Temporalidades em Manoel de Barros

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TEMPORALIDADES EM MANOEL DE BARROS Maria Elizabete Nascimento de Oliveira Michèle Sato SEMIEDU-UFMT/2010

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TEMPORALIDADES EM MANOEL DE BARROS

Maria Elizabete Nascimento de OliveiraMichèle Sato

SEMIEDU-UFMT/2010

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As (des)razões da poesia, alternativas de aprendizados ímpares.

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Ao trazer para o cerne da discussão o poeta Manoel de Barros, queremos suscitar para com um ser humano que apresenta, em caráter exímio, o respeito às temporalidades. Essa afirmativa advém do substrato de suas poesias, nas quais o mesmo apresenta as fases humanas pautadas no princípio ético-político. Onde é perceptível o individual-múltiplo que habita em cada um de nós, nesse sentido importante descrever as palavras do poeta - Os outros: o melhor de mim sou Eles (BARROS, 2004, 73).

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Andarilhagens

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A melhor maneira de descartar a ideia de que ciclos não passam de moda e a melhor maneira de não confundir ciclos com amontoado de séries, nem com respeito aos ritmos, nem com progressão contínua ou descontínua, é aproximar-nos do acúmulo teórico que existe sobre temporalidades humanas. [...] perguntar as ciências como a história, a antropologia, a sociologia ou a psicologia, aproximar-nos de suas pesquisas e sua produção. Perguntar as artes e as letras: filmes, teatro, romances, literatura infantil, adolescente e juvenil. Perguntar-nos a nós mesmos sobre nossas lembranças dos tempos vividos, inclusive de cada tempo vivido na escola (ARROYO, 2009, p.256-257).

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A não adesão aos saberes múltiplos que contemplam as realidades humanas, portanto, comprometem significativamente o entendimento sobre o ciclo de formação humana..

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Colocar em prática o Ciclo de Formação Humana, portanto, não é possível apenas alterando nomenclaturas institucionais que regem o fazer pedagógico nas escolas, é urgente uma ressignificação de todos os valores instituídos no cerne da estrutura pedagógica, talvez começando pela compreensão de nós mesmos.

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• Ao aproximarmos a Educação à poesia, não temos a pretensão de subjetivar a educação nem tão pouco objetivar a poesia, mas trazê-las como possibilidades de diálogos que podem contemplar alguns dos anseios e reflexões sobre o aprendizado formal, advindo das instituições de ensino.

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• A poesia surge como possibilidade de tirar a rigidez que impregnamos ao sistema educacional, mostrando que por meio de sua fruição, há outras probabilidades de apreender sobre as trajetórias humanas. A palavra de Manoel de Barros nos incita a perceber e a sentir a poesia que veicula no mundo vivido e, também no mundo sonhado pelos seres humanos, nenhum nem outro, estão, totalmente, destituídos do olhar poético, os dois perfazem um mesmo universo.

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Quando inferimos a fruição poética, queremos incitar Para as possibilidades de sentidos advindas do seu poder criador, humanizante, ético-político, não como função ou imposição formal, mas como fluidez capaz de movimentar o que o ser humano tem de mais especial, o sentimento.

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Neste foco, vale coadunar com a abordagem de Rubem Alves (2005, p. 15), quando discorre que:

A vida é muito mais que a ciência. Ciência é uma coisa entre outras, que empregamos na aventura de viver, que é a única coisa que importa. É por isso que, além da ciência, é preciso a sapiência, ciência saborosa, sabedoria, que tem a ver com a arte de viver. Porque toda a ciência seria inútil se, por detrás de tudo aquilo que faz os homens conhecer, eles não se tornassem mais sábios, mais tolerantes, mais mansos, mais felizes, mais bonitos... Ciência: brincadeira que pode dar prazer, que pode dar saber, que pode dar poder.

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• Acredito que uma das maneiras possíveis de perceber e de refletir sobre as temporalidades humanas, seja por intermédio de uma educação sensível, no caso, em Manoel de Barros, talvez por intermédio do seu idioleto manoelês archaico, ou por uma desviação ortográfica para o archaico, pela qual o poeta incita-nos a perceber a descontinuidade do tempo.

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Nesta perspectiva, pode ser que os seres humanos:

[...] descubram no fascínio do conhecimento uma boa razão para viver, se as pessoas forem sábias o bastante para isso, e puderem suportar a convivência com o erro, o não saber e, sobretudo, se não morrer nelas o permanente encontro com o mistério do universo. Assim, cada um poderá se descobrir como ar/tesão que planta, nas oficinas da ciência, as sementes do mundo de amanhã (ALVES, 2005, p. 16).

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Enfim, há um caminho longo a percorrer, haja vista, as sequelas de um ensino que por décadas impregnou nos seres humanos, o ranço de um ensino excludente e injusto. Assim, a releitura deste, não acontece como em um passe de mágica, muito pelo contrário, muito sangue, acreditamos, será derramado na perspectiva de descentralizar o poder neoliberal. No entanto, felizmente, nada impede que os verdadeiros sonhadores acreditem nas utopias advindas da esperança, pois parafraseando Nietzsche, este caminho escrito com sangue nos fará crer, que o sangue é espírito.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, Miguel. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres.Petropólis, RJ: Vozes, 2009.

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

BARROS, Manoel. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia

das Letras, 2000. GUATTARI, Félix. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 2002. PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,

1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a

pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz & Terra. 2002. MERLEAU-PONTY, MAURICE. Fenomenologia da percepção. São

Paulo: Martins Fontes, 1999. NOVAES, ADAUTO (org.). Civilização e barbárie. São Paulo:

Companhia das Letras, 2004. OLIVEIRA, Maria Elizabete Nascimento de Oliveira. Educação

Ambiental & Manoel de Barros: Diálogos poéticos. Dissertação de Mestrado em Educação. Cuiabá-MT: UFMT, 2010.

PAPES, Cleide da Costa e Silva. A vivência e a invenção na palavra literária. São Paulo: Paulinas, 2008.

PADILHA, Simone de Jesus. Algumas considerações a respeito do texto poético em sala de aula. In: PETRONI, Maria Rosa (org.). Gêneros do discurso, leitura e escrita: experiências de sala de aula. São Carlos; Pedro & João Editores/Cuiabá: EDUFMT, 2008, p. 33.

SATO, Michèle. ZSEE: uma ecologia de resistência. In: ICHS, Museu Rondon (Org.) O zoneamento e os povos indígenas. Cuiabá: UFMT, 2010 (apresentação na mesa-redonda).

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A maior riqueza do homem é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam como sou – eu não

aceito.Não agüento ser apenas um sujeito que abreportas, que puxa válvulas, que olha o relógio,

quecompra pão às 6 horas da tarde, que vai lá

fora,Que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.

Perdoai.Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros

*Algumas imagens foram obtidas por meio eletrônico: www.google.com.br/imagens