TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ... · iv Gama Filho, José Belarmino da...
Transcript of TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ... · iv Gama Filho, José Belarmino da...
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ADRENALECTOMIA EXPERIMENTAL EM SUÍNOS
José Belarmino da Gama Filho
Orientadora: Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo – EV/UFG
GOIÂNIA
2009
ii
iii
JOSÉ BELARMINO DA GAMA FILHO
TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ADRENALECTOMIA EXPERIMENTAL EM SUÍNOS
Tese apresentada para obtenção do
grau de Doutor em Ciência Animal
junto à Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás.
Área de concentração:
Patologia, Clínica e Cirurgia Animal
Orientadora:
Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo – EV/UFG
Comitê de orientação:
Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva- EV/UFG
Prof. Dr. José Renato Junqueira Borges –
FAV/UNB
GOIÂNIA
2009
iv
Gama Filho, José Belarmino da
Técnica laparoscópica versus técnica aberta para adrenalectomia experimental em suínos / José Belarmino da Gama Filho. Goiânia, 2009.
88 f. : il. ; 30 cm
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária, 2009 “Orientadora: Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo – Escola de Veterinária”
I.Suínos. II. Adrenalectomia. III. Glândula adrenal. IV. Laparoscopia. V. Título.
CDU: 636.4:616.45
v
vi
Este trabalho é dedicado aos meus queridos filhos, Bruno Lopes da Gama e Eduardo Lopes da Gama
e à minha querida companheira Adriana dos Santos.
vii
AGRADECIMENTOS Este estudo seria impossível de ser realizado exclusivamente com a
minha vontade. O auxílio e incentivo de muitos amigos e companheiros (as) foram
determinantes para a execução e conclusão desta tese.
Os primeiros agradecimentos devem, indiscutivelmente, ser destinados
aos familiares. Adriana e Bruno, que além de terem resistido aos inúmeros
rompantes decorrentes do estresse típico de um doutorando, auxiliaram em todos
os momentos da execução da tese. E obviamente a paciência da Caroline.
Ao irmão e amigo Marcello Rodrigues da Roza, companheiro de
viagens e incentivador do meu ingresso no programa de pós-graduação da Escola
de veterinária. Sem o seu apoio e ânimo possivelmente não teria iniciado o curso.
Minha orientadora, Neusa Margarida Paulo, pelo desafio de orientar
sobre um assunto pouco conhecido no âmbito veterinário, mas principalmente por
sua paciência em aturar-me ao longo do curso. Bem como aos amigos,
componentes do comitê de orientação, Prof. Dr. José Renato Junqueira Borges e
ao prof. Dr. Luis Antonio Franco da Silva, por sua importância na co-orientação de
todo o trabalho desde seu início.
Aos amigos do CVAS (centro veterinário Asa Sul), médicos veterinários
Paulo Henrique e Leonardo Coutinho e aos funcionários, devo, além dos
agradecimentos, desculpar-me pelos momentos de mau humor e pela ausência
do trabalho. Destacando, porém, a participação ativa da Ana Carolina, Rejane
Bernardes, Gabriela Uchoa e do Leonardo Correa em todos os momentos da
pesquisa, visto que sem eles este trabalho seria impossível de ser realizado. Sem
esquecer o Adenilson, por sua importância no auxílio para execução nos nos
procedimentos e no tratamento dos animais.
Aos companheiros do Núcleo de inspeção de Brasília Sul, pela
paciência e compreensão nos momentos de ausência e mau humor.
Durante o período de curso tive o privilégio de fazer grande amigos na
escola de veterinária. Os quais, além da amizade, retribuíram com críticas e
sugestões ao projeto e ao trabalho. Meus sinceros agradecimentos às
professoras Naida, Rosângela, Valéria e Maria Clorinda, bem como aos
professores Olízio, Adilso e Juan; e aos servidores Gerson, Apóstolo, Tiago,
Sheila, Carmita, Mônica e Vilda.
viii
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
CONSIDERAÇÕES GERAIS...................................................................................
1
1Introdução.............................................................................................................. 1
2 Aspectos morfofisiológicos das glândulas adrenais............................................. 2
3 Afecções cirúrgicas das glândulas adrenais, abordagem clínica e
terapêutica............................................................................................................
6
3.1 Hiperadrenocorticismo........................................................................................ 6
3.2 Principais sinais do hiperadrenocorticismo ........................................................ 6
3.3 Diagnóstico de hiperadrenocorticismo ............................................................... 9
3.4 Tratamento do hiperadrenocorticismo............................................................... 10
A- Adrenalectomia farmacológica........................................................................ 10
Mitotano................................................................................................................... 10
Trilostano................................................................................................................. 11
Cetoconazol............................................................................................................. 11
Deprenil................................................................................................................... 11
B- Adrenalectomia cirúrgica................................................................................. 11
Abordagem aberta......................................................................................... 14
Abordagem laparoscópica....................................................................................... 15
3.5 Suíno como modelo experimental............................................................ 17
Procedimentos anestésicos em suínos para experimentação animal
Parâmetros fisiológicos, metabólicos e hematológicos de suínos
5 REFERÊNCIAS ....................................................................................................
18
CAPÍTULO 2 - TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA
PARA ADRENALECTOMIA EM SUÍNOS ........................................................
25
RESUMO................................................................................................................. 25
ABSTRACT……………………………………………………………………………….. 25
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 26
MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................... 28
RESULTADOS........................................................................................................ 34
DISCUSSÃO........................................................................................................... 38
ix
CONCLUSÃO.......................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS.......................................................................................................
42
CAPÍTULO 3 - RESPOSTAS HEMATOLÓGICAS E METABÓLICAS
DECORRENTES DE ADRENALECTOMIA LAPAROSCÓPICA E ABERTA EM
SUÍNOS...................................................................................................................
46
RESUMO................................................................................................................. 46
ABSTRACT.............................................................................................................. 46
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 47
MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................ 49
RESULTADOS........................................................................................................ 54
DISCUSSÃO........................................................................................................... 62
CONCLUSÃO.......................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS.......................................................................................................
66
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................
69
x
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
FIGURA 1 – A - Aspecto anatômico das glândulas adrenais de cães (setas brancas). B- Glândula adrenal de cão com destaque da veia frênico-abdominal em cães (seta branca). FREEMAN (1999).........
3
FIGURA 2 – A – Posicionamento das glândulas adrenais em suínos (DALMOSE et al., 2000). B – Esquema representativo de irrigação sanguínea de glândulas adrenais em suínos da raça Hampshire. Onde de 1 a 7 artérias lombares, 8 artéria celíaca, 9 artéria mesentérica, 10 e 11 artérias frênicas e C aorta (SILVA et al., 2004)...........................
4
FIGURA 3 - Identificação das regiões cortical e medular da glândula adrenal e os tipos de hormônios produzidos conforme a região. Figura cedida pelo departamento de patologia da escola de veterinária de Universidade Federal de Goiás................................
5
FIGURA 4 - Algoritmo de orientação cirúrgica para tumores adrenais. (Adaptado de SUZUKI, 2006)...........................................................................
13
CAPÍTULO 2
FIGURA 1 – Sequência da adrenalectomia aberta em suíno. A- afastamento dos órgãos adjacentes para identificação glandular; B- identificação da adrenal esquerda, próxima ao rim esquerdo; C- dissecção com auxílio de termocautério e detalhe da calda do pâncreas; D- ligadura dos ramos renais e apresentação do leito adrenal, Goiânia-GO, 2009.............................................................
31
FIGURA 2 - A - posicionamento dos portais para adrenalectomia laparoscópica em suíno; B - instrumental utilizado em adrenalectomia laparoscópica em suíno, Goiânia- GO, 2009.........
31
FIGURA 3 - Sequência da adrenalectomia laparoscópica em suínos: A- afastamento dos órgãos adjacentes à adrenal e secção do peritônio; B- identificação da glândula; C- dissecção lateral/medial e cranial/caudal (linha branca); D- identificação de ramos da artéria e veia renal (seta amarela); E- clipagem dos ramos originários da artéria e veia renal; F- retirada da glândula pelo portal de onze milímetros (setas), Goiânia- GO, 2009.....................
33
FIGURA 4 - Representação gráfica do tempo operatório do grupo aberto (grupo G1) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009...................
34
FIGURA 5 - Representação gráfica do tempo operatório do grupo laparoscópico (grupo G3) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009........
34
xi
FIGURA 6 - Representação gráfica das diferentes médias de tempo de deambulação após adrenalectomia aberta e laparoscópica em suínos, conforme os grupos estudados, Goiânia, GO, 2009............
37
CAPÍTULO 3
FIGURA 1- Representação gráfica das médias de leucometria em suínos submetidos à adrenalectomia experimental, aberta e laparoscópica, em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia – GO, 2009....................................................................
55
FIGURA 2- Representação gráfica dos níveis de cortisol sérico, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009..........................
58
FIGURA 3 - Representação gráfica das médias dos valores de PCR sérica, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009....................
59
FIGURA 4 - Representação gráfica das médias de PAM, em suínos submetidos à AA e AL com intervalo de confiança de 95%, Goiânia- GO, 2009.
61
xii
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2
TABELA 1 - Valores médios ± desvios-padrão e mediana dos tempos operatórios de adrenalectomia em suínos, expresso em minutos, dos grupos aberto e laparoscópico, Goiânia- GO, 2009...................
34
TABELA 2 - Frequência de tipos de intercorrências operatórias em adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos, Goiânia – GO, 2009...................................................................................................
35
TABELA 3 - Valores médios ±desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos à adrenalectomia aberta e laparoscópica em relação aos tempos amostrais, Goiânia-GO, 2009........................................
35
TABELA 4 - Valores médios ± desvios padrão e valores mínimos e máximos de temperatura corporal média de suínos, durante a realização de adrenalectomia aberta e laparoscópica, Goiânia-GO, 2009..............
36
CAPÍTULO 3
TABELA 1 - Valores médios ± desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia -GO, 2009......................................................................................
54
TABELA 2 - Múltiplas comparações (Post Hoc) de contagem de leucócitos totais, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009..........................................................................
55
TABELA 3 - Múltiplas comparações (Post Hoc) de atividade de ALT, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009...........................................................................................
56
TABELA 4 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de cortisol sérico de suínos, submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009............................................................................
57
TABELA 5 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de proteína C-reativa de fase aguda sérica, de suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009.....................................
59
TABELA 6 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da saturação de oxigênio de suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009....................................................................
60
xiii
TABELA 7 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da FC, durante AA e AL em suínos. Goiânia - GO, 2009
60
TABELA 8 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da PAM em suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009.......................................................................................
61
xiv
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Valores hematológicos, fisiológicos e metabólicos de suínos
domésticos......................................................................................
19
xv
RESUMO
Adrenalectomia é um procedimento operatório de alto grau de complexidade. Para sua execução o cirurgião deve ter conhecimento dos aspectos anatomofisiológicos das glândulas adrenais, especialmente sua diversidade vascular, deve ainda ter pleno entendimento sobre os recursos diagnósticos necessários para identificação das suas enfermidades. Adrenalectomia aberta é o método mais utilizado em medicina veterinária, enquanto na medicina humana a abordagem laparoscópica é a de eleição. O hiperadrenocorticismo, que pode ser hipófise dependente ou não, é enfermidade adrenal de maior frequência. Seu tratamento consiste na contenção da evolução dos tumores por meio de fármacos ou cirúrgico. A escolha do tratamento depende da funcionalidade, tipo e tamanho do tumor e da caracterização dos estudos de imagem. O modelo suíno mostrou-se adequado para a execução dos procedimentos operatórios, visto possuir protocolo de experimentação e parâmetros fisiológicos padronizados. Dentre os principais benefícios da adrenalectomia laparoscópica (AL) frente à adrenalectomia aberta (AA) destaca-se a rápida recuperação dos pacientes com diminuição do tempo de internação. A adrenalectomia laparoscópica é o procedimento de escolha em medicina humana, sendo caracterizada atualmente como padrão ouro. Em medicina veterinária, ainda há necessidade de melhor caracterização dos seus resultados afim de que seus benefícios em relação à adrenalectomia aberta possam ser conhecidos. Neste estudo foi comparada a AA com a AL. Foram operados 32 suínos, divididos em quatro grupos de oito animais, sendo um grupo submetido à AA e outro grupo à AL, com seus respectivos grupos controle (sham). Foram avaliados parâmetros referentes a tempo operatório, temperatura corporal, hematócrito, intercorrências operatórias e tempo de deambulação. Bem com as respostas fisiológicas, hormonais e metabólicas oriundas da adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos jovens. Não houve diferença significativa entre os tempos operatórios. As intercorrências mais frequentes foram acidentes em alças intestinais, lesões em vasos adrenais e hematoma renal. As perdas sanguíneas não foram significativas e apesar de ter ocorrido hipotermia esta não teve repercussão clínica. O tempo de deambulação foi maior para o grupo AA, mas sem diferença significativa em relação ao AL. As diferenças significativas encontradas se relacionaram aos valores de leucometria, os quais apresentaram elevação no grupo sham laparotômico em relação aos grupos laparoscópicos; a SpO2 do grupo G3 foi inferior aos demais grupos; os valores de PCR dos grupos laparoscópicos foram menores no pós operatório. Não houve diferença significativa na pressão arterial média dos quatro grupos. A laparoscopia para adrenalectomia experimental em suínos é uma técnica confiável podendo servir como referência para o tratamento cirúrgico nas outras espécies animais. Os parâmetros metabólicos analisados não apresentaram diferenças significativas. Estes resultados indicaram benefícios da abordagem laparoscópica em relação à aberta, podendo ser considerado um procedimento seguro para utilização em outras espécies. Palavras chaves: glândula adrenal, irrigação sanguínea, laparoscopia, modelos animais, pneumoperitôneo, pressão arterial média e resposta de fase aguda
xvi
ABSTRACT
Adrenalectomy is a highly complex surgical procedure. In order to perform it, surgeons must have a profound knowledge of the anatomophysiologic aspects of the adrenal glands, especially their vascular diversity, as well as full understanding of diagnostic means so as to properly identify their diseases. Open adrenalectomy is the most widely used method in veterinary medicine, while laparoscopic adrenalectomy usually is the method of choice in human medicine. Hyperadrenocorticism, whether hypophysis-dependent or not, is the most the most common adrenal disease. Treatment involves stopping the growth of tumors either surgically or chemically. Treatment of choice will depend on tumor functionality, type and size, as well as on its image. The swine model has proven adequate for surgical procedures, since it possesses standardized experimentation protocols and physiological parameters. Among the main benefits of laparoscopic adrenalectomy versus open adrenalectomy is rapid recovery and diminished hospitalization time. Laparoscopic adrenalectomy is the procedure of choice in human medicine, and it is nowadays considered to be the gold standard. In veterinary medicine more research is needed so as to better establish its advantages over open adrenalectomy. In this study open adrenalectomy was compared to laparoscopic adrenalectomy. 32 swines, divided into four groups of eight animals each, underwent surgery; being it that one group underwent open and the other laparoscopic adrenalectomy, with their respective control groups (sham). Parameters such as surgical time, body temperature, haematocrit, surgical intercurrences and XXXXX, as well as physiological, hormonal and metabolic responses were evaluated in young swines, both in open and laparoscopic adrenalectomy. There were no significant differences in surgical times. Most frequent intercurrences were accidents with intestinal loops, lesions to adrenal vessels and renal haematoma. Blood losses were not significant and, even though there was hypothermia it did not lead to any unfavorable clinical outcome. Deambulation time was longer for the open adrenalectomy group, although the difference was not significant. Significant differences were found in leucometry values of the laparoscopic sham group, which were higher when compared to laparoscopic groups; SpO2 of the G3 group was lower than that of the other groups, and PCR of the laparoscopic groups were lower postoperatively. There were no significant differences in mean blood pressure in all of four groups. Laparoscopy is a reliable technique for experimental adrenalectomy in swines and can be used as a reference for surgical treatment of adrenal diseases in other animal species. Metabolic parameters did not show significant differences. These results indicated that the laparoscopic technique is beneficial over open surgery, and that it can be considered a safe procedure for other species. Keywords: acute-phase response, adrenal gland, animal models, blood irrigation, laparoscopy, mean arterial pressure, pneumoperitoneum
CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES GERAIS
1 Introdução
A adrenalectomia é um procedimento operatório com alto grau de
complexidade, recomendado para o tratamento de enfermidades adrenais não
responsivas ao tratamento medicamentoso ou em casos de tumores adrenais
grandes e ou funcionais (SCHULSINGER et al., 1999). O hiperadrenocorticismo
decorrente destes tumores resulta em diversos distúrbios metabólicos, tais como
hiperglicemia, hipercortisolismo, aumento da produção de catecolaminas e
consequentemente alterações cardiovasculares (BEHREND & KEMPPAINEN,
2001).
Para a execução da adrenalectomia, o cirurgião deve ter conhecimento
pleno dos aspectos anatômicos e fisiológicos das glândulas adrenais, deve-se
proceder no pré e pós-operatório com rigor e avaliar minuciosamente as suas
possíveis complicações (BIRCHARD, 1998). Quanto aos aspectos fisiológicos, a
elevação dos níveis de cortisol implica em flacidez da musculatura respiratória,
atrofia muscular, doença tromboembólica pulmonar, glomerulonefrites (FRANK,
2006) e o adelgaçamento cutâneo, que irá atuar como fator dificultador da
cicatrização, aumentando assim o risco de infecções nas feridas cirúrgicas
(BIRCHARD, 1998).
O diagnóstico de enfermidades adrenais deve ser realizado utilizando-
se todos os recursos disponíveis. As avaliações clínicas, as análises laboratoriais
e os exames de imagens compostos por ecografias e tomografia (LEE et al.,
2005), devem ser utilizados em conjunto, garantindo informações precisas sobre
tamanho, tipo e localização do tumor, assegurando que a abordagem eleita
resulte em segurança para o paciente (MORANDI et al., 2007).
A abordagem aberta é o método utilizado para a adrenalectomia em
medicina veterinária, ao contrário do que ocorre na medicina humana, onde a
abordagem laparoscópica é de eleição e considerada padrão ouro, isto é,
representa um método consagrado para a execução da adrenalectomia
(LEZOCHE et al., 2008). Os métodos minimamente invasivos são pouco utilizados
em medicina veterinária, apesar dos inúmeros benefícios que proporcionam, tais
como a diminuição do trauma operatório e do período de internação, menor
2
utilização de antibióticos e melhor recuperação pós-cirúrgica (FREEMAN, 1999).
Tais benefícios são bem evidentes em seres humanos, com apresentações
objetivas das vantagens da adrenalectomia laparoscópica em relação à aberta,
bem como a demonstração da evolução a qual a adrenalectomia laparoscópica
atingiu ao longo do tempo (CERVANTES & PATINO, 1997). Os mesmos estudos
devem ser reproduzidos com a finalidade de instrumentalizar e difundir no âmbito
veterinário os recursos e benefícios dos métodos minimamente invasivos.
2 Aspectos morfofisiológicos das glândulas adrenais
Uma das primeiras descrições anatômicas da adrenal foi a publicação,
na Opúscula Anatômica, em 1563 por Eustachius. Sua divisão em medula e
córtex foi descrita no século XIX por Curver entre 1800 e 1805. Addison, no ano
de 1855, observou a destruição das adrenais num paciente com tuberculose e
associou este fato à sua morte. Um ano mais tarde, Brown-Sequard realizou
adrenalectomias bilaterais em animais, concluindo que as adrenais eram
essenciais para manutenção da vida (ZISMAN & KERNION, 2006).
As glândulas adrenais nos cães são bilobadas, achatadas, pareadas e
se localizam no pólo crânio-medial dos rins, sendo recobertas por uma delgada
cápsula. A adrenal direita situa-se próxima da última vértebra torácica, da primeira
lombar e nas proximidades da veia cava caudal. Possui relação íntima podendo
sua cápsula ter continuidade com a túnica externa da veia cava (BIRCHARD,
1998). Já a glândula adrenal esquerda é ligeiramente caudal à direita (Figura 1-A)
e encontra-se separada da veia cava caudal por uma pequena camada de
gordura. Seu tamanho está relacionado diretamente à raça, variando em torno de
22 mm de comprimento, dez mm de largura e quatro mm de espessura
(NICHOLS et al., 2003).
3
FIGURA 1 – A - Aspecto anatômico das glândulas adrenais de cães (setas brancas). B- Glândula adrenal de cão com destaque da veia frênico-abdominal em cães (seta branca). FREEMAN (1999)
A irrigação sanguínea das adrenais se origina de ramos da aorta e das
artérias renais, renais acessórias, lombares e frênico-abdominais. A drenagem
venosa é feita desde a veia adrenal direita, diretamente até a veia cava. A veia
adrenal esquerda se insere na veia renal esquerda. As veias adrenais também
podem terminar nas veias frênico-abdominais. Estas se encontram na superfície
medioventral de cada glândula adrenal (Figura 1-B) e a artéria frênico-abdominal
encontra-se posicionada adjacente à porção dorsal de cada glândula
(BIRCHARD, 1998).
As glândulas adrenais em suínos possuem formato cilíndrico e
alongado e estão situadas na superfície crânio-medial dos rins, anterior ao seu
hilo. Algumas podem apresentar forma cilíndrica ou triangular, porém estes
achados são raros. Estão situadas aproximadamente no mesmo plano. A glândula
direita se encontra próxima à veia cava caudal e seu pólo direito se relaciona com
a veia renal direita. A glândula esquerda é ligeiramente maior em suínos adultos,
podendo atingir até dez cm de comprimento (GETTY, 1986) (Figura 2-A). Existe
uma variedade de vasos responsáveis pela irrigação e drenagem sanguínea das
adrenais. A glândula direita é irrigada preferencialmente por ramos das artérias
aorta abdominal, abdominal cranial, última intercostal direita, frênica caudal
direita, mesentérica cranial, penúltima intercostal e renal direita, podendo ainda
receber irrigação da artéria lombar I, II, III e IV (SILVA et al., 2004). A glândula
esquerda recebe ramos das artérias aorta abdominal, mesentérica cranial,
A B
4
celíaca, frênica caudal, abdominal cranial e a penúltima intercostal esquerda
(SILVA et al., 2004) (Figura 2-B).
FIGURA 2 – A – Posicionamento das glândulas adrenais em suínos (DALMOSE et, al., 2000). B – Esquema representativo de irrigação sanguínea de glândulas adrenais em suínos da raça Hampshire. Onde 1 a 7 artérias lombares, 8 artéria celíaca, 9 artéria mesentérica, 10 e 11 artérias frênicas e C aorta (SILVA et al., 2004)
A drenagem venosa da adrenal direita é realizada pelas veias adrenais
direitas, diretamente na veia cava caudal ou na veia abdominal dorsal. As veias
adrenais esquerdas vertem na veia abdominal dorsal ou na veia renal esquerda
(GETTY, 1986). Além destes aspectos, cada glândula é composta por duas partes
distintas: a medula adrenal e o córtex adrenal. A medula adrenal, que
corresponde aos 20% da glândula, está funcionalmente relacionada com o
sistema nervoso simpático e é responsável pela produção e liberação de
catecolaminas em resposta à estimulação simpática (GUYTON & HALL, 1997).
Em 1865, Henle observou que parte da adrenal, quando submetida ao
bicromato de potássio adquiriu uma coloração parda, sendo esta fração
pigmentada correspondente ao tecido medular do órgão. Em função da reação,
estas células contendo catecolaminas, foram denominadas células cromafínicas.
A região adrenocortical em mamíferos é tipicamente dividida em três zonas: zona
reticular, zona fasciculada e zona glomerular. A zona reticular é a mais interna e é
adjacente à medula, compreendendo células que estão dispostas de forma
aleatória. Na zona fasciculada, as células estão dispostas em colunas, enquanto
na porção mais externa do córtex, a zona glomerular, há um arranjo em alça ou
espiralado (Figura 3) que resulta em um aspecto acinar (DICKSON, 1996).
B AB
5
FIGURA 3- Identificação das regiões cortical e medular da glândula adrenal e os tipos de hormônios produzidos conforme a região. Figura cedida pelo departamento de patologia da escola de veterinária de Universidade Federal de Goiás.
O córtex adrenal produz um grupo de hormônios inteiramente diferente
dos secretados pela região medular, chamados de corticosteróides, que são todos
sintetizados a partir do esteróide colesterol e têm fórmulas químicas muito
semelhantes, porém suas pequenas diferenças em estrutura molecular lhes
conferem funções muito distintas (VITE, 2005). Dois tipos principais de hormônios
adrenocorticais são secretados pelo córtex adrenal, os mineralocorticóides e os
glicocorticóides. Além destes, são secretadas pequenas quantidades de
hormônios sexuais, sobretudo os hormônios androgênicos, que exibem no corpo
aproximadamente os mesmos efeitos da testosterona. Mais de 30 esteróides
foram isolados do córtex adrenal, mas apenas dois são de excepcional
importância para a função endócrina normal do corpo: a aldosterona, que é o
principal mineralocorticóide, e o cortisol, que é o principal glicocorticóide
(GUYTON & HALL, 1997).
6
2 Afecções cirúrgicas das glândulas adrenais - abordagem clínica e
terapêutica
3.1 Hiperadrenocorticismo
Também denominada síndrome de Cushing, em homenagem ao seu
descritor, Harvey Cushing, o hiperadrenocorticismo pode ser dividido em duas
classes, dependente ou independente da produção de hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH). Nas independentes, ou doença primária das
adrenais, existem as lesões unilaterais causadas por adenomas e
adenocarcinomas, que correspondem nos seres humanos de 90 a 95 por cento
dos casos descritos. As lesões bilaterais são menos comuns e incluem a doença
nodular pigmentada das adrenais (PPNAD – primary pigmented nodular), a
hiperplasia macronodular bilateral primária das adrenais (AIMA – ACTH -
independent macronodular adrenal hyperplasia) e raramente adenomas bilaterais
(ANTONINI et al., 2004).
Em cães, 80 a 85% dos casos com hiperadrenocorticismo são
resultantes do excesso de produção de hormônio adrenocorticotrópico (ACTH),
caracterizando-se desta forma como hiperadrenocorticismo pituitária dependente
(HPD). Quando é originária de neoplasia adrenal, ocorre excessiva secreção de
cortisol autonomamente, independente do controle endógeno, resultando em
sinais clássicos como dermatopatias, poliúria, polidipsia e polifagia e alterações
oculares como catarata bilateral (LEE et al., 2005). A identificação e diferenciação
são de fundamental importância para o delineamento dos procedimentos
terapêuticos a serem adotados, que podem ser quimioterápicos, cirúrgicos ou
mesmo associados (SUZUKI, 2006).
3.2 Principais sinais de hiperadrenocorticismo
A hiperfunção do córtex da glândula adrenal foi observada por Harvey
Cushing em 1912, mas somente descrita em 1932. Cushing descreveu, em 12
humanos, um distúrbio por ele considerado como resultante de “basofilismo
pituitário”. O epônimo “síndrome de Cushing canina” (SCC) refere-se ao conjunto
de anormalidades clínicas e químicas resultantes da exposição crônica excessiva
a glicocorticóides. O termo “moléstia de Cushing”, também conhecido como
7
hiperadrenocorticismo pituitário-dependente (HPD), aplica-se àqueles casos de
síndrome de Cushing onde o hipercortisolismo é secundário à inadequada
secreção de adrenocorticotropina (ACTH) pela pituitária (FELDMAN, 1997). A
síndrome está associada com altos níveis de cortisol, decorrentes da alta
concentração de hormônio corticotrópico (ACTH) produzido pela pituitária ou por
neoplasias não endócrinas ectópicas, adenoma adrenocortical funcional ou
carcinoma. A síndrome de Cushing de causa iatrogênica deve-se à administração
excessiva de glicocorticóides (TILLEY & GOODWIN, 2002).
Aproximadamente 85% dos casos de hiperadrenocorticismo são
pituitário-dependentes. Acomete cães de meia idade a idosos (em geral acima de
seis anos de idade), embora alguns casos tenham sido diagnosticados em
animais com idade inferior a um ano. Não há evidências de predisposição sexual.
As raças Poodle, Dachshund e Beagle podem apresentar maior tendência à
doença. Já os cães portadores de neoplasia adrenocortical funcional são animais
com idade variando de seis a 16 anos e média de 11 anos, sendo as fêmeas mais
susceptíveis. As raças mais comumente atingidas são Pastor Alemão, Poodle
Toy, Dachshund e Terrier (TILLEY & GOODWIN, 2002).
Os cães com SCC geralmente desenvolvem sinais clínicos que
refletem a disfunção de muitos sistemas orgânicos, embora em alguns cães
possa predominar somente um sinal clínico (NICHOLS et al., 2003). As
apresentações clínicas mais comuns para hiperadrenocorticismo são a polidipsia
e a poliúria, que são observadas em 85 a 97% dos cães com SCC. Os
glicocorticóides reduzem a reabsorção tubular renal de água por meio do aumento
da taxa de filtração glomerular e do fluxo sanguíneo renal uma vez que interfere
na inibição da ação do hormônio antidiurético (ADH) nos níveis tubulares
(BIEWENGA et al., 1989). É comum também o surgimento de polifagia,
taquipnéia, alopecia, anestro, intolerância ao exercício e letargia, aumento do
abdômen, hepatomegalia, fraqueza muscular, atrofia testicular e cutânea,
hiperpigmentação e obesidade (VITE, 2005).
Infecções urinárias do trato inferior podem ser observadas em função
do excesso do cortisol e seus efeitos associados à polaciúria, hematúria e
estrangúria (NICHOLS et al., 2003) assim como a calcificação da pelve renal
(LEE et al., 2005). Além destes sinais clínicos, o estado ofegante excessivo é
8
muito comum e pode ser resultante da redução da complacência pulmonar, da
hipertensão pulmonar ou dos efeitos diretos do cortisol no centro respiratório
(NICHOLS et al., 2003). As alterações na mecânica ventilatória ocorrem devido à
fraqueza dos músculos respiratórios, acúmulo de gordura torácica (diminuição da
complacência da parede do tórax) e aumento da pressão abdominal decorrente
da presença do tecido adiposo e hepatomegalia. Frequentemente ocorre angústia
respiratória ou taquipnéia em repouso. A angústia respiratória pode ser causada
por doença tromboembólica pulmonar. Os fatores que causam tromboembolismo
pulmonar associados à síndrome de Cushing incluem obesidade, hematócrito
elevado, hipertensão e alta concentração de fatores de coagulação. Deve-se
desconfiar de tromboembolismo pulmonar em qualquer paciente com SCC com
início agudo de dispnéia ou cianose (TILLEY & GOODWIN, 2002).
É frequente animais com hiperadrenocorticismo desenvolverem
diabetes melitus e, consequentemente, acentuar os sinais clínicos associados de
poliúria, polidipsia, perda de peso e polifagia. A identificação do diabetes induzida
por esteróides é o desenvolvimento de resistência à insulina, definido
clinicamente como hiperglicemia persistente apesar das doses insulínicas de 2,5
UI/kg/administração. O cortisol antagoniza a insulina pela interferência na sua
ação em nível celular. A letargia é o distúrbio do sistema nervoso central (SNC)
mais comum e pode se associar a altas concentrações de ACTH ou a efeitos do
excesso de cortisol nas enzimas cerebrais ou na síntese de neurotransmissores.
Os sinais neurológicos tais como andadura em círculos, ataques convulsivos e
alterações comportamentais podem ser causados pelos efeitos compressivos de
grande tumor hipofisário em expansão. A fraqueza muscular é comum e resulta
da emaciação muscular secundária aos efeitos catabólicos do excesso de
glicocorticóides. A atrofia testicular e a infertilidade feminina se relacionam às
baixas concentrações de hormônio folículo estimulantes (FSH) e do hormônio
luteinizante (LH) causadas por retroalimentação negativa a partir de
concentrações altas de cortisol circulante (NICHOLS et al., 2003).
O hiperadrenocorticismo aumenta a resistência vascular em
decorrência da maior sensibilidade do músculo liso às catecolaminas e estímulo à
produção de angiotensinogênio. O cortisol aumenta a reabsorção renal de sódio e
a retenção de fluidos, resultando em maior volume vascular. Constata-se
9
hipertensão em 57 a 82% dos cães enfermos. A hipertensão sistêmica pode
causar hipertrofia do miocárdio e pode exacerbar cardiopatias subclínicas
(TILLEY & GOODWIN, 2002). A endocardiose de mitral associada ao
hiperadrenocorticismo também é um achado relevante, especialmente em cães
da raça Poodle (BAUMGARTNER & GLAUS, 2004).
3.3 Diagnóstico de hiperadrenocorticismo
Muito embora o diagnóstico de hiperadrenocorticismo não seja fácil, é
de fundamental importância que seja adequadamente executado, determinando
se é uma enfermidade de origem hipofisária ou adrenal, pois deste irá depender o
respectivo protocolo e consequentemente o sucesso do tratamento (GUPTILL et
al., 1997). O primeiro passo inclui uma completa e detalhada anamnese,
compreendendo o histórico e exame físico do animal. Os exames laboratoriais
incluem hemograma completo, bioquímica sérica, urinálise com cultura e
antibiograma. Outros recursos como radiografia, ultra-sonografia, tomografia
computadorizada e ressonância magnética, quando disponíveis, são necessários
para o auxílio diagnóstico e delineamento do protocolo terapêutico. Existem
diversos testes para o diagnóstico de hiperadrenocorticismo, porém os principais
testes diagnósticos compreendem as provas de:
a- estimulação com ACTH: com sensibilidade e especificidade de 85%,
apresenta-se como um excelente teste para identificação de
hiperadrenocorticismo pituitário dependente (HPD) e também a presença de
tumores adrenais, em caso de ausência ou baixas dosagens séricas;
b- supressão com baixas doses de dexametasona: possui maior sensibilidade
que a prova de estimulação por ACTH, porém menor especificidade. É um
excelente método para verificação de hiperadrenocorticismo dependente de
adrenal (HDA) por apresentar menor probabilidade de falso negativo;
c- proporção de cortisol e creatinina urinária: possui sensibilidade e
especificidade similar ao teste de supressão por baixas doses de dexametasona.
Tem como principal vantagem a alta sensibilidade e, na maioria dos casos, em
níveis normais, descarta-se a presença de hiperadrenocorticismo (BEHREND &
KEMPPAINEN, 2001).
10
3.4 Tratamento do hiperadrenocorticismo
A- Adrenalectomia farmacológica
A adrenalectomia farmacológica é amplamente utilizada na medicina
humana e veterinária, especialmente nos casos de maior complexidade onde os
procedimentos operatórios implicam em risco, seja pelo porte do animal ou pela
complexidade da enfermidade (BREUNER et al., 2000), ou ainda pela presença
de metástases em outros sistemas, com impossibilidade de tratamento cirúrgico
(LEE et al., 2005). Em medicina veterinária é usual encontrar tratamentos
exclusivamente farmacológicos, tal como o uso de cetoconazol e mitotano.
Atualmente se busca a disponibilidade de utilização do trilostano, do deprenil e da
cabergolina (CASTILLO et al., 2008), porém, serão destacados os mais eficazes
no tratamento de HPD.
Mitotano
O mitotano é a droga mais comumente utilizada, seja nos caso de HPD
ou em adenomas e carcinomas adrenocorticais com impossibilidade de resolução
por meio cirúrgico. É um agente de grande seletividade, citotóxico, com ação
atrófica e de necrose do córtex adrenal, cessando a produção de glicocorticóides.
Sua grande vantagem é expressa pela disponibilidade no mercado, com fácil
aquisição e administração. Porém, seu alto custo e efeitos adversos representam
um obstáculo ao seu uso. É frequente animais sob tratamento prolongado
apresentarem letargia, diarréia, anorexia e fraqueza (LEE et al., 2005).
Trilostano
O trilostano é uma droga com ação inibitória competitiva sobre a 3β
desidrogenase, interfere na biossíntese dos esteróides produzidos no córtex
adrenal. Possui inúmeras vantagens em relação ao mitotano, em especial pelos
menores efeitos adversos apresentados. Contudo, alguns animais podem
apresentar quadro de letargia, anorexia e, em casos mais graves, necrose de
córtex adrenal e consequente quadro de hipoadrenocorticismo, implicando na
suspensão do tratamento e reposição de glicocorticóide (RUCKSTUHL et al.,
2002).
11
Cetoconazol
O cetoconazol é um inibidor esteróide usado em animais com HPD. A
dose inicial é de 15mg/kg duas vezes ao dia, sendo aumentada gradualmente
durante três semanas até a dose de 30mg/kg/dia, também duas vezes ao dia.
Não é frequentemente utilizado em cães devido à severa anorexia decorrente de
seu uso. É um importante recurso para o preparo do animal para a cirurgia ou
radioterapia. Os níveis de ACTH, após estimulação, devem estar normais
(GRECO, 2007).
Deprenil
Não existem estudos controlados comprovando a eficácia do deprenil
em cães com PDH. Age como inibidor da monoaminoxidase tipo B (MAO-B), sua
utilização deve ser disponibilizada em uma minoria de cães com HPD e em
animais com tumores da pars intermédia uma vez que estas estão relacionadas à
regulação da dopamina. Alguns autores restringem seu uso a animais com
dermatoses ou com intolerância ao mitotano ou cetoconazol (GRECO, 2007).
B- Adrenalectomia cirúrgica
Indicada quando o tratamento conservador não apresenta resposta.
Consiste na exérese de tumores adrenais, funcionais ou não, secretores ou em
casos de metástases. A principal forma de abordagem para adrenalectomia é a
aberta, transabdominal ou retro-peritoneal, executadas para a remoção de
tumores de todas as dimensões e ou que apresentem maior grau de
complexidade (KYLES et al., 2003). Outro tipo de abordagem é a laparoscópica,
que pode ser realizada por acesso transabdominal e retroperitoneal, e apresenta
inúmeros benefícios em relação à abordagem aberta, tais como menor tempo de
internação, menor trauma operatório e diminuição do uso de antimicrobianos
(SUZUKI, 2006).
As principais indicações para adrenalectomia são para tumores
adrenais primários secretores de quantidades excessivas de cortisol. Os níveis
plasmáticos circulantes de ACTH são suprimidos, resultando na atrofia cortical da
adrenal não envolvida. A secreção de cortisol por esses tumores é independente
do controle hipotalâmico-hipofisário e é aleatoriamente episódica (FELDMAN,
12
1997). São diversos os tipos de tumores adrenais descritos, sendo os adenomas
e os carcinomas os mais frequentes entre todas as neoplasias relatadas em cães
e gatos. Contudo, apesar destas descrições, são poucos os estudos realizados
para identificação e classificação de tumores adrenais (LABELLE et al., 2004).
Os mais frequentemente identificados são: o aldosteronoma, que é
uma neoplasia produtora de aldosterona e não de cortisol como a grande maioria
das neoplasias do córtex adrenal (RIJNBERKA et al., 2001). Outro tumor de
origem cortical foi descrito por TURSI et al. (2005), diagnosticado em um cão da
raça Retriever do Labrador e classificado como mielolipoma, sendo esta uma
neoplasia bem diferenciada, com presença de células adiposas, megacariócitos,
células hematopoiéticas e macrófagos com deposição de hemosiderina. Ainda
sobre tumor de córtex adrenal, relatado em cão jovem, cita-se o neuroblastoma
maligno (MARCOTTE et al., 2004), o ganglioneuroma associado com adenoma
em cão da raça Pit Bull, que além dos sinais dermatológicos clássicos manifestou
quadro de taquipnéia em decorrência de flacidez diafragmática (FERREIRA et al.,
2008).
Entretanto, um tipo de tumor cada vez mais comum, seja por um
verdadeiro aumento de sua incidência, seja pela melhora da qualidade no
diagnóstico, é o tumor denominado feocromocitoma. Trata-se de uma neoplasia
de medula adrenal, produtora de catecolaminas e com características muito
particulares. Foi descrito inicialmente por Frankel em 1886 e no ano de 1895,
Oliver e Sharpey-Schafer demonstraram uma substância de capacidade pressora
proveniente da medula adrenal, nomeada adrenalina, e renomeada
posteriormente de epinefrina por Abel e Crawford, em 1897. Pick, em 1912,
formulou o termo feocromocitoma para descrever tumores de medula adrenal com
relação a suas reações cromafínicas. A indicação de cirurgia para o
feocromocitoma foi dada por J. H. Cunningham, no ano 1935 (ZISMAN &
KERNION, 2006). Em animais, especialmente em cães, o feocromocitoma
geralmente ocorre naqueles mais idosos e não tem predisposição racial ou de
gênero (NICHOLS et al., 2003).
A sintomatologia clínica do feocromocitoma se desenvolve em
consequência da sua natureza expansora e suas metástases, ou em
consequência da secreção excessiva de catecolaminas. A sintomatologia geral é
13
vaga, inespecífica e facilmente associada a outros distúrbios. Os sinais clínicos
mais comuns são fraqueza, poliúria e polidipsia, ansiedade, vômito, ascite,
anorexia, diarréia, taquipnéia e episódios de hipertensão em procedimentos
cirúrgicos (KYLES et al., 2003). Já o diagnóstico de feocromocitoma, assim como
as demais neoplasias adrenais, pode ser confirmado por avaliação histológica da
massa excisada cirurgicamente. Testes bioquímicos ou farmacológicos que
demonstram produção excessiva de noradrenalina, adrenalina ou seus
metabólitos no sangue ou na urina são pouco viáveis, tecnicamente difíceis e
caros, o que limita seriamente seu uso em clínica veterinária (LOUVET et al.,
2005).
A excisão cirúrgica é o tratamento de escolha. O prognóstico depende
da presença de enfermidade concomitante, metástase do tumor e invasão local
da massa. Os locais de metástases incluem a veia cava caudal, fígado, pulmão,
linfonodos regionais, coração, baço e rim (GILSON et al., 1994). Desta forma,
para execução do procedimento operatório, deve-se obedecer rigorosamente o
critério de classificação tumoral, com vistas a dispor do melhor método de
intervenção. SUZUKI (2006), apresentou o algoritmo de orientação cirúrgica de
tumores adrenais (Figura 4), expressando de foram didática os procedimentos
para a eleição do tipo de abordagem a ser adotada em adrenalectomia
relacionada à classificação da enfermidade.
FIGURA 4- Algoritmo de orientação cirúrgica para tumores adrenais. (Adaptado de SUZUKI, 2006)
Tumor adrenal
Funcional
Tipo de tumor adrenal
Adrenalectomia Acompanhamento Considerar adrenalectomia
Imagem com características sugestivas
Jovem com algumas comorbidades
Histórico de câncer
Crescimento durante acompanhamento
O cliente opta pela ressecção
Laparoscopia
Aberta
Sim
Não
Sim
Não
3 cm 3-5 cm cm
≥5 cm
14
Adrenalectomia aberta
Esta é a técnica de eleição em medicina veterinária para realização da
adrenalectomia. Caracteriza-se primordialmente pelos acessos transabdominal
pela linha média ventral e retroperitoneal. A abordagem transabdominal
apresenta-se como a técnica de maior facilidade para sua execução, uma vez que
gera um campo operatório amplo e de melhor acesso. Porém, esta vantagem
implica em grande lesão da parede abdominal, resultando em um período de pós-
operatório prolongado e com muito desconforto ao paciente (SCHULSINGER et
al., 1999).
São duas as formas de acesso transabdominal: a primeira com acesso
mediano epigástrico associado à exerese para-costal, e a segunda
exclusivamente para-costal. A grande diferença entre as duas está relacionada ao
porte do paciente. Animais de menor porte frequentemente devem ser submetidos
ao acesso de maior amplitude, uma vez que o campo operatório
consequentemente é menor (BIRCHARD, 1998). A abordagem retroperitoneal é
menos utilizada na rotina cirúrgica veterinária, mas possui a vantagem de produzir
menor injúria na parede abdominal devido ao menor trauma operatório. Contudo,
quando se tratar de tumores maiores e com necessidade de melhor visibilidade do
mesmo, deve-se optar pelo acesso mediano ventral (LEZOCHE et al., 2008).
Várias complicações são possíveis em seguida à adrenalectomia.
Hemorragia, desequilíbrios de líquidos e eletrólitos, pancreatite secundária a
traumatismo iatrogênico, infecção da ferida ou pneumonia decorrente de
comprometimento no funcionamento do sistema imune, e a cicatrização deficiente
dos tecidos são problemas possíveis. A insuficiência adrenal ocorre em seguida à
remoção bilateral das glândulas, ou à remoção unilateral decorrente de neoplasia
adrenal. Glicocorticóides são administrados no pós-operatório (prednisona, 0,5
mg/Kg de 12-12 horas; ou prednisolona, 0,2 mg/Kg de 24-24 horas) ao longo dos
sete a dez dias seguintes. A terapia com mineralocorticóides é também
necessária em seguida à remoção de ambas as glândulas adrenais (BIRCHARD,
1998).
O domínio da técnica aberta é fundamental para segurança do
procedimento. A irrigação e drenagem das glândulas adrenais são variáveis,
15
podendo apresentar vasos de diversas origens, requerendo desta forma
habilidade, conhecimento e provisão de instrumental apropriado (BIRCHARD,
1998). É indicada por SUZUKI (2006) quando:
os estudos de imagem indicarem invasão vascular ou local, linfadenopatia ou
metástase. Ou ainda se demonstrarem a localização do tumor, mas com
suspeita de malignidade por apresentarem margens irregulares,
hiperdensidade e heterogeneidade;
tratar-se de um tumor cortical com tamanho entre oito e dez centímetros;
o seu desenvolvimento for rápido e o paciente apresentar virilização,
feminilização ou síndrome de Cushing;
o paciente possuir histórico familiar de feocromocitoma;
o tumor for multisecretor de hormônios.
Abordagem laparoscópica
Assim como na técnica aberta, a abordagem laparoscópica pode ser
transabdominal ou retroperitoneal, sendo aquela a de eleição, pois proporciona
um campo operatório amplo, com melhor visibilidade da vascularização e dos
órgãos adjacentes (SCHULSINGER et al., 1999). Suas principais características
são expressas por meio da conceituação como cirurgia minimamente invasiva.
Isto é, trata-se de um procedimento capaz de causar o menor trauma com o maior
benefício possível. Este caminho já é percorrido vagarosamente na ciência
veterinária ao contrário do que ocorre na medicina humana, onde a
adrenalectomia laparoscópica é o procedimento de eleição em casos de
intervenção nas glândulas adrenais (LEZOCHE et al., 2008).
Na abordagem transabdominal para a execução da adrenalectomia, a
criação do pneumoperitôneo, por meio da introdução da agulha de Veress, deve
ser criteriosa, evitando acidentes, e a pressão não deve ultrapassar os dez
mm/Hg (SRINIVASAN et al.,1999). O mesmo rigor deve ser observado na
introdução dos portais e dos instrumentais. Para a evidenciação glandular é
necessário que seja efetuado o afastamento dos órgãos adjacentes, tais como o
baço, pâncreas, estômago e alças intestinais, além de se realizar a dissecção do
peritônio parietal e afastamento do rim. Em sequência deve-se retirar a gordura
perirenal e periglandular para o início da dissecção da adrenal. A realização das
16
hemostasias é considerada a etapa de maior complexidade, que requer, além do
conhecimento anatômico, habilidade do cirurgião, evitando desta forma possíveis
perdas sanguíneas (SUZUKI, 2006).
A inobservância dos quesitos básicos de segurança e falta de
planejamento para a execução do procedimento pode incorrer em lesões no baço
ou outras estruturas adjacentes. A habilidade para controlar a inserção do trocarte
e da agulha de Veress limitará a incidência de injúrias esplênicas. Durante a
passagem da agulha e do trocarte deve-se elevar a parede abdominal, afastando-
a do baço. Ocorrendo uma lesão significante no baço, a conversão do
procedimento de fechado para aberto é necessário para que se repare o dano ou
então realizar-se uma esplenectomia total ou parcial. Outra intercorrência usual é
a formação de enfisema subcutâneo, porém é considerado como uma
complicação pequena. Forma-se a partir da difusão do CO2 pelas camadas da
parede abdominal e pode prolongar o procedimento cirúrgico se não for prevenido
ou se sua ocorrência não for localizada logo. Quando acomete áreas mais
extensas, o enfisema subcutâneo se resolve em 24 horas (FREEMAN, 1999).
Entretanto, apesar do grande avanço técnico dos procedimentos
minimamente invasivos, a opção pela laparoscopia deve estar centrada na
segurança do paciente. O paciente/cliente deve estar instruído a respeito da
possibilidade de conversão do procedimento, isto é, em caso de intercorrência, o
procedimento deve ser convertido de laparoscópico para aberto (HENDRICKSON,
2008). Com vistas a eliminar estes percalços, a opção pela laparoscopia deve ser
tomada, segundo SUZUKI (2006), no caso de feocromocitomas ou forem tumores
secretores de cortisol, esteróides sexuais ou mineralocorticóides ou quando
houver:
um tumor primário localizado, sem sinal de invasão local, nódulo ou metástase
distante;
pouca ou nenhuma indicação de malignidade nos estudos por imagem, isto é,
indicação de margens regulares, ausência de hiperdensidade e
heterogeneidade;
um pequeno tumor cortical, menor que seis centímetros;
confirmação de se tratar de um aldosteronoma ou mielolipoma;
17
3.5 Suíno como modelo experimental
O modelo suíno tem sido adotado para pesquisa nas áreas biomédicas
devido a sua semelhança anatômica e fisiológica com os humanos (DALMOSE et
al., 2000). Mais especificamente em estudos relacionados à técnica operatória, o
qual apresentou expressivo aumento nos últimos anos, em substituição a outros
modelos animais, como, por exemplo, cães (SWINDLE & SMITH, 1998). Com o
advento dos métodos minimamente invasivos (MI), a necessidade de
disponibilizar um modelo que atendesse às exigências técnicas dos diferentes
métodos, resultou em maior procura da espécie suína como modelo básico para
experimentação animal (FAGUNDES & TAHA, 2004). Os procedimentos
comumente realizados no uso da laparoscopia experimental são a
colecistectomia, herniorrafias, nefrectomias e esplenectomia. Já os procedimentos
avançados, tais como a gastrojejunostomia e a adrenalectomia laparoscópica, são
executados quando os cirurgiões adquirem maior experiência (SRINIVASAN et
al., 1999).
Consolidado como modelo para uso em MI, o suíno apresenta
inúmeras vantagens além da similaridade anatomofisiológica com o homem, tais
como: facilidade de manuseio, similaridade nos procedimentos anestésicos,
disponibilidade para aquisição e baixo custo de manutenção. Por outro lado,
requer instalações adequadas e padronizadas para sua manutenção, quando há
necessidade de prolongamento das pesquisas (PARK & GAGNER,1995). Possui
ainda como característica particular a sensibilidade às diferentes fontes geradoras
de estresse, particularmente as ambientais (FAGUNDES et al., 2008),
destacando-se a necessidade de separação dos animais, na medida em que
crescem, uma vez que estes desenvolvem um comportamento agressivo,
havendo então a necessidade de manutenção em recintos separados. Estas
dificuldades são contornadas com a disponibilização de mini suínos, que possuem
similaridades anatômicas e fisiológicas com humanos e pouco desenvolvimento
corporal, facilitando seu manuseio e manutenção (SWINDLE, 2007).
18
Procedimentos anestésicos em suínos para experimentação animal
Realizar anestesia em animais de experimentação requer
conhecimento do mecanismo de ação das drogas e das vias de acesso dos
anestésicos. Deve-se atentar para seu custo, viabilidade e a possibilidade de
interferência das substâncias administradas com os parâmetros que serão
analisados no experimento. O pesquisador deve dominar os procedimentos de
imobilização do animal, preparo anestésico, possuir conhecimento das vias de
acesso e dos possíveis efeitos adversos dos agentes anestésicos (SCHANAIDER
& SILVA, 2004).
Anestesia em suínos para experimentação possui seu protocolo bem
definido. A indução anestésica em suínos pode ser realizada por meio de drogas
de uso injetável, com associações de fármacos ou isoladamente, como
barbitúrica, etomidato ou propofol. O azaperone é indicado na tranquilização de
suínos para transporte ou como medicação pré-anestésica, podendo ser
empregado por via intramuscular ou intravenosa. Os tiobarbitúricos são
considerados analgésicos fracos, sendo necessária uma dose muito próxima da
que causa apnéia, para se conseguir efeito analgésico satisfatório, além do fato
de que algumas associações de fármacos promovem melhor relaxamento da
laringe do que os tiobarbitúricos, como por exemplo, as associações de
quetamina e xilazina (MARQUETI, 2008).
Amplamente utilizado como agente anestésico intravenoso, o propofol
(2,6 diisopropilfenol) age como fármaco sedativo/hipnótico em anestesiologia e
nos cuidados intensivos, e por ser lipossolúvel, possui características muito
peculiares relacionadas à sua sensibilidade a contaminação. Trata-se de um
excelente sedativo para uso em suínos, no entanto, está associada à diminuição
da pressão sanguínea, resistência vascular e da produção cardíaca e volume
sistólico, promovendo ainda vasoconstrição, diminuição do fluxo sanguíneo e
redução da taxa metabólica e de oxigênio (MARQUETI, 2008). A dose para
utilização em suínos é de 2,5 a 3,5 mg/Kg por via intravenosa em procedimentos
com duração inferior a dez minutos e 12 a 20 mg/Kg/h para infusão contínua
(ACEC, 2009).
Como droga de eleição para manutenção anestésica, o isoflurano é o
mais utilizado. Trata-se de um agente não inflamável, não explosivo e com baixo
19
potencial de indução de arritmias cárdiacas. É administrado com vaporizador
sobre pressão entre dois a 4% para indução anestésica e manutenção da
anestesia entre um a 2% (KEEGAN, 2005). O isoflurano se apresenta como um
excelente anestésico, contudo, é um potente agente vasodilatador, o que pode
induzir na diminuição da pressão arterial média (ELLENBERGER et al., 2003).
Parâmetros fisiológicos, metabólicos e hematológicos de suínos
Considerado um excelente modelo para experimentação em MI, os
suínos apresentam ainda particularidades relacionadas aos parâmetros
fisiológicos, os quais podem ser alterados em decorrência de variações
ambientais, período do dia, raça, idade e estado de saúde (FAGUNDES et al.,
2008). Observa-se ainda que os valores hematológicos de suínos apresentam
algumas especificidades, como percentual de neutrófilos acima de linfócitos e
baixa concentração de hemoglobina na fase neonatal, neste caso havendo a
necessidade de administração de complemento férrico nessa faixa etária
(SWINDLE et al., 2009). Os valores referências dos parâmetros metabólicos e
fisiológicos normais de suínos domésticos são apresentados no Quadro 1.
QUADRO 1 – Valores hematológicos, fisiológicos e metabólicos de suínos domésticos
PARÂMETROS VALORES REFERÊNCIAS
Leucócitos totais (10³/mm³) 4,7 – 18,6 SWINDLE et al. (2009)
Hematócrito (%) 31 - 44 FELDMAN et al. (2006)
Plaquetas (10³/mm³) 296 -616 SANTOS (1999)
Proteína total (g/dl) 7,0 – 8,9 SANTOS (1999)
ALT (UI/L) 17 – 56 FAUSTINE et al. (2000)
Creatinina (mg/L) 1,0 – 2,7 SANTOS (1999)
Cortisol (mg/dl) 4,4 – 5,9 FAGUNDES et al. (2008)
Proteína C- fase aguda (mg/L) 10,7 ± 1,4 MADRIGAL et al. (2006)
Temperatura corporal 39,2°± 0.5°C SWINDLE et al. (2009)
Frequência cardíaca (Bpm) 70 - 120 SWINDLE et al. (2009)
Pressão arterial média (mmHg) 81 ± 17 TOURNADRE et al. (2000)
20
REFERÊNCIAS
1. ANIMAL CARE AND ETHICS COMMITTEE - ACEC, THE UNIVERSITY OF NEWCASTLE Preferred drugs and regimes for animal anaesthesia and analgesia- Initial Issue: July 1993, [on line]. Modified: October 2003. Disponível em: http://e-groups.unb.br/ib/ceua/Preferred%20drugs%20and%20regimes%20for%20animal %20anaesthesia%20and%20analg.pdf. Acesso em: 04 jan. 2009. 2. ANTONINI, S. R.; FRAGOSO, M. C.; LACROIX, A. Hiperplasia Adrenal Macronodular Independente de ACTH (AIMAH) – Aspectos Clínicos e Moleculares. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, São Paulo, v.48, n.5, p.620-636, 2004.
3. BAUMGARTNER, C.; GLAUS, T. M. Acquired cardiac diseases in the dog: a retrospective analysis. Schweiz Arch Tierheilkd, Zurich, v.146, n. 9, p. 423-30, set.
2004.
4. BEHREND, E. N.; KEMPPAINEN, R. J. Diagnosis of canine hyperadrenocorticism. Veterinary Clinics of North America, Philadelphia, v. 31, n. 5, p. 985-1003, set. 2001.
5. BIEWENGA, J.; RIJNBERK, A.; MOL, J. A. Persistent polyuria in two dogs following adrenocorticolysis for pituitary-dependent hyperadrenocorticism.. The Veterinary quarterly, Utrecht, v.11, n. 4, p.193-7, out. 1989.
6. BIRCHARD, S. J. Adrenalectomia. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1998. 2830 p.
7. BREUNER, C. W.; JENNINGS, D. H.; MOORE, M. C.; ORCHINIK, M. Pharmacological adrenalectomy with mitotane. General and Comparative Endocrinology, New York, v. 120, n. 1, p. 27-34, out. 2000
8. CASTILLO, V. A.; GÓMEZ, N. V.; LALIA, J. C.; CABRERA BLATTER, M. F.; GARCÍA, J. D. Cushing's disease in dogs: cabergoline treatment. Research Veterinary Science, Oxford, v. 85, n. 1, p. 26-34, ago. 2008. 9. CERVANTES, J.; PATIÑO, J, F. Cirurgía laparoscópica y toracoscópica. ed. México D.F.: Mc-Graw-Hill, Interamericana Editores,1997. 392 p.
10. DALMOSE, A. L.; HVISTENDAHL, J. J.; OLSEN, L. H.; ESKILD-JENSEN, A. C.; DJURHUUS, J.; SWINDLE, M. M. Surgically Induced Urologic Models in Swine. Journal of Investigative Surgery, New York, v. 13, n. 3, p- 133-145, mai-jun. 2000.
11. DICKSON, W. M. Glândulas endócrinas In: REECE, W. O.; SWENSON, M. J. Dukes: Fisiologia dos animais domésticos. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 856 p.
21
12. ELLENBERGER, E.; LUCAS, H.; RUSSO, J.; MUELLER, J.; BARRINGTON, P.; TSENG, L.; QUOCK, R. M. L. An opioid basis for early-phase isoflurane-induced hypotension in rats. Life Science, Oxford , v. 73, n. 20, p. 2591-602, out. 2003.
13. FAGUNDES, A. C. A.; NEGRÃO, J. A.; SILVA, R. G.; GOMES, J. D. F.; SOUZA, L. W. O.; FUKUSHIMA, R. S. Environmental temperature and cortisol levels In growing-finishing pigs. Brazilian journal of veterinary research and animal Science, São Paulo,v.45(sup.), p. 136-40, 2008.
14. FAGUNDES, D. J.; TAHA, M. O. Modelo animal de doença: critérios de escolha e espécies de animais de uso corrente. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v.19, n.1, p. 59-65. 2004.
15. FAUSTINI, M.; MUNARI, E.; COLOMBANI, C.; RUSSO, V.; MAFFEO, G.; VIGO, D. Haematology and plasma biochemistry of Stamboek pre-pubertal gilts in Italy: reference values. Journal of Veterinary Medicine. A, Physiology, Pathology, Clinical Medicine, Berlin, v. 47, n. 9, p. 525-32, nov. 2000.
16. FELDMAN, E. C. Moléstias das glândulas adrenais. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E.C. Tratado de medicina interna veterinária. 4. ed. São Paulo: Manole, 1997. 3020 p.
17. FERREIRA, H. H.; ALVES, C. E. F.; GAMA FILHO, J. B.; UCHÔA, G. S.; PEREIRA, F. O.; DE MOURA, V. M. B. D. Ganglioneuroma e adenoma adrenal em cão - relato de caso. In: CONGRESSO DO CENTRO-OESTE DE CLÍNICOS VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS, 2008, Goiânia. Ciência Animal Brasileira. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2008. P. 71-73.
18. FRANK, L. A. Comparative dermatology- canine endocrine dermatoses. Clinics in Dermatology, Philadelphia, v.24, n.4, p. 317-325, 2006. 19. FREEMAN, L. J. Veterinary endosurgery. St. Louis: Mosby, 1999. 276 p.
20. GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. v.2. 1223 p. 21. GRECO, D. S. Hyperadrenocorticism associated with sex steroid excess. Clinical Techniques in Small Animal Practice, Philadelphia, v. 22, n. 1, p. 12-7, fev. 2007.
22. GUPTILL, L.; SCOTT-MONCRIEFF, J. C.; WIDMER, W. R. Diagnosis of canine hyperadrenocorticism. Veterinary Clinics of North America, Philadelphia, v. 27, n. 2, p. 215-35, mar. 1997.
23. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. 1114 p.
22
24. HENDRICKSON, D. Complications of laparoscopic surgery. Veterinary Clinic North American Equine Practice, Philadelphia, v. 24, n. 3, p. 557-71, dez. 2008.
25. KEEGAN, R. D. Inhalants Used in Veterinary Anesthesia [online]. In:
Recent Advances in Veterinary Anesthesia and Analgesia: Companion Animals,
Gleed R.D. and Ludders J.W. Ed. International Veterinary Information
Service, Ithaca NY (www.ivis.org), Last updated: 14-Nov-2005. Disponível em:
http://www.ivis.org/advances/Anesthesia_Gleed/Keegan2/chapter.asp?LA=1.
Acesso em: 04 dez. 2009.
26. KYLES, A. E.; FELDMAN, E. C.; De COCK, H. E. V.; KASS, P. H.; MATHEWS, K. G.; HARDIE, E. M.; NELSON, R. W.; ILKIW, J. E.; GREGORY, C.R. Surgical management of adrenal gland tumors with and without associated tumor thrombi in dogs: 40 cases (1994-2001). Journal of the American Veterinary Medical Association, Chicago, v. 223, n. 5, p. 654-662, set. 2003.
27. LABELLE, P.; KYLES, A. E.; FARVER, T. B.; COCK, H. E. V. Indicators of Malignancy of Canine Adrenocortical Tumors: Histopathology and Proliferation. Veterinary Pathology, Nova York, v. 41, n.5, p. 490–497, 2004.
28. LEE, Y. M.; KANG, B. T.; JUNG, D. I.; PARK, C.; KIM, H. J.; KIM, J. W.; LIM, C. Y.; PARK, E. H.; PARK, H. M. A case of adrenal gland dependent hyperadrenocorticism with mitotane therapy in a Yorkshire terrier dog. Journal of Veterinary Science, Seul, v. 6, n. 4, p.363–366, 2005.
29. LEZOCHE, E.; GUERRIERI, M.; CROSTA, F.; LEZOCHE, G.; BALDARELLI, M.; CAMPAGNACCI, R. Flank approach versus anterior sub-mesocolic access in left laparoscopic adrenalectomy: a prospective randomized study. Surgical Endoscopy and other Interventional Techniques, New York, v. 22, n. 11, p. 2373-2378, nov. 2008.
30. LOUVET, A.; LAZARD, P.; DENIS, B. Phaeochromocytoma treated by en bloc resection including the suprarenal caudal vena cava in a dog. Journal of Small Animal Practice, Oxford, v.46, n 12, p. 591-596, 2005.
31. MADRIGAL, J. J. C.; PARDO, F. P.; LUNA, A. M. PROTEÍNA DE FASE AGUDA EM EL GANADO PORCINO. Concepto generales y posibles apliacaciones prácticas. In: LUNA, A. M. Producir carne de cerdos em El siglo XXI, generando um Nuevo Orden Zootécnico. 1 ed. Madrid: Acalanthis, 2006. Cap 8, p. 187-215. 32. MARCOTTE, L.; MCCONKEY, S. E.; HANNA, P.; FOLEY, P.; BURTON, S. Malignant adrenal neuroblastoma in a young dog. The Canadian veterinary journal, Guelph, v. 45, n. 9, p. 773-776, set. 2004.
33. MARQUETI, P. S. Anestesia de suínos com azaperona, midazolam e propofol em associação com tramadol ou não [on line]. 2008. 122 f.
23
Dissertação (Área de Concentração em Cirurgia Veterinária) apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP, Campus de Jaboticabal. Disponível em: http://www.fcav.unesp.br/download/pgtrabs/cir/m/3060.pdf. acessado em: 04 dez. 2009.
34. MORANDI, F.; MAYS, J. L.; NEWMAN, S. J.; ADAMS, W. H.; Imaging diagnosis-bilateral adrenal adenomas and myelolipomas in a dog. Veterinary Radiology and Ultrasound, Raleigh, v.48, n.3, p. 246-249, 2007. 35. NICHOLS, R. PETERSON, M. E.; MULLEN, H. S. Manual Saunders: Clínica de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Roca, 2003. 1808 p.
36. PARK A, GAGNER M. A porcine model for laparoscopic adrenalectomy. Surgical Endoscopy-Ultrasound and Interventional Techniques, New York, v. 9, n. 7, p. 807-10, jul. 1995.
37. RIJNBERK, A.; KOOISTRA, H. S.; VAN VON DEREN, I. K.; MOL , J .A.; VOORHOUT, G.; VAN SLUIJS, F. J.; IJZER, J.; VANDENINGH, T. S. G. A. M.; BOER, P.; BOER, W. H. Aldosteronoma in a dog with polyuria as the leading symptom. Domestic Animal Endocrinology, Auburn, v. 20, p. 227–240, 2001.
38. RUCKSTUHL, N.; NETT, C. S.; REUSCH, C. E. Results of clinical examinations, laboratory tests, and ultrasonography in dogs with pituitary-dependent hyperadrenocorticism treated with trilostane. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 63, n. 4, p. 506-12, abr 2002.
39. SANTOS, L. C. Laboratório Ambiental. 1. ed. Cascavel: Edunioeste, 1999.
40. SCHANAIDER, A.; SILVA, P. C. Uso de animais em cirurgia experimental. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, vol.19, n.4, p. 441-447. 2004.
41. SCHULSINGER, D. A.; SOSA, R. E.; PERLMUTTER, A. P.; VAUGHAN, E. D. Acute and chronic interstitial cryotherapy of the adrenal as a treatment modality. World Journal of Urology, Berlin, v. 17, n. 1, p. 59-64, fev. 1999.
42. SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; SANTOS, A. L. Q.; DRUMOND, S. S.; SILVA, M.; ESTEVÃO, E. R. M.; BOMBONATO, P. P.; LIMA, E. M. M. Irrigação das glândulas adrenais de suínos (Sus scrofa domesticus, Linnaeus, 1758)da raça Hampshire. Bioscience journal, Uberlândia, v.20, n.2, p. 119-123, may-aug, 2004.
43. SRINIVASAN, A.; TRUS, T. L.; CONRAD, A. J.; SCARBROUGH, T. J.; SWINDLE, M. M. Common laparoscopic procedures in swine: A review. Journal of Investigative Surgery, New York, v. 12, n. 1, p. 5-14, jan- fev. 1999.
44. SUZUKI, H. Laparoscopic adrenalectomy for adrenal carcinoma and mestastases. Current opinion in urology, Londres, v. 16, p. 47-53, 2006.
24
45. SWINDLE M, SMITH A. Comparative anatomy and physiology of the pig. Scandinavian Journal of Laboratory Animal Science, Oslo , v. ;25, p. 11-21, 1998. 46. SWINDLE, M. M. Swine in the Laboratory, Surgery, Anesthesia, Imaging, and Experimental technique. 2. Ed. New York: Taylor & Francis, 2007. 450 p.
47. SWINDLE, M. M.; SMITH, A. C.; LABER, K. L.; GOODRICH, J. A.; BINGEL,
S. A. Biology and Medicine of Swine. In: Laboratory Animal Medicine and
Management, Reuter J.D. and Suckow M.A. (Eds.). International Veterinary
Information Service, Ithaca-NY. Disponível em: (http://www.ivis.org/advances/
Reuter/swindle/ chapter.asp?LA=1. Acesso em: 04 de dezembro de 2009.
48. TILLEY, L. P.; GOODWIN, J. K. Manual de cardiologia para cães e gatos. 3.ed. São Paulo: Roca, 2002. 489 p.
49. TOURNADRE, J.; ALLAOUCHICHE. B.; CAYREL. V.; MATHON, L.; CHASSARD, D. Estimation of cardiac preload changes by systolic pressure variation in pigs undergoing pneumoperitoneum. Acta Anaesthesiologica Scandinavica, Copenhagen, v. 44, n. 3. p. 231-5, mar. 2000.
50. TURSI, M.; IUSSICH, S.; PRUNOTTO, M.; BURACCO, P. Adrenal Myelolipoma in a Dog. Veterinary Pathology, Nova York, v. 42, p. 232–235, 2005.
51. VITE, C. H. Myopathic Disorders In: Braund's Clinical Neurology in Small Animals: Localization, Diagnosis and Treatment. [on line]. New York: 2005. School of Veterinary Medicine, University of Pennsylvania, Philadelphia, PA, USA. Disponível em: http://www.ivis.org/advances/Vite/braund20a/chapter. asp ?LA=1. Acesso em: 15 de jun. de 2009.
52. ZISMAN, A.; KERNION, J. B. Historical perspective: past, present, and future. Disponível em: www.oup.co.uk/pdf/0-19-850822-0.pdf Consultado em 13 ago de 2006.
25
CAPÍTULO 2 - TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA
PARA ADRENALECTOMIA EM SUÍNOS
RESUMO
Dentre os principais benefícios da adrenalectomia laparoscópica (AL) frente à adrenalectomia aberta (AA) destaca-se a rápida recuperação dos pacientes com diminuição do tempo de internação. O objetivo deste estudo foi comparar a adrenalectomia aberta com a adrenalectomia laparoscópica Foram operados 32 suínos, divididos em quatro grupos de oito animais, sendo um grupo submetido à AA e outro grupo à AL, com seus respectivos grupos controle (sham). Foram avaliados parâmetros referentes a tempo operatório (TO), temperatura corporal (TC), hematócrito, intercorrências operatórias e tempo de deambulação. Não houve diferença significativa entre os tempos operatórios. As intercorrências mais frequentes foram acidentes em alças intestinais, lesões em vasos adrenais e hematoma renal. As perdas sanguíneas não foram significativas e apesar de ter ocorrido hipotermia esta não teve repercução clínico. O tempo de deambulação foi maior para o grupo AA, mas sem diferença significativa em relação ao AL. A laparoscopia para adrenalectomia experimental em suínos é uma técnica confiável podendo servir como referência para o tratamento cirúrgico portadores de doenças adrenais com indicações cirúrgicas nas outras espécies animais. Palavras chaves: glândulas supra-renais, irrigação sanguínea, laparoscopia modelos animais.
ABSTRACT
Among the main benefits of laparoscopic adrenalectomy (LA) compared to open
adrenalectomy (AA) highlights the rapid recovery of patients with decreased length
of stay in hospital. The objective of this study was to compare the open
adrenalectomy with laparoscopic adrenalectomy. Thirty two (32) pigs were
operated on and were divided into four groups of eight animals, one group
subjected to AA and another to AL, with their respective control group (sham).
Parameters were evaluated regarding operative time (TO), body temperature (TC),
hematocrit, postoperative complications and time to deambulation. There was no
significant difference between the operative times. The most frequent
complications were accident in bowel, damage in adrenal vessels and renal
hematoma. Blood losses were not significant and although there was hypothermia,
it had no clinical repercussion. Deambulation time was higher for the AA group,
but no significant difference in relation to the AL. Laparoscopy for experimental
adrenalectomy in pigs is a reliable technique and can serve as a reliable reference
for the surgical treatment of patients with adrenal diseases with surgical
indications in other animal species.
Keywords: adrenal glands, animal models, blood supply, Laparoscopy.
26
INTRODUÇÃO
As enfermidades adrenais estão entre as principais endocrinopatias de
animais de companhia, principalmente cães e furões (LEE et al., 2005;
KAWASAKI, 2008), tendo também sido relatadas em gatos (BEHREND, 2006) e
eqüinos (MCGOWAN & NEIGER, 2003). Em pacientes humanos a
adrenalectomia laparoscópica (AL) se consolidou como o principal recurso para o
tratamento de doenças neoplásicas que requerem abordagem cirúrgica. Como
exemplo nos casos de tumores inferiores a seis centímetros que não sejam
invasivos e não apresentem sinas de metástases. Nesta categoria estão incluídos
os aldosteronomas, mielolipomas, a maioria dos feocromocitomas e dos tumores
secretores de cortisol, esteróides sexuais e mineralocorticóides. Incluem-se
também outros tumores que exibem pouco ou nenhum sinal de malignidade nos
estudos de imagem (STURGEON & KEBEBEW, 2004).
Já a adrenalectomia aberta (AA) deve ser considerada nos casos em
que os tumores sejam maiores que oito centímetros, possuam características
infiltrativas, sinais de metástases e quando os estudos de imagem sejam
sugestivos de malignidade. Esta técnica deve também ser indicada para
pacientes portadores de tumores multisecretores ou para aqueles que
apresentem histórico familiar de feocromocitoma maligno. Outras indicações da
AA incluem doenças adrenais que cursam com rápido desenvolvimento de
virilização, feminilização ou síndrome de Cushing (SUZUKI, 2006). Apesar da
resistência quanto à escolha da AL, especialmente devido à necessidade de
aprimoramento técnico (NAYA et al., 2005), esta tem se destacado como método
eletivo para intervenções em glândulas adrenais (LEZOCHE et al., 2008). Alguns
estudos indicam menor morbidade da AL em relação à AA (CORCIONE et al.,
2005).
Os estudos comparativos relacionando AA com AL indicam que o
tempo operatório são maiores em AL, bem como a similaridade nas taxas de
complicações operatórias. Destacando que a recuperação pós-operatória em
pacientes submetidos à AL é melhor em função da diminuição da dor, resultando
na antecipação da capacidade de locomoção e consequentemente a diminuição
do tempo de hospitalização (WELLS et al., 1998). Em LA o tempo operatório varia
conforme a habilidade do cirurgião e da complexidade do procedimento, sendo
27
superior aos tempos registrados para a execução de procedimentos abertos
(MIKHAIL et al., 2006). Em média o tempo operatório para a ressecção de
tumores adrenais, em pacientes humanos, é de 176 minutos, podendo variar
conforme o lado abordado e a experiência do cirurgião (SMITH et al., 1999).
Dentre os principais benefícios da AL frente à AA destaca-se a rápida
recuperação dos pacientes em média o tempo de internação de pacientes
humanos é de 2,7 dias (SMITH et al., 1999), enquanto os pacientes submetidos à
abordagem aberta o período de internação é em média de 11 dias (MIKHAIL et
al., 2006). Verifica-se ainda que os pacientes submetidos à AL apresentam tempo
de convalescência menor quando comparada à AA e consequentemente menor a
necessidade de utilização de medicamentos (TIRABOSCHI et al., 2003).
As intercorrências mais frequentes em adrenalectomia laparoscópica
se relacionam às perdas sanguíneas. Tais complicações decorrem da
variabilidade vascular encontrada nas adrenais. As glândulas possuem
suprimento e drenagem de numerosas pequenas artérias e veias, que devem ser
devidamente ligadas, tanto por eletrocauterização quanto por clipagem, pois as
adrenais possuem suprimento sanguíneo extremamente rico com ramos arteriais
da aorta, artéria frênica inferior, artéria renal (TIRABOSCHI et al., 2003) e
lombares (SILVA et al., 2004).
Os estudos para disponibilização dos métodos minimamente invasivos
(MI) na rotina veterinária são crescentes. A possibilidade de uso em animais
começa a se destacar a partir do momento em que seus recursos e métodos de
intervenção transpõem a etapa de pesquisa e possam ser disponibilizados para
inúmeros procedimentos como biópsia hepática (BARNES et al., 2006), sexagem
em animais exóticos (HERNANDEZ-DIVERS et al., 2009), ovariohisterectomias
(MALM et al., 2005) e colopexias (BRUN et al., 2004). No entanto, quando se trata
de procedimentos de maior complexidade, os parâmetros operatórios e a técnica
devem possuir definição objetiva e delineamento padronizado (KOLLMORGEN et
al., 1998).
O objetivo deste estudo foi comparar a adrenalectomia aberta (AA) com
a adrenalectomia laparoscópica (AL), utilizando o suíno como modelo
experimental. Para tanto foram analisados parâmetros relacionados aos dois tipos
28
de abordagem, tais como tempo (TO) e intercorrências operatórias, variação de
temperatura corporal (TC) e tempo de deambulação (TD).
MATERIAL E MÉTODOS
Antecedendo o início do estudo, o projeto foi submetido à análise do
Comitê de Ética no Uso Animal (CEUA) do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade de Brasília, e aprovado sob o número UnBDOC 32946/2009. A
pesquisa foi conduzida no Centro de Ensino e Treinamento Experimental em
Ciências da Saúde, Distrito Federal e na Escola de Veterinária da Universidade
Federal de Goiás entre os meses de fevereiro a abril de 2009. Utilizaram-se 32
suínos (Sus scrofa domesticus), tri-cross, do sexo masculino, com peso médio de
16 kg, oriundos de granja devidamente inspecionada pelo órgão sanitário
competente.
Os animais foram identificados por meio de tatuagem efetuada na face
interna da orelha esquerda, sob efeito de sedação. Durante o estudo foi mantidos
em instalações adequadas a espécie, providas de água potável e alimentação
automatizada à vontade. Os critérios de triagem dos animais se basearam nos
exames clínicos e resultados das análises eletrocardiográficas, hematológicas e
perfis renais e hepáticos. Aqueles aptos a serem incluídos no estudo foram
divididos em quatro grupos de oito, denominados da seguinte maneira: grupo G1-
adrenalectomia aberta, submetido à laparotomia com a ressecção da adrenal
esquerda; grupo G2 (sham aberto ou falso tratado) submetido ao procedimento
laparotômico sem a ressecção da adrenal; grupo G3- adrenalectomia
laparoscópica, submetido ao procedimento laparoscópico com a ressecção da
adrenal esquerda e grupo G4 (sham laparoscópico ou falso tratado) submetido ao
procedimento laparoscópico sem a ressecção da adrenal.
Os TO considerados para os grupos G2 e G4 (falsos tratados) foram
determinados pelas médias dos tempos dos grupos G1 e G3, os quais foram
submetidos aos respectivos tratamentos. Sendo os grupos G2 e G4
desconsiderados para análise estatística desta variável. Para avaliação das
possíveis perdas sanguíneas foram realizadas análises de hematócrito cinco dias
antes do procedimento operatório (conjuntamente com os exames de triagem) e
cinco dias após, em centrífuga hematológica para determinação de
29
microhematócrito (CELM, Barueri – SP). Estas datas foram estabelecidas com a
finalidade de facilitar o manuseio dos animais e diminuir a interferência da variável
estresse.
Todos os procedimentos pré-operatórios foram padronizados e
utilizados nos grupos G1, G2, G3 e G4. Os animais foram submetidos a jejum
hídrico e alimentar por 12 horas e como protocolo anestésico foi adotado o
preconizado pelo CEUA-Unb (ACEC, 2009). Utilizou-se azaperone (Destress®,
DESFAR, São Paulo-SP) como medicação pré-anestésica na dose de 5 mg/kg,
via intramuscular (IM), 15 minutos antes da indução anestésica. Os animais foram
mantidos em infusão venosa contínua de solução salina 0,9% (Solução
Fisiológica, Baxter, São Paulo - SP) até o término dos procedimentos e
recuperação da capacidade lcomotora sem auxílio. A indução anestésica foi
realizada com propofol (Propovan, Cristália, Itapira - SP) na dose de 5 mg/kg, via
intravenosa (IV). A manutenção anestésica foi realizada com isoflurano a 3%
(Isoflurano, Instituto BIOCHIMICO, Itatiaia - RJ). O preparo do campo operatório
constou de tricotomia ampla do abdome ventro-lateral dos animais. Na sequência,
foi efetuada antissepsia com solução de iodopovidona (PVPI) a 2% e álcool
iodado a 0,1%.
Para abordagem da adrenal esquerda empregando a técnica aberta
descrita por PARK & GAGNER (1995), iniciada com uma incisão para-costal de
aproximadamente 15 cm de comprimento, nos animais do grupo G1. Seguiu-se a
secção dos músculos oblíquo abdominal externo e oblíquo abdominal interno. Em
seguida, efetuou-se o afastamento do rim esquerdo, baço, alças intestinais e
ápice do pâncreas (Figura 1-A). Foi realizada a dissecção do peritônio e da
gordura periglandular com termocautério monopolar. As artérias renais acessórias
e ramos da aorta foram ligados, enquanto que as demais estruturas vasculares
foram cauterizadas (Figuras 1 B e C). A ligadura dos ramos da artéria e veia renal
foi efetuada em bloco com fio de nylon monofilamento preto, USP 3-0 (Dafilon-
Medical SA- B-Braun - Colômbia) (Figura 1). Finalizado o procedimento, foi
realizado o inventário do sítio cirúrgico (Figura 1-D) e a síntese da parede
abdominal por planos, utilizando-se pontos simples separados, também com fio
de nylon monofilamento USP 3-0.
30
A técnica de AA adotada no presente experimento, nos animais do
grupo G3, foi a trans-abdominal descrita por KOLLMORGEN et al. (1998), com
modificação do posicionamento e da pressão de CO2, a qual foi estabelecida em
10mmHg, conforme recomendação de SOOD et al. (2006). Os animas foram
contidos em decúbito lateral direito, com um apoio na borda posterior do arco
costal direito, promovendo a elevação da área de acesso operatório. Na
sequência procedeu-se a instalação do pneumoperitôneo, com a execução de
pequena incisão cutânea seguida da tração de toda a parede abdominal e
inserção da agulha de Veress no terço médio da borda caudal da última costela.
Em seguida, foi executada a demarcação dos sítios para criação dos portais de
acesso abdominal. O primeiro portal, de 11 mm, foi criado lateralmente entre a
linha mediana ventral e a linha dorsal, permitindo a inserção da óptica de dez mm
com ângulo de zero grau. O segundo, de cinco milímetros, foi formado no terço
médio da borda caudal da última costela. O terceiro, de 11 mm, foi instalado na
região mesogástrica esquerda, e o último, um portal de cinco milímetros, na
região epigástrica esquerda. Foi utilizada uma pinça de apreensão tipo Maryland,
uma pinça de apreensão tipo grasping, um gancho para eletrocautério monopolar,
um porta agulha endoscópico de Mayo, um clipador e uma tesoura endoscópica
de Metzembaun (Figuras 2-A e B).
A abordagem da adrenal iniciou-se com o afastamento do rim
esquerdo, com auxílio da pinça de apreensão tipo grasping, para secção do
peritônio e localização da glândula (Figuras 3-A e B), seguido do afastamento das
alças intestinais, baço e pâncreas. Identificada a glândula, iniciava-se a dissecção
com o auxílio do gancho e da pinça de apreensão tipo Maryland, a partir da sua
borda lateral em sentido dorsal e cranial-caudal. Após a dissecção e hemostasia
dos vasos de origem aórtica e ramos da celíaca e lombar por meio de
termocauterização (Figura 3-C), fez-se o isolamento e clipagem dupla dos ramos
da artéria e veia renal (Figuras 3-D e E). Seguiu-se a inspeção do sítio cirúrgico e
retirada da glândula pelo portal de 11 mm (Figura 3-F). Para o processamento das
imagens foi utilizada microcâmera de dois chips, insuflador de nove litros, fonte de
luz xenon 300W, óptica e instrumentais de apreensão marca Karl Storz-
Alemanha, e gancho de termocautério marca WEN- São Paulo- SP.
31
FIGURA 1 – Sequência da adrenalectomia esquerda aberta em suíno. A-
afastamento dos órgãos adjacentes para identificação glandular; B- identificação da adrenal esquerda, próxima ao rim esquerdo; C- dissecção com auxílio de termocautério e detalhe da cauda do pâncreas; D- ligadura dos ramos renais e apresentação do leito adrenal, Goiânia-GO, 2009
FIGURA 2 - A- posicionamento dos portais para adrenalectomia esquerda
laparoscópica em suíno; B - instrumental utilizado em adrenalectomia laparoscópica em suíno, Goiânia- GO, 2009
A
D C
B
Adrenal
esq.
Pâncreas
Rim
esq.
Adrenal esq.
Sítio adrenal
32
Os animais foram monitorados durante os procedimentos operatórios,
tendo sido avaliadas as seguintes variáveis: tempo operatório, saturação de
oxihemoglobina (SpO2), frequência cardíaca, tipo de intercorrência operatória,
temperatura, tempo médio de deambulação e pressão arterial média (PAM). Os
valores resultantes do nível de saturação de oxihemoglobina, frequência cardíaca,
temperatura e PAM (não invasivas) foram obtidos por meio de monitor
multiparamétrico devidamente calibrado (marca Hewlett- Packard, mod. 78354c,
Alemanha). Os registros dos parâmetros operatórios foram efetuados a cada dez
minutos durante todo o TO.
Após o término dos procedimentos os animais foram encaminhados
para sala de recuperação pós-anestésica e monitorados até que seus parâmetros
fisiológicos apresentassem estabilidade. Nessa fase foi efetuado o registro de
tempo de deambulação (tempo considerado a partir do encerramento do
procedimento anestésico até que o animal se locomovesse espontaneamente).
Ao final desse período os animais foram encaminhados para o alojamento de
recuperação para o acompanhamento da ingestão de água, alimento e tratamento
das incisões cirúrgicas. Durante os cinco primeiros dias do pós-operatório foram
submetidos à terapia antimicrobiana com enrofloxacina (Enrotec®, FATEC, São
Paulo-SP) 5 mg/kg, via subcutânea (SC). A analgesia foi obtida pela
administração de cetoprofeno (Ketoprofeno®, VENCOFARMA, Londrina- PR) na
dose de 1mg/kg, via SC, uma vez ao dia, durante cinco dias e curativos diários
com solução salina 0,9%, e antisepsia com solução de iodo-povidona a 2%, até a
retirada dos pontos, ocorrida no décimo dia pós-operatório.
33
FIGURA 3 - Sequência da adrenalectomia laparoscópica em suínos: A- afastamento dos
órgãos adjacentes à adrenal e secção do peritônio; B- identificação da glândula; C- dissecção lateral/medial e cranial/caudal; D- identificação de ramos da artéria e veia renal; E- clipagem dos ramos originários da artéria e veia renal; F- retirada da glândula pelo portal de onze milímetros, Goiânia- GO, 2009
A análise estatística foi realizada utilizando-se dados descritivos e o
teste T de student para avaliação de dois grupos. Para a avaliação de três ou
mais grupos foi utilizado o procedimento de análise de variância (ANOVA), e
complementarmente os testes de normalidade de Shapiro-Wilk, teste de Levene
e de Tukey para múltiplas comparações e teste de Kruskal-Wallis. Os dados
foram processados no programa de análise estatística SPSS (Statistical Package
for the Social Sciences) versão 16.0 (WAGNER et al., 2004).
Rim
Adrenal
esq.
Adrenal esq.
Ramos adrenais da veia e art.
renais
Clipador Adrenal
esq.
Trocart
11 mm
34
RESULTADOS
O TO médio do grupo G1 foi de 66min75s, enquanto no grupo G3 foi
de 76 minutos, com desvio padrão de 14min03s e 16min62s, respectivamente. Os
valores das medianas foram de 68min50s para o grupo G1 e 75min50seg para o
grupo G3 (Tabela 1).
TABELA 1. Valores médios ± desvios-padrão e mediana dos tempos operatórios de adrenalectomia em suínos, expresso em minutos, dos grupos aberto e laparoscópico, Goiânia- GO, 2009
Grupo n Média ± desvio padrão Mediana Min Max
G1 8 66,75 ± 14,03 68,50 49 90
G3 8 76,00 ± 16,62 75,50 55 111
n = número de animais dos grupos
Não foram notadas diferenças estatísticas quanto aos TO em ambos os
grupos tratados, quando se utilizou o teste de Shapiro-Wilk, com grau de
significância de P<0,05 (Figuras 4 e 5). Verificou-se que a distribuição das médias
dos TO se encontra próxima à linha de referência, com distribuição normal, sem
registro de valores discrepantes.
FIGURA 4 - Representação gráfica do TO
do grupo aberto (grupo G1) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009
FIGURA 5 - Representação gráfica do TO do
grupo laparoscópico (grupo G3) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009
35
Em cinco animais do grupo G3 ocorreram acidentes em vasos das
glândulas adrenais, resultando em pequena perda sanguínea. Enquanto no grupo
G1, apenas um animal apresentou este tipo de intercorrência. Em dois animais
ocorreram lesões em alças intestinais, sendo um animal do grupo G1 e outro do
grupo G3. Sendo a do grupo G1 em decorrência do corte pela lâmina do bisturi e
a do grupo G3, na formação do pneumoperitôneo, por meio da agulha de Veress.
Ambas foram localizadas no cólon. Em três animais do grupo G3 ocorreram
hematomas renais (Tabela 2).
TABELA 2- Frequência de tipos de intercorrências operatórias em adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos, Goiânia – GO, 2009
Tipos de intercorrências G1 G3 total
n % n % n %
Acidentes em vasos adrenais 1 12,5 5 62,5 6 18,8
Lesão de alça intestinal 1 12,5 1 12,5 2 6,3
Formação de hematoma renal 0 0 3 37,5 3 9,4
n = número de animais que apresentaram intercorrências operatórias Total processado considerando o somatório dos quatro grupos estudados
Em relação ao hematócrito dos animais no quinto dia pós-operatório
(PO) não foram identificadas alterações significativas. Com seus valores situados
na faixa de referência para a espécie (Tabela 3).
TABELA 3- Valores médios ± desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos à adrenalectomia aberta e laparoscópica em relação aos tempos amostrais, Goiânia-GO, 2009
Hematócrito Grupo n Média/ desvio padrão
Triagem*
G1 8 34,75 ± 1,66 G2 8 33,50 ± 2,56 G3 8 33,00 ± 1,85 G4 8 32,13 ± 2,23
5° dia PO
G1 8 32,13 ± 1,35 G2 8 32,38 ± 4,89 G3 8 31,75 ± 1,28 G4 8 32,13 ± 1,45
* Triagem realizada cinco dias antes do procedimento operatório
A TC média dos animais do grupo G1 foi 36,9°C, com desvio padrão de
0.68 e variância de 0,46. Já a TC média do grupo G2 foi de 37,2°C, desvio padrão
36
de 0,69 e variância de 0,48. No grupo G3 a média de TC foi de 36,5°C, com
desvio padrão de 0,38 e variância de 0,14. No grupo G4 foi registrada média de
TC de 36,8°C, desvio padrão de 0,40 e variância de 0,15. No procedimento de
análise de variância (ANOVA), no teste de Shapiro-Wilk e no teste de múltiplas
comparações de Tukey, não foi observada significância, com valor de P>0,05. As
medianas dos grupos estudados foram de 37°C para o grupo G1, de 37,4°C para
o grupo G2 e 36,7°C para os grupos G3 e G4 (Tabela 4).
TABELA 4 - Valores médios ± desvios padrão e valores mínimos e máximos de TC média de suínos, em graus Celsius (°C), durante a realização de adrenalectomia aberta e laparoscópica, Goiânia-GO, 2009
Grupo n TC Média ± desvio padrão(°C) Min Max
G1 8 36,9 ± 0,67 35,8 37,9
G2 8 37,2 ± 0,69 35,9 38,0
G3 8 36,5 ± 0,37 36,0 36,9
G4 8 36,7 ± 0,39 36,3 37,4 n = número de animais dos grupos
As médias dos TD foram de 83 minutos para o grupo G1, 76min75s
para o grupo G2, 54min25s para o grupo G3 e 45min38s para o G4. Com desvios
padrão de 40min, 12min82s, 22min46s e 22min, respectivamente. A análise de
variância mostrou diferença significativa entre os grupos com P<0,05. Esta
diferença foi identificada quando da análise comparativa entre as médias dos
grupos dois a dois. Verificou-se ainda que o grupo G4 apresentou diferença
significativa (P<0,05) em relação ao grupo G1 (Figura 6).
37
FIGURA 6 - Representação gráfica das diferentes médias de tempo de deambulação após adrenalectomia aberta e laparoscópica em suínos, conforme os grupos estudados, Goiânia, GO, 2009
38
DISCUSSÃO
Os TO médios encontrados no presente trabalho não foram
significativamente diferentes entre os grupos tratados. Estes resultados são
similares aos encontrados por KOLLMORGEN et al. (1998) em estudo
comparativo de adrenalectomia aberta e laparoscópica em suínos. Tal
semelhança converge somente na ausência de significância, visto que as médias
de TO no estudo conduzido por esses autores foram de 37min6s±7min para AL e
36min6s± 9min para AA, enquanto as médias registradas no presente trabalho
foram mais elevadas. Já PARK & GAGNER (1995), também em estudo
experimental de adrenalectomia em suínos, obtiveram resultados próximos aos
encontrados neste trabalho, com TO médio para AL de 60 minutos para o
procedimento na adrenal esquerda e 90 minutos para a adrenal direita, o que foi
atribuído à maior proximidade da glândula direita à veia cava e aos vasos
hepáticos, demandando um maior tempo para execução das manobras de
dissecção.
Nos estudos comparativos de adrenalectomia laparoscópica e aberta
em humanos, os TO são maiores, uma vez que se relacionam a intervenções em
tumores adrenais. Estudo retrospectivo não aleatório conduzido por MIKHAIL et
al. (2005) avaliou-se o resultado de cinco pacientes submetidos à AL e sete
submetidos à AA, verificando que o TO médio para realização de AL foi superior
ao observado na AA. Confirmando os resultados obtidos por YOSHIMURA et al.
(1998), que em seu estudo obtiveram tempo médio de 376 minutos para AL e 133
minutos para AA. É consenso que o TO representa uma desvantagem da
adrenalectomia laparoscópica em relação à adrenalectomia aberta. No entanto,
segundo ETO et al. ( 2006), na medida em que o método vai se consagrando,
maior o número de profissionais treinados, resultando na melhoria de suas
habilidades e consequente diminuição do tempo operatório da adrenalectomia
laparoscópica. Tais considerações são confirmadas por SMITH et al. (1999), os
quais avaliaram diferentes trabalhos entre os anos de 1995 e 1997 e verificaram
que o TO foi diminuindo gradualmente ao longo dos anos, com registros de 254
minutos em 1995 e de 152 minutos no ano de 1998.
As intercorrências no presente estudo foram relacionadas
primordialmente aos grupos tratados, G1 e G3. Lesões de alça intestinal
39
ocorreram em um animal do grupo G1 no momento da incisão da parede
abdominal. No grupo G3 ocorreu perfuração de alça intestinal ocasionada pela
agulha de Veress no inicio da formação do pneumoperitôneo. Estes acidentes
decorreram do acúmulo gasoso no cólon. Tais ocorrências não implicaram em
prejuízo aos procedimentos, uma vez que os defeitos puderam ser corrigidos
adequadamente. HENDRICKSON (2008) relatou que, em procedimentos
minimamente invasivos, a ocorrência de acidentes no momento da formação do
pneumoperitôneo, é frequente, seja pela inserção da agulha de Veress ou pela
instalação dos portais por meio dos trocarteres. Considerações a respeito das
lesões causadas pela agulha de Veress foram feitas por BRUN et al. (2004), os
quais destacaram o baço como sendo o principal órgão afetado durante AL em
cães. Embora no presente experimento tais lesões não tenham sido evidenciadas
chama atenção o potencial risco decorrente do uso dessa agulha durante a
criação do pneumoperitôneo.
Já os hematomas formados no pólo cranial dos rins de três animais do
grupo G3 foram ocasionados pela tração exercida sobre o órgão, no momento do
seu afastamento, para a localização e exposição do sítio cirúrgico. Outras
intercorrências apresentadas no presente estudo foram os acidentes vasculares,
verificados nos grupos G1 e G3. Em ambos os grupos os vasos implicados foram
ramos das artérias renais e aorta e veias adrenais. Conforme ASSALIA &
GAGNER (2004) tais acidentes, com consequentes perdas sanguíneas e
necessidade de conversão, são de ocorrência comum nas AL. Resultados
similares foram verificados no presente trabalho, o qual apresentou maior
frequência de acidentes vasculares nos procedimentos laparoscópicos do que nos
abertos. Contudo, tanto na AA quanto AL, as perdas sanguíneas não foram
significativas, o que foi confirmado pela manutenção do hematócrito de todos os
animais dentro da faixa de referência normal para a espécie suína.
Contornar os obstáculos representados pela diversidade vascular das
adrenais representa um grande desafio, tanto em AA quanto em AL. Neste estudo
o uso do recurso óptico promoveu melhor visibilidade vascular facilitando a
hemostasia no procedimento laparoscópico, ao contrário do ocorrido no
procedimento aberto, onde a identificação vascular e hemostasia foram efetuadas
com maior grau de dificuldade, implicando em perda sanguínea. No entanto,
40
PARNABY et al. (2008), em estudo retrospectivo, demonstraram que a drenagem
venosa de adrenais humanas apresenta grande variabilidade, principalmente nos
casos de feocromocitomas. Destacaram ainda que a complexidade operatória
resultante desta estruturação vascular é resolvida pela maior precisão da AL,
principalmente pela facilidade de identificação vascular ser favorecida pelos
recursos ópticos disponíveis para a execução da técnica.
Durante os procedimentos operatórios, todos os grupos estudados
apresentaram diminuição da TC, com temperatura média de 36,9°C no grupo G1
e a maior, 36,5°C no G3. Estas variações, além de não terem apresentado
significância clínica, caracterizam um padrão normal para suínos submetidos a
procedimentos experimentais, conforme salientou SWINDLE (2007). As variações
de temperatura corporal podem estar relacionadas ao tipo de anestesia, à
temperatura ambiente da sala cirúrgica (ATAYDE, 2008) ou mesmo à ação do
CO2 na cavidade abdominal durante a permanência do pneumoperitôneo,
podendo ser esta a justificativa para que os grupos laparoscópicos tenham
apresentado médias de temperatura inferiores às dos grupos abertos
(DIEMUNSCH et al., 1999).
O TD dos animais dos grupos G1 e G3 foi similar, podendo ser
correlacionados aos achados de MALM et al. (2005) que verificaram em estudo
comparativo de ovariohisterectomias aberta e laparoscópica em cadelas, que o
tempo para locomoção espontânea foi o mesmo entre os grupos tratados. Em
humanos esses resultados se apresentam diferentes, com tempo de locomoção
espontânea significativamente menor para os pacientes submetidos a AL. Esta
afirmação vai ao encontro dos relatos de ELASHRY et al. (1997), que
demonstraram que o TD em pacientes humanos submetidos à AL foi
significativamente menor quando comparado com AA.
No período de convalescença dos animais foram avaliados parâmetros
relacionados à ingestão de água, alimento e evolução das feridas cirúrgicas.
Verificou-se que duas horas após a recuperação da capacidade de locomoção,
todos voltaram a se alimentar espontaneamente. Resultados similares foram
encontrados por MALM et al. (2005) demonstrando que após os procedimentos
operatórios a maioria dos animais retornaram a se alimentar normalmente. Já em
pacientes humanos submetidos à AL e à AA o tempo médio para retorno da
41
alimentação espontânea pode ser de até 24 horas até três dias, (ELASHRY et al.,
1997; ETO et al., 2006).
As feridas cirúrgicas no presente estudo foram monitoradas
diariamente até a retirada dos pontos. Deiscências de feridas ocorreram em dois
animais do grupo G1 e um do grupo G2. O mesmo padrão de complicação em
feridas cirúrgicas foi verificado por KOLLMORGEN et al. (1998), quando
avaliaram à AA em suínos. Tais achados foram associados por esses autores às
grandes incisões necessárias para execução da AA, podendo também justificar as
deiscências das feridas cirúrgicas encontradas no presente trabalho.
CONCLUSÕES
Conclui-se que a laparoscopia para adrenalectomia experimental em
suínos:
Apresentou tempos operatórios semelhantes à adrenalectomia aberta;
não promoveu alteração significativa na temperatura corporal quando
comparada à técnica aberta;
pode estar relacionada ao aumento do quantitativo de intercorrências
operatórias;
apresentou tempo para início da deambulação similar à adrenalectomia
aberta;
conferiu melhor recuperação das feridas cirúrgicas em relação à
adrenalectomia aberta;
é uma técnica confiável podendo servir como referência para o tratamento cirúrgico de animais portadores de doenças adrenais com indicações cirúrgicas.
42
REFERÊNCIAS
1. ANIMAL CARE AND ETHICS COMMITTEE - ACEC, THE UNIVERSITY OF NEWCASTLE Preferred drugs and regimes for animal anaesthesia and analgesia- Initial Issue: July 1993, [on line]. Modified: October 2003. Disponível em: http://e-groups.unb.br/ib/ceua/Preferred% 20drugs%20and%20regimes%20for%20animal %20anaesthesia%20and%20analg.pdf. Acesso em: 04 jan. 2009. 2. ASSALIA, A.; GAGNER, M. Laparoscopic adrenalectomy. British Journal Of Surgery, Bristol, v. 91, n. 10, p. 1259-1274, Oct. 2004.
3. ATAYDE, B. I. Fluidoterapia aquecida no controle da hipotermia em cadelas submetidas a ovavriohisterectomia sob anestesia inalatória. 2008. 73 f. Tese (Doutorado em ciência animal)- Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
4. BARNES, R. F.; GREENFIELD, C. L.; SCHAEFFER, D. J.; LANDOLFI, J.; ANDREWS, J. Comparison of biopsy samples obtained using standard endoscopic instruments and the harmonic scalpel during laparoscopic and laparoscopic-assisted surgery in normal dogs. Veterinary Surgery, Philadelphia, v. 35, n. 3, p. 243-51, Apr. 2006.
5. BEHREND, E. Update on drugs used to treat endocrine diseases in small animals. Veterinary Clinic of North American Small Animal Practice, Philadelphia, v. 36, n. 5, p. 1087-105, vii, set. 2006.
6. BRUN, M. V.; PIPPI, N. L.; BECK, C. A. C.; CONTESINI, E. A.; STEDILE, R.; BONFADA, A. T.; COLUMÉ, L. M.; GOMES, K.; JUNIOR, A. R. P. V.; SILVA, T. F. Colopexia incisional por celiotomia ou transparietal auxiliada por laparoscopia em cães. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n. 3, p. 829-837, maio/jun. 2004.
7. CORCIONE, F.; MIRANDA, L.; MARZANO, E.; CAPASSO, P.; CUCCURULLO, D.; SETTEMBRE, A.; PIROZZI, F. Laparoscopic adrenalectomy for malignant neoplasm - Our experience in 15 cases. Surgical Endoscopy And Other Interventional Techniques, NewYork, v. 19, n. 6, p. 841-844, jun. 2005.
8. DIEMUNSCH, P.; BECMEUM, F.; MEYER, P. Retroperitoneoscopy versus laparoscopy in piglets: ventilatory and thermic repercussions. Journal of Pediatric Surgery, New York, v. 34, n. 10, p. 1514-1517, out. 1999.
9. ELASHRY, O.; CLAYMAN, R.; SOBLE, J.; MCDOUGALL, E. Laparoscopic adrenalectomy for solitary metachronous contralateral adrenal metastasis from renal cell carcinoma. JOURNAL OF UROLOGY, Baltimore, v.157, n.4, p. 1217-22, abr. 1997
10. ETO, M.; HARANO, M.; KOGA, H.; TANAKA, M.; NAITO, S. Clinical outcomes and learning curve of a laparoscopic adrenalectomy in 103 consecutive cases at a
43
single institute. International Journal Of Urology, Tokyo, v. 13, n. 6, p. 671-676, jun. 2006.
11. HENDRICKSON, D. Complications of laparoscopic surgery. Veterinay Clinic of North Americam Small Animal Practice, Philadelphia, v. 24, n. 3, p. 557-71, dez. 2008.
12. HERNANDEZ-DIVERS, S. J.; STAHL, S. J.; FARRELL, R. An endoscopic method for identifying sex of hatchling Chinese box turtles and comparison of general versus local anesthesia for coelioscopy. Journal of Americam Veterinary Medical Association, Chicago, v. 234, n. 6, p. 800-4, mar. 2009.
13. KAWASAKI, T. Comments on treatment of hyperadrenocorticism in ferrets. Journal of Americam Veterinary Medical Association, Chicago, v. 233, n. 5, p. 705; author reply 705-6, set. 2008.
14. KOLLMORGEN, C. F.; THOMPSON, G. B.; GRANT, C. S.; VAN HEERDEN, J. A.; BYRNE, J.; DAVIES, E. T.; DONOHUE, J. H.; ILSTRUP, D. M.; YOUNG, W. F. Laparoscopic versus open posterior adrenalectomy: Comparison of acute-phase response and wound healing in the cushingoid porcine model. World Journal of Surgery, Beijing, v. 22, n. 6, p. 613-620, jun. 1998.
15. LEE, Y. M.; KANG, B. T.; JUNG, D. I.; PARK, C.; KIM, H. J.; KIM, J. W.; LIM, C. Y.; PARK, E. H.; PARK, H. M. A case of adrenal gland dependent hyperadrenocorticism with mitotane therapy in a Yorkshire terrier dog. Journal of Veterinary Science, Seul, v. 6, n. 4, p.363–366, 2005.
16. LEZOCHE, E.; GUERRIERI, M.; CROSTA, F.; LEZOCHE, G.; BALDARELLI, M.; CAMPAGNACCI, R. Flank approach versus anterior sub-mesocolic access in left laparoscopic adrenalectomy: a prospective randomized study. Surgical Endoscopy and other Interventional Techniques, New York, v. 22, n. 11, p. 2373-2378, NOV 2008.
17. MALM, C.; SAVASSI-ROCHA, P. R.; GHELLER, V. A.; OLIVEIRA, H. P.; LAMOUNIER, R.; FOLTYNEK, V. Ovário-histerectomia: estudo experimental comparativo entre as abordagens laparoscópica e aberta na espécie canina. II- Evolução clínica pós-operatória. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 57, supl. 2, p. 162-172, 2005.
18. MCGOWAN, C.; NEIGER, R. Efficacy of trilostane for the treatment of equine Cushing's syndrome. Equine Veterinary Journal, London, v. 35, n. 4, p. 414-8, jun. 2003.
19. MIKHAIL, A.; TOLHURST, S.; ORVIETO, M.; STOCKTON, B.; ZORN, K.; WEISS, R.; KAPLAN, E. L.; SHALHAV, A. L. Open versus laparoscopic simultaneous bilateral adrenalectomy. UROLOGY, Ridgewood, v. 67, n.4, p. 693-6, abr. 2006.
44
20. NAYA, Y.; SUZUKI, H.; KOMIYA, A.; NAGATA, M.; TOBE, T.; UEDA, T.; ICHIKAWA, T.; IGARASHI, T.; YAMAGUCHI, K.; ITO, H. Laparoscopic adrenalectomy in patients with large adrenal tumors. International Journal of Urology, Tokyo, v. 12, n. 2, p. 134-139, fev. 2005.
21. PARK A.; GAGNER M. A porcine model for laparoscopic adrenalectomy. Surgical Endoscopy-Ultrasound and Interventional Techniques, New York, v. 9, n. 7, p. 807-10, jul. 1995. 22. PARNABY, C.; GALBRAITH, N. O.; DWYER, P. J. Experience in Identifying the Venous Drainage of the Adrenal Gland During Laparoscopic Adrenalectomy. Clinical Anatomy, New York, v. 21, n. 7, p. 660-665, out. 2008.
23. SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; SANTOS, A. L. Q.; DRUMOND, S. S.; SILVA, M.; ESTEVÃO, E. R. M.; BOMBONATO, P. P.; LIMA, E. M. M. Irrigação das glândulas adrenais de suínos (Sus scrofa domesticus, Linnaeus, 1758)da raça Hampshire. Bioscience journal, Uberlândia, v.20, n.2, p. 119-123, mai-ago, 2004. 24. SMITH, C.; WEBER, C.; AMERSON, J. Laparoscopic adrenalectomy: New gold standard. WORLD JOURNAL OF SURGERY, Nova York, v. 3, n.4, p. 389-96, abr. 1999.
25. SOOD, J.; JAYARAMAN, L.; KUMRA, V. P.; CHOWBEY, P. K. Laparoscopic approach to pheochromocytoma: Is a lower intraabdominal pressure helpful? Anesthesia and Analgesia, Cleveland, v. 102, n. 2, p. 637-641, feb. 2006.
26. STURGEON, C.; KEBEBEW, E. Laparoscopic adrenalectomy for malignancy. Surgical Clinics of North America, Philadelphia, v. 84, n. 3, p. 755-74, jun. 2004.
27. SUZUKI, H. Laparoscopic adrenalectomy for adrenal carcinoma and metastases. Current Opinion In Urology, London, v. 16, n. 2, p. 47-53, mar. 2006.
53. SWINDLE, M. M. Swine in the Laboratory, Surgery, Anesthesia, Imaging, and Experimental technique. 2. Ed. New York: Taylor & Francis, 2007. 450 p.
28. TIRABOSCHI, R, B.; DOMINGOS, A. L. A.; REIS, R, B.; BOVO, T.B.; SUAID,
H. J.; COLOGNA A.J.; MARTINS, A. C. P. Adrenalectomia laparoscópica: análise
de 11 pacientes. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 18 (Supl 5), p. 41-42,
2003.
29. WAGNER, M. B.; MOTTA, V. T.; DORNELES, C. SPSS passo a passo, Statistical Package for the Social Sciences. Caxias do Sul: EDUCS, 2004. 172 p.
30. WELLS, S.; MERKE, D.; CUTLER, G.J.; NORTON, J.; LACROIX, A. Therapeutic controversy: The role of laparoscopic surgery in adrenal disease.
45
Journal of clinical endocrinology and metabolism, Philadelphia, v. 83, n. 9, p. 3041-9, set. 1998.
31. YOSHIMURA, K.; YOSHIOKA, T.; MIYAKE, O.; MATSUMIYA, K.; MIKI, T.; OKUYAMA, A. Comparison of clinical outcomes of laparoscopic and conventional open adrenalectomy. JOURNAL OF ENDOUROLOGY, New York, v.12, n.6, p. 555-9, dez. 1998.
46
CAPÍTULO 3 - RESPOSTAS HEMATOLÓGICAS, FISIOLÓGICAS,
HORMONAIS E METABÓLICAS DA ADRENALECTOMIA LAPAROSCÓPICA E
ABERTA EM SUÍNOS.
RESUMO
A adrenalectomia laparoscópica é o procedimento de escolha em medicina humana, sendo caracterizada atualmente como padrão ouro. Em medicina veterinária, ainda há necessidade de melhor caracterização dos seus resultados afim de que seus benefícios em relação à adrenalectomia aberta possam ser conhecidos. Neste contexto, inserem-se as alterações hematológicas e metabólicas decorrentes de ambos os procedimentos. No presente trabalho foram estudadas as respostas fisiológicas, hormonais e metabólicas oriundas da adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos jovens, divididos em quatro grupos, sendo dois grupos abertos e dois laparoscópicos, destes, dois foram denominados controles ou falsos tratados (sham). As diferenças significativas encontradas se relacionaram aos valores de leucometria, os quais apresentaram elevação no grupo sham laparotômico em relação aos grupos laparoscópicos; a SpO2 do grupo G3 foi inferior aos demais grupos; os valores de PCR dos grupos laparoscópicos foram menores no PO. Não houve diferença significativa na pressão arterial média dos quatro grupos. Os parâmetros metabólicos analisados não apresentaram diferenças significativas. Estes resultados indicaram benefícios da abordagem laparoscópica em relação à aberta, podendo ser considerado um procedimento seguro para utilização em outras espécies. Palavras chaves: Adrenal, modelo animal, pneumoperitôneo, pressão arterial média e resposta de fase aguda
ABSTRACT
Laparoscopic adrenalectomy is the procedure of choice in human medicine and is currently featured as the gold standard. In veterinary medicine, there is still need for better characterization of its results in order that its benefits compared to open adrenalectomy may be known. In this context it is inserted the hematological and metabolic changes resulting from both procedures. In this study, the physiological, hormonal and metabolic alterations from the open and laparoscopic adrenalectomy in young swine were divided into four groups, two groups open and two laparoscopic procedures, these two were called control or false treated (sham). The significant differences found were related to the values of leukocytes, which showed an increase in sham laparotomy compared to laparoscopic groups; SpO2 group G3 was lower than the other groups, the CRP values of laparoscopic groups were lower in the PO. There was no significant difference in mean arterial pressure of the four groups. Metabolic parameters analyzed showed no significant differences. These results show benefits of laparoscopic approach in relation to open and can be considered a safe procedure for use in other species. . Keywords: Keywords: Adrenal, animal model, acute phase response, average arterial pressure and pneumoperitoneum.
47
INTRODUÇÃO
No humano, a adrenalectomia laparoscópica (AL) é o procedimento
cirúrgico de eleição quando existe a necessidade de intervenção em tumores
adrenais benignos, sejam eles funcionais ou não. Os estudos de THOMPSON et
al. (1997) e SUBRAMONIAN et al. (2004), demonstraram que as pesquisas
comparando a adrenalectomia aberta (AA) com a AL, vem se multiplicando desde
sua primeira descrição em 1992 por Gagner e colaboradores (GAGNER et al.,
1992). Tais estudos evidenciam os benefícios da AL em relação à AA, expressos
pela diminuição da permanência hospitalar, do trauma cirúrgico e do desconforto
pós-operatório com consequente diminuição da dor (ASSALIA & GAGNER, 2004).
A determinação dos parâmetros de seleção dos pacientes para
adrenalectomia, tanto em humanos como em animais, baseia-se primordialmente
nos estudos de imagem (MORANDI et al., 2007; LEE et al., 2005.), exames
laboratoriais complementares que incluem a mensuração de níveis hormonais,
avaliações cardiopulmonares e dimensionamento dos tumores (LAL & DUH,
2003). A conduta a ser seguida, adrenalectomia por abordagem laparoscópica ou
aberta, depende dos resultados desses exames. Tal delineamento caracteriza-se
como uma das principais linhas de estudo em avançados centros de pesquisa.
Assim, a formulação desses parâmetros de diagnóstico e seleção se afirma como
fundamental para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos procedimentos
minimamente invasivos (MI) (JESCHKE et al., 2003).
No âmbito da medicina veterinária, os procedimentos para o
diagnóstico e classificação das enfermidades adrenais são semelhantes aos
executados em humanos (GALAC et al., 2008). Contudo, os estudos
comparativos de AA e AL são escassos e, por conseguinte, a análise das
respostas fisiológicas decorrentes de ambos os métodos. Essa insuficiência de
trabalhos implica na necessidade de execução de pesquisas que objetivem o
conhecimento das alterações decorrentes do estresse operatório resultante de
intervenções abertas e laparoscópicas, tais como mudanças metabólicas,
processo inflamatório e valores hematológicos (BYRNE et al., 2000).
48
Dentre as principais complicações resultantes da AA, encontram-se os
processos infecciosos que podem ocorrer na parede ou na cavidade abdominal
(CASTILHO et al., 2000). Frequentemente, as complicações associadas a
grandes incisões são negligenciadas, especialmente em pacientes com síndrome
de Cushing, que devido aos efeitos do hipercortisolismo, tornam-se susceptíveis
ao aparecimento de hematomas e deiscência de feridas, além de apresentarem
diminuição da quimiotaxia de macrófagos, da formação do tecido de granulação,
da regeneração da epiderme, da síntese de colágeno e de prostaglandinas
(KOLLMORGEN et al., 1998).
A quantificação fisiológica do estresse operatório é um processo
fundamental para avaliação de intervenções cirúrgicas. Porém, trata-se de um
conjunto de análises complexas e caras. Em humanos algumas citocinas podem
cumprir essa função (BYRNE et al., 2000). Já em suínos as avaliações dos
valores de cortisol representam um importante instrumento para determinação do
nível de estresse. Contudo, a variação em seus níveis pode ser determinada por
outros fatores que não o cirúrgico, tais como o estresse térmico, idade
(FAGUNDES et al., 2008), período do dia e pelo tipo de alimentação
(KOOPMANS et al., 2005).
Outro importante parâmetro disponível para a avaliação do estresse
cirúrgico é a resposta de fase aguda, com especial destaque para a proteína C
reativa (PCR) (MADRIGAL et al., 2006). Este processo se trata de um complexo,
não específico de reações sistêmicas que ocorrem em consequência de
infecções, processos inflamatórios ou trauma. Liberadas pelo fígado, as proteínas
de fase aguda sofrem alterações em horas ou dias após a instalação de
processos inflamatórios (CARPINTERO et al., 2007). Sua quantificação é
relevante para a avaliação do estresse, uma vez que suas taxas podem ser
monitoradas por mais de três dias (SORRELLS et al., 2006).
Embora os procedimentos MI resultem em menor estresse devido à
diminuição da ferida cirúrgica e a menor manipulação tecidual, outros
componentes são determinantes na elevação da resposta ao estresse. Dentre
estes se destacam o tempo operatório, nível da pressão abdominal (PAB) e o tipo
de gás utilizado para manter o pneumoperitôneo (PNP). Estes fatores influenciam
as variáveis metabólicas e a resposta hemodinâmica (MENDONÇA-SAGAON et
49
al., 2000). A formação do PNP está relacionada diretamente ao aumento da pré-
carga cardíaca, assim como o aumento da PAB se relaciona à diminuição da
complacência pulmonar e ao aumento da pressão arterial média (TOURNADRE et
al., 2000).
O objetivo deste estudo foi avaliar as respostas fisiológicas,
hematológicas, metabólicas, enzimáticas e hormonais decorrentes da AA e da AL,
por meio de análises hematológicas (leucometria, plaquetometria e volume
globular médio), níveis séricos de creatinina, atividade de alanina amino
transferase (ALT), cortisol, proteína C reativa de fase aguda (PCR) e avaliações
hemodinâmicas básicas como pressão arterial média não invasiva - PAM,
saturação de oxihemoglobina - SpO2 - e frequência cardíaca - FC.
MATERIAL E MÉTODOS
Antecedendo o início do estudo, o projeto foi submetido à análise do
Comitê de Ética no Uso Animal (CEUA) do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade de Brasília, e aprovado sob o número UnBDOC 32946/2009. A
pesquisa foi conduzida no Centro de Ensino e Treinamento Experimental em
Ciências da Saúde, Distrito Federal e na Escola de Veterinária da Universidade
Federal de Goiás entre os meses de fevereiro a abril de 2009.
Utilizaram-se 32 suínos (Sus scrofa domesticus), raça tri-cross, do sexo
masculino, com peso médio de 16 kg, oriundos de granja devidamente
inspecionada pelo órgão sanitário competente.
Os animais sob sedação foram identificados por meio de tatuagem
efetuada na face interna da orelha esquerda. Durante o estudo foram mantidos
em instalações adequadas para a espécie, providas de água potável e
alimentação automatizada à vontade. Os critérios de triagem dos animais se
basearam nos exames clínicos e resultados das análises eletrocardiográficas,
hematológicas e perfis renais e hepáticos. Aqueles aptos a serem incluídos no
estudo foram divididos em quatro grupos de oito, denominados da seguinte
maneira: grupo G1- adrenalectomia aberta (AA), submetido à laparotomia com a
ressecção da adrenal; grupo G2 (sham aberto ou falso tratado) submetido ao
procedimento laparotômico sem a ressecção da adrenal; grupo G3-
50
adrenalectomia laparoscópica (AL), submetido ao procedimento laparoscópico
com a ressecção da adrenal e grupo G4 (sham laparoscópico ou falso tratado)
submetido ao procedimento laparoscópico sem a ressecção da adrenal.
Todos os grupos foram submetidos aos mesmos procedimentos pré-
operatórios, tendo sido adotado um jejum hídrico e alimentar por 12 horas. O
protocolo anestésico adotado foi o sugerido pelo CEUA-Unb (ACEC, 2009).
Utilizou-se azaperone (Destress®, DESFAR, São Paulo-SP) como medicação
pré-anestésica na dose de 5 mg/kg, via intramuscular (IM), 15 minutos antes da
indução anestésica. Os animais foram mantidos em infusão venosa contínua de
solução salina 0,9% (Solução Fisiológica, Baxter, São Paulo - SP) até o término
dos procedimentos e recuperação da capacidade de locomoção espontânea. A
indução anestésica foi realizada com propofol (Propovan, Cristália, Itapira - SP)
na dose de 5 mg/kg, via intravenosa (IV). Para manutenção anestésica foi
utilizado o isoflurano a 3% (Isoflurano, Instituto BIOCHIMICO, Itatiaia - RJ). O
preparo do campo operatório constou de tricotomia ampla do abdome ventro-
lateral dos animais. Na sequência, foi efetuada a antissepsia com solução de
iodopovidona (PVPI) a 2% e álcool iodado a 0,1%.
Para abordagem da adrenal esquerda empregando a técnica aberta
descrita por PARK & GAGNER (1995), iniciada com uma incisão para-costal de
aproximadamente 15 cm de comprimento, com os animais contidos em decúbito
lateral direito. Seguiu-se a secção dos músculos oblíquo abdominal externo e
oblíquo abdominal interno. Em seguida, efetuou-se o afastamento do rim
esquerdo, baço, alças intestinais e ápice do pâncreas. Foi realizada a dissecção
do peritônio e da gordura periglandular com termocautério monopolar. As artérias
renais acessórias e ramos da aorta foram ligados, enquanto que as demais
estruturas vasculares foram cauterizadas. A ligadura dos ramos da artéria e da
veia renal foi efetuada em bloco com fio de nylon monofilamento preto, USP 3-0
(Dafilon- Medical SA- B-Braun - Colômbia). Finalizado o procedimento, foi
realizado o inventário do sítio cirúrgico e a síntese da parede abdominal por
planos, utilizando-se pontos simples separados, também com fio de nylon
monofilamento.
A técnica de adrenalectomia laparoscópica adotada no presente
experimento foi a laparoscópica trans-abdominal descrita por KOLLMORGEN et
51
al. (1998), com modificação do posicionamento e da pressão de CO2, a qual foi
estabelecida em 10mmHg, uma vez que estudos recentes recomendam a
utilização de pressões entre oito e 10mmHg (SOOD et al., 2006). Os
procedimentos cirúrgicos foram realizados com os animais em decúbito lateral
direito, com um apoio na borda posterior do arco costal direito, promovendo a
elevação da área de acesso operatório. Na sequência procedeu-se a instalação
do pneumoperitôneo, com a execução de pequena incisão cutânea seguida da
tração de toda a parede abdominal e inserção da agulha de Veress. Em seguida,
foi executada a demarcação dos sítios para criação dos portais de acesso
abdominal. O primeiro portal, de 11 mm, foi criado lateralmente entre a linha
mediana ventral e a linha dorsal, permitindo a inserção do endoscópio rígido de
dez mm com ângulo de zero grau. O segundo, de cinco milímetros, foi formado na
borda posterior do arco costal. O terceiro, de 11 mm, foi instalado na região
mesogástrica esquerda, e o último, um portal de cinco milímetros, na região
epigástrica esquerda. Foi utilizada uma pinça de apreensão tipo Maryland, uma
pinça de apreensão tipo grasping, um gancho para eletrocautério monopolar, um
porta agulha endoscópico de Mayo, um clipador e uma tesoura endoscópica de
Metzembaun.
A abordagem da adrenal iniciou-se com o afastamento do rim
esquerdo, com auxílio da pinça de apreensão tipo grasping, para secção do
peritônio e localização da glândula, seguido do afastamento das alças intestinais,
baço e pâncreas. Identificada a glândula, iniciava-se a dissecção com o auxílio do
gancho e da pinça de apreensão tipo Maryland, a partir da sua borda lateral em
sentido dorsal e cranial-caudal. Após a dissecção e hemostasia dos vasos de
origem aórtica e ramos da celíaca e lombar por meio de termocauterização, fez-se
a clipagem dupla dos ramos da artéria e veia renal. Seguiu-se a inspeção do sítio
cirúrgico e retirada da glândula pelo portal de 11 mm. Foi utilizada microcâmera
de dois chips, insuflador de nove litros, fonte de luz xenon 300 W, óptica e
instrumentais de apreensão marca Karl Storz-Alemanha, e gancho de
termocautério (WEN- São Paulo- SP).
Os animais foram monitorados durante os procedimentos operatórios,
tendo sido avaliadas as seguintes variáveis: tempo operatório, saturação de
oxihemoglobina (SpO2), frequência cardíaca (FC), tipo de intercorrência
52
operatória, temperatura e pressão arterial média (PAM). Os valores resultantes do
nível de saturação de oxihemoglobina, FC, temperatura e PAM (não invasivas)
foram obtidos por meio de monitor multiparamétrico devidamente calibrado
(marca Hewlett- Packard, mod. 78354c, Alemanha). Os registros dos parâmetros
operatórios foram efetuados a cada dez minutos durante o procedimento
operatório.
Após o término dos procedimentos os animais foram encaminhados
para sala de recuperação pós-anestésica e monitorados até que seus parâmetros
fisiológicos apresentassem estabilidade. Nesta fase foi efetuado o registro de
tempo de deambulação (tempo considerado a partir do encerramento do
procedimento anestésico até que o animal se locomovesse espontaneamente).
Ao final deste período os animais foram encaminhados para o alojamento de
recuperação para o acompanhamento da ingestão de água, alimento e tratamento
das feridas cirúrgicas. Durante os cinco primeiros dias do pós-operatório foram
submetidos à terapia antimicrobiana com enrofloxacina (Enrotec®, FATEC, São
Paulo-SP) 5 mg/kg, via subcutânea (SC). A analgesia foi obtida pela
administração de cetoprofeno (Ketoprofeno®, VENCOFARMA, Londrina-PR) a
1mg/kg, via SC, uma vez ao dia, durante cinco dias e curativos diários com
solução salina 0,9%, e antisepsia com solução de iodo-povidona a 2%, até a
retirada dos pontos, ocorrida no décimo dia pós operatório .
As colheitas de sangue para análises laboratoriais foram efetuadas
cinco dias antes (triagem) e cinco, 15 e 25 dias do pós-operatório (PO) com os
animais sedados com azaperone (Destress®, DESFAR, São Paulo) na dose de 5
mg/kg via intramuscular. Para o hemograma, foram colhidos 2mL de sangue em
tubo contendo EDTA (VACUETTE®, Greiner Bio-One Brasil, Americana – SP) e
para as análises bioquímicas, foram colhidos 4mL de sangue em tubos sem
anticoagulante (VACUETTE®, Greiner Bio-One Brasil, Americana – SP). As
amostras foram mantidas sob refrigeração e as análises foram realizadas no
prazo máximo de 24 horas. Os exames para quantificação de cortisol e de
proteína C reativa (PCR) foram realizados a partir dos soros obtidos da
centrifugação do sangue sem anticoagulante, os quais foram congelados em
tubos de coleta de sangue sob temperatura de 20 graus negativos em período
não superior a dois meses.
53
Para contagem da série branca foi utilizando a coloração Panóptico
(Instant-Prov, NEWPROV, Pinhais - SP). Já para contagem de plaquetas foi
utilizado oxalato de amônio e água destilada. Ambas análises foram realizadas
em câmara de Newbauer. A proteína total foi quantificada por refratometria
(Refratômetro-Quimis) e hematócrito em centrífuga hematológica para
determinação de microhematócrito (CELM, Barueri – SP).
As análises de creatinina e alanina amino transferase (ALT) foram
realizadas por fotometria de reflectância (Reflotron-plus, Rhoche-Alemanha). Para
análise de PCR, foi utilizado o sistema para determinação quantitativa e semi-
quantitativa no soro (PCRTEST, DOLES, Goiânia-GO). Os exames para
determinação de valores de cortisol sérico foram efetuados pelo método de
eletroquimioluminescência (ELECYS® 2010, Roche Diagnostics, Mannhein,
Alemanha). Todos os exames foram realizados por um único profissional
devidamente habilitado. Foram adotados os parâmetros de referências descritos
por FAGUNDES et al., (2008), FAUSTINE et al. (2000), FELDMAN et al. (2006),
MADRIGAL et al. (2006), SANTOS (1999), SWINDLE (2007) e TOURNADRE et
al. (2000).
A análise estatística foi realizada utilizando-se dados descritivos e o
procedimento de análise de variância (ANOVA). Foram ainda utilizados, em
caráter suplementar, o teste de Kruskal-Wallis e o teste de Tukey (post Hoc) para
múltiplas comparações. Os dados foram processados no programa de análise
estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 16.0
(WAGNER et al., 2004).
54
RESULTADOS
O hematócrito no momento da triagem não apresentou diferença
estatística entre os grupos. No quinto dia PO não foram identificadas alterações
significativas. Contudo, no décimo quinto dia PO, os valores dos grupos G3 e G4
foram menores em relação aos demais grupos, com média de 30,38 (±0,52) para
ambos. Tais valores mostraram-se também menores em relação aos valores
obtidos das amostras da colheita anterior, mas sem diferença significativa (Tabela
1).
TABELA 1 - Valores médios ± desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia -GO, 2009
Hematócrito Grupo n Média/ desvio padrão
Triagem
G1 8 34,75 ± 1,66 G2 8 33,50 ± 2,56 G3 8 33,00 ± 1,85 G4 8 32,13 ± 2,23
5° dia PO
G1 8 32,13 ± 1,35 G2 8 32,38 ± 4,89 G3 8 31,75 ± 1,28 G4 8 32,13 ± 1,45
15° dia PO
G1 8 32,88 ± 3,27 G2 8 33,38 ± 2,66 G3 8 30,38 ± 0,51 G4 8 30,38 ± 0,51
25° dia PO
G1 8 33,38 ± 1,92 G2 8 30,63 ± 1,50 G3 8 31,75 ± 1,66 G4 8 32,25 ± 1,66
n= amostra
Os resultados da contagem total de leucócitos demonstraram diferença
significativa entre os grupos estudados na fase de triagem, com valor de P<0,05.
A identificação destas diferenças foi efetuada com o teste de Post Hoc de
múltiplas comparações (Tukey), evidenciando as diferenças do grupo G2 em
relação aos grupos G3 (P= 0,02) e G4 (P=0,047). No quinto dia PO, foi
identificada diferença significativa do grupo G2, o qual apresentou média de
20.012 (± 5.605), em relação aos grupos G3 (P= 0,042) e G4 (P=0,016) (Tabela
2), que obtiveram médias de 13.912 (± 1764) e 13.087 (± 703), respectivamente
(Figura 1).
Aos quinze dias se observou que os grupos G1 e G2 apresentaram
diferenças significativas em relação aos grupos G3 e G4 (P<0,05), com valores de
55
médias para o grupo G1 de 14.250 (± 3.169), para o grupo G2 de 14.100 (±
1.638), para o grupo G3 de 11.175 (± 1.681) e para o grupo G4 de 10275 (± 544).
No vigésimo quinto dia novamente as diferenças foram do grupo G2 em relação
aos grupos G3 (P=0,028) e G4 (P=0,43), com média de total de leucócitos de
14.025 (± 1608) para o grupo 2, 10.950 (± 1.046) para o grupo 3 e 11.125 (±
1.170) para o grupo 4 (Figura 1).
TABELA 2- Múltiplas comparações (Post Hoc) de contagem de leucócitos totais, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009
Leucometria nos tempos amostrais
Grupo (I) Grupo (J) Dif. entre as médias
(I-J) P
95% IC
Lim inf Lim sup
Triagem G2 G3 4050
* 0,02 479 7620
G4 3600* 0,047 29 7170
5° dia PO G2 G3 6100
* 0,042 152 12047
G4 6925* 0,016 977 12872
15° dia PO
G1 G3 3075
* 0,02 302 5847
G4 3975* 0,002 1202 6747
G2 G3 2925
* 0,03 152 5697
G4 3825* 0,003 1052 6597
25° dia PO G2 G3 3075
* 0,02 236 5913
G4 2900* 0,04 61 5738
*Diferença de média é significante ao nível de P<0,05,
IC intervalo de confiança
FIGURA 1- Representação gráfica das médias de leucometria em suínos submetidos à adrenalectomia experimental, aberta e laparoscópica, em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia – GO, 2009
56
Em relação à contagem de plaquetas, as diferenças estatísticas
verificadas ocorreram no quinto dia PO, do grupo G1, o qual apresentou média de
364.750 (± 82.039), em relação ao G4 (P=0,016), que obteve média de 261.000 (±
19.552). Nos demais tempos amostrais não foram verificadas diferenças, assim
como não se identificou valores discrepantes da faixa de referência da espécie
suína. Nas avaliações de proteína total e creatinina, no procedimento de análise
de variância não foi identificada diferença significativa entre os grupos estudados
nos quatro momentos de colheita (P>0,05), estando os valores médios situados
na faixa de referência de normalidade para a espécie suína.
Na verificação da atividade de ALT no momento da triagem, verificou-
se diferença do grupo G1 em relação ao grupo G4 (P=0,037) e do grupo G2 em
relação G4 (P=0,023), sendo as médias dos valores de ALT para o grupo G1 de
50,78 (± 12,22), para o grupo G2 de 51,87 (± 10,74) e de 33,52 (± 4,98) para o
grupo G4. No quinto dia PO, foi identificada diferença estatística do grupo G2 em
relação ao grupo G3 (P=0,04), com médias de 47,73 (± 6,51) e 34,37 (± 7,86),
respectivamente. No décimo quinto dia PO, constatou-se diferenças significativas
do grupo G2 em relação ao G3 (P=0,02) (Tabela 3) com médias de 50,92 (±
14,11) para o grupo G2 e 33,23 (±4,72) para o grupo G3.
TABELA 3 - Múltiplas comparações (Post Hoc) de atividade de ALT, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009
*Diferença de média é significante ao nível de 0,05, PO= pós-operatório, IC intervalo de confiança
Os valores das médias dos níveis de cortisol sérico no momento da
triagem não apresentaram diferenças estatísticas entre os grupos. No entanto,
todos apresentaram valores elevados em relação à faixa de referência de 4,4 –
5,9 mg/dL, para a espécie suína. No quinto dia PO, não foram verificadas
diferenças estatísticas entre os grupos, porém nos grupos G3 e G4 as médias dos
ALT (I) Grupo (J) Grupo Dif. entre as médias (I-J)
P 95% IC
Lim inf Lim sup
Triagem G1 G4 17,26
* 0,037 0,74 33,77
G2 G4 18,35* 0,023 1,83 34,86
5° dia PO G2 G1 13,36* 0,043 0,28 26,44
15° dia PO G2 G1 17,68* 0,027 1,44 33,93
57
níveis de cortisol situaram-se acima da faixa de referência. No décimo quinto dia
PO, verificou-se diferença significativa do grupo G2 (P=0,001), com média de 9,51
(± 3,63), em relação ao grupo G3, o qual apresentou média de 3,80 (± 1,52). No
vigésimo quinto dia PO, as diferenças estatísticas constatadas foram do grupo
G2, o qual apresentou média de 10,35 (± 3,10), em relação aos grupos G1
(P=0,01) e G3 (P=0,001), com médias de 6,84 (± 1,18) para o primeiro e 5,70 (±
2,32) (Tabela 4 e Figura 2).
TABELA 4 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de cortisol sérico de
suínos, submetidos à AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009
Tempo de coleta Grupo n Média / desvio padrão Min. Max.
Triagem G1 8 9,97 ± 3,60 5,40 16,86
G2 8 12,38 ± 5,25 7,42 22,41
G3 8 8,85 ± 2,36 6,06 13,09
G4 8 8,77 ± 2,35 6,11 13,12
5 dia PO G1 8 5,17 ± 1,63 3,05 7,81
G2 8 5,38 ± 3,98 2,11 14,68
G3 8 6,63 ± 1,68 4,04 9,14
G4 8 6,86 ± 1,12 4,82 8,27
15 dia PO G1 8 5,94 ± 2,26 2,63 9,56
G2 8 9,51 ± 3,63 6,15 17,00
G3 8 3,80 ± 1,52 0,44 5,37
G4 8 6,93 ± 1,78 4,54 10,60
25 dia PO G1 8 6,84 ± 1,18 5,17 8,50
G2 8 10,35 ± 3,10 6,80 15,05
G3 8 5,70 ± 2,32 1,03 9,21
G4 8 8,12 ± 0,66 6,87 8,84
n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior encontrado PO= pós-operatório,
58
FIGURA 2- Representação gráfica dos níveis de cortisol sérico, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009
Na análise de Proteína C-Reativa de fase aguda a única diferença
estatística constatada ocorreu no décimo quinto dia PO, entre o grupo G1
(P=0,03), o qual apresentou média de 24,00 (± 11,11) em relação ao grupo G3,
que apresentou média de 12,75 (± 5,00) (Figura 4). Nos demais momentos de
análise não ocorreram diferenças entre os grupos. No entanto, os valores de PCR
no 5° dia PO apresentaram-se elevados, com médias superiores aos valores de
referência (9,0 ± 6,1 mg/L). Nesta fase os grupos abertos apresentaram valores
de PCR superiores aos dos grupos laparoscópicos. Já no 15° dia PO, os valores
de PCR apresentaram queda, em todos os grupos, sendo que os grupos
laparoscópicos se encontravam situados na faixa de referência de valores de
PCR para a espécie suína (Tabela 5 e Figura 3).
59
FIGURA 3 - Representação gráfica das médias dos valores de PCR
sérica, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009
TABELA 5 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de proteína C-reativa de fase aguda sérica de suínos submetidos à AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009
Tempo de coleta Grupo n Média/desvio padrão Min. Max.
Triagem
G1 8 12,75 ± 7,48 6,00 24,00
G2 8 8,25 ± 3,11 6,00 12,00
G3 8 7,50 ± 2,78 6,00 12,00
G4 8 9,00 ± 3,21 6,00 12,00
5 dias PO
G1 8 28,50 ± 12,73 12,00 48,00
G2 8 25,50 ± 10,01 12,00 48,00
G3 8 21,00 ± 12,42 12,00 48,00
G4 8 18,00 ± 13,98 6,00 48,00
15 dias PO
G1 8 24,00 ± 11,11 12,00 48,00
G2 8 16,50 ± 6,21 12,00 24,00
G3 8 12,75 ± 5,01 6,00 24,00
G4 8 15,75 ± 7,13 6,00 24,00
25 dias PO
G1 8 14,25 ± 8,45 6,00 24,00
G2 8 15,00 ± 14,70 6,00 48,00
G3 8 7,50 ± 2,78 6,00 12,00
G4 8 9,00 ± 3,21 6,00 12,00
n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior encontrado
A média de saturação de oxigênio (SpO2) do grupo G1 foi de 96,26%
(± 1,46). No grupo G2, a média foi de 95,82% (± 2,96). No grupo G3, a média
anotada foi de 91,25% (± 2,73) e no grupo G4 de 95,20% (± 3,71) (Tabela 6). No
teste de Tukey foi possível identificar a diferença ocorrida entre o grupo G3 e os
demais grupos, sendo esta significativa para P<0,05 (Tabela 6).
60
TABELA 6 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da saturação de oxigênio de suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009
Grupos n Média Min. Max
G1 8 96,26 ± 1,46 94,14 98,83
G2 8 95,82 ± 2,96 91,00 99,40
G3 8 91,25 ± 2,73 86,06 93,76
G4 8 95,20 ± 3,71 90,82 100,00
n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior valor encontrado
A FC média aferida no grupo G1 foi de 140 batimentos por minuto
(bpm) (± 34). O grupo G2 apresentou média de 147 bpm, (± 32). No grupo G3 a
média foi de 120 bpm (±10) e no grupo G4 a média foi de 119 bpm (± 28), sendo
considerado o intervalo de confiança de 95% (Tabela 7). O nível de significância
verificado na análise de variância foi de 0,11 entre os grupos combinados e no
teste de Kruskal-Wallis com valor de P=0,134. Não foram observadas diferenças
significativas entre as médias. Estes resultados foram confirmados quando se
utilizou o teste de Tukey. Verificou-se que as médias das frequências cardíacas
nos grupos G1 e G2 foram superiores às da faixa de referência para espécie
suína.
TABELA 7 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da FC, durante AA e AL em suínos. Goiânia - GO, 2009
Grupos n Média e desvio padrão Min Max
G1 8 140 ± 34 91 192
G2 8 147 ± 32 92 179
G3 8 120 ± 10 110 137
G4 8 119 ± 28 92 169
n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior valor encontrado
Durante os procedimentos operatórios a PAM não apresentou
diferença significativa entre os grupos (P=0,351). Na avaliação individual dos
grupos, identificou-se o aumento da PAM nos grupos laparoscópicos em relação
aos grupos abertos, com as médias de 68,40 (± 4,81) para o grupo G1, de 72,55
(± 6,61) para o grupo G2, de 76,46 (± 16,51) para o grupo G3 e 83,12 (± 23,81)
para o grupo G4. (Tabela 8 e Figura 4). A média discrepante foi registrada no
grupo G4.
61
FIGURA 4 - Representação gráfica das médias de PAM, em suínos submetidos à AA e AL com intervalo de confiança de 95%, Goiânia- GO, 2009
TABELA 8 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da PAM em suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009
GRUPOS n Média /desvio padrão Min Max
G1 8,00 68,40 ± 4,81 51,43 97,67
G2 8,00 72,55 ± 6,61 63,80 84,33
G3 8,00 76,46 ± 16,51 52,67 107,67
G4 8,00 83,12 ± 23,81 51,00 124,00
n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior valor encontrado
62
DISCUSSÃO
As perdas sanguíneas de todos os grupos avaliados foram
consideradas quantitativamente insignificantes, mesmo quando se considera a
diminuição dos valores de hematócritos no décimo quinto dia, ocorrida nos grupos
G3 e G4, não tiveram significado clínico, indicando que neste quesito, tanto a AA
quanto a AL não são acompanhadas de uma importante lesão vascular.
Resultados similares foram também obtidos por PARK & GAGNER (1995), em
estudo de modelo suíno para adrenalectomia, com perdas sanguíneas inferiores a
100 mL de sangue por animal. As perdas sanguíneas reduzidas, neste
experimento, podem estar relacionadas à ausência de enfermidades adrenais nos
animais estudados, o que certamente aumentaria a complexidade do
procedimento, podendo resultar no aumento das perdas sanguíneas.
Neste trabalho, os valores de leucometria indicaram a ocorrência de
processos infecciosos nos grupos submetidos a tratamentos abertos, sendo mais
acentuada no grupo falso tratado (grupo G2). A leucocitose apresentada pelos
animais destes grupos pode ser creditada ao trauma cirúrgico da parede
abdominal, bem como a formação de abscessos na incisão cirúrgica de quatro
animais do grupo G2 e dois animais do grupo G1. Nestes animais foi necessária a
continuidade da terapia antimicrobiana por mais cinco dias, o que contribuiu para
a diminuição dos valores de leucócitos totais nos tempos seguintes.
KOLLMORGEN et al. (1998) encontraram elevação da contagem leucocitária no
PO em relação ao pré-operatório, porém os valores encontrados se apresentaram
elevados em relação à faixa de referência, mas sem diferença significativa entre
os grupos submetidos à LA e à AA.
As diferenças entre os valores de contagem de plaquetas e de outros
parâmetros hematológicos e metabólicos, tais como a quantificação de proteína
total, creatinina e ALT, foram inexpressivos para fins de avaliações comparativas
entre os grupos estudados e o trauma cirúrgico, não sendo possível determinar as
respostas fisiológicas. Tais variáveis formam um conjunto de elementos
alternativos capazes de demonstrar os níveis de estresse fisiológico decorrente
de procedimentos operatórios (BYRNE et al., 2000). Neste estudo seus valores
não apresentaram relevância analítica e clínica. Neste mesmo sentido foram os
63
achados de KOLLMORGEN et al. (1998), em estudo comparativo de
adrenalectomia em suínos, os quais destacaram que o tempo operatório
relativamente pequeno, em ambas as abordagens, foi insuficiente para causar a
resposta inflamatória necessária que determinasse alterações nos valores das
variáveis metabólicas, capazes de indicar diferença estatística entre os grupos.
Embora considerado um ótimo indicador de estresse cirúrgico, os
valores de cortisol se apresentaram situados na faixa de referência em relação à
linha de base, para espécie, nas avaliações pós-operatórias. Esta estabilidade
das médias se justifica em decorrência do longo intervalo entre a operação e
colheita subsequente, prejudicando o objeto da investigação. Em estudo
conduzido por BYRNE et al. (2000), estes autores verificaram que os valores de
cortisol, como indicador de estresse, possui importância significativa quando
realizada nas primeiras 48 horas de PO. Já a elevação dos níveis de cortisol, na
fase de triagem, pode ser creditada ao estresse relacionado ao transporte e à
mudança de alojamento ocorrida poucos dias antes da primeira colheita de
sangue, conforme relatam FAGUNDES, et al. (2008). Ao mesmo tempo, pode-se
observar que os valores de cortisol, nas fases amostrais subsequentes ao PO,
não apresentaram diferenças significativas. Este resultado indica a imediata
resposta dos animais adrenalectomizados, na compensação de cortisol pela
glândula contralateral.
Os valores de PCR não apresentaram diferenças significativas entre
os grupos nas diferentes fases amostrais. No entanto, no pós-operatório imediato
os valores de PCR indicaram aumento expressivo, acima da faixa de referência
da espécie, comprovando ser um excelente indicador de processo inflamatório e/
ou infeccioso. Pode-se observar ainda que os grupos com os maiores valores de
PCR corresponderam aos grupos G1 e G2, os quais apresentaram os maiores
valores de contagem de leucócitos. Tais resultados foram similares aos
observados por KOLLMORGEN et al. (1998), indicando valores de PCR no PO
elevados em relação à fase anterior. Mesmo sem ter havido diferenças
estatísticas entre os grupos, ocorreram picos em todos os grupos tratados, com
destaque para os submetidos aos procedimentos abertos, coincidindo ainda com
a leucocitose apresentada no PO imediato.
64
A diminuição da SpO2 no grupo G3, em relação aos demais grupos,
possivelmente não está relacionada com a formação do pneumoperitôneo.
YAVUZ et al. (2001), verificaram que a SpO2 não apresentou alteração
significativa em suínos submetidos a diversas pressões de PNP. A diferença
encontrada pode ser creditada à operação propriamente dita e à necessidade de
manter ventilação positiva na execução de procedimentos laparoscópicos,
conforme afirmou QUANDT (1999).
A FC não apresentou diferença significativa entre os grupos. Os
quadros taquicárdicos ocorreram nos grupos G1 e G2, podendo, no grupo G1, ter
se relacionado com a operação propriamente dita, pois conforme demonstrado
por CHENG et al. (2008), nos procedimentos onde há manipulação adrenal,
espera-se a ocorrência de alterações cardiovasculares oriundas da liberação de
catecolaminas. Quanto ao quadro apresentado no grupo G2, deve-se considerar
que durante o procedimento anestésico, episódios taquicárdicos podem ocorrer
pela ação de fármacos e pela estimulação cirúrgica (SLATTER, 1998). Nos
grupos laparoscópicos, a FC se manteve no limite fisiológico para a espécie, sem
evidência de alteração clínica significativa.
O padrão de PAM observado no presente estudo não caracterizou
diferença significativa entre os grupos. Porém, demonstrou que os grupos
submetidos ao PNP, grupos G3 e G4, apresentaram aumento da PAM em relação
aos demais. Este resultado coincide com os observados em suínos submetidos a
colecistectomia aberta e laparoscópica por MENDOZA-SAGAON et al. (2000), em
que avaliaram o comportamento dos parâmetros hemodinâmico de 12 suínos
jovens submetidos a colecistectomia aberta e laparoscópica, comparando com o
grupo controle e o grupo submetido apenas ao pneumoperitôneo. Os autores
concluíram que apesar de não ter havido diferença entre os grupos ocorreu um
discreto aumento da PAM nos grupos submetidos ao PNP. No mesmo sentido, os
resultados encontrados por YAVUZ et al. (2001), mostraram que o aumento da
PAM ocorria no momento da insuflação do pneumoperitôneo, mas com tendência
de estabilidade. Em humanos, o aumento da PAM ocorre com frequência devido à
manipulação adrenal na presença de tumores secretores, com destaque para os
feocromocitomas (SOOD et al., 2006).
65
CONCLUSÕES
Conclui-se neste estudo que a laparoscopia para adrenalectomia
experimental em suínos:
apresenta menor risco de infecção e de perdas sanguíneas, não acarretando
ainda distúrbios de coagulação;
não altera os parâmetros metabólicos e enzimáticos;
promove alterações nos níveis de PCR, mas inferiores aos da AA;
Pode diminuir a SpO2;
não altera a FC e a PAM;
66
REFERÊNCIAS
1. ANIMAL CARE AND ETHICS COMMITTEE - ACEC, THE UNIVERSITY OF NEWCASTLE Preferred drugs and regimes for animal anaesthesia and analgesia- Initial Issue: July 1993, [on line]. Modified: October 2003. Disponível em: http://e-groups.unb.br/ib/ceua/Preferred%20drugs%20and%20regimes%20for%20animal %20anaesthesia%20and%20analg.pdf. Acesso em: 04 jan. 2009. 2. ASSALIA, A.; GAGNER, M. Laparoscopic adrenalectomy. British Journal Of Surgery, Bristol, v. 91, n. 10, p. 1259-1274, out. 2004. 3. BYRNE, J.; HALLETT JUNIOR, J. W.; ILSTRUP, D. M. Physiologic responses to laparoscopic aortofemoral bypass grafting in an animal model. Annals of surgery, Philadelphia, v. 231, n. 4, p. 512-8, abr. 2000. 4. CARPINTERO, R.; ALONSO, C.; PIÑEIRO, M.; ITURRALDE, M.; ANDRÉS, M.; LEPOTIER, M. F.; MADEC, F.; ALAVA, M. A.; PIÑEIRO, A.; LAMPREAVE, F. Pig major acute-phase protein and apolipoprotein A-I responses correlate with the clinical course of experimentally induced African Swine Fever and Aujeszky's disease. Veterinary Research, Paris, v. 38, n. 5, p. 741-53, set-out. 2007. 5. CASTILHO, L. N.; MEDEIROS, P. J.; MITRE, A. I.; DÉNES, F. T.; LUCON, A. M.; ARAP, S. Pheochromocytoma treated by laparoscopic surgery. Revista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Sao Paulo, v. 55, n. 3, p. 93-100. mai/jun 2000.
6. CHENG, S. P.; SAUNDERS, B. D.; GAUGER, P. G.; DOHERTY, G. M. Laparoscopic partial adrenalectomy for bilateral pheochromocytomas. Annals of Surgical Oncology, New York, v. 15, n. 9, p. 2506-2508, set. 2008.
7. FAGUNDES, A. C. A.; NEGRÃO, J. A.; SILVA, R. G.; GOMES, J. D. F.; SOUZA, L. W. O.; FUKUSHIMA, R. S. Environmental temperature and cortisol levels In growing-finishing pigs. Brazilian journal of veterinary Research and animal Science, São Paulo,v.45(sup.), p. 136-40, 2008. 8. FAUSTINI, M.; MUNARI, E.; COLOMBANI, C.; RUSSO, V.; MAFFEO, G.; VIGO, D. Haematology and plasma biochemistry of Stamboek pre-pubertal gilts in Italy: reference values. J. Vet. Med. a Physiol. Pathol. Clin. Med., Berlin, v. 47, n. 9, p. 525-32, nov. 2000. 9. FELDMAN, B. F.; ZINKL, J. G.; JAIN, N. C. Veterinary Hematology. 2. ed. Ames: Blachwell Publishing, 2006. 10. GAGNER, M.; LACROIX, A.; BOLTE, E. Laparoscopic adrenalectomy in cushings-syndrome and pheochromocytoma. New England Journal of Medicine, Boston, v. 327, n. 14, p. 1033-1033, out. 1992.
67
11. GALAC, S.; KARS, V. J.; VOORHOUT, G.; MOL, J. A.; KOOISTRA, H. S.
ACTH-independent hyperadrenocorticism due to food-dependent hypercortisolemia in a dog: a case report. Veterinary Journal, London, v. 177, n. 1, p. 141-3, jul. 2y008. 12. JESCHKE, K.; JANETSCHEK, G.; PESCHEL, R.; SCHELLANDER, L.; BARTSCH, G.; HENNING, K. Laparoscopic partial adrenalectomy in patients with aldosterone-producing adenomas: Indications, technique, and results. Urology, Ridgewood, v. 61, n. 1, p. 69-72, jan. 2003. 32. KOLLMORGEN, C. F.; THOMPSON, G. B.; GRANT, C. S.; VAN HEERDEN, J. A.; BYRNE, J.; DAVIES, E. T.; DONOHUE, J. H.; ILSTRUP, D. M.; YOUNG, W. F. Laparoscopic versus open posterior adrenalectomy: Comparison of acute-phase response and wound healing in the cushingoid porcine model. World Journal of Surgery, Beijing, v. 22, n. 6, p. 613-620, jun. 1998. 13. KOOPMANS, S.; VAN DER MEULEN, J.; DEKKER, R.; CORBIJN, H.; MROZ, Z. Diurnal rhythms in plasma cortisol, insulin, glucose, lactate and urea in pigs fed identical meals at 12-hourly intervals. Physiology & Behavior, Elmsford, v. 84, n. 3, p. 497-503, mar. 2005. 14. LAL, G.; DUH, Q. Laparoscopic adrenalectomy - indications and technique. Surgical Oncology-Oxford, Oxford, v. 12, n. 2, p. 105-123, ago. 2003.
15. LEE, Y. M.; KANG, B. T.; JUNG, D. I.; PARK, C.; KIM, H. J.; KIM, J. W.; LIM, C. Y.; PARK, E. H.; PARK, H. M. A case of adrenal gland dependent hyperadrenocorticism with mitotane therapy in a Yorkshire terrier dog. Journal of Veterinary Science, Seul, v. 6, n. 4, p.363–366, 2005.
16. MADRIGAL, J. J. C.; PARDO, F. P.; LUNA, A. M. PROTEÍNA DE FASE AGUDA EM EL GANADO PORCINO. Concepto generales y posibles apliacaciones prácticas. In: LUNA, A. M. Producir carne de cerdos em El siglo XXI, generando um Nuevo Orden Zootécnico. 1 ed. Madrid: Acalanthis, 2006. Cap 8, p. 187-215. 17. MENDOZA-SAGAON, M.; HANLY,E.; TALAMINI, M.; KUTKA, M.; GITZELMANN, C.; HERREMAN-SUQUET, K.; POULOSE, B. F.; PAIDAS, C. N.;DE MAIO, A. Comparison of the stress response after laparoscopic and open cholecystectomy. Surgical Endoscopy, New York, v.14, n. 12, p. 1136-41, dez. 2000. 18. MORANDI, F.; MAYS, J. L.; NEWMAN, S. J.; ADAMS, W. H.; Imaging diagnosis-bilateral adrenal adenomas and myelolipomas in a dog. Veterinary Radiology and Ultrasound, Raleigh, v.48, n.3, p. 246-249, 2007. 19. PARK, A.; GAGNER, M. A porcine model for laparoscopic adrenalectomy. Surgical Endoscopy-Ultrasound and Interventional Techniques, New York, v. 9, n. 7, p. 807-810, jul. 1995.
68
20. QUANDT, J. E. Anesthetic considerations for laser, laparoscopy, and thoracoscopy procedures.Clin Tech Small Anim Pract, Philadelphia, v. 14, n. 1, p. 50-55, fev. 1999. 21. SANTOS, L. C. Laboratório Ambiental. 1. ed. Cascavel: Edunioeste, 1999.
22. SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1998. 2830 p.
23. SOOD, J.; JAYARAMAN, L.; KUMRA, V. P.; CHOWBEY, P. K. Laparoscopic approach to pheochromocytoma: Is a lower intraabdominal pressure helpful? Anesthesia and Analgesia, Cleveland, v. 102, n. 2, p. 637-641, fev. 2006. 24. SORRELLS, A. D.; EICHER, S. D.; SCOTT, K. A.; HARRIS, M. J.; PAJOR, E.
A.; LAY JUNIOR, D. C.; RICHERT, B. T. Postnatal behavioral and physiological responses of piglets from gilts housed individually or in groups during gestation. Journal Of Animal Science, Champaign, v. 84, n. 3, p. 757-66, mar. 2006. 25. SUBRAMONIAN, K.; DESYLVA, S.; BISHAI, P.; THOMPSON, P.; MUIR, G. Acquiring surgical skills: a comparative study of open versus laparoscopic surgery. European urology, Basel, v. 45, n. 3, p. 346-51; author reply 351, Mar. 2004. 54. SWINDLE, M. M. Swine in the Laboratory, Surgery, Anesthesia, Imaging, and Experimental technique. 2. Ed. New York: Taylor & Francis, 2007. 450 p.
26. TOURNADRE, J.; ALLAOUCHICHE. B.; CAYREL. V.; MATHON, L.; CHASSARD, D. Estimation of cardiac preload changes by systolic pressure variation in pigs undergoing pneumoperitoneum. Acta Anaesthesiologica Scandinavica, Copenhagen, v. 44, n. 3. p. 231-5, mar. 2000.
27. THOMPSON, G. B.; GRANT, C. S.; VANHEERDEN, J. A.; SCHLINKERT, R. T.; YOUNG JUNIOR, W. F.; FARLEY, D. R.; ILSTRUP, D. M. Laparoscopic versus open posterior adrenalectomy: a case-control study of 100 patients. Surgery, St. Louis, v. 122, n. 6, p. 1132-6, dez. 1997.
28. WAGNER, M. B.; MOTTA, V. T.; DORNELES, C. SPSS passo a passo, Statistical Package for the Social Sciences. Caxias do Sul: EDUCS, 2004. 172 p.
29. YAVUZ, Y.; RONNING, K.; LYNG, O.; MÅRVIK, R.; GRONBECH, J. Effect of increased intraabdominal pressure on cardiac output and tissue blood flow assessed by color-labeled microspheres in the pig. Surgcal Endoscopy, New York, v. 15, n. 2, p. 149-55, fev. 2001.
69
CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todos os recursos tecnológicos necessários para execução dos
procedimentos minimamente invasivos em humanos, encontram-se disponíveis
há muito tempo. As primeiras adrenalectomias laparoscópicas foram realizadas
no início da década de 90 e a partir dos seus relatos, os trabalhos se
multiplicaram nos principais centros de pesquisa e naqueles onde os recursos
financeiros não representavam impedimento à execução de pesquisas ou
aquisição de equipamentos. Reflexo destes estudos, o método minimamente
invasivo (MI) foi aperfeiçoado e na atualidade pode-se intervir em tumores
grandes com enormes benefícios para os pacientes. No entanto, existem algumas
particularidades em relação ao MI que devem ainda ser aperfeiçoados, para que
se obtenha a diminuição do tempo operatório. Hoje, o tempo gasto para a
execução de MI é maior quando comparados aos métodos abertos. Esta variável
em muitos casos representa fator impeditivo para a sua execução. Outro desafio é
a garantia do controle das perdas sanguíneas decorrentes da adrenalectomia
laparoscópica, o que deve ser obtido por meio do aperfeiçoamento técnico.
A adrenalectomia laparoscópica pode representar para a medicina
veterinária um importante salto qualitativo, uma vez que agrega benefícios para
profissionais, clientes e principalmente para os pacientes, pois diminui: o tempo
de recuperação, risco de infecções, dor e tempo de internação. Os métodos
minimamente invasivos expressam inovação e modernidade. Contudo, deve-se
destacar que não devem ser tratados como uma especialidade, mas sim como
uma forma diferente de operar. O cirurgião deve ter conhecimento profundo dos
métodos convencionais para se habilitar na execução dos procedimentos
laparoscópicos. A capacitação não representa para o veterinário necessariamente
uma barreira, a partir do momento em que as técnicas podem ser exercitadas em
cadáveres e outros animais de experimentação.
Como modelo, respeitando-se as particularidades morfológicas, o suíno
apresenta-se como alternativa, uma vez que possui características similares a
outras espécies. Sua principal distinção em relação à adrenal canina refere-se à
sua vascularização. A adrenal de cães possui aspecto bilobado e irrigação
ligeiramente diferenciada, especialmente a veia frênico-abdominal, que é mais
70
calibrosa e ventral à glândula, enquanto nos suínos jovens esta é pouco visível e
quase imperceptível. A adrenal do cão possui formato acinar enquanto a glândula
suína possui forma cilíndrica. No entanto, estas variações não se apresentam
como fatores impeditivos para a realização de estudos ou treinamentos de
adrenalectomia laparoscópica ou outros procedimentos que envolvam técnicas
minimamente invasivas.
Considerando estas particularidades, o delineamento deste estudo foi
traçado no sentido de obter um quantitativo de informações que subsidiassem o
desenvolvimento da adrenalectomia laparoscópica no âmbito veterinário, por se
tratar de uma técnica factível de ser empregada. Depreende-se que a utilização
do modelo suíno, para a execução de adrenalectomia laparoscópica, respeitando-
se as particularidades, é passível de adoção. Neste sentido, o projeto foi
desenhado com a finalidade de responder inúmeras questões relacionadas aos
procedimentos operatórios propriamente ditos, avaliando e comparando os
resultados em grupos tratados e falsos tratados correspondentes às respectivas
intervenções, possibilitando elencar parâmetros técnicos inerentes aos
procedimentos abertos e laparoscópicos que poderiam ou não estar associados à
adrenalectomia.
A primeira foi a variável tempo, considerada um dos fatores limitantes
na opção pela abordagem laparoscópica, a qual não apresentou diferença entre
os grupos. Esta variável obterá resultados diferentes quando os estudos forem
efetuados em animais portadores de tumores adrenais. Pode-se inferir que os
resultados obtidos no presente estudo, possivelmente seriam divergentes dos
encontrados, caso houvesse a presença de enfermidade adrenal, a qual atuaria
como complicador na execução do procedimento e consequentemente
aumentando o tempo operatório. Complementarmente, foram avaliados os
componentes hematológicos e metabólicos resultantes de ambas as abordagens,
caracterizando desta forma as respectivas diferenças. Este segmento do estudo
foi de imenso valor, pois possibilitou a verificação das diferentes abordagens com
melhores detalhes. Com destaque para as infecções decorrentes dos abscessos
apresentados nos animais submetidos aos procedimentos abertos, tanto o tratado
quanto o grupo sham apresentaram leucocitose. Este resultado expõe claramente
71
o benefício dos MI em relação aos procedimentos abertos, visto terem todos os
grupos sido submetidos aos mesmos tratamentos pré e pós-operatórios.
Já a quantificação do trauma operatório, causado pelo procedimento
aberto, foi possível por meio da dosagem de proteína de fase aguda (PCR), que
apesar de não ter apresentado diferenças estatísticas entre os grupos, foi
visivelmente maior nos grupos abertos (tratado e falso tratado), tendo os
resultados dos testes superados as expectativas pela sua alta sensibilidade e
especificidade. As análises dos níveis de cortisol sérico tiveram o mesmo objetivo,
mas foram prejudicadas em decorrência do longo período para avaliação pós-
operatória, comprometendo em parte a avaliação da variável estresse, mas por
outro lado indicando a rápida resposta da glândula contralateral na produção do
hormônio.
Os objetivos deste estudo foram atingidos, e passam não apenas pelos
determinados no projeto de pesquisa, mas pela possibilidade de iniciar uma linha
de trabalho que instrumentalize outros profissionais para a execução de novos
estudos, da mesma forma que oferta no âmbito profissional alternativa terapêutica
para resoluções de enfermidades adrenais. As limitações e particularidades deste
estudo não invalidaram seus resultados, tampouco deixaram dúvidas a propósito
dos benefícios da adrenalectomia laparoscópica. Contudo, é patente a
necessidade de continuidade dos estudos, aos moldes dos desenvolvidos na
medicina humana. Diversos outros estudos podem ser desenvolvidos a partir
deste, incluindo a pesquisa de citocinas, análise de fibrinogênio, resposta à
produção de cortisol de animais adrenalectomizados, confrontar os valores de
PAM com método invasivo, além de pesquisar técnicas complementares, como a
abordagem retroperitoneal, por Notes, técnicas de congelamento glandular ou
outro método que surja como resultado de estudos. Alguns centros já iniciaram
esse trabalho no âmbito veterinário, mas ainda são poucas linhas de pesquisa.
Mesmo porque os métodos minimamente invasivos disponibilizam inúmeros
recursos intervencionistas e de diagnóstico, ampliando as alternativas de estudos
sobre o assunto.
Seguramente, a contextualização do tema foi positiva em dois
aspectos. O primeiro relaciona-se a importância acadêmica do assunto,
destacando três linhas: as enfermidades adrenais, os métodos minimamente
72
invasivos e o uso do modelo suíno em experimentação. A segunda relaciona-se à
factibilidade de uso na rotina profissional. Todos os assuntos foram devidamente
contemplados neste estudo. Alguns com maiores detalhes que outros. Mas as
principais questões foram respondidas. Restando então a semente para os
próximos estudos.