Psicologia da Religião - Cap.1 Definição, História e Métodos

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PSICOLOGIA DA RELIGIODefinio Histria Mtodos de Estudo

PSICOLOGIA DA RELIGIODefinio

Psicologia da Religio o estudo dofenmeno religioso do ponto de vista psicolgico, ou seja, a aplicao dos princpios e mtodos da psicologia ao estudo cientfico do comportamento religioso do homem, quer como indivduo, quer como membro de uma comunidade religiosa. Nessa definio, comportamento religioso refere-se a qualquer ato ou atitude, individual ou coletiva, pblica ou privada, que tenha especfica referncia ao divino ou sobrenatural ( definido em termos da f pessoal de cada indivduo).

Psicologia da Religio,portanto, no nem a defesa nem a condenao da religio. Muito menos o estudo de um credo ou determinada seita, se bem que tal estudo seja possvel e at recomendvel.

Psicologia da Religio oestudo descritivo e, tanto quanto possvel, objeto do fenmeno religioso, onde quer que ele ocorra.

Orlo Strunk Jr. define psicologia dareligio como o ramo da psicologia geral que tenta compreender, controlar e predizer o comportamento humano tanto profundamente pessoal como perifrico percebido pelo indivduo como sendo religioso e susceptvel a um ou mais dos mtodos da cincia psicolgica.

W. H. Clark apresenta uma posiomais realista e que est mais de acordo com a presente situao. Ele observa que ao contrrio do que acontece com outros ramos da psicologia, a psicologia da religio nunca desfrutou posio acadmica respeitvel. Ela pertence parcialmente religio e parcialmente psicologia e freqentemente se encontra entre as duas.

W. H. Clark apresenta trs razes porque a psicologia da religio ainda no desfruta status respeitvel no campo da psicologia cientfica geral. 1 A complexidade do comportamento religioso; 2 A falta de habilidade cientfica por parte do erudito religioso; 3 A experincia religiosa algo ntimo e privado;

PSICOLOGIA DA RELIGIO Histria

A Psicologia da Religio semelhana da psicologia cientfica moderna, tem suas razes histricas

filosofia, psicologia racional e na teologia filosfica.na

A Histria da Psicologia da Religio se desenvolveu a partir de estudos tericos dos fenmenos relacionados com o comportamento religioso e de preocupaes de ordem prtica, tal como se refletem especialmente nos grandes movimentos de sade mental no mundo moderno.

Uma das primeiras e mais expressivas tentativas de compreenso psicolgica do fenmeno religioso foi escrito por Jonathan Edwards, em 1746. Ele fez vrias observaes vlidas quanto natureza da experincia religiosa. Essas observaes revelam o esprito intuitivo que possuia. Ele notou a diferena entre: - Experincia religiosa espria e a experincia religiosa genuna; - Elementos essenciais e os elementos secundrios ou suprfluos da experincia religiosa;

Edwards revelou profunda compreenso quando afirmou que raramente o problema apresentado pelo paroquiano a seu pastor o real problema que o aflige. Em geral, diz ele, o problema discutido apenas um pretexto para iniciar uma relao que torne possvel a comunicao do real problema que o preocupa no momento.

Em 1799 apareceu outro livro que iria exercer considervel influncia no estudo da psicologia da religio, de autoria de Friedrich Schleiermacher. Ele reage contra a interpretao intelectualista da natureza da religio e estuda a experincia religiosa particularmente do ponto de vista do sentimento.

Schleiermacher diz que a essncia da religio no nem o raciocnio nem a ao, mas, sim, a intuio e o sentimento. Para ele, a experincia religiosa consiste essencialmente do sentimento de absoluta dependncia de Deus na vida humana.

Schleiermacher apresenta 4 questes: - A religio tem a ver com a maneira como o eu se apresenta a si mesmo, pois, no mera especulao intelectual; - O eu presente nesse modo de conscincia (experincia religiosa) o eu em sua identidade original, no qualificado ou determinado por energias e objetos especficos existentes no seu prprio universo.

Schleiermacher apresenta 4 questes: - O sentimento religioso no derivado de qualquer concepo prvia, mas a expresso original de uma relao existencial imediata. - Religio no propriamente uma idia, mas o sentimento de dependncia de um Poder maior do que o prprio homem.

Em meados do Sculo XVIII, David Hume advogou em seu livro a tese de que a religio tem suas origens no sentimento de medo e ao mesmo tempo no sentimento de esperana, evocados pelo conflito entre as necessidades do homem primitivo e as foras hostis da natureza que o rodeia.

No fim do sculo XIX, Granville Stanley Hall, um psiclogo preocupado com problemas de psicologia da religio, comea a estudar a converso religiosa em conexo com o problema central da adolescncia o problema da identidade de cada indivduo e chega a concluso de que a converso religiosa um fenmeno tpico da adolescncia.

Hall diz que o crescente interesse na religio est intimamente associado com a adolescncia, como fase do amadurecimento sexual e da impressionabilidade geral do ser humano. Ele descobriu que a mdia da idade da converso dezesseis anos e que h estreita correlao entre o amor sexual e a converso religiosa.

Edwin Diller Starbuck, escreveu um livro em 1899,onde o tema central de interesse nos estudos psicolgicos de fenmeno religioso era a converso. Ele advogou que a converso religiosa fenmeno predominantemente adolescente. A adolescncia o perodo em que o homem procura e define sua prpria identidade. Isto no quer dizer que s haja converso religiosa na adolescncia, mas, sim, que esse fenmeno favorece a ocorrncia da converso religiosa, sendo que, mesmo quando ela se d fora dessa faixa etria, a experincia religiosa da converso tem as caractersticas do problema central dessa fase da evoluo do homem.

Segundo Starbuck, h trs tipos bsicos de converso religiosa, a saber, a converso volitiva, a converso negativa ou mera submisso e a converso gradual. Seu estudo revela tambm que a vida religiosa daqueles que tiveram uma experincia de converso na adolescncia no difere fundamentalmente da vida religiosa daqueles cuja converso se deu pelo processo gradual. O que realmente importa a experincia de converso.

Starbuck, lanou luzes tambm sobre a compreenso do desenvolvimento religioso do homem. A experincia religiosa est sujeita ao processo evolutivo, do mesmo modo que as demais fases da vida humana. Ele notou quatro fases de evoluo religiosa: - Conformao; - Intimidade com Deus; - Evoluo Religiosa; - Desenvolvimento de conscincia moral;

A maior contribuio de Starbuck para o estudo psicolgico do fenmeno religioso sua tese de causalidade do comportamento religioso, bem como sua compreenso de que a experincia religiosa do homem esta sujeita s leis da evoluo. A obra de Starbuck tem sido criticada de vrios ngulos. A Crtica mais forte que se pode fazer a Starbuck, entretanto, que ele sugere que a adolescncia, tomada como fenmeno psicolgico, a causa da converso religiosa.

George Alberto Coe apresenta o resultado de suas investigaes em vrias reas do comportamento religioso, incluindo o despertamento religioso, a converso, a cura milagrosa e o significado da espiritualidade. Segundo Coe, existe, de fato correlao entre sugestionabilidade e a forma dramtica de converso religiosa. George Coe preocupa-se com vrios aspectos da psicologia da religio, trata o autor das origens da idia de Deus, bem como da converso, descoberta religiosa, misticismo, idia de imortalidade, orao, etc.

William James se preocupa com os casos extraordinrios de experincia religiosa. Atravs de documentos pessoais, procurou estudar a experincia religiosa daqueles para quem religio existe no como hbito rotineiro, mas como uma febre aguda. William James revela-se altamente pragmtico, ou seja, o valor da experincia religiosa no medida por sua veracidade ou por sua falsidade, mas antes por sua funcionalidade. Para James, o que realmente importa o que esta experincia significa para o indivduo, os frutos que ela produz em sua vida.

James Bisset Pratt, discute a natureza da crena religiosa no s nas chamadas religies superiores, como tambm entre os povos primitivos. Um dos aspectos mais interessantes dessa obra o estudo evolutivo da crena religiosa, a comear da infncia, atravessando a juventude e indo at a velhice. Pratt chegou concluso, contrria opinio vulgar, de que a crena religiosa no se baseia em mero interesse pessoal, se for dado palavra interesse um sentido de fruio ou de busca de benefcios imediatos. A maioria das pessoas que poderiam ser consideradas emocionalmente amadurecidas busca a deus no porque espere receber dele alguma recompensa, mas pelo prazer da camaradagem com ele. Segundo Pratt, isso verdade especialmente na prtica da orao. O crente espiritualmente maduro ora no para receber uma ddiva, mas para comungar com Deus. Na proporo em que amadurecemos espiritualmente, nossa orao vai perdendo seu carter utilitarista e se torna cada vez mais um processo de ntima comunho com o Criador. Um dos feitios mais interessantes da obra de Pratt que, sendo ele mesmo um homem profundamente religioso, escreveu sobre assuntos de sua prpria experincia religiosa. Outro aspecto importante de sua obra que tentou estudar o fenmeno religioso fora de seu prprio ambiente cultural.

Edward Scribner Ames, baseado em dados antropolgicos, defendeu a tese de que a religio o esforo do homem para conservar seus valores sociais. Para Ames, a idia de Ds, por exemplo, um smbolo ou objetivao dos valores sociais elaborados pelo homem no decurso de sua evoluo social.

Durkheim e outros, que vem na religio um fenmeno tipicamente social, George Malcolm Stratton defendeu a tese de que a religio tem sua origem no conflito interior que ocorre dentro de cada indivduo. Stratton apresenta a experincia religiosa basicamente como algo que resulta de emoes e motivaes conflitivas dentro do indivduo. A tese de Stratton que a caracterstica central da religio tenso interior causada por foras antitticas. Stratton se antecipou aos autores de teorias psicolgicas modernas que pretendem explicar o fenmeno religioso como decorrncia de conflitos interiores no homem.

James H. Leuba, notam-se em seus trabalhos duas tendncias: a humanista, segundo a qual ele afirma que a idia de deus nada mais do que um produto da imaginao criadora do homem; e a naturalista, segundo a qual ele tentou explicar fenmenos religiosos, mostrando a similaridade entre o relato da experincia mstica e o relato verbal de indivduos sob o efeito de determinadas drogas.

Sigmund Freud, em seu primeiro ensaio, ele tenta explicar psicologicamente o comportamento d homem primitivo e chega concluso de que h relao de similaridade entre as prticas religiosas do homem primitivo e as vrias formas de neurose do homem moderno. Freud defende a tese de que religio uma iluso, no necessariamente porque seja errada, mas porque leva o homem a evitar a dura realidade de suas prprias limitaes humanas. A concluso geral a que Freud chegou que religio uma espcie de neurose obsessiva coletiva, caracterizada pela fuga da realidade, e que representa nada mais do que a projeo de nossa imagem paterna, da qual dependemos para nossa segurana emocional.

Carl

Gustav Jung caracterizase por certa ambigidade. Escreveu amplamente sobre o assunto, mas nunca deixou bem clara sua verdadeira interpretao do fenmeno religioso.

Robert

H. Thouless publicou um livro cujo maior defeito a quase total dependncia da teoria freudiana na explicao psicolgica do fenmeno religioso.

Elmer

T Clark estudou extensivamente o fenmeno do Avivamento Religioso, sobretudo em sua relao com a converso religiosa.

Estudos

Prticos

Os estudos prticos da Psicologia da religio produziram vrios efeitos de profundas conseqncias na vida e doutrina da Igreja Crist. A crescente nfase em psicologia pastoral e principalmente o chamado treinamento clnico do ministrio refletem a grande influncia dos estudos de psicologia da religio.

Estudos

Prticos

O movimento de educao religiosa foi um bom antdoto contra o exagerado otimismo daqueles que queriam salvar o mundo nos limites cronolgicos de sua prpria gerao. Esse movimento no foi para salvar menos, mas admitir que a salvao completa atingida pelo processo de educao para o cristianismo. A troca foi de uma converso momentnea para um processo contnuo de redeno do homem.

Estudos

Prticos

O treinamento clnico do ministrio contribuiu para dar corpo ou representao concreta a certas idias abstratas. O conceito de graa, pecado, perdo, culpa, etc., em contato vivo com homens e mulheres de carne e osso deixam de ser abstrao para assumirem formas de comportamentos dos indivduos com quem tratamos na vida real.

Estudos

Prticos

Anton T. Boisen, em 1936, defende a tese de que a esquizofrenia uma tentativa integrao ou unidade do eu. A diferena essencial entre o mstico e o psictico a direo ou a maneira como cada um resolve seu problema. Fundamentalmente, a causa pode ser a mesma um se torna santo e outro se torna louco.