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.']N° 15 - De 31 de janeiro
a 6 de fevereiro de 1972 RIO - CrS 2,00
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O PECADO E O
BIPARTIDARISMO
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Coluna Prestes
MILITARISMO E
ANTIMILITARISMO
-
POLITIKA
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Mauritonio
Meira
Miguel Guttãvo
Lembrai-vos de Cabo Frio!
Tudo começou com uma boa intmção
do jornalista José Amádio. Dirigia ele a
redação de "O
Cruzeiro", dos tempos
dos 700 mil exemplares, e descobriu Ca-
bo Frio para o grande público: aquela
pracinha de casas antigas, o Canal de
águas calmas, a praia agreste, os peixes.ali à mão - um paraíso à margem da civi-
lização do consumo deliciando os que fu-
giam da badalacão em busca da natureza
não contaminada. Da boa intenção e do
faro jornalístico de Amádio deflagrou-se
a tempestade: a corrida de todo mundo
para aqueles lados, os loteamentos, a ex-
ploração comercial, os prédios de aparta-
mentos, as cabeças-de-porco, o desfigura-
mento que transformou Cabo Frio em-
lugar insuportável, campo de loucas cor-
ridas dos "play
boys", do "fumacê"
dos
cabeludos, da sofisticação da grã-fina-
gem. Amádio nunca mais foi lá, e noto,
quando relembra, até uma ponta de re-
morso por ter sido o responsável, por ter
feito as águas (poluídas) da civilização
(? ) correrem sobre a sua descoberta.
Parece que o mesmo destino está re-
servado para um dos mais belos lugares
deste país: a Ilha Bela (oficialmente: Ilha
de São Sebastião), no litoral norte de
São Paulo, onde acabo de passar uma se-
mana de férias. É o ideal para quem dese-
ja se refugiar na calma da natureza e vi-
ver e gozar o panorama vivo de um pas-sado colonial, pois tudo ali é tranqüilida-
de e paz. Éo Cabo Frio dos tempos da
reportagem de "0
Cruzeiro" de José
Amádio. De um lado, as águas calmas (e
limpas) do canal que separa a ilha do
Continente; do outro, o mar bravo com
suas ondas gigantescas batendo nos ro-
chedos, mas permitindo, aqui e ali, praias
que exibem o mesmo panorama dos tem-
pos em que os piratas faziam da região
seu esconderijo e base de operações. As
casas, antigas (algumas tombadas peloPatrimônio Histórico), guardam a fisio-
nomia dos velhos tempos, preservadas,restauradas, tratadas com o bom gostodas pessoas sensíveis
- mesmo as mais
humildes. Até mesmo os hotéis, poucosmas bom, foram construídos levando em
consideração a harmonia do conjunto.
Uma preciosidade inacreditável: na
Ilha Bela você descobre que existe uma
grande brecha de exceção naquela frase
de Nelson Rodrigues de que a "pior
soli-
dão é a companhia de um paulista". En-
contramos lá três casais paulistas que são
a negação da frase do Nelson: Eduardo
(Ana Maria) Halim, Luís (Ivone) Morais,
Stéfano (Elaine) Setani e o advogado Ge-
raldo Orlando - Jndustriais, comercian-
tas ou fazendeiros , como todo mundo
em São Paulo, mas que, ao chegarem à
Ilha, como* todo mundo, deixaram paratrás os negócios, as ações, a Bolsa de Va-lores, em troca do violão, das serestas,
das madrugadas de batepapo e do bom
conviver. Um morador antigo da Ilha me
explicou: aquilo era outro Mundo, cada
um na Ilha é "somente
gente", sem os
rótulos, sem as preocupações, sem os ve-
zos e os vícios da guerra da sobrevivência
das grandes cidades.
Mas, vem o pior: começa a desfigura-
ção lamentável: já são visíveis os sinto-
mas da contaminação; os loteamentos, os
motéis para as levas de pessoas da classe
média despejadas como manadas, as
construções modernosas, a multipotente
sanha dos devastadores das matas, dos in-
vaso es da praia —
patrimônio comum -
construindo quistos de segregação, com a
arrogância do quero-e-faço sobre a impo-
tência da administração local.
é uma pena que isso aconteça - e quecontinue a acontecer. E é uma pena quea gente não possa fazer nada para impe-dir que aconteça. Mas enquanto nãoacontece, de vez, o pior, fujamos, vez.
por outra, para lá, para gozar o melhor.
José Amádio
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MIGUEL
De volta ao Rio, a notícia
desagruuavtíi: a morte de Mi-
guel Gustavo, rio auge desua capacidade de criação
como compositor.
Os jornais estão falando
de suas músicas, dos suces-
sos - sobretudo do "Pra
frente, Brasil" que 90 mi-
lhões de brasileiros sabemde cor. Para quem não sabe:Miguel Gustavo deixa umaobra conhecida por poucos,de prosa e de poesia eróticada melhor qualidade e domelhor bom gosto, que eledizia para os amigos, nas ro-das de uísque no
"Le Bis-
trô" e nas festas de casaisamigos. Toda essa obra estámimeografada nas mãos dosamigos - que vão fazendoPrlirÕPÇ nartin tlor-no *-,*-,**
sando adiante, na impossibi-lidade de passar a barreirada censura para edições pú-blicas.
CALMON
De uns tempos para cá,acabou-se, para a televisão,
a exposição de problemasimportantes para o país. Asentrevistas, poucas, só mes-mo as de Ministros, descolo-ridas como toda entrevista
de Ministro. Os debates —
Jarbas Passarinho
acabaram. E mesmo os no-
ticiosos, no que se refere
aos assuntos nacionais, são
contidos, a não ser quando
se referem a planos e reali-
zações do Governo.
É por isso que enche de
alegria a qualquer um ver,
como vimos todos, no ulti-
mo domingo a explicação
feita no Flavio Cavalcanti
pelo Senador João Calmon
sobre os problemas da edu-
cação no país. Isento, claro,
documentado,valendo-se dos
dados oficiais e de declara-
ções do Presidente Mediei e
de Ministros de Estado, o
Senador revelou um quadro
muito nítido (e muito tris-
te) das deficiências e omis-
soes que estão ocorrendo
nesse campo.
Seria o caso de fazer uma
sugestão ao próprio Flavior**xa ,-,\s.r*.e-s +
* +a-\l*rx-*xirir*\r-X t-,nr hfl-
OUVUIOUMU, HJIHÜIIUÜ t*i*-" --¦
se a exposição do Senador:
por que não fazer um deba-
te entre o Senador João Cal-
mon e o Ministro da Educa-
ção, Jarbas Passarinho, tam-
bém Senador e muito bom
de palavra? Creio que ne-
nhum dos dois se negaria -
e todos teríamos a lucrar,
consideradas a penetraçãodo programa, a grandeza
do
tema e a posição e qualida-
des dos personagens.
-
POLITIKA
OliveiraBastos
Se os jornalistas políticosfossem chamados a eleger um
presidente da República é
quase certo que Prudente de
Moraes, neto estaria eleito.
3debate
Prudente
de Moraes
Neto a
Etelvino
Lins
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IPrudente de Moraes
PECADO ESTA NO
BIPARTIDARISMO__^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^Bk" _l__f^^__l
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"O bipartidarismo, e não o Al-5,
é o verdadeiro impecilho à
redemocratização do país".Quem chegou a esta conclusão foi
Prudente de Moraes, neto, e
acrescenta: "Não
o bipartidarismo
em si mesmo, mas o
bipartidarismo arbitrariamente
imposto e mantido desde o AI-2.
Se a Revolução tivesse deixado
que os partidos se formassem
livremente, segundo os movimentos
de opinião, de afinidade e
afetividade do povo brasileiro,
estaríamos vivendo uma outra
realidade política. Mesmo que
aparecessem somente dois
partidos, seria diferente.
O que truncou todo o processo
político brasileiro foi a
imposição de dois partidos,
um dos quais - o da Revolução
- não pode, por definição, perder
eleições, nem deixar o poder".
Etelvino Uns
\\
-
POLITIKA
debate
O grande perigo
das portas
de emergência é não serem
usadas quando necessário.
Ou
de serem usadas a tôda
hora
por todos, sem
motivo algum.
PECADO ESTÁ NO
BIPÂRTIDÂRISMO
mas
sua formula não aponta
vordadoiro caminho"
Em 1954, quando já estava arma-
da a batalha pela sucessão de Var-
gas, e nos bastidores políticos só se
cuidava de lançar e queimar candi-
datos, perguntaram, um dia, ao jor-
nalista Carlos Castelo Branco quem,
na sua opinião, deveria ser o futuro
presidente da República.
"Quem
será, eu não sei; mas se dependesse
de mim, e só de mim, o presidente
seria Prudente de Moraes, neto".
Nós, jornalistas políticos, temos em
Prudente de Moraes, neto, uma es-
pécie de patrono, anjo da guarda e
conselheiro. Dele se pode dizer,
também, que foi uma espécie de
confidente dos grandes líderes
militares que, a exemplo de Canro-
bert Pereira da Costa, sempre so-
nharam com a regeneração dos cos-
tumes políticos brasileiros. Como
conciliar a aparente contradição
que ressalta da sedução exercida pe-
Io velho Prudente simultaneamente
sobre os jornalistas políticos e tan-
tos chefes militares? A resposta es-
tá na própria vida de Prudente, na
raiz de sua herança familiar, na
orgânica fusão de um pensamento
que se faz radical para operar
o mi-
lagre de instituições autênticas, com
um exemplo de conduta pessoal"inflexivelmente
flexível". Um libe-
ral completo, capaz de tôdas as to-
lerâncias, no plano da convivência,
Prudente de Moraes, neto é -- como
eu o vejo-- intolerante com o faz-
de-conta político, com as falsas so-
luções de emergência, com os re-
mendos constitucionais. No entan-
to, essa intolerância (que o fez com-
bater, como se fossem inimigos
pessoais, Vargas, Juscelino e Jango),
que muitos dirão
"reacionarismo"
esteve sempre posta a serviço da im-
plantação de instituições democrá-
ticas autênticas, no País. O que ele
sempre, combateu foi a fraude do
sistemá representativo que vivemos
até 1964, e os expedientes que
eram vícios de origem do poder
assim constituído- Recebeu, com
um sentimento de alívio, a revolu-
ção de 1964. Desde o começo hipo-
tecou solidariedade à política eco-
nômico-financeira implantada por
Campos e Bulhõôs. Mas não quis es-
conder (não é de seu feitio) a sua
decepção com os primeiros movi-
mentos do presidente Castelo Bran-
co para instaurar uma ordem
nova
com os mesmos elementos salvados
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W m ' -¦ A
IB W: *
Kubitschek
Ele queria
fechar tude
logo em 64.
do incêndio. Nos dois jornais em
que escrevia (o Diário de Notícias e
O Estadão), escreveu uma série de
artigos exigindo o fechamento su-
mário dos partidos políticos e do
Congresso. Foi tido como um radi-
cal e chamado para uma conversa
com o presidente da República.
Nem Castelo convenceu Prudente,
nem Prudente convenceu Castelo. A
diferença é que Prudente está vivo e
pode dizer hoje:
"Foi ali que a Re-
vokjção perdeu a sua primeira gran-
de oportunidade de construir uma
nova e democrática ordem poli-
tica". E a nós, numa análise profun-
da dos desafios que se apresentam,
nesta hora, confiou a explicação de
sua atitude, de sua posição, de seu
pensamento.
O Al—5
Nosso objetivo era ouvir a opi-
nião de Prudente sôbre a proposta
de Etelvino Lins para se incorporar
o AI-5 à Constituição como solu-
ção para o impasse institucional.
-- "Eu
gosto muito do Etelvino
Lins. Tenho muito apreço, muita
admiração por Sle. Reconheço mes-
mo que sua proposta constitui um
esforço sincero e alto para encon-
trar um caminho, um atalho para a
redemocratização do país. Mas não
estou convencido da adequação de
sua fórmula ao problema concreto
brasileiro. Diga que eu sou ligeira-
mente cético. Não é de hoje qye ele
vem tentando apoio nniít:^0 e mili-
tar para essa fórmula. Creio que há
um ano atrás ele concedeu uma en-
trevista à revista "Veja",
expondo o
mesmo pensamento. Eu li apenas
resumos dessa entrevista, divulgados
pelos jornais. Na ocasião, escrevi
um comentário cético sobre a pro-
posta, não sem antes reconhecer to-
dos os méritos de quem a lançava.
Recebi de Etelvino uma carta afe-
tuosa, agradecendo as referências
elogiosas, mas pedindo-me que pro-
curasse ler a sua entrevista, na ínte-
gra. Não consegui o exemplar da re-
vista "Veja"
e os dias foram se pas-
sando. Agora, no "Jornal
do Brasil"
encontrei o mesmo pensamento ex-
posto e colhido por um mestre do
jornalismo político que é o Wilson
Figueiredo. Li, então, a entrevista
com o máximo de cuidado e com o
máximo de interesse".
-- E, então?
-- "Então,
eu posso dizer que
apenas reforcei a minha convicção
de que a fórmula é inadequada. Tal-
vez seja um caminho, talvez ela ve-
nha a ser viável. Mas a minha opi-
nião é que não é adequado encarar
o Al—5 como a fonte única de to-
dos os problemas nacionais. Conti-
nuo na mesma posição do meu co-
mentário cético ...
-- O que foi exatamente que o sr.
escreveu nesse comentário cético?
FORMULA
ETELVINO
LINS
O deputado Etelvino Lins acha
que é chegada a oportunidade
para um esfòrço de
conciliação política e
sustenta que 6 hora de se
pensar num sucedâneo para o
AI-6, através da incorporação
de sua essência ao texto
constitucional. Sua fórmula
consiste numa emenda
constitucional que determine
a adoção do Estado de
Segurança e do Estado de
Emergência."No
primeiro caso,
isto é( o Estado de Segurança,
seria decretado pelo
Presidente da República, com
a anuência do Conselho de
Segurança Nacional,
e sem necessidade de
consulta ao Congresso.
Nele, o governo disporia de
um instrumento de fácil
manuseio, suficiente para
fazer face, por exemplo, à
onda delituosa que já
declina mas não se esgotou.
Em Portugal, decretando o
Estado de Subversão, o governo
enfrenta situações
semelhantes criadas
pelo terrorismo.
Já o Estado de Emergência
corresponderia à figura do
Estado de Sítio, devidamente
modernizado e atualizado.
Ele poderia ser decretado
pelo Presidente da
República, depois de ouvir
o CSN, mas a iniciativa
estaria sujeita ao referendo
do Congresso. Não se trata
de mera formalidade, mas
sim de uma necessidade
importante, porque estariam
em jogo as imunidades
parlamentares e as
prerrogativas do Judiciário,
sujeitas a ficar suspensas.
O remédio do Estado de
Emergência seria reservado
para a hipótese de ocorrer
crise institucional grave".
(Transcrito do "Jornal
do
Brasil de 17/1/1972).
Uma vez inscritas essas
medidas na Constituição, o
Presidente da República
revogaria o Al-5.
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POLITIKA
PECADO ESTA NO
BIPARTIOARISMO
AI-5 não é a arma adequada
para impedir o terror. Sua
meta é impedir que políticos
exerçam atividade políticanormal e necessária. Apenas.
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Prudente do Monos Noto
Teoricamente sempre estivemos
armados para combater crises.- "Eu contei um episódio que
me foi narrado, anos atrás, peloBraga Filho e que não sei dizer se éautêntico ou não. De qualquermodo, trata-se de uma fábula extra-ordinariamente bem urdida. 0 epi-sódio teria se passado com o nove-lista Ghiaroni, que ficava trabalhan-do até altas horas da noite na
"Rá-
dio Nacional". Numa das madruga-das em que voltava para casa, naTijuca, foi surpreendido, dentro dolotação, por uma tempestade quelogo inundou as ruas da cidade. 0motorista do lotação foi tocando,devagar, até que o volume e o impe-to das águas obrigaram-no a parar.Ficaram ali, os poucos passageiros,mais o motorista e o trocador, a veraquele rio avassalador correr poronde antes era uma rua tranqüila.Nisso, avistam um clarão sobre aságuas. E perceberam que se tratava
de óleo derramado e que, por
qualquer motivo havia pegado fogo.
Era uma grande bola de fogo que
deslizava no sentido do lotação, la
necessariamente atingir o lotação.
Todos pensaram no tanque de gaso-
lina e na explosão que se seguiria.
Houve logo pânico dentro do carro/
com todos se precipitando para a
.porta de saída e se atirando dentro
d'água. Ghiaroni, que estava no
banco de trás, percebeu que não
conseguiria sair pela porta, em tem-
po. Mas a seu lado, colocado ali
como por providência divina, estava
uma porta de emergência, com os
tradicionais dizeres: "Em
caso de
perigo, quebre o vidro e puxe a
alavanca". Ora, o perigo./ estava a
cinco metros e o Ghiaroni não vaci-
lou: partiu logo para. quebrar o vi-
dro e puxar a alavanca. No que deu
a primeira porrada no vidro, foi
violentamente seguro pelo trocador
que, com o rosto cheio de ódio o
sacudia e gritava: "Seu
estúpido,
veja o que está fazendo! Não vê que
isso é uma porta de emergência? "
E impediu o Ghiaroni de" usar a
porta porque não era uma simples
porta, mas uma "porta
de emergên-
cia". É desse episódio que nascem
as minhas dúvidas a respeito da
fórmula do dr. Etelvino. Se a gentecria uma porta de emergência, há
sempre o risco de haver uma reação
como essa do trocador, mesmo
diante do maior perigo, e há, por
outro lado, o risco inverso de se
converter a porta de emergência na
saída normal".-O sr. acha, então, inviável a
fórmula Etelvino?- "Não digo que seja inviável.
Aparentemente, deve dar certo, fc
uma das soluções possíveis. Mas não
O que vejoé o beco enado mais*coincide com a minha análise da
situação".'Qual seria, então, a saída?"Eu não estou vendo saídas. O
que eu vejo é o beco. O impasse. E
grande perplexidade tanto entre ci-
vis, como entre militares".
Em que ponto .a sua análise
não coincide com a do deputado
Etelvino Ljns?
No que diz respeito à função
do AI-5. Nós sempre tivemos, em
nossas Constituições, armas teórica-
mente aptas para debelar os proble-mas que surgiam. E na hora em que
os problemas surgiam quase nunca
foram usadas essas armas. 0 único
fato novo e que não tinha sido
previsto é a guerrilha urbana, o
banditismo político e o terrorismo.
Positivamente, não sei até que pon-to o AI-5 ou a fórmula Etelvino
Lins poderão concorrer para debe-
lar esse problema, que não é de
natureza institucional. Os poderes
constituídos já proscrevem esses
;atos. 0 que é importante fixar é
que o Al—5 não se destina a comba-
ter a subversão na sua forma atual,
de desafio armado. O AI-5 se desti-
na a defender a ordem instituída
pela Revolução contra a ação poNti-
ca partidária, do tipo das crises que
tivemos depois do governo Dutra, e
que possam levar disfarçadamente,
sob a falsa aparência de cumprimen-
to da lei, ao solapamento e à des-
truição o regime. A ninguém pode
.ocorrer que o Al—5 seja arma capaz
de impedir intervenções como a de
Lamarca, a de Marighela e de outros
terroristas fanáticos. O AI-5, por-
tanto, é arma contra a ação da
política, de políticos no domínio
político normal. Ora, contra este
üitimo tipo de atividade não se
invocará, jamais, pelo menos legiti-
mamente, o "Estado
de Emergên-
cia" e o "Estado
de Segurança"
propostos pelo deputado Etelvino
Lins".
Militares-.Nesse caso, como o sr. inter-
pretaria o discurso do General Ma-lan, que também propõe uma libe-ração programada e cautelosa do
poder pol ítico?
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-
POLITIKA
6debata
O Congresso foi fechado em
1889, em 1930 e em 1937 sem
ser desmoralizado. Muitas e
muitas vezes só se pode ter
Congresso íntegro fechando-o.
PECADO ESTÁ HO
BIPARTIDARISMO
Muitas oportunidades foram perdidas mas
a Revolução ainda pode reencontrar-se."0
general Malan é um homem
de grande vivência militar e de gran-de sensibilidade política. 0 seu dis-
curso não chega a ser uma proposta,mas a exteriorização de um anseio,legítimo em quem tem o direito e o
dever de se preocupar com a posi-
ção das Forças Armadas dentro do
processo político. Os militares bra-
sileiros estão diante do mesmo pro-blema suscitado pela retirada das
tropas americanas do Vietnam. É-
coisa que todo mundo deseja e não
sabe como fazer, por temor de quea retirada importe em ceder terreno
ao inimigo. Este é o drama de todas
as ocupações. A Europa, até hoje,
vive os efeitos da vitória americana
na guerra. A dificuldade dos milita-'
res, em casos como esses, é o senti-
mento de que podem perder na pazo que se conquistou na guerra",
ECONOMISTAS
Na mesma linha de proposi-
ções devem ser interpretados os
diversos pronunciamentos de eco-
nomistas ligados ao regime, quantoà necessidade de abertura política.
A falta de debate sobre as grandesdecisões nacionais pode se transfor-
mar, no entender desses economis-
tas, em obstáculo ao desenvolvi-
mento, pela obstrução ao caminho
de outras alternativas. O sr. concor-
da com isso?
"Sim, todo mundo entende e
percebe que a normalização políticaé a solução definitiva e verdadeira.
O problema é como chegar a ela.
Também é verdade que os êxitos
alcançados no terreno econômico
só foram possíveis em conseqüência
do poder incontrastável de decisão
do governo. O Roberto Campos
usou vastamente desse poder, sem o
qual não teria conseguido o que
conseguiu".
OPORTUNIDADES
PERDIDAS j
Um dos temores do deputado
Etelvino Lins é que o governo perca
a oportunidade que, no seu enten-
der, se apresenta para a conciliação
política. O sr. acha que existe, nb
momento, essa oportunidade?
Não acredito em conciliação
política, assim, sem mais nem me-
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mk \ V t ^^ I
Bà -.^w ______________^_______________fl I
Pedrq Aleixo
Partido dePedro podeser a via.nos. O que tinha de haver, em mate-
ria de conciliação política, já houve.
Muitos cassados estão hoje integra-
dos na vida brasileira, alguns em
posição financeira e social até me-
lhor do que ostentavam antes da
Revolução. Não há mais o que con-
ciliar. Quanto ao problema da opor-
tunidade eu entendo que muitas
oportunidades já foram perdidas,
não de conciliação, mas de soluções
radicais e de preservação de valores
.que hoje se apresentam distorcidos
por um longo processo de desgas-
te".
Explique melhor essa história
de oportunidades perdidas. . .
"Por exemplo: eu era favorá-
vel, em 1964, ao fechamento dos
partidos políticos e do Congresso,
não por ser contra, mas porque amo
Pedrq Aleixo
e respeito o Congresso. Considero
que o Congresso, fechado, não
perde autoridade, nem se desmora-
liza — o que não ocorre com o Con-
gresso ceifado e desvirtuado na sua
função, vivendo num regime em
que é apenas tolerado. O que se vê é
o Congresso sob ameaça perma-nente de cassações individuais, quesão muito mais graves e o atingem
muito mais profundamente do quea providência revolucionária, curial,
e de expressão meramente política,de seu fechamento. Veja que o Con-
gresso foi fechado quando caiu a
monarquia, foi fechado em 1930,
em 1937, e a instituição não se des-
morãl.ZOU, nãu peiueu piesiiyio,
porque depois de todos esses fecha-
mentos, quando se falava em Con-
gresso o que se tinha em mente era
o Congresso íntegro, poder sobe-
rano da República. Essa foi a pri-meira oportunidade que se perdeu".
PARTIDOS
Teve outra oportunidade per-dida?
"Sim. Perdemos outra oportu-
nidade, não de congraçamento ou
de conciliação, mas de criar as con-
dições necessárias para o pleno res-
tabelecimento da normalidade poli-
tica, quando da edição do AI-2. Foi
um grave erro de perspectiva poli-
tico que o governo revolucionário
não se limitasse a extinguir os parti-
dos existentes.
Em vez de deixar que outros par-tidos se formassem livremente,
impôs o sistema bipartidário, de
partidos criados por decreto. Parti-
dos criados por decretos são inviá-
veis, ilegítimos e jamais poderão ser
efetivamente representativos. Se
houver força e disposição para man-
ter a ARENA e o MDB como parti-
dos únicos, ficaremos cem anos sem
ver os mesmos mergulhados na rea-
lidade e no sentido popular. Sob
este aspecto, entendo que o partido
que o Pedro Aleixo está tentando
criar, se o conseguir, será o primeiro
a nascer como nascem as coisas des-
tinadasà vida".
Quer dizer que o senhor não vê
saída enquanto perdurar o esquema
bipartidário?
Não é o bipartidarismo que
obstrui o processo. 0 problema nas-
ceu com a imposição do bipartida-
rismo e com a fixação de um deles
como expressão da Revolução. Isto
significa que a Arena não disputa o
poder, verdadeiramente. 0 poder
não está em disputa. O bipartidaris-
mo, como o AI-5 foram criados pa-
ra impedir a atividade política.
Então, não há porque desejar che-
gar à atividade política através do
bipartidarismo e do AI-5.
Veja bem: um regime que fixa o
número de partidos e determina
qual o partido que deve ficar éter-
namente no poder, não pretendenem pode (mesmo que sinceramen-
te pretenda) ser democrático. A
meu ver, o que se pode e deve ten-
tar é a liquidação do bipartidaris-
mo. 0 aprofundamento da vida
política, que só pode ocorrer com
partidos autênticos e representa-
tivos, tornará o AI-5 ocioso. Então,
é o bipartidarismo e não o AI-5 o
verdadeiro impecilho à normaliza-
ção democrática".
-
POUT1KA
Sebastião
Nery
VERBETE: Holanda (Francisco Camilo de) nasceu na Paraíba
em 1862. Formado em 1887 pela Faculdade de Medicina
da Bahia, coronel-médico do Exército, foi preso no golpe
de Estado de Floriano Peixoto. Deputado Federal pela Paraíba
durante muitos anos, governou o Estado de 1916 a 1920.
Morreu em 1946, deixando duas heranças perenes: a fama de homem
terrivelmente esperto e a neta Henrieta, hoje professora Henrieta Amado,
ex-diretora do Colégio André Maurois e glória da educação nacional.
7ffolklore
polítiko
.
CAMILO DE HOLANDA1Ferreira Dantas, amigo
de infância do Presidente
Camilo de Holanda (na
quela época, governador
era Presidente, hoje é que
é Proconsul), era jornalista
e lhe fazia violenta oposi-
ção. Camilo respeitava.
Uma manhã bem cedo,
Camilo encontrou Ferreira
Dantas na rua, parou o car-
ro, ofereceu-lhe carona.
Ferreira Dantas agradeceu,
ele insistiu, o jornalistaaceitou. Carro em João
Pessoa, naqueles s tempos
(1918) era como helicóp-
tero hoje. Coisa de gover-nador.
O adversário no carro,
Camilo rodou a manhã in-
teira. Correu a cidade, pra-
ças e subúrbios. Humilde-
mente, deu explicações,
anotou providências, con-
cordou com muitas críti-
cas, prometeu consertar
coisas e pediu que ele con-
tinuasse apontando os er-
ros do governo.
Meio-dia, quando volta-
ram para o Palácio, a cida-
de toda já comentava, sem
entender, o passeio do go-vernador com seu mais ter-
rível adversário. Camilosaltou, viu o olhar assus-
tado dos auxiliares, man-dou o carro oficial levar o
jornalista até o jornal e dis-se apenas isto:
- NSo me largou a ma-nha todinha.
2Ferreira Dantas denun-
ciou torturas contra presosna cadeia de João Pessoa.Atacou violentamente Ca-
milo de Holanda. "Presi-
dente do Estado e, portan-to, responsável". E ressal-t ou a posição do Chefe dePolícia, "homem de cate-
9pria, incapaz de convivên-cia com essas barbarida-
O Chefe de Pol ícia man-
dou abrir inquérito, Cami-
lo não gostou, "porque
ele
está querendo é fazer mé-
dia com a oposição". Umamanha, chamou o Chefe
de Polícia e tocaram os
dois para a cadeia:
Cabo Chico Diabo, o
que é que está havendo
aí? Que negócio é esse de
tortura aí na cadeia?Não é tortura não,
Presidente. São uns ladrões
de cavalos, uma escuma-
lha. Eu dei uns bolos neles
para eles aprenderem quecavalo tem dono.
Vá buscar os ladrões.
Vieram os ladrões:Cabo Chico Diabo,
meia dúzia de bolos neste
aqui. Depois, meia dúzia
nesse aí. E meia dúzia na-
quele ali também.
O Chefe de Pol ícia ficou
pálido e calado. Camilo de
Holanda, de pé, cara fecha-
da, espiava o teto. E os
pobres homens gemendona palmatória grossa de fu-
rinho no meio.
Quando os bolos termi-
na ram, Camilo bateu a
mão no ombro do Chefe
de Polícia, já branco e
suando, sem entender na-
da:« - Doutor Chefe de Pol í-
cia, prossiga com o inqué-
rito. E com rigor. Com
todo o rigor!
3Camilo de Holanda ti-
nha um pecado. Só que
sua namorada era mulher
de um sargento da Polícia
Militar. Uma vez por sema-
na, já de propósito, o te-
nente-comandante dava
prontidão noturna no
quartel. E o velho Camilo,
sem sustos, saía do Palácio
e ia ver seu amor.
Uma noite, Camilo vai
chegando à casa dela e vê,
pendurado na cadeira da
sala, o dol men do sargen-
to. Voltou furioso ao quar-tel:
Tenente, e minhas or-
dens?
Que ordens* Presiden-te?
Prontidão rigorosa,
que a ordem pública está
ameaçada.
O tenente mandou tocar
a corneta, dentro de poucotpmpo o batalhão estava
todo lá. De prontidãoabsoluta. Não faltava nin-
guém.Meia-noite, Camilo vol-
tou lépido:- Tenente, relaxa a
prontidão que o perigo já
passou.O perigo era ele.
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POLITIKA
Como está o Brasil ? Para onde
vai o Brasil ? Esse é o campo
de indagações e estudos do
professor Octavio lanni
que
POLITIKA começa a divulgar
Octávio
lanni
BRASILEIRO
uerw ruruniu
OCTAVIO IANNI, paulista
de Itu (1926), professor de
sociologia da Universidade de
SSo Paulo e professor-visitante
das Universidades de Oxford,
Columbia e México,
6 um pesquisador social de reputação
nos mais famosos centros
internacionais
de ensino de sociologia.
Seus livros estão traduzidos
em inglês, francês, italiano e
espanhol e com várias edições no
Brasil "Civilização
Brasileira") :
"As Metamorfoses do
Escravo" (1Ô62)
"Industrialização e
Desenvolvimento Social
no Brasil" (1963)"Estado
e Capitalismo" (1965)"Raças
e Classes Sociais
no Brasil" (1966)"O
Colapso do Populismo no '
Brasil" (1968).
"Imperialismo Y Cultura de Ia
Violência en America Latina"
(México, 1970)
"Sociologia da Sociologia
Latino-americana" (1971)"Estado
e Planejamento Econômico
no Brasil: 1930 a 1970" (1972).
Como está o Brasil? Para onde vai
o Brasil? Esse é o campo de
indagações, de pesquisas e de
estudos de professor Octavio
lanni. A partir desta edição,
POLITIKA divulgará alguns
trabalhos do sociólogo paulista,
cuja obra ó indispensável
para toda tentativa de compreensão,
em nivel universitário,
dos caminhos nacionais.
E não ó outro o campo de
POLITIKA : a análise permanente
dos caminhos nacionais
4
kultura
/
Octavio
lanni
-
POLITIKA
0 neonacionalismo
brasileiro
A história econômica do
Brasil orientada no sentido
da interdependência, pouco
a pouco
começa a desenvolver
seus objetivos nacionalistas
i
I
I kultura
A história econômica do Brasil,
nos anos 1930-70, revela flutuações
que lembram um movimento pen-
dular. Em um dos pólos estaria o
projeto de criar um capitalismo na-
cional, ao passo que no outro esta-
ria o projeto de desenvolver um sis-
tema capitalista associado. Em
graus variáveis, segundo as condi-
ções políticas e econômicas vigentes
em cada período, a política econô-
mica governamental tem indicado
uma ou outra direção. Mesmo quan-
do as flutuações foram contraditó-
rias, ou obscuras (quanto ao seu
sentido, quanto aos pólos possíveis)
sempre pareciam estar em jogo os
projetos de capitalismo nacional ou
capitalismo associado.
A análise da política econômica
governamental dos anos1964—70 re-
vela o predomínio da tendência
internacionalista. Ou seja, révela um
conjunto de alvos, diretrizes, técni-
cas e decisões orientado no sentido
de impulsionar e consolidar um
sub-sistema econômico associado
(ou melhor, dependente). Isto é, as
diretrizes e os objetivos econômicos
adotados pelos Governos Castello
Branco, Costa e Silva e Garrastazu
Mediei implicaram na recomposição
das relações da economia brasileira
com a economia mundial. De fato,
o que ocorreu foi uma reintegração
da economia brasileira, enquanto
sub-sistema econômico, no âmbito
do capitalismo mundial, sob a égide
dos Estados Unidos. Esse processo
foi facilitado e acelerado pelas dire-
trizes governamentais (econômicas,
fiscais, monetárias, cambiais, sala-
riais, etc.) que impulsionaram a
concentração e a internacionali-
zaçao do capital aplicado nos diver-
sos setores da economia brasileira.
Em conseqüência das condições fa-
voráveis, criadas pelos governos dos
anos 1964-70, as empresas multi-
nacionais adquiriram importância
relativa e absoluta ainda maior, no
conjunto da* economia do País.
Assim, nos anos 1964-70 o movi-
mento pendular revelado pelas
flu-
tuações da política econômica
governamental brasileira orientou-se
na direção da "interdependência".
Entretanto, as relações e as técni-
cas de complementaridade e inter-
dependência não predominaram de
modo absoluto. Ou melhor, ao lon-
go desses anos, pouco
a pouco, a
política econômica governamental
incorporou e desenvolveu também
diretrizes e objetivos de tipo nacio-
nalista. Pouco a pouco, começaram
a repetir-se nos documentos e dis-
cursos produzidos na esfera gover-
na mental expressões tais como:
indústria nacional, empresário na-
cional, poder nacional, projeto
na-
cional, soberania nacional, priorida-
des nacionais, desenvolvimento
autopropulsionado, etc. No interior
da linguagem comprometida com a
doutrina de interdependência surgi-
ram, aos poucos, indícios de uma
doutrina nacionalista.
Assim, nesses anos, dentro e fora
do governo, realizaram-se quatro
debates particularmente significati-
vos, quanto às suas conotações
ideológicas nacionalistas: café solú-
vel, energia nuclear, mar territorial
e integração nacional (Amazônia).
Note-se entretanto, que essas mani-
festações de nacionalismo político e
econômico estavam ocorrendo sem
bases polítiCo-partidárias especiais,
nem massas populares politicamen-
te organizadas. Vejamos um exem-
pio.
O problema do café solúvel ilus-
tra, em parte, a peculiaridade do na-
cionalismo brasileiro dos anos
1964-70. Em poucas palavras, o que
ocorreu foi o seguinte: Em junho de
1966 a National Coffee Associa-
tion, dos Estados Unidos, manifes-
tou a inquietação dos seus associa-
dos, relativamente .ao crescimento
do consumo norte-americano do
café solúvel produzido no Brasil. Os
comerciantes norte-americanos de
café solicitavam a interferência do
governo dos Estados Unidos, por
intermédio dò Departamento de
Estado, para que se pusesse fim à
"concorrência desleal do café solú-
vel brasileiro no mercado ameri-
cano". De fato, o café solúvel pro-
duzido 'por
empresas localizadas no
Brasil estava sendo cada vez mais
preferido pelo consumidor norte-
americano, devido à qualidade e ao
preço do produto. Em conseqüên-
cia, os comerciantes norte-ameri-
canos de café iniciaram uma campa-
nha em que se reclamavá contra o
"subsídio" do governo
brasileiro às
exportações do café solúvel. E pas-
sou-se a falar em dumping, promo-
vido pelos exportadores brasileiros,
com apoio governamental. Em
seguida, estabeleceu-se um amplo e
longo debate no Brasil e nos Esta-
dos Unidos. O governo e os comer-
ciantes de café norte-americanos
exigiam que o governo
brasileiro
criasse uma taxa especial sobre o
preço do café solúvel brasileiro,
a
fim de que este produto
não conti-
nuasse a entrar com preço demasia-
do vantajoso no mercado interno
dos Estilos Unidos. Ao mesmo
tempo, o governo e os exportadores
de café solúvel, no Brasil, procura-
vam resistir. Alegavam que o preço
e a qualidade eram vantagens relati-
vas que não deveriam ser anuladas.
E diziam que não era compreensível
que o governo e os comerciantes de
café norte-americanos estivessem a
combater justamente uma manifes-
tação positiva da economia brasilei-
ra. Afinal de contas, dizia-se, o País
estava industrializando, para consu-
mir e exportar, o seu principal pro-
duto. Dizia-se mesmo que estava em
jogo toda uma concepção sobre
as
condições e as possibilidades de
desenvolvimento de uma economia
"subdesenvolvida".
^¦1 IRK BP®
A
0 neonacionalismo
brasileiro
-
kultura
O Brasil adotou uma série de
medidas nacionalistas e não
tem resistido às
pressões
exercidas de fora
para dentro
como no caso do café solúvel
0 neonacionalismo
brasileiro
Nos debates realizados no Brasil
lembrou-se que a Carta de Punta dei
Este, de 1961 f recomendava a in-
dustrialização de produtos primá-
rios, pelos próprios países produto-
res, como meio de superar o subde-
senvolvimento, ou a dependência.
Em pouco tempo, pois, apareceram
mensagens do tipo nacionalista.
A submissão do Brasil a pressões de
caráter colonialista, como a que ora se
articula contra a nossa indústria, rompe-
ré nossas tradições de soberania e criará
para o empresariado nacional a certeza
de que não poderá dedicar-se a atividade
aco.tõmica alguma que possa competir
eficientemente com poderosos grupos
econômicos estrangeiros, frustrados esta-
rão os legítimos anseios de progresso e
de independência do povo brasileiro.
Esse debate foi levado também à
reunião da Organização Internado-
nal do Café, em Londres, no mes de
setembro de 1967. E prosseguiu nos
anos de 1968 e 1969, na imprensa,
nas associações de classe ligadas è
produção e comercialização do café
solúvel e, é óbvio, nos círculos go-
vornamentais norte-americanos e
brasileiros. Entretanto, no dia 23 de
abril de 1969 o governo brasileiro
assinou decreto estabelecendo a
taxa de 13,98% para cada libra-peso
de café solúvel exportado para o
mercado norte-americano.
A decisão do Governo brasileiro de
taxar em 13% a exportação do café solú-
vel brasileiro deve ser recebida com tris-
teza, pois assinala, incontestável mente,
uma capitulação. Pode reconhecer-se que
conseguimos reduzir consideravelmente
as pretensões extremas do lobby norte-
americano. Todavia, a decisão fere dire-
tamente os princípios de soberania
nacional e representa um recuo diante de
ideais que temos de defender como
Nação das mais importantes do Terceiro
Mundo. (.. .)
O fato indiscutível, é que, sob a pres-
são de um grupo industrial dos Estados
Unidos, o governo de Washington conse-
guiu impor ao Brasil um imposto de
exportação sobre produto industria-
lizado. (1)
Mas a taxa de 13,98% não satis-
fez aos comerciantes e ao governo
norte-americanos. Por isso, prosse-
guiram as pressões sobre o governo
e os exportadores do Brasil. 0 café
solúvel produzido no País continua-
va a desfrutar de uma posição relati-
va vantajosa no mercado interno
dos Estados Unidos. Em maio de
1970, entretanto, surgiu um fato
novo.A National Coffee Association
aprovara resolução desaconselhando
qualquer incremento daquela taxa,
já estabelecida pelo governo brasi-
leiro. E, ainda, desaconselhando a
criação, por parte do governo norte-
americano, de qualquer imposto
para gravar as importações de café
solúvel brasileiro. (2)
Em poucos meses, no entanto,
ressurgiu a pressão dos interesses de
uma parte do comércio norte-ameri-
cano de café solúvel. A General
Foods voltou ao assunto, exigindo
que o govôrno e o Congresso dos
Estados Unidos forçassem o gover-
no brasileiro a elevar, mais uma vez,
a taxa sobre a exportação desse café
para o mercado daquele país.
A Comissão de Meios e Arbítrios da
Câmara dos Representantes dos Estados
Unidos, presidida peto democrata Wilbur*
Wills, apresentou hoje uma espécie de ul-
timdto ao Brasil, exigindo a maciça eleva-
ção da taxa sobre a exportação de café
solúvel até o dia 1 de abril do próximo
anü. o mais tardar. (3)
é revelador que a "General
Foods", o
gigante do café solúvel, que detém cerca
de 50% do mercado do café solúvel nos
Estados Unidos, tenha sido a única com-
panhia que pediu um .aumento da taxa
de exportação brasileira. (4)
Note-se, entretanto, que o debate
sobre o café solúvel, no Brasil, ficou
restrito aos próprios círculos cafeei-
ros e governamentais. A imprensa
diária do País parece té-lo registra-
do apenas nesses termos. Mesmo
quando houve referências à
"indus-
trialização do setor agrícola", reco-
mendada na Conferência de Punta
dei Este, de 1961, mesmo nesse
caso não se verificou a intenção de
popularizar o debate.
O mesmo fenômeno ocorreu com
as discussões relativas à energia nu-
clear, ao mar territorial e à integra-
ção amazônica. O debate não foi às
ruas e, muito menos, às praças pú-
blicas. Isto teria sido considerado
"demagogia".
O neonacionalismo característico
dos anos 1964—70 surgiu em decor-
rência de alguns problemas
xeconô-
micos, políticos e militares, tais
como: a comercialização do café
industrializado; o aproveitamento
econômico dos recursos minerais e
piscosos do mar territorial; a pes-
quisa e os usos da energia atômica;
a expansão da fronteira econômica
interna na região amazônica; a afir-
mação da hegemonia do Estado bra-
sileiro sobre as zonas marítimas li-
torâneas do País; o fortalecimento
dos núcleos militares nas regiões
limítrofes com países sujeitos a
convulsões sociais. A propósito des-
sas questões, os Governos Castello
Branco, Costa e Silva e Garrastazu
Mediei (principalmente os dois últi-
mos) começaram a enfatizar noções
tais como: segurança e soberania
nacionais; prioridades nacionais;
fundamentos geopolíticos da nacio-
nalidade; projeto brasileiro; Brasil:'
grande potência. A elaboração e
reelaboração dessas noções foram
facilitadas#elá crescente internado-
nalização da economia brasileira.
Isto é, na medida em que as políti-
cas econômicas governamentais im-
plicavam na criação de condições
vantajosas para a expansão das fi-
liais e associadas das empresas mui-
tinacionais, manifestavam-se ten-
dências nacionalistas com relação a
alguns problemas reais, tais como os
mencionados. Ou seja, à medida
que se concretizava a política eco-
nômica fundada na doutrina da as-
sociação e interdependência entre o
Brasil e os Estados Unidos, torna-
vam a criar-se novas condições para
a manifestação e o ressurgir da ideo-
logia e soluções nacionalistas. As-
sim, voltava-se a pensar em "solu-
ções brasileiras para problemas bra-
sileiros". Essa foi a ocasião em que
o Gen. Emílio Garrastazu Mediei
afirmou, entre outras coisas:
O nosso País se recusa a crer que a
História se desenrola, necessariamente,
em benefício de uns e em prejuízo de*outros;
não aceita que o poder seja fonte
de posições irremovíveis; e reafirma o di-
reito de forjar, dentro das fronteiras, o
seu próprio destino e de escolher, fora
delas, as suas alianças e os seus rumos.
(...)
Repelimos qualquer tentativa seja qual
for o ^pretexto invocado, de restauração
da tese de zonas de influência ou de im-
posição da vontade política de um país,
ou grupo de países a outros. (. . .)
Para os povos da América a indepen-
déncia política representou no século
XIX. (. . .)
O ciclo de negociações decorrentes do
consenso de Vina dei Mar é, por indício
claro de que a firmeza e a tenacidade
podem lograr por si só, indício claro de
que a firmeza e a tenacidade podem lo-
grar esse objetivo. (5).
*
"Café Solúvel: Triste Solução", edi-
torial de O Estado de São Paulo,
25.4.1969, conforme transcrição de
Hélio Duque, A Guerra do Café Solú-
vel. Editora Leitura, Rio de Janeiro,
1970, pp. 135 e 136. Consultar tam-
bém: William G. Tyler, "A
Política
Norte-Americana e o Impasse do Café
Solúvel", Revista Civilização Brasileira,
nfi 18, Rio de Janeiro, 1968; "As
pres-
sões da General Foods", O Estado de
São Paulo, 16.1.1970, p. 29; Fator, nQ
2 , Rio de Janeiro, 1968."Brasil
Vence "Guerra
do Solúvel","Solúvel:
Regozijo pela Vitória" e
"Vi-
tória no Café", notícias e comentários
publicados em O Estado de São Paulo,
edições de 7, 8 e 10 de maio de 1970.
Consultar também: Mundo Econômico,
S. Paulo, março-abril de 1970, pp. 75-6.
Solúvel enfrenta novas pressões", em
O Estado de Sêo Paulo, S. Paulo, 1 de
dezembro de 1970, p. 52.
Pronunciamento de Edward Kenne-
dy, no Senado dos Estados Unidos. Cf.
"Kennedy defende o Brasil", o Estado
de S8o Paulo, S. Paulo, 5 de janeiro de
1971, p. 46.
Discurso pronunciado no Palácio
Itamarati, nas solenidades do Dia do
Diplomata. Cf. "Cooperação Deve
Respeitar Soberania", O Estado de São
Paulo. 21.4.1970, p. 9. Alguns comen-
tários e reações ao neocolonialismo bra-
sileiro encontram-se em* A. Delfim
Netto, "A
Lógica e o Desenvolvi-
mento", O Estado de São Paulo,
29.4.1970, p. 25; Roberto de Oliveira
Campos, "Intenções
Nobres... Pr*
missas Equivocadas", dois artigos publi-
cados em O Estado de São Paulo, 13 e
20 de maio de 1970; Roberto de Olivei-
ra Campos, "La
Rage de Vouloir Con-
clure", quatro artigos publicados em 0
Estado de São Paulo, 15 e 22 de julho e
5 e 12 de agosto de 1970; Roberto de
Oliveira Campos, "Modelo
Brasileiro de
Desenvolvimento", quatro artigos pu-
bliçados em O Estado de São Paulo, 17
e 24 de junho e 1 e 8 de julho de 1970.
Ainda quanto à vulnerabilidade dos
governos militares latino-americanos ao
"nacionalismo extremado", consultar
The Rockefeller Report on the Ameri-
cas, Quadrangle Books, Chicago, 1969,
esp. pp. 32-33.
/
"Yi .
o
0 neonacionalismo
brasileiro
-
O neonacionalismo
brasileiro
Costa e Silva preocupou-se
com a interdependência, que
estava acelerando a redução
da importância relativa do
setor brasileiro na economia
POUTIKA
kultura
Ocorre que durante o Governo
Costa e Silva já se manifestara (de
nôvo e de modo mais aberto que no
Gov&rno Castello Branco) a preocu-
pação com a crescente e acelerada
internacionalização da economia
brasileira. Ao mesmo tempo crescia
a preocupação de alguns setores do
govêrno com o conseqüente fortale-
cimento dos centros de decisão
externos, sobre as diretrizes e as
possibilidades da economia do País.
De fato, a política econômica fun-
dada na doutrina da interdependén-
cia estava provocando uma acelera-
da redução da importância relativa
e absoluta do setor brasileiro da
economia do País. Tanto assim que
o Programa Estratégico de Desen-
volvimento, forjmilado para os
anos - 1968-70, preconizava
uma
política econômica governamental
destinada, entre outros fins, a supe-
rar o estrangulamento tecnológico
da indústria nacional e a aumentar a
participação da oferta nacional na
oferta global.
Portanto, teria sido a própria po-
lítica econômica apoiada na doutri-
na da interdependência, adotada de
modo ortodoxo durante o Governo
Castello Branco (1964-67) que pro-
vocou o aparecimento de novo sur-
to nacionalista. Em pouco tempo
evidenciava-se que os governantes
brasileiros pretendiam evitar ou
controlar algumas conseqüências
econômicas, políticas e militares da
doutrina da interdependência e da
segurança hemisférica. Além disso,
recolocava-se, para os govffmos des-
ses anos, o problema do papel que a
liderança brasileira poderia e/ou de-
veria exercer na América Latina.
Uma parte dessa problemática
transpareceu nos debates realizados
a propósito do
"Projeto Brasil:
Grande Potência". Chegou-se a di-
zer, então, que os governantes brasi-
leiros estavam tentando formular
"nôvo modêlo político" para
o de-
senvolvimento econômico acelera-
do, modêlo esse diverso dos euro-
peus e norte-americano.
Sob certo aspecto, o nacionalis-
mo expansionista inerente ao proje-
to de criação de uma "Grande
Po-
tência" reapareceu na linguagem do
programa de Metas e Bases para a
Ação do Governo, apresentado pelo
Governo Mediei, em outubro de
1970. Esse programa não foi lança-
do como um novo "plano
global",
pois que era
"orientação do gover-
no evitar a linguagem das promes-
sas". Tratava-se de uma sistematiza-
ção das realizações principais proje-
tadas para os anos 1970-73. Assim,
ao mesmo tempo que* se lançou o
Programa de Metas e Bases, divulga-
ram-se cerca de 230 projetos de
"alta
prioridade". Eles se referiam
aos vários setores da economia bra-
sileira, e davam continuidade à poli-
tica econômica e social que vinha
sendo executada pelo governo: inte-
gração nacional; integração social;
energia nuclear; modernização e
dinamização do setor agrícola; in-
centivo à exportação de minerais e
manufaturados; transferência de
excedentes de mão-de-obra do Nor-
deste para a Amazônia etc. Dentre
os objetivos nacionais programados
pelo governo, destacava-se o seguin-
te, pelo seu significado ideológico:
Como Objetivo-Síntese, ingres-
so do Brasil no mundo desen-
volvido, até o final do século.
Conforme já se esclareceu,
construir-se-á, no País, uma so-
ciedade efetivamente desenvol-
vida, democrática e soberana,
assegurando-se, assim, a viabili-
dade econômica social e políti-
ca do Brasil como grande po-
tência.
Em verdade, a política econô-
mica adotada nos anos 1964-67, pe-
Io Governo Castello Branco, já ha-
via colocado em evidência a contra-
dição entre Estado Nacional e
Empresa Multinacional. À medida
que se punham em prática
os objeti-
vos econômicos e políticos ineren-
tes à doutrina da segurança hemisfé-
rica e interdependência econômica
dos países das Américas (formulada
pelos governantes dos Estados
Unidos, segundo as exigências da
Guerra Fria) iam-se evidenciando os
riscos a que se expunha o princípio
da soberania nacional. Isto é, as
conseqüências reais (econômicas e
políticas) da política
econômica
governamental recolocavam o pro-
blema da alienação de centros ae
decisão sôbre a política econômica
do País. Assim, à medida que a
política econômica governamental
favorecia e estimulava a concentra-
ção de capital, em nível nacional
e
internacional, necessariamente
ocorria a concentração de capital,
em nível nacional e internacional,
necessariamente ocorria a interna-
cionalização de capitais e decisões.
Ministério do Planejamento e Coor-
de nação Geral. Programa Estratégico de
Desenvolvimento: 1968-1970 (À Indus-
trialização Brasileira: Diagnóstico e
Perspectivas), Serviço Gráfico do IBUfc,
1969, esp. pp. 56-57.
Consultar: "Projeto
Brasil, Grande
Potência", Visão, S. Paulo, 7-11-1969.
pp. 23-25; Brazil 1969 (An unedited
compilation of articles from the news-
weekly Latin America), Center for In-
ter-American Relations, New York,
1970, esp. pp. 125-127; "Frente
Úni-
ca", resumo de análise sobre Brasil e
América Latina, do Financial Times.de
Londres, em O Estado de São Paulo,
8.5.1970, p.36.
Presidência da República, Metas e
Bases para a Ação do Governo (Sfn-
tese), setembro, 1970, p.15. Grifos no®-
sos. Consultar também: "Médici
lança
plano de metas e bases do governo".
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 de
outubro de 1970, pp. 12, 13 e 20.
Conforme declarou o Ministro do Tra-
balho, Júlio Barata, em palestra profe-
rida na Confederação Nacional do Co-
mércio: "A
Intenção do atual governo é
criar condições para que, no ano 2000,
o Brasil se imponha ao mundo como
grande potência, conquistando o mer-
cado internacional". Cf. "Meta
é forjar
Brasil Grande", em O Estado de São
Paulo, S. Paulo, 28 de novembro de
1970, p. 46. Grifado por nós.
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POLITIKA
12baciadas almas
Teófilo, o Indispensável
Os jornais do Rio não sabem o que vão fazer em fevereiro.
As editorias estão em pânico. 0 professor Teófilo Azeredo Santos
vai passar todo o mes nos Estados Unidos.
De cada três fotografias nos jornais cariocas, uma é do
ilustre multi-funcional. Sem Teófilo aqui, como é que os
diagramadores vão se arranjar?
Eis como a viagem de férias de um lider empresarial pode
transformar-se em grave problema para o desenvolvimento.
Ao menos das empresas jornalísticas.
Editorial - I"É
preciso arriscar-se
a dizer coisas contestáveis,
desde que se levantem
questões vitais".
(Dietrich Benhaeffer,
pastor).
Luis. o
desencarna vel
w^__^_mT^ ^^B
¦Bjr^BBBB
Na última viagem aoRio, o governador AntônioCarlos Magalhães (Bahia)se queixou a amigos:
— O Luis (Luiz VianaF i lho, ex-governador)nãodesencarna. Está como seainda fosse governador.Não tem uma solenidade,oficial ou particular, queele não esteja lá. E é aque-la coisa chata: dois gover-nadores, eu e ele. Porqueninguém vai chamá-lo deex-governador; é governa-dor mesmo. Os oradores,os locutores, o pessoal datelevisão, meus própriossecretários e outros auxi-liares, na hora de fazerema saudação, não podemdeixar de se referir ao"governador
Antônio Car-los Magalhães" e ao
"go*
vernador Luis Viana"» Atéeu. Ficaria deselegante di-rigir-me a ele chamando de"ex-governador".
Resulta-do: a Bahia está com dois
governadores. É o Luis, to-do tranqüilo, sorridente,bancando o simpático, não
perde uma solenidade. Es-tá em todas. Vou ter quearranjar um jeito de afasta-lo de lá. Não sei como,mas é preciso. Enquanto
ele estiver lá, não desencar-na.
Lomanto. o**
desfrutavel
No fim do ano passado,um grupo de deputados re-
solveu organizar um almo-
ço de confraternização no
Hotel Nacional, em Brasi-
lia. Para facilitar o proble-
ma do pagamento, decidi-ram transformá-lo em"homenagem"
ao deputa-do Lomanto Júnior ^ARE-NA-Bahia), que financiariaas despesas.
Naquele mesmo dia, oministro Dias Leite tinhaum depoimento na Comis-são de Minas e Energia daCâmara e foi almoçar noHotel Nacional. Vai en-trando no restaurante, en-contra o
"almoço de
Lomanto". Lomanto se.levanta, ainda de bocacheia, mastigando e pas-sando o guardanapo norosto suado, e improvisaum discurso:
"Senhor ministro, es-ta é uma homenagem, ime-recida mas sincera, a umdos mais humildes congres-sistas, prestada por seuscompanheiros de Câmara.Mas o que mais me como-ve hoje é a presença deV.Excia. neste almo-
ço" .. .O ministro olhou para
os lados, assustado, e, páli-do de irritação, disse ape-nas:
Sr. deputado, há umengano. Eu não vim para ahomenagem a V. Excia.Vim almoçar com a dire-
ção da Comissão de Minase Energia da Câmara. Mi-nha mesa está reservada, láno canto, só quatro luga-res. Muito obrigado peloconvite, mas não possoaceitar.
E foi sentar-se na mesadele. Lomanto caiu na ca-deira,
"desfigurado e pas-
mo", como nos romancesdos falsos heróis medie-vais.
Jesus, o (in)
dispensável
O hippie, muito na delee muito viajor entrou naloja de objetos religiosospara comprar um Cruci-fixo:
Bicho, quanto é aque-
le amizade ali?Mais respeito. Nem
sou bicho nem aquilo sechama amizade. É um cru-cifixo.
QMas quanto é?100,00.E sem o atleta?
Otávio, o
«¦nbatível
á\m~%W»m¥r*!lí*. *4t**a\m
*****aJa\***m\ A
A "Veja"
conta "a
lendaforense segundo a qualOtávio Mangabeira, quan-do era estudante de Direi-to, entrou num tribunal,defendeu um criminoso econseguiu-lhe a absolviçãosem nunca ter ouvido falarnem dele nem de seu deli-to".
Tudo errado. Otávio Man-
gabeira nunca entrou emTribunal nenhum comoadvogado. Só como réu de
processos políticos. Poruma razão muito simples:ele nunca foi advogado,nem estudante de direito.Era engenheiro, formado
pela antiga Escola Politéc-nica da Bahia, da qual foicatedrático de Astrono-mia. (Ver o no. 13 de PO-LITIKA, página 17,
"Foi-
klore Politiko").
Talvez ele tenha consegui-do, nas longas noites dolongo exílio (de 1930 a.1945), defender alguma le-viana estrela fazendo tro-toir na Via Láctea. Mas ab-solver ele só absolveu umréu: Getulio Vargas, de
quem dizia, depois de1954, haver perdoado os
pecados. "Mas
só os politi-cos e os administrativos.Os pecados contra a liber-dade, jamais. Porque essesa história já catalogou co-mo imperdoáveis"
Editorial- 2"Estamos
todos à busca derazões razoáveis para a-creditar no absurdo" (Lau-rence Durrell, em "Jus
tine ).
Orlando. <
disponível
Hta^^^a
Talvez já seja trabalho
do governador Antônio
Carlos Magalhães para ten-
tar afastá-lo da Bahia ("elenão desencarna" —vejam
outra nota nesta mesmaBacia). O certo é que os
jornais começam a falar,
insistentemente, no nome
do ex-governador Luis
Viana Filho para o Supre-^mo Tribunal Federal, na'vaga do ministro Adalicio'Nogueira, que vai aposen-tar-se no dia 13 de feverei-ro, por cair na compulsória
(70 anos). A alegação é :"Para
a vaga de um baiano,nada melhor que outrobaiano".
Acontece que a Consti-tuição exige, para o STF,"notável
saber jurídico". Eo doutor Luis Viana, ilus-tre biógrafo de Ruy Nabu-co, Rio Branco e outrosmenos biografáveis, mem-bro da Academia Brasileirade Letras, escritor de portade livraria e coquetéis
granfinos, desde que seafastou da Faculdade deniroita->
-
Editorial-:}
"Eu bem sei que muitas vezes
açode o desejo de desesperar",
disse São Paulo aos corintios
(nâo confundir com a torcida do
Coríntians), sem saber que
nos estava dando, vinte séculos
depois, um editorial de graça.
Gladiador sal da Arena
Carlos Imperial resolveu abandonar a Arena, não a arena das
feras da TV. 0 mundo artístico. A Arena do governo, a que reúne
todo o zoo, a fauna política do sim senhor. 0 Imperial, a par de seus
múltiplos afazeres ainda encontra tempo para a política,
e apesar de ter sido "cantado"
pelo Erasmo, o Martins Pedro,
lógicamente, decidiu-se pelo partido do Dr. Pedro. "A
onda agora é PDR meu
chapinha. Vamos fazer dele o partido dos jovens.
Mil bolações e badalações. Vamos motivar a moçada".
bacia
Ldas
almas
J
Produto
Do Japão, o ministro
Reis Veloso anuncia que
novos empréstimos foram
acertados. Daqui mesmo
de Brasília, o ministro da
Fazenda anuncia que o
BID já vai liberar a primei-
ra parte do empréstimo pa-
ra financiar o plano de ex-
pansão do setor siderúrgi-
co. Não há dúvida: em ma-
téria'de endividamento ex-
terno também estamos ba-
tendo recordes. E a taxa
do endividamento é bem
maior do que a taxa de
crescimento do PIB. Nessa
marcha vai chegar a hora
em que será indiferente di-
zer Produto Interno ou
Produto Externo Bruto.
Unidade
pMKi oflpL
I
0 professor Cândido Men-
des levantou, aqui, uma te-
se importante. Diz ele que
a nova unidade político-
administrativa do país não
é mais o Estado, e sim a
região. Isto ficou patente
quando o ministro Mário
David Andreazza, com um
bem bolado plano viário,
mostrou que a integração
da Guanabara e do Estado
do Rio pode ser feita e
Para já. Se o Andreazza
'•zer isso, ele terá contri-
buido para a viabilidade da
Guanabara muito mais que
o Chagas Freitas que, não
temos dúvida, acabará fa-
zendo também grandes
obras. Em têrmos burocrá-
ticos, quem está governan-
do o Rio é o Chagas, mas
em têrmos de viabilidade
econômica, quem irá re-
descobrir o Rio será o
Andreazza.
Editorial-4
Estrangeiro —
Que nome,
então daríamos a essa ciên-
cia, Teeteto? Por Zeus,
não estaremos, sem o sa-
bermos, çlirigindo-nos para
a ciência dos homens livres
e correndo o risco, nós que
procuramos o sofista, de
haver, antes de encontrá-
Io, descoberto o filósofo?
Teeteto —
Que queres di-
zer?
Estrangeiro — Dividir as-
sim por gêneros, e não to-
mar por outra uma forma
que é a mesma, nem pela
mesma uma forma que é
outra, não é essa, como
diríamos, a obra da ciência
dialética?
Teeteto —Sim,
assim di-
ríamos.
Estrangeiro —
Aquele que
assim é capaz discerne, em
olhar penetrante, uma for-
ma única desdobrada em
todos os sentidos, através
de uma pluralidade de for-
mas, das quais cada uma
permanece distinta; e mais:
uma pluralidade de formas
diferentes umas das outras
envolvidas exteriormente
por uma forma única re-
partida através da plurali-
dade de* todos e ligada à
unidade; finalmente, nu-
merosas formas inteira-
mente isoladas e separadas;
e assim sabe discernir, gê-
neros por gêneros, as asso-
ciações que para cada um
deles são possíveis ou im-
possíveis.
Teeteto —
Perfeitamente.
Atenção, gente. Isto é de
Platão. Que fazia editoriais
dialogados.
Arenista
Depois da autobiografia a
quatro mãos, em que pro-
va que sempre lutou con-
tra os comunistas, o famo-
so Mourão Filho, ganhador
de eleições no subúrbio da
Leopoldina, considera-se
pronto para ingressar na
Arena. Exige apenas uma
coisa: que o convite lhe se-
ja feito lá de cima, bem de
cima, para evitar certas in-
certas.
Modêlo
Insólito
O governo faz tudo para
cumprir a Constituição.
Cumpre até o excesso
de Constituição que é
o AI-5. Apesar disso,
sucedem-se, como se
fossem programados, os
pronunciamentos a favor
de eleições diretas
nos Estados, em 1974.
Ora, se a Constituição
diz que serão diretas,
para que e porque
especular? Isso dá
o que pensar, gente.
Então, para fazer o
jogo dos especuladores,
digamos que uma
situação anormal íssima
(esconjuro!)
recomendasse a
realização de eleições
indiretas para os
governos estaduais.
Seria cômico.
Chegaríamos, então,
a um novo e insólito
modelo economico e
político que poderia
ser assim descrito:
democracia sem votos e
capitalismo sem lucro
(para nós). Já
pensaram? Pelo amor de
Deus, não pensem, não.
Refrigeração
Central
0 Banco Central está
abrindo concorrência para
a venda, a seus funcioná-
rios, de apartamentos si-
tuados em Botafogo, La-
ranjeiras e Leblon. 0 pes-
soai se cuida. 0
vmesmo
Banco Central está com
um soberbo canteiro de
obras em Teresópolis, jun-
to à Granja Comary, para a
construção de residências.
A palavra de ordem é:
refrescar-se.
Agressão
Matéria paga no
"J.B."
em que um tal de Luiz /
Pedó (Pedó mesmo? ),
diretor da COSIGUA,
afirma: "A
Companhia
Siderúrgica da
Guanabara está com
sérias intenções de
agredir o mercado
internacional".
Se o grupo Gerdau usar
no mercado internacional
as mesmas táticas
que usou para se
apossar da COSIGUA,
não há dúvida que vai
ser agressão para
valer. Falou e Pedó.
Folklore
dos cabos
Paulo Branco, repórter
da "Tribuna
da Impren-
sa" resolveu apresentar-se
candidato a deputado esta-
dual, no Estado do Rio,
nas eleições passadas. Pelo
MDB, logicamente. Obteve
mais de 3 mil votos não
conseguindo, mesmo
assim, eleger-se. Mas reco-
lheu um extraordinário
folclore dos cabos eleito-
rais fluminenses. Está es-
crevendo um livro sobre o
assunto. Pelo depoimento
dele se percebe que a poli-
tica, no interior, continua
a mesma. O cabo eleitoral
negocia votos como uma
mercadoria qualquer. Sob
esse aspecto é o dono, o
proprietário dos eleitores.
Mas para chegar a isso, tor-
na-se um escnvo do eleito-
rado. O vereador Manuel
Macedo, de Vassouras, tem
uma mercearia e uma
"Pick UP". No carro ve-
lho, transporta todo mun-
do de graça e não cobra
carreto. Na mercearia, ven-
de sempre fiado e quando
o freguês não paga ele até
agora gosta, pois é voto
certo. Quando chegam as
eleições, Manuel Macedo
vai à. forra. Negocia seus
400 votos à vista e para
quem der mais.
Maximiano Fraga, tam-
bém de Vassouras, é mais
sofisticado. Tendo ganho
um cartório, da Política,
reserva um milhão e qui-
nhentos mil cruzeiros, to-
dos os meses, para gastar
com o eleitorado. Não per-
de dia de visita a hospitais
e cadeias, para confortar
os infelizes. Pára em tudo
quanto é botequim, sem-
pre pagando batidas para
quem estiver lá.
"Xani-
nho", como é conhecido,
dispõe de mil votos. Já o
deputado José Vaz de Mi-
randa passa quatro anos
prometendo colocações no
Banco do Brasil e na Petro-
brás e nas vésperas das elei-
ções enche um carro com
lápis, cadernos e sabone-
tes, para o eleitorado rural.
Seus votos cheiram a Euca-
lol.
Mas existe também o ca-
bo eleitoral neurótico, que
entra na luta apenas para
conferir a sua superiorida-
de sobre os outros. Cons-
tantino Santos, de Pati do
Alferes, não recebe dinhei-
ro de ninguém. Também
não apóia candidato forte"porqueassim
não dá para
eu mostrar minha força".
Sua luta é contra os "mer-
cenários". Basta saber que
um cabo eleitoral papou
tantos milhões de um can-
didato, para o Constantino
apoiar um anônimo e der-
rotar o candidato dinheiru-
do.
Mas Constantino pode
ser considerado um neuró-
tico. O normal é aquele
que vende votos. E não dá
troco. Muitas vezes, nem
dá voto.
¦¦
-
POLITIKA
|dokuiwHo
Êste é um documento que vai
ficar para
a História: é da
Coluna vista pelo
lado mais
amargo dos que
tinham lares
e bens invadidos e tomados.
Frei
Jose M.
Audrin, OP
^P3^j?V && i *¦»•'' '»' '
'- JB|W^8kmH^WK^^^MB^B^III^BBB '.•.•^^M^T'.k*V. '. "
i: *'A^BtJBF-^7**£.
COMO ENFRENTEI
*
CARLOS
PRESTES,
CORDEIRO DE FARIA*
E MREZ TA VORA
Coluna Prestes
Estamos em plenas
"Bodas de
Ouro da Conspiração", que
POLITIKA relembrou no número 12,
em reportagem sobre o
cinqüentenário das Cartas
Atribuídas a Arthur Bernardes
e que constituíram o instrumento
inicial da luta que depois se
lanizou e se espraiou
:ionalmente, nas
oluções
ue 1922,1924, "Coluna
Prestes",
até a vitória de 1930.
Esses 50 anos foram o tempo
de plantio do Brasil de hoje.
O que o País é agora foi semeado^
a partir de 1922, onde a Revolução
dos Tenentes e a Semana Modernista
foram passos diversos de uma
esma caminhada que começou dando
.; costas, pela primeira vez,
.• Europa colonizadora, para
construir aqui, com nosso sangue,
nosso suor e nossas lágrimas,
o País que está aí e que não foi,
como muita gente imagina,
descoberto de oito anos para cá.
O documento que publicamos hoje
é da maior importância. Os
principais atores ainda estão
por aí, no palco nacional:
Luis Carlos Prestes, Cordeiro
de Farias, Juarez Távora, muitos
outros. É bom saber como um Frade,
dirigente de um convento lá em
Porto Nacional, no Norte de Goiás,
enfrentou, viu e julgou os
jovens tenentes guerrilheiros
da "Coluna
Prestes". Wy
'Zv,
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IOI
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POUTIKA
COMO ENFRENTEI
CARLOS PRESTES,
CORDEIRO DE FARIAS
E JUAREZ TÁVORA
Bandidos do sertão uniam-se
à Coluna para
melhor roubar
e aterrorizar os camponeses.
A Coluna, entretanto, tinha
conduta exemplar e cristã.
dokumento
Os matutos pensavam que a Coluna Prestes
era
um exército que matava e desonrava
famílias
"Setembro de 1925 ... em Por-
to-Nacional, cidade do norte de
Goiás, distante cento e sessenta lé-
guas da velha capital. Vivíamos lá
quase segregados do mundo, sem rá-
dio, sem telégrafo, recebendo ape-
nas semanalmente notícias velhas
de dois meses pelos estafetas vindos
do sul, viajando vagarosos em costas
de muares. E eis que, de repente,
começam a espalhar-se boatos alar-
mantes, embora ainda confusos.
Dos Estados do Sul, para onde ha-
viam sido repelidos no ano anterior,
os Revoltosos de São Paulo vinham
saindo novamente com fortes con-
tingentes gaúchos e, depois de te-
rem atravessado Parao \ e Mato
Grosso, penetravam já em Goiás,
apesar da resistência valorosa das
tropas legalistas.
Fossem mesmo exatas as notí-
cias, achávamos difícil acreditar que
a Coluna Revolucionária sonhasse
em invadir nossos recantos tão afas-
tados, onde aliás nenhuVn interesse
político podia atraí-la. Por isso
mantinha-se em nós a esperança de
vê-la rumar para os sertões da
Bahia, deixando assim em paz nossa
cidade e seu município. Não demo-
ramos, porém, em perder essa
ilu-
são. Em conseqüência' de encontros
infelizes com as forças do Governo
em São Romão, primeiro, e depois
em Taguatinga, a Coluna via-se obri-
gada a voltar para o interior do
Goiás, e, para evitar a vila do Duro,
onde estacionava um forte contin-
gente da polícia goiana, tinha que
dirigir-se para o norte. A decisãç era
infalível e, portanto, não havia inais
para nós dúvida possível. Mais uns
dias de ansiedade e teríamos que re-
ceber a visita tão temida.
Dificilmente poderíamos descre-
ver o terror que se apoderou do
nosso povo sertanejo. Em nossos re-
cantos os boatos costumam chegar
a espalhar-se com rapidez prodígio-
sa. Passando de boca em boca, as
notícias engrossam, tornam-se terrí-
ficas, avivadas pelas recordações
de
muitas brigas e carnificinas passa-
das. "Agora,
diziam os matutos,
nao é mais um bando de jagunçosarmados
de punhais e bacamartes,
mas um exército dotado de metra-
'•"•adoras e até de canhões. Os ho-
mens que o ano passado incendia-
ram São Paulo, vêm agora nos ata-
car, queimar casas, roubar, desonrar
¦ .
***-¦• 'zi.'J*.'
£•*
Wmk,4- A
O temor
precedia
a Coluna
famílias, matar gado, carregar cava-
los e burros ....
"
Embora exagerados, os boatos
não eram, contudo, destituídos de
uma grande parte de verdade. Os
Revoltosos, acossados pelos solda-
dos do Governo e pelos grupos
de
patriotas, não podiam
conduzir
camboios de mantimentos. Tinham
que matar numerosas
reses para ali-
mentar-se e, desse gado tomado à
força, sem explicação ou desculpa,
mal aproveitavam algumas carnes,
deixando o resto para os urubus.
Precisavam de farinha de mandioca,
sal, açúcar, fumo, roupas e arreios,
que tomavam, naturalmente
sem
pedir, onde encontrassem.
As casas
abandonadas ao longo das estradas
eram arrombadas e depois de limpas
de tudo o que nelas se guardava, in-
cendiadas quase sempre.
Ora, no sertão, mais do que em
qualquer oCrtça parte, a propriedade
é respeitada. (Ninguém, a não ser la-
drão, penetra numa casa na ausên-
cia do dono. O sertanejo dá genero-
samente o que tem a quem lhe
pede; não admite, porém, e nem
compreende, a ladroagem. Sabemos
,de mais de um que pagou caro e até
com a vida a justa resistência às exi-
gências dos homens da Coluna.
O que mais indignava o povo era,
além da matança arbitrária do gado,
a tomada violenta dos animais. Um
sertanejo sem seu cavalo, seu burri-
nho ou seu jumento, fica desam-
parado, perdendo o único meio de
transporte e de trabalho. Ora, nos-
sos Revoltosos, constrangidos a cor-
rer dia e noite, precisavam renovar
amiúde sua cavalaria. Pegavam, en-
tão, tudo o que encontravam à
mão, largando cada dia pelos cami-
nhos um sem número de animais fo-
gosos na véspera e hoje inutilizados
para sempre. Lembramos ter visto
soldados da Coluna puxando pelos
cabrestos quatro e até cinco animais
de uma vez. Tudo, aliás, lhes servia,
desde o sendeiro fogoso ou a mula
de estima do fazendeiro até o ju-
mentinho e burro de mão torta e o
potrinho ainda não amansado.
Enfim, a causa principal das quei-
xas e dos terrores suscitados pela
aproximação da Coluna era a pre-
sença, no meio dos bravos soldados
gaúchos, de certos grupos de verda-
deiros bandidos do sertão, que se
juntavam a eles para roubar à vonta-
de. Andando sempre à margem e
distantes do grosso do exército,
aterrorizavam os pobres moradores
sob a ameaça da carabina e estra-
gavam com perversidade o que não
podiam utilizar ou carregar. Muitos
desses tipos sem consciência nem
dos oficiais eram conhecidos; entre-
tanto, contribuíam para fazer-se de-
bitar à Coluna em geral seus abusos
e crimes individuais.
mm®
a
-
POLITIKA
dokumento
As autoridades e famílias se
escondiam no mato para
melhor
fugir dos membros da Coluna.
Foi êste, sem dúvida, um dos
maiores dramas da
jornada.
m Jr m—^i: .»r *7, -
JM^H^KJ!re/JCT^ - j
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I charge
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r? J37V oo V— x ni -x/y fév
^*^ \s ^ - 11 'üc^m <AO COMCLUÍR. o CüftSO... AO ENFftEMTflft O PÍA A DfA DA V('pft— AO gMrftEftJTAft
O DESEMPKg&Q~._
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POLITIKA
18korreio
flHP^^Hflm - áj|
,'I^^^^M* Gilberto Freyre
A editoria
poiítikaSalvador, 14 de janeiro de
1972.limo. Sr. Diretor de
POLITIKA
O objetivo da presente é
comunicar a V.S. e a toda
equipe deste excelente PO-LlTIKA a existência doCentro de Estudos e Ação
Social - CEAS, instituição
voltada para o estudo dos
grandes problemas sociais
de nosso país, principal-mente para os de sua re-
gião crítica - O Nordeste.
Tal comunicação se deve
ao fato de termos consta-
tado nestes primeirosexemplares de POLITIKA
numerosos pontos de con-
tacto com a nossa revista
bimestral "Cadernos
de
CEAS", pelo que julgamos
que seria de grande provei-to a permuta de nossas pu-blicações ou assinatura,
bem como as críticas e su-
gestões que nos fossem fei-
tas por V.S.. Acompanhan-
do a presente seguem os
cinco últimos números de
nossa revista.
Sendo o que se nos
, apresenta para o momen-
to, e certos de contar com
a sua receptividade, subs-
crevemo-nos cordialmente
Pe. Cláudio Perani —
Coordenador.
- Gostamos muito, padreVamos mesmo nos louvar nas pesquisas doCEAS para algumas re
portagens. Já em nosso
próximo número o srverá que os
"Cadernos'
precisam de uma caixade ressonância POLITIKA. Pelos correios estamos lhe enviando umacarta mais detalhadacom uma proposta concreta de trabalho emconjunto. O CEAS che-
ga numa hora oportunaem que estamos nosa prox i mando doIUPERJ (Escola Candi-do Mendes) e do melhor
grupo de sociólogos daUniversidade de SãoPaulo. Vai ser um ba-
nho. Um mergulho em
piscina, como disse omelhor Drummond.
AoJornal POLITIKA
Rio de Janeiro—GB
Prezados Senhores
Causou-me profunda sa-
tisteção o aparecimento do
jornal POLITIKA. Há mui-
to sentia-me apreensivo
por não ter ainda a nossa
imprensa um jornal quecolocasse de maneira bri-
Ihante problemas pol iti-
cos, principalmente brasi-
leiros. Desde o primeironúmero, à medida que ve-
nho acompanhando a evo-
lução deste jornal, POLI-
TIKA tem superado todas
as minhas expectativas.
Tenho recomendado aos
meus alunos do curso de
História, da Universidade
Estadual de Mato Grosso,
como leitura obrigatória,
as análises e interpretações
contidas neste jornal.Atualmente resido em
Corumbá-MT, e lá Jemosenfrentado dificuldades
quanto à distribuição deste
jornal, assim como de inú-
meros outros periódicos.Pclanto, gostaria que me
m_ Hassem o exemplar no.
6 c*.a referido jornal e, porest..r passando férias em
Sao Paulo, peço que o
mesmo seja remetido parao seguinte endereço: Rua
Ezequiel Ramos, no.
498 - Mooca - São Paulo- Capital.
Certo de ser atendido,
agradeço antecipadamente.
São Paulo, 17 de janeirode 1972
VALMIR BATISTA
COURÊA
Remessa providên-. .% Como o POLITIKAv J leitura obrigatória
p. a seus alunos, informe-
nos sobre a (i) rregulari-
dade da distribuição.
Bek Horizcrvte, 15/1/72
Sen. or Diretor
Leio e cc eciono Politi-
ka. Os senhores estão cum-
prindo uma tarefa extre-
mamente importante. Con-
tinucm!
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-
Paulo
de Castro
6olpes da esquerda ou golpesda direita no terceiro mundo
assinalam uma variedade de
situações e intenções que não
permitem falar e