Comando de produção textual: influências do professor no processo de escrita do
estudante1
Nayara Emidio de Lima
(Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR/Campo Mourão)
Orientadora: Adriana Beloti
(Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR/Campo Mourão)
Resumo: Neste trabalho, tratamos dos encaminhamentos dados a estudantes para a realização
de produções textuais escritas. Objetivamos refletir sobre um comando de produção,
observando quais elementos o constituem e de que forma interferem na escrita dos estudantes.
Para tanto, pautamo-nos nas discussões sobre gênero discursivo, propostas por Bakhtin (2003),
nas reflexões acerca do processo de escrita, conforme Geraldi (2004) e Menegassi (2016), e
nos trabalhos de Geraldi (1997) e Menegassi (2011) em relação às condições de produção. Para
a realização da pesquisa, analisamos o comando para produções textuais escritas do gênero
discursivo Resumo, realizadas em 2016, por uma turma de sétimo ano do Ensino Fundamental
II, observando sua composição, de que forma orienta os estudantes nas etapas do processo de
escrita e, por fim, como os mesmos respondem à proposta em suas produções. Os resultados
evidenciam que o comando de produção orienta de forma adequada o processo de escrita, pois
apresenta os elementos necessários para dar aos estudantes condições à produção de textos
mais completos e adequados à situação de interação verbal social. No entanto, constatamos,
nos textos dos alunos, inadequações quanto ao gênero, à finalidade e a outros elementos, logo,
não há atendimento total do que foi estabelecido.
Palavras-chave: Comando de produção; condições de produção; processo de escrita;
interações.
Abstract: In this work, we treat about the commands that are given to students for performing
textual written productions. We aim to reflect on a production command, observing which
elements compose it, and how they interfere in the writing of the students. To this end, we
conducted our work based in the discussions that were proposed by Bakhtin (2003) about the
discursive genre, in the reflexions about the writing process that were made by Geraldi (2004)
and Menegassi (2016), also in the work of Geraldi (1997) and Menegassi (2011) that refers to
the conditions of production. For this research, we analyse the command of productions of
Summary as a discursive genre, written by students of 7th grade of middle school, in 2016. We
observed its composition, how it guides the students on the steps that composse the writing
process and, finally, how they answer to the proposal in their productions. The result shows
that the command of production guides appropriately the writing process, because it presents
the elements that are necessary to give conditions of production to the students in more
complete texts and appropriate to the situation of verbal social interaction. However, we
observe in the texts of the students, inadequacies as to the genre, purpose and other elements,
so there is no complete fulfillment of what has been established.
Key-words: Command of production; conditions of production; writing process; interactions.
1 Este trabalho é parte da pesquisa desenvolvida no Programa de Iniciação Científica da Unespar, entre
agosto/2016 e julho/2017, com apoio financeiro da Fundação Araucária do Paraná.
Considerações iniciais
As práticas de escrita desenvolvidas no ensino de Língua Portuguesa na Educação
Básica precisam, ao longo do trabalho, dar condições para que os estudantes produzam seus
textos de forma adequada à situação de produção proposta. Para o momento de escrita,
especificamente, é fundamental que os estudantes recebam informações e orientações quanto
a elementos que estão relacionados à determinada situação de produção, pois, assim, têm
encaminhamentos de como escrever seus textos ao considerar tais elementos. Portanto, este
trabalho trata dos encaminhamentos dados a estudantes para a realização de produções textuais
escritas. Objetivamos refletir sobre um comando de produção, observando quais elementos o
constituem e de que forma interferem na escrita dos estudantes.
Para o estudo, pautamo-nos nas discussões sobre gênero discursivo, propostas por
Bakhtin (2003), nas reflexões acerca do processo de escrita, conforme Geraldi (2004) e
Menegassi (2016), e nos trabalhos de Geraldi (1997) e Menegassi (2011) em relação às
condições de produção. A análise teve como foco o comando para produções textuais escritas do gênero discursivo Resumo,
realizadas em 2016, por uma turma de sétimo ano do Ensino Fundamental II de um colégio da rede estadual de Campo
Mourão. O comando de produção e os textos dos estudantes foram disponibilizados pela
professora da turma. Na análise, observamos a composição do comando de produção, de que
forma orienta os estudantes nas etapas do processo de escrita e, por fim, como os mesmos
respondem à proposta em suas produções.
O processo de escrita
As práticas de escrita na Educação Básica devem ser pautadas em uma vertente
processual, da escrita como trabalho (FIAD; MAYRINK-SABINSON, 1991), na qual a escrita
é considerada como uma atividade processual de interação verbal entre sujeitos e de diálogo,
pela produção de texto ser a “[...] devolução da palavra ao sujeito [...]” (GERALDI, 2004, p.
20). Essa atividade “[...] envolve momentos diferentes, como o de planejamento de um texto,
o da própria escrita do texto, o da leitura do texto pelo próprio autor, o das modificações feitas
no texto a partir dessa leitura (FIAD; MAYRINK-SABYNSON, 1991, p.55), ou seja, nessa
perspectiva, o processo de escrita envolve etapas processuais e recursivas, as quais possibilitam
ao texto tornar-se um lugar de interação entre aluno e professor e ao produtor ter condições de
escrevê-lo de forma adequada à situação de produção. No decorrer do processo de escrita, essas
etapas podem ocorrer em diferentes momentos, visto que não são rigidamente estabelecidas e
devem ser organizadas de modo a atender às necessidades de cada produtor.
A etapa do planejamento consiste no momento em que o produtor reflete acerca da
proposta de escrita e pensa sobre o que irá escrever, determinando e organizando informações
importantes e necessárias para apresentar em seu texto. Em seguida, há a execução da escrita,
etapa na qual o produtor escreve o texto, tendo com base o que fora planejado, bem como as
condições de produção previamente determinadas. Após, ocorre a etapa da revisão, em que se
realiza a leitura do texto objetivando verificar se este está adequado, linguística e
discursivamente, à situação de interação verbal social, isto é, “[...] o produtor atenta para a
forma e o conteúdo do texto, em um processo de interação [...]” (MENEGASSI, 2010, p. 91).
Posteriormente, acontece a etapa da reescrita, por meio da qual o texto pode sofrer
modificações quanto aos aspectos linguístico-discursivos observados na revisão.
Seguindo a perspectiva processual, é fundamental que sejam propostas reais
necessidades para a escrita e dadas condições aos estudantes ao longo do processo de produção
textual, para que, na escrita, tenham o que dizer, porque dizer, como dizer e para quem dizer
(GERALDI, 1997). Ademais, pensando em todas as etapas de escrita, o aluno precisa receber
uma orientação que possibilite “[...] a realização de um texto mais completo, dentro de um
contexto sociocomunicativo determinado.” (MENEGASSI, 2010, p. 81). Essa orientação, em
geral, é dada em um comando de produção textual, que deve ser constituído pelas condições
de escrita de um texto, cujos elementos são relacionados à determinada situação de interação
verbal.
Esses elementos são essenciais para o processo de produção, pois norteiam o produtor
em relação ao planejamento e escrita, assim como revisão e reescrita. No contexto de ensino,
é o material didático ou o professor quem “[..] deve delimitar as condições de produção do
texto, para que o estudante saiba de qual posição enunciará e para quem, com qual finalidade
o fará.” (BELOTI, 2016, p. 27). Dessa forma, o comando de produção, que encaminha o
processo de escrita, deve ser composto por seis elementos: finalidade, interlocutor, gênero
discursivo, circulação social, suporte textual e posição do autor (MENEGASSI, 2011), os quais
orientam o estudante, o permitem afastar-se de mera reprodução de normas gramaticais e
assumir a posição de sujeito produtor de textos na prática de escrita.
A finalidade consiste em para que fim o texto será escrito e com qual objetivo. A partir
da finalidade estabelecida no comando, é apresentado ao produtor um motivo para escrever e,
com isso, este passa a refletir acerca do que pode expor em sua produção textual, configurando
uma escrita “[...] que permite a formação e o desenvolvimento de sujeitos que se tornam autores
de seus próprios textos.” (MENEGASSI, 2011, p. 103), que expõem não apenas ideias e
informações já ditas, mas suas marcas como sujeito e relações com sua realidade. Em contexto
de ensino, apesar da apresentação de uma finalidade, consideramos que a produção textual,
geralmente, torna-se artificial e hipotética, pois, dificilmente, o aluno escreve aquilo que
acredita ou deseja conforme uma finalidade de uso da linguagem, de fato, e, então, a finalidade
volta-se ao objetivo de cumprir o planejamento do professor e o texto serve de instrumento de
avaliação. No entanto, Menegassi (2011) discute a necessidade de amenizar esses fatores, para
que o estudante não compreenda a escrita como obrigação ou mera avaliação, mas como espaço
para agir e interagir como sujeito ativo na sociedade, pois, desse modo, deixa de ser uma
atividade destinada somente para a escola e configura-se como atividade para desenvolvimento
do estudante no ambiente escolar.
O interlocutor, outro elemento das condições de produção, é o sujeito para quem o texto
é dirigido, a quem o produtor expõe ideias, informações, comenta, posiciona-se, argumenta no
texto. Menegassi (2011) discute três perspectivas de interlocutor, com base nas proposições de
Bakhtin/Volochinov. O primeiro tipo de interlocutor é o “real”, aquele de quem o produtor
possui uma imagem física e que está presente no momento de produção textual. O interlocutor
“virtual” é o imaginado, que tem uma imagem construída pelo estudante. Pode ser um
interlocutor desconhecido, mas que interfere diretamente na escrita, pois o estudante “[...] tem
a consciência de que esse interlocutor já traçou algumas regras de produção que devem ser
seguidas para que se tenha um bom texto”. (MENEGASSI, 2011, p. 105). O terceiro tipo de
interlocutor, denominado “superior”, consiste em um representante oficial que estabelece
padrões e regras seguidos no meio social em que o produtor está inserido, ou seja, é aquele que
“[...] determina as formas de dizer e como dizer.” (MENEGASSI, 2011, p. 106).
O gênero discursivo estabelece qual texto deve ser produzido e é definido em função
da finalidade e dos interlocutores, como aponta Menegassi (2011). Os gêneros discursivos,
definidos por Bakhtin (2003, p. 262) como “[...] tipos relativamente estáveis de enunciados
[...]”, possuem conteúdo temático, construção composicional e estilo de linguagem, elementos
que se relacionam diretamente a eles e que são determinados pelos campos de utilização da
língua. Portanto, as finalidades, funções e características próprias configurarem-se conforme
cada gênero discursivo. O conteúdo temático consiste na temática definida para o gênero, uma
vez que nem todas as temáticas podem ser abordadas em qualquer gênero. A construção
composicional determina a estrutura, definida socialmente, que deve ser seguida no gênero
discursivo. Por fim, o estilo de linguagem diz respeito às escolhas e adequações linguísticas
que devem ser realizadas pelo produtor devido às especificidades do gênero discursivo.
Outro elemento das condições de produção é o suporte textual, o qual configura o
veículo em que o texto circula em determinado espaço, ou seja, é o “[...] portador textual do
texto que será produzido.” (MENEGASSI, 2011, p. 108). A circulação social pode ser
compreendida como o lugar social determinado para a circulação do texto, ou seja, “[...] por
quais meios ele chegará ao seu interlocutor [...]” (MENEGASSI, 2011, p. 108). Por Fim, a
posição do autor é “[...] definida através de marcas linguístico-discursivas expressas no texto
produzido.” (MENEGASSI, 2011, p. 108), assim, o produtor marca sua autoria quando assume
o que escreve, ao demonstrar sua subjetividade e suas impressões sobre o tema tratado no texto,
marcando o lugar social de onde enuncia, a partir dos elementos estabelecidos no comando de
escrita.
Contemplar esses elementos nas práticas de escrita e estabelecê-los no comando de
produção implica na escrita dos alunos, pois, por meio desses elementos, o estudante pode
produzir textos mais adequados à situação de interação verbal social, visto que são essas
condições que encaminham toda a escrita, direcionando para o que, como, porque e para quem
(GERALDI, p. 1997) o texto é escrito.
Procedimentos metodológicos
Neste estudo, analisamos um comando de produção e produções textuais escritas do
gênero discursivo Resumo, a fim de discutir, por meio da composição do comando e dos textos
produzidos, como esse orienta os estudantes nas etapas do processo de escrita. Os textos
utilizados para a análise foram produzidos por uma turma do 7° ano do Ensino Fundamental
II, de um colégio da rede estadual de Campo Mourão. A professora da turma, após uma
entrevista, disponibilizou esses textos. A entrevista foi realizada por meio de questões objetivas
e dissertativas, buscando verificar as concepções da professora acerca da escrita e obter
informações que possibilitassem compreensão sobre o processo de produção textual escrita do
Resumo, para que, assim, fosse possível analisar as práticas e suas influências no processo de
ensino e na aprendizagem.
O processo de produção textual do Resumo ocorreu durante os meses de junho, julho e
agosto de 2016. Na entrevista, a professora informou que houve trabalho com os estudantes
sobre o gênero, suas funções e finalidade, características, assim como leitura de textos e
atividades de produção de resumos anteriormente ao processo de escrita. A escrita dos
estudantes consistiu na leitura do conto A Doida, de Carlos Drummond de Andrade, presente
no Livro Didático (LD) da turma (CEREJA; MAGALHÃES, 2012), realização de atividades
de interpretação propostas no LD e, por fim, escrita do Resumo, direcionada pelo comando de
produção, produzido pela professora para encaminhar o processo de produção de texto. Após
a produção, os resumos foram entregues à professora, que os revisou em seu turno de correção,
para encaminhar à revisão e à reescrita do texto pelos estudantes.
Neste trabalho, analisamos o comando de produção e sua composição, bem como as
produções escritas realizadas pelos vinte e seis estudantes2 da turma. No entanto,
apresentaremos o processo de produção de dois estudantes, selecionados aleatoriamente, para
serem analisados e discutidos, considerando as orientações do comando e as duas versões dos
textos. Buscamos observar a composição do comando, para verificar se apresenta todos os
elementos das condições de produção. Posteriormente, analisamos, na primeira versão da
produção escrita, de que forma se configurou a escrita dos estudantes neste momento inicial
quanto ao atendimento ao comando de produção e seus elementos. Ademais, observamos os
apontamentos da professora, a fim de compreender como interferiram na revisão e reescrita
dos estudantes para adequação dos textos à situação de interação verbal social. Assim, pudemos
discutir as contribuições do encaminhamento de produção para o processo de escrita dos
estudantes.
Condições de produção no comando de escrita
Para encaminhar o trabalho de escrita na turma, a professora apresentou o seguinte
comando de produção produzido por ela:
2 Na turma, vinte e nove estudantes produziram o Resumo, mas três deles não realizaram as etapas de revisão e
de reescrita dos textos. Por compreendermos a escrita como um processo, retiramos da pesquisa esses três
estudantes, pois, devido à ausência da segunda versão do texto, não seria possível analisar o processo de escrita
de forma completa.
Enquanto estudante do sétimo ano, após ter estudado o gênero Resumo em
sala de aula e ter lido o conto “A Doida”, de Carlos Drummond de Andrade
(páginas 124 a 127 do Livro Didático), produza um Resumo, de 10 a 15
linhas, para demonstrar sua capacidade de compreensão e síntese de ideias. A
sua produção servirá como diagnóstico para o projeto “Letramento, leitura e
escrita” do Colégio Estadual Marechal Rondon.
Não se esqueça de usar os verbos no passado, citar o título do conto que foi
resumido e o seu autor. Lembre-se, também, de apresentar apenas as
informações mais importantes. Além disso, veja se o seu resumo apresenta a
mesma ordem dos acontecimentos do conto e cuide da pontuação e ortografia.
Os estudos que discutem sobre comandos de escrita propõem que este deve ser
composto pelos elementos das condições de produção: finalidade, interlocutor, gênero
discursivo, suporte, circulação, posicionamento social, “[...] para que a escrita possa ser
consubstanciada como trabalho na sala de aula.” (MENEGASSI, 2016, p. 206). Analisando o
comando produzido pela professora da turma para a escrita do Resumo, podemos observar os
seis elementos sendo considerados, ainda que não estejam explicitamente marcados.
A finalidade, primeiro elemento das condições de produção do texto, que apresenta a
razão de tal proposta de escrita para o aluno, está marcada no trecho “[...] para demonstrar
sua capacidade de compreensão e síntese de ideias.”. Assim, ao ler o comando, o aluno pode
compreender o porquê de escrever e também o que deve expor em seu texto: a compreensão
do Conto e capacidade de síntese. Analisando a finalidade, observamos que a escrita do texto
está diretamente direcionada à escola e ao cumprimento de uma atividade previamente
planejada e determinada, distanciando-se de uma escrita que cumpre funções sociais e
comunicativas, isto é, de uma atividade interativa relacionada aos contextos sociais em que os
alunos atuam. O segundo elemento, interlocutor, está delimitado em “A sua produção servirá
como diagnóstico para o projeto ‘Letramento, leitura e escrita’ do Colégio Estadual Marechal
Rondon.”. Não se trata de um interlocutor virtual, aquele que é geralmente apresentado nos
comandos, mas sim um interlocutor superior, uma vez que consiste em um projeto da
instituição de ensino. No momento da produção, é o professor quem está presente, tornando-se
o interlocutor real do estudante, diretamente relacionado a esse interlocutor superior
delimitado. Dessa forma, os alunos escreverão tendo o professor como primeiro e principal
interlocutor, principalmente devido ao processo de revisão e de reescrita. O gênero discursivo
destinado à produção está marcado na terceira linha do comando, em negrito, Resumo, e o
estudo prévio desse gênero é uma informação também enfatizada.
O suporte do texto, quarto elemento, pode ser compreendido no momento em que lemos
a informação “de 10 a 15 linhas” e também pelo comando ter sido apresentado na folha
entregue para os alunos produzirem seus resumos. A circulação do texto não está marcada,
especificamente, no comando, mas podemos depreender essa informação a partir do trecho que
delimita os interlocutores. O texto seria destinado ao projeto “Letramento, leitura e escrita”
do colégio, dessa forma, a circulação seria entre os professores participantes e demais
integrantes do projeto em questão. O último elemento, o posicionamento social, está delimitado
logo no início do comando. O produtor deve assumir a posição de “estudante do sétimo ano”
para escrever seu texto. Portanto, o comando de produção apresenta os seis elementos
necessários, possibilitando aos estudantes condições à produção de textos mais completos e
adequados à situação de interação verbal social, por orientar o produtor nas etapas de
planejamento, escrita, revisão e reescrita.
Faz-se válido destacar, ainda, que o comando apresenta, além dos seis elementos, outros
encaminhamentos aos estudantes. Podemos considerar que, em situação de ensino, seja
importante marcar outras informações, para melhor orientar os estudantes no processo de
escrita. A professora, logo no início, expôs “[...] após ter estudado o gênero Resumo em sala
de aula e ter lido o conto ‘A Doida’, de Carlos Drummond de Andrade (páginas 124 a 127 do
Livro Didático)”, marcando, assim, a realização de um trabalho prévio para dar condições aos
estudantes e, possivelmente, objetivando relembrá-los acerca desses estudos. Ademais,
evidencia o texto a ser resumido e as páginas em que consta no Livro Didático, possibilitando,
então, que os alunos retomem o Conto e o releiam caso julguem necessário. No segundo
parágrafo do comando de produção, a professora marca características específicas do gênero
Resumo, as quais foram estudadas anteriormente, para que os alunos as seguissem, a fim de
cumprir a finalidade da produção: demonstrar capacidade de compreensão e síntese de ideias.
Por fim, é acentuada a necessidade de se atentarem para pontuação e ortografia, aspectos que,
em séries iniciais do Ensino Fundamental II, apresentam recorrente inadequação, por
conseguinte, enfatizar isso também é importante.
Verificamos que o comando de produção orienta os estudantes nas etapas do processo
de escrita. Partindo disso, analisamos como os mesmos respondem à proposta em suas
produções, se há ou não atendimento dos elementos nos resumos. No que concerne à finalidade
do texto, não houve atendimento total dos alunos, como podemos observar no quadro abaixo.
Quadro 1: síntese numérica do atendimento ao elemento finalidade marcado no comando
de produção
1ª versão do texto – 26 alunos
Atendimento total Atendimento parcial Não atenderam
5 produções 11 produções 10 produções
Fonte: As pesquisadoras
Entre as 26 produções analisadas, apenas 5 atenderam à finalidade, demonstrando, já
na primeira versão, capacidade de compreensão e de síntese de ideias, ou seja, produziram
Resumos, considerando, entre outras características, as informações mais importantes
presentes no Conto, sem muitos detalhes, seguindo a ordem dos acontecimentos. O
atendimento parcial à finalidade, observado em 11 produções, ocorreu devido a quatro fatores:
apresentação de algum equívoco de leitura (incompreensão ou interpretação inadequada de
partes do texto), exposição de muitos detalhes sobre o Conto, ausência de informações
importantes e presença de cópia de trechos do texto base. Dessa forma, esses 11 alunos não
demostraram total capacidade de compreensão, no caso dos equívocos de leitura e cópia de
trechos, e de síntese de ideias, pelo excesso de detalhes ou falta de informações. Os trechos
apresentados a seguir exemplificam dois desses casos observados, em que mesmo com todo o
trabalho prévio realizado e as orientações do comando, a finalidade não foi cumprida:
Exemplo 1. Equívoco de leitura:
Exemplo 2. Cópia de trechos:
Em relação a esses 11 alunos que atenderam parcialmente à finalidade da proposta,
constatamos que, na segunda versão, a partir das intervenções da professora e de sua própria
revisão e reescrita, parte deles conseguiu adequar seus textos: 8 apresentaram adequações nos
textos por meio de modificações, mas 3 mantiveram os equívocos de leitura e a ausência de
informações importantes, ainda que apontamentos relacionados a esses aspectos tenham sido
realizados pela professora na primeira versão. Os exemplos abaixo apresentam trechos de um
texto que não atendeu à finalidade na primeira versão, pela ausência de informações
importantes e equívoco de leitura, mas por meio dos apontamentos de revisão da professora e
da revisão e reescrita do estudante foi possível fazer as adequações e, assim, cumprir a
finalidade da proposta de produção textual:
Exemplo 3. Estudante 1 – primeira versão do Resumo:
Exemplo 4. Estudante 1 – segunda versão do Resumo:
Os 10 alunos que não atenderam à proposta também tiveram seus textos revisados e
puderam fazer as adequações, contudo, apenas 5 textos foram adequados e passaram a cumprir
a finalidade, demonstrando compreensão e síntese, os demais continuaram apresentando cópias
do texto base, excesso de detalhes ou equívocos de leitura. Nos trechos abaixo podemos
perceber que, mesmo com os apontamentos da professora na primeira versão, o estudante
mantém parte do texto como cópia do Conto na reescrita, não demonstrando compreensão e
síntese:
Exemplo 5. Estudante 2 - primeira versão do Resumo:
Exemplo 6. Estudante 2 - segunda versão do Resumo:
A observação acerca do suporte, outro elemento das condições de produção, perpassa
as discussões sobre a finalidade, uma vez que, para demonstrar a capacidade de compreensão
e, principalmente, de síntese, o estudante precisaria produzir seu resumo entre 10 e 15 linhas
na folha entregue. Ultrapassar esse limite determinado também nos leva a constatar a falta de
atendimento da finalidade. Verificamos que 21 alunos respeitaram o limite de linhas na
primeira versão, mas 2 desses excederam 15 linhas ao reescreverem seus textos após as
intervenções da professora. Os demais estudantes, 5, ultrapassaram o limite de linhas na
primeira versão, porém, 4 realizaram as modificações e, na reescrita, apresentaram textos
adequados ao suporte, evidenciando a capacidade de síntese.
O atendimento ao gênero discursivo Resumo também está diretamente relacionado à
finalidade, pois, para que seja possível escrever um Resumo, é fundamental compreender o
texto base e ser capaz de sintetizá-lo. Contudo, faz-se pertinente analisar o atendimento das
características próprias do gênero: conteúdo temático, organização composicional e estilo de
linguagem, considerando os interlocutores, a circulação e o posicionamento social.
Ao analisarmos os textos, verificamos que todos os alunos atenderam à temática, isto
é, todos trataram do Conto “A Doida” em seus Resumos, mostrando que o conteúdo temático
próprio do gênero discursivo Resumo foi atendido. No que concerne à estrutura composicional
do gênero discursivo, entre os 26 alunos, 9 alunos atenderam de forma satisfatória, respeitando
as características do resumo, por exemplo, referência à obra resumida e ao seu autor e
apresentação das informações mais importantes. Desses, apenas 3 produziram textos completos
e adequados, considerando conteúdo e forma, os outros 6 alunos, apesar de seguirem a
estrutura, apresentaram inadequações no conteúdo, com cópias, equívocos de leitura ou falta
de informações importantes. Assim, refletir sobre esse aspecto é essencial, para não
focalizarmos apenas aspectos linguísticos ou estruturais em produções, pois não garantem um
texto discursivamente adequado à situação de produção proposta, como os resultados
evidenciaram.
Os 17 estudantes que não atenderam à estrutura do gênero puderam revisar e reescrever
seus textos e apresentá-los de forma mais adequada na segunda versão, por meio dos
apontamentos da professora. Ainda assim, 5 mantiveram parte das inadequações apontadas no
Resumo, ou seja, somente 13 realizaram alterações, tornando o texto mais adequado. Nos
excertos abaixo, podemos observar a ausência de referência ao texto resumido e ao autor,
característica própria do Resumo, que foi recorrentemente apontada pela professora por meio
do código 1 de revisão3.
Exemplo 7. Estudante 3 – primeira versão do Resumo:
3 A professora da turma utilizou uma tabela de revisão, produzida por ela especificamente para esta produção
escrita, com 14 códigos para revisar os textos dos alunos. Os códigos, marcados nos textos por meio de números,
são explicados na tabela e dizem respeito a aspectos gramaticais, linguísticos ou discursivos que precisam ser
adequados nos Resumos dos alunos.
Exemplo 8 – Estudante 3 – segunda versão do Resumo:
Para discutir sobre o estilo de linguagem apresentado nas produções, faz-se necessário
retomar outros elementos marcados no comando. O produtor deveria assumir a posição de
estudante do sétimo ano, portanto, não se espera o uso de uma linguagem tão rebuscada como
aquela apresentada no conto literário. Ademais, a circulação dos textos seria no projeto da
instituição de ensino, o que estabelece professores e demais participantes como interlocutores,
logo, a linguagem utilizada deveria ser formal. Analisando as produções, verificamos que 15
estudantes utilizaram uma linguagem adequada à situação, considerando, assim, os
interlocutores e a circulação. Entre os outros 11 alunos, 4 apresentaram linguagem informal,
com muitas inadequações de ortografia e concordância de acordo com as regras da gramática
tradicional, e 7 alunos por copiarem muitos trechos do Conto, fizeram uso de termos e
expressões rebuscadas e linguagem própria da literatura, por vezes poética, desconsiderando
as posições que deveriam assumir no momento de produção do texto.
Considerações finais
As discussões apresentadas neste trabalho evidenciam que o comando de produção
proposto na prática de produção textual orienta de forma adequada o processo de escrita, uma
vez que apresenta os elementos necessários para dar aos estudantes condições à produção de
textos adequados à situação de interação verbal social, considerando os elementos demarcados
para a produção. Ademais, as outras orientações expostas pela professora no comando, quanto
à realização do estudo prévio, localização do texto a ser resumido e características específicas
do gênero, também contribuem para a escrita, pois retomam aspectos importantes, que devem
ser considerados pelos alunos no momento de produção do texto.
Pudemos constatar, ainda, que apesar de o comando estar adequado no que diz respeito
à presença dos seis elementos das condições de produção (MENEGASSI, 2011), os textos dos
alunos não atendem totalmente à proposta, devido às inadequações, principalmente, no que se
refere à finalidade e ao gênero discursivo. No entanto, a realização das etapas de revisão e de
reescrita foi fundamental no processo, visto que possibilitou que os textos dos estudantes
fossem revisados para melhor atender à situação de escrita proposta.
Dessa forma, destacamos que encaminhar a escrita por meio de um comando adequado
é essencial para dar ao produtor condições para escrever, contribuindo com o processo de
produção textual, mas não assegura a adequação do texto à situação de interação verbal social.
Assim, as etapas de revisão e de reescrita configuram-se como fundamentais nesse processo,
pois, por meio de sua realização, o estudante pode adequar seu texto ao comando de produção
e aos elementos nele estabelecidos.
Referências
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Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. 7. ed. reform. São Paulo:
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FIAD, R. S., MAYRINK-SABINSON, M. L. T. A escrita como trabalho. In: MARTINS, M.
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