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    Virtual n 1

    CULTURA IORUBCostumes e Tradies

    Maria Inez Couto de Almeida

    Ifatosin

    2006

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    Copyright @ 2006 Maria Inez Couto de Almeida

    Projeto de Extenso Universitria da UERJ Publicaes Dialogarts

    Sub-Reitoria de Extenso e Cultura SR2

    Departamento de Programas e Projetos de Extenso DEPEXT

    Centro de Educao e Humanidades CEH

    Instituto de Letras ILE

    Departamento de Lngua Portuguesa, Literatura Portuguesa e FilologiaRomnica LIPO

    Coordenao: Prof. Dr. Darcilia Simes e Prof. Dr. Flavio Garca

    Assessoria Executiva: Prof. Dr. Cludio Cezar Henriques

    Revises de lngua, digitao e diagramao: Flavio Garca

    Diagramao: Flavio Garca e Poliana Azevedo de MacedoCapa: Darcilia Simes, Flavio Garca e Maria Inez Couto de Almeida

    Coleo Em Questo virtual

    www.dialogarts.com.br/

    S390 A lmeida , Mar ia Inez Couto de .

    Cu l tu ra Io rub: costumes e t rad ies / Mar ia

    Inez Couto de Almeida, I fa tosin . Rio de

    Jane i ro : D ia logar ts , 2006 .

    173 p . (Co leo Em Questo v i r tua l, n 1 )

    B ib l iogra f ia .

    ISBN 85 -86837-24 -5

    1 . Iorub (Povo af r icano) Cul tura , usos ecostumes. 2 . Cu l tos a f ro -bras i le i ros . I . T tu lo .I I . Sr ie .

    CDD 391392

    393

    2

    http://www.dialogarts.com.br/http://www.dialogarts.com.br/
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    ndice

    PREFCIO .. . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. 5 DEDICATRIA .. . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . 9 AGRADECIMENTOS .. . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . 10INTRODUO... . . . . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . 12COSTUMES E TRADIES.. . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. 14O R E I . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . 22 HIGIENE E BELEZA .. . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . 28COMPORTAMENTO GRUPAL . . .. . .. . .. . .. . .. . .. 38CASAMENTO E MORTE .. . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . 54O SOBRENATURAL NO FOLCLORE AFRICANO... . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . 80 EXEMPLO DE LENDAS DO FOLCLORE IORUB.. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . 84 AS BRUXAS .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. 87 RELIGIO ... . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . 92

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    O PENSAMENTO IORUB SOBRE O CRIADOR... . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .. . . . . 94 CONHECIMENTOS SOBRE ALGUNS ORIXS100 IDIOMA.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .144 NOMES PRPRIOS E TTULOS .. . . .. . . . . .. . . . .146MESES DO ANO ... . . .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . .151DIAS DA SEMANA (nomes tradicionais) .153 PROVRBIOS E ADIVINHAES .. . . .. . . . . .. . .154SAUDAES.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .159 PALAVRAS ESPECIAIS FORMA DE EXPRESSARSENTIMENTOS .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .166 DEDICATRIAS.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .170 BIBLIOGRAFIA .. . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . . . . ..171 MARIA INEZ COUTO DE ALMEIDA .... . . . . . . .173

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    PREFCIOEm 2002, para a edio impressa deste mesmo ttulo

    na Coleo Em Questo, dizamos que aquele ento novo

    volume Cultura lorub - Costumes e tradies punha em

    destaque a cultura negra iorubana, trazida para o Brasil pelos

    escravos africanos, nos pores dos navios negreiros, durante

    o longo perodo de trfico de escravos entre a costa africana e

    a Amrica. Junto mo-de-obra importada fora, veio um

    complexo sistema ideolgico-mtico-religioso de ver e de estar

    no mundo. A filosofia de vida do africano, que cruzara o vasto

    Atlntico, procurou, no novo mundo, sob a fria dos aoites,

    um modo de resistir, de subsistir, de adaptar-se, de perma-

    necer.

    No Brasil, sob a designao popular e mais genrica de

    candombl, a cultura e a religio africanas encontraram lugar

    e mantiveram-se vivas. Mas muito de sua tradio histrica,

    de suas origens nativas, de sua essncia, ou se perdeu ao

    longo dos tempos, ou se deixou embotar pela presso crist

    do mundo branco. Hoje, tem-se feito grande esforo no

    sentido de recuperar e restituir ao candombl as bases de

    sua gnese. E a universidade brasileira vem dando sua

    contribuio, com programas de estudo, ncleos culturais,

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    cursos de ps-graduao e publicaes. Enfim, o candombl

    vem daindo dos pores dos navios negreiros, das senzalas,

    dos quilombos e entrando pela porta da frente na sociedade

    letrada.

    Hoje, para esta nova edio de Cultura lorub -

    Costumes e tradies, inaugurando a Coleo Em Questo

    virtual, tantos outros poderiam ser os motivos evocados para

    justific-la. Os PCNs (Parmetros Curriculares Nacionais do

    MEC) abordam a necessidade do ensino da Cultura Afro-

    Brasileira na Educao Bsica. De 2002 para c, foram

    criados cursos universitrios de Graduao especificamente

    sobre Cultura Afro-Brasileira. Cresceram, a perder de vista, as

    Ps-Graduaes tanto em Cultura quanto em Religies Afro-

    Brasileiras. Cursinhos de extenso vm pululam Brasil fora,

    divulgando aspectos variados da Cultura Afro-Brasileira. So

    muitos eventos acadmicos, eventos sociais, eventos

    culturais, festas, festivais, publicaes... a Cultura Afro-

    Brasileira sendo lembrada e exaltada em cada cantinho

    perdido deste imenso Brasil.

    Nesse cenrio vasto e diversificado que ora seapresenta, ainda resta um espao reservado para esta nova

    publicao de Cultura lorub - Costumes e tradies, que,

    agora virtual e gratuita, poder atingir os cantes perdidos por

    a e contribuir, de maneira prpria, com tantas outras

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    iniciativas afins, que tematizam e divulgam, de maneira sria

    e cientfica, a cultura e a religio afro-brasileiras.

    Maria Inez, pesquisadora competente e dedicada, 24

    horas por dia vivendo a atmosfera do candombl, dentro e

    fora de sua casa de santo, em seu lar, em seu escritrio,

    diante de seu computador, Maria Inez tem contribudo

    bastante com todos os que a procuram. So tradues do

    iorub para o portugus ou verses do portugus para o

    iorub; so rezas, cnticos, ervas, sementes; so histrias,

    lendas, curiosidades; enfim, um pouquinho de cada coisa,

    com uma pitada aqui e ali de danas, de comidas, de bebidas,

    de prazeres. Mas, tambm, de seriedade, de contatos

    msticos e respeitosos com os orculos, de orientao, de

    amizade.

    Desse modo, retornando quela apresentao que

    fizera em 2002, cabe concluir apontando que, novamente, vai

    aqui mais uma contribuio ao estudo de temas que andam

    sempre Em Questo. Este texto, assinado pela portuguesa

    Maria Ins Couto de Almeida, Ifatosin, brasileira desde

    criancinha pois veio para c aos 5 anos de idade eafricana na filosofia de vida h mais de 20 anos pois data de

    muito longe sua iniciao na casa de Pai Jernymo - pretende

    ocupar um pequeno espao nas tendncias que ora se

    ocupam da afro-descendncia, repor as coisas no seu lugar

    mais apropriado.

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    Humilde, mas informativo; curto, mas profundo; singelo,

    mas didtico. Assim Cultura lorub - Costumes e tradies.

    Assim tambm Maria Inez, a quem agradeo a chance e a

    graa de ter podido conviver, mesmo que brevemente, na

    intimidade do saudoso, amigo, afetivo, grandioso e

    espiritualizado Pai Agenor, que teremos sempre guardado em

    nossa boa memria.

    Maio de 2006

    Flavio GarcaDoutor em Letras pela PUC-RJ

    Professor Adjunto da UERJ/UniSUAMKekereawo - Babalorix

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    DEDICATRIA Dedico este livro a minha filha Luciana.

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    AGRADECIMENTOS(o mesmo da edio impressa de 2002)

    Se pudesse, faria um livro inteiro de agradecimentos a

    todas as pessoas que participaram de minha vida,

    estimulando este projeto a longo de quase 20 anos.

    Agradeo, acima de tudo, a Oy e Obaluaiy, que me

    escolheram para ser sua filha;

    Ao Babalorix Jernymo de Souza, de Xang (in memoriam),

    que me confirmou essa escolha;

    Ao Prof. Agenor Miranda Rocha, pelo enorme apoio e foraque me deu, quando mais precisei, e que continua me dando

    at hoje;

    A meu pai carnal Armando Paulino de Almeida (in memoriam),

    a quem devo tudo que sou e que tenho;

    Ao Dr. Richard Yianka Alabi Ajagunna, que despertou em mimo amor pela cultura nigeriana;

    Ao Babalorix Jlio dOxossi, pela orientao espiritual;

    Ao Babalorix Flavio dOy Prof. Flavio Garca -, pelo apoio

    neste projeto;

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    A Mrcia Schlesinger e Carlos Lopes (Hekamiah) pela fora e

    insistncia.

    Maria Inez Couto de AlmeidaIfatosin

    Notas do Editor:

    Caberia alterar a redao do primeiro de quase 20 anos para mais de 20 anos;

    importante registrar que, hoje, o agradecimento ao Prof. Agenor Miranda Rocha tambm passaserin memorian, uma vez que nosso querido guia espiritual j nos deixou;

    Tambm vale a pena dizer que o Babalorix Jlio dOxossi o atual zelador de santo e guiaespiritual de Maria Inez.

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    INTRODUOEste livro se prope a mostrar um pouco da cultura e da

    tradio africanas, especialmente da Nigria.

    A idia surgiu durante aulas particulares de iorub,ministradas por Michael Ademola Adesoji.

    Muita coisa foi escrita em portugus sobre religies

    afro-brasileiras, porm muito pouco se refere a tradies e

    costumes que originaram grande parte das tradies do

    Candombl, sem ter a religio como tema principal. Cabe citar

    os excelentes romances de Antnio Olinto, obrasconsagradas, que alm do enredo bsico relatam com muita

    fidelidade os costumes tradicionais da Nigria.

    No pretendemos fazer um guia de costumes, nem nos

    passou pela cabea em momento algum criticar ou corrigir o

    que se faz no Brasil j h tantos anos, pois temos

    conscincia, inclusive como praticantes da religio, que as

    tradies trazidas da frica pelos escravos sofreram, como

    no podia deixar de ser, modificaes devido aculturao,

    transmisso oral, miscigenao de raas, e principalmente

    condio de opresso em que viviam os escravos, que alm

    de terem um idioma completamente diferente do dos

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    colonizadores, no podiam se comunicar livremente entre si e

    eram tratados como mercadoria. Sem contar que vinham de

    diversos pontos da frica, trazendo costumes e tradies

    diferentes, j que estamos escrevendo especificamente sobre

    a Nigria, regio de Ketu, origem do Nag.

    Repetimos que no nosso pensamento ensinar nada.

    Queremos apenas prestar uma homenagem aos nossos

    ancestrais, mostrando aos interessados como se faziam e

    fazem cultos e rituais, e como surgiram de alguma forma nas

    religies afro-brasileiras alguns costumes do dia-a-dia

    nigeriano.

    A idia original foi compartilhada com o Prof. Michael,

    que traduziu todos os textos iorub da pesquisa. No tenho

    mais notcias dele, deve ter voltado sua ptria, masagradeo muito sua colaborao e o grande apoio que me

    deu no incio.

    O que posso dizer do nosso trabalho que, embora

    sem a pretenso de ser uma grande obra, foi feito com

    dedicao e seriedade.

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    COSTUMES E TRADIESVerificamos uma grande semelhana entre os

    costumes tradicionais dos iorub - independente de religio, e

    os rituais nas cerimnias dos candombls de Ketu, no Brasil.

    No pretendemos, nem sequer podemos, discutir

    fundamentos. Queremos apenas mostrar pontos comuns

    entre os antigos hbitos dos povos que formavam o grupo

    iorub e o comportamento atual dos adeptos da religio

    trazida para o Brasil. Acreditamos em uma adaptao dos

    costumes para propiciar a aplicao dos fundamentos.

    Cuide de suas maneiras

    Cuide de suas maneiras, meu amigo!

    A honra pode abandonar nossa casa,

    e a beleza, s vezes, acaba.

    O rico de hoje pode ser o pobre de amanh.

    A honra como o mar,

    e tambm a onda da riqueza;

    ambas podem escapar de nossa casa.

    Mas as boas maneiras acompanham-nos

    at ao tmulo.

    O dinheiro no nada,

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    As boas maneiras que so

    a beleza da humanidade.

    Se voc tem dinheiro, mas no se comporta bem,

    quem ir confiar em voc?

    Ou, se voc uma mulher muito linda,

    mas no se comporta de maneira adequada,

    quem desejar t-la como esposa?

    Ou, ainda, se voc muito educado,mas engana as pessoas,

    quem confiar em voc para negcios?

    Cuide de suas maneiras, meu amigo.

    Sem bons modos, a educao no tem valor.

    Todos amam uma pessoa que sabe se comportar.

    Esta poesia iorub retrata bem os costumes e a

    importncia que o povo d educao e honra.

    TOJ W RE

    Toj w re, ore mi!

    Ol a ma si lo nil eni,

    Ew a s ma s lra enia,

    Olw n ndi ols b dola

    kun lola, kun ngb oro,

    Gbogbo won l ns lo nl eni;

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    Sgbon w ni mbni d sree,

    Owo k je nkan fn ni,

    w lew lomo enia.

    B o lw b o k n w nko,

    Tani je fin tn o b ohun rere?

    Tb b o s e obrin rogbodo,

    B o b jn s wa t ed nfe,

    Tan je fe a sl b aya?Tb bi o je onjbt enia,

    B a tile mo w modj,

    Tan je gb se aje fn o se?

    Toj w re, ore mi,

    w k s, eko dgb,

    Gbogbo aiye ni nfe ni t je rere.

    A importncia dada ao bom carter (wpele)

    w o que caracteriza uma pessoa sob o ponto de

    vista tico. Para ser feliz uma pessoa deve ter w pele, pois

    quem tem bom carter no entra em choque com os seres

    humanos nem com os poderes sobrenaturais. Esse o mais

    importante dos valores morais iorub, e a essncia da f

    consiste em cultiv-lo.

    A lenda de w relatada na literatura de If.

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    w era uma mulher de rara beleza com quem Ornml

    se casou, aps ela ter se separado de diversos outros

    deuses.

    Apesar de sua beleza, w tinha maus costumes e

    falava demais, sendo ainda preguiosa e irresponsvel.

    Depois de algum tempo de casados, Orunmila, no

    podendo suportar o mau comportamento de sua esposa,

    mandou-a embora.

    Entretanto, quando w partiu, Ornml percebeu que

    no podia viver sem ela. Perdeu o respeito dos vizinhos, sua

    prtica divinatria perdeu o valor, seus clientes se afastaram,

    ficou sem dinheiro, enfim perdeu tudo e foi desprezado por

    todos.

    Tentando achar uma soluo, vestiu-se de Egngn e

    saiu por a, procura de w. Foi casa dos 16 odu de If

    procura da esposa, cantando na porta de cada um:

    Grande Sacerdote de If deAjer,

    Adivinho deAjer,

    Onde voc virw, diga-me.

    w, w que estou procurando.

    Se voc tem dinheiro, mas no tem w,

    O dinheiro no seu;

    w a pessoa que eu procuro.

    Se algum tem filhos, mas no tem w,

    As crianas pertencem a outra pessoa;

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    w, w quem ns procuramos...

    Se temos uma casa, mas no temos w,

    A casa no nossa, de outra pessoa.

    w, w o que procuramos.

    Se voc tem roupas, mas tem falta de w,

    As roupas pertencem a outra pessoa.

    w, w o que procuramos.

    Todas as boas coisas da vida que um homem possui,

    Se ele perderw, elas passam a pertencer a outra pessoa.

    w, o que estamos procura!

    (Ogbon in, awo Alr;

    Df fn Alr, j Os,

    Omo Amrin kn dogbon agogo.

    morn, awo Ajer, Dif fun Ajer,

    Omo gbj koroo j jle.

    Nbo l gb rw fn un o,

    w, w l n'w o, w.

    n b o lw, t nw,

    Owo olw ni.

    w, w l n'w o, w.

    Omo la b,

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    T nw, Omo olomo ni.

    w, w l n'w o, w.

    B a nl, t nw,

    Il oml ni.

    w, w l n'w o, w.

    B a lso,t nw

    Aso, also ni.

    w, w l n'w o, w.Ire gbogbo t a ni,

    T nw.)

    Depois de grande procura Orunmila achou w casada

    com Oljo. Quando cantou na porta de Oljo, este foi porta

    receb-lo e recusou-se a devolv-la. Ento eles comearam a

    brigar. Ornmil bateu em Oljo com a perna de uma cabraque havia sacrificado antes de sair de casa. O impacto atirou

    Oljo a muitas milhas de distncia, e w foi levada de volta

    para sua casa.

    Ao analisar a lenda vemos as vrias razes da

    importncia dada a w.

    Primeiro importante que o bom carter seja

    simbolizado por uma mulher. No folclore iorub as mulheres

    representam os dois extremos - amor, cuidado, devoo e

    beleza, versus fraqueza, deslealdade e falsidade. S as

    mulheres podem simbolizar essa dualidade, de acordo com o

    conceito iorub.

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    A lenda mostra ainda que o homem deve cuidar de seu

    carter to bem como cuida de sua esposa. Da mesma forma

    que manter a esposa obrigao do marido, o bom carter

    deve ser uma obrigao para os que tm f e querem viver de

    forma correta.

    As mulheres so consideradas bruxas e podem at ser

    mentirosas, mas os iorub crem que a sociedade no pode

    sobreviver sem elas. Da mesma forma, pode ser difcil ter

    bom carter, mas no se pode ser feliz sem ele.

    w foi uma mulher que perdeu os bons hbitos.

    Significa que o homem que quer ter bom carter deve estar

    preparado para encarar egbin - coisa suja - e passar por

    algumas situaes desagradveis, que podem ofender sua

    dignidade e decncia. Mesmo assim no deve se desviar dobom caminho, para no perder a essncia e o valor de sua

    vida.

    Os versos equiparam w aos bens materiais que os

    homens almejam: dinheiro, filhos, casa e roupas. Um homem

    que tem bens materiais, mas no tem carter, provavelmente

    ir perder tudo para uma pessoa de carter, que saber

    melhor tomar conta desses bens. w o atributo de maior

    valor entre todos, no sistema iorub.

    Vemos que o costume dos zeladores de santo, de

    transmitir ensinamentos atravs de lendas (itans) em que os

    Orixs se comportam como pessoas comuns, com seus

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    defeitos e fraquezas, tambm uma herana da cultura

    tradicional iorub.

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    O R E I

    Como era escolhido

    Somente trs meses aps a morte de um rei Iorub

    que o Conselho encarregado de escolher o novo rei

    comeava a busca, entre os descendentes das famlias reais.

    As pessoas que tinham condies de ocupar o trono

    eram apontadas pelas famlias, e comeavam as pesquisas

    para a escolha do novo rei.

    Primeiro era consultado um Babalawo, para saber qual

    a indicao de If (orculo). No jogo de bzios If apontava o

    nome escolhido, e em seguida o Conselho dava a deciso

    final, de acordo com as investigaes sobre sua vida. Quando

    finalmente o nome era aceito, ningum mais podia ir contra a

    escolha.

    Em seguida, a Prefeitura local era informada, para

    aprovao oficial. S aps todas essas providncias era

    marcado o dia em que o escolhido saberia que tinha sido

    eleito rei, e seria apresentado ao povo.

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    Atualmente, nas localidades em que ainda se realiza

    essa cerimnia, a Prefeitura providencia segurana policial,

    para evitar tumultos, mas antigamente o prprio povo se

    encarregava disso.

    Todo o povo da localidade comparecia reunio para

    apresentao do rei, incluindo todos os candidatos a rei, sem

    saber quem fora o escolhido. O chefe do Conselho fazia um

    discurso explicando o motivo da reunio, e, em seguida, um

    guerreiro ou homem influente no local levantava-se e tirava o

    chapu do eleito.

    S nesse momento todos ficavam sabendo quem fora

    escolhido por If, inclusive o prprio, que ficava muito

    surpreso, emocionado e feliz.

    Em seguida batiam nele com uma folha especial, kik,

    entregavam-lhe um abebe (espcie de leque), e

    apresentavam-no ao povo, perguntando se gostaram da

    escolha. Todos respondiam:

    Kbys, kd pe lor ki bt pe lese

    (Saudamos o Rei, que a coroa fique por longo tempo em sua cabea

    e os sapatos em seus ps).

    Ao final da aclamao o novo rei era levado para casa

    de um membro do Conselho, pessoa influente na localidade, o

    odofin. L ele ficava recolhido por um perodo de trs meses.

    Passado esse prazo, era banhado, vestido com trajes tpicos,

    sapatos brilhantes, enfeitado com adornos que o deixavam

    2 3

  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    muito bonito, e o povo ia ao seu encontro, em meio a uma

    grande festa, levando-o para o palcio, onde passaria a

    morar.

    Fazia-se um ritual antes de entrar no palcio: eram

    apresentadas ao rei trs cabaas cobertas, a primeira

    contendo sal, a segunda, cinzas, e a terceira, leo de dend e

    terra. Alinhavam-se as mulheres de um lado e os homens do

    Conselho do outro, e o rei escolhia uma cabaa, cujo

    contedo indicava como iria ser o reinado. Se escolhesse o

    sal, o perodo seria tranqilo; as cinzas indicavam que as

    coisas no iam correr bem, pois eram sinal de mau agouro; j

    o dend e terra significavam que haveria fartura na cidade.

    Antes da cerimnia o rei oferecia um sacrifcio aos Orixs,

    para fazer uma boa escolha, que satisfizesse o povo.

    Depois da escolha, se tivesse sido tirada uma cabaa

    com um bom pressgio, todos festejavam e o rei era levado

    ao trono, e aclamado pelo povo:

    Kbys

    Oba alse ekeji ris!

    Ki d pe lr, ki bt pe lese!Ki gb tr dra fun gbogbo wa o!

    (Salve o rei,

    O rei de direito, segundo os Orixs!

    Que a coroa dure em sua cabea e os sapatos nos seus ps!

    Que no seu tempo tudo corra bem para ns!)

    2 4

  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    O novo rei percorria o palcio, visitando o tmulo dos

    reis mortos. Depois voltava para o trono, onde recebia a

    coroa e os paramentos, que variavam de acordo com a

    localidade. S ento o rei podia pela primeira vez se dirigir ao

    povo para agradecer, recebendo muitos presentes de todos

    (sal, obi, dinheiro etc.), e sendo saudado por suas esposas:

    Kbys.

    Oba odndn aso-de-dero

    Oba a de ki ile pet,...

    (Salve o Rei!

    Rei recoberto de gentilezas,

    O Rei chegou trazendo sade...)

    Aps esse dia, o rei submetia-se a diversos rituais

    espirituais de grande importncia, para passar a mandar em

    todo o povo da cidade, inclusive os mais velhos.

    Dessa antiga tradio originaram-se no Brasil os rituais

    e cerimonias relacionados com a escolha do Pai de Santo,

    nas casas de Ketu.

    A posse das terras

    Em princpio, todas as terras de uma localidade

    pertenciam ao rei. Isso inclusive citado numa cantiga

    tradicional: Rei, que tens a terra, deixa-me ter a terra para

    andar...

    2 5

  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Antigamente qualquer pessoa que quisesse um terreno

    teria que pedir ao rei. Atualmente deve dirigir-se Prefeitura

    da localidade onde se situa o terreno.

    O interessado em possuir um terreno fazia uma doao

    de obi, vinho de palma, etc., e a prefeitura ficava com uma

    parte, dividindo o restante com as pessoas importantes da rua

    onde se situava o terreno pretendido. A doao da terra era

    feita em cerimnia pblica, para construo de uma casa ou

    uma plantao. O terreno no podia mais ser retomado, a

    menos que a pessoa cometesse uma falta grave contra os

    doadores.

    O novo dono era obrigado a plantar em suas terras, e

    devia doar ao governo, todos os anos, uma parte da

    produo, que era estipulada de acordo com o tamanho doterreno e o tipo de plantao.

    De acordo com a tradio, nas cidades iorub deveria

    existir uma rea de mata, preservada, onde as pessoas iam

    fazer obrigaes para seus Orixs. Este local, de propriedade

    da Prefeitura, no pode ser invadido, nem pelos caadores,

    que s vo l na poca de suas festas religiosas.

    Atualmente, entretanto, os costumes mudaram

    bastante. Algumas cidades como Lagos, Ibadn, Abeokut e

    Iles no conservam mais o costume de preservar matas

    sagradas, pois nelas existem minerais valiosos que precisam

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    ser extrados do solo para o desenvolvimento econmico do

    pas.

    No Brasil, nas casas tradicionais de Ketu, existe um

    local sagrado na mata, onde so cultivadas ervas do culto e

    onde se faz oferendas e obrigaes. Esses locais so

    preservados, e proibida a entrada por qualquer outro motivo

    que no seja de fundo religioso. Devido falta de espao,

    principalmente nas grandes cidades, algumas Casas vo

    fazer suas obrigaes em matas pblicas.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    HIGIENE E BELEZA

    hbito de abrir cicatrizes no rosto

    Antiga prtica muito difundida entre os iorub, hoje em

    dia j no to comum, pois com o desenvolvimento cultural

    e tecnolgico perdeu a finalidade, e tende a desaparecer por

    completo.

    A origem desse costume foi na Nigria Ocidental (povo

    iorub), devido grande quantidade de guerras que havia na

    regio. Os fulani estavam sempre em guerra com os iorub, e

    as prprias cidades guerreavam entre si. No meio de uma

    batalha uma pessoa poderia matar algum do seu prprio

    grupo. J com as marcas no rosto a identificao tornou-se

    bem mais fcil, e s eram mortos ou aprisionados como

    escravos aqueles com marcas diferentes, ou os que no

    tinham marca alguma.

    Outro motivo para as marcas era que os escravos,

    quando no tinham marcas, levavam no rosto a marca de seu

    dono.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Os grupos familiares tambm costumavam marcar o

    rosto para facilitar a identificao de pessoas da mesma

    famlia, ao se encontrarem fora da cidade.

    Finalmente, algumas pessoas se achavam mais bonitas

    com cicatrizes no rosto, para estar na moda.

    Atualmente os ijeb e os ijes no cortam mais marcas

    no rosto dos recm-nascidos. Em Ondo so feitas marcas

    somente no rosto do primognito, enquanto em Oyo existemfamlias que fazem as cicatrizes at hoje.

    Alguns exemplos das marcas usadas nas diversas

    cidades do grupo iorub:

    1. bj meta - trs marcas horizontais grandes de

    cada lado do rosto, ou seis menores.

    2.bj merin - quatro marcas horizontais grandes de

    cada lado do rosto, ou oito menores.

    3. bj alagbele - um dos modelos anteriores com

    mais trs marcas verticais em cima.

    4. Pl - este tipo de marca feito para embelezar. So

    trs marcas verticais de cada lado do rosto. Caracterstica da

    cidade de Ife.

    5. Gombo - so trs marcas verticais laterais bem

    grandes de cada lado, da cabea at ao queixo. So

    caractersticas da cidade de Oyo.

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    6. Marca da cidade de Ondo - Uma cicatriz vertical,

    comprida, de cada lado, na frente do rosto.

    7. Marca de Ijeb - Trs marcas verticais curtas de

    cada lado do rosto.

    8. bj de Egb - trs marcas verticais em cima de

    trs horizontais.

    9. bj de Ijes - quatro marcas horizontais de cada

    lado.

    10. Pl de kit - uma marca vertical de cada lado do

    rosto (encontra-se tambm trs de cada lado).

    11.bj de kit - nove pequenas marcas horizontais

    (trs a trs) com trs verticais acima.

    12. Ture - diversas marcas verticais finas de cada lado.

    Ao encontrar uma pessoa com uma destas cicatrizes,

    voc poder facilmente identific-la como nigeriana.

    Tudo indica que as curas feitas nos filhos de santo

    foram originadas nesse costume, pois servem tambm como

    identificao das pessoas de candombl.

    Beleza do corpo

    Antigamente as mulheres iorub gostavam de

    embelezar o corpo com tintas e cortes.

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    Para fazer desenhos no rosto e partes visveis do corpo

    era usada a seiva de uma rvore chamada bje. O nome

    dessa pintura nbje, e demora muito a sair da pele.

    Outros produtos vegetais bastante usados eram o sn

    (tinta vermelha extrada de uma planta) e o ll (planta que

    tambm d colorao vermelha, tipo henna). O sn era

    usado nas festas de casamento, nascimento e posse do rei.

    Nessas ocasies encontravam-se mulheres pintadas com

    sn dos ps cabea, pois achavam que isso as tornava

    mais bonitas.

    Ao dar luz as mulheres costumavam embelezar seu

    corpo e o da criana com sn. Uma esposa nova na casa

    tambm costumava pintar os ps com sn noite, ao deitar,

    para ficar bonita.

    O uso de ll um costume hauss, trazido para a

    regio dos iorub pelos muulmanos. A folha era misturada

    com kanun. As mulheres pintavam os ps e as unhas das

    mos e ps, deixando descansar por algumas horas. Depois

    lavavam o local, e ele ficava cor-de-rosa.

    Uma das coisas de que os iorub mais gostavam eram

    as marcas. Muitas mulheres faziam cortes no rosto, testa,

    barriga, costas e at nas ndegas. No rosto usavam uma

    agulha, e no corpo uma lmina, colocando no corte um lquido

    chamado oye dd, que fazia com que as cicatrizes ficassem

    pretas.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Atualmente esse costume est praticamente extinto. Os

    catlicos e os muulmanos, por exemplo, no o adotam.

    Outra forma muito comum de embelezar o corpo era

    furar as orelhas, nariz ou lbios. Logo ao nascer um beb do

    sexo feminino, a me furava as orelhas para colocar brincos

    que, em certas regies como sul de Benue, terra dos tapa e

    hauss, eram pedaos de coral, sendo preciso furos bem

    grandes. Nos lbios e nariz eram usados anis ou um pedao

    grosso de coral.

    Destes hbitos, o nico que ainda permanece o de

    furar as orelhas.

    Aqui, mais uma vez, vemos que uma herana iorub

    o costume de pintar os iyawo com produtos naturais (waji,

    sn, etc.) para a festa da sada do seu Orix.

    Cuidados com os cabelos

    Outro costume dos iorub era a raspagem da cabea

    para os homens, e os penteados bem elaborados para as

    mulheres.

    H muito tempo, se o homem no raspasse a cabea

    era sinal at de falta de higiene. Atualmente o costume ficou

    restrito s aos mais velhos. S entre os hauss o costume

    ainda mantido por jovens.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Somente alguns homens deixavam o cabelo crescer, e

    usavam penteados especiais, que os identificavam como

    sendo devotos dos orixs: os filhos de Sango, os caadores

    de Ode e os olori.

    Na terra iorub, ao se encontrar um homem com um

    penteado especial, deve-se lembrar que pertence religio

    dos orixs.

    Cabelos de homem

    Antes da colonizao inglesa, os iorub iam raspando a

    cabea medida a que os cabelos cresciam, e espalhavam

    leo na careca para ficar brilhando. Os jovens mensageiros

    do rei, para serem identificados, costumavam raspar um dos

    lados da cabea, deixando os cabelos crescidos no outro

    lado. Era o chamado lar.

    Atualmente os homens usam o penteado que mais lhes

    agradar. Muitos preferem o estilo "black". Alguns usam

    penteados especiais, como j foi dito, por motivos religiosos.

    Cabelos de mulher

    As mulheres costumavam fazer diversos tipos de

    penteado. Cada estilo tinha um nome, como suk, alagogo,

    korob, etc.

    H trs tipos bsicos mais usados:

    3 3

  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Irun biba - o mais simples, deixa os cabelos soltos.

    Quando a mulher est com pressa, faz o biba, porque

    rpido e pode ser feito sem ajuda. Pode ser usado para sair.

    Irun kk - cabelos presos, o penteado executado com

    linha preta, para a mulher que no tem muitos cabelos. feito

    com a ajuda de outra pessoa.

    Irun dd - penteado preso, mais elaborado. Algumas

    formas de faz-lo:

    Um dos estilos chama-se sk. Os cabelos so

    penteados para cima e presos no alto, juntos.

    Outra forma de dd o ptewo (bater palmas). O

    cabelo dividido de orelha a orelha e penteado de baixo para

    cima dos dois lados, at se encontrarem. Quando pronto

    parece estar batendo palmas. feito por profissionais.

    Outro tipo o pnmo (boca fechada). Abre-se o

    cabelo em volta da cabea toda e penteia-se de baixo para

    cima e de cima para baixo, encontrando-se no meio.

    Ipko elede o cabelo solto, todo penteado para a

    frente.

    Antigamente esses penteados eram muito usados, e

    at ensinados nas escolas. Depois as jovens passaram a

    alisar os cabelos, pela influncia dos colonizadores de raa

    branca.

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    O hbito de raspar a cabea do iyawo parece no ter

    nenhuma relao com este costume, pois adotado para

    ambos os sexos, e simboliza o nascimento para uma nova

    vida, semelhante a um recm-nascido.

    Vesturio

    Antes da colonizao os iorub s usavam roupas

    tpicas, hbito que permanece at hoje, porm com

    modificaes de influncia ocidental.

    Trajes sociais masculinos (egbejod)

    Para sair, os homens idosos e ricos usam uma tnica

    grande, chegando at aos joelhos, chamada dndg. comum seu uso entre chefes de cidades.

    Outra tnica tpica o agbd, largo, bem simples, feito

    em qualquer tipo de tecido. Costuma ser usado por adultos,

    mas jovens tambm podem usar.

    J o gbry uma tnica sem mangas, com dois

    bolsos e bordados artsticos na frente.

    H tambm o bb, comprido, de tecido leve, e com

    mangas curtas ou compridas. aberto do lado na altura do

    peito, e fecha com trs botes. Serve tambm para usar

    como roupa de baixo.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Dnsk outro tipo de roupa que pode ser usada por

    baixo.

    Todas essas roupas so usadas sobre diversos tipos

    de cala (skt):

    Snyinmotan - tipo de cala apertada nas pernas, que

    chegava pouco abaixo do joelho. Era usada em situaes de

    trabalho em que a perna da cala pudesse atrapalhar. Hoje

    em dia no se usa mais.

    Soro - uma cala comprida, at altura do sapato. A

    boca no muito larga. Costuma ser usada com o bb.

    Kembe - uma cala tradicional, muito larga desde a

    cintura at altura do joelho, depois afinando para baixo at

    aos ps.

    Nenhum iorub sai com suas roupas tradicionais, sem

    um chapu (fil), que pode ser do tipo rb, bentigo, kete ou

    eletiaja, que tem pontas laterais, como orelhas de cachorro.

    Trajes femininos

    Para sair as mulheres iorub usam:

    Aso r - uma roupa enrolada em torno da cintura at

    aos ps, como uma canga. Costuma ser usada em cima do

    bb feminino, feito do mesmo tecido. Atualmente esses

    modelos so feitos em tecidos europeus.

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    Bb feminino - Semelhante ao masculino, mas com

    mangas mais curtas.

    Sm uma roupa para ser usada sob o bb.

    Principalmente quando o bb de renda ou lese, devido

    transparncia.

    Sobre o ombro esquerdo usa-se o iborn (tipo pano da

    costa das baianas), que pode ser de tecido ingls ou de aso

    oke.

    Quando as mulheres se vestem com esses trajes

    tpicos, indispensvel usar um turbante (gl) muito bem

    trabalhado.

    Para completar colocam braceletes, anis e cordes,

    pintam o rosto com atike e colocam tiro nas plpebras.

    No vesturio ritual das cerimonias de Ketu, predomina a

    influncia europia, com muitas saias rodadas, lams,

    brocados, sendo deixada de lado a autenticidade dos trajes

    regionais, bem mais simples, porm muito mais bonitos.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    COMPORTAMENTO GRUPAL

    A criana africana

    Normalmente imaginamos as crianas africanas criadas

    em liberdade, brincando na selva com elefantes e outros

    animais que s conhecemos do zo. A realidade, entretanto,

    bem diferente. Embora os costumes estejam se

    transformando rapidamente pela influncia europia, a

    educao dos filhos at hoje segue princpios rgidos.

    Assim que uma criana - de ambos os sexos - se

    mostra capaz de carregar um pacote sem deix-lo cair, ou de

    desempenhar pequenas tarefas domsticas, treinada para

    fazer servios de maior responsabilidade, auxiliando os

    adultos.

    A pobreza, aliada aos costumes tradicionais, obriga acriana a ter uma infncia pouco normal para a nossa

    cultura. Ela fornece sua parcela de mo-de-obra para o

    sustento da comunidade, nem que tenha, digamos, quatro

    anos de idade.

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Cada criana importante para o grupo como

    contribuio de trabalho, e em algumas tribos, antes da

    colonizao, as crianas que nasciam deficientes eram

    abandonadas, morrendo de fome e frio. Em alguns locais, at

    o nascimento de gmeos alterava a estrutura familiar, e um

    deles era sacrificado.

    Com poucos dias de nascida a criana amarrada s

    costas da me. Este processo faz com que ela se sinta

    segura, fique perto do alimento, e ao mesmo tempo seja

    embalada, enquanto a me trabalha. raro haver um beb

    choro, pois a crena diz que quando o beb chora porque

    a me infiel, e por isso as mes fazem tudo para evitar que

    seus filhos chorem.

    Ao crescer um pouco, a criana passa a ser carregadanas ancas de uma irm mais velha, ou outra menina da tribo,

    at aprender a engatinhar, fase que acontece mais cedo nas

    crianas de raa negra.

    Com a colonizao pelos pases europeus, entretanto,

    a estrutura primitiva das tribos mudou bastante, e essa

    influncia marcante no comportamento das crianas. Elas

    sabem que, se estudarem, vo ter uma vida melhor. Procuram

    aprender o idioma do pas colonizador, e tm como meta

    fazer um curso superior, de preferncia no exterior, voltando,

    entretanto, depois de formadas, para desempenhar as

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    funes junto ao seu povo, visando o desenvolvimento do seu

    pas.

    Chegam mesmo a procurar trabalhos remunerados

    para poder comprar livros, e na hora das provas foi

    constatado seu grande nvel de tenso e preocupao, muito

    maior do que o das crianas americanas da mesma idade.

    O sucesso de uma criana na escola considerado um

    sucesso de todo seu grupo, e h uma expectativa de que,depois de formada, recompense o grupo ajudando a educar

    as outras crianas.

    As brincadeiras limitam-se geralmente s ocasies de

    festa, entre a plantao e a colheita. As crianas ensaiam

    jogos, msicas e danas para apresentar na festa. Os ensaios

    so feitos em grupo, noite, sob o luar.

    Tambm nas grandes cidades, embora no haja esse

    envolvimento grupal, as crianas tm uma orientao rgida

    com relao a famlia, trabalho e estudo.

    Nos candombls de Ketu o trabalho distribudo entre

    os filhos, em prol do grupo, as tarefas variam de acordo comtempo de feitura e sexo do Orix, e os mais velhos tm

    sempre a obrigao de cuidar dos mais novos.

    Educao domstica

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Os iorub valorizam muito a educao e o respeito

    dentro de casa, transmitidos de pais para filhos.

    A importncia do cumprimento

    Pela manh, ao acordar, o filho tem a obrigao de

    cumprimentar os pais. Se for do sexo masculino ter que se

    baixar no cho, e do feminino dever se ajoelhar, e

    permanecer na posio at os pais lhe responderem ocumprimento. H ainda um cumprimento especfico para a

    tarde outro para a noite.

    Existem pessoas que tm direito a um cumprimento

    especial, como fazendeiros, Babalawo, caadores, ferreiros, e

    muitos outros. Todas as pessoas que esto trabalhando

    tambm so cumprimentadas por quem passa.

    Os reis tm direito a um cumprimento especial, j citado

    anteriormente, que demonstra o grande respeito que o povo

    lhes dedica. O cumprimento antigo, mas continua a ser

    usado at hoje, porque os reis so e sero sempre

    respeitados.

    Respeito aos mais velhos

    Os iorub geralmente respeitam e exigem respeito uns

    dos outros. Existe uma regra muito importante: o irmo mais

    novo no pode chamar o mais velho pelo nome. Deve dizer

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  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    meu irmo ou minha irm. Os pais tambm no podem ser

    chamados pelo nome.

    Na nossa cultura, normal os pais sarem de manh

    para comprar po e cuidarem de todos os afazeres

    domsticos, enquanto os filhos dormem.

    comum, tambm, os filhos se negarem a fazer o que

    os pais mandam, e alguns at xingam os pais. Na Nigria

    isso no acontece, porque a criao muito mais rgida, e d-se muita importncia educao dentro de casa. Os filhos

    desempenham pequenas tarefas, no se negam a fazer o que

    os pais mandam, e impera a obedincia e o respeito.

    No Brasil, nas casas de Ketu bem organizadas, que

    seguem os preceitos, os filhos, ao levantarem ou chegarem

    da rua, no podem falar com ningum antes de saudar os

    Orixs e o pai ou me de santo; devem cumprimentar o pai de

    santo abaixados, e aguardar ordem para se levantar. Cada

    membro da casa deve ser saudado de acordo com seu cargo

    na hierarquia, e reinam o respeito e a obedincia aos mais

    velhos.

    Escravido -ErX wof

    As palavras wof e er, embora paream ter o mesmo

    sentido - escravido - tm significados muito diferentes. Ser

    wof era muito melhor do que serer.

    4 2

  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Er

    A diferena de tratamento deve-se maneira como odono conseguia aquela pessoa para trabalhar para ele. O er

    era o escravo capturado durante a guerra que, adulto ou

    criana, era obrigado a trabalhar sem parar, sendo maltratado

    o tempo todo. Se morresse, ningum se importava.

    wofO wof era muito diferente. Tratava-se de uma pessoa

    alugada por seu pai a algum rico, em troca de dinheiro. O

    filho ficava morando com o novo patro, e trabalhando para

    ele at o pai poder resgatar a dvida. Antigamente esse

    sistema era muito usado, e as pessoas que no possuam

    filhos ficavam trabalhando, elas prprias, at pagar a dvida.

    O wof podia voltar para casa depois de seu pai pagar

    a dvida. Enquanto estivesse na casa do patro, o que poderia

    durar anos, era bem tratado, comia mesa com a famlia,

    ganhava tudo que o filho do dono da casa ganhasse, no

    trabalhava debaixo de chuva ou com sol demais, tinha um dia

    de descanso semanal aos domingos, e no podia morrer de

    forma alguma na casa onde estivesse servindo. J o er no

    podia parar de trabalhar, chovesse ou fizesse sol e, se

    morresse, ningum se importava.

    4 3

  • 7/29/2019 55555843 Tradicao Yoruba

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    Se o pai do wof morresse, ou nunca pudesse terminar

    de pagar, ele ficava trabalhando e morando com o patro,

    como filho, podendo se tornar independente se este

    resolvesse perdoar a dvida.

    A filha mulher tambm podia ser wof, s que ela s

    trabalhava para mulheres, nunca para homens.

    Este costume muito antigo e, ao que se sabe, foi

    totalmente erradicado.

    Em algumas roas de candombl os iyawos que no

    tm recursos para pagar as despesas com a feitura, ficam

    durante um bom tempo trabalhando na casa do pai ou me de

    santo, prestando servios domsticos, e ajudando no culto.

    Outros, que no dispem de tempo integral, pedem dinheiro

    na rua, vestidos com os trajes rituais, para pagar sua dvida.

    Adolescncia

    Em algumas tribos, ao chegar puberdade, meninas e

    meninos passavam por rituais de iniciao, compostos de

    cerimnias, provas e danas, que marcavam sua entrada na

    vida adulta. Moas e rapazes submetiam-se orgulhosamente

    aos rituais, por mais penosos que fossem, para serem

    considerados adultos pelos demais membros do grupo.

    A circunciso fazia parte da iniciao dos rapazes em

    quase todas as localidades. Eles passavam ainda por muitas

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    outras provas de coragem, como passar a noite numa cabana

    escura, preparada pelos adultos, ouvindo sons assustadores

    e vendo assombraes.

    Na regio oriental da Nigria era comum trancar as

    meninas numa cabana de engorda onde eram alimentadas

    em excesso durante semanas ou meses, at ao dia da festa,

    quando apareciam na plenitude de suas formas

    arredondadas, usando colares vistosos, pintadas com

    corantes.

    Os rapazes, aps as cerimnias de iniciao, podiam

    tornar-se guerreiros ou caadores. s moas estava

    destinada a misso de ser dona de casa e me de famlia.

    Costumes familiares

    A maioria dos padres tradicionais de comportamento

    em famlia j desapareceu, devido, principalmente, s

    facilidades da tecnologia moderna.

    Em algumas tribos era costume o casal separar-se

    aps o parto, indo a mulher para casa da me por um

    perodo. Modernamente, por exemplo, a me pode estar

    morando longe, e sem a tradicional separao rompe-se o

    esquema primitivo de planejamento familiar, e os filhos

    nascem um atrs do outro.

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    Nas antigas tribos era adotada a poligamia, desde que

    o homem pudesse sustentar as mulheres que possua.

    Modernamente este sistema gera confuso, e cria mais um

    problema para o chefe da famlia.

    No campo, a me cuidava da lavoura e dos filhos. Hoje

    a mulher tem que competir com o homem no mercado de

    trabalho, pois na maioria das vezes ele no tem condies de

    arcar sozinho com as despesas de toda a famlia.

    Trabalho comunitrio

    H uma srie de tarefas que no se pode fazer sozinho,

    e os iorub se ajudavam mutuamente usando dois processos

    diferentes: aaro e owe.

    Naquela poca, mesmo que a pessoa tivesse posses,

    era necessrio a cooperao dos vizinhos, porque as aldeias

    eram pequenas - cerca de duzentos habitantes, ficavam muito

    distantes umas das outras, e no havia os modernos meios

    de transporte.

    Aaro - Adultos e jovens costumavam reunir-se para

    ajudar uns aos outros na tarefa mais comum, que era o

    trabalho no campo. O aaro consistia em um grupo de

    fazendeiros se reunir para fazer o trabalho de um deles,

    depois o do outro, e assim por diante, at terminar o trabalho

    de todos. Cada fazendeiro conseguia ter mais trabalho feito

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    em um dia, do que se trabalhasse sozinho por uma semana, e

    sem nenhuma despesa.

    Owe - Quando uma pessoa precisava de ajuda para

    realizar uma tarefa, reunia um grupo de amigos para ajudar e

    providenciava bastante comida e bebida para todos. Podia ser

    feito o owe para cortar lenha, construir ou reformar uma casa,

    etc. O patrocinador gastava sempre muito dinheiro.

    Esse costume ainda existe no Brasil, quando soformados mutires de amigos e vizinhos para construo de

    casas e outras tarefas, especialmente no interior.

    Abik

    Era chamada de abik uma criana que se acreditava

    nascer e morrer vrias vezes. Por exemplo, quando uma

    mulher dava luz um filho e este morria, e ela continuava a

    ter filhos que morriam cedo ou que nasciam mortas, os iorub

    acreditavam tratar-se da mesma criana que morria e voltava.

    Da o nome de abik: bi- nascer, e ku - morrer.

    Diz a tradio que os abik eram crianas que

    gostavam de escurido, de andar sozinhas pelas

    encruzilhadas ou pela beira dos rios ao por do sol. Por isso as

    mulheres grvidas no deviam sair noite, nem passar em

    encruzilhadas, porque se encontrassem uma dessas crianas,

    ela poderia substituir a criana que estava dentro da barriga,

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    s para fazer a me sofrer. Dizia-se que eram crianas que

    prometiam voltar para o cu num determinado prazo, e ento

    morriam. No tinham pena nem medo de ningum, e s

    faziam maldades. Eles sabiam quando algum usava um

    amuleto para evit-los.

    No dia em que decidiam vir terra, nada os segurava,

    nem mesmo os feitios para evit-los. S os babalawo

    antigos e experientes ainda conseguiam control-los.

    Para conquistar o abik podiam ser tomadas trs

    medidas.

    A primeira era lev-lo a um babalawo poderoso.

    A segunda, dar-lhe um nome de perdoar, ou de

    prend-lo a ns. Com esse tipo de nome ele poderia ficar

    sensibilizado e resolver ficar. Esses nomes eram, por

    exemplo:

    Durojeye (fica e desfruta do mundo),

    Durosinmi(fica e descansa comigo),

    Malomo (no v mais embora), ou

    Jokotimi(senta e fica comigo).

    Quando mesmo assim a criana morria novamente, ao

    voltar, davam-lhe um nome que o deixasse com vergonha

    para ver se assim ele ficava. Um desses nomes Aja

    (cachorro).

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    A terceira coisa que se fazia era para o abiku

    desaparecer e nunca mais voltar. Cortavam todos os dedos

    antes de enterr-lo, ou queimavam-no e jogavam no rio.

    Dizem que os que voltavam mesmo assim, nasciam sem os

    dedos, ou com as marcas das queimaduras. Alguns, depois

    de tantas tentativas, nasciam abobalhados e no morriam

    mais, para fazer os pais sofrerem. A maioria dos retardados

    era considerada abik.

    Naturalmente hoje em dia apenas um pequeno nmero

    de pessoas acredita em abik, e sabe-se que a morte

    contnua dos filhos se d devido a problemas que j possuem

    soluo na medicina moderna.

    A escolha do nome dos filhos

    Desde muito tempo os iorub reuniam a famlia e os

    amigos e comemoravam o Dia-de-dar-o-nome aos filhos

    (komojde), costume esse que dura at hoje.

    O nome escolhido de acordo com a famlia a que a

    criana pertence, a posio em que nasceu, se chorou muito,etc.

    Se uma criana vem ao mundo num dia de festa, ou no

    Natal e Ano Novo, pode chamar-se Bodunde, ou Abiodun

    (bi/b- nascer, odun - festa).

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    As que nascem na estrada, na rua, podem chamar-se

    Abiona (ona - estrada), e as que nascem num dia de chuva,

    Bejide (ej / ojo - chuva). J se choveu muito na madrugada

    do nascimento, pode-se dar um nome derivado de ojo.

    Pessoas que nascem em famlia real, tm os nomes de

    Adesoji, Ademola, Adeniyi, Adekanmi, Adeniji, e outros

    formados com a palavra ade (coroa).

    As pessoas nascidas num dia de alegria para a famliaso chamadas Adebayo, Ayodeji, Bolaji, e outros nomes

    compostos de ayo (alegria) e ola (dignidade, riqueza).

    Se morre ao nascer, a criana pode receber os nomes

    de Popo, Kosoko, Kokumo (no morra mais), e outros,

    conforme visto emAbiku.

    Se uma criana nasce aps a morte de seu pai

    chamada de Babatunde, ou Babajide. Se nascer aps a

    morte da av, chamada de Iyabo.

    A criana que nasce quando a me no tem

    menstruao chama-se lr. Se nasce depois de passados

    os nove meses, chama-se Omope.

    Crianas que necessitam cuidados especiais para se

    criarem chamam-seAduke, Abike, Apeke, Alake, Amoke etc.

    Se nascem gmeos, devem chamar-se infalivelmente

    Taiwo, o que nasce primeiro, e Kehinde o segundo a nascer.

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    Se forem trigmeos, o terceiro deve chamar-se Eta-k. O

    prximo filho do casal, tem que se chamarIdowu.

    A lenda diz que Taiwo ou Tayewo (to-aiy-w) o mais

    novo, e sai na frente para provar o mundo, a mando de

    Kehinde, considerado o mais velho (ehin - atrs, de - chegar).

    Se Taiwo chorar, sinal de que o mundo bom, doce como

    mel, e ento Kehinde sai.

    Outros nomes so dados de acordo com a tradiofamiliar, ou quando se pede a gravidez a um orix:

    Famlia de caadores: Odewmi, Odewole, Odeyemi,

    Odesanmi, etc.

    Famlia de guerreiros: Akinbde, Akintola, Akinyemi,

    Akinwumi, e outros.

    Famlia que segue a religio dos orixs: Osagbemi,

    Aborisade, Abegund, Omtd, e outros.

    Homenagem a Sango: Sangotade, Sangobiyi,

    Sangogbemi, Sangowende, etc.

    Homenagem a Ogun: Ogunsol, Ogund, Ogunmola,

    Ogundl, etc.

    Homenagem a Esu: Esubiyi (nascido pela vontade de

    Esu), Esutosin (para agradecer a Esu), etc.

    Para os iorub esu no tem a conotao pejorativa, de

    demnio, que tem entre ns. Esu um orix como os outros,

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    e o nome tradicional, portanto a pessoa usa-o sem

    problemas.

    Ikmojde

    H um dia certo para se dar o nome aos bebs iorub

    do sexo masculino: sempre nove dias depois do nascimento.

    Catlicos e muulmanos do o nome oito dias aps o

    nascimento, independente do sexo.

    No Ikmojde - o ritual de dar o nome, usa-se orogbo,

    gua, vinho, sal e mel. O chefe da famlia d orogbo para o

    recm nascido comer, para ter vida longa. Depois toca os

    lbios do beb com sal e mel, para ele ter uma existncia

    alegre, e em seguida abenoa a criana, e distribui os

    orogbos para todos comerem.

    Por causa da importncia dada escolha do nome, e

    de sua relao com diversos fatores da vida da famlia, existe

    o seguinte provrbio:

    Ile lai w so omo l'oruko ( a casa que se deve

    observar primeiro, antes de dar o nome criana).

    Entre os iorub cada pessoa possui, tambm, seu oriki

    (cntico de louvor descrevendo o que a pessoa , ou o que se

    espera que a criana venha a ser. Geralmente fala da bravura

    e honra, se for homem, e da formosura e virtudes, se for

    mulher).

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    Mais uma vez, vemos a semelhana entre os costumes

    tradicionais iorub e os candombls de Ketu. Os iyawo, na

    terceira sada, do o nome que receberam de If na feitura,

    e que sempre relacionado com o seu Orix - pai ou me

    (em geral nome composto com Oba para os filhos de Sango,

    Yeye para os de Osun, Ya os de Oya, Iji, os de Obaluaiye, N

    os de Nan, Iwin os de Osal, Odo os de Yemoja etc.).

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    CASAMENTO E MORTE

    O Casamento

    Antigamente o casamento era um ato muito importante,

    e as pessoas casavam assim que tinham condies. Se uma

    pessoa com condies no quisesse se casar, tinha at que

    sair da cidade, por causa da insistncia dos parentes e

    conhecidos. Tradicionalmente a escolha da noiva era feita

    antes dela nascer, ou quando era ainda criana.

    Se um rapaz quisesse casar, procurava dentre seus

    vizinhos um senhor honrado, que tivesse algumas esposas.

    Primeiramente o jovem visitava a famlia, levando sempre

    presentes para agradar o dono da casa. Um dia pedia-lhe

    que, quando uma das esposas ficasse grvida, caso

    nascesse uma menina, lhe fosse dada como esposa.

    Quando uma das esposas engravidava, o rapaz

    passava a cuidar do casal. Se nascesse uma menina, ele

    assumia a responsabilidade do beb, pois j era considerada

    sua esposa. Durante o crescimento da criana o rapaz devia

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    mostrar aos pais que podia cuidar dela, e que nunca a

    deixaria passar fome.

    Quando ela ficava moa, comeavam a se encontrar e

    conversar, e era marcada a data do casamento. A moa no

    tinha outra opo, e jamais poderia se separar do marido, pois

    os pais nunca a perdoariam.

    Ifojsde - a escolha da noivaCom o passar do tempo, surgiu outro modo mais

    moderno de procurar uma noiva. Quando um rapaz adulto

    tinha condies para se casar, os pais comeavam a

    procurar-lhe uma esposa, sem ele saber.

    Ele, por sua vez, tambm comeava a procurar uma

    noiva, e seu comportamento mudava. Tomava banho vrias

    vezes ao dia, e passava a cuidar dos dentes, cabelos e

    unhas. Quando finalmente se apaixonava, contratava uma

    alrin (investigadora), uma mulher cuja funo era descobrir

    tudo sobre a moa e sua famlia, porque para casar precisava

    ter certeza de que era com a pessoa certa.

    Se a moa tivesse mau comportamento, ou em sua

    famlia houvesse dvidas, mendigos, leprosos, ladres ou

    qualquer fato desabonador, o rapaz desistia do casamento.

    Se ao contrrio, tudo fosse positivo, comeava o trabalho de

    conquista.

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    A alrin elogiava o rapaz na frente da moa, e

    planejava uma forma de fazer com que se encontrassem.

    Caso a moa gostasse do rapaz, seguiam-se outros

    encontros, at resolverem casar. S ento a moa autorizava

    o rapaz a comunicar o namoro aos pais dela.

    Itoro - o pedido de casamento

    Primeiro o rapaz falava com seu pai, dizendo que viuuma flor muito bonita na casa de fulano, e desejava colh-la,

    e explicava os entendimentos que j havia tido com a moa.

    O pai do rapaz ia ento casa da moa, com os membros

    mais velhos da famlia, para o pedido de casamento. A esta

    altura, ela tambm j havia comunicado ao pai.

    Geralmente o pai da noiva marcava uma outra data,

    para a me tambm estar presente. No dia do pedido o noivo

    pagava s esposas do pai para banharem a noiva. As famlias

    e os amigos ento se reuniam para o pedido oficial. A famlia

    do rapaz levava presentes (vinho, obi, whisky, etc.) para a

    casa da noiva.

    Uma pessoa mais velha chamava os noivos,

    perguntando moa se ela gostava do rapaz. Se respondia

    que sim, eram considerados noivos, e todos bebiam vinho de

    palmeira para comemorar.

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    Depois do noivado o rapaz comeava a pensar no que

    iria oferecer como dote ao pai da noiva. No dia da entrega dos

    presentes, antes de comear a comemorao tudo que o

    noivo levava era usado para rezar para os noivos. A pessoa

    mais velha da famlia da noiva entregava a moa pessoa

    mais velha da famlia do rapaz, recomendando que ela no

    deveria apanhar, no deveria passar fome, etc.

    Os presentes tradicionais oferecidos pelo rapaz

    famlia da moa eram:

    mel, cana de acar e sal - que quer dizer que eles

    iriam ter uma vida alegre, boa;

    obi e orogbo - significando que eles iriam ter uma longa

    vida juntos;

    bzios (dinheiro) - significando que iriam ser ricos;

    pimenta da costa (atare) - significando fecundidade;

    azeite de dend (epo) - que queria dizer que eles no

    teriam dificuldades na vida.

    Aps a reza a moa se preparava para deixar a casa

    dos pais. A partir desse dia a moa passava a morar na casa

    do noivo, vivendo como esposa.

    Todo o enxoval da noiva era dado pelo noivo, quer em

    forma de dinheiro para as compras, ou dos objetos que ela iria

    precisar. Em todo o processo, desde a busca da namorada

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    at o dia do casamento, era sempre o rapaz quem pagava

    tudo, e a data s era marcada depois de tudo pago. Em

    algumas localidades, o pai da noiva ainda pedia ao rapaz um

    dote em dinheiro.

    O canto nupcial (ekun ywo)

    O canto nupcial era cantado pelas noivas na vspera

    do casamento, e faz parte da tradio oral iorub. O ritualvariava de acordo com a localidade, e descrevemos aqui

    como era na cidade de Oyo, de acordo com pesquisa feita

    naquele local.

    O canto era transmitido de gerao a gerao, de forma

    oral. As noivas procuravam mulheres antigas para

    acrescentar mais versos aos que aprendiam desde a

    adolescncia. Fazem isso por um perodo de 2 a 3 meses

    antes do casamento.

    O canto nupcial expressava a emoo da noiva sobre

    as pessoas e coisas que faziam parte de sua vida,

    especialmente parentes e amigos. Representava seus

    sentimentos com relao aos parentes, principalmente a me.

    Falava de sua tristeza por ter que ir embora e deixar a famlia

    e sua posio na casa. Ia deixar tudo e passar a viver na

    companhia de um homem a quem pouco conhecia,

    convivendo com pessoas inteiramente novas para ela. Era um

    perodo de incerteza. Por outro lado havia o sentimento de

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    alegria, pois iria se tornar independente e formar sua prpria

    famlia.

    No dia marcado, primeiro a moa cantava para seus

    pais, ajoelhada, expressando gratido e rezando para que

    eles fossem recompensados pelo trabalho que tiveram com

    ela, e pedindo a bno, para ser feliz, no ser estril nem dar

    luz um abik.

    Era crena iorub que a bno dos pais era essencialno incio da nova vida de uma noiva. Pedia-lhes que

    rezassem para ela ser feliz com os novos parentes. Se um

    dos pais fosse morto, ia cantar beira do tmulo, pedindo sua

    bno.

    Depois saa pela cidade, cantando de casa em casa.

    Cantava para os parentes e amigos, expressando sua

    ansiedade, seus medos e incertezas sobre a vida: medo de

    no saber resolver os problemas tornando-se ridcula ou

    malquista, medo de ser maltratada ou insultada.

    Se no meio do caminho encontrasse uma amiga de

    infncia, deveria cantar lembrando a amizade, as artes que

    fizeram juntas, dizendo que o que as estava separando no

    era briga nem inimizade, mas a necessidade de constituir uma

    nova famlia.

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    No canto ela falava discretamente de sua beleza, e do

    orgulho de ter preservado a virgindade. Tradicionalmente as

    virgens usavam contas na cintura.

    Se encontrasse uma mulher casada estril, deveria

    cantar expressando sua simpatia, e rezando para que a outra

    ficasse frtil. Se encontrasse outra noiva realizando a mesma

    cerimonia, as duas iniciavam uma competio de canto, como

    um desafio.

    O canto nupcial no tinha rima nem mtrica regular. O

    comprimento de cada verso podia variar, de acordo com a

    moa. A beleza do canto dependia tambm da beleza da voz

    da noiva.

    O ritual do casamento

    O ritual do casamento variava de cidade para cidade,

    mas era sempre noite que a noiva ia para casa do noivo.

    Se a moa fosse de famlia rica penteava os cabelos de

    forma diferente e colocava roupas e sapatos da melhor

    qualidade. Se fosse filha de um rei enfeitava os cabelos,braos e pernas com contas de coral. No caminho era

    cumprimentada como o prprio rei.

    Na hora da noiva deixar a casa do pai, este rezava por

    ela, e toda a famlia acompanhava as oraes,

    acompanhando a moa at rua, em cortejo, que passava

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    pelas casas dos parentes dos noivos, para todos a

    abenoarem.

    Ao sair da casa dos pais a moa recebia um menino ou

    menina para ficar como seu ajudante (em geral uma irm ou

    irmo mais novo). Essa criana passava a executar o

    trabalho domstico.

    Ao chegar casa do noivo o rapaz saa, porque a

    tradio dizia que ela no devia encontrar o noivo dentro decasa. Antes de a moa entrar, o noivo lavava-lhe os ps, para

    deixar todo o passado do lado de fora e comear uma vida

    inteiramente nova. Na entrada da porta era colocada uma

    cabaa, que a noiva devia quebrar com os ps. O nmero de

    pedaos em que ela a conseguisse quebrar indicava o

    nmero de filhos do casal. Por esse motivo, era semprecomprada uma cabaa bem fina, para se quebrar em muitos

    cacos.

    Ao entrar na casa do noivo, a moa era recebida pela

    famlia e levada para um quarto, onde ficava durante trs dias.

    No terceiro dia o marido ia dormir com ela, para saber se j

    havia conhecido outro homem antes dele. Se a moa no

    fosse mais virgem, era devolvida famlia.

    Na manh do quarto dia a famlia da noiva ia visitar o

    casal. Se a moa no tivesse casado virgem, a famlia do

    noivo dava-lhes de presente um jarro de vinho pela metade,

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    significando que a mulher era usada. Ela voltava para casa

    dos pais, e a famlia ficava coberta de vergonha.

    Se a moa fosse virgem, no stimo dia aps o

    casamento as outras esposas arrumavam tudo, preparavam

    comida, e todos comemoravam.

    A partir da s se ouvia falar nela aps trs meses.

    Havia uma festa em que ela que fazia a comida, e ela podia

    sair pela primeira vez para visitar seus pais. Depois desse diaj podia ir s compras, fazer comida para todos, e passava a

    ser chamada iyawo (esposa), at o marido arranjar mais uma

    esposa.

    Sr omo - Doar a filha - tipo de cerimnia de

    casamento feita pelas pessoas que seguiam a religio

    muulmana. O pai criava a filha e planejava do-la como

    esposa a um pastor muulmano, calmo e de bons costumes.

    O pastor s ficava sabendo na vspera, quando o pai

    mandava dizer que se preparasse para dar banho em uma

    esposa. Ele no podia recusar, e tinha que se preparar para

    receb-la. O pai da moa dava roupas, sapatos, dinheiro, tudo

    para os noivos, e havia uma grande festa, aps a qual eram

    considerados marido e mulher.

    Havia outro processo de casamento muulmano que

    era idntico ao tradicional yorub, mudando apenas as rezas.

    O pai do rapaz fazia o pedido ao pai da moa, e no dia

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    marcado ela era levada, noite, para casa do noivo, sendo

    considerados casados.

    Atualmente raro encontrar algum que ainda siga

    estes rituais. Modernamente os casamentos so realizados no

    civil e no religioso, de acordo com a crena e a vontade dos

    noivos, e o rapaz que escolhe sua futura esposa.

    Casamento catlico - cerimnia igual realizada em

    qualquer parte do mundo. Na Nigria quem casar na igrejacatlica s podia se separar depois de trs anos.

    Casamento civil - Feito no cartrio, o processo

    sempre o mesmo, independente de religio. A diferena que

    os cristos juram sobre a Bblia, os muulmanos com o Kovan

    e as pessoas da religio dos orixs juram por Ogun.

    Atualmente, nas casas de candombl brasileiras, a

    recm-iniciada, chamada iyawo (iyawo), aps a feitura, no

    pode sair da casa de santo por um certo perodo, que varia de

    casa para casa.

    A morte - os rituais de enterro

    Os iorub acreditavam que ao morrer iriam para outro

    mundo, semelhante a este. Por esse motivo, os mortos eram

    muito bem cuidados, para no passarem vergonha quando l

    chegassem. O caixo seria a casa do morto no outro mundo.

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    O povo apresentava dois comportamentos diferentes

    diante da morte. Se morresse um jovem, ou ocorresse uma

    morte inesperada, era encarada com tristeza. J se morresse

    um velho que teve uma vida prspera, todos festejavam.

    Se um jovem morresse subitamente, todos choravam

    muito, e procuravam descobrir o motivo, chamando at o

    esprito do morto para dizer se fora ele mesmo (esprito) quem

    havia levado a pessoa, ou se fora um trabalho feito por

    algum.

    O corpo era enterrado dentro de casa, e a famlia fazia

    muitos trabalhos espirituais, para que o mesmo no

    acontecesse com outros membros.

    Se morresse uma pessoa pobre, sem parentes para

    pagar o enterro, os conhecidos enrolavam o morto em suas

    roupas, e cavavam um buraco, fazendo o enterro sem

    nenhuma despesa. No caso de um mendigo ou um leproso,

    era enterrado no mato, longe da cidade.

    Se uma pessoa morresse ao visitar algum, deveria ser

    enterrado na casa onde morreu, pelo dono da casa, que

    mandava avisar a famlia do morto.

    Uma morte muito triste era a de mulher grvida. A

    criana deveria ser tirada da barriga, e a mulher, em algumas

    localidades, era levada para o mato, e encostada a uma

    rvore.

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    O corpo de um corcunda (abuk) tambm no podia ser

    enterrado dentro de casa. Devia ser levado para o mato, e

    feito um ritual.

    J os presidirios no eram enterrados. O corpo ficava

    jogado para os animais comerem. Por causa disso as

    pessoas evitavam fazer coisas erradas, com medo de morrer

    na priso.

    Quando uma pessoa morria de sarampo - que eraconsiderado o Orisa Sonponno - a famlia no podia chorar,

    para no aumentar a fora dele. Todos vestiam roupa de

    festa, bebiam e danavam. No se podia dizer do que a

    pessoa tinha morrido, s Baba gbe e lo (o pai o levou), ou

    Baba ti gbe e ni iyawo(o pai casou com ele). O enterro era

    feito pelas pessoas que cuidavam do Orisa, e o corpo eraenterrado fora de casa, num local que s essas pessoas

    conheciam.

    Quando um raio matava uma pessoa, os filhos de

    Sango levavam o corpo para um lugar chamado r,

    deitavam-no junto ao fogo, e faziam um ritual para tirar o raio

    e tentar acordar o morto. Conta-se que havia casos em que a

    pessoa acordava, mas se o raio fosse fulminante, o corpo era

    enterrado num local desconhecido da famlia, com todos os

    pertences do morto e algumas oferendas.

    Se algum caa de cima de uma palmeira, era

    enterrado no local onde caiu.

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    Quem morria afogado devia ser enterrado na beira de

    um rio.

    Os caadores famosos eram enterrados no mato pelos

    outros caadores. Eles pegavam todos os pertences de caa

    do morto, e colocavam-nos numa rvore prxima ao local,

    arrumados como se fosse uma pessoa, com o chapu, a

    bolsa e a arma presos nos galhos da rvore. Ali eram feitas

    oferendas para o morto.

    Ao morrer um rei, ningum podia comentar o assunto.

    S depois de serem feitos os rituais era dado um toque num

    tambor especial, anunciando cidade que o rei havia morrido.

    Em Oyo o corpo do rei era levado para um lugar chamado

    bara, e at chegar l o cortejo parava em onze locais

    diferentes para fazer rituais.

    Antigamente o rei era enterrado com doze pessoas:

    quatro mulheres em baixo, quatro em cima, e dois homens de

    cada lado do caixo. Eles seriam os empregados do rei no

    outro mundo. Algumas dessas pessoas chegavam a tomar

    veneno para serem enterradas com o rei e servi-lo no outro

    mundo.

    O tratamento do cadver

    As circunstncias da morte, idade e status social de

    uma pessoa, eram fatores importantes que ditavam a forma

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    de tratamento do cadver e a condio das cerimnias do

    funeral. Quando uma pessoa que teve uma vida longa e

    respeitvel morria de uma forma boa, o cadver era

    imediatamente enrolado numa esteira, e eram enviadas

    mensagens aos familiares. Morassem perto ou longe todos os

    que recebiam a notcia vinham prestar suas ltimas

    homenagens ao morto. Normalmente era nessas ocasies

    que as pessoas conheciam os parentes mais afastados: tios,

    tias, sobrinhos, e primos de terceiro grau, pois todos se

    reuniam. Enquanto isso eram feitos os preparativos para lavar

    o defunto.

    O cadver recebia um banho morno, com sabo e

    esponja. O cabelo da mulher era bem penteado, e o do

    homem s vezes completamente raspado, ou penteado e

    escovado. Era costume o filho mais velho estar presente

    quando o corpo de seu pai era lavado, e ele deveria ser o

    primeiro a jogar gua. Este costume dava nfase

    importncia de ter um filho homem como descendente. O

    banho do defunto era muito importante, porque eles

    acreditavam que a pessoa teria que estar limpa para ser

    admitida na morada dos ancestrais. Se um cadver no fosse

    lavado dentro do cerimonial, acreditava-se que ele no teria

    lugar junto aos ancestrais e o esprito ficaria vagando. Esse

    esprito era chamado iwin ou iseku.

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    Depois do banho o cadver era vestido com roupas

    adequadas, muito bonitas, em geral todo de branco. Se fosse

    homem, colocava-se um chapu branco.

    O morto no podia ser vestido de vermelho, caso

    contrrio, ao renascer, seria leproso.

    Era ento trazido para a sala de estar e colocado numa

    cama muito bem decorada. Comeava a festa, com msica e

    dana. Do lado de fora disparavam-se armas. Representavaum sinal de respeito ao morto e uma forma de anunciar ao

    povo que ocorreu um grande evento.

    Como antigamente no havia previso da durao das

    cerimnias fnebres, e poderia ocorrer deteriorao, eles

    tinham mtodos muito antigos de preservao, de forma que

    o corpo poderia ficar dois ou mais dias sem cheirar mal. A

    idia era de que o morto no deveria ser enterrado

    imediatamente, deveria ter a oportunidade de esticar as

    costas e ter o ltimo descanso na sua morada da terra.

    Durante esse perodo as roupas do morto e a decorao da

    cama onde ele estava deitado eram trocadas, cada uma mais

    bonita e mais rica do que a outra. Fazia parte das honras

    rendidas ao morto. As crianas e os parentes prximos davam

    belos e caros presentes que eram levados pelo morto para o

    outro mundo.

    Muito tempo atrs os tmulos dos iorub eram cavados

    dentro de casa, em quartos destinados a esse fim. Os

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    familiares cavavam um buraco de seis a nove metros, fazendo

    uma espcie de quarto em baixo. Depois colocavam o caixo

    no buraco e toda a famlia jogava terra e conversava com o

    morto, mandando recados para os outros familiares j mortos.

    Em seguida os homens cobriam o buraco com terra e

    matavam uma galinha preta em cima.

    Atualmente essa prtica mudou. Os tmulos so

    cavados nos compounds familiares.

    Os cristos eram enterrados prximo igreja, os

    muulmanos, na frente de suas casas.

    Para os iorub, enterrar algum num cemitrio comum

    era deix-lo de parte e perder contato com ele, porque a

    venerao normal aos ancestrais, que inclua rituais diversos

    e rezas, no era adequada para ser feita em lugar pblico, s

    podia ser feita em famlia.

    No dia em que o corpo ia ser enterrado, muitas pessoas

    se reuniam para as ltimas homenagens. O enterro

    normalmente era feito tarde. O corpo era trazido para fora e

    colocado num carro (carruagem). Diferentes grupos de dana

    e canto se apresentavam e eram bem recebidos e

    remunerados pelos filhos e parentes do morto.

    Antes do por do sol a dana parava, e o cadver,

    enrolado em lindas e pesadas roupas e numa esteira

    especial, era levado em solene procisso para o tmulo.

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    O corpo era colocado cuidadosamente no tmulo, cada

    parte do corpo arrumada. Eram colocadas junto lindas roupas,

    peas de prata, dinheiro e tudo que o morto poderia vir a

    precisar no outro mundo.

    H muito tempo, quando morria um rei ou um chefe

    importante, escravos e esposas do morto eram enterrados

    com ele, mas hoje em dia alguns desses costumes antigos

    mudaram. No se pode imaginar seres humanos serem

    enterrados com o chefe morto.

    Assim, foi feito um tipo de substituio. Um animal era

    imolado e o sangue jogado sobre o tmulo. Acredita-se que o

    animal sacrificado acompanhava o morto para o outro mundo.

    Antes de fechar o tmulo, muitas das pessoas presentes,

    principalmente crianas e parentes prximos, rezavam alto edemoradamente enquanto choravam e atiravam terra no

    cadver, pedindo-lhe que fizesse uma coisa ou outra pelos

    vivos que estava deixando. Tambm mandavam mensagens

    para os ancestrais que haviam morrido anteriormente.

    Esta uma evidncia viva da crena no outro mundo e

    no poder dos ancestrais.

    Acreditava-se que o morto estaria iniciando uma

    viagem para uma outra esfera, onde ele ou ela iria ser muito

    mais poderoso do que antes.

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    que os moradores da localidade os haviam descoberto. H

    depoimentos de pessoas que encontraram esse tipo de morto.

    Tambm crianas que estavam na escola no momento

    em que um de seus pais faleceu, testemunharam que seu pai

    ou me foi visit-los e deixar instrues e mensagens

    importantes.

    Esses espritos assumem forma humana. Fica muito

    difcil fazermos uma afirmao categrica sobre o assunto.Como os antigos, at hoje os iorub no tentam resolver o

    problema luz de uma teoria coerente, preferindo usar

    diversas abordagens e custando a reconhecer as

    contradies. Conclui-se que para eles a alma que

    sobrevive morte, e se Olodumare sua fonte, a alma volta

    fonte, para ser usada de acordo com a vontade do deusmaior.

    Acredita-se que quando a pessoa que est morrendo

    diz M nre le - Estou indo para casa quer dizer que ela

    est voltando ao lugar de onde veio, aos ps de Olodumare.

    Crena nos ancestrais

    At hoje os iorub acreditam que seus mortos

    continuam vivendo em outro mundo, crem na sua existncia

    ativa, e sabem que a morte no finaliza a vida humana, pois a

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    vida na terra se estende a uma outra vida no alm, no local

    chamado de "morada dos mortos".

    Quase todas as religies tendem a ter uma viso

    holstica da morte: alm dos componentes fsicos tangveis, o

    homem possui um elemento intangvel e indestrutvel, que

    sobrevive morte fsica - a alma.

    Com relao aos componentes do ser humano, os

    iorub acham que a forma fsica humana (ara) moldada embarro por Orisanl. Em seguida Olodumare lhe insufla seu

    hlito, o chamado emi (esprito). Alm do ara e do emi o

    homem recebe ainda a alma. O conceito de alma muito

    complexo e dificilmente usado no sentido correto.

    Por no possurem vocabulrio adequado, os antigos

    tradutores do iorub traduziram alma como okan (corao)

    ou emi(esprito). Corao um rgo tangvel, mas a alma

    intangvel, sendo a essncia do ser.

    Quando um ser humano vai ser criado, ele recebe o

    esprito e a alma, alm do corpo fsico. Quando o corpo

    fsico morre, o esprito e a essncia que aqui chamamos de

    alma no acabam, voltam para Olodumare, que a fonte

    que dispe das almas segundo sua vontade.

    A religio iorub enfatiza ao mesmo tempo a

    reencarnao e a continuao da vida em outro mundo

    semelhante ao nosso. A morte vista no como extino,

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    mas como uma mudana de uma vida para a outra.

    Literalmente, um ancestral algum de quem uma pessoa

    descende, por parte de pai ou me, que viveu num tempo

    passado, como um av ou bisav. Porm quando os iorub

    falam de ancestrais se referem aos espritos de seus

    antepassados com os quais os vivos convivem como filhos,

    de forma afetiva.

    No qualquer morto que recebe essa considerao.

    Para receber esse tratamento esses homens e mulheres

    devem ter vivido bem, ter tido uma vida longa, ter deixado

    bons filhos e boas lembranas. Crianas ou jovens que

    morrem prematuramente, mulheres estreis e todos os que

    tm uma morte ruim, por exemplo, uma pessoa morta por

    Sango, Ayelala ou Soponno, ficam excludos deste grupo

    respeitvel.

    Depois da morte, o pai de um homem torna-se para ele

    a figura mais importante no mundo dos espritos. O pai visto

    como aquele que une o indivduo sua linha de ancestrais.

    Alm dele todos os membros de geraes passadas que

    esto no mundo dos espritos so considerados ancestraisdessa pessoa, e ele est ligado a todos eles.

    Embora os ancestrais incluam homens e mulheres das

    geraes anteriores, os ancestrais masculinos so muito mais

    importantes. Para se tornar um ancestral conceituado, um

    homem tem que viver bem, morrer bem e deixar bons filhos,

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    que lhe faam rituais de funeral adequados, e que continuem

    em contato com ele por intermdio de oferendas e oraes.

    Julgamento aps a morte

    Estes fatos levantam a questo do julgamento aps a

    morte. Acreditam que o julgamento ocorre o tempo todo, aqui

    mesmo na Terra. As divindades que combatem o mal podem

    punir pessoas, que tero assim uma morte ruim, mas ojulgamento final pertence a Olodumare que decide quem so

    os bons e os maus. Os bons so privilegiados, indo para o

    cu bom, voltando para a essncia que Olodumare, e os

    maus indo para o cu mau. O julgamento baseia-se nas

    aes dos indivduos na Terra.

    Os detalhes do julgamento no nos so contados pelos

    mais velhos, mas eles tm um ditado importante: Ohun

    gbogbo t a b se ly, la knle r lOrun"(Daremos conta

    no outro mundo de tudo que fizermos na Terra). S quando

    algum julgado tem a chance de ir para o cu bom se

    reunir com os ancestrais e viver outra vida.

    O cu bom, (cu dos nossos pais) dividido em

    diversos pases, cidades e vilas, onde grupos diferentes de

    pessoas vivem juntas, como na Terra. Aps o julgamento a

    pessoa boa tem permisso para ir para o local habitado por

    seus ancestrais, e a vida continua como aqui. Os bons usam

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    boas roupas, comem boa comida e podem reencarnar e

    nascer de novo na famlia.

    Se algum condenado vai para o cu dos maus,

    onde sofre muito. A alma no pode se reunir com os

    ancestrais, e quando liberada, finalmente, no tem chance

    de ter uma vida normal, e condenada a vagar por locais

    desertos, comer restos de comida, vermes, e, s vezes,

    reencarnar em animais e pssaros.

    Por ocasio da morte de parentes, as crianas

    costumam fazer uma saudao de despedida, desejando que

    o morto no coma centopias, no coma vermes, mas que

    coma junto com os outros, no cu, todas as coisas boas que

    se comem por l.

    Os filsofos iorub sempre lembram que se voc no

    quer comer centopias e vermes, no outro mundo, deve se

    comportar bem, enquanto est vivo. Os seres humanos so

    responsveis por suas aes.

    Reencarnao

    Os iorub acreditam que os ancestrais tm modos

    diferentes de voltar ao mundo dos vivos. Uma das formas

    mais comuns reencarnar na prpria famlia, nascendo como

    filho ou neto do morto. Acredita-se que os ancestrais

    escolhem isso devido a seu amor pela famlia e pelo mundo.

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    Para os iorub o mundo o melhor lugar para viver. Os

    vivos desejam ver seus mortos reencarnar o mais depressa

    possvel, depois da morte. Reza-se Bb/Iya y l'w re

    o!"(Que seu pai/me volte a ser uma criana para voc). s

    vezes, em seu entusiasmo, dizem: Bb/Iya tt y o!"

    (Que o pai/ me reencarne rpido). O filho que tem a sorte de

    dar luz ao pai ou me sente-se particularmente feliz.

    Quando nasce uma criana os iorub consultam o

    orculo para descobrir qual o ancestral que reencarnou, mas

    acredita-se que se uma criana nasce logo aps a morte do

    pai ou av, a alma do recm morto que est de volta. O

    menino recebe o nome de Babatunde (o pai voltou). Uma

    menina que nasce aps a morte da me ou da av se chama

    Iyab, ou Ytnde (a me voltou).

    No se costuma dar esses nomes a mais de uma

    criana, aps a morte de pais ou avs. Quer dizer, o mesmo

    pai ou me no reencarna diversas vezes, nem em diversos

    parentes, e sim uma s vez numa determinada criana da

    famlia.

    Note-se que s os ancestrais bons reencarnam em

    seus descendentes. Nenhuma famlia deseja ter a

    reencarnao de um ancestral que morreu mal. Os maus

    ancestrais - como j foi dito - reencarnam em animais ou

    pssaros, e vagam em locais abandonados e desertos.

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    No Brasil quando morre uma pessoa de Santo,

    especialmente se tiver um cargo na sua roa, so feitos

    diversos rituais com o morto e seus pertences. Em seguida a

    casa passa por longo perodo de rituais. o chamado asese,

    de origem iorub.

    A viva (op)

    Era costume iorub a viva no sair de casa, emhiptese alguma, nem pentear os cabelos, durante trs

    meses. Ela devia dormir em cima do tmulo, e ali chorar trs

    vezes ao dia, durante sete dias. Passados os trs meses,

    raspava a cabea e fazia vrios rituais. S ento podia sair

    rua.

    A herana

    As esposas, filhos menores, casa, fazenda, e os

    demais pertences do morto eram divididos como herana. Se

    no houvesse um testamento escrito, os membros mais

    velhos da famlia se encarregavam da partilha.

    Os agraciados eram primeiro o filho mais velho, depois

    a filha mais velha, e assim por diante, at chegar caula.

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    O SOBRENATURAL NOFOLCLORE AFRICANO

    As lendas

    Apesar do elemento sobrenatural ser muito marcante

    no folclore, havia na mente do povo uma distino bem clara

    entre realidade e fantasia. As lendas d