Projeto e execução de lajes racionalizadas
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1
PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES RACIONALIZADAS DECONCRETO ARMADO DE EDIFÍCIOS
M.Eng. ANA LÚCIA ROCHA DE SOUZAProf. Dr. SILVIO BURRATTINO MELHADO
1 INTRODUÇÃO
Várias empresas vêm demonstrando um interesse crescente pela
racionalização e contínuo aperfeiçoamento de seus processos construtivos.
São exemplos de iniciativas tomadas pelas construtoras as ações relativas à
racionalização das fôrmas da estrutura, lajes de concreto armado, alvenarias,
revestimentos de piso, contrapisos, revestimentos argamassados e cerâmicos
de fachada e internos, e impermeabilizações.
Nesse contexto, as construtoras têm procurado reduzir espessuras de seus
revestimentos. É o que ocorre quando se busca a redução da espessura de
revestimento de piso, através da racionalização da produção das lajes de
concreto armado.
Conceitua-se laje racionalizada como aquela que tem projeto para produção e
critérios de controle a partir de tolerâncias adequadas e bem definidas.
Este trabalho apresenta diretrizes para o desenvolvimento do projeto e a
execução das lajes racionalizadas de concreto armado de edifícios, com base
nos princípios de racionalização construtiva e construtibilidade, visando
estabelecer uma relação estreita com a execução, através do projeto para
produção. Será exposta a sistematização dos procedimentos envolvidos na
execução de lajes de concreto armado, com relação ao seu nivelamento e
acabamento, a partir de informações e dados obtidos junto a empresas
construtoras, fabricantes de equipamentos e empreiteiras especializadas.
Serão discutidos os equipamentos e acessórios utilizados no nivelamento e
acabamento das lajes de concreto armado, bem como, os aspectos relativos ao
controle do processo e as tolerâncias para a aceitação das etapas dos
serviços.
2
2 METODOLOGIA DE PROJETO ADOTADA
PICCHI (1993) salienta que “a preocupação com a qualidade a partir do projeto
é grande e justificável, pois o mesmo é indicado em todas as pesquisas como o
grande vilão da qualidade na construção”.
Muitos subestimam a grande quantidade de desperdícios que têm sua origem
na etapa de projeto. Na opinião de MELHADO (1995), as empresas vêm
passando pela implantação de novas formas de gestão, visando combater os
seus desperdícios e obter melhores níveis de competitividade. Os desperdícios
podem ser minimizados através de medidas como coordenação eficiente do
processo de projeto, desde o anteprojeto, adoção de procedimentos claros de
execução e controle, e realização de projetos para produção, detalhando a
execução dos serviços.
Para que sua elaboração seja possível, o projeto para produção deve estar
presente desde as primeiras fases do processo de projeto e, desse modo, pode
se tornar uma forma efetiva de transmitir para a obra como aplicar a tecnologia
envolvida, evitando que as decisões de como construir sejam tomadas no
canteiro de obras.
Este trabalho enfocará o desenvolvimento do projeto na interface projeto-obra,
tendo como objetivo a execução racionalizada de lajes de concreto armado.
Assim, para que o objetivo proposto quanto à racionalização venha a ser
alcançado, o projeto para produção desses elementos deverá ser desenvolvido
em duas fases.
O desenvolvimento da primeira fase, referente à "interface com as demais
disciplinas de projeto", deve ser realizado com o objetivo de se determinar as
cotas das lajes e compreende duas partes distintas:
• Primeira parte: refere-se ao anteprojeto do piso; com as informações
levantadas dos demais anteprojetos (arquitetura, estrutura, instalações,
entre outros), realiza-se o estudo para definição das cotas das lajes e
identificam-se as principais interferências com os demais anteprojetos;
3
• Segunda parte: ocorre após a análise crítica das interferências e
compatibilização dos diversos anteprojetos; refere-se ao detalhamento das
soluções dadas no anteprojeto do piso, caracterizando o detalhamento doprojeto executivo do piso.
O desenvolvimento da segunda fase, ”interface com a produção”, deverá
conter as orientações para a execução da laje no canteiro de obras.
O esquema da figura 1 ilustra a relação entre as duas fases que devem ser
realizadas. Essas fases devem ser realizadas por uma equipe multidisciplinar,
sob orientação do coordenador do projeto, como proposto por MELHADO
(1994).
2.1 Diretrizes para Elaboração da Primeira Parte da Primeira Fase
O anteprojeto do piso deverá ser estudado no momento em que os diversos
anteprojetos estiverem sendo elaborados, pois é nessa oportunidade que as
interferências verificadas podem vir a ser modificadas. Assim, para a
elaboração desse anteprojeto, faz-se necessário possuir as definições dos
anteprojetos de arquitetura, fôrmas da estrutura, instalações de gás,
instalações elétricas e de impermeabilização, bem como, as definições dos
procedimentos e especificações relativos aos revestimentos de piso e
execução de impermeabilização e esquadrias.
2.1.1 Informações a serem obtidas dos anteprojetos
Anteprojeto de Arquitetura:
• níveis relativos do piso acabado para cada ambiente;
• características dos revestimentos de piso especificados, especialmente
espessuras (quando não definidas pela arquitetura, consultar os fabricantes
dos componentes);
• posicionamento de ralos e declividades previstas para as áreas úmidas, tais
como cozinhas, áreas de serviço, banheiros e varandas;
4
Figura 1 Esquema de desenvolvimento do projeto (SOUZA, 1996)
• áreas em que haja previsão de impermeabilização;
• detalhes construtivos tais como soleiras, rebaixos e degraus;
• especificação dos tipos de esquadrias de portas a serem utilizadas;
• posicionamento dos ambientes e de paredes internas.
Anteprojeto da Estrutura (Pré-Dimensionamento das Fôrmas):
• espessuras de lajes com os desníveis e rebaixos previstos;
• posição das armaduras negativas;
PROJETO É UM SERVIÇO
ELABORADO POR EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
ANTEPROJETO
DIMENSÕESESPECIFICAÇÕES
ANÁLISE DEINTERFERÊNCIAS
PREPARO ESEQÜÊNCIA DE
EXECUÇÃO
ARQUITETURAESTRUTURASISTEMAS PREDIAISOUTROS
SEQÜÊNCIAEQUIPAMENTOSESTOCAGEM
PROJETODO
PRODUTO
PROJETODO
PROCESSO
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• posição das vigas e pré-dimensionamento das suas seções transversais.
Anteprojeto de Instalações Hidráulicas, de Gás e Elétricas:
• tipo, posição e diâmetro das tubulações a serem embutidas no piso, tais
como gás;
• posicionamento e especificação dos ralos das áreas úmidas;
• concentração de eletrodutos embutidos nas lajes.
Anteprojeto de Impermeabilização:
• dimensões das áreas a serem impermeabilizadas;
• sistemas de impermeabilização a serem utilizados;
• espessura total e declividades especificadas para os sistemas de
impermeabilização.
Procedimentos de Assentamento de Revestimentos de Piso:
• especificação da técnica empregada para o assentamento dos
revestimentos de piso, definindo-se a espessura total da camada de
revestimento.
Procedimentos de Execução das Esquadrias:
• formas de fixação das esquadrias de portas de correr.
2.1.2 Elaboração do anteprojeto do piso
Inicialmente, deve-se identificar as interferências do subsistema piso com os
demais subsistemas do edifício e propor soluções racionalizadas para as
mesmas, minimizando-se a necessidade ou a espessura dos contrapisos e a
necessidade de rebaixos diferenciados nas lajes. Para isso, deve-se analisar e
verificar:
• as possibilidades de alteração e compatibilização das especificações dos
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revestimentos para ambientes distintos, pertencentes a um único painel de
laje;
• a possibilidade de alteração das especificações de esquadrias de porta;
• alternativas que permitam mudar espessuras das camadas de revestimento,
desníveis e rebaixos do piso, para que se possa compatibilizar os níveis
finais da laje;
• a possibilidade de alteração das espessuras das próprias lajes;
• a adoção de soleiras ou filetes ressaltados com relação à cota final do
revestimento;
• a possibilidade de rebaixamento da face superior das vigas, para viabilizar o
assentamento das soleiras e a fixação das esquadrias sem "enchimentos";
• alternativas para a impermeabilização especificada, quando a espessura for
grande;
• a possibilidade de alteração do caminhamento de instalações passantes
pelo piso (por exemplo, instalações de gás);
• a possibilidade de redução da concentração de eletrodutos em regiões da
laje.
Após a análise dos diversos anteprojetos, é possível estudar qual deve ser a
cota superior de cada painel de laje. Por último, deve-se passar as decisões
para a apreciação dos projetistas de arquitetura, de estruturas, de instalações
prediais, de impermeabilização, para que se estabeleça a compatibilização
entre os anteprojetos.
2.1.3 Diretrizes para análise crítica do anteprojeto do piso
Deve-se estudar a proposta do anteprojeto do piso, verificando pontos críticos
para a execução, de modo a proporcionar maior construtibilidade. Para isso,
devem ser verificados e analisados:
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• a quantidade de rebaixos presentes na laje, conseqüentemente, de
gabaritos;
• a facilidade de execução desses rebaixos;
• a quantidade de rebaixos em áreas pequenas (p. ex., cozinha, área de
serviço);
• a espessura média da camada de contrapiso resultante.
A partir dessa análise, é tomada a decisão de qual padrão de acabamento será
adotado nos panos da laje; se laje nivelada, para receber uma camada de
contrapiso, ou laje acabada, recebendo diretamente a camada de ligação do
revestimento de piso.
A decisão de usar ou não o contrapiso está ligada à análise da construtibilidade
(excesso de cotas diferentes) e aspectos de desempenho (que não serão
discutidos neste trabalho).
2.2 Diretrizes para Elaboração da Segunda Parte da Primeira Fase
2.2.1 Elaboração do detalhamento do projeto executivo do piso
O detalhamento do projeto executivo do piso deve evidenciar:
• as especificações e as espessuras dos revestimentos de piso de cada
ambiente;
• as espessuras dos contrapisos em cada ambiente (quando houver);
• a especificação e a espessura da camada de impermeabilização;
• os desníveis entre ambientes, indicando a necessidade de rebaixos;
• as espessuras das lajes e as seções transversais das vigas de concreto
armado;
• as declividades para os ralos, os posicionamentos e formas de fixação
desses ralos;
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• formas de fixação das esquadrias de portas de correr.
Um exemplo de detalhe do projeto executivo do piso pode ser visto na figura 2.
O detalhe apresentado refere-se a um projeto real, de uma obra já construída.
2.2.2 Diretrizes para análise crítica do detalhamento do projetoexecutivo do piso
Após elaborada, essa etapa do projeto deverá passar por uma análise crítica,
quanto à tecnologia de produção de laje racionalizada e as condições de obra,
para analisar:
• a possível ausência de informações;
• a compatibilidade das soluções quanto à racionalização construtiva;
• as características que afetam a produção, propondo as alterações
necessárias.
Dessa forma, antes que o projeto seja encaminhado para a obra deverá ser
verificada a compatibilidade: dos desníveis projetados com os definidos no
projeto da estrutura; cotas e espessuras dos vários detalhes, entre si;
especificação dos revestimentos de piso com a técnica construtiva adotada;
espessura do sistema de impermeabilização com a profundidade do rebaixo
previsto; sendo feitas as modificações necessárias.
2.3 Diretrizes para Elaboração da Segunda Fase
2.3.1 Antecedentes à elaboração do projeto para produção
Os antecedentes necessários incluem a existência dos procedimentos deexecução da laje racionalizada; a organização do canteiro de obras, quanto à
definição dos equipamentos para transporte do concreto; e a primeirafase do projeto de laje.
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Figura 2 Detalhe do piso entre a sala e a varanda - sem escala (SOUZA,1996)
O sistema de transporte escolhido é um fator determinante na elaboração do
projeto para produção. Em função do tempo previsto para a execução das
lajes, pode ser estabelecido o número de equipamentos necessários e a
quantidade de frentes de serviço, definições que serão utilizadas como dados
de entrada do projeto para produção. As possíveis opções quanto ao sistema
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de transporte, como elevador de obra e jericas, grua ou bomba, devem ser
estudadas e definidas previamente.
2.3.2 Elaboração do projeto para produção
2.3.2.1 Definição do sentido geral de concretagem
A definição do caminhamento geral da concretagem deve ser feita a partir dos
pontos mais distantes com relação à saída de pessoal e equipamentos, de
maneira que:
• as frentes de concretagem possam trabalhar sem que haja interferências
entre elas;
• possibilitem o caminhamento das jericas (caso essa seja a opção de
transporte horizontal) com circulação adequada;
• o processo de concretagem não implique no retorno dos operários às áreas
cujo serviço já tenha sido executado;
• permita a perfeita descida de pessoal e equipamentos;
• seja evitada a formação de “juntas frias”.
Devem ser estabelecidas frentes de concretagem, em função do tipo de
transporte usado na obra e do tempo de início de pega do concreto. Deve-se
estudar ainda como a equipe de trabalho e os equipamentos utilizados serão
retirados da laje.
Na figura 3, pode-se ver uma ilustração simplificada dessa definição.
11
Figura 3 Sentido geral de concretagem
12
2.3.2.2 Delimitação e sentido dos panos de concretagem
A delimitação dos panos de concretagem, com seus respectivos sentidos, deve
ser coerente com o tamanho da régua empregada para o sarrafeamento do
concreto, como também deve permitir o caminhamento dos operários e a
execução total do pano, sem que existam interferências. Os panos de
concretagem devem ser delimitados pelas vigas e pilares da estrutura e
orientados segundo o caminhamento geral da concretagem. Ver figura 4.
2.3.2.3 Posicionamento das caixas de passagem e gabaritos
As caixas de passagem devem ser posicionadas com o auxílio de uma planta
de furação, a qual deve possuir um sistema de cotas acumuladas partindo
sempre dos mesmos eixos. A figura 5 mostra esse posicionamento,
esquematicamente.
A posição dos gabaritos deve ser determinada através dos rebaixos indicados
no projeto de fôrmas, mostrados no detalhamento do projeto executivo do piso.
Para tal, deve ser elaborado um projeto específico, contendo as cotas
necessárias à sua locação na fôrma.
2.3.2.4 Definição da posição dos caminhos de concretagem
Este item é exclusivo para a opção de sistema de transporte constituído por
elevador de obra e jericas, e compreende a definição dos caminhos
necessários para a movimentação horizontal sobre a fôrma, levando em
consideração: o comprimento dos panos e seu sentido de concretagem; a
posição das referências de nível; a necessidade de relocação e retirada dos
caminhos, prevendo-se a seqüência de concretagem de todos os panos. Ver
exemplo na figura 6.
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Figura 4 Sentidos de concretagem nos panos de concretagem
14
Figura 5 Posicionamento das caixas de passagem
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Figura 6 Caminhos de concretagem
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2.3.2.5 Definição da posição das taliscas ou mestras metálicas
As taliscas ou mestras metálicas têm a finalidade de fornecer o nível superior
da laje, de modo a permitir que se obtenham para o concreto as cotas
especificadas em projeto. A definição da posição dessas referências de nível
deve levar em consideração:
• o comprimento das réguas a serem empregadas no sarrafeamento;
• o posicionamento prévio dos gabaritos e caixas de passagem;
• o posicionamento dos caminhos.
As taliscas ou mestras metálicas devem ser posicionadas, preferencialmente,
próximas aos pilares e laterais de vigas, ou em rebaixos, como ilustrado na
figura 7. Deve-se também evitar o posicionamento das mesmas em regiões
que apresentem grande concentração de armadura ou tubulações embutidas.
2.4 Diretrizes para Análise Crítica do Projeto para Produção
Quando da finalização do projeto, deve ser feita a análise crítica de alguns
itens, a saber:
• adequação e coerência da seqüência de execução dos serviços, em todas
as suas fases;
• verificação da posição e nível definidos para as referências;
• atendimento ao conteúdo do projeto para a produção.
Com a conclusão dessa análise, o projeto pode ser encaminhado à equipe de
produção da obra e a laje, liberada para a concretagem.
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Figura 7 Posicionamento de taliscas
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3 EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS UTILIZADOS NA EXECUÇÃODAS LAJES DE CONCRETO ARMADO
3.1 Rolo Assentador de Agregado tipo "Rollerbug"
A principal característica desse equipamento é comprimir superficialmente o
concreto, assentando os agregados e proporcionando um levantamento
uniforme e homogêneo da pasta e finos do concreto. Ele também elimina as
bolhas de ar aprisionadas, reduzindo, assim, possíveis fissuras superficiais.
A aplicação desse equipamento facilita o acabamento final e diminui o
desgaste das desempenadeiras. Ele pode ser visto na figura 8.
3.2 Desempenadeiras
As desempenadeiras têm por função adequar a planeza e a rugosidade do
concreto, sendo compostas por placas ou lâminas de madeira ou metal que
auxiliam na regularização da superfície, proporcionando o acabamento
requerido em projeto (ver figura 9).
Desempenadeira de cabo longo tipo "bull float": As desempenadeiras de
cabo longo devem ser arrastadas levemente sobre o concreto, sempre no
sentido transversal ao do sarrafeamento. Segundo o catálogo da GOLDBLATT
(1993), o equipamento possui lâmina rígida feita de liga de magnésio, nas
dimensões de 1,07m, 1,22m, ou 1,52m por 0,20m, podendo apresentar arestas
arredondadas ou retas.
Desempenadeira de cabo longo tipo "blue steel”: apresenta a mesma
função da "bull float"; porém, proporciona à superfície um acabamento mais
liso, por ser maior e possuir maior flexibilidade da lâmina. Consiste em uma
lâmina flexível de aço inoxidável nas dimensões de 1,22m de comprimento por
0,35m de largura, com cantos arredondados. Utiliza cabos com um sistema vai-
e-vem; ou seja, a superfície do concreto recebe a ação de metade da lâmina na
ida e metade na volta, não sendo necessário levantar o equipamento para
retorná-lo à posição inicial.
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Figura 8 Rolo assentador de agregado tipo “rollerbug”
Figura 9 Desempenadeira de cabo longo tipo “bull float”
Desempenadeiras manuais tipo “hand float”: entre as desempenadeiras
manuais, destacam-se as desempenadeiras metálicas feitas de aço, que têm a
função de possibilitar retoques na superfície e o acabamento de cantos, em
locais que não são acessados pelas desempenadeiras de cabo longo. As
desempenadeiras manuais de madeira são utilizadas quando a especificação
de projeto indicar o uso de contrapiso, pois a superfície do concreto não deve
ser lisa a ponto de prejudicar a aderência.
Desempenadeira motorizada tipo “power float” ou “enceradeira”: é uma
máquina que tem a mesma função das desempenadeiras de cabo longo,
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realizando o mesmo serviço de 5 a 10 vezes mais rápido do que os
equipamentos manuais, através de um disco de aço giratório. O seu peso
auxilia na compactação superficial do concreto, devendo ser usada apenas
quando o concreto já suportar esse peso, sem se deformar.
Desempenadeira motorizada tipo "power troweler" ou “helicóptero”: é
uma máquina que usa desempenadeiras giratórias de aço (pás) acionadas por
um motor (elétrico ou a gasolina) que, ao girarem sobre a laje, produzem uma
superfície lisa e uniforme. Trata-se da mesma máquina usada na
desempenadeira motorizada tipo “power float”; a diferença consiste no uso das
pás em substituição ao disco de aço único giratório. Deve ser empregada nos
casos em que não será executado contrapiso.
3.3 Equipamentos de controle de nível
Aparelho de nível a “laser”: os aparelhos de nível a “laser” mais usados na
construção de edifícios apresentam precisão que depende do tipo de sensor.
Para os sensores numéricos, a precisão é da ordem de 2,4mm; enquanto que,
para os sonoros, fica em torno de 1,5mm, para distâncias da ordem de 30m, ou
de 3,0mm, para distâncias de 100m (OMC LASER, s.d.).
Aparelho de nível “alemão”: esse aparelho compõe-se de uma mangueira de
nível “transparente”, com 16m de comprimento e diâmetro de 3/8", acoplada,
em uma extremidade, a um recipiente de água de aproximadamente 5 litros e,
na outra a uma haste de alumínio com 1,70m de altura; o recipiente de água se
apoia em um tripé metálico com 1m de altura; a haste de alumínio possui um
cursor graduado em mm.
3.4 Equipamentos para referência geométrica
Taliscas: as taliscas servem para indicar o nivelamento da superfície do
concreto, além da espessura das lajes a serem concretadas, servindo de
referência para a concretagem. As taliscas podem ser de três tipos:
incorporadas à laje; removíveis ou parcialmente removíveis. Para as
incorporadas, têm sido utilizados pré-moldados de argamassa; já as taliscas
removíveis são feitas de aço, enquanto que para as parcialmente removíveis
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utilizam-se componentes com uma base fixa de polietileno e uma parte superior
de aço, removível. A figura 10 (a) ilustra a talisca parcialmente removível.
Mestras metálicas: são usadas em substituição às taliscas, em lajes com
poucas interferências. Um dos tipos utilizados possui 3m de comprimento e
altura de acordo com a espessura da laje, sem ajuste, transmitindo para a
fôrma toda a responsabilidade do nivelamento. Existem também mestras com
ajuste de altura, retomando a idéia de nivelamento independente da fôrma.
Esse último tipo está ilustrado na figura 10 (b).
a b
Figura 10 (a) Talisca de polietileno, incorporado, e aço, removível; (b)mestras metálicas com regulagem de altura (SOUZA, 1996)
Gabaritos: São usados para indicar diferenças de nível entre panos de lajes,
delimitando áreas a serem rebaixadas, definidas no projeto. Tem-se dado
preferência aos metálicos, pela menor possibilidade de variação na forma e
dimensões, frente aos de madeira. O nível de acabamento, interna e
externamente ao gabarito, deve seguir as referências de nível.
3.5 Acessórios: joelheiras do tipo “knee boards”
Muito comuns em outros países, as joelheiras são usadas quando dos retoques
finais, evitando que ele pise sobre o concreto ainda fresco, o que prejudica o
acabamento da laje (figura 11). Esse equipamento é fixado ao joelho do
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operário, que consegue deslizar sobre a superfície da laje e, de posse de uma
desempenadeira manual de cabo curto, é possível efetuar o acabamento final
nos locais que ainda necessitam de retoques.
Figura 11 Joelheiras do tipo “knee boards”
4 EXECUÇÃO RACIONALIZADA DAS LAJES DE CONCRETO
4.1 Antecedentes
Algumas atividades devem ser feitas com antecedência ao início do
lançamento do concreto, para evitar o acúmulo de pessoas sobre a fôrma,
como também, permitir o controle do nivelamento das referências de nível. São
os seguintes serviços que antecedem a etapa de concretagem das lajes:
• locação e verificação dos eixos de referência;
• concretagem dos pilares e escadas;
• limpeza das superfícies das fôrmas e aplicação de desmoldante;
• vedação das juntas entre os painéis da fôrma, com fita adesiva;
• controle do posicionamento e fixação das escoras e travamentos;
• posicionamento do equipamento de nível em local protegido, de modo a
abranger toda a laje sem a necessidade de ser transferido de local;
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• nivelamento da fôrma com uso do aparelho de nível, como mostra a figura
12;
a b
Figura 12 Nivelamento da fôrma: (a) ajuste da escora metálica por baixoda fôrma; (b) controle do nivelamento por cima da fôrma
• posicionamento dos apoios para a armadura negativa ("caranguejos");
• distribuição e amarração da armadura da laje, e posterior controle;
• posicionamento dos espaçadores de plástico;
• verificação da necessidade ou não de ganchos para bandejas e, quando
necessários, fixá-los em posição tal que não prejudiquem o acabamento da
laje;
• distribuição dos eletrodutos, e posterior controle;
• controle do nivelamento da fôrma, e eventual correção do mesmo;
• locação das taliscas ou mestras;
• nivelamento das taliscas (como pode ser visto na figura 13) ou mestras;
• locação e fixação dos gabaritos e caixas de passagem;
• controle do nivelamento e locação de taliscas ou mestras, gabaritos e
caixas de passagem, levando-se em conta as tolerâncias estabelecidas;
24
• verificação da disponibilidade e funcionamento de equipamentos e
ferramentas.
Figura 13 Nivelamento de taliscas
4.2 Seqüência de execução
A partir da bibliografia consultada, além das diversas visitas realizadas, foi
elaborada em SOUZA (1996) uma seqüência de execução para as lajes
niveladas ou acabadas, procurando organizar essas informações dentro de um
critério voltado à racionalização. Assim, essa seqüência executiva deve
compreender:
1. verificação do cumprimento de todos os antecedentes;
2. limpeza da fôrma para remoção de pregos, pontas de arames e quaisquer
resíduos;
3. posicionamento dos caminhos de concretagem (figura 14), conforme projeto
para produção, e posterior relocação desses caminhos, obedecendo o
sentido geral de concretagem;
4. proceder a lavagem do molde com jato de água pressurizado;
5. lançamento e adensamento do concreto de vigas;
6. lançamento e adensamento do concreto entre as taliscas, formando guias
niveladas através de uma régua de alumínio apoiada sobre as taliscas
(figura 15);
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7. lançamento e adensamento do concreto, preenchendo o pano de
concretagem em faixas de 50cm; identificando-se erros de nivelamento,
remover ou lançar o concreto na faixa rejeitada e voltar a proceder o
sarrafeamento;
8. após, sarrafeamento do pano de concretagem com a régua de alumínio
(figura 16);
9. aplicação sobre a superfície do concreto do rolo assentador de agregados;
10. aplicação das desempenadeiras manuais de cabo longo, como ilustrado na
figura 17 (a), realizada transversalmente ao sentido adotado para o
sarrafeamento;
11.eventual aplicação da desempenadeira motorizada tipo “power float”, em
substituição ao item 10;
12. se especificada, aplicação da acabadora de superfície, como ilustrado na
figura 17 (b), quando for possível caminhar sobre o concreto e deixar
apenas uma leve marca;
Figura 14 Posicionamento dos caminhos de concretagem
26
Figura 15 Execução de guias de concreto - sarrafeamento da guia
Figura 16 Sarrafeamento do pano de concretagem
a b
Figura 17 Aplicação de: (a) desempenadeira tipo "blue steel"; (b)acabadora de superfície ou “helicóptero” (SOUZA, 1996)
27
13. aplicação de desempenadeiras de aço manuais de cabo curto, para retocar
o acabamento; a circulação até as áreas que serão acabadas com
desempenadeiras de aço manuais deve ser feita com o auxílio de joelheiras
do tipo “knee boards”;
14. após o acabamento, remoção dos gabaritos, para o seu reaproveitamento
nas próximas lajes, após um tempo necessário para que o concreto atinja
uma consistência adequada;
15. início do procedimento de cura da laje;
16. fixação dos gastalhos e sarrafos para o posicionamento das fôrmas dos
pilares do próximo pavimento, através de pinos (colocados com pistolas)
ou pregos de aço;
17. um dia após a concretagem, realização do controle de recebimento, para
verificação do resultado obtido quanto ao nivelamento e planeza da laje;
18. desforma, tomando cuidado com o reescoramento, para evitar introduzir
deformações na laje nivelada anteriormente.
5 CONTROLE E TOLERÂNCIAS
5.1 Controle
Segundo GARCIA MESEGUER (1991), o controle da qualidade pode ser
entendido como "uma série de procedimentos de mensuração e avaliação que,
aplicados ao longo do desenvolvimento da obra, funcionam como um
instrumento para assegurar que a qualidade de um dado serviço (atividade) ou
de um certo produto (edifício) atendam aos padrões e às tolerâncias prescritos
em projetos específicos". Essas tolerâncias devem ser estabelecidas como um
critério para o controle dos serviços que possam afetar significativamente a
qualidade do produto final, como: nivelamento da fôrma; locação e nivelamento
das referências de nível; nivelamento, planeza e rugosidade do concreto.
5.1.1 Primeira etapa
Realizada antes da concretagem, consiste em controlar o nivelamento da
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fôrma e a locação e nivelamento das referências de nível, adotando as
tolerâncias recomendadas pela empresa em seu procedimento executivo.
Quanto ao controle da fôrma, essa operação deve ser efetuada com um
equipamento de nível de precisão e deve ser realizada em pontos
determinados, considerados os mais críticos. Segundo o procedimento para
projeto e execução de lajes da SCHAHIN CURY (s.d.), a verificação do
nivelamento da fôrma deve incluir um ponto para cada 7 m2 de laje, sendo:
• um ponto no centro de cada pano de laje;
• um ponto nas áreas de rebaixo com área inferior a 3m2, ou dois pontos,
quando a área do rebaixo superar esse valor;
• um ponto a cada cruzamento de vigas;
• um ponto nas regiões onde houver grande concentração de portas;
• dois pontos no patamar da escada contíguo à laje;
• um ponto no hall de elevadores, com área inferior a 3m2, ou dois pontos,
quando a área do hall superar esse valor;
• um ponto próximo a cada pilar de extremidade;
• um ponto próximo a cada pilar interno ao pavimento, quando a área de
seção do pilar for superior a 0,22m2.
As referências de nível (taliscas ou mestras, gabaritos e caixas de passagem),
após terem sido fixadas, devem passar por uma etapa de controle de locação e
nivelamento, segundo as tolerâncias estabelecidas.
5.1.2 Segunda etapa
Essa etapa de controle deve ser realizada durante a concretagem, para
corrigir os eventuais efeitos de deformabilidade do sistema de fôrmas. É
importante que o controle do nivelamento efetuado durante a concretagem
aconteça com o concreto em seu estado plástico, pois, assim, ainda será
possível fazer ajustes nas escoras metálicas.
29
5.1.3 Terceira etapa
Essa etapa, efetuada após a concretagem, deve ser realizada com o objetivo
de verificar o resultado final alcançado, quanto às especificações de
nivelamento e acabamento da laje. Segundo a SCHAHIN CURY (s.d.), um dia
após a concretagem, os pontos verificados durante o nivelamento devem ser
transferidos para a laje, verificando-se o seu nível e anotando-se os resultados.
Após a retirada do reescoramento, devem ser verificados novamente os
mesmos pontos marcados.
5.2 Tolerâncias
Para o controle de nivelamento da fôrma, deve-se respeitar as seguintes
tolerâncias:
• entre as extremidades das diagonais principais da laje do pavimento-tipo, um
erro máximo de nivelamento de 1cm;
• para os pontos de verificação listados em 5.1.1, mais ou menos 3mm de
desvio no nivelamento.
Deve ser feito também um controle de recebimento sobre a locação de todas
as referências de nível, ou seja, 100% das taliscas, gabaritos e caixas de
passagem devem ser verificados. As tolerâncias estão resumidas na tabela 1.
Quanto ao controle do nivelamento do concreto da laje (a ser realizado
antes, durante e depois da concretagem), propõe-se as seguintes tolerâncias,para a laje nivelada:
• entre as extremidades das diagonais principais da laje do pavimento-tipo, um
erro máximo de nivelamento de 1cm;
• para os pontos de nivelamento, irregularidades também de 1cm.
Para a laje acabada, além de parâmetros mais rígidos quanto ao nivelamento,
é necessário um terceiro, que mede a planeza. Tomando-se por parâmetro o
revestimento cerâmico, pode-se inferir que, para atender essas exigências
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após a aplicação do mesmo sobre uma laje acabada, é preciso adotar para o
concreto tolerâncias coerentes com as requeridas pelo revestimento de piso.
Tabela 1 Tolerâncias para as referências de nível (SCHAHIN CURY, s.d.)
REFERÊNCIAS LOCAÇÃO NIVELAMENTO
Taliscas +/- 15cm +/- 3mm
Gabaritos +/- 5mm +/- 3mm
Caixas de Passagem +/- 5mm +/- 3mm
Essas tolerâncias, juntamente com as exigidas para a laje nivelada, podem ser
vistas na tabela 2. Outros tipos de revestimentos podem exigir tolerâncias
diferentes, que devem ser estudadas futuramente.
Caso ocorra algum problema durante a concretagem (exemplo: perda da
referência de nível), implicando em que as cotas de piso determinadas na
primeira fase de desenvolvimento do projeto sejam alteradas, faz-se necessário
tomar medidas para reparo da própria laje de concreto, ou proceder um
reprojeto daquelas cotas. O reprojeto refere-se à avaliação comparativa dos
parâmetros adotados em projeto com aqueles efetivamente obtidos e à
redefinição desse projeto, considerando-se as reais condições obtidas na obra.
Tabela 2 Tolerâncias de nivelamento e planeza de lajes niveladas e lajesacabadas para aplicação de revestimentos cerâmicos
TOLERÂNCIA LAJE NIVELADA LAJE ACABADA*
na diagonal do pavimento +/- 1cm +/- 1cm
pontos de nivelamento +/- 1cm +/- 3mm
entre pontos afastados de 1/3 m - +/- 3mm
Esse reprojeto apresentará também as alterações, quando imprescindíveis,
quanto às especificações e as cotas do piso acabado. Espera-se que o
detalhamento do piso possa ser mantido ao máximo; no entanto, nem sempre
isso será possível, devendo-se evitar que as alterações sejam decididas no
momento da execução e sem o apoio do projeto.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresenta, de forma sintética, uma parte da Dissertação de
Mestrado de SOUZA (1996).
O trabalho procura mostrar como a racionalização construtiva e o conceito de
projeto para produção podem ser aplicados à execução das lajes de concreto
armado de edifícios, objetivando obter qualidade com redução de custos.
Acredita-se, ainda, que tenha sido exemplificada a importância de se
conhecerem os equipamentos disponíveis e a seqüência de execução dos
serviços, prevendo-se as etapas de controle necessárias para a execução das
lajes de concreto armado. Desse modo, pode-se contribuir para aproximar a
construção de edifícios de uma atividade de caráter realmente industrial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARCIA MESEGUER, A. Controle e garantia da qualidade na construção.São Paulo, SINDUSCON-SP, 1991.
GOLDBLATT. Goldblatt trowel trade tools. Kansas City, 1993.
MELHADO, S.B. A qualidade através da integração entre projeto e obra nos
empreendimentos habitacionais. In: SEMINÁRIO GERENCIAMENTOVERSUS DESPERDÍCIO, São Paulo, 1995. Anais. São Paulo, Édile,
1995. p. 69-78.
MELHADO, S.B. Qualidade do projeto na construção de edifícios:aplicação ao caso das empresas de incorporação e construção. São Paulo,
1994. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
OMC LASER. LB-2: controle vertical e horizontal. São Paulo, s.d.
PICCHI, F.A. Sistemas de qualidade: uso em empresas de construção de
edifícios. São Paulo, 1993. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo.
SCHAHIN CURY ENGENHARIA E COMÉRCIO. Procedimento para projetoe execução da laje acabada, s.n.t.
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SOUZA, A.L.R. O projeto para produção das lajes racionalizadas deconcreto armado de edifícios. São Paulo, 1996. Dissertação (Mestrado) -
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
SOUZA, A.L.R. O projeto para produção das lajes racionalizadas deconcreto armado de edifícios. São Paulo, 1996. Dissertação (Mestrado) -
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.