Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós ......Figura 5.6: Ponto de amostragem (RD030) no...
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Universidade Federal de Ouro Preto
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental
Mestrado em Engenharia Ambiental
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA PARA
DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE MICROCONTAMINANTES
EMERGENTES EM ÁGUAS SUPERFICIAIS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA
ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS
Keila Letícia Teixeira Rodrigues
Ouro Preto, MG
2012
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Universidade Federal de Ouro Preto
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental
Mestrado em Engenharia Ambiental
Keila Letícia Teixeira Rodrigues
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA PARA
DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE MICROCONTAMINANTES
EMERGENTES EM ÁGUAS SUPERFICIAIS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA
ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título: “Mestre em
Engenharia Ambiental – Área de Concentração: Meio
Ambiente”
Orientador: Prof. Dr. Robson José de Cássia Franco
Afonso
Ouro Preto, MG
2012
-
Catalogação: [email protected]
R696d Rodrigues, Keila Letícia Teixeira.
Desenvolvimento de metodologia analítica para determinação simultânea de
microcontaminantes emergentes em águas superficiais por cromatografia líquida
acoplada à espectrometria de massas [manuscrito] / Keila Letícia Teixeira Rodrigues
– 2012.
156f. : il. color.; grafs.; tabs.; mapas.
Orientador: Prof. Dr. Robson José de Cássia Franco Afonso.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto
de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas e Pós-graduação em
Recursos Hídricos. Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental.
Área de concentração: Meio Ambiente.
1. Águas superficiais - Teses. 2. Fármacos - Teses. 3. Cromatografia líquida
- Teses. 4. Espectrometria de massa - Teses. I. Universidade Federal de Ouro
Preto. II. Título.
CDU: 628.32:543.42
mailto:[email protected]
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“Algo só é impossível até que alguém
duvide e resolva provar o contrário.”
Albert Einstein
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À minha mãe Maria, pelo amor, paciência e
por sempre apoiar os meus sonhos.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força para superar as
dificuldades, mostrar os caminhos certos nas horas incertas e por suprir todas as minhas
necessidades.
À minha mãe, por ser um exemplo de mulher, ter me apoiado sempre e colaborado para a
realização dos meus sonhos. À minha irmã Cátia por ser sempre atenciosa e amiga. Aos
meus irmãos Carlos e César pelo apoio e carinho. Aos meus cunhados Nivaldo e Glauciene
pelo incentivo. Aos meus sobrinhos pela alegria. Ao meu primo Daniel por ter sido um
grande amigo em Ouro Preto.
À minha família, a qual amo muito, pelo carinho, paciência e estímulo.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Robson José de Cássia Franco Afonso, pelo seu grande
profissionalismo e dedicação. Por contribuir para o meu crescimento profissional e por ser
também um exemplo a ser seguido. Sua participação foi fundamental para a realização
deste trabalho.
À Profª Dra. Gilmare Antônia da Silva por sua atenção, paciência e pela grande
contribuição fornecida ao trabalho com sua experiência na área de quimiometria. Ao Prof.
Dr. Maurício Xavier Coutrim por estar sempre disposto a ajudar com sua experiência.
Aos professores do curso de graduação e pós-graduação por todo o conhecimento
compartilhado e aos colegas do mestrado pela amizade e companheirismo.
Aos amigos do laboratório Bárbara, Amanda, Rafaela, Júlia, Fernanda Queiroz, Júlio,
Bruno Baeta, Carlúcio, Taciana, Gustavo, Regiane, Débora, Claúdia, Dani, Raíssa, André,
Luciana, Ramon pelo companheirismo, ajuda e amizade. Em especial a Ananda pelos
conselhos e por estar sempre disposta a ajudar. Vocês foram minha segunda família em
Ouro Preto!
Aos amigos, em especial aos amigos do colegial Dias, Ives e Gilmar e aos amigos da
faculdade Alexandre, Amália, Ariane, Paula, Sílvia e Natália, que mesmo de longe
torceram por mim.
À CAPES pela concessão da bolsa de estudo.
Agradeço a todas as pessoas que contribuíram tanto intelectual quanto emocionalmente
para a concretização desta dissertação.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 17
2. OBJETIVO .............................................................................................. 20
2.1 Geral ........................................................................................................................................... 20
2.2 Específicos ................................................................................................................................. 20
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................. 21
3.1 Caracterização geral da bacia do Rio Doce ................................................................................ 21
3.2 Microcontaminantes Emergentes ............................................................................................... 23
3.2.1 Fontes de contaminação .................................................................................................. 26
3.2.2 Classes de Microcontaminantes ...................................................................................... 27
FÁRMACOS ........................................................................................................................ 28
PLASTIFICANTES ............................................................................................................. 35
SUBPRODUTOS DE DETERGENTES ............................................................................. 35
HORMÔNIOS NATURAIS E SINTÉTICOS ..................................................................... 36
3.3 Métodos analíticos utilizados para determinar microcontaminantes em matrizes ambientais ... 40
3.3.1 Efeito Matriz ................................................................................................................... 42
3.3.2 Preparo da amostra .......................................................................................................... 44
EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO (LLE) .......................................................................... 44
MICROEXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA (SPME) ............................................................ 44
A EXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA (SPE) ........................................................................ 45
3.3.3 Condições cromatográficas e espectrométricas ............................................................... 47
3.4 Quimiometria ............................................................................................................................. 56
4. METODOLOGIA ................................................................................... 58
4.1 Região de Estudo ........................................................................................................................ 58
4.2 Reagentes e consumíveis ............................................................................................................ 60
4.3 Procedimentos de coleta e preservação ...................................................................................... 60
4.4 Procedimento de preparação da amostra .................................................................................... 61
4.4.1 Filtração e ajuste de pH ................................................................................................... 61
4.4.2 Extração ........................................................................................................................... 62
4.5 Cromatografia ............................................................................................................................ 64
4.5.1 Descrição do equipamento e acessórios utilizados .......................................................... 64
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4.5.2 Desenvolvimento e otimização do método ..................................................................... 65
TRIAGEM ............................................................................................................................ 66
METODOLOGIA DE SUPERFÍCIE DE RESPOSTA ...................................................... 70
4.5.3 Aperfeiçoamento do método otimizado .......................................................................... 73
4.6.1 Seletividade do método ................................................................................................... 76
4.6.2 Ajuste da curva analítica ................................................................................................. 76
4.6.3 Limite de detecção/limite de quantificação .................................................................... 77
4.6.4 Precisão ........................................................................................................................... 78
4.6.5 Exatidão ........................................................................................................................... 79
4.7 Aplicação do método desenvolvido na análise de amostras das águas superficiais ................... 81
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................... 82
5.1 Região de Estudo ........................................................................................................................ 82
5.2 Desenvolvimento e otimização do método ................................................................................ 93
5.2.1 Otimização dos parâmetros operacionais ........................................................................ 93
TRIAGEM ............................................................................................................................ 93
METODOLOGIA DE SUPERFÍCIE DE RESPOSTA ..................................................... 103
5.3 Validação .................................................................................................................................. 108
5.3.1 Seletividade ................................................................................................................... 108
5.3.2 Ajuste da curva analítica ............................................................................................... 114
5.3.3 Limite de detecção e Limite de Quantificação .............................................................. 122
5.3.4 Precisão ......................................................................................................................... 123
5.3.5 Exatidão ......................................................................................................................... 125
5.4 Aplicação da metodologia desenvolvida na análise das amostras de águas superficiais da bacia
do Rio Doce .................................................................................................................................... 131
FÁRMACOS ...................................................................................................................... 131
PLASTIFICANTES ........................................................................................................... 135
SUBPRODUTOS DE DETERGENTES ........................................................................... 138
HORMÔNIOS .................................................................................................................... 140
6. CONCLUSÕES ..................................................................................... 145
7. PERSPECTIVAS DE TRABALHOS FUTUROS ............................. 147
8. REFERÊNCIAS .................................................................................... 148
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LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1: Localização da bacia do Rio Doce. ................................................................... 21
Figura 3.2: Unidades de análise da bacia do Rio Doce. ...................................................... 22
Figura 3.3: Principais fontes de contaminação de Microcontaminantes no meio ambiente.
............................................................................................................................................. 27
Figura 3.4: Esquema dos componentes de uma fonte ESI. ................................................. 41
Figura 3.5: Esquema dos componentes de uma fonte APCI ............................................... 42
Figura 3.6: Grupo ligante do cartucho Strata X. ................................................................. 47
Figura 3.7: Grupo ligante do cartucho Oasis HLB. ............................................................. 47
Figura 4.1: Diagrama sistemático do procedimento de preparo de amostra. ...................... 61
Figura 4.2: Sistema de filtração utilizado nesse estudo. ...................................................... 62
Figura 4.3: (a) Manifold utilizado para a etapa de condicionamento, clean up e eluição dos
cartuchos; (b) aparato de extração utilizado para a passagem da amostra e (c) cartucho
empregado no procedimento de extração. ........................................................................... 63
Figura 4.4: Cromatógrafo líquido acoplado ao espectrômetro de massas –
HPLC/MS/IT/TOF (Shimadzu) ........................................................................................... 64
Figura 4.5: Coluna cromatográfica Kinetex C18 (50 × 3,0 mm; 2,6 µm - Phenomenex) ... 64
Figura 4.6: Configuração do sistema estudado, identificando os parâmetros operacionais
que foram avaliados no desenvolvimento e otimização do método. ................................... 66
Figura 4.7: Sistemática utilizada na triagem, mostrando os seis planejamentos executados.
............................................................................................................................................. 67
Figura 5.1: Gráfico de pesos definidos pela 1 e 2° componentes principais mostrando os
discriminantes químicos (indicadores da qualidade da água) das estações de coleta ao
longo da bacia do Rio Doce no período de 2008 à 2010. .................................................... 82
Figura 5.2: Gráfico bidimensional de valores correspondentes à classificação de 192
amostras de águas superficiais das estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce no
período de 2008 à 2010. ...................................................................................................... 84
Figura 5.3: Mapa de localização das estações de coleta selecionadas para o estudo ao longo
da Bacia do Rio Doce . ........................................................................................................ 85
Figura 5.4: Ponto de amostragem (RD079) no Rio do Peixe, a montante de sua foz no rio
Santo Antônio, na cidade Carmésia. .................................................................................... 89
Figura 5.5: Ponto de amostragem (RD033) no Rio Doce a jusante da Cachoeira Escura no
distrito de Perpétuo Socorro, Belo Oriente/Bugre. .............................................................. 90
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Figura 5.6: Ponto de amostragem (RD030) no Rio do Peixe próximo de sua foz no Rio
Piracicaba, nas proximidades da cidade Nova Era. ............................................................. 91
Figura 5.7: Ponto de amostragem (RD077) no Rio Santo Antônio próximo à sua nascente,
nas proximidades da cidade Conceição do Mato Dentro. ................................................... 92
Figura 5.8: Resultado dos ensaios obtidos através do planejamento fatorial fracionário 24-1
,
resolução IV, com triplicata no ponto central para cada subsistema estudado mostrando o
percentual de analitos em relação as suas três melhores respostas (área) e a pior resposta. 94
Figura 5.9: Avaliação da eficiência dos modificadores de fase móvel investigados no
subsistemas que estudaram o uso da APCI (a) e do ESI (b)................................................ 96
Figura 5.10: Cromatogramas dos melhores ensaios obtidos na triagem, modo SCAN,
utilizando as fontes de ionização APCI (à esquerda) e ESI (à direita) para avaliação da
resolução e eficiência de separação proporcionada pelos modificadores de fase móvel
investigados. ........................................................................................................................ 97
Figura 5.11: Gráfico de probabilidade normal do analito 4-nonilfenol para o planejamento
fatorial fracionário 24-1
, resolução IV, com fase móvel água / metanol utilizando o
modificador de fase hidróxido de amônio e fonte de ionização APCI. ............................... 98
Figura 5.12: Gráfico de probabilidade normal do analito bezafibrato para o planejamento
fatorial fracionário 24-1
, resolução IV, com fase móvel água/metanol utilizando o
modificador de fase hidróxido de amônio e fonte de ionização ESI. .................................. 99
Figura 5.13: Distribuição dos efeitos das variáveis sobre a resposta de interesse,
empregando a APCI e o modificador de fase hidróxido de amônio. C1 (concentração do
hidróxido de amônio), C2 (fluxo da fase móvel), C3 (temperatura da interface) e C4(tempo
de acumulação do octapolo) foram as variáveis investigadas nesse sistema. ................... 100
Figura 5.14: Distribuição dos efeitos sobre a resposta de interesse, empregando o ESI e o
modificador de fase hidróxido de amônio. C1 (concentração do hidróxido de amônio), C2
(fluxo da fase móvel), C3 (temperatura do bloco de aquecimento) e C4(fluxo do gás de
secagem) foram as variáveis investigadas nesse sistema. ................................................. 101
Figura 5.15: a) Gráfico do modelo de calibração proposto para o diltiazem b) Gráfico de
resíduos para o modelo de calibração do diltiazem. .......................................................... 103
Figura 5.16: Resultado dos ensaios obtidos por meio do planejamento Doehlert para os
subsistemas empregando a APCI (a) e o ESI (b) mostrando o percentual de analitos em
relação as suas três melhores respostas (área) e a pior resposta. ....................................... 107
Figura 5.17: Avaliação da eficiência de ionização dos analitos de interesse frente à
utilização das fonte de ionização ESI e APCI. .................................................................. 108
Figura 5.18: Cromatogramas dos íons selecionados para cada fármaco estudado com os
respectivos espectros de massas obtidos pela análise da amostra RD059 fortificada com
30 µg/L dos padrões dos analitos de interesse. .................................................................. 111
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Figura 5.19: Cromatogramas dos íons selecionados para cada um dos platificantes,
subprodutos de detergentes e hormônios estudados com os respectivos espectros de massas
obtidos pela análise da amostra RD059 fortificada com 30 µg/L dos padrões dos analitos
de interesse. ....................................................................................................................... 113
Figura 5.20: Curvas analíticas dos fámacos estudados obtidas por calibração externa. .... 118
Figura 5.21: Curvas analíticas dos plastificantes, subprodutos de detergentes, e hormônios
estudados obtidas por calibração externa. ......................................................................... 119
Figura 5.22: Avaliação do resíduo obtido para o modelo de calibração linear do composto
4-nonilfenol por meio dos gráficos de (a) probabilidade normal dos resíduos, (b) resíduos
versus os valores ajustados, (c) histograma dos resíduos e (d) resíduos versus ordem dos
dados. ................................................................................................................................. 120
Figura 5.23: Avaliação do resíduo obtido para o modelo de calibração quadrática do
composto bezafibrato por meio dos gráficos de probabilidade normal dos resíduos (a),
resíduos versus os valores ajustados (b), histograma dos resíduos (c) e resíduos versus
ordem dos dados (d). ......................................................................................................... 121
Figura 5.24: Boxplot da distribuição dos fármacos nas amostras de águas superficiais das
estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de estações de coletas
que apresentaram o analito acima do LQ. ......................................................................... 132
Figura 5.25: Distribuição da cafeína nas amostras das estações de coleta agrupadas de
acordo com suas características antropogênicas e geológicas. ......................................... 134
Figura 5.26: Boxplot da distribuição dos plastificantes nas amostras de águas superficiais
das estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de estações de
coletas que apresentaram o analito acima do LQ. ............................................................. 136
Figura 5.27: Distribuição do bisfenol-A nas amostras das estações de coleta agrupadas de
acordo com suas características antropogênicas e geológicas. ......................................... 137
Figura 5.28: Boxplot da distribuição dos subprodutos de detergentes nas amostras de águas
superficiais das estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de
estações de coletas que apresentaram o analito acima do LQ. .......................................... 139
Figura 5.29: Boxplot da distribuição dos hormônios nas amostras de águas superficiais das
estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de estações de coletas
que apresentaram o analito acima do LQ. ......................................................................... 141
Figura 5.30: Gráfico de pesos definidos pela 1 e 2° componentes principais mostrando os
discriminantes químicos (indicadores da qualidade da água) das estações de coleta ao
longo da bacia do Rio Doce no período de 2008 à 2010. .................................................. 142
Figura 5.31: Gráfico de PCA score das amostras de águas superficiais das estações de
coleta ao longo da Bacia do Rio Doce. .............................................................................. 143
file:///C:/Users/Alice/Desktop/Dissertação%20mestrado%20AGOSTO%202.docx%23_Toc335995061
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LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1: Estrutura e propriedades físico-químicas das classes dos fármacos estudados. 31
Tabela 3.2: Estrutura e propriedades físico-químicas dos plastificantes, hormônios e
subproduto de detergentes estudados. ................................................................................. 38
Tabela 3.3: Revisão da literatura de monitoramento e métodos de LC/MS empregados para
a determinação quantitativa de fármacos em águas superficiais. ........................................ 50
Tabela 3.4: Revisão da literatura de monitoramento e métodos de LC/MS utilizados para a
determinação quantitativa dos plastificantes, hormônios, subprodutos de detergentes em
amostras de águas superficiais. ............................................................................................ 53
Tabela 4.1: Lista dos parâmetros manipulados e seus respectivos códigos ........................ 59
Tabela 4.2: Tempo de análise e o gradiente de concentração da fase móvel. ..................... 65
Tabela 4.3: Planejamento fatorial fracionário 24-1
, resolução IV aplicado na otimização dos
parâmetros operacionais do LCMS-IT-TOF para determinação de microcontaminantes
emergentes. .......................................................................................................................... 69
Tabela 4.4: Variáveis e níveis decodificados investigados no planejamento experimental
Doehlert, modelo quadrático com três variáveis quantitativas, para a otimização do método
cromatográfico para determinação de microcontaminantes emergentes empregando o ESI
ou a APCI. ........................................................................................................................... 71
Tabela 4.5: Planejamento experimental Doehlert aplicado na otimização dos parâmetros
operacionais do LCMS-IT-TOF, nos subsistemas que investigaram o uso da APCI e do
ESI, para determinação de microcontaminantes emergentes. ............................................. 72
Tabela 4.6: Parâmetros espectrométricos adotados na determinação dos
microcontaminantes. ............................................................................................................ 74
Tabela 4.7: Tempo de análise e variação da fase móvel. .................................................... 75
Tabela 5.1: Descrição dos pontos de amostragem selecionados ao longo da bacia do Rio
Doce. .................................................................................................................................... 86
Tabela 5.2: Domínio experimental definido pela triagem dos parâmetros operacionais
investigados para o subsistema que empregou a APCI e para o que fez uso do ESI. ....... 103
Tabela 5.3: Análise de variância para o diltiazem gerada pelo planejamento Doehlert ao
nível de 5 % de significância. ............................................................................................ 104
Tabela 5.4: Termos estatísticos obtidos pela análise de variância do modelo proposto por
meio do planejamento Doehlert, utilizando a APCI, para cada microcontaminante
indicando se o parâmetro regressão e ajuste do modelo é significativo ou não significativo.
........................................................................................................................................... 105
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Tabela 5.5: Termos estatísticos obtidos pela análise de variância do modelo proposto por
meio do planejamento Doehlert, utilizando o ESI, para cada microcontaminante indicando
se o parâmetro regressão e ajuste do modelo é significativo ou não significativo. ........... 106
Tabela 5.6: Área média e o coficiente de variação das sete repetições de cada concentração
dos padrões de fármacos empregados para a construção das curvas analíticas................. 115
Tabela 5.7: Área média e o coficiente de variação das sete repetições de cada concentração
dos padrões de plastificantes, subprodutos de detergentes e hormônios empregados para a
construção das curvas analíticas. ....................................................................................... 116
Tabela 5.8: Limites de detecção e quantificação do método considerando limites do
equipamento, correções de diluição, rendimento de extração e efeitos da matriz............. 122
Tabela 5.9: Resultados dos testes de precisão para os fármacos. ...................................... 123
Tabela 5.10: Resultados dos testes de precisão para os plastificantes, subprodutos de
detergentes, e hormônios. .................................................................................................. 124
Tabela 5.11: Índice de recuperação para os fármacos estudados nos três níveis de
concentração. ..................................................................................................................... 125
Tabela 5.12: Valores de recuperação da extração para os plastificantes, subprodutos de
detergentes, e hormônios estudados nos três níveis de concentração. ............................. 126
Tabela 5.13: Médias de recuperação dos diferentes níveis de concentração e os parâmetros
do modelo de calibração para a extração. .......................................................................... 127
Tabela 5.14: Avaliação do efeito matriz nos diferentes níveis de concentração para cada
fármaco utilizado. .............................................................................................................. 128
Tabela 5.15: Avaliação do efeito matriz nos diferentes níveis de concentração para cada
plastificantes, subprodutos de detergentes, e hormônios estudados. ................................ 130
Tabela 5.16: Ocorrência dos fármacos nas estações de coleta localizadas na bacia do Rio
Doce em ng/L. ................................................................................................................... 131
Tabela 5.17: Ocorrência dos plastificantes nas estações de coleta localizadas na bacia do
Rio Doce em ng/L. ............................................................................................................ 135
Tabela 5.18: Ocorrência dos subprodutos de detergentes nas estações de coleta localizadas
na bacia do Rio Doce em ng/L. ......................................................................................... 138
Tabela 5.19: Ocorrência dos hormônios nas estações de coleta localizadas na bacia do Rio
Doce em ng/L. ................................................................................................................... 140
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LISTA DE NOTAÇÕES
ACET Acetaminofeno
ACN Acetonitrila
ANOVA Análise de Variância
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AOAC Association of Official Analytical Chemists
APCI Atmospheric Pressure Chemical Ionization
APPI Atmospheric Pressure Photoionization
ARCEM Austrian Research Cooperation on Endocrine Modulators
BEZ Bezafibrato
CAF Cafeína
CBHs Comitês das Bacias Hidrográficas
CCD Central Composite Design
CENIBRA Celulose Nipo-Brasileira S/A
CETEC/MG Centro Tecnológico de Minas Gerais
COMPREHEND Community Programme of Research on Endocrine Disrupters and
Environmental Hormones
CSTEE Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment
CV Coeficiente de Variação
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
DIL Diltiazem
DO1 Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piranga
DO2 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba
DO3 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Santo Antonio
DO4 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Suaçuí
DO5 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Caratinga
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DO6 Comitê de Bacia Hidrográfica Águas do rio Manhuaçu
E- Evento realizado no modo Negativo
E+ Evento realizado no modo Positivo
EDSP Endocrine Disruption Screening Program
EDSTAC Endocrine Disruptor Screening and Testing Advisory Committee
EDTA Endocrine Disrupter Testing and Assessment Task Force
ESI Electrospray Ionization
ETE Estações de Tratamento de Esgoto
FDA United States Food and Drug Administration
FEM Fator de correção do Efeito Matriz
FFCDA Federal Food, Drug and Cosmetic
Frepulsão Força de repulsão
FWHM Full width at half maximum
ɤ líquido Tensão superficial do líquido
GC Gas Chromatography
GEN Genfibrozila
HPLC High Performance Liquid Cromatograph
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBU Ibuprofeno
ICH International Conference on Harmonization
IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Instrumental
ISO International Standards Organization
IT Ion Trap
IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry
Kow Coeficiente de Partição octanol/água
http://pt.wikipedia.org/wiki/IBGE
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LAS Lauril Alquil Sulfonados
LC Liquid Chromatography
LD Limite de Detecção
LLE Liquid-Liquid Extraction
LQ Limite Quantificação
MEOH Metanol
MIC Miconazol
MM Massa Molecular
MS Mass Spectrometry
NAPR Naproxeno
NE Não Encontrado
PC Ponto Central
PCA Principal Component Analysis
PVC Policloreto de Polivinila
Q1 1° Quadrante
Q2 2° Quadrante
Q3 3° Quadrante
RASBQ Reunião Anual da sociedade Brasileira de Química
SCAN Escaneamento de íons
SIM Selected Ion Monitoring
SPE Solid Phase Extraction
SPME Solid Phase Microextraction
SULF Sulfametoxazol
TOF Time off flight
TRI Trimetoprima
UPGRH Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos
US EPA United States Environmental Protection Agency
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RESUMO
Os microcontaminantes emergentes são indicadores de atividade antrópica e estão
associados a um conjunto diversificado de compostos orgânicos que é usado em grandes
quantidades pela sociedade para diversos fins. O interesse crescente por essas substâncias
ocorre, principalmente, porque elas podem apresentar atividade biológica em
concentrações muito baixas, o que confere grande relevância ambiental. A dificuldade para
detectar e quantificar os microcontaminantes no meio ambiente incentiva o
desenvolvimento de métodos analíticos adequados. Assim, esse trabalho focou no
desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação simultânea de
microcontaminantes em amostras de águas superficiais. Realizou-se um estudo sistemático
de detecção simultânea de 25 microcontaminantes, os quais incluíram: fármacos,
plastificantes, hormônios e subprodutos de detergente, por cromatografia líquida acoplada
a espectrometria de massas de alta resolução, empregando o planejamento fatorial
fracionário 24-1
, resolução IV, na triagem e planejamento Doehlert na otimização. Os
parâmetros qualitativos selecionados foram fonte de ionização (APCI e ESI) e tipo de
modificadores da fase móvel (ácido fórmico, hidróxido de amônio e ácido
fórmico/formiato de amônio), e para os parâmetros quantitativos avaliou-se a concentração
dos modificadores da fase móvel, taxa de fluxo da fase móvel, temperatura da interface,
temperatura do bloco de aquecimento, o tempo de acumulação de íons no octapolo e a taxa
do fluxo do gás secagem. Verificou-se que o modificador de fase hidróxido de amônio
numa concentração de 3,5 mM, empregando a fonte de ionização ESI com um fluxo de 0,1
mL/min, uma temperatura do bloco de aquecimento à 300°C e pressão de 200 kPa de gás
de secagem proporcionaram a condição mais apropriada para a análise simultânea dos
microcontaminantes estudados. O método desenvolvido e validado, utilizando a extração
em fase sólida, é aplicável para a determinação simultânea de 17 microcontaminantes
dentre os avaliados, incluindo os farmácos sulfametoxazol, trimetoprima, ibuprofeno,
naproxeno, acetaminofeno, bezafibrato, genfibrozila, cafeína, miconazol e ditiazem; os
plastificantes bisfenol-A e dietilftalato; os subprodutos de detergentes 4-octilfenol e
4-nonilfenol; os hormônios naturais estrona e 17β-estradiol; e o hormônio sintético
17α-etinilestradiol. Foram obtidos limites de detecção do método que variaram de 0,38 à
9,55 ng/L com mediana de 1,49 ng/L; e limites de quantificação do método numa faixa de
1,26 à 31,80 ng/L com mediana de 4,98 ng/L. O método desenvolvido foi aplicado na
avaliação da ocorrência dos microcontaminantes emergentes nas águas superficiais ao
longo da bacia do Rio Doce - MG/Brasil. O 4-nonilfenol foi o microcontaminante mais
encontrado nas amostras, seguido da cafeína, bisfenol-A, ibuprofeno e bezafibrato. O
diltiazem não foi encontrado em nenhuma das amostras e o miconazol ocorreu raramente.
Palavras chave: microcontaminantes emergentes, compostos farmacêuticos, plastificantes,
hormônios, bacia do Rio Doce, cromatografia líquida de alto desempenho acoplada à
espectrometria de massas, extração em fase sólida, otimização multivariada, planejamentos
experimentais multivariados, efeito matriz.
-
ABTRACT
The emerging microcontaminants are indicators of anthropogenic activity and are
associated with a diverse set of organic compounds that are used in large quantities by the
society for various purposes. The growing interest in these substances occurs mainly
because they may have biological activity at low concentrations, which gives them great
environmental relevance. The difficulty to detect and quantify these microcontaminants in
the environment encourages the development of appropriate analytical methods. Thus, this
work focused on the development of analytical methods for the simultaneous
determination of microcontaminants in surface water samples. It was carried out a
systematic study of simultaneous detection of 25 microcontaminants, which included:
pharmaceutical compounds, plasticizers, hormones and detergent by-products, by liquid
chromatography coupled to mass spectrometry of resolution high, using the 24-1
fractional
factorial experimental design, resolution IV , for screening and Doehlert experimental
design in optimization. The qualitative parameters selected were ionization source (APCI
and ESI), and the type of mobile phase modifiers (formic acid, ammonium hydroxide and
formic acid / ammonium formate). The quantitative parameters evaluated were phase
modifiers concentrations, mobile phase flow rate, interface temperature, heating block
temperature, ion accumulation time in the octapolo and drying gas flow rate. It was found
that the phase modifier ammonium hydroxide in a concentration of 3.5 mM, using ESI
ionization source with a flow of 0.1 mL/min, heating block temperature to 300°C and
200kPa of drying gas provided the most suitable condition for the simultaneous
determination of studied microcontaminants. The method developed and validated, using
the solid phase extraction, is applicable to the simultaneous determination of 17
microcontaminants among those evaluated, including the pharmaceutical compounds
sulfamethoxazole, trimethoprim, ibuprofen, naproxen, acetaminophen, bezafibrate,
gemfibrozil, caffeine, miconazole and ditiazem, the plasticizers bisphenol-A and
diethylphthalate; the detergent by-products 4-octylphenol and 4-nonylphenol; the natural
hormones estrone and 17β-estradiol, and the synthetic hormone 17α-ethinylestradiol. The
obtained method’s detection limit ranged from 0.38 to 9.55 ng/L with median of 1.49 ng/L
and method’s quantification limit a ranged from 1.26 to 31.80 ng/L with median 4.98 ng/L.
The developed method was applied to evaluate the occurrence of emerging
microcontaminants in surface waters along the basin of the Rio Doce - MG / Brazil. The
4-nonylphenol was the microcontaminante mostly found in the samples, followed by
caffeine, bisphenol-A, ibuprofen and bezafibrate. Diltiazem was not found in any samples
and miconazole occurred rarely.
Keywords: emerging microcontaminants, pharmaceutical compounds, plasticizers,
hormones, basin of Rio Doce, high performance liquid chromatography coupled mass
spectrometry, solid phase extraction, multivariate optimization, multivariate experimental
designs, matrix effect.
-
17
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, o reconhecimento relativo à contaminação do meio ambiente por
substâncias químicas levou a sociedade a acentuar o interesse por outros poluentes,
também conhecidos por contaminantes emergentes. Eles afetam a saúde e o bem-estar de
uma comunidade de diversas formas. Eles são candidatos a regulamentações futuras,
estando apenas dependentes dos resultados das pesquisas relacionadas aos potenciais
efeitos nos ecossistemas e aos dados de monitoramento da respectiva ocorrência no meio
ambiente (Silva, 2010). Em muitos países, ações governamentais e não-governamentais
buscam definir parâmetros universais de debate sobre o tema, abrangendo a minimização
de substâncias químicas, o estabelecimento de normas e condutas. Os Estados Unidos por
meio da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental
Protection Agency, US EPA) e a União Europeia têm publicado listas selecionando
substâncias prioritárias para maior avaliação dos seus efeitos (EPA, 2010; Comission of
the European Communities, 2007).
O termo microcontaminantes emergentes tem sido usado na literatura em referência aos
contaminantes orgânicos que são encontrados em concentrações da ordem de microgramas
a nanogramas por litro (Rodil et al., 2009; Yoon et al., 2010). Esses compostos
compreendem produtos farmacêuticos e de higiene pessoal, hormônios naturais e
sintéticos, subprodutos industriais e drogas ilícitas (Rodil et al., 2012; Sodré et al., 2010).
Muitos deles são classificados como interferentes endócrinos, ou seja, substâncias ou
misturas exógenas que alteram a função do sistema endócrino de humanos e animais e,
consequentemente, causam efeitos adversos em um organismo saudável, ou em seus
descendentes ou subpopulações (Bila et al., 2007).
Os microcontaminantes têm chegado ao meio ambiente, principalmente, em função das
deficiências dos processos de tratamento de efluentes industrial e de esgotos (Trenholm et
al., 2008; Melo et al., 2009). Nos países industrializados, a maioria do esgoto produzido é
tratada em estações de tratamento de esgoto (ETE) antes de serem lançados no ambiente.
No entanto, alguns hormônios naturais e produtos químicos sintéticos podem ser
encontrados em águas superficiais. Muitas destas substâncias são resistentes à
biodegradação em ETEs ou são lançadas diretamente em compartimentos aquáticos sem
qualquer tratamento (Yoon et al., 2010; Melo et al., 2009; Bila et al., 2007).
Muitos métodos analíticos foram desenvolvidos para detectar e quantificar essas
substâncias em matrizes ambientais complexas, tais como águas superficiais e
-
18
subterrâneas, esgoto doméstico, efluentes de ETE, sedimentos marinhos, solo e lodo
biológico (Céspedes et al., 2006). Dentre às técnicas mais comuns, destacam-se a
utilização de cromatografia acoplada à espectrometria de massas, uma vez que permite a
identificação e quantificação simultânea de várias substâncias de interesse ambiental. A
análise por cromatografia gasosa (gas chromatography, GC) acoplada à espectrometria de
massas (mass spectrometry, MS) foi a mais utilizada inicialmente, no entanto muitos
compostos não são passíveis de serem analisados por GC devido a sua instabilidade
térmica e polaridade; para produzir compostos voláteis, alguns analitos requerem
derivatização (Brossa et al., 2004). Já a técnica de cromatografia líquida acoplada à
espectrometria de massas (liquid chromatography/mass spectrometry, LC/MS) teve
progresso tanto na tecnologia quanto na sua aplicação no início da década de 1990.
Alterações nos formatos das fontes de ionização trouxeram mais sofisticação e eficiência.
As fontes de ionização mais comumente utilizadas para a determinação de
microcontaminantes por LC/MS no ambiente aquático são: ionização por eletronebulização
(electrospray ionization, ESI), ionização química por pressão atmosférica (atmospheric
pressure chemical ionization, APCI) e fotoionização em pressão atmosférica (atmospheric
pressure photoionization, APPI). Estas técnicas promovem uma ionização branda e são
extremamente adequadas para a determinação de compostos químicos em diferentes
matrizes (Wick et al., 2010; Cai e Syage, 2006).
Com o intenso desenvolvimento das técnicas instrumentais e a disponibilidade de
grande volume de dados, tornou-se necessário, e praticamente indispensável, o uso de
tratamentos mais complexos do ponto de vista matemático e estatístico, a fim de se obter
respostas mais precisas e interpretações mais completas (da Silva et al., 2007). A análise
multivariada de dados químicos tem exercido grande interesse e aceitação, pois permite a
extração de maiores informações químicas relevantes ao sistema alvo. A quimiometria
entra nesse contexto, pois ela faz uso de métodos matemáticos e estatísticos para planejar
ou selecionar experimentos de forma otimizada, e disponibiliza ferramentas para o
processamento dos dados químicos estudados, com a finalidade de fornecer o máximo de
informação pela análise dos dados obtidos (Ferreira et al.,1999).
Pesquisadores do mundo todo estão empenhados em esclarecer, criar estratégias que
solucionem ou, pelo menos, minimizem o problema dos microcontaminantes, devido à
grande importância destes compostos do ponto de vista ambiental e ecotoxicológico. No
entanto, pouquíssimos estudos têm abordado a ocorrência desses compostos em águas
brasileiras (Sodré et al., 2010). Sendo assim, esse trabalho focou no desenvolvimento de
-
19
método cromatográfico para a identificação e quantificação de microcontaminantes
emergentes, utilizando ferramentas quimiométricas, em águas superficiais,
particularmente, nas águas da bacia do Rio Doce e contribuir para o avanço científico
relacionado à ocorrência dos microcontaminantes emergentes nos recursos hídricos do
Brasil.
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20
2. OBJETIVO
2.1 Geral
Este trabalho teve como objetivo desenvolver metodologia analítica para a
determinação simultânea de microcontaminantes emergentes em amostras de águas
superficiais por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas. Estabelecer
procedimentos para o monitoramento dos microcontaminantes nas águas da bacia do Rio
Doce, avaliando sua contaminação, contribuindo desta forma para o avanço científico
relacionado à ocorrência dos microcontaminantes emergentes nos recursos hídricos do
Brasil. Os compostos estudados foram: produtos farmacêuticos (ácido acetilsalicílico,
acetaminofeno, azitromicina, bezafibrato, cimetidina, ciprofloxacino, claritromicina,
diclofenaco, genfibrozila, diltiazem, ibuprofeno, miconazol, naproxeno, ranitidina,
sulfametoxazol, trimetoprima e cafeína), hormônios naturais e sintéticos (estrona, 17β-
estradiol e 17α-etinilestradiol), plastificantes (dietilftalato, bis(2-etilhexil)ftalato e bisfenol-
A) e subprodutos de detergentes (4-nonilfenol e 4-octilfenol).
2.2 Específicos
Estabelecer os pontos de coleta das amostras de águas superficiais ao longo da bacia do
Rio Doce;
Estabelecer métodos de preparo da amostra e extração dos microcontaminantes
emergentes;
Otimizar as condições operacionais do cromatógrafo líquido acoplado ao
espectrômetro de massas utilizando planejamentos experimentais multivariados;
Validar o método desenvolvido para a identificação e quantificação dos
microcontaminantes emergentes;
Levantar dados sobre os níveis de contaminação dos microcontaminantes emergentes
nas águas da bacia do Rio Doce;
Tratar os dados para avaliação dos níveis de contaminação e sua correlação com as
influências antropogênicas.
-
21
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Caracterização geral da bacia do Rio Doce
A bacia do Rio Doce situa-se na região Sudeste, entre os paralelos 17°45' e 21°15' S e
os meridianos 39°30' e 43°45' W, integrando a região hidrográfica do Atlântico Sudeste.
Esta bacia possui uma população superior a 3,5 milhões de habitantes e apresenta uma área
de drenagem de aproximadamente 86.715 km², dos quais 86% pertencem ao Estado de
Minas Gerais e o restante ao Espírito Santo, abrange um total de 230 municípios (IGAM,
2007).
As nascentes do Rio Doce situam-se no Estado de Minas Gerais (figura 3.1), nas serras
da Mantiqueira e do Espinhaço, sendo que suas águas percorrem cerca de 850 km, até
atingir o oceano Atlântico, junto ao povoado de Regência, no Estado do Espírito Santo.
Figura 3.1: Localização da bacia do Rio Doce.
Fonte: (IGAM, 2007).
Os principais afluentes do Rio Doce pela margem esquerda são os rios do Carmo,
Piracicaba, Santo Antônio, Corrente Grande e Suaçuí Grande, em Minas Gerais; São José e
Pancas no Espírito Santo. Já pela margem direita são os rios Casca, Matipó,
Localização da bacia do Rio Doce
-
22
Caratinga/Cuieté e Manhuaçu em Minas Gerais; Guandu, Santa Joana e Santa Maria do
Rio Doce no Espírito Santo (IGAM, 2007).
No estado de Minas Gerais a bacia do Rio Doce é dividida em seis Unidades de
Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPGRHs), com Comitês de Bacia já
estruturados, conforme descrito abaixo:
DO1 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piranga;
DO2 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba;
DO3 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Santo Antonio;
DO4 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Suaçuí;
DO5 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Caratinga;
DO6 – Comitê de Bacia Hidrográfica Águas do rio Manhuaçu.
No Estado do Espírito Santo, embora inexistam subdivisões administrativas da
bacia do Rio Doce, têm-se os Comitês das Bacias Hidrográficas (CBH) do rio Santa Maria
do Doce e do rio Guandu, os Consórcios dos rios Santa Joana e Pancas, bem como a
Comissão Pró-Comitê da bacia do rio São José, que se encontra em processo de
mobilização para a criação de CBHs. A figura 3.2 ilustra este aspecto (IGAM, 2007).
Figura 3.2: Unidades de análise da bacia do Rio Doce.
Fonte: (IGAM, 2007).
Neste trabalho será abrangido apenas o domínio de Minas Gerais, que é gerido pelo
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), por meio do Projeto Águas de Minas, em
execução desde 1997 (IGAM, 2011).
Unidades de análise da bacia do Rio Doce
-
23
A atividade econômica da bacia do Rio Doce é bastante diversificada, destacando-
se: a agropecuária (reflorestamento, lavouras tradicionais, cultura de café, cana-de-açúcar,
criação de gado leiteiro e de corte e na suinocultura); a agroindústria (sucroalcooleira); a
mineração (ferro, ouro, bauxita, manganês, pedras preciosas e outros); a indústria
(celulose, siderurgia e laticínios); o comércio e serviços de apoio aos complexos
industriais; e a geração de energia elétrica (IGAM, 2007).
Na região encontra-se instalado o maior complexo siderúrgico da América Latina,
com destaque para a Companhia Siderúrgica Belgo Mineiro, a ACESITA e a USIMINAS.
Ao lado da siderurgia estão associadas empresas de mineração, com destaque para a
Companhia Vale do Rio Doce – CVRD - a maior mineradora a céu aberto do mundo - e
empresas reflorestadoras, que cultivam o eucalipto para fornecer matéria-prima para as
indústrias de celulose (IGAM, 2007; PROJETO ÁGUAS DO RIO DOCE). Todo esse
complexo industrial desempenha papel significativo nas exportações brasileiras de minério
de ferro, aços e celulose. Além deles, a bacia contribui na geração de divisas pelas
exportações de café (MG e ES) e polpa de frutas (ES) (PROJETO ÁGUAS DO RIO
DOCE). Contribuindo para impactos nas águas do Rio Doce (IGAM, 2007).
O desmatamento generalizado e o mau uso dos solos, seja para a monocultura do
eucalipto como para agricultura ou pastagem, tem conduzido a região a um intenso
processo de erosão, cujos sedimentos resultantes tendem a assorear os cursos d'água. O
assoreamento é um dos problemas sérios que atinge a bacia, em especial o baixo curso do
Rio Doce, que recebe carga de sedimentos provenientes das áreas a montante. O problema
da erosão é ainda agravado nas áreas em que as rochas e o solo possuem grandes
concentrações de alumínio. O uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras também
contribui para a contaminação dos cursos d'água. A urbanização da bacia também contribui
significativamente para os impactos nos cursos d'água, principalmente pelo quase
inexistente sistema de tratamento de esgotos (PROJETO ÁGUAS DO RIO DOCE).
3.2 Microcontaminantes Emergentes
O termo microcontaminantes emergentes tem sido usado na literatura em referência aos
compostos orgânicos que são encontrados em amostras ambientais, de águas superficiais e
esgotos em concentrações da ordem de nanogramas a microgramas por litro (Rodil et al.,
2009; Yoon et al., 2010). Os microcontaminantes são indicadores de atividade antrópica e
estão associados a um conjunto diversificado de compostos orgânicos que é usado em
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24
grande quantidade pela sociedade, para variados fins, incluindo a produção e conservação
de alimentos, processos industriais, bem como para cuidados da higiene, saúde humana e
animal (Lapworth et al., 2012). O interesse crescente por essas substâncias ocorre,
principalmente, porque elas podem apresentar atividade biológica em concentrações muito
baixas, o que confere a elas grande relevância ambiental (Zwiener et al., 2004).
Alguns microcontaminantes são classificados como interferentes endócrinos, ou seja,
substâncias ou misturas exógenas que alteram a função do sistema endócrino de humanos e
animais e, consequentemente, causam efeitos adversos em um organismo saudável, ou em
seus descendentes ou subpopulações (Bila et al., 2006). Essa classe tem despertado grande
interesse, pois já foram constatados efeitos cancerígenos, alterações crônicas no
desenvolvimento e na reprodução de várias espécies, perturbação nos sistemas
cardiovascular e o neuroendócrino (Waye et al., 2011), além dessa classe esta sendo
associada com a incidência da obesidade (Newbold et al., 2008).
Os contaminantes emergentes podem ser candidatos a futuras regulamentações, estando
apenas dependentes dos resultados das pesquisas relacionadas com os potenciais efeitos
destes nos ecossistemas e com os dados de monitoramento da respectiva ocorrência no
meio ambiente (Silva, 2010). Em muitos países, ações governamentais e não-
governamentais buscam definir parâmetros universais de debate sobre o tema, incluindo-se
a minimização de substâncias químicas e o estabelecimento de normas e condutas (2°
WORKSHOP SOBRE CONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUA PARA
CONSUMO HUMANO, 2010).
Os Estados Unidos por meio da Agência de Proteção Ambiental (Environmental
Protection Agency, EPA) divulgou sua segunda lista de produtos químicos e substâncias
para quais a EPA pretende emitir ordens de ensaio sob o Programa de Triagem de
Perturbadores Endócrinos (Endocrine Disruption Screening Program, EDSP). A EPA
estabeleceu o EDSP em resposta a seção 408 da Lei Federal de Alimentos, Medicamentos
e Cosméticos (Federal Food, Drug and Cosmetic, FFCDA) que aborda a Tolerância e
isenções para os resíduos químicos de pesticidas (EPA, 2010).
A União Européia estabeleceu uma lista de 553 substâncias classificadas como
substâncias candidatas e que seriam avaliadas como possíveis interferentes endócrinos
(Rodríguez-Gonzalo et al., 2010). Após estudos preliminares, uma segunda lista foi
emitida, abordando as substâncias prioritárias para maior avaliação dos seus efeitos
endócrinos. Essa nova lista apresenta 428 substâncias que pertencem a diferentes grupos
químicos, dentre eles estão contidos os alquilfenóis e seus derivados, benzoatos, cloretos
-
25
de alcanos, ftalatos, dioxinas/ furanos e bifenilpoliclorados. Destas substâncias 194
possuem clara evidência de efeitos no sistema endócrino (Comission of the European
Communities, 2007).
Vários consórcios foram criados em todo o mundo com o objetivo de avaliar a
complexa situação dos microntaminantes, o que revela a crescente preocupação mundial
com essas substâncias. Diversos assuntos são abordados e investigados, tais como o
monitoramento de substâncias estrogênicas em amostras de águas naturais (Austrian
Research Cooperation on Endocrine Modulators, ARCEM); a validação dos métodos de
ensaios que determinam as substâncias com potencial de desregulação endócrina
(Endocrine Disruptor Screening and Testing Advisory Committee, EDSTAC; Endocrine
Disrupter Testing and Assessment Task Force, EDTA); a identificação e caracterização de
todos os efeitos relatados (Environmental Disruptor Screening Program, EDSP;
Community Programme of Research on Endocrine Disrupters and Environmental
Hormones, COMPREHEND e o Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment,
CSTEE) entre outros (Bila et al., 2006).
Entidades brasileiras tem tomado consciência do problema e as questões que envolvem
contaminantes emergentes têm sido debatidas. Exemplos disso foram os Workshops sobre
Contaminantes Emergentes em Águas para Consumo Humano realizados na Unicamp no
fim de 2009 e início de 2011 (1° WORKSHOP SOBRE CONTAMINANTES
EMERGENTES EM ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO, 2009; 2° WORKSHOP
SOBRE CONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUA PARA CONSUMO
HUMANO, 2011). Os eventos foram coordenados por Wilson Jardim e foram voltados
para a participação de representantes de concessionárias de água e esgoto, membros de
agências ambientais municipais, estaduais e federais, representantes de comitês de bacias
hidrográficas, representantes governamentais e do poder legislativo, além de
pesquisadores, professores e alunos de pós-graduação, especialistas em química analítica e
ambiental, toxicologia e ecotoxicologia, engenharia e saneamento ambiental, dentre outras
áreas de interesse. Tendo-se em vista a carência de informações sobre o tema no Brasil, o
Workshop contou com a participação de pesquisadores nacionais e estrangeiros,
especialistas em diferentes áreas, que proferiram palestras, e participaram de discussões e
divulgaram assuntos relacionados à ocorrência de contaminantes emergentes no ambiente
(JARDIM, 2009). O Workshop sobre contaminantes emergentes em água concretizado no
34° RASBQ (Reunião Anual da sociedade Brasileira de Química), Florianópolis em 2011,
também é outro exemplo de tentativa de avaliar a situação brasileira quanto a esses
-
26
compostos e identificar grupos de pesquisa na área, bem como discutir subsídios à políticas
públicas quanto à exposição humana. O workshop foi coordenado por Wilson Jardim e
Maria Olimpia de Oliveira Rezende e contou com a participação dos pesquisadores: Tânia
Mara Pizzolato (UFRGS), Fernando Fabriz Sodré (UnB), Mary Rosa Rodrigues de Marqui
(UNESP), Robson José de Cássia Franco Afonso (UFOP) (34° RASBQ, 2011).
3.2.1 Fontes de contaminação
A principal fonte de contaminação de microcontaminantes no meio ambiente é o
lançamento de esgotos domésticos, tratados ou não, em cursos de água (Bila et al., 2007).
As ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) recebem um grande espectro de
contaminantes das águas residuais domésticas e/ou industrial, que não são completamente
eliminados durante o processo de tratamento. Assim, nas saídas das ETEs uma mistura
complexa de contaminantes, incluindo os contaminantes e os seus metabólitos são
descarregados para os rios. Em muitos locais, as águas do efluente tratado são diluídas com
água a partir de outras fontes. As concentrações dos microcotaminantes presentes em águas
podem aumentar ou diminuir dependendo das concentrações e do fluxo de contaminantes
despejadas nas águas superficiais (Yoon et al., 2010).
Os fármacos, drogas de abuso, hormônios são continuamente liberados no meio
ambiente principalmente através de excreções urinárias ou fecais e pela disposição
inadequada de fármacos não utilizados ou com expiração do prazo de validade (Gros et al.,
2006; Van Nuijs et al., 2011; Bila et al., 2007). Os produtos de higiene e limpeza pessoal
são eliminados continuamente no meio ambiente através das descargas de esgotos
domésticos e industriais (Silva, 2010). Outro exemplo de rota de contaminação de
microcontaminantes pode ser o composto proveniente do lodo digerido e do estrume,
usados como fertilizante na agricultura, que são capazes de promover a contaminação das
águas subterrâneas e superficiais. Os excrementos da criação de animais (gado, porcos,
galinha, etc.) são considerados fontes potenciais de contaminação por fármacos e
estrógenos no ambiente (Veras, 2006).
A figura 3.3 representa um esquema simplificado das principais fontes de
contaminação dos microcontaminantes no meio ambiente.
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4780133P3http://lattes.cnpq.br/6392594590302380http://lattes.cnpq.br/6392594590302380http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4705095Z9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4781403E2
-
27
Microcontaminantes
Efluentes das ETEs
Efluentes
industriais
Lodos
Figura 3.3: Principais fontes de contaminação de Microcontaminantes no meio ambiente.
Fonte: Adaptada (Silva, 2010).
3.2.2 Classes de Microcontaminantes
Podem ser incluídos como microcontaminantes compostos pertencentes às classes de
produtos farmacêuticos e de higiene pessoal, hormônios naturais e sintéticos, plastificantes,
subprodutos de detergentes, retardantes de chama, aromatizantes, conservantes,
subprodutos industriais e drogas ilícitas (Rodil et al., 2012; Sodré et al., 2010; Andrews et
al., 2012). Sendo que as classes estudadas nesse trabalho serão abordadas com mais
detalhes.
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28
FÁRMACOS
Fármacos são substâncias biologicamente ativas e persistentes reconhecidas como
uma ameaça permanente para a estabilidade ambiental. Dados de ecotoxicidade crônica,
bem como informações sobre os níveis atuais de distribuição nos diferentes
compartimentos ambientais continuam a ser escassos e concentram a atenção nas classes
terapêuticas mais frequentemente prescritas e consumidas. (Santos et al, 2007).
Os produtos farmacêuticos pertencem à classe de microcontaminantes orgânicos
emergentes que mais têm chamado à atenção dos pesquisadores, devido aos números
crescentes de utilização de medicamentos (Silva e Collins, 2011). Cerca de 3000 diferentes
compostos são utilizados como componentes de medicamentos na medicina humana e
veterinária. Eles abragem uma grande variedade de estruturas químicas (Ternes, 2001).
Essa extensa utilização tem sido considerada alarmante em países desenvolvidos, como é o
caso da Alemanha, onde o consumo de medicamentos superou, desde 2001, a quantidade
de 100 toneladas por ano. A quantidade real de medicamentos consumidos é ainda maior,
pois nesses dados não estão inclusos medicamentos consumidos sem receituário médico ou
adquiridos ilegalmente. No caso do Brasil, os números de consumo de medicamentos
podem ainda ser maiores, porém ainda não há dados disponíveis (Silva e Collins, 2011).
Esses compostos presentes no ambiente podem interagir com a biota do meio
interferindo significativamente na fisiologia, no metabolismo e no comportamento das
espécies, podendo ocasionar severos danos ao organismo humano e aos demais seres vivos.
Alguns podem ocasionar efeitos secundários como, por exemplo, alteração na defesa
imunológica de organismos tornando-os mais suscetíveis a doenças (Belizário et al., 2009).
Além de oferecer riscos para os animais aquáticos, no caso de antibióticos, podem
ocasionar a resistência bacteriana (González et al., 2012).
Antibióticos
Os antibióticos pertencem a classe de medicamento que é intensamente utilizada
para combater infecções bacterianas. A ocorrência de antibióticos no meio aquático é de
preocupação ecotoxicológica devido à alteração potencial que pode ocorrer no
ecossistema. A exposição prolongada a baixas doses de antibióticos leva à proliferação
seletiva de bactérias resistentes, o que poderia transferir os genes de resistência a outras
espécies de bactérias (Velicu et al., 2009). Podendo ocasionar o aparecimento de bactérias
patogênicas resistentes, acarretando graves problemas de saúde pública (Belizário et al.,
-
29
2009). Os antibióticos também possuem o potencial de afetar a comunidade microbiana em
sistemas de esgotos. A inibição de bactérias presentes em águas residuais pode afetar
seriamente a degradação da matéria orgânica (Van Nuijs et al., 2011).
Anti-inflamatórios e Analgésicos
Os anti-inflamatórios e analgésicos são um dos grupos de medicamentos mais
comercializados em todo o mundo. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 17 milhões
de pessoas usam essas substâncias diariamente, pois várias delas podem ser obtidas sem
prescrições. Calcula-se, por outro lado, que aproximadamente 60 milhões de prescrições
sejam feitas anualmente. A maioria dos usuários são adultos e idosos (Chahade et al.,
2008).
Reguladores Lipídicos
Fármacos moduladores do metabolismo de lipídeos são frequentemente prescritos
no mundo e têm como objetivo diminuir a concentração de triglicérides e colesterol no
sangue sendo conhecidos assim como reguladores lipídicos. Essa classe de fármacos pode
ser dividida em dois grupos: o das estatinas e o dos fibratos. Os fibratos constituem uma
importante classe largamente utilizada para o tratamento de hiperlipidemias (elevação dos
níveis plasmáticos de colesterol e triglicérides). Dentro do grupo dos fibratos, podemos
destacar o bezafibrato e a genfibrozila. Recentemente, bezafibrato foi incluído na lista dos
medicamentos mais utilizados no mundo (Queiroz, 2011). Quinn e colaboradores (2008)
evidenciaram em seu trabalho que a genfibrozila e o bezafibrato afetam significativamente
a alimentação e o crescimento da espécie Hidra attenuata, pertencente ao filo dos animais
aquáticos chamado cnidário. A genfibrozila foi classificada como tóxica e o bezafibrato
como prejudicial para organismos não-alvo (Quinn et al., 2008).
Antifúngicos
Substâncias azólicas são muito utilizadas como princípio ativo em medicamentos
antifúngicos para homens e animais. Pesquisas têm revelado o potencial impacto de alguns
antifúngicos no sistema endócrino de organismos aquáticos. Alguns antifúngicos azólicos
como o miconazol têm sido frequentemente detectados em água residuárias e superficiais
(Queiroz, 2011).
Estimulante
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30
A cafeína é uma das drogas mais consumidas em todo o mundo (Braga, et al.,
2000). Ela é um estimulante encontrado em analgésicos como a Neosaldina® (Gishelli,
2006). Também está presente em diversas espécies de plantas, é encontrada em chás, café,
cacau, guaraná, chocolate e nos refrigerantes (Braga, et al., 2000). Ela é considerada um
excelente traçador de atividades antropogênicas na qualidade das águas. Se for encontrada,
é muito provável encontrar outros compostos da classe chamada contaminantes emergentes
(Reynol, 2010).
A tabela 3.1 Apresenta as estruturas químicas e as propriedades físico-químicas de
cada uma das classes de fármacos estudados neste trabalho.
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31
Tabela 3.1: Estrutura e propriedades físico-químicas das classes dos fármacos estudados.
Classe Nome Fórmula
molecular MM LogKow pka
Solubilidade
em água
(mg/L)
Estrutura Química
Antibiótico
Azitromicina C38H72N2O12 748,9845 4,02 8,74 7,09
Ciprofloxacina C17H18FN3O3 331,3415 0,28 6,09 3,00 × 104
Claritromicina C38H69NO13 747,9534 3,16 8,99 2,17 × 10²
Sulfametoxazol C10H11N3O3S 253,278 0,89 5,80 6,10 × 102
http://fr.wikipedia.org/wiki/Carbonehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Hydrog%C3%A8nehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Fluorhttp://fr.wikipedia.org/wiki/Fluorhttp://fr.wikipedia.org/wiki/Oxyg%C3%A8nehttp://en.wikipedia.org/wiki/Carbonhttp://en.wikipedia.org/wiki/Hydrogenhttp://en.wikipedia.org/wiki/Nitrogenhttp://en.wikipedia.org/wiki/Nitrogen
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Trimetoprima C14H18N4O3 290,3177 0,91 7,12 4,00 × 102
Anti-
inflamatório
e analgésico
Acetaminofeno
(paracetamol) C8H9NO2 206,2808 0,34 4,54 3,0 × 10
4
Ácido
acetilsalicílico C9H8O4 180,1574 1,19 3,50 4,6 × 10
4
Diclofenaco C14H11Cl2NO2 296,149 4,51 4,20 2,37
Ibuprofeno C13H18O2 206,2808 3,72 4,54 4,10 × 10
Naproxeno C14H14O3 230,2592 3,18 4,80 1,45 × 102
-
33
Reguladores
Lipídicos
Bezafibrato C19H20ClNO4 361,82 4,30 3,30 1,20
Genfibrozila C15H22O3 250,33 4,39 4,80 4,90
Anti-fúngico Miconazol C18H14Cl4N2O 416,129 6,10 6,70 0,76
Outros Cafeína
(Estimulante) C8H10N4O2 194,1906 -0,07 10,4 2,63 × 10
4
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34
Cimetidina
(Anti-ácido
gástrico)
C10H16N6S 252,339 0,40 6,80 5,00 × 10³
Ranitidina
(Tramento de
úceras)
C13H22N403S 314,39 NE NE 24,70 × 103
Diltiazem
(Anti-
hipertensivo)
C22H26N2O45 414,518 2,70 8,06 4,65 × 102
Nota: MM: Massa Molecular, Kow: Coeficiente de Partição octanol/água, NE: Não Encontrado.
Fontes: (Nödle et al., 2010; Queiroz, 2011; Wikepedia; Drug Bank; PubChem).
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35
PLASTIFICANTES
O bisfenol-A é um monômero polar de policarbonato, é usado pra revetimento de
produtos de alimentos enlatados, cubas de armazenamento de vinho, recipientes de água.
Plásticos de policarbonato são usados para fabricar garrafões de água, reutilizáveis (Céspedes
et al., 2006; Diana et al., 2011). Outras aplicações incluem a sua utilização como um anti-
oxidante na produção de pneus, intermediário na síntese de resinas epóxi, retardadores de
chama, como aditivo em papéis térmicos ou revestimentos de papel (Voutsa et al., 2006). Ele
tem sido apontado como um produto químico com poder de perturbar o sitema endócrino,
devido à sua capacidade de imitar a ação de hormônios estrogênicos endógenos (Kunz, et al.,
2011). Ocorre no ambiente principalmente, nos efluentes de plantas industriais de produção
de produtos plásticos e de aterros sanitários (Céspedes et al., 2006).
Ftalatos têm sido utilizado há mais de 50 anos principalmente na fabricação de PVC, e em
um menor grau em resinas, bem como na fabricação de plastificantes para materiais de
construção e de decoração, embalagens de alimentos e repelentes de insetos (Liang et al.,
2008; Céspedes et al., 2006; Diana et al., 2011). Também podem ser encontrados em
produtos tais como: tintas, adesivos e cosméticos (Diana et al., 2011). Eles são facilmente
liberados e podem migrar para os alimentos, bebidas e água potável a partir dos materiais de
embalagem ou de engarrafamento ou processos de fabricação (Diana et al., 2011). Ftalatos
possuem baixa solubilidade em água (3 μg/L) e, quando liberados no ambiente aquático, eles
tendem a adsorver fortemente as partículas em suspensão e sedimentos (Céspedes et al.,
2006). Como conseqüência, o bis(2-etilhexil)ftalato e o dietilftalato constituem os ftalatos
mais onipresente encontrados em águas residuais (Céspedes et al., 2006). Os ftalatos bis(2-
etilhexil)ftalato e o dietilftalato mostraram efeitos estrogênico em ensaios in vitro (Diana et
al., 2011).
SUBPRODUTOS DE DETERGENTES
Os detergentes representam um dos grupos de produtos químicos orgânicos com
maiores taxas de produção e utilização em todo o mundo, com uma tendência ascendente.
Eles são utilizados, não só como detergentes industriais e domésticos, mas também em
emulsificantes, tintas, antiespumante e adjuvantes de pesticidas (Gonzalez et al., 2012;
Voutsa et al., 2006). Nonilfenol e octilfenol são os principais subprodutos da degradação de
alquilfenoletoxilatos, que são utilizados como agentes tensoativos não iônicos nos produtos de
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36
limpeza, desinfectantes e formulações de pesticidas. (Diana et al., 2011). Sua ocorrência
comum em águas superficiais é certamente devido à sua ampla utilização doméstica e
industrial. Eles são encontrados na água e no material particulado em suspensão presente na
água doce, marinha e em sedimento de águas residuais (Céspedes et al., 2006).
O nonilfenol e octilfenol causam alterações no sistema endócrino e por isso estão
incluídos na lista das 32 substâncias prioritárias da European Water Framework Directive,
cujo principal objetivo é prevenir e evitar a contaminação da água na União Europeia.
Também estão incluídos na lista poluentes prioritários US EPA. (Céspedes et al., 2006).
Desde Janeiro de 2005, houve uma restrição na Europa sobre a venda e utilização de produtos
que contenham mais de 0,1 % de 4-nonilfenol etoxilatos ou 4-nonilfenol ( Diana et al., 2011).
HORMÔNIOS NATURAIS E SINTÉTICOS
A estrona e o 17β-estradiol são hormônios esteróides naturais responsáveis pelas
características secundárias femininas, agem no controle da ovulação, no desenvolvimento e
preparo cíclico do sistema reprodutor feminino para a fertilização e implantação do óvulo, e
podem também influenciar no crescimento, desenvolvimento e comportamento das fêmeas
(Queiroz, 2011). São produzidos em níveis elevados durante a gravidez, sendo excretados
pelas mulheres grávidas por volta de 7 µg/ dia de estrona e 2,4 µg/ dia de 17β-estradiol
(Velicu et al., 2009).
O 17α-etinilestradiol é um estrógeno sintético, derivado do 17β-estradiol, sendo um
bioativo oral usado em muitas formulações modernas de pílulas de contraceptivos orais e na
terapia de reposição hormonal (Moreira et al., 2011; Grover et al., 2011). A existência do
grupo metil a mais em sua estrutura, em relação ao 17β-estradiol, confere um maior potencial
estrogênico e também o torna mais resistente ao metabolismo fazendo com que grande parte
do que é excretado chegue inalterado à rede de esgoto. Como os tratamentos de esgoto
convencionais são ineficientes frente à degradação/remoção desse composto, grande parte é
lançada aos corpos d’água, chegando intactos ao meio ambiente (Andrew et al., 2010).
Esses hormônios agem como interferentes endócrinos podendo influenciar no
desenvolvimento de plantas, animais ou humanos (Stuart et al., 2012). A presença destes
compostos em compartimentos aquáticossão preocupantes, pois exibiram efeitos de
feminização de peixes em baixíssimas concentrações, no trabalho reportado por Grover e
colaboradores (2011).
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37
A tabela 3.2 apresenta as estruturas químicas e as propriedades físico-químicas de cada
uma das classes dos demais microcontaminantes (plastificantes, hormônios e subproduto de
detergentes) estudados neste trabalho, que apresentam comprovados efeitos interferentes em
sistemas endócrinos.
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Tabela 3.2: Estrutura e propriedades físico-químicas dos plastificantes, hormônios e subproduto de detergentes estudados.
Classe Nome Fórmula
molecular MM
Log
Kow pKa
Solubilidade
Em água
(mg/L)
Estrutura Química
Plastificantes
Bisfenol-A C15H16O2 228,2863 3,32 10,2 1,73 × 102
Bis(2-etilhexil)ftalato C24H38O4 390,5561 7,45 NE 0,29
Dietilftalato C12H14O4 222,0893 3,15 NE 6,87 × 10
Subprodutos de
detergentes
4-nonilfenol C15H24O 220,3505 4,48 10,7 1,57
4-octilfenol C14H22O 206,3239 5,50 10,4 3,11
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Hormônio Naturais
Estrona C18H22O2 270,3661 3,13 10,5 1,47 × 102
17β-Estradiol C18H24O2 272,382 3,94 10,4 8,19 × 10
Hormônio Sintético 17α-etinilestradiol C20H24O2 296,403 3,67 10,4 1,16 × 102
Nota: MM: Massa Molecular, Kow: Coeficiente de Partição octanol/água, NE: Não Encontrado.
Fontes: (Nödle et al., 2010; Queiroz, 2011; Wikepédia; PubChem).
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3.3 Métodos analíticos utilizados para determinar microcontaminantes em matrizes
ambientais
Um crescente número de metodologias analíticas tem sido reportado na literatura para a
determinação de microcontaminantes orgânicos, tanto de águas superfíciais quanto de águas
residuais. As análises instrumentais são normalmente realizadas por cromatografia em fase
gasosa (gas chromatography, GC) ou cromatografia em fase líquida (liquid chromatography,
LC), podendo serseguidas por acoplamento a espectrometria de massa (mass spectrometry,
MS). GC/MS só pode ser aplicada com sucesso por um número limitado de compostos, sendo
mais apropriada para compostos não-polares e de baixa temperatura de ebulição, é possível
analisar polares, porém esses necessitam de uma derivatização, que em alguns casos são
trabalhosas e muitas vezes irreprodutíveis. Por outro lado, a rápida evolução no campo da
LC/MS a transformaram em uma técnica essencial para a determinação de contaminantes
emergentes ambientais. LC/MS ganhou popularidade devido a sua versatilidade,
especificidade e seletividade, sendo aplicada como um método de escolha para a análise de
microcontaminantes em amostras ambientais complexas e águas residuais (Gros et al., 2006).
As principais fontes de ionização empregadas em LC/MS são: ionização por
eletronebulização (electrospray ionization, ESI), ionização química à pressão atmosférica
(atmospheric pressure chemical ionization, APCI) e fotoionização à pressão atmosférica
(atmospheric pressure photoionization, APPI) (Wick et al., 2010; Cai and Syage, 2006). Cada
tipo de interface possui um mecanismo específico de ionização, logo são influenciadas de
maneira distinta em relação à produção dos íons, sendo assim cada técnica possui sua
especialidade e limitações (Antignac et al., 2005; Matuszewski, 2006; Remane et al., 2010).
A seguir é descrito os mecanismos de ionização das fontes usadas nesse trabalho (APCI e
ESI).
Princípio de ionização do ESI:
Os modelos propostos para a formação de íons pelo ESI envolvem reações, ainda em
meio líquido, de transferência de cargas, que ocorrem na superfície das gotículas, quando o
solvente passa pelo capilar mantido à alta tensão (kV). Sendo que durante a evaporação do
solvente acontecem sucessivas reduções de tamanho das gotículas devido às repulsões
Coulombicas (figura 3.4). As transferências destes íons para a fase gasosa no ESI são
explicadas pelos modelos de ion-evaporação, modelo de carga residual ou pelo modelo
eletroquímico. Na realidade, é de se esperar que todos estes processos de transferência de íons
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41
da fase líquida para a fase vapor possam estar acontecendo, dependendo do analito e das
condições operacionais da fonte de ionização. Os processos de competição por carga entre o
analito e outros componentes da matriz podem levar a variações significativas nas
quantidades formadas de íons do analito, quando comparado com padrões em solvente puro.
Figura 3.4: Esquema dos componentes de uma fonte ESI.
Fonte: Adaptado (Kostiainen e Kauppila., 2009).
Para este tipo de fonte de ionização os solventes ideais são aqueles que apresentam
menores valores de tensão superficial, ponto de vaporização, energia de solvatação, e valores
de condutividade satisfatórios, sendo que apenas solventes polares e de média polaridade são
empregados (Kostiainen e Kauppila, 2009).
Princípio de Ionização da APCI
A formação de íons pela APCI envolve reações químicas entre íons e moléculas
neutras dos analitos, que ocorrem na fase gasosa. Os íons reativos são produzidos pela
interação dos elétrons, advindo da descarga elétrica promovida pela corona, produzida pela
grande diferença de potencial aplicada em uma agulha em contato com o gás do solvente
circundante. Uma série de reações promovem a geração de íons reativos que interagem com
as moléculas neutras dos analitos presentes, transferindo carga para os mesmos. As reações de
ionização primárias, promovida pela descarga da corona, ocorrem com as espécies presentes
na atmosfera, tais como nitrogênio, dióxido de carbono, oxigênio e os solventes próticos,
usados como fase móvel (água/metanol). Posteriormente essas espécies passam a reagir com o
analito através da transferência de prótons ou reações de troca de carga, ionizando o analito. O
calor utilizado pela APCI permite que a fase móvel e os analitos estejam na fase gasosa para
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42
ocorrerem às reações de transferência de cargas (Kostiainen and Kauppila, 2009). A figura 3.5
apresenta um esquema do funcionamento da APCI.
Figura 3.5: Esquema dos componentes de uma fonte APCI
Fonte: Adaptado (http:// www. bris.ac.uk/ nerclsmsf/ techniques/ hplcms.html).
A fase móvel ideal na APCI é aquela constituída de solventes que apresente energia
dos íons (por exemplo, afinidade prótica no modo positivo, afinidade eletrônica no modo
negativo e menor energia de ionização em ambos os casos) favorável às reações químicas de
ionização dos analitos, sendo que tanto solventes polares como não-polares podem ser usados
(Kostiainen e Kauppila, 2009; Gao et al., 2005).
3.3.1 Efeito Matriz
Vários autores têm reportado a ocorrência da supressão ou aumento do sinal causado
pela influência dos componentes da matriz ou outros interferentes presentes nas amostras
(Cappiello et al., 2008; Niessen et al., 2006; Kruve et al., 2008; Gosetti et al., 2010; Ismaiel
et al., 2007; Dussault et al., 2009; Mei et al., 2003; Gru et al., 2010; Kruve et al., 2011). Esse
fenômeno, também conhecido como efeito matriz, é uma das desvantagens mais relevantes
das técnicas de LC-MS. O efeito da matriz é definido pela IUPAC como o “efeito combinado
de todos os componentes da amostra, diferentes do analito, sobre a medição da quantidade. Se
um componente específico pode ser identificado como causador de um efeito, então este é
referido como um interferente” (IUPAC, 2006).
Os mecanismos do efeito matriz no processo de ionização usados em LC/MS ainda
não estão totalmente esclarecidos (Cappiello et al., 2008; Benijts et al., 2004). Dentre os
mecanismos propostos, supõe-se que haja uma competição entre os analitos e os componentes
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da matriz na etapa de formação dos íons, na interface do espectrômetro de massas.
Dependendo do ambiente em que o processo de ionização e de evaporação dos íons aconteça,
esta competição pode efetivamente diminuir ou aumentar a formação dos íons dos compostos
de interesse (Matuszewski et al., 2003).
Vários tipos de espécies podem ser capazes de afetar a eficiência de ionização dos
analitos. Elas podem ser espécies endógenas, componentes presentes na amostra que
permanecem mesmo após o pré-tratamento ou extração. Dentre elas estão incluídas: as
espécies iônicas (eletrólitos inorgânicos, sais), compostos polares (fenóis, sulfonatos de arila)
e outras moléculas orgânicas (carboidratos, aminas, uréia, lipídios, peptídeos, ácidos
orgânicos), em geral, outros compostos ou metabólicos caracterizados por uma estrutura
química semelhante à do analito alvo (Gosetti et al., 2010; Mallet et al., 2004; Pris et al.,
2008). Ou espécies exógenas, materiais advindos de fontes externas, tais como