Irene Grilo
Gerês Rio de Janeiro A Grade Maomaria Citroën DS5
José Sarmento Marques sabe Lisboa de cor
Nice é a Côte d’Azur cheia de arte contemporânea
Gorongosa, a sobrevivente
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FUGAS | Público | Sábado 9 Junho 2012
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Dias de deslumbre no Parque Nacional da Gorongosa, que já foi palco de um dos mais sangrentos cenários de Moçambique. Populações inteiras de animais selvagens quase desapareceram. Agora, recupera o fulgor.
CapaMoçambique
Gorongosa, lugar do silêncio
O homem magro, de testa enruga-
da, não largava a espingarda. Nem
quando se encostava a um canto e
apoiava a cabeça no braço direito.
Dir-se-ia que se esforçava para man-
ter os olhos abertos, mas não deixava
de captar tudo o que se passava em
volta. Também “vê” com os ouvidos
e com o nariz. Mesmo noite cerrada,
percebe a proximidade de uma ma-
nada de búfalos silenciosos.
Não é que Njinga desvalorize os
riscos. É que conhece bem a fauna
bravia do Parque Nacional da Go-
rongosa. Refugiou-se aqui da guerra
civil de Moçambique. Comia raízes,
frutos silvestres, carne de ratazana,
cágado, inhala, piva, impala. “Não
comia massa. Só coisas do mato. Ti-
nha uma roupa caducada. As pessoas
deitavam fora. A gente apanhava no
rio, levava, cosia, punha. Só à frente.
Atrás fi cava sem nada.”
Há qualquer coisa de esmagador
numa extensa zona que a huma-
nidade visita, mas não ocupa. É o
“meio do nada”. O lugar do silêncio,
de quando em quando cortado por
um vozear estranho — o rosnar de
um leão, o grasnar de uma águia, o
bramir de uma impala, o mugir de
um búfalo, o chorar de um crocodi-
lo, o trombetear de um elefante, o
grunhido de um porco do mato ou
o guincho de um macaco.
Dispenso, de muitíssimo bom gra-
do, o silvar de qualquer cobra e o
zunido de qualquer mosquito. Fora
isso, paz.
Saíramos cedo do acampamen-
to sazonal montado no centro do
parque. Era uma daquelas manhãs
luminosas que abrem a estação seca.
Do jipe, seguindo a picada, víramos
cudo, pala-pala, inhala e outros an-
tílopes que não fogem mas que se
afastam ao ouvir o ronco do motor,
como se quisessem salvaguardar as
devidas distâncias do mais perigo-
so bicho. De súbito, leões a acasalar.
Deixámo-nos estar, talvez uma hora,
a observá-los.
Não sei como seria a Gorongosa an-
tes de, “menino e moço”, Njinga ter
sido levado da palhota de seus pais
e forçado a pegar numa arma. Posso
ter uma ideia, por exemplo, lendo o
que sobre ela escreveu, na sua Ronda
de África, Henrique Galvão, em 1948:
“Em todos os percursos [se podem]
admirar as multidões de antílopes
em corrida ou em alertas estatuários,
as manadas portentosas de búfalos,
as fugas destrambelhadas dos ma-
cacos, as galopadas das zebras — e,
com frequência, levantar leões das
suas camas, surpreender leopardos,
ouvir os elefantes na sua faina de le-
nhadores e ver os hipopótamos em
concentração que é decerto a mais
densa e numerosa do mundo.”
Naquele tempo, o extremo sul do
Grande Vale do Rift Africano não era
bem um éden de vida selvagem. A
Gorongosa começou por ser uma
reserva de caça de administradores
Ana Cristina Pereira
da Companhia de Moçambique. Em
1941, fi nda a concessão, o Governo
colonial tentou banir as caçadas e
criar uma estância turística. Só em
1960 a declarou parque nacional. No
fi nal dos anos 1960, a equipa do eco-
logista sul-africano Kenneth Tinley
fez a primeira contagem aérea: 200
leões, 2200 elefantes, 14 mil búfalos,
5500 bois-cavalos, três mil zebras,
3500 pivas, duas mil impalas, 3500
hipopótamos.
À Gorongosa vinha gente de muito
lado. Não só pela quantidade de ani-
mais. Também pela beleza paisagísti-
ca. José Maria d’ Eça de Queiroz, neto
do escritor maior, registou-a quando
a visitou em 1964. “A Gorongosa é
como o mar: sempre igual e sempre
diferente. Existem centenas de ma-
res no mar; na Gorongosa a estepe
tem uma centena de estepes e a sava-
na uma centena de savanas.”
Depois, vieram as guerras. A pri-
meira, a da independência, poupou
a reserva; a segunda, a civil, não.
Renamo, Frelimo, pazQuem me falara na Gorongosa fora
a minha amiga Irene Grilo: um dos
lugares da sua infância estava a re-
cuperar de sistemáticas matanças.
Incansável defensora dos direitos
dos animais, agente de viagens es-
pecializada em safaris, queria ver
como estão as espécies a reagir, que
estruturas existem para receber visi-
tantes e de que forma tudo isso se re-
laciona com as comunidades locais.
Volvidos alguns meses, ali estávamos
nós, num todo-o-terreno conduzi-
do por Blessed, um guia que não
lhe caiu bem, sob o olhar de Njinga,
um guarda que lhe inspirava grande
confi ança.
Njinga nasceu em Cheringoma,
distrito da província de Sofala, que
faz fronteira com a Gorongosa. Aos
14 anos foi levado pela Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo) —
pouco depois da independência, ex-
militares portugueses e dissidentes
da Frelimo tinham-se instalado na
Rodésia e lá criado aquele movimen-
to; com a independência do rebapti-
zado Zimbabwe, assentaram arraiais
na África do Sul e, com o Acordo de
FUGAS | Público | Sábado 9 Junho 2012 | 5
Nkomati, em 1983, ergueram o quar-
tel-general, a Casa Banana, no sopé
da serra da Gorongosa. Era um bom
sítio para escapar à observação aérea.
A vida tornou-se infernal para os ho-
mens e para os animais selvagens que
ali viviam. O parque foi encerrado.
Na muita papelada que imprimira
para ler durante a viagem, havia um
livro do politólogo Jaime Nogueira
Pinto sobre a guerra civil. Nele apare-
ce o líder da Renamo, Afonso Dhlaka-
ma, a descrever o modus operandi:
“Actuávamos em grupos muito pe-
quenos, dispersos pela serra, com
grande conhecimento do terreno, e
eles pensavam que nós éramos como
que espíritos da serra da Gorongo-
sa, que estávamos em todo o lado ao
mesmo tempo. Um só homem nosso
podia fazer muitos estragos no inimi-
go naquele teatro de operações!”.
Rapazes como Njinga eram trei-
nados para improvisar. Sobreviviam
com muito pouco. Não usavam farda.
Vestiam t-shirt e calças de ganga ou
fazenda. Só alguns calçavam sapa-
tos ou botas. Njinga lembra-se de
haver 30 quilos de farinha para 500
homens. Odiava aquilo. Fugiu com
um amigo. Ainda passou por casa.
“‘Papá, eu não vou mais à Renamo,
vou viver no mato. Eu sou pessoa.
Meus irmãos já morreram. Eu quero
fi car vivo.’”
Viveram cinco anos no mato. Fi-
zeram uma casa numa árvore para
melhor se protegerem de leões e de
outros predadores. Dormiram lá dois
anos. As temperaturas, à noite, po-
dem cair a pique. “Estávamos a so-
frer muito com o frio. Construímos
uma cabana na fl oresta.” De meses
a meses, noite cerrada, Njinga ia à
palhota da irmã. Foi ela que lhes deu
a notícia: Renamo e Frelimo tinham
assinado a paz.
Os dois rapazes não eram excep-
ção. Nos últimos anos de confrontos,
muita gente se tinha refugiado den-
tro do parque. Havia quem caçasse
só para comer, mas também quem
caçasse para extrair o marfi m aos
elefantes e trocá-lo por armas. As
maiores matanças aconteceram en-
tre 1992 e 1994. Houve descontrolo
total desde a assinatura do Acor-
Há qualquer coisa de esmagador na paisagem da Gorongosa. Isto é o “meio do nada” e o silêncio por vezes é cortado pelo mugir de um búfalo ou o rosnar de um leão. Abaixo, a cascata de Morumbodzi.
PAUL KERRISON
IRENE GRILO
PAULA AGUILERA
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CapaMoçambique
do Geral de Paz às primeiras eleições
multipartidárias, que reconduziram
Joaquim Chissano. Do parque, saíam
umas 60 toneladas de carne por mês.
O Banco Africano de Desenvol-
vimento, com o apoio da União
Europeia e da União Internacional
para a Conservação da Natureza,
tentou resgatar a reserva. Os meios
revelaram-se escassos para uma tão
desmesurada tarefa: populações de
animais de grande porte estavam re-
duzidas a 10% ou menos; o acampa-
mento de Chitengo, construído na
era colonial, estava desfeito. Homens
como Roberto Zolho e Baldeu Chan-
de passaram anos em tendas a tentar
salvar o que restava.
O charmoso veterinárioQuando o Governo e a Carr Funda-
tion combinaram restaurar a Goron-
gosa, em 2004, era preciso captar
cientistas, engenheiros, gestores, fi s-
cais. Dezenas de ex-combatentes fo-
ram contratados. Njinga pediu para
o ser. E foi. É um fi scal do Parque
Nacional emprestado à primeira con-
cessão privada, a Explore Gorongosa.
Gostava muito de o ter, no banco
de trás do jipe, nas incursões pelo
mato, ao princípio da manhã ou ao fi -
nal da tarde (nas horas mais quentes,
os animais abrigam-se). Sentia-me
segura. E segura perdi a conta aos
animais que vi — perto das picadas
ou longe e, nesse caso, de binócu-
los para não os tomar por mancha
animada.
Estava maravilhada. Queria ir para
lá da mil vezes contada história do
milionário norte-americano Greg
Carr, que decidiu investir 40 milhões
de dólares na restauração da Goron-
gosa. No Chitengo, estava o informa-
díssimo Vasco Galante, português,
director de comunicação. Onde
estava o charmoso veterinário que
aparecia no documentário da Natio-
nal Geographic, Africa’s Lost Eden?
A Irene queria muito conhecer
Carlos Lopes Pereira. Queria dar-
lhe um abraço, expressar gratidão
pelo trabalho feito, mas o director
dos serviços de conservação aca-
bara de ser promovido a assessor
técnico do Governo para todas
as reservas e parques naturais de
Moçambique: não estava. Haverí-
amos de encontrá-lo em Maputo
e de ouvi-lo contar como desistira
de ir para o Botswana e fi cara em
Moçambique por metade do salário.
“Era um grande desafi o técnico.”
A equipa delineou um plano para
recuperar fauna bravia, reconstruir
infra-estruturas, fomentar o desen-
volvimento económico. O núme-
ro de fi scais duplicou — alcançou
os 120. Criou-se um santuário de
vida animal. Previu-se fazer rein-
trodução massiva, recorrendo ao
Zimbabwe. “A situação política não
dava”, recordou o homem alto, de
barba grisalha, botas de montanha,
roupas de cores neutras, adequa-
das ao mato. “As pessoas querem
fornecer os animais. Pagamos por
eles, mas, quando chega a hora, a
licença de exportação, por razões
que ninguém percebe, não chega.”
Não podiam fi car dependentes
da situação política no Zimbabwe.
Quem sabe quando se alterará? O
Kruger Park, no Norte da África do
Sul, estava a terminar um programa
de reprodução de búfalos livres de
tuberculose e tinha de dar destino
àqueles animais. Carlos Lopes Perei-
ra foi lá dizer-lhes que o lugar certo
era a Gorongosa.
Em Agosto de 2006, vieram os
primeiros 54. Havia um risco: a
doença transmitida pela mosca tsé-
tsé, coisa que os búfalos do Kruger
desconhecem há cem anos. O mé-
dico veterinário preparou-se para
intervir. Não foi necessário. Con-
tinuavam resistentes. E os búfalos
abriram caminho aos elefantes.
Os grandes machos quase tinham
desaparecido da Gorongosa. Só ha-
via elefantes com dentes pequenos
ou sem dentes. Em 2008, vieram
dois machos mais velhos e quatro
machos mais jovens, escolhidos a
dedo, a pensar na regeneração do
fundo genético da população que
fora massacrada durante anos.
Se fosse hoje, não traria os mais
velhos. “O elefante não é um animal
comum — pensa, investiga, reage. Os
jovens eram meios medrosos. Anda-
vam perto das manadas, mas não se
integravam. Depois, lá conseguiram.
Os mais velhos punham-se a andar
para a frente e para trás como qual-
quer macho.”
Usavam colares transmissores
de sinal via satélite. Era assim que
a equipa conseguia saber a sua po-
sição. Carlos Lopes Pereira até co-
çava a cabeça ao perceber como se
afastavam da reserva. Um chegou a
estar a 279 quilómetros do parque.
“Lá descobriu a rota dos elefantes.
Foi para o rio Zambeze e voltou. E
tornou a ir. E foi o azar dele. Houve
uns indivíduos que o apanharam.”
Os caçadores furtivos tentaram
destruir o colar. Carlos Lopes Pereira
notou o movimento anómalo. Pediu
ao centro de controlo o número de
emissões do sinal. Preparou-se para
avançar de helicóptero, à procura do
animal. De repente, viu uma linha
recta em direcção à cidade da Beira.
Não podia ser o elefante. Inseriu as
referências geográfi cas no Google: o
colar estava dentro de uma casa.
Eram dois caçadores: um francês
Njinga (em cima) refugiou-se na Gorongosa da guerra civil de Moçambique. Ao lado, o veterinário Carlos Lopes Pereira.
IREN
E G
RILO
ROBERTO SPAAN
DR
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quem, como ela, tanto se preocupa,
uma das muitas razões para voltar a
esse lugar co-gerido pelo Governo de
Moçambique e pela Carr Fundation.
“É um dos sítios mais selvagens de
África”, assegura. “Tem um ecossis-
tema muito variado e muito bonito.”
Uma savana de copa fechada a que
chamam “miombo,” palavra suaíli
que nomeia a árvore preponderan-
te, cobre os dois planaltos. No vale,
capim polvilhado de acácias altas,
diversos géneros de savana, fl ores-
tas secas, charcos. Na serra, fl ores-
tas tropicais, capim de montanha,
fl oresta de galeria. “A ida à serra é
imperdível.” Até para se perceber
como tudo, no mundo, se relaciona.
A Fugas esteve na Gorongosa a convite
da Into África Viagens e Safaris Lda.
e um português. “Apanhámos os
indivíduos com a mão na massa.
Apanhámos os restos do nosso ele-
fante, apanhámos uma ponta que
tinha 3,75 metros de um elefante que
tinha sido abatido na Zambézia, apa-
nhámos troféus, armas ilegais, muni-
ções, uma coisa impressionante.”
O outro também teve um fi m trá-
gico. Afastou-se do parque por causa
dos incêndios, que na Gorongosa são
capazes de queimar macacos nas ár-
vores. Caminhou em direcção ao sul.
“Nós tentamos trazê-lo de volta e ele
acabou morrendo numa combina-
ção de inalação de fumo e stress de
transporte.” Agora, a ideia é trazer
uma família inteira. Os elefantes são
muito sociáveis. Vivem em famílias
que incluem uma matriarca idosa,
vários descendentes e suas crias.
Amiúde, diversas famílias partilham
um território. Quando se encontram
em poços ou no mato, cumprimen-
tam-se com as suas trombas.
São grandes bebedores de água.
Para os ver na Gorongosa, melhor
será seguir a picada que se estende ao
longo do rio Urema. Uma pista: mato
alto pisado e ramos e troncos de acá-
cias amarelas partidos. Mas há que
manter distância. Há quem diga — ve-
ja-se o documentário War Elephants,
protagonizado por Bob Poole e Joyce
Poole — que sofrem de traumas de
guerra. É ajuizado evitar picadas
muito fechadas ao anoitecer. Só nos
deparamos com eles quando já esta-
mos muito perto e eles não gostam.
Chitas incompetentesHouve outras aparatosas reintrodu-
ções de animais selvagens. Vieram
180 bois-cavalos do Limpopo. Vie-
ram mais 132 búfalos, cinco hipopó-
tamos, quatro chitas.
Cada animal desempenha o
seu papel na natureza. Os búfa-
los, por exemplo, têm uma língua
comprida que lhes permite comer
ervas grandes e espessas evita-
das por outros animais de pasto.
E isso ajuda os outros animais a
aceder a ervas mais baixas e a des-
cobrir os caminhos para a água.
Já ninguém pensa em fazer reintro-
duções maciças no Parque Nacional
da Gorongosa, como nos primeiros
tempos. Surpreendidos com a re-
cuperação registada entre 2004 e
2007 em várias espécies, como piva,
chango, javali africano, os peritos re-
defi niram estratégias. O parque já se
gaba de ter das maiores populações
de papa-palas, gondongas e oribis.
Boa notícia para os predadores,
como as chitas.
Vimos uma chita macho a andar,
sozinha, no verde da savana. Mor-
reram duas das quatro que para ali
vieram: uma no transporte, outra na
caça. “Meteu-se com uma imbabala”,
explicou Carlos Lopes Pereira. “As
imbabalas são animais muito sérios.
Lutam. Essa chita… não sei o que lhe
deu para ir à procura de imbabalas.
Enquanto esteve a ser alimentada,
no santuário de fauna bravia, comeu
impalas!”
Apesar de selvagens, as chitas vi-
veram algum tempo em cativeiro.
Estavam “meio incompetentes.”
O que lhes valia era as presas tam-
bém sofrerem de inaptidão. Não
havia ali predador tão veloz. Que
outro animal terrestre consegue
atingir 120 km/hora? O veterinário
encontrou-os mortos. “Estavam
um ao lado do outro e o irmão
a olhar. Nem sequer comeu. A
vida real é esta. O resto é poesia.”
Eu diria que foi poesia que tivemos.
Vimos leões dois dias seguidos. E não
haverá nada que dê tanto prazer à
minha amiga Irene como a presença
dos maiores felinos de África, que ali
têm uma juba mais curta do que o
habitual — um mistério que intriga
“O elefante não é um animal comum — pensa, investiga, reage”, explica Carlos Lopes Pereira
ROBERTO SPAAN
PAUL KERRISON
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CapaMoçambique
Guia prático
QUANDO IR
Há cerca de 100 quilómetros de picadas a partir das quais se pode observar a flora e a fauna bravia na época seca (Abril a Novembro). Durante a época das chuvas (meados de Dezembro a meados de Março), ficam intransitáveis.
COMO IR
Há voos directos de Lisboa para Maputo e para Joanesburgo e de lá para a Beira. O Parque Nacional da Gorongosa fica a cerca de 200 km da Beira. Se decidir conduzir, tenha em conta que não se vende combustível na reserva: as bombas mais próximas ficam em Inchope, Gondola, Beira, Dondo, Nhamatanda, Chimoio, Caia e Vila da Gorongosa. Pode usar a Estrada Nacional Número 1 de Maputo ou a Estrada Nacional Número 6 da Beira. O seu anfitrião também poderá organizar um transfer do aeroporto.
ONDE FICAR
Acampamento Explore Gorongosa O acampamento, sazonal, luxuoso, está montado no coração da reserva. Iniciativa sul-africana, a primeira de ecoturismo no Parque Nacional da Gorongosa, proporciona uma autêntica vivência de isolamento no mato. Não tem electricidade, água corrente, rede de telemóvel ou Internet. A lotação está limitada a sete tendas e uma casa na árvore. Cada tenda tem uma cama de casal king-size ou individual extra-comprida. Ao lado, uma casa de banho com um chuveiro artesanal. O alojamento abarca todas as refeições,
O mundo em volta
A Comunidade do
Vinho é uma espécie de laboratório.
Nela se experimenta tudo o que se
quer fazer nas comunidades em tor-
no da reserva. Ganhou uma escola,
um posto de saúde, uma associação
de mulheres produtoras de vegetais,
que, por ora, só têm um cliente: o
restaurante de Chitengo. Levam
tudo até ao rio Pungué: tomate, alfa-
ce, repolho, feijão, abóbora, melão,
cenoura, pimento, coentros. Um
barqueiro liga as duas margens. O
responsável pelas compras aguarda-
as, no outro lado, num jipe.
Há uma energia nova nas comuni-
dades que rodeiam o Parque Nacional
da Gorongosa. Domingos Muala, do
departamento de desenvolvimento
humano, nota-a. E explicou-a, uma
tarde, no Centro de Educação Comu-
nitária. “Antes, só os fi scais e suas fa-
mílias se identifi cavam com o parque.
Durante o tempo colonial, as pessoas
foram forçadas a deixar o espaço para
os animais. Aquele forçar criou ran-
cores. Além de perderem o espaço, os
lugares sagrados onde os avós foram
enterrados, não ganhavam nada. O
rancor está sendo sarado agora.”
O desenvolvimento local é um dos
pilares do Projecto de Restauração
da Gorongosa. No início, reinava a
descrença. Começaram as acções de
formação. Domingos Muala alfabeti-
zou uns quantos, ensinou português
a muitos mais, inglês a uns poucos.
Centenas foram contratadas pelo
parque ou pelos concessionários.
“Agora, há muita gente com casas,
motorizadas, telefones celulares,
coisas que antes não tinham sonha-
do ter.” E o projecto tem captado
parceiros para construir escolas e
unidades de saúde.
Mesmo optimista, o professor não
tem ilusões. “Há muitas pessoas sem
poder de compra que continuam a
pensar no parque como o sítio onde
vão buscar a carne porque querem
mandar o fi lho à escola ou à univer-
sidade. E o que queremos é que nin-
guém mate os animais. Daqui a 20
e tal anos, quando já forem muitos,
então as comunidades poderão ca-
çar, mas de forma organizada.”
uma bomba, de um reservatório de
água e um sistema de irrigação gota-
a-gota. Domingos Muela vê ali um
exemplo de sucesso. “Para além da
machamba comum, cada senhora
criou a sua própria machamba.”
Encontrei a presidente da asso-
ciação uma manhã, junto à moder-
na escola primária. “Não costumam
vender tudo”, traduziu o guia. “O
restaurante precisa de repolho. Elas
recolhem 10, eles pedem seis. O resto
apodrece.” E isso é um desconsolo
para elas, que ainda não aprenderam
a dividir ou a transformar as sobras.
Há qualquer coisa de perverso
nesta melhoria de vida. “As pessoas
que trabalham no parque têm mais
esposas do que antes”, tem obser-
vado Corina Clemente, técnica de
saúde pública que está a coordenar
um projecto de saúde e ambiente. “A
primeira coisa que faz um homem
quando tem mais rendimentos é ter
mais uma esposa, mais fi lhos.” E “a
sobrepopulação é uma das maiores
ameaçadas à biodiversidade”.
Há um esforço de formação de
agentes polivalentes elementares
de saúde. Brigadas móveis devem
começar a visitar comunidades a um
ritmo mensal, com um enfermeiro a
fazer planeamento familiar, consulta
pré-natal, despistagem e aconselha-
mento de VIH, tratamento de diar-
reias, malária e outras doenças.
A sobrepopulação devasta a fl o-
resta e acentua os confl itos entre
humanos e fauna bravia. De quando
em quando, um crocodilo apanha
alguém a cruzar o rio Pungué. Tam-
bém há incidentes com elefantes,
sobretudo onde antes andavam. O
parque estende-se para lá do rio,
que ali tinha dois braços: um secou
e as pessoas apoderaram-se dele.
Machos que querem ganhar peso
vão lá. Se as plantas estiverem pe-
quenas, até têm cuidado para não
as pisar. Quando estão no ponto
comem-nas. E é o desespero de
quem perdeu mangas, milho ou
bananeiras.
Não se pode preservar a fauna
bravia e descuidar a fl ora ou as nas-
centes, os rios, os lagos. Os métodos
de cultivo tradicionais, baseados no
corte e na queima, depressa degra-
dam os solos. Devagar, o parque
tenta contrair tais práticas. “Ensi-
namos as pessoas a fazer adubo com
material local. No fi m da colheita,
em vez de pôr fogo, as famílias po-
dem cortar e deixar apodrecer. Se
este ano numa porção produziram
milho, era bom que noutro ano pro-
duzissem feijão.”
Em Vinho, o projecto de restau-
ração fi nanciou às mulheres da as-
sociação a compra e instalação de
IRENE GRILO
PAUL KERRISON
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incluindo lanche a meio da manhã e a meio da tarde, safari, com guia, de manhã e à tarde, de jipe ou a pé: 582,4€ por pessoa/noite num quarto single ou 388€/pessoa noite em quarto duplo.
Girassol Gorongosa Lodge & SafariO histórico Chitengo, construído em 1941, está a ser restaurado e ampliado por um grupo português. Para já, oferece três tipos de alojamento: nove bungalows standard (18 quartos duplos), seis premium (12 quartos duplos), com rede mosquiteira, casa de banho, ar condicionado; e seis garden rooms, que, em vez de ar condicionado, têm ventoinha de tecto. O rebaptizado Girassol Gorongosa Lodge & Safari tem um bar e um restaurante, que tem wi-fi e serve pequeno-almoço, almoço e jantar (cozinha moçambicana e cozinha internacional). E disponibiliza programas pagos à parte: safaris (manhã e tarde), visitas à Comunidade do Vinho (travessia de barco incluída), à cascata de Morumbodzi, na serra da Gorongosa, e a Bué Maria ao pôr do sol.
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Partidas diárias de Lisboa de 1 Jun. a 30 Out. ‘12
Inclui: avião + 2 noites | APA + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 62) + Seguro Multiviagens
Madrid
Desde
€ 230por pessoa em duplo
Partidas diárias de Lisboa e Porto de 18 Mai. a 14 Jul. + 21 Ago. a 29 Out. ’12
Inclui: avião + 2 noites | APA + Hotel 3 estrelas + 2 dias viatura grupo A + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 103) + Seguro Multiviagens
Madeira | Fly & Drive
Desde
€ 297por pessoa em duplo
Partidas de Lisboa e Porto diárias de 18 Mai. a 28 Out. ’12
Inclui: avião + 2 noites | APA + Hotel 4 estrelas + 2 dias viatura grupo A + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 85) + Seguro Multiviagens
Açores | S. Miguel
Desde
€ 299por pessoa em duplo
Partidas diárias de Lisboa de 1 Jun. à 30 Out. ‘12
Inclui: avião + 2 noites | APA + Hotel H10 Roma Città | 4 estrelas + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 118) + Seguro Multiviagens
Roma
Desde
€ 316por pessoa em duplo
@ Panthermedia | Asier Villafranca
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