Trabalho Engrenagens Helicoidais
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1. Introdução
Engrenagens cilíndricas de dentes inclinados, ou helicoidais, são construídas com
dentes que não são alinhados com a direção axial dos elementos de transmissão. São
utilizadas quando é necessário construir reduções que ocupem menor espaço axial e
que gerem menor ruído. A primeira característica vem do fato de que a largura efetiva
dos dentes é maior do que a de engrenagens cilíndricas de dentes retos e a segunda
é devida ao engrenamento gradual dos dentes.
A figura 1 mostra um conjunto de redução com esse tipo de engrenamento. As
engrenagens têm os dentes inclinados em sentido oposto uma da outra, para permitir
o engrenamento sem que os dentes se cruzem. Se imaginarmos o conjunto em
movimento, é fácil observar o engrenamento gradual. Considere a engrenagem da
direita movendo a da esquerda: a parte do dente mais próxima da face frontal das
engrenagens entra em contato primeiro e o restante do dente vai gradualmente
entrando em contato com o resto do dente conjugado.
Também é possível observar que o rolamento entre os dentes ocorre num plano
inclinado em relação à face do conjunto. Assim, o perfil evolvente deve ser gerado em
torno de um cilindro que também está inclinado em relação aos eixos das
engrenagens.
Figura 1. Engrenagens Cilíndricas de Dentes Inclinados (Helicoidais)
Engrenagens de dentes inclinados geram esforços axiais, já que o contato ocorre em
um plano inclinado em relação ao eixo dos elementos. Para suportar esses esforços
deve-se rever a utilização de mancais de escora ou mancais radiais, como os
rolamentos de contato angular.

Uma providência de projeto bastante comum é a montagem de uma redução com dois
pares de engrenagens, cada conjunto gerando esforços axiais em uma direção. Com
engrenagens semelhantes, os esforços axiais resultantes serão mínimos. A figura 2
mostra esse tipo de montagem.
Figura 2. Montagem de um Par de Engrenagens Helicoidais para evitar Esforço Axial
Um esquema dos dentes e das variáveis envolvidas no estudo das engrenagens
helicoidais é mostrado na figura 3. Nessa figura,ψ é o ângulo de hélice, que define a
inclinação dos dentes em relação ao eixo das engrenagens; p é o passo; pn é o passo
normal ou ortogonal; pa é o passo axial e b é a largura da engrenagem. A variável b’,
não mostrada, é utilizada para a largura efetiva dos dentes, que em engrenagens
helicoidais depende do ângulo de hélice.
Figura 3. Vista Superior de uma Engrenagem Helicoidal mostrando as designações mais
importantes
A figura 3 também mostra os planos RR e NN. O primeiro é o plano perpendicular ao
eixo da engrenagem e o segundo é perpendicular aos dentes. A visão dos dentes em

cada plano é diferente. A figura 4 mostra os dentes em ambos os planos. Nessa figura,
∅ n é o ângulo de pressão normal ou ortogonal e ϕ é o ângulo de pressão. Pode-se
notar que os ângulos são diferentes. O ângulo normal é o que realmente está no plano
de rolamento e é normalizado.
Embora o perfil dos dentes deva ser evolvental nesse plano, dificuldades de fabricação
impedem que isso ocorra. Pequenas diferenças são levadas em conta no
dimensionamento através da modificação dos fatores geométricos.
Figura 4. Visualização dos Dentes de Engrenagens Helicoidais. À esquerda, corte no Plano NN
da figura 3; à direita, corte no Plano RR
Com as figuras 3 e 4 é possível descrever as relações entre as diversas variáveis.
Assim, o passo normal pode ser calculado por:
Pn=p∗cosΨ [ 1 ]
O ângulo de pressão normal é dado por:
tanϕn=tan ϕ∗cosΨ [ 2 ]
E o módulo normal, que é diretamente proporcional ao passo normal, é dado por:
mn=m∗cosΨ [ 3 ]
2. Análise de Forças em Engrenagens Helicoidais
Conforme já mencionado, o contato entre os dentes ocorre no plano inclinado NN.
Assim, a força de contato F, que é normal à superfície de ambos os dentes, também

deve estar nesse plano. Devido à essa inclinação, três componentes de força são
gerados. As componentes radiais (Fr) e axial (Fa) não causam torque nos eixos de
transmissão. A primeira causa flexão e a segunda apenas tensão axial. Embora sejam
importantes no dimensionamento da transmissão com um todo (eixos, engrenagens,
selos, mancais, ...) aparecem apenas indiretamente nos cálculos das tensões nos
dentes. De fato, uma vez que os ângulos de hélice e pressão para um conjunto de
redução são fixos e definem a relação entre as forças, o efeito de cada uma pode ser
incluído na força tangencial (Ft), que é a que define o torque que está sendo
transmitido. A figura 5 permite determinar as relações entre as forças. Nessa figura é
mostrada uma vista superior da engrenagem helicoidal e os dentes nos planos RR e
NN.
Figura 5. Esquema para a determinação das relações entre as Forças em Engrenagens
Helicoidais
A força tangencial pode ser obtida a partir dos dados de entrada do problema.
Normalmente esses dados são a potência (ou torque) e a rotação da fonte de
acionamento (motor). Para calcular a força é necessário que se conheça o raio da
engrenagem, que não está disponível no início de um projeto. Uma estimativa inicial
do raio pode ser obtida levando-se em conta as recomendações de projeto descritas
na apostila para engrenagens cilíndricas de dentes retos, que relacionam a distância
entre centros e a redução desejada com as dimensões. Supondo o raio conhecido,

pode-se obter a velocidade e, com a potência, calcular a força tangencial conforme a
equação:
F t=WV
[ 4
]
A figura 5 mostra que a relação entre Ft e Fr é dada por:
F r=F t∗tan ϕ [ 5 ]
A força axial Fa, gerada pela inclinação dos dentes e pelo contato no plano inclinado,
depende do ângulo de hélice conforme a equação 5. A relação mostrada nessa
equação pode ser vista no esquema de forças no centro da figura. Nesse esquema
também pode ser vista a força que causa flexão no pé do dente, cujo símbolo é Fb e
cuja relação com a força tangencial é mostrada na equação 7.
Fa=F t∗tanψ [ 6 ]
Fb=F t
cosψ [ 7 ]
A força no contato entre os dentes é composta dos componentes axial, tangencial e
radial e pode ser obtida por:
F=Fb
cosϕn
=F t
cosψ∗cosϕn
[
8 ]
3. Tensões e Resistência em Engrenagens Helicoidais
Da mesma forma que para engrenagens cilíndricas de dentes retos, as tensões
relevantes para o dimensionamento dos dentes são geradas pela força a ser
transmitida. A figura 6 mostra um modelo foto-elástico de um dente em pexiglass em
contato com outro de um material metálico. Por essa técnica é possível visualizar as
linhas de deformação (ou tensão) geradas pelos esforços. A diminuição do

espaçamento dessas linhas significa uma maior concentração de tensões.
Observando a figura é possível identificar a raiz do dente e o ponto de contato entre os
dentes como os pontos de maior tensão, conforme já visto no estudo de engrenagens
de dentes retos.
Figura 6 - Modelo Foto-elástico da Distribuição de Tensões em Dentes de Engrenagens
3.1. Tensões e Resistência na Raiz do Dente
A equação 9 mostra o cálculo das tensões no pé do dente em engrenagens
helicoidais, conforme recomendado pela Associação Americana dos Fabricantes de
Engrenagens (AGMA), órgão regulador nessa matéria na América do Norte. Consiste
basicamente na mesma equação apresentada para dentes retos e, portanto, valem as
mesmas considerações, a menos de duas pequenas modificações. Engrenagens
Helicoidais, devido ao formato dos dentes, não são tão sensíveis ao desalinhamento,
principalmente se houver uma sobreposição de dentes em contato, isto é, mais de um
dente estiver em contato em cada momento, o que é o esperado. Assim, o fator que
leva em consideração a montagem, Km, não precisa ter os valores recomendados
pela tabela 2 do texto sobre engrenagens cilíndricas de dentes retos. A AGMA
recomenda um valor 7 % menor, ou seja, recomenda a inclusão de um multiplicador
de valor 0,93 na equação.
σ=F t
b∗m∗J∗KV∗K0∗(0,93∗Km)
[ 9 ]
Uma segunda diferença leva em consideração o fato de que o perfil dos dentes no
plano ortogonal não é exatamente evolvental. O fator J para engrenagens helicoidais
inclui essa diferença. Esse fator é obtido do gráfico da figura 7 para uma engrenagem

cuja conjugada tenha 75 dentes. Para engrenagens cuja conjugada tenha qualquer
outro número de dentes, a figura 8 mostra o fator de correção que deve ser utilizado.
Os dados de entrada na figura 7 são o número de dentes na engrenagem onde se
quer conhecer a tensão e o ângulo de hélice. Para a figura 8 é necessário utilizar
também o número de dentes da engrenagem conjugada.
Figura 7 - Fator Geométrico J para Engrenagens Helicoidas com Conjugada de 75 dentes.
Figura 8 – Multiplicador para Correção do Fator Geométrico da figura 7 para Conjugadas de
Número de Dentes diferentes de 75.
A resistência à flexão no pé do dente é calculada exatamente da mesma maneira que
para engrenagens de dentes retos. A equação que trata desse tipo de engrenagem
está demonstrada na equação 10.
Sn=S ' n∗CL∗CG∗CS x2∗kr∗k t∗kms [10 ]

3.2. Tensões e Resistência no Contato entre os Dentes
As tensões no contato entre os dentes de engrenagens helicoidais também são
calculadas basicamente da mesma forma que para dentes retos. Novamente, a
recomendação da AGMA para o fator montagem deve ser incluída. Uma segunda
recomendação leva em consideração o número médio de dentes em contato,
representado pelo valor CR na equação. O valor de CR é chamado também de razão
de contato e pode ser calculado pela equação 11.
CR=¿¿ [11]
O termo rij na equação anterior representa um raio: quando i é substituído por a,
representa o raio da cabeça do dente; quando i é substituído por b, representa o raio
de base; quando j é substituído por p, representa o pinhão; quando j é substituído por
c, representa a coroa. Assim, rap é o raio da cabeça do dente do pinhão, e assim por
diante. O termo C é a distância entre centros, ou a soma dos raios primitivos dos dois
elementos. O passo da base pb é dado pela equação 12.
pb=π∗d∗cos∅
N=p∗cos∅
[12]
No cálculo da tensão no contato também deve ser incluída a largura real b’, já que o
contato ocorre no plano normal, ao longo de toda a largura. Essa largura pode ser
calculada dividindo a largura do denteado b pelo cosseno do ângulo de hélice. Assim,
a equação para o cálculo da tensão fica:
σ H=C p∗¿ [13]
Da mesma forma que para as tensões na raiz do dente, não há modificação para a
forma de calcular a resistência à fadiga no contato. A equação 8 da apostila de
engrenagens cilíndricas de dentes retos é repetida abaixo para facilitar o uso desta
apostila. Os fatores multiplicadores foram definidos na apostila citada.
SH=Sfe∗CLI∗CR
[14]

4. Considerações Finais
Engrenagens helicoidais são as mais utilizadas na construção de caixas de câmbio
automotivas e redutores industriais atualmente. O custo total um pouco mais elevado é
suplantado pela sua simplicidade de fabricação e pelas vantagens sobre as de dentes
retos. Algumas características de suas variáveis principais devem ser ressaltadas:
O ângulo de pressão normalizado é o ângulo normal fn e não o ângulo. O valor
do primeiro é, normalmente, 20°.
O módulo normal mn também deve seguir os valores recomendados para o
módulo m, conforme a apostila de engrenagens de dentes retos, embora seja
possível encontrar uma grande quantidade de conjuntos de redução não
normalizados.
Da mesma forma que para engrenagens de dentes retos, é sempre
recomendável procurar valores reais para as resistências ao invés de usar as
estimativas propostas nas equações 10 e 13.
O ângulo de hélice, embora possa ter valor de até 30°, assume muito
comumente o valor de 15°.