público em face dos administrados, em razão de ser o principal veículo de
garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos (ABREU, 2011).
Historicamente as políticas públicas surgiram a partir de transformações
socioeconômicas no Brasil e enfocavam somente o crescimento econômico,
sem a garantia de direitos sociais e civis (SPOSATI, 1986). Em uma
perspectiva historiográfica, observa-se que o Brasil não experimentou uma
política pública que salvaguardasse o direito social à saúde, antes da conquista
do Sistema Único de Saúde (SUS) (LIMA et al., 2009).
Dentro da atual realidade do capitalismo brasileiro, as políticas públicas
têm o objetivo de reduzir a pobreza e as desigualdades sociais, garantir o
acesso à cidadania visando ao aumento da democratização e da sociabilidade
dos indivíduos (BELINOVSKI, 2013). Neste sentido abrangente, políticas
públicas de saúde não se reduzem a programas, pois são políticas de proteção
social. A proteção social, por sua vez, é base incondicional para se construir
uma “sociedade de semelhantes”: uma formação social cuja imagem-objetivo
seja a universalidade da inclusão do direito de cidadania (CASTEL, 2005apud
COSTA;FERREIRA, 2013).
12
Tanto a política como o programa, dizem respeito a uma forma
epistemológica e uma forma substantiva, porém as políticas são diretrizes do
sistema de saúde, enquanto os programas são modos de operacionalizar
essas diretrizes (BERNARDES; GUARESCHI,2007). Por apostar em ampla
inserção transversal no sistema de saúde e não se restringir a ações pontuais,
as políticas públicas fomentam mudanças nas práticas em saúde e nas
relações que se produzem nesse campo (PEREIRA; FERREIRA NETO, 2015).
No campo da saúde bucal, por um longo tempo histórico, a interface
entre o setor “saúde bucal” e população expôs projetos de exclusão social
(COSTA et al, 2013): um modelo liberal, de prática privada, excludente e
reducionista, que primava pela supremacia da individualidade e do tratamento
mutilador/restaurador; uma assistência privada para trabalhadores segurados
(Caixas de Aposentadoria e Pensão; Institutos de Aposentadoria e Pensão)
(GOMES; DA ROS, 2008), uma assistência executada por práticos, para as
classes desfavorecidas (FREITAS, 2001).
A prevalência das doenças bucais, sobretudo da cárie e doença
periodontal, não era objeto da agenda da saúde pública, ainda que presente
em uma realidade nacional marcada pela injusta distribuição de riqueza
nacional material e imaterial. Os tratamentos odontológicos eram encarados
com um caráter de magnitude tão forte que esvaziava qualquer proposta de
solução coletiva integrada (RONCALLI, 2005 apud BRASIL, 2006).
Nos últimos 25 anos, o Brasil tem criado políticas e programas de saúde
na área da saúde bucal. Os movimentos iniciais de tais conquistas foram
disparados pela sociedade e pelo setor progressista da odontologia, quando
assumiram, em Conferências, na década de 1980, o compromisso ideológico
do Movimento Sanitário: direito à saúde como dever de Estado.
A Iª Conferência Nacional de Saúde Bucal (CNSB), realizada em 1986,
consagrou os princípios defendidos por aqueles que se empenharam nas
mudanças do modelo hegemônico de assistência odontológica. A 2ª
Conferência Nacional de Saúde Bucal, ocorrida em 1996, focando para a
operacionalização da garantia do direito à saúde bucal, trouxe discussões e
propostas a fim de alcançar uma efetiva inserção da saúde bucal no SUS
(OPAS, 2006). Naquele ano, em que o SUS instituía uma Norma Operacional
Básica (NOB) importante, a CNSB assumia como objetos centrais o acesso às
13
ações, controle social, equidade e medidas de promoção de saúde bucal. O
cenário político era de sedução neoliberal, de desenvolvimento associado à
necessidade de modernização da economia, viabilizada pela agenda neoliberal
e pela nova ordem econômica internacional. O bem-estar das pessoas passava
a fazer parte de estratégias de promoção de desenvolvimento pelo Banco
Mundial, que colocava o crescimento econômico como a solução a priori dos
problemas sociais nos países periféricos, sem tocar na essência do problema:
a relação de exploração e dependência entre países pobres e ricos e dentro
deles entre exploradores e explorados (RIZOTTO, 2000).
Escorel et al. (2007) relatam que após décadas de privilégio à atenção
hospitalar os esforços, programas e investimentos públicos passaram a se
concentrar na atenção básica, com a adoção do Programa de Saúde da
Família (PSF). Afirmam que a implantação do PSF é um marco na
incorporação da estratégia de atenção primária. Uma política de saúde
específica, nacional. Surgiu em 1994, voltada para as áreas de maior risco
social, aos poucos adquiriu centralidade na agenda governamental. Em 1999
foi considerada pelo Ministério da Saúde como uma estratégia estruturante dos
sistemas municipais de saúde, reorientando o modelo assistencial com uma
nova dinâmica na organização dos serviços e ações de saúde.
Com a edição de Portaria 1444/GM de 28 de dezembro 2000, a saúde
bucal foi incluída no Programa na Estratégia da Saúde da Família, criando-se
incentivos e duas modalidades de Equipes de Saúde Bucal (ESB). (BRASIL,
2000). No entanto, ainda não se tratava de uma política pública: apenas de
uma inclusão setorial no Programa Saúde da Família. Uma política pública, de
fato, para a saúde bucal surgiria quatro anos depois da edição da Portaria.
Em 2004, o Ministério da Saúde apresentou as Diretrizes para a Política
Nacional de Saúde Bucal, também batizada de política do Brasil Sorridente,
com a proposição de orientar as concepções e as práticas na assistência
odontológica, propiciando um novo processo de trabalho, objetivando a
produção do cuidado. (BRASIL, 2004). Criada dentro do contexto do Programa
de Saúde da Família, antes mesmo desta ser considerada a estratégia
prioritária para a expansão e consolidação da atenção básica, a saúde bucal já
apresentava sua política nacional.
14
Em 2006, com a aprovação da Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB) que transformou o Programa de Saúde da Família em uma estratégia
da Saúde da Família (ESF) foram definidas as ações de saúde bucal nesse
nível de atenção. (BRASIL, 2006). Em seguida, com o Pacto pela Saúde
adotou dois indicadores para saúde bucal (Primeira consulta Programática e
Procedimentos Coletivos) com o objetivo de organizar o acesso aos serviços e
subsidiar o planejamento das ações. (ELY et al., 2009)
No encontro com a realidade, legitimada por políticas públicas, a
Estratégia da Saúde da Família e as Equipes de Saúde Bucal assumem o
protagonismo e a responsabilidade pela coordenação do cuidado de escolares
através da participação em ações coletivas voltadas a promoção da saúde e
prevenção de doenças bucais, da população adscrita em seu território.
(BRASIL, 2009).
Ano seguinte, o Decreto nº 6286/2007 institui O Programa Saúde na
Escola, com a finalidade de contribuir para a formação integral dos estudantes
da rede pública da educação básica por meio de ações de promoção,
prevenção e atenção à saúde: uma estratégia de inserção e articulação
permanente entre as políticas e ações de educação e de saúde. (BRASIL,
2007). Em 2013, o município de Itajaí incorpora o Programa, ao assinaroTermo
de Adesão ao Saúde na Escola – PSE.
O valor atribuído à temática “políticas públicas e programas”, no campo
da saúde bucal, está atrelado à minha história de vida e profissional. Formei-
me na Universidade Federal de Pelotas/RS como cirurgião dentista, e ingressei
por concurso na saúde pública em Itajaí/SC há vinte e cinco anos. Inicialmente
atuei como cirurgião dentista na Unidade de Saúde Costa Cavalcante, a
primeira unidade de saúde instalada em um bairro pelo Governo de Santa
Catarina (em 1978), municipalizado em 1988. Após cinco anos fui atuar na
Secretaria de Saúde, coordenando a Odontologia e a organizando projetos e
programas do município, na década de 90. No Controle Social fui conselheira e
secretária executiva do Conselho Municipal de Saúde (COMUSA), organizando
conferências, assessorando outros municípios e sendo delegada, em
Conferências Estaduais e Nacionais. Ocupei o cargo de diretora administrativa
da Secretaria Municipal de Saúde e posteriormente o de auditora do município.
15
Retornando ao exercício da odontologia em unidade de saúde, após
quatorze anos, percebi o quão distante está a realidade do que deve ser
executado em saúde bucal na Atenção Básica da realidade das ações
coordenadas pela gestão municipal. Percebi que as ações de prevenção nas
escolas não são priorizadas ou realizadas de forma sistemática, dando-se
maior ênfase as atividades de assistência, permanecendo um modelo de
atenção centrado na doença. Fui constantemente cobrada para atuar nas
ações curativas da demanda espontânea, produzir para elevar os números que
posteriormente são encaminhados ao Ministério da Saúde. E a cada dia que
passava, ao realizar o exame clínico nos escolares que conseguiam fichas para
atendimento, encontrava sérios problemas de doenças bucais.
Atuando na saúde pública de Itajaí/SC há 25 anos, vivenciando e
estudando o tema – ações de saúde bucal para escolares -, percebo que as
práticas em saúde bucal de escolares no município e naqueles em que
assessorei é a de que os profissionais são livres para realizar as atividades
preventivas nas escolas como e quando lhe for conveniente, não havendo
protocolos de atendimento em Odontologia.
No entanto, os documentos expressam outra realidade, no âmbito do
objetivo de compromisso com ações preventivas em escolas. A cidade de Itajaí
cita em seu Plano Municipal de Saúde 2010-2017 que, desde o ano de 1999 a
Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com a Secretaria Municipal de
Educação, realiza o Programa Saúde Bucal que objetiva prevenir as doenças
bucais mais prevalentes e instituir e orientar a adoção de hábitos saudáveis,
em relação à saúde bucal. Abrangendo as escolas e creches do município com
atividades preventivas e educativas. (ITAJAÍ, 2010).
Em maio de 2014, fui convidada a organizar as ações de prevenção em
saúde bucal do município de Itajaí. E mais uma vez me deparo com a
necessidade de gerar números para cumprir os pactos feitos pela gestão com o
Ministério da Saúde. Buscando referenciais teóricos para embasar as
atividades que me delegaram percebi que em outros municípios do Brasil
temos a repetição do mesmo problema encontrado aqui. Percebe-se que são
realizadas muitas atividades referentes à saúde bucal dos escolares, mas: a)
essas ações conversam entre si? b) são bem aceitas por educadores? c) há
devolutiva para os envolvidos? d) obedecem a um protocolo?
16
Durante a realização desta dissertação de Mestrado, fui novamente
designada para atuar na clínica, em uma unidade de saúde que conta com
cinco equipes de Estratégia de Saúde da Família e uma Equipe de Saúde
Bucal. Esta ESB é apoiada por dois cirurgiões dentistas, com carga horária de
15 horas cada um, os quais atuam sem pessoal auxiliar.
E esta vivência profissional e o interesse cotidiano pela leitura de
documentos oficiais do Ministério geraram a motivação de buscar, na fala de
atores sociais envolvidos, se eles compreendem como integradas as ações de
saúde bucal, em curso no município, e se eles se sentem executores de tais
ações. A hipótese é que as ações não são integradas e sem uma integração
concreta, orgânica entre todas as formas de ações em saúde bucal,
implantadas por política e/ou programa, pela gestão local, não há como
estabelecer um caminho, um percurso de ações preventivas nas escolas, que
possibilite a construção de barreiras efetivas frente à marcha das doenças
bucais, em parceria com a educação: uma marcha para além da alteração dos
quadros epidemiológicos locais. Para que o cuidado da saúde bucal de
escolares se materializasse haveria a necessidade de integração entre das
modalidades de atenção em saúde bucal, do Programa Saúde Bucal, instituído
pelo município; das ações de saúde bucal da ESF e as ações do Programa
Saúde na Escola.
É sobre este objeto – integração das ações de saúde bucal para
escolares– interconectado com a minha experiência profissional na área que
esta pesquisa se realizou. Na perspectiva deste trabalho, a integração das
ações exige uma convenção organizativa, mediada por protocolos, e
disposição dos atores sociais para fins de integração.
17
2 OBJETIVOS
2.1Objetivo geral
Compreender o processo de integração das modalidades de atenção em saúde
bucal no serviço público de Itajaí/SC
2.2Objetivos específicos
1.Resgatar o processo histórico de implantação de ações de Odontologia no
serviço público de Itajaí/SC
2.Identificar as modalidades de atenção em saúde bucal, dirigidas para
escolares no município de Itajaí/SC
3.Identificar o processo de integração da atenção em saúde bucal para os
escolares vigentes em 2015
18
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ao iniciarmos o estudo qualitativo sobre algum assunto em saúde
percebemos que é necessário recuperar aspectos de sua historicidade, para
ancorar a construção do nosso pensamento no contemporâneo sobre o tema.
Só então sentir-nos seguros para discorrer sobre ele. Nesta perspectiva, torna-
se, então, essencial uma incursão na história pregressa.
Na mesma medida, o estudo exige a construção de um referencial
teórico que oriente seu desenvolvimento, do início da pesquisa até a etapa de
análise dos dados coletados pelo pesquisador. Enquanto um guia de
orientação da pesquisa, o referencial teórico não corresponde à totalidade da
rede de teorias que estarão ancorando o tema. Em outra abordagem, assume-
se aqui a compreensão de que a etapa de análise dos dados poderá requerer
novas buscas teóricas sobre o tema. Primeiro, porque em um estudo qualitativo
o processo orienta seu desenvolvimento. Assim, o processo da pesquisa acaba
deflagrando a busca por novos olhares, teorias, reflexões. Segundo, em razão
de o tempo para o mergulho teórico, quando o pesquisador está também
trabalhador no período de realização do mestrado, é insuficiente para
mergulhos abrangentes.
Neste estudo, o referencial teórico foi fundamentado em uma revisão
bibliográfica e documental sobre a atenção à saúde do escolar, em um recorte
histórico que se inicia no século XIX e alcança a contemporaneidade.
Elementos contextuais, Políticas, Programas, Portarias e Decretos foram
contemplados. Estão apresentados a seguir:
3.1 Aspectos da história da atenção à saúde do escolar: transitando do
campo filosófico ao campo normativo-operacional
A história é a busca do vivido através do qual traçamos nossa própria
existência. Manter a memória de uma nação através do estudo de sua história,
de seus atores, cenários, acontecimentos, relações de força, articulação entre
estruturas e conjunturas é o que pode tornar uma pessoa completa. O pleno
exercício das suas faculdades é que permite ao homem o exercício de uma
19
verdadeira liberdade. A liberdade que leva a construir a sociedade que sonha e
que deseja para si e para os outros. (LUCCI, 2000)
Para que possamos questionar os processos de mudança ou evoluções
é necessário ter a compreensão da dimensão espaço-tempo e do que se está
vivendo, em um dado momento histórico. Nessa primeira parte da
fundamentação teórica resgatarei um pouco da história da atenção à saúde do
escolar, inclusive na área da saúde bucal.
A atenção à saúde do escolar teve início no final do século XVIII com o
System einer Volstandigen Medicinischen Politizei, (Sistema de Política Médica
Abrangente), elaborada pelo médico alemão Johann Peter Frank (1745-1821),
considerado o pai da saúde escolar. Em texto publicado, Henry Sigerist (1891-
1954) chama a atenção para a palavra “Politizei” que também pode ser
traduzida como polícia. O pesquisador e militante da saúde social indica que é
mais correto entender o termo não como polícia, mas como política, citando
que na introdução deste livro Frank descreve a política médica como uma
ciência da política geral, uma arte de prevenção que incentiva o bem-estar para
o corpo através de meios que permitem que as pessoas apreciem os
benefícios que a vida pode oferecer. (SIGERIST,2006).
Publicado na Alemanha em 1779, o Sistema Frank detalhava a
importância do atendimento escolar e a sua supervisão por instituições
educacionais. O Sistema tratava desde a prevenção de acidentes até higiene
mental, passando por elaboração de programas de atletismo e desaguando
nas condições das salas de aula quanto à iluminação, ventilação e
aquecimento.
Franz Anton Mai (1742-1814), filósofo e médico alemão, complementou
o Sistema Frank, elaborando um Código de Saúde que dava grande ênfase à
educação, aplicando o conhecimento social e médico disponível na época.
Sugeria que o oficial de saúde instruísse crianças e professores a respeito da
manutenção e promoção da saúde e esclarecimentos quanto aos excessos
sexuais aos adolescentes. O Sistema Frank se estendeu por toda a Europa e
chegou até os Estados Unidos, sendo utilizado na Itália até 1890.
(FIGUEIREDO, 2010).
A história da educação no Brasil, na segunda metade do século XIX,
mostra que havia uma descentralização do ensino público no Brasil que
20
instituiu a divisão de responsabilidades. Cabia ao Governo Central o comando
do ensino superior em todo o território nacional e, dos ensinos primário,
secundário e profissional apenas no município do Rio de Janeiro. Os governos
provinciais eram responsáveis pela administração e legislação dos ensinos
primário, secundário e profissional, dentro dos seus limites territoriais
(SANT’ANNA, 2010). .
Neste período a educação começou a ser vista como meio de
promover o desenvolvimento econômico do país por meio da instrução
elementar e da qualificação da mão de obra. Associações civis como a
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, que apoiavam o desenvolvimento
da indústria nacional, promovendo a modernização e o crescimento do país,
fundaram em 1867 a primeira escola noturna de educação primária para jovens
e adultos que prepararia os alunos para ingressar, posteriormente, na escola
industrial. Percebe-se que a educação sempre esteve a serviço do sistema
político econômico da sociedade na qual está inserida. Suas limitações e
avanços dependem das conveniências apropriadas ao sistema político,
econômico e social. (SANT’ANNA, 2010)
A expansão do ensino primário às camadas populares constituía, ao
mesmo tempo, uma ameaça para a manutenção dos privilégios das classes
dominantes. Os principais problemas apontados nesta época eram a
deficiência de pessoal habilitado ao ensino, a remuneração dos professores, a
falta de edifícios apropriados para o ensino e a falta de inspeção nas escolas
das Freguesias mais distantes. A partir desta constatação resultou a criação e
organização da Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária do
Município da Corte, e na Primeira Reforma da Educação do Império em 1854.
(SCHUELER, 1999; SANT’ANNA, 2010)
No Brasil, o decreto de José Pereira do Rego (1816-1892), condecorado
Barão do Lavradio, em 1889, tratou da regulamentação e inspetoria das
escolas públicas e privadas da Corte. Mas, os primeiros estudos em saúde
escolar no Brasil, foram feitos por Carlos Arthur Moncorvo Filho (1871-1944),
médico que fazia críticas às instituições de amparo as crianças que viviam sem
o menor preceito de higiene, pessimamente alimentadas e em espaços sem luz
e ar suficientes. Para ele essas condições contrariavam os princípios científicos
e sociais nas instituições. Criou-se, na época, uma entidade que realizava
21
ações de saúde, entre elas cirurgias odontológicas para as crianças pobres e
desvalidas (FIGUEREDO, 2010).
Somente a partir do século XX as questões da higiene escolar, como era
chamada a saúde do escolar naquela época, ganharam impulso. Lima (1985)
avalia que na saúde escolar houve a intercessão das doutrinas da polícia
médica (prática do Estado absolutista alemão), do sanitarismo (salubridade dos
locais de ensino) e da puericultura (difusão de regras de viver para professores
e alunos). Mohr e Schal (1992), analisando a história da educação em saúde
no Brasil vinculam um controle do Estado sobre os indivíduos, no sentido de
manter e ampliar a hegemonia da classe dominante. Na década de 20, surgia e
educação sanitária, através do modelo norte americano implantado na
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Recaia nessa época sobre o
professor a tarefa de ensinar e ser um agente terapêutico. Até a década de 70
as ações em saúde do escolar eram pautadas por uma ideologia
modernizadora, acompanhando as evoluções técnico-científicas da época, com
a hegemonia da burguesia industrial no domínio da sociedade. Em vários
momentos a saúde do escolar mostrava-se como uma possibilidade de atenção
a pessoas doentes, sem condições para o trabalho, com sequelas, cronicidade
ou morte por doenças prevalentes, e esse não era o objetivo da burguesia que
necessitava de mão de obra para aumentar seus lucros, num país que vivia o
“milagre econômico”. (MOHR, SCHAL,1992)
Na década de 70, a pedagogia de Paulo Freire era assimilada como uma
possibilidade de ampliação do horizonte saúde-educação, ampliando as
discussões sobre a saúde para o campo organizativo dos movimentos
populares. Estes movimentos, férteis nos anos 70, propiciaram uma nova
articulação entre educação e saúde considerando as condições de vida e
trabalho como fatores predisponentes essenciais. (MOHR, SCHAL; 1992)
Merece especial destaque a década de 80, período de significativas
mudanças e de novos ordenamentos no quadro político da sociedade. A crise
das políticas sociais (saúde, educação, habitação) era identificada como crise
do governo militar ditatorial. A abertura política possibilitou o surgimento de
novos atores no cenário político e social. Surgem sindicatos, associações
científicas e comunitárias e organizações não governamentais que através da
educação formal e não formal conscientizam os indivíduos para que se
22
apropriem de instrumentos e mecanismos básicos para fazer valer seus
direitos. (LUZ,1991)
Vários são os sujeitos sociais que participaram na discussão das
condições de vida da população brasileira e das propostas governamentais
apresentadas para o setor saúde, assumindo uma dimensão política
estreitamente vinculada à democracia. Bravo (2001) comenta que o veículo de
difusão e ampliação do debate foi o Centro Brasileiro de Estudo de Saúde
(CEBES) e elenca as propostas geradas por estes sujeitos coletivos:
As principais propostas debatidas por esses sujeitos coletivos foram: a
universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever
do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema
Unificado de Saúde visando a um profundo reordenamento setorial, com um
novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do processo
decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a
democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão – os
Conselhos de Saúde. (BRAVO, 2001)
A expressão Movimento Sanitário apareceu pela primeira vez em uma
dissertação de mestrado orientada por Sergio Arouca em 1986. Com o
esgotamento da ditadura militar, o movimento já estava estruturado, articulado
e com propostas e ações definidas. Nas palavras de Sergio Arouca em 1998
temos uma síntese do que foi este movimento:
“Está em curso uma reforma democrática não
anunciada ou alardeada na área da saúde. A
Reforma Sanitária brasileira nasceu na luta
contra a ditadura, com o tema Saúde e
Democracia, e estruturou-se nas
universidades, no movimento sindical, em
experiências regionais de organização de
serviços. Esse movimento social consolidou-
se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em
1986, na qual, pela primeira vez, mais de
cinco mil representantes de todos os
segmentos da sociedade civil discutiram um
novo modelo de saúde para o Brasil. O
resultado foi garantir na Constituição, por
meio de emenda popular, que a saúde é um
direito do cidadão e um dever do Estado. ”
(FIOCRUZ, 2014)
23
A promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, de 05
de outubro de 1988 diz em seu preâmbulo que se destina “a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social. “
Chamada de Constituição cidadã, trata nos seus artigos 196 a 200 sobre
Saúde e dos artigos 205 a 214 sobre Educação. (BRASIL, 1988)
Figueiredo (2008) cita que no transcorrer do século XX a saúde escolar
no Brasil experimentava avanços em sintonia com a evolução técnico-
científica, deslocando o discurso tradicional – de lógica biomédica –, para a
concepção da estratégia denominada Iniciativa Regional para Escolas
Promotoras de Saúde (IREPS), um discurso de múltiplos olhares que surge no
final dos anos 80 “como parte das mudanças conceituais e metodológicas que
incorporam o conceito de promoção de saúde na saúde pública, estendendo-o
ao entorno escolar” (IPPOLITO-SHEPHERD,2003)
Essa estratégia – IREPS – promove a mudança do paradigma tradicional
para enfoques integrais de saúde do escolar. As práticas mais frequentes de
saúde escolar consistiam em intervenções do setor saúde no âmbito escolar
predominando a lógica biomédica, centrada na prevenção da doença. A escola
tinha, geralmente, uma posição passiva nas atividades, concebida apenas
como um cenário para as ações de saúde. O enfoque passa a se fundamentar
no conceito de promoção de saúde cunhado a partir da Carta de Ottawa,
definida como:
“...o processo destinado a capacitar os
indivíduos para exercerem um maior controle
sobre sua saúde e sobre os fatores que
podem afetá-la [...] ... reduzindo os fatores
que podem resultar em risco e favorecendo os
que são protetores e saudáveis [...] ...a saúde
se desenvolve e é gerada no marco da vida
cotidiana: nos centros de ensino, de trabalho
e de recreação. A saúde como resultado dos
cuidados que cada indivíduo dispensa a si
mesmo e aos demais, da capacidade de
tomar decisões, de controlar sua própria vida
e de garantir que a sociedade em que vive
24
ofereça a todos os seus membros a
possibilidade de gozar de um bom estado
de saúde” (BRASIL, 2002)
Essa estratégia foi estimulada desde 1995 pela Organização Pan-
americana de Saúde, Oficina Regional da Organização Mundial de Saúde
(OPAS/OMS), com o objetivo de fortalecer a capacidade dos países da
América Latina e Caribe na área da saúde escolar, fundamentando-se e
baseando-se no conceito de promoção de saúde cunhado a partir da Carta de
Ottawa (BRASIL,2006)
Entre os anos de 1994 e 1999 foi instituído o “Projeto Escolas”. O
Ministério da Saúde e o Ministério da Educação realizaram um trabalho
integrado apoiando ações nas escolas com os temas como saúde sexual e
saúde reprodutiva, em dezesseis estados brasileiros, com maior importância
epidemiológica. A expansão desse Projeto se deu a partir de um segundo
Projeto, denominado Programa Salto para o Futuro, entre 1999 e 2000. A partir
de então, a proposta de trabalho integrado foi expandida para os vinte e sete
estados da federação. Estiveram envolvidos aproximadamente 250 mil
professores e mais de 9 milhões de alunos do ensino fundamental e médio.
(BRASIL, 2006).
Em 2003, outro Projeto é implantado: o Saúde e Prevenção nas Escolas.
O lançamento deste Projeto aconteceu em Curitiba, com a presença de
representantes do Ministério da Saúde, da Educação, da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e das
Secretarias Estaduais e Municipais, escolas e de organizações da sociedade
civil. As atividades ocorreram em municípios pilotos até dezembro de 2003. A
avaliação dos pilotos foi coordenada pela UNESCO e contou com a
participação de um Grupo Gestor Federal; composto pelo Ministério da
Educação (Secretaria de Educação Básica, Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade), Ministério da Saúde (Programa
Nacional de DST e Aids, Área Técnica da Saúde do Adolescente e do jovem e
Departamento de Atenção Básica), UNESCO e Fundo das Nações Unidas para
a Infância (UNICEF), e com a colaboração de organizações da sociedade civil.
25
Em dezembro de 2005, os até então Ministros da Saúde, da Educação,
representantes da UNESCO e do UNICEF no Brasil participaram de evento de
consolidação da Política de Prevenção das DST/AIDS nas escolas e da
apresentação do plano de ações para 2006, como parte do Projeto Saúde e
Prevenção nas Escolas. (BRASIL, 2006)
Além do incentivo à integração intersetorial como eixo estruturante de
suas ações, respeitando os princípios e diretrizes que fundamentam os setores
saúde-educação e, contando com o apoio da UNESCO e do UNICEF, o
“Projeto “Saúde e Prevenção nas Escolas” leva em consideração a importância
das ações em saúde sexual e saúde reprodutiva, realizadas nas diferentes
regiões do País, assumindo que essa riqueza de experiências deve ser
valorizada e potencializada quando da implementação do projeto. Sendo
assim, parte-se do pressuposto que essa iniciativa poderá cumprir diferentes
funções, visando a consolidar políticas públicas de proteção à adolescência e à
juventude brasileira”. (BRASIL, 2006)
Preconizando a escola como cenário privilegiado de acolhimento, o
território onde está inserida a comunidade, o compartilhamento das decisões e
responsabilidades das demais instâncias sociais, a formação continuada dos
profissionais das áreas de educação e de saúde, a produção de material
didático-pedagógico, a disponibilização de preservativos respeitando as
potencialidades, à diversidade e às singularidades locais, este Projeto
possibilitaria a efetivação de estratégias articuladas de redução da
vulnerabilidade de adolescentes. (BRASIL,2006)
Para a concretização deste Projeto nacional estava previsto a promoção
da institucionalização do Projeto Saúde e Prevenção na Escola – SPE,
enquanto política pública multissetorial e a criação de grupos de
gestores/trabalho respeitando os princípios de autonomia e responsabilidade
compartilhada entre federação, estados e municípios. Sob responsabilidade
destes Grupos de Trabalho estão a sistematização das diretrizes, a
implantação, a implementação, o monitoramento, e a avaliação do Projeto.
Enfatiza que a elaboração do projeto municipal produz efeitos na elaboração
dos projetos políticos pedagógicos (PPP) das escolas e no planejamento das
ações de saúde do município. (BRASIL, 2006)
26
Em março de 2006, o Ministério da Saúde aprovava a Política Nacional
de Promoção da Saúde. Essa política ratifica a Agenda de Compromisso pela
Saúde que agrega os três eixos: o Pacto em Defesa do SUS, o Pacto em
Defesa da Vida e o Pacto de Gestão, firmados entre as três esferas de governo
para consolidação do SUS. Bem como considera a implantação e
implementação de diretrizes e ações para Promoção de Saúde. (BRASIL,
2006)
A Promoção de Saúde apresenta-se como um mecanismo de
fortalecimento e implantação de uma política transversal, integrada e
intersetorial, fazendo dialogar as diversas áreas do setor sanitário. Compondo
redes de compromisso e corresponsabilidade, visa romper com a fragmentação
na abordagem do processo saúde-adoecimento, reduzindo a vulnerabilidade,
os riscos e os danos. Na medida em que se coloca como estratégia para
redução de danos e riscos, a Política carrega uma epistemologia também
preventiva.
As ações priorizadas para o biênio 2006-2007 foram: a) divulgação e
implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde; b) alimentação
saudável; c) prática corporal/atividade física; d) prevenção e controle do
tabagismo; e) redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de
álcool e outras drogas; f) redução da morbimortalidade por acidentes de
trânsito; g) prevenção da violência e estímulo à cultura de paz e; h) promoção
do desenvolvimento sustentável.
Concomitante, a Portaria Interministerial nº 1010, de 8 de maio de 2006,
instituiu as diretrizes para a promoção da alimentação saudável nas escolas de
educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em
âmbito nacional. Dessa forma favoreceria o desenvolvimento de ações que
promovam e garantam a adoção de práticas alimentares mais saudáveis no
ambiente escolar. Foi constituído o Comitê Gestor da Política Nacional de
Promoção da Saúde, através da Portaria nº 23, de 18 de maio de 2006, através
da Secretaria de Vigilância em Saúde, nomeando os participantes.
Posteriormente, em 13 de junho de 2007, o Ministro da Saúde editou a Portaria
nº 1.409 instituindo o Comitê Gestor, com suas atribuições e composição
institucional.
27
Um grande passo para a Saúde Bucal foi a implantação, dois anos
antes, em 2004, do Programa federal Brasil Sorridente, assegurando recursos
e investimentos na área. Neste lançamento emergem as Diretrizes da Política
Nacional de Saúde Bucal que se constituem em um “ eixo básico de
proposições para a reorientação das concepções e práticas no campo da
saúde bucal”. É um “referencial conceitual para o processo de fazer o modelo
de atenção no espaço da micropolítica, onde ocorrem as demandas, o encontro
dos saberes e fazeres entre sujeitos usuários e profissionais” (BRASIL, 2004).
A implementação desta Política Nacional, foi um marco na mudança do foco da
atenção em saúde bucal. A Política Brasil Sorridente visou ao avanço da
garantia de ações universais em saúde bucal, contribuindo com a melhoria da
organização do sistema de saúde e com a expansão da operacionalização dos
princípios do Sistema Único de Saúde, como integralidade, universalidade e
equidade. Focando para as necessidades em saúde bucal da população, a
Política previu a ampliação e qualificação do acesso à assistência, a promoção
da saúde e prevenção de doenças. Esta Política se articula
interministerialmente com o Programa Saúde na Escola. (BRASIL,2004).
3.2 Programa Saúde na Escola
Instituído pelo Decreto Presidencial nº 6.286/2007, o Programa Saúde
na Escola (PSE) surge como proposição de uma política intersetorial entre os
Ministérios da Saúde e da Educação, na perspectiva da atenção integral
(prevenção, promoção, atenção e formação) à saúde de crianças, adolescentes
e jovens do ensino público, no âmbito das escolas e/ou das Unidades Básicas
de Saúde, realizadas pelas Equipes de Saúde da Família. (BRASIL,2007)
Este Programa teve sua implantação por meio de adesão dos municípios
que tivessem implantado as Equipes de Saúde da Família, conforme as
normas preconizadas pela Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2008;
BRASIL, 2006). A PNAB atribuía às ESF a realização do cuidado em saúde da
população adscrita e nos espaços comunitários, como, por exemplo, nas
escolas. Fundou-se no compromisso e na pactuação entre os entes federados
28
e na articulação, em todas as esferas, dos setores Saúde e Educação.
(BRASIL, 2008).
De acordo com a Portaria MS nº 1861, de 04 setembro 2008, que
determinou um novo desenho da política de educação em saúde no Brasil, as
práticas em saúde na escola devem considerar os diferentes contextos em que
são realizadas, sendo fundamental a participação ativa dos diversos
integrantes da comunidade escolar, dos profissionais de saúde e dos
educandos. As ações de saúde e educação deverão ser progressivamente
incorporadas no Plano ou Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. (MS,
2008)
O PPP é um instrumento teórico-prático que embasa o trabalho
educativo, em suas dimensões filosófica (aluno como centro do processo
educativo), política (cidadãos que atuarão para a transformação social),
organizacional (gestão da escola) e pedagógica (produzir o conhecimento).
(STAUFFER, 2007).
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394 de 1996 (Lei Darcy Ribeiro) os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
foram elaborados com a proposta de “uma prática educativa adequada às
necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira,
que considere os interesses e as motivações dos alunos e garanta as
aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e
participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e
responsabilidade na sociedade em que vivem. (BRASIL, 2010). Assim, os
temas transversais como ética, pluralidade cultural, meio ambiente, orientação
sexual, saúde e temas locais foram incluídos no currículo escolar, devendo ser
abordado por cada disciplina como parte de seu conteúdo. A transversalidade
remete à ideia de interdisciplinaridade, que só acontecerá com o compromisso
de todos os atores envolvidos, promovendo uma intervenção e transformação
da realidade vivenciada pelos mesmos. (OLIVEIRA e PRATA, 2013)
O Programa Saúde na Escola visa à integração e articulação
permanente da educação e saúde, proporcionando melhoria da qualidade de
vida da população brasileira. Seu objetivo é, por meio de ações de promoção,
prevenção e atenção à saúde, com enfrentamento das vulnerabilidades que
comprometem o pleno desenvolvimento de crianças da rede pública de ensino
29
(ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos),
contribuindo para a formação integral dos estudantes. O programa prevê a
criação de territórios definidos segundo áreas de abrangência da Estratégia
Saúde da Família, criando núcleos e ligações entre os equipamentos públicos
da saúde e educação. Para o planejamento das ações será considerado o
contexto social e escolar, o diagnóstico local de saúde do escolar e a
capacidade operativa em saúde do escolar. (BRASIL, 2009)
Os territórios, no enfoque da Atenção Primária à Saúde permite delinear
e caracterizar a população e seus problemas de saúde, a criação de vínculo e
responsabilidade propiciando a acesso ao serviço e a avaliação dos impactos
das ações. (DIAS et al,2009). Em documento do Ministério da Educação temos
o entendimento deste território não somente para o diagnóstico e identificação
de carências e fragilidades, mas para o reconhecimento dos potenciais
educativos, com o envolvimento de múltiplos espaços e atores, e que se
estrutura a partir do trabalho em rede, da gestão participativa e da co-
responsabilização (Aprendiz, 2007). Buscando composição,
complementaridades e sinergias educativas e não de competividade entre as
instituições. (BRASIL, 2009)
O trabalho em rede é uma construção coletiva que se compromete a
superar de maneira integrada os problemas sociais e se define à medida que é
realizada. De maneira integrada, respeita o saber e a autonomia de cada
membro, otimizando a utilização de recursos disponíveis. (JUNQUEIRA, 2000)
As ações de saúde previstas no PSE a serem desenvolvidas deverão
considerar a integralidade dos educandos, garantindo a cada um deles o direito
à avaliação clínica; avaliação nutricional; promoção da alimentação saudável;
avaliação oftalmológica; avaliação da saúde e higiene bucal; avaliação
auditiva; avaliação psicossocial; atualização e controle do calendário vacinal;
redução da morbimortalidade por acidentes e violências; prevenção e redução
do consumo do álcool; prevenção do uso de drogas; promoção da saúde
sexual e da saúde reprodutiva; controle do tabagismo e outros fatores de risco
de câncer; educação permanente em saúde; atividade física e saúde;
promoção da cultura da prevenção no âmbito escolar; inclusão de temáticas de
educação em saúde no projeto político pedagógico das escolas.
(FIGUEIREDO, 2010)
30
A avaliação da saúde bucal de escolares, de acordo com Vasconcelos et
al (2001) tem sido uma prioridade em odontologia, pelo fato de a escola ser
considerada um local adequado para o desenvolvimento de programas em
saúde e higiene bucal, reunindo crianças em faixas etárias propícias à adoção
de medidas educativas e preventivas.
Na saúde bucal, as ações elencadas no PSE são: levantamento das
necessidades de saúde bucal; tratamento e monitoramento das necessidades
de saúde bucal identificadas; inserção de ações de promoção da saúde no
projeto político pedagógico das escolas; incorporação de temas relevantes à
saúde bucal como parte dos projetos pedagógicos de modo a garantir a
realização, durante o ano letivo, de atividades pedagógicas previstas no plano
de trabalho da escola, sobre temas referentes à saúde, envolvendo a
comunidade escolar (pais, famílias, professores); desenvolvimento de política
de ambiente saudável nas escolas. (BRASIL, 2009)
A vigilância em saúde das crianças, adolescentes e jovens é
responsabilidade das equipes de Saúde da Família. Na avaliação do estado de
saúde bucal e realização das intervenções necessárias, a vigilância compete
às equipes de Saúde Bucal. Quanto às competências do cirurgião-dentista
cabe citar: o tratamento clínico; planejamento, organização, supervisão e
avaliação das ações. Quanto ao do técnico em saúde bucal (TSB): tratamento
clínico sob supervisão do CD e ações coletivas. Estas também realizadas pelo
atendente de consultório dentário (ACD) e agente comunitário de saúde (ACS)
(BRASIL,2009).
A gestão do Programa Saúde na Escola é compartilhada por meio dos
Grupos de Trabalho Intersetoriais (GTI). Esse tipo de Grupo intersetorial já
havia sido implementado no programa Saúde e Prevenção nas Escolas,
conforme comentado anteriormente. Os GTI’s têm a responsabilidade de
planejar, executar, monitorar e avaliar as ações realizadas coletivamente, de
modo a atender as necessidades e demandas locais. Nesse grupo deve estar
necessariamente um representante da Secretaria de Saúde e um da Secretaria
de Educação e outros parceiros locais representantes de políticas públicas e/ou
movimentos sociais, assim como pelos educandos.
A gestão intersetorial compartilhada se dá nas três esferas de governo:
municipal, estadual e federal. As responsabilidades de estão especificadas
31
para cada esfera nos Manuais Instrutivos do PSE. De acordo com a Portaria nº
1861, de 04 de setembro de 2008, que estabelece recursos financeiros pela
adesão ao PSE para Municípios com equipes de Saúde da Família, priorizados
a partir do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que
aderirem ao Programa Saúde na Escola (PSE) compete ao GTI Municipal
compete elaborar o projeto do PSE municipal, bem como o termo de adesão ao
programa.
No Projeto do PSE, deverá constar: diagnóstico situacional que
compreenda questões referentes a determinantes sociais, cenário
epidemiológico e modalidades de ensino das escolas que estão no espectro de
atuação das ESF que atuarão no PSE; mapeamento da Rede SUS de AB/SF e
da Rede de Escolas - federal, estadual e municipal criando espaços comuns,
os territórios de responsabilidade; atribuições das ESF e das escolas em cada
um dos territórios de responsabilidade, quantificando o número de escolas, de
alunos de cada escola e as questões prioritárias do perfil desses alunos, bem
como definindo responsáveis das áreas da saúde e da educação pelo
seguimento do projeto dentro de cada território; identificação de cada
instituição de ensino atendida pelo Programa Saúde na Escola com definição
do professor responsável pela articulação das ações de prevenção e promoção
da saúde na escola; programação das atividades do PSE que deverão ser
incluídas no projeto político pedagógico de cada uma das escolas. .
(BRASIL,2008)
Em estudo realizado sobre a percepção de gestores locais sobre a
intersetorialidade no PSE, em municípios brasileiros (FERREIRA et al, 2014)
ficou evidenciado que a tendência de compartilhamento de gestão fundamenta
o processo intersetorial e que na intersetorialidade está latente a transposição
de hierarquias e relações de poder entre os setores, instituições e segmentos
sociais (SILVA e RODRIGUES, 2010). Dentre as instituições que compõe os
GTI’s estão as universidades, organizações não governamentais e secretaria
de assistência social. Declararam que as reuniões dos Grupos ocorrem
sistematicamente, com controle de presença, que são os participantes são
coesos e compromissados e que, através do diálogo e o estabelecimento de
canais comunicativos tem a possibilidade de definir os objetivos comuns e
planejas as ações intersetoriais. As respostas mostraram que os gestores
32
estavam passando por um processo de aprendizagem e superação do modelo
antigo de gestão. Ajustes conceituais devem ser comtemplados por meio de
capacitação para gestores e profissionais envolvidos no PSE, cumprindo o que
está previsto nas ações do programa. (FERREIRA, 2014)
O município de Itajaí aderiu a este programa em 2013. É desenvolvido
em 62 Centros de Educação Infantil, que tem matriculados 8578 crianças na
faixa etária de 0 a 6 anos. Entre as atividades de competência dos auxiliares de
coordenação e professores, responsáveis e executores deste programa, está a
realização de diagnóstico da comunidade e do CEI, a operacionalização dos
conteúdos a serem desenvolvidos através do programa por temas e o
estabelecimento de parcerias com as Unidades de Saúde próximas aos
Centros de Educação Infantil (CEI). “Atuarão como multiplicadores das
experiências e informações recebidas através de encontros, palestras e cursos
oferecidos pela Secretaria de Educação, em parceria com a Secretaria de
Saúde, Universidade local, serviços públicos e pessoas da comunidade”. (SMS,
2014).
3.3 A Inclusão das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da
Família.
Em 1994 foi proposta a política do Programa Saúde da Família (PSF)
como modelo assistencial de atenção básica no país. Tendo como eixo central
a estruturação e o fortalecimento da Atenção Básica, como instrumento de
reforma política de saúde. Seguindoa perspectiva da integralidade, adota
conceito ampliado de saúde como direito de cidadania, elege a família e seu
espaço social como núcleo de abordagem e busca identificar os riscos social e
epidemiológico no território. (BRASIL, 2006)
Mendes (2015) avaliando os ciclos da atenção básica no Brasil relata
que com a implantação do PSF, agregava-se à dimensão quantitativa da
expansão da APS, uma dimensão qualitativa. Isso significa fazer mais e com
qualidade.
A implementação da Política Nacional de Saúde Bucal em 2004, foi um
marco na mudança do foco da atenção em saúde bucal. Considerada “uma
política de ampliação e qualificação da atenção em saúde bucal em todos os
33
níveis, que busca assegurar inclusive atendimento de maior complexidade”
(GOES; MOYSÉS, 2012).Daí emergem as Diretrizes da Política Nacional de
Saúde Bucal.
A inserção das equipes de saúde bucal na atenção básica, por meio da
implantação de suas ações no Programa de Saúde da Família aconteceu em
dezembro de 2000 com a publicação da portaria 1.444 do Ministério da Saúde.
Considerando a necessidade de ampliação do acesso da população brasileira
às ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal e a
necessidade de melhorar os índices epidemiológicos da saúde bucal da
população, frente aos alarmantes resultados obtidos através da Pesquisa
Nacional de Amostras por Domicílio (IBGE, 2000), criou incentivo de Saúde
Bucal para o financiamento de ações e da inserção de profissionais de saúde
bucal no Programa de Saúde da Família.
No ano de 2006, através da Portaria nº 648, a nomenclatura foi alterada
de Programa, atividade com início e prazo para terminar, para Estratégia
Saúde da Família (ESF) por se tratar de uma estratégia de reorganização do
modelo de atenção, sem prazo para finalização. (BRASIL,2006). Além disso,
essa portaria aprova a Política Nacional de Atenção Básica, revisa as diretrizes
e normas para organização da atenção básica para o PSF (?) e o Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Define como áreas estratégicas para
atuação em todo o território nacional a eliminação da hanseníase e da
desnutrição infantil; o controle da tuberculose, da hipertensão arterial, do
diabetes mellitus, a saúde da criança, da mulher, do idoso, a saúde bucal e a
promoção da saúde.
Por meio de modalidades organizou a composição das equipes, assim:
Modalidade I com um cirurgião dentista e um atendente de consultório dentário;
Modalidade II com um cirurgião dentista, um atendente de consultório dentário
e um técnico de higiene dental. Essas equipes de saúde bucal, independente
da modalidade, deveriam trabalhar integrado a uma ou duas ESF, com
responsabilidade sanitária pela mesma população e território às quais está
vinculada, e com jornada de trabalho de 40 horas semanais para todos os seus
componentes. Também preconizava que a unidade de Saúde possuísse
minimamente o consultório odontológico para a Equipe de Saúde Bucal, de
acordo com as necessidades de desenvolvimento do conjunto de ações de sua
34
competência; e equipamentos e materiais adequados ao elenco de ações
programadas, de forma a garantir a resolutividade da Atenção Básica à Saúde.
A regulamentação das profissões que compunham as equipes
aconteceu em 2008, através da lei 11889, na qual o atendente de consultório
dentário passou a auxiliar de consultório dentário (ACD) e o técnico de higiene
dental passou a técnico de saúde bucal (TSB). Essa lei consolidou uma história
de lutas e conquistas e representa na história da Odontologia um grande
avanço. (FAQUIM; CARNUT, 2012)
Seguindo na perspectiva de dar condições para a instalação das equipes
de saúde bucal, o Ministério da Saúde editou a portaria nº 2372 em outubro de
2009 para o plano de fornecimento de equipo odontológicos (composto por
uma cadeira odontológica, um equipo odontológico, uma unidade auxiliar
odontológica, um refletor odontológico e um mocho)e um kit de peças de mão
(composto por um micromotor, uma peça reta, um contra ângulo e uma caneta
de alta rotação) para uso exclusivo das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia
Saúde da Família. Esses equipamentos seriam enviados ao município
mediante instrumento oficial denominado Termo de Doação aos Municípios.
Também indica que os gestores deverão providenciar a adequação visual da
Unidade de Saúde que receber o equipamento. Recomenda que o recurso para
investimento das equipes de Saúde Bucal, nas Unidades Básicas de Saúde,
referente às Portarias nº 650/GM, de 28 de março de 2006, seja destinadoà
aquisição dos instrumentais e materiais permanentes odontológicos constantes
emanexo, de acordo com a necessidade do atendimento.
A portaria nº 650/GM define os valores de Incentivo Financeiros das
Equipes de Saúde Bucal (ESB) nas Modalidades I e II como recurso para
investimento nas Unidades Básicas de Saúde e realização do Curso
Introdutório. Ou seja, preconiza que os profissionais da ESB tenham
capacitação para atuar na Atenção Básica.
Visando expandir a cobertura de atenção à saúde bucal a toda a
população brasileira, ampliando o acesso e a abrangência dos serviços; e o
Programa Territórios da Cidadania (Decreto Presidencial de 25 de fevereiro de
2008), que visa ao desenvolvimento econômico e universaliza os programas
básicos de cidadania, integrando políticas públicas para reduzir as
desigualdades sociais, a Portaria 2371, de outubro de 2007 institui o
35
Componente Móvel da Atenção à Saúde Bucal. As Unidades Odontológicas
Móveis (UOM) são consultórios odontológicos estruturados em veículos
adaptados e equipados para o desenvolvimento de ações de atenção à saúde
bucal a serem realizadas por Equipes de Saúde Bucal vinculadas às Equipes
da Estratégia de Saúde da Família. Cabe ao gestor prover os instrumentais e
materiais permanentes além dos recursos humanos necessários. A meta
preconizada para o biênio 2009/2010, a implantação de 160 (cento e sessenta)
Unidades Odontológicas Móveis. (BRASIL, 2007)
A Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde pública a
portaria nº 750 onde institui a ficha complementar de cadastro das Equipes de
Saúde da Família; Saúde da Família com Saúde Bucal – Modalidade I e II e de
Agentes Comunitários de Saúde, no Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimento de Saúde – SCNES. Também altera o nome dos serviços
PACS e PSF para Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde e Estratégia
de Saúde da Família. Na odontologia define a categoria de “Equipamento de
Odontologia” composta pelos itens: equipo odontológico completo; compressor
odontológico; fotopolimerizador; caneta de alta rotação; caneta de baixa
rotação; amalgamador; aparelho de profilaxia com jato de bicarbonato. Essa
portaria indicao Departamento de Informática do SUS – DATASUS para adotar
e efetivar as adequações nos Sistemas SCNES e SIAB.
Considerando a necessidade de revisar e adequar as normasnacionais
ao atual momento do desenvolvimento da atenção básica no Brasil; a
consolidação da estratégia saúde da família como forma prioritária para
reorganização da atenção básica no Brasil e as experiências acumuladas em
todos os entes federados demonstravam a necessidade de adequação de suas
normas foi editada a portaria 2488 em 21 de outubro de 2011.
Neste cenário ocorre uma grande expansão do número de ESB na ESF
no Brasil. Considerando-se o período de 2002 a 2011 aumentou 400% o
número de equipes de saúde bucal implantadas, com cobertura populacional
ultrapassando a 90 milhões de pessoas. (GOES; MOYSES, 2012). De acordo
com Pereira et al (2009) ainda temos a escassez de informações, do
monitoramento e da avaliação dos serviços bem como seu impacto na saúde
bucal da população.
36
A inclusão de dois indicadores de saúde bucal foi estabelecida na
portaria nº 493, em 2006: a cobertura de primeira consulta odontológica
programática e cobertura de ação coletiva escovação dental supervisionada.
Através da portaria nº 3480, de dezembro de 2010 foram incluídos outros
indicadores vigentes atualmente. São eles: cobertura populacional estimada
das equipes de saúde bucal implantadas na estratégia de Saúde da Família e
média da ação coletiva/escovação supervisionada. Os números para cálculo
destes indicadores são retirados dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS).
(MATOS, 2014)
Atendendo as necessidades do Programa Nacional de Melhoria do
Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) foram incluídos campos
no SIAB para realizar o monitoramento e avaliação das ações de saúde.
(BRASIL, 2012). Registrados diariamente pelo cirurgião dentista na Ficha D –
Complementar, os dados para o cálculo dos indicadores são computados
mensalmente e constam no Relatório de Produção e de Marcadores para
avaliação complementar (PMAC-2) no campo Tipos de atendimento do
cirurgião dentista. Esses indicadores são especificados no PMAQ -Manual
Instrutivo – Anexo, ficha de qualificação dos indicadores. Esses índices são
divididos em Desempenho e Monitoramento, conforme quadros abaixo.
QUADRO 1 - Indicadores Saúde Bucal – Desempenho, com fórmula de
cálculo.
INDICADOR
MÉTODO DE CÁLCULO
Média da ação
coletiva de escovação dental supervisionada
Número de pessoas participantes na ação coletiva de escovação
dental supervisionada realizada, em determinado local e período* X 100
População cadastrada no mesmo local e período
Cobertura de
primeira consulta odontológica programática
Número de primeiras consultas odontológicas programáticas, em determinado local e períodoX 100
População cadastrada no mesmo local período
Cobertura de
1ªconsulta deatendimento odontológico à gestante
Número de gestantes atendidas em primeira consulta pelo CD da ESB, em determinado local e períodoX 100
Número de gestantes cadastradas no mesmo local e período
Razão entre
Número de tratamentos concluídos (TC) pelo CD da ESBem determinado local e período
37
tratamentos concluídos e primeiras consultas odontológicas programáticas
Número de primeiras consultas odontológicas programáticas realizadas pelo cirurgião dentista da equipe de saúde bucal no
mesmo local e período
Fonte: Brasil, 2012
38
QUADRO 2 - Indicadores Saúde Bucal –Monitoramento com fórmula, de
cálculo.
INDICADOR MÉTODO DE CÁLCULO
Média de
instalações de próteses dentárias
Número de instalações de próteses dentárias realizada pela equipe de saúde bucal, em determinado local e período
População cadastrada no mesmo local e período
(mensal) x 0,03*
Média de
atendimentos de urgência odontológica por habitante.
Número de atendimentos de urgência realizados pelo cirurgião dentista da equipe de saúde bucal, em determinado local e período
População cadastrada no mesmo local e período
(mensal)
Taxa de
incidência de alterações da mucosa oral.
Número de diagnósticos de alteração da mucosa oral de usuários atendidos pela equipe de saúde bucal, em determinado
local e períodoX 1000
População cadastrada no mesmo local e período
(mensal)
Fonte: Brasil, 2012
Um dos grandes problemas encontrados no Sistema Único de Saúde se
refere à utilização do vasto banco de dados que são disponibilizados em
sistemas de informações de saúde do Ministério da Saúde. O acesso a estes
dados sem apropriar-se de seu significado e contexto empobrece o potencial
de uso deles em defesa dos interesses da população, por parte dos conselhos
de saúde (MORAES, 2005). Colussi e Calvo (2012) enfatizam que os gestores
poderiam utilizar os dados na definição de estratégias de intervenção
adequada, pois são indicadores das condições de saúde da população.
Também afirmam que há uma diversidade metodológica entre pesquisas nessa
área, mas que é preciso ter maior rigor metodológico e vinculação ao serviço.
Pois a identificação de fragilidades e os pontos fortes do serviço podem
oferecer subsídios para tomadas de decisões que contribuam para a melhoria
da qualidade da atenção em saúde bucal.
39
4 CONTEXTO DO ESTUDO
4.1 Cenário do Estudo
O cenário escolhido para o estudo foi o município de Itajaí e, por este
mestrado ser profissionalizante, voltado para a capacitação de profissionais
mediante o estudo de técnicas, processos, ou temáticas que atendam a alguma
demanda do mercado de trabalho, torna-se imprescindível que essa pesquisa
esteja vinculada a um problema real de minha área de atuação.
Itajaí fica situado no litoral norte de Santa Catarina. Polo da Microrregião
da Foz do Rio Itajaí que congrega os municípios de Camboriú, Balneário de
Camboriú, Itapema, Porto Belo, Ilhota, Luiz Alves, Navegantes, Penha, Piçarras
e Bombinhas. Esses municípios originaram-se do desmembramento dos
municípios de Porto Belo e São Francisco do Sul, região colonizada por
portugueses. Em 2015 completou 156 anos de emancipação.
IMAGEM 1: Mapa de localização do município de Itajaí.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Itajaí
Com área total de 304 km2, altitude média de 1,0 m do nível do mar,
possui clima mesotérmico úmido. Situa-se na foz do rio Itajaí, da bacia
hidrográfica mais expressiva do Estado de Santa Catarina.A ocorrência de
enchentes periódicas tem sido o maior problema desta bacia. As
consequências sociais e econômicas deste fenômeno climático fizeram com
40
que a região do Vale do Itajaí montasse a melhor estrutura para fazer frente a
este problema
O relevo é bastante diversificado, predominando o montanhoso e o forte
ondulado, tornando-se plano e suavemente ondulado junto à planície costeira.
Tem cinquenta por cento de área coberta com vegetação primária e
secundária, possui cinco áreas de preservação permanente e treze sítios
arqueológicos. (SEBRAE, 2010)
Apresenta densidade demográfica em torno de 60,9 hab./ km2com a
população rural representando cerca de 25% do total da população. A
população estimada para 2015 é de 205 mil habitantes, correspondendo a 2,98
% da população do estado, ocupando a 7ª colocação entre as cidades mais
populosas de Santa Catarina. (IBGE, 2015)
A pirâmide etária nos últimos 40 anos mostrou um declínio das taxas de
natalidade e um aumento proporcional das faixas etárias acima de 30 anos de
idade, indicando uma melhoria do equilíbrio na distribuição etária,
predominando população adulta e idosa. .
IMAGEM 2:Pirâmide populacional (sexo e faixa etária) de Itajaí (2010)
Fonte: Relatório de Gestão SMS Itajaí/2010
Com a queda da taxa de fecundidade e taxa de natalidade e o índice de
envelhecimento em franco aumento, Itajaí possui um potencial demográfico
favorável ao desenvolvimento econômico, por apresentar uma robustez da
população ativa (15 a 59 anos de idade).
41
O índice de analfabetismo reduziu pela metade nos últimos 20 anos,
aumentando a população residente com ensino fundamental. Entretanto, houve
redução de 9,2% na proporção de escolaridade de 8 ou mais anos, sugerindo
falta de investimento por parte do Estado de Santa Catarina.
A Educação no município pode ser avaliada a partir doquadro abaixo.
QUADRO 3: Estabelecimentos de Ensino em Itajaí/SC 2015
Grau Tipo Estabelecimento Matrículas
Escolas
Ensino Pré Escolar
Escola pública estadual 0 0
Escola pública federal 0 0
Escola pública municipal 9685 82
Escolas privadas 777 18
Total 10462 100
Ensino Fundamental
Escola pública estadual 3838 10
Escola pública federal 0 0
Escola pública municipal 18712 41
Escolas privadas 4354 12
Total 26904 63
Ensino Médio
Escola pública estadual 6092 12
Escola pública federal 0 0
Escola pública municipal 0 0
Escolas privadas 1958 8
Total 8050 20
Ensino Superior
Escola pública estadual 0 0
Escola pública federal 0 0
Escola pública municipal 0 0
Escolas privadas 13
Total 13
Fonte: Censo Educacional 2014 e Censo da Educação Superior 2014, ME
De acordo com o Plano Estadual de Educação de Santa Catarina -
PEE/SC, para o decênio 2015 a 2024, as políticas públicas como a
municipalização do Ensino Fundamental, a transferência das matrículas da
42
Educação Infantil para a rede pública municipal e a expansão da oferta da
Educação Profissional nas redes federal e privada contribuíram para a
evolução decrescente do total de matrículas na rede estadual e o aumento
significativo nas outras dependências administrativas (SC, 2015)
Uma caracterização da qualidade de vida de Itajaí, apoiado em
indicadores reconhecidos, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); o
Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) e o Índice de
Desenvolvimento Familiar qualifica o município como um dos melhores do
Brasil em termos de dinamismo econômico, avaliando aspectos relacionados à
educação, longevidade, emprego e renda, acesso ao trabalho, condições
habitacionais e outras variáveis que integram alguns dos indicadores de
desenvolvimento humano mencionados.
A partir do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 divulgado
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA e Fundação João Pinheiro - FJP, com
dados extraídos dos Censos Demográficos de 2010 podemos mostrar os
índices de Itajaí.
Para entendermos os índices, cabe lembrar que o IDH Municipal varia
de 0 a 1 considerando indicadores de longevidade (saúde), renda e educação.
Quanto mais próximo de 0, pior é o desenvolvimento humano do município.
Quanto mais próximo de 1, mais alto é o desenvolvimento do município.
QUADRO 4: Índice de Desenvolvimento Humano de Itajaí/SC 2010 – PNDU
comparativo com ranking estadual e nacional
IDH Itajaí Ranking Estadual
Ranking Nacional
Municipal 0,795 14º 56º
Longevidade
0,884 24º 55º
Renda 0,778 23º 141º
Educação 0,730 14º 122º
Fonte: Atlas Brasil 2013 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Apresenta uma das maiores rendas per capta do Estado e o segundo
município em arrecadação, com o maior superávit de Santa Catarina em
2011(R$ 6,6 bilhões de saldo positivo). O cálculo teve como base a pesquisa
43
do Produto Interno Bruto (PIB) dos Municípios de 2011, divulgado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de 2014. (IBGE,
2014)
O abastecimento de água no município tem 98 % realizado pela rede
geral de distribuição de água. A Lei Municipal nº 5758, de 08 de junho de 2011
dispõe sobre a fluoretação das águas de abastecimento público da cidade de
Itajaí, atribui a Vigilância Sanitária do município a responsabilidade pelo
controle mensal dos níveis de flúor, através de coleta e exames além do
encaminhamento dos relatórios para o Ministério da Saúde. (Itajaí, 2011)
As instalações sanitárias apresentam situação de precariedade pois 55
% utilizam fossa séptica, pois o município ainda não dispõe de rede de esgoto
sanitário. O lixo é coletado pelo serviço de coleta municipal, que atende a 98,5
dos domicílios.
Na saúde, quanto aos aspectos epidemiológicos, Itajaí apresenta a
distribuição de mortalidade com crescente deslocamento para as faixas etárias
de 50 anos e mais. Esse dado mostra que na população tem havido um
considerável aumento da expectativa de vida ao nascer que em 2012 chegou a
74,39 anos. (Itajaí, 2010)
A mortalidade infantil vem oscilando com tendência crescente na série
histórica. Em 2013 atingiu a taxa de 17,69, bem acima da média estadual. A
mortalidade materna foi considerada média, segundo a Organização Mundial
de Saúde. Em 2012 a razão de morte materna foi de 33,04/1000.000 nascidos
vivos. A mortalidade proporcional mantém como primeira causa por doenças
cardíacas, seguido das neoplasias e causas externas, representando 60,8%
entre os anos de 2008-2012.
44
QUADRO 5: Taxa de Internações por Capítulo CID-10, por 10.000, Itajaí, 2010-2012
Internações por capítulo CID 2010 2011
2012
Doenças do aparelho circulatório 59,4 88,7 80,3
Lesões enven e alg out conseq causas externas
54,8 60,9 65,8
Doenças do aparelho respiratório 59,0 63,3 58,0
Doenças do aparelho digestivo 49,1 55,8 53,2
Neoplasias (tumores) 36,9 36,4 30,5
Doenças do aparelho geniturinário 35,8 33,4 30,5
Algumas doenças infecciosas e parasitárias
29,0 31,0 22,7
Outros 21,6 20,9 19,8
Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo
26,9 22,1 18,3
Doenças da pele e do tecido 16,4 15,1 14,3
Algumas afec originadas no período perinatal
8,8 8,7 11,9
Contatos com serviços de saúde 10,0 10,7 8,7
Doenças do sistema nervoso 10,0 10,5 7,4
Malfcongdeformid e anomalias cromossômicas
5,2 5,8 5,6
Doenças sangue órgãos hemat. e transtimunitár.
5,4 5,0 4,4
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
5,4 5,0 4,4
Fonte: Plano Municipal de Saúde de Itajaí/SC 2014-2017
As doenças e agravos de notificação compulsória apresentaram
indicadores capazes de mostrar a situação de saúde da população e
mostrando a necessidade de adequação das políticas públicas. Os índices em
2010 aumentaram e nos anos seguintes tiveram reduções, mas mesma assim
com taxas acima dos índices tolerados.
Na saúde bucal, os dados apresentados no Plano Municipal de Saúde
2014-2017 foram os índices do Saúde Bucal Brasil 2000, que indicava CPO-D
aos 12 anos de 1,82, abaixo do índice preconizado pela organização Mundial
da Saúde (OMS). Os índices elevados apresentados para a faixa etária entre
35 e 74 anos mostrou a falta de ações efetivas para promoção/prevenção de
saúde bucal no município.
O sistema municipal de saúde tem como objetivo oferecer ações
integrais e qualificadas em saúde, baseadas na promoção e prevenção em
45
saúde além de rastreamento/diagnóstico precoce de doenças, buscando
melhorar a qualidade de vida da população (ITAJAI, 2010)
A rede municipal de saúde instalada conta com 01 academia de
saúde,03 centros de atenção psicossocial- CAPS; 24 centros de saúde/unidade
básica de saúde; 06 clinicas especializada/ambulatório especializado; 02
consultórios; 01 farmácia; 02 policlínicas; 01 posto de saúde; 02 pronto
atendimento; 01 unidade de serviço de apoio de diagnose e terapia; 02
unidades móveis terrestre.
Na atenção básica a Estratégia de Saúde da Família (ESF) conta com
44 equipes com abrangência e geoprocessamento definidos, alcançando
cobertura superior a 72,93%. Em 2004 tinham 16 ESF e em 2007 houve a
implantação de 03 de Saúde Bucal. Novas equipes da ESF e ESB foram
implantadas, como visto em quadro abaixo.
46
QUADRO 6: Distribuição das Equipes de Estratégia de Saúde da Família
(ESF), Equipes de Agentes Comunitários de Saúde (EACS) e Saúde Bucal
(SB) por área de abrangência:
Área geográfica de
Equipes de Saúde da Família (ESF)
Equipes de Saúde Bucal
Atuação Equipes de Agentes Comunitários de Saúde
ESB (Tipo)
Bairro Barra do Rio US Imaruí: 2 ESF 1 ESB Tipo II
Bairro Canhanduba US Canhanduba: 1 EACS
Bairro Cidade Nova US Cidade Nova: 2 ESF Policlínica Promorar II: 2 ESF US Cidade Nova II: 2 ESF
1 ESB I
1 ESB I
Bairro Cordeiros Policlínica Cordeiros: 2 ESF US Murta: 2 ESF US Costa Cavalcante: 1 ESF Policlínica Jardim Esperança: 3
ESF US Votorantim: 2 ESF
1 ESB
I 1 ESB
I
Bairro Dom Bosco Nossa Senhora das Graças: 3 ESF
Bairro Espinheiros US Espinheiros: 2 ESF US Santa Regina: 1 ESF US Portal I: 1 ESF
1 ESB I
1 ESB I
Bairro Fazenda Policlínica Fazenda: 3 ESF
Bairro Itaipava Policlínica Itaipava: 2 ESF
Bairro Praia Brava US Praia Brava: 1 ESF
Bairro Salseiros US Salseiros: 1 ESF
Bairro São Vicente Policlínica São Vicente: 3 ESF Policlínica Rio Bonito: 5 ESF US Bambuzal: 1 EACS
1 ESB
II
Bairro Limoeiro US Limoeiro: 1 ESF
Bairro Brilhante US Brilhante: 1 ESF
Fonte: Relatório de Gestão 2013
De acordo com o Relatório de Gestão Anual 2013 a mudança do
modelo de assistência odontológica tradicional para lógica da ESF é gradativa,
não havendo a possibilidade de implantação de maneira sistemática novas
ESB’s. Considera ainda que, em função da estruturação do serviço no
município que se dá em todas as UBS’s, não há espaço físico para contemplar
47
estas equipes e de questões orçamentárias para custeio das mesmas. (ITAJAI,
2013)
Há programas sendo realizados no município como: saúde da mulher,
saúde da criança, saúde mental, saúde do idoso, programa de práticas
integrativas e complementares em saúde, alimentação e nutrição, fisioterapia,
fonoaudiologia, atenção especializada, serviço de urgência e emergência,
assistência farmacêutica, vigilância em saúde (vigilância sanitária e vigilância
epidemiológica) e gestão de saúde.
A Secretaria municipal de saúde tem força de trabalho composta por
servidores efetivos (972); cargos em comissão (62); e empregados públicos
(484, celetista da ESF) totalizando 1518 servidores. (Itajaí, 2010).
Na assistência odontológica há 57 cirurgiões dentistas estatutários, 08
cirurgiões dentistas celetistas (ESB), 18 auxiliares em saúde bucal e 06
técnicas em saúde bucal. Além da atenção básica há um Centro de
Especialidades Odontológicas (CEO) que oferece atendimento nas áreas de
cirurgia bucomaxilofacial (com atendimento ambulatorial), pacientes com
necessidades especiais, periodontia, endodontia, odontopediatria, radiologia e
prótese total odontológica. Mantém convenio com a UNIVALI para serviços de
radiologia e vagas no CEO/UNIVALI.
48
5 PERCURSO METODOLÓGICO
Atendendo aos pressupostos do mestrado profissional que se propõe a
desenvolver pesquisas que intervenham na realidade dos serviços, esta
pesquisa tem como objetivo investigar se há e compreender como se dá a
integração de saúde bucal para os escolares na perspectiva de sujeitos
responsáveis pela operacionalidade de tais ações.
5.1 Desenho do Estudo
Tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa, cujo delineamento
metodológico adotado foi o Estudo de Caso Único (YIN, 2005).
Na perspectiva qualitativa, o fenômeno pode ser melhor compreendido
no contexto em que ocorre e do qual é parte, em uma perspectiva integrada
das pessoas nele envolvidos. O estudo de caso pode ser conduzido por
diferentes caminhos, mas independentemente do caminho eleito o objetivo é
compreender temáticas sociais complexas. Yin (2005) define o “estudo de caso
como uma investigação empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de um contexto da vida real”, envolvendo situações únicas, com várias
fontes de evidências baseando-se no desenvolvimento de proposições teóricas
para conduzir a coleta e a análise dos dados. Uma pesquisa qualitativa pode
conter mais de um caso, isto é, podem agregar estudos de casos também
múltiplos, em que realidades únicas em si são aproximadas em um mesmo
estudo (YIN, 2005). No entanto, este estudo foi delineado como único, uma vez
que estará buscando a compreensão do processo de integração das ações em
saúde bucal do escolar, em um contexto: Itajaí.
5.2 Sujeitos do Estudo
Os sujeitos do estudo foram: atores sociais envolvidos com o objeto e
contexto de estudo; documentos locais, arquivados na Secretaria de Saúde e
Secretaria de Educação, de Itajaí/SC; documentos nacionais; e documentos
armazenados em registros pessoais da pesquisadora.
49
A amostragem de participantes foi construída por intenção.
Considerando que o estudo objetivou buscar a integração das ações em saúde
bucal do escolar, em Itajaí, o universo de sujeitos de pesquisa foi composto por
sujeitos que respondem pelas ações em saúde bucal e estão vinculados, de
alguma forma, à execução dos modelos de atenção em saúde bucal. Todos
são profissionais efetivos.
As entrevistas foram previamente agendadas. Realizadas no local de
trabalho dos entrevistados, e, em alguns momentos, sujeitas a interferências.
Somente a pesquisadora e a orientadora tiveram acesso aos dados que, após
a finalização da pesquisa foram destruídos. O tempo médio de cada entrevista
foi de 60 minutos.
A seleção da amostra considerou como critérios de inclusão ser
coordenador e/ou representante de ações de saúde bucal a escolares e
desejar participar da pesquisa. Como critério de exclusão, considerou-se a falta
de interesse em participar.
5.3 Aspectos Éticos
Esta pesquisa foi apreciada e aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIVALI, com parecer nº 820.257, aprovado em dezembro de
2014
Os sujeitos da pesquisa foram informados dos possíveis riscos de sua
participação. Entende-se por risco a possibilidade de danos à dimensão física,
psíquica, moral, intelectual, social, cultural, ou espiritual do ser humano, em
qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente. Cumprindo a Resolução
CNS 466/12 os sujeitos da pesquisa, definidos por sua importância e relevância
para essa pesquisa, foram informados da natureza, seus objetivos, métodos,
benefícios previsto, potenciais riscos e o incômodo que esta pudesse acarretar,
formulada em um termo de consentimento, autorizando sua participação
voluntária na pesquisa. (Apêndice A).
Os possíveis desconfortos e riscos decorrentes da participação na
pesquisa seriam: o constrangimento diante das perguntas realizadas sobre o
seu trabalho junto ao programa da qual é responsável, podendo deixar de
responder à questão, ou se preferir, podendo encerrar a entrevista, sem
50
prejudicar a continuidade da pesquisa. Para minimiza os riscos foram previstos
procedimentos que assegurassem a confidencialidade e a privacidade. Na
coleta de dados, foram respeitados os valores culturais, sociais, morais,
religiosos e éticos, como também os hábitos e costumes.
5.4 Coleta de Dados
Os dados foram coletados mediante o método de triangulação de dados:
fontes documentais do município estudado e nacionais, entrevistas, e arquivo
pessoal da pesquisadora. Optou-se pela triangulação, pois, segundo Leopardi
(2002) este método garante confiabilidade aos dados coletados, ao combinar
procedimentos e/ou metodologias por múltiplas perspectivas, no estudo do
mesmo fenômeno, enriquecendo a compreensão sobre uma situação
investigada. Revela-se uma importante abordagem, uma vez que permite uma
interpretação mais criteriosa para os resultados. Abaixo, a descrição das
etapas, apontando que elas estão descritas em separado, somente para fins
didáticos, pois as mesmas se deram de modo interconectado.
Etapa 1:
Utilizei inicialmente a pesquisa documental, entendendo que este
procedimento permite contextualizar o objeto da investigação, resgatando
perspectivas que influenciam diretamente o problema estudado. Também serve
como base em referenciais teóricos compatíveis com o problema norteador
desta pesquisa.
A análise documental foi realizada utilizando arquivo pessoal,
documentos coletados em especializações anteriores e o banco de dados do
município em estudo; bibliotecas da área da saúde como DATASUS
(Departamento de Informática do SUS), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), OMS (Organização Mundial da Saúde), INEP (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Educacenso, FNDE
(Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação), entre outros.
A imersão, em tais bancos de dados, norteou a construção do Roteiro de
Entrevista, e disparou a necessidade de agregar um objetivo específico novo,
51
neste trabalho: um resgate do processo histórico da atenção em saúde bucal
no município eleito para o estudo, apresentado no primeiro tópico de
resultados.
Etapa 2:
Ancorada no Roteiro de Entrevista, esta etapa correspondeu
propriamente às entrevistas: do tipo semiestruturada. De acordo com Gil
(1999), nas entrevistas semiestruturadas “o entrevistador permite ao
entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do
tema original, [o pesquisador] esforça-se para a sua retomada”. Para May
(2004) ” as entrevistas geram compreensões ricas das biografias, experiências,
opiniões, valores, aspirações, atitudes e sentimentos das pessoas. A
possibilidade de o pesquisador ver, ouvir, sentir e intervir com perguntas de
checagem, faz com que, dificilmente poderá se manter a coerência de um
discurso cujo conteúdo não corresponda à realidade dos fatos”.
As entrevistas foram gravadas e transcritas.
Etapa 3:
A experiência da pesquisadora na área dialogou continuamente com o
estudo, de modo positivo, mas também se apresentou, para mim, como um
grande desafio. Este desafio encadeou alguns reveses, na realização das
entrevistas. Na medida em que eu avançava com as entrevistas, senti que
quando se está muito envolvido com o objeto da pesquisa (meu caso),
aumenta a dificuldade de sentar-se na cadeira de pesquisador, de modo
distanciado da cadeira do trabalhador nos serviços. Distanciar-se das
experiências e abrir o campo investigativo para o olhar externo, do sujeito de
pesquisa, é muito complexo. No processo de coleta, eu sentia que a longa
trajetória dentro da Secretaria de Saúde levava os entrevistados a já
considerarem o que era de meu conhecimento, todas as ações e a história da
Odontologia no município. O que em parte era verdade, mas, para fazer a
pesquisa eu precisava da verbalização deles: dos sujeitos de pesquisa.
Outro fator a ser considerado é que quando eu estava ali, ouvindo os
entrevistados, eu já me transportava para o loco onde a ação deveria estar
acontecendo, visualizando de antemão os nós críticos para a efetivação
daquela ação. Não raro recordava de faces e considerações dos atores
52
envolvidos nas atividades, com suas queixas e frequentes lamentações para a
realização das atividades ora determinadas.
Em suma, despir-se do trabalho que se está realizando e ver com olhos
de pesquisadora, com a isenção de pesquisadora é o que há de mais difícil.
5.5 Organização dos Dados
Na primeira leitura do conteúdo coletado, obteve-se uma visão geral das
falas dos entrevistados. O material foi classificado e agrupado por similaridade
de sentido e categorizado. Para tanto foram montados painéis em papel Kraft
com recortes das falas dos sujeitos. Como um quebra-cabeça as falas foram se
encaixando, trazendo a sonoridade das entrevistas e as lembranças das
atividades em comentários realizados. Fixados na parede, mostravam as
discordâncias e monólogos que formataram revisões bibliográficas. E, desta
sistematização organizando os assuntos, foi possível reconhecer
subcategorias.
Visando preservar a identidade dos entrevistados, assegurando
confidencialidade e a privacidade foram denominados com a letra “E” seguido
de número que corresponde a ordem das entrevistas em relação às datas de
sua realização. E1; E2; E3; E4, E5.
5.6 Análise dos Dados
A primeira análise realizada foi a dos dados da pesquisa documental.
Esta análise, a do conteúdo dos documentos pesquisados, foi organizada em
três fases distintas, mas complementares: a pré análise do material documental
consultado, selecionado e organizado criteriosamente; a efetiva análise do
material selecionado, visando encontrar ideias, conceitos, valores; e a análise
dos resultados que reflete o tratamento e interpretação dos materiais na busca
de padrões, tendências e relações: ultrapassando o conteúdo manifesto dos
documentos e alcançando o conhecimento latente com o esforço interpretativo
(GODOY apud LIMA,2008 ). Algumas palavras e expressões consideradas
pertinentes ao objeto foram selecionadas e arquivadas, para, posteriormente,
dialogar com os dados empíricos.
53
A análise das falas dos sujeitos foi também do tipo Análise de Conteúdo,
com a qual se buscou apreender os núcleos de sentido que compuseram a
comunicação, focando para a significação dos objetivos específicos propostos.
Esta etapa seguiu a mesma metodologia analítica eleita para a análise dos
documentos, e resultou na emergência das seguintes categorias: O desafio da
integração entre o Programa Saúde Bucal e a Educação; Programa Saúde na
Escola – o desafio de interlocução entre os entes federados e Equipes de
Saúde Bucal – o desafio de efetivar o Programa saúde na Escola.
A análise documental e o encontro com as categorias gerou, conforme já
citado, um elemento novo ao processo de desenvolvimento do estudo: a
motivação para buscar um resgate do processo histórico da implantação de
ações de Odontologia no serviço público de Itajaí/SC, contextualizando com os
acontecimentos nacionais.
No entanto, esta busca mostrou-se mais complexa à medida que eu
atestava que a própria Secretaria Municipal de Saúde não dispunha de
documentação para compor este objetivo novo. Mas, eu tinha, em material
pessoal. Assim, muitos documentos trabalhados, neste resgate histórico,
faziam parte de meu arquivo pessoal, garimpado ao longo dos 25 anos de
trabalho. Isso alertou para o despreparo que as instituições têm em manter sua
história, mostrando cada vez mais que as ações em saúde são feitas para o
momento, como um trabalho de “apagar os focos de incêndio” de cada dia,
sem um planejamento estratégico ou uma proposta de longo tempo, como um
sonho ideal de construção de um referencial de saúde para a população do
município.
Minayo e Guerriero (2014) afirmam que “escrever é sempre parcial [...]
não importa o quanto tentamos”, estaremos nos nossos textos sempre
presentes.
A devolutiva deste trabalho será realizada através de uma reunião
agendada com os secretários de Saúde e de Educação, além dos atores
envolvidos no programa, a fim de colaborar para a melhoria do processo.
54
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 Resgate do processo histórico da atenção em saúde bucal no
município eleito para o estudo.
Como relatado acima, na análise dos dados senti a necessidade de
fazer um resgate do processo histórico da atenção em saúde bucal do
município.
Na busca por documentos junto à Secretaria Municipal de Saúde percebi
que pouco havia. Mas a partir de meu arquivo pessoal localizei documentos
que eram enviados aos profissionais e outros que foram se somando ao longo
do tempo. Das páginas amarelas, marcadas pelo tempo, datilografadas e
xerocadas, guardando anotações e rabiscos surgiram documentos de valor
inestimável. Alguns considerados novidade até para pesquisadores do SUS.
Para dialogar com a história nacional pesquisei documentos fazendo a
sequência histórica. Da contextualização do acontecido no país em termos de
saúde pública, com o que chegava e acontecia no município, a forma de
operacionalização do SUS nos municípios.
A história da saúde no município de Itajaí foi encontrada no Plano
Municipal de Saúde de 1992-1996, adaptada do trabalho de conclusão do
Curso de Especialização em Saúde Pública (Escola Nacional de Saúde
Pública/UNIVALI/Secretaria de Saúde de Itajaí/SC), intitulado “ Uma visão do
setor saúde no município de Itajaí/SC: Contribuição para o Plano Municipal de
Saúde” que conta como se iniciaram as atividades em Odontologia no
município. (ITAJAI, 1992a),
Seguindo o modelo que existia no Brasil, foram instalados Centros de
Saúde de Itajaí (1938), sede do Segundo Distrito Sanitário do Estado de Santa
Catarina, e Posto de Puericultura (1946), mantido pela Legião Brasileira de
Assistência (LBA). (Anuário de Itajaí,1949 apud Itajaí, 1992.) De 1945 a 1966
foram implantados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS),
unificados em 1966 com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS). Em 1967, deu-se a instalação do Posto de Assistência Médica do
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS-PAM)
55
e em 1978 foi inaugurado a Unidade de Saúde do Costa Cavalcante, primeira
unidade de saúde instalada em um bairro.
No final da década de 70, foi instalado um Posto de Saúde na própria
Prefeitura e adquirido dois trailers, um para atendimento médico e outro para
atendimento odontológico. Inicia-se assim a odontologia no serviço público
municipal de Itajaí. Em 1984, o governo do estado firmou convenio com quatro
instituições, criando mais quatro unidades sanitárias: Círculo Operário de Itajaí,
Conselho Comunitário da Fazenda, Conselho Comunitário do São Vicente e
Parque Dom Bosco. Desativaram-se os trailers e ampliou-se o Posto de Saúde
Central; implantou-se, paulatinamente mais 09 Postos de Saúde espalhados
pelos bairros do município: Imaruí, Itaipava, São Vicente, Praia Brava,
Promorar, Votorantim, Fazenda e Rio Bonito. (ITAJAÍ, 1992)
Em 1984, com a implantação das Ações Integradas de Saúde (AIS),
considerada como a primeira das experiências empíricas que antecederam o
Sistema Único de Saúde, iniciativas exitosas foram alcançadas em alguns
municípios, reforçando o processo de municipalização e fortalecendo os
sistemas estaduais e municipais de saúde (BARROS, 2005). Em decorrência
desse processo de implementação de unidades de atenção primária, foi criado
o Departamento de Saúde da Secretaria de Educação e Desenvolvimento
Social de Itajaí, constituindo a primeira estrutura formal de gerenciamento de
saúde no município. Até então, o gerenciamento das ações de saúde era
realizado por órgão estaduais e federais. O termo de adesão do município de
Itajaí ao convênio AIS foi assinado em 1986, iniciando-se uma ampliação da
rede ambulatorial e as discussões e condução das políticas de saúde através
da Comissão Interinstitucional Municipal de Saúde CIMS/Itajaí. (ITAJAÍ, 1992)
Em 1986 é realizado no Brasil o primeiro levantamento epidemiológico
em saúde bucal, por parte do Ministério da Saúde com o apoio do Instituto de
Planejamento Econômico e Social (IPEA). Este estudo forneceu informações
sobre os problemas epidemiológicos básicos da população residente na área
urbana. A escassez de recursos disponíveis limitou o elenco de problemas a
serem estudados, a limitação a 16 capitais selecionadas e a população-alvo.
Esta obedeceu a critérios de prioridade epidemiológica e à possibilidade de
comparação internacional. Comprovaram ser um dos maiores CPO-D do
mundo à época, atingindo 6,65 aos 12 anos. (BRASIL, 1986)
56
O percentual de contribuição do componente perdido para essa idade foi
de 13,18 %. Somente 40% das pessoas de 18 anos apresentavam todos os
dentes; no grupo de 35 a 44 anos, 40% requeriam apoio protético. Em relação
a doença periodontal, menos de 29% dos adolescentes e pouco mais de 5%
dos adultos apresentavam as gengivas sadias. Esses dados subsidiaram a
implementação de ações preventivas, educativas e curativas pois evidenciaram
que a demanda por serviços odontológicos é limitada cabendo ao setor público
a cobertura integral dos grupos epidemiológicamente e economicamente mais
carentes. (OPAS, 2006)
Resultado de um grande movimento de âmbito nacional em defesa da
saúde, em oposição aas propostas implementadas pelos governos militares, o
Movimento Sanitário ganhava consistência, gerando documentos, discussões e
experiências que sedimentaram uma longa trajetória de luta política. Através de
um trabalho político intenso e articulado, criando uma base de sustentação e
legitimando os agentes encarregados de torná-las realidade, chega a VIII
Conferência Nacional de Saúde, em 1986. Constituída de forte característica
democrática e contando com diversos segmentos sociais representados, a VIII
teve como a finalidade, expressa em seu regimento interno, o objetivo de
subsidiar e contribuir para a reformulação do Sistema Nacional de Saúde e
proporcionar elementos para afirmar os conceitos que comporiam a
Constituinte. (NASCIMENTO, 2003)
Dessa conferencia surge o conceito de Saúde:
“Em seu sentido mais abrangente, a
saúde é a resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda,
meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse
da terra e acesso a serviços de saúde”.
(BRASIL, 1986a).
E, dois anos depois, na Constituição da República Federativa do Brasil,
dos artigos 196 a 200 trata-se da saúde. Com algumas interferências, mas
estava ali na Carta Magna do País um sonho por tantos sonhados, mas que a
partir dali poderia ser construído. (BRASIL, 1988)
57
No mesmo ano, acontece a I Conferência Nacional de Saúde Bucal,
fazendo parte do amplo processo que marcou a 8ª Conferência Nacional de
Saúde de 1986. Na apresentação do Relatório Final, desta Conferencia, foi
registrada como o primeiro momento em que “a problemática de saúde bucal
da população tenha sido exposta e discutida de forma tão pluralista”. Volnei
Garrafa, coordenador geral da Iª. CNSB conclui afirmando que “é momento da
Odontologia amadurecer social, técnica e politicamente, dando seu salto
definitivo do individual para o coletivo”, assumindo a responsabilidade de
transformar o panorama da saúde bucal no País. A saúde bucal, seguindo o
mesmo conceito de saúde resultante da VIII CNS, é “parte integrante e
inseparável da saúde geral do indivíduo” e “a luta pela saúde bucal está
intimamente vinculada à luta pela melhoria de fatores condicionantes sociais,
políticos e econômicos, o que caracteriza a responsabilidade e dever do Estado
em sua manutenção”. Considerava, ainda, que “a saúde integral de cada
indivíduo representa um fator para o desenvolvimento da nação em seu
processo histórico. É impossível haver uma nação forte, se os indivíduos estão
enfraquecidos”. (BRASIL, 1986)
A criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde –SUDS por
Decreto Presidencial, em 1987, proporcionou a desconcentração de recursos,
delegando responsabilidades administrativas e a descentralização de parte do
processo decisório na formulação de políticas de saúde (BARROS, 2005b).
A adesão do município de Itajaí ao Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde (SUDS) ocorreu em 1988, e a integração das unidades de nível
estadual, aqui sediadas, passaram a ser gerenciadas pelo município. Foram
inauguradas novas unidades de saúde (Espinheiros, Jardim Esperança, São
Judas Tadeu, Bambuzal) e reformadas as Unidades do Imaruí e São Vicente.
(BRASIL, 1992)
Na saúde bucal o governo federal em 1988, através do Ministério da
Previdência e Assistência Social criou o Departamento de odontologia no
INAMPS. Planejado e executado de maneira verticalizada e centralizada criou
dois programas com práticas distantes do que propunha a Constituição. O
Programa Nacional de Controle da Cárie Dental com o Uso de Selantes e do
Flúor (PNCCSF) e o Programa Nacional de Prevenção da Cárie dentária
58
(PRECAD). (NARVAI E FRAZÃO,2008). Esses programas não foram
implantados em Itajaí.
Data de outubro de 1988 o documento intitulado “Política Nacional de
Saúde Bucal”, elaborado pelo Ministério da Saúde/ Divisão Nacional de Saúde
Bucal; pelo Ministério da Previdência e Assistência Social/ INAMPS; pela
Coordenadoria de Supervisão e Auditoria de Odontologia; pelo Ministério da
Educação/ Secretaria de Ensino Superior e pela Coordenadoria Especial de
Ciências da Saúde. O Documento considerava que o quadro epidemiológico, o
período de transição política e as dificuldades econômicas levaram o sistema
odontológico a “estruturar-se no sentido de ofertar serviços básicos à
população, adotando um modelo descentralizado e hierarquizado de ação”,
através de modelo assistencial com base na unificação das instituições
setoriais a cada nível de governo. O Documento define, ainda, a Atenção
Básica em Saúde Bucal como sendo o” conjunto de ações orientadas a
identificação, prevenção e solução dos “principais problemas da população
afetada, a qual se produz como fruto da participação consciente e organizada
da comunidade e de sua cooperação com as instituições de Saúde”. Enfatizava
que a PNSB deve fundamentar-se em cinco grandes princípios:
universalização, participação da comunidade, descentralização, regionalização
e integração institucional (BRASIL, 1988)
Como prioridades, o Documento contemplou: grupos populacionais;
tipos de serviços (emergenciais, ações preventivas e educação em saúde,
recuperação, especialidades básicas e serviços especializados mais
complexos); danos (cárie dentária, doenças periodontais, problemas dento-
maxilo-faciais e ortodônticos, câncer bucal, infecções viróticas e outros
problemas); recursos humanos e modalidade de organização e financiamento.
Concluiu afirmando que “agora os profissionais da saúde bucal têm “uma
bússola que o une aos seus colegas em um mesmo rumo” e que esta política
global proporciona uma base conceitual “fazendo com que o resultado final –
uma população odontologicamente sadia – seja alcançada no menor prazo
possível” (grifo meu). Em seu anexo único dá as Diretrizes Operacionais em
nível de execução: prevenção de doenças bucais; educação em saúde;
atenção clínica a grupos e problemas prioritários; organização setorial;
59
formação de recursos humanos; atuação da comunidade e estudos e
pesquisas. (BRASIL,1988)
As organizações dos serviços de saúde do município são abordadas no
documento intitulado “Plano de Saúde para Implementação do Sistema
Descentralizado de Saúde no Município de Itajaí”, de outubro de 1988, redigido
pelo Departamento de Saúde da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social de
Itajaí. Cabe ressaltar que nesse Documento são descritas as atividades a
serem desenvolvidas, na época, pela Rede de Serviços Básicos de Saúde que
compreendia a clínica geral, odontologia, enfermagem e farmácia. Na área da
odontologia estão elencados: “atendimentos curativos programados, oriundos
de escolas municipais e estaduais (Programa de Saúde do Escolar) e não
programadas à demanda em geral. Também compõem o rol de ações
recomendadas, atividades educativas e profiláticas dentro do referido
Programa (palestras, escovação supervisionada, aplicação tópica de flúor, etc.)
” (BRASIL, 1988)
Em 19 de dezembro de 1988, com a reforma administrativa da Prefeitura
Municipal cria-se a Secretaria Municipal de Saúde, regulamentada pelo Decreto
n 4004 de 30 de janeiro de 1989. (BRASIL, 1989)
Três meses antes, o Sistema Único de Saúde havia sido regulamentado
pela Leis 8.080, de 19 de setembro de 1990 e Lei 8.142 de 28 de dezembro de
1990. A Lei 8.080 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes. Instituiu o Sistema Único de Saúde (Lei Orgânica da Saúde),
constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e
instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e
indireta e das fundações mantidas pelo poder público; e de caráter
complementar a participação da iniciativa privada. Define que as ações e
serviços serão desenvolvidos de acordo com os princípios doutrinários e
organizativos tais como: universalidade de acesso aos serviços de saúde em
todos os níveis de assistência; Integralidade de assistência; equidade;
descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera de
governo; conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e
humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na
prestação de serviços de assistência à saúde da população; participação da
60
comunidade; regionalização e hierarquização. Trata ainda da organização, da
direção e da gestão do SUS; das competências e atribuições das três esferas
de governo; do funcionamento e da participação complementar dos serviços
privados de assistência à saúde; da política de recursos humanos; dos
recursos financeiros, da gestão financeira, do planejamento e do orçamento
(BRASIL, 1990)
A Lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), através de
conferências e conselhos de saúde em cada esfera de governo; e sobre as
transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde
com a alocação dos recursos do Fundo Nacional de Saúde, do repasse de
forma regular e automática para os Municípios, Estados e Distrito Federal. Para
tanto, deve contar com Fundo de Saúde; Conselho de Saúde; Plano de Saúde;
Relatório de Gestão; Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo
orçamento; Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários
(PCCS). (BRASIL. 2003.)
A Lei Orgânica do Município de Itajaí, promulgada em 1990, discorre
sobre a saúde definindo conceitos, direitos, diretrizes e competências
consoante com os princípios decorrentes das alterações da legislação
brasileira ocorridas na década de 80. (BRASIL, 1990)
Na estrutura gerencial da Secretaria de Saúde de Itajaí, estava o
Departamento de Atenção à Saúde, com a função de gerenciar a rede
assistencial do município, composta por dois chefes de divisão (supervisão e
odontologia) e uma coordenadora do Programa Saúde do Escolar. (BRASIL,
1992)
Para concretizar a real implantação do sistema de saúde no país foi
necessário operacionalizar o Sistema. Foram criadas as Normas Operacionais
Básicas (NOB). Essas NOB’s são orientações específicas e pactuadas,
editadas pelo Ministério da Saúde e aceitas pelas representações de
secretários municipais e estaduais de saúde. Visam à repartição orçamentária
entre as três esferas de governo, a atribuição de titularidade para a gestão e a
organização do modelo assistencial. (BRASIL, 2003)
A NOB 1/91, editada por três vezes, introduziu o conceito de municípios
e estados habilitados ao SUS, mediante comprometimento com a gestão direta
61
de serviços. Entre as determinações, cabe salientar que esta NOB considerou
como “municipalizados” dentro do SUS os municípios que criassem o Conselho
Municipal de Saúde; o Fundo Municipal de Saúde, o Plano Municipal de Saúde,
aprovado pelo Conselho e a Programação Orçamentária da Saúde (PROS)
com detalhamento do Plano de Saúde; a contrapartida de recursos para a
saúde do seu orçamento e constituição de Comissão de Elaboração do Plano
de Carreira, Cargos e salários (PCCS) com o prazo de dois anos para sua
implantação. (BRASIL. 2007)
Para atender a estes requisitos, o município de Itajaí institui o Conselho
Municipal de Saúde (Lei nº 2634 de 18 de junho de 1991) e o Fundo Municipal
de Saúde (Lei 2640 de 12 de agosto de 1991), além de cumprir as demais
determinações. (ITAJAÍ, 1991)
Data de 1991 a elaboração do Programa de Saúde do Escolar cujo
objetivo era “promover a melhoria da condição de saúde do escolar de 1º Grau
da rede de ensino público, desenvolvendo ações educativas/preventivas e
curativas nas áreas de saúde geral, oftalmologia, odontologia, otologia,
psicologia e fonoaudiologia ”. Em sua justificativa cita que o referido Programa
foi implantado no município, em 1987, mediante convênio com a Fundação de
Amparo ao Estudante (FAE), órgão vinculado ao Ministério da Educação.
(ITAJAÍ, 1991)
A meta era atender os 8.126 alunos matriculados nas 28 escolas da rede
pública de ensino (municipal e estadual). Como objetivos específicos estavam:
capacitar a escola a desenvolver ações promotoras da saúde; viabilizar ações
preventivas a ser desenvolvidas pelas 28 agentes de saúde; supervisionar e
assessorar tecnicamente os recursos humanos envolvidos; auto capacitar a
escola para lidar com problemas fundamentais do processo saúde/doença e
prestar atendimento clínico ambulatorial aos escolares. Para tanto elencava as
ações com metas e estratégias a serem adotadas para a sua execução.
(ITAJAÍ,1991)
Na Odontologia, o objetivo era a redução da cárie dentária e da doença
periodontal. Para tanto, seriam realizadas ações educativas através de
palestras, álbuns seriados, slides, teatros e dramatizações com o intuito de
motivar a importância da manutenção da higiene bucal, reconhecer a placa
bacteriana e conscientizar para uma alimentação menos cariogênica. As ações
62
preventivas seriam realizadas nas escolas sob supervisão das agentes de
saúde que realizariam escovação dentária supervisionada, bochechos
fluorados semanais (0,25%), revelação de placa mensalmente e aplicação
semestral de flúor gel. (ITAJAÍ, 1991).
As ações curativas seriam realizadas nos “postos” de saúde e veículo
equipamento odontológico, visando obter o maior número de crianças com
tratamento completado, priorizando 1º e 3º ano (como preconizado pelo
Sistema Incremental). Para efetivar essa ação, o Programa contaria com o
quadro de 21 cirurgiões dentistas do quadro de funcionários da Prefeitura
Municipal de Itajaí. Previa, ainda a contratação de mais 11 cirurgiões dentistas.
Para execução deste programa, os recursos humanos seriam capacitados
através de cursos, treinamentos e reciclagens. (ITAJAÍ,1991)
Esse programa foi reestruturado após a realização do Levantamento do
Índice de Cárie Dentária, através do CPO-D, no Município de Itajaí/SC em
1990. Foram examinadas 381 crianças, matriculadas em 13 escolas,
correspondendo a 5,15% da população matriculados de Pré escola a 8ª série
do primeiro grau da Rede Pública de Ensino, de ambos os sexos na faixa etária
de 6 a 14 anos. As análises estatísticas foram apresentados em quadros. O
CPO-D no Brasil em 1982 aparecia como 5,20 e o índice no município de Itajaí
era de 6,23. Na conclusão deste trabalho, estabeleceu-se uma “proposta de
reduzir em 05 anos em níveis de cárie dentária em nosso município”, baseado
nas seguintes diretrizes: “universalização dos métodos preventivos; prioridades
para os grupos etários mais vulneráveis (0 a 12 anos); integração das ações
entre as três esferas na área de saúde bucal e a opção por métodos que
assegurem a redução efetiva da doença, possibilitando larga cobertura
populacional” (LOPES,1990)
Foi elaborado um manual denominado “Conhecimentos Básicos Sobre
Saúde Bucal para Agentes de Saúde”. Na introdução o manual cita que os
elevados índices de cárie e doença periodontal na população brasileira, e a
inviabilidade de se aumentar a mão de obra especializada levou os atores
sociais a “refletir sobre a necessidade de um incremento na prevenção das
doenças bucais e na educação em odontologia sanitária, das diversas
camadas da população” e no papel das agentes de saúde no processo de
educação odontológica ser fundamental. Enfatizava, ainda, que a assistência
63
odontológica deve buscar atender o maior número possível de pessoas através
da ampliação da cobertura; simplificação das técnicas e equipamentos;
racionalização dos serviços prestados e participação comunitária. (LOPES,
1991)
O manual trazia orientações sobre anatomia dental, cronologia de
erupção, dentições, patologias principais, métodos de prevenção, alimentação,
reimplante dental e encerrava o rol de orientações elencando as funções do
Agente de Saúde. As funções eram: 1. A de auxiliar de enfermagem no
acompanhamento do tratamento de pacientes, na prevenção de doenças e
acidentes e na reabilitação do paciente; 2. A de educador na promoção de
saúde nos níveis comunitário e individual, de pessoal sanitário, de pacientes e
da comunidade; 3. A de gestor nas relações de apoio (municipais e regionais),
nas relações com as comunidades e seus representantes e no
desenvolvimento de atividades de cuidados primários de saúde (planejamento,
aplicação e avaliação); 4. A de agente de desenvolvimento socioeconômico na
participação em desenvolvimento comunitário, reuniões, Associações de Pais e
Professores (APP’s), etc. e a promoção dos cuidados primários de saúde.
Encerrou informando que estas funções deveriam ser completadas e
adaptadas as situações locais características das diversas comunidades,
segundo as necessidades. (LOPES, 1991)
Com o objetivo de normatizar os serviços do setor de odontologia da
Secretaria de Saúde do município foram estabelecidos alguns seguintes
critérios: 1. obrigatoriedade de anamnese, previsão e agendamento de
retornos para o término do tratamento (média de 09 retornos); 2. prioridade ao
atendimento de crianças pelo Sistema Incremental – atendimento ao pré-
escolar, 1ª e 3ª séries, grupos de manutenção 2ª e 4ª série; 3. atividades
educativas (palestras com professores e alunos das escolas de referência,
associação de pais e de bairros, mediante agendamento e planejamento
prévio); atividades preventivas (supervisão periódica das atividades realizadas
pelas agentes de saúde; aplicação de selantes, cariostáticos e flúor gel no final
do tratamento); atividades curativas (restaurações em dentes permanentes e
decíduos e extração de dentes irrecuperáveis, fornecendo orientações pós
cirúrgicas); 4. consulta com trinta minutos por paciente, com mais de um
procedimento, sempre que possível; 5. profissionais de 20 horas semanais
64
agendando 8 pacientes e profissionais de 30 horas agendando 12 pacientes
por período; 6. reuniões internas com todos os profissionais do “posto”,
objetivando o planejamento e a organização dos serviços; 7. formação de
grupos de estudos com os profissionais de 30 horas semanais, através de
reuniões mensais, num projeto de educação continuada e processo de
avaliação permanente do setor. (KNOLL, 1991).
Além do acima citado, o Plano Municipal de Saúde 1992/1996 previa a
supervisão e acompanhamento mensal do processo de fluoretação da água de
abastecimento público pelo coordenador do setor de odontologia do município,
com o recolhimento de amostras de todos os postos e posterior envio ao
Laboratório Central em Florianópolis para análise; aplicação de selantes em
pré-molares e molares permanentes não cariados; análise periódica do índice
CPO-D ( anualmente) como instrumento de avaliação do programa de saúde
bucal do município; ampliação das capacidade de cobertura com a contratação
de cirurgiões dentistas e profissionalização dos auxiliares de enfermagem em
técnicos de higiene dental; atendimento odontológico ambulatorial
considerando grupos de risco (crianças, gestantes, adolescentes, adultos e
emergências); implantação de ações de endodontia e periodontia básica no
atendimento ambulatorial; estabelecimento de sistema de referência e contra
referência para especialidades odontológicas; implantação de atendimento
para grupos específicos (aidéticos, deficiente mental, deficiente físico),
garantindo atendimento e hospitalar em casos excepcionais. Para as atividades
educativas-preventivas preconizou-se 2 dias por mês. (ITAJAI, 1992)
A NOB 01/92, aprovada por meio da Portaria n. 234 de 7 de fevereiro de
1992, tinha como objetivos normatizar a assistência à saúde no SUS, estimular
a implantação, o desenvolvimento e o funcionamento do sistema; bem como
dar forma concreta e instrumentos operacionais à efetivação dos preceitos
constitucionais da saúde. Instituiu o Índice de Valorização de Qualidade (IVQ),
a ser concedido e repassado aos hospitais que integram a rede do SUS
(públicos, contratados e conveniados), e criou o Fator de Estímulo à Gestão
Estadual (Fege), que se destinava a definir e reajustar os valores para a
reposição e modernização dos equipamentos da rede pública estadual e
municipal. (BRASIL,2011)
65
Naquele momento histórico, foi criado o Pró-Saúde, que se caracteriza
como um programa que tem como principal objetivo a reorganização dos
serviços de saúde com a participação das três esferas de governo. Assuntos
como planejamento; financiamento da assistência à saúde no SUS; estímulo a
“municipalização” do SUS e às ações de saúde coletiva; investimentos na
Rede; sistemas de informação; controle e avaliação; processo de
municipalização para repasse de recursos; e produtividade e qualidade,
tratados nesta NOB, levaram ao surgimento de vários cursos de especialização
na área de Odontologia Coletiva, que em parceria com as Secretarias
Municipais de Saúde, buscavam preparar profissionais para a gestão dos
serviços de saúde. (BRASIL,2007b).
Do município de Itajaí vários cirurgiões dentistas vinculados à Rede
Municipal de Saúde fizeram esses cursos, resultando daí vários levantamentos
epidemiológicos, como trabalho de conclusão de cursos de especialização. O
“Estudo de Prevalência de Cárie em Escolares de 6 a 12 Anos que Frequentam
as Escolas Públicas Municipais de Itajaí/SC”, realizado em 1992 para ae
Especialização em Odontologia Preventiva e Social em Curitiba/PR examinou
462 escolares. Da realidade pesquisada, a autora cita que no município há
água tratada desde 1986, que atinge a 98% da população e que os serviços
odontológicos são realizados por 35 profissionais odontólogos distribuídos em
20 unidades de saúde. (PROSDÓCIMO, 1992)
Em sua conclusão, a pesquisadora relata a baixa prevalência de cáries
(CPO-D 2,05) comparada com a região sul e Brasil, nos índices encontrados no
Levantamento Epidemiológico de 1986. Relata, ainda, que o índice aumenta
com a idade de forma progressiva e ligeiramente maiores em crianças do sexo
feminino. Neste trabalho não há nenhuma consideração às ações realizadas
pela odontologia no município. (PROSDOCIMO, 1992).
No mesmo ano foi avaliada a “Incidência de Cárie Dentária em Pré
Escolares do Núcleo de Desenvolvimento Infantil Lausimar Laus- Itajaí/SC”,
apresentada para a obtenção do título de Especialista em Saúde Pública.
Buscando comparar estatisticamente os índices de cárie dental detectados em
3 anos de estudo (1990,1991,1992), analisando os dados obtidos e a
eficiência/eficácia dos trabalhos educativos realizados com crianças de 6-7
anos através do índice ceo-d. A autora concluiu que o trabalho realizado levou
66
a queda na incidência de cárie dentária naquele grupo populacional, sugerindo
aos órgão ligados à saúde a realização de trabalhos elaborados e organizados,
evidenciando que a educação em saúde interferiu significativamente na
alteração na incidência dessa patologia. (BERNHARDT,1992).
No curso de Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva,
promovido pela UNIVALI e Secretarias Municipais da região do Vale do Itajaí
foi realizado de 1993 a 1995, para conclusão do curso, o “ Levantamento
Epidemiológico de Saúde Bucal em Escolares de Seis a Doze Anos no
Município de Itajaí/SC”. Examinando 1241 escolares da rede de ensino
públicas municipais e estaduais, a coleta foi dividida seis regiões, adotadas
pela Secretaria Municipal de Saúde em 1986. O levantamento epidemiológico
revelou que a experiência acumulada de cárie foi de 2,44, considerada de
prevalência baixa a moderada. (BERNHARDT; PABIS, 1995).
Realizada em setembro de 1993, a II Conferência Nacional de Saúde
Bucal representou um dos mais importantes fóruns de discussão da Saúde
Bucal no pais. Foi a resposta mais legitima da sociedade civil organizada, de
que não aceitava a situação da saúde bucal no país (iatrogênica, excludente e
ineficaz), solicitando a efetiva inserção da saúde bucal no SUS para
desmistificar modelos de programas verticais e de políticas que ainda existiam
e que não levavam em consideração a realidade concreta. O estudo indicou
com muita propriedade que “esta inserção se dará através de um processo sob
controle da sociedade (Conselhos de Saúde), descentralizado e onde se
garanta a universalidade do acesso e a equidade da assistência odontológica,
interligados a outras medidas de promoção de saúde de grande impacto
social”. (BRASIL,1993).
Buscando dar continuidade ao processo de consolidação do SUS, em
novembro de 1996 é editada a NOB/96. Promoveu um avanço no processo de
descentralização, criando novas condições de gestão para os municípios e
estados, caracterizando as responsabilidades sanitárias do município pela
saúde de seus cidadãos e redefinindo competências de estados e municípios.
Vários aspectos deveriam ser imediatamente regulamentados para viabilizar
sua implantação, como, por exemplo, os requisitos e instrumentos para
habilitação, implantação de nova tabela do SIA/SUS, o valor do PAB (Piso
Assistencial Básico), o Fator de Ajuste, a PPI, o Cartão SUS, a Vigilância
67
Sanitária, as Ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, e a data do início
de repasse automático fundo a fundo do PAB. A mudança de Ministro no final
de 1996 levou a rediscussão de alguns conceitos, principalmente em relação
ao PAB e financiamento, que só em dezembro de 1997 chegou a consenso e,
através de uma avalanche de Portarias foram introduzidas alterações na
NOB/SUS/96. REF (BRASIL, 2011)
Essa NOB teve como objetivo a promoção da reorganização do modelo
de atenção, adotando-se como estratégia principal a ampliação de cobertura do
Programa de Saúde da Família (PSF) e do Programa de Agentes Comunitários
de Saúde (PACS). Criou a Parte Variável do PAB que correspondia a
incentivos destinados às ações e programas PACS, PSF, Programa de
Combate às Carências Nutricionais, Ações Básicas de Vigilância Sanitária,
Assistência Farmacêutica Básica e Ações Básicas de Vigilância Epidemiológica
e Ambiental. Definiu as responsabilidades, prerrogativas e requisitos das
Condições de Gestão Plena da Atenção Básica e Plena de Sistema Municipal
de Saúde para os municípios, e Avançada do Sistema Estadual e Plena de
Sistema Estadual para os estados e editou uma nova tabela do SIA/SUS.
(CARVALHO, 2001; LEVCOVITZ, LIMA, MACHADO, 2001).
O município de Itajaí passou a ter gestão plena do sistema municipal,
pela qual o município recebe, diretamente no Fundo Municipal de Saúde, o
montante total de recursos federais correspondente ao limite financeiro
programado para o custeio da assistência em seu território e, após qualificação
da microrregião (AMFRI) na qual está inserido, para população dos municípios
abrangidos, condicionado ao cumprimento efetivo do Termo de Compromisso
para Garantia de Acesso firmado. (BRASIL, 2005; BRASIL, 2003) O segundo
Levantamento Epidemiológico de âmbito nacional, com o objetivo de verificar
alterações ocorridas no perfil da população brasileira foi realizado em 1996. O
Ministério da Saúde, em parceria com entidades de classe odontológicas (ABO
– Associação Brasileira de Odontologia e CFO - Conselho Federal de
Odontologia) e as Secretarias Estaduais e Municipais de saúde analisaram
somente a cárie dental em crianças na faixa etária de 6 a 12 anos de escolas
públicas e privadas das 27 capitais e Distrito Federal. A população adulta e
outras doenças seriam investigadas seriam em outro momento, mas não
aconteceu. O CPO-D aos 12 anos foi de 3,06 e o percentual de contribuição do
68
componente perdido foi de 9,42 para essa faixa etária. Evidenciou marcantes
diferenças regionais. (OPAS, 2006)
Em 1997, entrou em vigor a Lei Complementar nº 02, de 26 de
dezembro de 1997 que trata da Estrutura Administrativa da Secretaria
Municipal de Saúde de Itajaí. Criou-se o Departamento de Assistência
Odontológica ao qual competia: promover campanhas de esclarecimento e
orientação junto à população acerca da saúde bucal; supervisionar os serviços
odontológicos prestados à comunidade nas unidades de saúde; estudar e
Propor normas de funcionamento das unidades de saúde no que se refere à
assistência odontológica, bem como apresentar soluções sobre a criação de
postos específicos a prestação de tais serviços; sugerir a assinatura de
acordos e convênios com órgãos estaduais e federais competentes, de forma a
facilitar a aquisição de remédios não fornecidos e aparelhos que não se
encontram à disposição das unidades de saúde; desenvolver outras atividades
relacionadas à assistência odontológica.(ITAJAÍ, 1997).
Esse Departamento surgiu em função de acordos políticos escusos que,
as custas de distribuição de cargos, buscava manter apoio político na Câmara
de Vereadores do município. De tudo o que foi proposto como competências do
Diretor, nada foi feito pois as ações em saúde bucal permaneceram sendo
realizadas de acordo com o que anteriormente havia sido definido para
Odontologia (Inferência da autora).
A introdução da NOAS/SUS 01, publicada em janeiro de 2001 trouxe
uma avaliação do processo de descentralização da saúde, após as NOB’s 91,
93 e 96. O texto refere que “na medida em que o processo de gestão
descentralizada do sistema amadurece, evidencia um conjunto de
problemas/obstáculos em relação a aspectos críticos para a consolidação do
SUS”. Fazendo considerações sobre a complexidade da estrutura político-
administrativa, aos estados e municípios extremamente heterogêneos, aos
milhares de municípios pequenos demais para gerirem um sistema funcional
completo “é fundamental considerar, para o papel das Secretarias Estaduais de
Saúde e Secretarias Municipais de Saúde no sistema funcional, as noções de
territorialidade na identificação das prioridades de intervenção e de
organização de redes de assistência regionalizadas e resolutivas”. (BRASIL,
2001)
69
A NOAS/SUS 01 reafirmou o processo de regionalização como base
para a estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e para a busca de
maior equidade. Para tanto, foram formuladas e instituídos instrumentos
regulatórios próprios – as Normas Operacionais de Assistência em Saúde
(NOAS) que visavam o “fortalecimento do comando único do gestor do SUS
sobre os prestadores de serviços e o incremento das funções de gestão frente
aos novos desafios”. (BRASIL, 2007). *
A NOAS/SUS 01 foi publicada em janeiro de 2001 e trouxe elementos
centrais para o avanço do processo organizacional do SUS. Tratou da
ampliação das responsabilidades dos municípios na Atenção Básica;
estabeleceu o processo de regionalização como estratégia de hierarquização
dos serviços de saúde e de busca de maior equidade; criou mecanismos para o
fortalecimento da capacidade de gestão do SUS e à atualização dos critérios
de habilitação de estados e municípios. A elaboração do Plano Diretor de
Regionalização – PDR, previu que o cidadão deveria ter o acesso à a saúde, o
mais próximo de sua residência; , ter acesso a serviços de assistência pré-
natal, parto e puerpério;, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento
infantil;, ações de promoção à saúde e prevenção de doenças;, tratamento de
intercorrências mais comuns na infância;, atendimento de afecções agudas de
maior incidência;, acompanhamento de pessoas com doenças crônicas;,
tratamento de pequenas urgências ambulatoriais;, tratamento de distúrbios
mentais e psicossociais mais frequentes;, suprimento e disposição de
medicamentos da farmácia básica e controle das doenças bucais mais comuns.
(BRASIL, 2007)
Essa NOAS também instituiu a Gestão Plena da Atenção Básica
Ampliada –GPABA, com áreas de atuação estratégicas mínimas, aí incluindo a
saúde bucal; a organização dos serviços de média e alta complexidade;, a
Programação Pactuada e Integrada/PPI que orientava a alocação de recursos
e limites financeiros; tratou também a das responsabilidades de cada esfera de
governo para a garantia de acesso da população referenciada, padronizando
instrumentos; e instituiu o controle, avaliação e regulação da assistência; bem
como da habilitação dos municípios e estados e atos referentes a mesma.
(BRASIL, 2007)
70
Em fevereiro de 2002, visando ao aprimoramento do SUS é publicada a
NOAS-SUS 01/02, como resultado de um longo processo de negociação que
envolveu o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(CONASS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
(Conasems). Foram realizadas adequações de seus modelos assistenciais e
de gestão aos preceitos estabelecidos após a identificação dos causadores de
maior tensionamento na implantação da NOAS 01/01. Assim, ao assegurar a
manutenção das diretrizes organizativas, definidas pela Norma anterior, a
NOAS 01/02 “procura oferecer as alternativas necessárias à superação das
dificuldades e impasses oriundos da dinâmica concreta de sua
implementação”. (BRASIL, 2002)
Entre as ações de saúde bucal individuais e preventivas, preconizadas
pela NOAS01/02 estavam estão em procedimentos individuais preventivos: as
atividades de prevenção dos problemas odontológicos, prioritariamente, na
população de 0 a 14 anos e gestantes. No âmbito coletivo, foram
contemplados: em procedimentos coletivos: levantamento epidemiológico,
escovação supervisionada e evidenciação de placa, bochechos com flúor,
educação em saúde bucal; cadastramento de usuários para alimentação e
análise de sistemas de informação; tratamento dos problemas odontológicos,
prioritariamente, na população de 0 a 14 anos e gestantes com consulta e
outros procedimentos individuais curativos e atendimento a urgências
odontológicas. (BRASIL,2002)
No Plano Municipal de Itajaí/SC 2001-2004 a única parte que versa
sobre saúde bucal é a descrição da Lei que cria o Departamento de
Odontologia, confirmando o que foi exposto anteriormente. Cabe salientar que
a descrição das funções não está consoante com a terminologia odontológica
pois chama de “remédios” os materiais odontológicos, reforçando a idéia de ser
uma cópia malfeita de outra descrição de atribuições. (ITAJAÍ, 2001)
O Ministério da Saúde iniciou em 2000 a discussão sobre a realização
de um amplo projeto de levantamento epidemiológico que incluísse tanto a
população urbana como rural, e avaliasse os principais agravos em diferentes
grupos etários. Criou um subcomitê responsável pela elaboração e execução
do projeto que foi identificado como “SB Brasil: Condições de Saúde Bucal na
População Brasileira”. Contando com a participação de entidades
71
odontológicas, faculdades de odontologia, secretarias estaduais e municipais
de saúde, envolveu aproximadamente 2 mil trabalhadores que examinaram
108.921 pessoas em 250 municípios brasileiros. Este trabalho “produziu
informações relativas às principais doenças bucais, às condições
socioeconômicas, ao acesso aos serviços e à autopercepção em saúde bucal”.
Os resultados obtidos mostraram uma expressiva redução dos níveis de cárie
dentária na população infantil. O índice CPO-D aos 12 anos foi de 2,78
enquanto que o percentual de contribuição do componente perdido ficou em
6,47. A doença periodontal mostrou-se alta em todas as faixas etárias; quanto
ao edentulismo, apenas 10% dos idosos apresentam 20 ou mais dentes
(BRASIL, 2004).
Também foi pesquisada a fluorose dental (9% em crianças de 12 anos,
com maior incidência é nas regiões sudeste e sul) e má oclusão (severa ou
incapacitante em cerca de 21% nas crianças de 12 anos e cerca de 19% em
adolescentes de 15 a 19 anos). Comprovando que grande parte da população
permanecia desassistida, a avaliação do acesso aos serviços odontológicos
apontou que mais de 13 % da população adolescente nunca havia ido ao
dentista, assim como 3% da população adulta e chega a 6% nos idosos. A
região nordeste apresentou o maior índice de pessoas que nunca foram ao
dentista. Nesse estudo percebeu-se que há uma probabilidade de que as
diferenças apontadas sejam decorrentes do modelo de atenção em cada área
geográfica, do acesso à agua fluoretada e creme dental, e de acessibilidade
aos serviços de assistência odontológica. (BRASIL, 2004)
O desenvolvimento das políticas públicas de saúde bucal, no Brasil, foi
resultado de um processo de discussões entre coordenadores estaduais de
saúde bucal e fundamentações geradas a partir de congressos, encontros de
Odontologia e deliberações das Conferências Nacionais de Saúde e de Saúde
Bucal. Assim, em janeiro de 2004 o Ministério da Saúde apresentou as
“Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal” com o intuito de ser
compreendido como uma “referência conceitual para o processo de se fazer o
modelo de atenção no espaço da micropolítica, onde ocorre o encontro de
saberes e fazeres entre sujeitos usuários e sujeitos profissionais”. Teve como
base epidemiológica a pesquisa “Condições de Saúde Bucal na População
Brasileira”, de 2003. Apontou para uma reorganização da atenção em saúde
72
bucal nos níveis de atenção e o desenvolvimento de ações intersetoriais. Com
uma concepção de saúde não centrada somente na assistência ao doente,
mas na promoção da boa qualidade de vida e intervenção nos fatores que a
colocam em risco. (BRASIL, 2004)
Na PNSB destacam-se: o modelo de cuidado como eixo de orientação
de modelo o cuidado; a humanização do processo de trabalho; a
responsabilização dos serviços de tal forma que se produza conhecimento,
responsabilização e autonomia em cada usuário; ações e serviços adequados
a realidade de cada localidade; construção de consciência sanitária (que
condicionam e determinam um dado estado de saúde e dos recursos
existentes), dispositivos que permitiriam desenvolver o processo de controle
social das ações e serviços em saúde bucal. A organização das ações voltadas
para as linhas de cuidado, (criança, adolescente, adulto e idoso), implicando
em um redirecionamento do processo de trabalho em equipe. Por seu potencial
de resolutividade possibilitaria o surgimento de vínculo que melhorariam a
qualidade dos serviços e a humanização das práticas. De modo a buscar a
integralidade da atenção deveria ser assegurada a ampliação e qualificação da
atenção básica, acesso a todas as faixas etárias e a oferta de serviços também
nos níveis secundários e terciários. (BRASIL 2004).
Antes disto, entre 1993 e 2004, haviam ocorrido foram realizadas duas
Conferências Nacionais de Saúde (a 10ª CNS, em 1996, e a 11º CNS em
2000) sem que a elas se vinculasse alguma conferência específica de saúde
bucal. Em 2003, havia sido foi convocada uma Conferência Nacional de Saúde
extraordinária, no primeiro ano da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. REF
Realizou-se a 12ª CNS com o tema central “Saúde: um direito de todos e
dever do Estado – A saúde que temos, o SUS que queremos”. (BRASIL,2005)
A etapa municipal teve grande participação da população itajaiense. Com pré
conferencias realizadas em diversos bairros do município fez-se a Conferencia
Municipal, que após dois dias de trabalho definiu ações a serem implantadas
no município e elegeu delegados para a etapa estadual. Com forte participação
nos grupos de trabalho da IV Conferencia Estadual de Saúde, representantes
de Itajaí foram eleitos delegados para a 12 CNS, onde estiveram presentes
desde o início das atividades até a votação do Relatório Final.
73
Também no ano de 2004, em julho/agosto, em tempos de lançamento
da PNAB, aconteceu a 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal. Buscando
oportunizar a participação da população na análise da formulação e da
execução da Política Nacional de Saúde Bucal, após a conclusão do
Levantamento epidemiológico SB-Brasil 2003, o Fórum que apontou uma
grande dívida social na área da saúde bucal, considerando as condições de
saúde bucal e o estado dos dentes como um dos mais significativos sinais de
exclusão social. Por isso, o tema central - Saúde bucal: acesso e qualidade,
superando a exclusão social, levou os cerca de 1200 participantes a identificar
os principais problemas do país na área de saúde bucal e encontrar meios e
recursos voltados à definição de estratégias para superá-los. E como citado no
prefácio do Relatório Final “ transformar em um cotidiano de soluções, em
desafios vencidos, em novas perspectivas para superarmos a perversidade das
diferenças de acesso para nossa população”. (BRASIL,2005).
Um panorama da saúde bucal do município de Itajaí foi feito a partir de
dados coletados nos Relatórios de Gestão, em documentos da 17ª Gerência de
Saúde, no SISPACTO, e em outros documentos oficiais, com o intuito de
subsidiar as tomadas de decisões para que a administração que se iniciava em
2005 formulasse e a formulação do Plano Municipal de Saúde 2005-2008. O
número de odontólogos lotados era de 57 profissionais, com carga horária de
30 horas semanais, distribuídos em 22 unidades de saúde e um odontomóvel.
O índice CPO-D 12 anos era de 1,68, de acordo com o Saúde Bucal 2000,
realizado em Itajaí. (ITAJAÍ, 2005)
Os procedimentos realizados na atenção básica eram: consulta
odontológica, odontologia preventiva, dentística e cirurgia básica. Na média
complexidade, haviam três profissionais realizando radiografias e eram
encaminhados pacientes que necessitavam de endodontia para a Faculdade
de Odontologia da UNIVALI pacientes para realização de endodontia. (04
consultas/dia). Não eram desenvolvidos programas de educação permanente
aos profissionais assim como os papéis e competências dos profissionais não
estavam definidos. Haviam 16 equipes do Programa Saúde da Família, mas
nenhuma Equipe de Saúde Bucal. No período de 1999 a 2004 a cobertura de
primeira consulta odontológica mostra-se estável em patamares baixos,
variando ao redor de 10% (percentual do Estado era de 18%) e a proporção de
74
exodontias em relação às ações básicas individuais demonstrava queda lenta,
mas progressiva. (ITAJAÍ, 2005)
Como prioridades e ações para a Odontologia estava a inclusão de 05
Equipes de Saúde Bucal no Programa Saúde da Família, durante o ano de
2006, que ampliou a cobertura e resolutividade das ações de saúde bucal e a
implantação do Centro Especializado de Odontológicas (CEO), tipo II. Este
CEO oferecia atendimento nas áreas de endodontia, periodontia, cirurgia oral
menor, diagnóstico bucal, odontopediatria, atendimento a pacientes com
necessidades especiais, dentística especializada e prótese dentária total.
(ITAJAI, 2005). Foi implantado um serviço de urgência no Pronto Atendimento
Municipal; foi realizada a adequação da rede de serviço, o desenvolvimento de
recursos humanos e a motivação dos colaboradores promovendo a maior
participação e realização de ações intersetoriais. (ITAJAÍ, 2005)
O Programa Bebê Sorridente foi instituído em 2000. É um programa
educativo e preventivo que consiste na orientação para as parturientes sobre
os cuidados com a higiene a hábitos alimentares que influenciam na saúde
bucal. Acontece no Hospital Maternidade Marieta Konder Bornhausen onde são
realizadas demonstrações sobre métodos de higienização do bebê e entrega
de kis de higiene bucal. (ITAJAÍ, 2010)
Um certo descompasso para a implementação da NOAS/SUS 01/02 fez
surgir a necessidade de uma nova estratégia de operacionalização do SUS no
Brasil. A Portaria 399, de 22 de fevereiro de 2006 divulgou o Pacto pela Saúde
2006 – Consolidação do SUS a aprova as Diretrizes Operacionais do Pacto
pela Saúde com seus três componentes: Pactos Pela Vida, em Defesa do SUS
e de Gestão. (BRASIL, 2006)
Por meio destes três componentes, visa àa qualificação e
implementação do processo de descentralização, organização e gestão do
SUS a partir do aprimoramento do processo de pactuação Intergestores,
objetivando a qualificação, o aperfeiçoamento e a definição das
responsabilidades sanitárias e de gestão entre os entes federados. (FADEL et
al, 2009).
O Pacto pela Vida é um conjunto de compromissos sanitários, com
objetivos focados em resultados, considerando a análise da situação de saúde
e com prioridades definidas pelos entes federados. Suas prioridades e
75
objetivos são: implantar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa,
buscando a atenção integral; reduzir a mortalidade por câncer de colo do útero
e de mama; reduzir a mortalidade materna, infantil neonatal, infantil por doença
diarreica e por pneumonias; fortalecer a capacidade de resposta do sistema de
saúde às doenças emergentes e endemias; elaborar e implantar a Política
Nacional de Promoção da Saúde, com ênfase na adoção de hábitos saudáveis
por parte da população brasileira, de forma a internalizar a responsabilidade
individual da prática de atividade física regular, alimentação saudável e
combate ao tabagismo. Na Atenção Básica, a saúde consolidar e qualificar a
estratégia da Saúde da Família como modelo de atenção básica à saúde e
como centro ordenador das redes de atenção à saúde do SUS. (BRASIL,
2006).
O Pacto em Defesa do SUS envolve ações concretas e articuladas no
sentido de reforçar o SUS como política de Estado, mais do que política de
governos; e de defender, vigorosamente, os princípios basilares dessa política
pública, inscritos na Constituição Federal. Por ser um movimento de
repolitização deve mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como
sistema público universal garantidor desses direitos; alcançar a
regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, pelo Congresso Nacional;
garantir os recursos orçamentários e financeiros para a saúde aprovando o
orçamento do SUS, composto pelas três esferas de gestão, explicitando o
compromisso de cada uma delas. Culmina com a elaboração e divulgação da
Carta dos Direitos dos usuários do SUS. (BRASIL, 2006).
O terceiro componente do Pacto trata de Gestão do SUS; indica a
necessidade de avançar na regionalização e descentralização do SUS,
partindo da unidade de princípios e diversidade operativa que respeite as
singularidades regionais. Reforça a territorialização da saúde, estruturando as
regiões sanitárias e instituindo colegiados de gestão regional; reitera a
importância da participação e do controle social qualificado; explicita as
diretrizes para o sistema de financiamento público tripartite reforçando a
transferência fundo a fundo e estabelece relações contratuais entre os entes
federativos. As prioridades do Pacto de gestão são definir a responsabilidade
sanitária de cada instância gestora e estabelecer as diretrizes com ênfase na
descentralização; regionalização; financiamento; programação Pactuada e
76
Integrada; Regulação; Participação e Controle Social; Planejamento; Gestão do
Trabalho e Educação na Saúde. É um processo em busca da equidade social
na saúde. (BRASIL, 2006)
A Portaria n 687 de 30 de março de 2006 aprova a Política Nacional de
Promoção da Saúde (PNPS), elencando entre as prioridades do Pacto pela
Vida. Representa um marco político/ideológico no processo vivo e cotidiano
de construção do SUS, retomando o debate político sobre as condições
necessárias para sujeitos e comunidades saudáveis. O conceito ampliado de
saúde do SUS, política do estado brasileiro que busca a melhoria da qualidade
de vida e afirmação do direito à vida e à saúde, dialoga com as reflexões e os
movimentos no âmbito da promoção da saúde. A Política Essa PNPS provoca
a mudança no modo de organizar, planejar, realizar, analisar e avaliar o
trabalho em saúde, pois seu objetivo geral é: “Promover a qualidade de vida e
reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e
condicionantes – modo de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente,
educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais”. (BRASIL,
2006).
Nesse documento temos conceitos e diretrizes que estimulam a
intersetorialidade, compromisso com a integralidade, a participação social,
mudança no processo de trabalho, indicando para a cogestão e a adoção de
práticas de trabalho de equipe. É uma política transversal agrega que faz várias
áreas do setor sanitário, outros setores de governo, setores privados, enfim,
toda a sociedade como partícipes no cuidado com a saúde. Também apresenta
as responsabilidades das esferas de gestão e as ações específicas que foram
priorizadas para o biênio 2006-2007, que são: alimentação saudável, prática
corporal/atividade física, prevenção e controle do tabagismo, redução da
morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas,
redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da violência
e estímulo à cultura de paz e promoção do desenvolvimento sustentável. Estas
ações prioritárias serviram como dispositivo para ampliar ações de promoção
em todos os níveis do SUS e de melhor articulação entre diferentes áreas
técnicas e programas e políticas a partir da abordagem da promoção da saúde.
(Brasil, 2010)
77
Para ratificar o compromisso brasileiro com as diretrizes da Estratégia
Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da Organização
Mundial de Saúde e as ações estruturantes de Promoção da Saúde
estruturadas no Ministério da Saúde foi editada em maio de 2006 a Portaria
Interministerial nº 1.010 que institui as diretrizes para a promoção da
alimentação saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e nível
médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional. (BRASIL, 2006). Em
seguida, outra Portaria: aA Portaria nº 1409 de 2007 que instituiu o Comitê
Gestor da Política Nacional de Promoção de Saúde – CGPNPS. (BRASIL,
2010).
Em 05 de dezembro de 2007 é publicado o Decreto nº 6286, que institui
o Programa Saúde na Escola – PSE com a finalidade de contribuir para a
formação integral dos estudantes da rede pública de educação básica por meio
de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde. Este Programa será
analisado no decorrer do trabalho. (BRASIL,2009)
No Plano Municipal de Saúde de 2010-2013, de Itajaí, no campo da em
saúde bucal temos somente a apresentação dos dados do levantamento
epidemiológico, realizado pelo SB 2000, enaltecendo o baixo índice CPO-D e
considerando como fator para isso a fluoretação da água de abastecimento
público e os programas de promoção de saúde desenvolvidos pela Secretaria
de Saúde em parceria com a Secretaria de Educação. O Plano cita que o
índice de CPO-D da faixa etária entre 35 e 74 anos é relativamente alto,
justificando que “isso se deve ao fato de que os programas de promoção só
tiveram início no município a partir de 1999”. (BRASIL, 2010). Ora, a
odontologia no município de Itajaí está atuando desde a década de 70, e com a
municipalização tivemos um aumento no número de profissionais atuando em
saúde bucal. Cabe questionar se isso não se deve à ausência de uma
organização, avaliação e acompanhamento das atividades realizadas pelos
profissionais que não tem sequer a descrição das atividades que devem ser
realizadas nas Unidades de Saúde, fazendo aquilo que consideram ser o
correto.
Na formulação dos compromissos para fortalecer as ações em saúde
bucal está a manutenção dos serviços e programas existentes, a adequação de
área física, a padronização de materiais e instrumentais nas US, a ofertar de
78
ações para saúde bucal do idoso, a realização de módulos de educação
permanente, a implantação de medidas de prevenção/redução de riscos
ocupacionais aos profissionais das US, a ampliação do número de Equipes de
Saúde bucal dentro do ESF, e a cobertura de ação coletiva de escovação
dental supervisionada. Em 2012 implantou-se o serviço de Prótese Total no
CEO. (ITAJAI, 2010)
Encontramos no Plano Municipal de Saúde de 2014-2017, na análise
situacional referente à saúde bucal, o mesmo texto (ipsis litteris) descrito no do
Plano anterior. Apresentando as mesmas tabelas e considerações referentes
ao SB 2000, apesar de já termos realizado o SB Brasil 2010 – Pesquisa
Nacional de Saúde Bucal, publicado em 2011. Nas considerações ao Sistema
Municipal de Saúde, o Plano informa que há 63 cirurgiões dentistas, 18
auxiliares em saúde bucal e 06 técnicas em Saúde Bucal em seu quadro
funcional. Descreve que a Gerência de odontologia tem “como objetivo central
a promoção e recuperação da saúde bucal e a prevenção dos agravos
relacionados às doenças bucais”. (ITAJAÍ, 2014)
O Plano cita que desde o ano de 1999 vem realizando em parceria com
a Secretaria Municipal de Educação o Programa de Saúde Bucal, que abrange
todas as escolas e creches do município e que, de acordo com a faixa etária,
faz atividades educativas, escovação supervisionada, revelação de placa
bacteriana e aplicações tópicas de flúor. Esse programa tem como objetivo
“prevenir as doenças bucais mais prevalentes tais como a cárie dental,
doenças periodontais, câncer bucal e más oclusões; e instituir e orientar a
adoção de hábitos saudáveis em relação à Saúde Bucal, como o incentivo à
amamentação, escovação dentária, alimentação saudável, consultas periódicas
ao dentista, controle do fumo e do álcool, dentre outros”. (ITAJAÍ,2014).
Neste mesmo Plano está citado o Projeto-piloto CEI-Sorri que em
sistema de rodízio instala um equipamento odontológico móvel nos Centros de
Educação Infantil para atendimento das crianças. Ao questionar sobre este
projeto-piloto fui informada que esse equipamento odontológico não existe e
nenhum CEI teve esse tipo de atendimento. (Informação verbal obtida junto aos
educadores dos CEI’s). (ITAJAI, 2014)
Nos objetivos, diretrizes e metas deste Plano Municipal está elencado
para o período 2014-2017 em saúde bucal, a manutenção das metas já
79
existentes no Plano Municipal 2010-2013, acrescidas de: disponibilização de
tratamento odontológico a nível hospitalar para pacientes especiais acima de
14 anos e para pacientes que necessitam de procedimentos sob anestesia
geral; aquisição de equipamentos de RX para US que não dispõe deste
serviço; atingir 16% de cobertura populacional pelas equipes básicas de saúde
bucal, aumentando em 8% ao ano; atingir a média de 5% em ação coletiva de
escovação dental supervisionada, aumentando em 2% ao ano; atingir a
proporção máxima de 1,6% de exodontias em relação aos procedimentos e
avaliar o índice CPO-D aos 12 anos dando-lhe ampla divulgação. (Creio que
aqui quer dizer “fazer o levantamento epidemiológico”). (ITAJAI, 2014)
O município conta hoje com 08 equipes de saúde bucal, sendo 06 na
modalidade I (cirurgião dentista e auxiliar em saúde bucal) e 02 na modalidade
II (cirurgião dentista, auxiliar em saúde bucal e técnico em saúde bucal) e, com
cobertura estimada de 16% da sua população. (DATASUS, 2015)
6.2 Modalidades de atenção em saúde bucal para escolares no município
Como descrito na fundamentação teórica, o Programa Saúde na Escola
(PSE) e o Programa Saúde Bucal (PSB) estão sendo realizados
concomitantemente em Itajaí, que também conta com ações das Equipes de
Saúde Bucal da Estratégia da Saúde da Família. Os entrevistados
demonstraram conhecê-los, pois fazem parte do gerenciamento dos mesmos.
Entretanto não há uma definição clara quanto às atividades a serem realizadas
e quantificadas pelos mesmos.
6.2.1O desafio da integração entre o Programa Saúde Bucal e o setor
Educação
No resgate histórico do processo de implantação das ações de
Odontologia no serviço público de Itajaí/SC identificou-se o Programa Saúde
Bucal. Este Programa está descrito no Plano Municipal de Saúde de 2014-2017
e vem sendo realizado através da parceria entre a Secretaria Municipal de
Saúde e a Secretaria Municipal de Educação, desde 1999. (ITAJAI,2014)
80
Relatos expressos pelos sujeitos de pesquisa permitiram entender a
maneira como ocorre tal Programa. De acordo com E3, que atuou na rede
municipal de saúde por mais de uma década, “as atividades [preventivas em
escolas] eram realizadas duas vezes por ano”, e as escolas procuravam os
profissionais nas Unidades de Saúde para a realização de palestras, instrução
e acompanhamento de escovação e aplicação tópica de flúor. Os CD’s
organizavam as agendas e iam até a escola “para realização do trabalho”.
Chegando às escolas “a direção, a coordenação da escola já tinha as turmas
prontas que nos seriam enviados”. As palestras realizadas eram seguidas de
escovação, e esta dinâmica impedia o atendimento a muitas turmas no mesmo
dia. A entrevistada comentou, ainda, que “a maioria dos professores realmente
não se interessavam” pelas atividades de saúde bucal: normalmente eles
deixavam as crianças com os CD’s e se dirigiam para outras atividades.
“Poucos eram os que ficavam. Menos ainda os que questionavam, que
auxiliavam, que participavam daquele momento”.
Garbin et al (2012) realizaram um estudo com o objetivo de investigar a
opinião e o conhecimento de concluintes do curso de Pedagogia da cidade de
Araçatuba/SP sobre saúde bucal. Questionados sobre educação em saúde
bucal, cárie dentária, aspectos relativos à odontologia preventiva e odontologia
na primeira infância, concluíram que o seu conhecimento sobre a temática é
insatisfatório. Aproximando este resultado de um estudo anterior, realizado por
Unfer e Saliba (2000), em que avaliaram o conhecimento popular e as práticas
cotidianas em saúde bucal de usuários dos serviços de saúde de Santa
Maria/RS, os pesquisadores observaram que o conhecimento dos pedagogos
se aproxima do senso comum.
Para educar em saúde bucal é preciso um conhecimento mais sólido
sobre a temática, é necessário considerar como essencial a formação e a
qualificação dos professores, para que além de preparados eles estejam
capacitados para atuarem como agentes promotores de saúde nas escolas
(GARBIN et al., 2012). Ferramenta indiscutível para transmissão de
conhecimento, os educadores devem ser incluídos dentro do programa
educativo-preventivo em saúde bucal. Desta forma, informações corretas e
completas poderão ser assimiladas e multiplicadas dentro do processo de
interação professor-aluno (ARCIERI et al., 2013).
81
Em algumas entrevistas, foi ressaltado que “muitos profissionais da
educação são relutantes em trabalhar em parceria com a SB porque já têm
muitas demandas pedagógicas” (E 4), não tendo tempo para incorporar mais
essas atividades. Esta consideração também é levantada por E3 que diz que “o
profissional da educação tem que ver se a criança escuta, enxerga, [...]se
apanha em casa, se foi abusada, se trocou a fralda [...] E além do que tem que
ensinar. [...] É um fardo muito grande para o pessoal da educação”.
O estabelecimento de parcerias entre os profissionais de saúde e
professores é imprescindível para o desenvolvimento de atividades educativas
em saúde bucal nas escolas. A prática de saúde como prática educativa deixou
de ser um processo de persuasão, como há muito tempo era compreendida;
dentro de uma metodologia participativa, passou a ser um processo de
capacitação dos indivíduos para a transformação da realidade (SANTOS et al,
2012).
Soares (2010) analisou a prática do pedagogo no contexto dos projetos
e programas institucionais realizados em escolas no Piaui. Verificou que a
relação que esse profissional estabelece entre os programas levam a
inquietação quanto à efetivação dessas políticas por considerarem que
fragmentam a sua prática e tornam difícil a relação com seus pares. Constitui
certamente um desafio maior para o pedagogo, dentre as muitas atribuições
que lhe competem, estudar e buscar meios favoráveis para superação, através
de uma ação interativa e organizada que se firma na relação construída pela
aproximação e diálogo, levando a escola ao êxito.
Em entrevista com participante do estudo (E5), é possível notar essa
preocupação com a dificuldade que os professores têm em realizar todos os
trabalhos designados a eles: “[...] não é uma coisa fácil, mas nada que é feito
na escola é fácil”. Entretanto, há o reconhecimento de que é preciso a
aproximação entre a saúde bucal (e geral) no âmbito escolar e fora dele, já que
“um aluno doente é uma criança que não aprende. Uma criança com dor de
dente não vai produzir na unidade escolar”.
82
O entrevistado acima citado relata que esse tipo de ação foi
negligenciado por muito tempo por parte dos gestores. Que durante suas
atividades na escola, representante da Secretaria de Educação compreendia
as ações práticas, do âmbito educativo-preventivo, em saúde bucal na escola
como desnecessárias: “não havia necessidade de fazerem este tipo de
trabalho” [saúde bucal]. Nesta perspectiva, a Secretaria da Educação apontava
que somente atividades teóricas educativo-preventivas em saúde bucal
deveriam estar presentes em escolas. Os profissionais da educação “deveria
ter um olhar dentro da unidade [escolar] que seria direcionado só para o
ensino-aprendizado” não realizando atividades práticas da área da saúde. Para
E5, esta percepção “foi o grande entrave da saúde bucal dentro da escola”. E a
relutância em fazer ações em saúde bucal persiste e os educadores “não
sentem mais que é uma situação deles”.
No entanto, E5 ainda relata que as ações em saúde bucal “eram uma
atividade embutida dentro do cronograma da escola”. Apesar disso, nem todas
as crianças recebiam a orientação e realizavam escovação, pois “uma
escovação bem-feita com uma orientação não dá para fazer em 15, 20
minutos. Tinha uma parceria com a professora de educação física, que
acompanhava 7 a 8 alunos ao escovódromo, fazendo a ação em etapas, uma
vez por semana, as vezes duas [...] Às vezes tu estavas querendo fazer aquilo
[a escovação] e chegava uma mãe que precisava ser atendida naquele
minuto”. A acumulação de funções levava o profissional a optar pela demanda
de maior urgência, preterindo ações programadas como as escovações. Esta
escolha acabava gerando uma banalização do valor das ações preventivas de
saúde bucal.
A infância e a adolescência são fases decisivas na construção de
hábitos e atitudes. Na escola temos um grande potencial disseminador de
informações em saúde. Por ser referência, o professor tem possibilidade de
gerar maior sensibilização e conscientização dos alunos que transmitirão os
conhecimentos adquirido aos seus familiares, amigos e a comunidade em que
estão inseridos. A inserção de assuntos de saúde nas atividades pedagógicas
faz com que se oportunize o principal papel da escola - a produção de
conhecimento. O professor estará favorecendo a formação de cidadãos
83
autônomos, críticos, com capacidade de controlar suas condições de saúde e
qualidade de vida.
Questionados os entrevistados quanto à existência de um padrão de
ação dos profissionais de saúde bucal nas escolas, tanto E3 quanto E4 foram
categóricos em afirmar que “não existe uma padronização”. Segundo E3, “cada
bairro, cada distrito da cidade tem sua particularidade, e pondera “[...], mas,
deveria ter um eixo central”. O entrevistado 4 acrescenta que “ vários governos
que se sucederam não colocaram isso como uma prioridade a ponto de fazer
um protocolo que todos os profissionais de saúde bucal pudessem ter ações
[...] trabalhando efetivamente neste sentido. ”
A existência de protocolos constitui-se como uma estratégia para
estabelecer uma uniformização que privilegie uma adequada operacionalização
do processo de trabalho na Odontologia (MELLO, 2008), otimizando a
qualidade na atenção odontológica ao paciente. Em alguns municípios
brasileiros, foram criados protocolos clínicos estruturados, viabilizando uma
melhor pratica clínica e segurança no contexto escolar, destacando-se os
seguintes municípios: citando alguns temos Londrina/PR, Florianópolis/SC.
Curitiba/PR, Ribeirão Preto/SP, entre outros.
Cada município deve, em conjunto com os trabalhadores, definir os
protocolos mais adequados sob a ótica da intervenção multiprofissional,
legitimando a inserção de todos os profissionais. (BRASIL, 2006).
Na mesma medida, as ações e serviços devem resultar de um adequado
conhecimento da realidade de saúde de cada localidade para, a partir disso,
construir uma prática efetivamente resolutiva. É imprescindível, em cada
território, aproximar-se das pessoas e tentar conhecê-las. (BRASIL, 2004).
Os dados permitiram observar que a execução do Programa Saúde
Bucal ocorre de forma pulverizada, ou seja, em algumas escolas são realizadas
com efetividade e em outras não. Como explicação para esse fato foram
elencados por E3 vários fatores como a “falta de disponibilidade de
profissionais de saúde bucal”; ‘um bom projeto, [...] condicionando, uma certa
obrigatoriedade, regulamentada que seja”; “poucas faculdades têm enfoque em
promoção e prevenção” “muitos profissionais acostumados a trabalhar única e
exclusivamente no consultório”; “carga horária reduzida” e inexistência de
“trabalho em equipe”. Este participante considera que a atuação dos CD’s tem
84
a ver com “a formação, com a constituição histórica da odontologia, da
formação do odontólogo, com perfis”.
A formação do cirurgião dentista é pautada na prática liberal e nas ações
clínicas individuais. A mudança desse paradigma está acontecendo com a
inserção do CD no serviço público. Mas, o que deve ser considerado é a
necessidade de construção de referenciais para o atendimento de grupos
populacionais. Assim, conforme preconizado na administração pública, é
imprescindível que se tenha uma definição das atividades que o profissional
deverá realizar (princípio da motivação). O município de Itajaí não tem
programas/protocolos ou até mesmo linhas de ação definidas para a
Odontologia e, por isso não tem referenciais para obter dos profissionais a
realização de atividades educativas. Citando o estatístico e professor William
Edwards Dening (1900- 1993) “ Não se gerencia o que não se mede, não se
mede o que não se define, não se define o que não se entende, não há
sucesso no que não se gerencia”
Frazão e Narvai, já em 1996 consideravam que, de fato, a formação de
cirurgiões-dentistas oferecida na maioria das faculdades não prevê sua
capacitação para compreender, em bases científicas, a variedade de aspectos
do comportamento humano e social, e de outro, a natureza e os fatores que
influenciam o processo educativo e a mudança de comportamento. Afirmavam,
já naquela década, que a prática do educador apresenta maior probabilidade
de alcançar resultados positivos quando concebe a educação como
socialização de conhecimentos e práticas (FRAZÂO e NARVAI, 1996)
Entre as razões elencadas para a não realização das atividades em
saúde bucal nas escolas foi citado que muitos profissionais estão acostumados
a trabalhar, única e exclusivamente, no consultório. Ora, tal fato deve-se a
determinações execradas desde os primórdios da profissão que buscam
maximizar a hora clínica do CD para otimizar a assistência. Até mesmo as
Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (2004), compreendida como
“referência conceitual para o processo de se fazer o modelo de atenção”
preconiza que 75% a 85% das horas contratadas devem ser dedicadas à
assistência. Cabendo ao CD a responsabilidade de planejar, supervisionar e
avaliar as outras atividades nos 15% a 25% do tempo restante. As atividades
85
educativas e preventivas, ao nível coletivo devem ser executadas
preferencialmente pelo pessoal auxiliar. (BRASIL, 2004).
Cabe aqui lembrar que, no município em estudo, somente as ESB’s tem
pessoal auxiliar (algumas) e, portanto, os CD’s atuam nas Unidades de Saúde
sem pessoal auxiliar. Lazeris et al (2007), em estudo que avaliou recursos
humanos em odontologia no município de Itajaí/SC afirma que os profissionais
se considerarem aptos a trabalhar com pessoal auxiliar. A ausência dos
profissionais auxiliares interfere nas condições de trabalho, resultando na
queda da qualidade dos serviços ofertados e na produtividade, além de permitir
o desenvolvimento de doenças de caráter ocupacional.
Os CD’s estão resolvendo “a necessidade que motivou a procura da
assistência evitando o agravamento do quadro [...] e outras sequelas” e
garantindo “o atendimento de urgência na atenção básica”. Como os processos
de trabalho não são discutidos e pactuados entre a coordenação de saúde
bucal e os profissionais, a dignidade do trabalho e a qualidade dos serviços
prestados não estão satisfazendo as demandas de ações educativas e
preventivas, permanecendo um modelo de atenção centrado na doença e
baseado no atendimento a quem procura.
Mas, E4 considera que há “um novo olhar das instituições de ensino
para a questão de formação”, mais apurado e que “este é um momento de
transição”, que não se faz da noite para o dia, por ser um processo. E3
considera que as ações em saúde bucal deveriam ser realizadas por
profissionais da odontologia e não por profissionais da educação. Considera
que se tivéssemos mais técnicos em saúde bucal ou mesmo que houvesse um
“grupo de dentistas que se dispusessem a isso, em determinado momento do
semestre ou do ano e fossem abranger essa população” de escolares, essas
ações teriam maior efetividade. Tanto E3 como E4 consideram que a inserção
de novas Equipes de Saúde Bucal trará maior resolutividade e cobertura para
as escolas.
A escola é o espaço socialmente reconhecido para desenvolver o ato
pedagógico. Complementar à missão da família, contribui na construção de
valores pessoais e dos significados atribuídos a objetos e situações, entre eles
a saúde. Este tema deve ser gerador, podendo as diferentes disciplinas
articular seus conteúdos programáticos com as condições de vida da
86
população, possibilitando a reconstrução do conceito de saúde. Para que isso
ocorra é fundamental que o poder público municipal assuma seu papel de
gestor, articulando as diferentes estratégias implementadas e construindo
políticas públicas saudáveis intersetoriais. (AERST et al., 2004). As ações
setoriais nesses campos têm mútuas repercussões e, assim sendo, a
construção de políticas públicas integradas é condição indispensável para
atualizar e renovar os significados fundamentais da educação e da saúde. (MS,
2006)
6.2.2 Programa Saúde na Escola – O desafio de interlocução entre os entes
federados
A afinidade entre os setores Saúde e Educação se sobressai no âmbito
das políticas públicas por estes serem alicerçados na universalização dos
direitos fundamentais dos cidadãos (SILVA e RODRIGUES, 2010).
Em 2011 o município de Itajaí aderiu ao PSE (ITAJAÍ,2013). De acordo
com o participante E4, nesse momento da adesão, a Secretaria de Saúde
designou “ um profissional [enfermeira] especialmente para trabalhar este
Programa” que fazia a interlocução com os outros setores, como ESF e ESB,
elencando as escolas. E5 relata que o Programa “estava meio parado dentro
da Secretaria de Educação”, mas com a reformulação ele havia sido ativado.
Informou, ainda, que a definição das escolas, “já veio direto do Ministério”, não
havendo a adesão de outras escolas até o momento.
Analisando a implantação do Programa Saúde na Escola no município
estudado percebemos a ausência de unidade de discurso em algumas falas
dos entrevistados. Iniciou com a indicação de profissional da saúde que
articulando com outras áreas da Secretaria de Saúde deu um escopo ao
programa. Pela fala de é possível afirmar que a escolha das escolas que fariam
parte do Programa foi definida na Saúde. Mas, outro entrevistado não
corrobora com essa afirmativa, dizendo que a definição das escolas veio do
Ministério (qual? Saúde ou educação?).
A iniciativa de incorporar o Programa Saúde na Escola pela Secretaria
de Saúde pode estar relacionada ao fato das portarias relativas à adesão
serem emitidas pelo Ministério da Saúde. (FERREIRA et al,2014). Em pesquisa
87
realizada anteriormente pela autora e colaboradores (2012), avaliando os
diplomas normativos do Programa Saúde na Escola, concluíram que a
participação da saúde e da educação não é equânime no que diz respeito a
estruturação do Programa, com maior protagonismo do Ministério da Saúde.
Na elaboração do Projeto do PSE deve constar o diagnóstico situacional
com o mapeamento da rede SUS da Atenção Básica da Saúde da Família e da
Rede de Escolas, criando os territórios de responsabilidade; as atribuições das
ESF e das Escolas em cada um dos territórios de responsabilidade; a
identificação de cada instituição de ensino atendida pelo PSE, com a definição
do professor responsável pela articulação das a ações de prevenção e
promoção da saúde na escola; e a programação das atividades do PSE.
(BRASIL,2008).
A efetivação do PSE torna indispensável que as ações de saúde na
escola sejam realizadas pelas ESF’s e a singularidade do Programa é ter sido
implementado segundo o modelo brasileiro de atenção primária a saúde.
(MENDONÇA, 2008). As ações são produzidas em territórios determinados,
entendendo o território como espaço da produção da vida, construído e
constituído coletivamente. Estimulando a criação de vínculos entre os
equipamentos públicos da saúde e da educação, a partir da participação ativa
dos sujeitos, é possível vislumbrar uma escola que forma cidadãos críticos e
informados, para agir em defesa da vida (BRASIL, 2008).
No entanto, a maioria das escolas pactuadas no município não está
inserida em territórios de cobertura do ESF. Em 2011, o município tinha 29
ESF e somente 03 ESB (ITAJAI, 2010). Esse é, talvez, o maior entrave para a
efetivação do Programa, uma vez que inviabiliza a intersetorialidade e a
articulação entre as redes públicas de educação e saúde. O depoimento de um
sujeito da pesquisa (E1) aponta que esse é um “grande nó” e que quando se
fala de território “a educação tem um território, a saúde tem outro território”,
sinalizando ausência de valores coletivos para a realização efetiva do objetivo
que deveria ser comum – saúde bucal de escolares – e ausência
responsabilidade social em ambos os setores. Mas, o entrevistado pondera que
“nada impede de avançar o território e fazer negociações”.
Relatos expressaram que há a necessidade de se estruturar para
melhorar o trabalho das equipes, organizando a saúde e educação em pólos.
88
Trabalhando nessa lógica, “você consegue trabalhar com a demanda daquele
território, consegue medir, ver as ações”.
Ter diferentes territórios de atuação da educação e da saúde resulta na
ausência de responsabilidade social. As diretrizes do programa preconizam a
territorialidade por entender que ele é construído coletivamente e é
compreendido como ambiente de produção de vida. Morés e Silveira (2013)
afirmam que os territórios são dinâmicos e variáveis, constituindo-se em áreas
de atuação, de fazer e de responsabilidade.
Estudando fatores facilitadores e restritivos ao processo de produção de
parcerias nas práticas intersetoriais para promoção de saúde na ESF de Minas
Gerais, Silva e Rodrigues (2010) perceberam que fica evidenciado que, dentro
de um território, existem várias possibilidades de articulação em rede, mas,
para que o serviço de saúde possa efetivamente construir parcerias
intersetoriais é necessário ir além da negociação de tarefas e da transferência
de responsabilidades. É essencial construir espaços comunicativos que
permitam a definição de conceitos e objetivos comuns, viabilizando, assim, o
planejamento participativo das ações que demandam contribuições de outras
entidades.
A adesão ao PSE apresentava critérios, em 2012’referentes à cobertura
de Saúde da Família, ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) e ao Programa Mais Educação que definiam a participação dos
municípios. Em 2013, a adesão foi aberta a todos os municípios e todos os
níveis de ensino passaram a fazer parte do Programa. Em abril de 2014, o
município de Itajaí fez a reafirmação da adesão novamente (ITAJAÍ, 2014)
Fazem parte do Programa em Itajaí: 51 Centros de Educação Infantil e 6
escolas da rede municipal, totalizando em torno de 9 mil alunos. E1 relata que
o critério para a escolha pela educação infantil (CEI’s) foi devido à
“aproximação maior da responsável pela saúde da criança, que participou do
processo de adesão”.
Ao elencar as unidades escolares onde anteriormente eram realizadas
atividades educativas em saúde bucal, onde a direção mostrava-se mais
receptiva a inserção de novas atividades e a participação/indicação de
responsável por programa que atuava nestes espaços mostra-se conveniente.
Essa prática evidencia a ingerência que os gestores têm sobre as diretoras das
89
escolas. Um sujeito da pesquisa afirmou que “elas vão pelo que elas têm mais
afinidade”[...] mais “identificação”, mesmo admitindo que há a necessidade de
“um movimento diferente”, mais impositivo.
A ordenação do PSE nas esferas municipais e estaduais acontece por
meio de Grupos de Trabalho Intersetoriais (GTI) composto por gestores das
Secretarias de Educação, Secretaria de Saúde, além de representantes de
outros órgãos e instituições. (BRASIL, 2009)
E2 considerou que em 2014, a criação do GTI “foi um avanço muito
grande para nosso município”. Esse grupo está formulando um documento que
será levado a Câmara de Vereadores para que o PSE se torne um programa
de governo com todas as prerrogativas legais que advenham dessa
oficialização.
Questionando sobre a composição do GTI municipal, E5 informou que
além da Secretaria de Saúde e de Educação também participam do PSE, como
sujeitos institucionais, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Secretaria da
Criança e do Adolescente, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Instituto
Cenecista Fayal de Ensino Superior (IFES), Sociedade Educacional de Santa
Catarina (SOSIESC), Conselho Tutelar, Gerência de Saúde e Gerência de
Educação de Santa Catarina.
Junqueira (2000) observa que a ação intersetorial surge como uma nova
possibilidade para resolver os problemas que incidem sobre uma população em
um determinado território. Articulando pessoas e instituições que se
comprometem a superar de maneira integrada os problemas sociais e
compartilham objetivos que orientam sua ação, a intersetorialidade constitui
uma nova maneira de planejar, executar e controlar a prestação de serviços.
Por ser uma nova forma de atuar deve acarretar mudanças nas práticas e na
cultura das organizações gestoras das políticas sociais.
Na perspectiva dos relatos analisados, o que parece posto é a
necessidade de os sujeitos institucionais – Saúde e Educação – construírem
uma cultura política suficientemente potente para alavancar as ações tão
necessárias à materialização do PSE: ações intersetoriais.
Fala recorrente entre os entrevistados refere-se à falta de apoio do
Estado e dos Ministérios para que os municípios possam, de fato, concretizar o
programa intersetorial. Esta percepção sobre a realidade de outros municípios
90
foi gerada em contatos anteriores com demais realidades regionais. Segundo
diplomas normativos do PSE, o GTI- Estadual tem como responsabilidade
apoiar os gestores municipais na articulação, planejamento, implementação de
ações; formular propostas de educação permanente e formação continuada
dos profissionais, identificar experiências exitosas e promover intercambio das
tecnologias produzidas entre os municípios do PSE, em parceria com o GTI–
Federal.
Na prática, de acordo com E5 “o Estado vai a treinamentos em Brasília,
mas não chama os municípios para fazer o repasse”. Ainda de acordo com
este depoimento, desde 2013, os responsáveis pelo PSE no município de Itajaí
só receberam uma formação superficial, e que
“O que fazemos é por leitura do próprio grupo
[...] nem se sabe se essas interpretações são
corretas ou errôneas [...] seguimos ali o que são
metas [...] estamos caminhando sozinhos [...] há
uma distância do Estado de não nos dar
informação...” (E5).
As incertezas sobre o Programa não param no conteúdo exposto acima.
Interagindo com municípios da região, entrevistados mencionaram que as
dúvidas em seus territórios de atuação são as mesmas e persistem, pois não
há tampouco uma reunião ou encontros para dirimir dúvidas com as outras
esferas governamentais. E5 conclui que “é um programa de Ministério, mas
não há um acompanhamento”.
Esta realidade incita questionamentos: até que ponto políticas públicas e
programas instituídos em nível federal, têm resultado em ações concretas para
a sociedade? Em que medida o Estado brasileiro tem feito valer a conquista
constitucional do direito à saúde (bucal) com tais implementações? Na
ausência de conhecimento detalhado e rigoroso do modus operandi, por parte
dos municípios; de sujeitos institucionais comprometidos com a concretização
da política e/ou programa, de diálogo entre os atores sociais, e de
acompanhamento sistemático, como garantir o direito conquistado?
A ação intersetorial no Programa Saúde na Escola, entre a saúde, a
educação e a comunidade poderia ser construído para a realidade local e
91
gerido no âmbito de atuação das equipes de saúde da família. A negociação e
pactuação advindas da análise daquele território subsidiariam ações de
mudança das práticas de atenção, educação, gestão, organização dos serviços
e processos de trabalho. Essa “contaminação positiva” dos grupos de atuação
daria um novo significado às atividades desenvolvidas, com mais
reconhecimento e valorização sobre o que é feito. E esse discurso fortalecido
possibilitaria trocas e reflexões, intensificando as comunicações e viabilizando
a construção de um projeto gerido para o município.
Merece destaque a constatação na fala dos entrevistados de que o PSE
se apresenta como um programa “de Ministério”, com uma “distância do
Estado” [SC], onde o município faz “uma leitura” e “segue metas”.
A Constituição Federal de 1988, no ordenamento jurídico-constitucional
brasileiro prevê como forma de Estado a federação formada pela união
indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Estes entes
federados apresentam entre os pressupostos essenciais, a capacidade de
autonomia política, legislativa, administrativa, financeira e, principalmente, com
poder constituinte decorrente. (MAGALHÃES e SOUZA,2011). Os mecanismos
de coordenação e cooperação intergovernamental tornam-se indispensáveis
para a efetiva implementação das políticas públicas. Uma das formas de
coordenação resulta da realização de acordos intergovernamentais para a
aplicação de programas e financiamentos conjuntos, que se traduz no
federalismo cooperativo. Não excluindo os conflitos inerentes as atividades
entre os entes federados, possibilitam a adoção de ações coordenadas e
socialmente efetivas.
Com o intuito de cooperação técnica entre os gestores, caracterizada
pela ação conjunta entre as esferas de governo, buscando soluções solidárias,
de modo a reduzir iniquidades sócio regionais e garantir o acesso da população
à saúde, foi inserida na Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
(SGEP) do Ministério da Saúde, a Coordenação-Geral de Cooperação
Interfederativa – CGCI. A este compete: promover o aperfeiçoamento da
capacidade da gestão interfederativa, articulando e integrando os processos e
práticas de cooperação entre os entes federados; cooperar na organização de
redes interfederativas, fortalecendo o processo de regionalização; identificar,
apoiar e divulgar as experiências inovadoras no âmbito da gestão do SUS.
92
(BRASIL, 2013). Como relatado por um dos entrevistados, na prática essa
cooperação não ocorre. Aos municípios, loco de realização das políticas
públicas, resta o abandono.
Analisando os documentos oficiais que regulamentam o PSE, Dias et al
(2014), verificaram que os documentos são dirigidos aos gestores e
profissionais envolvidos no programa apresentando métodos, sugestões e
fluxos em âmbito nacional e consideram desafiadoras as propostas
apresentadas a quem as executa. De onde se pode concluir que aos gestores
do programa no município, resta um “fazer acontecer”, a partir do que
considera ser o “que deve ser feito”. O acesso a experiências inovadoras e a
articulação entre os entes federados não está acontecendo. Os gestores
relatam que há dificuldade de acesso aos cadernos temáticos, cursos de
educação a distância e outros materiais indicados para a efetivação das ações.
A página eletrônica do Programa está constantemente desatualizada, e muitas
informações chegam somente após o esgotamento dos prazos.
Mas, o modo vigente de formular políticas centrada numa hierarquia
piramidal, tendo no vértice a gestão federal, seguida da gestão estadual,
gestão municipal, gestão local, gestão do serviço, e na base tendo as equipes
no cotidiano do trabalho (PINTO e FERLA, 2015) não possibilita o
enfrentamento dos problemas de implantação do Programa. Estes autores,
analisando a formulação e implementação de políticas como pedagogias para a
gestão, afirmam que as políticas que tratam dos modos de fazer e sentidos
micropolíticas das ações, necessariamente precisam estar articulados às
políticas que estruturam e organizam as redes de serviços. Afirmam que as
políticas precisam “transversalizar”, transformando no processo e ampliando a
potência das ações combinadas.
A implementação do SUS revelou esforços de fortalecer uma política
nacional em um cenário federativo e democrático. (VIANA; MACHADO, 2009)
Para France (2001), citado neste artigo, o desafio da construção de um sistema
nacional de saúde em um país federativo é refletir a heterogeneidade das
necessidades regionais e, ao mesmo tempo, reduzir as desigualdades para
concretizar a cidadania nacional. No modelo de Estado que temos, o governo
federal mantém a capacidade decisória, na formulação de programas e
políticas, de recursos de regulação e financiamento das políticas públicas.
93
A descentralização, uma das ideias fortes da reforma sanitária, impõe
uma necessidade de gestores locais informados e conscientes, de uma gestão
que busque soluções e parcerias. (MORETTI et al., 2010) A capacidade de
gestão do nível local para assumir e conduzir com responsabilidade políticas
sociais se constitui em uma das variáveis determinantes para a conformação
que a descentralização assume em cada região. (LEVCOVITZ et al.,2001)
O Programa Saúde na Escola traz em suas diretrizes a integralidade,
tratando a saúde e educação integrais como parte de uma formação ampla
para a cidadania. A integralidade, como conceituada por Pinheiro (2009), ”uma
cidadania do cuidado se dá pelo modo de atuar democrático, do saber fazer
integrado, em um cuidar que é mais alicerçado numa relação de compromisso
ético-político de sinceridade, responsabilidade e confiança entre sujeitos, reais,
concretos e portadores de projetos de felicidade”.
6.2.3Equipe de Saúde Bucal – O desafio de efetivar o Programa Saúde na
Escola
A necessidade de ampliar a atenção em saúde bucal levou o Ministério
da Saúde, em 2000, a inserir no Programa Saúde da Família as Equipes da
Saúde Bucal (ESB). Por meio de incentivos financeiros e da contratação de
cirurgião dentista, atendente de consultório dentário e técnico de higiene
dentária estruturou-se as Equipes de Saúde Bucal. (BRASIL, 200?)
Em Itajaí, de acordo com relato de E4 a primeira equipe de saúde bucal
iniciou as atividades “em 2005” afirmando que a odontologia “ganhou outro
contorno [...] mais corpo”. Haviam três ESB’s, uma quarta equipe em 2007 e,
montando de duas em duas, até 2014 completar oito ESB’s.
Um dos entrevistados (E1) argumenta que “para que o processo avance”
há a necessidade que “adotem como metodologia a estratégia” na saúde bucal.
Informou que as construções de unidades de saúde que estão sendo
realizadas já estão projetando “com dois consultórios, para que proporcione a
implantação das ESB’s”.
Mais comedido, outro entrevistado (E4) aponta que a odontologia no
município está num momento de transição do modelo tradicional para ESB.
Afirma que “não tem como fazer isso de uma forma abrupta”. E3 coloca que “é
94
um caminho sem volta” e que “os novos postos de trabalho serão de equipes
de saúde bucal”, esperando que seja “mais resolutivo e faça uma maior
cobertura. ” Relata que, no momento está “fazendo de tudo para colocar mais
duas ESB’s”. E encerra o argumento, de mãos postas, como em suplica: “Se
Deus quiser. ”
Cabe ressaltar que, no momento de finalização desta dissertação, o
município conta com 50 Estratégias da Saúde da Família e 08 ESB’s. Estas
com cobertura de aproximadamente 16% da população.
Em 2014 a cobertura populacional das ESB no Brasil era de 38%, mas
os impactos dessa inclusão não são avaliados e monitorados adequadamente
pelos municípios, como uma ferramenta importante para a qualificação das
ações e do cuidado à saúde dos indivíduos, da família e da comunidade.
(ALMEIDA e GIOVANELLA, 2008). No estado de Santa Catarina, em 2004,
uma parceria da Secretaria de Estado da Saúde (SES/SC) com a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), foi construído um modelo de avaliação, o
Projeto de Consolidação do Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica.
(COLUSSI e CALVO, 2011)
Em trabalho publicado recentemente, realizado em Pelotas/RS,
encontramos similaridades com o município de Itajaí quanto aos números, 66
CD’s e 7 ESB’s distribuídos em 45 consultórios odontológicos, e a existência
dos dois modelos de serviço. Esse estudo comparou os procedimentos
odontológicos prestados nas unidades com equipes de saúde bucal com os do
modelo tradicional de odontologia no município de Pelotas/RS, onde ambos os
modelos são mantidos nos serviços da rede básica de saúde. Constataram que
há diferenças favoráveis ao grupo ESB quando comparado ao modelo
tradicional de odontologia. O estudo mostrou que a maior razão de tratamentos
concluídos/1ªconsulta odontológica e a maior abrangência das atividades
coletivas apontam para uma melhor equidade no atendimento prestado pelas
equipes de saúde bucal. (THUROW,2015)
Solla (1998) diz que a inserção de novas equipes exige paciência,
determinação, teimosia, coragem, dinheiro, tempo, caráter, vontade política e
espírito público no grau mais elevado. Souza (2012) acrescenta que ao gestor
municipal cabe garantir a estrutura para o desenvolvimento das ações nas US,
implantar projetos de capacitação e educação permanente para as equipes,
95
monitorar e avaliar a qualidade da atenção prestada e responsabilizar-se pelo
cofinanciamento em saúde bucal.
Mas para que ocorra a inclusão das ESB torna-se necessária a
sensibilização dos gestores. Para tanto requer que tenhamos informações
fidedignas disponibilizadas nos instrumentos de gestão (relatórios de gestão,
plano municipal de saúde), programas bem elaborados, protocolos de atenção,
melhor qualidade do registro dos dados e participação nas instâncias de
controle social. Para concretizar a inserção das ESB no ESF é preciso
entendê-lo como uma estratégia para consolidação do SUS, respeitando os
princípios e a proposta de mudança no paradigma de saúde. Os gestores
locais e coordenadores de saúde bucal do município permanecem fortemente
focados na preocupação com a produção clínica ambulatorial em detrimento do
trabalho educativo que contribui para o empoderamento dos sujeitos coletivos,
tornando-os capazes de autogerirem seus processos de saúde-doença, sua
vida.
As oito ESB do município de Itajaí realizaram reuniões mensais em
2014. Essas reuniões tinham um calendário anual definido, em espaço
agendado para tal, com pauta de acordo com as necessidades e dúvidas e
elaboração de ata. Considerada o espaço qualificado para a troca de
informações e experiências e orientações. Com a possibilidade de ter outras
equipes em futuro próximo, a partir destas reuniões propunham estruturar o
serviço de atenção em saúde bucal. Essa demanda era justificada pois, de
acordo com a fala dos CD, muitos tiveram que ser “autodidatas ou apoiar-se
uns nos outros para realizar as atividades” inerentes a estratégia, pois não foi
realizado no município nenhum curso introdutório para as ESB. A coesão do
grupo pode ser percebida quando propuseram dar uma marca ao grupo criando
um logo. A partir de sugestões dos integrantes do grupo, tendo como base o
logo do Ministério da Saúde, formatou-se uma marca para ser utilizada em
camisetas e materiais de promoção de eventos.
Analisando a forma como vem se dando a atuação de cirurgiões-
dentistas no PSF do Rio Grande do Norte e mapeando as atividades
desenvolvidas, Araújo e Dimenstein (2006) perceberam que o dentista que
trabalha na ESF vê-se frequentemente diante de muitos desafios, sentindo-se,
em alguns momentos, inseguro e despreparado para exercer as suas
96
atividades. Resultante da educação recebida, voltada para as questões
biológicas, ações curativas e técnicas, com pouca ênfase para os fatores
socioeconômicos e psicológicos no processo saúde-doença e para o
desenvolvimento de atividades de promoção, manutenção e recuperação da
saúde. Apontam que há necessidade de motivá-los a refletir e redirecionar as
suas práticas, tendo como medida inicial o investimento e estímulo à educação
permanente e um monitoramento e avaliação das ações por eles
desenvolvidas. Conforme preconizado pelo Ministério da Saúde uma sólida
política de educação permanente será capaz de produzir profissionais com
habilidades e competências que lhe permitam compreender e atuar no SUS,
com competência técnica, espírito crítico e compromisso político. (BRASIL,
2006). Essa motivação e comprometimento são encontrados nos profissionais
que atuam nas ESB’s de Itajaí. Falta somente a gestão reconhecer e
disponibilizar a educação continuada e espaços para a construção de ações
direcionadas com especificidade para a população itajaiense.
Em uma das reuniões os dentistas fizeram uma rodada de apresentação
e troca de informações sobre as atividades executadas por cada equipe de
saúde bucal. Assim, podemos perceber que as equipes realizam ações
educativas através de palestras para alunos e professores nas escolas,
afirmando ter boa aceitação e colaboração. Para realização das atividades
preventivas (revelação de placa, escovação supervisionada, aplicação tópica
de flúor) contam com a participação de ACD/ TSB e alunos da Odontologia da
UNIVALI. Os levantamentos epidemiológicos são feitos com o intuito de
planejar o encaminhamento dos alunos para atendimento na Unidade de
Saúde, agendados previamente pelos pais. Vários tem grupos de gestantes,
tabagismo, atuam na puericultura, capacitação das Agentes Comunitárias de
Saúde, fazem visitas domiciliares e participam de eventos nas comunidades.
Para Thurow (2015) é característica da ESB a sistematização das
práticas coletivas simultaneamente às práticas clínicas, visando à prevenção
de doenças bucais. A escovação dental supervisionada, com dentifrício
fluoretado e/ou aplicação tópica de flúor é um indicador que permiti estimar o
acesso ao flúor tópico e consolida o hábito da escovação. Essas ações
contribuem para a redução da incidência das doenças bucais da população
geral.
97
A participação das ESB’s de Itajaí nas reuniões periódicas da ESF tem
possibilitado a construção da interdisciplinaridade. É um desafio no processo
de trabalho em equipe, pois afronta valores, lugares e poderes consolidados
pelas práticas anteriores. Esse interagir com os profissionais de outras áreas
possibilita ampliar e superar a fragmentação do conhecimento humano
buscando uma visão que dê conta da complexa dimensão do processo saúde-
doença. Dessa forma viabiliza o aumento de cobertura, de efetividade na
resposta às demandas da população e de alcance de medidas de caráter
coletivo, além das relações com os usuários e a gestão, implicando uma nova
forma de se produzir o cuidado em saúde bucal. Supera a noção de consulta,
entrando o cuidado como nova dimensão da ação.
A Política Nacional de Saúde Bucal diz que com a intersetorialidade
adotada no processo de trabalho, as ações de promoção de saúde são mais
efetivas se outras instituições que influem na saúde humana estiverem
envolvidas. Campos et al (2004) em artigo que discute a promoção da saúde
como estratégia para o enfrentamento dos problemas sanitários considera que
a intersetorialidade implica a existência de algum grau de abertura em cada
setor envolvido para dialogar, estabelecendo vínculos de corresponsabilidade e
cogestão pela melhoria da qualidade de vida da população.
Sobre a ações de intersetorialidade entre saúde e educação no
município, E1 considera que “elas estão ainda engatinhando”. Acrescenta que
outro fator que está impossibilitando o avanço do Programa Saúde na Escola é
exatamente “as poucas equipes de saúde bucal”, considerando que no
momento que aumentar a cobertura “os próprios instrumentos[...] as estruturas
vão perceber que as equipes estão lá para apoiar, [...] desenvolver ações, que
é parceira, [...]referência. Avaliando a intersetorialidade considera que
“trabalhamos de forma fragmentada, pontual”. Que a gestão “faz aquilo que
aparece, a demanda da hora [...] na nossa prática diária” Conclui dizendo que a
intersetorialidade “como metodologia, como rotina de trabalho, [...] não está no
processo de trabalho, não está estabelecida”.
As ações intersetoriais são iniciativas que contam com a interação de
órgãos pertencentes a setores sociais que executam ações características de
determinado setor de atuação pública, que produzam uma gestão transversal.
A simples cedência de espaço e tempo para a realização de atividade de um
98
dos entes, não caracteriza a intersetorialidade. Para essa é imprescindível
que haja um planejamento, execução das atividades do projeto, com
coordenação, avaliação e monitoramento. Para que tenhamos efetivado o
Programa Saúde na Escola é necessária a inclusão das ações de prevenção e
promoção de saúde na rotina das escolas. Essa garantia de institucionalização
e sustentabilidade das ações só será alcançada se, após a aproximação da
Saúde e Educação, houver a inserção desses temas no projeto político
pedagógico. A inclusão de temas transversais nas escolas, pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais visa a formação cidadã e à valorização de aspectos
culturais, sociais, ambientais e da saúde dos futuros cidadãos”(BRASIL, 1997) .
É considerada pelos educadores a oportunidade de recuperar a autenticidade
da educação, mobilizando as atitudes e os valores dos alunos, elementos
básicos para a potencialização de uma personalidade autônoma, crítica e
solidária, objetivo final de qualquer ideal pedagógico renovador. (LOPES, 2014)
De forma bem prática E1 acredita que “ se conseguir se articular” é
possível vencer os desafios pois “o conhecimento aparece, tudo se constrói” e
que “não precisa criar documento nenhum”.
Arretche (2003) concorda com Hall (1993) que afirma que “modificações
nos instrumentos não significam, contudo, modificação de paradigma, isto é, na
hierarquia de objetivos de uma política pública” É necessário amadurecer a
utilização das estruturas institucionais que temos e redesenhá-las. Conciliar os
tempos, ter o comprometimento dos atores envolvidos, ajustar os conceitos
com educação continuada consistente, um planejamento bem estruturado, com
monitoramento e avaliação certamente será o caminho para construir uma
identidade social da saúde e trabalhar de maneira compartilhada. Estreitando
laços e aproximando olhares será possível efetivar o Programa Saúde na
Escola.
99
7 CONSIDERAÇÕES DAQUILO QUE SEI....
As políticas públicas que emergem como garantia dos direitos
fundamentais dos indivíduos visam o aumento da democratização e da
sociabilidade dos indivíduos. Tem no Sistema Único de Saúde, com sua ampla
inserção transversal, a capacidade de fomentar mudanças nas práticas de
saúde. Integrando-se à educação assume o protagonismo e a responsabilidade
pela coordenação do cuidado de escolares.
O Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial entre os
Ministérios da Saúde e Educação, é realizado concomitantemente com o
Programa Saúde Bucal (PSB), no município de Itajaí/SC, que conta também
com as ações das Equipes de Saúde Bucal da Estratégia Saúde da Família.
A escola, espaço reconhecido para desenvolver o ato pedagógico,
contribui na construção de valores pessoais e dos significados atribuídos a
objetos e situações, entre eles a saúde. A inserção de assuntos de saúde
articulado nos conteúdos programáticos com as realidades do território em que
está inserida, possibilita a construção de um conceito real de saúde e
oportuniza o principal papel da escola – a produção do conhecimento.
Por ser referência, o professor tem possibilidade de gerar maior
sensibilização e conscientização dos alunos que transmitirão os conhecimentos
adquiridos aos seus familiares, amigos e a comunidade em que estão
inseridos. Estará favorecendo a formação de cidadãos autônomos, críticos,
com capacidade de controlar suas condições de saúde e qualidade de vida.
A formação do cirurgião dentista pautada na prática liberal e nas ações
clínicas individuais está passando por uma mudança de paradigma propiciada
pela a inserção do CD no serviço público.
A necessidade de construção de referenciais para o atendimento de
grupos populacionais faz com que a definição das atividades que o profissional
deverá realizar tenha linhas de ação estabelecidas através de
protocolos/programas para a Odontologia na realização de atividades
educativas, como preconizado na administração pública (princípio da
motivação). Utilizando-se indicadores preconizados pela Política Nacional de
Saúde Bucal, será possível ter o monitoramento, acompanhamento e avaliação
das políticas de saúde bucal voltada para os escolares do município. Pois,
100
como ensinou o estatístico e professor William Edwards Dening (1900- 1993) “
Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se
define o que não se entende, não há sucesso no que não se gerencia”.
Analisando a implantação do Programa Saúde na Escola no município
estudado percebemos a ausência de unidade de discurso nas falas dos
entrevistados. Como ocorre na maioria dos municípios brasileiros, foi a
Secretaria de Saúde que deu escopo ao programa, que inicialmente não teve a
adesão esperada pela Secretaria de Educação. Essa aproximação aconteceu
com a necessidade da formação do Grupo de Trabalho Intersetorial – Municipal
(GTI-M).
Apesar de preconizado quando da adesão ao PSE, o diagnóstico
situacional com o mapeamento da rede SUS da Atenção Básica da Saúde da
Família e da Rede de Escolas dos territórios, não foi realizado. Além disso, não
há definição de território de atuação comum às duas secretarias, e as escolas
pactuadas também não estão nas áreas de atuação das ESB. Esses são,
talvez, os maiores entraves para a efetivação do Programa, uma vez que
inviabiliza a intersetorialidade e a articulação entre as redes públicas de
educação e saúde resultando na ausência de responsabilidade social.
As unidades escolares elencadas já realizavam atividades educativas
em saúde bucal e a direção mostrava-se mais receptiva aos programas. Ficou
evidenciada a ingerência que os gestores da educação têm sobre as diretoras
das escolas, que trabalham no que tem mais afinidade, em detrimento do que é
necessário para a construção de referenciais que promovam uma intervenção e
transformação da realidade vivenciada pelos educandos e a comunidade na
qual a escola está inserida.
Na perspectiva dos relatos analisados, o que parece posto é a
necessidade de os sujeitos institucionais – Saúde e Educação – construírem
uma cultura política suficientemente potente para alavancar as ações tão
necessárias à materialização do PSE: ações intersetoriais.
Essas ações entre a saúde, a educação e a comunidade poderia ser
construído para a realidade local queadvindas da análise daquele território
subsidiariam ações de mudança das práticas de atenção, educação, gestão,
organização dos serviços e processos de trabalho. A irradiação dos grupos de
atuação daria um novo significado as atividades desenvolvidas, com mais
101
reconhecimento e valorização sobre o que é feito. E esse discurso fortalecido
possibilitaria trocas e reflexões, intensificando as comunicações e viabilizando
a construção de um projeto gerido para o município.
Os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e os Municípios),
preconizados no ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, devem prover
mecanismos de coordenação e cooperação intergovernamental para a efetiva
implementação das políticas públicas, possibilitando a adoção de ações
coordenadas e socialmente efetivas.Entretanto háfalta de apoio do Estado e
dos Ministérios para que os municípios possam, de fato, concretizar o
programa intersetorial. Nos diplomas normativos do PSE, o GTI- Estadual tem
como responsabilidade apoiar os gestores municipais e promover intercambio
das tecnologias produzidas entre os municípios do PSE, em parceria com o
GTI–Federal.
Na prática o que se percebe é que aos gestores do programa no
município, resta um “fazer acontecer”, a partir do que considera ser o “que deve
ser feito”. O acesso a experiências inovadoras e a articulação entre os entes
federados não está acontecendo. Os gestores relatam que há dificuldade de
acesso as informações que, muitas vezes chegam somente após o
esgotamento dos prazos. Dessa forma inviabiliza a descentralização, uma das
diretrizes do SUS, que requer que na gestão local, tenham profissionais
informados e conscientes para assumir com responsabilidade a gestão de
políticas públicas que busquem soluções e parcerias.
O Programa Saúde na Escola traz a integralidade como diretriz, onde o
saber fazer integrado propicie a formação ampla para a cidadania de sujeitos
portadores de projetos de felicidade.
Para efetivar o Programa Saúde na Escola foi instituído que as ações
em Saúde bucal sejam realizadas pelas ESB’s. No município estudado, temos
oito equipes com cobertura aproximada de dezesseis por cento da população.
Essas equipes, sentindo-se inseguros e despreparados para exercer as
suas atividades, tem buscado mecanismos para estruturar o serviço de atenção
em saúde bucal, pois há a possibilidade da inserção de outras equipes em
futuro próximo. Através de reuniões mensais buscam a educação continuada.
Não foi realizado no município nenhum curso introdutório para as ESB.
102
Os gestores locais e coordenadores de saúde bucal permanecem
fortemente focados na preocupação com a produção clínica ambulatorial em
detrimento do trabalho educativo. Mostrando desconhecer estudos que
apontam maior acesso/utilização, resolubilidade, adesão aos tratamentos
programáticos e a maior abrangência das atividades coletivas que apontam
para uma melhor equidade no atendimento prestado pelas equipes de saúde
bucal. É preciso entender a inserção das ESB na ESF como estratégia para a
consolidação do SUS. Com vontade política, garantindo a estrutura para a
realização das ações e responsabilizar-se pelo cofinanciamento em saúde
bucal.
A interdisciplinaridade das ESB com a ESF tem possibilitado ampliar e
superar a fragmentação do conhecimento humano. Sai a noção de consulta,
entra o cuidado como nova dimensão da ação.
As ações intersetoriais que produzem uma gestão transversal ainda são
um desafio. A simples cedência de espaço e tempo para a realização de
atividade de um dos entes, não caracteriza a intersetorialidade. É necessário
conciliar os tempos, ter o comprometimento dos atores envolvidos, ajustar os
conceitos com educação continuada consistente, um planejamento bem
estruturado, com monitoramento e avaliação e a inserção no projeto político
pedagógico.
Para modificar este paradigma, é necessário acima de tudo o
diagnóstico situacional com o mapeamento da rede SUS da Atenção Básica da
Saúde da Família e da Rede de Escolas unificando os territórios para
adequação ao programa e assim:
- facilitar a o estabelecimento de parcerias entre os profissionais das
áreas de saúde e educação a partir de reuniões e planejamento das ações a
serem realizadas;
- capacitação dos indivíduos que transmitirão esse conhecimento (tanto
os profissionais da saúde quanto os profissionais da educação)
- inserção de assuntos de saúde nas atividades pedagógicas.
Além disso, é preciso que cada um entenda sua posição no programa, e
busque efetivamente o objetivo de forma coletiva e resolutiva.
Amadurecer a utilização das estruturas institucionais que temos e
redesenhá-las, criando vínculos, aproximando olhares e construindo espaços
103
comunicativos: certamente será este o caminho para construir e efetivar as
ações de saúde bucal para escolares.
104
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105
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116
9 APENDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendoconvidado (a) a participar da pesquisa: ” AÇÕES DE SAÚDE
BUCAL PARA ESCOLARES EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL:
desafios da integração de sujeitos institucionais”. O objetivo desta pesquisa é
compreender o processo de integração nas modalidades de atenção em saúde
bucal no serviço público de Itajaí/SC.
A pesquisa será realizada com os responsáveis pelos programas de saúde
bucal desenvolvidos nas escolas do município, por meio de entrevistas
gravadas em áudio. As entrevistas serão realizadas no período de Março de
2015 à Abril de 2015, com a duração de aproximadamente uma hora, com o
local, dia e o horário a ser combinados entre você e a pesquisadora Joscilene
Bernhardt, tendo como orientadora a professora Rita de Cássia Gabrielli Souza
Lima.
Esclarecemos que as informações prestadas, serão analisadas e utilizadas
somente para fins científicos, sem a identificação dos participantes, ou seja, os
seus dados pessoais serão mantidos em sigilo. Os benefícios esperados com
esta pesquisa serão:
Informamos ainda, que os entrevistados não receberão qualquer pagamento
por participarem da pesquisa e que a sua participação poderá ser interrompida
a qualquer momento.
A pesquisa não traz nenhum risco à sua saúde, por se tratar de entrevista
sobre o atendimento realizado. O risco que poderá ocorrer será o
constrangimento, diante das perguntas realizadas sobre o seu trabalho junto ao
programa da qual é responsável. Caso você fique constrangido (a) com alguma
pergunta, você poderá deixar de responder a questão, ou se preferir, poderá
encerrar a entrevista, sem prejudicar a continuidade da pesquisa.
Comunicamos que ao final das entrevistas, a pesquisadora estará à disposição
dos entrevistados, para possíveis esclarecimentos sobre os temas abordados
durante a entrevista. Em caso de dúvidas sobre a sua participação na
pesquisa, entrar em contato com a pesquisadora Joscilene Bernhardt pelo
telefone: (47) 84159344 - 33440180, ou com a orientadora Rita às terças e
quartas-feiras em horário comercial no telefone (47)3341-7932.
No encerramento da pesquisa, será realizada a devolutiva dos resultados e
conclusões individualmente aos participantes, em dia e horário a ser
combinados entre os entrevistados e a pesquisadora. A devolutiva à Instituição
será feita através de carta de agradecimento, pela autorização concedida para
a realização de pesquisa, pelo incentivo para a produção de novos
conhecimentos e desenvolvimento de tecnologia de intervenção aos escolares,
117
nas ações em saúde bucal. Será entregue também a cópia da dissertação à
Instituição.
Ao aceitar fazer parte desta pesquisa, rubrique as duas folhas e assine no local
indicado, no final deste documento. As folhas serão rubricadas e assinadas
também pelas pesquisadoras.
Este documento será preenchido em duas vias. Uma via é do participante e a
outra é da pesquisadora.
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu,___________________________________________________________.
RG___________________________________________________________.
CPF___________________________________________________________
abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui
devidamente informado(a) e esclarecido(a) sobre o objetivo da pesquisa, os
procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios da
minha participação. Estou ciente que posso retirar meu consentimento a
qualquer momento.
Local e data:___________________________________________________.
Nome:________________________________________________________.
Assinatura do responsável:________________________________________.
Telefone para contato:_____________________________________________.
Pesquisadora: Odontóloga Joscilene Bernhardt
E-mail:[email protected]
Telefone: (47) 33440180
Assinatura:_____________________________________________________.
Joscilene Bernhardt
Orientadora: Prof.ª Dra. Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima
E-mail: [email protected]
Telefone: (47) 3341-7932
Assinatura:_____________________________________________________
Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima
118
10 APENDICE B
TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO
Eu, Rita de Cassia Gabrielli Souza Lima, Professora da disciplina de
Tópicos Especiais: Cinema, Saúde e Bioética, do Mestrado Profissional em
Saúde e Gestão do Trabalho concordo em orientar a aluna Joscilene Bernhardt
no decorrer do desenvolvimento da pesquisa “AÇÕES DE SAÚDE BUCAL
PARA ESCOLARES EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL: o desafio da
integração de sujeitos”, conforme projeto ora submetido à aprovação.
A orientanda está ciente das Normas para elaboração do Trabalho de
Dissertação de Mestrado, bem como, dos prazos de entrega das tarefas.
Itajaí, 30 de março de 2015
Orientadora Profª Drª Rita de Cassia Gabrielli Souza Lima
119
11 APENDICE C
TERMO DE ANUÊNCIA DE INSTITUIÇÃO PARACOLETA DE DADOS DE
PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Resolução CNS 466/2012 e
suas complementares e como esta Instituição tem condições para o
desenvolvimento do Projeto de Pesquisa intitulada “AÇÕES DE SAÚDE
BUCAL PARA ESCOLARES EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL: o
desafio da integração de sujeitos institucionais” AUTORIZO, a sua execução
pela pesquisadora JOSCILENE BERNHARDT, mestranda o Curso de Mestrado
Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da UNIVALI, sob a orientação da
ProfessoraRita de Cassia Gabrielli Souza Lima.
Nome da Instituição: Secretaria Municipal de Educação
Nome Completo do Representante
Legal:_______________________________
Cargo:___________________________________________
Assinatura:_______________________________________
Data: ___________
120
12 APENDICE D
TERMO DE ANUÊNCIA DA INSTITUIÇÃO CO-PARTICIPANTE PARA
COLETA DE DADOS DE PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Resolução 466/ 2012 e suas
complementares e como esta instituição tem condições para o
desenvolvimento do projeto de pesquisa ““AÇÕES DE SAÚDE BUCAL PARA
ESCOLARES EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL: o desafio da
integração de sujeitos institucionais”, autorizo sua execução pela pesquisadora
JOSCILENE BERNHARDT, mestranda o Curso de Mestrado Profissional em
Saúde e Gestão do Trabalho da UNIVALI, sob a orientação da Professora Rita
de Cassia Gabrielli Souza Lima.
SECRETARIA DA SAÚDE DE ITAJAÍ/SC
Secretário da Saúde
Diretora do Departamento de Atenção à Saúde
LOCAL E DATA:
121
13 APENDICE E
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Data da Entrevista
1. Identificação:
Iniciais do Nome:
Idade: ___ anos
Sexo: ( ) 1. Masculino ( ) 2. Feminino
Função que exerce no município: ____________________
Programa que é responsável: ___________________________
Tempo que atua como gestor responsável pelo programa:
Fale-me sobre o programa.
População alvo.
Critérios adotados.
Conhece outros programas relacionados a este tema.
Conhece experiências de outros locais/municípios.
Seu conceito de saúde.
Nº da entrevista