Relatório Técnico da Excursão Oeste Baiano · técnico ou uma tecnologia específica que é...

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1 Relatório Técnico da Excursão ao Oeste Baiano, 2 a 4 de maio de 2012 Elaboração do Documento Adriana Reatto dos Santos Braga, Evie dos Santos de Sousa, José Humberto Valadares Xavier, José de Ribamar Nazareno dos Anjos Rafael de Souza Nunes Roberto Guimarães Júnior Sonia Maria Costa Celestino Brasília, Julho de 2012.

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Relatório Técnico da Excursão ao Oeste Baiano,

2 a 4 de maio de 2012

Elaboração do Documento

Adriana Reatto dos Santos Braga,

Evie dos Santos de Sousa,

José Humberto Valadares Xavier,

José de Ribamar Nazareno dos Anjos

Rafael de Souza Nunes

Roberto Guimarães Júnior

Sonia Maria Costa Celestino

Brasília, Julho de 2012.

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Relatório Técnico da Excursão Oeste Baiano

Excursão Técnica Oeste Baiano: Realidade da Agricultura-Pecuária e os

desafios da Pesquisa em sistemas de integração Lavoura-Pecuária-

Floresta, com ênfase em solos de textura leve

I – Introdução

No período de 02 a 04 de maio de 2012 foi realizada uma Excursão Técnica

ao Oeste Baiano, da qual participaram 49 pesquisadores e analistas da Embrapa

Cerrados. A principal motivação para essa atividade foi conhecer a realidade e os

principais desafios vivenciados pelos agricultores da região, com a finalidade em

auxiliar no direcionamento das atividades da Embrapa Cerrados. Isso é estratégico,

uma vez que, o setor agropecuário, vem se deparando com novos desafios,

sobretudo, em relação à produção com sustentabilidade. Contudo, as inovações

técnicas devem ser compatíveis com as condições reais de produção.

O Oeste Baiano foi selecionado para a visita em virtude de sua importância

agropecuária. Nas últimas três décadas essa região, caracterizada pelos solos

frágeis, transformou-se em importante polo de produção agropecuária graças à

introdução de diversas tecnologias. Na safra de 2010/2011 essa região foi recorde

nacional de produção de algodão, soja e milho.

A Excursão Técnica teve como principais objetivos:

Conhecer a realidade da agricultura e pecuária empresarial no Oeste Baiano,

focando as culturas da soja, milho, algodão, café irrigado e sistemas de integração

lavoura-pecuária-floresta.

Discutir o manejo de sistemas de produção em solos de textura leve.

Este relatório tem por objetivo sistematizar as informações da Excursão

Técnica com o intuito de dar suporte às equipes da Embrapa Cerrados em ações de

pesquisa e transferência de tecnologia na região.

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II – Caracterização da Região Oeste Baiano II. 1 – Aspectos físicos

A Região do Oeste Baiano pertence à ecorregião do Chapadão do São

Francisco e constitui um ecótono entre o Cerrado e a Caatinga. A sua principal

feição é relacionada com extensas chapadas intermeadas por rios que correm no

sentido nordeste, formadores das bacias dos rios Carinhanha, Grande e Correntina,

além de reservatórios subterrâneos associados ao Aquífero Urucuia, que contribuem

para o estoque e a vazão de água da Bacia do Rio São Francisco. Neste sentido,

esta ecorregião é conhecida como o “território de produção de águas”.

O Oeste Baiano encontra-se em sua totalidade na Ecorregião do Chapadão do

São Francisco, Figura 1.

Figura 1: Mapa de localização do Oeste Baiano no contexto da Ecorregião do Chapadão do São Francisco.

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O Oeste Baiano, bem como, a Ecorregião do Chapadão do São Francisco

possuem duas estações climáticas bem definidas uma estação seca e fria (maio a

setembro) e uma estação chuvosa e quente (outubro a abril). Sua posição

geográfica assegura temperaturas elevadas durante boa parte do ano, devido à forte

radiação solar, com exceção das áreas mais elevadas, onde as temperaturas são

mais amenas. .A Figura 2 apresenta a variação espacial da precipitação média

anual.

Figura 2. Precipitação pluviométrica média anual

Fonte: Evangelhista, B. A. (2012)

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No Oeste Baiano, bem como, no Chapadão do São Francisco, predominam os

solos de textura arenosa/média ou solos de textura leves, que estão sendo utilizados

indiscriminadamente, independente de sua aptidão agrícola. Esses solos são mais

susceptíveis à degradação e a perda da capacidade produtiva, relacionados aos

baixos teores de argila e matéria orgânica e consequentemente possuem baixa

retenção de água e nutrientes. Conhecer esses solos é imprescindível para um

manejo adequado estabelecendo critérios ajustados as suas limitações e

potencialidades de uso.

A Tabela 1 sintetiza os principais atributos de paisagem da região. Nessa

Tabela constam os aspectos relacionados ao relevo, classe de solo e uso na região.

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Tabela 1 – Atributos de Paisagem do Chapadão do São Francisco

RELEVO SOLO USO DA TERRA

Topos : conjunto de formas de relevo de topo plano. Ocorre nas porções

mais elevadas e planas da paisagem.

Latossolo Vermelho textura média e Neossolos Quartzarênicos

Agricultura de sequeiro de grande porte. Clima típico de Cerrado

Chapadas Intermediárias : conjunto de formas de relevo de topo plano.

Latossolo Vermelho-Amarelo textura média e Neossolos Quartzarêncos

Irrigação. Maior risco climático, com transição para a Caatinga

Escarpas : porções de relevo que se estendem retilínea ou sinuosamente por

grande extensão na forma de despenhadeiros ou penhascos verticalizados, bordejando as chapadas mais elevadas

Afloramentos de rochas Cobertura natural

Frentes de Recuo Erosivo: porções de relevo que encontram-se encaixadas entre a chapada ou escarpas e bases das vertentes, com processos erosivos ativos

Cambissolo Háplico textura média cascalhenta

Cobertura natural

Rampas : constituem áreas de deposição localizadas entre as chapadas e

planícies, de relevo plano e suavemente inclinado

Latossolo Vermelho-Amarelo textura média

Irrigação e cobertura natural

Planície Intraplanáltica : Conjunto de formas de relevo plano ou suave-ondulado

posicionadas entre as chapadas e a depressão.

Neossolo Flúvico e Gleissolos Háplicos

Agricultura e pecuária de pequeno porte

Veredas : zonas deprimidas de forma ovalada, associadas aos Chapadões,

especialmente em contato com a unidade Topos.

Gleissolo Háplico e Plintossolo Háplico

Cobertura natural

Depressão Cárstica : formado por ambientes dominados por calcários e rochas

associadas

Argissolo Vermelho-Amarelo e Nitossolo Vermelho

Pecuária extensiva e cobertura natural

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Vale Cárstico : ambiente de vale sobre os calcários e rochas associadas onde

predominam solos rasos

Cambissolo Háplico Pecuária extensiva e cobertura natural

Mesas : constituem relevo residual de topo plano e de pequena extensão,

limitado por escarpas, resultante do recuo pela erosão dos Chapadões.

Latossolo Amarelo distrófico textura média relevo plano fase Cerrado

sentido restrito

Cobertura natural

Pontões : ocorrem como formas com elevada declividade e formas multiconvexas e formadas por afloramentos de rochas

Afloramentos de rochas Cobertura natural

Fonte: adaptado de Martins E. S. et. al. 2012, (dados não publicados)

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II – Roteiro Dia 02/05/12 (quarta-feira)

Visita à Sementes J&H

Apresentação da Propriedade e dos principais problemas na produção de sementes

de soja

Visita a Agropecuária Ceolin

Apresentação da Propriedade e dos sistemas de produção com integração Lavoura-

Pecuária

Dia 03/05/12 (quinta-feira)

Visita à uma Fazenda Empresarial de Café: Fazenda Lagoa

1ª. Estação: Apresentação da Fazenda e Adeco Agro 2ª. Estação: Manejo da fertilidade (NPK + Braquiária). 3ª. Estação: Manejo de Irrigação. 4ª. Estação: Variedades, podas e condução de lavoura. 5ª. Estação: Colheita mecânica. 6ª. Estação: Preparo café. 7ª. Estação: Classificação e mercado. Dia 04/05/12 (sexta-feira)

Visita às Fazendas Acalanto e Vitória (Grupo Horita),

Apresentação da Propriedade e dos sistemas de produção de soja, milho e algodão

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III– Propriedades Visitadas

1. Visita à J&H Sementes – Correntina (BA) na quarta-feira - 02/05/2012

Proprietários, área e localização:

John Kudiess e Harald Kudiess

Endereço: BR 020 Km 21, Correntina – Bahia (a 363 Km de Brasília, sendo 21 km

após a divisa dos Estados de GO e BA).

Telefone: (62) 3481-1095, 1090 e 1099

e-mail: [email protected]

Área da Fazenda:

Área total: 16 mil hectares

Área plantada: 14,5 mil hectares em área própria, além do cultivo em propriedades

cooperadas.

Atividade Econômica:

Core business1: Produção de sementes

Core competence2: Produção de sementes com qualidade, utilizando tecnologia de

ponta e baseada nas necessidades dos produtores de grãos de soja.

Diferencial competitivo: tecnologia de ponta; qualidade da semente, classificação e

beneficiamento das sementes; investimento em equipamentos de alta tecnologia;

estudos de mercado para identificar as necessidades do produtor com relação às

sementes.

Caracterização da propriedade e das atividades desenvolvidas

As atividades na Fazenda começaram em 2008 com uma pequena Unidade

de Beneficiamento de Sementes (UBS). As sementes beneficiadas são soja com

materiais Monsoy (97%) e Embrapa (3%). Duas décadas mais tarde, esse trabalho

exclusivo de produção de sementes de soja foi ampliado pela multiplicação do

1 Refere-se ao foco central do negócio da empresa, o conjunto de atividades principais do negócio (Porter,

1985);

2 Refere-se às competências estratégicas, únicas e distintivas de uma organização que lhe conferem uma vantagem

competitiva intrínseca e, por isso, constituem os fatores-chave de diferenciação face aos concorrentes, um conhecimento

técnico ou uma tecnologia específica que é susceptível de oferecer um valor único para os clientes e que distingue a empresa

das rivais. Tem que ter proporcionar o acesso a uma ampla variedade de mercados; contribuir de forma significativa para o

produto final; ser de difícil imitação pelos concorrentes (Prahalad, 1995).

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germoplasmas de Monsoy e Embrapa, o que tornou a empresa um dos maiores

grupos produtores de sementes de soja do País.

A empresa trabalha em parceria com a Monsanto, sendo 60% da sua

produção de variedades transgênicas.

Os materiais da Embrapa são geralmente mais estáveis e resistentes ao

veranico. Alguns materiais se destacaram, como o material Tieta, em que se obteve

altas produtividades, mesmo na fase de forte veranico. Produzem sementes de ciclo

longo, 70-80% do que é produzido na fazenda escoa para Mato Grosso; e o restante

para Piauí, Tocantins, Maranhão.

Atualmente são multiplicadas e comercializadas (com a marca Sementes

Ponto) mediante o pagamento de royalties as variedades BRS 313 (Tieta); BRS 314

(Gabriela); BRS 315 RR (Lívia); BRS 8480; BRS 8381, BRS Sambaíba; BRS

Raimunda; BRS Barreiras; BRS Tracajá. Abastece o mercado de Mapito – iniciais

dos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, Goiás, norte de Minas Gerais, Mato

Grosso, Pará e Acre.

A produtividade média na fazenda em anos difíceis é de 72 a 82 sacos por

hectare e a unidade de beneficiamento de sementes ensaca 20 mil sacos em 24

horas.

Trabalhos desenvolvidos em parceria com a Embrapa:

Testar materiais com o objetivo de selecionar variedades convencionais e

transgênicas produtivas e adaptadas às condições ambientais do MA, TO, PI, BA e

MT.

Problemas e Demandas:

Há problemas de pesquisa visando à busca de materiais genéticos, resistentes

ao acamamento, problemas de nematóides, lagarta da soja e mofo branco. A

ferrugem asiática não foi considerada um problema. No Estado do Mato Grosso tem-

se problemas sérios de Pratylenchus.

A Embrapa necessita aperfeiçoar e agilizar seus contratos de parceria.

III. 2. Visita à Agropecuária Ceolin – São Desidério (BA) na quarta-feira -

02/05/2012

Proprietários, área e localização:

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Clóvis e Régis Ceolin são proprietários junto com outros irmãos. O grupo familiar é

sediado em Uruguaiana (RS) e, além de atuar no oeste baiano, tem propriedade em

Curuzu Cuaitá (Argentina).

Área da Fazenda:

Atividade Econômica: O grupo produz arroz, algodão, soja, milho e braquiária,

além de ter pecuária. Em São Desidério, são 10 mil hectares de área de plantio e

350 hectares com pecuária.

Caracterização da propriedade e das atividades desenvolvidas

A fazenda localiza-se no município de São Desidério e as atividades foram

iniciadas em 1988. Para o manejo inicial da fertilidade do solo foram utilizadas 4

toneladas de calcário, 400 kg de super simples, 400 kg de adubo 00 20 20 e solo

corrigido a profundidade de 20 centímetros. De acordo com os agricultores, essa

tecnologia não foi suficiente para dar estabilidade à produção. Por esse motivo, os

agricultores decidiram parar de abrir áreas novas e trabalharam sobre as áreas já

abertas (manejo).

São explorados 10 mil hectares com cultivos: 1/3 soja, 1/3 milho consorciado

com braquiária e 1/3 algodão. Da área de consórcio milho/braquiária, 1/3 é usado

com pecuária no sistema integração lavoura-pecuária. O sistema plantio direto é

empregado em 100% da área plantada. De maneira geral, o ciclo da produção na

propriedade segue o seguinte esquema:

Soja → milho consorciado com braquiária → boi safrinha → algodão → soja

Anteriormente, o sistema de integração lavoura-pecuária consistia na entrada

dos animais na área de consórcio milho/braquiária após a colheita do milho. Os

animais (bezerros desmamados) eram adquiridos em maio e permaneciam

pastejando a área até meados de setembro, época de início das atividades

agrícolas. Os animais que não alcançavam peso de abate eram terminados em

confinamento. Tanto no período de pastejo, quanto no confinamento a

suplementação dos bovinos é composta por subprodutos da agricultura, como

farelo/torta de algodão, caroço de algodão, casca de algodão e/ou soja, bandinha de

milho, entre outros. Isso possibilita quase que uma autosuficiência de concentrados,

com necessidade de adquirir externamente apenas suplementos minerais.

Para ano agrícola de 2012, em vez de levar o gado para pastorear a resteva

do milho com a braquiária, optou-se por empregar confinamento, por meio do uso de

feno de braquiária e palhada de milho juntamente com suplemento concentrado.

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Dessa forma, os animais permanecerão em pastejo por um curto período (adaptação

e apartação) e, então, serão confinados. A expectativa é que a capacidade estática

do confinamento seja de aproximadamente 8.000 animais.

Na fazenda, a equipe da Embrapa visitou os seguintes pontos: a fábrica de

rações; as instalações do confinamento e a área onde está sendo produzido feno de

braquiária. A visita foi finalizada com uma apresentação em Power point sobre a

Agropecuária Ceolin.

Trabalhos desenvolvidos em parceria com a Embrapa:

A Embrapa Cerrados desenvolve trabalhos de pesquisa em parceria com a

Agropecuária Ceolin desde 2010. O principal tema de trabalho é a integração

lavoura-pecuária

Problemas e Demandas:

Neste ano, o impacto da seca (veranico) foi importante na região. De acordo

com os agricultores, haverá perdas em todas as lavouras. No entanto, elas serão

maiores nas áreas de soja, principalmente naquelas plantadas tardiamente. Para a

cultura do algodão também haverá efeitos negativos, porém eles serão menores,

pois a planta já esta estruturada (termo empregado pelo agricultor) quando ocorreu o

veranico. Nesse sentido, os agricultores salientaram a importância da utilização de

sistemas de produção diversificados.

Foram demandadas informações sobre qualidade/tipo de animais com maior

capacidade de resposta ao sistema de semiconfinamento/confinamento empregado.

Os agricultores relataram a experiência positiva com o uso de animais cruzados com

raças europeias. Foi também identificada a necessidade de informações para dar

suporte ao manejo da alimentação dos animais em confinamento.

Durante as discussões foram evidenciados problemas relacionados ao

manejo da fertilidade dos solos. Em uma pequena área de algodão e milho na

fazenda, os produtores estão testando diferentes opções de adubação e correção do

solo. De acordo com os agricultores, a Embrapa poderia contribuir de maneira

significativa com informações sobre produtos e recomendações de manejo do solo.

III. 3. Visita à Fazenda Lagoa do Oeste – Luís Eduardo Magalhães (BA) na

quinta-Feira – 03/05/2012

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Proprietários, área e localização: Propriedade pertencente ao grupo argentino

Adecoagro

Área da Fazenda:

Atividade Econômica: Café

Caracterização da propriedade e das atividades desenvolvidas

Na Fazenda Lagoa do Oeste estão plantados 904 hectares de cafés especiais

para exportação aos mercados norte-americanos, japoneses e europeus. O

processo de produção do café irrigado tem três certificações internacionais. A

estabilidade da produção nas áreas “maduras” é de 45 a 50 sacas de café/ha. Em

2006, foram iniciadas as operações com café em área de 1632 hectares em duas

fazendas (Lagoa do Oeste e Rio de Janeiro), mesma área de hoje. Em 2011, a safra

foi de 45 mil sacas, e para 2012 a estimativa é de 60.550 sacas. Para 2013, o

potencial é de 65 mil sacas. Essa produtividade reflete o uso de tecnologias.

As variedades de Coffea arabica cultivadas são: o Catuaí vermelho,

variedade mais plantada no oeste baiano e no Brasil, de porte baixo e vigoroso, de

alta produtividade, mas de maturação irregular; o Icatu amarelo, de porte alto e

alguma resistência a doenças; e o Catucaí, resultante do cruzamento dos dois

anteriores, com algumas características de ambos.

A colheita do café ocorre em três etapas e é realizada por máquinas, à

exceção das plantas com até dois anos. Na primeira etapa é colhido o café maduro

que se encontra nas partes mais altas da planta, em torno de 50% do total ou

aproximadamente 30 mil sacas. Essa primeira colheita causa um estresse na planta

que ocasiona o amadurecimento dos grãos verdes das partes inferiores. Após 15 ou

20 dias da primeira colheita, outros 35 % de café maduro são colhidos na segunda

etapa e o restante (café no chão) numa terceira etapa.

No beneficiamento do café os frutos são lavados e separados em verdes e

maduros. Os frutos maduros (cereja) são processados por via úmida, sendo

descascados mecanicamente e retirada a mucilagem por fermentação natural (café

despolpado) durante 12 a 48 horas. Após a fermentação os grãos de café são

lavados e secos em terreiro ao ar livre por 24 horas. Após essa secagem natural

ocorre a secagem artificial em secadores mecânicos por 18 horas a 40oC para

garantir uma umidade entre 11 e 12%. A retirada do pergaminho ocorre logo após a

secagem artificial e os grãos de café descansam em tulhas antes de serem

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ensacados. No ensacamento é medida a densidade dos grãos. A máquina analisa

cada grão e descarta os que apresentarem eventuais manchas.

Os grãos verdes separados dos maduros são processados por via seca,

sendo secos com casca em terreiros ao ar livre e em secadores mecânicos. Ao final

do processo são produzidos frutos secos com casca, conhecidos como café em

coco ou café natural. O café em coco é descascado e ensacado conforme descrito

acima.

A finalização do processo das práticas no sistema cafeeiro é a análise da

qualidade do café nos testes de degustação. Os grãos de café são torrados e

funcionários treinados fazem a degustação para a discriminação dos atributos de

aroma e sabor e para a classificação do café como especial, o que possibilita a

comercialização com o setor Gourmet.

O mercado valoriza o café gourmet em relação ao preço normal de um café

fino de cerca de 20%; como exemplo, se o mercado trabalha com uma cotação de

R$ 110,00 a saca para um café muito fino, o gourmet pode ser vendido em média a

pelo menos R$ 132,00.

Trabalhos desenvolvidos em parceria com a Embrapa:

A parceria com a Embrapa começou em 2005 com o projeto

“Desenvolvimento e adaptação de técnicas de manejo de água na cafeicultura

irrigada em solos arenosos do oeste baiano”, que envolvia o uso de tensiômetros,

turno de regas (3 a 5 dias de intervalo), redução de energia, menor desgaste das

plantas.

Também em 2005 foi adotado o estresse hídrico, que promoveu a redução de

custos, o controle sobre a floração do cafeeiro, a uniformização da maturação dos

frutos, a redução das perdas na colheita, a redução de pragas, a melhor

manutenção de equipamentos, a redução da requeima e das flores tipo estrelinhas,

além de garantir repouso às plantas e apontar falhas no programa de fertilização até

então utilizado.

A partir de 2006 outra tecnologia Embrapa adotada foi a fosfatagem. Ela

permitiu a revisão da quantidade de fósforo aplicada, aumentando o vigor e

sanidade das plantas e propiciando menor desgaste das mesmas.

A propriedade utiliza a adubação NPK com base nos trabalhos da Embrapa e

adota o “Monitoramento de Irrigação no Cerrado”, da Embrapa Cerrados, para o

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manejo da irrigação. A estação de captação de água da propriedade supre a

irrigação por gotejamento e por pivô central.

Problemas e Demandas

A fazenda Lagoa do Oeste é um exemplo de parceria da Embrapa com o

setor produtivo privado para validação das tecnologias desenvolvidas pela Empresa.

Mas ainda há muitas demandas tecnológicas por parte dessa cultura no Cerrado.

O bicho mineiro e a broca são as principais pragas enfrentadas. É feito o

monitoramento constante, com uma parte da área (8 hectares) sendo observada

semanalmente, o que fornece indicativos para o controle.

A braquiária é plantada entre as fileiras da plantação de café para contribuir

com a produção de matéria orgânica do solo, com a ciclagem de nutrientes e com o

estímulo à multiplicação da micorriza nativa e ao sistema enzimático.

As principais demandas identificadas durante a realização do encontro foram:

o controle de pragas (o bicho mineiro e a broca); a influência do manejo de matéria

orgânica (braquiária) na produtividade e qualidade dos frutos; a calibração das

doses de fertilizantes P 205; o desenvolvimento da agricultura de precisão; o

desenvolvimento de novos materiais (variedades eficientes e produtivas); a

renovação das lavouras (diminuição de perdas, controle de crescimento); a

diminuição das perdas de chumbinhos, da queda de frutos, e de grãos mal formados

e a redução do uso de defensivos agrícolas com eficiência agronômica e ambiental.

III.4. Visita à Fazenda Acalanto – São Desidério (BA), propriedade do grupo

Horita na quinta-Feira – 03/05/2012

Proprietários: Ricardo Horita, Wilson Horita e Walter Horita

Área e localização da Fazenda:

O grupo Horita cultivou na safra 2011/12 84 mil hectares, divididos em 6 fazendas:

Acalanto, Ventura e Querubim (São Desidério – BA), Sagarana (Correntina – BA),

Timbaúba (Luís Eduardo Magalhães – BA) e Centuria (Formosa do Rio Preto –BA).

Atividade Econômica:

Produção de grãos de soja e milho e produção e beneficiamento de algodão

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Caracterização da propriedade e das atividades desenvolvidas

O Grupo Horita foi fundado em 1984 com a chegada dos irmãos Ricardo,

Wilson e Walter Horita ao oeste baiano, oriundos do Paraná. A área inicial de plantio

era de 1,2 mil ha, sem qualquer infra-estrutura, a cultura era a soja e as

produtividades médias em torno de XX sacas/ha.

Atualmente o grupo cultiva 84 mil ha, sendo que nos últimos 2 anos houve

aumento de 165% na área plantada. A infra-estrutura conta com silos, armazéns e

usina de beneficiamento de algodão, com a capacidade para armazenar mais de

dois milhões de sacas e processar até 130 mil toneladas de algodão em caroço,

gerando 250 mil fardos de algodão pluma e 70 mil toneladas de algodão. O corpo

técnico conta com 13 engenheiros agrônomos e 60 técnicos agrícolas. Além disso, o

grupo emprega 700 colaboradores fixos e cerca de 400 temporários. As culturas

produzidas são soja, milho e algodão.

Dos 84 mil hectares de área de plantio na safra 2011/12, 47 mil ha são de

soja, 29 mil ha de algodão, e 8 mil ha de milho. A produtividade média do grupo dos

últimos 3 anos é de 58 sacas/ha para a soja, 182 sacas/ha para o milho e 300@/ha

para o algodão. A elevada participação da soja na ultima safra agrícola deve-se a

aquisição de novas áreas, uma vez que essa cultura inicia o sistema produtivo do

grupo, que quando consolidado, ocorre num esquema de rotação de culturas, com o

algodão ocupando 50% da área, e soja e milho 25% cada. De modo geral o sistema

produtivo adotado pelo grupo segue a seguinte sequência: 1º ao 5º ano de cultivo -

soja; 6º ao 8º ano de cultivo - algodão; 9º ano de cultivo em diante – rotação soja-

milho-algodão.

A soja é 100% RR, cultivada em espaçamento de 76 cm nas áreas sobre

algodão e 45 centímetros nas áreas novas, utilizando-se 110 mil sementes/ha e

adubação com 100 kg/ha de P2O5 e 110 kg/ha de K2O aplicados à lanço na

superfície antes do plantio, com exceção da soja subsequente ao algodão, que é

cultivada sem adubação de manutenção com fósforo e potássio.

O milho é 90% Bt sendo os outros 10% refúgio e em toda área é feito

consorcio com Brachiaria ruziziensis. Utiliza-se espaçamento de 76 cm, 70 mil

sementes/ha e adubação com 120 kg/ha de P2O5 e 140 kg/ha de K2O aplicados à

lanço na superfície antes do plantio e 150 kg/ha de N em cobertura.

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O algodão é 90% convencional, cultivado em espaçamento de 76 cm e

utilizando-se 105 mil sementes/ha. Nos primeiros cultivos de algodão da área, antes

do esquema de rotação de culturas, é feito novo preparo com incorporação de

calcário e gesso agrícola e a adubação é feita com 240 kg/ha de P2O5 e 170 kg/ha

de K2O aplicados à lanço na superfície antes do plantio e 135 kg/ha de N em

cobertura. Na fase de rotação de culturas o algodão é cultivado com adubação de

240 kg/ha de P2O5 e 170 kg/ha de K2O a lanço na superfície antes do plantio,

mantendo-se a adubação nitrogenada.

Trabalhos desenvolvidos em parceria com a Embrapa:

Apesar de adotarem diversas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa,

atualmente não são desenvolvidos trabalhos específicos em parceria com a

empresa. Dentre as principais tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e adotadas

pelo grupo destacam-se: Correção de acidez e adubação segundo recomendações

para o Cerrado, uso de variedades de soja Embrapa, consórcio de milho com

brachiaria segundo sistema de integração lavoura-pecuária.

Problemas e Demandas

Durante a visita foram levantados diversos problemas enfrentados pelo grupo,

que são apresentados abaixo divididos de acordo com o tema.

Fitotecnia:

Necessidade de tecnologias de resistência à seca e a patógenos;

Necessidade de variedades de soja, milho e algodão produtivas, mas com maior

resistência a patógenos;

Necessidade de definição de arranjo de plantas e população visando melhor

sanidade vegetal e produtividade;

Necessidade de tecnologia de produção de milho que reduza o percentual de

grãos ardidos.

Dificuldade de manejo de soqueiras em lavouras de algodão sob plantio direto.

Fertilidade:

Necessidade de laboratório confiável;

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Desenvolvimento de parâmetros para análise e interpretação local do estado

nutricional das culturas;

Definição de dados de extração e exportação de nutrientes para as variedades

modernas de soja, milho e algodão;

Manejo nutricional de transgênicos;

Desenvolvimento de técnicas de manejo para aumentar a matéria orgânica no

solo da região;

Definição da capacidade da palhada em suprir nutrientes para a cultura posterior;

Necessidade de definição do melhor manejo da adubação nitrogenada em áreas

após milho consorciado com brachiaria.

Patógenos:

Desenvolvimento de técnicas de manejo para produção em áreas infestadas e de

sistemas de produção que inibam a infestação por patógenos de solo,

principalmente mofo branco, Fusarium sp., e nematóides;

Necessidade de identificação do fator de reprodução dos nematoides

Pratylenchus sp, Meloidogyne sp e Rotylenchulus reniformis, pelas variedades de

soja, milho e algodão utilizadas;

Desenvolvimento de controle alternativo de doenças de soja, milho e algodão;

Aumento da dificuldade de controlar determinadas doenças como a podridão

branca da espiga (Diplodia sp.) no milho e a mancha de ramularia (Ramularia

areola) e podridão das maçãs no algodoeiro.

Pragas:

Desenvolvimento de controle alternativo de pragas de soja, milho e algodão;

Desenvolvimento de técnicas de controle de pragas secundárias de soja, milho e

algodão, como percevejos, mosca branca e pulgão.

Considerações Finais

Na Tabela 2 estão sintetizados as demandas e os problemas de pesquisa e

transferência de tecnologia de cada propriedade visitada.

A seguir estão pontuadas algumas considerações sobre a excursão técnica

que merecem destaque:

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- As empresas visitadas estão abertas em construir parcerias em atividades de

pesquisa com a Embrapa;

- Foi possível relacionar o conhecimento da realidade sobre as práticas usadas

pelos agricultores com os trabalhos de pesquisa;

- Verificou-se a necessidade de trabalhar com pesquisas voltadas aos sistemas de

produção agropecuários, e não apenas com culturas específicas;

- É necessário maior detalhamento dos problemas/demandas para dar suporte às

futuras ações de pesquisa ou de transferência de tecnologia na região.

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Tabela 2 - Síntese dos problemas e demandas de cada propriedade visitada.

Propriedades Visitadas Problemas Demandas

J&H Sementes Melhoramento Genético de Plantas

- Soja resistente ao acamamento, resistente a nematoides e mofo branco.

Patógenos - Nematóides, Mofo Branco e Lagarta da Soja

Estabelecimento de parceria com a Embrapa

- Embrapa ser mais ágil

Disponibilização de semente básica

- em qualidade, quantidade e rapidez.

Agropecuária Ceolin Melhoramento Genético Animal

- qualidade/tipo de animais com maior capacidade de resposta ao sistema de semiconfinamento/confinamento

Fertilidade - Manejo da fertilidade do solo

Fazenda Lagoa do Oeste Melhoramento Genético de Plantas

- Desenvolvimento de novos materiais (variedades eficientes e produtivas); - Diminuição das perdas de chumbinhos, da queda de frutos, e de grãos mal formados;

Práticas culturais - Controle de pragas (o bicho mineiro e a broca); - Influência do manejo de matéria orgânica (braquiária) na produtividade e qualidade dos frutos - Renovação das lavouras (diminuição de perdas, controle de crescimento); - Redução do uso de defensivos agrícolas com eficiência agronômica e ambiental.

Fertilidade - Calibração das doses de fertilizantes P205;

Agricultura de Precisão - Implementação da agricultura de precisão;

Fazenda Acalanto (Grupo Horita) - Fitotecnia

- Desenvolvimento de materiais de soja, milho e algodão com resistência à seca - Definição de arranjo de plantas e população visando melhor sanidade vegetal e produtividade - Desenvolvimento de tecnologia de milho visando redução do percentual de grãos ardidos. - Desenvolvimento técnicas de manejo de soqueiras em lavouras de algodão sob plantio direto.

- Fertilidade do solo - Identificação da necessidade nutricional de materiais modernos de soja, milho e algodão. - Definição de manejo da adubação nitrogenada em áreas de soja e algodão após milho em consórcio com brachiaria. - Desenvolvimento de sistema de produção que proporcione aumento da matéria orgânica do solo da região. - Desenvolvimento de sistema de produção que proporcione aumento da eficiência de uso do nitrogênio, fósforo e potássio nos solos da região. - Validação de tecnologias de correção de acidez e adubação nos solos arenosos da região.

- Patógenos - Desenvolvimento de materiais produtivos de soja e algodão tolerantes à Fusarium sp., Sclerotinia sclerotiurum,

Pratylenchus sp, Meloidogyne sp, Rotylenchulus reniformis. - Identificação do fator de reprodução dos nematóides Pratylenchus sp, Meloidogyne sp e Rotylenchulus reniformis, pelos materiais de soja, milho e algodão utilizadas na região. - Desenvolvimento de sistemas de produção para áreas infestadas com patógenos de solo e/ou que previnam a infestação. - Desenvolvimento de manejo integrado de doenças de parte aérea de soja, milho e algodão.

- Pragas - Desenvolvimento de manejo integrado de pragas secundárias de soja, milho e algodão em lavouras transgênicas. - Desenvolvimento de controle alternativo de pragas de soja, milho e algodão.