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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELAINE CAMARENA SOARES
DESIGN DE CORPOS: UMA ANLISE NA COMUNICAO ENTREDESIGNERS DE MODA E MODELISTAS
DISSERTAO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU
So Paulo, agosto/2011
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELAINE CAMARENA SOARES
DESIGN DE CORPOS: UMA ANLISE NA COMUNICAO ENTREDESIGNERS DE MODA E MODELISTAS
DISSERTAO DE MESTRADO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-GraduaoStricto Sensu em Design Mestrado da UniversidadeAnhembi Morumbi, como requisito parcial para obteno
do ttulo de Mestre em Design
Orientador: Prof. Dr. Jofre Silva PhD
So Paulo, agosto/2011
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELAINE CAMARENA SOARES
DESIGN DE CORPOS: UMA ANLISE NA COMUNICAO ENTREDESIGNERS DE MODA E MODELISTAS
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao StrictoSensu em Design Mestrado da Universidade Anhembi
Morumbi, como requisito parcial para obteno do ttulo deMestre em Design. Aprovada pela seguinte Banca Examinadora:
Prof. Dr. Jofre Silva PhD Orientador Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Rachel Zuanon
Avaliador Interno Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Marly de MenezesAvaliador Externo
Faculdade Santa Marcelina
So Paulo, agosto/2011
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Todos os direitos reservados. proibida a reproduo total ou parcial dotrabalho sem autorizao do autor.
ELAINE CAMARENA SOARES (El Camarena)
Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi. Bacharel em Desenho de Moda pela Faculdade Santa Mar-celina. Atua profissionalmente como scia diretora da Camarena & Dualiby em So Paulo. professora na FAAP eSanta Marcelina nos cursos de extenso em Design de Moda e no Istituto Europeo di Design, nos cursos de gradu-ao em Moda. Leciona Desenho Digital de Moda, Laboratrio de Tendncias, Projeto de Coleo e Apresentaode projeto. [[email protected]].
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Dedico este trabalho a Rafael, meu pai(in memoriam)
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Agradecimentos
Agradeo a oportunidade em fazer parte do programa de mestrado da Universidade Anhembi Morumbi.Foi um momento muito importante na minha vida.
Agradeo a todos os professores do programa, em especial aprofa. Dra. Kathia Castilho, que sempre me ouviu nos momentos em que precisei. A
profa. Dra. Rachel Zuanon, pelas suas sbias palavras e ao
prof. Dr. Jofre Silva PhD, que sempre soube me orientar e me acalmar nos momentosem que me afastei do meu caminho.
Agradeo minha colega de mestrado, Tasa Vieira, por ter me ajudado em diversos momentos.
Agradeo a profa. Dra. Maria Izabel Branco Ribeiro, que com sua grande experincia,generosidade e inteligncia, acreditou em mim e me
orientou para iniciar todas minhas pesquisas.
Agradeo a Antnia Costa, pela imensa pacincia e carinho.
Agradeo Gloria Motta. Ela surgiu no momento mais importante em todo este processo e foi a responsvel para que eucontinuasse minhas pesquisas. Com sua infinita inteligncia e generosidade, compartilhou seus conhecimentos, ofereceu
sua ajuda e me manteve entusiasmada para finalizar esta etapa.
E agradeo especialmente Odete, minha me, minha irm Cristina e ao Joo, meu marido. Sem o apoio deles,no teria iniciado e concludo este trabalho.
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Deixem que o futuro diga a verdade e avalie cada um de acordo com o seutrabalho e realizaes. O presente pertence a eles, mas o futuro pelo qual eu
sempre trabalhei pertence a mim.
Nikola Tesla
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Esta pesquisa se prope a estudar o desenho de moda e suasrelaes com o corpo humano de acordo com as questesdo design, como uma das possveis solues na comunicaoentre designers de moda e modelistas em uma confeco.Apresenta o uso de corpos 3D como suporte ao desenho tc-nico de moda, para que as colees sejam criadas de acordocom a proporo humana e que possam servir ao projeto decoleo confeccionado distante das equipes de criao. Aofinal, apresenta um projeto experimental realizado por umamodelista e pela pesquisadora a partir da tcnica de moula-ge, para avaliar o uso da tecnologia tridimensional como umadas formas de comunicao entre equipes.
Palavras-chave: Design. Moda. Desenho. Tecnologia 3D
This research is proposed to study fashion design and its rela-
tions to the human body concerning questions of design, as
one of the possible solutions for the problem of communica-
tion among fashion designer and modellers in a confeccion
assemble. Its presented in 3D bodies as bases for the thec-
nical fashion drawing, allowing the collections to be created
and developed according to the human measures and pro-
portions, so that they can be used by the colection project
developed out of the creation teams/crews/staffs.It ends up
presenting an experimental project realized from the mou-
lage thecniques, by a modeller and a researcher, in order to
evaluate the use of the three-dimensional technology, as a
means of communication among teams.
Keywords: Design. Fashion. Drawing. 3D technology
ABSTRACTRESUMO
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NDICECaptulo 1 - O olhar do designer de moda
Introduo.................................................................21
1.1. Breve histria do corpo na moda......................25
1.2. Corpo e proporo na moda............................33
1.3. Desenho nas empresas e na academia
de moda..........................................................41
Capitulo 2 - O olhar do modelista
2.1. Corpo vestido..................................................53
2.2. Desenho de moda e modelagem......................59
Capitulo 3 - O olhar digital
3.1. Desenho digital de moda.................................69
3.2. Corpo 3D........................................................79
3.3. Projeto experimental: Construo de modelos
por moulagea partir da tecnologia 3D.............89
Consideraes finais...................................................97
Glossrio...................................................................103
Bibliografia................................................................115
Webgrafia.................................................................121
Anexos......................................................................127
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INTRODUO
Figura 1 - Martins, Vero 2011/12. Apresentao dodesenho de moda ilustrativo com proporo diferente do
corpo humano (www.usefashion.com)
Ainda no h um nico mtodo que contemple o desenho
tcnico de moda para a construo de colees. A academia de moda
e os profissionais dedicados rea, possuem propostas diferentes
para tratar o desenho. Cada um define um formato a ser desenvolvi-
do de acordo com suas necessidades e perspectivas prprias.
Outro aspecto do desenho tcnico de moda seu distanciamen-
to em relao ao corpo humano. comum que ele possua um car-ter ilustrativo, por esse motivo, podem surgir dvidas relacionadas
proporo da pea de vesturio no momento da confeco.
Nesta pesquisa, sugere-se a utilizao de corpos construdos
com medidas prximas da morfologia humana como referncia para
o desenho tcnico de moda (ver glossrio) que ser utilizado como
projeto na construo de colees.
O objetivo sugerir a computao grfica 2D e 3D como
suporte ao desenho tcnico de moda assim como parmetros em re-
lao s medidas entre corpo e vesturio, com a inteno de sugerir
um desenho que possa ser lido por todos os envolvidos no processo
de confeco no Brasil e, principalmente, no exterior.
Como resultado, espera-se oferecer s equipes de criao e
confeco uma anlise sobre qual desenho de moda deve ser uti-
lizado em cada etapa de produo de uma coleo e sugerir a es-cala humana para o desenho tcnico (ver glossrio), unificando a
comunicao entre designers de moda, modelistas e profissionais da
indstria.
H desenhos de vesturio que podem no ter como base as
medidas de um corpo humano fsico, ou podem estar relacionados
a um corpo construdo de forma geomtrica que um modelo de
construo utilizado em escolas de moda como a escola francesa
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ESMOD (1995) mais utilizados em propostas ilustrativas.
Essa forma de representao corporal pode no ser a mais
adequada para o profissional que pretende utilizar as medidas do ser
humano como parmetro de construo do desenho tcnico direcio-
nado modelagem, na construo de uma coleo confeccionada
distante do designer de moda.
O corpo geomtrico utilizado em algumas escolas de moda,possui modificaes para se aproximar de regras estabelecidas para
ilustrao (ver glossrio) nas escolas de moda, com propostas mais
alongadas e magras que diferem da morfologia humana. So cor-
pos que, normalmente, oferecem uma alterao de proporo para
favorecer a ilustrao (Roig e Fernndez, 2010), e podem no servir
de base para a construo de colees que precisam de uma leitura
mais precisa.
Figura 2 - Corpo geomtrico do livro NineHeads em comparao ao corpo humano
fsico real (www.naked-people.de/)
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Essa alterao corporal, com inteno ilustrativa, modifica
o vesturio desenhado sobre o corpo. As propores, s vezes mais
alongadas, podem alterar a interpretao para o processo produtivo,
que demanda um vesturio com base em medidas reais e que tem
como funo vestir um ser humano.
O corpo de forma geomtrica apresentado prioriza uma si-
lhueta magra, sem volumes, com linhas rgidas e alteraes consi-derveis em relao s suas partes, como comprimento de braos,
largura de ombros e pescoo, alm de apresentar uma imagem dis-
tante das caractersticas humanas, como suavidade de contornos e
posicionamento correto das articulaes.
Esses desenhos com alteraes corpreas so utilizados
como suporte ao desenho de moda, mas existem ainda os desenhos
construdos sem nenhuma base com medidas humanas.
No trabalho realizado na confeco, o designer precisa co-
nhecer a anatomia do corpo humano para criar sobre ele modelos
de vesturio que sejam compreensveis quando este profissional no
estiver presente nos processos de modelagem (ver glossrio) e con-
feco. Deve conhecer tambm o meio cultural onde est inserido e
os valores atribudos por esta sociedade ao vesturio (Silveira, Iclia,
2002: 661). Neste contexto, o presente trabalho prope uma abordagem
do desenho de moda que leve em considerao esses dois aspectos
para o processo de fabricao de roupas.
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O olhar do designer
1.1 Breve histria do corpo na moda
Captulo 1
Na Histria ocidental humana, encontram-se diversas formas
de representao do desenho do corpo humano.
De acordo com Gombrich (1986), o ser humano interpreta o
mundo pelo desenho, por meio de estruturas fundamentais e reco-
nhecveis, articuladas com flexibilidade para comportar as mudanas
impostas por alteraes de conceitos, de funo e mesmo por meio
de necessidades expressivas. Atribui a elas a denominao schema-ta (Gombrich, 1986), e relata que sua caracterizao dependente
de fatores diversos, que variam de cultura para cultura. Conforme a
funo atribuda, a schemata pode assumir diferentes aspectos em
uma mesma cultura.
Na era Vitoriana (1837 - 1901) a classe mdia controlava suas
formas com dietas que restringiam o consumo de alimentos, resul-
tando em um corpo esbelto e idealizado, e o corpo obeso esteve,
desde ento relacionado preguia e falta de vontade, atributos
no estimados na cultura ocidental at os nossos dias. (Svendsen,
2010).
Esse interesse pelos corpos esguios influenciaram os desig-
ners de moda na construo do corpo humano para o vesturio. So
diversos os exemplos dessa inteno, com aspectos distantes da
morfologia humana, na histria da moda. Para Svendsen (2010), o desejo de um corpo ideal, magro e
alongado para a moda pode ter inmeras origens. Em culturas como
a aristocracia helnica, por exemplo, a moderao do apetite indica-
va um autocontrole sobre o corpo, por isso, o corpo dentro de um
padro esguio era o mais apreciado.
Um fator importante envolvido no atual formato de repre-
sentao do corpo humano para o desenho de moda a ideia de
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ilustradores fizeram o mesmo com a arte que apresentou uma nova
proporo do corpo sem a base clssica at ento conhecida. As
referncias so outras quando estudadas e apresentadas por uma
cultura que partiu de um principio diverso do Ocidente.
A obra A Cortes, de Van Gogh, foi baseada na ilustrao
da capa da edio de maio de 1886 de Paris Illustr, que por sua
vez, era uma releitura do trabalho do artista Keisai Eisen (1848). Apintura, realizada por Van Gogh a partir da cpia da gravura , apre-
senta uma das formas utilizadas pelos artistas do final do sculo XIX
para estudar a nova arte oriental, o que tambm mostra como eles
interpretavam a proporo corporal oriental, utilizando pinceladas
caractersticas do Impressionismo, mantendo praticamente o mesmo
desenho da ilustrao japonesa.
No final do sculo XIX e incio do sculo XX, surgiu uma srie
Figura 3 - Vincent Van Gogh, A Cortes (1887)(Hughes, 1998)
Figura 4 - Paris Illustr(1886)(www.daylilyart.com)
Figura 5 - Keisai EisenA Cortes (1820)
(Hughes, 1998)
apresent-lo como um corpo magro e longilneo, um padro aprecia-
do em nossa atual cultura ocidental.
Dentre os vrios artistas e movimentos artsticos, a influncia
oriental na virada do sculo XIX para o sculo XX, pode ter sido
uma dos precursores da modificao para formas mais alongadas da
figura humana, comuns entre os designers de moda da atualidade.
O interesse pelo Oriente um fator de grande influncia queacaba por estabelecer uma nova proporo corprea e de represen-
tao do vesturio. Isso fez com que o corpo fosse representado com
outra proporo.
Alguns artistas, como Van Gogh, copiavam as gravuras japo-
nesas para entenderem e aprenderem a nova grafia pictrica oriental.
Assim como feito nas guildas, em que o artista copiava as pinceladas
dos grandes mestres da Renascena para aprender suas tcnicas, os
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Figura 6Anlise da altura da Garota Gibson,
utilizandosua cabea como medida.
(The Gibson Girl &Her America, 2010)
de ilustradores com trabalhos bastante elaborados que chamaram
a ateno do pblico, principalmente feminino. Dentre eles, Charles
Dana Gibson (1867/1944), que por mais de trinta anos, publicou
seus desenhos em diversas revistas, tornando-se famoso pelas ilus-
traes femininas conhecidas como Garota Gibson. Devido a cir-
culao macia de suas ilustraes nas principais revistas americanas,
estabeleceu-se a primeira norma nacional de beleza feminina nosEstados Unidos (Morris, 2006).
A proporo da figura feminina pela qual se tornou conheci-
do, A Garota Gibson, tem um corpo bastante alongado, definido, no
momento de sua concepo, como um corpo ideal pela cultura do
sculo XIX, talvez desejado pela maioria das mulheres, muito prova-
velmente por Gibson acreditar que uma figura elegante deveria ter
essa conformao. Suspeita-se que o modelo de inspirao tenha
sido sua esposa. (Morris, 2006).
A Garota Gibson era alta e magra e a anlise da sua altura
em relao medida clssica grega revela que ela possua quase
nove cabeas. Ela tornou-se um cone de elegncia, foi representada
nos palcos, referendava produtos para confeco e serviu de inspira-
o at para msicas (Morris, 2006).
.Mulheres de todas as partes tentavam imitar a A Garota Gibson
(Morris, 2006).
Nas garotas de Gibson, pode-se presenciar a influncia da
Art Nouveau, assim como da arte grega. Suas ilustraes influencia-
ram hbitos, comportamento e aparncia das mulheres e revelam o
retrato de uma poca. Sua arte transformou uma grande parcela da
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Figura 7 - Ilustrao de Gibson, apre-sentando o desejo de uma menina emquerer ser uma Garota Gibson.(The Gibson Girl & Her America, 2010)
Figura 8 - Camille Clifford (1885 - 1971) atriz, queapareceu como uma Garota Gibson na comdia
musical chamada, O Prncipe de Pilsen (1904).(www.oocities.org/ther_over/clifford.html)
populao feminina americana e pde ser vista nos Estados Unidos
e Europa.
Gibson captou os anseios das mulheres em seu tempo, os
quais ele concretizou em cativantes e expressivas imagens em suas
gravuras publicadas em revistas como Times, Colliers e Harpers Ba-
zar (Gillon Jr. 2010).
Seus desenhos possuem uma excelente estrutura construtivaem relao anatomia humana, mas esta alterada e alongada na
ideia de que essa proporo a colocar como uma figura elegante.
Nos desenhos de Gibson, h a presena de um estudo elaborado de
proporo, ateno a expresses e movimentao da figura humana
feminina e masculina tambm em diversas situaes fsicas.
As alteraes na proporo corprea so constantes nas ilus-
traes e pinturas dos artistas nos sculos XIX e XX, pois registraram
a moda ou os costumes de sua poca decidindo alterar ou se dis-
tanciar dos esquemas clssicos de construo da figura humana. A
seduo do uso da cor, relao de luz e sombra, tratamento grfico
e fluidez do trao eram tpicos da poca.
Toda a movimentao artstica no final do sculo XIX, de
influncia oriental, modificou a forma de representao do corpo
humano e, consequentemente, dos desenhos dedicados moda. AGarota Gibson um exemplo dessas transformaes e mostra, tam-
bm, como as ilustraes de moda no final do sculo XIX e incio
do sculo XX tiveram o poder de influenciar as mulheres da poca,
assim como hoje acontece com a TV, o cinema e as publicaes de
moda Gillon Jr. 2010).
Um corpo influenciado por uma esttica com novas refern-
cias com base no movimento Art Noveau para sua construo o
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Figura 10 - RevistaO Cruzeiro (1928)
Figura 9 - Anlise da proporo humanacom o desenho de Gibson.(www.istockphoto.com eThe Gibson Girl & Her America, 2010)
que se pode ver nas ilustraes e croquis (ver glossrio) de moda a
partir do sculo XX. Todas essas transformaes contriburam para
a diversidade na percepo das referncias a serem utilizadas no
tratamento de cada desenho de moda no sculo XXI que busca-se
uma forma de construo que atenda s questes relacionadas
confeco, especialmente quando no h o acompanhamento do
seu criador. A representao do corpo direcionado ao desenho tcnico
(ver glossrio), tem como inteno, sugerir caminhos na comunica-
o entre profissionais em uma confeco. Percebe-se que a constru-
o corprea mais prxima da morfologia humana, pode apresentar
uma estrutura com preciso e detalhes construtivos a serem lidos e
utilizados por modelistas.
A proposta ilustrativa do corpo e vesturio tem seu lugar no
desenho de moda. Esse desenho, como analisado e apresentado at
o momento, prioriza a esttica, e os desejos e costumes da poca em
que foi criado, representando o vesturio da cultura em sua poca de
criao. no havendo, por isso, a necessidade de compromisso com a
confeco do traje.
No cenrio brasileiro, um exemplo na representao dos
costumes atravs do desenho ilustrativo de moda foi apresentadana revista O Cruzeiro, que se tornou um fenmeno editorial sem
precedentes da imprensa nacional na primeira metade do sculo XX
(Junior, 2011). Ela foi o testemunho da modificao da moda e do
comportamento social e poltico da mulher brasileira da poca.
Com incio em 1928, tal publicao trouxe em suas pginas,
a partir do ano de 1933, ilustraes de Alceu Penna (1915 - 1980)
na sua coluna As Garotas.
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Figura 11 - Alceu Penna eas Garotas do Brasil (2011)
Figura 12 - Desenhos emodelagem de Gil Brando,
Revista Figurino (1974)
Com uma adolescncia reprimida, Penna foi responsvel
pela diverso de seus colegas com desenhos ousados de mulheres
seminuas, fruto da sua imaginao, prenncio do que fazia profissio-
nalmente. Tambm teve a influncia das pin ups (ver glossrio), que
conheceu em viagens aos Estados Unidos, a partir do contato com
o trabalho de diversos ilustradores, como Charles Dana Gibson por
exemplo. As ilustraes de Penna exerceram influncia na cultu-
ra brasileira durante algumas geraes, representando
a expresso da vida moderna, com forte inspirao na
mulher carioca, propondo ousadas mudanas no pa-
dro de comportamento feminino, alm de se tornarem
vitrine de tendncias de moda. (Junior, 2011).
Seu longo tempo de trabalho na revista O Cruzeiro serviu
como referncia tambm para desenhistas de moda . O corpo mo-
dificado sob os desenhos ilustravam as pginas da revista e eram
usados como guia para desenvolvimento das colees. As costas e
indicaes de recortes, cavas e materiais a serem utilizados estavam
nos moldes que acompanhavam as revistas.
Por quase trs dcadas, em variados estilos, o corpo nos desenhos deAlceu Penna passou por diferentes formatos e acompanhou as mudanas da
moda e tambm dos desejos estticos em relao ao corpo feminino no Brasil.
As ilustraes podiam no estar de acordo com as regras cls-
sicas de estrutura corporal conforme visto nas construes corporais
gregas, como tambm podiam no servir de forma eficaz para a cons-
truo dos modelos, por faltar o detalhamento tcnico necessrio
comunicao com profissionais de modelagem.
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Figura 14 - Gil Brando,Revista Fon Fon (1953)
Figura 13 - Gil Brando,Revista Fon Fon (1953)
Os modelos podiam ser reproduzidos exatamente como pro-
jetados pelos designers de moda por virem acompanhados das mo-
delagens dessas ilustraes, para que o vesturio pudesse se apro-
ximar do corpo da cliente, compradora da revista e do projeto do
designer de moda, conforme definio atual do termo.
A partir da dcada de 1930, as revistas femininas foram o
meio de comunicao que designers encontraram para se relacionarcom suas clientes, pois elas poderiam ser donas de casa ou iniciantes
em modelagem e confeco que utilizariam seus desenhos para con-
feccionar os modelos escolhidos nas publicaes. Foram muitos
artistas - s vezes tambm modelistas, como o figurinista, mdico e
arquiteto Gil Brando (1925 - 1982) - que apresentaram suas ideias e,
tambm, fotos dos modelos e a modelagem, para que as leitoras con-
feccionassem as colees exatamente com o conceito definido por eles.
Gabaritos complexos apresentavam cada parte a ser passa-
da para o tecido para sua confeco, e as ilustraes eram apenas
uma indicao do modelo, no o projeto final. As costas eram pe-
quenos esboos que apareciam ao lado dos modelos.
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O olhar do designer
1.2 Corpo e proporo na moda
Captulo 1
Figura 15 - Anlise do esquemade Riegelman e o corpo humanoem relao proporo medida
por cabeas humanas(ESMOD, 1995) e
www.naked-people.de)
No ensino do desenho de colees nas escolas de moda,
usa-se a cabea, assim como os gregos, como mtodo de construo
do corpo humano para criao do vesturio sobre ele. H diversos
autores que apresentam propostas de quantas cabeas o corpo hu-
mano deve ter para ser construdo de acordo com a proporo, fato
que suscita divergncias em relao a essa medida.
Para Riegelman (2005), a construo ideal da figura humanadeve ter nove cabeas para altura total do corpo.
A modificao se d, principalmente, no alongamento das pernas,
e como se v em seu livro Nine Heads (2005) essa proposta corporal
apresentada para as ilustraes de moda e tambm para os dese-
nhos planificados de vesturio.
A partir de estudos do que a autora acredita ser a medida
mais prxima das medidas do corpo fsico, oito cabeas, ela prope
a alterao para nove como a correta para o desenho de moda tanto
ilustrativo como planificado (ver glossrio).
A medida de nove cabeas no est de acordo com a morfolo-
gia humana, que tambm no tem, frequentemente oito cabeas de
altura, nem possui a largura de ombros, cintura e membros apresen-
tados nos esquemas de Riegelman. Tais esquemas geomtricos so
possveis no processo do desenho de moda, quando h o acompa-nhamento do designer durante o desenvolvimento da confeco.
Na figura 15, foi feita uma anlise pela pesquisadora so-
bre as diferenas do corpo humano fsico em relao aos esquemas
de construo corporal apresentada por Riegelman.
Durante a Histria, diversos artistas e pesquisadores estu-
daram o corpo e apresentaram ideias a respeito do que proporo
para definir qual a altura do ser humano a ser utilizada em suas
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obras. Deve-se levar em considerao que diversos fatores como cul-
tura, costumes e poca nos quais ocorreram as medies, modifica-
ram consideravelmente o que se estabeleceu como padro em cada
momento histrico.
Para Gombrich, os gregos utilizaram todo o conhecimen-
to que adquiriram a partir da observao do ser humano. Com os
estudos realizados, foram em busca da construo de corpos que
pudessem representar a beleza de sua estrutura e a anatomia dos
ossos e msculos para formar uma figura humana convincente com
naturalidade (Gombrich, 1988: 56).
De acordo com Panofsky, os gregos foram em busca de suas
prprias experincias a partir da observao da realidade, seguindo
um caminho que os levaria a estudos direcionados a um ideal estti-
co humano. De acordo com o autor, para eles, a meta do artista a
imitao da vida (Panofsky, 2001: 98).
Para o autor, a arte grega evoluiu em direo a uma arte que se apro-
ximou, cada vez mais, de uma representao mais natural e orgnica
do corpo humano (Panofsky, 2001).
Ainda sobre os estudos das propores gregas, Claudius Ga-
leno, mdico e filsofo grego (129 d.C. - 199 ou 217 d.C.), faz refe-
rncia ao escultor grego Policleto (460 420 ou 410 a. C), em seu
texto, Placita Hippocratis et Platonis que diz:
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Figura 16 - O Doriforo dePolicleto, representao daproporo na estaturia grega,Museu Arqueolgico Nacionalde Npoles(www.nypl.com)
Crisipo sustenta que a beleza no consiste nos elemen-
tos, mas na proporo harmoniosa das partes, a propor-
o de um dedo para outro, de todos os dedos para o
resto da mo, do resto da mo para o pulso, desses para
o antebrao, do antebrao para o brao inteiro, ou seja,
de todas as partes entre si, como est escrito no cnone
de Policleto (Panofsky, 2001: 101).
No desenho de moda atual, o direcionamento da construo
do corpo para o planejamento das colees permanece com altera-
es em sua estrutura, distante das medidas do corpo fsico como
estudado pelos gregos. O alongamento e a modificao para se en-
caixar em um padro contemporneo tm sido definidos de acordo
com cada escola nos diversos cursos de moda.
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Figura 17 - Escultura deLisipo, Apoxyomenos,
Museu do Vaticano
(https://woc.uc.pt)
A bibliografia utilizada nas escolas e cursos apresenta medidas
diversas, podendo o corpo ter como altura nove, oito e oito cabeas
e meia. At o presente trabalho, no h estudos que envolvam pro-
fessores e profissionais de moda que estabeleam uma medida que
seja utilizada de forma mais ampla.
Roig e Fernndez (2010) especificam que, para a moda, o
mais adequado a figura alongada com oito cabeas e meia para o
corpo feminino e nove para o corpo masculino.
Explicam que as razes para essa alterao nas medidas que
o corpo precisa ser mais esbelto e ter a altura destacada em relao
mdia da maioria dos modelos profissionais.
O cnone clssico uma boa referncia para aprender a desenhar
figuras. No entanto, o desenho de moda requer um corpo mais esbelto, ade-
quado para a representao do figurino de moda (Roig e Fernndez, 2010: 35).
O desejo de alterao do corpo pode ser encontrado desde
o perodo Helnico, pois mesmo nas obras do escultor grego Lisipo
(cerca de 360 a.C 305 a.C) considerado discpulo de Policleto, essa
proporo tambm foi modificada. O cnone de Lisipo prope como
medida ideal de beleza do corpo humano a medida de oito cabe-
as: uma modificao em relao ao cnone de Policleto (Panofsky,
2001).
Ao estudarmos corpos reais e os analisarmos de acordo com
as ideias de Policleto e Lisipo, chegamos concluso de que o uso
da cabea humana como unidade de medida e as concluses dos es-
cultores gregos em relao a quantas cabeas o representam ainda
podero ter alteraes, assim como ocorre hoje em nossa sociedade.
A relevncia do estudo da proporo do corpo no desenho
de moda se deve ao fato de que esse corpo, quando modificado e
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Figura 18 - Anlise de vesturiosobre o esquema corporal da
ESMOD (1995) e umcorpo humano (www.naked-people)
utilizado como base para a construo do vesturio, poder apresen-
tar dvidas em relao proporo do que for desenhado sobre ele
e ao que se transformar em coleo.
Quando o designer de moda ou modelista est presente des-
de a concepo at a confeco da coleo, a alterao na proporo
do vesturio acompanhada com mais proximidade, e as questes
que surjam e que modifiquem, de alguma forma, a ideia inicial do
designer de moda podem ser corrigidas, se existir uma comunicao
prxima entre os profissionais envolvidos.
Nos processos construtivos em que o designer de moda se
distancia da produo, a comunicao constante para a elaborao
do projeto de coleo se torna mais escassa. A ideia de ter um corpo
de acordo com a morfologia humana como suporte para o desenho
tcnico de vesturio, pode ser um dos fatores que contribui para a
minimizao desse distanciamento entre o entendimento de deta-
lhes e a proporo do modelo.
Nos estudos sobre a altura corporal, encontrou-se, com mais
frequncia, a medida de aproximadamente sete cabeas de altura.
Tal medida, relacionada proporo do corpo humano em nossa
sociedade, a sugesto apresentada nesta pesquisa como modelo a
ser utilizado para o desenho tcnico desenvolvido distante do desig-
ner de moda.
O modelo da proporo do corpo humano tem a vantagem
de usar um corpo dedicado ao desenho planificado (ver glossrio)
para que as peas de vesturio estejam mais prximas das partes do
corpo daquele que vestir as peas de roupa.
Radicetti, proprietria da Draft, que desenvolve manequins
de moulage (2011) para uma empresa de moda que cliente sua
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Figura 19 - Anlise daproporo corporal emseres humanos cometnias diferentes(www.naked-people.de,2011)
percebeu, em uma consultoria que realizou, que havia um proble-
ma na construo das blusas de uma coleo. Elas estavam sendo
modeladas e confeccionadas com a altura do corpo menor do que
deveriam.
Ao pesquisar a origem do problema, Radicetti descobriu que
o motivo da alterao estava no desenho tcnico do modelo, a partir
do qual as modelistas tinham se baseado para a modelagem. Nele,
a altura do corpo estava mais curta do que deveria, e ao questio-
nar as modelistas, as profissionais disseram que estavam seguindo
a proporo do vesturio sobre o corpo utilizado no desenho dos
designers de moda e que por isso, a altura da blusa fora modificada.
As medidas de uma pessoa podem ser diferentes conforme
sua biologia, modificaes corporais, em razo de aspectos existen-
tes na sua cultura, hbitos alimentares e local onde vive.
Um exemplo em relao etnia e s grandes diferenas cor-
porais existentes no planeta so encontrados no continente africano.
A mulher niltica, que habita o Sudo, possui uma alta estatura e
chega a ter, em mdia, 168,9 cm, com a proporo de sete cabeas
e meia em oposio estatura da mulher pigmeia com 137, 2 cm,
em mdia, e com a proporo de seis cabeas de altura, tambm
encontrada nesse continente (Santos C. S. 2009). A diferena se d,
principalmente, no tamanho maior da cabea da pigmeia e menor
comprimento das pernas, modificando sua medida no s na altura
total do corpo como tambm na medio de acordo com a regra
clssica grega.
Na indstria do vesturio e, mais especificamente, na rea do
design de moda, imprescindvel visualizar o corpo antes de elabo-
rar qualquer proposta, inclusive a prpria coleo (Santos C. S. 2009).
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Figura 20 - Anlise da proporo corporal de uma mu-lher niltica em relao a mulher pigmia
(http://comentandocomentado.blogspot.com)e www.elpais.com)
Essas duas culturas africanas exemplificam as diferenas ex-
tremas entre seres humanos que no estejam relacionadas a nenhu-
ma anormalidade gentica (Santos C. S. 2009), sendo assim, exem-
plos de como a proporo humana poder variar de acordo com sua
situao socioeconmica, etnia e local em que habita.
interessante que o designer de moda encontre, dentre
todas essas correlaes, um caminho que satisfaa as questes do
design como, por exemplo, a necessidade de encontrar solues de
acordo com cada projeto e com a cultura que pretende representar e
propor em sua coleo.
Esses aspectos devero ser lembrados para estudar cami-
nhos que forneam uma base cientfica para a idealizao de um cor-
po mais aproximado de sua morfologia natural, utilizando-o como
suporte para desenhos de vesturio construdos tecnicamente. A pro-
poro corprea, quando alterada em funo do conceito vigente na
moda em que o corpo precisa ser mais alongado que o corpo real
(Roig e Fernndez, 2010), interfere no desenho do vesturio feito
sobre ele. Esta alterao poder gerar dvidas na ideia inicial do de-
signer de moda em relao ao conceito de sua coleo e na posterior
leitura pelo profissional que ir desenvolv-la.
. Se a construo do corpo para o desenho de moda tiver
como inteno uma base construtiva prxima das medidas utilizadas
por modelistas em relao s medidas do corpo humano real, talvez
os modelos sejam mais facilmente interpretados sem a necessidade
de que o designer de moda seja consultado constantemente.
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O olhar do designer
1.3 Desenho nas empresas e na academia de moda
Captulo 1
Com os gregos, o estudo das propores do corpo foi rea-
lizado pela diviso em partes, com base na cabea humana, para
definio de suas medidas. Durante o sculo XIX, esse corpo sofreu
diversas influncias, como a do Oriente, cuja interferncia proporcio-
nou novos parmetros para a construo da figura humana.
No incio do sculo XX, ilustradores de moda se tornaram famosos,
muitas vezes por apresentarem estilos de vida que algumas mulhe-
res desejariam ter, por estarem isoladas em suas vidas domsticas.
No final do sculo XX surgiram as escolas de moda, primeiro
com os cursos profissionalizantes, que criaram um caminho para o
significativo crescimento dos cursos de graduao que vieram logo
em seguida.
No incio da dcada de 1980, ressentindo-se de um pro-
fissional criador, capaz de reger o grande concerto que
envolve o complexo mecanismo da moda, as capitais
dos estados de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais,
com a iniciativa do prprio setor e o apoio de algumas
instituies de ensino, inauguraram os primeiros cursos
profissionalizantes para o ensino da criao de moda no
Brasil. Em 1988 na cidade de So Paulo, surgiu o primei-
ro curso superior de moda do Brasil. A idia era formar
um profissional bem-informado e de slida formao,
pronto a qualificar a produo brasileira de moda e abrir
espao para novas idias (Pires, 2002).
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Nesses cursos, os diversos profissionais com as mais variadas
formaes acadmicas, aceitaram a funo de professor com o gran-
de desafio de estabelecer as diretrizes a seguir para a formao dos
primeiros alunos graduados em moda no Brasil.
No incio dos anos 1990 surgiram os primeiros profissionais
com essa formao acadmica. Cada um com uma forma de repre-
sentar o desenho de coleo definida pelo seu professor, que muitas
vezes, tinha o conhecimento prtico desenvolvido em seu dia-a-dia
de trabalho ou influenciado pelas escolas relacionadas arte, arqui-
tetura ou desenho industrial.
No decorrer do final do sculo XX, diversos professores e
profissionais buscaram formas para estabelecer, cada um em sua
escola e empresa e de acordo com sua percepo, uma forma de
comunicao entre profissionais de desenho e modelagem.
A Faculdade Santa Marcelina, iniciou o bacharelado em de-
senho de Moda em 1988, criado a partir do curso de Bacharelado
em Desenho considerado o primeiro curso superior de moda no Bra-
sil. Alguns professores como Carlos Mauro Rosas, Donato Chiarelli,
Ivan Bismara entre outros profissionais de fotografia, arte, moda e
desenho industrial, com a coordenao de Vera Ligia Gilbert, foram
os primeiros professores incumbidos em desenvolver disciplinas ne-
cessrias para a formao de profissionais com qualificao acad-
mica para atender as indstrias que buscavam aprimoramento no
setor de confeco.
Raquel Valente Fulchiron, atual coordenadora do curso de
graduao em moda da Faculdade Santa Marcelina, tambm foi uma
das primeiras professoras de moda no Brasil. Suas referncias para
formatar o curso de desenho de moda na faculdade foram baseadas
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em suas experincias nas empresas de moda onde trabalhou.
Os primeiros desenhos que viu nessas empresas dedicadas
confeco foram na C&A, na dcada de 1980. Raquel Valente Fu-
chiron trabalhou como consultora em planejamento de colees e
foi responsvel por estabelecer formatos de trabalho para que seus
clientes desenvolvessem suas colees em confeces, dentro e fora
do Brasil, assim como outros profissionais fizeram na poca.
Quando deu incio ao seu trabalho com moda, Raquel Valen-
te Fulchiron j sabia da importncia de estabelecer uma proposta de
trabalho que atendesse tanto s questes de criao dos modelos
relacionados ao design (concepo e processos produtivos) quanto a
necessidade de que esses desenhos fossem compreendidos por mo-
delistas, pois ela j conhecia a criao e os processos de produo
fabril.
Nas empresas em que trabalhou, Raquel Valente Fulchiron
diz que os primeiros desenhos com os quais teve contato foram
prximos a croquis com tratamento ilustrativo sem a preocupao
de que se aproximassem de alguma proporo humana. Cabia aos
modelistas a interpretao de tais desenhos, possivelmente, com
algumas etapas a mais em relao pilotagem dos modelos (ver
glossrio).
Acostumada ao desenvolvimento das colees em confec-
es distantes dos escritrios de criao, Raquel Valente Fulchiron
iniciou uma investigao para encontrar solues que facilitassem
a comunicao entre as empresas. Essa busca resultou no interesse
por programas grficos digitais, porm, com o inconveniente de exis-
tirem ainda, poucas pessoas que soubessem utilizar essa tecnologia
para o desenho de moda.
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Figura 20 - Molde em papel, El Camarena (1992)
Demorou algum tempo, em relao aos pases do hemisfrio
norte, para que empresrios brasileiros descobrissem os caminhos
do desenho digital para o desenho de vesturio, o que aconteceu
no final dos anos 1980 e fez parte do incio de uma revoluo que,
sem dvida, mudou definitivamente a forma de representao do
desenho no projeto de coleo, ainda que pouqussimas empresas e
designers de moda aceitassem esse formato na poca (Raquel Valen-
te Fulchiron, 2011).
No inicio no se tinha ideia clara de como seria utilizar um
ferramenta digital para o desenho de moda. No havia cursos ou
livros que pudessem indicar o que podia ser feito e que oferecessem
recursos para o desenho com proposta tcnica.
Raquel Valente Fulchiron menciona que antes das ferramen-
tas digitais, os desenhos eram feitos com caneta ou lpis e s vezes,
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Figura 21 - El Camarena (1992).Desenho para o
catlogo SPEEDO/Brasil,Copa do Mundo de 1994
(catlogo da SPEEDO, 1992)
a partir de moldes de papel com perfuraes. O objetivo das marca-
es era padronizar a localizao de bolsos e detalhes do modelo
para agilizar o desenvolvimento da coleo e sua reproduo, caso
ela precisasse ser distribuda entre as vrias fases na confeco.
A colorizao e reproduo dos desenhos de vesturio eram
um trabalho artesanal e demorado. A introduo dos programas gr-
ficos, como o CorelDRAW II e das impressoras nas empresas nas
quais os profissionais de moda prestavam consultoria, possibilitou
que as colees em fichas-tcnicas (ver glossrio), sofressem modifi-
caes e variantes de cores (ver glossrio) com agilidade.
Com os desenhos orientados por designers, o uso dessas
ferramentas digitais proporcionou maior rapidez na concluso das
colees, o que s era possvel a partir de exaustivas pesquisas e
estudos relacionados ao processo criativo. Nessa poca, no havia
informao alguma de como utilizar a tecnologia digital para o de-
senho de moda e sua relao com as equipes de produo.
Ainda hoje h muitas dvidas de como esse desenho deve
ser feito em programas grficos, pois a resistncia ao digital, na ideia
de que ele possa prejudicar a liberdade de expresso, ainda um
estigma que alguns profissionais mantm em relao a tecnologia,
e faz com que o processo de uma metodologia se torne lento.
O desenho de vesturio nas escolas de moda tambm en-
sinado por meio de diferentes tcnicas e com diversas referncias,
no existindo entre professores, um formato que prevalea e que
possa criar uma nica linguagem de comunicao entre os futuros
profissionais de moda.
A histria da moda oferece exemplos e tem como apoio estudiosos do
corpo e vesturio para chegar a concluses em relao a sua construo.
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Alguns desses exemplos foram utilizados por professores e
profissionais para o desenho dedicado confeco. H professores
e designers de moda que utilizam o corpo humano ilustrativo como
base para o desenho tcnico de colees. Outros profissionais, como
a pesquisadora, esto em busca de formatos que possam ser defi-
nidos como um padro para ser utilizado, principalmente quando
a coleo desenvolvida em confeces distantes do processo de
criao. (Camarena, 2011).
Outro aspecto relacionado ao desenho de moda se refere
ao status que o designer representa perante a produo. Suspeita-
se que o designer de moda, como responsvel pela criao ou pelo
conceito da coleo, tenha liberdade em desenh-la livre do rigor
tcnico. Por sua vez, no h necessidade do uso de ferramentas que
possibilitassem um desenho tcnico mais preciso (Christo, 2010).
De acordo com Christo (2010), o estilista de moda est rela-
cionado ao campo da arte e por isso, um profissional criativo, desvin-
culado das questes que envolvem o mercado e as necessidades do
design. Este profissional se assemelharia ento, ao conceito de ar-
tista como um gnio, pertencente ao campo da arte (Christo, 2010),
no precisando portanto, ter comprometimento com ferramentas
grficas que pudessem impedir que ele se expressasse livremente.
As primeiras geraes de designers de moda brasileiros
como Dener Pamplona de Abreu (1936 - 1978) e Clodovil Hernan-
des (1937 - 2009), e os ilustradores de moda como Gibson e Penna
tiveram um processo de criao com base no desenho ilustrativo que
influenciou as propores corporais e os traos de algumas geraes
dedicadas ao desenho de moda do sculo XX.
Na gerao posterior ao final do sculo XX, no incio das
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Figura 22 - Desenho tcnico de umacamisa utilizada em escolasde moda (Lectra Sistmes) ,
esquerda em relao a uma camisareal (Abercrombie), direita
primeiras faculdades de moda brasileiras, os exemplos apresenta-
dos por professores, na maioria profissionais de reas afins, foram
variantes dessa representao grfica do desenho de moda como,
tambm, de concluses proporcionadas pela prtica profissional que
alguns tiveram durante seus trabalhos dentro de confeces. O de-
senho de moda apresentou diversas formas de representao, com
ou sem base corporal, mas na maioria, baseado em um corpo prxi-
mo ao ilustrativo e distante de sua morfologia humana.
O resultado desse desenho de vesturio, desenvolvido tam-
bm por professores que no tiveram experincia em empresas de
confeco de moda, criou formas para o desenvolvimento das cole-
es, sem as medidas da base corporal fsica. A figura a seguir mos-
tra como uma camisa, ensinada em uma das escolas de moda atuais,
no est de acordo com o corpo humano.
Nota-se como a gola da camisa estreita em relao ao
pescoo. Sua largura e comprimento tambm esto em desacordo
com as propores praticadas na modelagem.
A camisa direita apresenta os detalhes, forma e proporo
que deviam ter sido desenhados na camisa esquerda, importantes
para que o modelo fosse confeccionado distante da criao.
Essa diversidade em relao ao ensino e construo das
colees de moda culminaram em alguns caminhos para a interpre-
tao do que seria o desenho para o projeto de coleo. Os profissio-
nais, agora formados pelas faculdades, tiveram em cada uma delas,
a certeza de que o que aprenderam seria o mais adequado para a
construo de uma coleo de moda.
Regras foram criadas de acordo com cada escola na constru-
o das colees. Algumas um pouco mais prximas de um corpo e
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Figura 23 - Detalhe dodesenho de Magalhes(2011)
Figura 24 - El Camarena(2011)
de um desenho com base em medidas do ser humano. Outras bem
distantes dessas propores. Essas medidas humanas no desenho de
moda tem sido questionadas atravs de pesquisas como, por exem-
plo, na escola SENAI Cetiqt no Rio de Janeiro, mas at o momento,
no h uma codificao nica de construo txtil, que possa ser
utilizada de forma mais ampla por professores, alunos e profissionais
da moda.
A computao grfica pode contribuir para a criao des-
sas diretrizes, auxiliando na construo de um formato de desenho
que atenda s questes necessrias na confeco dos modelos, que
possa ser repetida sem alteraes na proporo e distribudas nas
diversas fases de construo da coleo dentro e fora do pas. Mas,
junto com o desafio de se estabelecer essas regras e ainda saber usar
a tecnologia, h a resistncia por parte de alguns designers de moda
que preferem manter o desenho tradicional ou digital com conceito
ilustrativo, o que pode dificultar a comunicao entre os profissionais
de moda na confeco.
Na figura 23, o desenho de Magalhes (2011), feito em pro-
gramas digitais, mostra um desenho de moda que ilustra o conceito
de sua coleo.
Esse desenho, algumas vezes, o mesmo apresentado para
modelistas, em que no possvel ter certeza sobre as costuras
de mangas, cavas e bolso e tambm, de como o acabamento no
decote. A proporo tambm deixa em dvida se a pea mais ou
menos ajustada ao corpo, alm de no haver uma definio no com-
primento da camiseta.
Na figura 24, uma interpretao planificada do mesmo mo-
delo feito pela pesquisadora no programa CorelDRAW X5 , h a
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indicao das costuras e posicionamento correto da estampa nas
mangas, sugerindo como deve ser o decote e, para ter a certeza do
comprimento, a medida dever constar na ficha-tcnica (ver gloss-
rio) que acompanhar o desenho, assim como as costas do modelo
e todos os materiais necessrios para a sua confeco. Esse desenho
poder ser mais bem interpretado pela produo caso o designer de
moda no esteja prximo no momento da confeco. uma suges-
to em relao a qual desenho deve ser realizado com a proposta
de confeco distante das equipes criativas. Seria adequado anexar,
a modelagem (ver glossrio) para garantir sua execuo de acordo
com o projeto inicial.
Somente o uso de corpos com medidas prximas da morfo-
logia humana no suficiente para que a coleo seja desenhada
e compreendida pela produo. O interesse pelo conhecimento do
vesturio tambm necessrio para firmar uma comunicao mais
fluente entre profissionais e empresas.
A moda, desenhada e ensinada por professores e profissio-
nais nas escolas e empresas de moda, mostra um corpo modificado
com uma esttica magra para cumprir um desejo no nosso sculo
(Svendsen, 2010). A mdia digital, assim como a fotografia, oferece
a construo ou a imagem de um corpo baseado na morfologia hu-
mana, possibilitando a observao correta do posicionamento dos
membros, altura e largura de acordo com a proporo exata do ser
humano. Aprender a utilizar a tecnologia digital a partir de imagens
e medidas corpreas em conjunto com o conhecimento construtivo
do vesturio, poder auxiliar na criao de mtodos e regras que
facilitem a comunicao entre desenhistas e modelistas.
No atual desenho tcnico de moda, todos os estudos de pro-
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poro humana desde o perodo clssico parecem ser ignorados ou
modificados, resultando em uma base para o desenho de vesturio
que no chega a ter um carter de croquis ou ilustrao. Esses es-
tudos tambm no tm as atribuies necessrias para um desenho
que precisar ter especificaes em relao a sua confeco.
Quaisquer que sejam seus ideais, os designers de moda pre-
cisam do parmetro de realidade, conhecendo o corpo humano e
suas interaes com os tecidos e as roupas (Jones, 2005).
Os cursos de moda no costumam fazer com que os
alunos raciocinem de forma cientfica. Chegam apenas
ao prottipo dos modelos sem o compromisso com sua
funcionalidade e adequao ao corpo humano (Forna-
sier; Martins; Demarchi, 2010: 127).
Esses alunos so os que ingressam no mercado de moda e
carregam com eles a falta de repertrio cultural e tcnico e continu-
am, muitas vezes, com a ideia de que podem desenvolver colees
sem o compromisso com o design. Outro fator complicador neste
cenrio so os profissionais que aprovam a entrada desses alunos
nas empresas (Camarena, 2008).
O desenho de modelos de vesturio com inteno ilustrativa
seduz e um facilitador em algumas empresas de moda nas ava-
liaes de candidatos. Cabe dizer que h uma tendncia a acreditar
que apenas esse tipo de desenho suficiente para o desenvolvimen-
to de colees, alm de ser bastante valorizado por ter o trao do
designer de moda.
A aceitao desse tipo de representao ilustrativa pelos
acadmicos e pelo mercado, pode ocorrer devido a melhor aceitao
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das tcnicas tradicionais do desenho e da pintura. Talvez por ser algo
que acompanhe a cultura humana por mais tempo e esteja mais
prximo do que aceitvel como desenho de moda.
O rompimento dessa aceitao pode quebrar o encantamen-
to e a resistncia ao tcnico que se localiza exatamente no lado
oposto ao trao solto, pode ser uma forma de resistncia ao uso
de mquinas por ser algo recente e ainda a ser discutido em nossa
sociedade.
H uma impreciso em relao ao uso do desenho tcnico e
do desenho ilustrativo, e h algum tempo discute-se que o ato de de-
senhar um modelo de vesturio est mais ligado arte, por acreditar
que est relacionado somente criao, ou ao desenho que servir
para produo do modelo, direcionado, portanto, a um desenho que
deveria ser tcnico. Acredita-se que o desenho tcnico poder, de
alguma forma, substituir o desenho manual (Christo, 2010).
Os meios de comunicao, a tecnologia e a proliferao de
cursos de moda facilitaram o acesso para que qualquer pessoa possa
se denominar designer de moda em detrimento do conhecimento ne-
cessrio profisso, o que pode prejudicar muito a qualidade concei-
tual e tcnica necessria metodologia projetual (Camarena, 2008).
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O olhar do modelista
2.1 Corpo vestido
Captulo 2
Figura 25 - Anlise de um desenho tcnico desenvolvidoem escolas de moda em relao ao corpo humano, e o
desenho da pesquisadora sobre o corpo humano
Em uma confeco, as colees so desenvolvidas a partir de
diversas formas, no havendo definio de um nico mtodo de de-
senho em comum entre os profissionais de criao, assim como no
se observa uma definio na academia de moda (Cruz, 2011). H
designers de moda habituados ao uso da tecnologia digital e outros
que permanecem utilizando tcnicas tradicionais, e tm como ferra-
mentas canetas, lpis e papel. Em ambos os casos, o desenho tcnico
pode ser desenvolvido sem base corporal, ou pode-se usar um corpo
com base nas regras utilizadas na ilustrao, com a proporo do
corpo humano, a partir de uma esttica idealizada.
A cala, esquerda, na figura 25, foi realizada sem um corpo
humano como suporte ao desenho, alm da utilizao de tcnicas
ilustrativas para indicar o gancho da cala (ver glossrio). Tambm
no foram levadas em considerao as costuras duplas utilizadas em
calas jeans, entre outros detalhes importantes para confeco da
pea.
No desenho da direita, a cala foi desenhada sobre o corpo hu-
mano. Pode-se comparar as diferenas em relao proporo nos
dois desenhos, observando-se que a cala esquerda no se ajusta
ao corpo humano. J a cala direita est mais adequada ao corpo
porque o desenho foi feito sobre ele, sendo, portanto, mais fcil com-
preender a forma e o posicionamento em relao altura e largura de
todos os detalhes do modelo.
A cala sobre o corpo humano pode facilitar a compreenso
no momento da modelagem, mesmo que o designer de moda no
tenha acesso a modelos em 3D do corpo humano para o desen-
volvimento de suas colees. A figura 30 apresenta um corpo real
fotografado e poder substituir qualquer desenho feito em trs di-
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Figura 26 - Estudos realizadospela pesquisador sobre proporocorporal (www.naked-people.dke corpo 3D feito no programaCinema 4D)
Figura 27 - Anlise do desenhocorporal representado em blo-cos pela escola ESMOD (1995)em relao ao corpo humanoreal (www.istockphoto.com)
menses. O corpo humano em 3D apresentado nesta pesquisa copia
as medidas do ser humano fsico e oferece a possibilidade de us-lo
como suporte ao desenho de moda.
A ausncia do corpo no desenho do vesturio dificulta sua
compreenso e estabelece dvidas em relao a sua execuo. Tam-
bm, quando o corpo humano alterado oferece interpretaes di-
versas em relao ao projeto do designer de moda, em anlise s
tcnicas construtivas do modelista, resulta na criao do vesturio
sem um comprometimento com as medidas humanas.
Corpos que podemos chamar de geomtricos (ver glossrio) so
utilizados como base para a construo do vesturio, possuindo as
medidas mais prximas do desenho ilustrativo, mais magros e com
propores diferentes em relao ao corpo humano real. Mesmo que
esses corpos tenham suas linhas suavizadas, a proporo alterada
interfere no desenho de vesturio e no corresponde ao corpo hu-
mano fsico.
Esse corpo geomtrico, com medidas distantes da morfolo-
gia humana, utilizado como suporte ao desenho tcnico de moda,
oferece alteraes nas propores do vesturio desenhado sobre ele,
o que pode acarretar em uma leitura tcnica diferente daquela esta-
belecida pelo designer de moda.
Como j foi dito antes, uma das hipteses levantadas para
saber a origem desse desenho geomtrico o uso de manequins
utilizados para o desenho de moda ilustrativo, desenvolvidos em es-
colas de moda a partir da dcada de 1960, como a escola francesa
ESMOD (1995). Ao comparar o desenho construdo pela geometri-
zao do corpo humano, que utiliza blocos para simular tronco e
membros de um corpo humano fisico, percebe-se como a estrutura
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foi modificada e se distancia de um corpo humano. As larguras dos
ombros dos desenhos, que representam o corpo, no coincidem com
a figura humana, assim como cintura, cabea, pescoo e articulaes.
Durante o processo criativo da coleo, o desenho de moda
pode ser feito de forma intuitiva, sem preciso tcnica. A inteno
o estudo das formas, cores e volumes, de modo que a criatividade
e o estudo das tendncias (ver glossrio), assim como o perfil do
consumidor, sirvam de inspirao e guia para a criao do modelo.
comum que nessa fase do desenho de moda no haja um rigor tc-
nico, pois existe a crena de que isso possa impedir, de alguma forma,
a criatividade do designer de moda.
O desejo criativo e a tendncia ao desenho de peas de
vesturio, elaborados a partir da memria e com soluo ilustrativa,
podem ser um agravante na comunicao entre os profissionais de
estilo e modelagem, quando distantes um do outro. Os modelistas
sero os responsveis pelo desenvolvimento das peas-piloto, e caso
tenham dificuldade na compreenso do desenho apresentado pelo
designer de moda, a comunicao dever ser mais prxima, caso
contrrio poder acarretar problemas de repetio da pea-piloto
(ver glossrio).
A aparente falta de compromisso em relao morfologia
humana cria um desenho de vesturio sem relao com as propor-
es corporais, e tal desenho, desenvolvido nesse corpo sem base
humana, poder ser mal interpretado por modelistas, ocasionando
falhas na comunicao com os designers de moda.
Em entrevista com modelistas e costureiras, comum ou-
vir que os desenhos que recebem dos designers de moda precisam
passar por uma espcie de decodificao necessria para a corre-
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o das distores apresentadas pela perspectiva do traje vestido no
croqui, e pelo desejo e necessidade de movimento dos tecidos que
esses profissionais tanto admiram e necessitam para concretizao
de suas ideias.
O designer de moda observa seu trabalho como algo a ser
apreciado, mas, muitas vezes no o considera como um projeto que
ser utilizado para confeccionar uma coleo que ser vestida por
um ser humano. O modelista por sua vez, analisa o desenho do pon-
to de vista tcnico e pode no compreender aspectos ilustrativos que
o designer de moda considera essenciais para criao do modelo.
H ainda a dificuldade que o designer de moda poder en-
frentar caso no tenha domnio da tcnica a ser utilizada no produto
para a produo da coleo. E Novamente a combinao de conhe-
cimentos entre designers de moda e modelistas se torna oportuna,
mas imprescindvel saber quais so as atribuies e limites dessa
unio, s vezes benfica, se tiver o esprito de colaborao, ou no
to benfica assim, se o conceito for modificado pelo tcnico, caso
ele se sobreponha s ideias do designer de moda.
(...) seria interessante que o designer dominasse todas
as tcnicas, conhecendo os pontos fortes e fracos de
cada um. Assim poderia escolher aquela tcnica que
mais se adaptasse a cada tipo de problema (Baxter,
1998: 61).
Quando o modelo de confeco visa seu desenvolvimento dis-
tante do designer de moda, a interao com outros profissionais, como
gerentes de produto ou diretores de criao, colocam a confeco da
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coleo totalmente nas mos de pessoas sem qualificao tcnica
ou conceitual. Nesse modelo, o projeto se torna totalmente essencial.
A necessidade de desenhos compreensveis do ponto de vista tcni-
co pode ser a base para que eles sejam confeccionados de acordo
com o planejado.
Cabe ressaltar que todas as etapas no processo de desenvol-
vimento de coleo se tornam necessrias e fundamentais para que o
projeto seja finalizado de forma adequada aos processos industriais.
A presena do designer de moda em cada etapa do processo de
criao fundamental para que o conceito da coleo fique intacto du-
rante todo o percurso de sua construo e para as tomadas de deci-
so referentes a ajustes de ordem tcnica e ou txtil.
Por isso, a mudana de atitude do designer de moda mais pre-
ocupado com obras nicas sem compromisso com a reproduo, deve
caminhar para um comportamento mais adequado ao processo indus-
trial, de acordo com o conceito do profissional de design, preocupado
com as questes objetivas e especficas do objeto (Pires, 2010: 30).
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O olhar do modelista
2.2 Desenho de moda e modelagem
Captulo 2
Figura 28 - Busto paramoulage, ESMOD (2011)
O conhecimento do corpo humano para os modelistas fun-
damental, e o ponto de partida para a construo de toda coleo.
Cada empresa ou profissional possui tabelas de medidas de acordo
com cada segmento de moda que ser trabalhado (Dinis; Vascon-
celos, 2009). Essas medidas sero os parmetros a serem seguidos
para que os modelos estejam de acordo com um corpo aproximado
aos consumidores que vestiro a coleo.
Nos manequins ou busto de moulage (ver glossrio) utiliza-
dos para modelagem de colees para alta costura e para produo,
as medidas so estudadas e definidas de acordo com o biotipo da
populao em que a coleo ser comercializada.
De acordo com Radicetti (2011), os manequins femininos que fabri-
ca so utilizados em diversas escolas e empresas e foram desenvolvidos
com base na mdia das medidas da populao feminina brasileira.
Em escolas nacionais, no ensino do desenho tcnico de moda,
frequente a construo de corpos geomtricos com medidas que
no tm base cientfica em pesquisas como as que foram realizadas
para os manequins de moulage, pois at o momento no h um
estudo aprofundado que valide essa construo.
Esses corpos geomtricos (ver glossrio) so construdos pelos
prprios alunos a partir de diversas tabelas de medidas desenvol-
vidas para a modelagem plana e no para a construo corprea
tridimensional.
Os manequins em relao ao corpo, esquerda na figura 28,
esto distantes do que se pode considerar um corpo humano: eles
tm sua estrutura bastante modificada pela falta de base corporal
em sua construo, assim como a mistura de conceitos ilustrativos
e tcnicos, resultando em um modelo que no chega a ser tcnico
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Figura 29 - Anlise da proporohumana (Istockphoto) em relao acorpos geomtricos utilizados emescolas de moda
Figura 30 - Anlisede vesturio sobre o
corpo humano (Fineart)em relao ao corpo
geomtrico utilizado emescolas de moda
nem ilustrativo. Esse manequim utilizado para a construo das
colees sem uma proporo equivalente ao corpo humano.
O vesturio desenhado sobre esses corpos geomtricos estaro
distantes da proporo a ser desenvolvida na modelagem, que utilizar
medidas do corpo humano biolgico para sua construo no papel de
modelagem ou no manequim para moulage. Na figura a seguir observa-
se uma anlise sobre as diferenas em relao ao corpo fisico e o corpo
geomtrico, e como o vesturio no se encaixa no corpo geomtrico
(imagem central). As especificaes do modelo sobre o corpo geomtrico
no esto de acordo com o que se v na cala sobre o corpo humano.
Os modelistas, quando recebem desenhos tcnicos (como na
imagem direita na figura 28), seguem seus conhecimentos sobre a
modelagem, pois o desenho no define com preciso o modelo da
cala em relao cala real.
(...) todos os que pretendem dominar o projeto do ves-
turio devem adquirir a noo de escala, propores e
dimenses do corpo. Para que o vesturio se ajuste e
se mova em harmonia, o designer de moda precisa ter
conhecimento bsico sobre anatomia, a estrutura, os
movimentos, a forma e as medidas do corpo (Boueri,
2010: 347).
A falta de parmetro em relao a realidade do corpo huma-
no modifica de forma considervel o desenho de moda feito sobre ele.
Cabe a interpretao de modelistas para aproximar o desenho do desig-
ner de moda s medidas desenvolvidas na modelagem plana, com base
nas medidas de um corpo humano real.
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Figura 31 - Juliana Guo
Em entrevista com Janine Niepceron, precursora do mtodo de
moulage no Brasil (Anais do P&D, 2002), percebe-se uma animosidade
entre o designer de moda profissional, criador responsvel pelo projeto
a ser reproduzido, e os modelistas, vistos como operrios responsveis
pela produo da coleo.
Niepceron conta que em seu trabalho em uma das empresas em
que presta consultoria, o designer de moda faz rapidamente alguns tra-
os em um movimento aproximado aos feitos com pincel de um artista
e assim, define o croquis. Esse desenho utilizado como projeto para o
traje, traduzido para os tecidos a serem modelados sobre o manequim.
O croquis (ver glossrio) ter uma liberdade gestual, bastante
distanciada da proporo a ser ajustada ao corpo do manequim. Este,
desenvolvido com base no corpo humano, passar pelas mos e per-
cepo da modelista. Caber a ela os ajustes necessrios para que o
conceito definido no trao rpido do designer de moda se aproxime de
uma proporo vestvel de acordo com a proporo humana e questes
relacionadas ao design.
Ao contrrio da Europa, no Brasil a modelagem se desvinculou
do conhecimento necessrio ao designer de moda como profissional
responsvel pela coleo. Niepceron diz que na Academia francesa onde
estudou, os designers de moda aprendiam, entre diversas disciplinas
(conceito, desenho, costura), como modelar. Por isso, quando desenha-
vam, mesmo que esses desenhos fossem apenas esboos do que preten-
diam para sua coleo, os designers finalizavam o traje e eles mesmos
colocavam os tecidos a serem trabalhados sobre o manequim (Niepce-
ron, 2011).
Na rea de contato entre designers de moda e modelistas po-
deria haver uma interface em que ambos cruzassem conhecimentos e
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Figura 32 - Croquis da designer de modaSophie Hulme
habilidades. Assim como o modelista poderia compreender as questes
relacionadas ao conceito definido para a criao das colees, o desig-
ner de moda poderia se aproximar das questes da modelagem para
compreender a necessidade de desenvolvimento de projeto baseado em
um modelo compreensvel, com ou sem sua presena.
No atual processo de confeco utilizado por uma boa parte
das empresas brasileiras, o envio de desenhos de moda para confeco
fora do Brasil uma realidade. Por questes comerciais, mo de obra
especializada e busca de matrias-primas diferenciadas, pases como
China, ndia e vrios outros, recebem esses desenhos que precisam ser
interpretados para sua construo.
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Quando a produo de uma empresa se internacionaliza,
qualquer canal que se considere oportuno para vencer as
barreiras do idioma pode oferecer maneiras muito efeti-
vas para acelerar o processo de produo e eliminar erros
causados por confuses. O desenho um meio de comu-
nicao universal, uma linguagem visual que faz tudo mais
fcil (Szkutnicka, 2010: 9).
H empresas como a Penalty que enviam um profissional, ge-
rente de produto ou diretor criativo, para acompanhar os modelos nes-
ses pases, com o objetivo de garantir que a coleo seja desenvolvida
de acordo com o que foi planejado pela equipe de criao.
Em outras empresas como a M5, conforme entrevista com
Niepceron, os desenhos enviados so anexados aos prottipos desen-
volvidos em tecidos, com todos os detalhes necessrios sua confeco,
inclusive modelagem plana em papel.
De acordo com a definio de Christo, o estilista um profis-
sional criativo e livre para conceituao de um objeto desvinculado das
questes que envolvem mercado: um sujeito dedicado a criar peas ni-
cas (Christo 2010). Nesse caso, apresentar o croquis para modelistas
ser suficiente, caso ele acompanhe o processo de modelagem at sua
finalizao.
Durante o desenvolvimento da coleo, o estilista precisar do
apoio da modelista, pois ser um trabalho em conjunto, no s na tcni-
ca, mas tambm na concluso de suas ideias. Conforme entrevista com
Yaeko Yamashita, professora de moulage na Faculdade Santa Marcelina,
pode-se dizer que nesse formato de trabalho, a modelista atuar como
coautora do projeto de coleo, pois participar do processo de criao,
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discutida em reunies entre modelistas e designers de moda.
As dificuldades que surgem nessa relao de coautoria se tor-
nam mais crticas quando o desenho feito pelo designer de moda possui
tendncias ilustrativas. A ilustrao ensinada nas escolas de moda de-
senvolvida pelos alunos, assim como por profissionais, com o objetivo de
apresentar os modelos e o conceito da coleo. Ao contrrio dos croquis,
um desenho finalizado com diversas tcnicas de pintura, tradicionais
ou digitais, e so utilizadas para destacar o caimento dos tecidos, a
inspirao e a proposta da coleo que so apresentadas.
s vezes, essas ilustraes possuem detalhamento tcnico e em ou-
tros momentos no. Os profissionais de modelagem precisam compreend-las
para o desenvolvimento dos modelos, sem se distanciar da ideia do designer
de moda.
Rodrigues (2011) trabalha como modelista na sua empresa, Ris-
ca 3, especializada na modelagem e confeco de modelos exclusivos
normalmente apresentados aos seus clientes a partir de desenhos ilus-
trativos. Ela tem se dedicado confeco de trajes de alunos em final
de concluso de cursos das faculdades de moda em So Paulo e em
vestidos para festas e eventos.
A modelista faz o primeiro contato com seus clientes para defi-
nir verbalmente quais so os volumes, propores ou recortes, quando
estes itens no foram detalhados nos desenhos recebidos.
Um primeiro prottipo desenvolvido para apresentar aos seus
clientes, que s conseguem uma boa comunicao com a modelista a
partir desta primeira etapa, e comum que essas peas teste, tambm
chamadas de peas-piloto, sejam refeitas at cinco vezes a partir da pri-
meira confeco para atingir o conceito definido pelos designers de moda,
quando no especificam em detalhes o que querem para suas colees.
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Figura 33 - TCC SENAC,Lemos (2010)
Figura 34 - Ilustrao, TCCSENAC, Lemos (2010)
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Todos os aviamentos, tecidos e funcionalidade do modelo so
definidos na maioria das vezes por Rodrigues para que ele seja vestvel
e esteja de acordo com o que foi solicitado pelo seu cliente.
A partir do seu conhecimento em modelagem, Rodrigues faz todos
os ajustes necessrios de acordo com os materiais definidos para o modelo
pelo seu cliente, com o objetivo de se aproximar do desenho recebido.
Na figura 34, veem-se algumas alteraes no modelo final para que
ele possa ser modelado e confeccionado. Essa proposta de trabalho s
possvel com uma comunicao bem prxima entre designers de moda e
modelistas, e as concluses so realizadas pelos dois profissionais.
O desenho ilustrativo da figura 34 no est adequado para seu desen-
volvimento distante do modelista. Ele no possui detalhamento dos materiais,
no tem definido onde o fechamento do vestido, no tem o desenho das costas,
e sua proporo est em desacordo com as medidas do corpo humano.
comum nas empresas de confeco que os modelistas re-
solvam os problemas com relao as propores humanas e definam
as questes relacionadas funo dos modelos. Na prtica e com a
responsabilidade de que os desenhos se tornem peas que vistam um
ser humano, recair sobre o modelista a funo de traduzir e resolver
qualquer problema que possa surgir pela falta de informaes que o
designer de moda possa no ter indicado nas fichas-tcnicas.
Muitas vezes, as empresas no percebem a importncia dessas
informaes e acreditam no ser necessrio ter algum que possa ge-
renciar ou facilitar a comunicao entre profissionais ou propor solues
em relao comunicao entre as equipes.
Como dito, com a globalizao, a produo de modelos de ves-
turio se tornou possvel em diversos pases e precisa de um projeto
acompanhado de todas as especificaes necessrias para a confeco.
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Esses desenhos precisam partir do princpio que outras pessoas pode-
ro interpret-los de forma diferente do que foi planejado inicialmente.
Designers de moda com experincia nesse formato de trabalho precisam
encontrar uma representao grfica que gere o menor nmero de dvidas poss-
vel e que atenda s necessidades das empresas que recebem esses desenhos.
Outros aspectos relevantes esto relacionados ao envio desses
materiais para as empresas. A computao grfica e a internet tm
sido aliadas importantes no desenvolvimento dessa linguagem contem-
pornea. Nesse novo olhar, de acordo com as novas tecnologias, as so-
lues digitais tm sido uma tima opo para o desenvolvimento de
mtodos e formatos de trabalho que atendam as equipes nas confec-
es desde o processo criativo at a concluso da coleo.
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O olhar digital
3.1 Desenho digital de moda
Captulo 3
H alguns anos, pensar no desenho de moda como algo re-
lacionado ao que se aprendia apenas a partir de tcnicas ilustrativas,
com lpis, papel e canetas coloridas, era suficiente para que ele fosse
utilizado tanto para aprovao dos modelos criados para a academia de
moda quanto para as empresas de confeco. O inconveniente dos de-
senhos tradicionais feitos no papel era quando precisavam ser enviados
rapidamente para confeces distantes dos escritrios de criao, pois a
tecnologia disponvel, como o fac-smile, no possibilitava que as cores
fossem mantidas no documento enviado.
At ento, no h uma ampla bibliografia no Brasil com estu-
diosos interessados nas tecnologias digitais e na possibilidade de apre-
sentao de desenhos de moda para colees, com base na comunica-
o entre profissionais em programas digitais.
Em 1993, a Faculdade Santa Marcelina ofereceu aos seus alu-
nos um dos primeiros cursos de extenso em desenho digital de moda
intitulado Informtica x Moda. Esse curso est entre um dos primeiros
dedicados ao ensino da computao grfica para moda no pas utilizan-
do o CorelDRAW III .
Ainda com grandes dvidas sobre o que seria importante ofe-
recer como contedo aos alunos, o curso, ministrado pela pesquisadora
priorizava o ensino do desenho planificado dedicado confeco da
coleo que deveria ser apresentada como projeto final pelos alunos.
A partir de pesquisas e de aulas de desenho de moda em tcnicas tradi-
cionais, a pesquisadora deu incio ao ensino do desenho na Faculdade
Santa Marcelina e SENAC, utilizando o conceito direcionado ao desenho
tcnico.
Durante alguns anos o desenho foi feito manualmente, com caneta pre-
ta, para depois ser digitalizado e finalizado em programas grficos. A
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Figura 35 - Desenho tcnico planificadoda camisa de goleiro da Adidas
(Catlogo Adidas, 1995)
partir de referncias vistas em catlogos e visitas a outros pases, deu-se
inicio ao desenho feito totalmente no computador com a utilizao de
programas vetoriais (ver glossrio).
Sobre a figura 35, ao iniciar a criao de camisas esportivas na
empresa esportiva Rhumell (2000), houve a necessidade do desenvol-
vimento do desenho tcnico em tamanho natural para poder definir a
localizao exata de estampas, do posicionamento das etiquetas, distin-
tivos e gales (ver glossrio) na camisa. Todos os elementos definidos
para o modelo tambm foram desenhados em tamanho natural para
que fossem enviados s empresas fabricantes.
A partir da medio de peas prontas e das bases de modela-
gens, os modelos foram construdos diretamente em programas grfi-
cos. As medidas e distncias dos elementos faziam parte do projeto. As
camisas, desenvolvidas em empresas espalhadas pelo pas, precisavam
ter o desenho feito de forma clara e especifica para que as equipes res-
ponsveis por sua confeco compreendessem o modelo, na ausncia
da designer de moda.
Nesses projetos, o corpo humano estava ausente, e todos os
desenhos eram feitos a partir da modelagem plana realizada com base
nas medidas do corpo humano fsico. Aps a transferncia do desenho
em tamanho natural para o computador, a pesquisadora desenvolveu
um mtodo de trabalho que reduzia o modelo e todos os elementos nele
contidos para uma proporo que coubesse em uma folha de tamanho
padro (formato A4). Dessa forma, era possvel saber, antes da con-
feco do modelo, como e onde ficariam todas as etiquetas e detalhes
definidos pela designer na camisa.
Esse mtodo de trabalho criado pela pesquisadora foi bem acei-
to pelas confeces para quem ela prestava consultoria, e se desenvol-
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Figura 36 - Camisa 1 do time defutebol Palmeiras, El Camarena
(2000)
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Figura 37 - Puls , (2008)
veu sem a necessidade de sua presena em quaisquer das etapas de
produo do modelo. O resultado da pea confeccionada foi bastante
aproximado do conceito definido em seu projeto.
Com base na observao de peas fsicas, na transferncia para
o meio digital das medidas dos modelos, assim como de todos os avia-
mentos e etiquetas em tamanho natural, foi possvel a construo pla-
nificada da camisa de forma que pudesse ser compreendida pelas mo-
delistas e pela linha de produo. A pesquisadora acredita que se nesteformato de trabalho estiver incluso a modelagem plana (ver glossrio)
do modelo, o resultado poder ser mais preciso em relao a ideia inicial.
Diversos pesquisadores no meio acadmico e profissional tm
buscado caminhos para que o desenho de moda acompanhe as neces-
sidades tcnicas necessrias ao seu desenvolvimento nas confeces.
Puls (2008) apresenta outro formato de corpo para o desenho
tcnico de moda. Em suas pesquisas, ela planifica o corpo humano pre-
parando-o como base para o desenho tcnico do vesturio.
A partir de pesquisas junto a alunos da Universidade do Estado
de Santa Catarina onde Puls leciona, foi construdo um corpo com base
nas medidas de peas de vesturio e nas normas estabelecidas pela
Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). O resultado foi um
corpo que no corresponde proporo corprea fsica. Ele representa
as peas de vesturio que sero desenhadas sobre ele como se estives-sem em uma superfcie plana. um mtodo baseado na modificao do
corpo para adequ-lo a uma proposta de planificao.
Essas pesquisas trazem inovaes no desenho de moda e do
corpo ao buscar formatos que se aproximem da mesma planificao
ocorrida na modelagem plana (ver glossrio).
Na moulage existe o corpo fsico como base para o projeto. O
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papel ou tecido precisa envolv-lo para que a pea de vesturio seja
construda. Na modelagem plana existem regras de construo que pre-
viamente planificaram o corpo para que o vesturio seja modelado sem
sua presena.
A busca por um desenho de moda a partir de uma base corporal,
tem sido o objeto de estudo de diversos acadmicos da rea de moda.
Essa busca tem sido feita tambm pelos profissionais que utilizam a
computao grfica na construo de corpos e colees.Os corpos e desenhos feitos em tcnicas tr
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