Público – 6664 – 29.06.2008

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Não perca mais uma Banda Desenhada Disney Hoje “Carros” por apenas mais 2,90 / Dom 29 Junho Edição Lisboa Domingo, 29 de Junho de 2008 Ano XIX, n.º 6664 Portugal: 1,40€ (IVA incluído) Espanha: 2,00€ (IVA incluído) Director: José Manuel Fernandes Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Manuel Carvalho e Paulo Ferreira Colecção Clássicos Disney em BD Aquecimento Estão 20ºC na Gronelândia P2 Pública Sayed Badreya vai ser Saddam no filme de Oliver Stone O fim da Polaroid DAVID CLIFORD/ARQUIVO O sector do turismo regista menos procura e há voos a serem cancelados a Os preços de bens essenciais mais elevados e a factura crescente dos combustíveis estão a obrigar muitos portugueses a fazer férias diferentes das dos últimos anos. As agências de viagens e operadores turísticos regis- tam uma quebra na procura de paco- tes de viagens. Mais do que isso, há uma troca de programas para destinos mais distantes (como o Brasil), muito penalizados pelas taxas de combustí- vel das companhias aéreas, por locais mais próximos, no país (Algarve) ou no estrangeiro (Mediterrâneo). Não há milagres, mas há formas de tentar re- duzir a factura das férias. O PÚBLICO indica algumas. c Destaque, 2 a 5 Férias de Verão à medida da crise e da factura dos combustíveis PUBLICIDADE Alentejo Água de Alqueva contaminada por fontes poluentes a As entidades que gerem a maior reserva de água do país estão preo- cupadas com os impactos originados por actividades agrícolas, industriais e por afluentes do Guadiana, em Por- tugal e Espanha, que estão a deterio- rar a qualidade da água de Alqueva. Acusam o Estado pela falta de uma entidade coordenadora, de meios hu- manos e financeiros. c Local Zimbabwe Mugabe prepara tomada de posse já para hoje a Robert Mugabe deverá hoje mes- mo prestar juramento como Presi- dente do Zimbabwe depois de uma segunda volta das eleições presiden- ciais contestadas internacionalmen- te, realizadas na sexta-feira, em que foi único candidato. O Conselho de Segurança da ONU não chegou a acordo para declarar a eleição “ile- gítima”. c Mundo, 18 Entrevista Código laboral é inconstitucional, acusa Jerónimo a As novas regras da contratação co- lectiva são inconstitucionais e a flexi- bilidade de horários introduzida no novo Código do Trabalho vai reduzir os salários reais. Em entrevista, Jeró- nimo de Sousa acusa o Governo de ter instrumentalizado a concertação social e de só assim ter conseguido um acordo que apenas serve as grandes empresas. c Portugal, 10/11 PJ acredita que tiros em jantar de Sócrates foram premeditados a A hipótese de atentado está exclu- ída pela Polícia Judiciária (PJ) mas existe, todavia, a ideia de premedi- tação em todo o acto. As autoridades aguardam pelo resultado das perita- gens do Laboratório de Polícia Cien- tífica para poder vir a identificar o autor dos sete disparos efectuados, na noite de sexta-feira, contra o Pa- vilhão Arena, em Portimão, onde de- corria um jantar do PS-Algarve, no qual estivera minutos antes o primei- ro-ministro, José Sócrates. Quem dis- parou só o fez depois de se certificar de que Sócrates já não se encontrava no local. c Portugal, 6 Como fazer férias mais baratas do que os pacotes tradicionais Os destinos que estão a perder com o preço dos combustíveis e os que recebem mais portugueses

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Versão integral da edição n.º 6664 do diário “Público” que se publica em Lisboa, Portugal. Director: José Manuel Fernandes. 29.06.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Não perca mais uma Banda Desenhada DisneyHoje “Carros” por apenas mais 2,90 �

Dom 29 Junho Edição LisboaDomingo, 29 de Junho de 2008Ano XIX, n.º 6664Portugal: 1,40€ (IVA incluído) Espanha: 2,00€ (IVA incluído)Director: José Manuel FernandesDirectores adjuntos: Nuno Pacheco, Manuel Carvalho e Paulo Ferreira

Colecção Clássicos Disney em BD

AquecimentoEstão 20ºCna GronelândiaP2

PúblicaSayed Badreyavai ser Saddamno filme deOliver Stone

O fimda Polaroid

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O sector do turismo regista menos procura e há voos a serem canceladosa Os preços de bens essenciais mais elevados e a factura crescente dos combustíveis estão a obrigar muitos portugueses a fazer férias diferentes das dos últimos anos. As agências de viagens e operadores turísticos regis-tam uma quebra na procura de paco-tes de viagens. Mais do que isso, há uma troca de programas para destinos mais distantes (como o Brasil), muito penalizados pelas taxas de combustí-vel das companhias aéreas, por locais mais próximos, no país (Algarve) ou no estrangeiro (Mediterrâneo). Não há milagres, mas há formas de tentar re-duzir a factura das férias. O PÚBLICO indica algumas. c Destaque, 2 a 5

Férias de Verão à medida da crise e da factura dos combustíveis

PUBLICIDADE

Alentejo

Água de Alqueva contaminada por fontes poluentesa As entidades que gerem a maior reserva de água do país estão preo-cupadas com os impactos originados por actividades agrícolas, industriais e por afluentes do Guadiana, em Por-tugal e Espanha, que estão a deterio-rar a qualidade da água de Alqueva. Acusam o Estado pela falta de uma entidade coordenadora, de meios hu-manos e financeiros. c Local

Zimbabwe

Mugabe prepara tomada de posse já para hojea Robert Mugabe deverá hoje mes-mo prestar juramento como Presi-dente do Zimbabwe depois de uma segunda volta das eleições presiden-ciais contestadas internacionalmen-te, realizadas na sexta-feira, em que foi único candidato. O Conselho de Segurança da ONU não chegou a acordo para declarar a eleição “ile-gítima”. c Mundo, 18

Entrevista

Código laboral é inconstitucional, acusa Jerónimoa As novas regras da contratação co-lectiva são inconstitucionais e a flexi-bilidade de horários introduzida no novo Código do Trabalho vai reduzir os salários reais. Em entrevista, Jeró-nimo de Sousa acusa o Governo de ter instrumentalizado a concertação social e de só assim ter conseguido um acordo que apenas serve as grandes empresas. c Portugal, 10/11

PJ acredita que tiros em jantar de Sócrates foram premeditadosa A hipótese de atentado está exclu-ída pela Polícia Judiciária (PJ) mas existe, todavia, a ideia de premedi-tação em todo o acto. As autoridades aguardam pelo resultado das perita-gens do Laboratório de Polícia Cien-tífica para poder vir a identificar o autor dos sete disparos efectuados,

na noite de sexta-feira, contra o Pa-vilhão Arena, em Portimão, onde de-corria um jantar do PS-Algarve, no qual estivera minutos antes o primei-ro-ministro, José Sócrates. Quem dis-parou só o fez depois de se certificar de que Sócrates já não se encontrava no local. c Portugal, 6

Como fazer férias mais baratas do que os pacotes tradicionais

Os destinos que estão a perder com o preço dos combustíveis e os que recebem mais portugueses

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Destaque2 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Verão 2008 Sector do turismo sente quebra na procura de viagens

Férias não escapam à crise económicaO turismo é das primeiras actividades afectadas quando chega a hora de cortar nas despesas. Os portugueses estão a gastar menos e os operadores estão a diminuir o número de voos

a Os anúncios de promoções e de “last minute” (marcações no último minuto, em cima da hora), para via-gens programadas para daqui a uma ou duas semanas, enchem as montras de uma loja da Halcon no centro de Lisboa. Duarte Borges, do departa-mento de vendas, confirma que são estas as propostas mais procuradas, e os destinos são, de preferência, mais próximos do que em anos anterio-res. E salienta: “A nível das viagens de longa distância estamos a sentir os efeitos das taxas, que só de suple-mento de combustível representam 280 euros.”

O presidente da Associação Portu-guesa das Agências de Viagens e Tu-rismo, João Passos, confirma que “a situação económica prejudica todos os sectores e o turismo é dos primei-

ros a serem atingidos”. João Passos acredita que muitos portugueses se estão a guardar para ofertas promo-cionais, outros fizeram contas ao dinheiro e decidiram simplesmente não ir de férias este Verão. “Até este momento, as agências sentem efecti-vamente um decréscimo em relação ao ano passado”, sustenta.

Há uma quebra generalizada pa-ra todos os destinos e os operadores sentem que Junho foi particularmen-te difícil. Mas tem sido o Brasil, em especial as praias nordestinas, para onde há muita oferta de charter, a sentir mais os efeitos desta retrac-ção provocada pelo encarecimento dos voos: um pacote “viagem mais hotel” de sete noites por 800 euros, por exemplo, sobe facilmente até aos 1100 quando é acrescido das várias sobretaxas. Também os casos de den-gue no início deste ano e as questões

minicana e Jamaica), onde se nota alguma quebra mas não tão grande como no Brasil, e para onde a oferta programada de voos se está a aguen-tar. Para aqui, “vende-se quase exclu-sivamente grandes resorts com tudo incluído”, diz o director da Viagens Abreu. Mas por causa disso, estes des-tinos estão a ficar mais competitivos em relação a outros rivais de longa distância, onde as refeições são mui-tas vezes pagas à parte e por isso as contas saem mais caras no final.

Luxo vende-se sempre bemCrises à parte, os produtos de luxo continuam a vender-se bem, como uma viagem de 15 dias programada à medida de quem a adquire, com pre-ços a partir dos 1500 a 2000 euros. “Estamos a sentir um crescimento muito agressivo da procura para as Maldivas”, exemplifica Pedro Costa

Ferreira, que está à frente da gestão do operador turístico MundoVip (Es-pírito Santo Viagens).

É nas viagens massificadas, diri-gidas à classe média, que se estão a apertar os orçamentos de férias. Cos-ta Ferreira diz que “o cenário não é de catástrofe”: “Do lado do consu-midor, parece registar-se a ideia de que os hábitos de viagem vieram para ficar. O mercado cresceu um bocado agressivamente nos últimos anos e o que sentimos na época de neve e na última Páscoa é que as pessoas con-tinuam a viajar.”

Cá dentroAlgarve, Madeira e Açores, estes últi-mos muito aliados ao chamado “turis-mo verde”, estão, em contrapartida, a ter mais portugueses interessados este ano, uma vez que distâncias mais curtas equivalem a preços mais bara-

Inês Sequeira cambiais dificultaram essa escolha. “O real (moeda brasileira) está muito valorizado e nos últimos dois a três anos o Brasil tornou-se relativamente caro; em termos de serviços de refei-ções, está ao nível do que se paga em Portugal”, nota José Manuel Ferraz, director da Viagens Abreu.

A quebra na compra de viagens pa-ra o outro lado do Atlântico já está a ter efeitos práticos na oferta dese-nhada pelos operadores turísticos, continua. As empresas do sector de-cidiram cortar no número de lugares de avião previstos a partir de Julho, de quatro ou três ligações charter por semana para apenas duas – mesmo aquelas que estavam a trabalhar com cenários pessimistas desde o início do ano – e as ligações que partiriam do Porto vão ficar por fazer.

Menos mal estão a sair-se as Cara-íbas (México, Cuba, República Do-

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 3

Os destinos de luxo e mais exóticos continuam a vender-se bemPAULO RICCA

tos. Especialmente a região algarvia, lembra José Manuel Ferraz, da Abreu, que “perdeu um pouco nos últimos anos por força das operações charterque surgiram no mercado para o Bra-sil, que deram às pessoas a possibili-dade de fazerem férias para as quais antes não tinham possibilidades”. Agora, com um novo crescimento do Algarve, “está a verificar-se o regresso às origens”.

À imagem do que tem sucedido noutras épocas de contenção, espe-ra-se este ano que as praias do Sul te-nham mais portugueses a aproveitar o sol. Beneficiados estão também outros locais próximos: Tunísia, Tenerife, Bil-bau, Disneylândia Paris são opções de férias em que operadores e agências de viagens apostam este Verão.

Um pouco mais distante, mas com voos mais curtos do que para o outro lado do Atlântico, Cabo Verde está igualmente a crescer como opção de férias. “Em vez de gastarem 1550 as pessoas gastam 1000, procuram destinos de mais proximidade onde a componente aérea não é tão alta”, diz o director da Viagens Abreu. “Cabo Verde tem um grande fluxo de por-tugueses”, confirma Pedro Costa Fer-reira, do MundoVip, que admite que “eventualmente haverá demasiada oferta, mas isso é porque o arquipé-lago está em muito grande desenvol-vimento”. Existem neste momento investimentos importantes na ilha da Boavista, com a construção de em-preendimentos hoteleiros, e este ano já se iniciou um voo charter.

Crise está para ficar?Por agora tem sido apenas o segmen-to do lazer a sentir a diminuição do consumo, pois as empresas conti-nuam a investir em deslocações, su-blinha por sua vez o presidente da APAVT. João Passos também confessa que, “na realidade, nunca houve uma crise tão profunda como a deste mo-mento”. Nem sequer após os atenta-dos terroristas de Setembro de 2001, quando se tratou de uma situação “conjuntural”. Tal como nessa altu-ra, os efeitos estão a sentir-se também fora de Portugal, e mais nos Estados Unidos do que na Europa. Desta vez, Passos sente que a crise “vai ser um bocadinho mais longa”; por quanto tempo, prefere não arriscar.

Para já, ainda é cedo para saber se esta crise vai deixar empresas do sec-tor pelo caminho ( João Passos defen-de que não) ou se estas férias vão ser para a maioria passadas num lufa-lufa de carro entre a casa e a praia ou pis-cina ou se, dentro de algumas sema-nas, muitos vão optar em massa pelas ofertas promocionais e pelos preços de “last minute”, para procurarem, tal como em anos anteriores, novas paisagens, também este Verão.

Mas o presidente da APAVT subli-nha que, “apesar de ser extrema-mente frágil e vulnerável a factores exógenos, normalmente o turismo é o primeiro a recuperar, e com au-mentos exponenciais”. Esta é tam-bém uma oportunidade, acrescenta, para agências de viagens e operado-res aprenderem a ter cada vez mais rigor na actividade.

280euros é quanto custam as taxas de combustível para voos de mais longa duração, o que encarece o pacote de férias

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Destaque4 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Verão 2008 Alternativas mais baratas do que os pacotes tradicionais

Recorrer ao “last minute”

Já não é novida-de.Há casais que, de malas já fei-tas, entram numa agência de viagens

e procuram promoções entre 300 a 350 euros, para partir de avião na-quele mesmo dia. Depois é só esco-lher a opção que mais agrada entre as disponíveis. Se o seu sentido de aventura não está assim tão desenvol-vido, convém, no entanto, que esteja atento às páginas especializadas na Internet (o lastminute.com ou o Ex-pedia), tendo em atenção que muitas destas ofertas não são desenhadas a partir de Portugal. Muitos sites das agências de viagens já oferecem ac-tualmente ofertas promocionais, tal como muitas companhias aéreas. E para promoções para dentro do país, vale a pena dar uma vista de olhos na página online das Pousadas de Portu-gal. Por último, não desdenhe nunca as vitrinas das agências de viagens, onde as ofertas para viagens progra-madas para prazos inferiores a uma semana podem descer praticamente para o preço de custo. I.S.

Troca de casasIr gratuitamente para uma casa pri-vada é uma boa forma de poupar o dinheiro do alojamento num hotel ou pensão. Além disso, é possível cozi-nhar as refeições, o que significa uma poupança extra. É claro que, quem quiser ir para casa de alguém, deve es-tar disposto a disponibilizar a própria casa. Há vários sites especializados em trocas de casas para férias. O Troca-

Casa.com é um si-te inteiramente em português, mas faz parte de uma re-de internacional e

tem uma ampla gama de ofertas (o acesso a todas as funcionalidades do site está sujeito ao pagamento de uma anuidade). Quem decidir avançar pela troca de casa deve tornar previamen-te claras todas as condições, definin-do se é permitido levar crianças, se há animais domésticos ou plantas de que é preciso cuidar, se é permitido fumar ou se a troca também inclui o uso de

10 ideiaspara (tentar)poupar dinheironas fériasMais tradicional (arrendar casa) ou mais aventureira (partilha do sofá), há várias formas de reduzir custos quando chega a hora de fazer malas

veículos, como motas, bicicletas ou carros. J.P.P.

Turismo de sofáFicar a dormir no sofá de outras pesso-as (ou no chão, ou numa cama extra) permite não só poupar nos gastos de alojamento, como também conhecer

pessoas novas. Vo-cacionado sobre-tudo para turistas jovens, o conceito de “couch surfing”

junta os interessados em viajar com as pessoas dispostas a albergar hós-pedes. O site Couchsurfing.com é um bom sítio para começar. Trata-se de um projecto não lucrativo que tem já mais de 600 mil membros. Este tipo de viagem requer algumas precauções de segurança. O site integra um siste-ma de classificação dos utilizadores, para tentar evitar problemas – mas avisa que cada um deve tomar cui-dados. J.P.P.

Viajar de bicicletaQuem puder gozar férias longas (é preciso algum tempo para se ir longe numa bicicleta) e não tiver crianças a acompanhar pode considerar a hipó-

tese de fazer turis-mo a pedalar. Não só é uma forma barata de desloca-ção, como faz bem

à saúde. Em Portugal, há vários clubes de cicloturismo que podem ajudar a preparar a viagem (não é possível le-var muita bagagem e convém saber se o esforço físico não é excessivo). Os preços de bicicletas começam nos 150 euros. Convém também comprar malas apropriadas (custam entre 50 e 100 euros) e um capacete (a partir de 20 euros). J.P.P.

Um festivalnão é só músicaO Verão é a época dos festivais de mú-sica. Se é certo que as bandas em pal-

co são o principal chamariz, quem quer que tenha ido a algum sabe que os festivais são

muito mais do que música. Há todo o ambiente festivo, é possível conhecer pessoas novas e acabam por ser umas mini-férias. Para além do bilhete, as despesas podem manter-se controla-das: é possível fazer campismo (uma tenda custa menos de 50 euros) e co-zinhar as refeições no local. Termina-do o festival, há sempre a hipótese de prolongar a estadia na zona, seja a acampar ou numa pousada da ju-ventude (em época alta, consoante o local, o preço de um quarto duplo oscila entre os 22 e os 43 euros por noite). J.P.P.

Cruzeiroslow costPara fazer um cruzeiro já não é obri-gatório ter um grande orçamento. O Easy Group, dono da conhecida com-panhia de voos low cost (baixo custo e baixo serviço) Easy Jet, também ofe-rece cruzeiros baratos através da Easy

Cruise. A varieda-de não é muita: há vários cruzeiros à escolha, mas são todos na zona das

ilhas gregas e Turquia. Os preços, contudo, são apelativos. Um cruzeiro de quatro noites, num quarto duplo de 12 metros quadrados e sem janelas custa 180 euros por pessoa. Tal como

acontece nos aviões, a maioria dos serviços (como, por exemplo, a lim-peza e arrumação do quarto) têm que ser pagos à parte. Mesmo com extras ou em férias mais longas, os preços da Easy Cruise ficam facilmente abai-xo dos mil euros. J.P.P.

Comprarem pacoteÉ verdade que a Internet veio revo-lucionar o sector do turismo e dar um leque bem maior de alternativas a quem deseja ir passar férias no es-trangeiro sem gastar muito dinheiro. As companhias aéreas adaptaram-se ao novo modelo, tal como muitos ho-

téis, e hoje em dia comprar bilhetes online pode ser bem compensa-dor. Mas quando

chega a hora de ir para destinos menos conhecidos, para onde não existem ligações aéreas directas e é necessário conjugar com atenção preços e horários de voos, continua a valer a pena recorrer a um agente de viagens. Mais formatadas ainda, as compras de pacotes turísticos be-neficiam especialmente quem dese-ja pagar menos para conhecer sítios onde a actividade de hotelaria e lazer está ainda a dar os primeiros passos e para onde as alternativas em ter-mos de companhias aéreas são pou-cas ou nenhumas, o que se reflecte sempre em preços mais caros: em África ou na Ásia, por exemplo. Ao

adquirirem grandes quantidades de quartos de hotel e lugares de avião, operadores e agências conseguem descontos que podem ser muito apelativos. E significam certamente menos horas de pesquisa em sites na Internet. I.S.

Alugaruma casa

Muitas vezes, sai mais barato alugar uma casa ou apar-tamento do que ir para um quarto

de hotel ou pensão. Numa casa, é possível cozinhar e poupar dinheiro nas refeições (em famílias numerosas, comer todos os dias em restaurantes pode significar um acréscimo signifi-cativo nas despesas de férias). O siteHomeAway.pt é um bom sítio para procurar casas para alugar: lista ca-sas em vários países do mundo, tanto para famílias como para quem viaja sozinho. Outra vantagem desta opção é o facto de uma casa proporcionar mais espaço e conforto do que muitos hotéis. J.P.P.

Vale a pena recorrerao crédito?O normal é hoje muitas agências de viagens oferecerem o pagamento a

Turistas no Palácio Amber, na Índia

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 5

prestações como uma forma de ad-quirir uma determinada viagem. Mas se não conseguiu poupar dinheiro ao longo do ano para pagar aquelas férias que tanto desejava, então o melhor é ponderar se será ajuizado recorrer agora ao crédito, correndo o risco de mais tarde não ter dinhei-ro para suportar mais aquela dívida, alerta João Fernandes, economista da Deco.

Convém ter em atenção que, mui-tas vezes, o pagamento a prestações (normalmente durante seis meses) é apresentado aos potenciais consu-midores como um custo sem juros, mas se optasse por pagar a pronto teria direito a um desconto de 15 ou 20 por cento. Tem de avaliar com cuidado esse custo acrescido das prestações.

Outro conselho é comparar as pro-postas: por vezes o preço da mesma oferta, até desenhada pelo mesmo

operador turísti-co, varia entre di-ferentes agências de viagens. Desco-brir a mesma via-

gem por menos dinheiro pode ser bem mais vantajoso do que optar desde logo por um empréstimo.

A TAEG (Taxa Anual Efectiva Glo-bal) é a melhor maneira de comparar os custos reais do crédito entre várias agências de viagens ou instituições financeiras, uma vez que inclui todos os custos do processo, incluindo co-missões. E, por norma, as ofertas dos bancos tornam-se vantajosas apenas quando o objectivo é estender o pa-gamento da dívida por mais do que dois anos. I.S.

Informação, flexibilidade e muita paciência são as armas para conquistar o melhor preço numa low cost. Essencial: usar a Net e registar-se nos sites das companhias ou inscrever-se nas newsletters e programas de pontos (muitas campanhas são primeiro anunciadas por mail).Pesquise diferentes hipóteses de rotas (pode poupar-se voando via outra cidade, mas haja cautela com os tempos). Comprar com muita antecedência garante quase sempre bom preço mas, por outro lado, há sempre campanhas de última hora. Contorne períodos nobres (férias, feriados, fins-de-semana): em geral, os dias económicos para voar são entre 2.ª e 4.ª. Fundamental: verifique para que aeroporto é o voo, a distância e custos de ligação à cidade de destino, atenção à bagagem (há suplementos a pagar e peso extra é caro), não falhe o check-in (faça-o online, se possível), confirme outras taxas (de serviço, por pagar com cartão de crédito, etc.). Pode também usar portais de comparação de preços entre voos (p.ex.: www.skyscanner.net ou www.dohop.com). E contraste sempre com os preços das companhias tradicionais: de vez em quando, valem a pena... L.J.S.

A arte de pagar menos pelas passagens aéreasUm óptimo negócio com truques que é preciso conhecer

Preços-exemplo(preço-base, por trajecto)

RyanairPorto-Madrid €10Porto-Paris (Beauvais) €30Faro/Porto-Londres (Stansted) €30

easyJet Lisboa-Madrid €24Lisboa/Porto-Paris (CdG) €33 Faro-Londres (Stansted) €30

VuelingLisboa-Madrid €35Lisboa-Barcelona €40

ClickairLisboa/Porto-Barcelona €30

FugasNo blogue da FUGAS,blogs.publico.pt/fugas são seguidas continuamente as novidades das low costs

PUNIT PARANJPE/REUTERS

Low costAlgumas companhias a seguir

Aer Lingus www.aerlingus.comAir Berlin www.airberlin.comBrussels Airlines www.brusselsairlines.comCentralWings www.centralwings.comeasyJet www.easyjet.comClickair www.clickair.comGermanwings www.germanwings.comMonarch www.monarch.comSkyeurope www.skyeurope.comRyanair www.ryanair.comTransavia www.transavia.comThomsonfly www.thomsonfly.comTUIfly www.tuifly.comVueling www.vueling.com

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Portugal6 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Algumas balas atingiram a cobertura do Pavilhão Arena, em PortimãoPAULO AREZ

Ataque durante jantar socialista no Algarve foi premeditadoSócrates já estava a 20 quilómetros quando alguém disparou sete tiros de calibre proibido. Não havia intenção de matar, mas apenas de intimidar

a A hipótese de atentado está excluí-da pela Polícia Judiciária (PJ) relativa-mente aos disparos que, na noite de sexta-feira, foram efectuados contra a cobertura do Pavilhão Arena, próxi-mo de Portimão. No interior encontra-vam-se algumas centenas de pessoas que haviam participado num jantar do PS-Algarve. O primeiro-ministro, José Sócrates, já havia abandonado o local meia hora antes. Estava a 20 quilómetros, em Albufeira.

Existe, todavia, a ideia de preme-ditação em todo o acto. Quem dis-parou, mesmo sabendo que dificil-mente poderia ferir com gravidade qualquer pessoa, só o fez depois de se certificar que Sócrates já não se encontrava no local e que o dispositi-vo policial, especialmente reforçado para a ocasião, já tinha dispersado quase totalmente. Além disso, os agentes do Corpo de Segurança Pes-soal, especializados neste tipo de si-tuações, tinham seguido viagem com o primeiro-ministro.

No momento em que foram efec-tuados os disparos encontravam-se

fora do pavilhão cerca de duas de-zenas de pessoas. Algumas delas re-feriram que houve duas sequências de tiros. Uma primeira de três balas, disparadas compassadamente, e uma segunda, supostamente de mais qua-tro balas, disparadas muito mais ra-pidamente.

Terão sido disparadas sete balas de calibre 7,65 milímetros. Trata-se de munições de uma arma cuja utiliza-ção está vedada à maior parte da população, só sendo facultada às forças de segurança e militares. Num estacionamento próximo do pavilhão foram encontrados os sete invólucros, estimando os peritos da PJ que se deslocaram ao local que os disparos tenham sido feitos a uma distância um pouco superior a 130 metros.

Um número não especificado de projécteis acabou por atingir a co-bertura do pavilhão. De acordo com alguns peritos em armamento, ne-nhuma bala poderia causar ferimen-tos significativos caso atingisse uma pessoa, uma vez que à distância a que foram feitos os disparos a bala já es-

taria em perda, ou seja, num sentido descendente e sem uma trajectória segura.

Uma pistola de calibre 7,65, como a que foi utilizada, tem um alcance máximo estimado em cerca de 200 metros. Os seus projécteis podem causar ferimentos a uma distância que oscile entre os 85 e os 100 metros. Um tiro certeiro efectuado com uma destas armas não costuma ocorrer a distâncias superiores a 20 metros e, mesmo estes, só são conseguidos por profissionais.

Para além dos inspectores do De-partamento de Portimão da PJ, foram destacados para o local alguns efecti-vos da Direcção Central de Combate ao Banditismo e também do Labora-tório de Polícia Científica. Serão estes últimos que irão agora determinar a trajectória e distância exactos a que foram feitos os disparos. Os testes às balas podem ajudar a perceber se a arma utilizada já terá sido disparada em qualquer crime. Serão igualmente estes peritos que poderão ajudar a es-clarecer quem foi o autor, uma vez que é bem possível que sejam retiradas im-pressões digitais dos invólucros.

A arma que foi disparada é, regra geral, utilizada por polícias. Durante mais de 40 anos, as Walther, mas também as Star, equiparam a PJ, a PSP e a GNR. Actualmente estas forças policiais estão a ser

reequipadas com pistolas mais modernas

e mais eficazes.

A principal escolha é a

Glock, de 9 milímetros. As velhas pistolas de

7,65, que as próprias forças policiais canibalizaram para poderem fazer reparações, podem encontrar-se no mercado negro a preços nunca inferiores a 500 euros.

A arma das políciasJosé Bento Amaro e Idálio Revez

Incidente Primeiro-ministro tinha abandonado local meia hora antes

Ontem só o MAI reagiu

Quem estava dentro do pavilhão não deu por nada

a O ministro da Administração In-terna garantiu ontem que o autor dos disparos contra o Pavilhão Arena, em Portimão, será responsabilizado pe-lo acto. Rui Pereira garantiu que a Polícia Judiciária e a PSP estão a de-senvolver esforços para identificar o responsável, recusando, no entanto, dizer se há ou não testemunhas ocu-lares do ocorrido.

“É uma brincadeira com a qual não podemos compactuar”, adiantou ain-da Rui Pereira, que durante todo o dia de ontem foi o único membro do Go-verno a reagir aos acontecimentos.

“Uma brincadeira de mau gosto” foi como a governadora civil de Faro, que se encontrava presente no jan-tar, classificou os disparos efectua-dos contra o Pavilhão Arena. Isilda Gomes, tal como a maior parte dos convivas, nem sequer ouviu os tiros. De resto, só mesmo o grupo de pes-soas que se encontrava no exterior, a fumar, deu conta do que estava a acontecer.

Se Isilda Gomes considerou que o ocorrido foi uma brincadeira de gosto duvidoso, já o presidente da Câmara Municipal de Portimão, Ma-nuel da Luz, que também estava no local, desvalorizou a ocorrência. Em declarações à agência Lusa, lembrou mesmo que “nos últimos 15 dias têm aparecido sinais e placas de trânsito furadas por tiros, desconhecendo-se os autores”.

A música que tocava no pavilhão terá impedido que os convivas escu-tassem as deflagrações e, em conse-quência, entrassem em pânico. De resto, a maior parte das pessoas só tomou conhecimento do que se pas-sara quando chegaram ao local os pri-meiros inspectores da Judiciária e, novamente, os agentes da PSP, para tentarem encontrar vestígios. Os ins-pectores empoleirados numa escada Magirus, tentando recolher as balas alojadas na cobertura e fotografando o local dos impactos, acabaram por ser uma atracção extra.

Só quem estava na rua parece ter escutado os tiros. Um homem não identificado contou ter apanhado “um grande susto” ao sentir os pro-jécteis embater no telhado do edifí-cio, a cerca de três metros de altura do solo. O mesmo homem contou que após os disparos a reacção imediata de todos os que se encontravam no exterior foi a de se refugiarem dentro do pavilhão.

Ontem, ao longo de todo o dia, o PÚBLICO tentou obter um comentá-rio do gabinete do primeiro-ministro sobre o sucedido. Apesar das inúme-ras tentativas, nenhuma chamada foi atendida. Ficam, para já, sem resposta questões relacionadas com um eventual reforço da segurança privada de José Sócrates e de outros membros do Governo. J.B.A. e I.R.

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8 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Portugal

O Papa recebeu Cavaco com um grande sorriso: Welcome, Mr. PresidentREUTERS

Bento XVI e Cavaco Silva falaram sobre a regulamentação da Concordata e o estado do mundo

Carlos Pessoa

A audiência foi um “encontro importante” e uma “conversa útil” sobre a Europa, África e Timor--Leste. O Papa foi convidado a visitar Portugal

a Os progressos na regulamentação da Concordata entre Portugal e a San-ta Sé foram um dos temas da audiên-cia privada que Bento XVI concedeu ontem no Vaticano ao Presidente da República.

“Existe uma comissão paritária que está neste momento a trabalhar com resultados positivos e Portugal irá respeitar totalmente a letra e o espírito da Concordata”, disse Ca-vaco Silva.

O chefe de Estado adiantou que “já há propostas no que diz respeito à ac-ção da Igreja nas prisões, nos estabe-lecimentos militares e nos hospitais”. Essas ideias, acrescentou, foram mui-to bem acolhidas pela Santa Sé.

Foi “um encontro importante” e “uma conversa útil”, concluiu o Presidente da República depois da audiência, durante uma reunião com os media na Embaixada de Portugal, em Roma. “Para mim, como católi-co e chefe de Estado de uma nação que tem uma forte tradição católica, é sempre um acto de alguma emoção, mas eu trazia uma agenda bem defi-nida para as conversas com o Santo Padre e com o secretário de Estado, o cardeal Bertoni”, confessou.

Além das relações bilaterais, Ben-to XVI e Cavaco Silva abordaram os temas da União Europeia e o Tratado de Lisboa, África e Timor-Leste.

O Presidente da República comen-tou ao Papa que a Europa vive um momento “difícil” em consequência

do resultado do referendo na Irlan-da. “Sabemos a influência da Igreja Católica na Irlanda, que apoiou o referendo, no sentido do voto pelo sim, mas talvez tenha sido um pouco tarde”, disse.

Sobre África, que tem sido um dos temas preferidos de Bento XVI, Ca-vaco Silva lembrou que Portugal tem uma relação “muito especial” com aquele continente.

“Como é óbvio, falámos sobre os países de língua oficial portuguesa que são exemplos positivos em com-paração com a situação trágica que se vive no Zimbabwe e que a comunida-de internacional não pode ignorar”, disse o chefe de Estado.

Os casos de Moçambique — “um bom exemplo do funcionamento das instituições democráticas, tal

como Cabo Verde” — e Timor-Leste estiveram também na agenda da au-diência. Relativamente a este último país, Cavaco Silva disse ter sensibili-zado o Papa Bento XVI para o facto de a Igreja católica constituir “uma referência decisiva” na identidade cultural do país: “As instituições são ainda frágeis em Timor e a voz dos bispos é talvez uma voz mais forte do que a dos líderes dos partidos políti-cos”, frisou.

Cavaco Silva expressou a sua sa-tisfação por constatar “que o Santo Padre estava bem informado sobre as questões de política internacional abordadas durante as conversações”. O Presidente da República aproveitou a ocasião para dizer a Bento XVI que “seria uma grande honra” acolher o Papa em Portugal. Com Lusa

A audiência teve lugar na biblioteca privada do Papa e durou cerca de 20 minutos. Bento XVI recebeu Cavaco Silva na Sala do Trono Pequeno, antecâmara da biblioteca decorada com gravuras de Rafael, com um “Welcome, Mr. President” e um grande sorriso. Seguiu-se uma conversa a sós. Depois houve uma rápida troca de presentes entre o Presidente português e o Sumo Pontífice. Cavaco Silva ofereceu uma reprodução da Bula papal que reconheceu a independência de Portugal, assinada em 1179. Durante a entrega do presente português, Aníbal e Maria Cavaco Silva explicaram ao Papa que aquela Bula — que reconheceu a

independência de Portugal e D. Afonso Henriques como rei — é “o documento mais importante” da Nação. Bento XVI, por sua vez, ofereceu ao Presidente uma medalha comemorativa do Pontificado em ouro que habitualmente oferece aos chefes de Estado que o visitam e a Maria Cavaco Silva um rosário em madrepérola.

Audiência privada durou 20 minutosBula papal trocada por medalhão e rosário

PSD-Madeira promete “lealdade” a Ferreira Leite

Tolentino de Nóbrega

a O conselho regional do PSD na Ma-deira comprometeu-se ontem a de-senvolver “uma relação de lealdade, colaboração e amizade” com Manuela Ferreira Leite, numa posição que está nos antípodas das duras críticas que o seu presidente, Alberto João Jardim, ainda recentemente lhe fez, pondo em causa a legitimidade da nova líder do partido por não ter obtido 50 por cen-to dos votos nas eleições directas de 31 de Maio.

Nas conclusões do conselho regio-nal, o PSD-Madeira manifesta ainda a Ferreira Leite “apoio em tudo o que conduza à mudança do sistema polí-tico-constitucional, à substituição do actual Governo socialista e à defesa e desenvolvimento dos direitos do povo madeirense”.

Única candidata que não se deslo-cou à Madeira durante a campanha para as eleições internas do PSD, Ma-nuela Ferreira Leite foi muito criticada por Jardim pelo seu posicionamento em relação às finanças regionais, no-meadamente por, como ministra no Governo de Durão Barroso, ter im-posto o endividamento zero às regi-ões autónomas e municípios. Jardim acabaria por apoiar Santana Lopes, vencedor das eleições na Madeira por uma larga maioria de 60 por cento dos votos. Ferreira Leite ficou-se pelo ter-ceiro lugar na região autónoma, com uns modestos 7,6 por cento.

“Não deitarei a toalha ao chão so-bretudo se a senhora [Ferreira Leite] for eleita líder do partido e eu verificar que não tem condições para derrotar o engenheiro Sócrates”, disse Jardim na campanha para as directas.

Além do apoio a Ferreira Leite, o conselho regional do PSD reiterou as habituais críticas ao Governo de José Sócrates, agora pelo “liberalismo sel-

vagem” das novas leis laborais. O go-verno socialista, acusa o PSD-Madeira, “é forte com os mais fracos, como o povo madeirense, mas é incapaz de enfrentar [...] os grupos de pressão económica” que “destroem o Estado democrático”.

E anunciou que a próxima festa do Chão da Lagoa, a 27 de Julho — para a qual Manuela Ferreira Leite não foi convidada — “será um grande momen-to de afirmação da identidade, da re-sistência e do prosseguir histórico do povo madeirense”.

O presidente do Governo Regional da Madeira parte hoje para uma visita oficial de nove dias à Venezuela, onde será recebido por Hugo Chavéz e com a promessa de transmitir aos emigrantes madeirenses ali radicados as suas queixas contra o Governo da República. Depois de ter apelado em vão, durante a recente visita do primeiro--ministro a Caracas, a que os madeirenses na Venezuela se insurgissem contra o “cerco” de Lisboa, Jardim promete agora, pessoalmente, dar conhecimento das medidas do Governo da República “contra a Madeira”, na visita que fará até 7 de Julho.

Jardim na Venezuela

PS ainda não decidiu se vai sancionar Narciso Miranda

Sofia Branco

a O porta-voz do PS, Vitalino Canas, reafirmou ontem que os socialistas vão apoiar a recandidatura do actual presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, escusando-se a avançar se Narciso Miranda, militante do partido que anunciou que irá can-didatar-se como independente, será objecto de sanções disciplinares.

Ao PÚBLICO, Vitalino Canas li-mitou-se a dizer que “há separação de poderes” dentro do PS e que “as regras dos estatutos do partido são aplicadas pela comissão nacional de jurisdição”. “Não posso dizer como vão ser aplicadas [no caso de Narciso

Miranda]”, disse. “Só posso dizer que vamos candidatar o actual presiden-te da câmara, que tem feito um bom trabalho”, acrescentou.

Narciso Miranda, que foi presiden-te da Câmara de Matosinhos durante quase 30 anos, anunciou anteontem que vai candidatar-se como indepen-dente nas autárquicas de 2009. “Vou ser candidato por Matosinhos, que perdeu voz, afirmação, credibilida-de, não tem liderança”, disse num jantar com militantes de base do PS de Matosinhos.

E, sublinhando que a sua decisão “é irreversível” e que é um “socialista convicto”, acusou o “aparelho do PS” de maltratar Matosinhos. “O aparelho do PS tratou-me mal”, vincou ainda, em declarações à Lusa.

Após confrontos entre facções ri-vais do PS de Matosinhos na lota da cidade na campanha para as euro-peias de 2004, que ficaram marcados pela morte de Sousa Franco, Narciso retirou-se da vida política activa.

Afirmando--se “socialista convicto”, Narciso Miranda acusa o PS de o ter tratado mal e de ter maltratado Matosinhos

O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Miguel Moratinos, garantiu ontem que a Força Aérea espanhola vai “evitar totalmente” os voos de treino sobre as Ilhas Selvagens, na Madeira. Estes voos têm levado Portugal a apresentar protestos por violação da soberania

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 9

Jorge Lacão: “Há muita gente com medo da liberdade da mulher”

a O secretário de Estado da Presi-dência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão, defendeu ontem que “há muita gente com medo da liber-dade da mulher” e por isso se criam estereótipos sobre o que é o femi-nismo, ao intervir na sessão de en-cerramento do Congresso Feminista, em Lisboa.

Dando a cara em nome do Gover-no, quando o seu nome não estava anunciado e tendo a ouvi-lo, num an-fiteatro da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa cheio, apenas dois políti-cos — o líder e a deputada do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã e He-lena Pinto —, Jorge Lacão serviu-se do exemplo de uma comentadora, cujo nome não referiu, que tinha ouvido dizer à hora do almoço na RTP1 que não era feminista pois “não partilha ideais dogmáticos”, para alertar para os riscos que ainda existem na so-ciedade portuguesa sobre qual deve ser o papel da mulher e o papel do homem na sociedade.

Assumindo que ali estava “por representação, mas também por convicção”, Lacão fez uma breve incursão na história para referir a posição ideológica do Estado Novo sobre a posição e o papel da mulher — citou mesmo o ditado “lá em casa manda ela mas nela mando eu” — e frisou que ainda há um “extracto cul-tural” do Estado Novo que perdura em Portugal.

Jorge Lacão salientou que “a igual-dade é sempre relacional” e subli-nhou que é preciso saber como se constroem novo papéis sociais, “nu-ma perspectiva de igualdade de direi-tos”. Isto para garantir que a meta é conseguir respeitar “o direito cons-titucional à personalidade” e con-

seguir que cada um possa “assumir livremente o desenvolvimento da sua personalidade”.

Explicitou que esse direito à per-sonalidade inclui “o género femini-no, o género masculino e a liberda-de sexual de cada um”. E concluiu dizendo: “Estamos aqui dando um testemunho de convicção. Se é vis-to por outros como dogmatismo, do nosso lado está o espírito da razão e é do lado da razão que devemos continuar”.

Além de Jorge Lacão, a sessão de encerramento contou com inter-venções de Maria Xosé Romero, da Universidade de Santiago de Com-postela, que falou de feminismo en-quanto cidadania e sobre as mulhe-res do mal, guerrilheiras, soldados e terroristas, de Miriam Pilar Grossi, presidente da sociedade de Antro-pologia do Brasil e membro do Con-selho Editorial da Revista de Estudos Feministas, Teresa Pinto, presidente da Associação Portuguesa de Estu-dos sobre Mulheres, Clarisse Canha e Salomé Coelho, da União Mulheres Alternativa e Resposta, e de Fátima Grácio, presidente da Fundação Cui-dar o Futuro.

Fátima Grácio evocou Maria de Lourdes Pintasilgo, fundadora da Cuidar o Futuro, para lembrar a sua militância feminista e deixar às femi-nistas e aos feministas que participa-ram no congresso um apelo: “Nunca desistamos!”.

São José Almeida

Secretário de Estado assume no fecho do Congresso Feminista que ainda perdura em Portugal um “extracto cultural” do Estado Novo

Painel sobre direitos reprodutivos

Nos Açores, apenas no Faial as mulheres podem abortar

a Ana Campos, médica da Mater-nidade Alfredo da Costa, garantiu ontem, no painel sobre Sexualidade e Direitos Reprodutivos do Congres-so Feminista, que os hospitais dos Açores — ou quaisquer outros que não possam praticar abortos legais porque o pleno dos seus médicos é objector de consciência — têm de as-segurar que as mulheres em causa interrompam a sua gravidez noutro local, seja “no continente ou na Clí-nica dos Arcos [unidade privada de

saúde autorizada a praticar a IVG]”.Este esclarecimento sobre o cum-

primento da lei em vigor foi prestado de forma categórica e peremptória por Ana Campos, depois de uma das intervenientes no debate que se seguiu à exposição de interven-ções sobre o tema em discussão ter denunciado a realidade da situação açoriana. E garantiu que, nos Açores, apenas no Faial as mulheres podem abortar, porque nas outras ilhas não têm onde.

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Lacão representou o Governo

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Portugal10 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Entrevista Jerónimo de Sousa ao Diga Lá Excelência do PÚBLICO, RR e RTP2

Código do Trabalho é um “rasgar da Constituição” O líder do PCP considera que as novas regras são inconstitucionais e diz que a flexibilidade de horários vai reduzir salários reais

Leonete Botelho (PÚBLICO) e Raquel Abecassis (RR)

a Para o secretário-geral do PCP, a proposta do Código do Trabalho não serve nem os trabalhadores nem as pequenas e médias empresas, apenas as grandes, em nada ajudando ao desenvolvimento da economia.Esta semana, o Governo conseguiu o acordo dos parceiros sociais, com excepção da CGTP, para a alteração do Código do Trabalho. Não acha que a flexibilização de horários ali proposta pode ser uma medida para dinamizar a economia?Isso é uma visão benigna do que está em causa. Mas por que carga de água é que têm de ser sempre os trabalhadores a pagar a factura, quando sabemos que a competitividade das empresas não passa hoje tanto pelo factor trabalho? Uma empresa na fronteira com Espanha pode até escravizar os trabalhadores que nunca será tão competitiva quanto outra espanhola. Mas em relação à matéria de facto, é inadmissível que num século de tremendos avanços civilizacionais se proponha que um trabalhador trabalhe 12 horas por dia, pagas a

singelo porque, obviamente, são cortadas as horas extraordinárias. E ainda fique com a vida totalmente desarranjada porque não sabem a que horas entram, a que horas saem... Mas à flexibilidade das propostas o PCP responde com uma inflexibilidade total. Não teme estar a impedir a adaptação das empresas às novas realidades?Estas medidas não são feitas para as pequenas e médias empresas que estão aflitas. São para as grandes distribuidoras, para as grandes empresas que visam a gestão e organização do tempo de trabalho com o patrão a ser juiz em causa própria. O trabalhador não conta. O que se está a fazer

é generalizar uma situação, que devia ser excepcional e negociada com os trabalhadores, a todas as empresas e trabalhadores, independentemente da sua situação económica...Mas com regras.Regras? Quem decide sempre é a entidade patronal. E não se pode subestimar o princípio do tratamento mais favorável previsto na Constituição da República Portuguesa – eu fui constituinte e lembro-me que, quando se tratou do dilema do confronto entre os interesses do poder económico e os interesses dos trabalhadores, os constituintes, incluindo os do PS, fizeram uma opção de fundo e puseram estes à frente daqueles. E os direitos dos trabalhadores integram os limites materiais de revisão da própria Constituição, ou seja, não podem ser liquidados numa revisão constitucional.Acha que este Código do Trabalho está votado à inconstitucionalidade?Particularmente em relação à contratação colectiva, na medida em que não foi mantido o princípio do tratamento mais favorável. O argumento do ministro do Trabalho foi lapidar, ao dizer que é uma questão de equidade. Mas equidade como? Alguém acredita que uma trabalhadora de uma caixa de supermercado tenha a mesma capacidade negocial que Belmiro de Azevedo? Estamos a tratar por igual aquilo que é profundamente diferente. É evidente que isto é um rasgar da Constituição da República. Para além da redução dos prazos da contratação colectiva...Não acha que os longos prazos dos contratos colectivos acabam por aumentar a precariedade, porque os empregadores não querem colocar mais trabalhadores debaixo desses contratos?Isso é uma coisa tremenda, é um retrocesso de décadas. Eu era sindicalista antes do 25 de Abril, sabia bem as dificuldades de negociar um contrato colectivo. Mesmo assim persistíamos. Os metalúrgicos ainda têm um contrato colectivo que foi aprovado antes do 25 de Abril. E o que está a dizer é que, se os patrões agora

não quiserem negociar mais com o sindicato dos metalúrgicos aquele contrato colectivo, os contratos caducam ao fim de 18 meses e começa-se tudo a partir da estaca zero.A verdade é que se alcançou um acordo na concertação social sobre o Código do Trabalho e mais uma vez sem a CGTP. Não acha que há um ganho para os trabalhadores em ter desaparecido da proposta

do Governo a facilidade dos despedimentos por inadaptação, um ganho conseguido pela UGT?[Sorrisos] Isto não dá a cara com a careta. A mesma UGT que assinou de cruz o despedimento por inaptidão na administração pública é a mesma que vem dizer que foi uma campeã na luta por que aquilo caísse. Afinal, de que UGT estamos a falar?Ou de que despedimento por inadaptação estamos a falar...Está lá, nas leis da administração púbica, com a assinatura de cruz da UGT. Não quero fazer de advogado de acusação da UGT, teve a posição do costume. Estes sucessivos governos, com os sucessivos pacotes laborais, geralmente apresentam uma proposta draconiana para depois conseguir muito, tirando uma ou outra coisa que pode ter mais ou menos valor, para conseguir o essencial. Faz-me lembrar aquele automobilista que atropela alguém com responsabilidade, chega ao pé dele e diz-lhe: “Você teve muita sorte, podia ter morrido e só partiu as duas pernas...” A verdade é que os trabalhadores vão ser prejudicados em relação ao tempo de trabalho, à contratação colectiva, aos seus salários, mas tenham paciência, podia ser muito pior. Isto não é argumento. A verdade é que a CGTP, recusando-se a abdicar fosse do que fosse, não tem nenhuma conquista para mostrar. Acha que é no Parlamento, com a sua

“Nós dizemos no nosso partido que,quando se luta, nemsempre se ganha, mas quando não se luta perde-se sempre”

proposta alternativa de código laboral, que o PCP pode obter algum ganho?Propostas algumas inspiradas nas anteriores do PS. A CGTP teve uma posição responsável, apresentou propostas que não foram aceites. Houve uma instrumentalização da concertação social e não foi por parte da CGTP, porque o senhor ministro do Trabalho garantiu que, independentemente do processo negocial, havia questões inegociáveis. Que negociação é esta? É condicionada. Nós dizemos no nosso partido que, quando se luta, nem sempre se ganha, mas quando não se luta perde-se sempre.Se o ministro do Trabalho colocou essas condições de início, porque é que a CGTP se manteve na negociação até ao último dia?Nós não nos importávamos nada de deixar de ter razão na crítica ao Governo PS se ele conseguisse ter posição do lado de quem trabalha, dos mais fragilizados. Mas deixe-me lembrar-vos um episódio que a CGTP assinou: a proposta de aumentos intercalares do salário mínimo nacional [SMN]. A primeira reacção do primeiro-ministro foi chamar-lhe ilusória e demagógica. Passado pouco tempo, é o próprio Governo que avança com um aumento do SMN que obteve o acordo da CGTP. O que interessa não são os acordos ou a falta deles, mas os seus conteúdos concretos.

“Não nos importávamos de deixar de ter razão na crítica ao Governo se ele tivesse posição do lado de quem trabalha”

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 11

PEDRO ELIAS

Nem todos os protestos de rua são do partido

‘Onde há causas justas, lá está um comunista’a O líder do PCP considera um exagero a acusação do Governo de que o partido está na génese de todas as manifestações de rua. O PCP está satisfeito com a actuação da CGTP na concertação social? Criou uma regra de limite de idade que impede a recandidatura do actual secretário-geral...Isso não foi dirigido a Carvalho da Silva. Há-de reparar que não temos um sindicalismo profissional, temos um sindicalismo militante em que os sindicatos representam os trabalhadores por conta de outrem, e estes têm um limite de idade, os 65 anos, para a reforma. Pensamos que faz sentido, num quadro de renovação e rejuvenescimento, esta norma decidida na CGTP por comunistas, católicos, independentes que a integram. Não foi o comité central do PCP.E o PCP olha para os sindicatos como uma grande forma de afirmação na sociedade...Naturalmente, agrada-nos muito que os trabalhadores nos escolham para seus representantes. Muitos camaradas meus destacam-se no exercício da actividade sindical. Isto tem a ver com a nossa história. Mas insisto: é o resultado de uma vontade livre dos trabalhadores e isso aumenta-nos a

responsabilidade. E a CGTP, na sua composição, é uma das obras mais realizadoras do movimento sindical em Portugal.O Governo acusa sistematicamente os comunistas de estarem por trás das manifestações de rua. É um elogio ou uma injúria?É um exagero. Deixe-me contar uma história. Antes do 25 de Abril, não eram só os comunistas que lutavam contra o regime. Mas o regime considerava-os a todos como comunistas. Muitos foram presos, alguns socialistas, por isso. E agora os socialistas olham dessa forma para quem está na rua?

Não, mas é um exemplo comparativo. É uma carga profundamente negativa, aparentemente lisonjeira para o PCP. De facto, é muito difícil haver uma luta justa onde não esteja um comunista, mas que pena é que não esteja lá o Partido Socialista. Embora haja muitos socialistas a lutarem lado a lado com os comunistas...Há uma orientação para que os comunistas estejam também nos movimentos cívicos que protestam na rua, como o MUSP [Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos]?Nós, comunistas, consideramos que a democracia não é apenas representativa, também tem uma componente participativa. Se um centro de saúde está em causa, se há a ameaça de encerramento de uma escola, naturalmente que os comunistas dessas regiões percebem a injustiça e não é preciso uma orientação do partido. Onde houver uma causa justa, lá está um comunista. As pessoas sabem que está ali um comunista com eles, na direcção de um movimento, e sentem-se bem com isso. Às vezes ainda prevalece o preconceito, mas isso está cada vez mais esbatido.

CGTP tem “sindicalismo

“Não nos peçam para fazer entendimentos, acordos ou negociar mordomias ou lugares sem uma ruptura com esta política que está a ser seguida.” Esta a resposta de Jerónimo de Sousa quanto a uma eventual coligação pós-eleitoral com o PS, caso este não renove a maioria absoluta no Parlamento. Para o líder do PCP, a questão não se coloca na possibilidade de haver uma plataforma de esquerda, com ou sem BE, mas se “é possível ou não uma nova política”.

Em relação às autarquias, a questão é a mesma. Em Lisboa, por exemplo, Jerónimo frisa que a coligação com o PS se gorou porque os socialistas se recusaram a discutir um programa concreto. “Nós assumimos todas as responsabilidades que o povo nos der, mas para cumprir o nosso programa, e não as ideias de outros”, sublinha.

Já sobre a hipótese de um novo bloco central, o dirigente comunista só vislumbra entendimentos informais entre PS e PSD em caso de estado de necessidade dos socialistas. “Oque sobrou do Congresso do PSDfoi uma ausência, um vazio de políticas alternativas. O drama do PSD é que o PS ocupou o seu espaço.” E recorda o último conclave social-democrata, que consagrou Luís Filipe Menezes, quando se apelou a que se deixasse o PS governar.

“Não” às coligações Revisão das leis laborais leva milhares às ruas do país inteiro

a Há percussionistas ritmados junto ao Teatro Nacional São João (Porto). Trabalhadores mais ou menos indig-nados que se instalam debaixo de qualquer sombra. Até já não haver mais sombras livres. Às 15h40, os per-cussionistas ritmados arrancam. Atrás deles, nove pessoas a segurar a faixa: “Acção Geral de Protesto e Luta”.

Aquela faixa tentava resumir tudo. Mencionava, em letras mais peque-nas, “a revisão para pior das leis la-borais”, a “carestia de vida”, o misto de “pensões e salários baixos”. Um ponto atrás, ao lado da carrinha verde da CGTP-IN, um homem de camiso-la cor-de-rosa gritava: “Custo de vida aumenta.” E quem marchava atrás de-le respondia em coro: “O povo não aguenta.” Eram bem mais de mil. E foi sempre assim, Rua de Santa Cata-rina adentro, Rua Fernandes Tomás abaixo, até à Praça da Liberdade. O homem de camisola cor-de-rosa, boné vermelho, instigava: “Justiça social.” E quem marchava atrás respondia: “Faz falta a Portugal.” E ele tornava: “Sim à negociação.” E quem marcha-va atrás: “Não à imposição.”

Na quarta-feira de manhã, reuniu-se a Comissão Permanente da Con-certação Social. Antes do início dos trabalhos, o secretário-geral da CG-TP, Carvalho da Silva, pediu a palavra, classificou o processo negocial de “en-cenação” e abandonou a sala. Os tra-balhos prosseguiram. Governo, UGT e associações patronais chegaram a um acordo de revisão do Código do Trabalho. Agora, dirigentes da CGTP, como o incansável Albano Ribeiro, acusavam a UGT de “traição”.

“Não faltam razões de descontenta-mento”, discursou João Torres, coor-denador da União dos Sindicatos do Porto (USP). “A proposta de revisão

do Código do Trabalho que o Gover-no preparou com os patrões significa um profundo retrocesso social. Por isso, em 21 cidades do país, os traba-lhadores e a população estão na rua a protestar e a exigir uma mudança de rumo”.

A maior manifestação arrancou do Rossio, em Lisboa. Seriam umas 30 mil pessoas. Entre elas, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva. “A proposta que irá surgir na Assembleia da República é um calha-maço enorme de centenas de páginas onde vão fundir 1200 artigos”, referiu Carvalho da Silva. “Querer discutir isto em período de férias e, ainda por cima, reduzir o período de discussão” é “uma chantagem, uma atitude inad-missível”.

Portalegre foi a primeira cidade a revelar o seu descontentamento: a meio da manhã, cerca de uma cen-tena de pessoas a protestar. Quase à mesma hora, Évora. Margarida Mon-teiro, de 69 anos, não se esqueceu do boné branco e vermelho. “O chapéu não podia ficar em casa.” O sol era já abrasador quando cerca de 400 pessoas se concentraram na Praça do Giraldo.

A empregada no sector vidreiro da Marinha Grande Etelvina Rosa dispen-sava uma tarde de praia e juntava-se às 200 pessoas que se manifestaram em Faro: “Estou de férias no Algarve, mas vim porque tudo o que este Go-verno tem feito é tão mau que todos somos poucos para dizer não a esta política.”

Quem abria o desfile em Coimbra era o Sindicato dos Médicos da Zona Centro/FNAM. Os clínicos vestiam T-shirts amarelas e pretas com os dizeres: “Em defesa de um SNS de qualidade”. De modo ordenado des-filavam umas 500 pessoas, segundo a PSP, 600 a 700, segundo a União dos Sindicatos de Coimbra (USC/CGTP-IN). No distrito da Guarda, juntou-se uma centena. Entre eles, trabalhado-res da Delphi. Em Vila Real, o protes-to foi quase silencioso. Só mesmo os cartazes demonstravam a convicção das duas dezenas de manifestantes. Com Lusa

Ana Cristina Pereira

Protesto foi convocado pela CGTP em 21 cidades. Lisboa mobilizou a maior parte dos manifestantes, uns 30 mil. Porto não terá chegado aos dois mil

O sol tórrido não demoveu os manifestantes no Porto

NELSON GARRIDO

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12 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Portugal

Ministério considera “ideia interessante” ensinar história das religiões na escola pública

António Marujo

a O Ministério da Educação conside-ra a possibilidade de uma disciplina de história comparada das religiões uma “ideia interessante”. A ideia foi avançada segunda e terça-feira no co-lóquio internacional sobre as religiões e a paz, promovido pela Comissão da Liberdade Religiosa (CLR).

No final do colóquio, o presidente da CLR, Mário Soares, disse que a co-missão irá estudar o assunto e apre-sentar uma proposta ao Governo. De acordo com o assessor da ministra da Educação, Maria de Lourdes Rodri-gues, não chegou ainda àquele gabine-te nenhuma proposta nesse sentido, mas o ministério “considera a ideia interessante”.

Na abertura da iniciativa da CLR,

Proposta foi feita à Comissão da Liberdade Religiosa pelo patriarca de Lisboa e pela maçonaria

Mário Soares já se mostrou favorável à nova disciplina nas escolas

o cardeal-patriarca, D. José Policar-po, propôs que a comissão estudasse aquela possibilidade, considerando que há ainda um longo caminho a per-correr no sentido do conhecimento mútuo entre religiões.

No último debate do colóquio, so-bre a laicidade, já na terça-feira, o grão-mestre do Grande Oriente Lu-sitano, António Reis, apontara como “escandalosa” a ignorância que existe em Portugal em matéria de religião. E propôs que uma disciplina dessas fos-se ensinada na escola pública. A ideia já tinha sido defendida pelo director da Faculdade de Teologia da Universi-dade Católica, Peter Stilwell. Também Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, defendeu a mesma opinião no livro Religião: Opressão ou Libertação? e em textos de opinião. E Faranaz Kesha-vjee, colunista do PÚBLICO, advogou num artigo a mesma ideia.

Ao encerrar o colóquio, Mário Soa-res retomou a ideia do patriarca e de António Reis — que durante os dois dias foi sublinhada por vários parti-

cipantes: “Apesar de Portugal ser um país de maioria católica, há uma enor-me ignorância dos portugueses em re-lação às questões religiosas, incluindo da própria religião católica”, afirmou o antigo Presidente da República. A

eventual disciplina de história das reli-giões seria “um contributo importante para o multiculturalismo” e daí que Soares tenha assumido o compromis-so de estudar o assunto na CLR para propor alguma decisão ao Governo.

DR

Sócrates quer operações em quatro meses

a O primeiro-ministro disse ontem que o programa do Governo para com-bater as listas de espera em oftalmolo-gia visa colocar Portugal ao nível das boas práticas internacionais, reduzin-do para quase quatro meses a espera por uma operação às cataratas.

José Sócrates falava em Beja no final de uma visita ao Centro Hospitalar do Baixo Alentejo, onde lançou o Progra-ma de Intervenção em Oftalmologia (PIO) para resolver as listas de espera em Oftalmologia. Através do PIO, o Mi-nistério da Saúde vai gastar 28 milhões de euros para contratualizar com hos-pitais públicos 75 mil primeiras con-sultas e 30 mil cirurgias em produção adicional, que serão realizadas entre a próxima terça-feira e 30 de Junho de 2009.

Em Portugal, cerca de 110 mil pes-soas aguardam por uma primeira consulta de oftalmologia, quase um terço das quais se estima que venha a necessitar de uma cirurgia. O Ministé-rio estima ainda que sejam muitos os doentes em espera há mais de um ano por uma primeira consulta.

O CDS-PP vai requerer a presença do ministro da Justiça no Parlamento para analisar as condições de segurança nos tribunais, com o deputado Nuno Melo a considerar que o caso das agressões a magistrados em Santa Maria da Feira “não deve ser desvalorizado”

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Page 13: Público – 6664 – 29.06.2008

PortugalPúblico • Domingo 29 Junho 2008 • 13

DR

Há 32 processos disciplinares abertos por se fumar no local de trabalho

Cinco trabalhadores despedidos por causa da Lei do Tabaco

Catarina Gomes

Processos disciplinares abertos nas empresas contra fumadores duplicaram no último mês. Nova lei faz seis meses na próxima terça-feira

a Os cinco trabalhadores alvo de pro-cessos trabalhavam em fábricas de vi-dro, sanitários e cartonagem, numa serralharia e num estabelecimento comercial do sector têxtil. Todos têm pouca formação e foram despedidos com justa causa por terem fumado no local de trabalho, informa o advo-

gado que acompanha estes casos na Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas (ANPME), Vieira de Carvalho. Os processos disciplinares abertos contra fumadores duplicaram no espaço de um mês.

No final de Maio, a associação deu conta da existência de 12 processos dis-ciplinares que visavam despedimentos por justa causa tendo em conta que-bras de produtividade acentuadas. Quase um mês depois, os casos mais do que duplicaram, diz ao PÚBLICO o presidente da ANPME, Augusto Mo-rais: “São 32 e estão a crescer”.

O responsável afirma que o princi-pal motivo para estes despedimentos “são as dificuldades financeiras que

as empresas estão a atravessar e a ne-cessidade de aliviar custos”, sendo a Lei do Tabaco usada “como pretexto para despedir pessoas de quem não gostam”. “Estamos do lado da pro-dutividade, mas há situações de bra-dar aos céus”, diz Augusto Morais. O dirigente fala “de despedimentos sumários” em pequenas empresas, que, como são por justa causa, não dão ao trabalhador direito a subsídio de desemprego.

Desde 1 de Janeiro que a proibição de fumar nos locais de trabalho é to-tal. A excepção pode acontecer caso o empregador opte por criar áreas de fumo, “separadas fisicamente ou com dispositivo de ventilação”. São poucos os que o fazem porque isso é entendido como “um convite à não- produtividade, implica investimento e não é visto como pedagógico”, co-menta o advogado Vieira de Carvalho. Os trabalhadores despedidos ou iam à casa de banho fumar ou saíam dos edifícios das empresas para o fazer. Os empregadores alegaram como mo-tivo para os despedimentos a perda de tempo de trabalho e a infracção da proibição de fumar.

Casos vão multiplicar-seAs situações acontecem com traba-lhadores do quadro em pequenas e médias empresas onde é raro o trabalhador sindicalizado, explica o causídico. Nenhum dos cinco traba-lhadores despedidos vai recorrer da decisão, até porque Vieira de Carva-lho duvida que lhes fosse dada razão; um deles vai emigrar para a Suíça.

O advogado da ANPME acredita que à medida que as empresas to-mem conhecimento destas situações vai haver “um efeito de imitação” e os processos disciplinares vão mul-tiplicar-se. Ironicamente, diz que no país “só podem fumar o presidente da ASAE e o primeiro-ministro, a eles não lhes acontece nada”. E considera “a lei demasiado restritiva”.

Sem se pronunciar sobre os casos dos cinco trabalhadores despedidos, João Leal Amado, professor de Direito de Trabalho na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, nota que, apesar da proibição total de fumar no local de trabalho, isso não implica que uma infracção seja causa legítima para despedimento. Têm que estar reunidas várias condições para que seja usada a mais grave das sanções: a conduta tem que ser repetida, o empregador tem depois de advertir o trabalhador de que está a infringir e a desobediência tem que ser reiterada. “Tem que se provar que o empregador agiu de boa-fé e que o trabalhador foi avisado.” O especialista sublinha que não se pode pensar que “basta que o trabalhador seja apanhado a fumar para que possa ser despedido”, uma vez que “a lei não pode ser usada como

pretexto”. Quando assim é, o despedimento pode ser considerado “desproporcionado” e, em tribunal, pode ser dada razão ao trabalhador. Só em situações-limite se justifica o despedimento — por exemplo, quando o acto de fumar põe em causa a segurança dos outros trabalhadores.Também Joana Vicente, docente de Direito do Trabalho na mesma instituição, reconhece que, num quadro de proibição total, fumar pode dar azo a uma infracção disciplinar, mas lembra que o despedimento por justa causa é a mais grave de seis sanções aplicáveis, que vão desde a repreensão à suspensão. Para o despedimento acontecer, tem de haver “comportamento grave e culposo” e, nos casos em que o patrão não adverte o trabalhador da sua infracção, isso pode implicar consentimento tácito.

Infracção tem que ser reiterada e empregador tem de avisar

A agenda completa para não ficar em casa lazer.publico.pt

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Page 14: Público – 6664 – 29.06.2008

14 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Portugal

Q.B.

Marcha LGBT Orientação sexual não é um tema “fracturante”

“Fracturante é a discriminação.” Esta foi a palavra de ordem do manifesto da marcha anual do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros (LGBT), que ontem reuniu em Lisboa cerca de mil activistas e apoiantes.A defesa dos direitos humanos e da cidadania plena levou a organização da marcha a, pela primeira vez, convidar associações extra-LGBT a desfilarem com o movimento. Associação para o Planeamento da Família (APF), Médicos pela Escolha e SOS Racismo (também a União de Mulheres

Alternativa e Resposta esteve presente, mas já não era estreante) juntaram-se à marcha para mostrar que “a causa” do movimento LGBT “não é de alguns” e “poder contribuir para que aquela não seja invisível”, disse ao PÚBLICO Sónia Lopes, da APF.O fato e gravata, num dia de calor tórrido, tornavam impossível ignorar a presença de Manuel. “Estou aqui em representação dos engravatados do país que não têm coragem para se assumir e dos políticos que não saem do armário”, revelou, enquanto em redor muitos filhos seguiam

na marcha às cavalitas dos pais e das mães homossexuais. “Queremos uma sociedade que reconheça a diversidade de modelos familiares com iguais oportunidades perante a lei”, apelaram os manifestantes, insistindo no acesso dos homossexuais ao casamento civil, à adopção e à procriação medicamente assistida. “Porque as nossas famílias já existem”, notaram.Mais à frente, Montse, de férias, parou com o marido para ver a marcha passar, comentando que em Madrid “costuma levar muito mais gente” e que Espanha ainda

precisa de “mais mudanças”.Mas a organização da marcha não se fez sem alguma controvérsia. A adesão ao desfile do recente grupo Poliamor – que defende o direito a formas diversificadas de relacionamento, incluindo as não monogâmicas, desde que assentes no respeito e na sinceridade – não foi bem acolhida por todos, revelando algum conservadorismo de um movimento que combate a discriminação. Ainda assim, os seus activistas apareceram e desfilaram com as Panteras Rosa. Sofia Branco

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O ensino do português e de vocabulário técnico específico a 15 mil imigrantes, facilitando o acesso à nacionalidade portuguesa e à integração profissional, é o objectivo do programa governamental Português para Todos. A iniciativa vai disponibilizar cursos gratuitos de língua portuguesa ou, para os imigrantes que já dominem o nível básico, de vocabulário técnico de cinco áreas – comércio, hotelaria, cuidados de beleza, construção civil e engenharia civil. Os cursos permitirão um melhor acesso à nacionalidade e facilitar a integração no mercado.

Ensino15 mil imigrantes a falar português

Jaime Giménez Arbe, mais conhecido como El Solitário,começa a ser julgado amanhã em Pamplona. As sessões decorrem até 2 de Julho no Palácio da Justiça daquela cidade basca. Neste processo, El Solitário – o criminoso mais procurado de Espanha que foi detido na Figueira da Foz quando se preparava para assaltar uma agência bancária – responde pelo homicídio de dois elementos da Guardia Civil, Juan António Palmero e José António Vidal, no dia 9 de Junho de 2004. Responde também pelos delitos de posse de armas de guerra e atentado. A acusação pede 52 anos e seis meses de prisão.

El SolitárioAssaltante de bancosjulgado em Pamplona

O Infarmed, autoridade nacional do medicamento e produtos de saúde, vai realizar uma campanha de sensibilização para os perigos de comprar medicamentos através da Internet. Os destinatários são os consumidores em geral, que serão alertados para os riscos que correm ao encomendar remédios fora dos sites autorizados para esse efeito. A campanha inicia-se no próximo dia 1 de Julho e termina a 11 de Agosto. Decorre fundamentalmente entre os utilizadores da Internet através dos principais motores de busca em Portugal (Google e Sapo) e ainda nos sites de informação onlinedo canal Sapo.

MedicamentosInfarmed contra compras na Internet

Os doentes de asma e doença pulmonar obstrutiva graves deverão ter medicamentos gratuitos, para fazer face aos elevados custos dos fármacos, defendem as sociedades portuguesas de Pneumologia e Alergologia. A reivindicação foi feita no Fórum das Doenças Respiratórias, que reuniu ontem em Óbidos centena e meia de especialistas nacionais e internacionais. António Seborbe Luís, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, disse à Lusa que os medicamentos adequados à terapêutica das duas doenças crónicas “são caros”.

Doenças pulmonaresMedicamentos devem ser gratuitos

Elementos da PSP, GNR, Polícia Marítima e Serviço de Estrangeiros e Fronteiras vão reforçar a vigilância nas zonas balneares a partir de terça-feira, com relevo para as praias do Algarve. O secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança, general Leonel de Carvalho, disse à agência Lusa que as zonas costeiras serão o alvo principal das acções de patrulhamento e fiscalização. A operação, que se prolonga até 15 de Setembro, vai envolver as várias valências da GNR e da PSP, sobretudo unidades especiais das duas corporações.

Época balnearVigilância nas praias vai ser reforçada

A Greenpeace Portugal distribuiu em Lisboa uma lista vermelha de peixes em vias de extinção. A Associação dos Armadores das Pescas Industriais criticou a iniciativa, que considera mero “folclore”: “Das espécies identificadas [...] há uma minoria sujeita a planos de recuperação.” Os ecologistas explicaram que as acções de sensibilização visam “garantir a subsistência dos pescadores e do futuro dos seus negócios”. Bombeiros, médicos, advogados e militares figuram entre a lista de 800 candidatos a activistas e voluntários da organização em Portugal.

PescaArmadores criticam acção da Greenpeace

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PortugalPúblico • Domingo 29 Junho 2008 • 15

Funcionários das universidadesreceiam despedimentos “em larga escala”

André Jegundo

Dois mil trabalhadores com contratos a prazo no superior correm “grande risco” de não ver contratos renovados

a A situação financeira das institui-ções de ensino superior pode pôr em causa o pagamento de salários, mas também conduzir ao despedimento “em larga escala” de funcionários das universidades. O alerta parte da Associação Nacional dos Funcioná-rios das Universidades Portuguesas (ANFUP), que apela ao Governo para concretizar o reforço de cem milhões de euros que foi pedido pelos reito-res para equilibrar os orçamentos das instituições.

De acordo com a ANFUP, que afir-ma estar “muito preocupada com a situação”, existem actualmente al-gumas universidades que já não têm dinheiro para assegurar as despesas sociais dos trabalhadores e que estão

a acumular dívidas no pagamento da ADSE e das contribuições para a Caixa Geral de Aposentações. “Mas em bre-ve o dinheiro poderá começar a faltar também para os salários”, alerta Rafa-el Serrenho, dirigente da ANFUP.

Dos cerca de dez mil funcionários das universidades portuguesas, cer-ca de dois mil não fazem parte dos quadros da função pública, estando na maioria dos casos contratados a prazo. Para a ANFUP, são estes tra-balhadores que correm “um grande risco” de não verem os seus contratos renovados até ao início do próximo ano lectivo.

A associação reconhece que “tem havido um grande esforço” por parte dos reitores para “evitar os despedi-mentos”, mas receia a intervenção do Ministério das Finanças no início do próximo ano lectivo, quando analisar os orçamentos e os mapas de pessoal das instituições de ensino superior.

“As Finanças vão analisar os mapas de pessoal que são elaborados pelas universidades e aí tememos que pode-rá haver uma redução significativa de

funcionários”, diz Carmelita Cunha, dirigente da Associação de Funcio-nários.

Rafael Serrenho refere que os pro-blemas financeiros das universidades “não são novos”, já que resultam de um “crónico subfinanciamento” das instituições, mas tendem a agravar-

se “a cada ano que passa”. Segundo a ANFUP, nos últimos anos, as uni-versidades viram os seus orçamentos reduzidos “em cerca de 25 por cento”, ao mesmo tempo que as despesas fo-ram crescendo, por exemplo, “com o aumento das contribuições para a Caixa de Aposentações”.

Área ardida este ano quase triplica a de 2007

a A área ardida em Portugal nos pri-meiros cinco meses e meio deste ano, 3454 hectares, quase triplicou face ao mesmo período de 2007, quando fo-ram consumidos 1228 hectares, segun-do dados divulgados pelo Ministério da Administração Interna (MAI).

Os dados referem-se ao período en-tre 1 de Janeiro e 15 de Junho, tendo sido revelados sexta-feira, em Beja, à margem de uma reunião entre o mi-nistro da Administração Interna, Rui Pereira, com os 18 governos civis do país. Segundo o MAI, ocorreram este ano 871 incêndios florestais, o que cor-responde a mais 517 do que no ano passado.

À agência Lusa, Rui Pereira garan-tiu, ainda assim, que a primeira fase de combate a incêndios este ano, denominada Bravo, que arrancou a 15 de Maio e termina amanhã, está a “correr bem”, não se tendo registado “nenhum grande incêndio com mais de cem hectares ardidos”. A 1 de Julho arranca a fase Charlie, considerada a mais crítica e que envolverá um refor-ço de meios a todos os níveis.

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Ciência ao Natural é o blogue de Luís Azevedo Rodrigues http://blogs.publico.pt/cienciaaonatural

Existem universidades sem dinheiro para salários

ENRIC VIVES-RUBIO

3.ª PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃOE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR

ORGANIZAÇÃO (T: 226099398; FAX: 226095393)ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BIOÉTICA

www.apbioetica.org

APOIO CIENTÍFICO:SERVIÇO DE BIOÉTICA E ÉTICA MÉDICA

DA FACULDADE DE MEDICINA (UP) GOLDEN WHEEL CONSULTING

COORDENADOR DO CURSO:

PROF. DOUTOR RUI NUNES

Data-limite do prazo de candidatura:15 de Julho de 2008

Data de início do calendário lectivo:Setembro de 2008

BIOÉTICA

Page 16: Público – 6664 – 29.06.2008

Mundo16 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Taliban Comandante suspende negociações e ameaça levar ataques a todo o país

Paquistão lança ofensiva militar em Peshawar, a primeira do novo GovernoAcção foi resposta a aumento da intimidação de militantes islamistas nas zonas tribais perto da fronteira com o Afeganistão e depois de rumores de que estes poderiam tomar a cidade

Maria João Guimarães

a Centenas de paramilitares chega-ram ontem à zona de Peshawar, uma das quatro capitais provinciais do Paquistão, onde nos últimos dias is-lamistas ligados aos taliban intimida-ram habitantes, provocando medo e levando mesmo a rumores de que se preparavam para tomar a cidade. A operação militar das forças paquis-tanesas, que começou ontem, levou um comandante taliban a suspender as negociações em curso com o Go-verno paquistanês, que tomou posse há dois meses, e a ameaçar ataques por todo o país.

Jornalistas no local descreviam uma cidade de Peshawar (Noroes-te) calma ao final do dia de ontem, mas os habitantes temiam a manhã seguinte. “As lojas estão fechadas, e conheço pessoas que saíram com medo de confrontos”, disse ao canal de informação económica Bloom-berg um residente, Khalid Khan. Foram colocados blocos de cimen-to em volta das esquadras (para evi-tar carros-bomba atirados contra os edifícios) e soldados patrulhavam as ruas com metralhadoras.

A operação teve como palco uma localidade a cerca de cinco quilóme-tros de Peshawar, com disparos de tiros de morteiro. “Oito bases dos he-reges foram destruídas”, comentou o chefe da polícia da localidade, Ma-lik Naveed Khan, à agência Reuters. “Não houve, até agora resistência”, concluiu. Outros responsáveis disse-ram à estação de televisão britânica BBC que os combatentes teriam sa-ído antes da operação. A localidade está na linha da chamada estrada de Khyber, uma das principais rotas en-tre o Afeganistão e o Paquistão e que é muito usada por contrabandistas e criminosos – e, agora, é uma via--chave para abastecimentos para os militares norte-americanos no Afe-ganistão.

Primeira acção militar Esta é a primeira grande acção militar do novo Governo, eleito há dois meses, contra os combaten-tes nas zonas perto da fronteira com o Afeganistão. O executivo, do partido de Benazir Bhutto, assassinada em Dezembro do ano passado, tinha promovido negocia-ções com as tribos e os militantes para tentar diminuir os ataques no Afeganistão vindos do Paquis-tão e a violência interna no país, com episódios como o da Mesquita Vermelha, cujo cerco em Julho de 2007 terminou com interven-ção militar e cerca de 150 mortos.

“As conversações vão manter-se

suspensas até que o Governo pare de falar de operações e de ataques contra nós”, disse o líder taliban pa-quistanês Baitullah Mehsud, num te-lefonema à Reuters.

Mehsud diz que esta poderá ser a primeira de várias operações contra os grupos islamistas ao longo das zo-nas tribais da fronteira, e ameaçou

Soldado paramilitar na região de Khyber durante a ofensiva de ontem STR/PAKISTAN/REUTERS

retaliar para além destas zonas. “Avi-so que o fogo não vai arder apenas nas zonas tribais, vai engolir tam-bém o Punjab e Sindh”, o primeiro na parte oriental do Paquistão (capi-tal, Lahore) e o segundo no Sudeste (capital, Carachi).

Os residentes da zona de Peshawar estavam assustados, mas o receio era

anterior à deslocação do Exército. Na semana passada, 25 cristãos da cidade tinham sido raptados por is-lamistas, para serem libertados 12 horas depois. Há relatos de homens com Kalashnikovs a percorrer as ru-as da cidade e a ameaçar donos de lojas de música e vídeo (que queriam ver fechadas) e os barbeiros (que não

queriam ver a cortar barbas) para não ofender a estrita interpretação que fazem da lei islâmica.

Numa outra zona tribal, Bajaur, fo-ram mortos numa execução pública dois homens acusados de espiarem para os Estados Unidos. Um a tiro, outro decapitado, perante cerca de cinco mil pessoas.

Washington descontente com fraca acção

O que pode ter motivado nova estratégia de Islamabad a O novo Governo do Paquistão ti-nha prometido há dois meses nego-ciar com as tribos do Noroeste do país – mas na semana passada o executivo do primeiro-ministro Yousouf Raza Gilani autorizou o uso da força contra os islamistas nas zonas tribais como “ameaça credível de força” para pano de fundo das conversações, segundo a estação de televisão BBC.

Numa análise no site da BBC, M Ilyas Khan, em Carachi, explica que

dois acontecimentos levaram a esta decisão do executivo. O primeiro foi um ataque aéreo norte-americano, que matou mais de 10 soldados pa-quistaneses a 11 de Junho. Islamabad viu este ataque como um aviso de Washington, descontente pela fraca acção contra os combatentes que ata-cam o Afeganistão vindos do Paquis-tão. Um responsável norte-americano citado pelo site da TV Bloomberg diz que os ataques dos taliban através da

fronteira aumentaram em 50 por cen-to desde a tomada de posse do novo Governo, em Abril.

O segundo acontecimento foi o rap-to, na semana passada, de 16 cristãos da cidade de Peshawar por islamistas, algo inédito até então.

A nova estratégia do Governo, con-tinua a BBC, parece ser agora o uso de respostas graduadas contra os is-lamistas. Se esta falhar, recorrerá às operações militares punitivas.

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 17

Obama viaja até ao Médio Oriente e à Europa

Barack Obama vai fazer, este Verão, uma visita à Europa e ao Médio Oriente, com o objectivo de discutir questões como terrorismo

e proliferação nuclear, anunciou ontem a campanha do candidato democrata à presidência norte--americana.

Milhares de manifestantes muçulmanos nas ruas de Caxemira pelo sexto dia consecutivo

a A polícia indiana tentou conter on-tem, à força de tiros e gás lacrimogé-neo, milhares de manifestantes mu-çulmanos nas ruas da capital estival de Caxemira, Srinagar. Os protestos, nascidos da oposição à transferên-cia de terras florestais para um fundo que gere um dos mais importantes templos hindus naquele território, disputado e governado em partes pela Índia e Paquistão, têm vindo a ganhar fôlego de manifestações pró-independência.

Dezenas de milhares de pessoas gritavam nas ruas “Liberdade”, ten-do-se registado uma vez mais vários feridos nos confrontos com a polícia. O balanço desta semana de protes-tos conta já centenas de feridos e três mortos, e entre os feridos de ontem nos confrontos com a polícia está o líder da Frente de Libertação, movi-

Protesto contra uma transferência de terras florestais para um importante templo hindu está a ganhar fôlego de secessão da Índia

Mehbooba Mufti abandonou coligação em protesto contra a decisão

mento separatista que declarou um cessar-fogo em 1994. “[Yasin] Malik foi assistido no hospital, ele está a sal-vo”, esclareceu fonte policial citada pela agência Reuters.

Estes são os maiores protestos em Caxemira desde que o território foi palco de uma rebelião muçulmana em 1989, à qual se seguiram grandes manifestações por toda a região exi-gindo a secessão da Índia. “A situação agora lembra-me muito a época de 1990. É muito perturbador”, afirmou à Reuters o líder da Conferência Na-cional, principal partido de oposição de Caxemira, Omar Abdullah.

Na esteira desta convulsão, um dos parceiros-chave na coligação que go-verna Caxemira decidiu abandonar o Governo, um passo que ameaça lan-çar eleições antecipadas na muito tensa região. “Não podemos ficar in-sensíveis ao sofrimento das pessoas”, justificou a líder do Partido Popular Democrata, Mehbooba Mufti.

Os protestos começaram na segun-da-feira quando as autoridades trans-feriram uma zona de terras florestais, com mais de 40 hectares, para o fundo Shri Amarnathji, o qual gere e administra um importante templo

hindu nas montanhas de Caxemira. As terras destinam-se à construção de abrigos temporários para os milha-res de peregrinos que ali se deslocam anualmente.

Mas para os muçulmanos que se opõem à transferência de terras aque-la decisão visa mudar a demografia de Caxemira, região maioritariamen-

te muçulmana, na parte que está sob administração da Índia, país maiori-tariamente hindu.

E as organizações ambientalistas sustentam que a construção naquelas terras florestais constitui um perigo para a frágil ecologia da região – uma acusação negada pelas autoridades indianas. D.F.

FAYAZ KABLI/REUTERS

a A secretária de Estado norte-ame-ricana, Condoleezza Rice, instou de novo ontem a Coreia do Norte a re-nunciar em absoluto ao programa atómico, um dia depois de Pyonyang ter demolido com aparato a torre de arrefecimento do complexo nuclear de Yongbyon.

“No final [do processo] temos de

ter total abandono dos programas, armamento e materiais”, sublinhou a chefe da diplomacia dos Estados Uni-dos, em visita à Coreia do Sul.

Condoleezza Rice, de resto, mani-festou de forma veemente o profun-do cepticismo com que Washington está a interpretar os sinais dados por Pyongyang. “Continuamos sem

Estados Unidos continuam cépticos com respostas da Coreia do Norte sobre nuclear, Moscovo saúda avanços

as respostas de que precisamos”, avaliou, numa alusão ao inventário nuclear divulgado pela Coreia do Nor-te na quinta-feira, elemento crucial do acordo firmado em 2007 entre Pyonyang e os países com os quais negoceia a sua desnuclearização em troca do levantamento de sanções e ajuda energética: Coreia do Sul, Chi-

na, Estados Unidos, Japão e Rússia.Moscovo, por seu lado, teve apenas

palavras de satisfação. Em comunicado, o Ministério dos

Negócios Estrangeiros russo saudou os esforços de desnuclearização de Pyongyang e a decisão de Washington de retirar a Coreia do Norte da lista de Estados que apoiam o terrorismo.

Putin fez elogios à Ucrânia no gás e novas ameaças sobre a NATO

a O primeiro-ministro russo, Vladi-mir Putin, fez ontem rasgados elogios a Kiev pela forma atempada com que a Ucrânia tem pago os fornecimentos de gás em 2008 assim como à boa vontade demonstrada para continuar a acolher a frota russa do mar Negro na base de Sebastopol, no final de um encontro com a chefe de Governo da Ucrânia, Iulia Timochenko.

O tom e conteúdo das declarações de Putin – que deixou o Kremlin há pouco mais de mês e meio para o su-cessor por si mesmo escolhido, Vla-dimir Medvedev –, indiciariam uma relação sobre rodas; não fosse terem ficado também algumas ameaças.

A eventual adesão da Ucrânia à NA-TO, que a Aliança diz vir a ocorrer um dia, implicará o fim da cooperação militar entre Moscovo e Kiev. “Todas as tecnologias sensíveis, as altas tec-nologias e as tecnologias de mísseis [actualmente desenvolvidas pelos

dois países] serão transferidas para território russo”, avisou.

Menos crispada do que no último par de meses pareceu ficar a questão de Sebastopol, que continua a ser a casa-mãe da frota russa do mar Ne-gro.

“Temos um acordo até 2017 [de aluguer da base] e este acordo será respeitado com todo o zelo, como acontece com os demais acordos in-ternacionais da Ucrânia”, garantiu Timochenko a Putin, na conferência de imprensa que partilharam no final de quatro horas de reunião.

Arte Photographica, um blogue sobre fotografia blogs.publico.pt/artephotographica

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Iulia Timochenko, da Ucrânia, e Vladimir Putin, da Rússia, encontraram--se ontem em Moscovo

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18 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Mundo

Zimbabwe Conselho de Segurança não conseguiu declarar votação ilegítima

Afluência às urnas é única incógnita dos resultados oficiais esperados DESMOND KWANDE/AFP

Certo de uma vitória contestada Mugabe presta hoje juramento Partido no poder anunciou tomada de posse para mais um mandato do Presidente e instou o Ocidente a não se imiscuir nos assuntos internos

a Depois de uma segunda volta das presidenciais em que avançou como único candidato e na qual os eleito-res votaram em clima de medo e in-timidação, Robert Mugabe, certo da vitória, deve hoje prestar juramento, para mais um mandato como Presi-dente. Os Estados Unidos promete-ram endurecer as sanções contra o regime “ilegítimo” de Mugabe depois de o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas não ter chegado a acordo para aprovar uma resolução que declarasse a “ilegitimidade” da votação e dos resultados.

Esse fracasso deveu-se, em parte, à oposição da África do Sul (membro não-permanente do CS), país que li-dera uma mediação controversa para juntar as partes no Zimbabwe, em nome da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, e que até agora não deu quaisquer resultados.

Dias antes da segunda volta de sex-ta-feira, e apesar das divisões sobre o Zimbabwe, o CS tinha conseguido passar uma resolução, aprovada por unanimidade, em que declarava não haver condições para um voto justo

e livre, dando sinais de que ainda poderia ajudar a inverter a situação. Mas ontem, o regime de Mugabe desafiou os países que o condenam anunciando a tomada de posse para hoje e exortando o Ocidente a não interferir nos assuntos internos do Zimbabwe.

A cerimónia de tomada de posse, para mais um mandato, deve ter lu-gar pouco antes da partida de Mu-gabe para o Egipto, onde vai partici-pará na cimeira de chefes de Estado da União Africana, que continua sem tomar uma posição formal.

UE reconhece primeira voltaA União Europeia fez ontem saber que os únicos resultados que reconhecerá sobre as presidenciais no Zimbabwe são os da primeira volta, em Março, nas quais o líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC) Morgan Tsvangirai teve vantagem, com 47,9 por cento dos votos, contra 43,2 por cento de Mugabe.

A presidência eslovena da UE e o comissário para o Desenvolvimento Louis Michel condenaram “a orga-nização desta segunda volta que se realizou apesar dos apelos das autori-dades africanas e internacionais”.

Depois dos Estados Unidos, da França e de Portugal, entre outros, também a Holanda e a Itália disseram que não reconheceriam os resultados da segunda volta. Segundo o Governo holandês, “a violência contra a oposi-ção e o povo são a prova de que Mu-gabe perdeu o direito moral de dirigir e de representar o Zimbabwe”.

A Itália ameaçou retirar a sua re-presentação diplomática de Harare. Este é o sinal político que, segundo o ministro dos Negócios Estrangei-ros italiano, Franco Fratinni, Mugabe merece.

Espera-se a todo o momento que a comissão eleitoral do Zimbabwe, composta por elementos próximos do regime de Mugabe, divulgue os resultados finais da segunda volta.

A única incógnita será saber a taxa de afluência às urnas. Representan-tes da missão de parlamentares afri-canos disseram que esta tinha sido extremamente baixa. E muitas das que votaram terão sido instadas a fa-zê-lo, segundo relatos de repórteres de Harare. Pintar o dedo de vermelho dos que votaram foi a forma encon-trada pelo regime para identificar as pessoas e sobre elas exercer controlo para irem votar.

Pintar a vermelho o dedo

dos que votaram foi a forma

encontrada pelo regime de

Harare para identificar as

pessoas e exercer controlo

sobre elas no dia da votação

Ana Dias Cordeiro

Fraca pressão internacional e fragilidade da oposição

Análise

a Ao boicotar o escrutínio presidencial, a oposição do Zimbabwe aumentou a pressão, de curto prazo, sobre o chefe de Estado, Robert Mugabe, mas restringiu o leque de cartas à sua disposição. O chefe da oposição, Morgan Tsvangirai, retirou-se da corrida invocando a violência cometida contra os seus apoiantes. O regime teve assim de se contentar com um simulacro de eleição com candidato único.

“Ao desistir, Tsvangirai intensificou a crise, que foi levada às Nações Unidas. Pela primeira vez, o Conselho de Segurança discutiu o Zimbabwe durante cinco horas e publicou um comunicado”, diz o professor de Ciência Política da Universidade do Zimbabwe John Makumbe.

Mas a resposta internacional no dia do voto, organizado num clima de extrema tensão, mostrou os limites da estratégia de Tsvangirai, que apostou tudo nas pressões externas.

Se, por um lado, os países do G8 fizeram saber que não vão reconhecer o resultado da eleição, o Conselho de Segurança não chegou a acordo sobre uma resolução nesse sentido.

O embaixador Dumisani Kumalo da África do Sul, país que lidera uma mediação no Zimbabwe em nome da África Austral, impediu a adopção de um texto que teria declarado ilegítimos os resultados.

Exasperado, o porta-voz da oposição Nelson Chamisa acusou o Presidente sul-africano Thabo Mbeki de se comportar como um militante do partido de Robert Mugabe, a ZANU-PF. “Não tenho a certeza que Tsvangirai tenha uma opção de recurso ou um plano B”, diz John Akokpari, analista da Universidade da Cidade do Cabo. Ao retirar-se, “limitou verdadeiramente as suas opções”, acrescenta.

O chefe do Movimento para a Mudança Democrática (MDC) não excluiu discussões com o regime, mas para isso impôs condições que variaram no tempo, acrescentou Akokpari, que aí vê a ausência de uma estratégia clara.

De qualquer maneira, “é muito improvável que negociações venham a ser bem sucedidas”, sublinha, por sua vez, John Makumbe. Para estes analistas, Tsvangirai não parece ter alternativa senão tentar que a comunidade internacional, designadamente os dirigentes africanos, consigam fazer vergar Robert Mugabe. AFP

M.J. Smith

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MundoPúblico • Domingo 29 Junho 2008 • 19

Guardas da Revolução ameaçam as rotas de saída do petróleo em caso de ataque ao Irão

Dulce Furtado

Especulação sobre possível ofensiva contra Teerão contribui para a alta do preço do crude

a Os Guardas da Revolução, força de elite do regime iraniano, afirmaram que irão impor controlos aos navios na crucial rota petrolífera do Golfo em caso de ataque, ameaçando re-taliar qualquer atacante assim como os seus aliados – numa referência ex-pressa aos países na região aliados dos Estados Unidos.

Na mira foi posto Israel em par-ticular. O líder da ala ideológica do Exército do Irão, Mohammad Ali Ja-fari, avisou o Estado hebraico de que “está ao alcance dos mísseis da Re-pública islâmica”. “A nossa força e a nossa capacidade são tais que o regi-me sionista não o poderá enfrentar”, sustentou numa entrevista ao diário conservador iraniano Jam-e Jam.

Os receios de uma escalada no di-

ferendo entre o Ocidente e o Irão, o quarto maior produtor mundial de petróleo, têm contribuído para a su-bida dos preços do crude.

A especulação sobre uma possí-vel ofensiva contra o Irão – devido às suas ambições nucleares e que os Estados Unidos sustentam ter propó-sitos militares – aumentou depois de conhecido um relatório, há poucas semanas, que indicava que Telavive já teria ensaiado um ataque. Desde aí, a retórica iraniana de retaliação aumentou significativamente.

“Qualquer país que seja atacado usa todas as suas capacidades para combater o inimigo. É óbvio que usa-remos o controlo que temos sobre o Golfo Pérsico e o estreito de Ormuz, rota principal da saída de matérias energéticas”, avisou Ali Jafari.

Os EUA dizem privilegiar uma so-lução diplomática para o diferendo sobre o dossier nuclear iraniano. Na semana passada, as sanções foram endurecidas pela União Europeia, no quadro das resoluções da ONU des-tinadas a forçar Teerão a abdicar do

seu programa nuclear. Washington, porém, jamais afastou a possibilida-de de uma ofensiva militar.

Num cenário de conflito, o Irão não tem capacidade para superar as forças militares norte-americanas, avaliam analistas, mas pode causar

dificuldades de peso, com recurso a tácticas de combate não-conven-cionais e métodos “assimétricos”: usando pequenas embarcações para atacar navios ou recorrendo a alia-dos contra posições dos EUA ou de Israel.

Mandela prestes a sair de lista de terror dos EUA

a O Senado dos Estados Unidos só sexta-feira votou uma lei que retira o ex-Presidente Nelson Mandela e o seu partido, o Congresso Nacional Africano, da lista norte-americana do terrorismo, depois de em Abril a secretária de Estado, Condoleezza Rice, ter reconhecido o “embara-ço” e apelado ao levantamento des-sa sanção ainda existente contra o ANC, no poder na África do Sul.

As novas medidas de segurança, aplicadas depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001 contra os EUA, fizeram com que o ANC ficasse na lis-ta, onde constava por ter recorrido à força na luta contra o apartheid,explica a Reuters. A lei que final-mente retira o Nobel da Paz desta lista será agora transmitida à Casa Branca e deverá ser promulgada pe-lo Presidente George Bush antes do aniversário de Nelson Mandela (a 18 de Julho). No quadro das comemo-rações do seu aniversário, Mandela foi anteontem homenageado com um megaconcerto no Hyde Park de Londres.

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Peso & Medida é o site sobre obesidade e comportamentos associados www.publico.pt/pesoemedida

Elementos da Força Aérea entoam cânticos anti-EUA e anti-Israel

RAHEB HOMAVANDI/REUTERS

Provas de Ingresso: História ou Português

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Mundo20 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Grã-Bretanha Um ano após a saída de Tony Blair, o Labour é cada vez menos popular

Um líder fraco, dizem os analistasGordon Brown caiu muitoe depressa.Mas porquê?O primeiro-ministro britânico acumula derrotas eleitorais e desce a pique nas sondagens. É a vez dos conservadores?

a Gordon Brown não quis assinalar o seu primeiro aniversário à frente do Governo britânico. O rival de Tony Blair dentro do Partido Trabalhista, que tanto tinha ansiado pelo cargo, não tem grandes razões para come-morar: no dia 27 de Junho do ano pas-sado entrou no número 10 de Dow-ning Street com uma imagem de líder sério, cimentada em dez anos como ministro das Finanças. Mas pouco depois começou a ser visto como indeciso e fraco. “Nunca na história um primeiro-ministro caiu tanto, tão depressa”, disse o professor da Uni-versidade de Essex Anthony King, à Reuters.

Os analistas apontam o momento do início da queda: em Outubro de 2007, quando, depois de uma espe-culação prolongada, Brown anunciou que, afinal, não iria convocar eleições antecipadas. Pior: fê-lo depois de co-nhecer a primeira sondagem em que os trabalhistas perdiam para os con-servadores.

“Deu uma imagem de líder fraco, indeciso, pouco digno de confiança”, comenta Jonathan Hopkin, professor de Política na London School of Eco-

nomics, numa entrevista telefónica. “O que aconteceu a Brown? É uma pergunta difícil. Houve alguns erros, mas penso que o problema está espe-cialmente no modo como apresenta o que faz.”

Hopkin nota ainda que a alta taxa de popularidade inicial se explica principalmente “por Gordon Bro-wn ser uma figura nova”. “Mas”, contrapõe, “o efeito novidade passa depressa”.

E o Governo já vinha em trajectória descendente na opinião pública, diz Hopkin. “Acho que o principal pro-blema é que o Governo estava a ficar impopular por causa da crise finan-ceira, do aumento dos combustíveis e dos preços.” Voltando à questão do que aconteceu a Brown, “foi prova-velmente uma combinação da econo-mia e o cansaço da opinião pública com o Labour”.

O declínio tem sido cada vez maior. A cada eleição intercalar há um resul-tado descrito como humilhante: nas eleições para as câmaras, incluindo a de Londres (“a pior derrota eleitoral do Labour dos últimos 40 anos”), a eleição intercalar em Crewe (“a pri-meira eleição intercalar ganha pelos conservadores aos trabalhistas desde 1978, o ano antes de Margaret Tha-tcher ter conseguido a vitória e ter condenado o Labour a 18 anos na oposição”, e a última eleição em Hen-ley (“um colapso espectacular”).

30 por cento de culpaIain McLean, professor de Política na Universidade de Oxford, dá, por e-mail, uma fórmula para o declínio de Brown: “Foi 30 por cento culpa dele, 50 por cento as circunstâncias e 20 por cento irrelevâncias.”

A culpa: “Vem principalmente pela indecisão em relação às eleições; Bro-wn perdeu a sua reputação de decisor por vacilar na marcação de eleições antecipadas no Outono de 2007.”

As circunstâncias: “A crise do sub-prime nos EUA seguida pelo aumento dos preços, ambos acontecimentos mundiais, mas as pessoas culpam ‘o Governo’.”

Maria João Guimarães

Gordon Brown esperava há muito pela saída de Tony Blair, que se manteve dez anos na chefia do Governo

NICOLAS ASFOURI/AFP

É mais um golpe para o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown: a líder do Partido Trabalhista da Escócia, Wendy Alexander, demitiu-se após ter sido repreendida na sequência de uma acusação de irregularidades de financiamento da campanha. A deputada foi suspensa durante um dia do Parlamento escocês, mas continuará o seu mandato. O problema para Gordon Brown aumenta porque um dos deputados pela Escócia irá deixar a Câmara dos Comuns em Londres por motivos de saúde (David Marshall tem 67 anos e é deputado desde 1979), deixando o Labour sujeito a mais uma eleição intercalar (os trabalhistas perderam as duas últimas eleições intercalares) num mau timing.

Mais um golpeLíder do Labour escocês demite-se

E finalmente, as irrelevâncias: Bro-wn é cego do olho esquerdo e vê mal do direito. A maioria das pessoas no Reino Unido não sabe disto. Assim, julgam que ele é “mau na TV, mau em contacto visual”, e isso ajuda ao seu julgamento instantâneo”.

Magras hipóteses de vitóriaOs dois professores de Política e Go-verno acham difícil que o Labour ven-ça as próximas eleições, com Brown ou com outro líder. “Este Governo já fez a maioria das coisas que pro-meteu nos anos 1990, não há razões muito óbvias para um eleitor escolher o Labour, excepto que os próximos podem estragar o trabalho feito – e este nunca é um argumento muito bom”, diz Jonathan Hopkin.

“O Governo está em posição defen-siva, e é muito difícil inverter esta ten-dência quando se está na defensiva.” Assim, “neste momento, os eleitores estão prontos para a mudança”, ga-rante Hopkin.

Se a mudança dos eleitores vai no sentido dos conservadores já é uma outra questão para McLean: “São mais antitrabalhista do que pró-tory.”

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 21

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Provar num ano que afinal estava tudo certo

a 1. Os chineses pensam que ele é dos raros líderes ocidentais que entendem verdadeiramente o sentido da globalização, escreve Philip Stephens no Financial Times. Os seus pares europeus receberam-no como um herói na última cimeira de Bruxelas, no final da semana passada. Nicolas Sarkozy propôs-lhe uma nova “entente” fraternal. A vida não lhe parece correr mal precisamente onde se esperaria que fosse mais difícil substituir a figura poderosa do seu antecessor. E, no entanto, os britânicos, que o receberam há um ano com um suspiro de alívio e uma razoável expectativa, parece que resolveram passá-lo definitivamente à história.

Gordon Brown, que se julgou durante 10 anos com mais direito a morar no N.º 10 de Downing Street do que o seu verdadeiro morador, conseguiu transformar o seu primeiro ano de mandato numa prova de que... provavelmente não tinha razão.

Basta passar os olhos pela imprensa britânica. São raros os analistas que ousam dar-lhe uma segunda chance. E muitos interpretam as críticas cada vez mais audíveis no Governo e no New Labour como o sinal de que talvez nem sequer o deixem chegar às próximas eleições. As últimas sondagens dão ao New Labour um resultado historicamente baixo, confirmando a ideia de que os eleitores já só estão à espera do seu sucessor. A tremenda derrota nas eleições intercalares de Henley, no exacto dia em que completava um ano à frente do Governo (o Labour ficou em quinto lugar, atrás dos nacionalistas e dos verdes), teve o sabor de último acto de uma tragédia. Apenas à espera do cair do pano. Sobre ele certamente. Sobre o New Labour, que reinou sobre a vida britânica nos últimos 11 anos, talvez.

2. Comecemos pela frente externa. Os líderes europeus despediram-se de Tony Blair em Junho do ano passado com um sentimento de saudade antecipada. Mesmo com o Iraque, reconheciam nele um europeísta sincero que marcara, também para o bem, o rumo da integração europeia. Mas sobretudo desconfiavam do seu sucessor, precedido da fama de eurocéptico e responsabilizado

por alguns dos desaires europeus de Blair, a começar pelo euro. Não foi por acaso que o antigo líder britânico decidiu deixar Downing Street a Gordon Brown no dia seguinte ao Conselho Europeu que fechou as negociações do mandato para o Tratado de Lisboa.

Na semana passada, depois do choque irlandês, receberam-no em Bruxelas como um salvador. Bastava que tivesse hesitado em prosseguir o processo de ratificação no Reino Unido para que o Tratado estivesse definitivamente em causa.

Brown foi coerente com a sua ideia sobre a utilidade da Europa, que vê como um instrumento importante para tirar partido de uma globalização que mudou as regras do jogo mundiais – políticas e económicas – ou para prosseguir alguns dos objectivos de política externa que lhe são mais caros, como o combate à pobreza. Mas também foi movido por um interesse interno imediato: passar a

Análise

Teresa de Sousa

“batata quente” para o lado dos conservadores, deixando-os de novo com o seu calcanhar de Aquiles europeu à mostra.

De resto, sobre a Europa o seu pensamento é bastante limitado. Não esteve à altura dos desafios que Nicolas Sarkozy lhe foi fazer a Londres sobre uma “entente”franco-britânica que reequilibre as relações entre os três grandes. Não se sabe ainda o que pensa sobre a defesa europeia que estará no topo da agenda da União nos próximos tempos e que Blair tinha elegido como o meio mais seguro de garantir a liderança britânica na Europa.

Dizem os analistas britânicos que vê o mundo pelo prisma da economia. Mesmo que os seus parceiros da União lhe estejam gratos, não se espera dele nenhum rasgo europeu.

3. No Reino Unido as coisas eram diferentes. Aparentemente, poderiam ter sido mais fáceis. Os britânicos estavam cansados de Blair. Acreditavam que Brown seria um líder mais centrado na agenda interna. Menos palco e mais trabalho. Menos “spin” e mais substância. Menos visão e mais acção. “No flash. Just Gordon”, com a promessa de uma “nova forma de governar”.

Brown trazia consigo uma folha de serviço exemplar à frente do Tesouro, onde presidiu a dez anos de bonança

económica sem paralelo. Geriu bem os primeiros meses, quando teve de se defrontar com duas ameaças terroristas, com cheias calamitosas e com os primeiros sinais da crise do subprime. Blair deixara o Labour em 32 por cento das preferências do eleitorado. Gordon depressa chegou aos 39. Antes de cometer o erro fatal. Pôs a correr que legitimaria a sua nova era recorrendo a eleições antecipadas. Depois hesitou. Depois desistiu. Deixou colar a imagem de um líder sem coragem, tão susceptível ao cálculo político como outro qualquer. Foi um daqueles momentos que definem o carácter de um líder para o bem ou para o mal. E que são inapagáveis. As nuvens que se adensam sobre a economia britânica, mais uma série de passos mal dados no domínio em que a sua reputação parecia inatacável, selaram a sua sorte.

Já ninguém acredita na sua mensagem essencial: que ainda é o par de mãos mais seguro para conduzir o país em tempo de dificuldades económicas. E ninguém chegou a saber qual era a sua visão, também para o país.

A última tragédia deste intelectual sobredotado que sempre se considerou injustiçado pelo brilho de Tony Blair é ter provado num ano que afinal estava tudo certo.

Já ninguém acredita na sua

mensagem essencial: que

ainda é o par de mãos mais

seguro para conduzir o país

em tempo de dificuldades

económicas

2007

27 de JunhoBrown toma posse como primeiro-ministro da Grã-Bretanha

28 de JunhoCheias na Grã-Bretanha provocam mortes, desalojados e estragos

30 de JunhoDois carros-bomba são descobertos em Londres e um jipe em chamas é lançado contra o aeroporto de Glasgow. O país está em alerta “crítico”, o mais alto na escala da ameaça terrorista

14 de SetembroO Banco de Inglaterra oferece ajuda ao banco Northern Rock, que sofreu uma onda de retirada de poupanças, na sequência da crise do crédito imobiliário de alto risco (subprime)

7 de OutubroBrown diz que não convocará eleições antecipadas. Os conservadores dizem que o fez depois de descer nas sondagens

13 de DezembroBrown chega a Lisboa para assinar o Tratado de Lisboa numa cerimónia à parte, mais tarde, faltando à foto de família

2008

17 deFevereiroAnunciada a nacionalização do banco Northern Rock – a primeira nacionalização na Grã-Bretanha desde 1970

12 de MarçoBrown vence a votação na Câmara dos Comuns para não sujeitar a referendo a ratificação do Tratado de Lisboa

22 de AbrilRevolta de alguns deputados trabalhistas com uma medida fiscal que iria agravar os impostos para solteiros com menores rendimentos

3 de MaioO Labour tem o pior resultado em 40 anos nas eleições locais. O mayor trabalhista, Ken Livingstone, perde Londres para o conservador Boris Johnson

22 de MaioOs trabalhistas saem derrotados da eleição intercalar em Crewe. O líder conservador decreta “o fim do New Labour”

27 de JunhoO Labour fica em quinto lugar na eleição intercalar de Henley, uma derrota “humilhante”

Um ano de declínioDa hesitação às derrotas eleitorais

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22 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Mundo

Atlas

Alunos do secundário preparam-se para os exames de acesso à universidade num dormitório temporário em Anxian, na província de Sichuan, gravemente afectada pelo violento tremor de terra de Maio que, segundo um novo balanço publicado ontem pelas autoridades chinesas, causou 69.188 mortes. Cerca de 1800 estudantes estudam e dormem no grande armazém de Anxian agora convertido em dormitório para o exame de acesso à universidade,

e que nas zonas afectadas pelo terramoto foi adiado até 3 a 5 de Julho (cerca de um mês mais tarde do que no resto da China). Neste dormitório, todos os alunos perderam familiares e amigos – na tragédia morreram cerca de sete mil estudantes, muitos soterrados debaixo dos escombros de escolas mal construídas que não resistiram ao abalo. Muitos perderam os pais. A maioria são filhos únicos.“O terramoto provocou dor na minha família, mas vou tentar o meu melhor para ter uma

boa nota e entrar numa boa universidade, e estar à altura das expectativas dos meus pais”, contou Tang Shijun, um dos estudantes no armazém-dormitório de Axian, dizendo-se “razoavelmente preparado” mas admitindo que teve “dificuldade em concentrar-se” no estudo. Os seus pais morreram no terramoto. Huang Rongyun perdeu o pai e um tio. “Não consigo evitar lembrar-me do que aconteceu, e do meu pai”, diz. Rongyun, de 18 anos, não consegue concentrar-

-se e estudar, acha que a data do exame é demasiado próxima da do terramoto, e teme que se não conseguir uma boa nota para entrar na universidade, não consiga encontrar um bom emprego. Ao todo, são cerca de 96 mil estudantes das províncias de Sichuan e Gansu que vão fazer o exame mais tarde, segundo o Ministério da Educação.Todos receberam acompanhamento psicológico e ajuda nos estudos. E mais de metade dizem estar “razoavelmente preparados”.

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A ratificação do Tratado de Lisboa na República Checa ainda vai depender da decisão do Tribunal Constitucional. Mas ontem o Governo considerou que o novo tratado europeu está conforme à Constituição do país, noticiou a imprensa nacional citada pela AFP. Um dos principais opositores do tratado é o próprio primeiro-ministro, Mirek Topolanek, que lidera uma coligação de centro-direita e cujo Partido Democrático Cívico reúne um vasto número de eurocépticos e detém a maioria no Senado de que também depende a aprovação do tratado.

Tratado de LisboaGoverno checo pela constitucionalidade

A Comunidade Anglicana (que junta as igrejas anglicanas de todo o mundo) deverá sofrer hoje uma cisão quando conservadores (mais de metade do total dos membros), anunciarem a formação de um novo organismo ortodoxo, contra pontos de vista mais liberais, segundo o diário The Times.Enquanto em Inglaterra a nova formação continuará sob alçada da actual Comunidade, na América do Norte vai declarar formalmente a independência. É o golpe mais duro contra a unidade desde a Reforma Protestante no séc. XVI e um importante revés para o arcebispo da Cantuária, Rowan Williams.

ReligiãoComunidade Anglicana divide-se

Uma pessoa morreu e 24 ficaram feridas ontem às primeiras horas da manhã na explosão de um engenho artesanal em Trípoli, distrito do Norte do Líbano, foi confirmado por fontes da polícia local. A bomba deflagrou no primeiro andar de um edifício no bairro de Bab al-Tabbaneh. A vasta destruição era visível em imagens transmitidas pela televisão libanesa LBC. O edifício pertence à influente família saudita Eid, da qual um dos membros, Wisam Eid, responsável da segurança interna da polícia libanesa, foi assassinado na capital, Beirute, num atentado em Janeiro.

LíbanoExplosão de engenho artesanal em Trípoli

Dois funcionários estrangeiros das Nações Unidas e um cidadão somali foram ontem raptados por um grupo de islamistas radicais, a noroeste da capital da Somália, e horas depois libertados. Os dois estrangeiros – um sueco e o outro dinamarquês – trabalhavam num programa de desminagem no país que desde 1991 vive num contexto de total anarquia. Desde 2006, o país está em estado de guerra quase constante as tropas etíopes, que apoiam o governo de transição da Somália, e os radicais islâmicos que chegaram a assumir temporariamente o poder na capital, Mogadíscio.

Somália Membros da ONU raptados e libertados

Os sérvios do Kosovo inauguraram ontem a sua própria assembleia, na cidade de Mitrovica, num gesto de desafio ao governo albanês da província que declarou a sua independência da Sérvia e também à ONU. O dia escolhido para a tomada de posse desta assembleia – que a ONU classificou de “realidade virtual” pois não tem quaisquer poderes – foi o dia em que é lembrada a derrota dos sérvios pelas forças Otomanas em 1389. A assembleia é constituída por eleitos nas eleições sérvias, que a ONU e as autoridades albanesas do Kosovo dizem ser ilegais no seu território.

KosovoPrimeira assembleia sérvia inaugurada

A principal estrutura dos Jogos Olímpicos de Pequim, o estádio “Ninho de Pássaro”, foi dado ontem como pronto e operacional pelas autoridades chinesas. Era o último dos 37 locais onde vão decorrer provas que ainda estava por terminar e será ali que decorrerão as cerimónias de abertura e encerramento das Olimpíadas. O estádio, para 91 mil espectadores e com a já famosa grelha de aço que lhe dá a aparência de um ninho, foi desenhado pela empresa suíça Herzog and de Meuron e o arquitecto chinês Li Xinggang. Custou 500 milhões de dólares.

Jogos OlímpicosPrincipal estádio em Pequim está pronto

China Jovens sobreviventes da tragédia de Sichuan preparam-se para os exames

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 23

“Entreposto cultural” na Bienal de São Tomé

a Os visitantes não escondem o orgulho pela V edição da Bienal Internacional de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe que abriu ao público no dia 26, e cuja ideia é sedimentar um movimento cultural no arquipélago cada vez mais em comunicação com o mundo.

“De entreposto de escravos a entreposto cultural” é, desde a primeira edição em 1995, o tema da Bienal de São Tomé. E a produção do Centro Internacional de Arte e Cultura faz tudo para que essa transformação seja verdade.

A pessoa por detrás desta iniciativa é João Carlos Silva, grande dinamizador do país – com a galeria Teia de Arte e um projecto turístico-cultural na roça de São João, além do seu programa televisivo – a quem o novo primeiro-ministro, Rafael Branco, na abertura das conferências, chamou de “embaixador itinerante de São Tomé e Príncipe”.

Este ano redimensionou-se a Bienal e a portuguesa Adelaide Ginga, antiga directora do Instituto das Artes, foi a curadora convidada.

“Partilhar territórios” é o conceito-chave para trabalhar questões de identidade cultural.

“O benefício que o Ocidente tem vindo a usufruir com a crescente partilha cultural sediada no seu território deve ter reverso”, diz Adelaide Ginga, que trouxe a São Tomé representantes de várias latitudes. Assim, entre outros, podemos ver, no vasto espaço industrial das Antigas Oficinas, no centro da cidade, uma exposição de arte contemporânea com trabalhos de Zwelethu Mthethwa, da África do Sul, de António Ole, Tiago Borges e Yonamine Miguel, de Angola, de Dominique Zinkpé, do Benim, dos brasileiros Lygia Pape e Rosana Ricalde, tal como do português Rodrigo Oliveira.

Marcaram ainda presença Inês Gonçalves e Kiluange Liberdade, de Portugal, e Barthelemy Toguo, dos Camarões, que, além das peças, deu corpo a Requiem for África, uma performance que agitou a inauguração. Há trabalhos de Espanha, Guiné-Bissau e Moçambique, e ainda de artistas de São Tomé e Príncipe como Eduardo Malé, Kwame de Sousa e René Tavares. O Presidente Fradique de Menezes e a comitiva do Governo, diplomatas, cooperantes e visitantes de várias nacionalidades estiveram na exposição.

E foi notória a participação portuguesa. Ao ex-Presidente, Mário Soares – cuja visita, 40 anos depois, assinala a comemoração dos tempos de exílio em São Tomé – juntaram-se em painéis, de conferências e debates, figuras da cultura, como a poetisa são-tomense Alda do Espírito Santo, o escritor angolano José Eduardo Agualusa e o actor natural de São Tomé, Ângelo Torres, entre outros.

O evento, que durará um mês, posiciona o arquipélago na rota da arte contemporânea

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Marta Lança, em São Tomé

Reportagem

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24 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Grande Plano

Cor, música e 46664

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 25

a Cor, cor e mais cor. E música, muita música. O Coro de Gospel do Soweto, na África do Sul, foi um dos participantes em mais um concerto em honra de Nelson Mandela. Desta vez ocorreu no londrino Hyde Park e serviu para angariar fundos para a “46664”, a organização fundada pelo ex-Presidente da África do Sul para ajudar a combater a sida. 46664 era o número de prisioneiro de Mandela nos anos que passou detido por razões políticas durante o regime segregacionista. 46664 é o número de pessoas que se esperam no evento marcado para celebrar os 90 anos de Mandela, no dia 18 de Julho.

Andrew Winning/Reuters (foto)

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Local26 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Palavra chave Frase que explica o tema único que entra nesta página

Monitorização detectou 901 potenciais fontes poluidorasFontes poluentes contaminam água de Alqueva e PedrógãoFalta de entidade coordenadora e escassez de meios humanos e financeiros contribuem para a deterioração dos caudais

a A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva (EDIA) está preocupada com a gestão da água de Alqueva, com sinais de eleva-da contaminação por poluentes. Em 2005, e em parceria com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimen-to Regional do Alentejo, elaborou uma base de dados para congregar toda a informação sobre 901 focos poluentes que continuam a drenar uma elevada carga poluente para as albufeiras de Alqueva e Pedrógão.

Hemetério Monteiro, da admi-nistração da EDIA para a área do Ambiente, afirmou na abertura de um workshop realizado em Beja, na semana passada, sobre Protecção e Qualidade de Água de Alqueva e Pedrógão, que a situação “não é simples” e alertou para a forma co-mo está a ser gerida a maior reser-va estratégica de água em território português, condicionada na sua gestão pela “aplicação de medidas isoladas”.

André Matoso, representante da CCDR-A, partilha daquelas preocu-pações focando o exemplo espanhol: na gestão da Bacia Hidrográfica do Guadiana do outro lado da frontei-ra “existe um único ministério”. Em Portugal “falamos com a Agricultura e dizem-nos que é com o Ambiente, falamos com o Ambiente respondem que o assunto é com a Agricultura”, desabafa Matoso.

Paula Sarmento, que integra a Ad-ministração da Região Hidrográfica do Alentejo, junta à falta de uma entidade coordenadora “uma séria dificuldade de meios por falta de dotação financeira” para garantir a gestão e a fiscalização do empreen-dimento Alqueva. Ao nível técnico e de aplicação da legislação para o Empreedimento de Fins Múltiplos de Alqueva, existem “vários inter-venientes”, critica Teresa Leitão, do LNEC, referindo que vários minis-térios e direcções ali têm responsa-bilidades. Perante um tal quadro de competências, “as falhas na actua-ção derivam da falta de clareza nas competências atribuídas aos diversos serviços”, prossegue a técnica.

Por outro lado, o país está condi-cionado pela “falta de confiança e de credibilidade nas instituições”, conti-nuando a prevalecer “uma revoltante sensação de impunidade”, salienta a representante do LNEC, focando o comportamento de pessoas que con-tinuam a colocar as vacas a beber na albufeira “porque interiorizaram a ideia de que nada lhes acontece”.

Rosa Fernandes, representante da Escola Superior Agrária de Beja, real-çou a pouca eficácia de medidas que, “quando escritas num papel, são vá-lidas”. No entanto, quando se analisa como é que poderão ser aplicadas, “observamos que afinal há entidades que não assumem competências”.

O administrador da EDIA, colo-cado perante o universo de proble-mas, apelou para a necessidade de se passar das intenções às acções. No contrato de concessão que o Estado estabeleceu com a EDIA é atribuída a esta entidade a concessão do domí-nio público hídrico apenas para dois fins: produção de energia e captação de água para rega.

A Convenção luso-espanhola reali-zada em Albufeira, em 1998, acordou para a gestão da bacia hidrográfica do rio Guadiana a instalação de dois centros de monitorização do regime de caudais: um, a montante da albu-feira de Alqueva, no açude de Bada-joz, outro em território português, no Pomarão (Mértola).

O relacionamento entre as dele-gações portuguesa e espanhola no

Carlos Dias

seio da Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Conven-ção de Albufeira já conheceu piores dias. Mesmo assim, Paula Sarmento, membro da administração da Região Hidrográfica do Alentejo, adiantou, lacónica, que “tem havido colabo-ração, mas não tem havido articu-lação”.

Contrariedades relacionadas com a reposição dos caudais que deviam ter sido enviados para Portugal no ano hidrológico 2005/06 e o incumpri-mento nos volumes de escoamento de água na secção do Caia no rio Gua-diana, que as autoridades espanholas classificaram de “involuntário”, são dois dos episódios que a delegação portuguesa naquela comissão tem gerido nos últimos tempos, levan-do Hemetério Monteiro a chamar a atenção para os elevados níveis de poluição que persistem em toda a bacia do Guadiana, considerando ser “desejável” que as autoridades espanholas apliquem “os princípios de gestão” dos caudais do Guadiana de acordo com a Directiva Quadro da Água.

ADRIANO MIRANDA

Alentejo Maior reserva estratégica hídrica e desenvolvimento turístico ameaçados

Estão a ser monitorizados 12 locais de amostragem, dez em águas estacionárias e dois com águas correntes. O resultado global das análises tem evidenciado “alterações na qualidade da água” ao longo do tempo, frisou Manuela Morais, da Universidade de Évora. A conclusão aponta para a existência de grandes concentrações de nitratos nas bacias de Lucefécit, Ardila e Caia, consequência da pressão agrícola. As bacias do Álamo, Zebro, Lãs e Cheles são afectadas por águas residuais. A monitorização à qualidade da água detectou uma elevada percentagem de fósforo arrastado pelo caudal do Guadiana. As bacias do Degebe, do Ardila e do Caia são as que geram maiores

cargas poluentes. Já a carga de poluição da sub-bacia espanhola é muito superior à portuguesa e contribui para o fenómeno de eutrofização da água no período seco. A qualidade de água de Alqueva, a persistirem os elevados níveis poluentes, vai condicionar o seu uso balnear, factor que colide com a criação e desenvolvimento de projectos turísticos.

Uso balnear pode ser comprometidoUm enorme depósito de substâncias poluentes

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 27

Adega Mayor abre hoje as suas portas ao público

Para assinalar o Dia do Vinho, a Adega Mayor, localizada em Campo Maior e desenhada por Siza Vieira, vai estar de portas abertas

ao público, para provas e visita do espaço. Os visitantes poderão conhecer melhor o processo de fabrico do vinho.

O resultado está à vista. O gado continua a pastar nas margens de Alqueva e Pedrógão, lançando dejectos na água e as práticas agrícolas persistem a cerca de 100 metros das albufeiras debitando escorrências com fertilizantes e fitofármacos, sem que a fiscalização seja exercida de forma regular e eficaz.A dimensão do problema forçou a EDIA e a CCDR-A a fazer o levantamento de fontes de poluição urbanas, industriais e pecuárias existentes na bacia de drenagem das albufeiras de Alqueva e Pedrógão, em território nacional, uma vez que estas constituem origem de água de todo o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. Com base no trabalho desenvolvido foram identificadas 901 potenciais fontes de poluição, dos quais 137 são pontos de origem de poluição urbanas, com 93 a drenar directamente para as duas albufeiras, e 44 debitam a sua carga poluente para outras albufeiras localizadas na bacia hidrográfica de Pedrógão. Para além destas, foram detectadas 764 fontes de poluição industrial, sobretudo explorações pecuárias de regime intensivo e extensivo.Quanto à sua localização, o maior número concentra-se na bacia do Degebe, onde foram identificados 12 pontos de descarga com tratamento prévio e oito sem qualquer tratamento.Das 764 potenciais fontes de poluição identificadas, em território nacional, 505 drenam directamente para as albufeiras de Alqueva e Pedrógão e destas, 293 são explorações de bovinos e suínos localizadas na bacia hidrográfica do rio Degebe, igualmente afectada, tal como a bacia do Ardila, por lagares de vinho, de azeite e as indústrias de lacticínios. Os efeitos da actividade das indústrias extractivas de rochas ornamentais fazem-se notar o seu efeito bacia do rio Asseca.Do total de 764 unidades industriais, 141 tratam os seus afluentes, 161 não têm qualquer tratamento de efluentes, e não existe qualquer informação sobre 103 unidades. C.D.

Exemplo portuguêsMá prática agrícola é fonte de problemas e de contaminação da água

Ser dono e piloto do próprio hotel e pernoitar numa ilha ou numa enseada recôndita

Maria Antónia Zacarias

Barcos-casa são uma forma de conhecer por dentro o grande lago e uma oportunidade para dar uma saltada a aldeias que não se vêem da estrada

a O turismo náutico está a apaixo-nar os portugueses que procuram os barcos-casa existentes na Marina da Amieira, concelho de Portel, nas mar-gens do Guadiana. Totalmente equi-pados com quartos que podem ter até cinco camas, cozinha completa com fogão, forno, reserva de água potável, duche, casas de banho, sala de refei-ções, barbecue, rádio com CD e televi-são com DVD, estas embarcações são a maior atracção desta empresa de turismo que aposta no Grande Lago do interior alentejano.

Ao todo, são 15 os barcos-casa que navegam pelas águas da albufeira e que fazem parte da primeira fase do projecto da Marina da Amieira, num investimento que ronda os quatro milhões de euros. Segundo Eduar-do Lucas, sócio-gerente da empre-sa, para este ano o objectivo previsto era chegar aos 300 alugueres, “mas ainda mal começou o bom tempo e já levamos quase duas centenas de reservas”, adiantando que se a meta for alcançada, “teremos tido 1800 a duas mil pessoas” que alugaram bar-cos-casa.”

Este conceito de turismo naútico, já em voga há anos em vários paí-ses europeus, foi lançado em 2006, sendo uma aposta vocacionada para um público que queira desfrutar da imensa calma do lago, dando-lhe a oportunidade de permanecer a bordo durante vários dias, viverem o barco e habitarem-no. Para os promotores da iniciativa, a estadia adequada para alguém que queira conhecer o lago será de uma semana, “sem que haja problema de repetição ou não saber o que fazer ao longo dos 90 km na-vegáveis da albufeira”. Os clientes podem navegar, conhecer as aldeias ribeirinhas, “e mesmo que guardem uma por dia para visitar, numa sema-na vão ter dificuldade para chegar a todo o lado e ver tudo”, garantiu.

Navegação sem cartaOs ancoradouros destas aldeias têm vindo a aumentar e a melhorar as suas condições na prestação de ser-viços.

Estes barcos-casa não precisam de carta de marinheiro para a sua con-dução, mas há regras que os navega-dores devem conhecer. “Damos infor-mação sobre todos os mecanismos do barco, segurança e equipamento de apoio à navegação e sobre a veloci-dade máxima a que podem navegar, que é de 10 km/hora”, explica Edu-

ardo Lucas, acrescentando ainda que a formação poderá demorar nunca mais de duas horas, em terra, sobre os principais pontos de interesse turístico e sobre as funcionalidades do barco, sendo o passo seguinte a pilotagem supervisionada por um funcionário da marina.

“Quando o condutor está familia-rizado com a embarcação, é só partir para a descoberta de Alqueva, poden-do navegar durante todo o dia e toda a noite ou atracar ao final da tarde, escolhendo uma zona abrigada de ventos, uma ilha, uma enseada, ina-cessível por terra, atá-lo com os ca-bos a uma árvore e permanecer ali durante a noite”, afirmou. Contudo, há pessoas que preferem continuar rodeadas de água e assim atracam em bóias que estão disponíveis junto a cada aldeia ribeirinha, de forma a promover mais segurança. Mas ain-da há turistas que preferem acostar nos cais das aldeias ribeirinhas para poderem ir ao restaurante jantar e depois voltar para o barco.

Até 75 euros por pessoaNo que concerne aos preços, a em-presa garante que os preços são acei-táveis e acessíveis. O montante a pa-gar varia consoante a dimensão do barco, a época do ano e com os dias escolhidos para o passeio. “Quanto maior for o barco, mais barato sairá o preço por pessoa alojada, poden-do-se pagar entre 70 e 75 euros, por pessoa, por dia, o que nos leva a dizer que estes barcos não são só para ri-cos”, argumenta o sócio-gerente.

bordo pode custar 249 euros, saindo de manhã e regressando à noite. Um barco para 12 pessoas custará 279 eu-ros, o que significa cerca de 24 euros por pessoa, o que, convenhamos, não se pode considerar um valor eleva-do”, precisou Eduardo Lucas.

Portugueses em forçaOs principais clientes desta activida-de lúdica têm sido os portugueses, es-tando os espanhóis a assumir-se tam-bém como importantes. “Embora os portugueses só venham, por norma, ao fim-de-semana, temos tido bastan-te procura. Quanto aos estrangeiros, estes apostam fundamentalmente no período de uma semana, sete dias ou mesmo dez”, sendo de diferen-tes nacionalidades como franceses, alemães, belgas, luxemburgueses, holandeses e suíços.

Joana Ferreira de Andrade acaba de chegar de Lisboa e veio pela segunda vez a Alqueva para mais uma estadia de quatro dias nos barcos-casa. “Já tínhamos feito um primeiro passeio em Outubro do ano passado, depois de termos ouvido falar da marina, e, como gostámos, decidimos voltar”, afirmou.

Desta vez voltam acompanhados, tendo alugado seis embarcações para 42 pessoas. “No ano passado passeá-mos, atracámos para dormir, fomos até Monsaraz, mas este ano vamos mais longe, até Juromenha”, disse, acrescentando que não faltarão os banhos, o churrasco, muito descan-so, mas também uma grande anima-ção.

Já são 15 os barcos-casa, que podem dispor até cinco camas

ANTÓNIO CARRAPATO

Ainda há turistas que

preferem acostar nos cais

das aldeias ribeirinhas para

poderem ir ao restaurante

jantar e depois voltar

para o barco

Actividade em expansão

De segunda a quinta-feira, os pre-ços são mais baixos, aumentando ao fim-de-semana, sendo igualmente mais caros em época alta, “mas vir na Primavera ou no Outono, quando o clima é mais ameno, pode ser tam-bém uma boa opção”, asseverou. Pa-ra além deste tipo de aluguer, os bar-cos-casa podem ser alugados ao dia, “embora não seja esse o nosso inte-resse, mas pura e simplesmente uma oportunidade que criámos de alugar um barco a preços aceitáveis”. “Um barco que poderá levar oito pessoas a

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Local

Colectividade Desportiva, olhares sobre desporto blogs.publico.pt/colectividadedesportiva/

retirar os barcos, que ficam presos nos resíduos, explica Fernando Li-ma, pescador. “Bastava limpar o que existe”, diz. Na sua opinião, é desnecessário fazerem-se grandes projectos que custam milhões, por-que quem os acaba por pagar são os munícipes, e “o tempo é de crise”.

Já o presidente da junta de Marvi-la, Belarmino Silva, lamenta o facto de não ter sido informado sobre os planos da autarquia.

O autarca pretende ver resolvidas situações que considera serem mais prementes, nomeadamente o trata-mento de esgotos.“A freguesia tem esgotos a céu aberto que correm di-rectamente para o rio Tejo”, lembra o autarca, chamando a atenção para

Praias e piscinas no Tejo não entusiasmam moradores de Algés e Poço do Bispo

a O plano de recuperação da frente ribeirinha de Lisboa prevê a criação de zonas de praia com piscinas flutu-antes em Algés e no Poço do Bispo, mas os moradores das duas zonas mostram-se pouco entusiasmados com os equipamentos lúdicos pro-metidos.

Em Algés, alguns habitantes mos-tram-se agradados com o alargamen-to do areal existente, mas dizem que dispensavam a piscina. Micaela Tei-xeira, de 43 anos, emigrante na Su-íça, não aceita que os lisboetas “vi-vam de costas voltadas para o rio”. Frequenta a praia para passear o cão, apesar da “sujidade existente, e dos casais de namorados nos carros ao

longo da rua”. Lamenta que as “au-toridades gastem tanto dinheiro com o que não é necessário”: na sua opi-nião, bastava remover os lixos acu-mulados e dar uma carga mais huma-na ao local, “dispensando a piscina flutuante”.

“A água do mar está poluída e não é preciso gastarem dinheiro com pis-cinas”, observa por sua vez a advoga-da Paula Alves, que ali vai para fazer marcha, por indicação médica.

Poço do Bispo desconheceOs pescadores da Doca do Poço do Bispo, os moradores e o presidente da junta de Marvila desconhecem o plano para ali criar um grande equi-pamento lúdico, com praia fluvial e piscina flutuante. As autoridades são acusadas de terem votado a fre-guesia ao esquecimento, deixan-do o lixo a acumular-se há mais de dez anos.

“A doca ficou assoreada com lodo e lixo” desde a realização da Expo-98 e na maré baixa torna-se impossível

Projectos anunciados pela autarquia são considerados demasiado dispendiosos ou megalómanos. Habitantes preferem que câmara limpe o que há muito está sujo

o facto de a Doca do Poço do Bis-po, onde a câmara pretende criar a praia, se situar apenas a cerca de cem metros do ponto de descarga.

Era preferível recuperar as infra-estruturas existentes, argumenta o autarca. “Era mais barato e a popu-lação beneficiava mais”, em vez de estarem a “anunciar projectos mega-lómanos, sem primeiro resolverem situações mais urgentes”, como a po-breza da população da freguesia.

A moradora Paula Teixeira lamen-ta que as autoridades tencionem “gastar milhões” numa praia fluvial para ninguém depois a frequentar. “As casas têm preços inacessíveis, os medicamentos são incomportáveis, os ordenados miseráveis e as autori-dades querem uma praia na doca...”, critica a habitante.

O projecto do Poço do Bispo ne-cessita de autorização da administra-ção portuária, uma vez que esta zona não faz parte daquelas que na frente ribeirinha o Governo passou para a alçada da autarquia. Lusa

Tanto em Algés como no Poço do Bispo, as maiores queixas dos locais vão para a quantidade de lixo acumulado ao longo de anos

Precários da CML começam amanhã a ir ao tribunal arbitral

a Mais de 200 processos de trabalha-dores precários da Câmara de Lisboa deram entrada no tribunal arbitral que começa a funcionar amanhã para decidir da sua integração no quadro da autarquia, disse à Lusa fonte da presidência da autarquia.

Até sexta-feira deram entrada 203 processos, mas “é expectável que, com o início destes julgamentos e a sua notícia, venha a crescer o núme-ro de processos”, afirmou a mesma fonte de informação. As sessões de julgamento decorrerão a uma média de “cinco ou seis por dia ao longo de Julho”.

A autarquia tem cerca de 11 mil fun-cionários e 900 trabalhadores com vínculo precário. Depois de o presi-dente do município, António Costa, ter chegado a acordo com os sindica-tos, a câmara aprovou a criação de um tribunal arbitral para decidir a possibilidade de os trabalhadores pre-cários integrarem o quadro de direito privado da autarquia. A criação do tri-bunal arbitral, um método inédito em matéria laboral, foi aprovada em Abril em reunião do executivo municipal, com a abstenção do movimento Lis-boa com Carmona e da CDU.

Este tribunal irá estabelecer se o vínculo precário – avenças, “recibos verdes” ou contratos – configura um efectivo contrato de trabalho. O cum-primento de um horário de trabalho e a submissão a uma hierarquia estão entre os principais critérios. Também será apurado se as pessoas em causa colmatam necessidades permanentes dos serviços. A integração dos precá-rios foi uma das condições do acordo pós-eleitoral entre PS e BE.

Azambuja contesta restrições do TGVa A Assembleia Municipal de Azam-buja aprovou, por unanimidade, uma moção que contesta a forma como foi definido um corredor de reserva com 400 metros de largura para a constru-ção da linha de comboio de alta velo-cidade (TGV) entre Lisboa e o Porto.

Os eleitos azambujenses defendem a realização de um estudo mais apro-fundado sobre a utilidade do troço previsto para a região e a suspensão do decreto-lei publicado em Abril que define um conjunto de restrições à construção ou alteração do solo neste corredor.

A moção, apresentada pela banca-da do PSD, recorda que o município azambujense é atravessado longitu-dinalmente por um corredor de re-serva com 400 metros de largura, que afecta sobretudo as freguesias de Alcoentre, Aveiras de Cima e Vila Nova da Rainha. Os estudos conhe-cidos apontam para três alternativas de traçado na travessia do concelho de Azambuja, o que gera também um maior impacto das restrições aprova-das pelo Governo.

O documento aprovado pela as-sembleia municipal vai ser enviado

ao Governo e à Assembleia da Re-pública e exige também a rápida aprovação e publicação de legisla-ção que levante definitivamente as medidas restritivas que incidiam so-bre a área do “aeroporto da Ota” e sobre os espaços reservados para os seus acessos, conforme foi prometido pelo Governo. Os autores da moção sublinham que os traçados que mo-tivaram estes corredores de reserva

foram estudados na perspectiva de construção do futuro aeroporto na Ota. Com a decisão do Governo de mudar o equipamento aeroportuá-rio para zona do Campo de Tiro de Alcochete, os eleitos do PSD consi-deram que não faz sentido sujeitar o concelho a medidas preventivas sem que o traçado definitivo do TGV nesta área seja submetido a um estudo mais aprofundado. Jorge Talixa

Azambuja que mais estudos para o traçado definitivo do TGV

NÉLSON GARRIDO

Novo quartel dos bombeiros em Abrantesa As centenárias instalações dos Bombeiros Municipais de Abrantes vão ser desactivadas dentro de um ano quando for inaugurado o novo quartel da corporação, anunciou sexta-feira à noite o presidente da câmara.

Nelson de Carvalho revelou em assembleia municipal que a Câma-ra de Abrantes lançou esta semana o concurso público de empreitada de construção do novo quartel dos Bombeiros Municipais, corporação

que está “há décadas mal instala-da”: “Os Bombeiros Municipais de Abrantes são, porventura, dos que menos condições de trabalho e ope-racionalidade terão no distrito de Santarém.”

Em declarações à agência Lusa, o autarca lembrou que “há várias déca-das que a corporação está instalada em dois edifícios situados no centro histórico e que se vinham a tornar de-sajustados com a crescente activida-de da corporação, apesar de algumas

intervenções para os melhorar”. O novo quartel vai nascer nas insta-

lações industriais da antiga Cervinal, adquiridas pela autarquia para este efeito em Setembro de 2005, por 1,15 milhões de euros, e que serão agora objecto de obras de alteração e adap-tação à nova função.

Com um área de 2200 metros qua-drados num terreno com 7900 m2, a construção do quartel tem um ano de prazo de execução, tendo a autarquia candidatado a obra ao QREN.

Tribuna do cidadão

É o simplex...

Cada vez que me dirijo aos serviços públicos fico admirado com tanta eficiência, rigor e exigência conforme o senhor Presidente da República pede que os portugueses sejam. Desloquei-me à Loja do Cidadão, nos Restauradores, em Lisboa, para renovar a Carta de Condução. Depois de esperar mais de duas horas para ser atendido informaram-me que o pagamento não podia ser efectuado via Multibanco, conforme informa o impresso distribuído pela entidade competente, porque já estava encerrado mesmo antes do fecho dos serviços. Simplex.Emanuel LopesAmadora

Degradação do Chafariz e Arco de São MamedeEste imóvel, classificado Monumento Nacional, está abandonado e a ser rapidamente destruído com graffiti. Segundo informação oficial da CML, a manutenção e conservação deste monumento é da inteira responsabilidade da EPAL.

É inaceitável que este monumento esteja coberto de graffiti, incluindo palavras e expressões ofensivas. Noutros países da Europa comunitária, a lei obriga a que todos os palavrões e frases racistas sejam limpas das paredes num prazo de 48 horas após a primeira denúncia de um cidadão. O Chafariz e Arco de São Mamede estão nesta vergonhosa situação há vários anos. E há vários anos que tanto a EPAL como a CML recebem protestos e queixas de munícipes. Esperemos que a EPAL seja sensível, de uma vez por todas, para o mandar limpar o mais brevemente possível.

O desleixo e falta de manutenção deste monumento, que é parte integrante do Aqueduto das Águas Livres, entra em contradição com o bom trabalho desenvolvido pelo Museu da Água. Cabe à EPAL decidir.Fernando JorgeLisboa

As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. Email: [email protected]

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3 -Condições para a obtenção de documentos contratuais e adicionaisO Processo de concurso pode ser consultado no local indicado em 1, das 9.00 às 13.00 e das 14.00 às 17.00 horas, ou adquirido das 9.00 às 13.00 e das 14.00 às 16.00 horas, desde a data de publicação deste anúncio no Diário da República e até ao dia e hora do acto público do concurso.Poderá ainda ser enviado por correio mediante pedido por escrito acompanhado de cheque.O pagamento poderá ser efectuado em numerário ou cheque à ordem do “Tesoureiro do Município de Cascais”.Custo: � 90,32 (com IVA incluído à taxa em vigor)

4 -Prazo para recepção de propostas:Até às 17.00 horas do dia 29 de Julho de 2008.

5 -Abertura das propostas:Às 09.30 horas do dia 30 de Julho de 2008 na sala de reuniões do Edi-fício Municipal, sito na Travessa da Conceição, n.º 6, em Cascais.

6 -Data de envio do anúncio para publicação no Diário da República: 18 de Junho de 2008.

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Av. 5 de Outubro, 25 R/C - 8000-022 FARO

ANÚNCIOProcesso de Execução Fiscal n.º 1058200701085263

IDENTIFICAÇÃO DO(S) BEM(NS)Prédio rústico com a área de 3960m2, sito em Caliços “Nateira”, Mon-carapacho, Confrontações: Norte e Nascente - caminho; Sul - Alfredo Martins Moreno; Poente - ribeiro, inscrito na matriz cadastral rústi-ca da Freguesia de Moncarapacho, Concelho de Olhão sob o artigo n.º 65 Secção U e descrito na Conservatória do Registo Predial de Olhão sob o n.º 403/221085. Penhorado no Processo de Execução Fiscal n.º 1058200701085263.

TEOR DO ANÚNCIOJoão António Correia do Carmo, Chefe de Finanças do Serviço de Finan-ças FARO-1058, faz saber que no dia 2008-07-17, pelas 12:00 horas, neste Serviço de Finanças, sito em AV. 5 DE OUTUBRO N.º 25-A, FARO, se há-de proceder à abertura das propostas em carta fechada, para venda judicial, nos termos dos artigos 248.º e seguintes do Código de Procedi-mento e de Processo Tributário (CPPT), do bem acima designado, penho-rado ao Executado infra-indicado, para pagamento da dívida no valor de 476.662,75€, sendo 476.662,75€ de quantia exequenda e 0€ de acréscimos legais.Mais, correm anúncios e éditos de 20 dias (239.º/2 CPPT), contados da 2.ª publicação, citando os credores desconhecidos e os sucessores dos credo-res preferentes para reclamarem, no prazo de 15 dias, contados da data da citação, o pagamento dos seus créditos que gozem de garantia real, sobre o bem penhorado acima indicado (240.º/CPPT).O valor-base da venda é de 6.000€, calculado nos termos do artigo 250.º do CPPT.É fiel depositário(a) o(a) Sr.(a) ANTÓNIO COLAÇO CANÁRIO, resi-dente em R. PORTUGAL N.º 59 - FARO, o(a) qual deverá mostrar o bem acima identificado a qualquer potencial interessado, entre as 09:00 horas do dia 2008-06-05 e as 16:00 horas do dia 2008-07-16 (249.º/6 CPPT).Todas as propostas deverão ser entregues no Serviço de Finanças, até às 16:00 horas do dia 2008-07-16, em carta fechada dirigida ao Chefe do Serviço de Finanças, devendo identificar o proponente (nome, mora-da e número fiscal), bem como o nome do Executado e o n.º de venda 1058.2008.58.As propostas serão abertas no dia e hora designados para a venda (dia 2008-07-17 às 12:00h), na presença do Chefe do Serviço de Finanças (253.º CPPT).Não serão consideradas as propostas de valor inferior ao valor-base de venda atribuído a cada verba (250.º N.º 4 CPPT).No acto da venda deverá ser depositada a importância mínima de 1/3 do valor da venda, na Secção de Cobrança deste Serviço de Finanças e pago o Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis e o Im-posto do Selo que se mostrem devidos. Os restantes 2/3 deverão ser depo-sitados na mesma entidade, no prazo de 15 dias (256.º CPPT).Se o preço oferecido mais elevado for proposto por dois ou mais propo-nentes, abrir-se-á logo licitação entre eles, salvo se declararem adquirir o bem em compropriedade. Estando presente só um dos proponentes do maior preço, pode esse cobrir a proposta dos outros, caso contrário pro-ceder-se-á a sorteio para apurar a proposta que deve prevalecer (253.º CPPT).

IDENTIFICAÇÃO DO EXECUTADONome: ANTÓNIO COLAÇO CANÁRIO.Morada: R. PORTUGAL N.º 59 - FARO.

Data: 25-06-2008

O Chefe de Finanças - João António Correia do Carmo

Público, 29/06/2008 - 2.ª Pub.

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Serviço de Finançasde Faro-1058

Av. 5 de Outubro, 25 R/C - 8000-022 FARO

ANÚNCIOProcesso de Execução Fiscal n.º 1058200701085263

IDENTIFICAÇÃO DO(S) BEM(NS)Prédio rústico com a área de 4040m2, sito em Caliços, Moncarapacho, Confrontações: Norte - Herdeiros de Alfredo Martins Moreno; Sul - jun-ção do ribeiro com o caminho; Nascente - caminho; Poente - ribeiro, ins-crito na matriz cadastral rústica da Freguesia de Moncarapacho, Conce-lho de Olhão sob o artigo n.º 63 secção U e descrito na Conservatória do Registo Predial de Olhão sob o n.º 2756/900108. Penhorado no Processo de Execução Fiscal 1058200701085263.

TEOR DO ANÚNCIOJoão António Correia do Carmo, Chefe de Finanças do Serviço de Finan-ças FARO-1058, faz saber que no dia 2008-07-17, pelas 11:00 horas, neste Serviço de Finanças, sito em AV. 5 DE OUTUBRO N.º 25-A, FARO, se há-de proceder à abertura das propostas em carta fechada, para venda judicial, nos termos dos artigos 248.º e seguintes do Código de Procedi-mento e de Processo Tributário (CPPT), do bem acima designado, penho-rado ao Executado infra-indicado, para pagamento da dívida no valor de 476.662,75€, sendo 476.662,75€ de quantia exequenda e 0€ de acréscimos legais.Mais, correm anúncios e éditos de 20 dias (239.º/2 CPPT), contados da 2.ª publicação, citando os credores desconhecidos e os sucessores dos credo-res preferentes para reclamarem, no prazo de 15 dias, contados da data da citação, o pagamento dos seus créditos que gozem de garantia real, sobre o bem penhorado acima indicado (240.º/CPPT).O valor-base da venda é de 5.000€, calculado nos termos do artigo 250.ºdo CPPT.É fiel depositário(a) o(a) Sr.(a) ANTÓNIO COLAÇO CANÁRIO, resi-dente em R. PORTUGAL N.º 59 - FARO, o(a) qual deverá mostrar o bem acima identificado a qualquer potencial interessado, entre as 09:00 horas do dia 2008-06-05 e as 16:00 horas do dia 2008-07-16 (249.º/6 CPPT).Todas as propostas deverão ser entregues no Serviço de Finanças, até às 16:00 horas do dia 2008-07-16, em carta fechada dirigida ao Chefe do Serviço de Finanças, devendo identificar o proponente (nome, mora-da e número fiscal), bem como o nome do Executado e o n.º de venda 1058.2008.59.As propostas serão abertas no dia e hora designados para a venda (dia 2008-07-17 às 11:00h), na presença do Chefe do Serviço de Finanças (253.ºCPPT).Não serão consideradas as propostas de valor inferior ao valor-base de venda atribuído a cada verba (250.º N.º 4 CPPT).No acto da venda deverá ser depositada a importância mínima de 1/3 do valor da venda, na Secção de Cobrança deste Serviço de Finanças e pago o Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis e o Im-posto do Selo que se mostrem devidos. Os restantes 2/3 deverão ser depo-sitados na mesma entidade, no prazo de 15 dias (256.º CPPT).Se o preço oferecido mais elevado for proposto por dois ou mais propo-nentes, abrir-se-á logo licitação entre eles, salvo se declararem adquirir o bem em compropriedade. Estando presente só um dos proponentes do maior preço, pode esse cobrir a proposta dos outros, caso contrário pro-ceder-se-á a sorteio para apurar a proposta que deve prevalecer (253.º CPPT).

IDENTIFICAÇÃO DO EXECUTADONome: ANTÓNIO COLAÇO CANÁRIO.Morada: R. PORTUGAL N.º 59 - FARO.

Data: 25-06-2008

O Chefe de Finanças - João António Correia do Carmo

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AVISO

DISCUSSÃO PÚBLICAPROCESSO N.º SPO-498/2007

OPERAÇÃO DE LOTEAMENTO

Em cumprimento do disposto no n.º 1 do art.º 22 do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, na redacção dada que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei n.º 177/01, de 4 de Junho, e no uso da competência que me foi subdelegada através do Despacho n.º 92/2005, de 19 de Dezembro, divulga-se que se encontra no período de discussão públicao pedido de licenciamento de operação de loteamento do prédio des-crito na 2.ª Conservatória do Registo Predial de Cascais sob a ficha n.º 07611/190198 com a área de 7.560,00m2, sito em Arneiro, Freguesia de Alcabideche, requerido em nome de URBIMAIN-INVESTIMENTOSE EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIOS, UNIPESSOAL, LDA.A operação de loteamento prevê a constitutição de 4 lotes para mora-dias unifamiliares com 2 pisos+cave.Durante o período de discussão pública que decorrerá pelo prazo de 15 dias úteis, contados a partir da data da publicação do presente aviso no Diário da República - II Série, o processo de loteamento n.º SPO498/2007 estará disponível, para consulta, na Divisão Administrativa do Urbanismo - Secção de Loteamentos - em qualquer dia útil, das 9.00H às 13.00H e das 14.00H às 16.00H.Os interessados podem apresentar por escrito, no decurso daquele período, reclamações, observações, sugestões e pedidos de esclareci-mento, as quais deverão ser entregues no Sector de Atendimento do Urbanismo.O presente aviso vai ser igualmente afixado na Junta de Freguesia de Alcabideche, nos Paços do Concelho e no local objecto do lote-amento.

Cascais, 09 de Junho de 2008

Carlos Carreiras(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Cascais)

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Page 31: Público – 6664 – 29.06.2008

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Embaixada do Japão:Procura um Técnico Administrativo com Valência de Secretariado

Requisitos:- Conhecimento de gestão administrativa (inclusive da manutenção da

residência do Embaixador);- Capacidade de negociação;- Experiência de secretariado;- Conhecimentos de informática (MS WORD, EXCEL, e preferen-

cialmente ACCESS);- Conhecimento de inglês.Envie CV até 10 de Julho de 2008 para:e-mail: [email protected] 21 353 76 00Tel. 21 311 05 60

TRIBUNAL JUDICIAL DE SETÚBAL3.º Juízo Criminal

Processo n.º 1229/07.6PCSTB

ANÚNCIOProcesso AbreviadoO Dr. António José Martins Cabral, Mm.º Juiz de Direito, do 3.º Juízo Criminal - Tribunal Judicial de Setúbal:FAZ SABER que no Processo Abreviado n.º 1229/07.6PCSTB, pendente neste Tribunal, contra os arguidos: Valentin Marian Petre, filho de Nicutá e de Constanta, natural de: Roménia; nacional de Roménia, nascido em 28-12-1985, estado civil: Solteiro, BI estrangeiro - 665658 - Ph, com último domicí-lio: Rua Maria Andrade, N.º 15 - 1.º Dt.º, 1000 Lisboa, Martins Romeo Popescu, filho de Gheorghe e de Constanta, solteiro, nascido em 03-01-1980, natural de Roménia, nacional de Roménia, Passaporte - 12293268, com último domicílio: Rua Maria Andrade, N.º 15 - 1.º Dt.º, 1000 Lisboa, por se encon-trarem indiciados da prática do crime: 1 crime de Desobediência, p.p. pelo art.º 348.º do C. Penal, praticado em 09-09-2007; são os mesmos notificados por esta for-ma para se apresentarem em juízo dentro do prazo de 30 dias, conta-dos da data da 2.ª publicação, sob pena de, não o fazendo, serem declarados CONTUMAZES, nos termos do disposto no art.º 335.º, n.º 1 e 2 do C. P. Penal.N/Referência: 5673241Setúbal, 23-06-2008

O Juiz de DireitoDr. António José Martins Cabral

O Escrivão AdjuntoPaulo Alexandre Esteves Ribeiro

Público, 29/06/2008 - 2.ª Pub.

TRIBUNAL JUDICIAL DE ELVAS

1.º JuízoProcesso n.º 217/08.0TBELV

ANÚNCIOProcesso Comum (Tribunal Singular)O/A Mm.º(a) Juíza Estagiária Dr(a). Anabela Sousa, do(a) 1.º Juízo - Tribunal Judicial de Elvas:FAZ SABER que no Processo Comum (Tribunal Singular) n.º 217/08.0TBELV, pendente neste Tribunal contra o arguido Joaquim Miguel Nbavo Mariano, natural de Angola; nacional de Angola, nascido em 15-08-1975, estado civil: Solteiro, profissão: Desconhecida ou sem Profis-são, com último domicílio conhecido na Rua Dr. Manuel de Costa, N.º 10 - Cave Dta., Costa de Caparica, 2825-000 Costa de Caparica, o qual se encontra acusado da prática do seguinte crime: 1 crime de Falsificação de documento, p. p. pelo art.º256.º do C. Penal n.º 1, al. a), praticado em 10-01-2006; é o mesmo declarado contumaz, nos termos dos art.ºs 335.º, 337.º e 476.º, todos do C. P. Penal.A declaração de contumácia, que ca-ducará com a apresentação do arguido em juízo ou com a sua detenção, tem os seguintes efeitos:a) Suspensão dos termos ulteriores do processo até à apresentação ou deten-ção do arguido, sem prejuízo da realiza-ção de actos urgentes nos termos do art.º 320.º do C. P. Penal;b) Anulabilidade dos negócios jurídicos de natureza patrimonial celebrados pelo arguido, após esta declaração;c) Proibição de obter quaisquer docu-mentos, certidões ou registos junto de autoridades públicas;d) O arresto da totalidade ou em parte dos seus bens, nos termos do disposto no art.º 337.º, n.º 3 do referido diploma legal.N/Referência: 1031126Elvas, 18-06-2008

A Juíza Estagiária - Anabela SousaA Escrivã Adjunta - Ana Paula Leonardo

Público, 29/06/2008 - 2.ª Pub.

HONORATO ALVES DE SEABRA(Engenheiro)

Missa de 7.º Dia e AgradecimentoMaria Manuela Bastos de Seabra Pinto Ferreira, seu mari-do, José Manuel de Castro Pinto Ferreira, Filhos e Netos, Maria Elisa Bastos de Seabra Figueiredo, suas Filhas e Netos e demais Familiares, participam que amanhã, dia 30, pelas 19h:00m na Igreja de S. João de Deus será cele-brada Missa pelo seu eterno descanso. Desde já agrade-cem a todos quantos se dignarem assistir a tão piedoso acto, bem como àqueles que o acompanharam à sua últi-ma morada ou que de qualquer modo lhes manifestaram o seu pesar.

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Tel: 21 886 34 32 Fax: 21 888 19 57Largo das Olarias, 45 - 1100-376 Lisboa

ANÚNCIO DE CONCURSO

Administração Regional de Saúde do Alentejo, IP

SECÇÃO I: ENTIDADE ADJUDICANTEI.1) DESIGNAÇÃO, ENDEREÇOS E PONTOS DE CONTACTODesignação Oficial: Administração Regional de Saúde do Alentejo, I.P.Endereço Postal: Rua do Cicioso, 18Localidade: ÉvoraCódigo Postal: 7001-901País: PortugalPontos de contacto: AprovisionamentoTelefone: 266737500Correio Electrónico: [email protected]: 266743771Mais informações podem ser obtidas no seguinte endereço:Ver «pontos de contacto»Caderno de encargos e documentos complemen-tares (incluindo documentos para diálogo concor-rencial e para um Sistema de Aquisição Dinâmico) podem ser obtidos no seguinte endereço:Ver «pontos de contacto»As propostas ou pedidos de participação devem ser enviados para o seguinte endereço:Outro: preencher anexo A.IIII.2) TIPO DE ENTIDADE ADJUDICANTE E SUAS PRINCIPAIS ACTIVIDADESMinistério ou outra autoridade nacional ou fe-deral, incluindo as respectivas repartições region-ais ou locais SaúdeA entidade adjudicante está a contratar por conta de outras entidades adjudicantes NãoSECÇÃO II: OBJECTO DO CONTRATOII.1) DESCRIÇÃOII.1.1) Designação dada ao contrato pela entidade adjudicanteAquisição de Serviços Médicos para o Centro de Saúde de Reguengos de Monsaraz e ExtensõesII.1.2) Tipo de contrato e local da realização das obras, da entrega dos fornecimentos ou da presta-ção de serviçosc) ServiçosCategoria de serviços n.º 27Principal local de execução, de entrega ou da prestação dos serviços: Reguengos de MonsarazCódigo NUTS: PT183II.1.3) O anúncio implica: Um contrato públicoII.1.5) Breve descrição do contrato ou das aquisiçõesAquisição de Serviços MédicosII.1.6) CLASSIFICAÇÃO CPV (VOCABULÁRIO COMUM PARA OS CONTRATOS PÚBLICOS)Objecto principalVocabulário principal: 85121100II.2) QUANTIDADE OU EXTENSÃO DO CON-TRATOII.2.1) Quantidade ou extensão totalA prestação de 32 horas semanaisII.3) DURAÇÃO DO CONTRATO OU PRAZO PARA A SUA EXECUÇÃOPeríodo em meses: 12 (a contar da data de adju-dicação)SECÇÃO III: INFORMAÇÕES DE CARÁCTER JURÍDICO, ECONÓMICO, FINANCEIRO E TÉCNICOIII.1) CONDIÇÕES RELATIVAS AO CON-TRATOIII.1.2) Principais modalidades de financiamento e pagamento e/ou referência às disposições que as regulamO financiamento terá como fonte o Orçamento do Estado, os pagamentos serão efectuados nos ter-mos do disposto no caderno de encargos.III.1.3) Forma jurídica que deve assumir o agru-pamento de operadores económicos adjudicatárioAgrupamento de empresas nos termos estabeleci-dos do art.º 3.º, da Parte II das cláusulas técnicas do processo de concurso.

III.1.4) Existem outras condições especiais a que está sujeita a execução do contrato: NãoIII.2) CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃOIII.2.1) Situação pessoal dos operadores económi-cos, nomeadamente requisitos em matéria de ins-crição nos registos profissionais ou comerciaisInformação e formalidades necessárias para verifi-car o cumprimento dos requisitos:Apresentação de declaração da Ordem dos Médi-cos a comprovar as habilitações do concorrente.SECÇÃO IV: PROCESSOIV.1) TIPO DE PROCESSOIV.1.1) Tipo de processo Concurso públicoIV.2) CRITÉRIOS DE ADJUDICAÇÃOIV.2.1) Critérios de adjudicação:Proposta economicamente mais vantajosa, tendo em contaOs critérios enunciados no caderno de encargos, no convite à apresentação de propostas ou para participar na negociação ou na memória descritivaIV.3) INFORMAÇÕES DE CARÁCTER ADMI-NISTRATIVOIV.3.1) Número de referência atribuído ao pro-cesso pela entidade adjudicanteConcurso Público n.º 4/2008 - ARSAIV.3.2) Publicações anteriores referentes ao mes-mo projecto: NãoIV.3.3) Condições para obtenção do caderno de encargos e dos documentos complementares (ex-cepto para um SAD) ou memória descritiva (em caso de diálogo concorrencial)Prazo para a recepção de pedidos de documentos ou para aceder aos documentosData: 04/07/2008Documentos a título oneroso: NãoIV.3.4) Prazos de recepção das propostas ou dos pedidos de participaçãoData: 07/07/2008 Hora: 17:00IV.3.6) Língua ou línguas que podem ser utilizadas nas propostas ou nos pedidos de participação PTIV.3.7) Período mínimo durante o qual o concor-rente é obrigado a manter a sua proposta (concur-sos públicos)Período em dias: 60 (a contar da data-limite para a recepção das propostas)IV.3.8) Condições de abertura das propostasData: 08/07/2008 Hora: 10:30Lugar: Departamento de Instalações e Equipa-mentos da ARS Alentejo, I.P.Rua Dr. Joaquim Henrique da Fonseca, n.º 20,7000-890 ÉvoraPessoas autorizadas a assistir à abertura das pro-postas: SimQualquer interessado, apenas podendo intervir os concorrentes ou seus representantes, devidamente credenciados.SECÇÃO VI: INFORMAÇÕES COMPLEMEN-TARESVI.5) DATA DE ENVIO DO PRESENTE ANÚNCIO19/06/2008

ANEXO A:ENDEREÇOS SUPLEMENTARES

E PONTOS DE CONTACTOIII) ENDEREÇOS E PONTOS DE CONTACTO PARA ONDE DEVEM SER ENVIADOS AS PRO-POSTAS/PEDIDOS DE PARTICIPAÇÃODesignação Oficial: Departamento de Instalações e Equipamentos da ARS Alentejo, I.P.Endereço Postal: Rua Dr. Joaquim Henrique da Fonseca, n.º 20Localidade: ÉvoraCódigo Postal: 7000-890País: Portugal

19 de Junho de 2008

O Vogal do Conselho Directivo da ARS AlentejoDr. José Gomes Esteves

TURISMO RURALPROJECTOS DE ARQUITECTURA

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Page 32: Público – 6664 – 29.06.2008

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ObrasO concurso está abrangido pelo Acordo sobre Contratos Públicos (ACP)? Não

SECÇÃO I: ENTIDADE ADJUDICANTEI.1) DESIGNAÇÃO E ENDEREÇO OFICIAIS DA ENTIDADE ADJUDICANTEDesignação Oficial: Município de Vila Nova de GaiaEndereço postal: Rua Álvares Cabral - Localidade/Cidade: Vila Nova de GaiaCódigo postal: 4400-017

SECÇÃO VI: INFORMAÇÕES ADICIONAISVI.4) OUTRAS INFORMAÇÕESNos termos do artigo 107.º, n.º 1, alínea a) do D.L. 59/99, de 02.03, o processo de concurso para Construção da Via de Ligação entre a Rua José Falcão e a Rua de D. Leonor de Freitas, publicado no D.R., II.ª Série, n.º 50, de 11 de Março de 2008, a folhas 10 384 a 10 386, ao qual foi atribuído o n.º 2611096199, foi interrompido. A data de recomeço do procedimento será oportunamente publicada.

19/06/2008

O Vereador do Pelouro de Obras MunicipaisFirmino Pereira

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Público, 2008.06.29

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AVISOTorna-se público que, por anúncio publicado no Diário da República,

II.ª Série, n.º 122, de 26 de Junho de 2008, se encontra aberto concurso

interno geral para provimento de um lugar de Assistente de Pediatria,

da carreira médica hospitalar.

O concurso encontra-se aberto no prazo de 20 dias úteis, a contar da

data de publicação no Diário da República, devendo os interessados, para

mais informações, consultar o Diário da República acima mencionado ou o

Serviço de Recursos Humanos, nas horas normais de expediente.

O Conselho de Administração

Eduardo Gastão Ramos - Vogal Executivo do C. A.

Público, 2008.06.29

FARMÁCIA MOURA

Pretende contratar

Farmacêutico/a licenciado em Ciências Farmacêuticas,

com estágio completo,c/ ou sem prática em farmácia

comunitária.

Telf: 917 302 826

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AVEIRO

Page 33: Público – 6664 – 29.06.2008

Público • Domingo 29 Junho 2008 • 33

“Mestrado em Tecnologias do Medicamento”

2008/2010

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO:Tecnologia Farmacêutica

Duração do 2.º ciclo: 4 semestres120 ECTSAdequado nos termos do Processo de Bolonha

Número máximo de alunos admitidos: 20 alunos O curso só funciona com um número mínimo de 10 alunos

Apresentação de candidaturas: 30 de Junho a 31 de Julho de 2008Início do Curso: Setembro de 2008

São admitidos ao ciclo de estudos de Mestrado em Tecnologia do Medicamento:a) Os titulares do grau de licenciado em Ciências Farmacêuticas, mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas, ou seu equivalente legal; b) Os titulares do grau de licenciado na área das Ciências da Saúde cujo currículo pessoal revele uma adequada preparação científica de base, nomeadamente no domínio da Tecnologia Farmacêutica; c) Outros candidatos cujo currículo demonstre uma adequada preparação científica de base, nomeadamente no domínio da Tecnologia Farmacêutica.

Informações/CandidaturasGABINETE DE PÓS-GRADUAÇÕES

Faculdade de Farmácia, Universidade de Coimbra, R. do Norte, 3000-295 CoimbraTelf.: 239 410 068 Fax.: 239 827 126 e-mail:[email protected] http://www.ff.uc.pt

FACULDADE DE FARMÁCIAUNIVERSIDADE DE COIMBRA

TRIBUNAL JUDICIAL DE SETÚBAL

Vara de Competência MistaProcesso n.º 1553/2002

ANÚNCIOExecução OrdináriaExequente: Banco BPI, S.A. - SEDEExecutado: Joaquim Luís Martins Cardoso e outro(s)...Correm éditos de 20 dias para citação dos credores desconhecidos que gozem de garantia real sobre os bens penhorados ao(s) executado(s) abaixo indicados, para reclamarem o pagamento dos respectivos créditos pelo produto de tais bens, no prazo de 15 dias, findo o dos éditos, que se começará a contar da segunda e última publicação do presente anúncio.Bens penhorados:TIPO DE BEM: ImóvelDESCRIÇÃO: Fracção autonóma desig-nada pela letra AZ correspondente ao se-gundo andar direito, com uma arrecadação no sótão, com entrada pela Av. General Humberto Delgado, n.º 4, do prédio urbano sito na Estrada Nacional 252, ou Largo José Maria dos Santos, com os n.ºs 49, 49-A e 50, e na Av. General Humberto Delgado, n.ºs 2, 4 e 6, B.º Santos Jorge, freguesia de Pinhal Novo, concelho de Palmela, des-crito na C. R. Predial de Palmela sob o n.º 236/221085 da freguesia de Pinhal Novo, inscrito na matriz sob o art.º 3839.PENHORADO A: EXECUTADO: Joaquim Luís Martins Cardoso. Estado civil: Ca-sado. Documentos de identificação: BI - 62771569, NIF - 124221521. Endereço: Av. Gen. Humberto Delgado, N.º 4, 2.º Drt.º, 2955-000 Pinhal Novo.EXECUTADA: Célia Cristina Simões Guer-reiro. Estado civil: Casado. Documentos de identificação: BI - 9654804, NIF - 164153667. Endereço: Av. Gen. Humberto Delgado, N.º 4, 2.º Drt.º, 2955-000 Pinhal Novo.N/Referência: 5646417Setúbal, 13-06-2008

A Juíza de DireitoDr.ª Alexandra SousaA Oficial de Justiça

Maria Dulce Esteveira Teixeira

Público, 29/06/2008 - 1.ª Pub.

[email protected]. 217 552 777

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Page 34: Público – 6664 – 29.06.2008

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Page 35: Público – 6664 – 29.06.2008

DesportoPúblico • Domingo 29 Junho 2008 • 35

A técnica da força contra a força da técnicaO estádio Ernst Happel recebe hoje a 13.ª final do Campeonato da Europa de futebol. No livro de honra só há lugar para um nome dourado: Alemanha ou Espanha?

Luís Octávio Costa, em Viena

a Alemanha e Espanha sabem bem que uma final do Campeonato da Eu-ropa pode ganhar-se ou perder-se num momento de distracção ou de inspiração. Os espanhóis disputaram duas, ganharam uma e sabem que um Marcelino pode bater um Yashin (1964) ou que um Platini não precisa de chutar forte para humilhar um Ar-conada (1984). Com outra rodagem, os alemães disputaram cinco, ven-ceram três. E já se viu de tudo: golo de ouro de Bierhoff, (1996), a mão de Vilfort (1992), as saídas em falso de Je-an-Marie Pfaff (1980) e o penálti com assinatura Panenka (1976) que deixou atarantado Sepp Maier, que em 1972 erguera o troféu. Com ou sem chuva, com ou sem Ballack – em princípio com Ballack. Hoje é dia de se escre-ver história.

Faz hoje dez dias que a selecção por-tuguesa de futebol foi afastada do Eu-ro 2008. Mas o Euro seguiu em frente e hoje vê-se reduzido às duas equipas mais resistentes. Da de Joachim Low diz-se que é a mais musculada, aquela que menos pensa e mais actua, aquela que se precipita na direcção da área adversária como uma avalanche e que deixa o rival estendido no meio da rua empoeirada. A de Luis Aragonés, ao invés, tem o futebol rendilhado, tem os amantes do futebol latino do seu lado, tem tido o coração e o talento necessários para fazer o pleno, para deixar para trás a surpreendente Rús-sia (duas vezes), a campeã da Europa Grécia e a campeã do mundo Itália. José António Camacho resumia assim “la roja” à Gazzetta dello Sport: “É a única equipa deste Europeu com uma verdadeira identidade, um estilo pró-prio.”

O alemão Low não teve qualquer tipo de pudor em tecer rasgados elo-gios ao adversário de hoje – antes dos quartos-de-final passou dois ou três dias a transferir o protagonismo para o lado de Portugal e foi o que se viu. Mencionou a constância, da técnica, da precisão, da flexibilidade e das “excelentes combinações”. Só faltou mesmo referir os nomes de Casillas, de Marchena, de Puyol, de Iniesta, de Xavi, de Torres, de Capdevila, de Sér-gio Ramos, de Senna, de David Silva e de Fabregas.

Para o quadro ficar completo falta-ria ainda ter falado de Luis Aragonés, treinador que foi capaz de aproveitar uma carga negativa que pairava sobre a selecção (o caso Raúl, as conversa-ções com Vicente del Bosque) para ga-nhar um grupo de jogadores que por ele são capazes até de ser campeões.

Se aparentemente a selecção espa-nhola tem resolvido o problema de Villa (perante esta lesão, a Espanha jogará como na segunda parte do jo-go com a Rússia), já ninguém arrisca dizer o mesmo da misteriosa lesão de

Jogadores alemães sobem ao relvado para o treino de ontem FRANCK FIFE/AFP

Michael Ballack, cujo fado é falhar jo-gos decisivos – em 2002 ajudou a equi-pa a chegar à final do Mundial, onde não esteve por castigo. Na conferência

Euro 2008 Espanha ou Alemanha, um deles será hoje campeão da Europa

Alemanha Espanha

10 Golos 110 Golos de penálti 03 Golos de cabeça 20 Golos por suplentes 29 Assistências 106 Golos sofridos 358 Remates 10423 Remates à baliza 442384 Passes 301475,8% Passes completos 81,8%22 Cantos 2871 Faltas cometidas 9582 Faltas sofridas 9512 Foras-de-jogo 115 Cartões amarelos 61 Cartões vermelhos 049,8% Posse de bola 54,6%

Estatísticasde imprensa de ontem, Low parecia preocupado. Entre os jornalistas ale-mães, uma tendência: Ballack jogará porque tem que ser.

Em Espanha, e enquanto o jornal Marca já convenceu sensivelmente 11 mil pessoas a raparem o cabelo em caso de vitória espanhola, o El País di-vulgou o valor que cada jogador espa-nhol recebe perante esse cenário. Por cabeça, serão 214 mil euros, verba que representa um aumento de dez por cento, tendo em conta a factura acor-dada em caso de sucesso no Europeu que se realizou em Portugal. Por seu lado, cada futebolista alemão receberá 250 mil euros no caso de a selecção se sagrar campeã.

Da parte da manhã, Michel Platini recordou um jogo há 24 anos em que ele chutou fraco e o nome do guar-da-redes Arconada ficou para sempre associado a um “frango”. “Hoje posso entregar à Espanha o troféu que lhes roubei em 1984. Estava a pensar nisso de manhã”, disse o presidente da UE-FA, que convidou Arconada para estar no jogo. “É estranho, mas é a vida.”

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Desporto36 • Público • Domingo 29 Junho 2008

pados a rigor. “Tenho quatro bilhetes juntos a 800 euros cada”. É pegar ou largar. São bilhetes para a primeira fila, junto à relva. “Se fosse na fila oi-to ou nove...”, queixou-se o quarteto que ainda só viu a Alemanha campeã “pela televisão”. Vendido.

Passa-se tudo à porta da última esta-ção de metro da linha U2 (Stadion), a cem metros do estádio Ernst-Happel. Há um grupo de cerca de vinte emi-grantes atarefados. O romeno 2 está

Bilhetes no mercado negro em Viena

“Não disse a ninguém, mas no Itália-França vendi bilhetes a 1200 euros, 2400 dois”

Luís Octávio Costa, em Viena

a Daisuke teve à sua frente um bilhe-te para a final do Campeonato da Eu-ropa pelo menos durante meia hora. Antes de o pagar, estava autorizado a segurá-lo e fazer-lhe todos os testes de autenticidade. O japonês, de 20 anos, apalpou-o, colocou-o em contraluz, passou os dedos pela fita prateada a ver se desbotava. Convencido, abriu a mochila, descolou um envelope e contou cinco notas de cem euros.

Para o romeno número 1 (chame-mos-lhe assim, porque aqui não há nomes), a pior notícia do Europeu foi a derrota da Rússia frente à Espanha. “Os espanhóis são como os portugue-ses, não têm dinheiro. Já os russos...” Di-lo (em português, porque ser poli-glota ajuda neste negócio), levando a mão à cabeça e virando costas porque há muitos clientes para atender. Com-prou bilhetes de terceira categoria a 500 euros e neste momento oferece bilhetes a quatro espanhóis por 700 euros por cabeça. Ouviu um no re-dondo, voltou-se para o outro lado e avançou para quatro alemães equi-

a comprar bilhetes de primeira cate-goria a 1500 euros e oferece 600 por cada um de terceira categoria. “Du-rante o Euro fiz à volta de quatro mil euros de lucro”, diz ao PÚBLICO, que acompanhou algumas transacções. O romeno 2 trabalha em Espanha e co-meçou este negócio precisamente em Portugal (onde trabalhou apenas seis meses por causa de problemas com os papéis) durante o Euro 2004 – tam-bém vende nos grandes prémios de Fórmula 1 e de motociclismo. Chegou o metro. “Tickets my friend?”

Aqui há vendedores mais ou menos organizados. E cliente com a cartei-ra mais ou menos recheada. Quem aparece pelo estádio na véspera do jogo já sabe ao que vem. “Não disse a ninguém, mas no Itália-França vendi bilhetes a 1200 euros, 2400 dois”, ga-ba-se um deles. Daisuke está à espe-ra do amigo que foi levantar dinheiro acompanhado por um segurança da negociata. Vêm ambos de Nagoya, no Japão, são ambos adeptos do futebol holandês e, além dos 500 euros, pa-garam 800 pela viagem para Viena. Só para ver a final do Euro.

A oferta em Viena é alargada

Euro 2008 Espanha ou Alemanha, um deles será hoje campeão da Europa

Luis Aragonés tem umamigo que diz...“Podemos comprar uma escada, mas a Alemanha estará preocupada com o nosso futebol rasteiro”, ironiza o seleccionador espanhol

a Quando Joachim Low entrou na sala de imprensa, contámos 74 câ-maras de televisão de grande porte, cerca de 245 cadeiras ocupadas, uma multidão a pé e a sala contígua bem preenchida. Quando Luis Aragonés se sentou na mesma cadeira, não esta-vam nem metade dos espectadores. À partida para o jogo do ano, o número de jornalistas serve de barómetro: a Alemanha continua a ser a podero-sa Alemanha; a Espanha é o patinho feio da final.

O alemão entrou mudo, saiu ca-lado e pelo meio deixou uma série de frases que pareciam ter saído di-rectamente do computador Deep Blue, a primeira máquina a vencer Kasparov. “Vamos mobilizar todas as nossas forças”, disse Low, confir-mando que “Ballack não se treina há dois dias” e que o influente jogador está a ser acompanhado ao minuto pela equipa média da mannschaft(“dizem que há uma hipótese de jo-gar”). Divulgou o nome dos possíveis substitutos (“Borowski ou Schweins-teiger”), gabou o adversário dos pés à cabeça e admitiu “flutuações” na sua equipa.

Se Joachim Low fez os cálculos e falou como um processador de in-formação, Aragonés deixou-se ir na corrente, citou velhos amigos e até desenrolou a lista de agradecimen-tos que tem preparada em caso de sucesso no jogo de hoje, o seu últi-mo ao serviço da selecção espanhola. “À minha esposa, aos meus filhos e aos meus netos. Depois aos jogado-res, a Espanha e a todos vós”. Estava conquistada a plateia e lançada uma verdadeira conversa de café com o seleccionador mais velho do Euro – e se Espanha vencer hoje, Aragonés se-rá o mais velho seleccionador a ter conquistado este título. “Um amigo meu costuma dizer que do segundo classificado amanhã ninguém se lem-bra”.

E jogou as suas peças no tabuleiro de Low. Ballack? “Quem jogar na sua posição vai jogar mais”, respondeu. A Alemanha não anda bem? “É a Ale-manha. Tem um poderio físico im-portante, tem do seu lado os cantos, as faltas e a altura. Podemos comprar

uma escada, mas a Alemanha tam-bém estará preocupada com o nos-so futebol rasteiro. Não têm um fute-bol tão fluido como o nosso, mas são muito velozes quando partem para o contra-ataque”, completou Aragonés, que não teve problemas em assumir não ter tido tempo de ver todos os jogos da Alemanha.

Depois virou-se para a sua Espa-nha, uma selecção “contente sem presunção”. “Quando vejo um amigo meu andaluz, pergunto-lhe: ‘Como vai o negócio?’ E ele diz: ‘Contente sem presunção’.” A determinada altura, o seleccionador foi confron-tado com o período que antecedeu o Europeu, altura em que a sua po-sição foi criticada e o seu lugar fra-gilizado. “Passámos todos mal, eu passei pior. Mas todos aprendemos com as críticas”. “Tenho um amigo que costuma dizer que as finais são para ganhar”.

E toda a gente ouviu um selecciona-dor dizer que “não há marcha atrás”, que quer muito ganhar (“tenho que ganhar mais para ver se me criticam menos”, disse meio a brincar, meio a sério) e que este será mesmo o seu úl-timo jogo por “la roja”. “Passei qua-tro anos a defender o meu país. Se agora não o defender, ficarei nostál-gico”. Rewind. Primeira resposta da longa conversa. “Eu? Eu estou bem. Os jogadores também. E estamos to-dos desejosos de fazer um grande jo-go e de levar a taça para casa”.

Treino da selecção espanhola, no estádio onde hoje se joga a final

Luís Octávio Costa, em Viena

Esta foi uma das poucas frases de Joachim Low, que admitiu “flutuações” na equipa: “Vamos mobilizar todas as forças”

Feitas as contas, o Euro 2008 deverá significar para a UEFA um lucro 25 por cento superior ao registado em 2004, em Portugal. O balanço foi feito ontem pelo organismo máximo do futebol europeu, que vai encaixar quase 700 milhões de euros com a prova. O torneio gerou 1,3 mil milhões de euros de receitas, resultantes dos direitos televisivos e dos direitos de marketing. Do lucro total, a UEFA vai aplicar 450 milhões no programa Hat-Trick, a fim de assistir os projectos de 53 federações nacionais, investindo o grosso dos restantes 250 milhões em torneios femininos e de jovens até 2012 e programas para árbitros e treinadores.

UEFA soma lucro de 700 milhões de euros

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Público • Domingo 29 Junho 2008 • 37

A final é nossa

a Podia ter sido engraçado, este Euro 2008: Portugal ganhava a final, engolíamos o sapo de ter sido com Scolari (agora já não lhe devemos nada: ele é que pelos vistos é rapaz para nos dever uns dinheiros de umas off-shores,apesar de nunca lhe termos dito que podia ficar com o troco) e éramos felizes para sempre como portugueses, já que não conseguimos ser felizes para sempre como espanhóis.

Pensando bem, foi melhor assim: desde que deixámos de ser portugueses (há muito tempo, nos quartos-de-final), mudámos de nacionalidade várias vezes. Já fomos croatas, holandeses, turcos, russos (sim, correu-nos tudo mal), e tivemos seleccionadores bem mais

entusiasmantes (até tivemos seleccionadores sem bigode, coisa a que não estamos muito habituados). Foi bom enquanto durou, isto de não ter que passar sinais vermelhos para chegar a tempo aos jogos em que Portugal é eliminado. Sermos croatas, holandeses, turcos e russos é uma coisa que se faz sem grande excesso de velocidade, sem grande desgaste emocional – e sobretudo sem grande vontade de insultar o seleccionador, mesmo quando a vida corre descomunalmente mal. Não termos de ser portugueses a vida toda deixa-nos, por exemplo, ser húngaros quando temos de ser húngaros (Suíça, 1954), argentinos quando temos de ser argentinos (México, 1986) e ingleses quando temos de ser ingleses (Itália, 1990).

Hoje, quando faltarem 15 minutos para as oito da noite, vamos ter mais uma nacionalidade (e no fim ganha a União Europeia: o Euro 2008 tem feito muito mais por ela do que o Tratado de Lisboa, com a vantagem de não ter nada contra a Turquia). Não sei se não termos de ser portugueses a vida toda

nos deixa ser espanhóis quando temos de ser espanhóis (Áustria, 2008), mas devia. É o mínimo que podemos fazer para não chegarmos ao fim a achar que o Euro já estava escrito (que é uma coisa que começámos a achar da União Europeia, depois deste referendo na Irlanda) e que no final ganha a Alemanha (se pudéssemos livrar-nos da Alemanha também já nos tínhamos livrado desta frase). Pode correr descomunalmente mal – o futebol de selecções é das poucas coisas em que, pelo menos nos últimos anos, ser espanhol tem mais desvantagens do que ser português –, mas também pode correr descomunalmente bem. Pode acontecer que, depois de termos entrado nisto como os melhores do mundo, saiamos disto como os melhores da Europa. É uma coisa a que os espanhóis estão habituados (eles têm o Real Madrid, têm o Guggenheim, têm Barcelona, têm o casamento homossexual, têm o governo paritário) – nós não. É por isso que temos mais a ganhar com esta final do que eles. Estamos a 90 minutos disso.

Bolas fora

Inês Nadais

que tem uma formação acima da mé-dia”, diz Lucílio Baptista, referindo-se ao facto de o italiano ser director de um hospital.

No diálogo com os jogadores, Ro-setti beneficia ainda do facto de ser alto – mede 1,90m – e poliglota. O seu perfil na UEFA indica-o como falante de inglês, francês e italiano, ao que Lucílio Baptista acrescenta o domínio do castelhano, o que poderá ser uma

O árbitro da final

Rosetti, um rosto da escola Collina que vê na final o reconhecimento dos italianos

Hugo Daniel Sousa

a Roberto Rosetti, que dirige a final do Euro 2008, é bem mais parecido com o actor americano Willem Dafoe do que com o compatriota Pierluigui Collina, o último árbitro italiano a apitar a final de uma grande compe-tição de selecções (Mundial 2002). Mas quando subir ao relvado do Ernst Happel, mesmo que na aparência os adeptos de futebol o confundam com o malvado rival do Homem-Aranha, Rosetti estará a protagonizar mais um momento alto da arbitragem italiana e, em particular, da escola Collina.

“Rosetti surge um pouco na linha de Collina, que agora lidera a comissão de árbitros italiana. O mais evidente nesta escola é que são todos profis-sionais. A arbitragem é a actividade principal e a profissão está em plano secundário”, analisa o português Lu-cílio Baptista.

O próprio Rosetti disse ontem que a sua escolha é “o reconhecimento do profissionalismo” dos juízes italianos: “O público e os jogadores estrangeiros respeitam-nos, porque a arbitragem italiana tem história. Pierluigi Collina foi um grande árbitro e um dos sím-bolos do futebol mundial.”

Nascido em Turim, Rosetti é dono de uma carreira fulgurante: começou aos 16 anos como árbitro, aos 29 che-gou à I Divisão italiana e aos 35 já era internacional. Agora, aos 40 e ainda a cinco anos da idade de retirada, foi escolhido para a final de um Europeu. “É um árbitro tipicamente latino, que gosta de dialogar com os jogadores e

ajuda na hora de comunicar com al-guns dos jogadores finalistas.

O nome de Rosetti, que será auxi-liado pelos compatriotas Alessandro Griselli e Paolo Calcagno, “impôs-se naturalmente e “não mereceu grande discussão”, revelou Yvan Cornu, res-ponsável pelos árbitros no Euro 2008: “A sua prestação impecável no inten-so Croácia-Turquia convenceu-nos completamente.” Mas esta escolha foi muito contestada pela imprensa suíça, não só porque o compatriota Massimo Busacca era uma das alter-nativas, como também pelo alegado penálti que não marcou a favor da Su-íça, no jogo inaugural do Euro, frente à República Checa – talvez, por isso, o juiz se declare contra repetições de lances polémicos nos ecrãs gigantes dos estádios.

Lucílio Baptista não ficou surpreen-dido com a escolha da UEFA, mesmo tendo o italiano dirigido o jogo inau-gural, o que repete a opção da FIFA no Mundial 2006, quando o argentino Horacio Elizondo esteve na abertura e na final: “A minha aposta era o Rosetti ou o espanhol Mejuto González, mas este ficou excluído, porque a Espanha seguiu em frente. As outras hipóteses eram o suíço Busacca ou o belga De Bleeckere.” Rosetti acabou, assim, por beneficiar da eliminação da Itá-lia nos quartos-de-final, já que neste tipo de provas o percurso do árbitro é quase sempre inverso ao da equipa do país. “Preferia ver a Itália neste jogo e voltar para casa mais cedo”, disse o italiano. Azar do adepto Rosetti, sorte do árbitro Rosetti.

Roberto Rosetti

Data de nascimento: 18/9/1967Local de nascimento: TurimAltura: 1,90cmPeso: 84 kgÁrbitro desde 19831.ª Divisão: 1996Internacional: 2002Profissão: Director de hospitalCurrículo em grandes torneios: Europeu sub-17 em 2002, Mundial sub-20 em 2003, Taça das Confederações em 2005, Mundial em 2006

B.I.

3Real Madrid (Metzelder, Casillas), Betis (Odonkor, Juanito) e Arsenal (Lehmann, Fàbregas) são os clubes com atletas das duas selecções.

2Sempre que a Alemanha ganhou o título, um dos seus jogadores bisou na final: Gerd Müller (3-0 à URSS, em 1972), Hrubesch (2-1, Bélgica, 1980) e Bierhoff (2-1, Rep. Checa, 1996).

83,3%É a percentagem de sucesso da Alemanha nos desempates por grandes penalidades. A mannschaft disputou seis em Europeus e Mundiais e só perdeu um, precisamente o primeiro, na final do Euro 1976. A Espanha equilibrou o seu registo (ganhou três, perdeu três) com a vitória sobre a Itália nos quartos-de-final.

1Cinco finais já foram a prolongamento, mas apenas uma foi decidida no desempate por grandes penalidades: a vitória da República Checa em 1976, a do penálti de Panenka.

21Série de jogos sem perder (18 vitórias e três empates) da Espanha. A última derrota foi com a Roménia (1-0), em 2006. O recorde espanhol é de 31.

3Três equipas deram a volta ao resultado numa final: a URSS em 1960 (2-1, com a Jugoslávia), a Alemanha em 1996 (2-1, Rep. Checa) e a França em 2000 (2-1, Itália).

1Seis finais foram decididas por um golo de diferença, a margem de vitória mais comum. Mas o único 1-0 aconteceu no Grécia-Portugal de 2004.

6’Jesús Pereda marcou o golo mais rápido numa final. O espanhol festejou aos 6’ do jogo do título, em 1964.

38Com 38 anos e 232 dias, o alemão Jens Lehmann substitui o holandês Arnold Mühren (37 anos e 23 dias em 1988) como o jogador mais velho numa final. M.A.

Números da final

PAUL ELLIS/AFP

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38 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Desporto

BalizaAté agora, a Espanha ganhou o duelo neste sector. Não há grandes equipas sem grandes guarda-redes. Com a exclusão de Raúl, Iker Casillas tornou-se o capitão e o líder da equipa e tem jogado em conformidade. O jogador do Real Madrid foi herói nos quartos-de-final – frustrou Camoranesi e depois, no desempate por grandes penalidades, De Rossi e Di Natale – e cumpriu no resto. Jens Lehmann tem-se mostrado bem menos fiável do que há dois anos, no Mundial. O reforço do Estugarda vai tornar-se hoje no jogador mais velho de sempre numa final do Europeu e espera despedir-se da selecção com um título, mas para isso acontecer não pode repetir exibições como a realizada contra a Turquia.

DefesaÉ por aqui que começam os estereótipos sobre a Alemanha. Os centrais são altos (como se isso fosse defeito) e lentos, repete-se em cada análise à equipa. Na realidade, a Mannschaftchegou ao pódio do Mundial e à final do Euro com Metzelder e Mertesacker, uma das melhores duplas de centrais nos últimos anos a nível de selecções. Na direita, Friedrich é pouco ambicioso, mas competente. Mas o melhor do sector é Lahm, um destro que joga na esquerda e que cruza e finaliza bem – o golo decisivo com a Turquia apagou o mau jogo defensivo. A defesa da Espanha também é vista como o sector mais fraco da equipa, mas esta é outra perspectiva que, para já, não teve correspondência real: sofreu três golos – melhor só a Croácia, que, contudo, ficou pelos “quartos”. Os estilos de Puyol e Marchena complementam-se. O lateral-direito Sergio Ramos fez uma grande exibição na meia-final com a Rússia, controlando as subidas de Zhirkov, sem deixar de ser um dos jogadores mais perigosos no ataque. Capdevila é mais discreto, mas tem feito uma prova positiva.

Meio-campoPara as duas selecções, a virtude está no meio-campo. Mais nenhuma equipa teve tanto a

bola como a Espanha. Distribui-a muito (603 passes por jogo) e ainda por cima bem (82% de sucesso). Não há selecção mais chata na altura de roubar a bola. Marcos Senna está a fazer um torneio impressionante. O médio do Villarreal bloqueia tudo e permite a Xavi, Iniesta, Silva e Fàbregas a liberdade que tanto gostam de exercer. Num momento, os médios imprevisíveis de Espanha podem aparecer a assistir um colega, no seguinte podem aparecer na área a finalizar. A aptidão para surgirem entre as linhas do adversário (e a capacidade que a Alemanha terá para os travar) pode ser uma das chaves do jogo. Do lado da Alemanha, o estabilizador Frings regressa à titularidade, já recuperado da lesão que o afastou do jogo com Portugal. Provavelmente com Thomas Hitzlsperger ao lado. Quanto a Ballack, há a dúvida se estará apto para poder finalmente tentar perder o rótulo de eterno segundo do futebol alemão. Sem ter brilhado intensamente, já fez dois golos e está entre os candidatos a melhor jogador da competição. Mas é nas alas que têm estado os grandes desequilibradores. Schweinsteiger e Podolski marcam, assistem e desgastam as defesas.

Ataque

Nem Aragonés nem Low vão apostar no sistema de dois avançados com que começaram a prova. O alemão perdeu confiança em Mario Gómez e desde o jogo com Portugal que prefere utilizar Klose sozinho. O avançado do Bayern marcou tanto nos quartos-de-final como nas meias-finais, portanto a decisão, que ainda por cima implicou a titularidade de Schweinsteiger, resultou. A Espanha perdeu Villa, o melhor marcador da prova, devido a lesão, mas não perdeu poder de fogo. Torres, que não está a fazer o torneio da sua vida, vai jogar sem um colega ao lado. Fàbregas será o seu apoio mais directo – a meio do jogo o médio do Arsenal poderá trocar papéis com Silva. Güiza tem sido um suplente de luxo para a Espanha. M.A.

Os finalistas, sector a sectorEspanha pelo meio, Alemanha pelas alas

A vitória de Rajoy

a Como? Onde? Porquê? Que tem a ver o chefe da oposição ao Governo espanhol com o resultado do futebol? Mais do que pensa, sem dúvida. E menos do que lhe atribuem. Mas não há dúvidas de que Mariano Rajoy ganhou com a vitória de Espanha à Rússia.

“Então, e Portugal?” A pergunta é de gozo. E com muita sorna. A amável colega do El País finge-se ignorante do futebol e mostra-se desapontada por não haver uma final de ibéricos. Perante esta falsa ironia há várias opções. “Não estamos para vocês finalmente brilharem”: um recurso que não convence. “A bola não é tudo”: o que, sendo verdade, não deixa de mostrar dor. “A selecção portuguesa é uma metáfora do país, estiveram a tratar da vida”: dado o desconhecimento espanhol sobre a lusa tragédia, este é um terreno que deixa perplexo o interlocutor.

Não sei a razão por que Portugal não está na final. Mas suspeito da terceira opção deste teste de desenrasca. Assim se sobrevive à incapacidade

espanhola de celebrar um triunfo sem humilhar os outros. A tranquilidade na vitória não é apanágio neste lado da raia da península. É mesmo impensável. O espanhol resigna-se a perder, mas manifestamente não sabe nem quer aprender a ganhar. Foi assim que no final dos 90 minutos José António Camacho, no papel de comentador, gritava: “A Alemanha já treme!”

O adepto tem motivos para estar feliz. Na segunda parte, o jogo espanhol fez recordar uma frase de Jorge Valdano. O antigo treinador do Real Madrid, homem de palavra certeira e grande poder de observação, catalogou o bom futebol como “jogo de desenhos animados”. Valdano referia-se à capacidade de invenção do brasileiro Romário, que passados os 40 ainda por aí anda.

O abnegado Villa, afectado por uma microrrotura muscular, foi substituído por um desconcertante Cesc Fabregas. Cesc, sem ansiedade, revolucionou o jogo. Deu-lhe inovação e alegria. A mesma que Iniesta empregou no passe a Xavi Hernandez que abriu o cofre de todas as esperanças. Ou a que Daniel Guiza teve no contacto com a bola. Sempre com intenção

e um objectivo: rematar. Assim, é fácil o contágio da boa bola.

O fã do pontapé de Espanha tem motivos para o contentamento. Mas não se pense que esta felicidade, tão primária como genuína, é comum. Os dirigentes do nacionalismo basco e catalão apostaram na Rússia. Sem subterfúgios. A selecção espanhola não é a sua. Pronto.

Mas é de todos. Xabi Alonso é basco. Cesc catalão é. Guiza nasceu em Jerez de la Frontera, na Andaluzia. Xavi veio a este mundo na cidade de Tarrasa, na Catalunha. Andrés Iniesta é filho de um pedreiro de Albacete, na dura Castela. Marcos António Senna da Silva, Senna para a bola, é um brasileiro do Rio de Janeiro. E por aí a fora. Mais a norte, a sul, do Mediterrâneo ao Atlântico.

Nem todos os políticos têm a paróquia como factor de identidade e programa de futuro. O comunista Gaspar Llamazares, apostou num triunfo da “roja”por 2 a 1. Rodríguez Zapatero fez um parêntesis no seu optimismo antropológico e admitiu uma vitória por 3 a 1. Mariano Rajoy prognosticou o 3 a 0. Rajoy, depois de se libertar da sombra tutelar de Aznar, até ganha nas apostas. O score da selecção foi mais uma vitória sua.

Nuno Ribeiro, Madrid

Comentário

Euro 2008

O caso FC Porto, a dor de cabeça e o alargamento do Euro a 24 países

Luís Octávio Costa, em Viena

a Durante uma conferência de im-prensa que durou mais de uma ho-ra, Michel Platini não evitou algumas questões paralelas ao Europeu. O pre-sidente da UEFA referiu-se à presença do FC Porto na próxima edição da Li-ga dos Campeões, disse que não tem um plano B para o Europeu de 2010 e voltou a defender o alargamento do Euro a mais equipas.

“Combateremos a batota a qual-quer nível. O FC Porto foi acusado de corrupção na época de 2003/04 e, segundo os novos regulamentos, lidámos com o caso”, disse Platini, an-tes de pedir um esclarecimento legal a David Taylor, secretário técnico da UEFA. “O caso não está encerrado em Portugal e não está encerrado na UEFA”, lembrou, juntando o Steaua de Bucareste, cujo processo não está igualmente encerrado e que, por isso, se encontra na mesma posição dos portistas. Platini encerrou o assunto com um aparte. “O Benfica também já recorreu para o TAS para ver se fica com o lugar...”

Outro tema quente foram os noti-

ciados atrasos na construção dos es-tádios e infra-estruturas que suposta-mente deverão receber o Europeu de 2012, cuja organização foi atribuída à Polónia e à Ucrânia. Já na próxima semana, o presidente da UEFA enca-beçará uma comitiva que visitará os estaleiros. Mas Platini, que diz não ter “um plano B” (Itália é o primeiro can-didato da lista), lembra que o Europeu só mudará de país se não estiverem construídos os estádios das capitais Varsóvia e Kiev. “Este assunto vai dar-me mais dores de cabeça do que se tivesse bebido demais”, brincou.

Por fim, o presidente da UEFA vol-tou a defender o mais que provável alargamento do Campeonato da Eu-

ropa a mais equipas (20 ou 24 numa primeira instância). “E foi um inglês a fazer esta pergunta!”, provocou Platini, nomeando as equipas que poderiam ter beneficiado com essa decisão no Euro 2008 (Inglaterra, Di-namarca, Escócia, Bélgica, Irlanda, Sérvia, Ucrânia, Bulgária...). “Quan-do ganhei o Europeu, participavam apenas oito equipas. Este debate será democrático.”

A decisão será tomada em Setem-bro, em Bordéus, mas ontem a AFP avançava que os presidentes das 53 federações nacionais que integram a UEFA estão de acordo quanto ao alargamento de 16 para 24 países, a partir de 2016.

Presidente da UEFA insiste num formato XL para a prova. O formato a 24 é o que reúne maior consenso

“Este debate será democrático”

AFP

Michel Platini abordou vários temas

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DesportoPúblico • Domingo 29 Junho 2008 • 39

Rui Costa vai analisar pedido de saída de Katsouranis

a Aimar, Miccoli, Codina, Carlos Mar-tins e Jorge Ribeiro vão ser jogadores do Benfica em 2008/09? Primeiro, a resposta com ironia. “Falem com o novo director desportivo do Benfica”, disse ontem Rui Costa, em Vila Real de Santo António, onde esteve como patrono de uma prova para jovens. De-pois, mais ironia, quando questionado sobre Aimar. “Se não arranjar ninguém para número 10... jogo eu.” E finalmen-te a resposta séria: “O plantel não está fechado, mas só falo sobre jogadores confirmados.” O director desportivo do Benfica falou ainda de Katsouranis, jogador que pediu para sair do clube. “Já disse que não vamos ter jogadores contrariados no Benfica. Vamos perce-ber se lhe interessa a saída e como lhe interessa. Mas o Benfica não liberta um jogador de qualquer maneira”, disse Rui Costa, que fez um balanço positivo no seu novo cargo. “As minhas ideias estão a ser respeitadas dentro do clu-be.” PÚBLICO/Lusa

Benfica

Inês Melo

a “O prazo de validade do actual presidente da Federação já termi-nou.” Foi desta forma que António Oliveira se referiu a Gilberto Madaíl, defendendo que, mais importante do que um novo seleccionador, é “en-contrar um novo presidente para a Federação”.

Em entrevista à Rádio Renascen-ça, o ex-seleccionador nacional teceu duras críticas ao actual presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), culpando-o pelo insucesso da selecção nacional, e garantindo que enquanto estiver à frente da Fede-ração, a selecção não vai conseguir ganhar uma grande prova interna-cional.

“A selecção nacional sempre teve excelentes jogadores e vai continuar a ter. Actualmente tem um naipe fa-buloso de atletas, excelentes treina-dores e o apoio do povo português. Então o que é que falha?” António

António Oliveira quer Madaíl fora da Federação

Futebol

Oliveira faz a pergunta e dá a respos-ta: “O presidente da Federação, ob-viamente.”

“Incompetência” e capacidade de “desestabilizar” a selecção nacional, através das quezílias que supostamen-te cria e das decisões que toma, são alguns dos erros que Oliveira aponta ao presidente da FPF. “Tive infeliz-mente o azar de trabalhar com ele e acho que é um incapaz, um incom-petente. Uma pessoa que em deter-minados momentos do dia, do mês e do ano, é um inabilitado”, critica António Oliveira.

Na opinião do ex-seleccionador, Madaíl é o principal responsável pe-lo insucesso da selecção nacional e, “como atrapalha tudo”, “sacudindo sempre a água do capote”, a solução “é pedir a demissão, ou então alguém demiti-lo”. E, nas palavras de Antó-nio Oliveira, “isso seria o melhor que podia acontecer ao futebol português e à selecção”. “Com este presidente, nunca vamos ganhar nada, pois é um incompetente, não apresenta resulta-dos”, acusa o ex-seleccionador.

António Oliveira foi despedido do cargo de seleccionador nacional de-pois do fracasso que foi a participa-ção de Portugal no Mundial de 2002, disputado na Coreia do Sul, mas co-locou um processo contra a FPF por despedimento sem justa causa. Ga-nhou o caso no Tribunal do Trabalho e foi indemnizado em 150 mil euros pela Federação.

As declarações de António Oliveira não mereceram até ao final do dia de ontem qualquer reacção da parte de Gilberto Madaíl. António Oliveira

Quem consegue parar Casey Stoner?

Ana Marques Gonçalves

Com Rossi em queda e Pedrosa encantado com a liderança no mundial de pilotos, a imbatibilidade de Stoner promete prolongar-se

a E ontem ele vestiu-a (a pele de “ET”, é disso que estamos a falar) por mais um dia e foi rei na “Catedral”. Os adversários são deste planeta, ele é do outro. Pedrosa? Corrida impecá-vel, liderança do mundial de pilotos. E na meta só o segundo lugar (a 12 segundos). Rossi? Caiu na primeira volta, somou apenas cinco pontos, perdeu em todas as frentes. No final só o “extraterreste” Stoner – e já lá vão oito dias de invencibilidade, dois grandes prémios e Sachsenring já ali tão perto.

O circuito de Assen foi seu dos me-tros iniciais à bandeira xadrez, e hoje é oficialmente seu (pelo menos até ao próximo ano) no livro de recor-des – volta atrás de volta, a partir da segunda, e o recorde era ainda mais

MotoGP: Grande Prémio da Holanda

seu, as suas voltas eram as mais rá-pidas de sempre como se 1m35,520s do dia anterior não fosse suficiente-mente pouco.

Começam a faltar adjectivos para classificar as performances do Super-Stoner: depois da dança à chuva em Donington, o Grande Prémio (GP) da Holanda foi uma fuga do cronómetro e das nuvens escuras que pairavam sobre o circuito. “Sabíamos que tí-nhamos ritmo para vencer, por isso a pressão era muito maior porque a única coisa que poderia falhar era eu. E felizmente a pista esteve seca.” Ter-ceira vitória da temporada, a vigési-ma da carreira, somadas todas as ca-tegorias, redução considerável para o topo do mundial de pilotos.

Quando largou da linha de par-tida, Stoner (e todos nós) esperava uma luta a três (os três primeiros do Mundial, os três últimos vencedores). Uma volta depois, Rossi já estava lon-ge do triunfo e do pódio – perdeu o controlo da parte traseira da moto e arrastou Randy de Puniet. “Cometi um erro e tenho de pedir desculpa ao de Puniet.” Erro admitido e a ca-beça de Rossi (ontem muito menos

feliz do que o habitual) já está no dia 13 de Julho: “Esta corrida teve coisas positivas porque a moto hoje [ontem] esteve muito melhor do que na qualificação, portanto, talvez seja possível vencer a próxima corrida, na Alemanha.”

E a queda de Rossi foi sinónimo de ascensão para Dani Pedrosa, o novo líder do Mundial de pilotos: “Tive-mos algumas dificuldades e durante a corrida foi impossível acompanhar o ritmo do Casey. Ele ia tão rápido que só pude tentar dar o meu melhor. Estou feliz com o resultado, com o regresso ao pódio e com a lideran-ça.” No degrau mais baixo do pódio, a fazer companhia a Casey e Dani, um surpreendente e surpreendido Colin Edwards: “O que é que posso dizer? Quem ri por último ri melhor.”

Stoner e companhia conseguiram fugir à chuva mas os 125cc não. Ela foi mais forte do que eles – a primeira largada foi anulada, a segunda teve só cinco voltas. E nas voltas que con-taram, Gabor Talmacsi foi o melhor. Nos 250cc, com a chuva a cair com intensidade mas a não interromper a prova, Bautista foi o vencedor.

Ponto Media, um blogue sobre os media e o jornalismo blogs.publico.pt/pontomedia

Page 40: Público – 6664 – 29.06.2008

40 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Desporto

Kramnik é o grande favorito no magistral de Dortmund

Jorge Guimarães

a Iniciou-se ontem na cidade alemã de Dortmund a 36.ª edição de uma das mais prestigiadas provas do ca-lendário xadrezístico internacional. Vladimir Kramnik, da Rússia, é o principal candidato à vitória naque-la que é a sua competição preferida e onde contabiliza oito vitórias. Será muito provavelmente a sua última prestação antes do confronto pelo título máximo, em Outubro próximo, contra o campeão mundial, o indiano Viswanathan Anand.

O ucraniano Vassily Ivanchuk é ou-tro dos participantes com uma pala-vra a dizer. Aos 39 anos está a viver um dos melhores momentos da sua carreira, e deverá ascender à terceira posição do ranking mundial, na pró-xima lista da federação internacional que será publicada na terça-feira. Se mantiver o nível que lhe valeu a vi-tória no torneio do Grand Slam de Sófia, não será de estranhar que junte este troféu à sua larga colecção.

O jovem de 22 anos Shaktyar Ma-medyarov, do Azerbaijão, não mante-ve os resultados fantásticos de 2007, mas o seu enorme talento pode voltar a revelar-se a qualquer momento. O experiente húngaro Peter Leko é o último dos potenciais candidatos, mas o menos provável, atendendo ao excessivo número de empates que normalmente cede.

Do lado dos outsiders destaca-se Ian Nepomniachtchi, a maior promessa russa, que aos 17 anos é o número 82 do mundo, e que garantiu o direito de participar neste magistral ao vencer o torneio da Aeroflot, em Dezembro passado. Na sua primeira aparição nos torneios magistrais tudo pode acontecer, mas a pressão que vai sentir será grande e um mau começo pode tornar-se num pesadelo.

Na primeira jornada todas as par-tidas terminaram com a divisão do ponto. Jan Gustafsson jogou de forma muito sólida, quase receosa, demons-trando enorme respeito por Kramnik. Evitando sempre as complicações, simplificando sistematicamente a posição, o alemão não deu qualquer hipótese a Kramnik que lhe permitis-se lutar pela vitória e o empate seria acordado em apenas 29 lances.

A luta entre os jovens Naiditsch e Nepomniachtchi durou apenas mais um lance mas foi bem mais intensa. Com permanentes ameaças tácticas os dois reis estiveram sob ameaça constante, terminando a contenda por repetição forçada da posição. Al-go semelhante ao que aconteceu na luta que opôs Mamedyarov a Leko, que também terminou por repetição de posição em 24 movimentos.

Xadrez

Trabalho, trabalho, desporto, desporto

a 1. Descansemos do futebol até às decisões do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol e miremos outro desporto.

Há quem, legitimamente, encontre na actividade desportiva a sua profissão e modo de vida. Outros há que, laborando noutros sectores, também praticam – ou gostariam de praticar – desporto.

Na semana em que o Governo aprovou a revisão do Código do Trabalho, nada mais apropriado, neste espaço, do que nos referirmos ao direito dos trabalhadores à prática

desportiva.É que, ainda por cima, o

Governo matou o “velho” Inatel – coitado, tinha 19 anos de idade – ao mesmo tempo que fazia nascer a Fundação Inatel (de repente veio-nos ao pensamento a FNAT). Tudo isto – morte e nascimento, a lei da vida – num único acto: o Decreto-Lei n.º 106/2008, de 26 de Junho.

2. O desporto para trabalhadores não é matéria muito querida deste Governo. Prova bastante oferece-nos a Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto – a Lei n.º 5/2007, de 16 de Janeiro – que, ao invés das anteriores (de 1990 e de 2004) não o recolhe expressamente, desse modo negando-lhe uma dignidade acrescida (havia falta de espaço no articulado). Valha a verdade, que a solução do Governo anterior (lei de 2004) também era peregrina, “envolvendo trabalhadores e respectivas entidades patronais”, como que procurando alcançar “uma

coesão social e a paz laboral nas empresas” através da prática desportiva.

3. Ora este desporto malvisto pelo Governo (não há Scolari, glamour, viagens, medalhas, viagens outra vez, cerimónias, ampla cobertura mediática, mais viagens, e tudo o mais, incluindo outras viagens) é, pelo contrário, muito bem visto pela Constituição da República Portuguesa.

Não só encontra amparo no direito fundamental (de todos) ao desporto – artigo 79.º, n.º 1 –, como, em sede de direitos dos trabalhadores, o artigo 59.º, n.º 1, alínea d), alberga o direito aos lazeres, conceito que, indubitavelmente, acomoda a prática desportiva.

O futuro dirá se a nova fundação, a qual tem como fins principais a promoção das melhores condições para a ocupação dos tempos livres e de lazer dos trabalhadores, no activo e reformados, desenvolvendo, entre outros

segmentos de intervenção, a actividade física e desportiva, trará algo de novo. É que não basta ser novo, para que se ofereçam novidades boas.

4. A final, uma actualização de informação, especialmente dedicada àqueles que não entendem que o Direito estadual se aplica ao desporto e ainda aos que, embora cientes dessa realidade, nela não têm fé.

Ao longo dos últimos anos, mesmo neste espaço, demos conta do caso Obradoiro de Santiago de Compostela e da sua equipa de basquetebol. Impedido em 1990 pelos órgãos federativos de aceder à ACB – porventura a mais importante competição desportiva nacional do basquetebol europeu –, o Obradoiro iniciou, desde logo, toda a sua contestação a essa decisão, junto dos tribunais.

Dezoito anos depois, a ACB, na passada semana, viu-se obrigada a acatar a última decisão dos tribunais, inscrevendo o clube.

É obra e de ouro. josemeirim@

Comentário

José Manuel Meirim

Fernanda Ribeiro falha mínimos olímpicos nos 10.000 metros em Lisboa

Luís Lopes

Atleta portuguesa tentava assegurar a sexta presença nuns Jogos Olímpicos, mas abrandou o ritmo na parte final da prova

a Fernanda Ribeiro não conseguiu ontem em Lisboa, durante os cam-peonatos de Portugal dos 10.000m, disputados no Estádio Universitário, o mínimo olímpico que lhe garantiria uma inédita sexta presença nos Jogos, em Pequim, no mês de Agosto.

Eram pedidos 32 minutos exactos de mínimo B e já sabia que não seria fácil a sua obtenção, dado que Fer-nanda não se aproximou mais des-sa barreira desde 2005. E ainda por cima um dia tórrido em Lisboa não pressupunha as condições ideais pa-ra corridas longas. Quando a prova começou, porém, às 21h10, o vento era inexistente, a temperatura tinha baixado, e nove fundistas lançaram pernas à obra.

Com a ajuda de Marisa Barros nos primeiros 3 km e Jéssica Augusto de-pois, o ritmo de prova foi de feição a prever a obtenção do mínimo. Aos 5km passavam em 15m52 e aos 6 km em 19m04s. Já sem Marisa e Jéssica em prova, Inês Monteiro foi deixada para trás por Fernanda Ribeiro aos 6700m e daí para diante o ritmo de-cresceu. De forma inexorável, Fer-nanda foi incapaz de manter a pas-sada a 3m12s por quilómetro que era o mínimo necessário e, no final, Inês Monteiro recuperaria mesmo terreno.

Atletismo

Na sexta-feira à noite, no meeting de Lille, no Norte de França, o novo recordista mundial dos 110m barreiras, o cubano Dayron Robles, confirmou a sua forma extraordinária e voltou a fazer a distância a menos de 13 segundos, com a marca de 12,96s. No triplo salto feminino, a também cubana Yargelis Savigne obteve uma nova melhor marca do ano, ao saltar 15,02m. L.L.

Dayron Robles em grande plano

Com 32m07,45s, a campeã olímpi-ca de Atlanta 1996 ficará a aguardar uma nova e derradeira oportunidade para ir a Pequim. Inês Monteiro, por seu lado, obteve um sensacional má-ximo pessoal de 32m16,19s, mostran-do que há que contar de novo com ela (está seleccionada para os Jogos na maratona) e, em terceiro lugar, a jovem bracarense Dulce Félix entrou para o lote das grandes especialis-tas da dupla légua com 32m28,63s, adiante sempre lutadora Ana Dias (32m35,47s).

Nos 10.000m masculinos tam-bém Rui Pedro Silva, do Maratona CP, tentava o mínimo olímpico B, de 28m06s. Igualmente isolado desde meio da prova, acabaria por ficar

longe, mas apesar de tudo com o bom tempo de 28m37,39s. Fecharam o pódio masculino Licínio Pimentel (Conforlimpa, 29m05,03s) e Nelson Cruz (Caxiense, 29m09,51s).

Powell em crescendoEm Eugene, no Oregon, começaram a disputar-se as decisivas qualifica-ções olímpicas americanas, que se estenderão até ao próximo dia 6 de Julho. No primeiro dia de provas teve lugar apenas uma final, a de 10.000m femininos, que foi ganha pela recor-dista americana Shalane Flanagan, com 31m34,81s, batendo no final a medalhada de bronze dos últimos mundiais Kara Goucher (31m37,72s). Com um términus fortíssimo, Amy Begley conquistou um decisivo tercei-ro posto, com o indispensável – para quem ainda não o tinha mínimo A olímpico de 31m43,60s.

Nas eliminatórias dos 100m femi-ninos brilhou a grande altura a texa-na Marshevet Hooker, ao fazer 10,94s nas séries e 10,76s nos quartos-de--final, ambas as marcas, no entanto, com vento em excesso. Em todo o caso, ainda ninguém tinha corrido tão rápido no corrente século.

Na primeira jornada dos cam-peonatos jamaicanos, que estão a decorrer em Kingston, o antigo re-cordista mundial dos 100m Asafa Powell ganhou a segunda elimina-tória daquela distância com 9,90s, o seu melhor da temporada. Por seu lado, o novo recordista Usain Bolt venceu a sua série sem forçar, com 10,19s. Nos 100m femininos, Kerron Stewart conseguiu o terceiro tempo da sua carreira a menos de 11 segun-dos, com 10,99s.

Fernanda Ribeiro aguarda uma última oportunidade

ERIKO SUGITA/REUTERS

O campeão nacional de futsal só será conhecido hoje, depois de ontem, no segundo jogo da final, o Benfica ter empatado o play-off ao golear o Belenenses por 6-0 . O terceiro e decisivo jogo, que poderá dar a renovação do título aos benfiquistas, decorre no Pavilhão da Luz.

Vladimir Kramnik, com oito vitórias na prova, é o principal candidato ao triunfo em Dortmund

Page 41: Público – 6664 – 29.06.2008

DesportoPúblico • Domingo 29 Junho 2008 • 41

Andy Murray pronto para fazer melhor que o antecessor

Pedro Keul

Tim Henman é o exemplo a seguir. Esperança britânica continua em jogo. As expectativas são mais elevadas em Wimbledon

a Ontem, em Wimbledon, viveu-se o Sábado Desportivo, uma das mui-tas tradições do Grand Slam britâ-nico. O camarote real encheu-se de grandes nomes do desporto como Bobby Charlton e Geoff Hurst, ven-cedores do Campeonato do Mundo de futebol de 1966, Sebastien Coe, líder da candidatura de Londres aos Jogos Olímpicos, Jacques Rogge, pre-sidente do Comité Olímpico Interna-cional, e, claro, antigos campeões e finalistas de Wimbledon como Billie Jean King, Martina Navratilova ou Ashley Cooper. Mas quem recebeu a maior ovação foi Tim Henman, que nunca disputou qualquer final do Grand Slam.

Henman foi um dos milhares pre-sentes no court central que viu o seu sucessor na tentativa de o título de Wimbledon ficar nas mãos de um

britânico, Andy Murray, qualificar-se para a quarta eliminatória e man-ter as esperanças dos compatriotas bem acesas.

O escocês perdeu pela primeira vez um set no torneio, mas a vitória pelos parciais de 6-4, 6-7 (5/7), 6-3 e 6-2 sobre Tommy Haas nunca este-ve em causa. Haas, ex-número dois mundial em 2002 e actual 38.º, te-ve duas oportunidades de break no início do terceiro set mas, ao não as converter, cimentou a confiança do adversário.

“Talvez tenha tido a oportunida-de para ganhar em três sets mas, à parte os últimos jogos do segundo set, penso que foi um bom encontro. Provavelmente, não joguei o melhor tie-break e, no passado, isso poderia afectar-me, mas hoje não”, resumiu Murray. O escocês que ocupa o 11.º lugar da tabela ATP já esteve por três vezes na quarta ronda de um Grand Slam – uma das quais, há dois anos, em Wimbledon –, mas para melhorar o seu recorde terá que ultrapassar o francês Richard Gasquet.

O torneio feminino ficou marca-do pela eliminação de Dinara Safina após uma longa batalha de três horas e 25 minutos com a israelita Shahar

o quinto (e segundo consecutivo) título em Wimbledon derrotou a espanhola vinda do qualifying Ma-ria Jose Martinez Sanchez (101.ª WTA), por 6-1, 7-5, num encontro em que selou o set inicial com um serviço a 188 km/h e, para termi-nar, uma bomba a 204 km/h – o seu recorde, 206 km/h, foi obtido

Andy Murray

Peer. Safina, finalista em Roland Gar-ros, salvou um match-point a 4-5 do segundo set, mas uma lesão na vi-rilha perturbou-lhe a concentração e, com uma dupla-falta, entregou o encontro a Peer: 7-5, 6-7 (4/7) e 8-6.

Venus Williams também cau-sou sensação mas pela positiva. A norte-americana que procura

em Roland Garros, no ano passado.Com as eliminações precoces de

Ana Ivanovic e Maria Sharapova, Ve-nus e Serena são as grandes favoritas a estar no derradeiro encontro, no dia 5. Mas na secção do quadro de Venus e sua possível adversária nos quartos-de-final está Jelena Jankovic, apesar de fortes queixas no joelho esquerdo.

A sérvia escorregou no início do encontro com a jovem dinamarquesa Caroline Wozniaki, que aproveitou uma série de erros da adversária pa-ra vencer o primeiro set. Wozniaki, de 17 anos e campeã junior em Wim-bledon há dois anos, confirmou a ra-zão pela qual já está no top 30, mas ainda tem dificuldades em manter um elevado nível de jogo durante três sets e acabou por ceder por 2-6, 6-4 e 6-2.

Jankovic espera recuperar da lesão para defrontar a tailandesa Tamarine Tanasugarn que, aos 31 anos, atinge a quarta ronda de Wimbledon pela sétima vez. “Espero que corra bem, mas nunca se sabe com as lesões. Va-mos ver como o joelho reage quando arrefecer”, afirmou a sérvia, que tem hipóteses de destronar Ana Ivanovic da liderança do ranking.

Masculinos: R. Nadal-N. Kiefer, 7-6 (7/3), 6-2 e 6-3; R. Gasquet-G. Simon, 6-3, 6-3, 6-7 (3/7) e 6-3; J. Tipsarevic-D. Tursunov, 7-6 (7/1), 7-6 (7/3) e 6-3; M. Youzhny-R. Stepanek, 7-5, 6-7 (5/7), 6-4, 6-7 (4/7) e 6-3; R. Schuettler-G. Garcia Lopez, 6-2, 6-3 e 6-4; M. Cilic-P. Mathieu, 6-7 (5/7), 6-3, 6-4 e 7-6 (8/6); A. Clément-J. Melzer, 4-6, 6-3, 6-4 e 6-4; Femininos: E. Dementieva-G. Dulko, 7-6 (7/2), 7-5; N. Petrova-V. Azarenka, 7-6 (13/11), 7-6 (7/4); T. Tanasugarn-M. Erakovic, 4-6, 6-4 e 6-4; A. Kudryatseva-S. Peng, 6-3, 1-6 e 6-4; A. Kleybanova-A. Sugiyama, 6-4, 6-4.

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Economia42 • Público • Domingo 29 Junho 2008

Primeiro pólo português Governo promete apoiar internacionalização

Dois mil doutorados trabalham nas entidades associadas a este clusterCluster da saúde terá “selo” oficial do Governoaté ao final do anoQuatro maiores firmas do mundo peritas em registo de patentes e transferência de tecnologia admitem trabalhar com o projecto português fundado em Abril, que conta já com 71 membros

a O Health Cluster Portugal (HCP) deverá receber até ao final do ano o selo que o identifica como um dos pólos de competitividade temáticos – no caso, o da saúde – reconhecidos pelo Governo. Apesar do atraso na abertura das candidaturas ao pacote de fundos previstos para estas estru-turas, o gestor do Programa Opera-cional Factores de Competitividade, Nelson Souza, garantiu esta semana aos associados do HCP que o proces-so poderá ser entregue ainda antes de Agosto, permitindo que, até De-zembro, seja feito o reconhecimento institucional desta entidade que, logo à nascença, em Abril, conseguiu uma abrangência que surpreendeu os seus fundadores e o próprio executivo.

Entre universidades, centros de investigação, hospitais, empresas farmacêuticas, de serviços e da área do fabrico de dispositivos médicos, neste momento o cluster português da saúde tem 71 membros efectivos e um conjunto de indicadores inve-jável. Dois mil doutorados – quatro quintos dos existentes no país – traba-lham nas instituições de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e empresas associadas. Estas últimas empregam cinco mil pessoas, a maioria delas qualificada, e representam um vo-lume de negócios superior a mil mi-lhões de euros, numa estimativa que peca por defeito, já que não inclui a facturação dos grupos de saúde pri-vados, por exemplo. No caso dos hos-pitais públicos e privados aderentes, a direcção executiva do HCP preferiu destacar a sua representatividade, que se cifra já nas 9000 camas e mais de 8000 médicos.

Sete entidades têm a sua candida-tura em análise pelo HCP, que rece-beu declarações de interesse de ou-tras vinte, entre elas o instituto que a prestigiada sociedade Fraunhofer está a constituir em Portugal (ver caixa). Vice-presidente do clusterportuguês e um dos fundadores do Medicon Valley Association (MVA), um cluster com objectivos semelhan-tes criado há uma década entre duas regiões da Dinamarca e da Suécia, Per Belfrage destaca uma vantagem no caso português: “O cluster abrange todo o país. E isso é raro”, notou. O presidente do HCP, Luís Portela, admite que a dimensão conseguida logo à partida talvez ajude a explicar

a “surpreendente” adesão imediata de algumas das multinacionais farma-cêuticas, ao contrário do que acon-teceu no caso escandinavo, em que estas só entraram no MVA depois dos primeiros resultados.

O acesso às redes internacionais das multinacionais é fulcral para o sucesso do HCP, cujo desafio é con-seguir que esta plataforma potencie contactos entre os associados e par-cerias em novos projectos de desen-volvimento de produtos e serviços na área da saúde. Para isso, mais do que o selo do Governo, o cluster precisará

Abel Coentrão do apoio dos fundos europeus: pa-ra a promoção externa do potencial português nesta área; e para a con-tratação de um gabinete de protecção de propriedade intelectual e transfe-rência de tecnologia entre universida-des e empresas. Duas das debilidades do país que foram transformadas em duas das principais tarefas da organi-zação, que as inscreveu no plano de actividades aprovado por 41 mem-bros efectivos na primeira assembleia geral que decorreu na quinta-feira, no Porto.

HCP na InternetFraqueza assinalada por todos os es-pecialistas que se debruçam sobre a realidade portuguesa – como é o caso de Per Belfrage (ver entrevista nestas páginas), ou Sobrinho Simões, vice-presidente do HCP e director de um dos melhores centros de investigação portugueses, o IPATIMUP –, a trans-ferência de tecnologia e o registo de patentes deverão ser assessoradas por um dos maiores gabinetes mun-diais que se dedicam a essas tarefas. Seguindo, aliás, experiências interna-cionais, como a do próprio Medicon Valley, replicadas em Portugal com sucesso, pela Bial de Luís Portela, o presidente do HCP.

Pelo que o PÚBLICO apurou, qua-tro dos maiores escritórios com tra-balho na área já se mostraram dis-poníveis para estudar um contrato com o cluster português que, não garantindo serviços grátis aos asso-ciados, permitirá que usufruam deles a preços comportáveis.

A comunicação externa do Health Cluster Portugal apoiar-se-á no reco-nhecimento internacional de Per Bel-frage, com a liderança do MVA, que transformou a região escandinava de Oresund no espaço europeu com maior capacidade de atrair investi-mento directo estrangeiro na área das Ciências da Saúde.

O ainda presidente do Medicon Val-ley mostra-se entusiasmado, mas avi-sa que, antes de começar contactos com outras instituições congéneres, o HCP deverá ter disponível, on-line, um retrato fiel dos seus associados que dê a conhecer a sua dimensão e capacidade, as áreas de investigação e desenvolvimento e os projectos em que estão envolvidos. Um trabalho que o director executivo do cluster,Joaquim Cunha, espera concluir nos próximos meses.

O braço português da Sociedade Fraunhofer, o primeiro instituto de I&D que a prestigiada instituição alemã abre fora do país, será um dos próximos membros do Health Cluster Portugal, que deverá este ano chegar à centena de associados (ver lista completa em www.healthportugal.com). Dirk Elias, director do Fraunhofer Portugal, com sede no Porto, explicou ao PÚBLICO que a adesão está apenas pendente de aspectos burocráticos, relacionados com a própria definição jurídica do centro alemão no nosso país. “A área da saúde também é uma das prioridades do Fraunhofer”, notou Elias, destacando a utilidade de pertencer a uma rede que lhe dá acesso às multiplas competências. A entrada deste instituto no cluster abre portas a eventuais parcerias com outros associados no desenvolvimento de soluções em campos como o da mobile health (que inclui aspectos como o da monitorização de doentes fora do universo hospitalar) já eleito como um dos temas de trabalho do HCP.

Fraunhofer adere

Entrevista Per Belfrage, vice-presidente do HCP

Abel Coentrão

a O ainda presidente do biocluster sueco-dinamarquês Medicon Valley, e antigo reitor da Universidade de Lund, aceitou ser o rosto internacional do Health Cluster Portugal. O sucesso do projecto que transformou as margens do estreito de Oresund, na Escandinávia, num íman para o investimento na área das Ciências da Saúde fez de Per Belfrage uma figura cobiçada por países que estão a desenvolver este tipo de organizações, mas este sueco de 68 anos decidiu adiar a reforma para enfrentar o “desafio” de vender o cluster português lá fora. Garante que neste rectângulo ocidental da Europa, potencial é coisa que não falta.Foi convidado para a vice--presidência do Health Cluster Portugal pelo seu papel na dinamização do Medicon Valley, que agrega instituições da Suécia e da Dinamarca. O que é o Medicon Valley?É um nome para aquilo que podemos apelidar de biocluster:biotecnologia, dispositivos médicos, investigação e desenvolvimento no interior dos hospitais... Tudo dedicado à vida humana. Não se trata, pois, de um

“O essencial é haver pessoas cocluster em Ciências da Vida, no sentido lato. Essa é uma limitação. A outra é geográfica. Ficou definido que agregaria a Skania, no Sudoeste da Suécia, e Sealand, na região de Copenhaga. São os dois lados de uma área chamada Oresund, e estão agora ligados por uma ponte e um túnel que demora 15 minutos a atravessar. De Malmo ao centro de Copenhaga são 25 minutos. O que é que mudou com Medicon Valley na região de Oresund?Mudou a imagem externa da região. Não temos mais universidades... A melhor prova que temos do nosso sucesso é que todos os anos nos chegam companhias que pagam para entrar na organização. Já chegámos aos 260 membros. E as regiões envolvidas também investem nisto, 170 mil euros, num caso, 70 mil no outro, por ano. É verdade que Oresund é a região da Europa que atrai mais investimento directo estrangeiro na área das Ciências da Saúde?Sim, essa indicação foi colocada na Internet pela nossa equipa de gestão. E eles não têm permissão para mentir. Tem havido muito investimento norte-americano no lado dinamarquês, por exemplo. Não tendo toda a certeza, acredito que o cluster teve muito que ver com isto. Quando começámos com

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Palácio de Estói passa a pousada

O Palácio de Estói, que será transformado em Pousada de Portugal com mais de 50 quartos e suites luxuosas nos

próximos meses, está à procura de trabalhadores para o novo empreendimento turístico através da Internet.

A Polaroid acaba em Setembro Pública

NELSON GARRIDO

mpetentes e investigação”a plataforma em 1997, muitos dos protagonistas nunca se tinham sentado antes à mesma mesa.Porque aceitou ser vice--presidente do HCP?Eu tenho uma colaboração estreita com Jan Annerstedt, da Interlace [consultora internacional responsável pelo conceito dos Living Labs]. Não sendo peritos em clusters, os detalhes de organização desta iniciativa portuguesa surgiram pela mão da Interlace. E eles perguntaram-me se podia ajudá-los a tempo inteiro, aqui. Eu

estou reformado, e tenho família. Até nem preciso de trabalhar a tempo inteiro. Mas gosto de fazer coisas interessantes. E este é um desafio. Desafia-o começar do zero numa organização de um pequeno país algo desconhecido, nesta área?É muito mais interessante trabalhar com alguém que está a começar. E olhe que eu fui convidado por outros clusters, que estão numa fase mais avançada. Vejo aqui muito potencial. Em que aspectos? Sou um académico e para mim é claro que, na área da investigação, há muita qualidade. Ainda preciso de comparar com outros países, mas sei que há grupos fora de série, com contactos com centros de investigação independentes. Há muitos recursos humanos. Pelo que percebi, foi investido muito dinheiro em programas de doutoramento. E, em todos os clusters, o essencial é haver pessoas competentes e investigação. Os pontos fracos, ou as limitações, estão do lado das empresas, já que poucas têm departamentos de investigação e desenvolvimento. À excepção do mini-cluster do dispositivo médico e da Bial ou da Hovione, na área farmacêutica, há pouco investimento.Per Belfrage

Raquel Almeida Correia

Em 2007, a ANA arrecadou 46 milhões de euros de com a exploração dos estabelecimentos comerciais instalados nas sete infra-estruturas que gere

a Restaurantes, lojas, espaços de di-versão e aviões. Os aeroportos pare-cem-se, cada vez mais, com centros comerciais e de lazer porque é destes serviços que advém grande parte dos seus lucros. Os negócios complemen-tares à aviação pesam, em média, 60 por cento nas maiores cidades aero-portuárias do mundo. Em Portugal, é também para esse destino que a ges-tora nacional ANA está a voar.

A empresa estatal inaugurou recen-temente uma nova área comercial no aeroporto da Portela, em Lisboa, ava-liada em oito milhões de euros. Passa, assim, a albergar 250 espaços, que vão permitir um incremento de 20 por cento na facturação já em 2009. Isto significa que os 46 milhões de euros obtidos em 2007 vão crescer para mais de 50 milhões de euros, aumentando o actual peso do retalho (15 por cento) no volume negócios to-tal da gestora aeroportuária.

A tendência é global e, em alguns casos, atinge proporções megalóma-nas. O aeroporto de Narita, no Japão, por exemplo, construiu uma ala co-mercial com 4500 metros quadrados à qual deu o nome de “5th Avenue”, em homenagem à concorrida avenida nova-iorquina. No balanço da cidade aeroportuária japonesa, que recebe 35 milhões de passageiros por ano, os negócios fora do ramo específico da aviação já pesam 65 por cento.

Esta categoria, no entanto, não abrange unicamente o segmento comercial. Tal como acontece com

a ANA, cuja facturação depende em 33 por cento das actividades consi-deradas extras à aviação, incluem-se igualmente as receitas provenientes do imobiliário, do estacionamento e do rent-a-car.

O ideal para a gestora nacional é que “passe a representar 40 a 45 por cento”, afirmou Luís Rodolfo, direc-tor de retalho da ANA. Dentro deste segmento, a concessão de lojas repre-senta 16 por cento, com o responsável a colocar os 20 por cento – cerca de metade do total a atingir, como “um bom patamar”.

Lojas vão ter mais espaçoEm 2007, a empresa pública, cuja pri-vatização está na agenda do Governo, arrecadou 46 milhões de euros com a exploração das lojas, bancos e restau-rantes instalados nos sete aeroportos nacionais que gere (Lisboa, Porto, Fa-ro, Ponta Delgada, Santa Maria, Horta e Flores), o que significou um cresci-mento de 14,4 por cento face ao ano anterior. “Um ritmo significativamen-te superior ao crescimento dos pas-sageiros”, refere a ANA no relatório e contas de 2007.

Receitas dos aeroportos cada vez mais dependentes do retalho

ANA expandiu área comercial

Estes valores advêm da taxa que cobra aos concessionários (em mé-dia, 57 euros por metro quadrado) e da absorção de uma percentagem dos seus lucros, que ronda os 17 por cento. O prazo dos contratos depen-de do tempo previsto pelos proprie-tários para recuperar o investimento, variando entre um e seis anos.

Luís Rodolfo acredita que “o reta-lho continua a revelar-se um vector de crescimento sustentado e rendi-bilidade”. É por isso que, além das estratégias realizadas até hoje (que incluem a criação de uma rede inter-na onde os concessionários registam a facturação e têm acesso ao perfil de clientes para adaptarem a oferta disponível), a ANA prevê reforçar a aposta neste segmento.

O director de retalho da gestora ae-roportuária quer aumentar “em 70 por cento o espaço comercial” no ae-roporto de Lisboa, crescendo para os 13.000 metros quadros, num prazo de dois anos. O recente investimento de oito milhões de euros, cinco pagos pela ANA e três pelos proprietários de lojas e restaurantes, é o primeiro grande passo do plano. O objectivo é “aumentar progressivamente as ven-das”, rematou o responsável.

Actualmente, os passageiros gas-tam em média 8,23 euros por com-pra, nos estabelecimentos comerciais instalados nos aeroportos da empre-sa pública, o que resulta num lucro de 1,71 euros para a ANA. É em Faro que se gasta mais dinheiro, sobretudo pela mão de turistas estrangeiros.

À medida que o negócio fora da aviação ganha espaço nas contas dos aeroportos, menos as empresas que os gerem ficam dependentes da instável indústria aérea. As taxas pa-gas pelas companhias de avião conti-nuam a ser uma fatia importante na facturação de gestoras como a ANA, um pouco por todo o mundo, mas as alternativas vão descolando.

Aposta na área comercial vai continuara O negócio do retalho dentro dos aeroportos tem crescido a dois dígi-tos desde 2001, a nível mundial. De acordo com um estudo da consultora britânica Verdict, estes espaços vão movimentar perto de 27 mil milhões de euros num prazo de três anos, o que significa um crescimento de 70 por cento face ao registado em 2007.

A democratização do acto de vo-ar, muito incrementada pelo apareci-mento das companhias low cost, é um dos motivos para a crescente aposta das maiores cidades aeroportuárias no retalho.

Os operadores europeus são os que se encontram num patamar mais avançado nesta área de negó-cio. Porém, Médio Oriente e África, responsáveis por nove por cento da

exploração comercial dentro de ae-roportos em todo o mundo, estão a crescer a um ritmo mais intenso.

Em 2008, o relatório Global Air-port Retailing, elaborado pela Ver-dict, prevê que este mercado vai valer 19 mil milhões de euros. Nas grandes cidades aeroportuárias, a não-aviação (que também pode in-cluir imobiliários e outros serviços) já representa 60 por cento do volume de negócios total.

As privatizações previstas poderão

fazer oscilar estas estimativas, uma vez que a explosão do retalho aero-portuário “parece estar relacionado com a entrada de grupos privados na gestão”, conclui a consultora.

Os arquitectos Mathis e Michael Güller, que estiveram em Portugal para participar na conferência Desen-volvimento Regional em Contexto Glo-bal, realizada anteontem, acreditam que a tendência “vai continuar”.

Com experiência no planeamento de cidades aeroportuárias, os espe-cialistas admitiram, em declarações prestadas ao PÚBLICO, que estão interessados na concepção do novo aeroporto de Lisboa, em Alcochete. Apesar de negarem estar em negocia-ções, afirmaram que “o convite para vir a Portugal é uma porta aberta pa-ra o diálogo”.

27mil milhões de euros é o volume de negócios que se prevê que o retalho vai movimentar a nível mundial, em 2011

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PPúblico

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Editorial

Umamancha vermelha que podia valer a vida

“Eles” tinham avisado que viriam ver. Que passariam de novo para verificar se o dedo estava devidamente manchado

de vermelho, sinal de que se exercera o voto. “Eles” tinham avisado que se tinha de corrigir “o erro”. E, para isso, voltar às urnas, mesmo contra a vontade, ou sem vontade, para eleger de novo Robert Mugabe.

“Eles” são os homens da ZANU-PF, os brutos das milícias que percorreram aldeias e varreram os subúrbios das grandes cidades espalhando o terror e fazendo tudo para que a falsa segunda volta das eleições presidenciais, a que o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, não se apresentou para tentar evitar a continuação do banho de sangue, fosse muito “participada”. A sua forma de actuar, desta vez dirigida quase exclusivamente contra os seus compatriotas negros, pois já não é mais possível utilizar o álibi dos fazendeiros brancos, foi marcada pela brutalidade de quem sabe que, democraticamente, perderia sempre. Em Harare, capital do Zimbabwe, uma criança de seis anos foi queimada viva por ser filha de um líder da oposição, a mulher do novo presidente da câmara, eleito pela oposição, foi morta com requintes de crueldade.

“Eles” estavam ontem a preparar a tomada de posse de Mugabe, anunciada para hoje de manhã, a tempo de se juntar, de novo investido no cargo de Presidente, a mais uma cimeira de líderes africanos. Líderes africanos que, mesmo incomodados com os excessos de Mugabe, não pareciam determinados a

deixá-lo à porta. Pelo contrário: ontem, quando se soube que o Presidente Bush pediu para que fosse estudado um novo pacote de sanções, logo o ministro dos Negócios Estrangeiros queniano se apressou a dizer que isso seria contraproducente.

Contraproducente tem sido, não haja dúvidas, a forma como os líderes africanos, aqueles que estavam em melhores condições para pressionar Mugabe e permitir que um outro africano de uma outra geração tivesse uma hipóteses de disputar as eleições em condições de alguma regularidade, lidaram com a questão do Zimbabwe. Alguns, com destaque para José Eduardo dos Santos, estiveram sempre do lado errado, isto é, nunca deixaram de apoiar Mugabe e as suas políticas. Outros, como Thabo Mbeki, Presidente da África do Sul, fingiram estar preocupados e prestaram-se a ser mediadores para, no essencial, não fazerem nada.

Ocaso de Mbeki é tão grave com inquietante. A forma como, ao longo dos últimos anos, sempre foi desvalorizando as críticas

dos líderes e dos media ocidentais mostra que não é apenas um fraco herdeiro do lugar que já pertenceu a Nelson Mandela. Não parece sequer ter escutado as palavras do seu companheiro, que esta semana condenou veementemente a deriva do Zimbabwe, antes preferindo fingir que era capaz de influenciar Mugabe, um homem com quem tem laços familiares e que, nos círculos dos movimentos de libertação, era para ele quase como um

pai. Pouco ou nada fez, e o resultado está à vista: centenas de mortos, milhares de exilados, uma situação de estado de sítio e uma oposição obrigada a refugiar-se em embaixadas europeias.

Mbeki, convém sublinhá-lo, actuou de forma ainda mais tíbia e mais frouxa do que o regime do apharteid em 1970, quando o então primeiro-ministro John Vorster obrigou a Rodésia de Ian Smith a negociar com… os homens de Mugabe. A pressão que a África do Sul da época exerceu foi efectiva porque a Rodésia de então, como o Zimbabwe de hoje, estava na sua dependência económica. Hoje Mbeki não quis ir tão longe, não mostrou sequer perceber que o problema do vizinho lhe está a explodir dentro de casa com os motins xenófobos que estalaram nos subúrbios pobres de Joanesburgo e outras cidades.

Face a esta situação, que prejudica sobretudo os mais pobres entre os muitos pobres do Zimbabwe, qualquer condescendência estará sempre votada ao fracasso. Aquela gente, “eles”, não agradecem a quem lhes estende a mão, trincam-na, como de resto acabam de fazer com Portugal por o nosso país ter recebido Mugabe para a Cimeira EU-África. Por o termos feito, Gordon Brown ficou em Londres, um gesto honrado mas que, por contraste com a condescendência lusa, levou esta semana o ministro da Informação de Mugabe a manifestar a sua gratidão para com Portugal. Porquê? Porque humilhámos o Reino Unido, explicou.

Esperemos que a diplomacia lusa, sempre tão compreensiva e “realista” quando se trata de lidar com os déspotas africanos, tenha aprendido a lição.

A brutalidade dos homens de Mugabe garantiu ums mascarada de democracia. Esperemos que agora mais ninguém cometa o erro de o receber como Chefe de Estado, o erro de Portugal na Cimeira UE-África

José Manuel Fernandes

Cartas ao Director

Eles comem tudo…

A democracia é um modelo político cada vez mais incómodo. Em Atenas, os cidadãos participavam activamente da governação da sua cidade. Tinham o dever cívico de opinar e participar da discussão, quem não o fizesse seria considerado um cidadão pouco interessante, por assim dizer.

Ao adoptarmos este modelo político para as nossas modernas sociedades mediáticas, estamos a entrar num jogo algo perigoso. Primeiro, o universo de cidadania é imenso e difícil de abarcar pelo cidadão comum. Segundo, o cidadão é, cada vez mais, um consumidor e olha a sua vida por uma perspectiva mais pragmática e menos altruísta. Quero ter direito a consumir mesmo que isso signifique perder alguma capacidade de intervenção na “coisa pública”. Traduzindo: quero que se lixe a República. Este sentimento (ou será uma atitude) prolifera como um vírus.

Se a democracia, tal como imaginamos que foi na sua génese, é difícil de praticar a nível

nacional, torna-se pouco mais do que uma miragem quando transportada para uma dimensão mais alargada, como é o caso da União Europeia. A participação dos cidadãos é mais um incómodo do que uma ajuda na construção de um conjunto de regras que uniformize um território com a dimensão da “nossa” Europa.

A derrota do Tratado de Lisboa é mais um sintoma de doença do que propriamente uma prova de vitalidade democrática. Isto porque, numa votação deste género, os irlandeses acabaram a optar pelo “sim” ou pelo “não” muito mais em função da situação política local do que interessados ou elucidados sobre as consequências do seu acto ao nível do que chamamos “a construção europeia”. Um dos argumentos dos vitoriosos do “não” para justificar a sua posição em relação ao Tratado de Lisboa era o de que, em caso de vitória do “sim”, haveria uma inevitável legalização do aborto na hipercatólica Irlanda. Não só se tratava de um argumento falacioso como também mostra a dimensão do debate de ideias que realmente influenciou a votação dos cidadãos.

e caiu. O capitalismo segue-lhe as pisadas. Resta saber o que vem aí. Para já, todos percebemos que estamos entregues a um bando de vampiros. Não vislumbro alternativa que não signifique uma nova Idade Média. Uma idade entre a Revolução Industrial e aquilo que se lhe seguirá. Para já fala-se em Era Pós-Industrial. O que nos reservará o futuro? A única certeza que podemos ter é a de que não caberá a nenhum deus decidir por nós. “Eles” são homens e, na maior parte das vezes, são homens fracos. Rui SilvaresCova da Piedade

As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos não solicitados, nem se prestará informação postal sobre eles.Email: [email protected]

Contactos do Provedor dos LeitoresEmail: [email protected]: 210 111 000

Nos países onde a ratificação do Tratado é enviada para o Parlamento (os restantes 26, se não estou em erro) há uma outra dimensão de análise. Os deputados de cada um dos parlamentos nacionais decerto votam em função das orientações partidárias, por um lado, ou baseados num cálculo de possibilidades de eles próprios virem a ser eurocratas, numa perspectiva mais funcional e egocêntrica (muito mais do que eurocêntrica).

Num ou outro caso, seja a decisão tomada pelos parlamentares ou deixada a votação popular, o que é verdade é que o “debate” está sempre inquinado. Não há grandeza nem olhares para lá do horizonte, a mesquinhez, o interesse particular ou a pequena vingança acabam por ditar a orientação das grandes decisões. Mas a democracia contemporânea é assim mesmo, mais imperfeita que um cagalhão pisado por uma bota cardada. A alternativa é entregarmos as decisões a um ou dois tiranos eleitos por nós para fazerem o papel de “paizinhos” do povo.

Curiosamente, a tirania foi um modelo de governação utilizado

na Grécia antiga em alternativa ao poder democrático sempre que uma grande crise parecia pedir um iluminado que tomasse as decisões que a maioria não seria capaz de impor. E não foi só na Grécia que a tirania foi utilizada conscientemente e com o aplauso das populações. Talvez haja uma certa simpatia pelo tirano, uma espécie de pai da nação. Lembremos Salazar, Estaline ou Hitler, isto para citar exemplos mais acabados e fáceis de identificar.

Anda por aí muita tirania encapotada ou, mais descaradamente, travestida de democracia. O que é um facto é que o capitalismo parece estar a atingir um ponto limite na sua capacidade de nos iludir com uma idade de “vinho e rosas”. A maquilhagem começa a ser incapaz de esconder a verdadeira face dos que nos governam para lá dos parlamentos, sejam eles nacionais ou transnacionais, os tais “vampiros” que nos cantou Zeca Afonso numa célebre canção.

Parece-me que estamos a assistir à queda do capitalismo enquanto paradigma social saído da Guerra Fria. O comunismo faliu

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Jaime Silva transformou-se numa espécie de embaixador da União Europeia e num carrasco da agricultura portuguesa

Pão e vinho

Ao denunciar a CNA e a CAP, o ministro Jaime Silva usou os lugares-comuns habituais: acusou-as de defender interesses político-partidários! Uma de extrema-esquerda, outra conservadora. Para um ministro de um governo partidário,

não é mau. Depois de levar uns açoites, corrigiu: referia-se aos dirigentes, não às associações. A diferença é, como se vê, radical. A CAP suspendeu a sua presença no conselho de concertação. O primeiro-ministro acudiu e tomou conta das negociações a fim de conseguir assinar o acordo. Só-crates fez bem, o ministro merecia, aliás há muito tempo, o despedimento. Sócrates fez mal e deu um sinal do que poderá ser no futuro: quem se zangar com os ministros, tem como recompensa uma graduação.

Jaime Silva é um daqueles ministros que não são políti-cos; um daqueles políticos de um governo socialista que não são socialistas e que não cumprem um programa par-tidário, mas sim um programa nacional, sem preferências políticas, sem doutrina, só para bem do país. Ainda há criaturas assim. Julga-se impoluto e pensa que os outros são parvos. Este ministro tem brilhado pela sua dedicação a Bruxelas e às políticas europeias. Vindo de lá, para lá deve voltar, um dia, com a satisfação do dever cumprido. Sabe tanto da política comum que se transformou numa espécie de embaixador da União. O que quer dizer, lite-ralmente, um carrasco da agricultura portuguesa, assim como das pescas e da floresta. Tem motivado a ira cres-cente dos agricultores e dos pescadores, a quem responde com discursos processuais e incompreensíveis. Paga mal e pouco, atrasa-se e não tem orientações que não sejam as directivas europeias. É mais um que, metodicamente, vem desmantelando grande parte da agricultura, das pescas e da floresta. Faz bem em financiar as grandes empresas agrícolas, as que têm tecnologia, competência e dimensão. Faz muito mal em não olhar pelas centenas de milhares de explorações, de lavradores e suas associações e coope-rativas que não têm acesso à técnica e à qualificação. Em vez de pensar que muitos destes poderiam ser formados e preparados para aproveitar os recursos, este ministro, assim como os que o antecederam, prefere arranjar uma maneira doce de os matar, de os retirar da actividade e de abandonar terras, mares, recursos e pessoas. Jaime Silva tem vindo a liquidar as hipóteses de aparecimento de novas

gerações de agricultores e pescadores, mais jovens, com formação, melhores qualificações e uma visão empresarial da sua actividade.

Desde os anos setenta, após o pedido de adesão à Comu-nidade Europeia, quase todos os governos concordaram em meia dúzia de linhas gerais. Era necessário obter a maior quantidade possível de fundos e ajudas. Era urgente gastar depressa esses subsídios. Como não havia fundos que chegassem, foi preciso escolher. As comunicações, especialmente as auto-estradas, as infra-estruturas em geral, a energia, certos equipamentos colectivos e alguma indústria mereceram o privilégio. Depois vieram certos sectores menos evidentes, a formação profissional (que esteve na origem de tanto desperdício!), a educação, o turismo e a cultura. Assim como os dois grandes “pacotes”, o aeroporto e o TGV. Com o andar do tempo, os apoios europeus foram-se multiplicando e diversificando, sen-do cada vez mais claro que o importante era dar a muita gente e que os critérios de utilidade a prazo não eram os principais. Neste quadro, há muito tempo que se percebeu que houve uma troca: a agricultura, a floresta e as pescas pelas auto-estradas e as infra-estruturas. Este era o inte-resse da União Europeia e dos grandes países parceiros, não o de Portugal.

É certo que, para a agricultura, vieram muitos milhões. A aplicação dos dispositivos da política comum dava esse resultado. Alguns desses recursos foram bem utilizados por grandes empresas modernas. Muitos foram mal uti-lizados, apenas com perspectiva de curto prazo, colheita após colheita, de modo errático. Mais ainda, serviram para retirar pessoas da actividade agrícola e piscatória: abater barcos, fechar empresas e liquidar explorações. Percebe-se a tentação política. A União Europeia não queria mais produção agrícola, nem florestas, muito menos pesca. Os dirigentes portugueses queriam dinheiro rápido, re-sultados visíveis e “modernização palpável”. E ficavam perplexos perante a imensa tarefa que representava a mudança da agricultura, da floresta e das pescas, com estruturas obsoletas e populações desqualificadas e ido-sas distribuídas por centenas de milhares de pequenas e muito pequenas parcelas, explorações e empresas. Estas políticas conduziram ao que temos hoje: uma agricultura impotente, umas pescas insuficientes e em deterioração

e uma floresta desordenada e pouco produtiva. Importamos a maior parte do que consumimos. Mesmo

em certos casos (leite, por exemplo) em que parece termos chegado à auto-suficiência, a verdade é que tal não cor-responde à realidade. Com efeito, as nossas produções de carnes, ovos e leites dependem de uma colossal importa-ção de cereais e rações. Hoje, a nossa “balança alimentar” é gravemente deficitária. Daí não viria mal ao mundo, se tivéssemos produtos industriais e serviços para pagar as importações. Mas a verdade é que nos faltam esses pro-dutos que permitiriam equilibrar a balança.

Temos uma área marítima de fazer inveja. Está global-mente subaproveitada, qualquer que seja o ponto de vista: ecológico, económico, científico, energético, de navegação ou turismo. Sem falar nos portos e na construção naval. Portugal tem uma superfície florestal interessante. Tem a maior área do mundo de montado e é o maior produtor de cortiça, mas não se conhece um esforço proporcional dedicado à investigação e ao melhoramento do sobreiro, da azinheira e do sistema de montado. O mesmo pode ser dito do pinheiro, da oliveira e de outras espécies. Portugal não tem clima para a agricultura tradicional, nem para a agricultura europeia. Mas as condições naturais são favo-ráveis a certos tipos de cultivo, como sejam a floresta, as culturas arbustivas, as plantações permanentes (a vinha, por exemplo), certas pastagens, os prados sob montado e outras espécies, nomeadamente as que podem beneficiar dos Invernos amenos e das Primaveras temporãs. A hor-tofruticultura tem também, em certos casos, excelentes condições. Nestas áreas, assim como nas do regadio, da correcção de solos, da vinha, da vinificação, da investiga-

ção científica, da formação profissional e do processamento industrial, há espaço e necessidade para investimentos colossais, a longo prazo e muito produtivos, sem da-nificar o ambiente. O ministro Jaime Silva pensa que não. E outros antes dele. Coita-dos: limitam-se a dizer o que lhes mandam dizer. Em Bruxelas, por causa da política comum. Em Lisboa, por causa das estra-das. Sociólogo

Esta coluna interrompe agora por algu-mas semanas.

António Barreto Retrato da semana

Houve uma troca: a

agricultura, a floresta e as

pescas pelas auto-estradas

e as infra-estruturas.

Era o interesse da UE e dos

grandes países parceiros,

não o de Portugal

Luís Afonso

Preto,branco...e também cinzento

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Page 46: Público – 6664 – 29.06.2008

Espaçopúblico46 • Público • Domingo 29 Junho 2008

As religiões só têm sentido se servirem para destapar o horizonte do quotidiano rotineiro: abrir o céu à terra e a terra ao céu

Populares e impopulares

1Estamos em tempo de santos populares: “Primeiro vem Santo António, depois S. João e, por fim, vem S. Pedro para a reinação”. Santo António, pronto-so-corro em todos os apertos, merece o primeiro lugar. É o português mais universal e nem se importa que

lhe atribuam várias nacionalidades. Estranho é S. João Baptista: vida dura, pregação severa, cabeça servida num prato e, no entanto, põe o país – sobretudo Braga e Porto – de cabeça perdida. Mais espantoso ainda é S. Pedro. Fixaram-lhe, nos Evangelhos, uma imagem de homem rude e precipitado; generoso, mas de vistas curtas; pronto para as afirmações mais sublimes e para as negações mais ingénuas e medrosas. Os Actos dos Apóstolos procuraram corrigir essa impressão. S. Paulo, embora o reconhecesse como coluna da Igreja, achava-o um bocado cobarde, deixando-se levar pelas circunstâncias.

Estas festas, de forma mais ou menos aldrabada, lem-bram que as religiões só têm sentido se servirem para destapar o horizonte do quotidiano rotineiro e para transformar as tristezas em alegria: abrir o céu à terra e a terra ao céu.

2Hoje, a liturgia oficial trouxe S. Paulo para a festa de S. Pedro, mas não faz dele um santo popular. Sendo o grande génio do cristianismo, não deixa de provocar grandes alergias. Já nos seus pró-prios escritos – Epístolas famosas – deparamos

com alguém que tem de estar sempre a afirmar-se e a defender-se. Procura a paz e a comunhão, mas provo-ca uma agitação permanente. Reivindica, a pés juntos, a sua condição de apóstolo, mas lembram-lhe sempre que não fez parte do grupo de Jesus, foi perseguidor dos cristãos e ate presidiu ao martírio de Estêvão. Apesar de ter organizado uma campanha internacional de socorro aos pobres da Igreja de Jerusalém, esta, por razões ide-ológicas, nunca se mostrou agradecida, antes pelo con-trário. Agora, fazem dele o inimigo das mulheres e dos homossexuais, alguém que não mexeu uma palha para libertar os escravos, que chegaram a ser dois terços da população do Império romano a que ele pertencia. Para uns, é um moralista chato e rabugento; para outros, até os seus textos de circunstância são transformados em leis universais, válidas em todo o tempo e lugar, isto é, obra de um teólogo profissional, completamente perdido em

questões abstractas, sem ligação com a vida do povo. A Carta aos Romanos é um quebra-cabeças para as relações entre cristãos e judeus. Como se isto não bastasse, há quem faça dele o maior traidor da simplicidade evan-gélica, apresentando-o como o verdadeiro fundador do cristianismo, um concorrente do próprio Jesus.

3Celebra-se, neste domingo, a abertura do “Ano Paulino”. Bastará um ano, consagrado ao estudo da sua obra e da sua revolução, para desfazer to-dos esses preconceitos e aprofundar enigmas que atravessam dois mil anos de história? Antes de

mais, é preciso identificar a complexa geografia cultural e religiosa de S. Paulo. De um lado, havia o Evangelho e, do outro, a Tora (Lei). Com Paulo de Tarso, o cristianismo tornou-se um sistema doutrinal sólido. A sua língua e, até certo ponto, os seus conceitos não vinham de Jesus de Nazaré. Brotavam, sem dúvida, de fontes autenticamen-te judaicas quanto ao fundo, mas eram gregas quanto à forma, não só a partir da versão grega das Escrituras, mas também dos pensadores e escritores da Diáspora helénica. Esses judeus estavam em diálogo contínuo e profundo com a filosofia e a cultura dos gregos. A eles se deve uma herança escrita da mais alta importância que os cristãos acolheram, desde o começo, e salvaram-na. O judaísmo rabínico preferiu ignorá-la e construiu-se sem ela (1).

Paulo, ao não exigir que os judeus se tornassem gre-gos, isto é, não-judeus, nem que os gregos se tornassem judeus, revelou a imparcialidade de Deus – não faz acep-ção de pessoas ou de povos – e fundou a universalidade humana e religiosa: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus. E se vós sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa” (Gal 3, 28-29).

Quem assim fala é um judeu – declarado apóstata pela 12.ª Bênção da 18.ª Oração de Petição judaica – que, em nome de outro judeu, propõe um caminho para a reali-zação da comunhão de toda a humanidade na sua imensa diversidade. George Steiner levanta uma questão que não é possível desenvolver aqui: “Esquecemos prontamente que não só Jesus, mas também os autores dos Evangelhos e dos Actos, e todos os seus primeiros seguidores, eram

judeus. Os primórdios do cristianismo e da história macabra do ódio entre os judeus estão inextricavel-mente entretecidos” (2).

Talvez seja esse um pon-to essencial para o diálogo entre cristãos e judeus ra-bínicos do nosso tempo. No entanto, a revolução desen-cadeada por Paulo de Tarso não pode ficar circunscrita a problemáticas confessio-nais. Importa encontrar-se, também, com a voz de al-guns filósofos nossos con-temporâneos, como Alain

Badiou e Giorgio Agamben. Fica para depois.(1) André Paul, Qumrân et les Esséniens, Paris, Cerf,

2007.(2) A Bíblia Hebraica e a Divisão entre Judeus e Cristãos,

Lisboa, Relógio d’Água, 2006, 84-85.

Frei Bento Domingues, O.P.

A revolução

desencadeada por

Paulo de Tarso não

pode ficar circunscrita

a problemáticas

confessionais. Importa

encontrar-se, também,

com a voz de alguns

filósofos nossos

contemporâneos

É altura do Ocidente acordar e enfrentar esta dura realidade: a Rússia não é uma democracia

O czar Putin e a ousadia da academia russa

Recentemente, a Academia Russa das Ciências rejeitou a admissão plena de Mikhail Koval-chuk. Até aqui, nada que pareça ser merecedor de especial atenção. Mas, se pensarmos que Kovalchuk é presidente da empresa estatal rus-

sa de nanotecnologia Rosnanotech há já um ano, e que pertence ao círculo restrito de amigos de Putin, consegui-mos facilmente perceber que a recusa da Academia das Ciências foi um acto ousado de rebelião face ao Kremlin. Até porque o próprio Putin fez questão de aparecer na-quela academia momentos antes da votação. Tratou-se de um acto de revolta num país onde as liberdades e os direitos – e, em especial, a liberdade de expressão – se encontram cada vez mais amordaçados.

Edward Lucas, no seu livro The New Cold War (Blooms-bury, Londres, 2008) coloca o dedo na ferida. Os tiques ditatoriais voltam a estar presentes, de forma descarada, relembrando os tempos soviéticos: o recurso sistemático a hospitais psiquiátricos e a acusações de extremismo e a omnipresença da polícia secreta.

Em meados de 2007, a activista da oposição Larisa Arap foi encarcerada num hospital psiquiátrico em Mur-mansk, de onde só saiu 46 dias depois. Não fora a sua greve de fome e a atenção que o seu caso despertou e certamente ainda estaria “em recuperação”. Também o crime de extremismo tem vindo a ser sucessivamente alargado e formulado de modo cada vez mais vago. Por exemplo, a mera suspeita deste crime impede alguém

de se candidatar a cargos públicos. A instrumentalização da polícia secreta também não é algo de novo e o FSB é um orgulhoso herdeiro do KGB, levando mesmo a cabo operações no exterior como, por exemplo, o assassínio de Alexander Litvinenko.

Putin tem defendido um conceito de “democracia so-berana”, dando especial ênfase ao elemento de sobe-rania, que se traduz em: “Nós não aceitamos lições de ninguém”.

Ainda para mais, quando a Rússia é rica em petró-leo, gás e outras matérias-primas essenciais aos países desenvolvidos. Uma dependência que a Rússia tem sabido explorar com mestria, ao mesmo tempo que tem fomentado uma parceria estratégica com a China e relações de amizade com a Venezuela de Chavéz ou com o Irão.

A tudo isto juntamos um Ocidente dividido e distraído com outros desafios. Na UE, a questão energética é, a par da política externa, uma das áreas onde o conceito “União” está menos presente. Em matéria de energia, os países preferem acordos bilaterais onde possam fazer va-ler o seu interesse nacional. O facto de não actuar como um bloco torna a UE um actor com menos peso negocial face a empresas como a gigante russa Gazprom.

Subjacente a toda esta “czarização”, assistimos a um discurso complacente que denuncia abusos, mas que os desvaloriza, afirmando que estes não são comparáveis com os da União Soviética. Os dirigentes europeus con-

tinuam a insistir que a Rússia precisa de ser ajudada no seu caminho democrático e que temos de ter um pouco mais de paciência.

E como é que a Rússia encara a memória da União Soviética? Putin, que considerou a queda da União So-viética a maior catástrofe geopolítica do século XX, tem sabido conduzir muito bem este processo. A era soviética tem sido glorificada, ao contrário dos anos de Ieltsin. As purgas de Estaline, a Grande Fome e os Gulag são assuntos secundários. Não houve, nem pode haver, um confronto com o passado de um regime assassino que ceifou a vida a milhões de pessoas. Isso poria em causa a própria sobrevivência política de Putin.

Na Tchetchénia, a guerra tem sido devastadora e de-sumana, como Anna Politkovskaya tão bem a retratou (Chechénia, A Vergonha Russa, Alêtheia, Lisboa, 2008). Pagou-o com a vida, como, aliás, tem acontecido a outros jornalistas que ousam desafiar o Kremlin.

Repetir-se-á o mesmo com os membros da Academia Russa? Edward Lucas alerta que acreditar e estimular este discurso benevolente é um jogo perigoso.

Já é altura do Ocidente acordar e enfrentar esta dura realidade: a Rússia não é uma democracia, Putin é um czar e de boas intenções está o Inferno cheio. O Céu, por sua vez, está cheio das suas vítimas. Investigadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa

Raquel Vaz-Pinto

Page 47: Público – 6664 – 29.06.2008

Público • Domingo 29 Junho 2008 • 47

Um jornal sem site é como se não existisse. Mas um site não é mero repositório de matéria publicada – tem vida própria

O outro PÚBLICO

Na primeira quinzena do mês, o provedor recebeu uma revoada de reclamações de leitores do PUBLICO.PT que se sin-tetizam na exposição de um deles, Ri-cardo Quintas (R.Q.): “1) fotografias em

‘negativo’ quando são clicadas, tornando impossível a sua visualização; 2) mensagem a dizer ‘edição ine-xistente’; 3) anúncios de dupla folha que dificultam a ‘navegabilidade’ do site e a visualização das notícias; 4) textos em latim (?) em vez do texto da notícia; 5) textos com tags [marcadores] esquisitos que tornam difícil a respectiva leitura, por exemplo: ‘... pobreza \u2013 as mais relevantes desde a criação do rendi-mento mínimo garantido em 1996 \u2013, insistem na denúncia de aumento da pobreza entre nós, que nenhum indício confirma, antes pelo contrário. Se existe uma verdadeira expressão de \u201Cinimizade política\u201D(...)’; 6) notícias só visíveis com a opção ‘Utilize o clip para poder visualizar a notícia’, mas que depois têm um tamanho de font [tipo de letra] impossível de ler”.

A possível erupção do latim (língua morta sem apa-rente motivo para ressuscitar em meio tecnológico tão avançado) intrigou sobremaneira o provedor. Porém, uma reclamação idêntica de outro leitor, José Luís Ferreira ( J.L.F.), fez luz sobre a questão: “O título da entrevista de Ana Gerschenfeld a Marilyn vos Savant [9 de Junho] era seguido do seguinte destaque: ‘Lor sum ad te modo od tat ex et, velenis odolore diat, ve-nisim endiam dunt lore tat essequat nonse essequisis ectet er sit niat’ (interessantíssimo texto não sei se em latim da Baixa Idade Média de Xabregas, se em minde-rico, mirandês..., quiçá em esperanto...)”. Não sendo versado em dialectos perdidos, o provedor atreve-se a dizer que se trata antes do resultado de uma teclagem aleatória no computador por um técnico informático, com vista à sua substituição pelo verdadeiro destaque, o que não se chegou a operar.

O provedor recebeu do director do PÚBLICO a ex-plicação de que o jornal mudara de plataforma infor-mática no início do Junho, pelo que se deveria tratar de questões da aclimatação (que não afectam só os seres vivos). “Os problemas que identificámos tinham a ver com isso e têm vindo a ser progressivamente re-solvidos, conforme se vão detectando bugs [anomalias informáticas]”, concluía José Manuel Fernandes.

A verdade é que esse tipo de críticas diminuiu drasticamente nos últimos dias, pelo que o provedor presume que tudo regressou à normalidade. Mas as reclamações sublinham o impacte actual do site do PÚBLICO, de que cada vez mais gente depende para se informar, sem ler a edição em papel.

Hoje, na verdade, um meio de informação sem pá-gina na Internet é como se não existisse. É um dado de civilização: o crescimento exponencial do consumo de informação na rede obrigou os media tradicionais não só a criarem sites próprios mas também a inves-tirem cada vez mais no seu desenvolvimento, já que não podem ser considerados meros repositórios de matérias publicadas noutros suportes, mas órgãos de informação com autonomia própria, linguagem diferenciada e conteúdos específicos.

Pelos padrões nacionais, o site do PÚBLICO apre-senta um interessante nível evolutivo, traduzido num crescente número de contactos diários, mas há muitos leitores, que fazem comparações com sites de jornais estrangeiros sem se levantarem da cadeira, a exigirem sempre mais e melhor.

É o caso de João Florêncio, que escreve de Londres: “Como português residente no estrangeiro, tenho por hábito consultar o PUBLICO.PT diariamente. Ora o que me espanta é a pobre qualidade editorial das notícias apresentadas no site. Tendo eu sido leitor regular da versão impressa do vosso jornal enquanto vivia em Portugal, surpreende-me muito pela negativa a distância abissal que separa o jornal propriamente dito e as ‘notícias’ disponibilizadas online para lei-tura gratuita, frequentemente pobres na linguagem utilizada, bastantes vezes parciais e por vezes desac-tualizadas. (...) Gostaria de vos deixar um exemplo de jornalismo online de qualidade: www.guardian.co.uk [site do diário britânico The Guardian]”. Tam-

bém R.Q. é severo no julgamento e exigente no modelo: “Nunca vi um site de notícias tão mal feito como o vosso. É pena. Vejam por exemplo o site da revista The Economist. É sim-ples e confortável de ler”.

Independentemente da acusa-ção de parcialidade que o leitor não comprova (e o provedor não detecta), e mesmo descontando os

exageros de muitos dos que se habituaram a recla-mar através da Web, estes sinais de desapontamen-to e exigências de melhoria deveriam ser tidos em consideração pelos responsáveis do PÚBLICO. Claro que os cânones apontados (a que se podem juntar muitos outros) resultam de um grande investimento que não caberá na dimensão deste jornal, mas não é um facto que o PÚBLICO sempre fez gala de se equiparar ao que de melhor se produz no jornalis-mo internacional?

A frustração cresce entre assinantes do PUBLICO.PT, com acesso a matérias que outros não podem

ler. É o caso de Paulo Fonseca: “Como assinante do jornal por via electrónica, penso ter direito aos mes-mos conteúdos de quem compra um jornal na rua ou o assina em papel. A questão é esta: o PÚBLICO entende disponibilizar os conteúdos do caderno principal e do P2 de uma forma diferente do que faz com os suplementos Fugas, Ípsilon e Pública. Ou seja, para os dois primeiros temos uma versão igual ao jornal e para os suplementos uma versão apenas em texto, mal apresentada e sem ter nada a ver com o jornal. Além disso, o que no meu entender é mais grave, nem todas as semanas os suplementos, pelo menos o Ípsilon, tem todos os conteúdos. Já por mais de uma vez reparei que as críticas dos discos não constam em algumas edições, por exemplo a de hoje [2 de Maio]. Isto é enganar as pessoas que assinam por um ano o jornal. Será que o PÚBLICO disse em algum sítio que quem assina o jornal pela Internet (e já o faço há um bom par de anos) não tem direito a determinada informação, ou essa in-formação não é disponibilizada da mesma forma que o restante jornal?”

J.L.F., que diz comprar a edição impressa e ao mes-mo tempo assinar a online (50 euros/ano), faz as con-tas de quem apenas subscreve o PUBLICO.PT: “Em lugar, neste momento, de pagar por semana 4x0,90 + 3x1,40 = 7,80 euros, paga 8,78 euros [por um] serviço – recordo – que, apesar de com maior qualidade, nou-tros media (a generalidade deles) é gratuito”.

Inevitavelmente, sob a emoção do protesto, surge até a ocasional ameaça de não renovar a assinatura do PUBLICO.PT ou a pergunta sobre se é possível a sua suspensão imediata, com reembolso do rema-nescente.

O provedor dá ainda conta de queixas sobre algu-mas funcionalidades do site, sobre gralhas nas no-tícias online, sobre o automatismo na forma como se promove textos (por exemplo, retirar as palavras iniciais para chamada, como aconteceu com uma cró-nica de Vasco Pulido Valente assim destacada: “Com o risco de repetir Constança Cunha e Sá, insisto no tema”), sobre a ausência de constante actualização (enquanto é noite e madrugada em Lisboa) ou sobre insuficiências do motor de busca.

Recomendação do provedor. Tendo em conta o actual papel da informação online e a sua previsí-vel evolução, e tanto mais que o PÚBLICO já possui liderança neste segmento, o reforço da aposta do jor-nal no sector deverá acolher com especial atenção o ponto de vista dos utilizadores.

Joaquim VieiraProvedor do leitor

Há leitores que,

comparando

com sites estrangeiros

sem se levantarem

da cadeira, exigem

sempre mais e melhor

A espuma dos dias

a Que se passa com este jornal? Uma notícia é publicada duas vezes na mesma edição (31 de Maio), nas págs. 10 e 40, respectivamente com os títulos “MTD quer ‘dar voz’ aos desempregados” e “Desempregados têm movimento associativo”; o mesmo acontece com a crónica “A minha TV”, de Jorge Mourinha, saída com o mesmo título e o mesmo texto em dois dias seguidos, 17 e 18 de Junho; num artigo sobre os 113 anos dos corn flakes – flocos de milho – (págs. 2/3 do P2 de 31 de Maio), fala-se sempre em trigo e “flocos de trigo”; na secção “Pessoas” de 10 de Junho, diz-se que Joan Collins acaba de participar “num jantar de beneficência organizado pela mulher do ex-Presidente da União Soviética, Raisa Gorbachov”, falecida há nove anos (o jantar foi iniciativa da Fundação Raisa Gorbachov); escreve-se, na pág. 9 de 17 de Junho, que o realizador Manoel será homenageado na

“Cimeira Ibérica, na Cidade do México, entre 1 e 5 de Outubro”, quando se trata do I Congresso da Cultura Ibero-americana; não chegam ao fim o obituário de Albert Cossery publicado nas págs. 10/11 do P2 da passada sexta-feira (terminando em “Sigamos, por isso, o princípio do prazer de Cossery. Leiamos os seus”), uma notícia sobre Tom Cruise em “Pessoas” de 18 de Junho (“... o de um dos filmes de”), duas crónicas de Desidério Murcho (de 17 de Junho – “... nos dicionários de língua inglesa: abro um, e os” – e de 24 de Junho – faltando pelo menos um ponto final em “... é como fazer uma lei que oferece chocolates”) e a crónica de Paulo Varela Gomes de 18 de Junho (“O problema maior destes missionários obcecados, os do ‘Ocidente’ e os do ‘Oriente’, não”).

De todos estes lapsos, o PÚBLICO só corrigiu (na edição de ontem) o do artigo sobre Cossery. Em

relação ao resto, os leitores, alguns dos quais detectaram as falhas, ficaram em branco. Ironiza Luís Filipe Lopes sobre um dos casos: “Gostaria de ter lido a conclusão do raciocínio de Desidério Murcho, mas, enfim, talvez esteja a pedir de mais. Não está provado que os artigos tenham que terminar por um ponto final...”

Não são só os textos que não têm fim (o que torna a sua leitura exasperante), é também este problema, para o qual o provedor já uma vez alertou, que parece fácil de evitar, mas cuja solução o jornal ainda não encontrou.

Desde 3 de Junho, duas edições após o provedor ter criticado referências erradas nas previsões para os dias seguintes da página meteorológica, os mapas com essas previsões deixaram de conter a indicação dos dias. Assim, de facto, evita-se qualquer erro, mas não parece que os leitores fiquem mais bem servidos.

PAULO RICCA

Page 48: Público – 6664 – 29.06.2008

Ele foi o senhor da chuva em Donington Park e este fim-de--semana foi rei na “Catedral” do motociclismo, quebrando sucessivamente o recorde da volta mais rápida do circuito holandês. Stoner está imparável e a terceira vitória consecutiva parece mais certa do que impossível. (Pág. 39) N.S.

Sobe e desce

Casey Stoner

Andy Murray

Ana Jorge

A actual ministra da Saúde não foi a autora da Lei do Tabaco, mas é ela que deve agora preocupar-se com o assunto. Se as novas regras permitem que se despeçam trabalhadores com base na formulação legislativa, alguma coisa está mal e deve ser alterada. Ou só a excepção dos casinos é que foi acautelada? (pág. 13) P.F.

Já esteve por três vezes na quarta ronda de um Grand Slam, mas agora isso não será suficiente. A vitória de ontem elevou as expectativas do público da casa e a esperança de rever o troféu ser empunhado por um britânico. Depois de Tim Henman, é tempo de Wimbledon acreditar em Andy Murray. (pág. 41) N.S.

Um ano em Downing Street, um ano para esquecer. O primeiro--ministro britânico corre o risco de ficar na história como o governante que mais caiu em tão curto espaço de tempo. Eis como um bom ministro das Finanças pode dar um chefe de governo indistinto. (pág. 20/21) P.F.

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Protesto no paísManifestação contra Código do Trabalho juntou 30 mil só em Lisboa Pág. 11

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VaticanoCavaco falou com o Papa sobreo estadodo mundo Pág. 8

Sem a luz que entra no estúdio estes quadros teriam sido pintados?

Paula Rego precisa de luz natural no estúdio – e vai lutar por ela

a Paula Rego não imagina o estúdio de Camden Town onde se instalou em 1993 sem luz natural e o The Ti-mes também não. Animais empalha-dos, bonecas de porcelana, máscaras de gesso, orangotangos de brincar com vestidos de festa: podia ser “o sítio mais sinistro de Londres”, es-creve o diário, e só não é porque o telhado é de vidro e há sempre mui-ta luz do dia (quando há luz do dia: estamos a falar de Londres). Por enquanto. O proprietário de uma garagem vizinha quer construir um prédio de dois andares em cima da oficina. “Não é só uma grande maça-da. É uma grande sombra em cima da cabeça dela”, diz a crítica Rachel Campbell Johnston.

O lugar onde Paula Rego criou várias obras seminais da arte con-temporânea está agora em risco, diz a artista portuguesa radicada em Londres: “Produzi os meus me-lhores trabalhos aqui. É a minha ca-sa e o meu quarto de brincar, e é impossível encontrar outro estúdio como este. Perdê-lo afectar-me-ia terrivelmente”.

Vai ser uma luta, mas Paula Rego não está sozinha contra o mundo: o

director da Tate Modern, Nicholas Serota, e o escultor Anthony Caro, duas das mais influentes figuras do meio artístico britânico, já contacta-ram as autoridades locais para impe-dir que o pedido de licenciamento seja aprovado.

Rego descobriu o estúdio, um anti-go armazém industrial numa rua se-cundária de Camden Town, 33 anos depois de chegar a Londres: “Este lugar é um milagre. Tenho luz do dia, uma coisa que nunca tinha tido na vida, e o meu trabalho mudou com

Vizinho quer construir prédio de dois andares ao lado do estúdio. O director da Tate Modern está contra

isso”, argumenta. O proprietário da garagem, Nino De Angelis, garante que não pretende construir no curto prazo mas não está disposto a abdi-car da licença que, diz, torna o imó-vel mais valioso. Onde Paula Rego vê uma sombra, ele vê a reforma. Não vai ser fácil, diz Rachel Camp-bell Johnston: “Não admira que Rego esteja disposta a uma guerra para proteger o seu espaço de trabalho. É tão pessoal – e vai ser tão ferozmen-te defendido – como um quarto de adolescente”. Inês Nadais

ENRIC VIVES-RUBIO

Vasco Pulido Valente está de férias e voltará a esta página a partir de 4 de Julho