Programa de Prevenção à Criminalidade já atende130 ex-detentos na região (Parte 2)

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Além da diminuição da média de idade dos presos da região, um dos proble - mas que a sociedade enfrenta é o retorno deles à liberdade quando ter - minarem de cumprir a pena. A psicó - loga Kelly Cristina diz que este é um problema não só da sociedade, mas dos presos, principalmente. "Dos egressos que passam por aqui, recém- saídos do regime prisional, a maioria tem entre 23 e 34 anos. Por ter passa- do este tempo recluso, ele perdeu o emprego, se trabalhava antigamente; e também alguns vínculos familiares foram rompidos. Algumas vezes as famílias permanecem do lado, apoian- do, mas outras não. Então ele se encontra meio perdido, e muitos vol - tam para o crime", conta Kelly. O Programa de Prevenção à Cri- minalidade, baseado na Lei de Execução Penal, é um direi- to do cidadão que passou pelo sistema prisional. Kelly afirma que o presidiá- rio toma conhecimento do trabalho ainda quando cumpre sua pena. "Tanto no Ceresp quanto na penitenciária, a gente recebe uma lista com os nomes das pessoas que estão para sair. Alguns têm uma previsão de liberdade para daqui a seis meses, outros já estão cumprindo os últimos dias. Então, lá dentro mesmo eles já passam a ter vínculos com a equipe". Kelly explica também que, em alguns casos, a pes- soa é obrigada a participar do progra- ma. "Tem aqueles que recebem pro- gressão de regime, como condicional, ou regime de prisão domiciliar. Estes são obrigados a participar do pro- grama, a se apresentar aqui em períodos regulares". São mais de 130 ex-detentos atendi- dos mensalmente no programa, rece- bendo acompanhamento individual, de acordo com as suas necessidades, e acompanhamento em grupo, para faci- litar o retorno à vida em sociedade. "Embora eles tenham todo o suporte, psicológico, social e jurídico, não basta só orientação. Mesmo que eles saibam dos direitos que têm, é neces- sária a criação de mecanismos para que eles consigam se ressocializar. O Núcleo de Prevenção à Criminalidade trabalha também desta forma, articu- lando novas possibilidades para que aqueles que passaram pelo sistema pri- sional tenham oportunidades quando chegarem aqui fora. Temos a parceria de um vereador para um projeto de lei municipal de redução fiscal para empre- sas que contratem ex-presidiários; estamos também com um projeto de redução de pena por estudo, pois veri- ficamos que, quanto menor a escolari- dade do jovem, maior a vulnerabilida- de. Conquistamos parcerias com o Senai-MG (Serviço Nacional de Apren- dizagem Industrial de Minas Gerais) e com a Sedese (Secretaria do Estado de Desenvolvimento Social). Somos apoiados por uma lei estadual, o Pro- jeto Regresso, mas queremos garan- tias no âmbito municipal também, com a ajuda de empresas e outras ins- tituições", pontua Kelly. REINCIDÊNCIA "Eu recebi uma pesquisa, não de Minas, mas de Brasília, informando que 56% daqueles que passam pelo sistema criminal acabam reincidindo no crime. Esta é uma representação da realidade nacional, e temos como meta diminuir tais números", afirma Kelly, que continua: "Muitos já eram desprezados pela sociedade antes de serem presos, sofriam preconceitos, e não eram atendidos pelas políticas públicas. Não temos ainda dados regionais sobre isto aqui, atuamos na cidade há pouco tempo, mas dados divulgados pelo programa na Região Metropolitana de Belo Horizonte informam que, entre os que passaram pelo sistema prisional e participaram do PRESP, somente 8% reincidiram. Isto mostra que o projeto é uma polí- tica que funciona, e que o cidadão que passou pela cadeia tem uma chan- ce de se reintegrar à sociedade. Ele já pagou a sua dívida, só precisa de ajuda para recomeçar", declara. Kelly lembra que o Núcleo de Com- bate à Criminalidade fica na Rua Ponte Nova, número 86, no quarto andar, e que está aberto para familiares de pes- soas em período de reclusão no Ceresp ou na penitenciária, onde terão acon- selhamento psicológico e jurídico, e também para ex-detentos que estejam enfrentando dificuldades de adaptação e não passaram pelo programa ao entrarem em liberdade. VALE DO A ÇO D O M I N G O , 1 1 D E A B R I L D E 2 0 1 0 ESPECIAL 8 Programa de Prevenção à Criminalidade já atende 130 ex-detentos na região AKR INDEPENDENTE DO SEXO, crianças e adolescentes são aliciados por traficantes. Neste meio acabam se tornando viciados em drogas, o que torna comum a permanência deles no crime após a maioridade O PERFIL DOS PRESIDIÁRIOS NO CERESP O Ceresp Ipatinga comporta atualmente 528 presos, entre homens e mulheres, assim discriminados: Entre 18 a 25 anos . . . . . . . . .41,7% Entre 26 a 35 anos . . . . . . . . .39,6% Entre 36 a 46 anos . . . . . . . . .13,9% Acima de 46 anos . . . . . . . . . . .4,6% PRESOS DE ACORDO COM A ESCOLARIDADE PROVISÓRIOS CONDENADOS TOTAIS % POPULAÇÃO PRISIONAL ATUAL 258 270 528 100 ANALFABETOS 93 105 198 37,5 ENSINO FUND. COMPLETO 135 127 262 49,62 ENSINO MÉDIO COMPLETO 26 28 54 10,23 ENSINO SUPERIOR COMPLETO 0 0 0 0 PRESO DEFICIENTE (AUDITIVO) 0 0 0 0 PRESO DEFICIENTE (VISUAL) 04 06 10 1,89 PRESO DEFICIENTE (FÍSICO) 02 02 4 0,76 NÚMEROS TOTAIS 260 268 528 100 Especialistas apontam que envolvimento de adolescentes com o crime sempre começa pelas drogas.

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Matéria veiculada em 11 de Abril de 2010, no Jornal Vale do Aço. Matéria dupla.

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são obrigados a participar do pro-grama, a se apresentar aqui emperíodos regulares".

São mais de 130 ex-detentos atendi-dos mensalmente no programa, rece-bendo acompanhamento individual, deacordo com as suas necessidades, eacompanhamento em grupo, para faci-litar o retorno à vida em sociedade."Embora eles tenham todo o suporte,psicológico, social e jurídico, nãobasta só orientação. Mesmo que elessaibam dos direitos que têm, é neces-sária a criação de mecanismos paraque eles consigam se ressocializar. ONúcleo de Prevenção à Criminalidadetrabalha também desta forma, articu-lando novas possibilidades para queaqueles que passaram pelo sistema pri-sional tenham oportunidades quandochegarem aqui fora. Temos a parceriade um vereador para um projeto de leimunicipal de redução fiscal para empre-sas que contratem ex-presidiários;estamos também com um projeto deredução de pena por estudo, pois veri-ficamos que, quanto menor a escolari-dade do jovem, maior a vulnerabilida-de. Conquistamos parcerias com oSenai-MG (Serviço Nacional de Apren-dizagem Industrial de Minas Gerais) ecom a Sedese (Secretaria do Estado deDesenvolvimento Social). Somosapoiados por uma lei estadual, o Pro-jeto Regresso, mas queremos garan-tias no âmbito municipal também,com a ajuda de empresas e outras ins-tituições", pontua Kelly.

REINCIDÊNCIA"Eu recebi uma pesquisa, não de

Minas, mas de Brasília, informandoque 56% daqueles que passam pelosistema criminal acabam reincidindono crime. Esta é uma representaçãoda realidade nacional, e temos comometa diminuir tais números", afirmaKelly, que continua: "Muitos já eramdesprezados pela sociedade antes deserem presos, sofriam preconceitos, enão eram atendidos pelas políticaspúblicas. Não temos ainda dadosregionais sobre isto aqui, atuamos na

cidade há pouco tempo, mas dadosdivulgados pelo programa na RegiãoMetropolitana de Belo Horizonteinformam que, entre os que passarampelo sistema prisional e participaramdo PRESP, somente 8% reincidiram.Isto mostra que o projeto é uma polí-tica que funciona, e que o cidadãoque passou pela cadeia tem uma chan-ce de se reintegrar à sociedade. Ele jápagou a sua dívida, só precisa deajuda para recomeçar", declara.

Kelly lembra que o Núcleo de Com-

bate à Criminalidade fica na Rua PonteNova, número 86, no quarto andar, eque está aberto para familiares de pes-soas em período de reclusão no Cerespou na penitenciária, onde terão acon-selhamento psicológico e jurídico, etambém para ex-detentos que estejamenfrentando dificuldades de adaptaçãoe não passaram pelo programa aoentrarem em liberdade.

VA L E D O A Ç O D O M I N G O , 1 1 D E A B R I L D E 2 0 1 0

ESPECIAL8

Programa de Prevenção à Criminalidade já atende 130 ex-detentos na região

AKR

INDEPENDENTE DO SEXO, crianças e adolescentes são aliciados por traficantes. Neste meio acabam setornando viciados em drogas, o que torna comum a permanência deles no crime após a maioridade

O PERFIL DOS PRESIDIÁRIOS NO

C E R E S PO Ceresp Ipatinga comporta

atualmente 528 presos, entre homens e mulheres,

assim discriminados:

Entre 18 a 25 anos . . . . . . . . .41,7%

Entre 26 a 35 anos . . . . . . . . .39,6%

Entre 36 a 46 anos . . . . . . . . .13,9%

Acima de 46 anos . . . . . . . . . . .4,6%

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PROVISÓRIOS CONDENADOS TOTAIS %

POPULAÇÃO PRISIONAL ATUAL 258 270 528 100

ANALFABETOS 93 105 198 37,5

ENSINO FUND. COMPLETO 135 127 262 49,62

ENSINO MÉDIO COMPLETO 26 28 54 10,23

ENSINO SUPERIOR COMPLETO 0 0 0 0

PRESO DEFICIENTE (AUDITIVO) 0 0 0 0

PRESO DEFICIENTE (VISUAL) 04 06 10 1,89

PRESO DEFICIENTE (FÍSICO) 02 02 4 0,76

NÚMEROS TOTAIS 260 268 528 100

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