Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui
-
Upload
wiktoria-szawiel -
Category
Documents
-
view
228 -
download
6
description
Transcript of Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui
Rua diReita ,
esta Rua não acaba aqui.
—
Projecto inserido nos
Jardins Efémeros 2013
—
Biblioteca Nacional de Por tugal
Catalogação na Publicação
Aa. Vv.
Rua Direita, esta rua não acaba aqui
Viseu, Câmara Municipal de Viseu, 2013, _ _ págs.
CDU: 7 11. 5 + 725. 2 + 747 (469. 32) “2013”
—
TÍTULO
Rua Direita, esta rua não acaba aqu i
—
AUTORES
Texto Joana Astolfi, João Luís Oliva
Fotografia Luís Belo
Capa, infografia e design gráf ico Nuno Rodrigues
—
DEPÓSITO LEGAL
—
EDIÇÃO
Câmara Municipal de Viseu, 2013
—
TIRAGEM
600 exemplares
—
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Tipografia Beira alta
—
© Autores e CMV
este livro é dedicado à sandra oliveira, Fernando Ruas e todos os lojistas da Rua direita.
Mais ou menos directa, mais ou menos direita, a rua é via e símbolo de sociabili-
dade e comunicação com o outro e o quotidiano; lugar de convergência e con-
flito; confronto, consenso e compromisso; liberdade, diferença e opção. Lugar
profano, secular. Lugar do tempo.
Mas esta Rua Direita, palco e plateia de vida em passados remotos e recentes,
esvaziou-se. De gente e, por isso, da própria vida, pelo menos como ela era.
Muito longe vão medievais idades em que a também chamada «Rua das Tendas»
ligava duas portas da cidade directa, por isso ou, depois, na aurora da moderni-
dade, as suas casas cresciam em profundidade e altura, cada vez mais cheias, e
era nervo social e comercial da urbe (Liliana Castilho*).
Mas, ainda em 1968, «a Rua Direita de Viseu é [era], porventura, a que melhor
conserva[va], ao mesmo tempo, a fisionomia e as funções tradicionais, que
continua[va] a desempenhar no contexto moderno da velha cidade» (Orlando Ribeiro*).
E, numa contemporaneidade ainda mais breve, ela mantinha-se fervilhante de
miúdos que estreavam a vida na carica e no berlinde e lambiam com os olhos a
montra de brinquedos do Bazar do Porto; e de gaiatas mais espigadotas que via-
javam fantasias nos manequins do Borges-Noivas. As domésticas necessidades
ou mais sofisticados anseios de consumo formigavam de gente a enormidade do
comércio disponível e a rua, ela própria; e tascas e cafés pontuavam intervalos
cigarrados mais ou menos longos. Ou, então, preocupações mais intelectuais
e cosmopolitas levavam muitos a percorrer as escadas do Tempo Livre, livraria,
galeria de arte, discoteca e bar (à maneira da Opinião, de Lisboa), em alternativa
ou complementaridade ao associativismo mais ou menos bairrista do Orfeão de
Viseu, umas dezenas de passos à frente.
Hoje, nos quinhentos metros da que foi, até ao princípio do século XX, a rua com
as casas mais altas de Viseu e ainda há bem pouco tempo tinha quase centena e
meia de lojas abertas, residem pouco mais de… dez pessoas (Emília Amaral*).
Várias, complexas e interligadas as razões. Desde estratégias políticas ou falta
A RUA, LUGAR DE GENTE E DE VIDA
delas de requalificação e reocupação urbana, até aceleradas e radicais altera-
ções de modelos e espaços comerciais, passando pelo conservadorismo reacti-
vo com que os próprios actores encararam o cenário; e tantas são as causas de
tal estado que a «culpa» de Judas é muito mais um puzzle de responsabilidades
múltiplas: individuais e colectivas, institucionais e de estrutura.
A acção agora realizada, na efemeridade dos próprios «jardins» de que faz parte,
não tem a pretensão pueril de dar uma resposta global à situação. Talvez nem
sequer de dar nenhuma resposta, mas formular uma simples pergunta; é que é
das perguntas que parte tudo… E quer-se, através de uma intervenção estética
e, sobretudo, da agitação por ela provocada, levantar a poeira do debate sobre
estas questões sem a atirar para os olhos de ninguém.
Perante poderes e cidadãos, expor, não esconder. Alertar, não silenciar. Desafiar
e surpreender, não enrolar quietudes mornas.
É que a volta completa que isto tudo tem de dar vai muito além da consideração
das lojas e da actividade comercial. Até porque a sua ressurreição será o laico
resultado de uma profunda e substantiva criação de condições para um efec-
tivo (e afectivo) repovoamento residencial (cultural, portanto…) da rua; e não de
pontuais e adjectivas intervenções de termo-lacado fachadismo.
Em tempos de fácil deslumbramento tecnológico, não se quer aqui algo que seja
comparável a um site virtual, com passwords e links, embora hoje isso seja um
indispensável meio e pista de informação.
Para que esta rua não acabe aqui, é preciso que ela seja um verdadeiro sítio, lugar
real, com gente e alma, que sempre é o inexorável fim e meta da própria vida.
João Luís Oliva
*referências expressasAMARAL, Emília, «Endireitar a Rua Direita», Jornal do Centro, nº 575, Viseu, 27 de Janeiro de 2012, pp. 6-7.
CASTILHO, Liliana, «Espaços e Materiais na arquitectura doméstica da Rua Direita de Viseu no século XVI», Ciências e Técnicas do Património. Revista da Faculdade de Letras, I Série, vol. V-VI, Porto 2006-2007, pp. 115-128.
RIBEIRO, Orlando, «A Rua Direita de Viseu», Geographica. Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, nº 16 (Ano IV), Lisboa, 1968, pp. 49-63.
Alfaiates e sapateiros, relojoeiros e padeiros, oculistas e dentistas, engraxado-
res, amoladores, cabeleireiros, barbeiros e confeiteiros, cervejarias, drogarias,
livrarias, pensões e tascas. Panelas, tachos, dedais, plásticos, elásticos, pentes,
pulseiras, anéis, carapaus fritos, selos, esfregões, vassouras, móveis, gaiolas, cha-
péus de palha, camisas e camisetas. Durante séculos, a Rua Direita de Viseu foi
o ‘shopping center’ da cidade. Uma rua comprida e torta, com um comércio em
cada porta. O ponto de encontro privilegiado de todo o distrito.
Hoje, a Rua Direita de Viseu é uma rua triste. Uma rua esquecida. Uma rua arru-
mada para canto. Um espaço moribundo onde se multiplicam placas de “vende-
-se” e “arrenda-se”. “Isto já não dá para viver!” gritam os proprietários das lojas
ao longo dos quase 500m da sua extensão. Hoje assiste-se à morte lenta desta
artéria e de todo o seu comércio tradicional.
O projecto ‘Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui’ é o ponto de partida para o
renascer desta rua através da Arte. A rua transformou-se numa galeria onde as
obras surgem inesperadamente nas montras, nas fachadas ou no interior das 15
lojas seleccionadas. Os lojistas da Rua Direita precisam de amor e as suas lojas
merecem uma segunda oportunidade. Procurámos olhar para os produtos de
cada loja como se fosse a primeira vez, olhar para além do pó para encontrar o
potencial de cada espaço. Potencial = capacidade de transformação. As inter-
venções foram trabalhadas cruzando a arte com o design e com a arquitectura.
Criámos tensão entre o antigo e o contemporâneo, sempre evidenciando o inter-
valo entre o ‘antes’ e o ‘depois’. Todas as peças são únicas e exclusivas e surgem
de um click conceptual ligado à verdade de cada loja. Cada loja passa a ser muito
mais do que um espaço de comércio para ser um happening, uma experiência,
um momento que faz pensar e que traz um sorriso aos lábios. Todas as lojas que
integraram o projecto têm uma história para contar e uma verdade só sua que
serviu como inspiração para o nosso trabalho e que foi respeitada, reinterpreta-
da e celebrada.
Joana Astolfi
ficha artística e técnica do projecto
CONCEPÇÃO E CURADORIAJoana Astolfi
COLABORADORESFernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Sandra Oliveira, João Luis Oliva, Liliana Rodrigues, Nuno Rodrigues, Dona Alda
ALUNOS DE ARqUITECTURA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE VISEUJoão Almeida, César Pereira, Tiago Frutuoso, Sérgio Rodrigues, Vitor Sousa, Kátia Valverde, Rita Joana Monteiro, Ricardo Duarte, Rui Ferreira, Pedro Vieira, Joana Martins, Vanessa Monteiro, Diogo Pinto, Ricardo Silva, Daniela Páscoa, André Alves, Ricardo Costa, Ricardo Afonso
FOTOGRAFIALuís Belo
AGRADECIMENTOSDr. Fernando Ruas, Filipa Santos Guerra, João Rocha, Carlos Cruz, Francisco da Cria Verde, António Carvalho, Hugo Pessoa, Bárbara Osório, Dora Mariano, João Filipe, Hotel Palácio dos Melos, Dona Irene das Nandita Miudezas, Sr. Honésimo e Paulo Domingues da Sapataria Paulo Domingues, João da Foto Batalha, José Manuel da Sapataria Égê, Dona Eunice da Casa Eunice, Dona Maria do Bazar Litos, Carlos da Marisqueira, Andreia e Verónica da Drogaria Cedofeita, Sr. Alberto da Casa Sol, Dona Carmo da Casa Joaninha, Sr. Arnaldo da Casa Tininha, Sr. José Alcides, Sr. Jorge e Dona Alda da Tinturaria ‘A Nova Económica’, Sr. Joaquim e Dona Carmen da Livraria Cami, Sr. António da Casa Guimarães
o processo
Para conhecer um lugar é preciso comer, dormir e acordar nesse lugar. Não é
possivel fazer um projecto com esta escala social sem um envolvimento pro-
fundo emocional. É difícil falar sobre arte contemporânea com uma geração
que tem uma bagagem visual tão diferente da nossa. O processo foi intenso e,
por vezes, envolveu confrontos de gerações, mentalidades, e posturas. O que
encontrámos na Rua Direita foi um autêntico livro de reclamações. Um misto de
impotência, conformismo e culpabilização mútua. A verdade é que nem tudo ia
mal na Rua Direita.
Para mudar é preciso força de vontade. É preciso combater o medo. É preciso ar-
riscar. Esta transformação tem que se dar de dentro para fora. Temos que sair da
nossa zona de conforto e pisar o terreno, meter a mão na massa, sujar as mãos.
Foi um processo feito na raça.
Alguns comerciantes acreditaram no projecto desde o início e até participa-
ram na construção das suas peças. Mas a maior parte teve que ver para crer. A
resistência inicial de muitos transformou-se num abraço. Passear esta rua após
a conclusão do projecto, sentir a dinâmica que estas 15 intervenções trouxeram
à rua, a conquista da cumplicidade com os lojistas envolvidos no projecto, tudo
isto faz-nos crer que nunca devemos deixar de sonhar . ‘É preciso que algo mude
para que tudo continue na mesma’ como afirma Giuseppe di Lampedusa.
Nº
12 Nandita Miudezas
69 Sapataria Paulo Domingos
81 Foto Batalha
99 Sapataria Égê
120 Casa Eunice
139 Bazar Litos
148 A Marisqueira
151 Drogaria Cedofeita
165 Casa Sol
180 Joaninha
200 Casa Tininha
234 José Alcides
248 Tinturaria A Nova Económica
250 Papelaria Cami
256 Casa Guimarães
Lojas intervencionadas
RU
A D
IRE
ITA
12
Rua Formosa
Lgº Mouzinho de Albuquerque
67
81
99
139
151
165
120
148
180
234
200
248250
256
Nandita é o nome da filha da Dona Irene, de 86 anos, proprietária desta loja que
vende as pantufas mais bonitas e confortáveis do mundo. quando entrámos
neste espaço pequenino, pouco cuidado, abandonado e degradado, sentimos
que a Dona Irene já tinha (quase) desistido. O potencial para transformar o espa-
ço tornou-se logo evidente.
quisemos destacar as pantufas e os chinelos artesanais que a Dona Irene vende.
A nossa intervenção baseou-se na criação de uma bancada de 2 degraus em
madeira que serve simultaneamente como banco corrido, expositor para as
pantufas/chinelos e montra da loja. Recuperámos a parede de fundo da bancada
expositiva com uma ilustração do ‘Manual das Pantufas Nandita’ desenhada à
mão pela Liliana. Criámos um tapete inspirado nas pantufas, um tapete que pode
ser calçado, uma peça única. Criámos ainda um logotipo e um slogan para a loja ,
‘Ora ponha aqui o seu pézinho’.
Lojista Dona Irene
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, João Almeida e César Pereira
IlustraçãoLiliana Rodrigues
Montagem / ApoioCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa
NANDITA MIuDezAs, 12
ANTESDona Irene
DEPOISMontra
DEPOISPantufas + etiqueta
ANTES DEPOIS
DEPOISTapete Pantufa
quando visitámos os pisos superiores da loja do Paulo e do seu pai, o Sr Honé-
simo, e eles nos mostraram a sua colecção de milhares de sapatos, autênticas
raridades que vêm desde os anos 50, sentimos que tínhamos que prestar home-
nagem à história desta família. Daí surgiu a criação de um ‘cemitério’, um ‘tesouro
desenterrado’ que destaca a vida dos milhares de sapatos e de clientes que
passaram por esta casa.
A instalação consiste numa caixa de terra com os sapatos inseridos na vertical
como lápides. Os espelhos nas faces interiores da caixa multiplicam o número de
sapatos. A iluminação da peça foi feita através da suspensão de 24 cabos com
lâmpadas de vigília. Os sapatos expostos nas paredes envolventes do espaço
foram anulados através de cortinas brancas, permitindo o ‘respiro’ da peça.
quando montámos esta peça, foi feito um minuto de silêncio.
sApATArIA pAulo DoMINgos, 69
Lojista Paulo Domingos, Sr. Honésimo
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Fernando Nobre, Rita Monteiro e Ricardo Duarte
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Visotela, Pedroso & Osório, Viseuropa, A Vidreira
ANTES
DEPOIS
foTo BATAlhA, 81
A Casa Batalha sobreviveu ao seu fundador, o Sr Batalha, e já vai na sua 3ª ge-
ração. quando subimos ao 1º piso da loja, encontrámos uma galeria de vitrines
antigas com um enorme potencial para aqui fazer uma exposição de fotografias
de todo o projecto. Recuperámos as vitrines e desafiámos o fotógrafo Luís Belo
para fotografar o ‘antes’ e o ‘depois’ de cada loja da Rua Direita. Na montra da loja
convidámos o publico a ‘espreitar’ para dentro de algumas lojas da Rua Direita.
Lojista João Batalha
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, André Alves, Ricardo Duarte
FotografiaLuís Belo
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Visotela, Viseuropa
sApATArIA égê, 99
A sapataria Égê estava sempre fechada. No interior um caos, caixas e caixas de
sapatos empilhadas, sapatos a granel espalhados pelo chão, uma loja esquecida.
Até que um dia encontrámos o Sr Zé Manuel, uma figura conhecida e enigmática
da cidade, estimado por todos os lojistas da Rua Direita. Apaixonámo-nos pela
personagem, pelas suas histórias, pela sua bondade e delicadeza. O Sr Zé Manuel
pediu-nos ajuda e confiou-nos a chave. Entregou a loja nas nossas mãos de
coração aberto.
O conceito para este espaço partiu das centenas de caixas de sapatos que se
encontravam espalhadas aleatoriamente pela loja, sem qualquer ordem. Pri-
meiro, tivemos que ‘arrumar a casa’. A nossa intervenção baseou-se na ‘limpeza
visual’ do espaço e na criação de uma etiqueta Égê para identificar e catalogar
cada par de sapatos.
Além da organização do espaço, achámos também fundamental trazer o Sr Zé
Manuel de volta para a sua loja através da criação de uma zona de ‘sala de estar’
no interior do espaço. Intervimos nas montras, expondo os sapatos em cabos
de enxadas e de vassouras, destacando um sapato com a foto do Sr Zé Manuel
estampada na sola de couro. Criámos também uma nova imagem gráfica para
a sapataria que aplicámos numa tabuleta de rua, em cartões de visita para o Sr
Zé Manuel e em merchandising da loja (escovas de sapatos, sacos, etc). Esta loja
precisava de amor.
Lojista José Manuel de Figueiredo
ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Kátia Valverde
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra,Pedroso & Osório, A Vidreira
AgradecimentoPrograma Leonardo da Vinci
ANTES
DEPOIS
cAsA euNIce, 120
Quem disse que as flores de plástico não têm vida? Sempre quis fazer uma ins-
talação com flores falsas, lembram-me a casa da minha avó. Ela tratava-as como
se estivessem vivas quando lhes limpava o pó. O interior da loja da Dona Eunice
parecia um jardim de plástico, um mundo sobrecarregado de cor e variedade de
flores. Uma loja com muita informação e sem espaço físico para intervir. Viemos
para a rua e habitámos uma parede de pedra lateral, junto à montra da loja, com
uma ‘green wall’, uma ‘parede verde’, de 4 metros de altura, feita com ramagens
e plantas falsas. queríamos trazer o verde para a rua, anulando a cor. Suspen-
demos um regador por cima da peça, transformando-o num candeeiro que, de
noite, ‘rega’ a peça com luz.
Lojista Dona Eunice
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Rita Monteiro
Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela
ANTES
DEPOIS
DEPOISMerchandise
BAzAr lITos, 139
A loja da Dona Maria, tal como a da Dona Eunice, destacava-se pelo excesso de
informação, cor e luz que normalmente abunda numa loja de brinquedos. O nos-
so conceito para este espaço foi criar um ‘playground’ interactivo, transformando
o chão num quadro de escrever gigante onde as crianças pudessem desenhar
e brincar. Recuperámos as vitrines da loja, pintando-as e iluminando-as para
destacar os seus conteúdos. Na rua, à entrada da loja, pendurámos um baloiço e
substituímos o nome da loja impresso no toldo por letras de madeira.
Lojista Dona Maria
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Diogo Pinto, Ricardo Silva
Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Viseuropa, Visotela
ANTES
DEPOIS
A MArIsqueIrA, 148
Pouca gente sabe que ‘A Marisqueira’ existe na Rua Direita. A entrada para o
restaurante faz-se através de um corredor no vão de escadas de um prédio. Este
restaurante/casa de pasto serve comida caseira portuguesa em conta, feita com
muito amor por uma família unida que luta pela sobrevivência do seu restau-
rante. O nosso conceito partiu da vontade de convidar o público a entrar na
Marisqueira. Trouxemos a praia para a Rua Direita. Criámos um cenário ligado à
pesca no corredor da entrada, trazendo o mar para o tecto através da suspensão
de uma rede de pesca gigante repleta de conchas e peixes. Cobrimos o chão de
areia e habitámos este espaço com ‘mobiliário’ de praia (guarda sol, cadeiras de
praia, baldes e pás). Criámos também uma instalação sonora com o som do mar.
O lado irónico desta intervenção é que neste restaurante não se serve marisco!
Na grande sala de refeições do restaurante, habitámos a parede principal deste
espaço com uma exposição de 22 quadros com imagens alusivas à arte de
comer. Estas imagens baseiam-se na transformação da comida em ‘objet d’art’ -
uma outra forma de olhar o que comemos.
Proprietário Carlosa
ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Tiago Frutuoso, Sérgio Rodrigues
GrafismoLiliana Rodrigues
Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela, Mediaspot
ANTESEntrada
DEPOISEntrada
ANTESSala de jantar
DEPOISSala de jantar
DrogArIA ceDofeITA, 151
As drogarias são espaços que nos permitem ‘sonhar alto’ na criação de inter-
venções artísticas, dada a estética, a cor e a forma dos produtos que vendem.
Escolhemos uma vitrine de rua à entrada da loja e recriámos a imagem de um
dos produtos com maior força visual - o pincel de barbear - usando centenas de
rolhas que funcionam como ‘pixeis’. Ao lado da instalação, criámos um display
de dezenas de pincéis para realçar e destacar o produto que nos inspirou a criar
esta peça. As rolhas, afinal, não servem só para tapar garrafas e frascos! Criámos
também um merchandising para esta loja que consiste no packaging dos objec-
tos mais típicos desta drogaria com um sticker que identifica a loja através do slo-
gan ‘Cedofeita, Not Made in China’. Obrigado às ‘irmãs Cedofeita’ por nos terem
acompanhado nesta viagem.
Lojista Andreia e Verónica
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Vanessa Monteiro, Liliana Rodrigues
Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela
ANTES
DEPOISMONTRA
DEPOISMERCHANDISE
cAsA sol, 165
O Sr Alberto é exemplar na organização da sua loja e no mimo que lhe dá. Aqui
encontra-se a agulha no palheiro! Tal como na Drogaria Cedofeita, queríamos ce-
lebrar o produto da loja, mostrando-o de uma forma nunca antes vista. Criámos
a peça ‘Banho de Lã’ que consiste num chuveiro em que a água é representada
pelos fios de lã azul. Uma peça única que fala por si. Criámos também um novo
produto para a Casa Sol, o ‘Kit de Tricot’, que consiste num novelo de lã, 2 agulhas
de tricot e um livrinho que ensina a tricotar.
Lojista Sr. Alberto
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Daniela Páscoa
GrafismoLiliana Rodrigues, Daniela Páscoa
cAsA joANINhA, 180
A Casa Joaninha vende fogões, lareiras e salamandras. Nada melhor do que um
fósforo para ascender o rastilho da criatividade! Escrevemos a palavra ‘AMOR’
com fósforos de cabeça vermelha e a palavra ‘MEDO’ com fósforos queima-
dos. Uma peça delicada que envolveu um trabalho minucioso e muitas horas a
queimar fósforos! Esta peça é um statement das duas forças que dominaram o
projecto da Rua Direita: o amor que tínhamos para dar e o medo dos lojistas.
Lojista Dona Carmo
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel
Montagem / ApoiosVisotela
cAsA TININhA, 200
Nesta loja de roupa interior decidimos homenagear as míticas cuecas de gola alta.
Trouxemos a loja para a rua através da criação de um lustre gigante, suspenso no
eixo da rua, forrado com um estendal de inúmeras cuecas. Criámos uma montra
luminosa que celebra o produto da loja de uma forma inédita e humorística.
Lojista Sr. Arnaldo
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Joana Martins
Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela
josé AlcIDes, 234
O Sr. José Alcides é um dos homens mais simpáticos e charmosos da Rua Direi-
ta. Foi a partir dos aventais de diversos padrões que se vendem nesta loja, que
nasceu a Dona Josefina, mulher da limpeza, que agora habita a montra desta loja.
Esta peça tem uma forte componente cenográfica, criando uma montra viva para
a Casa José Alcides. Viva a Dona Josefina!
Lojista José Alcides
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Viseuropa, Drogaria Cedofeita
TINTurArIA A NovA ecoNóMIcA, 248
Esta loja divide-se em 2 espaços: a lavandaria, onde trabalha a Dona Alda que
abraçou o projecto da revitalização deste espaço desde o início, e o pátio que era
uma lixeira a céu aberto.
A lavandaria foi completamente remodelada: paredes, chão e tecto. As paredes
foram descascadas revelando a pedra original deste espaço. O chão foi substi-
tuído por um jogo de xadrez de azulejo preto e branco, típico das ‘laundrettes’
americanas. O tecto foi descascado para revelar as tábuas e barrotes de madeira
que fazem parte da verdade do espaço. Foi criado um sistema de suporte para a
roupa através de tubos de ferro galvanizado que celebram a circulação da água
nas lavandarias e simultaneamente incorporam a iluminação do espaço.
Lojistas Sr. Jorge, Dona Alda
ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel,Ricardo Afonso, Ricardo Costa, Ricardo Duarte, André Alves
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa, Visotela, Pedroso & Osório, Cria Verde
ANTES
DEPOIS
O pátio da lavandaria foi um trabalho
de limpeza exaustiva. quilos e quilos
de lixo e sucata foram retirados e
transportados para a rua. A tangerinei-
ra que habita o pátio foi podada para
permitir a entrada de luz e a circulação
dentro do espaço. Nela foram também
pendurados candeeiros em cerâ-
mica para iluminar o pátio de noite.
O telhado de lusalite do alpendre foi
substituído por tábuas de madeira. De
repente o espaço ganhou amplitude e
começou a respirar. Dezenas de plan-
tas foram colocadas dentro do pátio
transformando-o num jardim interior.
O chão foi coberto com gravilha bran-
ca. Foi criado um sofá de almofadões
em cima de paletes com tecidos cedi-
dos pela Pedroso & Osório. O pátio re-
cebeu ainda um casal de passarinhos
e mobiliário em madeira para exterior
emprestado pelo horto da Cria Verde.
Este espaço tem todo o potencial para
vir a ser o ‘Café Laundrette’ da Rua
Direita! Vale a pena uma visita!
ANTES
“E nas tardes de Verão, as pessoas
vinham sentar-se debaixo da larga
sombra e admiravam a grossura ru-
gosa e bela do tronco, maravilhavam-
-se com a leve frescura da sombra, o
suspirar da brisa entre as folhagens
perfumadas.
Assim foi durante varias gerações”... na
Rua Direita!
(‘A Árvore’, Sophia de Mello Breyner
Andresen)
DEPOIS
pApelArIA cAMI, 250
A Papelaria Cami foi durante todo o processo o quartel general deste projecto,
a nossa base, a nossa casa. O Sr Joaquim e a Dona Carmen estiveram sempre
presentes e passaram a ser família. A intervenção conceptual na montra desta loja
tem um ‘twist’ que se manifesta através do posicionamento das lombadas dos li-
vros viradas para dentro da loja e não para fora como é habitual. A muralha de livros
exposta na montra celebra o passar do tempo através do amarelado das páginas.
A curiosidade que esta peça desperta convida o público a entrar na loja para ver as
lombadas dos livros que constituem esta muralha. No interior da loja foi criado um
espaço de leitura com dois bancos construídos com livros empilhados e amarra-
dos por 2 cintos e uma almofada no topo. Há quanto tempo não lê um livro?
Lojistas Sr. Joaquim, Dona Carmen
ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Pedroso & Osório, Foto Batalha
cAsA guIMArães, 250
Esta é a última montra da Rua Direita. Daí o slogan ‘Esta Rua Não Acaba Aqui’ es-
crito com milhares de pregos que ao longe permitem a leitura da frase que celebra
este projecto. Uma peça que se destaca pelas dezenas de horas passadas a mar-
telar pregos e pela sua força visual. Esta rua começa e acaba aqui!
Lojistas Sr. António
ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel,João Filipe
Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa
ANTES DEPOIS
apoios
Para que esta rua não acabe aqui, é preciso que ela seja um verdadeiro sítio, lugar real,
com gente e alma, que sempre é o inexorável fim e meta da própria vida.
João Luís Oliva
Este livro não acaba aqui.www.facebook.com/RuaDireitaEstaRuaNãoAcabaAqui