Sampa Alternativa #1
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Transcript of Sampa Alternativa #1
//Outubro_2012 # 01
Distribuição gratuita
//beneditO_calixtO
// EntrEvista com a vicE-prEsiDEntE Da associação
Dos amigos Da praça BEnEDito calixto
// vozoteca, o museu de vozes da feira
// como assim?!..., a galeria!
// escondidinho da amada, o melhor da culinária
nordestina
SAMPA ALTERNATIVA
É hora de ser diferente, e fazer a diferença. Depois de meses de gesta-
ção regados à muita pesquisa e pastel com caldo de cana, a revista
sampa alternativa chega até você trazendo o que há de melhor e
mais interessante na praça Benedito calixto.
nós viemos trazer a melhor revista de cultura até você? não sabe-
mos... mas sabemos que viemos trazer o melhor de nós, para produzir um
material que seja importante, útil, informativo e principalmente descon-
traído até suas mãos.
Queremos entrar na sua casa, fazer parte da sua história, ser seus
amigos, se você assim permitir. Dessa forma, contar também nossa his-
tória, e saber o que vocês, nossos leitores, que estão embarcando nessa
jornada conosco, pensam... sobre a vida, sobre cultura, sobre arte, e va-
riedades.
Blá blá blás à parte, estamos verdadeiramente radiantes de alegria
de poder criar este material, e saber que neste exato momento, você está
lendo isso, e prestes a se aventurar em nossas descobertas pela praça. E
tudo que podemos dizer neste momento é... obrigado... e seja bem-vindo
ao mundo sampa alternativa.
equipe Sampa alternativa
angelo mota – Bruna mendes – caio Kato
como assim?!...
Por dentro da galeria mais colorida da cidade de são Paulo
da bahia para a benedito calixto
considerado um dos melhores da cidade, o escondidinho
da amada garante amor e dedicação aos seus clientes
Para gato nenhum botar defeito
uma invenção para refrescar os bichanos e decorar a casa
nos bastidores da feira
entrevista com a vice presidente da associação
dos amigos da Praça Benedito calixto
O “cristo Paulista”
garoto de 17 anos recria monumentos
mundiais com a tecnica do Papercraft
chocolate com Pimenta
a mistura mais deliciosa da feira
negócio em família
azulejos modernos e coloridos fazem sucesso na feira
colecionando vozes
a vozoteca, museu de vozes criado por luiz ernesto Kawall,
em sua própria casa, reúne registros de vozes do nundo todo
NESTA EdIção:
04
08
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20
2328
32
#retrato_falado
Localizada no coração da praça Bene-
dito calixto, que abriga uma das feiras
de antiguidade mais famosas de são
paulo, a galeria como assim?!... traz um ar
moderno e alternativo à tradicional feirinha.
criado há 15 anos pelo visionário tedd
albuquerque, o projeto como assim?!...
teve seu início na avenida paulista, em
um estacionamento alugado, onde era
montada uma tenda de circo, para que
os expositores pudessem exibir seus
produtos. mas a temática circense não
se limitava apenas à lona. pessoas com
perna de pau, malabaristas e palhaços
ajudavam a atrair a atenção das pessoas
que passavam por ali, e é claro, o nome
diferente aguçava a curiosidade.
o título surgiu da própria curiosidade
das pessoas. ainda sem nome quando foi
iniciado, o projeto despertava o interesse
exatamente por não dizer exatamente a
que vinha. “as pessoas perguntavam:
como assim, é um circo ou uma feira?
como assim não tem nome? aí surgiu
a idéia do nome ser como assim?!...” –
disse tedd.
a galeria desembarcou na praça
Benedito calixto em 2004, disposta a
trazer um movimento de vanguarda, pois
estava se aventurando em um território
muito tradicional. não só deu certo como
inspirou vários outros projetos, e hoje
é possível ver, ao redor da praça, deze-
nas de galerias com essa temática mais
moderna. “Hoje mudou o perfil, o pessoal
vai muito mais pelas galerias do que pela
feira de antiguidades” – contou tedd.
O projeto hoje tem dois espaços fixos.
a galeria da praça Benedito aos sábados,
e o shopping center 3 aos domingos.
mais de 300 expositores fazem parte do
projeto, e existe uma seleção para poder
Por dentro da galeria mais colorida da cidade de são Paulo
texto e fotos: angelo Mota
por angelo mota
6 @sampa_alternativa
entrar, pois não são permitidos produtos
industrializados na galeria, apenas produ-
tos artesanais ou de criação própria.
a galeria da praça tem três andares e
foi se expandindo aos poucos, à medida
que os expositores foram se estabelecendo
no local, e hoje já conta com um agradável
restaurante a céu aberto e está ampliando
“É uma coisa curiosa, uma mistura DE um montE DE coisa E atÉ hojE a gEntE não saBE onDE vai parar.” tedd albuquerque
seu espaço para futuras exibições de ci-
nema e teatro. o objetivo é atrair todos
os tipos de público, promovendo durante
a semana cursos, oficinas e workshops
temáticos de moda, literatura, teatro,
cinema, e que no sábado todas essas
culturas se encontrem no amplo espaço
que a galeria porporciona
7#outubro_2012
#no_Prato
Prato típico do nordeste brasileiro, o
escondidinho é uma boa opção para
o seu sábado na praça Benedito ca-
lixto. principalmente se for no restauran-
te escondidinho da amada. o lugar tem
o nome do prato principal da casa e des-
taca-se por ser um ambiente agradável,
com boa música, comida e muita alegria.
além do escondidinho, diversos outros
pratos dão água na boca. a harmonia
dos ingredientes com o toque baiano é
o diferencial. o Escondidinho da amada
tem um clima especial porque é tratado
como um evento pelas pessoas que o
preparam. “Eu faço toda a preparação na
semana e já durmo pensando como vai
ser o meu sábado. o escondidinho pra
mim é sagrado, é meu filho” – diz Amada
ramos, proprietária do restaurante.
a ideia de vender escondidinho sur-
giu da necessidade de fazer algo diferen-
te. amada trabalhava como secretária do
seu marido, Fernando lopes, mas não se
sentia satisfeita. um dia fez uma traves-
sa de escondidinho que servia umas seis
pessoas. Fernando só parou de comer
quando realmente acabou. como agradou
dA BAhIA PARA A
BENEdITo CALIxToconsiderado um dos melhores da cidade, o escondidinho da
amada garante amor e dedicação aos seus clientes
por Bruna mendes
amada ramosProprietária do restaurante
10 @sampa_alternativa
tanto o marido, amada decidiu que era
isso que devia fazer: agradar as pessoas
com a sua comida. E o escondidinho é su-
cesso tanto em casa como na praça.
como é realizado somente aos sába-
dos, amada e Fernando explicam que há
todo um planejamento antes do final de
semana. Desde a preparação do escondi-
dinho até a arrumação do local. “aqui de
sexta é uma balada, então já tem esse cli-
ma de festa. Quando chegamos no sába-
do de manhã temos que limpar e arrumar
tudo para deixar do nosso jeito. mas tudo
é feito com muito amor” – diz Fernando.
todos os sábados são atendidos cer-
ca de 180 pessoas que se deliciam com a
variação do cardápio. Escondidinho, baca-
lhau da amada, tortas e o arrumadinho são
os mais pedidos. o restaurante com cara
de bar deixa os clientes muito à vontade e
encanta com o atendimento diferenciado.
É feito também um altar com flores na en-
trada do restaurante, dando as boas vindas
aos clientes. “Eu faço questão de conhecer
os meus clientes, para mim eles são as mi-
nhas celebridades” – declara amada
#coisas_e_outras_coisas
A SoLUção do VERão PARA SEU gATo
uma invenção para refrescar os bichanos e decorar a casa
Luiz manse, 58 anos, ex-jornalista, en-
controu na praça Benedito calixto a
mudança que precisava em sua vida.
Cansado da pressão que a profissão im-
punha, luiz começou a confeccionar em
sua casa pequenas fontes de água, que
além de funcionar como terapia para seu
stress, era extremamente relaxante quan-
do estavam em funcionamento. começou
a presentear parentes e amigos com seu
novo hobby, e quando viu a satisfação
dos que ganhavam seus presentes, no-
tou que ali existia uma oportunidade para
uma mudança radical, e como ele mesmo
gosta de brincar, virou um jornalista que
vende suas fontes em praça pública.
a ideia da praça surgiu quando acom-
panhava a mulher, que já expunha seus
apanhadores de sonhos em feiras livres,
e luiz percebeu que poderia expor suas
fontes também. mas ele precisava de um
diferencial, foi quando percebeu que seus
clientes cariocas sempre pediam para au-
mentar o tamanho das fontes, pois seus
gatos estavam bebendo das fontes e não
estava sobrando água para bombear.
pesquisando sobre o assunto, ele
descobriu que os gatos gostam de água
por angelo mota
12 @sampa_alternativa
sempre fresca, limpa e com alto teor de
oxigênio, o que uma fonte que mantêm
a água em constante movimento pode
fornecer. Daí surgiu a ideia da fonte dos
gatinhos. luiz queria que a fonte dos ga-
tinhos fosse um objeto para expor em
qualquer lugar da casa, sem perder a be-
leza – e principalmente – a funcionalida-
de, que é fornecer água potável o dia todo
para o animal de estimação.
“Eu resolvi fazer um bebedouro que
a dona do gato pudesse instalar na sala
de visitas sem incomodar ninguém, sem
espantar” - contou.
a fonte dos gatinhos faz muito sucesso
na feira, pois é um produto inovador, criado
por ele e que não é encontrado com esse ní-
vel de personalização em nenhum pet shop.
E apesar de expor apenas uma vez por sema-
na na feira, luiz recebe encomendas pratica-
mente todos os dias de clientes da cidade,
outros estados e até de outros países, devido
à grande quantidade de turistas estrangeiros
que visitam a feira semanalmente
13#outubro_2012
luiz manseexpositor
#acontece_na_feira
A FEIRA ACoNTECE
um relato de quem sempre esteve à frente da administração da Praça.
Maria Emília ciavaglia, vice-presiden-
te da associação dos amigos da
praça Benedito calixto, conta um
pouco da história de um dos redutos cul-
turais mais tradicionais da cidade de são
paulo e explica que o sucesso da Benedi-
to é o “boca a boca”.
O PrOceSSO POlíticO
com intuito de defender e cuidar de
um espaço físico, além de um engaja-
mento político da época da prefeitura de
janio Quadros, alguns grupos do partido
comunista, que se encontravam na praça
Benedito calixto, resolveram fazer um
abaixo assinado defendendo uma pro-
posta de manutenção do local como um
ambiente de cultura, além da possibilida-
de de comercializar objetos de antigui-
dade, basicamente para manter - entre
outras coisas - o próprio partido. a partir
desse movimento, iniciou-se a associa-
ção dos amigos da praça.
criada há 25 anos, a principio como
um projeto de revitalização e manuten-
ção, a feira que hoje ocupa a praça Be-
nedito calixto, evoluiu e se tornou um
verdadeiro reduto artístico, cultural, de
moda, lazer e gastronômico; atende a
um público de quase 15 mil pessoas por
sábado e já faz parte do circuito turístico
da cidade de são paulo.
por caio Kato
16 @sampa_alternativa
“nO bOca a bOca, a gente garante O SuceSSO da nOSSa Praça.” maria Emília
com divulgação principalmente ba-
seada em mídia espontânea, a feira atrai
pessoas dos mais diversos lugares. “com
gente de todos os bairros, cidades e ate
outros países, nossa feira conseguiu uma
mídia muito positiva, não sendo fechada
para o bairro de pinheiros”, afirma Maria
Emilia ciavaglia.
acontecendo sempre aos sábados, o
dia ficou registrado na agenda da subpre-
feitura como um evento de arte, cultura
e lazer da região e pode ser considerado
responsável por todo comercio de design,
restaurantes e galerias diversas, num raio
de, aproximadamente, um quilometro em
seu entorno.
O diferencial
ainda dentro da feira, segundo Emilia,
“o comercio em geral possui uma boa sa-
ída”, e explica: “a gente faz uma seleção
muito seria para colocar expositores que
trabalham com qualidade e que agre-
guem diversidade ao nosso espaço”.
afora isso, as pessoas que ali ex-
põem seus trabalhos e sua cultura, não
são simples vendedores, e sim entende-
dores daquilo que trazem. “a exemplo, o
projeto autor na praça, apadrinhado por
plínio marcos - o movimento constitui,
basicamente, em aproximar os autores
de seus públicos”, cita ciavaglia.
outros diferenciais da Benedito calix-
to são os espaços do chorinho - um mini
palco situado no coração da feira, junto
com a quadra das comidas típicas, onde
os músicos têm a possibilidade de mos-
trar seu trabalho para um publico diversifi-
cado, e a vozoteca - museu da voz mantido
pelo jornalista Luis Ernesto Kawall em sua
própria casa, que fica de frente à praça.
ObjetivOS
Dentre os objetivos da associação,
uma das preocupações dos responsá-
veis pela feira era a geração de empre-
gos diretos e indiretos. “com cerca de
duas mil pessoas beneficiadas com o
comercio da praça, nós temos 300 ex-
positores, além de todos os serviços
que são prestados aqui. Em um anti-
quário, por exemplo, eles usam vários
serviços, como restauração de diversas
áreas para poder vender peças em bom
estado, transporte, sem contar nos ser-
viços que a própria feira contrata, como
e o caso dos nossos jardineiros, coisas
17#outubro_2012
mente singular, principalmente quando o
assunto é limpeza. para garantir a higiene
nos meandros da praça, foi construído um
deposito nos fundos de um terreno, na rua
lateral, onde é armazenado todo o contin-
gente de resíduos provenientes da feira.
com uma média de 700 sacos de 100
litros de lixo por mês, maria Emilia viu a
necessidade da criação desse espaço
para o deposito. E ela afirma: “Ganhamos
os azulejos e a obra do prédio aqui do
lado, eles estavam em reforma e o que
sobrou eles doaram para a associação.”
com uma copia da chave, o rapaz da lim-
peza passa toda a noite para recolher o
lixo. “Dessa forma, estamos economi-
zando o dinheiro do contribuinte porque
o seu imposto não paga pra recolher o
nosso lixo”, comemora
que acabam gerando renda e inclusão
social”, afirma a vice-presidente.
com cerca de 30 funcionários diretos,
a associação já se considera autossus-
tentável, sem a necessidade de verba pú-
blica ou patrocínio de qualquer gabinete.
restringindo ao poder público apenas o
cadastramento e a autorização do traba-
lho feito por todos os envolvidos. para
manter a segurança, limpeza e organiza-
ção, é cobrada pela associação uma taxa
de 20 reais por sábado de cada expositor,
totalizando 80 reais por mês.
POr tráS daS cOrtinaS
com todo esse movimento, o consu-
mo na praça exige uma mão de obra igual-
#acontece_na_feira
maria Emíliavice-presidente da associação
dos amigos da Praça.
Sampa Alternativa - como foi consoli-
dado o publico alvo, foi feito uma pesqui-
sa prévia do lugar para ter esse comércio
aqui ou não?
Maria Emília - há 25 anos atrás, nós tí-
nhamos muito poucas feiras de antiguida-
des e de artesanato em são paulo. como
pinheiros é um lugar bem frequentado,
um lugar que tem muito intelectual, muito
artista, acabou que esse público começou
a vir para cá quando a feira se tornou re-
gular. Dessa forma, consolidou-se o perfil
dos frequentadores que temos hoje.
Sampa Alternativa – Porque a feira só
funcionando aos sábados?
Maria Emília - Embora tenhamos
feito pedidos pra que fosse sábados e
domingos, entendemos que o sucesso
dela é justamente por ser uma vez por
semana e ser no sábado. a questão do
sábado é muito importante porque se
você pensar, na sua vida mesmo, no sá-
bado você estica, porque não tem a pre-
ocupação de ir trabalhar no dia seguin-
te, diferente do domingo, que começa a
escurecer você já começa a pensar na
segunda feira.
Sampa Alternativa – O que é mais
consumido na feira?
Maria Emília - Em geral, tudo que te-
mos aqui tem uma boa saída. o que nós
temos bem claro é o como os produtos
são distribuídos. É bem interessante
porque de manhã, até a hora do almo-
ço, o antiquário tem um bom comércio
por ser voltado ao publico mais velho.
Embora boa parte da moçada que fre-
quenta tem interesse em desbravar um
pouquinho do universo da antiguidade.
Depois, um pouco mais tarde, o artesa-
nato é o foco do comércio. tanto que
percebe-se que a feira começa a des-
montar das pontas para o centro. sen-
do o artesanato um dos últimos a sair.
sem contar comida, claro. a quadra de
alimentação está sempre cheia graças
à variedade que conquistamos. temos
bastante diversidade e nenhuma barra-
ca repetida.
Sampa Alternativa – existe uma faixa
etária do público?
Maria Emília - É bastante diversifi-
cado, podemos dizer assim: tirando as
crianças, todos. porque tem pra todos.
como é uma feira de arte, cultura e lazer,
a praça possui um comércio muito bom
para os designers, os restaurantes, enfim,
trazendo um público mais adulto. ativida-
de para criança não tem aqui, mas sem-
pre vemos uma ou outra passeando com
os pais
sampa alternativa bateu um papo com maria emília, vice-presidente da
Associação dos Amigos da Praça. Confira:
#retrato_falado
A Feira de arte e antiguidade da pra-
ça Benedito calixto é conhecida por
muitos como um lugar conservador,
principalmente por essa tradição de an-
tiguidade, que confere certo peso. o que
muita gente nao sabe é que a Benedito é
um lugar de muita gente nova, tanto dos
frequentadores quando dos expositores.
um dos mais novos talentos desse lugar
tão versátil é leonardo pestana collalto
toni, 17 anos, um jovem que chamou a
atenção de todos ao exibir na praça suas
miniaturas em papel de monumentos do
mundo.
Esse dom pela dobradura vem des-
de os sete anos, quando começou a se
interessar pelo origami atraves de uma
o JoVEM TALENTodA BENEdITo
garoto de 17 anos recria monumentos mundiais
com a tecnica do Papercraft
revista que ganhou de seu avô em um
aniversário. Durante uma pesquisa para
aperfeiçoar sua técnica, acabou desco-
brindo o papercraft, que são pequenas
esculturas feitas em papel. A identifica-
ção foi imediata, e léo percebeu que era
um desafio que precisava ser explorado.
“me apaixonei de cara pelos edifícios e
monumentos, que eu sempre quis visitar,
feitos de papel” - contou.
assim como o origami, o papercraft
era apenas um hobbie, mas léo nunca
levou apenas como uma brincadeira.
Dedicação, paciencia e muito trabalho
eram necessarios para que seus peque-
nos projetos em papel pudessem refle-
tir a beleza daqueles monumentos que
por angelo mota
22 @sampa_alternativa
sempre viu pela tv e ainda não tinha tido
oportunidade de conhecer pessolmente.
“cheguei a passar as minhas férias de
julho inteiras apenas fazendo essas répli-
cas, do horário em que eu acordava até ir
dormir.” - afirmou Leo. Hoje, após 3 anos
de dedicação ao papercraft, consegue
recriar qualquer monumento com a mais
rica precisão de detalhes.
É um trabalho complexo, e algumas
miniaturas chegam a demorar cerca de
dois meses para ficarem prontas. Outras,
ele consegue fazer em menos de um dia,
por possuírem uma arquitetura e com-
posição mais simples. Léo afirmou que
consegue reproduzir o arco do triunfo em
menos de um dia, enquanto a catedral sa-
grada Familia de Barcelona, devido à sua
quantidade imensa de detalhes, é uma das
obras que demora no mínimo dois meses
para ficar pronta. Tempo este que tem que
ser dividido com as atividades curriculares
de sua escola.
o espaço conquistado para exposição
na praça veio do esforço do próprio artista,
que sentiu essa necessidade de mostrar
seu trabalho ao mundo e decidiu ir atrás
de lugares que pudessem aceitar sua pro-
posta de exposição. Quando chegou à
galeria como assim?!... na praca benedito
calixto e mostrou suas miniaturas, foi re-
cebido de braços abertos e ainda convida-
do a criar o que seria seu trabalho de maior
destaque, uma réplica do cristo redentor,
com 2 metros de altura, que ele batizou de
cristo paulista. Feita totalmente em jornal,
léo disse que escolheu a dedo apenas
noticias boas para compor esta obra, uma
vez que os jornais de hoje em dia estao
repletos de tragédia; ele quis representar
apenas o lado bom disso.
o sucesso de suas exposiões na
praça Benedito calixto foi tamanho que
recebeu encomendas de suas obras e já
conseguiu expor miniaturas no xxx sa-
plarc (trigésimo salão de artes plás-
ticas de rio claro) no centro cultural de
rio claro, interior de são paulo. sendo
uma delas outro cristo paulista.
o dom é de familia. seus tios são
pintores e sua mãe ganhou diversos
premios tambem com pintura. mas léo
sabe que o papercraft nao será sua fon-
te principal de renda, pois tem um custo
elevado. “não é algo que a pessoa sai
para comprar pão e volta com uma ré-
plica de r$200,00 nos braços.” - disse.
não pretende desistir da carreira de ar-
tista, mas quer se dedicar à outros pro-
jetos e estudar arquitetura, para que um
dia possa não mais ver apenas miniatu-
ras, mas edifícios e monumentos reais
criados por ele ao redor do mundo
leonardo pestana
expositor.
A Feira Benedito calixto não é compos-
ta apenas por barraquinhas de anti-
guidades. parte de sua identidade é
composta pelas galerias que se instalaram
ao seu redor. Dentro de uma delas (a gale-
ria Qualquer coisa), escondidos lá no fun-
do, em um cantinho estrategicamente po-
sicionado, estão guardadas duas relíquias
da culinária: o chocolate; e a pimenta.
O dOce dO cHOcOlate
talita giardini panhanhos, 27 anos,
é uma chef de cozinha, formada em
gastronomia, apaixonada pelo choco-
late. sonhadora, sempre quis ter o pró-
prio negócio, e encontrou no chocolate
um companheiro ideal para a realização
deste sonho. convidada à expor na feira
Benedito calixto, talita não hesitou em
atender prontamente e montou sua bar-
raquinha “groselhas – ateliê de Doces”.
porém, a feira é um lugar de diversi-
dade, onde as pessoas são atraídas por
novidades, e ela precisava se destacar
para que seu produto fizesse a diferença
no mercado. após uma intensa pesquisa,
talita começou a desenvolver produtos di-
ferenciados que chamaram a atenção do
público, entre eles estão o bolo de marmi-
ta (iguaria que dificilmente é encontrada
#no_Prato
expositores da Praça trazem produtos de paixão nacional
para deixar a vida dos visitantes cheia de sabor.
por angelo mota
24 @sampa_alternativa
em outro lugar da cidade) e o brigadeiro
de bisnaga, que além de extremamente
saboroso, é um tanto quanto divertido.
o ateliê groselhas se orgulha de ser
uma marca própria, e todos os produtos
são embalados com carinho, individual-
mente e se destacam entre os produtos
de supermercado por estarem sempre
frescos e personalizados.
“É uma pesquisa constante, a cada
2, 3 meses tento trazer produtos novos,
para atrair a clientela” – contou talita,
que não poupa esforços para inovar e
tentar fazer de sua marca uma referência
no ramo de doces da praça. talita ainda
contou que busca inspiração em livros,
revistas, confeitarias, sempre buscando
aprimorar estas ideias e adaptá-las aos
seus produtos, sem transformá-los em
simples cópias, mas sim buscando ade-
quar as melhores características de cada
um, criando seu próprio material.
a escolha pelo chocolate como ma-
téria prima veio naturalmente. “o choco-
late traz energia, te deixa bem, é versátil
de trabalhar, você fazer de um brigadeiro,
a cobertura de um bolo, por exemplo. o
chocolate é meu amigo, 95% das pessoas
gostam. os que não gostam, pelo menos
comem um pedacinho” – disse.
talita sabe que o empreendedorismo
não é uma tarefa fácil, e tem que se de-
dicar às suas receitas 24 horas por dia.
muita pesquisa, dedicação e imaginação
são necessários para que seu projeto não
caia na mesmice e seja deixado de lado
pela clientela que já conquistou. sonha
abrir a própria loja, e fazer do ateliê gro-
selhas uma marca forte no segmento de
doces. o caminho é longo, mas ela sabe
que tem que manter a cabeça focada e os
pés no chão para conseguir.
O ardOr da PiMenta
Fernando azevedo junior, 41 anos,
formado em publicidade e propaganda, é
“o cara da pimenta” na feira. amante in-
25#outubro_2012
condicional da especiaria. começou seu
trabalho através de sua avó, que também
era uma grande apreciadora, e acabou
influenciando o neto a seguir o caminho
empreendedor, e mostrar ao mundo que
pimenta não é apenas ardida, que essa
aversão inicial que muita gente têm quan-
do ouve falar em pimenta, muitas vezes é
falta de um conhecimento mais profundo
do que ela realmente pode oferecer.
Formado em tecnologia da infor-
mação, e empregado na área, Fernando
começou seu trabalho com pimenta em
casa, experimentando receitas, misturas,
curtindo o produto, criando assim suas
próprias geleias, molhos, entre outras
coisas. o sucesso foi grande entre os
amigos, e o convite para expor na Bene-
dito calixto não demorou.
A ideia era ficar um mês, Fernando
aceitou o desafio, e quando esse mês
terminou, foi reconvidado e se estabele-
cer permanentemente, devido à grande
quantidade de pessoas que iam sema-
nalmente conferir seus produtos. come-
çou assim uma história de sucesso dos
“molhos de pimenta Dona Benê”.
o jovem empreendedor viu a oportu-
nidade surgir por perceber a ausência de
um mercado especializado para a pimen-
ta no Brasil. “vislumbrei que aqui no Bra-
sil não havia um trabalho desses, vendo
que todo brasileiro gosta de pimenta, e
quem fala que não gosta, tenho experi-
ências de pessoas que experimentaram e
26 @sampa_alternativa
gostaram, só não havia achado o produto
certo” – contou.
hoje, com quase 10 anos de traba-
lho e pesquisa, ele desenvolve produtos
elaborados, baseados em modelos inter-
nacionais, como os tradicionais molhos
mexicanos e norte-americanos. E mui-
tas vezes tem que segurar a ansiedade,
para não expor todos os seus produtos
de uma só vez. os lançamentos têm que
vir gradualmente, mês a mês, para manter
a clientela sempre interessada, e se per-
guntando que outra novidade ele poderá
oferecer, para quem já está habituado a
consumir seus produtos, e também para
quem acabou de conhecer, e quer experi-
mentar algo diferente.
Fernando quer expandir, e sabe o cami-
nho a trilhar, sua marca está ganhando for-
ça e a dedicação com que cria cada rótulo,
cada lacre personalizado e principalmente
o cuidado que tem com os clientes coloca
seu projeto no caminho certo do sucesso.
cHOcOlate cOM PiMenta
Fernando e talita se tornaram amigos
trabalhando lado a lado dentro da galeria
Qualquer coisa, na Feira da praça Bene-
dito calixto, e o contraste de suas expo-
sições cria uma combinação interessan-
te. talita já está adaptando a pimenta às
suas receitas - influenciada pelo amigo -
e criou um brownie com pimenta. A varie-
dade de produtos a serem criadas, para
ambos os lados, é infinita, são produtos
diferentes, mas que representam dois ex-
tremos da culinária, e abrem um leque de
diversidade muito grande.
É impossível passar pela feira sem
conferir o cantinho da comida, dentro da
galeria, onde Fernando e talita estão ex-
pondo seus produtos todos os sábados.
milhares de pessoas passam por ali se-
manalmente e eles não têm um minuto
de sossego, e isso é algo que eles real-
mente não podem reclamar
27#outubro_2012
Fernando & talita
empresários da dona Benê &
da groselhas ateliê de doces.
#coisas_e_outras_coisas
Variedade de produtos, variedade de
gente, assim é a Feira da praça Be-
nedito calixto. pra se destacar e fa-
zer sucesso, você tem que ser diferente,
apresentar algo diferente, e foi isso que
Edival reis, 49 anos, fez.
Desempregado, precisava de uma
ideia que fosse interessante o suficiente
para poder dar outro rumo à sua vida, e
durante uma viagem aos Estados uni-
dos, viu uma peça em azulejo e acabou
comprando, utilizando-a posteriormente
como aparador de panelas, para que não
queimasse a mesa quando fosse servir.
ali estava sua ideia, mas queria algo mais
gracioso, mais bonito, e começou a pes-
quisar o conceito de azulejos decorados.
mas era uma técnica muito cara, e atra-
vés de muito trabalho e consulta, acabou
descobrindo formas de baratear custos,
com ajuda de amigos, e começou a desen-
volver seus próprios azulejos decorados e
emoldurados, para que as pessoas pudes-
sem expor em suas casas. “precisei fazer
uma pesquisa se tivesse que trabalhar
com isso, porque pra trabalhar em feirinha
PEdACINhoS dE ARTE
azulejos decorados trazem cor e personalidade à feira
por angelo mota
30 @sampa_alternativa
você tem que ter um produto de feirinha
com preço de feirinha.” – contou.
hoje, seus azulejos são um sucesso
na praça, e conta com a ajuda da mulher
e da cunhada, para dar conta de toda a
clientela. Existe uma galeria imensa de
fotos pré-escolhidas por Edival, mas os
azulejos podem ser personalizados, des-
de que a pessoa traga a foto escolhida.
a produção do material ocorre duran-
te a semana toda, para que no sábado
possa ter muitos azulejos prontos, pois a
saída é grande. E apesar de ser um sonho
entre a maioria dos expositores, ele não
pensa em abrir uma loja, pois disse que,
apesar dos impostos e aluguel altos, seu
produto é muito artesanal, e se exposto
no lugar errado, as pessoas compram
uma vez e não voltam mais. a feira ofe-
rece uma rotatividade maior de público,
fazendo com que o negócio naquele local
seja mais rentável.
a aceitação foi tanta que ele recebe
encomendas de fora do estado, muitas
vezes até de outros países. “um senhor
veio da inglaterra, e comprou um azulejo,
contou que iria decorar o escritório dele
em londres.” – disse Edival, orgulhoso
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Edival reisexpositor.
#retrato_falado
Apaixonado pela ideia de guardar me-
mórias, o jornalista aposentado e es-
critor, Luiz Ernesto Kawall, 84 anos,
valoriza a importância da preservação da
voz de grandes protagonistas na história
brasileira e mundial. Fundador do museu
da imagem e do som, localizado no bairro
de Pinheiros, SP, Kawall criou em sua pró-
pria casa o museu da voz: a vozoteca. o
jornalista se dedica há mais de vinte anos
em colecionar vozes. hoje, seu acervo
contém cerca de seis mil registros sono-
ros. há gravações de vozes importantes,
discursos políticos, músicas, poesias,
narrações radiofônicas, entre outros. me-
mórias de pessoas que marcaram época.
“a voz é um estado da alma. porque é o
que realmente fica quando a pessoa mor-
re” - diz Ernesto, explicando o que a voz
significa para si.
o CoLECIoNAdoRdE MEMÓRIAS
um homem amante de coisas autênticas coleciona
vozes com o objetivo de preservar memórias.
por Bruna mendes
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Luís Esnesto Kawall
colecionador e criador
da vozoteca.
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erneStO Kawall e a vOzOteca
localizada na praça Benedito calixto,
86, 6º andar – pinheiros, a vozoteca sur-
giu com o objetivo de fazer algo diferen-
te, algo que não existia. registrar vozes e
declarações de personagens da história
de todo o mundo. Formado em jornalismo
pela faculdade cásper libero, em 1951, e
folclore na Escola de sociologia e política,
Kawall sempre trabalhou no ramo político.
Esteve ligado à personagens que tiveram
grande influência no Brasil como Carlos
lacerda, proprietário do jornal tribuna da
imprensa de são paulo e ex-governador
da cidade de guanabara (1960 a 1965),
atual rio de janeiro. E também com abreu
sodré, advogado e ex-governador de são
Paulo (1967 a 1971). Kawall passou por veí-
culos como gazeta, Folha de s.paulo e tri-
buna da imprensa, em especial como re-
pórter. Entrevistou pessoas importantes,
entre eles janio Quadros, ademar pereira
de Barros e titillo matarazzo. “Durante o
período da ditadura foi difícil viver em uma
época em que você acordava e não sabia
o que estava acontecendo”, conta luiz,
“mesmo trabalhando dentro do cenário
político”, completou.
como sempre trabalhou com artes,
cultura e política em geral, Kawall ficou
conhecido e foi o fundador do museu da
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imagem e do som (mis) em são paulo.
contou com a ajuda de pessoas que já
trabalhavam para o mis do rio de janei-
ro e com os da cinemateca, para concluir
esse sonho que alimentava há tempos.
mas, antes o que tratava como
um hobby acabou virando um museu.
Amante de tudo que é autêntico, Kawall
começou a colecionar grandes vozes em
sua própria casa. algumas ele gravou,
outras ganhou ou comprou e assim foi
constituindo um acervo de quase seis
mil áudios. o nome vozoteca surgiu do
seguinte pensamento: livros, biblioteca.
cinema, cinemateca. voz, vozoteca. “Eu
adoro vinil, acho que vinil ainda não che-
gou à técnica da internet, da tecnologia.
Então o vinil ainda tem a voz mais pura”
– conta Kawall.
sua coleção chama atenção de pes-
soas que se interessam e necessitam
em conhecer um material cultural dife-
renciado. na vozoteca encontram-se
coisas extraordinárias, como o primei-
ro registro sonoro do mundo, a voz de
thomas Edison, em 1887. a locução do
gol de bicicleta de leônidas, o diaman-
te negro, na copa do mundo de 1938.
Debates de grandes políticos, contos,
narrações esportivas, serenatas, falas.
Kawall tem arquivado alguns discursos
dos ditadores da alemanha como hitler
e Bismark.
“as vozes que mais me emocionam,
por exemplo, a da marlene Dietrich can-
tando luar do sertão, você sente o que
ela fala, o falar em português, o cantar em
português, cantar refinado. Até tem outras
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37#outubro_2012
coisas maravilhosas como Elis cantando
gracias a la vida, ima sumá que é uma
cantora mexicana .Maria Calas, Frank Si-
natra, silvio caldas.”, contou emocionado.
Da raiz brasileira, a vozoteca tem
valiosos registros que representam a
história nacional. vozes como de jânio
Quadros, Juscelino Kubitschek, Manuel
Bandeira, rui Barbosa, monteiro lobato,
pelé. hinos dos clubes de futebol, narra-
ções de todas as copas do mundo e to-
dos os jogos da seleção brasileira. sere-
natas da cidade de Diamantina, carmem
miranda, Elis regina, adoniran Barbosa e
outros grandes representantes da cultura
brasileira. E lamenta ainda não ter con-
seguido registros como de tiradentes,
padre cícero, santos Dumont e outras
personalidades mais recentes.
“pelo menos da minha parte a memó-
ria fica resguardada”, disse Kawall que
deseja eternizar a vozoteca. por causa
da idade, pretende disponibilizar os re-
gistros em algum lugar publico, para que
todos tenham acesso ao acervo.
“a vozoteca pra mim é sinônimo de
memória e prazer. Eu gosto de descobrir
coisas, sou meio remitente. tenho des-
coberto vozes assim, que não tem geral-
mente” - declara o colecionador
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ano 1, #1, outubro 2012
www.facebook.com/sampalternativa
Distribuição gratuita
tiragem: 1.000 exemplares
edição / redação / fotos
angelo mota, Bruna jamille, caio Kato
revisão
angelo mota
Projeto Gráfico / Diagramação
mário césar
impressão
Adex Soluções Gráficas
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