Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós ......Figura 5.6: Ponto de amostragem (RD030) no...

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Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Mestrado em Engenharia Ambiental DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA PARA DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE MICROCONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUAS SUPERFICIAIS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS Keila Letícia Teixeira Rodrigues Ouro Preto, MG 2012

Transcript of Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós ......Figura 5.6: Ponto de amostragem (RD030) no...

  • Universidade Federal de Ouro Preto

    Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

    Mestrado em Engenharia Ambiental

    DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA PARA

    DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE MICROCONTAMINANTES

    EMERGENTES EM ÁGUAS SUPERFICIAIS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA

    ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS

    Keila Letícia Teixeira Rodrigues

    Ouro Preto, MG

    2012

  • Universidade Federal de Ouro Preto

    Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

    Mestrado em Engenharia Ambiental

    Keila Letícia Teixeira Rodrigues

    DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA PARA

    DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE MICROCONTAMINANTES

    EMERGENTES EM ÁGUAS SUPERFICIAIS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA

    ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

    Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade

    Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos

    necessários para a obtenção do título: “Mestre em

    Engenharia Ambiental – Área de Concentração: Meio

    Ambiente”

    Orientador: Prof. Dr. Robson José de Cássia Franco

    Afonso

    Ouro Preto, MG

    2012

  • Catalogação: [email protected]

    R696d Rodrigues, Keila Letícia Teixeira.

    Desenvolvimento de metodologia analítica para determinação simultânea de

    microcontaminantes emergentes em águas superficiais por cromatografia líquida

    acoplada à espectrometria de massas [manuscrito] / Keila Letícia Teixeira Rodrigues

    – 2012.

    156f. : il. color.; grafs.; tabs.; mapas.

    Orientador: Prof. Dr. Robson José de Cássia Franco Afonso.

    Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto

    de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas e Pós-graduação em

    Recursos Hídricos. Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental.

    Área de concentração: Meio Ambiente.

    1. Águas superficiais - Teses. 2. Fármacos - Teses. 3. Cromatografia líquida

    - Teses. 4. Espectrometria de massa - Teses. I. Universidade Federal de Ouro

    Preto. II. Título.

    CDU: 628.32:543.42

    mailto:[email protected]

  • “Algo só é impossível até que alguém

    duvide e resolva provar o contrário.”

    Albert Einstein

  • À minha mãe Maria, pelo amor, paciência e

    por sempre apoiar os meus sonhos.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força para superar as

    dificuldades, mostrar os caminhos certos nas horas incertas e por suprir todas as minhas

    necessidades.

    À minha mãe, por ser um exemplo de mulher, ter me apoiado sempre e colaborado para a

    realização dos meus sonhos. À minha irmã Cátia por ser sempre atenciosa e amiga. Aos

    meus irmãos Carlos e César pelo apoio e carinho. Aos meus cunhados Nivaldo e Glauciene

    pelo incentivo. Aos meus sobrinhos pela alegria. Ao meu primo Daniel por ter sido um

    grande amigo em Ouro Preto.

    À minha família, a qual amo muito, pelo carinho, paciência e estímulo.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Robson José de Cássia Franco Afonso, pelo seu grande

    profissionalismo e dedicação. Por contribuir para o meu crescimento profissional e por ser

    também um exemplo a ser seguido. Sua participação foi fundamental para a realização

    deste trabalho.

    À Profª Dra. Gilmare Antônia da Silva por sua atenção, paciência e pela grande

    contribuição fornecida ao trabalho com sua experiência na área de quimiometria. Ao Prof.

    Dr. Maurício Xavier Coutrim por estar sempre disposto a ajudar com sua experiência.

    Aos professores do curso de graduação e pós-graduação por todo o conhecimento

    compartilhado e aos colegas do mestrado pela amizade e companheirismo.

    Aos amigos do laboratório Bárbara, Amanda, Rafaela, Júlia, Fernanda Queiroz, Júlio,

    Bruno Baeta, Carlúcio, Taciana, Gustavo, Regiane, Débora, Claúdia, Dani, Raíssa, André,

    Luciana, Ramon pelo companheirismo, ajuda e amizade. Em especial a Ananda pelos

    conselhos e por estar sempre disposta a ajudar. Vocês foram minha segunda família em

    Ouro Preto!

    Aos amigos, em especial aos amigos do colegial Dias, Ives e Gilmar e aos amigos da

    faculdade Alexandre, Amália, Ariane, Paula, Sílvia e Natália, que mesmo de longe

    torceram por mim.

    À CAPES pela concessão da bolsa de estudo.

    Agradeço a todas as pessoas que contribuíram tanto intelectual quanto emocionalmente

    para a concretização desta dissertação.

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 17

    2. OBJETIVO .............................................................................................. 20

    2.1 Geral ........................................................................................................................................... 20

    2.2 Específicos ................................................................................................................................. 20

    3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................. 21

    3.1 Caracterização geral da bacia do Rio Doce ................................................................................ 21

    3.2 Microcontaminantes Emergentes ............................................................................................... 23

    3.2.1 Fontes de contaminação .................................................................................................. 26

    3.2.2 Classes de Microcontaminantes ...................................................................................... 27

    FÁRMACOS ........................................................................................................................ 28

    PLASTIFICANTES ............................................................................................................. 35

    SUBPRODUTOS DE DETERGENTES ............................................................................. 35

    HORMÔNIOS NATURAIS E SINTÉTICOS ..................................................................... 36

    3.3 Métodos analíticos utilizados para determinar microcontaminantes em matrizes ambientais ... 40

    3.3.1 Efeito Matriz ................................................................................................................... 42

    3.3.2 Preparo da amostra .......................................................................................................... 44

    EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO (LLE) .......................................................................... 44

    MICROEXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA (SPME) ............................................................ 44

    A EXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA (SPE) ........................................................................ 45

    3.3.3 Condições cromatográficas e espectrométricas ............................................................... 47

    3.4 Quimiometria ............................................................................................................................. 56

    4. METODOLOGIA ................................................................................... 58

    4.1 Região de Estudo ........................................................................................................................ 58

    4.2 Reagentes e consumíveis ............................................................................................................ 60

    4.3 Procedimentos de coleta e preservação ...................................................................................... 60

    4.4 Procedimento de preparação da amostra .................................................................................... 61

    4.4.1 Filtração e ajuste de pH ................................................................................................... 61

    4.4.2 Extração ........................................................................................................................... 62

    4.5 Cromatografia ............................................................................................................................ 64

    4.5.1 Descrição do equipamento e acessórios utilizados .......................................................... 64

  • 4.5.2 Desenvolvimento e otimização do método ..................................................................... 65

    TRIAGEM ............................................................................................................................ 66

    METODOLOGIA DE SUPERFÍCIE DE RESPOSTA ...................................................... 70

    4.5.3 Aperfeiçoamento do método otimizado .......................................................................... 73

    4.6.1 Seletividade do método ................................................................................................... 76

    4.6.2 Ajuste da curva analítica ................................................................................................. 76

    4.6.3 Limite de detecção/limite de quantificação .................................................................... 77

    4.6.4 Precisão ........................................................................................................................... 78

    4.6.5 Exatidão ........................................................................................................................... 79

    4.7 Aplicação do método desenvolvido na análise de amostras das águas superficiais ................... 81

    5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................... 82

    5.1 Região de Estudo ........................................................................................................................ 82

    5.2 Desenvolvimento e otimização do método ................................................................................ 93

    5.2.1 Otimização dos parâmetros operacionais ........................................................................ 93

    TRIAGEM ............................................................................................................................ 93

    METODOLOGIA DE SUPERFÍCIE DE RESPOSTA ..................................................... 103

    5.3 Validação .................................................................................................................................. 108

    5.3.1 Seletividade ................................................................................................................... 108

    5.3.2 Ajuste da curva analítica ............................................................................................... 114

    5.3.3 Limite de detecção e Limite de Quantificação .............................................................. 122

    5.3.4 Precisão ......................................................................................................................... 123

    5.3.5 Exatidão ......................................................................................................................... 125

    5.4 Aplicação da metodologia desenvolvida na análise das amostras de águas superficiais da bacia

    do Rio Doce .................................................................................................................................... 131

    FÁRMACOS ...................................................................................................................... 131

    PLASTIFICANTES ........................................................................................................... 135

    SUBPRODUTOS DE DETERGENTES ........................................................................... 138

    HORMÔNIOS .................................................................................................................... 140

    6. CONCLUSÕES ..................................................................................... 145

    7. PERSPECTIVAS DE TRABALHOS FUTUROS ............................. 147

    8. REFERÊNCIAS .................................................................................... 148

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 3.1: Localização da bacia do Rio Doce. ................................................................... 21

    Figura 3.2: Unidades de análise da bacia do Rio Doce. ...................................................... 22

    Figura 3.3: Principais fontes de contaminação de Microcontaminantes no meio ambiente.

    ............................................................................................................................................. 27

    Figura 3.4: Esquema dos componentes de uma fonte ESI. ................................................. 41

    Figura 3.5: Esquema dos componentes de uma fonte APCI ............................................... 42

    Figura 3.6: Grupo ligante do cartucho Strata X. ................................................................. 47

    Figura 3.7: Grupo ligante do cartucho Oasis HLB. ............................................................. 47

    Figura 4.1: Diagrama sistemático do procedimento de preparo de amostra. ...................... 61

    Figura 4.2: Sistema de filtração utilizado nesse estudo. ...................................................... 62

    Figura 4.3: (a) Manifold utilizado para a etapa de condicionamento, clean up e eluição dos

    cartuchos; (b) aparato de extração utilizado para a passagem da amostra e (c) cartucho

    empregado no procedimento de extração. ........................................................................... 63

    Figura 4.4: Cromatógrafo líquido acoplado ao espectrômetro de massas –

    HPLC/MS/IT/TOF (Shimadzu) ........................................................................................... 64

    Figura 4.5: Coluna cromatográfica Kinetex C18 (50 × 3,0 mm; 2,6 µm - Phenomenex) ... 64

    Figura 4.6: Configuração do sistema estudado, identificando os parâmetros operacionais

    que foram avaliados no desenvolvimento e otimização do método. ................................... 66

    Figura 4.7: Sistemática utilizada na triagem, mostrando os seis planejamentos executados.

    ............................................................................................................................................. 67

    Figura 5.1: Gráfico de pesos definidos pela 1 e 2° componentes principais mostrando os

    discriminantes químicos (indicadores da qualidade da água) das estações de coleta ao

    longo da bacia do Rio Doce no período de 2008 à 2010. .................................................... 82

    Figura 5.2: Gráfico bidimensional de valores correspondentes à classificação de 192

    amostras de águas superficiais das estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce no

    período de 2008 à 2010. ...................................................................................................... 84

    Figura 5.3: Mapa de localização das estações de coleta selecionadas para o estudo ao longo

    da Bacia do Rio Doce . ........................................................................................................ 85

    Figura 5.4: Ponto de amostragem (RD079) no Rio do Peixe, a montante de sua foz no rio

    Santo Antônio, na cidade Carmésia. .................................................................................... 89

    Figura 5.5: Ponto de amostragem (RD033) no Rio Doce a jusante da Cachoeira Escura no

    distrito de Perpétuo Socorro, Belo Oriente/Bugre. .............................................................. 90

  • Figura 5.6: Ponto de amostragem (RD030) no Rio do Peixe próximo de sua foz no Rio

    Piracicaba, nas proximidades da cidade Nova Era. ............................................................. 91

    Figura 5.7: Ponto de amostragem (RD077) no Rio Santo Antônio próximo à sua nascente,

    nas proximidades da cidade Conceição do Mato Dentro. ................................................... 92

    Figura 5.8: Resultado dos ensaios obtidos através do planejamento fatorial fracionário 24-1

    ,

    resolução IV, com triplicata no ponto central para cada subsistema estudado mostrando o

    percentual de analitos em relação as suas três melhores respostas (área) e a pior resposta. 94

    Figura 5.9: Avaliação da eficiência dos modificadores de fase móvel investigados no

    subsistemas que estudaram o uso da APCI (a) e do ESI (b)................................................ 96

    Figura 5.10: Cromatogramas dos melhores ensaios obtidos na triagem, modo SCAN,

    utilizando as fontes de ionização APCI (à esquerda) e ESI (à direita) para avaliação da

    resolução e eficiência de separação proporcionada pelos modificadores de fase móvel

    investigados. ........................................................................................................................ 97

    Figura 5.11: Gráfico de probabilidade normal do analito 4-nonilfenol para o planejamento

    fatorial fracionário 24-1

    , resolução IV, com fase móvel água / metanol utilizando o

    modificador de fase hidróxido de amônio e fonte de ionização APCI. ............................... 98

    Figura 5.12: Gráfico de probabilidade normal do analito bezafibrato para o planejamento

    fatorial fracionário 24-1

    , resolução IV, com fase móvel água/metanol utilizando o

    modificador de fase hidróxido de amônio e fonte de ionização ESI. .................................. 99

    Figura 5.13: Distribuição dos efeitos das variáveis sobre a resposta de interesse,

    empregando a APCI e o modificador de fase hidróxido de amônio. C1 (concentração do

    hidróxido de amônio), C2 (fluxo da fase móvel), C3 (temperatura da interface) e C4(tempo

    de acumulação do octapolo) foram as variáveis investigadas nesse sistema. ................... 100

    Figura 5.14: Distribuição dos efeitos sobre a resposta de interesse, empregando o ESI e o

    modificador de fase hidróxido de amônio. C1 (concentração do hidróxido de amônio), C2

    (fluxo da fase móvel), C3 (temperatura do bloco de aquecimento) e C4(fluxo do gás de

    secagem) foram as variáveis investigadas nesse sistema. ................................................. 101

    Figura 5.15: a) Gráfico do modelo de calibração proposto para o diltiazem b) Gráfico de

    resíduos para o modelo de calibração do diltiazem. .......................................................... 103

    Figura 5.16: Resultado dos ensaios obtidos por meio do planejamento Doehlert para os

    subsistemas empregando a APCI (a) e o ESI (b) mostrando o percentual de analitos em

    relação as suas três melhores respostas (área) e a pior resposta. ....................................... 107

    Figura 5.17: Avaliação da eficiência de ionização dos analitos de interesse frente à

    utilização das fonte de ionização ESI e APCI. .................................................................. 108

    Figura 5.18: Cromatogramas dos íons selecionados para cada fármaco estudado com os

    respectivos espectros de massas obtidos pela análise da amostra RD059 fortificada com

    30 µg/L dos padrões dos analitos de interesse. .................................................................. 111

  • Figura 5.19: Cromatogramas dos íons selecionados para cada um dos platificantes,

    subprodutos de detergentes e hormônios estudados com os respectivos espectros de massas

    obtidos pela análise da amostra RD059 fortificada com 30 µg/L dos padrões dos analitos

    de interesse. ....................................................................................................................... 113

    Figura 5.20: Curvas analíticas dos fámacos estudados obtidas por calibração externa. .... 118

    Figura 5.21: Curvas analíticas dos plastificantes, subprodutos de detergentes, e hormônios

    estudados obtidas por calibração externa. ......................................................................... 119

    Figura 5.22: Avaliação do resíduo obtido para o modelo de calibração linear do composto

    4-nonilfenol por meio dos gráficos de (a) probabilidade normal dos resíduos, (b) resíduos

    versus os valores ajustados, (c) histograma dos resíduos e (d) resíduos versus ordem dos

    dados. ................................................................................................................................. 120

    Figura 5.23: Avaliação do resíduo obtido para o modelo de calibração quadrática do

    composto bezafibrato por meio dos gráficos de probabilidade normal dos resíduos (a),

    resíduos versus os valores ajustados (b), histograma dos resíduos (c) e resíduos versus

    ordem dos dados (d). ......................................................................................................... 121

    Figura 5.24: Boxplot da distribuição dos fármacos nas amostras de águas superficiais das

    estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de estações de coletas

    que apresentaram o analito acima do LQ. ......................................................................... 132

    Figura 5.25: Distribuição da cafeína nas amostras das estações de coleta agrupadas de

    acordo com suas características antropogênicas e geológicas. ......................................... 134

    Figura 5.26: Boxplot da distribuição dos plastificantes nas amostras de águas superficiais

    das estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de estações de

    coletas que apresentaram o analito acima do LQ. ............................................................. 136

    Figura 5.27: Distribuição do bisfenol-A nas amostras das estações de coleta agrupadas de

    acordo com suas características antropogênicas e geológicas. ......................................... 137

    Figura 5.28: Boxplot da distribuição dos subprodutos de detergentes nas amostras de águas

    superficiais das estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de

    estações de coletas que apresentaram o analito acima do LQ. .......................................... 139

    Figura 5.29: Boxplot da distribuição dos hormônios nas amostras de águas superficiais das

    estações de coleta ao longo da bacia do Rio Doce, sendo N o número de estações de coletas

    que apresentaram o analito acima do LQ. ......................................................................... 141

    Figura 5.30: Gráfico de pesos definidos pela 1 e 2° componentes principais mostrando os

    discriminantes químicos (indicadores da qualidade da água) das estações de coleta ao

    longo da bacia do Rio Doce no período de 2008 à 2010. .................................................. 142

    Figura 5.31: Gráfico de PCA score das amostras de águas superficiais das estações de

    coleta ao longo da Bacia do Rio Doce. .............................................................................. 143

    file:///C:/Users/Alice/Desktop/Dissertação%20mestrado%20AGOSTO%202.docx%23_Toc335995061

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1: Estrutura e propriedades físico-químicas das classes dos fármacos estudados. 31

    Tabela 3.2: Estrutura e propriedades físico-químicas dos plastificantes, hormônios e

    subproduto de detergentes estudados. ................................................................................. 38

    Tabela 3.3: Revisão da literatura de monitoramento e métodos de LC/MS empregados para

    a determinação quantitativa de fármacos em águas superficiais. ........................................ 50

    Tabela 3.4: Revisão da literatura de monitoramento e métodos de LC/MS utilizados para a

    determinação quantitativa dos plastificantes, hormônios, subprodutos de detergentes em

    amostras de águas superficiais. ............................................................................................ 53

    Tabela 4.1: Lista dos parâmetros manipulados e seus respectivos códigos ........................ 59

    Tabela 4.2: Tempo de análise e o gradiente de concentração da fase móvel. ..................... 65

    Tabela 4.3: Planejamento fatorial fracionário 24-1

    , resolução IV aplicado na otimização dos

    parâmetros operacionais do LCMS-IT-TOF para determinação de microcontaminantes

    emergentes. .......................................................................................................................... 69

    Tabela 4.4: Variáveis e níveis decodificados investigados no planejamento experimental

    Doehlert, modelo quadrático com três variáveis quantitativas, para a otimização do método

    cromatográfico para determinação de microcontaminantes emergentes empregando o ESI

    ou a APCI. ........................................................................................................................... 71

    Tabela 4.5: Planejamento experimental Doehlert aplicado na otimização dos parâmetros

    operacionais do LCMS-IT-TOF, nos subsistemas que investigaram o uso da APCI e do

    ESI, para determinação de microcontaminantes emergentes. ............................................. 72

    Tabela 4.6: Parâmetros espectrométricos adotados na determinação dos

    microcontaminantes. ............................................................................................................ 74

    Tabela 4.7: Tempo de análise e variação da fase móvel. .................................................... 75

    Tabela 5.1: Descrição dos pontos de amostragem selecionados ao longo da bacia do Rio

    Doce. .................................................................................................................................... 86

    Tabela 5.2: Domínio experimental definido pela triagem dos parâmetros operacionais

    investigados para o subsistema que empregou a APCI e para o que fez uso do ESI. ....... 103

    Tabela 5.3: Análise de variância para o diltiazem gerada pelo planejamento Doehlert ao

    nível de 5 % de significância. ............................................................................................ 104

    Tabela 5.4: Termos estatísticos obtidos pela análise de variância do modelo proposto por

    meio do planejamento Doehlert, utilizando a APCI, para cada microcontaminante

    indicando se o parâmetro regressão e ajuste do modelo é significativo ou não significativo.

    ........................................................................................................................................... 105

  • Tabela 5.5: Termos estatísticos obtidos pela análise de variância do modelo proposto por

    meio do planejamento Doehlert, utilizando o ESI, para cada microcontaminante indicando

    se o parâmetro regressão e ajuste do modelo é significativo ou não significativo. ........... 106

    Tabela 5.6: Área média e o coficiente de variação das sete repetições de cada concentração

    dos padrões de fármacos empregados para a construção das curvas analíticas................. 115

    Tabela 5.7: Área média e o coficiente de variação das sete repetições de cada concentração

    dos padrões de plastificantes, subprodutos de detergentes e hormônios empregados para a

    construção das curvas analíticas. ....................................................................................... 116

    Tabela 5.8: Limites de detecção e quantificação do método considerando limites do

    equipamento, correções de diluição, rendimento de extração e efeitos da matriz............. 122

    Tabela 5.9: Resultados dos testes de precisão para os fármacos. ...................................... 123

    Tabela 5.10: Resultados dos testes de precisão para os plastificantes, subprodutos de

    detergentes, e hormônios. .................................................................................................. 124

    Tabela 5.11: Índice de recuperação para os fármacos estudados nos três níveis de

    concentração. ..................................................................................................................... 125

    Tabela 5.12: Valores de recuperação da extração para os plastificantes, subprodutos de

    detergentes, e hormônios estudados nos três níveis de concentração. ............................. 126

    Tabela 5.13: Médias de recuperação dos diferentes níveis de concentração e os parâmetros

    do modelo de calibração para a extração. .......................................................................... 127

    Tabela 5.14: Avaliação do efeito matriz nos diferentes níveis de concentração para cada

    fármaco utilizado. .............................................................................................................. 128

    Tabela 5.15: Avaliação do efeito matriz nos diferentes níveis de concentração para cada

    plastificantes, subprodutos de detergentes, e hormônios estudados. ................................ 130

    Tabela 5.16: Ocorrência dos fármacos nas estações de coleta localizadas na bacia do Rio

    Doce em ng/L. ................................................................................................................... 131

    Tabela 5.17: Ocorrência dos plastificantes nas estações de coleta localizadas na bacia do

    Rio Doce em ng/L. ............................................................................................................ 135

    Tabela 5.18: Ocorrência dos subprodutos de detergentes nas estações de coleta localizadas

    na bacia do Rio Doce em ng/L. ......................................................................................... 138

    Tabela 5.19: Ocorrência dos hormônios nas estações de coleta localizadas na bacia do Rio

    Doce em ng/L. ................................................................................................................... 140

  • LISTA DE NOTAÇÕES

    ACET Acetaminofeno

    ACN Acetonitrila

    ANOVA Análise de Variância

    ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

    AOAC Association of Official Analytical Chemists

    APCI Atmospheric Pressure Chemical Ionization

    APPI Atmospheric Pressure Photoionization

    ARCEM Austrian Research Cooperation on Endocrine Modulators

    BEZ Bezafibrato

    CAF Cafeína

    CBHs Comitês das Bacias Hidrográficas

    CCD Central Composite Design

    CENIBRA Celulose Nipo-Brasileira S/A

    CETEC/MG Centro Tecnológico de Minas Gerais

    COMPREHEND Community Programme of Research on Endocrine Disrupters and

    Environmental Hormones

    CSTEE Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment

    CV Coeficiente de Variação

    CVRD Companhia Vale do Rio Doce

    DIL Diltiazem

    DO1 Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piranga

    DO2 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba

    DO3 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Santo Antonio

    DO4 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Suaçuí

    DO5 Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Caratinga

  • DO6 Comitê de Bacia Hidrográfica Águas do rio Manhuaçu

    E- Evento realizado no modo Negativo

    E+ Evento realizado no modo Positivo

    EDSP Endocrine Disruption Screening Program

    EDSTAC Endocrine Disruptor Screening and Testing Advisory Committee

    EDTA Endocrine Disrupter Testing and Assessment Task Force

    ESI Electrospray Ionization

    ETE Estações de Tratamento de Esgoto

    FDA United States Food and Drug Administration

    FEM Fator de correção do Efeito Matriz

    FFCDA Federal Food, Drug and Cosmetic

    Frepulsão Força de repulsão

    FWHM Full width at half maximum

    ɤ líquido Tensão superficial do líquido

    GC Gas Chromatography

    GEN Genfibrozila

    HPLC High Performance Liquid Cromatograph

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IBU Ibuprofeno

    ICH International Conference on Harmonization

    IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

    Instrumental

    ISO International Standards Organization

    IT Ion Trap

    IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry

    Kow Coeficiente de Partição octanol/água

    http://pt.wikipedia.org/wiki/IBGE

  • LAS Lauril Alquil Sulfonados

    LC Liquid Chromatography

    LD Limite de Detecção

    LLE Liquid-Liquid Extraction

    LQ Limite Quantificação

    MEOH Metanol

    MIC Miconazol

    MM Massa Molecular

    MS Mass Spectrometry

    NAPR Naproxeno

    NE Não Encontrado

    PC Ponto Central

    PCA Principal Component Analysis

    PVC Policloreto de Polivinila

    Q1 1° Quadrante

    Q2 2° Quadrante

    Q3 3° Quadrante

    RASBQ Reunião Anual da sociedade Brasileira de Química

    SCAN Escaneamento de íons

    SIM Selected Ion Monitoring

    SPE Solid Phase Extraction

    SPME Solid Phase Microextraction

    SULF Sulfametoxazol

    TOF Time off flight

    TRI Trimetoprima

    UPGRH Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos

    US EPA United States Environmental Protection Agency

  • RESUMO

    Os microcontaminantes emergentes são indicadores de atividade antrópica e estão

    associados a um conjunto diversificado de compostos orgânicos que é usado em grandes

    quantidades pela sociedade para diversos fins. O interesse crescente por essas substâncias

    ocorre, principalmente, porque elas podem apresentar atividade biológica em

    concentrações muito baixas, o que confere grande relevância ambiental. A dificuldade para

    detectar e quantificar os microcontaminantes no meio ambiente incentiva o

    desenvolvimento de métodos analíticos adequados. Assim, esse trabalho focou no

    desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação simultânea de

    microcontaminantes em amostras de águas superficiais. Realizou-se um estudo sistemático

    de detecção simultânea de 25 microcontaminantes, os quais incluíram: fármacos,

    plastificantes, hormônios e subprodutos de detergente, por cromatografia líquida acoplada

    a espectrometria de massas de alta resolução, empregando o planejamento fatorial

    fracionário 24-1

    , resolução IV, na triagem e planejamento Doehlert na otimização. Os

    parâmetros qualitativos selecionados foram fonte de ionização (APCI e ESI) e tipo de

    modificadores da fase móvel (ácido fórmico, hidróxido de amônio e ácido

    fórmico/formiato de amônio), e para os parâmetros quantitativos avaliou-se a concentração

    dos modificadores da fase móvel, taxa de fluxo da fase móvel, temperatura da interface,

    temperatura do bloco de aquecimento, o tempo de acumulação de íons no octapolo e a taxa

    do fluxo do gás secagem. Verificou-se que o modificador de fase hidróxido de amônio

    numa concentração de 3,5 mM, empregando a fonte de ionização ESI com um fluxo de 0,1

    mL/min, uma temperatura do bloco de aquecimento à 300°C e pressão de 200 kPa de gás

    de secagem proporcionaram a condição mais apropriada para a análise simultânea dos

    microcontaminantes estudados. O método desenvolvido e validado, utilizando a extração

    em fase sólida, é aplicável para a determinação simultânea de 17 microcontaminantes

    dentre os avaliados, incluindo os farmácos sulfametoxazol, trimetoprima, ibuprofeno,

    naproxeno, acetaminofeno, bezafibrato, genfibrozila, cafeína, miconazol e ditiazem; os

    plastificantes bisfenol-A e dietilftalato; os subprodutos de detergentes 4-octilfenol e

    4-nonilfenol; os hormônios naturais estrona e 17β-estradiol; e o hormônio sintético

    17α-etinilestradiol. Foram obtidos limites de detecção do método que variaram de 0,38 à

    9,55 ng/L com mediana de 1,49 ng/L; e limites de quantificação do método numa faixa de

    1,26 à 31,80 ng/L com mediana de 4,98 ng/L. O método desenvolvido foi aplicado na

    avaliação da ocorrência dos microcontaminantes emergentes nas águas superficiais ao

    longo da bacia do Rio Doce - MG/Brasil. O 4-nonilfenol foi o microcontaminante mais

    encontrado nas amostras, seguido da cafeína, bisfenol-A, ibuprofeno e bezafibrato. O

    diltiazem não foi encontrado em nenhuma das amostras e o miconazol ocorreu raramente.

    Palavras chave: microcontaminantes emergentes, compostos farmacêuticos, plastificantes,

    hormônios, bacia do Rio Doce, cromatografia líquida de alto desempenho acoplada à

    espectrometria de massas, extração em fase sólida, otimização multivariada, planejamentos

    experimentais multivariados, efeito matriz.

  • ABTRACT

    The emerging microcontaminants are indicators of anthropogenic activity and are

    associated with a diverse set of organic compounds that are used in large quantities by the

    society for various purposes. The growing interest in these substances occurs mainly

    because they may have biological activity at low concentrations, which gives them great

    environmental relevance. The difficulty to detect and quantify these microcontaminants in

    the environment encourages the development of appropriate analytical methods. Thus, this

    work focused on the development of analytical methods for the simultaneous

    determination of microcontaminants in surface water samples. It was carried out a

    systematic study of simultaneous detection of 25 microcontaminants, which included:

    pharmaceutical compounds, plasticizers, hormones and detergent by-products, by liquid

    chromatography coupled to mass spectrometry of resolution high, using the 24-1

    fractional

    factorial experimental design, resolution IV , for screening and Doehlert experimental

    design in optimization. The qualitative parameters selected were ionization source (APCI

    and ESI), and the type of mobile phase modifiers (formic acid, ammonium hydroxide and

    formic acid / ammonium formate). The quantitative parameters evaluated were phase

    modifiers concentrations, mobile phase flow rate, interface temperature, heating block

    temperature, ion accumulation time in the octapolo and drying gas flow rate. It was found

    that the phase modifier ammonium hydroxide in a concentration of 3.5 mM, using ESI

    ionization source with a flow of 0.1 mL/min, heating block temperature to 300°C and

    200kPa of drying gas provided the most suitable condition for the simultaneous

    determination of studied microcontaminants. The method developed and validated, using

    the solid phase extraction, is applicable to the simultaneous determination of 17

    microcontaminants among those evaluated, including the pharmaceutical compounds

    sulfamethoxazole, trimethoprim, ibuprofen, naproxen, acetaminophen, bezafibrate,

    gemfibrozil, caffeine, miconazole and ditiazem, the plasticizers bisphenol-A and

    diethylphthalate; the detergent by-products 4-octylphenol and 4-nonylphenol; the natural

    hormones estrone and 17β-estradiol, and the synthetic hormone 17α-ethinylestradiol. The

    obtained method’s detection limit ranged from 0.38 to 9.55 ng/L with median of 1.49 ng/L

    and method’s quantification limit a ranged from 1.26 to 31.80 ng/L with median 4.98 ng/L.

    The developed method was applied to evaluate the occurrence of emerging

    microcontaminants in surface waters along the basin of the Rio Doce - MG / Brazil. The

    4-nonylphenol was the microcontaminante mostly found in the samples, followed by

    caffeine, bisphenol-A, ibuprofen and bezafibrate. Diltiazem was not found in any samples

    and miconazole occurred rarely.

    Keywords: emerging microcontaminants, pharmaceutical compounds, plasticizers,

    hormones, basin of Rio Doce, high performance liquid chromatography coupled mass

    spectrometry, solid phase extraction, multivariate optimization, multivariate experimental

    designs, matrix effect.

  • 17

    1. INTRODUÇÃO

    Atualmente, o reconhecimento relativo à contaminação do meio ambiente por

    substâncias químicas levou a sociedade a acentuar o interesse por outros poluentes,

    também conhecidos por contaminantes emergentes. Eles afetam a saúde e o bem-estar de

    uma comunidade de diversas formas. Eles são candidatos a regulamentações futuras,

    estando apenas dependentes dos resultados das pesquisas relacionadas aos potenciais

    efeitos nos ecossistemas e aos dados de monitoramento da respectiva ocorrência no meio

    ambiente (Silva, 2010). Em muitos países, ações governamentais e não-governamentais

    buscam definir parâmetros universais de debate sobre o tema, abrangendo a minimização

    de substâncias químicas, o estabelecimento de normas e condutas. Os Estados Unidos por

    meio da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental

    Protection Agency, US EPA) e a União Europeia têm publicado listas selecionando

    substâncias prioritárias para maior avaliação dos seus efeitos (EPA, 2010; Comission of

    the European Communities, 2007).

    O termo microcontaminantes emergentes tem sido usado na literatura em referência aos

    contaminantes orgânicos que são encontrados em concentrações da ordem de microgramas

    a nanogramas por litro (Rodil et al., 2009; Yoon et al., 2010). Esses compostos

    compreendem produtos farmacêuticos e de higiene pessoal, hormônios naturais e

    sintéticos, subprodutos industriais e drogas ilícitas (Rodil et al., 2012; Sodré et al., 2010).

    Muitos deles são classificados como interferentes endócrinos, ou seja, substâncias ou

    misturas exógenas que alteram a função do sistema endócrino de humanos e animais e,

    consequentemente, causam efeitos adversos em um organismo saudável, ou em seus

    descendentes ou subpopulações (Bila et al., 2007).

    Os microcontaminantes têm chegado ao meio ambiente, principalmente, em função das

    deficiências dos processos de tratamento de efluentes industrial e de esgotos (Trenholm et

    al., 2008; Melo et al., 2009). Nos países industrializados, a maioria do esgoto produzido é

    tratada em estações de tratamento de esgoto (ETE) antes de serem lançados no ambiente.

    No entanto, alguns hormônios naturais e produtos químicos sintéticos podem ser

    encontrados em águas superficiais. Muitas destas substâncias são resistentes à

    biodegradação em ETEs ou são lançadas diretamente em compartimentos aquáticos sem

    qualquer tratamento (Yoon et al., 2010; Melo et al., 2009; Bila et al., 2007).

    Muitos métodos analíticos foram desenvolvidos para detectar e quantificar essas

    substâncias em matrizes ambientais complexas, tais como águas superficiais e

  • 18

    subterrâneas, esgoto doméstico, efluentes de ETE, sedimentos marinhos, solo e lodo

    biológico (Céspedes et al., 2006). Dentre às técnicas mais comuns, destacam-se a

    utilização de cromatografia acoplada à espectrometria de massas, uma vez que permite a

    identificação e quantificação simultânea de várias substâncias de interesse ambiental. A

    análise por cromatografia gasosa (gas chromatography, GC) acoplada à espectrometria de

    massas (mass spectrometry, MS) foi a mais utilizada inicialmente, no entanto muitos

    compostos não são passíveis de serem analisados por GC devido a sua instabilidade

    térmica e polaridade; para produzir compostos voláteis, alguns analitos requerem

    derivatização (Brossa et al., 2004). Já a técnica de cromatografia líquida acoplada à

    espectrometria de massas (liquid chromatography/mass spectrometry, LC/MS) teve

    progresso tanto na tecnologia quanto na sua aplicação no início da década de 1990.

    Alterações nos formatos das fontes de ionização trouxeram mais sofisticação e eficiência.

    As fontes de ionização mais comumente utilizadas para a determinação de

    microcontaminantes por LC/MS no ambiente aquático são: ionização por eletronebulização

    (electrospray ionization, ESI), ionização química por pressão atmosférica (atmospheric

    pressure chemical ionization, APCI) e fotoionização em pressão atmosférica (atmospheric

    pressure photoionization, APPI). Estas técnicas promovem uma ionização branda e são

    extremamente adequadas para a determinação de compostos químicos em diferentes

    matrizes (Wick et al., 2010; Cai e Syage, 2006).

    Com o intenso desenvolvimento das técnicas instrumentais e a disponibilidade de

    grande volume de dados, tornou-se necessário, e praticamente indispensável, o uso de

    tratamentos mais complexos do ponto de vista matemático e estatístico, a fim de se obter

    respostas mais precisas e interpretações mais completas (da Silva et al., 2007). A análise

    multivariada de dados químicos tem exercido grande interesse e aceitação, pois permite a

    extração de maiores informações químicas relevantes ao sistema alvo. A quimiometria

    entra nesse contexto, pois ela faz uso de métodos matemáticos e estatísticos para planejar

    ou selecionar experimentos de forma otimizada, e disponibiliza ferramentas para o

    processamento dos dados químicos estudados, com a finalidade de fornecer o máximo de

    informação pela análise dos dados obtidos (Ferreira et al.,1999).

    Pesquisadores do mundo todo estão empenhados em esclarecer, criar estratégias que

    solucionem ou, pelo menos, minimizem o problema dos microcontaminantes, devido à

    grande importância destes compostos do ponto de vista ambiental e ecotoxicológico. No

    entanto, pouquíssimos estudos têm abordado a ocorrência desses compostos em águas

    brasileiras (Sodré et al., 2010). Sendo assim, esse trabalho focou no desenvolvimento de

  • 19

    método cromatográfico para a identificação e quantificação de microcontaminantes

    emergentes, utilizando ferramentas quimiométricas, em águas superficiais,

    particularmente, nas águas da bacia do Rio Doce e contribuir para o avanço científico

    relacionado à ocorrência dos microcontaminantes emergentes nos recursos hídricos do

    Brasil.

  • 20

    2. OBJETIVO

    2.1 Geral

    Este trabalho teve como objetivo desenvolver metodologia analítica para a

    determinação simultânea de microcontaminantes emergentes em amostras de águas

    superficiais por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas. Estabelecer

    procedimentos para o monitoramento dos microcontaminantes nas águas da bacia do Rio

    Doce, avaliando sua contaminação, contribuindo desta forma para o avanço científico

    relacionado à ocorrência dos microcontaminantes emergentes nos recursos hídricos do

    Brasil. Os compostos estudados foram: produtos farmacêuticos (ácido acetilsalicílico,

    acetaminofeno, azitromicina, bezafibrato, cimetidina, ciprofloxacino, claritromicina,

    diclofenaco, genfibrozila, diltiazem, ibuprofeno, miconazol, naproxeno, ranitidina,

    sulfametoxazol, trimetoprima e cafeína), hormônios naturais e sintéticos (estrona, 17β-

    estradiol e 17α-etinilestradiol), plastificantes (dietilftalato, bis(2-etilhexil)ftalato e bisfenol-

    A) e subprodutos de detergentes (4-nonilfenol e 4-octilfenol).

    2.2 Específicos

    Estabelecer os pontos de coleta das amostras de águas superficiais ao longo da bacia do

    Rio Doce;

    Estabelecer métodos de preparo da amostra e extração dos microcontaminantes

    emergentes;

    Otimizar as condições operacionais do cromatógrafo líquido acoplado ao

    espectrômetro de massas utilizando planejamentos experimentais multivariados;

    Validar o método desenvolvido para a identificação e quantificação dos

    microcontaminantes emergentes;

    Levantar dados sobre os níveis de contaminação dos microcontaminantes emergentes

    nas águas da bacia do Rio Doce;

    Tratar os dados para avaliação dos níveis de contaminação e sua correlação com as

    influências antropogênicas.

  • 21

    3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    3.1 Caracterização geral da bacia do Rio Doce

    A bacia do Rio Doce situa-se na região Sudeste, entre os paralelos 17°45' e 21°15' S e

    os meridianos 39°30' e 43°45' W, integrando a região hidrográfica do Atlântico Sudeste.

    Esta bacia possui uma população superior a 3,5 milhões de habitantes e apresenta uma área

    de drenagem de aproximadamente 86.715 km², dos quais 86% pertencem ao Estado de

    Minas Gerais e o restante ao Espírito Santo, abrange um total de 230 municípios (IGAM,

    2007).

    As nascentes do Rio Doce situam-se no Estado de Minas Gerais (figura 3.1), nas serras

    da Mantiqueira e do Espinhaço, sendo que suas águas percorrem cerca de 850 km, até

    atingir o oceano Atlântico, junto ao povoado de Regência, no Estado do Espírito Santo.

    Figura 3.1: Localização da bacia do Rio Doce.

    Fonte: (IGAM, 2007).

    Os principais afluentes do Rio Doce pela margem esquerda são os rios do Carmo,

    Piracicaba, Santo Antônio, Corrente Grande e Suaçuí Grande, em Minas Gerais; São José e

    Pancas no Espírito Santo. Já pela margem direita são os rios Casca, Matipó,

    Localização da bacia do Rio Doce

  • 22

    Caratinga/Cuieté e Manhuaçu em Minas Gerais; Guandu, Santa Joana e Santa Maria do

    Rio Doce no Espírito Santo (IGAM, 2007).

    No estado de Minas Gerais a bacia do Rio Doce é dividida em seis Unidades de

    Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPGRHs), com Comitês de Bacia já

    estruturados, conforme descrito abaixo:

    DO1 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piranga;

    DO2 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba;

    DO3 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Santo Antonio;

    DO4 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Suaçuí;

    DO5 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Caratinga;

    DO6 – Comitê de Bacia Hidrográfica Águas do rio Manhuaçu.

    No Estado do Espírito Santo, embora inexistam subdivisões administrativas da

    bacia do Rio Doce, têm-se os Comitês das Bacias Hidrográficas (CBH) do rio Santa Maria

    do Doce e do rio Guandu, os Consórcios dos rios Santa Joana e Pancas, bem como a

    Comissão Pró-Comitê da bacia do rio São José, que se encontra em processo de

    mobilização para a criação de CBHs. A figura 3.2 ilustra este aspecto (IGAM, 2007).

    Figura 3.2: Unidades de análise da bacia do Rio Doce.

    Fonte: (IGAM, 2007).

    Neste trabalho será abrangido apenas o domínio de Minas Gerais, que é gerido pelo

    Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), por meio do Projeto Águas de Minas, em

    execução desde 1997 (IGAM, 2011).

    Unidades de análise da bacia do Rio Doce

  • 23

    A atividade econômica da bacia do Rio Doce é bastante diversificada, destacando-

    se: a agropecuária (reflorestamento, lavouras tradicionais, cultura de café, cana-de-açúcar,

    criação de gado leiteiro e de corte e na suinocultura); a agroindústria (sucroalcooleira); a

    mineração (ferro, ouro, bauxita, manganês, pedras preciosas e outros); a indústria

    (celulose, siderurgia e laticínios); o comércio e serviços de apoio aos complexos

    industriais; e a geração de energia elétrica (IGAM, 2007).

    Na região encontra-se instalado o maior complexo siderúrgico da América Latina,

    com destaque para a Companhia Siderúrgica Belgo Mineiro, a ACESITA e a USIMINAS.

    Ao lado da siderurgia estão associadas empresas de mineração, com destaque para a

    Companhia Vale do Rio Doce – CVRD - a maior mineradora a céu aberto do mundo - e

    empresas reflorestadoras, que cultivam o eucalipto para fornecer matéria-prima para as

    indústrias de celulose (IGAM, 2007; PROJETO ÁGUAS DO RIO DOCE). Todo esse

    complexo industrial desempenha papel significativo nas exportações brasileiras de minério

    de ferro, aços e celulose. Além deles, a bacia contribui na geração de divisas pelas

    exportações de café (MG e ES) e polpa de frutas (ES) (PROJETO ÁGUAS DO RIO

    DOCE). Contribuindo para impactos nas águas do Rio Doce (IGAM, 2007).

    O desmatamento generalizado e o mau uso dos solos, seja para a monocultura do

    eucalipto como para agricultura ou pastagem, tem conduzido a região a um intenso

    processo de erosão, cujos sedimentos resultantes tendem a assorear os cursos d'água. O

    assoreamento é um dos problemas sérios que atinge a bacia, em especial o baixo curso do

    Rio Doce, que recebe carga de sedimentos provenientes das áreas a montante. O problema

    da erosão é ainda agravado nas áreas em que as rochas e o solo possuem grandes

    concentrações de alumínio. O uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras também

    contribui para a contaminação dos cursos d'água. A urbanização da bacia também contribui

    significativamente para os impactos nos cursos d'água, principalmente pelo quase

    inexistente sistema de tratamento de esgotos (PROJETO ÁGUAS DO RIO DOCE).

    3.2 Microcontaminantes Emergentes

    O termo microcontaminantes emergentes tem sido usado na literatura em referência aos

    compostos orgânicos que são encontrados em amostras ambientais, de águas superficiais e

    esgotos em concentrações da ordem de nanogramas a microgramas por litro (Rodil et al.,

    2009; Yoon et al., 2010). Os microcontaminantes são indicadores de atividade antrópica e

    estão associados a um conjunto diversificado de compostos orgânicos que é usado em

  • 24

    grande quantidade pela sociedade, para variados fins, incluindo a produção e conservação

    de alimentos, processos industriais, bem como para cuidados da higiene, saúde humana e

    animal (Lapworth et al., 2012). O interesse crescente por essas substâncias ocorre,

    principalmente, porque elas podem apresentar atividade biológica em concentrações muito

    baixas, o que confere a elas grande relevância ambiental (Zwiener et al., 2004).

    Alguns microcontaminantes são classificados como interferentes endócrinos, ou seja,

    substâncias ou misturas exógenas que alteram a função do sistema endócrino de humanos e

    animais e, consequentemente, causam efeitos adversos em um organismo saudável, ou em

    seus descendentes ou subpopulações (Bila et al., 2006). Essa classe tem despertado grande

    interesse, pois já foram constatados efeitos cancerígenos, alterações crônicas no

    desenvolvimento e na reprodução de várias espécies, perturbação nos sistemas

    cardiovascular e o neuroendócrino (Waye et al., 2011), além dessa classe esta sendo

    associada com a incidência da obesidade (Newbold et al., 2008).

    Os contaminantes emergentes podem ser candidatos a futuras regulamentações, estando

    apenas dependentes dos resultados das pesquisas relacionadas com os potenciais efeitos

    destes nos ecossistemas e com os dados de monitoramento da respectiva ocorrência no

    meio ambiente (Silva, 2010). Em muitos países, ações governamentais e não-

    governamentais buscam definir parâmetros universais de debate sobre o tema, incluindo-se

    a minimização de substâncias químicas e o estabelecimento de normas e condutas (2°

    WORKSHOP SOBRE CONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUA PARA

    CONSUMO HUMANO, 2010).

    Os Estados Unidos por meio da Agência de Proteção Ambiental (Environmental

    Protection Agency, EPA) divulgou sua segunda lista de produtos químicos e substâncias

    para quais a EPA pretende emitir ordens de ensaio sob o Programa de Triagem de

    Perturbadores Endócrinos (Endocrine Disruption Screening Program, EDSP). A EPA

    estabeleceu o EDSP em resposta a seção 408 da Lei Federal de Alimentos, Medicamentos

    e Cosméticos (Federal Food, Drug and Cosmetic, FFCDA) que aborda a Tolerância e

    isenções para os resíduos químicos de pesticidas (EPA, 2010).

    A União Européia estabeleceu uma lista de 553 substâncias classificadas como

    substâncias candidatas e que seriam avaliadas como possíveis interferentes endócrinos

    (Rodríguez-Gonzalo et al., 2010). Após estudos preliminares, uma segunda lista foi

    emitida, abordando as substâncias prioritárias para maior avaliação dos seus efeitos

    endócrinos. Essa nova lista apresenta 428 substâncias que pertencem a diferentes grupos

    químicos, dentre eles estão contidos os alquilfenóis e seus derivados, benzoatos, cloretos

  • 25

    de alcanos, ftalatos, dioxinas/ furanos e bifenilpoliclorados. Destas substâncias 194

    possuem clara evidência de efeitos no sistema endócrino (Comission of the European

    Communities, 2007).

    Vários consórcios foram criados em todo o mundo com o objetivo de avaliar a

    complexa situação dos microntaminantes, o que revela a crescente preocupação mundial

    com essas substâncias. Diversos assuntos são abordados e investigados, tais como o

    monitoramento de substâncias estrogênicas em amostras de águas naturais (Austrian

    Research Cooperation on Endocrine Modulators, ARCEM); a validação dos métodos de

    ensaios que determinam as substâncias com potencial de desregulação endócrina

    (Endocrine Disruptor Screening and Testing Advisory Committee, EDSTAC; Endocrine

    Disrupter Testing and Assessment Task Force, EDTA); a identificação e caracterização de

    todos os efeitos relatados (Environmental Disruptor Screening Program, EDSP;

    Community Programme of Research on Endocrine Disrupters and Environmental

    Hormones, COMPREHEND e o Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment,

    CSTEE) entre outros (Bila et al., 2006).

    Entidades brasileiras tem tomado consciência do problema e as questões que envolvem

    contaminantes emergentes têm sido debatidas. Exemplos disso foram os Workshops sobre

    Contaminantes Emergentes em Águas para Consumo Humano realizados na Unicamp no

    fim de 2009 e início de 2011 (1° WORKSHOP SOBRE CONTAMINANTES

    EMERGENTES EM ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO, 2009; 2° WORKSHOP

    SOBRE CONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUA PARA CONSUMO

    HUMANO, 2011). Os eventos foram coordenados por Wilson Jardim e foram voltados

    para a participação de representantes de concessionárias de água e esgoto, membros de

    agências ambientais municipais, estaduais e federais, representantes de comitês de bacias

    hidrográficas, representantes governamentais e do poder legislativo, além de

    pesquisadores, professores e alunos de pós-graduação, especialistas em química analítica e

    ambiental, toxicologia e ecotoxicologia, engenharia e saneamento ambiental, dentre outras

    áreas de interesse. Tendo-se em vista a carência de informações sobre o tema no Brasil, o

    Workshop contou com a participação de pesquisadores nacionais e estrangeiros,

    especialistas em diferentes áreas, que proferiram palestras, e participaram de discussões e

    divulgaram assuntos relacionados à ocorrência de contaminantes emergentes no ambiente

    (JARDIM, 2009). O Workshop sobre contaminantes emergentes em água concretizado no

    34° RASBQ (Reunião Anual da sociedade Brasileira de Química), Florianópolis em 2011,

    também é outro exemplo de tentativa de avaliar a situação brasileira quanto a esses

  • 26

    compostos e identificar grupos de pesquisa na área, bem como discutir subsídios à políticas

    públicas quanto à exposição humana. O workshop foi coordenado por Wilson Jardim e

    Maria Olimpia de Oliveira Rezende e contou com a participação dos pesquisadores: Tânia

    Mara Pizzolato (UFRGS), Fernando Fabriz Sodré (UnB), Mary Rosa Rodrigues de Marqui

    (UNESP), Robson José de Cássia Franco Afonso (UFOP) (34° RASBQ, 2011).

    3.2.1 Fontes de contaminação

    A principal fonte de contaminação de microcontaminantes no meio ambiente é o

    lançamento de esgotos domésticos, tratados ou não, em cursos de água (Bila et al., 2007).

    As ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) recebem um grande espectro de

    contaminantes das águas residuais domésticas e/ou industrial, que não são completamente

    eliminados durante o processo de tratamento. Assim, nas saídas das ETEs uma mistura

    complexa de contaminantes, incluindo os contaminantes e os seus metabólitos são

    descarregados para os rios. Em muitos locais, as águas do efluente tratado são diluídas com

    água a partir de outras fontes. As concentrações dos microcotaminantes presentes em águas

    podem aumentar ou diminuir dependendo das concentrações e do fluxo de contaminantes

    despejadas nas águas superficiais (Yoon et al., 2010).

    Os fármacos, drogas de abuso, hormônios são continuamente liberados no meio

    ambiente principalmente através de excreções urinárias ou fecais e pela disposição

    inadequada de fármacos não utilizados ou com expiração do prazo de validade (Gros et al.,

    2006; Van Nuijs et al., 2011; Bila et al., 2007). Os produtos de higiene e limpeza pessoal

    são eliminados continuamente no meio ambiente através das descargas de esgotos

    domésticos e industriais (Silva, 2010). Outro exemplo de rota de contaminação de

    microcontaminantes pode ser o composto proveniente do lodo digerido e do estrume,

    usados como fertilizante na agricultura, que são capazes de promover a contaminação das

    águas subterrâneas e superficiais. Os excrementos da criação de animais (gado, porcos,

    galinha, etc.) são considerados fontes potenciais de contaminação por fármacos e

    estrógenos no ambiente (Veras, 2006).

    A figura 3.3 representa um esquema simplificado das principais fontes de

    contaminação dos microcontaminantes no meio ambiente.

    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4780133P3http://lattes.cnpq.br/6392594590302380http://lattes.cnpq.br/6392594590302380http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4705095Z9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4781403E2

  • 27

    Microcontaminantes

    Efluentes das ETEs

    Efluentes

    industriais

    Lodos

    Figura 3.3: Principais fontes de contaminação de Microcontaminantes no meio ambiente.

    Fonte: Adaptada (Silva, 2010).

    3.2.2 Classes de Microcontaminantes

    Podem ser incluídos como microcontaminantes compostos pertencentes às classes de

    produtos farmacêuticos e de higiene pessoal, hormônios naturais e sintéticos, plastificantes,

    subprodutos de detergentes, retardantes de chama, aromatizantes, conservantes,

    subprodutos industriais e drogas ilícitas (Rodil et al., 2012; Sodré et al., 2010; Andrews et

    al., 2012). Sendo que as classes estudadas nesse trabalho serão abordadas com mais

    detalhes.

  • 28

    FÁRMACOS

    Fármacos são substâncias biologicamente ativas e persistentes reconhecidas como

    uma ameaça permanente para a estabilidade ambiental. Dados de ecotoxicidade crônica,

    bem como informações sobre os níveis atuais de distribuição nos diferentes

    compartimentos ambientais continuam a ser escassos e concentram a atenção nas classes

    terapêuticas mais frequentemente prescritas e consumidas. (Santos et al, 2007).

    Os produtos farmacêuticos pertencem à classe de microcontaminantes orgânicos

    emergentes que mais têm chamado à atenção dos pesquisadores, devido aos números

    crescentes de utilização de medicamentos (Silva e Collins, 2011). Cerca de 3000 diferentes

    compostos são utilizados como componentes de medicamentos na medicina humana e

    veterinária. Eles abragem uma grande variedade de estruturas químicas (Ternes, 2001).

    Essa extensa utilização tem sido considerada alarmante em países desenvolvidos, como é o

    caso da Alemanha, onde o consumo de medicamentos superou, desde 2001, a quantidade

    de 100 toneladas por ano. A quantidade real de medicamentos consumidos é ainda maior,

    pois nesses dados não estão inclusos medicamentos consumidos sem receituário médico ou

    adquiridos ilegalmente. No caso do Brasil, os números de consumo de medicamentos

    podem ainda ser maiores, porém ainda não há dados disponíveis (Silva e Collins, 2011).

    Esses compostos presentes no ambiente podem interagir com a biota do meio

    interferindo significativamente na fisiologia, no metabolismo e no comportamento das

    espécies, podendo ocasionar severos danos ao organismo humano e aos demais seres vivos.

    Alguns podem ocasionar efeitos secundários como, por exemplo, alteração na defesa

    imunológica de organismos tornando-os mais suscetíveis a doenças (Belizário et al., 2009).

    Além de oferecer riscos para os animais aquáticos, no caso de antibióticos, podem

    ocasionar a resistência bacteriana (González et al., 2012).

    Antibióticos

    Os antibióticos pertencem a classe de medicamento que é intensamente utilizada

    para combater infecções bacterianas. A ocorrência de antibióticos no meio aquático é de

    preocupação ecotoxicológica devido à alteração potencial que pode ocorrer no

    ecossistema. A exposição prolongada a baixas doses de antibióticos leva à proliferação

    seletiva de bactérias resistentes, o que poderia transferir os genes de resistência a outras

    espécies de bactérias (Velicu et al., 2009). Podendo ocasionar o aparecimento de bactérias

    patogênicas resistentes, acarretando graves problemas de saúde pública (Belizário et al.,

  • 29

    2009). Os antibióticos também possuem o potencial de afetar a comunidade microbiana em

    sistemas de esgotos. A inibição de bactérias presentes em águas residuais pode afetar

    seriamente a degradação da matéria orgânica (Van Nuijs et al., 2011).

    Anti-inflamatórios e Analgésicos

    Os anti-inflamatórios e analgésicos são um dos grupos de medicamentos mais

    comercializados em todo o mundo. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 17 milhões

    de pessoas usam essas substâncias diariamente, pois várias delas podem ser obtidas sem

    prescrições. Calcula-se, por outro lado, que aproximadamente 60 milhões de prescrições

    sejam feitas anualmente. A maioria dos usuários são adultos e idosos (Chahade et al.,

    2008).

    Reguladores Lipídicos

    Fármacos moduladores do metabolismo de lipídeos são frequentemente prescritos

    no mundo e têm como objetivo diminuir a concentração de triglicérides e colesterol no

    sangue sendo conhecidos assim como reguladores lipídicos. Essa classe de fármacos pode

    ser dividida em dois grupos: o das estatinas e o dos fibratos. Os fibratos constituem uma

    importante classe largamente utilizada para o tratamento de hiperlipidemias (elevação dos

    níveis plasmáticos de colesterol e triglicérides). Dentro do grupo dos fibratos, podemos

    destacar o bezafibrato e a genfibrozila. Recentemente, bezafibrato foi incluído na lista dos

    medicamentos mais utilizados no mundo (Queiroz, 2011). Quinn e colaboradores (2008)

    evidenciaram em seu trabalho que a genfibrozila e o bezafibrato afetam significativamente

    a alimentação e o crescimento da espécie Hidra attenuata, pertencente ao filo dos animais

    aquáticos chamado cnidário. A genfibrozila foi classificada como tóxica e o bezafibrato

    como prejudicial para organismos não-alvo (Quinn et al., 2008).

    Antifúngicos

    Substâncias azólicas são muito utilizadas como princípio ativo em medicamentos

    antifúngicos para homens e animais. Pesquisas têm revelado o potencial impacto de alguns

    antifúngicos no sistema endócrino de organismos aquáticos. Alguns antifúngicos azólicos

    como o miconazol têm sido frequentemente detectados em água residuárias e superficiais

    (Queiroz, 2011).

    Estimulante

  • 30

    A cafeína é uma das drogas mais consumidas em todo o mundo (Braga, et al.,

    2000). Ela é um estimulante encontrado em analgésicos como a Neosaldina® (Gishelli,

    2006). Também está presente em diversas espécies de plantas, é encontrada em chás, café,

    cacau, guaraná, chocolate e nos refrigerantes (Braga, et al., 2000). Ela é considerada um

    excelente traçador de atividades antropogênicas na qualidade das águas. Se for encontrada,

    é muito provável encontrar outros compostos da classe chamada contaminantes emergentes

    (Reynol, 2010).

    A tabela 3.1 Apresenta as estruturas químicas e as propriedades físico-químicas de

    cada uma das classes de fármacos estudados neste trabalho.

  • 31

    Tabela 3.1: Estrutura e propriedades físico-químicas das classes dos fármacos estudados.

    Classe Nome Fórmula

    molecular MM LogKow pka

    Solubilidade

    em água

    (mg/L)

    Estrutura Química

    Antibiótico

    Azitromicina C38H72N2O12 748,9845 4,02 8,74 7,09

    Ciprofloxacina C17H18FN3O3 331,3415 0,28 6,09 3,00 × 104

    Claritromicina C38H69NO13 747,9534 3,16 8,99 2,17 × 10²

    Sulfametoxazol C10H11N3O3S 253,278 0,89 5,80 6,10 × 102

    http://fr.wikipedia.org/wiki/Carbonehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Hydrog%C3%A8nehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Fluorhttp://fr.wikipedia.org/wiki/Fluorhttp://fr.wikipedia.org/wiki/Oxyg%C3%A8nehttp://en.wikipedia.org/wiki/Carbonhttp://en.wikipedia.org/wiki/Hydrogenhttp://en.wikipedia.org/wiki/Nitrogenhttp://en.wikipedia.org/wiki/Nitrogen

  • 32

    Trimetoprima C14H18N4O3 290,3177 0,91 7,12 4,00 × 102

    Anti-

    inflamatório

    e analgésico

    Acetaminofeno

    (paracetamol) C8H9NO2 206,2808 0,34 4,54 3,0 × 10

    4

    Ácido

    acetilsalicílico C9H8O4 180,1574 1,19 3,50 4,6 × 10

    4

    Diclofenaco C14H11Cl2NO2 296,149 4,51 4,20 2,37

    Ibuprofeno C13H18O2 206,2808 3,72 4,54 4,10 × 10

    Naproxeno C14H14O3 230,2592 3,18 4,80 1,45 × 102

  • 33

    Reguladores

    Lipídicos

    Bezafibrato C19H20ClNO4 361,82 4,30 3,30 1,20

    Genfibrozila C15H22O3 250,33 4,39 4,80 4,90

    Anti-fúngico Miconazol C18H14Cl4N2O 416,129 6,10 6,70 0,76

    Outros Cafeína

    (Estimulante) C8H10N4O2 194,1906 -0,07 10,4 2,63 × 10

    4

  • 34

    Cimetidina

    (Anti-ácido

    gástrico)

    C10H16N6S 252,339 0,40 6,80 5,00 × 10³

    Ranitidina

    (Tramento de

    úceras)

    C13H22N403S 314,39 NE NE 24,70 × 103

    Diltiazem

    (Anti-

    hipertensivo)

    C22H26N2O45 414,518 2,70 8,06 4,65 × 102

    Nota: MM: Massa Molecular, Kow: Coeficiente de Partição octanol/água, NE: Não Encontrado.

    Fontes: (Nödle et al., 2010; Queiroz, 2011; Wikepedia; Drug Bank; PubChem).

  • 35

    PLASTIFICANTES

    O bisfenol-A é um monômero polar de policarbonato, é usado pra revetimento de

    produtos de alimentos enlatados, cubas de armazenamento de vinho, recipientes de água.

    Plásticos de policarbonato são usados para fabricar garrafões de água, reutilizáveis (Céspedes

    et al., 2006; Diana et al., 2011). Outras aplicações incluem a sua utilização como um anti-

    oxidante na produção de pneus, intermediário na síntese de resinas epóxi, retardadores de

    chama, como aditivo em papéis térmicos ou revestimentos de papel (Voutsa et al., 2006). Ele

    tem sido apontado como um produto químico com poder de perturbar o sitema endócrino,

    devido à sua capacidade de imitar a ação de hormônios estrogênicos endógenos (Kunz, et al.,

    2011). Ocorre no ambiente principalmente, nos efluentes de plantas industriais de produção

    de produtos plásticos e de aterros sanitários (Céspedes et al., 2006).

    Ftalatos têm sido utilizado há mais de 50 anos principalmente na fabricação de PVC, e em

    um menor grau em resinas, bem como na fabricação de plastificantes para materiais de

    construção e de decoração, embalagens de alimentos e repelentes de insetos (Liang et al.,

    2008; Céspedes et al., 2006; Diana et al., 2011). Também podem ser encontrados em

    produtos tais como: tintas, adesivos e cosméticos (Diana et al., 2011). Eles são facilmente

    liberados e podem migrar para os alimentos, bebidas e água potável a partir dos materiais de

    embalagem ou de engarrafamento ou processos de fabricação (Diana et al., 2011). Ftalatos

    possuem baixa solubilidade em água (3 μg/L) e, quando liberados no ambiente aquático, eles

    tendem a adsorver fortemente as partículas em suspensão e sedimentos (Céspedes et al.,

    2006). Como conseqüência, o bis(2-etilhexil)ftalato e o dietilftalato constituem os ftalatos

    mais onipresente encontrados em águas residuais (Céspedes et al., 2006). Os ftalatos bis(2-

    etilhexil)ftalato e o dietilftalato mostraram efeitos estrogênico em ensaios in vitro (Diana et

    al., 2011).

    SUBPRODUTOS DE DETERGENTES

    Os detergentes representam um dos grupos de produtos químicos orgânicos com

    maiores taxas de produção e utilização em todo o mundo, com uma tendência ascendente.

    Eles são utilizados, não só como detergentes industriais e domésticos, mas também em

    emulsificantes, tintas, antiespumante e adjuvantes de pesticidas (Gonzalez et al., 2012;

    Voutsa et al., 2006). Nonilfenol e octilfenol são os principais subprodutos da degradação de

    alquilfenoletoxilatos, que são utilizados como agentes tensoativos não iônicos nos produtos de

  • 36

    limpeza, desinfectantes e formulações de pesticidas. (Diana et al., 2011). Sua ocorrência

    comum em águas superficiais é certamente devido à sua ampla utilização doméstica e

    industrial. Eles são encontrados na água e no material particulado em suspensão presente na

    água doce, marinha e em sedimento de águas residuais (Céspedes et al., 2006).

    O nonilfenol e octilfenol causam alterações no sistema endócrino e por isso estão

    incluídos na lista das 32 substâncias prioritárias da European Water Framework Directive,

    cujo principal objetivo é prevenir e evitar a contaminação da água na União Europeia.

    Também estão incluídos na lista poluentes prioritários US EPA. (Céspedes et al., 2006).

    Desde Janeiro de 2005, houve uma restrição na Europa sobre a venda e utilização de produtos

    que contenham mais de 0,1 % de 4-nonilfenol etoxilatos ou 4-nonilfenol ( Diana et al., 2011).

    HORMÔNIOS NATURAIS E SINTÉTICOS

    A estrona e o 17β-estradiol são hormônios esteróides naturais responsáveis pelas

    características secundárias femininas, agem no controle da ovulação, no desenvolvimento e

    preparo cíclico do sistema reprodutor feminino para a fertilização e implantação do óvulo, e

    podem também influenciar no crescimento, desenvolvimento e comportamento das fêmeas

    (Queiroz, 2011). São produzidos em níveis elevados durante a gravidez, sendo excretados

    pelas mulheres grávidas por volta de 7 µg/ dia de estrona e 2,4 µg/ dia de 17β-estradiol

    (Velicu et al., 2009).

    O 17α-etinilestradiol é um estrógeno sintético, derivado do 17β-estradiol, sendo um

    bioativo oral usado em muitas formulações modernas de pílulas de contraceptivos orais e na

    terapia de reposição hormonal (Moreira et al., 2011; Grover et al., 2011). A existência do

    grupo metil a mais em sua estrutura, em relação ao 17β-estradiol, confere um maior potencial

    estrogênico e também o torna mais resistente ao metabolismo fazendo com que grande parte

    do que é excretado chegue inalterado à rede de esgoto. Como os tratamentos de esgoto

    convencionais são ineficientes frente à degradação/remoção desse composto, grande parte é

    lançada aos corpos d’água, chegando intactos ao meio ambiente (Andrew et al., 2010).

    Esses hormônios agem como interferentes endócrinos podendo influenciar no

    desenvolvimento de plantas, animais ou humanos (Stuart et al., 2012). A presença destes

    compostos em compartimentos aquáticossão preocupantes, pois exibiram efeitos de

    feminização de peixes em baixíssimas concentrações, no trabalho reportado por Grover e

    colaboradores (2011).

  • 37

    A tabela 3.2 apresenta as estruturas químicas e as propriedades físico-químicas de cada

    uma das classes dos demais microcontaminantes (plastificantes, hormônios e subproduto de

    detergentes) estudados neste trabalho, que apresentam comprovados efeitos interferentes em

    sistemas endócrinos.

  • 38

    Tabela 3.2: Estrutura e propriedades físico-químicas dos plastificantes, hormônios e subproduto de detergentes estudados.

    Classe Nome Fórmula

    molecular MM

    Log

    Kow pKa

    Solubilidade

    Em água

    (mg/L)

    Estrutura Química

    Plastificantes

    Bisfenol-A C15H16O2 228,2863 3,32 10,2 1,73 × 102

    Bis(2-etilhexil)ftalato C24H38O4 390,5561 7,45 NE 0,29

    Dietilftalato C12H14O4 222,0893 3,15 NE 6,87 × 10

    Subprodutos de

    detergentes

    4-nonilfenol C15H24O 220,3505 4,48 10,7 1,57

    4-octilfenol C14H22O 206,3239 5,50 10,4 3,11

  • 39

    Hormônio Naturais

    Estrona C18H22O2 270,3661 3,13 10,5 1,47 × 102

    17β-Estradiol C18H24O2 272,382 3,94 10,4 8,19 × 10

    Hormônio Sintético 17α-etinilestradiol C20H24O2 296,403 3,67 10,4 1,16 × 102

    Nota: MM: Massa Molecular, Kow: Coeficiente de Partição octanol/água, NE: Não Encontrado.

    Fontes: (Nödle et al., 2010; Queiroz, 2011; Wikepédia; PubChem).

  • 40

    3.3 Métodos analíticos utilizados para determinar microcontaminantes em matrizes

    ambientais

    Um crescente número de metodologias analíticas tem sido reportado na literatura para a

    determinação de microcontaminantes orgânicos, tanto de águas superfíciais quanto de águas

    residuais. As análises instrumentais são normalmente realizadas por cromatografia em fase

    gasosa (gas chromatography, GC) ou cromatografia em fase líquida (liquid chromatography,

    LC), podendo serseguidas por acoplamento a espectrometria de massa (mass spectrometry,

    MS). GC/MS só pode ser aplicada com sucesso por um número limitado de compostos, sendo

    mais apropriada para compostos não-polares e de baixa temperatura de ebulição, é possível

    analisar polares, porém esses necessitam de uma derivatização, que em alguns casos são

    trabalhosas e muitas vezes irreprodutíveis. Por outro lado, a rápida evolução no campo da

    LC/MS a transformaram em uma técnica essencial para a determinação de contaminantes

    emergentes ambientais. LC/MS ganhou popularidade devido a sua versatilidade,

    especificidade e seletividade, sendo aplicada como um método de escolha para a análise de

    microcontaminantes em amostras ambientais complexas e águas residuais (Gros et al., 2006).

    As principais fontes de ionização empregadas em LC/MS são: ionização por

    eletronebulização (electrospray ionization, ESI), ionização química à pressão atmosférica

    (atmospheric pressure chemical ionization, APCI) e fotoionização à pressão atmosférica

    (atmospheric pressure photoionization, APPI) (Wick et al., 2010; Cai and Syage, 2006). Cada

    tipo de interface possui um mecanismo específico de ionização, logo são influenciadas de

    maneira distinta em relação à produção dos íons, sendo assim cada técnica possui sua

    especialidade e limitações (Antignac et al., 2005; Matuszewski, 2006; Remane et al., 2010).

    A seguir é descrito os mecanismos de ionização das fontes usadas nesse trabalho (APCI e

    ESI).

    Princípio de ionização do ESI:

    Os modelos propostos para a formação de íons pelo ESI envolvem reações, ainda em

    meio líquido, de transferência de cargas, que ocorrem na superfície das gotículas, quando o

    solvente passa pelo capilar mantido à alta tensão (kV). Sendo que durante a evaporação do

    solvente acontecem sucessivas reduções de tamanho das gotículas devido às repulsões

    Coulombicas (figura 3.4). As transferências destes íons para a fase gasosa no ESI são

    explicadas pelos modelos de ion-evaporação, modelo de carga residual ou pelo modelo

    eletroquímico. Na realidade, é de se esperar que todos estes processos de transferência de íons

  • 41

    da fase líquida para a fase vapor possam estar acontecendo, dependendo do analito e das

    condições operacionais da fonte de ionização. Os processos de competição por carga entre o

    analito e outros componentes da matriz podem levar a variações significativas nas

    quantidades formadas de íons do analito, quando comparado com padrões em solvente puro.

    Figura 3.4: Esquema dos componentes de uma fonte ESI.

    Fonte: Adaptado (Kostiainen e Kauppila., 2009).

    Para este tipo de fonte de ionização os solventes ideais são aqueles que apresentam

    menores valores de tensão superficial, ponto de vaporização, energia de solvatação, e valores

    de condutividade satisfatórios, sendo que apenas solventes polares e de média polaridade são

    empregados (Kostiainen e Kauppila, 2009).

    Princípio de Ionização da APCI

    A formação de íons pela APCI envolve reações químicas entre íons e moléculas

    neutras dos analitos, que ocorrem na fase gasosa. Os íons reativos são produzidos pela

    interação dos elétrons, advindo da descarga elétrica promovida pela corona, produzida pela

    grande diferença de potencial aplicada em uma agulha em contato com o gás do solvente

    circundante. Uma série de reações promovem a geração de íons reativos que interagem com

    as moléculas neutras dos analitos presentes, transferindo carga para os mesmos. As reações de

    ionização primárias, promovida pela descarga da corona, ocorrem com as espécies presentes

    na atmosfera, tais como nitrogênio, dióxido de carbono, oxigênio e os solventes próticos,

    usados como fase móvel (água/metanol). Posteriormente essas espécies passam a reagir com o

    analito através da transferência de prótons ou reações de troca de carga, ionizando o analito. O

    calor utilizado pela APCI permite que a fase móvel e os analitos estejam na fase gasosa para

  • 42

    ocorrerem às reações de transferência de cargas (Kostiainen and Kauppila, 2009). A figura 3.5

    apresenta um esquema do funcionamento da APCI.

    Figura 3.5: Esquema dos componentes de uma fonte APCI

    Fonte: Adaptado (http:// www. bris.ac.uk/ nerclsmsf/ techniques/ hplcms.html).

    A fase móvel ideal na APCI é aquela constituída de solventes que apresente energia

    dos íons (por exemplo, afinidade prótica no modo positivo, afinidade eletrônica no modo

    negativo e menor energia de ionização em ambos os casos) favorável às reações químicas de

    ionização dos analitos, sendo que tanto solventes polares como não-polares podem ser usados

    (Kostiainen e Kauppila, 2009; Gao et al., 2005).

    3.3.1 Efeito Matriz

    Vários autores têm reportado a ocorrência da supressão ou aumento do sinal causado

    pela influência dos componentes da matriz ou outros interferentes presentes nas amostras

    (Cappiello et al., 2008; Niessen et al., 2006; Kruve et al., 2008; Gosetti et al., 2010; Ismaiel

    et al., 2007; Dussault et al., 2009; Mei et al., 2003; Gru et al., 2010; Kruve et al., 2011). Esse

    fenômeno, também conhecido como efeito matriz, é uma das desvantagens mais relevantes

    das técnicas de LC-MS. O efeito da matriz é definido pela IUPAC como o “efeito combinado

    de todos os componentes da amostra, diferentes do analito, sobre a medição da quantidade. Se

    um componente específico pode ser identificado como causador de um efeito, então este é

    referido como um interferente” (IUPAC, 2006).

    Os mecanismos do efeito matriz no processo de ionização usados em LC/MS ainda

    não estão totalmente esclarecidos (Cappiello et al., 2008; Benijts et al., 2004). Dentre os

    mecanismos propostos, supõe-se que haja uma competição entre os analitos e os componentes

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    da matriz na etapa de formação dos íons, na interface do espectrômetro de massas.

    Dependendo do ambiente em que o processo de ionização e de evaporação dos íons aconteça,

    esta competição pode efetivamente diminuir ou aumentar a formação dos íons dos compostos

    de interesse (Matuszewski et al., 2003).

    Vários tipos de espécies podem ser capazes de afetar a eficiência de ionização dos

    analitos. Elas podem ser espécies endógenas, componentes presentes na amostra que

    permanecem mesmo após o pré-tratamento ou extração. Dentre elas estão incluídas: as

    espécies iônicas (eletrólitos inorgânicos, sais), compostos polares (fenóis, sulfonatos de arila)

    e outras moléculas orgânicas (carboidratos, aminas, uréia, lipídios, peptídeos, ácidos

    orgânicos), em geral, outros compostos ou metabólicos caracterizados por uma estrutura

    química semelhante à do analito alvo (Gosetti et al., 2010; Mallet et al., 2004; Pris et al.,

    2008). Ou espécies exógenas, materiais advindos de fontes externas, tais como