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7/17/2019 abrigaentreosdoisivans http://slidepdf.com/reader/full/abrigaentreosdoisivans 1/33  A BRIGA ENTRE OS DOIS IVANS por Nicolai Gogol Capítulo I Ivan Ivanovitch e Ivan Nikiforovitch Que bela sobrecasaca húngara tem Ivan Ivanovitch !ma aut"ntica maravilha# meus amigos E to$a guarneci$a $e gal%es Seria ca&a' $e a&ostar &or tu$o em como n(o se encontra outra igual) Re&arai um &ouco na*ueles gal%es+ sobretu$o *uan$o ele conversa com algu,m# olhai-os $e soslaio. , $e lamber os $e$os) Tenho $e renunciar a $escrev"-los. s(o velu$os# ouro# vermelhos $e /ogo Oh Senhor meu Deus# e v0s# S) Nicolau $os 1ilagres# &or*ue n(o &ossuo eu tamb,m uma sobrecasaca como a*uela2 Ivan man$ou- a /a'er muito antes $e 3gata 4e$osseievna ter &arti$o &ara 5iev sabem# a  3gata 4e$osseievna# a *ue arrancou um &e$a6o $e orelha ao nosso escriv(o com uma s0 $enta$a2 Ivan Ivanovitch , um e7celente homem E *ue casa encanta$ora &ossui um 1irgoro$ Ro$ea$a# to$a ela# &or um al&en$re a&oia$o em colunas $e carvalho# e com bancos ao longo $e to$o o al&en$re) Quan$o o calor o a&o*uenta# Ivan Ivanovitch $es&e a sobrecasaca e as cal6as# e em tra8es interiores go'a o /resco sob o seu al&en$re# $on$e &o$e ver o &9tio $a casa e a rua) Belas macieiras e &ereiras crescem mesmo $iante $as 8anelas# e *uan$o estas est(o abertas as ramagens entram &elos *uartos $entro E tu$o a&enas na &arte $a /rente $a casa Se es&reitarmos &ara o 8ar$im# *ue veremos2  Amei7as# cere8as# gin8as# legumes em bar$a# girass0is# &e&inos# ab0boras# e at, uma eira e uma /or8a) E *ue homem sim&9tico este Ivan Ivanovitch A$ora os mel%es S(o a sua &ai7(o 1al acaba $e 8antar# instala-se# em mangas $e camisa# $ebai7o $o al&en$re e or$ena a Ga&:a *ue lhe traga $ois mel%es) N(o con/ia a ningu,m o trabalho $e os talhar) ;orta-os cui$a$osamente# embrulha as sementes num &e$a6o $e &a&el# e $e&ois saboreia-os regala$a e lentamente) No /im# Ga&:a tra'-lhe# a seu &e$i$o# o tinteiro# e no embrulho $as sementes Ivan escreve com o seu &r0&rio &unho. <Este mel(o /oi comi$o a tantos $e tal)= E se o &artilhou com algum conviva# acrescenta. <com o concurso $e /ulano $e tal=) O /aleci$o 8ui' $e 1irgoro$ n(o se &o$ia /urtar a a$mirar a casa $e Ivan Ivanovitch) E# santo Deus# a*uilo , $e /acto uma bela casa O *ue mais encanta nela , a varie$a$e $e &avilh%es e al&en$res *ue a envolvem. $e longe# n(o se $istinguem sen(o telha$os *ue se sobre&%em uns aos outros como uma &ilha $e bolos /olha$os num &rato# ou um ros9rio $e cogumelos envolven$o um tronco $e 9rvore) To$os estes telha$os s(o cobertos com  8uncos+ um salgueiro# um carvalho e $uas &ereiras $escansam sobre eles as suas ramagens /ron$osas# $e entre as *uais es&reitam &ara a rua minúsculas  8anelas $e &orta$as ornamenta$as e caia$as $e branco) Que homem sim&9tico , este Ivan Ivanovitch Entre os seus conhecimentos conta-se inclusivamente o recebe$or geral $e >oltava Sem&re *ue chega $e 5horol# Doroche Tarassovitch >ou:hivotch:a n(o $ei7a $e visitar Ivan) E o arcebis&o $e 5oliber$a costuma $i'er aos seus amigos &articulares *ue# em sua o&ini(o# ningu,m melhor $o *ue Ivan Ivanovitch sabe viver e cum&rir os seus $everes $e bom crist(o)

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 A BRIGA ENTRE OS DOIS IVANSpor Nicolai Gogol

Capítulo IIvan Ivanovitch e Ivan Nikiforovitch

Que bela sobrecasaca húngara tem Ivan Ivanovitch !ma aut"nticamaravilha# meus amigos E to$a guarneci$a $e gal%es Seria ca&a' $e a&ostar &or tu$o em como n(o se encontra outra igual) Re&arai um &ouco na*uelesgal%es+ sobretu$o *uan$o ele conversa com algu,m# olhai-os $e soslaio. , $elamber os $e$os) Tenho $e renunciar a $escrev"-los. s(o velu$os# ouro#vermelhos $e /ogo Oh Senhor meu Deus# e v0s# S) Nicolau $os 1ilagres#&or*ue n(o &ossuo eu tamb,m uma sobrecasaca como a*uela2 Ivan man$ou-a /a'er muito antes $e 3gata 4e$osseievna ter &arti$o &ara 5iev sabem# a 3gata 4e$osseievna# a *ue arrancou um &e$a6o $e orelha ao nosso escriv(ocom uma s0 $enta$a2

Ivan Ivanovitch , um e7celente homem E *ue casa encanta$ora &ossuium 1irgoro$ Ro$ea$a# to$a ela# &or um al&en$re a&oia$o em colunas $ecarvalho# e com bancos ao longo $e to$o o al&en$re) Quan$o o calor oa&o*uenta# Ivan Ivanovitch $es&e a sobrecasaca e as cal6as# e em tra8esinteriores go'a o /resco sob o seu al&en$re# $on$e &o$e ver o &9tio $a casa e arua) Belas macieiras e &ereiras crescem mesmo $iante $as 8anelas# e *uan$oestas est(o abertas as ramagens entram &elos *uartos $entro E tu$o a&enasna &arte $a /rente $a casa Se es&reitarmos &ara o 8ar$im# *ue veremos2 Amei7as# cere8as# gin8as# legumes em bar$a# girass0is# &e&inos# ab0boras# eat, uma eira e uma /or8a)

E *ue homem sim&9tico este Ivan Ivanovitch A$ora os mel%es S(o a sua&ai7(o 1al acaba $e 8antar# instala-se# em mangas $e camisa# $ebai7o $oal&en$re e or$ena a Ga&:a *ue lhe traga $ois mel%es) N(o con/ia a ningu,m otrabalho $e os talhar) ;orta-os cui$a$osamente# embrulha as sementes num&e$a6o $e &a&el# e $e&ois saboreia-os regala$a e lentamente) No /im# Ga&:atra'-lhe# a seu &e$i$o# o tinteiro# e no embrulho $as sementes Ivan escrevecom o seu &r0&rio &unho. <Este mel(o /oi comi$o a tantos $e tal)= E se o&artilhou com algum conviva# acrescenta. <com o concurso $e /ulano $e tal=)

O /aleci$o 8ui' $e 1irgoro$ n(o se &o$ia /urtar a a$mirar a casa $e IvanIvanovitch) E# santo Deus# a*uilo , $e /acto uma bela casa O *ue maisencanta nela , a varie$a$e $e &avilh%es e al&en$res *ue a envolvem. $e

longe# n(o se $istinguem sen(o telha$os *ue se sobre&%em uns aos outroscomo uma &ilha $e bolos /olha$os num &rato# ou um ros9rio $e cogumelosenvolven$o um tronco $e 9rvore) To$os estes telha$os s(o cobertos com 8uncos+ um salgueiro# um carvalho e $uas &ereiras $escansam sobre eles assuas ramagens /ron$osas# $e entre as *uais es&reitam &ara a rua minúsculas 8anelas $e &orta$as ornamenta$as e caia$as $e branco)

Que homem sim&9tico , este Ivan Ivanovitch Entre os seusconhecimentos conta-se inclusivamente o recebe$or geral $e >oltava Sem&re*ue chega $e 5horol# Doroche Tarassovitch >ou:hivotch:a n(o $ei7a $e visitar Ivan) E o arcebis&o $e 5oliber$a costuma $i'er aos seus amigos &articulares*ue# em sua o&ini(o# ningu,m melhor $o *ue Ivan Ivanovitch sabe viver e

cum&rir os seus $everes $e bom crist(o)

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 Ah Deus meu# como o tem&o voa No tem&o $e *ue vos /alo 89 IvanIvanovitch era viúvo h9 mais $e $e' anos) Ivan n(o tem /ilhos# mas os $eGa&:a enchem-lhe o &9tio com as suas brinca$eiras movimenta$as e Ivan$istribui-lhes bolachas $e mel(o e *uartos $e &"ra) Ga&:a tem ? sua guar$a aschaves $as caves e $os celeiros) No entanto# as chaves $uma certa salinha e

$um co/re $o seu *uarto $e $ormir s(o guar$a$as ciosamente &or Ivan Iva-novitch# *ue n(o gosta *ue ningu,m meta o nari' nesses lugares) Ga&:a ,uma mo6oila $e /aces /rescas *ue usa# como , mo$a entre n0s# uma saiameta$e a'ul meta$e &reta# $ei7an$o ver as &ernas bem tornea$as)

E *ue bom crist(o , este Ivan Ivanovitch To$os os $omingos en/ia a suamagn@/ica sobrecasaca e vai ? igre8a) ogo ? entra$a# inclina-se &ara a $ireita e&ara a es*uer$a e vai colocar-se 8unto $o coro *ue ele acom&anha com a suabela vo' $e contrabai7o) !ma ve' acaba$o o servi6o religioso# Ivan nunca se$is&ensa $e &assar revista aos men$igos# ocu&a6(o sem $úvi$a &oucoagra$9vel a *ue ele renunciaria talve' se a sua bon$a$e n(o /osse uma virtu$enatural# es&ontnea)

 Ao $escobrir a mais es/arra&a$a e mais $,bil $e to$as as men$igas.- Bom $ia# &obre velhinha - $i'-lhe Ivan) - Don$e ,s tu2- Da al$eia# meu bom senhor# $a al$eia) C9 tr"s $ias *ue n(o como nem

bebo# os meus /ilhos# os meus &r0&rios /ilhos# me &useram /ora $e casa)- Ah &obre in/eli') E *ue vens tu a*ui /a'er2- Esten$er a m(o ? cari$a$e# meu bom senhor) Na es&eran6a $e *ue uma

alma bon$osa me $" um &ouco $e &(o)))- Cum# gostarias $e comer um bom naco $e &(o2 - &ergunta geralmente

Ivan Ivanovitch)- ;om certe'a# meu senhor Estou es/omea$a como um lobo no inverno- Cum - re&lica geralmente Ivan Ivanovitch)- E carne# tamb,m te agra$aria# &or acaso# um &e$a6o $e carne2- Se a vossa bon$a$e assim o &ermitir)))- Achas# ent(o# *ue a carne , melhor *ue o &(o2- Boca com /ome tu$o come+ n(o escolho# senhor# aceitarei tu$o o *ue a

vossa bon$a$e me *uiser $ar)E# com estas &alavras# a velha# em geral# esten$e a m(o)- >ois bem# *ue o bom Deus te aben6oe - conclui Ivan Ivanovitch) -

>or*ue /icas a@ es&eca$a a olhar &ara mim2De&ois $e $ois ou tr"s interrogat0rios $este g,nero# Ivan Ivanovitch

regressa a casa to$o im&ertiga$o# a n(o ser *uan$o vai beber um co&o a casa

$o senhor 8ui' ou $o senhor &resi$ente $a ;mara)Quem *uiser agra$ar a Ivan Ivanovitch n(o tem mais $o *ue o/erecer-lhe*ual*uer ob8ecto ou &resente9-lo com *ual*uer coisa &ara comer. s(o atitu$es*ue lhe sensibili'am o cora6(o)

Ivan Ni:i/orovitch , tamb,m um homem muito sim&9tico) A sua&ro&rie$a$e con/ina com a $e Ivan Ivanovitch) Os $ois /ormam um &ar $eamigos como nunca se viu semelhante) Antone >ro:o/ievitch >ou&o&ou'# *ueain$a ho8e ostenta manchas $e a'ul-celeste na sua casaca $ebota$a# e *ueto$os os $omingos 8anta em casa $o senhor 8ui'# este >ou&o&ou' an$avasem&re a $i'er *ue o &r0&rio $iabo em &essoa tinha uni$o ? mesma trela IvanIvanovitch e Ivan Ni:i/orovitch. on$e um estiver est9 o outro)

Ivan Ni:i/orovitch nunca teve mulher) Embora tenham &reten$i$o ocontr9rio# na$a , mais /also $o *ue essa insinua6(o) Eu# *ue o conhe6o muito

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bem# &osso a/irmar *ue ele 8amais revelou a menor velei$a$e matrimonial)Ent(o *uem es&alha esses boatos maliciosos2 Se at, houve *uem contasse*ue Ivan Ivanovitch tinha nasci$o com uma cau$a no /un$o $as costas Oabsur$o# a inconveni"ncia e a ignom@nia $esta male$ic"ncia $is&ensam-me $ea $esmentir+ os meus esclareci$os leitores sabem# sem $úvi$a alguma# *ue

a&enas certas bru7as - ali9s em número muito restrito - t"m as costasornamenta$as com uma cau$a) Al,m $isso as bru7as s(o# na sua maior &arte#$o se7o /eminino)

O gran$e a/ecto *ue ligava estes $ois amigos n(o signi/ica# $e maneiraalguma# *ue n(o houvesse $i/eren6as entre eles) Algumas com&ara6%es&ermitem avaliar $os seus res&ectivos caracteres) Ivan Ivanovitch $omina em&ro/un$i$a$e a arte $e bem-$i'er) 1eu Deus# como ele /ala bem Ao ouvi-lo#tem-se a sensa6(o $e *ue nos arranham suavemente a cabe6a ou *ue nosacariciam a &lanta $os &,s) Aban$onamo-nos e $ei7amo-nos arrastar &ela suaelo*u"ncia# $elica$a e $eliciosa como o sono $e&ois $um banho) IvanNi:i/orovitch# &elo contr9rio# &re/ere normalmente o sil"ncio) 1as se# &or acaso#

$ei7a tombar uma &alavra - ent(o# meus amigos# , certo e sabi$o *ue essa&alavra ser9 mais cortante *ue uma lmina Ivan Ivanovitch , um homem alto eseco+ $e estatura mais bai7a# Ivan Ni:i/orovitch esten$e-se em largura) Acabe6a $e Ivan Ivanovitch recor$a um nabo com a rai' em bai7o+ a $e IvanNi:i/orovitch lembra tamb,m um nabo# mas com a rai' no ar) Ivan Ivanovitch s0$orme a sesta $ebai7o $o al&en$re $e&ois $o 8antar) Ao entar$ecer# veste asobrecasaca e vai entregar a sua /arinha ao arma',m &úblico ou armar ratoeiras ?s &er$i'es) Ivan Ni:i/orovitch /ica to$o o santo $ia $eita$o sobre o&atamar $as esca$as $e entra$a# o/erecen$o o $orso# beati/icamente# ao sol#se o calor n(o , muito /orte+ nunca# &or nunca ser# ele &%e o &, na rua) Se#$urante a tar$e# lhe ocorre o ca&richo $e $ar uma vista $e olhos &ela casa# embreve regressa ? &osi6(o hori'ontal) Antigamente# ain$a ele $ava um salto at,casa $o vi'inho) Ivan Ivanovitch# $a$a a sua e7trema $elica$e'a# nunca se&ermite &erante &essoas $e boa socie$a$e a menor e7&ress(o malsoante# een/urece-se se algu,m $ei7a esca&ar um termo menos a&ro&ria$o) IvanNi:i/orovitch# &or $istrac6(o# comete ?s ve'es essa /alta) Nesses momentos#Ivan Ivanovitch levanta-se e $i'-lhe =Basta Basta Ivan Ni:i/orovitch I$e# i$e$eitar-vos ao sol# *ue sem&re , melhor $o *ue cometer semelhantessacril,gios Quan$o encontra uma mosca na so&a# Ivan Ivanovitch irrita-se#&er$e as estribeiras# atira o &rato ao ch(o e ralha em altos bra$os) IvanNi:i/orovitch a$ora os banhos. instala-se como$amente no rio# a&enas com a

cabe6a /ora $e 9gua# man$a colocar a seu la$o uma mesa com um samovar esaboreia assim# ? /resca# o seu ch9) Ivan Ivanovitch barbeia-se $uas ve'es &or semana# Ivan Ni:i/orovitch a&enas uma ve') Ivan Ivanovitch , e7tremamentecurioso. *ue ningu,m &ense *ue lhe &o$e contar uma hist0ria a&enas at, aomeio Se h9 *ual*uer coisa *ue lhe $esagra$a# $9-o a enten$er ime$iatamente)Quanto a Ivan Ni:i/orovitch# , &reciso ser-se muito arguto &ara $escobrir *uan$o est9 'anga$o ou satis/eito# *ue ele nunca $ei7a trans&arecer as suasemo6%es e reac6%es) Ivan Ivanovitch , essencialmente t@mi$o &or nature'a)Ivan Ni:i/orovitch usa umas cal6as t(o largas *ue nelas cabiam bem ? vonta$ea sua casa e o *uintal) Ivan Ivanovitch tem olhos gran$es e e7&ressivos# $a cor $o tabaco# e a boca em /orma $e acento circun/le7o+ Ivan Ni:i/orovitch tem uns

&e*ueninos olhos amarelos# escon$i$os entre sobrancelhas es&essas# as /acesarre$on$a$as# e o nari' recor$a uma amei7a bem ma$ura) Ivan Ivanovitch

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nunca o/erece tabaco sem &rimeiro &assar a l@ngua &ela tam&a $a taba*ueira#&erguntan$o $e&ois# no caso $e vos conhecer. =>osso &ermitir-me o/erecer-vos$o meu tabaco2=# ou# no caso $e n(o vos conhecer. =Embora n(o tenha ahonra $e conhecer nem o vosso nome nem a vossa &osi6(o social# &osso&ermitir-me# senhor# o/erecer-vos $o meu tabaco2= Ivan Ni:i/orovitch# &elo

contr9rio# mete-vos o tabaco logo nas m(os# $i'en$o. <Sirva-se)= Tanto IvanIvanovitch como Ivan Ni:i/orovitch $etestam igualmente as &ulgas)Nenhum $eles $ei7aria &assar ? sua &orta um bu/arinheiro 8u$eu sem lhe

com&rar eli7ires $iversos contra semelhantes &arasitas# mas# evi$entemente#s0 $e&ois $e lhe terem e7&robra$o em termos virulentos a in$igni$a$e $areligi(o 8u$aica)

 Ao /im e ao cabo# e a&esar $estas ligeiras $i/eren6as# tanto IvanIvanovitch como Ivan Ni:i/orovitch s(o $ois in$iv@$uos muito sim&9ticos)

Capítulo IIO desejo avassalador de Ivan Ivanovitch

;erta manh( $e ulho# Ivan Ivanovitch re&ousava ? sombra $o al&en$re$e sua casa) Era um $ia $e calor intenso e a atmos/era &arecia envolta emtoalhas $e /ogo) Ivan Ivanovitch 89 tinha $a$o uma volta &elos cam&os a animar os cei/eiros# a interrogar os al$e%es sobre as suas i$as e vin$as# os seusgestos e atitu$es+ $e&ois# esgota$o $e /a$iga# sentiu muito naturalmentenecessi$a$e $e se esten$er ao com&ri$o e $escansar) Nesta c0mo$a &osi6(o#Ivan Ivanovitch &ercorria com o olhar as suas terras# a cavalari6a# os celeiros#as galinhas *ue $e&enicavam no &9tio# e &ensava &ara consigo mesmo.=Senhor meu Deus# como sei avaliar bem a minha /elici$a$e C9 alguma coisa*ue eu n(o &ossua2 ;ria6(o# aguar$ente# licores# amei7as e &"ras no &omar+na horta# uma casa# arreca$a6%es# to$as as /antasias imagin9veis. couves#ervilhas e /ei8%es) O *ue , *ue me /alta2 Sim# o *ue , *ue me &o$er9 /altar2=

Esta &ergunta t(o &ro/un$a arrastou-o &ara o &a@s $os sonhos)Entretanto# o seu olhar# em busca $e ob8ectos novos# /i7ou-se no &9tio $e IvanNi:i/orovitch# $elician$o-se involuntariamente num es&ect9culo curioso) !mamulher $escarna$a an$ava a &en$urar numa cor$a velhos /atos *ue tra'ia commuito cui$a$o $e uma $as arreca$a6%es) !m uni/orme militar $e abas usa$asenvolvia com as mangas uma blusa $e broca$o+ um uni/orme civil com bras(oim&resso nos bot%es e a gola carcomi$a &elas tra6as+ um &ar $e cal6asbrancas criva$as $e n0$oas# *ue antigamente se $everiam ter a8usta$o ?s

&ernas $e Ivan Ni:i/orovitch# mas *ue &resentemente a&enas se a8ustariam aosseus $e$os+ ao la$o $estas cal6as# em breve /lutuavam outras em /orma $e F+$e&ois# a&areceu uma túnica a'ul $e cossaco# *ue Ivan Ni:i/orovitch tinha man-$a$o /a'er h9 uns vinte anos# numa altura em *ue /alava em cortar o bigo$e ealista-se na mil@cia) ;omo com&lemento $a túnica# surgiu uma es&a$a $e &ontaa/ia$a como um monumento em /lecha) A&areceram# $e&ois# as ca&as $e umaes&,cie $e /ato turco $e cor $e erva# sal&ica$o $e bot%es $e cobre $o tamanho$e uma gran$e moe$a# e entre elas se veio insinuar um colete com gal%es$oura$os e ricamente chan/ra$o) ogo $e&ois# o colete /oi coberto &or umasaia antiga# heran6a $e *ual*uer av0 muito remota# e em cu8os bolsos &o$eriacaber uma melancia) Este con8unto o/erecia a Ivan Ivanovitch um es&ect9culo

bastante $iverti$o e *ue tomava as&ectos estranhos $evi$o aos re/le7os $a lu'solar na lmina $a es&a$a# no a'ul ou ver$e $as mangas# no vermelho $um

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/orro ou num canto $um broca$o) Dir-se-ia um $esses &res,&ios *ue os /in0rios$os n0ma$as levam &elas al$eias# e $iante $os *uais /icam es&eca$os os&a&alvos# a$miran$o com inve8a o rei Cero$es coroa$o $e oiro ou Ant0nio# o&astor $e cabras# en*uanto &or $etr9s $o &e*ueno teatro ambulante geme umviolino# um Bo,mio marca com $ois $e$os o com&asso sobre os l9bios# o sol

vai $eclinan$o e o ar /rio $as noites $a !crnia $esli'a trai6oeiramente &elases&9$uas vigorosas e os seios robustos $as nossas cam&onesas)ogo a seguir# a velha saiu $a arreca$a6(o arrastan$o-se e gemen$o sob

o &eso $e uma sela arcaica# sem estribos# com col$res gastos# mas com ochabra*ue# *ue tinha si$o vermelho-berrante# mostran$o ain$a um gal(o $eouro e a&lica6%es $e cobre)

=Essa velha tonta=# $isse &ara consigo Ivan Ivanovitch# =ain$a acaba &or &r a are8ar o &r0&rio Ivan Ni:i/orovitch=

E n(o se enganava muito) ;inco minutos $e&ois# a enorme cal6a $eganga amarela $e Ivan Ni:i/orovitch alastrava &elo &9tio# ocu&an$o uma boameta$e $a sua su&er/@cie) A velha tra'ia tamb,m um gorro e uma es&ingar$a)

=Que *uerer9 isto $i'er2=# interrogou-se Ivan Ivanovitch) =Nunca vi umaes&ingar$a nas m(os $e Ivan Ni:i/orovitch) H muito estranho >ara *ue *uerer9ele uma es&ingar$a se nunca se serve $ela2 E *ue belo ob8ecto C9 *uantotem&o $ese8o com&rar uma es&ingar$a igual 1uito me agra$aria &ossuir a*uela arma !ma es&ingar$a , coisa *ue a8u$a a &assar o tem&o)=

- Ol9# 0 velhota# velhota - gritou# acenan$o com a m(o) A mulher'inha a&ro7imou-se $a sebe)- Que , *ue tra'es a@ na m(o2- ;omo v"# , uma es&ingar$a)- Que es&ingar$a , essa2- uro *ue n(o sei) Se ela /osse minha talve' eu soubesse $e *ue era

/eita# mas como &ertence ao meu &atr(o)))Ivan Ivanovitch levantou-se e *ue$ou-se $e tal maneira absorto a

e7aminar a es&ingar$a *ue se es*ueceu $e re&reen$er a velha &ela suaestú&i$a i$eia $e are8ar uma es&a$a e uma es&ingar$a)

- Tem as&ecto $e ser $e /erro - observou a mostrenga)- Cum# sim# sim# $e /erro))) >or *ue $iacho ser9 ela $e /erro2 - interrogou-

se Ivan Ivanovitch))) - E h9 muito tem&o *ue o teu &atr(o a &ossui2- >o$e muito bem ser *ue sim)- 1as *ue bela arma - continuava a monologar Ivan Ivanovitch) - Tenho $e

lha &e$ir) N(o lhe serve &ara na$a))) At, seria ca&a' $e lhe o/erecer *ual*uer 

coisa em troca)))- Di'-me c9# o teu &atr(o est9 em casa2- Sim# sem $úvi$a)- Est9 $eita$o2- Sim# sem $úvi$a)- Est9 bem# vou /alar com ele)Ivan Ivanovitch vestiu-se# escolheu um &au no$oso &ara manter em

res&eito os c(es# mais numerosos $o *ue as &essoas nas ruas $e 1irgoro$# e&s-se a caminho)

 As &ro&rie$a$es con/inavam e a ve$a6(o era /9cil $e escalar# mas a&esar $isso Ivan Ivanovitch &re/eriu ir &ela rua) De&ois $e caminhar &or esta rua# era

&reciso meter-se &or uma ruela t(o estreita *ue *uan$o aconteciaencontrarem-se nela# /rente a /rente# $uas in/eli'es carro6as /icavam

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imobili'a$as e era &reciso &u79-las /ortemente &elas ro$as traseiras &ara *ueconsentissem em recuar+ e os &e%es sa@am $ela generosamente en/eita$oscom os car$os *ue /ormavam alas ao longo $as ve$a6%es) A cocheira $e IvanIvanovitch $ava &ara um $os la$os $a rua# e &ara o outro /icava o celeiro# acocheira e o &ombal $e Ivan Ni:i/orovitch) ;hega$o ? &orta# Ivan Ivanovitch

abriu o trinco+ res&on$eu-lhe o la$rar $os c(es# mas &erante este rostoconheci$o a matilha colori$a a/astou-se ra&i$amente abanan$o a cau$a) IvanIvanovitch atravessou o &9tio sal&ica$o $e galinhas $a n$ia# aves &re$ilectas$e Ivan Ni:i/orovitch# talha$as $e melancia e $e mel(o# uma ro$a &arti$a# umarco $e tonel# um garoto su8o brincan$o na terra - um *ua$ro $os *uea&ai7onam um &intor) A sombra $as rou&as esten$i$as cobria *uase to$o o&9tio e comunicava-lhe uma certa /rescura) A velha inclinou-se $iante $e IvanIvanovitch e &ermaneceu est9tica) Diante $a casa sobressa@a&retensiosamente um &atamar coberto &or um al&en$re a&oia$o em $uascolunas $e carvalho# resguar$o &rec9rio contra o sol *ue na >e*uena Rússia#$urante esta esta6(o# n(o , &ara brinca$eiras e obriga o in/eli' &e(o a suar 

sangue e a $es/a'er-se em 9gua) Que irresist@vel ambi6(o n(o $everia im&elir Ivan Ivanovitch &ara *ue# $esobe$ecen$o ao seu &ru$ente &rinc@&io $e nuncasair $e tar$e# se arriscasse ? inclem"ncia $o sol a tal hora

;om as 8anelas $e ma$eira /echa$as# o *uarto em *ue Ivan Ivanovitch&enetrou estava submerso em &enumbra) >or um ori/@cio aberto numa $as 8anelas $e ma$eira um raio $e sol /iltrava uma lu' irisa$a e $esenhava na &a-re$e o&osta uma &aisagem em *ue se re/lectiam# inverti$os# os tectos $e 8unco#as 9rvores e as rou&as esten$i$as no &9tio) To$o o *uarto estava banha$o numbi'arro claro-escuro)

- Que Deus se8a convosco - $isse Ivan Ivanovitch)- Ora boa tar$e# Ivan Ivanovitch - res&on$eu uma vo' *ue vinha $um $os

cantos $a sala) S0 nesse momento , *ue Ivan Ivanovitch re&arou em IvanNi:i/orovitch# $eita$o no ch(o sobre um ta&ete) - Descul&e-me $e mea&resentar tal como Deus me $eitou ao mun$o)

De /acto# Ivan Ni:i/orovitch nem se*uer tinha camisa vesti$a)- N(o tem im&ortncia) Dormiu bem ho8e# Ivan Ni:i/orovitch2- 1uito bem) E o senhor# Ivan Ivanovitch2- Eu tamb,m)- Ent(o# levantou-se agora2- Se me levantei agora2 Valha-o Deus# Ivan Ni:i/orovitch ;om certe'a

*ue n(o &ensa *ue sou ca&a' $e $ormir a uma hora $estas ;heguei neste

momento $a minha her$a$e) As &lanta6%es $e trigo est(o es&l"n$i$as# simsenhor# uma maravilha) E o /eno est9 enorme# tenro e bem ver$e)- Gar&ina - gritou Ivan Ni:i/orovitch) - Serve a aguar$ente e as tortas $e

creme a Ivan Ivanovitch)- O $ia ho8e est9 lin$o)- Que o $iabo leve este lin$o $ia Tenho tanto calor *ue nem sei on$e me

hei-$e meter &ara n(o morrer as/i7ia$o)- N(o &o$e &assar sem invocar o $iabo Olhe# Ivan Ni:i/orovitch# um $ia

ain$a se h9-$e lembrar $as minhas &alavras# mas nessa altura 89 ser9 tar$e $emais. e7&iareis no outro mun$o as vossas blas/,mias)

- Em *ue o o/en$i# Ivan Ivanovitch2 N(o buli nem em seu &ai nem em sua

m(e) 4rancamente# n(o sei muito bem em *ue o &o$eria ter o/en$i$o)- >ronto# &ronto# Ivan Ni:i/orovitch)

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- uro &or Deus em como o n(o o/en$i)- H curioso# as &er$i'es ain$a n(o res&on$em ao chamari')- >ense l9 o *ue *uiser mas eu n(o o o/en$i em na$a)- 4rancamente# n(o sei &or*ue , *ue elas n(o res&on$em - continuou

Ivan Ivanovitch# /ingin$o n(o ter ouvi$o Ivan Ni:i/orovitch) - Ser9 &or n(o

estarmos ain$a na esta6(o2 1as a mim &arece-me *ue estamos e7actamentena boa esta6(o)- Acha ent(o *ue os trigos est(o bonitos2- A$mir9veis# sim&lesmente a$mir9veis)Seguiu-se um silencio)- Oi6a# Ivan Ni:i/orovitch - &erguntou Ivan Ivanovitch) - Que i$eia , a*uela

$e are8ar o vestu9rio2- Imagine *ue essa mal$ita velha *uase me $ei7ou a&o$recer os meus

magn@/icos /atos 4atos *uase novos) Or$enei-lhe *ue os are8asse) Tu$o a*uilo, $e /a'en$a /ina# /a'en$a $e &rimeira *uali$a$e) Se os man$asse voltar ain$a&o$eria us9-los)

- No meio $a*uilo tu$o h9 um ob8ecto *ue me agra$a muito# IvanNi:i/orovitch)

- O *ue ,# Ivan Ivanovitch2- Que es&ingar$a , a*uela *ue a velha &s a are8ar 8untamente com seus

/atos2))) >ermite *ue lhe o/ere6a2 - continuou# tiran$o a taba*ueira $o bolso)- N(o# obriga$o) Sirva-se# *ue eu /umo $o meu)E $i'en$o isto# Ivan Ni:i/orovitch tacteou ? sua volta at, encontrar o

tabaco)- Ent(o essa velha estú&i$a tamb,m me /oi &en$urar a es&ingar$a)))

Sabe# o 8u$eu $e SorotchintsJ &re&ara# na ver$a$e# bons tabacos) N(o sei l9 o*ue ele lhe mistura# mas $eitam um cheirinho >arece tasna) Tome# mastigueum &ouco# e vai ver *ue lembra tasna) Tome# tome# sirva-se)

- Ain$a estou a &ensar na*uela es&ingar$a# Ivan Ni:i/orovitch) Que &ensa/a'er $ela2 N(o &recisa $ela &ara na$a)

- N(o &reciso2 E se me $9 na veneta $is&arar um tiro2- Ora# valha-me Nosso Senhor# Ivan Ni:i/orovitch Quan$o , *ue vai ter 

o&ortuni$a$e $e $ar tiros2 Na hora $o 8u@'o /inal2 Nunca ouvi $i'er *ue tivessemorto uma única ave# e al,m $isso n(o /oi &ara se entregar a semelhantese7erc@cios *ue veio ao mun$o) A sua /igura , $emasia$o im&onente &ara an$ar &elos cam&os ? ca6a) N(o o &osso imaginar calcorrean$o os terrenos&antanosos) N(o# Ivan Ni:i/orovitch nasceu &ara o re&ouso# a inac6(o# a

ociosi$a$e) K;omo 89 $isse# *uan$o se tratava $e convencer algu,m# IvanIvanovitch recorria a manhas $um &itoresco &er/eito) Ah ;omo ele /alava bem1eu Deus *ue elo*u"nciaL Sim# Ivan Ni:i/orovitch , um homem $e boasmaneiras))) >o$e crer *ue o melhor *ue tinha a /a'er era $ar-me essaes&ingar$a)

- Dar-lhe a es&ingar$a2 1as a*uilo , uma es&ingar$a muito cara# comoho8e 89 se n(o encontra) 4oi um turco *ue ma ven$eu *uan$o eu an$ava a&ensar em me alistar na mil@cia) E *ueria agora *ue $e &, &ara a m(o eu lhao/erecesse 1uito obriga$o &ela i$eia# mas a es&ingar$a /a'-me muita /alta)

- 4a'-lhe /alta2 >ara *ue2- E ain$a &ergunta &ara *u" Su&onha *ue os la$r%es se lembram $e me

assaltar a casa))) Gra6as a Deus estou tran*uilo e n(o receio ningu,m) E&or*u"2 >or*ue sei *ue tenho uma es&ingar$a no arm9rio)

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- E *ue boa es&ingar$a At, tem o gatilho em&erra$o)))- Em&erra$o2 Olha a gran$e coisa 4acilmente se arran8a) Basta $eitar-lhe

0leo $e cnhamo &ara *ue a /errugem nunca mais entre com ela)- N(o h9 $úvi$a# Ivan Ni:i/orovitch# *ue tem &ouca sim&atia &or mim) N(o

me $9 nem uma única &rova $e ami'a$e)

- O *u"# Ivan Ivanovitch# eu n(o $ou nem uma única &rova $e ami'a$e2 En(o tem vergonha $e $i'er uma coisa $essas2 Ent(o# e os seus bois *ue&astam nos meus cam&os sem *ue eu nunca os tenha es&anta$o2 E a minhacharrete# *ue me &e$e em&resta$a to$as as ve'es *ue vai a >oltava# algumave' lha recusei2 E os &ati/es $esses garotos *ue saltam $o seu &9tio &ara omeu e v"m brincar com os meus c(es# alguma ve' lhes $isse uma s0 &alavra2N(o# nunca lhes $isse /osse o *ue /osse+ *ue se $ivirtam ? vonta$e# $es$e *uen(o me7am em na$a)

- Se n(o ma *uer o/erecer# tro*ue-a)- Troc9-la &or *u"2- >ela minha marr( castanha+ sabe# o melhor animal $a minha &ocilga)

Olhe *ue , uma bela marr( Garanto *ue $a*ui a um ano ela 89 tem cria6(o)- Est9 a /alar a s,rio# Ivan Ivanovitch2 Que /a6o eu com a sua marr(2 V9

&ara o $iabo com a marr(- >ronto# l9 est9 outra ve' a invocar o $iabo H um &eca$o# Ivan

Ni:i/orovitch+ garanto-lhe *ue , um &eca$o- 1as tamb,m# Ivan Ivanovitch# *ue $iabo $e i$eia essa $e me o/erecer 

uma marr( em troca $a minha es&ingar$a- Que $iabo $e i$eia2 >or*u"# Ivan Ni:i/orovitch# &or*u"2- >ois# com certe'a) Ora &ense bem. uma es&ingar$a , um ob8ecto

ultraconheci$o# en*uanto uma marr( s0 o $iabo , ca&a' $e saber o *ue isso&o$e ser) Se essa o/erta me /osse /eita &or outra &essoa era ca&a' $e a levar amal)

- Diga l9 o *ue acha $e t(o o/ensivo na minha o/erta $e uma marr()- Ora essa# &or *uem me toma2 Aceitar uma marr(# eu2- ;alma# calma >ronto# n(o insisto mais) Dei7e l9 a es&ingar$a en/erru8ar 

e a&o$recer no arm9rio# *ue eu , *ue nunca mais /alo nela)E seguiu-se novo sil"ncio)- >arece - recome6ou Ivan Ivanovitch - *ue tr"s reis $eclararam guerra ao

nosso c'ar)- Sim# >iotr 4io$orovitch /alou-me $isso) 1as *ue guerra , essa2 >or*ue

, *ue come6ou2

- >ouco o &osso esclarecer# Ivan Ni:i/orovitch) Na minha o&ini(o# essestr"s reis *uerem , *ue to$os n0s nos /a6amos turcos)- Ora os canalhas - e7clamou Ivan Ni:i/orovitch# levantan$o a cabe6a)- E ent(o o nosso c'ar $eclarou-lhes guerra) N(o $isse-lhes ele# v0s ,

*ue ten$es $e vos tornar crist(os)- E n(o lhe &arece# Ivan Ivanovitch# *ue n0s os $errotamos2- ;laro *ue $errotamos))) E ent(o# sen$o assim# Ivan Ni:i/orovitch# ain$a

n(o *uer trocar a sua es&ingar$a2- H curioso# Ivan Ivanovitch# *ue &assan$o &or homem instru@$o raciocine

como garoto)- ;alma# calma) Que Deus aben6oe a es&ingar$a Que a&o$re6a ?

vonta$e Nunca mais /alo no assunto)

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Neste momento a cria$a trou7e a re/ei6(o) Ivan Ivanovitch engoliu um&e*ueno co&o $e vinho e uma torta $e creme)

- Bem) Ivan Ni:i/orovitch# al,m $a marr( ain$a $ou $ois sacos $e aveia)De *ual*uer maneira# como este ano n(o semeou aveia# sem&re tem *ue acom&rar)

- 4rancamente# Ivan Ivanovitch# antes $e come6ar a conversar consigo# agente $evia encher bem o estmago com uma boa &rata$a $e /ei8%es) KEstaa/irma6(o n(o vinha na$a a &ro&0sito# mas Ivan Ni:i/orovitch tinha &or costume$ei7ar esca&ar muitas outras $este g,nero)L On$e , *ue 89 se viu trocar umaes&ingar$a &or $ois sacos $e aveia2 E claro *ue n(o lhe &assou &ela cabe6ao/erecer-me a sua magn@/ica sobrecasaca

- Es*uece-se# Ivan Ni:i/orovitch# *ue lhe $ou tamb,m uma marr()- !ma marr( e $ois sacos $e aveia &ela minha es&ingar$a- Acha &ouco2- >ela minha es&ingar$a2- Sim# &ela sua es&ingar$a)

- Dois sacos &ela minha es&ingar$a2- Dois sacos cheios $e aveia# se /a' /avor E ain$a a marr(# n(o es*ue6a- ;om mil raios# /i*ue l9 com o seu &orco ou com o $iabo# se &re/ere- Deci$i$amente# Ivan Ni:i/orovitch# o senhor tem uma l@ngua muito &orca

E7&iar9 no outro mun$o to$as essas blas/,mias. a sua l@ngua ser9 &ica$a comagulhas em /ogo) De&ois $e se /alar consigo# sentimos necessi$a$e $e lavar acara e as m(os# e $e nos &uri/icarmos $a cabe6a aos &,s)

- >er$(o# Ivan Ivanovitch# uma es&ingar$a , um ob8ecto $e valor# uma$istrac6(o a&ai7onante e# o *ue , mais# um belo ornamento numa sala)

- >ronto# Ivan Ni:i/orovitch - re&licou Ivan Ivanovitch# a *uem a mostar$a 89 subia ao nari') - 4i*ue l9 com a sua es&ingar$a como um burro carrega$o $erel@*uias)

- E o senhor# Ivan Ivanovitch# /ica &ara a@ a berrar como um pato bravo...Se Ivan Ni:i/orovitch n(o tivesse &ro/eri$o esta &alavra# os $ois amigos

ter-se-iam se&ara$o sem *ual*uer vest@gio $e rancor# como era h9bitoacontecer $e&ois $as suas $iscuss%es) 1as $esta ve' as coisasencaminharam-se $outra /orma)

Ivan Ivanovitch /icou vermelho $e raiva)- Ivan Ni:i/orovitch# re&ita o *ue $isse - im&s ele# levantan$o a vo')- Eu $isse *ue o senhor &arecia um &ato bravo# Ivan Ivanovitch)- E com *ue $ireito# meu caro senhor# es*uecen$o as conveni"ncias e o

res&eito $evi$os ao meu nome e ? minha categoria# se atreve a insultar-me$essa maneira2- A insult9-lo# Ivan Ivanovitch2- >ela última ve'# Ivan Ni:i/orovitch# com *ue $ireito# es*uecen$o o

res&eito mais elementar# se atreveu a chamar-me &ato bravo2- Dei7em-me rir# Ivan Ivanovitch) 9 acabou $e grasnar2Ivan Ivanovitch n(o se conteve mais. os l9bios tremiam-lhe. o acento

circun/le7o $a boca havia toma$o a /orma $um O e tinha os olhos t(o abertos*ue era $e meter me$o) Nele# eram sintomas raros e *ue $enunciavam umac0lera &ro/un$a)

- De&ois $isto# $eclaro-lhe *ue n(o mais $ese8o manter rela6%es consigo)

- Olha# a gran$e in/elici$a$e >o$e estar certo $e *ue n(o vou chorar)

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1entia) Deus bem sabe *ue ele mentia >e6o-vos *ue acre$item *ue issoo contrariava muito)

- Nunca mais volto a &r os &,s nesta casa)- Ceeee - gritou Ivan Ni:i/orovitch# *ue# /eri$o &elo $es&eito# 89 n(o sabia

o *ue /a'ia# e *ue at, conseguiu &r-se $e &,) - Ceee 0 velha 0 ra&a'

 A este chamamento a&areceram ? &orta $a sala a velha magri'ela e umhomen'ito embrulha$o numa enorme sobrecasaca)- Agarrem-me Ivan Ivanovitch e $eitem-no &ela &orta /ora- O *u"2 A mim2 !m /i$algo - &rotestou Ivan Ivanovitch num magn@/ico

im&ulso $e $igni$a$e o/en$i$a) - Ai $e *uem tentar a&ro7imar-se Re$u'o-os a&0# a voc"s $ois e ao imbecil $o vosso &atr(o) Nem os corvos encontrar(ovest@gios $e voc"s) KQuan$o estava &ossesso $uma como6(o violenta# IvanIvanovitch em&regava e7&ress%es muito en,rgicas)L

O gru&o /ormava um belo *ua$ro $e gran$es &ro&or6%es) IvanNi:i/orovitch $e &,# ao meio $a sala# em to$a a sua bele'a natural# sem omenor ornamento+ a &obre velha $e boca aberta# e com uma e7&ress(o $e es-

tu&i$e' e me$o na /ace+ Ivan Ivanovitch com o bra6o esten$i$o como umtribuno romano) Que invulgar# *ue a$mir9vel cena >ena /oi *ue o seu únicoes&ecta$or /osse a*uele boni/rate meti$o na sua intermin9vel sobrecasaca# e*ue numa in$i/eren6a &ro/un$a continuava &laci$amente a meter os $e$os nonari')

>or /im Ivan Ivanovitch &egou na gorra &ara sair)- Os meus cum&rimentos# Ivan Ni:i/orovitch) C9-$e &agar-me tu$o isto)- Saia# v9-se embora#  Ivan Ivanovitch# e nunca se atravesse no meu

caminho *ue lhe escangalho os ossos)- Olhe# Ivan Ni:i/orovitch# &ara si - re&licou Ivan Ivanovitch /a'en$o uma

/iga)E com estas &alavras# bateu a &orta# *ue se /echou gemen$o nos gon'os)

Dese8oso $e ser o último a /alar# Ivan Ni:i/orovitch ain$a a&areceu ? &orta# masIvan Ivanovitch 89 tinha atravessa$o o &9tio sem se $ignar olhar &ara tr9s)

Capítulo IIIConsequências da desavença entre Ivan Ivanovitch e Ivan Nikiforovitch

 A@ temos# &ois# $esavin$os estes $ois res&eit9veis in$iv@$uos# honra egl0ria $e 1irgoro$) E &or*u"2 &ergunto-vos eu) >or uma ninharia# &or umaestu&i$e'# &or uma &alavra) >or causa $esta ninharia os nossos $ois in-

se&ar9veis amigos n(o *uerem mais voltar a ver-se+ &or esta ninharia cortaramto$as as rela6%es At, ontem# n(o havia $ia nenhum *ue Ivan Ivanovitch e IvanNi:i/orovitch n(o man$assem saber not@cias um $o outro+ v9rias ve'es &or $ia#$o &atamar $as suas casas# eles trocavam /rases t(o amenas *ue a*ueciam aalma a *uem as escutava))) To$os os $omingos Ivan Ivanovitch# $esobrecasaca $e l(# e Ivan Ni:i/orovitch# $e 8a&ona amarelo-esver$ea$a# iam ?igre8a *uase $e bra6o $a$o) ogo *ue o olhar &enetrante e observa$or $e IvanIvanovitch $escobria *ual*uer charco ou *ual*uer imun$@cie no meio $a rua - o*ue , bastante /re*uente em 1irgoro$ - &revenia ime$iatamente IvanNi:i/orovitch. =;ui$a$o n(o &onha o &, ali &or*ue , muito $esagra$9vel)= >or seu la$o Ivan Ni:i/orovitch $ava &rovas a Ivan Ivanovitch $e uma ami'a$e

enternece$ora# e mesmo a gran$es $istncias o/erecia-lhe a taba*ueira$i'en$o. =Sirva-se E *ue bem se enten$iam os $ois amigos))) Quan$o me

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$eram a novi$a$e# /oi como se tivesse si$o atingi$o &or um raio# embora$uvi$an$o $o *ue ouvia) Oh# miseric0r$ia $ivina Ivan Ivanovitch $esavin$ocom Ivan Ni:i/orovitch Duas &essoas t(o sensatas De&ois $esta $erroca$a#na$a $e s0li$o restava neste mun$o mes*uinho)

Ivan Ivanovitch entrou em casa &erturba$@ssimo) Geralmente# o seu

&rimeiro cui$a$o era ir ? cavalari6a ver se a 8umenta tinha comi$o bem o /eno)KIvan Ivanovitch &ossui uma 8umenta cin'enta# um belo animal# &o$em crer)LDe&ois era ele &r0&rio *ue $ava $e comer aos gansos e ? garota$a) S0 $e&ois$e cum&rir estas miss%es , *ue voltava ? casa &ara se entregar ou a tornear ob8ectos em ma$eira Ktrabalho *ue ele reali'ava com a &er/ei6(o $e um artistaL#ou a &ercorrer um velho al/arr9bio# im&resso &or ubbi# Gorii e >o&ov livro $e*ue ele 89 n(o lembra o t@tulo# &or*ue Ga&:a# um belo $ia# lhe arrancou um&e$a6o $a ca&a &ara $istrair um $os garotosL# ou ain$a &ara /a'er uma sesta$ebai7o $o al&en$re) 1as na*uele $ia# em ve' $e se entregar ?s suasocu&a6%es /avoritas# come6ou &or ralhar a Ga&:a# a &rimeira &essoa *ueencontrou# &or an$ar a boce8ar &elos cantos# se bem *ue ela arrastasse nesse

momento &ara a co'inha um saco cheio $e /arinha+ atirou com a bengala a umgalo *ue tinha vin$o ao &atamar em busca $a sua re/ei6(o habitual+ e *uan$oum garoto# su8o e maltra&ilho# correu ao seu encontro# gritan$o. =>ai'inho#&ai'inho# $"-me um boca$o $e &(o $oce=# Ivan Ivanovitch re&eliu-o com umgesto t(o amea6a$or e com um bater $e &,s t(o en,rgico# *ue o garoto achou&ru$ente a/astar-se sem insistir no &e$i$o)

;om o &assar $as horas# no entanto# sentiu necessi$a$e $e se acalmar e$e regressar ao ramerr(o *uoti$iano) antou tar$e# e *uan$o se esten$eu$ebai7o $o al&en$re a noite come6ava 89 a cair) !ma can8a $e borrachos e $ebeterraba# muito bem co'inha$a &or Ga&:a# tinha-lhe /eito es*uecer osacontecimentos $a tar$e) ;om um &ra'er evi$ente# Ivan Ivanovitch &asseou oolhar &ela sua &ro&rie$a$e+ $e&ois# /i7an$o a $o vi'inho# &ensou. =Olha# ho8eain$a n(o /ui visitar Ivan Ni:i/orovitch+ vou l9 agora)= E &egan$o na bengala eno gorro# saiu ime$iatamente $e casa) 1as mal &s os &,s na rua recor$ou-se$a $iscuss(o com o amigo# cus&iu $e $es&re'o e arre&iou caminho) ;om IvanNi:i/orovitch &assou-se *uase o mesmo) Ivan Ivanovitch $escobriu a velha 89com um &, na ve$a6(o# no intuito $e a trans&or# *uan$o a vo' $o &atr(o aobrigou a estacar. =&Mra tr9s# &Mra tr9s na$a $isso= Ivan Ivanovitch sentiu-se embreve inva$i$o &elo t,$io# e n(o h9 $úvi$a *ue estes $ignos &ersonagens seteriam reconcilia$o no $ia seguinte se# &or in/elici$a$e# um certo acontecimenton(o se tivesse veri/ica$o em casa $e Ivan Ni:i/orovitch# e *ue veio ati6ar a

chama# *uase 89 e7tinta# $a inimi'a$e)Nessa mesma tar$e 3gata 4e$osseievna /oi visitar Ivan Ni:i/orovitch) Estasenhora n(o era nem &arente nem coma$re $e Ivan Ni:i/orovitch# e n(o se&ercebia muito bem &or*ue o visitava t(o assi$uamente# tanto mais *ue elen(o tinha gran$e &ra'er nessas visitas) A&esar $isso# ela instalava-se em casa$ele $urante $ias e $ias# ?s ve'es &or uma semana ou mais))) Tomava conta$as chaves# e reinava na casa como $ona absoluta) Se bem *ue tu$o isto$esagra$asse &ro/un$amente a Ivan Ni:i/orovitch# era sur&reen$ente ver comoele lhe obe$ecia como uma crian6a+ e mesmo *ue ele tentasse im&or-se# erasem&re 3gata 4e$osseievna *ue tinha a última &alavra)

Nunca consegui com&reen$er &or *ue artes as mulheres conseguem

levar sem&re os homens &elo bei6o+ ser9 &or*ue este n(o tem *ual*uer outrautili$a$e2 A ver$a$e , *ue 3gata 4e$osseievna conseguia trans/ormar Ivan

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Ni:i/orovitch num cor$eirinho $0cil) E# $e boa ou m9 vonta$e# o /acto , *ue elemo$erava alguns $os seus h9bitos na &resen6a $ela. &assava a tomar banhos$e sol menos $emora$os# e tomava-os em camisa e cal6(o em ve' $e o /a'er tal e *ual como a Nature'a-m(e o $eitara ao mun$o) 1as nestes as&ectos# 3gata 4e$osseievna mostrava-se muito mais acomo$at@cia) Se ele tinha /ebre#

esta $igna senhora# inimiga $as cerim0nias# /riccionava-o $os &,s ? cabe6acom vinagre e terebentina) 3gata 4e$osseievna arvorava uma touca nacabe6a# tr"s verrugas no nari'# e no cor&o uma ca&a cu8o /un$o cor $e ca/, erasuavi'a$o &or /lores amarela$as) ;omo se esse mesmo cor&o se assemelhavaa um barril# ser-vos-ia t(o $i/@cil $esven$ar a sua cintura como ver o vosso&r0&rio nari' sem o au7@lio $e um es&elho) Tinha os &,s curtos# em /orma $ealmo/a$inhas) Era intriguista# comia beterrabas co'i$as ao &e*ueno almo6o e&rague8ava na &er/ei6(o+ e tu$o isto sem *ue a sua e7&ress(o se alterasse#&rivil,gio *uase sem&re nega$o ?s &essoas $o seu se7o)

Des$e a sua chega$a# as coisas envenenaram-se mais)=E &rinci&almente# Ivan Ni:i/orovitch=# re&etia ela# =n(o /a6as as &a'es

com ele. a*uele homem s0 *uer a tua &er$i6(o+ ele , assim mesmo# tu , *uen(o o conheces=

Tantas coisas $isse esta mal$ita intriguista *ue ele nunca mais *uis ouvir /alar $e Ivan Ivanovitch)

E tu$o se trans/ormou) 1al o c(o $o vi'inho se esgueirava &ara o &9tio$esancavam-no sem &ie$a$e+ os garotos *ue se atreviam a escalar a ve$a6(obatiam em retira$a aos berros# com a camisa levanta$a e as costas cheias $osverg%es $as chicota$as+ e um $ia# a cria$a $e Ivan Ni:i/orovitch $eu umares&osta t(o inconveniente a uma &ergunta $e Ivan Ivanovitch *ue este#o/en$i$o na sua sensibili$a$e# at, cus&iu $e raiva)

=Ah=# murmurou ele# =velha $esavergonha$a Ain$a , &ior *ue o &atr(o=>ara cúmulo $as o/ensas# o e7ecr9vel vi'inho# como *ue &ara acentuar a

a/ronta recente# construiu mesmo em /rente $a casa $e Ivan Ivanovitch# 8unto ?ve$a6(o *ue se&arava as $uas &ro&rie$a$es# uma ca&oeira &ara cria6(o $e&atos) E o recinto o$ioso cresceu com uma ra&i$e' $iab0lica+ num $ia /icou&ronto) Este crime $esenca$eou a raiva $e Ivan Ivanovitch# *ue ar$ia em$ese8os $e vingan6a) A &rinc@&io $issimulou a sua raiva# a&esar $o &9tio lheinva$ir o seu terreno+ mas o cora6(o batia-lhe tanto *ue s0 com um enormees/or6o conseguia manter a*uela calma a&arente)

Desta maneira se &assou o $ia) ;hegou a noite) Ah se eu /osse &intor#como eu saberia e7&rimir o encanto $esta noite Re&resentaria 1irgoro$

a$ormeci$a sob o olhar /i7o $e inumer9veis estrelas+ no sil"ncio# *ue eusaberia tornar &al&9vel# soava o la$rar $os c(es &r07imos e $istantes+ comes&@rito intr,&i$o e her0ico# um Romeu a&ai7ona$o escalava o muro $a casa$a sua ama$a+ sob o luar# as casas brancas tornavam-se ain$a mais brancas#mais escuras as 9rvores *ue as abrigam# mais $ensa a sombra *ue essas9rvores &ro8ectam+ as /lores# a erva entor&eci$a# e7alavam um &er/ume maisca&itoso# en*uanto o coro $os grilos# esses turbulentos cavaleiros $a noite#lan6ava aos ares a sua can6(o cre&itante) Sur&reen$eria numa $estascasinhas bai7as *ual*uer bele'a $a terra# $e sobrancelha negra# $eita$a# como seio &al&itante# numa cama solit9ria# sonhan$o com bigo$es# es&oras ehussar$os# en*uanto um raio $e lua brincalh(o se $emora nas suas /aces)))

4aria a&arecer na rua branca a sombra negra $e um morcego *ue acaba $e&ousar sobre as chamin,s caia$as) 1as era im&oss@vel /a'er a&arecer Ivan

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Ivanovitch neste *ua$ro# &or tal /orma o seu rosto e7&rimia sentimentos eemo6%es t(o $iversas no momento em *ue nessa noite ele sa@a a &assos/urtivos# cautelosamente# &ara se intro$u'ir sorrateiramente no re$uto $os&atos)

Ignorantes ain$a $a 'anga# os c(es $e Ivan Ni:i/orovitch &ermitiram *ue

este velho amigo $a casa se a&ro7imasse $a ca&oeira# *ue se a&oiavacom&letamente em *uatro &,s $e carvalho) Ivan Ivanovitch entrega-se ime-$iatamente ? tare/a $e cortar o &, mais &r07imo) O ru@$o $a serra obriga-o aolhar em volta a ca$a instante# mas a se$e $e vingan6a $9-lhe coragem &ara&rosseguir) !ma ve' corta$o o &rimeiro &,# lan6a-se sobre o segun$o) Tem osolhos in8ecta$os e o me$o cega-o) Ines&era$amente# solta um grito e /icaestarreci$o# 8ulgan$o ter visto um /antasma) 1as n(o# era a&enas um &ato *uesim&aticamente esticava &ara ele o &esco6o) Enraiveci$o# Ivan Ivanovitchcos&e# recobra coragem e recome6a a tare/a) O segun$o &, come6a a ce$er# ea ca&oeira a vacilar)

Quan$o Ivan Ivanovitch acabou o terceiro &,# o cora6(o batia-lhe no &eito

com tal viol"ncia *ue teve $e interrom&er o trabalho v9rias ve'es) 1al chegaraa meio $a tare/a# o /r9gil casebre cambaleou e ruiu com estron$o# *uase n(olhe $an$o tem&o &ara $ar um salto &ara tr9s) ;om&letamente a&avora$o#saltou &or cima $a serra# correu &ara casa# trancou a &orta e $eitou-se sobre acama# inca&a' $e es&reitar &ela 8anela o *ue se &assava) >arecia-lhe *ue to$aa gente $a casa $e Ivan Ni:i/orovitch lhe vinha no encal6o. a bru7a $a velha# oseu &atr(o# o boni/rate com a sobrecasaca intermin9vel - to$os arma$os $emocas e coman$a$os &or 3gata 4e$osseievna# &rontos a $emolir-lhe a casa)

Ivan Ivanovitch &assou to$o o $ia seguinte ro@$o &ela /ebre) Sonhou *ue oseu e7ecr9vel vi'inho# &or vingan6a# $eitava /ogo ? casa+ e &or isso# or$enou aGa&:a *ue n(o $ei7asse *ue ningu,m se a&ro7imasse $a &alha seca) >or /im#$escon/ian$o $as inten6%es $e Ivan Ni:i/orovitch# resolveu anteci&ar-se ea&resentar contra ele no tribunal $a &rimeira instncia $e 1irgoro$ uma *uei7a#cu8o conteú$o se encontra no ca&@tulo seguinte)

Capítulo IVNa sala de audiências do tribunal de Mirgorod 

Que bela ci$a$e *ue , 1irgoro$ ;reio *ue n(o h9 e$i/@cio *ue lhe /alte)>ossui-os $e to$os os ti&os e /ormas# cobertos com telha$os $e to$os osg,neros. $e &alha# $e 8unco# $e ma$eira) !ma rua ? $ireita# outra ? es*uer$a# e

$e to$os os la$os bonitas ve$a6%es &or on$e tre&a o lú&ulo# $on$e &en$embilhas e &or $etr9s $as *uais se $istinguem as /lores ra$iantes $o girassol# ascores sum&tuosas $as &a&oilas# as /ormas arre$on$a$as $as melancias) Quemaravilhoso es&ect9culo Ob8ectos varia$os# camisas# saias e rou&as interioresesten$i$as ao sol mais real6am este es&ect9culo# &or*ue os habitantes $e1irgoro$# ignoran$o la$r%es e ratoneiros# e7&%em nos *uintais tu$o *uantolhes $9 na gana) Quan$o se entra na ci$a$e &elo la$o $a &ra6a# ,-se /orca$o a&arar &or um bom boca$o &ara *ue o olhar se $eleite. h9 na &ra6a um charco#um charco único no seu g,nero# um charco como nunca ningu,m viu outrosemelhante !m charco *ue inun$a *uase to$a a &ra6a Ah# *ue belo charcoOs e$i/@cios *ue o ro$eiam# casas e casinhas *ue $e longe se con/un$em com

me$as $e /eno# est(o &resos &ela bele'a $esse charco)

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>osso a/irmar sem receio $e contra$i6(o *ue o tribunal $a &rimeirainstncia leva a &alma a to$os esses e$i/@cios) >ouco me im&orta *ue se8a $ecarvalho ou $e b,tula# &or*ue a ver$a$e , *ue &ossui uma /acha$a com oito 8anelas# oito 8anelas# meus bons amigos# *ue $(o &ara a &ra6a# &ara a*uelatoalha $e 9gua $e *ue acabo $e /alar# e a *ue o &resi$ente $a ;mara gosta

$e chamar um lago De to$os os e$i/@cios $e 1irgoro$# este /oi o únicocontem&la$o com um revestimento e7terior *ue /a' lembrar o granito+ osrestantes tiveram $e se contentar com uma barrela $e cal) A esca$aria $estenobre e$i/@cio avan6a &ela &ra6a $entro# e nos $egraus , vulgar verem-segalinhas &rocuran$o a/anosamente gr(os $e trigo ou $e milho# ali $ei7a$os#n(o &ro&osita$amente mas &or es*uecimento $e litigantes im&ru$entes) O e$i-/@cio com&reen$e o tribunal e a &ris(o) O tribunal ocu&a $uas salas assea$as ecaia$as. &rimeiro uma sala $e es&era &ara os *uei7osos# $e&ois uma sala $eau$i"ncias mobila$a com uma mesa com um /riso $e $obr%es $e tinta# e sobrea *ual se encontra o =es&elho $a 8usti6a=# *uatro ca$eiras em carvalho# $ecostas altas# e ao longo $as &are$es arm9rios revesti$os $e /erro /or8a$o# tú-

mulos $a chicana $e to$o o $istrito) Sobre um $estes arm9rios $istinguia-sena*uele $ia uma bota bem engra7a$a)

 A au$i"ncia 89 $urava $es$e a manh() O 8ui'# um homem avanta8a$oembora mais magro *ue Ivan Ni:i/orovitch# $e cara bonacheirona e rou&(osebento# com o cachimbo numa $as m(os e uma ch9vena $e ch9 na outra#conversava com o seu assessor) O 8ui' tinha o nari' t(o &r07imo $a boca *ue ol9bio su&erior lhe servia $e taba*ueira on$e ele es&alhava o tabaco $estina$oa ser absorvi$o &elas /ossas nasais) Assim# &ois# conversava o 8ui' com o seuassessor) A &e*uena $istncia uma cria$a $escal6a segurava uma ban$e8aem&ilha$a $e ch9venas) No to&o $a mesa um escriv(o lia uma senten6a numtom $e vo' t(o $olente# t(o mon0tono# *ue o &r0&rio r,u se $ei7ou a$ormecer)E n(o restam $úvi$as $e *ue o 8ui' teria si$o o &rimeiro a ren$er-se ao sono seum assunto interessante o n(o mantivesse acor$a$o)

=Daria tu$o=# &erorava o 8ui'# $elician$o-se com o ch9 89 /rio# =$aria tu$o&ara saber o *ue se h9-$e /a'er &ara *ue eles cantem) C9 $ois anos tive ummelro *ue a &rinc@&io cantava maravilhosamente# e *ue $e re&ente $ei7ou $ecantar) ;ome6ou a gague8ar# a vo' /oi-se alteran$o ca$a ve' mais# &er$eu to$aa lim&i$e'# e n(o houve outro rem,$io sen(o &-lo em liber$a$e) Ora bem# acura , tu$o *uanto h9 $e mais sim&les. /a'-se uma &e*uena incis(o na guela#mais &e*uena *ue uma ervilha - mas este tratamento $eve ser /eito com umaagulha) ;onsegui saber este segre$o &or interm,$io $e a:har >ro:o/ievitch# e

se lhe interessa# vou-lhe contar como , *ue a coisa se &assou) ;heguei ? casa$ele)))=- Quer *ue leia outra# Demiane Demianovitch2 - interrom&eu o escriv(o#

*ue 89 tinha termina$o a leitura uns minutos antes)- 9 acabou2 1as t(o $e&ressa2 E eu *ue n(o ouvi na$a On$e est(o os

&a&,is2 D"-mos &ara eu assinar) O *ue , *ue vem a seguir2- O &rocesso $o cossaco o:it:o# sobre o roubo $uma vaca)- &timo) >o$e come6ar a ler))) =Ent(o cheguei a casa $ele) Se *uiser 

&osso contar como ele me recebeu) >ara a8u$ar a escorregar a vodka serviramum estur8(o /uma$o# *ue era $e lamber os bei6os N(o tem com&ara6(o= Kenesta altura o 8ui' sorriu e $eu um estalo com a l@ngua# o *ue lhe &ermitiu

ins&irar as &art@culas $e tabaco $e&osita$as na sua taba*ueira naturalL <))) coma bo$ega *ue nos /ornece o nosso $igno merceeiro) Nem &rovei o aren*ue

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&or*ue# como sabe# me /a' sem&re ar$or no estmago# mas /i' as honras aocaviar# *ue tem $e se reconhecer *ue estava sim&lesmente $elicioso))) De&oissaboreei um licor &er/uma$o com centaureia) Cavia tamb,m licor $e a6a/r(o#mas eu nunca lhe toco+ n(o h9 $úvi$a *ue , um licor e7celente mas# como to$aa gente sabe# se bem *ue a &rinc@&io abra o a&etite# acaba $e&ois &or tirar a

vonta$e $e comer)))=- Ah 1as *ue sorte ines&era$a - e7clamou subitamente o 8ui' ao ver entrar Ivan Ivanovitch)

- Que Deus este8a convosco 1uito bons $ias - $isse Ivan Ivanovitch# coma sua cortesia habitual) 1eu Deus# como ele sabia ganhar as sim&atias $e to$aa gente Nunca vi uma &essoa t(o $elica$a) E a ver$a$e , *ue sabia o *uevalia# e aceitava a consi$era6(o geral como uma homenagem *ue era $evi$aao seu m,rito)

O &r0&rio 8ui' o/ereceu uma ca$eira a Ivan Ivanovitch# sorven$o aomesmo tem&o# &elo nari'# to$o o tabaco $e reserva no l9bio# o *ue nele era umsinal in/al@vel $e &ro/un$a satis/a6(o)

- Que lhe &osso o/erecer# Ivan Ivanovitch2 - &erguntou) - Aceita umach9vena $e ch92

- N(o# muit@ssimo obriga$o - res&on$eu Ivan Ivanovitch# *ue se levantou#inclinou a cabe6a em sinal $e agra$ecimento# e voltou a sentar-se

- S0 uma chaveninha - insistiu o 8ui')- N(o# n(o se incomo$e Demiane Demianovitch) Ao &ronunciar estas &alavras# Ivan Ivanovitch levantou-se# inclinou-se e

tornou a sentar-se)- 1as , s0 uma chaveninha)- Nesse caso# se8a) S0 uma ch9vena)E Ivan Ivanovitch esten$eu a m(o &ara &egar na ch9vena)Deus Nosso Senhor# *ue &ro/un$a cor$iali$a$e a $este homem H

im&oss@vel $escrever o e/eito *ue as suas boas maneiras tinham sobre to$a agente)

- S0 mais uma ch9vena2- 1uit@ssimo obriga$o - res&on$eu Ivan Ivanovitch *ue se inclinou e

&ousou sobre a ban$e8a a ch9vena vira$a &ara bai7o)- 4a6a-me esse /avor# Ivan Ivanovitch)- >e6o-lhe muita $escul&a# mas , im&oss@vel)E ao &ronunciar estas &alavras# Ivan Ivanovitch levantou-se# inclinou-se e

tornou a sentar-se)

- Ivan Ivanovitch# beba mais uma ch9vena s0 &ara me $ar &ra'er)- N(o# muito obriga$o+ mas estou muito sensibili'a$o &ela sua insist"ncia)E# ain$a ao &ronunciar estas &alavras# Ivan Ivanovitch levantou-se#

inclinou-se e tornou a sentar-se)- Vamos l9# s0 mais uma ch9vena)Ivan Ivanovitch esten$eu o bra6o e tirou uma ch9vena $a ban$e8a);aramba ;omo este homem sabia manter a sua $igni$a$e)- Demiane Demianovitch - $isse Ivan Ivanovitch# a&0s ter engoli$o o

último golo $e ch9 -# tra'-me a*ui um assunto urgente+ venho a&resentar uma*uei7a - Ivan Ivanovitch &ousou a ch9vena e tirou $a algibeira uma /olha $e&a&el timbra$o escrito $os $ois la$os -# uma *uei7a contra o meu inimigo#

contra o meu inimigo /iga$al)- E *uem , ele2

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- Ivan Ni:i/orovitch Dovgotch:oun) Ao ouvir isto# o 8ui' *uase caiu $a ca$eira)- O *ue , *ue o senhor $isse2 - e7clamou ele# levantan$o os bra6os) -

Ivan Ivanovitch# , $e /acto o senhor *ue est9 a*ui na minha /rente2- ;omo v"# sou eu mesmo)

- Que to$os os santos $o c,u o &rote8am 1as como , *ue# $e re&ente# setornou inimigo $e Ivan Ni:i/orovitch2 1as , mesmo o senhor *ue est9 a /alar2>or /avor# re&ita o *ue $isse) N(o est9 ningu,m atr9s $e si a /alar no seu lugar2

- 1as o *ue tem isto $e e7traor$in9rio2 O$eio-o e n(o o &osso ver) 4e'-me uma a/ronta mortal# /e' um ultra8e ? minha honra)

- Valha-me a Sant@ssima Trin$a$e ;omo , *ue a minha &obre m(e&o$er9 acre$itar numa coisa $essas2 To$os os $ias# *uan$o a minha irm( e eu$iscutimos e nos 'angamos# a minha velhota $i'-nos logo. =1eus /ilhos# voc"sest(o sem&re como o c(o e o gato) Re&arem no e7em&lo $e Ivan Ivanovitch e$e Ivan Ni:i/orovitch) A*uilo , *ue s(o uns amigos= Olha os gran$es amigosBem# conte-me l9 o *ue aconteceu)

- O assunto , muito $elica$o# Demiane Demianovitch# e $i/@cil $e e7&licar)H melhor ler a minha *uei7a# a*ui est9# segure &or este la$o# *ue , melhor)

- 4a6a o /avor $e ler em vo' alta# Tarass Ti:honovitch - or$enou o 8ui'#voltan$o-se &ara o escriv(o)

Tarass Ti:honovitch &egou no &a&el e# $e&ois $e se ter assoa$o como seassoam to$os os escriv(es $e to$os os tribunais $e &rimeira instncia# isto ,#com o au7@lio $e $ois $e$os# come6ou a ler)

=Eu# abai7o assina$o# Ivan# /ilho $e Ivan >erere&en:o# /i$algo# &ro&riet9rioem 1irgoro$# a&resento a seguinte *uei7a.

=>rimeiro. A sete $e ulho $e este ano $e mil oitocentos e $e'# umin$iv@$uo cu8o com&ortamento criminoso e @m&io ultra&assa to$as as me$i$as e&rovoca a revolta geral# re/iro-me ao /i$algo Ivan# /ilho $e Ni:i/or Dovgotch:oun#/e'-me uma a/ronta mortal# *ue n(o s0 atinge a minha honra $e in$iv@$uo#como , um insulto ao meu nome e ? minha categoria social) >or outro la$o# omenciona$o /i$algo# cu8o tem&eramento violento est9 $e acor$o com o seuab8ecto e7terior# n(o , mais *ue um rece&t9culo $e &alavr%es e $e /rasesin/amantes)=

O escriv(o# *ue se *ueria assoar# /e' uma ligeira &ausa# en*uanto o 8ui'#com as m(os 8untas numa atitu$e $e $e/er"ncia# murmurava &ara consigo.=Sa/a isto , *ue , saber escrever=

 A &e$i$o $e Ivan Ivanovitch# Tarass Ti:honovitch recome6ou a ler)

=Quan$o eu acabava $e lhe /a'er uma &ro&osta amig9vel# o menciona$o/i$algo Ivan# /ilho $e Ni:i/or Dovgotch:oun# a&licou-me &ublicamente uma$enomina6(o t(o ultra8ante como ignomiosa# nomea$amente a &alavra  patobravo.

=;ontu$o# ningu,m ignora no $istrito $e 1irgoro$ *ue nunca usei nemtenho a menor inten6(o $e usar no /uturo o nome $este animal imun$o) Oregisto $e ba&tismo $a &ar0*uia $os Tr"s >rela$os# em *ue se in$ica o $ia $omeu nascimento e o meu nome $e ba&tismo# /ornece uma &rova irre/ut9vel $anobre'a $as minhas origens) >or outro la$o# um &ato bravo# como o &o$er9testemunhar to$a e *ual*uer &essoa &or muito &ouco versa$a em ci"ncias *uese8a# um &ato bravo nunca &o$eria estar inscrito num registo $e ba&tismo# visto

o $ito &ato bravo ser uma ave e n(o um homem# ver$a$e esta $uma tal evi$"n-cia *ue &ara ser aceite n(o , necess9rio ter-se &assa$o &or um semin9rio) N(o

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obstante isto# e a&esar $e ele estar &er/eitamente ao corrente $estes /actos# oabomin9vel /i$algo acima menciona$o mimoseou-me com este voc9buloin/ame no intuito e7clusivo $e me insultar mortalmente na minha *uali$a$e $ehomem e na minha &osi6(o social)

=Segun$o. O in$ecoroso# $escort"s e grosseiro /i$algo# acima

menciona$o# cometeu um grave atenta$o contra o bem $e /am@lia *ue recebiem leg@tima heran6a $e meu $e/unto &ai Ivan# /ilho $e Onissi >erere&en:o#eclesi9stico $urante a sua vi$a e actualmente $e santa e gloriosa mem0ria);om e/eito# $es&re'an$o to$as as leis# $eslocou mesmo &ara $iante $a minha&orta a ca&oeira $e &atos# na inten6(o evi$ente $e acentuar o ultra8e anterior#visto *ue a antiga ca&oeira# ain$a bastante s0li$a# ocu&ava um local muito bemescolhi$o) Ao /a'er isto# o mesmo triste in$iv@$uo &ro&unha-se unicamente/or6ar-me a &resenciar actos re&ugnantes# &ois ningu,m ignora *ue se n(o/re*uentam recintos $este g,nero# &rinci&almente *uan$o ocu&a$os &or &atos)No $ecurso $esta o&era6(o ilegal# os $ois a&oios $ianteiros $a ca&oeira inva-$iram uma &arte $o terreno *ue me transmitiu em leg@tima heran6a o meu

$e/unto &ai $e gloriosa mem0ria# Ivan# /ilho $e Onissi >erere&en:o#&ro&riamente num local a seguir ? minha arreca$a6(o e $a@ em linha recta at,o lugar on$e as cria$as costumam lavar as vasilhas)

=Terceiro. O menciona$o /i$algo# cu8o nome# &or si s0# ins&ira uma re&ulsainsu&er9vel# alimenta o tenebroso $es@gnio $e lan6ar /ogo a minha casa# o *ue, su&erabun$antemente com&rova$o &elos /actos *ue se seguem) >rimeiro.ultimamente este &,r/i$o in$iv@$uo aventura-se /re*uentemente a sair ? rua# o*ue em circunstncias normais lhe , ve$a$o &ela sua &regui6a inata eobesi$a$e ign0bil+ segun$o. a habita6(o $esse in$iv@$uo# *ue con/ina com ave$a6(o $a &ro&rie$a$e *ue me legou em leg@tima heran6a o meu $e/unto &ai$e gloriosa mem0ria# Ivan# /ilho $e Onissi >erere&en:o# a $ita habita6(o est9agora ilumina$a to$os os $ias e $urante longas horas# &rova $uma mani/estaevi$"ncia# visto *ue anteriormente a sua s0r$i$a avare'a o im&e$ia $e acen$er at, um sim&les coto $e vela)

=>or tu$o isto# e estan$o &ara to$os os e/eitos $evi$amente com&rova$o*ue o $ito /i$algo# Ivan# /ilho $e Ni:i/or Dovgotch:oun# , r,u $e numerososcrimes# como# &or e7em&lo# tentativa $e inc"n$io# insultos graves ao meu nomee estir&e# roubo $e terrenos# e# o *ue , ain$a &ior# 8un6(o re&reens@vel e&re8u$icial $o e&@teto M&ato bravoM ao meu nome $e /am@lia# venho re*uerer aVossas E7cel"ncias *ue contra o $ito &erturba$or $a or$em &ública se8a&assa$a or$em $e ca&tura# *ue se8a encarcera$o na &ris(o munici&al#

algema$o $e &,s e m(os# e con$ena$o a uma &esa$a multa com o &agamento$e custas# $anos e &re8u@'os) A&ela-se &ara o Tribunal &ara *ue se8a $a$oseguimento ime$iato a este re*uerimento# *ue /oi re$igi$o# escrito e assina$o&or mim# /i$algo e &ro&riet9rio $e 1irgoro$)

=Ivan /ilho $e Ivan >erere&en:o)=

Termina$a a leitura o 8ui' a&ro7imou-se $e Ivan Ivanovitch# &egou-lhe naaba $a sobrecasaca e /alou-lhe mais ou menos nestes termos.

- Que , *ue o senhor &reten$e com isso# Ivan Ivanovitch2 N(o chamesobre si a c0lera $ivina) 1an$e esse re*uerimento ao $iabo *ue o leve# v9

&rocurar Ivan Ni:i/orovitch# e $"-lhe um abra6o) De&ois man$e com&rar umaboa garra/a $e vinho $e Santorin ou $e Ni:o&ol# ou /a6a sim&lesmente um bom

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&onche e man$e-me chamar) Bebemos to$os 8untos# e vai ver *ue os /umos $o9lcool vos /ar(o es*uecer to$o esse assunto)

- N(o# Demiane Demianovitch - re&licou Ivan Ivanovitch na*uele tomgrave *ue lhe /icava t(o bem) - !m assunto $estes n(o se &o$e resolver amigavelmente) Dese8o-lhe muito boa tar$e) 1eus caros senhores# muito boa

tar$e acrescentou no mesmo tom grave# $irigin$o-se ?s &essoas *ue seencontravam na sala) - Es&ero *ue se8a $a$o ao meu re*uerimento a aten6(o*ue lhe , $evi$a)

E retirou-se# $ei7an$o to$os os &resentes &ro/un$amente sur&reen$i$os)O escriv(o tomou uma &ita$a $e ra&,+ o 8ui' /icou es&eca$o# &assean$o

um $e$o $istra@$o numa &o6a $e tinta *ue estava sobre a mesa# &or*ue osem&rega$os tinham $errama$o o caco $e garra/a *ue servia $e tinteiro) >or /im*uebrou o sil"ncio)

- Que , *ue o senhor $i' a isto# Doro/ei Tro&himitch2 - &erguntou ao seuassessor)

- Absolutamente na$a - res&on$eu o assessor)

- Sem&re acontece ca$a coisa neste mun$o - concluiu o 8ui')1al tinha acaba$o $e /alar# a &orta abriu-se bruscamente e &ro8ectou na

sala $e au$i"ncias a meta$e $ianteira $e Ivan Ni:i/orovitch# cu8a meta$etraseira tinha /ica$o &risioneira na sala $e es&era) O a&arecimento $e IvanNi:i/orovitch# e &rinci&almente num lugar $a*ueles# &rovocou o es&anto geral)O 8ui' $eu um grito $e sur&resa# o escriv(o interrom&eu a leitura# um $os/uncion9rios# en/ia$o numa es&,cie $e /ra*ue $e l( $a 4r@sia# &egou na canetacom os $entes# e outro a&anhou uma mosca) O velhote meio inv9li$o *ue$esem&enhava simultaneamente /un6%es $e o/icial $e $ilig"ncias e $e mo6o $ecart0rio# *ue estivera at, ent(o $e sentinela ? &orta $e entra$a# vesti$o comuma blusa su8a en/eita$a nas costas com um remen$o# e *ue tinha &assa$o otem&o a co6ar-se - at, este velhote /icou $e boca aberta e $eu uma &isa$elan(o sei a *uem)

- Ent(o , o senhor# Ivan Ni:i/orovitch Que bons ventos o tra'em2 ;omovai essa saú$e2

1as Ivan Ni:i/orovitch estava mais morto *ue vivo) Entala$o entre os $oisbatentes $a &orta# n(o &o$ia $eslocar-se nem &ara a /rente nem &ara tr9s) O 8ui' lembrou-se $e &e$ir ?s &essoas *ue &orventura estivessem na sala $ees&era# *ue viessem em seu socorro) A única &essoa *ue se encontravana*uela sala# uma velha $e bra6os $escarna$os# es/or6ou-se em v(o &or &restar au7@lio) Nesse momento# um $os /uncion9rios $o tribunal# um latag(o

$e l9bios grossos# $e costas largas# nari' achata$o e olhar turvo $e ,brio# como casaco roto nos cotovelos# a&ro7imou-se $e Ivan Ni:i/orovitch e cru'ou-lhe osbra6os como se /a' a uma crian6a+ $e&ois &iscou o olho ao velhote# *uecolocou um 8oelho no ventre $o &aciente+ e a&esar $os seus gemi$os# oses/or6os con8uga$os $os $ois homens conseguiram &ro8ect9-lo na sala $e es-&era) Abriram ime$iatamente o outro batente $a &orta) H ver$a$e *ue tanto o/uncion9rio como o velhote e7erceram nesta altura uma activi$a$e altamentemerit0ria# mas o h9lito *ue e7alavam tinha um cheiro t(o /orte *ue# $urantealgum tem&o# &arecia *ue a sala $e au$i"ncias se tinha trans/orma$o numataberna)

- N(o se magoou# Ivan Ni:i/orovitch2 Cei-$e $i'er ? minha m(e'inha *ue

lhe man$e um boca$o $e unguento mata-$ores *ue ela usa+ es/regue s0 ascostas e os rins# e ver9 *ue amanh( 89 n(o sente na$a)

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 A única res&osta $e Ivan Ni:i/orovitch# *ue estava enterra$o numaca$eira# eram uns =ahs= e =ohs= &rolonga$os) 4inalmente# com uma vo' *uemal se ouvia# &ro/eriu.

- Quer2De&ois# tiran$o $o bolso a taba*ueira# acrescentou.

- Sirva-se# se /a' /avor)- Acre$ite *ue estou muito contente $e o ver - re&licou o 8ui') - 1as/rancamente n(o consigo $escobrir a *ue $evemos o &ra'er $a sua visita)

- !m re*uerimento - balbuciou Ivan Ni:i/orovitch)- !m re*uerimento2 1as *ue es&,cie $e re*uerimento2- !ma *uei7a))) Kuma crise $e asma obrigou-o a /a'er uma longa &ausaL)))

uma *uei7a contra um &ati/e))) contra Ivan Ivanovitch >erere&en:o)- 1eu Deus Tamb,m o senhor !ma ami'a$e como era raro encontrar )))

!ma *uei7a contra um homem t(o honesto)))- Ele))) o $iabo em &essoa))) - conseguiu articular Ivan Ni:i/orovitch)O 8ui' ben'eu-se)

- Queira ler o meu re*uerimento)- Vamos l9# leia# Tarass Ti:honovitch - or$enou contraria$o ao escriv(o)

Num movimento instintivo# o nari' $o 8ui' a&ro7imou-se $o l9bio# o *ue nele$enunciava geralmente um contentamento &ro/un$o) Este acto $ein$e&en$"ncia /e' aumentar a in$igna6(o $o magistra$o# *ue# &ara &unir oim&u$ente# lim&ou com o len6o# num gesto r9&i$o# to$o o tabaco *uere&ousava sobre o l9bio)

 A&0s a &re&ara6(o &r,via habitual# e/ectua$a sem o au7@lio $e len6o# oescriv(o come6ou# no seu tom mon0tono# a leitura $o *ue se segue.

=Eu# abai7o assina$o# Ivan /ilho $e Ni:i/or Dovgotch:oun# /i$algo $e1irgoro$# a&resento a seguinte *uei7a.

=>rimeiro. Em virtu$e $o seu car9cter mal,volo e $uma mani/esta avers(ocontra mim# o &retenso /i$algo Ivan# /ilho $e Ivan >erere&en:o# n(o cessa $eme causar os mais terr@veis e monstruosos &re8u@'os) Ontem ? noite# arma$o$e macha$os# esco&ros# serras e outros utens@lios $e serralheiro# como*ual*uer gatuno vulgar# intro$u'iu-se na ca&oeira situa$a no meu &9tio# *ue ,minha &ro&rie$a$e inalien9vel# e# com as suas &r0&rias m(os# serrou-a $a/orma mais ign0bil# sem *ue eu tenha 8amais $a$o o menor &rete7to a um talacto $e ban$itismo)

=Segun$o. O menciona$o /i$algo >erere&en:o nutre o &,r/i$o $es@gnio $eatentar contra a minha e7ist"ncia) A sete $o m"s &assa$o# abrigan$o no seu

seio esse &,r/i$o $es@gnio# &reten$eu a$*uirir uma es&ingar$a *ue se encontrano meu *uarto# o/erecen$o-me em troca# com o es&@rito mes*uinho e avarento*ue o caracteri'a# v9rios ob8ectos $es&rovi$os $e *ual*uer valor# a saber# umamarr( castanha e $uas me$i$as $e aveia) Ten$o-me a&ercebi$o# a &artir $essemomento# $as suas inten6%es criminosas# /i' tu$o *uanto estava ao meualcance &ara o $issua$ir $esse &ro&0sito) 1as o menciona$o &ati/e Ivan# /ilho$e Ivan >erere&en:o# o/en$eu-me $a maneira mais grosseira &oss@vel# e&assou a votar-me $es$e ent(o um 0$io sem tr,guas) Acresce *ue omenciona$o /i$algo $e tra'er &or casa# Ivan# /ilho $e Ivan# >erere&en:o# , nareali$a$e um in$iv@$uo $e bai7a con$i6(o) A irm(# &essoa $e um maucom&ortamento not0rio# h9 uns cinco anos &s-se a an$ar com o regimento $e

ca6a$ores *ue nessa altura &ertencia ? guarni6(o $e 1irgoro$# en*uantoman$ava inscrever o leg@timo es&oso no registo $os cam&oneses) O &ai e a

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m(e eram in$iv@$uos $e t(o maus costumes# *ue se embebe$avam ao $esa/io);ontu$o# o &roce$imento or$in9rio e imoral $o menciona$o /i$algo $e tra'er &or casa ultra&assa $e longe a con$uta abomin9vel $a sua /am@lia) A ver$a$e ,*ue ele# sob a m9scara $a $evo6(o religiosa# comete as ac6%es maisescan$alosas. &or e7em&lo# n(o res&eita nem os $ias $e 8e8um nem a

*uaresma+ e tanto assim# *ue na v,s&era $o a$vento# este renega$o com&rouum carneiro e man$ou-o matar no $ia seguinte &ela sua concubina Ga&:a# sobo &rete7to insi$ioso $e ter necessi$a$e ime$iata $e sebo &ara a sua reserva $evelas e lam&arinas)

=>or tu$o isto# e estan$o &ara to$os os e/eitos $evi$amente com&rova$o*ue o $ito /i$algo $e tra'er &or casa , r,u $os crimes $e roubo# sacril,gio eban$itismo# venho re*uerer a Vossas E7cel"ncias *ue contra ele se8a &assa$oman$ato $e ca&tura# e *ue se8a encarcera$o ou na &ris(o munici&al ou numa&ris(o $o Esta$o) Venho al,m $isto re*uerer *ue lhe se8am retira$os os t@tulos$e nobre'a *ue usa actualmente# *ue lhe se8a ministra$a uma severacorrec6(o com um bom &ar $e chicota$as# e *ue se8a $e&orta$o &ara a Sib,ria

ou &ara *ual*uer outra col0nia &enal conveniente+ al,m $isso# *ue se8acon$ena$o ao &agamento $e custas# $anos e &re8u@'os) A&ela-se &ara oTribunal &ara *ue se8a $a$o seguimento ime$iato a este re*uerimento# *ue /oiassina$o &or mim# /i$algo $e 1irgoro$)

=Ivan# /ilho $e Ni:i/or# Dovgotch:oun)=

ogo *ue o escriv(o terminou a leitura# Ivan Ni:i/orovitch &egou no gorro#cum&rimentou os circunstantes e &re&arou-se &ara e/ectuar a sua retira$a) O 8ui' ain$a tentou $et"-lo)

- Est9 assim com tanta &ressa# Ivan Ni:i/orovitch2 Es&ere um boca$inho etome uma ch9vena $e ch9 comigo) P OrJch:a# &e$a6o $Masno# *ue , *ue est9sa@ a /a'er# es&eca$a *ue nem um es&antalho2 9 acabaste $e /a'er olhinhosbonitos aos meus /uncion9rios2 Des&acha-te# tr9s l9 o ch9

1as o assombro $e ter consegui$o reali'ar uma viagem t(o longa e $e ter logra$o sobreviver a tantas &rova6%es# $eu coragem a Ivan Ni:i/orovitch &aratrans&or sem hesita6(o a &orta /atal# limitan$o-se a murmurar.

- N(o# &or /avor# n(o se incomo$e)))E# /echan$o a &orta atr9s $e si# $ei7ou o tribunal estu&e/acto)N(o restavam $úvi$as) Im&unha-se /a'er seguir o &rocesso) Os $ois

re*uerimentos seguiriam os trmites legais# e a &artir $esse momento o

assunto tornaria um as&ecto mais s,rio) E &recisamente neste momento# umacircunstncia im&revista veio avolumar ain$a mais o interesse *ue nele se/i7ara) Quan$o o 8ui' aban$onava a sala $e au$i"ncias na com&anhia $oassessor e $o escriv(o# e os /uncion9rios amontoavam num saco as luvas# com*ue r,us e *uei7osos os brin$avam# sob a /orma $e galinhas# ovos# &(es#enchi$os# bolos e outras ninharias# &recisamente nesse momento irrom&eu nasala uma marr( castanha e# &erante o es&anto &ro/un$o $a assist"ncia#$istingiu com a sua escolha# n(o um enchi$o ou um &e$a6o $e &(o# mas nemmais nem menos *ue o re*uerimento $e Ivan Ni:i/orovitch# cu8as /olhas&en$iam $um canto $a mesa) ;om este a$orno no /ocinho# a real6ar o seu /ato$e se$a castanha# a marr( sa/ou-se a to$a a &ressa# esca&an$o ? &ersegui6(o

$os homens $e 8usti6a# a&esar $a chuva $e r,guas e tinteiros *ue sobre elalan6aram)

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Esta aventura inau$ita mergulhou-os numa e7trema e &ro/un$aconsterna6(o# &ois ain$a n(o tinham tira$o c0&ia $o re*uerimento) O 8ui'# oumelhor# o seu escriv(o# con/erenciou $emora$amente com o assessor acerca$este caso sem &rece$ente) Deci$iu-se &or /im enviar um relat0rio a SuaE7cel"ncia o >resi$ente $a ;mara# uma ve' *ue a instru6(o $o &rocesso

reca@a sob a al6a$a $a &ol@cia munici&al) Este relat0rio# envia$o nesse mesmo$ia com o número # &rovocou uma conversa bastante curiosa# como se&o$er9 ver no ca&@tulo seguinte)

Capítulo VConferência entre duas notáveis individualidades de Mirgorod 

De&ois $e se ter ocu&a$o $e alguns &roblemas $om,sticos# IvanIvanovitch &re&arava-se &ara go'ar o seu re&ouso *uoti$iano $ebai7o $oal&en$re# *uan$o com gran$e es&anto seu viu res&lan$ecer certos &ontos

vermelhos 8unto ? &orta $e entra$a $o seu $om@nio) Era o vestu9rio $e suae7cel"ncia o &resi$ente $a ;mara# brilhan$o como um couro castanhoavermelha$o *ue tivesse si$o enverni'a$o) =Que boa i$eia a $e >iotr 4io$orovitch $e vir $ar $ois $e$os $e conversa=# $isse &ara consigo IvanIvanovitch) A sua sur&resa n(o /oi menor# ao ver o &resi$ente caminhar a&assos largos e agitan$o os bra6os# o *ue raras ve'es lhe acontecia) Ouni/orme $o senhor &resi$ente tinha oito bot%es+ /altava-lhe o nono *ue se tinha&er$i$o havia $ois anos $urante a &rociss(o $a /esta anual $a igre8a) A$es&eito $as a$moesta6%es $i9rias /eitas aos o/iciais $e servi6o ? hora $oacontecimento# at, ho8e o $esa&areci$o tem esca&a$o ?s investiga6%es&oliciais) Estes oito bot%es tinham si$o coloca$os no uni/orme $o &resi$enteum ? $ireita# outro ? es*uer$a# um ? $ireita# outro ? es*uer$a e assim &or $iante) Durante a sua última cam&anha uma bala tinha-lhe atravessa$o a &ernaes*uer$a+ e *uan$o an$ava# atirava com tanta /or6a a &erna inv9li$a# *ue*uase im&e$ia *ue a &erna $ireita lhe &restasse os seus bons servi6os) Destamaneira# antes *ue ele chegasse ao al&en$re# Ivan Ivanovitch teve muitotem&o &ara se &er$er em con8ecturas sobre as &oss@veis inten6%es $o seuvisitante) E o seu interesse re$obrou# *uan$o viu *ue o senhor &resi$ente $a;mara tra'ia a es&a$a nova ? cinta) N(o restavam $úvi$as $e *ue o assunto$evia ser $a maior im&ortncia)))

- 1uito bom $ia# >iotr 4io$orovitch - e7clamou Ivan Ivanovitch)

Sen$o muito curioso &or nature'a# como se $isse anteriormente# mal&o$ia conter a im&aci"ncia ao ver o &resi$ente tomar o &atamar $e assalto#sem ao menos levantar os olhos &ara ele) A ver$a$e , *ue o es/or6o $e subir as esca$as n(o lhe &ermitia $esviar os olhos $essa o&era6(o $elica$a# &or*uesem&re *ue subia um $egrau a &erna inv9li$a batia na &erna s(# obrigan$o-o auma gran$e concentra6(o nos seus movimentos)

- Tenho o &ra'er $e cum&rimentar o meu caro amigo e ben/eitor IvanIvanovitch - res&on$eu o senhor &resi$ente)

- Sente-se# >iotr 4io$orovitch# o senhor tem um ar cansa$o+ com certe'a*ue a sua &erna o incomo$a muito)

- A minha &erna - e7clamou com ar in$igna$o o &resi$ente# mimosean$o

Ivan Ivanovitch com um $a*ueles olhares terr@veis com *ue um gigante /ulminaum &igmeu# ou com *ue um $outor esmaga um reles &ro/essor $e $an6a) E ao

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&ronunciar a*uelas &alavras# levantou a &erna e bateu no ch(o com /or6a) Estabravata saiu-lhe cara &or*ue com o im&ulso to$o o seu cor&o oscilou# e acabou&or bater com o nari' no corrim(o) 1as o nosso res&eit9vel $e/ensor $a or$emretomou ra&i$amente o e*uil@brio e# &ara $is/ar6ar a atra&alha6(o# /e' men6(o$e tirar a taba*ueira $o bolso)

- >o$e crer# meu caro amigo e ben/eitor Ivan Ivanovitch# *ue no curso $aminha e7ist"ncia /i' cam&anhas muito mais s,rias *ue esta última) Olhe# &or e7em&lo a $e U) Ain$a lhe hei-$e contar $e uma ve' em *ue tive $e saltar um muro &ara ir ter com uma alem('inha $e se lhe tirar o cha&,u)))

O &resi$ente &iscou o olho e sorriu com um ar $iab0licamente bre8eiro)- Ent(o on$e , o &asseio ho8e2 - &erguntou Ivan Ivanovitch# $ese8oso $e

$esviar a conversa e $e *ue o &resi$ente $eclinasse o mais $e&ressa &oss@velos motivos $a sua visita) Ele bem *ueria ir logo $ireito ao assunto sem maisro$eios# mas o seu conhecimento $as normas $a eti*ueta /a'ia-lhe reconhecer os inconvenientes $e um tal &roce$imento) A&esar $e o cora6(o lhe bater mais$e&ressa# tinha $e se $ominar e es&erar &acientemente a revela6(o $a chave

$o enigma)- Ora bem# 89 *ue o senhor insiste - re&licou o &resi$ente - vou-lhe

e7&licar o motivo $a minha visita))) 1as antes $e tu$o# $ei7e-me $i'er-lhe *ue otem&o ho8e est9 magn@/ico)))

Nesta altura# Ivan Ivanovitch *uase teve um ata*ue)- !m assunto muito grave me tra' ho8e ? sua &resen6a))) - continuou o

&resi$ente)O rosto $o senhor &resi$ente assumiu a mesma e7&ress(o in*uieta *ue

tinha *uan$o# havia &ouco# tomara o &atamar $e assalto)Ivan Ivanovitch voltou a si e# como $e costume# &assou ele a /a'er as

&erguntas)- 1as $e *ue se trata2 H $e /acto um assunto grave2- Ora bem# trata-se $o seguinte))) 1as &rimeiro &ermita-me *ue lhe $iga#

meu caro amigo e ben/eitor Ivan Ivanovitch# *ue eu# &essoalmente# n(o tenhona$a com isto))) ;ontu$o# em nome $o governo# tenho *ue lhe $i'er com to$a a/ran*ue'a. o senhor transgre$iu os regulamentos $a &ol@cia)))

- Que , *ue o senhor est9 &ara a@ a $i'er# >iotr 4io$orovitch2 N(o&ercebo na$a)

- O *u"# o senhor n(o sabe a *ue me re/iro2 Ent(o um $os seus animaisrouba um $ocumento o/icial muito im&ortante# e o senhor vem-me $i'er *uen(o sabe $o *ue se trata2

- 1as *ue animal2- A sua marr( castanha# com sua licen6a)- E $e *ue , *ue me acusam2 Que cul&a tenho eu se o cont@nuo $ei7a a

&orta $o tribunal aberta2- 1as a ver$a$e , *ue se o animal , seu a cul&a tamb,m , sua)- Ent(o o senhor acha *ue um &orco e eu , uma e a mesma coisa 1uito

obriga$o &elo elogio)- 1as eu n(o $isse na$a $isso# Ivan Ivanovitch Deus , testemunha *ue

eu n(o $isse na$a $isso) >or amor $e Deus# encare o caso como $eve ser) Osenhor sabe sem $úvi$a alguma *ue# segun$o or$ens e7&ressas $o governo# ,&roibi$a a circula6(o nas ruas $a nossa ci$a$e a animais &ouco assea$os# e

muito &articularmente nas ruas &rinci&ais) ;oncor$e *ue isto , &roibi$o)

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- O senhor $i' o *ue *uiser) 1as olha a gran$e coisa se ? &orca lhea&etece $ar uma volta &ela ci$a$e

- >er$(o# Ivan Ivanovitch# $ei7e-me *ue lhe re&ita *ue isso , &roibi$o)Que , *ue se h9-$e /a'er))) As autori$a$es , *ue man$am# e n0s temos $elhes obe$ecer) Tamb,m , ver$a$e *ue $e ve' em *uan$o a&arecem a@ &elas

ruas umas galinhas e uns &atos) 1as note bem *ue eu $isse. galinhas e &atos+*uanto aos bo$es e aos &orcos /i' no ano &assa$o um e$ital &roibin$o-lhes oacesso a recintos &úblicos# e$ital esse *ue /oi li$o em vo' alta &erante to$os oshabitantes# *ue /oram convoca$os &ara esse e/eito)

- 4ale ? vonta$e# >iotr 4io$orovitch# /ale ? vonta$e))) O *ue eu sei , *ue osenhor n(o &er$e a o&ortuni$a$e &ara me arran8ar com&lica6%es)

- Eu# arran8ar-lhe com&lica6%es 1as o *ue est9 o senhor a $i'er# meu*ueri$o amigo >onha l9 a m(o na consci"ncia) Quan$o# no ano &assa$o osenhor acrescentou um s0t(o ? sua casa# *ue /icou mais alta $o *ue , &ermi-ti$o# eu $isse-lhe alguma coisa2 N(o) 4echei os olhos muito bem /echa$os) Eacre$ite-me# meu caro amigo# mesmo neste assunto# a ver$a$e , *ue eu)))

en/im))) mas o senhor com&reen$e# os $everes $as minhas /un6%es e7igem*ue eu vele &ela higiene &ública) E vamos l9# meu amigo# estar9 certo *ue# $ere&ente# na rua &rinci&al)))

- N(o h9 $úvi$a *ue a sua rua &rinci&al , uma maravilha Qual*uer vagabun$o n(o hesita em $ei7ar l9 os seus $etritos)

- Se me $9 licen6a# Ivan Ivanovitch# o senhor agora est9 a o/en$er-me))) Hver$a$e *ue isso &o$e acontecer $e ve' em *uan$o# mas , &rinci&almente aolongo $os muros# $os ta&umes# e noutros lugares mais ou menos a/asta$os)1as o senhor $eve concor$ar *ue se uma marr( castanha se lembra $e ir &assear &ara a rua &rinci&al ou &ara o largo# o caso 89)))

- Olhem a gran$e $esgra6a) Ao /im e ao cabo# as marr(s s(o criaturas $eDeus# >iotr 4io$orovitch)

- Tem to$a a ra'(o) To$a a gente sabe *ue o senhor , um homem muitoinstru@$o# versa$o nas ci"ncias e em muitas outras coisas+ ao &asso *ue eucon/esso *ue n(o recebi nenhuma instru6(o# e s0 a&ren$i a ler aos trinta anos+como o senhor sabe# eu sou tarimbeiro)))

- Cum - resmungou Ivan Ivanovitch)- H ver$a$e - continuou o &resi$ente -# em U era eu tenente $a W)X

com&anhia $e ;a6a$ores WY# *ue# &ara sua in/orma6(o# era coman$a$a &eloca&it(o Ieremeiev)))

Neste momento o $igno magistra$o# mergulhan$o os $e$os na taba*ueira

$e Ivan Ivanovitch# retirou um &e$a6o $e tabaco *ue come6ou a amol$ar comos $e$os &ara lhe $ar a /orma mais conveniente)))- Cum - resmungou Ivan Ivanovitch)- 1as - recome6ou o &resi$ente - o meu $ever , obe$ecer ?s or$ens $o

governo) E o senhor n(o ignora *ue# se8a *uem /or *ue $esvie $ocumentoso/iciais# $eve ser envia$o a tribunal)

- Sei isso t(o bem *ue# &ara seu governo# vou-lhe e7&licar e7actamentecomo se $eve inter&retar essa lei) O artigo em *uest(o n(o se a&lica sen(o aosseres humanos# &or e7em&lo ao senhor# a$mitin$o *ue tivesse $esvia$o*ual*uer $ocumento) 1as n(o se es*ue6a $o *ue lhe $isse# uma marr( , umanimal# uma criatura $o Senhor)

- N(o $igo *ue n(o# mas a lei $i' e7&ressamente. =Se8a *uem /or *ue$esvie)))=) Oi6a bem. seja que! for". N(o /a' e7ce&6%es nem $e es&,cie nem

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$e se7o nem $e con$i6(o) >or conse*u"ncia# um animal tamb,m est9 inclu@$oe &o$e muito bem ser acusa$o) E o $ito animal# como &erturba$or $a or$em&ública# $eve ser entregue ? >ol@cia at, *ue a senten6a se8a &ronuncia$a)

- N(o# >iotr 4io$orovitch - retor*uiu /riamente Ivan Ivanovitch) - Na$a$isso vai acontecer)

- ;omo o senhor *uiser+ mas &elo meu la$o eu tinha *ue &roce$er $eacor$o com as or$ens $os meus che/es)- O senhor *uer meter-me me$o2 Quer o senhor $i'er *ue tencionava

man$ar &ren$er a minha marr( &or a*uele maneta *ue , l9 /uncion9rio $otribunal2 A minha cria$a &unha-o &ela &orta /ora aos &onta&,s# e ain$aacabava &or lhe &artir o outro bra6o)

- N(o vale a &ena 'angarmo-nos) 9 *ue n(o est9 $is&osto a entreg9-la ?>ol@cia# /a6a com ela o *ue enten$er. mate-a &elo Natal# se *uiser /a'er &resunto# ou ent(o coma a carne /resca) 1as se /i'er enchi$os agra$ecia-lhe*ue me man$asse alguns# &ara &rovar) A sua Ga&:a &re&ara-os *ue , umamaravilha# e a minha Agra/ena Tro&himovna , $oi$a &elos chouri6os *ue ela

/a')- Quanto aos enchi$os# est9 bem# man$o-lhe uns *uantos)- E &o$e estar certo $e *ue n(o est9 a tratar com um ingrato# meu *ueri$o

amigo e ben/eitor))) E agora tenho $e lhe /alar sobre outro assunto) 4uiencarrega$o &elo nosso 8ui'# e &or to$os os amigos $as nossas rela6%es# $ever se o consigo reconciliar com Ivan Ni:i/orovitch)

- De me reconciliar ;om esse malan$ro# com a*uele grosseir(o NuncaEst9 a ouvir2 Nunca

Nesse $ia Ivan Ivanovitch estava $is&osto a tomar resolu6%es en,rgicas)- O senhor , *ue sabe# Ivan Ivanovitch - res&on$eu o &resi$ente#

ata/ulhan$o as narinas $e tabaco) - Eu n(o sou ningu,m &ara lhe $ar conselhos) 1as $ei7e-me *ue lhe $iga *ue se o senhor se reconciliasse comele)))

1as neste momento Ivan Ivanovitch entrou em consi$era6%es sobre aca6a ?s co$orni'es# *ue era o seu &rocesso in/al@vel $e $esviar uma conversa*uan$o lhe convinha) E o &resi$ente acabou &or regressar a casa sem ter consegui$o levar a bom /im nenhum $os assuntos $e *ue /ora incumbi$o)

Capítulo VI#orada a singular tentativa de reconciliaç$o

Se bem *ue o tribunal n(o tencionasse $ar &ublici$a$e ao /acto# o caso ,*ue no $ia seguinte n(o havia ningu,m em 1irgoro$ *ue n(o soubesse *ueuma marr( $e Ivan Ivanovitch tinha rouba$o o re*uerimento $e IvanNi:i/orovitch) O &r0&rio &resi$ente $a ;mara /oi o &rimeiro a /alar no assunto#&or $istrac6(o) Quan$o a coisa chegou aos ouvi$os $e Ivan Ni:i/orovitch# estelimitou-se a &erguntar.

- N(o /oi uma marr( castanha21as 3gata 4e$osseievna# *ue &or acaso estava ao &, $ele# n(o &er$eu a

o&ortuni$a$e $e o re&reen$er.- O *u"# Ivan Ni:i/orovitch2 Tu vais $ei7ar *ue te metam a ri$@culo2

Queres *ue to$a a gente te a&onte com o $e$o2 De&ois $isso# v" l9 se tens

coragem $e te $i'eres /i$algo)

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E a megera levou a sua avante) Desencantou n(o sei on$e umhomen'inho $e meia i$a$e# trigueiro e be7igoso# en/ia$o numa sobrecasacamuito ri$@cula e remen$a$a nos cotovelos+ engra7ava as botas com alcatr(o#conseguia meter tr"s canetas $uma ve' atr9s $a orelha# e tinha um /ras*uinho$e vi$ro &en$ura$o num $os bot%es $o /ato ? laia $e tinteiro+ era ca&a' $e

engolir nove chouri6os $e en/ia$a# e guar$ava sem&re o $,cimo na algibeira+conseguia acumular# numa sim&les /olha $e &a&el# tanta mat,ria-&rima# *uenenhum escriv(o conseguia ler tu$o sem se engasgar /re*uentemente e ter violentos ata*ues $e tosse) Esta amostra $e gente# este lin$o e7em&lar tra-balhou com to$o o a/(# esmerou-se o mais *ue &$e# e /inalmente $eu ? lu' oseguinte $ocumento.

=Ao tribunal $e &rimeira instncia $e 1irgoro$# o /i$algo Ivan# 4ilho $eNi:i/or# Dovgotch:oun)

=Em a$itamento ao re*uerimento a&resenta$o &or mim# Ivan# /ilho $eNi:i/or# Dovgotch:oun# &erante o tribunal $e &rimeira instncia $e 1irgoro$#

venho &elo &resente $ocumento a/irmar *ue a atitu$e $o $ito tribunal revela ae7ist"ncia $e um enten$imento &riva$o com o /i$algo Ivan# /ilho $e Ivan#>erere&en:o) A &rova evi$ente $este /acto , *ue o tribunal &reten$eu escon$er $o &úblico o $esacato cometi$o &ela marr( castanha# *ue s0 me chegou aosouvi$os &or in/orma6(o $e &essoas estranhas ao assunto) Ora estacum&lici$a$e criminosa $eve ser a&resenta$a em 8u@'o sem $emora visto *ueuma marr(# sen$o um animal $es&rovi$o $e ra'(o# n(o &o$e ser# &or si s0#res&ons9vel &elo roubo $e $ocumentos) Don$e naturalmente se $e$u' *ue amenciona$a marr( obe$eceu ?s instiga6%es $a &arte contr9ria# o &retenso/i$algo Ivan# /ilho $e Ivan# >erere&en:o# cu8os crimes $e ban$itismo# sacril,gioe tentativa $e assass@nio 89 /oram $evi$amente &rova$os) N(o obstante# o $itotribunal $e 1irgoro$# com a &arciali$a$e *ue o caracteri'a# &restou-se acolaborar na $e/esa $os interesses $o meu a$vers9rio# visto *ue sem essacolabora6(o a menciona$a marr( n(o teria &o$i$o# $e mo$o algum# subtrair o$ito $ocumento# $evi$o ao /acto $e o tribunal $e 1irgoro$ estar habitualmenteguar$a$o &or v9rios &orteiros e outros /uncion9rios# entre os *uais bastamencionar um sol$a$o *ue est9 sem&re &resente na sala $e au$i"ncias# o*ual# se bem *ue &riva$o $e um olho e mutila$o $um bra6o# tem certamente a/or6a necess9ria &ara e7&ulsar uma marr( ? &aula$a) ;onse*uentemente# n(oresta $úvi$a $e *ue o menciona$o tribunal &artici&a em intrigas e se ven$ecom sum&tuosos &resentes# ilicitamente $istribu@$os entre os seus membros)

Quero ain$a /a'er notar *ue o menciona$o /i$algo Ivan# /ilho $e Ivan#>erere&en:o# 89 /oi &reso &or $esacato)=>elo *ue /oi $ito# eu# abai7o assina$o# Ivan# /ilho $e Ni:i/or#

Dovgotch:oun# venho re*uerer ao menciona$o tribunal $e 1irgoro$ *ue ore*uerimento acima menciona$o se8a retira$o ? $ita marr( castanha ou ao seucúm&lice# o /i$algo >erere&en:o# e *ue uma ve' leva$o o caso a tribunal se8a&ronuncia$a senten6a a meu /avor# con/orme , $e 8usti6a) ;aso contr9rio# eu#abai7o assina$o# Ivan# /ilho $e Ni:i/or# Dovgotch:oun# reservo-me o $ireito $ea&elar &ara o Su&remo Tribunal# $enuncian$o as atitu$es ilegais e sub-re&t@ciasassumi$as &elo $ito tribunal $e &rimeira instncia# entregan$o a solu6(o $ocaso ao menciona$o Su&remo Tribunal)

=Assina$o &or mim# /i$algo $e 1irgoro$# Ivan# /ilho $e Ni:i/or#Dovgotch:oun)=

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Este re*uerimento &ro$u'iu o seu $evi$o e/eito) ;omo to$as as &essoas$e bem# o sim&l0rio $o 8ui' era ligeiramente covar$e &or nature'a) Entregou oassunto ao escriv(o) ;om a sua magn@/ica vo' cheia $e tonali$a$e# o escriv(o$ei7ou /iltrar um =hum= &or entre os l9bios# e assumiu a e7&ress(o$iab0licamente in$i/erente *ue caracteri'a Satan9s *uan$o v" *ue uma $as

suas v@timas est9 &restes a cair no la6o) N(o havia sen(o uma solu6(o.reconciliar os $ois amigos) 1as *ue mais se &o$ia /a'er2 Tinham /alha$o to$asas tentativas) ;ontu$o# tentou-se mais uma ve'. Ivan Ivanovitch $eclarou&erem&toriamente *ue n(o *ueria ouvir /alar mais no assunto# e chegoumesmo a 'angar-se+ Ivan Ni:i/orovitch limitou-se a voltar as costas) >ortanto o&rocesso seguiu o seu curso com a*uele ritmo vivo *ue , a gl0ria $os nossostribunais) Nesse mesmo $ia o re*uerimento /oi rubrica$o# numera$o# regista$oe homologa$o# e /oi $e&osita$o num arm9rio on$e /icou a $ormir# a $ormir# a$ormir $urante um# $ois# tr"s anos) 1uita ra&ariga nova se casou+ /e'-se umanova rua+ n(o se sabe muito bem &or*u"# os garotos *ue brincavam no &9tio$e Ivan Ivanovitch aumentaram $e número+ em sinal $e $es&re'o &elo vi'inho#

Ivan Ni:i/orovitch construiu um novo &9tio &ara a cria6(o um &ouco maisa/asta$o *ue o anterior# e ocultou t(o &er/eitamente a sua casa *ue estes $oisres&eit9veis &ersonagens $ei7aram &raticamente $e se ver - e $urante to$oeste tem&o# nas &ro/un$e'as $e um arm9rio to$o en/eita$o $e n0$oas $e tinta#o &rocesso continuava a $ormir o sono $os 8ustos)

Entretanto# $eu-se um acontecimento $e e7traor$in9ria im&ortncia. o&resi$ente $a ;mara $eu uma rece&6(o On$e &o$eria eu conseguir os&inc,is# as cores &ara &intar a gran$e'a $esta reuni(o e a magni/ic"ncia $o/estim2 Abram o vosso rel0gio e re&arem no mecanismo. *ue terr@vel *uebra-cabe6as# n(o , ver$a$e2 >ois bem# imaginem *ue no largo $a ;mara1unici&al havia *uase tantas ro$as como no mecanismo $um rel0gio) Estavamre&resenta$as to$as as es&,cies $e carruagens) !ma tinha o /un$o largo e aalmo/a$a estreita+ outra# o /un$o estreito e a almo/a$a larga) !ma era aomesmo tem&o britch:a e caleche+ outra# n(o era nem britch:a nem caleche)Cavia uma *ue &arecia uma enorme me$a $e /eno# uma solteirona gor$a+ outra$ir-se-ia um 8u$eu mal vesti$o ou ent(o um es*ueleto com uns /arra&os $ecarne &en$ura$os) Outra# ain$a# vista $e &er/il# $ava a im&ress(o $um enormecachimbo+ en*uanto uma outra# *ue estava ao &, $esta última# n(o se &areciaa nenhuma e constitu@a uma massa estranha# in/orme e absolutamente/ant9stica) No meio $este caos $e ro$as $estacava-se uma es&,cie $e carro6a#/echa$a# cu8as 8anelas eram seguras &or &esa$as trancas) De gib(o ou $e

sobrecasaca cin'enta# $e gorro $e astrac( ou com os cha&,us mais e70ticos#os cocheiros &asseavam# com o cachimbo entre os $entes# os cavalos$esengata$os) Ah *ue /esta magn@/ica >ermitam-me *ue vos $iga *uem eramos convi$a$os. Tarass Tarassovitch# Ev&l A:in/ovitch# Evti:hi Evti:hievitch# IvanIvanovitch - mas n(o o nosso her0i# um outro -# Savva Govrilovitch# o nossoIvan Ivanovitch# Eleuthere Eleutherievitch# 1a:ar Na'arievitch# 4omaGrigorievitch))) H im&oss@vel continuar# a minha m(o recusa-se a /a'"-lo E as$amas# meus amigos Cavia-as gran$es# &e*uenas# $e te' $e 8asmim e $e te'$e bron'e# e se algumas eram ana/a$as como Ivan Ni:i/orovitch# outras cabiam/acilmente na bainha $a es&a$a $o an/itri(o) Que varie$a$e $e cha&,us e $evesti$os - vermelhos# amarelos# ver$es# a'uis# novos# vira$os# trans/orma$os)

Que abun$ncia $e golas# /itas# sa*uinhos A$eus# a$eus# meus &obresolhos# semelhante es&ect9culo ser9 o vosso /im E *ue imensa mesa &osta

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com to$o o re*uinte Quan$o to$a a gente $esatou a $ar ? l@ngua# &o$em crer *ue /a'iam um burburinho# uma 'oa$a# uma bulha tal *ue aba/aria o ru@$o $ummoinho com as suas m0s# ro$as# engrenagens e taramelas) Seria inca&a' $evos re&ro$u'ir com &recis(o os temas $as conversas. mas com certe'a 8untava-se o útil ao agra$9vel# /alan$o $a chuva e $o bom tem&o# $os c(es e

$as sementeiras# $os vestu9rios e $os cavalos $e ra6a) A certa altura# IvanIvanovitch - n(o o nosso her0i# o outro# o 'arolho - come6ou a $i'er.- H curioso# o meu olho $ireito KIvan Ivanovitch# o 'arolho# re/eria-se

sem&re ao seu $e/eito num tom $e ironiaL# o meu olho $ireito n(o $istinguenesta sala Ivan Ni:i/orovitch# Dovgotch:oun)

- Recusou-se a vir - res&on$eu-lhe o &resi$ente $a ;mara)- E &or*u"2- Imagine *ue 89 l9 v(o $ois anos *ue eles se 'angaram - Ivan Ivanovitch

e Ivan Ni:i/orovitch -# e $es$e ent(o# on$e um vai n(o vai o outro)- Que me $i'2 - e7clamou Ivan Ivanovitch# o 'arolho# levantan$o os olhos

ao c,u e $e m(os &ostas) - Ora $iga-me. se as &essoas *ue t"m $ois olhos se

'angam# *ue /aria eu *ue tenho um s0To$a a gente $esatou a rir) Ivan Ivanovitch# o 'arolho# era &r0$igo em

grace8os $este g,nero# *ue lhe valiam a estima geral) !m cavalheiro enorme#seco# $e casaca $e baeta e com um em&lastro sobre o nari'# e *ue at, ent(otinha /ica$o muito *uietinho no seu canto# com o rosto im&ass@vel# mesmo*uan$o as moscas lhe &ousavam no nari' - este cavalheiro veio 8untar-se aonumeroso gru&o *ue ro$eava o Ivan Ivanovitch 'arolho)

- Oi6am - $isse este# *uan$o $escobriu *ue se tornara o &onto central $areuni(o) - Escutem# em ve' $e /icarem a contem&lar o olho *ue me /alta# ser9melhor *ue me a8u$em a reconciliar os nossos $ois amigos) Descortino al,mIvan Ivanovitch em anima$a conversa com o belo se7o)  Sem *ue ele $escon/ie$e na$a# man$emos buscar Ivan Ni:i/orovitch e lancemo-los nos bra6os um $ooutro)

 A &ro&osta $e Ivan Ivanovitch# o 'arolho# /oi aceite com entusiasmo# e$eci$iu-se enviar ime$iatamente um esta/eta a casa $e Ivan Ni:i/orovitch#convocan$o-o# $a &arte $o &resi$ente# &ara 8antar) 1as levantava-se s,ria$úvi$a. a *uem con/iar esta im&ortante e $elica$a miss(o2 Este es&inhoso&roblema lan6ou a &er&le7i$a$e nos es&@ritos) De&ois $e bem &esa$os ostalentos $i&lom9ticos $e ca$a um# a escolha caiu unanimemente em Anton>ro:o/ievitch Golo&u')

 A&resentemos ao leitor este not9vel &ersonagem) Anton >ro:o/ievitch era

a virtu$e em &essoa) Se algum not9vel $e 1irgoro$ lhe o/erecia um len6o $ese$a ou uns cal6%es# ele agra$ecia+ mas se lhe $avam um &i&arote# eleagra$ecia $a mesma maneira) Se lhe &erguntavam. =Anton >ro:o/ievitch#&or*ue usa mangas a'ul-celeste na sua casaca castanha2=# ele geralmenteres&on$ia. =Se o senhor tem uma igual# es&ere *ue as mangas este8am usa$ase ver9 *ue 89 n(o nota a $i/eren6a)= E $e /acto# o sol tinha comi$o t(oregularmente o a'ul $o teci$o# *ue as mangas se harmoni'avam com o resto$a casaca) 1as o mais curioso , *ue Anton >ro:o/ievitch se vestia $e l( nover(o e $e algo$(o no inverno) Anton >ro:o/ievitch n(o tem casa) Outrora&ossuiu uma mesmo ? sa@$a $a ci$a$e# mas ven$eu-a &ara com&rar uma&e*uena britch:a &u7a$a &or tr"s cavalos baios# $e *ue se servia &ara visitar 

os /i$algos $os arre$ores) >or,m# como os cavalos e7igiam cui$a$os e a aveiaera cara# Anton >ro:o/ievitch trocou-os &or uma serva# um viol(o e uma nota $e

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cin*uenta rublos) 1ais tar$e# Anton >ro:o/ievitch ven$eu o viol(o e trocou ara&ariga &or uma bolsa $e tabaco em marro*uim $oura$o) Se , certo *ue ele&ossui ho8e a mais bela bolsa $e tabaco $o mun$o# em contra&arti$a 89 n(o&o$e $ar-se com os &ro&riet9rios $os arre$ores# e v"-se /or6a$o a &assar asnoites a*ui e ali# &rinci&almente em casa $as &essoas $e categoria *ue se

$ivertem ? sua custa) Al,m $e acumular tantas virtu$es# 8oga muitora'oavelmente a bisca e outros 8ogos igualmente com&lica$os)Cabitua$o a obe$ecer# Anton >ro:o/ievitch &egou na bengala e no cha&,u

e &s-se a caminho sem levantar ob8ec6%es) Durante o tra8ecto /oi re/lectin$onos meios a utili'ar &ara convencer Ivan Ni:i/orovitch) O humor um tantobrusco $este cavalheiro# ali9s bastante res&eit9vel# tornava o em&reen$imentoassa' temer9rio) ;omo convenc"-lo a aceitar o convite# se &ara elere&resentava tanto es/or6o &r-se na &osi6(o vertical2 A$mitin$o *ue ele se&unha $e &,# como con$u'i-lo a um local on$e ele sabia# sem sombra $e$úvi$a# *ue iria encontrar o seu im&lac9vel inimigo2 Quanto mais Anton>ro:o/ievitch re/lectia sobre o &roblema# mais obst9culos $escobria) O $ia

estava *uente+ o sol ar$ente /a'ia-o suar em bica) O nosso homem $ei7ava-seengrolar com /acili$a$e# e nem sem&re se sa@a bem $os seusem&reen$imentos+ contu$o# conhecia v9rios ar$is# sabia /a'er $e &arvo nomomento o&ortuno# e sa@a-se com honra $e aventuras em *ue homens $ees&@rito teriam /racassa$o)

No momento em *ue o seu es&@rito inventivo tinha 89 $escoberto aarma$ilha em *ue $evia cair Ivan Ni:i/orovitch# e estava 89 &re&ara$o &araen/rentar heroicamente o &ior# uma circunstncia im&revista &or &ouco lhe n(o/e' &er$er a sereni$a$e) A &ro&0sito# $evo &revenir os meus leitores *ue um$os &ares $e cal6as $e Anton >ro:o/ievitch tinha a estranha mas in/al@velvirtu$e $e atrair os $entes $os c(es &ara a barriga $as &ernas $o nossohomem) E7actamente nesse $ia# ele tra'ia essas cal6as) 1al se tinha entregue? corrente $as suas re/le7%es# /oi $es&erta$o &elo la$rar a&avorante $os c(es) Anton >ro:o/ievitch soltou um grito agu$o Kn(o havia ningu,m *ue gritassemelhor $o *ue eleL) Atra@$os &or este grito# acorreram n(o somente a nossavelha conheci$a# a mostrenga# e o locat9rio $a incomensur9vel sobrecasaca#mas at, a garota$a $e Ivan Ivanovitch) Os c(es# ali9s# mal tiveram tem&o $elhe mor$er uma canela) Este e&is0$io# no entanto# /e'-lhe &er$er um &ouco $asua con/ian6a# e /oi com certa timi$e' *ue come6ou a subir as esca$as $eentra$a)

Capítulo VIIO triste ep%logo da desavença entre Ivan Ivanovitch e Ivan Nikiforovitch

- Ah , o senhor Bom $ia) 9 acabou $e sarra'inar os c(es2 - $isse IvanNi:i/orovitch# mal $istinguiu Anton >ro:o/ievitch# a *uem to$a a gente se $irigiaem ar $e tro6a)

- Sarra'in9-los# eu2 Nem isso me &assa &ela cabe6a - re&licou Anton>ro:o/ievitch) - Que a &este os leve

- O senhor est9 a brincar)- Dou-lhe a minha &alavra $e honra *ue n(o))) A &ro&0sito# >iotr 

4io$orovitch convi$a-o &ara 8antar)- Cum

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- >alavra $e honra Solicita-o com uma insist"ncia *ue eu sou inca&a' $ere&ro$u'ir) =>or *ue $iabo - $isse-me ele - , *ue Ivan Ni:i/orovitch me evitacomo se eu /osse seu inimigo2 >or*ue teria $ei7a$o $e vir a minha casa &ara$ar $ois $e$os $e conversa ou sim&lesmente &ara $ormir a sesta2 Se IvanNi:i/orovitch se recusa ho8e a vir a minha casa# n(o sei /rancamente o *ue

&ensar. sem $úvi$a alimenta contra mim *ual*uer $es@gnio mal,volo) Su&lico-lhe# Anton >ro:o/ievitch# conven6a-o a vir= Vamos# $eci$a-se# IvanNi:i/orovitch+ vai encontrar l9 a nossa melhor socie$a$e)

Ivan Ni:i/orovitch $eteve-se a observar um galo *ue# em&oleira$o nocorrim(o# soltava um vibrante cocoroc0)

- Se soubesse - recome6ou o 'eloso mensageiro - *ue magn@/ico &ei7e e*ue $elicioso caviar o/ereceram a >iotr 4io$orovitch)))

Ivan Ni:i/orovitch virou-se# e come6ou ime$iatamente a &restar maisaten6(o ?s &alavras $o emiss9rio) Este ganhou coragem)

- A&ressemo-nos# a&ressemo-nos) At, vai l9 encontrar 4omaGrigorievitch))) Ent(o - acrescentou# ven$o *ue Ivan Ni:i/orovitch n(o se me7ia

- o senhor vem ou n(o vem2- N(o# n(o vou)Este =n(o vou= $ei7ou Anton >ro:o/ievitch &er/eitamente estu&e/acto) No

momento em *ue ele 89 $ava a causa como ganha# a&resentavam-lhe umarecusa categ0rica

- 1as &or*u"2 - &erguntou ele# $ei7an$o trans&arecer uma certaim&aci"ncia# o *ue *uase nunca acontecia# nem mesmo *uan$o lhe en/iavamna cabe6a um canu$o $e &a&el a ar$er# &assatem&o muito $o gosto tanto $osenhor 8ui' como $o senhor &resi$ente $a ;mara)

Ivan Ni:i/orovitch tomou uma &ita$a)- Agra$ecia-lhe *ue me e7&licasse as ra'%es $a sua recusa# Ivan

Ni:i/orovitch# &or*ue eu n(o consigo $escobrir um único motivo *ue o im&e6a$e aceitar o convite)

- E *ue , *ue eu l9 ia /a'er2 - $isse /inalmente Ivan Ni:i/orovitch) - A*ueleban$i$o tamb,m l9 est9# com certe'a)

Era assim *ue ele se re/eria agora a Ivan Ivanovitch) 1iseric0r$ia $ivinaE &ensar *ue ain$a h9 t(o &ouco tem&o)))

- Dou-lhe a minha &alavra $e honra *ue ele n(o est9 l9) H t(o ver$a$ecomo Deus e7istir) Eu se8a ceguinho se estou a mentir - res&on$eu Anton>ro:o/ievitch# *ue estava sem&re &ronto a 8urar $e' ve'es &or hora) - Vamos#vamos embora# Ivan Ni:i/orovitch

- N(o me *ueira enganar# Anton >ro:o/ievitch) Tenho a certe'a *ue eleest9 l9)- Se eu lhe $ei a minha &alavra *ue n(o est9 Que eu n(o saia vivo $esta

casa se n(o /alo ver$a$e >or*ue , *ue o senhor &ensa *ue eu o *ueroenganar2 Que eu /i*ue alei8a$o))) Ain$a n(o me acre$ita2 Que eu caia mortoneste instante se estou a mentir Que nem eu# nem o meu &ai nem a minham(e entremos 8amais no &ara@so Ain$a n(o me acre$ita2

Dissi&a$as as suas $úvi$as com estas a/irma6%es veementes# IvanNi:i/orovitch or$enou ao cria$o $e *uarto# o homen'inho $a intermin9velsobrecasaca# *ue lhe trou7esse as cal6as e a 8a&ona $e algo$(o amarelo-esver$ea$o) >arece-me inútil $escrever a /orma como en/iou as cal6as# como

$eu o n0 na gravata e como vestiu a 8a&ona# *ue estalou $o la$o $ireito) Bastaanotar *ue $urante to$as estas o&era6%es manteve uma calma &ro/un$amente

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$igna e *ue res&on$eu sem a'e$ume a uma &ro&osta $e Anton >ro:o/ievitch&ara trocar a sua taba*ueira turca)

Entrementes# as &essoas reuni$as na /esta es&eravam im&acientementea chega$a $e Ivan Ni:i/orovitch# e o minuto $ecisivo $a reconcilia6(o) Noentanto# &oucas &essoas acre$itavam nessa &ossibili$a$e# e o &r0&rio

&resi$ente $a ;mara se &ro&s /a'er uma a&osta com Ivan Ivanovitch# o'arolho# em como Ivan Ni:i/orovitch n(o se $aria ao inc0mo$o $e a&arecer+ o&resi$ente# &or,m# teve $e retirar a &ro&osta &erante a &retens(o $e IvanIvanovitch $e a&ostar o seu olho ausente contra a &erna co7a $o &resi$ente# o*ue en/ureceu este e /e' rir to$a a assist"ncia ? soca&a) Embora /osse mais $euma hora# e em 1irgoro$ nunca se sirvam re/ei6%es a horas tar$ias# ain$aningu,m se tinha senta$o ? mesa)

1al entrou na sala# Anton >ro:o/ievitch /oi assalta$o &or &erguntas $eto$os os la$os# a *ue res&on$eu com um en,rgico. =n(o vem = !m instantemais e este seu /racasso ia-lhe valer uma saraiva$a $e recrimina6%es# $ein8úrias e at, $e encontr%es# *uan$o $e re&ente a &orta se abriu $an$o

&assagem a Ivan Ni:i/orovitch) A a&ari6(o $e um /antasma# ou mesmo $o&r0&rio $iabo em &essoa# n(o teria &ro$u'i$o tanto es&anto) Encanta$o com asua misti/ica6(o# Anton >ro:o/ievitch estalou em gargalha$as)

Entretanto ningu,m conseguia com&reen$er como em t(o &ouco tem&oIvan Ni:i/orovitch tinha consegui$o $ar-se ares $ecentes $e homem $esocie$a$e) No momento $a sua entra$a# Ivan Ivanovitch tinha-se ausenta$o $asala &or alguns instantes) Acalma$o o es&anto geral# to$a a gente $eu &rovas$e gran$e interesse &ela saú$e $e Ivan Ni:i/orovitch# /elicitan$o-o &or ter aumenta$o $e volume) Ivan Ni:i/orovitch a to$os esten$ia a m(o# re&etin$o.=1uito &ra'er# muito &ra'er=

O cheiro $a so&a $e beterraba veio entretanto agu6ar o ol/acto $osconvi$a$os# *ue# es&ica6a$os &ela /ome# se &reci&itaram &ara a sala $e 8antar)!m en7ame $e $amas - &alra$oras e silenciosas# gor$as e /ran'inas - tomarama $ianteira# e em &ouco tem&o a mesa enorme mati'ou-se $e mil cores) N(ovou $escrever-vos as iguarias+ n(o /alarei $as tortas $e creme# $o &rato $emiu$e'as *ue acom&anhou a so&a# $o &eru com amei7as e &assas# e $a*uele&rato *ue /a'ia lembrar sola com molho $e :vass# ou ain$a um outro#ver$a$eiro canto $e cisne $e co'inheiro antigo# *ue /oi servi$o envolto emchamas# com gran$e &avor ri$@culo $as senhoras) Na$a $irei $estes ace&i&es&or*ue &re/iro $e longe sabore9-los a servir-me $eles como tema &ara gran$es$iscursos)

!m &ei7e com molho $e rabanetes o/ereceu a Ivan Ivanovitch umaagra$9vel ocasi(o &ara e7ercer as suas /acul$a$es nutritivas) Entretinha-se elea en/eitar o bor$o $o &rato com as es&inhas# *uan$o ma*uinalmente o seuolhar se /i7ou no la$o o&osto $a mesa))) Senhor# Deus meu# seria &oss@vel2Tinha $iante $e si Ivan Ni:i/orovitch

No mesmo instante Ivan Ni:i/orovitch levantou os olhos $o &rato) N(o+necessito $outra &ena) >ara $escrever semelhante *ua$ro a minha ,$emasia$o hesitante# $emasia$o /r9gil ))) Estavam &etri/ica$os $e es&anto);a$a um $eles tinha $iante $e si um rosto bem conheci$o# rosto $um amigo*ue se es&era h9 muito tem&o e a *uem a to$o o momento se vai o/erecer ataba*ueira# $i'en$o. <Sirva-se)))=# ou ent(o. =Queria-lhe &e$ir um /avor)))) E

contu$o# este rosto metia me$o como se /osse um sinal $e mau agoiro Os $oishomens suavam em bica)

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;om os olhos /i7os nos velhos amigos# to$os os circunstantes &er$eram$urante um tem&o o uso $a /ala) At, as senhoras interrom&eram um col0*uioa&ai7onante sobre a arte $e ca&ar galos) 4e'-se um sil"ncio total) Qua$ro bem$igno $e ins&irar o &incel $e um mestre)

Ivan Ivanovitch acabou &or recorrer ao len6o# en*uanto Ivan Ni:i/orovitch#

&assean$o o olhar ? volta $a sala# /i7ou-o na gran$e &orta &rinci&al# *ue estavaaberta) O &resi$ente# *ue sur&reen$eu esse olhar# a&ressou-se a man$9-la/echar hermeticamente) De&ois $isto ca$a um $eles se enterrou novamente naca$eira# e n(o levantou mais os olhos $o &rato)

1al terminou o 8antar# ambos &egaram resolutamente nos res&ectivosgorros# na nsia $e se retirarem ime$iatamente) Ent(o# a um sinal $o&resi$ente# Ivan Ivanovitch - n(o o nosso her0i# o outro# o 'arolho - colocou-se&or $etr9s $e Ivan Ni:i/orovitch en*uanto o &resi$ente cortava a retira$a a IvanIvanovitch+ come6aram a em&urr9-los um &ara o outro# na /irme inten6(o $e osobrigar a a&ertar a m(o) A ver$a$e , *ue Ivan Ivanovitch# o 'arolho# em&urrouIvan Ni:i/orovitch um boca$o $e esguelha# mas mais ou menos na $irec6(o $e

Ivan Ivanovitch) 1as o &resi$ente# im&otente &ara im&or a sua vonta$e ? &ernaco7a# *ue# &recisamente nesse $ia# estava muito in$isci&lina$a e tomava asiniciativas mais sur&reen$entes Kconse*u"ncia &rov9vel $e liba6%es /re*uentese varia$asL# o &resi$ente em&urrou Ivan Ivanovitch t(o $esa8eita$amente *ueeste se $es&enhou sobre uma senhora vesti$a $e vermelho# a *uem acuriosi$a$e tinha atra@$o &ara o meio $a sala) Este inci$ente n(o agoirava na$a$e bom) >ara re&arar a /alta $o &resi$ente# o 8ui' tomou o seu lugar e#sorven$o com uma ins&ira6(o /orte to$o o tabaco em $e&0sito sobre o l9bio#em&urrou Ivan Ivanovitch $o la$o o&osto) Esta /orma $e reconcilia6(o#caracter@stica $e 1irgoro$# tem muitas semelhan6as com o 8ogo $a bola)Quan$o o 8ui' &s Ivan Ivanovitch em &osi6(o# Ivan Ivanovitch - o outro# o'arolho - em&urrou na sua $irec6(o Ivan Ni:i/orovitch# *ue suava em bica) A&esar $uma resist"ncia encarni6a$a# e gra6as ao a&oio &resta$o ?s /or6as&ro&ulsoras &or alguns $os convi$a$os# os nossos $ois amigos encontraram-se/inalmente /ace a /ace) Z volta $eles /ormou-se um c@rculo a&erta$o# $is&osto an(o se abrir at, eles a&ertarem as m(os)

- Ora vamos l9 ver# Ivan Ivanovitch e Ivan Ni:i/orovitch# *ual , no /un$o omotivo $a vossa $esaven6a2 Na$a# uma ninharia# com certe'a) N(o t"mvergonha# &erante Deus e &erante os homens# $e tomarem uma atitu$e$essas2

- Eu n(o sei bem - balbuciou Ivan Ni:i/orovitch ar*ue8ante# com to$o o ar 

$e *uem estava &ronto a ce$er -# eu n(o sei bem *ue mal &osso eu ter /eito aIvan Ivanovitch) >or*ue , *ue ele $estruiu a minha ca&oeira e ain$a &or cima*uis atentar contra a minha e7ist"ncia2

- Eu n(o sou cul&a$o $e *ual*uer m9 inten6(o - re tor*uiu Ivan Ivanovitchsem levantar os olhos &ara Ivan Ni:i/orovitch) - uro# &erante Deus e &erante osres&ons9veis cavalheiros a*ui &resentes# *ue nunca /i' mal nenhum ao meuinimigo) >or*ue , *ue ele h9-$e $i/amar e insultar o meu nome e a minha&osi6(o2

- Em *ue , *ue eu o insultei# Ivan Ivanovitch21ais um minuto# e e7tinguir-se-ia &ara sem&re a*uela longa inimi'a$e)

Ivan Ni:i/orovitch 89 tinha a m(o no bolso &ara tirar a taba*ueira# e &ronunciar o

sacramental. <Sirva-se

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- Ent(o o senhor - recome6ou Ivan Ivanovitch - n(o consi$era *ue , uminsulto o ter su8a$o o meu nome e o $a minha /am@lia com um termo *ue ores&eito a este lugar me im&e$e $e re&etir2

- Ora vamos l9 ver a*ui# entre amigos - ri&ostou Ivan Ni:i/orovitch# *ue$eu uma &rova evi$ente $a sua boa vonta$e tocan$o com um $e$o num $os

bot%es $a sobrecasaca $e Ivan Ivanovitch - >or *ue $iabo lhe subiu a mostar$aao nari'2 >or*ue eu lhe chamei pato bravo...1al acabou $e soltar esta &alavra# Ivan Ni:i/orovitch lamentou - mas 89

era tar$e - a sua im&ru$"ncia) Era o /im $e tu$o Se *uan$o tinha si$o&ronuncia$a sem testemunhas Ivan Ivanovitch se tinha en/ureci$o $e tal mo$o*ue &er$era com&letamente a no6(o $as reali$a$es# &o$eis imaginar# carosleitores# o terr@vel e/eito *ue lhe causou a men6(o $a &alavra /atal &erante umareuni(o on$e estavam &resentes tantos in$iv@$uos $um se7o *ue ele res&eitavat(o &ro/un$amente Se ao menos Ivan Ni:i/orovitch tivesse $ito =ave= em ve'$e =&ato bravo=# as coisas ain$a se teriam &o$i$o com&or) 1as =&ato bravo=N(o# estava tu$o acaba$o)

Ivan Ivanovitch lan6ou um olhar ao a$vers9rio - e *ue olhar !m olhar *ue# se /osse $ota$o $e &o$er e7ecutivo# teria re$u'i$o Ivan Ni:i/orovitch a &0)Os convi$a$os# *ue inter&retaram o signi/ica$o $a*uele olhar# a&ressaram-se ase&ar9-los) E este bom homem# *ue nunca $ei7a &assar um men$igo ? sua&orta sem se in/ormar $a sua saú$e e $as suas $i/icul$a$es# este mo$elo $evirtu$e &s-se em /uga# &resa $um ata*ue $e c0lera) S(o assim astem&esta$es *ue a &ai7(o $esenca$eia

Durante um longo m"s ningu,m ouviu /alar $e Ivan Ivanovitch) N(o sa@a$e casa) O co/re secreto /oi aberto# e $esse co/re sa@ram - imaginem o *u" -na$a menos *ue os $uca$os# os antigos $uca$os $os seus ante&assa$os) Eestes $uca$os &assaram &ara as m(os su8as $os homens $e leis) O caso /oientregue ao Su&remo Tribunal) E s0 *uan$o Ivan Ivanovitch recebeu a gratanot@cia $e *ue a senten6a seria $a$a no $ia seguinte# s0 ent(o ele se resolveua sair $e casa) 9 l9 v(o $e' anos# e $es$e essa $ata to$os os $ias o Tribunalo in/orma *ue a senten6a ser9 $a$a no $ia seguinte

;erto $ia# h9 cinco anos# atravessava eu 1irgoro$ numa ,&oca bem m9) A esta6(o ia avan6a$a. um outono triste o/erecia generosamente a suahumi$a$e# os seus lama6ais e os seus nevoeiros) !ma vegeta6(o $e/inha$a e*uase arti/icial# engen$ra$a &or uma chuva lúgubre e incessante# revestia oscam&os e os &ra$os# e /icava-lhes t(o mal como uma bre8eirice na boca $umvelho ou uma rosa no &eito $uma mulher $e i$a$e) Nessa ,&oca# o esta$o $o

tem&o in/luenciava muito o meu esta$o $e alma. *uan$o ele estava triste#tamb,m eu entristecia) E contu$o# *uan$o me a&ro7imei $e 1irgoro$ o meucora6(o batia mais $e&ressa) 1eu Deus Quantas recor$a6%es Cavia $o'eanos *ue eu n(o via esta bela ci$a$e Nessa ,&oca havia $ois amigos *ue$e$icavam um ao outro uma comove$ora ami'a$e) E $es$e essa ,&oca#*uantos homens c,lebres n(o tinham $esa&areci$o O 8ui' Demianovitchmorrera# assim como Ivan Ivanovitch# o 'arolho) Quan$o a minha carruagementrou na rua &rinci&al# surgiam $e to$os os la$os &ostes coroa$os com um/ei7e $e &alha. tinham come6a$o os trabalhos) Entretanto $eitaram-se abai7oalguns casebres# e os $estro6os amontoavam-se tristemente a*ui e al,m)

Era $ia $e /esta) >arei a carruagem $iante $a igre8a# e entrei t(o

silenciosamente *ue ningu,m $eu &or mim) De resto# *uem , *ue se havia $evoltar2 At, os &aro*uianos mais $evotos tinham /ica$o em casa &ara /ugir ?

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chuva e ? lama) Na igre8a va'ia /iltrava-se uma lu' $,bil# $oentia# e a clari$a$e/raca $os c@rios acentuava a sensa6(o $e mal-estar) A triste'a subia $asca&elas escuras# e a chuva chorava nos vi$ros re$on$os $as 8anelas altas)

Quan$o entrava numa $as ca&elas# avistei um velho $e as&ectores&eit9vel# com a cabe6a branca)

- Descul&e-me a &ergunta. Ivan Ni:i/orovitch ain$a , vivo2Neste momento a lam&arina *ue ar$ia $iante $uma imagem sagra$alan6ou uma lu' mais viva *ue inun$ou o rosto $o meu vi'inho) ;om gran$esur&resa# reconheci Ivan Ni:i/orovitch em &essoa - mas *ue mu$a$o

- ;omo tem &assa$o# Ivan Ni:i/orovitch2 O senhor mu$ou muito- Sim# envelheci - res&on$eu-me ele) - Acabo $e chegar $e >oltava)- De >oltava ;om um tem&o $estes2- H &reciso Tratar $o meu &rocesso))) Ao ouvir-me sus&irar# Ivan Ni:i/orovitch acrescentou.- N(o se a&o*uente. tenho in/orma6(o $e /onte segura *ue a $ecis(o ser9

$a$a na &r07ima semana# e *ue ser9 a meu /avor)

Encolhi os ombros e &arti em busca $e Ivan Ivanovitch)- Olhe# l9 est9 ele - $isse-me algu,m) - Ali ao &, $a igre8a)Olhei e vi um homem magro# com os cabelos com&letamente brancos e a

testa sulca$a $e rugas &ro/un$as) Seria $e /acto Ivan Ivanovitch2 Sim# era $e/acto Ivan Ivanovitch# en/ia$o na sua eterna sobrecasaca) A&0s os &rimeiroscum&rimentos# &erguntou-me com a*uele sorriso *ue t(o bem se coa$unavacom a /orma oval $o seu rosto.

- Quer saber uma novi$a$e agra$9vel2- O *ue ,2- Amanh( , o $ia $o meu triun/o. o tribunal $9 amanh( a senten6a a meu

/avor# segun$o uma in/orma6(o segura *ue acabo $e receber)Esca&ou-se-me $o &eito um sus&iro ain$a mais /un$o) A&ressei-me a

$es&e$ir-me# alegan$o *ue tinha algo $e urgente a tratar# e subi &ara a minhabritch:a)

 As &obres &ilecas# *ue em 1irgoro$ s(o ba&ti'a$as com o nome $ecavalos $e &osta# &useram-se em marcha &enosamente+ o ru@$o $as &atas nalama &ar$a /eria-me os t@m&anos) A chuva *ue ca@a torrencialmente enchar-cava o 8u$eu &en$ura$o no cimo $o assento# abriga$o a&enas &or uma velhaesteira $e 8unco) A humi$a$e &enetrava-me $e alto a bai7o) Desli'aram-melentamente &erante os olhos as &ortas sombrias $a ci$a$e# on$e# meti$o naguarita# um alei8a$o remen$ava a rou&a es/arra&a$a) De&ois# re&etiram-se as

mesmas cam&inas &ar$acentas# as mesmas &ra$arias lustrosas# a mesmachuva mon0tona# o mesmo c,u a rebentar $e l9grimas e $eses&ero) Ah# meusamigos# como , triste o mun$o em *ue somos /or6a$os a viver